UNIVERSIDADE FEDERAL DO FACULDADE DE AGRONOMIA AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Gustavo Silva Achutti

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VINÍCOLA ALMADÉN LTDA , RS

Porto Alegre, maio de 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Gustavo Silva Achutti

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Orientador do Estágio: Engenheiro Agrônomo Fabrício Domingues Tutor do Estágio: Prof. Dr. Paulo Vitor Dutra de Souza

COMISSÃO DE ESTÁGIOS:

Prof. Elemar Antonino Cassol - Departamento de Solos - Coordenador Prof. Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico Prof. José Fernandes Barbosa Neto – Departamento Plantas de Lavoura Prof. Josué Sant’Ana – Departamento de Fitossanidade Prof. Lair Angelo Baum Ferreira – Departamento de Horticultura e Silvicultura Profa. Mari Lourdes Bernardi - Departamento de Zootecnia Prof. Renato – Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia

PORTO ALEGRE, MAIO DE 2011.

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AGRADECIMENTOS

À todos os que de alguma forma colaboraram com a realização do presente estágio.

À Vinícola Almadén, pela oportunidade e disposição com que sempre me receberam.

Ao Engenheiro Agrônomo Fabrício Domingues, aos supervisores de vinhedo Ivalino Gallon, João Aozani, Vinícius Dutra, Faustino Della Pace e Cristiane Pessoa pelos conhecimentos compartilhados, pelos momentos de descontração e amizade.

À Elenice Pazzeto, do setor de Recursos Humanos, pela receptividade.

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APRESENTAÇÃO

O presente relatório tem como objetivo demonstrar as atividades realizadas durante o Estágio Curricular Obrigatório realizado em Sant’Ana do Livramento , Rio Grande do Sul , na Vinícola Almadén.

O local foi escolhido por ser uma empresa de importância no município, que trabalha em uma atividade promissora para a Região da Campanha e é uma vinícola não muito convencional, se comparada aos padrões do Estado, onde verifica-se predominância de cultivos familiares e de pequena propriedade na atividade da vitivinicultura.

O gosto pelos vinhos e o vínculo com a região também foram decisivos para a escolha do local do estágio. A disposição da empresa em abrir suas portas, a receptividade de funcionários e o oferecimento das condições necessárias para a realização do estágio foram de grande valia, fazendo com que este período de convivência servisse de laboratório para a escolha da área de trabalho que pretendo seguir futuramente.

A atividade é de extrema importância na capacitação e formação dos futuros Engenheiros Agrônomos e faz parte do currículo do Curso de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...... 1 2. DESCRIÇÃO DO MEIO FÍSICO E SÓCIO-ECONÔMICO DA REGIÃO DA REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO...... 2 2.1. Caracterização do clima...... 3 2.2. Caracterização dos principais solos e relevo da Região...... 4 2.3. Características e importância do agronegócio regional...... 5 3. DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO: VINÍCOLA ALMADÉN...... 6 4. ESTADO DA ARTE...... 8 5. ATIVIDADES REALIZADAS...... 11 5.1. Planejamento fitossanitário...... 11 5.1.1. Podridão ácida...... 11 5.1.1. Podridão cinzenta da uva...... 12 5.1.3. Podridão da uva madura...... 13 5.1.4. Pragas ...... 14 5.2. Planejamento da colheita...... 16 5.3. Coleta de amostragens de uvas...... 17 5.4. Análise de perdas e qualidade de uva...... 17 5.5. Acompanhamento da mecanização da colheita da uva e dos vinhedos...... 18 5.6. Acompanhamento das áreas em produção, formação e implantação...... 21 5.7. Planejamento e administração agrícola...... 21 5.8. Supervisão de equipes...... 22 5.9. Outras atividades...... 22 6. CONCLUSÃO...... 25 7. ANÁLISE CRÍTICA DO ESTÁGIO...... 26 8. BIBLIOGRAFIA...... 28

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LISTA DE FIGURAS Página

1. Localização do município de Santana do Livramento...... 2 2. Localização da Região da Campanha...... 3 3. Vista dos vinhedos da Vinícola Almadén, S. do Livramento, RS...... 5 4. Organograma do quadro de funcionários...... 7 5. Podridão ácida...... 12 6. Podridão cinzenta da uva...... 13 7. Podridão da uva madura...... 14 8. Cryptoblabes...... 15 9. Spodoptera frugiperda...... 15 10 Colhedora mecânica Pellenc 3052...... 18 . 11 Colheita mecânica Almadén...... 20 . 12 Tratamento térmico de fungos com a TPC...... 23 .

