A Bacia Hidrografica do Arroio Dilúvio \ Irmão Juvêncio, Geógrafo prof. de Geografia Física, P.U.O R.G.S.

Situação da área. braços, Dilúvio Maior e Dilúvio Menor, se juntavam a jusante da atual represa da Lom­ o Arroio Dilúvio situa-se no céntro do ba do Sabão; agora lançam-se diretamente Munic1pio de fôI1to Alegre e toma a orien­ no volume de água represada. A . crista da tação E-W, em largos traços, a partir da .balTagem encontra-se a 55m acima do ru­ Praia d~ Belas, i sôbre o Guaiba. Restringir­ vel do mar. me-.ei tão sõmente ,:8; analisar, a bacia hidro­ gráfica do Arroio Dilúvio conhecido, comu­ Podemos dividir 0 . percurso natural de mente, por Riacho ou arroio do Sabão. seu UlaJweg de 16900 m, atualmente e11- Limita-se ao oeste na curtado pelos trabalhos de sanea;mento, em com o Guaiba; ao sul, com os espigões de . , 3 secções distintas: 1') Das nascentes 'a;té S. ,Tereza, , Glória, Policia, Pe- lado, Companhia e dorsos centrais das peque­ o estrangulamen~ de sua ·passagem na al­ nas coxilhas na .proximidade da reprêsa da tura da Agronomia. E' a fase erosiva. e de Lomba do Sabão; a leste, com os primeiros transporte mais intenso de sedimentos. 2') morrotes do munic1pio de Viamão e ao nor­ Da Agronomia ao estrangulamento da coxi­ te, com o morro de Santana, Av. Protási0 lha meridional do Jardim Botânico. E' o tre- Alves, , Petrópolis, , até o divisor percorrido pela avFlnde­ cho de alargamento de seu leito e de depo­ pendência, rua da Misericórdia e Duque de sição de largos tratos de areia. As escava­ Caxias até a ponta · da Cadeia. çOes de areia a certa distâ.ncia de seu atu- O Arrolo Dlldvto \ al traçado denota a instabilidade de seu lei­ . ,, ~ to em outros tempos. 3» Do Jardim Botá­ O AlTolo Dilúvio nasce nas encosta. doa ~ nico até a fóz. E' a fase de deposição e morrotea tnmcados de Via.mâo. Os seus doii meânclr1Ca. .

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lAtiA HIOROGRAFlCA Co • ARRClO DILUVIO

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De pequeno filete, vai aos poucos jun­ tificação com levantamento das margens pa­ tando na linha de escarpas que atravessa. ra permitir uma ocupação efetiva de>s gran­ de leste para oeste, . bom número de' braços des v.asíos urbanos, pois em generalidade &. ora à esquerda, ora à direita; dentre os ma­ populaçãe> urbana da bacia não ultrapaslla is avantajados citam-se : Arroios Taquara, Ma­ 50 hab. por Ha. Para ce>nseguir estes inten­ lo Grosso, Moinho e . tos recorreu à desapropriação. Houve recla­ Na La secção o arroio segue um traço bastan­ mos dos inconform.ados e resistências com ha­ te homogêneo. Do Becp do Carvalho em di­ beas corpus' por diversos proprietários. Tais ante já forma grande número de meandrl)s fatos, até que fossem resolvidos juridicamen­ que se acentuam à medida que alcança sua te, prejudicaram muito o andamento das o­ fóz. Em cada uma destas 3 secções distin­ bras. Mesmo assim, até o fim de sua admi­ tas abre~se uma vasta planura circular en­ nistração, conseguiu lig.ar a ponte da Aze­ tre os morrotes. Em conseqüência de uma. nha ao Guaiba por um canal de .1.300 fi. menor declividade na se.cção final oferece sé­ Result9u, sàment e .