Revista Brasileira de Marketing E-ISSN: 2177-5184 [email protected] Universidade Nove de Julho Brasil

Stocco, Daniela “Paraíso Tropical”: interpretação de um país por meio de uma novela e uma cidade Revista Brasileira de Marketing, vol. 7, núm. 2, 2008, pp. 185-193 Universidade Nove de Julho São Paulo, Brasil

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Daniela Stocco Graduada em Ciências Sociais – FFLCH, USP; Mestrado em sociologia e antropologia – PPGSA, UFRJ [email protected]

Como definir a identidade brasileira? O que é sin- gularmente nacional? De fato, não se pode começar a responder a essas questões sem ter em mente que a identidade, seja nacional ou não, é sempre uma construção, ou como diria Bourdieu, uma repre- sentação mental necessariamente arbitrária, pois devem ser escolhidos certos valores, características ou símbolos em detrimento de outros. Nesse senti- da Comunicação Cenários do, a força do Rio, enquanto referência identitária, fica clara nas novelas brasileiras da Rede Globo. A novela “Paraíso Tropical”, por exemplo, já em sua sinopse colocava o bairro de Copacabana como “DNA do Brasil”, ou “lugar-síntese” do Brasil. Além disso, “Paraíso Tropical”, assim como as novelas em geral, são, de fato, vitrines da sociedade brasileira, não só em relação ao consumo, mas também na divulgação de valores sociais, tipos ideais de pais, mães, filhos, homens, mulheres etc. Dessa forma, a novela “Paraíso Tropical”, o material desta pesqui- sa, permite-nos procura analisar, o peso do como possível construção de uma identida- de brasileira e os valores e tipos ideais que a novela atribui à sociedade brasileira. Ademais, vale notar que a novela não difunde apenas a visão de seus au- tores e diretores, mas também a de seus numerosos telespectadores, pois trata-se de uma obra aberta, com fins comerciais e lucrativos, o que faz desse en- redo um material ainda mais rico e interessante. Palavras-chave: Identidade nacional. Rio de Janeiro. .

Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. 185 Introdução significativos para a construção identitária dos bra- 1 sileiros que os difere dos estrangeiros. No entanto, é interessante notar que o modelo escolhido é o Como se pode definir a identidade brasileira? carioca que será utilizado para explorar a identidade O que distingue o povo brasileiro dos outros povos brasileira, representando o brasileiro. Nessa pers- do mundo, ou o que é singularmente nacional? pectiva, portanto, ser carioca passa a ser não apenas Quais são os traços do caráter brasileiro? Muitos já uma das possibilidades de ser brasileiro, mas, sim, se debruçaram sobre estas questões. Intelectuais do o seu parâmetro. Nesse contexto, este artigo apre- fim do século XIX, como Sílvio Romero, Euclides da senta como as novelas – e mais especificamente, a Cunha, Nina Rodrigues, Tavares Bastos e Oliveira novela “Paraíso Tropical”– podem fazer da cidade Vianna, já recorriam a tal tema para buscar, pelo do Rio de Janeiro uma possível referência de Brasil fundamento do ser nacional, o que diferenciava o para construir uma identidade nacional. Brasil dos outros países – principalmente dos mais desenvolvidos. Com os movimentos de vanguarda na década de 1920, os modernistas ambicionavam O Rio como referência nacional romper com as tradições, atualizando as artes e a 2 literatura brasileira, pela utilização de elementos da cultura brasileira, para fazer nascer uma arte Não é de hoje que o Rio de Janeiro serve de autenticamente nacional. Nos anos 1930, acadêmi- referência de Brasil. De fato, em diversas épocas, a cos como Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado cidade teve papel fundamental para o País. Em pri- Jr. e Gilberto Freyre começavam a construir novas meiro lugar, desde a sua fundação, São Sebastião interpretações do Brasil, em que não só evidencia- do Rio de Janeiro já estava predestinada por Estácio vam os obstáculos históricos, econômicos, sociais de Sá a ser a “Rainha das províncias” ou a “sín- e culturais que nos impediam de entrar de fato tese da nação”. O fato de ter sido, por dois séculos, na modernidade, mas também destacavam nossa a capital, tanto da colônia quanto do Império e singularidade e o que nela deveria ser valorizado. República – tendo sido, inclusive, a sede do Império Percebe-se que o tema da identidade brasileira é, Português de 1808 a 1822 – fez a cidade florescer de fato, recorrente. Mais recentemente, em 1984, o econômica, urbana, política e, sobretudo, cultural- antropólogo Roberto DaMatta – que já havia reto- mente, como nenhuma outra cidade do país. O Rio mado o tema com “Carnavais, malandros e heróis: de Janeiro era a cidade que aproximava o Brasil da para uma sociologia do dilema brasileiro”, em “civilização” européia, destacando-se por sua voca- 1979 – escreve o livro “O que faz o brasil, Brasil?”, ção cosmopolita, intelectual e grande produtora de no qual ele aponta como o brasileiro constrói suas cultura. Mesmo durante a mudança do Governo identidades: Federal para Brasília e com a fusão da cidade com o estado do Rio de Janeiro, quando a cidade já tinha Sei que sou José da Silva, brasileiro, casado, perdido sua primazia econômica para a cidade de funcionário público, torcedor do Flamengo, São Paulo – e que neste momento perdia seu poder carnavalesco da Mangueira, apreciador incon- político – seus intelectuais ainda se esforçavam para dicional das mulatas, católico e umbandista; que lhe fosse atribuído o papel de “cidade-mãe”, jogador esperançoso e inveterado da loto, por- “cidade-espelho”; “porta-voz do Brasil”, “coração e que acredito em destino – e não outra pessoa caixa de ressonância do país”, o “tambor do Brasil”, qualquer. (DAMATTA, 1994, p 15). entre outros. O historiador Evaldo Cabral de Mello, numa entrevista para o jornal “O Globo” (edição de Propositadamente ou não, o brasileiro descrito 13 de agosto de 2005), comenta que o carioca tem por DaMatta é, muito provavelmente, um carioca. um caráter narcisista e critica o “Rio-centrismo”, Primeiro, ele é flamenguista e mangueirense, o que, que seria a construção da história do Brasil do por si só, remete diretamente à cidade do Rio de ponto de vista carioca, tendência que viria desde Janeiro; segundo, por ser “apreciador de mulatas”, a Independência; porém, hoje, não são os cariocas “carnavalesco” e “católico e umbandista”, diminui os maiores responsáveis por tal tendência, pois, ainda mais as chances de o senhor José da Silva ser assim como os paulistas, passaram a viajar mais e a de outra das região do País. É verdade que, com esse conhecer melhor o País. Por outro lado, de acordo exemplo, DaMatta pretendia mostrar quais seriam com Hermano Vianna (1995), a produção musical alguns dos tipos de identificação importantes ou popular carioca – sobretudo o samba, o samba-

186 Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. enredo e as escolas de samba – tornou-se ícone ressante: para ele, é uma comunidade política da cultura nacional, com auxílio do Estado Novo, imaginária, essencialmente limitada e soberana. sabidamente nacionalista e centralizador, e grande Seguindo esse raciocínio, pode-se dizer que, exa- interessado no sentimento de unidade nacional. tamente por ser imaginária, a comunidade precisa Nesse sentido, a produção cultural do Rio é de ter em mente seus limites políticos e suas frontei- domínio nacional e não regional. Inclusive, para ras; porém, outros fatores se fazem necessários para o autor, a “vitória do samba”, ou seja, a transfor- manter tal comunidade unida. O mais importante mação de um estilo musical originado no Rio de seria ter um repertório compartilhado, seja cultu- Janeiro – mesmo com influências da Bahia, por ral ou histórico, que fosse capaz de ligar as pessoas exemplo – em música nacional fez parte da vitória umas às outras, criando entre elas uma identidade de um projeto de modernização e nacionalização em comum, isto é, nacional. Para tanto, alguns ele- da sociedade brasileira. mentos desse repertório podem ser trazidos à tona De todo modo, quando se pensa em identidade – pelo Estado, pelos intelectuais ou não – , seja para nacional, não se pode perder de vista que se está identificar o grupo, seja para unir seus membros. falando de uma construção. Dessa forma, não se pode Esses elementos passam a representar o grupo gene- deixar de questionar a validade de uma única “iden- ralizadamente e são escolhidos, entre outros, de tidade nacional” ou um único conjunto de valores, forma arbitrária. No entanto, o mais importante é de crenças, de maneiras de pensar, sentir e agir legi- que, se aceitos pelos membros da nação – ou pelo timado pelo uso contínuo e partilhado por todos menos por sua maioria – eles exercem, afinal, sua os brasileiros. Como se pode escolher entre tanta função de reforçar e legitimar a existência da comu- diversidade, tantas regiões e especificidades aquilo nidade imaginada. Nação e identidade nacional que é, de fato, generalizado no País, mas, ao mesmo são construções sempre juntas, pois uma precisa da tempo, singular, isto