Suplemento Cultural da OHsXXI Este Suplemento faz parte integrante do Jornal Correio da Beira Serra N.º 91 e não pode ser vendido separadamente. Jorge Pelicano O interior, de Novo

aqui estamos a falar numa área geográfica de 133km e muitos mais intervenientes. Tem dito que o principal objectivo do seu novo filme é ajudar à reabertura da Li- nha do Tua. Julga que o cinema deve ser militante? Sente-se como um paladino de uma causa? Não há fórmulas certas para se trabalhar em documentário. Aos poucos fui-me en- volvendo, sempre achei que estava a traba- lhar numa causa, estava a dar voz a todos aqueles que normalmente a não têm. E isso é bastante motivador. Penso que consegui pôr as pessoas a reflectir, a parar, escutar e olhar. O documentário por si só não vai con- seguir, acho que têm que ser todos juntos a lutar para que isso não aconteça, todos O dia 24 de Outubro de 2009 certa- identidade única daquele povo e daquela Portugal tem imensos temas para retra- temos que reflectir. E quando digo todos, mente que perdurará por muito tempo região. tar. Gosto muito do interior do país, talvez são também aqueles que decidiram fazer na memória de Jorge Pelicano. Ao final O que é que faz com que os seus docu- por ter nascido e vivido no litoral. Vivo aquela barragem e vão fazer submergir da tarde esteve presente na cerimónia mentários impressionem tanto quem os intensamente os trabalhos, talvez seja isso aquele património que é a linha do Tua de encerramento do DocLisboa, onde, vê? A técnica, a mensagem, a temática…? que melhor me caracteriza. e o vale. Aquele património não é só das na Competição Portuguesa, recebeu os O que é que o distingue como realizador? O seu primeiro documentário vivia pessoas que vivem lá, é de todos os portu- galardões de melhor Longa-Metragem e Só os outros podem dizer… Para mim o muito de uma personagem, um “actor” gueses, e acho que se há alternativas para Melhor Montagem e o Prémio IPJ Escolas. documentário é a forma mais profunda de que de certa forma rebocou a narrativa. buscar outras energias, temos que ir por De seguida deslocou-se para Seia, onde se abordar uma realidade, tem outro tem- Sentiu-se tentado a repetir a mesma fór- essas alternativas, porque o progresso não o CineEco lhe atribuiu as três principais po, outra envolvência diferente das repor- mula? é só destruição. distinções do certame de 2009 – Grande tagens que faço para a SIC. Geralmente só Cada trabalho é um trabalho. A estrutu- Com o Ainda Há Pastores? focou o Prémio do Ambiente (Campânula de tenho duas semanas para a fazer, enquanto ra narrativa constrói-se de acordo com cada olhar sobre a Serra da Estrela. Agora vi- Ouro), atribuído pelo Júri Internacional, que Pare, Escute, Olhe, demorou dois anos realidade. Embora estivesse também a re- rou-se para Trás-os-Montes… Nasceu no Grande Prémio da Lusofonia e Prémio e meio. tratar a interioridade e o despovoamento, litoral e julgo que decorreu aí o seu pro- Especial da Juventude. A obra responsável cesso de crescimento como pessoa. O que por esta chuva de prémios chama-se Pare, é que o levou a interessar-se tanto pelos Escute, Olhe e reflecte sobre o isolamen- problemas do interior do país? to a que tem vindo a ser votada a região Queria falar de despovoamento. Per- de Trás-os-Montes tendo como ponto de correr as linhas ferroviárias que têm sido partida a desactivação da Linha do Tua. encerradas nestes últimos 20 anos é falar Conseguirá o novo documentário repetir o de despovoamento. Quando se encerra sig- impacto verificado há três anos com Ain- nifica que já não há gente para o comboio da Há Pastores? (também distinguido no transportar. Depois o anúncio da constru- CineEco como melhor produção lusófona). ção da barragem de Foz-Tua e os quatro A questão não parece preocupar Jorge acidentes na Linha do Tua obrigaram-nos Pelicano, que acedeu a responder a algu- a documentar apenas esta linha. mas questões que lhe foram colocadas pelo Há três anos viu o “Pastores” ser recu- S21. Quanto ao público, poderá começar a sado pelo DocLisboa. Agora foi seleccio- seguir a carreira de Pare, Escute, Olhe já nado e levou todos os principais prémios a partir do próximo dia 12, data em que o da competição nacional. Também gosta de filme regressará ao