·neste trecho, num encurta-' rios precalços à população ribeirinha em é­ mento de 1.600 m do Dilúvio, visto que o pocas de suas cheias periódicas. Administra­ mesmo percorria ,anteriormente 2.900 até . ês­ dores de grande discortinio resolveram sa­ te ponto, Posteriormente, foram reloteados near esta lacuna que oferece a capital gaii~ ' os quarterões de que resultaram quadras de ch!1 e dominá-lo por um traçado novo e ca­ 60 a 70 m de largo por 200 a 250 m de com­ nalizá-lo. Sua área alcança aproximadamen­ primento e lotes de 12 m de frente por 30 te 65 Km2, sem contar a vertente da Cas­ a " 35 de fundo. Os trabalhos prosseguiram cata, da área total de 470 Km2 do Muni­ sOQj diversas Cias. Atualmente, a dragagem cipio de Pôrto Alegre. do leito se encontI1a na altura do ' Bêco {io Carvalho. Apenas um péqueno trecho Para permitir uma expansão equitativa mediaI, nos fundos do Hospicio São Pedro, nesta parte central era necessário sanear a vertente do Dilúvio que em periodos recua.­ não foi ,ainda dragada por ter sido subme­ dos tem sido um problema insolúvel. Sofre tido à uma ação juridica. Os trabalhos de cheias periódicas e passageiras; assinalam­ drenagem das águas cloacais, pluviais" de se as catrósficas de 1754, 1873, 1897, 1926,1936 calçamento da Av. Ipiranga e de lev.anta­ e 1941. A enchente de 1941 subiu de 1 la 4,73 mento de áreas marginais estão bastante metros acima do" nivel normal ficando avançados. 80.000 habitantes sem teto e causou prejuizos que foram ruinosas às populações ribeirinhas. 9 Suas cheias são de caráter: 19 ) Pluvial. 2 ) Fluvial quando sopra o Sudeste e retém o escoamento normal do Guaiba fazendo subir suas águas acima do normal. Podem ser sI­ multâneas. Nestas ocasiões as zonas estran­ guladas . ~ baixas são completamente mun­ dadas. Más instalações de esgôtos e seu re­ gime irregular desfavorecem seu pleno de­ senvolvimento. Seu regime irregular ofere­ cendo por vêzes, no verão, um leito· sêco e, no inverno, um enorme extravasamento fi­ zeram surgir diversos, projetos pal'a 'debelar estes óbices. Dentre os de mais de'staque assinalam-se: Projeto Maciel 1914, Schneider 1925, Medaglia 1930, Ari de Abreu Lima 1935. Canal do Dilúvio na proximidade Ido Bêco do· Loureiro da Silva atacou de frente o pro­ Carvalho. Ae> fundo: Constru!;ão das Cone­ blema baseando-se em dois métodos: lO) Ca· gas Agostinianas nmn patamar do morro 0 nalização, seguindo o leito natural. 2 ) Re- Santana. (Foto: Irmão Juvêncio)

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NATURIJ:ZA GEOLóGICA E PETROGRA­ sopé do morro do Jardim Botaruco. O leito FICA DO SOLO I do Dilúvio deslisa sôbre uma corredeira su­ o solo .e subsolo da bacia do Dilúvio 6 ,ave. pobre em variedades. Em nossas incursões A rocha matriz está multo decomposta, em ' todos os sentidos e direções pudemos a­ o raizame penetra profundamente desagre­ preciar a predominância da rocha graniti­ gando ~a em sua textura e estrutura. Atra­ ca rósea \om manchas de granito cinza e vés das fendas que abre permite a penetra­ porfiroide, algumas intrusões de meláfiro, gn~_ ção das águas pluviais que realizam a trans­ 1s, micaxistos e conglomeratos quartziferos. formação qu1mica necessária para a subse­ As principais pedreiras que se encontram ~es­ qüente transformação profunda. Os horizon­ ta área são de granitó róseo que ., é muito tes superfic,iais dos solos nos espigões, pata­ empregado no calçamento das artérias ur­ mares e terraços foram derruidos e destro­ banas. ps afloramentos da rocha matriz mai:; çados. Permanecem apenas raras manchas de notáveis são do mesmo tipo. Na