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LISTA DE TABELAS Página

1. Castas de uvas viníferas da Vinícola Almadén...... 16

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1. INTRODUÇÃO

A produção de uvas na Região da Campanha representa uma grande possibilidade de diversificação da atividade agropecuária existente neste local há séculos. Os baixos lucros obtidos pela pecuária e pela rizicultura atualmente são alguns aspectos que poderiam influenciar os produtores a mudar de atividade. Mas apesar do grande retorno financeiro que a fruticultura pode proporcionar, poucos são os que ousam mudar. Alto investimento inicial, demanda de mão de obra qualificada e abundante, compra de insumos, entre outros fatores são responsáveis por essa resistência. A Vinícola Almadén significa mais do que a maior indústria do município de Sant’Ana do Livramento, mas também mostra que outra atividade rural é possível e rentável na região e representa o “ganha-pão” de mais de cem pessoas empregadas diretamente e mais algumas tantas indiretamente. A convivência com profissionais da área agronômica, de administradores, proprietários da empresa e trabalhadores do vinhedo, proporcionou uma vivência e uma experiência muito mais real do que as estudadas em sala de aula. Talvez os maiores desafios dos futuros agrônomos e dos futuros profissionais de todas as áreas são saber lidar com pessoas, encarar o dia-a-dia da profissão e seus desafios cotidianos. Este aprendizado não vem dos bancos de faculdade e é no estágio que pode-se ter contato com este mundo. Tudo o que foi citado acima, juntamente com o gosto pelos vinhos, e o fato de acreditar na atividade da vitivinicultura na Campanha fizeram com que eu procurasse a Vinícola Almadén para a realização do estágio. Pude comprovar que todas as minhas expectativas relativas a esta área de atuação foram contempladas. A realização do estágio se deu no município de Sant’ana do Livramento, nos vinhedos da Almadén, no período compreendido entre os dias 03 de janeiro e 15 de março de 2011, totalizando 410 horas. O objetivo principal foi vivenciar o trabalho de Engenheiro Agrônomo de uma grande empresa, familiarizando-me com as atividades que vão desde a

1 compra de implementos, passando pela contratação de funcionários, controle de pragas e doenças nas plantas, gerenciamento de pessoas, controle de custos, até a elaboração de vinhos e a sua degustação. A dinâmica de trabalho empresarial, onde as metas são buscadas e os custos são minuciosamente controlados também foram outras atividades observadas.

2. DESCRIÇÃO DO MEIO FÍSICO E SÓCIO-ECONÔMICO DA

REGIÃO DA REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

A região onde foi realizado o presente estágio é a Região da Campanha, composta pelos municípios de , Bagé, , , , Quaraí, Sant’Ana do Livramento, onde se localiza a empresa, e (Site do Vinho Brasileiro, 2011). É uma região fronteiriça, vizinha do Uruguai, próxima do início da faixa considerada ideal para a cultura de Vitis vinifera (entre os paralelos 30 e 50° Sul).

Figura 1. Localização do Município de Sant’Ana do Livramento - RS. (Wikipédia, 2011)

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Figura 2. Localização Região da Campanha - RS. (www.sitedovinhobrasileiro.com.br)

A região é de tradição pecuária e cultivo de arroz. Pode-se dizer que é recente a produção de uvas e vinhos na Campanha, com início na década de 70. Outras características regionais serão mais bem explicadas a seguir.

2.1. Caracterização do clima

O clima predominante na região da Campanha é o Cfa, segundo classificação de Koeppen. Convencionalmente é descrito como um clima subtropical úmido com verão quente. Ainda segundo esta classificação, as estações são bem definidas, sendo que a temperatura média do mês mais quente é maior do que 22°C e a do inverno fica compreendida entre -3 e 18°C. também diz-se que é um clima úmido, com precipitação todos os meses do ano e sem uma estação seca definida (adaptado de www.guianet.com.br/brasil/mapaclima, 1999). Para fins de classificação climática, convencionalmente, tal descrição é precisa. Porém, quem conhece e vive na região sabe que estes dados estão distantes da realidade. A ocorrência dos fenômenos de “El niño” e “La niña” são fundamentais no clima da Campanha. Atualmente, a “regra” é que em 70% dos anos a precipitação pluviométrica é menor do que a evapotranspiração das plantas no verão. Isto é, em cada dez anos verificam-se sete verões secos para apenas três chuvosos. Esta característica é de suma importância na maturação de uvas viníferas, já que confere às mesmas uma melhor maturação e uma condição desfavorável às doenças fúngicas que atacam as videiras, reduzindo a necessidade de aplicação de fungicidas nas épocas de seca. Na produção de

3 vinho, tais características, aliadas a grande amplitude térmica resultam em sabores frutados, muito valorizados para a qualidade do produto final.

2.2. Caracterização dos principais solos e relevo da Região

No município de Sant’Ana do Livramento, o relevo é suave ondulado a ondulado, ocorrendo a presença de , chamadas localmente de cerros, alternando com algumas áreas menos acidentadas onde o cultivo de arroz ocorre. Na região onde está inserida a Vinícola Almadén, próxima ao Cerro Palomas e a vila de mesmo nome percebe-se nitidamente a característica de relevo suave ondulado a ondulado. Os seus solos chamam atenção pelo alto teor de areia em algumas partes e a associação destes fatores (relevo e solo arenoso) resultam em uma alta suscetibilidade à erosão. As classes de solo predominantes nos vinhedos são os Argissolos eutrófico e distrófico, as associações de Neossolos litólicos com fase de relevo suave ondulado e ondulado e de Alissolo Crômico com Argissolo acinzentado. Todas as classes de solo citadas acima têm um teor de areia bastante elevados e baixa fertilidade natural (Flores et al, 2007). Para o cultivo de videiras não é um problema o alto teor de areia destes solos, mas especificamente na empresa em questão, este fator associado à forte insolação no período de verão, foi decisivo para a morte de plantas em áreas novas que estavam sendo implantadas. A incidência dos raios solares associada com as características de condução de calor da areia levou as plantas a serem literalmente “cozidas” e mortas por desidratação apesar da irrigação destas áreas que estava sendo realizada.

