DIAGNÓSTICO DA PECUÁRIA LEITEIRA NA MICRORREGIÃO DE ITAPETINGA-

JOSÉ NOBRE DE CARVALHO JUNIOR

2011 JOSÉ NOBRE DE CARVALHO JUNIOR

DIAGNÓSTICO DA PECUÁRIA LEITEIRA NA MICRORREGIÃO DE ITAPETINGA-BAHIA

Tese apresentada à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Área de Concentração em Produção de Ruminantes, para obtenção do título de Doctor Science.

Orientador:

D.Sc. Aureliano José Vieira Pires

Co-orientadores:

D.Sc. Fabiano Ferreira da Silva

D.Sc. Paulo Bonomo

ITAPETINGA

BAHIA - BRASIL

2011 637.1 Carvalho Júnior, José Nobre de. Diagnóstico da pecuária leiteira na microrregião de Itapetinga-Bahia. / C324d José Nobre Carvalho Júnior. – Itapetinga-BA: UESB, 2011. 119 fl..

Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Campus de Itapetinga. Sob a orientação do Prof. D.Sc. Aureliano José Vieira Pires e co-orientador Prof. D.Sc. Fabiano Ferreira da Silva; Prof. D. Sc. Paulo Bonomo.

1. Leite – Ordenha – Higiene. 2. Leite – Composição química. 3. Leite cru resfriado – Contagem de células somáticas (CCS). I. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Campus de Itapetinga. II. Pires, Aureliano José Vieira. III. Silva, Fabiano Ferreira da. IV. Bonomo, Paulo. V. Título

CDD(21): 637.1

Catalogação na Fonte: Cláudia Aparecida de Souza– CRB 1014-5ª Região Bibliotecária – UESB – Campus de Itapetinga-BA

Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:

1. Leite – Ordenha – Higiene. 2. Leite – Composição química. 3. Leite cru resfriado – Contagem de células somáticas (CCS) 4. Leite – Qualidade

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

Área de Concentração em Produção de Ruminantes

Campus de Itapetinga-BA

TERMO DE APROVAÇÃO

Título: “DIAGNÓSTICO DA PECUÁRIA LEITEIRA NA MICRORREGIÃO DE ITAPETINGA- BAHIA”.

Autor: José Nobre de Carvalho Junior

Aprovada como parte das exigências para obtenção do Título de Doutor em Zootecnia, área de concentração em Produção de Ruminantes, pela Banca Examinadora:

______Prof. Dr. Aureliano José Vieira Pires Presidente

______Prof. Dr. Fabiano Ferreira da Silva – UESB

______Profª. Drª. Mara Lúcia Albuquerque Pereira – UESB

______Dr. Roberto Camargos Antunes – CNPq

______Prof. Drª. Sibelli Passini Barbosa Ferrão – UESB

Data da defesa: 24 de março de 2011

UESB - Campus Juvino Oliveira, Praça Primavera no 40 – Telefone: (77) 3261-8628 Fax: (77) 3261-8701 – Itapetinga – BA – CEP: 45.700-000 – E-mail: [email protected]

Ao Senhor Jesus Cristo, pela vida e salvação;

À minha esposa, Wllany, minha companheira e incentivadora em todos os momentos;

Aos meus filhos Gustavo Nobre e Giselle Nobre, heranças de Deus na minha vida;

Aos meus pais, José Nobre e Maria Socorro, pelo amor, exemplo e dedicação;

Aos meus irmãos, Jair, Jirlane e Jeovane (em memória), pelo amor e incentivo.

DEDICO

“Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las...”

Mário Quintana.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Aureliano José Vieira

Pires, pelo incentivo, apoio, ensinamento e exemplo de pessoa que é, como forma de agradecimento

OFEREÇO

AGRADECIMENTO

Ao Senhor DEUS, toda honra e toda glória seja dada a Ele;

À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e ao Programa de Pós- graduação em Zootecnia, pelo oferecimento do curso, na pessoa do coordenador o Prof. Aureliano José Vieira Pires;

Ao professor Dr. Aureliano José Vieira Pires, pela orientação, paciência, compreensão, excelente orientação e pelos seus ensinamentos;

Aos meus co-orientadores, Dr. Fabiano Ferreira da Silva e Dr. Paulo Bonomo, pelos conselhos, críticas, sugestões, apoio e, principalmente, pela paciência;

Aos professores, Drª. Mara Lúcia Albuquerque Pereira (UESB); Drª. Cristiane Leal dos Santos-Cruz (UESB); Dr. Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes (UESB); Drª. Sibelli Passini Barbosa Ferrão (UESB) e Dr. Roberto Camargos Antunes (CNPq), pela participação e sugestões;

Aos professores do programa de Pós-Graduação em Zootecnia, pelos ensinamentos e paciência;

À Wllany, Gustavo e Giselle por serem parte da minha vida, todo agradecimento sempre será pouco por tudo que representam para mim;

Aos colegas de curso: Aires, Alberti, Fabio Teixeira, Jaqueline, Lizziane, Luciana, Lucas, Paulo Valter, Paulo Ferraz, Rogério, Tonhão, pela amizade e agradável convivência;

À empresa VALEDOURADO e ao gerente de campo, Antonio Roberto, por abrir as portas da empresa para contribuir com a pesquisa;

Aos produtores de leite da microrregião de Itapetinga-BA, que nos acolheu e nos prestou todas as informações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa;

Aos funcionários da Valedourado, que nos recebeu e colaboraram com todas as nossas solicitações;

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste projeto.

O meu muito OBRIGADO! SUMÁRIO

RESUMO ...... 10

1.INTRODUÇÃO ...... 12

2. REVISÃO DE LITERATURA ...... 16

2.1 Características da microrregião de Itapetinga ...... 16 2.2 Aspectos gerais da cadeia produtiva do leite ...... 18 2.3 Composição e propriedades físico-químicas do leite ...... 20 2.4 Contagem de células somáticas ...... 21 2.5 Qualidade microbiológica ...... 23

3. REFERENCIAS...... 26

CAPITULO 1

Qualidade e composição do leite cru resfriado na microrregião de Itapetinga- Bahia

RESUMO ...... 28

ABSTRACT ...... 29

1. INTRODUÇÃO ...... 30

2. MATERIAL E MÉTODOS ...... 33

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 35

4. CONCLUSÕES ...... 47

5. REFERÊNCIAS ...... 48

CAPITULO 2

Caracterização da pecuária leiteira na microrregião de Itapetinga-Bahia

RESUMO ...... 52

ABSTRACT ...... 53

1. INTRODUÇÃO ...... 54

2. MATERIAL E MÉTODOS ...... 57

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 60 3.1 Caracterização dos produtores ...... 60 3.2 Caracterização da atividade leiteira ...... 68 3.3 Mão-de-obra na bovinocultura ...... 76 3.4 Infraestrutura da propriedade ...... 81 3.5 Uso da terra ...... 82

4. CONCLUSÕES ...... 86

5. REFERÊNCIAS ...... 87

CAPITULO 3

Panorama da pecuária leiteira e do manejo de ordenha em propriedades na microrregião de Itapetinga-Bahia

RESUMO ...... 88

1.INTRODUÇÃO...... 90

2. MATERIAL E MÉTODOS ...... 92

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 95

3.1 Sistema produtivo ...... 95 3.2 Sistema de produção forrageiro ...... 97 3.3 Suplementação ...... 101 3.4 Manejo produtivo ...... 103 3.5 Manejo de ordenha ...... 106 3.6 Manejo sanitário ...... 110

4. CONCLUSÕES ...... 112

5. REFERÊNCIAS ...... 113

- ANEXO - ...... 115

LISTA DE FIGURAS

CAPITULO 1

Figura 1 - Percentual de amostra de leite cru, em função da área das propriedades, apresentados de acordo com os parâmetros preconizados pela legislação ...... 38

CAPITULO 2

Figura 1 – Distribuição das propriedades em função dos municípios ...... 58 Figura 2 - Percentual de propriedades em função da área (ha) ...... 60 Figura 3 – Local da residência do produtor em função da área da propriedade...... 61 Figura 4 – Dedicação do produtor ao negócio em função da área da propriedade ...... 62 Figura 6 - Profissão ou atividade do proprietário em função da área da propriedade ...... 64 Figura 7 – Fonte de obtenção de informações dos produtores em função da área da propriedade ...... 65 Figura 8- Percentual de cooperados e ou associados em função da área da propriedade .....66 Figura 9 – Percentual de proprietários que possuem equipamentos em comum com vizinhos em função da área da propriedade ...... 66 Figura 10 – Administrador da propriedade em função da área da propriedade ...... 67 Figura 11 – Percentual de proprietários que possuem filhos na atividade em função da área da propriedade ...... 68 Figura 12 – Percentual de propriedades que criam gado puro ou mestiço em função da área da propriedade ...... 69 Figura 13 – Objetivo principal da produção em função da área das propriedades ...... 70 Figura 14 – Principal problema enfrentado pelo produtor, em função da área da propriedade ...... 72 Figura 15 – Opinião do produtor sobre a atividade leiteira em sua propriedade em função da área da propriedade ...... 73 Figura 16 – Tipo de tecnologia que melhoraria a produção do rebanho na propriedade em função da área da propriedade...... 74 Figura 17 – Percentual de proprietários que receberam algum tipo de crédito para atividade rural, em função da área da propriedade ...... 75 Figura 18 - Perspectivas futuras dos produtores em função da área da propriedade ...... 75 Figura 19 – Percentual de produtores que tem interesse, caso tivessem, à sua disposição, uma linha de financiamento para aumentar o rebanho, em função da área da propriedade ...... 76 Figura 20 – Percentual de propriedades que possuem algum tipo de remuneração especial para o ordenhador ...... 79 Figura 21 – Grau de escolaridade do ordenhador em função da área da propriedade ...... 80 Figura 22 - Disposição de infra-estrutura das propriedades em função da área...... 81

CAPITULO 3

Figura 1 – Percentual de propriedades que realizam análise de solo, adubação e calagem, em função da área da propriedade ...... 98 Figura 2 – Mecanismo de roçagem da pastagem utilizado nas propriedades em função da área ...... 100 Figura 3 – Tipo de suplementação utilizada nas propriedades em função da área ...... 102 Figura 4 – Percentual de propriedades que fazem anotações zootécnicas, em função da área da propriedade ...... 104

LISTA DE TABELAS

CAPITULO 1

Tabela 1 - Média de qualidade do leite e componentes do leite, de propriedades da microrregião de Itapetinga-BA, em função da área da propriedade ...... 35 Tabela 2 - Percentuais médios de amostras nos intervalos de contagem de células somáticas em função da área das propriedades ...... 40 Tabela 3 - Correlação entre CCS, ECS, CBT, EBT e os componentes do leite, de amostras coletadas na microrregião de Itapetinga-BA ...... 41 Tabela 4 - Percentuais médios dos componentes do leite cru resfriado, de acordo com os intervalos de contagem de células somáticas das amostras analisadas na microrregião de Itapetinga-BA...... 44

CAPITULO 2

Tabela 1 – Quantidade média de funcionários, percentual de trabalhadores com carteira assinada e assistência técnica, nas diferentes faixas de área das propriedades ...... 77 Tabela 2 – Percentual de áreas ocupadas com pastagem, mata e capineira em relação à área total da propriedade ...... 83

CAPITULO 3

Tabela 1 – Quantidade de unidade animal por hectare explorado, produção de leite (litros/ha/ano) e produção média de leite (litros/vaca/dia) em função da área da propriedade ...... 95 Tabela 2 – Percentual de propriedades que utilizam ordenha manual ou mecânica e a quantidade de ordenhas diárias, em função da área das propriedades ...... 106 Tabela 3 – Percentual de propriedades que utilizam práticas de higiene e teste de detecção da mastite em função da área das propriedades ...... 108

10

RESUMO

CARVALHO JUNIOR, J. N. de. Diagnóstico da pecuária leiteira na microrregião de Itapetinga-Bahia. Itapetinga-BA: UESB, 2011. 119f. (Tese – Doutorado em Zootecnia, Área de Concentração em Produção de Ruminantes).*

O trabalho foi desenvolvido na microrregião de Itapetinga, Bahia, Brasil, com o objetivo de avaliar a qualidade do leite cru resfriado, por meio da contagem de células somáticas (CCS), contagem de bactérias totais (CBT) e de seus componentes (gordura, proteína, lactose e sólidos totais) e averiguar se as amostras analisadas estão em conformidade com os padrões estabelecidos pela Instrução Normativa nº. 51 (IN51), além de avaliar o perfil do produtor, caracterização da propriedade, da mão-de-obra, sistema produtivo, higiene de ordenha, práticas sanitárias, manejo produtivo e aspectos correlacionados ao nível de desenvolvimento das propriedades da microrregião de Itapetinga-Bahia. Os dados foram coletados de 100 propriedades que foram distribuídas em função da área, estabelecendo-se cinco faixas: até 100 ha, de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha, e maior que 500 ha. As análises de composição do leite, células somáticas e contagem de bactérias totais foram realizadas no laboratório de qualidade do leite da ESALQ/USP. Os demais dados foram obtidos através da aplicação de questionário aos produtores. Utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso. As análises estatísticas foram processadas através do PROC GLM e PROC CORR. As médias dos teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais, extrato sólido desengordurado, contagem de células somáticas, escore da contagem de células somáticas, contagem de bactérias totais e escore de contagem de bactérias totais não variaram. As propriedades com área de 301 a 500 ha apresentaram um maior percentual de amostras em conformidade com a IN51. Dentre os entrevistados, 84,0% dos produtores de leite possuem áreas acima de 100 ha. O padrão racial dos animais predominante foi mestiço de Holandês, Gir e Pardo Suíço, com diferentes graus de sangue. O percentual de uso da terra para o gado de leite decresceu à medida que aumentou o tamanho da área total. A taxa de lotação nas propriedades de até 100 ha foi a maior entre as áreas, entretanto, a média geral foi de 0,81 UA/ha, o que é indicadora de sistemas de produção extensivos. Palavras-chave: CCS, composição do leite, higiene de ordenha.

* Orientador: Aureliano José Vieira Pires, D.Sc.- UESB e Co-orientadores: Fabiano Ferreira Silva e Paulo Bonomo, D.Sc. – UESB. 11

ABSTRACT

CARVALHO JUNIOR, J.N. de. Diagnosis of dairy livestock in the micro region of Itapetinga-Bahia. Itapetinga-BA: UESB, 2011. 119f. (Thesis – Doctor Degree in Animal Science, Area of Concentration in Ruminant Production). *

The study was conducted in the micro region of Itapetinga, Bahia, , aiming to assess the quality of raw milk cooled by of somatic cell count (SCC), total bacteria count (TBC) and its components (fat, protein, lactose and solids) and see if the samples are in accordance with standards established by Normative Instruction n.51 (IN51). To evaluate the profile of the producer, characterization of property, manpower, production system, milking hygiene, sanitation, practices, management and production aspects related to the level of development of the properties of micro-Itapetinga of Bahia. The data were collected from 100 properties that were distributed according to farm size, establishing five tracks: up to 100 ha, 101 to 200 ha, 201 to 300 ha, 301 to 500 ha and bigger than 500 ha. The analyses of milk composition, somatic cell count and total bacteria count were performed in the laboratory of milk quality of ESALQ / USP. Other information were obtained through a questionnaire to producers. The mean intake of fat, protein, lactose and total solids, solid not fat extract, somatic cell count score, the somatic cell count, total bacteria count and score count of total bacteria did not change. The properties with area from 301 to 500 ha, and higher percentage of samples in accordance with the IN51. Among the respondents 84.0% of milk producers have areas above 100 ha. The racial pattern was predominantly crossbred animals of Holstein, Gir and Brown Swiss, with varying degrees of blood. The percentage of land use for land use for dairy cattle decreased as increased the size of the total area. The stocking rate on the properties up to 100 ha was the highest among the areas, however, the overall average of 0.81 AU/ha is indicative of extensive production systems.

Keywords: CCS, milk composition, milking hygiene, dairy farming or livestock.

* Supervisor: Aureliano José Vieira Pires, D.Sc.- UESB and Co-advisores: Fabiano Ferreira Silva e Paulo Bonomo, D.Sc. – UESB. 12

1. INTRODUÇÃO

A cidade de Itapetinga surgiu de um núcleo de tropeiros vindo do povoado de nome

Verruga, hoje município de Itambé (Moura, 1998). Com um solo propício para pastagens, a pecuária se expandiu e, em pouco tempo, se tornou a principal atividade econômica dessa região.

O governo federal, na década de 70, incentivou a agricultura por meio de créditos e juros subsidiados, o que levou os produtores a desmatar indiscriminadamente para formação de novas áreas de plantio e novas pastagens, inclusive as margens dos rios e as encostas, não havendo preocupação com a natureza. Com isso, os solos sofreram grandes impactos e os rios foram assoreados.

O aproveitamento da produção de leite, na região de Itapetinga, surgiu com algumas pequenas unidades produtoras de creme para fabricação de manteiga. O crescimento do potencial de produção de leite despertou, em alguns empresários, a possibilidade do transporte e da venda do leite para outras regiões, principalmente para

Salvador. Isto proporcionou a instalação de fábricas para a indústria do leite (Ferreira,

2002).

A entrada da agroindústria na região de Itapetinga, no final da década de 60, início da década de 70, promoveu um grande avanço na pecuária dessa região. As indústrias recém-instaladas propuseram adquirir o leite produzido na região e melhorar sua atividade.

Para isso, elas ofereceram incentivos à atividade leiteira. Assim, novas tecnologias foram introduzidas, como a inseminação artificial com sêmen de gado europeu, principalmente das raças leiteiras, Holandesa e a Pardo Suíça. Essa inovação tecnológica proporcionou uma mestiçagem com aptidão leiteira. Nessa época, o crédito (com juros subsidiados) fez 13

aumentar a expansão da atividade. O leite produzido na região passou a ser comercializado em outras localidades, gerando divisas e proporcionando o desenvolvimento regional.

Nos últimos anos, a cadeia produtiva do leite de todo o setor do agronegócio brasileiro é a que mais se transformou. Após meio século de poucas mudanças, em grande parte explicada pela forte intervenção do governo no mercado de lácteos, a cadeia produtiva do leite começou, no início dos anos 90, a experimentar profundas transformações em todos os seus segmentos. Essas mudanças, provocadas especialmente pela desregulamentação do mercado de leite, ocorridas a partir de 1991, ressaltando a importância da criação do MERCOSUL e a estabilização monetária existente no país, devem-se à maior abertura da economia brasileira para o mercado internacional.

Mais recentemente, a política cambial praticada pelo governo brasileiro teve forte repercussão no mercado do agronegócio brasileiro, que perdeu competitividade no mercado mundial. Esse problema surgiu exatamente no momento em que a balança comercial de lácteos estava conseguindo tornar-se superavitária com as exportações, superando as importações.

É cada vez mais visível a preocupação dos órgãos de saúde com relação à qualidade dos alimentos disponíveis para o consumo. No Brasil, com relação à qualidade do leite, vários temas têm sido debatidos com foco principal na qualidade da matéria-prima, controle do processo e manutenção da sua qualidade.

