PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO os açorianos, assim como os africanos, em sua maioria na pedra não argamassada, as “taipas”, destacam-se as sedes de te, e igualmente adaptando-se o seu conhecimento cons- caráter ornamental, que tinha como referência o barroco das CATARINENSE condição de cativos, tendo sido os principais trabalhadores fazenda. Algumas delas consistem em imponentes casarões trutivo e os seus usos às condições encontradas em Santa construções coloniais brasileiras. da construção civil até o final do século XIX (Piazza, 1983). luso-brasileiros e foram construídas mediante o aproveita- Catarina, que deram origem ao que se define como arquitetu- Ao mesmo tempo em que se assistia o surgimento das pri- mento de materiais característicos da região , como ra ítalo-brasileira. (Vieira Filho et. al., 2012). O conjunto das Destaca-se nesse período a presença dos engenheiros milita- meiras salas de cinema, grupos escolares, galerias comer- as pedras de basalto e arenito, ou, de forma bastante original, Casas de Pedra de Nova Veneza é um exemplo notável dessa res, que além de projetar as fortificações que deveriam prote- ciais e edifícios de apartamentos, inaugurando o processo com a madeira proveniente das matas de araucária, o pinhei- adaptação, que é evidente nas propriedades rurais: houve o ger o território de possíveis invasões, sendo a maior ameaça de adensamento e verticalização, boa parte das cidades ro brasileiro (Santos, 2015). desmembramento da “casa bloco” ancestral (como nas casas representada pelos espanhóis, foram também responsáveis continuava a ter velhas fachadas oitocentistas simplesmente teuto-brasileiras) em três edificações distintas, que abrigam pela racionalidade dos desenhos urbanos e pela linguagem Cercadas por “mangueiras” (currais) também erguidos com maquiadas ao gosto eclético ou art déco, tendo os beirais de a moradia e a cozinha, estas mais próximas, e o estábulo, predominantemente clássica de igrejas e edifícios públicos taipas, essas residências e seus galpões formavam o núcleo telha e cimalhas substituídos por platibandas, para a insta- implantado a relativa distância do núcleo residencial. (Vieira Filho, s/d). Como a Catedral de Florianópolis e o central da fazenda pastoril, que por sua vez desempenhou lação de calhas e a eliminação do problema do despejo das antigo Palácio do Governo, atual Museu Histórico de Santa papel fundamental para o desenvolvimento social e econô- O desenvolvimento da agricultura, a exploração do carvão águas pluviais sobre as calçadas (Santos, 2015). Catarina – Palácio Cruz e Sousa, que foram projetados pelo mico de , possibilitando de maneira efetiva a mineral, da madeira e da erva-mate, associadas ao surgimento Nas ruas em que se substituiu a terra pelos paralelepípe- 1 brigadeiro José da Silva Paes, primeiro governador de Santa integração terrestre do estado com o restante do país, durante das primeiras indústrias, possibilitou a prosperidade das antigas dos, o número crescente de automóveis, se impondo como Catarina e ainda responsável pela construção das fortalezas o ciclo da pecuária e das tropas. colônias europeias, na sua maioria transformadas em cidades. o principal meio de transporte, demandou o aparecimento de Anhatomirim, Santo Antônio de Ratones, São José da Progressos que refletiram diretamente na arquitetura, sendo das primeiras garagens, que eram construídas compondo Ponta Grossa e Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba, notável em municípios como e a substi- conjunto com elegantes moradias do tipo bangalô, cercadas nas baías norte e sul da Ilha de Santa Catarina (Souza, 1992). A importante contribuição dos imigrantes tuição das primitivas casas em enxaimel, sobretudo nas áreas por jardins privativos. Após a Independência, o governo brasileiro deu início ao Ocorreu assim a formação de uma cultura