A História Ambiental Dos Imigrantes Italianos E Seus Descendentes Na Microrregião Oeste Do Vale Do Taquari/Rs
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A HISTÓRIA AMBIENTAL DOS IMIGRANTES ITALIANOS E SEUS DESCENDENTES NA MICRORREGIÃO OESTE DO VALE DO TAQUARI/RS Janaíne Trombini1 Resumo: Os imigrantes italianos chegaram a partir das últimas décadas do século XIX no Rio Grande do Sul e no Vale do Taquari instalaram-se na porção territorial situada na encosta superior do planalto, entre os vales do rio Caí e do rio das Antas. Este trabalho insere-se em parte da pesquisa de mestrado que está sendo realizado no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da UNIVATES e tem como objetivo analisar a história ambiental dos imigrantes italianos e seus descendentes na Microrregião Oeste do Vale do Taquari. A metodologia da pesquisa será qualitativa e os procedimentos metodológicos consistem na revisão bibliográfica, realização de entrevistas com base na história oral, elaboração de diários de campo com famílias de produtores rurais descendentes de italianos os quais serão analisados por meio de aportes teóricos da história ambiental e da cultura. As informações levantadas têm demonstrado que os imigrantes italianos e seus descendentes desde a instalação no território estabeleceram relações de maior ou menor impacto com a natureza e tanto mantiveram como atualizaram as práticas culturais dos seus antepassados. Palavras-chave: História Ambiental. História Oral. Descendentes de Italianos. Vale do Taquari. Introdução O contexto imigratório italiano está relacionado às transformações sociais, políticas e econômicas recorrentes ao mundo capitalista que fizeram com que muitos italianos se movimentaram em direção à América em busca de uma vida melhor, chegando ao Brasil nas últimas décadas do século XIX. O processo imigratório para o Brasil consiste em duas atividades distintas: uma oficial sendo a colonização, que visava ocupar e povoar zonas até então desocupadas e distantes por estrangeiros, e a outra, particular chamada de imigração, estimulada pelo governo que queria a obtenção de braço livre e interesses para a grande lavoura, como a mão de obra barata (BARROS; LANDO, 1996). Os imigrantes italianos chegaram ao Rio Grande do Sul a partir de meados da década de setenta do século XIX até início do século XX com a proposta de trabalhar na agricultura e a promessa de um bom emprego. Desde o início do processo imigratório os 1 Graduação em História. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento do Centro Universitário Univates, Lajeado/Brasil. Bolsista PROSUP/CAPES. E-mail: [email protected] italianos mantiveram seu contato com a natureza, produzindo seus cultivos oriundos do reino da Itália tendo seu empreendimento colonizador, marcado pelo regime de trabalho familiar e livre, pela policultura e pela pequena propriedade. Considerando estas informações, é que se insere este trabalho em parte da pesquisa de mestrado que está sendo realizado no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da UNIVATES - Lajeado/RS. Este trabalho tem como objetivo procurar analisar a história ambiental dos imigrantes italianos e seus descendentes na Microrregião Oeste do Vale do Taquari, residentes nos municípios de Progresso, Pouso Novo, Travesseiro e Marques de Souza. As famílias descendentes de imigrantes italianos selecionadas para este trabalho podem estar constituídas por pessoas de duas ou até três gerações tais como avós, pais e filhos. Na execução deste trabalho a metodologia consistirá na saída à campo a proprietários descendentes de imigrantes italianos na Microrregião Oeste do Vale do Taquari que atuam com agropecuária, nas quais elabora-se diários de campo e realiza-se entrevistas. Conforme Godoy (1995, p. 58) “as expressões ‘ pesquisa de campo’ e ‘pesquisa naturalística’ podem ser vistas como sinônimos de ‘pesquisa qualitativa’”. Torna-se assim uma ênfase maior cotidiana para compreender como estes descendentes de italianos vivem hoje através de seus relatos, levando em conta também que estas pesquisas de campo serão acompanhadas de aportes documentais e bibliográficos. Tratando-se das entrevistas previamente elabora-se um roteiro de questões semiestruturadas (MARCONI; MAKATOS, 2003). As informações obtidas são registradas com base na metodologia da História Oral para o registro de depoimentos. Além disso, também serão utilizados os diários de campos e entrevistas gravadas para o Projeto de Pesquisa “Desenvolvimento Econômico e Sociocultural da Região do Vale do Taquari/RS: determinantes, dinâmicas e implicações”, do Programa de Pós-Graduação em Ambiente de Desenvolvimento da Univates, no qual participo como voluntária, para o aprofundamento de questões relacionadas aos descendentes de imigrantes italianos no Vale do Taquari. Os critérios para participação desta