O BARÃO DE CAXIAS E A GUERRA CONTRA OS FARRAPOS: SUAS OPERAÇÕES MILITARES E ORGANIZAÇÃO DO EXÉRCITO NA PROVÍNCIA DO

Jeferson dos Santos Mendes Mestrando em História - PGGH-UPF

Escrever sobre Caxias é ao mesmo tempo entrar em um terreno movediço, pois o patrono do exército brasileiro é sem dúvida alguma a figura mais lembrada quando se refere a movimentos e rebeliões provinciais no século XIX. Ainda de ser uma das figuras que mais livros, ruas, avenidas tem em seu nome. A quantidade de bibliografias escritas a respeito de Caxias é vasta e ao mesmo tempo delicada de ser analisada, por ser uma historiografia laudatória que expõe o patrono do exército brasileiro e na grande maioria das vezes ser escrita por militares. Essas bibliografias glorificam Caxias e expõe o patrono, esse culto iniciado em 1923, devido à biografia de Caxias de 1878, escrita por Joaquim Pinto de Campos que em 1936, foi distribuída gratuitamente para todo o exército brasileiro, e isso “fez dela a história que deveria ser contada a outras gerações” (SOUZA, 2008, p. 33-34). Luiz Alves de Lima e Silva o Caxias, debelou quatro revoltas no Brasil imperial além de participar de outras campanhas militares. De berço militar português, possuía em sua bagagem 7 anos como comandante das Guardas Nacionais do Rio de Janeiro. Professor de esgrima de D. Pedro, Caxias cresceu nos moldes conservadores da política brasileira. Sendo o trigésimo presidente do Rio Grande do Sul, o décimo oitavo do período farroupilha, Caxias foi nomeado em 28 de setembro de 1842, sendo empossado a 9 de novembro do mesmo ano. Logo que tomou posse do comando das armas e da presidência da província, Caxias buscou fazer o reconhecimento dos pontos ocupados pelos imperiais. Em 10 dias Caxias visitou o hospital militar, o depósito de guerra, percorreu todo o entrincheiramento, passando revista nos batalhões imperiais instalados em São José do

Norte, e as que estavam estacionadas em São Gonçalo, 1 Caxias contava com 11.549 praças, sendo que 4.549 guarneciam as cidades ocupadas, o principal núcleo era São Lourenço, 2 os outros 7.000 homens foram divididos primeiramente em três grandes divisões, 3 a primeira divisão comandada pelo brigadeiro Felipe Néri de Oliveira, a segunda divisão ficou a cargo do coronel Jacinto Pinto de Araújo Correia e a terceira seria comandada por João da Silva Tavares. 4 Tudo isso mudaria após o assalto a São Gabriel, onde Caxias deixou de utilizar três divisões para formar apenas duas, uma comandada por ele e a outra por Bento Manuel Ribeiro. Enquanto isso os farroupilhas rio-grandenses estavam sob o comando de Antônio de Souza Neto, que dividiu em colunas as ordens dos generais Bento Gonçalves da Silva e João Antônio da Silveira e dos coronéis Onofre Pires da Silveira Canto, David Canabarro e Jacinto Guedes da Luz. 5 No dia 16 de novembro de 1842, Caxias enviou uma relação de oficiais para a Corte na grande maioria com casos de “má conduta”, muitos desses tenentes, capitães e alferes. 6 Caxias um conservador monarquista que desde o nascimento foi moldado pela política e pelos costumes da Corte tinha que “civilizar” seus próprios soldados onde à honra e o dever era servir aos desígnios do Império representado pelo Imperador. Em ofício a José Clemente Pereira, Ministro e Secretário dos Negócios do Império, Caxias informou que a colônia de São Leopoldo poderia tirar uma força de 500 homens, todos bons soldados, aptos para lidar com cavalo. Em 10 de dezembro quando se dirigiu à colônia percebeu o grande número de rapazes “fortes e robustos” que poderiam servir ao Império se recebessem o reconhecimento de cidadãos brasileiros. A colônia de São Leopoldo que existia há 18 anos poderia gerar ao Império 500 soldados. 7