é, que o distingue de todos os outra para se imaginar e, desse modo, existir. outros? Pierre Bourdieu (1998) aponta uma resposta Partindo-se do pressuposto de que a identi- para esse problema. Para ele, a realidade é social de dade nacional é uma construção arbitrária inserida parte a parte, e certos agentes sociais mobilizam em um campo de disputas culturais, políticas, propriedades objetivas (língua, religião, território, identitárias e de poder, podemos chegar a três con- atividade econômica etc.) e subjetivas (sentimento clusões: primeiro, que a posição do Rio de Janeiro de pertença, valores etc.) da cultura do País que como modelo de “brasilidade” não é, para dizer, estão de acordo com seus interesses e pressupos- no mínimo, ingênua; além disso, retifica-se que tos e determinam as “representações mentais” que até hoje o que se produziu e o que ainda se produz o grupo terá de si mesmo e a imagem desse grupo sobre identidade brasileira são sempre interpreta- para os de fora. Além disso, tal ação simbólica de ções, e nunca descrições definitivas; finalmente, da Comunicação Cenários mobilização acaba por produzir a unidade real ou é inútil procurar por características ou caracteres a crença nessa unidade, e, a longo prazo, a contínua invariáveis da identidade, pois são escolhas arbitrá- repetição e imposição da representação mental e da rias e não naturais. Assim, as definições do que é ou identidade “legítima” podem criar a unidade real. não nacional são passíveis de mudança – sem contar Bourdieu cita Durkheim, quando diz que a região a possibilidade de mudança na sociedade, em seus (que no caso desta análise é a nação) é “uma ilusão valores e em sua produção cultural, que não estão bem fundamentada”. Assim, as propriedades que parados no tempo. compõem a representação mental dos indivíduos Considerando todos esses aspectos, a força de um país sobre sua nacionalidade não são “natu- que o Rio de Janeiro tem não só nas interpretações rais” ou “espontâneas”, mas, sim, arbitrárias, pois do Brasil, mas também no “imaginário” dos brasi- escolhidas de acordo com algum tipo de interesse, leiros gerou um interesse de estudo. E, ao pensar devem partir de um posicionamento. numa interpretação de Brasil que levasse em conta Na verdade, a formação da identidade passa o Rio de Janeiro, enquanto modelo, chegamos ao pela construção da própria nação. Bourdieu tem mundo das novelas, cujo material riquíssimo ofe- idéias boas para definir como a identidade é cons- rece uma das possíveis interpretações do Brasil. Por truída – em grande parte delas, a dominação do ser uma obra aberta – isto é, criada ou elaborada ao Estado e dos intelectuais é muito acaçapante, não longo de sua transmissão, dando margem a mudan- dando espaço para contribuição da população em ças na história, ao contrário de um filme, que já é geral. Já Benedict Anderson, em seu livro Imagined uma obra acabada quando exibido –, a novela não Communities (1998), define nação de maneira inte- é escrita apenas levando-se em conta as opiniões e

Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. 187 vontades do(s) autor(es), mas, sem deixar de lado Sempre que uma nova novela está prestes a estrear, seu lado comercial, deve também agradar e estar há uma coletiva de imprensa com os produtores, de acordo com as expectativas dos telespectadores, diretores, atores e autores envolvidos. Naquela oca- o que a obriga, de certa forma, a apresentar uma sião, foi apresentada a seguinte sinopse para a nova idéia do que é o Brasil, na qual o autor deve cor- “novela das oito”: roborar minimamente a visão de seus “ não pouco numerosos “ telespectadores. Rio de Janeiro, Copacabana. Da antiga Capital Federal – até hoje considerada por muita gente no mundo todo a verdadeira capital do Brasil A escolha da novela “Paraíso – Copacabana talvez seja o lugar que melhor 3 Tropical” como material de pesquisa represente o país em todos os seus aspectos. Concentrados no espaço limitado de alguns “Paraíso Tropical”, da Rede Globo, foi trans- quilômetros quadrados estão as mais diver- mitida de 5 de março a 29 de setembro de 2007. sas formas de vida, uma incrível e vastíssima Seus principais autores foram e biodiversidade que, em síntese, é a mais per- Ricardo Linhares, sendo eles auxiliados por mais feita tradução do nosso povo. Nesse pedaço sete escritores. Gilberto Braga é um autor de nove- de terra, povoado e freqüentado por cidadãos las consagrado, conhecido por retratar sempre as célebres e anônimos de todos os tipos, está a