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Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Jornalismo realizado sob a orientação científica do Professor Doutor Paulo Nuno Vicente

Aos meus avós

2 O FENÓMENO DA CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA: O CASO DO CORREIO DA MANHÃ

Diogo Francisco Bárria Torres

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE: CMTV, Convergência, Correio da Manhã, Jornalismo, Televisão.

O relatório que se segue relata a minha experiência enquanto estagiário na redação da CMTV, canal televisivo do Correio da Manhã, detido pela empresa . O meu estágio teve a duração de 3 meses, com início a 14 de Abril de 2013, e término a 14 de Julho de 2013. A sua execução teve, como objetivo, terminar a componente não-letiva do Mestrado em Jornalismo, na Universidade Nova de Lisboa.

Durante os 3 meses de estágio, o meu local de trabalho foi a redação da CMTV. O objetivo do meu trabalho foi o de realizar conteúdos televisivos para os blocos noticiosos do canal (CM Jornal das 13h, Notícias CM de hora a hora e CM Jornal das 20h). Além disso, fiz trabalhos específicos para o programa "Rua Segura", dedicado ao crime e à segurança. Ao longo do estágio tive também oportunidade de escrever para o jornal Correio da Manhã (CM).

Durante os três meses em que estagiei na redação do CM/CMTV, aperfeiçoei as técnicas de jornalismo televisivo e de imprensa, nas várias fases de produção de conteúdos.

3 ABSTRACT

KEYWORDS: CMTV, Convergence, Correio da Manhã, Journalism, Television.

This work is a description of my experience as a trainee for CMTV, the TV channel that derives from the newspaper Correio da Manhã, which is owned by Cofina, at Rua José Maria Nicolau 3, . My internship lasted three months, beginning on April 14, 2013, and ending on July 14, 2013. The main goal of this internship was to finish the Master in Journalism, at Universidade Nova de Lisboa.

During the 3-month internship, my workplace was the CMTV newsroom. The aim of my work was to produce television content for the channel (CM Journal 13h, Notícias CM and CM Jornal 20h). In addition, worked for the TV show "Rua Segura", dedicated to crime and security.

During the internship I also had the opportunity to write for the newspaper Correio da Manhã.

During the three months I interned at the CMTV/Correio da Manhã newsroom, I managed to improve the techniques of television and written journalism during the several stages of production of content.

4 ÍNDICE

Introdução...... 7

Capítulo I: Apresentação da instituição de acolhimento...... 9

I. 1. O grupo Cofina...... 9

I. 2. O Correio da Manhã...... 10

I. 3. O projeto CMTV...... 11

Capítulo II: Natureza dos trabalhos acompanhados...... 13

Capítulo III: Natureza dos trabalhos realizados...... 16

Capítulo IV: O fenómeno da convergência jornalística ...... 25

Capítulo V. O caso do Correio da Manhã/CMTV...... 35

Conclusões ...... 41

Referências bibliográficas ...... 43

Anexos ...... 45

Apêndice A. Infografia sobre o grupo Cofina ...... 46

Apêndice B. Infografia sobre o jornal Correio da Manhã ...... 47

Apêndice C: Diário de bordo...... 49

Apêndice D. Entrevista a Miguel Fernandes, pivô e jornalista do programa "Rua Segura"...... 54

Apêndice E. Entrevista a Miguel Martins, subchefe da redação multiplataforma...... 56

Apêndice F. Entrevista Rui Pedro Vieira, editor de multimédia e pivô da CMTV...... 59

5 Apêndice G. Entrevista a Magali Pinto, jornalista da secção e repórter da CMTV...... 62

Apêndice H. Entrevista a Débora Carvalho, jornalista da secção Sociedade e repórter da CMTV ...... 64

Apêndice I. Entrevista a Sara Carrilho, jornalista da secção Portugal e pivô da CMTV...... 67

Apêndice J. Frame de um dos diretos da explosão na Damaia...... 70

Apêndice K. Notícia de 20 de Agosto de 2013...... 71

Apêndice L. Frames de algumas das reportagens produzidas ...... 72

6 INTRODUÇÃO

O estágio teve a duração de 420 horas e decorreu entre 14 de Abril e 14 de Julho de 2013, na redação multiplataforma do Correio da Manhã/CMTV.

O estágio curricular, com componente profissionalizante, serviu para pôr em prática muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo do primeiro e segundo semestres do mestrado.

A principal razão pela qual foi escolhida esta instituição de acolhimento foi o facto do estágio se ter iniciado durante o arranque do projeto televisivo CMTV. Devido a esse fator, a minha experiência na redação decorreu num momento único para este projeto de comunicação.

O meu interesse em presenciar o arranque deste canal surgiu depois de já ter tido a oportunidade de realizar um estágio curricular na editoria de sociedade da TVI, durante a licenciatura. A CMTV serviu, portanto, para consolidar os meus conhecimentos ao nível do jornalismo televisivo e das técnicas audiovisuais.

Ao longo dos três meses de trabalho, assisti a uma sinergia entre o jornal Correio da Manhã, o canal televisivo CMTV e a própria redação online. Devido a essa ligação entre as várias plataformas, o tema da convergência jornalística foi uma questão que surgiu desde o início. Por conseguinte, decidi analisar a forma como a ligação entre estas várias componentes do projeto contribuem para o sucesso do mesmo.

Antes de explicar o caso do CM, faço uma contextualização teórica sobre a convergência jornalística, na qual exploro o conceito e as suas consequências em vários níveis. Apoiei-me estudos de vários autores sobre este fenómeno que, nos últimos anos, se disseminou pelas empresas de media. E, tal como nos outros países, também em Portugal se fez sentir.

Analisadas as vantagens e as desvantagens da implementação deste conceito nas redações, analisei a forma como a convergência foi aplicada no Correio da Manhã. Para isso, baseei-me na minha experiência pessoal enquanto estagiário na empresa,

7 assim como em entrevistas feitas a alguns dos trabalhadores noticiosos do CM. Decidi entrevistar o subchefe da redação multiplataforma, bem como alguns dos jornalistas que viram as suas funções alteradas com o aparecimento do canal televisivo. Alguns deles acumularam, às funções iniciais, o trabalho de pivôs. Outros acumularam o trabalho de repórteres da CMTV, ao trabalho da edição em papel que até então faziam.

8 I. Apresentação da instituição de acolhimento

O estágio sobre o qual este relatório incide refere-se à CMTV, canal televisivo do jornal Correio da Manhã, detido pelo grupo Cofina.

O grupo Cofina

A Cofina é um dos maiores grupos do setor dos media em Portugal e é uma empresa cotada na bolsa nacional. Foi criada em 1995 com um capital social de cinco milhões de euros e com o objetivo de liderar o mercado da imprensa. Durante cerca de dez anos, a Cofina dedicou-se a vários negócios, como a pasta de papel. Atualmente, a empresa detém diversas publicações de imprensa nacional (ver infografia em Anexos, pp. 45). No setor de imprensa generalista diária, o grupo compreende o jornal Correio da Manhã, o desportivo , o económico Jornal de Negócios e o gratuito . Relativamente a publicações semanais, a Cofina detém a newsmagazine Sábado, a revista de televisão TVGuia e a publicação dedicada ao mundo dos famosos, Flash!. Ao nível de publicações mensais, o grupo tem em portefólio a revista de moda Vogue Portugal, a publicação masculina GQ e a revista para o público feminino, Máxima. No ano de 2013, o grupo lançou-se numa nova aposta, tendo criado o seu primeiro canal de televisão, a CMTV. O conselho de administração da empresa é composto por seis elementos, sendo que o presidente é o engenheiro Paulo Fernandes, que foi também um dos fundadores do grupo.

9 O Correio da Manhã

O Correio da Manhã é o jornal generalista diário líder em Portugal. Segundo dados relativos ao período Janeiro-Outubro de 2013, o CM vendeu em banca uma média de 112 840 exemplares, o que corresponde a 55% de quota de mercado entre os diários generalistas. A publicação é vista pela Cofina como o seu main asset, mas o jornal, que tem mais de trinta anos (ver infografia em Anexos, pp. 46), só é detido pelo grupo desde 2000. Lançado, pela primeira vez, a 19 de Março de 1979, o Correio da Manhã afirmou-se, desde logo, como um jornal de cariz popular e com uma linguagem de compreensão fácil para a globalidade dos leitores. De acordo com o Estatuto Editorial do título1, o CM "busca um olhar português sobre o pulsar contínuo do País e do Mundo. Escolhe o espaço global da língua portuguesa como principal foco do seu desígnio de informar." É esse o ADN da publicação. O objetivo do CM é privilegiar aquilo que acontece em Portugal, desde as grandes cidades às mais pequenas regiões. E, por isso mesmo, o jornal compreende uma rede de correspondentes espalhada pelo país. Além da principal redação, em Lisboa, há delegações do Correio da Manhã nas cidades do , , Viseu, Évora, Faro e Portimão. Além dessas delegações, o jornal apoia-se em correspondentes localizados em diversas cidades do país. Diariamente, o Correio da Manhã tem uma edição em papel que é distribuída pelo país. Nas primeiras páginas encontra-se a secção "Atualidade", que trata das notícias mais importantes do dia, seja de que tema forem. De seguida, é a vez da secção "Portugal". Trata-se de um dos espaços mais importantes do jornal e também um dos que compreende mais páginas. Versa sobre notícias relativas à criminalidade, justiça e à segurança. Logo depois, é a vez da secção "Sociedade", dedicada a temas como a saúde, educação, ambiente ou religião. Segue-se o espaço "Economia", onde é possível ler as principais notícias sobre o tema. E logo de seguida, a secção "Política". Nas páginas seguintes é a vez das notícias sobre questões internacionais na secção

11 Estatuto Editorial do Correio da Manhã. http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/estatuto-editorial

10 "Mundo". E, seguidamente, encontra-se o "Desporto". Esta é, a par com o "Portugal", uma das secções que contempla mais páginas na publicação. Já praticamente no fim do jornal, é possível encontrar a secção "Cultura&Espétaculos", dedicada ao mundo das artes, como o cinema, a música ou a literatura. A penúltima secção do CM é denominada "Televisão&Media" e versa, exatamente, sobre o mundo da televisão, dando especial atenção à audimetria. Segue-se a última secção do jornal, e também uma das maiores, o "Vidas". São várias páginas dedicadas ao mundo das celebridades nacionais e internacionais. Além destas secções, o CM dedica páginas ao boletim meteorológico, ao cartaz de cinema, televisão e teatro, a contactos de farmácias, ao horóscopo e a passatempos. As duas últimas páginas, denominadas "A fechar", contemplam as notícias de última hora recebidas na redação. De segunda-feira a domingo, o Correio da Manhã segue esta estrutura. Mas, além disso, em determinados dias da semana, disponibiliza outros conteúdos. Na sexta-feira, por exemplo, é a vez da revista Correio TV. Trata-se de uma revista semanal dedicada às notícias do mundo da televisão. Ao sábado é publicada a revista Vidas juntamente com o jornal. Uma publicação que, tal como o nome indica, é uma extensão da secção diária homónima. Ao domingo, é a vez da revista Domingo, uma newsmagazine que se dedica a temas da sociedade.

O projeto CMTV

A 6 de Fevereiro de 2013 foi apresentado o projeto da CMTV, a pouco mais de um mês de arrancar.

Visto pelo Presidente do grupo Cofina, Paulo Fernandes, como uma "antiga aspiração", o canal do Correio da Manhã propôs-se como uma alternativa no mercado televisivo português, principalmente no que competia à informação.

11 Aprovado pela Entidade Reguladora da Comunicação como um canal generalista, a CMTV delineou desde logo o seu ADN como um canal "cem por cento português". Como objetivo principal, o diretor Octávio Ribeiro afirmou que se trataria de uma estação onde a notícia teria primazia, apesar da presença de entretenimento.

Foram várias as personalidades da televisão que se aliaram ao projeto, vindas de várias estações. O jornalista José Carlos Castro, que durante 18 anos trabalhou na TVI, e o jornalista Carlos Rodrigues, que entre outros cargos que ocupou, chegou a ser subdiretor de informação da SIC, juntaram-se à direção do projeto.