arquitetônica lu- urbanas, por confortáveis residências erguidas em alvenaria processo de colonização do território nacional com imigran- Serrarias melhor aparelhadas possibilitaram a fabricação História, cultura e diversidade: so-brasileira, disseminada por mestres construtores pedreiros autoportante de tijolos, além de estabelecimentos comerciais tes europeus, com o intuito de promover o desenvolvimento de tábuas, ripas, caibros e esquadrias com dimensões e e carpinteiros, que se estendeu por todo o século XIX e que e fábricas. Nesses edifícios, para além da manutenção da lin- uma síntese da arquitetura econômico, a partir da substituição gradual da mão-de-obra encaixes padronizados, resultando no desuso da carpintaria resistiu até mesmo às influências do neoclassicismo, corrente guagem arquitetônica germânica, se percebe nas fachadas a escravizada por trabalhadores livres, e expandir a ocupação tradicional; a instalação de novas olarias difundiu o uso de catarinense que ainda se destacam na paisagem de municípios como estilística importante em outras províncias brasileiras, mas introdução de elementos decorativos de gosto eclético, como em áreas ainda pouco exploradas, especialmente na região tijolos e telhas industriais, com as telhas francesas tomando , Laguna, Joinville e São Francisco do Sul. que em Santa Catarina ficou praticamente restrita a alguns molduras, guirlandas, frontões e pináculos, e internamente a Fabiano Teixeira dos Santos Sul (Vieira Filho et. al., 2007). a preferência dos construtores e clientes; o ferro e o vidro edifícios públicos (como a antiga Alfândega de Florianópo- pintura ornamental de paredes e tetos. Desde o período colonial, até a proibição de sua extração a passaram a ser facilmente encontrados nos comércios locais; Santa Catarina é um grande mosaico cultural, e o rico pa- lis). Fortes, igrejas, casas de câmara e cadeia, casas térreas e Muitos colonos alemães, além de agricultores e artesãos, partir da legislação de proteção ao patrimônio arqueológico Na arquitetura religiosa, apareceu o estilo neogótico, desta- e o cimento, além de decretar o fim das antigas caieiras trimônio arquitetônico encontrado demonstra a diversidade sobrados, casas de chácara e de fazenda, armações baleeiras tinham experiência militar em razão de sua ativa participação brasileiro, na década de 1960, os sambaquis foram largamen- cando-se as torres pontiagudas e aberturas com vãos em arco instaladas junto aos concheiros e sambaquis, possibilitou cultural dos catarinenses, materializando em edificações dos e engenhos para produção de farinha de mandioca e açúcar em conflitos na Europa, e portanto, seriam um importante te utilizados para a obtenção da cal empregada na construção ogival, influência das correntes romântica e historicista. o desenvolvimento da tecnologia do concreto armado, que diversos períodos históricos, estilos, funções e tipologias as materializaram nas suas formas quase sempre muito simples reforço para as tropas imperiais, na defesa das fronteiras civil, diante da inexistência de jazidas de calcário no litoral. mudou definitivamente a construção civil e viabilizou a inúmeras contribuições étnicas, os ciclos econômicos e os e funcionais, mediante o emprego da pedra, do barro, da cal meridionais do país, que passaram a ser ameaçadas não mais A implantação das ferrovias, que incluiu a construção de Enquanto importantes sítios pré-históricos foram destruí- arquitetura modernista em Santa Catarina a partir da década modos de organização social e espacial das comunidades, e da madeira, as formas de construir e viver dos colonizado- pelos espanhóis, mas por argentinos, uruguaios e paraguaios. complexos de arquitetura ferroviária, com estações, armazéns dos por essa atividade, algumas localidades conservaram a de 1950 (Teixeira et. al., 2016). desde sua origem até a atualidade (Santos, 1980). res (Santos, 