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Figura 3. Vista de vinhedos da Vinícola Almadén – Santana do Livramento RS. Fabrício Domingues, 2010. 2.3. Características e importância do agronegócio regional

A cidade de Sant’Ana do Livramento possui cerca de 80.000 habitantes, onde 90% destes vivem na área urbana. Possui uma significativa produção agropecuária, onde a tradição do município é a criação de gado. O seu rebanho é de mais de 550.000 cabeças de gado e a criação de ovinos também é um destaque regional, com mais de 400.000 animais (IBGE, 2009). A indústria tem baixa representatividade atualmente no município. O PIB gerado pela indústria é irrisório perto do setor agropecuário e o de serviços. A maior indústria do município é justamente a Almadén, onde há aproximadamente cem pessoas contratadas (IBGE, 2009). O setor de serviços é o de maior destaque no PIB do município, representando aproximadamente 70% do total produzido. A proximidade com um grande centro de compras, que é a cidade uruguaia de Rivera, juntamente com a maciça presença de comerciantes de origem libanesa, fez com que se alavancasse este setor de serviços, apesar de ter muito a melhorar (IBGE, 2009). Analisando as características anteriormente citadas, juntamente com o potencial que representa a vitivinicultura na Região e no município, pode-se dizer que ainda há muito a ser explorado nesta atividade. A Vinícola Almadén

5 foi a pioneira nesta atividade e está em constante evolução. Atualmente tem potencial para produzir seis milhões de quilos de uva por ano e fabricar aproximadamente 4,5 milhões de litros de vinhos finos. Na presente safra, foram produzidos aproximadamente quatro milhões de quilos de uva. O rendimento econômico de um hectare de uva é muito maior do que um hectare de criação animal, mas mesmo assim não fascina os produtores da região, de cultura e tradição pecuária. Muitos são os motivos que fazem com que eles continuem com seu sistema de produção tradicional, mas certamente o alto valor inicial de investimento é um dos principais. Talvez isto explique porque, apesar do alto potencial de produção de uvas, o município produza somente 7.713 toneladas, muito menos do que , por exemplo, que é um município muito menor do que Livramento e produz 68.400 toneladas (IBGE, 2009). A grande importância do agronegócio de produção de uvas é, portanto, o fator principal a ser salientado. Representa uma possibilidade de criação de empregos na região, de diversificação da produção, geração de renda para os trabalhadores e é uma atividade que associada às características locais, é muito atraente e bonita, podendo ser explorada com o turismo rural, já praticado de forma tímida no município.

3. DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE REALIZAÇÃO DO

ESTÁGIO: VINÍCOLA ALMADÉN

A Vinícola Almadén está situada no município de Sant’Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, na Região da Campanha. Possui uma área total de 1.200 ha, sendo que destes, 585 são de vinhedos. Está situada bem ao paralelo 31° Sul em uma altitude de 210 metros acima do nível do mar (DOMINGUES, 2010).

Tem como negócio a produção e comercialização de uvas e vinhos finos. Atualmente é uma empresa de capital totalmente nacional pertencendo desde 2009 a três empresas nacionais, dentre elas a Vinícola Miolo e tornou- se, assim, parte do Miolo Wine Group como uma das empresas “produtoras” do grupo (DOMINGUES, 2010).

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A empresa conta com um quadro de 106 funcionários efetivos e contrata anualmente funcionários temporários nas épocas de maior necessidade (poda, colheita, etc.). É considerada como uma empresa de médio porte e é a maior indústria do município onde está situada.

Figura 4. Organograma do quadro de funcionários. Fonte: Fabrício Domingues, 2010 De acordo com Fabrício Domingues (2010), a missão da empresa é a de ser reconhecida como a produtora brasileira de vinhos finos com a melhor relação custo-benefício (best buy), de maneira sustentável. Seus princípios são: valorização da tradição das famílias societárias, clientes e sócios satisfeitos, o lucro como meio de perpetuação, uma empresa orientada ao mercado de forma competitiva, o fornecedor como elo na cadeia de valor, as pessoas valorizadas e respeitadas, ter integração socioambiental, ética é questão de integridade e confiabilidade, imagem e marcas são patrimônio a preservar e a valorização da região onde a empresa está inserida com o desenvolvimento do enoturismo.

