Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco Dos Santos: Identidade E Famílias Negras Em Movimento

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Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco Dos Santos: Identidade E Famílias Negras Em Movimento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DANDARA DOS SANTOS DAMAS RIBEIRO COMUNIDADE QUILOMBOLA MANOEL CIRIACO DOS SANTOS: IDENTIDADE E FAMÍLIAS NEGRAS EM MOVIMENTO CURITIBA 2015 DANDARA DOS SANTOS DAMAS RIBEIRO COMUNIDADE QUILOMBOLA MANOEL CIRIACO DOS SANTOS: IDENTIDADE E FAMÍLIAS NEGRAS EM MOVIMENTO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Antropologia Social. Orientadora: Prof. Dra. Liliana de Mendonça Porto CURITIBA 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA RUA GENERAL CARNEIRO, 460 / 6o ANDAR CEP 80060-150 - CURITIBA-PR Telefone (41) 3360-5272 uNivgRSiCAoe feoeRAt d o Pa ra n a PARECER DA BANCA EXAMINADORA Os membros da Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Paraná (PPGA) para realizar a arguição da Dissertação de Mestrado de Dandara dos Santos Damas "Ribeiro, intitulada: “COMUNIDADE QUILOMBOLA MANOEL CIRIACO DOS SANTOS: IDENTIDADE E FAMÍLIAS NEGRAS EM MOVIMENTO” após terem inquirido a aluna e realizado a avaliação do trabalho, são de parecer pela s u a .j^ ^ ^ Ç s f^ ? ? .., completando-se assim todos os requisitos previstos nas normas desta Instituição para a obtenção do Grau de Mestre em Antropologia Social. Considerações adicionais da Banca Examinadora: .K.. .. ,CÃ-~. .. ikjOu.. .. .&JS» V3 . ,51X^V.. CÚÜSS^sSi • \ Curitiba, 23 de novembro de 2015. Profa. Dra. Liliana de Mendonça Porto Orientadora r Prof. Dr. André Dumaifjs Guedes 1o Examinador lá&gyCj Prof. Dr. Ricardo Cid Fernandes 2a Examinador Dedico este trabalho ao meu pai, Antônio, e à minha mãe, Elisabete. O apoio, a paciência, a generosidade e o amor que recebi de vocês foram o oxigênio para este mergulho, bem como para o recomeço que se anuncia. AGRADECIMENTOS Entendo essa pesquisa como uma primeira tentativa de organização de um rico material de campo, como a possibilidade de aprofundamento do vínculo que já possuía e que pretendo manter com as famílias quilombolas de Guaíra/PR e, espero, o início de uma longa caminhada de dedicação à Antropologia. Agradeço muitíssimo pela receptividade para a realização da pesquisa em todos os lugares que percorri durante o trabalho de campo: Guaíra/PR, Presidente Prudente/SP, Santo Antônio do Itambé/MG e Serro/MG. Às famílias da Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos, o meu agradecimento pela hospitalidade, confiança, atenção e aprendizados. Sou grata a Deus por nossos caminhos terem confluído para a oportunidade deste convívio, que foi repleto de experiências incomensuráveis. Agradeço pela possibilidade de mergulho na Antropologia, um novo caminho que comecei a trilhar na minha graduação no curso de Direito da UFPR. Esta curiosidade se ampliou com a oportunidade de trabalhar no Ministério Público do Paraná, que me proporcionou o contato com várias comunidades quilombolas no estado, oportunidade pela qual agradeço ao procurador de justiça e amigo Dr. Marcos Fowler. Percebo como finalizo essa pesquisa com a convicção de que o que eu precisava mesmo era de uma experiência de trabalho de campo, que fizesse do convívio a base para uma proposta de conhecimento que busca a horizontalidade, o diálogo e a sensibilidade – o que gera uma transformação dentro e fora de nós. Não poderia ter realizado esta pesquisa sem o apoio da minha família, que diante das inseguranças e desafios do caminho, confortaram-me com a inestimável sensação e certeza de ser amada incondicionalmente. Pela simplicidade e grandiosidade deste amor sem pré-condições, sou grata eternamente, em especial, aos meus avós Doca e Ruy João, aos meus pais Antônio e Elisabete, às minhas irmãs Tatiara, Naiara e Janaina, ao meu cunhado Marcelo e à minha sobrinha Olga. À Naiara um agradecimento todo especial pelas contribuições no processo de revisão deste texto em sua versão final, com seu amparo, atenção e amor. Aos meus avós Joaquim e Maria Julia, em memória, agradeço e os homenageio, lembrando de suas trajetórias como migrantes, os quais, assim como meus interlocutores(as), também saíram de Minas Gerais em direção ao norte do Paraná, em busca de melhores condições de vida. Durante o período do trabalho de campo em Santo Antônio do Itambé e Serro/MG, lembrei-me dos dois e, no coração, os senti tão próximos. Se de longe recebi o incentivo dos meus familiares, de perto, agradeço e honro o conforto da presença de meu companheiro de jornada, Jean Luis, com seu apoio cotidiano, confiança, carinho, atenção, amor e magia. À grande família que nos tornamos, junto com os amigos Simone e Julio César, Angélica e Gustavo, com suas crianças abençoadas, Brisa, Maré, Otto e João, eu agradeço por terem preenchido meu cotidiano de amor, alegria e união. Aos meus colegas de mestrado, agradeço pela convivência próspera. Em especial, à Gabi, ao “Tucano” e à Karina, dos quais recebi toda a ajuda necessária para o ingresso no programa de pós-graduação em Antropologia da UFPR. Agradeço também o incentivo