Cine-Teatro de Seia. servir a vingança como um prato frio? Não vamos falar nem gosto de vingan- O seu primeiro documentário foi um ça. Há três anos fui recusado no DocLisboa fenómeno mediático e recebeu perto de porque na altura não tinha currículo, nem uma dezena de galardões em todo o mun- produtor. do. Pare, Escute e Olhe arrebanhou seis Ganhar três prémios foi uma surpresa e prémios no espaço de poucas horas. A deixam-me extremamente satisfeito, mas carreira desta nova obra poderá ser seme- também muito feliz por aquela realidade lhante à de Ainda Há Pastores? ter tocado nas pessoas. Fiquei feliz tam- Os prémios são o reconhecimento do bém por ter voltado ao CineEco, o primei- nosso trabalho. Mas o mais importante é ro festival em que participei e lançou Ainda que a sociedade civil reflicta sobre o que se há pastores?, e voltar a ver o meu trabalho está a passar em Trás-os-Montes e no Tua reconhecido. e se una para salvar aquele património. A Artur Abreu II S_21 - Suplemento Cultural da OHsXXI OUTUBRO / 2009 - N.º 40

O regresso deda hipocrisia,Sarama(r)go da estupidez e da inveja costumeiras. aramago voltou a editar um livro. Sara- chama Saramago “ignorante” e diz que “a boça- Apesar do tamanho do ruído, apesar do ele- mesmo Sousa Tavares, embora mais contido, não mago, do alto da liberdade dos seus qua- lidade coexiste bem com a manha empresarial”, vado número de protagonistas, a velha e sempre deixou de referir que Saramago, depois do Nobel, se 87 anos, voltou a meter-se com Deus. classificando de “irrelevâncias e disparates” as lusa inveja não consegue deixar de aparecer. Sa- “é vaidade”. E com a Bíblia. E, valha-nos Deus, nem é declarações de Saramago. Outros, menos famo- ramago é um Português com sucesso no mundo e Quase nunca ganhamos nada, quase nunca Spreciso ter fé para acreditar que “isto” ía dar con- sos, falaram “de acentuada senilidade e ódio de isso para muitos portugueses, em vez de provocar somos melhores em nada, mas quando um dos fusão. Saramago, depois de uma Viagem monta- foro psiquiátrico”. Também não justifica a fama orgulho, provoca ira. Não faltam casos recentes nossos chega lá, reagimos assim. Somos assim. do num pachorento, e até ternurento, Elefante, um desconhecido deputado do PSD no parlamen- de portugueses com sucesso no estrangeito mal- Dói, mas somos assim há tanto tempo…. muito associada ao susto de morte que apanhou, to europeu, que pro- amados na sua pátria, Numa daquelas coincidências em que a vida é voltou ao “dantes” para dar vida a Caim e ao seu curou os seus 15 mi- com especial desta- fertil, António Lobo Antunes, que como não podia velho conflito com a Igreja e com muitos daqueles nutos de esplendor ao que para os patriotas deixar de ser não gosta de Saramago e diz “que que assinam a opinião publicada. firmar sobre Sramago que escrevem nos jor- não existe”, editou, igualmente, o seu novo livro. O escritor questiona-se sobre qual a razão por- que tem “vergonha de nais: desde Amália, Lobo Antunes, que muitos, entre os quais os da que desperta tanta indignação e antipatia. Enfim, o ter como compatrio- passando por Figo, opinião publicada, dizem gostar, embora sejam Saramago poderá ser muitas coisas, mas nunca ta” e pedindo ao habi- Mourinho e Ronaldo, menos os que compram os seus livros, muito me- será santo. E sabe que se põe a jeito. Afirmar que nos os que o lêem e ainda menos os que o enten- “o Deus da Bíblia não é de se confiar, é má pessoa tante de Lanzarote para e até mesmo Mariza! dem, conseguiu que o país lhe atribuísse o estatuto e vingativo” e, para o caso de existirem dúvidas, renunciar à sua nacio- José Saramago es- do “injustiçado e coitadinho” que merecia o Nobel acrescentar que “a Bíblia é um manual de maus nalidade – uma cópia creveu livros que são mas… não lho dão! Nós, portugueses cantores costumes, um catálogo de crueldade e do pior da de Sousa Lara que, por considerados por mui- do triste fado, somos muito bons neste estado de natureza humana”, não é discurso que gere mui- definição, é sempre pior tos e em muitos lugares (des)graça, que muitas vezes nos empurra para to consenso, muitos aplausos ou muitos amigos. que o original. como obra-primas e por uma das nossas palavras mágicas: solidariedade. A legião nacional