2015). de carga e vilas para funcionários, impulsionou ainda mais o denominação “Caieira”, em referência às antigas fábricas de Santa Catarina estava na rota da imigração e recebeu a partir crescimento econômico de Santa Catarina, permitindo, além Florianópolis, Blumenau, Joinville, Itajaí, Tubarão, Cri- É preciso destacar que as características que determinam cal que aí existiam, junto aos sambaquis, ainda sendo pos- Como em outros estados brasileiros, foi a partir do século de 1829, com a fundação da Colônia de São Pedro de Al- do desenvolvimento das regiões de imigração, a circulação de ciúma, e Chapecó reúnem um significativo acervo o valor histórico-cultural de um imóvel e que podem, por sível encontrar ruínas dos fornos feitos com tijolos maciços XIX que transcorreu o afastamento da condição colonial em cântara, na Grande Florianópolis, inúmeras famílias alemãs, riquezas nas cidades portuárias: Laguna, Itajaí e São Francisco de edifícios de linguagens modernas, dentre casas, clubes, exemplo, justificar a adoção de medidas protetivas como o (Santos, 2020). Santa Catarina, inclusive no que diz respeito aos edifícios, seguindo-se a fundação das colônias de Blumenau, Dona do Sul, onde chegavam os trens carregados de produtos para a igrejas, bancos, fábricas, prédios residenciais, comerciais e tombamento, podem variar bastante, uma vez que é possível adaptando-se os modos de construir portugueses à realida- Francisca (Joinville), Brusque e São Bento do Sul. Já os grupos proto-jê se notabilizaram pelas aldeias implan- exportação, assistiram a renovação arquitetônica e a constru- administrativos, erguidos entre as décadas de 1930 e 1980. reconhecer inúmeras qualidades, valores e significados nes- de que se encontrou no litoral e no planalto, em função de tadas nos bosques de araucária, formadas por conjuntos de Na bagagem cultural dos imigrantes, veio também a arqui- ção de novos edifícios com linguagem eclética. sas edificações (Gonçalves, 2016). fatores como a disponibilidade de mão-de-obra e materiais, Deste importante período para a construção no estado, desta- “casas subterrâneas” e aterros geométricos. Ocorrem em toda tetura. Contudo, em razão do clima e da oferta de materiais a viabilidade das técnicas construtivas, as imposições da geo- Com a incorporação definitiva do meio oeste e oeste catari- caram-se inúmeros arquitetos e engenheiros, dentre os quais Por muito tempo o valor patrimonial de uma edificação era a extensão do planalto, com conjuntos mais expressivos no locais, essas construções foram adaptadas e deram origem grafia e do clima, o maior ou menor desenvolvimento econô- nense ao território do estado na primeira metade do século o suíço Ludwig Rau e o alemão Hans Broos. O primeiro determinado pelo seu refinamento artístico, por sua monu- interior de Lages, São José do Cerrito, e municípios ao que se definiu como arquitetura teuto-brasileira, apresen- mico, dentre outros. Tornou-se possível assim, para além de XX, houve a expansão das populações descendentes de imi- com importante acervo art déco que inclui os cineteatros mentalidade, antiguidade ou ligação a fatos e celebridades da vizinhos. tando, portanto, semelhanças e diferenças com as edificações permanências e semelhanças, as inovações e regionalismos grantes, o que inclusive atraiu o excedente populacional das Mussi (Laguna), Marajoara (Lages) e São José (Florianópo- história oficial. Porém, esse conceito evoluiu e atualmente o das várias regiões de onde vieram (Vieira Filho et. al., 2012). entendimento e o reconhecimento da importância de um bem Esses abrigos consistiam em buracos abertos na forma de cír- que acabaram por caracterizar a arquitetura luso-brasileira antigas colônias alemãs e italianas do Rio Grande do Sul. lis), além do Edifício Dr. Acaccio, em Lages (Ishida et. al., culo, com diâmetro variando de dois a vinte metros e