A Primeira República Portuguesa Implantada a 5 De Outubro De 1910
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA Governo de Pimenta de Castro Um General no Labirinto da I República Bruno José Navarro Marçal Mestrado em História Contemporânea 2010 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA Governo de Pimenta de Castro Um General no Labirinto da I República Bruno José Navarro Marçal Mestrado em História Contemporânea Dissertação orientada pelo Prof. Dr. Ernesto Castro Leal 2010 2 Resumo O trabalho que agora apresentamos, propõe uma nova leitura historiográfica de um dos períodos mais controversos e porventura menos estudados da I República portuguesa: o Governo do General Pimenta de Castro (25 de Janeiro a 14 de Maio de 1915), primeira tentativa conservadora de inverter a orientação radical que o regime tivera até esse momento, sob a direcção do Partido Republicano Português (Partido Democrático), que foi bruscamente interrompida pela revolução mais sangrenta da I República, saldada num número superior a duzentos mortos e mais de mil feridos. Pretendemos analisar a orientação política nacional e internacional desta governação, apontando as suas principais linhas de força, contextualizadas no quadro de grande instabilidade social, conflitualidade político-partidária e crise internacional, que caracterizaram a vigência do regime republicano português, com especial incidência no período da Grande Guerra, questionando as visões históricas mais tradicionalistas que identificaram, desde sempre, esta governação como a primeira experiência ditatorial da I República, “um elo mais na cadeia de sucessivas aproximações autoritárias ao sistema político português”, iniciada por João Franco nos anos finais da Monarquia Constitucional e que cristalizou com o Estado Novo, de Oliveira Salazar. 3 Résumé Le travaille que, maintenant, nous présentons, propose une nouvelle perspective historiographique au sujet d’un période controversée et très peu étudié, de la I République Portugaise: le gouvernement du Général Pimenta de Castro (du 25 Janvier a 14 Mai 1915), première tentative des conservateurs, d’inverser l’orientation radical qui avait eu lieu jusque a présent, sous la direction du Parti Républicaine Portugaise (Parti Démocratique) qui a été brusquement interrompu par la plus sanglante révolution de la I République, soldé en plus de deux cents morts et mil blessées. Nous voulons analyser l’orientation politique nationale et internationale de ce gouvernement, remarquer ces lignes principales de force insères dans le cadre politique d’instabilité sociale, de conflit politique partiaire, et de la crise international, qui ont caractérisé le régime républicain portugais, surtout pendant la période de la Première Guerre mondial, mettant en question les visions historiques plus traditionalistes démonstratives, depuis toujours, de cette gouvernance comme la première expérience dictatorial de la I République, «un maillon de plus dans la chaîne de successives reproches autoritaires au système politique portugais», débuté par João Franco dans les dernières années de la Monarchie Constitutionnelle e que à cristallisé avec l’ Estado Novo, de Oliveira Salazar. 4 Índice Resumo .......................................................................................................................................... 3 Résumé .......................................................................................................................................... 4 Introdução ..................................................................................................................................... 6 1 – A I República Portuguesa no contexto europeu .................................................................... 10 2 – Os trabalhos iniciais da I República ...................................................................................... 14 2.1 – O Governo Provisório e a obra da Constituinte ................................................................. 14 2.2 – Evolução dos Partidos e Grupos Políticos na República até 1915 ..................................... 23 2.3 – As transformações nas Forças Armadas até 1915 .............................................................. 31 2.4 - Leis Eleitorais do novo regime até 1915 ............................................................................. 38 2.5 - O problema colonial português, os sistemas de aliança na Europa até à Grande Guerra, e o Perigo Ibérico .................................................................................................................... 42 2.6 – A Prática Governativa até 1915 ......................................................................................... 50 2.7 – O Governo de Azevedo Coutinho e o “Movimento das Espadas” ..................................... 55 3 – General Joaquim Pereira Pimenta de Castro ......................................................................... 61 3.1 – Breve biografia ................................................................................................................... 61 3.2 – Presidente do Ministério..................................................................................................... 69 3.3 – Constituição do Governo .................................................................................................... 77 4 – A actuação política do Governo ............................................................................................ 93 4.1 – Uma proposta de Lei Eleitoral ........................................................................................... 93 4.2 – Reunião clandestina do Congresso ................................................................................... 132 4.3 – Um Governo pacificador e a sua diabolização ................................................................. 142 4.4 – A Ditadura e os Partidos Políticos .................................................................................... 158 4.5 – A Grande Guerra e o regresso do Iberismo: a acção diplomática do Governo Pimenta de Castro .............................................................................................................................. 197 4.6 – Um governo isolado e inoperante: as causas da Revolução de 14 de Maio ..................... 240 Conclusão .................................................................................................................................. 253 Fontes e Bibliografia ................................................................................................................. 270 5 Introdução “Pimenta de Castro foi o mais puro representante das classes-médias que foi ao poder em Portugal. Reflectiu perfeitamente a sua ânsia de paz, de tolerância e de liberdade. Caiu”1. “As três tentativas para fazer governar as classes médias — João Franco, Pimenta de Castro, Sidónio país — acabaram, duas por um crime, e outra pela mais antinacional das revoluções portuguesas”2. Fernando Pessoa O Governo do General Pimenta de Castro (Janeiro – Maio de 1915) representou, na conturbada vigência da I República Portuguesa, a primeira reacção das forças conservadoras à deriva radical-jacobina, iniciada a 5 de Outubro de 1910, essencialmente conduzida pelo principal partido do regime, liderado por Afonso Costa, que haveria de inviabilizar qualquer iniciativa que visasse a pacificação da sociedade portuguesa. Alcandorado ao poder na sequência de uma manifestação de oficiais do Exército, descontentes com as alterações introduzidas, pelo novo regime, na estruturação das Forças Armadas e, por outro lado, apreensivos com a obstinada determinação intervencionista do poder político, no contexto europeu e colonial, da Grande Guerra de 1914-1918, o Governo de Pimenta de Castro foi investido pelo Presidente da República, Manuel de Arriaga, à revelia do equilíbrio de forças político- partidárias, existente no Congresso da República, naquilo que podia ser visto como um verdadeiro golpe de estado presidencial que, no entanto, vinha sendo reivindicado por 1 Fernando Pessoa. Pessoa Inédito, Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Livros Horizonte, 1992, p. 208. 2 Fernando Pessoa, Da República, Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão, Lisboa: Ática, 1979, p. 103. 6 amplos sectores da sociedade civil, como forma de aplacar o ambiente de permanente instabilidade política e desordem pública. Esta experiência governativa durou apenas cento e dez dias, culminando com a revolução mais sangrenta da I República, saldada, segundo testemunhos da época, em mais de duzentos mortos e mil feridos. Os vencedores haveriam de justificar o acto revolucionário com a necessidade de apear do poder uma afrontosa ditadura, alegadamente incompatível com os intangíveis ideais republicanos e de resgatar a legalidade constitucional. Os vencidos nunca deixaram de olhar para aquela revolução como um dos maiores crimes cometidos contra o país, denunciando a simples ambição partidária pelo poder, como a grande causadora do sacrifício de tantos portugueses. Desde então, sobre o Governo de Pimenta de Castro tem pairado a suspeita de traição à República, por lhe ter infligido o primeiro desvio ditatorial do regime, descobrindo-se-lhe até a secreta intenção de restituir os selos da nação à Monarquia e, no plano internacional, de pretender desprezar as importantes responsabilidades do País, diante da conflagração mundial, decorrentes da nossa tradicional situação de aliados de Inglaterra, sobre ele pesando o sentencioso