de comentadores, desde Mi- Deus, na sua infinita isso vende milhares de Bem, convenhamos que não é uma solida- guel Sousa Tavares a Marcelo Rebelo de Sousa, bondade, perdoará tan- cópias em quase todo riedade muito saudável! O drama não é o Lobo Domingos Amaral e até Frei Bento Domingues, ta estupidez. o mundo. Saramago é Antunes não ter recebido o Nobel, o drama é Sa- denunciarou Saramago como especialista de ma- Quando o palco se prémio Nobel. Muitos, ramago ter recebido o Nobel. Isto é, a felicidade rketing e vendas. A acusação é demasiado óbvia e tranforma num ringue e por cá, não lhe perdo- era zero Nobel. Ambicionar dois prémios Nobel simplista, muito no registo de comentário de café. cheira a chinfrim que até aram ter sido publi- da literatura? Para quê? Os Portugueses não são Sabia a pouco, ficar por aqui! Saramago desde há pode dar sangue, é coisa camente imortalizado felizes com o sucesso. muito que vende bem. Lobo Antunes, que tal como Saramago tam- Ora, todos sabemos que nos últimos tempos, certa que “o circo” não pela academia sueca. bém não é santo, que tal como Saramago – mais em Portugal, tem vindo a impor-se entre os co- pode parar: entrevistas Pulido Valente, uma coincidência – também “fintou” a morte mentadores (e não só) uma espécie de competição especiais e debates em nos seus comentários, recentemente, na sua colecção de capas e entre- da violência sem limites, mormente quando está prime-time televisivo, não conseguiu escon- vistas diárias, que às vezes chegam a ser capas e em causa o ataque pessoal e o destruir o outro. Sa- capas de jornais e mui- der o seu lado “tuga”: entrevistas por dia, declarou que se aproximou ramago provou o impiedoso bastão de Vasco Pu- to frenesim na blogos- “claro que Saramago de Deus. lido Valente: “São ideias de trolha ou de tipógrafo fera, mais um espeaço ganhou o prémio No- A ternura do autor Que cavalos são aqueles que semianalfabeto”. Valente, imparável, acrescentou onde não há limites para o que quer que seja e bel, como vários camaradas que não valiam nada” fazem sombra no mar? descobriu agora “que a maior que “Saramago está mesmo entre as pessoas muito menos para a impunidade, onde o escritor e deixou contente “a saloiice portuguesa que de- parte das pessoas são melhores do que eu”, como- que nenhum indivíduo inteligente em princípio e os da Igreja lá foram defendo as suas ideias com lirou com a façanha”. Alberto Gonçalves também vendo a humilde humanidade lusitana que não ouve”. Nesta competição de “quanto mais bato, Saramago, num gesto pouco inocente de humil- deixou escapar o seu incómodo ao escrever que evitou uma sofrida lágrima no canto do olho. melhor comentador sou”, Alberto Gonçalves, dade, a reconhecer que ao ter chamado “filho-da- Saramago não merece uma reacção de gente civi- Interesseiros. Todos. que é conhecido por bater sem dó nem piedade, puta” a Deus se tinha “excedido”. lizada “por muito que o Nobel lhe dilate o ego”. E Vitor Neves

Amália Pop HojeFoto: Rita Carmo eixei de comprar discos há demasiado temporâneo ocorrido na Figueira da Foz, onde se ça em palco de Paulo Praça que nos demonstra que tempo – quando os vinis deram lugar viam várias famílias de pais e filhos, recordo hoje cantar é também a arte de representar. E, por fim, aos CDs. E perdi, por isso, o magnífico o belo acompanhamento dos Amália Hoje por um seria injusto terminar esta prosa sem evocar hoje o (porque regenerador) hábito quotidia- harmonioso coro constituído por sete ou oito vozes jovem e ilustre desconhecido músico que assegurou Dno de ouvir e fruir de boa música, como perdi tam- e pela competente orquestra sinfónica nacional da a primeira parte do espectáculo. Refiro-me ao Da- bém o costume de assistir a espectáculos musicais República Checa que, no entanto, se sobrepunha às vid Santos, cuja simplicidade, qualidade melódica e ao vivo. Contudo, há convites irrecusáveis. Numa vozes dos três cantores, Sónia Tavares (The Gift), originalidade da sua música quase minimal (onde bela tarde de Setembro, a nossa querida amiga Rita Paulo Praça (Plaza) e Fernando Ribeiro (Moonspell) o seu lúgubre brado debitado em língua inglesa chegou a minha casa muito entusiasmada e munida – problema que julgo ser sobretudo imputado às im- pairava