1 CV-6292, CV-6295, CAXIAS, Barão de. Guerra dos Farrapos, ordens do dia do Gen. Barão de Caxias. 1842-1845. Rio de Janeiro: s.ed., 1945, Ord. nº 3. 2 PEIXOTO, Paulo Matos. Caxias . Nume Tutelar da Nacionalidade. Rio de Janeiro: Edico, 1973, v.1, p. 126. 3 S / A, Reflexões sobre o generalato do Conde de Caxias. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938, p. 27. 4 CAXIAS, Barão de. Guerra dos Farrapos, ordens do dia do Gen. Barão de Caxias. 1842-1845. Rio de Janeiro: s.ed.,1945, Ord. nº 19. 5 JACQUES, Paulino. Dois gigantes do civismo brasileiro: Luis Alves de Lima e Silva [e] Antônio de Castro Alves. [prefácio de Humberto Grande]. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 30. 6 APBC – NDH – UPF, 16-11-1842. 7 APBC – NDH – UPF, 13-12-1842 (1-2).

Os farroupilhas também haviam tentado ganhar a simpatia dos colonos de São Leopoldo, e utilizavam como meio para empregar homens ao seu comando dos decretos, por não possuírem uma Constituição. O decreto de 10 de agosto de 1842 alegava que todos os cidadãos deveriam armar-se contra o Império, no artigo 1º decretava que “todos os cidadãos rio-grandenses de idade de quatorze até cinqüenta anos, inclusive os oficiais demitidos, e reformados são obrigados a defender a pátria, sacrificando a sua vida, pessoa, e bens, [...]”. Os Juízes de Paz deveriam fazer o recrutamento, junto com os chefes de polícia e comandantes de polícia. Também seriam considerados traidores da pátria, os indivíduos que prestassem auxílio às tropas imperiais, os que aceitassem emprego ou comissão, os que recebessem anistia imperial. 8 Canabarro ao referir-se ao recrutamento identifica que os imperiais “lançam mão até dos menores de idade”, os farroupilhas não identificavam idade, cor, segmento social, mas que sendo morador do território do Rio Grande do Sul o indivíduo teria obrigação de prestar serviços ao exército. 9 Porém,

Os principais centros urbanos da época – , Rio Grande, , São José do Norte – não apenas deixaram de apoiá-los como lhes foram francamente hostis, tomando as armas ao lado do Império. A Serra e as Missões mantiveram no todo uma atitude de neutralidade que favorecia o Império. Os colonos alemães de São Leopoldo participaram da luta para a expulsão dos farrapos da cidade de Porto Alegre, e depois asseguraram o abastecimento das forças legais. A rebelião, em rigor, apenas prosperou na região da Campanha, notadamente na parte mais próxima da fronteira com o Estado Oriental (FREITAS, 1997, p. 117).

Tanto os farroupilhas quanto os imperiais colocavam a população em uma saia justa, pois a Constituição de 1824 determinava que em caso de guerra, “todos os brasileiros são obrigados a pegar em armas para sustentar [...] o Império, e defendê-lo de seus inimigos externos, ou internos”. 10 No caso específico os inimigos eram internos, porém sendo que os farroupilhas decretaram independência o inimigo passou a ser externo e os cidadãos rio-grandenses deveriam obedecer às leis despóticas da nova república.

8 CV – 6277. 9 CV – 3410. 10 Constituição de 1824, art. 145.

Se houvesse o apoio da população rio-grandense os farroupilhas não precisariam forçadamente dispor em seus efetivos de pessoas comuns, dessa forma, não haveria a necessidade de recrutamento se os rebeldes fossem apoiados pela população. Logicamente, que não sendo esse o resultado, desenvolveram um sistema de recrutamento um tanto ambíguo onde o comandante era o responsável pelo recrutamento. 11 Os farroupilhas em seu apogeu contaram com no máximo 3.500 homens, entre eles índios, escravos, indivíduos de 14 a 50 anos que eram forçados a servir no exército farroupilha, porém nem todos os rio-grandenses foram farroupilhas, 12 e apoiaram o movimento sedicioso. Além de que “O grosso dos efetivos farrapos se compôs de peões e agregados das estâncias, ou de aventureiros uruguaios atraídos pelas possibilidades de saque” (FREITAS, 1997, p. 117). Em uma tentativa desesperada para atrair os colonos de São Leopoldo e mesmo manter os que estavam nas fileiras farroupilhas, o ministro Domingos José de Almeida, baixou o decreto de 18 de dezembro de 1840, que considerava os colonos como cidadãos da dita república, além de terem reconhecidos direitos civis e políticos, porém mesmo os farroupilhas tentando esse acesso aos colonos a grande maioria se mantinha fiel ao império, a grande maioria eram recrutados pelos farroupilhas voltavam para casa em sinal se insatisfação com as ações farroupilhas e mesmo com as suas intensão de estabelecimento de um separatismo com o império brasileiro. 13

