Nuances Das Estratégias De Diversificação Produtiva No Município De Novo Machado-Rs: Um Estudo À Luz Da Análise-Diagnóstico De Sistemas Agrários
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NUANCES DAS ESTRATÉGIAS DE DIVERSIFICAÇÃO PRODUTIVA NO MUNICÍPIO DE NOVO MACHADO-RS: UM ESTUDO À LUZ DA ANÁLISE-DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS Silvio Calgaro Neto, Cristiane Maria Tonetto Godoy, Pedro Selvino Neumann RESUMO Desde a ancoragem da estrutura sojícola na América do Sul, na década de 1940, muitas transformações nas dinâmicas socioambientais deste continente foram observadas. Neste processo, a sojicultura consolidou-se e ocupou, significativamente, territórios em diversos países, em um processo de contínua expansão. Entretanto, o modelo sojícola apresenta particularidades para seu pleno desenvolvimento como, a escala produtiva e a necessária mecanização. Assim, mesmo nos territórios consolidados torna-se inviável para alguns sistemas agrários o desenvolvimento pleno do modelo. Para tais sistemas, emergem inúmeras propostas de estratégias alternativas para possibilitar sua manutenção, entre estas, as estratégias de diversificação produtiva. Novo Machado-RS, encontra-se no núcleo introdutório da sojicultura neste continente, portanto, desde longa data busca a aplicação de alternativas de desenvolvimento para as propriedades que não alcançam a plena adoção da sojicultura, porém, sem grandes sucessos. Neste contexto, buscou-se trabalhar, à luz da análise-diagnóstico dos sistemas agrários, uma hipótese construída com um antigo agricultor local, o qual destaca que as estratégias de diversificação têm sido insuficientes para que ocorram processos de sucessão familiar nestes sistemas agrários. Dando seguimento ao estudo realizado por Basso et al. (2006), que identifica os principais sistemas agrários deste município, o presente trabalho elaborou uma análise sobre duas estratégias de diversificação comumente utilizadas por agricultores familiares, produção de leite e produção suína, diversificando a produção de grãos, colocando em evidência tal hipótese. Através da análise-diagnóstico dos sistemas agrários, o estudo demonstrou que, nas condições apresentadas pela realidade abordada, não poderia-se rejeitar a hipótese que as estratégias de diversificação produtiva têm sido insuficientes para proporcionar a sucessão familiar nestes sistemas agrários, contribuindo, assim, para a manutenção mais prolongada do núcleo familiar. Portanto, apesar da busca por alternativas, caracteriza-se a continuidade das dinâmicas territoriais aportadas pelo modelo sojícola que abrangem questões relacionadas à reconcentração fundiária, a masculinização, o envelhecimento e o êxodo rural. Palavras-chave: estratégias de desenvolvimento rural, diversificação produtiva, sistemas agrários, agricultura familiar. NUANCES DAS ESTRATÉGIAS DE DIVERSIFICAÇÃO PRODUTIVA NO MUNICÍPIO DE NOVO MACHADO-RS: UM ESTUDO À LUZ DA ANÁLISE-DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS 1 INTRODUÇÃO Desde que foi banalizado o acesso ao Novo Mundo até o presente momento, são incontáveis as experiências migratórias, produtivas, desenvolvimentistas, religiosas, ideológicas, entre outras, que acabaram transformando, significativamente, o conjunto de territórios aqui presentes. Ótimos exemplos destas intervenções e, concomitantemente, transformações podem ser observadas no Brasil, que acabou se tornando um dos espaços geopolíticos mais heterogeneizados. Onde os padrões culturais diferenciaram-se, grandemente, após o processo de ocupação pós-colombo, prevalecendo uma estrutura social culturalmente europeizada, em detrimento, portanto, do modus vivendi tradicionalmente desenvolvido pelos povos nativos aqui habitantes. Neste contexto histórico, seguiram em ocorrência, no conjunto das Américas, os exercícios de “projectação social”1, tradicionalmente, desenvolvidos e vivenciados no modus vivendi ocidental, os quais introduziam-se e seguem introduzindo-se, geralmente, através dos discursos representativos dos ideários de evolução em determinadas dimensões como, por exemplo, o contemporâneo ideário do desenvolvimento. Destaca-se, entretanto, entre os mais recentes e marcantes exercícios de “projectação social” vivenciados no Brasil, as ações voltadas ao crescimento econômico promovidas pela “revolução verde”. Esta constituía em elaborar uma série de intervenções e transformações na produção agrícola brasileira de modo a potencializar as dinâmicas circunscritas nos complexos agroindustriais e alavancar os processos de modernização de sua estrutura sócio-cultural. Neste ideário de desenvolvimento, no entanto, emergiu, a partir da região noroeste do Rio Grande do Sul (tendo como cidades mais representativas Passo Fundo, Cruz Alta, Erechim, Santo Ângelo, Santa Rosa, Três Passos e Horizontina) um marcante padrão de organização agroindustrial que tornaria-se referência