UNIVERSIDADE DE ÉVORA

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

ACTORES, ESTRATÉGIAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL CONFLITOS E CONSENSOS NO MUNICÍPIO DE NO LIMIAR DO SÉCULO XXI

(I VOLUME)

TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM SOCIOLOGIA SOB A ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA DOUTORA MARIANA DE JESUS MARTINS DE TORRES VAZ FREIRE CASCAIS

ESTA TESE NÃO INCLUI AS CRÍTICAS E SUGESTÕES FEITAS PELO JÚRI

ANTÓNIO PEDRO SOUSA MARQUES

2006

ÍNDICE

RESUMO ...... IX

ABSTRACT ...... XI

ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS E GRÁFICOS...... XIII

FIGURAS ...... XIII QUADROS...... XIV GRÁFICOS ...... XVIII

AGRADECIMENTOS...... XXVII

INTRODUÇÃO...... 5

I PARTE...... 13

1 - TRAÇAR O OBJECTO DE INVESTIGAÇÃO...... 15

2 - AS ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS E ECONÓMICAS SOBRE O ESPAÇO ...... 19

2.1 - A ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA ...... 19 2.1.1. - A Sociologia Clássica ...... 19 2.1.2 - A Sociologia Espacial...... 20 2.1.3 - A Sociologia Urbana: seu desenvolvimento teórico...... 22 2.1.4 - A Escola de Chicago...... 23 2.1.5 - A Sociologia Urbana Britânica ...... 26 2.1.6 - O pós-Guerra e o declínio da Sociologia Urbana anglo-saxónica...... 30 2.1.7 - A Sociologia Urbana da Europa continental ...... 35 2.1.8 - Das críticas ao modelo à nova Sociologia Urbana...... 39 2.1.9 - A emergência da Sociologia do Território: ...... 44 Da construção do Espaço à construção do Território ...... 44 2.1.10 - O conceito de Território ...... 48 2.1.11 -Sociologia do Território - Novos olhares sobre velhas e novas questões: a análise dos territórios em mutação ...... 50 2.1.12 - Uma nova análise sobre as relações entre os espaços sociais rural e urbano...... 50 2.2 - A ABORDAGEM DA ECONOMIA ...... 58 2.2.1 - Da economia regional aos sistemas produtivos locais...... 58 2.2.2 - O Espaço homogéneo...... 60 2.2.3 - O Espaço polarizado...... 60

iii 2.2.4 - O Espaço da dependência...... 62 2.2.5 - O Espaço território...... 63

3 - ESPAÇO REGIONAL E ESPAÇO LOCAL

DA ANÁLISE DO SISTEMA À ANÁLISE DOS ACTORES ...... 67

4 - MUDANÇA SOCIAL, MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO ...... 69

5 - A SOCIOLOGIA FACE À GLOBALIZAÇÃO:

DAS TEORIAS CLÁSSICAS ÀS TEORIAS ACTUAIS ...... 73

6 - O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO...... 85

7 - OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃOTÉCNICA, ECONÓMICA

E FINANCEIRA ...... 107

7.1 - OS FLUXOS DE INTEGRAÇÃO ...... 107 7.2 - A FRAGMENTAÇÃO E/OU EXCLUSÃO...... 109 7.3 - A REDEFINIÇÃO DE FUNÇÕES...... 110

8 - DA CRISE GLOBAL ÀS ESTRATÉGIAS LOCAIS ...... 117

8.1 - DESENVOLVIMENTO REGIONAL...... 119 E DESENVOLVIMENTO LOCAL...... 119 8.2 - QUE INDICADORES PARA A ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO LOCAL?...... 124

9 - OS PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO E A ANÁLISE DO LOCAL ...... 129

9.1 - O EVOLUCIONISMO ...... 130 9.2 - O HISTORICISMO ...... 133 9.3 - O ESTRUTURALISMO ...... 135 9.4 - UMA NOVA PERSPECTIVA DE ABORDAGEM ...... 137

10 - IDENTIDADE, PERTENÇA E PARTICIPAÇÃO...... 141

10.1 - OS ACTORES NO SISTEMA DE ACÇÃO LOCAL: DA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE À PARTICIPAÇÃO NAS TOMADAS DE DECISÃO ...... 141 10.1.1 - A construção da identidade...... 141 10.1.2 - A participação ...... 149 10.2 - AS IDENTIDADES COLECTIVAS E AS CAPACIDADES DE ACÇÃO...... 151

11 - AS REPRESENTAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO:

PERSPECTIVAS DOS ACTORES...... 153

iv 11.1 – OS VÁRIOS TIPOS DE REPRESENTAÇÕES...... 153 11.1.1 - A representação optimista...... 153 11.1.2 - A representação centralizadora ...... 154 11.1.3 - A representação macroeconómica...... 154 11.2 -AS REPRESENTAÇÕES ALTERNATIVA DO DESENVOLVIMENTO:...... 155 PARTICIPAÇÃO E CONSCIENCIALIZAÇÃO DOS ACTORES ...... 155 11.2.1 - A acção para o desenvolvimento ...... 156 11.2.2 - Diversidade de actores e de lógicas de acção...... 157 11.2.3 – As hipóteses de investigação ...... 165

12 - FORMAS DE ORGANIZAR E GERIR O TERRITÓRIO ...... 167

12.1 - URBANISMO E PLANEAMENTO URBANO...... 169 12.2 - TEORIAS DO URBANISMO...... 172 12.2.1 - O Pré-urbanismo...... 173 12.2.2 - O “urbanismo funcional” da primeira metade do século XX ...... 175 12.2.3 - O urbanismo racional do pós-Guerra...... 179 12.3 - PLANEAMENTO ESTRATÉGICO: ...... 182 ACÇÃO E/OU RECONCILIAÇÃO ENTRE ACTORES ? ...... 182 12.3.1 - As Correntes do Urbanismo: do pós-Guerra aos nossos dias ...... 182 12.3.2 - O Planeamento Estratégico: sua génese...... 185 12.4 - A METODOLOGIA DO PLANEAMENTO ESTRATÉGICO...... 187 12.4.1 - Operacionalização do Plano Estratégico ...... 189 12.4.2 - A Avaliação do Planeamento ...... 195

II PARTE ...... 199

13 - METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA EMPÍRICA...... 201

13.1 - A ANÁLISE DOCUMENTAL ...... 202 13.2 - A OBSERVAÇÃO DIRECTA SIMPLES ...... 203 13.3 - A ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DOS ACTORES DO MUNICÍPIO DE PALMELA...... 203 13.3.1 - A construção das variáveis ...... 205 13.3.2 - A escolha dos actores e a construção do guião da entrevista...... 213 13.3.3 - A aplicação do método MACTOR...... 216

III PARTE...... 225

14 - PLANEAMENTO URBANÍSTICO E ESTRATÉGIA DE ACTORES:

PARA ONDE VAI PALMELA?...... 227

14.1 - O PODER LOCAL EM : COMPETÊNCIAS E INTERVENÇÕES ...... 227

v 14.1.1 - Do Município romano à reconquista cristã ...... 227 14.1.2 - O período medieval...... 228 14.1.3 - Da reforma manuelina à revolução liberal...... 229 14.1.4 - O período liberal ...... 230 14.1.5 - A 1ª República ...... 232 14.1.6 - O Estado Novo...... 232 14.1.7 - A situação após a Constituição de 1976...... 235 14.1.8 - A participação dos Cidadãos ...... 239 14.2 - AS FIGURAS DE PLANEAMENTO...... 241 14.2.1 - O âmbito nacional ...... 246 14.2.2 - O âmbito regional...... 250 14.2.3 - O âmbito municipal...... 255 14.3 - AS PRINCIPAIS FIGURAS DE PLANEAMENTO NO MUNICÍPIO DE PALMELA...... 271

15 - DINAMISMO PRODUTIVO E IMPACTOS TERRITORIAIS NO

MUNICÍPIO DE PALMELA ...... 279

15.1 - DINÂMICAS PRODUTIVAS NA PENÍNSULA DE SETÚBAL ...... 279 15.2 - PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX:...... 279 AS RELAÇÕES CAPITALISTAS QUE EMERGEM ...... 279 15.3 - A PRODUÇÃO AGRÍCOLA ...... 280 15.4 - OS PRIMÓRDIOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO ...... 282 15.5 - AS ÁUREAS DÉCADAS DO PÓLO INDUSTRIAL DE SETÚBAL : ...... 283 A DÉCADA DE SESSENTA E O INICIO DE SETENTA ...... 283 15.6 - ENTRE CRISES E RECONVERSÕES ...... 285

16 - PALMELA - DINAMISMOS SÓCIO-ESPACIAIS

ALTERAÇÕES DOS FACTORES DE LOCALIZAÇÃO:

DA ENDOGENEIDADE À EXOGENEIDADE...... 291

16.1 -À CABEÇA DE SANTIAGO E ESPADA ...... 291 16.2 - O AUTOCENTRAMENTO AGRÍCOLA: ARROTEAMENTOS E COLONIZAÇÃO ...... 292 16.3 - A SITUAÇÃO ACTUAL:...... 295 OS DESAFIOS EUROPEUS E AS RESPOSTAS DA AGRICULTURA LOCAL...... 295 16.4 - UM MUNICÍPIO EXPORTADOR DE MÃO-DE-OBRA ...... 302 16.5 - OS NOVOS FACTORES DE LOCALIZAÇÃO E...... 303 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE PALMELA ...... 303 16.6 - AS DESLOCAÇÕES PENDULARES ...... 321

vi 17 - IMPACTOS TERRITORIAIS DA LOCALIZAÇÃO PRODUTIVA ...... 327

17.1 - UM MUNICÍPIO QUE SE METROPOLIZA ...... 327 17.2 - DIFERENCIAÇÃO SOCIO-URBANÍSTICA:...... 333 PALMELA E A PENÍNSULA DE SETÚBAL...... 333 17. 2 - A AUTOEUROPA...... 340 17.2.1 – Os critérios de escolha para a localização do projecto...... 344 17.2.2 – O conceito de just in time em sequência ...... 347 7.2.3 – Produção, exportação e impactos na economia portuguesa...... 354 17.3 - VISTEON ...... 362 17.3.1 - Fábrica de componentes electrónicas...... 362 17.3.2 - Fábrica de compressores ...... 362 17.3.3 - Unidade de produção de plásticos...... 362

18 - DINÂMICA URBANÍSTICA ...... 389

18.1 – ACESSIBILIDADES ...... 389 18.2 - CRESCIMENTO DA ACTIVIDADE INDUSTRIAL...... 390 18.3 - AS ÁREAS URBANAS CONSOLIDADAS...... 393 18.4 - AS ÁREAS URBANAS DE GÉNESE ILEGAL (AUGI)...... 398

19 - DO EXISTENTE AO DESEJÁVEL:

AS ESTRATÉGIAS DE ACTORES DO MUNICÍPIO DE PALMELA ...... 401

19.1 - AS RELAÇÕES DE FORÇA E AS POSIÇÕES RELATIVAS DOS ACTORES ...... 404 19.1.1 - Grau de influência e de dependência dos actores...... 408 19.1.2 - A relação de forças entre os actores ...... 413 19.1.3 - O balanço líquido das influências por cada par de actores ...... 415 19.2 - A IMPLICAÇÃO DOS ACTORES...... 419 19.2.1 - Grau de implicação e mobilização dos actores...... 420 19.3 - GRAU DE MOBILIZAÇÃO E DE CONFLITUALIDADE...... 423 DOS OBJECTIVOS ...... 423 19.4 – DAS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DOS ACTORES AO...... 432 POSICIONAMENTO DOS ACTORES: SUAS ALIANÇAS E CONFLITOS...... 432 19.4.1 – Matriz de Divergências entre Actores...... 432 19.4.2 – Matriz de Convergências entre Actores ...... 436

CONCLUSÃO...... 451

BIBLIOGRAFIA ...... 463

LIVROS E ARTIGOS ...... 463

vii OUTRA INFORMAÇÃO...... 487 SÍTIOS NA INTERNET ...... 491

ÍNDICE REMISSIVO ...... 493

viii RESUMO

As mudanças verificadas no panorama mundial, intensificadas nas duas últimas décadas do século passado, têm sido as principais responsáveis pelas transformações nas estruturas sociais, económicas e tecnológicas. As teorias sobre o desenvolvimento económico e social, que a Sociologia e a Economia, construíram pacientemente durante décadas necessitam cada vez mais de ser reequacionadas, uma vez que até as velhas nações industrializadas devem ser vistas como estando em vias de desenvolvimento. Tais situações levaram à necessidade de se proceder a novas formas de mobilização do potencial humano, que se distinguem dos modos anteriores de pensar o desenvolvimento e, que podem ser corporizadas a partir de um conjunto iniciativas locais. Essas formas de acção e de modernização do tecido económico, de requalificação dos espaços urbanos, dos programas de formação profissional, da inserção das regiões marginalizadas na estratégia global do Estado passam a deter um lugar de máxima importância nas estratégias de cada País e de cada Região. Perante este conjunto de questões de carácter económico e social, pareceu importante proceder-se à construção de um objecto teórico que incidisse sobre a análise das estratégias dos actores locais perante os desafios impostos por uma sociedade que se apresenta cada vez mais globalizada. O objecto empírico deste estudo recaiu sobre o município de Palmela através da análise da estratégia dos seus actores e os desafios estratégicos que lhes são lançados. Procurou-se assim dar conta de uma possível articulação entre essas estratégias, o planeamento urbanístico e o desenvolvimento local. Os processos de desenvolvimento observados quer no município de Palmela, quer nos restantes municípios que constituem a Península de Setúbal não se produziram de forma linear. Ao proceder a uma proposta de acção virada para as questões do desenvolvimento local toma-se necessário detectar as representações que os actores locais estabelecem, em torno desse mesmo desenvolvimento à escala da sociedade local. Os desafios estratégicos apresentam-se no município de Palmela como resultados das estratégias produzidas pelos actores localizados, ou com influência local, onde se dá a confrontação de interesses e de lógicas contraditórias.

Palavras-chave: Actores Locais, Desenvolvimento Local, Urbanismo, Planeamento Estratégico, Estratégia de Actores, Objectivos Estratégicos, Desafios Estratégicos

ix

x ABSTRACT

Changes occurred, world-widely, during the last two decades of the last century have generated modifications in the social, economical and technological structures being observed. Theories on the economical and social development built, peacefully, by Sociology and Economy for several decades, have to be more and more re-equated, once, even the old industrialized nations should be considered on the way to development. It raises, then the need of proceeding with new methods of manpower mobilization, different from the former ways of thinking on development, which may he materialized starting from the local initiatives. Those acting and up-dating systems of the economical tissue, in addition to the urban areas classification, the professional training programmes, the inclusion of the despising areas in the global strategy of State, as well as the support to the people, sociality discriminated, become to own a position of greatest importance in the strategies of each Country and Area. In view of this set of subjects, from economical and social nature, it seemed important to proceed to the building of a theorical object based on the analysis of the local dynamics of development in Palmela: perspectives and strategies of the local and social actors. The empiric object of this research was the municipality of Palmela through the analysis of the actors strategies. Being so, the intention was to report an eventual relation among those dynamics, the local development and the urbanism. The development methods observed, not only in the municipality of Palmela, but also in the remaining ones of Setúbal Peninsula were not created in a linear way. By making a proposal of action forwarded to the subjects of a local development, it is necessary to detect the representations performed by the local actors in turn of this very same development according to the local society. Nevertheless any kind of homogenous category is found among the new social actors, but a variety of social strengths is ascertained creating a great number of actors. The Strategical Challenges verified in the municipality of Palmela present themselves as results of strategies created by the established actors or with local influence, where interests and contradictor logics are brought face to face.

Key-Words: Local Actors, Local Development. Urbanism, Strategical Planning, Strategic of Actors, Strategical Objectives, Strategical Challenges

xi

xii ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS E GRÁFICOS

FIGURAS

FIGURA 1 – O MUNICÍPIO DE PALMELA NO CONTEXTO REGIONAL ...... 1 FIGURA 2 – O MUNICÍPIO DE PALMELA E AS FREGUESIAS QUE O CONSTITUEM...... 3 FIGURA 3 – O OBJECTO TEÓRICO DA INVESTIGAÇÃO...... 11 FIGURA 4 - O CAMPO GLOBAL SEGUNDO ROLAND ROBERTSON...... 78 FIGURA 5- CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PLANEAMENTO ESTRATÉGICO...... 193 FIGURA 6 – AS FASES HIERARQUIZADAS DO PLANEAMENTO...... 194 FIGURA 7 – A ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DOS ACTORES DO MUNICÍPIO DE PALMELA..223 FIGURA 8 – ESTRUTURAS VERTICAIS DO ESTADO EM PORTUGAL (ANTES E PÓS 1976) .....238 FIGURA 9 - HIERARQUIA DAS FIGURAS DE PLANEAMENTO EM PORTUGAL ...... 270 FIGURA 10 – PLANTA DE LOCALIZAÇÃO DA AUTOEUROPA (PENÍNSULA DE SETÚBAL)....345 FIGURA 11 – PLANTA DE LOCALIZAÇÃO DA AUTOEUROPA (MUNICÍPIO DE PALMELA)....346 FIGURA 12 – PLANTA DE LOCALIZAÇÃO DA AUTOEUROPA E DO PARQUE INDUSTRIAL...346 FIGURA 13 – O CLUSTER AUTOMÓVEL NA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO ...... 350 FIGURA 14 - PERÍMETROS URBANOS DO MUNICÍPIO DE PALMELA...... 395 (REDES URBANAS PRINCIPAL E SECUNDÁRIA) ...... 395 FIGURA 15 - MUNICÍPIO DE PALMELA: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS AUGI E DOS NOVOS CLANDESTINOS, POR PERÍMETRO URBANO...... 399

xiii QUADROS

QUADRO 1 - A TRAJECTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO SEGUNDO ROLAND ROBERTSON ...... 83 QUADRO 2 - A RELAÇÃO ENTRE FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E A TERRITORIALIDADE ...... 88 QUADRO 3 - CONCEITOS DE GLOBALIZAÇÃO...... 97 QUADRO 4 - EVOLUÇÃO DAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO ...... 120 QUADRO 5 - DISCURSOS E CORRENTES DE PENSAMENTO SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL ...... 137 QUADRO 6 - FORÇA POLÍTICA E MOBILIZAÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS DE ASSOCIATIVISMO FACE ÀS FORMAS DE GESTÃO DO TERRITÓRIO...... 163 QUADRO 7 - TIPOLOGIAS DE ACÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS...... 164 QUADRO 8 - DISCURSO SOBRE A ACÇÃO PÚBLICA...... 191 QUADRO 9- AS VARIÁVEIS DA INVESTIGAÇÃO...... 207 QUADRO 10 – ACTORES QUE CONSTITUÍRAM A AMOSTRA INTENCIONAL...... 216 QUADRO 11 – RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS E ACTORES ...... 221 QUADRO 12 – O MUNICÍPIO NO ESTADO SOCIAL-CORPORATIVO ...... 233 QUADRO 13 – EVOLUÇÃO DAS FIGURAS DE PLANEAMENTO URBANÍSTICO EM PORTUGAL ...... 243 QUADRO 14 - PROGRAMA NACIONAL DA POLÍTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO248 QUADRO 15 - PLANO SECTORIAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO ...... 249 QUADRO 16 - PLANO ESPECIAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO ...... 251 QUADRO 17 – PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO...... 252 QUADRO 18 - PLANO INTERMUNICIPAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO...... 259 QUADRO 19 - PLANO DIRECTOR MUNICIPAL ...... 261 QUADRO 20 - PLANO DE URBANIZAÇÃO E PLANO DE PORMENOR...... 267 QUADRO 21 – PENÍNSULA DE SETÚBAL E CONTINENTE...... 285 POPULAÇÃO ACTIVA POR SECTORES DE ACTIVIDADE (1960-2001) ...... 285 QUADRO 22 - PENÍNSULA DE SETÚBAL...... 287 POPULAÇÃO ACTIVA DESEMPREGADA, POR TIPO DE DESEMPREGO (1981-20001) ...... 287 QUADRO 23 - EVOLUÇÃO DO EMPREGO E DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS(1982-2000)...... 289 QUADRO 24 – PENÍNSULA DE SETÚBAL SUPERFÍCIE AGRÍCOLA UTILIZADA, Nº DE EXPLORAÇÕES E SUA DIMENSÃO – 1999 ...... 297 QUADRO 25 – MUNICÍPIO DE PALMELA SUPERFÍCIE AGRÍCOLA UTILIZADA, POR FREGUESIA – 1999...... 297

xiv QUADRO 26 – PENÍNSULA DE SETÚBAL SUPERFÍCIE AGRÍCOLA UTILIZADA E SUAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO – 1999...... 298 QUADRO 27 – PENÍNSULA DE SETÚBAL POPULAÇÃO ACTIVA AGRÍCOLA POR MUNICÍPIOS - 1999...... 299 QUADRO 28 – PENÍNSULA DE SETÚBAL PRODUTORES AGRÍCOLAS, POR GRUPOS DE IDADE E POR MUNICÍPIO – 1999 ...... 300 QUADRO 29 – PENÍNSULA DE SETÚBAL PRODUTORES AGRÍCOLAS, POR NÍVEIS DE INSTRUÇÃO E POR MUNICÍPIO – 1999...... 301 QUADRO 30 – MUNICÍPIO DE PALMELA POPULAÇÃO ACTIVA COM PROFISSÃO, POR SECTORES DE ACTIVIDADE, ANOS DE 1930 A 2001 (EM %) ...... 302 QUADRO 31 – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS NO MUNICÍPIO DE PALMELA, EM VALORES ABSOLUTOS (1991-2001)...... 306 QUADRO 32 – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS NO MUNICÍPIO DE PALMELA, EM PERCENTAGEM (1991-2001) ...... 306 QUADRO 33 – EVOLUÇÃO DO EMPREGO NO MUNICÍPIO DE PALMELA, EM VALORES ABSOLUTOS(1991-2002) ...... 307 QUADRO 34 – EVOLUÇÃO DO EMPREGO NO MUNICÍPIO DE PALMELA, EM VALORES PERCENTUAIS (1991-2002) ...... 307 QUADRO 35 – DESLOCAÇÕES PENDULARES COM ORIGEM NO MUNICÍPIO DE PALMELA PARA OS MUNICÍPIOS QUE FORMAM A GRANDE ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA/SUL (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS...... 321 QUADRO 36 - DESLOCAÇÕES PENDULARES COM ORIGEM NO MUNICÍPIO DE PALMELA PARA OS MUNICÍPIOS QUE FORMAM A GRANDE ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA/NORTE (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS...... 322 QUADRO 37 – TOTAL DAS DESLOCAÇÕES PENDULARES COM ORIGEM NO MUNICÍPIO DE PALMELA (2001) – VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS ...... 322 QUADRO 38 – DESLOCAÇÕES PENDULARES COM ORIGEM NOS MUNICÍPIOS QUE FORMAM A GRANDE ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA/SUL E COM DESTINO AO MUNICÍPIO DE PALMELA (2001) – VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS ...... 323 QUADRO 39 – DESLOCAÇÕES PENDULARES COM ORIGEM NOS MUNICÍPIOS QUE FORMAM A GRANDE ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA/NORTE E COM DESTINO AO MUNICÍPIO DE PALMELA (2001) – VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS ...... 324 QUADRO 40 – TOTAL DAS DESLOCAÇÕES PENDULARES TENDO COMO DESTINO O MUNICÍPIO DE PALMELA VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS (2001) ...... 324 QUADRO 41 – BALANÇO DAS DESLOCAÇÕES PENDULARES PALMELA – GRANDE ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA SUL - PALMELA (2001)...... 325

xv QUADRO 42 – BALANÇO DAS DESLOCAÇÕES PENDULARES PALMELA – GRANDE ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA NORTE - PALMELA (2001) ...... 325 QUADRO 43 – BALANÇO TOTAL DAS DESLOCAÇÕES PENDULARES (2001)...... 326 QUADRO 44 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DA PENÍNSULA DE SETÚBAL, POR MUNICÍPIOS (1940 -2001) ...... 328 QUADRO 45 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DA PENÍNSULA DE SETÚBAL, POR MUNICÍPIOS (1940 -2001) – TAXAS DE CRESCIMENTO MÉDIO ...... 329 QUADRO 46 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PALMELA, POR FREGUESIAS (1930-2001)...... 331 QUADRO 47 – PENÍNSULA DE SETÚBAL DENSIDADE POPULACIONAL, POR MUNICÍPIOS (1981-2001)...... 335 QUADRO 48 - PENÍNSULA DE SETÚBAL REPARTIÇÃO DA POPULAÇÃO SEGUNDO A DIMENSÃO DOS LUGARES, 1981-2001 (EM %) 336 QUADRO 49 – AUTOEUROPA - EVOLUÇÃO DA FÁBRICA E DOS PRODUTOS...... 341 QUADRO 50– AUTOEUROPA INVESTIMENTO INICIAL ...... 342 QUADRO 51 – AUTOEUROPA – EMPREGO DIRECTO E EMPREGO NO PARQUE INDUSTRIAL E NOS SERVIÇOS CONTRATADOS ...... 344 QUADRO 52 – AUTOEUROPA - ÁREAS DO PROJECTO, EM M2 ...... 347 QUADRO 53 - PRINCIPAIS INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS NO FABRICO DE COMPONENTES, QUE ACOMPANHARAM NO INÍCIO PROJECTO AUTOEUROPA...... 349 QUADRO 54 – FORNECEDORES DE COMPONENTES PARA A AUTOEUROPA ...... 352 QUADRO 55 – PREÇO DA VW SHARAN NOS PAÍSES DA ZONA EURO (2006) ...... 356 QUADRO 56 – EMPRESAS COM SEDE NA REGIÃO, POR CAE...... 364 QUADRO 57 – EMPRESAS COM SEDE NA REGIÃO INDÚSTRIA TRANSFORMADORA ...... 368 QUADRO 58 – SOCIEDADES COM SEDE NA REGIÃO , POR CAE ...... 370 QUADRO 59 – SOCIEDADES COM SEDE NA REGIÃO INDÚSTRIA TRANSFORMADORA...... 372 QUADRO 60 – PESSOAL AO SERVIÇO NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIÃO ...... 374 QUADRO 61 - PESSOAL AO SERVIÇO NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIÃO INDÚSTRIA TRANSFORMADORA ...... 376 QUADRO 62 – VOLUME DE NEGÓCIOS NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIÃO, POR CAE (2003)...... 381 QUADRO 63 - VOLUME DE NEGÓCIOS NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIÃO INDÚSTRIA TRANSFORMADORA ...... 383 QUADRO 64 - COMÉRCIO INTERNACIONAL DECLARADO, POR MUNICÍPIO DE SEDE DOS OPERADORES (2003) ...... 385

xvi QUADRO 65 - MUNICÍPIO DE PALMELA - EVOLUÇÃO DOS EDIFÍCIOS E DOS ALOJAMENTOS, POR FREGUESIAS (1991-2001) ...... 391 QUADRO 66 - MUNICÍPIO DE PALMELA AGLOMERADOS DA REDE URBANA PRINCIPAL SECUNDÁRIA...... 394 QUADRO 67 - MUNICÍPIO DE PALMELA REPARTIÇÃO DAS AUGI E NOVOS CLANDESTINOS, POR FREGUESIAS...... 398 QUADRO 68 - VARIÁVEIS DA ANÁLISE EMPÍRICA...... 403 VARIÁVEIS INTERNAS...... 403 VARIÁVEIS EXTERNAS...... 404 QUADRO 69 – MATRIZ DOS MEOS DE ACÇÃO DIRECTOS...... 406 QUADRO 70 – MATRIZ DAS POSIÇÕES VALORIZADAS ACTORES ×OBJECTIVOS (2 MAO)...406 QUADRO 71 - DESAFIOS ESTRATÉGICOS E OBJECTIVOS ASSOCIADOS...... 407

QUADRO 72 – COMPARAÇÃO ENTRE AS RELAÇÕES DE FORÇA (RI) E

A MEDIDA EXACTA DE FORÇA (ΠI) DE CADA ACTOR ...... 418 QUADRO 73 - ORDENAÇÃO DOS OBJECTIVOS SEGUNDO O GRAU DE MOBILIZAÇÃO...... 426 QUADRO 74 - ORDENAÇÃO DOS OBJECTIVOS SEGUNDO O GRAU DE CONFLITUALIDADE429 QUADRO 75 – CLASSIFICAÇÃO DOS OBJECTIVOS SEGUNDO O SEU GRAU DE MOBILIZAÇÃO E CONFLITUALIDADE...... 431 QUADRO 76 - MATRIZ VALORIZADA DE DIVERGÊNCIAS ACTORES × ACTORES (2 DAA) ...433 QUADRO 77 - MATRIZ VALORIZADA E PONDERADA DE DIVERGÊNCIAS ACTORES × ACTORES (3 DAA)...... 435 QUADRO 78 - MATRIZ VALORIZADA DE CONVERGÊNCIAS ACTORES × ACTORES (2 CAA)...... 437 QUADRO 79 - MATRIZ VALORIZADA PONDERADA DE CONVERGÊNCIAS ACTORES × ACTORES (3 CAA)...... 439 QUADRO 80 - INDICADORES DE AMBIVALÊNCIA DE ACTORES...... 441 QUADRO 81 - MATRIZ DAS PROXIMIDADES ENTRE ACTORES...... 445 QUADRO 82 – GRUPOS ESTRATÉGICOS DE ACTORES...... 446 QUADRO 83 – RECONSTRUÇÃO DA 2 MAO SEGUNDO OS GRUPOS ESTRATÉGICOS...... 449

xvii GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - MUNICÍPIO DE PALMELA EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EMPRESAS, POR RAMO DE ACTIVIDADE (1991-2002)...... 309 GRÁFICO 2 – MUNICÍPIO DE PALMELA EVOLUÇÃO DO EMPREGO, POR SECTORES DE ACTIVIDADE (1991-2002)...... 311 GRÁFICO 3 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS AGRÍCOLAS E MÃO-DE-OBRA AGRÍCOLA (1991-2002)...... 313 GRÁFICO 4 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS INDUSTRIAIS E MÃO-DE-OBRA INDUSTRIAL (1991-2002) ...... 314 GRÁFICO 5 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS E MÃO-DE-OBRA DA CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS (1991-2002)...... 315 GRÁFICO 6 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS E MÃO-DE-OBRA DO COMÉRCIO , HOTELARIA E RESTAURAÇÃO (1991-2002).316 GRÁFICO 7 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS E MÃO-DE-OBRA DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES (1991-2002)...... 317 GRÁFICO 8 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS E MÃO-DE-OBRA BANCÁRIA E DOS SEGUROS (1991-2002) ...... 318 GRÁFICO 9 – MUNICÍPIO DE PALMELA EMPRESAS E MÃO-DE-OBRA DE SERVIÇOS À COMUNIDADE (1991-2002) ...... 319 GRÁFICO 10 – MUNICÍPIO DE PALMELA TOTAL DAS EMPRESAS E DA MÃO-DE-OBRA (1991-2002)...... 320 GRÁFICO 11 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PALMELA, POR FREGUESIAS (1930-2001)...... 332 GRÁFICO 12 – PENÍNSULA DE SETÚBAL ÁREAS INDUSTRIAIS OCUPADAS (1991) ...... 338 GRÁFICO 13 – AUTOEUROPA - DISTRIBUIÇÃO POR PAÍSES DOS FORNECEDORES DE COMPONENTES ...... 353 GRÁFICO 14– AUTOEUROPA - PRODUÇÃO DE VEÍCULOS (1995-2005)...... 355 GRÁFICO 15 – AUTOEUROPA – OS MERCADOS DO PRODUTO AUTOEUROPA ...... 358 GRÁFICO 16 - AUTOEUROPA – PRODUÇÃO DE VEÍCULOS POR MARCAS (2005)...... 359 GRÁFICO 17 - AUTOEUROPA – PRODUÇÃO POR MARCAS (JANEIRO A ABRIL DE 2006)...... 360 GRÁFICO 18 - AUTOEUROPA – CONTRIBUIÇÃO PARA O VALOR ACRESCENTADO NACIONAL ...... 360 GRÁFICO 19 - AUTOEUROPA – CONTRIBUIÇÃO PARA O PIB PORTUGUÊS ...... 361

xviii GRÁFICO 20 – MUNICÍPIO DE PALMELA EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EMPRESAS - 2001-2004...... 365 GRÁFICO 21 – EVOLUÇÃO DAS EMPRESAS DE INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS 2001-2004...... 369 GRÁFICO 22 – MUNICÍPIO DE PALMELA - EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE SOCIEDADES 2001-2005...... 371 GRÁFICO 23 – MUNICÍPIO DE PALMELA – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE SOCIEDADES DE INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS 2001-2004 ...... 373 GRÁFICO 24 – MUNICÍPIO DE PALMELA – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EMPREGADOS NAS SOCIEDADES 2000-2003 ...... 375 GRÁFICO 25 – MUNICÍPIO DE PALMELA – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EMPEGADOS NAS SOCIEDADES DE INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS 2000-2003...... 377 GRÁFICO 26 – MUNICÍPIO DE PALMELA – VOLUME DE VENDAS NAS SOCIEDADES (EM MILHARES DE EUROS) 2000- 2003 ...... 378 GRÁFICO 27 – MUNICÍPIO DE PALMELA – VOLUME DE VENDAS NAS SOCIEDADES DE INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS (EM MILHÕES DE EUROS) 2000-2003...... 379 GRÁFICO 28- GRAU DE INFLUÊNCIA DIRECTA E DE INFLUÊNCIA DIRECTA E INDIRECTA 409 GRÁFICO 29 – GRAU DE DEPENDÊNCIA DIRECTA E DE DEPENDÊNCIA DIRECTA E INDIRECTA...... 411 GRÁFICO 30 -PLANO DAS INFLUÊNCIAS E DAS DEPENDÊNCIAS ENTRE ACTORES...... 412 GRÁFICO 31 - INDICADOR DA RELAÇÃO DE FORÇA ENTRE ACTORES...... 415 GRÁFICO 32 - BALANÇO LÍQUIDO DAS INFLUÊNCIAS POR CADA PAR DE ACTORES ...... 416 GRÁFICO 33 - MÁXIMA INFLUÊNCIA E MÁXIMA DEPENDÊNCIA DIRECTA E INDIRECTA DE CADA ACTOR ...... 418 GRÁFICO 34 - MEDIDA EXACTA DE FORÇA DE CADA ACTOR...... 419 GRÁFICO 35 - IMPLICAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DOS ACTORES ...... 422 GRÁFICO 36 - HISTOGRAMA DA MOBILIZAÇÃO DOS ACTORES SOBRE OS OBJECTIVOS..424 GRÁFICO 37 - DIVERGÊNCIAS ENTRE ACTORES DE 2ª ORDEM ...... 434 GRÁFICO 38 - DIVERGÊNCIAS ENTRE ACTORES DE 3ª ORDEM ...... 436 GRÁFICO 39 - CONVERGÊNCIAS ENTRE ACTORES DE 2ª ORDEM ...... 438 GRÁFICO 40 - CONVERGÊNCIAS ENTRE ACTORES DE 3ª ORDEM ...... 440 GRÁFICO 41 - DISTANCIAS LÍQUIDAS ENTRE OBJECTIVOS...... 442 GRÁFICO 42 - DISTANCIAS LÍQUIDAS ENTRE ACTORES ...... 444

xix xx

Aos meus Pais – Leonel e Idalina – à minha Esposa – Maria José – e aos meus Filhos – Rita e João – o meu presente e o meu futuro, dedico este trabalho com todo o Amor e Carinho que merecem.

xxi xxii

“Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce”

Fernando Pessoa, Mensagem (1934)

xxiii

xxiv “É preciso rejeitar, tanto a ideia parsoniana de uma sociedade organizada em torno de um conjunto de valores especificados em normas sociais e encarnadas em organizações, estatutos e papéis, como a ideia oposta de uma vida social dividida em dois mundos completamente separados, correspondentes a duas classes sociais, de modo que tudo o que parecesse ser comum ao conjunto de uma sociedade não passaria de uma ilusão, servindo os interesses da classe dominante.”

Alain Touraine, O Retorno do Actor, p. 69

“A sociedade em rede é a sociedade em que nós vivemos. Não é uma sociedade composta por cibernautas solitários e robôs em telecomunicação. Nem sequer é a terra prometida das novas tecnologias que resolvem os problemas do mundo com a sua magia. É, simplesmente, a sociedade em que estamos a entrar, desde há algum tempo, depois de termos transitado na sociedade industrial durante mais de um século. Mas, da mesma forma que a sociedade industrial coexistiu durante várias décadas com a sociedade agrária que a precedeu, a sociedade em rede mistura-se, nas suas formas, nas suas instituições e nas suas vivências, com os tipos de sociedade de onde surgiu. Mais ainda, (...) um traço essencial da sociedade em rede é que se organiza globalmente e os seus níveis de desenvolvimento são muito diferentes em cada país. Nem todas as pessoas, nem todas as actividades, nem todos os territórios estão organizados segundo a estrutura e a lógica da sociedade em rede.”

Manuel Castells “A Sociedade em Rede”, in Gustavo Cardoso et alli, A Sociedade em Rede em Portugal, p. 19

xxv

xxvi

AGRADECIMENTOS Um trabalho de índole académica, como este que aqui se apresenta, pressupõe que tenha havido um conjunto de esforços que foram desenvolvidos quer por parte de quem o produziu quer por parte de quem o ajudou a tomar forma. Ao longo destes cinco anos de recolha, de sistematização e de reflexão sobre estudos, teorias, metodologias de investigação e de dados empíricos, muitos foram os contributos e apoios recebidos e, sem os quais, teria sido impossível a sua materialização num documento escrito pronto para ter a sua apresentação e discussão crítica. Há, contudo, contributos de natureza diversa que não podem nem devem deixar de ser realçados. Por essa razão, desejo expressar os meus sinceros agradecimentos. Em primeiro lugar, dirijo-me à minha orientadora, a Professora Doutora Mariana Cascais, por ter aceite a orientação de um trabalho que lhe foi proposto por um desconhecido do meio académico da Universidade de Évora e, por esse facto, os meus agradecimentos por ter acreditado nas minhas capacidades de trabalho e de investigação; quero ainda expressar-lhe o meu reconhecimento, relevando a sua total disponibilidade na orientação deste trabalho, onde sempre ressalvou a minha independência, quanto às orientações teórico-metodológicas, e cuja presença contínua foi sentida através do seu espírito humanista e dos conselhos práticos tendentes à melhoria do trabalho. Em segundo lugar, dirijo aos meus agradecimentos aos membros do Conselho Científico do Departamento de Sociologia da Universidade de Évora, por terem aceite o meu projecto de investigação, revelando também a sua abertura face ao estudo de um território localizado fora do contexto espacial do Alentejo. Não quero deixar de agradecer aos organismos públicos e às empresas privadas nacionais e estrangeiras (que se encontram em Portugal), pela informação que mantêm disponível para consulta na Internet e que se tornou fundamental para este estudo. Embora não fosse minha a intenção de provar a qualidade da informação presente nos vários sítios virtuais que consultei, verifiquei que é possível realizar uma recolha

xxvii significativa de informação (estatística ou outra) sem haver a necessidade de nos deslocarmos para outros locais, pelo que o desafio que é feito às Sociedades da Informação é cada vez maior perante uma crescente exigência por parte dos investigadores. No seguimento do que acabei de referir, manifesto os meus agradecimentos ao Conservatoire Nationale des Artes et Métiers e ao Laboratoire d’Investigation en Prospective Stratégie et Organisation, de França, por terem disponibilizado gratuitamente e on-line o software MACTOR, tornando possível a concretização prática deste projecto. Também à École Nationale des Pontes et Chaussees de França., um agradecimento muito especial, pela forma simpática e graciosa, com que disponibilizou bibliografia que se encontrava indisponível em Portugal, e que foi muito pertinente para a minha reflexão teórica sobre as questões da Sociologia do Território. Tendo esta investigação como objecto de estudo os actores e as suas estratégias face ao desenvolvimento local para o município de Palmela, não quero deixar de agradecer aos seguintes actores sociais locais: Câmara Municipal. de Palmela, através do Sr. António Pombinho; Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal, na pessoa da Dr.ª Isabel Cruz; Associação de Viticultores do Concelho de Palmela, na pessoa da sua Presidente, Dr.ª Lurdes Atalaia; Fórum da Indústria Automóvel de Palmela, na pessoa da sua Directora Geral, Dr.ª Marina Peliz; Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal, na pessoa da sua Coordenadora, Dr.ª Manuela Sampaio; Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela., na pessoa do seu Presidente, Sr. Jorge Mares; Adega Cooperativa de Palmela, nas pessoas do seu Presidente, Sr. António Fernandes e do seu Enólogo, Engº Luís Oliveira; à empresa alemã Autoeuropa do grupo Volkswagen AG, , na pessoa da Directora do Gabinete de Relações Públicas & Assuntos Governamentais, Dr.ª Carmo Jardim; à Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros”, através do seu Presidente, Sr. Rogério Almeida; à Região de Turismo da Costa Azul., através da Dr.ª Maria Clara Rebola, que com a sua colaboração tornaram possível parte deste trabalho. Não quero deixar de referir e de agradecer a intervenção do meu Amigo Carlos Rocha junto da Autoeuropa, de modo a que fosse possível a realização da entrevista

xxviii junto daquela empresa. Ao meu Colega e Amigo Dr. José António Cabrita os meus agradecimentos por me ter convencido a apresentar o projecto de doutoramento na Universidade de Évora. Aos meus Professores, que me acompanharam ao longo de todo o meu percurso académico, o meu reconhecimento pelos conhecimentos que transmitiram. Aos meus Amigos que, nos momentos bons e menos bons, partilharam o seu caminho com o meu. Como o Sociólogo não tem de ser necessariamente ateu, quero manifestar o meu agradecimento a Deus pela concessão da Sua Luz Divina que me iluminou no caminho do Conhecimento dando-me, nos momentos mais difíceis, a Força e o Ânimo para concretizar este projecto de investigação. Finalmente à minha Família, porque os últimos são sempre os primeiros, quer nas nossas preocupações, quer nos nossos pensamentos, dirijo uma palavra de carinho e de profundo agradecimento, quer pelo estímulo que me foi dado quer pela compreensão que mostrou ao longo destes anos em que me dediquei à concepção, à pesquisa e à redacção deste trabalho e que muitas horas retiraram ao nosso convívio.

Palmela., Junho de 2006

António Pedro Sousa Marques

xxix xxx

Figura 1 – O município de Palmela no contexto regional

1

2

Figura 2 – O município de Palmela e as freguesias que o constituem

3

4 INTRODUÇÃO

O texto que aqui se apresenta constitui o relatório do projecto de investigação denominado Actores, Estratégias e Desenvolvimento Local – conflitos e consensos no município de Palmela no limiar do século XXI que foi desenvolvido na Universidade de Évora entre os anos de 2001 e 2006 e cujo objectivo central foi a obtenção do grau de Doutor em Sociologia. O interesse manifestado pelas temáticas relacionadas com as questões territoriais remonta ao período da minha licenciatura em Sociologia onde foram apreendidas as problemáticas teóricas que nos anos oitenta do século passado preenchiam a Sociologia Rural e a Sociologia Urbana. As reflexões e as redefinições ocorridas no campo teórico-conceptual destes dois ramos especializados da Sociologia conduziram à construção de uma nova Sociologia – a Sociologia do Território – na qual adquiri os conceitos e desenvolvi as problemáticas teóricas de abordagem e que se traduziram num trabalho de investigação conducente à obtenção do grau de Mestre nessa nova área do conhecimento sociológico. Quando surgiu a hipótese de realizar um projecto de investigação conducente ao doutoramento, tal assentou não apenas nas questões de valorização pessoal e profissional, como pesou o facto de reter um conjunto de interrogações que tenho feito sobre as causas das mudanças sofridas no território do município de Palmela e sobre as estratégias desenvolvidas por parte dos actores que interagem neste território. Poder-se-á então dizer que o meu interesse por este projecto nasceu da minha dupla condição: a de cidadão e a de sociólogo. Digamos que não foi tarefa fácil para mim enquanto sociólogo, proceder a uma demarcação emocional do objecto empírico que estive a estudar, sobretudo, quando esse espaço é o meu espaço social, económico, cultural e simbólico, detentor de atributos objectivos e subjectivos. É nessa pluralidade de espaços que desenvolvo processos variadíssimos de interacção enquanto cidadão e onde também corro o risco de participar mais com olhar de sociólogo do que de simples cidadão.

5 É na condição de cidadão palmelense, ou palmelão,1 que tenho vindo a acompanhar, desde há muito tempo, o desenrolar de um conjunto de transformações diversas e complexas que têm sido responsáveis pela alteração substancial da face do município de Palmela, um território que durante vários séculos viveu essencialmente da agricultura e que, no limiar do século XXI denota uma pluralidade de formas de desenvolvimento que poderão assumir, embora não necessariamente, contornos de grande conflitualidade entre os variadíssimos actores movidos por interesses diferentes e diversos. Estas minhas interrogações e preocupações enquanto cidadão são, quiçá, idênticas às de muitos que são naturais deste lugar ou que nele há muito habitam, e que vêem com bons ou com maus olhos, a implantação industrial, as vias de comunicação que rasgam os vinhedos, o aumento populacional e a descaracterização das localidades, ou aumento da poluição e a degradação da paisagem. Este conjunto de preocupações levou-me, enquanto sociólogo, a realizar um projecto de investigação que grosso modo se inscrevesse na temática sobre o desenvolvimento local. A temática que presidiu e orientou este projecto de investigação foi escolhida uma vez que as suas problemáticas e abordagens teóricas apresentam-se, em meu entender, como as mais inteligíveis e promissoras reflexões que tornaram possível dar resposta não só às minhas velhas preocupações, enquanto cidadão comum, como foram capazes de responder à pergunta de do município de Palmela acerca do desenvolvimento que se está a operar nesse território? Esta questão que possibilitou uma reflexão em torno não só do desenvolvimento local viria a remeter, necessariamente, para uma outra questão que lhe está associada: a participação dos actores locais nesse processo desenvolvimento. Neste sentido, surgiram um grupo de questões, que embora complementares, não deixam de ser pertinentes para que a investigação atingisse inteligibilidade nas suas conclusões.

1 - Embora Palmelense seja o termo mais adequado para designar formalmente o natural de Palmela, Palmelão pode ser usado como um termo popular que tanto pode designar o vento forte que sopra do lado de Palmela em direcção a Lisboa, ou seja no sentido sul para sueste , ou ainda um natural desse lugar que Fernão Lopes na Crónica de D. João I chamou logar tam forte e tam maao de filhar

6 Deste modo, procedeu-se à construção de um objecto teórico que incidiu sobre as estratégias de actores e a análise das dinâmicas locais de desenvolvimento em Palmela, tendo em consideração os seguintes aspectos: que alianças e conflitos existem entre actores? Perante a diversidade de interesses procurou-se determinar a existência (ou não) de alianças e/ou de conflitos por parte dos actores que interagem neste território. Por outro lado, que tipo de consensos são mobilizadores?, ou seja, sabendo que existem consensos, procurou-se perceber quais os que se apresentam como os mais mobilizadores. Havendo actores que apresentam maior peso ao nível dos vários tipos de influências exercidas e sofridas, pretendeu-se saber se existe uma hierarquização dentro dos actores sociais locais em termos de influências indirectas sobre os outros ? e se essa hierarquia a existir, é percepcionada pelos actores ? Em termos de enquadramento conceptual, a pesquisa delimitou três nós problemáticos fundamentais: - a problemática da dinâmica territorial onde se pretendeu dar conta dos problemas que os processos de globalização e internacionalização da economia levantam ao nível da redefinição dos espaços de decisão e de Poder; - a problemática do desenvolvimento local, procurou apresentar as questões que se prendem com a identidade e com a participação dos actores nas políticas locais e detectar as suas estratégias nos projectos de desenvolvimento local e no controlo destes sobre as exogeneidades; - a problemática do urbanismo, que foi entendida como a capacidade de definição e gestão de um projecto territorial assente na diversidade dos interesses e dinâmicas urbanas por parte de municípios sujeitos a pressões exógenas e endógenas.

A orientação metodológica que presidiu a esta investigação insere-se no que se denomina por investigação-acção. A questão fundamental que é apresentada pelas metodologias de investigação- acção, em matéria de produção de conhecimento, assenta na relação que é estabelecida entre o investigador e o objecto de estudo. Esta aproximação metodológica específica assente na investigação-acção constituiu o elemento central para a recolha e tratamento de informação desta investigação, centrada numa dinâmica de relacionamento e de permanente colaboração

7 entre o investigador e os actores envolvidos. Contudo, coube ao investigador o papel catalizador para criar as condições favoráveis à análise das problemáticas e às tomadas de consciência das condições que se encontram subjacentes aos factos estudados, criando estímulos que levassem à participação dos actores sociais envolvidos, no processo de investigação.

O trabalho encontra-se estruturado em três partes:

A primeira parte consiste no enquadramento teórico-conceptual da pesquisa. Nela procura-se introduzir o tema, recorrendo às questões teóricas que foram sendo abordadas pela Sociologia e da Economia sobre o espaço e suas mutações; um terceiro capítulo debruça-se sobre o Espaço Regional e Espaço Local: da análise do sistema à análise dos actores conducente à análise das principais transformações sociais e económicas provocadas pelos processos de globalização e como as teorias da Sociologia contribuíram para a sua análise. Perante um conjunto de aspectos decorrentes dos processos de globalização abordam-se as questões que possam levar à compreensão da crise global às estratégias locais e o surgimento dos paradigmas do Desenvolvimento e a Análise do Local. Para uma melhor percepção em torno das questões do desenvolvimento local e da parcerias a serem estabelecidas entre os actores locais, apresenta-se um capítulo sobre identidade, pertença e participação e um outro sobre as representações do desenvolvimento e as perspectivas dos actores. Esta primeira parte termina com um capítulo sobre as formas de organizar e gerir o território que incide sobre a evolução das teorias sobre o urbanismo e particularmente sobre o planeamento estratégico. Nesta primeira parte estabelecem-se as hipóteses de trabalho, que após a abordagem teórica, foram confrontadas com a realidade empírica. Na segunda parte descrevem-se os procedimentos metodológicos que presidiram à escolha das técnicas, das variáveis e da amostra intencional, tendentes à determinação das estratégias de actores do município de Palmela e ao trabalho empírico que foi realizado. Quanto à metodologia utilizada refere-se a importância da recolha e análise documental,

8 assim como a observação directa na construção das variáveis utilizadas e na escolha dos actores, tornando assim possível uma utilização do método MACTOR.

A terceira parte apresenta o trabalho empírico. Inicia-se com um título denominado Planeamento Urbanístico e Estratégia de Actores: para onde vai Palmela ?, que começa com a história do Podel Local em Portugal, seguindo-se as Figuras de Planeamento em Portugal e no município de Palmela. Seguem-se alguns capítulos que procuram articular os processos de desenvolvimento verificados na Península de Setúbal e o município de Palmela de modo a dar conta, quer da sua inserção, quer da sua especificidade, em termos comparativos, no que respeita a alguns aspectos do seu desenvolvimento. O primeiro capítulo incidiu sobre o Dinamismo produtivo e impactos territoriais no município de Palmela, e nele se revelam a pluralidade de processos de desenvolvimento, diversos e diferenciados, que têm caracterizado este espaço regional; analisou-se em seguida os Dinamismos Sócio-Espaciais do Município de Palmela, nomeadamente: as Alterações dos Factores de Localização, os Impactos Territoriais da Localização Produtiva; a dinâmica urbanística merece alguma atenção na medida que poderá contribuir para algumas explicações em torno da questão da centralidade geoestratégica do município no espaço da Península de Setúbal, e dos seus crescimentos urbanos - legal e de génese ilegal. A terceira parte termina com o capítulo Do Existente ao desejável: as estratégias de actores do município de Palmela onde apresentam e comentam os resultados obtidos no trabalho de campo. Na conclusão apontam-se as grandes questões que o trabalho revelou e são retomadas as interrogações iniciais, discutindo-se a importância da participação dos actores locais no desenvolvimento do município de Palmela.

9 10 Figura 3 – O Objecto Teórico da Investigação

Especificidades Locais Conflitos/Consensos Gestão e Planeamento Estratégico

Estado

Internacionalização da Planeamento Urbanístico Economia Público

Autarquias

Articulações Dinâmica Os Actores e o Dinâmica dos Sistema de Gestão Territorial Grupos e Decisão Desenvolvimento Local Projecto de Descontinuidades Privado Cidade

Empresas Mudança Social e Desenvolvimento Local Promotores Mobilidades· Imobiliários

Associações Patronais e Profissionais

Associações Culturais Mudança de Actores Jogos de Actores Actores de Mudança

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I PARTE

13 14

1 - TRAÇAR O OBJECTO DE INVESTIGAÇÃO

O mundo das últimas duas décadas apresentou uma diferença abismal face aos aspectos que o caracterizaram nos períodos que se seguiram ao final da II Grande Guerra. Mais recentemente verificaram-se grandes mudanças ao nível social, económico e tecnológico. A acrescentar ao rol de transformações verificadas, há a assinalar uma nova readequação dos espaços económicos nacionais e transnacionais em que a reunificação alemã, a desagregação do bloco ideológico-político-económico-militar da Europa de Leste, os conflitos étnicos nos Balcãs e a formação do espaço político-económico da União Europeia, se apresentam como paradigmáticos quer para a compreensão das dinâmicas da globalização, quer para repensar o contexto de políticas económicas e o lançamento de um novo olhar sobre os papéis que os espaços locais podem vir a desempenhar neste novo contexto. Durante décadas, a Sociologia e a Economia desenvolveram teorias em torno da questão do desenvolvimento económico, colocando em dicotomia os países ricos industrializados e desenvolvidos e os países do terceiro mundo, pobres, subdesenvolvidos e altamente dependentes das lógicas dominantes dos primeiros. Face a uma conjuntura económica de profundas transformações, onde os sintomas de crise não são alheios, há que reequacionar toda esta questão, ou seja, há que considerar a problemática do desenvolvimento em primeira prioridade, e abandonar a ideia, por ora já cristalizada, que essa questão é exclusiva do terceiro mundo. A reflexão leva José Arocena1 a afirmar que mesmo as velhas nações industrializadas devem, elas também, ser vistas como estando em vias de desenvolvimento. Hoje, as questões sobre o desenvolvimento ganham maior pertinência se considerarmos as fórmulas já ensaiadas ou postas em prática: as políticas anti- inflacionárias e monetárias, que se traduziram em pequenos êxitos ou em grandes

1 - Cf. AROCENA, José (1986) - Le Développement par l’Initiative Locale, Paris, L’Harmattan, p. 11

15 endividamentos por parte dos vários países que constituem o sistema mundial. Estamos então perante a necessidade de procurar novas formas de mobilização do potencial humano, necessariamente diferentes dos modos anteriores de pensar o desenvolvimento, e que podem ser corporizadas a partir de iniciativas locais. Ao debate sobre as questões do desenvolvimento económico interessa, simultaneamente, o problema da criação de riqueza e o problema do emprego. Estas duas questões parecem estar intimamente relacionadas com a forma de planear e gerir um território. Daí que quando se fala no actor principal, sempre envolvido nestas questões, a referência é feita ao governo local. Todavia, o governo local não pode trabalhar independentemente, quer dos outros níveis de governo – regionais ou nacional – quer de outros actores não governamentais. Se aceitarmos o princípio de que “a mudança estrutural é o maior estímulo à acção”,1 então os Governos, os agentes económicos e as pessoas não poderão ficar impassíveis, nem deixar que as várias formas da economia sejam alteradas sem a sua participação. Esta capacidade de iniciativa tem a sua emergência a partir dum contexto de crise, ao mesmo tempo que apela a uma grande mobilização dos actores locais face a um conjunto de questões que podem funcionar como “agentes estimuladores para a acção” 2 e que se passam a descrever:

a) A internacionalização dos mercados b) O impacto da mudança das condições dos mercados na estrutura industrial c) A reestruturação económica e o desenvolvimento d) A pressão fiscal e) A actividade local f) O aumento da sensibilidade às questões ambientais g) A reestruturação do welfare h) A pressão demográfica

1 - BENNET, Robert J.; KREBS, Gunter (1991) - Local Economic Development, Londres e Nova York, Belhaven Press, p. 8 2 - Foram adoptados os “estimuladores para a acção” propostos por BENNET, Robert J.; KREBS, Gunter (1991) - idem, pp. 8-11

16

Perante este conjunto de questões, pareceu importante proceder à construção de um objecto teórico que incida sobre a análise dos actores e suas estratégias face ao desenvolvimento local. O objecto empírico é o município de Palmela, um dos nove municípios que constituem a denominada Península de Setúbal. Palmela é um município que já não é rural, mas que ainda não é urbano, possuindo uma área de 461.82 Km2, que faz dele o maior município, em superfície, da Península de Setúbal. A sua posição, no ponto de vista geográfico, é a de charneira ente o Alentejo e a Península de Setúbal, fazendo confluência com sete dos nove municípios que a constituem.1 Esta característica geográfica contribuiu para que se verifiquem nos tempos mais recentes duas realidades perfeitamente distintas. A zona oriental, marcadamente rural e com um tipo de habitat semelhante ao do Alentejo e a zona ocidental, mais industrializada e mais urbanizada. Durante mais de um século, este município assentou num modelo de desenvolvimento baseado no autocentramento agrícola, verificando-se, ainda hoje, um peso bastante significativo por parte do sector agrícola na sua economia. Todavia, os incentivos que a agricultura tem vindo a receber, bem como a sua inserção no espaço metropolitano de Lisboa, tem vindo a contribuir para que se tivessem processado alterações significativas neste sector. Palmela foi mantendo, até há poucos anos, uma incipiente industrialização, pelo que durante a crise verificada em toda a Península de Setúbal, esta se manteria imune. Tal situação deve-se essencialmente ao facto das suas unidades produtivas não se inscreverem nos sectores mais atingidos, como sejam a indústria naval, a montagem de automóveis, a siderurgia. Os anos oitenta viriam, contudo, a contribuir para que o município se abrisse à procura de novos espaços, por parte de empresas que, atraídas pelos incentivos da Operação Integrada de Desenvolvimento da Península de Setúbal, (OID/PS) rumavam à Península, e em particular ao município de Palmela, que lhes oferecia óptimas condições urbanísticas, mercê da construção de infra-estruturas de circulação que entretanto foram

1 - Exceptuam-se os municípios de Almada e Seixal.

17 sendo realizadas. Já os anos noventa se mostraram cruciais não só para o município de Palmela, como para os restantes municípios que integram a Península de Setúbal. Em 1995, com o início da produção na fábrica Autoeuropa localizada no município de Palmela, novo fôlego foi sentido, sobretudo em matéria de investimentos e de criação de empregos. Na primeira década do novo milénio e perante uma estrutura produtiva dependente estruturalmente do exterior, num país que teima em não definir estratégias e objectivos específicos de desenvolvimento torna-se cada vez mais pertinente a análise das estratégias de actores face ao futuro do território em que interagem. Esta pertinência já começou a ganhar importância ao nível da análise sociológica sobre o desenvolvimento local, assistindo-se ao apelo à territorialização das relações sociais e ao entrosamento destas com a internacionalização das economias, e na polarização das decisões em regiões ou cidades globais.

18 “O Espaço tem uma definição histórica, tem uma definição económica, tem uma definição social” António Simões Lopes, Desenvolvimento Regional, p. 23

2 - AS ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS E ECONÓMICAS SOBRE O ESPAÇO

A problemática sobre o espaço tem vindo a manter-se viva no seio das várias ciências. A sua abordagem vai da Física à Geometria, da Economia à Sociologia, para apenas citarmos algumas abordagens e reflexões temáticas. “Cada disciplina desenvolve novos conceitos e novos métodos de análise de modo a responder aos novos problemas de organização socio-económicos dos territórios locais” 1

2.1 - A ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA

2.1.1. - A Sociologia Clássica

Se nos debruçarmos sobre os estudos que a Sociologia produziu sobre as questões urbanas, depressa nos apercebemos que nos escritos daqueles que habitualmente apelidamos de fundadores da ciência sociológica - Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber - raramente se dá conta da sua preocupação em torno dessas questões. Raramente, pois a excepção parcial vai para Max Weber. 2 Este desinteresse pelo fenómeno urbano não significa o desinteresse da Sociologia sobre as questões do espaço ou sobre as questões rurais e urbanas. Aparentemente estaremos perante uma situação de paradoxo. Mas na realidade o que se verifica é algo de muito diferente. Hoje, a influência de Karl Marx, de Émile

1 - GUERRA, Isabel Pimentel (1991) - Changements Urbains et Mode de Vie dans la Péninsule de Setúbal de 1974 a 1986, Tese de Doutoramento, Tours, Université François Rabelais, p. 17 2 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) – Sociologia. Urbana., Capitalismo e Modernidade, Oeiras, Celta, p. 8

19 Durkheim e de Max Weber que se faz sentir quer sobre a Sociologia, quer sobre nós, sociólogos, é muito maior que aquela que se sentiu no início do século passado. Se é verdade que Karl Marx nunca reivindicou o estatuto de sociólogo, também não é menos verdade que a própria Sociologia ocidental só reparou e atribuiu interesse sociológico aos seus escritos há pouco mais de quarenta anos, tendo tomado em relação aos mesmos uma posição crítica, ao considera-los deterministas e equívocos.1 Já Max Weber só viria a ser revelado e os seus escritos metodológicos conhecidos, a partir da década de trinta do século passado, pela mão de Talcott Parsons. Até essa década Max Weber não passava de um sociólogo histórico especializado.2 Finalmente, Émile Durkheim é, dos três autores, aquele que possui uma elevada influência no desenvolvimento da Sociologia enquanto ciência e enquanto disciplina académica, uma vez que foi um dos fundadores de uma das primeiras revistas de Sociologia.3 Independentemente destes três autores, a Sociologia surge no início do século passado com um elevado interesse sobre a natureza da vida urbana e com a análise dos problemas urbanos, sejam o desemprego, a pobreza, as tensões sociais, os factores de desenraizamento, o congestionamento, entre outros.4

2.1.2 - A Sociologia Espacial

O espaço deve ser entendido como “um mediador indispensável na análise das relações sociais”.5 A especificidade de que é detentor reside na capacidade em induzir “recortes próprios e indispensáveis, a partir dos quais se formam situações específicas e se exprimem de formas diferentes as relações sociais, contribuindo, portanto, para instituir posições de desigualdade mas, também, novas relações sociais que se configuram na relação com o espaço, ou seja, no uso que dele fazem.”6 Esta reflexão em torno do espaço tem, nos últimos anos, recebido contribuições

1 - idem 2 - idem, p. 9 3 - idem 4 - idem 5 - GUERRA, Isabel Pimentel (1987) - A Territorialização das Relações de Produção - elementos para a análise da vida social local., Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, Lisboa., ISCTE, p. 4 6 - idem

20 de duas correntes fundamentais de pesquisa sociológica, uma que se denominou Sociologia Espacial e cujo objecto de análise incide sobre a materialização do espaço; e a Sociologia Urbana, que procura compreender as significações e os efeitos provocados pelas concentrações humanas ao nível das relações sociais. Enquanto a Sociologia Espacial procura estabelecer “uma articulação entre uma teoria geral e uma teoria urbana introduzindo na questão urbana algumas das grandes problemáticas da teoria geral da sociologia”,1 e nalguns casos, entre uma teoria geral e a cidade, a Sociologia Urbana está perante uma cidade já produzida e confronta-se com a descontinuidade entre os conceitos de base social - que tem a ver com a definição da existência de interesses comuns - e de força social - assente na consciência desses interesses e na fabricação de meios para os satisfazer.2 Os impasses em que a Sociologia Espacial caiu parecem residir nas dificuldades em contornar ou, quiçá, sair da especificidade material do espaço e da influência que este exerce sobre as relações sociais. Por outro lado, as dificuldades em construir um corpo conceptual específico prendem-se com a relação que mantém com o espaço conceptual da sociologia geral, que destrói a especificidade e a própria identificação do espaço enquanto objecto sociológico e possuidor de identidade própria. Por sua vez, a Sociologia Urbana teve, desde o seu nascimento, na corrente culturalista da Escola de Chicago, um objecto teórico especificamente urbano, partindo do pressuposto que o espaço urbano é detentor de características próprias, que constrange ou incentiva determinados comportamentos urbanos. As duas perspectivas em presença, que partem de valorizações diferentes sobre os processos de produção e apropriação social do espaço urbano, são unânimes ao pressupor que “o espaço é um elemento de mediação indispensável, a partir do qual se criam situações particulares e se exprimem estruturas sociais.”3 O espaço não é algo abstracto. Também não é uma página em branco sobre a qual são inscritas as acções desenvolvidas pelos grupos e pelas instituições. É, acima de tudo, um espaço social produtor de relações sociais e que contribui para que as desigualdades e os interesses sociais sejam institucionalizados.

1 - idem p. 7 2 - idem, p. 8 3 - idem, p. 20

21 2.1.3 - A Sociologia Urbana: seu desenvolvimento teórico

A Sociologia Urbana está muito longe de possuir uma estrutura científica unitária e a sua já longa história não pode, nem deve, ser apresentada como um mero repositório acumulado de conhecimentos teóricos e de estudos empíricos realizados ao longo de décadas, e que convergem para a formação de corpo orgânico da disciplina. Seria, por outro lado, extremamente simplista afirmar que, embora a Sociologia Urbana esteja atenta a um conjunto de fenómenos sociais alvo de uma definição unívoca, existe no seu interior um número definido de paradigmas alternativos, cabendo a cada um uma interpretação diferente em relação aos restantes. O que na realidade se verifica no âmbito da Sociologia Urbana é um acervo heterogéneo de conceitos, de resultados de pesquisas empíricas, que se mostram diversificados e diferentes na medida em que são o produto de questões e de problemas que foram formulados de modo diferente. Esta diferença sobre o modo de pensar os problemas está intimamente relacionada com um conjunto de aspectos: os contextos nacionais em que decorrem, os momentos historicamente distintos que produzem os debates e os problemas sociais e territoriais que decorrem em formações sociais e culturais diferentes e nem sempre passíveis de comparação. No que se refere às tradições teóricas que se podem encontrar no seio da Sociologia Urbana, Alfredo Mela (1999) propõe duas, que no seu entender se apresentam parcialmente diferentes:

a) a tradição teórica norte-americana, partilhada com acentuações específicas pelos sociólogos anglo-saxónicos; b) a tradição teórica europeia-continental, detentora de perfis específicos, e onde cabem os sociólogos urbanos franceses, italianos e alemães.1

1 - Cf. MELA, Alfredo (1999) - A Sociologia. das Cidades, Lisboa., Editorial Estampa, p. 20

22 2.1.4 - A Escola de Chicago

A tradição teórica da Sociologia Urbana norte-americana encontra-se intimamente relacionada com a chamada Escola de Chicago.1 A Escola de Chicago desempenhou um papel de extrema importância na consolidação e na confirmação da Sociologia Urbana enquanto ramo específico da Sociologia. Em 1915, Robert Ezra Park publica no American Journal of Sociology o artigo “The City: Suggestions for the Investigation of Human Behavior in the City Environment”, um artigo revelador das preocupações que a Escola de Chicago detinha em relação à vida urbana e no qual é apresentado um programa de investigação de Sociologia Urbana. A partir dessa altura, ao longo dos anos vinte e seguintes, decorrem na Escola de Chicago dois domínios de investigação: O primeiro domínio de investigação desenvolveu um extenso trabalho empírico sobre a cultura urbana, tentando determinar a especificidade do urbanismo como modo de vida. Esses estudos centraram-se sobre os diversos comportamentos verificados na comunidade urbana, entre a vizinhança, sobre a delinquência, sobre a mobilidade intra- urbana, a vida nos bairros fortemente segregados etnicamente, etc. Estes estudos foram realizados por Robert Ezra Park, Ernest Burguess, Rodrick McKenzie e principalmente por Louis Wirth, e representaram as primeiras análises de Sociologia Urbana. O segundo domínio de investigação teve como representantes Ernest Burgess e Rodrick McKenzie. Enquanto Burguess desenvolveu um conjunto de trabalhos sobre a forma urbana, com recurso à cartografia ecológica, das áreas naturais de Chicago, tentando construir uma teoria científica do crescimento urbano e da estruturação espacial baseada nas cidades norte-americanas, Rodrick McKenzie, incrementou um conjunto de trabalhos de cariz etnográfico, que incidiram sobre os vários grupos sociais existentes na cidade de

1 - Nome pelo que ficou conhecido o Departamento de Sociologia. da Universidade de Chicago (fundada em 1892) e que bastante cedo passou a ter um elevado reconhecimento científico nos EUA.

23 Chicago. O outro domínio de investigação da Escola de Chicago foi desenvolvido por Rodrick McKenzie, com recurso às técnicas etnográficas. Trata-se do lado menos conhecido dentro da Sociologia Urbana, pese embora a sua grande influência se tenha sentido mais ao nível da Antropologia Urbana. Estas etnografias, que tiveram o seu aparecimento a partir da década de vinte, incidiam sobre os vastíssimos aspectos da vida da cidade de Chicago e procuraram dar resposta às questões que anos antes Robert Ezra Park levantara. Por outro lado, estas etnografias apresentavam grandes pormenores da vida urbana da cidade, ao mesmo tempo que escolhiam algumas populações-alvo para os seus Estudos: os mais desfavorecidos, os desprotegidos e os que não se fixavam.1 McKenzie procurava demonstrar que a localização no espaço não era apenas um produto dos recursos e das funções de cada grupo em termos de actividade na competição, como também estava associada a um ciclo ecológico de invasão- competição-sucessão-acomodação, válido não apenas para as actividades e áreas de residência, mas também para os grupos étnicos (ethnic succession e residential invasion). A diferença entre esses processos e as formas naturais de competição (válidas para plantas e animais) residiria na capacidade humana de transformar as condições ambientais. Ao longo das décadas de quarenta e cinquenta, Amos Hawley, ao proceder a uma nova análise da ecologia urbana, reduziu a ênfase na competição, aumentando a importância da cooperação. O modelo de Ernest Burgess foi, contudo, o que tornou a Escola de Chicago mais conhecida. Este modelo, como já foi referido acima, assentava nos padrões do uso do solo da cidade de Chicago, procurando configurar os padrões básicos de segregação social nas cidades contemporâneas. Baseado em quatro zonas concêntricas, formava uma representação ideal-típica do crescimento da cidade. No meio da cidade estava previsto a existência do centro de negócios da cidade. Numa zona de transição, já afastada desse centro, uma outra área concêntrica

1 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) - Op.cit. p.11

24 caracterizada pela decadência urbana, onde se observava uma invasão por parte dos negócios e da indústria. Esta situação não se mostrava atractiva para os residentes. Então aqueles que eram possuidores de alguns recursos económicos recorriam à zona residencial dos trabalhadores, ou seja, uma zona mais periférica que antecedia os subúrbios onde a chamada classe média se apresentava em predominância. Ao elaborar este modelo, Ernest Burgess quer relevar a importância dos processos ecológicos, ou seja, “à medida que as cidades se expandem, sucessivas “invasões” ocorrem simultaneamente ao extravasar das pessoas daquelas que eram as suas áreas para outras, levando à competição entre diferentes comunidades e à alteração da forma urbana”.1 É curioso verificar que, quase um século após este modelo ter sido apresentado, assiste-se em Portugal, em matéria de Planeamento Municipal, a estratégias semelhantes, rompendo com um passado onde as periferias sem qualidade eram dominantes em torno das grandes cidades. O Planeamento Municipal pressionado urbanisticamente pelos agentes imobiliários apresenta nos seus territórios zonas destinadas a condomínios fechados, alguns deles junto a campos de golfe, etc.2 Os temas-chave, ainda hoje relevantes, que derivam da experiência da Escola de Chicago, não se referem à teoria ecológica formalizada nem às primeiras versões do método etnográfico urbano, mas constituem, antes, três elementos substantivos interrelacionados: a sociation, as formas variáveis que esta toma na modernidade e, por último, a reforma social. Se para a primeira Escola de Chicago a estruturação do espaço era vista como um produto da luta dos indivíduos e grupos por recursos escassos, já para a segunda versão da tradição ecológica a distribuição sócio-espacial foi entendida como uma adaptação funcional de cada espaço particular a transformações provocadas na sociedade urbana como um todo. A sociedade seria então um sistema que, buscando equilíbrio, imprimiria funções

1 - idem, p. 10 2 - São os exemplos dos condomínios da Herdade da Aroeira, no município de Almada, da Quinta do Peru, no município de Sesimbra ou da Herdade do Montado, no município de Palmela, todos eles junto a campos de golfe.

25 diversas a cada uma de suas partes. Uma transformação em determinada configuração espacial representaria uma mudança homeostática das partes daquele sistema.

2.1.5 - A Sociologia Urbana Britânica

No Reino Unido, o desenvolvimento da Sociologia Urbana só assumiu interesse académico quando esta foi instituída, nos anos sessenta do século passado, como matéria leccionada no ensino superior. Todavia, é de realçar que embora se tenha verificado esta entrada tardia no mundo académico, no Reino Unido, tal como nos Estados Unidos, havia uma longa tradição ao nível da pesquisa social, sobretudo nas questões que lhe são colaterais, ou sejam, as questões relacionadas com a natureza, as causas e consequências dos problemas urbanos.1 As preocupações dos analistas sociais de então assentavam nas questões da pobreza urbana e no seu recenseamento, na tentativa de perceberem quais as causas teórica que poderiam explicar a pobreza nos meios urbanos. Mas, contrariamente ao que poderíamos supor, este estilo de trabalho apresentava-se mais próximo, do que hoje chamamos de jornalismo de investigação, do que dos métodos etnográficos utilizados pela Escola de Chicago. De todos estes repórteres do social, distingue-se Henry Mayhew, cujos trabalhos, realizados na cidade de Londres, revelaram que a pobreza urbana era devida às baixas remunerações, derivadas de crises cíclicas que a produção ligada a muitos ofícios manuais apresentava e não, como se supunha, à falta de qualidades pessoais intrínsecas aos próprios pobres. Na continuação deste tipo de estudos realçam-se os trabalhos de Charles Booth 2 e de Benjamin Seebohm Rowntree, 3 que embora possuíssem as mesmas preocupações que Henry Mayhew, adoptaram, como técnica de recolha de informação, os inquéritos estatísticos em detrimento da entrevista, técnica predilecta utilizada por Mayhew.

1 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) – Op .cit. p.18 2 - Em 1889 é publicada a obra de Charles Booth. intitulada Life and Labour of the People in London 3 - Em 1901 é publicada a obra de Benjamin Seebohm Rowtree intitulada Poverty, A Study of Town Life

26 Nos trabalhos de Charles Booth realizados já no último quartel do século XIX, verifica-se a sua grande preocupação em enumerar as causas da pobreza na cidade de Londres, causas essas que são estabelecidas a partir da distinção entre os impactos dos hábitos individuais e os que estão relacionados com determinados tipos de emprego. 1 Também em matéria de tradição em pesquisa urbana existem diferenças substanciais entre a tradição norte-americana e a britânica. Os britânicos não atribuíam grande interesse às populações de passagem e desenraizadas que apareciam pelas cidades. O seu interesse era muito maior quando se tratava de questões que envolviam não só os aspectos relacionadas com a pobreza, bem como os temas relacionadas com a classe social. Deve-se a Charles Booth o desenvolvimento de uma tipologia (extremamente complexa) de classes sociais, da qual construiu uma geografia social da cidade de Londres. Graças a esse trabalho é que Booth é considerado como um dos primeiros sociólogos a demonstrar, de modo sistemático, a forma em como a classe social afectava não apenas a segregação social urbana, como produzia um maior ou menor envolvimento nos aspectos institucionais da vida quotidiana, nomeadamente na actividade religiosa.2 Ou seja, na tradição da Escola de Chicago os trabalhos desenvolvidos aludiam a importância da classe social para a realçar enquanto força social, ao passo que a preocupação dominante com a classe social por parte dos britânicos conduziu a aspectos particulares que iriam marcar algumas teorias da sociologia urbana no Reino Unido. O contraste é ainda mais evidente entre a tradição norte-americana e britânica se verificarmos um crescente interesse, por parte dos primeiros, em relação às questões relacionadas com a raça e a pertença étnica, aspectos que não nutriam grande interesse por parte dos estudos urbanos britânicos. Registe-se um outro aspecto que pode contribuir para o entendimento desta originalidade britânica e que se relaciona com o facto de existir uma outra tradição da sociologia britânica que, nos seus primórdios, se encontrava ligada à British Sociological Society fundada em 1903. Um dos principais interesses que desde logo foi manifestado

1 - Estas preocupações estendem-se a outros estudos sobre a pobreza, nomeadamente aos estudos de Joseph Rowntree na cidade de York. 2 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) Op.cit. p.18

27 por esta sociedade prendia-se com o estudo sobre as concentrações urbanas.1 Na altura, a British Sociological Society era possuidora de uma linha intelectual proveniente das escolas sociológicas francesas de Émile Durkheim e Frédéric Le Play. Todavia, a referência mais importante para a British Sociological Society era sem dúvida a da escola de Le Play. Não que Le Play tenha sido um teórico., mas o seu grande mérito teria residido no facto de ter centrado a sua atenção no papel que a Sociologia deveria desempenhar, enquanto disciplina, nas análises que deveriam privilegiar as relações trinitárias Local, Trabalho e Tradição. Por outro lado, Le Play defendia que os sociólogos deveriam analisar as situações que são familiares no contexto regional, de modo a que se pudesse averiguar a existência de reciprocidades entre o meio e a sociedade. Este princípio de Frédéric Le Play deixava à Sociologia (e aos sociólogos) a tarefa de unir disciplinas que de outro modo se mostravam díspares. Decalcando o pensamento de Le Play, a British Sociological Society vai considerar que são as cidades vivas, assim como as suas regiões, os espaços que reúnem as melhores condições e que de uma maneira mais completa, possibilitam a oferta de aspectos directamente observáveis da civilização. Para Patrick Geddes o inquérito era possuidor de uma maior abrangência que os inquéritos por amostragem realizados por Charles Booth, na medida em que continha informação sobre o ambiente natural, a história do local e as actividades desenvolvidas pelos seus habitantes. Geddes, cuja formação académica original era a Biologia, era um homem multifacetado: às vezes era geógrafo, outras vezes sociólogo, para além de propagandista e educador, tudo isto antes de se ter tornado numa referência nas questões do planeamento regional e urbano. Dessa pluralidade de conhecimentos e de formações, surge-lhe a ideia de tentar agrupar os conhecimentos das Ciências Naturais, da Geografia, da Economia e da Antropologia, e pensou que no seu conjunto pudessem ser subsumidos como Sociologia.2

1 - Patrick Geddes (1854-1932), biólogo e filósofo escocês, usualmente considerado como o pai do Planeamento Regional e Urbano, foi um dos muitos pensadores que estiveram na génese da fundação desta Sociedade. 2 - Esta ideia, que não é original, revela a ainda forte influência de Auguste Comte.

28 Como educador, conseguiu persuadir vários grupos de pessoas a realizar este tipo de inquéritos em vários locais, quer por razões de auto-educação e de consciencialização cívica, quer por razões meramente científicas. Deste apelo resultaram inúmeras recolhas de inquéritos, por amadores, em cidades e aldeias do Reino Unido. Estava traçado o rumo da Sociologia Urbana britânica. A aplicabilidade de métodos de investigação pouco adequados, levaria a um descrédito acentuado da Sociologia Urbana no seio dos próprios sociólogos; simultaneamente assiste-se ao uso (e abuso) da aplicação não sociológica do inquérito social por parte dos planificadores Se para a Escola de Chicago a Sociologia Urbana estaria envolvida com três preocupações gerais: a sociation na cidade moderna, a natureza da modernidade, e um projecto político liberal, no Reino Unido a situação era substancialmente diferente. Para os sociólogos urbanos britânicos o interesse para com a sociation era quase inexistente. Enquanto para os continuadores da Escola de Chicago as observações eram acentuadas no âmbito da vida social da vizinhança, dos gangues ou dos grupos sociais informais, a orientação dominante britânica estava virada para a aplicação do inquérito às unidades familiares, à pesquisa sobre os rendimento e despesas das família, não existindo uma verdadeira preocupação com a importância dos vínculos sociais mais alargados. Os sociólogos britânicos de então eram levados a considerar que as identidades de classe social originavam vínculos sociais, ainda que em ambientes urbanos de algum modo diferentes. Os seus interesses tinham mais a ver com as questões decorrentes da vida contem- porânea, ao mesmo tempo que também mostravam um certo compromisso com a actividade política. Por muitas críticas que se tenham produzido às ideias de Patrick Geddes, o facto é que a Sociologia Urbana britânica nunca abandonou a técnica de inquérito para proceder às suas análises regionais. O tipo de atenção particular que concederam ao método de observação à escala

29 regional possibilitou perceber dois aspectos importantes: a causa pela qual se tornou impossível abstrair os indivíduos do seu meio social mais abrangente; e que a Sociologia, sendo uma ciência contextual, não deveria repartir acções sociais por um conjunto de sub-disciplinas, devendo proceder à integração dos diferentes aspectos produzidos pela actividade social. Como reacção ao uso de técnicas etnográficas básicas e de observação directa das actividades sociais por parte dos Mass observation 1 que as utilizavam, em vez de conduzirem as entrevistas com o recurso às grelhas de questões pré-estabelecida, assiste- se a uma galopante hegemonia do inquérito dominado pelas ideias estatísticas em que o recurso à amostragem aleatória se tornou regra. Neste período, pese embora haja uma certa semelhança no uso das técnicas utili- zadas pelos etnógrafos da Escola de Chicago, o projecto britânico de uma science ourselves, recebeu pouca atenção na Academia britânica.

2.1.6 - O pós-Guerra e o declínio da Sociologia Urbana anglo-saxónica

A década de trinta viria a ser a década crucial para a mudança de preocupações por parte dos sociólogos urbanos norte-americanos e britânicos. Até a essa década, em ambos os países a Sociologia Urbana experimentara sérias dificuldades para se afirmar enquanto sub-disciplina da Sociologia. Embora se verificasse uma certa preocupação por parte dos sociólogos em determinar os meios e os contextos produtores de acção social, a verdade é que muitos dos temas empíricos da Sociologia afloravam matérias de carácter urbano, como os problemas criados pela imigração em massa, a pobreza urbana, as patologias sociais, os grupos de conflito e os vínculos sociais. Posteriormente à década de trinta, os desenvolvimentos verificados na Sociologia levaram a que se tivesse verificado uma deslocação do eixo de interesses da Sociologia pelas questões urbanas e, por arrastamento, da sua lógica de contextualização. A Sociologia passa, a partir dessa altura, a ser organizada à volta de um conjunto

1 - Os Mass Observation ainda hoje existem. The Mass-Observation Archive com toda a documentação entre os anos de 1937 e os primórdios dos anos 50, do século passado e o material recolhido de forma continuada desde 1981 está disponível para consulta na Biblioteca da Universidade de Sussex.

30 distinto de problemas intelectuais. A natureza da ordem social passa a constituir o principal pensamento teórico e tal alteração deve-se à publicação, em 1937, da obra de Talcott Parsons The Structure of Social Action. Nesta obra Parsons apresenta aos sociólogos norte-americanos as teorias de Émile Durkheim, de Max Weber e de Vilfredo Pareto, que considerou como teóricos centrais no pensamento sociológico. Se a obra de Durkheim já tinha merecido vários estudos, o mesmo não se passara com as obras de Max Weber e de Vilfredo Pareto. Em 1951, Talcott Parsons publica The Social System, onde colocou o problema da ordem social no centro da Sociologia norte-americana. Entretanto, na Sociologia europeia eram os estudos sobre as desigualdades e sobre o controlo social que iriam continuar a dominar o espaço da produção sociológica. Talvez pela crescente legitimação que o uso dos métodos de pesquisa baseados em estatísticas foi alcançando, o carácter predominantemente contextual que caracterizava a investigação urbana foi diminuindo. Esta concepção parsoniana de ordem social não existia na antiga Sociologia norte- americana nem na europeia. A única referência à ordem social que se encontra nos estudos desenvolvidos pela Escola de Chicago é a sua convicção que a ordem social é inexistente na cidade moderna, existindo apenas uma luta descoordenada para obter recursos e pela sobrevi- vência. Este conceito de ordem social era tido como uma questão meramente política, que pode ser alcançada através de empenhamento político e não como matéria sociológica. A influência do chamado funcionalismo normativo de Talcott Parsons viria a reflectir o novo clima político que os Estados Unidos (e o mundo) viviam após 1945. Este novo clima está bem patente no contraste de análises sobre a cidade, enquanto para os membros da Escola de Chicago a cidade era apresentada como um espaço fragmentado e caótico, um local de agitação social por excelência. Ora, na era do planeamento que marcou o pós-guerra, das teorias Keynesianas de crescimento económico, do abafamento dos conflitos sociais e das reduções das imigrações massificadas, esta ideia catastrófica da cidade estava completamente

31 desajustada. Com estas alterações verificadas na sociedade norte-americana, a actividade da Sociologia Urbana foi-se desvanecendo, uma vez que os aspectos teóricos até aí considerados pertinentes diminuíram, assim como as suas próprias convicções políticas viriam a tornar-se cada vez mais pontuais. A Sociologia Urbana norte-americana não morrera. Embora os sociólogos urbanos continuassem a trabalhar, o facto é que em termos técnicos a pesquisa desenvolvida mostrava-se cada vez mais positivista e o predomínio era agora assumido pelo planeamento urbano.1 Por outro lado, a Sociologia Urbana do pós-Guerra viria a resolver a questão do debate metodológico existente na Escola de Chicago. Esse debate oscilava entre a utilização do método de estudo de caso e o método de inquérito, e a opção tomava foi para este último método. Embora os estudos etnográficos continuassem a ser realizados, a verdade é que o uso da metodologia qualitativa foi perdendo prestígio em detrimento da investigação que recorria às metodologias quantitativas, baseadas no uso de métodos estatísticos. A investigação da Sociologia Urbana orientava-se exclusivamente para as formas de lidar com os problemas urbanos, vistos como matéria de administração e não como algo orientado para a reforma política. Esta situação alterou-se radicalmente quando em meados dos anos sessenta, os desenvolvimentos políticos que se verificaram nos Estados Unidos levaram à ocorrência de motins urbanos,2 perturbando não só a economia norte-americana como o próprio status quo académico. Simultaneamente, foram trazidas para a ribalta da análise sociológica um conjunto de questões relacionadas com a justiça e a ordem social. Os comportamentos políticos conflituosos, até aí sonegados, passaram a constituir o alvo das atenções e das preocupações de uma Sociologia norte-americana que se tinha acomodado ao stablishement político e que começa a denotar uma certa inquietação,

1 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) - Op.cit. p.22 2 - O Voting Right Act de 1965, a Lei federal norte-americana que concedeu direitos iguais de voto aos afro-americanos, foi o culminar da Campanha pelos Direitos Civis, do reverendo Martin Luther King. Com a assinatura desta Lei, o então Presidente norte-americano Lyndon Johnson esperava pôr termo aos motins urbanos desencadeados por parte da população negra dos bairros de Harlem e de Bedford- Stuyvesant em New York, e os tumultos de Watts, em Los Angeles, em 1964/65.

32 senão mesmo, uma grande insatisfação em relação à teoria produzida por Talcott Parsons. Entretanto, no Reino Unido a sociologia britânica procede a alterações significativas ao nível dos seus métodos de investigação, situação que é coincidente com a emergência de novas preocupações. O interesse que até aí estava localizado no estudo sobre a contextualização dos processos de interacção entre os sujeitos e o ambiente, passa a dar lugar privilegiado aos estudos sobre a estratificação ocupacional. O conceito central desenvolvido pela Sociologia britânica da pós-Guerra residia na classe social e estendia-se às sub-disciplinas sociológicas. E é este conceito que vai destronar os então conceitos de região e de vizinhança que tinham sido os preferidos nas suas análises empíricas. Os sinais da mudança fizeram-se ainda sentir, sobretudo durante a década de setenta, quando se verifica um incremento no interesse por questões relacionadas com o género e com a raça, nomeadamente nas suas vertentes de desigualdades raciais e étnicas, assuntos que até aí tinham sido ignorados As análises teóricas das práticas sociais procediam agora à sua associação com as operações dos sistemas comum, nacional, de classe e, posteriormente, de género e raça. Ainda durante esta década, o ambiente social envolvente não apresentava qualquer relevância para a análise das classes sociais. Contemporaneamente, a chamada análise estruturalista assenta lugar na teoria social através do filósofo marxista francês Louis Althusser.1 Para os estruturalistas a análise das classes sociais deveria centrar-se na análise das forças que condicionam as posições de classe e não sobre os sujeitos. Ou seja, o que os estruturalistas vêm propor é uma análise das classes sociais relacionada exclusivamente com o processo económico, que afectava tanto a natureza do trabalho como as próprias relações de trabalho, em detrimento duma análise mais ampla e que envolve quer o contexto social da vida quotidiana, quer as relações sociais e a residência.

1 - Entre as muitas obras produzidas por Louis Althusser citam-se Lire le Capital e Pour Marx, ambos publicados em 1965.

33 Em conclusão, podemos depreender que uma das preocupações comuns, consideradas como cruciais, entre a Escola de Chicago e os primeiros sociólogos urbanos britânicos, se referia ao seu sentido de compromisso político. Nos dois lados do Atlântico a investigação social continuou a estar entrosada com políticas de reformas de tipo social-democrata, apoiando a intervenção do Estado no sentido da promoção dos mais desfavorecidos e pelo funcionamento dο mercado. Enquanto a Escola de Chicago se preocupava com a forma de agir para alterar o modo estrutural da cidade de Chicago, mantendo para isso um conjunto de relações muito estreitas com a Administração política local, os sociólogos britânicos dο período decorrente entre as duas grandes guerras mundiais faziam tentativas no sentido de promover as comunidades locais. Contrastando com a situação anterior, os sociólogos da pós-Guerra viriam a considerar inteligível a realização de estudos e relatórios à escala nacional, uma vez que consideravam essa metodologia como a forma mais eficaz para pressionar o governo central. Os estudos locais foram abandonados por se ter considerado que os mesmos não eram representativos, enquanto que a metodologia quantitativa com recurso ao inquérito e a investigação realizados à escala nacional tinham maior impacto, pelo facto dos vários departamentos governamentais manifestarem uma maior consideração pelo conhecimento estatístico. Chega-se ao final da década de sessenta, em que o campo da Sociologia tinha mudado radicalmente. Todavia, a Sociologia, ao invés de centrar a sua atenção no estudo do sociation, tinha voltado a tratar quase exclusivamente as questões referentes ao Estado, às classes sociais, às várias organizações de interesse comum. As questões relacionadas com o contexto urbano e com a ordem moral implícita nas acções quotidianas, foram sendo relegadas para um segundo plano. Os estudos à escala nacional sobre as mais variadas estruturas sociais, com recurso aos inquéritos aleatórios, substituíram os estudos locais sobre as desigualdades e a interacção social entre os indivíduos. Com um horizonte nada propício à Sociologia Urbana, as décadas de setenta e de

34 oitenta viriam a proporcionar uma tentativa da sua reconstrução assente nos moldes do quadro teórico revisto das Ciências Sociais. Dessa tentativa emergiu a nova Sociologia Urbana.

2.1.7 - A Sociologia Urbana da Europa continental

A Sociologia Urbana que se desenvolveu na Europa continental, não menosprezou os contributos prestados pela Escola de Chicago. Contrariamente ao que se possa pensar, as origens da Sociologia Urbana europeia remontam a algumas décadas de antecedência relativamente aos estudos de Robert Ezra Park. Alguns autores, ao defenderem a ideia acima expressa, relegam para a Sociologia Urbana europeia as reflexões produzidas sobre “as antíteses entre a sociedade tradicional e a moderna e sobre a antítese paralela entre as respectivas manifestações espaciais, a comunidade rural e a cidade industrial.”1 Do debate científico desta Sociologia especializada nasce um corpo conceptual e analítico que, mormente se apresente heterogéneo, cria a possibilidade de se proceder à interpretação da cidade enquanto lugar onde se manifestam, na sua forma mais original, os aspectos sociais e culturais tradicionalmente classificados como típicos da modernidade. Além disso, pode-se sublinhar como, no nosso contingente, a análise sociológica da cidade mantém, no século XX, um contacto mais estreito com a reflexão filosófica nas suas várias coerentes, do historicismo ao marxismo, do estruturalismo à fenomenologia. Por outro lado, como já se referiu anteriormente, para além de alguns traços comuns, a Sociologia Urbana europeia apresenta grandes distinções com base em contextos nacionais – têm origem nas diferenças do substrato cultural que são acentuados pelas atitudes políticas contrastastes dos vários países, pelas diversas formas que os problemas territoriais e urbanos apresentam em qualquer contexto e, também, pelo facto da literatura especializada se fragmentar em função dos âmbitos linguísticos. Neste sentido e no que se refere à Sociologia Urbana alemã, esta apresenta-se

1 - MELA, Alfredo (1999) – Op. cit p. 21

35 num misto de interesses de índole filosófica, e imbuída de aspectos concretos em termos de programação social e territorial. Em contrapartida, a Sociologia Urbana italiana viria a concentrar-se em temas propostos pela realidade social do país, nomeadamente com as questões dos equilíbrios territoriais entre uma forte dinâmica urbana do norte, passando pelas características particulares da chamada Itália do meio-dia até às áreas de industrialização difusas, também conhecida por terceira Itália. Particularmente rica em história é a Sociologia Urbana francesa, a qual, nos anos sessenta e setenta teve um papel essencial, ao consolidar-se no nível internacional através do filão crítico de origem marxista e viria a tornar-se, mais tarde, bastante influente na potical economy. Embora nessas décadas se constate esse filão crítico de matriz marxista, não se pode considerar que tenha existido uma escola unificada de Sociologia Urbana em França. Curiosamente, os autores mais referenciados da denominada Escola Francesa não eram franceses. Se exceptuarmos Henri Lefebvre, e Jean Lojkine, David Harvey é britânico e Manuel Castells é espanhol. Durante as décadas em consideração, muitos foram os investigadores e de equipas de estudo e de investigação que partilharam este espaço de reflexão e de produção teórica e empírica. Embora se deva a Henri Lefebvre e a Manuel Castells a visibilidade e organização da Escola, é à rede académica que conseguiram estabelecer que se deve a criação da revista Espaces et Societes, as Mouton book séries e o International Journal for Urban and Regional Research O grupo é ainda responsável pela fundação da International Sociological Association Research Committee on Urban and Regional Development. Para a formação deste grupo de sociólogos urbanos contribuíram três processos de convergência:

1. O processo de renovação intelectual em França, durante a década de sessenta, quando as Ciências Sociais se desprendem da Filosofia e

36 realizam estudos empíricos sobre as sociedades em pleno processo de mudança social. É por essa altura que é fundada a primeira Escola Francesa de Sociologia, orientada para a investigação, no novo campus da Universidade de Nanterre, dirigida por Alain Touraine e que contava, como professores, com Michel Croizier, Henri Lefebvre e Fernando Henrique Cardoso; 2. Os movimentos sociais de Maio de 1968 que mobilizaram os intelectuais e que politizaram todo o trabalho de investigação social; 3. A penetração das ideias dos movimentos de Maio de 1968 na elite tecnocrática francesa e na ideologia urbana do Governo. A interpretação da crise social dos finais da década de sessenta por parte da elite, que a vê como uma crise urbana e que teve como consequência um mega programa de investigação patrocinado pelo Ministério da Habitação e Assuntos Urbanos.

Foi graças a este programa que grande parte dos sociólogos franceses se reconverteu em sociólogos urbanos, dando origem a quatro correntes que fluíam no interior da Escola Francesa. Essas quatro correntes tinham dentro de si vários investigadores que diferiam dos restantes, mais por uma questão de metodologias de abordagem do que por divergências teóricas. A primeira corrente identificava-se com Henri Lefebvre e era representada por ele mesmo. Desenvolveu o conceito de civilização urbana, como uma forma distinta de organização social. Por outro lado, concede importância ao espaço como elemento constitutivo das relações sociais e como uma expressão da sociedade. Defende o princípio do direito à cidade, contra a exclusão social. A segunda corrente identificava-se com o marxismo ortodoxo. Integravam essa corrente Jean Lojkine, Christian Topolov e Edmond Preteceille. Esta corrente coloca em evidência o domínio do capital e dos interesses capitalistas sobre o Estado, e é através do Estado que se dá a dominação dos interesses capitalistas sobre os processos urbanos. Estes pensadores seguiam fielmente a teoria do capitalismo monopolista de

37 Estado. A obra de David Harvey, Social Justice and the City, representou uma síntese entre a lógica capitalista de dominação e a inspiração lefebvreriana. Depois evoluiu até à análise da lógica interna do capital, ou seja, derivou cada expressão do espaço e sociedade a partir da lógica interna do capital até às lutas sociais. A escola de Michel Foucault constitui a terceira corrente, e esteve organizada em torno de um centro de Investigação, o Centre d’Étude, de Recherche et de Formation Institutionnelles (CERFI) e de outros jovens investigadores. Enfatizaram a análise da microfísica do Poder nas instituições sociais, e estenderam a noção de dominação ao âmbito da vida quotidiana, delimitada pelas instituições urbanas. Esta corrente teria sido, talvez, a tendência de investigação mais inovadora durante a década de setenta. Foi a única que surgiu a partir dos velhos moldes para abordar, sob um ponto de vista crítico, os novos temas sociais existentes numa nova sociedade. A quarta e última corrente, a do marxismo estruturalista, possuidora da marca de Althusser por via de Nicos Poulantzas, teve Manuel Castells como representante. Os seus princípios teóricos serão tratados mais adiante quando for abordada a problemática da nova Sociologia Urbana. É evidente que, com estas quatro correntes, a Escola Francesa revigorou internacionalmente a investigação urbana ao:

a) colocar o poder e as relações sociais conflituosas, os valores e interesses no centro da dinâmica urbana. Esta questão mostra de forma implícita e explicita a tónica que a Escola de Chicago põe na sociabilidade e na integração social. Por outro lado, encetou a crítica à noção de comunidade. As comunidades, no seu ponto de vista, não só eram conflituosas ao nível local, como eram criadas pela luta de classes e pelos projectos políticos gerados a um nível social mais amplo; b) exigir a especificidade do urbano. Esta situação viria a forçar o marxismo e as teorias das classes a reconhecer um acervo completo de experiências, e que não se encontrava remetido às regras de produção e reprodução como fonte potencial de mudança social.

