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MOBILIZAÇÃO DE PEQUENOS PRODUTORES RURAIS EM BRAGANEY-PR: A OLERICULTURA COMO POTENCIALIDADE

PRODUTIVA1

Márcio Roberto Ghizzo Janesca Alban Roman Graziella Bragueto

RESUMO

ção agrícola brasileiro é um dos fatores que corroboram na exa O modelo de produ cerbada ís. No que tange ao estado do Paraná, os pequenos proprietários rurais desigualdade social do pa êm enfrentado muitas dificuldades de se manterem na terra, principalmente no que diz respeito à t ção de emprego e renda. Estas propriedades, por sua ão as grandes responsáveis pela gera vez, s ção de alimentos para a população nacional, dedicando produ -se, muitas vezes, ao cultivo de ão possuem alto valor agregado no mercado urbano, como os hortifrutigranjeiros produtos que n ção. Neste contexto, que possuem elevado grau de pereciabilidade e expressivas perdas de produ ção que vêm sendo implementadas este trabalho tem o objetivo de apresentar iniciativas de mobiliza ípio de Braganey junto aos olericultores de tomate do munic -PR, no sentido de minimizar as perdas ção. Trata das colheitas que variam de 30 a 50% da produ -se de um projeto desenvolvido com ípio em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná e a produtores daquele munic Prefeitura Municipal de Braganey. Baseado em potencialidades produtivas locais, o projeto vem ção junto aos olericultores por meio de alternativas de produção de derivados de realizando interven ção beneficiada. Este tipo de atividade tomate, o que tende a gerar emprego e renda para a popula ções nas estruturas ômicas locais, considerando que os produtores se provoca transforma socioecon ções e desenvolvem princípios de economia solidária. Acreditamos que estas organizam em associa ípio iniciativas podem desacelerar a intensa mobilidade populacional que se verifica naquele munic de pessoas que partem em busca de oportunidades em outras cidades. Palavras-chaves ção. Agricultura familiar. Potencialidade produtiva. Braganey. : Mobiliza

1 óquio Internacional Cultura e Memória Social: Este trabalho foi parcialmente apresentado no IV Col Desenvolvimento Regional, realizado na Universidade do Oeste Paranaense, campus Toledo, em Outubro de 2009: á, v. 1, Revista Percurso - NEMO Maring n. 1 , p. 49-64, 2009

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1. INTRODUÇÃO

ágio do desenvolvimento do sistema capitalista, as desigualdades impostas No atual est âmago daqueles que encontram pelas lutas de classes tem se mostrado exacerbadas. Contudo, no ência, novas formas de luta têm se desenvolvido, levando este as maiores dificuldades de sobreviv ção de inserção na economia de me grupo a se organizar e buscar legitima rcado. Referimo-nos, à princípios de associativismo baseado na Economia Solidária. neste caso, ícola brasileiro, importa considerar que este setor tem No que se refere ao sistema agr ção destas desigualdades em nossa sociedad muito corroborado para a manuten e. De uma forma ícola é um dos fatores que promovem esta exacerbada desigualdade geral, nosso modelo agr ís. Em aspectos tangentes ao estado do Paraná, cabe ressaltar que, em conseqüência social no pa ção conservadora da agricultura, os pequenos ários rurais têm, nas últimas da moderniza propriet écadas, enfrentado muitas dificuldades de permanência na terra, principalmente pela limitação d à geração de emprego e renda quando que a agricultura familiar possui no que diz respeito ócio. inserida na economia de mercado onde predomina o agroneg é imprescindível considerarmos que é nas pequenas propriedades onde se Entretanto, ável pelo suprimento de verifica de forma mais veemente a agricultura familiar: a grande respons ção nacional, dedicando alimentos para a popula -se, na maioria das vezes, ao cultivo de produtos ção de animais que não possuem alto valor agregado formando o “cinturão verde” (ou green e cria belt ); ou seja, trata-se de um grupo de propriedades especializado em produtos hortifrutigranjeiros que sofre com o elevado grau de pereciabilidade, resultando em expressivas ção. perdas de produ