Entre esses, destaca-se o pagamento do leite baseado em critérios de qualidade da matéria-prima fornecida aos laticínios. Observa-se a importância desse assunto, uma vez que culmina com a bonificação dos produtores rurais, visando garantir o fornecimento de matéria-prima de boa qualidade. Assim, a busca pela qualidade exigirá da atividade leiteira 14

do Brasil várias modificações. Em 18 de setembro de 2002, o Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), por intermédio do Departamento de Inspeção de

Produtos de Origem Animal (DIPOA), publicou a Instrução Normativa nº 51 no Diário

Oficial da União. Esta normatiza a produção e estabelece critérios e parâmetros de identidade e qualidade do leite, desde a ordenha, o resfriamento na propriedade rural e seu transporte a granel, incluindo requisitos físico-químicos e microbiológicos, contagem de células somáticas (CCS) e limites máximos de resíduos (LMR) antimicrobianos. Baseado nessa nova legislação e atendidos os critérios preconizados, acredita-se que, a médio e longo prazo, o leite terá melhor qualidade; os produtores, melhor remuneração; e o país disporá de um produto que venha a atender aos padrões internacionais, ampliando as exportações do setor. Partindo desse princípio, o diagnóstico da atual situação da qualidade do leite cru produzido torna-se necessário, visto que a Instrução Normativa nº 51 determina prazos para que o leite produzido em diferentes regiões atenda aos padrões estabelecidos

(Picinin, 2003). Os produtores das regiões Norte e Nordeste teriam até julho de 2010 para produzirem leite com CCS máxima de 1.000.000 de células/mL, quando diminuem para

750.000 células/Ml, e a partir de julho de 2011, o parâmetro será de 400.000 células/mL para todas as regiões do país. Para que os produtores forneçam leite cru com a qualidade exigida e as indústrias laticinistas estejam preparadas para toda a mudança, é preciso monitorar a real qualidade da matéria-prima, segundo os critérios e parâmetros propostos pela nova legislação. Isto é importante, pois dará suporte para a implementação de medidas corretivas visando a melhoria da qualidade do leite (Brasil, 2002).

Segundo dados da International Dairy Federation (1987), o teor de sólidos no leite apresenta uma alta correlação com o rendimento industrial para a produção de derivados lácteos, como o queijo e o leite em pó, devendo, assim, serem valorizados pela indústria. 15

Os critérios utilizados para garantir a qualidade higiênica do leite são variados e adotados em praticamente todos os países que apresentam uma indústria láctea desenvolvida. Os parâmetros, voltados para a qualidade microbiológica do leite, são usados como critério de aceitação por parte da indústria e dentro da legislação oficial de cada país ou região.

Contudo, fora a regulamentação oficial, algumas indústrias utilizam tais critérios para bonificação do leite (Fonseca, 2009).

Os parâmetros relacionados com a qualidade higiênica são muitos e incluem desde a contagem bacteriana total (CBT) ou contagem global (CG) até a contagem de células somáticas (CCS) (Picinin, 2003). Segundo Cerqueira et al. (1999), a melhor forma de retardar a perda de qualidade, mantendo estáveis as características do produto, é através do resfriamento e das condições de transporte a granel. De acordo com a Instrução Normativa nº 51, 1,0 x 106 UFC/mL é o número máximo de Contagem Bacteriana Total (CBT) até julho de 2008, para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste; e, até julho de 2010, para as regiões Norte e Nordeste, as contagens serão de, no máximo, 7,5 x 105 UFC/mL de CBT, sendo ainda considerada, a partir de julho de 2011, o máximo de 1,0 x 105 UFC/mL no caso de tanques individuais e 3,0 x 105 UFC/mL para leite de conjunto, para todas as regiões (Brasil, 2002). Ficando facultado aos estabelecimentos de laticínios anteciparem-se aos prazos fixados na Instrução Normativa N°51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (Brasil, 2002).

A adequada higiene da glândula mamária é talvez a medida isolada mais importante na prevenção de novas infecções intramamárias. Existe uma relação direta entre o número de bactérias presentes nos tetos e a taxa de infecções intramamárias. Desta forma, todos os procedimentos que contribuam para a manutenção de uma baixa população de bactérias na 16

superfície dos tetos ajudam, de forma significativa no controle da mastite (Fonseca &

Santos, 2000).

Hoje, há uma grande insatisfação por parte dos pecuaristas locais em relação à pecuária leiteira na região de Itapetinga, devido a quedas substanciais da atividade. Vários são os fatores que culminam nessa insatisfação: o empobrecimento do solo, a perda na qualidade das forragens, as mudanças no clima, políticas ineficientes para o setor, ocasionando a desmotivação.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Características da microrregião de Itapetinga

A subespacialização dentro da região Sudoeste da Bahia obedece a um critério pré- estabelecido, definido por programas governamentais. Com isso, a microrregião de

Itapetinga corresponde a uma área que poderá ter diferentes dimensões, sobretudo espacial, em função da localização, composição, estrutura e intensidade da produção sócio- econômica.

A microrregião de Itapetinga, estabelecida de acordo com a subespacialização do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1995/1996) e pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB), compõe-se de 13 municípios:

Itapetinga, Itororó, Iguaí, Ibicuí, Nova Canaã, Potiraguá, , ,

Macarani, Itambé, , Ribeirão do Largo e . O município de

Encruzilhada, apesar da classificação do Estado pertencer à microrregião administrativa de

Vitória da Conquista, tem sua produção destinada à industrialização na cidade de

Itapetinga e ligações históricas com a região, por se tratar de uma área agropastoril. 17

A região de Itapetinga está compreendida entre 14°38’00’ e 15°39’30’’ de latitude sul e 39°55’24” e 40°52’56” de longitude oeste. É banhada principalmente pelo rio

Jequitinhonha, ao sul, limitando o Estado da Bahia com o estado de Minas Gerais, e pelos rios Pardos, Catolé, Colônia e , além de outros pequenos rios e riachos (Bahia,

1994).

Quanto aos solos, há predominância do tipo latossolo vermelho amarelo eutrófico e distrófico, entretanto, são encontrados, também, com frequência os tipos latossolo vermelho amarelo álico, brunizém avermelhado e podzólicos vermelho amarelo eutrófico e distrófico (Bahia, 1994). A topografia vai de suavemente ondulada a acidentada, com altitude variando até 749 m, dividida em três faixas, até 249 m nos municípios de Potiraguá e Itarantim, de 250 a 499 m nos municípios de Maiquinique, , Itapetinga, Itororó,

Caatiba, Iguaí, Ibicuí e Nova Canaã e de 500 a 749 m nos municípios de Encruzilhada,

Ribeirão do Largo e Itambé. A vegetação é variada, apresentando os seguintes tipos: floresta estacional decidual e semidecidual, floresta ombrófila densa, floresta estacional e submontana (Bahia, 1994). A região situa-se em uma faixa de transição entre os ecossistemas da Mata Atlântica e da Caatinga. O clima predominantemente é do tipo AW

(clima tropical com estação seca de inverno), porém, aparecem também, com frequência, os tipos Am (clima de monção) e BSh (clima das estepes quentes de baixa latitude e altitude) (Agrossistemas, 1976).

A região de Itapetinga teve na pecuária um dos pilares do seu desenvolvimento econômico, ocorrendo um segundo ciclo de industrialização, sendo este voltado para criação de um pólo calçadista no estado, com a implantação da indústria de calçados

Azaléia. Possui uma unidade industrial de produtos lácteos da Indústria de Laticínios

Palmeira dos Índios S.A e várias pequenas indústrias de laticínios. Também possui duas 18

cooperativas ligadas ao setor rural, a Cooperativa dos Produtores de Leite de Itapetinga

Ltda. (Cooleite) e a Cooperativa Mista do Médio Rio Pardo (Coopardo).

2.2 Aspectos gerais da cadeia produtiva do leite

A indústria leiteira mundial passa por inúmeras mudanças e pode-se perceber a grande tendência à redução dos preços pagos ao produtor, redução de subsídios, o aumento do módulo de produção e, principalmente, o aumento das exigências da qualidade do leite e seus derivados, assim como a maior preocupação dos consumidores em relação à segurança alimentar.

Entre outros motivos para a importância do mercado leiteiro para a sociedade é que por trás da produção estão famílias que tem a pecuária leiteira como perspectiva de sustentabilidade e de ingresso no mercado formal, na qual a mão-de-obra, na maioria das vezes, é de baixa escolaridade, e precisam ser instruídos sobre a necessidade de produção de leite de melhor qualidade.

A Bahia ocupa também a 7ª posição no ranking nacional, com produção de mais de

840 milhões de litros/ano, sendo observado crescimento na produção de 5,9% quando se compara o ano de 2003 com 2004 (Zoccal, 2006). No entanto, ainda de acordo com este autor, a produtividade é acentuadamente menor (534 litros/vaca/ano) que aquela observada em Pernambuco (1.088 litros/vaca/ano) ou em Alagoas (1.482 litros/vaca/ano).

O controle da qualidade do leite, até a publicação da Instrução Normativa nº 51 (IN

51), se restringia basicamente à prevenção de fraudes ou adulterações do produto in natura mediante adoção de parâmetros físico-químicos como acidez, densidade, índice crioscópico, entre outros (Brasil, 2002). Com a publicação da IN 51, abriu-se nova era para 19

o setor leiteiro com perspectiva favorável à melhoria da qualidade do leite produzido no

Brasil.

Outro importante fator é o que redefine a classificação dos tipos de leite comercializados no Brasil, que antes desta normativa classificavam-se em Tipo A, B e C, pois a partir de 01 de julho de 2005 o Tipo C deixou de existir nas regiões Sul, Sudeste e

Centro-Oeste e nas regiões Norte e Nordeste, a partir de 01 de julho de 2007 (Brasil,

2002). As transformações são necessárias, contudo, complexas, visto que a produção leiteira brasileira é praticada, majoritariamente, por pequenos produtores, sejam em posse da terra ou em volume de produção.

Atualmente a legislação sobre leite no Brasil encontra-se atualizada e os setores envolvidos com a produção de leite terão que atender à nova legislação. Assim, os produtores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, desde julho de 2005, devem atender aos requisitos da IN 51, e desde julho de 2007, o Norte e Nordeste também (Brasil, 2002).

Este regulamento estabelece padrões para a ordenha, resfriamento do leite na propriedade, requisitos físico-químicos, microbiológicos, limite máximo de resíduos de antimicrobianos, além dos limites para a contagem de células somáticas (CCS) e Contagem

Bacteriana Total (CBT), expressa em Unidades Formadoras de Colônia (UFC).

A qualidade do leite cru sofre influência de diversos fatores, destacando-se os fatores de ordem zootécnica, como manejo (ordenha, sanidade), genética e alimentação; e os fatores relacionados com os procedimentos de conservação de leite, após sua obtenção.

Dentre os fatores de manejo, destaca-se a ordenha, principalmente, em função da facilidade da contaminação do leite no ambiente em que este é obtido, sendo, assim, o primeiro ponto crítico de controle. Dessa forma, a higiene de ordenha é fundamental para a 20

obtenção do leite seguro, do ponto de vista alimentar, além de que, neste momento, pode- se contaminar os animais que estejam em lactação, disseminando mastites.

Uma forma econômica, rápida e menos trabalhosa de se avaliar a qualidade do leite

é a coleta e análise de leite no tanque, que é amplamente utilizada para a avaliação da qualidade do leite cru, e que também indicam as condições do rebanho com um todo

(Monardes, 2008). Barbosa et al. (2008) estudando a qualidade do leite em tanques resfriadores, após um ano de aplicação da IN-51 na região Norte e Nordeste, observaram que os produtores de leite destas regiões precisam de medidas urgentes para se adequar à nova realidade leiteira do Brasil, pois os valores de contagem bacteriana total (CBT) apresentaram valores muito altos e em não conformidade com as normas.

2.3 Composição e propriedades físico-químicas do leite

O leite apresenta-se como uma emulsão líquida em que a fase contínua é formada de água e substâncias hidrossolúveis ao passo que a fase interna ou descontínua é formada, principalmente, de micelas de caseína e de glóbulos de gordura (Sgarbieri, 2005).

O leite contém mais de 100 substâncias nutritivas. A caseína, principal proteína do leite, está dispersa como um grande número de partículas sólidas tão pequenas que permanecem em suspensão e são chamadas micelas, compondo a fase coloidal. A gordura e as vitaminas lipossolúveis estão na forma de uma emulsão que são uma suspensão de pequenos glóbulos líquidos que não se misturam com a água do leite. A lactose (açúcar do leite), algumas proteínas (do soro), sais minerais e outras substâncias estão inteiramente dissolvidas na água (Wattiaux, 2008). 21

De maneira geral, as propriedades físico-químicas do leite podem ser avaliadas por vários testes que afetam, direta ou indiretamente, o nível de aceitação e a capacidade de processamento do produto, entre as quais se destacam, de acordo com Fonseca & Santos

(2000), a densidade, crioscopia, pH e acidez titulável.

Segundo regulamento técnico de identidade e qualidade do leite cru resfriado da

Instrução Normativa 51 (Brasil, 2002), o leite cru resfriado deve apresentar os seguintes requisitos físico-químicos dentro da propriedade rural: gordura (g/100 g), teor original, com mínimo de 3,0; densidade relativa a 150C (g/ml2), 1,028 a 1,034; acidez titulável (g de

ácido lático/100mL), 0,14 a 0,18; extrato seco desengordurado (g/100g), mínimo de 8,4;

índice crioscópico (máximo), -0,5300H (equivalente a – 0,5120C); proteínas (g/100g), mínimo de 2,9.

2.4 Contagem de células somáticas

A contagem de células somáticas (CCS) no leite é uma medida padrão aceita mundialmente para determinar a qualidade do leite cru (Souza et al., 2005), sendo uma importante parte do conjunto de atributos essenciais de qualidade que incluem composição, aspectos sensoriais, contagem bacteriana total, ausência de drogas e resíduos químicos

(Souza et al., 2005). Sendo assim, no Brasil, a CCS foi recentemente incluída como requisito para a aceitação do leite pela indústria, por meio da Instrução Normativa nº51

(Brasil, 2002; Souza et al., 2005).

As células somáticas encontradas no leite podem ser pertencentes principalmente, ao grupo de células secretoras do leite e/ou leucócitos (Souza et al., 2005). Os leucócitos são enviados à glândula mamária, mediante a contaminação das mesmas com os 22

patógenos, causadores da mastite. Os patógenos da mastite causam alterações no processo de síntese do leite dentro da glândula mamária, podendo afetar sua qualidade (Arcuri et al.,

2006). O processo inflamatório resulta no aumento do número de células somáticas no leite

(Paula et al., 2004; Arcuri et al., 2006; Coentrão, 2008 ), e grandes perdas estão associadas

à presença de um alto índice de célula somáticas, caracterizadas por diminuição no rendimento industrial de derivados lácteos em geral, alteração das características sensoriais dos produtos, diminuição do período de validade e menor renumeração por litro de leite entregue à industria (Cortez & Cortez, 2008).

O entendimento da dinâmica da CCS em leite de tanques é um importante passo para a melhoria da qualidade do leite. Elevadas CCS em leite de tanques refletem as perdas na produção e a manutenção de baixas CCS indica boa saúde da glândula mamária dos animais (Paula et al., 2004; Souza et al., 2005). Além disso, um dos grandes prejuízos associados à alta CCS é a diminuição de produção e aumento dos custos com o tratamento doa animais afetados pela mastite (Philpot & Nickerson, 2002).

O leite contido na glândula mamária de animais saudáveis é considerado estéril.

Entretanto, vários pontos são considerados críticos no que diz respeito à obtenção do leite.

Imediatamente após a ordenha, o leite contém poucos microrganismos, porém, após um certo tempo, a carga microbiana do leite pode aumentar devido à contaminação por microrganismos provenientes do ambiente e do homem (Fonseca & Santos, 2000).

A mastite é causada por microrganismos. A contaminação do leite se dá principalmente durante a ordenha, pelas mãos dos ordenhadores e equipamentos de ordenha (Brito et al., 2002). Sendo assim, a adoção de procedimentos higiênicos nessa fase é essencial para o controle efetivo da mastite e para reduzir o número de agentes contaminantes no leite (Arcuri et al., 2006). 23

As razões para se monitorar a CCS em leite de tanques incluem a demanda de consumidores por produtos de alto padrão, a necessidade de processamento do leite cru de qualidade e a pressão do mercado internacional por produtos de qualidade; porém, a média da CCS encontrada em leite de tanques, em estudos realizados, é alta, o que reflete pouco cuidado dos produtores com relação à sanidade da glândula mamária e falta de estímulo por partes das indústrias em estabelecer programas de pagamento de leite por qualidade com base na CCS (Paula et al., 2004).

De acordo com Schällibaum (2001), há quatro formas em que a alta contagem de células somáticas pode afetar a qualidade do leite processado, sendo: alteração na composição do leite, alteração nas propriedades tecnológicas, impacto na qualidade dos produtos derivados do leite e impacto econômico no processamento do leite. Sendo assim, a mastite é considerada a principal doença que afeta os rebanhos leiteiros no mundo, e aquela que proporciona as maiores perdas econômicas na produção de leite.

2.5 Qualidade microbiológica

O leite é um alimento que possui uma alta atividade de água, grande disponibilidade de nutrientes e pH próximo da neutralidade, o que torna o meio favorável ao crescimento microbiano. São encontradas no leite uma diversidade de bactérias, sendo que, do ponto de vista tecnológico, as mais importantes são aquelas que contaminam o leite durante e após a ordenha (Arcuri et al., 2006). As bactérias que são encontradas no leite podem ser divididas em grupos. As psicrotróficas podem se multiplicar a 7ºC ou menos; as termodúricas, que podem sobreviver ao tratamento térmico de pasteurização; as láticas, que acidificam rapidamente o leite cru não refrigerado; os coliformes e as bactérias patogênicas, principalmente, as que causam mastite e as bactérias mesofílicas que se 24

multiplicam na faixa de temperatura entre 20 a 45ºC, tendo como temperatura ótima de crescimento 32ºC e, portanto, crescem bem em ambientes com o clima mais quente como o de nosso país. O grupo das bactérias mesofílicas é importante, pois nele está a maioria dos contaminantes dos alimentos. É considerado um bom indicador de qualidade microbiológica do leite, fermentam a lactose do leite e produzem ácido láctico, que eleva a acidez do leite e causa a coagulação da caseína. Por isso, é comum a realização de testes que detectam a acidez do leite nas plataformas de recepção, podendo determinar a rejeição do leite pelos laticínios (Arcuri et al., 2006). A ação das bactérias ou de suas enzimas sobre os componentes lácteos causa várias alterações de sabores e aromas indesejáveis, diminuição do tempo de prateleira, interferência nos processos tecnológicos, entre outros problemas (Fonseca & Santos, 2001; Arcuri et al., 2006).

A temperatura e o período de armazenamento do leite, antes da pasteurização, determinam, de maneira pronunciada, a intensidade de desenvolvimento das diversas espécies microbianas contaminantes. As temperaturas baixas inibem ou reduzem a multiplicação da maioria das bactérias e diminuem a intensidade das enzimas degradativas

(Brito et al., 2004; Arcuri et al., 2006).

O método de análise empregado pela legislação para a avaliação da qualidade microbiológica do leite é a Contagem Bacteriana Total (CBT), que como o próprio nome sugere, é a contagem do número de colônias presentes na amostra de leite. Para a execução dessa análise, a amostra é incubada a 32ºC durante 48 horas. Os resultados dependerão basicamente da carga microbiana inicial do leite, bem como sua taxa de multiplicação microbiana. Idealmente esse valor deve ficar abaixo de 100.000 UFC/ml (Fonseca &

Santos, 2001).

Determina-se que a alta contagem bacteriana total está diretamente associada à ordenha de animais com tetos sujos e/ou úmidos, e a presença de fezes ou solo nos tetos, 25

que pode levar à alta contagem de coliformes ou bactérias psicrotróficas. Portanto, para a obtenção de um produto de qualidade com padrões microbiológicos adequados deve-se priorizar as condições higiênicas com um correto manejo de ordenha (preparação dos tetos antes da ordenha, com limpeza, desinfecção e secagem completa dos tetos), realizar um programa de controle de mastite, ordenhar leite oriundo apenas de vacas sadias e realizar o resfriamento imediato a 4ºC (Arcuri et al., 2006; Fonseca & Santos, 2001; Brito et al.,

2004).

