Afro-Ásia ISSN: 0002-0591 ISSN: 1981-1411 Universidade Federal da Bahia
Silva, Felipe Vale da A QUANTAS MÃOS SE ESCREVE A HISTÓRIA DA LITERATURA? A POLÍTICA DAS DIVERGÊNCIAS TEÓRICAS NA INDONÉSIA Afro-Ásia, núm. 62, 2020, Julho-Dezembro, pp. 270-298 Universidade Federal da Bahia
DOI: https://doi.org/10.9771/aa.v0i62.35873
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Felipe Vale da Silva Universidade Federal de Goiás
or muito tempo contou-se a mesma história sobre as origens da literatura indonésia: “a literatura moderna indonésia nasceu por volta Pde 1920”. Subentende-se por tempos modernos o momento a partir do qual “indonésios começaram a expressar sentimentos e ideias basicamente distintos daqueles predominantes nas sociedades indígenas tradicionais”.1 Seguindo essa formulação, o orientalista holandês Andries Teeuw elencou um rol de artistas ligados à casa editorial Balai Pustaka, fundada em 1917, coroando-os como representantes de uma nova disposição criativa que ancorou a literatura indonésia, digamos, na literatura universal. O diferencial desses novos escritores teria sido o ímpeto de formular uma identidade nacional do que era então chamado de Índias Orientais Neerlandesas – uma entidade constituída por centenas de ilhas que funcio- navam desde o século XVII como colônias de exploração, diretamente administradas sob um regime de apartheid, não pela coroa holandesa, mas por uma empresa, a Companhia [unida] da Índias Orientais.2
1 Andries Teeuw, Modern Indonesian Literature, Dordrecht: Springer, 1967, p. 1. Todas as traduções são do articulista, salvo quando indicado. 2 Ou Vereenigde Oostindische Compagnie, a primeira sociedade anônima por ações (joint-stocks) da História. Em função da longa distância entre sua sede em Amsterdã e as colônias sul-asiáticas, logo seus acionistas ganharam enorme autonomia no terri- tório onde atuavam (a empresa, por exemplo, foi a única de que se tem notícia com
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 270 Esse amontoado de particularidades acarretou um processo de nacionalização sui generis. O conceito de nação indonésia não derivou de uma unidade étnica – 300 etnias convivem dentro do perímetro do país –, tampouco de uma unidade linguística – o idioma oficialbahasa indonesia é um dentre 742 idiomas regionais reconhecidos, e precisou passar por uma ampla campanha de divulgação para se tornar língua franca.3 Tendo em vista essa complexidade, Teeuw argumenta que um despertar nacional da Indonésia teve de ocorrer na dependência da iniciativa de nativos educados na Europa, versados no idioma e nos valores do colonizador. Foi necessário o surgimento de Budi Utomo, “a primeira organização indonésia em termos ocidentais”, para que se executasse uma ruptura radical com o passado.4 O Budi Utomo tem um título javanês de difícil tradução (podendo ser traduzido por algo como o nobre compromisso) e surgiu como um congresso de estudantes, jornalistas e educadores em maio de 1908 onde se discutiram formas de integração da população local educada à dinâmica administrativa das Índias. Seu alvo, no início, não foi explicitamente político, embora a política tenha se tornado um desdobra- mento inevitável daquela mobilização inédita de nativos, que pela primeira vez se declaravam decididos a tomar seu destino em suas próprias mãos. Em 1910, quando foi reconhecido pelo governo metropolitano, o grupo já contava com dez mil membros registrados em quarenta filiais regionais.5 Sua importância para aqueles que posteriormente idealizaram a independência nacional é inegável, qualquer que seja seu espectro político: a organização unia holandeses, eurásios (mestiços de europeus e de etnias
poderes de declarar guerra contra uma ou outra nação), o que fez da colonização holandesa um processo particularmente sanguinolento. Foi dissolvida em 1799 em função de má administração, sendo integrada à administração real desde então. 3 Por se tratar de uma língua simplificada, relativamente igualitária, o bahasa indonesia foi eleito como língua oficial, e não mais o complexo javanês (falado pela maioria dos locais durante a era colonial), ou mesmo a língua da metrópole (como ocorreu nas demais colônias europeias). Voltaremos a discutir a língua indonésia como língua literária eleita por uma comunidade de autores e leitores a partir de 1926. 4 Teeuw, Modern Indonesian Literature, p. 2. 5 Amry Vandenbosch, “Nationalism in Netherlands East India”, Pacific Affairs, v. 4, n. 12 (1931), p. 1058.
