Câmpus de Presidente Prudente Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado) Convênio UNESP/INCRA/Pronera

O JOVEM E SUA PERSPECTIVA DE VIVER NO CAMPO: INTERIOR DE - SC

GRETI APARECIDA PAVANI

Monografia apresentado ao Curso Especial de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado),do Convênio UNESP/INCRA/Pronera, para a obtenção do título de Licenciado e Bacharel em Geografia.

Orientador: Profª. Drª. Valéria de Marcos

Monitor: Sidney Cássio Todescato Leal

Presidente Prudente

2011

O JOVEM E SUA PERSPECTIVA DE VIVER NO CAMPO: INTERIOR DE ABELARDO LUZ - SC

GRETI APARECIDA PAVANI

Trabalho de monografia apresentado ao Conselho do curso de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus de Presidente Prudente da Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título de Licenciado e Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Drª. Valéria de Marcos

Presidente Prudente – SP

2011

Greti Aparecida Pavani

O JOVEM E SUA PERSPECTIVA DE VIVER NO CAMPO: INTERIOR DE ABELARDO LUZ - SC

Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, submetida à aprovação da banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Drª. Valéria de Marcos

Presidente Prudente, novembro de 2011

DEDICATÓRIA Para todos as lutadoras e lutadores do povo. Para Issanã minha adorada filha, cujo existir, é fonte de luz e persistência.

Para Oribes e Madalena meus queridos pais, pelo apoio incondicional a todos os momentos difíceis.

AGRADECIMENTOS

Ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pela oportunidade de estudo e de inserção na luta cotidiana por um projeto de transformação social.

A Turma Milton Santos pelos incondicionais momentos de alegria e de aprendizado.

Aos meus pais, pelo afeto recebido em todos os momentos, por acreditar na importância do estudo, e pelo apoio incondicional em todos os momentos de dificuldades encontrados por essa caminhada.

Ao meu querido irmão “Gordo” e toda sua família que incansavelmente dedicaram o seu tempo para me ajudar.

Ao meu grande amigo, compadre, companheiro de estudo, Gilberto de Biasi, pela amizade e apoio sempre que necessário.

A querida Drª Valéria De Marcos, por acreditar neste trabalho, pela dedicação e esforço e principalmente por acreditar que a educação é fundamental para os lutadores do povo.

Ao Sidney, querido amigo e monitor, pela responsabilidade e comprometimento com sua tarefa, auxiliando-me sempre que necessário.

Aos muitos amigos que me incentivaram, de forma carinhosa: Márcia, Vilmar, Edilaine, Fernanda, Aidir entre tantos outros que com certeza lembrarei com carinho.

Agradecer de forma especial aos jovens dos Assentamentos 25 de Maio e José Maria , pela atenção. A comunidade Canhadão pelo tempo dedicado as conversas e entrevista.

RESUMO Este trabalho visa analisar a perspectiva da juventude camponesa em permanecer no campo, como esta concebe sua vivência nesse espaço. Através da análise de realidades pontuais - dois assentamentos da reforma agrária e uma comunidade tradicional camponesa - busca-se compreender os processos sociais aos quais os jovens do campo estão inseridos, quais as relações sociais e econômicas estabelecidas com esse público, qual a representação da cidade em sua vida e quais as perspectivas de vida no campo para os mesmos. Será realizada também a analise das possibilidades existentes no campo que de fato atendam às necessidades sociais e econômicas colocadas pela juventude camponesa, em especial daquela dos assentamentos do MST, buscando compreender também sua inserção no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e as perspectivas futuras para o próprio movimento.

Palavras chave: jovem, campo, trabalho, assentamento de reforma agrária, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

RESUMEN Este documento tiene como objetivo analizar las perspectivas de los jóvenes rurales a permanecer en el campo, ve esto como su experiencia en este espacio. A través del análisis de las realidades específicas - dos asentamientos de reforma agraria y una comunidad campesina tradicional - que tratamos de comprender los procesos sociales a los que los jóvenes son parte del campo, que las relaciones sociales y económicas establecidas en esta población, que representa a la ciudad en su vida y cuáles son las perspectivas en el campo para ellos. También se llevará a cabo para estudiar las posibilidades en el campo que realmente satisfagan las necesidades sociales y económicas planteadas por los jóvenes rurales, en especial la de los asentamientos del MST, tratando de comprender también su inclusión en el MST (Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra) y las perspectivas futuro para el movimiento en sí.

Palabras clave: joven, trabajo, campo, asentamiento de la reforma agraria, Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST).

Lista de Figuras Figura 1 Estado de : Regiões das Primeiras ocupações do MST 13 Figura 2 Localização do município de Abelardo Luz no estado de Santa Catarina 14 Figura 3 Vista parcial da Vila 25 de Maio 18 Figura 4 Educandos e educadores da turma de EJA-Médio Florestan Fernandes, em 20 frente o antigo casarão Figura 5 Educandos do curso técnico no tempo trabalho no CPFP 21 Figura 6 Salão comunitário da Comunidade Canhadão 24 Figura 7 Igreja Católica da Comunidade Canhadão 24 Figura 8 Vista parcial do frigorífico de peixes da COOPEAL 27 Figura 9 Organograma da Cooperativa de Produção, Ind. Com. Edson Adão Lins 28 Figura 10 Vista parcial da sede da COOPEROESTE 30

Lista de Tabela Tabela 1 Escolas no Município de Abelardo Luz 49

Sumário Introdução...... 8 1. Histórico da ocupação de terras no oeste de Santa Catarina ...... 10 1.1-Histórico do Assentamento 25 de Maio e da Vila 25 de Maio ...... 15 1.2-O Assentamento José Maria ...... 19 1.3-A Comunidade Canhadão ...... 22 1.4-Incentivo à produção através das cooperativas ...... 25

2. As relações sociais e econômicas das realidades em questão ...... 31 2.1 Assentamentos e comunidade: Semelhanças e contradições ...... 35

3-O campo e a juventude camponesa ...... 37 3.1-Os jovens e o MST nos assentamentos ...... 38 3.2-Os jovens da comunidade Canhadão ...... 42 3.3-Os jovens dos Assentamentos 25 de Maio e José Maria ...... 43 3.4- As relações de trabalho e a juventude camponesa ...... 46 3.5-A educação como perspectiva de viver no e do campo ...... 47 3.6-O Lazer e a juventude camponesa ...... 50

Considerações Finais...... 53

Bibliografia ...... 54

Sites Consultados...... 55

Anexo ...... 56 Anexo 01: Roteiro de entrevistas para a pesquisa de campo...... 56

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Introdução

Este trabalho é fruto de estudo de pesquisa e vivencia no interior do município de Abelardo Luz-SC, tendo como área de pesquisa empírica os assentamentos 25 de Maio e José Maria e a comunidade Canhadão. O presente estudo traz como foco a juventude e suas perspectivas de permanência no campo. Para tanto foi necessário um resgate histórico da luta pela terra e do MST no estado de Santa Catarina e no município de Abelardo Luz, bem como um resgate do histórico das três realidades em questão, feito através de conversas informais, entrevistas e análises de documentos e atas. Com o objetivo de analisar quais as perspectivas de permanência dos jovens no campo e o que o campo oferece de perspectivas para os mesmos, foram realizadas entrevistas direcionadas para a compreensão dessa questão. Dos 350 jovens com idade entre 15 e 25 anos residentes nos três locais estudados, foram entrevistados 50 deles, sendo 10 da comunidade Canhadão, 25 do Assentamento José Maria e 15 do Assentamento 25 de Maio. O número de jovens entrevistados baseou-se na quantia de jovens de cada local. Além das entrevistas, também a minha atuação enquanto educadora das escolas de ensino médio dos dois assentamentos em questão, vivenciando as angustias e as perspectivas do cotidiano dos jovens educandos serviram como fonte de dados e informações para a presente pesquisa. A presente pesquisa traz as diferenças existentes entre os dois assentamentos e entre os dois assentamentos e a comunidade Canhadão. Busca-se compreender quais são as possibilidades apontadas para que os jovens possam permanecer no campo, as perspectivas oferecidas pelo MST nos assentamentos, a oferta de serviços públicos na comunidade e nos assentamentos e a importância da Vila no meio rural. Destaca-se para tal o nível de inserção dos jovens no MST, bem como a analise da educação, do lazer e das relações de trabalho postas para a juventude camponesa. Para atender aos nossos objetivos, estruturamos nosso trabalho em três capítulos. O primeiro, intitulado “Histórico da ocupação de terras no oeste de Santa Catarina”, onde faz um pequeno resgate da luta pela terra na região, da atuação do MST na mesma e em especial da atuação do MST no município de Abelardo Luz, e a conquista dos dois assentamentos em estudo. Busca também resgatar o processo de formação e estruturação da comunidade Canhadão. O segundo capítulo intitulado de “As relações sociais e econômicas das realidades em questão” visa uma breve análise doas aspectos econômicos e sociais encontrados nas áreas de estudo e qual a relação e inserção social e econômica dos jovens nessa dinâmica. Neste capítulo busca-se também mostrar as semelhanças e contradições encontradas entre os dois assentamentos e

9 a comunidade Canhadão. No terceiro capítulo que tem como título “O campo e a juventude camponesa” busca através da analise de como o jovem camponês esta inserido no campo, o que o jovem espera do mesmo e quais são as perspectiva desta parcela da sociedade que vive no campo em permanecer no mesmo. Bem como analisar qual a inserção dos jovens no MST, no caso dos assentamentos, e o que o que o MST pensa para essa juventude. Visa também a análise dos jovens que se encontram na comunidade Canhadão, e nos Assentamentos 25 de Maio e José Maria, no que estes se diferenciam e se assemelham, assim como os fatores que levam a essas semelhanças e diferença. Ainda neste capitulo visa uma analise da relação dos jovens camponeses com o trabalho, a educação e o lazer e como essa relação se dá no interior das realidades estudadas.

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1. Histórico da ocupação de terras no oeste de Santa Catarina

Os movimentos e lutas sociais são grande marcos do século XX no Brasil, principalmente as mobilizações sociais que surgem no campo brasileiro oriundos dos problemas agrários que o Brasil possui até hoje, em virtude da concentração fundiária que ocasiona pobreza e miséria para a maioria dos camponeses. O processo de mercantilização e expropriação fruto do sistema capitalista atualmente em curso, expulsa o camponês da terra, separando-o do seu meio de produção, a terra (Martins, 1983) De acordo com Fernandes e Stédile (2005), a ocupação de terra no Rio Grande do Sul em 1979, conhecida como Encruzilhada Natalina, foi o estopim para que se pensasse numa forma de luta organizada dos trabalhadores camponeses expropriados pelo capital, que buscavam alternativas para continuar garantido sua existência enquanto camponeses, através da luta pela terra como meio de produção. Para tanto, a luta deveria ser única, ou melhor, um movimento homogêneo. Fernandes e Stédile (2005), lembrando as palavras de José de Souza Martins, ditas em uma reunião com a CPT entre os anos de 1981 ou 1982, onde para este “a luta pela terra no Brasil só terá futuro e somente se transformará em um agente político importante para mudar a sociedade se conseguir adquirir um caráter nacional e se conseguir organizar os nordestinos”. (p. 21) Nesse sentido, a contribuição e apoio de representantes da Igreja Católica através da CPT (Comissão Pastoral da Terra), criada em Goiânia em 1975, e da Igreja Luterana foram fundamentais para a existência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criado em 1984. Para Fernandes e Stédile (2005, p.21) “A CPT foi uma força que contribui para a construção de um único movimento”, que teve seu marco inicial na região Sul do país e logo foi expandida pelos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Hoje o MST está organizado em 25 estados do Brasil, realizando uma luta com caráter nacional. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra consolidou-se, assim, numa organização nacional com o 1º Congresso do MST realizado em Curitiba-PR, em janeiro de 1985, tendo como grito de ordem “Ocupação é a única solução”. O movimento traz como símbolo de luta as ocupações em fazendas improdutivas, através da organização de acampamentos de lona preta com forte caráter organizativo. Questiona a propriedade privada da terra e coloca a Reforma Agrária como uma medida urgente e necessária para o país. Para Oliveira (2001, p. 15), o

[...] Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra tem feito da luta pela terra uma bandeira de defesa e de conquista da reforma agrária. Os acampamentos são

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verdadeiras escolas onde se discute a necessidade da produção coletiva dos assentados.