Segundo a FAO/INCRA (2000), a agricultura familiar representa, no Brasil, 85,2% dos área de cultivos, empregando 77% da mã estabelecimentos rurais e ocupa 30,5% do total de o-de- ão mais sobrevive apenas obra do campo. Somado a isto, na atualidade, este tipo de agricultura n ência, mas comercializa seus produtos no mercado interno e externo, auferindo da subsist úmeros consideráveis na balança nacional, somando aproximadamente n 10% do PIB nacional. ística da No bojo do presente trabalho, queremos considerar que relevante caracter é a geração de emprego e renda como função social. Esta característica deve agricultura familiar ão necessariamente “no” se propagar, principalmente, por meio do desenvolvimento local e n üentemente local. Desta forma, incrementar o mercado de trabalho significa conseq fomentar a

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ção trabalhadora deve despender a maioria de seus rendimentos. Se economia local, onde a popula ão acontecer, poderá ocorrer isto n o segundo caso quando, por exemplo, uma empresa, altamente écnica, se instala numa localidade gerando poucos empregos e provida de racionalidade t á promovendo a remessa de lucros para outras espacialidades diferentes daquela de onde est instalada. á, esta realidade tem provocado uma intensa mobilidade No que tange ao Estado do Paran populacional, pois, segundo o IPARDES (2000), aproximadamente 70% dos pequenos ípios do estado deverão apresentar taxa de crescimento demográfico negativa nos próximos munic à falta de oportunidades de emprego e renda que possuem, de modo anos devido, entre outros, ção emigrante se dirige, principalmente, para os médios e grandes centros do país. que a popula “uma das soluções apontadas para o Para MICHELLON et al (2008, p.05), é o fortalecimento e a dinamização da agricultura familiar, pautada nos desenvolvimento regional ípios de Economia Solidária...” Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo princ êm sendo implementadas junto aos ole apresentar algumas iniciativas que v ricultores produtores ípio de Braganey de tomate do munic -Pr, no sentido de minimizar as perdas das colheitas que ção, as quais podem equivaler de setecentas a novecentas variam de 30 a 50% do total da produ toneladas por safra. Trata-se de um projeto desenvolvido com os produtores rurais daquele ípio em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná munic - UTFPR, campus ção Araucária, que Toledo, e a Prefeitura Municipal de Braganey, com financiamento da Funda objetiva desenvolver formas de minimizar os impactos da mobilidade populacional evasiva, ção dos produtores rurais através de políticas de gerando emprego e renda por meio da mobiliza desenvolvimento local autogerido. çarmos o objetivo proposto, nosso estudo parte, num primei No intuito de alcan ro óstico de potencialidades produtivas locais, seguido de referenciais momento, de um diagn óricos acerca do desenvolvimento local e a auto te -sustentabilidade urbana. Por fim, o estudo õe algumas iniciativas de intervenção que vêm sendo desenvolvidas j prop unto aos produtores ípio por meio de alternativas de produção de produtos derivados de tomate, rurais daquele munic ção tais como doces, vinagre e sorvete, o que tende a gerar emprego e renda para a popula ções surtam efeito, também beneficiada. Somado a isto, vale ressaltar que, para que estas interven ções de mobilização da população, por meio de palestras e cursos, além da tem sido realizadas a

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ção da demanda por uma organização dos produtores rurais na forma de associação conscientiza ípios de Economia Solidária. onde se deve praticar princ ção provoca transformações nas estruturas socioeconômicas Entendemos que este tipo de a ção dos dos lugares, ocasionando desenvolvimento local autogerido, considerando que a mobiliza ção na vida das pessoas, produtores promova sustentabilidade social por meio de uma transforma ômico. constituindo um elo de compromisso social e econ

2. DESENVOLVIMENTO LOCAL E ECONOMIA SOLIDÁRIA

ão se vincule diretamente com a Economia Embora o projeto mencionado neste trabalho n ária, o mes Solid mo possui similitudes no que condiz a seu desenvolvimento. Por isso, ível uma breve contextualização deste modelo de organização que entendemos ser imprescind ções realizadas. serve de embasamento para as interven ão embasados De uma forma geral os estudos que contemplam desenvolvimento local s ém em princípios de sustentabilidade. Entretanto, importa considerar que, na atualidade, esta tamb ão ganhou relevância, bem como uma confusão de conceito demandando por adjetivações express ão restringindo seu uso ao senso comum, mas dotando para melhor expor sua especificidade, n -o de cientificidade. ém do aspecto ambiental, a sustentabilidade ganhou relevância na causa das relações Al ões sociais, espaciais e econômicas. Neste sentido, a pobre humanas, enfatizando as quest za e a ção do desenvolvimento dos lugares têm ganhado espaço nas reflexões cientificas. Assim, limita “a sustentabilidade social é uma ação vinculada ao princípio da melhora da qualidade de vida da ção na sua totalidade.” (SANTOS; ROCHA, 2008) popula ção equitativa de Desta forma, a sustentabilidade deve proporcionar distribui oportunidades de desenvolvimento, comportando-se como um dos componentes essenciais para o ável deve ser entendido como um desenvolvimento humano. Assim, o desenvolvimento sustent ítico e amplo, avançando pelo debate do crescimento econômico. conceito pol ção econômica, percebe Nesta conjuntura e considerando o atual momento de globaliza -se ção especial em direção ao desenvolvimento local como estratégia de sustentabilidade uma aten

