“Outro retrato do Brasil: cultura e história na obra crítica de Otto Maria Carpeaux” Maurício Barreto Alvarez Parada

Nascido Otto Karpfen, de pai judeu e mãe católica, Carpeaux cresceu e se educou na cosmopolita Viena das primeiras décadas do século XX, quando a cidade estava mergulhada numa das maiores crises de sua história. Residiu em Viena até março de 1938, quando foi obrigado a fugir para escapar da perseguição nazista, por ocasião da anexação da Áustria pela Alemanha.1 Segundo Mauro Souza Ventura, como a maior parte dos filhos da burguesia judaica de Viena, Otto Karpfen foi mandado à universidade para obter seu título de doutor. Na Universidade de Viena, freqüentou cursos de filosofia e de química, formando-se em 1925, depois de defender tese sobre experiências físico-químicas no laboratório da fundação Spiegler de Viena.2 Concluídos os estudos, Karpfen abandonou sua formação científica para estudar filosofia em , Literatura Comparada em Nápoles e Sociologia e Política na Escola Superior de Política em Berlim. Nessas metrópoles, o jovem Karpfen viveu seus anos de formação. Seus primeiros textos, possivelmente teses universitárias, não chegaram a ser publicados. Tratam de temas como do pensamento católico – Catholicisme et Nationalisme em France. Une étude sur les relations entre doctrine et action, de 1930; de literatura alemã – Die protestantische und die Katholische Konfession in Ursprung und Entwicklung der modernen deustchen literatur, de 1931; do pessimismo histórico do Barroco – Der Begriff Krise und der historische Pessimismus un der Literatur des Barock, de 1932; e da literatura austríaca no século XIX – Von Grillparzer bis Hoffmannstahl. Ein Jahrhundert österreichischer Literatur, de 1933.3 A conversão de Otto Karpfen ao catolicismo data provavelmente do início dos anos 1930. A incorporação do nome “Maria”, quando da publicação seu livro sobre teologia, Wege nach Rom (Caminho para Roma), seria um sinal dessa conversão. Assim, como muitos intelectuais e artistas de sua geração, Karpfen possuía ancestralidade tanto judaica como católica, o que significava conviver com concepções

1 SCHORSKE, Carl. Viena Fin-de-Siecle. São Paulo: Cia das Letras, 1998. 2 VENTURA, Mauro Souza. De Karpfen a Carpeaux. : Topbooks, 2002. 3 Idem, p. 243. O autor informa que esses textos ainda não foram encontrados, apesar de existirem referências a eles. de mundo bastante diferentes. Ao contrário de muitos, manteve-se fiel ao conservadorismo católico e distante do liberalismo da comunidade judaica austríaca. Outro traço que o distinguia da geração precedente, era seu engajamento político. Enquanto para a geração de Zweig, o ideal de vida estava no esteticismo e no culto absoluto da arte, para o jovem Karpfen, o engajamento político e o questionamento moral e religioso tornaram-se parâmetros de vida.4 Com o advento do nacional-socialismo na Alemanha e na Áustria, Karpfen passou a atuar firmemente em defesa da independência de seu país em órgãos de imprensa católicos, como a revista Der christlische Ständestaat. Aos poucos, transformou-se em um ideólogo da vertente social-cristã, cujo ápice foi seu engajamento no governo de Engenbert Dollfuss. Em 1938, com o Anchluss, Carpeaux refugiou-se, primeiro, na Antuérpia, onde encontrou trabalho no Gaset Van Antwerpen, o maior jornal belga de língua holandesa. Em 1939, em face do avanço das tropas hitleristas, abandonou a Bélgica e, na condição de imigrante, veio para o Brasil. Durante a viagem, de navio, a guerra teve início na Europa. Ele e sua mulher, a cantora lírica Helena, desembarcaram em 1939 com uma bagagem de livros raros e um pedido de asilo do papa Pio XII ao intelectual católico Alceu Amoroso Lima, que o acolheu. Em menos de um ano, Karpfen – agora Otto Maria Carpeaux – aprendeu a dominar o português, adotando o Brasil como seu habitat intelectual, a ponto de se naturalizar em 1944. Foi no jornalismo que Carpeaux encontrou seu ganha-pão regular e onde conquistou admiradores e amigos, de Aurélio Buarque de Holanda a , de Franklin de Oliveira a Álvaro Lins, de Antonio Callado a Alceu de Amoroso Lima e Carlos Drummond de Andrade. Foi também na imprensa que se envolveu em algumas polêmicas e publicou boa parte de seus artigos e ensaios. Uma dessas polêmicas revela alguns aspectos da relação do crítico literário com o cerne do movimento modernista brasileiro. Em 1943, diversos intelectuais, muitos deles alinhados ao movimento modernista, assinaram um manifesto de repúdio a Carpeaux, com a acusação de colaborador do nazismo. O fato que provocou essa manifestação foi um obituário do escritor Romain Rolland, assinado por Carpeaux, na qual ele faz uma avaliação pouco elogiosa da obra do autor do ciclo romanesco Jean-Christophe. Rolland era um defesor da posição pacifista dentro da Europa, desde a publicação de Au-dessus de la mêlée em 1915, e tido em alta conta por