classes média e alta cariocas, seus conflitos e tenta- nossa cultura, escancarada, viva, com todos tivas de social, enquanto Ricardo Linhares os seus contrastes, qualidades e mazelas. é de uma nova safra de autores. O núcleo de dire- Em Copacabana está o DNA do Brasil. Pois ção era de Dennis Carvalho, sendo ele e José Luiz é nesse lugar-síntese que está ambientada a Villamarim os principais diretores. próxima novela das 20h, Paraíso Tropical, de A escolha de uma novela da Globo escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com dire- Gilberto Braga não foi por acaso. Com efeito, a ção de núcleo de Dennis Carvalho. Mas, como Globo é, de longe, a emissora com maiores índices o autor faz questão de ressaltar, a novela não de audiência no geral e, embora não seja a única a é exatamente sobre aquele bairro carioca, mas produzir e transmitir novelas, é a líder absoluta de sobre o Brasil contemporâneo, seus contrastes audiência no segmento1. Ademais, é uma emissora e, principalmente, uma novela que conta uma carioca, assim como Gilberto Braga, que tem sem- atribulada e intensa história de amor2. pre o Rio de Janeiro como cenário de suas tramas. Tais fatores, por si só, podem explicar por que o Rio Com essa sinopse, atribui-se mais especifi- está em evidência não só nessa novela, mas também camente ao bairro de Copacabana o caráter de na maioria das novelas das oito –. No entanto, por “síntese do Brasil”: o de ser uma amostra repre- mais que autor e emissora possam privilegiar o Rio sentativa do “DNA do Brasil”. De acordo com seus simplesmente por serem cariocas, eles não foram os produtores e autores, o Rio de Janeiro, resumindo primeiros e, aparentemente, não serão os últimos a esse bairro, é um retrato fiel do Brasil. A novela fazer da cidade uma referência para uma possível se apresenta, portanto, como material com enorme construção de melhor representação do Brasil. E potencial para meus estudos. ainda, no caso da novela, não só a Globo e Braga atribuem ao Rio este papel, mas também os teles- pectadores, que interferem na obra aberta, aceitam A relevância das novelas como objeto o Rio como possível referência para a construção de 4 de estudo sua própria visão do país. Em fevereiro de 2007, a novela começou a ser “lançada” (chamadas durante a programação da 4.1 Novela: obra aberta, comercial emissora mostravam estrangeiros em seus países e de massa tentando definir o que seria um paraíso tropical; em seguida, as chamadas apresentavam aos teles- O fato de as novelas serem obras com fins lucra- pectadores os principais personagens e adiantavam tivos, ou seja, comerciais, faz com que as emissoras quais seriam as principais tramas da novela, além tenham grande interesse – no caso, da Globo – em dos anúncios em jornais e revistas – sobretudo fidelizar seus telespectadores e garantir que não nas especializadas em telenovela – e em outdoors. troquem de canal ou desliguem a televisão por não

188 Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. estarem satisfeitos com o andamento da história tatação, segundo Verônica Eloi de Almeida (2003), transmitida. Essa preocupação procede, pois uma prova quão pertinentes e importantes são os estu- queda no índice de audiência é determinante para dos sociológicos que consideram tanto a TV quanto diminuir o lucro das emissoras, advindo de seus os produtos que ela veicula como materiais de pes- anunciantes. Para evitar esse tipo de problema, a quisa. Infelizmente, os trabalhos sobre a televisão Rede Globo analisa, com afinco, os índices de audi- ainda são pouco numerosos, principalmente por ência emitidos pelo Instituto Brasileiro de Opinião um preconceito acadêmico em torno da cultura Pública e Estatística (Ibope) e tem metas de índi- de massa, também explorado na pesquisa de mes- ces para cada um dos seus programas. De acordo trado de Almeida. Inclusive, autores como DeFleur com as pesquisas do Ibope e a análise de Esther e Ball-Rokeach (1990) esclarecem que o interesse Hamburger (2005), a “novela das oito”, hoje exibida dos investigadores das ciências sociais básicas por às 21h, é a sua “menina dos olhos”, por ser, tradi- comunicação e mídia de massa que começou antes cionalmente, o programa que apresenta os maiores da Segunda Grande Guerra, sempre foi visto como pontos de audiência – maiores, inclusive, que os do ferramenta para compreender as hipóteses e teo- “Jornal Nacional”, o mais importante noticiário da rias de suas próprias disciplinas, e não como um Rede Globo e da televisão brasileira. Além disso, há