pesquisa com entrevistas e diários de campo, conforme referido, será com famílias de produtores rurais descendentes de imigrantes italianos dos município da Microrregião Oeste do Vale do Taquari que atuam com agropecuária e que concordaram participar da pesquisa, somando assim sete produtores. Os produtores rurais que participam desta pesquisa devem assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), e serão informados dos objetivos do estudo, bem como que sua participação consiste de um ato voluntário e que não trará qualquer apoio financeiro, dano ou despesa. Também serão utilizados alguns autores sobre a história oral como Pollak (1992), Tedesco (2002) e Félix (2004), que tratam sobre fontes orais, memórias e suas contribuições no campo historiográfico. 2 A Imigração italiana no RS e no Vale do Taquari Na Europa, dentre os vários fatores responsáveis para imigração italiana ao Brasil, pode-se apontar, por exemplo, o difícil acesso a terra, pois os nobres proprietários raramente se desfaziam do que possuíam. Aconteciam também conflitos internos como depressão econômica, fatores relacionados à Revolução Industrial, o processo da unificação do estado nacional italiano (1850–1860) e os altos impostos cobrados dos camponeses (MANFROI, 2001). As áreas destinadas à colonização italiana no Brasil estavam diretamente ligadas às mudanças da Lei de Terra de 1850, pois se não fossem ocupadas deveriam voltar ao governo Imperial. As terras não legalizadas, denominadas de devolutas, seriam as áreas destinadas à colonização (MANFROI, 2001). No Rio Grande do Sul, portos como o de Rio Grande, bem como outras cidades próximas de rios, tais como o Jacuí e Sinos foram os pontos de desembarque dos imigrantes italianos. Conforme, Giron e Herédia (2007), os italianos chegaram após 1870 em áreas da porção nordeste do território do Rio Grande do Sul, local de mata virgem, recebendo auxílio governamental, como alimentação, sementes e instrumentos agrícolas para após ser pago junto com as terras adquiridas. Em fevereiro do mesmo ano, o governo imperial concede para fundação de colônias que receberiam italianos na província em questão, dois territórios de quatro léguas entre o rio Caí, os Campos de Vacaria e o município de Triunfo. Segundo Costa o imigrante italiano veio em busca de terras para cultivo, mas ao chegar ao Brasil se depara com outra situação. Neste sentido Costa (1986: 23), destaca: Este sonho ficou desfeito com as regiões montanhosas confiadas aos imigrantes da península itálica. As grandes plantações sonhadas, tiveram que reduzir-se a pequenos cultivos, nas encostas das montanhas. Com muito esforço e com o correr do tempo o agricultor, desprovido, conseguiu dominar, parcialmente, a inclemência do solo. As dificuldades no cultivo da terra fizeram com que o italiano perseguisse, preferencialmente, as culturas perenes, organizando, por exemplo, parreirais, características de sua cultura. Com a chegada dos imigrantes italianos, uma série de alterações começa a ocorrer no meio ambiente. A agricultura, o comércio e a indústria, especialmente as serrarias e a vinicultura, devem ser entendidos, para além de seu viés econômico, como fatores de modelagem da paisagem Provincial. Um exemplo disso é a opção italiana pela triticultura e pela vinicultura, elementos por excelência do Catolicismo. A escolha pelas lavouras de trigo e pelas videiras não se deu por acaso: tratou-se, inclusive, de uma modelagem religiosa da paisagem local. O trigo é o ingrediente básico para o pão, e a uva é a fruta que origina o vinho. Pão e vinho, por sua vez, são essenciais às cerimônias religiosas cristãs (BUBLITZ, 2004). Estabelecidos em suas colônias, tais como Isabel, Caxias e Conde d’Eu, os imigrantes italianos e seus descendentes com muitas das dificuldades que enfrentaram, passaram a ver a terra como seu principal meio de subsistência e sobrevivência. Sendo assim, retiram dela desde o alimento, roupas e remédios caseiros para as diferentes enfermidades. Criou-se em solo brasileiro uma experiência nova da alimentação em grande parte com alimentos silvestres, tais como o pinhão, a pitanga e a jabuticaba (BATTISTEL; COSTA, 1982). O sistema de cultivo em suas colônias era o da derrubada e queimada da mata, adotando-se depois o rodízio de cultura de tal modo que uma parte da propriedade sempre descansasse, recobrindo-se de capoeira que, posteriormente, seria cortada e queimada. Essa técnica trazida da Europa correspondia com férteis colheitas e vários produtos característicos da imigração italiana como trigo, vinho e milho (DE BONI; COSTA, 1982). Mesmo que à época da imigração grandes florestas já não existissem mais na península itálica, muitos imigrantes italianos trouxeram consigo técnicas de exploração de madeireira, as quais foram difundidas e culminaram, posteriormente no desenvolvimento de indústrias do setor