JÚLIO A. HENRIQUES

A ILHA DE S. TOMÉ

SOB 0 PONTO DE VISTA HISTORIGO-NATURAL E AGRÍCOLA

COIMBRA

imprensa cia Universidade

1917 A ILHA DE S. TOMÉ

SOB 0 PONTO DE VISTA HtSTORICO-NATURAL E AGRICOLA Separata do Boletim da /Sociedade liroteriana,

Vol. XXVII Á MEMÓRIA

Qcmzíñ&m oFxanohco oFdhêQAÃo fyiaõ Qcda CARTA DE S. TOME

1. Pico de S. Thomé. 23. Rio Ana de Chaves.

2. Estação Souza. 24. » Lembá.

3. Lagoa Amélia. 25. » Cantador.

4. Morro Castro. 26. » Contador.

5. Peninha. 27. B do Ouro.

6. O oculto. 28. » Agua grande.

7. Formosos. 29. » Manuel Jorge.

8. Botija. 30. » Abade.

9. Cruseiro. 31. » Cao pequeno.

10. Montes da Fraternidade. a. Baia de Ana de Chaves.

11. Morro Moqitimqui. b. Baía de Santa Ana.

12. » Carregado. c. Angra de S. Jo3o.

13. » Peixe. d. Baía da Praia grande.

14. O Mopongo. e. Enseada do lógó-Iógó. 15. Morro Cantagalo. / Ponta do homem da capa.

16. » Maria Fernandes. 9- Baía de S. Miguel.

17. Pieo Ana de Chaves. h. Diogo Vaa.

18. O Charuto ou Pico Maria Pires. i. Ponta figo. — 8nr.a das Kevea.

19. Cabombey. R. Ilheu das Rolas.

20. Cão grande.

2t. Pico Zagaia. NB. Para mais indicações veja-se 22. E.io ló grande. a carta da ilha do Dr. Greeff.

Desde quando o Jardim Botánico da Universidade de Coimbra começou a tor relações com os agricultores da ilha de S. Tomé, enviando-lhes plantas úteis e entre elas principalmente as da quina, para que encetassem novas culturas, nutri desejo de visitar esta ilha para ver e estudar processos agrícolas e para contemplar a esplên• dida vegetação tropical. Realizei esse desejo em 1903. » A 23 de junho embarquei no Benguela. Os longos dias de via• gem tornaram-se agradáveis pela amabilidade do pessoal do navio e peia optima convivência com os passageiros, que seguiam para diversos pontos de Africa. Fora do navio as distrações eram pou• cas. Repetidas vezes gastava horas contemplando o movimenòo constante do mar e de noite admirava a luminosa esteira do navio, na qual parecia que se moviam milhões de pirilampos. Sinais de vida eram dados por cardumes de peixes voadores, quando faziam uns curtos exercícios aéreos. No isolamento em que nos achávamos durante longos dias era bem agradável ver ao longe a coluna de fumo dalgum vapor que passava, ou algum navio de vela, que com o Benguela conversava. Boas bátegas de água, acompanhadas de trovões longínquos davam-nos sinais de proximidades da serra Leoa e por vezes o piar triste de aves nocturnas nos faziam conhecer que não navegávamos longe de terra. A monotonia da longa estrada é cortada peio brilhante quadro,- que oferece a ilha - da Madeira, pelas ilhas de Cabo Verde, cujas costas negras e ásperas quási causam terror, pelas Canárias de tão curiosa vegetação e sobretudo pelo aspecto admirável da ilha do i Principe, na qual, tudo, desde o mar até aos Jugares mais altos, está coberto de densa vegetação. Parece mesmo que elegantes pal• meiras surgem das águas do mar. E bem curiosa a forma dum rochedo, proximo da ilha, conhecido com o nome de—boné de jokei. Ao fim de 18 dias ao amanhecer tive o prazer de me encontrar em frente da ilha de S. Tomé. Cedo desembarquei e em terra tive a satisfação de encontrar amigos e grande número de administrado• res de roças, que amavelmente me convidaram para visitar as cul• turas que dirigiam. No dia anterior tinham vindo dar uma grande demonstração de amizade ao Dr. António José de Almeida, que nesse dia deixava S. Tomé, onde era por todos sobremodo estimado. Jantei na — sala dos doutores (1)—com amigos dos tempos de Coimbra, que me prodigalisaram todas as amabilidades. Segui depois por entre palmeiras para a roça Boa Entrada, nome bem escolhido. Pertence esta magnífica roça ao Ex.m0 Sr. Henrique de Mendonça. Prevenido por êste senhor o administrador da roça, o Sr. Silves• tre Dias da Silva, apenas desembarquei, comunioou-me as ordens que tinha recebido e que por isso me conduziria até à Boa Entrada. Assim se fez, e aí passei alguns dias bem agradavelmente. Yoltei à cidade e embarcando no pequeno vapor que fazia o ser• viço da ilha, depois de dobrar, nao o Cabo das tormentas, mas o Morro Carregado, aportei ao mesmo porto, onde tinham aportado em 1470 João de Santarém e Pero de Escobar. Daí segui para a roça Ponta Figo, onde o Sr. José da Costa Santos me deu óptimo acolhimento e donde fiz interessantes digressões. Segui daí depois, fazendo paragem mais ou menos longa, por Ponta Furada, S. Mi• guel, S.t0 António de Mussacabú, Jou, Porto Alegre, donde fui ao ilhéu das Rolas, trepei até Monte Mario, posição esplêndida, Novo Brasil e depois através do longas plantações do cacau até S. João dos Angolares e roça Granja. Embarquei e segui para a cidade, indo daí à roça Agua-Izé e seguindo por Huba-Budo, Nova Java, passei a visitar as roças das regiões altas, Saudade, Nova Moka, Monte Cafó, S. Nicolau, subindo até a Lagoa Amelia, nã,o chegando a realizar a ascensão ao Pico de S. Tomé, como tanto 'tinha de• sejado. Desci até Ponta Figo e daí pela Uosema, por caminho, que só para cabras poderia servir, entrei na grande roça Eio do Ouro onde ,me esperava delicado acolhimento, graças à amabilidade do proprie-