38 Foi o princípio do fim do monopólio da classe operária como actor da mudança. Sem dúvida que os sociólogos orientados pela escola do capitalismo monopolista de Estado, como Jean Lojkine e Edmond Preteceille, discordam deste princípio; c) afirmar a importância do espaço como indicio e força que estrutura a organização social. Este projecto tinha uma ligação implícita com a análise materialista do enfoque da ecologia humana privado dos pressupostos funcionalistas; d) procurar esforços para ligar a teoria com a investigação empírica. A excepção só poderá ser feita atendendo o esforço puramente teórico de Henri Lefebvre.1

2.1.8 - Das críticas ao modelo à nova Sociologia Urbana

Os desenvolvimentos teóricos da Sociologia no período do pós-Guerra viriam a servir de comparação aos processos – teóricos e empíricos – desenvolvidos pela Sociologia Urbana, em particular nos Estados Unidos. Aí, a produção científica da Sociologia Urbana assentava, ainda, em meras descrições estatísticas referentes às condições de vida nos centros urbanos, disponibilizando alguma base informativa tendente à resolução de problemas urbanos. Outras áreas de interesse, continuaram a ser a exploração das questões subjacentes ao crescimento urbano e dos contrastes entre a vida urbana e a vida rural. Do ponto de vista intelectual, a Sociologia Urbana norte-americana tinha-se esgotado. As críticas devastadoras em torno das suas muitas falhas teóricas não se fizeram sentir e provinham de todos os lados. Dentro desse quadro crítico, a mais célebre e, quiçá, a mais original, foi elaborada pelo sociólogo catalão Manuel Castells, em 1972, com a publicação de La Question Urbaine. 2

1 - Cf. CASTELLS, Manuel (1998) – “Urban Sociology in the Network Society: Back to the Future”, in WELLMAN, Barry (editor), The Urbane Community 27, 2 (Outono, 1999) 2 - CASTELLS, Manuel (1972) - La Question Urbaine, Paris, Maspero

39 Nesta obra, para além das críticas que traçou sobre as tradições orientadoras da Sociologia Urbana, propôs-se proceder à sua reconstrução partindo de novas bases teóricas. Hoje, é perfeitamente perceptível que as críticas lançadas por Castells coincidiram com o ressurgimento e consequente adopção, de modo generalizado, da análise marxista pela Sociologia da Europa ocidental. Com o retomar das teorias marxistas assiste-se, mais uma vez, às alterações nas orientações da teoria social, situação que se torna responsável pela mudança de rumo dos estudos urbanos que passam, assim, a ocupar um novo terreno. Para os neo-marxistas, o que estava em causa em matéria de teoria sobre os fenómenos urbanos prendia-se com o isolamento, em termos analíticos, a que deveriam ser sujeitos os aspectos especificamente capitalistas que caracterizam a vida económica, colocando a tónica no papel primordial das classes como agentes históricos; e rejeitando, ao mesmo tempo, o papel que o Estado Providência estava a desempenhar, do ponto de vista social, junto das classes trabalhadoras sem, contudo, proceder a uma redistribuição quer da riqueza quer do Poder. São, no entanto, os escritos dos autores associados ao filósofo neo-marxista Louis Althusser aqueles que se viriam a tornar como os mais influentes nas intenções, já manifestadas, de desenvolver uma nova Sociologia Urbana mais teórica e com análise mais rigorosa. Estes escritos viriam a ter grande impacto não só junto dos autores declaradamente marxistas, como de autores que se reivindicavam da tradição weberiana, como Peter Saunders que publicou em 1981 a obra Social Theory and the Urban Question,1 e na qual propunha romper com as linhas teóricas tradicionais em que a Sociologia Urbana se fundava. O argumento em que assentava a crítica à postura assumida pela Sociologia Urbana, radicava na argumentação althusseriana da distinção entre trabalhos científicos e trabalhos ideológicos. Esta distinção residiria no facto que estes últimos partiam de noções tidas como adquiridas, enquanto os primeiros manifestavam teoricamente as suas preocupações. O

1 - SAUNDERS, Peter (1981) - Social Theory and the Urban Question, London, Hutchinson & Co., Ltd.

40 mesmo seria dizer que toda a disciplina científica, a Sociologia Urbana incluída, deviria ser detentora de um objecto teórico próprio distinto e, ao mesmo tempo, específico. Assim sendo, a critica lançada à Sociologia Urbana assentava na argumentação de que toda ela era detentora não de características científicas, mas sim de aspectos ideológicos, uma vez que no seu ponto de partida predominavam conceitos de senso comum, tais como: cidade, comunidade, problemas urbanos, ou seja, na opinião dos críticos, conceitos que a própria Sociologia Urbana se mostrava incapaz de fundamentar teoricamente.1 O problema que emerge é deveras delicado. Procura-se saber qual o objecto teórico, distinto e específico da Sociologia Urbana. Esta situação aparenta ser fácil, todavia as interrogações persistem. Será a cidade o seu objecto teórico? Se a aceitássemos como tal, então surgiriam os mais variadíssimos problemas em torno das actividades sociais específicas de que a cidade seria hipoteticamente detentora e monopolizadora e, por conseguinte, não poderiam existir nos espaços não urbanos, ou seja, nos campos. Ou, ainda, poder-se-ia aceitar como seu objecto teórico a preocupação sobre o espaço e a sua pluralidade de influências, nomeadamente o impacto que as próprias distribuições do espaço podem assumir junto da vida social. A aceitação do espaço enquanto objecto teórico da Sociologia Urbana, seria aparentemente simples de resolver, não fosse o facto de ser excessivamente difícil de demonstrar em que medida esse mesmo espaço, considerado como distância física entre os objectos naturais e os objectos sociais, poderia conduzir à explicação sociológica pretendida. Não sendo detentora de um objecto teórico e sendo difícil saber como construir um que lhe fosse próprio, nada mais restava à Sociologia Urbana senão receber as críticas de Manuel Castells, que se lhe apresentavam de uma forma bastante enérgicas. Como sociólogo embutido pelo pensamento marxista, Manuel Castells tenta o processo de reconstrução da Sociologia Urbana, moldando-a à sua análise sobre as contradições existentes nas sociedades capitalistas.

1 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) - Op cit. p.28

41 Na sua opinião, na fase do chamado capitalismo tardio, as cidades eram detentoras de um papel específico, que agora já não se localizava no processo de produção, mas nos chamados centros de consumo colectivo, ou sejam, as variadíssimas formas de serviços que o Estado facultava, de modo colectivo, aos cidadãos: a habitação, os transportes, a assistência na doença, etc. Por outro lado, Castells partia ainda de um outro princípio: sendo o consumo colectivo dirigido àqueles que vivem num determinado raio espacial, tal vai implicar que haja um referente espacial por parte daqueles que nele se encontram. O modo como estes serviços eram prestados constituía, segundo Castells, a fonte de mobilização política, geradores dos chamados movimentos sociais urbanos, que procuravam, através da contestação aos padrões existentes de consumo colectivo, uma melhoria das condições de vida urbana. Castells propunha-se ir ainda mais longe no seu modelo, quando defendia que estas contestações se encontravam relacionadas com as condições de reprodução da força de trabalho e que estas seriam detentoras de um elevado potencial revolucionário, se entretanto se encontrassem articuladas com os movimentos das classes trabalhadoras. O que no fundo Manuel Castells queria demonstrar era que os movimentos sociais urbanos estavam intimamente relacionados com a luta de classes1. Parecia, assim, que a contribuição do modelo teórico de Castells resolveria os problemas que atormentavam a Sociologia Urbana, que passaria agora a deter um objecto teórico – o consumo colectivo – e a prática política marxista, na medida em que o próprio marxismo saía fortalecido pela relação que Castells estabelecera entre os movimentos sociais urbanos e a luta de classes. O curioso de todo este processo é o facto de que, do ponto de vista académico, a análise teórica que era desenvolvida sobre a cidade tenha sido feita a partir do princípio de que esta se tornava no local específico onde o poder laboral era produzido, tornando- se assim no emblema da então denominada nova Sociologia Urbana.

1 - A propósito desta questão chama-se à atenção para o facto da obra emblemática de Manuel Castells, La Question Urbaine, nunca tenha sido publicada em Portugal. Todavia, foi publicada no nosso país, em 1976, a obra Lutas Urbanas e Poder Político, (Porto, Afrontamento), onde Castells põe toda a tónica nos movimentos sociais urbanos, identificando-se mais com uma cartilha política do que com um texto científico.

42 Para fortalecer este novo olhar sobre o papel da cidade, surge em 1977 a revista International Journal of Urban and Regional Research cujas influências de Castells e do marxismo francês eram bem patentes, pese embora houvesse uma certa abertura a outras perspectivas teóricas não muito afastadas do marxismo. Os anos setenta e parte dos anos oitenta do século passado, tornar-se-iam cruciais para a sobrevivência do modelo teórico de Castells. No início dos anos oitenta esse modelo era ainda visto como algo que iria dar novo fôlego à Sociologia Urbana1. Prometia-se, acima de tudo, um quadro teórico coerente para a análise das questões urbanas. Castells era um acérrimo crítico da análise culturalista, tal qual Louis Wirth estabelecera, e das teorias deterministas sobre as questões espaciais. Propunha, em alternativa, uma teoria que dava todo o ênfase à característica variável da produção económica e ao papel que o Estado desempenhava nas sociedades contemporâneas, nomeadamente nas formas de organização do consumo colectivo. Por outro lado, as questões referentes aos movimentos sociais urbanos mereceram-lhe particular atenção, na medida em que estes se comportariam como veículos de contestação e oposição social. Mas o decorrer dos anos oitenta iria mostrar-se impiedoso para o modelo de Castells e depressa se percebeu que as críticas e os argumentos preconizados por Castells levantavam tantos, ou até mais problemas, quantos os que resolvia. Em termos práticos, os movimentos sociais urbanos (quer os de natureza social, quer os de natureza política) dificilmente se mostravam conciliáveis com as orientações políticas marxistas, ou seja, escapavam um pouco por toda a Europa ao controlo político dos partidos comunistas, em detrimento dos novos movimentos cívicos e ecológicos que entretanto começavam a emergir no horizonte europeu2. Finalmente e no campo académico, verifica-se que à medida que se avançava na década de oitenta, as orientações do ensino marxista se reorientaram para os processos de produção, em detrimento do consumo colectivo que Manuel Castells tinha empolgado e que foi relegado para um papel insignificante, contribuindo desta forma para a decadência e abandono gradual dos pressupostos teóricos da nova Sociologia Urbana.

1 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) – Op. cit p.29 2 - Foi caso do movimento ecologista alemão Die Grünnen (os Verdes)

43 2.1.9 - A emergência da Sociologia do Território:

Da construção do Espaço à construção do Território

As Ciências Sociais nem sempre consideraram o território como uma variável necessária para a compreensão das realidades sociais e económicas. Dir-se-ia que, nos primórdios, as Ciências Sociais começaram por ignorá-lo1. Recentemente, as diversas áreas do conhecimento adoptaram o território como conceito essencial nas suas análises. Com a construção do conceito de território tornou-se possível sair da polarização que existia anteriormente, ou seja, entre o rural e o urbano, o espaço agrícola e o espaço industrial. Para além deste aspecto, do ponto de vista das políticas públicas, torna-se mais fácil conferir maior visibilidade à economia local. No entanto, o conceito de território é utilizado como uma das dimensões das relações sociais, enquanto na verdade, o território é multidimensional, constituindo-se numa totalidade. Muitos sociólogos trabalham ainda, de modo indistinto, com os conceitos de espaço e de território a partir de uma visão unidimensional, muitas vezes importada de outras áreas do conhecimento. Partindo da definição extremamente ampla proposta por Henri Lefebvre de que o espaço social é a materialização da existência humana, 2 chega-se à noção que esse mesmo espaço constitui uma dimensão da realidade. Esta amplitude conceptual potencializa um conjunto de utilizações distintas do espaço de que são exemplos os espaços políticos, os espaços culturais, os espaços económicos e os ciberespaços. Sendo parte da realidade, o espaço é detentor de um carácter multidimensional. Mas para se proceder à sua análise conceptual torna-se necessário defini-lo como sendo detentor de:

a) composicionalidade, ou seja, o espaço compreende e só pode ser

1 - Cf. REIS, José (2005a) – Uma Epistemologia do Território, Coimbra, Oficina do CES, p. 1 2 - Cf. LEFEBVRE, Henri (1991) - Production of Space, Cambridge, Blackwell Publishers, p. 102

44 compreendido em todas as dimensões que o constituem. Este sincronismo expressa as propriedades do espaço: é produto e é produtor, é movimento e imutabilidade, é processo e resultado, é lugar de partida e de chegada; b) completude, isto é, o espaço possui a qualidade de ser um todo mesmo sendo apenas parte. O espaço pode conter elementos da natureza mas também é formado pelas diversas dimensões sociais resultantes das relações que os sujeitos estabelecem entre si, aos níveis da cultura, da política ou da economia. Por outro lado, os sujeitos são produtores de espaços ao estabelecerem relações diversas, sendo produtos dessa multidimensionalidade.

O espaço contém todos os tipos de espaços sociais que resultam das relações entre os sujeitos, e entre estes e a natureza, transformando assim esse espaço, alterando as paisagens, construindo territórios, regiões e lugares. A complementaridade é a qualidade pela qual o espaço social complementa o espaço envolvente (espaço natural, espaço geográfico).1 As qualidades que o espaço possui são um autêntico desafio aos sujeitos que nele vivem, no sentido da procura sobre a compreensão dos mesmos. Daí que o espaço seja multidimensional, pluriescalar ou multiescalar, num processo activo de complementaridade, de conflitualidade e de interacção. Não são raras as vezes em que estudos de análise espacial, sobre as relações sociais ou outras, procedem a leituras e desenvolvem acções intencionais que fragmentam o espaço. Este procedimento só pode resultar em análises parciais e incompletas, uma vez que restringem as qualidades que compõem e completam o espaço. O espaço apresenta-se como um conjunto indivisível de sistemas de objectos e sistemas de acções, os quais não podem ser considerados de modo isolado. Deve, antes de mais, ser considerado como um quadro único de análise onde se produz a acção histórica. As relações sociais, ao apresentarem-se predominantemente produtoras de

1 -Cf. FERNANDES, Bernardo Mançano (2005) – “Movimentos Socioterritoriais e Movimentos Socioespaciais - contribuição teórica para uma leitura geográfica dos movimentos sociais” OSAL, Buenos Aires, Ano VI, n º 16 [Janeiro-Abril 2005], p. 274

45 espaços fragmentados, dicotomizados, unos ou fraccionados, produzem também espaços conflituais. Desta produção fragmentada ou fraccionada de espaços resulta um conjunto de intencionalidades que se produzem ao nível das relações sociais. São estas relações as responsáveis pela determinação dos tipos de leitura e de acção intencional, que esboçam a totalidade como se de uma parte se tratasse, ou seja, o espaço na sua qualidade completiva, é apresentado como um fragmento ou como uma fracção. Esta decisão é uma acção intencional que vai interagir com uma acção receptiva, dando lugar à representação do espaço como fragmento ou fracção. Constitui-se, portanto, numa forma de poder, que mantém a representação materializada e/ou imaterializada do espaço, e que é determinada pela intencionalidade e sustentada pela receptividade. Sem este tipo de relação social o espaço como fracção não se sustenta. A intencionalidade pode ser definida como um modo de compreensão que um grupo, uma nação, uma classe social ou até mesmo um sujeito utiliza para se poder realizar, ou seja, para se materializar no espaço, como definiu Henri Lefebvre. Portanto, a intencionalidade não é mais do que uma visão do mundo, ampla e una, que assume sempre uma forma, um modo de ser e de existir. É dentro desta lógica que se cria uma identidade. Torna-se imperiosa a sua delimitação espacial para que seja possível a sua diferenciação e possa ser identificada. Constrói-se então uma leitura parcial do espaço que é apresentada como totalidade, dando origem às leituras etnocêntricas, uma vez que todos os povos e comunidades se sentem no centro do universo. A parte é transformada em todo e o todo é transformado em parte. O espaço passa agora a ser compreendido de acordo com a intencionalidade da relação social que o criou, daí a sua redução a uma mera representação unidimensional, e a visão parcial que o criou irá ser expandida como representação da multidimensionalidade. A relação social na sua intencionalidade cria uma determinada leitura do espaço que, de acordo com o campo de forças em presença, pode ser dominante ou não. Através

46 deste processo, criam-se as diferentes leituras socioespaciais.1 Dessa forma é produzido um espaço geográfico e ou social específico: o território. O território é o espaço apropriado por uma determinada relação social que o produz e o mantém a partir de uma forma de poder. Esse poder, já foi referido anteriormente, é dado pela receptividade. Por outro lado, o território é simultaneamente uma convenção e uma confrontação. E pelo facto de possuir limites e fronteiras, torna-se num espaço de conflitualidades. Os territórios formam-se no espaço geográfico a partir de diferentes relações sociais. O território pode ser definido como uma fracção do espaço geográfico e/ou de outros espaços materiais ou imateriais. O território como um espaço geográfico, tal qual a região ou lugar, é detentor das qualidades composicionais e completivas dos espaços. Partindo deste princípio, é essencial fazer sobressair a ideia de que o território imaterial é também um espaço político, ou seja um espaço abstracto. A sua configuração enquanto território refere-se às dimensões de poder e controle social que lhes são intrínsecas. E mesmo sendo uma fracção do espaço, o território também é multidimensional. Essas qualidades dos espaços evidenciam, nas partes, as mesmas características da totalidade. Se definirmos o território como um agregado de sistemas de acções e sistemas de objectos poderá significar que espaço e território, embora diferentes, são o mesmo. Será pacífico afirmar-se, então, que todo o território é um espaço (nem sempre geográfico, podendo assumir configurações sociais, políticas, culturais, cibernéticas, etc.). Por outro lado, é também evidente que nem sempre e nem todo o espaço é um território. Os territórios movimentam-se e fixam-se sobre o espaço geográfico. O espaço geográfico de uma nação é o seu território. E no interior deste espaço há geralmente uma multiplicidade de territórios. São as relações sociais que transformam o espaço em território e vice-versa, no entanto, o espaço é um a priori ao passo que o território se caracteriza por ser um a

1 - idem, p. 276

47 posteriori. Além disso, o espaço é perene e o território é intermitente. Da mesma forma que o espaço e o território são fundamentais para que as relações sociais possam efectivar- se, estas produzem, de modo contínuo, novos espaços e novos territórios de contornos contraditórios, interdependentes e conflituosos. Esses vínculos são indissociáveis.

2.1.10 - O conceito de Território

O actual debate sociológico sobre o território tem revelado a existência de uma amálgama de opiniões e de pontos de vista díspares. Se por um lado existem aqueles que teimam em perceber o território com uma configuração estática, há outros que chamam insistentemente a atenção para a realidade complexa e dinâmica, e em permanente mutação, que os territórios apresentam e que, em sua opinião, mais não são do que o reflexo das dinâmicas físicas, socio-económicas e culturais do contexto local1. A própria noção de território convida-nos ao debate, uma vez que amplia o nosso olhar e diversifica as possibilidades de compreender, de sistematizar e de alterar a realidade complexa. Por outro lado, o território é uma referência globalizante, ou seja, é algo que está a ser construído simultaneamente com o conceito de globalização, denotando-se, por vezes, uma certa oposição face a este conceito, sobretudo pelas possibilidades que oferece, em reconhecer e valorizar as especificidades locais e regionais e assim enfrentar o desejo uniforme da ideia de globalização. Por outro, a ideia de território pode oferecer a possibilidade de inclusão do particular no global, através das oportunidades de desenvolvimento e de potencialidades locais e regionais que as valorizam e lhes dão visibilidade. O território constituído como espaço social produzido e delimitado por uma fronteira que o ordena, é construído como representação: tanto pode ser uma ferramenta, como um recurso para o desenvolvimento económico e social.

1 - Cf. GEHLEN, Ivaldo; RIELLA Alberto (2004) – “Dinâmicas territoriais e desenvolvimento sustentável”, Sociologias, Porto Alegre, ano 6, nº 11, Jan/Jun 2004, p. 20

48 Nesta perspectiva, incluem-se no processo de planeamento as diferentes dimensões do território, pondo em evidência a sua complexidade. Todo o conjunto é afectado e, simultaneamente, apontam-se as especificidades e as particularidades internas às delimitações da sociedade global, as quais interagem nos processos de construção identitárias sócio-económico-culturais que atribuem sentido ao local. O olhar holístico que aponta para a incorporação de recursos específicos propicia a invenção de alternativas de competitividade dos produtos que são gerados no interior de um território, vantagem essa que é partilhada colectivamente. Entretanto lançam-se desafios à acção colectiva para que esta passe a gerir a apropriação, que é compartilhada, dos benefícios retirados da competitividade. Estes desafios podem ser alcançados através de processos de negociação de conflitos, de regras comuns e da tomada de decisões colectivas. Este processo é ainda responsável pela construção do património sócio-cultural baseado na tradição histórica local, ao mesmo tempo que possibilita apontar alternativas inovadoras. Aos poucos, sedimenta uma memória colectiva, re-articulando os saberes e as relações com o meio natural e com o património material e simbólico, desencadeando processos que conduzem à construção da cidadania. O conceito de território é detentor da noção de património sócio-cultural e reclama a necessidade de mobilização dos recursos e das competências, atribuindo responsabilidades sociais, através de processos participativos. Deste modo, a mobilização do património local induz à re-dinamização do território, através de novas modalidades de integração e de valorização dos recursos (materiais e não materiais) e dos produtos locais, como componentes do património sócio-cultural colectivo. Não estamos perante uma situação em que se procura integrar de forma positiva os conhecimentos científicos e técnicos nos sistemas cognitivos e de agir de forma solidária, mas de estabelecer uma relação de cooperação e de negociação do conflito, para que as normas e os códigos de conduta sejam subjectivados no sistema de representações para que constituam parte da identidade social. O conceito de território, que entretanto foi adquirindo forma, pode ser definido

49 como um espaço socialmente construído, possuidor de recursos naturais e detentor de uma história construída pelos homens que nele habitam, através de convenções de valores e regras, de arranjos institucionais que lhes conferem expressão, e de formas sociais de organização da produção. Como espaço social, o território é um campo de forças políticas conflituosas, com estruturas de poder e dominação. Assim, o território é simultaneamente um lugar de produção de bens e de acumulação de capital e um lugar de construção de acordos institucionais do poder instituído, em constante mutação e que abriga conflitos de interesses e formas de acção colectiva e de coordenação. As formas de acção colectiva são territorializadas, pois não ocorrem no espaço abstracto, mas sim no espaço socialmente construído.

2.1.11 -Sociologia do Território - Novos olhares sobre velhas e novas questões: a análise dos territórios em mutação

A Sociologia, ao apropriar-se do conceito de território, tenta resolver um conjunto de questões com que a Sociologia Urbana e a Sociologia Rural se confrontavam e para os quais as teorias por si construídas deixavam muitas perguntas sem resposta. Daí que o uso do conceito de território tenha vindo, há mais de uma década, a obrigar à realização de um conjunto de reflexões em torno dos conceitos de rural e de urbano, ao mesmo tempo que nos leva a interrogar sobre os seus objectos específicos de análise.

2.1.12 - Uma nova análise sobre as relações entre os espaços sociais rural e urbano

A leitura sociológica que predominantemente marcou, nos últimos anos, a análise sobre espaço social rural português - nas suas dimensões de investigação e de institucionalização académica, sob a forma de Sociologia Rural – caracterizou-se por ser

50 tributária do paradigma de análise dominante em voga nos anos setenta. 1 Esse paradigma, incorporava um conjunto de problemáticas e de preocupações intrinsecamente relacionadas com a natureza das transformações verificadas pela agricultura e pelos espaços rurais nas sociedades mais avançadas da Europa. Assim, as teorias desenvolvidas estavam todas elas viradas para a explicação da sobrevivência do campesinato 2 e as articulações entre a denominada economia camponesa e a sociedade global.3 Hoje, é possível verificar que este paradigma se encontrava tendencialmente enviesado no que se refere ao tipo de análises teóricas que produziu, isto porque:

a) relegou para um lugar de destaque, senão mesmo para um lugar exclusivo de análise, o campesinato e a pequena agricultura familiar, deixando o conhecimento sobre os assalariados agrícolas e as especificidades relacionadas com o sistema latifundista para um lugar subalterno, senão mesmo marginal; b) a articulação rural-urbano, utilizada para analisar os processos de desenvolvimento e de mudança social, era baseada em teorias dicotómicas, onde o espaço rural se subordinava (e também se subalternizava) ao espaço urbano, através do que ficou denominado por submissão formal da agricultura camponesa aos sectores de produção especificamente capitalistas.4

Por outro lado, o paradigma ao aceitar a tese da autonomia relativa do espaço rural abria a possibilidade de se proceder a análises sobre os próprios equilíbrios e sobre os mecanismos de reprodução internos.5 Se uma das mais importantes heranças que o modelo teórico em análise possibilitou foi a restituição parcial do processo de desenvolvimento industrial, centrado

1 - Cf. REIS, Manuela; LIMA, Aida Valadas de (1998)) – “Desenvolvimento, Território e Ambiente” in VIEGAS, José Manuel Leite; COSTA, António Firmino (Org.) (1998) – Portugal que Modernidade?, Oeiras, Celta, p. 341 2 - No quadro da análise marxista das classes sociais, o campesinato é considerado uma classe social especificamente não-capitalista, isto porque a sua origem remonta ao período medieval. 3 - Cf. REIS, Manuela; LIMA, Aida Valadas de (1998) – Op.cit., p. 341 4 - idem 5 - idem, p. 342

51 nos espaços urbanos dos países mais desenvolvidos e dos mais periféricos da Europa, conseguiu produzir uma fundamentação teórica e uma metodologia crítica muito consistente do modelo empirista-localista que condicionou muitos dos estudos sobre as comunidades rurais. A pior herança, se nos for assim permitida a classificação, prende-se com o facto desse mesmo modelo ter limitado as abordagens teóricas a outras dinâmicas do espaço rural, nomeadamente aquelas que se referem ao sul da Europa, onde esse mesmo espaço rural se apresenta regionalmente mais diferenciado e que nem sempre se assumiu como um espaço social passivo face aos processos de mudança.1 O impacto empírico verificado a partir deste modelo, traduziu-se num conjunto de processos e de estratégias, de inovação e de reconversão económica, submetidas às lógicas urbano-industriais e ignorando os factores intrínsecos aos contextos locais onde se encontravam integrados. As lógicas e as próprias experiências de industrialização, que emergiram de forma difusa nalguns países do sul Europa, nomeadamente em espaços rurais e noutros tradicionalmente marginalizados, abriram o caminho que tendem para o incremento de processos de desenvolvimento, assentes nos recursos e nas complementaridades dos locais, e que evoluiu de um modo relativamente autónomo face ao modelo dominante de desenvolvimento, muitas das vezes denominado por fordista, que marcou o pós-guerra. A partir o momento em que se passou a reflectir sobre as dinâmicas de reanimação local dos espaços sociais anteriormente considerados como irrelevantes, senão mesmo invisíveis, face às perspectivas de reflexão de teorias macroeconómicas e macro-sociológicas, obrigou a que se procedesse a profundas reconceptualizações nos vários campos de análise, das quais sobressaem aquelas que se preocupam, simultaneamente, com os aspectos inteligíveis face às novas interdependências espaciais e territoriais, e com a promoção da reabilitação dos estudos locais e da análise dos fenómenos sociais. O conceito de rural tende a ganhar novos contornos como consequência das transformações que têm tido lugar nos vários territórios. Talvez já não se possa falar de uma especificidade do espaço social rural, uma vez que essa mesma especificidade

1 - idem

52 desapareceu devido ao avanço das lógicas que presidem ao modo de produção capitalista nos campos.1 Por outro lado, o rural tende a distanciar-se cada vez mais de uma concepção sectorial que assentava tradicionalmente nas actividades agrícolas. A primeira interrogação que surge quando se pretende reflectir sobre as mudanças verificadas nesse espaço social, prende-se com o aspecto meramente ideológico que vem defendendo que o espaço rural não é mais do que o prolongamento expectante do espaço urbano; então é legítimo que nos interroguemos: será que o rural poderá ser entendido como um continuum do urbano? Ou será que o espaço rural poderá ser compreendido recorrendo à dicotomia rural e urbano? O que se tem vindo a verificar é um incremento da penetração das actividades industriais na agricultura, a ponto de não se poderem diferenciar os sectores de fornecimento ou de compra de produtos. Devido à forte influência das actividades urbanas que penetram no espaço rural, assiste-se a processos diferenciados de urbanização dos campos. Todavia, esta situação não deve ser vista como um determinismo, ao qual o espaço rural se encontra irremediavelmente condenado. Outro tipo de modificação verificada nos espaços rurais relaciona-se com as alterações nas formas de trabalho, comprovando-se a emergência de profissões diferenciadas no meio rural que eram, anteriormente, exclusivamente urbanas. Como ocupações não agrícolas, podem-se destacar profissões como administradores, secretárias, mecânicos, motoristas ou operadores de informática. O que sobressai destas alterações é o facto de nestas profissões, além de serem diferenciadas para o meio, os profissionais passarem a ocupar postos de trabalho em empresas que não estão ligadas somente ao ramo das agro-indústrias, mas a outras empresas que, por razões diversas, se estabeleceram neste ambiente. Entretanto, presencia-se a proliferação de lugares ou quintas projectadas para actividades de lazer destinadas à classe média urbana, e acessivelmente localizados em

1 - Cf. FREITAS, Eduardo de, ALMEIDA, João Ferreira de, CABRAL, Manuel Villaverde (1976) – Modalidades de Penetração do Capitalismo na Agricultura, estruturas agrárias em Portugal continental. 1950-1970, Lisboa., Editorial Presença

53 relação aos grandes centros urbanos, e que possuem actividades diversificadas como a apicultura, a criação de peixes, de aves e outros pequenos animais, ou a produção de chás, de flores, de plantas ornamentais, de frutas e hortaliças, assim como actividades de recreio e de turismo (como o turismo de habitação, o agro-turismo ou o turismo rural), e que apresentam um impacto positivo na preservação e conservação da paisagem ao mesmo tempo que viabilizam economicamente espaços condenados ao despovoamento. Estes estabelecimentos, para além de proporcionarem uma alternativa de rendimento diferenciado para os trabalhadores agrícolas, propiciam que esses mesmos trabalhadores se tornem caseiros ou até jardineiros, contribuem, ainda, para eliminar as culturas extensivas que se encontram nos arredores das cidades, libertando-as da dependência dos agro-químicos e da maquinaria pesada que normalmente se encontram associados a este tipo de culturas.1 A interrogação anteriormente estabelecida possibilita que se proceda a um outro tipo de reflexão. Hoje parece ser pacífica a aceitação do facto de existir uma grande aproximação entre os ambientes culturais urbanos e rurais. No entanto, esta integração não leva, necessariamente, a uma mudança generalizada da identidade local dos habitantes rurais, contrariamente ao que se poderia supor. O maior contacto, como aquele que ocorre actualmente, pode até proporcionar um efeito contrário. Assim, ao invés de se dar uma homogeneização cultural, que descaracterizaria as identidades sócio-culturais dos sujeitos, a aproximação realçaria as especificidades do rural, na medida em que se produziria uma reestruturação das identidades e, simultaneamente, se verificaria um fortalecimento da ruralidade.2 Dado o entrosamento de culturas, torna-se necessária alguma prudência com o uso de determinados resultados o que, muito evidentemente, pode apontar para uma reestruturação das identidades e das culturas rurais atribuindo-lhes valores e padrões

1 - Cf. BLUME, Roni (2004) – Território e Ruralidade – a desmistificação do fim do rural, Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Rural, Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Faculdade de Ciências Económicas, p. 38 2 - idem, p. 40

54 tidos como urbanos. E esta prudência não é de todo descabida se tomarmos em consideração a propagação da cultura rural nas grandes áreas urbanas. Perante esta clara invasão do rural no espaço urbano, coloca-se obviamente em causa os pressupostos dos que defendem o fim do rural. E esta questão leva a uma outra interrogação. A fronteira entre o rural e o urbano não estará a ser derrubada pelo lado contrário? Este facto indicia, de forma indiscutível, que a fronteira entre o rural e o urbano não é rígida, encontrando-se muitas das vezes de forma dissimulada. Daqui emergem a necessidade e a importância da análise do local. Todavia, a noção de local não reduz o espaço a uma simples base física. Esta noção torna-se útil como uma referência para um conjunto de relações sociais diversificadas que podem estar diluídas tanto no ambiente rural como no urbano, reduzindo, desta forma, a necessidade de distinção entre os ambientes. Perante esta diversidade, os valores culturais são incorporados por novos hábitos e técnicas, o que contribui para que se torne difícil a determinação da unicidade no sentido das modificações e de se proceder com rigor à identificação de determinada preponderância de certos valores culturais considerados como hegemónicos. 1 A solução a adoptar para este tipo de análise parece ser aquela que Pierre Bourdieu propunha para a leitura do rural como uma categoria social realizada. 2 A partir desta proposta, desenvolver-se-ia um conjunto de possibilidades para observar as relações sociais ao nível local, tornando-se possível a agregação ao rural das categorias simbólicas que foram sendo construídas a partir de universos culturais diversos. Estas categoriais tendem a orientar o sentido das análises para os sujeitos do processo e não apenas para o espaço. Serão os sujeitos que irão manifestar o seu vínculo com o local, através das suas práticas, independentemente de estarem ou não fisicamente no local definido como o de origem.

1 - idem, p.41 2 - Cf. BOURDIEU, Pierre (1993) – “A propos de la famille comme catégorie réalisée” Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº 100, Dezembro de 1993. pp. 32-36.

55 Torna-se, contudo, pertinente averiguar se, ao centrar os estudos nos aspectos simbólicos do rural, tendo o local como escala de análise, não se estaria a limitar a abordagem a outras escalas analíticas, e que são, por seu turno, são influentes na escala local. Neste sentido, mais do que precisar as fronteiras entre o rural e o urbano ou evidenciar as diferenças culturais nas representações sociais, há que verificar a qualidade do conjunto das relações que as práticas sociais estabelecem sobre o espaço, sobre o local de análise, sendo que as práticas podem até mesmo ampliar a rede de relações sociais, sem que no entanto proporcionem uma homogeneidade social. Para que isto ocorra, as identidades devem estar ancoradas ao sentimento de pertença a um determinado local, criando uma consciência de si na relação que estabelece com o outro.1 A proposta que sugere o estudo do rural a partir de uma abordagem territorial é deveras inovadora. Parte-se do princípio que o território pode substituir com vantagens acrescidas, as ambiguidades originárias das perspectivas dicotómicas ou das perspectivas que consideram o rural como um continuum do urbano, na medida em que remete o debate para questões mais inteligíveis, não se preocupando em precisar as características que outros consideraram como determinantes, de um ou outro espaço. Acredita-se que a abordagem territorial para o rural pode proporcionar uma valorização de dimensões analíticas importantes como os fundamentos ecológicos e económicos que se encontram inscritas neste espaço. Será, de todo errado, abordar as relações entre a cidade e o campo, nos termos em que usualmente se desenrola o debate sociológico, ou seja, dicotomia × continnum. E é de todo errado, pelo facto de existirem as denominadas twilight zones, ou sejam, espaços que pelo aumento da densidade demográfica, já não são rurais mas ainda não são urbanos, sem que, contudo, tal venha a significar que a contradição material e também histórica entre o fenómeno urbano e o fenómeno rural esteja a desaparecer. Urge então saber quais os impactos que a tendência da diferenciação espacial pode alcançar na questão do desenvolvimento local, uma que é usual aliar as questões do desenvolvimento com os processos de urbanização.

1 - Cf. BLUME, Roni (2004) – Op.cit. p. 42

56 Todavia, é possível que um determinado espaço rural se desenvolva sem ter a necessidade de se tornar não-rural. A verificar-se esta situação, dar-se-ia como que um corte epistemológico com a perspectiva do espaço rural como continuum do espaço urbano, havendo lugar ao questionamento da tese que advoga que o desaparecimento do rural se torna irreversível face ao avanço da urbanização. Os estudos a empreender devem incorporar as novas perspectivas de análise, já que para estas, torna-se fundamental a valorização da questão espacial, que assume um lugar de destaque nesses estudos. Desta forma, a abordagem territorial que é possuidora de um enfoque que valoriza as dimensões espaciais numa forma diferenciada para análise do rural, tornou-se a mais inteligível uma vez que os conceitos de espaço e de território não se restringem, apenas e só, às dimensões local, regional, nacional ou até mesmo continental, como podem referenciar, de forma simultânea, a todas essas dimensões, o que se traduz numa mais valia para a análise. Contudo será pertinente proceder-se à verificação de prováveis impedimentos de índole teórico-conceptual, que reduziram o uso do território a uma mera abordagem explicativa, para que se possa realizar o pressuposto da abordagem territorial. Será que o território é suficientemente inteligível na discussão sobre o rural e a ruralidade? Ou será que a essa abordagem, nos termos é que é proposta, só irá valorizar uma das dimensões explicativas, a explicação normativa? Ao chamar o território à discussão, para as questões sobre o rural e a ruralidade, contribui-se para que o debate passe a assumir um caminho especializado, pois dá-se a sua distanciação das vertentes clássicas das Ciências Sociais, configurando-se, deste modo, um novo momento para se produzirem as reflexões. No entanto, esta renovação teórica, que tem vindo a apelar à convocação de novas abordagens sobre a fronteira do rural e dο urbano, e cuja reformulação está longe de reunir a fundamentação teórica indispensável à credibilidade e adesão da comunidade científica, tem vindo a introduzir, de forma sistemática, um conjunto de orientações e de perspectivas de análise, sobretudo, quando focalizam a sua atenção nos processos endógenos – quer se tratem de transformações, ou de iniciativas de base local – e que são

57 concernentes a contextos e a estratégias regionais, têm proporcionado para que se verifique a emergência de novos princípios a introduzir nas teorias de análise do desenvolvimento local.

2.2 - A ABORDAGEM DA ECONOMIA

2.2.1 - Da economia regional aos sistemas produtivos locais

Contrariamente à Sociologia, a Economia fez um percurso inverso. A Economia é tradicionalmente detentora de uma óptica de análise a-espacial. Mas se a dimensão espacial é incluída nas suas análises, é porque a distância pode alterar as condições de trocas de bens e serviços.

É esta mobilidade de produtos e de factores que fazem a vida económica de uma dada sociedade, que se torna no centro dos problemas económicos colocados pelo espaço.

Para o pensamento económico clássico, tratava-se de uma mobilidade espacial e temporal, assente em dicotomias – entre a agricultura e a indústria, que por sua vez se encontrava associada a uma outra dicotomia entre o rural e o urbano. A dimensão espacial pressupõe a agricultura e o rural como espaços diferenciados da indústria e do urbano; a dimensão temporal considera que a agricultura e o rural representam o passado, enquanto a indústria e o urbano representam o futuro que se deseja.

Contudo, é durante o século XVIII que algumas das questões mais importantes, relacionadas com a economia espacial, são formadas, nomeadamente: a questão da “localização das actividades produtivas, tendo em conta os custos das distâncias entre produtores e o mercado e as causas das desigualdades estruturais entre cidades e o campo; e a dissociação entre o espaço económico e o espaço político.”1

Richard Cantillon, considerado por muitos como um dos percursores da chamada economia espacial, define as áreas de mercado delimitadas pelos custos dos transportes

1 - CARIA, Fernando (1993) - Planeamento Urbanístico e Desenvolvimento Local - Tese de Doutoramento, Lisboa, Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Arquitectura, p. 32

58 entre os locais de produção e de venda.1 Cantillon reconhece o espaço como distância- custo, entre os locais de produção e de consumo. Por outro lado, constata a desigualdade e a hierarquização funcional do espaço na distribuição de riqueza, evidenciando a desigualdade estrutural entre o campo e a cidade. A originalidade das propostas de Cantillon, atendendo à época em que foram produzidas, reside na necessidade de relocalizar as actividades industriais de modo a permitir uma maior igualdade entre os espaços.

Esta primeira etapa da economia espacial baseava-se numa concepção do espaço como gerador de custos. No entanto, as divergências que então começam a surgir incidem, sobretudo, sobre o modo em como são apreciadas as desigualdades das condições oferecidas pelos diferentes espaços locais, e, naturalmente, sobre as várias teorias que se debruçam sobre a localização das actividades produtivas.

Temos, então, em presença quatro concepções sobre o espaço:

• o espaço homogéneo, cujo suporte teórico parte do espaço económico no qual a relação mercantil é a função de base que origina as localizações;

• o espaço polarizado, atribui uma grande valorização à função das empresas. As forças de atracção e de repulsão que atraem ou repelem as actividades económicas são o resultado da combinação entre a distância, a massa e a natureza da actividade produtiva;

• o espaço dependente, dá ênfase à desigualdade das relações económico- espaciais entre as regiões, representando o espaço como um produto que é resultado de um conjunto de leis mais gerais do funcionamento societal;

• o espaço território, considera o espaço como diversificado e activo, abandonando a noção de espaço enquanto produto de funções. Procura-se a articulação entre espaço e desenvolvimento, baseado num desenvolvimento de baixo para cima, apelando à capacidade endógena das regiões em resolver as suas necessidades a partir dos recursos de que

1 - A obra Essai Sur la Nature du Commerce en Général, foi publicada em 1755, uns vinte anos após a morte de Richard Cantillon.. Obra editada sem nome, foi atribuída a sua autoria a Cantillon por Mirabeau.

59 dispõem.

2.2.2 - O Espaço homogéneo

Os impactos de uma industrialização que não para de crescer, são os responsáveis pela introdução, no pensamento económico, das concepções do espaço homogéneo. Esta concepção do espaço procura racionalizar os movimentos das actividades económicas, uma vez que o funcionamento do mercado é regido pelos princípios da livre troca.

Como refere Bernard Pecqueur “a hipótese do espaço homogéneo será o ponto de partida da economia moderna”1, independentemente de se considerar a existência de descontinuidades teóricas entre os vários autores do século XIX e seus precedentes.

É o efeito distância que é privilegiado, uma vez que concebem o espaço articulado com o movimento de mercadorias.

2.2.3 - O Espaço polarizado

Como fenómenos indutores desta concepção de espaço apontam-se o forte crescimento industrial, o crescimento das zonas urbanas e os fluxos migratórios que experimentam uma grande aceleração. Há uma relação de associação entre as assimetrias regionais e os seus problemas, com uma situação de crescimento económico que caracteriza os países desenvolvidos.

De modo a colmatar esse desequilíbrio regional surge uma reapreciação do papel das economias exteriores, atribuindo-se às empresas um papel valorativo, no que respeita à função estruturante do espaço, bem como à sua capacidade de atrair novas actividades económicas e pessoas. Enfim, procura-se lançar o crescimento onde ele é necessário.

Parte-se, então, da ideia base de que o espaço é um campo neutro que é atravessado por uma pluralidade de forças, que desenvolvem sobre o território um conjunto de acções tendentes ao seu controlo e orientação.

O espaço perde a sua qualidade de homogeneidade, a partir do momento em que

1 - PECQUEUR, Bernard (1987) - De l’Espace Fonctionnel à L’Espace-Territoire, Grenoble, Tese de Doutoramento de Estado, Université des Sciences Sociales de Grenoble, p. 39

60 se reconhece que existem lugares onde a acumulação é mais rápida do que outros, dando origem à noção de espaço polarizado, que aparece como síntese destes efeitos .

A teoria dos pólos de crescimento foi desenvolvida por François Perroux (1955; 1961) e mais tarde desenvolvida por outros autores, é uma teoria que se apresenta, ao mesmo tempo, económica e espacial. Como refere Philippe Aydalot (1985) do ponto de vista da teoria económica, o pólo é considerado como um mecanismo indutor do crescimento, como teoria espacial, e vai explicar a concentração espacial do crescimento demográfico.

Defendia-se que os impulsos gerados pelas empresas motoras – geralmente identificadas com a chamada indústria pesada – se propagariam a outras unidades de produção, delas dependentes, impondo-lhes reacções que ampliariam os efeitos directos emitidos por essas unidades centrais.

Os pólos de crescimento vão ser os responsáveis pela criação de economias externas, que se transmitem horizontalmente e verticalmente.

A transmissão horizontal é realizada através da distribuição de rendimentos complementares difundidos no conjunto dos sectores de actividade. Contudo, o sector terciário sairá como o grande beneficiado do processo, pelas actividades económicas que alberga e pelo crescimento do meio urbano.

No processo de transmissão vertical os grandes beneficiados são a montante, os sectores relacionados com as empresas motoras que lucram com o aumento da procura e, a jusante os sectores compradores que vão beneficiar com a melhoria da qualidade, da baixa de preços, etc.

Do ponto de vista da análise espacial, “os impactos gerariam a montante a concentração espacial dos sectores de actividade e, a jusante, um meio urbano complexo”1.

Este tipo de polarização tem a ver com dois fenómenos: as características das industrias induzidas, que são geralmente de pequena dimensão e procuram um acesso rápido aos seus mercados e, a concentração populacional e dos equipamentos necessários

1 - CARIA, Fernando (1993) – Op. cit., p. 46

61 ao novo meio industrial.

Os pólos de crescimento vão ser defendidos e recebem apoios públicos até à década de setenta, altura em que a crise económica os atinge, provocando uma reflexão em torno dos efeitos deste modelo de desenvolvimento no que respeita às formas de organização industrial e territorial.

É com base nesta teoria que o III Plano de Fomento, que funciona como instrumento de planeamento territorial, propõe a criação de um pólo industrial para a Península de Setúbal, de onde a cidade de Setúbal sobressaía.

2.2.4 - O Espaço da dependência

As teorias que colocam o espaço enquanto produto dependente são desenvolvidas essencialmente por autores marxistas, que enfatizam os diferentes aspectos e as origens do processo de internacionalização da economia e dos seus efeitos espaciais.

O espaço económico desenvolve-se, segundo estas teorias, em torno das dependências entre espaços, dependências essas que são provocadas pela lógica da valorização do capital. À medida que se valoriza a importância do espaço, afirma-se o desaparecimento da sua importância, o que não deixa de ser um paradoxo nestas teorias.

O espaço é, mais do que nunca, uma materialização de uma sociedade que se rege por normas, valores e contradições, nitidamente a-espaciais, porque se encontram noutras dimensões do social. Os conflitos espaciais são, eles também, entendidos como o resultado de outros conflitos situados na esfera social global.

Os anos sessenta são férteis nas análises sobre o fenómeno da deslocalização das industrias, que revelam e evidenciam uma estrutura hierarquizada dos espaços económicos, quer no plano internacional, quer no plano inter-regional.

Este processo de deslocalização industrial vai repartir pelo território mundial a implantação de unidades produtivas, mantendo e reforçando os laços de dependência entre os países do centro e os países periféricos. O processo que hoje se verifica, já produziu clivagens ao nível dos espaços nacionais, de modo que no interior do seu

62 próprio território se encontram regiões centrais e regiões periféricas.

Na opinião de Arghiri Emmanuel (1972), não só é indispensável a análise da localização produtiva que considere o espaço mundial enquanto totalidade, como perceber este processo de deslocalização como um factor inerente ao próprio processo de acumulação. Ainda segundo este autor, a troca desigual entre os vários países seria explicada por este processo.

2.2.5 - O Espaço território

As mutabilidades recentemente verificadas ao nível da organização do sistema sócio-espacial têm vindo a questionar os paradigmas sobre o espaço.

Se é verdade que a maioria das velhas (e novas) regiões industriais têm vindo a mostrar uma forte incapacidade de sair da crise, também não é menos verdade que algumas regiões menos desenvolvidas têm vindo a emergir na cena económica, ultrapassando a situação de economia de crise através de dinâmicas que se desenvolvem ao nível da relocalização da lógica sócio-produtiva, cuja dimensão total, ainda hoje, é difícil de conhecer.

Desde os meados dos anos setenta e durante os anos oitenta do século passado, que se desenvolveu um conceito de desenvolvimento endógeno em torno da ideia de território, como elemento essencial do desenvolvimento.

O território constitui o conceito chave que se encontra no centro do desenvolvimento endógeno. Este conceito deixa de ser um mero suporte físico das relações funcionais e sociais, que se verificam em torno das actividades económicas, para se tornar numa teia complexa de interesses que influenciam a comunidade territorial e, por isso, na medida em que mantêm a identidade territorial, constitui-se num agente de desenvolvimento1

A passagem do espaço ao território ocorre num processo de produção do espaço, na medida em que este é balizado, modificado, transformado por redes e fluxos

1 - Cf. CAPITÁN, António Luís Hidalgo (1998) - El Pensamiento Económico sobre Desarrollo- De los Mercantilistas al PNUD, Universidad de Huelva (policopiado) p. 239

63 (rodovias, circuitos comerciais e bancários, rotas...) que aí se instalam. Falar em território é fazer uma referência implícita à noção de limite, que mesmo não estando traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com determinado recorte espacial.

Quando o território, como unidade de gestão, se expande pelo espaço não ocupado, ocorre uma (re)ordenação dos territórios, criam-se novas formas de territorialidades que, dialecticamente, provocam novas formas de desterritorialidades e surgem novas territorialidades.

Este conceito de territorialidade refere-se ao que se encontra no território, ou seja, ao processo subjectivo de consciencialização da população de fazer parte de um território, ou de integrar-se num Estado

O novo conceito de território assenta na articulação indissolúvel entre o social e o espaço, entre o sistema e os actores.1

O que está em causa neste novo conceito de território são as “dinâmicas e as especificidades socioespaciais que produzem territórios particulares”2. Cria-se e desenvolve-se um maior interesse sobre as capacidades endógenas das regiões em utilizar os seus próprios recursos, produzir e conduzir os processos de produção de riqueza.

O paradigma territorialista vai centrar a sua problemática na capacidade das regiões em produzir e gerar riqueza e na importância que o jogo de actores apresenta no desenvolvimento local.

“O jogo dos actores toma localmente uma dimensão espacial provocada pelos efeitos externos e pode permitir a criação de um meio favorável ao desenvolvimento do potencial produtivo de um dado lugar. Admitamos que o espaço local definido através da noção de território represente no processo de desenvolvimento o papel activo de uma variável explicativa.”3

À volta da noção de desenvolvimento debaixo para cima, em oposição a um

1 - Cf. GUERRA, Isabel Pimentel (1991) - Op. cit., p. 37 2 - idem 3 - PECQUEUR, Bernard (1987) - Op. cit., p. 9

64 desenvolvimento de cima para baixo, Richardson (1973), Friedman e Alonso (1975) e Walter Stöhr (1981), entre outros, utilizam um corpo conceptual e uma metodologia próprios, o que lhes permite romper com o conceito de espaço como lugar de funções económicas.

Estes autores iniciam uma nova teoria, que pode ser designada como teoria da acção sobre o espaço, que passa assim a ser visto como um espaço vivido, resultante da expressão das necessidades e actividades dos actores territorializados e desenvolvendo processos de interacção.

Este paradigma que coloca os actores no centro dos espaços e em todas as actividades económicas e sociais, irá considerar os espaços locais como o palco onde se desenrolam as estratégias dos actores territorializados.

A análise local vai fazer emergir sistemas articulados de relações assentes nos comportamentos interactivos dos actores.

Para Walter Stöhr, todas as comunidades territoriais são detentoras de um conjunto de recursos económicos, humanos, institucionais e culturais, que contribuem para a formação do potencial de desenvolvimento endógeno.

São estes recursos, existentes a nível local, que se vão traduzir numa estrutura produtiva específica, num mercado de trabalho específico, numa capacidade empresarial empreendedora, numa dotação de recursos naturais, numa estrutura social e politica, que vão constituir a base para que haja uma articulação do processo de crescimento económico e a melhoria dos níveis de vida da população.

Este tipo de desenvolvimento de base local consiste no processo de desenvolvimento assente nas capacidades das populações de um dado território em liderar o seu próprio modelo de desenvolvimento, através da mobilização do seu potencial endógeno e com objectivos claros e precisos: melhorar o seu nível de vida.

O desenvolvimento endógeno tenderia, segundo Walter Stöhr, a possuir três dimensões:

• uma dimensão económica, na qual os empresários locais detêm um papel essencial relacionado com os factores produtivos locais, capazes

65 de geral a produtividade suficiente para serem competitivos nos vários mercados;

• uma dimensão sócio-cultural, na qual os valores e as instituições residem e que servem de base de apoio aos processos de desenvolvimento;

• uma dimensão político-administrativa, que é o local onde se localizam as politicas territoriais e que possibilitam criar um retorno económico de cariz local, capaz de proteger o território das influências exteriores, favorecendo e dinamizando o desenvolvimento do próprio potencial local.

As propostas em torno do desenvolvimento endógeno foram acolhidas com muito interesse por parte dos chamados países industrializados, que viram nelas uma forma de potenciar o desenvolvimento das zonas rurais, e nos quais foram desenvolvidas estratégias de desenvolvimento local adaptadas a esse tipo de países.

66 3 - ESPAÇO REGIONAL E ESPAÇO LOCAL DA ANÁLISE DO SISTEMA À ANÁLISE DOS ACTORES

A confusão que usualmente se comete entre a região e o local provêm de um erro de definição, e que até hoje está por resolver, “entre a dinâmica dos sistemas que instituem a análise regional e a dinâmica dos actores que instituem a análise local”.1 A análise regional incide a sua pesquisa sobre os denominados efeitos de aglomeração, que resultam da agregação das decisões dos actores - individuais ou colectivos - cujos impactos se tornam visíveis e mesuráveis através da concentração de informação dispersa, articulada com a lógica da pesquisa.2 A análise do espaço local vai seguir o que se pode denominar por individualismo metodológico e cujo princípio de análise está focalizado na confrontação dos actores, ao nível das negociações, das convergências e dos conflitos e divergências entre os diversos e diferentes interesses. O espaço regional será definido pelo investigador, mediante o problema que quer explicar, ao passo que o espaço local será definido pelas dimensões sociais e culturais das trocas entre actores. Presentemente, a questão regional tem como nó central de interrogações “a articulação entre o sistema e o actor, a saber, entre os grandes movimentos de sedimentação das regiões que funcionam como «balizas» condicionantes do comportamento dos actores e as lógicas de acção de uma multiplicidade de actores individuais e colectivos por eles produzidas.”3

1 - idem, p. 116 2 - Cf. GUERRA, Isabel Pimentel (1991) - Op .cit. p. 40 3 - idem, p. 41

67 68

“ (...) até finais dos anos 80, o termo [globalização] quase não era usado, nem na literatura académica nem na linguagem corrente. Apareceu não se sabe de onde, para chegar a quase todos os sítios”

GIDDENS, Anthony (2000) – O Mundo na Era da Globalização, p.20

4 - MUDANÇA SOCIAL, MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO

Nunca a mudança social assumiu uma rapidez como aquela que se tem vindo a observar nas últimas duas décadas. Essa mudança tem sido de tal ordem, (quer em dimensão, quer em diversidade), que hoje só conseguimos delimitar, com alguma precisão, os seus contornos e algumas das suas consequências. Embora na década de oitenta, do século XX, o conceito de pós-modernismo tenha tido um papel importante para a análise da mudança social, na década que se seguiu foi o conceito de globalização que emergiu, se consolidou e se expandiu. Como afirma Anthony Giddens “a modernidade é inerentemente globalizante.”1 Essa inerência apresenta-se sobejamente evidente ao nível das características básicas em que assentam as instituições da modernidade, para além de serem detentoras, a um nível mais particularizado, de descontextualização – ou seja, a “ «desinserção» do conjunto das relações sociais dos contextos locais de interacção e à sua reestruturação através de extensões indefinidas de espaço-tempo.”2 e de reflexividade, que reside “no facto de as práticas sociais serem constantemente examinadas e reformadas à luz da informação adquirida sobre essas mesmas práticas, alterando assim constitutivamente o seu carácter.”3 As poucas dificuldades que os Estados encontraram, nas décadas que se seguiram

1 - GIDDENS, Anthony (1995) – As Consequências da Modernidade, Oeiras, Celta, (2ª ed.), p. 51 2 - idem, p. 16 3 - idem, p. 31

69 à Grande Depressão, em demonstrar a sua capacidade em dominar os Mercados, promover o crescimento e reproduzir as desigualdades sociais, foi cedendo lugar a uma nova configuração, que caracteriza as sociedades actuais. Hoje, são os Mercados os grandes responsáveis pela definição dos limites da Política. Aos Estados cabe a tarefa de procurar as formas que lhes parecem ser as mais capazes para competir e aumentar as quotas de exportação. Os Estados-nação, em termos da ordem política mundial, constituem os seus actores principais, sendo as empresas os agentes dominantes em termos de economia mundial. 1 No conjunto das relações que mantêm, quer entre si, quer com os Estados, quer com os consumidores, as empresas (independentemente de serem industriais, de serviços, financeiras ou bancárias) dependem da produção para a obtenção do lucro. De modo a alcançarem esse supremo objectivo, a expansão do seu espaço de influência deve ser responsável pela ampliação dos Mercados de produtos. Simultaneamente a este processo, os países tradicionalmente industrializados procuram alargar o seu espaço de mercado, em detrimento de considerarem o seu próprio mercado interno como crucial para uma forte perfomance, cabendo aos novos países industrializados o desafio de forma aberta e frontal à liderança técnica dos países tradicionalmente industrializados. Como referem Robert Boyer e Daniel Drache, “Se toda esta intensa actividade pudesse ser reduzida a um simples conceito, seria o de globalização”.2 No entanto, todo este processo de globalização tem vindo a mostrar-se como o grande responsável pela redefinição do papel do Estado-nação, nomeadamente no papel que este desempenha em matéria de eficácia na gestão da economia. nacional. Ora, as economias nacionais são hoje cada vez mais abertas e os países apresentam uma menor capacidade para desenvolverem e prosseguirem as suas políticas económicas independentes, uma vez que se defrontam com empresas cujo crescimento é manifestamente concretizado sem o respeito pelas próprias fronteiras internas. O destino económico de cada país parece estar, desta forma, condenado perante

1 - idem, p. 58 2 - BOYER, Robert; DRACHE, Daniel (1997) - Estados Contra Mercados- os limites da globalização, Lisboa., Instituto Piaget, p. 13

70 um processo de globalização que se mostra decidido a estabelecer uma nova ordem económica mundial assente sobre o que resta das economias nacionais.1 Por outro lado, a globalização não se circunscreve apenas e só aos aspectos económicos. Esta rede complexa de processos estende-se às esferas política, tecnológica e cultural. “A globalização não é apenas mais uma coisa que «anda por aí», remota e afastada do indivíduo. É também um fenómeno interior que influencia aspectos íntimos e pessoais das nossas vidas.” 2

1 - Cf. DRACHE, Daniel “De keynes ao k-mart – competitividade numa era colectiva” in BOYER, Robert; DRACHE, Daniel (1997) - Estados Contra Mercados - os limites da globalização, Lisboa., Instituto Piaget, p. 45 2 - GIDDENS, Anthony (2000) – O Mundo na Era da Globalização, Lisboa., Presença (2ª ed.), p. 23

71

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5 - A SOCIOLOGIA FACE À GLOBALIZAÇÃO: DAS TEORIAS CLÁSSICAS ÀS TEORIAS ACTUAIS

Não se pode determinar com exactidão em que momento o conceito de globalização entrou nas Ciências Sociais e na Sociologia em particular. No entanto, é possível constatar a existência de aproximações teóricas tendencialmente globalizantes feitas por autores clássicos da Sociologia quando procedem a análises sobre as sociedades. Saint-Simon defendia que a industrialização era a responsável por levar as diferentes sociedades europeias a apresentarem práticas comuns.1 Para que este princípio fosse observado mais rapidamente, propõe a formação de um governo pan-europeu e uma nova filosofia assente em princípios universais. Auguste Comte, inspirado pelo pensamento Saint-simoniano, é o sociólogo que vai colocar como ponto nevrálgico da sua doutrina a unidade social e humana, bem como a unidade da história humana. A sua procura teórica em torno da unidade da humanidade é feita de tal forma que a principal dificuldade da sua teoria reside precisamente na diversidade. Esta tendência globalizadora do social e da história humana não são os únicos aspectos do seu pensamento. Considera-se basicamente três grandes temas:2

• a sociedade industrial existente na Europa Ocidental, sendo um modelo exemplar a seguir, tornar-se-á no modelo de sociedade para toda a Humanidade;

• o pensamento científico é duplamente universalista. Este pensamento que influencia inicialmente a Matemática, a Física e a Biologia, estende-se às outras ciências adquirindo, posteriormente, o carácter de pensamento geral. Tal desenvolvimento implica que o modo de pensar

1 - Cf. SAINT-SIMON, Henri (1975) – Selected Writings on Science, Industry and Social Organizations, London, Croom Helm, pp. 130-136 2 - Cf. ARON, Raymond (1991) – As Etapas do Pensamento Sociológico, Lisboa., Publicações Dom Quixote, pp. 87-88

73 positivamente em Astronomia teria a mesma implicação de pensar em termos de Política ou de Religião;

• a sociedade ocidental ao atingir o estádio positivo, torna-se exemplar, pelo que o conjunto da humanidade seguirá esse exemplo como forma de organização social.

Karl Marx foi, sem qualquer dúvida, o autor que mais desenvolveu a sua teoria social globalizante da modernização.1 Nas suas obras de economia política, Karl Marx atribui à descoberta da América e às rotas marítimas que foram abertas para a Ásia a criação do mercado mundial para a indústria que então se estabeleceu na Europa. Estes factores foram decisivos para que se verificasse o aumento do poder da classe capitalista. A burguesia teria, segundo Karl Marx, articulado a produção industrial e os novos mercados que se lhe ofereciam. “Em todo o mundo, a burguesia é confrontada com a necessidade de uma constante expansão dos mercados para os seus produtos. Para tal, a burguesia deve instalar-se, estabelecer- se e desenvolver contactos em todo o lado.” 2 Como tal, este desenvolvimento ultrapassa a mera esfera cultural, para se estender à esfera económica, uma vez que o carácter cosmopolita está presente quer na produção quer ao nível do consumo.3 Este processo não estaria, segundo Karl Marx, circunscrito à Europa industrializada, mas a todo o mundo, uma vez que a burguesia procurava atrair para a civilização as nações bárbaras, através da produção de mercadorias de baixo custo, capazes de destruir qualquer economia rudimentar, colocando-a na dependência das economias mais fortes. A contribuição de Émile Durkheim para as questões da globalização, embora também elas não estejam explicitamente colocadas, foram desenvolvidas através de teorias sobre a diferenciação e a cultura. Estas teorias estão claramente expressas na sua obra Da Divisão do Trabalho Social. Nela, Durkheim coloca o tema central de todo o seu pensamento, ou seja, a relação entre indivíduos e a colectividade. A esta questão,

1 - Cf. WATERS, Malcom (1999) – Globalização, Oeiras, Celta, p. 5 2 - MARX, Karl (1977) – Selected Writings, Oxford, Oxford University Press, p. 227 3 - Cf. WATERS, Malcom (1999) – Op.cit., p. 5

74 responde Durkheim com a distinção entre duas formas de solidariedade: a solidariedade mecânica característica das sociedades arcaicas, e a solidariedade orgânica que caracteriza as sociedades contemporâneas. O sociólogo alemão Max Weber ao longo das suas obras identificou a racionalidade como solução globalizante.1 Weber baseia este princípio com base na expansão do protestantismo de cariz calvinista que, em sua opinião, se espalharia por todas as culturas ocidentais. Essa racionalidade das culturas caracterizar-se-ia graças a quatro importantes factores: por uma crescente forma de despersonalização do conjunto das relações sociais; pela sofisticação das técnicas de cálculo; pelo aumento da especialização ao nível do conhecimento especializado e pelo alargamento do controlo técnico racional sobre os processos de índole natural e social. Embora se tenha vindo a verificar um uso corrente do conceito de globalização na Sociologia a partir de meados da década de oitenta do século passado, o seu desenvolvimento, enquanto conceito sociológico, deve-se a Roland Robertson. Quando Robertson produziu os seus primeiros escritos sobre a globalização, em meados da década de oitenta, quer as questões sobre o globo quer os aspectos da cultura a ele associada apresentavam-se com uma maior pertinência teórica que as questões surgidas em torno do Estado-nação. A par desta preocupação, Robertson começou por “retirar o conceito de sociedade nacional do autêntico colete-de-forças a que estava sujeito, e que afastava a sociologia das grandes mudanças que o mundo atravessava.”2 Em parceria com J.P. Nettl, procuram perceber qual a ligação entre a modernização e o sistema internacional desenvolvido pelos Estados, defendendo a tese que esse sistema existe e de forma palpável. Os citados autores partem da construção teórica de Talcott Parsons sobre o sistema, nomeadamente do bem conhecido AGIL. Segundo este princípio Parsoniano sobre o sistema, este só é considerado um sistema completo se a sua estrutura ou componentes funcionarem de forma a dar resposta

1 - idem 2 - idem, p. 38

75 a quatro problemas inerentes ao sistema:

• adaptação ao meio ambiente (A)

• elaboração de acções que possibilitem alcançar os fins à vista (G)

• trocas inter componentes dos sistema (I)

• garantia da permanente reprodução do sistema (L)

É um dado adquirido para a Sociologia que em qualquer sistema social terão de existir as actividades económicas, políticas, de comunidade e culturais. Nos finais da década de sessenta, concluem que o sistema internacional ainda não estava completamente concluído, uma vez existia um processo de construção do sistema a partir das interacções internacionais dos Estados, ou seja, através do subsistema G; processo esse que se confrontou com dificuldades que não tinham sido resolvidas na esfera cultural, ou seja, o subsistema L, situação que impedia o desenvolvimento pleno do próprio sistema internacional. Dessa limitação foram detectados três tipos de clivagens:

• de natureza religiosa, que se alicerça nas formas de percepção e representação do mundo e da vida, no que se refere, nomeadamente, às questões valorativas e cognitivos. Baseia-se na oposição entre racionalismo e tradicionalismo, entre as concepções lineares sobre o tempo e as concepções cíclicas, etc;

• de natureza jurídico-diplomática, assente na oposição entre as culturas que vêem nos contactos internacionais e na norma do direito como desenvolvimentos regulares e vulgares entre os Estados e as culturas de cariz absolutista internacionalmente orientadas;

• de natureza industrial, onde se confrontam as culturas que valorizam o conjunto de normas que se mostram compatíveis com a industria, nomeadamente a racionalidade industrial, a individualização, etc., e as culturas que menosprezam essas normas.1

1 - idem, p. 40

76 Estas descontinuidades teriam sido as responsáveis, de acordo com J.P. Nettl e Roland Robertson, por não se ter verificado, nos anos sessenta, a unificação global e, simultaneamente, por terem levado o mundo a dividir-se em duas dimensões de acordo com os pontos cardeais. Assim o Oriente afasta-se do Ocidente, nos aspectos jurídico e religioso; o Norte separa-se do Sul, nos aspectos diplomáticos e industriais. Parte-se do princípio teórico que estas três clivagens se constituem em níveis hierárquicos, encontrando-se no topo da pirâmide aquela que apresenta o grau máximo de eficácia e de controlo. Estando a religião a ocupar esse lugar de topo, é natural que ela se apresente como o factor crítico no processo de globalização. A pouco mais de duas décadas do aparecimento deste trabalho, Robertson conclui que estas clivagens podiam desaparecer. É dada uma ênfase muito maior ao nível cultural, em detrimento do sistema internacional de Estados. Quando refere que “enquanto conceito, a globalização refere-se tanto à compressão do mundo como à intensificação da percepção do mundo como um todo...estes dois aspectos concretizam a interdependência global e a percepção do todo global no século XX”.1 Estamos perante duas situações que se contrapõem temporalmente: a compressão do mundo e a intensificação da percepção do mundo. Se, para Robertson o processo de compressão do mundo é anterior ao século XVI, ou seja, é um processo que antecede a modernidade e o nascimento do capitalismo, já a intensificação da percepção do mundo é um fenómeno recente. Significa que os fenómenos individuais vão ganhando uma maior possibilidade de passarem a dizer respeito ao mundo inteiro. Estes fenómenos individuais não se circunscrevem apenas aos fenómenos culturais, como também se estendem a todos os fenómenos globais e que são confrontados, de forma individual. Trata-se de representações sociais sobre fenómenos globais que individualmente podem ser redefinidos ou relativizados culturalmente. Este processo que tem levado ao aumento da percepção global, articulado com o crescimento da interdependência material, conduz, segundo Roland Robertson, a que se verifique o aumento da probabilidade da reprodução do mundo num sistema único.

1 - ROBERTSON, Roland (1992) – Globalization, London, Sage, p.8

77 A globalização, ao envolver a relativização das dimensões nacional e individual face aos pontos de natureza geral ou supranacional, vai implicar a existência de ligações sociais e fenomenológicas entre o próprio indivíduo, a sociedade nacional, o sistema internacional de Estados e a humanidade em geral.

Figura 4 - O Campo Global segundo Roland Robertson

Fonte: ROBERTSON, Roland (1992) - Op. cit. pp. 25-32

Chega-se, assim, ao campo global, que pode ser definido como o conjunto de elementos, ligados entre si, e que têm de ser tomados como referência na análise sobre a globalização. Pelo que se torna possível proceder-se às ligações fenomenológicas:

• o indivíduo: este pode ser definido como um cidadão que pertence a uma Sociedade Nacional e cujo desenvolvimento pessoal pode ser feito tendo

78 como comparação os processos existentes noutras sociedades (Sistema Internacional de Estados) e também como exemplo da Humanidade;

• a Sociedade Nacional: mantém relações complexas e com os seus cidadãos, nomeadamente em termos de liberdades, vigilância e controlo, tem de si uma imagem de integração numa comunidade de outros Estados-nação (Sistema Internacional de Estados) e deve garantir a existência de direitos de cidadania individual que se vão contrapor aos direitos da Humanidade;

• o Sistema Internacional de Estados: encontra-se na dependência da decisão do Estado em abdicar dos princípios de soberania (Sociedades Nacionais), sendo o responsável por estabelecer quais os padrões para os comportamentos individuais (Indivíduos), proporcionando a transmissão de conhecimentos sobre as aspirações humanas (Humanidade);

• a Humanidade: deve ser definida em termos de direitos individuais, que por sua vez se encontram consignados nas normas sobre cidadania ao nível das Sociedades Nacionais, e cuja legitimidade e reforço são realizadas pelo Sistema Internacional de Estados.

Tomados no seu conjunto, estes processos tornam-se nos processos sociais da globalização e desenvolvem-se independentemente da dinâmica desenvolvida por cada Sociedade Nacional. Possuindo uma lógica própria, a globalização acabará por influenciar essas mesmas dinâmicas. Como foi referenciado anteriormente, Roland Robertson defende que este processo de globalização é pré-modernista e pré-capitalista; todavia, é a modernidade que se torna no cerne do processo de aceleração da globalização, verificando-se que a consciencialização só tem a sua actuação sobre este processo de globalização ao longo do período contemporâneo. A globalização actual distingue-se das suas manifestações anteriores através da reflexividade, “o mundo ‘evoluiu’ de uma forma de estar meramente ‘em si próprio’ para a possibilidade de estar ‘para si próprio’ ”.1 Os indivíduos, ao conceptualizarem o mundo como um todo, reproduzem-no

1 - idem, p. 55

79 como uma unidade singular, o que contribui para o aumento das possibilidades em torno da forma como ele vai ser pensado futuramente. É certo que nem todos os teóricos partilham destas opiniões de Robertson. Dentro dos autores que têm aliado a globalização, como modelo dominante na mudança social, sobressai Anthony Giddens, sendo até considerado como o principal opositor no que respeita às questões de paternidade do conceito.1 Anthony Giddens, na primeira abordagem que fez sobre a emergência de um sistema global, tece críticas à teoria marxista, segundo a qual o desenvolvimento do capitalismo teria sido o responsável, por si só, pela história moderna das sociedades. A este reducionismo marxista, Giddens responde que o sistema sofre influências através do próprio processo de evolução dos Estados-nação e pela capacidade que estas possuem em declarar a guerra entre si. Ao universalizar-se, a partir do século XVIII, o Estado- nação contribuiu para que o mundo se tivesse tornado numa rede de sociedades nacionais, representadas pelos respectivos Estados num sistema global de relações internacionais. Ou seja, a sociedade moderna não se define apenas e só pela sua base económica, mas também pelo facto de ser um Estado-nação. Para o autor, o processo que levou à universalização do Estado-nação estaria articulado de acordo com três ordens de ideias:

• as comunidades fictícias

• as características burocrático-racionais

• existência de contingências históricas

As comunidades fictícias, que Anthony Giddens identifica com os Estados-nação da Europa do século XIX, que procederam, com sucesso, ao entrosamento entre a produção industrial e a acção militar; ou seja, a industrialização da guerra possibilitou o sucesso desses Estados-nação num conjunto de campanhas militares que colonizaram logo a seguir. Os aspectos burocrático-racionais possibilitaram uma maior eficácia em termos

1 - Cf. WATERS, Malcom (1999) – Op.cit., p. 35

80 de aproveitamento dos recursos e sua colocação ao serviço do desenvolvimento nacional como possibilitou uma melhor gestão no campo das relações com outros Estados-nação quer através de redes diplomáticas quer através da participação em agências políticas transnacionais. A existência de contingências históricas especiais, como a ausência de guerras, pôde conduzir os Estados-nação para uma maior concentração dos seus recursos económicos e canalizá-los para a indústria; ou, pelo contrário, a desestabilização das relações internacionais, materializada pelas duas guerras mundiais que assolaram o século XX impôs o estabelecimento reflexivo entre uma ordem militar internacional e os sistemas internacionais de manutenção da paz. Da análise que faz sobre as sociedades europeias pós-feudais até às sociedades nossas contemporâneas, Giddens conclui que estas são detentoras de quatro características institucionais, ou dimensões organizacionais.1 De entre elas, as duas primeiras possuem um carácter económico. Ou seja, a modernidade inclui em si um sistema capitalista de produção de mercadorias que implica a existência de uma relação social entre o grupo que é detentor de capital privado e o grupo que vende a sua força de trabalho em troca de um salário. Em termos da análise de mercado, a competição desencadeada pelas empresas entre si é feita pelo capital, pelo trabalho, pelas matérias-primas e por componentes e produtos. Por outro lado, a modernidade implica industrialismo. O industrialismo é alcançado através da multiplicação do esforço humano obtido a partir da utilização de fontes de energia inanimadas, produzida a partir de máquinas. O alcance desta escala em termos tecnológicos só se torna possível através de um processo colectivo de produção. De forma a ser obtida uma acumulação de recursos materiais há que coordenar as actividades colectivas dos indivíduos. As duas últimas características possuem um alcance mais de carácter social. Uma dessas características relaciona-se com o facto do Estado-nação da Europa do século XIX possuir competência administrativa. Isto quer dizer que o Estado-nação era detentor de capacidade que lhe permitia exercer, de modo coordenado, um controlo

1 -Cf. GIDDENS, Anthony (1995) – Op. cit, pp. 56-63 e GIDDENS, Anthony (1994) - Modernidade e Identidade Pessoal, Oeiras, Celta Editora, p.13

81 sobre as populações dentro do seu território. A outra característica consiste no controlo que os Estado detêm, de modo centralizado, dos meios de violência, no âmbito de uma ordem militar industrializada. A partir da proposta teórica desenvolvida por McLuhan, o processo básico é o alongamento do

• tempo e espaço ou

• a separação entre tempo e espaço 1

Nas sociedades que antecederam a modernidade o tempo e o espaço encontravam-se inerentes à localização concreta de cada pessoa e as dinâmicas temporais da vida quotidiana eram fixadas através dos ciclos diurnos ou sazonais que cada lugar possuía. O espaço, e também ele, apresentava-se limitado à percepção imediata de cada um e media-se tendo como referência aquilo de que cada um tinha percepção imediata e era medido tendo como ponto de referência a localização da casa das pessoas. A universalização do tempo teve a sua ocorrência no século XVIII por via da invenção e difusão do relógio mecânico. “O tempo continuou a estar ligado ao espaço (e ao lugar) até que a uniformidade da medição do tempo pelo relógio mecânico foi igualada pela uniformidade na organização social do tempo.” 2 Esta mudança decorre em simultâneo com a expansão da modernidade, tendo sido completada no século XX. Como consequência desta inovação nas sociedades europeias, assiste-se ao fim dos condicionalismos espaciais sobre as formas de medir o tempo, o que vai permitir a reorganização social num sistema global de regiões. “O ‘esvaziamento do tempo’ é, em grande medida, a pré-condição para o ‘esvaziamento do espaço’, tendo, por isso, uma prioridade causal sobre este. [...] a coordenação através do tempo é a base do controlo do espaço.”3

1 - idem pp.13-15 2 - GIDDENS, Anthony (1995) – Op. cit,, p. 14 3 - idem

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Quadro 1 - A Trajectória da Globalização segundo Roland Robertson

Dissolução da cristandade e aparecimento das comunidades estatais; Igrejas católicas (universais) Generalizações sobre a humanidade e o indivíduo Fase Embrionária Aparecimento dos primeiros mapas do planeta Europa 1400-1750 Heliocentrismo Calendário universal no Ocidente Exploração global Colonialismo Estado-nação Diplomacia formal entre Estados Fase Incipiente Cidadania e passaportes Europa 1750-1875 Exposições internacionais e acordos sobre comunicações Convenções sobre Direito Internacional Primeiras nações não europeias Primeiras ideias sobre o internacionalismo e o universalismo Conceptualização do mundo com base nos quatro pontos de referência globalizantes – Estado-nação, o indivíduo, uma sociedade internacional única e uma só humanidade (com predominância do masculino) Fase de Arranque Comunicações, desportos e laços culturais internacionais 1875-1925 Calendário global Primeira guerra mundial de sempre Migrações internacionais em massa e respectivas restrições Novos membros não europeus juntam-se ao sistema internacional dos Estados- nação Sociedade das Nações e ONU Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria Fase de luta pela Hegemonia Noções de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade 1925-1969 Tratado nuclear universal sobre a bomba atómica Emergência do Terceiro Mundo Exploração do espaço Valores pós-materialistas e discursos sobre direitos Fase da Incerteza Comunidades mundiais baseadas na preferência sexual, no género, na etnia e na 1969-1992 raça Relações internacionais mais complexas e fluidas Reconhecimento da presença de problemas ambientais globais Meios de comunicação globais através de tecnologias do espaço

Fonte: WATERS, Malcom (1997) – Op. cit., pp. 42-43

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O espaço tornou-se, assim, uma dimensão social universal cuja realidade já não se encontra na dependência da localização social individual. A libertação do tempo e do espaço constitui um acontecimento da modernidade na medida em que permite a existência de uma organização estável da actividade humana através de vastas extensões do espaço-tempo. Este acontecimento constitui per si um pré-requisito para a globalização. Anthony Giddens, ao contrário de Roland Robertson, considera que a globalização é uma consequência directa da modernização. Cada uma das três dinâmicas principais presentes na modernidade – separação do tempo e do espaço, o desenvolvimento de mecanismos de descontextualização e a apropriação reflexiva do conhecimento - envolve um conjunto de tendências de cariz universalizante que criam relações sociais cada vez mais inclusivas. Essas dinâmicas, para além de tornarem possível a existência de redes globais de relações, representam também um factor crucial no alargamento da distância temporal e espacial das relações sociais, contribuindo assim para a existência de relações sociais globais. O alongamento espaço-temporal, a descontextualização e a reflexividade significam que entre as actividades locais e a interacção à distância se estabelecem relações complexas. Todas as actividades sociais, económicas, culturais e políticas locais estão de algum modo articuladas, (e também na dependência) de situações concretas verificadas noutros locais. “A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais de escala mundial, relações que ligam localidades distantes de tal maneira que as ocorrências locais são moldadas por acontecimentos que se dão a muitos quilómetros de distância, e vice-versa. Este processo é dialéctico porque essas ocorrências locais podem ir numa direcção inversa das relações muito distanciadas que as moldaram. A transformação local faz parte da globalização tanto como a extensão lateral das ligações sociais através do espaço e do tempo.”1

1 - idem, p.52

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6 - O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO

Não se pode afirmar com precisão quando começou o processo de globalização. Contrariamente ao que se pode pensar, este processo nunca se mostrou contínuo ou regular mas, pelo contrário, sempre se mostrou como um processo caracterizado por impulsos irregulares, produzidos por processos de convergência de fenómenos, de forças, quer sejam económicas, políticas, técnicas ou religiosas. Se se quiser, os processos de globalização são devidos a momentos-chave em que algumas colectividades procuram alargar os seus territórios e cujo objectivo se centra na resolução dos problemas existentes nessa colectividade. De acordo com Philippe Moreau Defarges, podemos encontrar três referências histórias que explicam este fenómeno:

• Os sonhos universalistas;

• As grandes descobertas (dos séculos XV ao XX);

• A Revolução Industrial e o surgimento do mercado planetário (Séculos XIX e XX).1

1 - Os sonhos universalistas centram-se, segundo este autor, nos Impérios, que se auto-identificavam com o próprio mundo, (que são os casos dos Impérios Romano e Chinês) e nas Religiões, estas depois de institucionalizadas fundamentam e constituem o Poder (exemplificado através do Budismo, do Cristianismo e do Islamismo). 2 – As Grandes Descobertas protagonizadas por Portugal e pela Espanha, que marcaram os séculos XV e XVI, só se tornaram possíveis graças à articulação de um conjunto de factores: o desenvolvimento das técnicas de navegação (o astrolábio, a vela triangular, por exemplo), a emergência do capitalismo comercial e financeiro, a

1 - Cf. DEFARGES, Philippe Moureau (1997) – A Mundialização – o fim das fronteiras, Lisboa, Instituto Piaget, p. 14

85 formação do Estado Moderno de cariz principesco que gera os seus próprios recursos. Desta combinação à Expansão Marítima foi um pequeno salto, uma vez que os motivos são variados: o espírito de aventura, a procura de lucros, o domínio das rotas continentais dominadas pelos Turcos, a ambição imperial, o espírito missionário para dilatar a fé cristã, a procura de aliados distantes contra o Islão. As redes planetárias eram, entre os séculos XVI e XVIII, ainda bastante incipientes na medida em que a grande maioria das terras descobertas ficavam, no seu essencial, fora das suas malhas comerciais. A economia europeia da expansão estava então assente em entrepostos comerciais que faziam a ligação entre a terra e o mar. 3 – A primeira Revolução Industrial, que se consolidou no Reino Unido nos finais do século XVIII e que assentou na máquina a vapor e nos têxteis, no carvão e no ferro, passa para o continente europeu, nomeadamente para a França, para a Bélgica, para a Prússia, para a Áustria e para a parte ocidental da Rússia. O nível de industrialização de um país era, então, medido “pela produção siderúrgica, pela densidade das vias-férreas e pelo desenvolvimento das cidades”.1 Todavia, a partir da segunda metade do século XIX verifica-se um boom no processo de industrialização que contribuiu para que o Reino Unido tenha perdido a liderança do processo de industrialização e um incremento bastante significativo por parte da França e, em especial, da Alemanha, cujo crescimento industrial consegue concorrer seriamente com o Reino Unido. As sociedades contemporâneas sofreram, nos últimos vinte anos, uma profunda mutação marcada por um processo de concretização de um capitalismo tardio ou, se se quiser, por um processo de construção e dilatação da sociedade global, indiciadora e caracterizadora da era do globalismo. Quando se fala em globalização consideram-se três domínios da vida social, assentes em ordens sociais, que são considerados como fundamentais para a explicação deste fenómeno complexo:

1 – a economia: assente nos princípios da produção, troca, distribuição e consumo de bens e serviços;

1 - idem, p. 28

86 2 – a política: assente nas questões do exercício e concentração do poder, sobretudo se este se envolve nas formas de troca organizada de coerção e vigilância das populações e/ou nas formas de transformação institucionalizada desse conjunto de práticas traduzidas em formas de autoridade e de diplomacia, e cujos objectivos permitem o controlo sobre pessoas e territórios; 3 – a cultura: assente em formas de produção, troca e expressão de símbolos referenciados a crenças, valores, significados, etc.

Todavia, todo este processo só foi possível através de um conjunto de acontecimentos decorridos entre o final da década de oitenta e o início da de noventa do século XX, que determinaram um processo de rápidas mudanças políticas e económicas no mundo:

• A queda do Muro de Berlim em 1989, o fim da Guerra-Fria, o fim do socialismo real materializado na unificação Alemã e na desintegração da União Soviética, e o seu desmembramento em novos Estados;

• A formação de blocos económicos de carácter regional – União Europeia, NAFTA, Mercosul, etc.;

• O grande crescimento económico apresentado por alguns países asiáticos – os Tigres Asiáticos, cuja potencialidade económica leva a supor que poderão tornar-se na região mais rica do Século XXI;

• O fortalecimento do capitalismo na sua forma actual, ou seja, o neo- liberalismo;

• O grande desenvolvimento científico e tecnológico ou Terceira Revolução Industrial ou Tecnológica, materializada na informática, nas comunicações e no audiovisual.

Ao considerar-se estes três níveis – económico, político, simbólico - interdependentes entre si, refuta-se, de forma simultânea, a teoria marxista que parte do princípio que a economia se encontra na génese da política, e da teoria parsoniana que considera a cultura como o domínio social que determina os restantes níveis.

87 Por outro lado, não se deve tomar em absoluto a eficácia destes três domínios, pese embora o aspecto relativo ser apresentado com contornos pouco precisos, variando de acordo quer com os lugares – dimensão espacial – quer com o tempo – dimensão histórica. A génese da teoria da globalização pode, deste modo, ser encontrada na relação existente entre as formas de organização social e a territorialidade. Esta relação assenta num conjunto de tipos de troca que variam de momento para momento, tornando-se ora predominantes, ora com carácter secundário.

Quadro 2 - A Relação entre formas de organização social e a territorialidade

Economia Trocas Materiais Processos de Localização

Política Trocas Políticas Processos de Internacionalização

Cultura Trocas Simbólicas Processos de Globalização

Fonte: WALTERS, Malcom (1999) – Op. cit., pp. 7-8

As trocas materiais relacionam-se com todo o tipo de trocas de índole comercial, todas as formas de arrendamento, trabalho assalariado, pagamento de serviços e acumulação de capitais; As trocas políticas abarcam os aspectos relacionados com a segurança, a coerção, a autoridade e a força, o apoio e a obediência, entre outros;

88 As trocas simbólicas compreendem os rituais, a comunicação oral, a propaganda, a publicidade, a oratória, a acumulação/transferência de dados, os espectáculos, entre outros. Estas trocas apresentam-se, assim, com um carácter de abrangência territorial que é menor ao nível das trocas materiais e maior nas trocas simbólicas. As trocas materiais apresentam uma forte tendência para estabelecerem relações sociais ao nível dos locais, na medida em que a produção de bens, cujo objectivo é a troca, vai exigir a concentração de mão-de-obra, de capitais e matérias-primas, num só local. Por outro lado, este tipo de trocas materiais implica, necessariamente, a existência de mercados, de unidades de produção e de consumo de bens e serviços localizados, ficando o comércio de longa distância centrado em intermediários especializados que funcionam no âmbito das relações económicas periféricas. As trocas políticas apresentam-se mais abrangentes territorialmente que as anteriores, incidindo sobre as populações de um determinado território. No entanto, estas trocas não ficam circunscritas apenas e só a esse território como se dilatam a outros espaços territoriais. Se numa fase inicial a lógica de subordinação das populações e dos recursos existentes é feita de acordo com os objectivos da integridade e da própria expansão territorial, a posteriori, numa outra fase as trocas políticas incidem na formação e manutenção das fronteiras territoriais coincidentes, grosso modo, com as sociedades do Estado-nação.1 Por sua vez, as trocas políticas desenvolvidas pelos Estados-nação, sob forma das chamadas relações internacionais, levam às formas conhecidas e reconhecidas da sua própria soberania territorial. Finalmente, as trocas simbólicas assumem uma importância cada vez mais maior, na medida em que são as responsáveis pela libertação dos referentes simbólicos existentes num determinado território. A produção simbólica, bem como a sua difusão e troca, apresentam um menor constrangimento que as trocas materiais e políticas. Os símbolos são produzidos e

1 - Cf. WATERS, Malcom (1999) – Op.cit. p. 8

89 reproduzidos em qualquer lugar e num qualquer tempo, com a vantagem que podem ser transportados através de variadíssimos meios. Embora se tenham colocado em evidência estes três tipos de trocas, não raras vezes eles devem ser vistos e analisados de forma articulada entre si. Só de forma articulada se podem entender os fenómenos de trocas, quer se trate de trocas localizadas em territórios restritos, quer em territórios mais alargados. Todavia, será importante reter a tese de Malcom Waters: “ as trocas materiais localizam, as trocas políticas internacionalizam, as trocas simbólicas globalizam”.1 Com esta tese o autor procura atribuir uma maior eficácia às trocas culturais sobre os restantes domínios de trocas, pelo facto de ser este tipo de trocas que se globalizam mais rapidamente (pela acção dos media, das comunicações e da internet), que influenciam os outros domínios, ao mesmo tempo que apresentam um maior grau de possibilidade de aumentar essa capacidade globalizadora. Estas capacidades apresentadas pelo conjunto de trocas simbólicas passam pelos significados que são atribuídos universalmente aos símbolos, às ideias e aos valores que são percepcionados como fundamentais. As várias teorias sociológicas que incidem sobre o estudo da mudança social têm tido, como referência, as formas em como os processos de carácter geral, como a racionalização (veja-se Max Weber e as questões relacionadas com o ethos do Protestantismo Calvinista) a diferenciação estrutural ou os conflitos de classe actuam sobre as estruturas sociais das sociedades nacionais. Perante este movimento global, que vai conquistando um cada vez maior número de territórios, as análises sobre a mudança parecem ter enveredado por dois caminhos:

• um primeiro caminho, que tem reunido um forte interesse em torno da análise do conjunto de relações não políticas que as sociedades mantêm entre si. Salientam-se as questões relacionadas com o desenvolvimento do capitalismo monopolista em vencer as fronteiras nacionais; o interesse que é manifestado em torno das formas assumidas pela cultura internacional e as suas formas de difusão, destacando-se o interesse que é manifestado ao nível dos padrões de

1 - idem

90 consumo de massas e na divulgação das culturas populares que são alvo de mediatização;

• um segundo caminho, que destaca estas teorias sobre a mudança social como possuidoras de construções teóricas assentes num “único princípio transformador e tais princípios têm necessariamente de ser entendidos com os processos universalizantes que anulam fronteiras e diferenças”.1

Ainda de acordo com estas teorias, o factor histórico apresenta-se crucial para qualquer tipo de interpretação sobre a mudança social. Ao atribuir-se importância a um único factor para a mudança social, poder-se-á estar a entrar por caminhos deterministas para as sociedades que se afastam dos reais efeitos que os futuros lhes possam causar, isto porque as diferenças são anuladas por princípios universalizantes. A configuração internacional do início da última década do século passado caracterizou-se pela hegemonia crescente da ideologia neo-liberal, que se estabeleceu como um modelo de ajuste estrutural das economias nacionais e pela afirmação do domínio político e militar dos Estados Unidos da América, só possível com o fim da guerra fria e com o colapso do chamado socialismo real no Leste Europeu e na antiga URSS. Simultaneamente a este movimento, observa-se o desenvolvimento de novos conceitos no mundo do trabalho – qualidade, produtividade, terciarização, reengenharia, etc. – que emergiram como o resultado do desenvolvimento e da introdução de novas tecnologias na produção e na administração de empresas. Por outro lado, assiste-se ao aumento e agravamento da exclusão social e crescimento da apropriação de riquezas dos países do Sul pelos países do Norte. No início deste século, a instabilidade política, em particular nos países do leste europeu, da antiga URSS e da África. é o resultado da deterioração social verificada nos países em desenvolvimento e das políticas proteccionistas e exclusivas dos países de capitalismo avançado. Esta nova era competitiva que tem vindo a emergir, encontra-se estritamente

1 - idem, p. 12

91 ligada com a globalização dos processos económicos e tornou-se numa ideologia.1 A competitividade apresenta-se, quer para industriais quer para banqueiros, um alvo a atingir a curto e médio prazo, ao passo que o lucro, razão de ser das empresas, continua a ser o alvo a atingir a longo prazo. Para os Governos, a competitividade da Nação constitui a principal preocupação, de forma a conseguir a atracção e a retenção do capital no território que administram, e cujos objectivos assentam na manutenção dos empregos, o acesso dos capitais locais aos sistemas tecnológicos globais e os rendimentos necessários para manter uma sociedade sem conflitos sociais capazes de alterarem a paz social.2 Todavia, este processo de globalização da economia constitui apenas uma dimensão de uma nova reconfiguração que o mundo e as estruturas sociais /económicas/ políticas/culturais mundiais estão a apresentar. Assim sendo, cada vez faz menos sentido falar-se em primeiro mundo – constituído pelos países desenvolvidos ocidentais de economia capitalista – em segundo mundo – formado pelos países de economia socialista, planificada pelo Estado – e em terceiro mundo – integrado pelos países subdesenvolvidos da América do Sul, África e Ásia. As novas configurações geoeconómicas mostram que alguns países da Ásia estão a constituir um poderoso pólo de crescimento económico com efeitos ainda não totalmente conhecidos nas restantes economias. Por outro lado, os mercados globais estão a actuar sobre as economias nacionais e sobre o capitalismo nacional, contribuindo para o seu desaparecimento. Contudo, o processo de globalização da economia e da sociedade diferencia-se dos processos de internacionalização e de multinacionalização. A internacionalização da economia e da sociedade referencia o “conjunto dos fluxos de trocas de matérias-primas, produtos semiacabados e acabados, e serviços, dinheiro, ideias e pessoas entre dois ou mais Estados-nação.”3

1 - Cf. PETRELLA, Riccardo “Globalização e internacionalização – a dinâmica da emergência da ordem mundial” in BOYER, Robert; DRACHE, Daniel (1997) – Estados Contra Mercados – os limites da globalização, Lisboa., Instituto Piaget, p. 91 2 - idem 3 - PETRRELLA, Riccardo (1997) - Op.cit. p. 82

92 São os actores nacionais que estão na base deste processo de internacionalização da economia. Os fluxos de trocas são dirigidos e controlados pelas entidades públicas nacionais com recurso a instrumentos monetários, a tributações e outros mecanismos de índole fiscal, mecanismos de normalizações e estandardizações, etc. São essas mesmas entidades as responsáveis pelo controlo dos movimentos populacionais, pelos aspectos referentes à cidadania e à manutenção da abertura ou encerramento das fronteiras nacionais Nestes cenários de internacionalização da economia, a concorrência que é feita entre empresas existentes nas economias dos vários Estados mostra-se extremamente pertinente para que sejam mantidas as balanças comerciais sectoriais positivas. O crescimento dos fluxos de troca, que se tem vindo a observar desde há cinquenta anos, só tem sido possível graças à existência de políticas de liberalização económica e ao GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) que fundamenta a organização existente e que é o grande responsável pelo incremento e pela salvaguarda dos princípios liberalizadores que norteiam as relações comerciais internacionais. Contrastando com a noção anterior, a multinacionalização da economia e da sociedade consiste na “transferência de recursos, em especial de capital e, em menor grau, trabalho de uma economia nacional para outra.”1 A multinacionalização consiste, no seu mais típico aspecto, em construir estruturas produtivas de empresas num outro país. Ou seja, uma empresa multinacional será aquela que vai estendendo a sua dimensão económica a outros países. Para que a multinacionalização se verifique terão de existir um conjunto de factores que passam por formas variadas de cooperação – comercial, financeira, técnica e industrial – subsídios directos, entre outros. Os processos de multinacionalização encontram-se na dependência das lógicas de expansão da dimensão do mercado, que constitui a garantia para que a combinação óptima dos factores produtivos já não se radique no interior dos respectivos espaços nacionais e se encontrem sujeita aos mecanismos e aos processos que vão implicar uma

1 - idem, p. 83

93 multiterritorialização das próprias actividades produtivas.1 Hoje são as teorias de gestão e de administração que vão explicar o comportamento das empresas e o funcionamento da economia, nomeadamente em questões que se prendem com a aquisição e controlo de determinadas áreas de mercado, a maximização do lucro pela empresa, etc. Graças a este processo de multinacionalização, uma empresa estrangeira pode reunir capacidades para influenciar a economia de outro país, sobretudo através do número de postos de trabalho que utiliza nas suas unidades produtivas e dos impostos que paga nesse país. É perante o investimento estrangeiro, que para muitos se torna eminente, que se assiste, por parte de muitos países, a políticas de protecção económica às empresas nacionais, sobretudo ao nível das estratégias a realizar e cuja finalidade é a multinacionalidade efectiva e de carácter duradouro. Estas estratégias são tomadas quer de formas ofensivas, ou seja, através do apoio à competição das suas empresas que se multinacionalizaram, quer de formas defensivas, desenvolvidas com recurso à formação de obstáculos à entrada de empresas multinacionais estrangeiras no seu território.2 Dos vários instrumentos proteccionistas utilizados, conta-se a regulamentação anti-trust, à qual alguns Estados recorrem para protegerem as economias nacionais e as empresas locais, defendendo, umas e outras, das pressões e do poder exercido pelas empresas multinacionais estrangeiras. É evidente que, num quadro de economia neo-liberal. as formas de proteccionismo não se apresentam como uma questão pacífica. Ou seja, quando as empresas possuem força e têm consciência dessa sua força, opõem-se a qualquer forma de proteccionismo estatal. Mas se essa força não existe nem se faz sentir, então as empresas apelam ao intervencionismo estatal. A rapidez com que a mudança social se tem vindo a traduzir fez com que, nas Ciências Sociais, o conceito de globalização – ou mundialização na literatura francesa - tivesse emergido, tornando-se assim no conceito da década de noventa. As formas assumidas pela globalização são múltiplas e diversificadas. Essas formas podem vir a desaparecer ou a perder a sua importância num futuro próximo,

1 - Cf. GRUPO DE LISBOA (1994) – Limites à Competição, Mem Martins, Publicações Europa.- América, (2ªed.) p. 43 2 - idem

94 como podem emergir novas configurações que se afastam das características existentes actualmente. Pela sua variedade e, também pela sua diversidade, não pode existir apenas um modelo de globalização, mas sim, modelos que podem ser encontrados aos mais variados níveis da vida social, económica, cultural e política. Embora a complexidade das formas e dos processos associados à globalização seja bastante elevada, as suas principais características podem ser sintetizadas em seis aspectos:

• os mercados financeiros globalizam-se;

• a observância da internacionalização de estratégias comerciais articuladas com a competição, com o objectivo de criar riqueza;

• o conhecimento e a difusão tecnológica alastram-se a nível mundial;

• os padrões de consumo transformam-se em padrões culturais através de mercados mundiais de consumo;

• as capacidades de regulação das sociedades nacionais internacionalizam-se diluindo-as num sistema global político-económico;

• a fraca capacidade dos governos nacionais em planear as regras que gerem a governação global.1

Também nenhum destes tipos de globalização, sintetizados no quadro anterior, expressa, só por si, de forma paradigmática a génese e a essência do fenómeno da globalização. Mas, pelo facto das mudanças que se têm verificado nas duas últimas décadas do século XX, nos vários domínios da vida social, cultural, económica e política e nos próprios territórios, os conceitos de internacionalização e multinacionalização tornaram- se limitados para explicar o conjunto de fenómenos que as sociedades hoje enfrentam. Isto quer dizer que a recorrência a novos conceitos, como o de globalização, é feita pela necessidade que se tem em compreender processos cuja clareza e significado não se mostrariam inteligíveis através de conceitos mais tradicionais. Se, como se afirmou anteriormente, nenhum dos tipos de globalização per si

1 - Cf. PETRELLA, Riccardo (1997) – Op.cit. p. 83

95 definiria a globalização, também não é menos verdade que não basta proceder-se a uma fusão heterogénea para se chegar a uma verdade tida como absoluta. Deste modo, “A globalização refere-se à multiplicidade de elos e interligações entre os Estados e as sociedades que constituem o actual sistema mundial. Descreve o processo pelo qual os eventos, as decisões e as actividades numa parte do mundo acabam por ter consequências significativas junto dos indivíduos e comunidades numa outra parte muito distante do Globo. A globalização apresenta dois fenómenos distintos: objectivo (ou alcance) e intensidade (ou aprofundamento). Por um lado, define um conjunto de processos que englobam a maior parte do Globo ou que actuam a nível mundial; portanto, o conceito tem uma conotação espacial. Por outro lado, também implica uma intensificação nos níveis de interacção, interligação ou interdependência entre os Estados e as sociedades que constituem a comunidade mundial. Concomitantemente, a par do alargamento dá-se um aprofundamento dos processos globais. Longe de ser um conceito abstracto, a globalização articula uma das características mais familiares da existência moderna. Claro que a globalização não significa que o mundo esteja a tornar-se politicamente mais unido, economicamente interdependente ou culturalmente homogéneo. Tanto a sua extensão como intensidade são altamente diferenciadas nas suas consequências.”1

1 - MCGREW, Anthony e LEWIS, Paul (1992) – Globalisation and the Nation States, Cambridge, Polity Press, p. 22

96

Quadro 3 - Conceitos de Globalização

CATEGORIA PRINCIPAIS ELEMENTOS/PROCESSOS

Liberalização de mercados, mobilidade internacional de capital 1. Globalização das finanças e posse do manifestação de fusões e compra. Globalização de acções na sua capital. fase inicial. Integração das actividades comerciais à escala universal. 2. Globalização de mercados e estratégias em Estabelecimento de operações integradas no estrangeiro competição particular. (incluindo P&D e financiamento), procura global de sobresselentes, alianças estratégicas. A tecnologia como catalisador fundamental: o aparecimento da 3. Globalização de tecnologia e aliança P&D tecnologia de informação e de telecomunicações permite a e conhecimento. manifestação de redes globais dentro da mesma firma e entre firmas diferentes. Globalização como processo de universalização do toyotismo/produção líquida. Transferência e transplante de modos predominantes de vida. Igualização de padrões de consumo. O papel dos media. 4. Globalização e modos de vida e padrões de Transformação da cultura em fome cultural produtos consumo; globalização de cultura. “ ”e “ culturais”. Regras do GATT aplicadas aos fluxos culturais. 5. Globalização da capacidade normativa e Papel diminuto dos governos e parlamentos nacionais. Tentativas governo. de planear uma nova geração de regras e instituições para a governação global. 6. Globalização como a unificação política do Análise centrada no estado de integração das sociedades mundo. mundiais num sistema global político e económico conduzido por um poder central. 7. Globalização da percepção e consciência Processos sócio-culturais centrados n´”Uma só Terra”. O movimento “globalista”. Cidadãos planetários

Fonte: RUIGROK, W. E VAN TULDER, R. The Ideology of Interdependence, citado por PETRELLA, Riccardo “Globalização e Internacionalização – a dinâmica da emergência da ordem mundial” in BOYER, Robert; DRACHE, Daniel (1997) - Estados Contra Mercados - os limites da globalização, Lisboa., Instituto Piaget, p. 86

97 No entanto, pese embora os consensos gerados em torno do conceito de globalização, a ideia que hoje todos vivemos no mesmo mundo, não reúne um consenso geral. Deste debate resultou, segundo Anthony Giddens (2000), dois tipos de autores: uns a que denomina por cépticos e outros a que denomina por radicais. Os autores mais cépticos, (identificados politicamente com a velha esquerda) partem de um conjunto de análise cujo objectivo é demonstrar a situação de ausência de mudança verificada no mundo. Estas posições assentam nos seguintes aspectos:

• a economia mundial não se mostra muito diferente da que existia anteriormente;

• o comércio externo, para a maioria dos países, ocupa apenas uma pequena percentagem do seu rendimento nacional;

• uma parte considerável das trocas comerciais realiza-se entre regiões sem, contudo, que tal represente um verdadeiro sistema de comércio produzido à escala mundial;

• a vida económica de cada Estado continua a ser controlada pelo respectivo Governo Nacional, o mesmo se passando quanto aos benefícios do Estado- Providência;

• a Globalização não passaria de uma ideia que foi posta a correr pelos adeptos da liberalização doo comércio, com propósitos de destruir o Estado- Providência e diminuir os gastos públicos.