Durante os meses que antecederam o lançamento do canal, foram várias as transferências que agitaram o mercado do audiovisual. Entre outras figuras, destacam- se as contratações de Francisco Penim (fundador dos canais temáticos da SIC), Pedro Mourato (colaborador da área da produção da TVI), Andreia Vale (jornalista da SIC), Nuno Graciano e Maya (antigos apresentadores da SIC), João Ferreira (jornalista da SIC e Económico TV) ou Tiago Rebelo (editor da TVI).

Com o objetivo de operacionalizar e consolidar a CMTV, a Cofina fez uma parceria com a Portugal Telecom e, a 17 de Março de 2013, deu-se o arranque do canal na posição 8 da plataforma MEO.

A CMTV lança-se, portanto, como um canal generalista de pendor informativo, disponibilizado através do cabo.

A estação resulta de um esforço conjunto entre os funcionários que já pertenciam ao jornal Correio da Manhã e a novos profissionais que foram contratados propositadamente para reforçar a equipa. Uma sinergia que é possível constatar no facto de o jornal e o canal serem produzidos pela mesma equipa e no mesmo espaço.

12 II. Natureza dos trabalhos acompanhados

Durante o estágio que realizei, acabei por integrar a redação do Correio da Manhã, dedicando-me mais especificamente ao projeto de televisão do grupo. Durante três meses, acompanhei a rotina de produção de uma redação multiplataforma, tendo, contudo, auxiliado de perto o trabalho televisivo da CMTV, que começa cedo.

Às 6h da manhã dos dias de semana tem início o primeiro bloco de notícias. Intitulado "Notícias CM", este espaço noticioso, que dura sensivelmente três horas, é apresentado pela jornalista Cátia Nobre. Além de peças jornalísticas sobre assuntos nacionais e internacionais, o programa conta com convidados em estúdio, especialmente no que toca ao tema da saúde. Também o trânsito das principais cidades portuguesas é contemplado.

Perto das 8h45, também nos dias de semana, tem início o programa de entretenimento "Manhã CM", apresentado por Nuno Graciano e Maya. São três horas de emissão com público em estúdio e com vários convidados. Além disso, à hora certa são atualizadas as notícias em blocos noticiosos de cerca de cinco minutos, também apresentados pela jornalista Cátia Nobre.

Às 11h45 tem início o programa "Flash Vidas", dedicado ao mundo das celebridades nacionais e internacionais. Apresentado por Lara Afonso ou Ana Lúcia Matos, a emissão tem cerca de uma hora e conta com reportagens e comentadores em estúdio.

Às 12h30 começa o "CM Jornal," apresentado pela jornalista Andreia Vale. Durante cerca de duas horas, são dadas as notícias que marcam a atualidade nas várias esferas da sociedade. O programa tem início meia hora antes dos jornais dos restantes canais generalistas com o objetivo de fixar o público.

13 Durante toda a tarde, à hora certa, as notícias são atualizadas nos blocos intercalares chamados "Notícias CM". Duram alguns minutos, que variam conforme a necessidade de exploração de determinado tema que esteja a marcar a atualidade. São separados por programas de entretenimento como "Hora de Estimação" (dedicado ao mundo dos animais), "A Mais Bela" (um programa que se dedica à transformação do visual das mulheres que se candidatam), "Mundo Louco" (emissão de alguns dos vídeos mais insólitos que fazem sucesso na internet) ou "Aquela Máquina" (programa dedicado ao mundo dos automóveis).

Às 17h30 há uma emissão de uma hora de notícias desportivas, o "Hora Record". Trata-se de um programa com conteúdos elaborados por jornalistas do desportivo Record, também detido pela Cofina.

Às 19h45 tem início o "CM Jornal", apresentado pelo jornalista José Carlos Castro, seguindo os mesmos moldes do jornal da hora de almoço.

Às 21h30 é emitido o programa "Mercado", dedicado à atualidade desportiva, muitas das vezes com comentadores em estúdio.

Às 22h45 inicia-se o programa "Rua Segura", que incide sobre o tema da criminalidade e segurança. Durante cerca de uma hora, o jornalista Miguel Fernandes apresenta reportagens exclusivas de acompanhamento com as forças policiais e comentadores em estúdio, como o ex-ministro da Administração Interna, Rui Pereira ou o antigo inspetor da Polícia Judiciária, Francisco Moita Flores.

Todos os programas de estúdio são gravados no mesmo espaço multifunções, com a utilização dos chamados chromas (cenários verdes que são digitalmente transformados em cenários distintos para cada programa). A única exceção é o programa matinal "Manhã CM", que é filmado num cenário físico.

Ao longo dos três meses em que estagiei na empresa, o canal sofreu várias alterações em termos de grelha. Uma manifestação da própria fase de início de um novo projeto. "Médico de Família" e "António Cordeiro" foram dois dos programas que acabaram por não corresponder às expetativas da direção e, depois de algumas semanas de emissão, foram cancelados. O primeiro tratava-se de um programa em

14 estúdio, com público presente, que abordava questões de saúde, com especial enfoque na prevenção de doenças. O segundo tratava-se de um talk-show diário, apresentado pelo ator António Cordeiro. Pretendia ser um programa intimista de entrevistas e dava especial atenção a temas ligados ao erotismo.

15 III. Natureza dos trabalhos realizados

Na entrevista inicial através da qual iniciei o meu estágio no Correio da Manhã, foi-me proposto integrar a redação do projeto CMTV, devido à minha experiência em televisão (tinha já realizado um estágio curricular na editoria de sociedade da TVI). Ainda durante a entrevista foi-me que iria fazer reportagens específicas para o programa "Rua Segura". Trata-se de um programa diário que aborda a atualidade ligada ao crime e à segurança.

Durante os três meses de estágio fiz reportagens para o programa "Rua Segura" e acabei por fazer outras para os blocos noticiosos da CMTV. Além disso, foi neste estágio que fiz o meu primeiro direto televisivo. Em anexo é possível encontrar um diário de bordo com as tarefas que realizei durante o estágio.

O Dalet

A primeira aprendizagem concreta que tive foi relativa ao programa de montagem disponibilizado aos jornalistas. O objetivo é montar as peças televisivas depois de cada saída em reportagem. Para isso, tive que aprender a trabalhar com o Dalet Digital Media Systems. Trata-se de um sistema de produção e de gestão de conteúdos em contexto de redação, integrando não apenas a zona de edição audiovisual, mas também de coordenação editorial e frequentemente acesso a despachos de agências.

O programa tem a capacidade de interligar todos os jornalistas, no que compete à montagem de peças para os diferentes programas e até à construção do alinhamento de cada emissão. Desta forma, depois de cada saída em reportagem, as imagens filmadas são transferidas para o Dalet e depois são trabalhadas por cada jornalista. É possível gravar voz através dos microfones agregados aos computadores e gerir a imagem e o som na montagem.

16 Depois de montada a reportagem, falta apenas inserir os grafismos (leads e oráculos). Feito esse processo, o projeto é transformado num vídeo que é depois colocado no alinhamento do programa. É este o mecanismo utilizado diariamente pelos jornalistas na redação.

O programa "Rua Segura"

No primeiro dia foi-me explicado, pelo apresentador do programa, Miguel Fernandes, que todas as semanas iria acompanhar equipas da Polícia de Segurança Pública, da Guarda Nacional Republicana e da Polícia Marítima, entre outras forças de segurança. Era este o principal desafio do programa "Rua Segura", para o qual produzi conteúdos durante três meses.

Segundo Miguel Fernandes, que até ao lançamento da CMTV, era a cara do programa "S.O.S" da TVI24, o "Rua Segura" tem o objetivo de mostrar o trabalho diário das forças de segurança em Portugal. A partir desses acompanhamentos com as forças policiais, o desafio foi produzir reportagens com uma linguagem própria do programa. Sobre essa questão, foi-me explicado que as reportagens não teriam voz off, mas que viveriam do som ambiente captado durante os acompanhamentos. Esse som seria obtido através da colocação de um microfone de lapela nos agentes que acompanharíamos. E é exatamente a linguagem do "Rua Segura" que, para Miguel Fernandes, distingue o programa de todos os outros. "Mais nenhum programa de informação e reportagem em Portugal tem esta linguagem (realista, próxima, praticamente sem filtros e onde a equipa de reportagem deve esforçar-se para interferir o menos possível na historia) e os conteúdos são divulgados desta forma." O objetivo, segundo o pivô, é "dar prioridade à transparência, ao real, à frieza dos testemunhos, à clareza do que transmitimos. A linguagem (conteúdo e formato) tem mais importância do que a estética noticiosa." Para completar as reportagens, no fim de cada acompanhamento faria uma entrevista fixa, já com microfone de mão, a relatar as ocorrências que nesse acompanhamento teríamos acompanhado de perto.

17 Mas, ao ser aplicada esta linguagem, em que há pouca interferência do jornalista e os protagonistas são os agentes de autoridade, estará a entrar-se no domínio da chamada "reality TV"? Para Miguel Fernandes, o "Rua Segura" em nada se assemelha a esse conceito. "O que os formatos 'reality TV' fazem é mostrar uma realidade por si só, já na origem, condicionada. Normalmente, estes programas partem de um cenário montado, com uma estrutura e um fio condutor pré concebido e onde as pessoas vão evoluindo. Por mais que pareça real, apenas mostra um lado real de uma realidade que poderia ser diferente se porventura não estivesse a ser filmado. E além do mais, é entretenimento. O 'Rua Segura' é informação, reportagem jornalística. E os seus conteúdos, sejam eles recolhidos durante ações policiais ou de socorro real, ou ainda durante treinos (também eles reais), não condicionam as histórias."

A marcação dessas mesmas reportagens foi, durante a maior parte do estágio, feita por Miguel Fernandes. Assim que a Direção Nacional da PSP ou da GNR autorizassem os acompanhamentos, estávamos prontos a fazer as reportagens. Estas aconteceram, normalmente, num horário compreendido entre as 18h00 e as 02h00 às quintas-feiras, sextas-feiras e sábados. A decisão de acompanhar as forças de segurança neste horário e nestes dias prendeu-se com o objetivo de filmar o maior número possível de ocorrências.

Chegados aos locais, eu e o repórter de imagem colocámos sempre o microfone de lapela na pessoa escolhida para o acompanhamento. Trata-se de uma decisão feita por uma entidade responsável dentro da Polícia de Segurança Pública ou Guarda Nacional Republicana. A partir daí, sempre que houve uma comunicação via rádio para as patrulhas, acorremos aos locais. O objetivo foi sempre o de filmar as situações do ponto de vista do trabalho das forças de segurança. E podemos falar, neste ponto, daquilo que estas reportagens significam para as forças de segurança e para o canal. Para as autoridades, este tipo de acompanhamentos funcionam como uma forma de mostrar ao público o trabalho dos agentes. Trata-se de um tipo de reportagem mais próximo do trabalho dos intervenientes, em comparação com peças jornalísticas tradicionais.