campo em si para ser estudado. Almeida também um Departamento de Pesquisa tão bem desenvol- salienta que da primeira novela transmitida pela vido quanto inacessível, que realiza ou encomenda televisão brasileira – Sua vida me pertence, 1951, pesquisas qualitativas com grupos de discussão, TV Tupi – passaram-se quase 30 anos para que a normalmente formados por mulheres, para saber academia se interessasse em refletir sobre o papel suas opiniões e expectativas em relação à história, a desempenhado pela telenovela no campo cultural determinados personagens, à aceitação ou rejeição e no cotidiano dos brasileiros. a certos temas etc., o que confere maior segurança Quanto ao poder da televisão, Bourdieu escla- para continuar os caminhos já traçados para a novela rece, em “Sobre a Televisão” (1996), que o grande ou para propor mudanças quando ela vai mal. Por alcance da TV faz com que ela tenha o monopó- mais que o Ibope seja medido somente nas áreas lio da formação das cabeças de uma parcela muito metropolitanas e que só mulheres, nem sempre de grande da população, o que permite vislumbrar o todas as classes sociais, tenham voz para influen- poder que esse veículo de comunicação de massa ciar no rumo de uma telenovela, esse diálogo está tem e o alcance de seu conteúdo. Somado a tal aberto e é considerado de suma importância para a visibilidade pública, e ainda pensando com os emissora, pois pressiona diretores, autores, produ- conceitos bourdieusianos, a TV usufrui, por meio tores e atores em direção ao sucesso na audiência e, da imagem, o “efeito do real”, ou seja, ela faz ver e conseqüentemente, ao êxito comercial, mesmo que faz crer no que faz ver. Ela tem um poder de evoca- da Comunicação Cenários a palavra final, para escrever o roteiro e os capítulos, ção com grandes efeitos de mobilização, podendo seja do(s) autor (es). trazer à existência idéias, representações e grupos, com uma divulgação muito maior que qualquer outro meio de comunicação. A conseqüência é 4.2 Presença, impacto e poder que a TV pode passar de instrumento de registro da televisão para o de criação de realidade. A imagem transmi- tida torna-se o espelho da realidade e dá grande Outro fator que confere importância ao estudo autoridade aos discursos que ela constrói. É bom de novelas é a disseminação da televisão no Brasil, notar que Bourdieu estava pensando, sobretudo, seu impacto e, principalmente, seu poder na vida na produção jornalística da televisão, e não tanto dos brasileiros. A TV, por si só, é um fenômeno na de ficções. No caso do jornalismo, é certo que à parte: ainda que, em 1960, apenas 4,6% dos o telespectador tem um papel mais passivo, pois domicílios brasileiros possuíssem um aparelho de não pode participar, enquanto, na produção das televisão, em 1970 eram 22,8% e, em 1980, 56,1%. novelas, por exemplo, ele pode interferir. Por Em 1991, 71% dos domicílios possuíam pelo menos outro lado, segundo Dominique Wolton (1996), um aparelho3 e, em 2000, 84% tinham, no mínimo, a TV pode ser vista pelos telespectadores como um televisor4. Isso significa que dos 44 milhões de um tipo de espelho, que oferece à audiência uma domicílios particulares, 38 milhões possuíam tele- representação de si mesma, mas que também é visores, ou seja, aproximadamente 145 milhões de compartilhada por todos os que assistem a ela brasileiros tinham acesso à televisão. Só essa cons- simultaneamente, criando uma solidariedade ou

Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. 189 identidade coletiva, numa visão mais otimista que Igualmente, podemos ver, nas , o a de Bourdieu. Já Jesús Martin-Barbero (1997) vai mesmo tipo de fenômeno que era configurado pelo além de Wolton: influenciado por Edgar Morin, jornal. No Brasil, sabe-se não só pelos índices do Martin-Barbero reconhece que o dispositivo Ibope, mas também pelas conversas no dia-a-dia básico de funcionamento da indústria cultural é que milhões de pessoas acompanham, ao mesmo a fusão do espaço da informação com o imaginá- tempo, as histórias das novelas e compartilham seu rio ficcional. E é nessa fusão que o público tem a conteúdo que trata de temas abordados por elas em sensação de estar assistindo a narrativa de sua pró- discussões com familiares, amigos, companheiros pria vida e que a ficção parece estar mais próxima de trabalho etc. Ainda seguindo o pensamento de da realidade do telespectador que as notícias que Anderson, a língua em si não tem um papel mais ele vê na TV ou lê no jornal, pois ele se identifica preponderante que a