generalida­ fertilidade nos altos e fraldas das coxilhas. de, uma tênue càmada de musgo e liquells Enquanto que os vaIes e terraços que rece­ recobrem-nas e imprimem modificações es­ beram o . carreamento desta decomposição truturais profundas. De maneira que a grã são, deveras, ferazes. As superficies expos­ do quartzo se apresenta saltada e rugosa tas estão em estágio de avançada calcina­ denotando um estágio avançado de decom­ ção. Os patamares a meia encosta e morros posição. O formato abaulado dos morros são. residuais sujeitos a um intenso intemperismo, o indice de uma porfiada longevidade erosiva. sofreram profundas modificações• e discor- Saltam, assim, à vista a inclinação das com­ dâncias. A laterização ora se apresenta em plexas mOdificações geológicas. O mergulho fase inicial, ora em escala muito ·avançada. mais comum e notório das rochas arqueanas no espigão do morro da Policia, Pelado e Um aspéto bem diverso nos apresentam da COlTIpanhia é N e NW. Tal fato chama. os terraços e pediplanos. Seu solo passa pe­ a atenção sôbre uma fôrça eperiogênica lateral los matizes argilo-arenosos ·a areno-argil9sos. comprimindo O complexo cristalino do mar Deixam medrar boas gramineas e uma -ri­ para o continente. Em conseqüência deste ca horticultura. Seus sedimentos recentes per­ dobramento e falhas as pedreiras não ofere- tencem ao periodo de quaternário ou terci­ \ . cem grandes oportunidades de extrações. A ário superior. direção da rocha é complexa e convulsiva •• Q~ Há áre~ em que a predomina.ncia dos sendo exploradas apenas as camadas mai;J sedimentos limosos fortemente cauliniferos da superficiais menos sujeitas a' tais fenômenos. baixada fluvial permitiu o estabelecimento de O diaclasamento da rocha -é heterogêneõ e, em várias olarias à margem do tronco principal' conseqüência, grande número de pedreiras são do Dilúvio. Ainda hoje funciona mais de meia abandonadas já no estágio inicial de explo­ dúzia, além de muitas outras que cederam ração. Os matacões que coalham os morros seu lugar à aglomeração humana que sem­ não seguem a regra e, por isso, são os mais pre mais avança. De .permeio ' algumas ilhas explorados. trapeanas assinalam a vinda de elementos , De mistura com o granito encontram-se erosivos da Serra Geral em 'pez:1odos mais res1duos de cristais de quartzo nas fraldas recuados. do morro Pelado, Policia, Santana e Jar­ Ainda outras áreas são inteiramente are­ dim Botânico. A 500 m a cavaleiro da pon­ nosas, como a área desde o Hospicio São te ' do Bêco do Salso há um notável filão de Pedro até a Agronomia onde uma estreita granito porfiróide de mais de 50 m de lar­ faixa beirando o arroio é uma reserva are­ go com _direção N -S indo aflorar na meia nárea como se pode verificar no canal em escarpa do morro Sampaio. O perfil longi­ ,abertura em que o 2.0 horizonte de 1,50m de tudinal do Dilúvio deixa ver em diversas por­ espessura logo abaixo de um 19 horizonte ções de seu leito a rocha matriz, como no fangoso é constituido de areia. 90 COLABORAçoES