Do outro lado do debate encontra-se outro grupo de autores, mais radicais que os anteriores cuja análise da globalização incide basicamente sobre os seguintes pontos:

• a globalização não é uma mera ideia, é algo de concreto e cujos os efeitos são sentidos em todos os lugares;

• o mercado mundial mostra-se mais desenvolvido que em décadas anteriores mostrando-se indiferente às fronteiras de cada país;

• as Nações foram perdendo a sua soberania (por vezes para instituições

98 supranacionais);

• os próprios políticos vêem perder a sua influência sobre os acontecimentos;

• o Estado-nação terminou. 1

Deste debate e de acordo com a informação que tem vindo a ser disponibilizada, em termos do comércio mundial, tudo indica que estamos perante uma economia que difere radicalmente do modelo de economia anterior. Esta nova economia assenta sobretudo ao nível do comércio externo, cujo aumento tem sido bastante significativo. Este processo crescente da integração das economias nacionais que estão a formar a economia mundial constitui, para além do aspecto económico em si, um facto social total cujas tendências incidem nas transformações sociais, cujos condicionalismos mútuos se aplicam aos campos da Tecnologia, das Organizações, das Instituições e Territorial. Quanto às inovações tecnológicas estas têm vindo a observar uma aceleração de tal ordem que hoje já não se pode afirmar, em absoluto, que algo é novo pois o risco é grande de já ser obsoleto. Esta situação aplica-se sobretudo a sectores como a informática e as tecnologias de informação que envolvem os cabos de fibras ópticas e aos processos de acesso e integração nas redes de informação, que não só se desenvolveram rapidamente como se tornaram acessíveis a uma parte significativa de indivíduos graças à liberalização das telecomunicações e aos processos convergentes dos sectores das tecnologias de informação e do audiovisual. Embora com uma dinâmica difusora menor, a produção de energia e sua difusão tem vindo a mostrar novos aspectos, sobretudo graças à biomassa, à biotecnologia e aos supercondutores o que possibilita uma redução dos custos de produção ao mesmo tempo que diminui o tempo de acesso à informação. No que concerne às transformações verificadas nas Organizações, nomeadamente ao nível dos sistemas produtivos, estas caracterizam-se por apresentarem uma menor dimensão, uma maior flexibilidade e a uma exogenização de fornecimentos de serviços

1- Cf. GIDDENS, Anthony (2000) – O Mundo na Era da Globalização, Lisboa., Presença (2ª ed.), pp.20 - 21

99 outrora realizados na própria organização.1 A forma de se estruturarem mudou radicalmente. O modelo fordista da produção que assentava num tipo de organização piramidal, fortemente hierarquizada e com elevado grau de estruturação no que se refere ao operariado contratado sem prazo e a tempo inteiro, vai dando lugar a uma estrutura organizacional achatada e modular assentes em equipes de trabalho, que laboram por objectivos e com contratos de trabalho diversificado e em tempo parcial,2 e cujo objectivo é alcançar um lugar capaz de competir face à globalização da economia. Este novo figurino apresentado pelos sistemas produtivos procura alcançar a articulação entre as vantagens do baixo custo unitário e as vantagens que são apresentadas pela produção artesanal, baseada na qualidade diferenciação e originalidade do produto. Esta conjugação só se torna possível se existir um processo continuado de introdução de inovações, que não fica circunscrito apenas aos aspectos tecnológicos, para se alargar aos processos de aproveitamento de conhecimentos, de criatividade no processo produtivo, na redução dos circuitos burocráticos e na articulação com outras unidades de produção relacionadas com os processos produtivos. No que concerne às formas de funcionamento e organização da economia, assiste- se a um crescente predomínio do mercado e da economia com base da economia privada. Estes dois aspectos têm contribuído para uma redução do papel do Estado na economia. Na visão neo-liberal, esta redução interventiva do Estado no espaço económico traduz-se em ganhos de eficácia na produção e na inovação produtiva. Como reflexo na área social apontam-se a flexibilidade do mercado de trabalho e a redução das prestações de apoio em termos de serviços sociais. Por sua vez, nas formas de organização e funcionamento da função política, assiste-se à expansão ideológica da democracia liberal. Tal só tem vindo a ser possível graças à conjugação de dois factores que se articulam: ao desaparecimento de formas

1 - Cf. NUNES, Ana Bela (1998) – “A globalização numa perspectiva histórica. O que há de novo no processo de globalização?”, Comunicação apresentada no 1º Congresso Português de Sociologia Económica realizado em Lisboa, 4 -6 de Março, p. 2 2 - Cf. PEREIRA, António Garcia (1998) – “O sindicalismo do século XXI - crise ou renascimento ?”, Comunicação apresentada no 1º Congresso Português de Sociologia Económica realizado em Lisboa, 4 -6 de Março de 1998, p. 2

100 políticas de carácter totalitário identificadas com os regimes inspirados no chamado socialismo real ou em países por estes influenciados; e à forma como as empresas expandem o princípio de que o mercado é a forma mais democrática de se expressar um conjunto de necessidades e de vontades por parte das sociedades. Pese embora os processos de globalização das economias não pareçam ter sido articulados com as esferas políticas, há a considerar que essa globalização foi a responsável por uma “profunda alteração no entendimento dos Estados-nações e uma profunda alteração nas funções do Estado.”1 O desenvolvimento deste processo, que tem vindo a ser feito através da grande acessibilidade e baixo custo das tecnologias de informação (agora sem censura imposta pelos regimes não democráticos e repressivos), leva a um conjunto de consequências sociais, importantes e contraditórias entre si, assentes na mudança ao nível do controlo social, que vai despoletar a participação social ao mesmo tempo que vai potencializar novas formas de divisão e de conflitos sociais de carácter cultural e até étnico. Por outro lado, o dinheiro electrónico foi, e continua a ser, o grande responsável por se ter verificado um elevado e forte incremento a nível financeiro e nos movimentos de capitais. Todavia, sem a revolução verificada na informática, nas últimas duas décadas do século XX, a nova economia mundial provavelmente não teria os contornos que hoje apresenta. Ao alargar o seu campo à quase totalidade das empresas e a um cada vez mais vasto número de particulares, a informática tem vindo a ser a grande responsável pela transferência de elevadas somas de capitais feitos em tempo real para qualquer ponto do mundo e à distância de uma simples tecla. Só assim se compreende que elevadas somas de dinheiro, sejam movimentadas diariamente pelos mercados financeiros mundiais, de acordo com as flutuações que se registam nesses mercados. Mas, independentemente de se estar em presença de teorias mais cépticas ou de teorias mais radicais, a globalização e as suas consequências não são de natureza exclusivamente económica. Admitir tal, seria reduzir o fenómeno e limitar as suas

1 - GUERRA, Isabel Carvalho (2000) – Fundamentos e Processos de uma Sociologia de Acção, Planeamento em Ciências Sociais., Cascais, Principia, p. 92

101 consequências. A globalização é, para além do aspecto económico, um processo social, cultural, político e tecnológico. Por outro lado, intrinsecamente relacionados com este processo de globalização, está todo o conjunto de mutações verificadas nas relações de sociabilidade, onde se desenvolvem uma pluralidade de processos de integração. Se as últimas duas décadas do século XX foram marcadas pela emergência de uma nova era competitiva associada com a globalização dos processos económicos, a competição deixa de se apresentar como um meio, ou como um modo de funcionamento de um aspecto particular do mercado, para passar a assumir um estatuto de ideologia orientadora de um processo que se vai consolidando cada vez maior incremento em termos mundiais. A competitividade assume, contudo, contornos específicos quer se trate de capital financeiro, quer seja de capital industrial, quer ainda se trate da acção governativa. Como refere Anthony Giddens a globalização que hoje está a ser vivida “não é apenas uma coisa nova, é algo de revolucionário”.1 Enquanto que as relações políticas internacionais, neste início de século, ainda se encontram centradas no espaço de actuação do Estado-nação, os processos de globalização têm vindo a caracterizar-se por uma grande expansão e aceleração de fluxos de vária ordem, em que ressaltam para além das mercadorias, as ideias, os valores, as informações, as imagens e os vários serviços. Em contraste com este vasto e múltiplo processo de expansão, encontra-se o Homem – inventor e produtor – que ainda se mostra apegado a um território, com o qual mantêm uma relação de identidade e uma rede de relações complexas com outros actores. Este processo de tornar o Homem global tem vindo a mostrar-se mais lento que os processo anteriores, pese embora a tendência de aceleração tenha vindo a verificar-se nos finais do século XX, com o aumento de viagens de negócios, de turismo e lazer, a migrações temporárias ou definitivas.2 No entanto, foram as revoluções que marcaram a história europeia nos finais do século XVIII as grandes responsáveis para que no século XIX se tivessem verificado

1 - idem , p. 22 2 - Cf. DEFARGES, Philippe Moreau (1997) - A Mundialização - o fim das fronteiras, Lisboa., Instituto Piaget, p. 41

102 movimentos de pessoas e de mercadorias. Também será bom referir que a livre circulação se mostrava restrita à maioria da população. Um importante passo para a livre circulação de pessoas foi dado a partir do momento em que são introduzidos os passaportes, embora com controles apertados. Do actual debate sociológico sobre a globalização surgem dois grupos de abordagem teórica: uma relacionada com os estudos desenvolvidos pelas Relações Internacionais e a outra relacionada com a denominada teoria do sistema-mundo. Os teóricos das Relações Internacionais assentam as suas reflexões sobre o aparecimento e desenvolvimento do sistema do Estado-nação, nomeadamente os factores que proporcionaram a passagem do Estado principesco ao Estado-nação na Europa, e as condições da sua expansão, enquanto modelo, para o mundo. Por outro lado, estes teóricos atribuem aos Estados-nação o papel de actores, ou seja, um papel interveniente e participativo nas relações internacionais que mantêm entre si e com outras organizações intergovernamentais, governamentais ou não governamentais que não são Estados. Os Estados-nação, segundo estes autores, estão a tornar-se progressivamente menos soberanos, nomeadamente em termos do controlo do exercício sobre os seus próprios assuntos. No que se refere à posição destes autores sobre a globalização, embora as opiniões que possuem não sejam de total concordância, pode afirmar-se que existe um quadro teórico semelhante no que se refere os processos que conduziram ao crescimento da globalização. De início os Estados soberanos surgem como entidades sociais, culturais, territoriais e políticas separadas, que exercem um maior ou menor controlo sobre o que se passa dentro das suas fronteiras. Esta é a situação que caracteriza a Europa renascentista com um modelo de Estado principesco. Mas à medida que o sistema estatal europeu evolui, a tendência é para um sistema global de Estado-nação, cujo modelo ultrapassa as fronteiras europeias para ser adoptado pelos recém independentes Estados Unidos da América. De um sistema fechado, governado por um príncipe, passa-se a um sistema aberto, caracterizado por padrões de interdependência que se mostram cada vez maiores

103 e mais importantes, pelo que se assiste não só ao alargamento dos laços que são estabelecidos entre os Estados, como à formação de um conjunto de organizações de cariz intergovernamental. Está-se, pois, em presença de processos que conduziram a um movimento global cuja direcção é a de um só mundo, já que este conjunto de práticas é comum à quase totalidade dos Estados. Em confronto teórico com os princípios teóricos orientadores da corrente das Relações Internacionais surge, através de Immanuel Wallerstein a chamada teoria do sistema-mundo. A abordagem do sistema-mundo de Immanuel Wallerstein é extremamente rica em contribuições, quer teóricas quer de análise empírica. Wallerstein estabelece uma diferenciação clara entre a era moderna e as épocas anteriores, ao nível dos fenómenos de que se ocupa. Quando Wallerstein se refere às economias-mundo – redes de relações económicas de tipo geograficamente extensivo – está a referenciá-las num período que antecede a própria modernidade. Como é do conhecimento geral, as economias mundiais pré-modernas centravam- se geralmente nos grandes Estados imperiais e mostravam-se concentradas nas regiões onde o poder desses Estados se centrava. Quando surge o capitalismo, há a introdução de um novo tipo de ordem – a economia capitalista mundial – que é, pela primeira vez, genuinamente global no seu alcance encontrando-se mais profundamente alicerçada no poder económico e menos no poder político. A economia capitalista mundial, cujas origens remontam aos séculos XVI e XVII já não apresenta um processo de integração através de um centro político, mas sim através de relações comerciais e industriais. Embora se verifique a existência de um número bastante significativo de centros políticos – os Estados-nação – o sistema-mundo moderno está dividido, de acordo com Wallerstein, em três conjuntos: os Estados do centro, os da semiperiferia e os da periferia. Contudo, é preciso perceber que os lugares onde estes conjuntos se localizam regionalmente mudam com o tempo. Por ser uma ordem económica em vez de uma ordem política o capitalismo tem

104 tido uma influência globalizadora fundamental. A sua penetração nos mais variados territórios tem tido maior eficácia que a acção dos próprios Estados, cuja ordem é essencialmente política. As críticas à teoria de Immanuel Wallerstein incidem sobre a forma em como analisa as mudanças na modernidade imputando-as ao capitalismo. Esta limitação leva a que a teoria do sistema-mundo se concentre de forma excessiva nas influências económicas ao mesmo tempo que se encontra limitada para explicar inteligivelmente os fenómenos que os teóricos das Relações Internacionais tornaram centrais nas suas análises: o surgimento do Estado-nação e do sistema do Estado-nação. Por outro lado, as configurações entre centro, semiperiferia e periferia assentes em critérios meramente económicos, não permitem esclarecer as concentrações de poder político ou militar que não correspondem de forma exacta às diferenciações económicas.

105 106 7 - OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO TÉCNICA, ECONÓMICA E FINANCEIRA

Esta globalização dos intercâmbios é feita de forma desigual. São sobretudo os países mais ricos que arrecadam a maior fatia do rendimento mundial, situação que contrasta fortemente com a situação dos países mais pobres do mundo, que continuam no limiar da sobrevivência. Esta discrepância não se fica apenas pela dimensão económica, como se alastra a outros critérios, como os ritmos e estratégias demográficas ou a densidade dos meios de comunicação, que se encontram na posse de um quinto da população mundial, formada pelo conjunto da América do Norte, Europa Ocidental e Japão. Os restantes quatro quintos da humanidade, ao contrário do que se poderia supor, não reúne qualquer tipo de homogeneidade. Assim, quer se tratem de países, regiões, cidades, bairros ou quarteirões, tudo é consumido pela lógica do sistema económico mundial. Ao nível dos Estados é, pois, possível combinarem-se três ordens de fenómenos:

• Os fluxos de integração;

• A fragmentação e/ou exclusão;

• A redefinição de funções.1

7.1 - OS FLUXOS DE INTEGRAÇÃO

Os fluxos de integração, que compreendem o comércio, os investimentos, os intercâmbios científicos e técnicos, assim como a circulação de moeda e de pessoas, mostram-se incapazes de pôr termo à substância que se encontra na génese dos Estados, bem como a forma enraizada em como se encontram associados a um território e num povo. Todavia, esses fluxos são responsáveis pela permeabilidade das fronteiras, contribuindo para que se verifiquem um conjunto de dissociações que envolvem os limites do Estado e as realidades de índole social, cultural e económica.

1 - DEFARGES, Philippe Moreau (1997) – Op.cit., p.59

107 As especificidades apresentadas por cada Estado, nomeadamente as suas riquezas naturais ou o seu património histórico passam a ter um valor monetário, ficando a sua parte inatingível integrada no sistema mundial dos preços. Este valor monetário vai contribuir para que os Estados detenham uma maior capacidade de endividamento, ou seja, se tornem Estados devedores ou Estados credores. É nesta lógica que negociação do pagamento em dívida ou na simples suspensão do pagamento dessa dívida que os Estados se integram ou não no sistema económico mundial. Esta dinâmica integradora numa economia mundial vai obrigar o Estado a se submeter a uma lógica de competição, onde o Estado se confronta com outros agentes, quer se tratem de empresas, quer se trate da própria opinião pública. Resta então ao Estado, nestes cenários de competitividade, mostrar que é o melhor Estado, quer em matéria de legislação, fiscalidade, vias de comunicação, de telecomunicações e de adaptabilidade da sua mão-de-obra. Por outro lado, perante os cenários de globalização, há que ter em conta os territórios e o valor que estes apresentam. Esse valor não pode ser reduzido apenas à dimensão económica como é extensível às dimensões políticas e simbólicas. Por outro lado, alguns territórios assumem um valor que ultrapassa a mera dimensão local ou mesmo regional para se projectarem numa escala mundial. Estão nestas circunstâncias as megalópoles mundiais, como Nova York, cujo valor fundiário atingiu valores muito superiores aos das restantes cidades norte-americanas, pelo facto de aí se exercerem funções rentabilizadas por um conjunto de empresas que se encontram espalhadas pelo mundo. O valor político do território é medido através dos conflitos que se geram no seu interior, ou seja, numa perspectiva geopolítica mundial. Finalmente, o valor simbólico dos territórios tem a ver com o significado que lhes é reconhecido quer pelos aspectos patrimoniais materiais e/ou espirituais. É o caso da cidade de Jerusalém, que congrega as três grandes religiões: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. A importância que alguns territórios ganham, ao adquirem valor, deve-se ao conjunto de redes de infra-estruturas e de transportes, que foram implementados por se

108 ter considerado que tais territórios reuniam condições excepcionais.

7.2 - A FRAGMENTAÇÃO E/OU EXCLUSÃO

Os fluxos de globalização ao atravessarem as próprias fronteiras dos Estados, vão ser os grandes responsáveis para que se anulem as diferenças entre o seu interior e o exterior. Destes fluxos decorrem dois processos que contribuem para que se verifiquem desequilíbrios entre Estados: um, que pode dar origem à fragmentação dos territórios já estabelecidos; outro, que pode conduzir à exclusão desses territórios. A coesão territorial de qualquer Estado baseia-se numa articulação de factores (históricos, de identidade e cidadania comuns) e de mecanismos (de solidariedade e de protecção) que perante os efeitos da globalização tende a deformar-se, a distender-se e até a deslocar-se. Esta alteração tem contribuído para que se verifique falhas e, até mesmo, fracturas, dentro de um mesmo território. São os casos da China, com uma forte diferença entre a China costeira e a China interior e a República Federal da Alemanha, com uma diferença bastante significativa entre a região do Ruhr e as regiões dos antigos territórios de leste (que integraram a ex-República Democrática Alemã até 1990). A clivagem que hoje se assiste, entre países, regiões e cidades reside exclusivamente nas formas em como se processa a sua integração no sistema global de intercâmbios. Não existe, contudo, uma homogeneização do território mundial, havendo mesmo a necessidade de territórios que desempenhem o papel de receptores de males dos restantes países. Esta situação de subalternidade, num quadro de hierarquia mundial, torna possível a sobrevivência de muitos Estados, através de negócios ilícitos e/ou pouco lícitos, tolerados ou nada tolerados, como a produção e comercialização de estupefacientes, armamento, branqueamento de dinheiro, etc. Por outro lado, no panorama da globalização existem fenómenos de exclusão, ou seja, tratam-se de Estados que já pertenceram ao sistema e que foram por ele rejeitados. O processo de rejeição é feito através da aceleração técnica e económica, que faz

109 com que muitos dos Estados não consigam adaptar-se a essa dinâmica.

7.3 - A REDEFINIÇÃO DE FUNÇÕES

Contrariamente ao que se podia esperar deste movimento global, que atravessa todos os territórios, o Estado-nação permanece enquanto entidade territorial. No entanto, as principais funções tradicionalmente atribuídas ao Estado-nação sofreram alterações. Ao nível da segurança, o Estado-nação é detentor de dois pilares que se complementam:

• uma ordem transparente no território nacional;

• a protecção do território nacional.

A ordem resulta numa relação dialéctica entre a autoridade do Estado a sua aceitação pela população, do conjunto de regras, normas e sistemas de vigilância. A permeabilidade das fronteiras entre os Estados, associada ao processo de integração económica, tem vindo a possibilitar um conjunto de fenómenos sociais que ficam completamente arredados da ordem do Estado, ou, in extremis, dando a origem a regiões sem Estado, como o caso dos Territórios autónomos da Palestina, entre outros. Por outro lado, a questão da defesa do Território nacional encontra-se na génese da própria ideia nacional, isto é, para que se verifique o dever de defesa há que existir um sentimento de ameaça externa. Mas, com o aumento das interdependências entre os Estados e o fim da Guerra- fria, há um abrandamento da defesa, sem contudo se verificar o seu desaparecimento, uma vez que as ameaças se apresentam hoje através de configurações diferentes das anteriores. Hoje, é o desemprego, a imigração clandestina, a concorrência estrangeira, o terrorismo que marcam as preocupações de defesa por parte dos Estados. O Estado-nação, embora continue circunscrito às suas fronteiras nacionais já não se apresenta como uma unidade fechada. Se, para os seus cidadãos ele é um factor de enraizamento e de identidade, em termos da pluralidade de fluxos, ele não é mais que um mero ponto de passagem ou de

110 paragem com carácter temporário. Desta realidade, com que se confronta, surge uma relação dialéctica entre, por um lado, as questões de manutenção, preservação e defesa do território que administra e, por outro, a intervenção sobre estes movimentos, fluxos e redes que trespassam o seu território. Outra atribuição que cabe ao Estado-nação é a forma em como, de forma soberana, estabelece as regras sociais sobre um dado território, através da produção e aplicação de legislação. Ora, os processos de globalização têm vindo a pôr em causa essa capacidade exclusiva de produção de legislação. É evidente que o processo de globalização não foi o primeiro a fazê-lo. Efectivamente processos houveram, como o processo de integração, que o fizeram antes. Veja-se, por exemplo, o caso da União Europeia onde cada Estado membro transferiu alguma da sua competência legislativa para organismos supranacionais, de carácter comunitário. Todavia, é a globalização que vai pôr em causa a capacidade de actuação legislativa dos Estados através de três aspectos interligados:

• a conflitualidade ainda existente entre as regras estabelecidas e as práticas dos actores sociais, quer se tratem de Estados, empresas ou indivíduos;

• os fluxos financeiros responsáveis por provocarem situações de instabilidade ao nível da legislação existente;

• os dispositivos jurídicos internacionais que colidem com as legislações nacionais, por força de um conjunto de disposições jurídicas internacionais que se apresentam precisos e condicionantes à acção legislativa por parte do Estado.

Quanto às questões que se prendem com a solidariedade, verifica-se que a globalização tem sido a grande responsável pela alteração de todos os sistemas de solidariedade. Estas alterações são devidas ao movimento, à deslocação e aos fluxos que a globalização exerce sobre o enraizamento. Todos estes fenómenos que se devem, entre

111 outros, ao incremento do crescimento dos intercâmbios, da industrialização, da terciarização e da urbanização, vão ser os responsáveis pela degradação da solidariedade criando, assim, outros laços mais precários. O Estado perante esta situação vê-se confrontado com duas situações, também elas, contraditórias entre si:

• uma, onde o Estado procura adaptar o seu território à competição, atenuando o conjunto de regras e os encargos sociais e fiscais aos agentes económicos;

• outra, onde o Estado procura manter a solidariedade nacional.

Esta dupla tarefa tem vindo a mostrar-se complexa, na medida em que o próprio Estado-Providência se encontra num processo de desmantelamento. Enquanto sistema alicerçado num contrato social, tácito e explícito, o Estado-Providência, que se apresentava como a garantia e como o promotor da segurança social individual e colectiva, da justiça social e das formas de solidariedade humana e intergeracional encontra-se há muito em crise, crise essa que tem vindo a que sejam abandonadas políticas outrora consideradas como a base do desenvolvimento económico, político, cultural e de bem-estar das sociedades industriais contemporâneas. As origens do Estado-Providência encontram-se nas primeiras medidas de segurança social, introduzidas na Alemanha do século XIX por Otto von Bismarck, tendo tido os seus desenvolvimentos após a I Guerra Mundial, no Reino Unido, através das leis sociais de Lord Beveridge, e nos Estados Unidos da América através do New Deal de Theodor Roosevelt, após a crise económica de 1929. Após a II Guerra Mundial, os regimes sociais-democratas da Escandinávia são os principais mentores do seu desenvolvimento. Embora o contrato social tenha vindo a assumir formas e conteúdos que são assumidos de modo diversificado, de país para país ou de região para região, a sua orientação rege-se por quatro preocupações:

• o direito dos cidadão ao trabalho;

• a luta contra a pobreza;

112 • a protecção dos cidadãos contra os riscos individuais e sociais;

• a promoção da igualdade de oportunidades.1

Até há bem pouco tempo, era preocupação do Estado em matéria de direito dos cidadãos ao trabalho, produzir as condições que levassem ao pleno emprego, à durabilidade do emprego, e em matéria de concertação social, às condições de trabalho que incluíam as matérias referentes a salários, horários semanal de trabalho, política de indemnizações, participação dos trabalhadores na vida empresarial e os acordos de trabalho e sobre tecnologia. Já a luta contra a pobreza envolve um apelo mais alargado no que se refere às questões de solidariedade, uma vez que essa luta exige do Estado o dispêndio de verbas que garantam não só um rendimento mínimo garantido como ao desenvolvimento de formas de assistência social que combatam a pobreza e a exclusão social. Em matéria de protecção contra os chamados riscos sociais, apresenta-se ao Estado um conjunto de medidas que envolvem o desenvolvimento de um sistema de segurança social e/ou seguros de protecção cujos objectivos estão canalizados para o apoio aos trabalhadores e suas famílias, contra a doença, os acidentes, o desemprego, a morte, garantindo ainda sistemas retributivos de sobrevivência após o abandono da vida activa. A preocupação, por parte do Estado, em promover a igualdade de oportunidades leva a que os orçamentos estatais contemplem, como despesas públicas, as áreas da educação e da formação profissional, da cultura e do lazer e dos transportes que passam a ter a comparticipação do Estado diminuindo os encargos por parte dos utentes. Por outro lado, verifica-se a existência de políticas discriminatórias positivas levadas a cabo junto de territórios menos privilegiados, de grupos e minorias sociais e/ou étnicas consideradas em risco social. As críticas quer ao contrato social quer a estes modelos de Estado-Providência começaram a surgir na transição da década de sessenta para a década de setenta do século XX, surgindo num momento em que os primeiros sintomas de crise económica se

1 - Cf. GRUPO DE LISBOA (1994) – Op.cit. p. 64

113 manifestaram por força do choque petrolífero. Entre muitas críticas, surgem as acusações ao Estado-Providência por este se comportar como um entrave à livre iniciativa privada, ao mesmo tempo que constitui uma fonte dispendiosa e ter desenvolvido um sistema burocrático ineficaz da vida económica. Os críticos vão mais longe quando referem os efeitos perversos que emergiram, sobretudo em termos de desigualdades sociais e dos novos contornos de exclusão social indesejáveis que entretanto começaram a consolidar-se. Se alguns Estados que constituem o chamado Mundo Triático – Europa Ocidental, América do Norte e Japão – desmantelaram rapidamente o seu Estado- Providência (o Reino Unido e os Estados Unidos da América) outros houve que optaram por um programa de desmantelamento progressivo do sistema de apoios, (Alemanha e Holanda), optando-se por privatizar, desregulamentar e liberalizar para que se verifiquem a diminuição das despesas públicas no que concerne à segurança social; ao incremento dos incentivos fiscais e financeiros que promovam os investimentos privados; a redução da carga fiscal quer sobre os rendimentos quer sobre o lucro; a redução do papel interventivo dos sindicatos, etc. Este quadro de crise económica, que entretanto foi sendo estabelecido mundialmente, impôs a cada Estado uma alteração dos seus procedimentos de apoio que se traduziu no corte orçamental das despesas públicas destinadas ao apoio às políticas desenvolvidas pelo Estado-Providência o que possibilitou a visibilidade de quatro grandes consequências que envolvem a maioria dos Estados-nação:

• os vários Estados viram-se obrigados a abandonarem a política de plena emprego e, simultaneamente, de reduzirem os quantitativos respeitantes aos subsídios de desemprego;

• os Estados viram-se obrigados a cortar os apoios financeiros para a luta contra a pobreza, verificando-se nos países mais ricos e industrializados a uma transferência dessas responsabilidades do Estado para a boa vontade dos sectores de voluntariado;

• a redução substantiva da segurança social;

• os recursos utilizados pelos Estados para promoverem a igualdade de

114 oportunidades desapareceram para darem lugar aos princípios meritocráticos defendidos pela ideologia liberal.1

Se a crise económica do final da década de sessenta do século passado foi a responsável pela formação e ascensão de uma lógica de luta pela sobrevivência e por uma consciencialização sobre o valor atribuído às formas mais agressivas de competitividade económica, outros factores podem ser encontrados para justificarem o desmantelamento do Estado-Providência, independentemente das especificidades de cada país. Deste modo, a chamada revolução tecnológica foi a responsável pela transformação radical do sistema de produção, em que a facilidade de acesso à robótica e a popularidade da informática levaram a que fossem eliminados milhões de postos de trabalho, o que tornou possível a recriação de configurações sectoriais e territoriais da indústria pelo mundo. O processo de globalização que envolve a competitividade entre os mercados financeiros, os mercados de produção, assim como as formas de organização empresarial e as estratégias utilizadas, tem também sido apontado como uma das causas do desmantelamento do pacto social. Por outro lado, e do ponto de vista da análise da estrutura social, verifica-se a sua profunda modificação, assistindo-se a um envelhecimento progressivo da população, ao declínio da classe operária e ao enfraquecimento do poder de compra por parte da chamada classe média, o que contribuiu para o que se verificasse o retomar de valores de carácter individualistas e utilitaristas. Finalmente, os aspectos financeiros dos Estados, nomeadamente os défices e os constrangimentos de índole fiscal e as opções tomadas nas finanças públicas com o objectivo de limitar a despesa pública, também eles, dizia-se, constituíram uma das causas para esse desmantelamento. Todos estes factores combinados entre si converteram “o imperativo de competitividade no principal objectivo económico e político de todos os países.” 2

1 - idem. p. 67 2 - idem, p. 68

115 Se a opinião sobre a manutenção do Estado-Providência tinha sido acompanhada pela perda de competitividade partiu inicialmente dos líderes nacionais de todo o mundo, parece que hoje é indiscutível que essa opinião é partilhada pela opinião pública.

116

8 - DA CRISE GLOBAL ÀS ESTRATÉGIAS LOCAIS

As últimas décadas do século passado caracterizaram-se pela existência de uma crise económica que atravessou todos os países que, pela sua estrutura económica e organização social, observaram repercussões diversificadas. Se nos países menos ricos (não só os países subdesenvolvidos como os países ditos em vias de desenvolvimento) a situação de crise e dependência se tornou num estado permanente que não pára de crescer, já a crise que se estendeu aos países ricos foi assumindo contornos de novidade quando, após décadas de crescimento económico acelerado, se assistiu ao mergulho de várias sociedades desenvolvidas numa recessão e numa crise económica a que os processos de globalização não são, de todo, estranhos. As próprias populações socializadas nas sociedades de consumo viram-se, de repente, perante uma diminuição do seu poder de compra. Paralelamente, os investidores retraíram-se e as grandes unidades fabris viram- se na contingência de procederem a despedimentos massivos. O comércio mundial diminui substancialmente, contribuindo para que as taxas de crescimento económico, situadas próximo do zero, tenham alcançado valores negativos.1 É óbvio que esta conjuntura económica exerceu a sua influência sobre o corpo social, a ponto de se ter alargado ao campo político que vai produzir algumas reflexões sobre a evolução e desenvolvimentos do sistema capitalista. Se admitirmos a divisão tradicionalmente aceite entre esquerda e direita, podemos afirmar que as propostas provenientes da esquerda continuam a incidir sobre a necessidade de uma alternativa ao sistema que, em sua opinião. se tem mostrado incapaz de ultrapassar as suas falhas. As propostas provenientes da direita também não mostram originalidade, quando fazem apelo à aplicação de medidas neo-liberais, fazem-no partindo do princípio que tais medidas seriam capazes de dotar o capitalismo de uma nova pujança.

1 - Cf AROCENA, José (1986) – Op.cit. p. 11

117 Ensaiadas todas as fórmulas – políticas anti-inflacionárias e monetaristas ou aplicações de políticas pós-Keynesianas – a verdade é que os indicadores económicos pouco mudaram. Por outro lado, o desemprego não pára de aumentar, situação que cria problemas cada vez mais complexos aos próprios Governos, que por sua vez se debatem perante uma crise que se estende aos campos das competências do Estado e às áreas fiscais do próprio Estado. Tais situações colocam em discussão a capacidade de aplicar políticas sociais em forma de subsídios ou de acções de formação e reconversão profissional. A crise, bem como as eventuais soluções apontadas para a sua resolução vão exigir uma procura, diríamos quase incessante, de formas de mobilização do potencial humano. Perante as novas configurações assumidas pela economia mundial, urge a necessidade de se procurarem soluções que rompam com as formas de desenvolvimento anteriormente ensaiadas. As procuras que as democracias têm realizado para saírem da crise de participação têm conduzido a um discurso que apela a uma maior participação, a um alargamento da cidadania e à renovação dos Poderes políticos e institucionais. É neste sentido que se tem vindo a assistir à emergência de uma multiplicidade de iniciativas locais que procuram encontrar soluções para os graves problemas que se têm alargado, nomeadamente nas velhas regiões industriais e em zonas rurais em declínio. Estas iniciativas locais têm surgido sob a forma de apoio à criação de empresas, ou ao incremento de projectos económicos inovadores. Em Portugal, estas iniciativas locais têm surgido sobretudo em zonas rurais em decadência (económica e populacional, traduzida num acentuado envelhecimento das suas populações) e são materializadas através de associações de desenvolvimento local que, isoladamente ou em parceria, concorrem a projectos financiados por fundos comunitários destinados a programas de formação profissional e inserção na vida activa. Há, ainda, a salientar que a emergência desta capacidade de iniciativa local surge a partir de um contexto de crise que apela a uma larga mobilização dos actores locais, verificando-se os seus efeitos múltiplos e diversificados. Se os efeitos económicos decorrentes destas políticas podem ser medidos através

118 de indicadores – a criação de empregos com carácter permanente, o volume de actividade económica, etc. – os efeitos sociais apresentam – se mais abrangentes, na medida em que são os responsáveis por envolverem uma parte considerável da população e, simultaneamente, coloca em cena um conjunto de novos actores sociais. Esta combinação torna-se, assim, responsável pela procura de uma identidade colectiva sobre o local, ou seja, um conhecimento efectivo sobre as potencialidades e os constrangimentos que o local apresenta. Numa estratégia que pretende articular as características locais com as acções aí a realizar, há todo o interesse em equacionar alguns factores que, pela diferença, originalidade e inovação podem potencializar o local em matéria da sua especialização. Se a formação profissional tem vindo a mostrar-se crucial para uma estratégia de desenvolvimento local, não é menos válido que essa articulação deve ser feita em articulação com as opções estratégicas que se tomem e quanto às áreas de especialização que se quer tomar.

8.1 - DESENVOLVIMENTO REGIONAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Por outro lado, quando se pretende aprofundar as questões referentes ao desenvolvimento local e às iniciativas locais depara-se com uma confusão que usualmente se comete entre a região e o local, confusão essa que provêm de um erro de definição, e que até hoje está por resolver, “entre a dinâmica dos sistemas que instituem a análise regional e a dinâmica dos actores que instituem a análise local”.1 A análise regional incide a sua pesquisa sobre os efeitos de aglomeração, que resultam da agregação das decisões dos actores - individuais ou colectivos - cujos impactos se tornam visíveis e mensuráveis através da concentração de informação dispersa, articulada com a lógica da pesquisa.2 A análise do espaço local vai seguir o que se pode denominar por individualismo

1 - idem, p. 116 2 - Cf. GUERRA, Isabel Pimentel (1991) - Changements Urbains et Mode de Vie dans la Péninsule de Setúbal. de 1974 a 1986, Tese de Doutoramento, Tours, Université François Rabelais, p. 40

119 metodológico e cujo princípio de análise está focalizado na confrontação dos actores , ao nível das negociações e das convergências, e dos conflitos e divergências entre os diversos e diferentes interesses. O espaço regional será definido pelo investigador, mediante o problema que quer explicar, ao passo que o espaço local será definido pelas dimensões sociais e culturais das trocas realizadas entre actores. Presentemente a questão regional tem como nó central de interrogações “ a articulação entre o sistema e o actor, a saber, entre os grandes movimentos de sedimentação das regiões que funcionam como «balizas» condicionantes do comportamento dos actores e as lógicas de acção de uma multiplicidade de actores individuais e colectivos por eles produzidas.”1

Quadro 4 - Evolução das Concepções sobre o Espaço

Hipóteses Contexto Objectivos Função

Revolução Industrial Racionalização dos Espaço homogéneo As trocas movimentos de localização das actividades produtivas

Crise de 1929 Acção sobre o espaço Espaço polarizado A Acção da Reconstrução pós 2ª Guerra Mundial Redução das disparidades Empresa Espaciais

Crescimento do fenómeno urbano Explicação das polarizações Espaço da A relação social Re-introdução do social no relação social económico

Fonte: PECQEUR, Bernard (1987) -De l’Espace Fonctionnel à L’Espace-Territoire, Grenoble, Tese de Doutoramento de Estado., Université des Sciences Sociales de Grenoble

É indiscutível que o nível local tem vindo a apresentar uma elevada capacidade de apreensão dos problemas sociais e económicos, capacidade essa que é percepcionada

1 - idem, p. 41

120 de forma directa, concreta e global, recorrendo a uma linguagem e a uma acção tendente a uma prática ou a conjuntos de práticas que envolvem os actores locais e que fazem apelo a duas correntes: uma corrente identitária, assente na noção de local ou de território local; uma outra corrente que assenta sobra a noção de desenvolvimento local. Pese embora se trate de lógicas de acção distintas, essa distinção não deve ser tomada em absoluto, mas sim de uma forma complementar entre si. A sua combinação possibilita uma associação de fórmulas diversas que envolvem um incremento e difusão de produtos típicos locais, que vão para além do próprio artesanato e que constituem os chamados produtos raros e não estandardizados, a criação de empresas – micro, pequenas e médias, de produção ou de serviços – capazes de absorver parte da mão-de- obra local, desenvolvimento e alargamento da formação profissional – inicial e de reciclagem – para trabalhadores em idade activa, alargamento do peso da mecanização nas zonas rurais. Todavia, há a considerar que as medidas a tomar ao nível local passam, necessariamente, por se identificar as potencialidades e os constrangimentos locais. Por outro lado, a procura de consensos entre actores é tarefa primordial para a elaboração, concretização e êxito das políticas locais. Há, pois, todo o interesse em fazer desaparecer as oposições entre interesses diferentes, entre racionalidades diferentes, entre lógicas de desenvolvimento local diferentes e procurar um acordo em torno de um projecto comum. Esta procura impõe-se através de um processo de desenvolvimento local, na medida em que a conflitualidade pura é a grande responsável pela diminuição da eficácia da acção. Mas, se o acordo total parece impossível – quer em termos de objectivos, quer em termos dos próprios actores – os objectivos identificados como cruciais devem, pelo menos, reunir um largo consenso por parte dos actores locais. Esta dificuldade é acrescida quando os territórios apresentam uma complexidade que é cada vez maior e que decorre de um vasto conjunto de relações contraditórias entre si, nomeadamente as situações que envolvem características rurais e urbanas, industriais e pós-industriais. Perante estas relações contraditórias urge encontrar consensos. Todavia, encontrar

121 consensos não significa encontrar unanimidades. O consenso, refere José Arocena, constrói-se a cada momento, assentando as suas bases em processos de negociação permanente.1 Assim sendo, há que proceder à identificação dos principais problemas – de natureza social, económica, política e cultural – de modo a constituir uma base sólida onde assentem os consensos possíveis. Essa base pode abarcar, a título de exemplo, as questões relacionadas com as especificidades locais e, no caso do território do município de Palmela, as questões que se prendem com o seu espaço rural – a produção de vinho e de queijo de Azeitão – as questões culturais e simbólicas dos lugares – o castelo de Palmela como sede da Ordem de Santiago ou as grutas de Quinta do Anjo e a cultura do Campaniforme e todas as potencialidades culturais e económicas daí decorrentes. Nas sociedades europeias, onde os processos de descentralização foram realizados, é possível encontrar uma interacção entre duas dinâmicas:

• uma dinâmica de descentralização vertical que se caracteriza pela reforma do sistema político-administrativo, relacionada com a esfera do poder central e que procura satisfazer um conjunto de processos de reconstituição local, de modo a possibilitar a sua realização plena;

• uma dinâmica de descentralização horizontal que implica a criação de formas institucionais que se adaptam às necessidades do desenvolvimento, nomeadamente nos aspectos que se prendem com as iniciativas desenvolvidas pelos actores locais.

No entanto, em Portugal o Estado encontra-se ainda bastante centralizado pelo que a interacção entre estas duas dinâmicas não se verifica ou, quando se verifica. tal acontece de modo muito incipiente. Ao avançar-se com estratégias locais, através de uma dinâmica horizontal, corre- se o risco de se apontar para estratégias desligadas do contexto regional e do contexto

1 - Cf. AROCENA, José (1986) – Op.cit., p. 51

122 nacional. O mesmo será afirmar que uma sociedade local não pode ignorar a existência de uma forte interacção entre o que é nacional e o que é local, entre o centro e a periferia. Esta relação, que no quadro actual da União Europeia se mostra crucial, isto é, um movimento centrífugo tendente ao estabelecimento de um Estado Federal Europeu e uma sobrevalorização das especificidades locais, impõe-se contra as vontades centralizadoras dos Estados e apresenta-se como elemento enriquecedor para os actores locais. Todavia, a capacidade de acção dos actores locais passa pelas relações que mantêm com o local, ou seja, passa necessariamente pela identidade local de que são, ou não, possuidores. Esta relação entre a identidade local e a economia local apresenta-se forte, na medida em que “uma crise de identidade profunda acompanha os processos de crise económica”1; tal situação é clara sobretudo em territórios onde a indústria mostrou, nas últimas décadas, sinais de crise profunda, situação que a tornou responsável pela falta de estruturas identitárias. Por outro lado, a identificação com o território local transformou-se em mais- valia perante o conjunto de estratégias de desenvolvimento local, na medida em que as potencialidades e os constrangimentos do local são melhor apercebidos e melhor apreendidos. Os processos tecnológicos, cuja aceleração tem sido nítida nas últimas décadas, vão ser os responsáveis por colocar duas situações:

• o corte natural com as técnicas do passado;

• marginalização crescente da população não qualificada tecnicamente 2

Estes dois fenómenos das sociedades contemporâneas vão pôr em presença dois aspectos fundamentais:

1 - idem, p. 71 2 - idem

123 • o desenvolvimento;

• a identidade.

Se a dimensão tecnológica foi parte integrante da chamada cultura industrial, já o desenvolvimento acelerado das tecnologias foi o responsável pela emergência de uma nova identidade do trabalho. Esta nova relação levanta um conjunto de questões que se colocam face ao lugar ocupado pelo saber e pelo saber-fazer nas sociedades actuais, à importância da transmissão dos saberes tradicionais, associados às artes e aos ofícios. Visto de outra perspectiva, surge o problema que é colocado pelas populações marginalizadas pelas estruturas produtivas em crise e que as coloca numa situação de desemprego de longa duração. Esta situação tem sido a responsável por uma transformação radical no que concerne aos processos de integração social. Se outrora a integração social era feita através do trabalho, agora tal integração é feita por outros processos que são decorrentes da dimensão cultural. Esta articulação entre o cultural e o económico é também responsável pelo processo de formação dos novos actores sociais locais, na medida em que estes “exprimem uma identidade local e, ao mesmo tempo, descobrem a possibilidade de agir dentro de novos domínios (...) para responder aos desafios do desenvolvimento.”1 A identidade de uma comunidade vai, assim, implicar a sua capacidade de intervenção. Esta ideia é reforçada pelo facto das próprias sociedades locais possuírem uma carga elevada de traços do passado, contribuindo, assim, para a não neutralidade do espaço e revelando que esse espaço-território é o responsável por exprimir a história dos homens.

8.2 - QUE INDICADORES PARA A ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO LOCAL?

Verifica-se, contudo, que existe uma tendência em reduzir a noção de desenvolvimento à sua dimensão económica, não dotando a dimensão social e cultural da

1 - idem, p. 72

124 sua verdadeira importância. Deste facto não estão ausentes os indicadores económicos associados ao crescimento do PIB, ao investimento económico e ao consumo, que assumiram, durante muitos anos, as funções de verdadeiros indicadores de desenvolvimento de uma dada sociedade. Posteriormente, foram integrados um conjunto de indicadores sociais, como a taxa de escolarização, a generalização do sistema de saúde, a taxa de urbanização, a expansão dos meios de comunicação social e das novas tecnologias, onde a informática e a taxa de utilização da internet começam a assumir cada vez maior importância. Hoje, começa a estar na ordem do dia o aumento de importância dos indicadores referentes às empresas e a produção local, assim como começa a assumir contornos de extrema importância a participação dos cidadãos na vida política local. Embora haja a perfeita consciência da limitação destes indicadores quantitativos em medir o desenvolvimento, a maior parte dos investigadores tem vindo a propor o recurso a novos processos de investigação, com recorrência a metodologias que privilegiem a dimensão qualitativa dos processos de desenvolvimento.1 Destas propostas ressaltam as que foram publicadas em 1984 pela UNESCO, por Lê Thanh-Khoi (1984) e Bernard Rosier . Para Lê Thanh-Khoi a análise do desenvolvimento deve ser feita partindo do princípio que este constitui um fenómeno global, não podendo essa globalização ser reduzida a uma única dimensão. Então, como alternativa, propõe a utilização de um conjunto de indicadores subdivididos em três grandes grupos:

• indicadores económicos, que englobam o capital, o trabalho, os recursos naturais e a produção;

• indicadores sociais, que incidem sobre a alimentação, a saúde, habitação, emprego, participação e desigualdades de rendimentos;

• indicadores culturais, que contemplam a educação, a ciência, a tecnologia, as actividades culturais, a comunicação.

1 - Cf. AROCENA, José (1986) - Op.cit., p. 175

125 Salienta-se, ainda, o facto de no grupo dos indicadores sociais, os indicadores participação e desigualdade assumirem a preocupação qualitativa do autor. Bernard Rosier (1984) embora também aborde a temática dos indicadores, preocupa-se em desenvolver um conjunto de relações que revelem:

• o tipo de desenvolvimento e a forma de relação estabelecida com a natureza;

• o tipo de desenvolvimento e a divisão técnica do trabalho;

• o tipo de desenvolvimento e a satisfação das necessidades, desenvolvimento autónomo e desenvolvimento das forças produtivas;

• o tipo de desenvolvimento e evolução dos papéis sociais.

Com estas temáticas, Rosier pretende propor um conjunto de vias alternativas e novos indicadores que não se radicam no campo estritamente quantitativo, alargando-se às potencialidades que os indicadores qualitativos apresentam, e cujo recurso possibilita uma nova abordagem em torno da forma de determinar o desenvolvimento. Na abordagem que faz sobre a evolução dos papéis sociais, Rosier vai considerar três dimensões nas quais vai propor um conjunto de indicadores de natureza qualitativa:

• controle dos meios de produção e sua relação com os papéis sociais;

• participação dos cidadãos e sua relação com os papéis sociais;

• possibilidades de emancipação pessoal e colectiva.

Na opinião deste autor, esse conjunto de indicadores quantitativos vai complementar os tradicionais indicadores qualitativos, nomeadamente as taxas de emprego e de população urbanizada Importa, contudo, ressalvar que os indicadores utilizados para medir o desenvolvimento local ao serem definidos, vão implicar que seja estabelecida uma noção de local. No entanto, pela sua abrangência, surge um conjunto de interrogações sobre o uso dessa noção, ou seja, quando estamos a referir o local essa referência é feita tendo em atenção uma concepção geográfica, uma delimitação político-administrativa ou um

126 aspecto económico? Ou, se quisermos utilizar uma maior precisão, estamos a fazer referência a territórios, a comunidades/colectividades locais ou a bacias de emprego? Ao abordarmos esta questão do desenvolvimento local, parece-nos que todas estas noções devem ser consideradas pertinentes uma vez que, ao deixarmos para trás alguma delas, corremos o risco de ficarmos com uma análise incompleta, quiçá enviesada, sobre o fenómeno. Como refere José Arocena “O «local» existe a partir de uma identidade territorial inscrita num sistema de relações de poder «centro-períferia» e estrutura-se como sistema sócio-económico singular”.1 Por outro lado, todas estas dimensões que são parte integrante do local vão contribuir para responder à questão que é levantada pela relação local-global, ou seja, à relação que as dimensões do local mantêm em conexão quer com o território nacional, quer com o Estado, quer com a estrutura produtiva da sociedade. Analisar esta relação leva-nos a verificar que existem três grandes formas de leitura, de acordo com as correntes que abordam o desenvolvimento. Para os teóricos que se enquadram na corrente evolucionista, o local apresenta-se como uma força de resistência, ou seja, como força de bloqueio, à mudança produzida pelas forças macrosociais provenientes do nível global. O desenvolvimento apresenta-se, para esta corrente, como um processo contínuo, ininterrupto, que evolui para situações mais complexas e ao qual se opõe o local, que possui uma grande carga conservadora e que se apresenta como o grande opositor a esta evolução e o grande construtor de obstáculos ao desenvolvimento preconizado. Numa perspectiva teórica contrária à anterior, a chamada corrente historicista considera que o local funciona como uma ligação forte entre as sociedades tradicionais, assentes em processos de interconhecimento e de convivialidade e as sociedades industriais e pós-industriais, produtoras de relações sociais cada vez mais manifestas e anónimas. Para esta corrente, todos os processos de desenvolvimento são portadores de especificidades próprias e apresentam-se renovados, pelo que o local é interpretado como um detentor de uma imensa riqueza que não pode ser ignorada.

1 - idem, p. 179

127 A terceira forma de abordar o desenvolvimento é proveniente da chamada corrente estruturalista que reduz o local a uma reduzida dimensão, esmagado pelo global, que por sua vez é apresentado como possuidor de grandes dimensões e que imprime ao local as categorias que são produzidas pela sociedade global. Nesta perspectiva, o desenvolvimento é conceptualizado a partir de um conjunto de processos de dominação hegemónica da estrutura sócio-económico que age sobre as restantes e que define o local como um espaço de reprodução dessa dominação. Perante esta diversidade de concepções sobre o desenvolvimento local, a opção que se faça terá, obviamente, que ter em conta as consequências metodológicas de tal escolha, isto porque é importante a relação que se estabeleça entre a natureza dos indicadores utilizados, para medir o efeito de desenvolvimento a partir das iniciativas locais, e a metodologia utilizada.

128

9 - OS PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO E A ANÁLISE DO LOCAL

O conceito de desenvolvimento parece reunir o consenso entre os vários autores, que pode ser sintetizado como a “igualdade de oportunidades e de acesso aos bens e serviços tidos como necessários; pressupões harmonia e justiça na distribuição; tem em vista estados qualitativos de liberdade, dignidade, identidade e justiça social”.1 Já as questões que envolvem o desenvolvimento local. tornam-se difíceis de equacionar. Surge, então, a necessidade de se proceder a uma reflexão sobre as grandes correntes de pensamento contemporâneo, que têm produzido formas diferentes de abordagem e condicionado, de forma simultânea, as suas práticas., isto porque “ não há uma teoria do desenvolvimento local mas teorias sobre o desenvolvimento que diferem nas formas de encarar o “local””.2

Contrariamente ao que seria de esperar, as clivagens entre as várias teorias não se localizam em função da dimensão da unidade de análise, mas segundo as variáveis em presença.3 Daí que pareça importante referir as principais ideias-fortes que cada paradigma de desenvolvimento possui para explicar as formas diferentes de apreensão do local, e que o modelo interpretativo de Arocena (1986) aponte como três as correntes de interpretação do desenvolvimento e da mudança social: o evolucionismo, o historicismo e o estruturalismo.

1 - LOPES, A. Simões (1982) - “Regionalização e Desenvolvimento”, Estudos de Economia, vol. II, nº 4, p. 520 2 - AROCENA, José (1986) - Op cit., p. 174 3 - CARIA, Fernando (1993) - Planeamento Urbanístico e Desenvolvimento Local - Tese de Doutoramento, Lisboa., Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Arquitectura, p. 17

129

9.1 - O EVOLUCIONISMO

Esta corrente parte do pressuposto que o termo desenvolvimento se encontra intimamente relacionado com a noção de evolução. Ou seja, um organismo vivo desenvolve-se mediante um processo de evolução que decorre desde o nascimento até à morte. O conceito de desenvolvimento aparece, pois, indissolúvel face a um processo evolutivo formado por etapas que serão obrigatoriamente percorridas para atingir os últimos estádios. O pensamento evolucionista parte do princípio que o ponto de chegada é conhecido, de modo a que seja possível reconstruir as etapas recorrendo a uma análise retrospectiva. Esse ponto de chegada será tomado como um modelo que irá permitir determinar os critérios considerados como válidos no processo evolutivo. Esta corrente do pensamento contemporâneo viria a influenciar, por muitos anos, as Ciências Sociais, nomeadamente a Economia e a Sociologia do Desenvolvimento, que adoptaram de forma natural estas formas de abordar as sociedades. Assim, após os processos industriais que levaram à formação de sociedades desenvolvidas estabeleceu- se um vasto movimento de evolução para formas societais mais avançadas, que se tornaram assim em modelos de comparação. O evolucionismo pressupõe, à partida, dois princípios: o princípio positivo, que se traduz pela dinâmica evolutiva; e o princípio negativo, que se traduz nas oposições ou constrangimentos a esse desenvolvimento. O princípio positivo relacionar-se-ia com o movimento universal tendente ao progresso, ao passo que o princípio negativo identificar-se-ia com as resistências tradicionais e locais. Estes princípios aparecem na literatura das ciência sociais em obras relacionadas com a identificação de fases de arranque no processo de desenvolvimento regional, nos anos trinta, em que a obra de Auguste Lösch (1938;1954) é paradigmática, ou a teoria dos sectores económicos de Clark e Fisher, que aparece nos anos cinquenta. Segundo

130 esta concepção, há uma associação entre a hierarquia dos três sectores e o papel das trocas, que se traduz no seguinte processo evolutivo: a agricultura de auto subsistência daria lugar a uma indústria de mercado local, que por sua vez daria lugar à indústria exportadora, e finalmente ao desenvolvimento dos serviços inicialmente virados para o mercado local e posteriormente para a exportação.1 Nos anos sessenta, Walt W. Rostow (1970) propõe uma leitura do desenvolvimento a partir da definição de etapas que seriam válidas para todas as sociedades. O crescimento económico passaria, então, por cinco etapas: A sociedade tradicional – que não se apresenta necessariamente sob uma forma estática. A população pode crescer, e podem desenvolver-se novas formas de produção. O que caracteriza esta fase é o facto dessas modificações se apresentarem muito lentas. Por outro lado, o poder político encontra-se nas mãos dos proprietários fundiários. A segunda etapa caracteriza-se por ser uma fase de transição, ou seja, é nela que se vão acumular as condições para o arranque. Esta transição é desencadeada por forças exógenas originadas por economias mais desenvolvidas. A terceira etapa é a fase do arranque. Mostra-se crucial, uma vez que representa as alterações qualitativas quer ao nível das estruturas económicas, quer nas formas de comportamento. A quarta etapa seria a continuação da anterior, e é fundamentalmente considerada como uma etapa para a maturidade. A quinta e última etapa funde-se numa sociedade de consumo de massas. Nesta etapa depreendem-se várias opções. A grande capacidade de acumulação de riqueza pode ser utilizada segundo vários vectores: ou como base de uma política de poder e influência externa, ou para a edificação do Estado-Providência ou, ainda, para financiar a expansão do consumo de massas. Embora Walt Rostow reconheça o carácter múltiplo e variado das sociedades tradicionais, quando se trata de aplicar os princípios evolucionistas a todas as sociedades tradicionais são colocadas numa única categoria: a do estádio anterior aos processos de conhecimento regular e ininterrupto. O evolucionismo tem uma visão etnocêntrica do desenvolvimento. Este princípio

1 - idem, p. 19

131 é traduzido em termos práticos quando considera que todo e qualquer país se situa numa determinada etapa do seu desenvolvimento. Mas a maior crítica às teorias evolucionistas localiza-se na própria realidade empírica. Não restam dúvidas quanto ao insucesso das tentativas de desenvolvimento e de crescimento da quase totalidade dos países do terceiro mundo. Se procedermos a uma análise da História Contemporânea, depressa depreendemos que as etapas de Walt Rostow não passam de uma abstracção e que o desenvolvimento de certas sociedades não seguiu a lógica progressiva por ele traçada. Como salienta Mário Murteira, numa clara crítica às concepções evolucionistas do desenvolvimento: “Podemos falar de ideologia de desenvolvimento no sentido seguinte: as sociedades que a si próprias se consideram ‘desenvolvidas’ consideram-se também como modelos (padrões) para as sociedades ditas subdesenvolvidas ou em desenvolvimento... Neste sentido, o desenvolvimento - como ideologia - é afinal uma forma de dominação cultural económica e política dos ‘subdesenvolvidos’ pelos ‘desenvolvidos’”.1 Trata-se de uma crítica global a uma leitura que se mostrou linear sobre o desenvolvimento assente na dicotomia tradicional/moderno. Esta linearidade condiciona a inteligibilidade de uma diversidade de fenómenos, entre os quais a combinação modernidade e tradicionalidade presentes internamente quer nos países subdesenvolvidos, quer nos países desenvolvidos. Serão mais as marcas das relações de dependência, de interdependência e de dominação que condicionam, ou não, o desenvolvimento, do que a racionalidade universal do crescimento económico. O evolucionismo e as suas correntes apresentam-se como sérios obstáculos ao entendimento da diversidade dos processos de desenvolvimento e de crescimento, ao mesmo tempo que revelam uma subvalorização dos territórios locais.

1 - MURTEIRA, Mário (1983) - Lições de Economia Política do Desenvolvimento, Lisboa., Editorial Presença/Instituto de Ciências Sociais., pp. 69 e 70

132

9.2 - O HISTORICISMO

A concepção historicista parte de pressupostos opostos aos que foram traçados pelo evolucionismo. O historicismo acentua o carácter único e inteiramente novo que cada processo de mudança social apresenta. Nesta concepção o ponto de chegada, transformado em modelo, não se apresenta como o factor essencial. Admite-se, contudo, que o ponto de partida seja necessariamente diverso. Deste modo, o historicismo põe em evidência os perfis nacionais e regionais específicos. O êxito de um processo de desenvolvimento vai depender dos diversos e diferentes actores tomarem em consideração as especificidades de cada país, região ou micro região. Daí que a História se apresente como um ponto de referência fundamental. Por outro lado, não existem possibilidades reais de desenvolvimento fora das determinações que vêm do passado, e é com base nos traços do passado que o actor deve colocar as proposições do futuro. Ora, se cada sociedade nacional ou local tem um passado diferente, então, por consequência, cada processo de mudança será ele também diferente. Por conseguinte, não existem referências absolutas, percursos pré estabelecidos ou qualquer tipo de direcção definida para se alcançar um ponto de chegada. Cada processo de desenvolvimento é marcado por uma história específica. Essa história específica é construída na base de escolhas políticas das elites que orientam o futuro social. O progresso é a palavra-chave para esta concepção, e a estratégia da lógica de desenvolvimento deve ser adaptada a cada realidade específica. Denote-se, contudo, que para os historicistas, a estratégia da lógica do desenvolvimento não é dirigida por uma lei económica natural, mas por uma escolha política. É com base nestes princípios que se deve procurar no interior de cada sociedade as respostas aos desafios do desenvolvimento. A endogeneidade assume privilégios em relação à exogeneidade. O exterior deverá adaptar-se ao interior. O mesmo princípio é válido na relação entre o geral e o

133 particular e entre o global e o local. É com base neste ponto que se consolida a ideia de que o desenvolvimento em matéria de transferências tecnológicas coloca, necessariamente, o problema da tecnologia apropriada às especificidades locais. Estas teses tomaram um relevo particular nos anos setenta, ao serem aplicadas ao desenvolvimento e à mudança social. Tal só foi possível a partir do momento em que o modelo de crescimento capitalista ocidental do pós-Guerra começou a mostrar os seus limites, o que praticamente coincide com o período em que as especificidades e identidades locais se começam a manifestar com impacto. No cerne da discussão, encontra-se hoje a identificação das variáveis onde repousam as especificidades do desenvolvimento em cada sociedade em particular. As críticas ao historicismo tornam-se cada vez mais pertinentes quando pretendemos situar o desenvolvimento local. Assiste-se nas concepções historicistas a um certo localismo ao nível das análises e a tendências de cariz basista quanto ao modo de intervenção, situações que poderão levar a atribuir o atraso de certas regiões à ausência de valorização das suas vantagens locais. Esquece-se, contudo, que cada sociedade local se desenvolve no interior de um sistema que a ultrapassa e condiciona. O historicismo, tal como aqui é referido, vai no sentido que lhe é dado pela corrente alemã, designada por Raymond Aron (1981) com o nome de Sociologia Histórica, e que é entendida como não pretendendo encontrar “nem leis, nem sistemas, nem evolução”.1 A crítica que hoje se empreende provem dos novos historicismos - que se reclamam da tradição alemã - e que exprimem a mesma desconfiança perante uma lei universal da evolução social. Partem da concepção de que a sociedade se apresenta de forma particular, diferente, específica, heterogénea e contingente, não apresentando os processos de desenvolvimento quaisquer tipos de regularidades. Este princípio tem levado a posições bastante ingénuas que se traduzem em formas de neo-naturismo, neo-localismo, nos países industrializados, e em neo- regionalismo e neo-naturismo, nos países do terceiro mundo, e que mais não traduzem do que dificuldades em apreender e lidar com os limites e com formas de

1 - ARON, Raymond (1981) - La Sociologie Allemande Contemporaine, Paris, PUF, p. 131

134 constrangimento que apresentam os níveis locais. A concepção historicista, embora seja uma realidade constante ao nível das sociedades locais, não consegue evitar que os actores locais coloquem de forma bem clara a posição da sua sociedade face a um sistema nacional, demonstrando que percepcionam as determinações exteriores nos processos de desenvolvimento local.

9.3 - O ESTRUTURALISMO

O estruturalismo1 concebe a mudança social como um processo localizado no interior de um dado sistema, no qual as componentes estruturais estão absolutamente interdependentes. A determinante fundamental da mudança social não tem a sua origem numa lei evolutiva nem provém da profundidade de um campo histórico, mas da racionalidade de um sistema. A análise da mecânica social domina a análise sobre a mudança. Esta última é explicada no interior da mecânica do próprio sistema. Daí que se torne pertinente explicar quando e como se passa de um funcionamento para outro. Há que proceder à identificação do ponto fraco no interior do sistema A, que permite a sua transformação em sistema B. Por outras palavras, um sistema social pode funcionar de uma forma perfeitamente coerente, mas no seu interior há um princípio de contradição que pode provoca, a qualquer momento, a sua transformação. O problema que se coloca à pesquisa, do ponto de vista da análise da transformação de um sistema noutro, ou seja o desenvolvimento, será determinar com precisão a contradição principal que poderá provocar num dado momento a mutação do sistema, donde os esforços teóricos sejam feitos de forma a concentrarem-se sobre a importância dos factores determinantes da mudança e as relações de dependência que são produzidas.

1 - O conceito de estruturalismo é aqui utilizado no sentido que lhe é dado pela antropologia estrutural inicial. A sua extensão à análise sociológica foi feita por Louis Althusser e Etienne Balibar, entre outros, e trouxe uma influência considerável sobre as análises do desenvolvimento, do ponto de vista marxista, reduzindo-as a um estudo sincrónico das formações sociais. Considera-se, contudo, que todas as abordagens em termos de coerência sistémica, que procuram estabelecer uma lei de reprodução do próprio sistema, podem ser consideradas como uma abordagem estruturalista.

135 Para a corrente estruturalista a reprodução é a ideia-chave. O sistema reproduz-se e, ao fazê-lo, reproduz as suas estruturas, de tal modo que a margem de acção é orientada exclusivamente para a destruição do próprio sistema. Ao contrário dos evolucionistas, que viam o progresso como uma resultante de uma lei evolutiva, os estruturalistas defendem que esse progresso será o resultado do confronto de princípios antagónicos de carácter universal. Ou seja, a mudança é interpretada como algo que é resultante de leis do sistema e o local é concebido como um mero e simples lugar de reprodução dos mecanismos globais. A década de sessenta mostrar-se-ia extremamente fértil do ponto de vista da análise do estruturalismo de inspiração marxista, donde se destacam André-Gunder Frank (1968;1970), Arghiri Emmanuel (1981), Samir Amin (1973;1976), Fernando Henrique Cardoso (1969;1971; 1978; 1984) e Celso Furtado (1970; 1976; 1981). Estes autores partem da noção de dependência estrutural para interpretar o desenvolvimento. Essa dependência estrutural faz a ligação entre o binómio centro/ periferia com base numa relação desigual, o que mais não faz do que contribuir para que se verifique o que André-Gunder Frank denomina como o “desenvolvimento do subdesenvolvimento”1 A crescente polarização verificada ente o centro e a periferia mais não é, para a teoria da dependência, do que um resultado directo da lógica do modo de produção capitalista, e à medida que se assiste ao desenvolvimento do sistema capitalista, (desenvolvimento esse também produzido de forma desigual), maiores são as clivagens entre os dois pólos.

1 - Cf. FRANK, André-Gunder (1966) - “The development of underdevelopment”, Monthly Review, 18 (4)

136

Quadro 5 - Discursos e Correntes de Pensamento sobre o Desenvolvimento Local

Evolucionismo Historicismo Estruturalismo Local - ++ - Global + - / + ++

Sistema + - ++ Actores - ++ -

Económico + ++ ++ Socio-cultural - ++ -

Mudança Diacrónico ++ - - Sincrónico - + ++

Estado - - ++

(-) Relação fraca (+) Relação forte

Fonte: CARIA, Fernando (1993) - Op. cit., p. 30

9.4 - UMA NOVA PERSPECTIVA DE ABORDAGEM

A apresentação crítica dos três paradigmas que têm orientado a análise do desenvolvimento possibilitou a formulação de uma proposta de análise alternativa. Do ponto de vista sociológico há a assinalar o contributo de Alain Touraine (1978;1984), que tem vindo a apresentar um vasto e importante contributo para a análise do desenvolvimento.

137 Para o autor, uma primeira distinção deverá permitir o reconhecimento da separação do eixo sincrónico referenciado com o funcionamento e o eixo diacrónico referenciado com a mudança.1 Esta distinção permitiria, segundo Touraine, um afastamento da leitura feita pelos evolucionistas, que só viam o funcionamento da sociedade transformado em modelo, da leitura dos historicistas, que não percebem que as mudanças são sempre novas e diversas, e duma leitura estruturalista que mais não considera que a lógica de funcionamento se reproduz sempre de maneira mecânica. Esta primeira distinção permitiu que o autor definisse os modos de desenvolvimento das sociedades industriais, ou sejam, os seus modos específicos de industrialização. Distingue, então, o actor de classe do actor condutor de desenvolvimento. A este último chama Touraine elite, ou grupo que dirige uma modificação histórica.2 É a burguesia, o Estado, uma elite estrangeira ou um partido revolucionário, (que formam elites diferentes), que são os protagonistas na condução dos diferentes modos de industrialização. Há, contudo, a salientar que embora o funcionamento da sociedade seja protagonizado pelos actores de classe, o seu desenvolvimento é conduzido por uma elite. Caberá à análise do desenvolvimento explicitar “as relações entre a classe dirigente e a elite dirigente”,3 ou, se quiser, explicar as relações entre o funcionamento e a mudança. Na proposta feita por Touraine, há um actor que protagoniza o processo de desenvolvimento de um dado país, “a mudança é operada numa colectividade; ela é fruto, antes de tudo, de um agente que impõe a essa colectividade a sua própria transformação, interpretando as pressões exteriores, de modo a dominar a resistência dos sistemas de reprodução. Esse agente, definido pela sua soberania numa unidade territorial é o Estado.” 4 e cuja acção é diferente consoante a classe ou elite que o domina . Esta sistematização poderá ser aplicada à observação de acções de

1 - TOURAINE, Alain, (1978) - La Voix et le Regard, Paris, Seuil, p. 135 2 - idem 3 - idem, p. 139 4 - idem, p .136

138 desenvolvimento produzidas ao nível local, uma vez que existe uma parte específica de cada processo onde é possível identificar os actores que agem como elites locais. A tipologia das acções locais pode ser entendida através das várias articulações entre os actores que protagonizam a acção e as classes dirigentes, dando assim origem a três tipos distintos: O primeiro tipo é um nítido apelo à acção inovadora, todavia não coloca em causa a estrutura social, o que a torna funcionalmente preferido pelas classes dirigentes; o segundo tipo apela à acção concertante e apoia-se num grupo de actores locais e o seu objectivo será o de encontrar uma outra forma de funcionamento local; o terceiro tipo apela à acção crítica, propondo juntar a massa dos oprimidos de forma a recuperar o poder de decisão.

139

140 10 - IDENTIDADE, PERTENÇA E PARTICIPAÇÃO

10.1 - OS ACTORES NO SISTEMA DE ACÇÃO LOCAL: DA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE À PARTICIPAÇÃO NAS TOMADAS DE DECISÃO

10.1.1 - A construção da identidade

O desenvolvimento societário, associado às crises do modelo democrático, tem levado, a partir das últimas duas décadas do século XX, à emergência de uma nova consciência identitária, que se tem articulado com um sentimento de pertença a uma colectividade e cujo espaço social e cultural varia, do simples espaço local ao espaço supranacional, em que a União Europeia se tem vindo a tornar, cada vez mais, num exemplo a seguir por parte dos cidadãos europeus. Todavia, os regimes democráticos, ao remeterem a sua existência para a responsabilidade dos cidadãos, vão exigir-lhes uma maior participação política, que hoje varia do simples acto de votar aos complexos actos de governar e de decidir. Se essa responsabilização não existir, então o governo, que exerce o seu poder num dado território, apresenta-se-lhes artificial ou estranho, não havendo representatividade dos dirigentes nem uma livre eleição dos dirigentes pelos dirigidos.1 Por outro lado, as democracias liberais contemporâneas são as grandes responsáveis pelo conceito de cidadania. Embora tal conceito se reporte directamente ao Estado, Michael Walzer (1983) toma-o num sentido mais alargado e abrangente, para se referir ao direito de pertença que um cidadão possui face a uma comunidade. Este sentimento de pertença traduz-se num conjunto de direitos, deveres e garantias, ou seja, um conjunto de diferenças que são reconhecidas por aqueles que pertencem a uma comunidade, em relação aqueles que lhe são estranhos. É com base nesse reconhecimento que a pertença “governa a formação de

1 - Cf. TOURAINE, Alain (1996b) – O que é a Democracia ?, Lisboa., Instituto Piaget, p. 95

141 exigências democráticas”.1 No entanto, é de realçar o facto de que esta pertença não é feita em termos de dependência, sendo definida em termos de direitos. Esta consciência de pertença caracteriza-se por possuir dois aspectos complementares entre si:

• a consciência de ser cidadão;

• a consciência de pertença a uma comunidade

O primeiro aspecto refere-se à consciência de ser cidadão. Esta tomada de consciência que emergiu durante a Revolução Francesa veio a traduziu-se na dupla vontade de sair do Ancien Régime e da sujeição; O segundo aspecto prende-se com a consciência de pertença a uma comunidade. Contrariamente ao que se poderia supor, esta consciência de pertença a uma comunidade não se vai opor à mera limitação do poder, tornando-se, na sua forma, complementar na medida em que os indivíduos e as colectividades possuem autonomia de gestão para além de deterem personalidade colectiva. Por outro lado, essa pertença a uma comunidade assume um papel defensivo de uma consciência democrática, se tal vier a contribuir para a libertação do sujeito de uma dominação social e política.

A temática relacionada com a identidade social tem vindo a aumentar de um modo geral nas Ciências Sociais e na Sociologia em particular. Trata-se de um facto social que se tem vindo a desenvolver em todas as partes do mundo e em quase todos os sectores da vida social, revelando-se através de reivindicações e de movimentos sociais, de carácter nacional, regional, local ou étnico-cultural que reivindicam a defesa de uma identidade, independentemente da sua natureza colectiva ou pessoal. Do ponto de vista da Sociologia, esta questão merece, antes de tudo, uma certa reflexão. O seu ponto de partida parece ser claro. “O apelo à identidade é um apelo a uma definição não social do actor social”.2 Isto significa que o actor é definido pelo conjunto de relações sociais que produz e nas quais se integra. Este papel, segundo Alain

1 - idem 2 - TOURAINE, Alain (1996a) – O Retorno do Actor, Lisboa., Instituto Piaget, p. 113

142 Touraine1 tanto pode ser localizado ao nível das estruturas e das relações de classes, como pode assumir contornos de relações interpessoais. Este apelo à identidade surge como uma recusa da mera definição social dos papéis que o actor deve desempenhar e não tanto como uma mera recusa dos papéis sociais. Teria sido, então, a existência de um garante meta social da ordem social – a pertença a uma comunidade que se orienta por determinados valores, por exemplo – que tem servido de apoio ao apelo identitário. Nas sociedades contemporâneas esse apelo à identidade tem vindo a ser feito em referência a uma força infrassocial de carácter natural.2 Para a corrente estrutural-funcionalista norte-americana, de onde sobressaem os trabalhos de Talcott Parsons, todas as sociedades necessitam de constituir uma comunidade que seja detentora de níveis adequados de integração e participação 3. O sistema cultural é, assim, apresentado como o responsável pela legitimação da comunidade societária, através de um sistema de simbolismo constitutivo que fundamenta a identidade, a solidariedade, as crenças, os rituais e outros componentes culturais que corporizam esse simbolismo. Deste modo, a auto-suficiência de uma sociedade inclui o facto de possuir capacidades para institucionalizar uma amplitude suficiente de componentes culturais, de forma a dar resposta, de maneira relativamente satisfatória, às suas exigências societárias. A comunidade societária deve, então, ser entendida como uma relação entre dois factores: por um lado, através de uma ordem normativa, por outro, através de uma população organizada de forma colectiva. No aspecto normativo encontram-se as normas e os valores. Os valores que devem ser entendidos como os elementos primários que servem de ligação entre o sistema cultural e o social ao mesmo tempo que são os responsáveis pela regulação e manutenção dos padrões caracterizadores de um sistema social. As normas, que são

1 - idem 2 - idem 3 - Cf. PARSONS, Talcott (1966) - Societies – Evolutionary and comparative perspectives. New Jersey: Prentice-Hall

143 basicamente integradoras, possuem um carácter fundamentalmente social, podendo evoluir para o sistema legal nas sociedades mais desenvolvidas. A colectividade é apresentada por Parsons como a categoria da estrutura intra- social, e o seu funcionamento é feito tendo como referência a realização efectiva dos indivíduos, em nome do sistema social em que se integram. O papel é a categoria da estrutura de limite e possui uma função adaptativa. Parsons conclui que, dentro de certos limites, qualquer colectividade colocada em determinada situação, ou a realizar determinada função, será regulada por um conjunto de normas, independentemente de outras características. Mais recentemente, Manuel Castells1 considera que as estruturas sociais emergentes nos domínios da actividade e experiência humana nos levam a concluir que as funções e os processos dominantes na era da informação estão cada vez mais organizados em torno de redes. Nestas redes, a distância varia entre zero, para os componentes de uma mesma rede, e o infinito, para os componentes de redes que não se interligam. Devido a estes factores, o processo de trabalho apresenta-se cada vez mais individualizado, e a mão-de- obra mostra-se comprometida com o resultado, mais distribuída geograficamente e operando numa divisão de trabalho, que privilegia os atributos e capacidades de cada trabalhador ao invés de focar na organização da tarefa. Castells afirma, ainda, que os processos de transformação social sintetizados no tipo ideal de sociedade em rede ultrapassam a esfera das relações sociais e técnicas de produção: afectam a cultura e o Poder de forma profunda. Por outro lado, a liderança é personalizada, e a formação da imagem é a forma de gerar Poder, independentemente do tipo de actores políticos e das suas preferências, estando presentes no jogo do Poder praticado através dos media . A identidade consistiria, assim, num processo de construção do significado, baseado num atributo cultural ou num conjunto de atributos culturais que se mostram interrelacionados, e que vão prevalecer de forma duradoura sobre outros conjuntos de significados, podendo o indivíduo ou o actor colectivo assumir identidades múltiplas. Pelo facto da existência dessa característica múltipla de identidades verifica-se a

1 - Cf. CASTELLS, Manuel (2002) – A Sociedade em Rede, Lisboa., Fundação Calouste Gulbenkian

144 emergência de situações de tensão e conflito que envolvem os aspectos relacionados com a sua auto-representação no que concerne aos processos de acção social. Por outro lado, e porque têm surgido inúmeras confusões entre identidade e papel social, há que proceder à sua separação e clarificação. Enquanto os papéis sociais se definem por um conjunto de normas que são estruturadas pelas diversas instituições e organizações existentes na sociedade, assumindo uma relativa importância nos actos que os indivíduos ou os actores sociais realizam. A influência que os papéis exercem sobre esses comportamentos encontra-se, pois, na estrita dependência dos processos de negociação e dos acordos existentes entre os indivíduos e as próprias instituições ou organizações em que se inserem. Em contrapartida, as identidades constituem-se em fonte de significados para os próprios actores sociais, sendo eles os próprios construtores dessas identidades, a partir de processos de individualização. Todavia, como realça Manuel Castells, as identidades também podem ser produzidas a partir de instituições que sejam dominantes no campo societal. Contudo, tal só se torna possível a partir do momento em que os actores sociais passem a interiorizar o seu significado.1 A identidade é, assim, a fonte de significado e experiência de um povo, com base em atributos culturais relacionados que prevalecem sobre as outras fontes. Não se deve confundi-la com os papéis sociais, uma vez que estes são os responsáveis pela determinação de funções, ao passo que identidade organiza os significados. A construção da identidade encontra-se na dependência da matéria-prima proveniente da cultura obtida, que é processada e reorganizada de acordo com a sociedade. Deste modo, para Manuel Castells, existe uma distribuição entre três formas e origens de construção de identidades: 2 A identidade legitimadora: cuja introdução é feita ao nível dos que dominam e cujos objectivos assentam em mecanismos para expandir e racionalizar a sua dominação sobre os actores sociais. Aplica-se às várias teorias existentes sobre o nacionalismo; A identidade de resistência: criada por actores contrários à dominação actual, ou

1 - Cf. CASTELLS, Manuel (2003) - O Poder da Identidade, Lisboa., Fundação Calouste Gulbenkian, p. 3 2 - idem, p. 4

145 em condições de subalternidade, nomeadamente de desvalorização e/ou estigmatizadas pela própria lógica de dominação e que criam resistências com princípios diferentes ou opostos às próprias instituições societais; A identidade de projecto: quando os actores, recorrem a qualquer tipo de material cultural, e a partir daí constroem uma nova identidade que vai redefinir a sua situação na sociedade, ao mesmo tempo que contribui para a mudança social, em toda a estrutura social. Estas três formas e origens da construção da identidade não irão, como é óbvio, desaguar em formas rígidas de identidades, ou seja, nenhuma identidade é por si mesma uma essência, nem guarda em si mesma aspectos progressistas ou conservadores se se encontrar fora do seu contexto histórico. Assim sendo, uma identidade de resistência pode acabar como identidades de projecto ou até mesmo em identidades legitimadoras, tornando racional a sua dominação. Cada tipo de identidade leva a resultados distintos:

• a identidade legitimadora dá origem a uma sociedade civil, com organizações e instituições e a um conjunto de actores sociais que se mostram estruturados e organizados e que são os responsáveis pela reprodução, não raras as vezes de forma conflituosa, a identidade racionalizadora das fontes de dominação estrutural;

• a identidade de resistência é a grande responsável pela formação das comunidades. Parece ser esta forma de identidade a mais importante nas nossas sociedades. É esta forma de identidade que está nas origens das formas de resistência colectiva a formas de opressão, levando À construção de uma identidade com cariz defensivo perante as instituições e as ideologias dominantes, invertendo o julgamento de valores e contribuindo para o reforço dos limites de resistência;

• a identidade de projecto produz sujeitos, atingindo o seu significado pela sua experiência. Os sujeitos embora constituídos a partir de indivíduos, não são indivíduos. São constituídos pelo actor social colectivo, através do qual os indivíduos adquirem, através da experiência, alcançam o significado holístico

146 na sua experiência1.

As identidades, em relação aos processos como foram construídas, devem ser vistas enquanto dependentes do contexto social. Neste caso, mostra-se inserida na emergência da sociedade em rede, que traz à tona novas formas de transformações sociais. Da análise da legislação existente em Portugal sobre as autarquias, verifica-se que essa mesma legislação apresenta um reconhecimento explícito sobre a enorme importância que a dimensão local apresenta na problemática do desenvolvimento e nas formas da sua promoção, que é remetida para as atribuições e competências dos municípios. Esta dimensão local do desenvolvimento assume lugar central na medida em que poderá dar resposta, não só às denominadas necessidades básicas das populações, como poderá apresentar as soluções mais convenientes face aos problemas específicos de cada comunidade. Deste modo, a dimensão local do desenvolvimento apresenta-se como detentora de um significado tão pertinente quanto a sua dimensão global. A dimensão local do desenvolvimento ao apelar à participação das próprias comunidades locais nos processos de desenvolvimento, contribui para que essa participação se torne numa condição primordial e única para que se verifique a diminuição, ou até mesmo a resolução, das necessidades locais. Estas comunidades locais, são definidas como sendo comunidades que são detentoras de formas particulares de um conjunto de relações sociais, económicas, políticas, culturais e simbólicas, fundadas na variedade e na complexidade de redes sociais, que ultrapassam as relações familiares e de vizinhança. Essas comunidades locais poderão, ainda, ser detentoras de diversas e diferentes comunidades de interesses que, por sua vez, poderão possuir no seu interior elementos provenientes de outras comunidades locais. Existem “(...) tantas «comunidades de interesses» no mundo urbano ou metropolitano quantos os conjuntos de interesses e

1 - idem, p. 7

147 actividades. ”.1 Os vários actores, ao formarem comunidades de interesses, procuram satisfazer um conjunto de necessidades: primeiro, as suas próprias necessidades; segundo, as necessidades da comunidade local em que se encontram. Paralelamente a esta procura, os actores desenvolvem processos de mobilização das camadas da população para uma participação directa e activa cujos objectivos se centram na tentativa de alcançar a satisfação das suas necessidades, através de projectos colectivos tendentes para o desenvolvimento da sua comunidade. Em termos operatórios, e no que se refere à delimitação territorial de desenvolvimento, as comunidades locais coincidirão, em Portugal, com os territórios dos municípios, uma vez que estes, para além de apresentarem uma correspondência de Poder em termos territoriais, possuem autonomia financeira, estão investidos de competências ao nível das decisões e estão mais próximos dos contextos socio- comunitários onde se verifica a insatisfação das necessidades básicas das populações. Deste ponto de vista, salienta-se o facto deste conceito de comunidade estar bastante afastado dos conceitos anteriores, que relacionavam a comunidade com o modelo de aldeia. As comunidades de interesses são constituídas por grupos de pessoas, os actores sociais – individuais ou colectivos – que partilham “uma co-presença, uma co-vivência, uma coexistência, uma co-preocupação e uma intencionalidade comum ou um projecto”.2 Saliente-se, contudo, que as próprias comunidades locais possuem no seu interior um conjunto de interesses diferentes e diversificados que são o resultado do agregado de contradições da estrutura societária geral e que reflectem, no interior da comunidade, as manifestações de exercício formal e informal de Poder. A comunidade local apresenta como limites, “em sentido mais estrito, aqueles que resultam de delimitação político-administrativa em função da qual é exercida a «autonomia municipal». Em sentido lato, os limites territoriais terão de ser encontrados na expressão espacial da rede de interacções socio-comunitárias dos membros das

1 - WORSLEY, Peter, (1977) – Introdução à Sociologia, Lisboa., Publicações Dom Quixote, (3ª ed.), p. 378 2 - HENRIQUES, José Manuel (1990) - Municípios e Desenvolvimento, Lisboa., Escher, p. 26

148 respectivas «comunidades de interesses» (...)”.1

10.1.2 - A participação

A participação dos actores sociais nos regimes democráticos começou há muito a ultrapassar o mero acto eleitoral. De cariz autónomo e voluntário, a participação dos actores sociais assume contornos de concretização a partir do momento em que estes se envolvem na resolução dos seus próprios problemas e na concretização de objectivos comuns, e que só serão alcançados através da formação e da consolidação das comunidades de interesses. Por outro lado, a participação é uma clara alternativa à exclusão, ultrapassando ainda a mera e redutora recolha de opiniões individuais.2 Longe de se tornar numa garantia suficiente que legitime as verdadeiras necessidades do grupo, o processo de participação poderá ainda ter de enfrentar um conjunto de mecanismos de cariz sócio-institucional que poderão dificultar a consciencialização dos indivíduos ao nível das próprias necessidades não satisfeitas e que poderão ficar recalcadas. As sociedades onde a repressão é inexistente, contribuem para uma maior consciencialização em torno das necessidades não satisfeitas. Pelo contrário, as sociedades onde a repressividade se faz sentir, contribuem para que esse tipo de consciencialização seja menor. A esse facto não ficam alheios os seguintes aspectos:

• a natureza da interiorização que é o resultado inevitável do próprio processo civilizacional;

• os obstáculos que se apresentam como barreiras à tomada de consciência das necessidades;

• a natureza da satisfação das necessidades com o risco de deslocamento para áreas como o consumo ou para a alienação de cariz socio-político.3

1 - idem. p. 27 2 - idem, p.28 3 - idem

149 O processo de participação, para que decorra em pleno, poderá pressupor a existência de um conjunto de processos de informação e de formação para a participação, em que os líderes naturais e a população em geral constituem os seus destinatários. Também a animação das comunidades de interesses se mostra crucial para o seu êxito. Desta ordem de ideias, a participação poderá assumir dois figurinos. O primeiro encontra-se intimamente relacionado com formas de colaboração com iniciativas tomadas pelo Poder e que estão presentes nas diferentes escalas territoriais., podendo, contudo, apresentar contradições entre si. O segundo mostra-se em oposição ao anterior. Ou seja, a participação pode assumir aspectos organizativos e expressivos de interesses que se apresentam contrários à iniciativa que tem origem no Poder. A crise e as soluções para a sua superação vão despoletar uma exigência ao nível da procura em torno de “novas formas de mobilização do potencial humano”1. Normalmente, as retomas económicas tardam em aparecer, e quando surgem já não apresentam as formas do desenvolvimento anterior. Há, pois, que enveredar pela procura de soluções para os graves problemas que afectam as zonas industriais em crise e as zonas rurais em declínio acelerado. Ou seja, torna-se necessário que o desenvolvimento. de iniciativa local. seja orientado para a invenção de novos mecanismos de regulação, uma vez que o sistema instituído não conseguiu produzir as soluções adequadas. Deste processo de procura de soluções podem surgir, entre outros, os incentivos à criação de novas empresas, o estímulo à criação de projectos empresariais inovadores e a multiplicação de acções tendentes a revitalizar e a dinamizar os tecidos socio- económicos locais. Como refere José Arocena “esta capacidade de iniciativa emerge de um contexto de crise e faz o apelo à larga mobilização dos actores locais. O efeito sobre o desenvolvimento das sociedades locais é múltiplo.”2 Esse efeito múltiplo, a que o citado autor faz referência, pode ser visto quer

1 - AROCENA, José (1986) - Op.cit., p. 14 2- idem, p. 15

150 através do recurso à utilização de indicadores sobre a criação de empregos permanentes ou sobre o aumento do volume da actividade económica, como é possuidor de uma capacidade de movimentação, uma vez que a grande parte deste tipo de acções faz apelo ao conjunto das populações de um dado território. No entanto, existe uma série de exigências com que a acção local se depara, e que se manifesta na procura de novas formas de regulação social, a que Arocena (1986) considera como sendo as constituintes da “base dos processos de génese dos actores sociais”1 e que são apontadas como sendo:

• a reconstituição, ou seja, os indivíduos ou os grupos procuram as suas pertenças, o mesmo será dizer que indivíduos ou os grupos reconhecem-se como pertencentes a uma comunidade e agem dentro de uma vivência local colectiva;

• a mobilização, isto é, os indivíduos ou os grupos exprimem, de maneira diferente, as suas representações do desenvolvimento, assim como agem sobre as representações feitas pelos outros actores;

• o encontro, parte do pressuposto que os indivíduos ou os grupos existem num sistema de relações sociais e, como tal, desenvolvem redes de relações entre si, ao mesmo tempo que propõem estratégias de desenvolvimento.2

10.2 - AS IDENTIDADES COLECTIVAS E AS CAPACIDADES DE ACÇÃO

Parece existir uma profunda relação entre a crise de identidade e os processos de crise económica. A ilustrar esta relação encontram-se as várias regiões que experimentaram, nos últimos anos, dificuldades ao nível do seu tecido industrial. “Os problemas do desenvolvimento económico dessas regiões afectaram de uma forma dramática a permanência constitutiva da identidade.” 3 A dimensão tecnológica fez parte integrante da chamada cultura industrial. No entanto, com a aceleração do processo de desenvolvimento verificado nas últimas

1 - idem p. 69 2 - idem 3 - idem, p. 71

151 décadas, emerge uma outra identidade relacionada com o trabalho.1 Assiste-se a alterações e readequações dos saberes e do saber-fazer, que assumem novos protagonistas e novos lugares perante os processos de assimilação das novas tecnologias. O desemprego de longa duração é responsável pelo esvaziamento do processo de constituição da identidade local, uma vez que a “inserção social já não se faz pelo trabalho”.2 Está-se perante um conjunto de novas formas de relação e de articulação entre o cultural e o económico, que se tornam visíveis aquando a constituição dos novos actores sociais. Estes novos actores sociais localizados vão exprimir uma nova identidade local e vão ser os protagonistas num processo de descoberta em torno das possibilidades de agir em novos domínios económicos e sociais, procurando dar resposta aos desafios que o desenvolvimento lhes impõe. Mas, para se chegar a novas formas de identidade. local há que ter em conta os aspectos que se prendem com a memória colectiva. A memória colectiva vai dotar de lógica a relação entre o passado, o presente e o futuro dessa colectividade, contribuindo assim para a construção das características profundas da identidade colectiva.