4 Ibidem, p. 25. parte dos setores modernistas no Brasil. A resposta ao texto de Carpeaux, na forma de um manifesto, foi contundente. Entre os signatários do documento, estavam Mário e Oswald de Andrade, Guilherme Figueiredo e Carlos Lacerda. A obra de Otto Maria Carpeaux, mesmo que construída no universo irregular da escrita jornalística, está longe se ser uma obra fragmentária. Pelo contrário, existe uma organicidade que a perpassa. Nos seus primeiros escritos – A Cinza do Purgatório (1942), Origens e Fins (1943) –, já se podem encontrar os temas e recursos fundamentais de Carpeaux, mais tarde aplicados na elaboração de sua História da

Literatura Ocidental, escrita em 1944-45, mas só publicada no final da década de 1950. Carpeaux construiu uma obra marcada pela compreensão daquilo que Goethe denominou de Weltliteratur, ou seja, literatura mundial. Mas, diferente do escritor alemão, Carpeaux não acreditava numa literatura única, em que as particularidades das expressões nacionais fossem desaparecendo sob o manto de um único sistema literário. Literatura mundial não seria também a totalidade da produção literária, mas um estágio superior a que somente as obras-primas poderiam pertencer. Seria composta por obras que ultrapassariam os limites do tempo e do espaço, e assumiriam o que Carpeaux denominava de “universalidade do símbolo”. Podemos entender melhor essa formulação em uma passagem da segunda parte de A Cinza do Purgatório, intitulada Interpretações, em que o autor afirma:

“A literatura universal chega ao cume na criação daquelas personagens típicas, representantes simbólicas da humanidade: Dom Juan e Fausto, Hamlet e Dom Quixote, Édipo e Till Eulenspiegel. Ousamos juntar- lhes, apenas Sir John Fallstaff, o marujo Robinson Crusoé, o farmacêutico M. Homais, o estudante Raskolnikov, e poucos outros; pois, nestes últimos casos, a nacionalidade e a época já limitam a universalidade do símbolo. Mas aqueles permanecem como criações de tanta validade universal, de tanta substância humana, que atravessam todos os limites do tempo e do espaço.”5

Nesse trecho encontramos algumas sugestões para entender a concepção de Carpeaux sobre arte, literatura, nação e, por conseguinte, sua concepção de mundo.