18 É criada, desde logo, uma relação de entendimento entre os jornalistas e os agentes que os acompanham. Para as forças policiais, esta acaba por ser uma forma de comunicação corporativa diferente das mais usuais. Miguel Fernandes fala, exatamente, das vantagens e desvantagens que este tipo de reportagens pode ter para as forças policiais. "Para as forças é vantajoso e desvantajoso. É vantajoso porque mostra trabalho e acalma a população mostrando como o seu dinheiro é aplicado nesta área e ao mesmo tempo transmite sensação de segurança porque é mostrado trabalho. Pode ser desvantajoso se as atuações forem mal executadas." Para o meio de comunicação, esta é uma forma de chegar mais rapidamente e de forma mais direta aos acontecimentos. Quanto às ocorrências, a equipa de reportagem teve sempre o cuidado de proteger a identidade dos intervenientes de cada situação, a saber, vítimas e agressores. Também a identidade de menores foi protegida. Depois dessas patrulhas, entrevistámos sempre a pessoa destacada para falar sobre as situações que tínhamos acompanhado. Já na redação, a montagem das reportagens foi sempre feita com o intuito de mostrar o máximo de realismo possível, desde as conversas entre os agentes e os cidadãos, às comunicações via rádio. Depois de finalizadas, as reportagens foram transmitidas inicialmente no programa "Rua Segura", na rubrica Ação Real. No dia seguinte, foram sempre emitidas no CM Jornal das 13h e no CM Jornal das 20h. Tratam-se, no fundo, de reportagens diferentes das habituais, no que toca à linguagem e ao ambiente de filmagens. O acompanhamento das forças policiais fez com que a equipa de reportagem se inserisse, na maioria das vezes, em ambientes considerados hostis. Em alguns casos foram feitas filmagens em bairros identificados como sensíveis, da zona metropolitana de Lisboa, noutros foram filmadas pessoas consideradas perigosas. Apesar de tudo, as forças de segurança tiveram sempre em atenção a garantia da segurança da equipa de jornalistas. Uma situação decorrente da proximidade criada, no terreno, entre os repórteres e as autoridades. Este programa segue, de algum modo, a mesma linha de formatos internacionais que o antecederam. Um dos programas mais conhecidos do género é o americano "Cops", que estreou em 1989 na estação televisiva FOX. O programa difere

19 do "Rua Segura", na medida em que são colocadas câmaras nas próprias forças de segurança. De acordo com a descrição do programa no portal da estação televisiva2, o "Cops" é um programa documental que segue, em episódios de 22 minutos, o dia-a-dia das autoridades em 140 cidades dos Estados Unidos da América. Além deste formato, há diversos programas que seguem a mesma linguagem real e que também se dedicam às questões da segurança e criminalidade. Só nos Estados Unidos, podem ser referidos programas como "Cajun Justice", "Alaska State Troopers", "Undercover Stings" ou "Boston's Finest". Praticamente todos estes programas têm o objetivo de mostrar, ao público, a ação das forças policiais. A linguagem que utilizam é semelhante à das reportagens do "Rua Segura", dando especial atenção ao som ambiente que é gravado e às declarações dos intervenientes. Apesar de tudo, estes programas mostram, sobretudo, a ação e, muitas das vezes, utilizam música para enfatizar os acontecimentos. Nestes programas, a câmara funciona como uma espécie de elemento das próprias forças policiais. Já no que diz respeito ao "Rua Segura", há uma separação entre a equipa de reportagem e as autoridades (é utilizado o microfone de mão, são ouvidas as perguntas do jornalista e muitas vezes os próprios jornalistas aparecem e dirigem-se diretamente à câmara). Por conseguinte, o programa da CMTV deverá enquadrar-se na reportagem jornalística, enquanto que os restantes programas mencionados podem ser agrupados na chamada "reality tv". Para Miguel Fernandes, o "Rua Segura" distingue-se de todos estes formatos. "Em Portugal não existe nada assim e, no mundo, tenho dificuldade em apontar outro produto igual. Existem formatos semelhantes mas limitam-se a mostrar reportagens no terreno ou comentários do próprio apresentador (muitas vezes tendenciosos). Este formato diário de reportagem exclusiva, comentário feito por convidados especialistas e comentadores fixos, mais a atualidade (nacional e internacional), arrisco dizer que é único a nível mundial."

2 Website "Cops". www.cops.com/about-us/

20 As reportagens para o CM Jornal

Em Maio, no segundo mês de estágio, comecei a fazer reportagens para o CM Jornal das 13h e o CM Jornal das 20h, os dois principais noticiários da CMTV.

A linguagem dessas mesmas reportagens foi diferente das reportagens de acompanhamento do Rua Segura, uma vez que seguiu os moldes tradicionais das peças televisivas. Quer isto dizer, que normalmente a reportagem passou pela utilização de alguns segundos de entrevista (o chamado "vivo") intercalado com a minha voz off. Em média, estas reportagens tiveram entre um e dois minutos.

Além disto, fiz também vários offs. Trata-se da informação que é lida diretamente pelo pivô (a pessoa que apresenta as notícias), mas com emissão de um bloco de imagens em simultâneo.

Os diretos

No decorrer deste estágio, tive a oportunidade de fazer o meu primeiro direto televisivo. O momento aconteceu a 4 de Junho, para o programa "Rua Segura". Tratou- se de um direto na zona dos Restauradores, em Lisboa, que abordou a questão da segurança no Verão. No direto fiz uma entrevista a um subcomissário da esquadra da Polícia de Segurança Pública relativamente à criminalidade na cidade.

Mais tarde, tive a oportunidade de consolidar as técnicas utilizadas durante os diretos televisivos, tendo feito mais três.

Nunca, até então, tinha feito um direto televisivo. Nem tinha tido formação para tal. Graças à liberdade que me foi dada neste estágio, tive espaço para aprender as técnicas e os truques para o sucesso de um direto televisivo.

Na CMTV, os diretos são feitos através de um sistema tecnológico que utiliza a rede 4G para transmitir imagem. A tecnologia, denominada Teradek, envia imagens para a redação através da colocação, na câmara de filmagem, de pen drives de várias

21 operadoras móveis. Trata-se de uma forma de custo reduzido, quando comparada aos tradicionais carros de exteriores com antenas de satélite das estações televisivas.

Sempre que é necessário um direto televisivo no canal do Correio da Manhã, o repórter de imagem entra em contacto com o setor da "continuidade" da CMTV. Trata- se de uma área de trabalho que tem, como objetivo, garantir que a emissão do canal não fique a negro e que haja imagens constantes. É para esse mesmo sector que são enviadas as imagens em exteriores.

No local da reportagem, o jornalista testa o som com a "continuidade", dizendo algumas palavras para o microfone. O objetivo é regular o volume do som ambiente com a voz do repórter.

Ao mesmo tempo, o produtor do noticiário entra em contacto com o jornalista, de modo a perceber as condições no terreno. É, também, decidido o tempo de duração do direto e o tempo que resta para este começar. O jornalista tem, então, que colocar um auricular devidamente ligado ao próprio telemóvel, onde é recebida a chamada da régie (sala onde é controlada a emissão que decorre) e onde vai ser ouvido o lançamento do direto, feito pelo pivô.

Na mesma altura, o repórter de imagem regula o plano com a câmara de filmar e dá indicações ao jornalista em termos de enquadramento da imagem. E a partir desse momento que o produtor do noticiário faz uma contagem ao ouvido do repórter para que este comece a falar.

É desta forma que são feitos os diretos televisivos na CMTV. Trata-se de uma experiência única no que diz respeito ao trabalho em televisão e, no meu caso, uma das experiências que mais nervoso me deixou ao longo do estágio.

Durante os minutos do direto, é pedido ao jornalista que tenha uma linguagem correta e de fácil compreensão. O objetivo é mostrar, ao máximo, aquilo que se passa no terreno.

22 A escala de radar

Uma das secções mais importantes da redação do Correio da Manhã/CMTV é o Radar. Trata-se de uma zona fisicamente perceptível na redação do CM, sendo composta por duas secretárias rodeadas por ecrãs que transmitem os canais generalistas nacionais de sinal aberto (RTP, SIC e TVI), os principais canais de notícias nacionais (SIC Notícias, TVI24 e RTP Informação) e alguns canais de notícias internacionais (como a CNN, Sky News ou Al Jazeera). Além disto, as secretárias dispõem de dois computadores, cujo objetivo é permitir a pesquisa de notícias.

O objetivo da escala de radar é receber, em primeira mão, todas as notícias que são enviadas pelas agências noticiosas (LUSA, Reuters, AFP, etc.) e emitidas pelos principais canais de notícias nacionais e internacionais. A escala é rotativa e o desafio é fazer com que o jornalista que está destacado na secção esteja constantemente atento às notícias que são dadas pelas estações de televisão, pelos websites na internet e pelas agências noticiosas.

Sempre que é recebida alguma notícia de relevo, esta deve ser entregue à secção correspondente do jornal (Sociedade, Mundo, Desporto, etc.) e também comunicada ao coordenador de serviço da CMTV. Além disso, a notícia é dada à secção Online, para que fique disponível nos websites do jornal e do canal.

Pode ser falado, neste campo, do conceito de "jornalismo sentado", na medida em que muitas das notícias relativas a acontecimentos internacionais ou mesmo a nacionais, são produzidas sem sair da redação, com recurso à internet e às agências noticiosas. E, de acordo, com autores como João Canavilhas, este conceito está disseminado um pouco por todos os meios de comunicação.

auxiliares, como a World Wide newsgroups, entre outras funcionalidades da Internet." (Canavilhas, 2004: 2)

23

Já no fim dos anos 90, outro autor falava sobre o mesmo conceito, dizendo que o futuro dos jornalistas estaria ameaçado.

- até

- Tempos Modernos... Dito - Ramonet, 1998: 51)

Estes conceitos aplicam-se, de alguma forma, ao modo como as notícias enviadas pelas agências noticiosas e sebsites são recebidas pelos jornalistas. Muitas das vezes são enviadas juntamente com vídeos e imagens. Materiais que possibilitam a produção de notícias para as várias plataformas sem sequer sair da redação.

24 IV. O fenómeno da convergência jornalística

Durante os três meses em que estagiei na redação do CM/CMTV apercebi-me de uma autêntica sinergia entre as várias plataformas que constituem este meio de comunicação.

Muitas das vezes, o mesmo jornalista produzia diferentes conteúdos sobre a mesma matéria para o jornal, para a televisão e para o portal online. Cheguei mesmo a fazer essa produção de diferentes conteúdos.

E foi por isso que decidi explorar a forma como as plataformas estão interligadas de modo a disponibilizar diferentes conteúdos ao público. É neste âmbito que surge o conceito da convergência, mais especificamente a editorial ou jornalística.

O conceito da convergência jornalística

Vivemos um tempo em que os meios de comunicação são, praticamente na sua totalidade, indissociáveis das novas tecnologias. O aparecimento da Internet veio alterar a forma como o jornalismo é produzido. A forma de trabalho dos produtores de informação tem vindo a ser modificada em conformidade com os avanços da tecnologia e em resposta às alterações do mercado.

Estas mudanças implicaram uma alteração do papel do jornalista. Quer isto dizer que começou a ser pedido, aos jornalistas, que tivessem um domínio das novas tecnologias e que tivessem uma nova forma de resposta. O objetivo tem sido responder "com grande velocidade e veracidade à interatividade" (Tárcia, 2008:8).

É neste contexto que, nos anos 90, nos Estados Unidos, surge o quadro da convergência. Um conceito que é aplicado aos media.

25 O autor Henry Jenkins fala do fenómeno da convergência, focando exatamente a questão de simbiose entre os vários media.

"Bem-vindo à cultura da convergência, onde os velhos e os novos media colidem, onde os media das corporações e os alternativos se cruzam." (Jenkins, 2006: 2)

O conceito da convergência jornalística reflete a integração de várias plataformas mediáticas que, até então, estariam separadas. Trata-se de um processo que foi desencadeado pelo aparecimento das novas tecnologias.

"O conceito de convergência jornalística refere-se a um processo de integração de meios de comunicação tradicionalmente separado que afeta as empresas, a tecnologia, os profissionais e o público em todas as fases de produção, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo." (Salaverria, 2007: 4)

Num estudo feito por Stephen Quinns, é citado um outro autor Larry Pryor, sobre este mesmo conceito. De acordo com o segundo, a convergência é um fenómeno que acontece quando, numa redação, a equipa trabalha de forma interligada para criar diferentes conteúdos para diferentes plataformas. O objetivo é que haja conteúdos disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. Uma resposta à necessidade de informação do público ligada à individualização do consumo mediático.

"A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta o âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e idiomas anteriormente desagregados, de forma a que os jornalistas elaborem conteúdos que são distribuídos através de múltiplas plataformas." (Salaverría, 2007:4)

O aparecimento deste fenómeno veio mudar os media. De acordo com Pavlik e

26 McIntosh3, este processo conduziu a implicações na estrutura dos media, na sua relação com o público, nos métodos de trabalho dos seus profissionais e mesmo no conteúdo da sua comunicação.

O aparecimento da convergência jornalística

O fenómeno da convergência surge numa altura em que as empresas de media se vêem confrontadas com alguns problemas. Desde logo, a situação económica desfavorável para os grupos dos media, ligada, por exemplo, à redução de vendas em banca. Também um certo afastamento do público relativamente aos meios de comunicação tradicionais e uma aproximação às formas emergentes de comunicar, ligadas às novas tecnologias.