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ância do local como espaço de desenvolvimento social, cultural e urbana, enfatizando-se a import ômico, bem como valorizando o pertencimento territorial. econ ão, Milton Santos (2004) afirma que devemos colaborar na formação de Sob esta quest ção como de seus uma sociedade em que todos participem coletivamente, tanto da produ ão pode ser utilizada apenas como resultados. Desta forma, defendemos que uma sociedade n ça óprias fornecedora de for -de-trabalho, mas como empreendedora e autogeradora de suas pr ão pode apenas contemplar os interesses do capitalismo atividades. Ou seja, a sociedade n àqueles comuns à organização em que se encontra inserida. enquanto sistema, mas É no bojo deste processo de privação da população das condições essenciais de ência que o mundo éculo passado, vivenciando uma intensa sobreviv do trabalho vem, desde o s ção estrutural. Legitimando a acumulação do sistema capitalista, o trabalho assumiu ao transforma ória sinônimo de sofrimento e exploração alienante, pelo menos para uma longo da hist ção proletária. significativa parcela da popula ções têm, no intuito de melhorar as condições de trabalho e renda, Neste sentido, as popula ência e luta de classes. Referimo à organização da buscado formas alternativas de resist -nos aqui ímulo e liberdade, visando uma sociedade em trabalho coletivo, desenvolvida com maior est ção do processo produtivo por parte daqueles envolvidos na produção, baseada no reapropria ípios de economia associativismo. Nestas premissas, Paul Singer (1999) menciona que estes princ ária su ênese do capitalismo industrial. solid rgem com o operariado logo na g

Para Michellon et al (2008), os trabalhadores buscam se organizar para recuperar a ária baseia autonomia que antes lhes pertenciam. Assim, em tempos atuais, a Economia Solid -se ção da s ção entre trabalho e posse dos meios de produção, de modo que o capital da na nega epara empresa deve pertencer aos que nela trabalham. ária é uma resistência ao estrangulamento Defendemos a proposta de que a economia solid à desrregulação da economia q financeiro e ue veiculam desemprego e subemprego em massa. ômicas organizadas e realizadas Assim, deve ser entendida como o conjunto de atividades econ ão. por trabalhadores coletivamente e por meio da autogest – Em aspectos concernentes a Geografia e ao desenvolvimento local seja por meio da ão – á o fato de que, como uma das grandes conseqüências desta Economia Solidaria ou n est ômica percebemos a intensa evasão populacional de trabalhadores que migram realidade socioecon á, v. 1, n. 1 , p. Revista Percurso - NEMO Maring 49-64, 2009

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ípios periféricos para os médios e grand dos munic es centros urbanos motivados, principalmente, ões rurais. pela falta de emprego nas suas cidades e regi écadas de 1960 e 1970 vivenciaram uma desenfreada evasão No caso brasileiro, as d ório do campo para cidade. Já no qu populacional num intenso fluxo migrat e diz respeito ao caso écadas posteriores, a partir dos anos 70, desencadeado, paranaense, este processo realizou-se nas d ção do capitalismo no campo. üentemente principalmente, pela inser Conseq , o pequeno produtor üências des foi o que mais sofreu as conseq te processo. ções na economia agrícola brasileira percebemos, ainda Como reflexo destas transforma úmero de hoje, em muitas cidades localizadas no interior dos estados brasileiros, um grande n trabalhadores subempregados e/ou desempregados que buscam uma nova alternativa nos maiores centros, realizando uma intensa mobilidade populacional.

