ECODIMENSÃO MEIO AMBIENTE E RESPONSABILIDADE SOCIAL LTDA.

CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE TAINHA NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA EM SANTA CATARINA.

Produto 2 - Relatório de caracterização da pesca de tainha na modalidade arrasto de praia em Santa Catarina e recomendações sobre a gestão da pescaria.

CURITIBA DEZEMBRO/2020

Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/16/001 Processo nº 031/2020 Contrato nº 220015 Vigência: 23/06/2020 a 23/12/2020 Objeto: Contratação de pessoa jurídica, modalidade produto, para realização de serviços técnicos especializados para caracterização da pesca de tainha na modalidade arrasto de praia em Santa Catarina.

CONTRATANTE Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA CNPJ nº 00.640.110/0001-18 Endereço: SHIS QI 05, Chácara 16, Lago Sul, Brasília/DF Responsável pelo contrato: Christian Fischer Troncoso

COORDENAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DOS SERVIÇOS Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA Secretaria de Aquicultura e Pesca - SAP Departamento de Ordenamento e Desenvolvimento da Pesca - DEPOP Coordenação Geral de Ordenamento e Desenvolvimento da Pesca Marinha Titular: Carolina Amorim da Silva Bittencourt - Chefe de Divisão Suplente: Sandra Silvestre de Souza - Coordenadora

CONTRATADA Ecodimensão Meio Ambiente e Responsabilidade Social Ltda. CNPJ nº 09.469.588/0001-00 Endereço: Rua Profº Elevir Dionysio, 305 casa 2 - Fazendinha - Curitiba/PR Fone/Fax: (41) 3274-1844 – Celular: (41) 98863-0176 Site: www.ecodimensao.com.br – E-mail: [email protected]

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Equipe técnica responsável Coordenação: Washington Luiz dos Santos Ferreira. Especialista em Pesca Artesanal: Juliana Ventura de Pina. Especialista em Gestão Pesqueira: Mariana Paul de Souza Mattos. Coletor de dados: Elielson Marcelino. Coletora de dados: Anabel de Lima. Equipe de apoio Transcrição de entrevistas: Dayanne Costa Elaboração de mapas: César Vicensi Gabbi Tavares

“Este produto foi realizado no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/16/001, das Declarações, em contrato celebrado entre a CONTRATADA e o CONTRATANTE”.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 12 2. OBJETIVOS 17

OBJETIVO GERAL 17 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 17 3. METODOLOGIA 18

LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDÁRIOS 18 MAPEAMENTO DOS PONTOS DE PESCA 18 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE DADOS DA PRODUÇÃO PESQUEIRA 20 LEVANTAMENTO DE DADOS QUALITATIVOS 23 LEVANTAMENTO DE DADOS PRIMÁRIOS 23 ÁREA DE ESTUDO 23 COLETA DE DADOS DE PESCA 25 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS 38 4. CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL DE SANTA CATARINA 40

O LITORAL DE SANTA CATARINA E OS LOCAIS EM QUE OCORRE A PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA 40 LOCAIS QUE OCORREM A PESCA DE ARRASTO DE PRAIA DE TAINHA 57 CARACTERÍSTICAS CULTURAIS E SOCIOECONÔMICA DOS ENVOLVIDOS 65 DESCRIÇÃO E DINÂMICA DA PESCARIA 70 DESCRIÇÃO DAS EMBARCAÇÕES UTILIZADAS 83 CARACTERÍSTICAS DOS PETRECHOS DE PESCA 88 COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO 99 ASPECTOS NEGATIVOS RELACIONADOS À PESCA E POTENCIAIS CONFLITOS 103 CONFLITOS EXPRESSADOS PELOS PESCADORES 121 DADOS DE PRODUÇÃO PESQUEIRA, COMPOSIÇÃO E SAZONALIDADE DA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA 135 PRODUÇÃO PESQUEIRA DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL DE SANTA CATARINA DE 2003 A 2020 137 MODALIDADES DE PESCA ARTESANAL ENVOLVIDAS NA CAPTURA DE TAINHA EM SANTA CATARINA DE 2016 A 2020 150 PRODUÇÃO PESQUEIRA DA MODALIDADE DE PESCA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2020 157

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COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO PESQUEIRA DA MODALIDADE DE PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM SANTA CATARINA DE 2016 A 2020 160 LEGISLAÇÃO PESQUEIRA E SEUS GARGALOS NA PESCA DE TAINHA NA MODALIDADE DE ARRASTO DE PRAIA 175 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA O ORDENAMENTO E GESTÃO DA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA 182 DEMANDAS, SUGESTÕES E APONTAMENTOS EM RELAÇÃO À LEGISLAÇÃO PESQUEIRA 192 5. EQUIPE TÉCNICA 200 6. REFERÊNCIAS 207 7. APÊNDICES 219 8. ANEXOS 247 9. RESPONSABILIDADE 269

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – NÚMERO DE CASOS DE COVID E ÓBITOS DECORRENTES NO ESTADO DE SANTA CATARIANA, NO PERÍODO ENTRE 25/03/2020 E 01/09/2020...... 19 FIGURA 2 – SETORES DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA DEFINIDAS DE ACORDO COM O PLANO ESTADUAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO, COM DESTAQUE PARA OS MUNICÍPIOS PESQUISADOS...... 24 FIGURA 3 – ORGANOGRAMA DA COLETA DE DADOS QUALITATIVOS...... 25 FIGURA 4 – QUESTIONÁRIO DISPONIBILIZADO NA PLATAFORMA GOOGLE FORMS...... 26 FIGURA 5 – QUESTIONÁRIO APLICADO POR MEIO VIRTUAL, IN LOCO E COMO ROTEIRO DE ENTREVISTAS...... 29 FIGURA 6 – EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO APLICADO PELA SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA, DA PESCA E DO DESENVOLVIMENTO RURAL DE SANTA CATARINA...... 30 FIGURA 7 – INFORMAÇÕES ANOTADAS A PARTIR DA CONTRIBUIÇÃO DOS PARTICIPANTES...... 34 FIGURA 8 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM JAGUARUNA EM 12/08/2020. FOTO A: ANOTAÇÕES DE INFORMAÇÕES RELATADAS; FOTO B: PARTICIPANTE EXPRESSANDO SUA OPINIÃO AOS DEMAIS...... 34 FIGURA 9 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM IMBITUBA/SC EM 13/08/2020. FOTO C:

PREENCHIMENTO DE QUESTIONÁRIO INICIAL; FOTO D: REGISTRO DAS INFORMAÇÕES COLETIVAS SOBRE A PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA...... 35 FIGURA 10 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM GAROPABA/SC EM 13/08/2020. FOTO E:

PREENCHIMENTO DE QUESTIONÁRIO INDIVIDUAL PELOS PARTICIPANTES: FOTO F: ATUAÇÃO DA MODERADORA PARA COLETA DE DADOS DE FORMA COLETIVA...... 35 FIGURA 11 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM FLORIANÓPOLIS EM 14/08/2020. FOTO G:

ANOTAÇÕES DE INFORMAÇÕES PELA MODERADORA; FOTO H (AUTOR - ERNESTO SÃO THIAGO): INTERAÇÃO COM OS PARTICIPANTES...... 36 FIGURA 12 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM PALHOÇA/SC EM 24/08/2020. FOTO I: ABERTURA

PELO PRESIDENTE DA COLÔNIA SR. SÁLESIO CANTALÍCIO DE AZEVEDO E PELO SR. JOSÉ HENRIQUE

FRANCISCO DOS SANTOS (MAPA/DAP/SFA-SC); FOTO J (AUTOR – JOSÉ HENRIQUE F. DOS SANTOS):

APRESENTAÇÃO INICIAL PELOS COLETORES; FOTO K: PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO INICIAL; FOTO L: ANOTAÇÃO DE INFORMAÇÕES COLETIVAS...... 36 FIGURA 13 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM BOMBINHAS/SC EM 25/08/2020. FOTO M: ABERTURA

REALIZADA PELO PRESIDENTE DA COLÔNIA DE PESCADORES SR. LEOPOLDO JOÃO F. FILHO; FOTO N: CONFIRMAÇÃO DE DADOS COLETADOS COM OS PARTICIPANTES...... 37 FIGURA 14 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ/SC EM 26/08/2020. FOTO O:

COLETA DE DADOS INDIVIDUAL; FOTO P: DISCUSSÃO E CONFIRMAÇÃO DE INFORMAÇÕES SOCIALIZADAS; FOTO R: COLETA DE DADOS COLETIVA E DISCUSSÃO ENTRE OS PARTICIPANTES...... 38 FIGURA 15 – REUNIÃO DE GRUPO FOCAL REALIZADA EM SÃO FRANCISCO DO SUL EM 27/08/2020. FOTO S: TROCA DE INFORMAÇÃO ENTRE OS PARTICIPANTES; FOTO T: ANOTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES APONTADAS. .... 38

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FIGURA 16 – PROVÍNCIAS GEOMORFOLÓGICAS DO LITORAL DE SANTA CATARINA...... 41 FIGURA 17 – PROVÍNCIA SC 1 - ESTADOS DE PRAIA (1 A 6) E CORRENTES DE RIP: 1) DISSIPATIVO, 2) BARRA E

CALHA LITORÂNEA, 3) BARRA RÍTMICA E PRAIA, 4) BARRA TRANSVERSAL E RIP, 5) BAIXO TERRAÇO DE MARÉ, 6) REFLEXIVO...... 42 FIGURA 18 – PROVÍNCIA SC 2 - ESTADOS DE PRAIA (1 A 6) E CORRENTES DE RIP:1 DISSIPATIVO, 2 BAR E

CALHA, 3 BARRA RÍTMICA E PRAIA, 4 BARRA TRANSVERSAL E RIP, 5 TERRAÇO NA MARÉ BAIXA, 6 REFLEXIVO, 13 PRAIA + PLANÍCIES DE LAMA...... 43 FIGURA 19 – PROVÍNCIA SC 3 – ILHA DE SANTA CATARINA (BAÍAS NORTE E SUL) MOSTRANDO OS ESTADOS

DAS PRAIAS (1 A 6) E CORRENTES: 1 DISSIPATIVO, 2 RESTINGA, 3 BARRA RÍTMICA E PRAIA, 4 BARRA TRANSVERSAL, 5 TERRAÇO DE MARÉ BAIXA, 6 REFLEXIVO...... 44 FIGURA 20 – PROVÍNCIA SC 4 - ESTADOS DAS PRAIAS (1 A 6) E CORRENTES: 1 DISSIPATIVO, 2 BARRA, 3 BARRA RÍTMICA E PRAIA, 4 BARRA TRANSVERSAL, 5 TERRAÇO DE MARÉ BAIXA, 6 REFLEXIVO ...... 45 FIGURA 21 – PROVÍNCIA SC 5 - ESTADOS DAS PRAIAS (1 A 6) E CORRENTES: 1 DISSIPATIVO, 2 BARRA, 3 BARRA RÍTMICA E PRAIA, 4 BARRA TRANSVERSAL, 5 TERRAÇO DE MARÉ BAIXA, 6 REFLEXIVO...... 46 FIGURA 22 – GRAUS DE VULNERABILIDADE POR VARIÁVEL FÍSICA E O MODELO DE SUSCETIBILIDADE AO LONGO DOS SETORES GERCO/SC...... 48 FIGURA 23 – CARTA GEOLÓGICA ESQUEMÁTICA DA ÁREA (A) E MOSAICO DE IMAGENS DE SATÉLITE DA ÁREA, MOSTRANDO SUAS DUAS PRINCIPAIS ESTRUTURAS COMPONENTES (B)...... 50 FIGURA 24 – MAPA DO LITORAL DE SANTA CATARINA, COM A LOCALIZAÇÃO DOS 08 PONTOS DE ESTUDO...... 52 FIGURA 25 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA...... 60 FIGURA 26 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL CENTRO-NORTE DE SANTA CATARINA...... 61 FIGURA 27 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL CENTRAL DE SANTA CATARINA...... 62 FIGURA 28 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL CENTRO-SUL DE SANTA CATARINA...... 63 FIGURA 29 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL SUL DE SANTA CATARINA...... 64 FIGURA 30 – DEMARCAÇÃO DAS REGIÕES DO LITORAL CATARINENSE, CONFORME A PRINCIPAL PROPULSÃO PARA AS EMBARCAÇÕES PARA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA DA TAINHA...... 72 FIGURA 31 – CANOA PREPARADA À ESPERA DE ENTRAR NA ÁGUA. CANOA SENDO LEVADA À ÁGUA...... 74 FIGURA 32 – CANOA COM QUATRO E SEIS TRIPULANTES, RESPECTIVAMENTE. NAS IMAGENS É POSSÍVEL OBSERVAR O PATRÃO/POPEIRO, O CHUMBEREIRO E OS REMEIROS...... 75 FIGURA 33 – CHUMBEREIRO SOLTANDO A REDE...... 75 FIGURA 34 – FIGURA ILUSTRATIVA DO ARRASTO DE PRAIA...... 76

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FIGURA 35 – IMAGEM AÉREA DEMONSTRANDO O SEMICÍRCULO FORMADO QUANDO A REDE DE ARRASTO É PUXADA...... 76 FIGURA 36 – REDE DE ARRASTO DE PRAIA SENDO PUXADA PELOS CAMARADAS...... 77 FIGURA 37 – REPORTAGEM SOBRE ACORDO ENTRE A PESCA E O SURFE EM GAROPABA EM 2020...... 78 FIGURA 38 – CANOA MOTORIZADA TRANSPORTADA POR CAMINHÃO...... 80 FIGURA 39 – OLHEIROS FICAM EM CIMA DO CAMINHÃO PARA MELHOR OBSERVAÇÃO DA CHEGADA DO CARDUME...... 81 FIGURA 40 – REDE DE ARRASTO DE PRAIA PUXADA DE FORMA MANUAL APÓS A PESCA COM CANOA MOTORIZADA...... 81 FIGURA 41 – PAUSA PARA REFEIÇÃO FEITA PELO COZINHEIRO E SERVIDA A TODOS OS ENVOLVIDOS NA PESCARIA...... 82 FIGURA 42 – CANOA “SAMARITANA”, CONSTRUÍDA EM 1967...... 84 FIGURA 43 – CANOA “LAGUNA”, BEM MATERIAL PASSADO DE PAI PARA FILHO...... 84 FIGURA 44 – CANOA DE FIBRA A MOTOR, REBOCADA POR CAMINHÃO...... 86 FIGURA 45 – EXEMPLO DE REDE DE LISA...... 90 FIGURA 46 – EXEMPLO DE REDE DE EMALHE (REDE FEITICEIRA)...... 91 FIGURA 47 – TAINHA SENDO ORGANIZADA PARA VENDA...... 100 FIGURA 48 – IDENTIFICAÇÃO DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS DE AUTORIZAÇÕES DE PESCA NO ESTADO DE SANTA CATARINA...... 115 FIGURA 49 – CAPTURA TOTAL (TONELADAS) DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL DE SANTA CATARINA ENTRE

2003 E 2020. OS DADOS DE 2016 REFEREM-SE AOS MESES DE AGOSTO A DEZEMBRO E OS DADOS DE 2020 REFEREM-SE AOS MESES DE JANEIRO A MARÇO...... 142 FIGURA 50 – CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA POR TODAS AS MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL EM MUNICÍPIOS DE SANTA CATARINA ENTRE 2003 E 2020...... 143 FIGURA 51 – CONTRIBUIÇÃO DAS CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA NOS SETORES DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA POR TODAS AS MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL ENTRE 2003 E 2020...... 144 FIGURA 52 – CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL NOS MUNICÍPIOS DO SETOR NORTE DE SANTA CATARINA DE 2003 A 2020...... 145 FIGURA 53 – CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL NOS MUNICÍPIOS DO SETOR CENTRO- NORTE DE SANTA CATARINA DE 2003 A 2020...... 146 FIGURA 54 – CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL NOS MUNICÍPIOS DO SETOR CENTRAL DE SANTA CATARINA DE 2003 A 2020...... 147 FIGURA 55 – CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL NOS MUNICÍPIOS DO SETOR CENTRO-SUL DE SANTA CATARINA DE 2003 A 2020...... 148 FIGURA 56 – CAPTURAS ANUAIS DE TAINHA PELA PESCA ARTESANAL NOS MUNICÍPIOS DO SETOR SUL DE SANTA CATARINA DE 2003 A 2020...... 149

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FIGURA 57 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS DE TAINHA POR MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL NO SETOR NORTE DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA ENTRE AGOSTO DE 2016 E MARÇO DE 2020...... 152 FIGURA 58 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS DE TAINHA POR MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL NO

SETOR CENTRO-NORTE DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA ENTRE AGOSTO DE 2016 E MARÇO DE 2020...... 153 FIGURA 59 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS DE TAINHA POR MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL NO SETOR CENTRAL DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA ENTRE AGOSTO DE 2016 E MARÇO DE 2020. ... 154 FIGURA 60 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS DE TAINHA POR MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL NO

SETOR CENTRO-SUL DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA ENTRE AGOSTO DE 2016 E MARÇO DE 2020...... 155 FIGURA 61 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS DE TAINHA POR MODALIDADES DA PESCA ARTESANAL NO SETOR SUL DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA ENTRE AGOSTO DE 2016 E MARÇO DE 2020...... 156 FIGURA 62 – CAPTURAS MENSAIS DE TAINHA PELA MODALIDADE DE PESCA DE ARRASTO DE PRAIA NOS

MUNICÍPIOS DOS SETORES DA ZONA COSTEIRA DE SANTA CATARINA ENTRE AGOSTO DE 2016 E MARÇO DE 2020...... 159 FIGURA 63 – COMPOSIÇÃO DAS ESPÉCIES CAPTURADAS REGISTRADAS PELA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA EM SANTA CATARINA ENTRE 2016 E 2019...... 162 FIGURA 64 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS ANUAIS PELAS MODALIDADES DE ARRASTO DE PRAIA EM SANTA CATARINA ENTRE 2016 E 2019...... 163 FIGURA 65 – EXEMPLO DE UMA AUTORIZAÇÃO PROVISÓRIA DE EMBARCAÇÃO PESQUEIRA...... 163 FIGURA 66 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS POR ESPÉCIES NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA NO SETOR NORTE DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2019...... 164 FIGURA 67 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS POR ESPÉCIES NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA NO SETOR CENTRO-NORTE DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2019...... 165 FIGURA 68 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS POR ESPÉCIES NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA NO SETOR CENTRAL DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2019...... 166 FIGURA 69 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS POR ESPÉCIES NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA NO SETOR CENTRO-SUL DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2019...... 167 FIGURA 70 – COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS MENSAIS POR ESPÉCIES NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA NO SETOR SUL DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2019...... 168 FIGURA 71 – EXEMPLO DE CALENDÁRIO DE PESCA CONSTRUÍDO DURANTE AS REUNIÕES DE GRUPO FOCAL. 169 FIGURA 72 – ANCHOVA PESCADA POR MEIO DE ARRASTO DE PRAIA...... 170

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – REUNIÕES COM GRUPOS FOCAIS REALIZADAS...... 32 TABELA 2 – PRINCIPAIS PARÂMETROS DO CLIMA DE ONDAS DOS LOCAIS DE ESTUDO...... 52 TABELA 3 – ENERGIA DE ONDAS DOS LOCAIS DE ESTUDO...... 53 TABELA 4 – PERCEPÇÃO DOS PESCADORES ARTESANAIS SOBRE AS CONDICIONANTES AMBIENTAIS PARA UMA BOA PESCA DA TAINHA NO LITORAL DE SANTA CATARINA...... 55 TABELA 5 – LOCAIS COMPREENDIDOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA...... 57 TABELA 6 – ESTRUTURA DE PESCA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL CATARINENSE: SÍNTESE REGIONAL.... 82 TABELA 7 – SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS DAS EMBARCAÇÕES UTILIZADAS NA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA...... 87 TABELA 8 – CARACTERÍSTICAS DAS REDES DE ARRASTO DE PRAIA USADAS NA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA...... 93 TABELA 9 – CARACTERÍSTICAS DOS PETRECHOS NA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA DA TAINHA, LITORAL DE CATARINENSE...... 96 TABELA 10 – VALORES DE VENDA DA TAINHA (R$), LITORAL DE SC (2020)...... 101 TABELA 11 – LICENÇAS EMITIDAS POR MUNICÍPIO PARA A PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA...... 114 TABELA 12 – DADOS DE CAPTURA ANUAL DE TAINHA (TONELADAS) DA PESCA ARTESANAL NO ESTADO DE

SANTA CATARINA DE 2003 A 2020. OS VALORES MÁXIMOS DE CADA ANO ESTÃO EM DESTAQUE (FLORIANÓPOLIS E LAGUNA). SD= SEM DADOS ...... 140 TABELA 13 – DADOS DE CAPTURA ANUAL DE TAINHA (TONELADAS) NA MODALIDADE ARRASTO DE PRAIA NO

ESTADO DE SANTA CATARINA DE 2016 A 2020. *=DADOS DE AGOSTO A DEZEMBRO DE 2016; **= DADOS DE JANEIRO A MARÇO DE 2020...... 157 TABELA 14 – RECURSOS PESQUEIROS CAPTURADOS AO LONGO DO ANO POR MEIO DA PESCA DE ARRASTO, COM INDICAÇÃO DE SEUS RESPECTIVOS PETRECHOS, DE ACORDO COM CADA MUNICÍPIO...... 172

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DAS FONTES DE DADOS SECUNDÁRIOS SOBRE A PESCA ARTESANAL DE TAINHA EM SANTA CATARINA...... 22 QUADRO 2 – EMBARCAÇÕES IDENTIFICADAS COM PENDÊNCIA QUANTO À DEMARCAÇÃO GEOGRÁFICA...... 115 QUADRO 3 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM SÃO FRANCISCO DO SUL...... 122 QUADRO 4 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ...... 123 QUADRO 5 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM PORTO BELO...... 124 QUADRO 6 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM BOMBINHAS...... 125 QUADRO 7 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM GOVERNADOR CELSO RAMOS...... 126 QUADRO 8 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM PALHOÇA. 126 QUADRO 9 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM FLORIANÓPOLIS...... 127 QUADRO 10 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM LAGUNA. 128 QUADRO 11 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM GAROPABA...... 129 QUADRO 12 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM IMBITUBA...... 130 QUADRO 13 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM JAGUARUNA...... 131 QUADRO 14 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM ARROIO DO SILVA...... 131 QUADRO 15 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM BALNEÁRIO RINCÃO...... 132 QUADRO 16 – CONFLITOS E PROBLEMÁTICAS RELACIONADAS À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA EM BALNEÁRIO GAIVOTA...... 132 QUADRO 17 – RESUMO DOS CONFLITOS DE PESCA NO LITORAL CATARINENSE...... 133 QUADRO 18 – LEGISLAÇÃO APLICADA À PESCA DE ARRASTO DE PRAIA DE TAINHA NO LITORAL DE SANTA

CATARINA, EM ORDEM CRONOLÓGICA DECRESCENTE, COM SUAS RESPECTIVAS ABRANGÊNCIAS E CONSIDERAÇÕES...... 175 QUADRO 19 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE SÃO FRANCISCO DO SUL...... 193 QUADRO 20 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ...... 193 QUADRO 21 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE PORTO BELO...... 194 10

QUADRO 22 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE BOMBINHAS...... 194 QUADRO 23 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE GOVERNADOR CELSO RAMOS...... 195 QUADRO 24 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE FLORIANÓPOLIS...... 195 QUADRO 25 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE PALHOÇA...... 196 QUADRO 26 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE GAROPABA...... 196 QUADRO 27 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE LAGUNA...... 197 QUADRO 28 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE IMBITUBA...... 197 QUADRO 29 – DEMANDAS E REIVINDICAÇÕES DE JAGUARUNA E LITORAL SUL...... 197

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1. INTRODUÇÃO

A tainha Mugil liza (Valenciennes, 1836) é uma espécie de peixe pelágico estuarino-dependente, que ocorre no oceano Atlântico, da Venezuela até a Argentina (MENEZES, 1983; WHITFIELD et al., 2012). Juntamente com outras espécies componentes da família Mugilidae, de ampla distribuição geográfica, constitui-se como base de subsistência alimentar de diversas populações costeiras e ribeirinhas, explorada comercialmente nas regiões em que ocorrem (MENEZES, 1983). Em relação à classificação taxonômica desta espécie, estudos genéticos realizados por Fraga (2007) e Heras (2009) apontaram que existe uma única espécie de tainha. De fato, Menezes et al. (2010) concluíram, por meio das análises merísticas e morfométricas realizadas com espécimes coletadas entre Venezuela e Argentina, que só existe uma espécie de tainha do mar do Caribe até a costa da América do Sul, sendo Mugil liza. Ao longo da costa brasileira ocorrem duas subpopulações desta espécie, o estoque sul (do Rio Grande do Sul até o limite norte de São Paulo) e o estoque norte (do Rio de Janeiro até o norte do país) (MARTINS, 2016). Portanto, estudos pretéritos publicados sobre essa espécie, em especial na região sul e sudeste, trazem o nome científico Mugil platanus que se refere a atual Mugil liza. A tainha é uma espécie tolerante a variáveis ambientais (GONZÁLEZ CASTRO et al., 2009) e passa a maior parte do seu ciclo de vida em ecossistemas lagunares-estuarinos, migrando posteriormente para o mar, quando forma grandes cardumes (MENEZES e FIGUEIREDO, 1985; VIEIRA e SCALABRIN, 1991; SILVANO et al., 2006), deslocando-se ao longo da costa para a migração reprodutiva (LEMOS et al. 2014). Fatores ambientais que influenciam a migração da tainha são as condições de vento (com ventos soprando de sul), o resfriamento da água e a entrada de água salgada nos estuários (VIEIRA E SCALABRIN, 1991; GARBIN et al., 2014). Estudos biológicos sobre essa espécie encontraram crescimento distinto entre fêmeas e machos, sendo as fêmeas com crescimento mais lento e atingindo

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tamanho corpóreo maior do que os machos (GARBIN et al., 2014). Pesquisa conduzida sobre a biologia reprodutiva de Mugil liza revelou uma média de tamanho de primeira maturação de 40,8 cm para ambos os sexos, sendo os machos atingindo com um tamanho corpóreo de 40 cm e as fêmeas com 42,1 cm. (LEMOS et al., 2014). A desova desta espécie é total e a maturação das gônadas é sincrônica (ALBIERI & ARAUJO, 2010). Embora a área de desova de Mugil liza não tenha sido claramente identificada, estudos sugerem que ocorra em águas marinhas durante a migração reprodutiva, no período de abril a maio, com pico em junho entre o norte de Santa Catarina e Paraná (LEMOS et al., 2014). Após a desova, as tainhas retornam para os ambientes lagunares-estuarinos, assim como suas larvas e juvenis, que dependem do padrão indeterminado de intrusão de água salgada para penetrar nesses ambientes, aonde encontram condições favoráveis para crescimento (GONZÁLEZ CASTRO et al., 2009; GARCIA et al., 2000). Estudos revelaram que as larvas e juvenis retornam ao sul pelo movimento passivo das correntes, aproximadamente dois a quatro meses depois da desova, atingindo em torno de 22 mm de comprimento, e só após seis anos é que iniciam a migração reprodutiva, a qual é realizada uma vez ao ano. Cabe ainda destacar que a expectativa de vida da tainha é de aproximadamente 11 anos, alcançando comprimento acima de 65 centímetros (GARBIN et al., 2014). No litoral sudeste-sul do Brasil, esta espécie ocorre em grandes cardumes, no período de outono/inverno (entre maio e agosto), quando migra do extremo sul em direção ao norte para a desova, passando pelo litoral de Santa Catarina (MELO et al., 2008). É justamente nesta época a maior incidência da pesca sobre esta espécie, momento em que pescadores industriais e artesanais direcionam suas pescarias para este recurso pesqueiro. O esforço da pesca industrial, realizado pelas traineiras, cresceu a partir do ano 2000, devido à sobreexplotação de outros recursos como a Sardinella brasiliensis (MIRANDA & CARNEIRO, 2007; MIRANDA et al., 2011). Ainda, nos últimos 10 anos, o interesse comercial sobre essa espécie está atrelado a

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exportação das ovas, por serem consideradas especiarias (PINA & CHAVES, 2005), aumentando a pressão sobre esse estoque pesqueiro (MIRANDA et al., 2011). A excepcional produtividade biológica da tainha e da pesca a ela direcionada, realizada justamente no auge do seu período reprodutivo, representa um risco ecológico/econômico/cultural, porque incide simultânea e negativamente, sobre a capacidade de renovação dos estoques da espécie, a sustentabilidade econômica da atividade de pesca artesanal, e sobre a própria reprodução cultural das comunidades pesqueiras a ela associadas. No caso em estudo, da pesca da tainha, e outros similares, historicamente, à fartura de algumas safras pesqueiras excepcionais, seguem-se sucessivos períodos de pequena produção. Em 2005 foi publicado o diagnóstico do estoque e orientações para o ordenamento da pesca de Mugil liza, no âmbito do Programa REVIZZE (MIRANDA et al., 2006) e já neste primeiro documento, apontou-se a fragilidade do estoque pesqueiro da tainha, recomendando a não estimular o aumento do esforço de pesca das artes que capturam o recurso (MIRANDA et al., 2011). Ainda, o “Relatório Técnico de Avaliação do Estoque da Tainha (Mugil liza) realizado no Sudeste e Sul do Brasil” (UNIVALI, 2020), concluiu que a “condição atual do estoque de tainha é de sobrepescado (biomassa relativamente menor que o necessário para manutenção do estoque), com evidências de que o estoque vem sofrendo sobrepesca”. Mesmo não havendo um status oficial para a tainha, em relação a sua conservação, esse estudo enfatiza a necessidade de um ordenamento dessa pescaria. Cabe destacar que a grande variabilidade interanual das capturas demonstra que a espécie é extremamente dependente das condições ambientais (MIRANDA et al., 2006; VIEIRA et al., 2008), como por exemplo, os efeitos negativos do evento El Niño na safra (VIEIRA et al., 2008) e no recrutamento dos juvenis (MORAES, 2012). A espécie também é potencialmente vulnerável à perturbação e degradação de habitats estuarinos, os quais constituem os locais de berçário para os juvenis (VIEIRA & SCALABRIN, 1991). Logo, medidas de conservação da espécie devem ser vinculadas também à saúde destes ambientes (LEMOS, 2015). 14

De modo a estabelecer parâmetros para captura sustentável e alterar o modelo de exploração dos estoques pesqueiros da tainha, a fim de evitar a sobrepesca, garantir a manutenção dos serviços ecossistêmicos e a disponibilidade dos estoques pesqueiros, a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sancionou em 03 de abril de 2020, a Instrução Normativa nº 7, a qual estabelece cotas de capturas, a criação da Autorização de Pesca Complementar Especial, o limite de embarcações a serem permissionadas, e as medidas de monitoramento associadas para a temporada de pesca de tainha (Mugil liza) do ano de 2020 no sudeste e sul do Brasil. Destaca-se que esse sistema de cotas de captura é aplicado apenas às modalidades de pesca de cerco (pesca industrial) e emalhe anilhado (pesca artesanal), as demais modalidades de pesca artesanal não estão sujeitas ao controle de cotas. Em especial, a pesca artesanal da tainha emprega uma variedade de artes de pesca como tarrafas, redes de emalhe e arrasto de praia (PINA & CHAVES, 2005). Pescadores artesanais modificam suas rotinas de pesca para a captura desta espécie alvo, que ocorre principalmente no outono. Além de ser um importante recurso pesqueiro marinho sazonal, também apresenta decisiva importância para os pescadores artesanais de lagoas costeiras, rios e estuários, ao longo de todo o ano (REIS & D’INCÃO, 2000; SOUZA & BARRELLA, 2001 apud HERBST, 2013). Dentre os métodos mais produtivos na pesca artesanal da tainha está o arrasto de praia, que é objeto deste estudo, e que foi reconhecido como Patrimônio Cultural pela Lei estadual nº 17.565, de 06 de agosto de 2018. O arrasto de praia é uma atividade tradicional que passa de pai para filho e que envolve características particulares que desenvolve laços e valores sociais importantes para a coletividade (PINHEIRO et al., 2010; HERBST, 2013). No entanto, estudos apontam para uma redução dessa prática (MEDEIROS, 2002; PINHEIRO, 2007, PINHEIRO et al., 2010) devido a pelo menos quatro fatores: capturas decrescentes nos últimos anos; pescadores migrando para outras modalidades de pesca mais rentáveis; desinteresse dos jovens pela atividade da pesca; e conflitos de uso e espaço. A situação do arrasto de praia ainda é agravada devido à falta de uma legislação que reconheça essa modalidade de pesca como tal, pois, a Instrução 15

Normativa MPA/MMA nº 10, de 2011, que aprova as normas gerais e a organização do sistema de permissionamento de embarcações de pesca para o acesso e uso sustentável dos recursos pesqueiros, com definição das modalidades de pesca, não menciona o arrasto de praia. Tal situação prejudica não somente os pescadores dessa modalidade como também compromete a gestão adequada desse recurso. Diante deste contexto, faz-se necessário promover um progressivo, coerente e cauteloso processo de gestão pesqueira, envolvendo os órgãos de controle e gestão dos espaços e “recursos” naturais, as instituições de pesquisa e ensino, e as representações das comunidades pesqueiras, que - com base na melhor e mais atualizada informação científica e no conhecimento ecológico local/regional dos pescadores -, estabeleça um programa de ordenamento da atividade pesqueira, de modo a compatibilizar a sobrevivência e a vitalidade dos cardumes da espécie (no caso em foco, a tainha), a viabilidade socioeconômica do exercício da atividade pesqueira e a reprodução cultural destas mesmas comunidades. Dessa forma, o presente estudo tem como possibilidade/desafio de integrar- se a este esforço interinstitucional, de grande relevância socioambiental, por meio da caracterização da pesca da tainha na modalidade de arrasto de praia, e contribuir para o aperfeiçoamento do processo de ordenamento e gestão desta arte de pesca, entendendo-a como parte integrante, constitutiva e central de um futuro enfoque ecossistêmico pesqueiro, a ser adotado para o conjunto da pesca no litoral de Santa Catarina. Neste relatório é apresentada a caracterização da pesca da tainha na modalidade arrasto de praia no litoral catarinense baseada no levantamento de dados primários, as informações compiladas pelos programas/processos de monitoramento da produção dessa pescaria e as considerações e recomendações sobre a gestão desta atividade a serem empreendidos para um ordenamento pesqueiro desta modalidade de pesca.

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2. OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Contribuir com a gestão e ordenamento da pesca da tainha, a partir da caracterização da pesca da tainha na modalidade de arrasto de praia no Estado de Santa Catarina, discorrendo, para cada localidade onde ocorre esta pescaria os potenciais conflitos; as características dos petrechos de pesca e das embarcações; a composição e sazonalidade da pescaria; as características socioeconômicas e culturais; além de demais aspectos relevantes à gestão da atividade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Mapear as áreas onde ocorre a pesca da tainha na modalidade arrasto de praia em Santa Catarina; ● Caracterizar os aspectos socioeconômicos e culturais associados ao arrasto de praia da tainha; ● Caracterizar a tecnologia envolvida na pesca de arrasto de praia da tainha, considerando os petrechos de pesca, operações, embarcações e demais aspectos relevantes; ● Caracterizar e quantificar os atores envolvidos na atividade de arrasto de praia de tainha: pescadores, observadores, ajudantes etc.; ● Caracterizar e avaliar a produção e a composição da pesca de arrasto de praia, a partir dos dados dos programas de monitoramento locais; ● Caracterizar a dinâmica da pescaria, identificando a sua sazonalidade, a partir dos programas de monitoramento locais; ● Identificar e caracterizar os conflitos associados à pesca de arrasto de praia e o eventual compartilhamento de pontos de pesca; ● Recomendar medidas de gestão (ordenamento e monitoramento) para a modalidade.

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3. METODOLOGIA

De acordo com Martins (2004), um diagnóstico socioambiental pode ser definido como um instrumento que permite conhecer atributos materiais e imateriais de uma comunidade. É um instrumento de coleta de informações, de caráter quantitativo e qualitativo específico para uma dada realidade, o qual deve ser construído considerando as interações entre os elementos sociais, econômicos, ambientais e culturais. Para alcançar os objetivos propostos a metodologia desenvolvida foi balizada, sobretudo, no campo da pesquisa quali-quantitativa, por meio de diferentes etapas de levantamento e coleta de dados. Os dados primários e secundários coletados foram confrontados, utilizando-se diferentes métodos para verificação cruzada, bem como tratamento e análise das informações, considerando conhecimento de cunho técnico-científico e popular, de maneira a caracterizar a pesca da tainha na modalidade arrasto de praia no Estado de Santa Catarina. Os dados quali-quantitativos coletados foram organizados em banco de dados (planilhas Excel), contemplando sistematização, refinamento, representação tabulada e gráfica, além de análises e conclusões. A seguir apresenta-se de forma mais detalhada as etapas de levantamento e coleta de dados por meio de diferentes métodos, bem como tratamento e análise das informações.

LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDÁRIOS

Mapeamento dos pontos de pesca

O levantamento dos pontos de pesca foi realizado com base nos 245 certificados de registro e autorização provisória de embarcação pesqueira, emitidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Secretaria de Aquicultura 18

e da Pesca – Superintendência de Santa Catarina e disponibilizados na plataforma Google Maps (disponível em http:) e encontra-se disponível no apêndice A. Cabe ressaltar que devido ao contrato ter sido assinado no final do mês de junho, coincidindo com o final da permanência dos pescadores durante a safra de 2020 (grande parte informou que geralmente permanece na praia até meados de julho) e ainda em função do agravante de estarmos em meio à pandemia do coronavírus, com ascensão do número de casos (figura 1) e imposição de várias restrições de contato e de circulação municipal, não foi possível realizar coleta de dados georreferenciados in loco.

Figura 1 – Número de casos de covid e óbitos decorrentes no Estado de Santa Catariana, no período entre 25/03/2020 e 01/09/2020. Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, 2020.

Em alguns locais visitados para coleta de dados primários, foi alertado que o georreferenciamento dos pontos de pesca necessita ser realizado com a presença

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do órgão competente e/ou policial, em virtude de disputas locais acerca dos pontos de pesca e sobreposição de coordenadas.

Levantamento e análise de dados da produção pesqueira

Para o levantamento de dados de produção pesqueira, foram consultadas informações obtidas e disponibilizadas através de repositórios institucionais ou envio direcionado mediante solicitação junto às organizações. Os dados apresentados não possuem uma metodologia específica para sua coleta e armazenagem, devido às fontes diversas. Sendo o estado de Santa Catarina um dos principais produtores de pescados no Brasil, iniciativas, dentre as quais pesquisas científicas, estudos acadêmicos, programas e projetos, governamentais ou não, são desenvolvidas no intuito de compreender, monitorar e/ou fortalecer a atividade pesqueira no Estado. A disponibilidade de dados resultou em uma linha temporal de capturas de tainha para 36 municípios entre os anos de 2003 até março de 2020. Destes, 21 municípios possuem dados para todos os anos compilados. Ressalta-se que os dados obtidos se referem a capturas registradas para todas as modalidades artesanais entre os anos de 2003 e 2015, dados estes compilados pela Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina junto às Colônias de Pescadores. A publicação “Boletim Estatístico da Pesca Artesanal de Tainha do Litoral de Santa Catarina” recolheu informações de 2.786 pescadores e 257 embarcações (160 motorizadas tipo bote, bateira e baleeira, atuando no caceio e emalhe; 97 canoas a remos, atuando com arrasto de praia), através de 83 colaboradores que registraram a quantidade de tainha capturada, local e condições climáticas. Estes colaboradores eram pescadores e moradores das comunidades pesqueiras catarinenses que participaram do levantamento. As informações de captura dos anos 2016 a 2019 foram obtidas para todas as modalidades da pesca artesanal monitoradas pela Universidade do Vale do Itajaí através do Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira do Estado de Santa Catarina. O projeto é mantido pelo Laboratório de Estudos Marinhos Aplicados e iniciou o monitoramento da pesca artesanal do Estado somente em 2016 (quadro 1). 20

As informações de captura dos anos 2016 a 2019 foram obtidas para todas as modalidades da pesca artesanal monitoradas pela Universidade do Vale do Itajaí através do Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira do Estado de Santa Catarina. O projeto é mantido pelo Laboratório de Estudos Marinhos Aplicados e iniciou o monitoramento da pesca artesanal do Estado somente em 2016 (quadro 1). Também foi obtida a produção da safra da pesca da tainha para 2020, junto ao grupo IDP – Informações da Pesca, um grupo de WhatsApp, em que são enviadas informações sobre a pesca da tainha em Santa Catarina de forma colaborativa. Cabe destacar que os dados de 2020 do IDP ainda não foram submetidos a uma análise com parâmetros mais apurados. Os dados de produção pesqueira foram sistematizados em planilhas Excel e apresentados em tabelas e gráficos. Para a apresentação dos dados foi feito um agrupamento das informações para as regiões do litoral catarinense (Norte, Centro- Norte, Central, Centro-Sul e Sul).

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Quadro 1 – Descrição das fontes de dados secundários sobre a pesca artesanal de tainha em Santa Catarina. Tipo de Nome/Título Instituição Ano de Características Dados fonte publicação Documento Boletim estatístico da Federação dos 2015 Os dados provêm de 257 Capturas mensais para os pesca artesanal de tainha Pescadores do Estado embarcações (160 motorizadas tipo meses de maio, junho e julho de do litoral de Santa Catarina. de Santa Catarina. bote, bateira e baleeira, atuando no 2003 a 2015. Safras 2003/2015. caceio e emalhe; 97 canoas a remos, atuando com arrasto de praia). Repositório Estatística Pesqueira de Laboratório de 2020 Modalidades de pesca: Capturas mensais para os digital Santa Catarina. Consulta Estudos Marinhos Arpão/fisga; Arrasto de praia; Arrasto meses de agosto de 2016 a On-line. Projeto de Aplicados - Escola do duplo; Arrasto manual; Arrasto março de 2020. Monitoramento da Mar, Ciência e simples; Aviãozinho; Cerco fixo; Cerco Atividade Pesqueira do Tecnologia da flutuante; Covo; Emalhe anilhado; Estado de Santa Catarina. Universidade do Vale Linhas diversas; Múltiplos petrechos; do Itajaí – UNIVALI. Redes de emalhe; Tarrafa. Repositório Informações da Pesca - Grupo da Rede Social 2020 Integrantes do grupo compartilham Capturas na época da safra da digital IDP WhatsApp informações sobre capturas na época tainha de 2020 por município. da safra da tainha, referentes majoritariamente à modalidade arrasto de praia.

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Levantamento de dados qualitativos

O levantamento de informações que caracterizem a pesca de arrasto de praia da tainha no Estado de Santa Catarina foi realizado por meio de revisão bibliográfica de antecedentes com a respectiva consulta a repositórios institucionais para levantamento de artigos científicos, estudos acadêmicos e outros documentos elaborados junto à comunidade científica e/ou sociedade civil organizada. Incluindo-se ainda informações de organismos relacionados à pesca, estudos técnicos, programas, projetos e políticas públicas locais, regionais e federais em execução que interagem com a área de estudo, literatura jurídica, cadastros disponíveis para levantamentos de informações, dentre outros materiais. Como meio de obter informações secundárias, também foi levantado material produzido/divulgado por veículos de comunicação (jornais, websites, filmes), com aderência estrita e local (foco principal) ao tema de estudo. Na seleção deste material, serão considerados produtos constitutivos do acervo pessoal da empresa e dos atuais consultores, e aqueles referidos e/ou disponíveis atualmente nas plataformas online.

LEVANTAMENTO DE DADOS PRIMÁRIOS

Área de estudo

Com base nas autorizações para embarcações pesqueiras emitidas em 2020 pela Superintendência Federal em Santa Catarina da Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para 16 municípios; dados de monitoramento da pesca de arrasto de praia da tainha disponibilizados pela FEPESC (Federação de Pescadores do Estado de Santa Catarina); e por meio de consulta a instituições de atuação local com envolvimento à atividade pesqueira, foram considerados os seguintes municípios para levantamento de dados (figura 2):

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- Região Norte: Itapoá e São Francisco do Sul. - Região Centro-Norte: Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Bombinhas. - Região Central: Governador Celso Ramos, Florianópolis e Palhoça. - Região Centro-Sul: Garopaba, Imbituba, Laguna e Jaguaruna. - Região Sul: Balneário Rincão, Balneário Arroio do Silva e Balneário Gaivota.

Figura 2 – Setores da Zona Costeira de Santa Catarina definidas de acordo com o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, com destaque para os municípios pesquisados. Fonte: MPF-SC, 2020 - adaptado.

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Coleta de dados de pesca

Para coleta de dados primários foram realizadas as seguintes atividades:

Levantamento Coleta de dados Coleta de dados Validação dos de instituições e Mobilização individual coletiva dados atores chave

Figura 3 – Organograma da coleta de dados qualitativos.

Inicialmente foi realizado contato telefônico para fins exploratórios com a FEPESC, colônias de pescadores dos municípios elencados, secretarias municipais de pesca, meio ambiente, agricultura e/ou turismo, sindicatos de pesca e instituições não governamentais como associações locais de pesca, EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Secretaria da Agricultura, da Pesca e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Superintendência Federal de Agricultura em Santa Catarina, a fim de identificar atores envolvidos com a pesca da tainha de arrasto de praia, para serem pesquisados. Devido à atual pandemia do coronavírus e as orientações em relação aos contatos pessoais, a mobilização de tais atores foi feita por meio das colônias de pescadores, por contato telefônico e por meio de nove redes sociais, conforme descriminado a seguir. . Páginas no Facebook: Pesca de Arrasto de Praia Santa Catarina; Grupo da Pesca da Tainha Santa Catarina; Informações da Pesca e Oceano – IDP; Informações da Pesca (Mullet) IDP Tainha. . Grupos no WhatsApp: Registro de Arrasto de Praia; Nativos da Pesca; Pesca Litoral Norte SC; Comércio Pescados SC Sul; Comércio Pesc. Norte SC. . Site: Mapa colaborativo da tainha, disponível em: . 25

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário composto por categorias referentes às condições socioeconômicas, identificação das embarcações e petrechos de pesca utilizados, caracterização dos atores envolvidos, fatores associados à pesca da tainha e principais conflitos (figura 5), o qual foi disponibilizado via plataforma digital Google Forms (figura 4), por mídia social para ser respondido por mensagem de voz e para preenchimento presencial nos municípios visitados. No total, 33 questionários foram preenchidos e foram realizadas quatro entrevistas.