Grande parte das bactérias pcicrotróficas tem a capacidade de produzir enzimas termo-resistentes, que resistem aos tratamentos térmicos geralmente utilizados no processamento do leite. Estas enzimas estão relacionadas a uma série de defeitos de sabor, aroma, consistência e aspecto do leite (Vasavada & Cousin, 1993).

Outras causas de alta contagem bacteriana estão associadas às falhas na aplicação dos produtos de limpeza, tanto no equipamento de ordenha como no tanque de estocagem do leite nas propriedades (Arcuri et al., 2006). Deficiências na sanidade animal, resfriamento e transporte não adequados, e a falta de um programa de ordenha higiênica também se apresentam relacionados às altas contagens de microorganismos.

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3. REFERÊNCIAS

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CAPITULO 1

Qualidade e composição do leite cru resfriado na microrregião de Itapetinga-Bahia

RESUMO

Objetivou-se com este trabalho avaliar a qualidade do leite cru resfriado, por meio da contagem de células somáticas (CCS), contagem de bactérias totais (CBT) e de seus componentes (gordura, proteína, lactose e sólidos totais), na região de Itapetinga-Bahia; verificar a correlação entre CCS, CBT, escore de células somáticas (ECS), escore de bactérias totais (EBT) e os componentes do leite; e averiguar se as amostras analisadas estão em conformidade com os padrões estabelecidos pela Instrução Normativa nº. 51 (IN51). Foram utilizadas amostras de 100 propriedades, sendo agrupadas em função da área da propriedade. Os tratamentos foram determinados pelas áreas das propriedades, sendo: até 100 ha, de 101 a 200 ha; de 201 a 300 ha; de 301 a 500 ha e maior de 500 ha. As análises de composição do leite, CCS e CBT, foram realizadas no laboratório de qualidade do leite da ESALQ/USP. Utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso. As análises estatísticas foram processadas utilizando-se através do PROC GLM e PROC CORR. As médias dos teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais, extrato sólido desengordurado, CCS, ECS, CBT e EBT não variaram. As correlações entre CCS, ECS e componentes do leite apresentaram respostas diferenciadas e, na maioria das vezes, significativas. Das amostras de leite analisadas, quanto a CCS, CBT e composição química do leite, estão em conformidade com a IN51, 62,5%; 55,2%; 65,1%; 75,0% e 57,1% das respectivas propriedades, com área: até 100 ha, de 101 a 200 ha; de 201 a 300 ha; de 301 a 500 ha e maior de 500 ha. Apresentando as propriedades com área de 301 a 500 ha, um maior percentual de amostras em conformidade com a IN51.

Palavras-chave: células somáticas, IN51, leite bovino. 29

CHAPTER 1

Quality and composition of raw cold milk in microregion of Itapetinga- Bahia

ABSTRACT

The objective was to evaluate the quality of raw cold milk chilled milk (CCS), through the somatic cell count (CCS), total bacteria’s counting (CBT) and its components (fat, protein, lactose and solids), in the region of Itapetinga-Bahia, verify the correlation between CCS, CBT, somatic cell score (ECS), score of total bacteria and milk components and ascertain whether the samples are in accordance with standards established by Normative Instruction no. 51 (IN51). Were used sample of 100 properties, being grouped according to the area of property. The treatments were determined, by the areas of property, being: up to 100 ha, from 101 to 200 ha; from 201 to 300 ha; from 301 to 500 ha and bigger than 500 ha. The analyses of milk composition, CCS and CBT were performed in the laboratory of milk quality of ESALQ / USP. Were used a completely delimitation at random. The statistical analyses were processed through the PROC GLM and PROC CORR (SAS, 2002). The average of the levels of fat, protein, lactose and total solids, solid not fat extract, CCS, ECS, CBT and EBT did not vary. Correlations between CCS, ECS and milk components showed different responses and, in most cases, significant. The milk samples analyzed, according CCS, CBT and chemical composition of milk, are in accordance with the IN51, 62,5%; 55,2%; 65,1%; 75,0% e and 57,1% of the properties with an area until 100 ha, from 101 to 200 ha; from 201 to 300 ha; from 301 to 500 ha and bigger from 500 ha, respectively. Introducing the properties with area from 301 to 500 ha, a higher percentage of samples in accordance with the IN 51.

Keywords: somatic cell, IN51, bovine milk.

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a qualidade do leite produzido tem sido discutida. A contagem de células somáticas (CCS) e a composição do leite têm sido avaliadas e utilizadas como importantes ferramentas para monitoramento da qualidade do leite e da saúde da glândula mamária (Santos, 2004).

As células somáticas presentes no leite podem ser do tipo epitelial ou de defesa, das quais as células epiteliais são oriundas da descamação normal do tecido de revestimento e secretor da glândula mamária, e as células de defesa são os glóbulos brancos do sangue

(leucócitos).

Segundo Philpot & Nickerson (2002), em uma glândula infectada as células de defesa podem corresponder de 98 a 99% das células presentes no leite. Considera-se que a

CCS, superior a 280.000 cel/mL, é um indicativo de mastite subclínica que pode trazer alterações nos componentes do leite e, consequentemente, no rendimento industrial dos produtos lácteos (Ferrão, 2002; Santos, 2004). A presença de células somáticas pode ser determinada por várias técnicas de diagnóstico, que podem ser divididas em métodos indiretos: Califórnia Mastitis Test (CMT) e Wisconsin Mastitis Test (WMT), e diretos: microscopia direta e analisadores eletrônicos (Ferrão, 2002). As células somáticas acarretam mudanças tanto nos principais componentes do leite (proteína, gordura e lactose), quanto em outras substâncias como minerais e enzimas. Esses efeitos são resultados da alteração da capacidade de síntese de componentes do leite pela glândula mamária afetada e, também, devido à ação de enzimas de origem das células somáticas que atuam degradando, por exemplo, a caseína e gordura do leite, mesmo após a ordenha

(Santos, 2004).

Alterações nos componentes do leite são suficientes para reduzir o rendimento dos produtos lácteos e ocasionar redução na vida de prateleira, e os principais mecanismos 31

pelos quais ocorrem alterações nos níveis dos componentes do leite são as lesões às células epiteliais produtoras de leite, que podem resultar na alteração da proteína, gordura e lactose, e no aumento da permeabilidade vascular, que permite aumentar a passagem de substâncias do sangue para o leite, tais como sódio, cloro, imunoglobulinas e outras proteínas séricas (Santos, 2004). A composição do leite pode variar de acordo com o manejo nutricional dos animais, em função das espécies de mamíferos e, também, dentro das espécies, em função das diferentes raças (Hurley, 2002).

Parte da gordura do leite é formada a partir dos precursores (ácido acético e butírico), que são produzidos no rúmen a partir dos ácidos graxos com mais de 16 carbonos que são absorvidos no intestino ou mobilizados das reservas corporais. Parte dos ácidos graxos do leite é sintetizada na glândula mamária e outra parte significativa (35-75%) provém dos ácidos graxos do sangue. Aproximadamente 44% da gordura do leite provêm de triglicérides ingeridos pela vaca, o restante provém de síntese endógena. A proteína do leite tem sua origem nos aminoácidos absorvidos no intestino, provenientes, por sua vez, em maior parte, da proteína microbiana formada no rúmen e da proteína da dieta não degradada no rúmen, disponível no intestino. A lactose é o açúcar do leite, sintetizada a partir da glicose produzida no fígado pelo aproveitamento do ácido propiônico absorvido no rúmen e pela transformação de certos aminoácidos (González & Silva , 2003).

As modificações na composição do leite em função da infecção da glândula mamária vão depender da severidade da infecção e do estágio da doença. Mudanças mais pronunciadas podem ser observadas nos casos clínicos em comparação aos casos sub- clínicos da mastite (Santos, 2004).

Em setembro de 2002, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA), por intermédio do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal

(DIPOA), publicou a Instrução Normativa nº51 (IN51), que tem como finalidade criar 32

mudanças significativas no mercado dos lácteos. Esta Normativa estabelece critérios e parâmetros de identidade e qualidade do leite desde a ordenha até o transporte, incluindo requisitos físico-químicos.

Para que os produtores forneçam leite cru com a qualidade exigida e as indústrias laticinistas estejam preparadas para todas essas mudanças, é preciso monitorar a real qualidade da matéria prima, segundo os critérios e parâmetros proposto pela IN51 (Lima et al., 2006).

Nesse novo cenário, o pagamento pela qualidade da matéria-prima tem despertado atenção das indústrias de laticínios no país, refletindo em mudança cultural, econômica e estratégica no agronegócio do leite, todos envolvidos em um programa para melhoria da qualidade do leite, que passou a ser prioridade absoluta de todos os elos da cadeia produtiva dos lácteos (Ferrão, 2002).

Objetivou-se com este estudo avaliar a qualidade do leite cru refrigerado, em função da área das propriedades, por meio da contagem de células somáticas, contagem bacteriana total e dos componentes (gordura, proteína, lactose e sólidos totais) na microrregião de Itapetinga-Bahia; verificar a correlação entre células somáticas, bactérias totais, escore das células somáticas e os componentes do leite; e averiguar se as amostras analisadas estavam em conformidade ou não com os padrões estabelecidos pela IN51.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

O público alvo da pesquisa foram 100 fornecedores de leite da Indústria de

Laticínios Palmeira dos Índios S.A. - VALEDOURADO, cujas propriedades fazem parte da Microrregião de Itapetinga-Bahia que, segundo a subespacialização do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1995/1996) e da Agência Estadual de Defesa

Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB), compõe-se de 13 municípios: Itapetinga,

Itororó, Iguaí, Ibicuí, Nova Canaã, Potiraguá, Itarantim, Maiquinique, Macarani, Itambé,

Caatiba, Ribeirão do Largo e Encruzilhada.

Foram coletadas amostras do leite uma vez por mês, durante 12 meses, de janeiro de 2009 a dezembro de 2009 nas 100 propriedades.

O leite foi coletado em frascos estéreis, sendo duas amostras por propriedade, no tanque de expansão, na propriedade, obedecendo a seguintes recomendações de coleta: agitou-se a amostra do tanque por pelo menos 10 minutos; fez-se a coleta de preferência pela parte superior do tanque e não pela torneira inferior; utilizou-se um instrumento limpo e desinfetado para a coleta, uma concha de aço inox; observaram-se os cuidados para prevenir a contaminação da amostra durante a coleta; fechou-se adequadamente o frasco após a coleta; identificou-se corretamente a amostra (data, origem, observações extras); e acondicionou-se corretamente a amostra para o transporte (amostra refrigerada, para garantir a temperatura adequada; amostra com conservante foi homogeneizada adequadamente). A um dos frascos para análise de CCS, adicionou-se bronopol, e no outro, para análise de CBT, três gotas de azidiol, em seguida, foram colocados em caixas isotérmicas contendo gelo reciclável e transportados ao laboratório de Qualidade do Leite

(LQL) da ESALQ/USP para realização das seguintes análises: determinação dos teores de proteína, lactose, gordura, extrato seco total, contagem de células somáticas (CCS), bactérias totais (CBT). As análises físico-químicas (referentes aos teores de lactose, 34

proteína, gordura, extrato seco total e extrato desengordurado) foram realizadas utilizando- se equipamento eletrônico - Fossomatic, com capacidade de análise de 500 amostras/hora, cujo princípio analítico baseia-se na absorção de comprimento de onda na região infra- vermelha. Para a contagem de células somáticas, foi utilizado equipamento eletrônico -

Fossomatic, com capacidade de análise de 500 amostras/hora, cujo princípio analítico baseia-se na citometria de fluxo (National Mastitis Council, 1999).

Os dados de CCS e CBT foram transformados em logaritmos de base 2 (log2), criando a variável Escore de Células Somáticas (ECS) e Escore de Bactérias Totais (EBT).

Para efeito de avaliação da relação da CCS e CBT com os componentes do leite, foram estabelecidos cinco extratos da CCS: valor menor ou igual a 280.000 células/mL, maior que 280.000 a 500.000 células/mL, maior que 500.000 a 750.000 células /mL, maior que 750.000 a 1.000.000 células /mL e acima de 1.000.000 células/mL de leite.

A partir de planilha Excel, foi realizada análise descritiva dos dados para estabelecer parâmetros comparativos entre os valores observados na composição do leite e os valores estabelecidos pela IN51.

Os resultados das análises do leite cru foram submetidos à análise estatística descritiva, além de comparação de médias pelo teste SNK, considerando-se o nível de confiança de 95%, segundo Snedcor & Cochran (1989).

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores médios de células somáticas (CCS), contagem de bactérias totais (CBT), escore de células somáticas (ECS), escore de contagem de bactérias totais (EBT) e composição do leite, em função da área das propriedades, não foram significativos a 5% de probabilidade, sendo apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Média de qualidade do leite e componentes do leite, de propriedades da microrregião de Itapetinga-BA, em função da área da propriedade

Área (ha) até 100 101 a 200 201 a 300 301 a 500 > de 500 CV

CCS (x mil) 359,46 423,07 502,84 453,90 424,48 47,49

ECS 18,36 18,61 18,77 18,71 18,63 2,88

CBT (x mil) 1409,8 1228,3 1512,2 2339,6 964,9 88,32

EBT 19,96 19,38 19,97 20,43 19,46 8,09

Gordura (%) 3,79 3,79 3,87 3,93 3,90 7,16

Proteína (%) 3,37 3,37 3,37 3,40 3,43 3,77

Lactose (%) 4,52 4,48 4,48 4,48 4,51 2,22

ST (%) 12,69 12,60 12,71 12,82 12,83 2,85

ESD (%) 8,88 8,83 8,83 8,89 8,92 1,82

As médias das variáveis são semelhantes pelo teste SNK a % 5 de probabilidade. CCS- contagem de células somáticas, ECS- escore de células somáticas, CBT- contagem de bactérias totais, EBT– escore de bactérias totais, ST- sólidos totais, ESD- extrato seco desengordurado, CV– coeficiente de variação.

Os valores médios de CCS observados, 359.460; 423.070; 502.840; 453.900 e

424.480 células/ml de leite, nas amostras de leite coletadas nas diferentes propriedades, em função de sua área, foram considerados satisfatórios, de acordo com os padrões preconizados pela legislação (Brasil, 2002). Foram semelhantes aos valores, a partir de 36

amostras individuais, relatados por Fernandes et al. (2004) e Lima et al. (2006) que observaram 549.000 e 402.126 células/mL de leite, respectivamente. Em amostras de leite de tanque, Brito (2003), Ribas et al. (2003) e Dürr (2003) encontraram valores próximos para CCS de 493.000, 486.000 e 540.000 células/mL, respectivamente.

Os valores das contagens de células somáticas variaram de 145.300 a 1.878.600 células/mL, com média de 432.750 células/mL. Considerando o padrão de CCS preconizado pela legislação brasileira, segundo a Instrução Normativa nº 51 para a região

Nordeste, até julho de 2010, como máximo de 1.000.000 células/mL (Brasil, 2002), tendo como referência o ano de 2009, pois as amostras foram coletadas no referido ano, demonstra-se que as propriedades, em função da área, estavam produzindo leite com CCS que atendem ao padrão estabelecido, já que foram encontrados valores médios inferiores a esse valor, apesar de terem sido registradas CCS de amostras de leite individual superiores a 1.000.000 células/mL.

Uma constatação preocupante que se observa na Tabela 1 é a alta incidência

(100%) de leite fora dos padrões aceitáveis de higiene, conforme médias observadas para contagem de bactérias totais, 1.409.800; 1.228.300; 1.512.200; 2.339.600; 964.900

UFC/ml de leite, respectivamente, para as propriedades com áreas de até 100 ha, de 101 a

200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha e acima de 500 ha.

De modo geral, a carga microbiana do leite é uma variável dependente de carga inicial e da taxa de multiplicação dos microorganismos. A carga bacteriana inicial pode ser definida como a concentração de microorganismos existentes no leite armazenado no tanque resfriado, imediatamente após o término da ordenha, e depende basicamente de três fatores: o primeiro diz respeito à contaminação microbiana do leite dentro da própria glândula mamária, ou seja, da saúde do rebanho em termos de mastite; o segundo fator está relacionado com a higiene da ordenha e, mais especificamente, com a limpeza e a 37

desinfecção da superfície dos tetos; e, finalmente, as condições de limpeza dos utensílios e equipamentos de ordenha também são fundamentais, observando-se a qualidade da água utilizada na lavagem dos tetos durante a ordenha, e também na higienização e desinfecção do sistema de ordenha (Behmer, 1999).

A taxa de multiplicação bacteriana está diretamente relacionada com a temperatura de armazenamento do leite. Recomenda-se que a temperatura de armazenamento seja no máximo 4ºC, dentro de duas horas após o término da ordenha, e menor que 7ºC durante a adição de leite da ordenha consecutiva. Deve-se destacar a importância do correto funcionamento e dimensionamento do sistema de produção frio (Nickerson, 1998).

Fazendo uma análise das amostras individuais das propriedades, para contagem de células somáticas, observou uma incidência de 6,9% das propriedades com área de 201 a

300 ha (Figura 1), que apresentaram amostra de leite fora dos padrões preconizados pela legislação brasileira (Brasil, 2002). Provavelmente, esses valores altos de CCS devem-se às diferentes práticas de manejo higiênico-sanitário encontradas nas propriedades leiteiras, em que foram coletadas as amostras de leite. Segundo Noro (2004), a qualidade do leite é reflexo de diversas práticas adotadas durante a ordenha, manutenção e limpeza dos equipamentos e utensílios, prática de manejos dos animais, descarte de animais com problemas e cuidados sanitários.

Para a contagem de bactérias totais, os percentuais foram mais preocupantes, visto que todos os grupos de propriedades apresentaram alta frequência de amostras fora dos padrões estabelecidos pela IN51 (Figura 1), bem acima dos valores observados por

Mesquita et al. (2006), Fonseca et al. (2006), Souza et al. (2006) e Machado et al. (2006). 38

Contagem de células somáticas Contagem de bactérias totais Todos parâmetros 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 93,1%

75,0%

62,5% 65,1% 55,2% 57,1%

44,8% 42,9% 37,5%

28,0% 25,0%

até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha acima de 500 ha

Figura 1 - Percentual de amostra de leite cru, em função da área das propriedades, apresentados de acordo com os parâmetros preconizados pela legislação

Somente 62,5%; 55,2%; 65,1%; 75,0% e 57,1% das propriedades, respectivamente, com áreas de até 100 ha, de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha e acima de 500 ha, atenderam aos valores preconizados para todos os parâmetros analisados, indicando que a grande maioria das propriedades avaliadas atendeu aos dispositivos legais. As propriedades com área de 301 a 500 ha foram as que mais se enquadraram nos parâmetros da IN51.

O parâmetro que apresentou maior percentual de não conformidade a IN51 foi a contagem bacteriana, cujos valores estão associados com o perfil dos produtores envolvidos. Em sua maioria, foram produtores com baixo nível tecnológico que apresentavam manejo inadequado, má higiene durante a ordenha, instalações precárias, utilização do incipiente da refrigeração do leite na fazenda e, principalmente, durante o transporte, ausência de controle da qualidade da água, dentre outros fatores (Antunes et al.,

2002: Nero et al., 2005). 39

A percentagem encontrada de CCS, de acordo com o padrão (até julho de 2010), foi

93,1%, próximo ao valor encontrado por Fonseca (2005), de 92,7% em seu trabalho com leite cru entregue em estabelecimentos sob Inspeção Federal distribuídos por Minas Gerais.