sobre uma guitarra acústica, um xilofone e de um amabilíssimo ultimato: acabara de resgatar perfeitas condições acústicas da sala. Lembro hoje, uma melódica que emitiam sons perpetuamente re- cinco bilhetes para o então já esgotado primeiro a ligar e a contextualizar as sucessivas canções, os petitivos) importa destacar, como também interessa concerto nacional que o projecto Amália Hoje iria dar diálogos despretensiosos, bem-humorados e inti- evidenciar a sua jovem prima e artista gráfica, a qual no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da mistas mantidos entre os quatro membros do gru- ia desenhando com uma simples caneta preta, num Foz, no dia 1 de Outubro, e exigia que a Lúcia e eu po, sempre coordenados pela voz melada do Nuno traço figurativo naif plasmado sobre uma folha de partilhássemos este seu programa com ela, o Hélder iam desfilando – «O Grito», o retumbante sucesso Gonçalves (The Gift), sem dúvida o grande comuni- papel digital projectada numa tela disposta por de- (evidentemente) e o Paulo. Fomos e gostámos – da «Gaivota», «Formiga Bossa Nova», «Nome de Rua», cador do grupo e o mentor do projecto. Repetia ele, trás do cantor, os sentimentos e emoções acabados companhia e do concerto. «Medo», «Fado Português», «Abandono», «Foi a certa altura, «uma vez estava em Madrid sem nada de sair das suas canções. Não pretendo nem posso participar no debate Deus», «L´important C`est la Rose», trova eterna de para fazer quando resolvi pesquisar na internet…». Gostei do espectáculo. O projecto Amália Hoje é dos críticos musicais encartados que analisaram Gilbert Becaud que Amália um dia também cantou, Ao que a Sónia Tavares replicou: «quem te estiver a interessante, relaxante, provido de uma originali- este arrojadíssimo projecto. Apenas escrevo o que e «Rasga o Passado» – recordei com agrado os fes- ouvir deve pensar que tu não trabalhas e passas a dade revivalista e descaradamente pop, ainda que vi, ouvi e senti. E vi, ouvi e senti que o grupo Amália tivais da Eurovisão da Canção da época de 70 do vida na internet». Não esqueço hoje o momento que porventura demasiado audacioso. Talvez por isso Hoje deu, assumidamente, às clássicas canções de século passado, quando as famílias portuguesas se foi para mim o mais alto da noite: a belíssima versão regressei a casa com uma dúvida, quiçá injusta, a fado interpretadas pela imortal diva lusitana um reuniam ao serão, numa espécie de ritual sagrado original em tom intimista de uma canção inédita da ecoar no meu espírito: será que a fadista Amália, fa- tom festivaleiro (a palavra não tem aqui um sentido anualmente renovado, em redor da dita «caixinha Amália resgatada do esquecimento, chamada «So- lecida há dez anos, teria gostado desta homenagem? depreciativo) pop anos 70 ritmado por uma cadên- mágica», para «ouver» (no início, ainda a preto e ledad», onde a voz vigorosa e andrógina da Sónia Suspeito que a resposta a tal questão é hoje tão con- cia electrónica e uma densa orquestração, onde não branco) a (1971), o (1973), o Tavares foi soberbamente acompanhada pelo piano troversa quanto impossível de augurar. é já perceptível distinguir qualquer indício do seu (1974), a Manuela Bravo (1979) e do Nuno Gonçalves e pela guitarra acústica de outro Obrigado Rita, por nos teres proporcionado, a estilo musical original. Refira-se que em nenhum o José Cid (1980) interpretarem melodiosas e míticas músico da banda, canção essa que depois evoluiu mim e à Lúcia, este belo momento. Pela minha parte momento se escuta o mais ténue acorde da guitar- canções que hoje fazem ainda parte do imaginário para um clímax imponente modelado pelos já referi- clamo: encore! ra portuguesa. Com efeito, ao ouvir as músicas que da gente da minha geração. Deste espectáculo con- dos coro e orquestra. Recordo hoje a graciosa presen- Luís Filipe Torgal

Director: Henrique Barreto Editor: Artur Abreu Redacção: Ana Sales, Carina Correia, João Lourenço, José Francisco Rolo, Luís Antero, Nuno Santos, Vitor Neves Colaboram nesta edição: Luís Filipe Torgal e Raul Pinto Críticas / Sugestões – [email protected] OUTUBRO / 2009 - N.º 40 Suplemento Cultural da OHsXXI - S_21 III O último O Legado de

Radialista Foto: Rita Carmo

- Olá Peel!... - Hello Sérgio! Welcome...