5 CARPEAUX, Op cit, p. 116. Não sendo propriamente um teórico, Carpeaux era um rigoroso crítico e historiador das narrativas literárias. Alinhado a uma tradição iniciada pelos críticos humanistas alemães e italianos dos primeiros decênios do século XX. Para Carpeaux, o importante era compreender os fenômenos humanos e sociais, buscando-se para isso não as causas, mas a intenção e o sentido subjacentes a eles. De forma singular, mas muito conseqüente, Carpeaux parece querer conjugar essa busca de sentido no texto literário com seus estudos em política e sociologia. Tanto na História da Literatura Ocidental quanto nos ensaios e artigos, encontramos uma preocupação com o cruzamento entre a intenção da escrita com suas referências históricas e sociológicas – as nações, as classes sociais ou grupos de opinião. Para Carpeaux, nenhuma arte se esgota ou se limita à corrente ou classe social que a produziu, mas ao mesmo tempo não seria compreensível sem elas. No entanto, mesmo que sua análise valorize o “contexto”, Carpeaux não cede na sua tradição croceana: a obra é arte porque não se reduz às condições materiais de sua produção. Como grande arte, a obra representa uma civilização e, como tal, pode incorporar-se ao fluxo da história. Em Carpeaux, o romance é indissociável da teoria da história ou da sociologia. Existe em seu entendimento uma totalidade que não distingue o pensamento analítico do processo ficcional. Em um texto sobre , ele afirma:

“Max Weber é uma natureza de artista; prova viva da teoria de Croce – que não há fronteiras definidas entre os gêneros, entre a historiografia e o romance. Weber é artista, mas o é mau grado seu.”6

O ato de leitura crítica seria, portanto, fruto do cruzamento do uso dos conceitos com a sensibilidade artística. História, sociologia, psicologia, filologia, biografia e poética convivem lado a lado em suas leituras e são utilizadas pelo interprete/crítico na medida de sua necessidade. Cada obra solicita um determinado tipo de abordagem. A rigor, seu objetivo sempre foi abordar os diferentes aspectos do único tema digno de ser conhecido: a universalidade da obra de arte. Com isso, temos de volta uma questão colocada ao longo dessa apresentação: como um intelectual com essa tradição de pensamento negociou sua aproximação com os meios intelectuais hegemônicos em seu local de exílio? Interpretar Carpeaux e, por conseguinte, compreender o seu retrato do Brasil.