1- Veja-se, como exemplo, o caso da indústria vidreira da Marinha Grande, Cf. HENRIQUES, Maria Clementina; SILVA, Rui Brites; LARANJEIRA, Suzete (1991) - “Entre os vidros e os moldes Marinha Grande - um espaço de indutrialização”, Sociologia. - Problemas e Práticas, nº 10, pp. 197-218 2 - AROCENA, José (1986) - Op.cit. , p. 72

152 11 - AS REPRESENTAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO: PERSPECTIVAS DOS ACTORES

11.1 – OS VÁRIOS TIPOS DE REPRESENTAÇÕES

Ao proceder a uma proposta de acção virada para as questões do desenvolvimento local torna-se necessário detectar as representações que os actores locais estabelecem em torno desse mesmo desenvolvimento à escala da sociedade local. A cultura dominante do desenvolvimento tem vindo a criar uma unidade de representações que mostra a existência de um sistema complexo formado por três componentes:1

• a representação optimista, que alia a noção de progresso à noção de desenvolvimento;

• a representação do desenvolvimento centralizador, acima dos interesses locais;

• a representação do desenvolvimento como resultado das representações macro-sociais e económicas

11.1.1 - A representação optimista

A primeira representação parte do pressuposto que todas as sociedades em movimento possuem capacidade de ultrapassar os estados de estagnação. O desenvolvimento é, assim, percepcionado como uma perpétua capacidade de evoluir, sem contudo perder o aspecto positivo que o caracteriza. Ao nível local, o optimismo é assumido com base na confiança no progresso ininterrupto. A noção de progresso encontra-se intimamente relacionada com a noção de desenvolvimento.

1 - Cf. AROCENA, José (1986) - Op.cit., p. 97

153 11.1.2 - A representação centralizadora

Parte do princípio que são as lógicas centrais ou verticais que se cruzam nas instituições existentes localmente, que constroem esta representação do desenvolvimento. Tal é possível devido ao facto da existência de diferentes organismos estatais numa dada região. Como cada organismo possui a sua visão do desenvolvimento, procura aplicar os objectivos, os métodos e as modalidades de acção da sua instituição ao nível local. O desenvolvimento é percepcionado como um processo dependente dos organismos centrais e transmitido às sociedades locais, sem a participação destas ao nível das opções tomadas.

11.1.3 - A representação macroeconómica

Esta terceira componente das representações do desenvolvimento enfatiza a importância dos processos macro sociais. Ao nível local, esta representação é percepcionada sobretudo em regiões que passam por situações de crise dos grandes complexos industriais, nomeadamente ao nível dos processos de reestruturação, encerramento de fábricas ou processos de despedimentos. Para este tipo de representação, só os grandes projectos que se traduzam na criação de milhares de postos de trabalho apresentam um valor absoluto, contrariamente a todas as outras iniciativas cujo valor é relativo.1 A conjuntura é vista mais como uma crise do que uma mutação. Quando se assiste a uma situação de crise, geralmente não se coloca em causa o modelo de desenvolvimento, e considera-se a conjuntura como transitória. Pelo contrário, quando se assiste a uma mutação torna-se necessário proceder ao questionamento sobre novas formas de desenvolvimento, de forma a alterar os pressupostos do modelo anterior. Este tipo de representação que assenta sobre o gigantismo industrial pode ser

1 - idem, p. 96

154 alterado por uma mutação sócio-espacial que simultaneamente privilegia a qualidade e a formação de redes de empresas.

11.2 -AS REPRESENTAÇÕES ALTERNATIVA DO DESENVOLVIMENTO: PARTICIPAÇÃO E CONSCIENCIALIZAÇÃO DOS ACTORES

Perante a abertura face às incertezas do futuro, os actores locais podem ser levados a participarem, de modo a assumirem o passado, reconhecer o presente e avançar com respostas alternativas para o desenvolvimento da sociedade local. Este desejo de participar contribui para que os actores se consciencializem a tomar posições que os afaste de:

• ver o progresso e o desenvolvimento como processos lineares, mas como um processo de luta contra o subdesenvolvimento e a dominação, que pode assumir formas de um desenvolvimento alternativo. São as proposições alternativas do desenvolvimento que mobilizam o sistema de representações dos actores locais;

• representar o desenvolvimento local dependente do movimento vertical e centralizador. As representações são feitas através de dinâmicas horizontais, assentes na negociação e no partenariado. A negociação surge como o único instrumento capaz de conduzir a um processo de desenvolvimento que exige a mobilização dos actores locais;

• conceber o desenvolvimento como algo dependente das forças macrosociais, mas de o entender como uma capacidade de proposição e de acção inerentes a todos os níveis. A representação do desenvolvimento localizada na grande indústria deixa de ser exclusiva para dar lugar a novas representações, assentes nos espaços micro-económicos. Como refere José Arocena (1986) “ O “local” não é mais uma zona marginal duma eventual economia dual, mas um pólo de desenvolvimento com as suas estratégias próprias e funcionais

155 relativamente às exigências das novas tecnologias”.1 Procura-se então mostrar as capacidades da micro-iniciativa local num quadro de transformações impostas pela actual revolução tecnológica.

11.2.1 - A acção para o desenvolvimento

Embora as representações do desenvolvimento local sejam importantes para a análise dos actores no sistema de acção local, tal parece não ser suficiente. Há que proceder à tentativa de mudar a racionalidade do próprio sistema. Michel Crozier e Erhard Friedberg (1977) definem os sistemas de acção concretos como fenómenos que não são possuidores de qualquer tipo de características naturais e, por isso, se torna impossível proceder-se a qualquer tipo de configuração ou atribuição de propriedades.2 Partindo deste perspectiva, os constrangimentos limitadores da acção do homem são produzidos pelo próprio homem, na medida em que podem agir sobre os outros homens, limitando assim a sua liberdade, mas podem ser transformados através da capacidade de acção do actor social. Estes autores insistem na capacidade de acção por parte do actor livre sobre o carácter irredutivelmente indeterminado do sistema. O sistema não seria mais do que um instrumento do actor, pelo que as possibilidades de acção do actor se apresentam ilimitadas. Os sistemas não se encontram dependentes de uma condição de natureza preexistente, seja ela de carácter económico, cultural ou moral. Constituído o sistema, ele poder-se-á transformar em instrumento de dominação, ao determinar, limitar e condicionar a acção do actor livre. A análise do sistema de acção social irá, pois, permitir que se proceda à formulação da hipótese sobre a presença simultânea da liberdade e da dominação, ao mesmo tempo que vai revelar uma enorme capacidade de acção e a presença de determinações provenientes do modo de desenvolvimento.

1 - idem, p. 100 2 - Cf. CROIZIER, Michel ; FRIEDBERG, Erhard (1977) - L’Acteur et le Système, Paris, Seuil, p. 241

156 Ora, os sistemas locais caracterizam-se e distinguem-se entre si pelas suas estruturas, isto é, pela estrutura agrária, industrial e de serviços e ainda pelos processos de génese dependente ou autónoma, de carácter exógeno ou endógeno e de centralidade ou periférica.

11.2.2 - Diversidade de actores e de lógicas de acção

Os actores empenhados em processos de acção para o desenvolvimento mudam a sua posição dentro do próprio sistema local pelo facto de renovarem a sua capacidade de acção na sociedade, ao mesmo tempo que descobrem novas competências e se alargam novas redes de relações sociais. Ao ter essa participação, os actores rompem com o seu isolamento, ou domínio reservado, como lhe chama José Arocena. 1 para se dirigirem para outras actividades que estão para lá das suas competências profissionais ou específicas. Esta participação dos actores locais pode contribuir para o incremento e desenvolvimento de três lógicas, que num país como Portugal e num quadro integrado nas lógicas internas da União Europeia, podem-se tornar determinantes, são elas:

• uma lógica de mercado

• uma lógica de Estado

• uma lógica territorial

No primeiro caso, o mercado foi a lógica que presidiu ao crescimento económico e ao progresso, hoje é o responsável pelas crises económicas e sociais, pese embora a sua capacidade motriz para o desenvolvimento e, em certa medida para o alargamento da democracia no espaço comunitário europeu, na medida em que prevê a livre circulação de mercadorias, de trabalhadores e de ideias e tecnologias. A lógica de Estado, que é baseada no factor de coesão e de solidariedade nacional em que é suposto corrigir os desequilíbrios e organizar a democracia;

1 - Cf. AROCENA, José (1986) – Op.cit. p. 114

157 Finalmente, uma lógica de território, historicamente pioneira das formas de organização social e que se apresenta, mais do que nunca, responsável pela manutenção da identidade cultural e pela qualidade do quotidiano. Entre os novos actores sociais não se encontra qualquer tipo de categoria homogénea, bem pelo contrário; o que se verifica é uma diversidade de forças sociais que é produtora duma pluralidade de actores. A propósito desta pluralidade de actores, Isabel Guerra convida-nos a uma reflexão sobre a representatividade dos actores e o sentido dessa participação, a sua eficácia prática e os interesses que se encontram representados.1 Por outro lado, refere a citada autora, há que reconhecer que nos processos que convidam à participação, nem todos os actores se encontram representados e, mesmo que o estejam, o poder é detido de forma diferente e a sua legitimação também é feita de modo diferente por parte das autoridades. Estes modos de acção local diferem:

• pelo tipo de procura institucional

• pelo modo de representar o desenvolvimento e

• pela estratégia dos actores e pelas determinações do sistema2

A diversificação que se observa na acção local repercute-se nas formas plurais de construir as iniciativas, na natureza da mobilização para a acção e nos objectivos a alcançar. Daqui podem decorrer quatro lógicas de acção:

• a acção reivindicativa 3

• a acção crítica

• a acção concertante

1 - Cf. GUERRA, Isabel (2003) – “O território como espaço de acção colectiva: paradoxos e virtualidades do “jogo estratégico de actores” no planeamento territorial em Portugal” in Boaventura de Sousa Santos (org.) Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa, (1º vol.), Porto, Afrontamento, P. 298 2- Cf. AROCENA, José (1986) - Op.cit., p.118 3 - Isabel Guerra propõe este tipo de acção, enriquecendo, desta forma, a proposta apresentada por José Arocena.

158 • a acção inovadora 1 a) acção reivindicativa

Este tipo de acção vai colocar a sua ênfase na defesa daquilo que são consideradas pelo grupo como sendo as necessidades imediatas e fundamentais a atingir ou a proteger. A acção reivindicativa é, geralmente, adoptada por associações muito enraizadas no local e que se encontram polarizadas por objectivos muito delimitados e precisos, independentemente destes persistirem temporalmente ou surgirem a partir de condições específicas. A relação que estabelece com o Poder é envolta, geralmente, em situações consideradas problemáticas, uma vez que o próprio Poder se sente ameaçado ou fortemente questionado pelas reivindicações que lhe são dirigidas. Por outro lado, as reivindicações que dirigem são, não raras vezes, acompanhadas por atitudes agressivas. Como exemplo de grupos que desenvolvem este tipo de acção, encontram-se as Associações de Moradores.2

b) acção crítica

Recorrendo a este tipo de acção, os actores locais não procuram apenas a resolução imediata dos problemas que os preocupam, como procuram provocar um processo de consciencialização na população sobre a sua identidade local, a criação de oportunidades de ensaio de novas formas de gerir e organizar o território com vista a produzir as mudanças necessárias para um desenvolvimento alternativo. É o tipo de acção desenvolvido em regiões ameaçadas pelo despovoamento. Este tipo de acção é desenvolvido por colectivos associativos, que mantêm a sua existência para além da satisfação das suas reivindicações imediatas, isto porque muitas das vezes se encontram integrados em estruturas organizativas que ultrapassam o mero espaço local. A mobilização que estes grupos desenvolvem é tendencialmente consciencilizadora e original nas formas que utilizam para alcançar os seus objectivos.

1- Cf. AROCENA, José (1986) - Op.cit., p.119 2 -Cf. GUERRA, Isabel (2003) -Op.cit., p.299

159 Deste modo, a partir de um questionamento global sobre os modelos de desenvolvimento procuram dar respostas assentes em modelos de desenvolvimento alternativos. As reivindicações que usualmente são feitas são muitas vezes temidas pelo Poder instituído, uma vez que estes grupos podem ter as suas raízes em territórios extra-locais e, portanto, desconhecendo-se totalmente a sua capacidade de acção. Além disso, estes mesmos grupos locais auto representam-se como um contra-poder, cujos objectivos são a eliminação das imperfeições, reais ou meramente supostas, que a democracia participativa apresenta e/ou pelo aprofundamento da própria democracia participativa. Este tipo de grupos que tem recorrido a este tipo de acção tem vindo a apresentar um papel insubstituível uma vez que têm vindo a “ assumir funções de intermediação na produção de solidariedades nos espaços onde se desenvolvem processos de desestruturação social ou de ataque a um desenvolvimento sustentado”.1 A instabilidade é uma das características apresentadas por estes grupos, situação que pode colocar em risco o dispositivo relacional. Finalmente, pelo facto de não possuírem um carácter profissional e as suas hierarquias administrativas estarem sempre a mudar, vão colocar em causa a própria gestão de competências e de conhecimentos técnicos específicos. As associações ambientalistas são geralmente apontadas como exemplo deste tipo de grupos que desenvolvem a acção crítica.

c) a acção concertante

Este tipo de acção apela à mobilização socio-política, por parte dos actores, em torno de um problema grave ou a pedir uma resolução urgente. Caracteriza-se por possuir um elevado desejo de participação de forma activa na gestão quotidiana do território numa postura de acção, que considera legítima e que assente na defesa dos seus próprios interesses, geralmente de base corporativa. É um tipo de acção que é conduzida, muitas das vezes, por figuras possuidores de elevada legitimidade pública, quase carismáticas para muitos, e que congregam o

1 - idem, p. 300

160 máximo de representados aglutinados sob uma associação, uma vez que é o número de aderentes que lhe vai conferir a força e a legitimidade política. A acção concertante baseia a sua actuação nos aspectos formais e politicamente correctos, ou sejam: as reuniões, processos de negociação, colaboração na concretização de determinado tipo de acções, etc. Ainda dentro da lógica do politicamente correcto, a relação que estes grupos mantêm com o Poder instituído é feita formalmente, institucionalmente e de forma cordial e amistosa., pese embora o carácter pontual que as formas de participação assumidas por estes grupos. Por outro lado, este tipo de acção é desenvolvida e encorajada pelo Poder político dando, por vezes, origem a estruturas mais formais de gestão dos próprios territórios. Os exemplos de grupos que recorrem a este tipo de acção é bastante dilatado, dependendo da escala em que nos encontremos. Se a acção é mais local, deparamo-nos com cooperativas de habitação, instituições particulares de solidariedade social, associações de desenvolvimento local, etc.; se a acção é mais global, então é possível depararmo-nos com este tipo de acção proveniente de associações empresariais, de industriais ou de agricultores, etc. “Estas características faz deles fortes parceiros, com um leque alargado de propostas que vão da educação/formação, à qualidade urbana às várias dimensões da actividade económica. Nesse sentido, pela sua participação legitimam fortemente os processos de planeamento e saem a ganhar com a canalização de avultados recursos financeiros e o apoio a muitas das propostas”.1

d) acção inovadora

Tal como o nome indica, trata-se de uma lógica de acção que faz apelo à criatividade e à diversificação da actividade económica local, ao mesmo tempo que procuram que todos os seus associados se empenhem na acção. É um tipo de acção presente nas regiões mono-industriais em crise, e apela à substituição da mono-industria por um tecido industrial multifacetado e de multidimensões. Daí que possua como referência o desenvolvimento local na sua

1 - idem, p. 301

161 dimensão alternativa aos modelos de desenvolvimento fordistas. A sua acção inovadora assume contornos pedagógicos e não é apenas orientada para o exterior; ela tem uma forte componente interna, encontra-se geralmente virada para os próprios associados. As reflexões que estas associações têm realizado assentam sobre as necessidades de se proceder à reparação do tecido social, sobre o lugar e os papéis que as formas de associativismo devem apresentar nas redes institucionais e as articulações a estabelecer entre as lógicas que presidem ao associativismo, as lógicas emanadas do Estado e as lógicas mercantis, ou sejam, as lógicas de solidariedade, de interesse geral e de eficácia, respectivamente. A acção destes grupos encontra-se significativamente marcada pelos interesses relacionados com os problemas criados pela exclusão social, os quais pretendem representar, assumindo-se como porta-voz de populações desprovidas de direitos de cidadania e de participação. Todavia, há a realçar que a acção a ser levada a cabo congregará todos aqueles que com ela satisfaçam os seus interesses e necessidades pessoais e que sejam mobilizados por essa acção. Dado o carácter inovador que a acção apresenta, a relação que estes grupos apresentam com o Poder instituído é marcadamente paradoxal, ou seja, de acordo com o tipo de acção a ser concretizado, tanto podem ser apoiados, ignorados ou até hostilizados, situação que tem a ver com o interesse ou desinteresse manifestado por esse mesmo Poder. A exemplificar os grupos que desenvolvem este tipo de acções, encontram-se algumas associações de desenvolvimento local, grupos culturais ou de defesa do património local. O município de Palmela esteve praticamente arredado de todos os processos de desenvolvimento que têm caracterizado a Península de Setúbal nas últimas duas décadas. Como município expectante, os seus actores viram o desenvolvimento passar ao lado. Mas, com o novo fôlego que se prevê para a Península de Setúbal, quer com o projecto Autoeuropa já materializado no município de Palmela, quer já com a rede de gás natural implantada a partir do terminal portuário de Setúbal, quer pelo acesso a Lisboa através do comboio na ponte 25 de Abril, quer ainda pela instalação do metro de

162 superfície, haverá, por parte dos municípios, uma vontade redobrada para abrirem os seus territórios a novos investimentos.

Quadro 6 - Força Política e mobilização dos vários tipos de associativismo face às formas de gestão do território

Força Política Forte Fraca Mobilização - Municípios e Associações de - Associações Culturais, Municípios Desportivas e de índole social Forte - Associações Empresariais da Indústria e Serviços Terciários Avançados - Associações Imobiliárias -Grupos Ecologistas e outros ligados ao Ambiente - Associações de Comércio - Organismos Regionais da - Universidades e Escola Administração Superiores Públicas - Comissões e Associações de Fraca - Organismos regionais e Moradores municipais dos Partidos - Sindicatos Políticos - Igreja e Associações Religiosas

Fonte: GUERRA, Isabel (2003) – “O território como espaço de acção colectiva: paradoxos e virtualidades do ‘jogo estratégico de actores’ no planeamento territorial em Portugal” in Boaventura de Sousa Santos (org.) Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa, (1º vol.), Porto, Afrontamento

163

Quadro 7 - Tipologias de Acção e suas características

Tipo de Acção Ênfase Tipos de grupos Relações Tipos de Acções Com o Poder que desencadeiam

Satisfação das Associações tipicamente necessidades locais Geralmente

imediatas Exemplo: problemáticas Acções agressivas Reivindicativa consideradas Comissões de Moradores de fundamentais bairros populares O Poder sente-se Reacção a acções ameaçado lesivas dos interesses locais Provocar a tomada de Colectivos associados de consciência na carácter duradouro A sua acção

população sobre os Exemplo: é temida pelos Negociação Crítica seus direitos e Associações Ambientalistas Poderes permanente identidades locais Criar oportunidades de ensaiar novas formas de organizar e gerir o território Grupos de interesses Procura e quer corporativos Formal, Formais e Concertada participar Exemplo: institucional politicamente correctos Associações Empresariais e cordial Grupos com elevada Procuram ser os porta- participação interna É paradoxal Formas de acção

voz das populações Exemplo: Pode ser apoiada, pedagógica para o Inovadora sem direitos e sem Associações ignorada ou exterior e para o seu voz De Desenvolvimento Local; hostilizada interior Grupos Culturais e Patrimoniais

Fonte: GUERRA, Isabel (2003) – idem

164

11.2.3 – As hipóteses de investigação

No projecto de investigação que foi submetido a aprovação, considerou-se uma questão principal:

- Que estratégias possuem os actores locais do município de Palmela acerca do desenvolvimento que se está a operar nesse território?

e quatro questões complementares.

- Que alianças e conflitos existem entre actores ?

Que tipo de consensos são mobilizadores ?

Existe uma hierarquização dentro dos actores sociais locais em termos de influências indirectas sobre os outros ?

Essa hierarquia, a existir, é percepcionada pelos actores?

Estas questões abririam espaço para o estabelecimento de um conjunto de objectivos de investigação:

Pretende-se compreender o jogo dos actores locais face ao desenvolvimento local, determinando a sua mobilização, consensos e conflitos;

Pretende-se compreender as influências directas e indirectas que cada actor toma em relação a outros actores;

165 Pretende-se determinar quais as tendências de desenvolvimento do território municipal de Palmela;

Pretende-se determinar a existência de uma hierarquia de actores nos sistemas decisionais, bem como se estes possuem uma consciência dessa mesma hierarquização

Para que os objectivos traçados no projecto pudessem ser alcançados e tendo o quadro teórico-conceptual como elemento orientador da investigação, elaboraram-se quatro hipóteses, que foram confrontadas com a realidade empírica e cujos resultados serão descritos e analisados ao longo do trabalho.

1 – O peso dos actores não é o mesmo, pelo que existem actores-chave, que influenciam muito e são pouco dependentes.

2 - Os actores locais do município de Palmela partilham da lógica que se encontra subjacente à acção inovadora, ou seja, a lógica que faz o apelo à diversificação da actividade económica local.

3 – Embora haja uma concordância por parte dos actores envolvidos, quanto à diversidade da actividade económica local, os seus desafios estratégicos identificam-se mais com o desafio estratégico que preconiza a abertura do território municipal ao investimento exterior, contribuindo para o seu processo de industrialização.

4 - A especificidade agrícola merece atenção por parte dos actores, mas já não é considerada como um desafio estratégico dominante.

166 12 - FORMAS DE ORGANIZAR E GERIR O TERRITÓRIO

A cidade constitui o horizonte das sociedades industrial e pós-industriais. As formas societais têm sido ainda responsáveis pela produção de metrópoles, de conurbações, de cidades industriais e de grandes aglomerações urbanas. Deste o início do século passado que se chamam “metrópoles às mais dinâmicas e mais importantes destas aglomerações.”1 A noção de metrópole peca, ainda hoje, por não possuir uma total concordância quanto à sua definição, contudo, parece haver consenso quanto às três características que possuem: são as principais concentrações urbanas de um determinado país que concentram centenas de milhares de habitantes; são aglomerações urbanas multifuncionais; desenvolvem um tipo multifacetado e fortemente integradas na economia. internacional. Ao fenómeno de desenvolvimento. das metrópoles junta-se um outro fenómeno – a metropolização – possuidor de contornos ainda pouco distintos, que envolve não só os processos de crescimento e de proliferação das grandes aglomerações, como se estende aos procedimentos que têm levado, de modo progressivo, à concentração de populações, actividades económicas, sociais e culturais e à produção e concentração de riquezas no seu interior. Este processo de metropolização não contempla, nem seria esperar que contemplasse, somente o conjunto de dinâmicas físicas – as superfícies construídas – como também abrange as dinâmicas sociais e económicas responsáveis pela atracção, para as grandes cidades, de categorias sociais de maior rendimento económico e com actividades profissionais mais qualificadas, procedendo simultaneamente à sua repartição, de forma especificada, dentro do território das metrópoles. Esta situação contribui para que se verifique um conjunto diversificado de diferenças socioespaciais bem mais marcado do que noutro tipo de cidades.2 Esta diferenciação pode ser agregada em dois princípios discriminantes:

1 - ASCHER, François (1998) – Metapolis - Acerca do Futuro da Cidade, Oeiras, Celta, p. 3 2 - Este processo é bem nítido nas metrópoles dos Estados Unidos da América, onde se traduz sob forma de guetos, enquanto na Europa, a sua configuração é baseada na formação ou alargamento de dominantes sociais que atingem um certo número de bairros.

167

• o primeiro, assenta na concentração de grupos sociais da população, com rendimentos económicos e categorias profissionais mais elevados em bairros de cidades mais centrais da metrópole ou em cidades já ocupadas por camadas sociais já enriquecidas.1 Este princípio é operado através de processos de exclusão assentes na renda fundiária e nos valores imobiliários da habitação, na requalificação urbana, na requalificação do comércio ou ainda no controlo dos próprios equipamentos colectivos;

• o segundo, desenvolve os processos de segregação através de processos que levam à concentração de populações com estatuto socioprofissional precário por via da construção de bairros de habitação social.2

Por outro lado, as deslocações pendulares que caracterizam o crescimento das metrópoles vêm mostrar que o crescimento da metrópole se faz, em menor escala, pela adição de novos subconjuntos e em maior escala através da formação das chamadas bacias de habitat e de emprego, decorrente das concepções polarizadoras do espaço, ou seja, em volta de uma ou mais cidades principais. Este processo de metropolização é, deste modo, o grande responsável pelas transformações mais significativas operadas nos territórios que abrangem as grandes cidades, os seus subúrbios e arredores, estes territórios, que formam espaços urbanos mais vastos, com grande heterogeneidade e descontinuidade e em que não raras as vezes as grandes cidades se encontram cada vez mais distanciados da economia. regional e cujos territórios são transformados em espaços de serviços e de lazeres. Todavia, os espaços que são produzidos pelas dinâmicas urbanas contemporâneas apresentam maior complexidade que as configurações clássicas produzidas pelas sociedades industriais. As metrópoles de hoje já não são somente territórios. Elas são

1 - No caso português, o bairro de Telheiras na cidade de Lisboa concentra um grande número de indivíduos que são quadros superiores. Quando a Autoeuropa se instalou no Município de Palmela, os quadros técnicos superiores foram alojados nos municípios da linha de Cascais, com particular incidência para o Município de Cascais 2 - Foram os casos dos bairros do Vale da Amoreira, no Município da Moita, da Bela Vista no Município de Setúbal, do Bairro do Pica-Pau Amarelo no Município de Almada ou da Nova Palmela, no Município de Palmela, entre muitos outros existentes na Área Metropolitana de Lisboa

168 também modos de vida e modos de produção.1 Este processo faz com que se torne indiscutível a necessidade de intervenção sobre a organização territorial. A discussão hoje produzida centra-se sobre as formas de intervenção urbana, em que associam problemáticas da ideia de cidade - planeamento urbano em sentido restrito - e de governo de cidade - que é entendida como “a dinâmica dos actores face às formas de produção e reprodução do espaço urbano”.2 A partir dos anos setenta começa-se a assistir a uma articulação entre o urbano e o económico, o que leva a novas reflexões sobre o urbanismo que vão incluir necessariamente as questões do desenvolvimento urbano e regional; inversamente qualquer reflexão em torno do desenvolvimento urbano e regional vai obrigar a introduzir a variável organização territorial.

12.1 - URBANISMO E PLANEAMENTO URBANO

O urbanismo é uma disciplina que ainda se encontra em definição, e espera o contributo de outros ramos da ciência e da técnica de modo a poder equacionar um corpo coerente, que integre simultaneamente a complexidade e a diversidade da organização espacial. Para Jean François Tribillon (1991), o urbanismo encara-se, ele próprio, quer como uma ciência interdisciplinar, onde as dimensões sociais espaciais estariam englobadas, quer como uma técnica decorrente da aplicação das metodologias de planeamento à intervenção sobre o urbano. O conceito de urbanismo, tal como hoje é entendido, tem a sua emergência em Inglaterra no início do século XVIII, sendo filho directo da revolução industrial. Essa mesma revolução industrial constitui “uma linha divisória na história do urbanismo e, especificamente, como o processo de transformação que torna possível uma inversão dos pesos relativos da população urbana e não urbana”.3 A revolução industrial inglesa foi também a grande responsável pela atracção de

1 - Cf. ASCHER, François (1998) – Op.cit. p. 16 2- CARIA, Fernando (1993) – Op.cit. p. 74 3 - MELA, Alfredo (1999) – A Sociologia das Cidades, Lisboa, Editorial Estampa, p. 46

169 populações rurais para as cidades, que por seu turno não se encontravam preparadas para as receber e acolher. Com cidades superpovoadas, as condições de vida e de habitabilidade eram péssimas, pelo que “uma série de pensadores vão repudiar a noção tradicional de cidade, elaborando modelos que permitam reencontrar uma ordem perturbada pelo maquinismo e pela tecnologia nascente.”1 É este pensamento, traduzido num outro olhar sobre a cidade, que vai dar origem à principal corrente do urbanismo moderno – a corrente progressista – que se opõe e se afasta das correntes humanista e naturalista, esta última muito ligada aos aspectos nostálgicos do rural. Desde o século XVIII que a história do urbanismo se encontra marcada por duas ambiguidades que ainda hoje persistem. Na primeira, assiste-se ao confronto entre utopias e realidades, ou seja, “durante longos anos as reflexões dos «urbanitas» não passavam de ensaios utópicos não concretizados” 2, ou seja, a não concretização prática dos modelos levou a que, na maioria dos casos, a avaliação sobre eles se tornasse impossível de realizar. A concretização dos modelos foi feita tardiamente, no que se refere à presença de dois elementos que constituem parte integrante do urbanismo, falamos obviamente dos profissionais de intervenção urbana e na integração das técnicas de planeamento nos modelos teóricos. A segunda ambiguidade, que se prende com o conceito de urbanismo, provém do confuso entrosamento verificado entre os pressupostos teóricos e as técnicas de intervenção. Esta confusão é devida ao facto do urbanismo ter sido encarado em duas dimensões não exclusivas: uma, de carácter técnico, baseia-se no estudo histórico- arquitectónico das formas de crescimento e de organização das cidades; a outra, de carácter teórico, procura defender um corpo de conceitos essenciais, nos quais os estudos sobre o crescimento das cidades se devem basear. Estas duas dimensões dão origem, respectivamente, a dois tipos de urbanistas: os primeiros que se têm debruçado sobre o facto já consumado, ou seja, sobre a realidade já

1 - CARIA, Fernando (1993) - Op.cit., p. 78 2 - idem, p. 79

170 construída, sobre os efeitos morfológicos provocados por uma determinada forma de crescimento, apontando para a necessidade de se identificar: os diferentes actores responsáveis por esse crescimento, a estrutura fundiária, as figuras de planeamento e as formas de uso e apropriação da cidade por parte dos seus habitantes; os segundos, pelo contrário, colocam-se num nível mais teórico, e procuram as reconciliações do homem com a cidade, da técnica com a natureza, a partir da clarificação das necessidades humanas e da vivência em colectivo, procedendo à detecção das lógicas de materialização de uma dada sociedade. Pese embora as diferenças entre os dois grupos, é a cidade que é tomada como matéria-prima de intervenção ou de teorização. O que o urbanismo de hoje procura fazer é uma englobalização entre o social e o espacial, entrosando entre si as diferentes dimensões estruturantes de cada uma das dimensões:

1 - O homem, o social e o territorial - considera-se que o espaço é o elemento mediatizador dos comportamentos individuais e sociais, que condiciona e é condicionado por todos os que quotidianamente se reapropriam dele; 2 - O económico - que coloca uma dupla dimensão de questionamento sobre os aspectos económicos por parte da intervenção urbanística, em termos de custos e rentabilidades, ao mesmo tempo que o conjunto de actividades produtivas que geram a riqueza e o emprego nas regiões é integrado na paisagem; 3 - O arquitectónico e a engenharia civil – que materializam o espaço, marcando- o de forma real e simbólica, influenciando simultaneamente a pluralidade de formas e funções da vida urbana; 4 - O estético - que reside nas formas, mas que as ultrapassa indo globalizar-se nas memórias, nas emoções e sensações produtoras de valores, nas culturas e nas identidades individuais e sociais próprias; 5 - O equilíbrio biológico e a paisagem - em que se procura humanizar o ambiente natural e o ambiente técnico, sem provocar desequilíbrios biológicos e recriar espaços ecológicos; 6 - O administrativo - tendente à acção das administrações e aos seus órgãos de

171 decisão no que se refere à compreensão e às decisões sobre os territórios que gerem.1

O urbanismo, assim definido de modo complexo, deve assumir-se como uma disciplina sistémica, contínua e criadora. Ao ser conceptualizado desta forma, o urbanismo possibilita, nas suas linhas gerais, uma noção que se torna facilmente apreensível, mas com contornos difíceis de aprofundar e de delimitar. Daí que se assista a uma pluralidade de definições sobre os conceitos de urbanismo e de planeamento urbano. Uma definição interessante é utilizada por Pierre Merlin e Françoise Choay (1988) que procura englobar as questões teóricas, com a intervenção e com os actores envolvidos nos processos de decisão. Para estes autores, essa definição “(...) tende a incluir-se sobre o termo urbanismo todo o tipo de intervenção organizada sobre o espaço construído ou em vias de construção, seja qual for a escala( do território à moradia), os actores (decisores públicos ou privados, profissionais e administradores), a natureza do saber (teórico ou aplicado, científico ou jurídico) e seja qual for a época onde se situa.”2

12.2 - TEORIAS DO URBANISMO

O confronto teórico é feito principalmente entre duas correntes: a corrente progressista e a corrente culturalista. A corrente progressista assenta, inicialmente, no racionalismo iluminista, possuindo uma concepção abstracta do homem enquanto indivíduo com necessidades inalteráveis quer no tempo, quer no espaço. Recorrendo-se à ciência e à técnica pode-se definir com exactidão o modelo urbano perfeito que se adapta a todos os grupos humanos. A corrente culturalista baseou-se nas ideias de Max Weber e de Werner Sombart. . Trata-se de um pensamento originalmente anti-industrial, que nasce da nostalgia pelas cidades do passado, procurando o ressurgimento do calor humano e a qualidade da

1 - idem, p. 81 2 - MERLIN, Pierre; CHOAY, Françoise et alli (1988) - Dictionnaire de l’Urbanisme et de l’ Aménagement, Paris, Presses Universitaires de France, p. 683

172 arquitectura das cidades antigas. Hoje, surge como a tentativa de conciliar de modo harmonioso o homem e a natureza no espaço urbano.

12.2.1 - O Pré-urbanismo.

As reflexões que são produzidas, bem como o conjunto de preposições que englobam este conceito de pré-urbanismo., localizam-se num contexto histórico que é marcado por um aumento demográfico das cidades, o que leva a que se verifique a observação de um fenómeno de despovoamento progressivo dos campos, que varia de país para país, de acordo com o seu nível de industrialização ou de pós-industrialização. A transformação dos meios de produção e de transporte contribuíram para que, do ponto de vista estrutural, se observasse a emergência de novas funções urbanas, situação que iria contribuir para a destruição dos traços medievais e barrocos das cidades europeias. O crescimento urbano., que se torna ininterrupto desde a revolução industrial, irá contribuir para as formas de segregação e de marginalidade social, epidemias de acelerada expansão, etc. A nova ordem urbana que entretanto se instala é decorrente da racionalidade produzida pela introdução de vias de comunicação, pela especialização de sectores urbanos e pela criação de grandes equipamentos urbanos.1 Os fenómenos de suburbanização, a implantação de fábricas nos limites da cidade, e a dispersão do operariado e das classes médias pelas periferias urbanas, contribuem para que a cidade deixe de ser uma unidade espacial bem limitada. Esta fase inicial do pensamento sobre a cidade é marcada, exclusivamente, pela presença de uma diversidade de pensadores como cientistas, médicos, pensadores políticos, higienistas, homens da Igreja, etc., que reflectem sobre a cidade. A reflexão que é feita situa-se numa dimensão utópica, baseado na dicotomia temporal assente no passado e no futuro, assumindo-se posições de nostalgia ou de progressismo. É, pois, a partir de um conjunto de filosofias de índole político-social ou de

1 - CARIA. Fernando (1993) - Op.cit. p. 86

173 utopias, que surgem duas correntes de projecção espacial: o modelo progressista e o modelo naturalista. No pré-urbanismo, o modelo progressista pode ser reconhecido nas obras de Robert Owen, Charles Fourier, Pierre-Joseph Proudhon entre outros, e tem como ambição proceder à conciliação do homem com as técnicas disponíveis nessas sociedades. As suas críticas incidem sobre a cidade industrial e sobre as condições do homem alienado. Procura-se, como objectivo, a realização do homem moderno – que o concebe como um ser universal, idêntico em todos os lugares e em todo o tempo – que será alcançada através da ciência e da técnica, cujas capacidades residem no facto de permitirem a resolução dos problemas que são colocados pela relação que os homens têm com o mundo e com os lugares. Aplica-se uma ordem-tipo de carácter racional, que pode ser aplicada a qualquer agrupamento urbano, independentemente das dimensões espaciais ou temporais. Recorta-se o espaço urbano, baseado numa análise funcional das actividades humanas - o trabalho, o lazer e a cultura, ao mesmo tempo que se valoriza a higiene “que vai dar ao espaço uma característica de abertura e de espaços verdes arejados.”1 A cidade, segundo o modelo progressista, teria de recusar a herança artística do passado, submetendo-se de forma exclusiva às leis de uma geometria natural. Avança-se para propostas protótipos e de edifícios standard. Para o modelo culturalista, a sua atenção vai para o conjunto populacional que constitui a cidade. O movimento culturalista nasce na Inglaterra do século XIX, sob o impulso de Augustus Pugin, John Ruskin e de William Morris, cujas obras dão conta do desaparecimento da antiga unidade orgânica da cidade, provocada pela pressão desintegradora da industrialização. Daí que a cultura seja a palavra-chave deste modelo. A cidade é vista como a forma cultural de uma sociedade formada por elementos em interacção, e cujo principal risco é tornar-se anónima e disforme com a industrialização. Cada cidade teria uma forma própria que é produto da sua história local, das actividades que possui e do espaço geográfico que ocupa. O ordenamento do espaço é feito segundo modelos menos rigorosos que os do modelo anterior. No entanto apresenta algumas determinações e características materiais

1 - idem, p. 88

174 precisas, nomeadamente, o aspecto da cidade ter de estar circunscrita ao interior de limites precisos, preferindo cidades de pequena dimensão e inspiradas nas cidades medievais. O traçado geométrico é praticamente nulo. A estética ocupa, aqui, o lugar que a higiene ocupa no modelo anterior. Propõe-se que cada construção seja diferente das outras, apelando-se à especificidade em função do lugar e da cultura local.

12.2.2 - O “urbanismo funcional” da primeira metade do século XX

O urbanismo. funcional distingue-se do pré urbanismo em dois aspectos: na transferência da tarefa de pensar e estruturar a cidade que passa a ser trabalho de peritos - sobretudo de arquitectos, deixando assim de ser obra de generalistas ou filósofos; e na tarefa prática que o urbanismo assume, abandonando a sua fase utópica. O funcionalismo, que tem as suas raízes históricas no século XIX, aparece como uma aplicação das concepções da biologia à sociedade, recorrendo usualmente a analogias orgânicas. Segundo essas analogias, só se poderá compreender o funcionamento de um corpo social tendo como referencial um organismo vivo. O equilíbrio verificado nesse corpo social só é possível devido à existência de uma interacção entre as partes que o constituem e as funções desempenhados por cada um. Esta tradição aplicada ao mundo social sobrepõe-se historicamente passando o funcionalismo biológico a ser interpretado com o funcionalismo arquitectónico. Vai ser em 1931, através da Carta de Atenas que se vai proceder a esta transposição para as escalas urbana e territorial. Dentro do urbanismo. funcional podem ser identificados três modelos: o modelo progressista, o modelo culturalista e o modelo naturalista.

175 O modelo progressista

O início do século XX irá proporcionar o desenvolvimento do urbanismo, cuja pretensão é tornar-se na ciência global da cidade. Vai ser com Tony Garnier, em 1917, que aparece um plano da cidade industrial, onde se encontram representados quase todos os elementos que constituem a base do urbanismo contemporâneo,1 influenciando fortemente os arquitectos racionalistas na primeira metade do século. O objecto do urbanismo continua a ser o mesmo: pensar a cidade. Mas a revolução industrial viria a mudar a natureza ao urbano. O desafio é respondido através da transformação da arte do urbano em urbanismo, que se torna “num sistema de intervenções baseadas sobre uma teoria científica (ou pelo menos racional) da urbanização do urbano e das suas formas de organização.”2 As ideias e as técnicas desta corrente urbanística viriam a ser veiculadas pelo Congresso Internacional de Arquitectura Moderna, em 1928, que inspirados pela imagem do homem-tipo, elaboram em 1933 o manifesto doutrinal que ficaria a ser conhecido como Carta de Atenas. Este manifesto constitui o documento básico do modelo progressista. Nele são analisadas as necessidades universais do homem, as quais a cidade deve satisfazer, de acordo com quatro grandes funções: habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpo e a mente. Propõe-se que a cidade deva possuir zonas específicas para cada função. Sendo dominado pelas correntes modernistas, este modelo de urbanismo defende a coincidência temporal do século XX com a cidade, ou seja, a cidade deve afirmar a sua contemporaneidade ao utilizar as técnicas actuais: a fábrica, o automóvel, o comboio, o avião, etc. Uma vez satisfeitas as funções urbanas consignadas na Carta de Atenas, o plano de cidade poderia ser adoptado a qualquer lugar, e isto porque é concebido para um homem-tipo, por isso não existe associação nem com os lugares, nem com tradições

1 - idem. p. 90 2 - TRIBILLON, Jean.François (1991) - L’Urbanisme, Paris., La Découverte, p. 58

176 culturais. O plano de cidade do modelo progressista encontra-se ao serviço da eficácia e da estética. Enquanto a eficácia se encontra dependente da importância atribuída às questões da saúde e da higiene, a higiene é polarizada em torno da concepções de iluminação, de espaços verdes e de lazer. Com base nestes princípios, reclama-se que as construções deveriam ser em altura, afastadas entre si por espaços verdes e iluminadas.

O modelo culturalista

Este modelo irá desenvolver e aprofundar as teses que marcaram o pré-urbanismo culturalista. A concepção que possui do espaço difere radicalmente do que é proposto pelo modelo progressista. A cidade é concebida com base na singularidade de cada espaço e de cada situação, partindo-se do princípio que cada cidade é detentora de um espaço que é apropriado de forma particular e diferenciada. É na Inglaterra, com os trabalhos de Ebenezer Howard, que o modelo culturalista recebe novo fôlego. O projecto de cidade-jardim que concebe, vai tornar-se num marco de extrema importância na história do planeamento urbano, assim como a criação da imagem dos três magnetes, 1 que hoje são definidos como os primeiros objectivos do planeamento. Ebenezer Howard, nos seus estudos sobre urbanismo, afirmava que quer a cidade que o campo possuía vantagens e inconvenientes. As vantagens apresentadas pelas cidades eram, sem dúvida, as oportunidades oferecidas em termos de acessibilidade quer ao trabalho, quer aos serviços urbanos. Já as desvantagens podem ser identificadas com o empobrecimento do meio ambiente, o campo possuía um excelente meio ambiente que contrastava com a falta de oportunidades. A tarefa de Ebenezer Howard foi a de proceder à combinação dos elementos vantajosos da cidade e do campo, construindo um modelo de cidade e não uma periferia desprovida de centro e de limites. Daí que o seu modelo parta da existência de um centro, composto por espaços

1 - A teoria dos três magnetes desenvolvida por Ebenezer Howard assentava no campo, na cidade e na cidade-campo.

177 comerciais e administrativos, circundado por áreas destinadas às habitações, cada uma provida de jardim e, por fim, uma zona industrial localizada na periferia. Combinam-se assim as vantagens das acessibilidades da cidade com as vantagens do campo, traduzidas no meio ambiente sem causar qualquer tipo de desvantagens.1

O modelo naturalista

O modelo naturalista circunscreveu-se apenas aos Estados Unidos, onde se constitui já no nosso século, e baseia-se numa tradição anti-urbana e nos aspectos nostálgicos da natureza ainda virgem e do mito dos pioneiros do Oeste americano. É o arquitecto Frank Lloyd Wright que cria este movimento, dando origem a um urbanismo anti-urbano, baseado em planos de grande escala 2e assentes na existência do automóvel e da energia eléctrica que, chegando a todo o lado possibilitavam que as cidades se diluíssem através da dispersão das pessoas e dos empregos, acusando a cidade industrial de alienar o indivíduo pelo trabalho e propondo o contacto do homem com a natureza, pois só assim ele consegue um desenvolvimento harmonioso, atingindo a sua plenitude enquanto pessoa. A partir destas ideias, Frank Lloyd Wright propõe um modelo baseado numa cidade dispersa e com baixa densidade de construção. Mas é uma cidade diferente, ou melhor, a própria noção de cidade desaparece, 3 prevendo-se casas individuais rodeadas por dois hectares de terreno, podendo as actividades profissionais serem anexadas à habitação. Nalguns casos poderá existir um agrupamento em pequenos centros isolados uns dos outros, situação que é extensível quer aos hospitais, quer aos outros equipamentos culturais. A ligá-las, haveria redes terrestres e vias aéreas. Este modelo articula alguns aspectos dos modelos anteriores. O espaço é concebido como um espaço moderno que oferece a liberdade ao Homem, cabendo aos

1 - O modelo de Ebenezer Howard foi concretizado em duas cidades-jardim a de Letchworth e a de Welwyn, perto de Londres. Todavia, como não possuíam actividades económicas próprias, rapidamente se transformaram em cidades-dormitórios, o que coloca algumas questões à filosofia subjacente às cidades jardim. 2 - Frank Lloyd Wright elabora um projecto com o nome de Broadacre-City, que nunca seria concretizado bem como as suas ideias. 3 - Cf. CARIA, Fernando (1993) – Op.cit. p. 95

178 elementos técnicos darem o sentido ao projecto articulando as dispersões.

12.2.3 - O urbanismo racional do pós-Guerra

Os problemas que entretanto foram sendo colocados pela sociedade industrial não obtiveram respostas por parte do urbanismo do princípio do século XX, nem ao nível dos modelos que propuseram, nem ao nível das concretizações. Para além disso, sofrem uma crítica acentuada a seguir à segunda guerra mundial. Numa fase inicial é privilegiado o olhar sobre a forma em detrimento do conteúdo das funções urbanas. É a tradição progressista que, perante as novas funções da cidade, propõe uma série de necessidades quantificáveis, face ao aumento populacional e perante um conjunto de necessidades específicas que nascem do progresso técnico. Assiste-se ao aparecimento dos modelos das cidades futuristas, resultantes deste processo de polarização, e cujas características são semelhantes: grandes concentrações populacionais, libertação da superfície terrestre, investimentos no subsolo, no mar e na atmosfera.1 O que efectivamente se verifica, é uma incapacidade por parte dos urbanistas em assumir as potencialidades oferecidas pela técnica, como refere Françoise Choay “ vimos que os urbanistas progressistas, mesmo concebendo de modo novo o espaço global da cidade, não souberam assumir em sua plenitude as possibilidades que a técnica lhes oferecia e não realizaram a revolução tecnológica, que constituía um dos fundamentos da sua teoria.”2 As críticas a esta fase do urbanismo vão reintegrar o problema urbano, contextualizando-o duma forma mais global, partindo de contributos e de reflexões de outros campos profissionais, envolvendo trabalhos de economistas, sociólogos, juristas, historiadores e psicólogos, que associando o carácter empírico das suas pesquisas à diversidade das abordagens, dão conta da complexidade do novo campo de reflexão: o planeamento. “Mais do que a forma, ou a materialização das funções urbanas, está em

1 - Os exemplos são variados, desde a cidade-ponte de Fitzgibbon, a cidade-marina do japonês Kikutake, as cidades verticais de Maymont, etc. 2 - CHOAY, Françoise (1998) – O Urbanismo, São Paulo, Editora Perspectiva, (5ª edição), p. 35

179 causa as formas de vida e de estruturação da cidade.”1

Das tendências críticas, a mais significativa provêm de Patrick Geddes, que procura definir o contexto concreto do estabelecimento humano recorrendo ao maior número possível de sectores da realidade. Patrick Geddes introduz três noções que se tornarão cruciais para a reflexão em torno do planeamento urbano:

• a valorização da cidade, que é vista como um organismo vivo que possui um conjunto de funções integradas e independentes perfeitamente identificáveis no processo histórico de urbanização;

• a cidade, ao mostrar-se complexa vai exigir a presença de uma diversidade de disciplinas de índole social, que contribuam quer para o seu conhecimento, quer para intervenções a efectivar, e que evitem olhares enviesados sobre o real;

• apresenta a metodologia de planeamento aplicada à cidade, baseada na observação da região, das suas características e das suas possíveis tendências, análise da observação e construção de um plano.

A contribuição de Patrick Geddes para o planeamento é de relevante importância porque os seus estudos incidem sobre a realidade concreta; e quando procede à análise dos estabelecimentos humanos e do sistema da economia local procura relacioná-los com as potencialidades e limitações que caracterizam o meio ambiente local. O modelo racional que será predominante até aos anos oitenta, vai retomar e complexificar o modelo funcionalista da fase anterior e, perante a organização das formas urbanas da cidade, introduz a metodologia própria ao planeamento, sem contudo aplicar totalmente o pensamento de Patrick Geddes. O processo de trabalho destes urbanistas era feito de forma muito directa: procedia-se ao diagnóstico, segundo a proposta metodológica de Patrick Geddes, passando-se à análise, baseada num empirismo prático, terminando com o plano. Esta

1 - CARIA, Fernando (1993) – Op.cit. p. 96

180 metodologia seria posteriormente alargada quer aos planos gerais de urbanização, quer aos planos parciais e de pormenor. Os pressupostos que estão implícitos ao modelo racional podem ser sintetizados do seguinte modo:

“ 1 - a racionalidade é total aplicando-se universalmente a todas as situações; 2 - a racionalidade implica uma finalidade única que deriva de uma adequação óptima entre meios e fins (princípio da optimização); 3 - a universalidade do comportamento racional permite uma previsão completa dos efeitos no decurso do tempo, podendo ser antecipada com o máximo rigor; 4 - as determinantes próprias do modelo racional contém internamente todas as variáveis pertinentes, sendo possível abstrair as variáveis «externas» (políticas, culturais, jurídicas, etc.); 5 - a estratégia de decisão é linear porque está inteiramente prescrita pela lógica específica do comportamento racional; 6 - a estratégia de decisão ocorre numa situação de informação total, que permite uma mensuração perfeita antes e depois da tomada de decisão”.1

Os pressupostos acabados de enunciar vão possibilitar a distinção entre o que é e o que não é racional, ao mesmo tempo que defende a separação entre as propostas elaboradas pelos especialistas e as decisões do político. Os anos sessenta são marcados por um elevado crescimento urbano, que se reflecte na ocupação dos campos envolvente das cidades, criando fenómenos de suburbanização, traduzidos no consumo e no aumento das mobilidades quer para o centro, quer para o trabalho. Estes fenómenos, para além de complexificarem a cidade, vão exigir uma maior capacidade de decisão e de intervenção sobre o urbano. Com os anos setenta, os problemas agudizavam-se, as cidades deterioravam-se e a crise fiscal limitava intervenções eficazes.

1 - SÁ, Maria Teresa Salgueiro de Vasconcelos e (1990a) - A Intervenção Sociológica no Planeamento, Dissertação de Mestrado no Ramo do Planeamento Regional e Urbano, Lisboa., Universidade Técnica de Lisboa

181 Surgem críticas ao modelo funcionalista, provenientes de áreas influenciadas pelas correntes marxistas, sobretudo em França com Manuel Castells e Jean Lojkine e em Inglaterra com David Harvey. Manuel Castells irá discutir, em 1972 em La Question Urbaine, as ligações entre o modelo económico e o meio urbano, colocando ênfase no papel que o espaço urbano desempenha como factor de consumo colectivo. Jean Lojkine, em 1977, em Le Marxisme, l’Etat et la Question Urbaine, reflecte sobre o papel desse espaço como um processo material fundamental para a circulação do capital; e David Harvey, em 1973, em Social Justice and the City irá reflectir sobre o papel do espaço urbano no processo de articulação do capital. A reflexão que tem sido feita sobre a cidade leva a que ela deixe se ser considerada como uma unidade isolada per si, mas como um subsistema que se insere em lógicas económicas sociais e culturais que terão de ser tomadas em linha de conta quer se trate de processos de decisão, quer de processos de intervenção, que visem uma concepção de desenvolvimento.

12.3 - PLANEAMENTO ESTRATÉGICO: ACÇÃO E/OU RECONCILIAÇÃO ENTRE ACTORES ?

12.3.1 - As Correntes do Urbanismo: do pós-Guerra aos nossos dias

Até aos anos cinquenta o urbanismo era entendido como uma forma de estruturar o espaço de forma racional; a esta concepção não é estranha a devastação verificada, sobretudo na Europa, pela segunda guerra mundial. Esta forma restritiva de arrumar o espaço limitava-se a ordenar os locais de habitação e de trabalho, os equipamentos colectivos e as vias de comunicação. O que se pretendia, pois, era evitar um crescimento descontrolado e anárquico das cidades. Estamos perante um urbanismo que não consegue reflectir de forma profunda as políticas de ordenamento do território. No período de expansão económica que marcou a década de sessenta, o planeamento recebe apoio financeiro do sector público, ainda em expansão e com

182 capacidade de investimento, ao mesmo tempo que se apresenta na dependência da vontade política em possuir Planos como fonte de prestígio. Está-se ainda num período em que os agentes locais e a população em geral só tomam conhecimento dos Planos enquanto algo acabado e consumado, não podendo ter qualquer tipo de participação. Nos anos setenta, a crise económica e, consequentemente, a crise do Estado- Providência que os caracterizou, conduziram a uma diminuição da capacidade financeira para as questões do planeamento urbanístico. A adicionar a esta questão verifica-se que os agentes económicos, por um lado, e as populações, por outro, não vêem alcançados os seus objectivos nem satisfeitas as suas necessidades básicas.1 Margarida Perestrelo (1999) refere, inclusivamente, a própria falência do planeamento tradicional que se faz sentir a partir dos anos setenta. Curiosamente esta falência é notada independentemente da elevada complexidade que o nível técnico atingiu, situação que é acompanhada pela sofisticação dos modelos matemáticos associados. Este paradoxo entre desenvolvimento técnico-científico do modelo e a sua crise pode ser explicado, segundo a referida autora, pelo facto dos planos se mostrarem “completamente desadequados da realidade social e económica, acabando por não serem aplicados”2 O paradigma tradicional de planeamento falhou na medida em que a sua génese pressupõe uma previsão perfeita do que iria acontecer, ou seja, o planeamento, ao ser considerado neutro, conduziu à total imutabilidade das coisas, ao mesmo tempo que se procurava alcançar o óptimo; os próprios fenómenos sociais foram sendo materializados, remetendo-se os actores sociais para um total esquecimento o que, como consequência, se traduziu num menosprezar da própria experiência social. Se é nítida a desvalorização da dimensão político-social dos territórios e, consequentemente a falta de importância que é dada às propostas e decisões dos actores

1 - Cf. PEREIRA, Teresa Craveiro (1990) – “O Plano-Processo no Planeamento Estratégico”, Sociedade e Território, nº 12, Porto, Afrontamento, p. 12 2 - PERESTRELO, Margarida (1999) – “Prospectiva: Planeamento Estratégico e Avaliação”, Comunicação apresentada no 1º Congresso em Portugal sobre Planeamento e Avaliação e Impactos Sociais p. 1

183 sociais, também é bastante evidente a estreiteza do campo das possibilidades ensaiada pelo urbanismo racional, quando cegamente procura o óptimo esquecendo-se dos vários futuros possíveis e disponíveis, para serem considerados em termos de projecto territorial. Esta perspectiva globalizante tende a racionalizar a utilização do espaço e dos recursos com vista à melhoria da qualidade de vida das populações, ao mesmo tempo que busca um desenvolvimento económico harmonioso. Carlos António Bana e Costa chama a atenção para o facto de que muitas das vezes se considera que à partida há como uma tendência em “considerar que em qualquer situação decisional existe pelo menos uma solução, que com o tempo e meios suficientes pode objectivamente ser demonstrada como sendo a melhor solução”.1 Poder-se-á correr o risco de se estar a construir um modelo de apoio à decisão que se encontra, logo enviesado à priori e/ou senão mesmo desadequado perante o conjunto de situações e problemáticas com que os decisores se podem confrontar. Estas e outras questões que caracterizam a crise do modelo de planeamento são acompanhadas, ao longo dos anos setenta do século passado, por um conjunto de teorias incidiam numa reflexão aprofundada em torno dos chamados paradigmas da mudança social. Questionava-se os seus fundamentos económicos, as formas urbanas e rurais que o modelo produziu. A reflexão teórica girava em torno do processo que assegurava uma exploração racionalizada dos recursos, quer sejam humanos, técnicos ou naturais, de forma a dar resposta às necessidades que são expressas ao nível local. Por outro lado, os objectivos destas teorias estavam virados para a necessidade de se produzir um novo olhar, uma nova forma de pensamento, com maior grau de complexidade, capaz de ultrapassar os entraves detectados no paradigma racionalista do planeamento, produzindo a emergência de uma novo paradigma – o planeamento estratégico.2 Contudo, a emergência do novo paradigma dá-se no final da década de setenta e é marcada por um outro tipo de reflexão em torno do urbanismo. Tal é feito articulando-o

1 - COSTA, Carlos A. Bana e (1994) – Les problématiques de l’aide à la décision: vers l’enrichissement de la triologie choix-tri-rengement, Centro de Sistemas Urbanos e Regionais da Universidade Técnica de Lisboa., UTL/IST Lisboa, p.1 2 - Cf. SÁ, Maria Teresa Salgueiro de Vasconcelos e (1990a) – Op.cit.

184 numa perspectiva de desenvolvimento regional. Neste sentido, assiste-se a uma situação inversa, ou seja, quando se procede às reflexões sobre o desenvolvimento regional e urbano, sente-se a obrigação de se proceder à introdução da variável organização territorial.1 A década de oitenta, que se caracteriza por um urbanismo liberal e concorrencial, 2 vai dar novo fôlego às críticas sobre o urbanismo planificador e voluntarista 3 das décadas anteriores, que assentou em pressupostos ideológicos pouco adequados à realidade. As críticas vão mais longe quando consideram que os grandes planos são instrumentos sem qualquer eficácia prática, já que os dinamismos locais são simplesmente ignorados, ao mesmo tempo que representam apenas os aspectos mais ou menos ideológicos por parte dos planificadores. Procuram-se novas perspectivas para o modelo de desenvolvimento ao mesmo tempo que se buscam novas componentes de ordem qualitativa quer para as cidades quer para os territórios.

12.3.2 - O Planeamento Estratégico: sua génese

O Planeamento Estratégico fazia há muito parte dos instrumentos de gestão empresarial. As suas raízes estão relacionadas com as alterações que se verificaram na gestão das empresas no pós-segunda guerra mundial. Este tipo de planeamento solicita grande flexibilidade para se adaptar a um sistema socio-económico em permanente mutação. O Planeamento Estratégico pode ser definido como “ um meio sistemático de gerir as alterações e criar um futuro possível para uma organização (...) é um processo criativo que permite identificar e realizar uma política conclusiva, tendo em conta os pontos fortes e fracos das empresas num contexto mais vasto em que ela actuará e do qual terá de aproveitar as oportunidades oferecidas em vários momentos”4. Recentemente a aplicação do Planeamento Estratégico às grandes cidades, e

1 - Cf. CARIA, Fernando (1993) - Op .cit, p. 102 2 - Cf. ASCHER, François (1991) – “ Vers un Urbanisme Strategique, decisionnel et heuristique”, Sociedade e Território, nº 12, Porto, Afrontamento, p. 116 3 - idem 4 - MENDES, Maria Clara (1992) – “Planeamento Estratégico - o caso de Lisboa.”, Cadernos Municipais, nº 57, p. 12

185 principalmente em áreas metropolitanas, foi feita partindo do pressuposto que a cidade é, antes de mais, um produto e como tal pode e deve competir com outras cidades. A novidade reside na “vontade de utilizar o planeamento estratégico na condução das colectividades e na gestão das formas urbanas”.1 O Planeamento Estratégico tendo o seu grande desenvolvimento ligado à estratégia empresarial, traz aspectos inovadores na sua aplicabilidade ao urbano, ao mesmo tempo que cria uma nova forma de pensar o planeamento e o desenvolvimento. Numa fase inicial, o Planeamento Estratégico pretende imprimir uma nova racionalidade à acção pública urbana. “ A última realidade da racionalização consiste em envolver a acção pública na problemáticas e práticas ditas estratégicas permitindo dar um novo rosto às actividades de planificação e de políticas urbanas”.2 A ruptura com o planeamento tradicional tem lugar com a introdução das concepções e técnicas utilizadas no Planeamento Estratégico ao nível do urbanismo. O que marca essa ruptura é o aspecto de interacção constante que se imprime ao processo de planeamento, plans are nothing, planning is everything, daí que se afirme que o Planeamento Estratégico não é um plano mas sim um processo. Esse processo é, contudo, um processo interactivo e progressivo e não termina com a elaboração de um Plano. Este deve ser visto como uma fase de um ciclo estratégico, no qual estão englobados como partes fundamentais a concretização dos objectivos, o controlo e a avaliação. Independentemente de o considerarmos implicitamente ou explicitamente, “o planeamento estratégico pressupõe sempre uma visão prospectiva”3, isto porque se considera que os objectivos definidos são sempre alcançáveis. Por outro lado, na própria reflexão prospectiva o que interessa não é tanto a solução final, mas sim o percurso interrogativo que põem em causa as ideias preconcebidas. Partindo-se muitas vezes do zero, a reflexão em torno das boas ideias só é possível porque o processo de planeamento é percepcionado como um processo de aprendizagem. Hoje, a

1 - CARIA, Fernando (1993) – Op.cit. p. 104 2 - PADIOLEAU, J.-G. (1989) - “Un movement de rationalisation de l’action publique urbaine : le planning stratégique”, in WACHTER, Serge (org), Politiques Publiques et Territoires, Paris L’Harmattan, p. 159 3 - PERESTRELO, Margarida (1999) – Op.cit. p. 2

186 maioria já não considera que “o planeamento se resume a um exercício de descoberta de meios para alcançar fins predeterminados”.1 A grande novidade deste plano-processo incide no facto do planeamento ter deixado de ser considerado como propriedade opinativa de decisores e executores, para ser alargado a outros espaços sociais nele implicados - os actores activos e passivos desse território. Não se trata apenas de mudar os intervenientes no planeamento, é mais do que isso: é envolver e responsabilizar os actores pelas suas tomadas de decisão. Tal só se torna possível na medida em que os instrumentos de análise e antecipação são elaborados a partir de uma concertação obtida entre os diferentes actores envolvidos. Por outro lado, as recomendações emanadas encontram uma maior legitimação a partir do momento em que se tenha feito um elevado investimento quer nas metodologias de organização, quer nos processos de coordenação entre os diferentes actores.

12.4 - A METODOLOGIA DO PLANEAMENTO ESTRATÉGICO

Como processo de Planeamento contínuo, o Planeamento Estratégico vai exigir um sistema de acompanhamento e monitorização. Este processo é definidor das regras de gestão, ao mesmo tempo que intervém desde a fase inicial até à escala do projecto. Do ponto de vista do Planeamento Estratégico, os objectivos serão concretizados com base em mecanismos de regulação das forças em presença e do fortalecimento do partenariado.

A Identificação dos Actores Locais

O primeiro critério que Fabrice Roubelat toma para qualificar um actor é a sua homogeneidade, “ (...) o actor é grupo de indivíduos organizados, seja um grupo de organizações, com um certo número de projectos comuns e dispondo de capacidades de reacção comuns. Os seus objectivos estão ligados a projectos cuja articulação visam

1 - idem

187 articular”1 Contrariamente ao que poderia supor, a chamada opinião pública não constitui um actor, na medida em que não é detentora de meios nem de objectivos homogéneos. O Estado, só por si, também não forma um actor uma vez que é detentor de uma multiplicidade de níveis de poder de decisão, podendo haver objectivos diferentes e meios de actuação diferenciados. Por outro lado, há cada vez mais uma maior necessidade de se pôr em causa o mito do decisor isolado. Carlos António Bana e Costa chama a atenção para o facto que é verificado independentemente que “seja no sector público seja no domínio das organizações privadas, as decisões não são senão excepcionalmente assunto da responsabilidade de um só indivíduo. Quanto mais complexa é a situação maior é o número de entidades implicadas, directa ou indirectamente, no processo de tomada de decisão – a estes chamamos-lhes actores, a que os anglo-saxões chamam de “stakeholders”. São os sistemas de valores, que representam e defendem e as relações que entre os actores se estabelecem que ditam as suas decisões. De facto, “os valores de um actor condicionam a formação dos seus objectivos, interesses e aspirações, que são muitas vezes ‘imprecisos, instáveis e expostos a conflitos internos’”2 Como processo participado, o Planeamento Estratégico pressupõe o envolvimento de actores sociais e económicos. Para tal há que proceder à identificação e sistematização dos actores que existem no território. Esse processo terá de ter em conta: a dimensão do papel que esses actores representam no território e na promoção do desenvolvimento local. Este procedimento metodológico possibilita a explicitação dos objectivos que levam ao envolvimento dos actores locais no processo de planeamento. Contudo, nesta fase poderá surgir a necessidade de se proceder à agregação de actores3. A multiplicidade de actores locais conduz, forçosamente, a um perfil social diversificado, onde figuram, para além da Autarquia, actores sociais, económicos e culturais, para além da Administração Central.

1 - HATEM, Fabrice ; CAZES, Bernard ; ROUBELAT, Fabrice (1993) - La Prospective - Pratiques et méthodes, Paris, Economica, p. 272 2- COSTA, Carlos A. Bana e (1993) – Processo de Apoio à Decisão: Problemáticas, Actores e Acções, Lisboa., Instituto Superior Técnico/Centro de Sistemas Urbanos e Regionais, p. 10 3 - Cf. PERESTRELO, Margarida (1999) – Op.cit. p. 6

188 Para tal há a considerar os vários organismos e/ou entidades que podem integrar o mesmo actor. Analisando as competências e os atributos de que são detentores, na estratégia de actores procede-se à agregação daqueles que possuem os mesmos objectivos e que são detentores da mesma posição face a esses objectivos. Esta situação só se torna possível após a análise de conteúdo das entrevistas que lhes são realizadas.1 O envolvimento de todos estes actores “é a única maneira de obter a formulação, ou reformulação, de propostas”.2

A Monitorização Permanente

O conceito de monitorização permanente é entendido pelo Planeamento Estratégico como o confronto interactivo entre as propostas e a sua concretização. Este instrumento tem como finalidade a detecção dos desvios de execução das metas programáticas. Tendo uma natureza retroactiva, estes instrumentos vão permitir que se realize o controlo efectivo das acções a realizar, a partir de ajustamentos, o que concede o carácter adaptativo a este tipo de Planeamento.

12.4.1 - Operacionalização do Plano Estratégico

Segundo a proposta de Padioleau. (1989) a construção do Plano Estratégico passa pelas seguintes sete fases:3

1- A organização dos procedimentos estratégicos 2 - A radiografia do “ambiente” 3 - A formulação de tarefas

1 - idem 2 - PEREIRA, Teresa Craveiro (1990) – Op.cit. p. 13 3 - Cf. PADIOLEAU, J-G.(1989) - Op.cit.. Embora outros autores apresentam metodologias com condensação de fases na produção do Planeamento -Estratégico, é o caso de MENDES, Maria Clara (1992) que apresenta quatro fases: organização, análise da situação interna e externa; desenvolvimento de estratégias e execução.

189 4 - As análises interna e externa 5 - A escolha dos objectivos e das estratégias 6 - O plano de acção e a execução 7 - A contra-evolução

1 - A organização dos procedimentos estratégicos

Nesta primeira fase trata-se de colocar em funcionamento uma estrutura específica, o grupo de projecto do Planeamento Estratégico, por exemplo, que será responsável pela “definição, programação e desenvolvimento do trabalho, a supervisão do seu andamento e a resolução de conflitos e inconsistências que surjam durante a elaboração, implementação e gestão do plano”.1

2 - A radiografia do ambiente

Procede-se à selecção dos grandes problemas que sejam susceptíveis de influenciar o futuro de uma comunidade local, tendo em atenção as exogeneidades que influenciam o sistema local. Nesta fase ainda não se entra em pormenores muito aprofundados. O que se procura é a informação a partir de um conjunto de indicadores económicos, sócio-demográficos e naturais, que possibilitem o fornecimento de imagens globais das tendências futuras dessa comunidade. Estes indicadores deverão ser construídos e analisados segundo três perspectivas:

a) diacrónica, o que permite esclarecer as tendências e as projecções; b) comparativa; c) e interpretados numa linguagem de constrangimentos e oportunidades 2

1 - MENDES, Maria Clara (1992) – “Planeamento Estratégico - o caso de Lisboa”, Cadernos Municipais, nº 57, p. 13 2 - Cf. PADIOLEAU, J.-G.(1989) - Op.cit. p. 162

190

Quadro 8 - Discurso sobre a acção pública

Planeamento Planeamento Estratégico

Sociedade de crescimento Sociedade de descontinuidade Predominância da acção pública Partenariado sociedade civil-acção pública Visão substancial dos bens públicos colectivos Visão processual dos bens colectivos Racionalidade científica Racionalidade política Coordenação hierárquica, planos Mercados, pseudo-mercados, contratos

Concepção das Cidades Visão voluntarista da homogeneidade Diversidade, variedade Imagem Introvertida Imagem extrovertida Acção pública formalizada Acção pública aberta Acção pública global Acção pública de patchwork Acção pública coerente Acção pública concretizável

Discurso Metodológico Processos especulativos Procedimentos pró-activos Planificação de largo alcance Planificação soft Grupo de peritos Participação dos actores sociais Orientação normativa Orientação pragmática Fonte: Padioleau, J.-G. (1989) - Op. cit., p. 177

3 - A formulação de tarefas

Nesta fase, procede-se formulação, avaliação e selecção das estratégias de planeamento, através do envolvimento dos actores locais. Pretende-se “dar aos problemas as orientações mais gerais recolhendo em princípio a concordância do maior número de cidadãos”.1

1 - idem, p. 163

191 4- Análises internas e externas

É fundamental o procedimento das análises externas e internas, de forma a serem identificados os temas-chave, as oportunidades e constrangimentos oferecidas pela situação envolvente. A análise externa orienta-se para o estudo das variáveis envolventes do espaço local, nomeadamente as modificações ao nível internacional, nacional e regional e que possuem, eventualmente, impactes potenciais sobre esse espaço local. Uma vez determinados, os factores externos deverão ser hierarquizados segundo duas dimensões:

a) a probabilidade de ocorrência; b) o impacte que poderão ter.

Este conhecimento torna-se pertinente, uma vez que os factores externos podem pôr em causa o conjunto de possibilidades de concretização dos objectivos inicialmente pensados. Na análise interna, procura-se determinar os pontos fracos e fortes em relação a cada um dos temas estratégicos, por forma a alcançar-se os objectivos. Este tipo de análise completa o diagnóstico externo.

5 - Escolha das metas, dos objectivos e das estratégias

As fases anteriores produziram condições para que se proceda à selecção das metas. Essa selecção deve, no entanto, possibilitar duas escolhas:

a) apoiar-se nos pontos fortes e b) eliminar ou debilitar os pontos fracos.

192

Figura 5- Características Gerais do Planeamento Estratégico

Selecção dos Formulação problemas-chave de tarefas

Organização dos Radiografia do Análise interna procedimentos “ambiente” e externa estratégicos

Controle e evolução Objectivos e estratégias

Execução Plano de acção

Fonte: PADIOLEAU, J-G (1989) - Op.cit, p. 161

Enquanto as metas procuram traçar o desejável, os objectivos esforçam-se por traduzir, de modo concreto, os aspectos quantitativos e temporais. As estratégias, para além de terem de apresentar coerência entre si, devem mostrá-la também em relação aos objectivos estabelecidos e em relação aos objectivos cuja probabilidade de risco seja menor ou nula. Daí que as estratégias a seguir incidam sobre a forma de rentabilizar as oportunidades externas que se apresentem mais pertinentes e os aspectos mais fortes que a comunidade apresente.

193

6 - O Plano de acção e execução

Cabe ao Plano de acção concretizar de forma detalhada as opções estratégicas escolhidas e articulá-las com os recursos necessários, (e possíveis), nomeadamente com os recursos orçamentais e humanos da administração local.

Figura 6 – As Fases Hierarquizadas do Planeamento

Metas Políticas

Programas

Acções

Fonte: PADIOLEAU, J.-G.(1989) - Op. cit. p. 180

7 - O Controle e a evolução

O controle é feito pelo processo de monitorização, sobre a implementação das estratégias e programas, procedendo-se à avaliação produzida pela implementação do processo de Planeamento e do cumprimento de objectivos. Com a introdução dos mecanismos de retroacção torna-se possível fazer ajustamentos às estratégias e programas. Por outro lado, a implementação do Plano Estratégico está fortemente dependente da sua divulgação e que deverá simultaneamente proporcionar a participação e cooperação dos actores sociais.

A ausência de eficácia do Planeamento tradicional pode ser atribuída à falta de participação dos actores locais, à ausência de análise dos seus recursos, perspectivas e constrangimentos. A valorização do papel dos actores no processo de planeamento

194 tornou-se assim num pragmatismo do Planeamento Estratégico. Ao proceder à valorização da eficácia das acções, o que obriga a uma identificação dos recursos, dos actores locais que os dominam e a sua capacidade de os utilizar perante objectivos mais ou menos precisos, o procedimento estratégico vai utilizar processos de negociação com os actores locais, procurando níveis de consenso em relação aos objectivos fixados. Por outro lado, os procedimentos estratégicos ao serem introduzidos na acção pública vão trazer, por arrastamento, uma outra discussão sobre os papéis do Estado e da sociedade civil.

12.4.2 - A Avaliação do Planeamento

Proceder a uma avaliação “é sempre comparar com um modelo - medir - e implica uma finalidade operativa que visa corrigir um melhorar. O padrão ou modelo a partir do qual se avalia é, em última instancia, um valor de referência que, numa situação de planeamento, se encontra geralmente fixado, a partir do diagnóstico da situação inicial, nos objectivos e metas fixadas”.1 A avaliação de um projecto ou, neste caso concreto, de um Plano deve ser tomada como um processo e como um instrumento que contribui para a enunciação da acção, no que concerne à forma em como é conduzida e as formas em como pode ser aperfeiçoada. Assim sendo, a avaliação ultrapassa a mera função de proceder à medida dos resultados da acção, para entrar no campo da compreensão das origens das consequências sociais que são observáveis e nas consequências dos meios financeiros, humanos, materiais e outros, que foram colocados em curso. As funções que geralmente são atribuídas à avaliação são, pelo menos, quatro:

• de medida;

• de utensílio utilizado no apoio à tomada de decisão;

• de processo de formação;

1 - GUERRA, Isabel Carvalho (2000) – Fundamentos e Processos de uma Sociologia de Acção, Planeamento em Ciências Sociais., Cascais, Principia, p. 185

195 • de contribuição para o aprofundamento da democracia participativa.1

A avaliação enquanto função de medida

Enquanto função de medida, a avaliação compreende, como já anteriormente foi referido, um papel dinâmico, na medida em que constitui um processo contínuo que se encontra articulado com a acção, sendo os resultados finais uma parte da acção. A informação recolhida e organizada muitas das vezes de forma sociográfica, não deve constituir, só por si, material de avaliação, sendo necessário proceder-se à sua interpretação, situação que leva a avaliação a confrontar-se com um padrão configurado cientificamente e/ou político-ideológico.2 Além disso, nem todos os impactos de uma intervenção são quantitativamente mensuráveis, ou seja, a avaliação deverá também considerar a combinação entre as dimensões qualitativas e quantitativas, uma vez que os aspectos subjacentes à subjectividade da acção humana continuam a despertar interesse e a lançar desafios para a sua mensuração.

A avaliação enquanto utensílio utilizado no apoio à tomada de decisão

A avaliação apresenta uma enorme pertinência junto daqueles cuja função se radica na manutenção ou no corte de programas, financiamentos e investimentos. A sua função é, pois, a de ser produtora de informação conducente a facilitar a racionalização da tomada de decisão em contextos multidiferenciais e de elevada complexidade.

A avaliação enquanto processo de formação

A avaliação é detentora desta função na medida em que ela própria constitui um processo de aprendizagem, baseada em instrumentos de reflexão e de racionalização usualmente articulados com contextos e resultados provenientes da acção.

1 - idem, p. 186 2 - idem

196 A avaliação constitui um processo de aprendizagem para os responsáveis da acção, que são chamados a gerir e a proceder a adaptações das resultados anteriormente decididos aos contextos que evoluem e cuja modificação pode ser lugar ao longo do acompanhamento avaliativo.1

A avaliação enquanto contribuição para o aprofundamento da democracia participativa

A quarta função que a avaliação pode (e deve) assumir refere-se ao momento de reflexão e de acção em que se deve constituir. Só deste modo se torna possível aos diversos actores reflectirem sobre as causalidades dos variados problemas que surgiram e sobre as acções a realizar. A acção colectiva, que entretanto tem lugar através desta metodologia, surge como um forte momento de aprofundamento da democracia participativa. 2 A noção dinâmica implícita no plano-processo estratégico detêm a possibilidade de uma redefinição permanente aos níveis dos objectivos e dos meios, e que pode ser devida a três factores:

• alterações inesperadas verificadas na envolvente;

• alterações nas estratégias de actores;

• meios envolvidos considerados inadequados.3

A esta visão dinâmica do planeamento poderá corresponder uma visão dinâmica da avaliação, cujos objectivos se centram em avaliar os resultados da execução, as modificações do ambiente envolvente, e da estratégia dos actores e despoletar a redefinição dos objectivos e meios considerados necessários; não se centra no decisor, ela é, acima de tudo, uma avaliação de cariz pluralista, uma vez que o conjunto dos actores se encontra envolvido.

1 - idem, p. 187 2 - idem 3 - Cf. PERESTRELO, Margarida (1999) - Op.cit. p. 9

197 Quer o Planeamento Estratégico, quer o processo de avaliação interactiva constituem instrumentos de acção posicionados para a mobilização e para a participação dos diversos actores sociais. As metodologias de carácter prospectivo - método dos cenários, análise estrutural, a análise das estratégias dos actores - possuem elevadas capacidades para a construção de metodologias de avaliação dinâmica centrada nos actores e na sua reflexão estratégica, formando assim um conjunto de ferramentas de apoio à decisão.

198

II PARTE

199 200 13 - METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA EMPÍRICA

Os critérios metodológicos que presidiram a esta investigação inscrevem-se no que se denomina investigção-acção. A investigação-acção é aqui assumida como um processo, através do qual o investigador e os actores envolvidos investigam em conjunto e de modo sistemático as estratégias tendentes a processos de desenvolvimento local. A investigação-acção é essencialmente uma nova forma de aproximação da investigação, onde o actor assume o papel de investigador e o investigador assume também o papel de actor. Esta situação leva a acção para as considerações de investigação, uma vez que os seus pressupostos de partida assentam na sua dinâmica sobre a acção ao mesmo tempo que vê os actores como sujeitos participativos e não como meros objectos passivos de investigação.1 Por outro lado, a investigação-acção recorre à diversidade de métodos e de técnicas que se encontram disponíveis às Ciências Sociais. Contudo, dadas as especificidades deste tipo de trabalho, há a tendência de se privilegiar as metodologias qualitativas. Dada a natureza do objecto que está na base desta investigação - a análise das estratégias dos actores locais face ao desenvolvimento. local. no município de Palmela - julgou-se haver pertinência em utilizar o método de estudo de caso ou, como também é conhecido, análise intensiva. A escolha deste método foi baseada no facto de ele se mostrar como o mais inteligível perante a dupla condição do objecto empírico possuir uma dimensão territorialmente localizada, e o objecto teórico remeter a sua abordagem para uma pluralidade de dimensões da realidade. Ao pressupor a análise intensiva e em profundidade, o método de estudo de caso levou a uma multiplicidade de temas a abordar, o que possibilitou a apreensão histórica da unidade empírica que se estava a observar.

1 - Cf. GUERRA, Isabel Carvalho (2000) – Op. cit. p. 53

201 Ao mostrar-se flexível, este método admitiu uma selecção e utilização mais livres do conjunto de técnicas utilizadas; e, finalmente, deu lugar a uma quantidade de informação heterogénea que foi resultante da utilização de técnicas diferenciadas.1 A pesquisa empírica comportou, grosso modo, dois momentos: o primeiro que incidiu sobre a pesquisa documental e posterior análise do material recolhido, e um segundo momento, em que se procedeu à análise das estratégias dos actores, com recurso a uma adaptação do método MACTOR, proposto por Michel Godet.2 Para que a investigação-acção fosse inteligível tornou-se fundamental: a compreensão do todo, nomeadamente as formas de organização das interacções estabelecidas entre as partes; a compreensão de cada parte na identidade que lhe é própria.

13.1 - A ANÁLISE DOCUMENTAL

A pesquisa documental e, posteriormente, a sua análise, constituíram a primeira fase do trabalho empírico sobre o município de Palmela e a região envolvente. Com esta técnica de investigação procurou-se caracterizar e contextualizar o município de Palmela, nas suas vertentes demográficas, sociais e económicas, quer do ponto de vista interno do município, de modo a detectarem-se possíveis descontinuidades sócio-espaciais nos territórios que o constituem, quer do ponto de vista externo, comparando o município de Palmela com os restantes municípios que constituem a Península de Setúbal, quer ao nível demográfico, quer ao nível de implantação industrial, concentração urbana, actividades económicas exercidas pela sua população activa, etc... A pesquisa documental incidiu sobre a informação contida: nos Recenseamentos Gerais da População, de forma a tornar possível a compreensão da evolução da população nos vários territórios que formam a Península de Setúbal e no próprio município de Palmela; nos Recenseamentos Agrícolas, que possibilitaram uma melhor compreensão sobre as alterações produzidas ao nível da agricultura neste município; nos

1 - Cf. ALMEIDA, João Ferreira de; PINTO, José Madureira (1982) – A Investigação nas Ciências Sociais, Lisboa., Editorial Presença (3ª edição), p. 87 2- As questões referentes à explicação deste método encontram-se no capítulo seguinte

202 Quadros de Pessoal e outras estatísticas, que tornaram possível verificar a evolução do número de empresas e do número de empregos, sobretudo na década de oitenta e no início da década de noventa; e no próprio Plano Director Municipal de Palmela (em fase de revisão), cujo objectivo foi, por um lado, analisar as opções de desenvolvimento propostas para este município e, por outro, confrontar essas opções de desenvolvimento com as expectativas e estratégias dos vários actores locais.

13.2 - A OBSERVAÇÃO DIRECTA SIMPLES

Dada a inserção do investigador no tecido social, económico e cultural do município de Palmela, considerou-se esta técnica pertinente para obter dados complementares, com recurso aos seus próprios sentidos, daí a sua diferença face à entrevista ou ao inquérito por questionário, cuja base assenta nas percepções de terceiros. Há, contudo, um conjunto de inconvenientes à prática da observação simples, nomeadamente os erros de percepção, a limitação dos sentidos humanos, ou o simples facto do investigador se encontrar dentro do contexto que está a ser observado,1pelo que houve a necessidade de ter um conjunto de discussões com experts acerca dos dados obtidos.

13.3 - A ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DOS ACTORES DO MUNICÍPIO DE PALMELA

As novas concepções sobre o Planeamento - nomeadamente sobre o Planeamento Estratégico - levantam questões que conduzem a um maior envolvimento, comprometimento e a uma maior participação por parte dos vários actores existentes num dado território. Procura-se assim um Planeamento mais participativo e mais virado para um território que procura criar atractivos a novos

1 -Cf. BRAVO, R. Sierra (1992) - Técnicas de Investigación Social - teoria y ejercicios, Madrid, Paraninfo, p. 253

203 investimentos, ao mesmo tempo que se passa à análise dos recursos dos actores sociais e económicos, às suas perspectivas e constrangimentos. Está-se perante uma dupla acção, baseada num meio sistemático de gerir as alterações verificadas num território – quer a partir do seu interior, quer através das influências dos territórios exteriores que o envolvem – e nos meios de criar um futuro possível, assentes nos pontos fortes e fracos desse território num contexto mais vasto. Estes pressupostos começaram por ser aplicados às empresas, uma vez que “o mundo não é abstracto e a sociedade não pode ser reduzida à condição de máquina destinada a produzir e vender valor acrescentado. A produtividade das empresas não garante a competitividade, também é preciso qualidade e inovação que dependem, primeiro que tudo, do comportamento, da iniciativa e da imaginação de cada um, a todos os níveis.”1 Verifica-se então que o Planeamento Estratégico, que tem vindo a ter o seu desenvolvimento relacionado com a estratégia empresarial, tem trazido alguns aspectos inovadores na sua aplicabilidade ao urbano, ao mesmo tempo que tem vindo a criar uma nova postura de pensamento e acção face ao planeamento e ao desenvolvimento dos territórios. Imprime-se uma nova racionalidade à acção pública urbana, envolvendo os actores locais nas problemáticas e nas estratégias a tomar. A aplicação destas ideias ao planeamento territorial parte do princípio que o território é, antes de mais, um produto e como tal pode e deve competir com outros territórios. A acompanhar esta postura assiste-se à emergência e desenvolvimentos de novos procedimentos metodológicos que procuram pôr em prática essas novas concepções. Em Portugal, esta metodologia embora recente, já apresenta um conjunto de estudos de elevado interesse científico. A metodologia adoptada na pesquisa empírica aqui apresentada foi, em grande parte, baseada na metodologia aplicada no estudo Análise Prospectiva da Baixa Pombalina2, concretamente no que se refere à estratégia de actores. Por outro lado, e dadas as condições específicas do objecto de estudo e da própria

1- GODET, Michel (1993) - Manual de Prospectiva Estratégica, Lisboa., Pub. Dom Quixote, p. 23 2- Nesta pesquisa Margarida Perestrelo e José Maria Castro Caldas utilizam e completam a proposta de Michel Godet na análise das estratégias dos actores.

204 pesquisa, adaptou-se o método proposto por Michel Godet, pelo que houve necessidade de proceder a algumas alterações no método MACTOR. Recorreu-se a esta metodologia por duas razões: pelo seu carácter inovador e pelo facto da mesma se apresentar com elevadas potencialidades para a análise das estratégias dos actores, ao mesmo tempo que se apresenta como detentora de um conjunto considerável de vantagens sobre os processos clássicos.

13.3.1 - A construção das variáveis

A teoria dos jogos fornece um conjunto de ferramentas de análise bastante vasta, mas de aplicação limitada pelos constrangimentos de natureza matemática e pelas hipóteses frequentemente restritivas. O método MACTOR propõe uma análise do jogo dos actores que permite explorar melhor o valor e a complexidade informativa, contida nos quadros estratégicos dos actores. Quando a análise da estratégia de actores é precedida de uma análise estrutural,1 a escolha dos actores faz-se a partir das variáveis-chave, que essa análise revelou. Como nem sempre se procede a essa análise estrutural, como no caso deste projecto, entendeu-se que após a realização de um diagnóstico cuidado sobre o território em questão, se tenha elaborado um extenso rol de variáveis que se apresentou como as mais pertinentes para o estudo. Assim, e de modo a tornar possível a aplicação do método MACTOR, foram identificadas, numa primeira fase, um conjunto de trinta e duas variáveis. Estas variáveis surgiram a partir da análise documental que entretanto foi realizada sobre o município de Palmela. Nesse sentido, foi feita uma primeira diferenciação entre as variáveis internas ao município de Palmela – que caracterizam os fenómenos estudados - e as variáveis externas ao município de Palmela - caracterizadoras da envolvente explicativa geral dos fenómenos estudados, nos seus vários aspectos. Após este procedimento, passou-se à construção de agrupamentos de variáveis, traduzidos em seis grupos: variáveis sócio-económicas, variáveis fisico-morfológicas,

1 - O MIC-MAC (Matriz de Impactos Cruzados – Multiplicação Aplicada a uma Classificação) tem como objectivo contribuir para a análise estrutural de um sistema: empresa, sector, instituição, território, etc. A partir de uma lista de variáveis estruturais e uma matriz que representa as influências directas entre as variáveis, o MIC_MAC extrai e identifica ls variáveis-chave do problema estudado, com a ajuda de quadros e gráficos que permitem a modelização do problema a abordar.

205 variáveis fisico-naturais, variáveis urbanísticas e de planeamento, variáveis de ocupação funcional, variáveis do sistema de circulação. Este grupo de variáveis foi, em seguida, alvo de análise e reflexão crítica, tendo sido retiradas as variáveis que se apresentavam muito descritivas e introduzidas outras que se consideraram pertinentes para o estudo. Desse processo resultou um segundo conjunto, constituído por dezasseis variáveis, que forma o quadro de variáveis a ser aplicado na análise empírica. Nas variáveis sócio-económicas há a considerar, nas variáveis internas, a variável “Alteração da composição da população residente” que comporta as características demográficas da população do município, o seu ritmo de crescimento e diferenciação por freguesias; e a variável “População activa maioritariamente não agrícola” que pretende dar conta da importância que assume o crescimento da população activa ligada aos sectores secundário e terciário, e o decréscimo da população activa ligada ao sector primário. Nas variáveis externas, há a considerar a variável “Efeito de atracção de populações”, pretendendo-se detectar que importância assume a localização do tecido produtivo, assim como as acessibilidades aos locais de oferta de emprego e a oferta de habitação a preços concorrenciais em locais com boa acessibilidades rodo-ferroviárias. Este grupo de variáveis justifica-se pelo acentuado crescimento demográfico verificado no município, assim como a alteração em termos da estrutura da sua população activa. As variáveis fisico-morfológicas, apenas circunscritas ao grupo das variáveis internas, prende-se com a “Existência de grandes áreas expectantes”, ou seja, com a existência de grandes espaços agrícolas potencialmente destinados quer à implantação industrial, quer à expansão urbana. A inclusão desta variável no estudo prende-se com a situação expectante em que o município ficou e a recente expansão urbana de alguns núcleos populacionais; e a implantação de grandes industrias no território municipal.

206 Quadro 9- As Variáveis da Investigação

Internas Externas Grupo Variável Dimensões Variável Dimensões Localização do tecido produtivo Características demográficas da Alteração população do Município da composição Efeito de atracção Acessibilidades aos locais Ritmo de crescimento de oferta de emprego da população residente de populações Diferenciação por freguesias Oferta de habitação a preços concorrenciais Sócio-económicas População activa Crescimento da população activa ligada aos sectores secundário e maioritariamente terciário não agrícola Decréscimo da população activa ligada ao sector primário

Grandes espaços agrícolas potencialmente destinados quer à Existência de grandes áreas implantação industrial quer à Físico -morfolágicas expectantes expansão urbana

Condicionantes à construção. Integração no Parque Natural

da Arrábida e na Reserva Expansão e aproveitamento de locais Físico-naturais Natural do Estuário do Sado para turismo e lazer.

207 208 Existência de Plano Director Municipal, Dinâmica do sector Capacidade de oferta em Planeamento Planos de Urbanização Planos imobiliário relação à procura e na de (nacional/estrangeiro/ pressão especulação imobiliária Pormenor e Planeamento sobre o parque imobiliário) Urbanísticas Estratégico e de Planeamento Preservação de zonas Conjunto monumental Necessidade espacial do Existência de terrenos históricas (património apresentado pelo Castelo de secundário (nacional/ aprovados para a implantação urbanístico e histórico) Palmela, quer com a sua zona estrangeiro) industrial e histórica envolvente dotados de infra-estruturas industriais Tecido industrial em expansão Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de Ocupação funcional produção Alternativa a Setúbal quanto à fixação de novas unidades de produção Centralidade do município Impacto da nova travessia Sistema de circulação de Palmela no contexto rodoviária do Tejo (Montijo) espacial da Península de Impacto da nova travessia Setúbal ferroviária (Ponte 25 de Abril)

209 210 As variáveis fisico-naturais justificam-se neste estudo pelo duplo papel que assumem: a de condicionantes à construção, por um lado, e a de expansão e aproveitamento de locais para turismo e lazer, por outro. Assim, foi considerada a “Integração no Parque Natural da Arrábida e na Reserva Natural do Estuário do Sado” por parte do município de Palmela, de modo a detectar qual o papel que essas duas áreas assumem nas perspectivas dos actores. As variáveis urbanísticas e de planeamento inscrevem-se nas variáveis internas, através da “Existência de Planeamento”, ou seja, da existência de Planos, nomeadamente do Plano Director Municipal, Planos de Urbanização e de Planeamento Estratégico, procurando confrontar a posição dos actores face à necessidade da existência de Planeamento no município e a “Preservação de zonas históricas (património urbanístico e histórico)”cuja pertinência de inclusão no estudo se prende, quer com o conjunto monumental apresentado pelo Castelo de Palmela, quer com a sua zona histórica envolvente; e nas variáveis externas, através da “Dinâmica do sector imobiliário (nacional/estrangeiro/ pressão sobre o parque imobiliário)” traduzida na capacidade de oferta em relação à procura e na especulação imobiliária e através da “Necessidade espacial do secundário (nacional/estrangeiro)”, através da existência de terrenos aprovados para a implantação industrial e dotados de infra-estruturas industriais. Estas duas últimas variáveis tiveram a sua inclusão neste estudo, na medida em que o projecto Autoeuropa se mostrou como potencial indutor de indústrias fornecedoras de componentes para os veículos produzidos por essa empresa. As varáveis de ocupação funcional procuram dar conta das perspectivas dos actores face a uma situação de um “Tecido industrial pouco numeroso”, que se prende com o processo tardio de industrialização no município e com os sectores industriais tradicionais do município, nomeadamente, os sectores de alimentação e bebidas. Com a “Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de produção” que poderá ter sido despoletada a partir dos incentivos concedidos para a implantação das grandes unidades industriais - em que o projecto Autoeuropa é exemplo, quer através de incentivos comunitários, quer através de isenções de taxas e impostos. A variável “Alternativa a Setúbal quanto à fixação de novas unidades de

211 produção” tem lugar neste estudo, uma vez que se procurou conhecer as posições dos actores face à implantação industrial neste município em alternativa a Setúbal, uma vez que Palmela apresenta hoje uma grande disponibilidade de solos para ocupação industrial e uma significativa melhoria nos acessos ferroviários ao Porto de Setúbal e nas acessibilidades rodoviárias, através das auto-estradas que atravessam o seu território. A proximidade do município de Palmela à cidade de Setúbal levou a que este se mostrasse na sua dependência no ponto de vista do comércio. Esta variável “Comércio dependente de Setúbal”, surgiu a partir da observação directa, uma vez que o sistema estatístico nacional não possibilita a sua desagregação a unidades territoriais mais restritas, e procurou-se confrontar os actores com a existência de um comércio incipiente e de pouca qualidade existente no município de Palmela, bem como a sua proximidade face a Setúbal e às grandes superfícies comerciais. A introdução no estudo da variável “Especificidade Agrícola do município” justifica-se pelas características agrícolas, baseadas na cultura da vinha e na produção de vinho, que têm caracterizado o município de Palmela há mais de um século, e que passa pelos investimentos em novos processos de cultura da vinha, pelo aumento da qualidade da produção vinícola e pela disponibilidade para o marketing do vinho. Finalmente, as variáveis do sistema de circulação aparecem quer nas variáveis internas, através da “Centralidade do município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal ” e que se prende com as actuais acessibilidades rodo- ferroviárias que o município de Palmela detêm face aos centros urbanos e industriais da AML, Sul de Portugal e Espanha; quer nas variáveis externas, através do “Impacto da Ponte Vasco da Gama travessia do Tejo (Montijo)” que implicou novos traçados rodoviários, contribuindo para o aumento da renda fundiária e para o crescimento urbano localizado junto às novas rodovias. E, por outro lado o “Impacto do comboio da Ponte (25 de Abril)”, que poderá ter como consequências o aumento da renda fundiária e o crescimento urbano localizado junto às novas estações (Pinhal Novo, Venda do Alcaide Palmela Gare/Aires)

212 13.3.2 - A escolha dos actores e a construção do guião da entrevista

Construído o quadro das variáveis procurou-se, em seguida, relacioná-las com os actores sociais locais. Quando a análise da estratégia de actores é precedida de uma análise estrutural, a escolha dos actores é feita a partir das variáveis-chave que são reveladas nessa análise. No entanto, nem sempre se torna necessário a feitura de uma análise estrutural, como o caso que aqui se apresenta. Contudo, e nestas circunstâncias, tornou-se imperioso a recorrência a um diagnóstico cuidado da situação, recenseando um vasto número de variáveis que pareceram ser as mais importantes para o estudo do território em causa. Como se tornou impossível simplificar o sistema a estudar, pela simples ausência da análise estrutural, tornou-se mais fácil seleccionar os actores a implicar no respectivo Jogo de Actores, a partir desse levantamento exaustivo de variáveis. Os actores tanto podem ser actores internos como externos ao sistema que esteve em estudo, desde que sejam detentores de um forte impacto na sua evolução.1 Numa primeira fase, foram identificados vinte actores, que de uma forma ou de outra se apresentavam implicados com as variáveis identificadas. Dada a natureza dos vários actores sociais locais em presença, procedeu-se à sua categorização, de forma a abranger uma diversidade de posições face às questões colocadas. Como afirma José Arocena, “Da «passagem» do cultural ao económico, formam-se os actores sociais. Uma pesquisa identitária aberta ao futuro permite-lhes colocar em causa as representações do desenvolvimento e a propor soluções alternativas”2. Os actores sociais são assim posicionados no sistema de acção local, podendo agir não só sobre as representações; como tendo a capacidade de poderem contribuir para a mudança da racionalidade do sistema. O actor social que esteja empenhado numa acção para o desenvolvimento, tende a modificar a sua posição no sistema local devido à renovação operada na sua

1 - Cf. PERESTRELO, Margarida; CALDAS, José Maria Castro (2000) – “Instrumentos de Análise para o Método dos Cenários II - Estratégia de Actores”, Lisboa, Dinâmia, WP 2000/17, p. 4 2 - AROCENA, José (1986) - Op.cit. p. 105

213 capacidade de acção sobre a sociedade e sobre as novas relações no sistema local, o mesmo será dizer que “ele sai do seu domínio reservado para se orientar para uma outra actividade localizada para lá dos limites da sua profissão ou da sua competência específica.”1 Numa segunda fase, e por uma questão de operacionalidade do software do MACTOR, determinaram-se dez actores, baseados nos critérios de natureza:

• institucional, de poder local. e de administração territorial, pelo que se impunha a escolha da Câmara Municipal de Palmela (CMP), o que tornou possível a visão de conjunto do desenvolvimento deste município;

• associativa, dos mais variados sectores de actividade económica. Optou- se pela escolha de vários tipos de Associações – de cariz Local e Regional. As escolhas incidiram sobre a Associação de Viticultores do concelho de Palmela. (AVIPE) considerando a especificidade representativa desta associação, ou sejam, os interesses dos viticultores da região, e como percepcionam o desenvolvimento local articulado com a especificidade agrícola do município; a Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES), cujos objectivos assentam na valorização e no desenvolvimento das potencialidades agrícolas da Península de Setúbal. Constituem esta Associação onze entidades públicas e privadas, representativas das populações e dos produtores locais; a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), que representa um sector marcado por enormes divergências quanto ao tipo de comércio a instalar no território regional; Pareceu interessante conhecer a sua posição face ao desenvolvimento deste município, pois nele existe, para além de duas cooperativas de consumo, uma rede de pequeno comércio e duas grandes superfícies de comercialização grossista: o grupo Makro e o grupo Grula; finalmente, o Fórum da Indústria Automóvel de Palmela (FIAPAL), que surgiu dos fóruns de reflexão sobre a indústria automóvel que decorriam em Palmela desde o ano 2000. Fazem parte do FIAPAL cerca de sessenta entidades públicas e privadas. Constituem ainda

1 - idem, p. 114

214 o Fórum empresas e instituições que embora localizadas noutras zonas do País, detêm interesses estratégicos e objectivos neste território.

