147 através do 2003 Agradeço a Eduardo Viveiros de Cas- Minhas visitas à aldeia teriam Doutoranda em Antropologia Social Núcleo de Transformações Indígenas (NuTI). Contei, além disso, ao longo dos anos de doutorado, com bolsas de estudo concedidas pela CAPES e pela Faperj, sem as quais dificilmente teria podido me dedicar NuTI do colegas a aos também Agradeço esta pesquisa. e do Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi) com quem tenho tido a opor- tunidade de discutir os desenvolvimen- tos de meu trabalho. sido impossíveis sem o apoio financei- ro do projeto Pronex- pelo PPGAS/Museu Nacional, UFRJ. * 1 * tro pela leitura atenciosa deste trabalho deste atenciosa leitura pela tro e pelas importantes sugestões. . meses de 1 indivíduos indivíduos 11 60 e e 80 * entenda-se a cultura material, é falante da de língua fa- Aweti, ** 2004 padrões culturais no nordeste do estado de , compreende a área

No Alto Xingu, povos falantes de línguas mutuamente inin- A diferença linguística tem sido um critério importante para a para importante critério um sido tem linguística diferença A teligíveis convivem dentro de padrões culturais idênticos. praticamente Por mília do mesmo nome do tronco Tupi, também mília representado do na mesmo nome do tronco Tupi, região pela língua Kamayurá (família Os Tupi-Guarani). Aweti de cerca com aldeias, duas em hoje dividem-se dos principais formadores do rio Xingu – os rios Batovi, Culuene Batovi, rios os – Xingu rio do formadores principais dos e Curisevu –, que correm do Planalto Central para o Norte, em essa habitam que indígenas povos Os amazônica. bacia à direção região são falantes de idiomas que pertencem a três dos princi- pais grandes conjuntos linguísticos (troncos ou famílias) encon- trados no Brasil: Caribe, Aruaque e Tupi, havendo também o falante de povo uma Trumai, língua isolada, isto é, não identifi- cada a nenhum tronco linguístico conhecido. A população que venho pesquisando desde A região conhecida na literatura etnográfica como “Alto Xin- gu”, Escrever, ouvir: perspectivas sobre o saber o sobre perspectivas ouvir: Escrever, Alto Xingu do Aweti os entre Figueiredo Marina Vanzolini cada, havendo também muitos indivíduos dispersos em aldeias vizinhas. As observações a seguir são resultado de convivência com essa população dentro da área indígena, como em andamento parte de minha pesquisa de doutorado definição, pelos antropólogos, de seus “grupos” ou “tribos”, de “tribos”, ou “grupos” seus de antropólogos, pelos definição, estudo. de objeto seu de fronteiras as enfim, estabelecer, a modo pessoas as como modo o é entanto, no aqui, interessa nos que O que o antropólogo estuda, no presente caso habitantes do Alto identificação e diferenciação de processos em engajam-se Xingu, envolvendo especialmente, aqui, a variação linguística. Passa-se assim da questão “como é possível definir unidades culturais” questão a para falando) está se quem de afinal claro deixar (para “como tais pessoas definem-se em relações de identidade e alte- ridade, se é que se definem assim”. De quem se fala, em outras justamen- é Essa demais. claro ficar deve nem está não palavras, te a questão que nos colocamos, que colocamos a “eles” – um coletivo definido contingencialmente. 148 2 nhecem mutuamente como mutuamente nhecem reco- se que grupos diversos dos ativa aldeia, participação a com somente da executado importante indivíduo de um morte a após ano um de cerca da realiza- funerária cerimônia o Kwarup, é insere se ela que em cosmos do e humana sociedade da continuidade a para xinguano ritual sistema do tância Agostinho, ver Kwarup, do exaustiva análise uma (para feminina pubertária reclusão da fim ao e meninos, de orelha de furação a masculino, iniciação de rito um a gar zação do rito. A cerimônia dá ainda lu- reali- a e parente um de morte a entre lamentações de período longo o então cessarão que vivos, dos saúde a quanto céu no mortos dos aldeia a alcançando destino seu realizará a falecido do que alma tanto garante nativas, as línguas ritual o designam como alegrar”, de “coisa ou “reunião” “festa”, Esta eepo as vdne a impor- da evidente mais exemplo O 1974 ). xinguanos.