Dessa forma, cria uma imensa preocupação para os grandes latifundiários, empresários e para o próprio poder público, para os quais a organização da classe trabalhadora é uma ameaça ao sistema capitalista que lhes garante muito poder econômico e político. Em Santa Catarina, a primeira ação de ocupação de terras se deu com a ocupação da fazenda Burro Branco, em Campo Êre, região oeste do estado, em maio de 1980. Tal ocupação foi iniciada primeiramente por cinco famílias que foram avisadas por técnicos do INCRA que uma fazenda ali próxima seria desapropriada. Ocorre que não se tratava da fazenda Burro Branco, havia sido um engano, mas as famílias permaneceram no local e logo em questão de semanas chegaram mais e mais famílias, totalizando 350, que contavam com o apoio da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e da diocese da Igreja Luterana de Chapecó. Em 12 de novembro de 1980 a fazenda foi desapropriada Morissawa (2001). No que se refere à consolidação do MST no estado, o marco principal foi dado no mês de maio de 1985. Segundo Fernandes e Stédile (2005), as ocupações de 1985 em Santa Catarina foram extremamente expressivas para a consolidação do MST no estado. Tratou-se de uma grande ação, com cerca de 1.659 famílias, ocupando latifúndios na região oeste de Santa Catarina, nos municípios de Quilombo, Abelardo Luz, Descanso, Romelândia, São Miguel do Oeste e Maravilha, em um período de sete dias. O resultado dessas grandes ocupações realizadas no estado foram cinco assentamentos distribuídos em cinco municípios de Santa Catarina com o nome 25 de Maio, registrando a importância dessa data para os camponeses assentados e para o MST no estado. Ressalte-se que a maioria das famílias que foram assentadas nesses assentamentos participou das ocupações em maio de 1985. A luta pela terra no estado foi contínua, seguida em 1987 com ocupações nos municípios de Campo Êre, Irani, Campo Alegre, , Palma Sola e . Na década de 1990 o MST em Santa Catarina mostrou grande força, como relata Morissawa (2001, p.175-176)

O ano de 1990 foi farto em lutas dos sem-terra catarinenses: ocupação das fazendas Santa Rosa, em Abelardo Luz; Frigonese em Palma Sola; Caldato em Chapecó; Despraiado e Ronda em ; ocupação do Incra em Florianópolis, exigindo audiência com o governador, para reivindicar alimentos, escolas, estradas; ocupação na prefeitura de Abelardo Luz, para pressionar por energia elétrica, estradas, escolas, sementes. Em dezembro, o MST conquistou a imissão de posse das fazendas Iguaí, em , e Canhada Funda, em . Até 1990, o MST de Santa Catarina havia se expandido por três regiões do estado e

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conquistado 50 assentamentos para 2.031 famílias. Nos anos Collor, de intensa repressão, o Movimento dedicou-se mais às negociações, à organização interna e as ações pelo desenvolvimento dos assentamentos. A década de 1990 foi plena de lutas em Santa Catarina, começando com a conquista de terras para 350 famílias, em 1991, em Fraiburgo e no Projeto Contestado. Ainda nesse ano, o MST promoveu atos em vários pontos do estado. Uma caminhada, de Curitibanos a Florianópolis, iniciada com 100 pessoas, recebeu apoio popular no trajeto e chegou à capital com 7 mil. Outras três manifestações foram realizadas ao mesmo tempo em , e Itajaí. Outros assentamentos foram conquistados entre 1992 e 1994, em Joaçaba, e Abelardo Luz.

De acordo com dados recolhidos da COOPTRASC de Santa Catarina, hoje o estado de Santa Catarina conta 133 assentamentos, 5.142 famílias assentadas, 70 Escolas, distribuídas em Educação Infantil, Séries Iniciais (1ª a 4ª Série), Ensino Fundamental (1ª a 8ª Série), Ensino Médio, Cursos Técnicos em Agroecologia, Escolas Itinerantes. Na produção, o estado conta com 13 cooperativas e 03 Associações. Possui cerca de 40 produtos, com a marca Terra Viva. Participou do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com mais de 5 milhões acessados em 2010. Possui 2.591 unidades de reforma de habitação já contratadas e tem dado continuidade ao programa da Assessoria Técnica Social e Ambiental (ATES). A (figura 1) indica as regiões das primeiras ocupações do MST.

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Figura 01: Estado de Santa Catarina: Regiões das Primeiras ocupações do MST.

Fonte: COOPTRASC (2010)

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Em Abelardo Luz (figura 2) a primeira ocupação, foi em 25 Maio de 1985, com cerca de 1500 famílias, na sua maioria oriundas de outros municípios como Campo Êre, Quilombo entre outros. Tal ocupação transformou-se em marco da luta pela terra no município, que passou a ser campo de grandes disputas por terras no estado.

Figura 02: Localização do município de Abelardo Luz no estado de Santa Catarina

Fonte: mapainterativo.ciasc.gov.br

De acordo com relato de lideranças do MST da região, as ocupações em Abelardo Luz foram palco de violentos despejos, mortes e intensa repressão por parte do governo municipal. As ações mais violentas partiam principalmente dos capatazes das fazendas que, obedecendo às ordens dos seus patrões, ameaçavam e amedrontavam os acampados através de tiros e barreiras, como foi o caso da ocupação de 25 de maio, quando atearam fogo na ponte que dava acesso à área a ser ocupada na fazenda. Hoje Abelardo Luz é o município com maior número de assentamentos em Santa Catarina, tendo 22 assentamentos e aproximadamente 1500 famílias assentadas. O município tem também forte representação em nível estadual, com grandes ações na questão da educação e da produção, nas áreas de assentamento.

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1.1-Histórico do Assentamento 25 de Maio e da Vila 25 de Maio

O Assentamento 25 de Maio está localizado no município de Abelardo Luz–SC, na região do , à 28 km da cidade de Abelardo Luz e possui 58 famílias assentadas, tendo sido o primeiro assentamento do município de Abelardo Luz, fruto da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). De acordo com o relato de assentados que participaram da ocupação, ele teve sua história iniciada na madrugada fria de 25 de Maio de 1985, quando chegaram nesse município caminhões carregados com mulheres, homens e crianças, cerca de 2000 pessoas, vindas na maioria de outros municípios, como Campo Êre, Quilombo e Santa Terezinha entre outros, localizados também na região oeste de Santa Catarina. Todos possuíam um grande objetivo, a conquista da terra, para tirar dela o seu sustento. Quando chegaram enfrentaram os jagunços da fazenda, peões que trabalhavam para a proprietária da então Fazenda Sandra que, com medo, atearam fogo na ponte que dava acesso à fazenda. No mesmo momento as mulheres que estavam nos caminhões da frente, em um ato de muita coragem, começaram a apagar o fogo, sendo logo auxiliadas pelos demais que estavam nos caminhões. Superada essa barreira, chegaram à área destinada ao acampamento. Segundo relato dos assentados, muitos não sabiam nem sequer onde estavam, mas não se importavam. O importante era que eles estavam na terra que futuramente ia lhes garantir uma mudança para melhor de suas vidas. Segundo relato de ex-lideranças do MST que moram no assentamento, após oito dias da ocupação, chegou a primeira liminar de despejo, mas antes mesmo que a ação fosse executada, as lideranças do MST do estado junto com os acampados decidiram mudar-se, dirigindo-se para uma área provisória, no município vizinho de , local onde ficariam aguardando o momento para uma nova ocupação. Tratava-se de um potreiro1 de uma fazenda cujo dono era um ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Abelardo Luz. Ali permaneceram cerca de um mês, mudando-se novamente, ocupando duas áreas que pertenciam ao mesmo proprietário, ambas com o nome de Santa Úrsula, uma localizada em Araçá, distrito do município de Abelardo Luz, para onde foram 150 famílias, e outra no município de Faxinal dos Guedes, para onde foram 600 famílias. Nesse período as negociações se intensificaram e até mesmo o então Governador do estado recebeu os acampados em audiência em Florianópolis, a fim de que uma solução plausível fosse tomada. No mesmo ano, 58 daquelas famílias sem terra conseguiram seu objetivo: a conquista da terra, ocorrida no mês de novembro de 1985 em caráter emergencial, já que os lotes foram

1 Espaço reservado para a criação de bovinos, com pastagem, geralmente cercado.

16 entregues no mês de abril do ano subseqüente. No total foram desapropriados 251ha divididas em 58 lotes que variam de 14 a 20ha, e uma área comunitária de 13,3ha, hoje chamada de Vila. A divisão dos lotes foi feita de acordo com o relevo: quanto mais plano e propício ao cultivo agrícola, menor é o lote. Ainda no acampamento e depois no assentamento, na terra, apareceram outras necessidades como: saúde; educação; transporte, financiamentos para produção etc., o que os fez perceber que a luta não havia acabado, mas que ao contrário, ela deve ser contínua. Quando as famílias foram para seus lotes, debateu-se sobre a importância de deixar a área de um lote para área comunitária, onde seriam construídos os equipamentos de uso comum como escola, igreja, salão de festas, cemitério2, campo de futebol, enfim, toda a infra-estrutura necessária a uma comunidade. A área comunitária também serviria para que os assentados que tivessem interesse em morar nessa área pudessem ali construir uma casa. O objetivo era o de oferecer maior diversão e lazer às famílias para que estas pudessem viver mais próximas, facilitando assim a socialização entre as mesmas, proporcionando a formação de uma Agrovila, denominada Vila pelos assentados e demais pessoas do município - a Vila 25 de Maio – denominação que será mantida nesse trabalho. Nem todas as famílias aceitaram a proposta de morarem na área comunitária (Vila), ficando então decidido que cada família poderia ir morar em seus lotes e que elas teriam também direito a construir uma casa na Vila mais tarde. As famílias que ficaram com seus lotes próximos à Vila, cerca de 15 no total, construíram suas casas ali mesmo. Com o passar do tempo a comunidade foi ganhando estrutura, sendo construída a igreja católica, o centro de esportes, a escola e algumas casas de filhos de assentados que se casaram e foram ali morar. Depois de cerca de 4 a 5 anos, foi se perdendo o controle da entrada de pessoas que iam morar na Vila, pois estes acabavam vindo por intermédio de algum morador da vila, assentado que mora na vila, filho de assentados, ou até mesmo alguns assentados que moram nos lotes. Os novos moradores dirigiam-se ao local, escolhiam ou compravam um lote na Vila3, tornando-se assim proprietário do lote onde construía sua casa. Alguns professores que vieram dar aulas nas escolas ali localizadas também foram construindo suas casas e passaram a ser moradores da Vila 25 de Maio. Os assentados relatam que no início fizeram reuniões para debater esse assunto, mas muitas vezes as famílias que vinham

2 Na região é cultural as famílias enterrarem seus mortos na comunidade onde residem, ou próximo a ela. Desta forma, encontramos cemitérios em praticamente todas as comunidades do interior. 3 Muitas vezes a família que obtinha a posse do pequeno lote na área comunitária acabavam indo embora do assentamento, vendendo a parte que lhe pertencia.

17 morar na Vila tinham vínculo próximo com algum dos assentados, outras vezes o morador da Vila não ouvia a decisão do assentamento de que deviam se retirar da Vila. Lideranças do assentamento chegaram até a receber ameaças de morte na época, sendo que estes não tinham, e não têm em termos legais, como retirar esses moradores da área. Solicitarão então a intervenção do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que acabou por deixar que o assentamento, junto com o MST, decidisse a situação, eximindo-se da responsabilidade sobre a Vila. Dessa forma, diante de todas essas dificuldades, acabou-se por deixar a situação como estava. Hoje a Vila possui 45 casas, com 42 famílias, uma média de 200 pessoas que moram no espaço destinado à Vila e arredores (lotes que fazem divisa com a área). Isso provavelmente ocorreu - e ainda ocorre - devido a ausência de uma entidade regulatória, no caso o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), e da não criação no assentamento de uma associação gestora da área da Vila. Tudo isso, ao longo dos anos, acabou acarretando uma série de problemas como brigas entre famílias por lotes na Vila; problemas com entrada de drogas no assentamento fruto do desconhecimento sobre a origem e o interesse das pessoas que moram e frequentam a Vila; vendas de lotes ocasionados por brigas entre moradores da Vila e assentados. Todos esses problemas, provavelmente também foram ocasionados pela própria inexperiência dos assentados que não conseguiam administrar o espaço destinado à área comunitária, uma vez que não era para ser uma agrovila e tampouco uma Vila, porém era para ser uma área comunitária, como já citado acima. Ressalte-se também o fato de que o modelo de agrovila instituído pelo INCRA na época, final da década de 1970, ainda era um modelo novo, sem experiências antecessoras que de fato trouxessem um método de gestão das agrovilas dentro das áreas de assentamentos rurais. Nesse sentido, a Vila, como foi concebida no assentamento 25 de Maio, não fazia parte da cultura daquelas famílias, sendo essa mais uma dificuldade apresentada para gerir. Ao longo dos anos novas ocupações foram ocorrendo nas fazendas aos arredores do assentamento 25 de Maio, aumentando o número de assentamentos na região. Tal fato originou o aumento do número de pessoas freqüentando a escola de ensino fundamental localizada na Vila e, conseqüentemente, aumentou o fluxo de pessoas na Vila, o que estimulou também o comércio. Diante do aumento da movimentação no assentamento, primeiramente um assentado fez um abaixo assinado tendo a permissão dos demais assentados para abrir um pequeno mercadinho na vila, existente até hoje. Depois, outro assentado fez o mesmo processo e abriu uma ferraria que funcionou por cerca de 10 anos.

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De acordo com Valdomiro Baumgratz4, no inicio do assentamento foi fundada a cooperativa dos assentados do assentamento 25 de Maio, a COOPERJUS (Cooperativa de Comercialização Justino Drachevisk), que também abriu um mercado na vila. A cooperativa durou cerca de 5 anos e, com o término da mesma, o mercado também cessou atividades. Desde 2007 a COOPEROESTE (Cooperativa do Extremo Oeste Catarinense), com sede no município de São Miguel do Oeste-SC, abriu sua filial numero seis localizada na Vila 25 de Maio, com um mercado e também compra de leite dos assentados. Também alguns bares abriram, por cerca de um ou dois anos, fechando em seguida. Hoje existe na Vila (figura 03) um mercado de um assentado como citado anteriormente, o mercado da COOPEROESTE, uma loja de venda de roupas de uma assentada, uma entregadora de gás e bebidas e três bodegas (bares), sendo uma delas da comunidade e aberta somente no final de semana. A bodega é um espaço tradicional dos camponeses, onde se encontram para conversar, beber, jogar baralho e bocha, geralmente frequentada pelos homens.

Figura 03: Vista parcial da Vila 25 de Maio

Fonte: http://maps.google.com.br

A bodega da comunidade é gerida pelos próprios assentados, com a venda de bebidas alcoólicas, refrigerantes, cigarro e alguns doces. A comunidade se organiza para gerir o espaço. A cada dois meses um assentado fica responsável por administrá-la, ficando responsável pelas questões financeiras. Ao final dos dois meses, ou seja, quando passa para outra pessoa assumir o comando, é feita uma pequena prestação de contas para a Diretoria do assentamento. Para facilitar o acesso de todos os assentados à bodega é feita uma espécie de crediário, o

4 Ex liderança do MST na região, participante da ocupação de 25 de Maio de 1985 e assentado no Assentamento 25 de

19 chamado pagamento na safra, através do qual o assentado pode comprar para pagar somente com o dinheiro da safra (colheita dos produtos agrícolas). Isso possibilita um melhor acesso dos assentados na bodega e se estabelece uma relação de confiança entre os mesmos.

