Dezembro 2020 Herpetologia Brasileira

volume 9 número 3 ISSN: 2316-4670

1 Herpetologia Brasileira Uma publicação da Sociedade Brasileira de Herpetologia

Sociedade Brasileira de Herpetologia www.sbherpetologia.org.br https://www.instagram.com/sbherpetologia/

Presidente: Otavio Augusto Vuolo Marques 1° Secretário: Paula Hanna Valdujo 2° Secretário: Karina Rodrigues da Silva Banci 1° Tesoureiro: 2° Tesoureiro: Rafael dos Santos Henrique

Conselho: Déborah Silvano, Délio Baêta, Diego Santana, José P. Pombal Jr., Lu- ciana Nascimento, Luis Felipe Toledo, Magno V. Segalla, Marcio Martins, Mariana L. Lyra e Taran Grant.

Membros Honorários: Augusto S. Abe, Carlos Alberto G. Cruz, Ivan Sazima, Luiz D. Vizzoto, Thales de Lema.

Diagramação: Isadora Puntel de Almeida

Proceratophrys renalis Reserva Ecológica Michelin, Igrapiúna - BA @ Daniela Pareja Mejia Foto vencedora do concurso “Minha foto na capa da HB” realizado nas redes da HB

ISSN: 2316-4670 volume 9 número 3 Dezembro de 2020 Paleosuchus palpebrosus. Parque Estadual de Dois Irmãos, Camaragibe - PE. @ Álvaro Amon. Segunda colocada do concurso “Minha foto na capa da HB” realizado nas redes da HB Informações Gerais

revista eletrônica A Herpetologia Brasileira é quadrimestral (com números em Abril, Agosto e Dezembro) e publica textos sobre assuntos de interesse para a comunida- de herpetológica brasileira. Ela é disponibilizada em formato PDF apenas online, na pá- gina da Sociedade Brasileira de Herpetologia (http://www. sbherpetologia.org.br/publicacoes/herpetologia-brasileira) e nas redes sociais, ou seja, não há versão impressa em gráfica. Entretanto, qualquer associado pode imprimir este arquivo. Proceratophrys paviotii Santa Teresa - ES @ Esteban Koch Seções

Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia: Esta seção apresenta informações diversas sobre a SBH e é de responsabilidade da diretoria da Sociedade.

Notícias Herpetológicas Gerais: Esta seção apresenta informações e avisos sobre os eventos, cursos, concursos, fon- tes de financiamento, bolsas, projetos, etc., de interesse para nossa comunidade. A seção também inclui informações sobre grupos de pesquisa, instituições, progra- mas de pós-graduação, etc.

Notícias de Conservação: Esta seção apresenta informações e avisos sobre a conservação da herpetofauna brasileira ou de fatos de interesse para nossa comunidade.

História da Herpetologia Brasileira: Esta seção apresenta entrevistas e curiosidades sobre a história da herpetologia Brasileira (e.g. congressos, histórias de campo, etc .…), buscando resgatar um pou- co a história da herpetologia brasileira para os dias atuais.

Trabalhos Recentes: Esta seção apresenta resumos breves de trabalhos publica- dos recentemente sobre espécies brasileiras, ou sobre outros assuntos de interesse para a nossa comunidade, preferencialmente em revistas de outras áreas.

Dissertações & Teses: Esta seção é publicada anualmente no último volume do ano (dezembro) e apresen- ta as informações sobre as dissertações e teses em qualquer aspecto da herpetologia brasileira defendidas no ano anterior. Qualquer egresso ou orientador pode entrar em contato diretamente com o editor da seção informando os seguintes dados refe- rentes a dissertação ou tese defendida: (1) universidade e departamento/instituto; (2) graduação; (3) data da defesa/aprovação; (4) programa de pós-graduação; (5) aluno; (6) título; (7) orientador. Seções

Métodos em Herpetologia: Esta seção trata dos métodos clássicos e de vanguarda referentes a herpe- tologia. São abrangidos revisões e descrições de novos métodos empíricos relacionados aos diversos métodos de coleta e análise de dados, represen- tando a multidisciplinaridade da herpetologia moderna.

Ensaios & Opiniões: Esta seção apresenta opiniões sobre assuntos de interesse geral em herpe- tologia.

Resenhas: Esta seção apresenta textos que resumem e avaliam o conteúdo de livros de interesse para nossa comunidade.

Notas de História Natural & Distribuição Geográfica: Esta seção apresenta artigos que, preferencialmente, resultam de observa- ções de campo, de natureza fortuita, realizadas no Brasil ou sobre espécies que ocorrem no país.

Obituários: Esta seção apresenta artigos avisando sobre o falecimento recente de um membro da comunidade herpetológica brasileira ou internacional, conten- do uma descrição de sua contribuição para a herpetologia.

Listas de Espécies Brasileiras: Periodicamente a SBH publica a lista oficial de espécies de anfíbios e répteis brasileiros. Corpo Editorial

Editores Gerais: Ibere F. Machado Délio Baêta ([email protected]) ([email protected]) Luis Fernando Marin José P. Pombal Jr ([email protected]) ([email protected]) Mariana R. Pontes Magno Segalla ([email protected]) ([email protected]) História da Herpetologia Editor de língua inglesa: Brasileira Ross D. MacCulloch Délio Baêta Royal Ontario Museum, Canada ([email protected]) Teresa Cristina Ávila-Pires Notícias da SBH: ([email protected]) Rafael dos Santos Henrique ([email protected]) Trabalhos Recentes: Notícias Herpetológicas Gerais: Adriano Oliveira Maciel ([email protected]) Cinthia Aguirre Brasileiro ([email protected]) Ariadne Fares Sabbag ([email protected]) Mirco Solé ([email protected]) Daniel S. Fernandes ([email protected]) Paulo Sérgio Bernarde ([email protected]) Jéssica Mudrek ([email protected]) Rachel Montesinos Laura R. V. de Alencar ([email protected]) ([email protected])

Notícias de Conservação: Cybele Lisboa ([email protected]) Débora Silvano ([email protected]) Corpo Editorial

Dissertações & Teses: Resenhas: Giovanna G. Montingelli José P. Pombal Jr - Anfíbios ([email protected]) ([email protected]) Quezia Ramalho Divulgação: ([email protected]) Laura R. V. de Alencar Renato Bérnils - Répteis ([email protected]) ([email protected]) Mariana R. Pontes ([email protected]) Notas de História Natural & Quezia Ramalho Distribuição Geográfica: ([email protected]) Carla Santana Cassini - Anfíbios ([email protected]) Sarah Mângia ([email protected]) Henrique Caldeira Costa - Répteis ([email protected]) Métodos em Herpetologia: Sarah Mângia Alexandro Tozetti ([email protected]) ([email protected]) Obituários: Luis Felipe Toledo Entrar em contato com os editores ([email protected]) Listas de Espécies Brasileiras: Ensaios & Opiniões: Henrique Caldeira Costa - Répteis Julio Cesar Moura-Leite ([email protected]) ([email protected]) Magno Segalla - Anfíbios Luciana B. Nascimento ([email protected]) ([email protected]) Paulo Christiano A. Garcia - Anfíbios Teresa Cristina Ávila-Pires ([email protected]) ([email protected]) Renato Bérnils - Répteis ([email protected]) Sumário

Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia 12 Notícias Herpetológicas Gerais 18 Notícias de Conservação 22 História da Herpetologia 36 Trabalhos Recentes 46 Dissertações & Teses 58 Métodos em Herpetologia 72 Ensaios & Opiniões 86 Resenhas 124 Notas de História Natural & Distribuição Geográfica 128 Cycloramphus brasiliensis PARNASO, Guapimirim - RJ @ Leandro O Drummond Terceira colocada do concurso “Minha foto na capa da HB” realizado nas redes da HB Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias da S. B. H.

Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia

O site da SBH está de volta!

pós diversas manutenções, o site da SBH está funcionando novamente. Fiquem ligados no endereço sbherpetologia.org.br para acompanhar as A novidades e as notícias da herpetologia brasileira. Além disso, através do nosso site é possível acessar as publicações da Sociedade Brasileira de Herpe- tologia, como as listas de répteis e anfíbios brasileiros, a Herpetologia Brasileira (HB) e a South American Journal of Herpetology (SAJH).

Acesso à South American Journal of Herpetology (SAJH) normalizado

acesso a nossa revista eletrôni- navegadores (e.g., Mozilla Firefox ca SAJH, através da plataforma ou Google Chrome). Caso o proble- O da BioOne, foi regularizado. ma persista, ou encontre qualquer Para acessar e baixar os artigos científi- dificuldade para baixar os artigos, cos, o associado deverá utilizar o e-mail não hesite em nos contatar através e senha pessoal na página sbherpeto- do endereço eletrônico da secretaria logia.org.br/temp/bioone. Somente o da sociedade “secretaria.sbherpe- acesso através desse endereço permitirá [email protected]”. a visualização e download dos artigos. Os sócios com a situação regulariza- Caso não consiga o acesso, recomen- da receberam maiores informações damos que o cachê (histórico) do seu para acesso em seus e-mails. navegador seja limpo, antes de tentar Boas leituras! novamente. Aconselhamos também tentar o acesso através de diferentes

12 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias da S. B. H.

Mudanças na diretoria da Sociedade Brasileira de Herpetologia

os últimos meses, a SBH sofreu algumas alterações nos mem- Nbros de sua diretoria. Por mo- tivos pessoais, a então primeira tesou- reira Myriam Elizabeth Velloso Calleffo e a primeira secretária Selma Maria Al- meida Santos deixaram a diretoria da SBH. A diretoria da Sociedade Brasilei- ra de Herpetologia agradece o trabalho e empenho desempenhado por ambas. Com a vacância do cargo de primei- ra secretária, no dia 17 de outubro de 2020, o presidente da SBH nomeou, de acordo com o artigo 17 (item L), Paula Hanna Valdujo como primeira secretá- ria da sociedade. Foto 1: Paula Hanna Valdujo, primeira secretária da sociedade. Paula é Especialista de Conservação no WWF-Brasil, atua em projetos de pla- nejamento territorial, visando à pro- teção da biodiversidade, manejo e res- tauração de ecossistemas, por meio da integração do conhecimento acadêmi- co e científico à prática de conservação.

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Redes Sociais da SBH sob nova administração

om o intuito de manter as redes herpetólogas e herpetólogos dedicados sociais da sociedade sempre atu- à divulgação científica, às notícias her- Calizadas e de aproximar as her- petológicas e às atividades da SBH. A petólogas e os herpetólogos brasileiros diretoria da SBH agradece e parabeniza das atividades desenvolvidas pela SBH, os membros da comissão pelo excelen- no início de outubro de 2020, o presi- te trabalho que vem sendo desenvolvi- dente da sociedade nomeou uma Co- do nas nossas redes sociais nos últimos missão de Redes Sociais da Sociedade meses. Não deixem de interagir e con- Brasileira de Herpetologia. ferir os conteúdos semanais publicados Nosso Instagram, Facebook e Twitter em nossas redes. Curtam, comentem e agora estão sendo administrados por compartilhem:

@sbherpetologia Sociedade Brasileira de Herpetologia @sbherpetologia [email protected]

A Comissão de Redes Sociais da Sociedade Brasileira de Herpetologia é composta por:

Alexander Tamanini Mônico Mariana Retuci Pontes Doutorando em Ecologia - INPA Doutoranda em Ecologia – UNICAMP Laboratório de História Natural de Fabiano Morezi de Andrade Anfíbios Brasileiros Mestrando em Veterinária na USP Laboratório de Ecologia e Evolução - Natália Dallagnol Vargas Instituto Butantan Doutoranda em Biologia – UFRGS Guilherme Augusto-Alves Laboratório de Herpetologia Doutorando em Ecologia – Unicamp Laboratório de História Natural de Quezia Ramalho Anfíbios Brasileiros Doutoranda em Ecologia e Evolução - UERJ Marcos Jorge Matias Dubeux Laboratório de Ecologia de Paisagens Mestrando em Biologia Animal – UFPE Laboratório de Herpetologia

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Anais dos Congressos Palestra sobre Fundação Brasileiros de Herpetologia Projeto Tamar

s anais dos últimos Congressos o dia 10 de novembro, a SBH Brasileiros de Herpetologia es- promoveu a palestra virtual Otão disponíveis para download N“Fundação Projeto Tamar – ou consulta em nosso site. Dentro da Pesquisa e Conservação de Tartarugas aba “Eventos” é possível consultar os Marinhas”, ministrada pelo biólogo resumos dos trabalhos apresentados José Henrique Becker. Becker é coor- no VI, VII, VIII e IX CBH. A diretoria denador técnico e responsável técnico da SBH está trabalhando para a dispo- pelo Centro de Visitantes da Fundação nibilização dos anais dos outros CBH. Projeto TAMAR, em Ubatuba (SP). O evento, que foi completamente gratuito Curso: Dinossauros no Brasil e com certificado de participação, con- tou com a presença de 235 pessoas. Du- os dias 6, 7 e 8 de outubro rante a palestra, foram apresentados ocorreu o primeiro curso or- temas como as tartarugas marinhas no ganizado pela nova diretoria Brasil e o Programa de pesquisa, edu- N cação ambiental, inclusão social e con- da SBH. O tema desse primeiro curso foi os “Dinossauros no Brasil”, minis- servação das tartarugas marinhas reali- trado pelo professor Dr. Luiz Eduardo zado pela Fundação Projeto Tamar. Anelli (Instituto de Geociências – Uni- versidade de São Paulo). O curso, que foi totalmente on-line e contou com a participação de 135 pessoas, foi dividi- do em três partes. Foi abordado desde a origem e evolução dos dinossauros bra- sileiros no Triássico; passando pela vida na aridez do Gondwana, no Cretáceo; até a grande extinção na Era Mesozóica. Foto 3: José Henrique Becker, coordenador técnico e responsável técnico pelo Centro de Visitantes da Fundação Pro- jeto TAMAR (Ubatuba, SP).

Foto 2: Professor Dr. Luiz Eduardo Anelli. 15 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias da S. B. H.

SBH inicia programação O curso, que será dividido em quatro de cursos e palestras partes, abordará uma introdução sobre os ciclos reprodutivos, maturidade e curso Dinossauros no Brasil e a dimorfismo sexual; os ciclos reprodu- palestra do Projeto Tamar inau- tivos dos machos, plugs copulatórios O guraram uma série de eventos e estocagem de esperma nas fêmeas; e pagos e gratuitos que estão sendo pla- os ciclos reprodutivos, partenogênese, nejados pela diretoria da SBH. Esses intersexualidade e manejo reprodutivo dois primeiros eventos foram um su- para conservação ex situ. cesso de público e feedbacks positivos Maiores informações serão divulgadas e cumpriram um papel de divulgação em nossas redes sociais e site. Acompa- científica muito importante, oferecen- nhem e não percam essa oportunidade. do conhecimento e informações sobre a herpetologia brasileira, com a par- ticipação desde jovens estudantes do Posicionamento da ensino básico a doutores. A SBH está SBH sobre o combate ao mantendo uma plataforma e um aten- desmatamento dimento exclusivo para a programação de eventos e muitas novidades estão Sociedade Brasileira de Herpe- programadas para o ano de 2021. tologia, em conjunto com ou- Atras sociedades científicas, está Curso: Reprodução no representando seus associados em po- gênero Bothrops sicionamentos e consultas internacio- nais sobre o combate ao desmatamen- os dias 26 a 29 de janeiro de to no Brasil. Em setembro de 2020, a 2021, ocorrerá o curso on-li- Sociedade Brasileira de Herpetologia Nne “Reprodução no gênero assinou uma carta ao mercado interna- Bothrops: aplicação do conhecimen- cional, por ocasião do 3º aniversário do to científico na conservação ex situ e lançamento do Manifesto do Cerrado, manejo das jararacas em cativeiro”. O reforçando o pedido então feito para curso será ministrado pelos pesquisa- que compradores e investidores inter- dores Verônica Alberto Barros, Claudio nacionais eliminem o desmatamento Augusto Rojas e Selma Maria de Almei- do Cerrado de suas cadeias produtivas da-Santos, do Grupo de Estudos em e portfólios de investimento, com espe- Reprodução de (reproduca- cial atenção aos principais drivers: car- osquamata.com.br) e autores de um li- ne e soja. Assinaram em conjunto 140 vro recentemente lançado que apresen- organizações pertencentes ao Grupo de ta uma síntese do conhecimento sobre Trabalho do Cerrado (GTC) e parcei- a reprodução das jararacas. ros, incluindo a Coalizão Ciência e So- 16 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias da S. B. H. ciedade, REBISEC, diversas sociedades da Zoologia e laboratórios de pesquisa de universidades de todo o Brasil. Em outubro de 2020, a Sociedade Bra- sileira de Herpetologia respondeu a uma consulta feita pelo governo do Reino Unido, para reforçar a importân- cia da implementação de uma legisla- ção para combater o “desmatamento importado”, por meio de acompanha- mento (due diligence) de operações comerciais conduzidas entre empresas britânicas e supridores que as abaste- cem com commodities produzidas no Brasil e em outros países. Diversas or- ganizações brasileiras assinaram um conjunto de respostas a questões cen- trais trazidas nesta consulta pública, em um documento que foi enviado à embaixada britânica no Brasil, assim como a ministérios relevantes do go- verno do Reino Unido, e poderá ser usado publicamente com intuito de aprimorar pontos chave desta proposta de legislação.

Editor: Rafael S. Henrique

17 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais Notícias Herpetológicas Gerais

ISHBS e revista Bibliotheca Herpetologica

revista Bibliotheca Herpetologi- traz informações sobre interessantes li- ca é publicada pela International vros (entre os últimos, por exemplo, um A Society for the History and Bi- que trata da descoberta de novas espécies bliography of Herpetology (ISHBH), que a partir de coleções científicas, e outro so- está se reestruturando e buscando atrair bre as primeiras fotografias científicas fei- novos sócios. O atual presidente da socie- tas no Australian Museum), além do aces- dade é Aaron Bauer. A partir do núme- so às publicações da própria sociedade e ro 14 (1), de 07/10/2020, a revista passa outras informações. a ser de acesso aberto (sócios da ISHBH recebem, a cada ano, o volume completo em cópia impressa). Números anteriores da revista podem também ser obtidos pelo site da sociedade: www.ishbh.com. Para quem se interessa pela história da herpe- tologia, vale visitar o site da ISHBH, que

18 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais

Laboratórios de herpetologia no Brasil: Vamos conhecê-los?

herpetologia brasileira tem O texto de apresentação do labora- crescido muito nas últimas dé- tório é livre e vocês poderão reche- cadas e esse crescimento tem ar ele com anedotas ou “causos” do sido acompanhado por uma laboratório. Porém, há algumas in- interiorizaçãoA dos laboratórios de herpe- formações que deverão constar no tologia. Hoje é possível dar continuidade texto: aos estudos herpetológicos na forma de 1. Quando o laboratório foi formado e por um curso de mestrado ou doutorado nos quem? quatro cantos do país. Outro aspecto que 2. Quem são atualmente os(as) pesquisa- tem crescido é a percepção de como é im- dores(as) principais? portante divulgarmos o que os nossos la- boratórios vêm produzindo não apenas 3. Quais são as linhas de pesquisa do lab? em relação à pesquisa, mas também à ex- 4. Quais são as colaborações nacionais e/ tensão. ou internacionais? Em diversos casos, a escolha pelo local 5. Em quais cursos de pós-graduação para desenvolver um mestrado ou um dou- os(as) pesquisadores(as) do laboratório torado é auxiliada por um(a) professor(a) orientam? herpetólogo(a) ou não, que pode criar uma ponte com um futuro orientador de pós- graduação. Mas mesmo com o aumento Outras informações que podem ser do número de docentes herpetólogos(as) inseridas no texto são: nas universidades brasileiras, ainda exis- 1. Qual é o site do laboratório e se o labora- tem muitas instituições de ensino superior tório estiver presente em redes sociais (Fa- nas quais não atua ninguém da Herpetolo- cebook, Researchgate, Instagram, Twitter, gia. Para os alunos e egressos dessas insti- etc) quais são os endereços? tuições, saber em que laboratório e o quê 2. O laboratório realiza atividades de ex- pode ser estudado, em relação à herpeto- tensão ou divulgação científica? logia, continua difícil. 3. São realizadas outras atividades de in- Por isso, agora na seção “Notícias Her- teração dos membros do laboratório como petológicas Gerais” vamos abrir espaço reuniões para discussão de artigos ou para para que os laboratórios de herpetologia garantir o bom funcionamento do labora- se apresentem. Esta apresentação pode tório? ser redigida pelo(a) coordenador(a) do la- boratório ou por algum integrante do lab com a anuência do(a) coordenador(a). 19 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais

O texto poderá ser acompanhado de fotos da equipe do laboratório e das instalações, além de alguma foto que represente os re- sultados do lab (por exemplo, uma espécie nova para a ciência descoberta por inte- grantes do lab ou uma foto de atividades de campo ou experimentos). Infográficos para ressaltar alguma destas informações serão muito bem-vindos, assim como ví- deos e outros materiais de divulgação que poderão ser enviados para os editores do perfil no Instagram da Herpetologia Bra- sileira. Em cada volume da revista pode- rão ser apresentados até três laboratórios e cada apresentação poderá constar de no máximo três páginas. Então meus queridos(as) amigos(as) e colegas herpetólogos(as), vamos mostrar para todos os(as) nossos(as) leitores(as) os incríveis trabalhos que andamos fazen- do nos nossos laboratórios!

Editor: Mirco Solé

20 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais

Bokermannohyla saxicola (Espécie endêmica da Serra do Espinhaço) Serra do Cipó - MG @ Gerson Muzzi 21 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação Notícias de Conservação O fantasma das corredeiras: redescoberta, pes- quisas e conservação da rãzinha Crossodactylus dantei Carcerelli & Caramaschi, 1993 na Estação Ecológica de Murici, Alagoas

Marcos J. M. Dubeux1, Pedro L. V. Peloso3-4, Barnagleison S. Lisboa2 1 Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Departamento de Zoologia, Universidade Fe- deral de Pernambuco, 50670-901, Recife, PE, Brasil ([email protected]; bslisboa- @gmail.com). 2 Instituto Federal de Alagoas, campus Santana do Ipanema, Rodovia AL 130 km 4., R. Domingos Acácio 1609, 57500-000, Santana do Ipanema, AL, Brasil. 3 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará, 66077-830, Belém, PA, Brasil. 4 Instituto Nacional de Pesquisas da Mata Atlântica, Av. José Ruschi 4, 29650-000, Santa Teresa, ES, Brasil. ([email protected])

Brasil é o país detentor da foi descoberta originalmente em 1988 maior diversidade de espé- na região do município de Murici, es- O cies de anfíbios no planeta tado de Alagoas. A descrição original, (AmphibiaWeb, 2020). Contudo, por embora bem detalhada, inclui apenas conta do seu tamanho territorial, nú- a morfologia externa do adulto, sem mero relativamente pequeno de pes- apresentar informação sobre ontoge- quisadores, escassez de recursos para nia ou história natural da espécie. A pesquisa e dificuldade de acesso a série-tipo de C. dantei foi obtida em diversas áreas, muitas dessas espé- uma região hoje dominada por ex- cies ainda são pouco conhecidas. Em tensas pastagens (9.30ºS, -35.93ºW; alguns casos, esse déficit de conheci- DATUM WGS 84; 550 m). A espécie mento chega ao ponto de as únicas in- é pouco conhecida em relação a as- formações disponíveis para a espécie pectos básicos de sua história de vida serem restritas à sua descrição origi- e por possuir uma distribuição apa- nal. Esse é o caso da rãzinha-de-cor- rentemente restrita e próxima a áreas redeira-do-nordeste, Crossodactylus com altos índices de degradação am- dantei. Descrita e nomeada por Car- biental, principalmente pelo avanço cerelli & Caramaschi (1993), a espécie da fronteira agropecuária, foi incluída

22 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação na Lista Nacional Oficial de Espécies os dias atuais. Durante esse período, da Fauna Ameaçadas de Extinção [Ca- novos registros de C. dantei foram tegoria: Em Perigo; critério B1ab(iii); feitos, bem como um mapeamento ICMBio, 2018]. detalhado de sua ocorrência dentro da ESEC de Murici (Dubeux et al. in Redescoberta e pesquisas prep.). Apesar de apresentar uma po- com a espécie pulação aparentemente estável, a si- tuação da espécie ainda é crítica, tanto Desde a sua descoberta, em 1988, em relação ao seu status de conserva- pouco se discutiu na literatura, sobre ção quanto ao conhecimento bioló- novos registros de Crossodactylus gico. Todavia, ao longo desses qua- dantei. Em 2012, um de nós (BSL), se dez anos desde a redescoberta da encontrou exemplares dessa espécie espécie, marcantes avanços têm sido na Estação Ecológica de Murici (ESEC realizados como a descrição do girino, de Murici, Fig. 01), também no mu- variação da morfologia dos adultos e o nicípio de Murici, estado de Alagoas, canto de anúncio da espécie, além de a cerca de 9 km da localidade citada outros aspectos da autoecologia e bio- por Carcerelli & Caramaschi (1993). logia reprodutiva. Adicionalmente, Esse novo registro, além de uma in- as primeiras análises genéticas da es- formação empolgante para o planeja- pécie, irão contribuir para o entendi- mento de novos estudos e projetos de mento de suas relações filogenéticas. conservação para a espécie, permitiu Esses serão os principais resultados calcular, mesmo que de forma inci- do monitoramento da população da piente, a extensão de ocorrência da rã, ESEC de Murici (Fig. 04-06). estimada em 8 km2 (ICMBio, 2018). As imagens feitas na ocasião do en- O Brasil possui pelo menos 42 espé- contro (Fig. 02) serviram para ilustrar cies de anfíbios oficialmente listadas essa espécie em diversas publicações como ameaçadas de extinção (ICM- recentes que tratam de sua ocorrên- Bio, 2018), muitas das quais são pouco cia na região (ICMBio, 2014; Freitas, conhecidas ou estudadas. Crossodac- 2015; Almeida et al. 2016; Freire et tylus dantei é uma das espécies-alvo al. 2018; ICMBio, 2018). No mesmo do Plano de Ação Nacional para Con- ano do achado, foi iniciado na ESEC servação da Herpetofauna Ameaçada de Murici um projeto de pesquisa com da Mata Atlântica Nordestina (ICM- objetivo de catalogar a herpetofauna Bio, 2013) e ocorre em uma Unidade dessa Unidade de Conservação, com de Conservação de proteção integral esforço amostral padronizado e ex- (ESEC de Murici) que se localiza no tensivo que durou dois anos (2012 – interior de uma Área de Proteção Am- 2013; Fig. 03), mas que se estende até biental que leva o mesmo nome. Essa 23 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação espécie compartilha sua área de vida de Murici, em especial a G. Skuk (in com uma das mais ricas assembléias memoriam), I. Tiburcio, J. Vieira-Ne- de anfíbios da Mata Atlântica nordes- to, M.A. de Freitas, M. C. Guarnieri, tina (BSL e MJMD, dados não publi- T. Mott e S. Torquato. Somos profun- cados). Muitas das espécies presentes damente gratos pelo apoio do Institu- na ESEC de Murici também apresen- to Brasileiro do Meio Ambiente e dos tam grau de ameaça: Allobates olfer- Recursos Naturais Renováveis (IBA- sioides (Lutz, 1925) (Vulnerável, VU), MA) – Superintendência Regional Hylomantis granulosa (Cruz, 1989) em Alagoas e ao Instituto Chico Men- (VU), Chiasmocleis alagoana Cruz, des de Conservação da Biodiversida- Caramaschi & Freire, 1999 (Em pe- de (ICMBio) – Estação Ecológica de rigo, EN), Phyllodytes gyrinaethes Murici pelo suporte logístico durante Peixoto, Caramaschi & Freire, 2003 todos esses anos. MJMD e BSL atu- (Criticamente em perigo, CR) e Phy- almente recebem suporte financeiro salaemus caete Pombal & Madureira da Fundação de Amparo à Ciência e 1997 (EN). É de extrema importância Tecnologia do Estado de Pernambu- que pesquisas focadas nas espécies co - FACEPE (IBPG-1117-2.04/19 and ameaçadas sejam desenvolvidas com IBPG-1529-2.04/19, respectivamen- todos os táxons em perigo de extin- te). PLVP recebe suporte financeiro ção. Com esse objetivo, recentemente do Conselho Nacional de Desenvol- foi criado o projeto de pesquisa intitu- vimento Científico e Tecnológico - lado “Biologia reprodutiva de espécies CNPq (PQ 302501/2019-3, PCI-IN- raras, endêmicas e ameaçadas da Es- MA 403440/2020-3). tação Ecológica de Murici: uma lacu- na para a conservação dos anfíbios no Referências norte da Mata Atlântica”. Esperamos Almeida J.P.F.A., Nascimento F.A.C., assim contribuir para o conhecimento Torquato S., Lisboa B.S., Tiburcio e subsidiar a conservação das espécies I.C.S., Palmeira C.N.S., Lima M.G., ameaçadas desse hotspot da diversi- Mott T. 2016. of Alagoas dade de anfíbios. State, northeastern Brazil. Herpetolo- gy Notes 9:123–140. Agradecimentos AmphibiaWeb. 2020. https://amphi- Ao Museu de História Natural da biaweb.org. University of California, Universidade Federal de Alagoas pelo Berkeley, CA, USA. Consultado em 16 apoio em pesquisas no estado. Aos de outubro de 2020. pesquisadores que de forma direta ou indireta contribuíram para o conhe- Carcerelli L.C., Caramaschi U. 1993 cimento da herpetofauna na ESEC “1992”. Ocorrência do gênero Crosso- 24 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação dactylus Duméril & Bibron, 1841 no sileira Ameaçada de Extinção. Insti- nordeste brasileiro, com descrição de tuto Chico Mendes de Conservação da duas espécies novas (Amphibia, Anu- Biodiversidade, Ministério do Meio ra, Leptodactylidae). Revista Brasi- Ambiente, Brasília. leira de Biologia 52:415–422. ICMBio (Instituto Chico Mendes Freire E.M.X., Silva S.T., Gonçalves, U., de Conservação da Biodiversidade). Tiburcio I.C.S., Lisboa B.S., Nascimen- 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasi- to F.A.C., Gonçalves E.M. 2018. Mata leira Ameaçada de Extinção: Volume V Atlântica de Alagoas: Herpetofauna – Anfíbios. Instituto Chico Mendes de Ameaçada e Estratégias de Conserva- Conservação da Biodiversidade, Mi- ção. Pp. 1–185, n Abrahão C.R., Moura nistério do Meio Ambiente, Brasília. G.J.B., Freitas M.A., Escarlate-Tavares F. (Org.). Plano de Ação Nacional para a Conservação da Herpetofauna da Editor: Iberê F. Machado Mata Atlântica nordestina. Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio- diversidade, Brasília.

