INTRODU~AO AO ESTUDO DO QUATERNARIO DO LITORAL DO ESTADO DA TRECHOSALVADORILHEUS Louis Martins Abilio S. Vilas Boas Jean Marie Flexor

ABSTRACT

The extension ofthe brazilian coast between Salvador and continental and dry climate, followed period of humid Ilheus (Bahia) shows evidences of two distinct episodes of climate, succeded by a new dry period, when a new detritic transgression in the Quaternary, deduced from the observa­ continental formation has been deposited. Before the maxi­ tion of sandy littoral deposits above the present mean sea mum ofthe last but one transgression (120.000 years B.P,). level:(a)one, older, related to the event of120.000 years B,P. the climate became humid again, and since that time it has (Late Pleistocene), and (b) the other, more recent, related to not presented any appreciable variation, the end ofthe last great transgression (Holocene). After the The Quaternary deposits have been submitted, locally, to deposition of the Formation (Pliocene) under a deformations connected to sinking and tilting ofblocks,

309 Revista Brasilelra de Geocienclas R Volume 9 • N° 4 • 1979 INTRODU«;AO

A regiao do litoral brasileiro aqui estudada esta cornpreen­ Baia de Todos os Santos corresponde provavelmente a urn dida aproximadamente entre os paralelos de 13° e ISo de compartimento abaixado ou, melhor, ao abaixamento de latitude S (Figura I). uma serie de blocos que podem ter tido reacoes ligelramente Geologicamente ela e caracterizada pela bacia de afunda­ diferentes entre si, menta do Rec8ncavo e suas dependencias para 0 sui encaixa­ A oeste, 0 embasamento cristalino reaparece separado das das. segundo uma direcao NNE-SSW, na dorsal precambria­ formacoes cretaceas pela falha de Maragogipe. Frequente­ na do Brasil oriental. Esta dorsal e constituida por series mente. ao pe desta, aparece uma zona baixa que pode, como metam6rficas e sedimentares de idades variadas que foram nas regioes de Maragogipe, Valenca - Nilo Pecanha e afetadas por uma tectonica paleoz6ica de arqueamentos e Itubera, ser ocupada por lagunas (Figura 1). basculamentos de grande raio de curvatura, podendo local­ A parte do litoral situ ada sobre a bacia sedimentar termina mente passar a falhamentos, A fossa de afundamento do na desembocadura do , que esta situada sobre Reconcavo cornecou a se individualizar no Jurassico com urn uma falha. apendice do "rift" que deu nascimento ao atlantico sui, A partir de Itacare 0 litoral esta situado sobre 0 embasa­ atraves da separacao da AtTica e da America do SuI. Na zona mento cristalino. Os depositos quaternarios ai existentes sao litoral essa graben e limitado a leste pela falha de Salvador de pequena extensao, com excecao daqueles localizados na cujo rejeito e de 4.000 metros e, a oeste, pela falha de regiao da pequena bacia sedimeritar de Almada. que corres­ Maragogipe, corn rejeito de 300 metros. A fossa foi preenchi­ ponde a uma zona afundada no meio do embasamento da a partir do Jurassico Superior por sedimentos areno-argi­ cristalino. losos compreendendo variacoes bruscas de facies. Esses sedi­ mentos podem atingir uma espessura de 4.000 metros e sao FORMA«;AO QUATERNARIA ern grande parte de origem deltaica. 0 fim do Terciario foi CONTINENTAL marcado pela deposicao da Formacao Barreiras que recobriu tanto as forruacoes precambrianas quanta as cretaceas e se Na costa oeste da Bala de Todos os Santos. nas regioes de estendeu provavelmente sobre uma parte da plataforma Salinas das Margarinas e (Fig. 2). sao encontrados continental, como e 0 caso da rcgiao de Prado, no sui do dois atloramentos importantes de uma formacao arenosa Estado, Durante 0 Quaternario, caracterizado por variacoes com seixos cujos graos, mal selecionados, apresentam carac­ importantes do nivel do mar e do clima, se depositaram teristicas continentais, Vestigios dessa mesma formacao apa­ formacoes em estreita Iigacao com esses dois fenamenos. 0 recem nas ilhas do Medo, Itaparica, Matarandiba e Carapeba objetivo principal do presente trabalho e exatamente carto­ (Fig. 2). grafar essas formacoes no trecho do litoral considerado. A interpretacao fotogeol6gica da area do trabalho sugere a ocorrencia dessa formacao em outras regioes, notadamente Durante todo 0 Cretaceo a atividade tectenica, caracteriza­ nas ilhas do Frade e de Mare e na Ponta de Areia (Fig. 2). f: da por jogos de blocos alinhados na direcao NNE-SSW, razoavel pensar que esses diversos afloramentos sejam restos permaneceu bastante forte, diminuindo progressivamente de de uma formacao de grande extensao e que deve ter recober­ intensidade no fim do mesmo. Pouco a pouco a fossa foi to a maior parte da regiao atualmente ocupada pela Baia de cessando de se individualizar do resto da dorsal tornando-se Todos os Santos. como pode ser sugerido pela presenca de solidaria com os movimentos de grande raio de curvatura sedimentos relictos com caracteristicas continentals no fundo que caracterizam esta ultima. Entretanto, no fim do Ter­ do Canal de ltaparica (Bittencourt, Ferreira e Di Napoli. ciario, algumas reativacoes de falhas afetaram as forrnacoes 1976). Fora da baia, podem ser encontrados dep6sitos areno­ cretaceas, Em seguida, a fossa passou a se incorporar cada sos equivalentes ao norte de Valenca, ao norte de Maran vez mais ao resto da dorsal, ao tempo em que as grandes (Fig. 3) e ao norte de Salvador. Existe grande probabilidade linhas de fraturamento que a caracterizam tiveram a tenden­ de que as grandes dunas brancas situadas em Itapua, ao cia a se cicatrizar e os movimentos verticais a cessar, Urn norte de Salvador. sejam resultantes do retrabalhamento outro objetivo deste trabalho e de averiguar se movimentos pelo vento da parte superior dessa formacao. Nesse caso, a recentes afetaram as formacoes marinhas quaternarias. origem dessas dunas nao estaria diretamente ligada 11 presen­ A morfologia atual da regiao estudada foi profundamente ca do mar, sendo muito mais antigas do que a ultima marcada pela presenca da bacia de afundamento e por sua transgressao, tectenica especial, ligada a movimentos verticais Localmente, segundoa regiao de ocorrencia. as areias dessa acompanhados de basculamentos. formacao continental podem ter sido originadas a partir do A leste, a cidade do Salvador esta situ ada sobre urn bloco retrabalhamento de sedimentos do Barreiras, das formacoes em relevo do embasarnento cristalino, que e separado das cretaceas ou da alteracao das rochas precambrianas. As suas formacoes sedimentares do Cretaceo pela falha de Salvador. caracteristicas texturais e minera16gicas variam em funcao A Baia de Todos os Santos e as zonas baixas que a prolonga dessas diversas fontes, Em algumas regioes, onde a fonte foi em direcao ao sui sao inteiramente situadas sabre as forma­ indiscutivelmente 0 cristalino, os dep6sitos sao arcosianos coes sedimentares do Cretaceo, 0 fato da baia estar situada com constituintes quartzosos muito angulares e fragmentos sabre rochas sedimentares encaixadas em rochas cristalinas de feldspato em vias de alteracao, Nas zonas onde a fonte favorece a hip6tese de uma origem por eros no diferencial principal foram as rochas do Cretaceo, fragmentos de areni­ para a mesma. Entretanto, urn estudo da rede hidrograflca tos e folhelhos constituem em grande parte a fracao rudacea em torno da baia mostra que a drenagem em direcao 11 dos dep6sitos. Em alguns afloramentos aparecem seixos de mesma e embrionaria, Efetivamente, a linha de divisao das quartzo bern arredondados e bastante semelhantes aos seixos aguas se situ a a 1 ou 2 km das suas margens, Essa disposicao presentes em certas facies do Barreiras. e uma indicacao de erosao diferencial insignificante. 0 Tendo em vista as condicoes climaticas atuais e 0 tipo de rio Paraguacu, cuja desembocadura se situa no lado da costa vegetacao existente, os cursos d'agua dessa parte do literal oeste da baia, tern a quase totalidade do seu curso sobre onde atlora a formacao continental transportam muito pou­ rochas precambrianas, nno podendo, portanto, ser responsa­ co material grasseiro. Considerando as caracteristicas e vel pela escava,no da bala por erosno diferencial. f: extensao desses dep6sitos. a sua forma,no. ocorrida durante necessario desse modo admitir que a forma,no da baia e rela­ uma epoca de nlvel de mar baixo. s6 pode ser atribuida a tivamente recente pois a rede hidrografica ainda nno foi afe­ uma deposi,no em len,ol ("'epandage en nappe"), 0 que tada pela sua presen,a (Tricart e Cardoso da Silva, 1968). A implica em condi,5es climaticas totalmente diferentes das

