O Partido Comunista Do Brasil (PCB) No Amazonas: Da Fundação Do Diretório Estadual Ao Golpe Civil-Militar

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O Partido Comunista Do Brasil (PCB) No Amazonas: Da Fundação Do Diretório Estadual Ao Golpe Civil-Militar Revista O Partido Comunista do Brasil (PCB) Tempo no Amazonas: da fundação do diretório Amazônico estadual ao golpe civil-militar Fernanda Fernandes da Silva* Resumo A trajetória do Partido Comunista do Brasil (PCB) é marcada pela luta constante por legalidade junto ao Tribunal Superior Eleitoral, afinal a maior parte da história do partido foi vivida na ilegalidade. Durante uma breve experiência de legalidade, que ocorreu de 1945 a 1947, ocorre o processo de fundação do Diretório Estadual do PCB no Amazonas, juntamente com a fundação do Diretório Municipal em Manaus, capital do estado. Com a clandestinidade a partir de 1947, diante do governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, pouco se encontra sobre o PCB do Amazonas nos jornais, o que nos impôs lacunas que só serão analisadas a partir de outras fontes, e referências. Com o golpe civil-militar, contexto pouco debatido na historiografia do estado, o PCB reaparece diante de um cenário de ampla perseguição política, que causará a prisão preventiva de militante históricos do PCB no Amazonas. Nesse sentido, o objetivo geral deste artigo é construir uma primeira narrativa sobre a trajetória do PCB no estado do Amazonas, e mesmo diante das ausências, apresentar informações que ajudarão a traçar análises sobre a História Política do estado. Palavra-Chave: Ditadura Militar; PCB e Brasil; Golpe Civil-Militar. Abstract: The trajectory of the Communist Party of Brazil (PCB) is marked by the constant struggle for legality at the Superior Electoral Court, after all most of the party's history was lived in illegality. During a brief legality experiment, which took place from 1945 to 1947, there was the process of founding the PCB State Directory in Amazonas, together with the foundation of the Municipal Directory in Manaus, the state capital. With the hiding from 1947, under the government of President Eurico Gaspar Dutra, little is found about the PCB of Amazonas in the newspapers, *Graduanda em Licenciatura Plena pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Atualmente participa no Programa de Iniciação Científica - PIBIC. Atua em pesquisa e ensino na área de História, com ênfase em História Política. which imposed gaps that will only be analyzed from other sources, and references. With the civil-military coup, a context little debated in the state's historiography, the PCB reappears before a scenario of widespread political persecution, which will cause the preventive arrest of historic PCB militants in Amazonas. In this sense, the general objective of this article is to build a first narrative about the trajectory of the PCB in the state of Amazonas, and even in the face of absences, present information that will help to trace analyzes about the political history of the state. Keywords: Military dictatorship; PCB and Brazil; Civil- Military Coup. Revista Tempo Amazônico 1. Introdução A segunda metade da década de 1940 traz consigo um processo de redemocratização, onde partidos foram criados, e antigos partidos são legalizados, como é o Partido Comunista do Brasil (PCB). Além dessa questão partidária, o próprio processo eleitoral passa por uma grande transformação com a instituição Justiça Eleitoral e novos mecanismos de fiscalização eleitoral. Diante dessa conjuntura nacional, o PCB no Amazonas é fundado, são construídos seus diretórios estaduais e municipais com a presença de Ivan Pinheiro, personagem de prestígio na História do PCB, e que na época era secretário nacional do partido. Esse processo no Amazonas acontece também com as novas siglas partidárias, que é o caso do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN). A principal questão que norteou esse processo de pesquisa foi perceber que figuras que hoje são nomes de rua, de escolas, de instalações públicas, e que são muitas vezes desconhecidos pela população, tiveram um papel fundamental ou um espaço de prestígio nesse campo político estadual. Porém, mesmo esses personagens, ou partidos, terem construído a sua legítima trajetória política, foram esquecidos na História do Amazonas. 45 O Partido Comunista do Brasil (PCB) é um exemplo desse processo, pois na conjuntura da década de 1940, o partido formou-se no estado, teve importante papel na construção de uma alternativa a oligarquias políticas, foi perseguido a nível estadual, e hoje os próprios militantes do partido não tem conhecimento dessa trajetória do PCB no estado, e por quais desafios o partido passou para se manter enquanto um organismo. Como nossa proposta era compreender o PCB na conjuntura do golpe e ditadura no Amazonas, começamos então investigando a historiografia que trata sobre o contexto, para assim nos localizar nosso objeto na pesquisa. Dentre as discussões sobre conceitos, começamos com os próprios termos que iriamos nos apropriar durante nossas análises: “golpe civil-militar” ou “golpe militar”? Nesse debate, Carlos Fico1 pontua que a ditadura foi militar, embora uma classe específica tenha se beneficiado, muitos dos sujeitos e instituições dos que ajudaram no processo de construção do golpe, não tiveram participação ativa nas decisões e ações dos militares durante a ditadura. No entanto, no que tange o golpe, quem aponta a análise que melhor compreende o conceito é a do 1 FICO, Carlos. "Ditadura Militar Brasileira: aproximações teóricas e historiográficas”. In: Tempo e Argumento, Santa Catarina, Vol. 9, n° 20, 2017. Revista Tempo Amazônico - ISSN 2357-7274| V. 8 | N. 2 | jan-jun de 2021| p. 43-61. Revista Tempo Amazônico historiador René Dreifruss2, afirmando que o golpe foi militar, mas com o apoio civil