Rebanhos com baixas contagens de CCS, além de apresentarem maior produção de leite e altos valores dos teores de gordura e proteína, resultam em melhor aproveitamento do leite pela indústria. Por outro lado, altas contagens de células somáticas são sugestivas de mastite subclínica (Jeffrey & Wilson, 1987).

As médias de gordura do leite, proteína, extrato seco desengordurado (Tabela 1) estão em conformidade com a Instrução Normativa de nº 51, sendo semelhante aos resultados obtidos por Mesquita et al. (2006), Fonseca et al. (2006), Souza et al. (2006) e

Machado et al. (2006), nas diferentes regiões do país.

A Instrução Normativa nº 51 preconiza valores para gordura (g/100 g), seu teor original, com mínimo de 3,0 g; extrato seco desengordurado (g/100 g), mínimo de 8,4g, e proteínas (g/100 g), mínimo de 2,9 g (Brasil, 2002).

A lactose não tem limite mínimo exigido pela legislação, o que não tira sua importância, pois é o principal carboidrato do leite, segundo González (2001), sendo a mais digestível fonte de glicose para neonatos.

As médias de lactose encontradas estão na proporção de 4,48 a 4,52%, resultados estes semelhantes aos encontrados na literatura, normalmente na proporção de 4,6 a 5,2%.

A contagem de células somáticas foi distribuída por extratos de acordo com o número de células somáticas (Tabela 2). O extrato menor ou igual a 280.000 cel./mL correspondeu a 25,0%; 10,3%; 12,0% e 14,3% das amostras, respectivamente, das propriedades com área até 100, de 101 a 200, de 201 a 300 e maior de 500 ha, sendo um indicativo de animais sadios, caracterizando leite ideal para o consumo humano. Nas 40

propriedades de área de 301 a 500 ha não houve nenhuma amostra enquadrada neste extrato (Tabela 2).

Tabela 2 - Percentuais médios de amostras nos intervalos de contagem de células somáticas (CCS) em função da área das propriedades

Área das propriedades

CCS (x mil) até 100 ha 101-200 ha 201-300 ha 301-500 ha > 500 há até 280 25,0% 10,3% 12,0% - 14,3%

> 280 a 500 68,7% 65,5% 64,0% 68,8% 64,3%

> 500 a 750 - 20,7% 16,0% 25% 21,4%

> 750 a 1000 6,3% 3,5% - 6,2% -

> 1000 - - 8,0% - -

A influência da concentração de células somáticas sobre os constituintes do leite é muito discutida. De acordo com Santos (2004) e Ferrão (2002), valores de CCS superiores a 280.000 cel./mL são indicativos de mastite subclínica, podendo trazer alterações nos componentes do leite e, consequentemente, no rendimento industrial dos produtos lácteos.

O extrato com resultados de CCS maior que 1.000.000 células/mL correspondeu a

8,0% das amostras de leite, observado apenas no grupo de propriedades de 201 a 300 ha.

Serra (2004), avaliando 250 amostras individuais de leite, relatou valores de 18,4%, que se encontravam em não conformidade com a IN51, superior aos obtidos neste estudo, e Lima et al. (2006), com 301 amostras, relataram valores de 7,97% das amostras em não conformidade com a IN51, sendo semelhantes aos obtidos no presente estudo. 41

Na Tabela 3 estão ilustradas as correlações entre contagem de células somáticas

(CCS), escore de células somáticas (ECS), contagem de bactérias totais (CBT), escore de bactérias totais (EBT) e os componentes do leite, de amostras de leite, das propriedades na microrregião de Itapetinga-BA.

Tabela 3 - Correlação entre CCS, ECS, CBT, EBT e os componentes do leite, de amostras coletadas na microrregião de Itapetinga-BA

ECS CBT EBT G P L ST ESD

CCS 0,92* -0,08ns -0,04ns 0,41* 0,23* -0,38* 0,30* -0,01ns

ECS - -0,05ns -0,04ns 0,45* 0,25* -0,44* 0,33* -0,02ns

CBT - - 0,83* 0,01ns 0,13ns 0,14ns 0,11ns 0,19ns

EBT - - - 0,03ns 0,23* 0,19ns 0,17ns 0,27*

G - - - - 0,55* -0,24* 0,89* 0,32*

P - - - - - 0,03ns 0,80* 0,82*

L ------0,05ns 0,52*

ST ------0,69*

CCS- contagem de células somáticas, ECS- escore de células somáticas, CBT– contagem de bactérias totais, EBT– escore de bactérias totais, G- gordura, P- proteína, L- lactose, ST- sólidos totais, ESD- extrato seco desengordurado. ns- não significativo, * significativo a 5% pelo teste T.

As correlações de CCS, ECS, CBT e EBT não foram significativas. Sabe-se que não há, necessariamente, uma relação entre a elevada CCS e a CBT no leite. Contudo, a alta contagem bacteriana, mesmo com CCS baixa, implica em falhas higiênicas no manejo de ordenha. Segundo Yazid & Mohd Yazid (1990), contagens microbiológicas elevadas significam perda de qualidade do produto. 42

Verificou-se ocorrência de correlação positiva das células somáticas (CCS) e o escore de células somáticas (ECS) com o teor de gordura, r= 0,41 e r=0,45, respectivamente. Resultados semelhantes foram encontrados por Noro (2004) e Pereira et al. (1999), quando verificaram aumento nos teores de gordura, à medida que aumentava o escore linear de células somáticas. Segundo Santos (2004), o aumento no teor de gordura do leite, associado ao aumento do ECS, deve-se à menor produção de leite, pois quanto maior o ECS, menor a produção de leite e, consequentemente, maior teor de gordura presente no leite.

Com relação ao teor de proteína do leite, observa-se na Tabela 3 que, embora os valores sejam relativamente baixos, ocorreram associações positivas e significativas entre

CCS (r = 0,23) e ECS (r = 0,25) com esse componente do leite. Resultados semelhantes ao presente estudo foram relatados por Fernandes et al. (2004), no estado de São Paulo, para

CCS e teor de proteína do leite, e Pereira et al. (1999) e Noro (2004), entre ECS e a mesma característica. De acordo com Paape (1977), com a ação das enzimas bacterianas, há aumento na permeabilidade vascular com maior passagem de imunoglobulinas e proteínas séricas do sangue para o leite, o que, consequentemente, resultará em um maior teor de proteína presente no leite.

Com relação à lactose, observa-se na Tabela 3 que as correlações dessa característica com a CCS (r=- 0,38) e o ECS (r=- 0,44) foram negativas e significativas, sugerindo que, à medida que aumenta a quantidade de células somáticas do leite, há redução no teor de lactose.

Esses resultados foram similares aos encontrados por Bueno et al. (2005) e

Fernandes et al. (2004) que verificaram correlação negativa entre a lactose e o ECS.

Segundo Santos (2004), a existência de associação negativa entre CCS e lactose é explicada pelo fato de que o aumento de células somáticas pode diminuir a produção de 43

leite e, consequentemente, o teor de lactose, pois esse constituinte está diretamente relacionado com a quantidade de leite produzido.

Essa redução, provavelmente, deve-se à lesão tecidual e também à passagem do carboidrato do lúmen alveolar para a corrente sanguínea (Harmon, 1994; Auldist et al.,

1995). A significativa correlação observada entre o CCS, ECS e a concentração de lactose

(Tabela 3) torna-se semelhante ao coeficiente de -0,34, obtido por Prada e Silva et al.

(2000) e Bueno et al. (2005). Portanto, pode-se inferir que a lactose é o componente do leite que sofre redução, devido à elevação da CCS.

Para o teor de sólidos totais, a Tabela 3 mostra que esse componente do leite possui importante associação com a CCS e ECS. Esses resultados foram diferentes aos encontrados por Prada e Silva et al. (2000), no estado de São Paulo, onde observaram ausência de correlação entre CCS e ECS com o teor de sólidos totais no leite. Por outro lado, Fernandes et al. (2004), em São Paulo, e Bueno et al. (2005), em Goiás, observaram correlação negativa entre o ECS e o teor de sólidos do leite.

Com respeito às correlações entre os componentes do leite, observa-se na Tabela 3 que a lactose apresenta associação negativa com os teores de gordura (r=-0,24), sugerindo que esse componente possui relação antagônica. Já as correlações entre os teores de gordura, de proteína, de sólidos totais e extrato seco desengordurado do leite foram todas positivas e significativas, variando de 0,32 a 0,89, sugerindo que há sinergia na relação de mudanças observadas nesses componentes. Os resultados aqui observados são, no mesmo sentido, semelhantes aos relatados por Ribas et al. (2004) ao, avaliar amostras de leite de vacas de raça holandesa, nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Correlações positivas entre sólidos totais com os teores de gordura, proteína e lactose são atribuídas ao fato de que esses últimos componentes formam os maiores elementos dos sólidos totais do leite, de 30, 26 e 37%, respectivamente, em que o teor de gordura é o componente de maior 44

variação e o teor de lactose o de menor variação, sendo esse último considerado o principal agente osmótico do leite.

Na Tabela 4 estão ilustrados os teores médios de gordura, proteína, lactose, sólidos totais, extrato seco desengordurado do leite cru resfriado, de acordo com os extratos de

CCS das amostras analisadas, coletadas nas propriedades da microrregião de Itapetinga-

BA.

Os valores médios dos teores de gordura do leite variaram de 3,74 a 4,37% (Tabela

4), apresentando uma variação crescente de +16,85%. Esses resultados são semelhantes ao relatado por Brito & Dias (1998), Machado et al. (2000), nos estados de Minas Gerais, São

Paulo e Rio de Janeiro, que verificaram variações positivas e crescentes no teor de gordura do leite com o aumento da CCS. Segundo Santos (2000), o aumento no teor de gordura do leite associado ao aumento da CCS, deve-se à menor produção de leite, pois quanto maior a CCS, menor a produção de leite e, consequentemente, maior teor de gordura.

Tabela 4 - Percentuais médios dos componentes do leite cru resfriado, de acordo com os intervalos de contagem de células somáticas das amostras analisadas na microrregião de Itapetinga-BA

CCS (x mil) Gord (%) Prot (%) Lac (%) ST (%) ESD (%) até 280 3,74 3,35 4,58 12,64 8,91

> 280 a 500 3,79 3,37 4,49 12,64 8,85

> 500 a 750 4,06 3,42 4,45 12,90 8,88

> 750 a 1000 4,12 3,46 4,40 13,00 8,88

> 1000 4,37 3,46 4,38 13,21 8,84

Variação + 16,85 + 3,28 - 4,56 + 4,51 - 0,79

CCS- contagem de células somáticas, Gord- gordura, Prot- proteína, Lac- lactose, ST- sólidos totais, ESD- extrato seco desengordurado. 45

Para os teores de proteína, os valores médios variaram entre 3,35 a 3,46%, com uma variação de 3,28% (Tabela 4). Constata-se, dessa forma, apesar de pequena, a variação é positiva e crescente. Esses resultados foram diferentes aos descritos por Bueno et al. (2005), em Goiás, e Harmon (1998), em São Paulo, que verificaram variações negativas e decrescentes no teor de proteína do leite com o aumento da CCS. Segundo

Paape (1977), devido à ação das toxinas bacterianas, há aumento na concentração de proteínas séricas e imunoglobulinas no leite, durante a infecção da glândula mamária, estando aumentadas as concentrações desses elementos que não são originados no leite.

Verificando os teores de lactose, no presente trabalho, observa-se que os valores médios variaram de 4,58 a 4,38%, com variação média de 4,56% (Tabela 4). Nesse caso, constata-se que há variação negativa e decrescente. Esses resultados foram semelhantes aos obtidos por Brito & Dias (1998), Machado et al. (2000), Prada e Silva et al. (2000) e

Bueno et al. (2005), nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, quando observaram variações negativas e decrescentes no teor de lactose com o aumento da CCS. Segundo

Kitchen (1981), a lactose é sintetizada pelo complexo de Golgi das células epiteliais secretoras dos alvéolos mamários e a infecção da glândula mamária pode causar danos a este tecido e alterar os sistemas enzimáticos nas células secretoras, tendo como consequência a diminuição da biossíntese deste constituinte.

Níveis de lactose inferiores a 4,69 e 4,75% podem ser indicativos de mastite no rebanho (Kitchen, 1981). Vale à pena salientar que, a redução dos valores de parâmetros físico-químicos, como proteína, lactose e gordura, compromete diretamente o rendimento industrial, principalmente em relação à fabricação de queijos, chegando a uma queda de

5% na produção, além de prolongar o tempo de coagulação, firmeza do coágulo, expulsão do soro e taxa de desenvolvimento da acidez (Munro et al., 1984). Todos esses fatores interferem, diretamente, na qualidade do produto final, diminuindo, assim, seu valor 46

nutritivo, além de interferir no valor pago por litro de leite, uma vez que vários destes parâmetros são utilizados para bonificar o produtor no sistema de pagamento por qualidade.

Em relação ao percentual de sólidos totais, verifica-se que os teores médios variaram entre 12,64 a 13,21%, com uma variação crescente e positiva de 4,51% (Tabela

4). Esse resultado foi diferente aos descritos por Brito e Dias (1998), Machado et al.

(2000), Prada e Silva et al. (2000) e Bueno et al. (2005), nos estados de Minas Gerais, São

Paulo e Goiás, que observaram variações negativas e decrescentes entre o aumento da CCS e o teor de sólidos totais do leite.

47

4. CONCLUSÕES

A maioria das propriedades se enquadra nos parâmetros da legislação em vigor, entretanto, a contagem de células somáticas e bactérias totais são os parâmetros responsáveis pelo não cumprimento da Instrução Normativa de nº 51 de algumas propriedades.

As propriedades com área de 301 a 500 ha apresentam maior percentual de amostras (75%), em conformidade com a Instrução Normativa de nº 51.

A correlação entre contagem de células somáticas e lactose é negativa, e entre os demais componentes do leite como gordura, proteína e sólidos totais é positiva.

48

5. REFERÊNCIAS

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52

CAPITULO 2

Caracterização da pecuária leiteira na microrregião de Itapetinga-Bahia

RESUMO

O trabalho foi desenvolvido na microrregião de Itapetinga, Bahia, Brasil, com o objetivo de avaliar o perfil do produtor, caracterização da propriedade, da mão-de-obra e aspectos correlacionados ao nível de desenvolvimento das propriedades. Os dados foram coletados de 100 produtores que foram distribuídos em função da área da propriedade, estabelecendo-se cinco faixas: até 100 ha, de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha, e maior que 500 ha. Dentre os entrevistados, 84,0% dos produtores de leite possuem áreas acima de 100 ha. Não foram encontrados produtores sem escolaridade, o que poderia dificultar o aproveitamento dos cursos e palestras. Outro fator positivo foi que, entre os produtores com nível superior, em todas as faixas de áreas de tamanho de propriedade, 47% são da área de ciências agrárias. Os produtores com áreas acima de 100 ha, na sua maioria, são produtores que residem na cidade, alguns com outras atividades. As palestras aparecem como fonte de obtenção de informação entre todos os produtores. A visão otimista dos produtores pesquisados é o ponto mais positivo no desafio para a implantação de qualquer programa de desenvolvimento da pecuária leiteira regional. O padrão racial predominante dos animais foi de mestiços da raça Holandesa, Gir e Pardo Suíço, com diferentes graus de sangue. A maioria dos produtores não recebe assistência técnica, e, entre os que recebe, a maioria é profissional autônomo. A área destinada para a produção de volumoso, média de 2,8%, ainda é pequena, mostrando a necessidade de investimentos. A grande maioria dos produtores (86%) possui energia elétrica em suas propriedades, incluindo todas as faixas de tamanhos de propriedades. O percentual de uso da terra para o gado de leite decresceu à medida que aumentou o tamanho da área total. Observou-se, em termos percentuais, uma reserva de mata muito pequena, com apenas 6,1% da área total, e uma distribuição desuniforme por faixa de área de tamanho das propriedades.

Palavras-chave: leite, produtores, produção do rebanho.

53

CHAPTER 2

Characterization of the dairy livestock in microregion of Itapetinga-Bahia

ABSTRACT

The study was conducted in the micro region of Itapetinga, Bahia, Brazil, with the objective to evaluate the producer profile, characterization of property, of manpower and related issues at the level of development of properties. The data were collected from 100 producers that were distributed according to property size, establishing five tracks: up to 100 ha, from 101 to 200 ha, from 201 to 300 ha, from 301 to 500 ha, and greater than 500 ha. Among the respondents 84.0% of milk producers have areas above 100 ha. No producers were found with any schooling, which could hinder the recovery of courses and lectures. Another positive factor was that among the producers with higher level, were found in all ranges of areas Size property, 47% are in the field of agricultural sciences. The producers in areas above 100 ha, mostly are producers residing in the city, some with other activities. The lectures appear as a source for obtaining information among all producers. The optimistic view of producers surveyed is the most positive point in the challenge to implementing any development program for the dairy livestock region. The racial pattern of the animals was predominantly crossbreed of Holstein, Gir and Brown Swiss; with varying degrees of blood. The most producers do not receive technical assistance. Among those who receive it, it mostly by self-employed. The area designated for the production of forage, an average of 2.8% is still low, showing the need for investments. The vast majority of producers (86%) have electricity in their properties, including all size ranges of properties. The percentage of land use for dairy cattle decreased as increased the size of the total area. It was observed, a very small forest reserve, with only 6.1% of total area, and an uneven distribution of a swath of property size.

Keywords: milk, producers, herd production.

54

1. INTRODUÇÃO

Uma análise da cadeia produtiva do leite deve partir do reconhecimento de que o grande objetivo da produção agrícola é o de satisfazer necessidades humanas e, no caso do leite, as necessidades de alimentos nutritivos e de produtos lácteos que o homem gosta de consumir. Entretanto, a produção, industrialização e comercialização do leite e seus produtos derivados gera atividades econômicas, cabendo então maximizar a eficiência de utilização dos recursos disponíveis para gerar riqueza ou lucro, bem como empregos, sem perda da qualidade do meio ambiente. Assim, a cadeia do leite deve objetivar aspectos nutricionais, econômicos, sociais e ambientais (Madalena, 2001).

A pecuária de leite na Bahia é considerada um dos setores mais importantes do agronegócio baiano. Os segmentos de produção, industrialização e comercialização de leite e derivados estão presentes em todas as regiões, desempenhando um papel relevante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para a população. Esse segmento é uma das melhores formas de acrescentar renda na agricultura familiar, por não necessitar de grandes áreas para produção, a exemplo da bovinocultura de corte.

O Estado da Bahia é o maior produtor de leite no Nordeste, com 933,5 milhões de litros/ano em 2009. Essa produção, no entanto, ainda é insuficiente, uma vez que o consumo interno é estimado em 1,5 bilhões de litros/ano. A Bahia tem o maior rebanho leiteiro do nordeste, com 3.858.348 cabeças, e terceiro do país, sétimo produtor nacional, mas ocupa a 23ª posição em produtividade por vaca ordenhada, tendo uma média de produtividade de leite/vaca/dia com 3,4 litros (Anualpec, 2010). Necessita de políticas públicas para melhorar a assistência técnica ao agricultor familiar, produtor de leite e, principalmente, provocar e/ou fomentar o melhoramento genético do rebanho existente, por meio da técnica prática e viável de inseminação artificial para, no mínimo, dobrar a produtividade do leite produzido por vaca/dia. 55

O aumento da competitividade do segmento do leite na Bahia está condicionado a diversos fatores como: melhoria da capacitação tecnológica e gerencial dos produtores e laticinistas locais; melhoria da qualidade do rebanho leiteiro; incentivo ao associativismo, principalmente como uma estratégia de sobrevivência para os pequenos pecuaristas; melhoria da gestão da cadeia de refrigerados; estabelecimento de um padrão de qualidade para os produtos regionais derivados do leite, conforme legislação específica estabelecida pelos órgãos de fiscalização; implantação de políticas efetivas de defesa comercial; disponibilidade de crédito, entre outros.