Freitas M.A. 2015. Herpetofauna no nordeste brasileiro: guia de campo. Technical Books, Rio de Janeiro.

ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2013. Portaria nº 200, de 01 de julho de 2013. Aprova o Plano de Ação Nacio- nal para Conservação da Herpetofau- na Ameaçada da Mata Atlântica Nor- destina - PAN Herpetofauna da Mata Atlântica Nordestina, estabelecendo seu objetivo, objetivos específicos, pe- ríodo, articulador e procedimentos de implementação e supervisão.

ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2014. Livro Vermelho da Fauna Bra-

25 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação

Figura 1. Estação Ecológica de Mu- rici (ESEC de Mu- rici), no município de Murici, Ala- goas, habitat da Rãzinha-de-corre- deira-do-nordeste (Crossodactylus dantei), espécie em perigo de ex- tinção.

Figura 2. Crossodactylus dantei (rãzinha-de-corredei- ra-do-nordeste). Fotografia feita em 2012, o pri- meiro registro da espécie após sua descrição (24 anos após a descoberta da espécie).

Figura 3. Acampamento de pesquisa montado ao lado da corredeira onde Crossodactylus dantei foi registrado, com o objetivo de observar o comporta- mento e gravar a vocaliza- ção da espécie.

26 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3- Notícias de Conservação

Figuras 4. Marcos Dubeux fotografando girinos e imagos (em destaque) de Crossodac- tylus dantei no ambiente na- tural da espécie.

Figuras 5. Indivíduo adulto de Crossodactylus dantei foto- grafado em expedição recente a ESEC de Murici.

Figuras 6. Girino de Crossodactylus dantei.

27 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação

Pithecopus ayeaye Lutz, 1966 em sua localida- de tipo – Um projeto para entender as principais ameaças e perspectivas futuras para conservação

Bárbara Caroline Marcondes1, Daniel Silvares1, Iberê Farina Machado2, Ederson Godoy1, Roose- velt Heldt Junior1, José Eduardo Coutinho1, Paulo Augusto Pamplin3, Mireile Reis dos Santos1*.

1 Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - Campus Poços de Caldas, Avenida Dirce Pereira Rosa 300, 37713-100, Poços de Caldas, MG, Brasil. 2 Instituto Boitatá de Etnobiologia e Conservação da Fauna, Avenida 136 - Qd. F44 -lojas 01 e 02, Setor Sul, 74093-250, Goiânia, GO, Brasil. 3 Universidade Federal de Alfenas - Campus de Poços de Caldas, Rodovia José Aurélio Villela 11999 (BR-267, km 533), 37715-400, Poços de Caldas, MG, Brasil * Autor correspondente: [email protected]

principal causa de declínio dos o grande gargalo das ciências conservacio- anfíbios no mundo é a fragmen- nistas (Whittaker et al., 2005). Neste con- A tação de ambientes e consequen- texto, destacamos o estudo sobre a espécie te perda de habitat naturais (Ferrante et Pithecopus ayeaye Lutz, 1966, até pouco al., 2017). Especialmente para os anfíbios tempo considerada endêmica do Planalto do Brasil, grandes ameaças como a agro- de Poços de Caldas, Estado de Minas Ge- pecuária, a expansão urbana, poluição, rais (localidade-tipo) e, que teve, o conhe- produção de energia e transportes (ICM- cimento de sua distribuição ampliada com BIO, 2018) podem acelerar estes proces- a sinonimização de Phyllomedusa itacolo- sos. Além disso, estima-se que metade mi Caramaschi, Cruz & Feio, 2006 (Baêta das espécies de anfíbios do mundo estão et al., 2009) e encontro de novas popula- em risco de extinção devido a quitridiomi- ções (Magalhães et al., 2017). cose, destacando-se os anuros, que apre- sentam a maior vulnerabilidade a doença Conhecidas popularmente como “perere- (Scheele et al., 2020) e 19.5% das espécies ca-macaco”, a família Phyllomedusidae ainda possuem dados insuficientes e sem compreende oito gêneros de pererecas ar- o real status de conservação determinado borícolas (Frost, 2020), com algumas es- (IUCN, 2020). Estes dados reforçam a ne- pécies consideradas raras e pouco amos- cessidade de mais estudos ecológicos, mo- tradas (Baêta et al., 2016) ou extintas leculares, genéticos e sobre a biogeografia (Haddad et al., 2016). Um dos represen- do grupo, pois somente com esforços con- tantes dessa família é Pithecopus ayeaye juntos será possível promover a sua con- (Fig. 1A) descrita em 1966 por Bertha Lutz servação (Oliveira et al., 2019) e contribuir (Lutz, 1966) e por muitas décadas sem no- para a diminuição do Déficit Wallaceano, vas publicações sobre a espécie fora de sua 28 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação localidade-tipo. Em 2007, sua distribuição Visando entender o tamanho populacio- foi ampliada com novos registros no Par- nal, área de vida, razão sexual, aspectos que Nacional da Serra da Canastra (MG) e comportamentais reprodutivos e nicho Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus ecológico da população de Poços de Cal- (SP) (Araujo et al., 2007). Posteriormente, das, os autores aprovaram junto à Rufford a espécie Phyllomedusa itacolomi Cara- Foundation o projeto “Estrutura popula- maschi, Cruz & Feio, 2006, foi sinonimi- cional da perereca das folhagens (Pithe- zada com P. ayeaye (Baêta et al., 2009) copus ayeaye Lutz, 1966 - Anura - Phyllo- ampliando ainda mais sua distribuição medusidae) da região do Morro do Ferro geográfica. Em decorrência da amplitude – Planalto de Poços de Caldas/MG”. Neste da sua extensão de ocorrência e por estar projeto, consideramos a fragmentação dos presente em diversas Unidades de Con- ambientes naturais na região que aumen- servação Integrais, a espécie foi classifi- tou substancialmente nos últimos anos, cada como “Menor Preocupação” na lista com a inserção de plantios de eucaliptos nacional de espécies ameaçadas (ICMBio, e atividades agropecuárias no Morro do 2018). Ferro. Nessa primeira etapa, realizada en- tre setembro de 2019 e março de 2020, No entanto, a genética de populações tem percorremos 37 áreas (aproximadamente demonstrado que P. ayeaye possui uma 471.412m²) em trechos de riachos de ca- distribuição disjunta em três unidades beceira e ecossistemas próximos (poças evolutivas distintas, separadas durante os temporárias, áreas abertas, bromélias e processos vicariantes glaciais anteriores à ocos de árvores) naturais e antropizados. formação de campos rupestres (formação Como resultados preliminares, encontra- de refúgios), congruentes com o período de mos quatro adultos da espécie P. ayeaye formação geológica do Planalto de Poços de registrados em janeiro de 2020, sendo três Caldas (~75m.a) (Magalhães et al., 2017). machos e uma fêmea, apenas em uma área Ainda, as elevadas altitudes que circundam nativa remanescente de campo de altitude o planalto (até 1700m) podem constituir (com interferências antrópicas parciais) uma barreira geográfica para a dispersão, com 16.238 m², ou seja, apenas 3% da área impedindo fluxos genéticos naturais. Con- total amostrada. Nesta área registramos siderando suas unidades evolutivas, duas também girinos em poças temporárias até apresentam baixa diversidade genética março de 2020, quando adultos não fo- (Poços de Caldas e do Quadrilátero) e, em ram avistados através de procura ativa ou destaque a de Poços de Caldas, não é re- acústica. gistrada em área protegida (Magalhães et al., 2017). Este fato é preocupante, uma vez Nessa nova etapa do projeto, o principal que ao longo de sua distribuição ocorrem foco será na estrutura populacional, atra- redução de hábitat por desmatamento, ex- vés de estudos de densidade, proporção pansão da atividade agropecuária e perda sexual e tamanho populacional. Algumas da qualidade do hábitat (por exemplo: po- espécies do gênero Pithecopus apresen- luição dos cursos d’água por agrotóxicos). tam padrão único de manchas nos flancos 29 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação

(Fig. 1B-D), que podem ser utilizados para Vale ressaltar que o Planalto de Poços de a identificação individual dos espécimes Caldas se destaca como a área de maior (Cândido, 2013; Oliveira, 2017). Esta ca- endemismo para a fauna de anuros quan- racterística possibilita o uso de metodolo- do comparada a outras regiões de altitude gias menos invasivas, como identificação na Mata Atlântica (Giovanelli et al., 2008), individual por fotografia dos animais em contando com outras espécies endêmicas campo. Dessa forma, todos os animais en- do Planalto, como Scinax caldarum (Lutz contrados em cada dia de campo, terão os 1968) e vulcaniae (Vas- flancos direitos fotografados de modo que concelos & Giaretta, 2005), também en- os seus padrões de manchas e coloração contradas no Morro do Ferro, e que serão sejam registrados. Após isto, as imagens alvo da segunda etapa desse projeto. serão processadas no software Wild-ID, o qual comparará as imagens para iden- Agradecimentos tificação de novos indivíduos adicionados a cada amostragem. Assim, teremos uma A pesquisa foi financiada por Rufford Fou- estimativa acurada do tamanho popula- ndation, pelo Instituto Federal do Sul de cional através da metodologia de Pertesen Minas Gerais - IFSULDEMINAS - Cam- que inclui captura-marcação-recaptura pus Poços de Caldas e obteve apoio técnico (Krebs, 1989; Ricklef, 2016). (equipamento) da Universidade Federal de Alfenas. Adicionalmente, uma iniciativa de Ciência Cidadã será realizada, na qual uma ampla Referências divulgação da espécie será feita junto aos moradores de Poços de Caldas. A proposta Araújo C.O., Condez T.H., Haddad C.F.B. é conseguir identificar novas populações 2007. Amphibia, Anura, Phyllomedusa ainda não conhecidas para o município, ayeaye (B. Lutz, 1966): distribution ex- além de mapear outras áreas potenciais tension, new state record, and geographic para a sua ocorrência, ou seja, remanes- distribution map. Check List 3: 156–158. centes de Campos Naturais de Altitude. doi:10.15560/3.2.156. Este estudo visa auxiliar no subsídio para Baêta D., Caramaschi U., Cruz C.A.G., conservação direta de P. ayeaye, uma vez Pombal Jr J.P. 2009. Phyllomedusa itaco- que a região, em especial o Morro do Fer- lomi Caramaschi, Cruz and Feio, 2006, a ro, foi modificada pela silvicultura, mine- junior synonym of Phyllomedusa ayeaye ração de metais e de materiais radioativos (B. Lutz, 1966) (, Phyllomedusi- naturais, que podem ter alguma influên- nae). Zootaxa 65:58–65. doi:10.11646/ cia sobre a biologia da fauna e flora local zootaxa.2226.1.5 (Takahashi, 1976). Esse esforço, será fun- damental para a conservação do pool ge- Baêta D., Giasson L. O.M., Pombal Jr J.P., nético da unidade evolutiva de Poços de Haddad C.F.B. 2016. Review of the Rare Caldas. Genus Phrynomedusa Miranda-Ribeiro, 1923 (Anura: Phyllomedusidae) With Des- 30 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação cription of a New . Herpetologi- cies/7508-anfibios-phrynomedusa-fim- cal Monographs 30:49–78. doi:10.1655/ briata. Acesso: 15 março de 2020. HERPMONOGRAPHS-D-15-00009.1 ICMBio - Instituto Chico Mendes de Con- Cândido C.E.R. 2013. Biologia reprodutiva servação da Biodiversidade. 2018. Livro de Phyllomedusa oreades Brandão, 2002 Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada (Anura: Hylidae), uma espécie endêmica de Extinção: Volume V - Anfíbios. ICM- do Cerrado restrita a riacho de altitude. Bio/MMA. Brasília. Mestrado. Dissertação, Universidade de IUCN. 2020. The IUCN Red List of Threa- Brasília, Brasil. tened Species. Version 2020-2 (acesso em Ferrante L., Baccaro F.B., Ferreira E.B., 9 de julho de 2020). Acessível em https:// Sampaio M.F.O., Santos T., Justino R.C., www.iucnredlist.org. Angulo A. 2017. 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31 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação

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Ricklefs R., Relyea R. 2016. A Economia da Natureza. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro.

Scheele B.C., Pasmans F., Skerrant L.F., Berger L., Martel A., Beukema W., … Ca- nessa S. 2020. Amphibian fungal panzoo- tic causes catastrophic and ongoing loss Figura 1A. Casal de Pitheco- of biodiversity. Science 363:1459-1463. pus ayeaye da localidade Mor- doi:10.1126/science.aav0379 ro do Ferro, no Planalto de Po- Takahashi C.S. 1976. Cytogenetical studies ços de Caldas, Minas Gerais. on the effects of high natural radiation le- Foto: Ederson Godoy vels in Tityus bahiensis (Scorpiones, Bu- thidae) from Morro do Ferro, Brazil. Ra- diation Research 67:371–381.

Whittaker R.J., Araújo M.B., Jepson P.R., Ladle R.J., Watson J.E., Willis K.J. 2005. Conservation Biogeography: as- 1B sessment and prospect. Diversity and Distributions 11:3–23. doi:10.1111/j. 1366-9516.2005.00143.x

1C Editor: Iberê F. Machado

1D

Figura 1B - 1C - 1D. Padrões individuais de manchas nos flancos de P. ayeaye. Foto: Ederson Godoy 32 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação

Workshop - Avaliação das necessidades de con- servação de anfíbios brasileiros Conservation needs assessments

Por ASG Brasil

ntre os dias 17 e 21 de agos- as avaliações brasileiras aconteceram to de 2020, o Grupo de Espe- virtualmente. O principal objetivo do Ecialistas em Anfíbios do Brasil workshop foi avaliar todas as espécies (ASG Brasil - IUCN), em conjunto com de anfíbios ameaçadas de extinção no a Amphibian Ark (AArk) e apoio do Brasil, além de outras com interesse de RAN/ICMBio, realizaram o workshop conservação no País, identificando as “Avaliação das Necessidades de Con- ações de conservação prioritárias para servação” (CNA, Conservation Needs cada espécie, podendo incluir ou não o Assessments), com foco nas espécies manejo ex situ. Para tornar o processo brasileiras de anfíbios. A CNA, desen- mais dinâmico, as espécies e partici- volvida e gerenciada pela AArk, busca pantes foram divididos por região, to- identificar objetiva e consistentemen- talizando quatro grupos de trabalho: te as espécies prioritárias de anfíbios e Sul, Sudeste, Nordeste e Centro- suas necessidades imediatas de conser- -Oeste/Norte. No total foram avalia- vação. Através de um método transpa- das 67 espécies e, para realizar as ava- rente, lógico e objetivo, a CNA utiliza o liações, o ASG Brasil convidou mais de conhecimento atual sobre as espécies 50 pessoas, abrangendo uma varieda- na natureza para determinar aquelas de de locais e especialidades, incluindo com necessidades de conservação mais acadêmicos, pesquisadores, estudantes urgentes, fornecendo uma base para o e membros de agências governamen- desenvolvimento de planos de ação de tais (Fig. 1-4). conservação integrados tanto para tra- balhos de conservação in situ quanto As avaliações foram facilitadas pelo ex situ, de acordo com a recomendação Oficial de Treinamento da AArk Luis para cada espécie. Para saber mais so- Carrillo, pelos membros da ASG Brasil bre o CNA, acesse o site oficial daAArk . Cybele S. Lisboa, Iberê Machado, Luis F. Marin da Fonte e Débora Silvano, e Normalmente, as CNAs são realizadas Luis F. Toledo (UNICAMP). Devido ao em reuniões presenciais, mas devido detalhamento das avaliações, determi- à pandemia da COVID-19, desta vez nadas espécies foram avaliadas poste-

33 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação riormente ao workshop, quando outros serão compartilhados em breve no site especialistas foram convidados a par- do CNA e em uma publicação específica ticipar do processo. Sendo assim, os aqui na HB. trabalhos de avaliação se encerraram agora no início de novembro de 2020. Os resultados das avaliações estão sen- do revisados pelos grupos de trabalho e Editora: Cybele S. Lisboa

Figura 1. Participantes da reunião de ava- Figura 2. Participantes da reunião de liação das espécies ocorrentes nas regiões avaliação das espécies ocorrentes na Centro-Oeste e Norte do Brasil. região Nordeste do Brasil.

Figura 3. Participantes da reunião de avalia- Figura 4. Participantes da reunião de ção das espécies ocorrentes na região Su- avaliação das espécies ocorrentes na deste do Brasil. região Sul do Brasil.

34 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Notícias de Conservação

Micrurus ortoni Cruzeiro do Sul - AC @ Lucas Lima

35 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - História da Herpetologia

História da Herpetologia

DEPOIMENTO Teresa Cristina S. Ávila-Pires Pesquisadora U-III (aposentada) Museu Paraense Emílio Goeldi

36 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - História da Herpetologia

m 2015 tive a grata surpresa de Cursei a graduação (bacharelado em ser homenageada durante o VII Biologia) na UFRJ e o mestrado (Zoo- ECongresso Brasileiro de Herpe- logia) no Museu Nacional , Universida- tologia, em Gramado, RS. Uma gran- de Federal do Rio de Janeiro. Durante a de honra para mim. Em 2019 aceitei o graduação me interessei pelos equino- convite do Márcio Martins, então presi- dermas, que foi tema de meu mestrado, dente da SBH, para colaborar com esta sob a orientação do Dr. Ignacio Macha- revista na editoração da sessão sobre do Brito (docente do Departamento de História da Herpetologia Brasileira, Geologia da UFRJ). Mesmo durante o uma ideia que achei muito apropriada, mestrado continuei vinculada ao De- considerando a importância da história partamento de Zoologia do Instituto de para se entender fatos atuais e a evo- Biologia da UFRJ e também desenvol- lução do pensamento, da ciência e da via atividades junto ao laboratório de cultura. Sem o registro por escrito, a Echinodermata do MNRJ, então che- memória acaba desaparecendo à medi- fiado pelo pesquisador Mário Moreira. da que as gerações vão se substituindo. Na ciência, incluindo a Herpetologia, Embora os equinodermas sejam um muitas publicações são consultadas por grupo fascinante, ao terminar o mestra- várias gerações de pesquisadores, as- do achei que teria mais oportunidades sim conhecemos muitos nomes de her- se trabalhasse com um grupo terrestre petólogos, mas ficamos sabendo muito e os répteis me atraíam. Não havia her- pouco sobre eles e a época em que tra- petólogos no Departamento de Zoolo- balharam. Um dos objetivos desta ses- gia da UFRJ, mas existia uma peque- são é trazer essas informações e, como na coleção que comecei a estudar. No editora da sessão e homenageada pela MNRJ tampouco havia um herpetólogo SBH, não teria como recusar o convite ativo (Antenor Leitão de Carvalho esta- do Délio Baêta, também editor da ses- va aposentado, ainda que frequentasse são, de escrever algo sobre minha car- com alguma regularidade o museu). reira. Algumas informações publiquei Contudo, como eu já era conhecida dos num texto para o Informativo da Socie- pesquisadores da casa, aceitaram que dade Brasileira de Zoologia (Ano XXX- eu estudasse a coleção de répteis. Co- VI, no. 110, setembro de 2014), então mecei esses estudos pelos lagartos e, aqui vou só brevemente falar de minha por uma série de circunstâncias, acabei formação acadêmica e me ater mais às me dedicando predominantemente a informações diretamente vinculadas à eles durante toda a minha carreira. Herpetologia, buscando não repetir o Em 1983 mudei-me para Belém, como que já contei anteriormente. bolsista junto ao Museu Paraense Emí-

37 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - História da Herpetologia lio Goeldi. Minha primeira bolsa de es- áreas e em grande parte da região, hoje tudos no MPEG foi da IBM do Brasil restrita a umas poucas “ilhas”, ainda se (!), mas depois de um ano a empresa mantinha intacta, formando uma gran- decidiu restringir as áreas para as quais de cobertura. Os campos rupestres, em concedia bolsas e a minha não foi reno- Carajás, também ainda estavam, em vada. Três meses de “sufoco” sem bol- sua maioria, intactos. Dos estudos nes- sa (contando com minhas economias sas áreas participavam várias equipes e os amigos…), até obter uma bolsa do do MPEG, incluindo zoologia, botânica CNPq. Em abril de 1985 fui contratada, e arqueologia, assim foi também uma ainda como mestre (hoje não mais pos- grande oportunidade para interagir sível…), junto a vários outros colegas com vários dos setores da instituição bolsistas da instituição. Outra diferen- e compartilharmos os conhecimentos ça com a situação atual é que à época das várias áreas. não havia concursos, a própria institui- ção indicava os candidatos a contratar. Em 1987, então já contratada, iniciei Nosso “teste de ingresso” era o perío- meu doutorado junto à Universida- do em que atuávamos como bolsistas, de de Leiden, na Holanda, que escolhi quando a instituição tinha chance de porque queria fazer, para a Amazônia verificar o quanto poderíamos contri- brasileira, um estudo similar ao rea- buir e se nos adaptávamos às condições lizado por Marinus Hoogmoed para o locais (muitos, como eu, vinham de ou- Suriname (e aqui gostaria de agradecer tras regiões do país). a Bill Magnusson, que me sugeriu essa possibilidade). Levei um tempo maior No MPEG tive a satisfação de traba- do que deveria – sete anos! – para ter- lhar com Osvaldo Rodrigues da Cunha minar o estudo e defender a tese, mas e Francisco Paiva Nascimento, que me acho que valeu a pena. Minha intenção deram todo o apoio e com os quais co- era formar uma base sólida para futu- mecei a aprender sobre os répteis da re- ros estudos sobre lagartos amazônicos gião. Graças a eles, a instituição possuía e, apesar das falhas e lacunas, acho que uma coleção herpetológica fantástica consegui dar uma contribuição nesse em termos de representação da fauna sentido. Nesse período tive a oportuni- amazônica, em especial da parte orien- dade de visitar muitos museus na Euro- tal. Meus primeiros trabalhos de cam- pa e, logo antes de iniciar o doutorado, po foram na Serra Norte, Carajás, e na também nos Estados Unidos. Em todos área a ser afetada pela Usina Hidrelé- os lugares fui sempre muito bem rece- trica de Tucuruí. A mineração em Ca- bida. Em termos particulares, a ida à rajás estava em uma fase relativamente Holanda marcou também toda a minha inicial e a hidrelétrica ainda por cons- vida, já que Marinus e eu acabamos nos truir. Ou seja, a floresta nessas duas casando. 38 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - História da Herpetologia

Ao longo de minha carreira tive a opor- de encontrar os animais em seu am- tunidade de trabalhar em várias áreas biente natural e conhecer mais sobre da Amazônia, incluindo quase todos os como vivem e se comportam (além de estados (exceto Roraima e a parte ama- todos os outros animais e plantas que zônica do Mato Grosso) e tanto ao sul temos também a chance de encontrar). como ao norte do Amazonas. Diferen- Além disso, tive a chance de trabalhar temente do que ocorre em outras regi- no campo junto a pessoas ótimas, como ões do país, as grandes distâncias e, em Laurie Vitt e Janallee Caldwell, vários muitos casos, dificuldades de acesso colegas do MPEG e diversos estudan- exigem que as expedições durem pelo tes, além de Marinus Hoogmoed. Tive menos algumas semanas. Alcançar a também a oportunidade de realizar área de estudo pode levar dias e deman- campos mais curtos com Miguel Rodri- dar transporte por avião, helicóptero, gues, Bill Magnusson e Albertina Lima, mais carro e/ou barco e, por vezes, ain- e ainda de acompanhar uma filmagem da uma boa caminhada. Em boa parte feita por Walter Hödl (cujo entusiasmo dos casos montamos acampamento na é contagiante) com Physalaemus ephi- mata, onde auxiliares de campo abriam ppifer dos arredores de Belém. as picadas para podermos caminhar buscando os animais. Nos primeiros es- Em 2009 passei cerca de quatro meses tudos de campo que fiz as coletas eram em Provo, EUA, num pós-doutorado, apenas ativas, sem o auxílio de armadi- junto ao laboratório de Jack Sites, na lhas. Nas expedições posteriores passei Brigham Young University. Lá pude a utilizar também, sempre que possí- ter alguma experiência com o dia-a-dia vel, pitfalls. Demanda carregar um ma- das atividades de laboratório em estu- terial bem maior, menos mobilidade na dos moleculares e aprender mais sobre área de estudo (montar, desmontar e o tema. Foi um período bastante esti- transportar armadilhas é custoso) e um mulante, num laboratório muito dinâ- grande esforço diário de revisão das ar- mico, com vários colaboradores e estu- madilhas, mas o resultado, em geral, dantes. Em especial, recebi um grande compensa. Outra adição aos trabalhos apoio de Dan Mulcahy, então pós-doc de campo foi a obtenção de amostras no laboratório, além, é claro, de todo o de tecidos, para estudos moleculares, o apoio dado pelo próprio Jack Sites. que significou mais tempo para as ati- Em 2000/2001 comecei a participar vidades de preparação, mas otimiza as como docente do Programa de Pós-gra- coletas. Apesar do trabalho intenso, o duação em Zoologia UFPA–MPEG (até campo, para mim, sempre foi uma das então havia orientado alguns gradu- faces mais prazerosas da atividade pro- andos, o que continuei a fazer). Como fissional, pois aí temos a oportunidade toda atividade, por vezes há situações

39 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - História da Herpetologia difíceis, mas é também estimulante, anteriores quanto posteriores à criação aprende-se muito e me deu a oportuni- da SBH (da qual sou sócia desde sua dade de ter orientandos ótimos que hoje fundação, em 1984); e também bus- estão contribuindo com a herpetologia. quei contribuir com a própria SBH. Na Se esses alunos (homens e mulheres) já esfera mais ampla, busquei contribuir representavam muito para mim, a ho- com algumas das atividades de comu- menagem com que me presentearam nicação e extensão do MPEG, com ati- quando me aposentei me deixou ainda vidades do RAN/ICMBio, da Secretaria mais feliz e com a sensação de ter efeti- do Meio Ambiente do Estado do Pará, vamente contribuído de alguma forma e em projetos institucionais mais vol- para a formação de novos profissionais tados a embasar políticas de conserva- em herpetologia. ção. Há anos sou também colaboradora da Fundação Grupo Boticário, que rea- No MPEG, no laboratório de herpeto- liza um importante trabalho de prote- logia, Osvaldo Cunha e Francisco Nas- ção ambiental e apoio a pesquisas em cimento se aposentaram enquanto eu conservação ambiental. estava no doutorado (e infelizmente já faleceram, respectivamente em 2011 e Trabalhar na Amazônia é algo fantásti- 2015), mas Ulisses Galatti e Ana Lú- co, pela beleza da floresta e diversidade cia da Costa Prudente foram contrata- de vida que abriga. Fico feliz de ter po- dos. Além de serem excelentes colegas, dido estudar áreas ainda pouco pertur- tornaram-se bons amigos. Entre 2003 badas, ao mesmo tempo que me deixa e 2019 Marinus juntou-se também à triste e apreensiva ver toda a destruição equipe, como pesquisador-colabora- ocorrida só nessas décadas desde que dor. A coleção herpetológica expandiu- me mudei para Belém. O gigantismo -se bastante, sob a curadoria de Ana da Amazônia infelizmente leva muitos Prudente. Atualmente, o laboratório a pensarem que ela pode ser explora- conta com uma ativa equipe formada da à vontade, sem entender que é um pelos dois pesquisadores, pós-docs, sistema complexo, cujas interrelações pós-graduandos e graduandos. precisam ser mantidas (afora aqueles que parecem não ter noção de sua im- Por fim, há outro aspecto importante portância, seja em termos climáticos ou de nossa atividade com o qual, embora de outros serviços ambientais, seja por de forma limitada, tentei contribuir: a toda a vida – animal, vegetal e de popu- questão da divulgação científica, edu- lações humanas que dependem da flo- cação ambiental e apoio a políticas de resta - que aí existe). Um ponto positivo conservação. Na esfera da comunida- é que atualmente há mais herpetólogos de herpetológica, sempre que possível residindo e trabalhando na Amazônia, participei das reuniões nacionais, tanto inclusive em campi universitários fora 40 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - História da Herpetologia das capitais, expandindo as possibili- alguns trabalhos em colaboração que dades de estudos e de formação de pes- estão sendo finalizados. Muitas coisas soal local. mudaram na pesquisa desde que ini- ciei, muitas novas metodologias, que Nos anos mais recentes temos visto inú- abrem possibilidades antes impensa- meros ataques a instituições científicas das para se avançar no conhecimento. e universidades, e o corte de verbas A internet também auxiliou bastante fundamentais para a continuidade das na divulgação da informação, inclusi- pesquisas científicas no Brasil. O corte ve, cada vez mais, na disponibilização de bolsas, a falta de perspectivas para de trabalhos antigos, o que é essencial contratação, e a insegurança quanto à (não é raro ver informações e/ou ideias continuidade de pesquisas são fatores proclamadas como novas, quando na desestimulantes para a carreira cien- verdade não o são). Um grande campo tífica. Apesar disso, felizmente ainda de pesquisa para as novas gerações. vemos muitos jovens entusiasmados querendo fazer pesquisa, inclusive na herpetologia. Curiosidade, vontade de aprender, dedicação e persistência são Editor: Délio Baêta indispensáveis para se tornar um bom pesquisador. Assim como honestida- de, um profundo senso de ética e sen- so crítico, especialmente nos dias de hoje, onde a pressão e competição são tão grandes. Além disso, é importantís- simo que essa nova geração de profis- sionais invista em ações de divulgação científica e educação ambiental da po- pulação em geral, para que ela entenda a importância das pesquisas e apoie o investimento nessas áreas (desapro- vando ações no sentido contrário). Pelo que vejo nos alunos e recém-doutores no Pará, com os quais tenho contato, felizmente eles já têm essa percepção e estão atuando nessa direção.