Entretanto, na atualidade esta mobilidade de trabalhadores para as maiores cidades ocorre ão devido a uma política de “industrialização do campo” como visto na década de 19 “mas n 70, ítica econômica que proporcione a esse trabalhador uma principalmente por falta de uma pol ção de renda seja no campo ou na cidade...” (SANTOS; ROCHA, 2008 p. perspectiva de obten ão direcione o trabalhador a migrar para um á 07), um novo caminho que n grande centro j íduos que buscam oportunidades. saturado de indiv ípios de Economia Solidária baseiam Percebemos, claramente, que estes princ -se numa ão ção para o desemprego, ou seja, uma forma de geração de proposta n -capitalista como solu ção na economia de mercado, criando renda baseado numa oportunidade real, de inser “Essas ações em pequenas cidades podem oportunidades por meio do desenvolvimento local. “frear” o processo de deslocamento populacional para os gerar empregos, aumentar a renda e ção” (SANTOS et al, grandes centros, proporcionando melhoras na qualidade de vida da popula 2008, p. 08). ão peças Diante do exposto, vale ressaltar que a coletividade e o associativismo s ção, promovendo o desenvolvimento local e/ou fundamentais neste tipo de organiza regional por çam estas premissas. meio de potencialidades produtivas que favore

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3. VALORIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR E POTENCIALIDADE PRODUTIVA EM BRAGANEY-PR.

ípio de Braganey está localizado na mesorregião Oeste paranaense, integrante da O munic ão de (Figura 01). Trata ípio relativamente novo, cuja microrregi -se de um munic ção política aconteceu em 1982 e a instalação no ano seguinte. Porém, a colonização emancipa deste lugar iniciou-se por volta dos anos 1950, principalmente por colonos advindos de Santa á naquele momento, pretendiam desenvolver práticas agrícolas na região Catarina, os quais, j às condições físico áficas, como a fertilidade do solo intemperizado das rochas devido -geogr álticas e o clima subtropical úmido mesotérmico, marcado ões quentes e tendência de bas por ver índices pluviométricos, somado a invernos com geadas pouco freqüentes, embora com altos édia inferior a 18º C), sem estação seca definida. baixas temperaturas (m

Figura 01 – Localização do Município de Braganey na mesorregião Oeste do Paraná (2009) Fonte: IBGE, 2009

ício a prática cafeeira foi o cultivo predominante daquelas terras no intuito de auferir No in ão entre outros produtos, que garantiam a lucro. Paralelamente era cultivado milho, trigo e feij ência daquelas famílias (IBGE, 2009). subsist

Contudo, ao longo do desenvolvimento destes cultivos da terra, mais precisamente na écada de 1970, o Paraná como um todo e, neste contexto também a região de Braganey, d ção conservador vivenciou o processo da moderniza a da agricultura. Esta, por sua vez, trouxe

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ções nas estruturas de produção, desde a inserção de técnicas e significativas transforma ções de trabalho e de produção, até alterações na pauta de produtos e na tecnologias nas rela ária. estrutura fundi ções, pequenos produtores que conseguiram sobreviver têm, na Mediante estas altera atualidade, sofrido dificuldades de se manterem na terra devido ao baixo custo de valor agregado ções e a dificuldade de geração de renda. Isto significa um entrave para em suas produ se manterem em suas propriedades, ocasionando uma relativa mobilidade populacional para as maiores cidades. ção delicada, com crescimento A Figura 02 demonstra como Braganey se encontra numa situa ção absoluta. Tal quadro revela a con ção da demanda por fontes de negativo de sua popula di ção de emprego e renda naquele município no intuito de minimizar este fato, procurando fixar gera ço. Segundo o IBGE o município possuía, no ano de 2007, um total de 6044 o homem naquele espa ço rural. habitantes, sendo que a maioria (55%) habitava o espa

Figura 02: Evolução da população de Braganey – PR (1991-2007) Fonte: IBGE, 2009

ípios com médio Segundo o IPARDES (2005), Braganey integra o grupo dos munic -baixo ômico. De uma forma g grau de desenvolvimento econ eral

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ão municípios agrícolas e pobres, cuja receita municipal per capita s tem ínimo de R$ 284,90; seu valor m apresentam taxas negativas de ção total, baixa densidade demográfica, a crescimento da popula é representativa e alcança cerca agricultura familiar de 41,54% dos ocupados na agricultura (IPARDES, 2005, p. 18).