Figura 4 – Questionário disponibilizado na plataforma Google Forms.

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Figura 5 – Questionário aplicado por meio virtual, in loco e como roteiro de entrevistas.

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A Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina realizou entre fevereiro e março 2020 um questionário sobre a pesca de arrasto de praia da tainha junto a pecadores (figura 6), a fim de levantar subsídios necessários às discussões cabíveis no âmbito da Câmara Setorial da Pesca de Santa Catarina para o ordenamento da pesca de arrasto de praia. Os dados coletados por meio de 59 questionários foram disponibilizados à Equipe da Ecodimensão e incorporados na análise do presente relatório.

Figura 6 – Exemplo de questionário aplicado pela Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina.

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Ainda, com o propósito de reunir e aprofundar informações sobre a pesca de arrasto de praia da tainha de forma coletiva e interativa, foram realizadas reuniões com grupo focal. Tal método foi escolhido em função de suas características e peculiaridades, conforme descrito por Malhotra (2006) apud Oliveira et al. (2007):  Sinergismo: um grupo de pessoas em conjunto produz uma gama maior de informações, percepções e ideias do que respostas obtidas individualmente.  Efeito bola-de-neve: um efeito de carro-chefe ocorre com frequência nas entrevistas em grupo, quando os comentários de uma pessoa provocam uma reação em cadeia dos outros participantes.  Estímulo: em geral, após um breve período introdutório, os respondentes desejam expressar suas ideias e expor seus sentimentos à medida que aumenta no grupo o nível geral de entusiasmo sobre o tema.  Segurança: como os sentimentos dos participantes são semelhantes aos de outros membros do grupo, eles se sentem à vontade e estão dispostos a expressar suas ideias e sentimentos.  Espontaneidade: como não se solicita aos participantes que respondam a perguntas específicas, suas respostas podem ser espontâneas e não- convencionais, devendo, portanto, dar uma ideia precisa de seus pontos de vista.  Descobertas felizes e inesperadas: é mais provável que as melhores ideias brotem inesperadamente em um grupo do que uma entrevista individual.  Estrutura: a entrevista em grupo proporciona flexibilidade nos tópicos abrangidos e na profundidade com que são tratados.  Velocidade: como vários indivíduos estão sendo entrevistados ao mesmo tempo, a coleta de dados e a análise de dados se processam de maneira relativamente rápida.

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Este método qualitativo não se caracteriza pela alternância das questões do entrevistador e as respostas dos entrevistados, mas sim pela interação e confiança dos membros do grupo em expressar sua opinião em relação aos tópicos abordados, pois “o entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto” (OLIVEIRA et al., 2007). O entrevistador desempenha um papel-chave, o de moderador, o qual “deve estabelecer relação com os participantes, manter ativa a discussão e motivar os respondentes a trazerem à tona suas opiniões mais reservadas” (MALHOTRA, 2006:158 apud OLIVEIRA et al., 2007), além de manter o foco da reunião. Cabe destacar que a reunião foi ainda acompanhada por um observador externo, para captar a reação dos participantes e proceder diretamente ao recolhimento de informações pertinentes à pesquisa (QUIVY & CAMPENHOUDT, 2008; TRAD, 2009). Foram realizadas ao todo oito reuniões com duração média de 90 minutos, contemplando ao todo 90 participantes, conforme especificado a seguir (tabela 1).

Tabela 1 – Reuniões com grupos focais realizadas. Município Data e hora inicial Local Nº participantes Jaguaruna 12/08/2020 – 17h00 Colônia de Pescadores Z – 21 10 Imbituba 13/08/2020 – 14h00 Colônia de Pescadores Z – 13 05 Garopaba 13/08/2020 – 18h00 Colônia de Pescadores Z – 12 12 Florianópolis 14/08/2020 – 18h00 Zeca Bar e Restaurante 21 Palhoça 24/08/2020 – 17h30 Colônia de Pescadores Z – 15 13 Bombinhas 25/08/2020 – 14h30 Colônia de Pescadores Z – 22 13 Balneário Camboriú 26/08/2020 – 13h30 Colônia de Pescadores Z – 07 07 São Francisco do Sul 27/08/2020 – 15h30 Colônia de Pescadores Z – 02 09 TOTAL 90

Ressalta-se que o convite para participação na reunião foi amplo (por meio de convite em grupos e redes sociais que contemplam a categoria e pela colônia de pescadores), procurando manter a diversidade do grupo, não se restringindo apenas aos pescadores com registro de pesca e/ou associados às colônias de pescadores, mas devido às atuais restrições de saúde, em alguns municípios com maior número de pescadores como em Florianópolis, foi pedido que estivesse

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presente apenas um representante por embarcação, devido às restrições impostas pela Covid-19. A reunião iniciava com a apresentação dos coletores de dados (sendo que um atuava como moderador e outro como observador), apresentação do objetivo da reunião, instruções e coletada de dados, sendo incialmente preenchido pelos participantes a parte inicial do questionário com dados de identificação, perfil socioeconômico, identificação da embarcação e petrechos utilizados e informações sobre a prática da pescaria. Em casos em que o participante apresentava dificuldade para escrita, os coletores faziam o preenchimento a partir de entrevista ao participante (vide figuras 6 a 13). Já informações sobre o modo como se dá a pesca da tainha, aspectos positivos, aspectos negativos e demais problemáticas relacionadas, bem como reivindicações e necessidades, foram coletadas por meio de chuva de ideias, de maneira que todos pudessem se expressar, manifestando suas percepções e pontos de vista. Os dados fundamentais produzidos eram anotados em folhas de flip chart, dispostas de modo a permitir a visualização pelos participantes até o período final da reunião, sendo realizada a discussão em grupo a fim de avaliar a visão dos diversos participantes sobre o assunto, revista as informações anotadas e se necessário acrescidas informações complementares.

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Figura 7 – Informações anotadas a partir da contribuição dos participantes.

Segundo Minayo (2009:87) o grupo focal permite explicitar e defender pontos de vista, manifestar divergências e realizar reflexões aprofundadas “de opiniões surgidas no próprio grupo, a partir do jogo de influências mútuas que emergem entre os participantes e se desenvolvem no contexto das interações”. A seguir apresentam-se imagens que ilustram as reuniões de grupo focal realizadas com pescadores de arrasto de praia da tainha.

A [ D ig it e u m a ci ta B ç [ ã D o ig d it o e d u o m c a u ci m Figura 8 – Reuniãota de Grupo Focal realizada em Jaguaruna em 12/08/2020. Foto A: e anotações de informaçõesç relatadas; Foto B: participante expressando sua opinião aos nt demais. ã o o o d 34 u o o d re o s c u u

C D [ D ig it e u m a ci ta Figura 9 – Reunião de Grupo Focal realizada em Imbituba/SC em 13/08/2020.ç Foto C: preenchimento de questionário inicial; Foto D: registro das informaçõesã coletivas sobre a pesca da tainha de arrasto de praia. o d o E d o c u m e nt o o u

F o re s u m o d e u m Figura 10 – Reunião de Grupo Focal realizada em Garopaba/SC emp 13/08/2020. Foto E: preenchimento de questionário individual pelos participantes: Fotoo F: atuação da moderadora para coleta de dados de forma coletiva. nt

o in te re s s a nt 35 e.

V o c ê

G H

Figura 11 – Reunião de Grupo Focal realizada em Florianópolis em 14/08/2020. Foto G: anotações de informações pela moderadora; Foto H (autor - Ernesto São Thiago): interação com os participantes.

I J

K

L

Figura 12 – Reunião de Grupo Focal realizada em Palhoça/SC em 24/08/2020. Foto I: abertura pelo presidente da colônia Sr. Sálesio Cantalício de Azevedo e pelo Sr. José Henrique Francisco dos Santos (MAPA/DAP/SFA-SC); Foto J (autor – José Henrique F. dos Santos): 36

apresentação inicial pelos coletores; Foto K: preenchimento do questionário inicial; Foto L: anotação de informações coletivas.

M N

Figura 13 – Reunião de Grupo Focal realizada em Bombinhas/SC em 25/08/2020. Foto M: abertura realizada pelo presidente da colônia de pescadores Sr. Leopoldo João F. Filho; Foto N: confirmação de dados coletados com os participantes.

O

Q

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R

Figura 14 – Reunião de Grupo Focal realizada em Balneário Camboriú/SC em 26/08/2020. Foto O: coleta de dados individual; Foto P: discussão e confirmação de informações socializadas; Foto R: coleta de dados coletiva e discussão entre os participantes.

S

T

Figura 15 – Reunião de Grupo Focal realizada em São Francisco do Sul em 27/08/2020. Foto S: troca de informação entre os participantes; Foto T: anotação das informações apontadas.

Processamento e análise de dados

As informações coletadas foram transcritas e acrescidas as anotações e reflexões do moderador e do observador. Para o processamento e análise das informações qualitativas, sobre a pesca artesanal da tainha em Santa Catarina, a

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metodologia utilizada foi a ATD – Análise Textual Discursiva, de modo a promover a emergência das abordagens e principais significados pelos(as) respectivos(as) autores(as); a Análise Textual Discursiva é uma abordagem de análise de dados, que transita entre duas formas consagradas na pesquisa qualitativa, que são a Análise de Conteúdo e a Análise de Discurso.

A Análise Textual Discursiva tem no exercício da escrita seu fundamento, enquanto ferramenta mediadora na produção de significados e, por isso, em processos recursivos, a análise se desloca do empírico para a abstração teórica, que só pode ser alcançada se o pesquisador fizer um movimento intenso de interpretação e produção de argumentos. Este processo todo gera meta textos analíticos, que irão compor os textos interpretativos (MORAES, GALIAZZI, 2006:121).

Esta proposição complementar visa melhor compreender e qualificar os diferentes discursos circulantes sobre a pesca de tainha, por meio das redes de arrasto de praia no litoral catarinense, e destes evidenciar as respectivas percepções e valores das comunidades pesqueiras, e de terceiros sobre as mesmas. Tendo em vista que os dados qualitativos foram coletados utilizando-se de diferentes instrumentos e fontes de informação, estes foram triangulados e sistematizados e enviados aos participantes da pesquisa e colônias de pescadores por meio de e-mail ou mídia social (WhatsApp), a fim de serem legitimados. O objetivo foi validar as informações repassadas pelos entrevistados/participantes, assim como se certificar quanto ao entendimento dos profissionais técnicos acerca das informações coletadas, bem como realizar complementação de dados, quando necessário.

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4. CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA NO LITORAL DE SANTA CATARINA

O LITORAL DE SANTA CATARINA E OS LOCAIS EM QUE OCORRE A PESCA DA TAINHA DE ARRASTO DE PRAIA

O litoral do Estado de Santa Catarina apresenta grande heterogeneidade espacial e características regionais peculiares, quanto aos seus aspectos geomorfológicos e oceanográficos, conforme descrito a seguir:

... O litoral catarinense contém três zonas geológicas. No norte do Cenozóico, os sedimentos se estendem ao sul até a Penha, com apenas promontórios ocasionais, resultando em sistemas de praia mais longos. No centro, está um cinturão de granitóides proterozóicos e migmatitos arqueanos, que afloram na costa entre Itajaí e o Cabo Santa Marta. O leito rochoso domina esta seção da costa e desempenha um papel significativo no tamanho, orientação e morfodinâmica dos sistemas de praia, com praias de menores embaiamentos, de comprimento e orientação variável, com sedimentos de finos a muito grossos. Ao sul de Santa Marta, sedimentos quaternários uniformes e finos dominam até a fronteira em Torres, com as granulidades arqueanas no interior, mas não expostas na costa; no entanto, afloramentos da Bacia do Paraná ocorrem na costa e na plataforma interna (KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:467).

A partir desta constatação, os referidos autores sistematizaram as informações disponíveis sobre estes aspectos do litoral catarinense:

... com base nos depósitos quaternários e substrato geológico, a costa pode ser dividida em 04 segmentos principais: O litoral norte, entre a Baía de Guaratuba (Paraná) e Penha, possui planícies abundantes de sedimentos, consistindo de barreiras de dunas frontais regressivas e estuários. Entre a Penha e a Ilha do Papagaio, incluindo a Ilha de Santa Catarina, existe uma costa dominada por leitos rochosos com reentrâncias e baías, contendo sistemas de barreira regressivos e transgressivos. Ao sul da Ilha do Papagaio até o Cabo Santa Marta, os promontórios rochosos diminuem em tamanho e aumentam em espaçamento, resultando em sistemas de barreira transgressivos mais longos, com campos de dunas ativos. O setor mais ao sul, entre o Cabo Santa Marta e a fronteira em Torres, é uma longa costa reta voltada para o sudeste, dominada por barreiras transgressivas do Pleistoceno e Holoceno e numerosos campos de dunas ativos (KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:471-473; grifos nossos).

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A partir desta classificação, foi proposta a subdivisão da segunda província, com base nas características da praia, em duas províncias e uma sub-distribuição adicional, contendo as baías protegidas do Norte e do Sul, dividindo o litoral de Santa Catarina em cinco (05) províncias: 1) Guaratuba (PR) – Farol de Cabeçudas (Itajaí); 2) Farol de Cabeçudas – Currais; 3) Ilha de Santa Catarina; 4) Ponta do Papagaio – Cabo de Santa Marta; 5) Cabo de Santa Marta – Torres (RS).

Figura 16 – Províncias Geomorfológicas do Litoral de Santa Catarina. Fonte: KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016.

A distribuição geográfica destes aspectos geomorfológicos e oceanográficos tem similaridade com o zoneamento do litoral de Santa Catarina para fins de gerenciamento costeiro (figura 16) e os mesmos são determinantes

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na fisionomia e comportamento de suas praias. Além disso, esses aspectos mencionados têm implicações diferenciadas quanto à possibilidade de desenvolvimento e à segurança das atividades pesqueiras (especialmente na pesca artesanal da modalidade de arrasto de praia).

Província SC 1: Guaratuba-Farol de Cabeçudas

Figura 17 – Província SC 1 - estados de praia (1 a 6) e correntes de rip: 1) dissipativo, 2) barra e calha litorânea, 3) barra rítmica e praia, 4) barra transversal e rip, 5) baixo terraço de maré, 6) reflexivo. Fonte: KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:476.

A província de 190 km de comprimento é uma costa voltada para o leste, contendo 62 praias, que ocupam 106 km (70%) da costa, incluindo várias praias moderadamente longas e bem expostas, alinhadas pelas ondas dominantes para 42

enfrentar o sudeste (orientação=131°). Sua exposição resulta em estados de praia energéticos intermediários (RBB-TBR), com metade das praias e 52 km de costa consistindo em sistemas de barra dupla de alta energia.

Província SC 2: Farol de Cabeçudas–Currais

Figura 18 – Província SC 2 - estados de praia (1 a 6) e correntes de rip:1 dissipativo, 2 bar e calha, 3 barra rítmica e praia, 4 barra transversal e rip, 5 terraço na maré baixa, 6 reflexivo, 13 praia + planícies de lama. Fonte: KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:478.

Esta província dominada por rochas crenuladas contém metade das praias do estado (111), com um comprimento médio de apenas 0,6 km. Esta província contém muitas pequenas praias reflexivas protegidas (77%), de orientação variável e inclinação de moderada (média=5°) a íngreme (>8°). Ele também contém as únicas praias da costa aberta dominadas pela maré de Santa Catarina, em Tijucas.

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Província SC 3: Ilha de Santa Catarina

Figura 19 – Província SC 3 – Ilha de Santa Catarina (baías Norte e Sul) mostrando os estados das praias (1 a 6) e correntes: 1 dissipativo, 2 restinga, 3 barra rítmica e praia, 4 barra transversal, 5 terraço de maré baixa, 6 reflexivo. Fonte: KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:479.

A Ilha de Santa Catarina tem duas margens, a costa oeste protegida e a costa norte e leste exposta. A costa norte com 25 km de extensão, possui 15 praias reflexivas protegidas, que ocupam 17 km da costa, sendo o restante promontórios de granito. A costa leste, de 79 km de comprimento, contém 15 praias, geralmente voltadas para leste-sudeste, separadas por promontórios de granito proeminentes. No total, as praias ocupam 61% do litoral.

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Província SC 4: Ponta do Papagaio–Cabo de Santa Marta

Figura 20 – Província SC 4 - estados das praias (1 a 6) e correntes: 1 dissipativo, 2 barra, 3 barra rítmica e praia, 4 barra transversal, 5 terraço de maré baixa, 6 reflexivo Fonte: KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:481.

Ao sul da Ilha de Santa Catarina, o litoral é mais reto, voltado para o leste, por 127 km até o Cabo Santa Marta. Contém 38 praias; existem também 27 rasgos topográficos contra os muitos promontórios. Além disso, existem 57 km de praias de barra dupla, dos quais 24 km atingem um sistema de barra tripla totalmente dissipativo. Este é também o início dos principais sistemas de dunas transgressivas com tendência ao sul, com cerca de oito sistemas de dunas principais apoiando as praias de maior energia.

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Província SC 5: Cabo de Santa Marta–Torres

Figura 21 – Província SC 5 - estados das praias (1 a 6) e correntes: 1 dissipativo, 2 barra, 3 barra rítmica e praia, 4 barra transversal, 5 terraço de maré baixa, 6 reflexivo. Fonte: KLEIN, SHORT, BONETTI, 2016:482.

A província do sul começa no lado sul do Cabo Santa Marta, onde há duas praias embutidas expostas, seguidas por um sistema de praia totalmente dissipativo de barra tripla quase contínua (de 120 km de comprimento 400-500 m de largura), dividido pelas enseadas de Camacho, Rincão, Araranguá e Mampituba em três longas praias (declive médio=1,8°). As cinco extensas praias que compõem esta província têm uma extensão média de 24 km, com orientação sudeste (152°), o que as expõe a toda a força das ondas dominantes de sul. Eles ocupam 98,6% do litoral. As praias são apoiadas por dunas transgressivas maciças e contínuas de direção sul. A análise sobre a suscetibilidade aos impactos de ondas também mostrou grande diferença entre os diversos setores do litoral do Estado de Santa Catarina:

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... as maiores alturas de ondas significativas perto da costa foram geradas por ondas extremas do sul, seguidas por ondas de alta frequência que chegam do leste (...). Os setores do sul do estado foram mais influenciados pelas maiores alturas significativas de ondas. Isso ocorre em função da redução da refração das ondas, que por sua vez é explicada pela orientação e característica retilínea da linha costeira (SERAFIM et al., 2019:27).

Os maiores valores de suscetibilidade podem ser justificados pela predominância de maiores alturas significativas de ondas e menores declives - variáveis com maiores pesos e que estão espacialmente relacionadas com o modelo de suscetibilidade. Considerando a soma das classes de vulnerabilidade alta e muito alta, os seguintes setores foram os mais suscetíveis: “Centro-Sul (70%), Sul (54%), Norte (30%), Centro-Norte (19%) e Centro (16%), respectivamente” (SERAFIM et al., 2019:28). Neste estudo, os produtos de modelagem de ondas numéricas tiveram um grande impacto no resultado final da avaliação de suscetibilidade. Os especialistas consultados para atribuição de pesos consideraram a altura significativa das ondas como a segunda variável com maior impacto na vulnerabilidade costeira do conjunto de variáveis. Um grande peso também foi atribuído ao potencial de deriva litorânea. Como resultado, os padrões de suscetibilidade/vulnerabilidade diferiram daqueles observados por Serafim e Bonetti (2017) e Bonetti et al. (2018). Ao mesmo tempo, maiores graus de suscetibilidade foram observados para o litoral sul do estado, onde a orientação da linha de costa favorece uma maior exposição a ondas mais altas e tempestades (SERAFIM et al., 2019:29). A integração destes diversos fatores descritores possibilitou a modelagem da vulnerabilidade e da suscetibilidade dos diferentes setores do Litoral do Estado de Santa Catarina (figura 22).

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Figura 22 – Graus de vulnerabilidade por variável física e o modelo de suscetibilidade ao longo dos setores GERCO/SC. Fonte: SERAFIM et al., 2019:28.

Sobre os padrões da refração de ondas e deriva litorânea

A deriva litorânea líquida mostra sua estreita relação com a orientação da linha costeira em relação à direção principal das ondas incidentes (…), com clara redução na deriva litorânea de SI para SIII, e até mesmo uma ligeira inversão na deriva litorânea líquida em SIII, como consequência da orientação da linha de costa. Esta pequena deriva litorânea direcionada para o sul em SIII mostra que a deriva líquida neste segmento é quase inexistente. Um claro indicador geomórfico dessa direção predominante de deriva litorânea de sul para norte em SI e SII é a enseada do rio Araranguá, que é desviada para o norte ao longo da costa por uma longa faixa de areia.

... analisando o comportamento da deriva litorânea ao longo do ano influenciada pelo comportamento sazonal das ondas incidentes, pode-se observar a influência relativa das características sazonais das ondas. A deriva costeira máxima é observada no outono, com transporte

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direcionado para o norte em todos os segmentos. Isso é consequência da dominância das ondas incidentes do quadrante sul (SIEGLE, ASP, 2007:115).

Estas características geomorfológicas e comportamento morfodinâmico do litoral de Santa Catarina revelam-se extremamente favoráveis e sincrônicas ao deslocamento sazonal dos cardumes reprodutivos da tainha, desde o extremo sul subtropical (Rio da Prata e Estuário da Lagoa dos Patos) até o litoral sudeste do Brasil. Utilizando as intensidades e direções potenciais de deriva litorânea, calculadas a partir de ondas refratadas próximas à costa e aquelas calculadas diretamente a partir dos dados de ondas offshore, é possível fazer uma comparação e verificar a importância dos processos de refração na costa estudada.

... a plataforma continental adjacente ao litoral curvilíneo do sul de Santa Catarina apresenta contornos batimétricos aproximadamente retos, diferindo de alguma forma do litoral curvo. A plataforma continental é mais larga na porção sul, tornando-se progressivamente mais estreita para o norte. Portanto, dependendo da direção da onda incidente, padrões de refração interessantes podem ser observados, conforme as ondas se aproximam da linha costeira curva. Como consequência, as ondas que se aproximam da costa após os processos de convergência e refração produzem diferentes padrões de deriva litorânea, em comparação com as ondas não refreadas (SIEGLE, ASP, 2007:116).

Considerando os aspectos de longo prazo, a orientação da costa e, portanto, a refração das ondas e os padrões de deriva da costa são, em primeira instância, o produto da configuração geológica de um determinado segmento da costa:

... no litoral sul catarinense podem ser encontrados dois principais componentes estruturais, sendo o Batólito de Florianópolis, composto principalmente por granitos e gnaisses, e a Formação Serra Geral, composta principalmente por basaltos e formações sedimentares paleozóicas, parte da Bacia do Paraná (SIEGLE, ASP, 2007:118).

Por tais características geológico/geomorfológicas, são constatadas as diferenças tão marcantes entre o litoral norte, centro-norte e central, em relação aos setores centro-sul e sul. A brusca descontinuidade da linha de costa e a 49

mudança abrupta da orientação geográfica da mesma, delimitadas por tais características geológicas, imprime diferenças significativas no comportamento das ondas e correntes entre tais trechos (figura 23).

Figura 23 – Carta geológica esquemática da área (a) e mosaico de imagens de satélite da área, mostrando suas duas principais estruturas componentes (b). Fonte: SIEGLE, ASP, 2007:119.

Estas diferenças oceanográficas se refletem, também de modo diferenciado, nas operações de pesca, especialmente na pesca de arrasto de praia, direcionada à captura da tainha. Por tais razões, as comunidades de pescadores do litoral centro-sul e sul de Santa Catarina reivindicam o direito de utilização de embarcações motorizadas na pesca de arrasto de praia, como medida de segurança, para poderem vencer a força da arrebentação, e conseguir - depois de efetuado o cerco -, retornarem à linha de praia, também em segurança, com a rede e os peixes capturados.

Sobre a energia de ondas ao longo da costa de Santa Catarina

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É importante notar que os ciclones tropicais do Atlântico Sul podem ser eventos climáticos incomuns, mas não são impossíveis. Durante março de 2004, um ciclone extratropical transicionou para um ciclone tropical e atingiu o Brasil, depois de se tornar um furacão de categoria 2 (escala de vento do furacão Saffir- Simpson). Essa tempestade, o Ciclone Catarina, foi definido como o primeiro ciclone tropical de intensidade de furacão já registrado no Oceano Atlântico Sul, entre 63 ciclones subtropicais registrados entre 1957 e 2007. As principais perturbações atmosféricas na área de estudo são as frentes frias que cruzam a região, com uma média de seis sistemas frontais frios por mês, atingindo a América do Sul. As diferenças mensais nos padrões de energia das ondas podem estar relacionadas à intensidade e frequência desses sistemas meteorológicos, ao invés de suas características (CONTESTABILE et al., 2015:14227). Para avaliar a energia de ondas no litoral do Estado de Santa Catarina, foi desenvolvido um programa de monitoramento em oito (08) locais (figura 24).

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Figura 24 – Mapa do litoral de Santa Catarina, com a localização dos 08 pontos de estudo. Fonte: CONTESTABILE et al., 2015:14231.

A seguir, são descritos os principais parâmetros climáticos das ondas e a potência média das ondas e a energia anual (tabela 2).

Tabela 2 – Principais parâmetros do clima de ondas dos locais de estudo.

Fonte: CONTESTABILE et al., 2015:14232

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Tabela 3 – Energia de ondas dos locais de estudo.

Fonte: CONTESTABILE et al., 2015:14232

Como exemplo da especificidade das condições geomorfológicas/oceanográficas dos diferentes setores do litoral de SC e dos condicionantes de tais situações para o exercício das atividades da pesca artesanal, destaca-se o caso do litoral sul de SC:

... contribuindo para a diversificação dos sistemas pesqueiros no mar, merecem destaque as diferentes características geológicas da costa, que diferenciam claramente quatro locais de pesca marítima na região de estudo: “a sede do município de Garopaba”, “a Praia do Porto” e “a comunidade do Itapirubá” em Imbituba e “a zona entre a sede da Garopaba e a Praia do Porto”. Nesses três primeiros locais, existem abrigos naturais (enseadas, pontas etc.), que diminuem a arrebentação das ondas na costa marítima, facilitando e aumentando os períodos favoráveis à entrada de embarcações. A ausência desses abrigos entre a sede da Garopaba e a Praia do Porto reduz os períodos de captura nesse local, restringindo a pesca ao arrasto de praia (tainha etc.) e uso de pequenos botes (anchova, corvina, etc.) (CAPELLESSO, CAZELLA, 2011:16-19).

Esta compreensão das indissociáveis correlações entre as distintas características geomorfológicas/oceanográficas e a viabilidade e sucesso diferencial da pesca de arrasto de praia da tainha de cada trecho do litoral de SC é reconhecida, tanto na literatura científica, como nos referenciais culturais da região: 53

... houve sempre a preocupação de relacionar as praias ao critério geográfico, isto é, à sua direção e posição geográfica (...), fato fundamental para entender as influências de ventos, ondas e passagens de frentes polares. A posição e a direção das praias dependem de como os materiais detríticos se acomodam nos vãos por entre os maciços e morros costeiros, e por entre seus esporões e costões. Dependem também da direção das ondas de tempestade, do marulho “swell”, da pista “fetch”, de ventos fortes, da refração das ondas e de seu espraiamento na praia. Isto vai influenciar certas atividades econômicas: os cardumes de tainha vêm viajando do Rio Grande do Sul, na cabeça dos ventos do Sul (CASCAES, 1978) e podem possibilitar o “cerco” em praias catarinenses (CRUZ, 1998:146).

Aspectos ambientais relacionados O conhecimento ecológico tradicional dos pescadores artesanais reconhece tais aspectos como condicionantes de sua atividade: “O ciclo da tainha é ela vir para o norte, ela sai do Rio Grande, ela sai da barra da Lagoa dos Patos do Rio Grande, isso quando ela vem do Uruguai também, ele vem do norte para desovar e aí ela vai passando em tudo quanto é praia.” (R.O.) Entretanto, o sucesso da pesca artesanal da tainha pelo arrasto de praia depende, não apenas da combinação dos fatores supracitados, mas do modo como eles interagem com as características geomorfológicas e oceanográficas específicas de cada setor (ou província) do litoral, de modo a viabilizar a aproximação dos cardumes aos respectivos pontos de pesca de cada comunidade, e assim oportunizar a captura. Diferentes conformações do litoral, com relação à topografia, geologia e orientação geográfica, imprimem atratividade diferenciada para os cardumes de tainha em trânsito ao longo da costa; some-se a isto a grande variabilidade na intensidade e distância da linha de costa, das correntes marinhas nas quais as tainhas se deslocam, e a influência dos ventos sobre as manchas dessas massas d’água (sem nos determos nas implicações das mudanças climáticas globais

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sobre os padrões climatológicos e oceanográficos, aos quais os sistemas pesqueiros estão subordinados). Assim, apesar da importância decisiva da incidência de frentes frias e persistentes, nos meses de abril e maio, na redução da temperatura superficial da água do mar, como condicionantes básicos da perspectiva de potenciais safras satisfatórias de tainha no litoral de SC, é de se esperar que diferentes regiões e comunidades costeiras apresentem resultados bastante distintos, quanto à efetividade das capturas de tainhas pelo arrasto de praia. De modo a demostrar a pertinência do conhecimento ecológico dos pescadores artesanais sobre a especificidade regional/local dos condicionantes naturais para a efetividade de pescarias satisfatórias da tainha, procedeu-se a síntese da percepção, a partir das entrevistas, destes atores sobre o tema (tabela 4).

Tabela 4 – Percepção dos pescadores artesanais sobre as condicionantes ambientais para uma boa pesca da tainha no litoral de Santa Catarina. Município/localidade Condição para uma boa safra Ubatuba e Itaguaçu o mar é agitado, não dá para sair, só pesca com São Francisco do Sul mar mais calmo. Precisa de tempo ruim, senão praia de leste (Estaleiro, Estaleirinho, Balneário Camboriú Pinho, Taquara, Taquarinha) não pesca. Porto Belo Corrente marítima fria que vem da Argentina e vento sul, terral. Depende da área, localização; vento sul, vento leste-oeste, frio, tempo Bombinhas feio. Precisa tempo bom e friozinho. Se tiver ressaca, mar grosso, estraga Governador Celso a pesca, vento oeste, leva o peixe para fora, o peixe não encosta, vai Ramos para alto mar. Quando dá vento leste em maio, faz com que seja uma boa safra (...). Praia da Galheta: Depois de uma frente fria uma viração de vento pra nordeste; Se não der vento sul o peixe não vem. Florianópolis O que é bom para pesca da tainha são os ventos, tem que ter o vento certo no mês certo. Se o mês de maio for um mês de vento sul aí a tainha vem. Precisa de mar ruim, senão não traz o peixe (...). O que influência é o Palhoça vento sul e água norte para o peixe chegar a encostar na praia, porque as vezes só passa e não encosta. Precisa de frio, água ao norte, bastante maré, corrente de água, ressaca influencia (...). Para pesca ser boa tem vários fatores Garopaba climáticos tem que ser ano seco em Rio grande, ano de bastante vento sul com maré alta em abril e a quadra do mar tem que dá certo em maio e junho para matar as tainhas (mar calmo). Precisa de frente fria, precisa entrar nordestinho (vento) para trazer a Imbituba tainha para costa (...). Para ser uma boa pesca em Imbituba, tempo 55

Município/localidade Condição para uma boa safra bom para pescar, tem de ser um dia de mar manso, não pode ter vento forte para peixe ficar encostado. Água clara. A tainha tem que encontrar vento nordestinho para entrar. Laguna Clima. Frio, vento sul e chuva (...). Para uma boa safra deve ter muita chuva Jaguaruna e Litoral Sul antes de começar a safra e um pouco de frio durante a safra.

De acordo com os pescadores, o ano de 2020 não foi um bom ano de pesca em grande parte das localidades e as mudanças no clima têm sido relatadas como uma interferência: “Olha eu acho que seria o clima, hoje a gente não está bem, o nosso clima hoje a gente vê que não está igual como era antigamente. Antes dava frio na época da tainha, era muito gelo, muito gelado, a gente pescava tainha e dava muito quando eu era pequeno, mas a temperatura era outra. Hoje a gente vê que o clima muda muito. Ano retrasado já deu pouco aqui no Campeche porque também está dando verão, a gente vê que mês de maio e junho deu verão, esse ano também deu uns dias quentes, parecia verão a praia cheia de gente, turista. Então, isso aí é um fator que influencia muito, que está influenciando, eu acho. Ano retrasado lá no Rio Grande do Sul não saiu quase nenhuma tainha pra fazer a desova, estava muito quente. Tainha geralmente ela vem fazer desova, ela sai de lá, e pra nós aqui eu acho que é o fator climático que está meio modificado, mas a tainha eu creio que é um peixe que eu acho que nunca vai acabar, tem muita tainha.” (P.A.I.) “Se o mês de maio for um mês de vento sul aí a tainha vem, mas se for um mês que der calor como foi esse ano, que não deu muito vento sul aí a tainha já não vem.” (A.J.M.F.) Apesar da grande diversidade de cenários e contextos geomorfológicos e oceanográficos dentre as localidades dos depoentes, constata-se neste conjunto o pleno reconhecimento dos pescadores quanto aos condicionantes ambientais para o êxito de suas atividades. Como já referido, as especificidades locais, em termos de orientação geográfica da linha de costa, áreas mais abrigadas ou mais expostas, declividade do terreno, presença de costões rochosos ou praias arenosas nos seus limites, 56

todos estes fatores atuam sinergicamente na maior atratividade dos cardumes migratórios das tainhas a esta ou aquela localidade. Além disso, a marcada influência das interações meteorológico/oceanográficas, como a sempre referida entrada do tempo frio, pelo vento sul/sudeste/leste (dependendo da localização exata da praia) para se efetivarem as boas pescarias. O reconhecimento, por parte dos órgãos públicos responsáveis, desta aguçada percepção ambiental dos pescadores artesanais quanto aos condicionantes naturais para o exercício e sucesso das suas atividades, pode ser um fator decisivo na eficácia e aderência social do processo de ordenamento e gestão ambiental/pesqueira regional. Como visto, embora a atividade da pesca artesanal de arrasto de praia possa ser descrita e caracterizada, de modo abrangente para todo o litoral do Estado de Santa Catarina, é essencial o reconhecimento da diversidade de situações geomorfológicas e oceanográficas específicas de cada trecho deste litoral, as quais demandam - dos pescadores -, conhecimentos ecológicos profundos e práticas adaptativas, e – por parte dos gestores -, a constatação de que tais adaptações dos processos, embarcações e instrumentos destas práticas diferenciadas são legítimas e necessárias para o desenvolvimento pleno e seguro da atividade pesqueira.

Locais que ocorrem a pesca de arrasto de praia de tainha

Para o presente estudo foram considerados os pescadores de arrasto de praia de 16 municípios do litoral catarinense, envolvendo as seguintes localidades, conforme tabela 5 e mapas a seguir:

Tabela 5 – Locais compreendidos para a caracterização da pesca da tainha de arrasto de praia. Região do litoral Município Locais de pesca catarinense Norte Itapoá Pontal e Figueira Forte Norte São Francisco do Sul Praia de Capri 57

Região do litoral Município Locais de pesca catarinense Praia do Itaguaçu Praia João Dias Praia do Sumidouro Ubatuba (Praia de Fora) Praia Central Praia do Estaleiro Praia das Laranjeiras Centro-Norte Balneário Camboriú Praia do Pinho Praia de Taquaras Praia de Taquarinhas Estaleirinho Praia de Ilhota Centro-Norte Itapema Praia de Itapema Meia Praia Perequê Centro-Norte Porto Belo Perequê Praia de 4 Ilhas Praia de Bombas Praia de Bombinhas Praia da Conceição Centro-Norte Bombinhas /Retiro dos Padres Praia do Mariscal ( Praia do Canto Grande Praia da Sepultura Praia da Tainha Praia de Fora Praia do Sisal Central Governador Celso Ramos Praia do Tinguá Praia de Palmas Barra da Lagoa Cachoeira do Bom Jesus Caiacanga Campeche Praia da Daniela Joaquina Jurerê Jurerê Internacional Lagoinha do Norte Morro das Pedras Praia do Pântano Sul Central Florianópolis Praia da Solidão Ponta das Canas Praia Brava Praia do Forte Praia da Galheta Praia do Gravatá Praia dos Ingleses Praia do Moçambique Praia dos Naufragados Praia do Rio Vermelho Praia do Santinho Ribeirão da Ilha Guarda do Embaú Pinheira Central Palhoça Ponta do Papagaio Praia do Sonho Praia da Gamboa Centro-Sul Garopaba Praia da Barra do Capão 58

Região do litoral Município Locais de pesca catarinense Praia da Ferrugem Praia de Garopaba Praia da Silveira Praia da Vigia Prainha Praia do Siriú Barra de Ibiraquera Praia da Vila Praia de Itapirubá Praia Vermelha Centro-Sul Imbituba Praia da Ribanceira (Vila Esperança) Praia do Porto (Vila Alvorada) Praia do Rosa Porto Novo Farol de Santa Marta (Cardoso e Centro-Sul Laguna Prainha) Praia do Gi Balneário Camacho Balneário Torneiro Centro-Sul Jaguaruna Balneário Campo Bom Balneário Figueira Balneário Arroio Corrente De Imbituba a Passo de Torres (em Sul Balneário Rincão mar aberto) De Imbituba a Passo de Torres (em Sul Balneário Arroio do Silva mar aberto) De Imbituba a Passo de Torres (em Sul Balneário Gaivota mar aberto)

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Figura 25 – Mapa de localização dos locais de pesca da tainha de arrasto de praia no litoral norte de Santa Catarina.

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Figura 26 – Mapa de localização dos locais de pesca da tainha de arrasto de praia no litoral centro-norte de Santa Catarina.

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Figura 27 – Mapa de localização dos locais de pesca da tainha de arrasto de praia no litoral central de Santa Catarina.

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Figura 28 – Mapa de localização dos locais de pesca da tainha de arrasto de praia no litoral centro-sul de Santa Catarina.

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Figura 29 – Mapa de localização dos locais de pesca da tainha de arrasto de praia no litoral sul de Santa Catarina.

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CARACTERÍSTICAS CULTURAIS E SOCIOECONÔMICA DOS ENVOLVIDOS

A pesca da tainha, na modalidade artesanal de arrasto de praia, no litoral do Estado de Santa Catarina, constitui um fenômeno ecológico/cultural muito peculiar, representativo da expressiva produtividade primária e pesqueira, e da cultura das comunidades costeiras das regiões Sul-Sudeste do Brasil, a qual remonta as populações autóctones, anteriores à colonização ibérica, sendo por esta preservada e transmitida de modo intergeracional. Uma característica marcante desta arte de pesca está justamente na tradição passada de pai para filho, como foi identificado durante este estudo: “Eu participo da pesca da tainha desde 10 anos de idade… 8 a 9 anos de idade, desde pequeno, desde criança eu já ia pra praia com meu pai. Meu pai me ensinava a olhar o peixe. Ele dizia: “filho, lá vem o peixe, tá vendo?”. “Aquela trêmula, aquela aguagem mexendo diferente, escuro, aquele é o cardume da tainha ela tá vindo lá, tá vendo?”. Meu pai me mostrava e eu ficava focando naquilo ali. Meu pai dizia “daqui a pouco ela pula filho”, eu ficava olhando e daqui a pouco ela pulava em cima do cardume, pulava uma, pulava outra e ele arrancava o paletó e fazia o sinal, eu do lado dele também pegava a minha jaquetinha, criança ainda e ajudava ele já pra ir aprendendo.” (R.O) Esta importância da tainha envolve tanto os aspectos socioeconômicos, gerando oportunidades de emprego e renda para as comunidades pesqueiras e o seu entorno, como na garantia de reprodução cultural destas mesmas comunidades, que têm na pesca desta espécie, o seu principal centro de aglutinação sociocultural e a oportunidade de (re)capitalização anual das comunidades pesqueiras e também das suas respectivas municipalidades. Esta atividade também é importante para o aquecimento turístico das regiões onde ocorrem, as quais exploram a safra com festas tradicionais (FERNANDES, 2019). Esta pesca artesanal desenvolveu-se desde os primórdios da colonização portuguesa, a partir da assimilação (primeiramente, pelos náufragos e degredados, e posteriormente pelos colonos açorianos) do conhecimento 65

ecológico tradicional das populações autóctones, os indígenas Carijós, que habitavam a região. Enquanto atividade de subsistência, esta atividade pesqueira complementava a agricultura de pequena escala.

... os 6.071 imigrados da Arquipélago dos Açores e da Madeira para o sul do Brasil, entre 1748 e 1756, estabeleceram-se predominantemente na Ilha de Santa Catarina e em sua faixa litorânea continental fronteiriça, área na qual Franklin Cascaes coletou seus dados culturais (FURLAN, 2014:07).

A pesca artesanal de arrasto de praia foi, portanto, incorporada durante e após a colonização, ao universo cultural açoriano-descendente do litoral de SC, mas sua origem é, inegavelmente indígena: estas populações conheciam o comportamento sazonal dos cardumes reprodutivos, e se preparavam para capturá-los. As canoas, escavadas em troncos, e as redes, confeccionadas em fibras vegetais, já eram utilizadas na pesca da tainha, muito antes de os açorianos aportarem na região.

... não pode ser uma tradição açoriana que tenha vindo juntamente àquelas pessoas que aqui aportaram no século XVIII, já que na Ilha de Açores não existia nada que se assemelhe à dita pesca realizada na ilha de Santa Catarina, muito menos há presença de tainhas na costa daquela ilha. E, embora saibamos que a pesca é um costume dos descendentes de açorianos, a grande questão é pensar o porquê de a pesca acabar por tornar-se uma tradição vinculada ao povo de ascendência açoriana do litoral catarinense (CONCEIÇÃO, 2011:70).

A pesca artesanal da tainha é uma atividade que exerce um importante papel social, econômico e cultural no litoral de Santa Catarina tanto que, em 2012, foi declarada como integrante do patrimônio histórico, artístico e cultural do Estado (Lei Estadual nº 15.922). Esta modalidade de pesca emprega em torno de 9.000 pescadores/as artesanais, além de beneficiar 20.000 trabalhadores/as indiretos/as (FEPESC, 2016 apud FERNANDEZ, 2019). Comunidades pesqueiras do litoral catarinense que praticam a pesca artesanal de tainhas declararam esta atividade como patrimônio imaterial como em Bombinhas, Itapema, Balneário Camboriú, Florianópolis, e Palhoça.

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Independente de tal reconhecimento de forma oficial, a pesca da tainha se materializa como parte da cultura catarinense e o final da safra, se tende a se tornar um momento de comemoração e confraternização pelos pescadores, bem como de divulgação deste patrimônio perante a comunidade e os turistas. Tanto que em Balneário Camboriú, há o “Arrancadão de canoa artesanal”1 (ocorreu em 2017, 2018 e 2019, em 2020 não ocorreu por causa da Covid-19), um evento organizado por pescadores e aberto a outros municípios, sendo que cada praia participante traz sua canoa para a competição. Em 2018 o evento foi patrocinado pela lei de incentivo à cultura do município de Balneário Camboriú, tendo em vista que a pesca artesanal da tainha é tombada como patrimônio estadual. O conjunto de atividades que envolvem e dão sustentação à pesca de arrasto de praia preservam estas tradições culturais e contribuem significativamente para a reprodução cultural e econômica da categoria social dos pescadores artesanais do litoral de Santa Catarina. Porém, elas também contribuem – e muito - com a educação das populações urbanas, residentes e visitantes, sobre outras formas de viver e de relacionar com os espaços, territórios e seus “recursos” naturais, elas nos evidenciam uma outra lógica relacional, interacional, que demanda tempo, paciência, humildade e respeito para com os seres e ciclos da natureza:

... acompanhando as parelhas de canoas bordadas, redes, camaradas, patrões e vigias é possível aprender um tipo de engajamento com o mar que redesenha o litoral da cidade. Por várias praias assiste-se ao espetáculo das redes sendo puxadas do mar por uma linha de braços que vão se agregando ao esforço de finalizar o lanço e ver circular os quinhões de peixes entre sócios, clientes, amigos e parentes. Imagens que se repetem marcando o amor da cidade pela tainha e o mar. Mas há outro tempo que antecede o ritmo vigoroso do lanço, pouco percebido pelos olhares mais desatentos. É a espera pelos cardumes, na qual os pescadores podem permanecer horas, dias desconfiando dos movimentos do mar, atentos aos sinais e maneiras das tainhas finalmente se mostrarem. Uma espera que se desfia nas conversas no barracão, nas remendadas de rede, nas partidas de caixeta e dominó, no convívio no rancho de pesca. Uma espera que disfarça outra prática fundamental da pesca, a observação dos ciclos de relação dinâmica

1 Vide: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2019/08/03/competicao-de-canoas-em- balneario-camboriu-marca-fim-da-safra-da-tainha.ghtml.

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entre chão, mar e céu; areia, água e vento; coletivos de gente, redes, canoas e peixes. Quem passa na praia e não conhece esta espera, pode até não entender porque a areia e o mar precisam estar assim, calmos, sem barulhos e agitos que possam assustar os peixes. Pois estão todos sob estado de discreta atenção, concentrados em ver peixe (DEVOS, 2016:134-136).

Nestes processos interativos da cultura das comunidades pesqueiras artesanais com os ambientes e os cardumes que lhes garantem a sobrevivência, se reconstroem cotidianamente os seus territórios; como marcos deste espaço- tempo, os “ranchos de pesca” têm um papel fundamental: eles são estruturas coletivas, erguidas e mantidas para e pelo exercício da atividade pesqueira, onde, além de acomodar as embarcações, redes e outros petrechos, se assegura a continuidade das interações sociais, da camaradagem e da cooperação solidária, que caracteriza estas comunidades:

... o rancho é uma construção precária, geralmente de madeira, que permanece nas praias do litoral, com a finalidade de servir de vivenda aos pescadores e de guardar os aparelhos de pesca (botes, redes, boias, etc.) durante as diversas safras. Em Santa Catarina, estes ranchos adquirem sua função especial como espaço de trabalho e de vida durante os meses de maio e junho, quando as praias são dominadas pelas “cercadas de tainha” (GODIO, 2012:05).