avia quem, por gracejo, (2007-09, Radar FM) prosseguiu a sua FPS001 New Order; SFPS002 Harvey) SFRLP200 21 Years Of Alternative dissesse que John Peel missão de sempre – divulgar novas The Damned; SFPS003 The Scre- Radio 1 SFRLP111 era “o António Sérgio in- músicas e novos músicos, sempre ten- aming Blue Messiahs; SFPS004 Outros SFRSCD016 or SFRSCD079 - glês”. Se tal só poderia ser do como pano de fundo uma intuição Stiff Little Fingers; SFPS005 Tom Paxton Live In Concert (recorded in Hdito por anedota – Peel era onze anos e um bom gosto inimitáveis e uma ca- SSudden Sway; SFPS006 The Wild Swans; London, England in 1971 and 1972, rele- mais velho e tinha como palco as Ilhas pacidade de pesquisa incansável. SFPS007 Madness; SFPS008 Gang of Four; ased 1998) SFRSCD035 - Melanie - On Air Britânicas, centro mundial da música António Sérgio representava o ra- SFPS009 ; SFPS010 [taken from November 75 concert, with pop – também é certo que já há mui- dialista-autor, anterior ao império das Twa Toots; SFPS011 ; SFPS012 added sessions from 1969 & 1989) SFRS- tos anos que António Sérgio não pre- play-lists – aquele que escolhe cuida- Siouxsie & the Banshees; SFPS013 Joy Divi- CD082 - (1999) SFRS- cisava de qualquer comparação para dosamente as músicas que vai passar sion; SFPS014 The Primevals; SFPS015 June CD094 - Joy Division (2000) SFNT015 - Ici- fazer valer o seu trabalho. Era o prin- e imprime uma marca inconfundível Tabor; SFPS016 ; SFPS017 cle Works cipal divulgador de música nova em aos seus programas. Zé Pedro cha- Xmal Deutschland; SFPS018 ; Estes foram os registos editados pela Portugal, realizador de alguns dos mou-lhe “um mestre da rádio e do co- SFPS019 Stump; SFPS020 The Birthday Par- , de entre as cente- programas mais emblemáticos que a nhecimento musical”, Álvaro Covões ty; SFPS021 ; SFPS022 Spizz Oil; nas de bandas convidadas para gravar rádio nacional conheceu, responsável considerou-o “o último grande radia- SFPS023 The June Brides; SFPS024 Culture; uma sessão das John Peel Sessions da maior pela formação musical de mi- lista vivo” e acrescentou: “se Portugal SFPS025 ; SFPS026 Yeah Yeah BBC Rádio 1. Algumas uma única vez… lhares de melómanos. tem bom gosto, e por isso é que temos Noh; SFPS027 ; SFPS028 The mas houve quem o fizesse 27 vezes (!). Com o Rotação (1977-80, Rádio Re- público que gosta de música alterna- Fall; SFPS029 Girls at Our Best!; SFPS030 Todas tinham algo de novo para mostrar nascença) divulgou os primeiros no- tiva, deve muito a ele”. The Redskins; SFPS031 T.Rex; SFPS032 ao mundo. John Peel apercebia-se disso mes do rock português e “pescou” os A carreira de muitos músicos por- Tubeway Army; SFPS033 Joy Division; enquanto a novidade era novidade, sem Xutos & Pontapés, a quem produziu o tugueses foi apadrinhada por Sérgio SFPS034 ; SFPS035 The Mighty hype, sem marketing. A certa altura, primeiro disco, 1978-82, gravado pela – Rodrigo Leão recordou que foi com Wah; SFPS036 ; SFPS037 Ro- qualquer banda que ele citasse corria o sua própria editora, a Rossil; com o ele que fez a sua primeira entrevista; bert Wyatt; SFPS038 ; risco de ser a next big thing. Nem todas Rolls Rock (1980-82, Rádio Comercial) Zé Pedro confessou que era a única SFPS039 New Order; SFPS040 The Damned; o foram, mas o homem funcionava como estreou-se na rádio onde viveu mais pessoa a quem os Xutos recorriam SFPS041 Wire; SFPS042 Electro Hippies; um selo de qualidade garantida. tempo; com o Som da Frente (1982 antes de gravar um disco, para “pe- SFPS043 ; SFPS044 ; John Peel morreu há 5 anos. A ele e a -93, Rádio Comercial) levou às on- dir conselhos ou opinião” sobre o seu SFPS045 Cud; SFPS046 The Very Things; todos os outros Anjos de Vanguarda que, das hertzianas o som de centenas de trabalho; Adolfo Luxúria Canibal des- SFPS047 ; SFPS048 Extreme Noise em rádios piratas ou não, sem patrocínios bandas que desbravavam caminhos e tacou o facto dos Mão Morta sempre Terror; SFPS049 ; SFPS050 de organizadores de eventos, editoras, inauguravam paradigmas pelo mun- lhe terem dado a conhecer os seus tra- ; SFPS051 The Bonzo Dog Band; refrigerantes ou champôs, mostravam ao do, numa altura em que o conceito balhos em primeira mão. SFPS052 ; SFPS053 Inten- mundo aquilo que achavam que merecia de “música alternativa” ainda fazia Pouco antes da sua morte (a 1 de se Degree; SFPS054 Stupids; SFPS055 The ser ouvido, o meu muito