O Conselho Da Índia E O Seu Papel No Provimento Das Principais Fortalezas Do Índico

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O Conselho Da Índia E O Seu Papel No Provimento Das Principais Fortalezas Do Índico Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em História, área de especialização em História Moderna e dos Descobrimentos, realizada sob a orientação científica dos Professores Doutores Pedro Cardim e João Paulo Oliveira e Costa. O CONSELHO DA ÍNDIA E O SEU PAPEL NO PROVIMENTO DAS PRINCIPAIS FORTALEZAS DO ÍNDICO (1604-1614) Ana Teresa Hilário Resumo Esta dissertação pretende, num primeiro plano, inserir o Conselho da Índia no complexo polissinodal português e compreender este organismo no âmbito da conjuntura ibérica e do império português. Criado no reinado de Filipe III de Espanha com o intuito de promover um aconselhamento que garantisse o bom governo do espaço ultramarino português, o Conselho da Índia funcionou durante dez anos (1604-1614), durante os quais se ocupou de todos os assuntos que diziam respeito aos espaços portugueses do Atlântico e do Oriente. Para o compreender, é necessário compreender a conjuntura em que foi criado, mas também quem o compôs e como foi pensado e recebido tanto por parte das autoridades castelhanas como dos organismos de administração pré-existentes em Portugal. Num segundo plano, mais direccionado para a vertente da história da Expansão portuguesa, revela-se a importância de estudar o fenómeno da nomeação dos capitães da Índia e de o compreender quando comparado com conjunturas anteriores, e fases diferentes do império português. Através do estudo do grupo de homens que durante os seus dez anos de funcionamento o Conselho da Índia escolheu para capitanearem as fortalezas de Goa, Diu, Ormuz, Malaca e Baçaim podemos perceber a vertente social deste império, bem como encontrar pontos em que esta se alterou, ou não, com o passar dos anos, e relacionar estas rupturas e/ou continuidades com as conjunturas vividas. Palavras-chave: União Ibérica, Estado português da Índia, Conselho da Índia, Fortalezas do Índico, Capitães do Índico. i ABSTRACT This dissertation intends, in the foreground, enter the Council of India in the portuguese polissinodal complex and understand this organism within the Iberian and the portuguese empire context. Created during the reign of Philip III of Spain in order to promote counseling to guarantee the good government of the portuguese overseas area, the Council of India worked for ten years (1604-1614), during which engaged in all matters that it concerned with the portuguese spaces of the Atlantic and the Indian Ocean. To understand that Counsil, we must understand the environment in which it was created, who composed it and how it was conceived and received both by the Castilian authorities as pre-existing administrative bodies in Portugal. In one second place, more focused on the aspect of the history of portuguese expansion, this thesis reveals the importance of studying the phenomenon of naming captains to the Indian fortresses and understanding that when compared with previous situations, and different stages of the portuguese empire. By studying the group of men during his ten years of operation the Council of India chose to command the fortresses of Goa, Diu, Hormuz, Malacca and Bassein we can see the social aspect of this empire, and find points on which it is changed, or not, over the years, and relate these disruptions and / or continuities with the lived circumstances. Key-words: Iberian union, Indian Portuguese State, Counsil of India, Indian Fortresses, Captains of Indian fortresses. ii Agradecimentos Em primeiro lugar, agradeço ao Professor Pedro Cardim o facto de ter aceite o convite para orientar este trabalho. Em seguida, devo uma palavra de especial apreço ao Professor João Paulo Oliveira e Costa, co-orientador desta dissertação, com quem aprendi antes em aulas e aprendo hoje em conversas. Um obrigado não chega. Agradeço também às Professoras Alexandra Pelúcia, Ana Isabel Buescu e Susana Münch, pela forma interessada com que desde cedo acompanharam o meu trabalho. Ao Nuno Camarinhas, ao João Ferreira e à Graça Borges, pela partilha de informações. Aos Professores Daniel Alves e Paulo Jorge Fernandes, que mesmo com uma distância de dois séculos se mantiveram presentes. O trabalho de investigação e de escrita é, tendencialmente, um trabalho solitário. No entanto, diariamente o nosso percurso vai sendo adoçado pela presença de familiares, colegas e amigos. A estes, que apesar de não terem contribuído com informações e parágrafos para esta dissertação, ajudaram a sua autora a manter a lucidez, através do riso e de momentos de descontracção que tantas vezes permitiram o necessário esquecimento momentâneo do trabalho que havia em mãos. Assim, agradeço à Aline Martinho, ao Tiago André, ao João Santos, ao João Sérgio, à Marisa Gomes, ao