impressa no nacionalismo, com os personagens, o que pode não acontecer no pois, por um lado, ela é o meio pelo qual os ele- noticiário. Soma-se a isso, a estrutura aberta da mentos de uma comunidade se conectam, mas não novela, herdada do folhetim, em que o plano da pelo qual a “comunidade se imagina”; por outro, história é flexível para permitir a reação e inter- existem nações onde seus integrantes utilizam ferência dos leitores (folhetim) e telespectadores diferentes línguas. Além do mais, com a revolução (novela). Pode-se dizer, então, que a novela tem, das comunicações do século XX e a transformação de fato, o poder que Bourdieu atribui à televi- do Estado-Nação em uma norma intransponível, a são, pois dá maior efeito de realidade à história, uniformidade lingüística não é mais um obstáculo. mesmo porque usa as informações e notícias da O que Anderson busca são os meios que ofereçam atualidade para ter maior verossimilhança; no referências por meio das quais os indivíduos se entanto, o fato de ser uma obra aberta faz com que identifiquem e passem a reconhecer uns aos outros os telespectadores participem da disputa na qual como parte de uma mesma nação. Nesse caso, não será definida que realidade deve ser retratada, pois só o capitalismo impresso atuará dessa forma, mas eles ajudam a construir a história. Martin-Barbero também museus, mapas, censos e a reprodução em coloca o telespectador no campo da disputa das massa de selos, cartões-postais, hotéis e revistas, representações mentais, o qual, para Bourdieu, pois ajudam a construir uma “imagem da comuni- estava totalmente fora. dade imaginária”. A novela, portanto, preenche os três requisitos: de simultaneidade e de construção de uma referência, de um imaginário em comum 4.3 Telenovela: questão nacional para muitos brasileiros e de meio de comunicação de massa. Existe ainda o papel de unificador nacional Com efeito, as telenovelas são a vitrine da possibilitado pela novela. Voltando à definição de contemporaneidade brasileira. Elas destacam íco- nação de Benedict Anderson, como comunidade nes da nacionalidade brasileira – Pão de Açúcar, política imaginária, limitada e soberana, insere- Corcovado, belezas naturais etc.– , tentam cons- se também um fator importante: a maioria de truir personagens com os quais os brasileiros se seus membros não se conhece, mas, na mente de identifiquem e, ao longo da história, introduzem cada um, eles fazem parte de um mesmo grupo. referências da realidade – notícias da vida real que Um dos fatores fundamentais que sustentavam se repetem e repercutem na novela, ou datas come- a idéia de simultaneidade e de unissonância na morativas celebradas na novela ao mesmo tempo formação das consciências nacionais era o “capi- que o são na vida real (ex: Natal, Ano Novo etc.) – talismo impresso”, ou seja, a propagação em para tornar, mais forte e verossímil, a identificação massa de livros e jornais, possibilitada pela nova da novela com o cotidiano do brasileiro. Esther tecnologia de comunicação capitalista. Isso por- Hamburger e Elodie Perreau (2005) mostram em que todos os que liam os jornais, por exemplo, seus trabalhos o esforço de autores, diretores e pro- tinham consciência de que outros membros de sua dutores em dar esse toque de realismo, que reforça comunidade o faziam simultaneamente, mesmo o poder da novela como referencial de Brasil e sem um conhecer a identidade do outro. Como a facilita que o telespectador interprete a história “comunidade imaginada” tem suas raízes na vida que ele vê na TV como representativa da realidade cotidiana, ao ver que outros lêem o mesmo jornal que vive e vê nos jornais. Ademais, o conteúdo das que ele, o leitor reafirma sua confiança na exis- novelas sempre gira em torno de valores e institui- tência dessa comunidade. ções muito caras aos brasileiros, que dizem muito

190 Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. de suas preferências, de seu senso de justiça, de Silva). “Paraíso Tropical” não é diferente. Há tam- como agir em certos papéis e em certas situações. bém a possibilidade de mostrar que não se pode A novela, como apontado por Hamburger (2005), fugir da pressão da tradição e da família, ou seja, é um espaço de condensação de tipos ideais – posi- não é possível o personagem existir enquanto indi- tivos e negativos –, principalmente de membros da víduo, mas somente enquanto pessoa integrada no família. Partindo-se desse ponto, pode-se destacar todo (como em “”, de Dias Gomes e que a novela é uma construção que representa