Tese Ricardomonteles PPGCA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA DOUTORADO “EU VENHO DA FLORESTA”: A SUSTENTABILIDADE DAS PLANTAS SAGRADAS AMAZÔNICAS DO SANTO DAIME RICARDO MONTELES MANAUS – AM Fevereiro, 2020 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA DOUTORADO RICARDO MONTELES “EU VENHO DA FLORESTA”: A SUSTENTABILIDADE DAS PLANTAS SAGRADAS AMAZÔNICAS DO SANTO DAIME Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. Linha de pesquisa: Dinâmicas Socioambientais. Orientadora: Therezinha de Jesus Pinto Fraxe, Prof.ª. Dr.ª MANAUS – AM Fevereiro, 2020 3 Ricardo Monteles “EU VENHO DA FLORESTA”: A SUSTENTABILIDADE DAS PLANTAS SAGRADAS AMAZÔNICAS DO SANTO DAIME Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. Linha de pesquisa: Dinâmicas Socioambientais. BANCA EXAMINADORA Prof.ª Dr.ª Therezinha de Jesus Pinto Fraxe Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Presidenta) Prof. Dr. Jaisson Miyosi Oka Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Membro Titular) Prof. Dr.ª Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Membro Titular) Prof. Dr.ª Maria Teresa Gomes Lopes Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Membro Titular) Prof. Dr. Julien Marius Reis Thevenin Universidade do Estado do Amazonas – UEA (Membro Titular) Prof. Dr. Antônio de Lima Mesquita Universidade do Estado do Amazonas – UEA (Membro Titular) Prof. Dr. Cloves Farias Pereira Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Membro Suplente) Prof. Dr. Neliton Marques da Silva Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Membro Suplente) Prof. Dr. Carlos Augusto da Silva Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Membro Suplente) 4 FICHA CATALOGRÁFICA Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Monteles, Ricardo André Rocha M776" "Eu venho da Floresta": A sustentabilidade das plantas sagradas amazônicas do Santo Daime / Ricardo André Rocha Monteles. 2020 257 f.: il. color; 31 cm. Orientadora: Therezinha de Jesus Pinto Fraxe Tese (Doutorado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia) - Universidade Federal do Amazonas. 1. Plantas Sagradas. 2. Ayahuasca. 3. Saberes Botânicos. 4. Sustentabilidade. 5. Santo Daime. I. Fraxe, Therezinha de Jesus Pinto II. Universidade Federal do Amazonas III. Título 5 DEDICATÓRIA A quem comigo vive, sonha, canta, chora, vibra, agradece, sorri e celebra a passagem deste ciclo, dedico. 6 AGRADECIMENTOS À Força e à Luz da Natureza. Ao meu Pai e à minha Mãe. Ao meu irmão. À minha companheira Keila e às nossas filhas Victoria Regia e Flora Luna pela presença luminosa na minha vida. Aos mestres brasileiros da ayahuasca, que aprenderam a magia da floresta e a sacralizaram numa espiritualidade orgânica, natural, cabocla, amazônica. Gratidão especial ao Mestre Irineu e ao Padrinho Sebastião. Ao cipó, à folha e a todas as plantas de conhecimento, pelos ensinos. Às irmandades daimistas, sem as quais este trabalho não teria sido realizado: * No Maranhão: Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal Céu das Águas Claras (CAC), nas pessoas de Leandro e Fernanda, Centro de Iluminação Cristã Estrela Brilhante (CICEBRIS), na pessoa de Daniel Serra (In memoriam) e família, e Centro Espiritual Beneficente Fraternidade Colibri, na pessoa de Humberto Leite; *No Pará: Casa de Oração Estrela D’água (EA), nas pessoas de Edson e Betânia; *Em Rondônia: Centro de Iluminação Jardim da Virgem Maria (CIJAV), nas pessoas da Madrinha Vilma, seus filhos Vinícius, Gustavo e suas respectivas famílias; *No Acre: Aldeia Kuxipá Yuxibu, na pessoa de Valmir Serra; *No Amazonas: Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal Céu do Sol Nascente (CSN), na pessoa de Chester e família; Fazenda São Sebastião, na pessoa de Chico Corrente (In memoriam) e sua turma, em especial Fábio e Carmélia, por terem nos apoiado integralmente durante os quase quarenta dias de campo na “boca do garapé”; Finalmente, ao Céu do Mapiá, nas pessoas da Madrinha Rita, Madrinha Julia, Madrinha Cristina (In memoriam), Padrinho Alfredo, Padrinho Valdete e toda a família por levarem adiante o sonho do Padrinho Sebastião. Aos amigos e amigas, de perto e de longe, com quem pude ter oportunidade de interagir e aprender mais um bocadinho ao longo destes anos de doutoramento. Aos jardineiros, campineiros e pesquisadores de todas as tradições da ayahuasca – do passado e do presente – pelo labor inspirador. À ICEFLU e aos fardados do Santo Daime pela