(1) Sala dum pequeno hotel, onde jantavam o juiz, delegados, advogados e outros empregados públicos. tário, o Ex.m0 Sr. Marques de VaJflor. Aí passei alguns dias tendo ocasião de conhecer uma das principais roças da ilha, senão a pri• meira. Quem tinha começado a visita em S. Tomé pela Boa Entrada, não podia terminá-la melhor, passando os últimos dias nesta esplên• dida roça, à qual está ligado o nome dum dos principais fomentado• res da agricultura de S. Tomó, o Dr. Gabriel de Bustamante. O Cabo Verde, no qual tinha de embarcar, estava prestes a par• tir. Forçoso era nele entrar deixando com profunda saudade a terra na qual tinha passado tão belos dias, e recebido em toda a parte o melhor acolhimento, as mais afáveis distinções, de que sempre guar• darei saudosa recordação. O grande interesse que nutro por tão interessante ilha levou-me a estudar tudo quanto lhe diz respeito. O tempo passado na ilha foi curto para dela obter conhecimento completo. Apesar disso julguei dever procurar dar da ilha a mais completa notícia, mas quási só sob o ponto de vista histórico-natural. Na descrição física valeram-me extraordinariamente as publicações do distinto enge• nheiro Ezequiel Campos, das quais fiñ longas transcrições, por que me era iitípossivel fazê-las iguais, e valeram-me ainda as minuciosas informações que dele recebi. Sem tal auxílio eu pouco poderia es• crever. Mal posso agradecer todo o valioso auxílio que m© prestou. A um outro amigo, o Conselheiro Francisco Felisberto Dias Costa, devo favores especiais. Foi êle quem me animou a empre• ender a viagem a S, Tomó, e quem para isso me auxiliou de modo muito especial. Be justiça era dedicar êste meu trabalho à sua memória. De vários outros amigos recebi elementos importantes, tais como fotografias, plantas, animais e informações. Foram êles a Ex.™3 Sr.a D. Laura Alraeidinha, e os Ex.mos Srs. Dr. Lúcio Abranches, Dr. Adriano Pessa, Henrique de Mendonça, Marquês de Valflor, Mário F. Lopes, A. Lucas, Dr. Eduardo Lemos, Armando Cortezão, Aníbal Gama, Acácio Magro, e igualmente a Direcção da Sociedade de emigração para S. Tomé e Príncipe, que amavelmente emprestou não poucos clichés de gravuras, que se encontram no magnífico rela• tório referente ao ano de 1914. A todos dirijo os mais sinceros agradecimentos.

BIBLIOGRAFIA

Não é pequena a "bibliografia relativa a S. Tomó. Fiz o possivol para reunir o que nela se compreende o pude obter as publicações seguintes.

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Sobre as culturas e produtos naturais da ilha encontram-se.es- tudos nas publicações seguintes:

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