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4. ESTADO DA ARTE

A vitivinicultura é uma atividade agrícola muito antiga. Descobertas recentes mostram que na Armênia já se tinha conhecimento das técnicas de produção de vinho há mais de 6.000 anos atrás em escala industrial. Fatos como esse mostram a importância da atividade (Revista Adega, 2011). As videiras atuais têm sua origem na Groelândia, onde foram encontrados fósseis da Era Cenozóica, no Período Terciário (300.000 anos atrás). A partir daí, teria se dispersado e são três os centros de dispersão da planta: a Eurásia, a Ásia e a América (GIOVANNINI, 2008). A Eurásia é uma região de clima temperado árido, com verão quente e seco e inverno frio e úmido. É deste Centro que saíram as espécies mais cultivadas do mundo. E, comparativamente, pode-se dizer que o clima desta região assemelha-se muito com o da Vinícola Almadén, local de realização do estágio. A Vitis vinifera L. é a espécie mais difundida no mundo e é utilizada na elaboração de vinhos finos de mesa e passas. Produz frutos de excelente qualidade e proporciona fineza para os vinhos. Tem fácil enraizamento, mas é sensível à doenças fúngicas como míldio e oídio (Plasmopora viticola e Uncinula Necator), respectivamente. Algumas cultivares no Brasil apresentam também sensibilidade à Botrytis cinerea Pers., conhecida como podridão cinzenta, e Elsinoe ampelina, ou antracnose. Por causa de sua sensibilidade à filoxera, recomenda-se que se faça a sua propagação por enxertia (GIOVANNINI, 2008). Já na Ásia, onde o clima é temperado úmido, com verão quente e úmido e inverno frio e úmido, existem cerca de quinze espécies de uva que são pouco utilizadas. A saber, a espécie encontrada mais ao norte do continente é a Vitis amurensis Ruprecht, que produz bagas e cachos pequenos, tem alto vigor, é pouco sensível ao míldio, porém é altamente sensível à filoxera. Apresenta dificuldade de enraizamento e pode suportar temperaturas de até 40°C negativos, sendo importante para o melhoramento genético (GIOVANNINI, 2008). As uvas americanas encontradas desde o Canadá até a América Central têm várias espécies, cerca de trinta, e são adaptadas aos diferentes climas que ocorrem nesta parte do planeta. São três regiões climáticas americanas: clima

8 temperado árido, clima temperado úmido e clima tropical úmido. Na primeira região, destaca-se a Califórnia; na segunda, estão Canadá, Nova Iorque e o Centro Leste dos EUA; e na terceira, Flórida, México e América Central. Dentre as tantas espécies da região, pode-se destacar a Vitis labrusca L. que é cultivada no sul do Brasil, geralmente para a produção de sucos de qualidade e frutas de mesa. Apresenta fácil enraizamento e resistência à filoxera nas condições do Rio Grande do Sul. Também tem alta resistência ao oídio e à podridão cinzenta e modera resistência ao míldio. Esta grande variedade de espécies é benéfica também do ponto de vista gênico, pois a grande variabilidade genética juntamente com a resistência às doenças recorrentes na produção de Vitis vinifera no estado é de grande valia nos processos de melhoramento genético e na produção de porta enxertos de qualidade (GIOVANNINI, 2008). No Brasil, segundo Protas et al (2010), a primeira introdução de videiras foi realizada no ano de 1532 pelos colonizadores portugueses através de Martim Afonso de Souza, na capitania de São Vicente, atual Estado de . As cultivares de Vitis vinifera eram provenientes de e Espanha. A partir daí, a produção de uvas se espalhou pelo país e só foi entrar em decadência com o aparecimento de doenças fúngicas que apareceram com a entrada de uvas americanas da América do Norte. Pela sua resistência a estas doenças, a cultivar Isabel passou a ser produzida em diversas regiões do Brasil. No Rio Grande do Sul, a produção de uvas está fortemente ligada à colonização italiana. Com a chegada dos imigrantes, vieram a tradição no cultivo de uvas e o gosto pelo vinho, que era produzido inicialmente para consumo próprio. Com o aumento desta produção, foram gerados excedentes, que acabavam sendo comercializados, iniciando assim o comércio de vinhos de uvas americanas e tornando a vitivinicultura uma atividade econômica de importância para nosso Estado (DOMINGUES, 2010). Na sua visita ao Estado, no início do século XIX, o botânico francês Auguste Saint Hilaire esteve na região da Campanha gaúcha e relatou não haver, entre todos os locais por ele percorridos na América, um lugar onde as frutas européias se desenvolvessem tão bem como este. Apesar desta constatação, a região permaneceu inexplorada por muitos anos para a

9 produção de uva (DOMINGUES, 2010). Somente na década de 70, a Universidade de Davis, Califórnia, realizou em conjunto com a Universidade Federal de Santa Maria e com a Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, um estudo a fim de identificar a melhor zona para a produção de uvas viníferas européias. O resultado deste estudo indicou que as regiões da Campanha e da Serra do Sudeste são as melhores regiões do estado para a produção de Vitis vinifera, (adaptado do site do Miolo Wine Group). Atualmente as regiões mencionadas vêm aumentando a produção de uvas e fabricação de vinhos, apesar da cultura da região com ênfase na atividade pecuária. Grandes empresas e investidores de todo o país estão vendo na atividade uma grande oportunidade de negócio. São encontrados, fora de Sant’Ana do Livramento, município da realização do meu estágio, vinhedos em Candiota, Bagé, Uruguaiana, Quaraí, Dom Pedrito, entre outros municípios. A mudança de mentalidade que está ocorrendo na região é lenta e requer tempo para a adaptação, tanto dos proprietários como da mão de obra, mas já nota-se que se trata de um caminho sem volta.

5. ATIVIDADES REALIZADAS

O estágio foi realizado no período compreendido entre 03 de janeiro e 15 de março de 2011. Durante a realização do mesmo, sob a orientação do Engenheiro Agrônomo Fabrício Domingues, foram designadas algumas atividades que serão detalhadas a seguir.