obrigado. sentido; com o Grande Delta (1993-97, Novembro último, de ataque cardí- Smiths; SFPS056 ; SFPS057 Nuno Santos XFM) ocupou um espaço natural na aco), António Sérgio gravou em es- ; SFPS058 The Bir- rádio mais vanguardista e arriscada túdio mais uma edição de Viriato 25, thday Party; SFPS059 Lindisfarne; SFPS060 que o país conheceu (os The Sound o programa da Rádio Radar que iria Echo & the Bunnymen; SFPS061 Family; Destructors, de Oliveira do Hospital, para o ar no início desta semana. Luís SFPS062 The Room; SFPS063 Eton Crop; chegaram a rodar por lá); com A Hora Montez, um dos proprietários da SFPS064 ; SFPS065 The do Lobo (1997-2007, Rádio Comercial) emissora, manteve a programação e Experience; SFPS066 Siouxsie & the Ban- regressou à casa onde fora feliz para o radialista despediu-se na noite de 2 shees; SFPS067 Amayenge; SFPS068 Ivor - Como é que se dança bem chocar pela primeira vez com a reali- de Novembro – foi o último uivo do Cutler; SFPS069 Unseen Terror; SFPS073 um samba? dade do fim dos radialistas e da rádio lobo, o derradeiro mergulho no Gran- Carcass. formatada – o programa foi cancela- de Delta, a noite em que deixou de se Compilações SFRLP100 The Sampler - Sem nada na cabeça. do por ter deixado de se enquadrar rock’n’rollar. SFRLP101 Hardcore Holocaust SFRCD119 Seu Jorge, em resposta a Carlos Vaz Marques, no programa na grelha da estação; com Viriato 25 Artur Abreu (Th’ Faith Healers, , PJ Pessoal e Transmissível, na TSF. IV S_21 - Suplemento Cultural da OHsXXI OUTUBRO / 2009 - N.º 40 3 PISTAS

Acorda Canções POP e Prenda Tristeza Gatos ao Borralho de Anos

Desde 1998, ano da edição portu- Vamos imediatamente ao Quando se dá como conselho a leitura guesa de Pela Estrada Fora, de Jack Ke- que interessa: os Cats On Fire de um álbum de banda desenhada será rouac (a primeira foi em 1960, pela Ulis- têm dois discos até ao mo- mais adequado inscrevê-lo como pista seia), que a Relógio D’Água tem vindo mento, The province Complains para Ler ou para Ver? Um livro lê-se, mas a desenvolver um excelente trabalho (2007) e o mais recente, e alvo um álbum tem muito para ver. O novo com a obra do seminal escritor norte- deste texto, Our Temperance álbum de Astérix, então, tem muitíssimo americano. Nestes últimos 10 anos fo- Movement; estão interessados para ver… e para olhar – ao longo das ram lançados pela editora portuguesa em construir canções pop per- suas 56 páginas, apenas 34 são de banda 6 livros de Kerouac: Pela Estrada Fora feitas, daquelas de 3 minutos desenhada e o resto do livro adopta uma (1998), Big Sur (1999), Os Vagabundos do e alguns segundos; são finlan- estrutura que, mais do que apelar à leitu- Dharma (2000), Os Subterrâneos (2006), deses, mas constroem canções ra, convida o leitor a espraiar o olhar pela Duluoz, O Vaidoso (2008) e o mais recen- pop de formato inglês; têm guitarras e lírica de fino recorte, inspirada imagem e a participar no imenso jogo de descoberta que norteou a elabora- te Tristessa (2009). pelos acontecimentos banais de um dia qualquer ou de todos os dias. ção do trabalho. O interesse por este período e escola norte-americanas tem vindo a Os Cats On Fire estão a marimbar-se para a estética conceptual dos seus Astérix completou 50 anos no passado dia 30 de Outubro. O portal Goo- aumentar em terras lusas, consubstanciado nas várias edições encon- discos, porque o que querem mesmo é conceber canções arrebatadoras, gle, por exemplo, não deixou de o assinalar. Alguns dias antes, a 22 de Outu- tradas nas livrarias, sendo William Burroughs e Jack Kerouac os mais daquela (aparente) simplicidade belíssima a que os Smiths de Morris- bro, precisamente às 00h00, foi lançado O Aniversário de Astérix & Obélix - O presentes. Falta um olhar mais atento à obra poética de Allen Gisn- sey nos habituaram, o que conseguem, em abono da verdade, de forma livro de Ouro, numa mega-operação mundial que envolveu a edição simultâ- berg, apesar da presença do incontornável Uivo, editado pela Quasi, exuberante e irrepreensível. Pronto, ok, confesso, estou apaixonado pela nea de 3 milhões e meio de exemplares em 18 países diferentes. em 2002. música dos Cats On Fire. Porque são bons músicos, porque me enchem a O álbum foi concebido para funcionar como uma última evocação de Feito o prólogo, eis que nos deparamos com Tristessa nas prateleiras casa de nostalgia pop sem recorrer aos anos 80 ou 