Senado Federal Relat Ó Riofinalda Comissão Parlamentar De Inquérito
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SENADO FEDERAL R E L A T Ó R I O F I N A L D A COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (VOLUME IV) Criada por meio do Requerimento nº 497, de 2000-SF, “destinada a investigar fatos envolvendo as associações brasileiras de futebol”. Presidente: Senador ALVARO DIAS Vice-Presidente: Senador GILBERTO MESTRINHO Relator: Senador GERALDO ALTHOFF Brasília 2001 OS CLUBES DE FUTEBOL O Caso do Clube de Regatas do Flamengo O CASO CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO 1. Dos Fatos Entre os objetivos desta CPI, encontra-se a investigação de denúncias de sonegação por parte de clubes de futebol em relação ao recolhimento de contribuições previdenciárias e ao imposto de renda. O Clube de Regatas do Flamengo tem sido alvo de seguidas denúncias veiculadas por toda a impressa, dando notícia de diversas irregularidades envolvendo tanto operações de compra e venda de jogadores com suspeitas de desvios de recursos do Clube, quanto má gestão administrativa da Agremiação, seja dolosa ou culposa. No decorrer da CPI foram tomados os seguintes depoimentos, reproduzidos em anexo a este Relatório, pertinentes às investigações sobre o Clube de Regatas do Flamengo: SENHOR PAULO CÉSAR FERREIRA – 15/3/2001 Membro do Conselho Deliberativo do Clube de Regatas do Flamengo durante os últimos cinco anos. Prestou depoimento no Plenário da CPI. SENHOR ROBERTO ABRANCHES – 15/3/2001 Presidente do Conselho Fiscal do Clube até março de 2001. Prestou depoimento no Plenário da CPI, em sessão sigilosa. SENHORA MARIA ÂNGELA ALVES LUZ – 21/3/2001 e 5/4/2001 Contadora do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento em 21/3/2001 junto à Polícia Federal na presença de assessores e, no dia 5/4/2001, junto ao Plenário da CPI, em sessão sigilosa. SENHOR EDUARDO FERNANDO DE MENDONÇA MOTTA – 21/3/2001 Presidente do Conselho de Administração do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto à Polícia Federal na presença de assessores da CPI. SENHOR BRUNO CARAVELLO – 5/4/2001 Ex-Vice-Presidente de Finanças do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto ao Plenário da CPI. SENHOR ARTUR ANTUNES COIMBRA (ZICO) – 24/4/2001 Ex-jogador do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto ao Plenário da CPI. SENHOR DEJAN PETKOVIC – 4/5/2001 Jogador do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto à Polícia Federal na presença de assessores da CPI. SENHOR MÁRCIO BRAGA – 28/8/2001 Ex-Presidente do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto ao Plenário da CPI. SENHOR EDUMNDO SANTOS SILVA – 30/8/2001 e 30/10/2001 Presidente do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimentos junto ao Plenário da CPI. SENHOR ANTÔNIO AUGUSTO DUNSHEE DE ABRANCHES – 2/10/2001 Ex-Presidente do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto ao Plenário da CPI. SENHOR DELAIR DUMBROSCK – 10/10/2001 Presidente do Conselho Fiscal do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto ao Plenário da CPI. SENHOR KLÉBER LEITE – 24/10/2001 Ex-Presidente do Clube de Regatas do Flamengo. Prestou depoimento junto ao Plenário da CPI. Os fatos investigados por esta CPI foram os seguintes: Contrato ISL x Flamengo O contrato ISL x Flamengo, anunciado como um dos maiores e melhores contratos firmados entre uma empresa privada e um clube de futebol, foi celebrado em 17/12/99 entre o Clube de Regatas do Flamengo e a ISL Marketing AG, tendo como objeto a cessão à ISL, pelo prazo de 15 anos, a contar de 1º de janeiro de 2000, de todos os direitos de que o Flamengo é titular que tenham conteúdo econômico e que se relacionem com as atividades esportivas exercidas pelo Clube. Em 17/4/2001, o Conselho Deliberativo do Clube aprovou acordo de rescisão amigável do contrato. Demonstrativos Contábeis do Flamengo – Balanços e Pareceres do Conselho Fiscal Sobre as Contas do Flamengo Neste tópico, foram analisados os grandes números dos Balanços Contábeis da instituição e abordados, também, os pareceres do Conselho Fiscal do Clube de Regatas do Flamengo relativos às prestações de contas dos exercícios financeiros de 1999 e 2000, elaboradas pela presidência do Clube. Ressalte-se que o Parecer relativo ao exercício fiscal de 1999 recomenda a aprovação das contas do Clube, enfatizando a necessidade de serem feitos diversos ajustes mencionados naquele relatório, enquanto o Parecer relativo às contas de 2000, proferido posteriormente ao depoimento do Presidente do Conselho Fiscal do CRF a esta CPI, recomenda a rejeição daquela prestação de contas. Relatórios da Empresa de Auditoria Deloitte Touche Tohmatsu A referida empresa de auditores independentes foi contratada pelo Clube de Regatas do Flamengo para elaborar relatórios de auditoria sobre os demonstrativos contábeis dos exercícios de 1998, 1999 e 2000. Os três relatórios foram entregues a esta CPI pelo Sr. Edmundo dos Santos Silva, por ocasião de seu primeiro depoimento. Conta Corrente do Flamengo no Banco