Moncorvo. Da Tradição À Modernidade
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Título MONCORVO. DA TRADIÇÃO À MODERNIDADE Coordenação Fernando de Sousa Capa www.fotonucleodourosuperior.net Edição Edições Afrontamento / Rua Costa Cabral, 859 / 4200-225 Porto www.edicoesafrontamento.pt / [email protected] CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade Rua do Campo Alegre, 1055 4169-004 Porto Telef.: 22 609 53 47 / 22 600 15 13 Fax: 22 543 23 68 E-mail: [email protected] www.cepese.pt Colecção: Diversos, 23 N.º de edição: 1230 ISBN Edições Afrontamento: 978-972-36-1029-1 ISBN Edições CEPESE: 978-989-95922-5-4 Depósito legal: 298070/09 Impressão e acabamento: Rainho & Neves, Lda. / Santa Maria da Feira [email protected] Tiragem: 1000 exemplares Impresso em 2009 MONCORVO DA TRADIÇÃO À MODERNIDADE PREFÁCIO Da Tradição à Modernidade. Num título todo o desafio que se coloca à gestão autárquica. De Torre de Moncorvo como da generalidade dos municí- pios portugueses do interior. Como conjugar o património edificado, mais-valia turística que nos dis- tingue dos novos centros urbanos do litoral, com a qualidade de vida a que os cidadãos aspiram? Como fazer da tradição uma vantagem competitiva em lugar duma limitação paralisante? Nesta matéria os extremos são demasiados fáceis e populistas, cada um de sua forma. De um lado aqueles para quem a preservação integral do passado é um dogma, aqueles para quem tudo o que é passado é bom sem distinguir o que é digno de nota daquilo que meramente cheira a ranço. Aceitando acriticamente mesmo tradições que claramente ofendem a dignidade humana. Doutro lado aqueles para quem o paradigma do desenvolvimento é o centro comercial, é tudo o que é novo fazendo tábua rasa dum legado histórico rico e que nos distingue. Na simbiose tradição/modernidade há que encontrar a linha de rumo que não se refugie no CAPA (Cultura, Ambiente, Património, Artesanato), pana- ceia única a que se recorre na falta de visão do futuro. Se o etc. é o descanso do sábio e o refúgio do ignorante, o CAPA é meramente o chavão do incapaz ou daquele que desistiu. Não resisto a lembrar uma evolução de sucesso que exemplifica a trans- formação da tradição numa vantagem competitiva. A amêndoa coberta, carac- terística de Torre de Moncorvo, quase desaparecida há 25 anos atrás, aban- donou a forma mais tradicional com elevado grau de açúcar envolvente e passou a privilegiar a chamada “peladinha”, não só se adaptando a tempos menos condescendentes com o consumo de açúcar, como comercializando um produto de uso mais flexível. A necessária adaptação aos tempos modernos é imprescindível, porque muitas vezes o preservar integral significa matar o que se pretendia salvaguardar. Definir linhas de rumo que nos liguem do passado ao futuro, no âmbito dum debate franco, aberto e se possível aceso de ideias, consubstancia o pro- pósito deste Seminário e doutras iniciativas vindouras. Agradeço a colaboração de todos os que o tornaram um sucesso e nomea- damente ao Dr. Fernando de Sousa, seu coordenador. Aires Ferreira Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo 5 INTRODUÇÃO Seminário Moncorvo. Da tradição à modernidade (16-17 de Fevereiro de 2007) Este Seminário, subordinado ao título Moncorvo. Da Tradição à Moderni- dade, surgiu das preocupações expressas pelo senhor presidente do Município de Moncorvo, engenheiro Aires Ferreira, em várias reuniões que teve com o presidente do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade – CEPESE, professor Fernando de Sousa, e o presidente da Sociedade Gestora de Participações Sociais do Instituto Superior de Línguas e Administração – UNISLA, doutor António Martins, quanto à necessidade de se proceder a uma reflexão sobre o papel cultural que este multissecular concelho desempenhou no passado e deve desempenhar no futuro, enquanto herdeiro de uma história prestigiada e centro urbano mais importante do Alto Douro Superior. Com este Seminário, cuja realização foi da responsabilidade do CEPESE, pretendeu-se dar um contributo para um melhor conhecimento da história de Moncorvo e reflectir quanto à definição de um projecto de afirmação cultural de Moncorvo no contexto de Trás-os-Montes e mesmo a nível nacional, que tivesse em conta as potencialidades, autenticidade, e identidade deste velho burgo. Com tal objectivo, procurámos congregar os investigadores que conheces- sem Torre de Moncorvo e a sua região e pudessem, com o seu conhecimento e experiência, ajudar-nos a definir uma estratégia que permita fazer desta vila uma referência de cultura a nível regional, nacional e transfronteiriço. Atenderam ao nosso apelo historiadores de arte, do património industrial e da história contemporânea, professores universitários ligados ao estudo do minério do ferro e especialistas do desenvolvimento regional, nacionais e estrangeiros e um empresário ligado ao mundo da arte que, durante dois dias apresentaram temas e debateram ideias, como se pode ver pelos estudos que agora se publicam, e que foram objecto de arbitragem científica. Resta-nos agradecer a todas a