Outro aspecto destacado na pesquisa foram os acordos de pesca locais, como por exemplo, em relação à divisão do pescado entre os pescadores envolvidos; preferência do lanceio e a possibilidade de cercar o cardume por trás; a vez da pesca (quem achar o peixe vai primeiro) na pesca motorizada; parelhas que têm coordenadas cruzadas no Campeche, se revezam nos dias para pesca, no local para o cerco (cerco atrás); acordo entre os pescadores das praias locais do arrasto da tainha e de caça de emalhe para delimitar as áreas de pesca (em Bombinhas). Estas estruturas, e as regras sociais acordadas, constituem também parte do patrimônio cultural material e imaterial da pesca artesanal, e como tais devem ser respeitadas e valorizadas pelos órgãos públicos e seus representantes, pois representam a permanência de valores comunitários, em cenários crescentemente ameaçados pela apropriação privada.

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Quanto aos aspectos socioeconômicos, a presente pesquisa demonstrou que a pesca ainda é uma atividade bastante representada pelo gênero masculino, mas também foi possível constatar pescadoras que possuem autorização e que exercem o arrasto de praia. A faixa etária da maioria dos pescadores e pescadoras, está compreendida entre os 40 e 60 anos, sendo que aqueles que estão acima dos 60 anos, também têm boa representatividade. Grande parte já exerce a atividade pesqueira a mais de 20 anos, atestando que a pesca artesanal da tainha é um patrimônio passado de pai para filho. No tocante à escolaridade, a grande maioria apresenta ensino médio completo, seguido dos que possuem o ensino fundamental II completo. A pesca é a principal atividade remunerada para grande parte dos pescadores pesquisados, sendo relatado que a pesca da tainha é a que mais gera renda quando a safra é boa, sendo um importante complemento na renda, que flutua entre um e dois salários mínimos para grande parte, incluindo pescadores que são aposentados pela pesca. Mas atualmente é bem difícil encontrar pescadores que vivam exclusivamente da pesca artesanal e a grande maioria possui uma segunda fonte de renda e há ainda os que exercem outras funções e exercem a atividade de pesca de forma sazonal, ou seja, apenas na safra da tainha. “Acho que é difícil hoje o pescador viver só da pesca, são poucos, porque é uma coisa que não dá sempre. Pesca da tainha este ano aqui no Campeche foi fraquíssima, então a gente vive pela nossa cultura, mais hoje pela nossa tradição... A gente respira a pesca, mas não vive dela.” (P.A.I.) Os dados socioeconômicos coletados revelaram que os atores envolvidos nessa modalidade de pesca a realizam há anos e principalmente os mais velhos estão envolvidos. Destaca-se a importância econômica, já que para muitos pescadores e pescadoras a renda advém da pescaria. O caráter tradicional e cultural do arrasto de praia também foi evidenciado, com um sentimento de satisfação e orgulho por repassar o conhecimento geração pós geração. Logo,

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estes aspectos devem ser levados em consideração ao discutir um ordenamento pesqueiro. Quanto ao pertencimento do pescador a alguma instituição representativa, grande parte está associado à colônia de pescadores, sendo que em São Francisco do Sul e Palhoça, foi dado destaque à atuação de tal instituição. Em muitos locais, os pescadores não se sentem representados e acabam por formar associações de pesca, que atuam de forma mais dirigida ao arrasto de praia, em detrimento à atuação da colônia de pescadores que é mais ampla. Da mesma forma, os pescadores estão se mobilizando para fazer uma associação de abrangência estadual para a pesca de arrasto de praia.

DESCRIÇÃO E DINÂMICA DA PESCARIA

Para contextualizar o significado da pesca de arrasto de praia (também chamada de lance ou lanço de praia, arrastão de praia) no conjunto das artes e processos utilizados ao longo do litoral de Santa Catarina, destacam-se as conclusões do monitoramento da pesca artesanal empreendido pela EPAGRI:

... Foram identificadas 22 modalidades de pesca, com petrechos que podem variar de nome e forma de confecção ao longo do Estado (...). As artes de emalhe tiveram maior participação nas capturas durante o período de monitoramento em 2010 (61%), seguidos dos arrastos (20%), cercos (9%), armadilhas (4%), artes de caída (4%), aparelhos com anzol (1%) e, por fim, a coleta manual de moluscos e crustáceos (1%) (...). As modalidades de pesca de maior importância econômica foram as redes de espera fixa (32% do total relatado em 2010), seguida pela rede de deriva (caceio) (16%), o arrasto com portas (15%), o cerco de bate-bate (9%), o cerco com rede anilhada (7%), a tarrafa (4%), o aviãozinho (4%) e o arrasto de praia (4%) (BANWART, 2014:12-13; grifos nossos).

Sendo a pesca de arrasto de praia nosso objeto de estudo, de acordo com a Portaria Estadual nº 283 de 30/04/2020, art. 2º, inciso III, essa pescaria é caracterizada como:

Atividade de pesca realizada por comunidades tradicionais que utilizam embarcações motorizadas ou a remo para lançar ao mar uma rede, 70

deixando um cabo de uma extremidade na praia e navegando de forma a cercar um cardume. Ao retornar à praia trazendo o cabo da outra extremidade da rede, os pescadores e auxiliares começam a recolher os dois cabos para arrastar a rede até a praia. Em alguns casos as redes não possuem cabos sendo puxas as extremidades da própria rede.

Devido às condições geomorfológicas do litoral catarinense, a pesca do arrasto de praia é desenvolvida praticamente de duas formas (figura 30): i. praticada por canoas com propulsão a remo do município de Laguna até o município de Itapoá, que é limítrofe com o estado do Paraná, com exceção em alguns municípios em que o mar é “grosso/revolto”, como por exemplo na Praia da Solidão em Florianópolis, Gamboa e Siriú em Garopaba que utilizam canoa a motor (por meio de liminar judicial); ii. com auxílio de motor do município de Imbituba até o município de Passo de Torres (em mar aberto), que é divisa com o estado do Rio Grande do Sul, também por meio de liminar judicial, tendo em vista que o uso de motor atualmente não é permitido.

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Figura 30 – Demarcação das regiões do litoral catarinense, conforme a principal propulsão para as embarcações para pesca de arrasto de praia da tainha. Fonte: MPF-SC, 2020 (adaptado).

A pesca ocorre entre os meses de maio a julho e os pescadores se dividem conforme a função de cada um. Em terra, geralmente em um local mais alto, fica o vigia ou espia, função de apenas uma pessoa ou em revezamento na função e/ou nos locais de observação e praias mais extensas. O vigia pode utilizar rádio comunicador ou celular para avisar sobre a chegada do cardume ao patrão ou apenas se comunicar por meio de apito, bandeira ou alguma vestimenta, como uma blusa, um boné, um “capote” (chapéu), conforme relatos a seguir. 72

“As canoas têm os ranchos fixos na praia, no porto e os vigias tem um rancho lá também fixo que fica lá e só se usa na época da tainha. Nas dunas temos um rancho lá, temos uma cozinha que é onde fica o vigia, a gente chama de vigia. O vigia fica lá de prontidão o dia todo para dar o sinal quando o cardume chega. A gente não usa celular, a gente usa um paletó como um jeito de avisar na praia, que dá mais ou menos 2 km de distância onde estão as canoas e estão os vigias. Os paletós que dão o sinal, conforme o jeito do paletó abanar é que a gente sabe mais ou menos a quantidade de peixe que está no mar. Essa é uma forma muito antiga de saber, a gente não tem celular nem rádio, aqui ainda não tem isso não.” (A.J.M.F.) “E quando o vigia olha o peixe ele faz sinal com o pano, camiseta ou o casaco, mais é o casaco que é época de frio. Eles tiram o casaco e ficam abanando, que é o sinal. E quando eles fazem o sinal com o paletó, o casaco, aí a gente sai com o barco para cercar. Aí vem o remeiro, tem chumbereiro e tem o popeiro, depois dele fazer o sinal a gente larga a rede e vai fazendo o cerco. Essa é o nosso ritmo de cercar a tainha.” (R.O.) Em terra, a espera do sinal do vigia, ficam os pescadores que embarcam na canoa e os camaradas que ajudam a puxar a rede. Na figura 31 é possível observar o momento em que os pescadores adentram ao mar para iniciar o cerco do cardume de tainha.

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Figura 31 – Canoa preparada à espera de entrar na água. Canoa sendo levada à água. Fotos disponibilizadas por: Washington Ferreira; Sidney da Rocha dos Santos.

No sistema de pesca com canoa a remo2, dependendo do tamanho da canoa, ela comporta quatro a seis pessoas a bordo, sendo que o patrão de pesca3 vai na popa da canoa e é o responsável por orientar os pescadores no barco ou ainda exercer a função de popeiro4; um chumbereiro (figura 33), que é quem tem a função de jogar a rede ao mar; e dois ou quatro remeiros ou remadores (em alguns locais foi relatado que o patrão da canoa também atua como remeiro). Os remeiros podem atuar nas seguintes posições (assentos da canoa): “remador de voga” quando vão apenas dois na canoa e “remeiro da ré, do meio, é da proa” ou ainda “ré, contra ré, proa e contra proa” ou ainda “proa, contra meio, meio e ré”, quando a canoa comporta seis pessoas.

2 A canoa a remo em várias localidades é chamada de “parelha” pelos pescadores. 3 Patrão de pesca é um termo utilizado para se referir ao dono da embarcação ou uma pessoa escolhida por este, com a função de coordenar/administrar a embarcação. “É a pessoa que expressa todo seu conhecimento da pesca, ele que determina, que ritmiza as remadas, que ordena a velocidade necessária aos remadores. É dele a comunicação que resultará no cerco. Seu lugar é na polpa da canoa” (FERREIRA & DIAS, 2020). 4 Na pesca artesanal, como na marinha de guerra, e na canoagem esportiva, a figura do “popeiro”, ou tripulante situado na extremidade posterior da embarcação, sempre é reservada à pessoa mais experiente/habilitada a bordo, que conduz o rumo e as operações, sendo geralmente representada pelo “patrão de pesca“ no arrasto de praia com canoas a remo, podendo ser outro tripulante nas canoas a motor.

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Figura 32 – Canoa com quatro e seis tripulantes, respectivamente. Nas imagens é possível observar o patrão/popeiro, o chumbereiro e os remeiros. Fotos disponibilizadas por: Claudinei José Lopes.

Figura 33 – Chumbereiro soltando a rede. Fotos disponibilizadas por: Leandro Lopes Gonçalves.

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Uma das pontas da rede fica na praia e a outra é conduzida pela embarcação para cercar o cardume5, formando um semicírculo (figura 34 e figura 35).

Figura 34 – Figura ilustrativa do arrasto de praia. Fonte: Rádio Nosso Pixirum, 2020.

Figura 35 – Imagem aérea demonstrando o semicírculo formado quando a rede de arrasto é puxada. Fonte: Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de SC, 2020.

5 Em alguns locais o cardume é chamado de “manta”.

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Após o cerco, a embarcação retorna à praia e as duas pontas da rede são puxadas pelos ajudantes ou “camaradas” que ficam na praia (figura 36). O número de “camaradas” nesta atividade é variável nas localidades, podendo se elevar bastante com a participação da comunidade e de turistas. “...cada rancho tem uma faixa de 50 a 70 pessoas que puxam a rede, tem os remeiros e tem os camaradas que a gente chama aqui que puxam a rede, geralmente em torno de 50 a 70 pessoas e para nos aqui é muito bom porque a gente também tem o pessoal da comunidade, pessoal que precisa que vá puxar uma rede, todo mundo leva o seu peixe, nós somos bem assim com nosso bairro, na época da tainha, quem vai lá ajudar a puxar leva peixe. Então, isso ai para nós é muito bom, uma relação que nós temos com a nossa comunidade, com a nossa tradição.” (P.A.I.)

Figura 36 – Rede de arrasto de praia sendo puxada pelos camaradas. Fotos disponibilizadas por: Claudinei José Lopes; Sidney da Rocha dos Santos; Washington Ferreira.

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Em alguns locais pode haver acordos formais e informais entre os pescadores de diferentes embarcações, como por exemplo, sobre a vez no lanço, os dias de pesca em caso de sobreposição de coordenadas, a canoa que não está efetuando o lance poder cercar o manto de peixe que está por trás, “pois quem está na vez cerca o cardume e foge muito peixe”. “Cada um tem seu ponto, mas dividem os que são vizinho de ponto. Tem acordo para poder cercar manto de peixe que está por trás, quem tá na vez cerca e foge peixe, então cerca por trás.” (L.D.) Os mesmos acordos podem ocorrer com outras categorias, como por exemplo no Campeche e em Garopaba, em que são promovidas reuniões com associação de surf para delimitar/orientar a prática do esporte no período da safra da tainha, podendo inclusive incluir sistema de bandeiras em determinadas praias, conforme demonstra a reportagem a seguir.

Figura 37 – Reportagem sobre acordo entre a pesca e o surfe em Garopaba em 2020. Fonte: https://www.garopabamidia.com.br/noticias/titulo/10578/pesca-da-tainha-e-praiexcltica-do- surf. 78

Uma característica diferenciada da pesca de arrasto de praia de tainha é observada nos municípios de Jaguaruna, Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota e Balneário Rincão, em que os pescadores percorrem toda extensão sul do litoral catarinense, desde Imbituba (em mar aberto) até Passo de Torres, como se observa a seguir:

“a pesca de arrasto de praia é desenvolvida de forma itinerante, principalmente por causa das condições morfológicas do mar. Nessa região o mar é aberto, onde existem três arrebentações e isso impossibilita a utilização de remo, sendo utilizado barco a motor para o cerco do cardume. Já a tração da rede é feita toda manual.” (comunicação pessoal - Rodrigo Costa Knoll).

Ainda, de acordo com o relato de um pescador, a utilização do motor nas embarcações é uma necessidade de adaptação, no entanto, não descaracteriza a tradicionalidade da atividade: “O arrasto de praia, sou bem sincero pra te dizer, nasci e me criei fazendo isso, meu bisavô, meu avô, meu pai, ele é uma pesca totalmente artesanal, a gente teve que adaptar pelas mudanças de maré e de tempo. Teve que adaptar as embarcações porque se não ia parar. Nós fomos obrigados a botar motor nas canoas, fazer embarcações, fazer lanchas, motor de popa, as canoas, os motores de centro, nós fizemos motor de popa nas lanchas. Foi sendo adaptado para a gente poder continuar pescando.” (M.A.B.) Como o litoral do extremo sul de Santa Catarina (desde Passo de Torres até Laguna) apresenta continuidade física e grande similaridade geomorfológica com o litoral do Rio Grande do Sul, diversas comunidades pesqueiras artesanais locais vem solicitando, judicialmente, a liberação do uso de tais veículos de apoio, para o exercício de suas atividades. Mas os pescadores que realizam a pesca de arrasto de praia com canoas motorizadas enfrentam dificuldade em regularizar a atividade, uma vez que não é concedida emissão de autorização de pesca de arrasto de praia a essas embarcações, e os pescadores só conseguem realizar a atividade por meio de liminar de segurança (sob nº 5007185-20.2013.404.7204/SC no anexo B). 79

“Nós aqui é na modalidade de arrasto de praia, mas de canoa a motor que é onde nós temos até uma liminar que faz 6 anos que a gente trabalha com a liminar com mandato de segurança, porque quando a portaria IN 10 de 2011 comeu o arrasto de praia da portaria, nós ficamos desamparados, não conseguimos mais licenciar as canoas a motor.” (S.R.P.) A canoa motorizada é feita de fibra, em função de ser mais leve para poder ser transportada pelo caminhão (vai em cima ou rebocada), bem como para sua retirada para ser colocada na água (figura 38). “Nossas canoas são diferenciadas das de lá, como nosso trabalho é suspenso no caminhão elas são de fibra, porque não tem como embarcar uma canoa de madeira em cima de um caminhão braçalmente a gente usa umas canoas mais levianas, que elas são feitas na fibra.” (S.R.P.)

Figura 38 – Canoa motorizada transportada por caminhão. Foto disponibilizada por: Marco Antonio Borges.

O grupo se desloca pelas praias (podendo receber indicações de onde o cardume está passando por mensagem em redes sociais) com o caminhão, o qual é utilizado como ponto para os “olheiros” (figura 39) e ao ser avistado o cardume, a canoa a motor entra no mar, geralmente com três a quatro tripulantes: o patrão, o chumbereiro, o boieiro e as vezes um olheiro. Em relação à prioridade de lance, quem primeiro visualizar o cardume tem direito a fazer o cerco, os demais podem realizar o lance se o patrão passar a vez ou se realizar o cerco por trás.

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Figura 39 – Olheiros ficam em cima do caminhão para melhor observação da chegada do cardume. Foto disponibilizada por: Marco Antonio Borges.

Após realizado o cerco, a rede é puxada de forma manual com a participação de cerca de 20 a 25 ajudantes (incluindo homens e mulheres) (figura 40).

Figura 40 – Rede de arrasto de praia puxada de forma manual após a pesca com canoa motorizada. Fotos disponibilizadas por: Marco Antonio Borges.

Acompanham a pescaria também o motorista do caminhão e o cozinheiro, que prepara as refeições, tendo em vista que os pescadores ficam dias de forma itinerante (figura 41).

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Figura 41 – Pausa para refeição feita pelo cozinheiro e servida a todos os envolvidos na pescaria. Foto disponibilizada por: Marco Antonio Borges.

Esta diversidade de situações, extremamente variável, quanto ao contingente de pescadores envolvidos (seja diretamente nas operações de pesca nas embarcações, como aquele nas praias, para o recolhimento das redes com o pescado, e o apoio logístico), além dos equipamentos de apoio e a infraestrutura disponível, reflete os diferentes contextos ambientais, e as respectivas condições geomorfológicas e oceanográficas, típicos de cada região do litoral de SC. Para a compreensão do conjunto destes contextos pesqueiros artesanais envolvidos na pesca de arrasto de praia da tainha no litoral catarinense, os dados locais foram condensados regionalmente e por município (tabela 6).

Tabela 6 – Estrutura de pesca de arrasto de praia no litoral catarinense: síntese regional. Região Município Pescadores Pescadores Equipamentos Infraestrutura p/embarcação na praia São Francisco 3-4 8-16 Radiocomunicador; Rancho fixo; Norte do Sul celular rancho móvel

Balneário 4-6 10-30 Radiocomunicador; Rancho fixo; Camboriú celular rancho móvel Centro- Porto Belo 4 10 Nenhum Rancho móvel Norte Bombinhas 4-6 12-30 Radiocomunicador; Rancho fixo; celular; drone rancho móvel Governador 4-6 10-22 Radiocomunicador Rancho fixo Celso Ramos Florianópolis 5-6 10-80 Radiocomunicador; Rancho fixo; Central celular rancho móvel Palhoça 4-6 10-50 Radiocomunicador; Rancho fixo; celular rancho móvel

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Região Município Pescadores Pescadores Equipamentos Infraestrutura p/embarcação na praia Garopaba 3-6 16-45 Radiocomunicador; Rancho fixo; Imbituba 5-6 9-40 celular Estrutura Centro- Celular municipal Sul construída Não tem; caminhão Laguna 6 19 Nenhum Rancho fixo Jaguaruna 3-4 14-25 Celular Caminhão Balneário 4 20-25 (não informado) Caminhão Rincão Sul Arroio Silva 4 20-25 Celular Caminhão Balneário 4 20-25 (não informado) Caminhão Gaivota Rancho fixo; Radiocomunicador; rancho móvel; Síntese Litoral SC 3-6 8-80 celular; drone; estrutura nenhum municipal; caminhão

Pode-se, assim, assumir que, ao longo do litoral de SC, na pesca de arrasto de praia, o número de pescadores por embarcação varia entre 03-06; os pescadores na praia flutuam entre 08-80; os equipamentos utilizados consistem de radiocomunicadores, telefones celulares, eventualmente drones, ou nenhum; em relação à infraestrutura de apoio à pesca, foram referidos os ranchos fixos, ranchos móveis, estruturas municipais construídas e caminhões.

DESCRIÇÃO DAS EMBARCAÇÕES UTILIZADAS

A embarcação predominante utilizada na pesca de arrasto de praia da tainha é a canoa de madeira com propulsão a remo, sendo muitas delas feitas de um pau só e com décadas de existência (figura 42 e figura 43). “A pesca da tainha é tradição cultural, é característica da ilha essas canoas enormes que foram feitas antigamente de um pau só, de guapuruvu, de araucária e de figueira, essas canoas tem que ser usadas no remo, os pescadores são o próprio remo.” (A.J.M.F.)

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Figura 42 – Canoa “Samaritana”, construída em 1967. Foto disponibilizada por: Claudinei José Lopes.

Figura 43 – Canoa “Laguna”, bem material passado de pai para filho. Fotos disponibilizadas por: Sidney da Rocha dos Santos.

De acordo com Ferreira & Dias (2020) existem dois tipos de canoas, a saber: canoas: lisa e bordada. A bordada possui uma borda alta, que se chama borda falsa, ou seja, aumentada com tábuas; serve para a pesca de tainha, anchova e corvina. As canoas bordadas, construídas de um pau só, podem ser de garapuvu, de cedro, madeiras leves, são compridas, bonitas, fortes e resistentes. As lisas são maciças, tem capacidade para apenas dois ou três homens, e é mais usada para a pescaria de tarrafa, de camarão, manjuva ou sardinha, ainda podem ser utilizadas para a pesca de espinhel (FERREIRA & DIAS, 2020).

As embarcações do litoral sul não possuem licença de pesca de arrasto de praia, pois utilizam canoa motorizada as quais não são autorizadas a operarem.

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Conforme já mencionado, os pescadores entraram na justiça e alguns deles já conseguiram liminar para exercerem a pesca de arrasto de praia. Há ainda embarcações em Jaguaruna, Garopaba e Florianópolis que apresentam liminar judicial para pescarem com canoa a motor. Contabilizando estas canoas, os número de embarcações que realizam a pesca de arrasto de praia da tainha é superior ao número das licenças emitidas pela SAP-SC (245 autorizações de pesca). Tanto as canoas artesanais, como as canoas motorizadas, em determinados locais são chamadas por muitos pescadores de “parelha de praia”, (correspondendo ao conjunto canoa e rede). A seguir serão apresentadas as características das embarcações utilizadas na pesca de arrasto de praia por região, com base nos dados primários coletados, confrontadas com as informações contidas nas autorizações de pesca. Na região Norte do litoral de Santa Catarina, em São Francisco do Sul, as canoas apresentam tamanho entre 4,10 e 7,20 metros. Na região Centro-Norte do litoral catarinense, em Balneário Camboriú, predominam as canoas de madeira, com tamanho variando entre 6,25 e 8,00 metros (somente na praia de Taquarinhas, há uma canoa de madeira e uma em fibra, esta com 7,50 m de comprimento). Em Itapema, as canoas variam de 4,44 m a 8,00 m. Em Porto Belo, na praia do Perequê as canoas variam de 5,90 metros (0,30 AB) a 6,50 metros (1,00 AB). No município de Bombinhas as canoas são de madeira, variando entre 6,00 e 10,00 metros. Na região central do litoral catarinense, em Governador Celso Ramos as canoas de madeira com propulsão a remo variam de 5,00 a 7,70 m. Em Florianópolis, a grande parte das embarcações tem propulsão a remo, mas também são utilizadas canoas de madeira a motor na praia da Galheta (18 hp); na praia da Joaquina é utilizada canoa de fibra (9,60 m; 2,00 AB) e na praia do Gravatá, é utilizado bote de fibra (6,0 m), com propulsão a motor (15 hp). Em Palhoça as canoas são de madeira a remo, variando entre 4,00 e aproximadamente 9,00 metros de comprimento.

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No litoral centro-sul, no município de Garopaba, as canoas são em madeira, variando de 8,00 a 9,00 metros e movidas a remo; há exceções, com uma canoa em fibra (8,50 m), com propulsão a motor (18 hp) e uma chalupa (5,80 m) a motor (15 hp), ambas na Gamboa. Embarcações motorizadas ainda são observadas na Praia da Barra do Capão (10,00 m; 10 hp) e na praia do Siriú (24 hp). No município de Imbituba, as canoas são em madeira e com propulsão a remo; o comprimento das embarcações varia entre 6,60 e 10,00 metros. Em Laguna, é utilizada canoa a remo com comprimento variando entre 8,00 m e 9,00 m. Em Jaguaruna, as canoas variam de 7,00 a 9,60 metros, com potência do motor de 24 a 40 hp. Na região sul do litoral catarinense, as canoas são de fibra e motorizadas: no município de Balneário Rincão, existem canoas de 7,10 a 9,60 metros, com potência do motor variando de 24 a 90 hp. No Balneário Arroio do Silva, o comprimento das canoas é de 6,00 a 9,00 metros, com motor de popa com potência de 90 hp. Em Balneário Gaivota, as canoas variam de 7,00 a 10,00 metros, com potência de 18 a 90 hp.

Figura 44 – Canoa de fibra a motor, rebocada por caminhão. Foto disponibilizada por: Marco Antonio Borges.

Com base nos dados anteriormente apresentados, apresenta-se a tabela 7, com a síntese com as informações sobre as embarcações utilizadas na pesca de arrasto de praia.

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Tabela 7 – Síntese das características das embarcações utilizadas na pesca de arrasto de praia. Nº de Comprimento Arqueação Potência (hp) Região Município embarcações (m) Bruta Material Min Máx licenciadas Min Máx Min Máx São Francisco do 23 Norte 4,10 7,20 0,25 2,80 Madeira Sul Balneário 13 6,25 8,00 0,30 1,00 Madeira Camboriú Centro- Itapema 08 7,00 Madeira Norte Porto Belo 02 5,90 Madeira Bombinhas 37 6,00 10,00 0,70 2,30 Madeira Governador Celso 07 5,00 7,70 0,40 1,00 Madeira Ramos Central Florianópolis 107 5,30 11,50 0,40 5,20 Madeira Palhoça 16 4,00 8,92 0,70 4,10 Madeira Garopaba 13 8,00 9,00 0,60 1,80 Madeira Centro- Imbituba 17 6,60 10,00 0,70 1,90 Madeira Sul Laguna 02 9,00 Madeira Jaguaruna 7,00 9,60 0,80 1,40 Fibra 15 40 Balneário Rincão 7,10 9,60 1,20 2,00 Fibra 24 90 Balneário Arroio 6,00 9,00 2,00 2,60 Fibra 90 Sul do Silva Balneário Gaivota 7,00 10,00 1,00 2,00 Fibra 18 90

Os dados coletados indicam que, na maior parte do litoral de Santa Catarina, nas regiões Norte, Centro-Norte, Centro e (em parte significativa) da Centro-Sul, as embarcações utilizadas são construídas em madeira (com comprimento entre 4,0 e 11,50 metros; arqueação entre 0,25 e 5,20), usando propulsão a remo. No extremo sul da região Centro-Sul e na região Sul, utilizam-se embarcações construídas em fibra de vidro (com comprimento entre 6,0 e 10,0 metros; arqueação entre 0,80 e 2,60), com propulsão por motores (com potência entre 15 e 90 hp); estas diferenças na área sul se devem às características de suas praias, muito mais longas, abertas e expostas à ação das ondas e correntes marinhas, que dificultam muito as operações de entrada e saída do mar, e implicam em maiores riscos à segurança dos tripulantes. A razão para a utilização de embarcações construídas em fibra de vidro, e não mais em madeira (como nas demais regiões) é relacionada à necessidade de deslocamentos contínuos das mesmas, a bordo de caminhões, na sua pesca

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itinerante, o que assim reduz o tempo e o esforço coletivo para colocação e retirada das embarcações destes caminhões.

CARACTERÍSTICAS DOS PETRECHOS DE PESCA

A pesca do arrasto de praia, também chamada de arrastão de praia, lance/lanço de praia é realizada com rede lisa, também chamada de rede de arrasto, ou mista, também chamada de rede feiticeira ou rede de emalhe. Essa variação entre o tipo de rede usada se configura em função das características da praia, como mar mais calmo se usa rede do tipo lisa e, em praias com mar agitado, em que o fundo apresenta mais ondulações, geralmente se usa rede de malhar, rede feiticeira. “Na Guarda do Embaú usa rede de malha (centro malha 8 e 11), faz um saco e traz o peixe. Na praia do Sonho o mar é encruado, tem que sair para fora, precisa usar rede de emalhe, porque senão rede de arrasto tranca. Nos outros lugares usa rede de arrasto de praia.” (relato reunião de grupo focal)

“Algumas redes são mistas, eles usam a parte da lateral que é só pra aprisionar o peixe, ela não malha, é uma malha mais fina, o peixe não tem como malhar porque é uma rede mais fina. Ai no fundo eles usam uma malha mais grossa, um fio mais grosso que eles chamam de enxuga. Porque enxuga, porque é a malha que vai suportar todo o peixe quando ela encalha na praia. Isso pras praias que não tem deformação do mar. As praias que tem deformação do fundo do mar, ou seja, onde as praias que tem valeta, a rede passa reto e o peixe consegue fugir por baixo, eles usam umas redes de malha pro peixe não fugir, ficar malhado na rede, preso na rede.” (comunicação pessoal – José Henrique F. Santos).

Quanto ao material utilizado na confecção do pano da rede pode ser o náilon (nylon), o qual é bastante resistente, mas não cede à tração contínua (com o tempo e a exposição contínua tem tendência ao ressecamento e ruptura); ou a seda, que não é tão forte, mas suporta mais os esforços distorsivos, por sua maior flexibilidade. As redes podem ser exclusivamente de um tipo de material ou mistas.

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A rede do tipo “lisa”, confeccionada com apenas um pano de rede, um “pano só”, também chamada de “terno de costa6” em Florianópolis e Garopaba, é quando toda a rede é confeccionada em pano de seda ou apenas o final (denominado “copo ou ensacador”) é confeccionado com pano de seda e o restante da rede é feita de náilon. “Terno de costa é a rede de seda, usada em mar mais manso, redes menores e mais baixas, porque a praia é boa de trabalhar. É uma rede que não emalha peixe, ele vai indo pro final da rede, copo da rede e fica ensacado. Rede terno de costa usada em Florianópolis, um pano só. Toda ela feita de seda, onde começa com malha 11, malha 10, malha 9 e vai diminuindo até chegar na malha 6, 8, onde vai ser o sacador onde o peixe fica. Tem também o terno de costa que se usa só o copo, lá no final de seda, o restante é feito de náilon, malha 10, malha 11. E a mesma rede de arrasto, outros falam rede malha 11 com centro de seda.” (C.J.L.) O tamanho da rede lisa varia em média de 300 a 1.000 metros de comprimento, com diferença de altura entre as extremidades (mangas) e o centro da rede, “a diferença de altura no centro e nas extremidades provoca a formação de um saco, onde se acumula o pescado durante o arrasto” (IBAMA/CEPSul, 2020). Esse saco no centro da rede, no qual a maior parte do peixe fica aprisionado, também é chamado de “sacador”, “ensacador” ou “copo” da rede (figura 45).

6 Esta denominação deriva da modalidade de pesca de arrasto original, quando se usavam apenas redes “lisas”, e que a expressão “terno da costa” também deriva e está diretamente associada à denominação original da pesca de arrasto de praia, nas comunidades pesqueiras de SC e RS.

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Figura 45 – Exemplo de rede de lisa. Foto disponibilizada por: Claudinei José Lopes.

Nos relatos a seguir é possível verificar a diferença tanto entre a altura da rede, como da malha utilizada na parte central, em que o peixe fica aprisionado. “O tamanho da rede a gente mede em braçada, mas em metros deve dar uns 400 metros mais ou menos de comprido. Ela começa com 3 metros e no meio ela vai para 6 metros e no centro dela ela tem 8 metros. A minha rede tem malha 7, malha 8 e malha 9 conforme vai andando para frente, só é emendado uma na outra, mas a maioria é tudo malha 9 e o centro da rede onde para o peixe todo, que é o copo da rede como eles dizem, é malha de 7 a 7,5 que é o permitido, malha menor que essa não é pode.” (R.O.) “A rede começa com 2 braça de alto na manga, no encontro tem 9 braça e no meio 12 braça de alto (onde fica o peixe) e depois vai diminuindo.” (O.O.C) A rede do tipo mista, de emalhe ou “feiticeira”, é confeccionada com três “panos” de rede ou conjuntos de malhas distintas, sendo as malhas maiores nas extremidades e a menor no centro, de forma que o peixe fica preso na rede, ou “(e)malhado”. A malha destes panos é confeccionada com linha de nylon maciça. Os pescadores compram os panos prontos, apenas os emendam, montando a rede. Em suas faces superior e inferior, os panos são costurados às cordas plásticas. A rede é sempre utilizada em posição vertical, perpendicular ao plano da superfície da água. Mantém-se nesta posição devido às boias, presas na corda da

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face superior, e a pesos de chumbo, embutidos na corda de sua face inferior (figura 46).

Figura 46 – Exemplo de rede de emalhe (rede feiticeira). Fotos disponibilizadas por: Marco Antonio Borges e Sidney da Rocha Santos, respectivamente.

“Feiticeira, tem 3 tipo de pano, ela tem o malhão por fora, o pano miudeiro por dentro e outro malhão do outro lado por fora, são 3 tipo de pano, são dois laço e uns miudeiro. A rede feiticeira é usada nessas praias de leste, Campeche, Naufragados, lá pra Garopaba, sul, Joaquina, Galheta. Usada mais em praia brava, praia de mar aberto tem muito buraco, a rede feiticeira ela diminui o risco do peixe fugir. É uma rede que conforme o peixe vai malhando, ela vai diminuindo a altura, ela vai encolhendo, porque vai diminuindo as malha pro peixe, ensaca e diminui o tamanho da rede, principalmente a altura.” (C.J.L.) Foi ainda relatado, que a rede feiticeira, em que o peixe fica emalhado, tem um poder de captura bem menor que a rede lisa, em que o peixe fica “ensacado”. “Quando a praia é boa, o terno de costa mata quantidades de 30 mil, 20 mil, 15 mil num lanço. Uma rede feiticeira, o máximo que ela chega a bota na praia é 6 mil, 7 mil tainha e isso ai tem que cercar muito peixe com a rede feiticeira, pra pegar uma quantidade dessa.” (C.J.L.) A seguir apresentam-se as características das redes utilizadas (com base nos dados primários coletados pela presente pesquisa e pela pesquisa realizada pela Secretaria de Agricultura de SC), ressaltando-se que as medidas expressas

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em braça foram transformadas em metro, utilizando-se como tamanho padrão a “braça caiçara”, descrita por Chieus (2009):

Mesmo com a criação do sistema métrico decimal e toda sua precisão, determinadas técnicas ainda são preservadas com o passar do tempo, no caso, a braça da rede dos caiçaras que continua resistindo a este sistema e para se integrar na comercialização, eles fazem as transformações da braça para o metro, sendo que, cada braça corresponde aproximadamente a 1,50 m.

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Tabela 8 – Características das redes de arrasto de praia usadas na pesca de arrasto de praia.

Altura Altura Malha Malha Rede de arrasto Localidade Tipo de rede7 Comprimento (m) mín. (m) máx. (m) mín. (cm) máx. (cm) Capri arrasto 450 a 600 3 10 7 12 Forte arrasto NI 8 12 8 10 Região Norte Itaguaçú ensacador 500 9 12 8 10

João Dias arrasto 700 7 10,5 7 10 São Francisco do Sul Praia do Sumidouro arrasto 1600 12 12 8 8 Ubatuba rede com “copo” 375 4,5 13,5 7 10 Praia Central arrasto com “copo” 360 a 1200 3 9 7 9 Região Centro-Norte Praia das Laranjeiras arrasto com “copo” 375 a 900 16 21 8 9

B. Camboriú Praia de Taquaras arrasto com “copo” 200 a 400 5 22 7 9 Praia de Taquarinhas arrasto com “copo” 350 9 20 7 9 Região Centro-Norte Perequê lisa; arrasto com “copo” 400 8 16 7 9 Porto Belo Canto Grande arrasto 400 a 600 15 17 9 11 Região Centro-Norte Mariscal arrasto (seda e náilon) 350 a 875 18 24,5 7 11 arrasto (náilon; seda; Praia de Bombas 300 a 1200 5 15 7 11 Bombinhas seda e náilon) Praia de Bombinhas arrasto (seda e náilon) 300 a 100 8 13 9 10 Região Central Praia de Palmas arrasto com “copo” 450 a 570 3 18 7 10 Gov. Celso Ramos Barra da Lagoa ensacador 375 a 750 16 16 9 12 Região Central feiticeira; terno de Campeche 600 a 1000 15 24 9 12 costa Florianópolis Lagoinha do Norte lisa (fio de seda) 375 a 750 10,5 12 7 9 Joaquina arrasto 800 7 7 7 7

7 Conforme informado pelo pesquisado.

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Altura Altura Malha Malha Rede de arrasto Localidade Tipo de rede7 Comprimento (m) mín. (m) máx. (m) mín. (cm) máx. (cm) Morros das Pedras NI 350 10 10 11 11 Ponta das Canas arrasto (fio de seda) 300 10,5 15 7 9 Praia da Galheta lisa e feiticeira 500 a 600 NI NI 7 9 Praia do Gravatá arrasto (náilon e seda) 550 NI NI 7 11 Praia do Santinho terno de costa 450 30 30 7 9 Pântano do Sul arrasto 675 NI 20 8 9 Praia da Solidão arrasto 750 NI 22 8 9 Praia dos Naufragados arrasto (fio de seda) 750 a 1050 17 17 8 10 Guarda do Embaú NI 330 a 630 18 18 11 11 Região Central Pinheira arrasto (náilon e seda) 540 a 800 8 18 5 8 Ponta do Papagaio arrasto 300 a 500 15 16,5 8 9 Palhoça arrasto (náilon e seda); Praia do Sonho 350 a 900 8 18 7 11 feiticeira Barra do Capão arrasto (náilon) 350 a 600 16 25 5 12 Gamboa arrasto; feiticeira 600 a 700 14 16 6 11 Praia da Ferrugem arrasto 480 27 27 8 8 Região Centro-Sul arrasto com centro de Praia da Silveira 500 18 22 7 11 seda Garopaba Praia da Vigia arrasto (náilon e seda) 300 15 15 8 8 Praia de Garopaba arrasto (náilon) 400 a 600 18 23 7 11 Praia do Siriú arrasto; emalhe 350 a 600 23 25 9 11 Imbituba feiticeira NI 10 22 11 12 Vila Esperança arrasto NI 5 20 8 11 Região Centro-Sul Vila Alvorada lisa NI 22 22 8 8 Itapirubá arrasto com centro NI 8 24 7 10 Imbituba Ibiraquera arrasto (náilon e seda) 700 4 20 8 10 Praia da Vila feiticeira 900 8 20 8 9 Praia do Luz arrasto (náilon e seda) 600 15 15 9 9

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Altura Altura Malha Malha Rede de arrasto Localidade Tipo de rede7 Comprimento (m) mín. (m) máx. (m) mín. (cm) máx. (cm) Região Centro-Sul Prainha e Cardoso arrasto 600 10 10 8 8 Laguna Região Centro-Sul Imbituba a Passo de Torres feiticeira NI 10 20 11 12 Jaguaruna (mar aberto) Região Sul Imbituba a Passo de Torres feiticeira NI 15 20 11 12 B. Rincão (mar aberto) Região Sul Imbituba a Passo de Torres lisa; feiticeira 1200 15 20 10 12 B. Arroio do Silva (mar aberto) Região Sul Imbituba a Passo de Torres lisa; feiticeira NI 11 20 11 12 B. Gaivota (mar aberto) * NI = Não Informado

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Ao longo do litoral de Santa Catarina, a pesca artesanal de arrasto de praia da tainha é desenvolvida por um grande conjunto de redes e suas variantes regionais, com tipos de redes e/ou malhas mais adaptadas às respectivas características de cada setor e/ou praia. Com o intuito de consolidar as informações gerais por município, segue a tabela abaixo (tabela 9).

Tabela 9 – Características dos petrechos na pesca de arrasto de praia da tainha, litoral SC. Região Município Redes Compr. Alt. Alt. Malha Malha (m) mín. máx. mín. máx. (m) (m) (cm) (cm) Arrasto 450- 3-12 10-12 7-8 8-12 1.600 São Francisco Norte Ensacador 500 9 12 8 10 do Sul Rede com 375 4,5 13,5 7 10 copo Balneário Arrasto com 200- 3-16 9-22 7-8 9 Camboriú copo 1.200 Centro- Lisa; arrasto 400 8 16 7 9 Porto Belo Norte com copo Bombinhas Arrasto 300- 5-18 13-24,5 7-9 10-11 1.200 Gov. Celso Arrasto com 450-570 3 18 7 10 Ramos copo Arrasto 300- 7-17 7-22 7-8 7-11 1.000 Lisa (seda) 375-750 10,5 12 7 9 Feiticeira 500- 15 24 7-9 9-12 Central Florianópolis 1.000 Terno da costa 450- 15-30 24-30 7-9 9-12 1.000 Ensacador 375-750 16 16 9 12 Palhoça Arrasto 350-900 8-15 16,5-18 5-8 8-11 Feiticeira 350-900 8 18 7 11 Garopaba Arrasto 300-700 14-27 15-27 5-9 8-12 Feiticeira 600-700 14 16 6 11 Emalhe 350-600 23 25 9 11 Imbituba Arrasto 600-700 4-15 15-20 8-9 9-11 Centro- Lisa NI 22 22 8 8 Sul Arrasto com NI 8 24 7 10 centro Feiticeira NI 10 22 11 12 Laguna Arrasto 600 10 10 8 8 Jaguaruna Feiticeira NI 10 20 11 12 Balneário Feiticeira NI 15 20 11 12 Rincão Sul Arroio do Silva Lisa; feiticeira 1.200 15 20 10 12 Balneário Lisa; feiticeira NI 11 20 11 12 Gaivota

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Neste conjunto, estes petrechos (e suas variantes) são representados pelas redes de arrasto, ensacador, rede com copo (arrasto com copo, arrasto com centro), lisa, feiticeira, emalhe e terno de costa. Similarmente à grande heterogeneidade espacial e biodiversidade, características dos setores Norte, Centro-Norte e Central, quando comparados aos setores Centro-Sul e Sul do litoral de SC, percebe-se uma maior diversidade nas características dos petrechos pesqueiros utilizados no primeiro agrupamento, com uma maior homogeneidade neste último; a predominância de linhas de praias mais retilíneas e expostas aos ventos e correntes, ao sul, reduziria a viabilidade de grande parte dos petrechos com as características daqueles aplicados nos setores Centro-Norte e Norte do litoral de SC. Tal estratégia não é fortuita, mas derivada de longo processo adaptativo, ratificando a efetiva resiliência destas comunidades pesqueiras, atentas e flexíveis às diferenças e peculiaridades ecológicas de cada trecho do litoral onde desenvolvem suas atividades. Esta capacidade adaptativa é complementar e inter- relacionada com as diferenças (supra referidas) nas embarcações adotadas em cada um destes setores. Não por acaso, ao contrário das comunidades do litoral Centro-Norte e Norte, inseridos em áreas mais restritas e abrigadas, com menor exposição aos elementos meteorológico/oceanográficos, os pescadores do litoral Centro-Sul e Sul necessitam dispor de embarcações com motores, para poderem exercer a pesca de arrasto de praia, com segurança e viabilidade das suas capturas, assim como necessitam desenvolver sua atividade de modo itinerante, deslocando-se com caminhões por longos trechos de praias, aparentemente desertas, entre o extremo sul de SC e o norte do RS. A pesca de arrasto de praia da tainha é desenvolvida em um trecho do litoral, envolto por uma grande heterogeneidade espacial, topográfica, geomorfológica e oceanográfica, enquanto elementos e processos condicionantes do deslocamento, adensamento e aproximação dos cardumes de tainha à linha de costa. Associada e dependente de tais fatores e processos, esta modalidade de

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pesca artesanal encontra-se adaptada a estas diferenças e, por isso, é desenvolvida de dois modos distintos: a) com embarcações deslocadas a remo, nas áreas de baías, enseadas e praias mais calmas (especialmente nos setores Norte, Centro-Norte, Central e Centro-Sul do litoral de SC); b) com embarcações deslocadas por motores, nas praias mais abertas e expostas aos ventos, correntes e ondulação (no setor Sul do litoral de SC). A maior parte das embarcações são do tipo canoa, com comprimento variando de 4 a 11,5 metros e arqueação bruta não ultrapassando 5,2 m. Outras adaptações tecnológicas da pesca de arrasto de praia são incorporadas pelos pescadores artesanais, a fim de garantir a segurança na prática da atividade, ou melhorar o rendimento de captura, uma vez que precisam competir o recurso pesqueiro com outras modalidades de pesca que lançam mão da tecnologia e outras adaptações operacionais (exemplo a pesca de cerco e de emalhe anilhado). Como exemplos dessas adaptações tecnológicas, pode-se citar as atividades dos vigias instalados no alto das dunas ou costões, que já há anos vêm utilizando rádios transreceptores e/ou telefones celulares, em substituição aos antigos hábitos de movimentação de casacos e chapéus, para chamar a atenção do restante da equipe de pesca junto às embarcações, da aproximação dos cardumes, e da viabilidade ou não de efetivação do respectivo cerco. Destaca-se também que, neste ano de 2020, foi constatada a utilização de (pelo menos um) drone (na praia adjacente ao Costão do Santinho), para registrar, com o ponto de vista aéreo do aparelho e sua câmera de vídeo, a aproximação e o deslocamento dos cardumes de tainha. Como esta tecnologia está se tornando progressivamente mais acessível, em termos econômicos, pode-se esperar sua rápida adoção e difusão entre as comunidades pesqueiras (indiretamente, como no caso atual, ou diretamente, quando as novas gerações de pescadores assumirem-na como parte integrante e necessária do seu ofício).