dela, entreessaspopulações. para fazer algumas considerações a respeito da escrita, e da falta com o tempo, a língua local –, me servirá como ponto de partida falar,a chegar jamais sem eventualmente e início, entender,no natal – pessoas que vivem na aldeia do cônjuge muitas vezes sem aldeia sua da fora casados deslocados, tanto um indivíduos dos figura A interaldeão. casamento de comuns bastante ocasiões nas e rituais situações repetidas e inúmeras em convivem quais quirir competência ativa nas línguas dos povos vizinhos, com os ad- para esforço grande fazem não xinguana língua terminada e rituais praticamente idênticos aos seus, os falantes de uma de- os povos Caribe, povos os tos, “pessoa, gente” – ser antropomorfo ou moral: ou antropomorfo ser – gente” “pessoa, tos, contex- significar,outros pode em etc.) mitologia moral, tética, nar o conjunto daqueles que compartilham a mesma cultura (es- Via de regra, o termo nas línguas indígenas da região para desig- Mo’aza cosmosdo vitalidade a para central tamente absolu- econômicas, e matrimoniais cerimoniais, trocas de cada Tal uniformidade é constantemente recriada em uma rede intrin- ma de classificação de parentes e de atitudes prescritas entre eles. objetos rituais e de uso doméstico; a mitologia; os rituais; o siste- os como bem corporais, adornos os e pinturas as especialmente lado daregiãodoAltoRioNegro,nonoroesteamazônico. em posição singular no cenário das formas sociais ameríndias, ao ca (em geral, aldeias) está idealmente banida, situa o Alto Xingu pacífico, isto é, do qual a guerra aberta entre as unidades de tro- trocas de regime um em cultural uniformidade e multilinguismo ( etc. Em oposição a ele, “índio bravo”, ou simplesmente “índio” do cônjuge, fora da sua aldeia natal, é chamado de chamado é natal, aldeia sua da fora cônjuge, do tam, porquemsãovisitados, comquemsecasametc. o conjunto dos outros povos (sobretudo xinguanos) a quem visi- autodistintivos. Assim, critérios como usados são ali que etc. ritual sistema o estético, padrão o moral, código o compartilham não que vizinhas nas cara’iwa vos que designam não-xinguanos e não-brancos (onde branco = waraju Apesar de conviverem com gente que partilha valores, mitos valores, partilha que gente com conviverem de Apesar Na língua aweti, o homem ou a mulher que mora na aldeia na mora que mulher a ou homem o aweti, língua Na , em aweti), é a tradução comum para os termos nati- termos os para comum tradução a é aweti), em , , em aweti), ou seja, designativo de populações indíge- populações de designativo seja, ou aweti), em , mo’at mo’aza , na língua aweti, língua na , , coletivo do putaka mo’at 2 . A combinação de combinação A . , em em , aweti, designa kuge kujãmen , entre , , 149 e sua , que certo que , kujãmen 1970 Esta é uma descrição bastante livre de Viveiros de Castro (comunicação

ignorância linguística. um tema clássico e caro à antropologia de inspiração estruturalista, a saber, a relação entre aliados por casamento. Seria impossível citar a bibliografia so- que o extensão; sua dada assunto, o bre me interessa por ora é menos discutir as propriedades das relações de alian- ça entre os que Aweti criar um cenário para situar a figura do pessoal) reporta para os entre os Yawalapití, quais fez uma breve pesquisa de década na campo de indivíduo de outra aldeia era chamado jocosamente pelos homens da onde se casara, Yawalapití, de “cunha- aldeia do”, mesmo por aqueles que as regras de extensão dos termos de parentesco deveriam considerá-lo “irmão” ou “fi- lho”. Isso demonstra que a distância geográfica pode irmanar todos os ho- mens de uma aldeia em relação a seu afim estrangeiro, em relação a se quem enfatiza a alteridade potencialmen- te hostil que define as cunhados em geral. relações entre 4 3

. 4 kujã , pior que , os xinguanos kujãmen . O/a 3 huka-huka , para uma excelente análise do siste- 2008 = marido). A palavra provavelmente refere-se men isso, em ou geral não conhece a língua da aldeia onde vai viver, vezes muitas leva situação Essa palavras. pouquíssimas conhece a um processo em que o não-falante da língua começa a presu- ou xingado criticado, sendo está que não, ou erroneamente mir, simplesmente que se tornou motivo de chacota dos anfitriões visitam-se constantemente para jogar futebol. Dito de modo, um dos outro rituais intertribais realizados frequentemente na “tra- ritos os que importante menos é não ele – futebol o é região dicionais” na definição das relações entre as unidades de troca. = mulher, - ma ritual xinguano), ocasiões em que vizinhos obrigatoriamente vizinhos que em ocasiões xinguano), ritual ma enfrentam-se na luta conhecida