A convergência jornalística surge, deste modo, como uma consequência a esta fase vivida pelas empresas de media. E aparece como uma oportunidade de modificar a estrutura dos próprios media em seu proveito.

A convergência pode ser considerada uma estratégia com o objetivo de manter os meios de comunicação, apesar das dificuldades que estes vivem. A finalidade é também a de aumentar a produtividade dos jornalistas que fazem parte das redações e reduzir os custos de produção.

Com o desenvolvimento exponencial da internet nos anos 90, começaram a alterar-se os métodos de produção jornalística. O meio digital tem mesmo vindo a alterar, cada vez mais, o panorama mediático, proporcionando mais possibilidades de informar o público.

3 Pavlik and McIntosh. "Convergence and its consequences" in Bucy, E. Living in the Information Age: a new media reader. (USA: Thomson Learning. pp. 67-73. 2005)

27

outros recursos multimédia. Ou seja: o meio digital pro

2010:2)

Nos Estados Unidos, em 2000, surgiu o primeiro caso de convergência de redações. O grupo Media General concentrou três redações numa só. Deu-se, assim, a convergência do canal de televisão WFLA-TV, do jornal Tampa Tribune e do website Tampa Bay Online (Salaverría, 2000). Os conceitos de multimédia e imediatismo começam a fazer parte do léxico empresarial jornalístico.

A estrutura das empresas começa a alterar-se e as formas de produção também. O modelo tradicional de uma edição diária de um jornal começa a dar origem a conteúdos disponíveis a qualquer hora e em vários meios.

O papel do jornalista no contexto da convergência

O papel dos jornalistas alterou-se com a expansão da convergência editorial. A integração das novas tecnologias nas redações acabou por pôr à prova a postura destes profissionais, na medida em que exigiu mais das suas capacidades de trabalho, ao mesmo tempo que serviu para optimizar esse mesmo trabalho e diminuir custos de produção.

"A tecnologia digital exige mais do jornalista, que muitas vezes tem que aprender diversas funções operacionais, trabalhando ao mesmo tempo como produtor, editor e executor. Todas

(Tárcia, 2008: 41)

28

É neste contexto que, para Anabela Gradim, surge o conceito de "jornalista MacGyver".

"As tecnologias digitais, e especialmente os novos media, estão simplesmente a acelerar um processo onde as administrações pressentem um aumento das margens de lucro, produzindo o jornalista tipo MacGyver, o super repórter multimédia." (Gradim, 2009: 6)

O conceito vai buscar inspiração à série de televisão homónima dos anos oitenta e noventa. Este tipo de jornalista é visto como alguém que dispõem de conhecimento suficientes para produzir conteúdos para várias plataformas.

O jornalista pode, deste modo, escrever um artigo para o jornal, produzir uma peça televisiva e integrar a informação num conteúdo multimédia para o website do órgão de comunicação, entre outras funções. Anabela Gradim desenvolve esse mesmo conceito.

" laptop

One man show

" (Gradim, 2003: 117)

O jornalista passa a ser um profissional multifunções, dotado de técnicas de produção variadas, que podem compreender a escrita para imprensa, a escrita e edição para televisão ou a integração de vídeo e texto para o portal online.

Trata-se, pois, de uma forma de rentabilizar o trabalho das redações de determinado meio de comunicação, fazendo com que certos conteúdos se expandam para outros órgãos da mesma empresa.

29 A autora diz, mesmo, que para as administrações das empresas de media, este sistema funciona também como uma tentativa de redução de custos de pessoal.

Com este processo de digitalização e convergência, muitos autores concluem que o jornalista foi ficando cada vez menos especializado em determinado assunto e, pelo contrário, cada vez mais especializado em práticas de fazer jornalismo de forma rápida e adaptada a esta nova realidade. Uma resposta à exigência do público em ter conteúdos à sua disposição a qualquer momento.

Constrangimentos e vantagens para o jornalista

Segundo vários autores, este processo pode levar ao aumento do trabalho e à diminuição do tempo durante o qual este é feito, o que pode, por sua vez, fazer com que o jornalista tenha cada vez menos tempo para determinadas funções jornalísticas tradicionais, desde a verificação de fontes à contextualização de determinados assuntos.

Anabela Gradim parafraseia Robert Nelson quando diz que "aos jornalistas que produzem peças para múltiplas plataformas, sobra menos tempo para se dedicarem à investigação e à verificação dos factos". (Gradim, 2009:8)

Também Eric Klinenberg fala sobre o mesmo assunto:

"Agora, um jornalista pode escrever um artigo para a edição vespertina, aparecer no ecrã televisivo para falar do mesmo assunto e expandir a informação, na Internet, ao sugerir links e outros websites ou informações. Estas práticas mantêm os custos num nível baixo, ao absorverem o tempo que os jornalistas usavam para as suas investigações e, ao mesmo tempo, pedindo-lhes que tenham novas competências profissionais (por exemplo, uma boa aparência na televisão) e um estilo de escrita adaptável a todos os tipos de media." (Klinenberg, 1999:7)

Ornebring chega às mesmas conclusões, quando diz que o processo de

30

Alguns analistas contemporâneos têm preocupações sobre a forma como a tecnologização do espaço de trabalho força os jornalistas a trabalhar mais e em menos tempo, e estão preocupados pela realidade de que trabalhar com várias tecnologias retira tempo às ta

(Ornebring, 2009: 10)

Também o mesmo autor conclui que os jornalistas têm cada vez menos aptidões, ao estarem mais focados na experiência técnica do que propriamente na experiência e conhecimento. Trata-se, pois, de uma diminuição de competências que se generaliza a todo o espaço de trabalho.

para se dedicarem a práticas jornalísticas mais tradicionais, como a confirmação de fontes e a contextualização de informações. As novas rotinas têm dado ênfase à rapidez, o que levanta receios sobre a qualidade dos conteúdos. Além disto, acresce o facto de que as tecnologias permitem um processamento de notícias mais rápido, a pressão sobre querer ser o primeiro a ter a história e a estar no local do acontecimento, o que não permite tempo para a 2009 12)

Cria-se, desta forma, um panorama de corrida contra o tempo, o que, para certos autores, traz várias desvantagens para o jornalismo. Os conteúdos passam a ser em maior número e em diferentes formas, mas começam a tornar-se mais superficiais.

V que requere uma explicação que tem tanto de rápida como de V 1999 7)

Quer isto dizer que a importância que é hoje dada ao tempo, acaba por se

31 cruzar no caminho de uma investigação jornalística cuidada.

como um todo, radicalizando a corrida contra o relógio que sempre T 2008 46)

Formas de trabalho como a pesquisa ou o cruzamento de fontes podem, segundo os autores, ficar comprometidos. Tudo isto são questões criadas pela digitalização do espaço de trabalho e pelo fenómeno da convergência. Para estes autores, começa a ser privilegiado o jornalismo rápido e superficial em detrimento, por exemplo, do jornalismo de investigação.

Robert Haiman, presidente do Poynter Institute, diz que a convergência não contribui para o grande objectivo do jornalismo de investigação:

[ ] criando uma sociedade que está equipada com o conhecimento de que necessita para tomar as decisões cívicas corretas mais frequentemente do que as decisões cívicas erradas, assim ajudando a pe […] G 2009 9)

Desta forma, surge, de acordo com Anabela Gradim, uma ameaça para a existência de jornalismo de qualidade. "A própria noção de jornalismo de excelência (top quality journalism) fica ameaçada" (Gradim, 2003: 124).

Confirmação de fontes ou contextualização de informações são algumas das características do jornalismo de investigação. Uma forma de fazer jornalismo que, pelo seu carácter mais moroso poderá estar a ficar comprometido pela necessidade de rapidez e imediatismo que a convergência trouxe.

Segundo um relatório da UNESCO4 sobre o tema, o jornalismo de investigação é definido da seguinte forma:

4 Hunter, M.L. Story-based inquiry: a manual for investigative journalists. (Paris: UNESCO. 2009)

32

[É ] matérias que estão ocultadas, tanto deliberadamente por alguém numa posição de poder, ou acidentalmente, por detrás de uma massa de factos caótica e circunstâncias que obscurecem o conhecimento. Requere usar fontes e documentos secretos e públicos".

Trata-se, em suma, de uma forma de fazer jornalismo que depende "do material recolhido ou gerado através da intuição do repórter" (Hunter, 2009: 8)

Para Nils Hanso5, o jornalismo de investigação poderá caracterizar-se por vários pontos principais. Trata-se, em primeiro lugar, de uma abordagem crítica de determinada temática considerada relevante.

A iniciativa parte, muitas vezes, do próprio jornalista, e a sua investigação perdura apesar das resistências que encontra pelo caminho. Depois de reunida a informação, é feita uma análise profunda do material recolhido. E é o conteúdo resultante desse longo processo que vai dar, ao público, uma informação que de outra forma não estaria disponível.

A Dutch-Flemish Association for Investigative Journalism, VVOJ6, acaba por definir o conceito da mesma forma, ao dizer que o jornalismo de investigação é criado através de uma correlação e reinterpretação de factos. Diz ainda que o jornalismo faz um esforço substancial, tanto ao nível quantitativo, devido à quantidade de tempo necessária para a pesquisa e consulta de fontes, como qualitativo, com a formulação de questões e abordagens aprofundadas.

São características que contrastam com o panorama criado pela digitalização do espaço de trabalho e pelo fenómeno da convergência. Contrastes esses que ajudam a perceber de que forma é que o jornalismo de investigação poderá estar a ficar

5 Journalism Fund. http://www.journalismfund.eu/what-investigative-journalism

6 Journalism Fund. http://www.journalismfund.eu/what-investigative-journalism

33 comprometido.

Outra das críticas apontadas ao aparecimento da convergência jornalística tem que ver com as linguagens e estilos de cada plataforma, que passam a ser trabalhados pelo mesmo profissional.

Segundo vários autores, cada plataforma tem uma linguagem própria e, a partir do momento em que o jornalista começa a deixar de ser especialista numa só plataforma, começa a não dar atenção às particularidades de cada uma delas. (Salaverría, Garcia Avilés e Masip, 2010).

34 V. O caso do Correio da Manhã/CMTV

Tendo em conta a definição de convergência jornalística apresentada, a redação do Correio da Manhã/CMTV é, segundo a minha análise, um exemplo deste fenómeno. Se me reportar ao local onde estagiei - a redação de Lisboa do meio de comunicação - é fácil perceber as características que fazem do CM/CMTV, um caso de jornalismo convergente.

Durante os três meses de estágio, foram várias as vezes em que, numa mesma saída em reportagem, tive que produzir conteúdos sobre a mesma matéria para o canal televisivo, o jornal impresso e o portal online. Cada um desses conteúdos incidia sobre o mesmo tema, mas era produzido seguindo regras e linguagens distintas, bem como formas de trabalho diferentes.

Foi este o grande desafio apresentado aos jornalistas do CM aquando da criação do canal televisivo. Todos eles se viram confrontados com uma nova forma de fazer jornalismo que teriam que começar a praticar. Já não era só a imprensa escrita e a online.

A partir desse momento, os profissionais tiveram que estar disponíveis para aplicar os conhecimentos jornalísticos à linguagem da televisão. E todos eles tiveram, durante três meses, formação para tal.

A redação do CM/CMTV é, hoje, constituída por várias secções que estão fisicamente separadas entre si: Portugal (atualidade ligada ao crime e à segurança), Sociedade, Economia, Política, Desporto, Cultura&Espetáculos TV&Media e Vidas (atualidade do mundo das celebridades). Mas, apesar dessa separação, toda a redação está interligada.

Numa zona central da redação encontra-se uma outra secção, composta por computadores com o software Dalet, que mencionei na descrição do estágio, e por microfones. Esta é a zona dedicada à construção de peças televisivas e é aí que, não só os jornalistas contratados para o canal, mas também os profissionais que já

35 trabalhavam para o jornal, se juntam. O objetivo é produzir conteúdos para a CMTV.