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Registre-se que as citadas “novas tecnologias” dizem respeito apenas a instrumentos e processos de apoio à decisão de quando/onde pescar, mas não interferem no processo “tradicional” da pesca de arrasto de praia, com a condução das embarcações (na maioria dos casos e regiões) pela força dos remos para efetuar o cerco dos cardumes, e o recolhimento, coletivo e manual, da rede e suas presas no retorno às praias. Ao longo do estudo, pode-se perceber que a diferença dos petrechos empregados na pesca de arrasto de praia se modificam conforme a localidade e, principalmente, decorrente da fisiografia do ambiente, onde praias com “buracos” precisam de redes adaptadas para evitar a fuga do peixe. Também decorrente das citadas diferenças na tipologia e comportamento das praias de Santa Catarina, constata-se uma grande diferença no resultado das pescarias do arrasto de praia dentre os diversos setores do litoral catarinense.

COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

Quanto à comercialização da tainha, geralmente a venda inicia na praia, aos turistas e pessoas da comunidade, passando para a venda no atacado para peixarias e atravessadores, no caso de grande quantidade (figura 47). Em alguns casos, a quantidade pescada é dividida entre os envolvidos e cada um faz a destinação que lhe convier, porém, sendo a pescaria fraca, seu destino é apenas para subsidiar a alimentação. Há localidades em que os envolvidos na puxada de rede acabam por ganhar o seu “quinhão”8 e toda comunidade é contemplada, como relatado em Imbituba: “vinte pessoas em média participam, mas quem tiver na praia ajuda a puxar rede, ninguém fica sem peixe.” (L.D)

8 Quinhão é a divisão do cardume capturado em pequenos montes de peixes, de acordo com a quantidade de peixe e de pessoas que participaram da pesca. No litoral de Santa Catarina a divisão das tainhas varia, mas os donos da rede e da canoa têm direito a maior parte do cardume (geralmente a metade ou um terço dele) e o restante é dividido em quinhões e entregue às pessoas de acordo com o grau de participação e a função na pesca (HERBST, 2013).

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Tal como acontece na pesca da corvina e da anchova ou tainha, no bote – ocupado geralmente por quatro ou cinco pescadores – as tarefas e a renda da pescaria são distribuídas segundo a lógica do “quinhão”, antigo mecanismo ainda presente com que se dividem os recursos capturados nos ranchos de pesca. 50% do peixe capturado no dia ficam nas mãos do(s) dono(s) da rede e do bote, enquanto o resto é distribuído em partes iguais para os tripulantes, correspondendo duas a quem detenha a posição de comandante. No rancho de praia, essa lógica se reproduz com muita exatidão. Porém, diferentemente dos botes, cujos recursos serão destinados para o mercado imediatamente depois do atraco no trapiche, dentro do rancho – onde também são muitas vezes as mulheres as responsáveis por conduzir a cerimônia de distribuição – não são unicamente aos camaradas, mas também aos que ajudam a “puxar a rede” durante as cercadas e outros integrantes marginais do grupo, como velhos pescadores aposentados ou crianças de famílias que passam necessidades, que recebem parte da “pescaria” (GODIO, 2012:06).

E há ainda locais como Imbituba (Praia de Itapirubá) e Garopaba (Gamboa) em que cada pescador possui seu ponto fixo, mas divide em partes iguais o volume pescado durante a safra, independente de qual canoa cerca. “Dependendo da praia não tem conflito, na minha pescamos todos para um monte só e dividimos em partes iguais para os donos, independente de qual canoa cerca.” (A.V.)

Figura 47 – Tainha sendo organizada para venda. Foto disponibilizada por: Marco Antonio Borges.

A seguir, com base nos dados primários coletados, explicita-se o destino da venda e o valor pago em 2020, nas diversas localidades de pesca (tabela 10).

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Tabela 10 – Valores de venda da tainha (R$), litoral de SC (2020). Consumidor Consumidor Região Município Atravessador Peixaria (com ova) (sem ova) São Francisco do Norte 10,00/kg 4,00-15,00/kg 10,00-15,00/kg 4,00-13,00/kg Sul 5,00-10,00/kg 8,00-15,00/kg 6,00-12,00/kg Balneário 10,00-15,00 (L) 20,00-30,00 (P) 20,00 (P) Camboriú Centro- 20,00-25,00 (P) Norte Porto Belo 9,00-10,00/kg 9,00-10,00/kg 8,00-10,00/kg 5,00-10,00/kg Bombinhas 8,00-10,00 (P) 6,00-25,00 (P) 11,00-25,00 (P) 6,00-15,00 (P) Gov. Celso 10,00/kg 7,00-8,00/kg Ramos 4,00-10,00/kg Central Florianópolis 4,00-10,00/Kg 7,00-10,00/kg 4,00-10,00/kg 10,00-15,00 (P) 10,00/kg Palhoça 8,00/Kg 7,00-10,00/kg 12.00-15,00 (P) 15,00-20,00 (P) Garopaba 13,00-15,00/kg 13,00-15,00/kg 11,00-15,00/kg 10,00-12,00/Kg Centro- Imbituba 7,50-8,00/kg 10,00-15,00/kg 10,00-15,00/kg Sul Laguna 8,00/kg 8,00/kg 8,00/kg 8,00/kg Jaguaruna 8,50-9,00/kg 13,00-15,00/kg 13,00-15,00/kg Bal. Arroio do 6,50-19,00/kg 6,50-19,00/kg Sul Silva Balneário Gaivota 7,00-9,00/kg 4,00-15,00/kg 4,00-15,00/kg 6,50-19,00/kg 4,00-19,00/kg Síntese Litoral SC 6,00-25,00 (P) 8,00-10,00 (P) 11,00-30,00 (P) 6,00-20,00 (P) 10,00-15,00 (L) [Legendas: L = preço em lotes; P = preço por peça, unidade]

A venda no atacado para empresa de pesca, atravessadores e peixarias é feita apenas a partir de determinado volume. Em relação ao valor pago, no início da safra o preço geralmente é maior, diminuindo conforme aumenta a disponibilidade do recurso. Em relação à venda no varejo, em Balneário Camboriú, foi relatado que o valor pago para a tainha varia de acordo com a quantidade e o tamanho do peixe, sendo que o valor pago diminui para os peixes pequenos. Em Bombinhas há venda direta para empresa pesqueira e no Pântano Sul (Florianópolis) e em São

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Francisco do Sul (Capri), há venda direto para o mercado municipal quando a pesca é em quantidade e em determinados locais há venda para restaurantes. Foi informado ainda que na maioria das vezes não se faz separação das tainhas ovadas para venda, mas quando isso ocorre, o valor de venda cai para as tainhas não ovadas. E sobre a venda isolada de ovas, os pescadores justificaram que não realizam muito essa prática, pois a vigilância sanitária faz uma série de exigências e que os mesmo não as atendem, alguns informaram tirar para venda e o valor pago variou de R$ 7,00 a R$ 50,00 o quilo. Em relação à comercialização da tainha no litoral de Santa Catarina, neste ano de 2020, os preços de venda exibiram razoável amplitude, escalonados segundo os principais compradores: para a venda aos atravessadores/ comerciantes, os valores registrados oscilaram entre R$ 4,00-15,00/kg e entre R$ 8,00-10,00 a peça. Para as peixarias, os valores foram de R$ 4,00-15,00/kg; R$ 6,00-25,00 a peça; e R$ 10,00-15,00 por lote. Para venda direta aos consumidores, de exemplares com ovas, os valores estiveram entre R$ 6,50- 19,00/kg e R$ 11,00-30,00 por peça; no caso de exemplares sem ovas, os preços foram de R$ 4,00-19,00/kg e R$ 6,00-20,00 por peça. Cabe destacar que em São Francisco do Sul, há uma pescadora que produz a “cambira” (tainha defumada), que é uma técnica artesanal, realizando a venda por R$ 40,00/kg. Teoricamente, seria de se esperar uma diferenciação razoável dos preços praticados dentre as diferentes regiões, e internamente às mesmas, porque os valores determinados pelos pescadores para a venda do produto de seu esforço devem refletir tanto a abundância/escassez relativa do pescado na presente safra, como as diferenças de poder aquisitivo dos potenciais compradores de cada região. Assim, os centros regionais de maior atratividade turística e as áreas metropolitanas teriam a tendência de incremento dos valores de venda. Porém, a análise dos dados registrados não nos permite assumir estas premissas; no máximo, elas são aceitáveis como uma tendência, pois se constataram diversos casos de valores muito discrepantes, dentro de uma mesma região ou município. Novamente, esta situação de diferenças regionais/locais de

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valoração explicita as causas subjacentes à determinação dos valores, que estão intimamente relacionadas com a produtividade pesqueira diferenciada de cada localidade (decorrentes das diferenças de atratividade de cada local aos cardumes reprodutivos, e do grau relativo de sucesso das operações de pesca), e seu entorno socioeconômico, mas como também com o caráter gourmet associado à espécie, e à tradição culinária regional, que hipervaloriza a mesma.

ASPECTOS NEGATIVOS RELACIONADOS À PESCA E POTENCIAIS CONFLITOS

Diversas interações socioambientais negativas são registradas na atividade pesqueira e na modalidade da pesca artesanal de arrasto de praia isso não é diferente. Dentre estas, destacam-se alguns conflitos entre a pesca artesanal e a pesca industrial, bem como outros conflitos internos às diversas modalidades de pesca artesanal.

 Pesca artesanal x pesca industrial

A expressiva condição tecnológica, o esforço de pesca e a capacidade efetiva de captura, além da sobreposição de nichos estratégicos, entre a pesca artesanal e a pesca industrial, determinam a crescente degradação ambiental, redução dos estoques e comprometimento da capacidade de renovação destes, com persistentes prejuízos impostos à pesca artesanal. “Quando eles têm o equipamento muito bom eles têm sonda, tem radar, 4 a 5 km eles já tem um aparelho que já acusa onde está o peixe e onde não está, eles já vão lá e cercam e pegam tudo, aí não sobra, não vem pra praia. Eles não procuram peixe no olho que nem a gente procura, eles têm equipamento sofisticado com tecnologia e tudo. As traineira e essas embarcações de motor anilhado, isso aí não deveria existir, a pesca da tainha ao meu ver seria só para os artesanais, porque nunca ia acabar a pesca da tainha porque do jeito que está indo daqui mais uns anos não vai mais ter pesca de tainha.” (R.O.)

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Outro agravante apontado foi a respeito da pesca no Estuário da Lagoa dos Patos. “A ameaça é a pesca industrial indiscriminadamente, por exemplo, lá na Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul eles pescam fora de época a tainha já em criação a gente sabe que já não cresce quando pegam fora de época. E as embarcações também, os barcos externos que pegam ela na boca da lagoa, em épocas também que não pode pegar.” (A.J.M.F)

... Para todos os informantes a tainha retira-se do local onde se cria (lagoas costeiras e estuários) para fazer a migração. O principal local mencionado como procedência da tainha é a Lagoa dos Patos (Rio Grande, RS), seguido do Rio da Prata (Uruguai/ Argentina) (...). Para os pescadores, a captura da tainha ao longo do ano, nos estuários e lagoas, juntamente com a poluição destes corpos d´água e excessiva captura durante a migração, fez estes estoques locais diminuírem. (HERBST, 2013: 59-61; grifos nossos).

Foi recorrente, nos depoimentos dos pescadores, a referência à alta captura da tainha, seja pela pesca industrial, que é vista como responsável pela super exploração do recurso, seja pela pesca de pequeno porte, como o emalhe anilhado e o emalhe de costão (bate-bate), que pescam fora do seu limite mínimo. “E também as embarcações da praia que não respeitam o limite do costão ou então da própria praia que tem que ter limite. O próprio pescador artesanal mais embarcado em botes e baleeiros eles também atrapalham a pesca da beira da praia, porque eles pegam os cardumes, principalmente dos costões e muitos até deixam redes fundeadas durante a noite nos costões, como não tem fiscalização aí o cardume não passa e se desmancha todo e não faz o ciclo dele que tem que fazer para ir até o Norte para poder fazer a procriação.” (A.J.M.F.) “As principais ameaças para a tainha são a pesca predatória, a pesca industrial sem limite tanto as grande porte, quanto as de pequeno porte: traineira, anilhado, emalhe de costão (bate-bate). Falta de fiscalização nos estuário, lagoas.” (J.E.M.) “Uma ameaça para a tainha é ter liberado malha 7 para os botes de emalhe anilhado.” (H. A.S.)

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“Eles tem lei, mas não cumprem, porque ninguém fiscaliza eles, eles tão solto. (...). Tem quase 300, 400 barcos de cace de malha soltos no litoral todo de Santa Catarina e eles não tem licença (bem poucos) e eles não tem nenhum órgão fiscalizando eles. Então quer dizer, pro peixe é muito mais difícil, os barcos grande respeitam porque tem fiscalização, nós da praia respeitamos, só pudemos pescar nos nossos pontos de pesca já pré determinado, nós tamo tudo respeitando um, outro, nós não vamos pro costão, não vai pra lugar nenhum pega o peixe, o peixe tem a oportunidade de passar e fazer o corso. Com o barco industrial o peixe também consegue fazer o corso, porque eles estão bem lá fora, só que a caça de malha não deixa mais o peixe fazer o corso, porque eles passam uma milha pra dentro, nós não consegue cercar uma milha, nós cerca na beira praia, então o peixe tem a oportunidade de passar por fora da nossa rede e chegar até uma milha, o peixe tem uma oportunidade grande de fazer o corso, sai lá do sul e chegar até o norte, para todo mundo e a cace de malha não permite muito que o peixe faça o corso não, porque eles vão a uma milha, vão entre duas, tão na beira da praia, estão em todos os lugares ao mesmo tempo. Então o peixe tá andando e eles tão andando junto com o peixe, meio que uma pesca predatória, é sem lei, sem compromisso de nada, ninguém fiscaliza eles e eles também tem que ter uma quantia de rede, hoje são esses bote de cace de malha e tem rede quase um barco industrial, então isso tinha que olhar com carinho pra que eles também possam ser fiscalizadas mais eficaz, eles não podem ficar despercebido, porque eles também mantam muito peixe, ganham muito dinheiro, eles tiram do nosso sustento aqui da praia e consegue pescar lá com os barcos grande e em todos os lugares.” (A.J.M). As traineiras, por estarem altamente equipadas (com sonar) e irem diretamente aos cardumes, não dão chance para que uma parte dos indivíduos consiga finalizar seu ciclo de vida, em detrimento à pesca artesanal, que captura parte do cardume. “Traineira pega tudo, pega 100, 200 toneladas, são os maiores predadores que tem da tainha, são as traineiras, essas aí sim são predador mais perigoso para se acabar com arrasto de praia, são as traineiras. Se essas traineiras não

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pegassem 100 a 200 toneladas quando chegasse no outro ano aquelas 100 e 200 toneladas ia desovar e daí no outro ano ia passar mais peixe. O pescador artesanal está preservando, porque só pega aquela quantidade. Se passar pela praia ele pega, ele já está preservando, que ele não vai atrás, ele não vai à procura, porque ele só pesca aqui na praia. E se a tainha passar lá no alto mar vai embora e vai desovar milhões de peixes. E se passar um cardume desses a traineira vai lá pegar e aí elas não vão mais desovar. É o que eu digo, o maior predador da tainha são as traineiras, os barcos de caça e malha de anilha.” (R.O.) “Acho que deve ser cancelado ainda mais os barcos de pesca profissionais porque se não em 10 anos a gente do litoral norte estaremos sem a tainha em nossas águas.” (E.F.) Há ainda questões específicas de cada localidade que foram retratadas na presente pesquisa e podem interferir no ciclo de vida da tainha e de outras espécies, conforme explicitado a seguir. “Na Baía da Babitonga, no Saco do Iperoba, tem arrasto toda noite e não tem fiscalização, é um crime ambiental, porque mata as larvas dos peixes, peixinho filhote (robalinho, linguado) com a pesca de arrasto com prancha e barco grande, usa 2, 4 redes. Não tem limite, não tem fiscalização, tão acabando com tudo. Prejudica a baía e o costão.” (C.P.F.) “Precisa de proteção na área do Saco do Iperoba, porque é um criadouro de peixe, de cavalo-marinho, usa para maricultura.” (P.R.C.) “Necessidade de proteger o peixe para que ele possa desovar. Pois a tainha fica uns 15-20 dias acostado para descansar, se alimentar em pedras na região de Bombinhas (na Praia da Sepultura, na pedra da passagem no Mariscal, pedra da gaivota e do cabrito na praia das 4 ilhas e pedra da Galheta em Bombas), mas a pesca de emalhe não deixa, ataca os peixes nas pedras.” (A.J.M.) A constatação dos conflitos entre a pesca artesanal e a pesca industrial foi também reconhecida entre os pesquisadores dos estoques da tainha, como subsídio essencial ao processo de gestão racional desta pescaria:

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.... considerando todos os aspectos relacionados à pesca da tainha e os conflitos existentes entre os usuários da pesca tradicional e da pesca de traineiras, algumas medidas de ordenamento possíveis para a espécie foram expostas e avaliadas pelos participantes da II Reunião Técnica de Ordenamento sobre a Pesca de Tainha nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil. É importante salientar que (...) a medida (5) - Moratória da Pesca da Tainha pela frota de traineiras – é considerada, pelos autores deste relatório, a medida mais adequada para o ordenamento da pesca da tainha Mugil liza para as regiões sudeste e sul do Brasil (MIRANDA et al., 2011: 11; grifos nossos).

... esta é uma medida de ordenamento simples, fácil de fazer cumprir, e que diminuirá significativamente o impacto da pesca sobre o estoque da tainha, com um custo socioeconômico relativamente baixo. Por estas razões, e diante de tudo que já foi exposto, acredita-se que a moratória da pesca da tainha pela frota de traineiras seja a medida de ordenamento mais adequada. Esta única medida poderá garantir a disponibilidade do recurso para as populações tradicionais em médio-longo prazo, gerando benefícios socioambientais e culturais, e com o menor custo institucional de fiscalização e controle (MIRANDA et al., 2011: 12; grifos nossos).

Inadvertidamente, muitas das sugestões encaminhadas pelos pesquisadores aos órgãos gestores, as quais poderiam ter reduzido os referidos conflitos socioambientais, e contribuído para a redução dos riscos de sobrepesca da espécie, não foram consideradas nos regramentos implantados.

... atualmente, a tainha tornou-se uma espécie-alvo da pesca industrial, que utilizam recursos tecnológicos e embarcações de médio e grande porte, prejudicando sobremaneira a pesca artesanal. O excesso de embarcações irregulares durante a safra da tainha é intenso, muitos não respeitam a lei e o manejo dos recursos pesqueiros, causando preocupação aos segmentos do setor e órgãos ambientais; pondo em risco as futuras capturas da espécie em nosso litoral, causando impactos ambientais e sociais irreparáveis aos próprios pescadores, comerciantes e consumidores. É necessário respeitar as regras e as condicionantes 107

estabelecidas pelas Portarias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), como o defeso, o comprimento total mínimo do pescado, o ciclo de vida do peixe, a recuperação dos estoques, manutenção da atividade, rigor na fiscalização das embarcações clandestinas e licenciadas, combater os conflitos entre pescadores artesanais e industriais e a preservação da espécie. Imperativo a participação da sociedade, denunciando os infratores, para que sejam aplicadas as penalidades previstas na Lei (SARDÁ, 2015).

Tais evidências podem nos proporcionar um relevante aprendizado no delineamento e execução de um programa efetivo de ordenamento da pesca da tainha, e das questões sociopolíticas envolvidas nesta questão.

 Conflitos relacionados à pesca artesanal

A grande diversidade de artes e processos de pesca artesanal, aliada à sobreposição dos locais e períodos de atividade e a falta de fiscalização, tem provocado recorrentes conflitos dentre as diversas modalidades artesanais. “Pesca realizadas por embarcações clandestinas, muitos falsos pescadores, pescas irregular de rede fixa; As geração de pescador de arrasto vem aos poucos acabando e os verdadeiros pescadores abandonando por não conseguir sobreviver. Se não for tomada medidas de fiscalização nossa cultura sofre o grave risco de acabar.” (M.A.B.) “Precisava mais de um apoio das autoridades em relação à fiscalização, somente com os botes na época da tainha, tem muitos botes desses que vêm no nosso limite, no nosso ponto de pesca, que é oitocentos metros, nós pescamos quase uma milha e essas embarcações e botes motorizados, elas invadem e chegam até a pescar em cima da arrebentação. Isso aí não é só aqui na praia, eu vejo nos vídeos em outras praias também, essas embarcações vem em cima da arrebentação acaba pegando o nosso peixe.” (P.A.I.) “A cace de malha tem essa uma milha da praia, mas na verdade eles não trabalham na milha, eles trabalham pra dentro da milha, em cima do costão o

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tempo todo, é com cilibri, fisga, rede feiticeira, rede fundiada. Então é assim, a cace de malha de ter a licença igual nós na praia, tinha que ter licença pra eles e eles também serem localizados por satélite igual os barco, né. Os barcos se eles entrarem pra dentro da milha que eles não podem pescar, eles são multado, é aprendido o pescado, tem um monte de regra para eles. Então o que que acontece, os donos de barco grande, tão vendo que no cace de malha, o barco menor, eles podem entrar pra onde quiser, porque ninguém fala nada, eles são semi-artesanal. Então eles tão investindo hoje tudo em barco pequeno, cara que tinha um barco grande não pode pescar, então ele compra um barco pequeno e bota pesca, ele compra um, dois, três barcos pequenos. Então o cace de malha a uma milha da praia, eles tinham que ter a licença liberada para cada 10, 20, 30, cada município e eles tinham que ser fiscalizados via satélite, igual os barco. Os barco são tudo monitorado e a cace de malha com licença tinha que ser tudo monitorado também, é o único jeito de coibir eles, de tá invadindo o nosso espaço e também não pode invadir o espaço dos barcos grandes, né.” (A.J.M.) Em diversos municípios, foram constatados conflitos entre a pesca do arrasto de praia e outras modalidades de pesca artesanal:

… (a pesca de arrasto de praia) acontece nas praias de Laranjeiras, Taquaras, Taquarinhas, Estaleiro e Estaleirinho [em Balneário Camboriú], durante o “corso” da tainha. Ocorrem também na praia Central, onde os pescadores envolvidos possuem forte relação com os pescadores da Costa Brava. Essa atividade mobiliza cerca de 150 pessoas e mais de 30 famílias diretamente envolvidas (…). Os principais conflitos estão associados a outras pescarias “concorrentes” (caça de malha, rede feiticeira, celebrin) e aos pescadores não profissionais, que “estragam” a pescaria. Além disso, a manutenção dos ranchos de pesca e o acesso a eles tem sido alvo de conflitos locais. A partir do arrasto de praia, iniciativas para a gestão local têm surgido, assim como a manutenção de regras informais usadas pela comunidade... (FOPPA, 2009:142).

Na região Centro-Sul,

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... os conflitos são de pescadores que praticam o arrasto de praia e pescadores que fazem uso de redes fixas com calão. Devido as condições do litoral nessa parte do Estado, não há pontos de pesca específicos, a atividade é desenvolvida de forma itinerante, colocando as canoas motorizadas em cima de caminhões e percorrendo as praias a procura da tainha. O conflito ocorre quando o cardume de tainha passa por locais onde há essas redes fixas com calão, pois a forma que estão dispostas perpendicularmente a praia impossibilita que o cerco de praia seja realizado. Há em vigor uma Portaria IBAMA/SC N° 54-N, de 09 de Junho de 1999, que proíbe a pesca com rede fixa em todo o litoral catarinense, mas libera do município de Laguna ao município de Passo de Torres a pesca com rede fixa utilizando calão móvel. Esse embate entre pescadores ocorre há alguns anos e isso levou alguns municípios, como Passo de Torres, Balneário Gaivota e Araranguá a editarem leis municipais delimitando áreas de exclusão para essa pesca (SEAGRI, 2020; grifos nossos).

Como tentativa de resolução de alguns destes conflitos internos à pesca artesanal (sobrepesca, pesca predatória), algumas localidades advogam a possibilidade de instituição do “defeso” da tainha:

... a anchova, assim como o camarão, tem defeso estabelecido em lei; a tainha, não. E esta é a reivindicação dos pescadores artesanais da Amurel. “As tainhas pescadas este ano são praticamente todas ovadas. Isso significa que, nos próximos anos, a safra poderá ser menor ainda, porque o peixe não se reproduz”, justifica a delegada interina do Sindicato da Pesca (SINDIPESCA) na Amurel, Sorora Costa Pinto. A tainha não possui defeso no Brasil e a região poderá ser a primeira a propor um período em que a pesca fica proibida. “Há possibilidade de realizar o defeso da tainha. Há algum tempo, fala-se disso. O defeso pode ser proposto no estado ou na região. Para isso, precisamos das informações dos pescadores e também de estudos técnicos para viabilizar este defeso”, explica a chefe do escritório do IBAMA em Imbituba, Maria Elizabeth Rocha (DIAS (2008); grifos nossos).

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 Conflitos relacionados às práticas de esporte e lazer

Há ainda diversos conflitos relacionados ao esporte e lazer, especialmente aqueles esportes náuticos, e outros usos das praias e áreas costeiras, para recreação; tais atividades associadas ao turismo, muitas vezes inadvertidamente, conflitam com a pesca artesanal. Ocorrem também conflitos com pescadores “esportivos” (e/ou irregulares), assim como outras questões específicas de cada localidade:

... a falta de normativa específica para esta categoria ocasiona anualmente diversos conflitos desde (pescadores x pescadores) pela prioridade nos locais de pesca, e (pescadores x praticantes de esportes náuticos), pelo espaço de mar onde ocorre a pesca. Isso tudo é devido da ausência de normativos, agentes de fiscalização e agentes públicos para orientar tanto pescadores como praticantes de esportes náuticos. O conflito que ocorre entre pescadores e praticantes de esportes náuticos como (surf, kaite surf, jet ski, dentre outros) é pelo uso da praia e do mar durante o período da safra da tainha. Como a pesca do arrasto de praia é feita na mesma zona onde há a pratica de esportes náuticos, os pescadores sentem-se prejudicados, pois não conseguem capturar o recurso “tainha” da melhor forma (SEAGRI, 2020; grifos nossos).

A pesca artesanal, e especialmente a pesca de arrasto de praia da tainha, tem um conflito recorrente com os esportes de praia, especialmente o surfe. Em essência, tal conflito explicita uma acirrada disputa de espaço/tempo pelos territórios costeiros; os pescadores argumentam que, por dependerem dos recursos pescados para sua sobrevivência econômica, tem precedência na ocupação destes territórios, durante o período da safra, e que as atividades esportivas, como o surf, dificultam as operações de pesca, e afugentam os cardumes quando de sua aproximação. Em diversos municípios, foram elaboradas normas de uso do território, visando a redução destes conflitos, através do uso alternado do mesmo pelas duas categorias, porém, os resultados não vêm sendo satisfatórios, pela

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recorrência dos informes e depoimentos que ratificam a continuidade dos conflitos, face o descumprimento das normas e acordos estabelecidos.

... a Federação Catarinense de Surf (FECASURF) e a Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina (FEPESC) mantêm um termo de compromisso de conciliação da prática do surf no período de captura da tainha. Os pescadores estão liberando as praias para a prática do surf, geralmente quando o mar está agitado; porém, é necessário visualizar as bandeiras, ou conversar com os pescadores antes de entrar no mar. Quanto aos conflitos entre pescadores e surfistas, reconhecendo a importância dessa atividade pesqueira, foram editadas leis, tanto pelo Governo do Estado de Santa Catarina como pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, respectivamente a Lei nº 15.922/2012, que declara integrante do patrimônio histórico, artístico e cultural do Estado de Santa Catarina, a pesca artesanal e a Lei nº 4.923/96, que altera o Art. 5º da Lei nº 4.601/95, parágrafo 1º, que proíbe a prática do surf durante a safra da tainha, de 1º de maio a 15 de julho, em todas as praias da Ilha de Santa Catarina, exceto nas praias da Joaquina e praia Mole (FEPESC, 2015:11).

... os pescadores afirmam que atividade do surf atrapalha na pesca da Tainha. Isto porque a espécie que é conhecida por nadar em cardumes, é "medrosa" e facilmente "assustada", por isso a movimentação de surfistas na água iria afugentá-las e impedir que a pesca pudesse ser realizada. A discussão se estendeu ao longo dos anos e geraram brigas entre esses dois atores. Em Florianópolis, a fim de acabar e regularizar a situação criou-se a Lei n° 4601 de 1995, que definia a proibição da pratica de surf no período de primeiro de maio a quinze de julho, na época da pesca da Tainha em todos os balneários da Ilha de Santa Catarina (exceto a praia Mole e Joaquina). Contudo, esta lei foi alterada diversas vezes pelas Lei no 4.613 de 1995, Lei no 4.923 de 1996, Lei no 5.467 de 1999, e Lei no 9.907 de 2015. A mais recente alteração foi realizada dia vinte e cinco de maio de 2016; esta é lei que encontra-se em vigor atualmente, a Lei no 10.020 (MARTINS, 2016:40-41).

O caso do Complexo Lagunar Sul (Laguna) Neste ano de 2020, diversas comunidades do litoral Sul de Santa Catarina, entendendo a necessidade de utilização preferencial das praias pelos pescadores artesanais, durante o período da safra da tainha, concordaram em adequar as suas atividades esportivas, como o surfe, às áreas e períodos não demandados pelos pescadores, o que contribui para evitar a incidência dos conflitos entre ambas as categorias.

... a nova diretoria da ASTFSM optou por apoiar a vontade da comunidade, em desestimular o turismo e auxiliar na segurança da pesca durante a safra da tainha, garantindo assim condições para que a atividade traga o sustento para a comunidade. “Os pescadores locais 112

sempre foram muito parceiros dos surfistas na região, nunca havendo problemas durante da temporada de pesca, onde os surfistas sempre puderam exercer a sua atividade esportiva e manter o turismo de baixa temporada ativo na região. Este fato é exceção no território catarinense, onde se vê muita disputa entre surfistas e pescadores, assim, este é um diferencial turístico da região em baixa temporada, atraindo surfistas turistas que não podem surfar nas praias fechadas dos outros municípios, aquecendo assim a economia local” ( diz um trecho da nota (AGORA LAGUNA, 2020, grifos nossos).

... as praias do Farol de Santa Marta (Cardoso, Prainha, Cigana e Praia Grande) ficarão fechadas para a prática do surfe durante a vigência dos Decretos Públicos que restringem a prática. Este fechamento será apoiado e fiscalizado pelos surfistas e pescadores locais. Durante a temporada de pesca da Tainha, as praias do Cardoso e da Prainha ficarão 100% fechadas para o surfe. Isto objetiva deixar a praia para exclusividade da pesca, com o mínimo possível de pessoas durante a safra, prevenindo ao máximo aglomerações (ENGEPLUS, 2020, grifos nossos).

 Conflitos relacionados à delimitação geográfica do “ponto de pesca”

De acordo com CONCEIÇÃO (2011), a pesca da tainha pode ser apresentada como uma tradição, já que desde a feitura das redes, o método de pesca e principalmente os pontos e os ranchos utilizados atualmente foram passados de pais para filhos nas sucessivas gerações. Esse ato de passar de uma geração a outra, é o que atualmente determina quem tem autorização da prática da atividade de arrasto de praia, pois cada embarcação é licenciada para pesca em um ponto fixo localizado na praia. “Nós temos a canoa da tainha desde a época do meu pai, já faz mais de 50 anos, mas eu mesmo atuo na pesca há mais de 30 anos, uns 40 anos por aí.” (A.J.M.F.) Esse direito pelo ponto de pesca, em determinados locais gera desconfortos e atritos, pois há pescadores que não podem obter licença por não fazerem parte desse contexto e se sentem prejudicados, conforme relato a seguir. “A demarcação de áreas feita de forma irregular, ou seja, não são permitidos novas canoas a pescarem em área que já existem canoas.” (L.L.G.) Atualmente há 245 licenças emitidas para 170 proprietários de embarcação, ou seja, há proprietários que possuem mais de uma embarcação, tanto para o mesmo ponto de pesca, como para pontos diferentes. E ainda há pescadores que

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não possuem licença e atuam por meio de liminar, como em algumas praias de Florianópolis, de Garopaba, Jaguaruna e litoral sul.

Tabela 11 – Licenças emitidas por município para a pesca da tainha de arrasto de praia. Região Município Qtde de Qtde de licenças proprietários emitidas de canoa Norte São Francisco do Sul 23 13 Centro-Norte Balneário Camboriú 13 11 Centro-Norte Itapema 08 07 Centro-Norte Porto Belo 02 02 Centro-Norte Bombinhas 37 23 Central Governador Celso Ramos 07 06 Central Florianópolis 107 66 Central Palhoça 16 15 Centro-Sul Garopaba 13 10 Centro-Sul Imbituba 17 15 Centro-Sul Laguna 02 02 TOTAL 245 170

Parte dos pontos georreferenciados para as autorizações de pesca, foram incluídos pela Superintendência de Santa Catarina da Secretaria de Aquicultura e Pesca na plataforma Google Maps, disponível em: http: (figura 48).

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Figura 48 – Identificação de coordenadas geográficas de autorizações de pesca no Estado de Santa Catarina.

Destas embarcações, 60 foram identificadas como tendo algum tipo de pendência em relação à delimitação geográfica da área de pesca, como explicitado a seguir.

Quadro 2 – Embarcações identificadas com pendência quanto à demarcação geográfica. Nº de Município Local Tipo de pendência embarcações Demarcação única para toda 04 Praia de praia (não há divisão). Laranjeiras Área delimitada, mas 01 Balneário coordenadas não demarcadas. Camboriú Demarcação única para toda Praia de Taquaras 03 praia (não há divisão). Atuação de pescadores sem Praia Central 01 autorização de pesca. Embarcação sem coordenada Praia de 4 Ilhas identificada (apenas limitada 01 Bombinhas área). Mesma coordenada para vários Praia de Bombas 06 proprietários e coordenadas com

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Nº de Município Local Tipo de pendência embarcações delimitações mal definidas. Demarcação única para toda praia (não há divisão); há Praia da Conceição 03 mandato de segurança delimitando 1º, 2º e 3º lance. Área delimitada, mas 03 (do mesmo Praia da Sepultura coordenadas não demarcadas. proprietário) Mesma demarcação para duas embarcações e uma 3ª com Praia da Tainha 03 coordenadas fora do padrão usado. Área delimitada, mas Não identificado 01 coordenadas não demarcadas. Mesma demarcação para 05 embarcações de 2 proprietários Campeche 05 (há acordo registrado em cartório, conforme Anexo A). Praia da Daniela Coordenada não demarcada. 01 Ponta das Canas Coordenada não demarcada. 01 Mesma demarcação de Praia da Galheta 03 Florianópolis coordenadas. Apenas uma embarcação, mas Praia do Gravatá 01 coordenada não demarcada. Praia dos Ingleses Coordenada não demarcada. 01 Mesma demarcação de Praia do Santinho 03 coordenadas. Apenas uma embarcação, mas Ratones 01 coordenada não demarcada. Praia do Pântano Coordenadas que sobrepõem. 02 Sul Garopaba Praia da Silveira Coordenada não demarcada. 01 Apenas uma embarcação, mas Praia de Fora 01 coordenada não demarcada. Apenas uma embarcação, mas Praia do Sisal 01 coordenada não demarcada. Governador Celso Mesma demarcação de Ramos Praia do Tinguá 02 coordenadas. Mesma demarcação de Praia de Palmas coordenadas (03 embarcações e 03 02 proprietários). Praia Vermelha Coordenada não demarcada. 01 Imbituba Barra do Ibiraquera Coordenada não demarcada. 02 Mesma demarcação de Garopaba Guarda do Embaú 02 coordenadas. Mesma demarcação de Praia da Pinheira 02 Palhoça coordenadas. Ponta do Papagaio Coordenada não demarcada. 01 Mesma demarcação de coordenadas (04 embarcações e São Francisco do Praia de Capri 02 proprietários). 04 Sul Um dos pontos houve modificação geológica da praia e

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Nº de Município Local Tipo de pendência embarcações não pode mais ser utilizado. Coordenada não demarcada. 02 (mesmo Praia do Itaguaçu proprietário) Mesma demarcação de coordenadas. Praia de Ubatuba Praia muito grande, pode ser 03 dividida para comportar mais autorizações.

Durante a coleta primária de dados, também foram feitas algumas colocações que expõe conflitos velados ou explícitos, conforme relatos a seguir.

Campeche e Armação do Pântano Sul “Então, houve uma confusão muito grande e ainda está tendo, não conseguiram arrumar essas coordenadas, a gente anda lutando para que acertem todas as coordenadas porque tem coordenada que está ultrapassando o ponto de pesca de outra canoa e isso gera muito conflito. Para tu ter ideia, eu tenho uma canoa lá na praia da Armação, não sei se você conhece aqui, e tem uma coordenada que vem e atravessa o meu ponto de pesca até a metade. Eu pesco na praia do Campeche até perto do costão do Morro das Pedras e essa embarcação da Armação ela atravessa todo o costão do Morro das Pedras e vem até a metade aqui. Então, isso aí gera um conflito grande porque o cara lá que pesca disse: “mas está na minha licença”. Ele sabe que está errado, mas está na licença, isso aí gera um desconforto para nós. Isso aí é uma questão que tem que ser revista e seja corrigida, tem que fazer a correção de todos os pontos de pesca, isso aí é muito importante para que não gere conflito. Porque na pesca é assim, qualquer coisa gera um conflito grande, se cada um pescando dentro do seu quadrado certinho jamais vai ter confusão.” (P.A.I.)

São Francisco do Sul “É preciso avaliar cada situação de cada ponto que está escrito lá na licença (zona de operação). Tem licença que está o nome da praia inteira, não tem coordenada e tem licença que têm coordenadas; tem licença que as coordenadas

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se repetem; tem licenças que as coordenadas se sobrepõe; umas são maiores e outras são menores. Nós temos zona de operação maior em algumas situações e zona de operação menor, exemplo: Itaguaçu, nós temos numa licença de Itaguaçu a zona de operação que é do Hilário Bertran, está lá escrito na licença que é a praia toda e daí nós temos, eu acho que é o Mayer, ele dá um limite só no norte da praia enquanto que a praia poderia ser dividida ao meio. Ubatuba também, nós temos 2 licenças sobrepostas, nome de Hugo Filho eu acho que Mayer, nem eles sabem. Nós temos ali do Abel uma área muito grande, enquanto que o Paulinho pesca ali e não tem área licenciada para ele. Então assim, Ubatuba, Itaguaçu, Forte até o Sumidouro a gente tem zonas de operações, licenças para alguns pescadores grandes demais e outras pequenas e outras assim que foram dadas a licença depois na mesma área, que se chama sobreposições de áreas. Então, tem que haver uma redemarcação e redefinição de coordenadas, equiparando e dando um espaço adequado para cada pescador, para cada zona de operação. Evitando que uma zona de operação seja maior que a outra e evitando que zona de operação se sobreponham. Então assim, considerando de Ubatuba, foz do rio Ubatuba, Itaguaçu, praia do Forte, Sumidouro e Capri, que são as regiões onde a gente tem as licenças de pesca da tainha modalidade de arrasto, no meu ponto de vista eu vejo a necessidade de um estudo, de lançar todas as licenças no mapa e elaborar uma proposta de redemarcação. Primeiro vir com essa proposta de redemarcação com a colônia de pesca e depois uma reunião com eles num segundo momento, pra que a gente consiga solucionar os conflitos com isonomia e garantindo o direito daqueles que fazem da modalidade seu meio principal de vida da pesca artesanal e garantindo também para que todos possam ter o seu espaço.” (solicitação repassada no momento da validação das informações coletadas, pela colônia de pesca em conjunto com o secretário municipal de pesca, aquicultura e assuntos portuários, Sr. Marcon Machado, o qual também participou da reunião de grupo focal).

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Estes conflitos internos à pesca artesanal, em função da delimitação geográfica dos pontos de pesca/embarcações, também foram registrados na região Centro-Norte:

... os conflitos que ocorrem são basicamente pelos pontos de pesca e pelo número de canoas atuando no mesmo ponto de pesca. Quando ainda era Ministério da Pesca, houve por parte da antiga Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura de Santa Cataria – SFPA/SC junto com a Polícia Militar Ambiental realizaram as primeiras demarcações nas praias, dividindo-as em setores de atuação, realizando a separação por meio de GPS. Na época era uma canoa por ponto, e era realizado a vistoria no local por parte da PMA e encaminhar para a SFPA/SC para emissão da autorização. Como não havia regramento proibindo mais de uma canoa no mesmo pontos, os pescadores foram solicitando e a SFPA/SC foi liberando, isso acarretou diversos problemas que temos até as safras atuais, pois os conflitos por quem tem a prioridade no ponto de pesca ocorrem ainda hoje (SEAGRI, 2020; grifos nossos).

Na região Central (Florianópolis):

... outro problema que vem se acumulando ao longo dos anos é a sobreposição dos pontos de pesca, os limites se cruzam e os pescadores acabam entrando em conflito uns com os outros, pois dentro de cada ponto de pesca, só a canoa com a autorização pode atuar e como os limites se cruzam, é justamente nessa sobreposição que a disputa ocorre. ... também há a problemática que não houve novas demarcações de pontos de pesca por parte do governo federal ao longo dos anos, isto impossibilitou que outros pescadores pudessem atuar de forma legal na atividade (SEAGRI, 2020; grifos nossos).

 Potenciais conflitos do Estado com as comunidades pesqueiras Diversos conceitos e procedimentos relativos à gestão dos territórios costeiros, na sua abordagem ambiental e/ou patrimonial, tem a tendência de 119

serem desencadeadores de conflitos entre o Estado (através dos órgãos públicos municipais, estaduais e/ou federais). Um dos grandes focos destes conflitos se refere à ocupação do espaço na orla, para a construção e uso dos Ranchos de Pesca (destinados ao abrigo das embarcações e petrechos de pesca, durante a safra da tainha); como via de regra estes abrigos são erguidos em espaços públicos das praias, os órgãos ambientais/patrimoniais muitas vezes interpretam tais edificações como ilegítimas, e por vezes enquadram os pescadores em crimes ambientais, ou contra o patrimônio público.

... a praia da pesca da tainha não é a mesma praia do turismo de verão, a praia é parte do sistema da pesca. A pesquisa demonstra que o chamado conflito de uso do litoral não é de uso de um mesmo lugar, mas antes, de formação de lugares diversos que retomam sua existência a cada temporada. Enquanto que a política ambiental propõe a valorização de unidades (bacias, biomas) ambientais, a lógica do lugar revela que não há senão descontinuidades em tais unidades. O que há do outro lado da margem, depende da margem em que nos situamos. Situar-se no lugar e atravessar regiões e fronteiras é a condição de percepção e produção da paisagem. Esta perspectiva ecológica de percepção (INGOLD, 2000), que situa o sujeito corporalmente engajado no ambiente, é a condição para que se investigue a lógica relacional do lugar atuando na produção da paisagem (...). No caso da pesca, as distinções entre o tradicional, artesanal e industrial são constantemente refeitas e negociadas, pois implica do ponto de vista da fiscalização de suas práticas pelos órgãos, como o IBAMA, no controle do uso de instrumentos técnicos – malha da rede, tipo de rede – que seriam ou não prejudiciais à reprodução dos estoques pesqueiros no mar. Entre os pescadores, no entanto, como vimos com os vigias, não é o tipo de instrumento usado, mas um sistema de conhecimento relacional, distribuído, que inclui a própria paisagem, que pode ser pensado como artesanal, pois coloca o pescador em relação ao ambiente e submetido à sua dinâmica, em oposição aos objetivos da pesca industrial, de justamente subjugar o ambiente, em busca de otimização do trabalho da pesca, para alcançar cada vez maiores quantidades de pescado (DEVOS, 2016:143-144).

Outra questão muito importante para a pesca de arrasto de praia (já referida pela SEAGRI) é a situação legal desta modalidade de pesca. Pelo fato de não constar, explicitamente, e de modo exato, na legislação pesqueira, o exercício da atividade é muitas vezes interpretado pelos órgãos ambientais, ora como infração, ora como crime ambiental. Por tal situação, diversas comunidades tiveram de recorrer à justiça, para poderem continuar exercendo a pesca de 120

acordo com as suas especificações informais, até que Estado promova o reconhecimento e regulamentação da atividade. Sobre tal situação, segue o caso do Município de Arroio do Silva:

... seus associados são pescadores artesanais que portavam licença para pescar na modalidade de Arrasto de Praia, dentro de uma milha náutica da linha da costa. Contudo, afirma que, com a edição da Instrução Normativa Interministerial n. 10, de 10 de junho de 2011, não foi mais contemplada de forma expressa a modalidade de pesca exercida por esses pescadores artesanais que, ao renovarem as licenças, obtiveram apenas o direito a pescar sob a modalidade de 'emalhe costeiro'. Isso lhes impossibilita o exercício da atividade, pois seus petrechos não estão adequados a esse tipo de pesca, a qual apenas pode ser feita após uma milha náutica da linha da costa, conforme restou expresso no art. 6º da Instrução Normativa Interministerial nº 12. Em razão disso, alerta que os pescadores estão proibidos de pescar até uma milha da costa, em razão das dimensões e características de suas embarcações, 'bem como não podem pescar a mais de uma milha da costa litorânea, porque os petrechos e embarcações são inadequados para navegar nessa faixa litorânea, sendo, inclusive, vedada pela Marinha tal o perigo que propicia aos pescadores' (...). Ante o exposto, acolho a intervenção do IBAMA no feito (Evento 29), rejeito as preliminares e, no mérito, CONCEDO A SEGURANÇA, extinguindo o processo com julgamento do mérito, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil, para determinar que as autoridades impetradas reconheçam o direito dos substituídos de poderem exercer a atividade de pesca (sob a modalidade de arrasto de praia) dentro de uma milha náutica da linha da costa, até que os órgãos competentes (Ministério da Pesca e Aquicultura e Ministério do Meio Ambiente) definam em que modalidade de pesca enquadrá-los (SILVA, 2014:02;15).

