Suplemento Cultural Da Ohsxxi Este Suplemento Faz Parte Integrante Do Jornal Correio Da Beira Serra N.º 91 E Não Pode Ser Vendido Separadamente
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Suplemento Cultural da OHsXXI Este Suplemento faz parte integrante do Jornal Correio da Beira Serra N.º 91 e não pode ser vendido separadamente. Jorge Pelicano O interior, de Novo aqui estamos a falar numa área geográfica de 133km e muitos mais intervenientes. Tem dito que o principal objectivo do seu novo filme é ajudar à reabertura da Li- nha do Tua. Julga que o cinema deve ser militante? Sente-se como um paladino de uma causa? Não há fórmulas certas para se trabalhar em documentário. Aos poucos fui-me en- volvendo, sempre achei que estava a traba- lhar numa causa, estava a dar voz a todos aqueles que normalmente a não têm. E isso é bastante motivador. Penso que consegui pôr as pessoas a reflectir, a parar, escutar e olhar. O documentário por si só não vai con- seguir, acho que têm que ser todos juntos a lutar para que isso não aconteça, todos O dia 24 de Outubro de 2009 certa- identidade única daquele povo e daquela Portugal tem imensos temas para retra- temos que reflectir. E quando digo todos, mente que perdurará por muito tempo região. tar. Gosto muito do interior do país, talvez são também aqueles que decidiram fazer na memória de Jorge Pelicano. Ao final O que é que faz com que os seus docu- por ter nascido e vivido no litoral. Vivo aquela barragem e vão fazer submergir da tarde esteve presente na cerimónia mentários impressionem tanto quem os intensamente os trabalhos, talvez seja isso aquele património que é a linha do Tua de encerramento do DocLisboa, onde, vê? A técnica, a mensagem, a temática…? que melhor me caracteriza. e o vale. Aquele património não é só das na Competição Portuguesa, recebeu os O que é que o distingue como realizador? O seu primeiro documentário vivia pessoas que vivem lá, é de todos os portu- galardões de melhor Longa-Metragem e Só os outros podem dizer… Para mim o muito de uma personagem, um “actor” gueses, e acho que se há alternativas para Melhor Montagem e o Prémio IPJ Escolas. documentário é a forma mais profunda de que de certa forma rebocou a narrativa. buscar outras energias, temos que ir por De seguida deslocou-se para Seia, onde se abordar uma realidade, tem outro tem- Sentiu-se tentado a repetir a mesma fór- essas alternativas, porque o progresso não o CineEco lhe atribuiu as três principais po, outra envolvência diferente das repor- mula? é só destruição. distinções do certame de 2009 – Grande tagens que faço para a SIC. Geralmente só Cada trabalho é um trabalho. A estrutu- Com o Ainda Há Pastores? focou o Prémio do Ambiente (Campânula de tenho duas semanas para a fazer, enquanto ra narrativa constrói-se de acordo com cada olhar sobre a Serra da Estrela. Agora vi- Ouro), atribuído pelo Júri Internacional, que Pare, Escute, Olhe, demorou dois anos realidade. Embora estivesse também a re- rou-se para Trás-os-Montes… Nasceu no Grande Prémio da Lusofonia e Prémio e meio. tratar a interioridade e o despovoamento, litoral e julgo que decorreu aí o seu pro- Especial da Juventude. A obra responsável cesso de crescimento como pessoa. O que por esta chuva de prémios chama-se Pare, é que o levou a interessar-se tanto pelos Escute, Olhe e reflecte sobre o isolamen- problemas do interior do país? to a que tem vindo a ser votada a região Queria falar de despovoamento. Per- de Trás-os-Montes tendo como ponto de correr as linhas ferroviárias que têm sido partida a desactivação da Linha do Tua. encerradas nestes últimos 20 anos é falar Conseguirá o novo documentário repetir o de despovoamento. Quando se encerra sig- impacto verificado há três anos comAin - nifica que já não há gente para o comboio da Há Pastores? (também distinguido no transportar. Depois o anúncio da constru- CineEco como melhor produção lusófona). ção da barragem de Foz-Tua e os quatro A questão não parece preocupar Jorge acidentes na Linha do Tua obrigaram-nos Pelicano, que acedeu a responder a algu- a documentar apenas esta linha. mas questões que lhe foram colocadas pelo Há três anos viu o “Pastores” ser recu- S21. Quanto ao público, poderá começar a sado pelo DocLisboa. Agora foi seleccio- seguir a carreira de Pare, Escute, Olhe já nado e levou todos os principais prémios a partir do próximo dia 12, data em que o da competição nacional. Também gosta de filme regressará ao Cine-Teatro de Seia. servir a vingança como um prato frio? Não vamos falar nem gosto de vingan- O seu primeiro documentário foi um ça. Há três anos fui recusado no DocLisboa fenómeno mediático e recebeu perto de porque na altura não tinha currículo, nem