90 (se bem que devam René Goscinny, falecido em 1977, o magistral autor dos melhores argumen- das livrarias portuguesas, a história de uma junkie mexicana por quem mais às bandas de 80’s do que de 90’s), porque fazem uma pop moder- tos de Astérix, de quem foram recuperados alguns textos inéditos ou pouco o narrador (Kerouac, o próprio e sempre) se apaixona, contando-nos, na sem arriscarem muito (neste sentido deve haver muitos de vós que conhecidos; e como despedida para Albert Uderzo, o desenhador de todos em discurso directo, rápido, com o ritmo jazzístico que o caracteriza, as preferem o sentido de risco dos Dodos em Visiter) e não se dão nada os livros da série e responsável pelos textos desde a morte de Goscinny, tare- aventuras e desventuras desta conturbada relação. Tristessa é uma his- mal com isso. No fundo, no meio de tudo isto, os Cats On Fire fazem fas que abandonará a partir de agora, quando já completou 82 anos. Ao lon- tória de paixão, mas é também uma história de morfina em quartos de- canções, canções e mais canções sem grandes preocupações ou elabora- go das suas páginas desfilam todos os principais personagens que marcaram cadentes numa decadente Cidade do México, onde humanos habitam ções de ordem estética. Não é essa a onda deles. A onda deles é tocarem (uns nem por isso) as aventuras de Astérix e Obélix – mais de 400, segundo em anarca comunhão com galinhas e gatos, onde um chuto vale mais e cantarem para as nossas pernas e braços, para os nossos ouvidos, pois a informação dada à imprensa. Muitos dos álbuns anteriores são lembrados do que mil palavras, onde um chuto vale mais do que uma imagem que então, e para as nossas memórias do tempo do liceu em que beijávamos através da recuperação de algumas vinhetas, outras vezes é feita uma nova vale por mil palavras. Tristessa é o retrato frio, mas ao mesmo tempo à pressa, envergonhadamente, atrás do pavilhão B, a rapariga dos nossos leitura de algumas cenas emblemáticas, por vezes recorrendo a uma varia- terno, da decadência do consumo de drogas pesadas numa cidade à dias, enquanto o professor fan dos Pink Floyd aprovava a coisa e nos dei- ção “cinematográfica”, e são recriadas algumas obras-primas de pintura e beira da ruptura. Mas é também, claro está, uma história de amor. Uma xava entrar na sala de aula já depois do último toque. Enfim, os Cats On escultura (de autores como Delacroix, Da Vinci, David e Arcimbold) tendo história de paixão por uma mulher (Tristessa) que aos poucos vai dei- Fire são bons para ter à lareira (quando chegar a altura de a acender), são os gauleses como motivo. xando de ser mulher, perdida que está num mar de vícios… Mas vício, bons para ouvir à chuva, ao sol, para levar para a praia ou para a Serra Saindo da tradição do que é habitualmente a banda desenhada, Gos- vício é Kerouac, agora e sempre, com o prazer destemido e profundo da Estrela, para enternecer ou extasiar, para dançar com a nossa amada, cinny conseguiu, ainda assim, despedir-se de Astérix com a dignidade que o de o ler. Tristessa é mais um capítulo. Um belo capítulo. para recordar, porque recordar é viver e viver é um Sonho POP. personagem merece. A ver… Luís Antero Luís Antero Raul Pinto Tristessa, Jack Kerouac, RelógioD’Água, 2009 Cats On Fire, Our Temperance Movement, 2009, Matinee O Aniversário de Astérix & Obélix - O livro de Ouro, Goscinny e Uderzo, 2009

que ocupou 1.ª página do número BREVES CULTURAIS inaugural. SEMPRE ACTUAIS Amália FM só dá fado. A mais nova estação de rádio portuguesa começou a Petition, de Zhao Liang vence no dois únicos livros editados em Portu- mios literários no mês de Outubro me- U2 em directo no YouTube. A ban- emitir no dia em que se completaram DocLisboa. O realizador chinês foi gal são O homem é um grande faisão so- recem referência os Prémios PEN Clu- da irlandesa transmitiu em directo a 10 anos sobre a morte da mais intem- distinguido com o principal galar- bre a terra e A terra das ameixas verdes. be Português e o Prémio Saramago. A totalidade do seu espectáculo de 25 de poral das fadistas portuguesas e tem dão do festival de filme documental, sexta edição do prémio patrocinado Outubro no Pasadena Rose Bowl, na como slogan “a música é o nosso fado”. o Grande Prémio Cidade de Lisboa, Hilary Mantel ganha Booker Pri- pelo Nobel português distinguiu As Califórnia, tornando-se na primeira Programas de discos