Apesar das dificuldades descritas, deve-se salientar que a Bahia é o principal mercado consumidor do Nordeste, aliado ao fato da sua localização privilegiada, que pode possibilitar o acesso a outros estados da região.

As principais bacias leiteiras do estado da Bahia estão localizadas nos Territórios de

Identidade do Extremo Sul, Itapetinga, Litoral Sul, Médio , Portal do Sertão e Vitória da Conquista. Os demais Territórios também produzem, mas, pela falta de especialização, a oferta é bastante irregular com produção elevada durante as chuvas e reduzida produção no período de estiagem.

O comportamento dos preços pagos ao produtor tem influenciado negativamente o setor. A elevação de preços pagos ao produtor, no âmbito nacional, no último ano, aqueceu a cadeia de produção de leite no Brasil.

Na Bahia, 80% dos produtores de leite são classificados como pequeno e a grande dispersão territorial dos estabelecimentos, aliada à precariedade dos meios de transporte, resultam em altas perdas e custo de frete elevado. Outras carências, como a insuficiência e a baixa qualidade da alimentação do gado, manejo sanitário inadequado, baixo padrão genético, longo intervalo de partos, induzem o reduzido rendimento médio do rebanho. 56

A falta de informação, assistência e investimentos na produção leiteira geram baixas produtividade e qualidade do produto. Pode-se observar que, propriedades com maior produção leiteira, frequentemente, produzem leite de melhor qualidade, quando comparadas àquelas com menor produção (Tkaez et al., 2004). Há diferenças de qualidade no leite produzido pelos diferentes estados brasileiros, que podem ser atribuídas às condições encontradas em cada região, como perfil do produtor, maior acesso à assistência técnica, presença de órgãos extensionistas e programas regionais de controle sanitário de rebanhos e, principalmente, laticínios com políticas de pagamento por qualidade.

Objetivou-se caracterizar as propriedades leiteiras da microrregião de Itapetinga do estado da Bahia, observando o perfil do produtor, caracterização da propriedade, da mão- de-obra e aspectos correlacionados, em função da área das propriedades.

57

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na microrregião de Itapetinga, Bahia, Brasil, composta por

13 municípios: Itapetinga, Itororó, Iguaí, Ibicuí, Nova Canaã, Potiraguá, Itarantim,

Maiquinique, Macarani, Itambé, Caatiba, Ribeirão do Largo e Encruzilhada, segundo a subespacialização do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1995/1996) e da

Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB).

A região de Itapetinga está compreendida entre 14°38’00’ e 15°39’30’’ de latitude sul e 39°55’24” e 40°52’56” de longitude oeste. É banhada principalmente pelo rio

Jequitinhonha, ao sul, limitando o estado da Bahia com o estado de Minas Gerais, e pelos rios Pardos, Catolé, Colônia e Cachoeira, além de outros pequenos rios e riachos (Bahia,

1994).

Os solos têm predominância do tipo Latossolos Vermelho Amarelo Eutrófico e

Distrófico, entretanto, são encontrados também, com frequência, os tipos Latossolos

Vermelho Amarelo Álico, Brunizém Avermelhado e Podzólicos Vermelho Amarelo

Eutrófico e Distrófico.

A topografia vai de suavemente ondulada a acidentada, com altitude variando até

749 m, dividida em três faixas de: até 249 m nos municípios de Potiraguá e Itarantim; de

250 a 499 m nos municípios de Maiquinique, Macarani, Itapetinga, Itororó, Caatiba, Iguaí,

Ibicuí, Nova Canaã; de 500 a 749 m nos municípios de Encruzilhada, Ribeirão do Largo e

Itambé. Possui também uma vegetação variada, apresentando os seguintes tipos: floresta estacional decidual e semidecidual, floresta ombrófila densa, floresta estacional e submontana (Bahia, 1994).

Foram aplicados 100 questionários, que corresponderam a 41,32% do total de fornecedores da empresa na microrregião de Itapetinga-Bahia, no período de março a setembro de 2010, em propriedades diferentes, sendo a escolha do público alvo de forma 58

aleatória, servindo como base de escolha uma relação fornecida pela empresa Indústria de

Laticínios Palmeira dos Índios S.A. – VALEDOURADO.

29 30

25

20 15 15 9 10 10 7 5 6 5 6 5 3 2 2 1 0

Figura 1 – Distribuição das propriedades em função dos municípios

O questionário constava de perguntas de múltipla escolha com a possibilidade em algumas perguntas de mais de uma resposta, sendo repassado aos entrevistados que poderiam optar por mais de uma alternativa de resposta (anexo). Nas perguntas com possibilidade de muitas respostas, o produtor poderia escolher dentro das opções uma alternativa aberta, facilitando, assim, a escolha. Com isto, foi possível obter o maior número de informações para serem tabuladas, conhecendo, desta forma, com mais realidade a situação da atividade.

O uso de questionários com perguntas objetivas visou promover a maior padronização das respostas obtidas. Assim, os questionários poderiam até mesmo ser respondidos diretamente pelo proprietário ou seu representante, sem a necessidade de ação e, consequentemente, interferência por parte do entrevistador. 59

O questionário aplicado foi elaborado com a preocupação de utilizar perguntas redigidas em linguagem acessível ao produtor rural, independentemente de seu nível cultural, observando a sequência dos tópicos e organizando as perguntas de maneira que a entrevista fluísse de forma natural e agradável, na medida do possível, permitindo a colheita dos dados com rapidez e eficácia.

Os produtores foram enumerados de 1 a 100 na primeira coluna e nas demais colunas foram constadas as informações obtidas pelas respostas dos mesmos. Após a elaboração da planilha, procedeu-se a seleção e análise dos dados pelo referido programa, dados estes coletados e tabulados pelo programa Excel da Microsoft.

Como forma de estabelecer uma compreensão mais esclarecedora das informações colhidas, optou-se por uma abordagem basicamente descritiva com análise voltada para este tipo de estatística. Para facilitar as análises, foi realizada uma distribuição dos produtores de acordo com tamanho da propriedade, estabelecendo-se cinco faixas de tamanhos: até 100 ha, de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha, e maior de 500 ha.

Foram avaliadas 100 propriedades rurais produtoras de leite, em função da área das propriedades, dos dados da propriedade, do produtor, dados relativos à atividade leiteira, mão-de-obra na bovinocultura, infraestrutura da fazenda e uso da terra.

60

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização dos produtores

O tamanho da propriedade nas áreas em estudo foi muito variável. Os entrevistados apresentaram áreas variando de 20 a 3.000 ha com a média geral de 324,1 ha. Para efeito de análise, os produtores foram distribuídos conforme as seguintes áreas com os respectivos percentuais: até 100 ha (16,0% dos entrevistados), de 101 a 200 ha (29,0% dos entrevistados), de 201 a 300 ha (25,0% dos entrevistados), de 301 a 500 ha (16,0% dos entrevistados), e maior que 500 ha (14,0% dos entrevistados), conforme apresentados na

Figura 2. Foi calculada a área média das propriedades por faixa, apresentando assim distribuídas: na primeira faixa a área média foi de 70,4 ha, na segunda a média foi de 147,7 ha, na terceira a média foi de 254,1 ha, na quarta a média foi de 378,3 ha, e na quinta foi a média de 1042,4 ha.

29,0% 30,0% 25,0% 25,0% 20,0% 16,0% 16,0% 14,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior 500 ha

Figura 2 - Percentual de propriedades em função da área (ha)

Dentre os entrevistados, 84,0% dos produtores de leite possuem áreas acima de 100 ha, confirmando estudos de Ferreira et al. (2005) que, trabalhando na microrregião de

Itapetinga-BA, encontraram valores de 87,86% das propriedades acima de 100 ha. Este 61

resultado, quando comparado com estudo sobre a região do Sudoeste da Bahia, realizado pela Secretaria de Planejamento do Estado, evidencia que os municípios da microrregião de Itapetinga possuem menor densidade demográfica devido às extensões das propriedades serem maiores que a média da região Sudoeste da Bahia, na qual está inserida

(Nascimento, 1999).

Analisando a Figura 3, constata-se que, independente da área da propriedade, a maioria dos produtores reside na cidade, porém, os produtores com área até 100 ha, na sua maioria, residem na fazenda e possuem casa na cidade. Esse resultado é explicado pela característica dos pequenos produtores, que executam a maior parte das tarefas da atividade.

cidade fazenda ambos

100,0% 80,0% 75,0% 80,0% 71,4%

60,0% 43,0% 44,5% 33,3% 40,0% 28,5% 28,5% 18,8% 22,2% 13,3% 14,3% 14,3% 20,0% 6,2% 6,7%

0,0% até de 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 3 – Local da residência do produtor em função da área da propriedade

A predominância dos produtores que residem na propriedade, observado nas propriedades com área até 100 ha, é um fator positivo para a implantação de programas de desenvolvimento da atividade, pois a presença do produtor junto da empresa rural facilita a sua administração. Esse fator pode ser confirmado quanto à dedicação ao negócio, no qual, para esses produtores, 100% possuem dedicação à atividade rural (Figura 4). 62

Os produtores com áreas acima de 100 ha, na sua maioria, são produtores que residem na cidade, alguns com outras atividades.

total parcial

100,0% 100,0% 80,0% 75,0% 80,0% 70,0% 70,0%

60,0% 30,0% 30,0% 40,0% 25,0% 20,0% 20,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 4 – Dedicação do produtor ao negócio em função da área da propriedade

Em relação ao grau de instrução, 57% dos produtores com área de até 100 ha possuem um grau de escolaridade do ensino fundamental I (1ª ao 5º ano), demonstrando serem pessoas que precisam de uma atenção diferenciada no aproveitamento de cursos e palestras (Figura 5). Não foram encontrados produtores sem escolaridade, o que poderia dificultar o aproveitamento dos cursos e palestras. 63

Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) Ensino médio incompleto Ensino médio completo Superior

100,0%

80,0% 60,0% 55,6% 60,0% 57,1% 57,1% 41,7% 40,0% 30,0% 33,3% 28,6% 25,0% 14,3% 16,7% 14,3% 20,0% 10,0% 8,3% 11,1% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 5 – Percentual do grau de instrução do produtor em função da área da propriedade

Outro fator positivo é que 28,6% dos produtores com área de até 100 ha; 60,0% dos produtores com área de 101 a 200 ha; 41,7% dos produtores com área de 201 a 300 ha;

33,3% dos produtores com área de 301 a 500 ha e 57,1% dos produtores com área acima de 500 ha, possuem curso superior, o que certamente contribui para o desenvolvimento de programas de melhoramento da atividade, inclusive utilizando-se esses produtores como disseminadores de tecnologia, haja vista que, dos produtores que possuíam curso superior,

47% são da área de ciências agrárias (Figura 6). 64

Pecuárista Área agrária Outras

100,0%

75,0% 75,0% 80,0% 67,0% 64,5% 60,0% 60,0%

40,0% 28,5% 25,0% 20,0%20,0% 17,0% 14,0% 16,0% 20,0% 11,0% 7,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 6 - Profissão ou atividade do proprietário em função da área da propriedade

No que se refere à profissão e ou atividade do produtor, a maioria dos produtores se enquadraram como Pecuarista, independente do tamanho da área. Um resultado interessante é a presença de produtores com formação em área agrária, em todas as cinco faixas de área das propriedades, haja vista que os mesmos podem ser utilizados como disseminadores de tecnologia, pois, quando perguntados sobre qual a sua principal fonte de informação, a conversa com outros produtores, em todos os grupos de propriedades, independente da área, é citada (Figura 7). 65

Livros Palestras Internet Conversas com outros produtores Palestras e conversas com outros produtores Todas as fontes

100,0%

80,0%

60,0% 50,0% 40,0% 42,0% 40,0% 40,0% 40,0% 30,0% 30,0% 25,0% 25,0% 25,0% 20,0% 20,0% 10,0% 8,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 7 – Fonte de obtenção de informações dos produtores em função da área da propriedade

As palestras aparecem como a principal fonte de obtenção de informação entre todos os produtores, tendo a empresa Valedourado, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Campus de Itapetinga-BA, e outras organizações ligadas à cadeia produtiva do leite, importantes fontes de disseminação de tecnologia.

No que refere ao associativismo, a maioria dos produtores fazem parte de cooperativa ou associação, sendo que os produtores com áreas acima de 200 ha apresentaram um maior percentual de associativismo (Figura 8). Esses dados sinalizam que futuras ações e projetos a serem elaborados, visando ao desenvolvimento da atividade leiteira, possuam ações junto a essas cooperativas e associações de produtores. Por outro lado, 50% dos produtores com área menor de 200 ha, não são associados a cooperativas e ou associação, demonstrando que o espírito de associativismo nesses produtores está abaixo dos demais, seja pela descrença ao associativismo ou por outras questões que não foram indagadas.

66

Cooperado ou associado Não cooperado ou associado

100,0% 83,0% 80,0% 75,0% 80,0%

60,0% 50,0% 50,0% 50,0% 50,0%

40,0% 25,0% 17,0% 20,0% 20,0%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 8- Percentual de cooperados e ou associados em função da área da propriedade

Quando questionados se possuem algum tipo de equipamento adquirido em conjunto com algum vizinho, quase 100% dos produtores não possuem equipamentos com vizinhos (Figura 9). Apenas 10% dos produtores com área de 201 a 300 ha possuem equipamentos com vizinhos que são familiares. Apesar do uso de maquinário pelos produtores ainda ser muito pequeno, o que pode ter contribuído para esse resultado, é possível que com o aumento da mecanização da atividade esse número aumente um pouco.

Possui Não possui

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 90,0%

80,0%

60,0%

40,0%

20,0% 10,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 9 – Percentual de proprietários que possuem equipamentos em comum com vizinhos em função da área da propriedade 67

Ao analisar os dados sobre quem administra a fazenda (Figura 10), constata-se que o produtor, independente do tamanho da propriedade, está responsável pela administração direta ou indiretamente, mesmo nas propriedades com áreas acima de 500 ha, onde 60% das propriedades quem administra é seu filho. Esse dado é importante para levar em consideração no momento de desenvolver um programa de capacitação rural, pois quem deve realizar o curso deverá ser justamente as pessoas que são responsáveis pela administração.

Produtor Filho Gerente Vaqueiro Técnico 100,0% 100,0% 85,0% 75,0% 80,0% 60,0% 60,0% 50,0% 40,0% 40,0% 34,0% 25,0% 15,0% 20,0% 8,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 10 – Administrador da propriedade em função da área da propriedade

Ao analisar os dados sobre a existência de filho na atividade (Figura 11), observa-se que os proprietários com área acima de 500 ha apresentaram uma percentagem alta (80%) de filhos na atividade, demonstrando uma cadeia sucessória na atividade, ou até mesmo o fato dos filhos serem responsáveis pela a administração da propriedade. 68

Possui Não possui

100,0% 85,0% 80,0% 75,0% 70,0% 80,0% 65,0%

60,0% 35,0% 30,0% 40,0% 25,0% 20,0% 15,0% 20,0%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 11 – Percentual de proprietários que possuem filhos na atividade em função da área da propriedade

3.2 Caracterização da atividade leiteira

Foi verificada pela análise dos dados uma predominância pela criação do gado mestiço com grau de sangue oriundas de cruzamentos entre o gado zebu e o europeu, independente da área da propriedade (Figura 12). A preferência pelo mestiço é demonstrada, quando analisamos a atividade, declarada pelos produtores entrevistados, já que nas propriedades até 500 ha, em média, 80 % declararam como principal atividade a produção de leite e a venda de animais machos (Figura 13).

69

Mestiço Pura (Girolando, Gir Leiteiro)

100,0% 100,0% 86,0% 80,0% 80,0% 75,0% 80,0%

60,0%

40,0% 25,0% 20,0% 20,0% 14,0% 20,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 12 – Percentual de propriedades que criam gado puro ou mestiço em função da área da propriedade

Souza et al. (2005) também encontraram predomínio de exploração de animais mestiços de Holandês, Gir e Pardo Suíço, com diferentes graus de sangue na região da

Zona da Mata de Minas Gerais. Bressan et al. (1999), em trabalho realizado no estado de

Goiás, relataram que a preferência dos produtores de leite por rebanhos mestiços deve-se ao fato dos produtores obterem carne e leite, tratando-se de uma atividade de pecuária de dupla aptidão e trabalhada de forma extensiva.

As propriedades acima de 500 ha não possuem como atividade principal a pecuária leiteira, tendo 100% das propriedades pesquisadas declarado que possuem, como principal atividade, a pecuária de corte (Figura 13). 70

Leite Corte Leite e Corte Leite, cria e recria 100,0% 100,0% 100,0% 86,0% 84,0% 80,0% 80,0%

60,0%

40,0% 20,0% 14,0% 20,0% 8,0% 8,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 13 – Objetivo principal da produção em função da área das propriedades

Segundo Ferreira et al. (2005), apesar de nesta faixa (acima de 500 ha) terem produtores que vendem grandes quantidades de leite nas indústrias do município de

Itapetinga-BA, estes colocam a atividade leiteira como secundária dentro de suas atividades econômicas. Isto é facilmente observado, pois grandes propriedades se dedicam

à produção de carne, que é mais lucrativa que o leite, e exige menos mão-de-obra, menos preocupação e menor número de visitas às propriedades por parte dos proprietários.

A baixa tecnificação e fatores ambientais relevantes para a pecuária leiteira, os custos de produção elevados e a baixa remuneração dada ao leite, talvez, justifiquem as misturas raciais encontradas na região. Os mestiços produzidos com participação de animais zebuínos são menos especializados, mas apresentam maior rusticidade, demandando menor refinamento tecnológico, possibilitando custos de produção mais acessíveis.

Quando criados em condições de pastagens mal manejadas, com suplementações de qualidades discutíveis, dentre outros déficits, produzem mais do que animais de genética mais aprimorada e, portanto, sua utilização está de acordo com o cenário local. 71

O material genético encontrado reflete paralelamente, ainda, uma falta de metas pré-estabelecidas, decorrentes da falta de um planejamento prévio do trabalho a ser desenvolvido, o que foi ressaltado por outros autores (Andrade, 2003; Ferrão, 2000), embora haja nesses rebanhos certa tendência à especialização para leite, vista pela grande presença de reprodutores de aptidão leiteira.

De modo geral, 62,0% dos produtores entrevistados apontaram o preço do leite pago pelas indústrias como o principal problema da comercialização do leite. Foram próximos aos 76,04% encontrados por Ferreira et al. (2005). O preço foi apontado em todas as faixas de tamanho das propriedades, com exceção na faixa acima de 500 ha.

Dentre outros fatores apontados como problema na comercialização, pode-se citar: escoamento da produção, infraestrutura e adequação à instrução normativa de número 51

(IN 51). Dos produtores, 18,4% responderam que não tinham nenhum problema de comercialização, o maior percentual (60%) estavam dentro da faixa de área acima de 500 ha e o menor percentual (0%) dentro da faixa de 301 a 500 ha.

Uma grande quantidade de produtores (79,0%) manifestou possuir problemas na atividade, falta de crédito, assistência técnica e infraestrutura, sendo que a infraestrutura foi o problema mais citado entre os produtores com área até 500 ha e, entre os produtores com

áreas acima de 500 ha, a assistência técnica foi o único problema citado (figura 14).