Desde 2019 estou aposentada e atu- almente vivo na Holanda. Não estou mais realizando pesquisas, exceto por

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Marinus Hoogmoed, Fran- -cisco Paiva do Nascimen- to, Osvaldo Rodrigues da Cunha e eu, logo após a homenagem feita aos dois (FPN e ORC), durante o III Congresso Brasileiro de Herpetologia, em Be- lém-PA, em 2007.

Um exemplar Chatogekko amazo- Revirando serrapilheira durante Expedição Calha-Nor- nicus coletado durante Expedição te, Pará, Brasil. Adriano Gambarini tirou a foto. Calha-Norte, Pará, Brasil. Adriano Gambarini tirou a foto.

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Retirando amostras de te- cido de um exemplar de Lithodytes lineatus duran- te Expedição Calha-Norte, Pará, Brasil. Adriano Gam- barini tirou a foto.

Revisando armadilhas de queda (pitfalls) durante Expedição Calha-Norte, Pará, Brasil. Adriano Gam- barini tirou a foto.

Com um exemplar de Pa- leosuchus coletado duran- te Expedição Calha-Norte, Pará, Brasil. Adriano Gam- barini tirou a foto.

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Durante trabalho de campo no Acre, Rio Juruá, em 1996, uma das cinco expedições que fiz em colaboração com Laurie J. Vitt e Janalee P. Cal- dwell (Jan), Sam Noble Oklahoma Museum of Natural History: Verô- nica Oliveira (então em estágio de aperfeiçoamento no MPEG, atual- mente docente da UFPA), Jan e eu. Laurie Vitt tirou a foto.

Marinus Hoogmoed e eu em 2008, na Reserva Biológica Maicuru, uma das expedições do Projeto Calha Norte, visando inventariar a fauna de várias unidades de conservação estaduais do norte do Pará. O pro- jeto foi uma colaboração entre a Se- cretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará, o MPEG e a Conservação Internacional. Ivelise Fiock dos San- -tos, da SEMA-PA (e uma antiga es- tagiária do laboratório de Herpeto- logia do MPEG), tirou a foto.

Miguel T. Rodrigues e eu, a caminho do Arquipélago de Anavilhanas, no Rio Negro, Amazonas, em 2005, em busca do Loxopholis ferreirai. Ma- rinus Hoogmoed tirou a foto.

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Momento de descanso durante tra- balho de campo na Reserva Extra- tivista Tapajós-Arapiuns, Pará, em junho de 2011, onde ficamos aloja- dos na Vila de Nova Canaã. Marinus Hoogmoed tirou a foto.

Equipe de Herpetologia durante tra- balho de campo no Parque Estadual da Serra dos Martírios-Andorinhas, no Pará, junto à divisa com o To- cantins, em novembro de 2011: eu, Marinus Hoogmoed e Ângelo Dou- rado (mestre em Zoologia e técnico da Coordenação de Zoologia), junto com o motorista e o carro com nosso equipamento.

Preparando o material coletado, du- rante expedição à Serra Sul, Cara- jás, Pará, em 2014: Marcélia Basto da Silva e Kleiton R. Alves da Silva, ambos então pós-graduandos vincu- -lados aos laboratórios de Herpeto- logia do MPEG e da UFPA, respecti- vamente. Marinus Hoogmoed tirou a foto.

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Trabalhos recentes

Damasceno R.P., Carnaval A.C., Sass C., Recoder R.S., Moritz C., Rodrigues M.T. 2021. Geographic restriction, genetic divergence, and morphological dis- parity in the Brazilian Atlantic Forests: insights from Leposoma lizards (Gym- nophthalmidae, Squamata). Molecular Phylogenetics and Evolution 154: 106993. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ympev.2020.106993

ma das características da Mata cluindo uma espécie candidata - abar- Atlântica (MA) é que extensões cando uma ampla cobertura geográfica Ugeográficas relativamente pe- de cerca de 2500 km. O monofiletismo quenas concentram uma grande diver- do gênero foi corroborado, sendo Lepo- sidade e/ou endemismo filogenético. soma baturitensis a linhagem mais ba- Linhagens evolutivas recentes e gene- sal. As análises também corroboraram ticamente divergentes ocupam áreas a validade de todos os táxons descritos, restritas, resultando em um endemis- bem como da espécie candidata, sendo mo filogeográfico alto em algumas regi- evidenciadas também espécies sintópi- ões específicas. Os processos evolutivos cas, sobretudo no estado da Bahia onde que geram tais padrões podem também podem ocorrer até quatro espécies em estar relacionados ao alto índice de di- uma mesma localidade. Em contrapar- versidade morfológica críptica observa- tida, a análise de componentes princi- da na MA. No presente estudo os auto- pais com base nos dados morfométri- res avaliam de que forma a disparidade cos não foi capaz de discriminar estas morfológica e a divergência genética linhagens, apesar dos centróides das podem estar correlacionadas nos lagar- espécies apresentarem algum grau de tos do gênero Leposoma, um grupo que diferenciação. Além disso, houve corre- apresenta a maioria das espécies com lação positiva entre as distâncias mor- distribuição restrita, porém que tam- fométricas e as distâncias na árvore fi- bém possui táxons mais amplamente logenética, sendo que a última explicou distribuídos. cerca de 70% da variação morfométrica apresentada pelo gênero. Foram analisados 12 marcadores gené- ticos, além de dados morfométricos de Linhagens divergentes de Leposoma todos os representantes do gênero - in- apresentaram uma restrição geográfica

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generalizada, assim como foram iden- tificadas linhagens intraespecíficas de L. scincoides circunscritas geografica- mente. A distribuição de muitas espé- cies está situada dentro de refúgios da MA, tanto no litoral quanto no interior (e.g. brejos de altitude), apontando a estabilidade de habitat como um fator que possibilitou a manutenção destas linhagens ao longo do tempo. Por ou- tro lado, a diferenciação de linhagens filogeográficas do clado sul de L. scin- coides está relacionada à existência de rios que serviram como barreiras geo- gráficas que restringiram a distribuição das mesmas. Finalmente, os resultados apontam que embora o tamanho e for- ma do corpo sejam bastante similares dentro do gênero, foi evidenciado um acúmulo de disparidade morfológica juntamente com a divergência genéti- ca, embora a primeira ocorra em uma taxa muito menor.

Editor: Daniel S. Fernandes

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Lyra M.L., Lourenço A.C.C., Pinheiro P.D.P., Pezzuti T.L., Baêta D., Barlow A., Hofreiter M., Pombal Jr. J.P., Haddad C.F.B., Faivovich J. 2020. High-throu- ghput DNA sequencing of museum specimens sheds light on the long-missing species of the Bokermannohyla claresignata group (Anura: Hylidae: Copho- mantini). Zoological Journal of the Linnean Society 190: 1235-1255. DOI: https://doi.org/10.1093/zoolinnean/zlaa033

esquisadores brasileiros, argen- Dada a posição filogenética de ambas tinos e alemães publicaram um as espécies “dentro” do gênero Boana, Pestudo sistemático extenso sobre que deixou Bokermannohyla polifiléti- duas espécies desaparecidas há 40 anos ca e Boana parafilética, eles fazem uma da natureza: Bokermannohyla clare- alocação genérica, e criam o grupo de signata e Bokermannohyla clepsydra Boana claresignata formado pela Bo- (Hylidae), ambas endêmicas da Mata ana claresignata e Boana clepsydra. Atlântica dos estados do Rio de Janeiro Encontraram que esse grupo é irmão e São Paulo. Utilizaram para esse estu- do grupo de Boana pulchella, e juntos do informações acústicas, morfológicas são irmãos do grupo de Boana faber. externas, miológicas, osteológicas, lar- Fizeram uma redescrição das espécies vais e genéticas. As espécies utilizadas e do grupo de Boana claresignata, e como grupo interno formam a tribo forneceram um estudo do histórico ta- Cophomantini (Hylidae), que inclui os xonômico das espécies. gêneros Aplastodiscus, Boana, Boker- mannohyla, Hyloscirtus, Myersiohyla Adicionalmente, analisaram sinapo- e Nerosohyla. morfias do grupoBoana claresignata e do grupo Boana pulchella, bem como Como essas espécies só existem em as características possivelmente sina- coleções zoológicas, integrar essas es- pomórficas de ambos os grupos juntos. pécies à uma análise sistemática só foi Os autores também discutem a evolu- possível graças ao desenvolvimento de ção de características específicas, como uma técnica de sequenciamento de alto os girinos suctoriais de Cophomantini desempenho, adaptada para material e a pigmentação de ovos e ovócitos ma- degradado por formaldeído e etanol. duros no gênero Boana. Além desse sequenciamento, utiliza- ram também fragmentos genéticos de sequenciamento de Sanger, já existen- Editora: Ariadne F. Sabbag tes para os outros taxa do grupo inter- no e externo.

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Oliveira E.A., da Silva L.A., Silva E.A.P., Guimarães K.L.A.,Penhacek M., Mar- tínez J.G., Rodrigues L.R.R., Santana D.J., Hernández-Ruz E.J. 2020. Four new species of Pristimantis Jiménez de la Espada, 1870 (Anura: Craugastori- dae) in the eastern Amazon. Plos One 15(3):e0229971. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0229971

ristimantis é o gênero mais diver- re filogenética por inferência Bayesiana, so de vertebrados, compreenden- matrizes de distância genética e uma rede P do 531 espécies classificadas em 11 de haplótipos. Caracteres de morfometria grupos. A taxonomia do gênero é conside- linear e qualitativos foram analisados, as- rada um grande desafio, visto que o grupo sim como dados de bioacústica. A partir é muito diverso e com morfologia conside- da análise integrativa desses conjuntos de rada bastante conservada, o que se reflete dados, os autores encontraram quatro li- numa alta diversidade críptica. O grupo nhagens evolutivas sem nome pertencen- de P. conspicillatus contém 34 espécies, tes ao grupo de P. conspicillatus no leste que ocorrem desde a Costa Rica, Panamá, da bacia amazônica, uma delas no norte Norte da América do Sul, da Colômbia até do Cerrado. Diagnoses e descrições foram a Guiana, sul da Bolívia e Brasil. No Brasil, fornecidas para as quatro novas espécies. 16 espécies do grupo estão presentes na O trabalho é mais um exemplo de como a Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. As diversidade de anuros ainda é subestima- principais características que identificam da na região Neotropical. o grupo são uma membrana timpânica e anel timpânico distintos, região dorsal do corpo liso ou rugoso, dobra dorsolateral Editor: Adriano O. Maciel presente ou não, pele da barriga geralmen- te lisa, mas granular em algumas espécies e o artelho V do pé ligeiramente maior que o artelho III. Os autores deste artigo cole- taram espécimes do grupo P. conspicilla- tus em 27 localidades no Brasil ao longo da Amazônia e do Cerrado adjacente. Adi- cionalmente, 291 exemplares de várias coleções herpetológicas brasileiras foram analisados. Sequências de DNA de dois marcadores mitocondriais foram produzi- das a partir do material de estudo e para as outras espécies de Pristimantis foram ad- quiridas no GenBank. A partir do banco de dados molecular foram geradas uma árvo-

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Roberto I.J, Bittencourt P.S, Muniz, F.L., Hernández-Rangel S.M., Nóbrega, Y.C., Ávila R.W., Souza B.C., Alvarez G., Miranda-Chumacero G., Campos Z., Farias I.P., Hrbek T. 2020. Unexpected but unsurprising lineage diversity wi- thin the most widespread Neotropical crocodilian genus Caiman (Crocodylia, Alligatoridae). Systematics and Biodiversity 18:377–395 DOI: https://doi.org/10.1080/14772000.2020.1769222

ecentemente novas espécies novas espécies, uma vez que são ge- de crocodilianos vêm sendo ograficamente coesas, divergentes R descritas com a utilização e monofiléticas. Caiman crocodilus da taxonomia integrativa, incluin- possui quatro linhagens distintas: do análises moleculares para tra- Guiana/Amazônia, Escudo Brasi- çar a história evolutiva do grupo. leiro, Rio Negro e Rio Orinoco. Cai- O gênero Caiman é considerado man yacare possui três linhagens o gênero taxonomicamente mais distintas: Alto Paraguai/Pantanal, complexo dentro de Alligatoridae. Bacia Boliviana e Rio Madeira; as- Atualmente Caiman compreende sim como C. latirostris com três li- três espécies válidas: Caiman cro- nhagens: Rio Doce, Rio São Fran- codilus, C. yacare e C. latirostris. cisco e Rio Paraná. A subespécie C. Porém o complexo de Caiman cro- crocodilus chiapasius pertence à codilus/yacare comportam quatro linhagem única da costa do Pacífico subespécies de Caiman crocodilus: do México e El Salvador. Os auto- Caiman crocodilus crocodilus, C. c. res ainda chamam a atenção sobre a fuscus, C. c. chiapasius e C. c. apa- distribuição parapátrica de muitas poriensis e a espécie C. yacare. Nos das linhagens de C. crocodilus, o últimos 15 anos têm se discutido a que poderia ocasionar hibridação. validade das espécies e subespécies A confirmação e/ou descrição das do gênero, assim como a diversifi- espécies de crocodilianos pode au- cação da linhagem de Caiman. Os xiliar na conservação das mesmas, autores neste artigo encontraram uma vez que a maioria das linha- 10 linhagens para Caiman, sendo gens detectadas no estudo vêm en- três de C. latirostris e sete do com- frentando várias ameaças antropo- plexo de C. crocodilus/yacare. To- gênicas. das as novas linhagens de Caiman, assim como todas as subespécies já descritas podem ser consideradas Editora: Jessica Rhaiza Mudrek

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Silva N.R., Berneck B.V.M., Silva H.R., Haddad C.F.B, Zamudio K.R., Mott T., Nali R.C., Prado C.P.A. 2020. Egg-laying site, fecundity and degree of sexual size dimorphism in . Biological Journal of the Linnean Society 131: 600- 610. DOI: https://doi.org/10.1093/biolinnean/blaa126

local em que as fêmeas de- obter informações para mais de 500 positam seus ovos pode va- espécies de anuros e mais de 250 espe- O riar bastante entre as espécies cificamente da família Hylidae. de anuros. Estes sítios de oviposição abrangem, por exemplo, corpos d’água, Utilizando métodos comparativos filo- locais terrestres úmidos, frestas de ro- genéticos e um índice de dimorfismo chas ou buracos em troncos de árvo- sexual, os autores encontraram que res. Além de precisarem escolher locais estatisticamente não houve diferença adequados e seguros para deposita- para dimorfismo sexual entre os di- rem seus ovos, as fêmeas também en- ferentes microhabitats analisados. A frentam outros desafios, como fugir de fecundidade (número de ovos), no en- predadores durante o amplexo. Isto é, tanto, foi significativamente maior nas fugir dos predadores ao mesmo tempo espécies que depositam os ovos em am- em que carregam um macho nas costas. bientes aquáticos. Além disso, os re- Foi pensando nisso que Nelson Silva e sultados mostram algumas tendências colaboradores decidiram investigar se interessantes. Por exemplo, a variação o uso de diferentes microhabitats im- no dimorfismo sexual foi maior nas es- põe pressões evolutivas distintas na fe- pécies que depositam os ovos no am- cundidade e no tamanho corporal das biente aquático e as fêmeas tendem a fêmeas, consequentemente afetando ser maiores que os machos em espécies o dimorfismo sexual em tamanho nos que depositam os ovos no ambiente ar- anuros. borícola. Por outro lado, machos e fê- meas tendem a ter tamanhos similares Os autores fizeram um extenso levan- em espécies que desovam em locais es- tamento da literatura compilando in- condidos, provavelmente pela restrição formações sobre tamanho corporal de de espaço. Os resultados foram simila- fêmeas e machos, tamanho da ninhada res quando analisando todos os anuros e tamanho do ovo. Além disso, catego- ou somente aqueles pertencentes à fa- rizaram os anuros quando depositando mília Hylidae. seus ovos em ambiente aquático, arbo- rícola, terrestre ou o que eles chamaram As tendências encontradas sugerem que de “locais escondidos” como ninhos, o microhabitat parece impor pressões buracos ou fitotelmatas. Foi possível evolutivas no tamanho da fêmea e na

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fecundidade, o que poderia contribuir para a variação observada no dimor- fismo sexual em tamanho dos anuros. Se locomover em amplexo no ambiente arborícola, por exemplo, deve ser par- ticularmente desafiador e carregar ma- chos proporcionalmente menores pare- ce vantajoso. Os autores concluem que o dimorfismo sexual em tamanho nos anuros deve ser resultado de uma com- binação complexa de processos evo- lutivos atuando em diferentes escalas tanto nas fêmeas quanto nos machos. Chamam atenção ainda para a necessi- dade de mais estudos sobre a história natural desses animais. Ao avançarmos no conhecimento sobre a biologia dos anuros, será possível avançar também no conhecimento sobre os fatores que moldam o dimorfismo sexual e a evolu- ção dos seus modos reprodutivos.

Editora: Laura Alencar

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Tonini J.F.R., Ferreira R.B., Pyron A.R. 2020. Specialized breeding in plants affects diversification trajectories in Neotropical frogs. Evolution 74:1815– 1825. DOI: https://doi.org/10.1111/evo.14037

maioria dos anfíbios anuros de- especialistas em fitotelmatas estão asso- posita seus ovos em poças, ria- ciadas a maiores taxas de diversificação A chos ou serapilheira. No entanto, líquida (especiação menos extinção). No muitas espécies se especializaram em se entanto, isto não acontece em todas as li- reproduzir utilizando exclusivamente es- nhagens associadas a fitotelmatas e aque- truturas vegetais que frequentemente acu- las pertencentes à família Bufonidae fogem mulam água da chuva, como tanques das à regra. Os autores também encontraram bromélias ou buracos nos troncos das ár- que linhagens especialistas em fitotelmatas vores, estruturas estas denominadas fito- surgiram inúmeras vezes durante a radia- telmatas. O uso destas estruturas vegetais ção dos anuros, só que esta condição foi pelos anuros pode ter fornecido uma van- perdida muito mais frequentemente. Isto tagem adaptativa ao diminuir potenciais sugere que apesar da especialização em fi- competidores e predadores em relação aos totelmatas permitir que os anuros acumu- anuros que utilizam outros recursos. Por lem espécies mais rapidamente ao longo do outro lado, os fitotelmatas podem não ser tempo, esta condição parece não ter sido recursos tão estáveis no tempo o que pode- tão favorável em diversos momentos du- ria afetar negativamente organismos que rante a irradiação destes organismos. dependam destes ambientes. Vale mencionar que o presente trabalho Estudando os anfíbios anuros neotropicais, utiliza uma categorização binária para as João Tonini e colaboradores investigaram estratégias de reprodução (i.e. espécies que se espécies que se reproduzem utilizando utilizam ou não fitotelmatas para reprodu- fitotelmatas possuem um sinal macroevo- zir) e que dentro de cada uma destas cate- lutivo distinto em relação às demais. Em gorias estratégias diferentes devem exis- outras palavras: será que as linhagens es- tir. Dessa forma, os autores sugerem que pecialistas em fitotelmatas acumulam es- estudos futuros devem investigar como o pécies mais ou menos rapidamente em sinal macroevolutivo varia também entre relação as demais linhagens? Para respon- as linhagens utilizando diferentes tipos de der a esta pergunta, os autores fizeram um fitotelmatas para reprodução (por exem- grande levantamento na literatura e bases plo, tanques de bromélias ou inter-nós dos de dados, obtendo informações sobre o bambus) e entre linhagens que utilizam fi- micro-habitat de reprodução para mais de totelmatas de maneira obrigatória em re- 3.000 espécies de anuros dos neotrópicos. lação aquelas que utilizam de maneira fa- cultativa, refinando ainda mais as análises Através do ajuste de diversos modelos ma- realizadas. croevolutivos e da análise de métricas fi- logenéticas, os autores encontraram que, de maneira geral, as linhagens de anuros Editora: Laura Alencar 53 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Trabalhos Recentes

Yovanovich C.A.M., Pierotti M.E.R., Kelber A., Jorgewich-Cohen G., Ibáñez R., Grant T. 2020. Lens transmittance shapes ultraviolet sensitivity in the eyes of frogs from diverse ecological and phylogenetic backgrounds. Proceedings of the Royal Society B 287:20192253. DOI: http://dx.doi.org/10.1098/rspb.2019.2253

sse estudo é uma colaboração rentemente espécies próximas tenham internacional para, de maneira transmitâncias semelhantes. geral, investigar aspectos do sis- E E viram que as espécies mais basais na tema óptico de anfíbios anuros e como esse sistema recebe a luz de compri- filogenia apresentam uma transmitân- mentos de ondas curtos (ultravioleta, cia alta e um largo espectro visível de violeta e azul). O objetivo do trabalho espécies basais e diurnas. Outras espé- era avaliar a variação na transmitância cies diurnas, entretanto, são semelhan- das lentes oculares entre as espécies e tes às espécies noturnas na transmi- linhagens, e entender as relações disso tância das lentes, um padrão existente com a história natural e visão dos ani- para outros animais vertebrados. mais.

Para tanto, utilizaram 37 espécies de 14 Editora: Ariadne F. Sabbag famílias para obter informações sobre a transmitância das lentes, o tamanho dos olhos e a morfologia das pupilas de grupos variados dentro de Anura. Ava- liaram também a relação dessas carac- terísticas com o horário de atividade das espécies (se são espécies noturnas ou diurnas), e com a altitude e latitude onde as espécies foram encontradas.

Não encontraram uma correlação entre as transmitâncias e tamanho dos olhos, formato das pupilas, elevação, latitude e período de atividade. Também não encontraram um fator filogenético cla- ro nessas características, embora apa-

54 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Trabalhos Recentes

Avanços na sistemática filogenética e biogeografia de anuros em 2020

Mângia S., Oliveira E.F., Santana D.J., Koroiva R., Paiva F., Garda A.A. 2020. Revising the of Proceratophrys Miranda-Ribeiro, 1920 (Anura: Odontophrynidae) from the Brazilian semiarid Caatinga: morphology, calls and molecules support a single widespread species. Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research 58:1151–1172. DOI: https://doi.org/10.1111/jzs.12365

Condez T.H., Haddad C.F.B., Zamudio K.R. 2020. Historical biogeography and multi-trait evolution in miniature toadlets of the genus Brachycephalus (Anu- ra: Cycloramphidae). Biological Journal of the Linnean Society 129:664–686. DOI: https://doi.org/10.1093/biolinnean/blz200

Santos M.T.T., Magalhães R.F., Lyra M.L., Santos F.R., Zaher H., Giasson L.O.M., Garcia P.C.A., Carnaval A.C., Haddad C.F.B. 2020. Multilocus phy- logeny of Paratelmatobiinae (Anura: Leptodactylidae) reveals strong spatial structure and previously unknown diversity in the Atlantic Forest hotspot. Molecular Phylogenetics and Evolution 148:106819. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ympev.2020.106819.