• privada, uma vez que os grandes investimentos neste município são de natureza privada, a escolha incidiu sobre a Autoeuropa (AE), o gigante da indústria automóvel, e o maior empregador no território do município de Palmela;

• patrimonial, ao nível local optou-se pela escolha do Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP), por ser uma agremiação de defesa do património e das tradições deste município;

• cooperativa - o sector cooperativo possui uma visão do desenvolvimento que se torna interessante analisar, pelo que se enveredou pela escolha da Adega Cooperativa de Palmela.(ACP), por ser aquela a mais antiga cooperativa existente no município e por produzir uma apreciável quantidade de vinho, cerca de cinco milhões e setecentos mil litros anualmente, que comercializa em Portugal e no estrangeiro;

• cultural e de recreio, as colectividades de cultura e recreio têm sido instituições que se têm revelado como grandes intervenientes na promoção cultural das populações. A escolha sobre a Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros” (SFP), foi feita tendo por base o facto de ser a mais antiga do município e por ser aquela que apresenta maior número de actividades e de associados;

• turística, o município de Palmela possui potencialidades turísticas que ainda não estão exploradas, pelo que se tornou pertinente saber qual a posição da Região de Turismo da Costa Azul (RTCA), como organismo que faz a divulgação turística desta região.

Escolhidos os actores, procedeu-se à construção do guião da entrevista,1 em que se procurou estabelecer uma relação entre variáveis e actores. De acordo com o posicionamento dos actores e dos seus objectivos face ao

1- O guião da entrevista realizada aos actores encontra-se em anexo.

215 que se considerou como sendo as variáveis-chave do sistema, e que tinham sido construídas na fase anterior. Foram então realizadas doze entrevistas não directivas aos actores, que decorreram entre os dias 31 de Março e 26 de Maio de 2006.

Quadro 10 – Actores que constituíram a amostra intencional

Natureza Âmbito Actores Designação

Institucional Local Câmara Municipal de Palmela CMP Associativa Regional Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal ACSDS Local Associação de Viticultores do Concelho de Palmela AVIPE Local Fórum da Indústria Automóvel de Palmela FIAPAL Regional Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de ADREPES Setúbal Privada Local Autoeuropa AE Patrimonial Local Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela GACP Cooperativa Local Adega Cooperativa de Palmela ACP Cultural e Recreio Local Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros” SFP Turística Regional Região de Turismo da Costa Azul RTCA

13.3.3 - A aplicação do método MACTOR

Os objectivos subjacentes a este método prendem-se com a análise das motivações, dos meios de acção dos actores, assim como procuram compreender as suas estratégias e relações de força. Como já foi referenciado anteriormente, procedeu-se a algumas alterações do método MACTOR pelo que a metodologia seguida neste trabalho compreendeu as seguintes fases:

1 - Identificação dos projectos e motivações de cada actor, constrangimentos e meios de acção – Quadro de Estratégias de Actores..

216 Após a realização das entrevistas construíram-se sinopses para cada um dos actores e o Quadro de Estratégia de Actores. Utilizou-se o Quadro de Estratégia de Actores para representar as finalidades de cada actor, os seus objectivos, os seus constrangimentos e os seus meios de acção.1

2 - Proceder à identificação dos desafios estratégicos e objectivos associados.

Os actores presentes no sistema de acção local possuem projectos múltiplos e variados. Através das sinopses das entrevistas e do Quadro de Estratégias de Actores, tornou-se possível evidenciar os Desafios Estratégicos e os Objectivos a eles associados.

3 - Posicionamento dos meios de acção e os obstáculos à concretização dos objectivos pelos diversos actores.

Este procedimento foi feito a partir das sinopses das entrevistas e do Quadro de Estratégia de Actores. O objectivo foi preencher a Matriz dos Meios de Acção Directos entre Actores (MAD)2 que exprime as relações directas entre os pares de actores. O critério de preenchimento considerou os valores seguintes:

3 - o actor põe em causa a existência de outro actor; 2 - o actor condiciona os projectos de outro actor; 1 - o actor condiciona, de forma limitada no tempo e no espaço, os processos operacionais (gestão, etc...) de outro actor; 0 - o actor não dispõe de meios de acção sobre outro actor.

4 - Posicionar cada actor em cada objectivo procedendo à identificação das convergências e divergências – matriz das posições simples.

As relações que os actores apresentam relativamente a cada objectivo podem ser representadas sob a forma de um grafo de posições. De modo a ser possível a visão estratégica

1- O Quadro de Estratégia e Actores desta pesquisa encontra-se em anexo. 2- A Matriz dos Meios de Acção Directos entre Actores (MAD) desta pesquisa encontra-se em anexo.

217 global tornou-se necessário proceder à construção de todos os grafos associados a cada objectivo estratégico. Procurou-se representar a atitude de cada actor sobre cada objectivo – opinião favorável, oposição, neutralidade ou indiferença. Na elaboração da Matriz das Posições Simples Actores. × Objectivos (1 MAO) 1 foi utilizada a seguinte convenção:

+ 1 - o actor é favorável ao objectivo - 1 - o actor opõe-se ao objectivo 0 - o actor é neutro ou indiferente ao objectivo 2

As convergências e as divergências entre os actores variam de um objectivo para outro, pelo que foi necessário manter a coerência. Para cada par de actores tornou-se importante precisar as convergências e as divergências quanto aos objectivos. Obteve-se, assim, por transcrição, um grafo completo das convergências possíveis e um grafo completo das divergências possíveis entre todos os actores.

5 - Recensear e valorizar as tácticas possíveis em função das hierarquias de objectivos – matriz das posições valorizadas.

Foi preenchida uma outra matriz que relaciona os actores com os objectivos estratégicos, a Matriz das Posições Valorizadas Actores × Objectivos (2 MAO). 3 Esta matriz descreve, para cada actor, a valência para cada um dos objectivos que lhe foram propostos, ou seja, se é favorável, se está em oposição ou se é neutro ou indiferente, assim como a hierarquização que cada actor social faz desses mesmos objectivos. No processo de elaboração da Matriz das Posições Valorizadas Actores × Objectivos (2MAO) foi utilizada a seguinte convenção:

1- A Matriz das Posições Simples Actores × Objectivos (MAO) desta pesquisa encontra-se em anexo. 2 - Cf. GODET, Michel; BOURSE, François (1993c) - MACTOR - Methode d’analyse strategique du jeu des acteurs - Manuel d’utilisation du logiciel mactor, La Varenne St. Hilaire, Heurisco, p. 4 3 - A Matriz das Posições Valorizadas Actores × Objectivos (2MAO) desta pesquisa encontra-se em anexo.

218 3 (-) põe em causa o actor na sua existência / (+) é indispensável para a sua existência 2 (-) põe em causa o êxito dos projectos do actor/ (+) é indispensável para o êxito dos projectos 1 (-) põe em causa de modo limitado no tempo e no espaço, os processos operatórios(gestão, etc.) (+) favorece de modo limitado no tempo e no espaço, os processos operatórios 0 pouco consequente 1

6 - Introdução dos dados iniciais do jogo de actores e seu tratamento informático - interpretação dos outputs do MACTOR

Os dados iniciais imprescindíveis à análise estratégica do jogo dos actores são constituídos pelos dados:

• da Matriz dos Meios de Acção Directos entre Actores (MAD);

• e da Matriz das Posições Valorizadas Actores × Objectivos (2MAO).

Estas duas matrizes constituíram, assim, os inputs a partir das quais o software MACTOR teve a possibilidade de calcular 2: - a Matriz de Meios de Acção Directos e Indirectos (MADI). - o Coeficiente das relações de força (Ri) - o Indicador de instabilidade do jogo (H) - o Balanço líquido das influências, por cada par de actores - a Matriz da máxima influência directa e indirecta (MA) - o Coeficiente de relações de força associadas à Matriz MA (Πi) - a Matriz das Posições Simples (1MAO) - a Matriz das Posições Valorizadas (2MAO) - a Matriz das Posições Valorizadas Ponderadas (3MAO) - a Matriz de Convergência de Objectivos entre Actores (1CAA) - a Matriz de Divergência de Objectivos entre Actores (1DAA) - a Matriz Valorizada das Convergências (2CAA) - a Matriz Valorizada das Divergências (2DAA) - a Matriz Valorizada Ponderada das Convergências (3CAA) - a Matriz Valorizada Ponderada das Divergências (3DAA) - o Equilíbrio das posições dos Actores - o Plano de Influência/Dependência dos Actores - o Plano de Convergência dos Actores

1 - Cf. GODET, Michel; BOURSE, François (1993c) – Op.cit., p. 9 2 - Todos os outputs referentes a esta pesquisa, que foram produzidos pelo MACTOR, encontram-se em anexo.

219 - o Plano de Divergência dos Actores - o Plano de Convergência dos Objectivos

Estes outputs sofreram interpretações e os respectivos resultados encontram-se noutro capítulo deste trabalho. No desenrolar do trabalho de análise de dados fornecidos pelo MACTOR, verificou-se que as matrizes de convergência e divergência de actores se mostravam muito limitadoras quanto à análise das possíveis relações e potenciais alianças entre grupos de actores, uma vez que só possibilitavam conhecer as relações entre pares de actores. Desta limitação surgiu a necessidade de se proceder à construção de agrupamentos estratégicos mais alargados, de modo a perceber as possíveis alianças face a objectivos comuns. Assim, e a partir da informação contida na Matriz das Posições Valorizadas Actores × Objectivos (2 MAO), foram construídos quatro grupos estratégicos, a partir da análise de clusters, através do método Hierarchical Cluster Analisys.1 Na construção dos grupos estratégicos começaram por serem considerados três clusters. No entanto, a distância apresentada entre os membros que constituíam cada cluster mostrava-se elevada, pelo que se optou pela construção de quatro clusters. Este procedimento iria mostrar-se mais correcto pois quando se procedeu à construção de cinco agrupamentos, verificou-se que a distância entre os membros se tinha mostrado mais baixa. Deste modo, tornou-se possível conhecer as características de cada grupo estratégico, quer quanto à sua força relativa, quer quanto ao seu grau de dispersão e conteúdo - nomeadamente a concordância, a oposição e a discordância de objectivos. A força relativa do grupo foi determinada pela soma das forças relativas de cada um dos actores incluídos no grupo, que foi expressa a partir do escalar standard das relações de força (Ri), estabelecidas por um dos outputs do MACTOR. Por sua vez, o grau de dispersão exprime a distância máxima entre actores incluídos no mesmo grupo, ou seja, quanto menor o seu valor maior a coesão do grupo. O grau de dispersão foi obtido a partir da análise de clusters.

1- Este método foi calculado através do software SPSS apresentando-se os respectivos outputs em anexo

220 Quadro 11 – Relação entre variáveis e actores

INSTIT ASSOCIATIVA

CMP ACSDS AVIPE FIAPAL ADREPES

Variáveis Internas Variáveis sócio-económicas 1 - Alteração da Estrutura da população residente X X X X X 2 - População activa predominante nos sectores X X X X X secundário e terciário Variáveis físico-morfológicas 3 - Grandes áreas expectantes X X X Variáveis fisico-naturais 4 - Integração no Parque Natural da Arrábida e X X X X Reserva Natural do Estuário do Sado Variáveis urbanísticas e de planeamento 5 - Existência instrumentos de Planeamento X X X 6 - Preservação das zonas históricas X X (património urbanístico e histórico) Variáveis de ocupação funcional 7 - Tecido industrial em expansão X X X X X 8 - Conflitualidade entre a pequena e média empresa X X X e as grandes unidades de produção 9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de novas X X unidades de produção 10 - Comércio dependente de Setúbal X X 11 - Especificidade Agrícola do Município X X X X X Variáveis do sistema de circulação 12 - Centralidade do Município de Palmela no X X X X contexto espacial da Península de Setúbal Variáveis externas Variáveis sócio-económicas 13 -Efeito de atracção de populações X X X X X Variáveis urbanísticas e de planeamento 14 - Dinâmica do sector imobiliário X X X X X (nacional /estrangeiro/pressão sobre o parque imobiliário) 15 - Necessidade espacial do secundário X X X Variáveis do sistema de circulação 16 - Efeitos da Ponte Vasco da Gama X X X X X 17 - Efeitos do comboio da Ponte X X X X X

221 Relação entre variáveis e actores (continuação)

PATRIMO PRIVADA COOP CULTURAL TURISMO NIAL E RECREIO

GACP AE ACP SFP RTCA

Variáveis Internas Variáveis sócio-económicas 1- Estrutura da população residente X X X X X 2 - População activa predominante nos X X X X sectores secundário e terciário Variáveis fisico-morfológicas 3 - Grandes áreas expectantes X Variáveis fisico-naturais 4 - Integração no Parque Natural da X X Arrábida e Reserva Natural do Estuário do Sado Variáveis urbanísticas e de planeamento 5 - Existência de Planeamento X X X X X 6 -Preservação das zonas históricas X X Variáveis de ocupação funcional 7 - Tecido industrial em expansão X X 8 - Conflitualidade entre a pequena e média X empresa e as grandes unidades de produção 9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação X X X de novas unidades de produção 10 - Comércio dependente de Setúbal X 11 - Especificidade Agrícola do Município X X Variáveis do sistema de circulação 12 - Centralidade do Município de Palmela X X X no contexto espacial da Península de Setúbal Variáveis externas Variáveis sócio-económicas 13 -Efeito de atracção de populações X X X X X Variáveis urbanísticas e de planeamento 14 -Dinâmica do sector imobilirio X 15 – Necessidade espacial do secundário X Variáveis do sistema de circulação 16 - Efeitos da Ponte Vasco da Gama X X X X X 17 - Efeitos do comboio da Ponte X X X X X

222

Figura 7 – A Análise das Estratégias dos Actores do Município de Palmela

Recolha e Análise documental Observação Directa Simples

Construção das variáveis e escolha dos actores

Entrevistas aos actores escolhidos Quadro de estratégia de actores

Desafios estratégicos e objectivos associados

Matriz das posições de actores/objectivos 2MAO Matriz dos Meios de Acção Directos entre Actores MAD

Matriz das relações de força directas e indirectas

Matriz das posições valorizadas em função da hierarquia dos objectivos 2MAO

Coeficiente de força (Ri)

Matriz ponderada(pelas relações de força) Análise de Clusters e das posições valorizadas Formação de grupos estratégicos de 3MAO actores

Grau de Força Relativa Dispersão

223 224

III PARTE

225

226 14 - PLANEAMENTO URBANÍSTICO E ESTRATÉGIA DE ACTORES: PARA ONDE VAI PALMELA?

14.1 - O PODER LOCAL EM PORTUGAL: COMPETÊNCIAS E INTERVENÇÕES

As divisões administrativas existentes em Portugal não deverão ser vistas apenas como meras divisões funcionais. Na maioria dos casos, senão mesmo na sua totalidade, elas são o reflexo de aspectos geográficos, económicos e sociais aos quais o carácter histórico imprimiu marcas profundas, que se traduziram na dominância dos espaços geográficos sobre outros, ao mesmo tempo que marcou os comportamentos e as identidades locais com traços simbólicos que ainda hoje prevalecem. Dessa divisão administrativa, os Municípios são os mais antigos sendo a sua origem muito anterior à própria criação do Estado português. E essa divisão parece ser aquela que aglutina toda uma tradição de autonomia municipal face ao Estado. Ao longo da história constitucional portuguesa é possível verificar que o regime jurídico das autarquias locais tradicionais – os municípios, e num plano acessório, as Freguesias – foi traduzindo a posição e o papel a ocupar e a desempenhar por essas instituições, quer na sua articulação com o ordenamento jurídico-administrativo, quer ao nível de intervenção que o Estado lhe permite e confere num determinado período histórico. Por outro lado, a participação dos cidadãos no conjunto da vida local decorre na relação directa com o grau de autonomia que as autarquias apresentam face ao Estado, independentemente de essa autonomia se revelar na forma de designar os órgãos autárquicos ou se traduzir numa maior ou menor capacidade administrativa.1

14.1.1 - Do Município romano à reconquista cristã

A existência do Município remonta ao período de ocupação romana da Península Ibérica. O Município constituía, assim, uma comunidade local regida pelas

1 - Cf. MONTALVO, António Rebordão (1989) - “O Poder Local e a Participação dos Cidadãos” in COELHO, Mário Baptista (Coord.), Portugal - O Sistema Político e Constitucional 1974-1987, Lisboa., Instituto de Ciências Sociais. da Universidade de Lisboa, p. 469

227 leis romanas. Ou seja, ao outorgar a qualidade de município a uma cidade indígena, estava-se-lhe a retirar a autonomia, transferindo o governo dos chefes locais para o Direito Romano. Todavia, a administração era feita de acordo com as decisões tomadas em assembleia pelos seus cidadãos, que ainda tinham o poder de eleger os seus magistrados.1 Esta estrutura do município romano vai perdurar durante o domínio visigótico, pese embora a transferência de parte das atribuições dos municípios para um conjunto de magistrados nomeados pelo rei ou designados pelos bispos. É sobretudo nos distritos rurais cujas populações se caracterizavam pelo seu isolamento, pelas necessidades agrícolas e ainda pelo desejo de estabelecerem laços de vizinhança, que as Assembleias de Homens Livres têm o seu aparecimento. No período de ocupação árabe, já nada resta das características do município romano. Algumas instituições que provinham dos visigodos ainda se mantiveram, mas já não há a presença das Assembleias Municipais. 2 O período da Reconquista é marcado pelo ressurgimento dos municípios, que surgem assim como uma necessidade de administração das comunidades locais. A consolidação do Estado português proporcionou o aparecimento de um documento escrito – o foral – onde eram definidas e reconhecidas as liberdades da população de um município, 3 e também definiam e precisavam o sistema de impostos e a administração da justiça.4 Encontra-se nestas circunstâncias o foral de Palmela, que data de Março de 1185, e que foi um dos últimos outorgados por D. Afonso Henriques.

14.1.2 - O período medieval

No século XIII surge a palavra Concelho, que é utilizada com o significado de comunidade local detentora de certa autonomia administrativa. Este movimento de outorga de forais prosseguiu durante a 1ª dinastia, o que contribuiu para a multiplicação de concelhos urbanos e rurais.

1 - Cf. CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins; ESTEVES, M. Céu; PESSOA, Vítor (1982) – Regionalização e Poder Local. em Portugal, Lisboa., IED, p. 28 2- idem, p. 29 3- idem 4- Cf. MARQUES, A.H. de Oliveira (1977) – História de Portugal (1º vol), Lisboa., Palas Editores, (7ª edição) p. 119

228 Quanto à estrutura organizativa dos municípios, os historiadores medievalistas não estão em consenso. Contudo, parece ter existido dois tipos de organização - uma, caracterizada por um controlo bastante rígido por parte do poder real, e cujos pressupostos provêm dos vestígios dos antigos conventi romanos; a outra, que assumia formas do tipo concilium de inspiração visigótica, baseada na assembleia de vizinhos de uma determinada área, e cujos debates se centravam em assuntos de interesse local. Embora a forma de organização municipal variasse de Município para Município, o seu modelo típico era, na maioria dos municípios, formada por uma Assembleia que detinha funções judiciais e tinha poderes de eleger magistrados e de elaborar posturas. Com a centralização do Poder Real, que foi sendo feita de forma crescente desde D. Afonso III, os Municípios passaram a sofrer inspecções extraordinárias – através dos Corregedores – à forma como se procedia à administração municipal e como era administrada a justiça. Mais tarde, com D. Dinis, são enviados os Juízes de Fora que substituem os juízes ordinários eleitos pelas assembleias de homens-bons.1 Estes Juízes de Fora adquirem carácter permanente durante o reinado de D. Afonso IV, verificando-se durante este reinado o surgimento de Vereadores, cuja função é a de assistirem os magistrados eleitos na administração do município. A uniformização da administração municipal iniciou o seu processo com a publicação das Ordenações Afonsinas.

14.1.3 - Da reforma manuelina à revolução liberal

Durante os séculos que se seguiram às Ordenações Afonsinas, as estruturas organizativas da administração dos municípios vão-se adaptando às transformações de índole económico e social que Portugal apresenta nos domínios da consolidação territorial de Nação independente e do fortalecimento do Poder Central. É, contudo, com a reforma dos forais mandada fazer por D. Manuel I, que se

1- Inicialmente consideravam-se homens-bons os pequenos proprietários conhecidos pelas suas qualidades de inteligência e ponderação. A partir do séc. XIV os mercadores conquistam o seu lugar entre os homens-bons. Durante a crise de 1383-85, os mesteirais impõem-se, inicialmente em Lisboa., e generalizam a sua presença a outros municípios.

229 dá o enfraquecimento das instituições municipais.1 Este esvaziamento do poder municipal deve-se ao carácter da reforma, que procedeu à substituição de todos os forais antigos por forais novos, e onde se define apenas os impostos a pagar à Coroa.2 As restantes matérias tratadas nos antigos forais continuavam a ser reguladas pelas leis gerais inscritas nas Ordenações Afonsinas, transitando para o Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos, de 1504 e deste para as Ordenações Manuelinas e Filipinas.3 Do século XV aos princípios do século XVIII, as divisões territoriais mais importantes assentavam na Província e nas Comarcas. O Poder Real é personificado pelos Corregedores, que se ocupam dos assuntos de natureza juridico-administrativa, e pelos Almoxarifes a quem competia os assuntos de natureza fiscal e tributária.

14.1.4 - O período liberal

No início do século XIX, a divisão territorial era constituída por sete Províncias ou governos militares, quarenta e quatro comarcas, setecentos e oitenta e cinco Municípios, quatro mil e quarenta e seis Freguesias. A revolução de 1820 vai impor um rompimento com o período anterior, ruptura essa que se caracteriza pela frequente remodelação do sistema territorial e institucional, situação que se articula com os princípios e doutrinas que estão na base desses modelos organizativos. As remodelações territoriais e administrativas mais não eram do que tentativas que se julgavam “mais adequadas às transformações económicas, sociais, culturais e políticas que então despontam”.4 As políticas ensaiadas pelos sucessivos governos após 1820 contribuíram todas elas para uma maior centralização do Poder nas mãos da Administração

1- O Município de Palmela comemora o seu feriado no dia 1 de Junho, data que se relaciona com a atribuição do Foral Novo de D. Manuel I, em 1512. Desde a adopção desta data, há divergências entre a Câmara Municipal e o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela e outros grupos de cidadãos. Para estes últimos o Novo Foral, de D. Manuel I, retirou às populações do município as regalias consagradas no Foral de 1185, ao mesmo tempo que lhes impõe o pagamento de mais impostos, o que o torna, em sua opinião, num contra-senso a sua comemoração. 2- Cf. CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins; ESTEVES, M. Céu; PESSOA, Vítor (1982) - Op.cit., p. 30 3 - Cf. Flores, Alexandre M.; NABAIS, António J. (1992) - Os Forais de Palmela, Palmela, Câmara Municipal de Palmela, p. 94 4 - CARIA, Fernando (1993) – Op cit. p. 310

230 Central. Deste modo, em 1832, com Mouzinho da Silveira à frente dos destinos da política nacional, as funções judiciais são separadas das funções administrativas. Esta reforma que se baseou na necessidade de se simplificar as divisões administrativas e proceder à operacionalização da sua gestão, assentou ainda na afirmação do Estado, a prová-lo está a criação de oito Províncias e quarenta Comarcas, que mais não eram que circunscrições acima do Município. Esta medida tinha com objectivo retirar às Câmaras Municipais o poder decisório, o que limitava grandemente a forma de autoridade tradicionalmente pertencente aos Municípios.

No entanto, esta divisão administrativa sofre alterações em 1835, ano em que ocorre a denominada Revolução Territorial. São então criados dezassete Distritos com dimensões territoriais intermédias e as Províncias são abolidas, isto porque se temia que as Províncias adquirissem poderes excessivos. O Distrito surgia assim como uma situação de compromisso entre os defensores de Províncias como circunscrição acima dos Municípios e aqueles que defendiam a Comarca como circunscrição superior,1 ou seja, o Distrito apareceria como alternativa à impopularidade dos administradores provinciais ao mesmo tempo que surgia como alternativa à Comarca que, na opinião de alguns, apresentava uma pequena dimensão para ser classificada de circunscrição superior. Entre os anos de 1835 e 1878 e de 1892 a 1914, o Distrito desempenha o mero papel de circunscrição administrativa, onde o Governador Civil desempenha uma posição preponderante. A situação é diferente entre os anos de 1878 e 1892, período em que são concedidos os meios necessários para a persecução das suas deliberações através de “comissões executivas permanentes por elas eleitas e independentes do Governo Civil”.2 Ressalve-se que neste curto período o Distrito desempenha um verdadeiro papel de Autarquia Local.

1- Cf. CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins; ESTEVES, M. Céu; PESSOA, Vítor (1982) – Op. cit, p. 33 2- idem

231 14.1.5 - A 1ª República

Com a República, e mais concretamente em 1913, passa-se a considerar como circunscrições territoriais a Freguesia, o Município, o Distrito e a Província. No entanto, esta última parece não ter passado de uma mera circunscrição de carácter administrativo. Assim, as restantes três foram consideradas autarquias locais entre 1913 e 1926, ano em que terminou a primeira República portuguesa.

14.1.6 - O Estado Novo

A Constituição de 1933 da qual emanam os princípios corporativistas do Estado Novo vai proporcionar a coexistência simultânea do Distrito e da Província. O território continental encontrava-se dividido em Município, que são formados por Freguesias, e que se agrupam em Distritos e em Províncias, sendo os corpos administrativos constituídos pelas Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia e os Conselhos de Província. Após a sua publicação, um novo projecto é elaborado e do qual viria a resultar o Código Administrativo de 1936. São pois consignadas como Autarquias Locais a Freguesia, o Município e a Província, cujos corpos administrativos eram, respectivamente, as Juntas de Freguesia, as Câmaras Municipais e os Conselhos de Província (estes são substituídos por Juntas de Província), e que vão durar até 1959, altura em que se dá a revisão constitucional.

232 Quadro 12 – O Município no Estado social-corporativo

NAÇÃO (Estado social-corporativo)

Chefe do Estado Conselho de Estado Assembleia Nacional Supremo Tribunal de Conflitos

SUPER-CORPORAÇÕES

Grei Município Família (Poder central) (Poder municipal) (Poder familiar)

Governo Direcções Tribunais Conselho Câmara Presidente Chefe de Conselho de Gerais Superiores Municipal da Câmara Família Família

CORPORAÇÕES ORGANISMOS CORPORATIVOS INDIVÍDUO SOCIAL-CORPORATIVO

Morais Culturais Económicas Morais Culturais Económicos Moral Cultural Económico

Fonte: NETTO, Joaquim M. de M. Lino (1939) - O Município no Estado. Social-Corporativo, Lisboa., Livraria Portugália p. 264

Com estas medidas, está-se perante uma nítida rejeição face aos critérios tradicionais, introduzindo critérios de índole geográfica e funcional na divisão administrativa do País, ao mesmo tempo que se procede à abolição do Distrito enquanto Autarquia, procedendo-se ao seu esvaziamento de poder institucional que lhe era próprio. Por outro lado, o Código Administrativo de 1936 reforçou a centralização de poderes ao nível central, atribuindo às Províncias “atribuições escassas em número, incipientes em conteúdo e artificiais em concepção.”1

1 - PORTUGAL, Ministério da Administração Interna (1977) – “Divisões Regionais", in A.R., Agosto de 1977, Lisboa, MAI

233 Este processo de instituição das Províncias não se fez acompanhar das estruturas indispensáveis de apoio, nomeadamente de apoio técnico, humano, financeiro, factores que teriam sido fundamentais para uma intervenção mais actuante sobretudo ao nível da cultura e da assistência, domínios que estavam atribuídos nas suas funções. Ao nível municipal, as competências que são atribuídas radicam na procura da harmonização dos interesses económicos, e na defesa do património, nomeadamente os aspectos relacionados com os usos e costumes locais, os trajes, os dialectos, etc.. É no município que tem lugar e se desenvolve a vida primária do corporativismo, é a ele “que compete o papel importante e imprescindível de envolver e acarinhar os passos elementares da nova organização, pelo impulso, harmonia, unificação e disciplina, que lhes imprima em cada Concelho, tal qual o Governo central o faz na Nação lato sensu.”1 Com a publicação do Código Administrativo de 1940, a centralização de poderes é reforçada, nomeadamente ao nível do processo eleitoral. O Presidente e o Vice-Presidente da Câmara Municipal eram designados pelo Governo, sendo o restante corpo de vereadores eleito pelo Conselho Municipal, onde tinham assento os representantes das corporações de base local. Nas Juntas de Freguesia, cujo Presidente apenas possuía competências burocráticas, havia um regedor cuja nomeação era da responsabilidade do Presidente da Câmara e cujas funções eram de natureza policial Com a revisão do texto constitucional, em 1959, a inovação verificada, em matéria administrativa, prende-se com o facto da Província deixar de figurar no dito texto como autarquia local, dando lugar ao Distrito, que assume deste modo o lugar de autarquia superior ao Concelho. Na opinião dos membros da Câmara Corporativa, as Províncias não teriam interesses comuns defensáveis nos domínios cultural, económico e de assistência que se tornassem susceptíveis de atribuição de uma orgânica de cariz administrativo, para além dos seus órgãos apresentarem uma modesta intervenção, que não raras as vezes se mostrava deficiente e/ou ineficaz face à ideologia então vigente. É pois com base neste tipo de argumentação que surge o Distrito, que herda e

1 - NETTO, Joaquim M. de M. Lino (1939) – Op. cit, p. 124

234 decalca a estrutura orgânica e as funções atribuídas anteriormente à Província. Há, digamos, como que um retorno a 1835, na opinião de Vítor Martins.1

14.1.7 - A situação após a Constituição de 1976

As Autarquias, no período que antecedeu o 25 de Abril de 1974, não possuíam qualquer grau de autonomia, funcionando como meros instrumentos da Administração indirecta do Estado; ou melhor, eram serviços periféricos do Estado, cujo papel se combinava com os da Família e dos Organismos Corporativos. Estes formavam os elementos estruturais da Nação, carregados de ideologia e portadores do discurso corporativista-nacionalista. Embora o movimento desencadeado em 25 de Abril de 1974 não pretendesse estabelecer uma ruptura na organização e funcionamento do Estado, mas sim, proceder a uma substituição de um sistema político por outro2, a verdade é que a mudança de regime pressupunha uma mudança estrutural da Constituição. Mas foi a Administração local. que, no período que se seguia ao 25 de Abril de 1974, apresentou “os efeitos imediatos da rotura com o anterior regime e com a máquina administrativa em que se apoiava.”3 Este fenómeno encontra a sua explicação nos sentimentos dos cidadãos em sentirem a Administração local. como tradutora da expressão do Estado, localizada mais próxima de si, apresentando-se mais familiar e mais vulnerável às reacções de índole social que caracterizou a vida portuguesa no pós-25 de Abril. Tais sentimentos e representações sociais levaram a que se verificasse a demissão de todas as Câmaras Municipais do País, mas como afirma António Montalvo (1989), esse processo está “longe de assumir o carácter punitivo dos saneamentos verificados na Administração central, permitiu afinal dar expressão à contestação das estruturas do regime deposto e abrir o campo de intervenção dos partidos marxistas, que nesse momento preenchiam integralmente o leque político- partidário português.”4

1- MARTINS, Vítor (1977) – “A Província, o Distrito e a Região”, Poder Local, nº 4 2 - LEAL, António da Silva (1982) – “ A Organização do Estado depois da Revolução de 1974”, Análise Social, 72-73-74, p. 928 3- MONTALVO, António Rebordão (1989) – Op.cit. p. 472 4- idem, p. 473

235 Assiste-se entretanto à formação de Comissões Administrativas municipais cujo objectivo era o de assegurar a democraticidade da Administração local. No entanto, quer os processos da sua designação quer a sua actuação, não se mostraram convergentes para as várias forças político-partidárias existentes ou emergentes. Daí que:

a) os aspectos de informalidade que caracterizaram os processos de constituição das Comissões Administrativas municipais; b) a emergência de movimentos de contestação, provenientes de partidos nascidos do pós-25 de Abril; c) o próprio processo de formação dessas Comissões; d) a base democrática, que alguns punham em dúvida, relativamente à designação desses órgãos; e) a oposição que as Comissões Administrativas manifestaram perante a legislação referente à Administração local herdada do anterior regime, apareçam como responsáveis, pelo menos em parte, pelo vazio de poder legitimado ao nível da Administração local 1 que entretanto teve lugar.

Com a aprovação do texto constitucional de 1976 esta situação veio a alterar- se. Para além de tornar possível a concretização de eleições livres e por sufrágio universal, viria ainda a consagrar os princípios descentralizadores e regionalistas da Administração Central e a existência de Governos Autónomos nos Açores e na Madeira. Concebe-se uma nova estrutura vertical do Estado Português, reconhecendo-se um nível regional, que se situaria numa posição intermédia entre os níveis local e central. As Autarquias Locais passam a ser definidas pela Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 237o, como “ pessoas colectivas de base territorial, dotadas de órgãos representativos e autonomia administrativa e financeira, a quem compete a prossecução dos interesses próprios comuns e específicos às respectivas populações”2. Neste âmbito são definidos como Autarquias Locais as Freguesias, os

1 - Cf. MONTALVO, António Rebordão (1989) – Op.cit. p. 473 2 - PORTUGAL (1976) – Constituição da República Portuguesa, Lisboa., IN-CM, p. 111

236 Municípios e as Regiões Administrativas. A Lei nº 79/77, de 25 de Outubro, vem definir as atribuições das Autarquias Locais e as competências dos respectivos órgãos, reafirmando-se assim o princípio da autonomia autárquica face ao Estado. Em 1979, é dado mais um passo na autonomia municipal com a aprovação da Lei nº 1/79, de 2 de Janeiro, (e posteriormente com as suas revisões em 1984,1987 e 1998), que consagra a autonomia financeira. Esta Lei, que surge como o corolário da autonomia administrativa, representa um marco histórico para as Autarquias Locais e para a própria estrutura democrática do Estado, na medida em que constitui uma revolução no modo de funcionamento das Autarquias, ao mesmo tempo que contribui para um conjunto de alterações entre a administração central e a local. A Lei nº 1/79 declara, logo no seu primeiro artigo, a posse de património e de receitas próprias das Autarquias Locais, que constituem meios financeiros imprescindíveis para a execução das suas atribuições. Dentro da mesma linha de descentralização e de transferências de competências, surge o Decreto-Lei nº 100/84, de 29 de Março, que revê e actualiza a Lei nº 79/77. Às Autarquias Locais são consignados um conjunto de atribuições que dizem respeito aos interesses próprios, comuns e específicos das populações do território que administram, nomeadamente:

1. A administração de bens próprios que se encontrem sob a sua jurisdição 2. Promoção do desenvolvimento 3. A promoção da salubridade pública e o saneamento básico 4. A promoção da saúde 5. A promoção da educação e do ensino 6. A protecção à infância e à terceira idade 7. A promoção e o apoio à cultura, aos tempos livres e ao desporto 8. A defesa e protecção do meio ambiente e a promoção da qualidade de vida 9. A protecção civil

237 Figura 8 – Estruturas Verticais do Estado em Portugal (antes e pós 1976)

ESTRUTURA VERTICAL DO ESTADO PORTUGUÊS ANTES DE 1974

Governo Central

Ministério do Interior

1 Junta Distrital Governador Civil

2 Câmara Municipal Presidente da Câmara

3 Junta de Freguesia

ESTRUTURA DO ESTADO PORTUGUÊS APÓS A CONSTITUIÇÃO DE 1976

Governo Central

1 Governos Assembleias Regionais Regionais

2 Assembleia Junta Comissário Regional Regional Regional

1 Assembleia Câmara Assembleia Câmara Municipal Municipal Municipal Municipal

2 Assembleia de Junta de Assembleia de Junta de Freguesia Freguesia Freguesia Freguesia

CONTINENTE AÇORES E MADEIRA

Fonte: MOREIRA, Vital (1977) - “As Regiões, a Autonomia Municipal e a Unidade do Estado”, Poder Local, nº 3

Resta referir que o legislador ao enunciar, explicitamente, que cabe às Autarquias Locais a promoção do desenvolvimento, iria tornar redundantes as restantes atribuições.

238 14.1.8 - A participação dos Cidadãos

As doutrinas liberais, que dominavam o panorama europeu do século XIX, repercutiram-se em Portugal através do triunfo das ideias individualistas e do primado da liberdade que é pertença de todo o Homem. Estes princípios estão bem patentes na Constituição de 1822, que dedica os seus primeiros dezoito artigos às questões dos direitos fundamentais dos portugueses, coroados pelos valores da liberdade, da segurança pessoal e da propriedade. Quanto aos deveres, estes apareciam sinteticamente enumerados no artigo 19º.1 Com a instauração do regime republicano, a Constituição de 1911 consagra os direitos e as garantias dos cidadãos, ao mesmo tempo que se institucionalizavam os princípios republicanos: a igualdade social e o laicismo. As funções do Estado estavam praticamente circunscritas a actividades de conteúdo jurídico, ou seja, a criação da lei e a sua aplicabilidade por parte dos Tribunais. Da sua relação directa com a sociedade, o Estado garante o direito à assistência, à instrução primária gratuita e garante os socorros mútuos. Estes direitos sociais observaram uma afirmação jurídica, fruto de uma evolução doutrinária, que levou a uma maior intervenção do Estado na vida colectiva. Essa afirmação é bem vincada pela Constituição de 1933 que vai definir os direitos daquilo que define como as células base da sociedade, ou sejam a Família, as Autarquias Locais e os Organismos Corporativos. Compromete-se o Estado na garantia desses direitos, ao mesmo tempo que se associa essa concretização à finalidade do Estado. A experiência político-administrativa desenvolvida, sobretudo a partir da década de cinquenta, vai levar esta vocação intervencionista do Estado a sofrer um maior reforço com a aprovação da Constituição de 1976. As enormes assimetrias, sociais, económicas e culturais, entre pessoas e entre regiões levou a que se verificasse uma ampliação dos direitos sociais, no seu conjunto, e um maior incremento do papel desempenhado quer pela Administração central, quer pela Administração local.

1- Cf. MONTALVO, António Rebordão (1989) – Op.cit. p. 476

239 É com o súbito aumento da actividade político-administrativa por parte da Administração local que se opera a transformação qualitativa da sua relação com os cidadãos. A complexidade social ao aumentar, devido ao desenvolvimento económico e social que entretanto se concretiza, vai produzir fenómenos de diversificação social, criando novas áreas de interesses e de necessidades particulares ou de grupo. Perante este processo de diversificação observa-se o aumento da dependência que os actores, isoladamente ou combinados entre si, apresentam perante a Administração. Esta relação vai, contudo, conduzir a uma desvalorização da esfera individual de cada cidadão, não só reduzindo o seu conteúdo como ofuscando a posição do cidadão perante a Administração. “Dir-se-ia que para a generalidade dos cidadãos a esfera pessoal de direitos e deveres é transferida para segundo plano e que passa a verificar-se uma miscibilidade dos interesses públicos e privados.”1 Perante tal situação, o cidadão é levado a concluir que só pode defender os seus interesses ao mesmo nível da concretização dos interesses sociais. Esta tomada de posição conduz os cidadãos a participarem na vida pública e na gestão dos interesses colectivos. No novo quadro jurídico da Administração local. houve lugar para a definição de um corpo jurídico e respectivos canais institucionais que asseguram a interrelação entre Administração e os cidadãos e garantem a participação destes na vida pública. Esta participação é corporizada através:

a) da possibilidade dos cidadãos poderem candidatar-se a algumas eleições locais, de modo autónomo e sem ligações político-partidárias;2 b) das reuniões dos órgãos deliberativos serem obrigatoriamente públicas; c) desse carácter público que é, ele também, extensível a uma reunião mensal dos órgãos executivos;

1 - MONTALVO, António Rebordão (1989) - Op.cit. p. 478 2 - A Lei-Orgânica nº1/2001, de 14 de Agosto, consagra no nº 1 alinea c) do artº 16º a possibilidade de estender aos grupos de cidadãos a apresentação de candidaturas a todos os órgãos autárquicos e não apenas à Assembleia de Freguesia, como aconteceu até 1997.

240 d) da Administração se encontrar impedida de recusar o diálogo com os cidadãos.

A Política local. pode assim ser desdobrada “numa multiplicidade de tipos de execução de medidas políticas e de formas de acção política”1 com capacidade de assumir figurinos diversificados. Por outro lado, cada local é detentor de uma configuração cultural própria que é responsável por uma determinada cultura política e por um conjunto de práticas sociais dos seus actores mais destacados, que assumem assim um maior ou menor peso nos processos de negociação e uma maior ou menor permeabilidade ou receptividade por parte da Administração local aos seus projecto ou interesses. É no nível local que pode ser encontrada a influência marcante no processo de produção da multiplicidade de políticas que se vão concretizando quer no espaço da sociedade local quer, inclusive, no espaço da Administração local.

14.2 - AS FIGURAS DE PLANEAMENTO

A abordagem teórica em torno do valor do Plano não é unânime. Se existem teorias que o defendem, outras há que questionam esse valor em si mesmo. Estas últimas, apontam para a menorização deste instrumento, no conjunto diversificado dos vários elementos que levam à construção de um instrumento extremamente complexo e poderoso como é o processo de planeamento territorial.2 O início da década de setenta do século passado marca o início da discussão em torno desta questão, onde vários autores chegaram a defender o abandono puro e simples dos Planos Parciais e de Pormenor, apontando-se a sua substituição por projectos. Esta posição, aparentemente radical, surge como uma reacção à panaceia que marcou, num passado recente, estes Planos, situação essa que foi a responsável por lhes imprimir um efeito negativo – os antiplanos. Contudo, não será tanto a figura do Plano que se encontra em crise, mas sim a

1 - RUIVO, Fernando (1990) - “Local e Política em Portugal: o Poder Local na Mediação entre o Centro e a Periferia”, Revista Crítica de Ciências Sociais., nº 30, p. 76 2 - Cf. LOURENÇO, Júlia Maria (2003) – Expansão Urbana – Gestão de Planos Processo, Lisboa., Fundação Calouste Gulbenkian/Fundação para a Ciência e Tecnologia/Ministério da Ciência e Ensino Superior, p. 56

241 forma isolada enquanto instrumento de gestão. Num contexto mais alargado, como é o contexto europeu, os Planos são assumidos, quer ao nível da sua formulação teórica quer ainda ao nível na sua concretização real, como pré-existências indispensáveis perante a acção. Esta teoria é derivada do entendimento de que existem Planos que não raras as vezes podem não ser explicitados ou, inclusivamente, formalizados. A existência permanente de Planos, vai, por outro lado, implicar a sua explicitação e gestão, no contexto de um processo, por si só, extremamente complexo em que geralmente se levantam dúvidas quanto à possibilidade dos Planos Territoriais serem efectivados. O sucesso de um Plano, aqui entendido como possuidor de um elevado grau de implementação das propostas que apresenta, encontra-se excessivamente dependente da sua integração num processo de planeamento onde:

• quer as normas quer os regulamentos integrantes desses Planos tenham obtido consensos generalizados e que se materializaram na sua aprovação legal e na respectiva publicação;

• que as regras que foram aprovadas tenham, no seu essencial, sido cumpridas ao longo dos anos em que esse Plano manteve a sua vigência;

• que as acções que estavam previstas no Plano tenham sido realizadas ou não tenham sido postas em causa de modo significativo, observando-se a solidez da estrutura geral apresentada pelo Plano Territorial.1

Todavia, o acompanhamento dos Planos ao longo do período em que se encontram vigentes é condição sine quanon para o sucesso dos mesmos.

Em Portugal, o Planeamento Territorial assenta na planificação sectorial, a nível central da responsabilidade dos Serviços Centrais adstritos ao actual Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Contrariamente ao que se poderia esperar, a legislação portuguesa sobre Planos Territoriais é uma das mais antigas da Europa, remontando a 1865. Embora

1 - idem, p. 38

242 para a época tal constituísse uma inovação, o facto é que as regras que são decorrentes dos Planos Urbanísticos estiveram praticamente sem expressão até ao início da última década do século XX. Ressalva-se, no entanto, o ano de 1932 em que se verificou a consolidação dos Planos de Ordenamento do Território, através da publicação legislativa. Nesse mesmo ano e, posteriormente, em 1934 e em 1946 foi sendo instituído o sistema de planeamento urbanístico que tinha a sua principal incidência junto das áreas urbanas, uma vez que era nestas que se verificava a maior concentração populacional e de actividades económicas, o que exigia por parte das entidades responsáveis pela gestão da cidade uma resposta imediata aos diversos problemas, o que nem sempre se efectivou em grande medida pelas limitações que as Câmaras Municipais apresentavam, quer em matéria de legislação quer em meios de acção disponíveis.

Quadro 13 – Evolução das Figuras de Planeamento Urbanístico em Portugal

Acção Ano Instrumentos

Introdução de Figuras do 1865 Planos Gerais de Melhoramentos para as Ordenamento do Território cidades de Lisboa e Porto. Posteriormente para todas as sedes de Concelho

1932, 1944, 1971, Planos de Urbanização e de Pormenor Consolidação dos Planos de 1991 Ordenamento do Território 1982, 1988 Plano Director Municipal, Plano Regional

Lei de Bases do Ordenamento 1998 1ª Lei de Bases do Ordenamento do Território

Fonte: LOURENÇO, Júlia Maria - (2003) - Op. cit. p. 81

Mas, dizia-se, que o grosso das preocupações até à década de setenta do século XX, concentraram-se no planeamento urbanístico, na qualidade estética e no

243 respectivo conforto, salubridade e segurança. 1 .As preocupações em torno do Território só começaram a assumir os actuais contornos em 1975, através da primeira Secretaria de Estado do Ambiente, ano em que é publicado o primeiro Decreto-Lei sobre a Reserva Agrícola Nacional. Um ano mais tarde verifica-se a revisão da Lei sobre Áreas Protegidas. Mas são os anos oitenta que marcam um período caracterizado pela resolução das carências básicas imediatas e flagrantes por parte das populações, nomeadamente no que se refere às infra-estruturas e aos equipamentos básicos. Esta situação é, contudo, acompanhada pelas primeiras repercussões locais da crise económica. Perante este novo dado, as necessidades básicas que até aí eram facilmente equacionáveis deixam de o ser.

As Autarquias deparam-se então com uma situação em que se torna cada vez mais imperiosa a necessidade de possuírem instrumentos dotados com capacidade de estabelecerem estratégias de intervenção em domínios tão vastos como a gestão do território ou a participação no desenvolvimento económico local. O processo que institui as várias figuras de planeamento é acompanhado paralelamente por um outro, cujo objectivo é proceder à regulamentação das competências municipais. Actualmente, o Ordenamento do Território tal como o Urbanismo em Portugal, encontram-se enquadrados pela Lei de Bases do Ordenamento do Território e do Urbanismo (Lei nº 48/98, de 11 de Agosto), regulamentada, em 1999, pelo Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 310/03., de 10 de Dezembro, que aprovou o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, a qual define o quadro da política de Ordenamento do Território e do Urbanismo, bem como os instrumentos de gestão urbanística que a consubstanciam. É também regulada a forma em como se relacionam os vários níveis da Administração Pública, a relação que esta mantêm com as populações e com os representantes dos variados e diferentes interesses económicos e sociais.

1 - Cf. CANCELA D’ABREU , Margarida; ESPENICA, André (s/d ) - Sistema Nacional de Gestão Territorial - Instrumentos de Planeamento, Projecto Coordenação de SIG e dos IOT para o desenvolvimento. dos espaços rurais de baixa densidade

244 Como factores inovadores desta Lei de Bases salientam-se os seguintes aspectos:

• o nível decisório passa a ser feito mais próximo do cidadão, que resulta do facto de haver uma maior coordenação entre os vários níveis da Administração Pública. Por outro lado, o município passa a ser reconhecido como unidade privilegiada para a administração urbanística;

• a existência de equidade que vai despoletar um conjunto de situações que levam a uma repartição mais justa, quer dos encargos, quer dos benefícios que são decorrentes dos Instrumentos de Gestão do Território;

• a participação e responsabilidade, com garantia da informação e intervenção em todo o processo;

• segurança jurídica, com garantia de estabilidade dos regimes legais e o respeito pelas situações jurídicas validamente estabelecidas.1 . Esta Lei estabeleceu, ainda, uma clara e nítida diferença entre os Instrumentos de Carácter Estratégico, que são da responsabilidade do Estado e das Regiões e os Instrumentos de Planeamento que são directamente vinculativos dos particulares. Por outro lado, os Decretos-Lei 380/99 e 310/03 surgem como instrumentos executores da Lei n.º 48/98. De acordo com o artº 8 da Lei nº 48/98, os instrumentos de gestão territorial integram quatro tipos de instrumentos:

a) instrumentos de desenvolvimento territorial, detentores de natureza estratégica e que procuram traduzir as grandes opções do Estado nesta matéria, com especial relevância para as questões da organização do território. Estes instrumentos serão, ainda, responsáveis de directrizes de carácter geral sobre o uso do território, levando à concretização o quadro de referência que deve ser considerado na feitura de instrumentos de planeamento territorial;

1 - idem

245 b) instrumentos de planeamento territorial, detentores de natureza regulamentar, e que serão os responsáveis por estabelecerem o regime de uso do solo, onde são definidos os modelos de evolução da ocupação do Homem no território e da organização de redes e de sistemas urbanos, tendo em vista o estabelecimento, na escala adequada, de um conjunto de parâmetros de aproveitamento do solo; c) instrumentos de política sectorial, que serão os responsáveis pela programação ou pela concretização das políticas de desenvolvimento económico e social de incidência espacial, tendo em vista a determinação do respectivo impacte territorial; d) instrumentos de natureza especial, que vão criar um meio complementar de intervenção do Governo tendente à concretização de objectivos de interesse nacional, com reflexo no território ou, ainda poderão, numa situação transitória, salvaguardar princípios considerados fundamentais do programa nacional de ordenamento territorial.1

Deste regime jurídico decorre o Sistema de Gestão Territorial possuidor de instrumentos de gestão territorial e que abrangem as três dimensões territoriais mais significativas:

1. O âmbito nacional (no qual se entende o território de Portugal Continental) 2. O âmbito regional 3. O âmbito local

14.2.1 - O âmbito nacional

A este nível situam-se três instrumentos:

a) O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território; b) Os Planos Sectoriais com incidência territorial; c) Os Planos Especiais de Ordenamento do Território

1 - Cf artº 8 da Lei n.º 48/98, de 11 de Agosto, Diário da República, nº 184 de 11 de Agosto de 1998, p. 3871

246

a) O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, cujas directrizes e orientações revelam o modelo de organização territorial, levando em linha de conta com o sistema urbano, as redes, as infra-estruturas e os equipamentos de interesse nacional, assim como as áreas consideradas de interesse nacional, ou sejam, áreas agrícolas, ecológicas ou patrimoniais. O Plano Nacional procura definir os objectivos a atingir e procura assegurar a compatibilidade do planeamento nos seus vários domínios físicos, económicos e sociais ao mesmo tempo que procura garantir o aproveitamento e a afectação de recursos para a sua realização. Trata-se de um plano com carácter vinculativo para o sector público e encontra-se dependente do financiamento do Orçamento de Estado. O Plano Nacional deveria ser formado por um plano a longo prazo, no qual são definidos os grandes objectivos e os meios considerados fundamentais para o desenvolvimento do País; um plano a médio prazo, que deverá coincidir com um período normal de legislatura, ou seja, quatro anos, no qual estão estabelecidas as acções globais, sectoriais e regionais, bem como a sua programação para esse período1; um plano anual que serve de instrumento orientador à própria actividade do

Governo e que deve integrar o Orçamento de Estado. b) Os Planos Sectoriais com incidência territorial, que são da responsabilidade dos diversos sectores da administração central e que compreendem os domínios dos transportes, das comunicações, da energia e recursos geológicos, da educação e formação, da cultura, da saúde e da agricultura, do comércio e da indústria, das florestas e do ambiente. c) Os Planos Especiais de Ordenamento do Território, que albergam os Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas, os Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas, os Planos de Ordenamento da Orla Costeira e os Planos de Ordenamento dos Parques Arqueológicos.

1 - Desde que foram instituídos pela Lei 31/77, nunca foram apresentados qualquer tipo de plano a longo ou a médio prazo à Assembleia da República. Cf. PITSCHIELLER, João e ABREU, Sofia (1989) – “Enquadramento Geral das Intervenções Urbanísticas”, in Direito do Urbanismo, INA, Lisboa., pp. 300-317

247

Quadro 14 - Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território

Fonte: DGOTDU

248 Quadro 15 - Plano Sectorial de Ordenamento do Território

Fonte: DGOTDU

249 14.2.2 - O âmbito regional

O âmbito regional é concretizado através do Plano Regional de Ordenamento do Território. Este tipo de plano que é produzido a partir das orientações definidas a nível nacional. Considera a evolução demográfica e as perspectivas de desenvolvimento económico, social e cultural e vai estabelecer as orientações para o ordenamento do território de uma dada região, definindo as redes regionais de infra-estruturas de transportes, ao mesmo tempo que detêm o papel de quadro de referência para a elaboração dos Planos Municipais de Ordenamento do Território.1

Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT), tiveram o seu regime jurídico estabelecido pelo Decreto-Lei nº 176-A/88, de 18 de Maio2, posteriormente alterado pelo Decreto-Lei nº 367/90, de 26 de Novembro. Também no seguimento da Lei de Bases do Ordenamento do Território e Urbanismo (Lei nº 48/98, de 22 de Agosto), assim como o Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 310/2003, de 10 de Dezembro, revogam a legislação anterior.

Tratam-se de Planos Regionais macro-estruturadores de uma região específica consistindo os seus objectivos no estabelecimento das grandes linhas de desenvolvimento, no que concerne às infra-estruturas e equipamentos supra- municipais. Os PROT de acordo com a legislação vigente procuram alcançar quatro objectivos:

1 - É de referir que todos os municípios portugueses são possuidores de Plano Director Municipal (alguns deles já em segunda versão, outros em fase de revisão), no entanto, nem todas as regiões do País possuem o seu Plano Regional de Ordenamento do Território. 2 - Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) foram criados pelo Decreto-Lei nº 338/83, de 20 de Julho, todavia este diploma nunca chegou a ser regulamentado nem chegou efectivamente a ser aplicado.

250

Quadro 16 - Plano Especial de Ordenamento do Território

Fonte: DGOTD

251

Quadro 17 – Plano Regional de Ordenamento do Território

Fonte: DGOTDU

252

1. Desenvolver, no determinado espaço regional o conjunto das opções apontadas pelo Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território e pelos Planos Sectoriais; 2. Traduzir no espaço regional os grandes objectivos de desenvolvimento económico e social sustentável estabelecidos no Plano de Desenvolvimento Regional; 3. Equacionar as medidas conducentes a atenuar as assimetrias de desenvolvimento intra-regionais; 4. Servir de base à formulação da estratégia nacional de ordenamento do território e, simultaneamente, servir de quadro de referência à elaboração dos Planos Especiais, Intermunicipais e Municipais de Ordenamento do Território.1

Para além de definirem estes objectivos, os PROT são responsáveis por estabelecerem um modelo de organização do território regional onde irão vigorar, estabelecendo:

1. A estrutura regional do sistema urbano, das infra-estruturas, redes e equipamentos colectivos de interesse regional, garantindo a salvaguarda e a valorização das áreas de interesse nacional em termos económicos, agrícolas, florestais, ambientais e patrimoniais;

2. Os objectivos e os princípios que forem assumidos a nível regional, quanto à localização dos vários tipos de actividades e ao nível dos grandes investimentos públicos;

3. As medidas de articulação, no espaço regional, quanto às políticas que foram estabelecidas no Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território e nos Planos Sectoriais preexistentes, assim como das políticas de importância regional constantes dos Planos Intermunicipais e nos Planos Directores Municipais de Ordenamento do Território abrangidos pelo PROT;

1 - Cf. artº 52 do Decreto -Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, Diário da República, nº 222, p. 6602

253 4. A política regional em matéria de ambiente e recebendo, a nível regional, as políticas e as medidas que foram estabelecidas nos Planos Especiais de Ordenamento do Território;

5. As directrizes respeitantes aos regimes territoriais que foram definidos ao abrigo de lei especial, nomeadamente as áreas de reserva agrícola, o domínio hídrico, a reserva ecológica e as zonas de risco;

6. As medidas específicas tendente à protecção e à conservação do património histórico e cultural.1

Os Planos Regionais de Ordenamento do Território são constituídos:

a) pelas opções estratégicas, normas orientadoras e por um conjunto de peças gráficas que ilustrem as orientações substantivas definidas no Plano; b) por um esquema que represente o modelo territorial que é proposto, onde se encontram identificados os principais sistemas, redes e articulações de nível regional.2

São ainda acompanhados por um relatório em que figurem:

• estudos técnicos sobre a caracterização biofísica da região, a sus dinâmica populacional, a estrutura de povoamento e as perspectivas de desenvolvimento para a região nos domínios económico, social e cultural;

• a definição de unidades de paisagem;

• a estrutura regional de protecção e valorização do ambiente;

• a identificação dos espaços agrícolas e florestais de importância estratégica para a região, tendo em vista o desenvolvimento rural;

• a representação das redes de acessibilidades e dos equipamentos existentes na região;

1 - Cf . artº 53 do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, idem 2 - Cf. nº 1 do artº 54 do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, idem

254 • programa de execução do plano contendo as disposições tendentes à realização de obras públicas, bem como a indicação das entidades responsáveis pela sua concretização;

• identificação das fontes financiadoras da concretização do Plano e estimativa dos meios financeiros necessários.1

Por outro lado, os PROT não deveriam, pelo menos teoricamente, possuir o estatuto de meros regulamentos administrativos, mas esse papel foi sendo assumido essas características. Na realidade, a implementação dos PROT tem pautado, quase de forma exclusiva, na regulamentação e não na programação de investimentos, uma vez que se tem vindo a assistir à continuidade da preponderância por parte das lógicas sectoriais. Ressalve-se, contudo, que embora se assista à escassez de PROT elaborados, estes conseguiram apresentar mais inovações, quer em conteúdos técnicos quer em matérias regulamentares, que os restantes Planos Territoriais.

14.2.3 - O âmbito municipal

O âmbito municipal é concretizado através de dois tipos de instrumentos:

a) Os Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território b) O Plano Director Municipal

a) Os Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território

Trata-se de um instrumento de desenvolvimento territorial, que possui um cariz facultativo e que procura proceder à articulação estratégica entre o plano regional e os planos municipais de ordenamento do território, no caso de existirem áreas territoriais que se mostrem interdependentes ao nível dos seus elementos estruturantes necessitam de formas de coordenar acções integradas. Este tipo de

1 - Cf. nº 2 do artº 54 do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, idem

255 Plano pode abranger a totalidade ou parte das áreas territoriais pertencentes a dois ou mais municípios vizinhos.1 Os objectivos deste tipo de Plano incidem nas estratégias de cariz económico e social a tomar em conjunto, tendo em vista os seguintes domínios:

• a protecção da natureza e a garantia da qualidade ambiental;

• a coordenação da incidência intermunicipal dos projectos de redes, equipamentos e infra-estruturas e a distribuição das actividades económicas - industriais, de turismo, comerciais e de serviços, que fazem parte do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, do PROT e dos Planos Sectoriais que sejam aplicáveis a esse território;

• designação de objectivos - a médio e a longo prazo - de racionalização do povoamento;

• enunciação de objectivos conducentes ao aceso a equipamento e serviços públicos.2

b) O Plano Director Municipal

É um instrumento que, com base na estratégia de desenvolvimento local, vai estabelecer a estrutura espacial, classifica o solo, estabelece os parâmetros de ocupação territorial, considera a implementação dos equipamentos sociais e desenvolve a qualificação dos solos rurais e urbanos; De todos os instrumentos de planeamento de âmbito municipal, o PDM ocupa o lugar nobre. Todavia, e apesar das alterações que tem vindo a sofrer ao longo do tempo, o Plano Director Municipal (PDM) ainda possui objectivos de desenvolvimento económico e social. A figura do PDM foi introduzida pela Lei nº 79/77, tendo o seu enquadramento jurídico sido estabelecido pelo Decreto-Lei nº 208/82, de 26 de Maio. A Portaria nº 989/82, de 21 de Outubro vem determinar a utilização e especificação do seu conteúdo técnico, ficando os aspectos referentes à regulamentação da sua

1 - Cf. artº 60 do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, idem p. 6603 2 - Cf. artº 61 do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, idem

256 elaboração assegurados pelo Decreto Regulamentar nº 91/82, de 29 de Novembro. O PDM era então concebido como um instrumento que definia a intervenção do município na problemática do desenvolvimento local, ao mesmo tempo que estabelece a estrutura espacial do território municipal sendo nele definidos “os objectivos de desenvolvimento, a distribuição racional das actividades económicas, as carências habitacionais, os equipamentos, as redes de transporte e de comunicação e as infra-estruturas” (Decreto-Lei nº 69/90). Estava-se perante um instrumento de planeamento que se apresentava bastante inovador, quer em termos conceptuais quer em termos político-ideológicos. Por outro lado, o PDM podia equacionar globalmente o mundo rural e o mundo urbano, fazendo o apelo à participação e ao envolvimento por parte das populações ao nível da discussão e da resolução dos seus problemas, dentro de um quadro institucional apresentado pelo Poder Local autónomo.1 Opinião diferente possuía a Sociedade Portuguesa de Urbanistas2, para quem o Decreto-Lei nº 69/90 evidenciava apenas “a natureza de regulamento administrativo dos planos urbanísticos, não lhe reconhecendo expressamente o seu carácter cultural, de vontade política participada e de peça fundamental para o processo de implementação.”3 No seguimento da Lei nº 48/98, de 11 de Agosto, surgiu, como já foi referido o Decreto-Lei nº 380/99, que vai revogar o Decreto-Lei nº 69/90, de 2 de Março, que disciplinava o regime jurídico dos Planos Municipais de Ordenamento do Território e que por sua vez revogou os anteriores regimes trazidos pelo Decreto-Lei nº 560/71, de 17 de Dezembro e pelo Decreto-Lei 208/82, de 26 de Maio; Decreto-Lei nº 176-A/88, de 18 de Maio; Decreto-Lei nº 151/95, de 24 de Junho e alterado pelo Decreto-Lei nº 53/00 de 7 de Abril e posteriormente pelo Decreto-Lei nº 310/03, de 10 de Dezembro. Finalmente, a Portaria nº 138/05, de 2 de Fevereiro vai fixar os demais elementos que devem acompanhar os Planos Municipais de Ordenamento do Território. Do período decorrente entre 1990 e 2001 é publicada um conjunto de legislação conexa com o Ordenamento do Território.

1- Cf. LOPES, Raul Gonçalves (1990) – Planeamento Municipal e Intervenção Autárquica no Desenvolvimento Local, Lisboa, Escher, p. 39 2 - Actualmente designadas por Associação dos Urbanistas Portugueses. 3- SOCIEDADE PORTUGUESA DE URBANISTAS (1990) – “ A Sociedade Portuguesa de Urbanistas perante o DL 69/90”, Sociedade e Território, nº 12, Porto, Afrontamento, p. 128

257 Enumeram-se a Lei nº 1/90 de 13 de Janeiro, (Lei do sistema Desportivo) que obriga os PDM e os PU a reservar áreas para as práticas desportivas, e que é alterada pela Lei nº 19/96, de 25 de Junho; o Decreto-Lei nº 292/95, de 14 de Novembro, que determina a qualificação oficial para a elaboração de planos de urbanização, planos de pormenor e de projectos de loteamento; o Decreto-Lei nº 364/98, de 21 de Novembro, que estabelece a obrigatoriedade de elaboração da carta de zonas inundáveis nos municípios com aglomerados urbanos atingidos por cheias.

258

Quadro 18 - Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território

Fonte: DGOTDU

259 As plantas de síntese dos Planos Municipais de Ordenamento do Território devem incluir a delimitação das zonas inundáveis e os seus regulamentos devem estabelecer as restrições necessárias para fazer face ao risco de cheia; Decreto-Lei nº 115/01,de 7 de Abril, e que simplifica os procedimentos de alteração a planos municipais de ordenamento do território e alvarás de loteamento urbano no âmbito da execução e concretização dos programas de realojamento regulados pelo Decreto-Lei nº 226/87, de 6 de Junho, e pelo Decreto-Lei nº 163/93, de 7 de Maio (Programa Especial de Realojamento nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto), bem como dos programas de construção de habitação a custos controlados destinado a arrendamento. Os Planos Municipais de Ordenamento do Território procuram:

a) traduzir, ao nível local, o quadro de desenvolvimento do território que foi estabelecido nos instrumentos de natureza estratégica de âmbito nacional e regional; b) exprimir a representação territorial da estratégia de desenvolvimento local; c) articular as políticas sectoriais com incidência local; d) a base de uma gestão programada do território administrada pelo município; e) definir a estrutura ecológica do território municipal; f) estabelecer os princípios e as regras que garantam a qualidade ambiental e a preservação do património cultural; g) estabelecer os princípios e os critérios que se encontram subjacentes a opções de localização das infra-estruturas, dos equipamentos colectivos e dos serviços e funções; h) estabelecer os critérios de localização e respectiva distribuição das actividades industriais, turísticas, comerciais e de serviços; i) estabelecer os parâmetros de uso do solo; j) estabelecer os parâmetros de uso e fruição do espaço publico; k) estabelecer outros indicadores relevantes para a elaboração dos demais instrumentos de gestão territorial.1

1 - Cf. artº 70 do Decreto-Lei nº 280/99, de 22 de Setembro, Op.cit. , p. 6605

260 Quadro 19 - Plano Director Municipal

261

Fonte: DGOTDU

Neste diploma, está omissa a possibilidade de existência de planos intermunicipais. Em relação à legislação anterior trata-se de um significativo recuo, uma vez que era concedida aos municípios, de forma expressa, a faculdade de se associarem a fim de elaborarem planos comuns, quer fossem de urbanização (Decreto-Lei nº 560/71, artº 5) quer fossem directores municipais (Decreto-Lei nº 208/82, artº 2º, nº 2).1

1- Cf. OLIVEIRA, Luís Perestrelo de (1991) - Planos Municipais de Ordenamento do Território, Coimbra, Almedina, p. 17

262 Há, contudo, a salientar que este diploma partia do princípio da separação dos elementos físicos e económico-sociais. Esta separação é justificada tecnicamente pela necessidade de se atenuar a complexidade que envolve a elaboração do PDM tornando-o assim num instrumento mais fácil e de mais rápida elaboração. Na base desta argumentação, está o princípio de que as atribuições e as competências dos municípios, no campo económico, devem apresentar-se com um significado muito reduzido. Ou seja, há uma fundamentação teórica na qual se baseia a separação do espaço dos processos económicos e sociais, em que se admite a possibilidade de identificar, isolar, avaliar e organizar o elemento físico como um aspecto independente ou como uma propriedade de acontecimentos das próprias dinâmicas sócio-produtivas. Todavia, esta teoria que remete os elementos físicos do planeamento. municipal para a possibilidade de serem analisados isoladamente, apresenta-se pouco defensável, pois esses elementos físicos por si só, e sem quaisquer tipo de articulações que são estabelecidos entre os usos económicos e sociais do território e o uso do solo, contribuem para um incorrecto entendimento quer dos circuitos económicos e da própria acumulação do capital, quer da espacialidade da formação dos vários interesses sectoriais, quer ainda das estratégias e relações de forças por parte dos actores. sociais. locais que se tornam nos protagonistas da transformação territorial. Deste modo, o PDM para além de ter como objectivo traduzir as metas programáticas no domínio do Desenvolvimento, e definir as estratégias relativas às várias actividades produtivas existentes ou que venham a existir no território, deverá ser um instrumento que possibilite a participação das populações e que seja produtor de informação: informação de baixo para cima no que se refere à especificidade local da problemática do desenvolvimento e entendida como necessária à elaboração de planos de ordenamento de escala nacional, regional e sub-regional; e informação de «cima para baixo» relativamente à pormenorização da expressão local das medidas apontadas pelos planos atrás referidos.1 Para além dos Planos que visam o desenvolvimento económico e social, há

1 - Cf. NETO, Maria Susana; HENRIQUES, José Manuel (1986) - “Planos Municipais, crise e participação pública”, Cadernos Municipais, nº 35

263 uma diversidade de instrumentos de ordenamento e planeamento. Com base na existência dessa diversidade, assiste-se à repartição de competências entre o Estado e as Autarquias Locais no que se refere à intervenção a realizar ao nível espacial.

O Plano de Urbanização

É o grande responsável pela qualificação do solo urbano; é o responsável pela definição da organização espacial de uma determinada parte do território do município que se encontra integrada no perímetro urbano, podendo, contudo, de acordo com o artº 87 do Decreto-Lei nº 310/03., integrar solo rural complementar que exija uma intervenção integrada por parte do planeamento municipal1. Por outro lado, o Despacho nº 38/05 de 2 de Fevereiro vai, também, impor uma maior exigência e rigor quanto à documentação exigida aquando o início, desenvolvimento e auscultação pública do Plano de Urbanização. Assim, enquanto o nº 2 do artº 89 do Decreto-Lei nº 380/99 de 22 de Setembro aceitava apenas um Relatório fundamentando o conjunto de soluções que foram adoptadas e o Programa de execução das intervenções municipais previstas e respectivos meios de financiamento, o Despacho nº 38/05, no seu nº 2 vem exigir para além do já anteriormente citado, um conjunto de elementos técnicos (Plantas e Relatórios) que para além de elevar qualitativamente o Plano de Urbanização vai dotá-lo de maior transparência junto dos cidadãos através de uma maior explicitação técnica sobre as decisões tomadas nesta matéria. Assim, dizia-se, passa a constituir material que acompanha o Plano de Urbanização os seguintes elementos:

a) Planta de enquadramento, numa escala inferior à do Plano de Urbanização, e onde estejam assinaladas as principais vias de comunicação, as infra- estruturas consideradas relevantes, os grandes equipamentos colectivos e outros elementos que sejam considerados pertinentes; b) Planta que revele a situação da ocupação territorial à data da elaboração do Plano;

1 - Cf. artº 87 do Decreto-Lei 310/03 Diário da República, de 10 de Dezembro p. 8342

264 c) Relatório e/ou Planta onde figurem as licenças ou autorizações das operações urbanísticas emitidas, assim como as informações prévias favoráveis que se encontrem em vigor na área de intervenção do Plano; d) Plantas que identifiquem o traçado das infra-estruturas viárias, do abastecimento de água, saneamento básico, energia eléctrica, recolha de resíduos e outras infra-estruturas que se considerem pertinentes, que existam ou que estejam previstas para a área do Plano; e) Carta da estrutura ecológica do aglomerado ou aglomerados; f) Extractos do Regulamento, Plantas de Ordenamento e dos condicionantes que foram impostos pelos Instrumentos de Gestão Territorial que se encontrem em vigor na referida área de intervenção do Plano de Urbanização; g) Participações que foram recebidas aquando a realização do período de discussão publicado Plano e respectivo relatório de ponderação.1

O Plano de Pormenor

Que define com detalhe o uso de qualquer área delimitada dentro do respectivo território municipal. Serve de base aos projectos de execução das infra- estruturas, das formas arquitectónicas dos edifícios e respectivos espaços exteriores, articulados com o conjunto de prioridades que foram estabelecidas nos programas de execução delineados pelo PDM e pelo Plano de Urbanização. É ainda reconhecido ao Plano de Pormenor a possibilidade de desenvolver e concretizar programas de acção territorial. Mais recentemente, a Portaria nº 138/05 de 2 de Fevereiro, vem impor um maior rigor em termos técnicos. Embora a preocupação do legislador incida no cumprimento do estipulado no Decreto-Lei nº 380/99, na prática assume a forma de evitar incongruências entre os vários Instrumentos de Gestão do Território ao mesmo tempo que as Câmaras Municipais (e os munícipes) passam a deter informação pormenorizada sobre as zonas de intervenção. Para além da exigência dos elementos que acompanham o Plano de Pormenor,

1 - Cf. nº 2 da Portaria nº 38/05 de 2 de Fevereiro , Diário da República, I Série - B, p. 863

265 constantes no nº 2 do artº 92 do Decreto -Lei nº 380/90 de 22 de Setembro, vem exigir um conjunto de elementos técnicos tais como:

a) Planta de enquadramento, que contenha a localização do Plano no contesto do território municipal, indicando explicitamente a área de intervenção e sua articulação quer com as vias de comunicação quer com as restantes infra-estruturas indispensáveis, a estrutura ecológica os grandes equipamentos colectivos e outros elementos considerados pertinentes para a elaboração do Plano; b) Planta que assinale a situação da ocupação territorial à data da elaboração do Plano; c) Relatório ou planta indiciadora das licenças ou autorizações das operações urbanísticas assim como das informações favoráveis em vigor na área do Plano; d) Extractos do regulamento, das plantas de ordenamento ou de zonamento bem como das condicionantes impostas pelos Instrumentos de Gestão Territorial que se encontrem em vigor na área de intervenção do Plano; e) Plantas que contenham elementos técnicos e arquitectónicos, nomeadamente a modelação dos terrenos, cotas mestras, volumetrias, perfis (longitudinais e transversais) dos arruamentos, traçados das infra- estruturas e equipamentos urbanos; f) Participações que foram recebidas aquando a realização do período de discussão publicado Plano e respectivo relatório de ponderação.1

Embora todo este processo esteja consignado através de toda a legislação que tem vindo a ser publicada, o facto é que os Planos de Urbanização e de Pormenor têm sido subalternizados, na sua aprovação e consequente implementação, face ao PDM.

1 - Cf nº 3 da Portaria nº 38/05 de 2 de Fevereiro , Diário da República I-Série- B, p. 863

266

Quadro 20 - Plano de Urbanização e Plano de Pormenor

267

Fonte: DGOTDU

A produção legislativa verificada sobretudo durante a última década procura, assim, colmatar as insuficiências legislativas anteriores, tentando travar os erros urbanísticos cometidos no país, através de um processo de coordenação onde é definido o regime de coordenação dos âmbitos nacional, regional e municipal do sistema de gestão territorial, o regime geral de uso do solo e o regime de elaboração, aprovação, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial. Procuraram- se alterar procedimentos através da melhoria das condições de vida das populações assente no respeito pelos valores culturais, ambientais e paisagísticos1 e proceder à

1 Cf. nº1 alinea a) do artº 6 da Lei n.º 48/98, de 11 de Agosto, Op.cit. p. 3870

268 utilização sustentável do território estabelecendo um conjunto de medidas que articulem as várias vertentes (natural, ecológica, patrimonial e arqueológica, económica, etc.) existentes no território. O quadro legislativo em matéria de Ordenamento do Território mostra-se perfeitamente adequado à gestão territorial. Todavia, pese embora haja PDM em todos os municípios e alguns (poucos) PROT, todos eles produzidos por equipas inter e transdisciplinares, com acompanhamento por parte de comissões intersectoriais diversas, e que sã o sujeitos a inquéritos públicos, sujeitos a aprovação por Assembleias Municipais e/ou Conselho de Ministros, a situação está longe de ser considerada boa. No que se refere aos PROT, é curioso ressaltar que embora a legislação sobre este tipo de planos remonte, como se referiu anteriormente, ao ano de 1988, à data deste trabalho estavam apenas em vigor onze Planos Regionais,1 situação que parece ser bastante reveladora da inércia que o país demonstra em termos de planeamento regional, o que começa a ser cada vez mais incompreensível dada a situação contrastante que se verifica com os restantes países da União Europeia, e cujo atraso era estimado em 2002 por Maria Júlia Lourenço, em cerca de trinta anos.2

1 - Os onze PROTS em vigor em 2005 são: PROTAL (Algarve); PROTALI (Litoral Alentejano); PROZAG (Zonas Envolventes das Barragens de Aguieira, Coiço e Fronhas; PROZED (Zona Envolvente do Douro); PROTO ( Oeste); PROTAM (Alto Minho); PROTAML (Área Metropolitana de Lisboa.); PROTCL (Centro Litoral); PROZEA (Zona Envolvente da Barragem de Alqueva); PROZOM (Zona dos Mármores); PROT-TMAD (Trás-os-Montes e Alto Douro). 2 - Cf. LOURENÇO, Maria Júlia (2003) – Op.cit. p.91

269 Figura 9 - Hierarquia das figuras de Planeamento em Portugal

270 14.3 - AS PRINCIPAIS FIGURAS DE PLANEAMENTO NO MUNICÍPIO DE PALMELA

Os instrumentos de planeamento que abrangem Palmela remontam à década de quarenta, mais precisamente a 1948, com o primeiro Plano de Urbanização da Vila de Palmela. Até à instauração do regime democrático, o planeamento do município de Palmela encontrava-se integrado na região de Lisboa, o que o torna dependente de todos os regulamentos e processos, de Lisboa e do Plano de Desenvolvimento da Região de Lisboa, estabelecido em 1964. Com o advento do regime democrático e sobretudo com o reconhecimento da autonomia do Poder Local, a que se associa toda a produção da legislação sobre planeamento e ordenamento do território, assiste-se a uma política sistemática de concepção e de implementação de Planos de Urbanização no território municipal. Surgem então, no final da década de setenta, os então denominados Planos Gerais de Urbanização (PGU) dos principais aglomerados urbanos do município – Pinhal Novo, Quinta do Anjo/ Cabanas e Palmela, que abrangiam a área urbanizada do município. Com a emergência e expansão do fenómeno de loteamento e construção clandestina, é lançado um plano parcial para as zonas poente e nascente do município e tem início a elaboração de um primeiro estudo tendente à reconversão da construção clandestina (Barra Cheia/Quinta do Anjo), o que em certa medida traduz uma tentativa da Câmara Municipal de Palmela de controlar esse tipo de processos que entretanto se expandiam. A opção tomada pela Câmara Municipal de Palmela em matéria de planeamento urbanístico, foi a de privilegiar os Planos de Urbanização (PU’s), tendo remetido para uma fase posterior a elaboração do Plano Director Municipal. As vantagens desta opção parecem ser óbvias: um melhor e mais aprofundado conhecimento do território municipal, o que poderia ser importante no momento da elaboração do PDM. No entanto e como contrapartida desta opção, surgem as dificuldades de articulação das lógicas parcelares de crescimento territorial no conjunto do espaço

271 municipal. As dificuldades foram parcialmente controladas pelo facto de ter havido uma concentração numa única equipa de planeamento que elaborou grande parte dos PU.1 Em 1977 têm inicio a elaboração de Planos de Urbanização (PU’s), tendo sido concluídos seis PU’s e vários Planos de Pormenor cuja abrangência é o total das áreas mais urbanizadas ou urbanizáveis do território do município. Realiza-se o plano parcial das zonas nascente e poente e o PU de Palmela. Durante a década de oitenta, a Câmara Municipal de Palmela continua com a política de elaboração de PU´s, tendo sido contemplados os aglomerados urbanos de Aires/Volta da Pedra, Brejos do Assa, Águas de Moura e Poceirão. Se nos anos setenta o município recorreu a equipas externas à máquina camarária para elaboração dos PU’s, já os anos oitenta seriam marcados por uma maior intervenção directa por parte dos serviços técnicos da Autarquia. Todavia, nalguns casos, os planos nunca viriam a ser concluídos ou regulamentados. É nesta década que o PGU de Pinhal Novo sofre a sua actualização. O ano de 1985 ficaria marcado pela elaboração dos Estudos Sumários de Planeamento que serviriam de base à proposta de elaboração do Plano Director Municipal de Palmela e “que pretendem caracterizar duma forma genérica o concelho, procurando apontar as suas principais potencialidades, problemas e condicionantes”. 2 Em 1986, preocupada com o aumento dos loteamentos e das construções clandestinas, a Câmara Municipal elabora o estudo das normas provisórias para o Pinhal das Formas e para a Quinta da Marqueza. Em 1988 foi lançado o Programa Preliminar com vista à concretização do PDM. O final da década, sobretudo nos seus três últimos anos, o município sofre a maior pressão urbanística sobre o seu território, o que se traduziu na ocorrência de grandes e profundas transformações ao nível do uso dos solos. Perante esta situação não houve, por parte da Câmara Municipal de Palmela, qualquer tipo de implementação, actualização ou conclusão de qualquer plano

1- Cf. CARIA, Fernando (1993) – Op.cit., p. 368 2 - CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (1985) – Plano Director Municipal - Estudos Sumários de Planeamento, p. 4

272 urbanístico.1 A década de noventa ficará marcada pelo início, em 1990, pela elaboração do primeiro Plano Director Municipal. 2 A sua aprovação pela Assembleia Municipal data de Março de 1996, tendo sido rectificado em Conselho de Ministros em 1997. Este PDM aponta cinco grandes estratégias de desenvolvimento para o município:

“ − Limitar a tendência de abandono da actividade agrícola − Apoiar e enquadrar a instalação de novas actividades industriais − Apoiar e enquadrar a instalação de novas actividades indispensáveis à qualidades de vida das populações − Diversificar e qualificar a oferta de habitação − - Promover o turismo”3

Quanto à primeira estratégia, o Plano procura limitar as tendências de abandono da actividade agrícola recentemente verificadas no seu espaço territorial, o que aliás contraria toda a tendência verificada em Portugal, onde em 1991 os 7,3 % da população activa que se encontrava afecta à Agricultura e Pescas contrastava com os 18,0 % apresentados pelo município de Palmela. As soluções apresentadas no Plano para evitar esse abandono são de duas ordens: uma, considerada negativa – que opta pelo impedimento da desafectação dos solos ou pela deterioração dos solos mais aptos ou dos solos que são considerados necessários à manutenção da viabilidade das explorações agrícolas; a outra, referenciada como positiva, prevê a limitação do abandono através da criação de condições, (dentro do campo de competências e atribuições da Câmara) de intervenção que levem à melhoria das condições de vida dos agricultores, e que passa:

1 - Cf. CARIA, Fernando (1993) – Op.cit., p. 369 2 - O PDM de Palmela teve o seu inquérito público em 1995, tendo sido aprovado pela Assembleia Municipal de Palmela no ano de 1996. 3 - CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA, GPDM, Plano Director Municipal, p. 10

273 • pela melhoria das condições de habitabilidade;

• pelo aumento da qualidade dos serviços e dos equipamentos utilizados pela população agrícola;

• pelo aumento da acessibilidade a esses serviços e equipamentos;

• pela promoção à instalação de actividades associadas;

• pelo apoio e incentivo à formação profissional;

• pela divulgação dos produtos agrícolas regionais.

Estas medidas merecem alguma reflexão na medida em que o PDM discute os problemas da agricultura e dos agricultores deste município, numa visão extremamente localizada e sem uma perspectiva de articulação do lugar que hoje é ocupado pela agricultura portuguesa, com as estratégias e as orientações traçadas para a agricultura europeia determinadas pela reforma da Política Agrícola Comum. O segundo desafio de desenvolvimento assenta no apoio e no enquadramento da instalação de novas actividades industriais. As medidas apontadas procuram articular as indústrias que utilizam recursos locais (mão-de-obra e matérias primas) com a diversificação do tecido industrial, ao mesmo tempo que se vai incentivar a instalação das denominadas actividades associadas/complementares. Também aqui ressalta o facto da inexistência de inovação. Este PDM repete o que muitos outros apontam, sem contudo especificar qualquer tipo de estratégia que torne o território concorrente e inovador do ponto de vista da ocupação industrial. Com a terceira estratégia de desenvolvimento procura-se apoiar e enquadrar a instalação de actividades consideradas como indispensáveis à qualidade de vida das populações, através:

• da promoção da qualidade de vida;

• da diversidade dos serviços e equipamentos;

• da qualidade e diversificação dos estabelecimentos comerciais.

Diversificar e qualificar a oferta de habitação, constitui a quarta estratégia de desenvolvimento. Este desejo de diversificação e de qualificação da oferta aparece

274 matizado:

• na promoção do aparecimento de oferta diversificada e com a qualidade que é exigida pelos vários segmentos da procura;

• e no desejo de proceder a uma correcta articulação com as políticas de equipamentos e de infra-estruturas.

Perante uma crescente procura da chamada habitação de qualidade em municípios da periferia de Lisboa, parece óbvio que o executivo camarário tente enveredar por este processo de atracção e que aliás já se encontra materializado em alguns condóminos fechados – Vila Serrinha, Aldeia do Meio, Golfe do Montado e Palmela Village. No entanto, o crescimento urbano acelerado em determinados núcleos urbanos, em que Pinhal Novo é o exemplo mais acabado, tem levado a uma desadequada rede de equipamentos e de infra-estruturas que, quando não são inexistentes, são insuficientes.1 A quinta e última estratégia de desenvolvimento incide na promoção do turismo, nomeadamente nas suas vertentes de agro-turismo/turismo rural, turismo de negócios e turismo cultural. Esta estratégia parece ser aquela em que é necessária uma maior aposta, uma vez que praticamente tudo se encontra por fazer. As infra-estruturas turísticas praticamente são inexistentes e os equipamentos escasseiam. Pela sua localização e enquadramento paisagístico - integração do município. de Palmela. no Parque Natural da Arrábida e na Reserva Natural do Estuário do Sado - o PDM de Palmela estabelece três Unidades Territoriais de Vocação Turística - a Zona de Influência da Reserva Natural do Estuário do Sado, a Zona de Influência da Barragem da Venda Velha e a Zona apoiada na E.N. 10. Como município em transição de uma estrutura económica baseada na terra, para formas económicas e sociais de índole urbano-industriais, senão mesmo pós-

1- Esta situação de falta, ou de desadequação de equipamentos e de infra-estruturas, foi manifestada, em 1996, durante as sessões do Fórum Pinhalnovense, estrutura informal criada por iniciativa da Câmara Municipal de Palmela, e seu principal orientador, e que congregou os representantes das várias associações e colectividades de Pinhal Novo.

275 industriais, que se vão aproximando das características dos restantes municípios da Península de Setúbal, as opções de desenvolvimento propostas pelo PDM do município de Palmela parecem ter encontrado o meio-termo de aplicação das estratégias de intervenção para municípios de povoamento urbano de tipo disperso e as estratégias usualmente utilizadas nos municípios rurais. Enquanto para os municípios possuidores de zonas de povoamento urbano disperso, os desafios que se deparam ao Planeamento Municipal incidem na criação de emprego, na dotação de equipamentos e infra-estruturas indispensáveis à qualidade de vida da populações e na qualificação do tecido urbano, objectivos que vão determinar que as intervenções autárquicas sejam centradas em orientações estratégicas que levem:

• a reorientar a iniciativa empresarial endógena;

• a viabilizar a continuação dos sistema de exploração agrícola;

• a reordenar o padrão territorial das actividades económicas, assumindo uma política urbanística assente nos processos de ligação dos espaços intermédios, na melhoria da imagem e no reforço do papel urbano nos principais aglomerados.

Nos municípios de povoamento rural, o principal desafio colocado ao Planeamento Municipal situa-se na promoção das condições necessárias à fixação das populações. Este objectivo servirá como orientador para uma estratégia de intervenção autárquica virada para o aproveitamento dos recursos e potencialidades do município, cuja meta reside em articular a criação de emprego com os recursos locais. A autarquia assume um papel de charneira num processo que privilegia:

• a agricultura como um sector estratégico no processo de desenvolvimento local, apostando no aumento do nível de rendimentos que proporciona, e no valor acrescentado local que é aumentado1, surgindo como resultado do

1 - A defesa destes princípios é feita por Carlos Sousa, então Presidente da Câmara de Palmela, em Palmela em Revista, nº 1, p.15

276 prolongamento da produção agrícola a jusante - quer nos processos de selecção e embalagem, quer nos processos de transformação agro- alimentar;

• o emprego industrial, assente nas estruturas produtivas já existentes, ou em actividades que utilizem os recursos produtivos, ou os saberes locais, traduzíveis em indústrias artesanais.1

A um nível de promoção externa do município, as estratégias do Planeamento Municipal incidem na dinamização do turismo, que assume dimensões tão diversificadas como o turismo de habitação, a caça, a animação cultural e recreativa e outras actividades de lazer.2

1 - Ao longo de oito números, Palmela em Revista, apresentou as várias indústrias que se encontram implantadas no território municipal. 2 - Cf. LOPES, Raul Gonçalves (1990) - Op.cit.

277 278 15 - DINAMISMO PRODUTIVO E IMPACTOS TERRITORIAIS NO MUNICÍPIO DE PALMELA

15.1 - DINÂMICAS PRODUTIVAS NA PENÍNSULA DE SETÚBAL

As dinâmicas produtivas existentes na Península de Setúbal têm-se caracterizado por não apresentarem uma uniformidade quanto às suas formas de desenvolvimento. Nos últimos dois séculos e, em especial, no último quartel do século XX tem sido notória a multiplicidade de processos de desenvolvimento - diversos e diferenciados - quer quanto à dimensão temporal quer quanto às suas formas materializadas espacialmente. Essas multiplicidades de processos têm sido as principais responsáveis para que se tenham verificado um conjunto diversificado de mudanças entre as actividades produtivas e as estruturas espaciais. Estes factores, cujas raízes estão assentes em processos históricos diferenciados, traduzem lógicas produtivas, mais ou menos dependentes, dos vários modelos económicos.

15.2 - PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: AS RELAÇÕES CAPITALISTAS QUE EMERGEM

A Regeneração ou o “nome português do capitalismo”1 teve o seu início em 1852 e prolongou-se por quarenta anos. As suas principais características estão associadas à existência de uma paz social e a um progresso material que são, assim, os responsáveis pela forte contribuição que deram à sociedade portuguesa para que esta se libertasse das estruturas tradicionais do ancien régime, integrando-se progressivamente dentro da lógica das relações de produção capitalista que caracterizavam a Europa. No período Regenerador ou Fontismo – nome que também ficou conhecido devido a António Maria Fontes Pereira de Melo chefe do Partido Regenerador –

1 - Cf. CABRAL, Manuel Villaverde (1981a) – O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal no sec. XIX, Lisboa, A Regra do Jogo, p. 162

279 consegue-se realizar a paz social através da reconciliação política das classes possidentes, através de um programa de fomento das forças produtivas e de um conjunto de reformas sociais. Simultaneamente, a iniciativa privada é libertada do dirigismo estatal, que se verificava nos domínios financeiro, agrícola e industrial. Esta situação contribuiu para o aparecimento espontâneo das capacidades de investimento e que marcou a expansão capitalista da economia portuguesa até à crise de 1890. Por outro lado, entra-se num proteccionismo livre-cambista, de feição moderada. Este proteccionismo procura pôr cobro ao monopólio dos produtores de trigo, ao mesmo tempo que se tenta proteger, de forma articulada, a indústria que começa lentamente a emergir. Procurou-se, ainda, limitar a pressão fiscal contra a renda fundiária o que evitou o processo acelerado de proletarização do campesinato das pequenas propriedades agrícolas. Todo este processo está articulado com uma política de construção de estradas (tipo macadame), pontes e vias-férreas, cujo objectivo foi o escoamento da produção agrícola, nomeadamente o gado, os cereais, as frutas e o vinho.

15.3 - A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Perante a conjuntura que marca a segunda metade do século XIX, assistiu-se a um maior consumo interno de produtos agrícolas que é revelador do crescimento populacional da cidade de Lisboa, ao mesmo tempo que a conjuntura internacional se mostra favorável para os mercados agrícolas internacionais. Estas situações levam a duas situações: uma que tem a ver com o mercado externo; e uma outra, relacionada com o mercado interno, nomeadamente no que se refere ao alargamento do espaço económico de Lisboa, tornando-se na responsável por se verificar que “de 1847 a 1890-91, o sector mais dinâmico da economia portuguesa foi a agricultura. Portugal tornou-se uma grande granja para a exportação”.1 Portugal torna-se, deste modo, um dos países fornecedores de

1 - PEREIRA, Miriam Halpern (1974) – Assimetrias de Crescimento e Dependência Externa, Lisboa., Seara Nova, p. 14

280 produtos agrícolas para um Reino Unido industrializado cujas necessidades de abastecimento alimentar para uma população urbanizada se apresentavam cada vez maiores. No ponto de vista do mercado interno, o alargamento do espaço económico da cidade de Lisboa só poderá ser entendido se for interrelacionado com outros centros, de pequena importância dimensional, que “asseguram uma inter-relação espacial, porque pontos de ligação nos circuitos de comércio dos produtos agrícolas com a capital, ou porque, mesmo de nível hierárquico inferior na estrutura urbana, produziram um espaço agrícola próprio com maior ou menor autonomia da capital.”1 Estes centros são, por sua vez, detentores do seu próprio sistema microzonal, embora se integrem em zonas de maior dependência da cidade principal. Estão neste caso todas as manchas hortícolas em torno dos povoados de Palmela, Pinhal Novo e Azeitão e dos centros urbanos dos municípios do norte da Península de Setúbal. Este tipo de desenvolvimento agrícola em torno de Lisboa, que assumiu características de inovação agrícola deve-se a “um avanço poderoso das relações de produção capitalistas numa boa parte do mundo rural (...)”, 2 que se expressou duplamente através duma importante reconversão cultural e por uma especialização produtiva, que avançou através da estrutura da propriedade (sempre que esta o permitisse), ou obrigando-a a adaptar-se às novas condições, cuja tradução resultou num maior número de arrendamentos e prazos mais longos que os anteriormente praticados. Contudo, este movimento centrífugo pode e deve ser entendido como uma consequência de um conjunto de transformações que o País apresentou no período da Regeneração e cujas características foram marcadas pela construção de vias de comunicação e na transformação da estrutura fundiária, cuja consequência directa se verificou num acentuado êxodo rural em direcção às zonas de maior densidade populacional.