como ao ideal, normalmente respeitado, de os rapazes irem viver na Como casamento. de anos primeiros os durante sogros dos casa regra geral na região (e em diversas partes do mundo), a pessoa que se casa, seja dentro da própria aldeia ou fora dela, trabalhar para deve seus sogros e oferecer-lhes presentes, sobretudo alimentos. Caso não o faça, entre os ao Aweti menos, é muito provável que a sogra fique tão enfurecida e faça tantas fofocas contra o cônjuge inadimplente, seja marido da filha ou esposa esse por Separações inviável. torne se casamento o que filho, do motivo, ou pela dificuldade de adaptação do recém-casado à vida na casa de seus afins, são muito comuns. Além disso, o jo- vem marido pode ter algumas tensões com seus cunhados: caso expressem o desejo de obter algum objeto seu, o esposo vê-se obrigado a dá-lo, pois tomar uma moça em casamento significa a contração de uma dívida eterna com os parentes dela, sobre- além recém-casados, mulheres e Homens irmãos. seus com tudo disso, sofrem bastante com o ciúme dos (geralmente inúmeros) para verdade é isso Se cônjuge. do presentes e passados amantes aqueles casados em sua própria aldeia, que dizer dos mudam para que viver na aldeia de recém-casado, estranhos? se Todo enfim, é alguém que trabalha mais do que os outros e tem um comu- disso além sendo bens, próprios seus sobre controle frágil mente hostilizado pelas pessoas do mesmo sexo e faixa etária, seus concorrentes pelo parceiro sexual Além de se frequentarem para participar de rituais intergrupais (cf. Barcelos Neto, Uma paz instável termo que traduzo, literalmente, por “marido de mulher” ( 150 nem filhos?”. Apenas dois ou três anos mais tarde, durante uma durante tarde, mais anos três ou dois Apenas filhos?”. nem e alimentar para marido um cunhada, uma sogra, uma tem não se trabalha você que dizer,“Por queria parece, Ela me marido?”. seu “Cadê ironia, com completando jovem, uma perguntava-me de uma de diferente muito fosse não talvez eu ainda, menos falando e ziam, di- me que do muito entender sem objetos, meus trocar ou dar a solicitada constantemente mulheres, as com cotidianas vidades me ver desastradamente trabalhando na roça: “roça: na trabalhando desastradamente ver me discussões emtornodadeslealdadedoadversário. (cf. Ball, outros), o encontro traz à tona altas doses de hostilidade latente e funerários ritos troca, de (rituais distintas línguas de falantes Como todos os eventos que reúnem pessoas de aldeias distintas, do verbo – desconfiavam de algo bro de bro o (respeito vam desconfiando injustamente que algo maldoso fora dito a seu vítimas de agressão verbal sem nenhuma base verídica. Eles esta- pois, como não entendiam a língua aweti, supunham estar sendo toa, à desconfiando estavam que é estes Mehinaku, os xingado tinham nunca Aweti os história, a recontando Aweti, locutoras inter-minhas afirmavam Ora, destes. aldeia na anterior partida Mehinaku a xingamentos que teriam recebido dos Aweti em uma dos resposta uma eram explicava, ela entanto, no xingamentos, dito sobre eles, chamando-os de baixinhos e coisas do tipo. havia Esses Mehinaku plateia a que o tudo Aweti jogadores tradu- aos ela ziu partida, a Após lá. de chefe um com casada é pois Mehinaku, aldeia na Awetimora mulher que uma Há histórias. Mehinaku, os jogadores retornaram para casa trazendo algumas adversário. o desestabilizar procura xinga, grita, público o nós, entre Como lugar. tem jogo o onde circular aldeia da central praça a para os velhos e as crianças postam-se à porta de suas casas, voltados ora sendo visitados por eles. Durante a partida todas as mulheres, visitando-os, ora futebol, jogar para (Aruaque) Mehinaku nhos rbea aa rcmcsd e tra estrangeira: terra em recém-casado o para problema desse evento comecei a suspeitar de que esse deve ser também um supondo quedizemaspiorescoisassobresi. - indica terceira pessoa, e a partícula -partícula a e pessoa, terceira indica - No período em que estive na aldeia, entre setembro e dezem- e setembro entre aldeia, na estive que em período No Ao tentar me integrar à vida na aldeia, participando das ati- das participando aldeia, na vida à integrar me tentar Ao aldeia na jogar foram Aweti os que em ocasião uma Em 2008 kujãmen 2007 otewãup , os Awetios vizi- , seus com vezes algumas reuniram-se ). Tanto na luta quanto no futebol são comuns as . Pelo menos assim diziam algumas pessoas ao pessoas algumas diziam assim menos Pelo . : onde -onde : wãup é radical de desconfiar,de radical é prefixo o a seu próprio respeito te - indica a reflexividade a indica - Kujãmen ). A partir otewãup , você?”, , , 151 ). A 1998 Há uma vasta discussão na disciplina,