Thomé M.T.C., Lyra M.L., Lemes P., Teixeira L.S., Carnaval A.C., Haddad C. F.B., Canedo C. 2020. Outstanding diversity and microendemism in a clade of rare Atlantic Forest montane frogs. Molecular Phylogenetics and Evolution 149:106813. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ympev.2020.106813

Blotto B.L., Lyra M.L., Cardoso M.C.S., Rodrigues M.T., Dias I.R., Marciano- -Jr. E., Dal Vechio F., Orrico V.G.D., Brandão R.A., Assis C.L. de, Lantyer-Sil- va A.S.F., Rutherford M.G., Gagliardi-Urritia G., Solé M., Baldo D., Nunes I., Cajade R., Torres A., Grant T., Jungfer K., Silva H.R., Haddad C.F.B., Faivovi- ch J. 2020. The phylogeny of the Casque-headed Treefrogs (Hylidae: Hylinae: Lophyohylini). Cladistics. DOI: https://doi.org/10.1111/cla.12409

Orrico V.G.D., Grant T., Faivovich J., Rivera-Correa M., Rada M.A., Lyra M.L., Cassini C.S., Valdujo P.H., Schargel W.E., Machado D.J., Wheeler W.C., Bar- rio-Amorós C., Loebmann D., Moravec J., Zina J., Solé M., Sturaro M.J., Pelo- so P.L.V., Suarez P., Haddad C.F.B. The phylogeny of Dendropsophini (Anura: Hylidae: Hylinae). Cladistics. DOI: https://doi.org/10.1111/cla.12429 55 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Trabalhos Recentes

ste ano, herpetólogas e herpetó- rossificação das espécies do gênero, logos do Brasil publicaram tra- para inferir uma hipótese filogenética, Ebalhos com filogenias de anuros investigar possíveis cenários e proces- e avançaram consideravelmente nosso sos de diversificação. Entre diversos conhecimento sobre os padrões evo- resultados, encontraram que o gênero lutivos desses anfíbios. Fizemos uma se diversificou através de vicariância e seleção de alguns deles, que tratam de dispersão para múltiplas áreas monta- grandes grupos de espécies, gêneros nhosas, e que o ancestral do gênero era inteiros ou complexos de espécies pró- provavelmente grande, com coloração ximas. O método comum entre os es- aposemática, e sem hiperossificação. tudos é o uso de fragmentos genéticos Adicionalmente, mencionam nove pos- mitocondriais e/ou nucleares obtidos síveis espécies novas para o gênero. por PCR e sequenciamento de Sanger. Apresentaremos brevemente esses ar- Santos et al. (2020) trabalharam com tigos aqui, em ordem cronológica de a subfamília Paratelmatobiinae (Lep- publicação. todactylidae), conhecidos para a Mata Atlântica e campo rupestre. Utilizando Mângia et al. (2020) revisaram a ta- dados moleculares, investigaram a mo- xonomia de um complexo de espécies nofilia da subfamília e de seus quatro de Proceratophrys (Odontophrynidae) gêneros (Crossodactylodes, Paratel- da Caatinga, formado pelas espécies P. matobius, Scythrophrys e Rupirana), cristiceps, P. aridus e P. caramaschii. delimitaram as linhagens de espécies, Estudaram características morfológi- estimaram espacial e temporalmente cas, morfométricas, acústicas e gené- os possíveis eventos de diversificação ticas de amostras de toda a Caatinga das espécies. Encontraram a subfa- para testar se as espécies são de fato mília e os gêneros como sendo mono- espécies distintas e definir os limites fofiléticos, e tendo se originado entre entre elas. Encontraram ausência de o Eoceno e Pleistoceno. Eles também variação entre as espécies segundo es- discutem possíveis cenários de diversi- ses sistemas de caracteres. E, portanto, ficação para a subfamília, e a possibili- sinonimizaram P. aridus e P. caramas- dade de existirem cinco novas espécies chii à espécie P. cristiceps, e incluíram para a subfamília. uma redescrição de P. cristiceps. Thomé et al. (2020) publicaram um Condez et al. (2020) estudaram o gê- estudo sobre o complexo de espécies nero Brachycephalus (Brachycephali- de Ischnocnema holti e I. lactea (Bra- dae), endêmico da Mata Atlântica. Para chycephalidae), duas espécies raras de esse estudo, analisaram DNA mitocon- desenvolvimento direto que habitam drial, morfometria, coloração, e hipe- a Mata Atlântica. Utilizaram métodos

56 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Trabalhos Recentes para delimitar molecularmente as li- racterísticas ósseas, químicas e repro- nhagens, definir tempos de diversifi- dutivas. cação, investigar possíveis processos evolutivos a partir de mapas de mode- Orrico et al. (2020), por fim, estudaram lagem ecológica de nicho e mapas de aspectos de sistemática filogenética da barreiras geográficas, e criar predições tribo Dendropsophini (Hylidae), utili- de distribuição espacial para o futuro zando caracteres genéticos, morfológi- das espécies. Entre outras coisas, en- cos, citogenéticos e comportamentais. contraram nove linhagens suportadas, Essa tribo é formada pelos conhecidos embora com pouca resolução entre gêneros Dendropsophus e Xenohyla. elas, que no passado provavelmente Os autores encontraram que tanto a estavam mais bem distribuídas do que tribo quanto os gêneros são monofi- atualmente, mas foram restringidas a léticos, embora algumas espécies de topos de montanhas. Sugerem que as Dendropsophus sejam parafiléticas. A espécies poderão ter suas áreas de vida partir disso, os autores dividem os cla- ainda mais reduzidas no futuro de mu- dos em nove grupos de espécies, e for- danças climáticas. necem sinapomorfias para os gêneros, grupos e espécies. E, entre outras coi- Blotto et al. (2020) estudaram sis- sas, discutem possibilidades de história tematicamente a tribo Lophyohyli- evolutiva para o local de oviposição das ni (Hylidae), que inclui 12 gêneros, espécies da tribo. como Aparasphenodon, Itapotihyla, Corythomantis, Phyllodytes, Trachy- cephalus, Osteocephalus, entre outros. Os objetivos foram testar a monofilia Editora: Ariadne F. Sabbag das espécies e grupos de espécies, e analisar a evolução de aspectos de hi- perossificação cranial, defesa química e biologia reprodutiva. Encontraram diversas incongruências filogenéticas e taxonômicas, já que alguns gêneros e grupos não são monofiléticos. Fazem, então, várias alterações taxonômicas a partir da nova inferência filogenética, sinonimizando gêneros, delimitando grupos, realocando espécies e indican- do a possibilidde de novas espécies. Fornecem também diversas topologias para as hipóteses de evolução das ca- 57 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses Dissertações & Teses

AUSTRALIAN NATIONAL UNIVERSITY – ANU Doutorado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: outubro de 2020 Programa de Pós-graduação: não há um programa de pós-graduação específico Nome: Jéssica Fenker Título: Evolution of diversity in tropical savannas - a study across scales and continents Orientador: Craig Moritz

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: setembro de 2020 Programa de Pós-graduação: Ecologia Nome: Raíssa do Nascimento Rainha Título: Efeitos do ambiente na estruturação genética e fenotípica no complexo de espécies de anuros Boana calcarata-fasciata na bacia amazônica Orientadora/Co-orientador: Fernanda de Pinho Werneck/Pablo Ariel Martinez

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL – PUCRS Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Ecologia e Evolução da Biodiversidade Nome: Victor Moraes Zucchetti Título: Reproductive biology and phylogenetic relationships of Vitreorana baliom- ma (Anura: Centrolenidae) Orientador/Co-orientador: Santiago Castroviejo-Fisher/Mirco Solé

58 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: setembro de 2020 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Aída Pereira Giozza Título: Evolution of caudal luring in Viperidae Oppel 1811 (Evolução de engodo cau- dal em Viperidae Oppel 1811) Orientador: Reuber Albuquerque Brandão

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP Campus de Ribeirão Preto Doutorado – 2019 Defesa/Aprovação: dezembro de 2019 Programa de Pós-graduação: Biologia Comparada Nome: Tábata Elise Ferreira Cordeiro Título: Aspectos comportamentais e morfo-fisiológicos das trocas gasosas dePhry - nops geoffroanus (Wagler, 1830) (Testudines: Chelidae) Orientador: Wilfried Klein

Campus de São Paulo Doutorado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: outubro de 2019 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Carolina Nisa Ramiro Título: Caracterização química de secreções de glândulas pré-anais e femorais de espécies brasileiras de lagartos da família Teiidae (Squamata) Orientador/Co-orientador: Miguel Trefaut Rodrigues/Pedro Ismael da Silva Junior

59 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: agosto de 2020 Programa de Pós-graduação: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre Nome: Júlia Dias da Silva Título: À Sombra dos Butiazeiros: influência do cultivo agrícola sobre os padrões de diversidade de Anuros e em um Palmar no Sul do Brasil Orientador: Alexandro Marques Tozetti

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS Mestrado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: dezembro de 2019 Programa de Pós-Graduação: Ecologia e Evolução Nome: Larissa Souza Silva Título: Sobrepor ou dividir: guildas de girinos bentônicos compartilham recursos alimentares? Orientadora: Flora Acuña Juncá

Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Ecologia e Evolução Nome: Diana Coronel Bejarano Título: Influência do fogo sobre populações deScinax montivagus (Anura: Hylidae) Orientadora: Flora Acuña Juncá

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: janeiro de 2020 Programa de Pós-graduação: Sistemas Aquáticos Tropicais Nome: Camila Souza Batista

60 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Título: Girinos do Parque Nacional da Chapada da Diamantina: caracterização morfológica e efeitos do fogo Orientador: Caio Vinícius de Mira Mendes

Data de Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Wendy Hercilia Bolaños Hernández Título: História natural de Brachycephalus pulex Napoli, Caramaschi, Cruz & Dias, 2011 (Anura, Brachycephalidae) Orientador/Co-orientador: Mirco Solé Kienle/Iuri Ribeiro Dias

Data de Defesa/Aprovação: abril de 2020 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Laísa Souza dos Santos Título: Identidade taxonômica de populações de Crossodactylus Duméril & Bi- bron, 1841 (Anura: Hylodidae) no Nordeste do Brasil Orientadora/Co-orientador: Janisete Gomes da Silva Miller/Victor Goyannes Dill

Data de Defesa/Aprovação: novembro de 2020 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Daniela Pareja Mejía Título: Ecologia de movimento de pererecas da família Phyllomedusidae na Reser- va Ecológica Michelin Orientador: Dr Mirco Solé Kienle

Doutorado – 2020 Data da defesa/aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Ecologia e conservação da Biodiversidade Nome: Rafaela Cândido de França Título: Estado de conservação das serpentes do centro de endemismo Pernambuco Orientador/Co-orientador: Mirco Solé Kienle/Frederico Gustavo Rodrigues França 61 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUI- TA FILHO” – UNESP Campus Litoral Paulista Mestrado -2020 Data de Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Biodiversidade de Ambientes Costeiros Nome: Ana Beatriz Alarcom Comelli Título: Técnicas multivariadas de morfometria geométrica são capazes de discri- minar a forma dos crânios de Trachycephalus atlas Bokermann, 1968 e T. nigro- maculatus Tschudi, 1838 (Anura, Hylidae)? Orientador: Ivan Nunes

Data de Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Biodiversidade de Ambientes Costeiros Nome: Pedro Henrique Areco G. Moura Título: Comparative miology of the genus Trachycephalus Tschudi, 1838 (Anu- ra: Hylidae) and its contribution to the phylogenetic relationships of the tribe Lo- phiohylini Orientador: Ivan Nunes

Campus de Rio Claro Doutorado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: maio de 2019 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Amanda Santiago Ferreira Lantyer Silva Título: Filogeografia e genômica populacional de anuros neotropicais: estruturação, diversidade e demografia histórica. Orientador/Co-orientadora: Célio Fernando Baptista Haddad/Kelly R. Zamudio

62 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Data de Defesa/Aprovação: julho de 2019 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Ariadne Fares Sabbag Título: Variação genética e morfológica das espécies de Thoropa Cope, 1865 (Anu- ra: Cycloramphidae) Orientador/Co-orientadores: Célio Fernando Baptista Haddad/Taran Grant e Ma- ria Tereza C. Thomé

Data de Defesa/Aprovação: setembro de 2019 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: João Gabriel Ribeiro Giovanelli Título: A história natural auxiliando a escolha das variáveis preditoras dos modelos de distribuição de espécies: protocolos e subsídios para os planos de conservação dos anfíbios Orientador: Célio Fernando Baptista Haddad

Data de Defesa/Aprovação: novembro de 2019 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Fábio Perin de Sá Título: Evolução em Cycloramphidae (Anura): Diversidade e especiação na Mata Atlântica brasileira Orientador/Co-orientadora: Célio Fernando Baptista Haddad/Kelly R. Zamudio

Doutorado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: junho de 2020 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Marcus Thadeu Teixeira Santos Título: Sistemática e diversificação das espécies da subfamília Paratelmatobiinae (Anura: Leptodactylidae) Orientador/Co-orientador: Célio Fernando Baptista Haddad/Paulo Christiano An- chietta Garcia

63 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Campus de São José do Rio Preto Mestrado – 2020 Data da Defesa/Aprovação: abril de 2020 Programa de Pós-graduação: Biologia Animal Nome: Yasmim Caroline Mossioli de Souza Título: Influência do predador sobre o uso do espaço e a atividade por girinos ben- tônicos e nectônicos Orientador/Co-orientador: Denise de Cerqueira Rossa-Feres/Tiago da Silveira Vas- concelos

Data da Defesa/Aprovação: abril de 2020 Programa de Pós-graduação: Biologia Animal Nome: Eletra de Souza Título: A Biologia Reprodutiva da surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta): de Norte a Nordeste do Brasil Orientadora: Selma Maria Almeida-Santos

Doutorado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: abril de 2020 Programa de Pós-graduação: Biologia Animal Nome: Lucas Rodrigo dos Santos Título: Estudo do complexo de espécies Scinax hayii (Barbour, 1909) e Scinax dol- loi (Werner, 1903) (Anura, Hylidae) ao longo da Mata Atlântica, Brasil Orientador: Itamar Alves Martins

Data de Defesa/Aprovação: outubro de 2020 Programa de Pós-graduação: Biologia Animal Nome: Natália F. Torello-Viera Título: Herpetofauna de fragmentos florestais do município de São Paulo Orientador: Otavio A. V. Marques

64 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: fevereiro de 2020 Programa de Pós-graduação: Ecologia e Evolução Nome: Quezia Ramalho Título: Efeitos da alteração da cobertura florestal e das mudanças climáticas sobre a dis- tribuição de anuros florestais e endêmicos da Mata Atlântica Orientador/Co-orientador: Jayme Augusto Prevedello/Mauricio Almeida-Gomes

Doutorado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: março de 2019 Programa de Pós-graduação: Ecologia e Evolução Nome: Luisa Maria Diele Viegas Costa Silva Título: Vulnerabilidade de répteis Squamata frente às mudanças climáticas e o papel das áreas de proteção na conservação das espécies Orientador/Co-orientadora: Carlos Frederico Duarte Rocha/Fernanda Pinho Werneck

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA Mestrado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: março de 2019 Programa de Pós-graduação: Biodiversidade e Evolução Nome: Patrícia Souza da Mota Título: Comparative analysis of the chondrocranium and hyobranchial skeleton of bro- meliad arboreal frog larvae of the genus Phyllodytes Wagler, 1830 (Anura, Hylidae) Orientadora/Co-orientador: Luiz Norberto Weber/Marcelo Felgueiras Napoli

65 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Mestrado – 2020 Data da defesa/Aprovação: julho de 2020 Programa de Pós-graduação: Biodiversidade e Evolução Nome: Allana Martins da Encarnação Magalhães Título: Padrões de distribuição geográfica e potenciais áreas prioritárias para con- servação dos anfíbios no estado da Bahia, Brasil Orientador: Marcelo Felgueiras Napoli

Doutorado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: junho de 2020 Programa de Pós-graduação: Biodiversidade e Evolução Nome: Maria Aldenise Xavier Título: Reprodução e parasitismo em lagartos dos gêneros Ameivula e Glaucomas- tix (Squamata: Teiidae) no Nordeste, Brasil Orientador: Eduardo José dos Reis Dias

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL Doutorado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: junho de 2020 Programa de Pós-graduação: Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos Nome: Nelson Rodrigues da Silva Título: Aspectos da biologia reprodutiva de Dendropsophus haddadi (Anura: Hyli- dae) e a influência dos locais de oviposição no dimorfismo sexual e fecundidade em anuros Orientadora/Co-orientadora: Tamí Mott/Cynthia Peralta de Almeida Prado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT Mestrado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: março de 2019 Programa de Pós-Graduação: Ecologia e Conservação da Biodiversidade

66 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Nome: Thaís Figueiredo Conceição Título: Estimativa de abundância do Jacaré-do-Pantanal (Caiman yacare) em cor- pos de água artificiais no norte do Pantanal Orientadora/Co-orientadora: Christine Strüssmann/Tainá Figueras Dorado-Ro- drigues

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL – UFMS Mestrado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: fevereiro de 2019 Programa de pós-graduação: Biologia Animal Nome: Kleber dos Santos Martins Título: Selection of reproductive microhabitats by Boana punctata (Anura: Hyli- dae) males in an urban area of Midwest Brazil Orientadora/Co-orientadora: Vanda Lúcia Ferreira/ Zaida Ortega Diago

Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Biologia Animal Aluna: Renata Moleiro Fadel Título: Abordagem integrativa da anurofauna de uma zona de transição Amazônia- -Cerrado do Oeste do Tocantins Orientadora/Co-orientador: Sarah Mângia/Diego José Santana

Data de Defesa/Aprovação: abril de 2020 Programa de pós-graduação: Biologia Animal Nome: Maiara Cabrera Miguel Título: Metazoários endoparasitas em Ophiodes cf. striatus (Sauria: Anguidae, Di- plogossinae) Orientador/Co-orientadora: Fernando Paiva/Vanda Lúcia Ferreira

67 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Doutorado 2019 Data de Defesa/Aprovação: dezembro de 2019 Programa de pós-graduação: Ecologia e Conservação Nome: Sabine Borges da Rocha Título: Probabilidade de ocupação de hábitat e área de uso de tartarugas de água doce em ambiente urbano Orientadora/Co-orientador: Vanda Lúcia Ferreira/ Carlos Rouco Zufiaurre

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE Mestrado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: julho de 2019 Programa de Pós-graduação: Biologia Animal Nome: Anna Virginia Albano de Mello Título: Revisão Taxonômica do complexo Iphisa elegans Gray 1851 (Squamata: Gymnophthalmidae) Orientador/Co-orientador: Pedro M. Sales Nunes/Renato Recoder

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – UFSCAR Mestrado – 2020 Data da Defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-Graduação: Conservação da Fauna Nome: Sóstenes Pelegrini Título: Considerando alterações climáticas na escolha de áreas para conservação de serpentes na região hidrográfica Tocantins-Araguaia Orientador/Co-orientador: Vinícius de Avelar São Pedro/Priscila Lemes

Data de Defesa/Aprovação: junho de 2020 Programa de Pós-graduação: Conservação da Fauna Nome: Roberta Mariáh Teodósio Silva

68 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Título: Comunicação química em quelônios dulcícolas: reconhecimento específico e possíveis impactos de uma espécie invasora Orientador: Vinícius de Avelar São Pedro

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Campus Diadema Mestrado – 2020 Data da defesa/Aprovação: março de 2020 Programa de Pós-graduação: Ecologia e Evolução Nome: Wellington Roberto Palhares Título: Biologia reprodutiva de Scinax imbegue (Anura:Hylidae) Orientadora: Cinthia Aguirre Brasileiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES Mestrado – 2019 Data da Defesa/Aprovação: agosto de 2019 Programa de Pós-Graduação: Biodiversidade Tropical Nome: Flora Roncolatto Ortiz Título: Revisão taxonômica de uma população de Bothrops neuwiedi Wagler in Spix, 1824 (Serpentes: Viperidae) isolada no estado do Rio de Janeiro, Brasil Orientador/Co-orientador: Renato S. Bérnils/Francisco Franco

Data da Defesa/Aprovação: agosto de 2019 Programa de Pós-Graduação: Biodiversidade Tropical Nome: Marília Bautz Título: Répteis Squamata dos cacauais do norte do Espírito Santo, Brasil: riqueza comparada entre três modalidades de cultivo Orientador: Renato S. Bérnils

69 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Data da Defesa/Aprovação: setembro de 2019 Programa de Pós-Graduação: Biodiversidade Tropical Nome: Tatiane de Mello do Carmo Título: Impacto da rodovia ES-261 sobre a fauna de vertebrados no estado do Espí- rito Santo Orientador/Co-orientador: Diego Hoffmann/Renato S. Bérnils

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ Mestrado – 2019 Data de Defesa/Aprovação: maio de 2019 Programa de Pós-graduação: Zoologia Nome: Juliana Kirchmeyer Pires Título: Revisão Taxonômica de Dendrophryniscus Jiménez de la Espada, 1870, ba- seada em caracteres morfológicos (Amphibia: Anura: Bufonidae) Orientador: Sergio Potsch de Carvalho e Silva

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ – UTFPR Mestrado – 2020 Data de Defesa/Aprovação: setembro de 2020 Programa de Pós-graduação: Engenharia Ambiental: Análise e Tecnologia Ambiental Nome: Jonas Ricardo Toscan Titulo: Prevalência e intensidade de infecção por Batrachochytrium dendrobatidis em população de Boana cf. curupi Orientador: Rodrigo Lingnau

Editora: Giovanna G. Montingelli

70 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Dissertações & Teses

Boana crepitans Andrequicé - MG @ Mateus de Alencar Ramos Fernandes

71 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

Métodos em Herpetologia

BOAS PRÁTICAS NA ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS EM HERPETOLOGIA

Karoline Ceron1*, Marcos R. Severgnini1 & Diogo B. Provete1,2 1 Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Instituto de Biociências, Uni- versidade Federal de Mato Grosso do Sul, Cidade Universitária, 79070-900, Campo Grande, MS, Brasil. 2 Gothenburg Global Biodiversity Centre, Box 461, SE-405 30, Göteborg, Sweden. * Corresponding author: [email protected]

tempo pode ser considerado regras de montagem podem não ter um recurso, assim como um uma dependência temporal explícita, O eixo do nicho (Post, 2019). En- mas refletir diferenças na capacidade quanto recurso, ele influencia a dis- competitiva, diferenças na resistência à tribuição das espécies, já que a esco- predação ou tendências das espécies de lha de quando se reproduzir é crucial ocorrerem em comunidades diferentes para o desempenho (fitness, Cayuela (Morin, 2011). Apesar dos processos et al., 2014). Os processos envolvidos temporais serem importantes na ecolo- na mudança na abundância das espé- gia, eles têm sido menos explorados do cies dependem da extensão espacial que os espaciais (Magurran, 2011), pois e temporal dos dados. Diferenças na demandam maior esforço amostral por abundância ou atividade das espécies um longo período de tempo, o que tor- ao longo do tempo podem gerar efeitos na essa abordagem limitada. de prioridade e outros tipos de proces- sos dependentes do tempo que afetam As mudanças temporais (temporal tur- o resultado das interações entre as es- nover) na composição de espécies em pécies. As regras de montagem das co- comunidades ecológicas – resultado da munidades podem ser uma consequ- imigração, extinção local, assim como ência de tais eventos de curto prazo, a variação da abundância das espécies na medida em que a ordem de chegada residentes ao longo do tempo – é re- das espécies nas comunidades influen- lacionada a inúmeros fenômenos, tais cia a estrutura da comunidade. Outras como competição, predação e dinâmi- cas populacionais (Magurran, 2011; 72 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

Leibold & Chase, 2018). Essas mudan- 2002; Kopp & Eterovick, 2006; Both et ças nas comunidades podem ocorrer de al., 2008; Ceron et al., 2020). No en- duas formas: a primeira é quando a co- tanto, é comum encontrarmos análises munidade se move de um estado para empregadas de maneira errônea, seja outro. Essa alteração direcional geral- aplicando métodos inadequados para o mente ocorre após distúrbios, poluição conjunto de dados ou violando as pre- ou invasão de espécies que modificam missas dos métodos, principalmente na a estrutura da comunidade. Por exem- avaliação de dinâmicas temporais. plo, a introdução do anuro exótico Li- thobates catesbeianus pode modificar, Neste artigo apresentamos vários mé- mesmo que sutilmente, a temporada todos para lidar com dados temporal- de reprodução dos anuros nativos, uma mente autocorrelacionados. Em segui- vez que a espécie exótica é maior, ter- da, demonstramos como utilizá-los de ritorial e um predador voraz (Both & maneira correta. Apresentaremos mé- Grant, 2012, Leivas et al., 2012). A se- todos para lidar com dados univariados gunda é quando uma comunidade sofre de riqueza, abundância, frequência, uma mudança não-direcional, ou seja, incluindo a estatística circular (Teste uma variação natural na estrutura da de Rayleigh) e modelos lineares (GLS comunidade ao longo do tempo sem - generalized least squares e GAMM um gradiente ou direção (Legendre & - Generalized Additive Mixed-effects Gauthier, 2014). Por exemplo, causada Models) (Fig. 1-2). Quando a variável por deriva ecológica que altera a abun- de interesse é multivariada, tal como dância das espécies ao longo do tempo uma matriz de composição de espécies via estocasticidade demográfica (Vel- (locais por espécies) falaremos sobre o lend, 2016). teste de Space-time interaction, STA- TICO (STATIS e CO-inertia analysis) Em geral, a distribuição da abundância e os mapas de autovetores assimétri- e riqueza de anfíbios e répteis ao lon- cos (Asymmetric Eigenvectors Maps - go do ano é sazonal devido à influên- AEM) e para os modelos de previsão a cia das condições abióticas na ativida- Média Móvel Integrada AutoRegressiva de reprodutiva das espécies, tais como sem (AutoRegressive Integrated Mo- precipitação, temperatura e umidade ving Average - ARIMA) e com sazona- (Aichinger, 1987). Consequentemente, lidade (SARIMA) (Fig. 1-2). Mas antes, um objetivo comum de estudos herpe- vamos entender por que correlações li- tológicos, especialmente nos Trópicos neares simples não são adequadas para (revisados em Wells, 2007), é relacio- lidar com dados temporalmente auto- nar a incidência, riqueza e/ou abun- correlacionados (veja também Ives & dância das espécies às variáveis abióti- Zhu, 2006). cas locais (e.g., Bertoluci & Rodrigues, 73 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

Entendendo a autocorrelação temporal Erro Tipo I. Por exemplo, se estivermos interessados em testar o efeito da tem- Os coeficientes de correlação indicam peratura sobre a riqueza de espécies e o grau de associação entre duas variá- registrarmos quantas espécies de an- veis aleatórias. Por ser uma padroniza- fíbios vocalizam e a temperatura do ar ção da covariância, seus valores variam em cada mês, a unidade amostral neste entre -1 e 1. Uma correlação igual a 1 caso é o mês. Porém, se observarmos indica perfeita relação linear positiva a distribuição da temperatura durante entre as variáveis (quando uma variá- um ano, vemos que os valores de tem- vel aumenta a outra aumenta na mes- peratura são mais parecidos entre si ma direção) e a correlação -1 indica em meses próximos um do outro, diga- uma perfeita associação linear negativa mos, janeiro e fevereiro, do que entre (quando uma variável aumenta a outra meses distantes, janeiro e julho. Essa diminui) (Quinn & Keough, 2002; Fuji- é a definição de autocorrelação tempo- ta et al., 2009). A correlação de Pearson ral. Consequentemente, os meses não indica o grau de associação linear entre são independentes entre si, o que viola duas variáveis aleatórias quantitativas um dos pressupostos de modelos linea- que apresentam distribuições normal res (definidos pelo Teorema de Gauss- ou Gaussiana, sem, no entanto, assu- -Markov) e de correlações. Como vimos mir uma relação de dependência entre acima, dados autocorrelacionados tem- elas. Quando essa premissa é rompi- poralmente rompem este pressuposto da, ou seja, quando os dados não têm e nos impedem de utilizar métodos co- distribuição normal, uma alternativa mumente aplicados, tais como regres- é utilizar a correlação não-paramétri- são ou correlação linear simples. Nes- ca de Spearman (Restrepo & González, te caso temos de utilizar métodos que 2007). nos permitem modelar explicitamente a matriz de variância-covariância dos Entretanto, a maioria dos testes utili- resíduos. zados para inferência estatística assu- mem independência entre as amostras, ou seja, uma unidade amostral não Modelos de previsão pode estar relacionada com outra. Essa O modelo de previsão tem como obje- dependência entre unidades amostrais tivo prever como um determinado con- é comum em dados coletados ao lon- junto de dados irá se comportar no fu- go do tempo ou do espaço (Ives & Zhu, turo a partir da análise do passado. Por 2006), o que impede a utilização dos exemplo, temos dados da abundância coeficientes de correlação quando o ob- relativa mensal de girinos em uma poça jetivo é explicar uma variável em função permanente entre 2000 e 2003 e gos- de outra(s), sob o risco de aumentar o

74 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia taríamos de prever o valor da abundân- previsões com base em períodos de cres- cia no futuro (Fig. 2). Tais previsões se- cimento/declínio dos dados. Isso captura rão obtidas a partir de um modelo que a natureza auto-regressiva do ARIMA. d captura a estrutura de dependência na representa o número de vezes em que os série estudada. Um desses modelos é dados precisam ser diferenciados para o ARIMA, cuja sigla significa AutoRe- produzir um sinal estacionário. Isso cap- gressive Integrated Moving Average tura a natureza integrada do ARIMA. Se (Média Móvel Integrada AutoRegres- d = 0, nossos dados não tendem a variar siva). Os modelos ARIMA são a classe a longo prazo (ou seja, o modelo se tor- mais geral de modelos para prever uma na estacionário). Nesse caso, o modelo se série temporal que pode ser estacio- resume ao ARMA, pois apenas os parâ- nária, utilizando dados passados para metros p e q variam livremente. Se p=1, prever o futuro através de dois recursos os dados estão variando linearmente. Se principais: a autocorrelação e médias p = 2, os dados estão variando exponen- móveis. cialmente. q representa o número de va- lores adiantados/atrasados para o termo Uma variável aleatória de uma série tem- de erro que são adicionados/subtraídos a poral é estacionária se todas as suas pro- x. Isso captura a parte da média móvel do priedades estatísticas forem constantes ARIMA (Hyndman & Khandakar, 2008). ao longo do tempo. Uma série estacioná- Quando uma série não é estacionária, a ria não tem tendência, suas variações em mesma pode apresentar um padrão sa- torno da média tem uma amplitude cons- zonal, com padrão cíclico e periódico, tante e oscilam de maneira consistente, comum em dados de riqueza e abundân- ou seja, seus padrões de tempo aleatório cia da herpetofauna coletados ao longo de curto prazo sempre parecem os mes- de anos. Para prever o comportamento mos (Nau, 2020). Uma variável aleatória de uma série temporal sazonal devemos pode ser vista como uma combinação de utilizar o modelo SARIMA, que é basi- sinal e ruído. O modelo ARIMA pode ser camente, o ARIMA formado pela inclu- visto como um filtro que separa o sinal do são de termos sazonais (o parâmetro d; ruído e, em seguida, o sinal é extrapolado Hyndman & Athanasopoulos, 2018). To- para o futuro para obter previsões (Nau, dos estes modelos de previsão podem ser 2020). O modelo ARIMA é composto por incluídos em exercícios de modelagem três parâmetros principais: “p” (repre- que tenham como objetivo relacionar sentado pelas letras AR na sigla), “d” (re- variáveis preditoras com uma variável presentado pela letra I) e “q” (representa- resposta, considerando a dependência do pelas letras MA). p significa o número temporal, tais como GLS ou GAMM (veja de valores x adiantados/atrasados que abaixo) para modelar a matriz de variân- devem ser adicionados ou subtraídos de cia-covariância dos resíduos. x no modelo, de modo a fazer melhores 75 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