para a expansão deste projeto agrícola. Consistia, principalmente, na estruturação de cooperativas agrícolas voltadas a produção comercial de trigo e soja. A associação com a segunda constituiu uma conjuntura chave para esta expansão. Corroborando com esta afirmação, Wizniewsky (1990 apud GODOY, 2010, p. 29) aponta que o Rio Grande do Sul, principalmente a região noroeste do Estado, pode ser considerado como o berço do desenvolvimento da soja em nível brasileiro, já que a região apresentava toda a infraestrutura para o cultivo do trigo, e que poderiam ser aproveitados para a soja. Segundo Leal (1967 apud GODOY, 2010, p. 29) os primeiros grãos plantados de soja no Estado foram semeados no município de Santa Rosa, no ano de 1921 em uma estação experimental existente na região, e somente em 1924 que foram distribuídas sementes para o plantio nas propriedades rurais. A soja na região tem um papel relevante, seja na construção e na identificação cultural dos agricultores com a cultura, exemplo disto a ocorrência da Feira Nacional da Soja que ocorre no município de Santa Rosa, ou na composição da renda das propriedades. 1 Ver maiores detalhes em Ideologia e meio ambiente (MALDONADO, 1971). Neste sentido, na constituição de discursos sobre a sojicultura e a sua relevância para as propriedades, e/ou até mesmo sobre a produção de grãos e do monocultivo, pode-se levantar um dos grandes problemas encontrados nesta breve evolução da sojicultura, a problemática da escala. Mesmo com a constituição das cooperativas, fato que veio como alternativa, esta problemática ainda persiste. As propostas de diversificação produtiva vêm sendo utilizadas como uma das principais saídas para manutenção e reprodução dos sistemas agrários que não apresentam possibilidade de cultivar em escala mínima de sustentabilidade econômica na sojicultura. Entre as principais alternativas de diversificação estão a produção leiteira; a fumicultura; a suinocultura; a fruticultura; a agroindústria caseira, o turismo rural, os serviços ambientais, etc. Apesar da apresentação e difusão de tais alternativas, ainda é incerta a compreensão de suas potencialidades para a superação desta problemática. A presente região apresenta uma estrutura de produção de grãos, bastante consolidada, em que as maiores dúvidas ressaltam-se, principalmente, sobre a observação daqueles grupos de produtores que utilizam modelos de rendas agrícolas diversificados, em um contexto, em que suas superfícies agrícolas são insuficientes, inapropriadas e/ou insustentáveis economicamente para suas reprodutibilidades através principalmente da utilização da plataforma sojícola convencional. Assim, enormes transformações nas dinâmicas agrárias vêm ocorrendo na região noroeste do Estado, que destinou grande parte de sua superfície agrícola para os cultivos de soja, estruturando-se numa típica combinação, que associa este cultivo à agricultura moderna de base familiar, interagindo, assim, com o mercado por meio de cooperativas agrícolas. Entre as grandes transformações derivadas da estruturação deste projeto/modelo de desenvolvimento agrícola, destacam-se, a nível regional: o êxodo rural; a homogeneização dos cultivos comerciais; a concentração fundiária; a quase completa destruição ecossistêmica; a valorização exorbitante das terras agrícolas e o envelhecimento rural. A questão que será discutida neste trabalho referencia-se nos estudos e aproximações a campo realizados no município de Novo Machado, localizado no âmbito da “Grande Santa Rosa”, ou seja, no núcleo estrutural da emergência da sojicultura no Brasil. Com isso, traçam-se perspectivas entorno de uma atmosfera de consolidação desta estrutura, a qual, aparentemente, continua apresentando os problemas clássicos associados ao período “forte” da modernização agrícola, porém, em menor escala. Incitando, deste modo, a introdução de dinâmicas de diversificação. Subentende-se, assim, que algumas propriedades não apresentam as características adequadas para receber o modelo convencional da sojicultura e ficam a margem da estrutura produtiva privilegiada regionalmente. Trata-se, portanto, da construção de estratégias produtivas que potencializem o uso destas propriedades marginalizadas, de modo a proporcionar a manutenção e reprodução das mesmas através da estruturação de distintas plataformas produtivas. Neste contexto, o presente trabalho busca contribuir com a discussão entorno destas transformações, entretanto, traçando uma perspectiva a partir da conjuntura e das dinâmicas apresentadas neste território na contemporaneidade. Bem como, acentuar as discussões sobre a difundida estratégia da diversificação produtiva, tratando de compreender e analisar, neste âmbito, as potencialidades desta estratégia para a superação das problemáticas intrínsecas à introdução do monocultivo da soja no território noroeste do Rio Grande do Sul (na conjuntura estabelecida), principalmente,