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Multícultora~ismo, Poderes e Etnicidades Multiculturalism, Powers and Ethnicities in Africa FACULDADE DE L-S DA UNIVERSIDADE DO PORTO Actas do Colóquio Internacional realizado no âmbito do "Porto 2001 -Capital Europeia da Cultura" Coordenação: António Custódio Gonçalves Comunicações António Custódio Gonçalves, Franz-Wilhelm Heimer, José Carlos Venâncio, Margarida Fernandes, Eduardo Costa Dias, Ute Luig, Alex van Stipriaan, Gabriela Sampaio, Manuel Laranjeira Rodrigues de Areia, Ivo Carneiro de Sousa. Ediçao Faculdade de Letras e Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto Apoios Sociedade Porto 2001, Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Unidade de I & D "Centro de Estudos Africanos") e Faculdade de Letras da Universidade do Porto Concepção Gráfica Sersilito - Empresa Gráfica, Lda.lMaia Tiragem 500 exemplares Depósito Legal: 177282102 ISBN: 972-9350-65-5 Iniciados em 1998 e promovidos pelo Centro de Estudos Africanos (CEAUP) e pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), os Colóquios sobre «Identidades, poderes e etnicidades na África Subsariana)) têm constituído um espaço de alta qualidade científica, com a participação de reputados especialistas internacionais de estudos africanos. Este IV Colóquio pretende analisar os proble- mas da conflitualidade, do racismo e xenofobia, do desenvolvimento e do multicul- turalismo na África subsariana, discutindo teorias, problemas e casos de estudo mais importantes. Vários especialistas europeus e africanos reúnem-se num espaço de discussão aberta para desenvolver novas problemáticas e interpretações que, nesta edição do seminário, sublinham o tema do multiculturalismo. Angola, Moçambique, Senegal ou as influências africanas nas culturas brasileiras enqua- dram vários dos temas em estudo e debate neste seminário que constitui um dos principais pólos de reflexão científica portuguesa sobre os problemas das identida- des, poderes e etnicidades na África Subsariana. Programa 4 de Maio de 2001 - Anfiteatro Nobre da FLUP 1OhOO: Sessão Solene de Abertura: Reitor da Universidade do Porto Alto Comissário para a Imigração e as Minorias Étnicas Presidente da Conselho de Administração da Sociedade Porto 2001 Presidente do Conselho Directivo da FLUP Presidente da Direcção do CEAUP Pausa para café 11h00: Painel: Etnicidades muiticuiturais e poderes solidários: teorias, problemas e estudos de caso na África subsariana Moderador: Tosé Capela Intervenientes: António Custódio Gonçalves - CEAUP Identidades e Alteridades Culturais: desafios as solidariedades sociais e aos poderes políticos Franz-Wihelm Heimer - CEA-ISCTE Fronteiras em África - a vertente da identidade nacional Tosé Carlos Venâncio - CEAUP Multiculturalismo e Literatura Nacional em Angola Margarida Fernandes - FCSH -UNL Os textos e os contextos: a literatura africana de língua portuguesa entre afic- ção e a realidade Intervalo para almoço 15h30: Painel: Multicuituralismo e identidades étnicas Moderador: Emmanuel Esteves Intervenientes: Elikia M'Bokolo - E.H.E.S.S. Paris - "Multiculturalisme et Nationalisme au Congo-Zaire" Eduardo Costa Dias - CEAIISCTE: "Da'wa, Poder, Etnicidade e 'Invenção' de uma nação Senegambiana" Ute Luig - Univ. Berlim: "Multiculturalism, Citizenship and Ethnic Conflicts in Ivory Coast" 5 de Maio de 2001 - Anfiteatro Nobre da FLUP 10h00: Painel: Muiticuituralismo, etnicidades e cidadanias Moderador: Arlindo Barbeitos Intervenientes: Alex van Stipriaan Luiscius - Univ. de Roterdão - "Creolisation and the les- sons of a watergoddess'l Gabriela Sampaio - UNICAMP -São Paulo: 'A história do feiticeiro Juca Rosa: matrizes culturais da África subsariana em rituais religiosos brasileiros do século XIX" - Manuel Laranjeira Rodrigues de Areia - Univ. Coimbra: "Rituais alterna- tivos de poder em Angola" Prefácio ANTÓNIO CUSTÓDIOGONÇALVES No âmbito dos trabalhos desenvolvidos pela linha de investigação "Estados, Poderes e Identidades na África Subsariana", integrada na Unidade I & D, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, publicam-se as Actas do IV Colóquio Internacional "Multiculturalismo, Poderes e Etnicidades na África Subsariana': rea- lizado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 4 e 5 de Maio de 2001. A análise de temáticas como o mnlticulturalismo, os poderes e as etnicidades por especialistas em estudos africanos é importante, sobretudo pelo questiona- mento de algumas visões etnocêntricas da história e das mutações em África e pelas rupturas metodológicas nos modelos conceptuais e teóricos. O contributo das Ciências Sociais e Humanas torna-se necessário para compreender e explicar as dinâmicas sócio-políticas dos processos ambivalentes de identificação e de reivindi- cação étnica do poder, e também, numa perspectiva de