Métodos univariados ou dinâmicos (corARMA). Assim, você pode criar vários modelos, variando a O modelo de mínimos quadrados ge- estrutura de correlação, e ver qual me- neralizados (GLS - generalized least lhor se ajusta aos seus dados. Para fazer squares) estende a estimativa dos mí- isso utilizamos uma seleção de modelos nimos quadrados ordinários (OLS), utilizando o Critério de Informação de onde podemos explicitamente indicar Akaike (AIC) (Burnham & Anderson a autocorrelação dos dados. Portanto, 2002; Mazerolle 2006). O AIC mede o este método é adequado quando traba- ajuste do modelo aos dados com uma lhamos com séries temporais, onde os função de verossimilhança e introduz resíduos não são independentes (Ives & um fator de correção que penaliza o Zhu, 2006; Fox & Weisberg, 2018). No modelo pelo número de parâmetros entanto, como são mínimos quadrados, (Turkman & Silva, 2000). Assim, o AIC este método ainda assume que a vari- faz uma estimativa da distância relati- ável resposta seja normalmente distri- va entre o modelo ajustado e os valores buída (Zuur et al., 2009). observados, permitindo uma otimiza- ção entre poder explicativo e número Por exemplo, temos uma série tempo- de parâmetros (Burnham & Anderson, ral com dados de altura de empoleira- 2002). mento de lagartos e dados abióticos de temperatura, precipitação e umidade Quando a variável resposta é um dado para um local amostrado e gostaría- de contagem (e.g., abundância) ou fre- mos de saber se há uma relação direta quência (e.g., frequência de ocorrência) entre os dados abióticos e a altura de brutos (sem transformação), o GLS já empoleiramento registrada (Fig. 2). não é o método mais adequado, já que Para utilizar o GLS devemos formular permite apenas modelar dados com um modelo específico que inclui a es- distribuição Gaussiana. Nestes casos, trutura de variância-covariância dos o método mais adequado são GAMM erros, além da relação esperada entre (modelos aditivos generalizados de a(s) variável(is) preditora(s) e a variá- efeito misto, Generalized Additive Mi- vel resposta. Existem algumas opções xed-effects Model). O principal aspecto de estruturas de correlações para dados deste modelo é o fato dele ser “aditi- autocorrelacionados temporalmente vo”. O GAMM é uma extensão do Mo- derivados de modelos de previsão (e.g., delo Linear Generalizado (GLM; Zuur corAR1, corARMA, corCAR1 etc.). Tais et al., 2009), em que podemos ajustar estruturas diferem basicamente nos in- diferentes distribuições de frequência tervalos de tempo da série, que podem de acordo com o tipo de variável res- ser igualmente espaçados (corAR1), posta (e.g., Poisson ou binomial ne- desigualmente espaçados (corCAR1) gativa para dados de contagem, bino- 76 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia mial para dados de incidência etc.). No Além da característica de autocorrela- entanto, o GAMM difere do GLM em ção, séries temporais podem apresen- dois importantes aspectos. Um deles tar outra característica: a sazonalidade. é que o GAMM permite que modele- Nos Trópicos, geralmente a distribui- mos a variável resposta de acordo com ção dos anuros é bastante sazonal, com funções smooth. Em outras palavras, a maior abundância e riqueza concen- o método permite modelar a variável tradas na época mais quente e úmida resposta por variáveis independen- do ano (e.g. Prado et al., 2005; Ceron tes sem necessariamente assumir uma et al., 2020). Por exemplo, temos da- relação a priori entre elas. Os smooth dos de abundância mensal de anuros são funções reais definidas por funções ao longo de um ano e queremos testar polinomiais (funções básicas). Conse- se a abundância de espécies apresenta quentemente, um modelo aditivo gene- um padrão sazonal (Fig. 2). Podemos ralizado não assume linearidade entre testar essa hipótese através do teste de as variáveis, ao contrário, diferentes Rayleigh, um tipo de análise circular. A parâmetros (tensores) suavizam uma estatística circular utiliza ângulos para curva para adequar o modelo aos da- distribuir os dados em um círculo com- dos. Um outro aspecto do GAMM que o pleto de 360º. A partir disso, testa-se se distingue do GLM é a possibilidade de os dados estão distribuídos de maneira incluir estruturas de correlação (e.g., aleatória ou concentrados em alguma corAR1, corARMA) para modelar a de- região do círculo. A estatística do teste pendência nos resíduos (Wood, 2017), de Rayleigh é derivada do comprimento seja ela devido à dependência temporal médio resultante (r), que é uma medi- ou espacial entre unidades amostrais. da da concentração dos dados em torno No entanto, é preciso cautela com o de um círculo. O teste de Rayleigh (Zar, uso exagerado de parâmetros do mo- 2010) é um teste paramétrico, e sua de- delo (“over parameterization”). Mode- rivação original envolvia a suposição de los com estruturas de correlação mais que, se houvesse um desvio da unifor- complexas podem descrever melhor a midade, esse desvio seria aproximado autocorrelação nos resíduos, porém o pela distribuição de von Mises. Assim, excesso de parâmetros pode interfe- a principal premissa do teste é que os rir nas estimativas dos parâmetros do dados apresentam a distribuição de modelo (Zuur et al., 2009). Para evitar von Mises, que é análoga à distribuição isso, podemos utilizar o Critério de In- normal em dados circulares (Landler et formação de Akaike (AIC) para esco- al., 2018). lher entre estruturas de correlação al- ternativas (veja exemplos em Zuur et al., 2009).

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Métodos multivariados que a composição de espécies muda em função do tempo, ou mesmo que a dife- Ecólogos e zoólogos frequentemente rença da composição no tempo não é a realizam amostragem de espécies em mesma em todos os locais (Legendre et comunidades repetidamente ao longo al., 2010). Para isso, a análise descreve do tempo, seja para monitoramento o espaço (cada bloco de localidades) e ambiental ou para testar hipóteses eco- o tempo (cada evento de amostragem) lógicas por trás das modificações am- usando contrastes de Helmert (+1, -1) bientais. Uma pergunta comum desse e representa a interação entre espaço e tipo de estudo é se existe diferença na tempo usando uma técnica multivaria- composição de espécies entre locais ao da chamada distance-based Moran Ei- longo do tempo. Mas comumente essa genvector Maps (dbMEMs). Para testar amostragem dura um curto período então o efeito de cada fator e a intera- de tempo, não permitindo que utilize- ção entre eles implementa uma análise mos métodos para modelar séries tem- de variância fatorial (two-way ANOVA) porais longas. Os fenômenos de curto (Legendre et al., 2010). prazo incluem padrões sazonais que se tornam aparentes ao longo de dias Com um objetivo semelhante de testar ou meses, já as séries de longo prazo a estabilidade temporal em dados mul- podem exigir décadas a séculos para tivariados de composição de espécies ocorrer (Morin, 2011). Em casos de (matriz local por espécie), o Índice de amostragens de vários locais com pou- Diversidade Beta Temporal (Tempo- cas réplicas no tempo, uma alternativa ral Beta diversity Index - TBI) propos- seria utilizar uma análise de space-ti- to por Legendre (2019) permite testar me interaction (Legendre et al., 2010). se há diferença na dissimilaridade de Esta análise permite testar se existe composição de espécies de um local en- uma estrutura espacial na composição tre dois períodos de tempo (T1 e T2). de espécies ou mesmo se a mudança ao Ainda, este método permite analisar longo do tempo na composição de espé- e plotar quais espécies foram adicio- cies não é a mesma em todos os locais. nadas ou perdidas na comunidade ao Por exemplo, temos dados de abundân- longo do tempo. Ao invés da identidade cia ou incidência mensal de anuros em taxonômica da espécie, também é pos- dez comunidades ao longo de um ano sível testar diferenças temporais em (série curta) e gostaríamos de testar se atributos funcionais. existe diferença na composição de es- pécies ao longo dos meses nas comu- Assim como analisamos o efeito de va- nidades (Fig. 2). Neste sentido, uma riáveis climáticas na riqueza ou abun- interação entre a estrutura espacial e dância de espécies, também podemos temporal da comunidade pode indicar utilizar métodos multivariados para 78 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia analisar como a composição de espé- Analysis, Thioulouse & Chessel, 1987) cies (matriz espécie por local) muda ao é usada para analisar a sequência pa- longo do tempo em função de variáveis reada de matrizes. Como resultado, o ambientais. Para testar essas pergun- STATICO retorna três gráficos: o pri- tas podemos usar um método chama- meiro demonstra a semelhança entre do STATICO (Thioulouse et al., 2004). cada par de matrizes e exibe para cada Este método realiza uma ordenação do estação/ano/mês (dependendo da uni- conjunto de matrizes pareadas para in- dade temporal utilizada) a semelhança dicar mudanças espaço-temporais das entre as variáveis ambientais, as espé- relações entre a composição de espé- cies e os locais estudados. O segundo é cies e variáveis ambientais (Thioulou- a ordenação das variáveis ambientais e se, 2011). Por exemplo, temos dados de das espécies num espaço reduzido, in- abundância e riqueza mensal de anuros dicando a relação espaço-ambiente, e em comunidades ao longo de um ano o terceiro mapeia a trajetória das espé- e dados das variáveis abióticas como cies e das variáveis ambientais em cada temperatura, umidade e precipitação estação/ano/mês a fim de resumir a es- dos mesmos locais nos mesmos dias trutura das matrizes cruzadas (Ceron et amostrados. A partir disso, gostaría- al., 2020). mos de saber se a relação entre a com- posição de espécies e o ambiente muda Se você estiver interessado em incor- ao longo do tempo (Fig. 2). A análise se porar a dependência temporal entre dá em três estágios: a) a primeira etapa as unidades amostrais para utilizar consiste em analisar cada matriz com em métodos tanto univariados quanto uma ordenação irrestrita (ou análise de multivariados você pode construir ma- fator) (one-table method), que pode ser pas de autovetores assimétricos (Asym- uma análise de componentes principais metric Eigenvector Maps - AEM). Este (PCA) para os dados ambientais ou uma método foi desenvolvido originalmente análise de correspondência (CA) para a para modelar relações espaciais gera- matriz das espécies; b) depois, em cada das por um processo físico direcional, par de tabelas é empregada a análise de por exemplo, dispersão de populações Co-inertia (Dolédec & Chessel, 1994; ao longo da correnteza de rios, cor- Dray et al., 2003), que é um método de rentes de vento nas montanhas e gla- junção de duas matrizes, permitindo ciações em escalas de tempo históricas que uma matriz cruzada seja calcula- (Legendre & Gauthier, 2014). No en- da entre as variáveis das duas matrizes tanto, os AEMs também são adequados (entre composição de espécies e vari- para a análise de séries temporais por- áveis ambientais); c) por último uma que os processos associados ao tempo análise triádica parcial (Partial Triadic são direcionais: ontem sempre vem an- tes do hoje, que vem antes do amanhã 79 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

(Borcard et al., 2018). Por exemplo, Conclusão podemos analisar dados de abundância mensal de serpentes em uma comuni- Aqui descrevemos uma série de méto- dade ao longo de um ano e perguntar dos que permitem analisar dados tem- se há um padrão temporal da abundân- poralmente autocorrelacionados, sejam cia. O cálculo do AEM é simples. Ini- eles uni- ou multivariados. Esperamos cialmente se constrói uma matriz E re- que o leitor tenha entendido por que presentando um grafo com nós (horas utilizar uma correlação de Spearman ou locais) como as linhas e as arestas para testar a influência da temperatu- (conexões direcionais entre nós) como ra ou umidade na riqueza ou abundân- as colunas. Para cada nó, a matriz E cia de anuros ou répteis é inadequado lista as arestas que estão no caminho e possa encontrar um caminho melhor que liga esse nó ao ponto de origem do para responder às suas questões por processo (simbolizado por O). Quando meio destes métodos acima. Para au- uma aresta liga um nó a outro na dire- xiliá-lo a encontrar o melhor método ção da origem O, é codificada 1; caso criamos uma árvore de decisão (Fig. contrário, essa aresta representa um 1) e também um esquema que mostra segmento que não contribui para o nó como preparar os dados para entrar e é codificado como 0. Quando há in- nos métodos discutidos (Fig. 2). Além formações disponíveis sobre a força das disso, fornecemos juntamente com o conexões, as arestas podem ser ponde- texto um passo-a-passo para realizar radas. Na análise AEM, os pesos repre- análises circulares no programa ORIA- sentam a facilidade de ligação entre NA e também uma página da internet dois nós, já que as conexões não opera- com a descrição dos métodos e exem- cionais possuem peso 0. A matriz E dos plos de análise no R (Provete & Melo, nós pelas bordas é então decomposta 2002; https://github.com/karolceron/ em uma análise de componentes prin- tutorial). cipais (PCA) ou decomposição de valor singular (SVD) para obter os autove- Agradecimentos tores e autovalores respectivos. Como todos os autovalores são positivos, o I KC é grata à Coordenação de Aperfei- de Moran de correlação temporal pode çoamento de Pessoal de Nível Superior ser calculado para cada autovetor para — Brasil (CAPES) — Finance Code 001 avaliar se ele modela uma autocorrela- por sua bolsa de estudos. ção positiva ou negativa (Legendre & Gauthier, 2014; Borcard et al., 2018).

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83 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

Figura 1. Árvore de decisão para a análise de séries temporais incluindo dados uni- variados, multivariados e modelos de previsão.

84 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Métodos em Herpetologia

Figura 2. Exemplos de entrada de dados de séries temporais para cada análise exem- plificada no manuscrito.

85 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões Ensaios & Opiniões When misinterpretation leads to sexism: perspectives on gender disparity in Brazi- lian Herpetology

Luisa Maria Diele-Viegas1,2*, Olívia Gabriela dos Santos Araújo3, Bianca von Muller Berneck3, Cin- thia Aguirre Brasileiro4, Elizângela Silva Brito5, Tuliana O. Brunes6, Thais Helena Condez7, Laisla Cagliari Costa8, Fernanda Dias-Silva2,9, Jéssica Fenker2,10,11, Eliza Maria Xavier Freire12, Samanta Iop13, Elaine Maria Lucas14, Marcelle Mongin-Aquino9, Juliane Petry de Carli Monteiro3, Rachel Montesinos15, Thais Queiroz Morcatty16, Luciana B. Nascimento17, Caroline Batistim Oswald15, Re- nata M. Pirani18, Ana Cecilia Holler del Prette19, Quezia Ramalho20, Eletra de Souza21, Mariane Targino22, Maria Tereza C. Thomé3,23, Beatriz Diogo Vasconcelos24, Mariana M. Vasconcellos25, Fernanda P. Werneck26, Helga Correa Wiederhecker27, Gisele R. Winck28, Juliana Zina29, Ana Ca- rolina Calijorne Lourenço30 and 567 signatories**

1 Biology Department, University of Maryland, 1210 Biology-Psychology Building, College Park 20742, MD, United States. 2 Kunhã Asé Network of Women in Science, Av. Adhemar de Barros, 40170-110 Salvador, BA, Brazil. 3 Instituto de Biociências, Departamento de Biodiversidade, Universidade Estadual Paulista, Av. Vinte e Quatro A 1515, 13506-900, Rio Claro, SP, Brasil. 4 Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Rua Prof. Artur Riedel 275, 09972-270, Diadema, SP, Brasil. 5 Laboratório de Herpetologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa 2367, 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil. 6 Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, Rua do Matão 101/Trav. 14, Cidade Universitária, 05508-090, São Paulo, SP, Brasil. 7 Instituto Nacional da Mata Atlântica, Av. José Ruschi 4, 29650-000, Santa Teresa, ES, Brasil. 8 Programa de Pós Graduação de Biologia Animal, Universidade Federal do Espírito Santo/Cam- pus Goiabeiras, Av. Fernando Ferrari 514, 29075-910, Vitória, ES, Brasil. 9 Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Av. Pasteur 458, 22290-250, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 10 Division of Ecology and Evolution, Australian National University, 46 Sullivans Creek Road, Canberra, Australian Capital Territory, Australia. 11 Ecology and Evolutionary Biology, University of Michigan, 1105 North University Avenue, Ann Arbor, 48109-1085, MI, United States. 12 Laboratório de Herpetologia, Departamento de Botânica e Zoologia, Centro de Biociências, 86 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Campus Central, 59072-970, Natal, RN, Brasil. 13 LAGE at the Department of Ecology, Universidade de São Paulo, Rua do Matão/Trav. 14, Cida- de Universitária, 05508-090, São Paulo, SP, Brasil. 14 Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Zootecnia e Ciências Biológicas, Av. Independência 3751, 98300-000, Palmeira das Missões, RS, Brasil. 15 Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Presidente Antônio Carlos 6627, 31270-901, Belo Horizonte, MG, Brasil. 16 Oxford Brookes University, Headington Campus, OX3 0BP, Oxford, United Kingdom. 17 Programa de Pós-graduação em Biologia de Vertebrados, Departamento de Ciências Bioló- gicas, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Av. Dom José Gaspar 500, 30535-901, Belo Horizonte, MG, Brasil. 18 Biology Department, University of Nevada-Reno, 1664 N. Virginia Street, Reno, NV, United States. 19 Departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília/Campus Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília, DF, Brasil. 20 Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, 20550-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 21 Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, Rua do Matão 101/Trav. 14, Cidade Universitária, 05508-090, São Paulo, SP, Brasil. 22 Museu Nacional, Departamento de Vertebrados, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Quinta da Boa Vista, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 23 Department of Evolution, Ecology, and Organismal Biology, The Ohio State University, 318W 12th Ave, Columbus, OH, United States. 24 Laboratório de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Cidade Universitária, 79070-900, Campo Grande, MS, Brasil. 25 Departamento de Ecologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Carlos Chagas Filho 373, 21941-902, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 26 Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, 69067-375, Ma- naus, AM, Brasil. 27 Curso de Ciências Biológicas, Universidade Católica de Brasília/Campus I - QS 07/Lote 01 EPCT, 71966-700, Brasília, DF, Brasil. 28 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz, Av. Brasil 4365, 21040-360, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 29 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Av. José Moreira Sobrinho, 45206-190, Jequié, BA, Brasil. 30 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Minas Gerais/Campus Ubá, Av. Olegário Maciel 1427, 36500-002, Ubá, MG, Brasil.

*Corresponding author: [email protected] **See Supplementary Material.

87 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

ABSTRACT

In a recent article published in the superficial interpretation of Nature Communications, AlSheb- their findings and the likely disas- li et al. (2020) analyzed the men- trous impact for the fight for gen- tor-protégé relationship in scien- der equity in academia, focusing tific collaborations. Specifically, on the field of Brazilian Herpetol- they examined the impact of gen- ogy. Our goal is to highlight wom- der on scientific careers and con- en’s role as mentors in Herpetol- cluded that women scientists ogy, contextualizing the gender should rely on male guidance for gap in our field with the literature a successful career and higher in gender studies. publication impact. Here, we re- spond to these authors criticizing

he world is still reckoning with also reduce the gender gap by providing pervasive and inexcusable gen- a safe academic environment, collabo- Tder inequality underpinned by rative networks, or even just serving as bias and sexism, and science is no ex- role models for future female scientists ception. The gender gap in Science, (Carrell et al., 2010; Gaule & Piacenti- Technology, Engineering and Math ni, 2018). (STEM) has been a subject of increased discussion over the last two decades, In a recent paper published in Novem- where significant progress can be seen ber 2020 in Nature Communications in women participation and represen- and retracted a month later, AlShebli et tation (Rees, 2010; Holman et al., 2018; al. (2020) analyzed the mentor-protégé Shannon et al., 2019). An open discus- relationship in scientific collaborations sion about gender disparity promotes and the impact of gender mentorship awareness around the issue, aiming to on scientific careers, showing a de- improve equity and facilitate a culture crease in both the post-mentorship of ethical treatment, inclusion, and di- impact of female protégés and the gain versity in science. Since mentorship of female mentors. As a setback in this plays an essential role in career devel- discussion, the authors conclude that opment, women-to-women mentor- women scientists should rely on male ship can be central to women’s perma- mentorship for a successful career and nence and progress in academia. It can a higher publication impact. Their con- clusion ignores any contribution of

88 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões sexist discrimination to the gender dis- Thus, despite the significant progress parity observed in their data and con- on women’s participation in science, tributes to the gender disparity within the field is still gender-biased, which the academic environment (see Dick- is noticed since graduation (see Steele ey, 2011), heating the gender debate in et al., 2002; Holman et al., 2018). As the scientific community. Despite the shown by Budden et al. (2007), there sampling bias in methods and short- was a significant increase in female comings on the analyses performed in first-authored papers after the imple- the study (discussed in Diele-Viegas et mentation of a double-blind review al., 2020), women indeed face several process in an ecology journal, indicat- different issues during their scientif- ing that the gender bias observed in ic careers that hinder their productiv- academia is not related to the studies’ ity. Once gender studies rely on com- quality. Moss-Racusin et al. (2012) also plex epistemic issues beyond science, showed that female students were con- the socio-cultural context must play sidered less competent and less worthy an important role in the overall inter- of being hired than male students when pretation of statistical-based results identical professional applications for (Medina, 2013). Although we acknowl- an academic job were submitted to a edge their several methodological flaws faculty judgment, besides being offered currently under debate and scrutiny a smaller starting salary and less ca- (see Diele-Viegas et al., 2020; Wessel, reer mentoring. These studies suggest 2020), we focus our criticisms on the that gender might be the only variable shallow interpretation of their findings explaining this bias against women in and its pervasive consequences for the academia. Other studies also demon- Brazilian Herpetology field. Our goal is strate gender bias in different domains to highlight women’s role as mentors in (see Goldin & Rouse, 2000; Heilman et Herpetology, contextualizing the gen- al., 2004). der gap in our field with the literature in gender studies. The AlShebli et al. (2020) study mea- sured career success (as well as men- Science has a patriarchal structure that torship success) based on the impact of privileges male scientists, which is ex- published papers in terms of the num- plained by historical numerical im- ber of citations. Although the overall balance, socio-psychological aspects, number of publications is similar for and cultural factors (Astegiano, 2019). both women and men scientists (Aste- Resources are inequitably distributed giano, 2019), men are still dominant in among men and women in many aca- terms of publication impact (Larivière demic science settings (see The Massa- et al., 2013; Wu et al., 2020), but only if chusetts Institute of Technology, 1999). the considered studies include self-ci- 89 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios e& Opiniões Opiniões tations (Astegiano, 2019). Women groups (see Nielsen et al., 2017). Fur- usually receive lower salaries and have ther, women professors are seen as a fewer opportunities to reach senior and positive role model by female students, influential positions (Palermo et al., increasing their association with sci- 2008; Larivière et al., 2013; Valento- ence, which is paramount to reduce va et al., 2017). When becoming moth- the leaky pipeline and a pro-science ca- ers, they often experience criticism in reer (Young et al., 2013; Estrada et al., both motherhood and academia, be- 2018). Indeed, previous studies suggest ing judged as a bad mother and/or in- that not only female students actively ferior scientist (Larivière et al., 2013; search for women advisors (Gaule & Ahmed et al., 2020). Such issues are Piacentini, 2018), but also their per- also influenced by the Matilda Effect formance in math and science courses (Rossiter, 1993), known as the consis- increases when they are mentored by a tent under-recognition of women sci- woman instructor (Carrell et al., 2010). entists. In this context, male principal Concurrently, it reduces the cultural investigators usually publish with male stereotype of science as a masculine ac- peers, and both grant proposals and tivity (Young et al., 2013), stimulating publications are more rejected when young girls’ entry into STEM fields. they are led by women (Bornmann et al., 2007; Knobloch-Westerwick et al., In this pathway, a variety of initiatives 2013; Salerno et al., 2019). Implicit bi- have been taken to change gender dis- ases could thus be sources of female parity in the Brazilian scientific com- withdrawal and leaky pipelines in ac- munity (Werneck et al., 2019; Barros ademia, indicating, for example, that & Mourão, 2020), such as the Kun- double-blind peer reviews would be hã Asé Network of Women in Science more beneficial for women production, (Carvalho, 2020), and the Parent in and that gender stereotypes are more Science movement (https://www.par- detrimental to women’s career than fe- entinscience.com/; Staniscuaski et al., male mentorships (Knobloch-Wester- 2020). Specifically, for the Herpetology wick et al., 2013; Salerno et al., 2019). field a group of women herpetologists created a support and collaboration The participation of women in science network, the Herpetologia segundo as increases the academic environment’s Herpetólogas (Herpetology according diversity and improves the mechanism to women herpetologists). Moreover, for scientific innovation (Hofstra et al., since 2018, several other actions have 2020). The high performance of women also been taken, such as the creation of or mixed research groups is related to a social media group, which currently social perceptiveness and collective in- has 250 Brazilian women herpetolo- telligence, which differs from men-only gists working from all over the world 90 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões and from all academic levels and career servacionista” (Young Conservationist stages. This network already led to ac- Award), promoted by Amphibian Spe- tions aiming to promote equity in Bra- cialist Group for Brazil (ASG Brasil) and zilian Herpetology (such as the present partners in 2018, and “Bolsa Congres- essay), amplify the reach of women so” (Congress Scholarship) promot- herpetologists’ research, and minimize ed by Brazilian Herpetological Society sexism within this community. Histor- (SBH) in 2019, over 80% of the winners ically, male Brazilian herpetologists were women. In addition, the ASG Bra- were dominant (Carnaval, 2016), but sil awarded women that dedicate their the number of women herpetologists research to amphibian conservation in has increased in the country, with sev- Brazil with the “Prêmio Bertha Lutz” eral women occupying leadership po- (Bertha Lutz Award). These data rein- sitions and being recognized within force that studies developed by women different study areas and taxonomic are as relevant as those of men. How- groups. Therefore, the study published ever, this equity is not noticed when we by AlShebli et al. (2020) represents a observe the recognition of researchers setback in the discussions promoted by in the scientific community. these and other groups worldwide, in addition to ignoring the robust scientif- The low number of women invited to ic literature on the subject. evaluate the Brazilian list of threatened species (up to 30% of the participants) The first debate approaching women’s and as keynote speakers at the CBHs importance in Brazilian Herpetology, (up to 28% of the speakers until the entitled ‘Mulheres na Herpetologia on- VIII CBH, 2017) reinforces the asser- tem, hoje... e agora? Discutindo gêne- tion presented at the symposium. As ro para uma efetiva inclusão’ (Women a result of feminist actions initiated in in the Herpetology yesterday, today... 2018, this scenario changed at IX CBH and now? Discussing gender for effec- (2019), when the number of speakers tive inclusion), was held in 2019 during of each gender was equilibrated (five the IX Brazilian Congress of Herpetol- men and five women). From this sym- ogy (CBH). This discussion pervaded posium, an essay was published at the the challenges faced by women in their end of the same year in Herpetolo- work environments, in the field, and gia Brasileira (Werneck et al., 2019), during motherhood, in addition to the which listed several actions that can discredit that women suffer from their minimize sexism within our communi- peers. Among the results presented at ty. An important incentive for the conti- this symposium, it was noticed that in nuity of all these actions came recently the latest awards held at herpetological when Dr. Albertina Lima, Dr. Paula Et- events, such as “Prêmio Jovem Con- erovick and Dr. Monique Van Sluys fig- 91 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões ured among the world’s most influen- machismo 1(see Bernal et al., 2019), or tial scientists throughout their careers. intellectual, moral, and sexual harass- They were the only women among the ment, which may reflect abusive rela- fourteen Brazilian herpetologists men- tionships between male mentors and tioned in the list (corresponding to female protégés that negatively impact 21.4%; Ioannidis et al., 2020). Indeed, the career of the victims beyond the seniority’s effect differs between gen- scientific production. The academic ders - women are generally recognized pipeline from junior to senior faculty much later in career life than men, who leaks female scientists, and the senior even receive productivity grants much ranks of science highlight the barriers earlier than women and achieve high- to female progression from previous er senior levels faster and at a more generations (Larivière et al., 2013). The steady pace (Valentova et al., 2017). It uproar recent media exposition of the seems that women need to prove them- paper highlights the women’s concerns selves capable throughout the entire across the globe, which reflects in the career to receive recognition only at the Herpetology field (Wessel & Ortega, end. However, listing Dr. Eterovick, Dr. 2020; Ortega & Wessel, 2020). How- Van Sluys, and Dr. Lima, which are in ever, women herpetologists still need different stages of their careers, is an to fight against personal exposition, example of women’s ability to produce upper pressure for avoiding pregnan- high impact articles, even considering cy (or chosing between motherhood our underrepresentation in science. and career), and discrimination. When becoming mothers, fieldwork, or labo- Studies like AlShebli et al. (2020) may ratory activities seem impossible with- trigger a negative impact, decreasing out further support. Therefore, these the demand for female mentors, fur- non-measured impacts should be ac- ther decreasing female representation counted for. in science. The weight of responding to this type of publication falls on mi- Recognizing that gender disparity still norities who are already suffering other occurs in several scientific fields is rel- pressures and oppressions that hamper evant for planning strategies in society, their productivity (Fig. 1). Throughout academia, and Brazilian Herpetolo- the AlShebli et al. (2020) study, the gy. However, studies that assess gen- authors ignore historical, social, eco- der bias and the entire scientific com- nomic, and structural issues when in- munity should contribute to solutions terpreting their results. Their discus- sion does not account for the impact of motherhood on scientific production, 1 Machismo: Common and oppressive behavior of a so- ciety where culturally ingrained masculine pride (Ber- nal et al., 2019) 92 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões rather than increase the existing dis- We wonder if men could join as allies parity (Grogan, 2019). Mühlenbruch spending a comparable amount of time & Jochimsen (2013) called attention and energy on this issue. Undoubtedly, to the necessity of a wholesale reform some researchers have criticized man- in gender equality in science. New re- ifests against AlShebli et al. (2020). search policies to promote diversity in However, this study’s impact can be recruitment and facilitate the returning disastrous for the fight for gender eq- after academic breaks are as import- uity in academia, leading to a decrease ant as more transparency and funding in women mentors, further decreasing availability. Additionally, Röbler et al. our representation in science. Thus, (2020) drew attention of scientific jour- responses like this one are essential to nals to include a declaration whether fight these potential setbacks. Many of the study considered diversity, equity, us were or have been mentored direct- and inclusion when submitting arti- ly and indirectly by women through- cles. Finally, we present suggestions on out our academic trajectories. We all what we need to stop, encourage, and agree that their mentorship positively promote in the academic environment impacted our career as scientists and to promote gender equity in Brazilian possibly the career of future genera- Herpetology (Fig. 2). tions of Brazilian herpetologists. Thus, we thank them for being pioneers and Thus, our arguments and perspectives showing us that we can be great men- support the assumption that diversity tors (see Acknowledgments). generates better outcomes in academia and all other workplaces. AlShebli et al. Acknowledgments (2020) study has a vain original idea trying to associate a flawed concept of We thank Bertha Lutz (in memorian) success with mentors’ gender, who are for all her pioneering efforts as a Bra- also vulnerable to gender bias them- zilian herpetologist, scientist, and fem- selves. We cannot stand silently read- inist, who personifies our appreciation ing a paper that, while intending to of all scientist women enduring the study gender bias in science, reinforc- continued challenges of mentoring and es sexism and increases the weight on making good and steady science. We the shoulders of minorities, who have also thank Dr. Daniella França for rais- already received other pressures that ing our concerns regarding the paper hinder their productivity. In response, that inspired this manuscript’s writing. several women have been mobilizing Finally, we thank many women scien- in repudiation of AlShebli et al. re- tists for their support, guidance, and search, spending time and effort on it. encouragement, namely: LMDV thanks