Eram essas as dificuldades as quais poderiam estar sujeitas as tropas que atuaram na Província durante a Guerra dos Farrapos: longas e constantes marchas, falta de fardamentos adequado, carência de alimentos, armamentos e munição, sem esquecermos dos pagamentos irregulares. A Guerra perdurou efetivamente por quase uma década, e muitos homens participaram dos combates travados sem que, por vezes, tivessem grande parte dos recursos materiais para fazer diante das situações em que se encontravam (RIBEIRO, 2005, p. 278).

11 LEITMAN, Spencer L. NEGROS FARRAPOS: Hipocrisia racial no sul do Brasil no séc. XIX. In: PESAVENTO, Sandra J.; DACANAL, José Hildebrando. A Revolução Farroupilha: História e interpretação. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997, p. 66. 12 PICCOLO, Helga Iracema Landgraf. Vida política no século 19: da descolonização ao movimento republicano, 2. ed. Porto Alegre: Ed da Universidade/ Ufrgs, 1992, p. 38. 13 FLORES, Hilda Agnes Hübner. Alemães na Guerra dos Farrapos . Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008, p. 54-55.

Ao invés de buscar a atenção e o apoio da população pela força como faziam os farroupilhas, Caxias buscava a necessidade, enquanto Saturnino de Souza e Oliveira requisitava a compra de panos, bata e brim para o fardamento da Guarda Nacional de Cavalaria, Caxias contrariando o que fez Saturnino queria fazer no próprio Rio Grande o fardamento, já que grande parte dos objetos fabricados eram do agrado da tropa imperial, como no caso dos ponchos usados redondos e com golas. 14 O pano deveria ser remetido da Corte. Os ponchos enviados da Corte eram de má qualidade sendo na maioria das vezes de valor mais alto do que o valor pago na província. 15 Era muito delicado o momento que se encontrava o exército imperial no Rio Grande do Sul, há 14 meses que não ocorria nenhum tipo de conflito e qualquer tipo de movimentação. Caxias era o 13º presidente o oitavo no período farroupilha. Todas as administrações anteriores haviam fracassado ao tentar qualquer tipo de contato com os rebeldes rio-grandenses. Estes possuíam um exército de 3.500 homens, 4 vezes menor que o exército imperial, porém se movimentavam com mais facilidade por conhecer os principais desvios da província e a qualquer tentativa de ataque imperial seguiam para o Estado Oriental onde recebiam proteção de Rivera. E, esse apoio ao movimento separatista rio-grandense era o grande perigo para o Império brasileiro. 16 Com Caxias quebrado com péssimos recursos e ainda para ajudar com as cavalhadas em péssimo estado. Caxias sabia que os recursos disponíveis no Prata estavam a favor dos farroupilhas, pelos contatos que estes mantinham com os governos, além de posses do lado platino, Bento Gonçalves possuía terras no Uruguai assim como Neto e Canabarro. O que existia entre os farroupilhas e os platinos era quase uma relação familiar. Caxias procurou fechar os espaços dos farroupilhas, articulando de todas as maneiras uma política de conciliação com os governos platinos, mesmo que havia a dificuldade de contar com esses governos pelo fato dos platinos possuírem contatos diretos com os farroupilhas. Caxias nada conseguiria fazer se não tivesse bastante homem e cavalhada. 17

14 APBC – NDH – UPF, 23-01-1843 (1-2). 15 APBC – NDH – UPF, 02-05-1843. 16 LEITMAN, Spencer. Raízes sócio-econômicas da Guerra dos Farrapos . Rio de Janeiro: Graal, 1979, p. 35. 17 Jornal, Estrela do Sul , 15 mar, 1843.