Dos 150 jornalistas que o Correio da Manhã compreende ao nível nacional, 43 foram contratados para incidir, sobretudo, no canal televisivo. Entre eles contam-se cerca de 25 repórteres de imagem.

Rui Pedro Vieira é um dos jornalistas que já trabalhava na redação antes do aparecimento do canal. É editor de multiplataforma e foi escolhido para ser um dos pivôs dos noticiários da CMTV. Novas funções que alteraram o dia-a-dia deste profissional. "Com o aparecimento da CMTV vieram as novas competências. Estou sempre sujeito a duas escalas: à da CMTV (que se sobrepõe à outra) e à da Multiplataforma. Normalmente, durante dez a doze dias por mês estou dedicado à CMTV, onde tenho de preparar alinhamentos, rever pivôs, fazer peças e preparar um ou mais jornais, que conduzo." O jornalista foi um dos membros da redação que teve que se adaptar às novas exigências da empresa e conta, na primeira pessoa, como é trabalhar em conjunto para as várias plataformas. "É comum um jornalista, quando está num serviço, ir acompanhado de fotógrafo e repórter de imagem. Cabe-lhe cobrir os acontecimentos para o jornal em papel e para a televisão. Além disso, está em contacto com a equipa fixa do online para transmitir no imediato as informações mais relevantes."

Pegando na minha experiência pessoal, enquanto estagiário, posso recordar uma notícia que me fez criar conteúdos para as várias plataformas. Tudo aconteceu na tarde do dia 20 de Agosto de 2013. O alerta foi o de uma explosão na zona da Damaia, em Lisboa. Fui enviado para o local, acompanhado de um repórter de imagem e de um fotógrafo. Já na zona do acidente, foi-me dito que teria que fazer diretos para os blocos informativos da CMTV. Ao mesmo tempo, via telefone, fui dando informações à equipa do "online". Ainda antes dos diretos, entrevistei algumas pessoas para a reportagem televisiva que, mais tarde, teria que editar. Entre as 16h00 e as 19h00 fiz quatro diretos para o canal. (ver Anexos, pp. 61) Já no regresso à redação, editei uma reportagem de modo a que fosse emitida no noticiário da noite, o CM Jornal. Logo de seguida, escrevi uma notícia para a edição em papel que sairia no dia seguinte (ver Anexos, pp. 62). O objetivo foi o de dar um foco

36 diferente daquele que tinha dado na reportagem televisiva. Utilizei diferentes entrevistas para cada uma das reportagens. A finalidade foi a de comunicar a mesma notícia para diferentes plataformas.

Esta é uma forma de trabalho que corresponde às características enunciadas por autores como Klinenberg (1999:7). As palavras do jornalista Rui Pedro Vieira confirmam essa sinergia: "Um jornalista do CM, se quiser dar cartas em todas as plataformas, tem de dominar o software usado na produção em papel (Milenium), no site (Scriptor) e na televisão (Dalet). Além disso, o registo de fontes passa também por gravador e câmara. Hoje, um jornalista tem de saber trabalhar em consonância com um fotógrafo ou um câmara. Ou seja, é preciso adequação de discursos, domínio de ferramentas e saber gerir o que se pode avançar no imediato".

Também a jornalista da secção de Sociedade, Débora Carvalho, teve que se adaptar a este novo panorama. "Com a chegada da CMTV, a minha rotina, enquanto jornalista do CM, alterou-se. A escrita televisiva, a edição de vídeo e os diretos eram os principais desafios. A formação proporcionada pela empresa aos 'jornalistas do papel' foi determinante para seguir esta aventura. Hoje em dia pensamos na notícia num todo, ou seja, ao fazermos a cobertura de determinado assunto, procuramos fazer o melhor texto para o online, a melhor reportagem para a televisão e encontrar o melhor foco noticioso para o jornal." Assim como os restantes colegas, a jornalista teve que encontrar formas diferentes de trabalhar o mesmo assunto, de modo a que a notícia pudesse ser produzida para diferentes plataformas. "A linguagem televisiva, por definição, é mais simples. As imagens também falam por si e ajudam o espectador a compreender o assunto. No jornal, há que escrever aquilo a que o leitor não teve acesso".

A jornalista Magali Pinto, da secção Portugal, está já habituada a fazer conteúdos distintos para as diferentes plataformas. Mas todos eles são construídos seguindo estratégias concretas e que se diferenciam entre si. " No meu caso, em particular, tento sempre dar a mesma notícia mas com focos diferentes para não cansar o leitor/espetador. A escrita permite-nos ser mais emotivos nos textos. A peça

37 televisiva é sempre mais concisa. Tenta-se chegar a um equilíbrio, um exercício que todos os jornalistas desta redação fazem todos os dias." Trata-se, portanto, de uma forma de trabalho que ganhou espaço, sobretudo, aquando do aparecimento do canal. "A par do texto é fundamental dar uma imagem à notícia. A televisão veio dar o movimento que faltava ao jornal. A convergência das três plataformas tem sido feita gradualmente e de forma esforçada por todos os jornalistas da redação."

Estamos perante uma sinergia entre os três vetores que, juntos, constroem o universo Correio da Manhã. Mas, tal como foi referido, na forma de comunicar nas três plataformas, deve haver estratégias diferenciadas. O objetivo, diz a jornalista Sara Carrilho, é manter a atualidade das informações. "Se há uma operação das autoridades em curso, com buscas, com detenções, é noticiada logo no website, a remeter mais informação para a CMTV. O caso, a ação, com jornalistas no terreno, é depois acompanhada em direto na CMTV e guardam-se os pormenores, detalhes da investigação, para a edição em papel que estará nas bancas no dia seguinte. É posteriormente elaborada uma peça televisiva com esses detalhes, que no dia seguinte, é noticiada na CMTV e que, pelos pormenores exclusivos, que são a novidade, volta a ter destaque no 'site'. A jornalista Magali Pinto também reforça a forma como a estratégia de comunicação das notícias foi feita a partir do momento em que começaram a convergir diferentes plataformas. "O jornal logicamente vive de exclusivos e, quando assim é, a primazia é dada ao jornal e posteriormente é feita uma peça para a televisão, que só é divulgada quando o jornal está nas bancas. Quando há urgência em fazer as peças ou os diretos, o texto para o jornal é feito mais tarde, seguindo atentamente os prazos de fecho da edição. Quanto ao online, a informação é dada gradualmente para que o site esteja o mais atualizado possível ao longo do dia."

E é exatamente nos conteúdos online que a redação tem vindo a apostar nos últimos anos. Ainda antes do aparecimento da CMTV, já a redação do Correio da Manhã vivia uma convergência entre o papel e os conteúdos digitais. A secção multiplataforma do CM assenta nos pressupostos que fazem, da internet, um meio cada vez mais implementado no dia-a-dia das sociedades atuais. A

38 rapidez, a multimedialidade e a hipertextualidade são palavras que fazem parte do léxico da estratégia da secção que, na redação, é chamada de forma informal como "o online". Por detrás desse espaço está Miguel Martins, subchefe da redação multiplataforma. Segundo o mesmo, o objetivo é a convergência. "O Correio da Manhã tem uma redação multiplataforma, no verdadeiro sentido da palavra, que assenta numa estratégia de convergência. Essa mesma estratégia foi desenhada por mim, há cerca de um ano a pedido do diretor do jornal e assenta em eixos muito claros: a complementaridade dos conteúdos informativos é o objetivo principal, ao lado de uma relação de mutualismo entre as plataformas e não de parasitismo." O objetivo é, portanto, o de criar ligações e não o de separar os vários conteúdos que são constantemente produzidos pela empresa. Segundo Miguel Martins, a forma de adaptação dos jornalistas a esta realidade, principalmente com o lançamento do canal televisivo, foi fundamental para o sucesso da estratégia. "Os jornalistas deixaram de ser monoplataforma para passarem a construir conteúdo noticioso multiplataforma, dominando tanto quanto possível a produção do mesmo em vários ambientes, não só em termos técnicos, mas também de narrativa."

Trata-se, pois, de uma forma de rentabilizar os efetivos da empresa e de criar valor, mas, tal como foi referido pelos autores já citados, esta convergência acaba por ter desvantagens. Para os jornalistas desta redação, um dos principais pontos negativos é a falta de tempo para aprofundar as questões. "A voragem da informação e a necessidade de ter as informações em primeiro lugar dá uma certa adrenalina, mas também impede que às vezes se vá mais fundo nas questões. A especialidade, outrora tão valorizada, hoje em dia é, por vezes, preterida face à versatilidade, à abrangência de conteúdos noticiosos", diz Rui Pedro Vieira. A jornalista Sarra Carrilho completa essa questão, falando da rapidez com que os conteúdos têm que ser produzidos. "Se o tempo já escasseava para fazer uma reportagem e escrever no CM, com a CMTV, com vários noticiários por dia e com diretos , a rapidez na produção de conteúdos teve de aumentar ainda mais". E chega a falar, também, de um outro ponto, que acaba por ser contraditório à estratégia da empresa em fazer uma convergência jornalística. "Corremos sempre o risco de, por

39 exemplo, ao estarmos a dar informação no 'site' e na televisão sobre um caso, o mesmo perder importância, espaço, no jornal. É preciso selecionar de modo rigoroso quais os detalhes, os destaques de cada vetor. Também ao nível do domínio das várias técnicas necessárias para a produção de conteúdos distintos pode haver algumas falhas. O CM é, tradicionalmente, composto por jornalistas habituados a fazer textos para a versão impressa. Com o aparecimento das novas plataformas, são necessárias técnicas específicas. Apesar das formações que foram dadas aos profissionais, segundo os entrevistados, pode haver algumas lacunas. "A curva de adaptação dos jornalistas a vários ambientes técnicos e uma maturação da missão do jornalista pode, inconscientemente, não ser assimilada de imediato", diz Miguel Martins. Mas, apesar de tudo, e, tendo em conta a minha experiência no local, o ambiente que se vive na redação é de entreajuda entre os profissionais da televisão, os da imprensa e os do online. É comum ver os jornalistas que, no dia-a-dia, se dedicam à CMTV a apoiar os colegas do jornal na edição de reportagens ou nas técnicas de gravação de voz. No fundo, é mais um pormenor da convergência entre estes profissionais. Porque o objetivo principal é o de disponibilizar conteúdos aos leitores/espetadores. Para Miguel Martins, a finalidade de toda esta estratégia é a de união. "Uma marca, uma referência, várias possibilidades de ser vista em várias plataformas. Um CM global."

40 CONCLUSÕES

O fenómeno da convergência jornalística é, cada vez mais, uma forma de capitalizar os recursos que as empresas de media possuem com vários objetivos. A necessidade de sobrevivência destas empresas obriga à maximização do trabalho dos seus profissionais. Com o aparecimento e proliferação das novas tecnologias, surgem cada vez mais formas de distribuir conteúdos ao público. O fenómeno da convergência jornalística surge, desta forma, como uma resposta a estas questões, bem como uma resposta às necessidades de informação de uma audiência que quer conteúdos a qualquer hora e em qualquer plataforma. A redação do Correio da Manhã, o jornal mais lido em Portugal, teve que se adaptar a esta nova realidade. Após 34 anos de publicações em papel, o ADN do jornal acabou por ser transposto para um outro media, a televisão. Esse processo, que foi levado a cabo ao longo de 2012, obrigou a diversas mudanças no seio da redação. Os jornalistas, que até então faziam parte de um meio de comunicação impresso, com presença na internet, passaram a ter que dominar a linguagem televisiva. Alterações que dotaram estes profissionais de técnicas novas. Foram preparados, de certa forma, para produzir conteúdos nas várias plataformas que compreendem a empresa. Podemos olhar para este panorama como uma forma de pôr em prática o conceito do "jornalista MacGyver" apresentado por Anabela Gradim. Os jornalistas do Correio da Manhã trabalham, hoje, de forma integrada em três plataformas. E o processo de aprendizagem tem vindo a ser contínuo. Durante os três meses de estágio na redação, deparei-me com essa mesma realidade. Muitas das vezes tive que pensar em várias formas de transformar a mesma informação em várias notícias, dependendo das plataformas que fossem utilizadas. Tratou-se de uma realidade com a qual tinha tida apenas contacto durante uma das cadeiras do mestrado em Jornalismo, Questões Contemporâneas do Jornalismo. Foi durante a componente não-letiva que me dediquei à análise da convergência jornalística, mas, dessa vez, ligada à forma como pode estar a pôr em causa a existência de jornalismo de investigação. Tratou-se, na altura, de um tema que me

41 interessou bastante. Aquando do início do estágio, deparei-me com a realidade sobre a qual tinha lido, mas ainda não tinha tido contacto direto. Tendo em conta a prática profissional que desenvolvi durante os três meses em que fui estagiário do CM/CMTV, sinto que fui muitas vezes posto à prova, tendo em conta a liberdade e a confiança que me foi dada pelos editores e diretores. Penso, também, que foi graças à sinergia existente na redação, que ganhei competências ao nível de escrita para imprensa, escrita para televisão e relação com a câmara. Tudo isto aconteceu numa altura em que o panorama dos media vive uma época complexa, tendo em conta a diminuição de leitores das publicações, as constantes notícias sobre encerramentos de revistas e jornais e até despedimentos coletivos em empresas da área. Apesar desta situação, o meu estágio aconteceu numa altura importante de início de um projeto televisivo, a CMTV. Ainda antes do fim desses três meses, fui convidado a integrar a equipa do canal, onde estou contratado desde o dia 1 de Agosto de 2013.