profun- catarinense, tanto formal como tecnologicamente. Se por um lado o clima quente e úmido do vale do Itajaí e do 2012); e o segundo notabilizando-se pelo estilo brutalista de arquitetônico vai muito além desses aspectos formais, poden- Foi notável aí o aproveitamento das grandes florestas de do relacionar-se a um significado cultural mais amplo, não didade de até doze metros, acessíveis por escadas e dotadas araucária, passando a madeira a ser o material mais em- suas obras em concreto aparente, a exemplo do monumental apenas enquanto bem material, mas também na dimensão de bancadas de terra escavadas nas paredes da estrutura, para pregado na construção, encontrada em igrejas neogóticas, complexo industrial Hering, em Blumenau, projeto cujos intangível do patrimônio (patrimônio imaterial): sua relação a realização das atividades domésticas. Projeções de arque- armazéns, moinhos hidráulicos e nas moradias, para as quais jardins tem a assinatura do grande paisagista Roberto Burle com manifestações tradicionais e personagens da cultura ólogos indicam que eram cobertas por telhados de palha, se adotou principalmente a tipologia arquitetônica do chalé e, Marx (Lima et. al., 2018). popular, o valor afetivo que lhe é atribuído pela comuni- formados por estruturas radiais em madeira e sustentados por mais tardiamente, do bangalô. dade na qual está inserido e que assim se identifica e se vê troncos e esteios de araucária, consistindo assim em mora- Importante mencionar também a atuação em Santa Catarina representada no espaço edificado, a relação que estabelece dias perfeitamente adaptadas ao clima e aos recursos naturais Os chalés se caracterizam pelas coberturas de duas águas de outros renomados profissionais, como o alemão Got- com outros edifícios, formando conjuntos, e/ou com o seu da serra catarinense (La Salvia, 1983). São comuns também com grande inclinação e aproveitamento de sótão, com os tfried Boehm, que projetou a catedral São Paulo Apóstolo entorno, resultando numa paisagem cultural. os aterros geométricos circulares ou em forma de fechadura, 2 3 4 5 frontões e beirais ornamentados por lambrequins, e ge- em Blumenau e a igreja matriz de Brusque (que lhe rendeu destinados ao sepultamento dos líderes tribais, implantados ralmente erguem-se de porões em pedra utilizados como o prêmio Pritzker em 1986); o paulista radicado no Paraná Enfim, são inúmeros os atributos do patrimônio cultural quase sempre nas fronteiras dos territórios. Na faixa litorânea, de norte a sul, a presença marcante dos não implicou no abandono das coberturas depósitos e adegas. As estruturas autoportantes de madeira Rubens Meister, que após projetar o Teatro Guaíra de Curi- edificado, o que explica em Santa Catarina os tombamentos colonizadores açorianos, chegados em grande número entre pontiagudas cobertas por telhas cerâmicas rabo-de-castor, ca- são vedadas por tábuas dispostas verticalmente, fazendo-se tiba, foi autor do Cine Marrocos de Lages; Oscar Niemeyer, municipais, estaduais e federais de centenas de construções, Quando do início da colonização no século XVII, tanto 1748 e 1756 (Piazza, 1992), e a formação de uma sociedade racterísticas das zonas mais frias da Europa, impôs à maioria o acabamento com mata juntas, enquanto os telhados são maior nome do modernismo no Brasil, autor do Lagoa Iate dentre fortificações coloniais, igrejas com altares barrocos, os construtores de sambaquis como os proto-jê já haviam predominantemente rural, baseada na pequena propriedade, das residências a adoção de varandas frontais que ajudaram a revestidos com folhas de flandres (telhas de zinco), telhas Clube – LIC em Florianópolis, dentre outros projetos menos palacetes, clubes e escolas do início do século XX, sedes de desaparecido. O mesmo destino teve a maioria de seus des- na agricultura familiar e na pesca, foram aspectos de grande amenizar o calor, determinando