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 271 autóctones) e nativos em prol de uma política e cultura próprias das Índias Orientais. Ideias nacionalistas foram logo acompanhadas pela necessidade da autogerência que eventualmente tiraria os holandeses do poder por meio da guerra de independência de 1945 a 1949. Mesmo em uma época posterior de divisão interna, o Budi Utomo serviu de catalisador para diversos outros grupos locais de nacionalistas, dentre os quais muitos se tornariam partidos políticos ativos até hoje.6 Ademais, seus membros produziram a literatura nativa da época, veiculando ideias e dilemas que se remetiam a uma Indonésia moderna, urbanizada. Mesmo os integrantes da orgulhosa aristocracia javanesa deixaram de usar seu idioma nativo para adotar o que então se chamava de bahasa melayu tinggi (“alto malaio”) como língua de comunicação social e expressão literária. Teeuw não poderia prever as consequências futuras de sua ideia: é razoável dizer que a afirmação introdutória de seu compêndio Pokok dan Tokoh, de 1952, terminou por transformar um riquíssimo repertório de tradições malaias, papuásias, javanesas, maduresas, sundanesas etc. em uma categoria de literatura pré-moderna, como se fossem construções culturais de línguas mortas.7 O fato de seu livro ter sido traduzido para o inglês (por ele mesmo) como Modern Indonesian Literature – um título de certa autoridade, a propósito, sobretudo em uma época em que não havia outras histórias da literatura indonésia disponíveis em inglês – certamente contribuiu para difundir suas ideias. No entanto, a existência atual e a influência das tradições orais de diversas culturas do país sobre a produção de teatro, poesia, cinema e ficção contemporâneas contam, por si mesmas, como uma refutação dos pressupostos de Teeuw: outras tradições além da modernista, de extração europeia, resistiram ao teste do tempo,
6 Kementerian Pendidikan dan Kebudayaan, Sejarah Indonesia, Jakarta: Kementerian Pendidikan dan Kebudayaan, 2014, pp. 140 et seq. 7 Adicionemos que essa divisão radical não foi obra exclusiva de A. Teeuw, mas também foi veiculada em obras de orientalistas desde o artigo de 1932 de Gerardus Willebrordus Joannes Drewes, Oud en Nieuw in de Hedendaagsche Indonesische Literatuur, Noodwijk: [s. n.], 1932. Discordou-se sobre o início de uma literatura devidamente indonésia, partindo-se sempre do pressuposto de que a presença holandesa foi essencial para seu advento.