310 Revlsta Brasileira de Geoclencias - Volume 9 ~ N° 4 - 1979 58°00'00. W.GR.

~••••• QUATERNARIO mE TERCIARIO ~ CRETACEO [t5l PRE-CAMBRIANO - FALHA --100-- ISOBATA EM METRO

I - BACIA DE, ALMADA 2 - ITACARE 2 5 - ITUBERA 4 MARAGOJIPE 5 NILO PE~"NHA 6 - RIO DE CONTAS 7 - RIO PARAGUA~U 8 - S"LVADOR 9 - VALEN~" 10 - BAiA DE TOOOS OS S"NTOS

Figura 1 - Mapa geologico geral da area estudada. As areas tracejadas mostram a articula­ ~ao das Figs. 2, 3 e 4 que serao discutidas adiante no texto

Revlsta Brasllelra de Geoclinclas • Volume 9 • N' 4 • 1979 311 +' ::(lgl+ +3 + + + + + +

+ + t + + + + + + + + + ---+-+ + + +- + + + + + + +

o CUATERNA'UO INOIFERENCIAOO t-=-=a HOLOCENO LAGUNAR [MANQUE ArUAl r::':-::·I HOLOCENO MARINHO (ULTIMA TRANSGJ / PLE ISTOCENO MAR. (PENULT. TRANse.)

PLEISTOCENO CONTINENTAL

SED. DO "SARREIRAS"INDIVIDUALIZA SED. MESOZOlcoa" PRE-CAMBRIANO

fALHA

ALiNHAMENTOS DE CORDOES MAR;.

,.-20' ISOBATA EM METROS

i- BAiA DO IGUAPE, 2-BARRA DO GIL, 3-BARRA DO JEQUIRICA. 4-BOCA DO RIO 5-CAIXA PREGO, 6-CANAL DE ITAPARICA. 7-CARAPEBA. B-CONCEICAO. 9-ILHA DO

FR ADE. 10 -IL HA.DE 1TAPA RICA. 11-ILHA OE MARE. 12 - IL HA DO ME DO, 13 -ITAPAGIPE, 14 -MADRE DE DEUS, 15 - MAR GRANDE, 16-MATARANDIBA. 17-PARIPE. IB - PERIPE RI. 19 - PITUBA. 20- PONTA DE ARE­ lA, 2.-PONTA DA PENHA. 22 -PORTO DA BARRA, 23-PORTO SANTO, 2 4- RIO VERMELHO, 25-SALINAS DE MARGARIDA. 26- SAO TOME DE PARIPE, 27- SAUBARA

Figura 2 - Mapa geologico da regiao circunvizinha a Baia de Todos os Santos

312 Revista Braslleira de Geoclenclas ~ Volume 9 ~ N° 4 ~ 1979 , 4 I. I \ I \ \

I \ \ 3 "I \ I I \ I \ I eo \ \ I , \ \ I \ \ \ \ I' to \ I I \ \ I \ \ I \ \ I \ I I \ \ I \ I \ , I \ I I I I I , I ,I I \ I I I I I \ I , I , I \ , I I , I I I I I I I I I I I I , I I I I I I I I I I ,I I \ I I ,,

\ I , I I I I , I I I / I I I eo I • I \ I \ I \ , \ I to \ I, I Figura 3 - Mapa geologico da regiao compreendida entre Valenca e Baia de