ainda a separação da cozinha cerâmicas francesas ou tabuinhas de araucária. conhecidos, como o prédio da Biblioteca Pública do Estado, fazendas, casas singelas de imigrantes alemães, italianos e cendentes e boa parte dos índios Carijó, que principalmente em Florianópolis, que acabou não concluído em razão da importância para a estruturação da sociedade, do território e dos estábulos em relação ao espaço de moradia. Na Alema- Já os bangalôs apresentam grande diversidade de composi- poloneses, antigas fábricas, moinhos, complexos ferroviá- no litoral, entre o final do século XVI e a primeira metade do morte trágica do governador Jorge Lacerda, idealizador da e de sua paisagem. Ainda hoje a permanência em algumas nha, essas funções aconteciam todas numa única edificação. ções volumétricas, incluindo coberturas múltiplas, alpendres rios, pontes, cinemas e edifícios modernistas. século XVII, foram varridos por grupos de bandeirantes que comunidades dos “impérios do Espírito Santo”, tipo muito obra, em 1958; e Ademar Cassol, Odilon Monteiro e Moysés Por outro lado, a Mata Atlântica, abundante em madeira de e varandas que por vezes circundam toda a edificação. vinham a Santa Catarina para aprisioná-los e levá-los como particular de capela utilizada durante as festas do Divino, Liz, arquitetos que assinam muitos edifícios institucionais boa qualidade, permitiu aos construtores germânicos a reto- escravos para São Paulo e São Vicente. atesta a contribuição dos ilhéus para a cultura dessas comuni- Contudo, é bastante curioso ter havido em localidades mais e administrativos em Florianópolis nos anos 1970 e 1980, Construções pré-históricas mada de uma técnica construtiva que apresentava inúmeras De qualquer forma, não se pode descartar a ocorrência de dades (Santos, 2008). isoladas colonizadas por descentes de alemães provenientes destacando-se o Ceisa Center, ícone da arquitetura moderna Embora se possa pensar numa arquitetura catarinense a partir vantagens e que, na Europa, já beirava a extinção, em função aculturação em algum nível, no tocante às construções, do Rio Grande do Sul, um processo de resistência cultural, catarinense. dos três primeiros assentamentos urbanos de origem colonial Os núcleos urbanos (vilas e freguesias) foram na sua maioria da devastação da maioria das florestas. Trata-se do fachwerk, entre nativos e luso-brasileiros, pois é sabido que a farinha em que se deu a permanência bastante tardia do fachwerk. portuguesa, fundados no século XVII – São Francisco do estruturados no entorno de grandes praças retangulares, por ou enxaimel, que consiste na montagem de uma estrutura de mandioca, principal alimento desses povoadores, assim Não apenas no meio rural, mas em áreas urbanas, caso da 6 7 Sul, Desterro (atual Florianópolis) e Laguna – pode-se dizer vezes ligadas ao mar ou a alguma lagoa, tendo numa das autônoma de madeira sobre fundações de pedra ou tijolos, como as embarcações tradicionais do tipo canoa bordada cidade de São Carlos, próxima a Chapecó, em que foi preser- que as primeiras construções erguidas por aqui são muito extremidades a igreja matriz e sendo delimitadas por singelo sendo as peças (esteios, contraventamentos diagonais, vigas, ou de voga, são heranças culturais dos Carijó. Uma possí- vado expressivo conjunto de casas construídas com a técnica mais antigas e remontam há milhares de anos. casario luso-brasileiro. Localidades como Ribeirão da Ilha barrotes e as tesouras do telhado), numeradas e ligadas enxaimel entre as décadas de 1920 e 1950. vel relação entre as casas primitivas dos colonos açorianos e Santo Antônio de Lisboa no município de Florianópolis, por meio de encaixes de precisão com grande variedade Houve inicialmente a ocupação do litoral por grupos deno- estabelecidos na Ilha de Santa Catarina e as tecnologias Enseada de Brito (município de Palhoça), e os centros histó- de