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 272 constituindo-se como legados culturais que inserem a Indonésia no mapa da ficção mundial por vias não oficiais.8 Como Ibnu Wahyudi mostrou,9 a seletividade de Teeuw não é só um motivo para desconfiarmos de seu rigor científico – afinal, como orientalista, ele só reconhece o valor artístico de produções de autores que estudaram na Europa e absorveram tendências da metrópole. Antes, há implicações mais sérias advindas da singela formulação “a literatura indonésia moderna nasceu por volta de 1920”: este foi e é, até hoje, o conceito impresso em material curricular utilizado tanto no ensino médio como em cursos universitários do sudeste asiático. Sob tal paradigma, milhões de alunos e alunas que se tornaram os acadêmicos da Indonésia independente assumiram uma determinada identidade cultural, segundo a qual seu povo só desenvolveu uma cultura literária apta a ser consumida atualmente por força do apadri- nhamento holandês (isto é, pelo surgimento de uma geração crioula). O erro, de tanto ser repetido, adquiriu estatuto de lugar-comum. Consequentemente, há poucas pesquisas desenvolvidas nas univer- sidades asiáticas sobre a literatura do baixo-malaio (bahasa melayu pasar, o idioma literário predominante entre 1850 e 1910) ou das populações sino-indonésias (por meio das quais, de fato, a literatura
8 Os exemplos são diversos. Como bem pontuou Cobina Asmara, “Tradisi Baru: A New Tradition of Indonesian Theatre”, Asia Theatre Journal, v. 12, n. 1 (1995), p. 165, “uma das qualidades mais duradouras das artes tradicionais indonésias é que elas não pertencem inteiramente ao passado, [mas] estão constantemente se atualizando para [dar conta de] cobrir questões da atualidade”. No caso do teatro de rua javanês contemporâneo, observa-se antes um diálogo com a tradição milenar do teatro de sombras medieval do que uma relação com Bertolt Brecht ou Tennessee Williams. A poesia e o romance proletários da Lekra (Lembaga Kebudayaan Rakyat, Instituto da Cultura Popular), a rigor, derivaram sua estética de alterações pontuais, decididas por seus membros, de tradições locais, e não da literatura do realismo socialista fomentada pela União Soviética. Ver Keith Foulcher, “Politics and Literature in Independent Indonesia: The View from the Left”, Southeast Asian Journal of Social Science, v. 15, n. 1 (1987), pp. 85, 95 e 100 n. 2. 9 Ibnu Wahyudi, “The Circumstances of Early Moderm Indonesian Literature”, International Area Studies Review, v. 1, n. 2 (1998), p. 115.
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 273 moderna chegou ao sudeste asiático)10 – seja por falta de interesse dos pós-graduandos em confrontarem convenções firmadas desde a instituição dos estudos orientais modernos, seja por uma simples indisponibilidade de edições de obras de tradições anteriores, fora do escopo do Balai Pustaka, o que impede a divulgação desses textos.
A retórica do desenvolvimento colonial: sobre a fundação da editora Balai Pustaka (1917-1942)
Questionar como Andries Teeuw chegou ao cânone moderno indonésio nos abre diversos caminhos de análise. Os juízos do acadêmico não serão tomados enquanto manifestações de seu gosto pessoal, mas como construtos ideológicos que impregnaram a orientalística holandesa desde sua gênese. De fato, a lógica de sua argumentação corrobora, nos mínimos detalhes, a política cultural fomentada pela metrópole holandesa a partir de 1901, conhecida como Ethische politiek. Tal projeto propôs-se como uma ampla reforma na administração colonial que visava promover o aculturamento – isto é, a ocidentalização – de uma pequena elite nascida nas Índias, que eventualmente se tornaria apta a intermediar relações entre a população nativo-camponesa e os regentes que respondiam diretamente à rainha Wilhelmina. Como diferencial, aquela reforma originou-se no seio da burguesia liberal holandesa. Comparativamente, era o que havia de mais humanitário em termos de tecnologias de colonização. Em vez da boa vontade dos governantes, foi um romance o responsável por chamar a atenção do público leitor para os abusos de autoridade perpetrados com dinheiro público: Max Havelaar, of de Koffij-veilingen der Nederlandsche
10 Claudine Salmon listou 806 autores sino-indonésios em sua pesquisa, ao passo que A. Teeuw menciona apenas 184 escritores das supostas origens da modernidade literária do país até a geração de 1966. Ver Claudine Salmon, Literature in Malay by the Chinese of Indonesia: a Provisional Annotated Bibliography, Paris: Éditions de la Maison des Sciences de l’Homme, 1981, p. 10.