Os farroupilhas comercializavam com os platinos os recursos possíveis, além de artigos bélicos, utensílios domésticos, até mesmo o papel para a imprensa provinha da Argentina e do Uruguai. 18 Dessa forma os farroupilhas e os platinos estabeleceram tratados econômicos que valeriam o estabelecimento mútuo na questão do comércio, armamento e montaria para cavalaria. Caxias sabia que o Prata era o laboratório dos caudilhos. Por isso todo o cuidado era necessário. Em 18 de fevereiro de 1843, Bento Gonçalves da Silva não demonstrava preocupação quanto à cavalhada, pois “não nos faltará”, e, que deveria deixar ela pronta para uma ocasião necessária para ser empregada. Quanto ao “inimigo” os farroupilhas deveriam fazer todo o possível para que “ele fique sem esse recurso” a fim de que os imperiais fiquem apenas como entende Bento Gonçalves “deixá-los só senhores do terreno que pisarem”, os farroupilhas tinham conhecimento de como os líderes platinos estavam de cavalos, sendo informado a Bento que Rivera estava bem montado de cavalhadas, porém Oribe que estava articulando tratações com os imperiais estava mal de cavalos. 19 Assim como havia feito em outras províncias, Caxias buscava trazer para o seu lado os rebeldes mais astutos, como fez em Minas, São Paulo, porém no Rio Grande do Sul isso lhe era facilitado, pois Bento Manuel Ribeiro desde o início do conflito foi muito disputado tanto pelas forças imperiais como pelas forças farroupilhas, e era de “frágil idealismo”, 20 o que facilitava ainda mais a adesão a causa imperial. Bento Manoel Ribeiro comandou sempre numa versatilidade quase incompreensível. 21 Ora do lado imperial, ora do lado rebelde. Caxias soube aproveitar disso tanto que no dia 19 de fevereiro de 1843 em São Gonçalo declarou efetivamente a participação de Bento Manuel no Estado Maior. 22 Antes de chegar à província, Caxias havia recebido ordens do Imperador para que não empregasse em nenhum comando das forças imperiais o brigadeiro Bento

18 CESAR, Guilhermino. O contrabando no sul do Brasil. , Universidade de Caxias do Sul; Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1978, p. 58. 19 BGS – 334. 20 JACQUES, Paulino. Dois gigantes do civismo brasileiro: Luis Alves de Lima e Silva [e] Antônio de Castro Alves. [prefácio de Humberto Grande]. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 30. 21 FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre Sitiada (1836-1840): um capítulo da Revolução Farroupilha. Porto Alegre: Sulina, 2000, p. 21. 22 CAXIAS, Barão de. Guerra dos Farrapos, ordens do dia do Gen. Barão de Caxias. 1842-1845. Rio de Janeiro: s.ed.,1945, Ord. nº 22.

Manuel Ribeiro, até porque grande parte dos chefes das Cavalarias imperiais não eram favoráveis a presença do brigadeiro dentro das forças imperiais, mas “com as maneiras persuasivas” como o próprio Caxias cita que estava empregando isso acabaria. 23 A tática de Caxias para sufocar os movimentos era criar dentro do círculo rebelde desconfiança, dessa forma mantinha contatos próximos com os mais influentes e astutos rebeldes. Isso será novamente utilizado por Caxias no final do conflito com Bento Gonçalves, Antônio de Souza Neto e David Canabarro. Caxias ganhou de duas formas com o comando de Bento Manuel, pois assim como Bento Gonçalves, Bento Manuel tinha conhecimento e mantinha relações com os caudilhos platinos o que facilitava a compra de cavalhada além de Bento Manuel ser um exímio estrategista. A manobra dos farroupilhas era sempre pela fronteira, buscando articular os contatos com os governos platinos para que Caxias conseguisse impedir esse contato teria de colocar as forças imperiais no meio dos dois grupos, tendo de abandonar a província do Rio Grande do Sul e imigrar para o Estado Oriental, e era isso que os farroupilhas queriam que fizesse, assim daria tempo para que contra-marchassem e atacassem as povoações ocupadas pelas forças imperiais. 24 Quando Caxias tentou tal manobra resultou no assalto a São Gabriel onde Caxias seguiu até a fronteira atrás dos farroupilhas que retornaram por outro caminho e atacaram São Gabriel. Após o descuido do coronel Jacinto Pinto de Araújo Correia comandante da 2ª Divisão, Caxias nomeou um Conselho de Investigação para servir de base para um Conselho de Guerra por entender como criminosa a conduta do coronel. 25 Jacinto Pinto foi afastado do comando das forças imperiais, Caxias então reorganizou o exército imperial que antes era formado por três divisões agora seria formado por apenas duas uma comandada por ele e a outra por Bento Manuel Ribeiro. O barão do Quartel General nos Pontos de em ofício a Salvador José Maciel explicou que o exército no Rio Grande do Sul estava dividido em 16 Corpos de 1º Linha, 12 da Guarda Nacional e 3 Esquadrões da mesma Guarda, somando ao todo 31 Corpos, além de hospitais em Porto Alegre, Rio Grande e Rio Pardo. 26

23 APBC – NDH – UPF, 22-02-1843. 24 APBC – NDH – UPF, 21-04-1843. 25 APBC – NDH – UPF, 20-04-1843. 26 APBC – NDH – UPF, 17-05-1843.