Revista Brasilelra de Geoclencias . Volume 9 . N° 4 ~ 1979 313 condicoes atuais, isto e. clima mais seen com ehuvas mais antigos apresentam urn aspecto caracterizado pOI' largas concentradas e violentas. zonas intercordoes, enquanto que as cristas dos cordoes o fato de que 0 Barreiras tenha em alguns casos servido de encontrados na formacao holocenica sao muito mais finas e fonte a essas areias prova que elas sao mais recentes do que 0 estreitarnente pr6ximas e paralelas. Eles sao igualmente mais mesmo. POl' outro lado, como sera discutido mais adiante, 0 elevados (6 a 8 metros) do que- os cordoes holocenicos fato dessa formacao continental tel' sido retrabalhada pela (aproximadamente 3 metros). Essas caracterlsticas permitem penultima transgressao mostra que a mesma e mais antiga fazer uma primeira diferenciacao entre os dois tipos de que essa, no maximo da qual 0 nivel relativo do mar foi formacoes marinhas quatemarias. Nas regioes onde cristas superior ao nivel medic atual. de cordoes nao aparecem, foram encontrados tubos f6sseis de Callianassa.. como na Formacao Cananeia, do suI do litoral paulista (Suguio e Martin, 1976). Estando a zona de FORMA<;AO QUARTERNARIA vida desses artr6podes marinhos limitada a parte inferior da regiao interrnare, tem-se uma confirmacao definitiva da MARINHAS origem marinha litoral desses dep6sitos arenosos. observam­ se tambem estruturas cruzadas que sao igualmente caracte­ Uma cartografia de detalhe e datacoes absolutas de amos­ risticas dessa parte da baixa praia. Em certos lugares, tras com C14 permitirarn a diferenciacao de duas formacoes notadamente ao suI de Marau, pode-se observar na formacao quaternarias marinhas. A mais recente esta indiscutivelmen­ arenosa a presenca de pequenas lentes de restos vegetais. A te ligada afase terminal da ultima grande transgressao e sera presence dessas lentes igualmente observadas por Suguio e aqui referida como formacao holocenica. A mais antiga, aqui Martin (1976) na Formacao Cananeia ao suI do Estado de mencionada como formacao pleistocenica marinha foi prova­ Sao Paulo, nao esta em contradicao com uma origem velmente depositada durante a penultima grande transgres­ marinha, Dessa forma, perto de Campinho, na Baia de sao. que atingiu urn nivel relativo superior ao nivel atual do Camamu (Fig. 3), observam-se tais dep6sitos em vias de mar. Segundo os dados da literatura 0 maximo desse episo­ formacao, na parte baixa da praia de uma pequena bata dio se situa em torno de 120,000 anos B.P, As unicas atual. Efetivamente, na parte inferior da zona interrnare, datacoes que puderam ser obtidas sobre amostras desta sobre urn substrato arenoso horizontal (podendo contel' formacao foram as seguintes; a) urn pedaco de madeira tubos de Callianassa), observou-se uma acumulacao de restos eoletado numa camada argilosa, apresentando idade ­ vegetais que estava sen do reeoberta por urn banco arenoso, 30.000 an os B,P. (Bah - 562) e b) fragmentos de madeira cujo descloeamento origina estruturas cruzadas. Na mesma amostrados em areias fortemente impregnadas de substan­ regiao nota-se a existencia de outros grandes bancos areno­ cias humicas secundarias, apresentando uma idade de sos, seguramente moveis, cujos deslocamentos poderiam dar 27,165 - 1.775 an os B,P, (Bah - 5631, Esta ultima amostra origem a estruturas cruzadas de grandes dimensoes, bastante esta situada em urn material muito permeavel, diferente­ semelhantes ilquelas encontradas ao sui de Marau. mente do que ocorre com Bah - 562. e que portanto deve tel' Deve-se mencionar que em certas partes esses dep6sitos sido muito impregnada pOI' acidos humicos recentes. Assim, arenosos apresentam na superficie vestigios de cristas de e bern provavel que a fraca radioatividade detectada corres­ cordoes litorais, enquanto que em outras os mesmos nao sao ponda a uma contaminacao pOI' carbono recente que nno cncontrados. E possivel pensar-se que e1es nunca tenham pode ser eliminado completamente pelos pre-tratamentos cxistido onde nao sao observados atualmente. Com efeito, com NaOH a quente, Com efeito, uma ligeira contaminacao deve-se levar em conta que durante a fase transgressiva 0 por carbono recente numa amostra "rnorta" pode gerar a material arenaso foi sendo depositado sem a formacao de radioatividade correspondente ilquela idade medida. Deve-se cordoes, que s6 se instalaram na fase regressiva subsequente. pois considerar as idades pr6ximas do limite de datacao pelo Em locais protegidas, de aguas calmas, com pouca energia, radiocarbono com 0 maior cuidado, Sao conhecidos. na principalmente nas partes mais interiores de baias, entretan­ literatura, numerosos exemplos de amostras datadas em to, mesmo durante a regressao aquelas feicoes nao chegaram cerca de 30.000 anos B.P. com CI4 e que, novamente datados a ser form ad as. Na realidade, constata-se que as partes sem com 0 metodo U/Th. apresentaram idades da ordem de cordocs estao situ ad as exatamente nas zonas internas de 120.000 B.P. paleobaias, invadidas pelo mar na ocasiao do maximo da POl' outro lado, ha tambern a possibilidade da formacao u-ansgressao, as cordoes comecararn a se formal' urn poueo pleistocenica marinha estar ligada a um periodo transgressi­ depois de alcancado a maximo, a partir de uma restinga vo mais antigo que 0 penultimo. Se fosse 0 caso, entretanto, original que teve a tendencia de fechar a bala deixando no dever-se-ia encontrar entre os testemunhos daquele e os do interior toda uma regiao sem cordoes Iitoraneos. Holoceno outras forrnacoes intermediarias, 0 que nunca oeorre em toda a area, UEPARTI<;;ro GEOGRAFICA TESTEMUNHOS DA Ate aqui ainda nao foi encontrado nas bardas da Bala de TRANSGRESSAO Todos as Santos nenhum testemunho da penultima trans- grcssllo situado acima do nivel atual do mar. " PLEISTOCENCIA Sobre a costa oceanica da i1ha de Itaoarica, na altura de Barra do Gil e Conceicao (Fig. 2), urn testemunho de pequena CARACTERISTICAS extcnsao fai preservado d. erosao. Ao longo do Canal de ltaparica, na ilha de Carapeba e passibelmente na propria A parte final da pen ultima grande transgressao que a ilha de Itaparica, devem existir igualmente outros testemu­ .seguiu deixaram, sobre a parte do litoral entre a iIha de nhos da formacao pleistocenica marinha (Fig. 2). Entre a Itapariea e a desembocadura do rio de Contas (Figs. 2. 3 e 4). ponta de Caixa Pre gas e a barra do rio Jequirica existe urn testemunhos bastante importantes. Tratarn-se de dep6sitos grande atloramento que apresenta na sua parte externa arenosos eomumente de cor marron a preta. Essas eolorac;oes cristas de cordoes bern nitidas (Fig. 2). Nao foi possivel sao devidas a presen~a de materia organiea e de ferro ohservar no campo se essa formac;llo marinha se apoia disseminados. de origem secundluia. A origem marinha des­ dil'ctamcnte sobre 0 Cretaceo ou sobre a formac;ao continen­ ses dep6sitos /:: atestada pela presen~a. em certas regioes. de tal arcnosa quaternaria. antigas edstas de eOl'does Iitoraneos evidenciadas nas foto· Entre a barra do rio Jeqlliri~a e Valen~a (Figs. 2 e 3) a for­ gratias acreas. E interessante obscrvar que esses corcloes Illac;ao plcistocenica marinha. com cristas de cordoes. esta 314 Revlsta Brasllelra de Geoclenclas ~ Volume 9 ~ N° 4 ~ 1979 + + I .' I 39°10'00" + I 380S0'OO"W.GR. / + + , I + + 20 ' I I I + + I I 50 + + + I , ' 14 0 , O' OO" S - + +1------C"c·-+----+------+--~, + + I + + I 100 I + + + + " ~ , ( ++++++ ••••~"'.: " , I .. , , ,~ -­ ,I + + •. : I , , I + + •. : I , , , , ~- + + '\\ I I­ 6 , 3" I I I, \ + + +1+ I \ + + + / \ \ \ \ + + + -+t/:---.;----~+_------1---l" I , + + + I + + + I I \ + + + I I I + + +, I I \ \ , + + + ::; " " \ + + ' , \ + + + :":'i \ I ::'~' ( + + + \ I + + + ::':: '. I +++ ',: I I ( ++ ++ . ../ " I I --f--- +- + + - / ' -'- ...l...- -r-r- -L_--1 T + + + o OUATERNARIO INOIFERENCIADO + + + I, 1:"-=-=3 HOLOCENO LAGUNAR E MANGUE ATUAL + + + + I 1":'::,:,:) HOLOCENO MARINHOukTlMA TRANSG.1 + + + I PLEISTOCENO MAR,IPENULT, TRANSG,) + + I ern + v(~cJ ['o:;,~;a PLEISTOCENO CONTINENTAL EIE:3 SED, DO "BARREIRAS" INDIVIDUALIZADO ~ SED, MESOZOICOS 1+ +1 PRE-CAMBRIANO J ""., FALHA + + //// ALiNHAMENTO DE CORDOES MAR. + + + + + + ,'20" ISOBATA EM METROS + + + + + + + ,+ + 7 1 - BACIA. DE ALMADA '\ 2 - ILHEUS + + + + , 3 - ITACARE + + + \ I 4 - LAGOA DE ITA1PE + + + + \ 5 MARAU + + \ + + , 6 - RIO DE CONTAS 20 7 - RIO ITAfPE I I 8 - RIO MARAU '- --'_-=~:..__.:L_:.L_._ \ Figura 4 - Mapa geologico da regiao compreendida entre Marau e Ilheus