entidades que permitiram a realização deste Seminário. À Câmara Municipal de Moncorvo, na pessoa do seu presidente, engenheiro Aires Ferreira, à Biblioteca Municipal de Moncorvo, na pessoa da Dra. Helena Pontes; ao CEPESE, responsável pela organização deste Seminá- rio, nas pessoas da Dra. Paula Barros, do Dr. Paulo Amorim e da Dra. Maria 7 INTRODUÇÃO José Ferraria; à Associação dos Alunos e Amigos do Ex-Colégio Campos Mon- teiro, Dra. Conceição Salgado e Dra. Adília Fernandes; ao ISLA, na pessoa do Dr. António Martins e da Dra. Maria da Graça Martins; às Galerias Cordeiro, na pessoa do Dr. Agostinho Cordeiro; à Universidade Lusíada do Porto; à Real Companhia Velha; à Carnady; à Fundação António de Almeida; à FCT; ao Jor- nal de Notícias e ao BES. Finalmente, a todos os colegas, portugueses e espanhóis, que nos deram o gosto de aceitar o nosso convite e participar neste Seminário. Fernando de Sousa (Presidente do CEPESE) 8 INTRODUCTION Seminar Moncorvo. From tradition to modernity (16th-17th February 2007) This Seminar – Moncorvo. From tradition to modernity – is the result of some concerns expressed by the Mayor of the Municipality of Moncorvo, Eng. Aires Ferreira, to both the President of CEPESE and to the President of UNISLA – Sociedade Gestora de Participações Sociais do Instituto Superior de Línguas e Administração, when he mentioned the need for a wide survey about the cultural role that Moncorvo had in the past, as well as its role in the future, a city heir of a prestigious history as the most important urban area of the Alto Douro Superior. The aim of this Seminar, organized by CEPESE, was to contribute to a bet- ter knowledge of the history of Moncorvo and to stress the importance for the definition of a cultural project to the region in the context of Trás-os-Montes and even at a national level. This objective must consider the potentialities, authenticity and identity of this ancient village. In order to do so, we made all possible efforts to gather several researchers interested in the region of Torre de Moncorvo and who could contribute, with their expertise, to the definition of a strategy that would allow, in the near future, to turn this region into a national and peninsular cultural reference. The feedback given by art historians, experts in industrial patrimony and in contemporary history, university professors interested in the study of iron, experts in regional development, both national and international, and an art entrepreneur, was overwhelming. All agreed to gather their efforts and discuss, during two days, interesting themes that we are now proud to present, and that were object of peer reviewing. We would like to thank all the entities that supported this Seminar. To the Municipality of Moncorvo, especially to its Mayor, Eng. Aires Ferreira; to the Moncorvo Municipal Library, especially to Mrs. Helena Pontes; to CEPESE, the entity responsible of the organization of this Seminar (especially to Paula Barros, Paulo Amorim and Maria José Ferraria); to the Associação dos Alunos e Amigos do Ex-Colégio Campos Monteiro, to Mrs. Conceição Salgado and to Mrs Adília Fernandes; to ISLA (especially Professors António Martins and Maria da Graça Martins); to the Galerias Cordeiro (especially to Mr. Agostinho 9 MARIA RAQUEL FREIRE / FERNANDO DE SOUSA Cordeiro); to the University Lusíada of Porto, Real Companhia Velha, Carnady, Fundação Eng. António de Almeida, FCT, Jornal de Notícias and Banco Espí- rito Santo. Finally, one last word of appreciation to all the colleagues, Portuguese and Spanish, who have accepted the challenge of participating in this Seminar. Fernando de Sousa (Presidente do CEPESE) 10 MONCORVO. UMA REFLEXÃO EM TORNO DA SUA IDENTIDADE E DA SUA AFIRMAÇÃO NO FUTURO Fernando de Sousa 1. UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA As origens do concelho de Torre de Moncorvo remontam à Idade Média. Em finais do século XIII, D. Dinis concedeu-lhe carta de foral, e no século XIV a vila foi dotada com muralhas e um castelo. Nos séculos XV a XVII, Moncorvo vai conhecer uma notável prosperidade económica, graças sobretudo à riqueza agrícola do vale da Vilariça, a região mais fértil de Trás-os-Montes. A expansão da cultura do linho cânhamo, da vinha, azeite, seda, lã, amên- doa e cereais, a exploração do ferro, o dinamismo comercial da sua importante feira, aliados à sua posição geográfica, que fazia de Moncorvo um importante nó de comunicações entre Trás-os-Montes e a Beira, constituem os factores explicativos mais importantes do seu crescimento demográfico (300 fogos em 1530), do seu desenvolvimento económico e da sua afirmação como um dos pólos urbanos mais importantes no Nordeste Trasmontano, projectando a sua influência muito além do seu município. Assim, o rabino da sinagoga de Moncorvo chegou a deter jurisdição sobre todos os judeus de Trás-os-Montes. Moncorvo, no século XVI, na sequência da nova divisão administrativa do Reino, passa a sede de uma das quatro comarcas de Trás-os-Montes então cons- tituídas, abrangendo um extenso território e a sede de provedoria.