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 274 Handelmaatschappy (1860), obra-prima de Eduard Douwes Dekker, vulgo Multatuli, que hoje é a obra literária holandesa mais celebrada fora de seu país de origem. Este “livro que matou o colonialismo”11 serviu de motor para a tão necessária reforma política colonial da virada do século, não só em função de seu brilhantismo, mas por sua recepção calorosa nos círculos de jornalistas. Dekker, é importante frisar, foi um grande inovador da estética realista ao transformar o livro em instrumento de sacrifício pessoal – por criticar nominalmente oficiais que faziam rodar a máquina imperial holandesa o autor perdeu um cargo promissor nas Índias e teve que se esconder na Alemanha pelo resto da vida – e apelar a seus leitores histó- ricos para que também lessem o livro com o coração aberto ao sacrifício: “Claro, acharam a leitura [de meu livro] ‘agradável’ e não pensaram – ou fingiram não entender – que não foi para isso que eu, na meia-idade, joguei no lixo uma carreira que prometia ser brilhante”, conforme se lê em um apêndice da segunda edição holandesa.12 Isso foi uma aproxi- mação inédita entre realidade social e expressão literária, mais radical do que se via mesmo nos textos dos iluministas mais sanguíneos – se os iluministas contavam com a boa vontade da comunidade letrada para que mudanças sociais viessem à tona, Dekker sabia que o processo de reforma das Índias Orientais seria mais complicado. O sistema de exploração da época, o cultuurstelsel, fora pautado como um todo na barbárie e deveria ser desmontado. Tendo isso em vista, alguns dos jornalistas que liam de Multatuli compraram a primeira passagem para as Índias Orientais para registrar, de perto, as arbitrariedades delineadas de forma tão convincente no romance, mandando de volta para casa relatos escandalosos sobre o regime de semiescravidão que a população nativa vivia em função da tirania da antiga aristocracia local e dos regentes holandeses.
11 A formulação é de Pramoedya Ananta Toer, “The book that killed colonialism”, The New York Times Magazine, Nova York, 18 abr. 1999, p. 112. 12 Multatuli, Max Havelaar, ou Os leilões de café da Companhia Holandesa de Comércio, Belo Horizonte: Âyiné, 2019, p. 569.
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 275 O que fazer perante aquela crise administrativa tornou-se uma pauta a ser resolvida pela sociedade civil e, pela primeira vez na história do colonialismo, o palco das discussões foram os jornais.13 No melhor do espírito democrático, a própria rainha Wilhelmina mostrou-se interessada em ouvir as propostas de seus súditos para a crise; foi quando o editor Pieter Brooshooft, após enviar uma comitiva de repórteres às Índias, concluiu sua série de reportagens apelando para a implantação de um plano “ético” de controle dos nativos, uma vez que os povos polinésios, presos em um estágio infantil da evolução da espécie, necessitariam de assistência, não de opressão (as palavras são do próprio editor).14 Por conseguinte, o periódico holandês De Locomotief passou a publicar artigos de cunho etnográfico, explicando os modos de vida e mentalidade de diferentes povos nativos a fim de preparar uma ciência da gestão colonial mais empática e, afinal de contas, mais efetiva do que aquela praticada por espanhóis, portugueses, ingleses ou holandeses até então. Este é um aspecto central: a iminência da reforma servia também à lógica da competição de impérios, em uma época na qual as configurações do jogo colonial mudavam. Um dos grandes players do mercado algodoeiro, os EUA, que enriqueceram desde sua independência às custas do trabalho escravo de negros sequestrados da África, estavam decidindo o fim da escra- vidão em uma longa guerra que desestabilizou sua economia. A Inglaterra, consequentemente, dependente do algodão do sul dos EUA para alimentar sua Revolução Industrial, se viu forçada a buscar matérias-primas na Índia e criar uma infraestrutura mínima em suas colônias asiáticas, que estavam praticamente abandonadas.15 Nesse contexto, o repórter Snouck Hurgronje