~ Revista Brasllelra de Geociimclas M Volume 9 N° 4 • 1979 315 deslocada para 0 interior em relacao aos outros alloramentos E conveniente esclarecer que nao se coloca aqui em duvida que a enquadram a norte e a suI. Nessa regiao, a formacao a idade pre-Barreiras ou pelo menos da base do Barreiras marinha chega praticamente ao pe do cristalino. Entretanto, para a formacao contendo 0 Marauito "sensa stricto" (isto e. ao norte de Valenca, verificou-se que existe entre 0 cristalino a rocha carbonobetuminosa), Entretanto, a vasta planicie e a formacao pleistocenica marinha urn dep6sito arenoso arenosa horizontal que se estende ao sul de Marau represen­ formado de graos mal selecionados caracteristicos de uma ta uma formacao totalmente diferente, que e a formacao origem continental. pleistocenica marinha. Entre 0 Morro de Sao Paulo e a barra do rio Serinhaern Foi feito um rapido reconhecimento na regiao compreendi­ (Fig. 3) a formacao pleistocenica marinha e praticamente da entre as cidades de Itacare e Ilheus (Fig. 4) onde existem, continua, atingindo urn grande desenvolvimento. Na maior ao norte da ultima, alguns vestigios dessa formacao entre 0 parte da area ela parece se apoiar diretamente sobre 0 Creta­ embasamento cristalino e 0 rio Itaipe (Almada). ceo. Na regiao de ltubera, nas margens do rio Jariman (aflu­ ente da margem direita do rio Serinhaem) ela repousa sobre uma formacao argilo-arenosa rica em seixos, de origem TESTEMUNHOS DA continental. E interessante notar que entre Valenca e Ni!o TRANSGRESSAO HOLOCENICA Pecanha nao foram encontrados dep6sitos marinhos pleisto­ cenicos nos bordos da zona lagunar que se estende ao pe do cristalino, embora sejam os mesmos encontrados num rues­ CARACTERISTlCAS mo paralelo, ao norte de Valenca (Fig. 3). Importantes atloramentos pleistocenicos marinhos foram Em certas regioes sao encontradas incrustacoes de Verme· encontrados ao sul de Marau (Fig. 4). Esses alloramentos tidae situadas acima do nivel de vida atual da especie, Pelo formam uma vasta planicie arenosa praticamente horizontal, fato desses organismos terem uma zona ecologica bern cuja parte externa possui cristas de cordoes muito bern dcfinida, no limite superior da regiao infralitoral, torna-se marcadas. Na parte interna (sern dordoes) foi possivel obser­ facil determinar com exatidao a altitude dos Vermetidae fos­ var tubas f6sseis de Callianassa, notadamente nas margens seis em relacao ao nivel atual da especie, Por outro lado, a do rio Maran. extensao vertical dos concrecionamentos e pequena, da Recentcmente, dentro de urn projeto visando avaliar a ordem de SO em, sobretudo em regioes protegidas da acao de possibilidade de uma retomada de exploracao de uma rocha ondas fortes. Finalmente, seu nivel biol6gico situa-se bastan­ carbonobetuminosa de origem algal, conhecida desde muito te pr6ximo do nivel medic do mar, de sorte que sao sem tempo sob 0 nome de Marauito, a CPRM estudou em detalhe fundamento as objecoes quanto a utilizacao desses organis­ a regiao de Maran (CPRM, 1976). As camadas carbonobetu­ mos fosseis baseando-se no fato de que pode ter havido uma minosas estao intercaladas em arenitos pouco consolidados variacao recente na amplitude da mare no local considerado de cor marron a preta, situ ados na base do Barreiras. Nesse (Laborel. 1967). trabalho, os mesmos autores atribuem tambem uma origem Encontram-se igualmente numerosos buracos de ourico continetal de idade pre-Barreiras II planicie arenosa horizon­ (Echinometra] situados acima da zona ecol6gica desses orga­ tal (sem a presenca de cordoes) que se estende ao sui de nismos. Esses testemunhos apresentam 0 inconveniente de Maran, baseando-se nos seguintes criterios: a) cor escura nao poderem ser datados. semelhante aquela da rocha contendo as camadas carbono­ Em certas partes do litoral existem recifes de coral mortos betuminosas, b) presenca de materia organica disseminada, que estao em parte recobertos por cordoes arenosos. Eles c) presenca de lentes de restos vegetais e d) presenca de estru­ tcstcrnunham antigos niveis marinhos situados acima do turas obliquas (cruzadas), Como ja foi discutido anterior­ nivel atual do mar. Entretanto, como a extensao vertical dos mente. essa materia organica e de origem secundaria, e as corais e bastante grande. sornente pod era ser definido 0 presencas de camadas com restos vegetais e de estruturas limite inferior dos niveis marinhos fosseis, Assim, somente se cruzadas nao sao criterios determinantes para a atribuicno pod era saber que. na epoca em que viviam os corals, 0 nivel de uma origem continental para esses dep6sitos. Alem disso, do mar nno podia ser inferior ao limite superior do nivel foram encontrados tubos f6sseis de Callianassa que sao biologico da especic, caracteristicos de depositos da parte inferior da zona inter" Existcm igualmcnte numerosas incrustacoes de algas calca­ mare. Por outro lado, correlacionando esses dep6sitos areno­ rias situadas acima da zona ecol6gica da especie. Para essas sos com a rocha contendo marauito e atribuindo-os uma arnostras a determinacao dos niveis marinhos f6sseis apre­ idade pre-Barreiras, torna-se dificil compreender como 0 senta os meS11lOS problemas dos corais. Barreiras poderia ter sido erodido deixando uma superficie Finalmente, pode-se encontrar em alguns pontos do litoral de erosao horizontal como a que se observa atualmente, terraces marinhos arenosos e depositos lagunares podendo Somente 0 mar poderia, a rigor, faze-lo, mas ele teria nesse canter amostras dataveis ao Cf4. Comparados aos depositos caso deixado os testemunhos da sua passagem, Os pequenos similares atuais, essas formacoes se situam de alguns centi­ aflorarnentos do Barreiras que se encontram na planicie metros a alguns metros mais altos que esses, testemunhando, arenosa nao estao situados sobre a mesma, como aparece no portanto. antigos niveis do mar rnais elevados do que 0 nivel trabalho da CPRM (J 976). Ao contrario, eles sao antigos atua!' morros testemunhos que formavam ilhas no momenta do maximo da penultima transgressao e que foram englobados REPARTIC;AO GEOGRAFICA nos sedimentos arenosos litorftneos, Esses ultimos nao sao. portanto, de idade pre-Barreiras mas p6s-Barreiras. Costa Atlantica de Salvador Uma interpretacao logica que se pode admitir para essa regiao ede que a Formacao Barreiras foi erodida deixando Sobre os promont6rios rochosos do porto da Barra (Fig. 2) alguns morros testemunhos em uma epoca anterior II penul­ uma incrustacao de Vermetidae fixada na rocha indica urn tima transgressao. No curso desta, 0 mar penetrou nessa antigo nivel marinho situado a 4,5 - a,s m acima do nivel zona baixa formando uma vasta baia onde se depositaram os medio atual do mar. Duas outras incrustracoes situ adas na sedimentos arenosos. Apes sua emersao, durante a regressao mesma zona testemunham antigos niveis elevados a 3 - 0,5 seguinte, a vegetacao se instalou sobre essas areias. Sendo a mel - a,s m. A zona de vida desses Vermetidae entretanto drenagem incipiente, 0 que se pode constatar ainda hoje, os estanto eles situados em zonas de mar batido, poderia ter acidos humicos e 0 ferro impregnaram as areias dando-lhes a sido urn pouco mais elevada que 0 normal. No momento, sua colora.;ao escura atuaI e originando uma consolidat;ao essas amostras estao em processo de datat;ao. mais ou menos intensa. Na zona intermare da praia do Clube Espanhol (pr6ximo