disposição em estabelecer os diálogos que ensejaram esta tese desde sua concepção. Ao Colun/UFMA pela licença para realização deste estudo. Ao Centro de Ciências do Ambiente (CCA/UFAM) Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA/UFAM) e seu corpo docente, pela oportunidade desta formação acadêmica. À professora Sandra Noda (In memoriam) pela abertura epistemológica. Ao professor Antonio C. Witkoski pelo aporte metodológico no curso de “Métodos Qualitativos”. Ao professor Charles R. Clement, por acolher as minhas questões em torno da ecologia histórica de plantas sagradas amazônicas. À professora Therezinha Fraxe pela generosidade, confiança e orientação precisa. À professora Maria Betânia Albuquerque pela interlocução intelectual desde o princípio. Aos colegas da turma de 2016 pelo bom humorado convívio em Manaus. 7 Aos leitores e à leitora que se disponibilizaram a comentar as prévias do texto, em especial Erica Beuzer, Bruno Ferreira e Daniel Nava. Ao amigo Marcos Aranha pela montagem e diagramação de todas as ilustrações que compõem este trabalho Ao amigo Pedro Serra pela confecção do mapa da área de estudo. Aos txais, pela fraterna convivência. Haux Haux! Aos meus antepassados. A todos e todas, sou grato, para sempre. 8 RESUMO O cipó Banisteriopsis caapi (Malpighiaceae) e o arbusto Psychotria viridis (Rubiaceae) correspondem às principais espécies botânicas historicamente apropriadas em contexto ritual por diversos grupos indígenas e caboclos na Amazônia. O fenômeno cultural das religiões ayahuasqueiras brasileiras – Daime, Barquinha e União do Vegetal – ensejou uma intensa diáspora de plantas e saberes. Distintas variedades dessas espécies botânicas foram transferidas da Amazônia e introduzidas nos mais diversos contextos ecológicos em praticamente todo o país. Através de métodos qualitativos associados à etnobotânica, o estudo examina a taxonomia folk e a circulação de saberes em torno das plantas sagradas acionadas no contexto do Santo Daime. Desvela-se a história ambiental da ayahuasca através da literatura de viajantes na Amazônia colonial. Caracterizam- se as principais variedades etnobotânicas de jagube e rainha. Examinam-se os saberes taxonômicos em torno dessas entidades botânicas. Contempla-se sua expansão fitogeográfica. De brebaje infernal a sacramento religioso, a ayahuasca e as plantas que a compõem se estabelecem na história como entidades polimórficas, polifônicas, polissêmicas e policêntricas. Um sistema classificatório baseado em critérios sensíveis e suprassensíveis caracteriza a taxonomia cabocla das plantas sagradas amazônicas do Santo Daime. Saberes etnobotânicos sugerem que a morfologia vegetal corresponde ao centro cognitivo dos processos taxonômicos nessa tradição. Atributos suprassensíveis acionados nos atos classificatórios dessas entidades botânicas são semelhantemente percebidos como legítimos critérios taxonômicos. Mais de uma dezena de variedades do cipó jagube e pelo menos seis tipos morfológicos distintos da folha rainha são apropriados nesse contexto cultural. A expansão dos plantios de cipó e folha sob os princípios da agricultura sintrópica e o aperfeiçoamento das práticas de feitio correspondem às principais estratégias visando à sustentabilidade material do Daime. O cultivo de jagube e rainha mobiliza uma matriz de conhecimentos científicos formais e um complexo conjunto de saberes tradicionais constituídos no estreito contato com a materialidade e a espiritualidade da floresta. O ethos ecológico dos povos ayahuasqueiros manifesta-se em conexão com os saberes da floresta, território sagrado, onde viceja o nutriente espiritual do bem viver. Palavras-chave: Plantas Sagradas. Ayahuasca. Saberes Botânicos. Sustentabilidade. Santo Daime. 9 ABSTRACT The Banisteriopsis caapi vine (Malpighiaceae) and the Psychotria viridis shrub (Rubiaceae) are the principal botanical species historically appropriated in a ritual context by several indigenous groups and caboclos in the Amazon. The cultural phenomenon represented by the Brazilian Ayahuasca religions – Daime, Barquinha and União do Vegetal – has given rise to an intense diaspora of plants and knowledge. Different varieties of these botanical species were transferred from the Amazon and introduced in the most diverse ecological contexts throughout the country. Through qualitative methods associated with Ethnobotany, this study examines folk taxonomy and the circulation of knowledge around the