Faculdade Cásper Líbero Programa De Mestrado Em Comunicação
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FACULDADE CÁSPER LÍBERO PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO Gustavo Dhein A BESTA QUE SE RECUSA A MORRER Identidade, mídia, consumo e resistência na subcultura heavy metal São Paulo 2012 1 GUSTAVO DHEIN A BESTA QUE SE RECUSA A MORRER Identidade, mídia, consumo e resistência na subcultura heavy metal Dissertação apresentada à Faculdade Cásper Líbero, como requisito para obtenção do título de mestre em Comunicação. Área de concentração: Comunicação na contemporaneidade. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Novaes Pinto Coelho. São Paulo 2012 2 Dhein, Gustavo A besta que se recusa a morrer: identidade, mídia, consumo e resistência na subcultura heavy metal / Gustavo Dhein. -- São Paulo, 2009. 211 f.: il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Novaes Pinto Coelho Dissertação (mestrado) – Faculdade Cásper Líbero, Programa de Mestrado em Comunicação 1. Heavy metal. 2. Produtos midiáticos. 3. Consumo. 4. Identidade. I. Novaes, C.N.P. II. Faculdade Cásper Líbero, Programa de Mestrado em 3 Comunicação. III. Título. 4 Aos meus velhos. Aos meus irmãos. 5 AGRADECIMENTOS Ao professor Cláudio Novaes Pinto Coelho. Pelo convívio fraterno, produtivo e estimulante, e pelo apoio ao longo de minha trajetória na Cásper Líbero. Ao Dimas Künsch, ao Luis Mauro Sá Martino, à Simonetta Persichetti e ao José Eugenio de Oliveira Menezes. Pelo convívio e ensinamentos no mestrado e na especialização. Ao pessoal da secretaria da Cásper Líbero - especialmente ao Daniel de Souza Brito e ao Jairo Bissolato. Pela gentileza e ajuda! Aos meus velhos, Rivaldo e Erica, e irmãos, Guilherme e Daniela. Por tudo o que sempre fizeram - e continuam a fazer - por mim. À Tailiê. Por ser a minha pequena. Por me suportar! Pelo amor que entrega e desperta. A todos os amigos. Mas especialmente ao Vitor Medeiros, ao Diego Martins e ao Fabiano Denardin. Companheiros nas horas boas e nas nefastas. A cada headbanger - esteja ele no palco, na plateia ou nas redações. Por manterem viva a inquietação. A fúria sadia. Por ainda se atreverem, de uma forma ou de outra, a dizerem “não”. 6 Esperanças e utopias Sobre as virtudes da esperança tem-se escrito muito e parolado muito mais. Tal como sucedeu e continuará a suceder com as utopias, a esperança foi sempre, ao longo dos tempos, uma espécie de paraíso sonhado dos cépticos. E não só dos cépticos. Crentes fervorosos, dos de missa e comunhão, desses que estão convencidos de que levam por cima das suas cabeças a mão compassiva de Deus a defendê-los da chuva e do calor, não se esquecem de lhe rogar que cumpra nesta vida ao menos uma pequena parte das bem-aventuranças que prometeu para a outra. Por isso, quem não está satisfeito com o que lhe coube na desigual distribuição dos bens do planeta, sobretudo os materiais, agarra-se à esperança de que o diabo nem sempre estará atrás da porta e de que a riqueza lhe entrará um dia, antes cedo que tarde, pela janela dentro. Quem tudo perdeu, mas teve a sorte de conservar ao menos a triste vida, considera que lhe assiste o humaníssimo direito de esperar que o dia de amanhã não seja tão desgraçado como o está sendo o dia de hoje. Supondo, claro, que haja justiça neste mundo. Ora, se neste nestes lugares e nestes tempos existisse algo que merecesse semelhante nome, não a miragem do costume com que se iludem os olhos e a mente, mas uma realidade que se pudesse tocar com as mãos, é evidente que não precisaríamos de andar todos os dias com a esperança ao colo, a embalá-la, ou embalados nós ao colo dela. A simples justiça (não a dos tribunais, mas a daquele fundamental respeito que deveria presidir às relações entre os humanos) se encarregaria de pôr todas as coisas nos seus justos lugares. Dantes, ao pobre de pedir a quem se tinha acabado de negar a esmola, acrescentava-se hipocritamente que “tivesse paciência”. Penso que, na prática, aconselhar alguém a que tenha esperança não é muito diferente de aconselhá-la a ter paciência. É muito comum ouvir-se dizer da boca de políticos recém-instalados que a impaciência é contrarrevolucionária. Talvez seja, talvez, mas eu inclino-me a pensar que, pelo contrário, muitas revoluções se perderam por demasiada paciência. Obviamente, nada tenho de pessoal contra a esperança, mas prefiro a impaciência. Já é tempo de que ela se note no mundo para que alguma coisa aprendam aqueles que preferem que nos alimentemos de esperanças. Ou de utopias. José Saramago, segunda-feira, 29 de Setembro de 2008 We are the nothing grating against the norm We are the something that will not conform No one understands what we've been given We are the useless by-products of soulless meat We are all gone we all sing the same tragedy Open wide and eat the worms of the enemy We are the enemies of reality, in a world that's unforgiving Enemies Of Reality (Nevermore) 7 RESUMO O heavy metal (HM), originado na virada dos anos 1960 para 1970, foi, por muito tempo, negligenciado pela academia e pela mídia. Sobre ele pairam, ainda hoje, acusações