316 Revista Brasileira de GeociE!Ocias • Volume 9 M N° 4 . 1979 ao Rio Vermclho. Fig, 2) pode-se observar um arenito de preamar atual. Em torno de 2800 anos B.P, 0 nivel relativo praia apresentando evidentes estratificacoes mergulhando, do mar nao poderia, portanto, ser superior a 0,8 01 do nivel de urn lado, em direcao ao continente e, do outro, em direcao atual ou mesmo a 0,5 m se se considerar que 0 sambaqui foi ao mar. Tendo em vista a posicao desse arenite, proximo ao construido ligeirarnente acima do nivel da preamar, Proximo pe de uma falesia. trata-se certamente de um deposito de alta a esse prirneiro deposito observa-se, repousando sobre 0 praia que testemunha urn antigo nivel marinho inferior ao Cretaceo, urn terraco marinho rico em conchas, que testemu­ nlvel atual. lnfelizmente nao forarn encontradas nesse dep6­ nha um antigo nlvel marinho situado a 2,5 ..±. 0,501 acima do sito conchas que perrnitissem fazer uma datacao, nivel medic atual. Parece que os restos de urn outro samba­ Na praia da Paciencia (Rio Verrnelho) foi possivel coletar qui ocupam 0 topo desse terrace. conchas em urn grande arenito de praia. As caracteristicas Uma parte da ilha de Madre de Deus (Fig. 2) Ie ocupada por sedimento16gicas indicam urn deposito de uma zona de baixa um terrace rnarinho holocenico com conchas que. coletadas praia (Ferreira, 1969). Neste local 0 arenito de praia testemu­ na parte inerna do terrace a 2,3 01 acima do nivel atual da nha urn antigo nivel marinho situado a 1,7..±. 0,501 acirna do preamar, foram datadas de 3550 "±'120 anos B.P, (Bah. 269) nivel medic atual. Essas conchas foram datadas de 661O..±. e 3450 120 anos B.P, (Bah. 270), Sobre a praia atual a 180 (Bah. 510) e 6645 ..±. 130 anos B.P. (Bah. 235). E maior concentracao de conchas e encontrada na zona de importante observar que as conchas nao estao em posicao de ruptura da declividade, que ai se situa a 0,7 01 sob 0 nivel da vida podendo portanto, serem mais antigas do que a epoca preamar, Baseando-se nessa constatacao pode-se admitir do seu soterramento nas areias que originaram 0 arenite da que 0 topo desse terrace representa um antigo nivel medic praia. Foram tambern coletadas varias amostras de incrusta­ marinho que se situava a 3 ..±. 0,5 01 acima do nivel atual. coes de Yermetidae. sendo 9ue 0 mais elevado se situ a a 3,8 Uma outra amostra coletada na parte externa do terrace ..±. 0,501 acima da zona ecologica atual da especie, Entretan­ (proximo da baia) foi datada de 24oo,,±, 90 anos B.P. (Bah. to. como essa amostra se encontra em uma zona de mar 246). Ela testemunha urn antigo nivel marinho situ ado ai,S batido, 0 limite superior ecol6gico desses Vermetidae pode ..±. 0,5 01 acima do nivel atual, ter sido elevado nesse local. Encontram-se tambem testemunhos de antigos niveis mari­ Em um promont6rio rochoso localizado na praia da Boca nhos holocenicos na parte nordeste da ilha de Itaparica. do Rio (Fig. 2) sao encontradas incrustacoes de Melobesiae, Assim, em Porto Santo (Fig. 2), pode-se observar um peque­ que testemunham urn antigo nivel marinho situado, no no terraco marinho muito rico em conchas cujo topo se situa rninimo a 2,4..±. 0,5 01 acima do nivel medic do mar e que foi a 2,6 01 acima do nivel da preamar atual. E interessante datado de 2295 ..±. 85 anos B.P, (Bah. 494). Por fim, os notar que a margem interna da ilha (voltada para 0 canal de pequenos vales situados entre a Boca do Rio e Itapua contem Itaparica) nao apresenta depositos marinhos situ ados acima sedimentos marinhos au lagunares ricos em conchas que do nivel medic atual do mar. foram depositados durante os periodos onde 0 nivel do mar foi superior ao nivel atua1. As conchas encontradas nas Costa atlantica ao sui da Bala de Todos os Santos ate Itacare regioes mais distantes da costa atual deverao perrnitir a datacao de um periodo de maximo transgressive. Nessa parte do litoral os depositos marinhos holocenicos sao bem desenvolvidos (Figs. 3 e 4), Baiu de Todos os Santos A COShl oceanica da ilha de Itaparica e ocupada, a partir de Mar Grande para 0 sui (Fig. 2), por urn terrace arenoso com Uma das caracteristicas da baia e 0 fraco desenvolvimento cristas de antigos cordoes litoraneos que pode atingir 2 km ou ausencia de forrnacoes holocenicas marinhas ou lagunares de largura e cujo topo indica um antigo nivel marinho situadas acima do nivel do mar (Fig. 2). Efetivamente, na situ ado a aproximadamente 4 01 acima do nivel medic atual. maioria das vezes, as formacoes do Cretaceo vern diretarnen­ Na Ponta da Penha (Fig, 2), Laborel (1967) datou uma te de encontro ao mal' sem a intercalacao de nenhurn incrustacao de Vermetidae fixada sobre urn alloramento do deposito quaternario.:a nao ser as zonas de rnangue. Cretaceo de 2430 ..±. 95 anos B.P. (Gil'. 1933) (Delibrias e Em Itapagipe (Fig. 2), urn antigo banco de areia contendo Laborel, 1969). Esses Vermetidae testemunham um antigo acamadamento frontal progradante foi fossilizado por ci­ nivel medic marinho situ ado a 2 ..±. 0,5 01 acima do nivel mentacao, No memento da sua deposicao, datada de 3270"±' atual. Nessa parte da ilha existe urn antigo recife coratino 145 anos B.P. (Bah. 415), 0 nivel relativo do mar devia ser morto que testemunha urn antigo ntvel marinho superior ao supe.rior de aproximadamente I ..±. 0,5 01 do nivel mMio atual. Na localidade de Concei9ao (Fig, 2) foi possivel coletar . atllal. uma amostra de coral sob os cordaes arenosos do terra90. A parle externa das pequenas planicies de Paripe e Sao Nesse local 0 topo do recife se situa a 1,9 01 acima do nlvel da Tome de Paripe (Fig. 2) e ocurada por terra90s marinhos baixa-mar indicando, portanto, um antigo nlvel mMio mari­ pouco elevados. Os niveis conchlferos datados de 2550"±' 100 nho situ ado pelo menos, ai,S 01 do nlvel atual. anos B.P. (Bah. 409) e 2100 70 anos B.P, (Bah. 413) Entre a desembocadura do rio Jequiri9a e Valen9a (Figs, 2 e indicam antigos ntveis marinhos vizinhos au ligeiramente 3) 0 terra90 marinho holocenico, com cordaes muito bem supcriores ao nivel atual (menos de 1 metro). marcados, atinge uma largura de 4 a 5 km. Sobre a margem o atloramento mais interessante se situa no lugar chamado esquerda do rio Jequiri9a, pr6ximo ao contato com a forma­ Pedra Oca, em Peri peri (Fig. 2). Nesse local uma incrusta9ao 9aO marinha pleistocenica, 0 topo do terra90 holocenico se de Vermetidae fixado sobrc arenitos do Cretaceo indica um situa de 2,8 a 3 01 acima do nlvel da preamar atual. Na outra anligo nlvel marinho situado a 3 0,5 01 acima do nivel extremidade desse terra90, sobre as margens do rio Mapen­ medio atual. Sobre um lerra90 de abrasao nos sedimentos dipe, perto de Valen9a (Fig. 3), foi encontrado um outro cretaceos encontraMse uma aniga praia sobre a qual foi alloramento oferecendo possibilidades de data9aes. Este construldo um sambaqui, cujas conchas da base foram afloramento apresenta na base urn sedimento areno~argiloso datadas de 2830 130 anos B.P. (Si. 470) (Calderon, 1964) e rico em restos organicos, que deve corresponder a uma 2630 110 anos B.P. (Gil'. 878) (Radiocarbon, 1971). A sedimenta9ao na zona da baixa-mar, Amostras de madeira ai ponta rochosa de Pedra Oca esta atualmente em erosao, coletadas deram uma idade de 4680 ..±. 120 anos B.P. (Bah. sendo muito provavel que uma parte do sambaqui tenha sido 513). Esses sedimentos sao recobertos por areias apresentan­ dcstrulda, tornando-se dessa forma dificil de se conhecer a do estruturas cruzadas e tubos f6sseis de Callianassa, tendo posi9ao da base do mesmo em rela9ao ao nlvel da mare alta sido, portanto, tambem depositados na zona da baixa-mar. atual. Segundo Calderon (comunica9ao oral) uma parte do POl' tim. no tope da sequ~ncia. encontram-se areias sem sambaqui eslava situada na zona intermare. A base da parte estruturas aparentes e cUJo topo se situ a de 2,8 a 3 01 acima preservada da erosao se situa a 0,8 01 acima do nivel da do nivel da preamar atual. Tendo em vista esse perfil,