ao longo de todo o curso e a confiança que depositaram em mim. Com vocês, compartilho memórias muito especiais de um período único de minha vida. Ao meu querido amigo Leonardo Bora minha gratidão e alegria por poder contar com sua generosidade na revisão do texto. À minha orientadora, Profa. Dra. Liliana de Mendonça Porto, agradeço pelo acompanhamento gentil e consistente, pela delicadeza, sensibilidade e estímulos contínuos em nossas conversas, por seu exemplo de antropóloga e de pessoa que serão sempre referências para mim. A todos os professores e técnicos do Curso de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Paraná, agradeço pela dedicação e pelos ensinamentos compartilhados. Em especial, aos Professores Dr. Ricardo Cid Fernandes e Dr. João Rickli, pelas contribuições e sugestões ao trabalho na banca de qualificação. Ao pesquisador Cassius Cruz, sou muito grata pela oportunidade da parceria de pesquisa na realização das viagens a Minas Gerais. Também ao professor Dr. Matheus de Mendonça Gonçalves Leite e ao pesquisador Tiago Geisler, ambos da PUC/Serro, agradeço pelo apoio e solicitude com que nos receberam no município do Serro/MG. Sem a disponibilidade de vocês, nossa pesquisa na região teria sido muito difícil ou mesmo inviável. O significado dessa experiência, na minha vida e na de meus interlocutores(as), transcende, em muito, as reflexões desta dissertação. Preciso me encontrar “Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar” Cartola Às vezes me chamam de negro Às vezes me chamam de negro Pensando que vão me humilhar Mas o que eles não sabem É que só me faz relembrar Que eu venho daquela raça Que lutou pra se libertar Que eu venho daquela raça Que lutou pra se libertar Que criou o maculelê E acredita no candomblé E que tem o sorriso no rosto Oi a ginga no corpo e o samba no pé O que é que tem? E que tem o sorriso no rosto Oi a ginga no corpo e o samba no pé (Ladainha de Capoeira) RESUMO Esta dissertação, baseada na etnografia realizada junto à “Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos”, localizada em Guaíra/PR, problematiza a vinculação direta entre a legitimidade da reivindicação territorial das comunidades quilombolas e a ideia de territorialidade fixa, que tem sido presumida pela política de garantia de direitos territoriais quilombolas no Brasil. Esta pesquisa indicou como a construção da identidade quilombola é perpassada pelos processos de deslocamentos constitutivos da trajetória das famílias que vivem atualmente em Guaíra/PR, mas são provenientes de Santo Antônio do Itambé/MG. A reivindicação da identidade quilombola é elaborada pelos meus interlocutores(as) com base na origem e na ancestralidade comuns com antepassados negros que foram escravizados nesta região de Minas Gerais, a partir da qual ocorre a saída das famílias em busca de melhores condições de vida, passando pelo estado de São Paulo até a mudança para Guaíra/PR, onde adquirem área própria. Nas narrativas dos membros da comunidade, percebe-se como o movimento não dissolve, mas, ao contrário, sustenta o pertencimento coletivo. Este caso exemplifica como a ideia de territorialidade fixa desconsidera experiências de “resistência à opressão histórica sofrida” – critério trazido pelo Decreto Federal 4887/2003 ao regulamentar o processo de titulação quilombola –, constituídas por meio de estratégias de deslocamento e não pela permanência em um mesmo território de ocupação tradicional. Estas dinâmicas de movimento foram, em um primeiro momento do processo de regularização territorial, que ainda tramita no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), entendidas como um elemento de descaracterização da legitimidade da reivindicação do grupo pelo primeiro relatório antropológico produzido sobre a comunidade. Com a não aprovação deste estudo por parte do INCRA, um novo relatório foi contratado, tendo este investido no argumento de que há uma continuidade entre as dinâmicas socioculturais do grupo de Guaíra/PR e as comunidades quilombolas de sua região origem, a partir de pesquisa realizada no entorno do município de Santo Antônio Itambé/MG. Esta pesquisa realizada pelo segundo relatório criou o interesse por parte da comunidade de que eles mesmos pudessem visitar a região. Tais viagens de retorno foram realizadas no âmbito desta dissertação para buscarmos mais informações sobre a trajetória histórica das famílias, o que gerou um entrelaçamento entre a minha pesquisa e a trajetória do grupo. O (re)encontro entre parentes perdidos e a possibilidade de acesso às histórias dos antepassados proporcionados por estas viagens sugerem que a busca pela reconstituição de histórias e vínculos com a região de origem, por parte dos quilombolas de Guaíra/PR, não se restringe ao âmbito instrumental e administrativo, mas tem também uma importante dimensão afetiva. A articulação destas dimensões aponta para o anseio dos quilombolas pelo reconhecimento da legitimidade de sua versão sobre sua história, do valor de sua origem e trajetória, bem como do direito de se construírem como sujeitos e como coletividade específica.
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