5.1. Planejamento fitossanitário

Acompanhei, juntamente com os supervisores e com o Agrônomo da empresa, o planejamento fitossanitário dos vinhedos. De uma maneira geral, o planejamento é feito de forma a antecipar-se aos possíveis problemas das videiras que podem prejudicar a produção dos vinhos. Assim, problemas recorrentes na área são evitados a partir dos tratamentos. Em alguns casos, medidas de emergência também podem ser tomadas, como no caso da podridão ácida (leveduras imperfeitas e leveduras esporógenas), combatida após o surgimento dos sintomas.

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Exemplos destas doenças são o míldio, que é a principal dos vinhedos da Almadén, a podridão ácida, verificada principalmente em uvas brancas, como chenin blanc, por exemplo, também casos de Botrytis, Glomerella, entre outras. A seguir, mais detalhes das principais moléstias e pragas dos vinhedos.

5.1.1. Podridão ácida (EMBRAPA, 2011)

Causada por um conjunto de micro-organismos, como fungos, bactérias e leveduras presentes na superfície dos frutos e em frutos em decomposição, a podridão ácida ocorre onde há um teor de açúcar maior do que 8% nas uvas e o clima de altas temperaturas e umidade favorecem seu surgimento. No princípio de janeiro, quando algumas chuvas atingiram os vinhedos da Almadén, tínhamos exatamente estas características, já que quando paravam as chuvas, as temperaturas voltavam a se elevar. As bagas ficam com uma coloração marrom clara, escurecendo com o tempo. O suco que escorre das bagas atingidas espalha a doença para as suas vizinhas, que vão escurecendo. A mosca Drosophila melanogaster aparece e é responsável pela disseminação dos micro-organismos. Um forte cheiro avinagrado é característica da podridão ácida e era facilmente sentido na aproximação aos quadros que apresentaram estes problemas. Pode-se dizer que é uma doença recorrente nas mesmas variedades de uva na Almadén e que mesmo onde foi feita a poda verde, permitindo a circulação de ar no meio das plantas, verificou-se o problema, que era amenizado com a aplicação de cloro diluído em água, que possui um efeito de fechar as eventuais rachaduras na superfície das bagas.

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Figura 5. Podridão ácida. (Bruno Casamali, 2009). 5.1.2. Podridão cinzenta da uva (EMBRAPA, 2011)

A podridão cinzenta da uva é causada pelo fungo Botryotinia fuckeliana, forma conidiana Botrytis cinerea. É de grande importância na fabricação de vinhos, já que afeta seu sabor, cor e aroma. A alta umidade favorece o seu desenvolvimento e ele sobrevive às mais variadas temperaturas, podendo atacar até em câmaras frias. A capacidade de sobrevivência em restos culturais é de importância no seu combate e manejo. Ataca, principalmente, cultivares com cachos muito compactos, onde a água persiste no interior dos mesmos, aumentando sua umidade e favorecendo seu desenvolvimento. A aeração e insolação das plantas são fatores que minimizam a infestação e a aplicação de produtos cúpricos para tratamento do míldio ajudam a combater, já que enrijecem a película das bagas e tornando-as mais resistentes à penetração do fungo.

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Figura 6. Podridão cinzenta da uva. (EMBRAPA, 2003). 5.1.3. Podridão da uva madura (EMBRAPA, 2011)

A podridão da uva madura é causada pelo fungo Glomerella cingulata, forma conidial Colletotrichum gloeosporioides. É controlada pelo tratamento do míldio, mas causa perdas qualitativas e quantitativas da uva. Os seus sintomas são percebidos na uva madura ou já colhida, que são manchas circulares marrom avermelhadas na película das bagas, que depois escurecem todo o fruto. Altas temperaturas e umidades favorecem seu desenvolvimento e a sobrevivência em frutos mumificados faz com que seja desejável a retirada dos mesmos para evitar o problema futuramente.

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Figura 7. Podridão da uva madura. (EMBRAPA, 2003). 5.1.4. Pragas

Em relação aos insetos, o controle é feito por aplicação de inseticidas de acordo com a necessidade, que é verificada ou não através do uso de biocontrole. Os insetos mais prejudiciais que pude observar durante o meu estágio foram o Cryptoblabes e a Spodoptera. O primeiro, já conhecido dos produtores de uva, é a traça dos cachos. Na sua fase larval, a lagarta se aloja no cacho, entre as bagas, raspando epiderme das mesmas e do engaço, causando murchamento e queda das bagas. Próximo ao período da colheita, que foi o que eu pude observar, rompe a película das bagas, causando extravasamento do seu conteúdo e provocando danos secundários como a podridão ácida através dos fungos que se proliferam sobre este conteúdo que vazou e prejudica a produção de vinho (OLIVEIRA, 2006).

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Figura 8. Cryptoblabes. (EMBRAPA, 2003)

Figura 9. Spodoptera Frugiperda (Texas A&M University, 2011).

Em relação a Spodoptera, verificou-se a sua presença nesta safra. Ela provoca danos às folhas, por possuir hábito alimentar filófago. Segundo relatos Engenheiro Agrônomo Fabrício Domingues, não é comum nos vinhedos da empresa o surgimento e conseqüente dano destes insetos nas plantas.

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5.2. Planejamento de colheita

Os vinhedos da Almadén são divididos em quadros, que são dispostos por variedades. Ao todo são 27 castas de uvas viníferas. O planejamento da colheita leva em conta o teor de açúcar que a uva atingiu, o teor de acidez e o pH que se encontram os frutos.