Geomorfologla. Nas c$eceiras do Dilúvio maior e Me­ A estrutura de Pôrto Alegre é granitica. nor delineam·se elevações truncadas em . cu­ Suas elevações, morretes e escar­ jas ladeiras a rocha mater aflora, em espe­ pas que atualmente não ultrapassam cial à beira da estrada além da Lomba do 315 m como se infere pelos marc,os Sabão, Outra particularidade notória é que geodésicos de alguns dos mais elevados, à margem direita desde suas nascentes até em ordem decrescente: Santana 314 m,' Po­ o Bêco do Carvalho se alteia quase rente o morro Santana com uma rocha mais resis­ licia e Pelado 275 m respectivament~, Te­ res6polis 250 m, Forte, Companhia e éasc!l.­ tente, ao passo que à esquerda se estende ta 225 m respectivamente, Glória 150 m, In­ uma vasta planura ocupada pelas culturas da dependência 50 m, e Duque de Caxias 25 m; Escala de Agronomia 'e Veterinária. E a ca­ parecem contudo indicar que em éras geo­ valeiro da estrada Mato Grosso, neste mes­ lógicas passadas já terem tido altitudes bem mo trecho, sucedem-se lombadas e patama­ maiores. No cretáceo, pro:vàvelmente, esta­ res ainda ocupados. pelas matas. Aqui, éert08 vam unidos à Serra do Mar, tendo sofrido tratos de terra encontram-se lavados pelas posteriormente um movimento de submersão enxurradas e outros, conservam uma relativa de que resultou uma ilha que seria o atku fertilidade. Estes tatos fazem suspeitar uma Escudo Riograndense. Trabalho incansável do lenta evolução meândrica do arroio e seu re­ \ intemperismo conseguiu aplainar as suas cuo sucessivo à direita deixando um terraço grandes elevações indo constituir a sedimen­ a 2 rri de altitude, à esquerda. De permeio tação da Depressão Central e parte da lin­ notam-se pequenas formações palustres. gua de terra aluvionar entre a Lagoa dos ,i Na região banhada pelo arroio Taquara Patos e o Escudo Riograndense. Ao mesmo existem roçados recentes e vastas zOnas in­ tempo que se .processava tal transformação, vadidas pelos vassourais com afloramentos sob influência isostática foram surgindo das intensivos de um saibrão graudo, Há indicias profundez~s e tomando novas alturas. Da a­ . de uma acentuada laterização destes solos. ção conjugada dos agentes geológicos exter­ A fralda Sudeste do morro da Compa­ nos e internos, das precipitações torrencita\s nhia é ainda recoberta por boas matas. O to­ - e dos extremos da escala termométrica Sô• po tabular deste morrote deixa ver ao vivo bre o imenso batolito inicial resultaram 8.9 grandes manchas grahiticas em que a 'rocha formações mataconares e ··as 'extruturas de mater está coberta' apenas por uma tênue cristas alongadas dos morros que circundam camada de liquens. Ao mesmo tempo em a­ a capital gaúcha. Sua orientaçi!9 é NNE-SSW. nos anteriores existiu ai um represamento de Possantes movimentos diastróficos laterais âguas cujas instalações estão em abandono. ocasionaram indmeros diac1asamentos,-falhas Em suas fraldas aparecem tufos' de gram\­ e fraturas que se averiguam nas escarpas e ne8;S bastante verdes em pontos em que o linha de escarga central beirando, à certa diaclasamento é pronunciado de maneira que distância, o arroio Dilúvio. A ação erosiva su~gem ólhos de água. ' '_ deixou impressa sua gigantesca e milenar 0- No sitio das construções da Escola de bra . de transformação nos diversos planos Agronomia os pontais do morro Santana e residuais dos morros cujos' espigões formam' da. Companhia formam uma garganta de me- . o dlVOrtlUm ' aquarum da vertente. Crearam­ nos de 70 m de largo, A mont~t.e do ar­ se, em conseqüência, grande ndmero de pa­ roio os terrenos são mais elevados e à ju­ tamares, morros testemunhos, terraços, pedi­ sante abre-se um alargamento considerá.vel