Conflitos expressados pelos pescadores

A seguir apresentam-se os conflitos expressados pelos pesquisados, relacionados a todas as modalidades de pesca (artesanal e industrial), bem como em relação a esportes náuticos, turismo e lazer e conflitos internos.

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Quadro 3 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em São Francisco do Sul.

Região Norte - São Francisco do Sul

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Embarcações menores que trabalham com rede de emalhe, rede de cerco, não respeitam as redes de praia, falta monitoramento da área limite de atuação. •Não tem fiscalização no período da tainha (a fiscalização da Polícia Ambiental vem de fora, de Joinville). •Barco a motor com rede feiticeira (vai e vem), vem em cima dos pescadores de arrasto que estão dando lanço. •Rede caça de malha (rede de espera) que fica no ponto de pesca. •Tarrafas no costão. •Redes feiticeiras perto dos costões. •Pescador de linha, turista com molinete. •Sábado, domingo não se pesca, porque sai 60, 70 embarcações do IAT Clube no ponto de pesca.

Conflitos internos

•Tem ponto com mais de uma canoa e tem ponto que não tem permissão para ter mais de uma canoa. •Venda/arrendamento de ponto de pesca em Ubatuba. •Na praia de Capri tem um ponto que o "mar comeu" e o pescador não pôde mais pescar no ponto e de 2010 a 2018 passou a pescar em Ubatuba (não autorização nesse local), em um ponto que não tem ninguém, mas faz divisa/sobreposição com outro ponto.

Outros aspectos

•Falta apoio à pesca em São Francisco do Sul e à colônia. •No Forte, entre a Praia João Dias em sentido ao Sumidouro, com meia maré a embarcação não sai, porque tem muito cepo (resto de vegetação morta), por conta da ação do mar que foi tirando a areia, necessário autorização do Poder Público para vir máquina para limpar. •Há protocolamento de documentação para rancho na SPU – Superintendência do Patrimônio da União, mas não se tem retorno.

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Quadro 4 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Balneário Camboriú.

Região Centro-Norte - Balneário Camboriú Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •Ocorrência de pescas predatórias na safra da tainha: cace de malha, tarrafa no ponto de pesca, cilibrim e fisga, garatéia (coloca dia e noite, coloca para puxar o peixe). •Falta fiscalização para pesca irregular no local da pesca de arrasto e para esportes de lazer (para jet ski, lancha de patrão da marinha, surfe), tem guarda, mas a fiscalização não é intensiva, repreende, mas não tem punição. •Barcos, jet ski, lancha de turista na baía que o peixe vem para dormir. •Embarcações irregulares. •Turista e banhista circulando na praia que tem a pesca de arrasto, não tem placa informando. •Molinete na praia. •Mergulhador.

Conflitos internos •Não tem boia de sinalização na praia (entrada). •Dificuldade de demarcar ponto de pesca de arrasto, tem ponto que coincide, tem ponto um dentro do outro. •Praia de Taquarinha, Pinho e três pontos na Praia Central não tem rancho fixo, o que dificulta o pescador porque tem que montar todo ano. •Ocorre pescaria no Trapiche da Laranjeira, não tem placa informando que não pode pescar. •Falta remeiro, chumbereiro, vigia, não se tem incentivo para ensinar os mais novos. •Pessoas com um pouco de autoridade, com alguns conhecimentos acabam adquirido licenças para pesca artesanal onde já existia licença.

Outros aspectos •Falta recurso para pescador reformar barco, comprar rede. •Falta de interesse do órgão público responsável, precisa fazer discussões, trazer informação antes da safra da tainha para os pescadores. •Falta de estrutura para o pescador artesanal no período de pesca, como banheiros químicos, energia para os ranchos etc. •Pescadores do Campeche vieram conversar com prefeitura para oferecer curso de remador de canoa, mas não concretizaram a ação. •Município falho em relação à pesca, não tem secretaria específica, não tem apoio, não há aplicação da Lei municipal nº 1.674/97. •Bombeiro colocou boia com cabo de aço na linha de banho, estourou e ficaram os cabos e é perigoso, próprios pescadores estão vendo uma forma de retirar. •iIluminação pública deveria ser apagada na orla da praia durante a safra. •O crescimento desordenado dos municípios que não inclui a pesca artesanal como uma atividade local, um setor produtivo que é a base alimentar de determinadas comunidades e nem como uma tradição cultural.

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Quadro 5 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Porto Belo.

Região Centro-Norte - Porto Belo

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •As traineiras são os maiores predadores que tem da tainha, pois eles têm o equipamento muito bom, sofisticado com tecnologia (sonda, radar) e que a 4-5 km de distância já acusa aonde está o peixe, eles vão lá e cercam e pegam tudo, aí não sobra, não vem pra praia. As traineiras já acabaram com outros peixes, "na nossa costa aqui dava sardinha, charuto, periquito, tudo quanto é qualidade de peixe e nós pegávamos em quantidade aqui, depois que inventaram essa tal de traineira acabou tudo". •As embarcações de motor anilhado também prejudica a pesca da tainha pela alta captura.

Conflitos internos

•Pessoas que possuem outras profissões (pedreiro, motorista), que são registrados e não tem carteira de pescador, no tempo da tainha todos vão para água pescar tainha e não há fiscalização local e nem do Ibama. "Eles têm a sua renda fixa por mês e quando chega o fim de semana eles compram um caico ou batera colocam a rede dentro e vão jogar rede onde os peixes passam para vir até a praia." •Fiscalização precária, pois é feita por pessoas do município que tem de fiscalizar seus conhecidos e acabam só por mandar tirar a rede, ao invés de aprender o equipamento e multar, pois ocorre pescaria com rede rede ilegal (rede feiticeira), prejudicam o pescador autorizado e a natureza, matando pinguim, tartaruga. •A fiscalização local é comprada pelo ilegal (geralmente atravessador), pois permite que se coloque rede, porque no final acabam ganhando um pouco de peixe. •Invasão do ponto de pesca (com colocação de canoa na praia), com ajuda/força política (vereador), a fim de tentar conseguir licença. •Foi feita a retirada do rancho fixo, alegando ser área da Marinha, mas a área onde estava o rancho foi vendida e hoje tem um mansão no local.

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Quadro 6 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Bombinhas.

Região Centro-Norte - Bombinhas

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Local de pesca que é invadido por outras embarcações a motor, principalmente os "bate- bate", que utilizam redes de emalhe, rede lisa e não respeitam os limites pré estabelecido em lei. •Dificuldade na relação com os pescadores da caça malha, não tem registro, não tem licença e não tem respeito com os pescadores licenciados do arrasto de praia, pois eles invadem o ponto. •Turista que entra na praia, lancha, jet ski no local de pesca no período da tainha. •Município tem lei (Lei Ordinária n° 0362/1997) proibindo esportes náuticos e a navegação no período da pesca da tainha, mas não é cumprida, falta fiscalização. •Tem muita rede de espera, fundiada, cilibrim no costão (colocam a noite, tiram no amanhecer), também passam picaré (rede pequena) a noite na praia, é uma pesca predatória, não tem licença. Isso atrapalha o peixe de entrar na praia.

Conflitos internos •Há pontos tradicionais que não foram regulamentados, que não foram demarcados na licença. •Em 01/06 é liberada a pesca de arrasto do camarão e isso causa confronto de limites com a pesca da tainha que ocorre no mesmo período, teria de liberar após a safra da tainha.

Outros aspectos •Como a licença é emitida por canoa, tem canoa menor que poderia ser usada em determinadas situações, mas não pode, porque não tem autorização. •O pescador tem de estar com sua documentação em dia, para poder cobrar a atuação dos órgãos competentes. •Há necessidade de ter mais união entre os proprietários de canoa, os patrões da pesca da tainha e os órgãos que são responsáveis por manter a pesca de arrasto de praia, a fim de manter a cultura da pesca da tainha por mais tempo.

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Quadro 7 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Governador Celso Ramos.

Região Central - Governador Celso Ramos

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •Cilibrim e rede fixa no costão, espanta o peixe de vir na praia. E a pescaria ocorre de noite e de dia (ficam na praia cuidando). •Pouca fiscalização, município não tem fiscalização local, depende da Polícia Ambiental de Florianópolis

Conflitos internos

•Secretaria municipal recebe verba para pesca, mas não investe, nem na fiscalização, nem em programas de subsídio para o pescador poder comprar rede mais barata.

Quadro 8 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Palhoça.

Região Central - Palhoça

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Rede de cerco na passagem, emalhe, tarrafa em alguns setores, atrapalhando o peixe de ir para praia. •Rede fundiada, feiticeira encostada no Costão. •Há polícia ambiental, mas é difícil virem fazer fiscalização das irregularidades. •Barco de passeio e voadeira que sai no ponto de pesca, teria que ter um local de saída demarcado. •Jet ski que fica na praia dando volta. •Banhista que não respeita a área de pesca. •Bola na praia, futebol, porque o barulho espanta o peixe, chutam na água.

Conflitos internos •Falta de rancho fixo para colocar a canoa no período da pesca da tainha, pois ao ficar exposta, acaba estragando, necessitando de reforma anual. •Pessoas que invadem demarcações já existentes com canoas sem a licença de pesca.

Outros aspectos •Só há bandeira de marcação no costão, não tem na praia.

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Quadro 9 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Florianópolis.

Região Central - Florianópolis

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Tem muita embarcação e cada vez mais sofisticada e prejudica o pescador artesanal. •Caça de emalhe com bote (semi-industrial), não tem área delimitada para atuação e espanta o peixe; Redes de "bate-bate" na beira da praia. •Pesca da isca viva para atum. •Pesca ancorada na Barra da Lagoa. •As embarcações de redes singelas , que cercam nos costões não respeitando as leis e os obstáculos naturais, causa a morte de animais. •Embarcação a motor até 8 m, cercando no costão a noite, impedindo o peixe vir à praia. •Pescaria de tarrafa e garatéia no costão. •Embarcação motorizada que pesca com rede lisa. •Rede feiticeira colocada a noite com pé de poita e bóia nos pontos de pesca (espanta o peixe). •Rede clandestina usada com bote inflável. •Pescaria de caniço luminoso/cilibrim. •Pescador de redinha cerca, mas teria de manter distância, porque eles cortam o ponto. •Desrespeito à pesca por esportes aquáticos, tal como o surfe, jet ski, Jet ski puxando bote inflável com turista (espanta o cardume). •Prática de kitesurf na linha de praia (teria de ocorrer a pelo menos 200 m da praia). E também a prática de Tow-in Surfing na Barra da Lagoa. •Lanchas, bote inflável com turista (para Ilha do Campeche) e jet ski que trafegam na área permicionada para o arrasto de tainha próximo à arrebentação. •A falta de fiscalização dos órgão competentes na safra da tainha, permite que pescadores ilegais utilizem redes de caceio em áreas de canoa no período noturno.

Conflitos internos

•Surgimento de novos pescadores em pontos onde já existem canoas licenciadas. •Não permissão para novos pescadores. •Ponto de canoa sem coordenada. •Sobreposição de coordenadas geográficas (Campeche, Barra da Lagoa), necessitando o estabelecimento de acordo com anuência da SAP. •Na Joaquina é ponto de surfe e não há respeito pela pesca da tainha. •Rancho instalado em APP - Área de Proteção Ambiental.

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Outros aspectos

•Por ser atividade cultural e pouco remunerada, há o desinteresse das novas gerações. •Falta de remeiros e vigias interfere na pesca artesanal. •Licença sai por canoa e às vezes precisa usar outra canoa que não está licenciada, conforme está o mar (Campeche). •Metragem da canoa para pesca da tainha deveria ser de no máximo 8 m. •Reivindicação para autorizar uma canoa cercar atrás da outra. •Os pescadores profissionais, encontram muita dificuldade e burocracia para regularizar as suas situações pesqueiras na época da tainha e em obter o licenciamento para a pesca (deveria ser por período mínimo de 3 anos e renovável). •Nas praias de mar grosso, onde as canoas são submetidas a grandes ondas, as técnicas para a pesca com a rede de arrasto poderiam ser mais flexíveis, permitindo o uso de canoa motorizada. •Falta de subsídio para compra de materiais de pesca como: rede, cabos, cortiças, chumbo, equipamento motorizado para atividade de retirada e manobras das embarcações na praia, manutenção da embarcação dos ranchos de canoas artesanais. •Atividade tombada pelo patrimônio histórico, mas falta subsídio para manter a atividade de pesca e valorização do pescador artesanal. •Fornecimento e manutenção de banheiros químicos pelo município para facilitar a infraestrutura dos ranchos durante a safra. •Isenção da cobrança das taxas de serviços de energia elétrica e abastecimento de água para rancho de pesca artesanal devidamente registrado e em atividade pesqueira. •Não liberar o uso do motor para embarcações no Pântano Sul, Praia da Solidão e Praia dos Açores, para manter a tradição da pesca artesanal, para não prejudicar o ciclo da tainha e manter a quantidade de pescadores que a modalidade emprega.

Quadro 10 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Laguna.

Região Centro-Sul - Laguna

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •“Querem invadir uma praia, que sempre foi feita a pesca de arrasto, não respeitam a distância dos costões.” •“A praia de Laguna é muito grande, tem muita rede parada, é um perigo para os banhistas porque tem ferro fincado, porque eles põem a noite e tira de dia. Pega tartaruga, pinguim, gaivota, fica tudo malhado."

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Quadro 11 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Garopaba. Região Centro-Sul - Garopaba

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •Arrasto camaroeiro tem que pescar a 5 milhas da costa, mas não respeitam, entram e arrastam na beira da praia, na beira da costa com rede e acabam com tudo, com toda comida do peixe (principalmente da pescada, pescadinha). •Pescaria irregular (“predador”): garateia (3 anzóis que pega o peixe pelo corpo para ser puxado, pescaria proibida); arpão; linha de mão; pescador com tarrafa (tarrafa tem que ficar a 300 m para fora do costão, mas eles colocam no cardume no costão, não respeitam os limites); rede (o pescador vai a noite de batera para pescar e espanta o peixe que está acostado). •São pescadores que tem outro tipo de licença ou que não tem licença, falta fiscalização nos pontos de pesca e acaba dando atrito entre os pescadores ("pois se denunciar pode dar briga"). •Falta fiscalização e lei específica para cada local (o que pode pescar em cada lugar, metragem para todas essas irregularidades). •Esportes aquáticos, como windsurf, jet ski. •Constantes conflitos com surfistas apesar do sistema de bandeiras implementado, não respeitam. •Farol de carro a noite na praia (espanta o peixe). Conflitos internos •Dificuldade em obter a licença para exercer a pesca, pois canoa motorizada só pesca com liminar ("estamos trabalhando com protocolos e precisamos que os órgãos competentes nos ajudem em todos os sentidos, porque isso é uma tradição de nossos avós."). •Dificuldade de pescadores para entrar na canoa sendo para remar, largar chumbo - "Quando o mar está muito agitado não conseguimos entrar, pois nossa praia (Garopaba e Siriú) é costa branca, mar grosso, trabalhamos sempre com medo do IBAMA, pois só temos o protocolo." •Policia Ambiental não permite o uso de quadriciclo, que é usado como apoio ao transpsorte, mas permite turista andando na praia e nas dunas. Outros aspectos •Não tem apoio para pesca artesanal. "Sendo que essa tradição vem a mais de 70 anos em nossa comunidade, não podemos deixar acabar uma das coisas mais lindas em nosso litoral a pesca da tainha." •SAP/MAPA não revalidar carteira, agora é tudo pela capitania, mas tem gente que só tem protocolo (não tem carteira). •“Bagunça” na legislação do RS (pesca na Lagoa dos Patos) atrapalha a pesca em SC.

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Quadro 12 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Imbituba.

Região Centro-Sul - Imbituba

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •"Pescador artesanal pesca durante o dia, industrial pesca a noite e com sonar, e pescam tudo. Tem de ter controle da pesca industrial e dar limites para pescarem, se não a traineira pesca tudo." •Pesca amadora com cabos e poitas, redes de corrico, não tem fiscalização. •Falta de compreensão e limitações das embarcações com redes anilhadas. •"Pescador de tarrafa no costão, porque o peixe fica parado para entrar e pescam, espanta o cardume. Isso já deu atrito-briga entre os pescadores, até colocaram fogo na canoa de um pescador." •Interferência de lanchas e barcos próximos a costa (não respeitam as milhas marítimas). •"Há muitos empresários (não é pescador) que saem com voadeira e vão no costão pescar com molinete, rede ensacada e depois sai vender (anchova, pampo)". •Tem muita rede fixa na praia, rede de calão, pessoal põe dia e noite e deveria colocar só a noite e tirar durante o dia. •Surfista (trocam a bandeira de sinalização), mergulhador, não respeitam o período da safra para usar a praia. •Prática de esportes náuticos que espantam o peixe, como mergulho no costão. •Faróis de carro na praia a noite - "Pessoal que vai de carro fazer festa a noite na praia, porque o farol do carro espanta o peixe."

Conflitos internos • Falta fiscalização da Polícia Ambiental em relação à jet ski, tarrafa. •Há um único pescador que realizva a pesca com caminhão (como o pai), da praia da Vila até o Ginoto (Laguna), mas agora recebeu ponto fixo, mas afirmou que sua tradição é ser itinerante e qu a praia em que pesca é de surfe e há muito conflito para exercer a pesca. Agora sob pena de multa se exercer pescaria itinerante.

Outros aspectos •"Rio Grande do Sul tem uma legislação diferente, eles matam na saída da lagoa com malha 7-8 e acaba com a tainha." •O início da pesca deveria ser sem data, pois em alguns anos aparece tainha no mês de abril e a gente não pode pescar e o cardume passa. •"Hoje em dia não tem mais remeiro bom (que reme junto, certinho) e com canoa a remo, não chega pra pegar o peixe, o cardume passa porque depende da corrida da água, é mar grosso."E por não possuir motor fica muito difícil sair para o mar, o mar é agitado (ventos fortes e correnteza da água muito forte).

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Quadro 13 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Jaguaruna.

Região Centro-Sul - Jaguaruna

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Falta de compreensão e limitações das embarcações anilhadas, as embarcações de emalhe anilhado pescam dentro de uma milha. •Traineiras, pesca realizada por quem não é pescador em embarcações clandestinas. •Pesca irregular como: pesca de arpão nos navios; redes de corrico e pesca com pandorga na época da tainha; pesca amadora com cabos e poitas; pesca da tainha com redes amarradas em jet ski e bote inflável. •Falta de fiscalização os órgãos ambientais (IBAMA e Polícia Ambiental) para pesca de embarcação pequena (limitação de costão) e colocação de redinha na boca de barra ("colocam redinha na boca da barra e pega todo peixe"). •Não tem fiscalização para poita (rede fixa) de Arroio do Silva até Passo de Torres. "A poita arrebenta a rede e ainda mata pinguins (teve morte de mais de 100) e ainda pode causar afogamento de pessoas." •Mergulhador. •O uso do jet ski recreativo na praia que dificulta a pesca da tainha. •"Pescador amador (é o turista), deveria proibir na época da safra da tainha (maio a junho)."

Conflitos internos •Praia com falta de acesso. •Mar agitado, ventos fortes e correnteza da água, dificulta pesca com canoa a remo. •Falta de licença e autorização de pesca e legislação que regulamente a pescaria, pescam com liminar na Justiça.

Outros aspectos

•"Não podemos mais pescar no RS, porque lá só pode emalhe costeiro e eles não se enquadram, porque licença de arrasto de praia não se enquadra na legislação. Precisam de especificação na lei para poderem pescar lá, RS entende que o termo 'arrasto' é fora da praia." •"As geração de pescador de arrasto vem aos poucos acabando e os verdadeiros pescadores abandonando por não conseguir sobreviver; Se não for tomada medidas de fiscalização nossa cultura sofre o grave risco de acabar."

Quadro 14 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Arroio do Silva.

Região Sul - Arroio do Silva

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer •Traineiras. •Pesca realizadas por quem não é pescador em embarcações clandestinas.

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Quadro 15 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Balneário Rincão.

Região Sul - Balneário Rincão

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Embarcações do emalhe anilhado pescando dentro de uma milha. •Pescadores amadores que atrapalham a pesca. •Pesca com cabos e poitas. •Falta de ficalização. •O uso do jet ski recreativo que dificulta a pesca da tainha.

Conflitos internos

•Falta de licença e autorização de pesca.

Quadro 16 – Conflitos e problemáticas relacionadas à pesca de arrasto de praia em Balneário Gaivota.

Região Sul - Balneário Gaivota

Conflitos com outras modalidades de pesca, esporte e lazer

•Redes corriqueira, redes fixas com cabo e poita. •Barco inflável e jet ski puxando rede na safra da tainha - "problema com redezinha atrás, chega na época da tainha todo mundo é pescador de tainha". •Surf e jet ski recreativo na praia. •Falta de fiscalização

Conflitos internos •Falta de licença e autorização de pesca, "pescamos com protocolo".

Outros aspectos •"Somos impossibilitados de exercer a profissão por não ser reconhecido e por não ter a licença nem aqui e nem em Rio Grande do Sul."

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Quadro 17 – Resumo dos conflitos de pesca no litoral catarinense.

TIPÓS DE CONFLITOS PI PA AM EL CA EX CR IV EA RE RC RB CM BB FT ES RD RS CP TF CL FS GR PR PD LM CL AR TE WS SF JS FV BA MG FN FP TS PP RC DR EM PIt TR FI Região Município Norte S. Fco do Sul B. Camboriú Centro- Porto Belo Norte Bombinhas Governador Celso Ramos Central Florianópolis Palhoça Garopaba Centro- Imbituba Sul Laguna Jaguaruna Balneário Rincão Balneário Sul Arroio do Silva Balneário Gaivota Legenda: PI: pesca industrial (CR: cerco; IV: isca viva). PA: pesca artesanal (EA: emalhe/emalhe anilhado; RE: rede de espera; RC: rede de corrico; PD: pesca com pandorga; RB: rede com bote inflável; FT: feiticeira; TF: tarrafa; CL: cilibri; GR: garatéias; BB: bate-bate; RS: redes-singelas; CM: caça de emalhe; PR: picaré; ES: rede de espera; CP: cabos e poita; RS: rede ensacada; RD: redinha. AM: pesca amadora (LM: linha e molinete; CL: caniço luminoso; AR: arpão). EL: esportes/lazer (TE: trânsito embarcações; WS: windsurf; SF: surf; JS: jet ski; FV: farol de veículo; FN: festa noturna na praia; FP: futebol na praia; MG: mergulho; BA: banhista; TS: tow in surfing). CA: conflitos internos à pesca artesanal (PP: pontos de pesca/embarcações; RC: ranchos de pesca; DR: dificuldade de renovação/formação de tripulantes; EM: dificuldades de licenciamento de embarcações motorizadas; PIt: dificuldades de exercício da pesca itinerante; TR: terceiros adquirindo pontos/licenças de pesca). EX: conflitos com agentes externos (FI: fiscalização da pesca).

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Os dados resultantes das entrevistas mostram grande diversidade e amplitude dos conflitos socioambientais vivenciados pela pesca artesanal de arrasto de praia em todo o litoral do Estado de Santa Catarina. Neste conjunto, podem ser elencadas diversas situações, onde se incluem aqueles intrínsecos à própria categoria e modalidade de pesca (especialmente as disputas pelos pontos de pesca e/ou embarcações, a demarcação e utilização dos ranchos de pesca); os conflitos com as atividades da pesca industrial (pela invasão das áreas reservadas à pesca artesanal, sua concorrência desleal e predatória, e a destruição de petrechos artesanais, “atropelados” pela frota industrial); os conflitos com as atividades de esporte e lazer (na disputa pelos espaços das praias, e nas restrições que estas atividades impõem ao sucesso da pesca artesanal da tainha). Associada ao lazer e esporte, mas com características próprias, também se constatam conflitos com a pesca amadora (pelas restrições na utilização do espaço); e, finalmente, os conflitos com agentes externos à pesca (especialmente a fiscalização ambiental/pesqueira). A distribuição espacial desta série de conflitos socioambientais não é uniforme, mas podem ser percebidos alguns padrões associativos com o gradiente geográfico; assim como a heterogeneidade espacial e a biodiversidade estão melhor correlacionadas com as áreas das regiões Norte, Centro-Norte e Central, com áreas mais abrigadas e maior riqueza de habitas, estas mesmas regiões comportam uma maior diversidade de modalidades de pesca artesanal e industrial, o que implica na maior incidência dos conflitos de tais categorias. Como os fatores determinantes desta atratividade biológica também são eficazes indutores da utilização do litoral enquanto áreas de esporte e lazer, estas regiões tendem a exibir maior diversidade e intensidade dos conflitos com estas últimas atividades. Nas regiões Centro-Sul e Sul, por sua maior homogeneidade, com áreas bem mais abertas e expostas aos ventos, ondas e correntes, a diversidade das categorias de pesca é menor, porém os conflitos não deixam de existir, e se intensificam na medida em que algumas destas modalidades de pesca (e esportes

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náuticos) tendem a dificultar/restringir a pesca de arrasto de praia, especialmente na sua modalidade itinerante. Apesar das especificidades locais/regionais, entendemos que o quadro traçado permite uma visão estrutural do conjunto dos conflitos socioambientais. Deste quadro, emerge uma infeliz unanimidade: em todas as regiões, municípios e/ou localidades consultadas, os depoimentos apontam a fiscalização ambiental/pesqueira sob dois conjuntos de aspectos negativos: a) ausente, omissa, conivente e/ou corrupta (quando não efetiva as necessárias medidas legais para evitar, sustar e corrigir as infrações, ou quando facilita a apropriação ilegal de espaços e direitos dos pescadores, por terceiros com poder político-econômico); b) arbitrária e prepotente (quando estabelece seus próprios critérios, à revelia da lei, e atribui-se o papel de juiz e executor, muitas vezes apreendendo e/ou destruindo petrechos e embarcações dos pescadores artesanais). Diversos conflitos foram elencados pelos pesquisados praticantes da pesca de arrasto de praia, sendo os principais a pesca industrial, a pesca artesanal realizada por outras modalidades de pesca, esportes náuticos e o uso do espaço. Intensificar e qualificar a fiscalização é uma recomendação recorrente expressada pelos pescadores, assim como regularizar os pontos de pesca. Abrir espaços para fomentar o diálogo entre os diferentes atores também pode ser uma estratégia oportuna para mitigar os conflitos e ainda contribuir para o fortalecimento comunitário.

DADOS DE PRODUÇÃO PESQUEIRA, COMPOSIÇÃO E SAZONALIDADE DA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA

A compilação de dados secundários possibilitou a construção de uma linha temporal de produção pesqueira artesanal voltada à captura de tainha a partir de 2003 e especificamente na modalidade de arrasto de praia a partir de 2016. Ainda assim, os dados não contemplam todos os municípios em todos os meses e anos até a atualidade. Dentre os 36 municípios para os quais são apresentados os 135

dados de produção, dez (10) passaram a apresentar dados somente a partir de 2016, em decorrência da implementação do Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira no Estado de Santa Catarina (PMAP-SC), parte do projeto homônimo que envolve toda a Bacia de Santos (PMAP-BS), realizado por um consórcio de instituições de ensino e pesquisa de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, em decorrência de uma determinação do processo de licenciamento ambiental das atividades de produção e escoamento de petróleo e gás natural da PETROBRAS na Bacia de Santos. O incremento na produção pesqueira registrada em decorrência da amplitude de abrangência do PMAP-SC evidencia a importância do monitoramento como medida essencial para a gestão pesqueira, já que a produção era antes de 2015 muito subnotificada. Outro fato a ser destacado é de que os dados específicos para a modalidade de pesca de arrasto de praia estão disponíveis de forma discriminada somente a partir de 2016. É necessário considerar que a principal característica da pesca da tainha na “safra” é que a sua realização ocorre no período reprodutivo da espécie, tanto para o segmento artesanal quanto industrial, nas imediações das áreas de concentração e deslocamento dos cardumes reprodutivos. Ou seja, a atividade pesqueira suprime dos ecossistemas costeiros e marinhos, a cada ano, uma parcela bastante significativa dos seus estoques, maciçamente representada por adultos férteis, prestes a desovar. Com isto, a capacidade de renovação dos estoques tende a ser progressivamente reduzida, podendo até mesmo chegar a inviabilizar economicamente a continuidade da atividade pesqueira. Para evitar tal cenário, faz-se necessário implementar um sistema de gestão dos espaços e recursos pesqueiros, que possa preservar a capacidade de renovação dos estoques, e manter a efetividade da pesca, de modo equânime entre os diversos setores e atores envolvidos na atividade.

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Produção pesqueira de tainha pela pesca artesanal de Santa Catarina de 2003 a 2020 As capturas anuais de tainha pela pesca artesanal registradas entre os anos de 2003 e 2019 em Santa Catarina flutuaram entre 425,7 e 7620,2 toneladas, nos anos de 2012 e 2018, respectivamente (tabela 12; figura 49). Dentre os 18 anos de dados compilados, Florianópolis foi o município com mais capturas anuais (por 13 anos), seguido de Laguna (por 5 anos). Os valores máximos de captura de tainha registrados em cada ano estão destacados na tabela 12. Os dados para 2016 e 2019 não são considerados nesta análise, pois não abrangem todos os meses do ano. Ao observar a evolução das capturas ao longo de toda a série de dados (figura 49), nota-se um acréscimo expressivo nos valores registrados a partir de 2017, com a produção saltando de 841,7 t em 2016 para 5220,3 t no ano seguinte. Como já mencionado, a partir da execução do Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira na região costeira da Bacia de Santos, o estabelecimento de uma rede de pescadores informantes permitiu a coleta de mais dados e registrar pescarias que não eram consideradas antes de 2016. Desta forma, também consideramos para os anos anteriores a 2016 que o ano de maior produção de tainha pela pesca artesanal em Santa Catarina foi 2007 (2.142,06 toneladas) e o ano de menor produção foi 2012 (425,7 toneladas). Além de contribuírem expressivamente para a produção do Estado, municípios como Florianópolis e Laguna se destacam no gráfico apresentado na figura 51, o qual apresentam as capturas anuais em cada município por ano e os municípios estão dispostos de acordo com a localização geográfica de norte a sul, evidenciando os municípios da região Norte à esquerda do gráfico e os municípios da região Sul à direita. Observando a distribuição das capturas anuais ao longo da costa catarinense (figura 50), nos setores definidos pelo gerenciamento costeiro, verifica-se a contribuição da região Central para a produção de tainha pela pesca artesanal, especialmente até 2012. A partir de 2013, a região Centro-Sul também passa a contribuir com expressiva captura de tainha em relação ao total do Estado.

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O aumento nas capturas é também observado nos setores do litoral catarinense, com algumas variações regionais e corresponde a uma maior contribuição dos Setores Centro-Sul e Sul às capturas totais anuais. No Setor Norte (figura 52), damos destaque aos municípios de São Francisco do Sul, Joinville e Balneário Barra do Sul. Entre 2003 e 2014 as capturas flutuaram entre safras mais e menos produtivas intercaladas e, a partir de 2016, há um acréscimo contínuo com um pico em 2018 de 536,5 toneladas, somando os sete municípios aqui apresentados. Porto Belo, Bombinhas e Balneário Camboriú são os municípios que se destacam na produção de tainha pela pesca artesanal ao longo dos anos no Setor Centro-Norte do litoral catarinense (figura 53). Nos anos de 2006, 2007 e 2014 a produção foi ligeiramente maior que nos demais anos e a partir de 2016 elevou-se até atingir um total de 1.292,6 toneladas de tainha capturadas em 2018, nos oito municípios analisados neste setor. No Setor Central (figura 54) do litoral catarinense, a capital destaca-se, sendo também o um dos principais municípios maior produtor de todo o estado. A captura registrada em Florianópolis chega a ser 10 vezes o total capturado na segunda cidade de destaque neste Setor, Palhoça. Os registros de captura de Florianópolis são mais variáveis que dos demais municípios, com o primeiro registro de 534,0 toneladas em 2003 e chegando a 893,4 em 2007 (ano que era considerada a safra recorde antes de 2017). Em 2012 houve uma queda brusca na produção (155,1 t) e a partir do aumento nas capturas registradas em 2016, em 2018 registram-se 1299,4 toneladas de tainha capturadas no município de Florianópolis, contribuindo para a produção total de 1722,7 t no Setor Central e 7620,2 t em todos os municípios aqui analisados, sendo a maior produção anual registrada até hoje. No Setor Centro-Sul (figura 55), o município de Laguna é o maior produtor, seguido de Jaguaruna e Imbituba. No ano de 2018, Laguna atingiu o maior valor de captura de tainha pela pesca artesanal em todo o litoral, registrando aproximadamente 1539,8 toneladas. A produção nos oito municípios apresentados para o Setor Sul (figura 56) foi bastante semelhante ao longo dos anos, mantendo- se abaixo de 100 toneladas por município até 2013, quando a produção tendeu a

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crescer. O município de Passo de Torres passa a se destacar em 2017 e em 2019 registra mais de 830 toneladas de tainha capturada, enquanto os demais municípios não ultrapassam 200 toneladas.

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Tabela 12 – Dados de captura anual de tainha (toneladas) da pesca artesanal no estado de Santa Catarina de 2003 a 2020. Os valores máximos de cada ano estão em destaque (Florianópolis e Laguna). SD= sem dados

Setor Município 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Garuva SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 0,30 3,08 4,28 3,42 0,18 Itapoá 8,54 6,80 7,55 7,49 22,51 5,85 6,83 4,59 5,95 6,44 1,58 6,07 4,14 0,07 15,48 3,95 20,01 0,00 Joinville SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 6,61 82,71 121,64 193,78 15,84 Norte São Fco. do Sul 52,23 19,53 20,60 17,48 52,80 11,69 38,49 5,28 23,29 6,13 6,84 26,89 50,46 62,85 85,11 223,93 198,02 6,64 Araquari 19,81 5,44 2,51 13,13 36,30 9,39 18,12 15,53 5,90 5,58 0,00 2,49 0,00 0,04 15,97 41,63 25,64 0,05 Bal. Barra do Sul 13,05 8,61 6,96 13,28 11,38 6,39 9,63 9,13 4,83 6,10 0,00 5,90 27,89 1,62 32,90 114,57 80,78 2,10 Barra Velha 11,69 7,77 8,06 35,67 25,88 2,07 12,95 3,66 8,22 11,08 0,00 3,87 0,00 0,01 4,77 26,48 11,66 0,64 Piçarras 4,64 5,80 6,00 4,88 9,19 2,61 8,44 3,59 2,69 0,00 0,00 4,20 1,21 0,17 3,20 34,88 11,06 0,01 Penha 6,45 0,00 0,00 3,84 21,40 6,00 0,00 0,00 4,32 2,61 0,00 21,42 1,78 0,00 25,33 59,70 26,85 0,00 Navegantes SD 0,00 0,00 0,00 8,48 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 44,28 45,07 18,87 86,50 0,00 Itajaí SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 4,25 11,12 21,91 17,43 0,00 Centro-Norte Bal. Camboriú 12,25 13,01 11,29 61,87 28,61 8,80 21,42 14,42 12,84 5,03 0,00 59,29 23,47 1,95 15,14 290,19 160,99 2,73 Itapema SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 1,18 9,29 22,06 84,82 0,00 Porto Belo SD 0,00 0,00 37,86 28,12 5,62 0,00 0,00 7,39 3,61 0,00 10,73 5,13 0,51 13,56 484,24 33,04 0,10 Bombinhas 50,54 15,11 12,69 85,17 79,94 26,61 27,01 27,02 14,88 15,20 0,00 59,45 42,16 1,06 91,06 360,72 76,77 0,00 Tijucas SD 0,00 0,00 0,00 7,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,11 2,08 4,44 4,78 0,04 Gov. Celso Ramos 17,35 10,34 7,82 20,71 28,57 33,46 30,23 5,66 10,71 4,11 11,13 24,24 88,12 0,00 123,36 115,80 67,13 0,19 Biguaçu SD 0,00 0,00 0,00 19,13 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 3,35 6,75 6,19 0,79 Central São José SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 8,24 8,54 18,55 4,94 0,52 Florianópolis 533,95 471,23 411,89 467,23 893,42 200,03 265,74 245,64 301,24 155,09 160,37 388,28 562,04 45,19 1628,27 1299,41 1289,92 35,56 Palhoça 44,85 19,04 15,53 55,61 77,09 29,21 77,33 62,66 19,59 30,16 16,75 32,27 37,06 4,40 216,75 277,75 203,90 6,05

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Setor Município 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 20112 2013 2014 2015 20116 2017 20118 2019 2020 Garopaba 54,47 36,80 38,44 73,98 124,36 35,83 123,99 98,90 44,00 55,31 26,39 46,97 60,79 9,46 262,82 288,25 128,44 9,59 Imbituba 35,89 46,19 18,19 39,11 96,75 5,31 89,96 32,91 30,82 21,45 48,16 24,95 53,69 144,94 499,36 491,02 586,06 13,38 Imaruí SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 61,01 175,83 187,74 195,88 7,37 Centro-Sul Pescaria Brava SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 21,14 24,27 72,44 91,47 1,41 Laguna 86,29 31,03 21,96 99,67 242,98 17,91 213,82 58,09 46,02 27,56 347,50 84,41 109,20 170,31 1200,82 1539,80 1458,73 161,83 Jaguaruna 16,44 7,12 7,12 16,76 61,79 20,73 54,44 20,46 11,13 10,73 144,76 50,12 51,84 151,57 338,06 858,50 559,51 41,29 Bal. Rincão 9,56 3,98 3,73 6,10 26,84 19,24 32,87 12,30 15,44 10,90 122,00 68,78 70,06 6,85 60,84 140,67 191,89 3,11 Araranguá 24,31 9,77 8,58 11,77 39,10 4,93 43,34 13,75 9,48 4,55 103,31 12,66 9,54 16,91 79,39 109,17 121,70 7,62 Bal. Arroio do Silva 12,30 6,07 7,65 12,90 47,67 10,64 38,77 14,69 6,74 6,44 0,00 17,94 23,12 8,45 84,69 69,70 114,67 4,73 Sombrio SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 3,12 20,84 38,90 62,36 26,56 Sul Bal. Gaivota 13,76 6,89 4,41 16,58 71,48 14,32 29,77 14,84 6,87 12,13 130,37 8,54 13,55 22,82 42,68 0,00 0,00 0,00 Santa Rosa do Sul SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 2,01 3,89 7,76 7,55 1,51 São João do Sul SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD SD 13,94 26,43 27,16 32,91 0,94 Passo de Torres 38,68 13,88 12,58 19,22 58,19 12,88 48,15 36,06 22,50 25,49 93,93 35,80 76,32 26,34 50,16 237,36 835,85 5,78 Praia Grande 7,74 11,37 2,73 3,74 23,09 3,86 16,79 2,89 2,96 0,00 0,00 6,17 0,00 SD SD SD 0,00 0,00 Total 1074,79 755,75 636,31 1124,04 2142,06 493,38 1208,09 702,07 617,80 425,70 1213,09 1001,44 1311,57 841,71 5306,20 7620,21 6994,64 356,53

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Figura 49 – Captura total (toneladas) de tainha pela pesca artesanal de Santa Catarina entre 2003 e 2020. Os dados de 2016 referem-se aos meses de agosto a dezembro e os dados de 2020 referem-se aos meses de janeiro a março.

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Figura 50 – Capturas anuais de tainha por todas as modalidades da pesca artesanal em municípios de Santa Catarina entre 2003 e 2020.

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Figura 51 – Contribuição das capturas anuais de tainha nos setores da Zona Costeira de Santa Catarina por todas as modalidades da pesca artesanal entre 2003 e 2020.

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Figura 52 – Capturas anuais de tainha pela pesca artesanal nos municípios do Setor Norte de Santa Catarina de 2003 a 2020.

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Figura 53 – Capturas anuais de tainha pela pesca artesanal nos municípios do Setor Centro-Norte de Santa Catarina de 2003 a 2020.

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Figura 54 – Capturas anuais de tainha pela pesca artesanal nos municípios do Setor Central de Santa Catarina de 2003 a 2020.

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Figura 55 – Capturas anuais de tainha pela pesca artesanal nos municípios do Setor Centro-Sul de Santa Catarina de 2003 a 2020.

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Figura 56 – Capturas anuais de tainha pela pesca artesanal nos municípios do Setor Sul de Santa Catarina de 2003 a 2020.

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Modalidades de pesca artesanal envolvidas na captura de tainha em Santa Catarina de 2016 a 2020 Os dados de captura de tainha pela pesca artesanal discriminados por modalidade de pesca estão disponíveis a partir de agosto de 2016. Analisando a contribuição de cada arte de pesca monitorada entre 2016 e 2020, é possível observar a contribuição do arrasto de praia para a produção total mensal de tainha nos setores analisados de Santa Catarina. A modalidade ‘redes de emalhe’ é a principal arte utilizada na captura de tainha no litoral catarinense e o arrasto de praia se concentra nos meses da safra, principalmente (abril a agosto). Algumas modalidades foram registradas em todos os setores do litoral, como arrasto de praia, múltiplos petrechos, redes de emalhe e tarrafa. O arrasto de praia no Setor Norte (figura 57) capturou tainha nos meses de maio a outubro e novembro nos meses registrados. Destacamos os meses de setembro e outubro de 2018, em que houve expressiva contribuição do arrasto de praia na captura total de tainha neste setor. Entretanto, as redes de emalhe são a arte predominante na captura dessa espécie nestes municípios. No setor Centro-Norte, o arrasto de praia é mais expressivo, com capturas predominantes em meses além de maio, junho, julho e agosto (figura 58). Neste setor, dentre as outras modalidades, também há a captura de tainha pela frota artesanal de emalhe anilhado, com as capturas bem marcadas no período da abertura da pesca pelo permissionamento. Há também um aumento na contribuição das capturas utilizando tarrafa. No setor Central, assim como nos municípios ao norte, o emalhe é a principal modalidade, o arrasto de praia ocorre na época da safra, assim como o emalhe anilhado bem marcado nos meses de maio e junho, principalmente. Há maior diversidade de modalidades neste Setor, incluindo, por exemplo, os cercos fixo e flutuante (figura 59). O arrasto de praia concentra-se nos meses da safra (maio, junho e julho, com algumas capturas isoladas registradas em setembro de 2017, outubro de 2018 e nos meses antecedentes à safra em 2019. O Setor Centro-Sul agrega também a contribuição da modalidade emalhe anilhado para as capturas nos meses da safra da tainha, juntamente com o arrasto

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de praia (figura 60). Por fim, o Setor Sul possui modalidades menos diversas, concentrando as capturas em redes de emalhe, tarrafa e arrasto de praia, principalmente (figura 61).

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Figura 57 – Composição das capturas mensais de tainha por modalidades da pesca artesanal no Setor Norte da Zona Costeira de Santa Catarina entre agosto de 2016 e março de 2020.

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Figura 58 – Composição das capturas mensais de tainha por modalidades da pesca artesanal no Setor Centro-Norte da Zona Costeira de Santa Catarina entre agosto de 2016 e março de 2020.

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Figura 59 – Composição das capturas mensais de tainha por modalidades da pesca artesanal no Setor Central da Zona Costeira de Santa Catarina entre agosto de 2016 e março de 2020.

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Figura 60 – Composição das capturas mensais de tainha por modalidades da pesca artesanal no Setor Centro-Sul da Zona Costeira de Santa Catarina entre agosto de 2016 e março de 2020.

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Figura 61 – Composição das capturas mensais de tainha por modalidades da pesca artesanal no Setor Sul da Zona Costeira de Santa Catarina entre agosto de 2016 e março de 2020.

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Produção pesqueira da modalidade de pesca de arrasto de praia no litoral de Santa Catarina de 2016 a 2020 As capturas da modalidade arrasto de praia foram analisadas nos setores da zona costeira de SC, a partir dos dados de agosto de 2016 a março de 2020. Estes dados abrangem os seguintes municípios: Itapoá e São Francisco do Sul no Setor Norte; Penha, Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Bombinhas no Setor Centro-Norte; Governador Celso Ramos, Florianópolis e Palhoça no Setor Central, Garopaba, Imbituba, Imaruí, Laguna e Jaguaruna no Setor Centro-Sul; e Balneário Rincão, Araranguá, Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota e Passos de Torres no Setor Sul. A produção aumenta expressivamente nos setores do centro para o sul do litoral do Estado e a tendência geral é de aumento nas capturas ano após ano (tabela 13). Nas localidades observadas, a produção desta pescaria concentra-se nos meses de inverno, com ocorrências menores de captura nos meses de verão e na primavera de 2019 no setor Norte (figura 62). Evidencia-se em todos os setores que a pesca de arrasto de praia ocorre durante grande parte do ano, com picos bem estabelecidos na safra da tainha, e a captura vêm aumentando, em especial nos municípios apresentados dos setores Central, Centro-Sul e Sul do litoral catarinense.

Tabela 13 – Dados de captura anual de tainha (toneladas) na modalidade arrasto de praia no estado de Santa Catarina de 2016 a 2020. *=dados de agosto a dezembro de 2016; **= dados de janeiro a março de 2020.

Setor Municípios 2016 2017 2018 2019 2020 Itapoá 0,00 1,08 2,54 1,75 0,00 Norte São Francisco do Sul 8,51 4,89 34,27 24,56 1,40 Subtotal Região Norte 8,51 5,97 36,81 26,31 1,40 Penha 0,00 0,00 5,80 1,25 0,00 Balneário Camboriú 1,95 10,45 33,85 71,11 0,00 Centro-Norte Itapema 0,00 2,45 5,39 1,37 0,00 Porto Belo 0,00 0,75 6,29 0,33 0,00 Bombinhas 0,00 40,05 65,98 48,93 0,00 Subtotal Região Centro-Norte 1,95 53,70 117,31 122,99 0,00 Governador Celso Ramos 0,00 3,66 25,42 28,55 0,00 Central Florianópolis 0,00 225,18 84,72 288,26 0,00 Palhoça 0,00 6,69 16,58 27,56 0,36 Subtotal Região Central 0,00 235,53 126,71 344,36 0,36

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Setor Municípios 2016 2017 2018 2019 2020 Garopaba 0,00 18,93 96,68 43,31 0,00 Imbituba 0,00 100,52 15,92 0,00 0,00 Centro-Sul Imaruí 0,00 0,00 0,00 104,69 0,00 Laguna 0,00 0,71 27,81 12,37 0,00 Jaguaruna 0,00 81,91 89,82 93,88 0,00 Subtotal Região Centro-Sul 0,00 202,06 230,22 254,25 0,00 Balneário Rincão 0,00 8,30 64,06 64,10 0,00 Araranguá 0,00 0,10 32,12 3,90 0,00 Sul Balneário Arroio do Silva 0,24 11,30 21,42 17,15 0,00 Balneário Gaivota 0,38 9,25 248,93 91,45 0,00 Passo de Torres 0,00 0,00 0,00 84,13 0,00 Subtotal Região Sul 0,62 28,95 366,52 260,73 0,00 Total 11,07 526,21 877,57 1008,64 1,75

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Figura 62 – Capturas mensais de tainha pela modalidade de pesca de arrasto de praia nos municípios dos Setores da Zona Costeira de Santa Catarina entre agosto de 2016 e março de 2020.