1 - GAMA, António; SANTOS, Graça; PIRES, Iva (1981) – “Análise Espacial de uma transformação da agricultura”, Revista Crítica de Ciências Sociais., nº 7/8, p. 543 2 - CABRAL, Manuel Villaverde (1981a) – Op.cit. p. 311

281 15.4 - OS PRIMÓRDIOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO

Uma outra dimensão do desenvolvimento dos finais do século XIX foi o processo de implantação de indústrias modernas em Portugal, com recurso a novas maquinarias e a novas formas de energia, o vapor numa fase inicial e a electricidade posteriormente. Também a Península de Setúbal acompanha esta tendência. Assistiu-se a um surto de industrialização localizado no município do Barreiro, com a instalação da Companhia União Fabril (CUF), 1 em 1907, e no município de Setúbal com a expansão das indústrias conserveiras de peixe que se começaram a fixar na cidade nos finais do século XIX.. O investimento nacional e estrangeiro, que acompanha estes processos de industrialização é, ele também, diferente e diversificado. Enquanto na CUF o investimento é nacional, as indústrias conserveiras de peixe recebem investimentos de capitais franceses. Por seu turno, os capitais ingleses vão para os lanifícios e os vidros e a química obtém investimentos provenientes da Alemanha.2 A ocupação da Península pode assim, ser definida pela presença de duas bolsas industriais. Uma, localizada a norte da Península, que compreende os municípios ribeirinhos - Almada, Barreiro, Moita, Montijo e Seixal - que por sua vez revelam uma complexidade e uma diversidade quanto ao fenómeno industrial, assumindo, simultaneamente, aspectos bastante diferenciados no espaço; 3 e uma outra, a sul da Península, formada pelo município de Setúbal. As indústrias ao estabelecerem-se nestas bolsas fá-lo-ão por razões logísticas – o acesso marítimo que possibilita o fornecimento de matérias-primas – e, em especial, pela localização junto aos grandes mercados - Lisboa e o Alentejo. Embora haja uma nítida diferenciação histórica, territorial e de natureza diferente do capital, as duas bolsas industriais viriam a apresentar impactos

1 - A Companhia União Fabril resultou da fusão entre a Aliança Fabril, Lda., cujo proprietário era Alfredo da Silva e a União Fabril, propriedade de Henry Burnay. A necessidade da fusão resultou da situação económica precária que as empresas viviam à época. 2 - Cf. CARIA, Fernando (1993) - Op.cit. p. 145 3 - Cf. CRUZ, Maria Alfreda (1973) – A Margem Sul do Estuário do Tejo - Factores e formas de organização do espaço., s/l, s/ed., p. 113

282 demográficos e espaciais bastante semelhantes.1

15.5 - AS ÁUREAS DÉCADAS DO PÓLO INDUSTRIAL DE SETÚBAL : A DÉCADA DE SESSENTA E O INICIO DE SETENTA

As características de região industrial só serão dadas pelas indústrias que, em meados do século XX, se instalaram na Península. Até aí, o processo de industrialização tinha abrandado significativamente após os finais do século XIX. “É, talvez, este início precoce de industrialização que tornou a Península de Setúbal uma região que irá ser conscientemente assumida como região industrial a desenvolver.”2 Na década de sessenta do século XX, o País vê-se obrigado a adoptar uma nova definição do seu modelo de desenvolvimento. A contribuir para tal facto, estiveram a conjuntura interna, (início da guerra nas Colónias Africanas, a adesão à EFTA, e o surto intenso de emigração para o estrangeiro) e a conjuntura externa (que para além do boom económico apresentava uma crescente internacionalização dos mercados). É nesta conjuntura, a que se junta todo um conjunto de estrangulamentos económicos, políticos e sociais, que surge o III Plano de Fomento (cuja vigência decorreria entre os anos de 1968 e 1973), e cuja opção de desenvolvimento incide sobre um modelo assente nas estratégias industriais. Esta posição não foi, contudo, pacífica. A confrontação, dentro do próprio regime, viria a envolver a burguesia comercial e agrária com interesses nas Províncias. Ultramarinas, e cuja posição era a de manter um mercado único português, assente nas relações entre a Metrópole e as Colónias, e a burguesia industrial que emergia e cujo desejo era a integração de Portugal na Europa.3 Após o estudo e clarificação dos tipos de pólos industriais a criar, o III Plano de Fomento vai definir a Península de Setúbal como região de crescimento industrial, integrada na região de Lisboa,4 sendo concebida a cidade de Setúbal como um centro

1 - Cf. CARIA, Fernando (1993) – Op.cit. p .146 2 - idem, p. 148 3 - Cf. GUERRA, Isabel Pimentel (1991) – Op.cit., p. 82 4 - Cf. CARIA, Fernando (1993) – Op. cit, p. 149

283 urbano-industrial, ou sub-pólo, detentor de uma certa individualidade. O que se valorizava na localização deste pólo, eram três ordens de factores:

• a existência de infra-estruturas materializadas nas redes de comunicação - marítimas, ferroviárias e rodoviárias, assim como as suas potencialidades;

• uma mão-de-obra disponível e com relativa experiência industrial;

• a proximidade à cidade de Lisboa.

Com estas características definidas, avançou-se para um esforço de industrialização, baseado na teoria dos pólos de crescimento desenvolvida nos anos cinquenta por François Perroux.1 Até aos anos sessenta a Península de Setúbal apresentou um crescimento industrial baseado nas indústrias tradicionais – as corticeiras instaladas nos municípios de Montijo, Moita e Seixal, as indústrias de carnes, no município de Montijo, a reparação naval no porto do Alfeite, no município de Almada e as indústrias químicas e têxteis no município do Barreiro. Todavia, a década de sessenta viria a ser a grande responsável por uma significativa alteração ao nível da estrutura produtiva da Península, passando-se para uma indústria mais moderna – a indústria pesada – baseada na construção e reparação naval, montagem de automóveis, que coexistem com as indústrias tradicionais que foram dominantes até a essa década.2 Aspectos conjunturais como o encerramento do Canal de Suez, permitiria uma situação de expansão para a indústria naval portuguesa, mercê a posição estratégica do país. Por outro lado o aproveitamento integrado das pirites alentejanas, associado à articulação entre o porto de Sines e a Siderurgia Nacional proporcionariam a criação de um mercado para os bens de equipamento. É neste quadro que nasce a especialização industrial da Península de Setúbal. A especialização regional da Península, segundo o PIB de 1970, 3 destaca:

• uma especialização rural - os municípios de Palmela, Sesimbra, Montijo,

1 - Cf. PERROUX, François (1955) - “La notion de pôle de croissance”, Economie Appliquée, nº 1-2 2 - Cf. GUERRA, Isabel Pimentel (1991) – Op.cit. p. 151 3 - Cf. CARIA, Fernando (1993) – Op.cit., p. 154

284 Moita e Alcochete (apresentados por ordem decrescente de ruralidade);

• uma especialização na indústria transformadora - os municípios do Seixal, Barreiro e Setúbal (apresentados por ordem de importância da actividade industrial);

• uma especialização terciária - os municípios de Setúbal e Almada

Quadro 21 – Península de Setúbal e Continente População Activa por Sectores de Actividade (1960-2001)

Península de Setúbal Continente Sectores de Actividade 1960 1970 1981 1991 2001 1960 1970 1981 1991 2001 1 Agricultura e Pecuária 23.7 13.9 6.4 4.0 2,2 43.5 32.1 18.9 10,8 5,0 2 Ind. Extractivas 0.5 0.2 0.2 0.1 0,2 0.8 0.4 0.5 0,4 0,4 3 Ind. Transformadora 36.1 34.3 34.3 23.5 16,2 20.9 24.4 26.8 26,1 21,7 4 Elect. Gás Água 0.6 0.7 1.1 0.9 1,0 0.4 0.6 0.7 0,7 0,7 5 Construção 8.9 10.2 10.0 9.5 11,2 6.9 8.5 11.3 10,7 12,3 6 Comércio 8.9 12.8 14.5 21.6 22,7 7.5 11.2 13.3 19,4 22,0 7 Transp. e Comunicações 7.2 8.2 7.8 7.0 6,2 3.7 4.8 4.9 4,6 4,5 8 Bancos e Seguros 1.3 2.5 3.2 2.9 2,8 0.5 1.9 2.7 2,1 2,1 9 Serviços 12.8 17.2 22.3 30.5 37,4 15.6 16.1 20.9 25,2 31,3

Fonte: INE, X,XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População

Este processo de expansão produtiva é acompanhado por um movimento de fixação de populações das zonas rurais do país, com espacial destaque para o Alentejo, que se distribuem pelos variados sectores de actividade económica.

15.6 - ENTRE CRISES E RECONVERSÕES

Os anos setenta são marcados por uma crise que abala a economia mundial. O que inicialmente era visto como uma mera crise conjuntural, transforma-se num processo global, mais complexo do que fora inicialmente previsto, mostrando definitivamente os laços de internacionalização das economias. Ora, a especialização produtiva da Península ao assentar nas indústrias fortemente internacionalizadas, vai contribuir para a vulnerabilidade do seu tecido produtivo face à crise económica mundial que marcou a primeira metade dos anos

285 setenta. Por outro lado, a forte dependência face às matérias-primas e à energia, viria a limitar a sua inserção no mercado nacional e com a atrofia económica que se verificou noutros sectores produtivos, contribuíram para que se verificasse uma dependência acentuada das actividades produtivas dominantes, provocando uma profunda crise social e económica na região, cujo início tem lugar na segunda metade da década de setenta e se estende até ao princípio da década de oitenta. A crise dos anos oitenta tem sido caracterizada por um acentuado processo de deteorização das capacidades produtivas, cuja repercussão se fez sentir ao nível do emprego, que reduz em termos absolutos e em qualidade, e do número de estabelecimentos, que diminuem. O início da década de noventa, vem contrariar esta tendência de encerramentos e despedimentos através do projecto Autoeuropa, que congrega não só um parque industrial onde se sediam um conjunto de empresas suas fornecedoras, como proporcionou o aparecimento de um conjunto de empresas que formam hoje uma fileira da industria automóvel. Pode-se, assim, sintetizar quatro períodos distintos que caracterizaram os efeitos das crises e reconversões na Península de Setúbal:

1º Período - (1976-1978) - Neste período verifica-se uma tendência para a desvalorização salarial. O número de contratos de trabalho diminui, atingindo, sobretudo, os jovens no acesso ao 1º emprego. Há uma tendência, progressiva, para o aumento dos contratos a prazo;

2 º Período - (1978-1981) - Começa a ser nítida a subutilização da capacidade produtiva das empresas; as condições de subemprego aumentam significativamente. As empresas apresentam um aumento quanto ao endividamento à Banca. As dívidas alargam-se aos fornecedores, à Segurança Social e aos próprios trabalhadores que ficam com os seus salários em atraso;

3º Período - (1981-1985) - A situação na Península entra em derrapagem. Este processo traduziu-se no aumento do desemprego, na falência e encerramento de

286 empresas, na redução de efectivos e no aumento do trabalho clandestino - caracterizado pelo aumento de empresas clandestinas, pela subcontratação de trabalhadores despedidos pelas empresas que agora os admitem em condições precárias, pelos salários em atraso e pelo aumento das chamadas actividades informais, traduzidas pela venda ambulante e pelos serviços domésticos. O desemprego agrava-se comparativamente com o que se passa no País. Depois de 1985, o próprio Governo toma a iniciativa de mandar executar estudos tendentes à reconversão do tecido produtivo da Península, dando origem à Operação Integrada de Desenvolvimento da Península de Setúbal. (OID/PS) cujo período de intervenção decorreu entre 1989 e 1993, tendo sido apoiada e financiada pela Comunidade Europeia. A reconversão dos sectores produtivos da Península começa a mostrar sintomas de recuperação a partir dos incentivos criados pela OID/PS, observando-se um aumento, quer em número de empresas quer em número de empregados.

A intervenção da OID/PS decorre num momento em que o tecido produtivo começa a mostrar tendências para a recuperação, e que tem a ver quer com a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, quer, como noutros casos, através do aproveitamento dos fundos estruturais comunitários.

Quadro 22 - Península de Setúbal População Activa Desempregada, por tipo de Desemprego (1981-20001)

Municípios Nº Total de desempregados Á procura do 1º Emprego À procura de um novo emprego Taxa de Desemprego

1981 % 2001 % 1981 % 2001 % 1981 % 2001 % 1981 1991 2001 Alcochete 462 2,3 481 1,5 255 55,2 92 19,1 207 44,8 389 80,9 10,1 10,3 7,3 Almada 4699 23,6 6874 21,0 2211 47,0 1531 22,3 2488 53,0 5343 77,7 7,8 9 8,4 Barreiro 2673 13,4 3753 11,5 1217 45,5 864 23,0 1456 54,5 2889 77,0 8,1 11,7 9,5 Moita 2200 11,1 3649 11,1 1108 50,3 749 20,5 1092 49,7 2900 79,5 11,2 8,7 10,7 Montijo 1358 6,8 1666 5,1 555 40,8 294 17,6 803 59,2 1372 82,4 8,6 11,9 8,6 Palmela 1039 5,2 2141 6,5 651 62,6 354 16,5 388 37,4 1787 83,5 6,7 9,1 7,9 Seixal 3296 16,6 6924 21,1 1281 38,9 1426 20,6 2014 61,1 5498 79,4 9,2 9,4 8,5 Sesimbra 720 3,6 1551 4,7 447 62,1 349 22,5 273 37,9 1202 77,5 8,3 6,9 8,3 Setúbal 3462 17,4 5705 17,4 1495 43,2 1116 19,6 1967 56,8 4589 80,4 8,6 12,2 9,8 Península 19909 100,0 32744 100,0 9221 46,3 6775 20,7 10688 53,7 25969 79,3 8,5 10,3 8,9

Fonte: INE, XII e XIV Recenseamento Geral da População, 1981, 2001

287

4º Período – (depois de 1993) – O retomar do fôlego da Península de Setúbal é feito em torno da Autoeuropa,1 e da fileira da industria automóvel que emerge, associada às suas necessidades de produção. Este projecto, que assumiu contornos nacionais e comunitários, desenvolveu-se no Parque Autoeuropa e nos eixos Palmela- Setúbal e Palmela-Pinhal Novo. Esta fileira automóvel, para além de se mostrar uma organização em cadeia, viria a desembocar num processo de integração vertical 2onde coexistem empresas de produção e montagem automóvel, fornecedores de componentes, empresais subcontratadas de logística, distribuidores e vendedores de veículos automóveis. A Autoeuropa tornou-se, desta forma, a responsável por esta dinâmica de desenvolvimento que se traduziu na criação de postos de trabalho, perfeitamente inimagináveis sem este projecto.3 Em contraste com esta situação de expansão, em 1998 a SODIA (ex-Renault, de Setúbal), terminado o contrato firmado entre a Renault Francesa e o Estado português, para a montagem de automóveis, fecha as suas portas lançando para o desemprego cerca de 600 empregados.

1 - O projecto Autoeuropa resultou de um empreendimento conjunto entre os norte-americanos da Ford e os alemães da Volkswagen. A primeira pedra da fábrica de Palmela. foi lançada em Dezembro de 1991, a sua inauguração oficial deu-se em Abril de 1995 e os primeiros veículos – , Volkswagen Sharon e Seat Alhambra – foram introduzidos no mercado no 1º semestre de 1995. Em Janeiro de 1999 a Volkwagen passou a assumir, na totalidade, o controlo de todo o projecto, pese embora continue a existir o acordo com a Ford para a produção do monovolume Galaxy. 2 - Cf. LIMA, Marinús Pires de et al (1996) – “Organização da indústria automóvel na península de Setúbal” in Novas Dinâmicas Socioeconómicas, comunicações apresentadas no VI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Profissionais em Sociologia Industrial, das Organizações e do Trabalho, Lisboa., p. 90 3 - Cf. CORREIA, António Damasceno (2000) – “A Autoeuropa: um modelo de produção pós- fordista”, Análise Social, vol. XXXV (156) p. 742

288

Quadro 23 - Evolução do Emprego e do Número de Estabelecimentos(1982-2000)

Municípios Anos Empregados Ind Estabelecimentos Ind 82=100 82=100

Alcochete 82 2223 100 73 100 85 2248 101 79 108 91 2001 90 132 181 99 1780 80 233 319 00 2560 115 311 426 Almada 82 25661 100 1466 100 85 24264 95 1837 125 91 26042 101 2653 181 99 30010 117 3989 272 00 28837 112 4093 279 Barreiro 82 17670 100 700 100 85 15474 88 776 111 91 13178 75 1098 157 99 14088 80 1900 271 00 14592 83 2044 292 Moita 82 3963 100 309 100 85 3875 98 343 111 91 6327 160 618 200 99 7131 180 1112 360 00 6795 171 1257 407 Montijo 82 7900 100 533 100 85 7440 94 603 113 91 9057 115 866 162 99 9021 114 1265 237 00 9435 119 1358 255 Palmela 82 4399 100 227 100 85 4834 110 262 115 91 7143 162 523 230 99 18048 410 1076 474 00 18372 418 1314 579 Seixal 82 17398 100 582 100 85 16919 97 772 133 91 17999 103 1452 249 99 22430 129 2852 490 00 22820 131 3086 530 Sesimbra 82 2317 100 217 100 85 2560 110 294 135 91 3492 151 509 235 99 5440 235 870 401 00 5797 250 982 453 Setúbal 82 34465 100 1403 100 85 28579 83 1498 107 91 28213 82 2084 149 99 25320 73 2883 205 00 28331 82 3239 231 Península 82 115996 100 5510 100 85 106193 92 6464 117 91 113452 98 9927 180 99 133268 115 16180 294 00 137539 119 17684 321 Continente 82 1850867 100 106130 100 85 1813334 98 116847 110 91 2131156 115 164679 155 99 2579455 139 284340 268 00 2698750 146 311235 293

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

289 290 16 - PALMELA - DINAMISMOS SÓCIO-ESPACIAIS ALTERAÇÕES DOS FACTORES DE LOCALIZAÇÃO: DA ENDOGENEIDADE À EXOGENEIDADE

16.1 -À CABEÇA DE SANTIAGO E ESPADA

A presença do Homem na região que hoje é ocupada pelo município de Palmela remonta ao Neolítico superior, onde a sua presença é bastante notada, sobretudo durante a cultura do campaniforme, e cujo testemunho nos foi deixado sob a forma do mundialmente conhecido Vaso de Palmela. Ocupada por celtas, romanos e árabes, todos encontraram neste território um lugar estratégico para se fixarem. D. Afonso Henriques conquistou-a em 1147, outorgando-lhe foral em 1185. Mas, o período áureo de Palmela pode ser localizado nos primeiros anos da Nacionalidade, quando Palmela era a chave do território entre o Sado e o Tejo. Esta importância estratégica deve-se a aspectos conjunturais de natureza politico-religiosas relacionadas com o processo de conquista e consolidação do Estado português, e do qual a Ordem de Santiago e Espada, (que recebeu Palmela como doação de D. Afonso Henriques por volta de 1172), 1 não pode ser separado. A Ordem de Santiago marca a sua presença na sociedade portuguesa por ser senhora de um vastíssimo território que ia do antigo município de Riba Tejo (que engloba os actuais municípios do Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete) até Mértola, no Baixo Alentejo. O poder administrativo da Ordem passa a estar centrado em Palmela “já em tempos do Infante D. João, filho de D. João I”.2 A importância desta escolha não se prendeu apenas com a proximidade de Palmela face a Lisboa, onde a congregação detinha o convento de Santos, entre outros, mas também pelos factos de Palmela ser a maior Comenda da Ordem e às características do seu castelo,3 de grandes dimensões

1 - Cf. FONSECA, Luís Adão da (1990) - “ Introdução sobre a História da Ordem de Santiago” in Câmara Municipal de Palmela - O Castelo e a Ordem de Santiago na História de Palmela, CMP (Catálogo da Exposição), p. 51 2 - idem 3 - Cf. SILVA, José Custódio Vieira da (1988) - “A Igreja de Santiago de Espada de Palmela” in História de Palmela ou Palmela na História, Palmela, Câmara Municipal de Palmela, p.153

291 com capacidade de albergar o conjunto monumental da Ordem – o Convento e a Igreja. Afastados os perigos das invasões – árabe, inicialmente e castelhana, numa fase posterior – a Ordem de Santiago começa a perder a importância e o poder que detinha. Com ela, Palmela deixa também de possuir o papel de guardiã avançada, papel desempenhado anteriormente pelas antigas sedes da Ordem – Mértola e Alcácer do Sal. Após a extinção das Ordens Militares e Religiosas, Palmela já não possuía qualquer tipo de importância, nem estratégica, nem económica, nem política, a tal ponto que a Reforma Administrativa de Mouzinho da Silveira, em 1855, extingue o seu município integrando-o no de Setúbal onde permanecerá até 1926. Aproveitando o movimento militar decorrente do 28 de Maio, as elites locais pressionam a Junta militar a aceder à restauração do município de Palmela, facto que é consumado em Novembro desse mesmo ano.1

16.2 - O AUTOCENTRAMENTO AGRÍCOLA: ARROTEAMENTOS E COLONIZAÇÃO

A segunda metade do século XIX mostrou-se extremamente importante para a região que é hoje partilhada pelo município de Palmela. A implantação do caminho- de-ferro veio proporcionar um surto agrícola, traduzido numa modificação do modo de uso do solo, quer nas culturas, quer nas estruturas sociais e nas formas das explorações agrícolas. Os chamados terrenos improdutivos são conquistados para o cultivo, situação que resultará num processo de valorização e investimento nas grandes propriedades por parte do capitalismo agrário. “ A conjugação destes dois factores - penetração do capitalismo nos campos e abertura da linha de caminho de ferro (linha do sul) em 1861 - viriam a proporcionar todo um desenvolvimento agrícola na região de Setúbal, em geral, e no

1 - A data da restauração do concelho de Palmela difere segundo as opiniões. Para uns é o dia 1 de Novembro, para outros o dia 8 desse mesmo mês. Decorrente deste movimento independentista foi criado, como contrapartida, o Distrito de Setúbal no dia 22 de Dezembro de 1926.

292 concelho de Palmela, em particular”.1 Este desenvolvimento agrícola, verificado no município de Palmela, teve a sua maior incidência no eixo Pinhal Novo/ Poceirão,2 e em particular na Herdade de Rio Frio. A presença do caminho de ferro - que assegurava o transporte de pessoas e de produtos agrícolas - associado à presença de solos arenosos propícios para a cultura da vinha, tornaram-se nos factores que estão, por detrás do incremento agrícola daquela região. Sob a responsabilidade do grande agricultor e capitalista José Maria dos Santos inicia-se o grande processo de arroteamento desta região. Transforma-se, assim, “cerca de 2400 ha de «solo arento e árido onde magra charneca apascenta mal ordinário armentio», numa extensa vinha (a maior do mundo, segundo então se dizia, com o que lucrou, tanto ele quanto a economia da nação.”3 Há uma nítida substituição da antiga improdutividade, que era originada pelo afastamento, por uma produtividade bastante assinalável. Mas, a mão-de-obra apresentava-se escassa para a efectivação de tal projecto, de modo que José Maria dos Santos recorre à força de trabalho proveniente do litoral beirão e da região do baixo Mondego - os caramelos. Como afirma Orlando Ribeiro, “As exigências de mão-de-obra nos trabalhos que trazem à roda da cepa durante dois terços do ano, confinam a cultura a áreas assaz povoadas e reduzem-na muito nas regiões de granjeio extensivo de cereais.” 4 O povoamento efectuado poderá ser entendido como um produto da própria transformação das formas de exploração das grandes propriedades, e isto porque, devido ao seu carácter extensivo, necessitava-se de um número cada vez maior de trabalhadores sazonais, pois “nem os hortelãos dos arredores de Setúbal nem os camponeses de Palmela bastavam para as necessidades dos grandes arroteamentos que se queria empreender.”5

1 - MARQUES, António Pedro Sousa (1988) – “ Transformações Sócio-Espaciais Observadas nos Últimos anos no Concelho de Palmela”, in História de Palmela ou Palmela na História, Palmela, Câmara Municipal de Palmela, p. 64 2 - idem 3 - MARTINS, Conceição Andrade (1992) – “ Opções Económicas e Influência Política de uma Família Burguesa Oitocentista: o caso de São Romão e José Maria dos Santos”, Análise Social, vol. XXVII, (116-117), p. 386 4 - RIBEIRO, Orlando (1986) – Portugal – o Mediterrâneo e o Atlântico, Lisboa., Livraria Sá da Costa, (4ª edição), p. 72 5 - CABRAL, Manuel Villaverde (1981a) – Op.cit. p. 221

293 De forma a influenciar a mão-de-obra sazonal a fixar-se na zona, os grandes proprietários destinaram uma parcela das suas herdades ao emparcelamento.1 E foi através deste processo que José Maria dos Santos “Fixou cerca de 400 casais de «caramelos beirões semi-nómadas» numa área de 2000 ha de paul, que arroteou, dividiu em glebas de 4 ha a 6 ha e cedeu aos colonos mediante contratos de arrendamento a longo prazo (em vida) no valor de 1$000 por hectare. Para que os colonos se pudessem estabelecer emprestava-lhes, com juros (5%), o capital necessário para construírem a casa de habitação e adquirirem alfaias e sementes. Deste modo, sem grande investimento, conseguiu assegurar mão-de-obra certa, barata e em número suficiente para os grandes trabalhos agrícolas de certas épocas do ano.”2 A fixação destas populações foi feita, sobretudo, em casais isolados e dispersos pelas courelas dadas por renda, pois só assim se conseguia ganhar os terrenos incultos, ou através da criação de novos aglomerados dispersos, como o Lau ou Lagameças cuja lógica funcional é idêntica ao primeiro caso, ou ainda nos aglomerados já existentes, como Pinhal Novo, com a sua estação de caminho de ferro, pequeno comércio e armazéns e que viria a tornar-se na capital da caramelândia. Este estilo de habitat que caracteriza o tipo de colonização individual dos terrenos incultos, é depois desenvolvido dando origem a pequenos centros, mas conservando a sua forma dispersa, tal como ainda hoje é possível verificar. Cultivada sob o regime de monocultura, a vinha era predominante nas grandes propriedades, em que a Herdade de Rio Frio se apresenta como paradigma, o que a torna a cultura de primazia na região hoje ocupada pelo município de Palmela. A extensão da vinha viria a duplicar entre a última década do século XIX e a primeira década do nosso século.3 Entra-se na euforia do vinho. Os pequenos camponeses vendem as suas uvas aos grandes proprietários, “que instalaram caves e reservaram para eles a exploração directa de uma parte dos seus vinhedos.”4 José Maria dos Santos, que possuía uma visão articulada do processo de

1 - Cf. CACHADO, Manuel (1988) – “Os Caramelos - Contributo para um estudo” in História de Palmela ou Palmela na História, Palmela, Câmara Municipal de Palmela, p. 216 2 - CABRAL, Manuel Villaverde (1981a) – Op.cit. pp. 386-387 3 - GAMA, António; SANTOS, Graça; PIRES, Iva (1981) – Op.cit. p. 552 4 - CABRAL, Manuel Villaverde (1981a) – Op.cit., p. 222

294 produção e comercialização dos produtos agrícolas, viria a criar a primeira empresa de venda por grosso e a retalho de vinhos em Lisboa.1 Passada a euforia na exportação de vinhos, a vinha começa o seu processo de regressão, essencialmente nas grandes propriedades. Também associada ao fenómeno regressivo está a invasão de filoxera que destruiu grandes áreas de vinha, entre as quais a maior vinha do mundo de Rio Frio/Poceirão que se tornou, em parte, numa cultura de pinhal e montado de sobreiro.2 Por volta dos anos quarenta, a agricultura desta região encontra-se relativamente estagnada. 3 Contudo ainda se assiste à expansão da vinha, sobretudo “pela parte interior sul do caminho-de-ferro e estendendo-se para nascente na área correspondente às explorações de menores dimensões e periféricas às grandes propriedades.”4 O processo de extensão da vinha é acompanhado por um povoamento disperso por um sem número de casais, e por uma densificação da população. A taxa de crescimento populacional começa a diminuir, tendendo para a estagnação (entre 1940/50 apresenta um valor de 1,1 % ao ano e na década seguinte, o crescimento anual de 0,3 %).5

16.3 - A SITUAÇÃO ACTUAL: OS DESAFIOS EUROPEUS E AS RESPOSTAS DA AGRICULTURA LOCAL

Na mudança para o novo milénio o sector agrícola, assim como os restantes sectores da economia, não tem sido imune ao ritmo acelerado quer das mudanças, quer dos processos de globalização, quer ainda dos próprios processo que têm vindo a ditar as regras que determinam a base do seu funcionamento e a sua alteração, em que a Política Agrícola Comum da União Europeia e os acordos do GATT e da Organização Mundial do Comércio têm vindo permanentemente a introduzir.

1 - Cf. RIBEIRO, Orlando; LISBOA, José Ribeiro (1951) – “Les transformatios de l’habitat et des cultures dans la contrée de Pinhal Novo” in C.R.du Congrès International de Géographie (1949), Lisboa., 1951, III, pp. 329-334 2 - idem 3 - idem, p. 553 4 - GAMA, António; SANTOS, Graça; PIRES, Iva (1981) – Op.cit., p. 553 5 - Cf. MARQUES, António Pedro Sousa (1988) – Op.cit. p. 65

295 A complexificar toda esta situação vivida presentemente pelo sector agrícola, há a juntar todo um conjunto de processos de introdução permanente de inovações tecnológicas e de aspirações e anseios produzidos pela sociedade e que são responsáveis pela emergência de novas funções, de novas condicionantes e de novas preocupações ambientais, com a qualidade de vida das populações e com a segurança dos bens alimentares. Neste quadro, o sector agrícola existente no município de Palmela tem mostrado um conjunto de alterações que se têm pautado pela diminuição da população activa ligada à agricultura, pelo baixo nível de escolaridade e pelo seu envelhecimento. Até hoje, verifica-se que a agricultura ainda detém um peso bastante significativo na economia do município. Embora haja a considerar a tradição agrícola e a revitalização recente que a agricultura recebeu, o facto é que a mesma apresenta, segundo o Recenseamento Geral Agrícola (RGA) realizado em 1989, um baixo nível tecnológico, ao mesmo tempo que a prática agrícola é feita em complementaridade com outras actividades não agrícolas. A complementaridade, que é realizada através da pluriactividade, permite compensar os baixos salários praticados na indústria, possibilitando ainda a manutenção de bolsas rurais de mão-de-obra potencialmente mobilizadas para outros ramos de actividade económica. Em 1989, segundo o RGA, a estrutura agrícola do município podia ser resumida aos seguintes aspectos:

• a exploração familiar era predominante;

• a pequena e a grande propriedade coexistiam, embora houvesse a predominância da primeira;

• a mecanização da exploração agrícola era fraca, embora houvesse um significativo aumento entre 1979 e 1989 ( período inter-censitário);

• a pluriactividade na ocupação e no respectivo rendimento dos activos agrícolas detêm uma enorme importância.

Do total de Superfície Agrícola Utilizada (SAU) existente, em 1999, na

296 Península de Setúbal, 41,5 % localizavam-se no município de Palmela, o que revela o peso que o sector agrícola ainda apresenta na sua economia. local.. Há ainda a salientar que em termos de número de explorações existentes na Península, 46,4% se encontravam localizadas no município de Palmela.

Quadro 24 – Península de Setúbal Superfície Agrícola Utilizada, nº de Explorações e sua dimensão – 1999

Superfície agrícola SAU por Municípios utilizada (SAU) Explorações Explorações exploração ha % nº % ha % ha/exploração Alcochete 3675 6,6 293 4,9 4233 5,5 12,54 Almada 538 1,0 174 2,9 617 0,8 3,09 Barreiro 241 0,4 107 1,8 279 0,4 2,25 Moita 1933 3,4 360 6,1 2130 2,8 5,37 Montijo 16604 29,6 1208 20,4 21197 27,7 13,75 PALMELA 23303 41,5 2755 46,4 29746 38,9 8,46 Seixal 999 1,8 104 1,8 1163 1,5 9,61 Sesimbra 2604 4,6 383 6,5 9266 12,1 6,8 Setúbal 6209 11,1 552 9,3 7830 10,2 11,25 Península 56106 100,0 5936 100,0 76461 100,0 9,45 Fonte: INE, Recenseamento Geral Agrícola, 199

Quadro 25 – Município de Palmela Superfície Agrícola Utilizada, por Freguesia – 1999

SAU Freguesias ha % por exploração

Marateca 5730 24,6 16,85

Palmela 4097 17,6 5,8

Pinhal Novo 5660 24,3 8,26

Poceirão 6145 26,4 8,36

Quinta do Anjo 1671 7,2 5,78

PALMELA 23303 100,0 8,46

Fonte: INE, Recenseamento Geral Agrícola, 1999

Todavia, na relação hectares por exploração, Palmela detêm, em média, 8,46

297 ha, contra os 13,75 ha de Montijo, dos 12,54 ha de Alcochete e dos 11,25 ha de Setúbal, o que revela uma estrutura agrária com explorações possuidoras de áreas agrícolas pequenas. Por outro lado, as Freguesias de Marateca, Poceirão e Pinhal Novo, apresentam maiores Superfícies Agrícolas Utilizadas, que em grande parte são reveladoras da transição da estrutura agrária típica da Península de Setúbal e o Alentejo e que fica ilustrada através da presença de grandes extensões de terreno agrícola integradas em Herdades.

Quadro 26 – Península de Setúbal Superfície Agrícola Utilizada e suas formas de utilização – 1999

Superfície Superfície Superfície Superfície agrícola agrícola agrícola Superfície agrícola Outras Municípios utilizada (SAU) - utilizada (SAU) utilizada (SAU) agrícola não utilizada superficies Por conta própria - - Outras utilizada (SAU) Arrendamento formas

ha ha % ha % ha % Ha % ha % Alcochete 3675 3481 94,7 141 3,8 52 1,4 51 1,4 214 5,8 Almada 538 247 45,9 206 38,3 85 15,8 7 1,3 20 3,7 Barreiro 241 215 89,2 9 3,7 17 7,1 11 4,6 17 7,1 Moita 1933 1432 74,1 440 22,8 60 3,1 53 2,7 121 6,3 Montijo 16604 13478 81,2 2833 17,1 293 1,8 304 1,8 566 3,4 Palmela 23303 19325 82,9 3198 13,7 781 3,4 1440 6,2 836 3,6 Seixal 999 260 26,0 141 14,1 598 59,9 13 1,3 39 3,9 Sesimbra 2604 1988 76,3 281 10,8 336 12,9 67 2,6 427 16,4 Setúbal 6209 4643 74,8 881 14,2 685 11,0 106 1,7 237 3,8 Península 56106 45068 80,3 8129 14,5 2908 5,2 2052 3,7 2477 4,4

Fonte: INE, Recenseamento Geral Agrícola, 1999

Quanto à forma como é realizada, a agricultura na Península de Setúbal é feita, maioritariamente por conta própria. Esta situação é decorrente, por um lado, do processo histórico que marcou os finais do século XIX e os princípios do século XX e que se relacionam com as formas de exploração camponesa provenientes da desagregação do ancien régime e pelos processos de colonização dos espaços rurais desenvolvidos, entre outros, por José Maria dos Santos. A agricultura da Península de Setúbal encontra-se, ela também, na encruzilhada entre as formas tradicionais – estrutura da sua gestão e produção – e as

298 formas dinâmicas e modernas que são impostas pela União Europeia.

Quadro 27 – Península de Setúbal População Activa Agrícola por Municípios - 1999

Municípios População Agrícola

ind % Alcochete 829 5,2 Almada 389 2,5 Barreiro 281 1,8 Moita 997 6,3 Montijo 3254 20,6 Palmela 7536 47,6 Seixal 309 2,0 Sesimbra 919 5,8 Setúbal 1311 8,3 Península 15825 100,0

Fonte: INE, Recenseamento Geral Agrícola, 1999

Mas, como tem sido apontado pelo Parlamento Europeu, pelo Comité Económico e Social e pelo Comité das Regiões, o número de agricultores está em declínio na Europa e, ao mesmo tempo, a sua média etária está a aumentar. Portugal é, no contexto da União Europeia, o país cuja população agrícola é a mais envelhecida, e esta realidade está, ela também, bastante presente na Península de Setúbal, onde apenas 7,8% dos agricultores apresentam idades inferiores a 40 anos. Esta situação, pode constituir um pesado obstáculo à modernização que se impõe à agricultura – formas de exploração, parcerias, formas de gestão, etc., e aos desafios da competitividade que se fazem cada vez mais sentir num espaço comunitário europeu cada vez mais alargado. Também no município de Palmela este fenómeno é bastante semelhante. Palmela é o município cujos produtores, com menos de 40 anos de idade, apresentam o valor mais elevado de todos os municípios da Península de Setúbal, 8,9%. Todavia, a situação não deixa de ser preocupante, quer para a região quer para o município em causa. Pese embora se verifique uma redução substancial da população activa agrícola aliada ao envelhecimento dessa mesma população, a agricultura corre sérios

299 riscos de sobrevivência a não ser que se enverede pela sua modernização (quer ao nível dos processos de produção, de associação e de distribuição) aliada aos processos de mecanização, de automação e computação.

Quadro 28 – Península de Setúbal Produtores Agrícolas, por grupos de idade e por Município – 1999

Produtores Produtores Produtores Produtores Produtores Produtores agrícolas agrícolas agrícolas singulares agrícolas agrícolas singulares singulares singulares com idade singulares singulares com idade com idade 40 e 55 anos com idade superior ou Municípios até 25 anos 25 e 40 anos 55 e 65 anos 65 anos ind. ind. % ind. % ind. % ind. % ind. % Alcochete 274 1 0,4 19 6,9 66 24,1 85 31,0 103 37,6 Almada 170 1 0,6 11 6,5 37 21,8 47 27,6 74 43,5 Barreiro 105 0 0,0 1 1,0 14 13,3 33 31,4 57 54,3 Moita 353 0 0,0 20 5,7 75 21,2 102 28,9 156 44,2 Montijo 1111 5 0,5 84 7,6 324 29,2 307 27,6 391 35,2 Palmela 2666 24 0,9 215 8,1 682 25,6 845 31,7 900 33,8 Seixal 98 0 0,0 5 5,1 25 25,5 34 34,7 34 34,7 Sesimbra 373 1 0,3 20 5,4 71 19,0 107 28,7 174 46,6 Setúbal 528 2 0,4 35 6,6 129 24,4 155 29,4 207 39,2 Península 5678 34 0,6 410 7,2 1423 25,1 1715 30,2 2096 36,9

Fonte: INE, Recenseamento Geral Agrícola, 1999

O nível de instrução destes produtores é baixo, pese embora 64,9% possuíssem o ensino básico. 1 Cerca de 30,1% eram analfabetos os sabiam apenas ler e escrever. Este último valor é ligeiramente superior à média verificada na Península que na altura era de 29,4 % Os detentores de níveis de instrução secundária ou superior são uma ínfima minoria de 2,4%. Tais valores são condicionantes bastante pertinentes se entrarmos em consideração não só com os aspectos da formação profissional (novas técnicas de cultivo, de exploração, de gestão, por exemplo), como o acesso às fontes de

1 - De acordo com o Recenseamento Agrícola Geral de 1999, os Produtores Agrícolas Singulares do município de Palmela, possuidores do ensino básico, encontravam-se distribuídos por: 1º ciclo 1362 (78,7%); 2º ciclo 220 (12,7%) e 3º ciclo 148 (8,6%)

300 informação nacionais e comunitárias.

Quadro 29 – Península de Setúbal Produtores Agrícolas, por níveis de instrução e por Município – 1999

Produtores Produtores Produtores Produtores agrícolas agrícolas agrícolas agrícolas

singulares singulares singulares singulares nível de nível de instrução nível de instrução Produtores Nenhum instrução Básico nível de instrução Superior agrícolas Municípios singulares Secundário

ind. ind. % ind. % ind. % ind. % Alcochete 274 71 25,9 186 67,9 11 4,0 6 2,2 Almada 170 53 31,2 114 67,1 1 0,6 2 1,2 Barreiro 105 30 28,6 74 70,5 0 0,0 1 1,0 Moita 353 140 39,7 195 55,2 10 2,8 8 2,3 Montijo 1111 269 24,2 777 69,9 36 3,2 29 2,6 Palmela 2666 802 30,1 1730 64,9 71 2,7 63 2,4 Seixal 98 17 17,3 66 67,3 8 8,2 7 7,1 Sesimbra 373 151 40,5 200 53,6 8 2,1 14 3,8 Setúbal 528 136 25,8 314 59,5 30 5,7 48 9,1 29,4 64,4 3,1 3,1 Península 5678 1669 3656 175 178

Fonte: INE, Recenseamento Geral Agrícola, 1999

Por outro lado, o processo de integração no grande centro de consumo que é a Grande Área Metropolitana de Lisboa, poderá ser indutor da modernização desejável da agricultura deste município, numa perspectiva de a adaptar às necessidades da procura e da qualidade. Esta situação é contraditória com a pluralidade de pressões urbanas e industriais e com as variadíssimas formas de poluição, geradas quer pelas indústrias, quer pelas zonas urbanas, quer pela própria agricultura, o que vai tornar difícil, senão mesmo impossível, a coexistência entre a actividade agrícola e o meio urbano.

301

16.4 - UM MUNICÍPIO EXPORTADOR DE MÃO-DE-OBRA

O modelo assente no autocentramento agrícola parece ter-se esgotado nos finais da década de cinquenta. As duas décadas posteriores são marcadas por uma lógica diferenciada que denotam uma pequena abertura deste município ao exterior. De município importador de mão-de-obra para as fainas agrícolas, Palmela passa a município exportador de mão-de-obra para as unidades produtivas que se iam instalando e desenvolvendo na Península de Setúbal. Estes fenómenos de industrialização, de terciarização e de urbanização tiveram como consequências uma profunda transformação na estrutura da população activa, nomeadamente no que se refere aos sectores de actividade económica.

Quadro 30 – Município de Palmela População Activa com Profissão, por sectores de actividade, anos de 1930 a 2001 (em %)

Actividades 1930 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1 Agricultura Pecuária e Pescas 84,0 78,3 66,2 52,3 28,9 18,0 7,7 2 Indústrias Extractivas 0,1 0,1 0,5 0,1 0,1 0,1 0,2 3 Indústrias Transformadoras 3,8 6,0 8,3 12,7 26,7 24,2 20,0 4 Electricidade, Gás e Água - - - 0,5 0,8 0,8 0,9 5 Construção 1,8 2,3 5,1 7,4 13,5 11,3 12,6 6 Comércio 2,5 4,4 6,5 8,6 10,9 18,7 20,9 7 Transportes e Comunicações 2,6 5,2 7,3 10,0 6,8 7,0 6,3 8 Bancos, Seguros e Serv. às Empresas 0,05 0,05 1,2 0,5 0,8 3,2 8,4 9 Serviços à Colectividade 5,1 3,6 4,9 7,9 11,5 16,7 23,1

Fonte: INE, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População

Da leitura do quadro são retiradas algumas conclusões: uma que se refere à diminuição dos activos ligados à Agricultura, Pecuária e Pescas que é o grande perdedor de população activa. De referir que este sector era, em 1930, o garante do sustento de 84% dos activos deste município. Mesmo assim, em 1981 ainda ocupava 28,9 % dos activos residentes contra a média da Península que era, no mesmo

302 período, de 6,3 % e do País, cujo valor era de 18,85 %. Os valores só se aproximam mais da média da Península (2,2%) e do Continente (5%) em 2001. Se o município de Palmela é ainda detentor de um peso considerável de activos agrícolas, também não é menos verdade que, em situações de crise económica vivida nos municípios industrializados da Península de Setúbal, nas décadas de oitenta e noventa, o impacto dessa mesma crise foi minorizado pelo recurso às mais- valias retiradas da propriedade agrícola que uma parte considerável dos habitantes deste município é detentora. Saliente-se, contudo, que este declínio da população agrícola não foi, todavia, compensado pelo crescimento industrial,1 pese embora o crescimento bastante acentuado dos activos ligados às Industrias Transformadoras. As actividades menos qualificadas do terciário sofrem um significativo aumento, enquanto o terciário mais qualificado é praticamente inexistente. Já as actividades relacionadas com o comércio mostram um aumento acentuado, situação a que não são alheias a implantação de hipermercados grossistas da cadeia alemã Makro, da Grula, ou de cash and carry da Algifa, entre outros e de um elevado conjunto de estabelecimentos comerciais de pequena e média dimensão que se têm vindo a estabelecer nos principais centros urbanos, com principal incidência na vila de Pinhal Novo. Este fenómeno de transformação da estrutura da população activa residente encontra-se intimamente relacionado com o processo de industrialização e urbanização que se ia produzindo no exterior do município, com especial relevo para Setúbal, onde as grandes indústrias se implantavam e os serviços complementares à comunidade se multiplicavam.

16.5 - OS NOVOS FACTORES DE LOCALIZAÇÃO E O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE PALMELA

Desde o início do processo de arroteamentos de terras incultas, verificado há mais de um século, que a agricultura tem ocupado um papel preponderante na economia do município de Palmela.

1 - Cf. CARIA, Fernando (1993) - Op.cit. p. 198

303 Os produtos agrícolas, aí produzidos, tinham como destino o mercado de consumidores da capital do País. Com o processo de industrialização verificado na cidade vizinha de Setúbal, o seu mercado de consumidores passa também a ser abastecido pelos produtos provenientes do município de Palmela.

Mal servida pela rede de transportes rodoviários, com uma fraca acessibilidade a Lisboa e ao porto de Setúbal, Palmela ficou adormecida ao longo de décadas, deixando passar ao lado todo o processo de industrialização que atravessava e se instalava na Península. Todavia, até há poucos anos, Palmela foi mantendo, uma incipiente industrialização, pelo que durante a crise verificada em toda a Península, as repercussões não foram tão dramáticas quanto as sofridas pelas empresas instaladas nos outros municípios. Tal situação deve-se essencialmente ao facto das suas unidades produtivas não se inscreverem nos sectores mais atingidos, como sejam a indústria naval, a montagem de automóveis e a siderurgia. Os anos oitenta viriam, a contribuir para que o município se abrisse à procura de novos espaços, por parte de empresas que, atraídas pelos incentivos da OID/PS rumavam à Península, e em particular ao município de Palmela, que lhes oferecia óptimas condições urbanísticas, mercê da construção de infra-estruturas de circulação que entretanto foram sendo realizadas. Há a salientar os seguintes factores que contribuíram ou que ainda contribuem, para a melhoria dos factores de localização:

• os incentivos criados pela OID/PS, quer para infra-estruturas quer de apoio a projectos;

• a presença de três ramais de acesso à auto-estrada do Sul (A-2), no seu território ou na confluência com o município do Barreiro, o que aumenta a acessibilidade à cidade de Lisboa;

• a inserção numa região industrial, possuindo mão-de-obra própria ou com recurso fácil à existente nos municípios limítrofes;

• ligação ferroviária ao norte da Península (Barreiro), e ligação a Lisboa através da Ponte 25 de Abril; ligação ao porto de Setúbal, ao Alentejo e ao Algarve;

304 • a existência de uma elevada área de terrenos agrícolas com potencial de ocupação industrial ou urbana;

• a ligação por auto-estrada ao Norte (A-2, A-12 e A-13), ao Alentejo e Espanha (A-6 ) e ao Algarve (A-2) .

O aspecto mais saliente de todo o processo de industrialização e de terciarização deste município é verificado no período pós-crise, ou seja quando se dá a reconversão da economia e do aparelho produtivo da Península, é o crescimento relativo que aqui é representado quer pelo emprego, quer pelo tecido empresarial. Apenas durante a década de oitenta, os ritmos de crescimento industrial neste município, mudaram radicalmente. De um crescimento lento no início da década, chega-se ao seu termo em ritmo acelerado. Ao nível dos empregos, a tendência foi inversa à observada na Península. Palmela apresenta um crescimento do emprego, entre 1984 e 1989, de 47,6% contra a Península, que em igual período perde cerca de – 22.8 % De um modo global pode-se verificar que no período de onze anos o número de estabelecimentos mais do que triplicou. Há sectores económicos cuja expansão foi feita de forma mais rápido do que outros. Foi o caso das empresas integradas no grupo das o Comércio, Hotelaria e Restauração (183,8%), Indústrias Transformadoras (113,3%), da Construção e Obras Publicas (583%) e dos Serviços à Comunidade (426,7%).

305

Quadro 31 – Evolução do número de estabelecimentos no município de Palmela, em valores absolutos (1991-2001)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Agricultura, Silv. Caça e Pesca 182 212 216 220 194 190 216 224 202 222 220 210 Indústrias Extractivas 2 2 2 2 2 2 2 0 0 0 0 0 Indústrias Transformadoras 196 224 250 276 266 308 302 316 340 384 378 418 Electricidade, Gás e Água 2 2 2 6 6 6 6 6 6 6 6 4 Construção e Obras Públicas 94 118 156 140 150 192 224 240 304 422 524 642 Comércio, Hotelaria e Restauração 408 470 506 640 720 732 762 850 858 1022 1118 1158 Transportes e Comunicações 20 20 18 26 36 42 52 64 66 96 116 110 Bancos e Seguros 42 56 74 88 48 50 46 50 46 52 46 44 Serviços à Comunidade 112 128 146 150 182 228 276 326 330 424 506 590 TOTAL 1058 1232 1370 1548 1604 1750 1886 2076 2152 2628 2914 3176

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal Quadro 32 – Evolução do número de estabelecimentos no município de Palmela, em percentagem (1991-2001)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Agricultura, Silv. Caça e Pesca 17,2 17,2 15,8 14,2 12,1 10,9 11,5 10,8 9,4 8,4 7,5 6,6 Indústrias Extractivas 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Indústrias Transformadoras 18,5 18,2 18,2 17,8 16,6 17,6 16,0 15,2 15,8 14,6 13,0 13,2 Electricidade, Gás e Água 0,2 0,2 0,1 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 Construção e Obras Públicas 8,9 9,6 11,4 9,0 9,4 11,0 11,9 11,6 14,1 16,1 18,0 20,2 Comércio, Hotelaria e Restauração 38,6 38,1 36,9 41,3 44,9 41,8 40,4 40,9 39,9 38,9 38,4 36,5 Transportes e Comunicações 1,9 1,6 1,3 1,7 2,2 2,4 2,8 3,1 3,1 3,7 4,0 3,5 Bancos e Seguros 4,0 4,5 5,4 5,7 3,0 2,9 2,4 2,4 2,1 2,0 1,6 1,4 Serviços à Colectividade 10,6 10,4 10,7 9,7 11,3 13,0 14,6 15,7 15,3 16,1 17,4 18,6 TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

O crescimento económico ganha maior importância em termos de empregabilidade que se verifica maioritariamente no sector secundário da economia local, mas seguido por um terciário em grande expansão.

306

Quadro 33 – Evolução do emprego no município de Palmela, em valores absolutos(1991-2002)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Agricultura, Silv. Caça e Pesca 1426 1178 1184 1422 1064 1192 1262 1186 1240 1176 1048 1102 Indústrias Extractivas 6 61446444820 0 0 0 0 0 Indústrias Transformadoras 6442 6102 7310 12810 17930 20070 19930 22230 20888 18060 22296 20496 Electricidade, Gás e Água 38 46 46 42 40 38 38 36 26 24 20 10 Construção e Obras Públicas 1182 1150 1742 1696 1192 1882 2140 2458 2728 3556 4724 5450 Comércio, Hotelaria e Restauração 3922 4322 4506 5346 5726 5626 5742 6376 6842 7644 8474 8626 Transportes e Comunicações 342 532 520 748 1094 1210 1348 1410 1492 1838 3648 2440 Bancos e Seguros 326 300 458 534 304 306 304 324 314 310 282 264 Serviços à Colectividade 724 798 974 1138 1128 1656 1972 2856 2566 4136 5012 6014 TOTAL 14408 14434 16754 23782 28522 32028 32756 36876 36096 36744 45504 44402

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

Quadro 34 – Evolução do emprego no município de Palmela, em valores percentuais (1991-2002)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Agricultura, Silv. Caça e Pesca 9,9 8,2 7,1 6,0 3,7 3,7 3,9 3,2 3,4 3,2 2,3 2,5 Indústrias Extractivas 0,0 0,0 0,1 0,2 0,2 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Indústrias Transformadoras 44,7 42,3 43,6 53,9 62,9 62,7 60,8 60,3 57,9 49,2 49,0 46,2 Electricidade, Gás e Água 0,3 0,3 0,3 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 Construção e Obras Públicas 8,2 8,0 10,4 7,1 4,2 5,9 6,5 6,7 7,6 9,7 10,4 12,3 Comércio, Hotelaria e Restauração 27,2 29,9 26,9 22,5 20,1 17,6 17,5 17,3 19,0 20,8 18,6 19,4 Transportes e Comunicações 2,4 3,7 3,1 3,1 3,8 3,8 4,1 3,8 4,1 5,0 8,0 5,5 Bancos e Seguros 2,3 2,1 2,7 2,2 1,1 1,0 0,9 0,9 0,9 0,8 0,6 0,6 Serviços à Colectividade 5,0 5,5 5,8 4,8 4,0 5,2 6,0 7,7 7,1 11,3 11,0 13,5 TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

307 308 Gráfico 1 - Município de Palmela Evolução do Número de Empresas, por Ramo de Actividade (1991-2002)

1200

1000

800

600

400

200

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Agricultura, Silv. Caça e Pesca Indústrias Extrativas Indústrias Transformadoras Electricidade, Gás e Água Construção e Obras Públicas Comércio, Hotelaria e Restauração Transportes e Comunicações Bancos e Seguros Serviços à Colectividade

309 310 Gráfico 2 – Município de Palmela Evolução do Emprego, por Sectores de Actividade (1991-2002)

Milhares 25

20

15

10

5

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Agricultura, Silv. Cac e Pesca Indústrias Extrativas Indústrias Transformadoras Electricidade, Gás e Água Construção e Obras Públicas Comércio, Hotelaria e Restauração Transportes e comunicações Bancos e Seguros Serviços à colectividade

311 312 Gráfico 3 – Município de Palmela Empresas Agrícolas e Mão-de-Obra Agrícola (1991-2002)

1600

1400

1200

1000

Empresas Agrícolas 800 Mão-de-Obra Agrícola 600

400

200

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Anos

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

O decréscimo da mão-de-obra agrícola que se verifica neste município corresponde à tendência que tem vindo a ser observada em Portugal. Perante uma agricultura que se vai mecanizando (talvez não tanto quanto seria esperado pela quantidade de fundos comunitários transferidos para Portugal para serem aplicados na modernização da nossa agricultura), e a oferta de emprego noutros sectores de actividade económica contribuem para o decréscimo da oferta. A acompanhar este processo, verifica-se também uma ligeira diminuição do número de empresas agrícolas que, pelo desaparecimento físico dos seus proprietários ou, como se tem vindo a verificar neste município, os espaços físicos agrícolas têm vindo a ser vendidos para a implantação de novas indústrias que vão surgindo por entre os vinhedos (EM que liga Palmela ao Poceirão) ou para grandes armazéns (localizados em área paralelas à A2, entre o nó de Coina e o nó de Palmela).

313

Gráfico 4 – Município de Palmela Empresas Industriais e Mão-de-Obra Industrial (1991-2002)

25000

20000

15000 Empresas Industriais Mão-de-Obra Industrial 10000

5000

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

Do gráfico referente aos valores apresentados a nível da empregabilidade na indústria transformadora, é bastante notório o impacto que a Autoeuropa e empresas suas fornecedoras tiveram a partir do ano do início da sua laboração. Todavia, é ainda visível algumas quebras verificadas na estrutura de empregos deste sector, o que pode ser revelador das alterações conjunturais da economia mundial e que têm tido as suas repercussões em sectores tão delicados como é o sector automóvel. De salientar que a quebra do emprego neste sector, verificada em 2000, se deveu à falência da empresa HR, em Pinhal Novo.

314

Gráfico 5 – Município de Palmela Empresas e Mão-de-Obra da Construção e Obras Públicas (1991-2002)

6000

5000

4000

Empresas de Construção e Obras Públicas 3000 Mão-de-Obra da Consrução e Obras Públicas

2000

1000

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

O sector da construção e obras públicas é um dos sectores que tem vindo a ter um crescimento bastante significativo, quer em termos do aumento do número de empresas, que parece não querer abrandar, quer em termos de postos de trabalho que desde 1995 tem observado um ritmo de crescimento bastante acelerado. A este fenómeno não será alheio o volume que a construção civil tem vindo a ter neste município, visível através das inúmeras urbanizações localizadas em Pinhal Novo e em Quinta do Anjo.

315

Gráfico 6 – Município de Palmela Empresas e Mão-de-Obra do Comércio , Hotelaria e Restauração (1991-2002)

10000

9000

8000

7000

6000 Empresas de Comércio, Hotelaria 5000 e Restauração 4000 Mão-se-Obra do Comércio, Hotelaria e Restauração 3000

2000

1000

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

Os valores referentes a estes sectores da economia são reveladores do processo de terciarização que o município de Palmela encetou e que, tudo assim parece conjugar-se, tem a ver com o despoletar do último processo de industrialização decorrente neste território. Como já foi referido anteriormente, algumas grandes superfícies do comércio grossista instalaram-se neste município – o grupo Makro, a Grula, a Algifa, entre outros, e são hoje lugares geradores de postos de trabalho. Acompanhando o crescimento das áreas urbanas de Pinhal Novo, Palmela e de Quinta do Anjo outras superfícies comerciais encontraram aqui o seu espaço - o caso do Modelo, em Pinhal Novo, os Intermarché de Palmela e Pinhal Novo, o Lidl, de Palmela, entre outras pequenas superfícies comerciais - aos quais se juntou, em matéria de hotelaria e restauração um quase sem número de restaurantes, cafés e snacks, cuja face mais visível se encontra na vila de Pinhal Novo.

316

Gráfico 7 – Município de Palmela Empresas e Mão-de-Obra de Transportes e Comunicações (1991-2002)

4000

3500

3000

2500 Empresas de Transportes e Comunicações 2000 Mão-de-Obra de Transportes e Comunicações 1500

1000

500

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

Estes sectores encontram-se, também eles, em grande expansão. O declínio que é hoje significativo em matéria de transporte ferroviário de mercadorias tem vindo a ser substituído pela proliferação de empresas de transportes rodoviários, e que tem a sua tradução no aumento do número de activos que emprega. Dentro desta actividade económica cabe ainda as empresas e a mão-de-obra relacionada com a armazenagem de bens de consumo. O município de Palmela tem sido palco da instalação de muitas empresas cuja actividade económica assenta no armazenamento de produtos. Empresas como a Vicaima, a SLEM são exemplificativas desta actividade. Finalmente, no campo das comunicações, a Cabovisão, empresa de televisão, telefone e internet por cabo tem aqui a sua sede social e os seus serviços técnicos.

317

Gráfico 8 – Município de Palmela Empresas e Mão-de-Obra Bancária e dos Seguros (1991-2002)

Município de Palmela - Empresas Bancárias e de Seguros (1991-2002)

600

500

400 Empresas Bancárias e de Seguradoras 300 Mão-de-Obra Bancária e dos Seguros 200

100

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

O sector bancário e dos seguros, pela via das várias fusões verificadas nos vários grupos financeiros tem vindo a proceder a uma política restritiva de mão-de-obra, ao mesmo tempo que se verificam alguns (embora pontuais) casos de encerramento de agências bancárias (por força das fusões ou aquisições de Bancos por outros) e de Seguros.

318

Gráfico 9 – Município de Palmela Empresas e Mão-de-Obra de Serviços à Comunidade (1991-2002)

7000

6000

5000

4000 Empresas e Serviços à Comunidade Mão-de-Obra de Serviços à 3000 Comunidade

2000

1000

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

Finalmente no que se refere ao emprego gerado pelas empresas e instituições que prestam serviços à comunidade salienta-se o aumento do número de empresas e consequente aumento do número de empregos por parte dos serviços prestados às empresas, os sectores da saúde e da educação e a expansão do emprego promovido pela Câmara Municipal. de Palmela. que é hoje e de longe um dos maiores empregadores do município. de Palmela.1

1 - Em 2002, dos 1448 empregos verificados no Sector Público, 926 (64%) estavam na Câmara Municipal de Palmela, 62 (4,3) mas Juntas de Freguesia, 34 na Palmela Desporto, E.M.(2,3%), 152 (10,5%), nos Estabelecimentos de Ensino, 144 (9,9%) nos Centros de Saúde, 74 (5,1%) na GNR e 56 (3,6%) na

319

Gráfico 10 – Município de Palmela Total das Empresas e da Mão-de-Obra (1991-2002)

50000

45000

40000

35000

30000 Total das Empresas 25000 Total da Mão-de-Obra 20000

15000

10000

5000

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal

Repartição e Finanças, Registos e Notariados e outros. Cf. CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2003) – Relatório de Estudo Sobre Ordenamento do Território – Estudos de Apoio à Revisão do Plano Director Municipal de Palmela

320

16.6 - AS DESLOCAÇÕES PENDULARES

De um total de 25177 activos e de estudantes, cerca de 67,4% deslocavam-se, em 2001, dentro do território deste município para exercerem a sua profissão ou para estudarem. Estes números podem ser esclarecedores de uma dinâmica geradora de emprego (e do alargamento do parque escolar) que se têm verificado nas últimas décadas.

Quadro 35 – Deslocações pendulares com origem no município de Palmela para os municípios que formam a Grande Área Metropolitana de Lisboa/Sul (2001) valores absolutos e percentuais

AML Alcochete Almada Barreiro Moita Montijo Palmela Seixal Sesimbra Setúbal Sul

Palmela 85 366 720 456 783 14984 395 134 4313 22236

0,4 1,6 3,2 2,1 3,5 67,4 1,8 0,6 19,4 100,0

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

Esta diminuição da dependência face aos restantes municípios envolventes é já visível em 1981, onde 62,9% dos activos e dos estudantes, residiam e trabalhavam e/ou estudavam no município de Palmela. Esse valor decresceu ligeiramente em 1991 para 60,5%,1 sendo o fôlego retomado aquando da fixação da Autoeuropa e empresas satélites neste município, contribuindo para que se verificassem os valores já referenciados ao ano de 2001. De referir ainda que os valores percentuais referentes as deslocações pendulares,

1 - Cf. MARQUES, António Pedro Sousa (1996) – Dinâmicas Locais em Contexto de Mudança – Estratégia de Actores no município de Palmela, 1980-1995, Dissertação de Mestrado em Sociologia do Território, Lisboa, ISCTE, 1º volume, p. 86

321 tendo o município de Palmela como inicio e o município de Setúbal eram, em 1981 e 1991, respectivamente, de 22,5 % e 19,3%.1

Quadro 36 - Deslocações pendulares com origem no município de Palmela para os municípios que formam a Grande Área Metropolitana de Lisboa/Norte (2001) valores absolutos e percentuais

V.F. AML Amadora Azambuja Cascais Lisboa Loures Mafra Odivelas Oeiras Sintra Xira Norte

Palmela 53 5 32 2528 87 10 14 106 70 36 2941

1,8 0,2 1,1 86,0 3,0 0,3 0,5 3,6 2,4 1,2 100,0

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

Quadro 37 – Total das Deslocações pendulares com origem no município de Palmela (2001) – valores absolutos e percentuais

AML AML Outros Sul Norte Municípios Total

Palmela 22236 2941 527 25704

86,5 11,4 2,1 100,0

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

1- idem

322

Quadro 38 – Deslocações pendulares com origem nos municípios que formam a Grande Área Metropolitana de Lisboa/Sul e com destino ao município de Palmela (2001) – valores absolutos e percentuais

AML Alcochete Almada Barreiro Moita Montijo Palmela Seixal Sesimbra Setúbal Sul

169 519 1320 1682 755 14984 1076 404 4116 25025 Palmela

0,4 1,6 3,2 2,1 3,5 67,4 1,8 0,6 19,4 100,0

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

O poder de atracção que o mercado de emprego existente no município de Palmela é desenvolvido maioritariamente sobre os municípios que lhe são mais próximos ou que possuem maior acessibilidade. São os casos dos municípios de Setúbal, Moita, Barreiro e Seixal. Já os municípios localizados para lá do Tejo apresentam valores quase residuais nas suas deslocações para o território de Palmela.

323

Quadro 39 – Deslocações pendulares com origem nos municípios que formam a Grande Área Metropolitana de Lisboa/Norte e com destino ao município de Palmela (2001) – valores absolutos e percentuais

V.F. AML Amadora Azambuja Cascais Lisboa Loures Mafra Odivelas Oeiras Sintra Xira Norte

96 3 77 258 116 20 57 116 172 95 1010 Palmela

9,5 0,3 7,6 25,5 11,5 2,0 5,6 11,5 17,0 9,4 100,0

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

Quadro 40 – Total das Deslocações pendulares tendo como destino o município de Palmela valores absolutos e percentuais (2001)

AML AML Outros Sul Norte Municípios Total

25025 1010 602 26637 Palmela

86,5 11,4 2,1 100,0

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

324

Quadro 41 – Balanço das deslocações Pendulares Palmela – Grande Área Metropolitana de Lisboa Sul - Palmela (2001)

AML Alcochete Almada Barreiro Moita Montijo Palmela Seixal Sesimbra Setúbal Sul

169 519 1320 1682 755 14984 1076 404 4116 25025

85 366 720 456 783 14984 395 134 4313 22236

Palmela 84 153 600 1226 -28 0 681 270 -197 2789

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

Quadro 42 – Balanço das deslocações Pendulares Palmela – Grande Área Metropolitana de Lisboa Norte - Palmela (2001)

AML Amadora Azambuja Cascais Lisboa Loures Mafra Odivelas Oeiras Sintra V.F.Xira Norte

96 3 77 258 116 20 57 116 172 95 1010

53 5 32 2528 87 10 14 106 70 36 2941

Palmela 43 -2 45 -2270 29 10 43 10 102 59 -1931

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

325

Quadro 43 – Balanço total das deslocações pendulares (2001)

AML AML Outros Sul Norte Municípios Total

25025 1010 602 26637

22236 2941 527 25704

Palmela 2789 -1931 75 933

Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População

326 17 - IMPACTOS TERRITORIAIS DA LOCALIZAÇÃO PRODUTIVA

17.1 - UM MUNICÍPIO QUE SE METROPOLIZA

A Península de Setúbal, cuja localização geográfica se situa na margem sul do estuário do Tejo, tem vindo a tornar-se, desde os anos sessenta do século passado, num pólo de grande atracção populacional. Essa década de sessenta, marca o período de início do processo de metropolização da Península de Setúbal. Uma década depois, começa-se a sentir os impactos produzidos pela Ponte, inaugurada em 1966, assistindo-se à fixação de populações nos municípios ribeirinhos, atraídas por um conjunto de boas acessibilidades e pelo baixo custo dos terrenos e habitações. Não alheadas deste processo de captação de novas populações estão algumas bolsas industriais que se encontravam já implantadas na Península (Siderurgia Nacional, CUF, Sapec, Secil, Socel1, entre outras) e que a dotam de uma certa autonomia face à lógica de atracção populacional. Tal facto parece estar relacionado com a situação que o distrito de Setúbal tem vindo a apresentar ao longo de todo o século passado, ou seja, o distrito de Setúbal tem sido aquele que, em termos nacionais, apresenta as maiores taxas de crescimento médio.2 Em termos populacionais a Península de Setúbal tem mostrado crescimentos elevados, desde 1864 até 2001, pese embora uma certa diferenciação que é verificada entre os municípios que a constituem. Todavia, a lógica de crescimento da Península de Setúbal é produto de formas diversificadas e cujo comportamento se encontra articulado com as formas de sedimentação produtiva que se implanta na região. Essa lógica de crescimento pode ser sistematizada a partir de quatro períodos distintos:

1 - Mais tarde Portucel 2 - Cf. CARIA; Fernando (1993) – Op .cit., p. 229

327

Quadro 44 – Evolução da População da Península de Setúbal, por Municípios (1940 -2001)

População Residente Municípios 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Alcochete 6658 7864 9270 10408 11246 10098 13010 Almada 29393 43768 70968 107581 147690 152477 160826 Barreiro 26092 29719 35088 58728 88052 85782 79011 Moita 12360 19465 29110 38547 53240 64083 67446 Montijo 18109 26336 30217 41565 36849 36345 39168 PALMELA 20934 22544 23155 24866 36933 43237 53352 Seixal 12894 15937 20470 36280 86169 114772 150272 Sesimbra 13282 14947 16837 16656 23103 27416 37567 Setúbal 49765 55037 56344 66243 98366 103846 113937 PENÍNSULA 188780 235617 291459 400874 581648 638056 714589

Fonte: INE, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População

1 - Final do século XIX até aos anos quarenta

Os municípios rurais – onde se inclui Palmela – apresentam crescimentos populacionais relativamente elevados, cujas causas se prendem com os processos de arroteamento, expansão da vinha e outras culturas, como aliás tivemos oportunidade de demonstrar anteriormente; os municípios detentores de bolsas industriais, apresentam também um crescimento, mas por razões diferentes dos anteriores. Neste caso, é a indústria que se implantava ou expandia, nomeadamente nalguns municípios da margem sul do Tejo ou em Setúbal. A partir da década de quarenta, o comportamento populacional é diferenciado de município para município. Assiste-se neste período a uma perda de população dos municípios rurais em detrimento dos municípios industrializados.

328

Quadro 45 – Evolução da População da Península de Setúbal, por Municípios (1940 -2001) – Taxas de Crescimento Médio

População Residente Municípios 40/50 50/60 6070 70/81 8191 91/01 Alcochete 15,3 15,2 10,9 7,5 -11,4 22,4 Almada 32,8 38,2 34,0 27,2 3,1 5,2 Barreiro 12,2 15,3 40,3 33,3 -2,6 -8,6 Moita 36,5 33,1 24,5 27,6 16,9 5,0 Montijo 31,2 12,8 27,3 -12,8 -1,4 7,2 PALMELA 9,0 0,7 6,9 32,7 15,8 17,8 Seixal 19,1 22,1 43,6 57,9 24,9 23,6 Sesimbra 11,1 11,2 -1,1 27,9 15,7 27,0 Setúbal 9,6 2,3 14,9 32,7 5,3 8,9 PENÍNSULA 19,9 19,2 27,3 31,1 8,8 10,7

Fonte: INE, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População

2 - A década de sessenta

Esta década é marcada por uma alteração da lógica do crescimento demográfico. Neste período, este crescimento acompanha bem de perto a lógica da implantação das actividades produtivas. “O movimento de ocupação populacional, que se fazia do sul para o norte, dá origem a uma ocupação que passa a ser do norte com direcção ao sul, como consequência do alargamento da ocupação metropolitana da Península”.1

3 - A década de setenta

Salienta-se nesta década os crescimentos populacionais nos municípios do Barreiro, Palmela e Setúbal. O município do Seixal confirma a tendência de crescimento da década anterior, tornando-se no maior responsável pelo aumento da população da

1 - idem, p. 230

329 Península.

4 - A década de oitenta

Caracteriza-se esta década pelo processo de desaceleração das taxas de crescimento populacional da Península. Alcochete, Barreiro e Montijo, embora por razões diferenciadas, apresentam crescimentos negativos, o que pode estar relacionado com as dinâmicas produtivas existentes em cada um desses municípios. Palmela continua a crescer, em termos populacionais, mas num processo menos acelerado. No entanto, embora em cinco décadas o seu crescimento tenha sido sempre positivo, em 1991 a sua população era de 6.8 % do total populacional da Península, contra os 7.9% em 1960. Numa dimensão de análise mais restrita ao município de Palmela, detecta-se que as taxas de crescimento populacional, por freguesia, foram uniformes até à década de setenta. A partir dessa década, assiste-se ao crescimento em todas elas, com especial destaque para as freguesias de Palmela, Pinhal Novo e Quinta do Anjo que apresentam maior acessibilidade. A década de oitenta é caracterizada pelo crescimento populacional na Freguesia de Pinhal Novo, que se torna, assim, num pólo de fixação de populações, devido à grande acessibilidade aos locais geradores de emprego e ao facto de existir uma ampla oferta de habitação a preços relativamente acessíveis. Os crescimentos negativos verificados nas freguesias de Palmela e Marateca têm a ver com a criação administrativa da freguesia do Poceirão, cuja base territorial surgiu da desanexação de parte das outras duas freguesias.

330

Quadro 46 – Evolução da população no Município de Palmela, por Freguesias (1930-2001)

População Residente

1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001

Marateca 3120 38364444 4573 3011 4615 3651 3586

Palmela 7010 76138497 6487 10103 14629 13877 16115

Pinhal Novo 5140 5670 6429 7708 7483 11007 15167 20993

Poceirão ------4326 4304

Quinta do Anjo 3422 3815 3623 4387 4269 6682 6525 8354

PALMELA 18692 20934 22993 23115 24866 36933 43546 53352

Fonte: INE, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População

5 – A década de noventa e a entrada no novo milénio

A última década do século XX veio confirmar as tendências que se vinham a esboçar. De realçar o crescimento populacional negativo verificado no município do Barreiro, cujo processo de industrialização tem vindo a desacelerar dando lugar a um território pós-industrial e cada vez mais dependente do mercado de emprego gerado noutros municípios. Em contrapartida, outros municípios da Península têm vindo a apresentar, por motivos diferentes, crescimentos médios acima dos 15%. São os casos dos municípios de Sesimbra (27%) cuja acessibilidade à AE do Sul e ao Comboio da Ponte 25 de Abril parece ter tido os seus efeitos. Outro município ganhador com o efeito do comboio da Ponte, foi o município do Seixal cujo crescimento populacional se cifrou nos 23,6%. O município de Alcochete parece ter sido aquele que mais beneficiou com a Ponte Vasco da Gama, observando um crescimento de 22,4%. Quanto ao município de Palmela, este apresentou um crescimento populacional de 17,8%. As ofertas de emprego nas novas empresas aqui sedeadas associadas ao surto de

331 novas urbanizações nas freguesias de Pinhal Novo e Quinta do Anjo, podem estar na origem desse crescimento. Todavia, ressaltam os valores negativos apresentados pelas freguesias de Marateca e Poceirão, que podem ser explicados pela procura de alguns habitantes em encontrarem melhores condições de vida e de emprego noutras áreas do município ou fora dele, e ainda pela falta de investimentos municipais nessas freguesias.

Gráfico 11 - Evolução da população no Município de Palmela, por Freguesias (1930-2001)

40

30

20

10

30/40 0 40/50 50/60 -10 60/70 70/81 -20 81/91 91/01 -30

-40

-50

-60 Marateca Palmela Pinhal Novo Poceirão Quinta do Anjo Concelho

Fonte: INE , X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1960, 1970, 1981, 1991 e 2001

332 17.2 - DIFERENCIAÇÃO SOCIO-URBANÍSTICA: PALMELA E A PENÍNSULA DE SETÚBAL

A característica principal apresentada pelos municípios que constituem a Península de Setúbal relaciona-se com a sua heterogeneidade, no que respeita à sua estruturação sócio-urbanística. Não deixa de ser interessante a metodologia utilizada por Fernando Caria 1 para elaborar uma tipologia do espaço da Península de Setúbal. Com recorrência à análise de clusters, o autor cruza vinte variáveis agregadas em quatro tipos:

• de carácter económico;

• de infra-estruras e equipamentos;

• urbanísticas

• demográficas.

Dessa agregação, é determinada uma tipologia espacial constituída por quatro clusters diferentes. Tornou-se assim possível segmentar o espaço da Península de Setúbal em unidades geográficas possuidoras de características homogéneas. Do ponto de vista da estruturação urbana do município de Palmela, há a considerar os seguintes factores:

a) a sua desagregação fundiária b) a sua baixa densidade populacional c) a existência um povoamento disperso

a) a sua desagregação fundiária

O território do município de Palmela caracteriza-se por se apresentar muito

1 - Cf. CARIA, Fernando (1993) - Op.cit. p. 239 e seguintes

333 fraccionado. Este parcelamento da propriedade rural é devido a três ordens de factores: o povoamento, o mercado e os factores sociais. O povoamento faz-se sentir fundamentalmente junto dos principais elementos estruturantes do território, e têm como suporte os recursos postos à disposição do povoamento. O processo de povoamento decorre da conjugação de um conjunto de factores, nomeadamente da existência de recursos naturais, da presença de infra- estruturas e de um conjunto de factores de ordem geral que influenciam a localização. Perante este processo, parece lógico que o fraccionamento da propriedade surja como o resultado da pressão e da concorrência que é desenvolvida pela posse do espaço nas zonas de aglomeração urbana ou em zonas suas envolventes. Por outro lado, o mercado não se encontra arredado deste processo. Bem pelo contrário. O fraccionamento da propriedade surge como uma consequência do funcionamento do mercado, ou seja, os preços surgem cada vez mais elevados comparativamente à dimensão das parcelas de solo que são oferecidas com menores dimensões. Este processo, provocado pela pressão e pela concorrência pela posse do espaço, leva a que os proprietários fundiários concretizem elevadas mais-valias sobre o valor dos terrenos profusamente divididos. Finalmente, este fraccionamento da propriedade pode ser o resultado duma solução jurídica dos direitos de propriedade. Este processo pode ser decorrente de processos sucessórios ou de operações de mercado, onde as diversas partes envolventes substituem o anterior proprietário. O fraccionamento da propriedade traduz assim um conjunto de efeitos sociais decorrentes do direito sucessório.

b) a sua baixa densidade populacional

Tal como foi referido anteriormente, a densidade populacional do município de Palmela é comparativamente baixa em relação aos restantes espaços municipais que constituem a Península de Setúbal. Realce-se que embora o município de Palmela possua cerca de 7,5 % da população residente na Península de Setúbal o seu território ocupa cerca de 30 % do total da sua superfície. Somente os municípios de Alcochete, Montijo, Palmela e Sesimbra

334 que formam o primeiro cluster, apresentam a sua densidade populacional abaixo do valor médio da Península (quer em 1981, 1991 e 2001).

Quadro 47 – Península de Setúbal Densidade populacional, por municípios (1981-2001)

Municípios Superf Hab/Km2 Hab/Km2 Hab/Km2 Km2 1981 1991 2001 Alcochete 94,49 119,0 107,6 137,7 Almada 69,98 2110,5 2169,0 2298,2 Barreiro 33,81 2604,3 2536,8 2336,9 Moita 55,08 966,6 1181,7 1224.5 Montijo 347,36 106,1 103,7 112,8 PALMELA 461,82 80,0 95,0 115,5 Seixal 93,58 952,9 1249,3 1605,8 Sesimbra 194,98 118,5 139,7 192,7 Setúbal 170,58 576,7 607,5 667,9 Península 1521,68 384,2 420,9 469,6

Fonte: INE ,XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981, 1991, 2001

c) a existência de um povoamento disperso

As formas de estruturação urbanas não são completamente percepcionadas apenas com o recurso à análise da sua densidade populacional. Para uma melhor compreensão há que proceder à análise da dimensão dos lugares existentes nos diferentes municípios que formam o espaço peninsular.

335

Quadro 48 - Península de Setúbal Repartição da População segundo a dimensão dos lugares, 1981-2001 (em %)

Isolados <=1999 2000-4999 5000-9999 >10000

1981 1991 2001 1981 1991 2001 1981 1991 2001 1981 1991 2001 1981 1991 2001

Alcochete 0,1 1,8 0,7 46,9 45,4 21,2 53 52,8 21,4 56,7

Almada 0,2 0,0 12,5 14,2 7,2 12,7 17,7 32,7 3,4 12,5 12,9 71,2 55,6 47,2

Barreiro 1,6 1 0,8 7 8 10,3 5,1 7,6 8,9 86,3 83,4 80,0

Moita 0,2 0,6 0,5 22,4 15,4 9,8 8,8 9,8 16,3 28,5 40,1 74,2 73,4

Montijo 7,1 2,8 4,0 30,4 32,7 30,5 0,3 62,5 64,5 65,3

Palmela 0,1 13,6 3,7 58,1 44,7 43,5 26,3 5,3 13,7 15,5 12,9 10,0 23,5 29,0

Seixal 0,5 0,1 0,1 20,5 17,2 18,1 26,9 18,7 16,2 19,1 22,8 33,9 33 41,2 31,7

Sesimbra 0,4 0,8 1,0 42,1 53 39,1 12,6 5,7 35,9 46,2 15,4 38,9

Setúbal 1,2 1,7 2,0 19,6 12,4 10,9 8 5,6 4,7 5,6 79,2 80,3 76,8

Península 1,3 2,8 1,0 30 28,1 16,6 20,8 18,3 14,8 20,5 20,4 14,5 62,1 60,4 53,1

Fonte: INE ,XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981, 1991, 2001

Nos espaços que ainda se mantêm rurais a indústria tem vindo a ser apontada como possuidora de um papel de intruso, acusando-a de conduzir processos de promoção urbanística que levam à promoção de verdadeiras cidades ou de tecidos urbanos desligados e incaracterísticos. Todavia, não existe qualquer dúvida em associar a indústria à vida das grandes metrópoles, quer do ponto de vista do seu aparelho de produção quer do aparelho de gestão. Já na década de setenta, dois autores norte-americanos, Raymond Struyk e Franklin James (1975), chamavam à atenção para o que denominavam de manufacturing belt, que rodeavam as grandes metrópoles norte-americanas, e cujas características assentavam na elevada concentração de indústrias possuidores de elevado valor acrescentado. Mesmo antes da crise económica se ter manifestado, assiste-se à mobilidade das

336 empresas metropolitanas.1 Constata-se, então, que há “uma estreita articulação entre a propensão para a mobilidade e a vitalidade económica das empresas”.2 Uma das razões, senão a principal, que leva à transferência de empresas nas periferias metropolitanas é a própria exigência de espaços. A procura de economias de escala impõe-se aos estabelecimentos, impondo-lhes a sua expansão. Contudo, é exigido que esses espaços estejam dotados de determinadas condições. E foi nesta perspectiva que surgiram um conjunto de políticas de criação de parques industriais, que ofereciam espaços alargados, com condições e dotados de infra- estruturas, e localizados em zonas potencializadas e com condições de desenvolvimento. Em 1991, o Estudo de Localização Industrial na Península de Setúbal 3 conclui pela impossibilidade da quantificação das áreas industriais existentes na Península devido a dois factores: a disseminação da implantação produtiva e a existência de áreas expectantes nos loteamentos industriais. Mesmo assim, as áreas de fácil identificação ou se encontram ocupadas por grandes empresas, cuja ocupação em superfície é bastante significativa, ou são referidas a grandes loteamentos.

1 - Claude Manzagol (1980) refere que em França, na década de sessenta, por cada supressão de um m2 industrial em Paris, equivalia à criação do seu triplo, com a mesma função, nas zonas periféricas. 2 - CARIA, Fernando (1993) – Op.cit. p. 269 3 - Cf. PORTUGAL, Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale do Tejo, (1991) – Estudo de Localização Industrial na Península de Setúbal (ELIPS), Lisboa,CCRLVT

337

Gráfico 12 – Península de Setúbal Áreas Industriais Ocupadas (1991)

Áreas Industriais Ocupadas

1000 900 800 700 600 500 ha 400 300

200 100

0 Moita Seixal Montijo Almada Palmela Setúbal Barreiro Sesimbra Alcochete Municípios

Fonte: CCRLVT, Estudo de Localização Industrial na Península de Setúbal, 1991

Na transição para o novo milénio, e com incidência nas suas duas últimas décadas, assistiu-se a mudanças estruturais bastante significativas nas economias mais avançadas. Talvez a mudança produtiva que mais sobressaiu tenha sido aquela que se verificou, na maioria dos países, e que consistiu num deslocamento significativo da indústria de manufactura para o sector dos serviços, com especial relevo para o rápido crescimento por parte dos negócios privados. Nas indústrias manufactureiras observou-se uma deslocação por parte das indústrias de trabalho e de capital intensivos para países asiáticos e do leste europeu e que, ao longo destas mudanças sectoriais e industriais, conduziram a um conjunto de deslocamentos urbanos e regionais significativos.

338 Verificou-se uma perda do emprego em muitas áreas industriais tradicionais, que se mostraram incapazes de lidar com o declínio das suas indústrias principais. Também as áreas rurais periféricas sofreram com a perda de competitividade das suas indústrias. Alguns dos aglomerados metropolitanos surgiram como novas áreas de crescimento, traduzido num desenvolvimento económico dinâmico. Este desenvolvimento económico tem vindo, não tão raras as vezes, a manifestar- se através dos novos espaços industriais, em novas áreas de tecnologia de ponta ou em meios inovadores. As empresas estão a ficar cada vez mais integradas em locais e em redes de empresas e instituições regionais, situação que leva a que o lugar onde se instalam comece a adquirir importância, o que até aí não se verificava. Para uma melhor compreensão destes processos, parece útil considerar apenas as mudanças verificadas sectorialmente e regionalmente como reflexões das respostas estratégicas e organizacionais mais profundas por parte das empresas perante um ambiente de mudança acelerada. A reestruturação não é aqui vista apenas e só como uma série de deslocações sectoriais ou regionais, como contempla também as mudanças que estão subjacentes à organização, às tecnologias utilizadas na produção, às relações laborais, bem como ao conjunto de relações existentes entre as empresas. O projecto Autoeuropa foi, como se disse anteriormente, o elemento fundamental e exclusivo para a expansão industrial no município de Palmela. Anteriormente, nem as industrias que aqui se instalaram nos anos sessenta e setenta nem as que antecederam este projecto conseguiram atrair empresas fornecedoras de bens e serviços, como a Autoeuropa. O município de Palmela tornou-se assim, no município da Península de Setúbal que mais cresceu quer em número de empresas, quer em número de empregos.

339 17. 2 - A

A Autoeuropa constitui o maior projecto de investimento directo estrangeiro no nosso país. No início da década de noventa, Portugal foi o país escolhido para receber um investimento total de 1.970 milhões de euros, ocorrido entre os anos de 1991 até 2002 e onde se inclui o desenvolvimento dos modelos VW Sharan, Ford Galaxy e Seat Allambra, Este projecto começou por ser uma joint venture entre a Ford e a Volskwagen que eram detentoras de igual parte do capital investido; e foi através desse mesmo projecto que beneficiaram de vantagens propiciadas pelo Estado português, comprometendo-se a produzir um veículo automóvel do tipo monovolume, 1 ou mais precisamente um veículo multi-purpose (MPV) com o nome de código VX62.2 A cada um dos parceiros que constituíam a Autoeuropa, coube uma tarefa específica: a Ford ficou responsável pelo planeamento da fábrica, pelo estabelecimento do programa de produção, a compra de materiais e ainda a responsabilidade pelas áreas financeira e de recursos humanos; a Volskwagen ficou com a responsabilidade de conduzir todo o programa de engenharia e de desenvolvimento do produto.3 Lançada a primeira pedra para a construção da fábrica situada no município de Palmela, a Autoeuropa inicia a sua produção em Maio de 1995. A partir do início de Janeiro de 1999, a Autoeuropa passa a ser totalmente controlada pela Volkswagen, com o compromisso de manter a produção do Ford Galaxy até Fevereiro de 2006.

1 - Cf. CORREIA, António Damasceno ( 2000) – “ A Autoeuropa: um modelo de produção pós-fordista,” Análise Social, vol XXXV (156), p. 740 2 - Cf. CHORINCAS, Joana (2002) – O Cluster Automóvel em Portugal, Lisboa, Ministério do Planeamento – Departamento de Prospectiva e Planeamento, p. 9 3 - Cf. Cf. CORREIA, António Damasceno (2000) – Op. cit. p. 740

340

Quadro 49 – Autoeuropa - Evolução da Fábrica e dos Produtos

Ano Produto Ano Fábrica

1989 Desenvolvimentos Técnicos 1990 Aprovação do Conselho de Administração 1990 Decisão sobre a localização 1991 Acordo para o Design 1991 Acordo de Joint Venture entre a VW (50%) e a Ford (50%) Início dos caboucos 1992 Primeiro teste de embate 1992 Fim dos caboucos 1993 Aprovação para a Engenharia 1993 Inauguração da Formauto (Centro de formação) 1994 Primeira Peça Prensada 1994 Inauguração do Corpo de Bombeiros 19951º Carro produzido para vendas Job 1 ( Maio) 1995 Inauguração da Fábrica

Produção da VW Sharan + Ford Galaxy 1996 Produção da Seat Alhambra (Fevereiro) Certificação ISO 9002 de Sistemas de Qualidade 100.000 Unidades produzidas (Maio) 1998 Certificação ISO 14001 sistema de Gestão Ambiental

1999 500.000 Unidades produzidas (Junho) 1999 O grupo VW assume 100% do Capital Social da Autoeuropa 2000 Facelit I 2002 Certificação ISO 9000/2000 de Sistemas de Qualidade

2003 1.000.000 unidades produzidas Facelit II 2004 Anúncio Oficial do novo produto VW Cabrio 2004 Preparação da Fábrica pra o novo produto

Certificação TS 16949 Re-certificação ISSO 14001 2005 Inicio da produção do VW Cabrio(Dezembro)

2006 Último Ford Galaxy produzido (Fevereiro) Inrtrodução no mercado do VW Cabrio Anúncio Oficial da produção de um novo VW desportivo para 2008 Fonte: Autoeuropa

341 Quadro 50– Autoeuropa Investimento Inicial

Investimento Inicial Milhões de € % Implementação da Fábrica 1282 65,1 Desenvolvimento do Produto 479 24,3 Formação e Lançamento 209 10,6 Total 1970 100,0

Fonte: Autoeuropa

Do investimento inicial, ressaltam ainda os valores que foram destinados à Formação e Lançamento. Tais valores são justificados se forem considerados os aspectos relacionados com o processo de recrutamento e selecção de pessoal. O processo de selecção e recrutamento de pessoal decorreu entre Fevereiro de 1992 e Dezembro de 2003. Neste período a Autoeuropa seleccionou e recrutou mão-de-obra de entre as mais 123 mil candidaturas apresentadas.1 Saliente-se que os 3 000 mil postos de trabalho iniciais decorreram de uma selecção de 30 000 candidaturas provenientes de todo o país e até do estrangeiro. Como requisitos de admissão figuravam os aspectos de flexibilidade e de polivalência e, no ponto de vista comportamental, a ausência de comportamentos de rebeldia ou de insubmissão, se estes estivessem relacionados com aspectos meramente ideológicos.2 Os primeiros a serem admitidos na empresa rondavam os 30 anos de idade e eram detentores de elevada experiência profissional decorrente de outras experiências profissionais anteriores. Alguns desses trabalhadores transmitiram para a Autoeuropa as suas competências de know-how e, após um período, em que receberam formação profissional de forma intensa e adequada às tecnologias a serem utilizadas na empresa, ajudariam na formação dos restantes trabalhadores.

1 - Números oficiais divulgados pelo Gabinete de Relações Públicas e Assuntos Governais da Autoeuropa., Junho de 2005. 2 - Cf. Cf. CORREIA, António Damasceno ( 2000) – Op. cit. p. 740

342 Inicialmente, os anúncios de recrutamento de mão-de-obra para a Autoeuropa, que diariamente passavam nas várias estações de rádio, pediam indivíduos com o 12º ano de escolaridade. Havendo falta de indivíduos com este nível de habilitações e com disponibilidade de engrossar as linhas de produção da Autoeuropa, a exigência viria a baixar para o 9º ano de escolaridade e foi com este nível de escolaridade e sem experiência profissional e/ou laboral que se passou a operar. Se tal situação de inexperiência profissional exigiu da Autoeuropa um elevado esforço ao nível da formação profissional – em termos de prolongamento do programa de formação e do significativo aumento de custos dessa formação - não é menos verdade que todos estes aspectos passaram a ser recompensados:

• pela inexistência de vícios profissionais;

• pelo menor encargo, em termos salariais, pagos aos jovens inexperientes;

• pela fraca capacidade reivindicativa por parte desta nova mão-de-obra que entrava no mercado de trabalho;

• pela sua inexperiência nas lutas reivindicativas e sindicais que marcaram muitas das empresas existentes na Península de Setúbal e que ainda estavam bastante presentes nas mentes dos seleccionadores

Todavia, há a considerar o facto da Autoeuropa ter investido em mais de seis milhões de horas de formação profissional para os seus trabalhadores tendo a maior parte decorrido em Portugal. O investimento em formação profissional não ficou circunscrito ao território nacional, como foi extensível ao estrangeiro onde mais de 1000 empregados já obtiveram formação Em matéria de emprego a Autoeuropa é a empresa que regista maior número de empregos directos no município de Palmela. De um total de 8890 postos de trabalho, menos de 1/3 são trabalhadores directos da Autoeuropa. Os restantes postos de trabalho são de trabalhadores indirectos que colaboram nas empresas de prestação de serviços à Autoeuropa e às empresas

343 localizadas no Parque Industrial e a empresas fornecedoras existentes na zona.

Quadro 51 – Autoeuropa – Emprego Directo e Emprego no Parque Industrial e nos Serviços Contratados 1

Emprego Nº % trabalhadores VW Autoeuropa 2790 31,4 Prestação de Serviços à Autoeuropa e Parque Industrial 2350* 26,4 Fornecedores na Zona 3750* 42,2 Total do emprego 8890 100 * - Valor estimado Fonte: Autoeuropa

Não entram nesta contabilidade de emprego indirecto os números referentes aos trabalhadores das restantes empresas localizadas em Portugal fornecedoras da Autoeuropa, nem figuram nessa contabilidade os números referentes às actividades económicas que emergiram e empregos criados, que se localizam a jusante da Autoeuropa, e que se espalham pela vastidão heterogénea que caracteriza o sector terciário do município e da região.

17.2.1 – Os critérios de escolha para a localização do projecto

A escolha do espaço deste município foi feita, de acordo com Mário Vale (2000), graças a um conjunto de factores:

• a existência de um mercado de trabalho de grande dimensão, detentor de uma mão-de-obra jovem e qualificada;

• uma localização geográfica numa zona de plataforma giratória para os vários territórios da Península e para fora desta, apresentando um conjunto de boas acessibilidades inter-regionais e intra-regionais, nomeadamente a proximidade de um nó de auto-estrada (A2 - Auto estrada do Sul), linha

1 - Data de referência: Janeiro de 2006

344 férrea e o porto roll-on roll-off de Setúbal;

• a existência e a possibilidade de utilização de solo industrial dotado de infra-estruturas, com a presença de clusters desenvolvidos nas áreas de componentes eléctricos, moldes e plásticos;

• o facto da Península de Setúbal ter tido uma experiência anterior com o projecto Renault;

• a existência de um conjunto de instrumentos de índole financeira de grande dimensão, decorrente da implementação da Operação Integrada de Desenvolvimento da Península de Setúbal (OID/PS)

Figura 10 – Planta de localização da Autoeuropa (Península de Setúbal)

Fonte: Autoeuropa

345

Figura 11 – Planta de localização da Autoeuropa (Município de Palmela)

Fonte: Autoeuropa

Figura 12 – Planta de localização da Autoeuropa e do Parque Industrial

Fonte: Autoeuropa

346 Quadro 52 – Autoeuropa - Áreas do Projecto, em m2

%

Área de Produção 1 100 000 55 Parque Industrial 900 000 45 Área Total 2 000 000 100

Fonte: Autoeuropa

Quando se instalou no município de Palmela, a Autoeuropa adquiriu uma área total de terreno – 2 000 000 m2 – dos quais 55% foram projectados para a implantação da sua área de produção e os restantes 45% tiveram como destino a implantação de um Parque Industrial que albergasse um conjunto de empresas fornecedoras de componentes destinados aos veículos a serem produzidos por si .

17.2.2 – O conceito de just in time em sequência

Em termos de inovação, a Autoeuropa alterou o tipo de relações existentes, nomeadamente em termos de lógicas de organização da própria indústria automóvel, aplicando o conceito de just-in-time em sequência. Os fornecedores de primeira linha da Autoeuropa funcionam em just-in-time em sequência e a sua qualidade encontra-se certificada. Esta exigência de certificação é imposta também aos fornecedores de segunda e terceira linha.1 O processo just-in-time em sequência faz com que os vários componentes cheguem à linha de montagem em quantidades tais que nem a produção pára devido à sua ausência, nem se torna necessário proceder ao seu armazenamento. Por outro lado, os componentes chegam de acordo com uma certa sequência ordenada, pelo que se tornou necessário proceder à criação de um parque industrial adjacente à fábrica de montagem, onde se instalaram os principais fornecedores de componentes. Ainda em matéria de empresas fornecedoras, os aspectos inovadores da

1 - Cf. CHORINCAS, Joana (2002) – O Cluster Automóvel em Portugal, Lisboa., Ministério do Planeamento – Departamento de Prospectiva e Planeamento, p.10

347 Autoeuropa caracterizam-se por três aspectos:

• a existência de uma rede mais densificada de fornecedores, quer nacionais, quer estrangeiros;

• uma maior segmentação das empresas de componentes, embora com predominância do sector da metalomecânica, o que contribui para um maior equilíbrio da estrutura de fornecedores;

• uma modificação geográfica dos fornecedores, devida a um novo tipo de aglomeração de empresas nas regiões da Área Metropolitana de Lisboa, em geral, e na Península de Setúbal.1

Por outras palavras, a Autoeuropa para além de ter tido um papel multiplicador na criação em Portugal de uma nova fileira de desenvolvimento industrial, nomeadamente ao nível da industria de componentes 2 tornar-se-ia imprescindível a partir da última década do século passado, pela consolidação das empresas fornecedoras dos componentes necessários ao produto que colocava no mercado. 3 Este crescimento e consolidação das empresas de componentes é visível no número de empresas que se instalaram em Portugal no início da última década do século XX.. Assim, estima-se que se tenham instalado em Portugal cerca de 35 novas unidades de produção de componentes para a indústria automóvel, sendo muitas delas o resultado de joint-ventures constituídas entre empresas portuguesas e investidores europeus.4

1 - Cf. VALE, Mário (1999) – Geografia da Indústria Automóvel num Contexto de Globalização – Imbricação Espacial do Sistema Autoeuropa, Dissertação de Doutoramento em Geografia Humana, Lisboa, Universidade de Lisboa, p. 317 2 - Cf. CHORINCAS, Joana (2002) – Op. cit. p. 10 3 - Cf. VALE, Mário (1999) – Op. cit. p. 317 4 - Cf. CHORINCAS, Joana (2002) – Op. cit. p. 10

348 Quadro 53 - Principais investimentos estrangeiros no fabrico de componentes, que acompanharam no início projecto Autoeuropa

Ano Empresa Principal Grupo Origem Actividade Investidor

1991 Huf Portuguesa Holsberk & Furst Alemanha Fechaduras e puxadores

Johnson Controls -Assentos Johnson Controls EUA Partes e capas para assentos

1992 Dalphi Metal Dalphi Espanha Volantes

Kupper & Schmidt Kupper Alemanha Peças metálicas

1993 Slem Barcelonesa de Espanha + França Armazenagem de metais Metals + Solac

Bundy, SA TI Group Reino Unido Tubos de Plástico

Vanpro - Assentos, Lda Johnson Controls + Bertrand Faure EUA + França Montagem de assentos

1994 Kendrion RSL Portugal Kendrion Holanda Puxadores

Donnely Hohe* Donnely + Hohe EUA + Alemanha Espelhos retrovisores

Continental Lemmerz* Continental Alemanha Montagem de pneus + Lemmerz + Alemanha em jantes

Kautex Textron Portugal* Textron EUA Depósitos (Kautex) (1) (Alemanha) de combustível

Rockwell Golde* Rockwell EUA Tectos de abrir (Golde) (2) Alemanha

PPG Bollin & Kemperr* Reino Unido Tintas e revestimentos + Alemanha

Simpka Plas ? Peças Plásticas

1996 Bomoro Robert Bosh Alemanha Fechaduras

Benteler* Benteler Alemanha Suspensões

Edscha Scharwachter Port.* Edscha Alemanha Pedaleiras e peças metálicas

Gillet* H. Gillet Alemanha Sistemas de escape

Fonte: SIMÕES, Vitor Corado, (2000), Efeitos do Investimento Estrangeiro na Indústria Automóvel

Notas: *Empresas instaladas no Parque Industrial da AutoEuropa

(1) A Kautes Werke (alemã) foi adquirida em 1986 pela Textron, 50º fabricante mundial de componentes. (2) A Golde GmbH (alemã) foi adquirida em 1987 pela Rockwell Inc, 32º fabricante mundial de componentes.