VARIEDADE ÁREA TOTAL Riesling Itálico 45,80 Sauvignon Blanc 31,61 Chardonnay 33,74 St. Emilion 21,59 Moscato Branco 20,63 Semillon 17,87 Chenin Blanc 17,46 Gewurztraminer 13,54 French Colombard 12,77 Riesling Renano 11,09 Flora 2,94 Cabernet Sauvignon 127,83 Tannat 71,70 Merlot 71,42 Cabernet Franc 29,12 Pinotage 20,48 Alicante 5,39 Gamay Beaujolais 8,75 Napa Gamay 5,38 Petit Syrah 4,38 Moscato Hamburgo 2,96 Pinot Saint George 1,61 Tintureira 1,07 Ekigaina 0,35 Marselan 0,35 Ancelota 0,32 Arinarnoa 0,15 TOTAL (ha) 580,30 Tabela 1. Castas de uvas viníferas da Vinícola Almadén. Adaptado de Fabrício Domingues (2011). A partir desses dados, obtidos através da coleta de amostras de uvas dos diferentes quadros, são analisados outros fatores, como se há ocorrência de bagas apodrecendo, se as mesmas estão debulhando, a logística da colheita – proximidade da sede, se vale à pena se deslocar para o local do outro quadro por causa do horário, distâncias, entre outros –, abertura dos tanques de fermentação e condições climáticas.

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Como a realidade da vinícola é peculiar, em relação à tradição de viticultura do Estado, onde se tem uma grande área, todos estes aspectos devem ser analisados e as decisões também passam pelo bom senso do Engenheiro Agrônomo e dos supervisores. No auge do verão, por exemplo, deve-se analisar se os funcionários irão render no caso de hora extra ou se irão se desgastar demais a ponto de não vir para o trabalho no dia seguinte, já que o expediente começa às seis e doze da manhã. O bom senso dita o ritmo do trabalho juntamente com as questões técnicas.

5.3. Coleta de amostragens de uvas

Durante a colheita, fiz dezenas de coletas de amostras de uvas. Principalmente para avaliação de perdas. O número de amostras para avaliação de perdas dependia do número de equipes de colhedores. Em caso de ter-se cinco equipes, eram tiradas cinco amostras. Estas eram tiradas de moirão a moirão, dos dois lados da linha de plantio em cinco lugares diferentes. A uva que foi deixada na planta ou caída no chão era pesada sendo feito um cálculo extrapolando a área amostrada pela área total para ter-se uma idéia de quanto foi perdido em cada quadro. Em todos os quadros amostrados, tanto na colheita manual como na mecânica, que será destacada a seguir, não foram constatadas perdas significativas da colheita do ponto de vista econômico.

5.4. Análise de perdas e qualidade da uva

As observações feitas em relação às perdas na colheita e à qualidade das uvas foram feitas juntamente com os supervisores e o Engenheiro Agrônomo da empresa e, em alguns casos, com os funcionários. Constituíam na observação do que foi perdido na planta e no chão a campo, para a análise das perdas. Quanto à qualidade, fazia-se observações a campo, analisando os insetos que estavam causando dano, os fungos ou doenças que estavam atacando, entre outros aspectos agronômicos. Todas as análises laboratoriais eram feitas dentro da própria empresa por uma equipe contratada para tal. Além das determinações de acidez, pH e graus brix, o laboratório é responsável pelas análises de qualidade do vinho, da 17 qualidade da água que é devolvida ao ambiente, controles de qualidade, entre outras.

5.5. Acompanhamento da mecanização da colheita da uva e dos vinhedos

A Almadén adquiriu uma colhedora de uvas francesa, da marca Pellenc, modelo 3052, com capacidade de 2.000 litros. A colheita da safra 2011 foi a primeira mecanizada do Brasil.

Figura 10. Colhedora mecânica Pellenc 3052 (Fabrício Domingues, 2011). O modo de operação da máquina é da seguinte maneira. Ela possui um sistema de dez braços, que tem a função de sacudir as plantas. À medida que vão sacudindo, as bagas vão caindo e simultaneamente, duas turbinas, uma de cada lado, sugam as bagas que a máquina debulhou. Os restos de planta, folhas, sujeiras e outras partículas são descartadas pela parte de trás do implemento.

A colhedora é engatada nos três pontos do trator, onde possui uma central para abastecimento, já que é tracionada, e uma barra de metal que a