5 ligada à chamada antropologia moderna, a respeito da não-representa- pós- seu de ou etnográfico, texto do tividade caráter ficcional (cf. Clifford, comparação proposta a seguir em cer- ta medida ignora o debate, exagerando associada antropologia da imagem uma ao modelo das ciências naturais. Noto apenas que, ao criticar a noção de que o texto antropológico fosse represen- tativo dos Outros que constituem seu objeto, a crítica pós-moderna sugeria que a etnografia fosse das representativa concepções inatas do antropólogo (ainda que inconscientemente para os cer- permanece Assim, claro). é autores, ta ideia do texto como representação que supõe uma separação entre sujeito e objeto à qual o pensamento indígena parece ser refratário, como será argu- mentado a seguir. elabora- . 5 momento etnográfico ). O conceito se refere ao fato e não sobre material bibliográfi- 1999 in loco ), comecei a pensar sobre as similaridades, mas kujãmen A escrita antropológica em seus dois momentos – o diário de diário o – momentos dois seus em antropológica escrita A campo e o texto analítico – pode ser entendida de uma maneira interessante através da noção de Talvez Talvez o único elemento que possa ser realmente chamado de método de pesquisa em antropologia, se estamos falando uma antropologia de feita co, é a escrita do diário de a campo. certa Vistos distância tem- poral, esses cadernos passam a testemunhar estágios de apren- algumas e abandonadas já absurdas hipóteses revelam dizagem, que garantir de Além sentido. fazer parecem ainda que intuições o aprendido não será esquecido, a escrita tem, sugiro, uma fun- pesquisa, da mesmo momento no importante extremamente ção à medida que aquilo que é aprendido pode ser testado, confir- normalmente antropólogo o que modo de descartado, ou mado retorna para casa com algumas intuições analíticas cujas refe- rências estão perdidas em um emaranhado de anotações desco- produzir é final objetivo seu tudo, de acima e disso, Além nexas. um texto, do qual os bagunçados escritos de campo podem ser vistos como primeiras versões. Esse texto – uma tese, um artigo – será a condensação da sua experiência na forma de uma con- versão desta em dados analisáveis; espera-se que ele reflita mais reve- de capaz seja e pessoais impressões de punhado um que do através lar, da exploração de incidentes presenciados, as histó- rias ouvidas, algumas proposições verdadeiras sobre as pessoas que constituem o objeto do qual se ocupa Produzindo objetos: a escrita antropológica objetos: a escrita Produzindo nova temporada na área indígena, ao conversar com um rapaz Mehinaku que viveu alguns anos casado e na que aldeia já Aweti há algum tempo se separou e voltou a morar em sua aldeia natal (um ex- sobretudo sobretudo as diferenças, dos nossos métodos de sobrevivência e estrangeira. terra em língua, da aprendizado do através objetivos, da por Marilyn Strathern ( de que a perspectiva assumida pelo pesquisador no campo con- tém em si a perspectiva da análise antropológica que deverá ser escritório o diferente, radicalmente instância uma em produzida do antropólogo: é com as questões antropológicas que de saída que o relatar vai pesquisador o que investigação sua motivaram questões suas altura essa a mas nativos, os entre presenciado foi que diferentes totalmente problemas pelos afetadas sido terão já 152 aweti – Gregor, que uma senhora Kamaiurá, moradora da aldeia Awetialdeia pelo da há moradora Kamaiurá, senhora uma que diferenciação linguística é tão aceitável e esperado nesse sistema das atividades diárias. Manter uma identidade étnica através da povo de uma aldeia vizinha (cf. Basso, (cf. vizinha aldeia uma de povo do língua a falar fosse não xinguano um de objetivo o se como ali passam se coisas as que lembrar fez me colocação essa Ora, do observador, objeto de conhecimento, olhar pelo tornam-se, campo em observadas relações as que de mas a noção de plicada (pp. plicada ponto devistaindígena. do tomar parece saber o que forma a com contraste um frente à marcar para contexto, nesse conhecimento pelo assumido sa” wt” ei sfiine aa e aio srner aprendê-la. estrangeiro amigo seu para suficiente seria Aweti” necessário escrever nada, e que ouvir repetidamente a “língua do ser não alegou Mehinaku interlocutor o Logo palavras. novas apreender de capaz então tornando-o ouvidos, seus a ceptível até que o som de palavras muitas vezes repetidas se tornasse per- vocabulário, de pudesse que máximo o escrever seria indígena cara’iwa oaconselhar para intervim momento dado Em estrangeiro. idio- ma um aprender se de dificuldade a sobre esposa, da aldeia na ex-residente Aweti, mulher de ex-marido Mehinaku, rapaz aquele e “branco” um entre Xingu) do Indígena Parque no ca fran- língua português, (em conversa uma presenciei dia Certo A escritacomométododeaprendizagem da escrita fora do campo. O espaço o impregna assim que –, alheios problemas os – campo não trabalha em casa sem ter em mente a perspectiva adotada no antropólogo o Inversamente, apresentam. lhe informantes seus nial de conchas em um povoado das terras altas da Melanésia);da altas terras das povoado um em conchas de nial cerimo- troca a Strathern, de caso no exemplo, (por observado no entendido ser precisa ainda que o e foi já que o coexiste que em semianalisado, sempre análise de objeto um imagem, uma em resumo, é a é resumo, em ses dois momentos do trabalho antropológico trabalho do momentos dois ses es- entre relações as que de sentido no “objetificação” de fala pesquisa em campo, entre observação e análise (p. análise e observação entre campo, em pesquisa tentup 1977 , sugerindo que a melhor maneira de aprender a língua a aprender de maneira melhor a que sugerindo , 13 ), e sim entender/escutar (duplo sentido do verbo do sentido (duplo entender/escutar sim e ), ) essa outra língua de modo a possibilitar o curso - objetificação objetificação 18 ). É importante ressaltar o caráter de “coi- de caráter o ressaltar importante É ). momento etnográfico da relação, inerente ao método de método ao inerente relação, da refere-se mais amplamente ao fato 1973 coisa ; Franchetto, ; a ser descrita, ex- tomam formatomam stratherniano, 6 ). A autora A ). 1986 em ;