uma dezena de galardões em todo o mun- produtor. do. Pare, Escute e Olhe arrebanhou seis Ganhar três prémios foi uma surpresa e prémios no espaço de poucas horas. A deixam-me extremamente satisfeito, mas carreira desta nova obra poderá ser seme- também muito feliz por aquela realidade lhante à de Ainda Há Pastores? ter tocado nas pessoas. Fiquei feliz tam- Os prémios são o reconhecimento do bém por ter voltado ao CineEco, o primei- nosso trabalho. Mas o mais importante é ro festival em que participei e lançou Ainda que a sociedade civil reflicta sobre o que se há pastores?, e voltar a ver o meu trabalho está a passar em Trás-os-Montes e no Tua reconhecido. e se una para salvar aquele património. A Artur Abreu II S_21 - Suplemento Cultural da OHsXXI OUTUBRO / 2009 - N.º 40 O regresso deda hipocrisia,Sarama(r)go da estupidez e da inveja costumeiras. aramago voltou a editar um livro. Sara- chama Saramago “ignorante” e diz que “a boça- Apesar do tamanho do ruído, apesar do ele- mesmo Sousa Tavares, embora mais contido, não mago, do alto da liberdade dos seus qua- lidade coexiste bem com a manha empresarial”, vado número de protagonistas, a velha e sempre deixou de referir que Saramago, depois do Nobel, se 87 anos, voltou a meter-se com Deus. classificando de “irrelevâncias e disparates” as lusa inveja não consegue deixar de aparecer. Sa- “é vaidade”. E com a Bíblia. E, valha-nos Deus, nem é declarações de Saramago. Outros, menos famo- ramago é um Português com sucesso no mundo e Quase nunca ganhamos nada, quase nunca Spreciso ter fé para acreditar que “isto” ía dar con- sos, falaram “de acentuada senilidade e ódio de isso para muitos portugueses, em vez de provocar somos melhores em nada, mas quando um dos fusão. Saramago, depois de uma Viagem monta- foro psiquiátrico”. Também não justifica a fama orgulho, provoca ira. Não faltam casos recentes nossos chega lá, reagimos assim. Somos assim. do num pachorento, e até ternurento, Elefante, um desconhecido deputado do PSD no parlamen- de portugueses com sucesso no estrangeito mal- Dói, mas somos assim há tanto tempo…. muito associada ao susto de morte que apanhou, to europeu, que pro- amados na sua pátria, Numa daquelas coincidências em que a vida é voltou ao “dantes” para dar vida a Caim e ao seu curou os seus 15 mi- com especial desta- fertil, António Lobo Antunes, que como não podia velho conflito com a Igreja e com muitos daqueles nutos de esplendor ao que para os patriotas deixar de ser não gosta de Saramago e diz “que que assinam a opinião publicada. firmar sobre Sramago que escrevem nos jor- não existe”, editou, igualmente, o seu novo livro. O escritor questiona-se sobre qual a razão por- que tem “vergonha de nais: desde Amália, Lobo Antunes, que muitos, entre os quais os da que desperta tanta indignação e antipatia. Enfim, o ter como compatrio- passando por Figo, opinião publicada, dizem gostar, embora sejam Saramago poderá ser muitas coisas, mas nunca ta” e pedindo ao habi- Mourinho e Ronaldo, menos os que compram os seus livros, muito me- será santo. E sabe que se põe a jeito. Afirmar que nos os que o lêem e ainda menos os que o enten- “o Deus da Bíblia não é de se confiar, é má pessoa tante de Lanzarote para e até mesmo Mariza! dem, conseguiu que o país lhe atribuísse o estatuto e vingativo” e, para o caso de existirem dúvidas, renunciar à sua nacio- José Saramago es- do “injustiçado e coitadinho” que merecia o Nobel acrescentar que “a Bíblia é um manual de maus nalidade – uma cópia creveu livros que são mas… não lho dão! Nós, portugueses cantores costumes, um catálogo de crueldade e do pior da de Sousa Lara que, por considerados por mui- do triste fado, somos muito bons neste estado de natureza humana”, não é discurso que gere mui- definição, é sempre pior tos e em muitos lugares (des)graça, que muitas vezes nos empurra para to consenso, muitos aplausos ou muitos amigos. que o original. como obra-primas e por uma das nossas palavras mágicas: solidariedade. A legião nacional de comentadores, desde Mi- Deus, na sua infinita isso vende milhares de Bem, convenhamos que não é uma solida- guel Sousa Tavares a Marcelo Rebelo de Sousa, bondade, perdoará tan- cópias em quase todo riedade muito saudável! O drama não é o Lobo Domingos Amaral e até Frei Bento Domingues, ta estupidez. o mundo. Saramago é Antunes não ter recebido o Nobel, o drama é Sa- denunciarou Saramago como especialista de ma- Quando o palco se prémio Nobel. Muitos, ramago ter recebido o Nobel. Isto é, a felicidade rketing e vendas. A acusação é demasiado óbvia e tranforma num ringue e por cá, não lhe perdo- era zero Nobel. Ambicionar dois prémios Nobel simplista, muito no registo de comentário de café.