Caxias sabia do conhecimento que possuía Bento Manuel tanto do território quanto da mobilidade dos farroupilhas, pois esteve do lado do grupo rebelde quando sitiaram Porto Alegre. Caxias via em David Canabarro o grande articulador do movimento, então ordenou ao brigadeiro Bento Manoel Ribeiro que passasse o rio Santa Maria no Passo do Rosário e perseguisse Canabarro, Boa-Ventura e Guedes, que vagavam pelo município de para juntarem com o exército farroupilha em Bagé. Para não decepcionar Caxias e o cargo que recebeu Bento Manuel buscava fazer das ordens de Caxias uma obrigação capital. Para acelerar a perseguição a Canabarro deixou o coronel Francisco de Arruda Câmara com o 9º Batalhão de Caçadores e 8º Corpo de Cavalaria no Serro de Vacaguá, com 700 combatentes, 27 guardando a bagagem pesada da Divisão. Enquanto isso Caxias se organizava em três colunas que deveriam marchar em linha fechando os espaços de movimentação dos farroupilhas, Bento Manuel deveria seguir de até Alegrete com 3.200 homens, Moringue se moveria por Piratini e Canguçu e cobriria São Gonçalo, Rio Grande, sempre observando Jaguarão com 500 homens de cavalaria e 500 homens de infantaria, enquanto Caxias se moveria pelo centro das duas colunas, entre São Gabriel e Bagé com 2.000 homens, com a intensão de servir de apoio e prevenir qualquer ataque surpresa farroupilha. 28 Depois da derrota em Ponche Verde os farroupilhas se dividiram em 3 colunas, uma sob o comando de Bento Gonçalves da Silva e João Antônio da Silveira com 800 homens, 29 que se encontrava nas proximidades de Bagé. Com 600 homens, 30 os farroupilhas buscavam entreter o exército imperial impossibilitado de se mover por causa de seu peso e pelo mau estado dos cavalos, enquanto que 200 homens bem montados deviam entrar pela província oriental e voltando por Santa Tereza arrebatar pela retaguarda os 4.000 cavalos imperiais que se achavam no Rincão dos Touros. Caxias sabendo do plano dos farroupilhas e do risco que corria mandou 1.000 praças de

27 CAXIAS, Barão de. Guerra dos Farrapos, ordens do dia do Gen. Barão de Caxias. 1842-1845. Rio de Janeiro: s.ed., 1945, Ord. nº 51. 28 S / A, Reflexões sobre o generalato do Conde de Caxias. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938, p. 88. 29 APBC – NDH – UPF, 16-07-1843 (2). 30 APBC – NDH – UPF, 13-07-1843 (1).

Cavalaria e Infantaria diretamente ao Rincão dos Touros 31 para proteger os 4.000 cavalos que lá estavam estacionados. As outras duas colunas farroupilhas comandadas por Canabarro contra- marcharam para Alegrete para atacar o coronel Arruda com 530 praças guarnecendo a artilharia e mais trens de guerra tomados dos farroupilhas em Pai-Passo. Quando Canabarro chegou nas proximidades de Alegrete pôs em sítio o coronel Arruda, 32 e após constantes tiroteios, em que os farroupilhas eram repelidos, antes que chegasse reforço Canabarro tentou uma concessão com o coronel Arruda através de uma intimação, que não foi aceita pelo coronel imperial. 33 Canabarro não empreendeu nenhum combate decisivo pelo espaço de 5 dias, ocorrendo apenas contínuos tiroteios. 34 O coronel Arruda recebeu a intimação ao meio dia do dia 5 de junho, na mesma hora mandou resposta a Canabarro dizendo que iria sustentar seu posto a qualquer preço. 35 Canabarro possuía 1.400 homens, quase 3 vezes mais que as de Arruda, porém mesmo Canabarro se reunindo com Antônio de Souza Neto e Bento Gonçalves com mais de 900 homens, nada conseguiram, ficaram 7 dias em contínuos tiroteios com as forças do coronel Arruda, até que chegou as forças da 2º Divisão de Bento Manuel fugiram apressadamente. 36 Canabarro transpôs o Ibirapiutã e se encaminhou para o sul. 37 David Canabarro o ávido coronel rebelde, sem muitas chances contra as forças imperiais, principalmente contra a perseguição que lhe fazia Bento Manuel, partiu de Alegrete para Ponche Verde e posteriormente para o Estado Oriental. 38 A capital farroupilha que nascerá em Piratini após crescer em Caçapava, passando a puberdade em Alegrete desfalecerá prematuramente onde nascera, Piratini. Bento Gonçalves a