153 ) po- yonchi ) relata para os Piro 2001 Peter Gow ( da Amazônia peruana uma mesma as- sociação entre a escrita e seu suporte material, a folha de papel. Segundo o ideal estético Piro, o padrão gráfico da língua escrita não obedece que às tornam regras um desenho ( deroso. A escrita se parece mais com desenhos malfeitos, feios, e portanto ineficazes. Se não são esses branco, homem ao poder conferem que desenhos tal poder deve residir no suporte mes- mo da escrita, no papel. Seria preciso investigar se há ideia semelhante por parte dos Aweti. 6 a em tan- escutar an akwa- an , folha, e folha, , op a língua aweti e, . Era preciso sua língua, no sentido escutar aprender aprender . Após declarações desse tipo era co- 6 só poderia se dissipar, ou não, com base base com não, ou dissipar, se poderia só , significa tanto saber quanto conhecer; ), para explicar-me seu sentimento de ), inca- para explicar-me kwawap kujãmen anos, não fala absolutamente nunca na língua local, 50 , e não como o acúmulo de informações impessoais. , e não como o acúmulo de informações Quanto a mim, precisava mesmo acumular conhecimento, e Muitas vezes pessoas de meia-idade na aldeia usavam a expres- a usavam aldeia na meia-idade de pessoas vezes Muitas , desenho, padrão gráfico em que geralmente entendemos a escrita era meu instrumento principal; limitada pelo tempo da pesquisa acadêmica, precisava aprender rápido sobre o mundo aweti, enquanto um índio vindo de outra aldeia desejava apenas escutar/entender o suficiente para atuar no dia-a-dia, havendo nada ou muito pouco a aprender das concepções culturais implí- termos nos conhecia, já fato de ele quais as anfitriões, seus de citas da sua própria língua. Além disso, a inicial sensação de exclusão do hostilidade e ponto de tornar a relação possível ao mesmo tempo que manter a manter que tempo mesmo ao possível relação a tornar de ponto concebível era só aprendizado tal e falantes, dos singularidade relação são “eu não sei/conheço a folha (de papel) do branco” ( branco” do papel) (de folha a sei/conheço não “eu são wawyka cara’iwa eop pacidade de compreender e lidar com os costumes dos brancos. O brancos. dos costumes os com lidar e compreender de pacidade verbo utilizado, modo papel”, de folha em “desenho de sinédoque é aqui “folha” de junção pela escrita à referem se Aweti os como nas relações reais de troca e trabalho que estabelecesse. Segundo me parece ser a visão do jovem Mehinaku, para conviver com os Aweti não era portanto preciso Minha posição é evidentemente ambígua; sendo branca e domi- e branca sendo ambígua; evidentemente é posição Minha nando a escrita, a permanência de longas temporadas na aldeia me permite aprender minimamente a A escrita como meio de ação sendo contudo perfeitamente capaz de compreender qualquer em aweti. sentença menos mum me pedirem ajuda para resolver tal projeto, ou comentarem ou projeto, tal resolver para ajuda pedirem me mum indígenas professores dos esperam que ativo desempenho o sobre com problemas resolver para aldeia da jovens lideranças outras e o atendimento de saúde, a aquisição de bens para a comunidade etc. A escrita, desse modo, parecia ser para meus interlocutores meio um que conhecimento adquirir de meio um menos indígenas ser poderia algo quais das através eficazes, relações estabelecer de obtido/incorporado (objetos, atendimento médico) ou cuidado, mantido (a terra indígena, os costumes indígenas). tu 154 7 tro porestaobservação. Agradeço a Eduardo ViveirosCas- Eduardo de a Agradeço gas, ou servindo como instrumento mesmo da circulação, como miçan- as como cerimoniais, troca de redes nas circulação em determinada potência(Strathern, e capacidades determinadas de possuidoras como – outras nas umas produzem que efeito do medida na – definem se pessoas quais das através relações em resulta é, isto pessoas, de forma a enquanto o saber indígena, tendo por objetivo a relação, assume como define coisa, pois é um saber sobre o mundo (sobre aquilo que o olhar de forma a assume antropológico saber o que então dizer mos Adotando o esquema conceitual de Strathern novamente, pode- escrever,sei que comigo, relacionar se eles cos. Eu uso a escrita para aprender, e preciso me relacionar com bran- certos com relacionar se para papel do precisam eles ca), chê-lo (relações que eles estabelecem entre si e com o que os cer- preen- para relações descrever preciso e papel o tenho eu lação: e sua ausência entre os Aweti, que marca e condiciona nossa re- e tradutoradasexigênciasdestesparacomosAweti. saúde) de sistema do chefes projetos, de (financiadores nheiro” das necessidades aweti para o mundo branco dos “donos do di- tradutora mediadora, de o hoje, etnólogos diversos de o como entre duas famílias de aldeias distintas. Meu lugar acaba sendo, uma como índios, os e brancos certos instrumento entre aliança da de posição uma – aldeia da pessoas as com está- veis menos ou mais relações estabelecer consequentemente, são sempre popa ou atendimento de saúde, coisas obtidas através da escrita, Aweti,vista de de motor ponto miçanga, do Já sociais. relações em resulte e envolva isso que mesmo conhecimento), (de objeto um é escrita da através produzindo está ele que o antropólogo, quanto a precedente, mas a questão é que, do ponto de vista do (cf. Kelly,(cf. qualidades, habilidades, propriedades (Strathern, propriedades habilidades, qualidades, nas quais as pessoas se definem como donos (doadores) de certas brancos através da escritada através brancos tendem adquirir quando procuram ampliar suas relações com os pre- Aweti os obviamente, que, objetos os – coisas multiplicar visa indígena conhecimento o enquanto –, acadêmica carreira relações quanto está a serviço delas – no trabalho de campo e na de dependente tão é antropológico conhecimento o que cendo É, portanto, em certa medida, o domínio da escrita por mim, ei psíe, o oto ao ara o nes, reconhe- inverso, o afirmar lado, outro por possível, Seria para aprenderpara 2008 objetos objeto ), cujo efeito é multiplicar ou atualizar relações atualizar ou multiplicar é efeito cujo ), ; eles precisam aprender a escrita e precisam e escrita a aprender precisam eles ;