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Composição da produção pesqueira da modalidade de pesca de arrasto de praia em Santa Catarina de 2016 a 2020 Quanto à composição de espécies nas capturas realizadas pela frota de arrasto de praia, os dados evidenciam a importância desta pescaria para a captura da tainha, que responde por aproximadamente 63% das capturas levantadas pelo PMAP/UNIVALI entre 2016 e 2019 (figura 63). Consecutivamente, outras espécies como parati (13%), betara (7%), pescada (4%) também contribuíram nas capturas totais nos anos supracitados. Exceto no ano de 2016, nos demais anos (2017, 2018 e 2019) a tainha foi a espécie mais capturada pelo arrasto de praia (figura 64). As espécies capturadas na modalidade arrasto de praia foram analisadas mensalmente nos setores da zona costeira catarinense. Evidenciou-se na seção anterior que em todos os setores do litoral de Santa Catarina a pesca de arrasto de praia ocorre durante todo o ano e os dados específicos demonstram que capturam grande diversidade de peixes e crustáceos. A autorização de pesca (figura 65) emitida para a prática do arrasto de praia tem validade anual, permitindo a pesca da tainha (Mugil liza) e fauna acompanhante esperada, a qual é composta por 38 espécies, conforme descrito no próprio documento: anchova, sororoca, corvina, pescada, cações, peixe-espada, serrinha, prejereba, guaivira, pampo, paru, abrótea, cabrinha, linguado, maria-luiza, papa-terra, pescadas, pescadinha, raias, gordinho, bagres, robalo, vermelho, siri, sardinha-lage, savelha, galo, sardinha-cascuda, peixe- porco, sardinha-boca-torta, xaréu, palombeta, cavalinha, garapau, xixarro, manjuba, gordinho, periquito. Os municípios que compõem as capturas para cada um dos setores apresentados nesta seção correspondem aos apresentados na tabela 13. No Setor Norte, de agosto de 2016 a março de 2020, as cinco espécies com maior captura foram tainha, parati, espada, paru e corvina. No Setor Centro-Norte, as cinco espécies mais capturadas na pesca de arrasto nesse período foram tainha, pescada, parati, maria-luiza e espada. No Setor Central, tainha, parati, anchova, xerelete e sardinha-lage. No Setor Centro-Sul, os registros apontam para tainha, parati, pampo, betara e corvina e no Setor Sul, tainha, betara, corvina, espada e anchova.

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Quanto à composição ao longo do ano, no Setor Norte foram registrados 27 recursos pesqueiros capturados pelo arrasto de praia e observou-se diversidade nas capturas em praticamente todos os meses do ano. Verificou-se a predominância da captura da tainha nos meses da safra, porém o parati é recurso pescado em diversos meses do ano. No Setor Centro-Norte, a captura da tainha se distribui em outros meses além do outono e inverno e há importante ocorrência de captura de corvina nos meses que precedem a safra da tainha. Tainha e parati são os principais recursos capturados ao longo do ano no Setor Central e ocorre que não há registros de pesca de arrasto de praia em alguns meses do segundo semestre nos anos registrados. O Setor Centro-Sul registrou capturas de tainha em quase todos os meses do ano ao longo do período analisado e também ficou evidente a importância da modalidade para a captura de corvina, betara, parati, pampo. No Setor Sul, além da expressiva contribuição da pesca da tainha nos meses do início da safra (maio e junho), observamos a importância desta modalidade para captura de betara, pescada, corvina e outras espécies nos meses após a pesca da tainha. Observa-se nos dados que conforme avançamos do sul do litoral catarinense para o norte, o período de maiores capturas de tainha pelo arrasto de praia varia, iniciando em maio no Setor Sul e encerrando em meados de julho, enquanto no Setor Norte é mais expressiva em julho, com registros de captura de tainha até meados de setembro.

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Figura 63 – Composição das espécies capturadas registradas pela modalidade arrasto de praia em Santa Catarina entre 2016 e 2019.

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Figura 64 – Composição das capturas anuais pelas modalidades de arrasto de praia em Santa Catarina entre 2016 e 2019.

Figura 65 – Exemplo de uma autorização provisória de embarcação pesqueira.

163

Figura 66 – Composição das capturas mensais por espécies na modalidade arrasto de praia no Setor Norte de Santa Catarina de 2016 a 2019.

164

Figura 67 – Composição das capturas mensais por espécies na modalidade arrasto de praia no Setor Centro-Norte de Santa Catarina de 2016 a 2019.

165

Figura 68 – Composição das capturas mensais por espécies na modalidade arrasto de praia no Setor Central de Santa Catarina de 2016 a 2019.

166

Figura 69 – Composição das capturas mensais por espécies na modalidade arrasto de praia no Setor Centro-Sul de Santa Catarina de 2016 a 2019.

167

Figura 70 – Composição das capturas mensais por espécies na modalidade arrasto de praia no Setor Sul de Santa Catarina de 2016 a 2019.

168

Há pescadores que pescam apenas tainha, mas há também os que pescam outras espécies-alvo por meio da pesca de arrasto, tanto para alimentação, como para comercialização. Na coleta de dados primários, foram levantadas informações junto aos pescadores artesanais sobre os recursos pesqueiros capturados por meio da pesca de arrasto de praia, em cada município e ao longo do ano, com a respectiva descrição do petrecho (quando houve detalhamento do mesmo) (figura 69). Os dados obtidos foram organizados na tabela 13, em que é possível observar uma simplificação das capturas. Em São Francisco do Sul, por exemplo, os entrevistados relataram a captura das espécies corvina, pescadinha, peixe-galo, “tainhotão”, robalo, xerelete, paru, manezinho, miraguaia, gordinho e xaréu. Os dados secundários compilados registram a captura das seguintes espécies neste mesmo município: bagre, betara, borriquete, carapicu, caratinga, corvina, anchova, espada, galo, gordinho, guaivira, linguado, marimba, palombeta, pampo, parati, paru, pescada, pescada-branca, pescadinha-real, robalo, sororoca, tainha, xerelete, além de mistura e espécies não discriminadas. Ressalta-se que em Laguna foi informado que a pesca de arrasto de praia é exclusiva para tainha, informação corroborada pelos dados secundários levantados pela UNIVALI9.

Figura 71 – Exemplo de calendário de pesca construído durante as reuniões de grupo focal.

9 UNIVALI/EMCT/LEMA. Estatística Pesqueira de Santa Catarina. Consulta On-line. Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira do Estado de Santa Catarina. Laboratório de Estudos Marinhos Aplicados (LEMA), da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia (EMCT) da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). 2020. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2020.

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Os relatos dos pescadores durante as reuniões de grupo focal evidenciam a diversidade presente na pesca de arrasto de praia, a qual varia muito entre os municípios, tanto em relação às espécies quanto à rede utilizada ao longo dos meses do ano: “A rede de arrasto ela não vem só de uma espécie, vem de tudo quanto é espécie, vem de anchova, vem de sardinha, vem peixe galo, vem a pescada o canguá, vem a tusquinha, vem o papaterra, vem de vários tipos de peixes. A rede de arrasto, não é um peixe específico. A rede de arrasto por onde ela vem passando, ela traz peixe de tudo quanto é qualidade. E eu não pesco qualidade, eu pesco o que a rede traz, o que o arrasto traz. E a rede de arrasto ela não especifica o peixe quando a gente joga a rede e ela vem, ela traz tudo quanto é tipo de espécie.” (R.O.) Ressalta-se que para a pescaria de arrasto de outras espécies-alvo em outros períodos, utiliza-se a mesma embarcação (canoa à remo ou canoa motorizada), utilizando redes com tamanhos de malha diferente. “Nós temos outra rede que é para a pesca da anchova, que acabou a tainha e já tem a pesca da anchova. ... nós temos um arrastão que aí vem o olho de boi, vêm outras espécies que é utilizado. E quando o mar está manso a gente vai e dá um arrastão, é um peixinho para a comunidade comer, mais peixe miúdo, peixe de arrasto.” (P.A.I.)

Figura 72 – Anchova pescada por meio de arrasto de praia. Foto disponibilizada por: Marco Antonio Borges.

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Ressalta-se que os dados obtidos com o monitoramento realizado pelo Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira foram essenciais para evidenciar quais as espécies capturadas ao longo dos anos na pesca de arrasto de praia. Apesar de os pescadores possuírem espécies-alvo e, inclusive, alocar recursos e petrechos para diferentes safras, as capturas nesta modalidade são multiespecíficas muitas vezes. É importante considerar que a série de dados de captura específica para a modalidade de arrasto de praia ainda é curta (2016 a 2020), sendo indispensável que o monitoramento específico por modalidade seja contínuo, a fim de fazer análises mais consistentes.

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Tabela 14 – Recursos pesqueiros capturados ao longo do ano por meio da pesca de arrasto, com indicação de seus respectivos petrechos, de acordo com cada município. MÊS PEIXE Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez PETRECHO rede lisa malha 8 a

10 cm rede lisa malha 8 a

8,5 cm

Anchova tamanho da malha 8-9 cm e utilizam lancha para a pescaria

rede lisa tamanho da malha variando de 7 a

10 cm Rede de arrasto de fundo/rede de malha

Rede malha 8-9

Caranga tamanho da malha de 7 cm rede lisa malha 10 cm no centro

e 12 a 14 cm na manga rede lisa malha 10 a 14 cm

tamanho da malha de 7-8 cm tamanho da malha de 7-8 cm Corvina rede de malha 13 cm e utilizam lancha para a pescaria

rede lisa malha 10 cm

rede malha 8-9

Pampo

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MÊS PEIXE Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez PETRECHO

rede lisa malha 7 cm

rede lisa malha 7 cm

Papa terra rede lisa malha 7 cm

rede picaré, malha 6-7 cm

rede picaré, malha 5 cm; feiticeira malha 8 cm

tamanho da malha 5 cm

tamanho da malha variando de 5 a 7 cm Parati rede feiticeira malha 8 cm

rede feiticeira malha 8 cm

tamanho da malha 4 cm

tamanho da malha 7

Pescada cm

Pescadinha

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MÊS PEIXE Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez PETRECHO tamanho da malha de 7- 8 cm tamanho da malha de 7-8 cm

tamanho da malha de 7-8 cm tamanho da malha de 7-8 cm Peixe Galo tamanho da malha variando de 5 a 7 cm

Sororoca rede feiticeira

malha 8-9 cm Tainhota Praia do Sonho e Ponta do Papagaio

malha 6 cm Tainhotão rede-picaré, malha 7 cm Robalo, xerelete, paru, manezinho, miraguaia, gordinho, tamanho da malha de 7 a 8 cm tamanho da malha de 7 a 8 cm xaréu Coió, maria-luiza, boca-aberta tamanho da malha variando de 5 a 7 cm

Fauna acompanhante (não especificada)

Legenda: S. Fco Sul B. Camboriú Bombinhas Florianópolis Palhoça Garopaba

Litoral Sul (Bal. Arroio do Silva; Baln. Gaivota; Baln. Rincão) Imbituba Jaguaruna Porto Belo Governador Celso Ramos

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LEGISLAÇÃO PESQUEIRA E SEUS GARGALOS NA PESCA DE TAINHA NA MODALIDADE DE ARRASTO DE PRAIA

Foi realizada uma compilação da legislação brasileira atual que incide na pesca de tainha e aplicável à modalidade de arrasto de praia, de abrangência nacional, estadual e municipal. A fim de facilitar o entendimento do que está em vigor, as legislações revogadas não foram citadas (quadro 18).

Quadro 18 – Legislação aplicada à pesca de arrasto de praia de tainha no litoral de Santa Catarina, em ordem cronológica decrescente, com suas respectivas abrangências e considerações. Legislação Abrangência Ementa / Considerações Estabelece medidas mínimas para a proteção da saúde dos envolvidos diretamente na pesca do Portaria SES nº 283 de 30 Estadual arrasto de praia da tainha em todo o litoral de abril de 2020 catarinense durante o período de vigência das medidas de contenção e controle do COVID-19. Aprova o Glossário de Termos e Entendimentos e Portaria nº 151, de 29 de Nacional os Indicadores com foco nas temporadas da pesca maio de 2020 da tainha. Estabelece as cotas de captura, a criação da Autorização de Pesca Complementar Especial, o limite de embarcações a serem permissionadas, e as medidas de monitoramento associadas para a Instrução Normativa SAP temporada de pesca de tainha (Mugil liza) do ano nº 7, de 07 de abril de Sudeste/Sul de 2020 no Sudeste e Sul do Brasil.*pesca de 2020 cerco e emalhe anilhado. Art 2º § 2º A captura de tainha (Mugil liza) por outras modalidades de pesca não está sujeita aos limites de cota de captura de que trata o caput. Declara patrimônio cultural imaterial do município Lei nº 3.917, de 22 de Municipal- de Itapema a pesca artesanal para a captura da novembro de 2019 Itapema tainha (Mugil liza) Municipal – Declara patrimônio cultural imaterial do município Lei nº 4.327, de 18 de Balneário de Balneário Camboriú a pesca artesanal para a outubro de 2019 Camboriú captura da tainha (Mugil liza) Considera a Pesca Artesanal de Arrasto de Praia Lei Estadual nº 17.565, de Estadual como Patrimônio Histórico Cultural do Estado de 06 de agosto de 2018 Santa Catarina. Lei nº 4.668, de 17 de Municipal - Declara patrimônio histórico municipal, a pesca dezembro de 2018 Palhoça artesanal de arrastão de praia da tainha. Estabelece normas, critérios e padrões para o exercício da pesca em áreas determinadas para a captura de tainha (Mugil liza), no litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Portaria SEAP/MMA nº 24, Sudeste/Sul A pesca da tainha nas regiões Sudeste e Sul terá de 15 de maio de 2018 a seguinte temporada anual: I - para modalidade cerco/traineira, entre 1º de junho e 31 de julho; II - para modalidades de emalhe costeiro de 175

Legislação Abrangência Ementa / Considerações superfície que não utilize anilhas: a) até 10 AB, entre 15 de maio a 15 de outubro; b) acima de 10 AB, entre 15 de maio e 31 de julho; III - para modalidades de emalhe anilhado, entre 15 de maio e 31 de julho; IV - para modalidade desembarcada ou não motorizada entre 1º de maio e 31 de dezembro. Art. 3º - É proibido, nos seguintes períodos e áreas, a atividade de pesca conforme abaixo especificada: II - para os métodos e instrumentos de redes de trolha, cercos flutuantes, redes de emalhe, uso de faróis manuais, anzóis, fisgas e garatéias, no período de 1º de maio a 31 de dezembro, no litoral do estado de Santa Catarina, a menos de 300 m dos costões rochosos e a menos de uma milha náutica (1MN) da costa, nos locais onde ocorre a prática tradicional de arrastão de praia com canoas a remo; III - para a captura de isca viva, no período de 1º de maio a 31 de julho, no litoral do Estado de Santa Catarina, a menos de 300 m dos costões rochosos e a menos de uma milha náutica (1MN) da costa, nos locais onde ocorre a prática tradicional de arrastão de praia com canoas a remo. Proíbe a prática do surf em Florianópolis no período de primeiro de maio a dez de julho, Lei nº 10.020, de 25 de Municipal - período da pesca da tainha, estabelece os locais maio de 2016 Florianópolis permitidos e indica os sistemas de bandeiras nas demais praias. Proíbe a prática de esportes náuticos e limita a navegação de embarcações de lazer e industrial Decreto de Lei Municipal Municipal – de pesca de tainha, como forma de incentivo à nº 1320/2013 Bombinhas pesca artesanal local e autoriza contratação de servidores para fiscalização. Declara a pesca artesanal da tainha integrante do Lei nº 15.922, de 06 de Estadual Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado dezembro de 2012 de Santa Catarina. Institui o Grupo Técnico de Trabalho - GTT Tainha, com a finalidade de debater e elaborar Portaria Interministerial proposta de Plano de Gestão para o uso MPA MMA n° 01, de 28 de Sudeste /Sul sustentável de tainha e coordenar a execução de junho de 2012 estudos biológico-pesqueiros para subsidiar a gestão do uso sustentável do recurso tainha na região sudeste e sul. Dispõe critérios e padrões para o ordenamento da pesca praticada com o emprego de redes de emalhe, a qual define que o emprego destas Portaria Interministerial redes, com embarcações motorizadas, só pode Nacional MPA/MMA n° 12, de 2012 ocorrer após uma milha náutica da linha de costa, fato que inviabiliza a atividade dos pescadores de arrasto de praia do litoral sul de Santa Catarina. Como não existe uma legislação direcionada à 176

Legislação Abrangência Ementa / Considerações pesca de arrasto de praia, há carência na definição dos critérios desta arte de pesca, como dimensões dos petrechos, utilização de embarcações motorizadas ou a remo, pesca itinerante, dentre outras definições. Declara “a Pesca da Tainha integrante do Lei Municipal nº 1285, de Municipal – patrimônio histórico, artístico e cultural do 04 de julho de 2012 Bombinhas município de Bombinhas”. Artigo 1º: “Aprovar as normas gerais e a organização do sistema de permissionamento de Instrução Normativa embarcações de pesca para acesso e uso Nacional MPA/MMA n° 10/2011 sustentável dos recursos pesqueiros, com definição das modalidades de pesca, espécies a capturar e áreas de operação permitidas”. Proíbe, anualmente, no período de 1º de maio a 30 de julho, no litoral do estado de Santa Catarina, a menos de 800 metros das praias licenciadas para a prática de arrastão de praia usando canoa a remo, e a menos de 300 m dos costões rochosos, o exercício da pesca com o emprego Instrução Normativa dos aparelhos e/ou modalidades: redes de cerco; IBAMA, n° 13, de 14 de Sudeste/Sul captura de isca viva; redes de caça e malha; redes maio de 2009 de trolha; redes de emalhar fixas; cercos flutuantes; fisgas; garatéias; farol manual; pesca de espada. A pesca da tainha com arrastão de praia, somente poderá ser autorizada para o pescador artesanal, devidamente legalizado, que comprove residência fixa no município onde atua. Estabelece o tamanho mínimo de captura de Instrução Normativa MMA espécies marinhas e estuarinas do litoral sudeste nº 53, de 22 de novembro Nacional e sul do Brasil (Mugil liza ficou estabelecido 35 de 2005 cm). Proíbe a colocação de redes de implementos de pesca em área específica. Fica proibido a colocação de redes de pesca na área litorânea Municipal – Lei nº 413, de 01 de que compreende toda a extensão da Praia Nova Balneário agosto de 2005 Torres e Praia Valverde até a divisa do Município Gaivota com o Município de Passo de Torres, área esta destinada para a prática de pesca de casseio e arrastão. Estabelece critérios para a regulamentação dos Instrução Normativa Acordos de Pesca e o reconhecimento como um IBAMA nº 29, de 31 de Nacional instrumento complementar de ordenamento dezembro de 2002 pesqueiro. Proíbe, no litoral Santa Catarina, a utilização de redes de emalhar fixas, com fixação através de âncoras, sacos de pedras e poitas. Portaria IBAMA nº 54-N, Estadual de 09 de junho de 1999 Permite, no litoral sul de Santa Catarina, entre os municípios de Laguna e Passo de Torres, o uso dos seguintes petrechos de pesca: a) redes de emalhar fixas (redes de calão), com no máximo 50m (cinquenta metros) de comprimento, 177

Legislação Abrangência Ementa / Considerações utilizando-se para a fixação calões móveis, e malha mínima de 70 mm (setenta milímetros); b) redes de emalhar derivantes (rede japonesa ou de pandorga), com no máximo 100m (cem metros) de comprimento e malha mínima de 70 mm (setenta milímetros) c) redes de arrasto de praia (tração manual), com no máximo 1.200m (hum mil e duzentos metros) de comprimento, e malha mínima de 70mm (setenta milímetros). Proíbe o uso de jet-ski e lancha no período de 1º Decreto nº 2976, de 29 de de maio a 30 de junho. maio de 1998 Municipal - Balneário Camboriú Proíbe a armação de redes feiticeiras e de emalhe no mesmo período. Fica permitido a pesca de arrastão de praia por pescadores artesanais. Proíbe a prática de esportes náuticos e limita a Lei nº 362, de 27 de junho Municipal - navegação de embarcações de lazer e industrial de 1997 Bombinhas de pesca de pesca de tainha, como forma de incentivo a pesca artesanal local. Proíbe o exercício da pesca com o emprego de Portaria IBAMA nº 112, de arrastão de praia de malhas inferiores a 70 mm Estadual 19 de outubro de 1992 (setenta milímetros), nas águas costeiras do Estado de Santa Catarina.

Ao analisar a legislação aplicada à pesca de arrasto de praia de tainha, o primeiro gargalo existente é que esta modalidade de pesca não é reconhecida pela Instrução Normativa MPA/MMA n° 10/2011, a qual no seu Artigo 1º traz o objetivo de:

“Aprovar as normas gerais e a organização do sistema de permissionamento de embarcações de pesca para acesso e uso sustentável dos recursos pesqueiros, com definição das modalidades de pesca, espécies a capturar e áreas de operação permitidas”

Portanto, o arrasto de praia não está enquadrado dentro das modalidades de pesca permissionadas, fator que prejudica os pescadores e o ordenamento pesqueiro desta atividade. Cabe ainda destacar, que é um pleito legítimo dos pescadores artesanais desta categoria, que essa Instrução Normativa seja revista a fim de reconhecer o arrasto de praia como uma modalidade de pesca legal.

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O impasse ainda se agrava pois, muitos pescadores de arrasto de praia ao renovarem suas licenças, obtiveram o permissionamento para realizar a pesca de emalhe costeiro. No entanto, essa modalidade de pesca não é adequada para a atividade que eles exercem, tampouco seus petrechos são adaptados a esse tipo de pescaria. Ainda destaca-se a Instrução Normativa Interministerial nº 12/2012, que dispõe critérios e padrões para o ordenamento da pesca praticada com o emprego de redes de emalhe, a qual define que o emprego destas redes, com embarcações motorizadas, só pode ocorrer após uma milha náutica da linha de costa, fato que inviabiliza a atividade dos pescadores de arrasto de praia do litoral sul de Santa Catarina. Como não existe uma legislação direcionada à pesca de arrasto de praia, há carência na definição dos critérios desta arte de pesca, como dimensões dos petrechos, utilização de embarcações motorizadas ou a remo, pesca itinerante, dentre outras definições. Apenas a Portaria IBAMA nº 112/1992 define o tamanho mínimo da malha permitido (70 mm entre nós opostos), que de acordo com os pescadores entrevistados, contribui com a conservação da tainha, pois os indivíduos juvenis, menores, conseguem passar pela malha. As especificidades locais devem ser levadas em consideração ao realizar essa análise, pois, como demonstrado no presente trabalho, a fisiografia local interfere no uso de embarcações (a motor ou a remo), assim como no tipo de rede utilizada (rede lisa e rede feiticeira, que variam na altura, comprimento e material). Ainda com relação ao uso do espaço, há embates entre os pescadores de arrasto de praia para definirem a prioridade de lance na praia. Uma solução legal adotada pelos pescadores, por exemplo, do município de Florianópolis, foi estabelecer Acordo de Pesca para definir as regras sobre o lance e o dia de pesca de cada embarcação. Desde 2002, o IBAMA reconhece este instrumento como complementar ao ordenamento pesqueiro. Outros conflitos de uso de espaço incidem sobre pescadores artesanais de diferentes modalidades de pesca. A Instrução Normativa nº 13/2009, proíbe, no período de 1º de maio a 30 de julho, no litoral do estado de Santa Catarina, a menos de 800 metros das praias licenciadas para a prática de arrastão de praia

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usando canoa a remo, e a menos de 300 m dos costões rochosos, o exercício da pesca com o emprego dos aparelhos e/ou modalidades, apresentado a seguir: a) redes de cerco; b) captura de isca viva; c) redes de caça e malha; d) redes de trolha; e) redes de emalhar fixas; f) cercos flutuantes; g) fisgas; h) garatéias; i) farol manual; j) pesca de espada; e, k) tarrafas. E ainda destaca que a prática que a pesca de arrastão de praia somente poderá ser autorizada para o pescador artesanal, devidamente legalizado, que comprove residência fixa no município onde atua. Embora essa normativa exista, conflitos ainda ocorrem, devendo aumentar a fiscalização. No litoral catarinense, há também a Portaria IBAMA nº 54/1999 que proíbe a utilização de redes fixas, com exceção dos municípios de Laguna a Passo Torres, justamente onde ocorre a pesca de tainha itinerante (municípios: Imbituba, Laguna, Jaguaruna, Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota e Balneário Rincão), potencializando o conflito entre essas modalidade, já que os pescadores de arrasto de praia ficam inviabilizados de realizar o lance nos locais com redes fixas. Ao longo do levantamento de dados primários do presente trabalho, pescadores relataram a eficiência da Portaria SEAP/MMA nº 24/2018 que, dentre outras determinações, define a temporada de pesca da tainha, permitindo que a pesca de arrasto de praia inicie 1º de maio, antes da abertura da pesca de cerco e de emalhe anilhado, o que possibilita que os pescadores obtenham um resultado mais produtivo no início da safra. Os pescadores de arrasto de praia também apontaram que a IN nº 7/2020 contribuiu com a pesca artesanal a partir do momento que estabeleceu cotas de captura e o limite de embarcações a serem permissionadas nas modalidades cerco e emalhe anilhado, conforme elucida o trecho abaixo: “Nós estamos muito contentes com essa nova lei que a pesca artesanal começa mais cedo, a de beira de praia, que nem aqui em Santa Catarina que começa mais cedo, começa dia primeiro de maio, depois vem a outra pesca que é artesanal também que é a de malhar, que são as embarcações de pesca de bote e de pequeno porte, de baleeira que é em alto mar também, mas é para dia 15 de

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maio. E os barcos industriais a partir do dia 1º de junho, isso começou agora há pouco tempo, mas é por aí, já está ajudando a pesca da tainha porque é uma coisa que tudo tem fim e agora também tem cota, e nós estamos apostando nisso, nessa nova lei que surgiu da pesca da tainha, estamos apostando.” (A.J.M.F.) A importância cultural da pesca de arrasto de praia é amplamente reconhecida no litoral de Santa Catarina, sendo que desde 2012 esta modalidade de pesca integra o Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do estado de Santa Catarina. Há ainda municípios como Balneário Camboriú, Itapema e Palhoça que possuem lei municipais declarando a pesca da tainha como patrimônio imaterial dos municípios. A relevância da pesca do arrasto de praia de tainha também é reconhecida por alguns municípios como Bombinhas, Balneário Camboriú, Florianópolis e Balneário Gaivota, ao determinar critérios para o uso do espaço onde é realizada a pesca, como proibir a prática do surfe, a utilização de redes de pesca de outras modalidades e a circulação de determinadas embarcações. Mesmo existindo essas normativas, há conflitos entre as partes, por não haver o cumprimento da lei, necessitando ampliar a fiscalização nas localidades. Com relação à gestão pública do setor pesqueiro no litoral catarinense, ao longo da coleta de dados primários, foi relatado que mudanças administrativas na Superintendência Estadual da SAP/MAPA promoveram mais agilidade na emissão de documentos e licenças, que estavam paradas há anos. Foi comentado que a nova gerência da SAP no Estado de SC em 2019, incorporou uma pessoa que vem da pesca, que tem conhecimento de causa e que conhece as reais necessidades do pescador. Percebe-se que há acertos na legislação incidente na pesca de arrasto de praia, necessitando um aumento da fiscalização para o seu maior cumprimento, por outro lado muitas lacunas precisam ser solucionadas e revistas pelos gestores para garantir um efetivo ordenamento pesqueiro desta atividade. Adiciona-se ainda a importância de manter um monitoramento pesqueiro específico para esta modalidade, para que se possa avaliar o estoque e verificar se há necessidade de

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estender o limite de cotas para o arrasto de praia, a fim de garantir a sustentabilidade deste recurso pesqueiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA O ORDENAMENTO E GESTÃO DA PESCA DE ARRASTO DE PRAIA

As principais considerações diagnosticadas no presente trabalho foram consolidadas e agrupadas em grandes tópicos de forma a facilitar a identificação de recomendações importantes para o ordenamento e gestão da pesca de arrasto de praia no litoral de Santa Catarina.

Aspectos sociais, culturais e econômicos Considerando-se:  Que a pesca de arrasto de praia é tradicional e envolve conhecimentos que são repassados de geração;  Que a renda de muitas famílias advêm dessa pescaria, dado o incremento econômico proporcionado na safra;  Que há satisfação dos pescadores artesanais em realizar a sua profissão na modalidade de arrasto de praia;  A mudança na rotina de pesca no período da tainha, inclusive realçando a coletividade na comunidade;  Que há papeis definidos na pesca do arrasto de praia, como vigia/olheiro, remeiros, chumbereiros, camaradas, e que muitos jovens não estão interessados em dar continuidade à atividade, prejudicando a transmissão do conhecimento tradicional dessa pescaria;  A detenção de saberes tradicionais dos pescadores com relação à tainha e sua pescaria;  A importância regional desta modalidade de pesca que é amplamente reconhecida pelo estado de Santa Catarina, que declara a pesca da tainha como patrimônio histórico, artístico e cultural, e ainda leis municipais que reconhecem a pesca da tainha como patrimônio imaterial. 182

Recomenda-se que esforços sejam concentrados para resgatar e valorizar os aspectos sociais e culturais da pesca de arrasto de praia. Uma das formas de promover a valorização é por meio de eventos municipais como a tradicional “Festa da Tainha”, que além de difundir a cultura também contribui nos aspectos turístico e econômico das localidades. Para a manutenção dos jovens na atividade de pesca de arrasto de praia é preciso dar incentivo. A capacitação por meio de cursos técnicos ou a troca de conhecimento entre as comunidades, por exemplo, ensinando os mais jovens no papel de vigia e remeiros pode ser um motivador. Inclusive no Campeche, em Florianópolis, há uma escola de remo que desde 2015, realiza treinamento com técnico de segurança, fornece certificado e pode ir para outros locais realizar o curso. Os pescadores pesquisados informaram que essa ação resolveu a falta de remeiros na região. Que sejam integrados os esforços para a formação, renovação e capacitação ambiental e tecnológica das novas gerações de pescadores artesanais, preservando os saberes comunitários compartilhados e agregando novos aportes que possam contribuir com a eficácia das pescarias, e a conservação e renovação dos estoques; Entendemos que, para garantir eficácia e legitimidade, é necessário que todos os sujeitos e todos os aspectos socioeconômicos e culturais desta modalidade de pesca artesanal sejam levados em consideração ao debater o ordenamento pesqueiro, incluindo prioritariamente nesse processo os protagonistas - os pescadores artesanais -, na proposição e discussão de possíveis normativas de pesca para o arrasto de praia, de forma que estas venham a ser aceitas, acatadas e cumpridas, voluntariamente pela categoria. Com essa conduta, espera-se a mitigação dos conflitos existentes e/ou potenciais, o envolvimento e cumprimento das normativas, a busca efetiva pela sustentabilidade do recurso pesqueiro em discussão, e a manutenção cultural e econômico da atividade tradicional.

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Aspectos da bioecologia da tainha Considerando-se:  A ampla distribuição biogeográfica da tainha, ainda que com populações disjuntas, na região costeira do Oceano Atlântico Sul Ocidental, desde a Venezuela até o Rio da Prata (Uruguai/Argentina);  O seu caráter de espécie estuarino-dependente, pelo qual passa grande parte do seu desenvolvimento, desde as fases de pós-larvas e juvenis, alimentando-se e ganhando peso até o estágio reprodutivo e pré-desova, no interior de áreas rasas, calmas e protegidas, no interior de diversos ecossistemas estuarino-lagunares, ao longo de sua área de distribuição biogeográfica;  Que quando chegado o seu período reprodutivo, coincidente com a transição entre o outono e o inverno no sul do Brasil, a espécie tende a concentrar-se junto às desembocaduras dos referidos sistemas estuarino- lagunares regionais, adensando suas populações;  Que estas populações, uma vez concentradas em imensos cardumes reprodutivos, no ápice do seu desenvolvimento gonadal, deixam tais sistemas estuarino-lagunares, desencadeando um processo migratório ao longo da costa sul-sudeste do Brasil, desde o seu extremo sul, na fronteira com o Uruguai (incorporando levas sucessivas das populações da espécie, oriundas da bacia hidrográfica do Rio da Prata, do Estuário do Sistema Lagunar Patos-Mirim, do rosário de lagoas costeiras situadas entre o litoral norte do Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina), beneficiando-se da simultaneidade da prevalência – no período – da Corrente das Malvinas, rumo norte;  Que, apesar do grande volume de informações registradas pelos diversos grupos de pesquisadores(as), de muitas instituições nacionais, sobre a bio- ecologia desta espécie, especialmente sobre a importância ecológica e como nicho pré-desova para várias destas populações, relativas ao Estuário do Sistema Lagunar Patos-Mirim, ainda persistem algumas

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incertezas na definição de uma (ou mais áreas) perfeitamente delimitada(s) para a efetiva reprodução da tainha, em pleno Oceano Atlântico;  Que, em face de tais incertezas, o conjunto de informações coligidas por estes diversos grupos de pesquisadores(as) possibilita a inferência de que a localização de uma (ou mais áreas) para a efetiva reprodução da tainha, esteja(m) situada(s) entre o litoral norte de Santa Catarina e o Sul do Paraná, localização esta que beneficiaria a espécie com águas de temperaturas bem mais amenas, e com significativo incremento da disponibilidade de habitas protegidos, ampliando a probabilidade de sobrevivência das pós-larvas e juvenis;  Que é reconhecida a existência de longo processo migratório inverso, do contingente de juvenis sobreviventes, os quais deslocam-se de norte para o sul, adentrando nos sistemas estuarino-lagunares ao longo da costa, conjuntamente com a intrusão de massas d’águas marinhas, de maior salinidade, onde se desenvolvem e reiniciam o ciclo da espécie, o qual somente se completa após um período estimado entre cinco e seis anos;  Que a tainha desempenha um papel vital em diversas tramas tróficas, tanto nas áreas estuarino-lagunares, como no fluídico ecossistema costeiro- marinho, representada pelas suas correntes migratórias (dos adultos, para reprodução, e dos juvenis, para crescimento), constituindo um componente alimentar de grande diversidade de predadores, desde outras espécies da ictiofauna, até aves e mamíferos marinhos;  Que grande parte dos referidos sistemas estuarino-lagunares, utilizados pela tainha nas regiões Sul e Sudeste do Brasil apresentam níveis diferenciados, mas em vários casos, preocupantes, de degradação ambiental, causados pela sobreposição de impactos socioambientais determinados pela ocupação humana desordenada, expansão das manchas urbanas, despejo de efluentes químicos tóxicos e orgânicos com possibilidade de contaminação, derivados dos assentamentos habitacionais, atividades agrosilvopastoris, complexos industriais e portuários.

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Recomenda-se a meritória e necessária iniciativa de se estabelecer o processo de gestão da atividade pesqueira direcionada à tainha deva dialogar, interagir e atuar, sinérgica e sincronicamente, com as instituições e os esforços para efetivar o processo transescalar (Federal/Estadual/Municipal) de gestão e conservação dos ecossistemas costeiros, focalizando-se as características, potenciais e fragilidades ecossistêmicas, especialmente os referidos sistemas estuarino-lagunares, imprescindíveis, por sua capacidade de suporte (quando saudáveis ecologicamente), à alimentação, crescimento e preparação para a reprodução da espécie-alvo.

Aspectos da atividade pesqueira Considerando-se:  A sazonalidade da pesca de tainha na modalidade de arrasto de praia, que ocorre, principalmente, de maio a julho;  A permanência e vitalidade do exercício da pesca artesanal, na modalidade de arrasto de praia, no amplo conjunto de municípios do litoral de Santa Catarina, distribuídos ao longo de suas 05 regiões Norte (São Francisco do Sul), Centro-Norte (Balneário Camboriú, Porto Belo, Bombinhas), Central (Governador Celso Ramos, Florianópolis, Palhoça), Centro-Sul (Garopaba, Imbituba, Laguna, Jaguaruna) e Sul (Balneário Rincão, Arroio do Silva, Balneário Gaivota), destacando-se a expressiva importância econômica e cultural destas atividades para todas estas localidades;  O expressivo predomínio da utilização de embarcações a remo e a tração manual das redes nas praias, na pesca artesanal de arrasto de praia no litoral do Estado de Santa Catarina (especialmente nos setores Norte, Centro-Norte, Central e Centro-Sul do litoral), por opção e estratégia de reprodução cultural das diferentes comunidades de pescadores artesanais;  A pequena ocorrência, localizada no setor Sul do litoral e em poucos pontos do Centro-sul, da utilização de embarcações motorizadas, na pesca artesanal de arrasto de praia no litoral do Estado de Santa Catarina, por

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necessidade de garantir a segurança e salvaguarda da vida humana, nas praias mais abertas e expostas aos ventos, correntes e ondulação;  Que alguns pescadores do litoral sul e centro-sul que utilizam canoa a motor, realizam a atividade por meio de liminar judicial;  A maior parte das embarcações são do tipo canoa com comprimento variando de 4 a 11,5 metros e arqueação bruta não ultrapassando 5,2;  Que há 245 embarcações permissionadas para a prática do arrasto de praia, além de embarcações do sul (propulsão a motor) e centro-sul (propulsão a motor) que pescam por meio de liminar judicial;  A grande heterogeneidade espacial, a tipologia e a orientação geográfica das praias ao longo do litoral do Estado de Santa Catarina, bem como a importância e especificidade do nível de impacto regional/local dos respectivos condicionantes geomorfológicos e meteorológico/ oceanográficos na conformação, amplitude e intensidade das ondas, correntes de deriva e/ou de retorno, que incidem sobre a linha de costa (de modo diferenciado por tais contextos regionais/locais);  Que os petrechos utilizados na captura de tainha na modalidade de arrasto de praia variam de acordo com a fisiografia do ambiente costeiro, sendo aquelas praias com a presença de um fundo irregular, mar mais agitado, necessitam utilizar redes adaptadas para evitar a fuga do peixe (utilizando a rede feiticeira) e nas praias de mar calmo utilizam a rede lisa;  A utilização de novas tecnologias como rádios, celulares e drones incorporadas na pesca de arrasto de praia com o objetivo de garantir a segurança na prática da atividade, ou melhorar o rendimento de captura, uma vez que precisam competir o recurso pesqueiro com outras modalidades de pesca que lançam mão da tecnologia e outras adaptações operacionais.

Recomenda-se que a pesca de arrasto de praia seja inserida no hol das modalidades de pesca da IN nº 10/2011, de forma a regularizar a atividade e atualizar a licença de pesca emitida aos pescadores artesanais.

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É preciso rever a falta de permissionamento para as embarcações motorizadas na região Sul e em algumas localidades da região Centro-Sul, de forma a prezar pela segurança do trabalho dos envolvidos na atividade. A utilização de motor não descaracteriza a tradicionalidade, uma vez que a rede é toda tracionada manualmente. Dessa forma, deve ser estabelecida a garantia de uso das embarcações com propulsão a motor, e o uso de caminhões na pesca itinerante, para aquelas comunidades situadas e/ou atuantes entre as regiões Centro-Sul e Sul de Santa Catarina (assim como no Rio Grande do Sul, por similaridade de condições geomorfológicas e oceanográficas). Ao longo do estudo, pode-se perceber que a diferença dos petrechos empregados na pesca de arrasto de praia se modificam conforme a localidade e, principalmente, decorrente da fisiografia do ambiente, onde praias com “buracos” precisam de redes adaptadas para evitar a fuga do peixe, dessa forma, tal questão deve ser levada em conta também. Com relação às novas tecnologia empregadas na pesca artesanal de arrasto de praia, é preciso um olhar crítico, no sentido dos órgãos reguladores admitirem, como parte de um processo inerente, de contínua recriação da cultura das comunidades pesqueiras, afinal estas estão imersas e envoltas pela sociedade industrial/informacional (especialmente considerando-se o grande aparato tecnológico e esforço de pesca decorrente, da frota industrial, com a qual a pesca artesanal precisa competir, em desigualdade de condições), e não é razoável esperar/exigir que as mesmas mantenham-se completamente estáticas ao longo das transformações incidentes sobre todas as coletividades no transcurso do tempo.

Aspectos do estoque e produção pesqueiros Considerando-se:  O Relatório Técnico de Avaliação do Estoque da Tainha (Mugil liza) realizado no Sudeste e Sul do Brasil (UNIVALI, 2020), que aponta que o estoque de tainha vem sofrendo sobrepesca;

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 O controle de cotas estabelecido para as modalidades de cerco e emalhe anilhado (IN nº 7/2020), e que outras modalidades, como o arrasto de praia, não estão sujeitas ao limite de cotas.  A tainha é um recurso comum entre diferentes modalidades de pesca (artesanal e industrial) as quais incidem sobre esta espécie no seu período de migração reprodutiva;  A produção pesqueira artesanal de tainha aparentemente mantinha-se estável e a partir de 2016 o monitoramento pesqueiro passou a registrar um volume expressivo antes subnotificado;  A pesca de arrasto de praia é realizada durante todo o ano para diversas espécies e volta-se à captura da tainha no período da safra, com leves variações de norte a sul do litoral catarinense;  Foram registradas ao menos cinco espécies principais capturadas pelo arrasto de praia além da tainha, sendo essas parati, betara, corvina, pescada e pampo, correspondendo a aproximadamente 30% da produção desta modalidade no período registrado.

Recomenda-se a manutenção de um sistema de monitoramento pesqueiro contínuo nos municípios do litoral catarinense, avaliando dados por modalidade de pesca, nos diversos segmentos, possibilitando a construção de bancos de dados que possam subsidiar a avaliação do estoque pesqueiro e esforço adequado. Esta obtenção de dados poderá verificar a necessidade de estender o regime de cotas para outras modalidades, bem como rever as cotas estabelecidas, garantindo a sustentabilidade deste recurso pesqueiro. O monitoramento também poderá evidenciar através dos dados coletados as tendências da pesca de arrasto de praia em relação às espécies capturadas, que variam ao longo da costa de Santa Catarina. A gestão participativa é uma estratégia eficiente na busca pela conservação dos recursos naturais, dessa forma, recomenda-se esforços para que seja implementado um monitoramento participativo, com a participação dos pescadores, a fim de obter os dados de

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produção das localidades, bem como envolver os atores diretamente na gestão compartilhada desse recurso pesqueiro.

Aspectos de conflitos Considerando-se:  Que há conflitos de uso de espaço entre pescadores artesanais de diferentes modalidades, como a utilização de rede de emalhe fixa com calão;  Que há conflitos entre pescadores e praticantes de esportes náuticos por utilizarem o mesmo espaço para as suas atividades;  Que há conflitos de uso de espaço entre pescadores de arrasto de praia devido à falta de demarcação das áreas, sobreposição dos pontos de pesca e embarcações sem permissionamento;  Que há 60 embarcações com pendência em relação à delimitação geográfica da área de pesca;  Que há Acordos de Pesca estabelecidos na comunidades e bem- sucedidos;  Que há disputa pelo recurso pesqueiro por diferentes modalidades de pesca, e que a pesca de cerco e de emalhe anilhado precisam obedecer normas como período de pesca, área de pesca e quantidade pescada.

Recomenda-se a intensificação de atuação dos agentes de fiscalização e agentes públicos no período da pesca de arrasto de praia de tainha, para orientar tanto pescadores artesanais de outras modalidades como praticantes de esportes náuticos, de forma a garantir o cumprimento das leis já existentes. Que sejam integrados os esforços para a capacitação, sensibilização e aperfeiçoamento dos agentes públicos encarregados da fiscalização ambiental e pesqueira, de modo a prover a atuação idônea, eficaz, justa e adequado dos mesmos, assim aproximando a gestão pública dos anseios e direitos das comunidades pesqueiras.

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É importante que seja revisada a identificação georreferenciada dos pontos de pesca de arrasto de praia, a fim de atualizar os pontos e acrescentar aqueles locais que carecem dessa apuração e evitar e/ou corrigir as sobreposições ou equívocos na definição dos pontos de pesca. Para a mitigação de conflitos internos é recomendável que seja trabalhado junto aos pescadores a organização social, abrir espaços para fomentar o diálogo entre os diferentes atores, como a instalação de Fóruns locais, pode ser outra estratégia, que somadas, contribuem para o fortalecimento comunitário. Ao discutir o ordenamento pesqueiro, é indispensável que os sistemas de gestão comunitária que já acontecem em algumas comunidades, como acordos de pesca formais e informais, sejam levados em consideração e incorporados na gestão dessa pescaria.

Aspectos da legislação aplicada à pesca de arrasto de praia Considerando-se:  Que a modalidade de arrasto de praia não está enquadrada na atual legislação (IN nº 10/2011) que determina as normas gerais e a organização do sistema de permissionamento de embarcações de pesca, com definição das modalidades de pesca;  Que pescadores de arrasto de praia recebem a licença para pesca de emalhe costeiro, o que não é adequando para a modalidade de pesca praticada, inclusive inviabilizando a utilização de embarcações a motor no litoral sul, pois de acordo com a IN nº 12/2012 a operação das embarcações motorizadas só podem ocorrer após uma milha da costa;  A IN nº 13/2009 que limita a autorização da pesca de arrasto de praia apenas a pescadores residentes na localidade.