1.2 O Assentamento José Maria

De acordo com Valdemar Paz5, por volta das 3:00hs da madrugada do dia 23 de dezembro do ano de 1996 cerca de 300 famílias já oriundas de outro acampamento do município de , vizinho de Abelardo Luz, cortaram a cerca de um outro latifúndio, cujo “dono” era o capitão Amilton. Essas terras também estão localizadas no município de Abelardo Luz-SC, a aproximadamente 30 Km da cidade. Quando o dia amanheceu já se percebia uma nova comunidade de lona sendo formada. O acampamento já nasceu com o nome do monge José Maria, figura mística da guerra do Contestado, considerada um protetor das pessoas naquela região. Tendo em vista que o acampamento foi próximo à sede da fazenda, uma das exigências do fazendeiro nas negociações foi a saída dos acampados da frente da sede. Atendendo à solicitação eles foram para uma área próxima que pertencia à mesma fazenda, mas que estava arrendada para um arrendatário que plantava soja. O arrendatário aproveitou-se da ocasião e exigiu que os acampados trabalhassem na limpeza da lavoura em troca do local para ficarem acampados. No acampamento as coisas iam funcionando conforme as condições permitiam. Mesmo com dificuldades o acampamento garantiu a escola para os educandos de 1º a 4º série, oferecida dentro do acampamento, enquanto os demais educandos das outras séries se deslocavam para a cidade. Como os alunos acampados sofriam discriminação por parte de professores e demais colegas de classe que residiam na cidade, as pessoas acampadas discutiram e optaram por mandar os alunos para a escola do Assentamento 25 de Maio, distante 16Km do então acampamento José Maria. De acordo com relato de lideranças do MST no estado, as negociações da área foram tranqüilas, sem enfrentamentos diretos com o fazendeiro ou com a força militar. O fazendeiro porém custou a entregar a área, pois tentou tirar o máximo de pinheiros e madeiras boas possíveis. Conta o senhor Valdemar Paz que “aqui durante a fase de acampamento trabalhava dia e noite cerca de 50 motosserras, tiravam tudo o que podiam”. (16/04/11) Chega então o dia 12 de outubro de 1996, dia tão aguardado pelos acampados, quando finalmente houve a desapropriação de 5.000ha de terra e o assentamento de 272 famílias, cabendo a

Maio. 5 Ex liderança do MST na região, participante da ocupação de 03 de dezembro de 1996 e assentado no Assentamento José Maria.

20 cada família 13ha de terra. As famílias começaram a se organizar em comunidades e a organizar a área comunitária, sendo que a primeira escola do assentamento foi no antigo casarão da fazenda, onde era oferecido o ensino de 1º a 8º série. Foi deixada uma área de 40ha de reserva ambiental do assentamento, mais 17ha que correspondem à área de um grande açude (lago) pertencente ao assentamento. Também foi deixada uma área de 16ha destinada à área comunitária, onde seria construída futuramente a escola, o posto de saúde, etc. Na área comunitária do assentamento estão instaladas uma escola de ensino fundamental e a escola de ensino médio, as casas dos professores que precisam permanecer durante a semana no assentamento, o posto de saúde, o moinho de milho - que pertence a um pequeno grupo de três famílias assentadas -, um selecionador de sementes e uma máquina de extração de óleo vegetal, pertencente à COOPEAL. Em 2002, foram doados 8ha de terra da área comunitária pelo assentamento para a construção de um (CPFP) Centro Popular de Formação e Produção - (foto 01), coordenado pelo MST, onde se desenvolvem técnicas de produção agroecológica visando sempre o auto sustento do espaço e das pessoas que contribuem, para a manutenção deste espaço. Nesse local está localizado o casarão antigo da fazenda que hoje abriga os moradores do CPFP, sendo eles os técnicos e estudantes do curso técnico da Escola de Ensino Médio Paulo Freire, atualmente são quatro pessoas que moram no local.

Figura 4: Educandos e educadores da turma de EJA-Médio Florestan Fernandes, em frente o antigo casarão.

Fonte: Arquivo do Centro de Formação (2010)

No casarão também são desenvolvidas atividades de formação feitas pelo MST. Hoje o espaço também serve como uma área de experimentos para o Curso Técnico Integrado de

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Agropecuária com ênfase em Agroecologia, oferecido na escola. O CPFP conta com uma boa estrutura, um espaço de estudo com salas, auditório, cozinha e área coberta. Está em processo de construção um alojamento para abrigar 150 pessoas. Além dessas estruturas, tem-se na área do centro de formação uma estrebaria6, um chiqueiro, e um alojamento para professores. O assentamento obteve grandes conquistas ao longo dos seus poucos anos como: transporte público, ginásio de esportes, escola de ensino fundamental com estrutura adequada para ministrar as aulas, educadores, serventes e materiais didáticos. O assentamento contava também com a extensão do 2º grau da Escola Anacleto Damiani, de Abelardo Luz, onde as aulas do ensino médio eram ministradas, embora em espaços inadequados. Em 2005, através de muita luta, a escola de 2º grau deixa de ser extensão e passa para a ser uma escola estadual, intitulada de Escola de Ensino Médio Paulo Freire, que oferece o ensino médio completo aos jovens do Assentamento Jose Maria e de mais cinco assentamentos situados nos arredores. Em 2009 outra grande conquista: a escola de ensino médio passou a oferecer o ensino médio integrado com ênfase em agroecologia, dando origem ao Curso Técnico Integrado em Agropecuária com Ênfase em Agroecologia, que hoje conta com 40 jovens educandos dos assentamentos localizados nos arredores do assentamento José Maria. A foto 2 mostra os educandos durante as atividades práticas do curso.

Figura 5: Educandos do curso técnico no tempo trabalho no CPFP.

Fonte: Arquivo Escola de Ensino Médio Paulo Freire (2011)

O assentamento organizou-se em seis comunidades: Comunidade Sagrada Família; Santa Luzia; Flor da Serra; ; Dom José Gomes e Comunidade . O número de famílias por comunidade varia de acordo com a localização em relação a estrada geral que dá acesso

6 Lugar onde se ordenha as vacas, também conhecido como cural.

22 ao município de Abelardo Luz e também ao município de Palmas-PR. Outro fator também da divisão das comunidades foi a questão do relevo e nascentes de água, onde os assentados buscaram distribuir o acesso à água de forma o mais igual possível para todos os assentados. Uma das prioridades do assentamento hoje é a cooperação. Coordenado por uma equipe técnica responsável, a COOPTRASC que atua diretamente no viés da produção, estes juntamente com técnicos contratados pelas cooperativas, (COOPEAL e COOPEROESTE) atuam junto aos assentamentos, na perspectiva de melhoramento da produção desenvolvida pelo assentado. Hoje existem nos assentamentos de Abelardo Luz duas cooperativas: a COOPEROESTE7 (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste) e a COOPEAL8 (Cooperativa de Comercialização, Produção e Industrialização Edson Adão Linz), em parceria com a COOPTRASC9 (Cooperativa Central de Reforma Agrária de Santa Catarina) esta última responsável pela assistência técnica e acompanhamento da produção nos assentamentos. A COOPEROESTE e COOPEAL são fruto da organização social do MST. Estas englobam todos os assentados da região que desejam fazer parte da cooperativa. As duas cooperativas interligam praticamente todos os assentados da região do grande oeste catarinense, que compreende o oeste e o extremo oeste de SC. Em 2006 foram cedidos 2ha da área comunitária para a COOPEROESTE para instalação de um tanque resfriador de leite, sendo que o leite é a principal produção dos assentamentos do município. Dessa forma o leite produzido nos assentamentos são coletado e centralizado no assentamento José Maria, para que o produto possa ser armazenado e resfriado, sendo que todos os dias no período da tarde o leite é transportado em caminhão com taque refrigerado para o município de São Miguel do Oeste. Nesse mesmo local estão também três casas destinadas a motoristas, técnicos e às pessoas que trabalham no resfriador.

1.3- A Comunidade Canhadão

A comunidade Canhadão é a comunidade mais antiga do município de Abelardo Luz, com 80 anos, mais velha até mesmo que o próprio município. Sua origem se deu com a vinda de camponeses oriundos dos municípios de Getulio Vargas-RS e de Ararangua-SC, sendo que a primeira família a chegar no local, veio através de conhecidos que moravam próximo ao lugar e que diziam que ali era uma “terra sem dono”. Na verdade parte daquelas terras pertenciam a um

7 Será tratada no item 1.4 8 Idem. 9 Cooperativa de prestação de serviços que congrega os trabalhadores das áreas de reforma agrária e é responsável pela

23 proprietário que havia ganhado de herança, porém tinha um caseiro que tomava conta das terras. Segundo moradores da comunidade, a outra parte das terras pertenciam aos indígenas Tupi- guaranis que viviam na região. Aos poucos foram chegando mais famílias, algumas para trabalhar na fazenda, sendo arrendatários, outras entraram em terras que pertenciam aos indígenas, mas que mais tarde foram tituladas, separando o que pertencia aos indígenas e o que pertencia à comunidade. Algumas famílias conseguiram ao longo do tempo acumular uma renda maior que as possibilitou comprar pequenos pedaços de terra do antigo dono. As famílias foram desbravando as terras para o plantio. A madeira retirada, parte era vendida em serrarias da região e parte era utilizada para o auto consumo e também para fazer carvão. Com o tempo começaram a chegar mais famílias, e a comunidade já era chamada de Canhadão por causa do relevo muito acidentado. Canhadão chegou a ter cerca de 180 famílias. Segundo contam os moradores, as coisas por ali eram muito difíceis, não existiam estradas, escola, o transporte era basicamente feito através de carroça e cavalo. Mais tarde, no final da década de 1940, abriu-se a primeira estrada que dá acesso à estrada geral que ia até Xanxerê-SC. Em meados dos anos de 1947 chegou à comunidade a tão esperada escola, que atendia educandos de 1º à 4º série. Os moradores ainda relatam que naquela época as salas de aula eram cheias e as pessoas da comunidade que tinham mais estudo se tornavam os educadores dos demais. Assim foi-se construindo uma grande e forte comunidade que, até 1958, era pertencente ao município de Xanxere. Em julho de 1958, Abelardo Luz, até então distrito de Xanxerê, conquistou sua emancipação política e a comunidade Canhadão passou a pertencer a este novo município. Hoje a comunidade faz divisa com a área decretada reserva indígena, e tem cerca de 1200 alqueires de terra. A comunidade teve acesso à rede de energia elétrica há cerca de 30 anos atrás, o que deu mais ânimo aos moradores. Porém, no inicio, somente teve acesso quem conseguia pagar pela instalação. Cada um foi se virando como pode, sendo que nem todos tiveram acesso à energia elétrica no mesmo período. Seguindo relato dos moradores, com passar dos tempos, já na década de 1970, a comunidade começou a diminuir, pois muitas pessoas começaram a ir embora, principalmente os filhos dos camponeses que começaram a migrar para as cidades em busca de melhores condições de vida. Por outro lado, aqueles camponeses que tinham mais posses começaram a comprar terras dos que não tinham, as quais eram vendidas a baixo preço.

assistência técnica nos assentamentos.

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Já com o número de pessoas muito reduzido e com o processo de nucleação10, em meados dos anos 1990 a comunidade Canhadão perdeu a escola. Assim, as crianças e adolescentes passaram a estudar em uma comunidade vizinha, chamada de Alegre do Marco, que oferece somente as séries que compõe o atual ensino fundamental, tendo o município garantido o transporte escolar para que os alunos ali se deslocassem para prosseguir seus estudos. Os jovens que desejam estudar mais, contam somente com o apoio da família e, na maioria das vezes, são obrigados a sair de casa e ir trabalhar na cidade para poder dar continuidade aos estudos. Hoje a comunidade conta com 72 famílias, uma “estrutura comunitária” como salão comunitário de festas e reuniões (foto 03), campo de futebol, um pequeno bar de propriedade particular e a igreja católica (foto 04). Sendo que a comunidade Canhadão é referência no município por ser a comunidade mais antiga. Segundo o presidente da comunidade, a última festa realizada pela houve comunidade contou com a participação de aproximadamente mil pessoas.

Figura 6: Salão comunitário da Comunidade Canhadão

Fonte: Greti Aparecida Pavani

Figura 7: Igreja Católica da Comunidade Canhadão

Fonte: Greti Aparecida Pavani

10 Processo de fechamento das pequenas escolas rurais, transferindo os alunos para escolas pólos, em comunidades maiores ou para a cidade, oferecendo-lhes o transporte escolar.

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A comunidade não conta com posto de saúde, transporte coletivo para passageiros e comércio. A base da economia é a produção de leite, fumo e aviários, mas este último devido ao seu auto custo de construção fica mais restrito às famílias com maior poder aquisitivo,. Cultivam também milho, feijão e soja, porém em pouca produção. Praticamente todas as famílias da comunidade têm automóveis. A comunidade conta com um grupo de idosos, um grupo de mães, ambos organizados através do município, e um grupo de jovens (com cerca de 12 participantes dos cerca de 50 que residem na comunidade), sendo o grupo organizado pela igreja. Contudo, nenhum grupo com caráter político. Esses grupos são organizações internas comuns a todas as comunidades, com o propósito de organizar as festas, os espaços comunitários como, salão de festas, campo de futebol, etc. Estes grupos organizam encontros religiosos e também participam de excursões e atividades festivas no município ou em municípios vizinhos. O clube de mães, através da prefeitura municipal, viabiliza cursos de culinária e artesanato, ou outros de interesse, para as mães da comunidade.