31 APBC – NDH – UPF, 16-07-1843 (2). 32 CAXIAS, Barão de. Guerra dos Farrapos, ordens do dia do Gen. Barão de Caxias. 1842-1845. Rio de Janeiro: s.ed., 1945, Ordem do dia nº 60. 33 APBC – NDH – UPF, 13-07-1843 (2). 34 CAXIAS, Barão de. Guerra dos Farrapos, ordens do dia do Gen. Barão de Caxias. 1842-1845. Rio de Janeiro: s.ed., 1945, Ordem do dia nº 60. 35 APBC – NDH – UPF, 31-07-1843 (4) (Anexo do ofício de Domingos José Gonçalves de Magalhães a Antero José Ferreira de Brito – resposta do Coronel Arruda). 36 APBC – NDH – UPF, 26-06-1843 (3). 37 FRAGOSO, Augusto Tasso. A Revolução Farroupilha (1835-1845). Rio de Janeiro: Almanak Laemmert, 1938, p. 228. 38 FRAGOSO, Augusto Tasso. A Revolução Farroupilha (1835-1845). Rio de Janeiro: Almanak Laemmert, 1938, p. 230.

criação tradicionalista, 39 em 4 de agosto de 1843 renunciou a presidência da república de papel e entregou o cargo a Gomes Jardim, aliás, uma renuncia nada amistosa. No dia 11 de setembro, Caxias novamente reorganiza o exército imperial no Rio Grande do Sul, deixando Bento Manuel Ribeiro sob o comando da 2º Divisão imperial, com ordem de seguir Canabarro em todas as direções que esse caudilho viesse a se movimentar, enquanto Moringue com um destacamento mais móvel deveria se assediar os farroupilhas em Piratini, e, Caxias ficaria sob linha da fronteira impedindo qualquer retorno de Canabarro. 40 A intensão dos farroupilhas nesse momento era de saquear e se possível roubar os artigos imperiais que Caxias deixava nos municípios ocupados, forçando Caxias a disponibilizar pequenas partidas para proteger arsenal, armamentos e mantimentos diversos. Também, os farroupilhas flexionavam suas partidas para bater os pontos onde Caxias colocava os cavalos comprados do Estado Oriental, como aconteceu com o Rincão dos Touros onde os farroupilhas buscavam atacar e minguar os recursos imperiais. Após um ano de confronto com os farroupilhas Caxias conseguira instabilizar as tropas imperiais e as pequenas partidas que formava para bater as também pequenas partidas farroupilhas, davam resultados satisfatórios, pois retornavam com cavalos e munições além de fazerem prisioneiros e deixar alguns farroupilhas em campo.

Considerações finais

Durante o ano de 1843 o barão de Caxias empreendeu constantes embates e perseguições contra as forças farroupilhas. O que resultou no fim físico do conflito, pois no ano de 1843, Caxias fechou os espaços de movimentação dos farroupilhas fazendo com que no final do ano se internassem no Estado Oriental e não retornassem efetivamente a província do Rio Grande do Sul. A falta de meios para manter o exército, em conjunto da dificuldade em conseguir recursos tanto pelas derrotas que Rivera vinha sofrendo de Oribe, como pelos

39 GOLIN, Tau. Bento Gonçalves, o herói ladrão. Santa Maria: LGR, 1983, p. 15. 40 FRAGOSO, Augusto Tasso. A Revolução Farroupilha (1835-1845). Rio de Janeiro: Almanak Laemmert, 1938, p. 232-233.

pontos que Caxias vinha ocupando e a própria dificuldade de ter mobilidade de soldados para saquear as povoações estava levando os farroupilhas a um fim hemorrágico.

Referências:

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