ário 1995/1996, 87% dos estabelecimentos agropecuários de Segundo o censo agropecu óprios proprietários, com o predomínio de médias e Braganey eram administrados pelos pr grandes propriedades, mas com significativa representatividade das de pequeno porte, sendo que ão entre aqueles com menos de dez hectares. No que concerne ao 13% dos estabelecimentos est é considerado bom, 35% regular e 30% impróprio para lavouras. uso potencial do solo, 35% ários, num total de 31.064 Atualmente Braganey possui 791 estabelecimentos agropecu hectares. Destes estabelecimentos, 79 exercem agricultura de culturas permanentes e 655 culturas árias. Quanto a área plantada, são 422 e 14.744 hectares, respectivamente. ém destas tempor Al áticas, também há pastagens naturais (364 estabelecimentos e 8262 hectares) e matas e florestas pr ão (438 estabelecimentos e 4575 hectares). Vale ressaltar que estas formas de uso do solo s desenvolvidas simultaneamente em mais de um estabelecimento. (IBGE, 2009) à estrutura fundiária dos estabelecimentos Percebemos que Braganey tem, no que tange ários, um predomínio de médios e grandes proprietários, mas com hegemonia de agropecu árias, seguida pelas pastagens naturais. “Braganey culturas tempor caracteriza-se mais pelos édios e grandes produtores, notando árias dividem espaço com as m -se que as lavouras tempor ” (IPARDES, 2005). pastagens plantadas á, entre as práticas agrícolas de Braganey, um total de 2166 Importa considerar que h ção. Destes, 85% (1836) representam mão trabalhadores envolvidos na produ -de-obra familiar e ão trabalhadores assalariados. (IPARDES, 2009) apenas 15% (330) s ícola possui uma significativa representatividade para a economia local, O setor agr ário (50%). Neste auferindo 48% do PIB municipal, sendo superado apenas pelo setor terci é mister mencionarmos que dentre os produtos cultivados, os que merecem destaque contexto, ão a soja, o milho e o tomate. s ática da olericultura no município de Braganey é relativamente intensa, A pr da qual ção de tomate que alcançou no ano de 2007 um total queremos, neste trabalho, destacar a produ

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área de 93 hectares e rendimento de 4.635 toneladas e uma renda bruta de R$ 4.635.000,00, numa édio de 49.838 quilos por hectare, sendo superada em fonte ícola para o município m de renda agr apenas pela soja, pelo milho e pelo trigo (IPARDES, 2009). ém, este tipo de cultivo apresenta alto grau de pereciabilidade, sendo que, por safra, as Por ípio podem chegar a novecentas toneladas, representand perdas do munic o uma percentagem entre É neste sentido que, em 2008, a Universidade Tecnológica Federal 30 a 50% do total produzido. á, em parceria com a Prefeitura municipal de Braganey e financiamento da Fundação do Paran ária, lançaram o projeto intitulado “Valori ção da agricultura familiar por meio de Arauc za ícios e aumentar a produtividade dos produtores de tomates da alternativas para diminuir desperd ”, no intuito de melhorar a renda dos produtores. cidade de Braganey-Pr.

4. ALTERNATIVAS PARA A GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA EM BRAGANEY

ípio de Braganey e os olericultores produtores de tomate nasceu da O interesse pelo munic ção em ver um município periférico em situação de crescimento negativo da população inquieta índice de pessoas e famílias em ção de pobreza: 3.418 e 858, absoluta, somado ao alto situa çando o surpreendente índice de mais de 50% da população total respectivamente, alcan apud (IPARDES 2000, IPARDES 2009). úne aproximadamente trinta produtores em No que tange a este produto, Braganey re área de dois três a dez hectares, sendo que a produção chega a propriedades que possuem uma ém, como ressaltamos anteriormente, há uma perda 4.400 caixas/ha (25 kg/cx) por safra. Por ção. significativa deste total de produ É neste sentido que o projeto veiculado pelos órgãos supra mencionados intenta auxiliar os olericultores de tomate por meio de alternativas de produtos a serem desenvolvidos utilizando ífico da área de alimentos. Em outras palavras, tecnologias associadas ao conhecimento cient trata-se do desenvolvimento e processamento de novos produtos derivados do tomate, éria é descartada, ou seja, se inserem na porcentagem privilegiando a mat -prima que normalmente das perdas das safras. é plausível considerar que foram realizadas Durante o desenvolvimento deste projeto, árias atividades com os olericultores de tomates de Braganey (embora o projeto ainda esteja em v