1.4- Incentivo à produção através das cooperativas

As duas cooperativas do MST (COOPEAL e COOPEROESTE) atuam nas áreas de assentamento de Abelardo Luz com grande respaldo e representatividade na região. Uma delas é a COOPEAL, com sede na cidade do próprio município e criada por um grupo de assentados junto com a direção estadual do MST, tendo iniciado suas atividades no ano de 2004. A outra é a COOPEROESTE, com sede em São Miguel do Oeste-SC, fundada em 1996, abrangendo toda a região do grande oeste catarinense, fruto da necessidade dos assentados de comercializar a produção de leite, produto responsável por grande parte da renda da maioria das famílias camponesas do sul do país. De acordo com a direção da COOPEAL, a mesma é responsável pela organização, produção, industrialização e comercialização dos produtos cultivados nas áreas de assentamentos de Abelardo Luz e região. Atua em duas linhas de produção, a agroindústria de doces e conservas e o processamento industrial de peixes de água doce. Ela foi criada a partir da necessidade de organização da produção dos assentamentos, a fim de proporcionar às famílias a oportunidade de investir em outro ramo da produção, uma alternativa para evitar que elas ficassem à mercê do monocultivo de soja, milho e fumo que, por muitas vezes, acaba endividando as famílias e não lhes dando retorno financeiro para que pudessem garantir sua reprodução na terra. A cooperativa tem o propósito de interação entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

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A unidade frigorífica pertencente à cooperativa (foto 05) é responsável pelo processamento industrial de peixe (tilápia e carpas), produzindo hambúrguer de peixe, filé de tilápia, empanado de peixe e espetinho a base de peixe. O frigorífico situa-se no município de Abelardo Luz. Por questões de localização e do próprio funcionamento da cooperativa, na unidade frigorífica também é feita comercialização dos produtos, tanto para outras redes de comércio, quanto no atacado e varejo. Atualmente trabalham no local cerca de 25 pessoas permanentes, com uma variação de mais 10 pessoas em épocas de maior produção. De acordo com o presidente do conselho fiscal da cooperativa, mais de 50% dos funcionários na unidade frigorífica não possuem ligação com os assentamentos, pois o frigorífico está localizado na sede do município e os assentados têm dificuldade de deslocamento do assentamento até a cidade, já que a cooperativa não possui ainda condições de oferecer transporte ao funcionários . Os trabalhadores estão divididos nos setores de produção, administração e assistência técnica. A produção média varia de 1000 a 1500 kg/dia, porém a unidade possui capacidade para operacionalizar 15ton/dia.

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Figura 8: Vista parcial do frigorífico de peixes da COOPEAL

Fonte: Coopeal (2009).

A cooperativa conta ainda com uma agroindústria de conservas, localizada no Assentamento Santa Rosa I, em Abelardo Luz. A agroindústria atualmente está com as atividades interrompidas, pois está em reforma, ampliando a tecnologia para melhor processamento dos vidros de doces e conservas. A agroindústria conta com três trabalhadores permanentes, dos quais um técnico ligado à COOPTRASC que atende as famílias produtoras, sejam estas do próprio município ou dos municípios vizinhos. Os outros dois funcionários da cooperativa são um assentado que coordena o trabalho, a compra e a venda de produtos, e um gestor da agroindústria, ligado ao grupo gestor da cooperativa. Em relação à produção, a agroindústria é responsável pela industrialização de conservas de pepino, cebola, couve flor, brócolis e milho, sendo a conserva de pepino predominante. Segundo o coordenador de trabalho e venda da unidade com menor freqüência também são industrializados doces de abóbora, morango e pêssego, este último feito também em compota. Quando a agroindústria de conservas está em funcionamento ela paga por dia, pessoas dos próprios assentamentos, na sua maioria mulheres, que fazem todo o processo de industrialização. O número de trabalhadores varia de 6 a 12 pessoas, dependendo da demanda de serviço no dia, que é de acordo com a quantidade de produção recolhida. Como foi citado acima, o Assentamento José Maria possui um processador de sementes com capacidade de armazenagem, batedouro de feijão e uma máquina de extração de óleo de sementes oleaginosas, esta última atualmente parada. Esta estrutura também esta ligada à gestão da COOPEAL, mas visa atender às necessidades dos assentados, sendo que essa unidade da cooperativa atua também na compra e venda de sementes. Na sede do Assentamento José Maria há

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um filho de assentado responsável por um trator com Gobi11, que pertence à COOPEAL. Ele presta serviços aos assentados da região que não possuem esta máquina, em nome da cooperativa. A Gestão política da cooperativa baseia-se de acordo com o organograma abaixo (Figura 04:). Essa gestão política nem sempre funciona como está posta no organograma, ocorrendo algumas alterações no processo organizativo da gestão da mesma, que muitas vezes prejudicam o propósito inicial da cooperativa, como citado acima, porém bastante relativo.

Figura 09: Organograma da Cooperativa de Produção, Ind. Com. Edson Adão Lins

Assembléia

Conselho Fiscal

Conselho Deliberativo NB Direção Política

Coordenador NB NB2 NB Coordenação Setores 1 3

Peixe Doces Conservas Cereais Planejamento

Recria alevino Produção Produção Finanças

ATES Agroindústria Sementes Comercial

Produção ATES Beneficiamento Logística Frigorífico ATES

Marketing Ext. Óleo Vegetal

Parcerias

Fonte: TOMAZZI, SILVA e SCHNORR (2011).

A cooperativa iniciou-se com poucos sócios, cerca de 50 assentados, com a estratégia de com o trabalho e o tempo ir ampliando o quadro social e se consolidando organicamente. Importante destacar que o quadro de sócios se ampliaria desde que as famílias desenvolvessem as atividades agrícolas e agropecuárias que viabilizassem a cooperativa. No entanto há algumas

11 Peça adaptada ao trator para arar e mexer com a terra.

29 limitações na produção, principalmente de peixes, já que esta atualmente abrange um número de 122 sócios, sendo que das áreas de assentamento de Abelardo Luz, são apenas 60, todos eles com baixa produção, tanto de matéria-prima para o frigorífico quanto para a agroindústria. Os demais sócios são de outros assentamentos de municípios vizinhos, tendo também oito sócios que são pequenos produtores de comunidades rurais do próprio município e municípios vizinhos. Contudo, é um número bastante pequeno de sócios assentados, se comparado ao número de famílias assentadas no município, que é de 1500. O número pequeno de sócios e a baixa produção de peixe refletem principalmente na unidade frigorífica, comprometendo assim a rentabilidade da cooperativa, pois a unidade frigorífica é a que mais da retorno financeiro a mesma. Para suprir esta necessidade a cooperativa acaba por comprar o restante da produção de outros produtores, que não têm vínculo associativo com a cooperativa e tampouco com as áreas de Reforma Agrária. A título de exemplo vale dizer, somente 5% da produção de peixe é oriunda dos assentamentos. Diante da necessidade de aumentar a produção de matéria-prima, a organização política da COOPEAL visa estruturar os núcleos de base12 nos assentamentos para discutir qual é o papel dos sócios na cooperativa e politizar o quadro social. O objetivo dessa ação é fazer com que os assentados que ainda não são sócios se tornem sócios da cooperativa e os que já são sócios continuem e se envolvam mais organicamente na gestão da cooperativa. Visa-se com isso fortalecer a cooperação entre os mesmos, bem como garantir uma maior renda para as famílias. Outra cooperativa ligada ao movimento é a COOPEROESTE (figura 05) que, como citado acima, tem sede no município de São Miguel do Oeste. Possui representatividade nacional como uma das cooperativas mais bem sucedidas das áreas de Reforma Agrária, responsável pela dinamização da marca “Terra Viva”, marca da Reforma Agrária que apresenta um dos mais concretos resultados da capacidade de produção estabelecida nas áreas de assentamentos.

12 Grupos de famílias formados nos assentamentos, acampamentos e cursos que têm finalidade organizativa e política de base no MST.

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Figura 10: Vista parcial da sede da COOPEROESTE

Fonte: http://maps.google.com.br

Os resultados alcançados pela COOPEROESTE são prova de que, apesar de todos os problemas ocasionados no campo brasileiro por causa do modelo agrícola imposto pelo sistema capitalista baseado no agronegócio, os camponeses ainda conseguem dar sua resposta com uma vasta produção de alimentos. Nessa perspectiva, a cooperação é a melhor estratégia de sobrevivência do camponês frente ao agronegócio. Dessa forma, concordamos com Fernandes (1999, p. 219) que afirma que a

[...] cooperação também é uma forma de organização para a resistência da luta camponesa. A cooperação em suas diferentes formas é uma prática histórica de diversos povos na organização de seus modos de vida, como resistência e visão prospectiva, objetivando transformar suas realidades.

A COOPEROESTE atua no ramo de laticínios, com produção, industrialização e comercialização de leite e derivados. Atua também no setor de avicultura de corte, comercializando com marca própria frango abatido e congelado e ainda produz conservas de pepino e cebola. De acordo com a direção estadual do MST Hoje a COOPEROESTE é hoje a maior cooperativa do oeste catarinense e também a maior cooperativa dos assentamentos do Brasil. No município de Abelardo Luz, porém, a COOPEROESTE enfrenta forte concorrência de outras empresas do ramo de laticínios que atuam na região de forma muitas vezes desleal, pagando centavos a mais no intuito de garantir mais produtores. No entanto, essas empresas concorrentes não valorizam o produtor que entrega uma baixa quantidade de litros/leite/dia e tampouco os produtores

31 que não são permanentes. Com a necessidade de ampliar a produção de leite dos assentados e ainda garantir-lhes boas condições de produção, a cooperativa conta com uma assistência técnica na unidade, composta por um veterinário e dois técnicos que auxiliam o produtor. A assistência técnica atende a todos os produtores de leite da COOPEROESTE nas áreas de assentamentos de Abelardo Luz. Os assentados pagam somente os medicamentos utilizados quando necessário. Alem desse benefício, para facilitar o acesso do assentado aos produtos necessários tanto para a própria alimentação quanto de insumos agrícolas para a lavoura e outros produtos, a cooperativa trabalha com um sistema de crédito, onde os produtores de leite parcelam suas dívidas que vão sendo descontadas mensalmente, do rendimento da produção de leite. Assim, estas duas cooperativas, bem como as demais cooperativas da Reforma Agrária espalhadas pelo país, têm como principal objetivo a construção de um novo modelo de cooperação que visa a inclusão, baseando-se na cooperação efetiva e concreta dos camponeses, para que estes, de forma organizada, possam produzir comida para o povo, de boa qualidade e com preço acessível, para que todos possam ter acesso e para que alimentos de qualidade não sejam apenas privilégio de poucos na cidade.

2. As relações sociais e econômicas das realidades em questão

A discussão sobre o que é campo e o que é cidade está sempre presente quando se discutem as novas características econômicas e sociais que permeiam o campo. No Brasil, segundo Marques, (2002, p. 96) o

[...] projeto de desenvolvimento rural adotado ao longo de décadas no país tem como principal objetivo a expansão e consolidação do agronegócio, tendo alcançado resultados positivos sobretudo em relação ao aumento da produtividade e à geração de divisas para o país via exportação. No entanto, esta opção tem implicado custos sociais e ambientais crescentes.

A autora continua considerando que:

[...] o avanço dos movimentos sociais no campo e a intensificação das lutas, tem tornado cada vez mais evidente a necessidade de se elaborar uma estratégia de desenvolvimento para o campo que priorize as oportunidades de desenvolvimento social e não se restrinja a uma perspectiva estritamente econômica e setorial. (p.96)

Nesse contexto aparece nas entrevistas do trabalho de campo a preocupação dos jovens com relação a políticas que favoreçam a permanência no campo, políticas essas que viabilizem

32 economicamente e socialmente a vivência do camponês no meio rural, para que estes tenham acesso aos bens de serviços públicos que geralmente são ofertados no meio urbano, bem como acesso a créditos que viabilizem a produção e garantam a renda familiar. Primeiramente considero de extrema importância nos atermos mais à Vila 25 de Maio, onde se misturam, de forma mais nítidas, atividades que, ao longo da história, foram separadas em “urbanas” e “rurais”. É possível observar ao longo do tempo a transformação que se teve dentro da Vila, em seu aspecto físico, com a construção de mais casas, próximas umas às outras, como também a presença de bares, lojas, mercado, rádio, escolas, internet e telefone público (orelhão). Essas transformações modificaram aos poucos o relacionamento entre as pessoas, tanto dos moradores da Vila quanto dos assentados, num sentido de aproximação maior com o mundo urbano. A Vila tornou-se um local centralizador de vários outros assentamentos que foram se formando nos arredores do Assentamento 25 de Maio13. Nesse contexto temos um local que de fato traz elementos rurais e urbanos, e que tem uma relação campo-cidade muito próxima, que pode ser definida através das relações de trabalho, do modo de vida dos moradores, tanto quanto da sua infra-estrutura, como lojas de roupas, cabeleireiro, entrega de gás e bebidas etc., atividades estas normalmente consideradas do meio urbano. Estas atividades se intercalam entre campo e cidade, rural e urbano. Têm aspectos que de fato são característicos do meio urbano, mas no entanto, prevalecem características do mundo rural, o sentido de vizinhança, as atividades de produção nos espaços próximos às casas, e também o próprio trabalho no campo que se dá de diferentes formas, como o trabalho por parceria, o arrendamento, o trabalho por dia e o trabalho assalariado. Para Sobarzo (2006, p. 55) a

[...] superação da divisão entre cidade e campo não deve ser confundida com a visão – um tanto apocalíptica – do desaparecimento do campo e das atividades agrícolas e da urbanização (no sentido estrito) total do planeta. Essa superação está ligada às relações de produção. Assim, ela não consiste num processo em que o campo se perde no seio da cidade, nem a cidade absorvendo o campo se perde nele.

Assim, com relação aos dois assentamentos e à comunidade em estudo, a geração de renda no meio rural não é mais aquela oriunda somente da agricultura e da pecuária: temos também, nos assentamentos, a oferta de outros serviços, como é o caso das escolas e, conseqüentemente, dos professores e demais funcionários; comerciantes, principalmente na Vila 25 de Maio; profissionais de saúde, como médicos, dentistas, pediatras, psicólogos e enfermeiras auxiliares; motoristas, entre outras profissões, presentes nos assentamentos de Reforma Agrária.