pedidos, actua- destinado à melhor longa-metragem ze. A escritora britânica embolsou o Três Vidas, livro do jovem escritor João banda de dimensão planetária a fazer ções ao vivo de fadistas consagrados e da competição internacional. Nesta cheque de 50 mil libras que premeia a Tordo, que sucede a Valter Hugo Mãe. este uso do popular site de alojamento de revelações e informação especializa- vertente, os outros prémios foram melhor obra do último ano escrita em Quanto aos prémios PEN, a grande de vídeos. Entretanto, os bilhetes para da integram a grelha de programas da para Mirages, de Olivier Dury (melhor língua inglesa graças ao romance his- vencedora foi Maria Velho da Costa, as duas datas que a banda tem marca- estação, dirigida por Luís Montez. média-metragem); 10 min., de Jorge tórico Wolf Hall, já considerado favori- que venceu na categoria de ficção com das para Coimbra a 2 e 3 de Outubro Léon (melhor curta-metragem); e Oc- to desde que foram conhecidos os seis Myra. O prémio de poesia foi para A de 2010 esgotaram em 6 e 4 horas, res- Megafone 5 perpetua memória de tober Country, de Michael Palmieri e finalistas. O romance conta a história Terceira Mão, de Manuel Gusmão; e o pectivamente. João Aguardela. A iniciativa tomou o Donal Mosher (melhor primeira obra). de Thomas Cromwell, conselheiro prémio de ensaio para Novos Ensaios nome de um dos projectos do músico Na competição nacional, para além de de Henrique VIII, e sucede a O Tigre Helénicos e Alemães, de Frederico Lou- Blitz comemorou 25 anos. A re- (Aguardela dizia que o Megafone ha- Pare, Escute e Olhe, de Jorge Pelicano, Branco, do indiano Aravind Adiga. renço, e Kodakização e Despolarização vista (mensal) que já foi um jornal via de ter 5 discos, mas só editou 4) e foram premiadas as obras Passando à do real – Para Uma Poética do Grotesco (semanal) assinalou o quarto de sé- tem como objectivo “celebrar, home- de Zé Marôvas, de Aurora Ribeiro (me- O Olho de Hertzog vence o Prémio na Obra de Fialho de Almeida, de Isabel culo com um número especialíssimo nagear e difundir” o seu trabalho e as lhor curta-metragem) e Entrevista com Leya. A segunda edição do prémio Cristina Pinto Mateus. onde passa em revista os últimos suas ideias. A sua materialização passa Almiro Vilar da Costa, de Sérgio Costa criado pelo conglomerado de editoras 50 anos da música portuguesa – os pelo site www.aguardela.com, onde (menção especial do júri). distinguiu o historiador moçambicano Músicos contestam utilização melhores discos de cada década, os estão disponíveis os seus trabalhos, João Paulo Borges Coelho, que escre- das suas criações para tortura. O mo- locais míticos onde se ouvia música pela criação de um prémio anual com Nobel da Literatura para Herta veu uma obra centrada no emergir do vimento junta dezenas de músicos e as figuras incontornáveis dos anos o seu nome que distinga autores ou Müller. O mais prestigiado prémio nacionalismo moçambicano. O prémio provenientes dos REM, Pearl Jam, 60 até hoje marcam uma edição de co- colectivos cujo trabalho se relaciona literário do mundo foi entregue à es- foi criado em 2008 e é atribuído a um Nine Inch Nails ou Rage Against the leccionador que apresenta ainda uma com a música tradicional portuguesa; critora alemã de origem romena, de romance inédito escrito em português, Machine, entre outros, e surge na se- belíssima colecção de fotografias de e por um espectáculo, também anual, 56 anos. Nascida perto de Timisoa- tendo-se tornado uma referência pelo quência da revelação de que a sujeição músicos portugueses feita por Simon que servirá para a divulgação do pré- ra, Muller entrou em rota de colisão valor monetário que lhe está associa- à audição prolongada de um mesmo Frederick e uma entrevista a Mariza mio. No imediato, o Megafone 5 estará com o regime de Ceausescu no final do – 100 mil euros. tema num volume muito elevado foi conduzida por Francisco Pinto Balse- no Centro Cultural de Belém e terá a dos anos 70 do século passado, tendo uma das técnicas utilizadas nos inter- mão. O Blitz nasceu em Novembro de participação de A Naifa, Dead Combo, abandonado a Roménia e passado a Outros prémios literários… na rogatórios aos prisioneiros de Guan- 1984 e era então um pequeno jornal Ó’Questrada e Gaiteiros de Lisboa. residir na Alemanha em 1987. Os seus roda-viva que foi a atribuição de pré- tánamo. de 16 páginas. Siouxsie foi a figura AA