93 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

T.C.S. Avila-Pires and colleagues of the H. Wiederhecker, L. Giugliano, T.C.S. Kunhã Asé network of women in sci- Avila-Pires, A.C. Carnaval, P. H. Valdu- ence; OGSA thanks L.A. Púgener and jo, and colleagues of the Parent In Sci- L. Trueb; BVMB thanks M.S.C. Morini; ence network; HCW thanks L.B. Na- CAB thanks K.R. Zamudio and M. Van- scimento; GW thanks S.Z. Cechin; JZ Sluys; ESB thanks C. Strüssmann; TOB thanks C.P.A. Prado and K. Zamudio; thanks K.C.M. Pellegrino and M.P.C. ACCL thanks M.R.S. Pires and L.B. Na- Telles; THC thanks G.C.R. Paula, M. scimento. Last, but not least, we thank Dixo and K. Zamudio; LCC thanks all female students that we have and D.O. Moreira, L.P. Costa, and D.P.F. will mentor throughout our career, and França; FDS thanks C. Mattedi and A. that together will set the standards and Martins; JF thanks H. Wiederhecker, prospects of the Herpetology field in L. Giugliano, F.P. Werneck, and col- Brazil. leagues of the H2H initiative; EMXF thanks T.C.S. Ávila-Pires; SI thanks References E.M. Lucas, F. D’agostini, and S.Z. Ce- chin; EML thanks V.B. Fortes and C.A. Ahmed N., Amin A., Arya S.S., Balela Brasileiro; MMA thanks A.M.P.T. Car- M.D., Bassioni G., Pires F.F., ... Eres- valho-e-Silva; JPCM thanks T.H. Con- so M.Z. 2020. Motherhood in Science: dez, M.T.C. Thomé, and M.L. Lyra; RM How children change our academic ca- and MT thanks all female researchers reers Experiences shared by the GYA who shared the table at the symposium Women in Science Working Group. in IX CBH; TQM thanks F.P. Werneck, AlShebli B., Makovi K., Rahwan T. M.A. Drumond, and K.A.I. Nekaris; 2020. The association between ear- LBN thanks all her women herpetol- ly career informal mentorship in aca- ogist pioneer colleagues who some- demic collaborations and junior author how conquered their spaces and made performance. Nature communica- history; CBO thanks E.N. Saito, M. tion 11:1–8. doi:10.1038/s41467-020- Wachlevski and R. Montesinos; RMP 19723-8 thanks L.G. Afonso, L.B. Nascimen- to, and F.P. Werneck; ACHDP thanks Astegiano J., Sebastián-González A.H.S.B. Soares, H. Wiederhecker, E., Castanho C.T. 2020. Unravelling and E.C. Lemmon; QR thanks M. Woi- the gender productivity gap in sci- tovicz-Cardoso; ES thanks S.M. Almei- ence: a meta-analytical review. Roy- da-Santos, E. Hingst-Zaher, and M.E. al Society Open Science 6:e181566. Bichuette; MTCT thanks M. Dixo and K. doi:org/10.1098/rsos.181566 Zamudio; BDV thanks W.C.S. Aparício Barros S.C.V., Mourão L. 2020. and D.C.C. Faria; M.M.V. thanks A.C. Gender and science: An analy- Carnaval and M.M. Vale; F.P.W. thanks 94 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões sis of Brazilian postgraduation. Es- Carrell S., Page M.E., West J.E. 2010. tudos de Psicologia (Campinas) Sex and Science: How Professor Gen- 37:e180108. doi:10.1590/1982- der Perpetuates the Gender Gap. NBER 0275202037e180108 Working Paper, 14959. doi:10.3386/ w14959 Bernal X.E., Rojas B., Pinto-E M.A., Mendoza-Henao A.M., Herrera-Mon- Dickey Z.G. 2011. Science gen- tes M.I., Franco A.P.C. 2019. Em- der gap probed. Nature 470:153. powering Latina scientists. Science doi:10.1038/470153a 363(6429):825–826. doi:10.1126/sci- Diele-Viegas L.M., Almeida T.S., Ama- ence.aaw6004 ti-Martins I., Bacon C.D., Cassia-Silva Bornmann L., Mutz R., Daniel H.D. C., Collevatti R.G., … Virgílio F. 2020. 2007. Gender differences in grant peer Gender inequality and not female men- review: A meta-analysis. Journal of In- tors hinder female scientists’ career formetrics 1:226–238. doi:10.1016/j. outcomes. Nature communications joi.2007.03.001 (preprint). doi:10.31219/osf.io/s83zk

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96 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

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Wessel L., Ortega R.P. 2020. The spark has ignited.’ Latin American scientists intensify fight against sexual harass- ment. Science. doi:10.1126/science. caredit.abb3740

Wessel L. 2020. After scalding critiques of study on gender and mentorship, journal says it is reviewing the work. Science. doi:10.1126/science.abf8164

Wu C., Fuller S., Shi Z., Wilkes R. 2020. The gender gap in commenting: Wom- en are less likely than men to comment on (men’s) published research. PLoS ONE 15:e0230043. doi:10.1371/jour- nal.pone.0230043

Editores: Julio C. Moura Leite e Teresa C. S Ávila-Pires

Note added to proof: During the publishing process Al Shebli et al. (2020) published a retraction note available at https://www.nature.com/ articles/s41467-020-20617-y (AlSheb- li B., Makovi K., Rahwan T. 2020. Re- traction Note: The association between early career informal mentorship in academic collaborations and junior au- thor performance.Nature Communi- cations 11:1 DOI:10.1038/s41467-020- 20617-y).

98 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Figure 1. Female herpetologists who have paused their research to elaborate this letter.

Figure 2. Strategies to promote gender equality in Brazilian herpetology. 99 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Florestas abertas com bambu Guadua we- berbaueri Pilg. e um mito sobre a serpente da taboca

Paulo Roberto Melo-Sampaio1,2 1 Departamento de Vertebrados, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Quinta da Boa Vista, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2 Escola Municipal Chico Mendes, Rua Shalom 468 - Santa Inês, 69907-665, Rio Branco, AC, Brasil E-mail: [email protected]

arte da minha experiência profis- e verificar a significância de seus dados sional foi adquirida nas florestas através de análises estatísticas, mas po- Pabertas com bambu no sudoeste da dem ser de fato boas fontes de informação Amazônia. Botanicamente, bambu é uma sobre história natural. Poaceae que localmente tem o nome de ta- boca, fruto da rica linguagem indígena que Entre uma conversa e outra com serin- aqui dominava até o final do século XIX. gueiros, explicando meu trabalho com Nessa região o gênero Guadua Kunth é do- herpetologia – termo que muita gente, as- minante e a distribuição de suas espécies sim como eles, nem sabia o que significava compreende aproximadamente 180.000 – muitas vezes eu era indagado se havia km². Durante minhas amostragens de visto esta ou aquela coisa. Eu, muitas ve- campo, aprendi muito sobre história natu- zes, não fazia ideia de qual animal pode- ral e tive a oportunidade de conversar com ria ser e sempre pedia que me contassem seringueiros e outras pessoas da floresta. “causos” para que pudesse associar a algo que pudesse ser interpretado cientifica- O imaginário ameríndio nos deu explica- mente. ções para relações botânicas com o povo e como algumas delas surgiram: açaí, guara- Certa vez, enquanto falávamos sobre ser- ná, mandioca, vitória-régia, entre outras. pentes, tomando goles de café fraco e dul- Nos deu também outros seres fantásticos císsimo, no melhor estilo acreano da zona como: caboclinho-da-mata, mapinguari rural, um seringueiro me contou, enquan- e mãe-da-mata. O reino animal também to puxava um porronca, que havia uma está representado nos pássaros, nos botos, cobra que “arrebentava a taboca”. Fiquei nos sapos e nas serpentes. Muitas obser- imaginando como poderia acontecer um vações dos povos da floresta podem ser fato tão curioso e pedi que ele continuasse. ignoradas ou vistas com ceticismo pelo O relato consistia em assumir que havia cientista interessado em testar hipóteses uma cobra que nascia e dormia dentro da

100 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões taboca e que ela ia crescendo, crescendo, suas mandíbulas e os pássaros com seus crescendo e, quando estava bem forte, o potentes bicos. Claro, não tinha outra ex- colmo do bambu não aguentava a pressão plicação! Havia algum elemento da comu- que seu corpo exercia ali dentro e, assim, nidade ou algum fator abiótico responsá- a espinhosa planta espocava , liberando o vel por isso. Expliquei ao seringueiro que animal. o vento era capaz de rachar a taboca e que talvez ele tivesse visto alguma cobra que Argumentei que as tabocas naturalmente ali se deslocava caindo e ele tivesse asso- não tinham aberturas próprias que permi- ciado ao tal mito da cobra na taboca. Falei tissem a entrada de serpentes. Ora – me dos pica-paus e das larvas e adultos dos dizia o gentil senhor – o extraordinário da besouros da broca que também podiam história é que a cobra nascia dentro do col- abrir buracos. Expliquei que a taboca era mo hermeticamente fechado, involucrado, muito fina para comportar uma cobra tão e que isso era inexplicável. Essa era a ci- robusta como ele descrevia. Até expliquei ência. Aquela estória ficou no meu imagi- que no Acre, na região central do estado, nário. Como alguém poderia ter imagina- ao longo do rio Purus, existe uma tabo- do tal coisa? Talvez pudesse mesmo uma ca maceta [ou bambu-gigante], chamada serpente habitar um colmo oco de bambu, Guadua angustifolia Kunth, que talvez mas para isso, condições especiais eram pudesse comportar uma jiboia ou sala- necessárias. manta juvenis.

Muita atividade de campo seria necessá- O convencimento a respeito do vento e dos ria. A presença semanal nos tabocais em animais que faziam isso foi fácil, mas o ho- busca de um pequeno sapinho colorido mem jurava que a cobra vivia dentro do es- – dendrobatídeo, para os mais íntimos –, paço entre um nó e outro! E ele sabia que talvez me ajudasse a elucidar a origem da era uma jararaca perigosa... Bom, associar história contada pelo extrativista que, com nomes populares para animais não tão ca- experiência e vivência de várias décadas, rismáticos como serpentes é uma tarefa havia de ter uma base real, ao qual ele na inglória: se é vermelha, surucucu-de-fogo; sua simplicidade não sabia explicar. Não se é amarela, caninana; se é verde, cobra- descartei nenhuma hipótese. Eu já sabia -verde; se é preta, cobra-preta; se é esguia, dos anfíbios associados ao ambiente de ta- cobra-cipó; se tem algum anel, coral; ago- bocal. Fui à literatura e percebi que a fau- ra se tem alguma parte marrom, é jarara- na de bambu possuía outros elementos: ca! Na verdade, quase toda cobra (Fig. 1) carapanãs, formigas, cabas, besouros, é jararaca no imaginário leigo: Dipsas ca- aves e o rato coró. Talvez ali estivesse uma tesbyi é jararaquinha, Helicops angulatus oportunidade de descobrir uma serpente e é jararaca d’água, Hydrodynastes gigas é desvendar esse mistério. jararacuçu-piau, Leptodeira annulata é jararaca-do-rabo-fino, Xenodon severus é Ora, a taboca não tem abertura natural, jararaca-do-brejo e Bothrops atrox é jara- mas o vento assim produz através de sua raca-da-boca-podre. Essa sim, peçonhen- força. Os besouros abrem os colmos com 101 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões ta. E por aí vai... Mas amostragem de campo lis, in collo & cauda sublongis, in medio e talvez, encontrando essa cobra enorme, corpore triangularibus fere fuscis, sed eu pudesse convencer que o bicho não vivia atro colore punctatis. Dipsas ex albo sub- dentro e sim entre os bambus. A resposta nigro aliisue coloribus varia. era sempre a mesma: a cobra vive dentro, é bitela e racha a taboca! É malhada. ...que pode ser traduzido livremente como: Dipsas longa e fina, de cabeça pintada de A curiosidade só aumentava até que, para preto e branco, inserção tornando-se mar- minha surpresa, durante uma amostra- rom, preto e branco salpicado de amare- gem de girinos do sapinho da taboca Ra- lo, pescoço fino, cauda e dorso longos são nitomeya biolat (atualmente Ranitomeya pintados com manchas no pescoço e su- sirensis, eu finalmente descobri o misté- blongas da cauda, no meio do corpo é qua- rio: uma dormideira, Imantodes cenchoa se triangular e pardacento, mas na parte (Linnaeus, 1758), repousava dentro de um escura há manchas. Dipsas branca com colmo de bambu (Fig. 2A-F). Como é uma listra de enegrecido em uma variedade de serpente predominantemente saurófaga cores. e noturna (e.g., Martins & Oliveira, 1999; Cunha & Nascimento, 1978), embora pu- A nomenclatura binomial proposta por desse ser atraída a apresar o sapinho, cer- Linnaeus (1758) é um importante mar- tamente não estava a fim de comer meu co na classificação dos seres vivos e que objeto de estudo, dada a condição e hora por vezes apresenta histórias repletas de do achado. Entrou através de um buraco significados. Para a serpente da taboca bem pixocotinho que consistia num arran- Imantodes cenchoa, não é diferente. Para jo geométrico bonito, feito pelo pica-pau a descrição genérica, Duméril (1853: p. lindo Celeus spectabilis Sclater & Salvin, 111) utiliza uma diagnose que inclui a den- que permite sua busca pelas formigas (Fig. tição opistóglifa, presença de escamas li- 3A). Mostrei a foto ao bom homem que se sas no dorso, escamas ventrais anguladas, convenceu com a minha explicação (Fig. subcaudais em fileira dupla e cauda mui- 3B, C). Sim, também achei o girino que eu to longa. Além disso, define como espécie buscava (Fig. 3D). tipo Imantodes cenchoa e atribui a auto- ria a Seba (1735). Na descrição do gênero Talvez uma das primeiras ilustrações des- Imantodes Duméril, Bibron & Duméril sa serpente é aquela contida no Physica (1854), os autores explicam a etimologia Sacra, no pouco conhecido trabalho de (p. 1064): “semblable à une ficelle, com- Scheuchzer (1735), no qual ele descreve na me une courroie, corrigiola flexibilis, la página 1347 (Fig. 4): mèche d’un fouet”, que pode ser traduzida livremente do francês como: “semelhante Dipsas longa tenuis capite ex fusco & albo a uma corda, como uma correia, o pavio perbelle picto, ex carneo, fusco, nigro & de um chicote”. Sem explicação, Lemos- albo flauescente varia, collo & cauda pra- -Espinal & Dixon (2013) sugerem que o etenuibus longis: dorsum pingitur macu- nome genérico seja derivado da palavra

102 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões latina immanis, “enorme”, e do sufixo gre- a cobra chamada tecutlacozauhqui. Possui go -odes, “semelhança ou abundância”, uma cabeça larga e uma boca grande. Não “provavelmente em referência ao tama- pare, mas faz ninho e bota ovos, e de lá nho relativo da cabeça ou dos olhos esbu- saem seus filhotes. Enrola-se no corpo do galhados”, e que o epíteto específico pro- que deseja matar. Pica com a língua e en- vavelmente é derivado da palavra grega gole. Não tem veneno. [...] Há outras co- kenchros, que significa “pequenos grãos”, brinhas que são delgadas como os cabelos talvez referindo-se às “pequenas manchas da cabeça, e quando andam, vão enrosca- laterais”. Todavia, essa etimologia não en- das; poucas vezes aparecem estas cobras.” contra respaldo na explicação dada pelos (Sahagún, 1577). próprios autores, reproduzida acima, e também indicada por Amaral (1978: 142). Esse verbete asteca “cencoatl” certamente Imantodes é uma palavra composta ori- confirma o que o apotecário Albertus Seba ginária do grego imantos, significando (1735) usou para descrevê-la no seu The- ‘correia’ ou ‘tira de couro’, e eidos (no La- saurus (Seba, 1735), como cobra chamada tim, odes) significando ‘parecido’ (Brown, de Cencoatl, da América (Fig. 5), bastante 1954). Muito embora seja um nome bem bonita, em tradução livre do latim: apropriado pelo aspecto delgado, a resis- “É muito longa e muito esbelta, devido tência não está na capacidade de sustentar ao seu grande tamanho. A cabeça dela é um grande peso, como uma tira de couro pequena; seus olhos são grandes, loca- aguentaria, mas sim, na capacidade do lizados perto das narinas. Sua mancha animal manter elevada a metade anterior é realmente bonita. Suas escamas são do corpo, sem que o ventre toque qualquer amareladas, cobertas ao longo das costas substrato (Henderson & Nickerson, 1976). como um véu de cor castanha e cortadas O epíteto específico também tem uma ori- nas laterais. As escamas abaixo do corpo gem muito diferente da proposta por Le- são amarelas sujas.” mos-Espinal & Dixon (2013). Frei Alonso O verbete Cencoalt chegou ao Brasil em de Molina, em 1571, na sua obra intitulada 1818 como “serpente da América”, segun- “Vocabulario en lengua castellana y me- do o Diccionario geral da lingoa Portu- xicana”, indica que a palavra cencoatl sig- gueza de Algibeira, publicado pela Acade- nifica, na língua Nahuatl, “cobra grande e mia de Sciencias (p. 602), mas parece ter muito pintada” (Molina, 1571). Outro Frei, rapidamente caído em desuso. Buffon & Bernardino de Sahagún em sua obra “His- Chao (1854: p. 469) apresentam o nome toria General de las cosas de Nueva Es- Cipo ou Zurucucu de Pattioba, junto com paña”, dá uma descrição para essa serpen- uma lista sinonímica. Cipó é um nome bra- te, traduzida livremente aqui: “Existe outra sileiríssimo e que realmente condiz com a cobra chamada cincóatl ou cencóatl. É de condição delgada da serpente, que já era tamanho médio. Não tem sinos [creptácu- conhecida aqui como boitiapô (Marcgrave lo], nem morde. É amarela, avermelhada & Piso, 1648). e marrom escuro. Ele quer se parecer com

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A descrição de Albertus Seba foi tão ins- europeus, e ainda proporciona a mesma piradora que levou Carolus Linnaeus, em sensação de encantamento para qualquer 1744, a mencioná-la na primeira edição de biólogo apaixonado por história natural. sua obra Systema Naturae como Anguis de cencoatel americanus venustissimus, Anos depois eu estava no município de destacando, em tradução livre (p. 29): Envira, no Amazonas, novamente em bus- ca de girinos de sapinho da taboca e eis “Esta serpente está aqui acima de todas que lá estava outra vez a mesma espécie de as outras, em função do grande compri- dormideira (Fig. 3E-G). Lembrei dos bons mento, da forma muito delgada e quase causos que ouvia do seringueiro, lembrei filiforme” e a descrevê-la novamente como desse “aztequismo latinizado” no nome Anguis de cencoatel em sua obra Amoeni- científico que levou a diversas interpreta- tates Academicae (Linnaeus, 1749). Final- ções ao longo do tempo que vão significan- mente adota o binômio Coluber cencoatel do desde “a primeira serpente”, passando em Linnaeus (1756: p.34). O trabalho de por “cobra parecida com uma espiga de Linnaeus foi de certa forma simplificado milho” até “a serpente que mama leite” nas descrições apresentadas na décima (Hernández, 1651; Robelo, 1904). edição da clássica e revolucionária obra Systema Naturae, finalmente determi- Várias outras coisas ainda me despertam nado como Coluber cenchoa (Linnaeus, o interesse sobre como surgiram tantos 1758). Muito embora essa seja a autoria mitos sobre as serpentes e esse limiar en- taxonômica oficial a partir desta data, essa tre o fascínio e pavor que elas causam aos serpente já despertava o interesse de vá- humanos. Henderson & Nickerson (1976) rias pessoas ao redor do novo mundo pos- buscaram entender as preferências de for- sivelmente desde sempre, mas documen- rageio, deslocamento e sítios de refúgio tada desde meados do século XVI, como já para as dormideiras, usando bromélias em mencionado. terrários e assim, de forma experimental, aprendemos um pouco mais sobre elas, O meu interesse por trabalho de campo, sobre sua atividade diária, mas nada se taxonomia e nomenclatura continuou. compara às observações naturalistas. Não imaginava que a origem do nome fos- se tão inspiradora. Percebi que o medo au- Fiquei a pensar se o hábito altamente es- menta o tamanho das serpentes na mes- pecializado para a vida arborícola presume ma proporção que cria cores e desenhos de e sugere que o acasalamento seja feito nos natureza desconhecida na imaginação do galhos e que as deposições talvez possam leigo quando nos descreve. Nosso sistema ocorrer dentro da taboca e aí o argumento límbico ainda nos trata como há centenas do seringueiro realmente estaria correto. de milhares de anos quando éramos caça- Após várias leituras, me deparei com uma dores-coletores. A mesma espécie que um informação que me deixou boquiaberto: na dia causou medo ao homem no paleolítico, Amazônia equatoriana, numa localidade criou lendas nos ameríndios, fascinou os chamada Santa Cecília, há um relato incrí-

104 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões vel (Duellman, 1978) de uma ninhada com ideias sem esquecer o quão bonito é fazer 15 ovos encontrada em colmo de bambu e uma busca detalhada das histórias guar- que dela eclodiram duas espécies de ser- dadas por trás do nome de cada espécie. pentes: Leptodeira annulata (Linnaeus, 1758) e Leptophis ahaetulla (Linnaeus, Agradecimentos 1758). Queria contar isso ao sábio serin- Agradeço a Teresa Cristina Ávila Pires, gueiro e ouvir mais de seus relatos fantás- Luciana Barreto Nascimento, Julio Ce- ticos. Entretanto, a atividade extrativista sar Moura Leite pelas valiosas sugestões está em decadência e os seringueiros em que melhoraram esse texto. Agradeço aos sua maioria estão idosos e morrendo, os amigos José P. Pombal Jr, Ivan Prates e “causos” estão indo junto com eles. Vinícius Sudré que fizeram a leitura das Nas ciências biológicas, cada vez mais bus- versões preliminares e me encorajaram a cam-se respostas com valores estatísticos, seguir adiante com o manuscrito. Agra- publicáveis em revistas com alto fator de deço também aos seringueiros e demais impacto, fazendo com que cada vez tenha- povos da floresta e inúmeros companhei- mos menos ênfase em observações natu- ros de pesquisa pelo compartilhamento ralísticas. Paralelamente, o financiamento de saberes durante nossa convivência em para pesquisa de campo vai diminuindo, campo. tornando-a mais difícil em termos logís- ticos. Paradoxalmente. Digo isso pois, em Referências meio a tanta novidade e facilidade tecno- lógica, onde podemos compartilhar, em Academia de Sciencias 1818. Diccionario tempo real, nossas práticas de campo em Geral da Lingoa Portugueza de Algibeira. redes sociais (quando assim a cobertura de Imprensa Regia, Lisboa. internet permite) ou traduzir um artigo ou livro em alemão, espanhol, francês, inglês, Amaral A. 1978. Serpentes do Brasil. Ico- latim ou qualquer outra língua num tem- nografia Colorida. - Brazilian : A po curto, acessar obras raras e clássicas Color Iconography. Edições Melhoramen- de forma gratuita em repositórios online, tos, São Paulo. talvez seja a hora de aliar isso aos antigos Brown H.W. 1954. Composition of scienti- cadernos com anotações de campo e as- fic words. Author Edition, Baltimore. sim a história natural municiada de novos curiosos, sobreviverá por muito tempo. Buffon G.L., Chao E. 1854. Los tres rei- Iniciativas de ciência-cidadã que preten- nos de la naturaleza o museo pintoresco dem popularizar os anfíbios e répteis são de historia natural: descripción completa bem vindas e podem muito bem aprovei- de animales, vegetales y minerales útiles y tar toda a informação já disponível. Espe- agradables ... : con un tratado de geología ro que novos curiosos, nos mais diversos ... y un bosquejo histórico de los progresos lugares desse mundo globalizado, estejam de las ciencias naturales en general y en surgindo e que possamos absorver novas España: obra arreglada sobre los trabajos 105 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões de los mas eminentes naturalistas de to- Linnæus C. 1744. Systema naturæ in quo dos los países. Gaspar y Roig, Madrid. proponuntur naturæ regna tria secundum classes, ordines, genera & species. Editio Cunha O.R., Nascimento F.P. 1978. Ofí- quarta ab auctore emendata & aucta. Ac- dios da Amazônia. X. As cobras da região cesserunt nomina Gallica. Parisiis, David. leste do Pará. Publicações Avulsas do Mu- seu Paraense Emílio Goeldi 31:1–218. Linnaeus C. 1749. Amoenitates Academi- cae, Vol. 1, Part 2. Holmiæ & Lipsiæ Duméril A.M.C. 1853. Prodrome de la classifcation des ophidiens. Mé- Linnaeus C. 1756. Systema naturæ sitens moiries de L’Académie des Sciences, Pa- regna tria naturæ, in classes et ordines, ge- ris 23: 399–536. nera et species, redacta tabulisque æneis illustrata. Accedunt vocabula gallica. Edi- Duméril A.M.C., Bibron G., Duméril tio multo auctior & emendatior. Lugduni A.H.A. 1854. Erpétologie générale ou his- Batavorum, Haak. toire naturelle complète des reptiles. Tome septième. Deuxième partie, comprenant Linnaeus C. 1758. Systema naturæ per l’histoire des serpents venimeux. Librairie regna tria naturæ, secundum classes, or- Encyclopédique de Roret, Paris. dines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis. Tomus I. Duellman W.E. 1978. The biology of an Editio decima, reformata. Laurentii Salvii, equatorial herpetofauna in Amazonian Holmiæ. Ecuador. Miscellaneous Publications of Museum of Natural History of the Uni- Marcgrave G., Piso W. 1648. Historia Na- versity of Kansas 65:1–352. turalis Brasiliae... in qua non tantum plan- tae et animalia, sed et indigenarum morbi, Henderson R.W., Nickerson M.A. 1976. ingenia et mores describuntur et iconibus Observations on the behavioral ecology of supra quingentas illustrantur. Franciscus three species of Imantodes (Reptilia, Ser- Hackium, Lugdun. Batavorum et Lud El- pentes, ). Journal of Herpeto- zevirium. Amstelodami. logy 10:205–210. Martins M., Oliveira M.E. 1999. Natural Hernández, F. 1651. Rerum medicarum history of snakes in forests of the Manaus Novae Hispaniae thesaurus, seu, Plan- region, central Amazonia, Brazil. Herpe- tarum animalium mineralium Mexica- tological Natural History 6: 78–150. norum historia. Ex typographeio Vitalis Mascardi, Romae. Molina A. 1571. Vocabulario en lengua cas- tellana y mexicana [-mexicana y castella- Lemos-Espinal J., Dixon J.R. 2013. Am- na]. Vol. 1 & 2. Casa de Antonio de Spino- phibians and Reptiles of San Luis Potosí. sa, México. Eagle Mountain Publishing, Eagle Moun- tain.