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ta garganta "possibilitou o dissecamento ati­ Desde os fundos do Hospício São P edr.> \'0 dos maciços superiores deixando ver nas . à jusante a estrutura de pacotes sedimenta­ ladeiras t! rraços fluviais. "res se a\'oluma. A geomorfogênese geral le­ Da Agronomia em diante as planuras va a supôr uma planície fluvial de conquis­ são mais vastas e tomam mais a mais a di-' ta muito recente. Os , terrenos marginais e reção,. sudoeste com um certo., estreitamento grandes trechos do Menino Deus e da Az!!­ do lado direito sôbre as coxilhas do Butiá. e nha com sua morfogênese palustre atestam Jardim Botânico. E' uma varzea sedimen­ uma sedimentação atual. ' Dai resultam gran­ tar. Os pacotes sedimentares não devem Ir des vasios ecumênicos nas duas margens que muito , além de 5 m. A falta de sondagens vão sendo povofl.das à medida que adiantam não nos permitem esclarecimentos mais per­ os trabalhos de colmatagem 'natural 'ou arti­ feitos e o ~ncontro de rochas , no fundo do ficial. Administrações sucessivas tem lutado canal de sàneamel}to do Dilúvio nos levrut\, para afastar os focos de infecção sanitária. a êste arrazoado. o terraceamento e os pa­ que aí se aglomeravam. Os banhados eram tamares se sUêe,dem em ambas 'as margens numerosos e muitos deles transformaram-se, do Dilúvio. hoje, em grandes centros de atração urbana, como a Praça da Redenção, antiga Va~a, Entre o morro Santana e Vila Jardim e zona palustre onde já funcionou o . ponto o morro Santana sofreu um enorme J!:m sua porção inferior o Riacho deri­ impacto da ação erosiva e o escarpamento vava para a direita indo desembocar na zo­ de suas ladeiras alcança a mais de 60 gra,u.<;. na do depósito do Gazômetro onde se encon­ Do mato do Sampaio descem em gargantas ,tra ainda uma velha ponte de alvenaria. Foi pequenos filetes de água. nesta porção qUe se lançaram Os funda~en­ Na 3.- secção situa-se centralmente o tos de Pôrto Alegre na então foz do JacarE'i ffi;orro do em 2 .• plano. Isola-se por (Dilúvio) por ser um lugar abrigado para completo por uma série de pequenos:' arroios. a navegação. que o contornam completamente. Parece ,ser A extensa enseada da Praia de Belas, um testemunho de uma antiga fractura tec­ hoje em fase de aterramento e retificação, tônica' que o mergulhou e formou uma de-, é um trabalho ciclópico do mar que durante pressão central. Os pacotes de 110chas des~~~ o cretácico devia se esbater com fúria con­ gregadas mais espessas estão a denotar uma. ~ tra o braviõ Jacui. Naqueles recuados pe­ antiga sedimentação e decomposição mais a- o riodos grandes trechos incisos entre as gar­ tiva que a de seus pares. , gantas marginais do Guaiba deviam estar Um fato singulãr se nota: nesta série inundados pelas águas marinhas Na fase sub­ de morros de ambas as margens do Dilúvio, sequente, já vencido o mar com a formação uma decomposição mais profunda da rocha dos pontais que constituem as atuais restin­ matriz à m~dida que ,se aproxima da foz, ao gas de Pernambuco e Albardão e havendo u­ , passo que, maiores afloramentos, a medida ma regressão marinha, o fundo do estuário que se avança as suas cllibeçeiras. As esca­ guaibano foi colmatado e surgiu o delta e vações de pedreiras locais para' coleta de sai­ os rios foram diminuindo com a sedi­ brão para o revestimento do leito de estrada3 mentação dos pequenos cursos de ' água ao e atêrros demonstram-no. longo do estuário.