, isto é, passível e passivo de conhecimento), de passivo e passível é, isto , de troca 7 . Esta descrição seria tão verdadeira tão seria descrição Esta . com outros índios e com os brancos 1988 para fazer mais relaçõesmais fazer para , 1999 ). 1999 kujãmen ). Postos ). . 155 ) para os Piro os para ) ). Eles indicam , recolhida por 2001 , 1998 1920 1991 ): relações são vistas como vistas são relações ): 257 . é o ponto de chegada e é visível , p. , 1999 relação …”. A história Piro, no entanto, vale a pena para os brancos op tene , seja o aprendizado da escrita por um professor indíge- Trata-se Trata-se de uma história da década de Mais do que isso, se a relação parece ser a finalidade do apren- do finalidade a ser parece relação a se isso, que do Mais apenas como objeto fixado no texto. Nos regimes cosmológicos es- relações as vez, sua por descrevendo, venho que Aweti tipo do (Strathern, começo no tão dizado entre os Aweti, seja o aprendizado da língua por um(a) kujãmen antro- o Para ali. aprendizagem de modo o também é relação na, pólogo social, que tem por objetivo descrever as relações em que se engajam seus nativos, em relação a seus patrões não-índios na extração da borracha. Como disse, a concepção implícita em certas afirmações aweti se- com relações nas razoável posição uma alcançar para que de a ria um seja ela porque não escrita, a dominar necessário é brancos os donos brancos, os porque sim mas superior, mágico conhecimento do dinheiro, das armas e inimigos potenciais (sempre ameaçando tomar as boas terras dos índios, me dizem estes), se relacionam através da escrita, dos documentos oficiais, dos números impres- sos em notas de papel que chamamos dinheiro – a respeito qual uma me mulher fazia Aweti do lembrar: “Eu não entendo, é só uma folha… ser contada, pois me parece ter alguns pontos de contato com a da escrita que venho tentando descrever. concepção Aweti Nunca ouvi entre afirmações os a Aweti respeito da escrita como um conhecimento misterioso responsável pelo sucesso dos bran- cos na aquisição de bens e por sua posição superior ( na Gow Peter reporta relação como índios, os com Dois exemplos amazônicos: saber a escrita e o sa- o e escrita a saber amazônicos: exemplos Dois ber do xamã ao mesmo tempo a relação mais ou menos bem-sucedida que certos índios conseguem estabelecer com os brancos, o que dá de parceiros seus a pessoal valor seu do medida importante uma troca, e a relação mais ou menos bem-sucedida dos índios com e valor seu do medida ancestrais, (conhecimentos) próprios seus moeda de troca os motores, tais objetos são sempre, além disso, duplos índices (no sentido do conceito de índice em Gell, Gow no relato de uma missionária do SIL (Summer Institute of aquilo que gera mais relações, e são um objetivo do aprendizado multiplicação. na medida em que são o meio de sua 156 8 do novamenteàfrente. aborda- será tema O conhecimento. de do que é visto: o objeto define o sujeito partir a vista) de ponto que (de vendo além disso, só se pode saber pode se só disso, além por um processo transformativo do ser; vel mudar de ponto de vista sem passar de um ponto de vista alheio. É impossí- adoção a seja espécie, uma de próprio vista de ponto do manutenção a seja permitem que corporais manipulações igualmente são vê, quem de corpo no situado está Castro, de Viveiros serva ob- amazônicas, culturas nas vista, de ponto o se E específico. vista de ponto um de ser não a apreendido não ser pode conhecimento, do sujeito ao do relaciona- diretamente está vê, se que o ou sabe, se que o ontológico: plano um em situada é conhecimento do tão Note-se que nesta formulação a ques- a formulação nesta que Note-se quem está olhos dosíndios(Gow, aos cósmicos, poder e sabedoria tanta de fonte a ser poderiam não Piro, estético padrão o para harmônicos pouco e feios tão leitor,desenhados, rabiscos aqueles Papel; jovem pela proferido através de uma visão especial, alterada, estabelecer,de capacidade ou certas, relações as estabelecer de mais precisamente neste caso) e sua potência como uma questão pleta: o xamã torna-se capaz de uma transformação do xamã em espírito, ainda que nunca com- implica espíritos os com xamã do relação tal Pois xamanismo. do respeito a precisão com definir pretende autor que o titui O que chamo aqui simplesmente de “estabelecer relações” cons- que havia para ser adquirido na leitura era de fato de era leitura na adquirido ser para havia que O enxergam. não simplesmente ou inanimados, seres animais, como apenas veem normais pessoas as que seres com relações estabelecer e humanas formas enxergar em consiste alhures) (e Piro os entre xamanismo o como assim – palavras suas escutar era a capacidade de enxergar a forma humana do papel e logo de conhecimento xamânico nas sociedades indígena (indígena sociedades nas xamânico conhecimento do modelo o como Castro de Viveiros por generalizada foi la homens normais. Substancialmente complexificada, esta fórmu- os seusxamãs...) têm também animais ou espíritos os que (sendo não-humanos e humanos entre relações das sucesso do medida grande em de depen- equilíbrio cujo humano, mundo do continuidade a para necessária mediação a estabelecer de capaz sendo modo deste só tempo, mesmo ao humanos os como vê mas espíritos, ver to uma jovem, de lábios vermelhos, que dizia coisas ao leitor; ao coisas dizia que vermelhos, lábios de jovem, uma verdade na seria papel O gente. leitor,em do olhos aos papel, do transformação na consistia ortodoxa: nada concepção uma soa a aprender a ler entre os Piro. Ocorre que sua leitura seguia pes- primeira a sido teria que falecido, já primo, um de história a narrava vez sua por qual o aluno, um com conversas suas via partes da Amazônia indígena. Nesse relato a missionária descre- certas em ativa bastante protestante organização Linguistics), dos antigos, ao discurso mitológico “puro”, ancestral: qualquer saber ao remetido seria cosmologia da aspecto qualquer para entre os Araweté, dificilmente um conhecimento ou a explicação sobre o saber que encontramos entre os Piro. O autor nota que, ameríndia perspectiva da exemplar é – Pará no Xingu, rio do nografia dos Araweté – povo Tupi-Guarani que vive às margens hsói itrsa qi o dsrvr ecia a leitura, (a escrita a descrever por aqui interessa história A A epistemologia descrita por Viveiros de Castro ( 8 . 2001 ). ver como mais relações os espíritos, e portan- 1996 1986 ouvido do que os , ) na et- 2002 pelo ler ).