o Agnaldo Silva, analisada por Gomes). Há aqui uma Brasil e as pessoas que nele vivem e, ao emitir essa contradição: a novela é vista como referência para a representação, dá um repertório a seus telespecta- modernidade, mas suas narrativas tentam reconci- dores, que compartilham e interpretam livremente, liar o tradicional com o moderno, permitindo que sendo um dos meios de criar a imagem do “Brasil as vontades do âmbito privado (subjetivas) sejam imaginário”. Para se ter uma idéia de como o Rio de satisfeitas de acordo com as possibilidades tradi- Janeiro é cenário recorrente das “novelas das oito”, cionais, mas impedindo que se formem indivíduos de “Sol de Verão”, transmitida em 1982 e analisada como cidadãos que tenham autonomia e estejam no primeiro trabalho de recepção de novelas feito em pé de igualdade com outros indivíduos para por Ondina Leal (1986), até a novela transmitida resolver seus problemas ou satisfazer suas vonta- atualmente pela Rede Globo, “”, tem-se des. Desse modo, as novelas urbanas ambientadas um total de 43 novelas. Desse total, 25 (58,14%) no Rio de Janeiro transmitem estórias que retra- apresentavam estórias ambientadas no Rio de tam uma antiga característica da sociedade Janeiro; 10 (23,26%) se passavam em cidades fictí- brasileira: a busca pela modernidade com a forte cias (8 casos) ou reais (2 casos) no interior no Brasil permanência do antigo, e apresentam outro crité- e, finalmente, 8 (18,60%) tinham a capital paulista rio para avaliar o que é moderno: novos hábitos como cenário. No caso da novela “Paraíso Tropical”, de consumo, novos costumes, novas modas. além dos tipos ideais de membros da família, há Tendo em vista, portanto, que o Rio é conhecido um repertório de imagens do Rio de Janeiro; em por ser uma cidade de vanguarda para novos hábi- primeiro lugar, de suas paisagens exploradas na tos e para a moda, seu caráter urbano e, ao mesmo abertura e no transcorrer dos capítulos, que unem tempo, paradisíaco, acaba por reunir aspectos que o “país tropical”, com sua natureza paradisíaca, à podem não ser exatamente o retrato fiel do Brasil segunda maior cidade do país, moderna, urbana, como um todo, mas de como se gostaria de ima- cosmopolita. Essa superposição que a cidade do giná-lo, de construí-lo. Um país tropical, lindo, Rio permite torna-se material para construção de moderno, urbano. Na novela “Paraíso Tropical”, uma referência de Brasil, ao mesmo tempo urbano a modernidade está no consumo, nos hábitos, no e um “paraíso tropical”. Em segundo lugar, em pes- comportamento dos ricos e no requinte de suas da Comunicação Cenários quisas realizadas sobre novelas, como as de Rosane casas e de suas roupas – além do hotel do grupo Prado (1987), de Laura Gomes (1991), de Denise da Cavalcanti, parte central na trama. O contraste Silva (1991), de Monica Roque Coutinho (1993), de entre o urbano e as paisagens também é bastante Heloísa Buarque de Almeida (2003) e as já citadas explorado. Finalmente, é oferecido um repertório de Leal (1986) e Hamburger (2005), as novelas tra- de como se vive na cidade, mais especificamente tam do embate entre a tradição e a modernidade; em Copacabana, quando mostra a relação que entre a pessoa (seu papel dentro de um todo, no personagens habitantes do bairro têm com seus caso a família) e o indivíduo (vontades individu- vizinhos e com o bairro em si. Quando os dramas ais subjetivas). De acordo com essas pesquisas, da vida cotidiana são contados nesse cenário, eles para os telespectadores, as novelas seriam o retrato passam a aproximar o telespectador que se identi- da modernidade, divulgando a vida urbana (na fica com os personagens de tal cenário. Segundo maior parte das vezes), novas expressões, a moda Heloísa de Almeida e Rosane Prado, os persona- e, principalmente, novos hábitos de consumo. Para gens que mais o tocam são aqueles que misturam o público, a novela trata de papéis sociais, mas aquilo que ele é com o que gostaria de ser. Assim, também de como estar “antenado”5. No entanto, mesmo que a identificação do telespectador com na análise das antropólogas e sociólogas citadas, o Rio de Janeiro seja indireta, ele passa a fazer as estórias buscam normalmente como solução o parte de um imaginário de Brasil, que, se não é equilíbrio entre a submissão aos papéis familiares conhecido na realidade por boa parte dos telespec- e as escolhas individuais (o que ocorre normal- tadores, é, ao menos, verossímil ou representativo mente nas novelas de Gilberto Braga, segundo para sua audiência.

Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. 191 Considerações finais since it is an open piece with commercial pur- poses and profit, which makes the soap opera a 5 material even more rich and interesting. Portanto, ainda que se faça julgamento de valor Key words: National identity. Rio de Janeiro. ou da qualidade das novelas, elas não podem ser Soap opera. desprezadas nem como um fenômeno da indústria de massa no Brasil, nem como objeto de estudo, otas sobretudo quando se fala de identidade nacional. N Mesmo quando se pergunta aos atores qual é a importância da novela, eles rapidamente lançam 1 Os índices de audiência medidos pelo Ibope são atu- alizados semanalmente e seus resultados nas praças a resposta: ela é a identidade nacional, é a unifica- de São Paulo e Rio de Janeiro podem ser acessados em dora da nação. José Wilker, numa reunião pública http://www.almanaqueibope.com.br/asp/index.asp na Academia Brasileira de Letras, em junho de 2 Sinopse divulgada em: Diário de Produção Paraíso Tro- 2007, ao lado de Nélida Piñon, chegou a arriscar pical. Nota do dia 16 de janeiro de 2007. Disponível em: http://www.paraisotropical.globolog.com.br/ar- que a novela era o que unifica as diversas regiões chive_2007_01_23_0.html. Acesso em: 11 de fevereiro do país, antes da língua portuguesa. Recentemente, de 2007. Infelizmente esta informação não está mais numa entrevista à Fernanda Young, no canal GNT, disponível no site indicado. também disse que a novela representa 3 Dados obtidos em HAMBURGER, 2005. o Brasil, a identidade nacional. Os entrevistados de 4 Dados obtidos em ALMEIDA, 2005. Esther Hamburger, em sua pesquisa para seu livro, 5 Expressão de Hamburger. já diziam que o escopo das novelas trata do Brasil. No entanto, esse novo chavão, já dominado pelos atores de novela e assimilado pelos telespectadores, deve ser analisado com o cuidado que merece. Referências “Rio de Janeiro: Brazil’s reference ALMEIDA, V. E. de. O Brasil pelas minisséries: A gente se in Brazilian soap operas” vê por aqui? GT – As interfaces da cultura brasileira: How to define Brazilian identity? What is sin- televisão, samba e festas populares, Congresso FESO/ gularly national? In fact, one can not begin to Teresópolis/2005. answer these questions without having in mind ______. Os “reality shows” e o respeitável público da vida that identity, whether national or not, is always a privada. Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS/PPGSA, 2003. construction, or according to Bourdieu, a mental ANDERSON, B. Imagined Communities – Reflections on the representation necessarily arbitrary, since certain origin and spread of Nationalism. Verso, London – New- values, characteristics or symbols must be chosen York, 1998. at the expense of others. In this sense, the strength BOURDIEU, P. O poder simbólico. Bertrand Brasil. Rio de of Rio as a reference identity is clear in Brazilian Janeiro, 1998 soap operas from Rede Globo. In particular, the soap opera “Paraíso Tropical” already presents in ______. “Sobre a televisão.” Rio de Janeiro: Jorge Zahar its synopsis the Copacabana neighborhood as the Editor, 1996. “DNA of Brazil,” or “place-synthesis” of Brazil. COUTINHO, M. R. Telenovela e texto cultural: análise Moreover, not only “Paraíso Tropical” as the soap antropológica de um gênero em construção. Rio de operas in general disclose Brazilian society, not Janeiro: UFRJ, 1993 only in relation to consumption, but also promot- DaMATTA. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: ing social values, legitimating of ideal types of fa- Rocco, 1994. thers, mothers, children, men, women etc. Thus, the soap opera “Paraíso Tropical” is the material DEFLEUR, M. L. e BALL-ROKEACH, S. Teorias da of a master’s thesis that seeks to analyze, accord- comunicação de massa. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 1990 ing to this soap opera in particular, the weight of Rio de Janeiro city as a possible construction DIÁRIO de Produção Paraíso Tropical. Nota do dia of a Brazilian identity and what are the values 16 de janeiro de 2007. Disponível em: . Acesso em: 11 de fevereiro de 2007. that it not only disseminates the vision of its au- GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Rio de thors and directors, but also of its many viewers, Janeiro: UFRJ, 1991.

192 Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008. HAMBURGER, E. O Brasil antenado – a sociedade da SILVA, D. F. da. O Reverso do espelho, o lugar da cor na novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005 modernidade: um estudo sobre mito e ideologia racial nas novelas da TV Globo. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de LEAL, O. F. A leitura social da novela das oito. Rio de Filosofia e Ciências Sociais, 1991 Janeiro: Vozes, 1986. VIANNA, H. O mistério do samba. Zahar - UFRJ, Rio de MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações – Janeiro, 1995 comunicação, cultura e hegemonia. Editora UFRJ, Rio de Janeiro, 1997 WOLTON, D. Elogio de grande público: uma teoria crítica da televisão. São Paulo, Ed. Àtica, 1996. MELLO. E. C. de. Uma fuga da realidade. In: Jornal O Globo, 13 de agosto de 2005 PERREAU, É. Le Cycle des Telenovelas au Brésil – Le jeu de la parole dans l’espace public de la fiction.” Tese (doutorado em Antropologia), EHESS, Paris, 2005 Cenários da Comunicação Cenários

recebido em 4 jul. 2008 / aprovado em 27 set. 2008 Para referenciar este texto: STOCCO, D. “Paraíso Tropical”: interpretação de um país por meio de uma novela e uma cidade. Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 185-193, 2008.

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