Revista Brasileira de Geociimcias M Volume 9 M N° 4 . 1979 317 pode-se pensar que em torno de 4.680 anos B.P. 0 nivel poderao se traduzir por efeitos transgressivos ou regressivos. medio do mar se encontrava a 2,8 m .± 0,5 m acima do nivel Ap6s medidas de geodesia feitas pOI' satelites, sabe-se que a atual, Na regiao de Valenca encontram-se outros terraces superficie dos oceanos apresenta elevacoes e depressoes da arcnosos cujos topos se situam de 2,5 a 3 m acima do nivel da ordem de mais ou menos 80 m em relacao ao geoide de preamar atua!. referencia (Gaposchkin, 1973). E sabido que modificacoes de Entre 0 morro de Sao Paulo e a barra do rio Serinhaem (fig. massa se produziram no interior da Terra ao Iongo dos 3), 0 terrace arenoso holocenico e bern desenvolvido. No tempos geo16gieos e, portanto, que a forma do geoide nao exterior do terrace e, provavelmente, em parte recoberto por pcrmancccu a mesma. Mudancas podem tel' sido produzidas estc, existe urn grande recife coralino morto cuja datacao de no sentido vertical (aurnento ou diminuicao na amplitude das urna arnostra coletada na parte superior deu uma idade de elevacoes e depressoes) e/ou no sentido horizontal (transla­ 3180 .± 60 anos B.P. (Bah. SIS). Nas margens do rio cao das elevacoes e depressoes), Morner (1976) eonsidera que Serinhaem. sobre a formacao pleistocenica marinha arrasa­ modificacoes desse tipo podem terse produzido durante 0 da, cncontra-se lim sedimento areno-argiloso rico em restos Holoceno e provocado movimentos locais positivos ou negati­ de madeira. Comparando-se com situacoes atuais, pode-se vos no nivel medic dos oceanos, Assim, durante urn mesmo conduit' que este material se depositou na zona intermare, periodo. a componente regional pod era ser positiva, nula ou abaixo da zona ocupada pelas arvores do mangue. Levando negative. segundo a regiao considerada. em conta que seu topo de encontra a Jm acirna do nivel da Em certas epocas as variacoes relativas do nivel medio do preamar atual, pode-se supor que ele representa um antigo oceano podem tel' sido muito rapidas. Dessa forma, na Costa nivel medic marinho situado a 2,5 .± 0,5 m acirna do nivel do Martim (Martin, 1973),0 nivel medic do oceano passou de medic atual, Essa sequencia areno-argilosa e recoberta par J -60 m a 110 m entre 23.000 e 18.00 anos B.P. e de -110 m a m de areias marinhas. ·10 m entre 17.000 e 7.000 anos B.P., isto e, em media, uma Na baia de Camamu (Fig. 3) encontra-se uma serie de variacao de 10 metros pOI' mil anos, Entretanto, ao longo dos depositos arenosos holocenicos situ ados a aproximadamente ultimos 6_000 anos 0 nivel relativo medic do oeeano perma­ 3 rn acima do nivel da preamar atual, Mais ao sui, urn neceu proximo do zero atual, tendo havido provavelmente terraco marinho com cristas de cordoes litorftneos, com pequenas oscilacoes. As grandes variacoes deixaram teste­ largura aproximada de 500 m, se apoia sobre 0 terrace munhos mais ou menos sincronicos sobre toda a superfcie da pleistocenico. Terra. E 16gieo portanto de Iiga-las ao glacio-eustatismo, Na maioria das vezes, a componente devida a esse fenomeno Costa Atldntica entre Itacare e Ilheus sendo muito maior do que as componentes regionais ou locais, mascara essas ultimas. No entanto, quando a cornpo­ nente glacio-eustatica torna-se bastante pequena ou mesmo A excecao da regiao da pequena baeia sedimentar de nula, como pareee tel' sido 0 caso para os ultimos 6.000 anos, Almada, essa parte do litoral esta situada sobre as roehas a influencia das componentes locais ou regionais pode prccarnbrianas (Fig. 4). as depositos holocenicos ai existen­ apareeer nitidamente. lsso pode explicar as diferencas que se res sao pouco extensos e descontinuos. Entretanto, na regiao nota na parte superior das curvas de variacao do nivel da baeia de Almada, 0 mar holocenico penetrou bastante no relativo do oceano. Assim, na Holanda, 0 nivel medio relativo continente, formando lima baia, Apos 0 maximo da trans" do mar nne esteve jamais superior ao nivel medio atual gressao se formaram cordoes arenosos que fecharam a baia, durante os ultimos 5.000 anos, en9uanto que no litoral isolando a laguna de Itaipe (Fig. 4). Sobre os bordos desta paulista, nesse mesmo periodo, 0 nivel medic relative do existem vestigios de uma formacao coralina que foi datada oeeano se situava entre 3,5 e 4,8 m aeima do nlvel atual de 4070 .± 140 anos B.P. (Delibrias e Laborel, 1969). (Suguio, Martin e Flexor, 1977). Considerando-se a posicao da laguna, e evidente que esses E portanto, durante os periodos de estaeionamento relativo corais so poderiam terse desenvolvido em uma epoca de urn do nive! do mar. correspondentes aos maximos ou rninimos, alto nivel marinho. que se deve proeurar as evidencias da mfluencia das compo­ Na regiao de Ilheus foi eoletada uma incrustacao eoralo-­ nentes locais e regionais. algal indicando um antigo nivel medic marinho superior ao nivel atual de, pelo menos, 2,5 a 3 m. Nessa regiao, forma­ coes de arenitos de praia, bem desenvolvidas, e terra,os EVENTUJ\IS DEFORMAc;OES arenosos, testemunham antigos niveis medios marinhos si~ tuados aeima do nivel atual. DOS DEPOSITOS MARINHOS PLEISTOCENICOS NO LlTORAL DA BAHIA DEI<'ORMA<;:OES DA CROSTA TERRESTRE E DA SUPERFICIE Os testemunhos deixados pela penultima grande transgres­ DO GEOIDE NO QUATERNARlO sao sendo constituidos de depositos arenosos litoraneos (ate agora nao foram encontrados corais que pudessem ser rclacionados a esse epis6dio e datados pelo metodo do Se movimentos tectonicos (subsidencia, eIeva~ao ou bascu~ Urftnio/T6rio). nao foi ainda possivel detinir com precisao lamento de bloeos) ou deforma,oes da supert1eie do geoide se niveis de referencia no tempo e no espa~o. Seria perigosa produziram durante 0 Quaternario, os tcstemunhos deixados C0111para1' a altitude da parte superior dos diversos testemu~ pelos dois (I1timos grandes episodios transgressivos que nhos arenosos encontrados pais nao se pode tel' certcza de atingiram um nivel superior ao nivel atual do mar deveriam que cles representem 0 mesmo episodio no tempo e no te-Ios re~islt·ados. CSIJlI,o. Comparando a altitude das regioes eontendo tubos As varia<;oes relativas do nivcI medio do mar sao a resultan~ f6sseis de Callianassa. seria possivel correlacionar no espa<;o te de f'enomenos gerais (glacio~eustatismo), de f'enomenos os divel'sos atloramentos, entretanto, 0 mesmo naa seria locais ou regionais Iigados a deforma<;oes tectonicas ou possivel quanto ao tempo. a unico procedimento valido seria isostftticas da crosta terrestre e. tambem. a deforma~oes da () de tentar comparar a altitude da antiga linha de costa superi'icie do geoide. Ef'etivamente, e precise tel' sempre em c1cixada pclo maximo da transgressao em diversos pont-os do mente que 0 nivel medio dos mares c. a cada instante, uma !itoral e de observar as eventuais defol'ma~oes, No entanto, supertkie l:quipotenciaI do campo de gravidade da Tcrra. as isso c hem difici! pot'que. frequentemente, os testemullhos dcs!ocamcntos de massa no interior da Terra poderao gerar Cllcolltl'ados nao correspondem a essa Iinha de maximo. dcforma~oes na supcrficie do geoide que, pOl' sua vez. Geralmente eles representam eventos Iigeiramente anteriores 318 Revista Brasileira de Geociencias ~ Volume 9 - N° 4 . 