157 , na língua aweti), remetendo o saber sempre sempre saber o remetendo aweti), língua na , ti

‘etu

na nos quais fica sabendo sobre o mundo celeste, mundo

Nessa economia do conhecimento, na qual todo saber é resí- é saber todo qual na conhecimento, do economia Nessa duo de relações entre humanos e destes com não-humanos, não verda- o alcançar para pessoal informação a depurar de trata se deiro universal. Ao contrário do que faz o antropólogo, escre- conver- de pontos buscando papel, no descrições fixando vendo, de preferência, apenas gência em relatos distintos para escrever, sobre aspectos generalizáveis (definindo objetos do saber), os Araweté parecem estar mais interessados em conseguir descri- a outras relações. não humano, invisível e perigoso aos olhos humanos comuns. Aquilo que o xamã araweté canta sobre o mundo não huma- saber um que ancestral conhecimento um menos é portanto, no, constantemente renovado, não estabilizado; saber não fixado pela escrita, e que na repetição das experiências de indivíduos reais, e nas interpretações múltiplas dessas experiências (inter- pretações dos cantos pelos ouvintes), é passível de transforma- ção e questionamento. E mais: sendo o conhecimento sempre pessoal, e dada a existência de diversos xamãs na aldeia, além relati- a é efeito o falecidos, xamãs dos discurso do memória da vização dos discursos. Não existiria entre os Araweté, sugere o outros sobre literatura na sustenta se que do contrário ao autor, povos uma Tupi-Guarani, dependência do grupo em relação à palavra do xamã, havendo antes um controle do grupo sobre a autoridade xamânica. Resta dizer que o saber revelado nos cantos xamânicos é ainda bastante democratizado: mulheres e crianças falam tanto quanto ou até mais do que os xamãs do sobretudo cantos, seus em descrito eles por sobrenatural mundo porque as mulheres são notoriamente comentadoras/intérpretes expe- uma de fala nunca assim, xamã, O xamânicos. cantos dos através canta que deus o é que já cantos, seus em pessoal riência dele; assim como mulheres e crianças o citam nas exegeses dos cantos, ele também cantando cita entidades sobrenaturais, em uma “recursividade infinita”, como descreve Viveiros de Cas- tro. Até mesmo a autoridade da testemunha ocular parece ser estranha aos Araweté, que, como do os Alto Aweti Xingu, pre- ferem o discurso direto acompanhado da expressão “diz-se que ( disse” ele conhecimento conhecimento era sempre remetido a um sujeito real, presente, testemunha ocular do fato narrado, ou ao menos ouvinte dire- to daquele que testemunhou. Cabe, portanto, ao xamã araweté adquirir conhecimentos através de sonhos em que aprende can- tos dos deuses (os deuses cantam através dos xamãs, dizem os índios), 158 ( contexto do dependendo conhecimento, dar selhar,ou orientar oriente, explique”), enquanto a terminação terminação a enquanto explique”), oriente, de um instrumento. um de ca (ca não o é uma história atual, muitas vezes desprezada como fofo- inquestionáveis: sejam transmitidas informações as que mundo termo “criançada”( orienta seus coaldeãos, a quem se dirige coletivamente usando o idealmente aldeia da chefe o como assim antigos, dos aquelas sobretudo histórias, dessas através filhos dos comportamento o orientando sempre estão avôs e pais será: que o rege e é, que o orientador”, pois a raiz - de viagem. Literalmente, a palavra designaria “coisa de orientar, chegar de acaba que parente um de relato do gerações das vés atra- transmitidas e antepassados pelos contadas histórias ciar Os Awetipalavra a traduzem “histórias”. a remetidos são compõe, o que relações as e modo como veio a se tornar o que é hoje, quanto o mundo atual cimentos do mundo, por sua vez, tanto o mundo dos antigos e o conhe- Os doentes. de cura à ligadas sempre pontuais, questões resolver para auxiliares espíritos seus escutam ou veem xamãs os cosmológicas: informações de produtor de função a mente exata- desempenha não xamanismo o entanto, no Xingu, Alto o habitam que Awetipovos os outros Entre e ali. saber e poder adquirir de excelência por modo xamânicas, práticas das luz à conhecimento de técnica qualquer entender preciso é ríndios sul-ame- povos alguns entre que demonstra Gow de pesquisa A Tomowkap humano comumcomosquaissecomunica. olho ao invisíveis entes os e xamã os entre coaldeãos, ouvintes ras de cantos e seus maridos xamãs-cantores, entre o casal e seus esposas-traduto- entre Relações não-humanas. fontes próprias ouvinte e falante quanto da relação entre a fonte humana e suas entre relação da tanto força pela particular fonte uma de dade confiabili- a averiguar de que diversas fontes por apresentado foi que aquilo depurar de caso o menos imagino, Seria, sabem). mutáveis ou passíveis de questionamento (definindo pessoas que sempre que ainda interessantes, ou confiáveis particulares ções amowka ã rsla es md d cnee o ohcmno do conhecimento o conceber de modo desse resulta Não tÿj popy’itÿj = “eu aconselho/oriento”, “eu = , literalmente “queixo bem-disposto” para se mo- se para bem-disposto” “queixo literalmente , kaminu’aza Tomowkap mowka tomowkap ), tododiaaoalvorecer. compõe também o verbo acon- , em suma, explica o que foi e foi que o explica suma, em , imowka por história, sem diferen- sem história, por -p = “me aconselhe, “me = indica tratar-se indica 159 his- pareciam –, ), e muito menos temo’em versão da história era comum ouvir críticas de um ganhava o sentido fraco de Ao contrário do que acontecia comigo, nas relações coti- Os Aweti não me parecem, portanto, contar com a escrita para escrita a com contar portanto, parecem, me não Aweti Os adquirir conhecimentos sobre o mundo à sua volta. A escrita entre eles, ao menos por enquanto – quando a com ver a maioria mais teria –, português fala mal aldeia da habitantes dos De volta ao modelo xamânico da escrita vimentar, ou vimentar, seja, falar) ou mentira ( as narrativas das sagas dos antigos, comumente desqualifica- das como versões