72

Crédito Assistência técnica Infra-estrutura Nenhum

100,0%

80,0% 71,0% 58,0% 60,0% 60,0% 50,0% 50,0% 40,0% 40,0% 25,0% 25,0% 15,0% 20,0% 20,0% 18,0% 20,0% 14,0% 10,0% 9,0% 8,0% 7,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 14 – Principal problema enfrentado pelo produtor, em função da área da propriedade

Os produtores com área até 100 ha são os que mais (71%) tem problema com infraestrutura (estrada, energia, etc.). Confirmando os problemas citados pela maioria dos produtores, quando perguntados se consideram a atividade sedimentada ou se falta muito a fazer (Figura 15), 73% dos produtores consideram que a atividade falta muito a fazer, sendo a única faixa que apresentou maior percentual de produtores e os 60% que consideram sedimentada são as propriedades com área acima de 500 ha, fato que pode ser explicado pela figura anterior, na qual caracterizam essas propriedades com o objetivo principal de corte, sendo a atividade leiteira, secundária. 73

Sedimentada Falta muito a fazer

100,0% 100,0% 86,0% 75,0% 80,0% 70,0% 60,0% 60,0% 40,0% 30,0% 40,0% 24,0% 25,0% 20,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 15 – Opinião do produtor sobre a atividade leiteira em sua propriedade em função da área da propriedade

Quando questionados sobre o tipo de tecnologia que considerariam que poderia melhorar a produtividade do rebanho, 68% dos produtores declararam que é a nutrição

(Figura 16), sendo o mais referenciado, independente da área da propriedade. Esta visão da base da nutrição para o sistema produtivo desperta o interesse de expansão por grande parte dos produtores, podendo significar uma visão do potencial da atividade leiteira ou o desejo de busca por eficiência de sua atividade, tornando-a, assim, mais lucrativa com o aumento da escala produzida, diluindo custos de produção. É interessante observar que as medidas referentes às mudanças na alimentação, quer seja na mudança em termos de manejo de pastagens, ampliação de áreas de produção de alimentos ou quaisquer medidas que visem aumentar o aporte quantitativo ou qualitativo destes, encontram-se, em primeiro lugar, na escala de tecnologia que melhoraria a produtividade do seu rebanho.

A nutrição é um segmento que compreende a base de qualquer sistema de exploração e, em particular, nos moldes locais, nos quais os resultados puderam constatar diversas deficiências nesse sentido. 74

Inseminação Artificial Tanque de expansão Nutrição Melhoramento Monta controlada Irrigação

100,0% 86,0% 75,0% 80,0% 67,0% 60,0% 60,0% 50,0%

30,0% 40,0% 25,0% 25,0% 20,0% 20,0% 14,0% 20,0% 10,0% 10,0%8,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 16 – Tipo de tecnologia que melhoraria a produção do rebanho na propriedade em função da área da propriedade

Ferreira et al. (2005) constataram que, na microrregião, o recebimento de crédito no início da atividade tem maior percentual entre os produtores com mais tempo de atividade, devido ao Governo ter, em décadas anteriores, oferecido crédito a juros subsidiados, o que era atrativo aos produtores, principalmente na época do chamado "milagre brasileiro".

Hoje, a indústria local, em parceria com o Governo Estadual, tenta novamente facilitar o crédito no sentido de reabilitar a atividade que vem perdendo a preferência dos pecuaristas.

Esta observação foi também constatada ao logo das entrevistas, o que pode ser visto na

Figura 17, na qual 58% dos entrevistados já receberam algum crédito, entretanto, foi observado que 70% dos produtores com áreas menores de 100 ha e 60% dos produtores com áreas maiores de 500 ha, nunca receberam nenhum crédito. 75

Recebeu Não recebeu

100,0% 75,0% 75,0% 80,0% 71,0% 60,0% 60,0% 60,0% 40,0% 40,0% 40,0% 29,0% 25,0% 25,0%

20,0%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 17 – Percentual de proprietários que receberam algum tipo de crédito para atividade rural, em função da área da propriedade

Partindo do princípio que as perspectivas futuras para atividade leiteira foram consideradas, na sua maioria, boas, de acordo com o resultado apresentado na Figura 18, percebe-se que os produtores acreditam e apostam na atividade leiteira.

Boas Regular Ruim Necessidade de intensificar Apreensão 100,0% 100,0% 86,0% 80,0% 75,0% 75,0% 80,0%

60,0%

40,0% 20,0% 25,0% 14,0% 17,0% 20,0% 8,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 18 - Perspectivas futuras dos produtores em função da área da propriedade

76

A manifestação do interesse em expandir o sistema produtivo, especificamente com aquisição de animais, foi constatada quando os produtores foram perguntados sobre uma linha de crédito para aquisição de animais (Figura 19). Os produtores com área entre 301 a

500 ha mostraram-se mais suscetíveis à aquisição de animais para aumentar o rebanho

(50%), pois são produtores que já tiveram acesso ao crédito (Figura 17), são produtores que possuem características para a atividade leiteira, pois 100% dos produtores tem como objetivo o leite, bem como possuem maior área, entre as propriedades que tem a atividade leiteira como principal.

Pegaria Não pegaria

100,0% 80,0% 80,0% 71,0% 80,0% 60,0% 60,0% 50,0% 50,0% 40,0% 29,0% 40,0% 20,0% 20,0% 20,0%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior 500 ha

Figura 19 – Percentual de produtores que tem interesse, caso tivessem, à sua disposição, uma linha de financiamento para aumentar o rebanho, em função da área da propriedade

3.3 Mão-de-obra na bovinocultura

Nas propriedades incluídas na pesquisa, apenas 6,0% das propriedades, correspondendo a 37,5% das propriedades com áreas menores de 100 ha, absorvem mão- de-obra familiar com participação ativa no processo de produção, quer seja associada ou não a outros funcionários contratados, diferindo dos achados de Ferrão (2000), que encontrou 53,1% de presença desta nas propriedades. A mão-de-obra familiar encontra-se intimamente relacionada com a importância da atividade sobre a renda total do produtor. 77

Estes proprietários que usam mão-de-obra familiar têm, paralelamente, menor escolaridade e, consequentemente, maiores restrições quanto às mudanças de ramo de atividade profissional, gerando, assim, um ciclo de dependência de difícil rompimento.

Em 98,0% das propriedades, ocorre a contratação de até um funcionário efetivo ou contratação de mão-de-obra temporária ao longo do ano pela maioria dessas (63%) para a execução de serviços como limpeza de pastagens, renovação de cercas e outras atividades.

O número de funcionário das propriedades é proporcional à área, tendo as propriedades com áreas menores um menor número de funcionários contratados, com média de 1,5 funcionários, variação entre um e dois funcionários, e as propriedades com

áreas acima de 500 ha, média de 08 funcionários, tendo variação de três a trinta funcionários. As demais faixas apresentaram valores intermediários (Tabela 1).

Apenas nas propriedades com áreas de até 100 ha, foi declarado por 50% dos produtores que possuem funcionário sem carteira assinada (Tabela 1). Este fato pode ser justificado pela absorção na mão-de-obra familiar, característico dessa classe de propriedades, e que, quando a mão-de-obra é familiar, não são registrados.

Tabela 1 – Quantidade média de funcionários, percentual de trabalhadores com carteira assinada e assistência técnica, nas diferentes faixas de área das propriedades

Tamanho da Quantidade Funcionários registrados Assistência técnica propriedade de funcionários Sim Não Sim Não

Até 100 ha 1,5 50% 50% 35% 65%

101 a 200 ha 2,5 100% - 60% 40%

201 a 300 ha 3,5 100% - 75% 25%

301 a 500 ha 4,0 100% - 50% 50%

Maior de 500 ha 8,0 100% - 60% 40%

78

Foi observada a atuação de profissionais técnicos, em maior percentual (75%), nas propriedades com área de 201 a 300 ha, e em menor percentual (35%) nas propriedades com área até 100 ha (Tabela 1). A assistência técnica que os produtores têm acesso vem de profissionais liberais. A baixa participação de empresas de extensão ou profissionais vinculados a órgãos governamentais foi, inclusive, questionada durante as entrevistas por alguns produtores.

Dos proprietários que não possuem assistência técnica, 66,7% declararam que o motivo é o custo e 33,3% declararam ser desnecessário.

As fazendas leiteiras, em muitos casos, ainda não são visualizadas como atividade empresarial, devido ao fato dos produtores não despertarem para seus potenciais lucrativos, uma vez que envolvem atividades complexas e, consequentemente, muito trabalhosas, que demandam de atenção criteriosa e tempo, o qual, muitas vezes, não se encontra disponível por terem que trabalhar em outra ocupação que lhes assegura retornos melhores e menos incertos.

A tecnificação, em todos os segmentos da atividade leiteira, requer constantes adaptações, uma vez que as tecnologias são desenvolvidas em realidades particulares, não existindo formas de trabalho únicas e aplicáveis a todos os sistemas de produção como já foi constatado por diversos autores. Além disso, a evolução tecnológica deve acontecer gradativamente, em ritmo compatível com as limitações do homem do campo, a fim de familiarizá-lo às mudanças e envolvê-lo numa nova realidade, o que também já foi concluído por Hour Neto (1999), e que deve fazer parte das habilidades dos técnicos envolvidos no setor.

A remuneração média dos trabalhadores é de 1,2 salários mínimos, apresentando uma baixa variação dos valores praticados. Dos entrevistados, 57,0% disseram pagar remuneração especial (mais de um salário mínimo) para o ordenhador. Entre as 79

propriedades com áreas diferentes, constatou-se que as propriedades com área de até 100 ha apresentaram um menor percentual (14,3%) de propriedades que pagam remuneração especial ao ordenhador, enquanto que, nas propriedades com áreas acima de 500 ha, encontra-se o maior percentual (80%) de propriedades que possui remuneração especial para o ordenhador (Figura 20).

Possui Não possui

100,0% 85,7% 80,0% 75,0% 75,0% 80,0%

60,0% 50,0% 50,0%

40,0% 25,0% 25,0% 20,0% 14,3% 20,0%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 20 – Percentual de propriedades que possuem algum tipo de remuneração especial para o ordenhador

O grau de escolaridade dos ordenhadores envolvidos na bovinocultura de leite é satisfatório, sem analfabetos, possuindo, todos, o nível fundamental, com variação entre incompleto e completo (Figura 21). O maior nível de escolaridade foi observado entre as propriedades com área de 301 a 500 ha, onde em 75% das propriedades o ordenhador possui o fundamental completo. 80

Fundamental completo (1 a 8ª série) Fundamental incompleto

100,0% 90,0% 71,5% 75,0% 80,0% 66,7% 60,0% 60,0% 40,0% 33,3% 40,0% 28,5% 25,0%

20,0% 10,0%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 21 – Grau de escolaridade do ordenhador em função da área da propriedade

A escolaridade do ordenhador é um parâmetro importante a ser observado, pois facilita o aprimoramento profissional na participação de cursos técnicos como de vaqueiro, inseminador, tratorista e outros, sendo fundamental na tecnificação do sistema. O baixo aprimoramento profissional pode refletir nos parâmetros zootécnicos obtidos e, consequentemente, na eficiência econômico-financeira da atividade leiteira.

A baixa escolaridade dos empregados pode estar relacionada à necessidade de início das atividades profissionais precocemente, ou pela dificuldade de acesso até as escolas, que eram fatos constantes em décadas passadas. Este cenário cultural também foi descrito por outros autores (Andrade, 2003). A tendência é de que este nível de escolaridade se eleve em médio prazo, uma vez que hoje nota-se baixo emprego de trabalhadores com idade inferior a 18 anos, e o ensino vem sendo cada vez mais estimulado, inclusive no meio rural, ainda que este tenha qualidade questionável em muitos casos.

81

3.4 Infraestrutura da propriedade

A grande maioria dos produtores (86%) possui energia elétrica em suas propriedades, incluindo todas as faixas de tamanhos de propriedades. Este fator é positivo, pois a energia elétrica é fator fundamental para o desenvolvimento de um programa de melhoria da qualidade do leite e da alimentação do rebanho, visto que a energia é requisito básico para a utilização de tanques de resfriamento.

Esse percentual é superior aos 70% encontrados por Ferreira et al. (2005) em estudo nesta mesma região. Apenas 40% das propriedades com áreas até 100 ha apresentam energia elétrica, e esse foi o menor percentual encontrado entre as diferentes faixas de área

(Figura 22).

Energia Trator Tanque de expansão Forrageira

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 90,0% 90,0% 82,0% 80,0% 80,0% 82,0% 80,0% 65,0% 60,0% 50,0% 40,0% 40,0% 42,0% 40,0% 25,0% 20,0% 18,0% 20,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 22 - Disposição de infra-estrutura das propriedades em função da área

Praticamente, todos os produtores (94,0%) que possuem energia elétrica tem tanque de expansão. Apenas nas propriedades com área acima de 500 ha, foram encontradas propriedades (14,2%) que possuem energia elétrica e não possuem tanque de expansão; são 82

justamente propriedades que tem exploração de bovinocultura de corte e produzem leite como atividade secundária.

Porém, quando se trata de possuir tratores, existe uma grande diferença entre as faixas de tamanho de propriedades. As faixas de propriedades com menores tamanhos e as grandes propriedades diferem muito entre si. As propriedades com área até 100 ha não possui trator e as com áreas acima de 500 ha (64,5%) possuem trator (Figura 22).

Em 72% das propriedades, independente do tamanho da sua área, foram declaradas a existência de forrageiras. Nas propriedades com áreas até 100 ha e acima de 500 ha, 25% e 18%, respectivamente, possuem forrageira, sendo os menores percentuais encontrados entre as faixas de área das propriedades (Figura 22).

3.5 Uso da terra

Conforme a Tabela 2, a área utilizada para gado de leite apresentou uma variação entre as diferentes faixas de áreas das propriedades, nas áreas ocupadas com pastagem.

Foram 75,5% nas propriedades com área acima de 500 ha e 91,7% nas propriedades com

área entre 201 a 300 ha, sendo um indicativo de sistema de produção extensivo, pois as

áreas utilizadas com capineira e outras finalidades representam uma média de 2,8 % da

área. A pequena área destinada à produção de volumoso pode ser indicativo da menor especialização dos produtores na atividade e pequena área de reserva estratégica.

A utilização de capineira (capim-elefante ou cana-de-açúcar) foi observada em todas as propriedades com áreas acima de 300 ha. Entretanto, 84% das propriedades com

áreas de 201 a 300 ha; 89,7% das propriedades com áreas de 101 a 200 ha e 37,5% das propriedades com áreas de até 100 ha não possuem capineira. Esse resultado vem demonstrar a fragilidade do sistema produtivo leiteiro, considerando o sistema extensivo, 83

com má distribuição de chuvas, observada na região, a escassez de forragem para os animais, refletindo diretamente nos índices produtivos e reprodutivos.

O percentual de área destinada à reserva estratégica é pequeno, média de 2,8% da

área total, próximos aos valores observados por Ferreira et al. (2005).

Tabela 2 – Percentual de áreas ocupadas com pastagem, mata e capineira em relação à área total da propriedade

Tamanho da Área propriedade Pastagem (%) Mata (%) Capineira (%)

Até 100 ha 86,2 3,5 1,8

101 a 200 ha 80,0 7,1 1,8

201 a 300 ha 91,7 3,2 1,5

301 a 500 ha 86,9 2,3 2,7

Maior de 500 ha 75,5 13,0 0,3

Média 84,8 6,1 2,8

O percentual de uso da terra para o gado de leite decresceu à medida que aumentou o tamanho da área total. Isso quer dizer que, quanto menor a área da propriedade, maior é a participação da atividade leiteira, por consequência, maior é a sua importância na formação da renda bruta da propriedade. Como as propriedades menores são em maior número, é correto afirmar que, para a maioria das propriedades, o leite é a atividade principal, fato já observado anteriormente.

Em vista do aumento da conscientização ambiental, na sistemática legal ambiental brasileira, encontramos dispositivos que limitam o direito de propriedade em prol do meio ambiente, entre eles, o que impõe, no caso do proprietário rural, a conservação de um 84

percentual do imóvel como reserva florestal, chamada reserva legal. Compreende a área de cobertura vegetal destinada à preservação e está prevista nos artigos 16 e 44 do Código

Florestal (Lei nº 4.771, de 15/9/65), no art. 16 diz que as florestas de domínio privado podem ser exploradas, mas com a conservação de 20% da cobertura arbórea em imóveis nas regiões Leste Meridional, Sul e Centro-Oeste, esta na parte sul, nos termos do art. 16; e em 80%, em se tratando de imóvel situado nas regiões Norte e parte Norte da região

Centro-Oeste, conforme o art. 44.

A informação sobre a área coberta com mata nativa foi difícil de ser obtida devido à desinformação, ou em virtude do receio do produtor falar sobre o assunto. Por isso, considerou-se como área de mata, qualquer área que possuía alguma cobertura de vegetação remanescente de mata original ou não, mas que tivesse sendo usada como reserva (mata).

Todas as propriedades pesquisadas com áreas acima de 300 ha possuem mata, sendo que 84% das propriedades com áreas de 201 a 300 ha; 69% das propriedades com

áreas de 101 a 200 ha e 37,5% das propriedades com áreas de até 100 ha não possuem mata em suas áreas. À medida que as áreas das propriedades diminuem, o percentual de

área de mata decresce.

Observou, em termos percentuais, uma reserva de mata muito pequena, com apenas

6,1% da área total (Tabela 2), e uma distribuição desuniforme por faixa de área de tamanho das propriedades, semelhantes ao percentual de 6,23% encontrado nesta mesma região por

Ferreira (2002). Nas propriedades com áreas até 100 ha, o percentual encontrado foi de apenas 3,5%. Nas propriedades com áreas de 100 a 201 ha, o percentual elevou para 7,1%, mas, mesmo assim, é considerado pequeno. Nas propriedades com áreas de 201 a 300 ha e

301 a 500 ha, respectivamente, os percentuais caíram para 3,2 e 2,3%. As propriedades com áreas acima de 500 ha apresentaram percentuais de reserva de mata de 13%, o maior 85

percentual encontrado entre os diferentes tamanhos de propriedade, apesar de serem considerados pequenos. 86

4. CONCLUSÕES

A inexistência de produtores sem escolaridade e o fato de que em todas as faixas de

áreas de tamanho de propriedade existem produtores com nível superior, dentre os quais,

47% são da área de ciências agrárias, contribuem para um maior aproveitamento dos programas de capacitação rural e incremento de novas tecnologias.

A visão otimista dos produtores pesquisados é o ponto mais positivo no desafio para a implantação de qualquer programa de desenvolvimento da pecuária leiteira regional.

A criação de mestiços Holandês, Gir e Pardo Suíço, com diferentes graus de sangue, são predominantes na região.

A baixa tecnificação e fatores ambientais relevantes para a pecuária leiteira, os custos de produção elevados e a baixa remuneração dada ao leite justificam as misturas raciais encontradas na região.

O conhecimento dos produtores sobre a atividade que desenvolvem é regular, o que pode ser explicado, em parte, pela deficiência na assistência técnica.

A pecuária leiteira possui significativa importância econômica e social na região; os produtores possuem razoável conhecimento de técnicas de criação e melhoramento genético de gado bovino, porém, há uma grande carência de informações sobre o manejo alimentar, principalmente, no que diz respeito às reservas estratégicas (capineira, canavial, entre outras). Este fator pode ser identificado como sendo o principal entrave ao desenvolvimento da pecuária leiteira, em razão da região possuir uma intensa sazonalidade na produção de leite ao longo do ano, dificultando, assim, que os produtores se mantenham e invistam na atividade. 87

5. REFERÊNCIAS

ANUALPEC – Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Agroinformativos. 360p. 2010.