1979 ou posteriores, cujas altitudes serao normalmente diferentes. ,1 costa atual. ou pelo basculamento de urn bIoeo que seria Assim, sobre 0 litoralpaulista, 0 topo da Formacao.Cana­ limitado, ao sui. por uma falha passando por Valenca e 0 neia (penultima transgressao) situa-se a 5 - 6 m de altitude MotTO de Sao Paulo (Fig. 3). A zona baixa entre Valenca e das zonas externas (proximo ao mar) e a 8 - 9 m nas zonas Nilo Pecanha (Fig. 3) pode igualmente ser explicada pelo internas (proximo ao cristalino), Ademais, os dados altime­ basculamcnto de urn bloco cuja parte leste (com dep6sitos tricos existentes sao insuficientes. As altitudes indicadas quatcrnarios elevados) estaria em elevacao enquanto que a sabre os mapas, mesmo os mais qecentes, silo bastante parte oeste (sern dep6sitos quaternaries), estaria em afunda­ imprecisas (foram observadas, por exemplo, regioes de man­ mente. gue, cujas cotas em mapa assinalam 10 m), Em geral, na regiao estudada, 0 topo da formacao marinha pleistocenica se situa a aproximadamente 6 m acima do nivel EVENTUAIS DEFORMACOES atual da preamar (7,5 m acima do nivel medic). Nas margens DOS DEPOSITOS MARINHOS do rio Maran (Fig. 4) a formacao I: mais baixa, em torno de 4 m acima da preamar, Seria, entretanto, urn pouco precipita­ HOLOCENICOS NO LITORAL do entender-se essa diferenca de altitude como urn argumen­ DA BAHIA to em favor de uma deformacao tectonica da formacao pleistocenica, Na verdade. quando nao se encontram cordoes as testemunhos deixados pelos antigos niveis marinhos litoraneos na superficie, I: possivel que 0 topo da formacao holocenicos, diferentemente dos pleistocenicos, apresentam a arenosa corresponda a urn dep6sito da zona da haixa-mar. possibilidade de serem em eertos casos correlacionados no Por outro lado, nas regioes contendo cordoes, 0 topo da espaco e no tempo. A comparacao .da idade e da posicao formacao representa urn deposito da zona da preamar. Isso desses testemunhos em diferentes pontos do litoral perrnitira, pode gerar uma diferenca de altitude de 2 a 3 m para talvez, 0 estabelecimenlo de eventuais deformacoes das depositos da mesma idade. Se se compara as zonas sem antigas Iinhas de costa holocenicas, 0 ideal seria construir cordocs ao sui de Maran e da ilha de Tinhare (Figs. 3 e 4), curvas de variacao do nivel relativo do mar para diversas constata-se uma diferenca de altitude de aproximadamente 2 zonas do litoral e compara-las. Essas zonas deveriam apre­ m (respectivamente 4 e 6 m acima do nivel da prearnar), Isso sentar caracteristicas geol6gicas homogeneas (influencia tee­ pode ser 0 indicio de uma evolucao tectonica ligeirarnente tonica nula ou igual em toda zona) e serem de pequena diferente devendo-se, porem, considerar essa hip6tese com a extensao para eliminar as variacoes devidas a deformacoes maior precaucao. Com efeito, se se pode adrnitir que os na superficie do geoide, Ao que tudo idica, a costa oceanica atloramentos medidos correspondem, nesse caso, a urn mes­ da cidade do Salvador. situ ada sobre 0 precambriano e de mo ambientc de deposicao, podendo desta forma serem pequcna extensao satisfaz esses criterios. Logo que se tenha definidos no espaco, nao se conhece, entretanto, a sua concluldo todas as datacoes para essa parte do litoral, sera posicao no tempo. 0 unico dado que pode ser constatado I: a possivel construir uma curva relativa de variacao do nivel ausencia da formacao marinha pleistocenica em algumas ruedin do mar para os 6 a 7.000 ultirnos anos. Os dados de partes do literal, fato este que pode estar relacionadn a uma outras partes do literal que apresentam caracteristicas geol6­ das tres possibilidades scguintes; a) a formacao nunca gicas heterogencas (notada mente a parte da costa situ ada chcgou a ser depositada, b) a formacao foi depositada e sobre a bacia scdimentar) poderao ser comparadas a essa abaixada por fenomenos tectonicos e, c) a formacao foi cruva de referencias, depositada e erodida pela ultima transgressno. Essa erosno Os dados ate entao obtidos sao ainda muito poucos, visto poderia ate ter sido facilitada por urn abaixamento anterior que numerosas arnostras estao ainda sendo datadas para que provocado por eventos tectonicos. Em certos casas, pareee sc possa definir um tracado para aquela curva. Como urn que essa ausencia seja, na verdade, a consequencia de primeiro enfoque, podem-se observar algumas diferencas fenomenos tectonicos (subsidencia ou basculamento de blo­ entre os dados de alguns treehos da area estudada. Assim, os cos), Assim, a ausencia de testemunhos sobre as margens testemunhos mais elevados que foram eneontrados a leste da atuais da Baia de Todos os Santos pode sugerir que a Ialha de Salvador, sobre 0 embasamento cristalino, indieam margem atual da baia se situava na epoca, acima do nivel urn antigo nivel relative situ ado a 4.5 ± 0,5 m acima do nivel maximo atingido pela pen ultima transgressao, Igualmentc, mcdio atual, enquanto que na Baia de Todos os Santos os a formacao da baia de Iguape (Fig. 2). que apresenta mesmos nao ultrapassam a 3 ''±~O,S m acima do nivel medic caracteristicas morfologicas de subrnersao, parece tel' urna atual, Yermetidae encontrados na praia do Rio Bermelho origem tectfmica bern recente. Entre Valenca e Nilo Pecanha (jig. 2)c datados de 1975.± 85 anos B.P. (Bah. 506) indicam (Fig. 3). a zona de depressao situ ada no 1'1: do cristalino lllll antigo nivel relative a 2,4 ±. 0,5 III acima do nlvel medio pareee ter por origem 0 afundamento de um bloco limitado, at ual. Na mesma epoca, na regiao de Paripe (Fig. 2). 0 nivel a leste, pelo prolongamento da falha de Maragogipe (Fig. I) medic relative sc situava Iigeiramente acima do nivel atllal. e, a oeste, pOl' uma falha associad~ que pass aria ao pc do Tamhem se sc comparam entre si dados obtidos em divcrsos cristalino. Ao norte, essa zona seria limitada pOl' uma talha pont os da Baia de Todos os Santos parccem haver diferen\,as perpendicular que passaria aproximadamente pOl' Valenl,?a c marcantes. Desse modo, 0 banco de areia fossilizado de o Morro de Sao Paulo. A presen~a dessa feh;ao geol6gica e Itapagipe (Fig. 2). datado de 3270 ± 145 anos B.P. (Bah. deduzida das seguintes evidcncias. Como ja apontado ante~ 415), indica 1II11 antigo nlvel rclativo a I .± 0.5 m acima do riormente. na regiao entre Valem;a e a desembocadura do rio Illvel medio atual, enquanto que na ilha de Madrc de Deus 0 Jequiri9a constata-se que os dep6sitos pleistocenicos estno nive! rclativo sc situava. na mesma epoca. a 3 -.±. 0,5 m. a deslocados em rela\'ao 'lqueles situ ados .imediatamen1e ao samhaqui de Pedra Oea (Fig. 2) indica que. Ileste local cia norte e ao sui (Figs. 2 e 3). Nessa rcgiao nao cxistc pratica­ bala. °nivel relativo em torno de 2800 aTlOS B.P. Tlao devia ser mente atloramcntos do Crctacco tendo 0 mar, durante 0 superior a 0.8 m em rela<;ao ao nivel atual. H1 em itaparica, maximo da penultima transgressao. alcatwado 0 pc do no local denominaclo Ponta cia Penhtt (Fig. 2).0 nlvel rcltttivo cristalino. Em frente a essa parte do IHoral encontl'a-sc lllll em torno de 2450 anos B.P. sc situava a 2 ± 0.5 m acima do vale submarino conhecido como Canh~o de Salvador (Fig. 3). lllvel alua\. Por tim. pode~sc considerar que, de lima maneil'a Em alguma epoca, a eahe<;a deste canhao deve tel' recuado geral. a auscncia de testelllunhos de nlvcis marinhos acima alem da linha da costa atlla!. Esta hip6tesc se baseia sabre (10 !lIve! atual lla maior partc da bah1. associada ao aspccto dados de sondagem na regino de Guaibim (Fig. 3) que :li·ogado da meSilla, cleve indiear lllll afundamcnto reeente atravcssou mais de 70 m de sedimentos quatcrnarios conten­ c1essa regiao. do conchas (CERB. 1975). A escava,no desse callhao parecc HeslIlllindo, pode-se considcrar que, Icvando-se em conta tel' sido favorecida pot' falhas mais ou menos perpendiculares que os divcrsos tcstclllunhos acima discutidos dispocm-se cm