349 O processo de instalação da Autoeuropa e a atracção que despoletou junto de outras empresas pode ser tomado como um exemplo do paradigma dos espaços aderentes ou também conhecido por novos distritos industriais, que Ann Markusen desenvolveu em 1996,1 quando se refere nomeadamente aos hub-and-spoke industrial districts: uma empresa multinacional que polarizou e desenvolveu um espaço e que incentivou e atraiu para o seu espaço de influência uma rede de empresas suas fornecedoras, ao mesmo tempo que as envolvia na lógica de funcionamento dos espaços onde se instalaram.

Figura 13 – O Cluster automóvel na Região de Lisboa e Vale do Tejo

Fonte: RIBEIRO, José Félix; PROENÇA, Manuela; MARQUES, Isabel; CHORINCAS, Joana (2004) - “Dinâmica de Actividades na Região de Lisboa e Vale do Tejo - Balanço e Potencial”, Lisboa, Prospectiva e Desenvolvimento, nº 10

Para reforçar esta ideia, refira-se a análise que fazem do cluster automóvel na macro-região de Região de Lisboa e Vale do Tejo os autores supra citados no esquema. Para além de relevarem a importância do Centro e Sul Litoral como território-chave do cluster automóvel no nosso país, apontam a industria automóvel como a mais significativa actividade industrial existente nesta macrro-região.

1 - Cf. MARKUSEN, Ann (1996) – “Sticky Places in Slippery Space: A Typology of Industrial Districts”, Economic Geography, 72 (3), 293-313

350 Esse território seria possuidor de quatro características estruturais que o distinguem:

1 – Apresenta a maior concentração de OEM (Original Equipment Manufacturers) que existe em Portugal. Como exemplos, há a referir as unidades de fabrico ou de montagem de veículos da:

• Autoeuropa, do grupo Volskswagen

• Opel, do grupo General Motors

• Mitsubishi Trucks Europe, do grupo Mitsubishi

Como característica em comum, refira-se o facto dos investimentos de todos eles terem sido decididos na década de noventa, num período contemporâneo à saída de dois OEM da região – a Renault e a Ford;

2 – A presença de um conjunto de indústrias de componentes que se estabeleceram no país e cujo objectivo essencial assentou no abastecimento da Autoeuropa, havendo muitos deles optado por se estabelecerem dentro do Parque Industrial da Autoeuropa. A sua principal característica relaciona-se com o facto dos seus produtos apresentarem quantidades muito baixas em termos de exportação directa;

3 – Apresenta um conjunto restrito de indústrias de componentes localizadas no nosso país cujo objectivo é o fornecimento dos clientes das suas casas-mãe que se localizam na Europa. Este grupo embora forneça a Autoeuropa, não produz só para essa empresa. A característica que apresentam é comum, relaciona-se com o tipo de produtos que fabricam e que são pouco exigentes em termos tecnológicos;

4 – A existência de indústrias fabricantes de Autorádios, que constitui uma das

351 principais exportações do país em matéria de equipamento electrónico. 1

Quadro 54 – Fornecedores de Componentes para a Autoeuropa

Áreas Geográficas dos Fornecedores de Produção %

12 2,9 Parque Industrial Autoeuropa Portugal 40 9,7 Outros locais

355 85,7 Resto da Europa 7 1,7 Resto do Mundo

Total de Fornecedores de Produção 414 100,0

Fonte: Autoeuropa

Pese embora, o facto de os fornecedores portugueses apresentarem um valor percentual de 13% em relação ao total de fornecedores de componentes para os veículos produzidos, estes incorporam 54% do valor em material dos MPV, o que não deixa de ser significativo.

1 - Cf. RIBEIRO, José Félix; PROENÇA, Manuela; MARQUES, Isabel; CHORINCAS, Joana (2004) - “Dinâmica de Actividades na Região de Lisboa e Vale do Tejo - Balanço e Potencial”, Lisboa, Prospectiva e Desenvolvimento, nº 10, p. 31

352

Gráfico 13 – Autoeuropa - Distribuição por países dos fornecedores de componentes

Autoeuropa - Distribuição de Fornecedores - 2004

12% 3%

13% 48%

4% 3% 17%

Alemanha Espanha França Itália Portugal Reino Unido Outros

Fonte: Autoeuropa

Das indústrias de componentes que fornecem a Autoeuropa a partir do exterior do país, sobressai o peso da Alemanha, país de origem do grupo Volkswagen com 48 % dos fornecedores. Esta situação pode ser explicada pelo facto de existir um conjunto de empresas de componentes que fornecem a Volkswagen, como pode ser entendida pelo facto de existir um verdadeiro cluster da industria automóvel alemã, há muito consolidado e que inclui, para além das empresas de componentes em que se salienta a liderança mundial na electrónica automóvel da empresa Robert Bosch as OEM Volskswagem, , Opel, Daimler-Chrysler, BMW e ; Em segundo lugar, sobressai a Espanha, com 17% dos fornecedores estrangeiros da Autoeuropa. Esta situação torna-se inteligível pelo facto da SEAT integrar o grupo Volkswagen e a sua produção ser bastante elevada: em 2004 a fábrica SEAT de Martorell

353 produziu 416.381 automóveis.1 A Itália, embora represente apenas 3% dos fornecedores estrangeiros de componentes, possui uma longa tradição em matéria de indústria automóvel onde as OEM mais conhecidas são a FIAT e Lancia, e ainda a Alfa-Romeu, Ferrari, (grupo VW), Maserati e Ducati.

7.2.3 – Produção, exportação e impactos na economia portuguesa

Da análise da informação sobre a produção de veículos produzidos pela Autoeuropa, podemos estabelecer três períodos: O primeiro período, compreendido entre os anos de 1995 e 1998, caracteriza-se pelo início da produção em Maio, tendo começado a ser produzidos os modelos VW Sharan e Ford Galaxy. Em oito meses de produção, a Autoeuropa lançou no mercado 41201 veículos. Esse valor quase triplicaria em 1996 – ano em que começa a produção do Seat Alhambra. De 1996 até 1998 – ano em que observa o maior número de veículo produzidos – 138890 – a sua produção vai sempre aumentando. Um segundo perídodo – compreendido entre os anos de 1999 e o ano de 2001, caracteriza-se por uma produção que ora decresce, ora cresce ficando sempre aquém dos valores alcançados em 1998. A tal facto não são estranhas as oscilações em termos de mercados e a concorrência que começa a ser alvo por parte de outros construtores de produtos semelhantes. O terceiro período – que decorre entre os anos de 2002 e 2005 – caracteriza-se por um decréscimo da produção, atingindo valores até então nunca alcançados e que em 2005 se situavam abaixo das 80 mil unidades. Da informação obtida a partir da Autoeuropa, a empresa encontra-se num ponto de viragem. Em 2004, é anunciado um novo produto a ser construído na fábrica de Palmela, o VW EOS Cabrio. Para que possa ser possível o seu fabrico, o grupo Volkswagen fez um investimento de € 600 milhões. Este novo produto iniciou a sua produção em Dezembro de 2005, tendo a sua

1 - Fonte: SEAT – Espanha, referente ao ano de 2004

354 introdução no mercado sido realizada em Maio de 2006 (Alemanha) e Junho (Portugal). Tratando-se de um veículo nicho, 32% da sua produção destinar-se-à ao mercado norte-americano. Ainda em 2006 será anunciado pela empresa-mãe o modelo que passará a ser construído nas instalações da Autoeuropa a partir de 2008.

Gráfico 14– Autoeuropa Produção de Veículos (1995-2005)

Autoeuropa - Evolução da Produção

160000

138890 137267 136758 140000 131400 126191 130007 119042 120000 109647 95660 100000 79896 80000 Unidades

60000 41201 40000

20000

0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: Autoeuropa

Embora a produção dos veículos da Autoeuropa esteja mais vocacionada para os mercados da União Europeia, não deixa de ser sintomática a pouca adesão do mercado português aos veículos produzidos pela Autoeuropa.

355

Quadro 55 – Preço da VW Sharan nos países da zona euro360 (2006)

Países da Zona Modelos Preço do modelo Preço do modelo Euro mais económico mais caro Milhares de € Milhares de € Alemanha Trendline 5V Turbo 27 500,00 Highline V6 39 900,00 Austria Basis 2.0 6-Gang 30 006,00 Highline V6 2.8 Tiptronic 5 Gang 44 985,00 Bélgica B2B-Line E 2.0 6 Vitesses 22 790,00 Executive TDI 2.0 34 750,00 Espanha Conceptline 1.9 TDI 29 630,00 Highline 2.8 4 MOT 39 950,00 Finlândia 361

França Sharan 2.0 29 940,00 SHARAN Carat TDI 115 4MOTION 37 190,00 Grécia 1.8T TURBO 150 PS 33 420,00 1.8T TURBO 150 PS Tiptronic 35 700,00 Holanda Basis 2.0 4 traps automaat 33.350,00 2.8 v6 4 motion pk 6 versnellingen 52.950,00 Irlanda Sharan 1.8T 6S 150BHP 36,895 Sharan TDI TRENDLINE 1.9 6S 130BHP 43,940 Itália 2.0 Comfortline Navman 85 kW 26 403,00 1.9 TDI Trendline Van 4-Motion 85 kW 36 124,00 Luxemburgo Sharan 2.0 19 121,74 Sharan Highline 33 095,65 Portugal 362 1.9 TDI 115cv Confortline TIP 40 734,02 1.9 TDI 115cv Highline 4M 49 377,55 Fontes: Volkswagen dos países mencionados

360 - A informação sobre os modelos e respectivos preços pode ser consultada nos vários sítios nacionais da Volkswagen. Optou-se em escolher o modelo mais económico e o mais caro à venda em cada país da zona euro, uma vez que a existência de modelos não é uniforme. 361 - A Volkswagen Finlândia não comercializa a VW Sharan nesse país. 362 - Segundo a informação da SIVA online, em Portugal o preço base do modelo mais económico, a VW Sharan 1.9 TDI 115cv Confortline TIP é de € 28.767,64 ficando o custo final no consumidor em € 40734,02 (excluindo despesas administrativas e transportes). A VW Sharan 1.9 TDI 115cv Highline 4M tem como preço base € 32.636,79, ficando o custo final no consumidor em € 49.377,5544.985 (excluindo despesas administrativas e transportes)

356 Dos 79 449 veículos produzidos na Autoeuropa em 2005, 37% tiveram como destinos o mercado alemão e 18% o mercado britânico. Portugal atingiu um valor de 1,6% . Tal facto só pode ter explicação se tomarmos em linha de conta que contrariamente ao que se verifica, de um modo geral, nos vários países da União Europeia que produzem veículos automóveis, o Estado português aplica um conjunto de impostos sobre as várias marcas de automóveis de forma indiscriminada, independentemente se estas são, ou não, produzidas em Portugal, colocando os preços finais destes veículos numa posição pouco acessível a uma parte dos consumidores portugueses ou incapazes de concorrerem com outras marcas e modelos com melhores motorizações e com equipamentos de topo de gama, e cujos preços muitas das vezes se mostram mais aliciantes aos consumidores. Pese embora as políticas proteccionistas estejam fora do contexto da União Europeia verifica-se, contudo, que estas existem de forma clara e inequívoca em muitos países membros.

357 Gráfico 15 – Autoeuropa – Os mercados do produto Autoeuropa

Autoeuropa - Distribuição da Produção de Monovolumes - 2005

29389 30000

25000

20000 14294 15000

10000 7917 4515 3813 3789 4062 Milhares de Unidades 5000 1618 1920 2278 665 1238 350 1263 763 423 1152 0 Suiça Itália Suécia França Irlanda Austria Bélgica México Polónia Holanda Espanha Portugal Alemanha Dinamarca Reino Unido Reino África do Sul África Resto do Mundo Resto Países

Fonte: Autoeuropa

O final do ano de 2005 fica marcado pelo início da produção do novo VW EOS Cabrio. Repare-se que as produções dos veículos VW Sharan e Ford Galaxy possuem valores muito próximos quanto ao número de veículos produzidos.

358 Gráfico 16 - Autoeuropa – Produção de veículos por marcas (2005)

Todo o ser Humano foi feito para viver, não para ser usado quando e como outras pessoas precisam.

Autoeuropa - Produção por Marcas (Janeiro a Dezembro de 2005)

79896 80000 70000 60000 50000 40000 32575 31972 Unidades 30000

20000 14902 10000 447 0 VW Sharan Seat Alhambra Ford Galaxy VW EOS Total (Cabrio)* Marcas

* - Início da produção em Dezembro de 2005 Fonte: Autoeuropa

Os primeiros quatro meses do ano de 2006 ficaram marcados pelo fim do fabrico da Ford Galaxy (Fevereiro) e pelo incremento da produçaõ do VW EOS Cabrio. Se durante o mês de Dezembro de 2005 foram construídas 447 viaturas, entre os meses de Janeiro e Abril de 2006 produziram-se 4877 ou seja, uma média de 1219 viaturas mês.

359

Gráfico 17 - Autoeuropa – Produção por marcas (Janeiro a Abril de 2006)

Autoeuropa - Produção por Marcas (Janeiro a Abril 2006)

18937 20000 18000 16000 14000 12000 10000 8330

Unidades 8000 4536 4877 6000 4000 1194 2000 0 VW Sharan Seat Alhambra Ford Galaxy* VW EOS (Cabrio)** Total Marcas

Fonte: Autoeuropa

Gráfico 18 - Autoeuropa – Contribuição para o Valor Acrescentado Nacional

Autoeuropa - Valor Acrescentado Nacional

60 54 54 54 49,14 49,8 50 45,82 45,31 42,2 40,65 40,22 40,68 40

30 %

20

10

0 1995* 1996* 1997* 1998* 1999* 2000* 2001* 2002** 2003** 2004** 2005** Anos

360 * - IAPMEI ** - Estimativa Fonte: Autoeuropa Partindo de um valor que rondava os 45,82% em 1995, ano do início da sua produção, a Autoeuropa está perante um cenário mundial de concorrência ao nível da produção e compra, tem vindo a contribuir para o Valor Acrescentado Nacional (VAN) com valores que têm vindo a estabilizar-se desde os últimos três anos (54%).

Gráfico 19 - Autoeuropa – Contribuição para o PIB português

Autoeuropa - Contribuição para o PIB

2,5 2,2 2,1 2,1 2,1 2 1,8 1,85

1,5 1,5 1,2

% 1 1

0,5

0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004* 2005* Anos

* - Os valores referentes aos anos de 2004 e 2005 ainda não foram fornecidos pela Administração Central Fonte: Autoeuropa

Para além do impacto que teve em matéria de incremento e desenvolvimento das empresas fabricantes de componentes para a indústria automóvel, a Autoeuropa apresenta um outro grande impacto económico para o país, que decorre do facto da especificidade da sua produção. Em temos do Produto Interno Bruto, no ano em que iniciou a sua produção, a Autoeuropa contribui com 1% do PIB, valor que um anos após iria ultrapassar o dobro, para em 1997 atingir o valor máximo até hoje registado: 2,2%. De 1998 até 2003 (último ano que a Administração Central disponibilizou a informação para a Autoeuropa) os valores percentuais têm vindo a baixar, fixando-se nos

361 1,2%. 17.3 - VISTEON

A Visteon está representada em Portugal através de três unidades industriais localizadas em Palmela, que produzem componentes electrónicos, controlos climáticos, compressores de ar condicionado e plásticos. Encontra-se a laborar em Palmela desde 1991, numa unidade de ocupa 82.100 m2 e empregando cerca de 2000 pessoas. Em 2003, é assinado um contrato de investimento no montante de 49 milhões de euros, para implementar, na unidade de produção de Palmela, um Centro de Integração de Produção e Design, uma vez que é a única unidade produtiva da Visteon a produzir componentes áudio em toda a Europa

17.3.1 - Fábrica de componentes electrónicas

Esta unidade produz auto-rádios, amplificadores, sistemas de CD’s, módulos de controlo activados por voz, sistemas de temperatura electrónicos, módulos de controlo de válvulas de aquecimento e clusters de instrumentos.

São produzidos anualmente, cerca de 2 milhões de unidades, destinadas aos grandes montadores, incluindo empresas como a FIAT, o Grupo Ford (Aston Martin, Ford, Jaguar e Mazda), a Mecedes-Benz, a Renault, a Nissan e o Grupo VW.

17.3.2 - Fábrica de compressores

Esta unidade apresenta-se como uma das mais avançadas do mundo na sua classe. O compressor é o coração dos sistemas de ar condicionado para automóveis. O compressor produzido em Palmela é destinado a motores de fraca e média potência, apresentando claras vantagens quando comparados com os sistemas de pistão típicos.

17.3.3 - Unidade de produção de plásticos

Esta unidade, iniciou as suas operações em 1997 e representou um investimento

362 de 5,8 milhões de USD$. A unidade é possuidora de três instrumentos que são utilizados para a produção de moldes de plástico por injecção com capacidade para 1.000 toneladas e quatro aparelhos com capacidade para 300 toneladas, permitindo assim, fornecer todas as componentes de distribuição de ar para todas as marcas de monovolumes que são produzidos na VW Autoeuropa. A implementação de um Centro de Integração de Produção e Design, em Junho de 2003, representa um investimento estratégico tanto para a Visteon Portugal como para a indústria automóvel nacional. De facto, espera-se que este investimento implique uma considerável repercussão económica, estimando-se um impacto positivo na Balança de Pagamentos de cerca de 1.254 milhões de euros, até ao final de 2008. Actualmente, o investimento realizado pela Visteon em Portugal ascende a 289 milhões de euros.

Entre os anos de 1986 e 1997 a estrutura empresarial da Península de Setúbal mostrou uma tendência crescente para a sua homogeneização, característica essa que abrangeu tanto as PME quer as grandes empresas, numa estrutura que, no seu essencial, continua a ser microssocial.363 A acompanhar este fenómeno, observa-se uma diminuição da concentração empresarial inter-municípios, pese embora os municípios de Almada e de Setúbal se apresentem como aqueles em que a dinâmica empresarial é maior, o município do Seixal mostre a maior expansão microempresarial e o município de Palmela concentre o maior número das grandes empresas existentes na região. 364

363 - Cf. Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal– Diagnóstico Prospectivo – Sumário Executivo - (s/d) - s/l, ISEG/Cirius, p. 15 364 - idem

363

Quadro 56 – Empresas com Sede na Região365, por CAE366

Total A+B C D E F G H I J K M a O Alcochete 1 519 179 - 123 1 291 448 203 25 28 122 99 Almada 21 104 259 4 1 473 1 4 224 7 844 2 239 342 672 2 446 1 600 Barreiro 9 458 82 2 694 1 2 023 3 560 1 142 160 250 888 656 Moita 7 102 206 - 541 1 1 843 2 371 800 74 115 608 543 Montijo 5 838 609 1 453 1 967 2 124 608 103 108 463 401 Palmela 7 259 765 - 506 1 1 704 2 300 752 137 80 547 467 Seixal 16 425 125 6 1 218 1 4 094 5 750 1 753 362 316 1 661 1 139 Sesimbra 4 548 357 17 269 1 1 049 1 331 621 158 62 409 274 Setúbal 14 653 595 8 855 4 2 967 5 224 1 828 303 287 1 454 1 128 Península de Setúbal 87 906 3 177 38 6 132 12 19 162 30 952 9 946 1 664 1 918 8 598 6 307

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2004

Do total das empresas existentes em 2004 na Península de Setúbal, 8,3% tinham a sua Sede Social no município de Palmela, situação que contrasta com os valores apresentados em 2001 que se situavam nos 7,7%. Nota-se, contudo, que o município de Palmela em 2004 apresentava um número de empresas ligeiramente superior ao município da Moita (8,1%), situação que contrasta com a que se verificava em 2001. Se, por razões históricas relacionadas com o próprio processo de industrialização e, posteriormente, de terciarização, dos territórios dos municípios da margem sul do estuário do Tejo, estes apresentam um crescimento empresarial mais antigo que Palmela, parece que os processos de desindustrialização verificados nos municípios do Barreiro e da Moita, nomeadamente a Quimigal no Barreiro e de algumas indústrias corticeiras e de confecções na Moita levaram a um movimento de retracção empresarial, que contrasta com o movimento de expansão verificado no município de Palmela.

365 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2004 366 - A - Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura; B - Pesca; C - Indústrias Extractivas; D- Indústrias Transformadoras; E - Produção e Distribuição de Electricidade, de Gás e de Água; F - Construção; G - Comércio por Grosso e a Retalho; H - Alojamento e Restauração (Restaurantes e Similares); I - Transportes, Armazenagem e Comunicações; J - Actividades Financeiras; K- Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas; L - Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória; M - Educação; N - Saúde e Acção Social; O - Outras Actividades de Serviços Colectivos, Sociais e Pessoais.

364

Gráfico 20 – Município de Palmela -Evolução do número de Empresas 2001-2004

Município de Palmela - Evolução do número de empresas - 2001-2004

8.000

7.000

6.000

5.000 2001 4.000 2003 2004 3.000 Total de Empresas de Total

2.000

1.000

0 Total A+B C D E F G H I J K L a O CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

Contudo, verificou-se um aumento de 9529 empresas na Península de Setúbal no período de tempo referido. Este crescimento não foi, contrariamente ao que se poderá supor, verificado de forma homogénea para todas as actividades económicas. Existem sectores que cresceram de forma significativa e outros que diminuíram consideravelmente. Destes últimos, há a referir os casos dos sectores ligados à agricultura e pescas (A+B), que perderam 195 empresas. Esta diminuição poderá estar relacionada com a concorrência verificada no sector agrícola (quer nacional quer por via dos países comunitários), o que poderá ter contribuído para a falência de algumas empresas deste sector ou poderá também estar relacionada com o envelhecimento dos proprietários das

365 explorações agrícolas e consequente abandono da actividade, sem contudo se ter verificado a sua substituição por indivíduos mais novos. No sector das pescas, a diminuição do número de empresas poderá estar relacionada na reestruturação do sector das pescas por parte da União Europeia. Por sua vez, as indústrias extractivas apresentaram menos 16 empresas, situação que poderá revelar a existência de uma crise relacionada com a falta de investimentos nas Obras Públicas. O panorama de decréscimo verifica-se, também, ao nível da Indústria Transformadora, onde se observam menos 125 empresas, situações que podem estar relacionadas com um conjunto de aspectos que vão dos padrões de qualidade exigidos à própria concorrência existente no sector. O sector mais pequeno quanto ao número de empresas, é o de produção e distribuição de electricidade, de gás e água e foi aquele que sofreu menor perda de empresas. Ao desaparecerem 7 empresas deste sector, tal pode estar relacionado com as empresas distribuidoras de gás que se viram confrontadas com a concorrência imposta por parte das empresas que exploram a rede de gás natural nas zonas urbanas. Para finalizar o rol de sectores perdedores de empresas neste período de análise, resta referir o sector ligado às actividades financeiras, que em toda a Península perde cerca de 500 empresas. Os sectores em que se verificam crescimentos significativos em termos de número de empresas são: a construção, com mais 3348 empresas, o comércio por grosso e a retalho, com mais 1971 empresas, o alojamento e restauração, com mais 2706 empresas, os transportes, armazenagem e comunicações, com mais 183 empresas, as actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas, com mais 287 empresas e os sectores ligados à administração pública, educação, saúde e outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais, que apresentam mais 1877 empresas. O crescimento do número de empresas ligadas à construção pode revelar aspectos contraditórios. Se por um lado pode levar a uma situação conclusiva em torno de uma possível explosão urbana, que pode ser enganadora em termos de oferta e de procura ao nível da habitação, como pode ser entendida como uma forma de investimento num

366 sector que tradicionalmente é caracterizado por elevados lucros provenientes de processos de especulação imobiliária. Os restantes sectores confirmam as tendências de terciarização que a Península de Setúbal tem vindo a mostrar nos últimos anos, e que se prendem quer com o seu crescimento urbano (com tudo o que esse urbano criou), quer com os próprios serviços que são prestados às empresas que aqui se localizam. Da análise interna das empresas existentes no município de Palmela, salientam-se as empresas ligadas ao comércio por grosso e a retalho (31,7%) que revelam a importância que este sector apresenta para a economia do município. Também as empresas de construção que representam 23,5% do sector empresarial do município podem revelar uma situação de expansão das dinâmicas urbanísticas verificadas, nomeadamente ao nível das urbanizações e do aumento do parque habitacional existente no município. Por outro lado, e uma vez que a economia de Palmela se baseou, por muitos anos, na agricultura, o sector empresarial ligado a este sector ocupava, em 2004, cerca de 10,5% do total de empresas, o que revela também o tipo de agricultura existente, ou seja, uma agricultura de cariz familiar e/ou de subsistência. O panorama verificado nas indústrias transformadoras existentes no município de Palmela é semelhante à distribuição das empresas, ou seja, mostra-se ainda incipiente se forem tomados em termos comparativos os valores apresentados por outros municípios que constituem a Península de Setúbal. Contudo, saliente-se que o número de empresas industriais tem vindo a aumentar desde a implementação do projecto Autoeuropa.

367

Quadro 57 – Empresas com Sede na Região367 Indústria Transformadora 368

Total DA DB DC DD DE DF+DG DH DI DJ DK DL DM DN Alcochete 123 26 5 1 17 8 1 - 3 40 11 2 1 8 Almada 1 473 96 338 10 88 174 6 6 32 348 81 78 87 129 Barreiro 694 56 163 4 44 69 5 7 18 166 45 34 15 68 Moita 541 62 112 2 52 24 10 7 21 143 34 16 13 45 Montijo 453 79 48 4 88 31 7 2 22 100 19 14 1 38 Palmela 506 109 39 3 46 21 5 9 20 150 26 19 29 30 Seixal 1 218 112 215 5 56 117 11 12 37 356 89 49 43 116 Sesimbra 269 64 23 - 19 16 - 2 32 66 6 9 12 20 Setúbal 855 89 95 3 67 59 8 8 36 266 55 39 49 81 Península de Setúbal 6 132 693 1 038 32 477 519 53 53 221 1 635 366 260 250 535 Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2004

As indústrias metalúrgicas de base e de produtos metálicos são aquelas que no panorama empresarial ligado à indústria transformadora apresentam, no ano de 2004, o maior número de empresas (29,,6%), logo seguido do conjunto constituído pelas indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco (21,5%). Deste conjunto ressaltam a presença das adegas (cooperativa, de casas agrícolas e outras de cariz particular), fábricas de refrigerantes - das quais sobressai a Refrige, SA, que é a detentora da licença de produção das bebidas Coca-Cola e afins , indústria de carnes, de lacticínios (Parmalat – Portugal), indústria de tomate, entre outras.

367 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2004 368 - DA - Indústrias Alimentares, das Bebidas e do Tabaco; DB - Indústria Têxtil; DC - Industria do Couro e dos Produtos do Couro; DD - Indústrias da Madeira e da Cortiça e suas Obras; DE - Indústrias de Pasta, de Papel e de Cartão e seus Artigos; DF - Fabricação de Coque, Produtos Petrolíferos Refinados e Combustível Nuclear; DH - Fabricação de Artigos de Borracha e de Matérias Plásticas; DI - Fabricação de Outros Produtos Minerais Não Metálicos; DJ - Indústrias Metalúrgicas de Base e de Produtos Metálicos; DK - Fabricação de Máquinas e de Equipamentos, N.E.; DL - Fabricação de Equipamento Eléctrico e de Óptica; DM - Fabricação de Material de Transporte; DN - Indústrias Transformadoras, N.E..

368

Gráfico 21 – Evolução das Empresas de Indústrias Transformadoras 2001-2004

Município de Palmela - Evolução das Empresas de Industrias Transformadoras - 2001-2004

600

500

400

2001 300 2003 2004

200 Total de Empresas de Total

100

0

CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

369

Quadro 58 – Sociedades com Sede na Região 369, por CAE 370

Total A+B C D E F G H I J K M a O Alcochete 411 36 - 52 1 63 110 52 15 2 51 29 Almada 5 707 22 4 400 1 870 1 830 772 197 19 996 596 Barreiro 1 782 5 1 150 1 312 566 216 81 6 255 189 Moita 1 417 31 - 154 - 353 380 120 46 11 195 127 Montijo 1 480 116 1 185 1 229 410 118 72 4 236 108 Palmela 1 767 96 - 209 - 378 489 126 104 5 255 105 Seixal 4 246 16 2 396 1 872 1 332 375 227 12 614 399 Sesimbra 1 430 50 11 85 1 273 373 179 124 5 221 108 Setúbal 3 766 88 6 260 4 567 1 175 355 236 17 678 380 Península de Setúbal 22 006 460 25 1 891 10 3 917 6 665 2 313 1 102 81 3 501 2 041

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2004

Em termos de Sociedades com sede na Península de Setúbal, verifica-se que o município de Palmela detinha, em 2004, 8,0 % do seu total. Os valores mais expressivos pertencem a municípios cujas dinâmicas empresariais se mostram mais consolidadas e que são detentores de processos de industrialização e de terciarização anteriores aos do município de Palmela. São os casos dos municípios de Almada com 25,9%, do Seixal com 19,3% e de Setúbal com 17,1%. Em termos sectoriais, as Sociedades ligadas ao comércio por grosso e a retalho (30,3%) e de construção (17,8%) e actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas (15,9%), são aqueles que existiam em maior número em toda a Península de Setúbal.

369 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2004 370 - A - Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura; B - Pesca; C - Indústrias Extractivas; D- Indústrias Transformadoras; E - Produção e Distribuição de Electricidade, de Gás e de Água; F - Construção; G - Comércio por Grosso e a Retalho; H - Alojamento e Restauração (Restaurantes e Similares); I - Transportes, Armazenagem e Comunicações; J - Actividades Financeiras; K- Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas; L - Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória; M - Educação; N - Saúde e Acção Social; O - Outras Actividades de Serviços Colectivos, Sociais e Pessoais.

370

Gráfico 22 – Município de Palmela - Evolução do número de Sociedades 2001-2005

Município de Palmela - Evolução das Sociedades - 2001-2004

1.800

1.600

1.400

1.200

1.000 2001 2003 800 2004

600 Total de Sociedades

400

200

0 Total A+B C D E F G H I J K L a O CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

371

Quadro 59 – Sociedades com Sede na Região371 Indústria Transformadora372

Total DA DB DC DD DE DF+DG DH DI DJ DK DL DM DN Alcochete 52 11 1 1 7 3 1 - 2 15 9 - - 2 Almada 400 24 45 2 22 88 3 2 15 82 24 25 31 37 Barreiro 150 18 8 - 7 24 5 4 5 30 16 10 6 17 Moita 154 25 9 - 21 14 7 4 5 42 10 5 2 10 Montijo 185 27 3 1 49 17 5 2 15 35 10 8 1 12 Palmela 209 50 6 2 9 11 4 7 8 54 11 10 25 12 Seixal 396 36 34 - 19 46 8 8 9 119 29 19 24 45 Sesimbra 85 16 1 - 7 10 - - 8 23 1 2 8 9 Setúbal 260 25 10 - 18 33 5 6 15 76 21 13 24 14 Península de Setúbal 1 891 232 117 6 159 246 38 33 82 476 131 92 121 158

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2004

Nas Sociedades do sector industrial, o município de Palmela que detinha, em 2004, 11,4% do total das sociedades indústrias com sede na Península de Setúbal. Todavia o tecido industrial deste município tem vindo a caracterizar-se, desde a implantação da Autoeuropa, por possuir empresas de média e de grande dimensão. Mas, o subsector de fabricação de material de transporte ocupava na data de referência uns meros 12% do total das indústrias transformadoras deste município, detinha o maior volume de vendas registado quer no total das empresas do município, quer no total das empresas existentes na Península.

371 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2004 372 - DA - Indústrias Alimentares, das Bebidas e do Tabaco; DB - Indústria Têxtil; DC - Industria do Couro e dos Produtos do Couro; DD - Indústrias da Madeira e da Cortiça e suas Obras; DE - Indústrias de Pasta, de Papel e de Cartão e seus Artigos; DF - Fabricação de Coque, Produtos Petrolíferos Refinados e Combustível Nuclear; DH - Fabricação de Artigos de Borracha e de Matérias Plásticas; DI - Fabricação de Outros Produtos Minerais Não Metálicos; DJ - Indústrias Metalúrgicas de Base e de Produtos Metálicos; DK - Fabricação de Máquinas e de Equipamentos, N.E.; DL - Fabricação de Equipamento Eléctrico e de Óptica; DM - Fabricação de Material de Transporte; DN - Indústrias Transformadoras, N.E..

372

Gráfico 23 – Município de Palmela – Evolução do número de Sociedades de Indústrias Transformadoras 2001-2004

Município de Palmela - Evolução das Sociedades de Indústrias Transformadoras - 2001-2004

250

200

150 2001 2003

100 2004 Total de Sociedades 50

0

CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

373

Quadro 60 – Pessoal ao Serviço nas Sociedades com Sede na Região373

Total A+B C D E F G H I J K M a O Alcochete 2 690 250 - 905 ... 483 594 145 80 ... 86 144 Almada 27 196 58 ... 2 787 ... 4 445 6 608 2 582 2 073 41 3 553 5 016 Barreiro 10 485 17 ... 1 999 ... 1 822 2 676 661 352 13 905 2 030 Moita 7 000 188 - 1 757 - 1 567 1 226 247 106 20 1 187 702 Montijo 8 017 751 ... 2 466 ... 1 326 1 922 344 375 11 475 346 Palmela 21 761 447 - 12 529 - 2 089 2 458 314 1 412 2 2 089 421 Seixal 21 446 52 ... 5 383 ... 4 801 5 105 1 251 642 29 2 324 1 830 Sesimbra 6 139 430 263 487 ... 2 173 959 614 327 ... 505 365 Setúbal 27 012 593 32 6 910 336 3 298 5 417 1 370 2 027 158 3 999 2 872 Península de Setúbal 131 746 2 786 352 35 223 359 22 004 26 965 7 528 7 394 286 15 123 13 726

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002

Do pessoal ao serviço nas sociedades, em 2003, refira-se o facto do município de Palmela deter o terceiro maior número de empregados dos nove municípios que formam a Península de Setúbal. Esta situação parece ser demonstrativa do fôlego económico que marcou a década de noventa e o princípio do século XXI. Todavia, e na visão conjunta dos vários sectores económicos, o maior número de empregados situa-se na indústria transformadora, que representa 57,6 % do total dos empregados no município de Palmela e 35,6% do total de empregados na indústria transformadora da Península de Setúbal.

373 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2003

374

Gráfico 24 – Município de Palmela – Evolução do número de Empregados nas Sociedades 2000-2003

Município de Palmela - Evolução dos Empregados nas Sociedades 2000-2003

25.000

20.000

15.000 2000 2002 10.000 2003 Total de Empregados de Total 5.000

0 Total A+B C D E F G H I J K L a O CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

375

Quadro 61 - Pessoal ao Serviço nas Sociedades com Sede na Região374 Indústria Transformadora 375

Total DA DB DC DD DE DF+DG DH DI DJ DK DL DM DN Alcochete 905 63 ...... 228 8 ... - ... 389 ... - - ... Almada 2 787 281 366 ... 135 402 ...... 106 487 151 348 322 131 Barreiro 1 999 484 56 - 235 82 325 25 34 367 105 104 97 85 Moita 1 757 316 147 - 97 62 26 37 ... 927 36 ...... 22 Montijo 2 466 941 9 ... 512 56 9 ... 495 160 60 107 ... 83 Palmela 12 529 1 242 ...... 68 91 145 754 65 872 32 4 956 3 949 299 Seixal 5 383 449 259 - 405 314 133 96 112 1 101 262 1 615 443 194 Sesimbra 487 120 ... - 41 30 - - 83 97 ...... 22 ... Setúbal 6 910 864 43 - 143 1 403 167 207 506 755 194 177 2 403 48 Península de Setúbal 35 223 4 760 933 47 1 864 2 448 917 1 162 1 435 5 155 946 7 365 7 246 945

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2004

Na indústria transformadora sobressaem, no município de Palmela, dois subsectores, a indústria de fabricação de equipamento eléctrico e de óptica e a indústria de fabricação de material de transporte, ocupando respectivamente, 39,9% e 31,5% do total de pessoal empregado neste sector económico. Empresas como a Visteon, Autoeuropa e suas fornecedoras empregam a maior parte destes trabalhadores. Embora com valores bastante inferiores, o subsector das indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco empregava 9,9% do total dos trabalhadores da indústria transformadora.

374 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2003 375 - DA - Indústrias Alimentares, das Bebidas e do Tabaco; DB - Indústria Têxtil; DC - Industria do Couro e dos Produtos do Couro; DD - Indústrias da Madeira e da Cortiça e suas Obras; DE - Indústrias de Pasta, de Papel e de Cartão e seus Artigos; DF - Fabricação de Coque, Produtos Petrolíferos Refinados e Combustível Nuclear; DH - Fabricação de Artigos de Borracha e de Matérias Plásticas; DI - Fabricação de Outros Produtos Minerais Não Metálicos; DJ - Indústrias Metalúrgicas de Base e de Produtos Metálicos; DK - Fabricação de Máquinas e de Equipamentos, N.E.; DL - Fabricação de Equipamento Eléctrico e de Óptica; DM - Fabricação de Material de Transporte; DN - Indústrias Transformadoras, N.E..

376

Gráfico 25 – Município de Palmela – Evolução do número de Empegados nas Sociedades de Indústrias Transformadoras 2000-2003

Município de Palmela - Evolução dos Empregados nas Sociedades de Indústrias Transformadoras - 2000-2003

16.000

14.000

12.000

10.000 2000 8.000 2002 2003 6.000

Total de Empregados de Total 4.000

2.000

0 Total DA DB DC DD DE DF+DG DH DI DJ DK DL DM DN CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

A importância do município de Palmela na economia regional e nacional pode ser vista através do volume de vendas apresentado pelas sociedades que aqui possuem a sua sede social. De facto, numa análise da economia regional, Palmela detinha, em 2003, cerca de 34,2 % do total de vendas observado na Península de Setúbal. É evidente que a maior fatia desse volume de vendas provêm do subsector da indústria transformadora que detinha 42,8% do total do volume de vendas verificado no município em causa. Ainda no âmbito da análise regional, Palmela apresentou um volume de vendas que quase duplicou o valor apresentado pelo município de Setúbal, ultrapassou em mais de duas vezes e meia o volume de vendas do município do Seixal e quase triplicou o do município de Almada, apenas para referir os mais significativos da Península de Setúbal.

377 Gráfico 26 – Município de Palmela – Volume de Vendas nas sociedades (em milhares de euros) 2000- 2003

Município de Palmela - Volume de Vendas nas Sociedades 2000-2003

6.000.000

5.000.000

4.000.000 2000

€ 3.000.000 2002 2003 2.000.000

1.000.000

0 Total A+B C D E F G H I J K M a O CAE

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2002 e 2004

Das indústrias transformadoras, sobressai o subsector referente à fabricação de material de transporte376 que detinha 58,5% do volume de venda total da indústria transformadora. Um outro subsector detentor de elevado volume de vendas é a indústria de fabricação de equipamento eléctrico e de óptica377, com 20,4% e as indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco378, com 7,3% do total do volume de vendas.

376 - Era este o peso da Autoeuropa e das empresas suas fornecedoras (localizadas no município) em 2003, em matéria de volume de negócios. 377 - Entre outras empresas, refira-se a Visteon. 378 - A par das pequenas e médias empresas do sector existentes no município, salientam-se a Refrige SA (Coca-Cola) e a Parmalat (Portugal).

378 Gráfico 27 – Município de Palmela – Volume de Vendas nas Sociedades de Indústrias Transformadoras (em milhões de euros) 2000-2003

Município de Palmela - Volume de Vendas nas Sociedades de Indústrias Transformadoras

4.500.000

4.000.000

3.500.000

3.000.000

2.500.000 2000

€ 2002 2.000.000 2003 1.500.000

1.000.000

500.000

0 Total DA DB DC DD DE DF+DG DH DI DJ DK DL DM DN CAE

379 380 Quadro 62 – Volume de Negócios nas Sociedades com Sede na Região379, por CAE380 (2003)

Total A+B C D E F G H I J K L a Q Milhares de euros

Portugal 287 553 330 2 614 997 1 275 313 66 162 633 9 389 089 26 553 843 111 411 031 5 621 400 22 473 249 11 380 519 22 638 603 8 032 653

Grande Lisboa 127 771 124 231 432 86 886 17 325 509 8 338 803 9 906 651 48 292 530 2 396 982 14 453 291 9 887 321 13 094 101 8 032 653

Península de Setúbal 13 748 289 194 418 21 277 5 680 783 68 192 1 500 474 3 772 719 217 000 633 440 5826 1 152 143 3 757 619

Palmela 4 700 885 31 769 … 3 438 012 … 119 934 536 443 9278 191 286 80 299 125 14 952

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa, 2004

379 - A - Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura; B - Pesca; C - Indústrias Extractivas; D- Indústrias Transformadoras; E - Produção e Distribuição de Electricidade, de Gás e de Água; F - Construção; G - Comércio por Grosso e a Retalho; H - Alojamento e Restauração (Restaurantes e Similares); I - Transportes, Armazenagem e Comunicações; J - Actividades Financeiras; K- Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas; L - Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória; M - Educação; N - Saúde e Acção Social; O - Outras Actividades de Serviços Colectivos, Sociais e Pessoais. 380 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2003

381 382

Quadro 63 - Volume de Negócios nas Sociedades com Sede na Região381 - Indústria Transformadora 382

Total DA DB DC DD DE DF+DG DH DI DJ DK DL DM DN

Milhares de euros

Portugal 66 162 633 11 058 578 7 443 893 2 193 220 3 199 053 4 739 240 9 172 077 2 215 196 4 623 535 5 180 654 2 832 945 5 697 026 5 132 549 2 674 668

Grande Lisboa 17 325 509 3 044 255 215 481 13 846 121 506 1 797 958 7 044 997 217 764 1 208 622 733 580 545 175 1 696 913 392 336 293 074

Península de Setúbal 5 680 783 512 571 32 057 2 183 138 033 509 836 171 635 146 087 366 370 594 170 48 506 839 949 2 151 640 167 744

Palmela 3 438 012 251 563 ...... 7 768 6 604 41 426 119 383 5 565 150 420 2 126 699 676 2 012 536 139 133

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa, 2004

381 - Segundo a CAE-Ver.2, em 31-12-2003 382 - DA - Indústrias Alimentares, das Bebidas e do Tabaco; DB - Indústria Têxtil; DC - Industria do Couro e dos Produtos do Couro; DD - Indústrias da Madeira e da Cortiça e suas Obras; DE - Indústrias de Pasta, de Papel e de Cartão e seus Artigos; DF - Fabricação de Coque, Produtos Petrolíferos Refinados e Combustível Nuclear; DH - Fabricação de Artigos de Borracha e de Matérias Plásticas; DI - Fabricação de Outros Produtos Minerais Não Metálicos; DJ - Indústrias Metalúrgicas de Base e de Produtos Metálicos; DK - Fabricação de Máquinas e de Equipamentos, N.E.; DL - Fabricação de Equipamento Eléctrico e de Óptica; DM - Fabricação de Material de Transporte; DN - Indústrias Transformadoras, N.E..

383

384 Quadro 64 - Comércio Internacional Declarado, por Município de Sede dos Operadores (2003)

SAÍDAS ENTRADAS

TOTAL Expedições Exportações TOTAL Chegadas Importações Milhares de Euros Milhares de Euros

Portugal 29 576 450 23 653 314 5 923 135 45 861 484 35 483 855 10 377 630

Grande Lisboa 5 107 315 3 418 996 1 688 319 23 587 201 17 075 250 6 511 951

Península de Setúbal 3 390 148 3 141 182 248 966 2 761 229 2 176 995 584 234

44 319 32 166 11 953 113 919 106 475 7 444 Alcochete Almada 45 511 13 451 32 060 209 242 63 198 146 045 Barreiro 96 982 44 060 52 922 103 4700 68 946 34 525 Moita 7 590 ...... 26 8083 22 685 4 123

Montijo 32 867 25 505 7 362 52 407 48 252 4 155 Palmela 2 119 350 2 084 962 34 388 1 280 684 1 123 570 157 115 Seixal 542 524 507 640 34 884 658 942 459 518 199 424

Sesimbra 4 718 ...... 6 109 5 464 646

Setúbal 496 287 422 256 74 031 309 646 278 888 30 758

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região de Lisboa, 2004

385 386 De acordo com os valores apresentados pelo Comércio Internacional Declarado, referentes ao ano de 2004, o município de Palmela era o responsável por 62,5 % do total das Expedições/Exportações da Península de Setúbal e por 7,1 % das expedições/ exportações totais do País. Em matéria de Chegadas/Importações, esses valores são de 46,4% e de 2,8%, respectivamente em relação aos totais verificados na Península de Setúbal e no País. Deste movimento não parece difícil depreender qual o papel da Autoeuropa, não só em termos de lugar que ocupa na estrutura produtiva do município de Palmela, como nas economias da região e do País. Pode-se ainda constatar que o Comércio Internacional desenvolvido no município de Palmela é largamente maioritário com os países da União Europeia, quer na vertente de Expedição (98,43%) quer na vertente de Chegadas (87,7%).

387 388 18 - DINÂMICA URBANÍSTICA A última década do século XX viria a tornar-se crucial para o crescimento económico e demográfico do município de Palmela. Como agentes indutores desta mudança, podem ser apontados dois factores decisivos: por um lado a melhoria das acessibilidades que o município alcançou no contexto da Área Metropolitana de Lisboa; por outro, o crescimento da actividade industrial que foi decorrente da instalação e actividade da Auto Europa.

18.1 – ACESSIBILIDADES

Em matéria de acessibilidades, nota-se a sua melhoria (quantitativa e qualitativa)383 que conduziu a um duplo recentramento do município de Palmela, quer em relação à Península de Setúbal quer no contexto Metropolitano, através de :

a) ligações rodoviárias:

• as auto-estradas A2 e A12, que estabelecem as ligações de Lisboa a Setúbal e ao Sul; 384

• a abertura da A12 e da Ponte Vasco da Gama possibilitaram a criação de transportes regulares em autocarro com origem/destino na Gare do Oriente (área oriental do concelho de Lisboa e interface de transportes da capital);

• construção e abertura do anel radial de Coina (IC 32), que contorna o território do município de Palmela, na direcção Oeste-Norte, o que veio a potencializar a sua parte ocidental e a sua relação com outros municípios do arco ribeirinho do Tejo - Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete.

383 - A melhoria quantitativa das acessibilidades pode ser vista pela construção das acessibilidades rodoviárias à Ponte Vasco da Gama e as ligações das auto-estradas do Sul (A2) e do Norte (A1) através de uma nova auto-estrada (A13 ) cuja ligação é feita a partir do nó de Marateca. A melhoria qualitativa prende-se, entre outros aspectos, com as estruturas ferroviárias que para além de ganharem uma 2ª via entre Pinhal Novo e Setúbal, ganham com a sua electrificação total, e com os acessos ferroviários à Ponte 25 de Abril. 384 - No nó da Marateca a A2 entronca com a A6 que serve o Alentejo Central e segue até Espanha.

389 b) ligações ferroviárias:

• ligação ferroviária suburbana entre Setúbal e o Berreiro, com ligação fluvial à cidade de Lisboa que possibilita o seu acesso a populações em três estações - Palmela , Venda do Alcaide e Pinhal Novo - sendo esta última, considerada um nó estratégico que serve de entroncamento entre as linhas do Sul e do Alentejo;

• alargamento para duas vias férreas entre Pinhal Novo e Setúbal e sua electrificação; ligação ferroviária a Lisboa através da Ponte 25 de Abril;

• prolongamento e electrificação da ligação ferroviária entre o Fogueteiro e Setúbal, que possibilitou a melhoria das acessibilidades à cidade de Lisboa através de meio de transporte.

18.2 - CRESCIMENTO DA ACTIVIDADE INDUSTRIAL

Como já foi referido anteriormente, a instalação da Autoeuropa foi decisiva para o desenvolvimento industrial de Palmela. Dos critérios que foram tidos em consideração para a sua localização, ponderaram as sinergias esperadas pela presença de unidades industriais já existentes - a Ford Electrónica, actual Visteon. Mas, a Autoeuropa não pode, nem deve, ser vista apenas como a actual fábrica do grupo Volkswagen, ela é possuidora do mérito de ter despoletado o aparecimento de uma série de empresas, (muitas das quais detentoras de autonomia e geradoras de dinâmicas específicas) que se instalaram no município de Palmela (quer no seu próprio parque industrial, quer noutras áreas do município) e na Península de Setúbal O crescimento observado na criação de postos de trabalho (directos e indirectos) resultado do reforço da actividade industrial, teve como consequências o crescimento do parque habitacional do município, ao mesmo tempo que se verificam um conjunto de alterações do produto imobiliário, através de processos indutores de parques habitacionais

390 na envolvente, dirigidos ao emprego mais qualificado.385

A heterogeneidade do seu território contribuiu para que fossem produzidas áreas que embora sejam funcionalmente diversas, coexistem entre si:

• áreas urbanas consolidadas;

• áreas de povoamento disperso, associadas tradicionalmente à pequena e média propriedade (os “foros”);

• áreas profundamente ligadas á estrutura agrária de latifúndio;

• áreas de utilização mista, com predominância em loteamentos e construções clandestinas e de ocupação industrial.386

Quadro 65 - Município de Palmela - Evolução dos Edifícios e dos Alojamentos, por Freguesias (1991-2001)

Edifícios Alojamentos

Freguesia 1991 2001 Tx. Var. 1991 2001 Tx. Var.

Marateca 1351 153013.2 1485 1653 11.3

Palmela 4580 522814.1 6269 7466 19.1

Pinhal Novo 3754 4624 23.2 6488 10130 56.1

Poceirão 1592 17399.2 1693 1810 6.9

Quinta do Anjo 3277 4375 33.5 3532 5139 45.5

PALMELA 14554 17496 20.2 19467 26198 34.6

Fonte: INE, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População

Por outro lado, em matéria de ordenamento e de gestão do território, a administração camarária propõe-se desenvolver uma estratégia de ordenamento em que distingue seis áreas de intervenção prioritária:

385 - Cf. CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2003) – Op.cit. pp. 23 e 24 386 - Cf. CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2003) – Dinâmica Urbanística do Município de Palmela - Estudos de Apoio à Revisão do Plano Director Municipal de Palmela, p. 21

391 • ordenamento urbano;

• ordenamento industrial;

• ordenamento turístico;

• recuperação/reconversão das áreas urbanas de génese ilegal;

• contenção do fraccionamento da propriedade rural;

• salvaguarda dos recursos ecológicos e agrícolas387

A organização espacial das diferentes actividades económicas, em articulação com a estrutura de condicionantes físicas e legais à ocupação do território, conduziu ao desenho de um modelo territorial que de seguida se sintetiza. Por outro lado, esta diferenciação espacial está bem patente no território do município onde a sua zona poente, que compreende as freguesias de Palmela, Pinhal Novo e Quinta do Anjo, apresenta uma maior dinâmica em termos de oferta de emprego e uma maior acessibilidade rodo-ferroviária aos principais centros urbanos existentes na Península de Setúbal e à própria cidade de Lisboa, e que tem vindo a consolidar um tecido urbano industrial em torno da vila de Pinhal Novo388 e no eixo Aires/Palmela/Quinta do Anjo.389 A zona nascente, compreendida pelas freguesias de Marateca e Poceirão, caracteriza-se por possuir uma economia assente em actividades inseridas no sector primário, nomeadamente na agricultura e pecuária, com um dinamismo económico menor que o existente nas restantes três freguesias e cuja tendência é a formação de um eixo de desenvolvimento para a zona nordeste do município e que compreende a zona Águas de Moura/Poceirão.390

387 - idem, p.27 388 - Refira-se o parque industrial do Vale do Alecrim 389 - Referira-se o parque industrial das Carrascas e o parque Autoeuropa 390 - Saliente-se as estratégias utilizadas por algumas Casas Agrícolas na produção e comercialização de vinhas de qualidade, culminando em mostras de vinhos que ocorrem anualmente em Fernando Pó.

392 18.3 - AS ÁREAS URBANAS CONSOLIDADAS

A Rede Urbana, estruturada em Principal e Secundária, integra todos os perímetros urbanos. Na primeira sobressai Pinhal Novo como principal aglomerado do concelho, potenciando o reforço da sua centralidade na Península de Setúbal e, em particular, no eixo Setúbal-Montìjo; o desenvolvimento do sistema Palmeia-Aires-Quinta do Anjo-Cabanas, reorientando o crescimento para Aires e Quinta do Anjo e promovendo a requalificação urbana de Palmela; a valorização do eixo Águas de Moura-Poceirão. Na rede urbana secundária a estratégia assenta na definição de perímetros urbanos para os aglomerados de menor dimensão, alguns associados ao povoamento rural, outros a loteamentos de génese ilegal, a fim de lhes conferir coesão, estrutura interna e equipamentos básicos, como garantia de verdadeiro estatuto urbano. No domínio da habitação, as orientações são no sentido de potenciar uma oferta diversificada para responder aos diferentes segmentos da procura e garantir a articulação com as políticas de equipamentos e de infra-estruturas. Os equipamentos (educação, saúde, desporto, cultura e lazer, segurança, comunicações e transportes) e a oferta comercial (qualidade e diversidade) devem ajustar-se à dimensão populacional e à sua importância na hierarquia urbana. Os principais espaços industriais localizam-se a Sul do Poceirão, ao longo da EN 10, a Nordeste de Águas de Moura, a Sul do Pinhal Novo, a Este de Aires, a Oeste de Cabanas e a Sul da Barra Cheia. Para diversificar a base económica do município e potenciar os recursos locais, são propostos alguns espaços de vocação turística, a Oeste de Quinta do Anjo, bem como a Sul e Sudeste de Águas de Moura. Os espaços agrícolas estão dispersos por todo o território, situando-se os principais a Norte de Cabanas e de Quinta do Anjo, a Sul de Palmela, a Este e Oeste de Pinhal Novo, a Norte de Asseiceira, Lagameças e ao longo da ribeira da Marateca.

393

Quadro 66 - Município de Palmela Aglomerados da Rede Urbana Principal Secundária

Rede Urbana Principal Rede Urbana Secundária

Palmela Abreu Grande/Carregueira

Pinhal Novo Agualva de Cima

Aires Fonte da Vaca

Quinta do Anjo Asseiceira

Cabanas Fernando Pó

Venda do Alcaide Fonte Barreira

Brejos do Assa Lagoa do Calvo

Poceirão Lagoa da Palha e Vale da Vila

Águas de Moura Barra Cheia

Olhos de Água/Lagoinha I e II/Vale de Touros

Fonte: Câmara Municipal de Palmela (2002)- Plano Director Municipal, vol. III

394 Figura 14 - Perímetros Urbanos do Município de Palmela (Redes Urbanas Principal e Secundária)

Fonte: Câmara Municipal de Palmela – Carta de Ordenamento Digitalizada

Esta estruturação urbana do município foi condicionada, de acordo com o PDM de Palmela, por um conjunto de factores:

• a rede urbana já existente no território municipal;

• a estrutura urbana de cada núcleo urbano e os ritmos de preenchimento que cada aglomerado apresenta nas suas áreas urbanizada e urbanizável;

• os condicionalismos de ordem fisiográfica existentes no território municipal;

• a estrutura de povoamento e o grau de equipamento apresentado por cada um dos seus centros;

• funções instaladas e acréscimo provocado pela indução de novas actividades económicas e consequente crescimento e movimentação populacional;

• acessibilidade aos centros que são decorrentes das novas vias de

395 acesso implantadas no território municipal ;

• conceitos decorrentes da teoria dos lugares centrais.391

Os perímetros urbanos do município concentravam em 2001, 83,8 % da população residente. Todavia, era na Rede Urbana Principal que se verificava maior concentração populacional, cerca de 68,9%. Da Rede Urbana Principal sobressaem Pinhal Novo, como anteriormente se referiu, com 29,9% e Palmela com 11,9% da população total residente no município.

Os perímetros urbanos da Rede Urbana Secundária não atingiram, na sua totalidade, os 15% dos residentes. Dos dez perímetros considerados destacam-se apenas Olhos de Água/Lagoinha I e II/Vale de Touros com 3,7% e Barra Cheia com 3,2%.

A população que reside fora dos perímetros urbanos representava cerca de 16,2%.

Com estas características, e embora se tenha vindo a verificar um conjunto de transformações nos comportamentos da população face às dinâmicas urbanísticas do município, verifica-se que se está perante uma tipologia de transição entre o rural e o urbano, ou seja, o município de Palmela já não é rural mas ainda não é urbano.

Do Plano Director Municipal de 1997 apontam-se algumas orientações destinadas às áreas urbanizáveis. Deste modo são apontados, para a Rede Urbana Principal um conjunto diversificado e diferenciado de propostas para os diferentes perímetros urbanos:

• para Palmela, sede do Município, relevam-se os seus aspectos de centro cultural e de turismo da Península de Setúbal, reconhece-se que as características topográficas da vila são as grandes responsáveis pela existência de descontinuidades espaciais entre o núcleo histórico inicial (que se desenvolveu junto ao Castelo, na vertente norte que o sustenta) e as áreas baixas de expansão. A proposta que se elaborou assenta na requalificação

391 - Cf. CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2003) - Op.cit., pp.27 e 28

396 urbana do centro histórico392 e no crescimento de áreas de baixa densidade na periferia;

• Pinhal Novo iria consolidar o seu estatuto de maior aglomerado populacional do município, ao mesmo tempo que reforçaria a sua densidade populacional;

• Em Aires/Volta da Pedra e Baixa de Palmela a expansão seria maioritariamente em baixa densidade;

• Quinta do Anjo surgiria como alternativa às pressões urbanísticas que se fazem sentir sobre a periferia de Palmela, ou seja, defendia-se a intensificação do carácter urbano desta aldeia393;

• Cabanas deveria manter as suas características de baixa densidade;

• Venda do Alcaide, embora esteja sujeita às pressões urbanísticas devido à sua proximidade a Pinhal Novo, insere-se numa zona de grande dispersão em termos de povoamento, pelo que é sugerido a sua manutenção em baixa densidade;

• Para Brejos do Assa, dada a sua heterogeneidade ao nível das suas condições urbanísticas, com loteamentos formais e informais, propôs-se uma ocupação em baixa densidade dada a natureza do tamanho médio dos lotes;

• os núcleos urbanos de Poceirão e Águas de Moura inserem-se em zonas de grande dispersão de povoamento e com um fraco dinamismo urbanístico e económico. Ambicionava-se que estes núcleos constituíssem um eixo de desenvolvimento na zona nordeste do município, daí que os perímetros urbanizáveis propostos se encontrassem numa situação expectante em torno do aumento das pressões urbanísticas, pela melhoria das acessibilidades ao núcleo urbano de Poceirão ou pelas potencialidades turísticas associadas às características paisagísticas e ambientais da freguesia de Marateca (núcleo de Águas de Moura).

392 - A força política que domina a Câmara Municipal de Palmela desde 1976 - o PCP - tem vindo a colocar nos sucessivos programas eleitorais das coligações que lidera a questão da requalificação do Centro Histórico da Vila de Palmela. Todavia, e exceptuando uma ou outra intervenção isolada, não tem havido qualquer tipo de projecto global de intervenção e/ou de requalificação. 393 - Quinta do Anjo parece repetir o processo de pinhalnovisação. As suas características de aldeia parecem irremediavelmente perdidas. As zonas envolventes do seu perímetro urbano deram lugar a mega urbanizações: Portais da Arrábida, Varandas da Arrábida e, mais recentemente, Palmela Village.

397 Finalmente, no que concerne à Rede Urbana Secundária, os perímetros urbanos que foram definidos pelo PDM assentam em dimensões muito variáveis, procurando proceder-se à estruturação dos tecidos urbanos em pequena densidade.

18.4 - AS ÁREAS URBANAS DE GÉNESE ILEGAL (AUGI)

O município de Palmela caracteriza-se ainda, no campo da sua estrutura territorial, pela extensão de Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI) e pela emergência de novos clandestinos. Os anos sessenta, do século passado, marcam o início da produção ilegal de solo neste município e o seu maior crescimento foi verificado entre os anos de 1975 e 1984.

Quadro 67 - Município de Palmela Repartição das AUGI e novos Clandestinos, por Freguesias

Clandestinos

AUGI Novos Clandestinos Total Freguesia Ha % Ha % Ha %

Marateca 0 0 39.2 17.1 39.2 5.0

Palmela 0 0 64.0 28.0 64.0 8.1

Pinhal Novo 6.7 1.2 2.7 1.2 9.4 1.2

Quinta do Anjo 554.4 98.8 38.7 16.9 593.1 75.1

Poceirão 0 0 84.2 36.8 84.2 10.7

PALMELA 561.1 100.0 228.8 100.0 789.9 100.0

Fonte: Câmara Municipal de Palmela, (DP/GRAGI), 2002

Por força do Decreto-Lei nº 400/84 de 31 de Dezembro, o crescimento das áreas clandestina, foi travado, pese embora em 1991 se torne a assistir à emergência de novos casos de loteamentos e de construções ilegais que , assim, urgem por força do novo

398 enquadramento legal do loteamento urbano e que se assumiram quer em número, quer em área. Embora este fenómeno esteja presente em todas as freguesias que constituem o município de Palmela, é na freguesia de Quinta do Anjo que o fenómeno das AUGI’s apresenta maior expressão, cerca de 98,8%. Em contrapartida, os novos clandestinos apresentam-se com uma repartição mais difusa e todas as freguesias que constituem este município são detentoras deste fenómeno. Poceirão e Palmela são as freguesias que apresentam os valores mais elevados, 36,8% e 28% respectivamente. Pinhal Novo apresenta um valor residual, cerca de 1,2 %. Figura 15 - Município de Palmela Distribuição Espacial das AUGI e dos Novos Clandestinos, por perímetro Urbano

Fonte: Câmara Municipal de Palmela, DP/GRAGI, 2002

Estas extensões de AUGI, apresentam uma pluralidade e uma diversidade de realidades - nomeadamente quanto ao nível do parcelamento, ocupação, uso e ritmo de construção- o que contribuiu para que fossem produzidos elevados constrangimentos limitadores de estratégias de desenvolvimento.

399

400 19 - DO EXISTENTE AO DESEJÁVEL: AS ESTRATÉGIAS DE ACTORES DO MUNICÍPIO DE PALMELA

Como já foi referido, o espaço não pode nem deve ser circunscrito ao mero papel de delimitação territorial. Ele ocupa um lugar complexo de intermediação nos processos de produção e de reprodução – económica, social, cultural, funcional, ideológica, etc. Todas as transformações nele operadas mais não são do que produtos resultantes dos procedimentos estratégicos que foram adoptados e concretizados pelos diversos e diferentes actores sociais. Como refere José Arocena, “ A passagem do cultural ao económico revela uma via de constituição do actor local”.394 Contudo, a própria definição de actor exclui a priori a situação de se considerar indivíduos tomados isoladamente e, portanto, não são detentores de estratégias possíveis no contexto do jogo de actores. Neste sentido, e de acordo com a metodologia preconizada pelo método MACTOR, o actor corresponde a um grupo homogéneo que incrementa uma estratégia idêntica e, simultaneamente, adoptando uma relação de forças, semelhante em relação aos restantes actores. As dinâmicas locais apresentam-se então como resultados das estratégias produzidas pelos actores localizados, ou com influência local, onde se dá a confrontação de interesses e de lógicas contraditórias. Neste jogo estratégico, o Poder Local apresenta-se como um dos actores centrais que corporiza estas dinâmicas, mas está longe de ser o único e até, talvez, nem seja o mais decisivo. Todavia e contrariamente ao que se poderia supor, as estratégias dos diferentes actores que agem num determinado território não apresentam contornos fáceis de delimitar. Esta situação é devida a uma pluralidade de razões, uma vez que nem sempre as estratégias se apresentam de forma clara e precisa, para os próprios actores que põem em

394 - AROCENA, José (1986) – Op.cit., p. 105

401 causa outras estratégias, e as quais são raras as vezes que essas estratégias resultam de um acto que não corresponde à racionalização efectiva dos próprios actores. Michel Crozier e Erhard Friedberg (1977) chamam a atenção para o facto da acção colectiva ser a responsável pela criação de um problema decisivo nas nossas sociedades, isto porque a tipologia de acção (independentemente das suas características) não constitui um fenómeno natural, mas sim uma construção social cuja existência coloca o problema, para o qual são necessárias as explicações sobre as condições de emergência e de manutenção.395 Por outro lado, os novos actores sociais locais não constituem uma categoria homogénea, apresentando uma diversidade de forças sociais, umas mais influentes que outras, e que se traduzem numa pluralidade de actores cujos modos de acção se apresentam diversificados e com estratégias próprias, com posicionamentos e com representações diferentes sobre o desenvolvimento local. Essas diversidades estão bem patentes no estudo empírico realizado, em que se procurou do tipo de relações de força entre alguns dos actores intervenientes nos territórios do município de Palmela, pelo que resta analisar essas relações e as posições manifestadas por alguns dos actores mais significativos face a um conjunto de objectivos que lhes foram propostos.

395- Cf. CROIZIER, Michel; FRIEDBERG, Erhard (1977) - Op.cit., p. 13

402

Quadro 68 - Variáveis da análise empírica

Variáveis Internas

Variáveis Descrição

Variáveis Internas Variáveis socio-económicas 1- Alteração da composição da - Características demográficas da população do Município população residente - Ritmo de crescimento da população residente - Crescimento demográfico diferenciado por freguesia 2 - População activa - Crescimento da população activa nos sectores secundário e terciário maioritariamente não agrícola - Decréscimo da população activa no sector primário Variáveis fisico-morfológicas 3 - Existência de grandes áreas - Disponibilidade de grandes áreas expectantes expectantes - Existência de grandes espaços agrícolas potencialmente urbanizáveis - Potencialidades de implantação industrial - Potencialidades de crescimento urbano Variáveis fisico-naturais 4 - Integração no Parque Natural da - Potencialidades turísticas Arrábida e Reserva Natural do - Turismo Rural e de Habitação Estuário do Sado - Limitação à construção Variáveis urbanísticas e de planeamento 5 - Existência de Planeamento - Existência de Plano Director Municipal - Existência de Planos Gerais de Urbanização - Existência de Planeamento Estratégico 6 - Preservação das zonas históricas - Potencialidades turísticas - Preservação do Património histórico construído e das características das zonas históricas Variáveis de ocupação funcional 7 - Tecido industrial em expansão - Processo tardio de industrialização - Sector de Alimentação e Bebidas com características familiares - Sector das Bebidas pouco concorrencial 8 - Conflitualidade entre a pequena e - Incentivos à implantação industrial média empresa e as grandes unidades de produção 9 - Alternativa a Setúbal quanto à - Disponibilidade de solos para ocupação industrial fixação de novas unidades de - Melhoria da acessibilidade ferroviária ao Porto de Setúbal produção - Melhoria das acessibilidades rodoviárias 10 - Comércio dependente de Setúbal - Comércio incipiente e de pouca qualidade - Proximidade de Setúbal e das grandes superfícies comerciais 11 - Especificidade Agrícola do - Investimento em novos processos de cultura da vinha Município - Aumento da qualidade da produção vinícola - Disponibilidade para o marketing do vinho Variáveis do sistema de circulação 12 - Centralidade do Município de - Acessibilidades rodoviárias aos principais centros urbanos e industriais Palmela no contexto espacial da da AML, Sul e Espanha Península de Setúbal - Acessibilidades ferroviárias

403 Variáveis Externas

Variáveis Descrição Variáveis externas Variáveis socio-económicas 13 -Efeito de atracção de populações - Localização do tecido produtivo - Acessibilidades aos principais locais geradores de emprego, na AML - Oferta de habitação a preços concorrenciais em locais de boa acessibilidade ferroviária e rodoviária Variáveis urbanísticas e de planeamento 14 - Dinâmica do sector imobiliário - Capacidade de oferta face à procura - Especulação imobiliária 15 - Necessidade espacial do - Oferta de terrenos aprovados para implantação industrial secundário - Existência de infra-estruturas industriais Variáveis do sistema de circulação 16 – Impacto da Ponte Vasco da - Proposta de novos traçados rodoviários Gama - Aumento da renda fundiária - Crescimento urbano localizado junto às novas rodovias 17 – Impacto do Comboio da Ponte - Ligação ferroviária à Ponte 25 de Abril - Crescimento urbano localizado junto às novas estações ferroviárias

19.1 - AS RELAÇÕES DE FORÇA E AS POSIÇÕES RELATIVAS DOS ACTORES

A construção do Quadro de Estratégia de Actores 396 foi feita a partir da informação existente – de carácter estatístico e documental – e das sinopses das entrevistas realizadas aos actores sociais que constituíram a amostra intencional. 397 O resultado da reflexão sobre desta informação tornou possível determinar os Desafios Estratégicos, assim como a sua relação com os Objectivos. Para se proceder à análise estratégica do jogo de actores foram necessários dois tipos de dados

396 - O Quadro de Estratégias de Actores, bem como as MAD e 2 MAO e os outputs gerados pelo MACTOR encontram-se no volume de anexos. 397- Veja-se as referências sobre o procedimento metodológico adoptado na II Parte deste trabalho.

404 iniciais

• as influências directas entre actores

• as posições valorizadas dos actores sobre os objectivos

O primeiro conjunto de dados foi obtido a partir do Quadro de Estratégia de Actores, dando origem à construção da Matriz dos Meios de Acção Directos (MAD), que vai expressar as relações directas que são estabelecidas entre os vários pares de actores; Quanto ao segundo tipo de dados, a Matriz das posições valorizadas Actores × Objectivos (2 MAO) apresenta para cada actor a valência que este atribui a cada um dos objectivos que lhe foram propostos. O actor pode ser favorável ao objectivo, pode estar em desacordo ou apresentar uma posição neutral ou de indiferença. Após esta identificação, procedeu-se à hierarquização que cada actor social fez desses mesmos objectivos. Estas duas matrizes (MAD) e (2 MAO) das quais se partiu, tornaram possível que se efectuassem os cálculos através do software MACTOR, tendo sido obtido um conjunto de resultados que se passam a apresentar. O Quadro de Desafios Estratégicos e Objectivos Associados foi construído após a leitura reflectida do Quadro de Estratégia de Actores. Dessa leitura, foi possível determinar três desafios estratégicos (campos de batalha, na acepção de Michel Godet). Cada um desses desafios vai enunciar um conjunto de objectivos precisos, sobre os quais os actores se aliam, denotam conflito ou manifestam neutralidade.

405

Quadro 69 – Matriz dos Meios de Acção Directos

CMP ACSDS AVIPE FIAPAL ADREPES AE GACP ACP SFP RTCA

MID

CMP 0212212222

ACSDS 2000000000 LIPSOR-EPITA-MACTOR © AVIPE 0000200300 FIAPAL 0000000000 ADREPES 1010000100 AE 2002000000 GACP 2000000010 ACP 1110200001 SFP 2000001000 RTCA 2000000000

Quadro 70 – Matriz das Posições Valorizadas Actores × Objectivos (2 MAO)

O1 O2 O3 O4 O5 O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12 O13 O14 O15 O16 O17 2MAO CMP 12-1333202-2232-1121

ACSDS 32003310-1-20231011 LIPSOR-EPITA-MACTOR © AVIPE 00-1-323-200-1330-2-300 FIAPAL 011231300002-21000 ADREPES 00-2220-20-2031-10-100 AE 01001011100110111 GACP 0101131-12-12110111 ACP 0113-200000000-1010 SFP 22110011211111012 RTCA 12122210011221133

406

Quadro 71 - Desafios Estratégicos e Objectivos Associados

Desafios Estratégicos Objectivos O1 - Alteração da estrutura da população residente D1 - Continuar a manter a especificidade O2 - População activa predominante nos sectores agrícola do Município secundário e terciário

O11 - Especificidade Agrícola do Município O3 - Grandes áreas expectantes

O5 - Existência de Planeamento

O7 - Tecido industrial pouco numeroso

O8 - Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as

grandes unidades de produção

O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de novas D2- Abertura do Município ao investimento unidades de produção exterior/aceleração do processo de O12 - Centralidade do Município de Palmela no contexto industrialização espacial da Península de Setúbal

O13 - Efeito de atracção de populações

O14 -Dinâmica do sector imobiliário (nacional /estrangeiro/pressão sobre o parque imobiliário)

O15 - Necessidade espacial do secundário (nacional/ estrangeiro)

O16 – Impacto da nova travessia do Tejo (Montijo)

O17 – Impacto da travessia ferroviária na Ponte 25 de Abril O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida e Reserva Natural do Estuário do Sado

D3 -Valorização Patrimonial e Incremento do O6 -Preservação das zonas históricas (património Turismo urbanístico e histórico)

O10 - Comércio dependente de Setúbal

407 19.1.1 - Grau de influência e de dependência dos actores

Antes de se enveredar por qualquer outro procedimento de análise que incida sobre as relações de força, há que ter em atenção a decomposição das formas de influência que os actores exercem sobre os outros, quer sejam sob a forma de influências directas, quer sejam através de influências directas e indirectas. Embora os meios de acção directos não traduzam, por si mesmo, todo o conjunto do jogo de influências entre actores, é a partir da MAD que se torna possível obter uma outra matriz - a Matriz dos Meios de Acção Directos e Indirectos (MADI) - que vai exprimir as influências directas e indirectas de 2ª ordem entre actores, ou seja, um actor pode limitar o leque de escolhas de um segundo actor agindo sobre ele através de um actor de ligação. Pese embora se verifique a perda de alguma informação, nomeadamente no que se refere ao grau de intensidade adoptado para classificar as influências directas, “esta matriz dá uma visão mais completa do jogo de relações de força”.398 Então, para se proceder a essa decomposição, deve-se recorrer às duas possibilidades existentes, que se apresentam de modo complementar entre si e que possuem a capacidade de evidenciar esses tipos de influência:

• o recurso à Matriz de Acções Directas (MAD) e

• à Matriz dos Meios de Acção Directos e Indirectos (MADI)

Ao analisar estas matrizes, fica-se com a possibilidade de compreender a forma como decorre o jogo de relação de forças desenvolvido pelos actores. Simultaneamente, torna-se ainda possível obter, a partir dos cálculos das matrizes citadas, dois indicadores de extrema importância para a compreensão do peso que cada actor possui em termos da sua influência sobre os restantes actores e da sua dependência em relação aos outros actores; são eles:

398 - PERESTRELO, Margarida; CALDAS, José Maria Castro (1998) – Op. cit. p. 8

408 • o grau de influência dos actores obtido através do somatório em linha

(Ii) e

• o grau de dependência dos actores obtido através do somatório em

coluna (Di )

O que possibilita reter os tipos de influências directas e, directas e indirectas, exercidas por um actor sobre outros. Ao proceder à ordenação dos actores de acordo com essas formas de influência, verifica-se que o peso das influências indirectas é o responsável pela alteração de um quadro em que se destacam quatro actores como sendo os mais influentes: Encontram-se neste grupo a Câmara Municipal de Palmela (CMP), a Adega Cooperativa de Palmela (ACP), a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE) e a Autoeuropa (AE).

Gráfico 28- Grau de influência directa e de influência directa e indirecta

Grau de influência Grau de Influência Directa Directa e Indirecta + influentes CMP (16) CMP (28) ACP (6) AE ; ACP (19) AVIPE (5) SFP; GACP (18) AE (4) ADREPES; ACSDS; RTCA (16) SFP ; ADREPES; GACP (3) AVIPE (12) ACSDS; RTCA (2) FIAPAL(0) FIAPAL (0) - influentes

A Câmara Municipal de Palmela (CMP) como órgão de administração local possui poder de influência sobre a grande parte dos actores locais, na medida em que pode influenciar e condicionar, quer de modo directo, quer de modo directo e indirecto a

409 acção desses actores, no que se refere à aprovação de projectos, administração territorial e atribuições de subsídios. A Adega Cooperativa de Palmela (ACP) possui algum peso na economia do município, com cerca de trezentos e cinquenta associados e como uma produção média anual de cerca de cinco milhões e setecentos mil litros de vinho. As suas estratégias podem condicionar de modo directo e, directo e indirecto a acção de outros actores, através de preços que pratica, a montante e a jusante, através da comercialização e promoção dos seus produtos, etc. A Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE) adquiriu maior protagonismo na área do associativismo agrícola a partir do momento em que começaram a ser implementados os subsídios agro-ambientais. Possui um corpo técnico de apoio e é o organismo a montante que tem contribuído para o aumento da qualidade da produção de uvas para vinho, A Autoeuropa (AE), implantada há mais de uma década no território municipal é, presentemente, o maior empregador de mão-de-obra desta região. A sua presença contribuiu para a alteração de um conjunto de lógicas que passam pelas estratégias das pequenas e médias empresas, em termos de fabrico de componentes a serem utilizados nos veículos produzidos por aquela empresa. Foi ainda responsável pela alteração do mercado imobiliário de lotes industriais na área da sua implantação, e finalmente contribui, através do Imposto sobre Imóveis (IMI) e com a Derrama Municipal, com valores bastante significativos para o orçamento da autarquia399. Nos restantes seis actores considerados como menos influentes, a situação altera- se, havendo um aumento significativo dos valores apresentados pelas influências indirectas, o que significa que há uma importante influência de terceiros sobre os seus meios de acção, o que condiciona a concretização dos seus objectivos.

Por seu lado a análise do somatório em coluna (Di) das referidas matrizes é

399 - Desde há alguns anos que os partidos da oposição têm vindo a solicitar à maioria política que governa a Câmara Municipal que reveja o valor da derrama municipal sobre as empresas com sede social no município. A sua argumentação é feita tendo como base a saúde financeira da Câmara e o incentivo que, em sua opinião, deveria ser dado com o objectivo de captar mais investimentos no município. Todavia, a taxa que tem sido aplicada é a máxima prevista na lei, ou seja 10%.

410 tomado como um indicador do grau de dependência dos actores. Ou seja, é calculada a influência que um determinado actor recebe dos restantes.

A Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES) apresenta-se como o actor mais dependente, logo seguido pela Adega Cooperativa de Palmela (CMP) e pela Câmara Municipal de Palmela (CMP). Destaca-se ainda o aumento de dependência quando consideradas as influências indirectas. No entanto, tal situação é devida à própria natureza do poder local democrático, pelo facto deste se mostrar aberto à participação dos cidadãos e às propostas que estes apresentam. Entre os actores menos dependentes destaque para a Autoeuropa (AE), que é revelador da sua própria estrutura económica, técnica e organizacional e que a coloca nessa posição face aos restantes actores.

Gráfico 29 – Grau de dependência directa e de dependência directa e indirecta

Grau de Dependência Grau de Dependência Directa Directa e Indirecta + dependentes CMP (12) ADREPES (23) ADREPES; ACP (6) ACP (21) FIAPAL (4) CMP (20) ACDS; AVIPE;GACP;SFP; RTCA (3) FIAPAL (17) AE (1) ACSDS; RTCA (16) SFP; GACP; AVIPE (14) AE (7) - dependentes

Se considerarmos a influência conjunta da influência e da dependência (directa e indirecta dos actores), pode-se concluir que A Autoeuropa apresenta-se como um actor muito influente e pouco dependente pelo que desempenha um papel-chave no jogo de actores. Os restantes actores muito influentes (Câmara Municipal de Palmela (CMP), e

411 Adega Cooperativa de Palmela (ACP)) são simultaneamente muito dependentes, pelo que as suas actuações estão sujeitas a constrangimentos que devem ser tomados em conta. Deste modo, o sistema de relação que os actores estabelecem pode ser classificada como uma relação muito instável 400 (H=17,3%), no sentido em que existe uma bipolarização do tipo dominados /dominantes.

Gráfico 30 -Plano das Influências e das Dependências entre actores

400 - A versão actual do MACTOR não calcula automaticamente o indicador de estabilidade (H). O valor ∑ IDii− encontrado baseou-se na sua fórmula de cálculo : H=×i 100 . Diz-se que a situação é 2S instável quando , H≅ 0% ou seja os actores são simultaneamente muito dependentes e muito influentes; será uma situação estável quando H≅ 100% , quando os actores se apresentam ou muito influentes ou muito dependentes.

412 Da relação de influência/dependência são posicionados os actores charneira, que são: a Sociedade Filarmónica Palmelense Loureiros (SFP), o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP), a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), a Região de Turismo da Costa Azul (RTCA) e a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE) O actor chave do sistema é a Autoeuropa (AE), ou seja, é o actor que se apresenta no quadrante dos actores como o mais influente e menos dependente. A capacidade estratégica de um determinado actor pode, assim, ser determinada pela capacidade de um outro actor num jogo social. Nenhum factor de determinação – como sejam a classe, o sexo, a etnia, etc. – pode ser considerado para explicar o conjunto de interacções no interior do sistema. Por outro lado, o desenvolvimento da margem de acção não se apresenta dissociado do próprio contexto socio-económico.401 Os constrangimentos, ao serem produzidos pelos homens, podem agir sobre outros homens, limitando deste modo o exercício da sua liberdade. Deste modo, ao analisar o sistema de acção social, cria-se a possibilidade de formular a hipótese da presença simultânea da liberdade e da determinação.402

19.1.2 - A relação de forças entre os actores

A partir da matriz dos Meios de Acção Directos e Indirectos dos Actores (MADI) foi possível calcular um indicador de relação de forças que permitiu proceder à diferenciação dos actores de acordo com a sua maior ou menor capacidade para condicionar as actuações dos restantes actores e a sua maior ou menor dependência relativamente a eles. Todavia, os meios de acção que estão à disposição de cada actor podem revelar-se perigosos para si próprios, uma vez que esses meios poderão provocar acções de retroacção, assumindo um efeito muito mais importante que aquele que é provocado pela sua acção inicial. A margem de manobra de cada actor encontra-se então fortemente reduzida, uma

401- Cf. - AROCENA, José (1986) - Op.cit., p. 106 402- idem, p. 107

413 vez que não pode utilizar a sua máxima força, nem recorrer à utilização de todos os meios de acção que possui; terá então de tentar adequá-las àqueles actores menos reactivos. Michel Godet refere que “a relação de forças de um actor será tanto mais elevada consoante a sua influência é elevada, a sua dependência fraca e a sua retroacção fraca”.403 O mesmo será dizer que ao medir a relação de forças de um actor é imperioso ter-se em conta não apenas a sua influência, mas também a sua dependência e o efeito de retroacção. Para que fosse possível encontrar o indicador de relação de forças, recorreu-se ao cálculo dos coeficientes de relações de forçasi, uma vez que estes entram em consideração com a influência líquida directa e indirecta, com a dependência líquida directa e indirecta e também com o efeito de retroacção. Com este procedimento, considerou-se apenas a influência líquida directa e indirecta de um actor, tendo-lhe sido retirada a retroacção, isto é, o que o actor recebe dos outros de forma indirecta,404 para se “ter em conta a margem de manobra do actor em causa.” 405 Esta margem de manobra do actor foi relativizada pelo total de influências líquidas directas e indirectas 406 Finalmente, a margem de manobra relativa foi ponderada através da relação verificada entre a influência do actor e a soma da sua influência e dependência, uma vez que entre dois actores que detenham a mesma influência relativa, é mais influente o que tiver menor dependência. Deste pressuposto decorre a necessidade de ponderar o coeficiente anterior.407 Nas relações de força apresentadas pelos diferentes actores, a Autoeuropa (AE) destaca-se do conjunto dos actores, uma vez que é o actor-chave, logo seguido da Câmara Municipal de Palmela (CMP), e da Sociedade Filarmónica Palmelense Loureiros

403 - GODET, Michel (1995) – MACTOR (version 3.0 pour Windows) – Méthode D’Analyse Stratégique du Jeu des Acteurs – Manuel d’utilisation, (Révision 1.0), La Varenne St. Hilaire, Heurisco, p. 4 404 - Este procedimento, que o MACTOR calcula automaticamente fazendo Ii – (MADI)ii 405 - GODET, Michel (1995) – Op. cit. p. 4 406 - Que também é calculada automaticamente pelo MACTOR usando S = ∑ Ii = ∑ Dj : (Ii − (MADI)ii )/S i j 407 - Para tal, calcula-se Ii /(Ii + Di)

414 (SFP) e do Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP). Gráfico 31 - Indicador da relação de força entre actores

RTCA 1,0

SFP 1,2

ACP 1,1

AE 1,8

GACP 1,2

ADREPES 0,7

FIAPAL 0,0

AVIPE 0,6

ACSDS 1,0

CMP 1,4

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

19.1.3 - O balanço líquido das influências por cada par de actores

Procurou-se em seguida medir, para cada par de actores, o diferencial de influência directa. Cada actor exerce (e recebe) influências indirectas de 2ª ordem sobre (e de) outro actor. Conhece-se este valor a partir da diferença que é estabelecida entre a influência directa e indirecta de i sobre j e a influência directa e indirecta de j sobre i. Em termos práticos, este procedimento possibilita conhecer em termos líquidos se um determinado actor influencia mais do que é influenciado, tornando possível saber, para cada par de actores, os excessos de influência recebida ou exercida.

415

Gráfico 32 - Balanço líquido das influências por cada par de actores

15

10

5

0

-5

-10

-15

-20 AE SFP ACP CMP GACP RTCA AVIPE ACSDS FIAPAL ADREPES

Dos actores em presença há a considerar a Autoeuropa (AE), a Câmara Municipal de Palmela (CMP), a Sociedade Filarmónica Palmelense Loureiros (SFP) e o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP) como os actores que exercem mais influências.

19.1.4 - Matriz da máxima influência directa e indirecta

Esta matriz permitiu a identificação do nível máximo de influência directa e indirecta que um determinado actor exerceu sobre outro. A partir desta matriz foi possível calcular dois indicadores:

- o indicador de máxima influência directa e indirecta de cada actor (Πi), através do somatório em linha;

- o indicador de máxima dependência directa e indirecta de cada actor (δi), através do somatório em coluna.

416 A partir da Matriz de Máxima influência e dependência directa e indirecta de cada actor (MA) é possível, através de um coeficiente, proceder ao cálculo do grau de máxima influência e de dependência, directos e indirectos, que cada actor possui, obtendo-se a medida exacta de força provenientes da matriz MA. A vantagem apresentada pela Matriz de Máxima influência e dependência directa e indirecta de cada actor (MA) prende-se com o facto desta conservar a escala de valores adoptada na codificação das influências directas, que entretanto tinha sido perdida na Matriz dos Meios de Acção Directos e Indirectos (MADI). Seguindo a metodologia que anteriormente foi utilizada no cálculo dos coeficientes de relações de força r*i, procedeu-se ao cálculo dos coeficientes associados à matriz dos máximos de influências directas e indirectas, ρi . Estes coeficientes permitiram determinar o grau de máxima influência e de dependência directa e indirecta de que cada actor é possuidor. Os coeficientes de relações de força entram em linha de conta com as influências directas e indirectas globais e com as dependências directas e indirectas globais.

Partindo de =Π(/i )(/ ×Πi Π+i )), para simplificação dos cálculos ρi ∑Π i ∂ i i procede-se à normalização dos ρi, recorrendo ao cálculo das suas médias, usando

∗ n ρ i ρ i = . ∑ ρ i i

Da sua análise ressalta o facto da Autoeuropa (AE) se apresentar como o actor que possui a relação de forças mais forte (ρ6 = 1,8) associada à matriz MA, situação que não difere do valor relacionado com a mais forte relação de forças associadas à matriz MADI

(R6 = 1,84).

417 Gráfico 33 - Máxima influência e máxima dependência directa e indirecta de cada actor

RTCA

SFP

ACP

GACP

AE Máxima Influência A DREPES Máxima Dependência

FIAPAL

AVIPE

ACSDS

CMP

024681012141618

Exceptuando o caso acabado de mencionar, há diferenças bastante significativas a assinalar entre a ordenação dos coeficientes de relações de forças entre actores, quando se considera o conjunto das influências e dependências directas e indirectas (r*i ) ou apenas as máximas influências.

Quadro 72 – Comparação entre as Relações de Força (Ri) e a Medida Exacta de Força (Πi) de cada Actor

Ri Πi CMP 1,39 1,3 ACSDS 0,98 1,3 AVIPE 0,65 0,6 FIAPAL 0 0 ADREPES 0,75 0,5

AE 1,84 1,8 GACP 1,18 1,3 ACP 1,06 0,6 SFP 1,18 1,3 RTCA 0,98 1,3

418 Gráfico 34 - Medida exacta de força de cada actor

RTCA 1,3

SFP 1,3

ACP 0,6

GACP 1,3

AE 1,8

ADREPES 0,5

FIAPAL 0

AVIPE 0,6

ACSDS 1,3

CMP 1,3

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

19.2 - A IMPLICAÇÃO DOS ACTORES

Circunscrever este estudo à mera apresentação do peso estratégico dos actores seria não só bastante limitativo, como ficaríamos bastante aquém dos objectivos propostos para esta investigação, já para não referir o facto de se ficar com uma percepção bastante incompleta sobre as próprias estratégias dos actores em presença. Daí que tenha surgido a necessidade de perceber as formas de relação que os actores estabelecem com os objectivos estratégicos, dos quais podem depender os vários posicionamentos face ao desenvolvimento do município de Palmela. Os actores sociais, ao propõem acções fazem com que sejam “estas proposições alternativas que «mobilizam» os sistemas de representações.”408 Os sucessivos períodos de crise que a Península de Setúbal atravessou desde a década de setenta, intercalado com intervenções exteriores tendentes a minimizar essa

408 - AROCENA, José (1986) - Op.cit. p. 98

419 mesma crise estrutural da economia regional, tem vindo a obrigar a que o problema do desenvolvimento seja colocado de modo diferente, permitindo a valorização do microsocial e do microeconómico que por sua vez vão ocupando um lugar cada vez mais privilegiado. Este conjunto de projectos e de investimentos virados para a reconversão e reestruturação do tecido industrial e empresarial da Península de Setúbal tem sido diversificado, “sendo disso exemplo notável, no sentido positivo e negativo (de desordenamento), o concelho de Palmela e, em particular, a zona de Pinhal Novo.”409 Ao serem criadas novas expectativas para a região, esses investimentos, que nem sempre se encontram no caminho do desenvolvimento, “tendem, pelo menos, a inverter as lógicas anteriores de desemprego e miséria, suscitam iniciativas e fazem surgir novos protagonismos provenientes do Estado Central, dos fundos comunitários, dos empresários, núcleos sindicais e associações locais, de empresas estrangeiras, da Universidade e das autarquias locais”. 410

19.2.1 - Grau de implicação e mobilização dos actores

Os objectivos que foram colocados aos actores tinham como intuito analisar a maior ou menor implicação destes no denominado jogo de actores. Se para alguns actores a maioria dos objectivos se mostrou pertinente, para outros esses objectivos, pelo seu aspecto muito particular, é que lhes disseram directamente respeito, despertando-lhes interesse, e obrigando a tomar determinadas posições. Ao proceder-se à quantificação dessa medida de implicação poder-se-ia ter em conta duas situações: - ou considerava-se apenas a definição de uma posição relativamente a cada objectivo; - ou passava-se a ter também em conta a intensidade dessa posição. “Em suma, entre a estrutura «objectiva» de um problema e a sua solução na acção colectiva, intercala-se uma mediação autónoma (...), que impõe as suas próprias exigências e a

409 - AMARO, Rogério Roque (1991) - “ Lógicas de Espacialização da Economia Portuguesa”, Sociologia - Problemas e Práticas, nº 10, p. 174 410- idem

420 sua própria lógica.”411 Daí que a matriz 2 MAO venha permitir a visualização do posicionamento dos actores mais implicados pela realização, ou não realização, dos objectivos propostos. Todavia, a simples consideração do posicionamento dos actores em relação aos objectivos com recurso à matriz 2 MAO mostra-se insuficiente, na medida em que o centro de gravidade do jogo dos actores não é colocado em evidência, pelo que se torna pertinente ter em conta as relações de força entre os actores e a sua mobilização através dos valores inscritos na matriz 3 MAO.412 Tomou-se, então, em consideração o somatório em linha das matrizes 2 MAO e 3 MAO, que podem ser interpretados como um indicador dos graus de implicação e de mobilização dos actores.413 Com este procedimento tornou-se possível proceder à distinção entre os actores considerados como os mais influentes e dominantes, nomeadamente do ponto de vista das relações de força e os actores que, embora se mostrem muito implicados em relação aos objectivos estratégicos, não são detentores de poder na relação de forças ou vice- versa. Deste modo, o grau de implicação de um determinado actor irá corresponder ao somatório dos valores absolutos das suas posições valorizadas sobre cada objectivo (somatório das linhas da 2 MAO); o grau de mobilização corresponde ao somatório dos valores absolutos das suas posições valorizadas e ponderadas pela sua relação de força (somatório das linhas da 3 MAO).

411- CROIZIER, Michel; FRIEDBERG, Erhard (1977) - Op.cit., p. 21 412- Cf. - GODET, Michel; BOURSE, François (1993) - MACTOR - Methode d’analyse strategique du jeu des acteurs - Manuel d’utilisation du logiciel mactor, La Varenne St. Hilaire, Heurisco, p. 22 413 - idem

421 Gráfico 35 - Implicação e mobilização dos actores

Grau de Implicação Capacidade de Mobilização CMP CMP RTCA RTCA ACDS; AVIPE ACSDS GACP; SFP GACP; SFP FIAPAL; ADREPES AE AE AVIPE ACP ADREPES ACP FIAPAL

Os actores mais implicados são a Câmara Municipal de Palmela (CMP), a Região de Turismo da Costa Azul (RTCA), seguindo-se a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS) e a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE). No que se refere à capacidade de mobilização, a situação altera-se, pese embora os dois primeiros actores que apresentam maior capacidade de mobilização serem os mesmos que apresentam maior grau de implicação. As alterações verificadas situam-se basicamente a partir do terceiro actor mais implicado e com maior capacidade de mobilização. São os casos da Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE) que passa de terceiro actor mais implicado (ex-aequo com a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), que mantêm a sua posição), para passar a ser o sétimo com capacidade de mobilização. O mesmo se passa com o Fórum da Indústria Automóvel de Palmela (FIAPAL), que desce para décimo lugar em matéria de capacidade de mobilização.

422 Situação inversa é manifestada pela Autoeuropa (AE) que em matéria de grau de implicação ocupa o nono lugar, assumindo o sexto lugar no que se refere à capacidade de mobilização.

19.3 - GRAU DE MOBILIZAÇÃO E DE CONFLITUALIDADE DOS OBJECTIVOS

Como assinala João Ferrão, “As consequências espaciais da crescente (possibilidade de) interacção entre os processos globais de reestruturação das sociedades actuais e as características relativamente específicas de cada lugar - de que as estratégias desenvolvidas pelas empresas transnacionais constituem talvez o exemplo mais expressivo - são diversificadas e por vezes contraditórias.”1 Daí que se torne pertinente a análise dos objectivos, bem como os critérios que presidem à sua análise. Assim, os objectivos podem ser caracterizados através de dois critérios:

- através do seu grau de conflitualidade - pois existem objectivos consensuais e objectivos em torno dos quais se travam conflitos mais ou menos intensos;2 - através do seu grau de mobilização - ou seja, existem objectivos que mobilizam vontades de um pequeno número de actores, com mais ou menos intensidade, e objectivos em torno dos quais se verifica uma mobilização de grande número de actores.3

Os graus de conflitualidade e mobilização podem ser medidos de diversas formas. Optou-se por considerar: - as posições simples, isto é, as posições de acordo, de desacordo ou de

1- FERRÃO, João (1991) - “Terciarização e Território: emergência de novas configurações espaciais ? “, Análise Social, vol. XXVI, (114), pp. 833 2- Mediu-se o grau de conflitualidade dos objectivos, comparando a soma em coluna dos valores positivos (Σ+) de qualquer uma das matrizes 1 MAO, 2 MAO e 3 MAO e os valores negativos (Σ-). Quanto mais próximos forem esses valores maior é o grau de conflitualidade. 3 - Mediu-se o grau de mobilização dos objectivos com recurso ao somatório em coluna de qualquer das matrizes: 1 MAO, 2 MAO e 3 MAO. Quanto maior for esse valor maior é o grau de mobilização.