pobres, falsas ou mentirosas de histórias que só outro determinado narrador sabe contar verdadeiramente. Em minha experiência como ouvinte de mitos entre os Aweti, além de notar divergências consideráveis quanto ao rumo dos inexistên- ou existência personagens, de nomes acontecimentos, cia de certos personagens etc., dianas entre os Aweti a proliferação de (versões das) histórias seus de histórias escutam filhos dilema: grande um constitui não pais, avós, às vezes sogros – normalmente a narração das his- tórias dos antepassados é uma atribuição masculina – sem se preocupar em cotejar com a história do vizinho que, aliás, deve narra- uma em palavras, outras Em incompleta. ou errada estar ção todo o contexto passa a ser informação; verdade e relações de parentesco são reconstruídas em retroalimentação contínua. Estou sugerindo que, como entre os Araweté, para os Aweti o como. e transmite, o quem de sabe, quem de inseparável é saber Ao mesmo tempo, algumas concepções básicas são tilhadas por compar- todos e os detalhes são pouco importantes, mais material de manobras políticas que de disputas científicas sobre como as coisas realmente são. Em qual narrador do mito você a comida, sua partilha você quem com de inseparável é acredita quem você apoia, de que lado você está. se engajar em uma disputa velada buscando definir em quem eu quem em definir buscando velada disputa uma em engajar se acreditaria como dono da história verdadeira. O que implicava uma escolha minha sobre quem, dentre eles, seria mais meu pa- rente que os outros. narrador contra a narração alheia, problematizando desde a in- completude de uma narrativa até a ordem pela qual as histórias com que em tempo mesmo Ao outra. a após uma contadas eram plácido relativismo os velhos Aweti podiam afirmar para mim que em – diferente” é dele história a assim, é história “minha tória 160 que étrocado–orahistórias, oralínguas? participantes de um eterno circuito de trocas, de acordo com o Aweti,os enquanto entre constituídas são pessoas de tipo que ce ser o problema que merece desenvolvimento adiante: afinal, sobre a perspectiva indígena do saber nos conduziu, e me pare- considerações as onde para lugar o foi este consanguinidade, de relações e afinidade de relações entre amazônicas, culturas às fundamental distinção, a aqui até negligenciando estive to alteridade que se materializam na figura do a e afinidade a mas antigos, dos histórias de missão/narração está marcado não é a filiação ou a identificação, como na trans- é o objeto de troca – a reificação da diferença dos afins –, o que tanto pressupõe quanto compõe uma relação. Quando a língua história, uma escuta se como língua, a Escutar/entender dade. totali- sua em apreendida ser a inerte matéria conhecimento, de objeto como língua a era não ali jogo em estava que O va. nati- língua a aprender para apenas, ouvir nada, escrever não N interlocutor seu aconselhava que Mehinaku rapaz indígenas. professores dos atual política proeminência a atesta o como branco, do potência certa adquirir de forma uma ser pode co do visto define quem está vendo, ver o mundo visto pelo bran- saber o que os brancos sabem também é importante. Se o mun- porém, sentido, mesmo Nesse veem. brancos os que mundo o momentaneamente olhar permite que conhecimento escrita, a saber que do saber permite escrita a que o menos Importa eles. –, será também preciso ver como os brancos para negociar com rais causadores de doença e pode assim lidar com tais entidades sobrenatu- seres dos mundo o vê xinguano xamã o tabaco de doses altas de ingestão pela provocado transe do através que Se é preciso ver como os espíritos para lidar com eles – lembro xamã, possibilitando a incorporação de novos pontos de vista. do corporal transformação a permitem que alucinógenas cias substân- as como operar poderia processo, desse indígena são vi- uma imaginar para extrapolamos se escrita, A inegável. é dialogar, a obrigados são índios os que com governamentais não e governamentais órgãos nos televisão, na indígena, área da entorno no força, e presença cuja branco, do língua a falar branco, mundo no interferir de capazes torná-los de poder o Agora talvez seja possível entender melhor a perspectiva do kujãmen cara’iwa . Enquan- a 161 SUMMARY | RESUMO REFERÊNCIAS . . An- (pp. . Oxford: . 144 – . Berkley: Univer- Berkley: . 115 . London: The Athlo- The London: . ), 2 ( Araweté: os deuses cani- . Tese de doutorado, Uni- . Tese 2 Oxford: Clarendon Press. Oxford: Clarendon ). . Tese de . doutorado. Tese Rio de ). Xamanismo e sacrifício. In ). Os pronomes cosmológicos pronomes Os ). 1986 Mana, Apapaatai: Apapaatai: rituais de máscaras no 2002

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12.04.2009 30.03.2009 | KEYWORDS Rua Sorocaba, MARINA VANZOLINI FIGUEIREDO Xingu. Aweti. ethnology.South-American knowledge. Anthropological Upper Aweti.| Xingu. Alto sul-americana. gia Etnolo- antropológico. Conhecimento indígena. Conhecimento about eachotherwhilesharinginformation. have people knowledge the in is, that acquired, is it which by way the in embedded thus is world the about Knowledge tions. rela- social expanding of outcome and means the as appears Indians, taken as the subject of knowledge), to the (the latter writing world the of understanding an register to way a as it see knowledge, of notion former,western the a While to according writing. the of conceptions natives’ Indian her between anthopologist’sand comparison a presents paper the Xingu, Upper the Aweti,from the among research field author’sintensive the [email protected] 22271 Tel.: do saber sobre as pessoas que trocam conhecimentos. | sendo assim inseparável do modo pelo qual é adquirido, ou seja, sociais, relações suas de expansão da resultado e meio como ce conhecimento), para os segundos o saber sobre o mundo apare- 21 - 110

2286 –RiodeJaneiroRJ - 5787 736 /

303 21

–Botafogo 8131 - 8641 Indigenous knowledge. Indigenous Following