6 Idem p 242 Tem sido uma constante nos prefácios a reedições das obras de Carpeaux, em resenhas recentes ou mesmo em textos memorialísticos de velhos jornalistas, a referência a duas peculiaridades sobre sua obra. De um lado, a sua monumentalidade, ou seja, a vastidão de sua produção tanto como jornalista como ensaísta. Bastaria citar os sete volumes da História da Literatura Ocidental e os mais de 500 ensaios para se ter a dimensão mencionada nesses relatos. Ao mesmo tempo, há uma unanimidade em se afirmar que, após a morte de Carpeaux, em 3 de fevereiro de 1978, sua obra caiu no esquecimento. Em 1968, Carpeaux foi acusado de infringir o artigo terceiro da Lei de Segurança Nacional, que tratava da subversão da ordem pública, por escrever um artigo sarcástico intitulado “FMI: fome e miséria internacionais”, por causa dele foi convocado à Polícia Federal para prestar depoimento e esclarecer suas posições. Em outra ocasião, dias após ser paraninfo dos formandos da Faculdade Nacional de Filosofia, em fevereiro de 1969, foi preso por algumas horas devido ao conteúdo do seu discurso pronunciado na cerimônia de formatura. Como opositor ao regime militar, seu “apagamento” pode ter começado mesmo antes de sua morte. É recorrente a menção de críticos e estudiosos ao fato de que, apenas no final dos anos de 1990, a obra de Carpeaux voltou a ser valorizada. Em 1999, seus trabalhos começaram a ser reeditados. O projeto editorial era ambicioso e incluiria três volumes de ensaios, um de obras históricas, dois de escritos políticos e quatro volumes sobre a história da literatura ocidental. Esse projeto deixaria de lado as obras do período europeu, os volumes sobre história da música e, provavelmente, muitos artigos dispersos publicados na imprensa diária. É inegável, portanto, que muito ainda há de se pesquisar sobre a obra de Carpeaux. Mesmo com o cuidadoso trabalho de Mauro de Souza Ventura, publicado em 2002, é indiscutível que a obra “monumental” de Carpeaux oferece muitos recantos para a exploração e para estudo. Para além do desejo de ser um explorador curioso – procedimento que, creio estar no cerne de toda pesquisa e no centro do ofício do historiador –, gostaria também de retomar um argumento que estava presente na apresentação desta comunicação: Carpeaux nos oferece outro olhar sobre o Brasil e sua inserção na civilização ocidental. A partir da sua obra, seria possível pensar outra idéia de nação brasileira, não apenas um território de trânsito de pesquisadores e exploradores, mas também local de fuga e acolhimento. Essa comunidade de exilados, da qual Carpeaux é um caso raro e especial, deve também ser estudado por ter oferecido novas possibilidades para o desenvolvimento do projeto moderno brasileiro. Carpeaux gabava-se de ter sido o autor do primeiro ensaio sobre Kafka escrito no Brasil. Nas condições em que o modernismo brasileiro se colocava nos anos de 1940, Carpeaux parecia colocar no centro da sua argumentação algumas questões que seriam importantes para o desenvolvimento do conceito de moderno no Brasil dali em diante. Sua obra insere no debate um princípio de universalidade, que mesmo que presente em alguns casos no modernismo literário, foi na sua forma geral suplantada pela ambição em construir um singular nacional. Com a geração de modernistas de 1945 podemos ver um esgotamento do modelo “andradiano”, no entanto, o modernismo não morreu com Mário de Andrade. Marcada pelo término da Segunda Guerra, pelo fim do Estado Novo, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, tornou-se o objetivo básico desta geração. O conceito de moderno não morreu, mas sim, se refez e se reconstituiu. Considerando que a escrita de Carpeaux foi encaminhada para a renovação e não conduzida pela perda, é importante considerar, em um estudo sobre este crítico e historiador da literatura, quais foram suas estratégias para negociar sua inserção no mundo intelectual que o recebeu. Por certo, como militante católico, sua primeira rede de relações deve ter sido montada em torno da intelectualidade católica. Isso nos leva a pensar como se deu a relação de Carpeaux com os círculos modernistas e mesmo se havia interesse em se aproximar desses intelectuais. Enfim, Carpeaux contribuiu para reforçar o projeto moderno corrente no Brasil dos anos de 1940 ou construiu outra possibilidade de inserir a nação e a cultura e no fluxo da civilização ocidental, sem compartilhar dos mesmos pressupostos da “tradição” modernista? Se a hipótese da originalidade do pensamento de Carpeaux, sugerida acima, se confirmar, temos duas questões a tratar. Uma delas é perceber em suas obras a existência, ou não, de uma teoria da história, de uma consistente concepção de ocidente e de uma idéia de nação que se articule com as duas primeiras. Carpeaux não parece ter evitado essas questões em seus ensaios. Cito, a título de exemplo, os trabalhos sobre Jacob Burckhadt, Max Weber, Croce, Vico e Erasmo, publicados em A cinza do purgatório e em Origens e Fins. Ao mesmo tempo, cabe estudar a última parte de Origens e Fins, em ele que analisa alguns aspectos da produção literária brasileira. Trata-se de acompanhar a sutileza com que Carpeaux construiu a ponte entre a literatura/nação brasileira com a cultura ocidental. Nessa seção, ele dedica seus estudos a Drummond, Graciliano Ramos, Portinari, Álvaro Lins e fecha o livro com um pequeno trabalho que ele denomina de “Tradições Americanas”, dedicado a Gilberto Freyre. Ao que parece Carpeaux em seus primeiros escritos propôs uma negociação entre nação e a civilização através da literatura e da arte. Tendo como horizonte a tradição ocidental, sua concepção de cultura e história permite vislumbrar um retrato do Brasil, que não se constrói pela exacerbação da nossa singularidade, mas pela nossa inclusão no fluxo intelectual da sociedade ocidental. Podemos observar isso em um de seus ensaios. Em 1943, ele publicou uma coletânea intitulada Origens e Fins. Em uma de suas passagens, o autor faz uma análise do trabalho do crítico literário Álvaro Lins e fornece uma lúcida interpretação de sua condição de exilado:

“O Sr. Álvaro Lins é o crítico da crise das letras brasileiras. Falando em “crise”, não pretendo denunciar, evidentemente, agonias mórbidas, mas ao contrário, transições fecundas atormentadas pelas dores do parto duma nova época dessa literatura brasileira que eu acho, desde já, uma parte integral e importante da literatura universal. E falando sobre as letras brasileiras, estou-me servindo da autorização que a autoridade do Sr. Gilberto Freyre me conferiu, quando falava, outro dia, da minha “integração na nossa vida intelectual”. [...] A literatura é a expressão máxima da vida espiritual de uma nação; sobretudo nas civilizações jovens, onde ela representa o lieu geometrique de todas as atividades intelectuais. A literatura é a via regia para a compreensão de uma nação. acho que um intelectual recebido num país estrangeiro não tem o direito de aproveitar-se desta hospitalidade sem o dever, dever muito rigoroso, de interessar-se profundamente pela literatura desse país, até às últimas possibilidades de compreensão.7

7 CARPEAUX, Otto Maria. A cinza do Purgatório. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1942, p. 458. Essa citação consta de uma seção denominada, não por acidente, No Mundo Novo e, acredito, torna claras duas questões que mobilizam esta pesquisa. A primeira é que uma vez se definindo como um intelectual estrangeiro em processo de aproximação a outra cultura, Carpeaux se coloca como tendo deveres e obrigações para com ela. É interessante ver, em segundo lugar, que aparece como um dever “rigoroso” do exilado, acolhido no novo mundo, a compreensão da relação nação/literatura na sua profundidade local. Aliás, a literatura como expressão máxima da nacionalidade torna- se, nesse caso, o acesso privilegiado a especificidade da civilização que se busca compreender. Não significa, com isso, deslumbrar-se com sua singularidade, antes ao contrário, trata-se de, ao entendê-la, incorporá-la ao fluxo da civilização ocidental. Carpeaux pensa a relação literatura/nação brasileira como parte de uma história universal da qual faz parte a Espanha de Lorca, a Itália de Croce etc. Considerando as narrativas que tratam da condição do exílio, a auto-definição de um “estrangeiro com um dever a cumprir” não é a mais comum. Carpeaux parece querer encontrar para si um lugar de vitória pessoal, de superação da perda trágica que o exílio impõe. Ainda há uma segunda questão derivada da proposição inicial. A inserção de Carpeaux no mundo intelectual brasileiro se deu primordialmente através de sua atuação na imprensa, inicialmente como crítico literário e posteriormente ocupando postos importantes nas redações de jornais cariocas. Carpeaux compôs o mítico quadro dos intelectuais que trabalharam no Diário Carioca e, bem mais tarde, ocupou o cargo de editorialista do Correio da Manhã. Considerando apenas sua atuação como crítico literário, creio ser necessário investigar com mais cautela a hipótese sugerida por Mauro Ventura de que Carpeaux seria o elo de ligação entre uma geração de críticos culturais “amadores”, de formação autodidata, que estavam ainda muito presentes nos jornais da época, para uma nova geração de críticos que tinham uma formação mais “profissional” obtida na passagem pelo sistema universitário brasileiro. Carpeaux seria um híbrido, sem dúvida com significativa formação acadêmica, mas autodidata no aprendizado do português e com pouco conhecimento da história intelectual do país. Vivendo e produzindo como um híbrido cultural, Carpeaux existiu com intensidade no território de seu exílio. Universalista convicto e humanista de formação, para ele a história é construída por homens, e a modernidade não é uma condição atrelada ao nacional. Na contramão da tradição brasileira, preocupada com a especificidade de sua brasilidade, esse exilado pertencia à outra história, àquela que remetia, parafraseando Stefan Zweig, “aos momentos decisivos da humanidade.