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A VEGETAÇÃO o reflorestamento é qu~se nulo. Um outro eucalibalesparso. Algum pomar e na­ A vegetação arbustiva, antes da ocu­ da mais. Ê a desproteção das camadas h,,­ pação humana, devia ser densa como o ates­ núferas que se vêm destroçadas- em pou­ tam Saint Hilaire em seus escritos e- os mo­ co .tempo. Podemos classificar a flora era radores mais antigos. Com a ocupação hu­ du;a,s categorias, na expressão do Pe. Ram­ mana ela foi recuando mais e mais. Cer­ bo: 1.0 Flora do granito. 2.0. Vegetação de tas denominações, como a Estrada do Ma­ varzea. As. escarpas e patamares até onde to Grosso e as reservas estatais dos terrenos sobe a flora ,se carateriZl3i pqr- espécies de da. Agronomia \ que sobem as rampas suli­ porte sempre mais modesto, do sopé a cu­ nas dos morros Santana e da Companhia e Il)lelra. Os espigões, na generalidade são as canhadas entre os morros da Policia e Pe­ despidos de vegetação arbustiva que se pos- ' lado pertencentes a Big.ada Militar o po­ sa salientar a não ser, em parte, no morro dem atestar. São matas baixas e sujas. As Santana. Cactáceas, espinllhos, gravatás cam­ matas de galeria dos vales. e das gar­ pestres e musgos dominam nos espigões á­ gantas são de ·porte modesto e secundárias. ridos. Ao longo do Dilúvio e seUs tributá­ rios adensam-se, touc-eiras de taquaruç.·ús, chol1 . A devastação florestal para dar lu­ pos e corticeiras. Nas planuras dominam JS gar a pequenas lavouras cont~ua ainda seu maricAs, umbus, aroeira salsa e o coqueiro. ritimo norma,l em mUitos pontos. E após Os terraços md.is elevados e ' os patamares o . esgotamento da terra O giruã, os vas,sou­ são o hab;tat nativo do butiaceiro, da figuei­ rais e macegais invadem-na, sendo substi­ ra e dos vassourais. Nos brejos nascem gra& tuída por sua vez por uma cobertura cili­ vatás palustres, aguapés, capim de santafé. ar ,miuda 'um tanto rala. De p'ermeio, onde o Em parte, os pantanais já perderam sua. ve­ soló era ácido, pennanecem vasioa e ilha­ getação nativa e cederam o passo , ~ várias mentos arbustivos que, em bréve, são pre­ Indústrias cerâmicas. sa de uma inte,n.sa laterização. Excelentes explorações hort!cUi.. s o­ cupam os ' terraços e patamares enxutos. Certos tratos devolutos onde rareiam as re- - I . zes poderiam ser melhor exploradoS' não fos- se ia ganância dos latifundiários que não permitem -a exploração do solo em beneficio da coletividade. Os mercados urbanos neces­ sitam maior e mais vari.. do abastecimento. de verduras que perfeitamente poderiam vir desta área.. MUitas das melhores terras es­ tão em' completo desuso. Lançando um olhar retrospectivo po­ demos afirma;r que a vegetação earateris­ tica, por exelencia e natural desta zona, vem " ,ser o Butiá (cocos campestris), G girivó1 Ponto final de dra-gagem do Arroio Dilúvio. (cocos coroniSlta), a banana do mato (bro­ No (primeiro notam-se os pés de Taquaruçu meUa muéilagtnea), a pitanga (eugenia u­ roça~os para deixar executar as ,obras de sa.­ niflora), "a cargueja (genista tridentata), a neamento. No plano mediaI: mistura butía• aroeÚ'a (astroneum urendeuva), li tarumã seiro, geriv~s, maricás e corticeiras. De per (vltex tarumã), O oa,mboim (eugenia), e a meio construções de termitas. No fundo: Mor­ eapororoca.. Hoj~, ,boa parte desta flora que ros Pelado e da Policia. cheguei a conhecer a 25 anos atrás quando Foto: Irmão Juvêncio. perlustrel pela. primei"" vez as encostas por-

