A Song of the Open Road” – a Estrada Como Espaço De Liberdade Das Mulheres No Filme Thelma and Louise
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“A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . Diana Inês Rodrigues Cardoso de Sousa “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . Faculdade de Letras da Universidade do Porto Dissertação de Mestrado em Estudos Anglo-Americanos Variante: Estudos sobre Mulheres 2010 1 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . Dissertação orientada pela Professora Doutora Ana Luísa Amaral. 2 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . Agradecimentos Gostaria de agradecer à Prof. Dr.ª Ana Luísa Amaral pelo apoio, disponibilidade e pelas observações críticas sempre rigorosas e valiosas. 3 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . Índice Introdução - “I’ve got Many Miles to Go” ........................................................5 Capítulo I – “Hit the Road and Go” I.1-Expectativas geradas pela produção, distribuição e recepção do filme………14 I.2 -Contextualização histórica e político-social da década de 90, do século XX ..23 Capítulo II - “The Long Promised Road” II.1 – Estrada e “Road Movie” …………………………………………………..26 II.2 – Contributos da Teoria Feminista Cinematográfica………………………...46 Capítulo III – “Further up on the Road” III.1 – “Let Me Ride”: Domesticidade e Mobilidade ……………………………62 III.2 – “Wanted Dead or Alive”/”Renegade”: Lei e Violência .............................78 III.3 – “Why Don’t We Do It On The Road?”/ “Driving Sideways”: Sexualidade Construções de Masculinidade e Feminilidade.………………………………...102 Conclusão – “End of the Road” .........................................................................122 Bibliografias e filmografias .................................................................................127 Anexos .......................................................................................................................148 4 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . Introdução “I’ve Got Many Miles to Go” Estrada – pedaço de chão delimitado por duas linhas mais ou menos paralelas, rectilíneas, curvas, ziguezagueantes, finitas ou infinitas, que nos levam ao fim de tudo ou ao princípio do nada; à libertação total ou à opressão dos que dela depende a sua subsistência; ao nosso encontro ou reencontro ou talvez afastamento. Ao percorrê-la, podemos reflectir, fazer o balanço da nossa vida, dos nossos erros, das nossas frustrações, do nosso desânimo, do nosso pesadelo de vida. No sentido inverso, podemos tirar partido das suas paisagens verdejantes, áridas, agrestes, rochosas, mas onde pode vislumbrar-se de quando em vez o arco-íris cheio de beleza e cor. E aí surge- nos a cor de laranja, quente, cheia de força e energia; o amarelo, cor da alegria e do calor do sol; o verde, cor da esperança, da vida; o azul, cor do céu e do sonho; o anil, aquele azul estranho, sinal de indecisão, ou do talvez; e por fim, o violeta que nos traz paz e também a promessa de amor. Na estrada não há tecto, não há limites, podemos ver o sol, a lua, as estrelas, ver e ouvir os pássaros a cantar, e os grilos em noites de calor; sentir a neve, o calor, a chuva, e usufruir de tudo o que de mais belo a natureza nos oferece sem nada pedir em troca. Podemos sentir a liberdade, felizes de cabelos esvoaçando ao vento, ouvindo aquela canção, que nos diz muito, e nos transporta para outra fase da vida ou qualquer momento de sonho ou êxtase. Na contra mão, podemos sentir o inverso, toda a nostalgia da vida que vivemos, mas que não pudemos ou quisemos completar; a revolta completa, por todos os direitos que não tivemos, por tudo o que não sentimos, por tudo o que não vivemos, dentro de uma sociedade castrante e opressora. A estrada pode ser portanto, um mundo cheio de emoções novas, um passaporte para o sonho ou um bilhete sem volta para o abismo, para o fim. Ela é sem duvida um dos locais mais apropriados para que, através da imaginação, da realidade ou da ficção, outros, ou nós próprios, possam fazer dela, um veículo de imagens, emoções, fantasia, realidade, enfim tudo aquilo a que o cinema nos deve transportar. As duas protagonistas do filme Thelma and Louise , originárias do Sul dos EUA (Arkansas), estão cansadas das suas vidas aborrecidas e oprimidas. Nos créditos iniciais do filme temos um caminho, uma estrada aberta, pronta a ser percorrida, com uma linha 5 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . de horizonte bastante demarcada. As duas amigas, numa tentativa de fugir da sua vida enfadonha, decidem então lançar-se para esta estrada aberta, para passar um fim-de- semana nas montanhas. Louise é prática e confiante, embora marcada por um passado do qual não se consegue libertar; Thelma é ingénua e dominada pelo marido, Daryl, que representa o comportamento tradicional americano opressivo e insensível. Uma vez que as personagens vivem numa América que corrompeu o seu sonho, recorrem à