ANDRADE, J.R.A. Perfil do sistema de produção dos rebanhos bovinos na “bacia” leiteira de Goiânica-GO. 2003. 118f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) - Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

BAHIA, Governo do Estado da. Informações básicas dos municípios baianos: Região Sudoeste. Secretaria de Planejamento Ciências e Tecnologia (SEPLANTEC) Centro de Estatística e Informações (CEI) 1994, 816p.

BRESSAN, M.; VERNEQUE, R. da S.; MOREIRA, P. A produção de leite em Goiás Juiz de Fora, Minas Gerais. EMBRAPA, Gado de Leite 1999.

FERRÃO, I.S.A produção de leite e o profissional veterinário na percepção de produtores de leite de Pedro Leopoldo – MG, 1999. 2000. 47p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva) - Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

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CAPITULO 3

Panorama da pecuária leiteira e do manejo de ordenha em propriedades na microrregião de Itapetinga-Bahia

RESUMO

O trabalho foi desenvolvido na microrregião de Itapetinga, Bahia, Brasil, com produtores de leite, objetivando avaliar o sistema produtivo, higiene de ordenha, práticas sanitárias e manejo produtivo nas propriedades. Os dados foram coletados de 100 produtores que foram distribuídos em função da área da propriedade, estabelecendo-se cinco faixas: até

100 ha, de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha, e maior de 500 ha. A taxa de lotação nas propriedades com área até 100 ha foi a maior entre as áreas, entretanto, a média geral de 0,81 UA/ha é indicadora de sistemas de produção extensivos. A complementação alimentar, em 97% das propriedades que a pratica, é realizada durante os períodos mais críticos em que há escassez de pastagem. A faixa de propriedades com área de até 100 apresentou o menor percentual de propriedades que possuem escriturações zootécnicas, apenas 6,25% das propriedades realizam esta prática. Em 93% das propriedades, predomina a ordenha manual e a prática de uma ordenha diária, o que é explicado pela baixa produção. Quanto ao aleitamento, em todas as propriedades analisadas, o aleitamento

é do tipo natural, com desmame por idade, variando quando os bezerros atingiram entre

180 a 300 dias de idade. O hábito frequente de lavagem do úbere e das tetas, antes da ordenha, é realizado por apenas 11,0% das propriedades, e as que usam o pré-dipping, apenas 8,0%, entretanto, 100% das propriedades com área até 100 ha não realizam nenhum tipo de assepsia das glândulas mamárias das vacas em lactação.

Palavras-chave: higiene de ordenha, práticas sanitárias, sistema produtivo. 89

CHAPTER 3

Overview of the dairy and milking management on properties in of the microregion of Itapetinga-Bahia

ABSTRACT

The study was conducted in the microregion of Itapetinga, Bahia, Brazil, with milk producers to evaluate the productive system, milking hygiene, sanitation practices and appropriate management of the properties. Data were collected from producers that were distributed according to farm size, establishing five bands: up to 100 ha, 101 to 200 ha, 201 to 300 ha, 301 to 500 ha and more than 500 ha. The stocking rate on the properties from 0 to 100 ha was the highest among the areas, however, the overall average of 0.81 AU / ha is indicative of extensive production systems. The food supplementation, 97% of the properties that the practice is performed during the most critical periods in which there is a shortage of pasture. The range of properties with an area of 100 had the lowest percentage of properties that have book keeping husbandry, only 6.25% of the properties held this practice. In 93% of properties milking prevails and the practice of one daily milking, which is explained by the low production. As for breastfeeding, in all these properties, breastfeeding is the natural kind, with weaning by age, when calves reached varying between 180 and 300 days old. The habit of frequent washing of the udder and teats before milking is performed by only 11.0% of the properties and using the pre- deeping only 8.0%, however, 100% of properties with an area up to 100 ha does not perform any type of sterilization of the mammary glands of lactating cows.

Keywords: milking hygiene, sanitation practices, the production system.

90

1. INTRODUÇÃO

A melhor maneira de propiciar alimento barato ao animal e baixar os custos de produção é utilizar um pasto de boa qualidade e bem manejado. A utilização de forragens para controlar o nível nutricional de ruminantes, com o objetivo de desenvolver o pastejo durante todo ano, bem como sistema de alimentação para diferentes ambientes, requer muitos piquetes, manejo especial, diferentes espécies e consórcio de forrageiras para maioria dos climas. O pastejo rotacionado é favorecido pelas condições climáticas associadas à morfologia e fisiologia da planta utilizada (Blaser, 1994).

A região de Itapetinga é caracterizada pela transição entre a Mata Atlântica e a

Caatinga. Com a intensificação do uso da terra, os efeitos antrópicos se diversificaram. A vegetação natural foi largamente substituída pelo sistema agropastoril. O solo foi perdendo progressivamente a matéria orgânica, instalando-se um processo de erosão acentuado.

Esses transtornos no solo refletiram na redução da produção de forragem e, consequentemente, na produção animal (Ferreira et al., 2005).

A forma de avaliar uma pastagem é através de sua conversão em produto animal.

Um pastejo quando é leve traduz num bom retorno na produção animal, mas diminui o ganho por unidade de área, porém, quando usufrui ao máximo da produção, por unidade de

área, não se obtém uma produção animal individual máxima. Usando melhor as pastagens, pode-se aumentar a produção animal, no entanto, trata-se de um processo complicado porque envolve dois sistemas biológicos: o animal e a planta (Barreto, 1994).

Ferreira et al. (2005), em estudo realizado em propriedades rurais na microrregião de Itapetinga, no sudoeste baiano, revelaram que a produção média diária de leite foi de aproximadamente 3,8 litros/vaca/dia, observando um predomínio na criação do rebanho mestiço, o que caracteriza uma pecuária voltada para o corte e leite, tendo como atividade 91

principal a produção de leite e a venda de animais, principalmente, nas grandes propriedades.

Diante do fortalecimento da pecuária leiteira na região, aos produtores é exigida maior qualificação de seus produtos, já que atuam como principal renda e garantem o sustento familiar. A baixa qualidade do produto pode ser atribuída às deficiências no manejo e higiene de ordenha, manutenção e desinfecção inadequada dos equipamentos, refrigeração ineficiente ou inexistente e mão-de-obra desqualificada (Nelson, 1992).

Assim, práticas em cuidados higiênicos para evitar a contaminação do leite devem ser tomadas desde a ordenha até o produto final.

A qualidade higiênica do leite é influenciada pelo estado sanitário do rebanho, manejo dos animais e dos equipamentos de ordenha, presença de microorganismos, resíduos de drogas e odores estranhos. Entretanto, é na ordenha o momento em que ocorre a maior parte das contaminações, seja por sujeira do estábulo, do úbere dos animais, dos recipientes (latões) ou das mãos do ordenhador (Oliveira & Brandespim, 2009).

Em virtude da importância da produção de leiteira para a região, foi conduzido um estudo com o objetivo de avaliar o sistema produtivo, higiene de ordenha, práticas sanitárias e manejo produtivo, em função da área da propriedade, na microrregião de

Itapetinga-Bahia.

92

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na microrregião de Itapetinga, Bahia, Brasil, composta por

13 municípios: Itapetinga, Itororó, Iguaí, Ibicuí, Nova Canaã, Potiraguá, Itarantim,

Maiquinique, Macarani, Itambé, Caatiba, Ribeirão do Largo e Encruzilhada, segundo a subespacialização do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1995/1996) e da

Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB).

A região de Itapetinga está compreendida entre 14°38’00’ e 15°39’30’’ de latitude sul e 39°55’24” e 40°52’56” de longitude oeste. É banhada principalmente pelo rio

Jequitinhonha, ao sul, limitando o estado da Bahia com o estado de Minas Gerais, e pelos rios Pardos, Catolé, Colônia e Cachoeira, além de outros pequenos rios e riachos (Bahia,

1994).

Os solos têm predominância do tipo Latossolos Vermelho Amarelo Eutrófico e

Distrófico, entretanto, são encontrados também, com frequência, os tipos Latossolos

Vermelho Amarelo Álico, Brunizém Avermelhado e Podzólicos Vermelho Amarelo

Eutrófico e Distrófico.

A topografia vai de suavemente ondulada a acidentada, com altitude variando até

749 m, dividida em três faixas de: até 249 m nos municípios de Potiraguá e Itarantim; de

250 a 499 m nos municípios de Maiquinique, Macarani, Itapetinga, Itororó, Caatiba, Iguaí,

Ibicuí, Nova Canaã; de 500 a 749 m nos municípios de Encruzilhada, Ribeirão do Largo e

Itambé. Possui também uma vegetação variada, apresentando os seguintes tipos: floresta estacional decidual e semidecidual, floresta ombrófila densa, floresta estacional e submontana (Bahia, 1994).

Foram aplicados 100 questionários, que corresponderam a 41,32% do total de fornecedores da empresa na Microrregião de Itapetinga-Bahia, no período de março a 93

setembro de 2010, em propriedades diferentes, sendo a escolha do público alvo aleatória, servindo como base de escolha uma relação fornecida pela empresa Indústria de Laticínios

Palmeira dos Índios S.A. – VALEDOURADO.

O questionário constava de perguntas de múltipla escolha, com a possibilidade em algumas perguntas de mais de uma resposta, sendo repassado aos entrevistados que poderiam optar por mais de uma alternativa de resposta (anexo). Nas perguntas com possibilidade de muitas respostas, o produtor poderia escolher, dentro das opções, uma alternativa aberta, facilitando, assim, a escolha. Com isso, foi possível obter o maior número de informações para serem tabuladas, conhecendo, dessa forma, com mais realidade, a situação da atividade.

O uso de questionários com perguntas objetivas visou promover a maior padronização das respostas obtidas. Assim, os questionários poderiam até mesmo ser respondidos diretamente pelo proprietário ou seu representante, sem a necessidade de ação e, consequentemente, interferência por parte do entrevistador.

O questionário aplicado foi elaborado com a preocupação de utilizar perguntas redigidas em linguagem acessível ao produtor rural, independentemente de seu nível cultural, e observando a sequência dos tópicos, organizando as perguntas a fim de que a entrevista fluísse de maneira natural e agradável, na medida do possível, permitindo a colheita dos dados com rapidez e eficácia.

Os produtores foram enumerados de 1 a 100 na primeira coluna e nas demais colunas foram constadas as informações obtidas pelas respostas dos mesmos. Após a elaboração da planilha, procedeu-se a seleção e análise dos dados pelo referido programa, dados estes coletados e tabulados pelo programa Excel da Microsoft.

Como forma de estabelecer uma compreensão mais esclarecedora das informações colhidas, optou-se por uma abordagem basicamente descritiva, com análise voltada para 94

este tipo de estatística. Para facilitar as análises, foi realizada uma distribuição dos produtores, de acordo com o tamanho da propriedade, estabelecendo-se cinco faixas de tamanhos: até 100 ha, de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha, e maior de 500 ha.

O trabalho teve por objetivo avaliar os dados do sistema produtivo, o manejo do sistema de produção forrageiro, a utilização de reserva estratégica, o manejo dos animais, a higiene de ordenha e as práticas sanitárias de 100 propriedades rurais produtoras de leite, em função da área da propriedade.

95

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Sistema produtivo

No que se refere à produção de leite, observa-se que as propriedades maiores são as menos aproveitadas, pois tem uma menor capacidade suporte. A quantidade de animais por hectare apresenta uma ordem decrescente, variando de 0,50 UA/ha nas propriedades acima de 500 ha, até 1,16 UA/ha nas propriedades menores que 100 ha, perfazendo uma média geral de 0,82 UA/ha (Tabela 1). Em virtude da dificuldade de estimar o peso dos animais, usou-se como critério para o cálculo da unidade animal admitir 1,25 UA para touros, 1,0

UA para vacas, 0,75 UA para novilhos e novilhas e 0,25 para bezerros menores de um ano.

Tabela 1 – Quantidade de unidade animal por hectare explorado, produção de leite (litros/ha/ano) e produção média de leite (litros/vaca/dia) em função da área da propriedade Tamanho da Produção de leite propriedade UA/ha Litros/ha/ano Litros/vaca/ano Litros/vaca/dia

Até 100 ha 1,16 1486 1320 5,5

101 a 200 ha 0,92 990 1440 6,0

201 a 300 ha 0,85 943 1006 5,1

301 a 500 ha 0,80 968 900 5,8

Maior de 500 ha 0,50 372 775 4,1

Média 0,82 726 967 4,9

O aproveitamento das pastagens para produção leiteira foi pequeno, de modo geral, muito baixo. Possui uma média de 726 litros de leite/ha/ano, o que demonstra ser uma região de pecuária extensiva. As variações entre as faixas de tamanho de propriedades 96

encontradas foram de 372 litros de leite/ha/ano nas propriedades acima de 500 ha a 1486 litros de leite/ha/ano, nas propriedades com menores que 100 ha. As demais faixas apresentaram valores intermediários (Tabela 1). Essa variação foi semelhante à encontrada por Ferreira et al. (2005), constatando que as propriedades com área de até 100 ha e acima de 500 ha continuam com as mesmas características. Entretanto, houve uma mudança dos dados obtidos comparados com o desses autores, nas propriedades com área de 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, de 301 a 500 ha, observando acréscimo na produção de litros/ha/ano, na ordem de 34,5%; 63,4% e 62,4%, respectivamente. Apesar dos acréscimos observados, os valores obtidos estão abaixo dos preconizados, pois, segundo Costa (2007), propriedades que apresentam bom desempenho para estes indicadores deverão apresentar valores superiores a 7.300 litros/ha/ano. Os valores encontrados neste estudo sugerem que os sistemas de produção avaliados deverão realizar investimentos para intensificar o uso das pastagens e melhorar a eficiência da mão de obra.

A produção de litros de leite por vaca também reflete o que foi comentado anteriormente, apresentando a melhor média as propriedades com área de 101 ha a 200 ha

(6,0 litros de leite/vaca/dia), enquanto a média menor foi encontrada nas propriedades com

área acima de 500 ha (4,1 litros de leite/vaca/dia). A média diária de todas as propriedades foi de 4,9 litros de leite/vaca/dia, sendo esta média superior à média da região, de 3,86 litros/vaca/dia; à média do estado, de 3,44 litros/vaca/dia; e próxima à média nacional, de

5,32 litros/vaca/dia (Anualpec, 2010).

Esta oscilação entre as propriedades com áreas diferentes é um reflexo das disparidades, tanto genéticas quanto de manejos, que são encontradas na região.

A produção em litros de leite/vaca/ano encontrada variou nas diversas faixas de

áreas das propriedades, sendo maior produção na faixa de área de 101 a 200 ha (1440 litros/vaca/ano) e menor produção para as propriedades da com áreas maiores que 500 ha 97

(775 litros/vaca/ano), tendo as demais faixas de áreas apresentado valores intermediários

(Tabela 1).

A média geral para produção de leite foi de 967 litros/vaca/ano, superior à encontrada para o estado da Bahia (687 litros/vaca/ano) pela Superintendência de Estudos

Econômicos e Sociais (SEI), e também à média nacional, de 900 litros/vaca/ano (Bahia,

2000).

A baixa produção de leite no estado da Bahia deve-se ao efetivo bovino ser formado basicamente de animais de sangue Zebuino, Holandês e mestiço (Ferreira et al.,

2005). Dados do IBGE (1996) mostram que 38% do leite produzido no estado provêm da pecuária de corte/leite e de corte. Além da baixa especialização do rebanho, 93,2% da ordenha é manual (Bahia, 2000).

3.2 Sistema de produção forrageiro

Analisando o sistema de produção de forragem, com relação ao manejo do solo

(Figura 1), tomando como referência todas as faixas de áreas, existe um percentual de 58% de produtores que já fizeram análise de solo, 72% já fizeram algum tipo de adubação, orgânica e/ou mineral e 16% já fizeram calagem. Estes percentuais de análise do solo, adubação e calagem foram maiores que os encontrados por Ferreira (2002), em diagnóstico realizado na mesma região, demonstrando, em relação à análise de solo, adubação e calagem, que houve uma evolução no sistema de produção de forragem e um aumento das propriedades que utilizam dessas práticas, as quais são fundamentais nesse sistema produtivo.

Dos produtores que já fizeram análise de solo, apenas um percentual de 25,9% fazem análise de solo anualmente, os demais, com uma frequência variada, só fizeram uma vez; já fizeram duas vezes; fazem a cada dois anos e fazem a cada cinco anos. Foi 98

observado que a análise do solo está diretamente proporcional à intensificação do sistema nas propriedades onde há sistema de pastejo rotacionado, e a frequência de análise do solo foi maior, quando comparadas com as demais propriedades.

Na Figura 1, pode-se observar que as propriedades com área até 100 ha nunca fizeram análise de solo e calagem, entretanto, 40% das propriedades faz adubação orgânica na capineira.

Análise do solo Adubação Calagem

100,0% 83,0% 83,0% 80,0% 75,0% 70,0% 80,0% 66,0% 60,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 40,0% 25,0%

20,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 1 – Percentual de propriedades que realizam análise de solo, adubação e calagem, em função da área da propriedade

Entre as faixas de áreas de tamanho de propriedades, aquelas com áreas de 201 a

300 ha apresentaram maior percentual (83%) de propriedades que fazem ou já fizeram análise de solo. As demais faixas variaram entre as que nunca fizeram, com área até 100 ha, e 66% observado nas propriedades com área maior que 500 ha.

A adubação foi a prática do sistema de produção forrageiro analisado que apresentou um maior percentual (72% das propriedades), tomando como referência todas as faixas. Das propriedades que utilizam de adubação, 34,6% é adubação orgânica, 26,9%

é adubação mineral e 38,5% são de ambos (mineral e orgânica). 99

Quando se trata de calagem, 84% dos proprietários nunca usaram corretivos nos solos, porém, os que fizeram análise disseram que, de acordo com a análise do solo, esta prática não era necessária na região em função do pH ser adequado para pastagens. Gomes

& Detoni (1998), trabalhando com solos da microrregião de Itapetinga, observaram um pH com amplitude de 5,5 a 6,4, que consideraram normal para pastagens. Os valores encontrados para potássio e matéria orgânica também estiveram acima dos níveis críticos para as forrageiras. Contudo, em 78% das amostras analisadas, os teores de fósforo foram deficientes. Para os referidos autores, uma adubação fosfatada nos solos dessa região é de grande importância para produção e melhoria das pastagens.

O percentual de amostras analisadas que apontaram deficiências nos valores de fósforo encontrado foi semelhante aos encontrados por Ferreira (2002) para essa mesma região.

A falta de correção da acidez do solo e de adubação no plantio, combinada com a ausência de adubação de manutenção pode ser a responsável pela baixa taxa de lotação encontrada, em média de 0,82 UA/ha.

A forma de eliminação de plantas daninhas é a roçagem e/ou utilização de herbicidas. Analisando os resultados da Figura 2, a roçagem manual é a única forma que os produtores com área até 100 ha utilizam para a eliminação da plantas daninhas, visto que os mesmo não fazem o uso de herbicida. Vale salientar que esta foi a única faixa de área que não utilizam herbicidas.

Nas propriedades com área acima de 100 ha, as faixas de áreas 101 a 200 ha, de 201 a 300 ha, e de 301 a 500 ha, a roçagem manual apresentou o maior percentual entre os métodos de eliminação de plantas daninhas, respectivamente, 80%, 75% e 75% nas referidas áreas (Figura 2). 100

Nas propriedades com área acima de 500 ha, a mecanização na roçagem é mais frequente, pois 80% das propriedades utilizam roçadeira mecânica.