13 Trabalhado no capítulo 1º

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Nesse sentido os camponeses assentados não precisam se deslocar para a cidade para trabalhar em outras atividades que não sejam propriamente aquelas agrícolas. Isso se observa nos dois assentamentos, muito embora no assentamento 25 de Maio esse índice seja maior por causa das características já mencionadas da Vila. Contudo, ainda assim há jovens que têm seus familiares no assentamento e que trabalham na cidade, o que nos leva a crer que as atividades “urbanas” presentes no assentamento não são suficientes para empregar todos aqueles que desejariam. Conforme a observação acima há muitas pessoas que moram no assentamento ou na comunidade e trabalham na cidade, principalmente os jovens que durante a semana vão para a cidade trabalhar e no fim de semana retornam para a casa dos pais. Outra realidade um pouco mais recente é a de empresas, principalmente do ramo de frigoríficos, que buscam pessoas que moram no interior para trabalhar, fornecendo transporte para que os mesmos continuem morando no campo, porém trabalhando na cidade. Dessa maneira os camponeses aceitam o baixo salário pago pela empresa, já que seu gasto mensal é menor em relação a um trabalhador empregado que mora na cidade. Dessa forma diversifica-se a fonte de renda das famílias camponesas, garantindo aos jovens sua própria autonomia econômica, mesmo que na maioria dos casos o ganho com empregos na cidade seja muito pequeno, capaz apenas de garantir as necessidades de consumo individual, o desejo de ganhar seu próprio dinheiro, comprar suas próprias roupas, poder sair, ir às festas sem precisar pedir dinheiro aos pais. Para os jovens isso acaba sendo uma satisfação individual. A saída durante a semana dos jovens da casa dos pais, se de um lado interfere no trabalho familiar, significando menos gente para trabalhar, de outro significa para os pais uma garantia de renda para o filho, e uma contribuição na renda familiar, já que nem sempre a produção do lote garante uma renda mensal boa que atenda às necessidades de bens materiais dos jovens camponeses já inseridos no mundo do consumo. É importante lembrar também que muitas famílias ainda contam com a aposentadoria de um ou mais membros da família. Percebe-se então que a composição da renda familiar, em grande parte dos casos, vai além das atividades consideradas rurais. Para Alentejano (2003, p. 05)

A precariedade dos dados estatísticos na identificação de peso das rendas não agrícolas no meio rural, sustentam que a maioria das ocupações não agrícolas podem ser categorizadas como “emprego refugio”, ou seja, condição econômica que garanta a permanência no campo, já que na maioria dos casos, a renda retirada somente da agricultura não consegue suprir todas as necessidades das famílias.

Contudo, não se trata de um campo que não possibilite mais viver dele/nele, tirar a renda da agricultura e da pecuária, ressaltando que estou falando do campo onde vivem os camponeses, onde

34 vivem pessoas que ali moram que nele constroem e reconstroem suas histórias no campo. É o caso, por exemplo da comunidade Canhadão que, em virtude dos vários fatores já citados no primeiro capitulo, viu sua população diminuir, e com ela alguns serviços públicos que antes eram oferecidos na comunidade, como é o caso da escola. Tal redução de pessoas e serviços talvez se deu pela falta de uma organização maior que contribuísse para auxiliar os camponeses a garantir os meios necessários que os possibilitassem viver no campo. Quando se fala em condições para viver no campo, os moradores da comunidade logo falam na questão da renda, da não valorização do camponês, da falta de créditos, enfim, dos problemas que assolam a maioria dos camponeses; em um segundo momento eles apontam a falta de serviços como saúde, educação, transporte, lazer etc. No caso dos assentamentos, os jovens ressaltam que sentem a necessidade de veterinários, professores, médicos, dentistas, técnicos agrícolas, etc, dentro dos assentamentos e falam que “se nós conseguisse estudar e se formar não precisaria vir gente de fora para trabalhar aqui, nós mesmo poderia trabalhar e continuar morando aqui, por que eu gosto de morar aqui” (Márcio Amarate 09/10/10). Outro relato que vem a fortalecer esta idéia é o de uma jovem que esta cursando o 1º ano da faculdade de pedagogia: “eu queria poder terminar a faculdade e continuar aqui, quero ser professora, mas tive que sair estudar para depois voltar a trabalhar aqui” (Tatiane Maia 08/10/10 ). Assim como estes, outros jovens entrevistados relatam que gostam de morar no assentamento, poucos deles sentem vontade de morar na cidade, mas parece-lhes que não há alternativa: ao mesmo tempo em que estes relatam que gostam de morar no campo, almejam um futuro melhor que parece poder ser encontrado somente na cidade. No entanto, o que nos parece preocupante é que a minoria dos jovens fala em continuar o trabalho na roça, tirando da agricultura seu sustento e sua renda. Até mesmo os jovens que cursam no Assentamento José Maria, o Curso Integrado Técnico Agrícola e Pecuária com Ênfase em Agroecologia, vêem a possibilidade de estudo com fins empregatícios, sem ver a possibilidade de melhorar a produção da família no próprio lote. Nessa lógica, parece a princípio que os jovens vêem o campo como um local bom para se viver, para morar, e a cidade como o local capaz de oferecer bons empregos, capaz de lhes garantir uma renda mensal fixa. Diante desses relatos é possível dizer que atividades consideradas urbanas passam a fazer parte do cotidiano do rural. Assim, morar no campo hoje, diante do caos enfrentado pelas grandes cidades, é considerado muito melhor, mas viver do campo parece não fazer parte das perspectivas dos jovens camponeses.

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2.1 Assentamentos e comunidade: Semelhanças e contradições

Temos em questão três realidades distintas que se completam e ao mesmo tempo diferem entre si. De um lado temos dois assentamentos, ambos frutos da luta do Movimento Sem Terra pela reforma agrária, com histórias e trajetórias que diferem quanto ao contexto histórico no qual se inserem: o Assentamento 25 de Maio surge já no final da ditadura militar no Brasil, enquanto o assentamento José Maria surge em plena década de 1990, no fervor do modelo neoliberal e das lutas realizadas pelo MST para realização da reforma agrária. Ambos, no entanto, abrigam sujeitos camponeses que trazem como perspectiva de vida o trabalho no campo, vendo neste a própria garantia de reprodução. Também a organização interna dos assentamentos 25 de Maio e José Maria diferem entre si: o primeiro conta com uma área de agrovila, com comércio, com mais opções de lazer para os jovens, enquanto o outro não possui agrovila e tampouco comércio, porém possui atividades de lazer. Apesar das diferenças os assentamentos apresentam semelhanças como: a existência de posto de saúde, de escolas com ensino da pré-escola ao ensino médio e ensino do CEJA (Centro Educacional para Jovens e Adultos). O Assentamento 25 de Maio possui uma extensão da APAE e também uma extensão da Celer Faculdades à distância, que oferece ensino à distância de pedagogia e gestão ambiental. A organização do MST nos assentamentos possibilitou maior avanço nas questões sociais e econômicas, através do qual foi possível reivindicar projetos de assentamentos do INCRA, o que lhes garantiu toda a infra-estrutura presente hoje nos assentamentos. Já na comunidade Canhadão as famílias foram entrando para a área de forma individual, sem interferência de movimento social ou até mesmo do sindicato, que chegou à comunidade há 30 anos. Mesmo assim a comunidade foi se desenvolvendo e contando com o que compõe a estrutura básica das comunidades: a igreja, o centro comunitário, o campo de futebol e a escola do antigo primário. Porém, diversamente do que acontece nos assentamentos, onde a conquista de escolas e de outros serviços que beneficiam a comunidade são fruto da luta, na comunidade Canhadão, na ausência desta forma de organização e de ação, foi necessário esperar a ação dos órgãos públicos para o fornecimento dos serviços a que tinham direito, nem sempre nos tempos desejados. Assim, sem perspectiva de futuro, muitas famílias foram embora, principalmente a partir do momento em que a agricultura deixou de ser principalmente para o auto-consumo e passou a ser para o mercado, ocasião em que passaram a sentir os efeitos das oscilações de mercado. Aproveitando-se da necessidade dos agricultores de produzir para o mercado, empresas como a Souza Cruz passaram a atuar diretamente com o camponeses, oferecendo-lhes recursos, sob a forma de adiantamentos, para que construíssem galpões para secar o fumo e também adquirissem

36 as mudas para plantar. Para aqueles que aderem, a dívida contraída com a empresa vai sendo descontada a cada safra, independente das condições climáticas que ora favorecem a agricultura ora não, ou seja, qualquer que seja o apurado com a safra, a parcela referente ao adiantamento para a construção dos galpões deve ser saldada. Dessa forma, muitos camponeses, não só na comunidade Canhadão, mas também nos assentamentos, ficam endividados e à mercê dessas grandes empresas. Assim como coloca Martins (1983) “Aparentemente, por esse caminho seria possível explicar como o grande capital se articula com a pequena produção familiar de tipo camponês ou com a produção agrícola em geral”. Ainda nesse contexto, tanto na comunidade Canhadão como nos assentamentos existem outras realidades, onde camponeses sem condições técnicas e também financeiras de competir no mercado que é cada vez mais exigente e mais excludente, deixam suas terras, meio de produção que possuem, e vão para a cidade vender sua força de trabalho, ou continuam na terra, mas agora como trabalhadores assalariados, trabalhando em órgãos públicos no próprio local, como no caso dos dois assentamentos, ou morando no campo, mas trabalhando de forma assalariada na cidade, realidade encontrada nos três locais de estudo. A análise dessas três realidades, distintas e complementares ao mesmo tempo, distintas porque se trata de temporalidades diferentes de sujeitos que, ao mesmo tempo em que são iguais, camponeses, se diferem na questão de organização social e também pelo fato de que enquanto nos assentamentos os problemas além de serem enfrentados pelos assentados também são enfrentados por uma organização maior que é o MST, na comunidade Canhadão estes, na maioria dos casos, são enfrentados no seio da família. A esse respeito, o mais importante a destacar é que duas realidades contam com uma organização maior, o MST, capaz de responder por várias questões políticas, sociais e econômicas num âmbito maior e com maior influência a nível nacional. Por outro lado, essas realidades são complementares porque se tratam de sujeitos camponeses, jovens do campo e, principalmente, porque se trata do campo e suas diversas dimensões, sociais, culturais e econômicas. Observamos também que os jovens de 15 a 25 anos tendem primeiramente a ter uma certa ilusão de ir para a cidade. Por outro lado, quando inseridos na comunidade, passam a se sentir parte da mesma, passam a ver um certo desenvolvimento social e econômico da comunidade. Eles pensam somente em estudar e poder trabalhar no próprio assentamento, principalmente no assentamento 25 de Maio que possui uma maior necessidade de jovens para trabalhar nas escolas, no comércio, no posto de saúde etc. Percebe-se a necessidade de iniciativas que buscam, segundo STROPASOLAS (2006, p. 26) a

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[...] construção de uma identidade social - redefinida e ampliada – de jovem, que integra valores “urbanos” sem deixar de ser rural e representa a possibilidade de filhos e filhas de agricultores familiares acessarem direitos de cidadania e bens culturais próprios da modernidade. Enfim, a possibilidade de moças e rapazes viverem com mais plenitude e qualidade de “ser” jovem”.

Temos, assim, uma discussão bem maior, que vai além do sujeito jovem, e perpassa pelos conceitos de rural e de campo. Espaços estes que tanto nos trazem debates e discussões para as quais não temos respostas, pois sofrem rápidas alterações impostas pela necessidade de recriação do capital (Oliveira 2001).

3-O campo e a juventude camponesa

“A argamassa fundamental de nossa obra é a juventude, em quem depositamos nossa esperança e quem preparamos para tomar de nossas mãos a bandeira.” Che Guevara

Ao falarmos de campo, estamos nos atendo mais às relações sociais que se estabelecem nesse espaço, no qual vivem jovens (moças e rapazes) que parecem ser esquecidos, ainda que sejam eles, os jovens, parafraseando “Che”, a argamassa da transformação social que visa a igualdade e justiça social, transformação essa que é bandeira de luta dos movimentos sociais do campo, no caso específico, o MST. Temos em nossos assentamentos, assim como a comunidade Canhadão, jovens camponeses que sonham e almejam uma vida melhor no campo, mas que ao mesmo tempo são bombardeados diariamente pelos meios de comunicação fetichizando a vida na cidade, sobrepondo-a à vida no campo. Desta forma, através das entrevistas realizadas com os jovens nos assentamentos em estudo e na comunidade Canhadão, é nítido o conflito que eles vivem, divididos entre ficar ou sair do campo, conflito esse que deve ser visto com atenção pelas políticas públicas que envolvam os jovens camponeses. Eles querem estudar, se divertir, no entanto nem sempre podem fazer isso no local em que vivem, principalmente os jovens da comunidade Canhadão, que nem se quer podem estudar em sua própria comunidade. Através dos levantamentos feitos na pesquisa de campo, foi possível observar, de forma nítida, que o jovem do campo não vê o cultivo da terra como trabalho. Para estes, o viver no campo está atrelado a um trabalho assalariado, que lhe garanta renda mensal, sem depender do cultivo da

38 terra. Nesse caso percebe-se nitidamente a desvalorização do trabalho camponês ao longo dos anos. Para Oliveira (2001, p. 11),

[...] o capitalismo avançou em termos gerais por todo o território brasileiro, estabelecendo relações de produção especificamente capitalistas, promovendo a expropriação total do trabalhador brasileiro no campo, colocando-o nu, ou seja, desprovido de todos os meios de produção; de outro, as relações de produção não capitalistas, como o trabalho familiar praticado pelo pequeno lavrador camponês, também avançaram mais. Essa contradição tem nos colocado frente a situações em que há a fusão entre a pessoa do proprietário da terra e do capitalista; e também frente a subordinação do produção camponesa, pelo capital, que sujeita e expropria a renda da terra. E, mais que isso, expropria praticamente todo excedente produzido, reduzindo o rendimento do camponês ao mínimo necessário à sua reprodução física.

Assim o trabalho camponês não é mais visto como meio de produção, que produz vida, que produz , que produz dignidade. Desta maneira, acreditamos que as relações de trabalho estabelecidas no campo são tema para aprofundamento de estudo, pois o trabalho é tema fundamental para a juventude, que demonstra grande interesse quando falamos em trabalho, porém da forma como está posta a vida do jovem no campo, o que interessa de fato hoje para o jovemri é o trabalho assalariado. Essa constatação vai de encontro com as considerações de Guimarães (2005, p.159), para quem

[...] a hipótese de que a centralidade do trabalho para os jovens não advém dominantemente do seu significado ético (ainda que ele não deva ser de todo descartado), mas resulta de sua urgência como problema; ou seja, o sentido do trabalho seria antes o de uma demanda a satisfazer que o de um valor a cultivar. Para argumentar melhor nessa direção, convém observar em maior detalhe que dimensões do trabalho o colocam no centro da agenda de necessidades, interesses e urgências, pessoais e sociais.

Nesse sentido, a discussão seria envolta da criação de mais empregos para os jovens. Contudo acreditamos que o apontamento para um aprofundamento de estudo da juventude do campo é das relações de trabalho com a terra, que pode ser um precursor para compreender a evasão do jovem camponês para a cidade.

3.1-Os jovens e o MST nos assentamentos

A inserção dos jovens dos assentamentos em questão, na organicidade do MST, ainda é um ponto de muito debate dentro das instâncias organizativas do MST na região. Contudo, este é um debate de grande relevância e que de certo modo permeia o olhar sobre juventude das diversas

39 regiões nas quais o MST está organizado. Dessa forma, apontam-se questões levantadas por Misnerovisk e Ferreira (2006, p. 5-6):

 A forma de organização geográfica dos assentamentos, os lotes individuais que provocam o isolamento em conseqüência do parcelamento. A distância da vila para os lotes, que é o espaço da produção agrícola. Por essa questão muitos jovens desistem da escola, para poderem garantir a produção junto a família. Precisamos superar a lógica da ocupação do espaço conquistado projetando-o em torno de aspectos culturais e sociais, isso significa repensar junto ao Plano de Desenvolvimento do Assentamento uma nova lógica de possibilitar infra-estrutura em cada área. Isso implica em repensar o jeito de organizar os assentamentos, superando a divisão geográfica.  A forma como está organizada a produção camponesa nos assentamentos, bem como, a aquisição dos créditos e a implantação dos projetos, não insere os jovens no processo produtivo e organizativo, sendo assim não garante a independência financeira do jovem.  No núcleo familiar camponês ainda prevalece o sistema patriarcado, no qual os jovens são submissos às determinações do pai, em todos os aspectos, principalmente no aspecto financeiro. Muitos jovens reclamam que trabalham, mas não obtêm renda própria, pois tudo vai para um caixa familiar administrado pelo pai. Muitas jovens (mulheres) são proibidas pelos pais de participarem de alguma atividade, principalmente se for preciso dormir fora de casa.  Falta de garantia de renda permanente, ou seja, pensar no trabalho agrícola que viabilize a vida econômica além das safras anuais de produção e que seja administrado pelo próprio jovem. Nossas cooperativas e associações não têm inserido a juventude no processo administrativo, no planejamento e no debate político e financeiro das entidades.  Dificuldade de deslocamento para participar das atividades de formação política, de lazer e convivência social, bem como garantia de estrutura para lazer e entretenimento, especialmente para as jovens. As atividades recreativas e de lazer da juventude, em geral se resumem à prática de futebol, piqueniques, banhos dominicais em lagos, festas.  A falta de escolas que atendam o ensino fundamental e médio, além das dificuldades com transportes mal conservados e o desestímulo proporcionado pela ausência de uma proposta política pedagógica que leve em consideração a realidade dos jovens, e que contribua para a sua formação crítica dentro de um contexto político histórico, pois temos como limite neste aspecto o fato de que a proposta pedagógica do MST não está presente em todas as escolas. Esses fatores levam a saída dos jovens para estudarem na cidade, o que tem se constituído em várias situações problemáticas, pois as condições ideais também não são encontradas na cidade, e muitas vezes, os jovens vivenciam relações conflituosas no espaço escolar urbano.  A falta de infra-estruturas sociais coletivas que proporcionem espaços de cultura, lazer, esportes, teatro, música, dança, cinema para os jovens vivenciarem momentos de maior ludicidade.  As coordenações dos assentamentos/acampamentos, na sua maioria, não incentivam a participação da juventude, não acreditam no seu potencial criativo, no seu comprometimento e responsabilidades para com a organização. Este comportamento reflete na organicidade do MST e está relacionado com a disputa de espaço e poder. Dessa maneira, não há tarefas políticas definidas para a juventude na interior do Movimento.  Outra falta ainda é o não acesso às tecnologias em nossas áreas, como computador, Internet...

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 A inserção intensiva e massiva da indústria cultural, com a divulgação de músicas e danças que estimulam nossa juventude a ter vergonha de suas expressões culturais regionais, afetando profundamente a auto-estima da juventude camponesa, que é estimulada a adotar comportamentos urbanizados.  Todos os fatores acima levantados têm resultado diretamente na vida e no cotidiano da juventude camponesa, e em nossos acampamentos e assentamentos uma das facetas mais cruéis deste processo é a inserção de nossos jovens no mundo das drogas e prostituição.

Todavia, esses limites apontados em relação à participação e inserção dos jovens nas diversas regiões onde há a atuação do MST condiz também com a realidade onde estão inseridos os assentamentos estudados. Porém, como foi sendo relatado neste trabalho, muito embora muitos destes limites já tenham sido superados, ainda há muitas linhas a serem percorridas, metas a serem alcançadas. Misnerovisk e Ferreira (2006, p. 6-8), apontam alguns desafios em relação a juventude, nas áreas de atuação do MST, bem como diretrizes e medidas a serem tomadas pelo movimento, sendo elas:.

 Na organicidade engajar a juventude nas atividades orgânicas nos acampamentos e assentamentos, núcleos de base, atividades culturais, nas mobilizações, nos cursos de formação, na escola, nos setores do MST, nas coordenações das brigadas, dos núcleos, das regionais, ou seja, em todas as instâncias deliberativas do Movimento.  Inserir nas mobilizações e pautas de negociações em âmbitos federal, estaduais e municipais, pois o que ocorre é de pautar terra e créditos, deixando de lado algumas iniciativas que estão acontecendo de maneiras pontuais, por isso é importante garantir que nos assentamentos possam ter espaços/atividades para a juventude.  Organizar brigadas da juventude para fazer agitação e propaganda, organizando painéis, pinturas em muros, paradas de ônibus, panfletagem, grafitagem, embelezamentos dos diversos espaços sociais dentro do assentamento.  Organizar grupos de estudo com temáticas voltadas para os interesses da juventude (afetividade, sexualidade, geração de renda, cultura, mística, inserção da juventude na luta de classe).  Viabilizar e organizar brigadas de jovens que estudam na cidade para realizarem trabalho de formação política com a juventude urbana.  Realizar atividades formativas, para que a juventude domine o método do trabalho de base e realizar o trabalho de base para as ocupações, fortalecendo as atividades organizativas como: coordenar as reuniões, assembléias, organizar a mística, grupos de teatro, motivar o processo de participação de outros jovens nos bairros, contribuindo assim, com a massificação e radicalidade das ações.  Avançar no envolvimento da juventude dentro do processo produtivo, pensando a produção camponesa em toda sua dimensão produtiva como: marcenaria, artesanato, industrialização dos produtos agrícolas, confecções de roupas, serigrafias.  Apropriação do conhecimento, buscando a ciência para pensar o campo, indo além das práticas rudimentares do trabalho na agricultura, construindo alternativas viáveis que respeitem o meio ambiente e o ser humano.  Garantir para a juventude o acesso ao conhecimento, a democratização do saber, garantindo a escolarização. Possibilitar o ingresso da juventude nas escolas, para isso, devemos pensar em organizar nas grandes regionais escolas a exemplo do

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Iterra, que escolarize em forma de etapas e assim vai formando politicamente nossos jovens. Além disso, poderíamos pensar em uma universidade para atender as demandas de ensino superior que temos em nossa base, nos movimentos da Via Campesina e de outras organizações sociais camponesas e urbanas. Esta questão pode nos remeter a discutir o papel do Estado para garantia de políticas públicas e qual deve ser nossa relação com ele?  Seguindo a questão anterior, devemos implementar nas escolas existentes nos assentamentos a proposta pedagógica do Movimento, para que de fato atraia e forme politicamente a nossa juventude.  Criar nas escolas espaços de estudo e pesquisas voltadas para as técnicas agrícolas, sistematizando o conhecimento das comunidades camponesas acumulados historicamente, a partir das experiências e experimentos.  Possibilitar a garantia de renda aos jovens através do avanço no processo de implementação de agroindústrias, mudança da matriz tecnológica (implementação da agroecologia), assim como incentivar as potencialidades produtivas existentes, como artesanato, serigrafia, produção de doces, compotas, etc.  Promover o redescobrir da cultura camponesa pela juventude, valorizando os elementos de construção da identidade camponesa. Torna-se necessário trabalhar desde a infância para que a juventude tenha pertença e identidade Sem Terra forjada na luta social do MST.  Envolver a juventude em atividades na construção e fortalecimento de formas alternativas dos meios de comunicação popular.  Organizar jornadas de lutas no mês de Outubro em homenagem ao Che, tendo como referência o trabalho voluntário e a vivência de novos valores com a juventude.

Estas medidas citadas são linhas de atuação, pelo qual o MST da região dos assentamentos pauta para viabilizar a vivencia da juventude nas áreas de Reforma Agrária. Dessa forma, ao buscar compreender como os jovens estão inseridos nesse processo de lutas e conquistas que os beneficiam, por vários momentos, de acordo com algumas entrevistas, verificamos que tais lutas e conquistas não têm para eles grande importância se não os beneficiam individualmente, o que faz com que não se sintam parte dessa luta, dessa construção. Todavia, acreditamos que a organização social, no caso o MST, através de cursos técnicos em agroecologia, sistemas de cooperação, possibilita aos jovens permanecerem no campo tirando deste a sua renda, garantido sua autonomia financeira. No entanto, ainda é bastante difícil a desmistificação do fetiche urbano imposto nos jovens principalmente pelos meios de comunicação. Também a educação, da forma como está posta, apesar dos avanços nas áreas de Reforma Agrária, contribui para saída dos jovens do campo para a cidade. Dessa forma, concordamos com Vieira (2007, p. 53), quando fala que a “[...] escola, na concepção burguesa, sempre esteve associada à expectativa quanto ao futuro profissional”, visualizado somente na cidade. Para tanto, ainda é um grande desafio a implementação da Educação do Campo em todas as fases do conhecimento dos jovens, para que estes de fato tenham consciência de sua atuação histórica na sociedade, e para que este se veja enquanto camponeses, para que sua escolha em morar no campo ou na cidade seja uma escolha consciente. Nesse sentido, a

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[...] educação presente no MST traz uma nova perspectiva a estes jovens, que parecem estar de “costas para o futuro”, mas que na verdade apenas esperam da escola mais que escolarização e preparo para o mercado de trabalho. A proposta de educação presente nas escolas (...) ligadas ao MST traz o trabalho como princípio educativo, não o trabalho pelo trabalho, mas na linha da cooperação, da subsistência, (...) e também a necessidade de inserção na luta. (Vieira, 2007, p. 53)

Acreditamos que a organização das famílias dentro dos assentamentos que culmina na organização social (MST) é ponto fundamental para todas as conquistas obtidas até então nas áreas de assentamento. Sabemos que ainda existem muitos limitantes em relação à homogeneidade da organização social dentro dos assentamentos, em que os camponeses se identifiquem enquanto Sem Terras. Porém, têm-se a consciência que é um processo de amadurecimento e internalização de cada família, mas mesmo assim os benefícios do assentamento visam atender todas as pessoas que são assentadas visando sempre a sua inclusão.

3.2-Os jovens da comunidade Canhadão

Na comunidade Canhadão vivem aproximadamente 50 jovens. Como a comunidade possui 72 famílias, isso significa que nem todas elas possuem um jovem. Destes 50 jovens, apenas 10 participam do Grupo de Jovens da comunidade, organizado pela igreja. Dos jovens que permanecem na comunidade, 20 deles estão cursando o Ensino Médio e trabalham com os pais na lavoura. Outros já terminaram o ensino médio e pretendem mais tarde cursar uma faculdade, porém a família ainda não tem condições de pagar, ou até mesmo garantir a estadia desses jovens em cidades maiores para que possam cursar o ensino superior. Encontram-se também na comunidade jovens que optaram em ficar junto à família, principalmente os que casaram e constituíram outra família, os quais moram junto ou próximo aos pais. Também tem aqueles que, por diversos motivos, tiveram que parar de estudar. Contudo, através das entrevistas realizadas e das várias conversas com os jovens dos assentamentos e das comunidades, a priori parece ter uma grande tendência à migração do jovem do campo para a cidade. Porém, quando estes vêem uma perspectiva de poder estudar e trabalhar, na maioria dos casos de forma assalariada no campo, os mesmos tendem a permanecer no meio rural. Os assentamentos em questão, como relatado no primeiro capítulo, oferecem essa possibilidade ao jovem, porém essa possibilidade não abrange todos os jovens dos assentamentos. Na comunidade Canhadão, por sua vez, a perspectiva de trabalho assalariado em postos de prestação de serviços públicos, não aparece. Várias das pessoas com as quais conversamos na comunidade, em especial famílias onde

43 existem componentes jovens, esclarecem que pelo menos um dos filhos reside na cidade, pois acreditam que no meio rural, para o pequeno agricultor, como falam, está muito difícil para viver no campo e garantir a renda para suprir a necessidade de toda a família. Essa realidade parece repetir- se em todo o campo brasileiro. Como indica Carneiro (2008, p. 248) no campo:

[...] predomina o pessimismo na avaliação sobre o futuro da agricultura, que resulta no desejo dos pais de que seus filhos sigam outra profissão. [...] vislumbrarem a cidade como uma alternativa desejável para seus filhos, onde “a vida é mais fácil” em comparação ao “péssimo negócio” que representa a atividade agrícola [...]