padrões, representando a apurada técnica da carpintaria minados construtores de sambaquis, cujas evidências datam construtivas indígenas, como o pau-a-pique, é sugerida por ricos de São Francisco do Sul, São José, e Laguna alemã. Dessa forma, restava às paredes a função de vedação, Modernidade em Santa Catarina de um extenso período compreendido entre 8.000 e 1.000 pesquisadores (Conceição, 2013). preservam parte significativa de seus conjuntos arquitetôni- fazendo-se o fechamento dos vãos da estrutura principal- Na medida em que se avançava no século XX, a facilidade anos antes do presente. cos luso-brasileiros. mente com taipas e principalmente com tijolos, rebocados ou cada vez maior para a obtenção de novos materiais e tecno- deixados aparentes. Nas terras altas do planalto serrano, os aterros geométricos e Arquitetura luso-brasileira no litoral e no Nas zonas rurais, casas simples de pau-a-pique ou alvenaria logias, juntamente com o esforço orquestrado pelas autori- estruturas subterrâneas resultam do povoamento por grupos planalto pontilhavam as margens dos caminhos e praias, havendo Na segunda metade do século XIX, somaram-se aos alemães dades municipais na tentativa de renovação arquitetônica e Bibliografia no Caderno 1 proto-jê, ancestrais dos atuais Xokleng e Kaingang, há pelo nas imediações, ou por vezes contíguos aos telhados das outros milhares de imigrantes, dentre os quais franceses, melhoramento urbano por meio da imposição dos códigos de Nos séculos XVII e XVIII, deu-se a introdução e adaptação menos 2.000 anos atrás. moradias, os engenhos movidos por tração animal, onde suíços, eslavos (poloneses e ucranianos, concentrados no posturas e reformas de caráter higienista levaram gradativa- Imagens: das tipologias e soluções construtivas de origem portuguesa, era produzido o principal produto econômico e sustento das planalto norte, em municípios como Itaiópolis), e principal- mente ao abandono das formas tradicionais de construção. 1 - Casas subterrâneas, sítio arqueológico proto-jê, em Os primeiros se notabilizaram por erguer ao longo de vários começando pela faixa litorânea, onde os primeiros núcleos Lages, ilustração de Philipe Sidartha Razeira. famílias: a farinha de mandioca. Por toda a Ilha de Santa mente italianos. Estes se estabeleceram no vale do rio Tiju- milênios imensos montes circulares construídos por uma de povoamento foram estabelecidos – São Francisco do Há de se destacar também a difusão de influências estéticas 2 - Casa rural luso brasileira em , Fabiano T. dos Catarina, ou no interior de municípios como Imaruí, Jagua- cas, onde fundaram Nova Trento, e no sul catarinense, nas sucessão de camadas de conchas de moluscos que guardam Sul, Desterro (atual Florianópolis) e Laguna (Broos, 2002), de procedência europeia, como o ecletismo, o art nouveau Santos. runa e , ainda são encontrados exemplares dessas colônias de Pedras Grandes, Azambuja, Grão Pará, Orleans, os vestígios da sua ocupação, conhecidos por “sambaquis”. chegando enfim aos Campos de Lages, no planalto serrano e o art déco, ainda que num primeiro momento restrita à 3 - Casa enxaimel em Joinville, Fabiano T. dos Santos. edificações que associam a moradia e os espaços de trabalho e Nova Veneza, locais onde ainda se encontram 4 - Moinho de madeira em Itaiópolis, João Serraglio. Tendo os maiores mais de 40 metros de altura e algumas (Santos, 2015). renovação de fachadas. centenas de metros de diâmetro, eram utilizados como (Santos, 2020). inúmeras casas e igrejas erguidas entre o final do século XIX 5 - Ecletismo: chalé com lambrequins, em Sangão, Fabiano T. Essa arquitetura testemunhou a ocupação e a colonização do e o início do século XX. Em reação aos estrangeirismos, surge o neocolonial, que se dos Santos. cemitério coletivo e marco visual pelas comunidades que No planalto, em localidades como a Coxilha Rica, no muni- território