COLABORAçoms 93 toalegrenses está. quase desaparecida e as Temperatura máxima 259 e minimw 12.. 0'­ modificações que se efetuarem são imensas. correm também em meses do inverno. Há As gramineas passam por toda gania de anos sem veranico. valores. O nO de geadas alcança a oito, sendo Excelentes trigais já se desenvolveram as . primeiras em mai-o e as últimas em se­ nas esoa.rpas e terrenos enxutos. Destas cul­ tembro. São fracas. a maior foi a registrada turas ~mitivas, proveiu a denominação de 27 de julho de 1870 no morro da Cascata.. de um bairro residencial a pelo Ventos reinantes: Leste e Nordeste na grande número de moinhos que primavem e verão - Sul e Oeste, no. in­ surgiram. Es1la.tisticas da época inicial re­ verno. As maior~s ' velocidades anemométri­ gistram colheitas a.bl~dantes com 80 a 90 cas são de agOsto a outubro; as menores, por um. Malfadadamente a falta de técnica de março a abril. Chuvas duradouras são e meios preventivos não soube debelar 18; fer­ acompianhadas por ventos do Sul ·com a di4 ' reção SW-NE, ventos maritimos carregados rugem que invaçliu, os trigais e a cultura foi abandonada por volta de 1823. de umidade .. No inverno, ventos frios úmidos e acompanhados do minuano sopram sôbre a ci­ CLIMA dade. As trovoadas ,alcançam de 30 a 40 PO! . situa-se a 30·1'57" Lat. S. ano. e 51 0 10'58" Long. Greenwich. Está sujeito a A umidade varia de 75 a 85%. Outono um clima subtropical com a média anual de é a estação mais sêca do ano, em média 68,92. 190 5'C. O mês mais quente é fevereiro, em Insolação: 54% do valor possivel de ho­ média 25· 6'C. e o mês mais frio, junho com ras de sol. 10.5'C. Máximas 409 e m1nlmas - 49. Nebulosidade: % de dias claros, % de A média anual 'de chuvas é 1.291 mm. encobertos e o resto de meio encobertos. Distribuição irregular. No verão são fr~(}üen- O estado de saiubridade não é regular tes os temporais, janeiro e fevereiro, ~ com e tem sofrido baixas em relação. ao teste­ chuvas irregulares ' que alca.nçam 23%. ' Se- munho de escritos antigos. Um viajante, em guem~se anos chuvosos e sêcos. A chuva de 1835, deixou êste escrito: «que nela se des­ setembro de 1'926 que atingiu 383 mm re- frutiava boa saúde, ,sendo o ar bàlsâmico, presenta a maior pluviometria n~ perl?do de . '~!puro e salúbre, razão pela qual os faculta.- " um mês em Pôrto Alegre. A altunetna plu- livos não grangeavam fortuna e as boticas viométrica de 3 mm em março de 1926 é convertiam-se em casas de perfumarias>. o mais ba.ixo valor de .precipitação registra- da em um mês em Pôrto Alegre. A chuva POVOAMENTO de maior intensidade com 50 mm num % de hora, se registrou em janeiro de 1925. E' nosso intento sumariar por ' alto os A classificação mensal de chuvas segue: Es­ principais tópicos do povoamento da verten­ cassas menos de 60 mm; nonnais mais de 60 te, do Dilúvio. O assunto já foi ventilado, mm' abundantes mais de 160 mm; e excessi- , .' na ,parte geral, em outMS obras. . vas mais 4,e 250 mm. Os fundamentos de Pôrto Alegre se lan­ Geralmente, na I' quinzena de maio, sur­ çaram em 1740 nas praia.s do GazOmetro, g'em áreas de .altas pressões com chuvas na foz do Jacarei (Dilúvio) por .ser uma en- 'mais prolongadas, seguidas de ventos impe­ sea.da mais -abrigada dos ventos do Sudoeste. tuosos do ,oeste, queda da t emperatura e ,gea­ Os baixios .e a ,colmatagem muito acentuada. das fracas e esparsas. E' o veraníco de ma­ do leito do estuário removeram o ancoura- io. Du~a uma semana, conservando-se o céu douro para o ponto fronteiriço . da praça dll. l~mpo, mas com nevoa, temperatura máxi­ Harmonia. _Aos poucos as primeiras levas de mas diurnas elevadas, com calmaria, etc. açorianos foram acrescidas por outras que