423 indiferença, indicadas pela matriz 1 MAO; - as posições e o respectivo grau de intensidade, traduzidas pela matriz 2 MAO; - as posições com grau de intensidade, ponderadas pelas relações de força, indicadas pela matriz 3 MAO.

Gráfico 36 - Histograma da mobilização dos actores sobre os objectivos

Esta opção teve como intenção confrontar as ordenações dos objectivos obtidas com cada um destes critérios. Deste modo, há a considerar:

a) quanto aos objectivos mais conflituosos, há a salientar: “ Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de produção” e “População activa predominante nos sectores secundário e terciário”, que aparecem em qualquer das ordenações nos dois primeiros lugares, revelando pouco consenso por parte dos actores. Estes dois objectivos são também os menos mobilizadores, uma vez que reúnem

424 poucos actores em torno de si. O primeiro objectivo encontra-se relacionado com o primeiro Desafio Estratégico (D1) – “Continuar a manter a especificidade agrícola do Município”, e o segundo objectivo relaciona-se com o segundo Desafio Estratégico (D2) -” Abertura do Município ao investimento exterior/aceleração do processo de industrialização” b) os objectivos “Existência de Planeamento” e “Especificidade Agrícola do Município”, aparecem como objectivos que reúnem o maior consenso por parte dos actores e por isso se mostram pouco conflituosos. Há contudo a registar que o objectivo “Especificidade Agrícola do Município” se torna num objectivo consensual apenas nas matrizes 2 MAO e 3 MAO, resultando do grau de intensidade, e do grau de intensidade ponderado pelas relações de força dos actores. Por outro lado, estes dois objectivos apresentam-se como os mais mobilizadores, na medida em que conseguem uma maior mobilização de actores e de um grau de intensidade maior que os restantes objectivos considerados. Se cruzarmos o grau de conflitualidade (muito e pouco conflitual) com o grau de mobilização (muito e pouco mobilizador) dos objectivos, há a possibilidade de proceder à sua classificação em quatro grupos distintos:

1º grupo - principais conflitos: neste grupo estarão todos os objectivos que implicam fortemente grande número de actores em sentidos muito contraditórios;

2º grupo - conflitos secundários: consistem nos objectivos que sejam simultaneamente muito conflituais e que impliquem um número reduzido de actores, ou actores pouco relevantes na relação de forças que exercem;

3º grupo - consensos pouco mobilizadores: cabem nesta classificação os objectivos que sejam simultaneamente pouco ou nada conflituais e que impliquem um número reduzido de actores ou actores pouco relevantes na relação de forças.

4º grupo - consensos mobilizadores: são formados pelos objectivos que sejam simultaneamente pouco ou nada conflituais e que impliquem um número importante de

425 actores ou actores muito relevantes na relação de forças;

Quadro 73 - Ordenação dos objectivos segundo o grau de mobilização muito mobilizador

1 MAO 2 MAO 3 MAO O12 - Centralidade do Município de Palmela O5 - Existência de Planeamento O12 - Centralidade do Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal no contexto espacial da Península de Setúbal O2 - População activa predominante nos O12 - Centralidade do Município de Palmela O5 - Existência de Planeamento sectores secundário e terciário no contexto espacial da Península de Setúbal O5 - Existência de Planeamento O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida O6 -Preservação das zonas históricas O6 -Preservação das zonas históricas e Reserva Natural do Estuário do Sado O7 - Tecido industrial em expansão O16 – Impacto da Ponte Vasco da Gama O6 -Preservação das zonas históricas O11 - O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida Especificidade Agrícola do Município e Reserva Natural do Estuário do Sado e Reserva Natural do Estuário do Sado O13 - Efeito de atracção de populações O17 – Impacto do Comboio da Ponte O1 - Alteração da estrutura da população O2 - População activa predominante nos O2 - População activa predominante nos residente sectores secundário e terciário sectores secundário e terciário O3 - Grandes áreas expectantes O11 - Especificidade Agrícola do Município O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de novas unidades de produção O14 -Dinâmica do sector imobiliário O15 - Necessidade espacial do secundário O8 - Conflitualidade entre a pequena e média O7 - Tecido industrial em expansão O16 – Impacto da Ponte Vasco da Gama empresa e as grandes unidades de produção O13 - Efeito de atracção de populações O10 - Comércio dependente de Setúbal O16 – Impacto da Ponte Vasco da Gama O17 – Impacto do Comboio da Ponte O13 - Efeito de atracção de populações O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de O11 - Especificidade Agrícola do Município novas unidades de produção O1 - Alteração da estrutura da população residente O3 - Grandes áreas expectantes O17 – Impacto do Comboio da Ponte O14 -Dinâmica do sector imobiliário O15 - Necessidade espacial do secundário O8 - Conflitualidade entre a pequena e média O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de empresa e as grandes unidades de produção novas unidades de produção O10 - Comércio dependente de Setúbal O7 - Tecido industrial em expansão O1 - Alteração da estrutura da população residente O15 - Necessidade espacial do secundário O3 - Grandes áreas expectantes O14 -Dinâmica do sector imobiliário O8 - Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de produção O10 - Comércio dependente de Setúbal pouco mobilizador

426

No jogo de actores do município de Palmela verificou-se que não existe nenhum objectivo que seja simultaneamente muito mobilizador e muito conflituoso. Isto quer dizer que não foi determinado nenhum conflito principal que implicasse fortemente um grande número de actores possuidores de sentidos contraditórios entre si; Os conflitos secundários, vão incidir sobre os objectivos que são simultaneamente pouco conflituais e pouco mobilizadores. É o caso dos objectivos: “Comércio dependente de Setúbal”, este objectivo muito conflitual, começa hoje a mostrar a sua incapacidade mobilizadora entre os actores, uma vez que os grandes espaços comerciais que nos últimos anos têm emergido nos municípios do norte da Península de Setúbal, nomeadamente em Almada, Montijo, Alcochete e Seixal, têm suplantado (senão mesmo aniquilado, pelo menos parte) o comércio da cidade de Setúbal, quer em termos de oferta, quer em termos dos próprios horários de funcionamento do chamado comércio tradicional ou de rua; na “Dinâmica do sector imobiliário”, constata-se que o sector imobiliário se encontra pouco dinâmico, dado que Portugal se encontra num cenário de crise económica onde faltam, entre outros, os grandes investimentos, sobretudo os de origem estrangeira, o que tem contribuído para que este objectivo apresente estas características muito conflituais e pouco mobilizadoras; a “Existência de áreas expectantes” parece também ser uma situação que está longe de se apresentar mais ou menos pacífica, na medida em que dada a falta de investimentos e o próprio sector imobiliário se apresentar pouco dinâmico, merece grande preocupação por parte dos actores em presença, uma vez que se desconhece o destino a dar a essas áreas; os três objectivos “Tecido Industrial em expansão”, “Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de produção” e “Necessidade espacial do secundário” poderão ser analisados simultaneamente, uma vez que constituem três aspectos do mais recente processo de industrialização; contrariamente ao que seria suposto, estes objectivos não são muito mobilizadores, mas são muito conflituosos, e uma vez que nem sempre existe acordo entre os vários actores sobre a pluralidade de modos de desenvolvimento, uma vez que alguns deles referem o facto de muitos dos espaços não estarem bem definidos. Mesmo o objectivo referente a uma possível conflitualidade entre as pequenas e médias empresas e

427 as grandes unidades de produção ainda detém algum impacto, na medida em que há um reconhecimento tácito da importância económica e social que as grandes unidades de produção representam quer para o município, quer para a região, quer para o País, mas os que aqui existiam previamente à sua vinda, nunca receberam incentivos; o objectivo “Integração no Parque Natural da Arrábida e Reserva Natural do Estuário do Sado” enquadra-se neste grupo de conflitos secundários, na medida em que o recente Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida tem suscitado um conjunto de críticas, nomeadamente do sector agrícola que se considera como um dos mais prejudicados. No entanto, os actores entrevistados referem que a integração de parte do território municipal nos espaços naturais se mostrou benéfico e, por outro lado, pode mostrar aptidões para o aproveitamento turístico Os consensos pouco mobilizadores prendem-se com os seguintes objectivos: a “Alteração da estrutura da população residente”, é pouco mobilizadora e pouco conflitual. A composição social da população residente no território do município de Palmela é bastante diferente daquela que existia há algumas décadas atrás. Há lugares, como Pinhal Novo, que se caracterizam por serem possuidores de uma elevada rotatividade da sua população, transformando-se no grande dormitório deste município. Todavia, estas hipóteses carecem de melhor confrontação empírica; a “Alternativa a Setúbal quanto à fixação de novas unidades de produção”, uma vez que os actores remetem o território do município de Palmela para um lugar de território complementar e não alternativo a Setúbal, e que em sua opinião se deve à sua posição central que ocupa na Península de Setúbal e às várias vias de comunicação existentes e acessibilidades presentes; o objectivo “Impacto do Comboio na Ponte 25 de Abril” apresenta-se como pouco mobilizador, uma vez que ainda não é possível observar os impactos produzidos neste território devido ao facto da extensão do serviço ferroviário em causa até à cidade de Setúbal 1 só se ter iniciado em Outubro de 2004.

1 - O município de Palmela é servido pelas estações de Pinhal Novo, Venda do Alcaide e Palmela.

428

Quadro 74 - Ordenação dos Objectivos segundo o grau de conflitualidade muito conflituoso

1MAO 2MAO 3MAO O10 - Comércio dependente de Setúbal O10 - Comércio dependente de Setúbal O10 - Comércio dependente de Setúbal O3 - Grandes áreas expectantes O3 - Grandes áreas expectantes O14 -Dinâmica do sector imobiliário O14 -Dinâmica do sector imobiliário O7 - Tecido industrial em expansão O14 -Dinâmica do sector imobiliário O15 - Necessidade espacial do secundário O7 - Tecido industrial em expansão O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida e O3 - Grandes áreas expectantes O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de Reserva Natural do Estuário do Sado novas unidades de produção O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de O12 - Centralidade do Município de Palmela no novas unidades de produção contexto espacial da Península de Setúbal O13 - Efeito de atracção de populações O13 - Efeito de atracção de populações O15 - Necessidade espacial do secundário O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida e O5 - Existência de Planeamento O7 - Tecido industrial em expansão Reserva Natural do Estuário do Sado O5 - Existência de Planeamento O8 - Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de produção O1 - Alteração da estrutura da população O8 - Conflitualidade entre a pequena e média O15 - Necessidade espacial do secundário residente empresa e as grandes unidades de produção O2 - População activa predominante nos sectores O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação de secundário e terciário novas unidades de produção O6 -Preservação das zonas históricas O11 -Especificidade Agrícola do Município O16 O5 - Existência de Planeamento – Impacto da Ponte Vasco da Gama O4 - Integração no Parque Natural da Arrábida e O17 – Impacto do Comboio da Ponte Reserva Natural do Estuário do Sado O8 - Conflitualidade entre a pequena e média empresa e as grandes unidades de produção O1 - Alteração da estrutura da população O13 - Efeito de atracção de populações residente O2 - População activa predominante nos sectores O1 - Alteração da estrutura da população secundário e terciário residente O6 -Preservação das zonas históricas O2 - População activa predominante nos sectores O11 -Especificidade Agrícola do Município secundário e terciário O12 - Centralidade do Município de Palmela no O6 -Preservação das zonas históricas contexto espacial da Península de Setúbal O11 -Especificidade Agrícola do Município O16 – Impacto da Ponte Vasco da Gama O12 - Centralidade do Município de Palmela no O17 – Impacto do Comboio da Ponte contexto espacial da Península de Setúbal O16 – Impacto da Ponte Vasco da Gama O17 – Impacto do Comboio da Ponte

pouco conflituoso

429

Finalmente, os chamados consensos mobilizadores congregaram um conjunto de objectivos que merecem alguma reflexão. Assim, a “Centralidade do Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal” relaciona-se com o papel de charneira de que se falava no início deste trabalho e que recebe a concordância, por parte da grande maioria dos actores, que acham que o município de Palmela, pela sua centralidade no contexto espacial da Península de Setúbal, se apresenta como um espaço cheio de potencialidades a explorar; na “Existência de Planeamento”, todos os actores revelaram a sua concordância com a existência de Planeamento. Um certo desejo de ordenamento do território parece atravessar os vários interesses. Este desejo de um território arrumado, ou com os espaços da indústria, da agricultura e das áreas urbanas bem definidas, não invalidou que alguns actores levantassem algumas questões quanto ao modo em como é feito esse Planeamento; a “Preservação das Zonas Históricas”, nomeadamente os centros históricos de Palmela, de Pinhal Novo e de Quinta do Anjo, e outras zonas históricas nomeadamente o Castelo de Palmela e a sua zona envolvente, receberam dos actores entrevistados uma opinião favorável, centrando-se as opiniões na questão da sua recuperação e na defesa do património edificado, bem como nas potencialidades turísticas que o mesmo apresenta; o “Impacto da Ponte Vasco da Gama” tornou-se num consenso mobilizador, na medida em que os actores reconhecem que houve uma melhoria substancial de facto em matéria de acessibilidades e que estas se tornaram numa mais-valia para o município; o “Efeito de atracção de populações” tem a ver não só com as acessibilidades rodo-feroviárias, como com a oferta de habitação junto aos principais centros urbanos dotados de meios de transporte, de que Pinhal Novo é exemplo em termos do seu crescimento populacional, e com o tecido empresarial que se encontra ainda em expansão; o objectivo “Especificidade Agrícola do Município” revelou uma posição, quase unânime, por parte dos actores envolvidos nesta investigação. Embora as opiniões sejam canalizadas para os aspectos relacionados com a especificidade agrícola do Município, os actores fazem apelo ao aumento da qualidade dos produtos agrícolas como condição de concorrência e de sobrevivência da economia agrícola local; a “População activa predominantemente nos sectores secundário e terciário” que apresenta-se muito mobilizadora e pouco conflitual.

430 É dado assente que a população agrícola diminuiu substancialmente e que essa tendência de diminuição se vai acentuar nos próximos tempos. Por outro lado, quer as indústrias, quer os vários serviços que se encontram a operar neste território, têm a perfeita noção do tipo de mão-de-obra que se encontra no município.

Quadro 75 – Classificação dos Objectivos segundo o seu grau de mobilização e conflitualidade 1 MUITO CONFLITUAL POUCO CONFLITUAL

♦ O12 - Centralidade do Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal

♦ O5 - Existência de Planeamento

♦ O6 - Preservação das Zonas Históricas MUITO

♦ O16 - Impacto da Ponte Vasco da Gama MOBILIZADOR

♦ O13 - Efeito de atracção de populações

PRINCIPAL CONFLITO ♦ O11 - Especificidade Agrícola do Município

♦ O2 - População activa predominante nos sectores secundário e terciário

CONSENSOS MOBILIZADORES

♦ O10 - Comércio dependente de Setúbal ♦ O1 - Alteração da estrutura da população residente ♦ O14 - Dinâmica do sector imobiliário ♦ O9 - Alternativa a Setúbal quanto à fixação ♦ O8 - Conflitualidade entre a pequena e média de novas unidades de produção empresa e as grandes unidades de produção ♦ O17 – Impacto do Comboio da Ponte ♦ O3 – Existência de áreas expectantes

POUCO ♦ O7 - Tecido Industrial em expansão

MOBILIZADOR ♦ O15 - Necessidade espacial do secundário

♦ O4 - Integração no Parque Natural da CONSENSOS Arrábida e Reserva Natural do Estuário do POUCO MOBILIZADORES Sado

CONFLITOS SECUNDÁRIOS

1- Utilizou-se a terminologia proposta por Margarida Perestrelo e José Maria Castro Caldas na pesquisa já referida.

431 19.4 – DAS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DOS ACTORES AO POSICIONAMENTO DOS ACTORES: SUAS ALIANÇAS E CONFLITOS

Quando se recorre ao MACTOR, o objectivo central que se procura alcançar é a identificação das possíveis alianças e conflitos entre os diversos actores. O método permite construir matrizes de convergência e divergência de actores a partir das quais é possível determinar grupos estratégicos de actores.

19.4.1 – Matriz de Divergências entre Actores

Partindo-se do princípio que existe conflito entre o actor i e o actor j relativamente ao objectivo k , recorre-se à 2 MAO para se calcular a Matriz Valorizada de Divergências Actores × Actores (2 DAA), que mais não é do que o resultado da semiamplitude do conjunto das divergências existentes entre os diferentes actores face aos vários objectivos que lhes foram propostos. Recorrendo à soma das medidas dos objectivos em conflitos consegue-se determinar qual a divergência existente entre um par de actores perante o conjunto de objectivos que foi proposto. Realce-se, contudo, que os valores que surgem nesta matriz não medem o número de potenciais conflitos, mas sim a intensidade dos conflitos existentes em cada par de actores nas suas hierarquizações de objectivos. Daí que esta matriz se apresente simétrica.

432 Quadro 76 - Matriz Valorizada de Divergências Actores × Actores (2 DAA)

CMP ACSDS AVIPE FIAPAL ADREPES AE GACP ACP SFP RTCA

2DAA

CMP 0,0 2,5 7,0 4,0 6,5 0,0 0,0 3,5 3,5 3,5 ACSDS 2,5 0,0 3,0 2,5 3,5 1,0 1,5 3,5 3,0 1,5 AVIPE 7,0 3,0 0,0 7,5 2,5 3,5 5,5 6,0 7,0 9,5

FIAPAL 4,0 2,5 7,5 0,0 4,0 1,5 1,5 3,5 1,5 2,0 LIPSOR-EPITA-MACTOR © ADREPES 6,5 3,5 2,5 4,0 0,0 5,0 5,5 3,5 6,0 5,5 AE 0,0 1,0 3,5 1,5 5,0 0,0 1,0 1,5 0,0 0,0 GACP 0,0 1,5 5,5 1,5 5,5 1,0 0,0 1,5 2,0 1,0 ACP 3,5 3,5 6,0 3,5 3,5 1,5 1,5 0,0 1,0 3,0 SFP 3,5 3,0 7,0 1,5 6,0 0,0 2,0 1,0 0,0 0,0 RTCA 3,5 1,5 9,5 2,0 5,5 0,0 1,0 3,0 0,0 0,0 Nombre de divergences 30,5 22,0 51,5 28,0 42,0 13,5 19,5 27,0 24,0 26,0 Degré de divergence (%) 24,1

Quando o MACTOR calcula a Matriz Valorizada de Divergências Actores × Actores (2 DAA) estabelece um limiar de divergência, ou seja, o grau de divergência que., a partir do qual se considera que existe incompatibilidade entre actores. Neste estudo, verificou-se que o grau de divergência entre os actores do município de Palmela foi de 24,1%. Embora os actores não necessitem de estar de acordo com todos os objectivos que lhes são propostos, a partir de 24,1% torna-se difícil serem incluídos no mesmo grupo estratégico. No caso empírico, poderiam ser incluídos no mesmo grupo estratégico os actores que apresentassem valores inferiores ao grau de divergência encontrado. Estariam neste caso: a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), a Autoeuropa (AE), o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP) e a Sociedade Filarmónica Palmelense Loureiros (SFP).

433

Gráfico 37 - Divergências entre actores de 2ª ordem

O gráfico das divergências entre actores de 2ª ordem revela que a principal divergência se encontra no par de actores Região de Turismo da Costa Azul (RTCA ) e Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE). A divergência considerada importante verifica-se entre o Fórum da Indústria Automóvel de Palmela (FIAPAL) e a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE). Em seguida, procedeu-se à determinação da Matriz Valorizada Ponderada de Divergências Actores × Actores (3 DAA), com o objectivo de identificar a intensidade média de cada par de actores na situação em que dois actores se encontrem em oposição face a um determinado objectivo. Esta matriz que tal como a anterior, é simétrica, apresenta valores que medem a intensidade desses conflitos quando as hierarquias de objectivos que foram estabelecidas por cada par de actores se encontram em oposição, assim como revela as relações de força existentes entre eles.

434

Quadro 77 - Matriz Valorizada e Ponderada de Divergências Actores × Actores (3 DAA) CMP ACSDS AVIPE FIAPAL ADREPES AE GACP ACP SFP RTCA

3DAA

CMP 0,0 3,1 6,7 0,0 7,1 0,0 0,0 4,4 4,5 4,2 ACSDS 3,1 0,0 2,3 0,0 3,1 1,4 1,7 3,6 3,2 1,5 AVIPE 6,7 2,3 0,0 0,0 1,7 3,5 4,4 5,1 5,9 7,3

FIAPAL 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 LIPSOR-EPITA-MACTOR © ADREPES 7,1 3,1 1,7 0,0 0,0 5,9 5,2 3,1 5,6 4,7 AE 0,0 1,4 3,5 0,0 5,9 0,0 1,5 2,0 0,0 0,0 GACP 0,0 1,7 4,4 0,0 5,2 1,5 0,0 1,7 2,4 1,1 ACP 4,4 3,6 5,1 0,0 3,1 2,0 1,7 0,0 1,1 3,1 SFP 4,5 3,2 5,9 0,0 5,6 0,0 2,4 1,1 0,0 0,0 RTCA 4,2 1,5 7,3 0,0 4,7 0,0 1,1 3,1 0,0 0,0 Nombre de divergences 30,1 19,7 36,8 0,0 36,3 14,3 17,8 24,0 22,7 21,8 Degré de divergence (%) 0,0

Nesta matriz, o grau de divergência encontra-se associado às posições valorizadas ponderadas que indicam de modo global a percentagem de divergências encontradas no conjunto dos actores sobre os objectivos propostos. No caso do estudo empírico esse grau de divergência é de 0%. Os actores com maior número de divergências são a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE), a Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES) e a Câmara Municipal de Palmela. O actor que apresenta menor número de divergências é a Autoeuropa (AE). Como se pode verificar no gráfico referente às divergências de actores de 3ª orrdem, as principais divergências verificam-se entre dois pares de actores: a Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES) e a Câmara Municipal de Palmela (CMP), com uma intensidade de divergência e de relação de força de 7,1; a Região de Turismo da Costa Azul (RTCA ) e a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE), com uma intensidade de divergência e de relação de força de 7,3.

435

Gráfico 38 - Divergências entre actores de 3ª ordem

19.4.2 – Matriz de Convergências entre Actores

A Matriz Valorizada de Convergências Actores × Actores (2 CAA) à semelhança da Matriz (2 DAA), vai proceder ao cálculo da intensidade média das convergências por cada par de actores que tenham a mesma valência (ambos favoráveis ou ambos desfavoráveis ao mesmo objectivo). Os valores que se encontram inscritos na matriz não medem o número de potenciais alianças, mas sim a intensidade dessas alianças por cada par de actores em relação à hierarquização dos objectivos propostos. Tal como nos casos anteriores, esta matriz é simétrica.

436

Quadro 78 - Matriz Valorizada de Convergências Actores × Actores (2 CAA)

CMP ACSDS AVIPE FIAPAL ADREPES AE GACP ACP SFP RTCA

2CAA

CMP 0,0 21,0 15,0 14,0 11,0 13,5 22,5 7,0 17,0 23,5 ACSDS 21,0 0,0 9,5 11,5 5,5 10,0 14,5 2,5 12,5 19,5 AVIPE 15,0 9,5 0,0 7,0 12,5 3,5 10,0 1,5 4,0 9,0

FIAPAL 14,0 11,5 7,0 0,0 7,5 6,5 10,0 4,5 8,5 13,5 LIPSOR-EPITA-MACTOR © ADREPES 11,0 5,5 12,5 7,5 0,0 2,5 6,5 2,5 4,5 7,5 AE 13,5 10,0 3,5 6,5 2,5 0,0 9,5 2,0 9,5 12,0 GACP 22,5 14,5 10,0 10,0 6,5 9,5 0,0 4,0 11,5 17,5 ACP 7,0 2,5 1,5 4,5 2,5 2,0 4,0 0,0 5,5 7,0 SFP 17,0 12,5 4,0 8,5 4,5 9,5 11,5 5,5 0,0 17,5 RTCA 23,5 19,5 9,0 13,5 7,5 12,0 17,5 7,0 17,5 0,0 Nombre de convergences 144,5 106,5 72,0 83,0 60,0 69,0 106,0 36,5 90,5 127,0 Degré de convergence (%) 75,9

Quando estabelece o cálculo da Matriz Valorizada de Convergências Actores × Actores (2 CAA), o MACTOR calcula o grau de convergência que se encontra associado às posições valorizadas e que indica globalmente a percentagem de convergência do conjunto de actores sobre o conjunto dos objectivos propostos. No estudo empírico, verificou-se que o grau de convergência apresentado pela (2 CAA) foi de 75,9%, o que significa que o grau inferior a essa média é revelador de um jogo de actores potencialmente conflitual. Encontram-se neste caso os actores: Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE), Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES), Autoeuropa (AE) e Adega Cooperativa de Palmela (ACP).

437 Gráfico 39 - Convergências entre actores de 2ª ordem

No gráfico é possível verificar que as convergências consideradas como as mais importantes são estabelecidas entre a Câmara Municipal de Palmela (CMP) e o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP); e a Câmara Municipal de Palmela (CMP) e a Região de Turismo da Costa Azul (RTCA). Estes dois últimos actores mantêm uma convergência considerada importante com a Associação do comércio e Serviços do distrito de Setúbal (ACSDS). Recorreu-se à Matriz Valorizada Ponderada de Convergências Actores × Actores (3 CAA) com o objectivo de identificar a intensidade média de cada par de actores quando dois actores se encontram em convergência face a um determinado objectivo (ambos de acordo ou ambos em oposição face a um objectivo). Esta matriz que, tal como a anterior, é simétrica, apresenta valores que medem a intensidade dessas alianças por cada par de actores, as suas hierarquias de objectivos e as relações de força existentes

438 entre eles.

Quadro 79 - Matriz Valorizada Ponderada de Convergências Actores × Actores (3 CAA)

CMP ACSDS AVIPE FIAPAL ADREPES AE GACP ACP SFP RTCA

3CAA

CMP 0,0 24,8 15,2 0,0 12,1 20,8 29,5 8,7 22,1 28,1 ACSDS 24,8 0,0 7,8 0,0 4,8 12,8 15,3 2,5 13,3 19,1 AVIPE 15,2 7,8 0,0 0,0 8,6 3,5 8,6 1,2 3,1 7,0

FIAPAL 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 LIPSOR-EPITA-MACTOR © ADREPES 12,1 4,8 8,6 0,0 0,0 3,0 5,9 2,3 4,0 6,4 AE 20,8 12,8 3,5 0,0 3,0 0,0 14,2 2,9 13,9 15,2 GACP 29,5 15,3 8,6 0,0 5,9 14,2 0,0 4,4 13,6 18,5 ACP 8,7 2,5 1,2 0,0 2,3 2,9 4,4 0,0 6,1 7,1 SFP 22,1 13,3 3,1 0,0 4,0 13,9 13,6 6,1 0,0 18,6 RTCA 28,1 19,1 7,0 0,0 6,4 15,2 18,5 7,1 18,6 0,0 Nombre de convergences 161,3 100,5 55,0 0,0 47,1 86,1 110,0 35,4 94,8 120,1 Degré de convergence (%) 0,0

Também para esta matriz o MACTOR calcula o grau de convergência associado às posições valorizadas ponderadas, que de um modo geral vão indicar a percentagem de convergências do conjunto de actores sobre o conjunto dos objectivos propostos. No estudo empírico, este grau de convergência associado à (3 CAA) foi de 0%. O actor com maior número de convergências foi a Câmara Municipal de Palmela (CMP), logo seguido pela Região de Turismo da Costa Azul (RTCA) e pelo Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP). O actor que apresentou menor número de convergências foi o Fórum da Indústria Automóvel de Palmela (FIAPAL).

439 Gráfico 40 - Convergências entre actores de 3ª ordem

Das convergências consideradas como muito importantes, salientam-se dois pares de actores: a Câmara Municipal de Palmela (CMP) e o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP), com uma intensidade de convergências e de relação de força de 29,5; e a Câmara Municipal de Palmela (CMP) e a Região de Turismo da Costa Azul (RTCA), com uma intensidade de convergências e de relação de força de 28,1. As convergências consideradas importantes circunscrevem-se apenas a um par de actores: a Câmara Municipal de Palmela (CMP) e a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), com uma intensidade de convergências e de relação de força de 18,5.

440 Dois actores poderão, contudo, ter entre si um conjunto de posições convergentes sobre determinados objectivos e um conjunto de posições divergentes sobre outros objectivos. Esta situação denomina-se ambivalente. Se esses actores pensam estabelecer uma aliança entre si, deverão chegar a consensos sobre os objectivos que os separam. Esta ambivalência poderá ser encontrada através de três indicadores de equilíbrio, recorrendo às suas posições simples, valorizadas, e valorizadas e ponderadas.

Quadro 80 - Indicadores de ambivalência de actores

EQ[1] EQ[2] EQ[3]

CMP 0,4 0,3 0,0

ACSDS 0,4 0,3 0,0 © LIPSOR-EPITA-MACTOR AVIPE 0,7 0,7 0,0 FIAPAL 0,5 0,5 0,0 ADREPES 0,8 0,7 0,0 AE 0,3 0,3 0,0 GACP 0,3 0,3 0,0 ACP 0,7 0,6 0,0 SFP 0,4 0,3 0,0 RTCA 0,4 0,3 0,0

O MACTOR calculou, para cada actor, um indicador de equilíbrio das posições que resumem a sua ambivalência em relação ao conjunto dos restantes actores; quanto mais elevado for o valor apresentado pelo actor (próximo de 1) , menor será a sua ambivalência com os restantes actores. Isto quer dizer que ele poderá ser totalmente convergente ou totalmente divergente em relação a cada um dos restantes actores A sua posição será equilibrada ou estável. Os actores ambivalentes, ao contrário do que se acabou de referir, apresentam um indicador de equilíbrio próximo de 0. A sua instabilidade poderá ser observada, uma vez que os actores tanto poderão ser possuidores de convergências, como de divergências em relação aos restantes actores. Nas posições simples denota-se alguma estabilidade por parte dos actores Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES),

441 Associação de Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE) e Adega Cooperativa de Palmela (ACP) , que decresce de equilíbrio quando se passa a considerar a sua posição valorizada. Quando se consideram as posições valorizadas e ponderadas o jogo é de extrema instabilidade, atingindo-se a ambivalência absoluta.

Gráfico 41 - Distancias líquidas entre objectivos

Este gráfico permite localizar quais os objectivos sobre os quais os actores se posicionam da mesma forma, em termos de acordos e de desacordos. Para tal, o MACTOR procedeu ao balanço líquido obtido pela diferença entre a Matriz valorizada das convergências de objectivos (2 COO) e a Matriz valorizada das divergências de objectivos ( 2 DOO).

Das distâncias líquidas consideradas muito importantes salienta-se o par de objectivos Existência de instrumentos de Planeamento (O5) e Centralidade do

442 Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal (O12). Já nos objectivos com distâncias líquidas consideradas como relativamente importantes, surgem vários pares de objectivos: Centralidade do Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal (O12) e Preservação das zonas históricas (O6); Centralidade do Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal (O12) e Dinâmica do sector imobiliário (O14); Existência de instrumentos de Planeamento (O5) e Efeitos do comboio da Ponte 25 de Abril (O17); Existência instrumentos de Planeamento (O5) e Preservação das zonas históricas (O6); Preservação das zonas históricas (O6) e População activa predominante nos sectores secundário e terciário (O2); Efeitos do comboio da Ponte 25 de Abril (O17) e População activa predominante nos sectores secundário e terciário (O2); Efeitos da Ponte Vasco da Gama (O16) e População activa predominante nos sectores secundário e terciário (O2); Tecido industrial em expansão (O7) e População activa predominante nos sectores secundário e terciário (O2); Dinâmica do sector imobiliário (O14) e Especificidade Agrícola do Município (O11) Finalmente, a distância líquida entre actores, aqui visualizada através de um gráfico, procura representar as potenciais alianças, tomando em consideração as divergências e as convergências existentes entre os actores

443 Gráfico 42 - Distâncias líquidas entre actores

Da análise do gráfico das distâncias líquidas entre actores ressaltam duas distâncias que merecem reparo. Uma distância líquida considerada como muito importante verifica-se entre o par de actores: Câmara Municipal de Palmela (CMP) e Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP); e uma distância líquida considerada como relativamente importante, e que envolve o par de actores Câmara Municipal de Palmela (CMP) e Região de Turismo da Costa Azul (RTCA).

Como se pode verificar, estas matrizes apenas relacionam pares de actores, pelo que houve a necessidade de se proceder à construção de grupos estratégicos mais alargados, para que fosse possível perceber as possíveis alianças face a objectivos comuns. Estes grupos estratégicos foram construídos a partir da análise de clusters através

444 do método Hierarchical Cluster Analisys.1 Deste modo, tornou-se possível conhecer esses grupos, quer quanto à sua força relativa, quer quanto ao seu grau de dispersão e conteúdo – nomeadamente a concordância, a oposição e a discordância de objectivos.

Quadro 81 - Matriz das Proximidades entre actores

Matriz das Proximidades

Distância Euclidiana 4 1 2 3 FIAPA 5 6 7 8 9 10 Actor CMP ACSDS AVIPE L ADREPES AE GACP ACP SFP RTCA 1:CMP ,000 6,000 9,487 7,141 8,775 6,557 4,583 8,485 7,141 5,657 2:ACSDS 6,000 ,000 8,602 7,416 8,660 6,245 6,083 8,832 6,856 5,657 3:AVIPE 9,487 8,602 ,000 9,644 7,280 8,307 7,810 10,000 9,539 10,000 4:FIAPAL 7,141 7,416 9,644 ,000 7,348 5,477 6,164 7,000 6,481 6,708 5:ADREPES 8,775 8,660 7,280 7,348 ,000 6,928 7,348 7,000 8,000 8,307 6:AE 6,557 6,245 8,307 5,477 6,928 ,000 4,472 5,196 3,742 5,196 7:GACP 4,583 6,083 7,810 6,164 7,348 4,472 ,000 6,245 5,292 5,196 8:ACP 8,485 8,832 10,000 7,000 7,000 5,196 6,245 ,000 5,568 7,211 9:SFP 7,141 6,856 9,539 6,481 8,000 3,742 5,292 5,568 ,000 4,796 10:RTCA 5,657 5,657 10,000 6,708 8,307 5,196 5,196 7,211 4,796 ,000 Esta é uma matriz de dissimilitudes

A força do grupo será tanto maior quanto maior a força relativa e menor o grau de dispersão. Constituídos os grupos de actores, procedeu-se a uma reordenação da matriz 2 MAO. Assim, cada um dos grupos pode ser caracterizado, simultaneamente, pelos consensos internos que contribuem para a sua união, e pela sua diferença em relação aos outros grupos. É óbvio que a análise tipológica vai agrupar actores com o mesmo modelo de posições face aos objectivos. No entanto, apesar dos consensos serem dominantes no interior de cada grupo, as divergências entre si ainda subsistem. Da análise do quadro referente aos grupos estratégicos de actores, sobressaem dois grupos:

1- Foi utilizado o método Hierarchical Cluster Analysis com recurso ao software SPSS.

445

Quadro 82 – Grupos estratégicos de actores

Cluster Actores Grau de Força Concordância de objectivos Desacordo de objectivos Dispersão Relativa

∑ (Ri)

O1 O2 O4 O3 1 CMP O5 08 ACSDS 6,083 3,55 O6 O10 GACP O7 O11 O12 O13 O15 O16 O17

Oposição: O9 O14

O5 O3 O6 O4 O11 O7 2 AVIPE - 0,65 O12 O10 O14 O14 O15

O1 O2 3 FIAPAL O3 AE 6,708 4,0 O4 SFP O5 RTCA O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12 O14 O15 O16 O17

Oposição: O13

O2 O4 O9 O7 4 ADREPES 7,000 1,81 O11 O9 ACP O12 O13 O16 O14 O15 Oposição: O3 O5

446 - um grupo formado pelos actores, Câmara Municipal de Palmela (CMP), Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS) e pelo Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela (GACP), que apresenta o menor grau de dispersão (6,083), detém a segunda mais elevada força relativa ( 3,55);

- um outro grupo, formado pelos actores, Fórum da Indústria Automóvel de Palmela (FIAPAL), Autoeuropa (AE), Sociedade Filarmónica Palmelense (SFP), e pela Região de Turismo da Costa Azul (RTCA), que apresenta um grau de dispersão maior que o grupo anterior (6,708), mas que é detentor de uma força relativa maior que a dos restantes grupos (4,0).

É óbvio que a análise tipológica vai agrupar actores com o mesmo tipo de posições face aos objectivos; todavia, apesar dos consensos serem dominantes no interior de cada grupo, as divergências entre si ainda subsistem. Há a realçar que o cluster que é formado pelos actores: Palmela, embora apresente um elevado grau de dispersão (4,69) quanto aos objectivos, é aquele que apresenta maior força relativa (9,16), pelo que há que contar com estes actores e com os objectivos que apontam para o município. No entanto, é necessário não perder de vista que dentro deste cluster encontra-se o actor mais influente e menos dependente, ou seja, o actor-chave do jogo de actores.

447 448

Quadro 83 – Reconstrução da 2 MAO segundo os grupos estratégicos

CLUSTERS OBJECTIVOS O1 O2 O3 O4 O5 O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12 O13 O14 O15 O16 O17 ACTORES CMP 1 2 -1 3 3 3 2 0 2 -2 2 3 2 -1 1 2 1 1 ACDS 3 2 0 0 3 3 1 0 -1 -2 0 2 3 1 0 1 1 GACP 0 1 0 1 1 3 1 -1 2 -1 2 1 1 0 1 1 1 2 AVIPE 0 0 -1 -3 2 3 -2 0 0 -1 3 3 0 -2 -3 0 0 FIAPAL 0 1 1 2 3 1 3 0 0 0 0 2 -2 1 0 0 0 3 AE 0 1 0 0 1 0 1 1 1 0 0 1 1 0 1 1 1 SFP 2 2 1 1 0 0 1 1 2 1 1 1 1 1 0 1 2 RTCA 1 2 1 2 2 2 1 0 0 1 1 2 2 1 1 3 3 4 ADREPES 0 0 -2 2 2 0 -2 0 -2 0 3 1 -1 0 -1 0 0 ACP 0 1 1 3 -2 0 0 0 0 0 0 0 0 -1 0 1 0

CMP- Câmara Municipal de Palmela; ACSDS – Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal; GACP – Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela ; AVIPE – Associação de Viticultores do Concelho de Palmela; FIAPAL – Fórum da Indústria Automóvel de Palmela; AE – Autoeuropa; SFP – Sociedade Filarmónica Palmelense Loureiros; RTCA – Região de Turismo da Costa Azul; ADREPES – Associação para o Desenvolvimento rural da Península de Setúbal; ACP – Adega Cooperativa de Palmela

Concordância com os Objectivos Discordância com os Objectivos Objectivos em Oposição

449 450 CONCLUSÃO Face a uma conjuntura económica e social que tem mostrado profundas transformações e cujo figurino assenta nos vários tipos de globalização, impõe-se a necessidade de reequacionar as questões do desenvolvimento, abandonando a análise dicotómica e reducionista que opunha os países ricos e industrializados aos países pobres e subdesenvolvidos. A acompanhar este processo de transformações, a análise sobre o desenvolvimento tem vindo, ela também, a sofrer uma deslocação no seu eixo. As questões do desenvolvimento deixam então de ser pertença exclusiva da análise dos países do terceiro mundo, para passarem a ser motivo de reflexão em torno de regiões integradas nos países ricos e industrializados, os quais são cada vez mais confrontados quer com os problemas da criação de riqueza, quer com os problemas relacionados com a forma da sua distribuição e com os problemas crescentes ao nível da criação e manutenção do emprego. Perante uma situação de incapacidade de resolução dos problemas por parte dos modelos protagonizados unilateralmente pelo Estado, surge o apelo a novas formas de participação e de intervenção. Assiste-se, assim, ao despertar das regiões e à invenção dos actores locais, que passam a estar envolvidos em formas de acção mais activas e mais participativas. Essas formas de acção e de modernização do tecido económico, da qualificação e requalificação dos espaços urbanos, dos programas de formação profissional, da inserção das regiões marginalizadas na estratégia global do Estado, bem como o apoio aos grupos socialmente excluídos, passam a deter um lugar de máxima importância nas estratégias de cada País e de cada Região. Começa-se, pois, a sentir a necessidade de se encontrar novos modelos de desenvolvimento e, simultaneamente, assiste-se a uma nova atitude perante o próprio desenvolvimento local. A incerteza quanto ao futuro e a abertura que é proporcionada na definição desse futuro conduziram à participação dos actores locais, traduzida sob formas de assumir o passado, de reconhecer as situações presentes e de avançar com propostas alternativas tendentes ao desenvolvimento futuro da sociedade local.

451 Embora as representações do desenvolvimento local se mostrem pertinentes para a análise dos actores no sistema de acção local, tal parece ser insuficiente pelo que surge a necessidade de se proceder à tentativa de mudar a racionalidade do próprio sistema. A análise do sistema de acção social cria, então, a possibilidade de formular a hipótese da presença simultânea da liberdade e da dominação, mostrando-se capaz de revelar uma enorme capacidade de acção conduzindo à existência de determinações originárias do modo de desenvolvimento. Contudo, há a referir a existência heterogénea de actores, que surge como o resultado da própria diversidade de forças sociais, com estratégias diversas e diferentes e com representações diferenciadas, e que por vezes se apresentam radicalmente opostas, sobre o desenvolvimento das sociedades locais. Do ponto de vista da análise empírica, o presente estudo incidiu sobre o município de Palmela, procurando identificar quais os consensos e conflitos que podem ser gerados por via das estratégias dos actores territorializados face às formas de desenvolvimento do município. Procurou-se assim dar conta de uma possível articulação entre essas estratégias, o desenvolvimento local e o urbanismo. Antes de passar às conclusões do estudo, resta ressalvar que estas são detentoras de um carácter provisório. Essa sua característica advém de três importantes factores: da própria complexidade que reveste o objecto, que se traduziria numa exigência em alargar o campo da pesquisa a outras áreas; da elevada mutabilidade das próprias dinâmicas sociais que constituíram o estudo, que impedem uma captação definitiva; e das próprias estratégias e alianças dos actores sociais, que perante determinadas conjunturas ou factores sociais, económicos, culturais, simbólicos ou políticos, podem livremente alterar as suas relações, os seus interesses e opiniões. O estudo viria a revelar quatro grandes aspectos:

1 - Os processos de desenvolvimento observados no município de Palmela não se produziram de forma linear. Esses processos têm vindo a ser produzidos de modo complexo e dependente da lógica da localização produtiva, que tem sido responsável

452 pela rentabilização das endogeneidades. A não linearidade dos processos de desenvolvimento está bem patente ao longo do tempo e do espaço, com períodos de desenvolvimento que possuem lógicas diferenciadas, o que põe em causa qualquer explicação de índole redutora ou evolucionista dessas dinâmicas de desenvolvimento. Palmela, que durante a Idade Média ocupou um papel primordial pelo facto de ter sido sede da poderosa Ordem de Santiago, perde essa importância para Setúbal que passa a assumir um papel de maior relevo, pelo facto de se encontrar geograficamente na rota dos fluxos de mercadorias. O território do município de Palmela é testemunha, no século XIX, dos grandes processos de arroteamentos que foram os grandes responsáveis por uma autêntica revolução agrícola, materializada na altura pela maior vinha do mundo, pelos processos migratórios do centro-norte de Portugal para esta região e ainda pela tradição da viticultura, que constitui uma base económica bastante significativa para a economia do município até sensivelmente ao início da década de setenta do século passado. À medida que se avança para o fim do milénio, assiste-se no território de Palmela a um complexo processo de mudança social e económica, confrontando-se as endogeneidades, traduzidas na sua especificidade agrícola e nas indústrias ligadas à produção vinícola e as exogeneidades, materializadas com os projectos da Ford Electrónica1 e Autoeuropa. Este processo tem conduzido a uma situação em que se torna possível verificar que há a tendência, por parte do município de Palmela, em se tornar menos periférico face a Lisboa e a ocupar um lugar de maior protagonismo económico em relação à Península de Setúbal. É nesta contradição que o município procura redefinir a sua identidade. E é na busca dessa redefinição de identidade que os actores sociais locais assumem o seu papel, quer através da sua diversidade, quer através das suas lógicas, dos seus interesses e conflitos.

2 - A implantação de actividades produtivas relacionadas com a indústria e a

1 - Hoje Visteon.

453 crescente proximidade do município de Palmela em relação a Lisboa, ao porto de Setúbal e à Europa (devido à construção de infra-estruturas de ligação rodoviárias e ferroviárias), associados à existência de grandes áreas de terrenos expectantes destinados à implantação industrial1 constituíram os factores indutores do desenvolvimento socio- urbanístico deste município. Há uma profunda relação entre as actividades produtivas e a estruturação do território, pelo que as análises a serem produzidas têm de ter em linha de conta a articulação entre as relações de produção ligadas às actividades económicas e as relações de reprodução social ligadas à cidade. “ (...) a localização das actividades produtivas parece conduzir toda a organização espacial, desde as suas funções, à localização, às formas de mobilidade de pessoas e bens.”2

Para Claude Manzagol (1980) a indústria, ao procurar grandes espaços para a sua implantação, sai do centro das metrópoles para se instalar em locais periféricos. A Península de Setúbal, ao se apresentar como um manufacturing belt 3 e, em particular, o município de Palmela após o alargamento e diversificação de infra- estruturas de ligação, nomeadamente a Lisboa, ao porto de Setúbal e à Europa, conduzem esta relação íntima entre o espaço e a indústria e entre esta e o sector terciário cada vez mais complexo e diversificado. Daí que o urbanismo não possa negligenciar a análise das condições e do desenvolvimento das relações de produção consideradas como imprescindíveis à compreensão do próprio funcionamento urbano. A discussão que hoje é produzida centra-se fundamentalmente sobre as formas de intervenção urbana, em que associam não só as problemáticas da ideia de cidade, traduzidas através do planeamento urbano em sentido restrito, como vão implicar um conjunto de problemáticas desenvolvidas em torno das formas do governo da cidade, e que é entendida como o conjunto de

1 - A título de exemplo, refira-se que o espaço que hoje se encontra ocupado pela fábrica da Autoeuropa e respectivo Parque Industrial, foram amplas vinhas. Aliás essa área, conhecida pela Zona das Marquezas ainda hoje possui bastantes áreas expectantes destinadas à implantação industrial ou à implantação de armazéns ou de áreas logistícas. 2- CARIA, Fernando (1993) - Op.cit. , p. 475 3- Cf. STRUYK, J., JAMES, F. (1975) - Intrametropolitan Industrial Location, EUA, Lexington Books

454 dinâmicas que são geradas pelos actores perante as formas de produção e reprodução do espaço urbano.

3 - As dinâmicas locais verificadas no município de Palmela apresentam-se como um resultado das estratégias que são produzidas pelos actores localizados, ou com influência local, onde se dá a confrontação de interesses e de lógicas contraditórias. Neste jogo estratégico, o Poder Local apresenta-se como um dos actores centrais que corporiza estas dinâmicas, mas que está longe de ser o único actor envolvido, para além de não se apresentar como o mais decisivo. A acção colectiva apresenta-se, na opinião de Michel Crozier e Erhard Friedberg (1977), como um problema decisivo nas nossas sociedades, na medida em que constitui uma construção social, cuja existência coloca o problema, para o qual são necessárias as explicações sobre as condições da sua emergência e manutenção. Os novos actores sociais locais não constituindo uma categoria homogénea, apresentam uma diversidade de forças sociais, umas mais influentes que outras, que se traduzem numa pluralidade de actores com modos de acção diversificados, com estratégias próprias e com representações diferentes sobre o desenvolvimento local. Assim, as relações de força entre os actores intervenientes no município de Palmela, revelaram um actor – a Autoeuropa – que surge como actor-chave do sistema, ou seja, aquele que se apresenta como o actor mais influente e menos dependente. Contrariamente ao que seria de esperar, a Câmara Municipal de Palmela embora esteja integrada no grupo de actores mais influentes, pela sua acção directa ou indirecta sobre os restantes actores (através da acção de administração urbanística, da capacidade de gerar receitas através de impostos, taxas, coimas e derramas, pela aplicabilidade de uma política de subsídios junto dos actores culturais, desportivos, etc.) é um actor que se apresenta dependente dos restantes. O Poder Local, pelas atribuições que lhe foram conferidas pela Constituição de 1975 e, posteriormente a partir de 1977 através de legislação específica, ganha um novo dinamismo, ao mesmo tempo que adquire uma nova responsabilização quer no âmbito do planeamento e do desenvolvimento local, quer ao nível da participação dos grupos e dos cidadãos.

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4 - Os actores locais ao proporem acções, estão não só a contribuir para os sistemas de representações sobre o desenvolvimento local, como ao participarem nesse debate estão a cooperar para a mudança do próprio sistema local. Mas, nem todos os actores locais são detentores do mesmo grau de implicação em relação aos objectivos que lhe são colocados. Há, pois, uma diferenciação de posicionamento face a esses objectivos. Para alguns actores, a maioria dos objectivos mostra-se pertinente, para os outros, apenas alguns desses objectivos lhes dizem directamente respeito, despertando-lhes interesse e obrigando-os a tomar posições.

Os desafios estratégicos ao serem colocados na esfera da acção colectiva na perspectiva da gestão da sua apropriação comum dos benefícios resultantes desta forma de competitividade, podem ser conduzidos através de processos de negociação dos conflitos, através de regras claras e comuns, conducentes à tomada de decisões colectivas. Este processo constrói um elevado património sociocultural assente nos aspectos relacionados com a tradição local, com a própria história local, ao mesmo tempo que torna possível evidenciar alternativas inovadoras tendentes a alterar constrangimentos. Ao longo do tempo, torna-se ainda responsável pela sedimentação de uma memória colectiva que re-articula os saberes e as relações dos actores locais com o meio natural e com o património material e simbólico, situação que se torna responsável por despoletar os processos de construção de cidadania. Contudo, seria completamente irrealista que nesse processo compartilhado, a implementação de um modelo de desenvolvimento não se baseasse num modelo sustentável, de acordo com os padrões actuais do conhecimento e das tecnologias. Dos objectivos propostos aos actores participantes na pesquisa empírica, o jogo de actores revelou seis objectivos, que foram considerados como consensos mobilizadores. Esses objectivos embora se encontrem dispersos pelos três desafios estratégicos, determinados a partir do Quadro de Estratégia de Actores, recaem sobretudo no Desafio

456 Estratégico (D2) - “Abertura do Município ao investimento exterior/aceleração do processo de industrialização”. Esta repartição dos consensos mobilizadores pelos três Desafios Estratégicos pode parecer uma verdadeira contradição. Todavia, se tal não acontecesse, estaríamos perante uma aberração do sistema, uma vez que os actores negariam os aspectos sociais, económicos, culturais e simbólicos do seu passado, pensariam apenas no seu presente e num futuro imediato, e não deixavam espaço alternativo a novas estratégias para outros futuros possíveis e desejáveis. Assim, a pesquisa empírica revelou que no Desafio Estratégico (D1) - “Continuar a manter a especificidade agrícola do município” há a considerar o objectivo “Especificidade Agrícola do Município” que está relacionado não só com o passado do município, com a sua tradição agrícola, materializada nos vários aspectos sociais, económicos, culturais e simbólicos que é detentora, como também se complementa com o investimento realizado nos novos processos de cultura da vinha, com o aumento da qualidade da produção vinícola, etc. A abordagem que hoje é produzida em torno da realidade sob o ponto de vista da análise do território leva, necessariamente, a repensar a dicotomia elaborada, na modernidade, entre o espaço rural e o espaço urbano e respectivas funções. A agregação de novos valores, que não terão de ser necessariamente de índole económica, mas que podem envolver a qualidade nutritiva e a sanidade dos alimentos, o aumento da consciência ambiental conducente à preservação do ambiente, o desenvolvimento cultural das tradições, das identidades e de novas organizações societárias. Por outro lado, e perante uma Europa e um mundo a globalizar-se, a questão da competitividade adquire um sem número de novos significados ao mesmo tempo que transporta novos valores, inclusive simbólicos. Outras actividades existentes no território encontram a sua coerência numa escala local e regional, como o agro-eco-turismo, as várias formas de artesanatos, as agro- indústrias caseiras que produzem os chamados bens raros, ou ainda os valores estéticos ambientais. Por outro lado, o próprio conceito de território encerra em si a noção de património

457 sociocultural, a necessidade de mobilização dos recursos e das competências através de atribuições de responsabilidades sociais, através de processos participativos. A mobilização do património local exorta à re-dinamização do próprio território, através de novas modalidades de integração e de valorização dos seus recursos e dos produtos locais, como componentes do património sociocultural colectivo. Não se trata simplesmente de integrar, de forma positiva, os conhecimentos científicos e técnicos nos sistemas cognitivos e de agir de forma solidária, mas de estabelecer relação de cooperação e negociação do conflito para que as normas e os códigos de conduta possam ser subjectivados dentro do sistema de representações, de forma a que constituam parte da identidade social. Nesta perspectiva, as problemáticas desenvolvidas em torno da nova ruralidade, localizam-se em torno do processo de construção de uma funcionalidade distinta do rural e, portanto, repõem as interacções societárias no espaço. Todavia, pese embora os actores realcem a importância do aumento da qualidade do vinho produzido e de outros produtos relacionados com o sector primário, nomeadamente o queijo de Azeitão1, há que ter em conta a necessidade de se proceder a uma reestruturação do sector agrícola do município, numa perspectiva a médio prazo e que envolva não só o alargamento do uso das medidas agro-ambientais, mas que contemple também a mecanização e automatização de muitos dos processos de produção e que aposte na formação profissional ao nível da viticultura e de outros sectores agrícolas. O terceiro Desafio Estratégico (D3) - “Valorização Patrimonial e Incremento do Turismo” contempla o objectivo “Preservação das Zonas Históricas”, que os actores relacionam com as potencialidades turísticas e com a preservação do Património construído e das características estéticas e arquitectónicas das zonas históricas. A monumentalidade personificada no Castelo de Palmela, assim como a urgente recuperação dos centros históricos de Palmela, Pinhal Novo e Quinta do Anjo, poderão tornar-se, na opinião de alguns actores, numa potencialidade acrescida em termos

1 - Embora a denominação de origem seja Queijo de Azeitão este é produzido na sua grande maioria no município de Palmela, em queijarias localizadas na área de Quinta do Anjo, a partir de leite de ovelha proveniente de rebanhos que encontram os seus pastos nas encostas da Serra do Louro.É em Quinta do Anjo onde decorre anualmente o Festival do Pão, do Queijo e do Vinho.

458 turísticos. Ao valorizar este objectivo, os actores procuraram aumentar o campo dos possíveis em termos da diversidade do modelo de desenvolvimento local. Isto porque o chamado turismo cultural fundamenta-se no elo entre o passado e o presente, no contacto e na própria convivência com a herança cultural, com as tradições que as próprias dinâmicas do tempo influenciaram. O turismo cultural, abre todo um espaço de potencialidades que se podem traduzir em novas perspectivas para a valorização e revalorização do património, para que as próprias tradições readquirem vigor, contribuindo ainda para o surgimento de condições que levem à redescoberta dos bens materiais e imateriais, que muitas das vezes foram substituídas pelas concepções estéticas-culturais da modernidade. Esta actividade turística, enquanto consenso mobilizador, terá necessariamente de se debruçar sobre as questões relacionadas com a cultura local, contribuindo para o reforço da compreensão da complexidade e das originalidades e provocar o estímulo que leve a comunidade a participar no processo de recuperação, manutenção e divulgação do seu património. O Desafio Estratégico (D2) - “Abertura do Município ao investimento exterior/aceleração do processo de industrialização” apresenta-se como o desafio estratégico dominante, e resulta do conjunto de mudanças nos vários domínios e que são bem visíveis no território. Numa economia globalizada, os territórios, as cidades e as regiões competem, no mercado internacional para a produção de bens e para deterem os melhores factores de produção. Esta competitividade é desenvolvida com base no princípio da vantagem absoluta e não no princípio da vantagem comparativa. Daqui se depreende que não existe qualquer mecanismo automático ou eficiente que seja capaz de atribuir a cada território um papel , que este possa desempenhar na divisão internacional do trabalho. Ou seja, o desempenho de um território, de uma região, de uma cidade é sempre relativo. Conscientes desta competitividade, e uma vez que o território municipal se abriu há mais de uma década ao investimento exterior, os actores colocam o objectivo “Centralidade do Município de Palmela no contexto espacial da Península de Setúbal”

459 num lugar privilegiado. Ou seja, estão perfeitamente conscientes do lugar central que este território apresenta no contexto da Península de Setúbal. Esta situação, diríamos geoestratégica, obteve um conjunto de mais-valias relacionadas com as redes de acessibilidades rodoviárias e ferroviárias, o que contribuiu ainda mais para esse seu lugar central. Relacionados com estes aspectos, surge o objectivo “Efeito de atracção de Populações” que decorre justamente do conjunto de transformações nas estruturas produtivas existentes no município. De espaço de especialização rural Palmela concentra a maior indústria automóvel do País e dilatou o seu número de empregos na indústria e no sector terciário, factores que atraíram populações e que motivam deslocações pendulares significativas entre municípios de ambas as margens do Tejo. O “Impacto da Ponte Vasco da Gama” faz-se sentir positivamente no território municipal, e é um dos impulsionadores do aumento dessas deslocações pendulares e do aumento das acessibilidades. A “População activa predominante nos sectores secundário e terciário” é também considerado como um consenso mobilizador perante uma realidade económica que apresenta um espaço rural com uma população agrícola que tem vindo a perder um número significativo de activos, que contrasta com um espaços industriais e pós- industriais, onde predomina a mão-de-obra dos sectores secundário e terciário. O facto do objectivo “Existência de Planeamento” ter ficado para último, não significa que a sua importância é menor no contexto dos consensos mobilizadores. Bem pelo contrário. Este objectivo que se identifica com a existência das várias figuras de planeamento existentes no município é realçado pelos actores que colocavam a tónica discursiva em torno do valor da sua existência e, sobretudo, na sua aplicabilidade real, como forma de ordenar correctamente o território municipal, para que possa existir a coexistência dos vários sectores de actividade económica. Perante estes consensos mobilizadores, parece ser legítimo que sejam incrementadas acções concertadas nas áreas que envolvam os aspectos relacionados com o urbanismo e com as problemáticas que estão associadas ao desenvolvimento local. Estas problemáticas associadas ao desenvolvimento local têm vindo a apelar à implementação de estratégias entre o sector público local e os sectores privados e

460 associativos. Os dois grupos estratégicos, revelados neste trabalho, que pelas características relacionadas com o grau de dispersão e pela sua força relativa, aglutinam um conjunto diversificado de actores: a Câmara Municipal de Palmela, a Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal, o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela, a Autoeuropa, o Fórum da Indústria Automóvel de Palmela, a Sociedade Filarmónica Palmelense Loureiros e a Região de Turismo da Costa Azul constituem os actores da mudança e que devem ser chamados para integrarem, juntamente com outros actores que interagem neste território, o grupo de actores que deve implementar os processos participativos, conducentes ao estabelecimento de políticas de desenvolvimento local deste município, numa base de discussão e aplicação do planeamento estratégico para o município. Os processos associados ao planeamento estratégico, para além de implicarem o desenvolvimento da racionalidade local, assumem um papel fundamental na criação dessa racionalidade e que passam pelos seguintes aspectos. - pela criação de oportunidades para discutir e interagir, despoletando fóruns de discussão, grupos de trabalhos que envolvam os actores territorializados; - pelo encorajamento em identificar os valores e a identidade subjacente ao território local; - por criarem espaços para o estabelecimento de mecanismos de cooperação e de trocas mútuas; - pela definição de regras e de processos de simplificação; - por promoverem amplos espaços de comunicação e de participação.

Deste modo, quer os papéis e as responsabilidades associados às políticas de desenvolvimento local e às opções estratégicas a tomar, através dos instrumentos de planeamento, poderão conduzir a uma nova política e a mudanças culturais, que levarão à integração dos objectivos de cariz económico e espacial, através de processos de criação de redes e de parcerias, estabelecidas entre os vários actores e que garantam a efectiva participação dos actores e dos cidadãos comuns através da discussão em torno do largo espectro de posições e de estratégias.

461 Todas estas tarefas a desenvolver conduzirão a desafios fundamentais para uma rápida evolução dos modelos de governação territorial.

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487 [319] CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (1990b) – O Castelo e a Ordem de Santiago na História de Palmela (catálogo da exposição) [320] CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (1999) – Património Natural do Concelho de Palmela [321] CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2002) – Estudos de Apoio à Revisão do Plano Director Municipal de Palmela – componente sociodemográfica [322] CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2003) – Dinâmica Urbanística do Município de Palmela – Estudos de Apoio à Revisão do Plano Director Municipal de Palmela [323] CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA (2003) – Relatório de Estudo Sobre Ordenamento do Território – Estudos de Apoio à Revisão do Plano Director Municipal de Palmela [324] COMISSÃO INDEPENDENTE POPULAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA (1998) – Cuidar o Futuro – um programa radical para viver melhor, Lisboa, Trinova Editora [325] DATAR (1971) - Une Image de la France en l’an 2000 (scénários de l’inacceptable), colecção TRP nº 20, Documentation Française [326] EUROPEAN COMMISSION (1997) – The globalising learning economy: Implications for innovation policy, Luxembourg, Office for Official Publications of the European Communities [327] GRUPO DE LISBOA (1994) – Limites à Competição, Mem Martins, Publicações Europa- América, (2ª ed.) [328] PORTUGAL – Diário da Reública, Lisboa, IN-CM [329] PORTUGAL (1976) – Constituição da República Portuguesa, Lisboa, IN-CM [330] PORTUGAL, Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território (1998) – Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado, Lisboa, MEPAT (2ª Ed.) [331] PORTUGAL, Comissão de Coordenação da Região Centro (1990) – Industrialização em Meios Rurais e Competitividade Internacional, Coimbra, CCRC

488 [332] PORTUGAL, Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale do Tejo, (1991) - Estudo de Localização Industrial na Península de Setúbal (ELIPS), Lisboa, CCRLVT [333] PORTUGAL, Instituto Nacional de Estatística (1964) – X Recenseamento Geral da População, Lisboa, INE [334] PORTUGAL, Instituto Nacional de Estatística (1973) – XI Recenseamento Geral da População, Lisboa, INE [335] PORTUGAL, Instituto Nacional de Estatística (1983) – XII Recenseamento Geral da População, Lisboa, INE [336] PORTUGAL, Instituto Nacional de Estatística (1993) – XIII Recenseamento Geral da População, Lisboa, INE [337] PORTUGAL, Instituto Nacional de Estatística (2003) – XIV Recenseamento Geral da População, Lisboa, INE [338] PORTUGAL, Ministério da Administração Interna (1977) – "Divisões Regionais", in A.R., Agosto de 1977, Lisboa, MAI [339] PORTUGAL, Ministério do Emprego e da Segurança Social, Quadros de Pessoal, Lisboa, MESS [340] SOCIEDADE PORTUGUESA DE URBANISTAS (1990) – “ A Sociedade Portuguesa de Urbanistas perante o DL 69/90”, Sociedade e Território, nº 12, Porto, Afrontamento

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SÍTIOS NA INTERNET

ƒ Agência de Inovação www.adi.pt

ƒ Agência Portuguesa de Investimento www.apinvest.pt consultado em 23-4- 2005

ƒ Arquivo Charles Booth http://booth.lse.ac.uk/ consultado em 30-1-2006

ƒ Associação INLOCO http://www.in-loco.pt/

ƒ Benjamin Seebohm Rowtree consultado em 30-1-2006 http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/RErowntreeS.htm consultado em 30-1-2006

ƒ Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo http://www.ccdr-lvt.pt

ƒ Departamento de Prospectiva e Planeamento http://www.dpp.pt/

ƒ Direcção-Geral das Autarquias Locais www.dgaa.pt

ƒ Direcção-Geral de Estudos e Previsão www.dgep.pt/

ƒ Direcção-Geral de Estudos, Estatística e Planeamento www.dgeep.mtss.gov.pt/

ƒ Direcção Geral do Desenvolvimento Regional www.dgdr.pt/

ƒ Direcção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho www.dgert.msst.gov.pt/

ƒ Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano http://www.dgotdu.pt

ƒ Direcção Regional de Lisboa e Vale do Tejo do ministério da Economia www.dre-lvt.pt/

ƒ Henry Mayhew http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/Jmayhew.htm consultado em 30-1-2006

ƒ Instituto Nacional de Estatística www.ine.pt

ƒ Organisation Internationale des Constructeurs D'automobiles/ International Organization of Motor Vehicle Manufacturers www.oica.net consultado em 17-5- 2006

ƒ Joseph Rowtree http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/RErowntreeJ.htm 30-1-2006

ƒ LIPSOR-Laboratoire d’Investigation en Prospective Stratégies et Organization http://www.cnam.fr/lipsor/ consultado em 5-9-2005

491 ƒ Robert Bosch http://www.bosch.com/content/language2/html/index.htm consultado em 16-5-2006

ƒ SEAT www..com consultado em 16-5-2006

ƒ VW Autoeuropa www.Autoeuropa.pt consultado em 23-4-2005

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ÍNDICE REMISSIVO

151, 152, 158, 183, 184, 188, 191, 194, 198, 204, 213 2 actores. sociais. locais · 263 Adega Cooperativa de Palmela ACP · xxviii, 215, 2 MAO · 218, 220, 404, 405, 421, 423, 424, 425, 445 409,410,411,412, 437, 442 Administração Central · 188, 231, 236 3 Administração local · 235, 236, 240, 241 administração municipal · 229 3 MAO · 421, 423, 424, 425 administração territorial · 214 África · 91, 92 A aglomerados urbanos · 258, 271, 272 agricultores · 161, 273, 274, 299 agricultura · 17, 51, 53, 131, 202, 247, 274, 276, 280, acção colectiva · 49, 50, 158, 163, 197, 420, 455, 281, 295, 296, 298, 299, 301, 303, 313, 367 456, 474 agro-turismo · 54, 275 acção concertante · 139, 158, 160, 161 Águas de Moura · 272 acção crítica · 139, 158, 159, 160 Aires · 45, 272 acção inovadora · 139, 159, 161, 162, 166 Alcácer do Sal · 292 acção local · 156, 158, 217 Alcochete · 285, 291, 298, 330, 331, 334, 335 acção reivindicativa · 158, 159 Alemanha · 86, 109, 112, 114, 282 activos agrícolas · 296, 303 Alfeite · 284 actor social · 142, 146, 156, 213, 218 Almada · 17, 25, 168, 282, 284, 285, 335, 363, 370, actor-chave · 414, 447, 455 377 actores · 16, 17, 18, 67, 70, 93, 102, 103, 111, 118, ALTHUSSER, Louis · 33, 40, 135 119, 120, 121, 122, 123, 124, 133, 135, 138, 139, América do Sul · 92 144, 145, 146, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 155, AMIN, Samir · 136 156, 157, 158, 159, 160, 162, 163, 166, 169, 171, análise de clusters · 220, 333, 444 172, 182, 183, 187, 188, 189, 191, 194, 195, 197, análise local · 67, 119 198, 201, 202, 203, 204, 205, 211, 212, 213, 214, análise regional · 67, 119, 377 215, 216, 217, 218, 219, 220, 222, 223, 227, 240, Anthony Giddens · 80 241 Antropologia Urbana · 24 Actores · 137, 141, 187, 188, 216, 217, 218, 219, 220, AROCENA, José · 15, 122, 127, 150, 155, 157, 158, 223 213 actores locais · 6, 8, 9, 16, 118, 121, 122, 123, 135, ARON, Raymond · 134 139, 150, 153, 155, 157, 159, 165, 166, 188, 191, Ásia · 74, 92 194, 195, 201, 203, 204, 409, 451, 456 Assembleias Municipais · 228, 269 actores sociais · 111, 119, 124, 145, 146, 148, 149,

493 Associação de Viticultores do Concelho de Palmela Câmara Municipal · 214, 216, 230, 234, 271, 272, AVIPE · xxviii, 214, 216, 221, 409, 410, 422, 434, 275, 291, 293, 294 435, 437, 442, 449 Câmara Municipal de Palmela CMP · 214, 230, 272, Associação do Comércio e Serviços do Distrito de 291, 293, 294, 319, 394, 395, 397, 398, 399, 409, Setúbal ACSDS · xxviii, 214, 216, 414, 440 411, 422, 455, 461, 466, 472, 477, 479, 485, 486 Associação para o Desenvolvimento Rural da 409, 414, 416, 435, 438, 439, 440, 444, 447, 449 Península de Setúbal ADREPES · xxviii, 214, 411, Câmaras Municipais · 231, 232, 235, 243, 265 435, 437, 441 Canal de Suez · 284 Áustria · 86 capacidades de acção · 151 Autarquia Local · 231 características burocrático-racionais · 80 autarquias locais · 227, 232 caramelos. · 293 Autarquias Locais · 232, 236, 237, 238, 239, 264 CARDOSO, Fernando Henrique · 37, 136 Autoeuropa · AE ·xxviii, 18, 162, 168, 211, 215, 216, CARIA, Fernando · 129, 137, 169, 170, 178, 180, 286, 288, 314, 321, 339, 340, 341, 342, 343, 344, 185, 186, 230, 272, 273, 282, 283, 284, 303, 333, 345, 346, 347, 348, 349, 350, 351, 352, 353, 354, 337 355, 357, 358, 359, 360, 361, 363, 367, 372, 376, Carta de Atenas · 175, 176 ,378, 387, 390, 392, 409, 410, 411, 413, 414, 416, CASTELLS, Manuel · xxv, 36, 38, 39, 41, 42, 43, 417, 423, 433, 435, 437, 447, 449, 453, 454, 455, 144, 145, 182 461, 492 Castelo · 211, 291 avaliação · 170, 186, 191, 194, 195, 196, 197, 198, China · 109 268 CHOAY, Françoise · 172, 179 Azeitão · 122, 281 cidadania · 49, 79, 93, 109, 118, 141, 162 cidade-jardim · 177 Ciências Sociais · 35, 36, 44, 57, 73, 94, 130, 142, B 202 Claude Manzagol · 337, 454 Barra Cheia · 271 cluster automóvel · 350 Barreiro · 282, 284, 285, 291, 304, 323, 329, 330, coeficientes de relações de forçasi · 414 331, 335, 364, 389, 486 Comarca · 231 Bélgica · 86 Comarcas · 230, 231 BENNET, Robert J. ; KREBS, Gunter · 16 comércio BOOTH, Charles · 26, 27, 28 Comércio · 93, 163, 212, 214, 216, 221, 222, 295, BOURDIEU, Pierre · 55 305, 316, 364, 367, 370, 381 BOYER, Robert · 70 Comissões Administrativas · 236 Brejos do Assa · 272 Comité das Regiões · 299 BURGUESS, Ernest · 23, 24, 25 Comité Económico e Social · 299 Companhia União Fabril CUF · 282 C COMTE, Auguste · 28, 73 comunidade local · 190 Cabanas · 271 comunidades de interesses · 147, 148, 149, 150 CALDAS, José Maria Castro · 204 comunidades fictícias · 80 Câmara Corporativa · 234 comunidades locais · 147

494 Concelho · 215, 216, 228, 230, 234, 243, 293 Decreto Regulamentar nº 91/82 · 257 conflitos secundários · 425, 427 DEFARGES, Philippe Moreau · 85 Conselho de Ministros · 269, 273 Desafio Estratégico · 424, 457, 458, 459 Conselho Municipal · 233, 234 desafios estratégicos · 166, 217, 405, 456 Conselhos de Província · 232 Desafios Estratégicos · 217, 404, 405, 407 consensos · 98, 121, 122, 129, 242 descentralização horizontal · 122 consensos mobilizadores · 425, 430, 456, 457, 460 descentralização vertical · 122 consensos pouco mobilizadores · 425, 428 desenvolvimento · 15, 16, 17, 18, 20, 22, 26, 27, 48, Constituição da República Portuguesa · 236 51, 52, 56, 73, 74, 75, 76, 78, 80, 81, 84, 85, 86, Constituição de 1822 · 239 87, 90, 91, 101, 103, 112, 113, 117, 118, 119, 121, Constituição de 1911 · 239 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, Constituição de 1933 · 232, 239 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 147, 148, Constituição de 1976 · 235, 239 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, Construção e Obras Publicas · 305 160, 161, 162, 169, 176, 178, 182, 183, 184, 185, contingências históricas · 80, 81 186, 188, 189, 190, 203, 204, 213, 214, 215, 237, corporações · 234 238, 240, 244, 246, 247, 250, 253, 254, 255, 256, COSTA, Carlos António Bana e · 184, 188 257, 260, 263, 264, 273, 274, 275, 276, 279, 281, crescimento urbano · 173 282, 283, 288, 292, 337, 339, 340 crise económica · 112, 113, 114, 115, 117, 123, 151, Desenvolvimento regional · 119 183, 244, 285, 303, 336 desenvolvimento local · 6, 7, 58, 64, 66, 119, 128, crises do modelo democrático · 141 129, 214, 402, 451, 452, 455, 456, 466, 482 CROIZIER, Michel · 37, 156 desenvolvimento. das metrópoles · 167 desenvolvimento. de iniciativa local · 150 desenvolvimento. local · 129, 153, 201 D desenvolvimento. societário · 141 Despacho nº 38/05 · 264 Decreto-Lei nº 560/71 · 257, 262 diferencial de influência directa · 415 Decreto-Lei nº 208/82 · 256, 257, 262 Distrito · 214, 216, 231, 232, 233, 234 Decreto-Lei nº 100/84 · 237 Distritos · 231, 232 Decreto-Lei nº 226/87 · 260 divisões administrativas · 227, 231 Decreto-Lei nº 176-A/88 · 250, 257 DRACHE, Daniel · 70 Decreto-Lei nº 69/90 · 257 DURKHEIM, Émile · 19, 20, 28, 31, 74 Decreto-Lei nº 380/90 · 266 Decreto-Lei nº 163/93 · 260 Decreto-Lei nº 151/95 · 257 E Decreto-Lei nº 292/95 · 258 Decreto-Lei nº 364/98 · 258 economia · 16, 17, 32, 44, 45, 51, 70, 74, 86, 87, 92, Decreto-Lei nº 380/99 · 244, 250, 254, 255, 256, 257, 93, 94, 98, 99, 100, 101, 104, 108, 118, 123, 155, 264, 265 180, 280, 285, 293, 295, 296, 303, 305, 306, 314, Decreto-Lei nº 53/00 · 257 316, 367, 377 Decreto-Lei nº 115/01 · 260 Economia · 15, 19, 28, 88, 129, 130, 132 Decreto-Lei n.º 310/03. · 244, 250, 257, 264 economia mundial · 70, 98, 99, 101, 108, 118, 285,

495 314 estratégias · xxviii, 5, 7, 8, 9, 17, 18, 25, 52, 58, 65, economia. internacional · 167 66, 94, 95, 97, 107, 115, 122, 123, 151, 155, 165, economia. local · 297 189, 190, 191, 192, 193, 194, 197, 198, 201, 202, economia. nacional · 70 203, 204, 205, 216, 244, 256, 263, 273, 274, 276, economia. política · 74 277, 283, 392, 399, 401, 402, 410, 419, 423, 451, economia. regional · 168 452, 455, 457, 460, 461, 470 EFTA · 283 estratégias locais · 122 EMMANUEL, Arghiri · 136 ESTRATÉGIAS LOCAIS · 117 endogeneidades · 453 estruturalismo · 35, 129, 135, 136 Erhard Friedberg · 402, 455 Europa · 15, 35, 40, 43, 51, 52, 73, 74, 80, 81, 83, Escola de Chicago · 21, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 31, 103, 107, 114, 167, 182, 242, 279, 283, 299, 352, 32, 34, 35, 38 362 espaço · 15, 17, 19, 20, 21, 24, 25, 31, 36, 37, 38, 39, evolucionismo · 129, 130, 131, 132, 133 41, 44, 45, 46, 47, 48, 50, 51, 52, 53, 55, 56, 57, 67, 69, 70, 82, 83, 84, 100, 102, 119, 120, 122, F 124, 128, 141, 152, 157, 158, 163, 168, 169, 171, 172, 173, 174, 177, 178, 179, 182, 184, 192, 217, fileira automóvel · 288 219, 241, 253, 260, 263, 271, 273, 280, 281, 282, fluxos de integração · 107 299, 316, 333, 334, 335, 344, 350 força relativa · 220, 445, 447, 461 espaço rural · 52, 53 formação profissional · 113, 118, 119, 121, 274, 300 espaço social · 21, 45, 52, 53 Fórum da Indústria Automóvel de Palmela · FIAPAL espaço urbano · 51, 53, 55, 182 · xxviii, 214, 422, 434, 439, 447, 449, 461 espaço. local · 159 FOUCAULT, Michel · 38 especialização rural · 460 FOURIER, Charles · 174 especificidades locais · 48, 122, 123, 134 França · 36, 86, 182, 337 Estado · 34, 37, 38, 39, 40, 42, 43, 70, 75, 79, 80, 81, FRANK, André-Gunder · 136 82, 83, 86, 89, 92, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 105, Freguesias · 227, 230, 232, 236, 297, 298, 331, 332 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, FRIEDBERG, Erhard · 156 118, 122, 123, 127, 131, 137, 138, 141, 157, 162, 183, 188, 195, 227, 228, 231, 232, 233, 235, 236, 237, 238, 239, 244, 245, 247, 264, 288, 291 G Estado-nação · 70, 75, 80, 81, 83, 89, 99, 102, 103, 105, 110, 111 GARNIER, Tony · 176 Estado-Providência · 98, 112, 114 GEDDES, Patrick · 28, 29, 180 Estados · 31, 32, 39, 69, 70, 71, 75, 76, 77, 78, 79, GIDDENS, Anthony · 69, 80, 84, 98, 102 80, 81, 83, 87, 89, 92, 93, 94, 96, 97, 101, 103, globalização · 7, 8, 15, 48, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 77, 104, 105, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 114, 115, 78, 79, 80, 84, 85, 86, 88, 92, 94, 95, 96, 97, 98, 123, 167, 178 100, 101, 102, 103, 107, 108, 109, 111, 115, 117, Estados Unidos · 26, 103, 114 125, 295, 451, 466, 480 Estados Unidos da América · 91, 112, 167 GODET, Michel · 202, 204, 205 Estados-nação · 70, 79, 80, 81, 83, 89, 92, 103, 104, Governo · 37, 98, 231, 233, 234, 246, 247, 287 114 governo local · 16

496 grau de conflitualidade · 423, 425, 426, 429 indivíduo · 71, 78, 83, 144, 172, 178, 188 grau de convergência · 437, 439 indústria · 17, 25, 74, 81, 115, 123, 131, 152, 155, grau de dependência dos actores · 409, 411 214, 215, 247, 280, 284, 285, 288, 304, 314, 336, grau de dispersão e conteúdo · 220, 445 338, 347, 363, 368, 374, 376, 378 grau de divergência · 433, 435 indústrias · 53, 211, 274, 277, 282, 283, 284, 285, grau de influência dos actores · 409 301, 303, 313, 336, 338, 339, 364, 367, 368, 372, grau de máxima influência e de dependência · 417 378 grau de mobilização · 421, 423, 425 Indústrias Transformadoras · 305, 364, 368, 370, 372, graus de conflitualidade e mobilização · 423 376, 381 Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela · influências directas · 205, 405, 409 GACP · xxviii, 215, 230, 413, 415, 416, 433, 439, iniciativas de base local · 57 440, 444, 447, 449, 461 iniciativas locais · 16, 118, 119, 128 GUERRA, Isabel · 19, 20, 67, 119, 158, 283, 284 inovações tecnológicas · 99, 296 Guerra-fria · 110 instrumentos de desenvolvimento territorial · 245 instrumentos de gestão territorial · 245, 246, 260, 268 instrumentos de natureza especial · 246 H instrumentos de planeamento territorial · 246 instrumentos de política sectorial · 246 HARVEY, David · 36, 38, 182 internacionalização dos mercados · 16, 283 HAWLEY, Amos · 24 investigção-acção · 201 Hierarchical Cluster Analisys · 220, 445 Historicismo · 133, 137 Hotelaria e Restauração · 305, 316 J HOWARD, Ebenezer · 177, 178 hub-and-spoke industrial districts · 350 Japão · 107, 114 João Ferrão · 423 jogo de actores · 64, 401, 404, 411, 420, 427, 437, I 447, 456 jogo estratégico · 158, 163, 455, 474 identidade · 21, 46, 49, 54, 102, 109, 110, 119, 123, José Maria dos Santos · 293, 294, 298 124, 127, 129, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 151, Juntas de Freguesia · 232, 234 152, 158, 159 Juntas de Província · 232 identidade. colectiva · 152 just in time em sequência · 347 identidade. local · 152 just-in-time em sequência · 347 identidades colectivas · 151 indicador de máxima dependência directa e indirecta · 416 L indicador de máxima influência directa e indirecta · 416 Lagameças · 294 indicador de relação de forças · 413, 414 Lau · 294 indicadores culturais · 125 LE PLAY, Frédéric · 28 indicadores económicos · 118, 125, 190 LEFEBVRE, Henri · 36, 37, 39, 44, 46 indicadores sociais · 125, 126 Lei de Bases do Ordenamento do Território e do

497 Urbanismo · 244 MAD · 408 Lei de Bases do Ordenamento do Território e Matriz de Máxima influência e dependência directa e Urbanismo · 250 indirecta Lei nº 79/77 · 237, 256 (MA) · 417 Lei nº 1/79 · 237 Matriz de Meios de Acção Directos e Indirectos Lei nº 1/90 · 258 (MADI) · 219 Lei nº 19/96 · 258 Matriz dos Meios de Acção Directos Lei n.º 48/98 · 244, 245, 250, 246, 257, 268 (MAD) · 217, 219, 405 limiar de divergência · 433 Matriz dos Meios de Acção Directos e Indirectos Lisboa · 17, 85, 162, 168, 169, 190, 233, 243, 257, MADI · 408, 417 271, 275, 279, 280, 281, 282, 283, 284, 291, 295, Matriz valorizada das convergências de objectivos 301, 304, 321, 322, 323, 324, 325, 337, 348, 350, (2 COO) · 442 364, 365, 368, 369, 370, 371, 372, 373, 374, 375, Matriz valorizada das divergências de objectivos 376, 377, 378, 381, 383, 385 (2 DOO) · 442 local · 16, 17, 18, 28, 31, 34, 42, 44, 48, 49, 52, 54, Matriz Valorizada de Convergências Actores × 55, 56, 57, 67, 84, 89, 108, 118, 119, 120, 121, Actores 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 131, 133, (2 CAA) · 436, 437 134, 135, 136, 139, 141, 142, 147, 148, 151, 152, Matriz Valorizada de Divergências Actores × Actores 155, 156, 157, 159, 161, 162, 166, 174, 175, 180, (2 DAA) · 432 188, 192, 194, 213, 227, 228, 229, 234, 236, 237, Matriz Valorizada de Divergências Actores × Actores 239, 240, 241, 244, 246, 256, 257, 260, 263, 276, (2 DAA) 295, 306 (2 DAA) · 433 LOJKINE, Jean · 36, 37, 39, 182 Matriz Valorizada Ponderada de Divergências LÖSCH, Auguste · 130 Actores × Actores (3 DAA) · 434 M Matriz Valorizada Ponderada Ponderada de Convergências Actores × Actores

MACTOR · xxviii, 9, 202, 205, 214, 216, 218, 219, (3 CAA) · 438 220, 401, 404, 405, 421, 432, 474 matrizes de convergência e divergência de actores · mão-de-obra · 89, 108, 121, 144, 274, 284, 293, 294, 432 296, 302, 304, 313, 317, 318, 344 MAYHEW, Henry · 26 Marateca · 297, 298, 330, 332 MCKENZIE, Rodrick · 23, 24 margem de manobra do actor · 414 MCLUHAN · 82 MARX, Karl · 19, 20, 74 Meios de Acção Directos e Indirectos dos Actores marxismo · 35, 37, 38, 42, 43 (MADI) · 413 matérias primas · 274 MELA, Alfredo · 22 Matriz das posições valorizadas Actores × Objectivos memória colectiva · 49, 152 (2 MAO) · 405 Mercados · 70, 71, 92, 97, 191 Matriz das Posições Simples Actores. × Objectivos MERLIN, Pierre · 172 (1 MAO) · 218 Mértola · 291, 292 Matriz de Acções Directas Michel Crozier · 402, 455

498 Michel Godet · 405, 414 Ordem de Santiago · 122, 291, 292, 453, 472, 480, modelo culturalista · 174, 175, 177 481, 487, 488 modelo funcionalista · 180, 182 Ordenamento do Território · 242, 243, 244, 249, 250, modelo naturalista · 174, 175, 178 251, 253, 255, 257, 259, 269 modelo progressista · 174, 175, 176, 177 Ordens Militares e Religiosas · 292 modelo racional · 180, 181 Organismos Corporativos · 235, 239 Moita · 168, 282, 284, 285, 291, 323, 335, 364, 389 organização espacial · 169, 264 MONTALVO, António · 235 OWEN, Robert · 174 Montijo · 212, 282, 284, 291, 298, 330, 334, 335 MORRIS, William · 174 P movimentos sociais urbanos · 42, 43 mudança social · 37, 38, 51, 69, 80, 90, 91, 94, 129, PADIOLEAU, J.-G. · 189 133, 134, 135, 146, 184 PADIOLEAU, J-G · 191, 194 município · 17, 18, 122, 162, 166, 201, 202, 203, 205, Palmela · xxviii, xxix, 1, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 17, 18, 25, 206, 211, 212, 214, 215, 228, 229, 230, 234, 245, 122, 162, 165, 166, 168, 201, 202, 203, 205, 209, 257, 260, 264, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 211, 212, 214, 215, 216, 221, 222, 223, 227, 228, 282, 284, 291, 292, 293, 294, 296, 297, 299, 301, 230, 271, 272, 273, 275, 276, 277, 281, 284, 288, 302, 303, 304, 305, 306, 307, 313, 315, 316, 317, 291, 292, 293, 294, 296, 297, 299, 300, 302, 303, 321, 322, 323, 324, 327, 328, 329, 330, 331, 332, 304, 305, 306, 307, 309, 311, 313, 314, 315, 316, 333, 334, 339, 344, 363, 364, 367, 370, 372, 374, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324, 325, 328, 376, 377, 378 329, 330, 331, 332, 333, 334, 335, 339, 340, 343, Município · 168, 207, 221, 222, 223, 227, 229, 231, 346, 347, 354, 362, 363, 364, 365, 367, 370, 371, 232, 233, 297, 300, 301, 302, 309, 311, 313, 314, 372, 373, 374, 375, 376, 377, 378, 379, 381, 387, 315, 316, 317, 318, 319, 320, 331, 332, 346, 443 389, 390, 392, 393, 394, 395, 396, 397, 398, 407, município de Palmela · 17, 18, 202, 205, 212, 273, 409, 410, 411, 419, 420, 422, 426, 427, 428, 429, 275, 297, 319, 364, 374 430, 431, 433, 438, 443, 447, 449, 452, 453, 454, MURTEIRA, Mário · 132 455, 458, 459, 460, 461, 466, 472, 477, 479, 485, 486, 487, 488, 489 N parcerias · 8, 299, 461 PARETO, Vilfredo · 31 NETTL, J.P. · 75, 77 PARK, Robert Ezra · 23, 24, 35 NETTO, Joaquim M. de M. Lino · 233, 234 Parlamento Europeu · 299 nível local · 38, 55, 120, 121, 139, 153, 154, 184, Parque Autoeuropa · 288 215, 241, 260 Parque Industrial da Autoeuropa · 351 nível máximo de influência directa e indirecta · 416 Parque Natural da Arrábida · 207, 211, 221, 222, novos actores sociais locais · 402, 455 275 PARSONS, Talcott · 20, 31, 33, 75, 143 participação · 16, 81, 101, 113, 118, 125, 126, 141, O 143, 147, 148, 149, 150, 154, 155, 157, 158, 160, 161, 162, 164, 183, 194, 198, 203, 227, 239, 240, Operação Integrada de Desenvolvimento da Península 244, 245, 257, 263 de Setúbal. OID/PS · 287

499 património · 49, 108, 162, 209, 211, 215, 234, 237, Planos Especiais de Ordenamento do Território · 254, 260, 407, 430, 456, 457, 458, 459 247, 254 PDM · 256, 257, 258, 263, 265, 266, 269, 271, 272, Planos Municipais de Ordenamento do Território · 273, 274, 275, 276 250, 257, 260, 262 Península · 17, 18, 162, 202, 212, 214, 216, 221, 222, Planos Parciais · 241 227, 276, 279, 281, 282, 283, 284, 285, 286, 287, Planos Regionais de Ordenamento do Território 288, 297, 298, 299, 300, 301, 302, 303, 304, 305, PROT · 250, 254 327, 328, 329, 330, 331, 333, 334, 335, 336, 337, Planos Sectoriais com incidência territorial · 246, 338, 339, 344, 345, 348, 363, 364, 367, 370, 372, 247 374, 377, 381, 443 Planos Territoriais · 242, 255 Península de Setúbal · 17, 18, 162, 202, 212, 214, Planos Urbanísticos · 243 216, 221, 222, 276, 279, 281, 282, 283, 284, 285, Poceirão · 272, 293, 295, 297, 298, 313, 330, 332 286, 287, 288, 297, 298, 299, 300, 301, 302, 303, poder local · 214 327, 328, 329, 333, 334, 335, 336, 337, 338, 339, Poder Local · 227, 228, 235, 241, 257, 271, 401, 455, 345, 363, 364, 367, 370, 372, 374, 377, 381 466, 474, 478, 479, 483, 485, 486, 487 PERESTRELO, Margarida · 183, 204 Política Agrícola Comum · 274, 295 PERROUX, François · 284 Política local · 241 PIB · 125, 284, 361 população · 32, 103, 107, 110, 115, 119, 123, 126, Pinhal das Formas · 272 131, 143, 148, 150, 159, 164, 168, 169, 183, 202, Pinhal Novo · 212, 271, 272, 275, 281, 288, 293, 294, 206, 207, 221, 222, 228, 273, 274, 281, 295, 296, 295, 297, 298, 303, 314, 315, 316, 330, 332, 389, 299, 302, 303, 328, 329, 330, 331, 332, 334 390, 392, 393, 396, 397, 420, 428, 430, 458, 483 população agrícola · 274, 299, 303 planeamento · 28, 31, 32, 49, 158, 161, 163, 169, 170, Portaria nº 138/05 · 257, 265 171, 172, 177, 179, 180, 182, 183, 184, 185, 186, posições valorizadas · 218, 405, 421 187, 188, 191, 194, 195, 197, 204, 206, 211, 221, POULANTZAS, Nicos · 38 222, 241, 242, 243, 244, 245, 247, 256, 257, 264, pré urbanismo · 175 269, 271, 272 Presidente da Câmara · 234, 276 planeamento estratégico · 184 pressão urbanística · 272 Planeamento Estratégico · 182, 183, 185, 186, 187, PRETECEILLE, dmond · 39 188, 189, 190, 191, 193, 195, 198, 203, 204, 211 PRETECEILLE, Edmond · 37 Planeamento Territorial · 242 pré-urbanismo · 173 planeamento. municipal · 263 principais conflitos · 425 Plano de Pormenor · 265, 267 processo de metropolização · 167, 168, 327 Plano de Urbanização · 264, 265, 267, 271 Programa Nacional da Política de Ordenamento do Plano Director Municipal Território · 246, 247, 248, 253, 256 PDM · 203, 211, 243, 250, 255, 256, 261, 271, PROT · 250, 253, 255, 256, 269 272, 273 PROUDHON, Pierre-Joseph · 174 Plano Nacional · 247 Província · 230, 232, 234, 235 Plano Regional de Ordenamento do Território · 250, Províncias · 230, 231, 232, 233, 234 252 Províncias. Ultramarinas · 283 Planos de Ordenamento do Território · 243 Prússia · 86 Planos de Urbanização · 211, 243, 266, 271, 272 PU · 258, 271, 272

500 PUGIN, Augustus · 174 222, 275 revolução tecnológica · 115, 156, 179 Riba Tejo · 291 Q RIBEIRO, Orlando · 293 Rio Frio · 293, 294, 295 Quadro das Estratégias de Actores · 216 ROBERTSON, Roland · 75, 77, 78, 79, 84 Quadro de Estratégia de Actores · 217, 404, 405, 456 ROSIER, Bernard · 125, 126 Quadro de Estratégias de Actores. · 217 ROSTOW, Walt W. · 131 Quinta da Marqueza · 272 ROUBELAT, Fabrice · 187 Quinta do Anjo · 122, 271, 297, 315, 316, 330, 332, rural · 17, 35, 39, 44, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 392, 393, 397, 430, 458 122, 170, 254, 257, 264, 275, 276, 281, 284, 334 RUSKIN, John · 174 R Rússia · 86

Recenseamento Agrícola do Continente · 296 S recursos locais · 274, 276 redes · 63, 81, 84, 86, 97, 99, 104, 108, 111, 144, 147, SAINT-SIMON · 73 151, 155, 157, 162, 178, 246, 247, 250, 253, 254, SAUNDERS, Peter · 40 256, 257, 284, 339, 460, 461 Seixal · 17, 282, 284, 285, 323, 329, 331, 335, 363, Região de Turismo da Costa Azul 370, 377 RTCA · 439, 440 Serviços à Comunidade · 305, 319 Região de Turismo da Costa Azul · xxviii, 417, 472 Sesimbra · 25, 284, 331, 334, 335 RTCA · 215, 216, 422, 434, 435, 438, 444, 447, Setúbal · 9, 17, 19, 62, 119, 162, 168, 209, 211, 212, 449, 461 221, 222, 279, 282, 283, 285, 287, 288, 292, 293, Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão 298, 303, 304, 322, 323, 327, 328, 329, 335, 343, Territorial · 244 345, 348, 363, 365, 367, 370, 374, 377, 387, 389, Reino Unido · 26, 27, 29, 33, 86, 112, 114, 281 390, 392, 393, 396, 407, 413, 419, 420, 422, 426, relações de força · 216, 219, 220, 404, 408, 414, 417, 427, 428, 429, 430, 431, 433, 438, 443, 447, 449, 421, 424, 425, 434, 438, 455 453, 454, 459, 461, 470, 472, 475, 476, 489 relações sociais · 18, 20, 21, 33, 37, 38, 44, 45, 46, Siderurgia Nacional · 284, 327 47, 48, 55, 56, 69, 75, 84, 89, 127, 142, 144, 147, Sines · 284 151, 157 Sistema Internacional de Estados · 79 representação centralizadora · 154 sistema-mundo · 103, 104, 105 representação do desenvolvimento · 155 Sociedade Filarmónica Palmelense representação do desenvolvimento. centralizador · SFP · xxviii, 215, 216, 413, 414, 416, 433, 447, 153 461 representação macroeconómica · 154 Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros” representação optimista · 153 SFP · 215, 216 representações macro-sociais e económicas · 153 Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros”, · 413 República Democrática Alemã · 109 sociedade local · 123, 134, 153 requalificação urbana · 168 Sociedade Nacional · 78, 79 Reserva Natural do Estuário do Sado · 207, 211, 221,

501 Sociologia · 15, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 28, 29, 30, turismo de habitação · 54, 277 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, turismo rural · 54 50, 73, 75, 76, 101, 130, 134, 142, 148, 169, 195, 288 U Sociologia do Território · 44, 50 Sociologia Espacial · 20, 21 União Europeia · 15, 87, 111, 123, 141, 157, 269, Sociologia Rural · 50 295, 299 Sociologia Urbana · 21, 22, 23, 24, 26, 29, 30, 32, 34, urbanismo · 23, 169, 170, 171, 172, 174, 176, 177, 35, 36, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 50 178, 179, 182, 184, 185, 186 SOMBART, Werner · 172 urbanismo. funcional · 175 STRUYK, Raymond e JAMES, Franklin · 336 urbanismo. racional · 179 Superfície Agrícola Utilizada urbano · 17, 19, 21, 23, 25, 28, 30, 32, 34, 38, 39, 44, SAU · 296, 297, 298 50, 51, 52, 55, 56, 57, 120, 147, 169, 172, 173, 174, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 185, 186, T 204, 212, 247, 257, 260, 264, 275, 276, 284, 301 URSS · 91 teorias das classes · 38 território · 16, 44, 47, 48, 49, 50, 56, 57, 82, 89, 92, V 94, 102, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 121, 122, 123, 124, 127, 141, 151, 158, 159, 160, 163, 164, Visteon · 362, 363, 376, 378 167, 172, 182, 187, 188, 203, 204, 206, 212, 214, Volta da Pedra · 272 215, 232, 237, 244, 245, 246, 250, 253, 255, 256, 257, 260, 263, 264, 265, 266, 269, 271, 272, 274, 277, 291, 304, 316, 321, 323, 331, 333, 334 W THANH-KHOI, Lê · 125 TOPOLOV, Christian · 37 WALLERSTEIN, Immanuel · 104 TOURAINE, Alain · xxv, 37, 137, 143 WALZER, Michael · 141 TRIBILLON, Jean François · 169 WATERS, Malcom · 90 trocas materiais · 88, 89, 90 WEBER, Max · 19, 20, 31, 75, 90, 172 trocas políticas · 88, 89, 90 WIRTH, Louis · 23, 43 trocas simbólicas · 89, 90 WRIGHT, Frank Lloyd · 178

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