13 Merle Calvin Ricklefs, A History of Modern Indonesia since c. 1200, Houndmills: Palgrave, 2001, pp. 193-205. 14 Citado em Adrian Vickers, A History of Modern Indonesia, Cambridge: Cambridge University Press, 2005, p. 17. 15 Essa conjuntura foi, já na época, formulada como uma crise diplomática e no sistema colonial: ver Karl Marx, “Die Krise in England”, Die Presse, Viena, 6 nov. 1861; “Zur Baumwollkrise”, Die Presse, 2 fev. 1862. O último artigo menciona a participação das Índias Orientais no processo de crise mundial (Karl Marx e Friedrich Engels, Werke: Band 15, Berlim: Dietz Verlag, 1980, pp. 348 et seq. e pp. 461 et seq. Tradução brasileira
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 276 destacou-se como o mais talentoso e melhor conhecedor das Índias Orientais, o mais apto a elaborar um plano que faria a Holanda sair na frente, digamos, na corrida internacional por mercados. As Índias, afinal, já tinham uma infraestrutura pronta; bastava modernizar seu sistema de exploração e manter uma população de setenta milhões de nativos sob controle – uma tarefa crescentemente difícil para um país minúsculo como a Holanda, que, já em 1938, contava apenas com trinta mil soldados treinados a postos na colônia oriental.16 A única solução razoável era estabelecer o controle mediante uma missão pacificadora e integradora, apresentada por Hurgronje em termos de uma Teoria da Associação, cuja essência foi expressa como uma “elevação dos nativos a um nível superior de civilização de acordo com suas capacidades inatas”.17 O alvo de um governo colonial ético era confirmar se os nativos educados seriam de fato capazes de absorver a sabedoria ocidental de forma a aperfeiçoar seu “caráter interior”. Cinco anos mais tarde, inspirado pela proposta de Hurgronje, o poder imperial já enviava excedentes de agentes pagos para se instalarem na colônia com a tarefa de estudar idiomas locais e entender a cultura nativa.18 O nome do novo cargo era, sugestivamente, conselheiro de assuntos nativos para o Governo das Índias Orientais, cuja função se juntaria à dos já existentes taalambtenaren.19 Um dos pioneiros no ofício foi Godard Arend Johannes
no volume: Karl Marx e Friedrich Engels, Escritos sobre a Guerra Civil Americana, Londrina: Aetia, 2020). As reformas holandesas, é claro, não se limitaram a essa questão específica de gestão colonial: uma grande porção do norte da Sumatra também foi comprada do sultanato de Aceh, uma Lei Agrária foi instituída e houve abertura para entidades privadas de exploração das Índias, tudo a fim de garantir o domínio holandês. O processo foi bem retratado em Kementian Pendidikan dan Kebudayaan, Sejarah Indonesia, pp. 53 et seq. 16 Estatísticas presentes em Elizabeth Fitzpatrick, “Balai Pustaka in the Dutch East Indies: Colonizing a Literature” in Sherry Simon e Paul St-Pierre (orgs.), Translating in the Postcolonial Era (Ottawa: University of Ottawa Press, 2000), p. 117. 17 Hurgronje citado em Vickers, A History of Modern Indonesia, p. 22. 18 Andries Teeuw, “The Impact of Balai Pustaka on Modern Indonesian Literature”, Bulletin of the School of Oriental and African Studies, v. 35, n. 1 (1972), p. 112. 19 Trata-se de funcionários encarregados do estudo de línguas das Índias, instalados ali já desde o século XIX para auxiliar na diplomacia metropolitana (ver Teeuw, “The Impact of Balai Pustaka on Modern Indonesian Literature”, p. 112).
Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 270-298 | 277 Hazeu, mais tarde professor de literatura javanesa na Universidade de Leiden. Como um dos poucos versados na literatura arcaica da região, as conclusões que enviava à coroa tiveram grande impacto no futuro das políticas culturais: “esta literatura [javanesa], e suas formas tradicionais, não são adequadas para as necessidades que viriam a surgir como consequência da introdução, em escala relativamente ampla, da educação moderna nas Índias a partir de 1906”.20 Um novo panorama cultural surgia – complementa Teeuw – e com ele uma nova classe de leitores potenciais, de forma que os livros tradicionais dos javaneses eram insuficientes para saciar suas necessidades. Dinheiro público passou a manter o chamado Kantoor voor de Volkslectuur – Escritório em prol da literatura popular – que, para dar mostras de seu impulso integracionista, foi rebatizado em 1918, adotando a designação em malaio pela qual é mais conhecido, Balai Pustaka.
Figura 1 A rede de influências (literárias e institucionais) que possibilitou o surgimento do Kantoor voor de Volkslectuur / Balai Pustaka em 1917-191821