Recomenda-se que a revisão da IN nº 10/2011 para que a modalidade de arrasto de praia seja incluída na normativa. Estabelecer um conjunto de medidas, critérios, procedimentos e padrões para a prática do arrasto de praia, definindo-se características dos petrechos,

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embarcações e áreas de pesca e outras características inerentes à tal modalidade, diferenciando-a de outros processos pesqueiros já regulados pela legislação. É necessário envolver os pescadores artesanais (foco nesse processo de definições) e que as especificidades, amplamente discutidas neste trabalho, sejam cuidadosamente analisadas conforme cada localidade. A criação de um espaço de discussão permanente para tratar da pesca de arrasto de praia da tainha, envolvendo pescadores artesanais, pesquisadores e gestores públicos, a afim de promover a gestão compartilhada do recurso. A legislação pesqueira desempenha um papel decisivo no ordenamento da atividade, porém a definição das suas normas e regramentos, para ganhar aderência e legitimidade social, precisa considerar as variações geográficas, ecológicas e culturais que moldaram/moldam o exercício da atividade, e que podem vir a ser ajustadas, de modo flexível e adaptativo, construindo-se um sistema no qual os atores chaves percebam-se incluídos, e sintam-se co- partícipes, de forma coerente e responsável, na gestão deste patrimônio natural compartilhado.

DEMANDAS, SUGESTÕES E APONTAMENTOS EM RELAÇÃO À LEGISLAÇÃO PESQUEIRA

Em relação à legislação hoje existente, foi perguntado aos participantes se a mesma é eficiente para a preservação da tainha, para manter a atividade e a renda do pescador artesanal. Como resposta, foi obtido que a legislação em determinado sentido é boa, mas falta a garantia de sua aplicação, por meio de fiscalização adequada. Por outro lado, foi explicitado que a atual legislação, a IN MPA/MMA nº 10, não contempla a categoria do arrasto de praia, causando uma série de implicações. Dessa forma, cada município indicou suas demandas e fez sugestões como apresentado a seguir:

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Quadro 19 – Demandas e reivindicações de São Francisco do Sul. REGIÃO NORTE – SÃO FRANCISCO DO SUL Ter permissão para uso de mais de uma canoa por ponto (porque às vezes tem de cercar por trás), desde que seja registrada. Aparecer no registro quantas canoas pode usar. Deixar a data da pesca da tainha entre 01/05 e 31/07, não precisa ir até dezembro. Nesse período ser exclusivo para a pesca de arrasto de praia, as outras pescarias com outros petrechos, poderiam pescar a tainha e se o de arrasto de praia pegar na fauna acompanhante depois desse período, não ser punido. Praia de Ubatuba, pega desde Itamirim até a Barra, é uma praia muito grande, hoje tem só 2 pontos, mas dá pra colocar 6 pescadores, dá pra fazer a divisão, mas só para pescador que vive da pesca. Rever pescador que tem permissão para mais de um ponto. Necessidade de uma remarcação dos pontos de pesca, respeitando o histórico de ocupação e a realidade atual da atividade, garantindo de forma democrática o espaço para que todos possam pescar. Sempre promovendo discussões conjunta primeiramente com a colônia de pesca, para ser levado aos pescadores. Fazer a organização da pesca de arrasto de praia, dando apoio aos pescadores, especialmente no que diz respeito à fiscalização. Ter fiscalização no mar para embarcações (lanchas, iates) que trafegam, saem da área de pesca. IMA/IBAMA (falta contingente) fazer convênio para o município fiscalizar. Fazer um convênio com a prefeitura para atuar na fiscalização da área do mar, porque na área terrestre tem. Ter fiscalização da Polícia Ambiental durante a pesca, para acabar com embarcação, rede e pescador que não vive da pesca (irregular). Orientação sobre solicitação de rancho. E amparo para poder usar o rancho fixo fora da pesca da tainha, no verão, por conta das outras pescarias da época. Precisa de proteção na área do Saco do Iperoba, porque é um criadouro de peixe, de cavalo- marinho, usa para maricultura. Maior apoio à colônia de pesca.

Quadro 20 – Demandas e reivindicações de Balneário Camboriú. REGIÃO CENTRO-NORTE – BALNEÁRIO CAMBORIÚ Fiscalização para pesca proibida mais atuante, com proibição de tarrafa na área de pesca da tainha. Punição rigorosa para o ilegal que for pego de 300 a uma milha da praia no costão. Necessidade de se fazer discussões, trazer informação antes da safra da tainha. Orientação antes da safra sobre as restrições em relação à pesca da tainha para turistas e outros pescadores. “A pesca de arrasto não dá direito ao seguro defeso, aí fica difícil manter uma equipe de pescadores ainda mais em nossa praia que pescamos o ano todo e disputando as águas com embarcações e redes irregulares fora de controle.” Necessidade do órgão federal + órgão estadual + órgão municipal + instituições de pesca andarem juntas. É preciso incluir a atividade no plano de governo de cada município para a pesca artesanal de arrasto possa se manter. Patrocínio, apoio da lei de incentivo cultural para realização evento da pesca da tainha (Arrancadão de Canoa), para que a identidade cultural não se perca e seja mais conhecida.

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Quadro 21 – Demandas e reivindicações de Porto Belo. REGIÃO CENTRO-NORTE – PORTO BELO Mais eficiência na fiscalização para proteger o pescador, pois na época da tainha todo mundo vira pescador e o município não fiscaliza, é necessário apreender as redes, o caico e multar, senão não funciona. Acabar com a pesca irregular, com os que não possuem licença. É necessário vir fiscalização de fora para ser eficiente contra a pesca irregular, porque a fiscalização municipal não funciona, porque são conhecidos/amigos. Ser mais fácil para pegar a licença. Vir mais crédito/subsídio para o pescador artesanal. A pesca da tainha deveria ser só para os artesanais, porque assim nunca ia acabar a pesca da tainha, porque as traineiras e o emalhe anilhado, pescam muita quantidade, impedindo o peixe de passar pra desovar (“O pescador artesanal está preservando, porque só pega aquela quantidade. Se passar pela praia ele pega, ele já está preservando, que ele não vai atrás, ele não vai à procura, porque ele só pesca aqui na praia. E se a tainha passar lá no alto mar vai embora e vai desovar milhões de peixes. E se passar um cardume desses a traineira vai lá pegar e aí elas não vão mais desovar.”). E também porque o industrial tem outras opções de peixes, mas o pescador de arrasto de praia, depende muito da tainha.

Quadro 22 – Demandas e reivindicações de Bombinhas. REGIÃO CENTRO-NORTE – BOMBINHAS Não há regulamentação para a frota de cace de malha (bote de madeira com rede anilhada, já são quase traineiras, ou seja, embarcações que são do tamanho previsto para artesanal, mas possuem força de pesca quase que industrial, são semi-industrial), de quem pode e o que pode pescar, tamanho das embarcações, locais de pesca (coordenadas) pois só há regulamentação para a industrial (5 milhas da costa) e artesanal (1 milha). “A cace de malha tem essa uma milha da praia, mas na verdade eles não trabalham na milha, eles trabalham pra dentro da milha” (A.J.M) Não determinar quantidade máxima de tainha para a pesca artesanal como para a industrial (nem tonelagem, nem quantidade de peixe, pois pescador artesanal depende de várias condições juntas para se ter uma boa pesca e quando pesca, não pesca tudo, parte do cardume continua, não é capturado). Proibir a pesca da tainha a partir de 30/07, pois depois disso é o período de retorno do peixe (para permitir que ela volte). Regulamentar as canoas por coordenada, porque a licença não acompanha, se compram outra canoa, precisam fazer transferência do nome. Ampliar o prazo para renovação da licença para pesca da tainha para 5 anos. Esclarecer para que direção se estende a milha náutica, conforme o local, que referência usar. Como por exemplo, em Bombas e Bombinhas, tem uma entrada de mar e considera de ponta a ponta ou na extensão vertical? Esclarecimento/parecer da SAP/MAPA sobre embarcação que está entrando para pesca de arrasto de praia sem ter ponto. Necessidade de expedição de carteira provisória de pescador, para pessoa que é filho, neto de pescador, mas atua em outra atividade (como pedreiro, garçom) para poder atuar na pesca de arrasto, avaliando a questão de adentrar a canoa/embarcação quando for o caso, havendo todo respaldo jurídico e de segurança. Deveria ter a possibilidade de ter uma carteira diferenciada para esta modalidade, pois hoje é muito difícil o pescador artesanal viver só da pesca. Legislação não permite mais que o filho acompanhe o pai na pescaria, assim não se passa a tradição e precisaria de meios para reverter essa situação. Necessidade de atualizar a lei municipal (não tem Polícia Ambiental em Bombinhas) para surfe e esportes náuticos, pois o fiscal apenas repreende, não faz apreensão de equipamento e logo voltam a utilizar a área de pesca. Além de que a fiscalização é interna e não é eficiente, precisa de 194

REGIÃO CENTRO-NORTE – BOMBINHAS fiscalização externa para não haver privilégios. Ter fiscalização para a pesca predatória (uso de petrechos proibidos). Necessidade de proteger o peixe para que ele possa desovar. Pois a tainha fica uns 15-20 dias acostado para descansar, se alimentar em pedras na região de Bombinhas (na Praia da Sepultura, na pedra da passagem no Mariscal, pedra da gaivota e do cabrito na praia das 4 ilhas e pedra da Galheta em Bombas), mas a pesca de emalhe não deixa, ataca os peixes nas pedras.

Quadro 23 – Demandas e reivindicações de Governador Celso Ramos. REGIÃO CENTRAL – FLORIANÓPOLIS Precisa de fiscalização bem rígida senão não é eficiente. Precisa a secretaria do município crie um órgão para fiscalizar o município na safra da tainha. Prefeitura usar recursos que vem para pesca também para subsidiar a venda mais barata de rede ao pescador.

Quadro 24 – Demandas e reivindicações de Florianópolis. REGIÃO CENTRAL – FLORIANÓPOLIS Há necessidade de reunião antes da safra com pescadores de emalhe, porque tem espaço que ninguém usa e pode ser ajustado para uso, mas tem de ter fiscalização rígida quanto a isso. O permissionamento para o arrasto de praia deveria ter limite de meia milha da costa e não 1,5 milha como é agora, pois a rede tem comprimento médio de 600 m. A distância de 1,5 milha da costa é muito grande para a pesca de arrasto de praia, o ideal é que fosse entre 800-1000 m. Deveria haver controle em relação ao tamanho e malha da rede de emalhe anilhado, deveria ser permitido só malha 11 para não pegar “peixe miudeira”, considerando que uma traineira artesanal vai e volta todos os dias. Hoje não tem parâmetro para pesca de arrasto de praia, há necessidade de revisão da IN 10. Determinar o tamanho da embarcação para pesca entre 5 a 12 m, porque tem embarcação que hoje tem um pouco a mais do tamanho permitido e não pode ser licenciada. Discutir a questão do nome “arrasto de praia”, pois confunde com o arrasto que já existe, verificar se mantém, se chama de cerco, mas nesse caso outro tipo de pescaria é chamada de cerco. É preciso verificar a diferença dos tipos de pesca com tais nomes, que de arrasto pega fauna demersal e de cerco a fauna pelágica e a licença para pesca de arrasto de praia teria de contemplar tudo, pois a rede de arrasto de praia pega peixe de superfície e de fundo. Não deve haver cota para pesca de arrasto de praia. Em locais em que há conflitos é necessário redefinir as coordenadas a fim de evitar conflitos de embarcação atravessando o ponto do outro. E deve-se levar em conta na definição de coordenadas conflituosas, com acordos conjuntos que em determinados locais já existem e precisam ser considerados. Oportunidade de ter o motor (determinar potência) para uso em determinados locais em que há maior necessidade, em que o mar é ruim e impossibilita de pescar diariamente. Deveria ser avaliado caso a caso. Há dúvidas quanto ao tipo de petrecho que pode ser utilizado: multi/monofilamento. Precisa delimitar, informar qual pode ser usado. Balizamento e marcação com boia dos pontos de pesca da tainha na safra e também para os esportes náuticos, para haver respeito às áreas de pesca. Precisa de fiscalização no período da safra/pesca da tainha para esportes e recreação para não ocorrer na área de pesca da tainha. E para botes motorizados que vem no limite do ponto de pesca, em cima da arrebentação pescar. Tomar providência contra botes que cercam nos costões, não deixando a tainha parar, inclusive já houve episódios de soltarem foguetes nos costões para o peixe correr e cercarem. Proibir a prática de Tow-in surfing na Barra da Lagoa. No Campeche há uma escola de remo, mas há a questão de que para o remeiro atuar, ele tem de 195

REGIÃO CENTRAL – FLORIANÓPOLIS ter RGP, poderia haver permissão para regulamentar o remeiro sem RGP – Registro Geral de Pesca, no período da safra da tainha. Falta apoio do Poder Público para os pescadores e proprietário, como exemplo, para manutenção de redes, canoas e rancho, pois se trata de uma modalidade centenária e braçal, que faz parte dá tradição de Florianópolis. Deve ser definido pelos órgãos responsáveis quem é considerado artesanal, deveria ter mais controle na distribuição de carteira para pescador e deveria ter cota para as canoas também. Falta atenção e informação ao pescador artesanal na hora de tirar a licença e documentos, precisa instruir/orientar melhor. E também demora para emissão de licença, pescadores estão pescando com protocolos, os ranchos e canoas estão pendentes de regularização. Necessidade de instalação de banheiro, água e luz nos ranchos, para que pescador tenha mais estrutura e para que possa fazer as manutenções das embarcações. A data da licença vai até dezembro, tem ser apenas até o dia 10 de julho, para tainha poder se reproduzir, pois depois dessa data só pega tainha magra.

Quadro 25 – Demandas e reivindicações de Palhoça. REGIÃO CENTRAL – PALHOÇA Marcação de áreas para navegação nas praias-localidades em que há pesca da tainha. Regulamentação para saída dos barcos, jet ski na safra da tainha, delimitar a área para essas embarcações não saírem na área de pesca da tainha (especialmente na Praia do Sonho). Capitania informou que necessita de uma lei municipal para pesca da tainha para fazer tal delimitação. Recurso para manutenção da alimentação dos pescadores no período da pesca da tainha, porque nem sempre pescam. Muitas vezes turistas ajudam, doam cesta básica. Divulgar a pesca da tainha para turista, na TV, para respeitarem mais. Apoio ao pescador, pois tem embarcação que tem rede pequena e não chega na extensão que precisa para pegar o peixe, só rede maior. Necessidade de licença para mais de uma canoa por ponto (do mesmo proprietário) na Praia do Sonho, pois se ocorrer algum problema com a canoa licenciada (praia de muito quebra mar), ficam impedidos de pescar até que seja feito o conserto. Ou se ocorre de rasgar a rede, também ficam alguns dias sem pescar, até que a mesma seja consertada. Licenciando mais de uma canoa por ponto, haveria esse resguardo quando ocorrer avarias com a canoa ou rede. Rever o tamanho da malha para pesca de arrasto de praia para outras espécies, como o parati, tainhotão (malha 6 cm).

Quadro 26 – Demandas e reivindicações de Garopaba. REGIÃO CENTRO-SUL – GAROPABA É necessário que a SAP/MAPA se aproxime mais dos pescadores antes da pesca da tainha, fazendo o levantamento em cada praia, para ver a necessidade de cada lugar. É preciso que a SAP/MAPA envie toda documentação do pescador (documento da canoa, do rancho, licença) para colônia de pescadores e em tempo hábil para que o pescador possa se regularizar (a licença deveria ser emitida com certo tempo antes da pescaria). Ter uma licença única, pois quando tem uma licença não pode pescar outro peixe. A pesca da tainha poderia abrir em abril, porque nesse período já tem peixe. Nas praias do Siriú, Gamboa e Capão da Barra, em função do tipo do mar, há necessidade do uso de canoa com motor. E ainda porque hoje os pescadores têm em média no mínimo 40 anos, a maioria é tudo idoso, não se forma mais remeiros e o motor começa a ser uma necessidade. Deveria permitir quando precisa usar o motor. Há necessidade de projetos para formação das crianças, para serem futuros remeiros e para pegarem gosto pela pesca. Gamboa tem quadriciclo para puxar a rede até a praia, mas seu uso foi proibido por ser área de 196

duna, mas é permitido turismo, deveria ter uma liberação apenas na pesca da tainha e não precisaria ser todo dia. Ter regulamentação e ter fiscalização para a pesca predatória e a disputa no local da pesca de arrasto de praia. O município não dispõe de fiscalização e fica desatendido, porque a fiscalização tem de vir de Palhoça e geralmente não vem quando acionada. Há necessidade também de ter alguém da colônia de pescadores na secretaria municipal de agricultura e pesca para que as ações sejam convergentes. Fazer reserva ambiental nas ilhas para preservar os peixes, como por exemplo, colocar recife artificial como no Paraná, para o arrastão camaroeiro não chegar na costa. E se precisar parar de pescar para repovoar, o pescador para, mas é necessário manter o pescador no período.

Quadro 27 – Demandas e reivindicações de Laguna. REGIÃO CENTRO-SUL – LAGUNA Fazer o ordenamento das praias e fiscalizar mais.

Quadro 28 – Demandas e reivindicações de Imbituba. REGIÃO CENTRO-SUL – Imbituba Precisa ter respeito pela tradição e ter legislação (decreto municipal) para regrar, para colocação de placas indicando sobre a pesca para não ter surfe, pescaria, voadeira circulando. Precisa haver maior fiscalização no período da tainha no município e com fiscais que entendam de pesca. Fiscais precisam saber orientar o pescador de arrasto de praia e não apenas multar. Há necessidade de fiscalizar a pesca industrial, pois já houve ano (2018-2019), de aparecerem muita tainha boiada, que foi usada apenas para retirada ova e jogada no mar, porque o mercado estava com grande estoque. A SAP precisa orientar o pescador quanto ao tipo de licença solicitada, explicando a diferença entre licença de fundo e de superfície. Precisa esclarecer também sobre a escrita na autorização da embarcação “válida em todo território nacional”, pois muitos pescadores questionam porque não podem pescar no RS se na licença está escrito que podem atuar em todo território. Em Jaguaruna pescador artesanal tem licença para canoa e baleeira de arrasto; tem licença de pesca de fundo e superfície e licença complementar para a pesca de arrasto de praia da tainha e só pode pegar o peixe que está licenciado naquele período. Há necessidade de uma licença única para o pescador de arrasto artesanal, para pescar o ano todo, porque tem diversos peixes que estão de passagem pelo costão, que pega com a rede que tem 20 m, pega peixe de fundo e quando chega na praia é multado, porque a licença não permite a pesca no período da tainha. Não há necessidade da licença ir até dezembro, porque assim fica liberado para pegar “tainha facão", a tainha magra que já desovou e está voltando, nesse período poderia liberar só para outros tipos de pescadores artesanais, como a tarrafa. Por estarem mais próximos do RS, de onde a tainha sai, a pesca para a região deveria ser revista para a pesca iniciar do dia 01 de maio até 31 de julho.

Quadro 29 – Demandas e reivindicações de Jaguaruna e Litoral Sul. Jaguaruna e Litoral Sul Limitar o número de licenças, para aqueles que realmente são pescadores. SAP sabe o número de pescadores, fazer em cima do número de protocolos, porque tem pescador que não tem licença, apenas o protocolo, por conta da liminar que têm para pescar. Pela questão do nome arrasto ser interpretado como “fora da praia”, a normativa não pode sair como “arrasto”, sugerem que se use o termo “lance de praia”. Para o litoral sul de SC, a pesca deveria abrir antes, em abril, porque para eles a safra começa antes, em julho já é mais fraco. Deveria abrir de 15/04 a 31/07. 197

Na região sul as praias não tem enseada, é o mar aberto, é um berçário de várias espécies de alevinos (corvininha, tainhota, anchoveta, pampo), eles se criam aqui e depois que pegam um determinado tamanho eles saem para as demais praias, não pode licenciar o mesmo tamanho de malha que o restante do Estado, na região a malha mínima tem que ser malha 10. Não pode licenciar embarcação menor que 6 m, até no máximo 10 m, com arqueação bruta de no máximo 2,5 AB para pesca com propulsão a motor. E limitar o motor de centro até 40 hp e o de popa até no máximo 90 hp. A legislação é adequada, mas não é cumprida e não há fiscalização, as traineiras continuam pescando normalmente nas lagoas e vem ano a ano acabando com os estoques pesqueiro; para pesca irregular com rede fixa; para bote inflável com motor e jet ski puxando rede.

Apesar da grande diversidade de atores sociais, pode-se perceber, por meio das manifestações dos pescadores nesta pesquisa, o reconhecimento da maior parte da categoria quanto a crescentes avanços da legislação pesqueira, através de um conjunto de normas que, basicamente, se destinam à:  Conservação dos estoques de espécies-alvo em níveis compatíveis com a explotação sustentada;  O início de um processo normativo, que venha contemplar as diferenças e especificidades de demandas, limitações e esforço de pesca, individual e coletivo, de cada categoria e arte/petrecho-processo de pesca.

De modo convergente ao amplo conjunto das demandas e reivindicações da maior parte das comunidades pesqueiras artesanais envolvidas neste trabalho, entendemos que os argumentos apresentados por alguns pesquisadores relacionados à temática pesqueira possam também contribuir para a reflexão, e apoiarem a tomada de decisões relativas à gestão ambiental/pesqueira, de modo eficiente, justo e duradouro:

... embora essa região seja servida de inúmeros ecossistemas delicados e de reprodução dos estoques pesqueiros, são escassos os dados sobre a pesca, a quantidade de espécies não alvo capturadas e a condição socioeconômica das comunidades pesqueiras (...). Todos esses impasses informacionais são um entrave à preservação dos ecossistemas, bem como um fator de geração de inúmeros conflitos entre as comunidades tradicionais da pesca artesanal e os órgãos de fiscalização ambiental. Por um lado, há o discurso dos pescadores, que segue a linha de argumentação do não conhecimento, por parte dos

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órgãos ambientais, dos limites de exploração dos estoques pesqueiros. Sem contar que os pescadores acreditam que ações externas, como a pressão do aumento populacional, aumento da especulação imobiliária, aumento do turismo, não tratamento de esgotos e o aumento da frota de pesca industrial, são fatores preponderantes na redução dos estoques pesqueiros e na degradação dos ecossistemas. Por outro lado, há o discurso dos órgãos ambientais, que acreditam no não cumprimento das regras impostas aos pescadores, mesmo em período do defeso (MENEZES, RONCONI, 2015:129).

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5. EQUIPE TÉCNICA

COORDENAÇÃO Dr. Washington Luiz dos Santos Ferreira - Graduado em Oceanologia (1996), Mestre em Oceanografia Biológica (2004), Doutor em Educação Ambiental (2014) e realização de pós-doutorado em Geografia (UFSC, 2015), Educação Científica e Tecnológica (UFSC, 2018) e Educação Ambiental (FURG, 2019). Atuou como professor tutor na FURG (Especialização em Educação Ambiental), realizando orientações e co-orientações de trabalhos de conclusão de cursos de graduação (Oceanologia, FURG; Ciências Biológicas, UFSC) e integrando bancas de avaliação de graduação e pós-graduação (FURG, UFSC, IPHAN). Realizou diagnóstico pesqueiro e ambiental, para subsidiar a criação do Parque Nacional Marinho do Albardão/RS (PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil/ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Dez/2010-Jun/2011). Realizou monitoramento de macro invertebrados, ecologia reprodutiva de peixes, de siri e camarão-rosa, no Parque Nacional da Lagoa do Peixe RS, para subsidiar sua gestão quanto à utilização dos recursos pelos pescadores (PNUD/ICMBio, Jan-Set/2009). Participou do Programa Agenda 21 Local, municípios do entorno da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (Núcleo Macaco Prego Vivências Ambientais, Porto Belo, SC, 2006). Atua em projetos de extensão e na revisão de periódicos (Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental 2019-2020; Revista de Gestão Costeira Integrada/Journal of Integrated Coastal Zone Management 2017-2020; Ambiente & Educação - 2016). A seguir são apresentadas publicações relacionadas ao tema: - FERREIRA, Washington. Estratégias alternativas para gestão de Unidades de Conservação; estudo de caso do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS (pp: 89- 113). In: FERRETTI, Orlando (Org.). Áreas Protegidas: experiências de pesquisa e extensão no sul do Brasil. Florianópolis, SC: Edições do Bosque (CFH-UFSC). Série Sociedade e Meio Ambiente, 2020 (252 p).

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- FERREIRA, Washington. Conflitos socioambientais entre áreas protegidas e atividade pesqueira no “Albardão”, extremo sul do Brasil (pp: 197-219). In: FERRETTI, Orlando (Org.). Áreas Protegidas: experiências de pesquisa e extensão no sul do Brasil. Florianópolis, SC: Edições do Bosque (CFH-UFSC). Série Sociedade e Meio Ambiente, 2020 (252 p). - COSTA-FREDO, G.; FERREIRA, W.L.S. Onde a Educação Ambiental e a Oceanografia se (des) encontram? Ambiente & Educação (FURG), v. 24, p. 139- 161, 2019. - MATTOS, P. H.; FERREIRA, W. L. S. Modelos propositivos para a gestão pesqueira e ambiental na região do Albardão, sul do Rio Grande do Sul. Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPR), v. 44, p. 183-198, 2018. - ASMUS, M.L.; NICOLODI, J.L.; SCHERER, M.E.; GIANUCA, K.; COSTA, J. C.; GOERSCH, L.; HALLAL, G.; VICTOR, K.D.; FERREIRA, W.L.S.; RIBEIRO, J.N.A.; PEREIRA, C.R.; BARRETO, B.T.; TORMA, L.F.; SOUZA, B.B.; MASCARELLO, M.; VILLWOCK, A. Simples para ser útil: base ecossistêmica para o gerenciamento costeiro. Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPR), v. 44, p. 04- 19, 2018. - FERREIRA, W. L. S. Etapas Históricas e Condicionantes Geopolíticos das Atividades Socioeconômicas da Ilha de Santa Catarina. Revista Santa Catarina em História, v. 10, p. 08-26, 2016. - FERREIRA, W.L.S. Actividades Portuarias en la Isla de Santa Catarina (Brasil): implicaciones políticas, económicas y ambientales. La Timonera, v. 24, p. 46-49, 2015. FERREIRA, W.L.S.; ESTEVAM, B.S.; GALIAZZI, M.C. Conflitos Socioambientais da Expansão Portuária e Implantação do Polo Naval no Estuário da Lagoa dos Patos, RS. In: 3 Workshop Internacional de História do Ambiente (Florianópolis, SC. UDESC, 2013). - FERREIRA, W.L.S.; LIMA, Anabel; CAMPOS, Carla Siqueira. Entre-nós: Linhas Cruzadas dos Saberes Tradicionais e Científicos na Gestão da Pesca Artesanal. In: XIII Fórum de Estudos Paulo Freire (Santa Rosa, RS: UNIJUÍ, 2011).

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- JULIANO, M.C.; FERREIRA, W.L.S.; OLIVEIRA, M.; SOUZA, M.C.H.; SAGGIOMO, L.S. Expansão Versus Expulsão: O Impacto Socioambiental da Expansão das Atividades Portuárias na Remoção de Comunidades Pesqueiras no Estuário da Lagoa dos Patos, RS. In: VII Seminário de Pesquisa Qualitativa - Fazendo Metodologia (PPG. Educação Ambiental-FURG, 2008). - FERREIRA, W.L.S. Reestruturação das Redes Pesqueiras Comunitárias na Península de Porto Belo, SC. In: IX Fórum de Estudos Leituras de Paulo Freire (PPG. Educação Ambiental-FURG, 2007). Livros Editados - FERREIRA, W.L.S. Arquipélagos: cápsulas do tempo e da sociobiodiversidade das comunidades de pesca artesanal da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis, SC: Usina de Ideias, 2017 (180 p). - FERREIRA, W.L.S. A Pesca no Extremo Sul do Brasil: categorias, territórios, conflitos e gestão socioambiental. Rio Grande, RS: Usina de Ideias, 2015 (380 p). Livro Traduzido - SCHERER, M.E.G; FERREIRA, W.L.S.; ASMUS, M.L. Política, Gestão e Litoral: uma nova visão de gestão integrada de áreas litorais. Madrid (ES): Editorial Tébar Flores, 2016 (Tradução do original de BARRAGÁN MUÑOZ, Juan Manuel).

ESPECIALISTA EM PESCA ARTESANAL MSc. Juliana Ventura de Pina – Graduada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 2004 e Mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná em 2009. Atualmente atua como professora do curso de Gestão Ambiental da Faculdade Educacional da Lapa e como consultora na área socioambiental. No período de 2010 a 2012 foi coordenadora do Projeto de Monitoramento Pesqueiro do Litoral do Paraná, uma parceria do antigo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e o Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais. Também possui experiência em processos participativos (Diagnóstico Rápido Participativo e facilitação), tendo realizado, de 2009 a 2014, consultoria técnica especializada para a caracterização da pesca artesanal de diversas

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comunidades pesqueiras no litoral brasileiro, no âmbito do processo de licenciamento ambiental de petróleo e gás. A seguir são apresentadas publicações relacionadas ao tema: - PINA, J. V.; CHAVES, P. T. Incidência da pesca de arrasto camaroeiro sobre peixes em atividade reprodutiva: uma avaliação no litoral Norte de Santa Catarina, Brasil. Atlântica, v. 1, p. 99-106, 2009. - BORNATOWSKI, H.; Costa, L.; ROBERT, M. de C.; PINA, J. V. Hábitos alimentares de tubarões-martelo jovens, Sphyrna zygaena (Charcharhiniformes: Sphyrnidae), no litoral sul do Brasil. Biota Neotropica, v. 7, p. 213-216, 2007. - PINA, J. V.; CHAVES, P. T. A pesca de tainha e parati na Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil.. Acta Biologica Paranaense, Acta Biológica Paranaense, v. 34, n.1,2,3,4, p. 103-113, 2005. - HALUCH, C. F.; ABILHOA, V.; PINA, J. V. Peixes marinhos do Estado do Paraná depositados no Museu de História Natural Capão da Imbuia (MHNCI), Curitiba, Paraná, Brasil. Estudos de Biologia, v. 26, n.56, p. 27-35, 2004.

ESPECIALISTA EM RECURSOS PESQUEIROS MSc. Mariana Paul de Souza Mattos – Graduada em Oceanografia em 2013, MBA em Gerência de Projetos em 2018 pela Universidade do Vale do Itajaí e Mestra em Oceanografia em 2020 pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atuou como voluntária no Grupo de Estudos Pesqueiros da Universidade do Vale do Itajaí durante o período de 2011-2012, na coleta de dados de produção para estatística pesqueira industrial, assim como no Laboratório de Biologia da mesma instituição entre 2012-2013 em projetos relacionados à atividade pesqueira artesanal. Desde 2017 integra o grupo de pesquisa do Laboratório de Gestão Costeira Integrada da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvendo pesquisa de mestrado sobre aspectos da governança de áreas marinhas protegidas com foco na participação do setor de pesca artesanal. Como membra de redes de pesquisa-ação, atuou em projetos de educação e sensibilização ambiental junto à comunidade e iniciativas que promovem a interação sociedade- ciência-política no campo das Ciências do Mar e Políticas Públicas.

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A seguir são apresentadas publicações relacionadas ao tema: - MATTOS, M. P. S. Aspectos reprodutivos do camarão sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) na pesca artesanal da Armação do Itapocoroy, Penha, SC. Monografia (Bacharelado em Oceanografia) - Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2013. - MATTOS, M. P. S.; SCHERER, M. E. G. Participação de pescadores artesanais na gestão de unidades de conservação de proteção integral. In: II Simpósio Brasileiro sobre Praias Arenosas e XI Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro, 2018, Florianópolis. Anais do II Simpósio Brasileiro sobre Praias Arenosas e XI Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro, 2018. p. 419-421. - MATTOS, M. P. S. Participação social na gestão de áreas marinhas protegidas restritivas: o caso da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (SC). Dissertação (Mestrado em Oceanografia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2020.

COLETOR DE DADOS Esp. Elielson Marcelino - Graduado em Ciências – Licenciatura Plena em Biologia em 2001 e Especialista em Educação Ambiental em 2019, possui mais de quinze anos de experiência na implementação e execução de projetos socioambientais, atuando na elaboração e execução de diagnóstico e planejamento participativos, entrevistas e censos, com a coleta de dados primários e secundários. Desde abril de 2017 atua como coordenador técnico adjunto no Programa de Educação Ambiental da gestão de meio ambiente, saúde e segurança da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, tendo realizado diagnóstico socioambiental e econômico de comunidades pesqueiras para manutenção da licença de operação. Em 2018 realizou diagnóstico socioeconômico junto a produtores rurais, empresas com concessão de outorga e demais atores relacionados ao Açude Bitury para o Programa Produtor de Água, realizado pela TNC-Brasil. Em 2016 realizou articulação, visita comunitária e diagnóstico socioambiental com comunidades de pescadores do município de Antonina. De 2013 a 2016 prestou serviços à ALL – América Latina Logística, tendo realizado diagnóstico junto a comunidades 204

atingidas por ferrovias no estado de São Paulo. Entre 2009 e 2011, realizou pesquisa socioeconômica junto a diferentes setores da sociedade (em Curitiba/PR e Campo Largo/PR) para o projeto “Arranjo Educativo Local”, do SESI/SENAI-PR. Entre 2006 e 2007 participou pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais da elaboração de Agendas 21 Locais nos municípios de Araucária, São Mateus do Sul, Paranaguá e Matinhos, por meio do projeto: “De Olho No Ambiente – 2ª Fase”, patrocinado pela Petrobrás – Petróleo Brasileiro S.A. Entre 2001 e 2002 pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), realizou Diagnóstico Participativo em comunidades rurais na APA (Área de Proteção Ambiental) de Guaraqueçaba/PR.

COLETORA DE DADOS MSc. Anabel de Lima - Graduada em Ciências – Licenciatura Plena em Biologia em 2000 e Mestra em Educação Ambiental em 2006. Desde abril de 2017 atua como coordenadora técnica adjunto no Programa de Educação Ambiental da gestão de meio ambiente, saúde e segurança da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina em ações socioambientais voltadas às comunidades pesqueiras e aos trabalhadores e colaboradores. Desde 2018 atua como consultora para o Programa de Educação Ambiental, Plano de Comunicação Social e Plano de monitoramento de indicadores sociais para a PCH Foz do Estrela. Em 2018 participou da realização de diagnóstico socioeconômico com atores relacionados ao Açude Bitury (município de Belo Jardim/PE) para o Programa Produtor de Água (TNC-Brasil/APAC). Em 2016 realizou diagnóstico socioambiental com comunidades de pescadores do município de Antonina para ações relacionadas a empreendimento portuário local. De 2013 a 2016 prestou serviços à ALL – América Latina Logística para elaboração de Plano de Ação socioambiental e ações de diagnóstico junto a comunidades atingidas por ferrovias no estado de São Paulo. Entre 2009 e 2011, realizou pesquisa socioeconômica junto a diferentes setores da sociedade (em Curitiba/PR e Campo Largo/PR) para o projeto “Arranjo Educativo Local”, do SESI/SENAI-PR. Entre 2009 e 2010, foi coletora de dados junto a piscicultores e produtores rurais, para realização de

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censo aquícola do Ministério da Pesca e Aquicultura, referente ao ano de 2008, em seis municípios da região oeste do Paraná. Em 2006 atuou como consultora PNUD para levantamento de informações e ações educacionais junto a pescadores artesanais do PARNA Lagoa do Peixe. Entre 2005 e 2008 coordenou o projeto “Jovem, mostre a sua cara!” (executado pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais por meio de convênio MMA/FNMA), o qual foi desenvolvido com jovens das comunidades da Ilha do Mel (Paranaguá/PR). Entre 2002 e 2003 atuou pela Univali, no projeto em convênio como MMA/FNMA "Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul – REASul" no Paraná, realizando pesquisa e diagnóstico de ações educacionais no Estado do Paraná, para alimentação de dados junto ao SIBEA – Sistema Brasileiro de Educação Ambiental.

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6. REFERÊNCIAS

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218

7. APÊNDICES

APÊNDICE A – RELAÇÃO DE EMBARCAÇÕES LICENCIADAS E RESPECTIVAS COORDENADAS DOS PONTOS DE PESCA.

219

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S27°25’07,5” a Balneário W48°24’09,2” ROGERIO DAMASCENO Selma Remo madeira 1984 6,92 1,00 não Camboriú S27°25’17,4” a W48°24’05,3” S26°00’13,8” a Balneário CLEUSA GERALDO W48°36’14,7” Praia Central Espada I Remo madeira 1950 6,85 0,45 NI Camboriú BALTAZAR S26°58’56,3” a W48°36’14,7” S27º01´26,1” a Balneário JOSÉ CARLOS DE W48º34´45,9” Praia do Estaleiro Campina Remo madeira 1984 6,95 0,30 não Camboriú ALMEIDA S27º02´19,3” a W48º34´53,0” S27º01´26,1” a Balneário JOSÉ CARLOS DE W48º34´45,9” Praia do Estaleiro Garça Remo madeira 1977 7,65 0,90 não Camboriú ALMEIDA S27º02´19,3” a W48º34´53,0” sim (extensão Balneário IVO JANUARIO REIS S26°59’48,9” a Praia de Laranjeiras Januário Rosa Remo madeira 2008 7,00 total da Praia Camboriú JUNIOR W48°35’33,4” das Laranjeiras) Parte Norte da praia sim, Balneário Praia de Laranjeiras ELIAS VICENTE Safra Remo madeira 2015 6,48 entre o “Canto da Bica” e coordenadas Camboriú a “Laje da Louca” não demarcadas

sim (extensão Balneário MARLUZE ANTUNES LIMA S26°59'48,9” a Praia de Laranjeiras Dona Malu Remo madeira 2008 7,00 1,00 total da Praia Camboriú NATIVIDADE W048°35’33,4” das Laranjeiras)

sim (extensão Balneário RODRIGO ROCHA DA S26°59’48,9” e Praia de Laranjeiras Dona Flor Remo madeira 2015 8,84 1,00 total da Praia Camboriú SILVA W048°35’33,4” das Laranjeiras)

sim (extensão Balneário RODRIGO ROCHA DA S26°59’48,9” e Praia de Laranjeiras Yara I Remo madeira 1975 6,50 0,70 total da Praia Camboriú SILVA W048°35’33,4” das Laranjeiras)

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S27º00´38,7” a Balneário W48º34´43,3” sim, mesma Praia de Taquaras ARLINDO CORREA Vó Bia Remo madeira 1990 8,98 1,20 Camboriú S27º00´16,2” a demarcação W48º34´56,4” S27º00´38,7” a Balneário W48º34´43,3” sim, mesma Praia de Taquaras ELADIO EUFLORZINO Silva III Remo madeira 1969 7,50 1,60 Camboriú S27º00´16,2” a W48 demarcação º34´56,4” S27º00´38,7” a Balneário IRINEU JOSÉ JOÃO W48º34´43,3” sim, mesma Praia de Taquaras Loura Remo madeira 1962 7,70 1,00 Camboriú ALEXANDRE S27º00´16,2” a W48 demarcação º34´56,4” Balneário fibra de S27º00´00,6” a Praia de Taquarinhas JOSUE OSMAR SILVA Nen da Zita Remo 2008 7,50 não Camboriú vidro W48º34´58,5”

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S27°09’14,2’’ a W48°28’58,8’’ Bombinhas Praia de 4 Ilhas AIRES NILO PINHEIRO Nilzete Remo madeira 1971 8,60 1,73 não S27°09’27,4’’ a W48°29’06,6’’ S27°09’14,2” a W48°28’58,8” Bombinhas Praia de 4 Ilhas AIRES NILO PINHEIRO Teimosa Remo madeira 1945 7,75 1,20 não S27°09’27,4” a W48°29’06,6” Da cruz ao costão sim, sem Bombinhas Praia de 4 Ilhas CELIO DJALMA MAFRA Boa Fortuna I Remo madeira 1971 8,70 1,60 esquerdo da praia demarcação por Quatro Ilhas coordenadas S27°09’27,5” a VERONI NILO PINHEIRO E W48°29’06,1” Bombinhas Praia de 4 Ilhas Boa Sorte Remo madeira 1982 8,55 não OUTROS S27°09’38,7” a W48°29’05,5” S27°08’18,1” a W048° LEVI LUCIO DE MELO E 30’34,3” Bombinhas Praia de Bombas Rola Remo madeira 1960 8,00 2,30 sim JOSÉ LUIZ DE MELO S27°08’25,8” a W048° 30’27,5”

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S27°08’18,1” a W048°30’34,3” Bombinhas Praia de Bombas JOSÉ LUIZ DE MELO Saíra I Remo madeira 7,22 sim S27°08’25,8” a W048°30’27,5” S27°08´05,5” a W48°30´44,3” Bombinhas Praia de Bombas JOIVAN SUEL DE MELO Roraima Remo madeira 1982 8,50 0,80 sim S27°07´58,5” a W48°0´49,2” S27°03’46,1” a W48°30’00,8” Bombinhas Praia de Bombas JOSÉ OLIMPIO FILHO A Padroeira Remo madeira 2002 8,70 1,10 não S27°03’33,8” a W48°30’19,8” S27°03’46,1” a W048°30’00,8” Bombinhas Praia de Bombas JOSÉ OLIMPIO FILHO Faísca II Remo madeira 1973 8,00 não S 27°03’33,8” a W048°30’19,8” S27°03’46,1” a W048°30’00,8” Bombinhas Praia de Bombas JOSÉ OLIMPIO FILHO Janaína V Remo madeira 1980 6,00 não S27°03’33,8” a W048°30’19,8” S27°03’46,1” a W048°30’00,8” Bombinhas Praia de Bombas CLAUDIO OSMAR OLIMPIO Santa Cecília Remo madeira 1979 7,10 não S27°03’33,8” a W048°30’19,8” S27°08’37,5’’ a Porto dos W48°30’20,1’’ Bombinhas Praia de Bombas CLAUDIO OSMAR OLIMPIO Remo madeira 2002 8,70 1,00 sim Milagres S27°08’46,4’’ a W48°30’00,1’’ S27°08’41,4’’ a W48°30’09,9’’ Bombinhas Praia de Bombas LINDOMAR JOSÉ OLIMPIO Santa Rosa Remo madeira 1978 7,44 0,80 sim S27°08’37,6’’ a W48°30’12,9’’ S27°07’55,3” a W48°30’49,2” Bombinhas Praia de Bombas NILSON JOÃO SCHMIT Estrela Dalva Remo madeira 1988 8,00 0,60 sim S27°08’01,1” a W48°30’46,6” S27°07’55,3” a W48°30’49,2” Bombinhas Praia de Bombas NILSON JOÃO SCHMIT Estrela Dalva Remo madeira 2013 7,60 sim S27°08’01,1” a W48°30’46,6”

222

S27°08’05,5” a Praia de Bombas W048°30’44,3” Bombinhas JULIO GONÇALVES YEE Galheta B Remo madeira 2007 10,00 1,30 não (canto) S27°07’58,5” a W048°30’44,2” S27°08’05,5” a Praia de Bombas W048°30’44,3” Bombinhas JULIO GONÇALVES YEE Galheta B I Remo madeira 2005 8,50 1,00 não (canto) S27°07’58,5” a W048°30’44,2” S27°08’53,4” a BENJAMIM BENTO DA W48°29’28,0" Bombinhas Praia de Bombinhas Vista Alegre Remo madeira 1980 8,66 1,50 não SILVA S27°08’47,2" a W48°29’42,7” S27°03’40,3” a DORIVAL GONZAGA DA W48°28’36,9” Bombinhas Praia de Bombinhas Almerinda Remo madeira 1977 7,00 não SILVA S27°03’42,0” a W48°28’35,8” S27°03’42,9” a DORIVAL GONZAGA DA W48°28’35,7” Bombinhas Praia de Bombinhas Três Irmãs Remo madeira 1963 8,50 2,30 não SILVA S27°03’35,7” a W48°28’34,1” S27°08’54,1” a W48°29’28,4” Bombinhas Praia de Bombinhas GILBERTO PEDRO MAFRA Cristo me Salvou Remo madeira 1978 6,00 0,60 não S27°08’55,3” a W48°29’10,4” S27°08’54,1” a W48°29’28,4” Bombinhas Praia de Bombinhas GILBERTO PEDRO MAFRA Luar de Prata I Remo madeira 1971 6,00 0,30 não S27°08’55,3” a W48°29’10,4” S27°12’02,9” a WANDERLEY DA PAIXÃO W048°29’33,6” sim, mesma Bombinhas Praia da Conceição Itita Remo madeira 1970 7,80 1,10 MARTINS S27°12’ 0,4” a demarcação W048°29’21,7” S27°12’02,9” e WANDERLEY DA PAIXÃO W048°29’33,6” sim, mesma Bombinhas Praia da Conceição Itita II Remo madeira 1970 7,80 1,10 MARTINS S27°12’10,4” e demarcação W048°29’21,7” S27°12’02,9” a NORBERTO MANOEL DE W048°29’33,6” sim, mesma Bombinhas Praia da Conceição Porto da Vó Remo madeira 2015 8,70 0,70 MARIA S27°12’10,4” a demarcação W048°29’21,7”