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– ão intervenções que se realizam no intuito de minimizar as andamento Jan/2009 a Abr/2010). S üências das perdas e procurar meios de aumentar a renda e a g ção de empregos, conseq era ção do município colaborando, assim, contribuindo para uma melhor qualidade de vida da popula ória e o conseqüente índice de crescimento negativo da para diminuir a mobilidade emigrat ção daquele município. popula édio ão refletir numa contribuição Entendemos que, em m prazo, estas iniciativas poder ômico de Braganey por meio de políticas econômicas que, para o desenvolvimento social e econ ão se relacionem diretamente com a Economia Solidária, possuem similitudes com este embora n ção e prática econômica, promovendo o desenvolvimento sustentável pelas modelo de organiza ômica. esferas ambiental, social e econ ção no modelo produtivo dos olericultores de Braganey iniciou Desta forma, a interven -se ção junto ões periódicas, os por meio de uma tentativa de conscientiza aos produtores. Em reuni ípio foram convidados a participar do projeto juntamente com produtores de tomate do munic ípio. É mister profissionais e bolsistas, somados a servidores municipais daquele munic índice de participação das reuniões mensais se aproxima dos 100% de adesão, mencionar que o ções de onde os agricultores e familiares (esposas e filhos) participam e recebem novas instru ção do trabalho na terra, bem como recebem formação por meio de palestras e valoriza ásicos de higiene e manipulação treinamento em aspectos condizentes, por exemplo, a conceitos b ção da importância da mobilização dos produtores para de alimentos, bem como de conscientiza ções de trabalho e comercialização. auferirem melhores condi ões, consta Durante estas reuni tou-se que 53% dos agricultores possuem entre 41 e 50 anos ém disso, uma pesquisa revelou que 42% anseiam de idade e ensino fundamental incompleto. Al ência técnica, 31% por cursos voltados ao manejo adequado, seguido por 16% que por melhor assist ção na área de cultivo e apenas 5% para a formação de uma associação, enquanto deseja forma ão souberam opinar. Isto vem reforçar a demanda por uma mobilização que permeie, além outros n écnicas de produção, a conscientização da necessidade e vantagens de uma ass ção de das t ocia ção de compra de mercadorias e venda do produtores, o que poderia indicar uma melhor condi produto final. ído por meio destas informações, os profissionais Diante do quadro que foi constru ílias. Para tanto, envolvidos neste projeto iniciaram as atividades junto aos produtores e suas fam

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ém da entrevista com os olericultores, uma pesquisa de num primeiro momento realizou-se, al ções acerca das principais formas mercado junto a consumidores, no intuito de auferirem informa de consumo do tomate, bem como do conhecimento de outras alternativas e possibilidades de ção consumo. No trabalho desenvolvido por Butzke et al (2009), constatou-se que 73% da popula in natura consomem o produto , 19% na forma de molho e apenas 1% em extrato. Por outro lado, ém que os consumidores vêm com bons olhos a possibilidade de adquirirem verificou-se tamb ência. produtos como vinagre, doce e bala de tomate, numa respectiva ordem por prefer ções, os envolvidos no projeto passaram a desenvolver ações de De posse destas informa ção junto às famílias dos olericultores. Num primeiro momento, foram elaborados nas interven ções da UTFPR (laboratórios e cozinha experimental), sob a supervisão de professores e instala écnicos e com o auxílio de alunos e estagiários, os primeiros experimento ção de t s da produ éia de tomate com cravo e canela e balas de tomate (Figura 04). compota de tomate com coco, gel érie de análises, tais como físico ímicas e estatísticas, Nestes experimentos foi realizada uma s -qu ém da degustação por pessoas aleatórias e s ínculo com o projeto (testes sensoriais). Quando al em v çaram o índice de aprovação na ordem de 70%, estes novos produtos estes experimentos alcan ção e cursos junto às famílias dos produtores de tomate de Braganey, passaram a ser pauta de forma principalmente as esposas e filhas dos produtores. (Figura 03)

Figura 03 – Esposas e filhas de olericultores em formação e treinamento na cozinha experimental da UTFPR (2009)

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Figura 04 – Compota e bala de tomate: produtos alternativos desenvolvidos na cozinha experimental da UTFPR (2009)

ência um pouco maior no que Importa considerar que, embora com um grau de exig ém foi desenvolvido nos laboratórios da condiz aos testes e desenvolvimento de produtos, tamb à base de tomate, o sorvete “tomatada cascão”. Estes produtos, UTFPR o vinagre de tomate e a ão estejam sendo desenvolvidos junto aos produtores de Braganey, é uma embora ainda n ção de emprego e renda, porém demandando por investimentos de maior possibilidade de gera volume.