Nas propriedades com área acima de 100 ha, foi observada a utilização de herbicida. Em 69% das propriedades com áreas de 101 a 200 ha, 92% das com áreas de

201 a 300 ha, 75% das com áreas de 301 a 500 ha e 65% das com áreas acima de 500 ha usam herbicidas como complemento da prática de eliminação de plantas daninhas

Manual Mecânica Ambas Ocorrência de fogo 100,0% 100,0% 80,0% 75,0% 75,0% 80,0%

60,0% 50,0% 40,0% 40,0% 40,0% 25,0% 25,0% 20,0% 20,0% 17,0% 20,0% 20,0% 20,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% menor de 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 2 – Mecanismo de roçagem da pastagem utilizado nas propriedades em função da área

O ato de colocar fogo para eliminar a macega é uma prática comum, e alguns produtores chegam a afirmar que os pastos, depois de queimados, vigoram muito mais.

Devido a esta crença e às dificuldades por que passam os produtores de leite, esse tipo de manejo é usado em larga escala (Ferreira, 2002).

De forma geral, foi questionado aos produtores sobre o uso de fogo na prática do manejo, entretanto, uma grande maioria dos produtores que fazem o uso do fogo como prática de “roçagem” não declaram que fazem o uso dessa prática. Pensando nessa dificuldade, foi abordado com linguagem indireta, na qual foi questionada a ocorrência de fogo, de forma acidental e/ou colocada. 101

Nas propriedades com área até 100 ha, não foi declarada a ocorrência de fogo nas pastagens. Nas demais faixas de áreas, o percentual de maior ocorrência foi observado nas propriedades com área entre 301 a 500 ha, tendo 50% dos proprietários declarado ocorrência de fogo nas pastagens.

A utilização da pastagem após a queima é uma das principais causas de sua degradação. Frequentemente, coloca-se o animal logo após o início da rebrotação do pasto e, com isso, há o enfraquecimento das plantas, pois são utilizadas as suas reservas para rebrotação, após a queima, e não há tempo para reposição de energia necessária para nova rebrotação após o pastejo.

3.3 Suplementação

Uma das características da produção leiteira na região é a baixa produtividade relacionada ao pequeno nível tecnológico dos sistemas leiteiros desenvolvidos pelos produtores. Ter um padrão com produtividade média por vaca de quatro a seis litros pode parecer uma desvantagem, no entanto, os produtores conseguem essa produtividade a custos baixos. Nas condições da região, a pastagem é a base da produção leiteira. Observa- se que, muitas vezes, a pastagem e a mineralização são os únicos insumos do sistema

(Figura 3).

102

Feno Silagem Subproduto Cana-de-açucar Concentrado Minelarização 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 92,0% 75,0% 80,0%

60,0% 48,5% 48,0% 50,0% 50,0% 42,9% 30,0% 40,0% 27,5% 28,0% 25,0% 12,5% 20,0% 20,5% 24,0% 12,5% 20,0% 6,3% 8,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 3 – Tipo de suplementação utilizada nas propriedades em função da área

Esta realidade foi verificada nas faixas de áreas com até 100 ha e maior de 500 ha, com uma pequena diferença, apenas para os produtores com área maior de 500 ha, que utilizam cana-de-açúcar na alimentação animal, contudo, em apenas 40% das propriedades

(Figura 3).

Entre os que praticam a suplementação volumosa, a maioria, independente da área, utiliza-se da cana-de-açúcar, seguida de subprodutos, e, por último, a utilização de silagem e feno.

A complementação alimentar somente é realizada, durante o ano todo, em 3% das propriedades, no total de três, sendo uma propriedade de cada faixa, enquanto o restante escolhe os períodos mais críticos em que há escassez de pastagem, ou seja, a estiagem, para a realização dessa prática alimentar.

Quanto à suplementação com a utilização de alimentos concentrados, o resultado já

é bem diferente, nas propriedades com área até 100 ha e com área maior de 500 ha não fazem uso de concentrado. Na faixa de área de 100 a 200 ha, apenas 20% das propriedades fazem o uso do concentrado e nas faixas com área de 201 a 300 ha, apenas 28% das propriedades, entretanto, nas propriedades com área de 300 a 500 ha, 50% das 103

propriedades fazem uso de concentrado, sendo metade durante todo o ano e a outra metade apenas no período seco.

No que concerne à utilização do sal mineral na mineralização do rebanho, os produtores, na sua totalidade, afirmaram que usam sal mineral. Prática recomendável, pois, nesses casos, em que a principal fonte de volumoso é a pastagem, a oferta dos nutrientes minerais é insuficiente para a manutenção do rebanho.

3.4 Manejo produtivo

Analisando as propriedades, independentes de sua área, constata-se que 55% dos entrevistados fazem anotações zootécnicas. A faixa de propriedades com área de até 100 ha apresentou o menor percentual de propriedades que possuem escriturações zootécnicas, apenas 6,25% das propriedades realizam esta prática. O maior percentual foi observado entre os produtores com área maior de 500 ha, sendo 71,4% das propriedades (Figura 4), entretanto, a imprecisão notada frente às respostas acerca de índices zootécnicos pode estar relacionada ao desconhecimento propriamente dito ou, até mesmo, à vontade do produtor em se mostrar eficaz em seus trabalhos, ou ainda, ao desejo em omitir resultados negativos de seu sistema de produção.

Assim, o uso de questionários não consiste do método mais indicado para fazer levantamentos precisos de índices reais.

104

Faz Não faz

93,7% 100,0% 85,7% 69,0% 80,0% 64,0% 60,0% 50,0% 50,0% 31,0% 36,0% 40,0% 14,3% 20,0% 6,3%

0,0% até 100 ha 101 a 200 ha 201 a 300 ha 301 a 500 ha maior de 500 ha

Figura 4 – Percentual de propriedades que fazem anotações zootécnicas, em função da área da propriedade

Quanto ao sistema reprodutivo, 78% dos produtores, independente da área, não fazem controle reprodutivo das matrizes leiteiras. Essa prática contribuiu para um elevado número de vacas vazias, fato que acarreta grandes prejuízos à atividade. Sem um controle da situação reprodutiva não se consegue realizar um planejamento a médio e a longo prazo da produção das propriedades rurais. Índices como o cálculo do intervalo entre partos, a data de cobertura, de confirmação de prenhez e de parto, entre outros, são da maior importância dentro da bovinocultura de leite.

Perante a percepção dos entrevistados, os índices ainda apresentam-se aquém do desejável para rebanhos nutridos e/ou mineralizados adequadamente, e sem problemas de ordem sanitária, mais uma vez indicando a possibilidade de intervenções por parte de profissionais técnicos que possam detectar problemas aparentemente inexistentes e que, no entanto, estejam comprometendo os resultados econômicos da atividade, e atuar em programas de planejamento e monitoramento destes rebanhos.

Quanto ao aleitamento, em todas as propriedades analisadas o aleitamento é do tipo natural, com desmame por idade, variando quando os bezerros atingem entre 180 a 300 105

dias de idade. De acordo com estes produtores, este período de desmame é comum na região e garante que a matriz produza um bezerro saudável no próximo parto.

A prática de descorna é uma prática comum nas propriedades de leite, sendo praticada em todas as propriedades estudadas.

A descorna é utilizada com a finalidade de facilitar o maneio, especialmente quando se trata de criações voltadas para a produção de leite, para eliminar ou diminuir o risco de agressão às pessoas ou outros animais, ou em animais destinados a estabulados.

Pode também ter objetivos puramente estéticos, como ocorre, por exemplo, quando os bovinos são destinados a exposições ou leilões.

Nas propriedades com área até 100 ha, a prática de castração não foi observada em nenhuma das propriedades, entretanto, em apenas 6,9; 20,0; 12,5 e 40,0% das propriedades, respectivamente, com área de 101 a 200 ha, 201 a 300 ha, 301 a 500 ha, adotam a prática de castração dos machos.

A castração dos bovinos é uma prática utilizada desde antes da era cristã e é tradicionalmente usado no Brasil em razão do sistema de produção ser baseado em pastagens extensivas, o que eleva a idade do abate. O propósito não é só o de manejo, mas a melhoria na qualidade da carcaça. Contudo, grandes mudanças aconteceram no sistema de produção. Uma sensível redução na idade do abate está sendo observada em várias regiões do País. São inúmeros os motivos, dentre os quais podemos destacar os avanços da alimentação dos bovinos (pastagens e suplementações), melhoramento genético (seleção e cruzamentos) e sistemas de produção (confinamento).

A prática tem como atrativo principal a facilidade de lidar com o rebanho, uma vez que os animais castrados tornam-se mais dóceis, permitindo a mistura de bois e vacas. É possível observar que essa prática está geralmente associada com a bovinocultura de corte, pois, na bovinocultura de leite extensiva, com sistema de desmame e a caracterização das 106

propriedades discutida anteriormente, os machos são vendidos ainda jovens, logo após o desmame.

3.5 Manejo de ordenha

A maioria dos sistemas de produção da região analisada adota o método manual, em 93,0% das propriedades, tendo 69,0% das propriedades apenas uma ordenha diária

(Tabela 2), e as demais, 31% realizam duas ordenhas diárias. Todas as propriedades que utilizam a ordenha mecânica realizam duas ordenhas diárias.

Tabela 2 – Percentual de propriedades que utilizam ordenha manual ou mecânica e a quantidade de ordenhas diárias, em função da área das propriedades Tipo de ordenha Quantidade de ordenhas diárias

Tamanho da Manual Mecânica Uma Duas propriedade Até 100 ha 100,0 ----- 100,0 ------

101 a 200 ha 86,2 13,8 65,5 34,5

201 a 300 ha 92,0 8,0 64,0 36,0

301 a 500 ha 93,8 6,2 25,0 75,0

Maior de 500 ha 100,0 ----- 100,0 ------

Média 93,0 7,0 69,0 31,0

Segundo Ferreira et al. (2005), o tipo e número de ordenha é um fator importante do ponto de vista econômico, que afeta a produtividade. Os dados relatados por esses autores para o índice de ordenha manual (92,31% das propriedades), para essa mesma microrregião, demonstra que não houve mudança no tipo de ordenha utilizada na região, 107

entretanto, em relação à quantidade de ordenha, houve um decréscimo do índice de propriedades que fazem apenas uma ordenha, de 90,91% encontrado por esses autores, comparados aos 69,0% encontrado no presente estudo, observando um aumento no percentual de propriedades que utilizam duas ordenhas diárias.

As propriedades que utilizam de ordenha mecânica estão nas faixas de áreas entre

101 ha a 500 ha, correspondendo na área de 101 ha a 200 ha apenas a 13,8% das propriedades; na área de 201 ha a 300 ha foram apenas 8,0% e na área de 301 a 500 ha foram apenas 6,2% das propriedades (Tabela 2).

Em todas as propriedades que possuem ordenha mecânica, emprega-se o sistema balde ao pé, que é bastante usado em adaptações de estábulos, diferentemente dos sistemas de circuito fechado que requerem maiores alterações na infraestrutura disponível.

A ordenha é a etapa da produção leiteira que exige o maior cuidado, devido à sua forte influência na qualidade do leite produzido. Este procedimento envolve desde a escolha correta do local, onde o animal deverá ser ordenhado, até a higiene do ordenhador, dos animais e dos utensílios (Souza et al., 2005). A ordenha manual realizada por 100% dos produtores é executada em horários matutinos. No Brasil, um grande número de produtores rurais retira leite por meio da ordenha manual. A contagem bacteriana, um dos fatores que determinam a qualidade do produto, costuma ser bastante alta neste tipo de ordenha. Isso ocorre devido a procedimentos incorretos, que levam a uma higiene deficiente, tanto dos tetos da vaca quanto das mãos dos ordenhadores e dos utensílios utilizados (Souza et al., 2005).

O hábito frequente de lavagem do úbere e das tetas, antes da ordenha, é realizado por apenas 11,0% das propriedades, e as que usam o pré-dipping, apenas 8,0%, entretanto,

100% das propriedades com área até 100 ha não realizam nenhum tipo de assepsia das glândulas mamárias das vacas em lactação, bem como nenhum teste de detecção de mastite 108

(caneca de fundo preto e CMT). Nas propriedades com área de 101 a 200 ha também não realizam nenhuma prática de assepsia das glândulas mamárias e apenas em 3,5% das propriedades realiza o teste da caneca (Tabela 3).

A assepsia é uma prática importante, pois evita que as tetas das vacas entrem em contato com impurezas, tais como fezes, lama e areia, durante a ordenha. Caso estas impurezas fiquem aderidas às tetas e ao úbere, e não forem removidos antes da ordenha, pode ocorrer a contaminação do leite.

Tabela 3 – Percentual de propriedades que utilizam práticas de higiene e teste de detecção da mastite em função da área das propriedades

Práticas de higiene Teste

Tamanho da Lavagem Pré-dipping Pós-dipping Caneca de CMT propriedade de tetas fundo preto

Até 100 ha ------

101 a 200 ha ----- 6,9 ----- 3,5 ------

201 a 300 ha 28,0 24,0 4,0 32,0 4,0

301 a 500 ha 12,5 ----- 6,2 6,2 6,2

Maior de 500 ha 14,3 14,3 ----- 14,3 ------

Média 11,0 8,0 2,0 12,0 2,0 CMT - Califórnia Mastitis Test

O pré-dipping é realizado nas proporções de 6,9; 24 e 14,4% das propriedades, respectivamente, com área de 101 a 200 ha, 201 a 300 ha e maior de 500 ha (Tabela 3).

O pré-dipping é um dos meios mais efetivos de diminuição das infecções intramamárias, decorrentes de patógenos ambientais no teto, e ele elimina o uso de água no procedimento de preparação, pois sempre que se usar água durante o procedimento de 109

preparação do úbere haverá, definitivamente, uma chance de aumento da mastite ambiental.

Em relação ao pós-dipping, o percentual entre todas as propriedades foi ainda menor, apenas 2,0% das propriedades, sendo realizado em 4,0% das propriedades com área de 201 a 300 ha e em 6,2% das propriedades com área de 301 a 500 ha (Tabela 3).

O pós-dipping é fundamental para a remoção da película de leite que é deixada no teto após o conjunto de ordenha ser removido. Caso esta película de leite fique no teto, ela simplesmente fornecerá alimento para o desenvolvimento de bactérias. O pós-dipping também auxilia na prevenção da colonização do canal do teto por microrganismos e na eliminação das infecções existentes neste canal.

O teste da caneca de fundo preto tem como objetivo detectar a mastite clínica, estimulando a descida do leite, pois retira os três primeiros jatos, que apresentam maior concentração bacteriana.

Nas propriedades com área até 100 ha, não realiza o teste da caneca de fundo preto, entretanto, o teste é realizados nas demais áreas, sendo 3,5% das propriedades com área de

101 a 200 ha, 32% das propriedades com área de 201 a 300 ha, 6,2% das propriedades com

área de 301 a 500 ha e 14,3% das propriedades com área maior de 500 ha (Tabela 3).

Os métodos de diagnóstico da mastite subclínica incluem exames microbiológicos, métodos químicos indiretos e a CCS do leite dos quartos mamários individuais, dos animais ou do rebanho (Quinn et al., 1994). O "California Mastitis Test" (CMT) é usado mundialmente para o diagnóstico da mastite subclínica, tendo a vantagem de poder ser empregado no próprio rebanho, no momento em que os animais são ordenhados.

No presente estudo, apenas 4,0% das propriedades, com área de 201 a 300 ha, e

6,2% das propriedades, com área de 301 a 500 ha, realizam esse teste nas vacas em lactação (Tabela 3). 110

3.6 Manejo sanitário

Como medidas higiênicas sanitárias, não devem ser esquecidas as vacinações necessárias para o rebanho leiteiro, observando-se que as únicas vacinas aplicadas nos rebanhos da região são de brucelose, aftosa, raiva e clostridiose, as quais foram efetuadas em 100% das propriedades, sendo a brucelose com variação na frequência, entre aplicações anuais, semestrais e trimestrais. Para a aftosa, foi a frequência exigida pela Secretária de

Agricultura do Estado da Bahia, duas vezes ao ano, a raiva também observou uma variação entre semestral, junto à vacina da aftosa, e anual. A vacinação contra clostridiose apresentou também variação na frequência entre anual e semestral.

O manejo sanitário para o gado leiteiro deve ser eficiente a fim de evitar que os animais contraiam doenças que possam prejudicar a sua produção leiteira e, dessa forma, causar prejuízos ao produtor.

O controle de ectoparasitas foi relatado por 100% das propriedades, sendo feito com uma grande diversidade de produtos, destacando-se o emprego de ivermectinas e cipermetrina associada à clorpirifós, ainda que em combinação com outros produtos. Os tratamentos foram realizados em intervalos que variaram entre 15 a 30 dias, nos quais se supõe que haja resistência instalada dos parasitas frente às bases utilizadas. Há que se considerar tanto a efetividade dos tratamentos com bases adequadas, quanto procedimentos inadequados, quanto aos tratamentos dos animais, cujas aplicações podem estar sendo realizadas tardiamente, permitindo contaminação ambiental pela queda de teleógenas e ovo postura nas pastagens.

As ivermectinas, abamectina e albendazol ainda são apontadas como drogas empregadas para tratamento de endoparasitoses em animais adultos em diversos esquemas de aplicação e nos animais jovens. A ivermectina é absoluta com tratamento de 111

endoparasitoses em 100% das propriedades. Este elevado uso desta base em animais adultos merece atenção, pois grande parte deles diz respeito às vacas em lactação, de modo que a presença de resíduos pode estar em concentrações elevadas no leite que será destinado aos consumidores.

A rotina de exames periódicos de teste de brucelose foi relatada com baixa frequência entre os produtores, sendo observado apenas em 17,2% das propriedades com

área entre 101 a 200 ha, em 20% das propriedades com área de 201 a 300 ha e em 6,2% das propriedades com área de 301 a 500 ha.

A realização de exames de brucelose e tuberculose também poderia ter grande significado em medidas direcionadas para eliminação destas doenças dos rebanhos, promovendo o aumento da segurança alimentar para os consumidores do leite produzido, e ainda maior segurança para os trabalhadores que atuam em contato permanente com os animais.

112

4. CONCLUSÕES

A taxa de lotação nas propriedades de até 100 ha foi a maior entre as áreas, entretanto, a média de 0,81 UA/ha é indicadora de sistemas de produção extensivos. Esse indicador mostra a necessidade da criação de um programa, visando ao aumento significativo da taxa de lotação, o que é conseguido no momento em que for aumentada a oferta de alimentos durante todo o período do ano.

A complementação alimentar, em 97% das propriedades que a praticam, é realizada durante os períodos mais críticos em que há escassez de pasto.

Em 93% das propriedades predominam a ordenha manual e a prática de uma ordenha diária, o que é explicado pela baixa produção.

De modo geral, os produtores realizam escrituração zootécnica, condição fundamental para a administração da atividade.

O manejo de higiene de ordenha nas propriedades é precário, sendo pior entre as propriedades com área de até 100 ha. Entretanto, quando se trata de medidas sanitárias, as vacinas de brucelose, aftosa, raiva e clostridiose são utilizadas nos rebanhos da região em

100% das propriedades.

113

5. REFERÊNCIAS

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BAHIA, Governo do Estado da. Informações básicas dos municípios baianos: Região Sudoeste. Secretaria de Planejamento Ciências e Tecnologia (SEPLANTEC) Centro de Estatística e Informações (CEI) 1994, 816p.

BAHIA, Governo do Estado da. