Vol. 9 Nº 4 págs. 633-646. 2011 https://doi.org/10.25145/j.pasos.2011.09.060

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Reinterpretando o acervo arquitetônico do bairro da Praia Grande através dos lugares de memória

Karoliny Diniz Carvalho i Universidade Federal do Maranhão (São Luís - MA, Brasil) Maria de Lourdes Netto Simões ii Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus- BA, Brasil)

Resumo: O artigo analisa os lugares de memória existentes no bairro da Praia Grande em São Luís, Maranhão,buscando refl etir sobre a sua importância na composição da oferta turística da cidade. O estudo parte de uma abordagem qualitativa, relacionando questões sobre espaço urbano, patrimô- nio cultural e memória. Por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas junto aos moradores, conclui-se que os marcos urbanos da Praia Grande são enunciadores de sentimentos de pertença e identidade e podem se converter em elementos potencializadores do turismo cultural local. Destaca a necessidade de incorporar as diferentes sociabilidades presentes nos espaços materiais e simbó- licos onde se realizam as interações sociais no desenvolvimento da atividade turística, de forma a contribuir para a valorização do patrimônio cultural.

Palavras-chave: Patrimônio cultural; Espaço urbano; Lugar de memória; Turismo cultural; Centro histórico de São Luís (Maranhão, Brasil).

Title: Rethinking the architectural richness of the district of Praia Grande through places of memory

Abstract: The paper analyzes the existing places of memory in the district of Praia Grande, São Luís, Maranhão, seeking to refl ect on its importance in the composition of the tourist city. The study is a qualitative approach, relating to urban issues, cultural heritage and memory, to analyze the meanings, practices and social relations that involve the dynamics of the district of Praia Grande. Through semi-structured interviews with residents, it is concluded that the landmarks of the Praia Grande are enunciators feelings of belonging and identity and can become elements of cultural boosters site. The study highlights the need to incorporate different sociability present in the material and sym- bolic spaces where social interactions take place in the development of tourism, to contribute to the enhancement of cultural heritage.

Keywords: Cultural heritage; Urban space; Place of memory; Cultural tourism; Historical center of São Luis (Maranhao, ).

i Doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestre em Cultura e Tu- rismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Email: [email protected] ii Pós Doutora em Literatura Comparada e Turismo Cultural pela Universidade Nova de Lisboa, . Douto- ra em Estudos Portugueses pela mesma universidade. Coordena o Grupo de Pesquisa Identidade Cultural e Ex- pressões Regionais- ICER, na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Email: [email protected]

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Introdução práticas e relações sociais que envolvem a dinâmica do bairro da Praia Grande, buscando, assim, refl etir sobre Os Centros Históricos podem ser apreendidos não a sua importância na composição da oferta turística da apenas como a síntese de processos sociais e culturais, cidade. de traços remanescentes de um passado compartilha- Enquanto procedimento metodológico elegeu-se a do pelo agrupamento social; devem ser considerados, abordagem qualitativa, a qual se caracteriza pelo tra- também, enquanto símbolo revelador de práticas coti- tamento e análise de dados que expressam as subjeti- dianas, do congraçamento popular e entrelaçamento de vidades, os simbolismos, atitudes e crenças dos grupos vivências coletivas, festas, rituais e outros mecanismos sociais. Na visão de alguns autores (Barros E Lehfeld, de reposição de uma memória e de uma identidade em 2000; Appolinário, 2009; Minayo, 1994) a pesquisa de permanente processo de transformação. caráter qualitativo pressupõe o contato direto do pesqui- Todos esses símbolos são identifi cados pelos morado- sador com o objeto ou realidade investigada, buscando o res e integram um conjunto de referências que permitem entendimento das relações, dos processos e dos fenôme- aos habitantes de um dado espaço geográfi co torná-lo nos sociais de modo a revelar os signifi cados, os detalhes signifi cativo, transformando-o em lugar antropológico. e minúcias impossíveis de serem analisados sob a pers- Assim, pensar a cidade enquanto representação social pectiva quantitativa. equivale a identifi car as nuances das práticas sociais Realizaram-se entrevistas semi-estruturadas junto à dos atores locais nos seus espaços de vivência, na medi- comunidade do bairro da Praia Grande, no Centro His- da em que ela se constitui em materialidade, de legados tórico de São Luís- Maranhão. A coleta de dados efeti- culturais, construtos de heranças compartilhadas pelos vou-se no mês de fevereiro de 2010, durante três dias na grupos sociais traduzidas em símbolos e signifi cados semana, em locais de intenso fl uxo de transeuntes. Por conferidos ao longo dos processos históricos. meio de uma amostra não-probabilística por intencio- O patrimônio cultural está intrinsecamente relacio- nalidade (Dencker, 1998), entrevistaram-se agentes da nado às vivências de uma comunidade e estas interco- comunidade local, tendo por base um roteiro de pergun- nectadas ao bairro, ao centro histórico, à cidade. Nesse tas semi estruturado, possibilitando, assim, o posiciona- sentido, os espaços urbanos contêm em si referências mento dos sujeitos em relação à temática levantada pela para determinado grupo social na medida em que se pesquisa. reveste de valores simbólicos, memorial, que remete às Diante do exposto, inicialmente propõe-se uma dis- diferentes histórias, memórias e identidades locais. Há cussão sobre espaço urbano, patrimônio cultural e me- ligação entre a coletividade e o lugar, onde os saberes mória, apresentando elementos que convergem para e fazeres comunitários continuam sendo apreendidos e uma concepção antropológica de centro histórico en- ressignifi cados. quanto entidade dinâmica que revela as dimensões ma- O patrimônio cultural interage com o momento pre- teriais e intangíveis da cultura produzida ao longo dos sente, sendo então referencial histórico e identitário e processos históricos. suporte das manifestações culturais e da vida cotidiana. Tendo como cenário o bairro da Praia Grande, locali- Nessa perspectiva, que insere um conjunto de crenças, zado no Centro Histórico da cidade de São Luís, Maran- opiniões, idéias, mitos, estereótipos e preconceitos sobre hão, em seguida o artigo analisa os espaços materiais o objeto social – o lugar de memória, o conceito de lu- e simbólicos onde se processam as interações comuni- gar pode ser entendido como o resultado dessas práticas tárias, sendo estes considerados lugares de memória sociais distintas e do sentimento de pertença que lhe é em virtude das relações, valores e signifi cados que eles inerente, revelando por sua vez a função identitária. revestem para os moradores do bairro. Posteriormente, O presente trabalho tenciona analisar os lugares de estabelece-se uma relação entre turismo cultural e lu- memória do centro histórico de São Luís, Maranhão, sob gares de memória, discutindo as possibilidades de seu a perspectiva do Turismo Cultural. A abordagem pro- aproveitamento turístico, tendo como pressuposto o uso posta objetiva analisar os usos, signifi cados e simbolo- sustentável dos recursos patrimoniais e sua apropriação gias inerentes aos espaços materiais e simbólicos onde e valorização por parte da comunidade local. se manifestam os vínculos comunitários de trabalho, co- tidiano, festas e lazer dos moradores da Praia Grande. Como norte teórico, o estudo parte de questões relaciona Patrimônio cultural urbano e lugar de memória questões sobre espaço urbano (Lynch, 1988) patrimônio cultural (Canclini, 1999) e memória (Nora, 1993; Le O patrimônio cultural enuncia os diferentes modos Goff, 1996), no sentido de descrever os signifi cados das pelos quais os grupos sociais defi niram a sua identidade,