223

S27°08’39,8” a Praia dos W048°28’37,5” Bombinhas Ingleses/Retiro dos ZUMA DA MATA MELO Artista Remo madeira 1981 8,70 0,10 não S27°08’46,0” a Padres W048°28’30,0” S27°10´05,0” a ALEXANDRE JOÃO DE W48°29´53,9” Bombinhas Praia de Mariscal Boa Viagem III Remo madeira 1958 7,50 não MELO S27º10´21,6” a W48º°29´57,9” S27°10´05,0” a ALEXANDRE JOÃO DE W48°29´53,9” Bombinhas Praia do Mariscal Canaã Remo madeira 2004 8,52 1,30 não MELO S27º10´21,6” a W48º°29´57,9” S27°11’40,8” a W048° 29’50,0” Bombinhas Praia do Mariscal JOÃO ELPIDIO SERPA Samaria Remo madeira 1974 8,80 0,80 não S27°10’49,8” a W048° 29’58,8” S27°11’39,9” a W 48°29’50,9” Bombinhas Praia do Mariscal JOÃO ELPIDIO SERPA Sempre Alerta Remo madeira 1974 8,08 0,70 não S27°10’50,0” a W48°30’00,1” S27°10´42,0” a W48°30´00,4” Bombinhas Praia do Mariscal JOÃO ELPIDIO SERPA Xirlei Remo madeira 1983 8,50 1,40 não S27°11´28,8” a W48°29´53,4” CLAUDIONOR CARLOS Da Pedra da Andorinha sim, não Bombinhas Praia da Sepultura PINHEIRO & CLAUDIR Aventureira Remo madeira 1980 7,55 até a residência do Sr. demarcada por CARLOS PINHEIRO Renato Ammann coordenadas CLAUDIONOR CARLOS Da Pedra da Andorinha sim, não Bombinhas Praia da Sepultura PINHEIRO & CLAUDIR Netinha Remo madeira 1986 7,33 até a residência do Sr. demarcada por CARLOS PINHEIRO Renato Ammann coordenadas CLAUDIONOR CARLOS Da Pedra da Andorinha sim, não Bombinhas Praia da Sepultura PINHEIRO & CLAUDIR Taty Remo madeira 1986 7,75 até a residência do Sr. demarcada por CARLOS PINHEIRO Renato Ammann coordenadas S27°12’55,8” a W48°30’29,4’’ Bombinhas Praia da Tainha LUIZ MANOEL CONCEIÇÃO Surpresa C Remo madeira 2002 7,80 sim S27°12’55,4” a W48°30’31,8’’ S27°12’55,8” a W48°30’29,4’’ Bombinhas Praia da Tainha VALDIR OTAVIO CABRAL Sofia IV Remo madeira 1979 7,50 sim S27°12’55,4” a W48°30’31,8’’ 224

JOSÉ AUGUSTO COELHO LT – 27.2172 Bombinhas Praia da Tainha Nova Fé Remo madeira 1980 7,75 2,30 sim NEVES LG – 48.5106

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização Ponto 1. Ze Daux SILVANO PEDRO DOS Florianópolis Rainha do Mar I Remo madeira 1991 5,92 Ponto 2. Servidão Mario sim SANTOS Mota S27°34’25,5” a LAURENTINO BENEDITO W48°25’12,6” Florianópolis Barra da Lagoa Manezinha Remo madeira 2011 7,73 não NEVES S27°31’37,5” a W48°25’08,6” S27°34’25,5” a LAURENTINO BENEDITO W48°25’12,6” Florianópolis Barra da Lagoa Saragaço Remo madeira 2005 8,50 não NEVES S27°31’37,5”a W48°25’08,6” S27°34’27,5” a LAURENTINO BENEDITO W48°25’22,2” Florianópolis Barra da Lagoa Saragaço I Remo madeira 2007 8,74 1,00 não NEVES S27°31’37,5” a W48°25’08,6” S27°34’69” a LEANDRA JOANA FELICIO W48°25’45” Florianópolis Barra da Lagoa Atrevida Remo madeira 1973 6,35 não MACHADO S27°34’26” a W48°25’38” LEANDRA JOANA FELICIO S27°34’69” a Florianópolis Barra da Lagoa Atrevida XXIII Remo madeira 2000 8,55 1,00 não MACHADO W48°25’45” S27°34’26”a W48°25’38” S27°25’36,5” a Cachoeira do Bom W048°27’12,4” Florianópolis AILTON ACENOR SOUZA Vanessa Remo madeira 2008 6,40 1,00 não Jesus S27°25’36,9” a W048°27’07,9” S27°25’32,1” a Cachoeira do Bom LAÉRCIO ANTONIO W48°26’50,4” Florianópolis Maria Vitória Remo madeira 2009 5,30 não Jesus FERREIRA S27°25’29,5” a W48°26’40,9”

225

S27°24’34,1” a Cachoeira do Bom W48°25’45,9” Florianópolis OVIDIO MARCOS ZIRKE Nathalia Remo madeira 2010 6,90 não Jesus S27°24’41,0” a W48°25’44,8” S27°24’08,6” a Cachoeira do Bom W48°25’45,1” Florianópolis OVIDIO MARCOS ZIRKE Tamara Remo madeira 2010 7,00 não Jesus S27°24’25,4” a W48°25’47,3” S27°24’25,4” a Cachoeira do Bom SERGIO ORLANDO DA W48°25’46,4” Florianópolis Nativa Remo madeira 1980 6,60 não Jesus SILVA S27°24’31,1” a W48°25’46,3” S27°45´49,8” a DEJALMA ALTAMIRO W4°34´46,5” Florianópolis Caiacanga Estrela do Mar Remo madeira 1996 6,00 não PEREIRA S27°45'58,3” a W48°34´30,0” S27°41´16,6” a W48°28´52,2” Florianópolis Campeche APARICIO MANOEL INACIO Celia Remo madeira 1957 9,30 0,90 não S27°43´04,8” a W48°30´11,5” S27°41´16,6” a W48°28´52,2” Florianópolis Campeche GETULIO MANOEL INACIO Glória Remo madeira 1952 11,50 5,20 não S27°43´04,8” a W48°30´11,5” S27°41´17,1” a W48°28´50,0” Florianópolis Campeche PEDRO APARICIO INACIO Renilda Remo madeira 1951 8,00 0,70 não S27°43´04,7” a W48°30´13,9” S27°41’23,4’’ a W48°28’54,0’’ Florianópolis Campeche FABIO EUZEBIO DANIEL Carrochinha Remo madeira 1985 8,70 1,65 sim S27°38’35,4’’ a W48°27’40,7’’ S27°41’23,4’’ a W48°28’54,0’’ Florianópolis Campeche FABIO EUZEBIO DANIEL Fada Remo madeira 1980 8,74 1,00 sim S27°38’35,4’’ a W48°27’40,7’’ S27°41’23,4’’ a MARIA DA CONCEIÇÃO W48°28’54,0’’ Florianópolis Campeche Borboleta II Remo madeira 2007 9,34 1,00 sim PIRES LOPES S27°38’35,4’’ a W48°27’40,7’’

226

S27°41’23,4’’ a MARIA DA CONCEIÇÃO W48°28’54,0’’ Florianópolis Campeche Borboleta III Remo madeira 2007 7,85 0,80 sim PIRES LOPES S27°38’35,4’’ a W48°27’40,7’’ S27°41’23,4’’a MARIA DA CONCEIÇÃO W48°28’54,0’’ Florianópolis Campeche Samaritana Remo madeira 1967 9,30 1,10 sim PIRES LOPES S27°38’35,4’’a W48°27’40,7’’ S27°25’38,7” a W048°28’09,3” Florianópolis Canasvieiras ALVARO MURILO SARDA Valsa Remo madeira 1979 6,50 0,10 não S27°25’36,4” a W048°28’20,1” S27°25’39,0’’a W48°28’03,3’’ Florianópolis Canasvieiras LUCIANO BASTOS Maresia Remo madeira 1991 6,20 não S27°25’39,4’’a W48°27’54,2’’ S27°25´21,6” a ORACIDES FRANCISCO W48°26´20,0” Florianópolis Canasvieiras Ciderela Remo madeira 1989 4,70 não DOS SANTOS S27°25´15,6” a W48°26´08,5” S27°25´37,1” a AURINO JUSTINO W48°27´17,6” Florianópolis Canasvieiras América I Remo madeira 1979 6,20 não PACHECO S27°25´37,5” a W48°27´22,5” AURINO JUSTINO S27°25`38,9" a Florianópolis Canasvieiras Aparecida Remo madeira 1986 6,19 0,30 não PACHECO W48°27`38,9`` S27°26’65,1”a ALMIR ADENIR DOS W48°31’45,0” Florianópolis Praia da Daniela Maria das Graças Remo madeira 5,00 não SANTOS S27°26’ 77,3” a W48°31’81,4” S27°26’9,94” a ENIVALDO PEDRO DA W048324,6” Florianópolis Praia da Daniela Juliana Remo madeira 2000 4,20 1,00 não SILVA S27°27’12,7” a W048°32’47,6”

Florianópolis Praia da Daniela ROBERTO ANIBAL ALVES Lucia Remo madeira 1960 6,40 sim

S27°26’48,7’’a VALMOR TEMOTEO W48°31’59,9’’ Florianópolis Praia da Daniela Esperança II Remo madeira 2002 5,50 não MACHADO S27°26’46,7’’a W48°31’48,9’’ 227

S27°26´47,2” a MARIA TEREZINHA W48°32´10,5” Florianópolis Praia da Daniela Saragaço Remo madeira 1980 5,00 não ROMIDA S27°26´56,8” a W48°32´20,2” S27°26´41,2” a MARIA TEREZINHA W48°32´10,5” Florianópolis Praia da Daniela Izabely Remo madeira 1995 4,00 0,20 não ROMIDA S27°26´56,8” a W48°32´20,2” S27°39’03,9” a EZANIR AMBROSIO fibra de W048°28’02,9” Florianópolis Joaquina Inzibida Remo 1999 9,60 2,00 não ALEXANDRE vidro S27°37’43,5” a W048°26’52,8” S27°26’07,9’’ a W48°30’22,0’’ Florianópolis Jurerê CLAUDINEI DA VENTURA Aventureira Remo madeira 1978 6,20 não S27°26’11,3’’ a W48°30’11,2’’ S27°26´15,8” a NILSON FRANCISCO fibra de W48º°29´37,2” Florianópolis Jurerê Pitu II Remo 2000 5,16 1,00 não MAFRA vidro S27°26´15,4” a W48°29´40,2” S27°50’39,9” a W48°26’12,3” Florianópolis Jurerê LUCIANO FAUSTINO Pérola II Remo madeira 1992 5,20 1,00 não S27°26’12,3” a W48°29’26,9” S27°25’57,1” a W0,48°30’49,1” Florianópolis Jurerê Internacional NILTON AGENOR GAIA Lena do Mar Remo madeira 2008 6,50 não S27°26’00,4” a W0,48°30’40,2” S27°42’24,8” a HIGO ADEMAR DOS W48°29’52,2” Florianópolis Morro das Pedras Dona Laura Remo madeira 1900 8,00 0,70 não SANTOS S27°44’05,5” a W48°30’28,7” S27°47’01,07” a Praia do Pântano do ARANTE JOSE MONTEIRO W48°30’24,69” Florianópolis Osmarina Remo madeira 1964 8,74 1,00 não Sul FILHO S27°47’48,31” a W48°32’04,67” S27°46’56,4” a Praia do Pântano do ARANTE JOSE MONTEIRO W48°30’28,3” Florianópolis Zé Gancheiro Remo madeira 1951 9,35 1,70 não Sul e Solidão FILHO S27°47’42,3” a W48°32’04,7”

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S27°23’40,7” a EDEMAR MANOEL DAS W48°26’03,0” Florianópolis Ponta das Canas Cinderela II Remo madeira 1969 7,50 0,80 não NEVES S27°23’50,4” a W48°25’54,2”

Florianópolis Ponta das Canas DARCY MANOEL DA SILVA Vera Lucia Remo madeira 1969 7,50 0,70 sim

S27°23´44,5” a ALIOMAR MANOEL DE W48°26´00,3” Florianópolis Ponta das Canas Saíra Remo madeira 2007 6,80 0,60 não LIMA S27°23´40,8” a W48°26´04,6” S27°25’01,2” a ROMARIO JOSÉ DE W48°25’50,6” Florianópolis Ponta das Canas Vamos com Deus Remo madeira 1900 7,80 0,40 não MAGALHÃES S27°24’55,4” a W48°25’46,8” S27°23´35,3” a NILDO VILMAR DOS W48°24´54,0” Florianópolis Praia Brava Feliz nas Ondas Remo madeira 2002 8,54 2,00 não SANTOS S27°24´18,8” a W48°24´43,8” S27°24’19,7” a NILDO VILMAR DOS W48°24’40,7” Florianópolis Praia Brava Praia Brava I Remo madeira 2002 8,72 1,00 não SANTOS S27°23’34,4”a W48°24’52,0” S27°24’19,7” a NILDO VILMAR DOS W48°24’40,7” Florianópolis Praia Brava Praia Brava II Remo madeira 2002 9,10 1,00 não SANTOS S27°23’34,4” a W48°24’52,0” S27°24’19,7” a NILDO VILMAR DOS W48°24’40,7” Florianópolis Praia Brava Praia Brava III Remo madeira 2002 9,10 1,00 não SANTOS S27°23’34,4” a W48°24’52,0” S27°23´35,3” a NILDO VILMAR DOS W48°24´54,0” Florianópolis Praia Brava Praia Brava IV Remo madeira 1999 8,72 1,00 não SANTOS S27°24´18,8” a W48°24´43,8” S27°26´0,02” a W48°31´10,9” Florianópolis Praia do Forte RAFAEL ANIBAL ALVES Rosimar Remo madeira 1996 7,30 0,50 não S27°25´56,2” a W48°31´08,2”

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S27°35’53,3’’a ASSOCIAÇÃO DE W48°25’43,7’’ Florianópolis Praia da Galheta PESCADORES DO RETIRO Rainha do Mar III Remo madeira 1900 8,00 1,00 sim S27°35’31,4’’a DA LAGOA W48°25’13,4’’ S27°35’53,3” a ASSOCIAÇÃO DE W48°25’43,7” Florianópolis Praia da Galheta Leão do Mar II Remo madeira 2011 5,35 sim PESCADORES DO RETIRO S27º35’31,4” a DA LAGOA W48º25’13,4” S27°35’53,3’’ a LOURIVAL MANOEL Pérola do W48°25’43,7’’ Florianópolis Praia da Galheta Remo madeira 1990 8,60 0,80 sim TEIXEIRA Atlântico S27°35’31,4’’ a W48°25’13,4’’ S27°35’32,01’’ a LOURIVAL MANOEL Pérola do W48°25’13,4’’ Florianópolis Praia da Galheta Remo madeira 1996 8,00 1,20 não TEIXEIRA Atlântico II S27°35’53,3’’ a W48°25’42,0’’ sim, Florianópolis Praia do Gravatá DARCI MAURILIO NUNES Show da Vida VI Remo madeira 1997 8,00 0,30 coordenadas não demarcadas S27°25´00,6” a W48°25´49,8” Florianópolis Praia dos Ingleses AGUINALDO IVO GARCIA Pequena Sereia Remo madeira 1995 5,60 não S27°25´05,2” a W48°25´54,2” S27°26´57,1” a ARNALDO TOMAZ DOS W48°3´38,8” Florianópolis Praia dos Ingleses Pompéia II Remo madeira 2001 8,08 1,00 não SANTOS S27°26´05,5” a W48°23´31,0” S27°25´55,3” a ARNALDO TOMAZ DOS W48°23´40,3” Florianópolis Praia dos Ingleses Pompéia Remo madeira 1990 8,50 0,85 não SANTOS S27°26´05,4” a W48°23´31,3” S27°26´05,1” a ERNANDE NEVES DA W48°23´32,1” Florianópolis Praia dos Ingleses Estrela do Mar I Remo madeira 2008 7,70 não SILVEIRA S27°26´14,7” a W48°23´22,1” S27°26’38,4” a ERNANDE NEVES DA W48°22’17,2” Florianópolis Praia dos Ingleses Estrela do Mar III Remo madeira 1999 7,98 não SILVEIRA S27°26’37,0” a W48°22’12,5”

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S27°26´04,6” a ERNANDE NEVES DA W48°23´31,8” Florianópolis Praia dos Ingleses Estrela do Mar XII Remo madeira 1989 8,00 1,00 não SILVEIRA S27°26´02,2” a W48°23´33,8” S27°26’38,4” a ERNANDE NEVES DA W48°22’17,2” Florianópolis Praia dos Ingleses Platina II Remo madeira 1979 8,36 0,70 não SILVEIRA S27°26’37,0” a W48°22’12,5” S27°24’59,0” a ERNANDE NEVES DA W48°24’13,3” Florianópolis Praia dos Ingleses Platina III Remo madeira 1965 8,80 0,90 não SILVEIRA S27°25’05,2” a W48°24’10,5” S27°26’38,0” a ERNANDE NEVES DA W48°22’16,6” Florianópolis Praia dos Ingleses Platina IV Remo madeira 2008 8,80 0,60 não SILVEIRA S27°26’37,8” a W48°22’38,0” S27°25’02,1” a W48°25’54,4” Florianópolis Praia dos Ingleses JOEL DE SOUZA BRITO Jóia Rara V Remo madeira 1980 5,30 1,00 não S27°25’10,5” a W48°26’01,0” S27°25’02,1” a W48°25’54,4” Florianópolis Praia dos Ingleses JOEL DE SOUZA BRITO Jóia Rara III Remo madeira 1968 6,70 1,00 não S27°25’10,5” a W48°26’01,0” S27°25’36,3” a JOSÉ CARMO DOS W48°23’54,1” Florianópolis Praia dos Ingleses Isadora Remo madeira 2008 8,90 1,00 não SANTOS S27°25’47,8” a W48°23’46,8” S27°26´38,4” a JOSÉ GENEROSO DA Nossa Senhora do W48°22´17,2” Florianópolis Praia dos Ingleses Remo madeira 1959 7,94 0,30 não SILVA Mar S27°26´37,0” a W48°22´12,5” S27°25’17,4” a LAURECI ALVES DOS W48°24’05,3” Florianópolis Praia dos Ingleses Galheta Remo madeira 1966 8,50 1,60 não SANTOS S27°25’31,0” a W48°23’58,2” S27°26´46,9” a W048°22´98,7” Florianópolis Praia dos Ingleses MARCIO LAURO DE SOUZA Rancho Souza Remo madeira 1980 8,36 1,10 não S27°26´53,2” a W048°22´85,0”

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S27°29’10,6” a MARIO CESAR W48°23’17,6” Florianópolis Praia dos Ingleses Francine Remo madeira 1962 7,00 1,40 não RODRIGUES S27°28”52,34” a W48°22’51,59” S27°25’07,5” a NELY VASCONCELOS DOS W48°24’07,5” Florianópolis Praia dos Ingleses Paula Remo madeira 1981 8,50 0,90 não SANTOS S27°25’17,4” a W48°24’05,3” S27°25´03,8” a NILO PEDROSO DOS Vamos com Deus W048º°24´10,8” Florianópolis Praia dos Ingleses Remo madeira 1910 8,60 1,00 não SANTOS I S27°24´54,4” a W048°24´14,4” S27°25´48,7” a NILO PEDROSO DOS W048°23´46,2” Florianópolis Praia dos Ingleses Sant'Ana Remo madeira 1947 8,00 0,60 não SANTOS S27°25´46,5” a W048°23´47,6” S27°25´04,4” a RAFAEL LOPES Vamos com Deus W048º°4´10,8” Florianópolis Praia dos Ingleses Remo madeira 1990 8,65 não GONÇALVES II S27°25´11,4” a W048°24´07,6” S27°26’38,9”a SEBASTIÃO JUVELINO W48°22’17,4” Florianópolis Praia dos Ingleses J.L.S Remo madeira 1988 8,10 1,00 não DOS SANTOS S27°26’36,6”a W48°22’12,6” S27°26’22,3”a SEBASTIÃO JUVELINO W48°23’10,1” Florianópolis Praia dos Ingleses Luiza XI Remo madeira 1971 8,50 1,70 não DOS SANTOS S27°26’38,9” a W48°22’17,4” Nossa Senhora Canto Sul da Praia dos Florianópolis Praia dos Ingleses MANOEL JOÃO COELHO Remo madeira 1970 8,70 1,00 sim Aparecida Ingleses S27°26´17,7” a VALCIR GETÚLIO DA SILVA W48°23´14,2” Florianópolis Praia dos Ingleses Andrea Silva Remo madeira 1980 8,80 1,00 não (ESPÓLIO) S27°26´27,7” a W48°23´06,7” S27°23’19,6” a EDEMAR MANOEL DAS W48°25’14,7” Florianópolis Praia da Lagoinha Boa Fé I Remo madeira 1968 8,60 0,90 não NEVES S27°23’18,5” a W48°25’44,5”

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S27°23’19,9” a EDEMAR MANOEL DAS W48°25’37,9” Florianópolis Praia da Lagoinha Flomar Remo madeira 1958 7,00 1,80 não NEVES S27°23’21,4” a W48°25’15,5” EDEMAR MANOEL DAS Florianópolis Praia da Lagoinha Flomar I Remo madeira 1964 7,92 1,34 não NEVES S27°23´20,9” a EDEMAR MANOEL DAS W48°25´15,2” Florianópolis Praia da Lagoinha Fragata Remo madeira 1985 7,00 1,00 não NEVES S27°23´21,6” a W48°25´22,7” S27°23’20,9” a EDEMAR MANOEL DAS W48°25’15,2” Florianópolis Praia da Lagoinha Garça Azul Remo madeira 6,30 0,80 não NEVES S27°23’21,6” a W48°25’22,7” S27°23´20,9” a EDEMAR MANOEL DAS W48°25´15,2” Florianópolis Praia da Lagoinha Japura Remo madeira 1973 7,78 0,30 não NEVES S27°23´21,6” a W48°25´22,7” S27°23’17,2” a EDEMAR MANOEL DAS W48°25’45,3” Florianópolis Praia da Lagoinha Santa Paulina Remo madeira 1981 8,00 0,70 não NEVES S27°23’18,6” a W48°25’14,0” S27°23´21,1” a HIPOLITO TOMAZ DE W48°25´14,1” Florianópolis Praia da Lagoinha Flor do Mar Remo madeira 1987 8,00 0,42 não OLIVEIRA S27°23´20,8” a W48°25´33,4” S27°23´21,1” a HIPOLITO TOMAZ DE Nossa Senhora W48°25´14,1” Florianópolis Praia da Lagoinha Remo madeira 1987 6,08 0,48 não OLIVEIRA das Neves S27°23´20,8” a W48°25´33,4” S27°30’43,5” a W48°24’37,1” Florianópolis Praia do Moçambique EDI JOÃO DE BARCELOS Sueli Remo madeira 1998 6,10 não S27°30’01,6”a W48°24’04,5” S27°30’43,5” a W48°24’37,1” Florianópolis Praia do Moçambique EDI JOÃO DE BARCELOS Sueli Remo madeira 1998 4,00 não S27°30’01,6” a W48°24’04,5”

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S27°30’06,5” a W48°24’09,8” Florianópolis Praia do Moçambique PAULO JOSÉ FRANCISCO Rodrigo Remo madeira 1984 7,60 não S27°29’12,6” a W48°23’19,2 S27°50´07,5” a W48°33´35,5” Florianópolis Praia de Naufragados FLAVIO ARGINO MARTINS Marli I Remo madeira 8,20 2,00 não S27°50´00,5” a W48°33´58,4” S27°50’07,5” a Nossa Senhora W48°33’35,5” Florianópolis Praia de Naufragados FLAVIO ARGINO MARTINS Remo madeira 1979 8,37 0,80 não das Graças S27°50’00,5” a W48°33’58,4,0” S27°29’10,6” a W48°23’17,6” Florianópolis Praia do Rio Vermelho JOÃO MANOEL VIEIRA Santa Paulina Remo madeira 1980 9,45 2,00 não S27°28”52,34” a W48°22’51,59” S27°27´56,5” a W48°22´37,8” Florianópolis Praia do Santinho ANTONIO MANOEL FILHO Araraguara Remo madeira 1988 10,00 1,50 não S27°27´9,3” a W48°22´20,9” S27º°7´56,5” a W48°22´37,8” Florianópolis Praia do Santinho ANTONIO MANOEL FILHO Gargalhada I Remo madeira 1985 9,00 2,40 sim S27°27´9,3” a W48°22´20,9” S27°27´56,5” a W48°22´37,8” Florianópolis Praia do Santinho JOSÉ FILHO DE SOUZA São Pedro Remo madeira 1985 9,10 1,80 sim S27°27´9,3” a W48°22´20,9” S27°27´56,5” a W48°22´37,8” Florianópolis Praia do Santinho DOMINGOS JOÃO FLOR Estrela II Remo madeira 1980 8,50 1,00 sim S27°27´9,3” a W48°22´20,9” S27°27´9,3” a Maria Aparecida W48°22´20,9” Florianópolis Praia do Santinho DOMINGOS JOÃO FLOR Remo madeira 2008 8,70 1,00 não III S27°26´59,1” a W48°22´15,1” S27°27´9,3” a W48°22´20,9” Florianópolis Praia do Santinho DOMINGOS JOÃO FLOR Maria Aparecida II Remo madeira 1967 9,00 1,10 não S27°26´59,1” a W48°22´15,1”

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S27°27´55,6” a W48°22´37,2” Florianópolis Praia do Santinho JOÃO OSTACIO DA SILVA Daniela Remo madeira 2008 8,90 1,00 não S27°27´02,6” a W48°22´170” sim, fibra de Ponto entre Sr. Clovis e Florianópolis Ratones DOMINGOS JOSÉ ORELO Vitara Remo 2000 4,50 coordenadas vidro Sr. Valmor não demarcadas S27°45´58,9 a OZENETE IZAURA DE W48°34´27,3´´ Florianópolis Ribeirão da Ilha Bafugen Remo madeira 2020 7,00 não SOUZA S27°45´57,5 a W48°34´29,3´´ S27°48´13,14” a W48°33´56,63” Florianópolis Ribeirão da Ilha ADILSON PEDRO MARTINS Alvi Negra Remo madeira 1966 5,82 não S27°48´31,50” a W48°33´38,92” S27°48´13,14” a W48°33´56,63” Florianópolis Ribeirão da Ilha ADILSON PEDRO MARTINS Alvi Negra II Remo madeira 1966 5,90 não S27°8´31,50” a W48°33´38,92” S27°45´36,9” a JOSÉ PAULO DA W48°34´23,4” Florianópolis Ribeirão da Ilha Amorosa Remo madeira 1980 5,56 1,00 não NATIVIDADE S27°45´41,9” a W48°34´45,1” S27°45’41,9” a JOSÉ PAULO DA W48°34’45,1” Florianópolis Ribeirão da Ilha Curreca Remo madeira 1978 6,05 0,10 não NATIVIDADE S27°45’36,9” a W48°34’23,4” S27°45´35,8” a JOSÉ PAULO DA W48°34´21,9” Florianópolis Ribeirão da Ilha Curreca II Remo madeira 1993 6,07 não NATIVIDADE S27°45´41,4” a W48°34´42,4”

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S28°01’24,5” a EDMUNDO ALVES DO W48°36’59,1” Garopaba Larissa II Remo madeira 2000 9,30 1,10 não NASCIMENTO S28°01’10,9” a W48°36’37,2”

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Dos Búfalos e S28°06”09,9594’ a Garopaba ANTONIO DA SILVEIRA Remo madeira 2008 8,70 1,00 não Totó W48°38”09,6383’ S27°57’35,7’’a W48°37’32,8’’ Garopaba Gamboa ALTAIR VIEIRA Marilene II Remo madeira 1971 8,58 1,80 não S27°55’24,6’’ a W48°36’24,2’’ S27°57´35,7” a W27°55´24,6” Garopaba Gamboa AILTON VIEIRA Zalim II Remo madeira 8,60 0,90 não S27º°55´24,6” a W48°36´24,2” S28°04´54,4” a W48°37´44,9” Garopaba Praia da Barra HILARIO MANOEL BENTO Camponesa II Remo madeira 1962 8,00 0,70 não S28°04´27,5” a W48°37´31,1” S27°35´28,7” a W48°43´21,1” Garopaba Praia da Ferrugem HILARIO MANOEL BENTO Camponesa III Remo madeira 1976 8,00 0,80 não S27°04´35,7” a W48°37´39,5” S26°11’51,2” a W 48°31’41,3” Garopaba Praia da Ferrugem HILARIO MANOEL BENTO Camponesa I Remo madeira 1972 8,60 1,00 não S26°12’27,4” a W48°31’35,0” S27°59’53,9” a W48°38’14,8” Garopaba Praia de Garopaba MAURO SANTANA Boa Fé Remo madeira 1977 8,00 0,60 não S28°01’10,9” a W48°36’37,2” S28°02’41,9” a W 48°36’35,5” Garopaba Praia da Silveira PAULO FERNANDES Ana Paula I Remo madeira 1993 8,56 1,10 não S28°02’06,5” a W48°36’21,4” VERIANO MANOEL Garopaba Praia da Silveira Roseli Remo madeira 1991 8,40 sim FERNANDES S28°01’24,8” a FRANCISCO Nossa Senhora da W48°36’55,0” Garopaba Praia da Vigia Remo madeira 1962 8,50 0,70 não ALEXANDRINA NETO Boa Viagem S28°01’10,9”a W48°36’37,2” S27°59’53,9” a W48°38’14,8” Garopaba Praia da Vigia PEDRO PAULO DA SILVA Xirle Remo madeira 1979 8,50 0,90 não S28°01’10,9” a W48°36’37,2” 236

S28º°1´24,1” a W48°37´01,7” Garopaba Prainha PEDRO PAULO DA SILVA Rosemari Remo madeira 1962 8,50 0,70 não S28°01´11,2” a W48°36´37,7”

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização sim, não Governador Praia de Fora JOÃO PEDRO SEIA Ismaela Remo madeira 1974 7,48 0,40 demarcada por Celso Ramos coordenadas sim, não Governador JEAN VALDEVINO Praia do Sisial Vitória Remo madeira 1972 5,77 1,00 demarcada por Celso Ramos MARQUES coordenadas S27°22’25,4” a Governador GILBERTO BORBA W48°32’26,8” mesma Praia do Tinguá Vitória XV Remo madeira 2010 5,00 Celso Ramos CORREA S27°22’25,8” a coordenada W48°32’22,2” S27°22´25,4” a Governador W48°32´26,8” mesma Praia do Tinguá JUCELIO ALTINO DA SILVA Lili Remo madeira 1998 6,80 1,00 Celso Ramos S27°22´25,8” a coordenada W048°32´22,2” S27°20’05,2’’a Governador W48°31’54,3’’ mesma Praia de Palmas ODEVAR OSCAR CEA Margarida Remo madeira 1990 7,60 Celso Ramos S27°18’48,2’’ a coordenada W48°32’24,3’’ S27°20’05,2’’ a Governador W48°31’54,3’’ mesma Praia de Palmas ODEVAR OSCAR CEA Margarida I Remo madeira 1990 7,70 0,40 Celso Ramos S27°18’48,2’’ a coordenada W48°32’24,3’’ S27°20´05,2” a Governador RENILSON IDALINO W48°32´54,3” mesma Praia de Palmas Marvada Remo madeira 1995 6,90 Celso Ramos FLORES S27°18´48,2” a coordenada W48°32´24,3”

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Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S28°06’10,4” a W48°38’12,6” Imbituba ANASTACIO SILVEIRA Vai na Certa Remo madeira 1963 8,30 0,80 não S28°06’28,9” a W48°38’09,0” MARIA LEALCINA S28°08”21,5090’ a Imbituba Pulomar Remo madeira 1965 8,90 1,20 não MARQUES W48°38”23,9818’

S28°08”20,9847’ a Imbituba VERGINIO DA SILVEIRA 5 Estrelas Remo madeira 2005 11,00 0,90 não W48°38”24,7309’

S28°13”36,6310’ a Imbituba EMERSON DOS SANTOS Natacha I Remo madeira 1980 7,03 3,00 não W48°39”42,4338’

S28°13”37,1122’ a Imbituba EMERSON DOS SANTOS Gisele IV Remo madeira 1993 6,34 0,50 não W48°39”42,6903’

coordenada não Imbituba Praia Vermelha DOMINGOS DA SILVEIRA Estela Maris Remo madeira 1980 8,00 demarcada

coordenada não Imbituba Barra de Ibiraquera DOMINGOS DA SILVEIRA Pingo D´Água Remo madeira 2002 8,10 0,60 demarcada

Rainha de S28°08"48,1095'’ a Imbituba Barra de Ibiraquera CELECINA MARQUES Remo madeira 1974 8,40 0,90 não Ibiraquera W48°38"50,6042'

Princesa do coordenada não Imbituba Barra de Ibiraquera ADEMAR TEIXEIRA Remo madeira 1967 8,60 Campeche demarcada

SIDNEY DA ROCHA DOS S28°14”29,1174’ a Imbituba Praia da Vila Marlene Remo madeira 1962 8,82 não SANTOS W48°39”30,8926’

S28°20”16,6144’ a Imbituba Praia de Itapirubá CLAUDIODETE DOMINGOS Claudiodete Remo madeira 1971 8,20 0,90 não W48°42”18,2180’

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Imbituba Praia de Itapirubá CRISTIANO DIAS Luana XII Remo madeira 2004 9,00 1,00 S28°20”16,8092’ a não W48°42”18,0402’ S28°08”48,4883’ a Imbituba Praia do Luz PEDRO MARQUES Guaira Remo madeira 1995 8,70 1,00 não W47°38”49,9020

S28°13”03,6148’ a Imbituba Prainha do Porto LUCIO TEIXEIRA Gelmar I Remo madeira 1994 8,79 1,20 não W48°40”00,4382’ S28°11´39,0” a W48°39´33,8” Imbituba Praia da Ribanceira LUCAS DA SILVA Madalena IV Remo madeira 1986 8,30 1,20 não S28º°11´39,0” a W48°39´33,8” BENJAMIM MARTINS S28°11”25,5447’ a Imbituba Praia da Ribanceira Terezinha I Remo madeira 1990 6,92 1,30 não GONÇALVES W48°39”45,4332’

S28°11”25,2624’ a Imbituba Praia da Ribanceira ROBERTO RODRIGUES Rei do Oceano Remo madeira 1989 8,83 1,40 não W48°39”45,6028’

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S27°05’42,7” a ADELSON MENEZES DOS W48°36’44,7” Itapema Praia de Itapema Boa Fortuna Remo madeira 8,00 1,40 não SANTOS S27°06’23,0” a W48°36’45,4” S27°05’28,1” a ROGERIO DE W48°36’28,1” Itapema Praia de Itapema Marfim Remo madeira 1988 7,48 não VASCONCELOS S27°05’38,7” a W48°36’43,0” S27°02´48,3” a W48°35´16,99” Itapema Estaleirinho MARTINHO VIEIRA Riete Remo madeira 1975 7,00 0,40 não S27°03´06,86” a W48°35´16,00” S27°02´48,3” a W48°35´16,99” Itapema Estaleirinho MARTINHO VIEIRA Vila Rica Remo madeira 1986 6,40 0,30 não S27°03´06,86” a W48°35´16,00” 239

S27°06’33,7” a W48°36’39,7” Itapema Meia Praia LUIZ ANTONIO GONZAGA Gaivota Remo madeira 2008 7,00 não S27°07’27,0 “ a W48°36’11,2” S27°07´59,9” a W48°35´46,5” Itapema Meia Praia PEDRO IDEGAR CORREIA Vencedora Remo madeira 1984 8,00 1,50 não S27°07´28,2” a W48°36´11,3” S27°08´34,9” a W48°35´12,5” Itapema Perequê CLAUDIO DE JESUS Guará Remo madeira 1943 6,30 não S27°08´05,5” a W48°35´42,8” S27°03´39,7”a W048°35´35,9” Itapema Praia de Ilhota ISIDORO JOSE DA SILVA Foca Remo madeira 1996 4,44 1,00 não S27°03´03,1” a W048°35´55,3”

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S28°40´05,17” a W48°57´26,29” Laguna Farol de Santa Marta LUIZ SCHLICKMANN Planeta do Mar I Remo madeira 1980 8,00 1,20 não S28°41´30,22” a W48°00´15,81” LUCIMAR DA SILVA S28°36”08,2577’ a Laguna Farol de Santa Marta Maria Maré Remo madeira 1994 8,83 1,00 não AGOSTINHO DE OLIVEIRA W48°48”58,5813’

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S27°08’44,3871” a W48°35’006562” Porto Belo Perequê JOÃO MANOEL JAQUES Vô Ci Remo madeira 2020 6,70 1,00 não S27°09’04,5287” a W48°34’27,7017”

240

S27°09´09,9” a W48°34´18,6” Porto Belo Perequê RONALDO DE OLIVEIRA Amizade I Remo madeira 1979 5,90 0,30 não S27°35´46,6” a W48°34´05,6”

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Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S27°54’18,7” a ASSOCIAÇÃO DE W48°35’14,3” Palhoça Guarda do Embaú PESCADORES DA Os Maias Remo madeira 1967 7,80 0,70 não S27°56’30,6” a GUARDA DO EMBAÚ W48°37’11,5” S27°54’18,7” a ASSOCIAÇÃO DE W48°35’14,3” Palhoça Guarda do Embaú PESCADORES DA Os Maias I Remo madeira 2002 8,86 1,00 não S27°56’30,6” a GUARDA DO EMBAÚ W48°37’11,5” S27°54´20,68” a GONZAGA ARGEMIRO W48°35´12,6” Palhoça Guarda do Embaú Canoa da Tribo II Remo madeira 2008 10,20 2,00 não CORREIA S27°55´53,29” a W48°36´43,23” S27°54’18,7”a W48°35’06,3” Palhoça Guarda do Embaú ALTAIR VIEIRA Iemanjá IV Remo madeira 1972 8,20 1,00 sim S27°55’24,6” a W48°36’24,2” S27°54’18,7” a MANOEL ROBERTO DOS W48°35’06,3” Palhoça Guarda do Embaú Iemanjá Remo madeira 1991 9,45 1,20 sim SANTOS S27°55’24,6” a W48°36’24,2” S27°53’00,4” a W48°34’43,6” Palhoça Pinheira CATIA REGINA PETRY Katia Regina Remo madeira 1900 7,30 0,70 não S27°52’55,6” a W48°35’06,3” S27°52’59,1” a W48°35’16,1” Palhoça Pinheira DENIR MANOEL DE MATOS Princesa do Mar I Remo madeira 1999 8,50 0,70 não S27°52’04,4” a W48°36’10,5” S27°53´01,0” a CANTALICIO FRANCISCO W48°34´46,8” Palhoça Pinheira Flor do Mar I Remo madeira 1987 8,76 0,70 não DE AZEVEDO (ESPÓLIO) S27°52´41,0” a W48°34´32,8” S27°53´07,5” a LEDA LUIZA FRANCISCO W48°35´27,0” Palhoça Pinheira Pombinha I Remo madeira 1988 8,88 4,10 sim DOS SANTOS S27°50´50,2” a W48°35´16,4”

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S27°53´07,5” a W48°35´27,0” Palhoça Pinheira JOÃO JOAQUIM NUNES Luz do Dia I Remo madeira 1995 8,92 1,60 sim S27°50´50,2” a W48°35´16,4" S27°53’07,0’’a MANOEL PAULINO DE W48°35’22,5’’ Palhoça Pinheira Merença I Remo madeira 1970 8,76 0,90 não MATOS FILHO S27°51’59,8’’ a W48°36’09,7’’ EUCLIDES VERGINIO DA coordenada não Palhoça Ponta do Papagaio Marco I Remo madeira 2009 4,60 SILVEIRA Da Guarita do Bombeiro demarcada até no meio da Fortaleza S27°50’17,8” a SILVO MANOEL DA W48°35’15,8” Palhoça Ponta do Papagaio Maré Mansa Remo madeira 2002 4,00 não SILVEIRA S27°50’49,0” a W48°34’56,3” S27°50’06,5” a W48°35’15,3" Palhoça Praia do Sonho ADILTO NERY DE SOUZA Amado de Deus Remo madeira 2005 7,50 1,00 não S27°50'17,8" a W48°35'15,8" S27°44’55,0’’ a W48°07’27,1’’ Palhoça Praia do Sonho CARMINO RAMOS Tete Remo madeira 2002 7,30 1,00 não S27°48’44,3’’ a W48°35’12,5’’ S27°49’41,9” a QUINTINO PEDRO W48°35’12,1” Palhoça Praia do Sonho Andorinha IV Remo madeira 1900 7,00 0,60 sim GONÇALVES S27°50’06,5” a W48°35’15,3”

Ano Pontos com Propul Comp. Arqueação Município Local de pesca Proprietário (a) Embarcação Material fabrica Coordenadas problema de são (m) Bruta (AB) ção localização S26°10’17,6” a São Francisco do DERCY DA LUZ W48°32’47,1” Forte Magali Remo madeira 1969 6,30 0,40 não Sul HILGEMBERG DE FREITAS S26°10’16,1” a W48°32 45,9”

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S26°10’13,1” a São Francisco do DERCY DA LUZ W48°32’16,1” Forte Lani Remo madeira 1984 8,00 1,20 não Sul HILGEMBERG DE FREITAS S26°10’17,8” a W48°32’45,1” S26°10´13,1” a São Francisco do DERCY DA LUZ W48°32´16,1” Forte Bonita Remo madeira 1989 6,90 0,28 não Sul HILGEMBERG DE FREITAS S26°10´17,8” a W48°32´45,1” S26°10’13,1” a São Francisco do DERCY DA LUZ W48°32’16,1” Forte Eloy Remo madeira 1996 6,40 0,40 não Sul HILGEMBERG DE FREITAS S26°10’17,8” a W48°32’45,1” S26°11’16,1” a São Francisco do W48°34”26,1” Praia de Capri GERSON MAIA DE ARAUJO Alexes Remo madeira 1989 4,50 sim Sul S26°11’34,6” a W48°34’59,5” S26°11’16,1” a São Francisco do W48°34'26,1” Praia de Capri GERSON MAIA DE ARAUJO Tucano Remo madeira 1979 7,00 1,60 sim Sul S26°11’34,6” a W48°34’59,5” S26°11’16,1” a São Francisco do W48°34”26,1” Praia de Capri GERSON MAIA DE ARAUJO Alesandra I Remo madeira 2001 5,50 0,60 sim Sul S26°11’34,6” a W48°34’59,5” S26°11’16,1” a São Francisco do ANTONIO PEDRO DE W48°34”26,1” Praia de Capri Veneza A Remo madeira 1989 4,50 0,28 sim Sul OLIVEIRA S26°11’34,6” a W48°34’59,5” S26°10’28,0” a São Francisco do W48°33’38,2” Praia de Capri CLAUDIO DE PAULA FILHO Chocante II Remo madeira 1998 5,10 0,40 não Sul S26°10’42,3” a W48°32’48,0” S26°11’16,1” a São Francisco do PAULO ROBERTO W48°34’16,6” Praia de Capri Boa no Mar Remo madeira 1974 5,50 0,70 não Sul CORRÊA S26°11’16,1” a W48°34’26,1” S26°11’13,9” a São Francisco do PAULO ROBERTO W48°34’29,5” Praia de Capri Joselene Remo madeira 1959 5,18 2,80 não Sul CORRÊA S26°11’05,0” a W48°34’18,5”

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São Francisco do coordenada não Praia do Itaguaçu HILARIO BERTRAM Vinícius Remo madeira 1986 6,10 1,00 Sul demarcada

São Francisco do coordenada não Praia do Itaguaçu HILARIO BERTRAM Vinícius I Remo madeira 2000 6,79 0,40 Sul demarcada S26°10’13,8” a São Francisco do ALVARO ANTONIO DA W48°33’18,2” Praia do Sumidouro Medeiros Remo madeira 1980 7,15 0,60 não Sul SILVA JR S26°10’24,9” a W48°33’35,1” S26°10’46,3” a W São Francisco do 48°31’37,0” Praia do Itaguaçu IVAN MAIA DE ARAUJO Shira Remo madeira 1984 6,80 0,80 não Sul S26°11’08,0 ” a W48°31’41,7” S26°10'16,4” a São Francisco do W48°32’41,9” Praia João Dias LUIZ JARBAS PASCOINO Marília I Remo madeira 1983 6,00 0,10 não Sul S26°10’13,8” a W48°33’18,2” S26°10’17,6” a São Francisco do fibra de W48°32’47,1” Praia João Dias LUIZ JARBAS PASCOINO Manuela Remo 2010 7,00 2,00 não Sul vidro S26°10’11,2” a W48°33’15,7” S26°10’17,6” a São Francisco do W48°32’47,1” Praia João Dias LUIZ JARBAS PASCOINO Fortaleza II Remo madeira 1987 6,00 0,80 não Sul S26°10’11,2” a W48°33’15,7” S26°09’57,2” a São Francisco do HUGO DO ROSARIO W48°31’58,5” Praia João Dias Lili Remo madeira 1975 6,92 0,20 não Sul OLIVEIRA S26°10’13,1” a W48°32’16,1” S26°11’51,2’’ a São Francisco do HUGO DO ROSARIO W48°31’41,3’’ Praia de Ubatuba Netumar Remo madeira 1975 6,98 sim Sul OLIVEIRA S26°12’27,4’’ a W48°31’35,0’’ S26°11’51,2’’ a São Francisco do W48°31’41,3’’ Praia de Ubatuba ERALDO MAIA DE ARAUJO Meningite II Remo madeira 2010 7,00 0,55 sim Sul S26°12’27,4’’ a W48°31’35,0’’ S26°11’51,2” a São Francisco do GUILHERME DA SILVA DE W48°31’41,3” Praia de Ubatuba Vitória Remo madeira 2012 6,50 sim Sul OLIVEIRA S26°12’27,4” a W48°31’35,0” 245

S26°12’27,4” a São Francisco do W48°31’35,0” Praia de Ubatuba ABEL MACHADO Ubatuba Remo madeira 1982 7,20 0,70 não Sul S26°13’11,6” a W48°31’19,2”

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8. ANEXOS

ANEXO A – ACORDOS DE PESCA REALIZADOS.

ANEXO B – LIMINAR JUDICIAL PARA PESCA MOTORIZADA.

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ANEXO A – ACORDOS DE PESCA REALIZADOS.

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ANEXO B – LIMINAR JUDICIAL PARA PESCA MOTORIZADA.

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9. RESPONSABILIDADE

Responsabilidade pela elaboração do documento

Ecodimensão Meio Ambiente e Responsabilidade Social Razão social: Ltda. Nome fantasia: Ecodimensão CNPJ: 09.469.588/0001-00 Rua Prof° Elevir Dionysio nº 305, sobrado 2, Fazendinha, Endereço: Curitiba/PR, CEP: 81.320-090 Telefone/fax: (41) 3274-1844 Telefone celular: (41) 98727-0427 E-mail: [email protected]

Curitiba, 07 de dezembro de 2020.

Elielson Marcelino Ecodimensão M.A.R.S. Ltda.

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