106 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Robelo C.A. 1904. Diccionario de azte- Glossário quismos, ó sea, catalogo de las palabras del idioma nahuatl, azteca ó mexicano: in- Bitela - grande troducidas al idioma castellano bajo diver- Caba - vespa sas formas, Volume 1. Autor, Cuernavaca. Carapanã - mosquito, pernilongo (geral- Seba A. 1735. Locupletissimi rerum natu- mente culicídeo) ralium thesauri accurata descriptio, et ico- Espocava - estourava nibus artificiosissimis expressio, per uni- versam physices historiam. Tomus 2. J. Maceta - grande Wetstenium, G. Smith, & Janssonio-Wa- Pixocotinho - muito pequeno esbergios, Amstelaedami. Porronca - cigarro muito grosso feito ge- Scheuchzer J.J. 1735. Kupfer-Bibel in wel- ralmente de tabaco artesanal cher die Physica Sacra, oder Geheiligte Rato coró - rato de bambu, roedor da sub- Natur-Wissenschafft derer in Heil. Schri- família Dactylomyinae cf. Dactylomys bo- fft voirkommenden Natürlichen Sachen liviensis. deutlich erklärt. Band 4. Christian Ulrich Wagner, Augsburg und Ulm.

Editores: Julio C. Moura Leite, Luciana Sahagún B. 1577. Historia general de las B. Nascimento e Teresa C. S. Ávila-Pires cosas de Nueva España. Editorial Porrúa, México.

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Figura 1. Algumas serpentes conhecidas como jararacas. Dipsas catesbyi (A). Helicops angulatus (B). Hydrodynastes gigas (C). Leptodeira annulata (D). Xenodon severus (E). Bothrops atrox (F). Apenas a última é peçonhenta. 108 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Figura 2. Sequência de comportamento predatório sobre Anolis fuscoauratus por Imantodes cen- choa. A- O corpo delgado da serpente é projetado de forma a não tocar na folha ou galho onde o lagarto se encontra. B- O lagarto é apresado pela região nucal. C- O lagarto começa a ser engolido pela cabeça. D- Extensão da mandíbula para deglutição. Note o lagarto ainda conferindo resistência com o pé. E- O tecido muscular fino e o pescoço delgado parecem que vão romper ao engolir o la- garto. Note que os membros posteriores e a cauda ainda estão para fora. F- Final do forrageamento e busca de um sítio de repouso. 109 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Figura 3. Sequência da descoberta da cobra-da-taboca. A- Abertura geométrica na taboca feita por pica-pau. B e C- Dormideira dentro do colmo de taboca, Acre. D- Girino de sapinho-do-bambu (Ranitomeya sirensis). E- Abertura na taboca feita por besouros. F- Dormideira dentro do colmo de taboca, Amazonas. G- Aspecto geral e dócil da dormideira quando manuseada. 110 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Figura 4. Reprodução da Prancha DCLXXVIII de Scheuchzer (1735) representando Imantodes cenchoa [espécime número 3].

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Figura 5. Reprodução da Prancha XVI de Albertus Seba (1735) utilizada por Carolus Linnaeus (1758) para descrever Imantodes cenchoa [espécimes no topo e abaixo].

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Dendropsophus haddadi Santa Teresa - ES @ Alexander T. Mônico

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Snake News: uma breve análise da cobertura da mídia digital sobre serpentes no Brasil

Vinícius de Avelar São Pedro Laboratório de Estudos Zoológicos do Alto Paranapanema, Universidade Federal de São Carlos – campus Lagoa do Sino, Rodovia Lauri Simões de Barros Km12, 18290-000, Buri, SP, Brasil. Email: [email protected]

Introdução muitas vezes em desserviço às ciências na- turais, em especial à herpetologia. Mas o s serpentes certamente estão en- que tanto os noticiários nos dizem sobre tre os animais mais fascinantes as serpentes? Com que frequência eles A da Terra. Poucos grupos animais apresentam informações errôneas? Que são capazes de chamar a atenção e desper- tipo de erros exatamente eles contêm? tar o interesse das pessoas como as cobras. Aliás, é nesse fascínio que se baseia todo o Com o intuito de começar a responder marketing da popular figura do “homem- essas e outras questões e trazer o tema à -da-cobra”. No intuito de vender os mais reflexão da comunidade herpetológica, variados itens, esses ambulantes reuniam apresento aqui uma breve análise das no- verdadeiras multidões nas praças do in- tícias sobre serpentes veiculadas nos últi- terior do Brasil sob a promessa – muitas mos anos em um dos principais portais de vezes não cumprida – de exibir serpentes notícias do Brasil. Através de uma busca supostamente presas em um saco ou uma utilizando o termo “serpentes” no site do caixa. Enquanto esses folclóricos masca- G1 (g1.com/noticias), consegui reunir um tes correm hoje sério risco de extinção, o total de 262 notícias não repetidas sobre fascínio em torno das serpentes continua o tema, publicadas entre janeiro de 2015 e parece ainda ser explorado nos dias de e abril de 2020. Li e analisei cada uma hoje, porém, por meios mais modernos. delas anotando aspectos como o assunto a que se referem, se mencionam alguma Notícias sobre serpentes são frequentes na espécie e qual(is) e se apresentam algum televisão e, principalmente, nos portais de tipo de informação errada ou imprecisa. notícias da internet. Não raramente ao ler Esses dados foram organizados em uma essas notícias nos deparamos com conte- planilha para facilitar as análises quanti- údos sensacionalistas e com todo tipo de tativas. Utilizarei alguns desses dados que informações equivocadas, constituindo considero mais relevantes como forma de 114 conduzir minhas discussões sobre o tema. Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Principais assuntos abordados Brasil (Bernarde, 2014), justamente esse lado negativo das serpentes seja tão pouco Em relação ao assunto abordado nas no- explorado pela mídia. tícias, a grande maioria delas (68%) visa reportar o encontro fortuito de serpen- Outros temas dignos de menção pela bai- tes em residências e outras áreas urbanas xa frequência com que aparecem entre as (Fig. 1A). Não é difícil explicar o grande notícias são os que dizem respeito à divul- número de notícias como essas. O apa- gação de atividades educativas e de pes- recimento de uma serpente dificilmente quisas científicas. Apenas 3% do total das é encarado com indiferença pelas pesso- notícias visam divulgar atividades educa- as. Ao contrário, este tipo de evento, as- tivas (palestras, exposições e livros sobre sociado ao processo de captura do animal, serpentes) e 7% reportam pesquisas (estu- facilmente transforma-se em um espetá- dos, achados ou publicações) sobre esses culo, atraindo a atenção de quem estiver animais (Fig. 1A). Nesta última categoria por perto, como já comentado no caso do estão variados tipos de pesquisas como “homem-da-cobra”. O que vemos nas no- aquelas sobre o potencial farmacêutico tícias é apenas o oportunismo dos meios de venenos, registros de espécies raras ou de comunicação para atrair a atenção dos flagrantes de comportamentos fortuitos leitores (consumidores). Isso fica claro na (combates, corte, predação, etc.), além da superficialidade que caracteriza a maioria descoberta de novas espécies. Não preci- das notícias dessa natureza, além do tom so me esforçar aqui para mostrar o quanto sensacionalista presente em muitas delas, o número de notícias dessa natureza está o qual discutirei melhor mais adiante. Ou aquém do universo de pesquisas realiza- seja, o homem-da-cobra ainda está por das no Brasil sobre esses e outros temas aí. Só não pretende mais vender pomadas de potencial interesse para o público em milagrosas ou garrafadas, mas sim atrair geral. Só para dar um exemplo, no perío- alguns cliques. do que abrange as publicações analisadas aqui foram descritas no Brasil 23 espécies Alguns temas me chamaram a atenção pela de serpentes (Nogueira et al., 2019; H. C. frequência relativamente baixa nas notí- Costa, com. pess.), sendo que somente cias. O primeiro diz respeito aos acidentes uma delas virou notícia no G1. ofídicos. Apenas 9% das notícias tratam deste tema (Fig. 1A), sendo que dois terços Partindo do pressuposto de que notícias destas reportam acidentes específicos e o reportando acidentes ou estudos científi- restante aborda estatísticas de acidentes cos com serpentes “vendem” bem, só me com animais peçonhentos em determina- resta crer que estes temas só não são mais das épocas e regiões do país. É surpreen- noticiados porque não chegam ao conheci- dente que mesmo com uma média de 29 mento dos jornalistas. É claro que quando mil casos de acidentes ofídicos por ano no algo é do real interesse de um jornalista,

115 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões ele corre atrás e descobre por si mesmo. caso das jiboias, ou pelo perigo que repre- Mas, ao menos no caso dos estudos cien- sentam, no caso das jararacas e cascavéis, tíficos e atividades educativas, quando faz sentido esperar um maior alarde em o interesse em divulgá-los pode ser mais torno do aparecimento dessas espécies. nosso do que da mídia, acredito que seja válido tomarmos a iniciativa para que os O caso da naja no Distrito Federal holofotes sejam direcionados às nossas serpentes. E até aqui parece que nós, os No momento em que eu concluía a reda- verdadeiros homens e mulheres-da-cobra, ção deste manuscrito, a notícia sobre um temos nos esforçado pouco para chamar a estudante de Medicina Veterinária picado atenção do grande público. por uma naja no Distrito Federal ganhou as manchetes dos principais jornais e por- Por fim, outro tema importante e pouco tais de notícias do Brasil, desdobrando-se noticiado é o que diz respeito ao comércio em diferentes matérias ao longo das sema- ilegal de animais. No período investigado nas que se seguiram após o acidente. Em- foram encontradas apenas 11 notícias (4%; bora esse episódio tenha ocorrido fora do Fig. 1A) relatando a apreensão de serpen- período que investiguei, achei importante tes comercializadas e/ou mantidas ilegal- fazer uma breve análise sobre a cobertu- mente, abordando tanto espécies nativas ra deste caso emblemático, sobretudo por brasileiras quanto exóticas. Mais preocu- conta de sua grande repercussão. pante do que a raridade talvez seja a su- perficialidade com que esse tema é abor- Desde o dia do acidente, 7 de julho de 2020, dado nas notícias. Praticamente todas as até o dia 22 de outubro, o G1 publicou ao matérias carecem de informações sobre a menos 42 reportagens sobre o assunto. A legislação brasileira a respeito da posse de maior parte destas abordam a cobertura animais silvestres, da possibilidade de ob- do tratamento médico do estudante, o an- tenção de serpentes de criatórios autoriza- damento das investigações policiais e os dos ou sobre os muitos impactos socioam- desdobramentos jurídicos do caso. Mas, bientais do tráfico ilegal de animais. uma vez mais, surpreende a superficiali- dade das matérias, que em sua maioria se Jiboias (Boa constrictor), jararacas (Bo- limitam a relatar os fatos, sem se aprofun- throps spp.) e cascavéis (Crotalus duris- dar no assunto. Os conteúdos que podem sus) são, nesta ordem, as serpentes mais ser considerados de fato instrutivos para frequentes nas notícias (Fig. 1C). Estes da- a sociedade, como aqueles pertinentes aos dos não surpreendem, considerando que possíveis impactos socioambientais do a maior parte das notícias relatam o en- tráfico de animais silvestres, aparecem ra- contro com serpentes e que estas espécies ramente e quase sempre apenas nas cita- estão entre as mais comumente encontra- ções de falas de pesquisadores e policiais. das. Somado a isso, seja pelo tamanho, no As consequências legais da posse indevi-

116 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões da de animais silvestres são mencionadas te, o que equivale a 12% das notícias em em poucas matérias e apenas brevemente, que foi possível checar a identificação dos enquanto é frequente a menção ao fato de animais através de fotos e/ou vídeos dis- que esses animais podem valer uma fortu- ponibilizados nas matérias. Entre os er- na no mercado negro. ros de identificação mais frequentes está o clássico caso de chamar de “jararaca” A despeito da qualidade da cobertura jor- ou “jararacuçu” as mais diversas espécies nalística sobre o caso, podemos destacar (e.g., Xenodon spp., Corallus hortulanus, também um efeito positivo da notícia, que Erythrolamprus spp., etc). Outros erros foi o aumento do número de notícias so- de identificação curiosos incluem uma sa- bre apreensões e entregas voluntárias de lamanta (Epicrates crassus) identificada serpentes criadas ilegalmente. Nos quatro como sendo um filhote de sucuri (Eunec- meses desde o incidente com a naja, ao tes murinus) e uma falsa-coral (Oxyrho- menos 20 matérias sobre o assunto foram pus sp.) identificada por policiais militares publicadas no G1, o que corresponde a como sendo uma Lampropeltis triangu- praticamente o dobro de matérias encon- lum! Há também erros conceituais recor- tradas sobre isso nos mais de seis anos do rentes, como o uso indistinto dos termos período principal que avaliei. Isso mostra “peçonhento” e “venenoso”. Também o uma comoção, ao menos temporária, da termo “espécie” é frequentemente utiliza- sociedade em relação ao comércio ilegal do de maneira incorreta, muitas vezes usa- de animais, com maior empenho das au- do para se referir a um grupo taxonômico toridades em investigar o assunto e maior mais amplo, como família (e.g. “a espécie receio das pessoas em infringir a lei. Boidae...”) ou às serpentes de modo geral.

Enfim, esse caso em específico deixa evi- É importante mencionar aqui que não dente como as notícias envolvendo ser- considerei como “erro” o mero tom alar- pentes podem ter enorme repercussão e, mista ou sensacionalista presente em mui- principalmente, que elas podem ser ex- tas notícias. Isso porque achei complicado celentes oportunidades para sensibilizar classificar objetivamente ou quantificar a sociedade acerca de importantes temas este tipo de discurso, que muitas vezes relacionados aos ofídios. está presente de forma sutil. Mas arrisco dizer que este é um problema presente em, Principais erros pelo menos, metade das notícias. Sabemos que o sensacionalismo é um recurso usual Pouco mais de um quarto das notícias nos meios de comunicação, mas devemos (27%) apresentaram algum tipo de infor- considerar que há, nesse caso, uma chance mação errada ou imprecisa (exemplos na real do autor do texto estar simplesmente Tabela 1). Em 21 notícias as espécies men- cionadas foram identificadas erroneamen-

117 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões expressando o próprio medo ao relatar a tariamente por aquele tipo de informação. situação. De qualquer modo, isso implica Por isso, encorajo os colegas a tomarem que uma boa parte das notícias pode es- mais a iniciativa para que suas pesquisas tar contribuindo para propagar o medo sejam noticiadas para o grande público. infundado de serpentes e não combatê-lo. Lembro que, graças ao já comentado fas- Na prática, o alarmismo e o sensacionalis- cínio que as serpentes despertam, uma mo podem ser considerados mais graves vez que os veículos de imprensa tomem que muitos erros técnicos. Afinal, de nada conhecimento de uma dada pesquisa, são adianta a notícia trazer a identificação grandes as chances de que se interessem precisa de uma espécie e deixar claro que em divulgá-la (e o processo de publica- ela não é peçonhenta se no mesmo texto ção será certamente menos doloroso que há frases como “o animal estava prestes a aquele das revistas científicas especializa- atacá-lo” ou “havia crianças na residência das!). no momento em que a serpente foi encon- trada”. Em casos como estes, a mensagem Uma outra estratégia seria conquistarmos que fica para o leitor leigo é a de que o ani- mais espaço dentro dos próprios veículos mal de fato constituía uma ameaça aos se- de comunicação, por exemplo, ampliando res humanos. nossa participação como consultores nes- ses canais. Destaco que menos de um quar- to (23%; Fig. 1B) das notícias que analisei Mas o que podemos fazer a respeito? tem a participação de herpetólogos, seja Primeiramente, precisamos dar as caras. na identificação de espécimes, fornecendo A pouca quantidade de notícias sobre pes- outras informações técnicas ou, no caso quisas com serpentes me parece a questão das matérias sobre pesquisas, como per- mais simples de se resolver a curto prazo e sonagens principais. Porém, lembro que a a que diz respeito a nós herpetólogos mais participação de um herpetólogo por si só diretamente. A divulgação científica está não garante a qualidade das informações vivendo sua era de ouro e muitos de nós presentes na notícia. Por isso é importan- têm utilizado as mídias sociais para di- te que o especialista que contribuiu com a vulgar pesquisas próprias e de terceiros, o matéria solicite fazer a revisão da mesma que é excelente. Mas devemos nos lembrar antes de sua publicação. Quando isso não que conteúdos de canais e perfis específi- for possível, é importante ao menos con- cos têm um alcance muitas vezes limitado ferir o texto logo após ser publicado e, no a um público que possui interesse prévio caso de se constatar erros, exigir do jorna- por determinado tema. Por outro lado, a lista responsável a imediata correção. Em divulgação através de notícias veiculadas algumas matérias que avaliei há notas de em telejornais, programas de rádio e por- correção adicionadas após a publicação, o tais da internet tem um potencial maior de que leva a crer que esse tipo de advertên- atingir pessoas que não buscariam volun- cia não será em vão. 118 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Outra maneira de conquistar mais espaço a importância de nos disponibilizarmos na mídia é através da publicação de textos enquanto especialistas para a capacitação de nossa própria autoria. Vários jornais e desses agentes, que são os verdadeiros portais de notícias são abertos à publica- multiplicadores do conhecimento. Essa é ção de textos de especialistas e talvez es- uma maneira efetiva, embora indireta, de tejamos perdendo aí uma boa oportuni- contribuirmos com a qualidade das infor- dade de expressarmos opiniões, fazermos mações sobre serpentes que chegam ao denúncias ou mesmo divulgarmos nossos grande público. trabalhos. Em último caso, as seções do tipo “cartas ao leitor” podem ser espaços Mas acho que é possível fazermos ainda úteis para manifestarmos nossas opiniões mais e de maneira mais direta. Uma possí- ou mesmo corrigir equívocos detectados vel estratégia educativa, por exemplo, se- nas matérias principais. ria elaborarmos uma espécie de “cartilha de boas práticas” a ser distribuída a jorna- Quanto a assegurar a qualidade das no- listas e às redações dos principais portais tícias sobre serpentes, a princípio pode de notícias, abordando questões a serem parecer algo que está além da nossa com- consideradas ao falar sobre serpentes, petência. Mas, se concordarmos que no- como alguns conceitos importantes, ex- tícias sensacionalistas ou que contenham pressões que devem ser evitadas e uma lis- informações erradas são, de algum modo, ta de referência e profissionais que podem nocivas, defendo que não apenas pode- ser contatados em caso de dúvidas. Outra mos, como devemos fazer algo a respeito. possível iniciativa é a criação de um site ou Começo citando iniciativas que já estão perfil em redes sociais para divulgar as no- sendo feitas e que devem ser mantidas, tícias sobre serpentes. O mesmo site pode- quando não ampliadas, a exemplo dos ria identificar e alertar sobre aquelas com cursos de biologia, manejo e identificação conteúdo equivocado, a exemplo dos sites de serpentes ministrados para agentes de de denúncia de fake news. Mais do que segurança pública. Quase metade das no- simples denúncia, seria uma maneira de tícias avaliadas (46%; Fig. 1B) mencionam usar as informações erradas como opor- policiais, bombeiros ou guardas munici- tunidade de educação ambiental. Entre- pais envolvidos nas ocorrências de captu- tanto, tendo a acreditar que essas iniciati- ra de animais ou em matérias sobre aci- vas terão mais sucesso se partirem não de dentes ofídicos. Por estarem na linha de ações individuais, mas sim de iniciativas frente dessas ocorrências, são eles os por- coletivas, especialmente com a chancela ta-vozes do conhecimento científico em de instituições como ONGs, institutos, so- grande parte das notícias. No entanto, não ciedades, grupos de especialistas, etc. raramente são eles também os responsá- veis pelas informações erradas ou impre- cisas comentadas anteriormente. Por isso 119 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Considerações finais Agradecimentos

Talvez as principais perguntas que deve- A Henrique C. Costa e Eliana F. Oliveira mos nos fazer sejam diferentes das que pelas sugestões em versões preliminares tentei abordar até aqui. Por exemplo, em do manuscrito. A Júlio C. Moura Leite, que medida a má qualidade das notícias Luciana B. Nascimento e Teresa Ávila Pi- sobre serpentes pode implicar em um des- res pela revisão e valiosos comentários. serviço à sociedade? Qual o impacto dessas notícias na percepção e, principalmente, Referências na atitude das pessoas em relação às ser- pentes? Infelizmente, não vamos encon- Bernarde P.S. 2014. Serpentes peçonhen- trar respostas para essas questões em uma tas e acidentes ofídicos no Brasil. Anolis análise preliminar como a que apresento. Books Editora, São Paulo. Para isso precisamos de estudos aprofun- dados, de pesquisas especificamente con- Nogueira C.C.,Argôlo A.J., Arzamendia V., cebidas para respondê-las. Azevedo J.A., Barbo F.E., Bérnils R.S., … Martins M. 2019. Atlas of Brazilian snakes: É verdade que historicamente não temos verified point-locality maps to mitigate dado muita importância para a quanti- the Wallacean shortfall in a megadiverse dade ou mesmo o teor das notícias sobre fauna. South American Journal of serpentes, que, honestamente, às vezes até Herpetology 14(sp1):1–274. nos divertem com seus absurdos. Mas cer- tas características dos meios de comunica- ção atuais me fazem considerar que esta- Editores: Julio C. Moura Leite, Luciana mos subestimando o impacto negativo que B. Nascimento e Teresa C. S. Ávila-Pires notícias de má qualidade têm sobre nossas serpentes. A enorme quantidade de notí- cias, a facilidade com que estas chegam até as pessoas e o imediatismo de muitos jornalistas e leitores podem estar preju- dicando severamente nossos esforços de educação ambiental e ainda nem nos de- mos conta disso.

120 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Tabela 1:

Exemplos de frases com conteúdo errôneo ou sensacionalista encontradas nas notícias sobre serpentes publicadas no site G1.

Informações errôneas Link para a página com a notícia

No início da semana, uma cobra e uma https://g1.globo.com/sc/santa- serpente foram resgatadas pela equipe... -catarina/ noticia/2020/05/02/ animais-silvestres- sao-vistos-em-a- reas-urbanas-no-norte-de-sc-durante- -a-quarentena.ghtml

Além disso, a espécie possui um siste- https://g1.globo.com/rr/ro- ma de espionagem chamado de fosseta raima/natureza/ amazonia/ loreal... noticia/2020/01/03/estudo- -aponta- que-em-roraima-cascaveis- -tem-habitos-noturnos-e-dois-vene- nos-atributos-unicos.ghtml

Ainda segundo os bombeiros, em caso https://g1.globo.com/mg/centro-o- de picada dessa espécie, é necessário este/noticia/2019/09/28/bombeiros- um socorro muito rápido, entre 20 e 30 -capturam-cobra-jararaca-durante- minutos, para evitar a morte. -combate-a-incendio-em-divinopolis. ghtml

“Ela tem a cabeça triangular e a pon- http://g1.globo.com/rs/rio-grande- ta do rabo que se afunila rapidamente. -do-sul/noticia/2015/11/crianca-de- Vimos algumas fotos e acho que se tra- -1-ano-mata-cobra-com-mordida-e- tava mesmo de uma jararaca”, arris- -escapa-ilesa-no-rs.html cou o médico.

Em nota, a Sesa informou que o esto- https://g1.globo.com/ce/ceara/noti- que de soros antibotrópico e antiofídi- cia/2019/06/25/apos-ser-picado-por- co, usados em casos de picada de co- -cobra-idoso-morre-em-hospital-de- bras venenosas, está regular. -sobral.ghtml

121 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

Frases sensacionalistas

A família chegou em casa à noite e se https://g1.globo.com/ac/acre/ deparou com essa serpente [Bothrops noticia/2019/02/20/familia-en- sp.], que é altamente letal, na cozinha contra-cobra-com-veneno-mortal- da residência. -na-cozinha-de-casa-e-bombeiros-fa- zem-resgate-no-acre.ghtml

...ela [jiboia] envolve pequenos mamí- https://g1.globo.com/distrito-federal/ feros, inclusive pequenos filhotes de noticia/jiboia-de-15-metro-aparece- cães, aves e roedores, para sufocá-los e -em-chacara-e-da-canseira-em-pm- depois comê-los. -no-df-video.ghtml

A residência [onde foi encontrada uma https://g1.globo.com/sc/santa-catari- serpente] fica a poucos metros de uma na/verao/2020/noticia/2020/02/28/ escola infantil... jararaca-e-flagrada-devorando-rato- -antes-de-ser-capturada-em-sc-fotos. ghtml

Mas como a jiboia de Águas Claras está https://g1.globo.com/df/distrito-fe- há dez dias sem comer, os moradores deral/noticia/2018/10/11/cobra-que- do prédio dizem estar com medo. -aparece-e-some-assusta-moradores- -de-predio-em-aguas-claras-no-df. ghtml

“Porém, aconteceu que ela [sucuri] https://g1.globo.com/sp/ribeirao- acabou me picando. Mas está tudo -preto-franca/noticia/2019/12/23/ bem. Fui socorrida, fui ao hospital, to- mulher-captura-sucuri-com-2-m-du- mei soro, fiz eletro, vários tipos de exa- rante-passeio-com-a-familia-em-par- me de sangue. Graças a Deus, está tudo que-de-barretos-veja-video.ghtml bem.”

122 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Ensaios & Opiniões

A

B

C

Figura 1. Dados quantitativos das notícias sobre serpentes publicadas no portal G1 no período de janeiro de 2015 a abril de 2020, de acordo com (A) principais assuntos abordados, (B) tipos de pro- fissionais mencionados e (C) espécies de serpentes mencionadas.

123 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Resenhas Resenhas David Attenborough: A Life on Our Planet. Produzido por Silverback Films e WWF.