42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Canavilhas . Os Jornalistas Portugueses e a Internet. (Beira Interior: Universidade

da Beira Interior. 2004)

Gradim, A. Os géneros e a convergência: o jornalista multimédia do século XXI. (Beira Interior: Universidade da Beira Interior. 2009)

G V 200 )

Hunter, M.L. Story-based inquiry: a manual for investigative journalists. (Paris: UNESCO. 2009)

Jenkins, H. Convergence Culture. Where old and new media collide. (Nova Iorque: New York University Press. 2006)

Journalism Fund. http://www.journalismfund.eu/what-investigative-journalism

Klinenberg. E. "Journalistes à tout faire de La presse américaine" in Le Monde Diplomatique. (Paris, pp. 7-9. 1999)

Örnebring, H. The Two Professionalisms of Journalism: Journalism and the changing context of work. (Oxford: Reuters Institute for the Study of Journalism. 2009)

Pavlik and McIntosh. "Convergence and its consequences" in Bucy, E. Living in the Information Age: a new media reader. (USA: Thomson Learning. pp. 67-73.

43 2005)

Ramonet, Ignacio. . (Madrid: Editorial Debate. 1998)

Rasêra, Marcella. Convergência jornalística: uma proposta de definição do termo. (Paraná: Universidade Tuiuti do Paraná. 2010)

Salaverria, R. and Garcia Aviles, J.A. Convergencia periodistica. Propuesta de definicion teórica y operativa. (Barcelona: 2007).

Salaverría, R., García Aviléz, J. and Masip, P. "Concepto de convergencia periodística" in Convergencia digital. Reconfiguración de los medios de comunicación en España. (Santiago de Compostela: 2010)

Tárcia, L. and Marinho S. P. Challenges and New Ways of Teaching Journalism in Times of Media Convergence. (Brasil: Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo. 2008).

44 ANEXOS

Apêndice A. Infografia sobre o grupo Cofina...... 46

Apêndice B. Infografia sobre o jornal Correio da Manhã...... 47

Apêndice C. Diário de bordo...... 49

Apêndice D. Entrevista a Miguel Fernandes, pivô e jornalista do programa "Rua Segura"...... 54

Apêndice E. Entrevista a Miguel Martins, subchefe da redação multiplataforma...... 56

Apêndice F. Entrevista a Rui Pedro Vieira, editor de multimédia e pivô da CMTV...... 59

Apêndice G. Entrevista a Magali Pinto, jornalista da secção Portugal e repórter da CMTV...... 62

Apêndice H. Entrevista a Débora Carvalho, jornalista da secção Sociedade e repórter da CMTV...... 64

Apêndice I. Entrevista a Sara Carrilho, jornalista da secção Portugal e pivô da CMTV...... 67

Apêndice J. Frame de um dos diretos da explosão na Damaia...... 70

Apêndice K. Notícia de dia 20 de Agosto de 2013...... 71

Apêndice L. Frames de algumas das reportagens produzidas...... 72

45 Apêndice A. Infografia sobre o grupo Cofina

Ano 2000: A Cofina adquiriu o jornal diário Correio da Manhã, que até hoje se mantém como o mais importante título do portefólio da empresa.

Ano 2002: adquiriu a revista semanal dedicada ao mundo da televisão e das celebridades, TV Guia.

Ano 2004: lançou a newsmagazine semanal Sábado, tendo como objetivo o de fazer frente a títulos como a revista Visão (detida pelo grupo ).

Ano 2006: adquiriu o jornal diário gratuito Destak, e nos anos que se seguiram lançou edições desse título em São Paulo (2007), no (2009), em Brasília (2010) e em Campinas (2011).

Além destes títulos, o grupo Cofina é também detentor de várias outras publicações. Relativamente a jornais diários, o portefólio inclui o desportivo Record e o económico Jornal de Negócios. Já relativamente a publicações semanais, a empresa detém a revista Flash!. Ao nível de títulos mensais, a Cofina publica as edições portuguesas da Vogue e da GQ, bem como a Máxima.

Ano 2013: o grupo lançou-se no mundo da televisão com a criação de um canal generalista de pendor informativo, a CMTV, que surge do jornal diário Correio da Manhã.

46 Apêndice B. Infografia sobre o jornal Correio da Manhã

19 de Março de 1979: Data da primeira edição do Correio da Manhã. Concebido pelo jornalista Vítor Direito, o título foi criado como um jornal de cariz popular e que privilegiava os temas do dia-a-dia.

Algo que, desde logo, marcou a diferença, foi o facto do CM também ter sido publicado ao Domingo, ao contrário dos restantes diários da época. Nessa altura, a redação situava-se na zona do Príncipe Real, em Lisboa.

Década de 80: O jornal cria delegações nas zonas Centro e Sul do país, com o objetivo de cobrir notícias na maior área possível.

22 de Novembro de 1981: Começa a ser publicada, na edição de domingo, uma revista de caráter generalista de 32 páginas a cores, a Correio de Domingo.

Meados da década de 80: O CM já tem uma circulação diária superior a 60 mil exemplares. A redação cresce e muda de instalações para a Avenida Mouzinho da Silveira, em Lisboa.

5 de Julho de 1991: Lançamento, com a edição de sexta-feira, da revista de televisão Correio TV. Trata-se de uma publicação de 32 páginas a cores que se debruça sobre o setor da televisão.

Década de 90: O CM continua a crescer, sendo que um dos fatores que mais contribuiu para isso foi o início da impressão da primeira página a cores.

As instalações acabam por mudar-se para um edifício da Avenida João Crisóstomo, na capital portuguesa.

47 1998: As notícias do jornal começam a ser publicadas na internet.

2000: A Presselivre, empresa proprietária do título, é comprada pelo grupo Cofina.

2002: João Marcelino é nomeado diretor do Correio da Manhã e durante os anos que se seguem, é feita uma aposta maior na componente digital do jornal.

24 de Fevereiro de 2007: O jornalista Octávio Ribeiro, que até então ocupava o cargo de diretor-adjunto, é nomeado diretor do CM.

A partir de 2008: A revista Vidas, dedicada ao mundo dos famosos, torna-se independente das páginas do jornal e começa a ser publicada aos sábados.

Tratam-se de 76 páginas a cores. Juntamente com esta publicação, começa a ser distribuído, também ao sábado, o caderno Sport, dedicado ao desporto.

Desde 2003: A audiência do CM não para de crescer. A publicação continua a ser a mais lida em Portugal desde este ano.

2013: Números são consolidados, com a passagem do CM para a televisão.

48 Apêndice C. Diário de Bordo

ABRIL

15 - Reportagem sobre salvamentos com o Instituto de Socorros a Náufragos

16 - Montagem da reportagem de acompanhamento

17 - Montagem da reportagem de acompanhamento

18 - Acompanhamento da PSP de Loures durante a tarde e noite

19 - Acompanhamento da PSP de Loures durante a tarde e noite

20 - Folga

21 - Folga

22 - Reportagem sobre o 25 de Abril

23 - Montagem da reportagem sobre o 25 de Abril

24 - Montagem da reportagem de acompanhamento

25 - Montagem da reportagem de acompanhamento

26 - Acompanhamento da PSP de Setúbal durante a tarde e noite

27 - Acompanhamento da PSP de Setúbal durante a tarde e noite

28 - Folga

29 - Folga

30 - Montagem da reportagem de acompanhamento

MAIO

1 - Montagem da reportagem de acompanhamento

2 - Montagem da reportagem de acompanhamento

3 - Acompanhamento da PSP de Lisboa durante a tarde e noite

49 4 - Acompanhamento da PSP de Lisboa durante a tarde e noite

5 - Folga

6 - Folga

7 - Acompanhamento da PSP de Lisboa durante a tarde

8 - Montagem da reportagem de acompanhamento

9 - Montagem da reportagem de acompanhamento

10 - Folga

11 - Folga

12 - Folga

13 - Reportagem sobre a diminuição de jovens

14 - Montagem da reportagem de acompanhamento

15 - Acompanhamento da PSP de Benfica

16 - Reportagem sobre o esquadrão de Cavalaria GNR

17 - Acompanhamento da GNR de Sintra

18 - Acompanhamento da GNR da Caparica

19 - Reportagem sobre o render da guarda no Palácio de Belém

20 - Folga

21 - Folga

22 - Montagem de reportagens de acompanhamento

23 - Montagem de reportagens de acompanhamento

24 - Montagem de reportagens de acompanhamento

25 - Escala de radar (turno da tarde)

26 - Folga

27 - Folga

28 - Montagem de reportagem de acompanhamento

29 - Reportagem sobre a segurança na noite de Lisboa

50 30 - Escala de radar (turno da tarde) e montagem de reportagem sobre a segurança na noite de Lisboa

31 - Entrevista a subintendente da PSP

JUNHO

1 - Montagem da reportagem de acompanhamento; elaboração de três offs de desporto

2 - Folga

3 - Folga

4 - Montagem da reportagem sobre o render da guarda; Primeiro direto televisivo; Reportagem sobre a segurança no Bairro Alto

5 - Reportagem com a empresa de segurança Cartrack; Montagem da reportagem de acompanhamento; Reportagem sobre uma operação de segurança da PSP de Sintra

6 - Montagem da reportagem de acompanhamento

7 - Montagem da reportagem de acompanhamento

8 - Acompanhamento da PSP de Lisboa

9 - Folga

10 - Escala de Radar

11 - Folga

12 - Reportagem sobre a campanha "Estou Aqui" da PSP

13 - Acompanhamento da PSP do Seixal

14 - Acompanhamento da PSP de Setúbal

15 - Acompanhamento da PSP de Setúbal

16 - Folga

17 - Folga

18 - Escala de radar

19 - Montagem da reportagem de acompanhamento

51 20 - Montagem da reportagem de acompanhamento

21 - Montagem da reportagem de acompanhamento

22 - Folga

23 - Folga

24 - Reportagem sobre violência em Alcácer; Protestos no Brasil; Entrevistas sobre o fecho de portas da Soflusa

25 - Reportagem sobre Mourinho; Montagem da reportagem de acompanhamento

26 - Montagem da reportagem de acompanhamento

27 - Reportagem sobre tiroteio em Carnaxide

28 - Direto sobre o tiroteio

29 - Folga

30 - Folga

JULHO

1 - Chegada a Portimão

2 - Marcação de reportagens em Portimão

3 - Reportagem sobre o Verão no Algarve

4 - Reportagem sobre reabertura do processo Maddie na praia da Luz

5 - Reportagem com o exército na Serra de Monchique

6 - Acompanhamento da PSP de Vilamoura

7 - Montagem da reportagem de acompanhamento

8 - Montagem da reportagem de acompanhamento

9 - Reportagem sobre os GIPS

10 - Reportagem com a Polícia Marítima

11 - Direto sobre a noite em Portimão; Acompanhamento com a PSP de Portimão

52 12 - Acompanhamento com a PSP de Portimão

13 - Regresso a Lisboa; Acompanhamento com a GNR da Costa Caparica

14 - Folga e fim de estágio

53 Apêndice D. Entrevista a Miguel Fernandes, pivô e jornalista do programa "Rua Segura" da CMTV

1. Qual é o conceito do programa "Rua Segura"? Mostrar o dia-a-dia das forças de segurança, socorro e apoio social em cenários de acção real onde as histórias são contadas pelos protagonistas.