António Campos, ao Diogo Gomes, à Manuela Abreu, à Filomena Martins, à Elis Gomes, à Isabelle e ao Julien Valente. Ao André Neto, ao Tomás de Albuquerque, ao Tiago Simões. Agradeço ainda à Inês José e à Cláudia Joaquim. A primeira, minha companheira desde o primeiro almoço na FCSH até ao jantar de comemoração pela finalização das nossas dissertações. A segunda, grande amiga e historiadora, sempre presente em todos os momentos desta jornada, com contribuições preciosas. Sem vocês, não teria sido tão bom. À Avó Gi e ao Avô Zé. Ao meu pai. À Canina. À minha mãe, a melhor parte de mim. iii Índice Introdução p.1 Capítulo I. Revisitar o Conselho da Índia p.10 Capítulo II. O Conselho da Índia: Dinâmicas de centralização e adaptação p.23 II. 1. Um império em crescimento no Atlântico p.23 II. 2. A continuidade do sonho oriental p.28 II. 3. O gradual abandono do Norte de África p.36 II. 4. A solução castelhana para o problema português p.37 Capítulo III. O processo de institucionalização p.43 III. 1. Desígnios do Regimento (Julho de 1604) p.43 III. 2. Conflitos jurisdicionais p.45 III. 3. A rota dos papéis p.47 III. 4. A revisão do Regimento (Abril de 1613) p.49 Capítulo IV. Dimensões socio-políticas do Conselho da Índia p.57 IV. 1. Presidentes p.59 IV. 1. 1. Fernão Teles de Meneses p.59 IV. 1. 2. D. Francisco de Mascarenhas p.63 IV. 1. 3. D. Francisco da Gama p.66 IV. 2. Conselheiros de Capa e Espada p.75 IV. 3. Conselheiros Letrados p.82 Capítulo V. O Conselho da Índia e o provimento das capitanias do Índico p.86 V. 1. A importância das fortalezas e capitanias no império português p.86 V. 2. Critérios e Metodologia p.88 iv V. 3. O tempo longo: de D. João III a Filipe III p.93 V. 4. O tempo curto: o Conselho da Índia (1604-1614) p.100 V. 4. 1. Motivos de escolha p.103 V. 4. 2. Enquadramento social do grupo p.109 V. 4. 3. Os nomeados p.112 a) Capitães de Goa p.112 b) Capitães de Ormuz p.114 c) Capitães de Malaca p.116 d) Capitães de Diu p.120 e) Capitães de Baçaim p.122 Conclusão p.126 Referências Bibliográficas p.132 Anexos p.144 v Siglas e Abreviaturas ANTT - Instituto do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa) BA - Biblioteca da Ajuda (Lisboa) BNP – Bilioteca Nacional de Portugal (Lisboa) FCSH-UNL – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa FL-UL – Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa DRI – Documentos remettidos da Índia ou Livros das Monções, direcção de Bulhão Pato (dos volumes 1 ao 6) e António da Silva Rego (dos volumes 7 ao 10), Lisboa, Academia Real das Sciencias. Citado sempre segundo a fórmula: “Tipo de documento, Local, Data, DRI, Volume, Página” Nota: Por motivos de fluidez da leitura, na transcrição de documentos optámos por adaptar a linguagem às regras actuais de escrita e pontuação. vi Introdução O presente estudo foca a sua atenção no Conselho da Índia, órgão criado na governação de Filipe II de Portugal, III de Espanha, comummente visto como um primeiro passo no sentido da centralização dos negócios e assuntos do espaço ultramarino português. Se o processo expansionista iniciado no século XV por Portugal e Castela trouxe consigo novos conhecimentos do mundo exterior, sendo esse o prisma pelo qual, comummente, é estudado, trouxe também novos desafios aos regentes destas coroas, criando a necessidade de administrar territórios tão distantes, e gerir conjunturas económicas, políticas e sociais tão díspares daquelas que estes soberanos encontravam nos seus reinos. Por tal, requeria-se a criação de novos mecanismos de governo. Em Portugal, o primeiro organismo de apoio à governação dos territórios ultramarinos foi a Casa de Ceuta, que não conta até à data com qualquer estudo aprofundado sobre a sua história e funcionamento. Ao contrário do afirmado por Francisco Mendes da Luz, autor cujos estudos, como adiante se verá, se revelam de enorme importância para o tema que nos ocupa, que aponta a sua criação para Lagos1, esta instituição terá sido fundada em Lisboa, em data até hoje desconhecida, pela ausência de qualquer documento que comprove o momento exacto da sua criação. Supõe-se, no entanto, que terá sido nos momentos imediatos à conquista da cidade, o que nos mostra a consciência que tinha o Infante D. Henrique, a quem por Carta Régia de 18 de Fevereiro de 1416, D. João I entrega ao infante a tarefa de gerência “de todas as cousas que cumprem para a dita nossa cidade de Ceuta”2, de que para a manutenção da nova conquista e organização dos assuntos que lhe diziam respeito, era essencial um organismo especializado. Desse modo, depressa esta instituição passou a contar com “um intrincado corpo de funcionários, desde o tesoureiro-mor a indivíduos com funções não especificadas, passando por escrivães, recebedores, vedores da Fazenda, contadores e fiéis”3. A Casa de Ceuta estabelece-se então praticamente de imediato como órgão de 1 Cf.
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