Quezia Ramalho Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução, Universida- de do Estado do Rio de Janeiro, 20550-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]

Fonte da imagem: https://www. imdb.com/title/tt11989890/me- diaviewer/rm162178817) 124 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Resenhas

avid Attenborough: A Life on neste ano, chegou a 1 milhão de segui- Our Planet (2020) é um docu- dores em menos de 5 horas depois da Dmentário bibliográfico, original primeira publicação. Durante sua vida Netflix, estrelado por David Attenbo- visitou todos os continentes do globo e rough e dirigido por Alastair Fothergill, estreou em diversos programas sobre Jonnie Hughes e Keith Scholey. história natural, como: Life on Earth (1979), The Blue Planet (2001), Planet A Biologia da Conservação, termo Earth (2006), Blue Planet II (2017) e cunhado pela primeira vez em 1978, Our Planet (2019). Sir David Attenbo- busca, através da sua interdisciplina- rough é interessado pela natureza des- ridade, proteger as espécies, os seus de a infância e relembra no filme que habitats e os ecossistemas das inter- era uma época entusiasmante para vi- ferências antrópicas, que aceleram as ver, porque onde quer que ele fosse, ha- taxas de extinção e, consequentemen- via vida selvagem a ser descoberta. te, a perda de serviços ecossistêmicos. Neste filme, David Attenborough enfa- Neste filme, Attenborough começa fa- tiza a importância dessa ciência para a lando sobre Chernobyl, um evento iso- conservação da biodiversidade e para lado de acidente nuclear decorrente a existência da nossa espécie (Homo do mau planejamento e erro humano, sapiens). Ele resgata o conceito de bio- comparando-o com o declínio da bio- filia, estabelecido pelo ecólogo e con- diversidade, também resultado do mau servacionista Edward Wilson, de que planejamento e erro humano. Sabemos somos ligados à natureza de forma ina- que errar é humano, mas somos convi- ta. Assim, gostar de outros organismos dados a ir além dos erros cometidos nas vivos é um comportamento orgânico e últimas décadas com a marcante frase não um comportamento aprendido. O de abertura: “Este filme é meu testemu- ecólogo Fernando Fernandez ressal- nho e minha visão do futuro. A história ta esse conceito muito bem em seu li- de como viemos a cometer nosso maior vro “Os mastodontes de barriga cheia erro e como ainda podemos corrigi-lo e outras histórias” quando diz que nós se agirmos agora”. gostamos de animais porque somos um. Este é o sentimento despertado em O filme é dividido em partes de acordo quem assiste a “David Attenborough: A com o ano. Começa em 1937, com uma Life on Our Planet”. população mundial de 2,3 bilhões, com 280 partes por milhão de carbono na Sir David Attenborough é um influente atmosfera e 66% de vida selvagem re- naturalista britânico. Tão influente que, manescente. Termina em 2020, com a quando criou uma conta no Instagram população mundial de 7,8 bilhões, com 415 partes por milhão de carbono na at- 125 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Resenhas

mosfera e apenas 35% de vida selvagem corais e derrubamos 15 bilhões de árvo- remanescente. Já sabemos que, con- res por ano. Attenborough testemunha forme a população mundial cresce, a o declínio global durante a uma única emissão de gases de efeito estufa cresce vida. Depois disso, lhe restou previsões também e, por causa dessa e de outras científicas como uma forma de alertar a atividades antrópicas, a vida selvagem nossa geração e as futuras. remanescente diminui, mas é sensi- velmente impactante observar isto no No filme, são demonstradas perspec- transcorrer do filme. Depois de cinco tivas futuras de 2030 a 2100. Déca- eventos de extinção em massa, somos da após década até a produção de ali- nós que estamos ocasionando a sexta mentos colapsar no mundo inteiro e a extinção, entretanto, em uma escala de temperatura global aumentar em 4ºC. tempo muito menor. Não foi necessário Qualquer cientista já sabe que as pers- um milhão de anos para tornar o pla- pectivas não são nada boas, mas o que neta insustentável, fizemos isso em me- nem todo cientista percebeu ainda é nos de 200 anos. que nos resta sermos a voz e a mudan- ça. Attenborough nos faz elucubrar Em 1968, na missão Apollo 8, foi a pri- sobre a necessidade de nos tornarmos meira vez que o ser humano viu o Pla- parte da natureza novamente e, mais neta Terra. Segundo David Attenbo- ainda, sobre a necessidade de divulgar rough, essa foto da Terra vista da Lua o nosso conhecimento para não come- mudou a percepção da humanidade. O termos os mesmos erros do passado. planeta deixou de ser infinito e cobrou Um dos muitos pontos fortes no filme ser conservado. Como ressaltado no fil- é que, ao final, somos convidados a vol- me, tudo o que não podemos fazer para tar à Chernobyl para percebermos que sempre pode ser considerado insusten- a natureza é resiliente e independe de tável, como por exemplo caçar animais nós. até serem extintos ou transformaros seus habitats em grandes monoculturas Tela preta e um último questionamen- de dendezeiros. O consumo absurdo de to: “Este filme é o testemunho do Da- óleo de palma (ou, azeite de dendê) não vid Attenborough. Quem mais precisa é sustentável. O consumo desenfreado vê-lo?”. Sem hesitar, posso responder: de carne não é sustentável, visto que os TODOS. animais criados para o nosso consumo correspondem a 60% do peso total de mamíferos do planeta. Reduzimos 40% Editor: Délio Baêta do gelo do Ártico em 40 anos, causa- mos o branqueamento dos recifes de

126 Herpetologia Brasileira vol. 9 no. 3 - Resenhas

Chironius multiventris Reserva Adolpho Ducke, Manaus - AM @ Rodrigo Frazão Quarta colocada do concurso “Minha foto na capa da HB” realizado nas redes da HB

127 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Micrurus frontalis (Serpentes: Elapidae): ingestion of a large prey Silvia Regina Travaglia-Cardoso1*, Giuseppe Puorto1 1 Museu Biológico, Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo, SP, Brazil. * Corresponding author: [email protected]

he South American snake spe- 30 mm; mass, 16 g) was collected on 19 cies Micrurus frontalis has a May 2014 in Joanópolis (22°55′51″ S, Twide geographic range. In Brazil 46°16′35″ W), state of São Paulo, Bra- it is widely distributed throughout the zil. After capture, the snake regurgitated Atlantic Forest and Cerrado and asso- one poorly digested specimen of Am- ciated environments (Nogueira et al., phisbaena dubia (female; SVL, 195 mm; 2019) and can be found both in forests TL, 17 mm; total length [ToL], 212 mm; and disturbed areas (Silva Jr. & Sites mass, 14.2 g immediately after regurgita- Jr., 1999). Like most Micrurus species, tion) (Fig. 1). The prey had been ingest- M. frontalis inhabits the uppermost ed headfirst, as often reported in feed- layer of soil and litter, and is mainly ing Micrurus, although in M. corallinus, crepuscular, despite some records of 41% of ingestions of amphisbaenids are activity during the day (Almeida et al., tail first, probably due to underground 2016). The species feeds on snakes, leg- feeding (Marques & Sazima, 1997). The less lizards, and mostly amphisbaenids prey / predator mass ratio was 0.89 and (see references in Almeida et al., 2016), prey ToL / predator SVL ratio was 0.43. with occasional records of ingestion of At the time of ingestion, the A. dubia other lizards (Maffei et al., 2009). In possibly weighed more than after being this note, we report a case of predation regurgitated, which would increase prey of a large (heavy) specimen of the fos- / predator mass ratio. sorial species Amphisbaena dubia by a M. frontalis. To confirm the identification of the prey, we used a matrix of meristic characters A male Micrurus frontalis (snout-vent commonly used in the identification of length [SVL], 490 mm; tail length [TL], South American Amphisbaena (Van-

128 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

zolini, 2002): the number of preanal gurgitated semi-digested or analyzed pores, body annuli, tail annuli, and after dissection of the predator in sci- number of dorsal and ventral segments entific collections. to a midbody annulus. The specimen of Amphisbaena dubia was deposited in The ingestion reported here is relevant the Herpetological Collection of the In- due to the high prey / predator mass stituto Butantan (IBSPCR 1127) and the ratio (0.89). The literature reports M. frontalis has been kept alive for ven- the prey / predator mass ratio of 0.33 om production at the same institution. for M. ancoralis (Cisneros-Heredia, 2005), and 0.52 for M. ibiboboca (ra- Amphisbaenids are frequent prey in tio calculated from the prey and preda- the diet of Micrurus; however, due to tor weight information reported by the the preservation condition of the prey authors) (Barbosa et al., 2019). For M. it is not always possible to identify the frontalis the literature reports a prey / species ingested (Sazima & Abe, 1991; predator mass ratio of 0.32 (Marques Marques & Sazima, 1997; Silva Jr. & et al., 2017) and 0.33 (ratio calculat- Aird, 2001; Marques, 2002; Almeida et ed from the prey and predator weight al., 2016; Rodríguez et al., 2018). The information reported by the authors) ingestion of A. dubia by Micrurus has (Maffei et al., 2009), while prey / pred- been reported for M. altirostris (Agu- ator ratios obtained from 64 feedings of iar, 2008), M. corallinus (Marques & live prey to a captive specimen ranged Sazima, 1997), M. decoratus (Terribile from 0.03 to 0.56 (SRTC, unpublished & Silva Jr., 2005), M. lemniscatus (Saz- data). ima & Abe, 1991), as well as M. fronta- lis (Sazima & Abe, 1991). The ingestion of large prey requires more time for ingestion and decreases Micrurus snakes can ingest large prey the defense ability after ingestion, in- (Almeida et al., 2016), but generally creasing the vulnerability and the risk ingest small and medium sized prey of predation for the predator (Banci et (Greene, 1997; Marques & Sazima, 1997; al., 2017). Moreover, in ophiophagous Aguiar, 2008). For Micrurus, most in- snakes the attempted ingestion of very formation available show the prey ToL long or thick-bodied prey can lead to / predator SVL ratio (Marques, 1992; regurgitation or even death by asphyxi- Aguiar, 2008; Ávila et al., 2010; Souza ation, as reported for the genus Micru- et al., 2011; Arévalo-Páez, et al., 2015; rus (Cavalcanti et al., 2012; Marques et Banci et al., 2017). The prey / predator al., 2017). mass ratio is rarely reported, probably due to the difficulty in obtaining the weight of the prey consumed, often re- 129 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

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130 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

possible mimicry. Amphibia-Reptilia Silva N.J. Jr., Aird S.D. 2001. Prey spec- 23:228–232. ificity, comparative lethality and com- positional differences of coral snake Marques O.A.V., Sazima I. 1997. Diet venoms. Comparative Biochemistry and feeding behavior of the coral snake, and Physiology 128:425–456. Micrurus corallinus, from the Atlantic Forest of Brazil. Herpetological Natu- Silva N.J. Jr., Pires M.G., Feitosa D.T. ral History 5:88–93. 2016. Diversidade das cobras-corais do Brasil. Pp. 79–167, n: Silva N.J. Jr. Marques O.A.V., Coeti R.Z., Braga P., (Org), As cobras-corais do Brasil: bio- Sazima I. 2017. A rotten choice: feed- logia, taxonomia, venenos e envenena- ing attempt by a coral snake (Micrurus mentos. Ed. PUC, Goiás. frontalis) on a dead pitviper (Bothrops jararaca) that had swallowed a bulky Souza S.M., Junqueira A.B., Jakovac rodent. Herpetology Notes 10:137–139. A.C.C., Assunção P.A. Correia J.A. 2011. Feeding behavior and ophiophagous Nogueira C.C., Argôlo A.J.S., Arzamen- habits of two poorly known amazoni- dia V., Azevedo J.A., Barbo F.E., Bér- an coral snakes, Micrurus albicinctus nils R.S., … Martins M. 2019. Atlas of Amaral 1926 and Micrurus paraensis Brazilian Snakes: Verified Point-Lo- Cunha and Nascimento 1973 (Squa- cality Maps to Mitigate the Wallacean mata, Elapidae). Herpetology Notes Shortfall in a Megadiverse Snake Fau- 4:369–372. na. South American Journal of Herpe- tology, 14 (Special Issue,1):1–274. Terribile L.C., Silva N.J. Jr. 2005. Mi- crurus decoratus (Decorated Coral- Rodríguez M.E., Arzamendia V., Bellini snake). Diet. Herpetological Review G.P., Giraudo A.R. 2018. Natural histo- 36:457. ry of the threatened coral snake Micru- rus altirostris (Serpentes: Elapidae) in Vanzolini P.E. 2002. An aid to the iden- Argentina. Revista Mexicana de Biodi- tification of the South American species versidad 89:1255–1262. of Amphisbaena (Squamata, Amphis- baenidae). Papeis Avulsos de Zoologia Sazima I, Abe A.S. 1991. Habits of five 42:351–362. Brazilian snakes with coral-snake pat- tern, including a summary of defensive tactics. Studies on Neotropical Fauna Editor: Henrique C. Costa and Environment 26:159–164.

Silva N.J. Jr., Sites J,W. Jr. 1999. Revi- sion of the Micrurus frontalis complex (Serpentes: Elapidae). Herpetological Monographs 13:142–194. 131 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Figura 1. Amphisbaena dubia (IBSPCR 1127). Poorly digested prey regurgitated by M. frontalis.

132 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Girino Phasmahyla exilis Santa Teresa - ES @ Alexander T. Mônico

133 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Rediscovery of the snake Siphlophis pulcher (Raddi, 1820) (Serpentes: Dipsadidae: Pseudobo- ini) in the state of Paraná, southern Brazil

Thaís Guedes1,2,*, Glauco Oliveira3

1. Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias, Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde, Praça Duque de Caxias s/n, Morro do Alecrim, 65604-380, Caxias, MA, Brazil. 2. Gothenburg Global Biodiversity Center, University of Gothenburg, Department of Biological and Environmental Sciences, Box 461, SE-405 30, Göteborg, Sweden. 3. Rua Rio Tibagi, Guatupê, 83065-297, São José dos Pinhais, PR, Brazil.

*Corresponding author: [email protected]

he Neotropical dipsadid genus The snake Siphlophis pulcher was de- Siphlophis Fitzinger, 1843 com- scribed from the vicinity of Rio de Ja- Tprises seven species distributed neiro by Raddi (1820). Currently, the throughout South and Central Ameri- species is recognized as endemic to ca (Sheehy III et al., 2014). Except for the Brazilian Atlantic Forest, with two the recently described species S. ayau- disjunct populations recognized: one ma Sheehy III, Yánez-Muñoz, Valen- in the south of the state of Bahia in cia & Smith, 2014 whose distribution northeastern Brazil (between 14.669°S, is restricted to the Ecuadorian Andes 39.1908°W and 15.4667°S, 39.65°W) (Sheehy III et al., 2014), the other six and the other occurring from the south species [S. cervinus (Laurenti, 1768), of the state of Rio de Janeiro to Santa S. compressus (Daudin, 1803), S. leu- Catarina (between 22.9°S, 43.1883°W cocephalus (Günther, 1863), S. longi- and 27.6°S, 48.4667°W) (all coordi- caudatus (Andersson, 1901), S. pulcher nates are provided in SIRGAS2000 (Raddi, 1820), and S. worontzowi (Pra- Datum). Both populations are mainly do, 1940)] show cis-Andean distribu- from low elevation areas but there are tion and are present in Brazil (Guedes records ranging up to 987 m above sea et al., 2018; Nogueira et al., 2019). All level in Parque Estadual da Serra do species prefer humid forested habi- Mar in the state of São Paulo (Hart- tats, are semiarboreal, nocturnal and mann et al., 2009). The most recent feed mainly on lizards (Prudente et al., summary of the distribution of Bra- 1998; Gaiarsa et al., 2013; Marques et zilian snakes contained 177 records of al., 2019). Siphlophis pulcher representing 109 134 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

unique localities: six are in the state of Forest, characterized by ombrophilous Bahia, northeastern Brazil and the oth- dense forest (Fig. 1G–H). This is an un- er 103 assigned to the southern popu- protected area, 5.92 km distant from lation (see table S2 in Nogueira et al., the Parque Estadual Pico do Marumbi 2019). Although most data for the spe- (25.4253°S, 48.91699°W) and 7.86 km cies is associated to the south of Bra- from the Parque Estadual da Graciosa zil, there is a unique record for the spe- (25.3844°S, 48.9244°W). cies in the state of Paraná. This record is based in two specimens: IBSP 5587 Although the specimen was not collect- (female, 820 mm SVL, 167 mm TL) ed, the photos plus the unique external and IBSP 5649 (male, 720 mm SVL, morphology and pattern of coloration 165 TL), both from the municipality of make the identification of the speci- Morretes (state of Paraná), reported by men as Siphlophis pulcher clear. The Amaral (1935). These specimens were species exhibits red middorsal body probably lost in the Instituto Butan- blotches covering 4–7 scale rows and tan fire (see Franco, 2012). There are agrees with the known distribution of no records for the species occurring in S. pulcher in Brazil and also in the state the state of Paraná for the last 85 years of Paraná (Nogueira et al., 2019). The available in the literature and/or scien- lack of any additional record of the spe- tific collections. Here, we present the cies in the state of Paraná since 1935 third known record of Siphlophis pul- (Amaral, 1935) raises the relevance of cher in the state of Paraná, by photo- this record. It is important to ensure graphs of a living specimen. this species is not extinct in nature in the state of Paraná, and this report can The specimen of Siphlophis pulcher contribute to the assessment of its con- was found by GO on 25 April 2020 at servation status. Currently, Siphlophis 22:37 in a private property in the Co- pulcher is categorized as least concern lonia Marques region, municipality of in the IUCN and Brazilian red lists Morretes, state of Paraná (25.4238°S, (IUCN, 2020; ICMBio, 2018). Howev- 48.8595°W; 23 m of elevation) (Fig. er, it could be of elevated conservation 1A-B). The snake (about 500 mm of to- concern in the revision of the state red- tal length) was found moving actively in list (IUCN, 2019), although the most the vegetation ca. 40 cm above ground recent Red List of threatened fauna level (Fig. 1C–F). It was observed during for the state of Paraná did not men- 20 minutes and several photos were tion this species (Bérnils et al., 2004). taken in the same location were the in- Moreover, the species seems to be asso- dividual was recorded. The locality is a ciated to well-preserved forested areas well-preserved remnant of the Atlantic within Atlantic Forest, which raises the importance and urgency to protect and 135 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica maintain the forest remnants of the Morato S.A.A. 1998. Alimentação das threatened Atlantic forest of Brazil. espécies de Siphlophis Fitzinger (Ser- pentes, Colubridae, Xenodontinae, Pseudoboini). Revista Brasileira de Acknowledgements Zoologia 15:375–383.

The information provided in this study Franco F.L. 2012. A coleção herpe- is based only in the approximate mea- tológica do Instituto Butantan: da sua surements and photographs taken from origem ao incêndio ocorrido em 15 de the snake in nature. We did not handle, maio de 2010. Herpetologia Brasileira collect or euthanize any specimen re- 1:22–31. ported here. We are grateful to Karla M. Campião for the careful revision of Gaiarsa M., Alencar L.R.V., Martins the first draft and for the valuable sug- M. 2013. Natural history of Pseudobo- gestions that improved the quality of ine snakes. Papéis Avulsos de Zoologia our manuscript. TBG thanks to Univer- 53:261–283. sidade Estadual do Maranhão for the Senior Researcher fellowship. Guedes T. B., Sawaya R.J., Zizka A., Laffan S., Faurby S., Pyron R.A., … An- tonelli A. 2018. Patterns, biases and References prospects in the distribution and diver- sity of Neotropical snakes. Global Ecol- Amaral A. 1935. Contribuição ao con- ogy and Biogeography 27:14–21. hecimento dos ofídios do Brasil. VII Novos generos e especies de Colubrid- Hartmann A.A., Hartmann M.T., Mar- eos opisthoglyphos. Memórias do In- tins M. 2009. Ecologia e história natu- stituto Butantan, 9:203–207. ral de uma taxocenose de serpentes no Núcleo Santa Virgínia do Parque Es- Bérnils R.S., Moura-Leite J.C., Mor- tadual da serra do Mar, no sudeste do ato S. 2004. Répteis. Pp 497–535, in: Brasil. Biota Neotropica 9:173–184. Mikich S.B., Bérnils R.S. (Orgs.). Livro vermelho da fauna ameaçada no esta- ICMBIO. 2018. Livro Vermelho da Fau- do do Paraná. Instituto Ambiental do na Brasileira Ameaçada de Extinção: Paraná, Curitiba. Volume IV - Répteis. 1 ed. Brasília, In- stituto Chico Mendes de Conservação Development Team (2020) QGIS Geo- da Biodiversidade. graphic Information System. Open Source Geospatial Foundation Project. IUCN. 2019. Guidelines for using the IUCN Red List Categories and Criteria. Prudente A.L.C., Moura-Leite J.C., Version 14. Prepared by Standards and

136 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Petitions Committee. 28 July 2020. Sheehy III C.M., Yánez-Muñoz M.H., http://cmsdocs.s3.amazonaws.com/ Valencia J.H., Smith E.N. 2014. A new RedListGuidelines.pdf species of Siphlophis (Serpentes: Dip- sadidae: Xenodontinae) from the East- IUCN. 2020. The IUCN red list of ern Andean Slopes of Ecuador. South Threatened species. Siphlophis pul- American Journal of Herpetology cher. 29 July 2020. https://www. 9:30–45. iucnredlist.org/search?query=siphlo- phis%20pulcher&searchType=species

Marques O.A.V., Eterovic A., Sazima Editor: Henrique C. Costa I. 2019. Serpentes da Mata Atlântica. Guia ilustrado para as florestas costei- ras do Brasil. Ponto A, Cotia.

Morrone J.J. 2014. Biogeographical re- gionalisation of the Neotropical region. Zootaxa, 3782: 1–110.

Nogueira C.C., Argôlo A.J.S., Arzamen- dia V., Azevedo J.A., Barbo F.E., Bér- nils R.S., … Martins M. 2019. Atlas of Brazilian Snakes: Verified Point-Lo- cality Maps to Mitigate the Wallacean Shortfall in a Megadiverse Snake Fau- na. South American Journal of Herpe- tology, 14 (Special Issue,1):1–274.

Raddi G. 1820. Di alcune specie nuovi di rettili e piante brasiliana. Memorie di Matematica e di Fisica dela Soci- età Italiana dele Scienze residente in Modena 18:313–343.

137 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Figure 1. Rediscovery of Siphlophis pulcher in the state of Paraná, southern Bra- zil: (A) Geographic distribution of S. pulcher showing the two major populations along the Brazilian Atlantic Forest; (B) Geographic distribution of S. pulcher in the state of Paraná showing the new record in Colônia Marques region, municipality of Morretes; (C-D) S. pulcher found active during the night exhibiting its pattern of coloration of red middorsal body blotches occupying 4–7 scale rows; (E) Dorsal view of head; (F) Lateral view of head; (G–H) View of the location where S. pulcher was observed in the Atlantic Forest, characterized by ombrophilous dense forest. Map was drawn using QGis v. 3.4 and the limits of the Parana Dominion according to Morrone (2014). Literature records source is Nogueira et al. (2019). Photos by GO.

138 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Fritziana tonimi Santa Teresa - ES @ Alexander T. Mônico

139 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Podocnemis unifilis Troschel, 1848 (Testudines, Podocnemididae) – distribution extension and new state record in Brazil Ulisses Caramaschi Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Departamento de Vertebrados, Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. E-mail: [email protected]

he “yellow spotted Amazon riv- The Serra do Amolar region (Fig. 2) is er turtle” or “tracajá” (for oth- located on the border between the states Ter common names, see Vogt, of Mato Grosso and Mato Grosso do Sul 2008), Podocnemis unifilis Troschel, in Brazil, and Bolivia. Although locat- 1848, has an extensive distribution in ed in the general area of the Pantanal the tropical flood plains of the Amazon Matogrossense, the region is unusual and Orinoco rivers in northern South because it does not directly undergo America, including Bolivia, northern the effects of the water cycles of flood- Brazil, eastern Colombia, eastern Ec- ing and drying, but remains flooded all uador, French Guiana, Guyana, north- year. The region is also unique by hav- eastern Peru, Suriname, and western ing several mountain formations, lo- Venezuela (Vogt, 2008; Rhodin et al., cally called “morrarias” (Novos Doura- 2017). In Brazil, the species was reg- dos, Santa Teresa, Castelo, and others), istered in the states of Acre, Amapá, which regulate the local temperature Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Mara- and humidity, benefiting the formation nhão, Pará, Rondônia, Roraima, and of forests, which serve as shelters for an- Tocantins (Rhodin et al., 2017) (Fig. 1). imals escaping the Pantanal floodings. A recent register for Northeastern Bra- The region acts as a corridor connect- zil, in Recife, state of Pernambuco, was ing the Amazon and Prata river basins. admittedly an artificial introduction The main rivers in the region, Paraguay (Souza et al., 2019). During the First and its tributary Taquari river, flow in Scientific Expedition to Serra do Amo- a lowland area and the mountains help lar, sponsored by the Serra do Amolar in to dam the water, forming two bays Institute, one specimen of Podocnemis (Infinita and Burro bays) and three unifilis was obtained during the fish large lakes (Mandioré, Gaiva, and the collection efforts. huge Uberaba).

140 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

On 09 February 2019, a specimen of clear, and black water, lakes, meander- Podocnemis unifilis (Fig. 3) was col- ing lakes, swamps, pools, and lagoons. lected in an unnamed small black water Young specimens are more common in river (18°06′56″S, 57°22′57″W, Datum small lagoons and bays, whereas adults WGS 84; elevation ca. 90 m), tributary prefer large water bodies. The collected of the João river, on the right margin specimen conforms to this information. of the Paraguay river, in the region of the Serra do Amolar, municipality of This specimen extends the geographi- Corumbá, state of Mato Grosso do Sul, cal distribution of the species approxi- Brazil (Fig. 1). According to local in- mately 850 km southeast of the current habitants, the level of the main river, known range in Central Bolivia and tributaries, and inundated areas was about 930 km southwest of the current exceptionally low for the season. The known range in the northwestern part specimen was accidentally obtained of Goiás, Brazil. This represents the with a fishing net exploring the sub- first report for the state of Mato Grosso merged roots of aquatic plants (Eichor- do Sul, Brazil. nia crassipes, Pontederiaceae) during Since only one specimen was found fish collection efforts. The specimen is and since it is so far outside the known housed in the herpetological collection native range, it is possible that it is of the Museu Nacional, Rio de Janeiro, not a natural native population. How- Brazil (MNRJ 27117; Fig. 4). Measure- ever, the Serra do Amolar region is a ments (mm): carapace length, 135.0; pristine and preserved area, with very carapace width, 109.5; carapace height, low human population density. Local 60.5; plastron length, 113.0; plastron inhabitants do not maintain captive width, 82.5; head length, 31.0; head chelonians. There is suitable aquatic width, 24.5; tail length, 26.0. habitat connecting the current known The unsexed specimen is a juvenile. distribution of the species and the re- According to Vogt (2008), males are gion of the new record. More trapping smaller than females; carapace length should be considered in the region and of male specimens from Guaporé river in the intermediate distributional gap (State of Amazonas, Brazil) measured to determine whether there is actually 98–369 mm (n = 747) and of the fe- a natural population in the area. Fur- males measured 124–465 mm (n = 88). thermore, the large distributional gaps The smallest reproductive female, in in northern South America and in cen- Brazil, measured 313 mm in carapace tral Brazil (southern areas of Amazo- length. Moreover, Vogt (2008) stated nas and Pará, and in Mato Grosso) may that Podocnemis unifilis is found in sev- contain data deficiencies that could be eral habitats, including rivers of white, rectified through new collection efforts. 141 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Acknowledgments water Turtle Specialist Group. Chelo- nian Research Monographs. Available: To the Serra do Amolar Institute, for the https://doi.org/10.3854/crm.7.check- opportunity and facilities for the trip to list.atlas.v8.2017. the Serra do Amolar region, and to the amazing companionship of the First Souza D.T.M.T.O., Correia J.M.S., Ra- Scientific Expedition to Serra do Amo- meh-de-Albuquerque L.C., Santos E.M. lar participants. To Paulo A. Buckup 2019. Record of exotic species Yel- (MNRJ), Fernando Carvalho (UFMS), low-spotted river turtle (Podocnemis and Gustavo C. Bortolo (UNICAMP), unifilis Podocnemididae) in a Conser- for collecting the specimen analysed. vation Unit in Northeastern Brazil. To Anders Rhodin, for kindly provid- Herpetology Notes 12:87–89. ing the up-to-date map of distribution of Podocnemis unifilis and for the revi- Vogt R.C. 2008. Tartarugas da sion of the manuscript. To Glauco Ol- Amazônia. Gráfica Biblos, Lima. iveira, for the photos of the live spec- imen and landscapes. To Roseanne McGuinness (Portarlington, Ireland), for kindly revising the manuscript. Col- Editor: Henrique C. Costa lecting permit issued by Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi- dade – ICMBio (no. 17580-1).

References

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142 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Figura 1. General distribution map (red area and yellow dots for native re- cords, red dot for introduced record) and new record (red star) of Podocnemis unifilis. Map based on Rhodin et al. (Turtle Taxonomy Working Group, in pre- paration).

143 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

A

B

Figura 2. General view of the Serra do Amolar region (A) and detail of the main mountain range (B). Photos: Glauco Oliveira.

144 HB vol. 9 no. 3 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Figura 3. Podocnemis unifilis (MNRJ 27117) in life. Photo: Glauco Oliveira.

Figura 3. Podocnemis unifilis (MNRJ 27117): (A) Dorsal view; (B) Ventral view; (C) Dorsal view of head; (D) La- teral view of head. See text for measurements.

A B

C D

145 Instruções para Autores

Para informações sob preparacão e submissão de ma- nuscritos entre em contato com os editores de seção.

Errata: Herpetologia Brasileira 9(2)

Página 35:

Substitua os Agradecimentos por:

Agradecimentos

Agradecemos à Boa & Python Specialist Group IUCN/SSC, ao projeto Escalas da Biodiversidade proces- so FAPESP 2016/50127-5, ao Instituto Butantan, a Hussam Zaher e Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, RAN-ICMBio, a Fundação Florestal e Parque Estadual Intervales. Gratidão à Associação de Moradores do Bairro Guapiruvú e à iniciativa Amigos da Mata, em especial a Vinícius Teixeira e An- dré Bezerra. Agradecemos também aos editores da Herpetologia Brasileira pelas sugestões no texto.

Página 215:

Onde se lê (22/11/1954 – 10/05/2019) leia (22/10/1954 – 10/05/2019).

Onde se lê ‘… nasceu, em 22 de novembro de 1954,…’ leia ‘… nasceu, em 22 de outubro de 1954,…’.

Página 223:

Substitua a legenda da foto 13 por: Foto 13. Amigos prestigiando Aníbal durante o Simpósio Internacional de Cobras-Corais. Goiânia, GO (2016).

Página 224:

Substitua a legenda da foto 14 por: Foto 14. Participantes do Simpósio Internacional de Co- bras-Corais. Goiânia, GO (2016)

Página 225:

Substitua a legenda da foto 15 por: Foto 15. Aníbal palestrando durante o Simpósio Internacio- nal de Cobras-Corais. Goiânia, GO (2016).

Página 225:

Onde se lê: ‘… museu de arte projetada pelo Niemayer, da cidade de Niterói, …’ leia ‘… museu de arte projetada pelo Niemeyer, da cidade de Niterói, …’.

146 Proceratophrys cristiceps Chapada do Araripe, Crato, CE. @Charles de Souza.

147