de ser alienado, violento e pobre artisticamente. Esta dissertação, no entanto, pretende lançar luz sobre a possibilidade de, por baixo da aparência, a subcultura metálica reter um potencial crítico e de resistência à sociedade de consumo e midiática, que a afastam de um simples entretenimento como descanso. Fugindo de perspectivas apocalípticas ou integradas sobre subculturas, compreendemos que em tempos hodiernos, marcados pela velocidade e pela facilidade de trânsito entre territórios (físicos, identitários e ideológicos) vivemos em um sistema complexo. Nele, as contradições inerentes ao capitalismo mantêm abertas possibilidades de subversão. E disputas pelo poder acontecem ininterruptamente. Trabalhamos, a partir disso, com a perspectiva de que o heavy metal se apropriaria de elementos da sociedade midiática e de consumo para manter erigidas as fronteiras que demarcam a identidade subcultural e sinalizam a sua inconformidade em relação à hegemonização e à homogeneização - traduzidas, para os headbangers, no entretenimento light. Considera-se a possibilidade de que os metalheads não se portem apenas como consumidores, mas também como produtores, para resistir a uma possível cooptação. A pesquisa buscou argumentos em autores variados, que incluem Theodor Adorno, Michel Foucault, Zygmunt Bauman, Pierre Bourdieu, Stuart Hall, Deena Weinstein, Andy R. Brown, entre outros. A análise recaiu especialmente (mas não exclusivamente) sobre a banda Sepultura, principal nome do heavy metal nacional. A escolha deve-se, também, ao fato de o grupo ter flertado, em vários momentos, com ritmos e estilos estranhos à subcultura metálica e deter, hoje, uma marca com grande valor comercial. Foram conduzidas entrevistas abertas e semiabertas e/ou fechadas, presenciais e a distância com fãs de heavy metal, representantes da mídia especializada e com o guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura. Também foi feita a interpretação de discursos presentes nas mídias especializada e mainstream. Palavras-chave: Heavy metal. Produtos midiáticos. Consumo. Identidade. Entretenimento. Resistência. 8 ABSTRACT Heavy metal (HM) was originated at the turn of the 1960s to 1970s, and was long neglected by academics and the media. Even today accusations of being alienated, violent ans artistically poor remains. This work aims to shed light on the possibility that, under the appearance, the metal subculture retain a critical potential of resistance to Consumer society. So, its characteristics deviate heavy metal from a simple entertainment. We avoid Integrated or apocalyptic perspectives about subcultures, understand that in post-modern times, marked by the speed and ease of transit between areas (physical, ideological and identities) live in a complex system. In this, the contradictions inherent in capitalism hold open the possibility of subversion, and power struggles happen seamlessly. We work from that, with the prospect that metal subculture do not exclude itself of - or refuses to be a part of - consumer society. Conversely, hevay metal takes elements to keep it erected boundaries that demarcate their identity and signal their dissatisfaction regarding hegemony and homogenization - translated, for headbangers, in a uncommitted light entertainment. In this work qe have theperspective that metalheads do not behave only as critical consumers but also as producers, to withstand a possible dilution subcultural and cooptation. The research sought various theoretical arguments and authors, including Theodor Adorno, Michel Foucault, Zygmunt Bauman, Pierre Bourdieu, Stuart Hall, Deena Weinstein and Andy R. Brown. The analysis fell especially (but not exclusively) on the band Sepultura, major brasilian name of heavy metal. The choice is due also to the fact that the group flirted, at various times, with strange rhythms and styles of metal subculture and arrest, today, a brand with great commercial value. We conducted presential and non-presential interviews (in-depth or open or semi-open) with heavy metal fans, specialized media representatives and with Sepultura´s guitarist, Andreas Kisser. It was also made the interpretation of discourses present in mainstream and specialized media. Palavras-chave: Heavy metal. Media products. Consumption. Identity. Entertainment. Resistance. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 CAPÍTULO 1 - NA FORJA 16 1.1. Rock pauleira 30 1.2. Sepultura 40 CAPÍTULO 2 - MUITO BARULHO POR NADA? 42 CAPÍTULO 3 - MILÍCIA METAL 64 3.1. Morte aos falsos 72 3.2. Mulheres de metal 81 3.3. O som da besta 84 3.4. “Deus odeia a todos nós” 102 3.4.1. Liturgia 107 3.4.2. Tropas do inferno 111 CAPÍTULO 4 - O PESO DA MÍDIA 114 4.1. Narração 126 4.2. Comoditização 136 4.3 Debates 139 CAPÍTULO 5 - RECUSE/RESISTA 142 5.1. Metal diante do espelho 150 5.2. Carnametal 157 5.3. Sem fantasia 161 5.4. Audição 166 5.4. Vil metal? 170 CONSIDERAÇÕES FINAIS 189 REFERÊNCIAS 195 ANEXOS 209 10 INTRODUÇÃO A frase “Was mich nicht umbringt, macht mich stärker”1, de Nietzsche, figura em um significativo número de músicas2 vinculadas ao heavy metal (HM).