18 desloca toda para um lado, a fim de ficar na diagonal do trator e poder passar por cima da linha de plantio. O trator desloca-se na entrelinha puxando o implemento. Nem todos os quadros foram colhidos mecanicamente. Diversas variáveis precisam estar acertadas para que a máquina consiga colher. Por exemplo, o relevo muito acidentado de algumas partes do vinhedo impede que o trator consiga manobrar com o implemento, por outro lado o trator pode perder força nas partes mais íngremes, aumentando assim as perdas. A variedade de uva, o estádio fenológico da mesma, os tipos de condução implantado no vinhedo, entre outros fatores, influenciam na tomada de decisão para a mecanização da colheita. Uvas com característica de fácil debulha não devem ser colhidas mecanicamente, pois o movimento que a colhedora causa na planta faz com que haja muita perda de bagas de uva na frente da máquina. Uvas em avançada maturação também não devem ser colhidas com máquina pelo mesmo motivo mencionado acima. No que diz respeito ao tipo de condução, observa-se que quadros antigos possuem características que dificultam a mecanização e podem ocorrer danos às plantas no passar da máquina, como quebra de esporões, quebra de ramas ou, em casos extremos, arranquio da planta inteira. Para que não ocorram estes problemas, as novas áreas implantadas estão sendo conduzidas de maneira verticalizada, ou seja, as plantas são conduzidas de forma que estejam o mais “em pé” possível para que no momento da passada da colhedora não sejam danificadas. Plantas muito baixas também dificultam a colheita mecânica, já que a máquina não detecta os cachos que estiverem muito próximos ao chão. Todas estas variáveis foram previamente analisadas e o planejamento da colheita mecanizada foi feito com base nestas características. A colheita mecanizada, apesar de estar em fase de implantação, pode ser considerada exitosa. O tempo que se leva para colher mecanicamente é muito menor do que o tempo de colheita manual, o uso da máquina permite colher a uva no período noturno, o que confere uma característica frutada no vinho, economiza-se mão de obra contratada, apesar de que não houve redução no número de contratações na presente safra. O custo benefício da colheita mecânica foi considerado muito bom.

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A foto a seguir ilustra melhor os detalhes da máquina.

Figura 11. Foto da colheita mecânica Almadén (Fabrício Domingues, 2011). 5.6. Acompanhamento das áreas em produção, formação e implantação

Acompanhei os processos que ocorrem, tanto em áreas que já estão em produção, como em áreas em formação e em implantação, com todas suas particularidades e exigências. Nas áreas em produção, pude observar que áreas muito antigas estão com a produtividade mais baixa, caindo a cada ano. Como trata-se de uma empresa, que busca o lucro como meio de perpetuação, estas áreas são problemáticas. Para isto, algumas delas serão abandonadas, ou seja, não se fará mais nenhum tratamento e elas deixarão de ser cuidadas e serão arrancadas para uma futura implementação de área nova. Para compensar estas perdas, estão sendo implantadas áreas novas. Algumas já foram iniciadas no ano passado, mas a grande maioria das mudas e dos enxertos não vingaram por causa da seca que assolou o município. Para solucionar o problema, foi feita a irrigação destas áreas com uma sonda, mas os calores juntamente com a condutividade térmica da areia do solo acabaram

20 por “torrar” as mudas, causando prejuízo para a empresa e quebrando o planejamento de implantação destas áreas novas. A contagem de mudas falhadas, porta-enxertos e enxertos foi feita por mim durante o mês de janeiro. A implantação de novas áreas neste ano foram adiadas para depois que se recuperem estas do ano passado.

5.7. Planejamento e administração agrícola

Esta foi uma atividade que observei mais do que efetivamente participei. Acompanhando o Engenheiro Agrônomo da Almadén em suas atividades pude ter uma noção da sua rotina e atribuições. Entre as atividades observadas estão a compra de insumos, agrotóxicos, ferramentas, outros materiais de uso no campo pelos empregados, solicitações de consertos, convivência dentro de uma empresa com os outros setores, seleção e contratação de funcionários, planejamento de atividades como tipo de manejo a ser realizado no vinhedo, escolha de prioridades na realização de tarefas, resolução de problemas das mais diversas naturezas e até dispensa de funcionários. E, como trata-se de uma empresa, em tudo que se fazia também tinha o controle de custos e de tudo que era utilizado. Todos os insumos, materiais, EPI’s, ou qualquer coisa que se retire dos estoques passa por controle de entrada e saída para que se preste conta, tanto do que foi aplicado, como de quanto foi gasto.

5.8. Supervisão de equipes

Durante a colheita, são contratados os safristas e estes são separados em equipes. Cada equipe fica a cargo de um supervisor de vinhedo ou de um funcionário efetivo que tem por missão controlar a qualidade da colheita, tirar dúvidas dos colhedores, disciplinar os mesmos, anotar o número de caixas colhidas, já que paga-se um adicional pela produtividade, entre outras tarefas diversas. Pode-se dizer que tudo o que ocorre no vinhedo durante a colheita é de responsabilidade dos supervisores e funcionários efetivos que controlam a colheita. Estes se reportam ao Engenheiro Agrônomo, hierarquicamente acima.

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Durante a safra, por diversas vezes, assumi as turmas dos supervisores quando solicitado, assumindo junto todas as responsabilidades que a função exigia. Sempre que alguém precisava faltar ou realizar alguma atividade de escritório, eu era solicitado a assumir a sua turma.

5.9. Outras atividades

Muitas outras atribuições me foram dadas durante estes dias de estágio. Atividades de escritório, identificação de castas de uva de mesa da coleção, ajudei a organizar o galpão de máquinas onde os safristas iriam fazer as refeições, acompanhei a utilização da TPC e acompanhamento da vinificação. A TPC, que vem do inglês Thermal Pest Control, é um implemento que como diz o nome, faz controle de fungos sem utilizar agrotóxicos, através de tratamento térmico. A máquina funciona a gás GLP e direciona para as folhas o ar aquecido por uma chama, que reduz bastante as doenças fúngicas da videira. Este quadro tratado com a TPC foi colhido manualmente somente por funcionários mais antigos da empresa e foi feito um vinho especial (Tannat Reserva) onde as bagas foram selecionadas manualmente e o vinho está sendo feito da maneira antiga, onde todos os processos são manuais. As garrafas serão numeradas e o vinho envelhecido em barris de carvalho (Sistema Lazo TPC, 2011).