intervenção, para prevenir os conflitos induzidos pelos afrontamentos inerentes aos reforços dos fenómenos pluri-étnicos e multiculturais. Estes fenómenos políticos de heterogeneidade étnica e cultural, associados a processos de pertenças sociais ou territoriais, revelam-se, por vezes, com acentua- ções maximalistas ou minimalistas de clientelismo. As etnicidades cristalizaram, durante o período colonial e após as independências, a percepção da diversidade cultural. Esta cristalização de "etnias" reenvia depois a processos de dominação polí- tica, económica ou ideológica. Elaboram-se e justificam-se, assim, as estratégias individuais e colectivas pela conquista dos poderes. Várias interpretações dos fenómenos políticos da África contemporânea inte- graram as "etnias" e os "Estados nacionais em construção" em esquemas simplistas e imutáveis. Ora, as "etnias" constituem uma sucessão de configurações e represen- tações que, na história de longa duração, dão corpo e vida às identificações sociais e às identidades culturais. Daqui resulta a necessidade de reavaliação crítica das etni- cidades. É, por isso, que estes debates não devem ser meramente teóricos. É no âmbito da problemática mais vasta do multiculturalismo, como matriz do Homem Universal e de uma nova cultura, que importa analisar os factos contem- porâneos quanto a compreensão das novas éticas e das novas lógicas sociais subja- centes às sociedades africanas e que constituem novos desafios para as Ciências Sociais e Humanas. Nas conferências deste Colóquio cruzam-se dois olhares: as encruzilhadas de tempos e espaços que produzem novas identidades: as identidades de longa duração constituídas pelas grandes tendências de África e as identidades contemporâneas associadas às perspectivas políticas e sociais de hoje. Por isso, se analisa o passado para melhor compreender as realidades do presente e poder assim diagnosticar as perspectivas futuras na sua dimensão histórica. Cruzam-se novos modos de vida, novos valores, novas identidades sociais e novas alteridades culturais. Estas são construídas sobre duas matrizes: o modelo tra- dicional e o modelo da modernidade. São culturas bipolares, mas interactivas e complementares, e como tal devem ser analisadas; constituídas pela vertente tradi- cional, centripeto, privilegiando os comportamentos repetitivos e harmónicos, e pela vertente modernista, conflitual, voltada para a inovação e para a visão prospec- tiva. Estas duas matrizes apresentam-se com uma relação antagónica e, por vezes, agonística e fundamentalista. Assiste-se, hoje, a uma crise de alteridade generalizada traduzida por fenómenos tais como fundamentalismos e nacionalismos, crises e decomposição dos Estados. Associada a esta crise de alteridade está uma crise de sentido. As relações de sentido constituídas pelas alteridades e identidades itistituídas e simbolizadas pelas encruzi- lhadas, encontros e desencontros de culturas formam a complexidade das socieda- des da África Subsariana. Esta complexidade resulta da singularidade que as consti- tui e a universalidade que as relativiza. Importa, pois, reflectir sobre os défices de sentido na África de hoje. Na análise do multiculturalismo é necessário compreender as duas lógicas da globalização: uma que consiste na erradicaçáo das diferenças culturais, a outra que se associa à tolerância das diferenças e à oposição ao reconhecimento político e ins- titucional da alteridade colectiva. Em sociedades de globalização generalizada e falaciosa, onde predomina o indi- vidualismo, de tábua matricial de valores estandardizados aceites acriticamente e de fenómenos avassaladores de burocratização e das indústrias culturais mediáticas, temáticas como o multiculturalismo, o reconhecimento dos outros, a diversidade e a alteridade convocam a análise pluridisciplinar das Ciências Sociais e Humanas e promovem movimentos pelos direitos humanos, pela paz e pelas políticas de desen- volvimento sustentado, que minimizem as políticas do desenvolvimento assimé- . PREFACIO. .. .. .. .. .. : 9 trico, muitas vezes subvertidas pela subjugação das identidades culturais e dos direi- tos humanos as leis do mercado. O saber-viver as identidades e as alteridades induz novas configuraçóes das soli- dariedades, na luta enérgica contra a exclusão social, a pobreza e a xenofobia, e con- tra a desumanização, a perda das identidades culturais, a ruptura do equilíbrio da relação do homem ao grupo e do homem com a natureza. Induz, igualmente, novos processos de construção da democracia, do desenvolvimento e da cidadania que assegure a autonomia e o respeito pela diferença, numa comunidade de leis e de valores culturais. Assim, para minimizar os efeitos perversos da globalização, afi- gura-se necessário e urgente a integração e a adequação da racionalidade económica e da inovação