Bilbao Y Viscaya, em “Grand Cayman” De acordo com o Relatório de Auditoria Especial do Balanço Patrimonial do Clube de Regatas do Flamengo, de 31 de dezembro de 1998, elaborado pela Deloitte, o Clube possuía naquela data uma conta corrente no Banco Bilbao y Viscaya, em Grand Cayman, paraíso fiscal, com saldo de R$ 908 mil. Obras da Gávea Este tópico diz respeito a um relatório elaborado pelo Conselho Fiscal do Clube apresentando um comparativo entre recursos despendidos e avaliações físicas de diversas obras em implementação na Gávea (sede do Flamengo). Compra do Jogador Petkovic Neste particular, consta a denúncia de irregularidades na compra do jogador Dejan Petkovic, do Clube Venezia, por US$ 6,5 milhões, em 2000. Segundo diversas denúncias veiculadas pela imprensa, principalmente pela FOLHA DE SÃO PAULO1, cerca de US$ 2 milhões utilizados na compra do jogador foram desviados para as empresas LAKE BLUE DEVELOPMENT LIMITED, e PICOLINE CORPORATION, ambas com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens, por determinação do Presidente do Clube, senhor Edmundo dos Santos Silva. Apropriação Indébita Este ilícito nos foi denunciado pela própria contadora do Clube que, em depoimento prestado perante a Polícia Federal, afirmou que “os impostos e contribuições do Flamengo são retidos e apropriados, e estão sendo recolhidos na medida do possível” (grifos nossos). Desrespeito aos Orçamentos Anuais do Flamengo Tanto no exercício financeiro de 1999 quanto no de 2000, o Flamengo executou despesas em volume superior ao previsto nos Orçamentos Anuais, sem a necessária autorização do Poder competente. 2. Da Análise dos Fatos 1 Dia 26/11/2000, folha D7; dia 13/11/2000, folha D4. Contrato ISL x Flamengo (Anexo I) Em linhas gerais, o contrato celebrado em 17/12/99 entre o Clube de Regatas do Flamengo e a ISL Marketing AG tinha como objeto a cessão à ISL, pelo prazo de 15 anos2, a contar de 1º de janeiro de 2000, de todos os direitos de que o Flamengo era titular que tinham conteúdo econômico e que se relacionavam com as atividades esportivas exercidas pelo Clube, ficando a ISL autorizada a explorar, em nome próprio e em âmbito mundial, qualquer oportunidade de negócio derivada desses direitos ou a eles relacionada, tais como: todos os tipos de publicidade, promoção, marketing, “merchandising”, licenciamento, franquia, patrocínio, “hospitality”, publicações, todas e quaisquer formas de produção e transmissão de televisão, radiotransmissão, produção e distribuição de filmes e vídeos, receita da parcela de bilheteria de todos os jogos do Flamengo que coubessem ao Clube, uso comercial de nomes e da imagem de todos os jogadores integrantes de qualquer equipe do Flamengo, inclusive direito de arena e direitos conexos, bem como todo e qualquer outro direito e oportunidade comercial associada, relacionada ou ligada à atividade esportiva do Flamengo, de quaisquer de suas equipes e de quaisquer de seus jogadores, incluindo, sem limitação, direito à publicidade, franquias, exibição, amostragem em locais de propriedade do Flamengo, ao Clube locados ou por ele controlados. O Contrato também abrangia, entre outros direitos, a concessão pelo Flamengo à ISL da licença para uso, com exclusividade, de todas e quaisquer marcas comerciais, presentes e futuras, de que fosse ou viesse o Flamengo a ser titular (“Marcas Flamengo”). A concessão dos direitos e licenças objeto do contrato seria feita à ISL em caráter de exclusividade, obrigando-se o Flamengo a não exercer diretamente tais direitos, nem autorizar terceiros a fazê-lo. Em troca dos direitos mencionados, a ISL se comprometia a, entre outras ações, investir US$ 80 milhões no Flamengo ou em sociedade que o Clube viesse a constituir, a critério do CRF. O investimento deveria ser utilizado nas seguintes finalidades: . US$ 20 milhões para o pagamento do principal e encargos das dívidas do Flamengo, devidamente apuradas, existentes em 30 de junho de 1999 (“Pagamento de Dívidas”); 2 Renováveis, automaticamente, por mais 15 anos. US$ 20 milhões para a aquisição de novas instalações de treinamento e para o aprimoramento das existentes (“Investimentos em Instalações”), da seguinte forma: · US$ 8 milhões em 2000; · US$ 7 milhões em 2001;e · US$ 5 milhões em 2002; . US$ 40 milhões para a contratação de novos jogadores e de jogadores atualmente emprestados ao Flamengo (“Contratação de Jogadores”), da seguinte forma: · US$ 20 milhões em 2000; · US$ 5 milhões em 2001; · US$ 5 milhões em 2002; · US$ 5 milhões em 2003; e · US$ 5 milhões em 2004. O Contrato encarava o “Pagamento de Dívidas” como prioridade absoluta do Clube pois, de acordo com o item 1.3.1, Se a verba para Pagamento da Dívida for insuficiente para liquidá-la integralmente, serão aplicados no Pagamento da Dívida, primeiramente, até o limite de US$ 10 milhões, os recursos alocados para Investimento em Instalações e também, se necessário, recursos da Contratação de Jogadores, até quanto bastarem.3 Em outros termos, o Flamengo deveria honrar suas dívidas antes de qualquer outro investimento.