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diante de várias possibilidades de viver, sentir e agir memória vincula os indivíduos a experiências pessoais enquanto membros de uma realidade. A emergência da marcantes e indeléveis, que caracterizam a sua trajetó- dimensão imaterial do patrimônio associa-o à concepção ria de vida. “No decorrer de sua história, toda cidade se de lugar antropológico, uma vez que as diferentes socie- enriquece de lugares aos quais pode ser atribuída uma dades se formam a partir dos símbolos que representam função simbólica, recebida por destinação, ou em virtu- o espaço vivido e que são passados entre gerações suces- de de algum acontecimento” (Balandier, 1980:11). sivas, “o lugar antropológico é a construção simbólica e Através das feições urbanísticas, dos monumentos, concreta do espaço, que se refere à casa, às aldeias, ou casarões e prédios históricos, compreendem-se as re- seja, aos lugares que têm sentido, que são identitários, lações sociais que se encerram nos espaços urbanos, ou relacionais e históricos e que trazem subjacente o senti- seja, as experiências coletivas e pessoais que defi nem o do de permanência” (Augé, 1994: 34). envolvimento subjetivo entre homem e meio ambiente Milton Santos (1996) ao discutir a dimensão mate- físico, por um lado, e do outro, entre o homem e a iden- rial e simbólica do espaço geográfi co, defi ne-o como um tidade. Segundo Nora (1993), os lugares de memória sistema indissociável de objetos e ações. Na sua visão, caracterizam-se por serem dialeticamente materiais, o espaço geográfi co é constituído por formas, objetos e simbólicos e funcionais, relacionando-os aos espaços conteúdos, ou seja, pelo entrelaçamento de elementos institucionalizados, tais como centros de documentação, fi xos, ordenados no decorrer do processo de apropriação bibliotecas, museus e arquivos, e às celebrações coleti- humana, e um sistema de relações sociais e legados cul- vas- festas, comemorações - que permitem a reatuali- turais impressos ao longo dos processos históricos. zação de fatos e acontecimentos, e através dos quais a Com base nessa concepção, o lugar enquanto dimen- história se legitima. são do espaço geográfi co consiste numa construção so- O referido autor identifi ca-os enquanto espaços cial em permanente estado de transformação, onde os impregnados por um forte conteúdo simbólico e de re- diferentes atores interagem entre si, e o resultado ou so- ferências culturais, elos de continuidade em relação a matório de tais relações está imbricado de signifi cados. um passado socialmente construído, sendo aportes de Tais signifi cados equivalem a um aporte referencial de referências culturais. Considerando que as lembranças valores, posturas e códigos culturais que transcendendo precisam de elementos que permitam a sua rememo- a existência concreta, tornam-se elo dos contemporâ- ração, torna-se válida a associação entre patrimônio neos a um passado socialmente construído, e destarte, cultural- histórico-arquitetônico ou imaterial- e lugar portador de uma memória e de uma identidade coletiva. de memória, uma vez que este se torna referência para A memória atua no nível intersubjetivo como um qua- uma comunidade. O patrimônio cultural torna-se im- dro de referências que permite aos indivíduos percebe- portante fonte de interpretação da memória, do passa- rem nos marcos citadinos, nas cores e cheiros, texturas do e do presente, e contribuiu para o revigoramento da e personagens; na arquitetura e na paisagem urbana, identidade local, regional e nacional. elementos construtores e constituintes de uma trama Ampliando essa discussão, Berdoulay (2007) eviden- social comum, de uma história coletiva, cujos ecos de cia as relações intrínsecas existentes entre as dimen- um passado e de uma cultura compartilhada formam a sões espaciais do lugar, corporifi cadas e objetivadas, e a memória social, e tem ressonância nas redes de relacio- sua face imaterial ou intangível. Compreende o lugar de namento, em geral, e nas vivências cotidianas de cada memória como espaço in situ, isto é material, construído indivíduo em particular (Le Goff, 1996; Bosi, 1994). e edifi cado ao longo das relações sociais, e in visu, posto Acresce-se a essa percepção, o fato do patrimônio sig- que surge também no plano mental ou subjetivo: nifi car a rememoração ou a lembrança da própria ação humana em diferentes tempos e lugares, “todo cidadão Ora, sabemos que a cidade não se dá aqueles que possui numerosas relações com algumas partes de sua a ocupam como uma entidade abstrata ou como ins- cidade, e a sua imagem está impregnada de memórias e trumentos destinados apenas a certos usos técnicos signifi cações” (Lynch, 1988: 11). (circular, trabalhar, morar, etc.). Ela possui uma rea- A memória está relacionada intimamente às expe- lidade espessa de sentidos particulares relacionados riências em sociedade, sendo reelaborada no presente, às pulsões mais profundas do próprio sujeito. Neste como fi o condutor das tramas de relações que envolvem caso, a cidade é cor ou ausência de cor, luz ou ausên- as subjetividades dos diferentes grupos sociais. O pa- cia dela e assim por diante, além de uma dimensão trimônio cultural oferece aos viventes a possibilidade biográfi ca da cidade, que confere a “minha cidade” de perceberem a sua origem, de seus familiares e ante- o sentido de meu “lugar de vida” (Freire, 1997: 25). passados, ou seja, o patrimônio como representação da

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Nesse sentido, o espaço geográfi co como lugar de me- tações por parte daqueles que nele estabelecem vínculos mória constrói-se a partir das experiências cognitivas, de pertença. Assim, torna-se possível a sua inferência das signifi cações, dos imaginários e das subjetividades como espaço híbrido, de tempos idos e vindouros, da me- dos diferentes grupos sociais. Trata-se de um espaço de mória individual e social, lugar turístico e lugar de sin- interação, carregado por um forte sentimento de terri- gularidade, da diferença e da semelhança e, portanto, torialidade, apropriado física e espiritualmente por um construtor de identidades. determinado grupo social, “conforme a cidade acumula O patrimônio cultural da Praia Grande torna-se memórias, em camadas que, ao somarem-se vão cons- marco de referências, não apenas físicas, mas, sobre- tituindo um perfi l único, surge o lugar de memória [...] tudo culturais, relevante para a construção do espaço onde a comunidade vê partes signifi cativas do seu pas- geográfi co enquanto palco da existência dos atores so- sado com imensurável valor afetivo (Gastal, 2002: 77). ciais. Tendo como eixo norteador as relações entre cida- Através da memória intensifi ca-se o sentido de per- de, memória e patrimônio cultural, tornou-se possível, tencimento dos grupos sociais a um passado ou origem a partir das entrevistas qualitativas realizadas com os comum, delimitando, nesse sentido, fronteiras sócio- moradores do bairro da Praia Grande, estabelecer as re- culturais. A memória como suporte de informações e lações entre o passado da urbe colonial, preservado e salvaguarda de determinadas lembranças, fatos e acon- re atualizado, e os liames afetivos que possibilitam aos tecimentos, permite aos indivíduos situarem-se em um moradores identifi car-se com determinadas porções do dado contexto histórico e social, reelaborando-o, num bairro. mecanismo incessante presidido pela dialética da lem- brança e do esquecimento (Pollak, 1989). Mapeando os lugares de memória da praia gran- Aos grupos sociais torna-se necessária a eleição de de: usos, signifi cados e relações determinados marcos simbólicos que garantam o senti- do de permanência e de pertencimento a uma sociedade, As referências urbanas presentes no bairro da Praia uma vez que a aceleração dos contatos e a maior inter- Grande demonstram o caráter de permanência dos dife- dependência entre as regiões- resultantes das trans- rentes testemunhos que propiciaram o desenvolvimen- formações científi cas e tecnológicas e da globalização -, to urbano daquele espaço, embora revestidos de novas produzem modifi cações nas identidades culturais: funções e signifi cados. Nessa perspectiva, o núcleo ini- cial da cidade apresenta-se como um texto fragmentado, [...] é preciso que algo permaneça para que recon- sobreposto por diferentes vozes do passado, e que são heçamos nosso esforço e sejamos recompensados com acionadas, enquadradas, reelaboradas e transformadas estabilidade e equilíbrio. A vida do grupo se liga es- pelos viventes, mediante o dispositivo da memória. treitamente à morfologia da cidade: esta ligação se Na perspectiva dos moradores entrevistados, a Praia desarticula quando a expansão industrial causa um Grande não representa apenas o marco da evolução da grau intolerável de desenraizamento (Bosi, 1994: 447). cidade de São Luís, mas adquire um signifi cado especial por ser o local onde são tecidas as diferentes relações O bairro da Praia Grande, localizado no centro his- sócio-culturais, e onde se situam os lugares de conví- tórico de São Luís, Maranhão, Brasil, constitui-se no vio, do comércio, das festas sagradas e profanas, e das principal elemento de atratividade turística da cidade, interações turísticas. Emerge também como cenário de apresentando características toponímicas estilos ar- disputas pela moradia, pela preservação das tradições e quitetônicos particulares, além de valores e estilos de pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. vida já desaparecidos em outros bairros da cidade. É um Considerando-se que “nem todos os grupos locais de núcleo que ainda mantém uma diversidade de usos, de uma mesma cidade ‘enquadram’, com as mesmas ca- atividades comerciais, institucionais, portuárias e re- racterísticas sua relação com o passado e, a partir dela, sidenciais. Nele sobressaem-se vários tipos populares, suas representações sobre o que legitimam como luga- tais como os feirantes, os engraxates, os ourives, que res da memória” (Lacarrieu, 1999: 139), constata-se que ainda mantém suas atividades tradicionais. Becos, es- os locais que cristalizam a memória de fatos e aconteci- cadarias, ruas e pedras de cantaria; solares, sobrados e mentos pessoais ou coletivos tornam-se referenciais cul- mirantes complementam a ambiência colonial, atraindo turais mais ou menos signifi cativos para os residentes um público de turistas e visitantes. ao longo de sua experiência no lugar. O bairro da Praia Grande e seus elementos defi ni- Isso signifi ca afi rmar que os lugares de memória são dores constituem-se um texto que enuncia a história produzidos e reelaborados de acordo com a posição so- da cidade e sobre o qual emergem diferentes interpre- cial do sujeito num determinado contexto ou momento

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histórico. Obedecem ainda a estados de transitoriedade, culturais presentes no projeto de dominação holandesa vinculados às próprias relações que os grupos sociais es- do século XVII. tabelecem com o tempo e o espaço. Os moradores costumam freqüentar a Igreja do Des- Há, em todas as sociedades, lugares considerados sa- terro para participar de cultos e festas religiosas, para grados, onde os indivíduos manifestam suas crenças e as orações, ou simplesmente pela tranqüilidade do tem- tradições, e por meio dos quais determinados grupos so- plo religioso ou para a contemplação de seus elementos ciais ligam-se ao universo simbólico ou transcendente, construtivos singulares. A Igreja do Desterro, patrimô- fortalecendo suas ligações com os santos ou entidades nio material e espiritual para os moradores é entendida cultuadas, e reafi rmando a sua fé no sagrado. como lugar sagrado, repleto de simbologias e represen- No campo das relações terrenas, os santuários, os tações acerca da memória e das tradições locais. Inscre- templos religiosos, as casas de culto afro, e demais vendo-se no campo do simbólico e do sensível, adquire a construções que expressam a religiosidade de um lugar, função de articular ou mobilizar a comunidade do Cen- detém fortes vínculos com o cotidiano das comunidades tro Histórico, em torno de práticas de sociabilidade e onde se situam e tornam importantes instrumentos de reciprocidade culturais específi cas: formação social e identitária. Considerada pela histo- riografi a local como sendo um dos primeiros templos Os pertences, parentes, amigos e a base territorial erigidos no Maranhão, a Igreja de São José do Desterro experienciada fazem parte do acervo íntimo do indiví- (Figura 1) remonta ao século XVII. Durante a invasão duo. Pausa, movimento e morada conferem ao mundo holandesa no Maranhão, em 1640, foi destruída e pos- vivido a distinção do lugar. As experiências nos locais teriormente reconstruída na primeira metade do sécu- de habitação, trabalho, divertimento, estudo e dos lo XIX por iniciativa dos moradores da comunidade do fl uxos transformam os espaços em lugares, carregam Desterro. em si experiência, logo, poesia, emoção. Sensação de paz e segurança dos indivíduos que estão entre os “seus”, tem uma conotação de pertinência por perten- cer à pessoa e esta a ele, o que confere uma identidade mútua, particular aos indivíduos (Mello, 1997: 94).

Assim, a Igreja do Desterro torna-se elo dos contem- porâneos a seus antepassados, espaço de interação dos indivíduos com a sua dimensão espiritual, e de vivência, posto que se associa às experiências cotidianas dos mo- radores. O templo religioso detém, assim, um valor cog- nitivo e formal, acrescido dos valores de afetividade e de uso (Gastal, 2002), sendo defi nido como espaço de pro- dução e circulação de tradições ritualísticas, e de mani- festações culturais no eixo Praia Grande- Desterro. A própria localização da Igreja do Desterro permite apreendê-la enquanto lugar complexo, ao carregar de- terminados símbolos e signifi cados - presentes nas sub- Figura 1- Igreja do Desterro. Fonte: Acervo da autora (2008). jetividades dos atores comunitários, nas festas, ritos e cultos religiosos - e possuir, muitas vezes, uma função Esse fato, presente na memória popular, conforme de mediar confl itos que se operam no âmbito das inte- observado em alguns relatos pode ter contribuído para rações comunitárias. uma maior identifi cação e sentimento de pertença dos Símbolo posicionado na área central do Desterro, ao moradores entrevistados em relação a esse templo reli- redor do qual foram sendo edifi cadas as construções de gioso, embora existam outras igrejas próximas ao bairro caráter popular, sua área de atuação ou de infl uência da Praia Grande. transcende as fronteiras físicas e espaciais do patrimô- Lugar simbólico, o processo de reconstrução da Igre- nio edifi cado, estendendo-se ao campo do privado, das ja pela iniciativa popular fez-se presente na memória relações familiares, e inserindo-se nos problemas so- dos moradores, posto que a ela se reportaram como íco- ciais vivenciados pelos moradores da Praia Grande. ne de afi rmação da religiosidade popular em relação à Por meio desta edifi cação religiosa, são acrescidas tentativa de imposição de novos valores e práticas sócio- e fortalecidas as relações entre familiares, vizinhos,

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membros da associação dos moradores do bairro da Praia Grande e do Desterro e visitantes. Os morado- A concepção de lugares referenciais indicada por Pe- res sentem-se emocionalmente seguros pela presença llegrino (2002) segue a perspectiva dos lugares de me- da Igreja enquanto ambiente acolhedor e instrumento mória proposta por Nora (1993). Determinados marcos de socialização dos jovens da comunidade. Acresce-se a da cidade tornam-se símbolos, referências para a comu- essa constatação o fato da Igreja do Desterro servir de nidade, apresentando a função de ativar a lembrança suporte para o desenvolvimento de práticas individuais dos moradores acerca de determinados fatos ou aconte- e coletivas, e de determinados usos sociais que são reali- cimentos existentes na história da cidade, ao tempo em zados pelos moradores no Largo do Desterro. que promovem novas articulações com o presente. Nesse espaço, convergem não apenas as celebrações Transformados em lugares referenciais ou lugares de conduzidas pelos párocos, tais como festejos, missas e memória, tornam-se verdadeiros guardiões das relações procissões em homenagens aos santos, mas também as materiais e imateriais que determinados grupos de uma atividades lúdicas, os jogos e brincadeiras populares, as sociedade julgam ser relevantes para a compreensão de festas profanas. Os moradores apropriaram-se do entor- sua própria trajetória cultural. Próximo à Igreja do Des- no do bem patrimonial de maneira diversa, dinâmica e terro situa-se o Convento das Mercês, fundado em 1654 heterogênea. pelos padres Mercedárius (Figura 2). Ao longo do sécu- Assim, a Igreja do Desterro confi gura-se como lugar lo XIX, transformou-se em sede do corpo dos bombeiros polissêmico, de confl uência de diversos atores da comu- e quartel da polícia militar. Na atualidade, o Convento nidade e exterior a ela, tornando-se signifi cativa para possui uma função museal, de salvaguarda da memória a compreensão da dinâmica do espaço urbano da Praia histórica de fatos e acontecimentos, uma vez que abri- Grande não apenas pela sua presença física, material, ga a Fundação da Memória Republicana. Além da ex- construção e obra da engenharia comunitária, mas por posição de acervo referente ao período nesse local são se constituir num espaço praticado, de congraçamento realizadas exposições, mostras e atividades culturais. popular. Dessa forma, sua importância reside nos signi- fi cados conferidos pelos moradores, na medida em que são as experiências culturais que envolvem a “alma dos objetos” (Silveira e Filho, 2005), tornando-os portadores de referências identitárias. A compreensão da cidade como espaço urbano de criação coletiva, produto e processo, abrange também uma análise acerca daquelas porções do urbano que se descortinam como testemunhos de um passado em es- treita relação com o presente. O largo da Igreja, a praça, as escadarias, os mirantes, os becos, as ruas, denotam sentido e signifi cado memorialístico para a comunidade, tornando-se patrimônios afetivos (Martins, 2004). Estando voltados para as demandas das sociedades contemporâneas, esses patrimônios afetivos assumem uma posição de continuidade no tempo e no espaço, e em Figura 2- Convento das Mercês. Fonte: GOVERNO DO ESTA- alguns casos, são reconfi gurados, tornando-se vetores DO DO MARANHÃO (2008). para a expressão de novos valores e signifi cados cultu- Os entrevistados que indicaram o Convento das Mer- rais presentes nas sociedades, porém, mantendo as suas cês como local de signifi cância histórica e cultural fi ze- especifi cidades históricas e arquitetônicas. Pellegrino ram-no por relacioná-lo restritamente às apresentações (2002: 01) conceitua os lugares referenciais como sendo: de grupos de cultura popular, tais como de bumba-meu- boi que ocorrem nesse espaço durante o mês de junho. A [...] objetos no espaço defi nidos como materia- sua função, enquanto prédio de manifestação da fé ca- lidades e práticas culturais que, ao serem contem- tólica, não se reatualizou na fala dos moradores entre- plados e despertarem a refl exão, destacam-se no vistados. O patrimônio arquitetônico não foi lembrado, tecido urbano e no conjunto das manifestações nem a sua função atual de abrigar mostras e exposições populares, por mediarem distintos fatos históri- de caráter cultural. cos ou por representarem heranças técnicas, es- Nesse sentido, ocorreu uma supressão da memória téticas e culturais de temporalidades passadas. religiosa e da história da construção do Convento nas

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lembranças indicadas pelos moradores, as quais foram Além de orientar e unir determinados itinerários contextualizadas no tempo vivido, tendo como marco ou trajetos no bairro, os espaços públicos acompanham simbólico o Vale Festejar. Desse modo, a noção de pa- a dinamicidade urbana e as transformações sociais, trimônio cultural também se traduz nas manifestações econômicas, políticas e culturais, contribuindo para a populares, ou seja, “a experiência vivida também se con- formação da imagem da cidade entre os seus habitan- densa em linguagens, conhecimentos, tradições imate- tes e visitantes. “O objeto, portanto, fala sempre de um riais, modos de usar os bens e os espaços físicos” (Can- lugar, seja ele qual for, porque está ligado à experiência clini, 1999: 99). dos sujeitos com e no mundo, posto que ele representa Os lugares de memória consistem na materialização uma porção signifi cativa da paisagem vivida” (Silveira das práticas sociais, dos saberes e fazeres tradicionais. O Con- vento das Mercês desempenha essa função junto aos morado- res, ao ser simbolizado como suporte para a reafi rmação do bumba-meu-boi como elemento identitário, embora apresen- tando no presente novas signi- fi cações. Ao estabelecer relações en- tre memória individual e a so- ciedade, Bosi (1994) tece uma análise sobre os “quadros so- ciais da memória”, assinalando que as diferentes memórias es- FiguraFigura 3- PraçaPraça Nauro Machado ((A)A) e estrutura ((B)B) paparara shows de cultura popopular.pular. Fonte: tão enraizadas numa multipli- Acervo da autora (2010). cidade de espaços, paisagens e lugares, tais como a casa, o quintal, o fragmento de uma e Filho, 2005: 40). rua ou de um bairro, os quais entrelaçam memórias pes- Construída em 1982 e inicialmente denominada soais, individuais, com a memória do corpus social. Praça da Praia Grande, a Praça Nauro Machado (Figu- Dessa forma, os espaços de vivência e de convivên- ra 3) foi um lugar escolhido pelos moradores em virtude cia presentes nas áreas urbanas apresentam-se, em al- de sua localização privilegiada, da sua ambiência, e por guns casos, como a extensão da casa, do lar habitual. servir de suporte para a realização de passeios, encon- Por meio deles podem ser reestabelecidos ou intensifi ca- tros e conversas entre amigos. dos os laços familiares e sociais. No âmbito da dinâmica O cidadão, ao apropriar-se de um lugar, produz sem- dos espaços urbanos, a praça pública refere-se ao “lugar pre um processo de identifi cação. As transformações intencional do encontro, da permanência, dos aconteci- operadas pelos diferentes grupos sociais inscrevem- mentos, de práticas sociais, de manifestações de vida ur- se no lugar, imprimindo-lhe um sentido de pertença e bana e comunitária e de prestígio, e, conseqüentemente, de identidade (Tuan, 1980). Ao reportarem-se à Praça de funções estruturantes e arquiteturas signifi cativas” Nauro Machado, os moradores associaram-na à sua (Lamas, 2000: 102). vida cotidiana, expressa na diversidade de formas de Assim, a praça enquanto lugar público emerge como apropriação, uso e percepção desse local enquanto lugar local coletivo, de circulação de pessoas e de fl uxos, de de frequentação e de relação. sociabilidades, podendo ligar ruas, bairros, e possui a Além de se constituir lugar de lazer, descanso e con- função de manter a ambiência de uma determinada templação, a Praça, sobretudo nos fi nais de semana, é área, propiciando aos moradores e transeuntes os va- utilizada para a realização de shows de cultura popular lores de sensibilidade estética, busca do equilíbrio físi- e feiras de artesanato. Muitos moradores destacaram a co, psicológico ou emocional, e de fruição das paisagens importância das apresentações culturais promovidas na natural e urbana. Essas construções produzem, assim, praça para a dinamização econômica do bairro e para um sentimento de identifi cação, por relacionar-se aos a valorização das tradições populares. Por intermédio percursos diários e às experiências de lazer e convívio dos depoimentos, observa-se que a praça confi gura-se social. como uma intercessão entre os diferentes atores sociais,

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tornando-se um espaço público multifuncional, onde são dores, turistas e moradores (Figura 4). Construída em desenvolvidas práticas associativas, de lazer e de entre- 1820 sob a designação de Terreiro Público, o espaço con- tenimento. Lugar de memória repleto de signifi cações sistia num importante entreposto comercial, local de de- coletivas, históricas, vivenciais e psicológicas. pósito e distribuição de mercadorias que eram trazidas Assim, enquanto lugar, a Praça Nauro Machado é para a cidade de São Luís através do Porto da Praia sentida, pensada e vivida pelos moradores do bairro da Grande. Praia Grande, equivalendo ao “[...] espaço material onde A atual Feira da Praia Grande localiza-se na área se inscrevem os atos de gerações e onde o processo de central do bairro, na antiga Praça do Comércio. Consti- apropriação aparece como condição necessária à vida tui-se num quarteirão formado por lojas de artesanato, que se realiza no e através do uso [...]” (Carlos, 1996: bares e restaurantes e o seu acesso pode ser realizado 69). pelas quatro ruas que cercam a Feira. Sua importância Os patrimônios culturais confi guram-se materiali- remonta à própria história do bairro, uma vez que ao re- dades e subjetividades que se manifestam nos espaços dor desse estabelecimento comercial foram sendo cons- comunitários, por meio dos quais se evocam memórias truídos os sobrados, armazéns e casas comerciais ao e identidades plurais. Nesse sentido, as feiras e merca- longo do antigo Porto que deu origem à Praia Grande. dos populares, além de se constituírem remanescentes Os moradores entrevistados consideraram o local de um legado cultural, tornam-se espaços reatualizados importante por ter contribuído para o desenvolvimento no presente, estando intrinsecamente relacionados às e consolidação da Praia Grande, pela função econômi- demandas das sociedades contemporâneas, nas quais se ca assumida em tempos passados e, sobretudo, por sua inserem o comércio, o lazer e o turismo. diversidade cultural, expressa nos produtos comercia- Para além das relações comerciais, da exposição e lizados, nos personagens e festas populares que o local comercialização de produtos e mercadorias, as feiras abriga. A Feira é assumida pelos moradores como um constituem-se locais de encontro, relação e sociabilida- local dotado por um sentido emocional, visto que atra- de, de manifestação da cultura popular e do lazer das vés dela eles se sentem integrados ao meio onde vivem, comunidades (Peciar, 2006). Representam em alguns estabelecendo relações de reconhecimento e de troca. casos, a extensão do lar habitual dos comerciantes e mo- A Feira, com suas tradições, eventos e relações, con- radores, além de nelas estarem impregnadas as diver- fi gura-se como espaço híbrido, de múltiplas referências, sas memórias, lembranças e recordações presentes no e de compartilhamento de diversas vivências, síntese corpus social. dos processos históricos e culturais da cidade. Nela ma- Outro lugar de memória é a Feira da Praia Grande nifestam-se diferentes práticas e produções culturais, ou Casa das Tulhas, que revela múltiplos personagens, abrigando elementos sagrados e profanos, tais como as dentre os quais se destacam comerciantes, consumi- performances de grupos de capoeira, e os festejos em homenagem a São José das Laranjeiras, considerado o santo protetor dos comerciantes. Durante as sextas- feiras, transforma-se em um palco para as apresen- tações de grupos de Tambor de Crioula, manifestação tradicional do Estado. Por intermédio dos depoimentos obtidos observou- se que a Feira da Praia Grande confi gura-se como uma intercessão entre os diferentes atores sociais, tornan- do-se um espaço de afi rmação das identidades comu- nitárias, possuindo um caráter multifuncional. A Fei- ra constitui-se um patrimônio afetivo (Martins, 2004) para os moradores entrevistados, detendo um valor cognitivo e formal, acrescido do valor de uso (Gastal, 2002), sendo defi nido como espaço de produção e cir- culação de mercadorias, onde são desenvolvidas ati- vidades associativas, de lazer e de entretenimento, Figura 4- 4- Detalhe da entrada principal da Feira da Praia Grande dentre as quais se destaca o Tambor de Crioula (Figu- (A) e banca de ervas e frutas (B) posicionadas ao longo do corre- ra 5) manifestação tradicional muito apreciada pelos dor. Fonte: CORTÊS (2007). residentes e apontada pelos entrevistados como lugar de memória.

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e guardiães do patrimônio. Assim, constataram-se as in- ter relações entre os aspectos histórico-arquitetônicos e a dimensão imaterial do patrimônio do bairro da Praia Grande, na medida em que não se pode dissociar na atualidade o patrimônio edifi cado do contexto ambien- tal e sócio-cultural onde ele está inserido. As memórias associadas aos lugares podem, numa perspectiva de desenvolvimento, propiciar trânsitos de visitantes que buscam o contato com o legado cultural das comunidades por meio do desenvolvimento de ati- vidades vivenciais e de lazer capazes de produzir si- tuações de aprendizado e educação. No bairro da Praia Grande, os lugares de memória, os modos de vida e cos- tumes populares, as práticas sócio-culturais e manifes- Figura 5- Tambor de Crioula na Praia Grande. Fonte: GOVER- tações tradicionais que integram o acervo arquitetônico NO DO ESTADO DO MARANHÃO (2009). local podem se constituir num importante elemento da oferta turística da cidade. Os moradores do bairro da Praia Grande identifi cam- A sua potencialização por meio do turismo cultural se com o Tambor de Crioula, vinculando-o ao seu coti- pode contribuir para uma maior aproximação entre vi- diano como forma de resistência e liberdade dos negros sitantes e anfi triões, propiciando o diálogo e a interação escravos à livre manifestação de seus cultos, rituais, sócio-cultural, gerando, dessa forma, benefícios sociais mitos, danças e tradições. Muitos afi rmaram o caráter e econômicos, além de fortalecer os laços afetivos da co- genuíno dessa manifestação, caracterizando-a como munidade local em relação ao seu patrimônio. símbolo da cultura popular maranhense.Expressão po- pular de matriz africana praticada por descendentes de A perspectiva turística dos lugares de memória negros escravos, o Tambor de Crioula faz-se presente na capital e no interior do Estado. É uma brincadeira O imaginário urbano, os valores simbólicos, as re- de roda realizada em louvor ou pagamento de promes- lações identitárias, a vivência cotidiana e festiva dos sas a santos católicos, principalmente a São Benedito, grupos sociais que culturalizam as cidades, tornando-as ou a entidades espirituais, sendo comum a presença do entidades dinâmicas e singulares apresentam-se como Tambor de Crioula nos festejos das casas de culto afro importante recursos ou atrativos a serem transforma- da cidade (Ferretti, 2002). dos em produto de consumo por meio da atividade turís- Observou-se que o Tambor de Crioula possui um tica. O turismo cultural baseia-se na produção material signifi cado existencial para os moradores do bairro, de e espiritual de uma comunidade, ou seja, transita em reencontro com as tradições locais, servindo como re- torno dos patrimônios culturais apropriados e recriados ferência identitária. Alguns residentes afi rmaram já na dinâmica social, sob a forma de roteiros, produtos e terem participado como brincantes da manifestação e atrações. que costumam prestigiar os eventos da cultura popular Na visão de Lucas (2000) o turismo pode ser aprendi- quando acontecem no bairro. do como a combinação das manifestações autênticas de A maioria dos entrevistados vinculou essa tradição um determinado local, município ou da região, atrelado cultural aos marcos urbanos presentes na Praia Gran- à existência de serviços e infraestrutura para sua apre- de, tais como a Rua Portugal e a Feira da Praia Grande, sentação, promovida por moradores, profi ssionais ou uma vez que se torna habitual apresentações de grupos administradores. O contato intercultural proporcionado de Tambor de Crioula nos espaços públicos do bairro. pelo turismo tende a contribuir para o fortalecimento do Conforme observado os lugares de memória transcen- sentido de pertencimento dos atores sociais em relação dem às demarcações dos espaços ofi ciais de salvaguar- à sua cultura, mediante a compreensão do seu lugar da do patrimônio, abrangendo também os espaços livres social e cultural e favorecendo perspectivas de valori- (Berdoulay, 2007). zação e revitalização do patrimônio cultural existente Neles, as diversas memórias se imbricam, adquirin- em áreas urbanas. do novos matizes, posto que a elas vinculam-se as subje- Enquanto resultado da transformação do patrimônio tividades dos grupos sociais que não eram considerados cultural em produto turístico emergem novas relações, pelas políticas de patrimonialização como construtores os patrimônios hibridizam-se, reconfi guram-se e sofrem

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modifi cações. O turismo repercute nas formas de apre- e revitalização de monumentos e lugares e, por conse- sentação e disposição dos elementos do espaço urbano, guinte, do restabelecimento das memórias individuais e delimitando áreas de interesse comercial e cultural, com coletivas. Nesse caso, “[...] os monumentos e o patrimô- ênfase em determinados marcos, logradouros, roteiros, nio histórico adquirem dupla função - obras que propi- percursos ou trajetos (Boullón, 2002). ciam saber e prazer, postas à disposição de todos; mas Compreender a produção do espaço urbano nesse também produtos culturais, fabricados, empacotados e mercado implica em entendê-lo como uma construção. distribuídos para serem consumidos” (Choay, 2001:211). Ele é, simultaneamente, o lugar das estratégias para o Na medida em que o patrimônio cultural transfor- capital e das resistências do cotidiano para os habitan- ma-se em mercadoria com a ausência de participação tes. A atividade turística é uma das mais recentes mo- da comunidade nas decisões de planejamento urbano dalidades do processo de acumulação, que produz novas e turístico, perdem-se os elementos substanciais e ne- confi gurações e materializa o espaço urbano sob diferen- cessários ao pleno desenvolvimento dessa atividade, ao tes perspectivas, pela ação do Estado, das empresas, dos tempo em que reduz os laços de afetividade dos residen- residentes e dos turistas. tes em relação ao seu patrimônio. A supressão de deter- No bairro da Praia Grande, as propostas de apro- minados referenciais que contextualizam os lugares de veitamento do patrimônio cultural como objeto de in- vivência e convivência, e o esvaziamento dos conteúdos teresse para turistas e comunidades têm possibilitado culturais de bens revitalizados para o turismo repercute o reconhecimento da cultura local com recurso ao des- no estranhamento ou não-reconhecimento dos morado- envolvimento sócio econômico, entretanto, observa-se a res em relação aos espaços urbanos, fato que pode vir a necessidade de ações de inserção do patrimônio na dinâ- confi gurar uma não-relação de que trata Carlos (2002). mica contemporânea. Desse modo, ocorre uma disputa simbólica e discursi- Diante da valorização dos lugares de memória podem va entre os gestores do patrimônio local e os moradores surgir implicações no que se refere à transformação do pela apropriação e o uso efetivo do acervo arquitetônico, patrimônio-referência em patrimônio-recurso (Arantes, considerando a dicotomia existente entre preservação 1999), ou seja, uma distinção entre o valor de uso do e degradação do patrimônio e entre a memória ofi cial patrimônio e seu valor de troca. Segundo o autor na agenciada pelo turismo e as memórias dos atores so- denominada “economia simbólica do patrimônio”, oco- ciais. rre uma diferenciação entre o valor do bem patrimonial Na dinâmica da fragmentação das cidades como bens como símbolo, isto é, o conjunto de referências e sentidos ou produtos de consumo turístico, o aproveitamento tu- enraizados na vida coletiva, e como alegoria, vinculado rístico do acervo patrimonial consiste em promover a ao prazer estético e lúdico proporcionado pelo turismo. multiplicidade de usos do espaço urbano, o incentivo às Nesse mecanismo de atratividade, remodela-se o es- atividades artísticas e culturais, a criação de espaços pú- paço urbano para atender às necessidades da demanda blicos funcionais e interculturais, onde as comunidades turística. Dentre as possíveis interferências negativas possam desenvolver práticas de sociabilidade diversas, do turismo no tocante ao patrimônio cultural, destacam- propiciando a refl exividade nas relações entre os mora- se a descaracterização das manifestações populares, dos dores e turistas e o favorecimento das identidades locais valores e tradições locais na perspectiva de atender às caracterizadas pelo espírito do lugar (Peixoto, 2003). necessidades do consumo visual. O embelezamento e a Nesse sentido, decorre a preocupação em considerar higienização do local, comuns em áreas que sofrem pro- as diversas sociabilidades, os laços de pertencimento e cesso de revitalização, tendem a acentuar a privatização vínculos dos moradores em relação aos seus lugares de do patrimônio cultural urbano, em virtude da concen- referências. Esses lugares inscrevem e simbolizam as tração de atividades culturais e da elevação dos preços memórias de seus entes queridos, dos antepassados e de produtos e serviços, inviabilizando em muitos casos, das memórias do porvir. Os espaços urbanos eternizam o acesso da comunidade aos benefícios decorrentes do diferentes memórias, presentes na imaginação de seus intercâmbio cultural (Barbosa, 2001; Silva, 2004). moradores e nos lugares que foram eleitos de forma poé- A cenarização do patrimônio histórico-arquitetônico tica e afetiva por estarem vinculados à sua condição de e o consequente remanejamento da população residente membros de uma coletividade, vivida ou imaginada, e das áreas de interesse turístico implicam em alterações à sua própria subjetividade. Os lugares coletivizados na sociabilidade dos moradores em relação à presença congregam diferentes noções de tempo e experiências e de turistas em sua comunidade (Sotratti, 2010). Além instituem narrativas e fragmentos de uma parte da his- desses revezes, acrescente-se a ausência de comprome- tória da cidade colonial. timento da população local no processo de conservação No bairro da Praia Grande, os lugares de memória,

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os modos de vida e costumes populares, as práticas experiências e usos, criando passagens, umbrais, di- sócio-culturais e manifestações tradicionais que inte- recionando o olhar, recolando elementos fragmentá- gram o acervo arquitetônico local podem se constituir rios, dando estrutura e unidade ao todo realçando a num importante elemento da oferta turística da cida- identidade do lugar ou dando uma nova interpretação de. A sua potencialização por meio do turismo cultural compositiva que leve em consideração os desejos e ne- pode contribuir para uma maior aproximação entre vi- cessidades dos seus usuários, reforçando a cognição, o sitantes e anfi triões, propiciando o diálogo e a interação conhecimento, o uso e o afeto que eles têm com o lugar. sócio-cultural, gerando, dessa forma, benefícios sociais e econômicos, além de fortalecer os laços afetivos da co- A tematização da oferta de produtos e serviços im- munidade local em relação ao seu patrimônio. plica a utilização de uma metodologia compatível com No turismo cultural, a tradição oral, os imaginários, a realidade social dos destinos urbanos, avaliando o ní- a ambiência urbana, os tipos populares e as histórias vel de desenvolvimento turístico existente e mapeando construídas sobre o lugar visitado tornam-se importan- os espaços representativos da memória e da identida- tes recursos ou atrativos turísticos, ao tempo em que de local, “nesse sentido, destaca-se a noção de territo- contribuem para otimizar a experiência dos visitantes, rialidade, identifi cando o espaço enquanto experiência “os turistas querem ser atores, responsáveis e solidários individual e coletiva, onde a rua, a praça, o bairro, os em seus intercâmbios pelo mundo” (Zaoual, 2009: 57). percursos estão plenos de lembranças, experiências e Considera-se que os lugares de memória podem memórias (Matos, 2002: 35). compor um elenco diversifi cado de atrativos turísticos Baseado nesse delineamento, um conjunto de ações e culturais em conformidade com as novas tendências integradas de sensibilização e participação da comuni- do turismo na contemporaneidade. Gastal (2002) assi- dade, valorização, promoção e comercialização dos pro- nala que a incorporação da noção de lugar de memória dutos culturais devem ser consentidas na perspectiva no âmbito do planejamento e gestão da oferta de turis- de promover novas experiências aos visitantes, aliada mo cultural insurge como fator capaz de promover uma às estratégias de interpretação do patrimônio cultural. maior integração entre o tecido urbano e a sociedade, a Mediante a identifi cação dos lugares de memória, problematização dos conteúdos dos bens culturais para faz-se necessária a realização de estudos de potenciali- os visitantes, enaltecendo, assim, a experiência turísti- dade e viabilidade turísticas nas áreas selecionadas na ca, ao mesmo tempo em que fortalece os laços identitá- etapa anterior, com o mapeamento dos espaços urbanos rios entre a comunidade e o seu patrimônio. e das práticas culturais indicados que se revestem de A transformação dos espaços do cotidiano popular, um forte caráter identitário em relação aos moradores. em suas múltiplas variações, como produto ou bem Torna-se necessária a hierarquização dos lugares de de consumo cultural não se justifi ca apenas pelo viés memória selecionados, em termos de nível de atrativi- econômico decorrente do aproveitamento turístico. O dade e capacidade de mobilização de uma demanda tu- planejamento turístico desses espaços deve considerar rística diferenciada. o seu sentido simbólico como elemento referencial para Brito (2009) apresenta um modelo de gestão dos re- a construção e afi rmação de identidades, no sentido de cursos e atrativos turístico-culturais que apresenta ca- contribuir para uma maior compreensão intercultural racterísticas de transversalidade e de diálogo entre as e proporcionar experiências signifi cativas, tanto para a diferentes esferas que atuam no planejamento urbanís- comunidade local, quanto para os visitantes. tico e patrimonial e os agentes sociais. Segundo o autor, Os marcos urbanos e simbólicos existentes no bairro a conformação das cidades históricas em produtos e ro- da Praia Grande contribuem para a construção da iden- teiros turísticos necessita de instrumentos efi cazes que tidade sócio-cultural dos moradores, sendo necessária realcem as características do tecido urbano, baseado que a proposta de revitalização considere a dimensão num amplo programa de interpretação e comunicação afetiva do patrimônio cultural, seus signifi cados e as junto ao público consumidor e residentes. relações de pertencimento da população residente em Enquanto elemento fundamental destaca-se a busca relação aos marcos urbanos. De acordo com Martins pela certifi cação da qualidade das atividades desenvol- (2004:03): vidas nos núcleos patrimoniais, o que garante ganhos expressivos não apenas no âmbito econômico, mas, so- Mais importante que a criação de um cenário, bretudo, de enriquecimento cultural, tanto para os tu- que será o espetáculo para o visitante, é preciso enri- ristas, quanto para a população residente. quecer a experiência sensorial e afetiva do morador, Diante da estruturação de produtos, roteiros e fazendo-o reconhecer o lugar onde vive, reforçando atrações tematizados com a anuência da comunidade,

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integradas aos seus espaços de vida e de lazer, defi nem- vivenciada de forma compartilhada, por meio dos laços se as estratégias de valoração do produto no mercado, pessoais e sociais. envolvendo todos os agentes do setor de forma pró-ativa Observou-se que os lugares de memória constituem- e inovativa, baseada na sinergia das ações e no esforço se locais de encontro, relação e sociabilidade, de manifes- coletivo, defi nindo medidas de acompanhamento, con- tação da cultura popular e do lazer da comunidade. Em trole e avaliação dos processos urbanos e turísticos. alguns casos, representaram a extensão do lar habitual Assim, o lugar de memória como instrumento de pla- dos moradores, além de neles estarem impregnadas as nejamento turístico consiste em promover a articulação diversas memórias, lembranças e recordações presen- integrada e o protagonismo comunitários, o fortaleci- tes no corpus social. Os moradores que apropriam, tra- mento da identidade, a valorização do lugar e a sua ca- balham, transitam, ou utilizam os lugares de memória pitalização por meio do turismo, tendo como premissas promovem a diversidade das relações, reinventam suas fundamentais a proteção dos ambientes naturais e cul- tradições e constroem uma identidade específi ca. turais, a qualidade dos produtos e serviços, e a validade O aproveitamento turístico dos lugares de memória da experiência turística local. pode se inserir nas novas necessidades da demanda tu- A transformação dos espaços comunitários em pro- rística que busca uma maior interação e integração nos dutos ou roteiros turístico-culturais poderia se tornar espaços de vivência e convivência comunitária, no sen- signifi cativa ao valorizar a experiência turística no lu- tido de proporcionar um enaltecimento da experiência gar Praia Grande em um conjunto de lembranças e re- turística, oportunizando e viabilizando um cenário emo- cordações diferenciadoras para os turistas, incentivan- tivo e acolhedor, ao estimular o contato dos visitantes do o seu retorno à cidade e ampliando a participação com o patrimônio cultural da cidade. comunitária aos benefícios do turismo. Assim, as noções de cidade-patrimônio e lugar de memória, em sentido mais abrangente, isto é, com ênfa- Bibliografi a se em todas as histórias, as produções materiais e ima- teriais da comunidade, podem ser ativadas por meio de Appolinário, F. uma prática turística que se desenvolva em termos de 2009 Metodologia da Ciência: fi losofi a e prática da pes- reciprocidade e enriquecimento cultural. quisa. São Paulo: Cengage Learning. Arantes, A. A. 1999 Repensando os aspectos sociais da sustentabilida- Considerações Finais de: a conservação integrada do patrimônio ambiental urbano. In: Projeto História, (18) 121-134. São Paulo: Os espaços urbanos eternizam diferentes memórias, Educ/Fapesp, presentes na imaginação de seus moradores e nos lu- Augé, M. gares que foram eleitos de forma poética e afetiva por 1994 Não-lugares. Introdução à uma antropologia da estarem vinculados à sua condição de membros de uma supermodernidade. São Paulo: Papirus. coletividade, vivida ou imaginada, e à sua própria subje- Balandier, G. tividade. Os lugares coletivizados congregam diferentes 1980 O poder em cena. Universidade de Brasília. noções de tempo e experiências e instituem narrativas e Barbosa, Y. fragmentos de uma parte da história das cidades. 2001 O despertar do turismo: uma visão crítica sobre os Esses elementos impregnam não somente a dimen- não-lugares. São Paulo: Aleph. são física do espaço urbano, mas as relações que são Barros, A. J. da S. y Lehfeld, N. A. de S. construídas numa temporalidade própria, agregadoras 2000 Fundamentos de metodologia. São Paulo: Makron e vitais para a compreensão dos conteúdos culturais que Books. decifram as identidades presentes nos espaços urbanos. Berdoulay, V. Conforme analisado, há por parte dos membros da 2007 Enjeux iconographiques dans l’aménagement des comunidade local a valorização de um vínculo emocio- lieux de mémoire (Contribution à l’ouvrage prévu nal em relação a determinados marcos urbanos da Praia sur le thème “Lieux de mémoire, commemoration et Grande. Tal valorização decorre de experiências tempo- identité dans la francophonie canadienne”). En: Ca- rais, muitas vezes não lineares, mas fragmentadas ou hiers de géographie du Québec, 2007. 16 p. descontínuas, instituídas numa relação não raro con- Boullón, R. C. fl ituosa entre presente/passado, e entre o vivido/imagi- 2002 Planejamento do espaço turístico. São Paulo: nado. A memória dispersa nos lugares é construída e EDUSC.

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Recibido: 06/11/10 Reenviado: 18/06/11 Aceptado: 28/06/11 Sometido a evaluación por pares anónimos

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