Motivados pelos primeiros resultados deste projeto, os olericultores de Braganey ções de trabalho e, com o apoio da UTFPR e da prefeitura passaram a reivindicar melhores condi ês de Junho (2009) a Associação dos Tomateiros de municipal, se organizaram e formaram no m ção e a continuação e desenvolvimento do Braganey - ASTOB. Para o funcionamento da associa ções de uma escola municipal para projeto, a prefeitura municipal disponibilizou antigas instala ções se concretizem. que as a ço de processame á Somado a isto, a planta piloto do espa nto de derivados de tomate est sendo discutida com uma equipe multidisciplinar, contemplando profissionais de engenharia civil ólogo em alimentos) que, em conjunto com a e arquitetura e de alimentos (nutricionista e tecn ância Sanitária ípio, buscam adequar as instalações do local. Para Emater e com a Vigil do munic ção de equipamentos, a Fundação Araucária destinou um montante de R$ 21.000,00 que a aquisi ão em processo licitatório, conforme prerrogativas do projeto inicial. est ções desenvo ílias, nota No bojo destas a lvidas junto aos olericultores e suas fam -se, ão social do trabalho, onde os homens são os maiores responsáveis portanto, uma relativa divis á, v. 1, n. 1 , p. Revista Percurso - NEMO Maring 49-64, 2009

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ção do cultivar de tomate e pela organização e planos de desenvolvimento da pela produ ção; enquant ão incumbidas da produção alternativa de alimentos à base de associa o as mulheres s éia e balas, além dos possíveis vinagre e tomate como os supracitados, a saber, compota, gel sorvete.

5. À GUISA DE CONCLUSÃO

É mister perceber que a agricultura familiar parana ense, e de forma peculiar aquela íticas de inovação e incentivo de formada pelos olericultores de Braganey, demanda por pol ção de culturas temporárias. Que pese neste momento considerar o valor social e produ ômico deste tipo de propriedade, responsável ção das pessoas e pela geração da econ pela alimenta ís. maioria dos empregos rurais do pa à alta porcentagem de perda de suas O cultivo do tomate requer cuidados especiais devido ções, que pode chegar, conforme a sazonalidade, ao índice de 50%. Desta fo produ rma, desenvolver écnicas e possibilidades de geração de emprego e renda à estes produtores pode garantir melhores t ções de sobrevivência à suas famílias, bem como reforçar seus laços com a terra. Somado a condi ções tendem a contribuir para a s ípios que dependem destas isto, estas a ustentabilidade dos munic áticas agrícolas, sinalizando para melhores condições de trabalho e comercialização de suas pr ções. produ É neste sentido que o presente projeto apresenta algumas alternativas de desenvolvimento

íticas da economia solidária. Assim, o incentivo à produção local que possuem similitudes com pol ção das pessoas envolvidas no segundo as potencialidades produtivas locais, somado a capacita ém diss processo podem ser determinantes para o sucesso do empreendimento. Al o, a ção social da importância das ações serem desenvolvidas na forma de associação conscientiza ção ser marcada pelo sucesso e conseqüente alcance dos aumenta a possibilidade desta interven é objetivos pr -estabelecidos. é nítido que os resultados ão ainda parciais e demandam por novas e intensas Por fim, s ções voltadas, entre outros, à conscientização de cidadania e pertencimento territorial, além da a ções de mercado e cooperativismo. Somado a necessidade de ampliar o conhecimento sobre no é relevante ção destes trabalhadores no que condiz à isto, a necessidade de constante forma écnica de manipulação e industrialização dos produtos derivados de tomate. Porém, o desafio t – á, v. 1, n. 1 , p. 49 Revista Percurso NEMO Maring -64, 2009

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ípio de Braganey e que se fa consiste na tentativa de reverter o quadro instaurado no munic z ípios periféricos com as mesmas características por meio de realidade em muitos outros munic ão se esgotam nas aqui mencionadas. Ao contrário, o intuito é instigar novos iniciativas que n ção de produtos e derivados segun projetos que visem otimizar a produ do potencialidades ípios produtivas locais, colaborando para o desenvolvimento local, principalmente dos munic éricos, auferindo condições de sustentabilidade urbana. perif

REFERÊNCIAS

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