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Figura 12. Tratamento térmico de fungos com a TPC. Vinícola Almadén (Fabrício Domingues, 2010). Pude observar todos os processos da vinificação na adega, desde a chegada das gôndolas cheias de uva dos vinhedos, passando pelo descarregamento, passagem pela desengaçadora, prensa, tanques de decantação e fermentação. A única parte do processo que não acompanhei foi o engarrafamento. Também tive a oportunidade de degustar todos os vinhos produzidos na vinícola. Outras atividades gerais realizadas foram auxiliar no ajuste de implementos, conversas com funcionários, entre outras. Também é importante salientar que todas as atividades eram realizadas na empresa de forma segura, a fim de se evitar acidentes. Para tanto, eram disponibilizados EPI’s (protetor solar, chapéu, perneiras, óculos de sol, botinas) para todos os funcionários do vinhedo e todos os safristas. Ainda, no sentido de evitar acidentes, somente pessoas com treinamento e com curso podiam operar qualquer tipo de máquina ou trator.

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6. CONCLUSÃO

O estágio é uma atividade muito importante para o currículo da Agronomia, fundamental para a formação dos Engenheiros Agrônomos. Ele permitiu a mim ter uma vivência do mercado de trabalho e sair um pouco da teoria, mergulhando na prática da profissão. Outro aspecto a salientar foi a vivência em um ambiente empresarial, onde além da produção, tive que lidar com números, metas a serem atingidas, custos, admissões e dispensas de funcionários, organização e logística. Como na Faculdade temos apenas pequenas noções destas atividades, o estágio veio a preencher esta lacuna. Os objetivos por mim traçados foram atingidos na sua totalidade, mostrando bem a realidade do Engenheiro Agrônomo em uma grande empresa. Pude aprender bastante sobre tratos culturais do cultivo da videira, planejamento de colheita, gestão de funcionários, mecanização dos vinhedos e as etapas da produção de vinhos, desde o início da implantação dos vinhedos até o engarrafamento do vinho. Também pude exercer a profissão de Engenheiro Agrônomo, auxiliando os funcionários no campo, esclarecendo dúvidas quanto ao manejo das plantas, entre outras coisas. E as minhas expectativas em relação à diversificação de produção da Campanha foram todas confirmadas. Realmente há uma necessidade de investimento inicial alto, mas estes se pagam dentro de poucos anos. Enfim, posso dizer que foi muito proveitoso o tempo em que estive trabalhando na Almadén.

7. ANÁLISE CRÍTICA DO ESTÁGIO

A empresa realmente abriu as portas para mim. Todos foram muito acessíveis, bem dispostos e compreensivos com a minha condição de estagiário. Apesar disto, me foram atribuídas muitas responsabilidades na empresa, por exemplo, na avaliação de perdas na colheita, onde estes números são levados aos proprietários da empresa, na análise das áreas novas, que são decisivas para os investimentos do próximo ano, como a implantação de irrigação nestes novos quadros, na avaliação dos safristas, que

24 terão peso na sua contratação efetiva ou até no próximo ano e no controle dos funcionários durante a colheita, onde eu ficava responsável por mais de vinte funcionários por dia. Também acho importante salientar que a empresa dá todas as condições de trabalho tanto para o estagiário como para os funcionários contratados, no sentido de fornecer transporte da cidade até a fábrica (aproximadamente vinte quilômetros) de ida e volta ao final do expediente, também fornece duas refeições diárias aos funcionários e em dias de hora extra na colheita, há um lanche adicional no final da tarde. Todos estes benefícios não são deduzidos da folha salarial dos empregados. A convivência com os demais funcionários da empresa foi muito boa e todos estavam sempre dispostos a esclarecer possíveis dúvidas. Pelo fato de estar estagiando no vinhedo, tanto o Engenheiro Agrônomo, Fabrício Domingues, como os cinco supervisores foram totalmente acessíveis, respondendo perguntas e ensinando-me o que precisava saber no vinhedo. Como aspecto negativo, o cotidiano de uma empresa traz muita burocracia, pois todos os processos de retirada de insumos, compra de material, horas trabalhadas, atividades realizadas no vinhedo, gastos de energia, de água, entre outros, devem, necessariamente, ser colocados no papel e estes dados são analisados pela gerência da empresa. Do ponto de vista da produção de uvas na Campanha, o grande problema, apesar das condições favoráveis de solo e clima, é a falta de mão de obra. É muito difícil conseguir bons funcionários para trabalhar na empresa. O crescimento deste setor no município está agravando este problema, já que todos os funcionários com experiência e vontade já estão contratados. Talvez a falta de mão de obra qualificada para a atividade se explique pela vocação pecuária da região, que faz com que todos os que chegam até a Almadén tenham somente experiência com criação de gado e de eqüinos. O curto período para a realização do estágio é um ponto negativo, já que no verão a colheita toma todo o tempo de trabalho e as outras fases importantes do ciclo de produção (condução, poda, desponte, tratamentos, etc.) não puderam ser acompanhadas.

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