Revista Brasileira de Geocilmcias w Volume 9 _ N° 4 w 1979 319 uma regiao de pequena extensao, as diferencas nos niveis e mar ia subindo a formacao preeedente foi sendo retrabalha­ idades desses dep6sitos seriam os primeiros indicios de uma da fornecendo a material dos dep6sitos holocenicos, Entre atividade tectonica perceptivel na escala do Holoceno. 7.000 e 6.000 anos B.P. 0 nivel relativo do mar interceptou 0 zero atual, continuando ase elevar e passando por urn ou TENTATIVA DE mais maximos antes de atingir sua posicao atual. RECONSTITUICAO CONCLUSAO PALEOGEOGRAFICA E PALEOCLIMATICA Durante 0 Quartenario se produziram urn certo numero de A deposicao da Formacao Barreiras foi precedida de uma grandes transgressoes e regressoes. Sobre essa parte do lito­ grande fase umida durante a qual se formou urn espesso rat do Estado da Bahia existern, acima do nivel media atual manto de alteracao, a clima tornando-se mais seco e con­ d~),l11ar. indis~u!iv.eis testemunh?s deixados por dais grandes trastado, esse espesso manto de alteracao foi erodido e dilcrcnrcs episodios transgressivos, as testemunhos mais forneceu 0 material detritico da Formacao Barreiras. Duran­ antigos datarn provave1mente do episodic transgressivo de te a sua deposicao 0 nivel do mar encontrava-se mais baixo 120.000 anos B.P. e os mais recentes da parte final da ultima do que 0 nivel atual, tendo os seus depositos recoberto uma grandc transgressao, as dep6sitos mais antigos, sendo essen­ parte da Plataforma Continental (Bigarella e Andrade, cialrncntc do tipo areias Iitoraneas, sem possibilidade, por­ 1965). tanto, de datacao absoluta, nao foram passiveis de serem a aparecimento de uma nova fase umida marcou provavel­ dcfinidos com precisao no espa<;o e no tempo. A reconstitui­ mente 0 tim da deposicao dos sedimentos do Barreitas. E <;ao de antigas Iinhas de costa nao podc portanto ser feita possivel que os solos ferrallticos que existem no interior do scnno com a imprecisao de alguns metros. Somente as Estado da Bahia. em regioes que apresentam agora um clima dcfot:mac;5e~ dessas linhasde co~ta c0!11 amplitude superior a rnuito seco para que eles possam ter sido form ados atual­ essa tmprecrsao poderao ser evidenciadas, as testemunhos mente, datem dessa epoca. Essa fase umida foi seguida de rnais reccntcs ofereeendo possibilidades de datacao ao C14 um novo periodo seeo e contrastado, durante 0 qual se podem sel: detinidos ~om p!'ecisao no tempo e no espaco. A formaram os sedimentos continentais posteriores ao Barrei­ reconstttuicao de antigas hnhas de costa podera ser feita, ras, mencionados pela prirneira vez no presente trabalho e nestc caso, com precisao, como tambern serem identificadas que se encontram em diversos pontos do litoral. Sendo esses det(ll'll1~l<;oes de pequenas amplitudes. Os primeiros resulta­ dep6sitos muito menos importantes do que os do Barreiras, e dos obtidos parecern indicar que as antigas linhas de costa possivel que essa segunda fase seca tenha sido menos longa sofrcram. segundo a zona do litoral considerada, deforma­ do que a primeira, Esta deposicao em lencol (epandage en \,ocs ligadas a fenornenos de afundamento ou de bascula­ nappe") deve ter se produzido em uma epoca em que 0 nivel ment<~de blocos. As deformacoes da superficie do geoide s6 do mar estava mais baixo do que 0 rrivel atual, tendo esses poderao ser evidcnciadas pela cornparacao de regioes mais sedimentos continentais coberto uma parte da Plataforma distantes entre si, Continental. Durante a pemiltima transgressao, esses sedi­ A deposicao da Formacao Barreiras, que se fez sob urn mentos retrabalhados pelo mar foram, em parte, a origem do clima seco e contrastado foi seguida de uma fase urn ida. material arenoso dos terracos pleistocenicos, A presenca de Apos est a fase iniciou-se urn novo periodo de clima seco e cristas de cordoes litoraneos ainda nitidamente visiveis nes­ contrastado. Durante esse periodo foi depositada uma for­ ses terracos, mostra que a superficie dessa formacao arenosa macao continental detritica cujos testemunhos sao encontra­ perrnaneceu praticamente sem mod ificacao desde a epoca de dos em diversos pontos da zona litoranea. Antes do maximo sua deposicao, Isso impliea na presenca de uma cobertura da penultima transgressao (120.000 anos B.P.) 0 clima vegetal desde 120.000 anos B.P. nessa parte do Iitoral e, torn~)ll-se novamente umido. l?esde entao, sobre essa parte portanto, que as condicoes climaticas permaneceram bastan­ do literal ele nao sofreu varracoes de grande amplitude. te semelhantes as condicoes atuais. E possivel que pequenas S0111entc pequenas oscilacoes que nao foram suficientes para oscilacoes tenham se produzido, porem, a preservacao do' g~rar 0 desaparecimento da vegetacao devem terse produ­ cordoes pleistocfticos se opoe It existencia de grandes varia­ zido. coes do tipo precedente.· A medida que se produzia a regressao que seguiu 0 penul­ AGRADECIMENTOS timo maximo, uma rede hidrografica se instalou sabre essas as autores qllerem deixar aqui expressos os seus agradeci­ areias marinhas escavando pequenos vales. Em torno de 18 a mentos ils cntidades tinanciadoras FINEP c BNDE atraves 17.000 anos B.P., a Iinha da costa se situava aproximada­ do Programa de Pesquisa e Pos-Graduacao em Geofisica da mente sabre a borda da Plataforma Continental (-110 me­ lIFBa e ao CNPq. Agradecimentos sao extensivos It CPR tros). A partir dessa epoca uma transgressao rapida e (SlI!'erinfendh,cia Regional de Salvador) porter colocado a bastante regular se produziu. 0 mar penetrou inicialmente disposicao urn pequeno barco para deslocamentos na regiao nas zonas baixas formando lagunas. A medida que a nivel de mapcada. BIBLIOGRAFIA GIBARELLA, J.J. e ANDRADE, G.O. 1%5, Contributions to the study of troptcales du Bresil, These de Doc. d'etat presentee a la Faculte the Brazilian Quaternary, Geol. Soc. Amer., Spec. Paper 84: 433-451. des Sciences de l'Universite d'Aix, Narseille: 313 pp- BI1TENCOURT, A,C,S,P., FERREIRA, Y.A, • DI NAPOLI, E" 1976. NARTIN, L., 1973, Les variations du niveau de la mer et du Alguns aspectos da sedimentacao na Baia de Todos os Santos, Rev. climat en Cote d'Ivoire depuis 25.000 ans, Cah. ORSTOm, ser. geol., Bras. Geoc. 6(4): 246-263. Vol. IV (2): 93-103. CALDERON, V" 1964, 0 sambaqui de Pedra Oca, Universidade Federal NORNER, N.A., 1976, Eustasy and geoid changes, Journ. Geo!., da Bahia, Instituto de Ci@ncias Sociais, 2. 84(2): 123-151. CERB, 1975,-Cadastro de pOiOS tubulares do Estado da Bahia, Companhia RADIOCARBON,1971, Oif. 878, Vol. 13(2),p. 242, Publicado pela American de Engenharia Rural da Bahia, CERB, I, Vol. III, p. 61. Journal of Science, Yale University. CPRM,1976,Projeto Narufto, Relat6rio Final, Superintendencia Regional de SUGUIO, K. e NARTIN, L., 1976, Presen~a de tubos f6sseis de Salvador, Vol. I (texto), 199 pp. CaIIlanassanas forma~Oes quaternfuias do Htoral paulista e sua utitizal;30 DELIBRIAS, G. e LABOREL, J" 1969. Recent variations of the sea level na reconstrucao paleoambiental, Bol. Inst. Geoci@nc. USP., 7: 17.26, alongtheBraziliancoast, VIII Congres Intern. INQUA, Paris, Quaternaria SAo Paulo. (Ies niveaux marins holocenes), XVI: 45-49 (971). SUGUIO,K.,NARTIN,L.,.FLEXOR,;r.N.,1977,Sealevelfluctuations during FERREIRA,Y.A.,1969,RecifesdeArenitosdeSalvador,BA, An. Acad, Bras. the last 6000 years at th e coast of the state of sao Paulo Gene. 41(4). (BraziI), X Congresso Inter, INQUA, Birminghan (G.B.) Abstract, p, GAPOSCHKIN,E.M.,1973, Satellite dynamics, in GAPOSCHKIN, E.N" ed. 452, PRE-IMPRESSAO - Inst. Geoci@ncias da USP. sao Paulo. 1973 Smithsonian standard earth (III): Smithsonian Astron. Obs., Spec. TRICART, J. e CARDOSO DA SILVA, T., 1968. Estudos de geomorfologia Rep. 353:85 - 102. da Bahia e Sergipe, Pub. da Fundac30 para 0 Desenvolvimento da LABOREL, J., 1%7, Les peuplements de madreporaires des cOtes Genda na Bahia, 167 pp. 320 Revista Brasileira de Geoclenclas ~ Volume 9 ~ N° 4 ~ 1979