2. De que forma se distingue dos restantes programas de informação? Pela linguagem. Mais nenhum programa de informação e reportagem em Portugal tem esta linguagem (realista, próxima, praticamente sem filtros e onde a equipa de reportagem deve esforçar-se para interferir o menos possível na historia) e os conteúdos são divulgados desta forma.

3. De que forma se insere no conceito do canal CMTV? A CMTV é um canal que pretende quebrar com a rotina, com o instituído, com o tradicional. O Rua Segura, a linguagem que eu utilizo e gosto, e que se reflecte no programa é assim: dar prioridade à transparência, ao real, à frieza dos testemunhos, à clareza do que transmitimos. A linguagem (conteúdo e formato) tem mais importância do que a estética noticiosa.

4. Como surge o conceito do "Rua Segura" no contexto nacional e internacional? O programa nasce da ideia do director geral da CMTV. Mas foi-me feito o convite para lhe dar forma e conteúdo. Ou seja, o Rua Segura foi desde o início pensado para ter este formato que já utilizo há vários anos. Mas o Rua segura é depois complementado com comentário e actualidade. Ou seja, em Portugal não existe nada assim e no mundo, tenho dificuldade em apontar outro produto igual. Existem formatos semelhantes mas limitam-se a mostrar reportagens no terreno ou comentários do próprio apresentador (muitas vezes tendenciosos). Este formato diário de reportagem exclusiva, comentário feito por convidados especialistas e comentadores fixos, mais a atualidade (nacional e internacional), arrisco dizer que é

54 único a nível mundial.

5. Estamos a falar de um programa que mostra, de forma próxima, o dia-a-dia das forças policiais. Quais são as vantagens dessas reportagens? E as limitações, tendo em conta a estratégia de comunicação corporativa de organismos como a PSP ou a GNR? Para as forças é vantajoso e desvantajoso. É vantajoso porque mostra trabalho e acalma a população mostrando como o seu dinheiro é aplicado nesta área e ao mesmo tempo transmite sensação de segurança porque é mostrado trabalho. Pode ser desvantajoso se as atuações forem mal executadas.

6. De que forma se relaciona este programa com a chamada "reality tv"? E o que o distingue desse conceito? Este formato é real. O conceito reality TV, para mim, não revela a realidade. O que os formatos reality TV fazem é mostrar uma realidade por si só, já na origem, condicionada. Normalmente, estes programas partem de um cenário montado, com uma estrutura e um fio condutor pré concebido e onde as pessoas vão evoluindo. Por mais que pareça real, apenas mostra um lado real de uma realidade que poderia ser diferente se por ventura não estivesse a ser filmado. E além do mais, é entretenimento. O Rua Segura é informação, reportagem jornalística. E os seus conteúdos, sejam eles recolhidos durante acções policiais ou de socorro real ou ainda durante treinos (também eles reais) não condicionam as histórias.

55 Apêndice E. Entrevista a Miguel Martins, subchefe da redação multiplataforma

1. Como caracteriza a redação do Correio da Manhã do ponto de vista do modo de produção de conteúdos?

O Correio da Manhã tem uma Redação multiplataforma, no verdadeiro sentido da palavra, que assenta numa estratégia de convergência. Essa mesma estratégia foi desenhada por mim, há cerca de um ano a pedido do diretor do jornal e assenta em eixos muito claros: a complementaridade dos conteúdos informativos é o objetivo principal, ao lado de uma relação de mutualismo entre as plataformas e não de parasitismo. No fundo, como exemplo, se uma notícia da edição impressa complementa um tema no site a mesma é disponibilizada como tal. Nestes casos, ambos os conteúdos informativos são interligadas entre si. A televisão, por sua vez, também aponta para a edição impressa ou aproveita muitas das notícias da mesma, além da atualidade, claro. Há timings claros sobre os assuntos que podem ir de imediato para o site e os que têm de esperar, pois estamos a falar de um canal pago. Ainda no que toca a conteúdo pago, convém referir que fechamos alguns dos conteúdos a micropagamento no site do jornal todos os dias, sobretudo os que contêm informações exclusivas da edição impressa. Naturalmente que todo este processo é complexo e, naturalmente também que precisa de uma constante afinação, mas tem resultado. No fundo: para ser totalmente claro: no CM, um jornalista é suficientemente versátil para não se limitar a praticar shovelware em caso nenhum, isso seria um logro para os leitores e abriria uma ferida letal na sustentabilidade financeira do título. Tínhamos conversa para …

2. A redação compreende, num só espaço, o setor da imprensa, da televisão e do online. De que forma é feita a união entre esses três vectores? Grande parte desta resposta está já na resposta à pergunta anterior. O work flow exato de como funciona – por indicação da direção – não pode, nem deve, ser

56 revelado para figurar em documentos externos ao Correio da Manhã. Ao limite, o processo de newsmaking de um acontecimento a partir do momento que entra na Redação do CM passa por um envolvimento das chefias intermédias sobre o que fazer com o mesmo e a decisão das chefias superiores sobre as plataformas que o darão, em que moldes e com que prioridade.

3. Quais considera serem as vantagens dessa convergência? Uma marca, uma referência, várias possibilidades de ser vista em várias plataformas. Um CM global.

4. E as desvantagens? A curva de adaptação dos jornalistas a vários ambientes técnicos e uma maturação da missão do jornalista que pode, inconscientemente, não ser assimilada de imediato. No entanto, a permanente monitorização e envolvimento da chefia no seu todo e o aperfeiçoamento do plano de convergência se encarregará de resolver estas desvantagens.

5. Olhando para a evolução da forma de produção de conteúdos nesta redação, quais considera terem sido as principais alterações ao nível da forma de produzir? Simples: os jornalistas deixaram de ser monoplataforma para passarem a construir conteúdo noticioso multiplataforma, dominando tanto quanto possível a produção do mesmo em vários ambientes, não só em termos técnicos, mas também de narrativa.

6. De que forma é que as novas tecnologias alteraram o modo de fazer jornalismo na redação? Da mesma forma que alteraram (e alteram) noutras profissões: obrigam a renovar formas de produção, mais viradas para o alcance do que se noticia e direcionadas para o público-alvo. Ainda não chegámos à otimização ideal, mas estamos no caminho certo para que os jornalistas de hoje possam ser mais rápidos, mais eficazes e mais rigorosos, com a simplificação de todas as ferramentas que têm à mão, on e off line.

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7. Qual é a preocupação que o Correio da Manhã/CMTV tem relativamente à produção de conteúdos online? Nenhuma que não tenha com a produção nos dois old media que detém: edição impressa e CMTV. É uma aposta grande, como o é diariamente o jornal e a CMTV. Obriga a mais otimização, pelo simples facto de ser mais dispersa no que toca às saídas (sites, apps, redes sociais, etc), mas é nuclear no transporte da marca e dos seus conteúdos para o mundo inteiro. Por isso gera receitas já avultadas e por isso há estratégias de pagamento implementadas (caso dos micropagamentos referidos na resposta 1).

8. Qual é o retorno que estes têm para o jornal/tv? Está respondido anteriormente. Números concretos não estou autorizado a dar em documentos que fiquem acessíveis no exterior.

58 Apêndice F. Entrevista a Rui Pedro Vieira, editor de Multiplataforma e pivô da CMTV

1. Qual é a sua função nesta redação? Sou editor de Multiplataforma, com especiais competências no site da CMTV. Além disso, sou pivô do canal televisivo do Correio da Manhã e ainda escrevo crítica de cinema para o jornal em papel.

2. Há quanto tempo trabalha no Correio da Manhã? Trabalho há 4 anos e meio no CM – sou jornalista há onze, tendo passado antes ‘D ’ ‘ ’ ‘ F ’ TVI). Durante três anos e meio fui subeditor de Cultura/Online (antes, os sites estavam ligados à secção de Cultura). Com o aparecimento da CMTV vieram as novas competências.

3. Como é o seu dia-a-dia enquanto profissional da empresa? Costumo dizer que a rotina é não ter rotinas. Estou sempre sujeito a duas escalas: à da CMTV (que se sobrepõe à outra) e à da Multiplataforma. Normalmente, durante dez a doze dias por mês estou dedicado à CMTV, onde tenho de preparar alinhamentos, rever pivôs, fazer peças e preparar um ou mais jornais, que conduzo.

4. O surgimento da CMTV veio alterar o seu quotidiano na redação? De que forma? Veio alterar bastante e a tendência é crescente. Fui um dos membros da antiga redação que se adaptou às exigências da TV e tenho trabalhado regularmente com o canal. Sem deixar de ter os olhos postos no site da CMTV e capacidade para ir a alguns visionamentos de cinema.

5. A redação compreende, num só espaço, o setor da imprensa, da televisão e do online. De que forma é feita a união entre esses três vectores? Esse é um trabalho permanente e inacabado. Estando a trabalhar nas três plataformas, tento ter a máxima abertura para os vários suportes. A redação está

59 também sensível para essa realidade. É comum um jornalista, quando está num serviço, ir acompanhado de fotógrafo e repórter de imagem. Cabe-lhe cobrir os acontecimentos para o jornal em papel e para a televisão. Além disso, está em contacto com a equipa fixa do online para transmitir no imediato as informações mais relevantes.

6. Quais considera serem as vantagens desta convergência? A principal qualidade é o enriquecimento enquanto profissional. Ou seja, hoje em dia um jornalista é um profissional com muito mais competências do que quando tirei o curso há uma década. É preciso, além de saber escrever bem e estar atento à concorrência, saber estar frente à câmara, ser rápido e direto a passar as informações e ter cada vez mais conhecimentos de backoffice e jornalismo online.

7. E as desvantagens? A voragem da informação e a necessidade de ter as informações em primeiro lugar dá uma certa adrenalina, mas também impede que às vezes se vá mais fundo nas questões. A especialidade, outrora tão valorizada, hoje em dia é, por vezes, preterida face à versatilidade, à abrangência de conteúdos noticiosos. Além disso, se um jornalista tiver fraca imagem ou incapacidade para escrever um texto decentemente, seja para o papel seja para o online, fica em desvantagem face aos colegas que cumprem todos os requisitos. Mais: as notícias são cada vez mais a qualquer hora, o que exige piquetes constantes e, regularmente, carga excessiva de horários.

8. É distinto produzir conteúdos sobre o mesmo tema para a edição em papel e para a televisão? De que forma? A linguagem é diferente. A tendência é para que a linguagem televisiva seja mais direta, de complemento às imagens, que são neste caso o mais importante. Já para o papel, o texto tem tendência para ser mais elaborado e está dependente da hora do fecho – um artigo que sai num jornal dura ainda um dia. Há aqui a possibilidade de se ir mais longe, contextualizar mais a fundo. O CM tem também cuidado em filtrar a informação, para saber o que se dá onde e em que altura, o que exige uma permanente comunicação com as chefias.

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9. Olhando para a evolução da forma de produção de conteúdos nesta redação, quais considera terem sido as principais alterações ao nível da forma de produzir? Na produção, uma das principais diferenças prende-se com as ferramentas de trabalho. Um jornalista do CM, se quiser dar cartas em todas as plataformas, tem de dominar o software usado na produção em papel (Milenium), no site (Scriptor) e na televisão (Dalet). Além disso, o registo de fontes passa também por gravador e câmara. Hoje, um jornalista tem de saber trabalhar em consonância com um fotógrafo ou um câmara. Ou seja: é preciso adequação de discursos, domínio de ferramentas e saber gerir o que se pode avançar no imediato (normalmente o que a concorrência também vai pegar), deixando a informação privilegiada quer para o horário nobre de um jornal ou para um exclusivo a sair no dia seguinte na edição em papel.