Até o momento da pesquisa, dos 50 jovens residentes na comunidade, 15 deles estão trabalhando no frigorífico da cidade de Abelardo Luz, realidade que também ocorre nos assentamentos da Reforma Agrária. Esse é um retrato que vem se configurando no campo com grande força, fato esse que também foi confirmado na pesquisa conduzida por Carneiro (2008) intitulada “Perfil da juventude brasileira”. De acordo com a referida pesquisa, “da totalidade dos jovens rurais entrevistados que trabalham ou já trabalharam (66%), mais da metade (37%) está vinculada ao mercado de trabalho na cidade”. Ainda segundo a autora:

[...] a grande incidência de jovens que moram no campo e trabalham na cidade pode ser interpretada também como decorrência de uma nova realidade na qual o jovem procura combinar a residência na localidade de origem com o trabalho na cidade. Permanecer no campo implica contar com o apoio da família na diminuição dos custos de sua reprodução, comparados aos custos dos que optam por migrar definitivamente para a cidade. (p.250).

Nesse sentido, faltam políticas públicas no campo que de fato atendam as necessidades da população que ali reside, principalmente a população jovem que busca sua autonomia. Ressaltamos que as políticas públicas voltadas para o campo deveriam possibilitar que a renda tirada da terra proporcionasse uma vida melhor aos camponeses, para que estes pudessem ter as técnicas agrícolas que favorecessem o modo de produção camponês e que não anulasse seu conhecimento histórico. Isso proporcionaria aos jovens camponeses, como os entrevistados da comunidade Canhadão, menos insegurança com relação a viver no campo.

3.3-Os jovens dos Assentamentos 25 de Maio e José Maria

De aproximadamente 300 jovens que residem nos dois assentamentos, com uma idade média de 15 a 25 anos, entrevistamos uma amostra de 40 jovens. Destes, apenas 6 falam em continuar sua vida no campo vivendo e tirando seu sustento do trabalho com a agricultura. Doze pensam em estudar e trabalhar na cidade, considerando que o campo inviabiliza a vida dos jovens. A maioria

44 deles, 22 jovens, declararam, gostar de viver nos assentamentos, gostar da vida no campo, mas quando perguntamos de onde tiram sua renda ou projetam a mesma, a maioria vê como perspectiva de viver no campo somente se tiver um emprego. Vale destacar que dos 40 jovens entrevistados, 17 deles já trabalham de forma assalariada, 10 em órgãos públicos e a minoria em empresas privadas na cidade. Destes 40 jovens, três já possuem ensino superior e cinco estão cursando. Esse caso nos reflete uma grande preocupação que perpassa uma analise da juventude camponesa, principalmente no que se refere às relações de trabalho que se estabelecem entre a mesma. O trabalho desenvolvido na unidade de produção familiar camponesa, que produz o auto sustento, não é contabilizado como parte da economia familiar, e isso reflete principalmente nos jovens e nas mulheres Dessa forma as relações de trabalho concebidas nas relações capitalistas são apresentadas aos jovens e reproduzidas diariamente pelos meios de comunicação, bem como pela escola, como a melhor alternativa para o futuro. É o que considera Oliveira (2001, p. 60), para quem a

[...] escola no geral contribui para aguçar esse processo no interior da produção camponesa, pois ela tem preparado o jovem para o trabalho assalariado na cidade. Esse jovem, que só possui como qualificação a força de trabalho, é um expropriado. Assim, a própria unidade camponesa se incumbe de reproduzir a força de trabalho própria e aquela de que o capital precisa, uma vez que a reprodução ampliada da unidade camponesa não ocorre, em decorrência da sujeição da renda da terra dessas unidades ao capital. Dessa forma, o capital igual e contraditoriamente desenvolve-se, permitindo a reprodução da produção camponesa, mas subordinando-a por todos os lados.

Nesse contexto os jovens não vêem o trabalho no campo, na agricultura, “na roça” como digno de atenção e como uma forma de gerar renda e estabilidade social. Para a maioria dos jovens entrevistados, esse tipo de trabalho é a última opção, o que fica ainda mais claro quando perguntamos aos jovens para que estudam: a maioria das repostas encontradas foi “para conseguir um bom emprego e ter um futuro melhor”. No caso dos assentamentos, as escolas estão voltadas para um projeto de educação do campo, porém estão engessadas pelo modelo de escola capitalista pensada para o trabalhador, que visa formar somente para o mercado de trabalho. Dessa forma os jovens apostam no estudo para melhorar sua condição de vida atual. Como exemplo, citamos a resposta de um jovem que reside no Assentamento 25 de Maio, que estuda no ensino médio, sendo que outras repostas de outros jovens para a mesma pergunta também foram basicamente na mesma linha. Diante da pergunta “O que você espera para seu futuro? O referido jovem respondeu “Se eu não conseguir ir para a faculdade espero ir para a cidade e arrumar um emprego e viver bem” (Alairton 08/10/10)

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Para os jovens, a oportunidade de estudar está puramente atrelada à possibilidade de uma melhor inserção no mercado de trabalho, seja no campo ou na cidade, na maioria das vezes incentivados pelos próprios pais que dizem que querem dar estudo aos seus filhos para que estes tenham melhores condições de vida. Diante dessas questões, e dialogando com Caldart (2000), é ainda mais cabível afirmar que o pensamento e o modo de agir de nossa juventude camponesa hoje é reflexo do descaso de anos para com os trabalhadores camponeses que, historicamente, foram vistos como “Jecas Tatu”, sem saber, sem civilização, visão fortalecida pela mídia, que acaba por ocasionar uma grande crise nas relações com a terra, nas relações de trabalho e, consequentemente, nas relações familiares. Pudemos observar que entre os jovens que são filhos de militantes ou ex-militantes do MST, jovens engajados na luta, morar no assentamento é motivo de muito orgulho e isso é respaldado pela família, como pode ser visto no exemplo da resposta da jovem Adriana, à pergunta “Você pensa em permanecer no campo? No assentamento/na comunidade? Por quê?”: “Sim, pois é onde eu nasci, por ser calmo, além disso, é um conquista de quem luta, não deve ser deixado assim” (Adriana 11/10/10). Assim, observa-se que a partir de uma maior inserção do jovem na luta pela terra possibilita maior compreensão do campo e sua permanência no mesmo. Trata-se, porém, da minoria dos jovens. No Assentamento 25 de Maio a juventude tem um Grupo de Jovens formado, porém ainda bastante frágil, com pouco mais de 20 jovens participantes, enquanto que no Assentamento José Maria ainda não há um grupo de jovens. Tanto em um assentamento quanto em outro já houve, no final da década de 1990, inicio dos anos 2000 (auge da luta pela terra no estado) grupos de jovens com uma perspectiva política organizativa, de grande representatividade, organizados pelo MST. Hoje o local onde se observa a participação dos jovens é somente nos espaços de lazer, na maioria das vezes como participantes e não como idealizadores dos espaços. Como observam Misnerovicz e Ferreira (2006, p. 2)

As relações que se estabelecem, na lógica capitalista, são as de compra e venda em consonância com o estilo individualista de ser, constituindo verdadeiros obstáculos no trabalho junto à juventude. Ora, a doutrina capitalista é visivelmente e compreensivelmente mais sedutora que a proposta de transformação social e isso tem se mostrado decisivo no momento em que lidamos diretamente com a formação de jovens nos cursos organizados pelo Movimento Sem Terra. Lidamos com várias situações em que o desestímulo destes se dá por razões ligadas às pressões da família ou pela vontade de incluir-se junto ao “mercado de trabalho”.

Nesse sentido, quanto ao engajamento político, sentimos uma intensa falta de interesse da maioria dos jovens em se envolverem politicamente na comunidade, no MST, no próprio debate dos

46 rumos que está tomando o próprio município. Isso é visível nas reuniões internas dos assentamentos, nos encontros e atividades do MST e em atividades desenvolvidas pelo município, como por exemplo reuniões sobre o Orçamento Participativo14. Porém, não se pode esquecer que o desinteresse por esses debates decorre também da inexistência de espaços para que de fato o jovem se sinta inserido nas decisões coletivas do local onde residem. Na maioria das vezes eles simplesmente são ignorados, como se não conseguissem fazer apontamentos cabíveis aos debates. Sobre a necessidade de inserção dos jovens na vida política dos assentamentos, o MST tem uma posição bastante clara. Segundo Misnerovisk e Ferreira (2006, p. 4):

Precisamos garantir ao jovem, que assuma os compromissos e responsabilidades, sobretudo, construir condições para que a juventude exerça e vivencie as relações no coletivo, saber compartilhar, mostrar-se companheiro. Nessa perspectiva, não podemos pensar a juventude como aqueles que vão conduzir o futuro, mas como os que vivem e sentem as mazelas do presente causadas pelo capital, sentindo-se provocados a agir como sujeitos que necessitam assumir seu papel histórico.

Desta maneira, busca-se nos assentamentos, principalmente através das escolas de ensino médio, estar inserindo o jovem na participação política e organizativa do assentamento, porem se tem a compreensão que este é um processo lento, com avanços e retrocessos. Mesmo porque a maioria dos sujeitos que estão na base dos assentamentos não têm essa compreensão de necessidade de inserção da juventude na organização do assentamento.

3.4- As relações de trabalho e a juventude camponesa

As relações de trabalho são fundamentais para a vivência em sociedade e têm aspecto crucial para os povos do campo. Para Stropasolas (2006, p. 133) o trabalho para o campo deve ser e é:

[...] fonte e condição básica para a sobrevivência e reprodução dos membros familiares, é afirmado como um atributo singular do caráter familiar na agricultura, cujas peculiaridades e contornos procuram ser transmitidos para as futuras gerações, embora com representações diversas nas gerações atuais. A ética envolvida nas relações de trabalho, a cooperação e a reprodução da força de trabalho familiar e suas condições objetivas, marcadas, muitas vezes, pela divisão social das tarefas entre seus membros, pela jornada extensiva, pela constância e esforço físico, são mobilizadas de forma conflituosa no processo de produção mercantil em que a família busca se integrar, visando à reprodução (e, se possível, à ampliação) do patrimônio e sua reprodução social.

Como se sabe, o trabalho na agricultura camponesa é organizado dentro da própria estrutura familiar. Assim, quando o número de membros da família se reduz, isso interfere na organização do

14 Reuniões de planejamento local, onde cada bairro, comunidade ou assentamento decide onde será aplicada recursos destinados a melhoria de infra-estrutura pública dos mesmos.

47 trabalho e, conseqüentemente, na produção. De acordo com os assentados, e principalmente com a comunidade Canhadão, quando os jovens deixam a família e vão para a cidade, isso acaba dificultando o trabalho na lavoura. Os assentamentos, por serem mais novos do que a comunidade, ainda não sentem tanto a dificuldade enfrentada pelos camponeses mais idosos, cuja força física já não lhes permite mais continuar produzindo no campo, e cujos filhos estão a maioria na cidade. Os assentados falam da importância do jovem permanecer no campo, mas ao mesmo tempo esperam que os filhos tenham um futuro “melhor”, sendo que na visão dos pais, a forma como estão colocadas as políticas agrícolas para o pequeno produtor dificultam a vida do jovem no campo. Nesse sentido, é necessário que sejam criadas alternativas que estimulem as famílias e, conseqüentemente, os jovens, a permanecerem no campo. Nas áreas dos assentamentos estudados, o MST consegue criar estas oportunidades, tanto no sentido da produção, quanto nas questões de oferecer aos camponeses assentados os serviços sociais básicos, ainda que com grandes dificuldades. Para tanto, de acordo com Caldart (2000), o MST busca na articulação da educação com a produção a formação humana articulada com o mundo do trabalho, visando formar sujeitos capazes de intervir criticamente na realidade em que vivem. Isso é feito articulando conhecimento e trabalho, fazendo a junção da teoria com a prática, incentivando a produção agrícola de forma mais saudável, propondo ações integradas, unindo a preservação e conservação da natureza por viés da agroecologia, articulando saberes científicos e populares, evitando a monocultura e valorizando a diversidade, garantido maior perspectiva e autonomia do camponês. Uma vez construída essa relação, se estabelece o verdadeiro princípio do trabalho, exercendo a prática da cooperação, fundamental no campo. Para os jovens, a compreensão da categoria trabalho mexe com várias dimensões da vida humana como, por exemplo, a consciência, a produção de conhecimento e a criação de habilidades.

3.5-A educação como perspectiva de viver no e do campo

Através de estudos feitos no campo e analisados para a realização deste trabalho, é possível observar que um dos principais motivos que levam o jovem a querer deixar o campo e migrar para a cidade, é justamente a busca pela educação. Isso porque a condição para que possam estudar nem sempre é oferecida no espaço onde residem. Na maioria dos casos, como é o caso da comunidade Canhadão, o jovem que deseja continuar estudando, busca esse direito na cidade, condição que o leva a deixar a vida no campo, o que é ainda mais presente nas famílias de baixa renda do campo.

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No caso dos assentamentos estudados, é possível observar que parte desse direito ao estudo já foi e está sendo a cada dia conquistado. Dessa forma, vão melhorando as condições da juventude, oferecendo aos mesmos uma perspectiva maior de viver no campo. Assim, possibilita-se que todos os jovens possam cursar o Ensino Médio Normal onde vivem, no campo, o mesmo valendo para o Ensino Médio Profissionalizante e o Ensino Superior, através de parcerias estabelecidas entre o MST e o Incra, através do Pronera, e as Universidades Federais e Estaduais de todo o Brasil. Segundo Viera (2007, p. 51), dos

[...] 800 jovens camponeses (aproximadamente) distribuídos nos 23 assentamentos de Abelardo Luz, jovens entre 15 a 25 anos, 289 deles têm acesso ao Ensino Médio; e outros tiveram e tem oportunidade de estudar em escolas do MST, em cursos técnicos em Enfermagem, Agroecologia, Administração e Cooperativa, Magistério, e, dessa forma, já contribuem com a organização.

Hoje nos assentamentos de Abelardo Luz existem cerca de 30 jovens cursando faculdade em diversos locais do Brasil, em diversos cursos tais como: Licenciatura em Educação do Campo, Pedagogia, Direito, Geografia etc. sem terem a necessidade de morar em outro local. Isso, porém, só é possível através da ação do MST. Este fato não ocorre na comunidade Canhadão, onde os jovens só têm acesso a uma universidade por meio da renda da família. Nessa comunidade, cerca de quatro jovens atualmente cursam faculdade particular, o que só é possível porque a família apresenta condições financeiras para garantir esse estudo. Dessa forma, os jovens dos assentamentos têm a possibilidade de garantir uma formação acadêmica e política. Mesmo assim, ainda é um número pouco significativo frente à juventude que mora nos assentamentos do município. De acordo com as entrevistas realizadas, uma das principais reivindicações dos jovens é justamente o acesso ao ensino superior. Relato dessa realidade é a resposta de uma jovem do Assentamento José Maria, estudante do Curso Técnico em Agroecologia. Quando lhe fizemos a pergunta: “O que você espera para seu futuro?” ela nos respondeu: “terminar o curso, ter um bom emprego e poder fazer minha faculdade, para poder ajudar minha família, o que eu mais quero para o meu futuro é poder ajudar a minha família” (Kelli 08/10/10). Nessa perspectiva foram também outras respostas, inclusive de outras perguntas, todas num sentido de poder estudar, de fazer uma faculdade. Hoje no município de Abelardo Luz, de acordo com a tabela 01, podemos dizer que de certa forma os jovens do campo estão tendo acesso à educação no local onde vivem. É importante ressaltar que das escolas no campo, sete delas estão localizadas nas áreas de assentamentos, abrangendo um número de 1430 educandos, conforme dados recolhidos da Secretaria Municipal de

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Educação. Das três escolas de ensino médio existentes no município, duas estão em áreas de assentamento, uma no Assentamento José Maria, e outra no Assentamento 25 de Maio.

Tabela 01: Escolas no Município de Abelardo Luz NIVEL DE ENSINO MUNICÍPIO CIDADE CAMPO

Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries) 10 escolas 3 escolas 7 escolas

Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) 9 escolas 5 escolas 4 escolas Ensino Médio 3 escolas 1 escola 2 escolas Educação Infantil 8 escolas 4 escolas 4 escolas TOTAL 30 escolas 13 escolas 17 escolas Fonte: Plano Municipal e Educação Abelardo Luz, 2011

O acesso à formação de nível superior é uma necessidade de todos os jovens e deve ser um direito garantido. Porém, é importante esclarecer que apenas o acesso à escola não garante a educação para a transformação social, horizonte que define o caráter da educação nas escolas de Ensino Médio presentes nos assentamentos. Com base no PPP (Projeto Político Pedagógico) 2010, as escolas trazem como cartilha pedagógica a Educação do Campo e como principio educativo o trabalho, fruto de acúmulo organizativo e necessidade presente nos acampamentos e assentamentos do MST. No entanto, de acordo com Caldart (2000), acredita-se que a educação atingirá sua função, e isso tanto na cidade quanto no campo, somente quando estiver presente nos currículos escolares os processos sociais que visam a transformação da sociedade atual e a construção, desde já, de uma nova ordem social, cujos pilares principais sejam, a justiça social, a democracia e os valores humanistas e sociais. Na forma como esta colocada a educação ofertada na maioria das escolas brasileiras, e principalmente nas escolas no campo onde a presença do MST não é significativa, o que se ensina é justamente o preparo para o mercado de trabalho, diminuindo o campo, a vida na roça, destruindo, dia após dia, os valores camponeses, negando a sabedoria e os princípios da vida no campo e apresentando a cidade como única perspectiva de vida para os jovens, como se a única fonte de renda, de estudo e de lazer, estivesse na cidade. Em contraponto a esta realidade o MST apresenta um projeto de educação que não exclua, mas sim inclua. O movimento defende

Defendemos um projeto de educação vinculado a um projeto político de transformação social, de classe e voltado à formação integral dos trabalhadores e

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que articule diferentes ações no plano de trabalho, da cultura, da participação social, da formação política e ideológica e da educação escolar. Defendemos uma educação portadora e cultivadora de valores humanistas e socialistas, preocupada também com o cuidado da natureza e que se desenvolva na perspectiva da práxis: prática e teoria articuladas pelos processos de transformação do mundo e da auto- transformação humana”. (MST, 2006, p.9)

Dessa forma, pensar a educação nas áreas de assentamento é fundamental para a juventude. Todavia, esse projeto de educação encontra muitos limites, como ressaltado no item anterior. O MST visa garantir às crianças, jovens, adultos das áreas de assentamento o acesso à educação, tanto no sentido da escolarização ampla, como também de bens e valores culturais, considerado condição necessária para uma Reforma Agrária e para a democratização de nossa sociedade. (Caldart 2000).

3.6-O Lazer e a juventude camponesa

A prática do lazer é considerada fundamental a todo o ser humano, e esta vai de encontro à cultura à qual o indivíduo está inserido. Acredita-se que a prática de lazer é de fundamental importância para o ser humano, e que todas as pessoas devem ter acesso ao mesmo, dentro de suas crenças, suas culturas, seu espaço. Nesse sentido, o jovem camponês tem o direito de lazer em seu espaço de vivência. Como afirmam Carrano; Brenner e Dayreli, (2008)

Na pratica do lazer, os indivíduos buscam realizar atividades que proporcionem formas agradáveis de excitação, expressão e realização individual. As atividades de lazer criam uma certa consciência de liberdade ao permitir uma fuga temporária a rotina cotidiana de trabalho e obrigações sociais. As denominadas atividades de pura sociabilidade podem ser definidas como geradoras de tensões emocionais agradáveis e de formas descomprometidas de integração social (ELIAS e DUNNING, 1992). Essas formas descomprometidas possuem, entretanto, uma grande efetividade social para o estabelecimento de valores, conhecimentos e identidades. No espaço-tempo do lazer, os jovens consolidam relacionamentos, consomem e (re)significam produtos culturais, geram fruição, sentidos estéticos e processos de identificação cultural”. (p. 177)

Nesse sentido é de extrema importância um olhar mais crítico sobre as condições de lazer ofertadas para os jovens em geral, em especial ao jovem do campo, centro de estudo nesta pesquisa. Como sabemos, há uma falsa idéia de lazer e divertimento expandida pela mídia que designa uma idéia de lazer vinculada aos grandes centros urbanos, e que surte grandes efeitos nos jovens, principalmente os jovens do campo que acreditam que a cidade irá lhes proporcionar melhores condições de divertimento. No entanto, esse falso lazer está ligado ao consumismo. No caso dos assentamentos é muito visível as diversas formas de lazer que são apresentadas aos jovens e que proporcionam a estes espaços para maior convivência social. Porém, na maioria dos casos, esses espaços são pensados não pelo público jovem, mas na maioria para eles. São

51 espaços como: festas15; bailes16, torneios e campeonatos de futebol17 e cinema da terra18. Contudo, apesar da oferta de lazer e do empenho do grupo de jovens em organizar atividades, os jovens entrevistados afirmam não ter acesso ao lazer no campo. Percebemos então que o problema não se está na falta de lazer, mas sim em como este se configura, como ele é vivenciado pelos jovens camponeses. O lazer imposto pela mídia é um dos fetiches da cidade. Porém, assim como no campo, o lazer na cidade também não é pensado pelo jovem, mas sim para ele. Todavia, no meio urbano as formas de se divertir estão atreladas, como já dito, ao consumo, onde pensar o lazer é pensar práticas de consumo e não atividades culturais. No caso dos assentamentos em questão, somente o Assentamento 25 de Maio tem um Grupo de Jovens organizado, mas que não representa muita força política dentro do assentamento. Mesmo assim, procuram realizar iniciativas que visem buscar igualdade nas decisões comunitárias, ainda que pareçam estar à mercê da decisão dos pais e do conselho da comunidade. O mesmo ocorre com o grupo de jovens da comunidade Canhadão e que, tal qual o grupo organizado no assentamento 25 de Maio, também apresenta dificuldades de decisões. Os mesmos relatam que só promovem alguma atividade de lazer se for em parceria com a comunidade, mas quem acabam se tornando apenas contribuintes e não proponentes das atividades. O grupo apresenta uma dificuldade ainda maior que é o número reduzidos de jovens que participam do grupo, sendo que dois deles são de uma comunidade vizinha. É interessante observar as diversas atividades de lazer que são desenvolvidas no campo e destacar que este espaço pode oferecer momentos culturais de lazer que vão de encontro aos jovens do campo. Contudo, estes deveriam ser pensados pelos jovens e não para eles. O lazer dos jovens camponeses está também puramente atrelado às condições de renda familiar e à possibilidade de ter a própria renda, que garanta aos jovens a possibilidade de ir e vir, no sentido de ter condições objetivas para, por exemplo: passear na cidade aos finais de semana ou poder ir a uma festa em outras comunidades. Seria importante garantir as condições para que eles pudessem construir a sua autonomia enquanto sujeitos jovens, obtendo o direito de se divertir, de estudar e trabalhar sem ter a

15 Momentos de festejar nas comunidades/assentamentos geralmente feita no domingo, onde comemora-se aniversario da comunidade, dia do padroeiro etc. 16 Atividade festiva, feito aos sábados a noite, nas comunidades com dança, na maioria dança gaúcha. 17 São times de diversos locais do município disputam entre si a classificação do melhor time do município, os campeonatos geralmente acontecem em rodadas semanais e são promovidos por alguma comunidade/assentamentos, ou até mesmo pela secretaria de esportes do município. Os torneios acontecem somente em um dia, onde o time de futebol vencedor ganha um prêmio da comunidade ou assentamento que promove o torneio. 18 Cinema itinerante, promovido pelo Setor de Comunicação e Cultura do MST, onde leva para as comunidades dos assentamentos filmes selecionados, transmitidos através de DataSwoh.

52 necessidade de migrar para a cidade.

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Considerações Finais

De acordo com as entrevistas parece ser bastante relevante o estudo mais aprofundado sobre as relações de trabalhos impostas pelo sistema capitalista, onde os jovens não vêem o trabalho na terra como forma de geração de renda, capaz de propiciar tudo o que necessitam. É possível observar que a maioria dos jovens entrevistados vê a sua permanência no campo somente visualizando um emprego, principalmente nos órgãos públicos como: escolas, posto de saúde, etc. O que se observa dos jovens camponeses estudados é que eles apresentam um duplo movimento de perspectiva, vivenciam um conflito entre sair ou ficar no campo. De certa forma há uma tendência do jovem sair do campo, porém estes também demonstram interesse em permanecer no meio rural. Porém, quando os jovens associam a sua permanência no campo com fins empregatícios eles negam o campo, pois não conseguem concebê-lo como meio de produção para sua autonomia. No entanto quando há a presença da organização social (MST) percebe-se a busca por alternativas que ofereçam possibilidades para a juventude permanecer no campo, através da organização da produção, de avanços no campo da educação, tendo como base o trabalho visto como principio educativo. Porém, essas ações do MST ainda estão bastante limitadas e têm pouco resultado, mas sinalizam, espera-se, para uma maior permanência dos jovens nos assentamentos. A priori os jovens filhos de assentados parecem obter maiores oportunidades de estudo, lazer, e acesso a serviços públicos que os jovens da comunidade Canhadão. Porém, ainda há falta de garantia de renda permanente, ou seja, é necessário pensar no trabalho agrícola que viabilize a vida econômica além das safras anuais de produção e que seja administrado pelo próprio jovem, ou ainda pensar em formas de inserção da juventude nas cooperativas. Viabilizar políticas que garantam a inserção e continuidade dos jovens em todas as etapas do processo formativo da educação e no processo produtivo parece ser o grande desafio que o movimento deverá superar na atual conjuntura.

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Anexos:

Anexo 01: Roteiro de entrevistas para a pesquisa de campo.

Roteiro de entrevistas para a elaboração do trabalho de conclusão de curso. Essa entrevista será realizada com 50 jovens, residentes no município de Abelardo Luz-SC, 10 jovens da comunidade Canhadão, 10 jovens do Assentamento 25 de Maio e 15 jovens do Assentamento José Maria, sendo uma média de 10% dos jovens que residem nos respectivos locais. Estes jovens terão em média 15 à 25 anos.

Nome:______Idade:______Local onde mora:______Com quem mora:______Estuda: Sim ( ) Não ( ) Série: Onde Estuda:______

1- Você gosta de morar aqui? ______- 2-Qual outro lugar em que gostaria de morar? E por quê? ______

3- Você pensa em permanecer no campo? No assentamento/na comunidade? Por quê?

______

4-Futuramente pretende cursar uma faculdade? Qual? E Por quê? ______-

5-Qual a renda mensal de sua família? ______6-Você possui renda própria? ______

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Se sim continuar perguntando, se não, não perguntar as três próximas questões.

-Tira sua renda do trabalho na terra? O que você faz? ______

-Qual é sua renda? ______-Se sente satisfeito com o que ganha? O que na sua opinião deveria melhorar? ______7-O que você espera para o seu futuro? ______

8-Há, em sua opinião, algo que estimula e favorece a permanência da juventude no campo? Se sim o que? Se não, o que falta? ______

9- Qual sua opinião sobre o jovem que sai do campo e vai para a cidade e depois de um tempo retorna? O porquê disso? ______

10. Na sua perspectiva, quais são os principais problemas e/ou dificuldades enfrentadas atualmente no assentamento (comunidade) (infra-estrutura, relações pessoais, escola, lazer, etc.)? ______

11- Há espaço para o jovem no assentamento/comunidade?

______

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______

12- O que você gostaria que tivesse na comunidade ou (assentamento)? ______