estrada como um escape e possibilidade de realização pessoal e de liberdade. No cinema, a estrada assume o “papel principal”, de tal forma que até deu origem a um novo género cinematográfico, o “Road Movie”, muito influenciado pelo “Western”. Através de inúmeros “Road Movies”, a estrada tornou-se um símbolo da cultura americana e uma das imagens mais populares da América para o mundo. Easy Rider de Dennis Hopper (1969) é frequentemente apontado como o grande marco do “American Road Movie”, contudo, há outros filmes incontornáveis que atravessam inclusivé outros géneros de Hollywood, são exemplos: Bonnie & Clyde (1967, Arthur Penn) e Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969, George Roy Hill). Thelma and Louise fizeram reviver o interesse pelo “Road Movie”, simplesmente por atribuir a mulheres papéis, que eram vistos exclusivamente como masculinos, assim desafiando convenções de género. Há um fascínio contínuo na ficção Norte-Americana pela vida na estrada. Este foi sempre um tema persistente na génese da cultura norte-americana e no seu imaginário e o seu significado está repleto de história social e popular. A estrada remonta à ideia de fronteira da nação, ideia essa transformada pela intersecção tecnológica dos filmes e do automóvel no século XX. Na década de 70 do século XX, o geógrafo cultural John Brinckerhoff Jackson, deu o nome “Odology” ao campo dos estudos sobre a estrada. È derivado da palavra grega “odos “ou “hodos”, que significa estrada. Jackson cunhou o termo em Discovering the Vernacular Landscape. Jackson centrou o seu estudo na paisagem americana constituída por parques de estacionamento, “trailer camps” e auto- estradas, atribuindo-lhes um significado especial e analisando sempre as forças políticas e culturais que lhes davam forma. A estrada era para Jackson uma força vital nas relações humanas e a sua abordagem era marcadamente interdisciplinar e sociológica. Odology is the science or study of roads or journeys and, by extension, the study of streets and superhighways and trails and paths, how they are used, where they lead, and how they come into existence. Odology is part geography, part 6 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise . planning, and part engineering as well. That is why the discipline has a brilliant future (Jackson apud. Groth & Wilson 2003: 73). Jackson ilustrou este conceito em ensaios, que consideravam a estrada como um emblema da vida humana e a sua evolução como um caminho, que permitia a eficiência, no que diz respeito a diversos objectivos sociais. Estudando as implicações sociopolíticas da estrada, comparando as estradas francesas e romanas imperiais centralizadas, em contraste com as estradas americanas democráticas e públicas do século XIX, Jackson concluiu: “the best of all landscapes, the best of all roads, are those which foster movement toward a desirable social goal” (Jackson, apud. Groth & Wilson 2003: 73). É precisamente este aspecto positivo que pretendo evidenciar na minha dissertação: a liberdade como objectivo desejável para as duas protagonistas do filme Thelma and Louise é a liberdade. Recorde-se que na cultura norte-americana a busca pela liberdade assume uma particular relevância, lembrando a expressão contida na Declaração de Independência dos EUA, primeiramente escrita por Thomas Jefferson. Nela podemos ler:”all Men (…) are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness”. A tradução deste objectivo para o outro lado do Atlântico pode ser encontrado na Revolução Francesa sob a divisa “liberté, égalité, fraternité”. Esta liberdade incluía direitos sociais, condições económicas, igualdade e solidariedade. No curso da história, os EUA sempre “investiram” na ideia de demanda, abandonando tudo o que é familiar, e acreditando na promessa do desconhecido. O caso de Thelma e Louise mostra que alguns ainda têm de partir para a estrada aberta, para assim conseguirem usufruir da liberdade plena. Nas palavras de James Baldwin "freedom is not something that anybody can be given. Freedom is something people take, and people are as free as they want to be." É precisamente isto que Thelma e Louise fazem, quando se lançam à estrada: tentam ser livres. A mitologia da mobilidade norte-americana e de liberdade deu origem a estruturas ideológicas e discursivas que assentam numa série de textos que consolidam uma retórica de expansão, ligada ao sonho americano de mobilidade social. Quando falamos de precursores da narrativa de estrada, o primeiro nome que surge é o de Jack Kerouac, com o seu romance On the Road, publicado em 1957, mas na verdade, a ideia da estrada está já presente desde o início da tradição literária americana com Henry David Thoreau (“The Old Marlborough Road”), Walt Whitman (“A Song of the Open Road”), Robert Frost (“The Road Not Taken”) ou continuado na ficção mais recente, por exemplo com 7 “A Song of the Open Road” – A estrada como espaço de liberdade das mulheres no filme Thelma and Louise .