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elevaram os efetivos do povoado que alcan- Em 1810 foi instalada como vila e eln

o çou os fóros de Capital do Estado em 1773. 1822 como cidade e em 1841 recebeu o titulo Antes de Pôrto Alegre tinham exercido a­ de «Leal e Valerosa». Já em 1808 a popu­ quela função respectivamente: Rio Grande 1737-1763, Rio Pardo 1763-1766 e ViamAo lação orçava em 6.000 hab. Durante os su­ 1766-1773. José M~rcelino de Figueiredo rea­ cessos farroupilhas, tendo sofrido muito dos lizou tal transferência e também foi seu 1.0 continuos cêrco;B, não se poude expandir, mas governador.-" logo após a paz de 1845 a população rece­ beu um novo viço com as correntes imi­ o 19 fazendeiro e povoador de POrto A­ gratórias que para cá afluiram e fizeram­ legTe foi, na realidade, JerOnimo de Ornelas 'na progridir a olhos vistos. Já em 1900 con- e V;asconcelos. Ao se estabelecer nestes pa­ "- gos já. os encont,rou ocupados por tribos sel­ tava 73.000 hab. e hoje cifra-se acima de vagens da tribo dos tapes e minuanos. Flo­ 500.00Q hab. rescentes mandiocais vicejavam nas ladeiras dos morros Santana, Cri'staJ e Cascata. j Para atender (a parte recreativa do pri­ meiro povoado a pareceram as touradas na I Matas exuberantes cobriam as colinas >l:Varzea», após «Campo 'do Bonfim ~ , depois que cederam sob o golpe dos machados a. tri­

Seu constante crescimento exigiu um& A bacia hidrográfica inferior do Dilúvio é, in- , , fortificação e ,;assim surgiu um valo profun­ discutivelmente, o centró residencial ",e in- do e os que demandavam a cidade pelo la­ telectual da , capital. Compõe-se dos bairros do do Dilúvio tinham de cruzar um Portão residenciais do Menino Deus, Azenha, Pu­ para te~ , acesso à «Praça do Portão)atuaJ tenon, Rio Branco, Petrópolis e parte dos Conde de POrto Alegre. Moinhos de Vento, TereS6~olis e Glória. Os estabelecimentos de ensino' médio mais im­ o primitivo POrto de Viamão, ao depois portantes e todo o ensino superior ai tem a. POrto dos Casais e, por fim, POrto Alegre sua séde. A maior parte dele ainda se loca­ tomando ares maiorais requereu comunica­ liza na zona restritamente urbana, mas boa. ções com os povoados vizinhos. Surgiu assim parte está marchando para as cabec~iras do o

o Grósso», hoje Av. Bento Gonçalves. ' SObre o rea agraria de 116 Ha., para jardins e par­ t . espigão central urbano surgiu 'a,inda o

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A Universidade do Rio GriUlde do Sul, Em 1927, Otávio Rocha iniciou 11. Av. possue ainda, vastas áreas no morro Santa- Borges de Medeiros, continuadà. por Loureiro na para onde deverá futuramente se trans­ da Silva e que está sendo continuada pela ladar, ' apesar do espirito de renovação de atual administração com o saneamento da seus ilUltigos prédios in locu. Já o Instituto Praia de Belas. Hidráulico montou seu 'prédio, próprio na Em tOda área que acabamos de delinear Lomba do 'sabão, à direita das cabeiras do observa-se um intenso espirito renovador. As Dilúvio. A Policlinica: está em fase final de moradias primitivas do castiço estilo portu­ acabamento com os diversas conjuntos que guês e mosarabe -ainda bastante comuns n09 a integram no antigo campo do Polo. bairros do Menino Deus, Azenha e Glória, vão A Pontificia Universidade Católica tam­ sendo aos poucos derrubadas e substituidas bém tomou uma, arrojada iniciativa, de se por outras de linha arquitetOnicas modernas. transladar à esqrlerda

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