de uma classe específica, a classe empresarial, ou seja, o golpe pode ser caracterizado por civil-militar, mesmo que com ressalvas. Segundo Fico, a ditadura não é uma consequência do golpe, essa só se consolida diante do primeiro Ato Institucional/ AI-1, que extinguiu os partidos e cassou mandatos. Autores Ângela de Castro Gomes e Jorge Ferreira3, vão debater sobre o golpe apontando que ele aconteceu por conta dos equívocos de análise e de estratégia da própria esquerda, que, segundo eles, se essa estivesse mais preparada para a conjuntura, não haveria golpe. Embora exista muitos apontamentos importantes nessa obra, nós entendemos que essa tentativa de olhar o passado através das conclusões e desdobramentos dos acontecimentos, posteriores ao fato analisado, limita o nosso olhar diante da compreensão do contexto debatido. A trajetória do PCB foi marcada pela luta pela legalidade, e em especial na década de 1960, onde obteve grande possibilidade de alcançá-la. No período pré-golpe, o PCB teria construído bases fortes na luta sindical, estudantil e cultural, tendo o seu apogeu na militância brasileira, e colocando-se enquanto uma força política importante 4 nas experiências de construções democráticas coletivas . Ao se desenrolar o golpe, o 46 partido estava entrelaçado em sua relação política com João Goulart, buscando ativamente pressioná-lo para que as reformas de base pudessem ser um sonho concretizado, e a sua legalidade enquanto partido fosse acatada. No caminhar dos acontecimentos históricos, vemos que não aconteceu, pelo contrário, o PCB teve boa parte de sua construção destruída com o golpe civil- militar e foi amplamente perseguido durante toda a ditadura militar brasileira. Muitos de seus militantes foram presos, torturados, exilados e mortos pela ditadura que se seguiria. Os jovens estudantes sonhadores da União Nacional dos Estudantes, trabalhadores sindicalizados da Central Geral dos Trabalhadores, artistas do Conselho Popular de Cultura, todos que lutaram por um país mais democrático e menos desigual entraram na clandestinidade não só partidária, mas também na clandestinidade de suas identidades, vidas e rotinas. Nesse sentido, o objetivo geral deste artigo é analisar a trajetória do PCB no estado do Amazonas desde a fundação do Diretório Estadual do partido – após o processo de 2 DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis: Vozes; 1981. 3 FERREIRA, Jorge; GOMES, Ângela de Castro. 1964: O golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. 1° Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. 4 SANTANA, Marco Aurélio. Homens Partidos: Comunistas e Sindicatos no Brasil. Rio de Janeiro: Boitempo, 2001. Revista Tempo Amazônico - ISSN 2357-7274| V. 8 | N. 2 | jan-jun de 2021| p. 43-61. Revista Tempo Amazônico redemocratização no pós-1945 –, passando por sua atuação diante da repressão e da perseguição política no contexto da clandestinidade até o golpe de 1964. 2. Da fundação à clandestinidade Em dezembro de 1945, o eleitorado brasileiro foi às urnas e, pelo voto secreto e sob a fiscalização do Poder Judiciário, elegeu o presidente da República, deputados federais e senadores. A eleição é considerada a primeira efetivamente democrática ocorrida no Brasil. Os parlamentares formaram uma Assembleia Nacional Constituinte, livremente eleita e politicamente soberana, inaugurando, no Brasil, o regime de democracia representativa.5 O ano de 1945 foi um momento importante para a discussão política sobre a democracia representativa no Brasil, não porque estávamos diante de uma oportunidade real de construção democrática – mesmo com a possibilidade de livre escolha, é possível observar uma estrutura com raízes ligadas a um regime autoritário anterior –, mas porque algumas instituições como a Justiça Eleitoral e os partidos políticos estavam tomando espaço para um debate mais plural, e com um certo nível de fiscalização.6 Os partidos
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    Políticas de Saúde, Condições de Vida e Repressão no Governo Dutra. RICARDO AUGUSTO DOS SANTOS * Violência não é fenômeno estranho na sociedade burguesa. Ela faz parte do cotidiano. Nas situações de pretensa normalidade democrática, quando a hegemonia burguesa parece alcançar consenso generalizado, as classes subordinadas e exploradas podem até não ter a percepção dessa violência, porque ela se dilui, se manifesta somente em episódios eventuais, se conserva latente como ameaça. Mas, ela ainda existe, pois sem o exercício do poder coercitivo não existira o Estado burguês. (GORENDER, 1987: 226) Quando se estuda o período “democrático” do presidente Eurico Gaspar Dutra, deparamo-nos com um singular e aparente paradoxo. Foi uma experiência democrática brasileira ou houve obstáculos à participação política popular? Como caracterizar um regime que manteve restrito o acesso ao voto? Não havia liberdade de organização sindical e a estrutura partidária sofreu um duro golpe com a cassação do registro do partido Comunista. Partidos, sindicatos e manifestações espontâneas foram alvos de perseguições. 1 Um dos objetivos desta pesquisa é investigar a repressão exercida pelo estado contra os movimentos sociais, durante a conjuntura de transição conservadora após a ditadura do Estado Novo. Nosso estudo pretende recuperar a violência enquanto estratégia de controle social, particularmente naquele período de transição (1943-1948). Trataremos a repressão como uma ação estatal no sentido proposto por Gramsci: A presença coercitiva na construção e manutenção da hegemonia. Neste processo político de construção hegemônica, o uso e/ou ameaça da violência necessita ser autorizada. Ela é objeto de manipulação nas lutas culturais e ideológicas. A violência estatal ou seu uso legitimado pelos agentes sociais também constitui parte da hegemonia.
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