61 Apêndice G. Entrevista a Magali Pinto, jornalista da secção Portugal e repórter da CMTV

1. Qual é a sua função nesta redação? Sou jornalista da secção Portugal.

2. Há quanto tempo trabalha no Correio da Manhã? Trabalho no jornal há cinco anos.

3. Como é o seu dia-a-dia enquanto profissional da empresa? O meu trabalho incide sobretudo em reportagens no exterior sobre questões de segurança e Justiça.

4. O surgimento da CMTV veio alterar o seu quotidiano na redação? De que forma? Sim. A alteração é inevitável quando surge uma nova plataforma. Agora para além de ter de escrever as reportagens temos de aliar o trabalho à televisão, quer através de realização de diretos quer através de peças para os noticiários.

5. A redação compreende, num só espaço, o setor da imprensa, da televisão e do online. De que forma é feita a união entre esses três vectores? O jornal logicamente vive de exclusivos e quando assim é a primazia é dada ao jornal e posteriormente é feita uma peça para a televisão, que só é divulgada quando o jornal está nas bancas. Quando há urgência em fazer as peças ou os diretos o texto para o jornal é feito mais tarde, seguindo atentamente os prazos de fecho da edição. Quanto ao online, a informação é dada gradualmente para que o site esteja o mais atualizado possível ao longo do dia.

6. Quais considera serem as vantagens desta convergência? A multiplicidade de funções permite-nos ganhar agilidade na realização de notícias. A par do texto é fundamental dar uma imagem à notícia. A televisão veio dar

62 o movimento que faltava ao jornal. A convergência das três plataformas tem sido feita gradualmente e de forma esforçada por todos os jornalistas da redação.

7. E as desvantagens? Não consigo encontrar desvantagens se houver o mínimo de organização. Tudo tem sido feito de forma ponderada e isso é o segredo do sucesso.

8. É distinto produzir conteúdos sobre o mesmo tema para a edição em papel e para a televisão? De que forma? Como já referi anteriormente há um grande cuidado com o que é exclusivo. No meu caso, em particular, tento sempre dar a mesma notícia mas com focos diferentes para não cansar o leitor/espectador. A escrita permite-nos ser mais emotivos nos textos. A peça televisiva é sempre mais concisa. Tenta-se chegar a um equilíbrio, um exercício que todos os jornalistas desta redação fazem todos os dias.

9. Olhando para a evolução da forma de produção de conteúdos nesta redação, quais considera terem sido as principais alterações ao nível da forma de produzir? Não há grandes alterações, uma vez que o Correio da Manhã e a CMTV são um só. Para a televisão tentamos seguir à risca o lema de sermos os primeiros sem descurar a qualidade das notícias. O jornal permite ganhar tempo para trazermos o máximo de pormenores, sempre com o objectivo de dar tudo o que interessa aos nossos leitores.

63 Apêndice H. Entrevista a Débora Carvalho, jornalista da secção Sociedade e repórter da CMTV

1. Qual é a sua função nesta redação? Sou jornalista da secção Sociedade do Correio da Manhã e da CMTV. A minha função é escrever notícias para o jornal e para o site do CM. Além disso, enquanto repórter da CMTV, faço reportagens e diretos para a televisão.

2. Há quanto tempo trabalha no Correio da Manhã? O meu percurso no Correio da Manhã iniciou-se no Verão de 2011, logo após a minha licenciatura em Ciências da Comunicação. Entrei para a seção de Sociedade do Correio da Manhã como estagiária. O estágio curricular durou três meses. Depois desse período, fui contratada e continuei a ser jornalista na mesma seção. Atualmente, trabalho para as diversas plataformas, isto é, jornal, tv e multimédia.

3. Como é o seu dia-a-dia enquanto profissional da empresa? O dia a dia de um jornalista é sempre inesperado. As notícias e os acontecimentos que marcam o dia é que definem o nosso trabalho. Todos os dias procuramos notícias e seguimos os acontecimentos que marcam a agenda. Além disso, existem sempre acontecimentos de última hora, que nos obrigam a redefinir o nosso trabalho e objetivos diários.

4. O surgimento da CMTV veio alterar o seu quotidiano na redação? De que forma? Há um ano as notícias eram apenas escritas. O teclado do computador era a ferramenta de trabalho. Com a chegada da CMTV, a minha rotina, enquanto jornalista do CM, alterou-se. A escrita televisiva, a edição de vídeo e os diretos eram os principais desafios. A formação proporcionada pela empresa aos 'jornalistas do papel' foi determinante para seguir esta aventura. Hoje em dia pensamos na notícia num todo, ou seja, ao fazermos a cobertura de determinado assunto, procuramos fazer o melhor texto para o online, a melhor reportagem para a televisão e encontrar o melhor foco noticioso para o jornal.

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5. A redação compreende, num só espaço, o setor da imprensa, da televisão e do online. De que forma é feita a união entre esses três vectores? Essa união e intereção foi gradual e cresceu ao longo do último ano. Os conteúdos diários do CM são determinantes para o sucesso da CMTV. A interligação entre jornalistas das duas plataformas é a chave para uma televisão forte, independente e próxima do espectador. A essência do CM é a mesma da CMTV. É fazer chegar a notícia 'melhor, primeiro!'. Trata-se de um trabalho que busca a proximidade e ligação ao leitor/espectador.

6. Quais considera serem as vantagens desta convergência? É uma convergência que só trouxe vantagens para o grupo de comunicação social. Este foi um dos raros projetos, a nível mundial, em que um jornal cria uma estação de televisão nestes moldes. Houve uma estratégia de adaptação em que se uniu esforços e sinergias para imprimir a marca CM na televisão.

7. E as desvantagens? Penso que não haja desvantagens. Ainda assim, o jornalista deve ter a capacidade de saber comunicar e adaptar a linguagem às diversas plataformas.

8. É distinto produzir conteúdos sobre o mesmo tema para a edição em papel e para a televisão? De que forma? São linguagens distintas. São meios diferentes com linguagens próprias. A linguagem televisiva, por definição, é mais simples. As imagens também falam por si e ajudam o espectador a compreender o assunto. No jornal, há que escrever aquilo a que o leitor não teve acesso.

9. Olhando para a evolução da forma de produção de conteúdos nesta redação, quais considera terem sido as principais alterações ao nível da forma de produzir? A capacidade de resposta perante um acontecimento de última hora depende, por exemplo, de uma coordenação eficaz de meios. O objetivo da CMTV é chegar ao local o mais rapidamente possível e entrar em direto.Neste sentido, há que mobilizar

65 uma equipa e garantir que há meios. Para a cobertura de um determinado acontecimento pode ser enviado um jornalista do CM, que fará direto, virá para a redação fazer a reportagem e ainda escreverá para o jornal.

66 Apêndice I. Entrevista a Sara Carrilho, jornalista da secção Portugal e pivô da CMTV

1. Qual é a sua função nesta redação? Sou jornalista do Correio da Manha, na secção Portugal (casos de crime e justiça em Portugal ou que envolvam portugueses) e jornalista/pivô da CMTV.

2. Há quanto tempo trabalha no Correio da Manhã? Três anos e seis meses.

3. Como é o seu dia-a-dia enquanto profissional da empresa? Enquanto jornalista CM/ CMTV: Trabalhos de reportagem no terreno na área do crime e justiça, reportagens de investigação, acompanhamentos de julgamentos e respetiva redação dos casos. Enquanto pivô: transmissão de informação, lançamento de notícias em direto, coordenação e elaboração de alinhamentos.

4. O surgimento da CMTV veio alterar o seu quotidiano na redação? De que forma? Com o lançamento da CMTV, o trabalho de jornalismo escrito passou a ser também feito para a televisão, o que acarretou uma grande alteração no quotidiano, porque há muitas diferenças entre a forma de comunicar na imprensa escrita e na televisão. É preciso, para além de escrever - sendo que no 'papel' é necessário ser muito apelativo, descritivo, transportar o leitor para o local, situação, para a notícia que está a ler, para aquilo que estamos a descrever- fazer reportagem para televisão para depois, na redação, elaborar uma peça. Ainda que na base esteja a mesma história, a mesma notícia, em televisão, é preciso escrever, 'falar' para as imagens. Como pivô, foi uma mudança ainda maior, passei a lançar, em direto, reportagens - a fazer a ponte entre a reportagem e o telespectador.

5. A redação compreende, num só espaço, o setor da imprensa, da televisão e do online. De que forma é feita a união entre esses três vectores? Os três vectores complementam e completam-se e servem de 'teasers' entre si.

67 No online queremos informação ao segundo, com pormenores, na televisão também, com imagem, com acção, no jornal queremos ser apelativos, descritivos e dar ainda mais pormenores. A título de exemplo, se há uma operação das autoridades em curso, com buscas, com detenções, é noticiada logo no 'site', a remeter mais informação para a CMTV. O caso, a ação, com jornalistas no terreno, é depois acompanhada em direto na CMTV,( 'ação descrita ao longo do dia no 'site') e 'guardam-se' os pormenores, detalhes da investigação exclusivos para a edição em papel que estará nas bancas no dia seguinte. É posteriormente elaborada uma peça televisiva com esses detalhes, que no dia seguinte, é noticiada na CMTV e que, pelos pormenores exclusivos, que são a novidade, volta a ter destaque no 'site'.

6. Quais considera serem as vantagens desta convergência? A convergência entre os três setores é o futuro do jornalismo. As pessoas, os leitores e telespectadores, querem consumir informação de forma imediata, rigorosa, apelativa, descritiva- adjetivos da forma de comunicar no papel, no online e na televisão. Como ja referi, os três vetores complementam-se e completam-se.

7. E as desvantagens? A principal desvantagem é o facto de não se poder 'ganhar' sempre, em todas as frentes. Corremos sempre o risco de, por exemplo, ao estarmos a dar informação no 'site' e na televisão sobre um caso, o mesmo perder importância, espaço, no jornal. É preciso selecionar de modo rigoroso quais os detalhes, os destaques de cada vetor.

8. É distinto produzir conteúdos sobre o mesmo tema para a edição em papel e para a televisão? De que forma? É muito distinto, há muitas diferenças na forma de comunicar no papel e na televisão. Na minha opinião, a principal ao nível da escrita, tal como referido na resposta 4, sobre as mudanças no quotidiano. E para além da escrita, o facto de termos de tratar a mesma história mas de duas maneiras diferentes - o próprio 'título' pode ser diferente, no jornal dependendo dos pormenores, na televisão dependendo da imagem. A título de exemplo, posso escrever um texto inteiro no jornal com base em depoimentos em 'off', - que pode até ser manchete - mas uma peca televisiva sem

68 vivos, sem depoimentos, revelações em 'on', apenas com a voz off do jornalista e 'planos de corte' corre o risco de se tornar maçadora. Há histórias muito boas que só sobrevivem no papel e vice-versa.

9. Olhando para a evolução da forma de produção de conteúdos nesta redação, quais considera terem sido as principais alterações ao nível da forma de produzir? Talvez a principal alteração, para o jornalista, na forma de produzir conteúdos, seja essa mesmo - a forma de produzir conteúdos, que passa a ter mais do que um ângulo, para a televisão e para o papel, mas é a mesma história. Também a rapidez na produção de conteúdos acelerou ainda mais. Se o tempo já escasseava para fazer uma reportagem e escrever( estamos a falar de um jornal diario) no CM, com a CMTV, com vários noticiários por dia, com diretos , a rapidez na produção de conteúdos teve de aumentar ainda mais, o que nos dá uma ainda maior responsabilidade na procura do rigor, da verdade absoluta, da descrição fidedigna dos factos.

69 Apêndice J. Frame de um dos diretos da explosão na Damaia

Figura 1. Explosão na Damaia

70 Apêndice K. Notícia de dia 20 de Agosto de 2013

71 Apêndice L. Frames de algumas reportagens produzidas no estágio

Figura 2 - Reportagem sobre a polícia no 25 de Abril

Figura 2 - Reportagem de acompanhamento com a PSP de Odivelas

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Figura 3 - Tiroteio em Carnaxide

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