catarinense em seus primórdios, principalmente por apresentava como uma alternativa genuinamente nacional 6 - Art déco, Edifício Dr. Accacio, em Lages, Fabiano T. dos habitavam as praias, baías e lagoas da costa catarinense (De cípio de Lages, cujos campos nativos foram cortados pelos Dentre os italianos, notabilizou-se o emprego da alvenaria Santos. contingentes vicentistas e portugueses, com destaque para para a modernização da arquitetura, apesar de seu explícito Blasis et. al., 2007). Verdadeiros monumentos pré-históricos caminhos de tropeiros, definidos pelos extensos muros de autoportante de pedra e tijolos, muitas vezes deixada aparen- 7 - Moderno, sede da CELESC, Florianópolis. João Serraglio. 52 24 40 31

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Patrimônio arquitetônico catarinense, desenhos de Fabiano Teixeira dos Santos, 2020.

1 - Cine Teatro, . 32 - Casa rural luso brasileira, Sangão, Jaguaruna. 30 2 - Casa da Memória, São Carlos. 33 - Conjunto de Pedra: Estábulo, Cozinha e Sobrado, 43 32 3 - Moinho Bertosso, São Domingos. Nova Veneza. 57 4 - Antiga Prefeitura, Chapecó. 34 - Igreja São Gervásio e São Protásio, Urussanga. 5 - Antiga prefeitura, Xanxerê. 35 - Estação Ferroviária, Jaguaruna. 6 - Igreja Matriz de São Judas Tadeu, Vargem. 36 - Antiga Residência Augustto Casagrande, atual 7 - Igreja da Localidade de Pinheiro Preto, atual Museu, Criciúma. Museu, Concórdia. 37 - Casa luso brasileira, Imaruí. 8 - Igreja Matriz de São João Berchmans, São João 38 - Casa Enxaimel, São Bonifácio. do Oeste. 39 - Antiga Estação Ferroviária, Joinville. 9 - Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus, Paraíso da 40 - Casa Neumann, São Bento do Sul. 37 35 Serra, Bom Retiro. 41 - Casa Ítalo brasileira, Urussanga. 41 Publicação da Câmara Temática 10 - Casa Enxaimel, Mondaí. 42 - Igreja Luterana do Espírito Santo, Blumenau. Cidade: Patrimônio de Todos 11 - Casa Alberton, Itá. 43 - Cine Marrocos, Lages. do CAU/SC, junho de 2020. 12 - Antiga Sede da Cia Colonizadora Territorial Sul 44 - Antigo Grupo Escolar Victor Meirelles, Itajaí. Brasil, atual Museu Municipal Padre Fernando Nagel, 45 - Edifício Normandie, Florianópolis. Maravilha. 46 - Antiga Alfândega, Florianópolis. Para mais 13 - Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga, Xaxim. 47 - Engenho dos Andrade, casa rural, Santo Antônio informações 14 - Clube Xanxerense, Arq. Ivo Zolet, 1958, Xanxerê. de Lisboa, Florianópolis. 15 - Casa Konzen, Itapiranga. 48 - Casa de Câmara e Cadeia e Theatro Adolpho sobre Patrimônio 16 - Antiga Prefeitura, . Mello, São José. arquitetônico 17 - Moinho Barzotto, Ipoméia, Rio das Antas. 49 - Residência Família Beck, Florianópolis. catarinense 18 - Antiga Prefeitura, . 50 - Igreja da Armação da Piedade, Gov. Celso acesse: 19 - Edifício Doutor Accacio, Lages. Ramos. 20 - Estação Ferroviária, Porto União. 51 - Império, Ribeirão da Ilha. http://www.causc.gov.br/ 21 - Estação Ferroviária, Caçador. 52 - Mercado Municipal, São Francisco do Sul. projetos/patrimonio/ 22 - Museu do Vinho, antiga Casa Canônica, . 53 - Casa enxaimel, Escritório Técnico do IPHAN/ 23 - Casa rural luso brasileira no Ribeirão da Ilha, SC, . 34 Florianópolis. 54 - Fazenda Pinheirinho, Lages. 24 - Casa de Escamas, Canhoinhas. 55 - Casa Zipser, Florinópolis. 33 25 - Capelinha, Garopaba. 56 - Casa Buzzi, . 26 - Igreja de Santo Estanislau, Alto Paraguaçu, 57 - Palacete Cabral, Tubarão. Itaiópolis. 58 - Forte Santana, Florianópolis. 27 - Castelinho, Treze Tílias. 59 - Casa enximel, Joinville. 28 - Igreja Matriz de Santo Antonio de Lisboa dos 60 - Catedral São Paulo Apóstolo, Campanário, Anjos e casario luso brasileiro, Laguna. Blumenau. 29 - Fazenda Capão do Posto, Capão Alto. 61 - Igreja de São Pedro e São Paulo, Moema, 30 - Antiga residência da família Mattos, Teófilo Itaiópolis. Mattos, São Joaquim. 31 - Casario luso brasileiro, São Francisco do Sul. 36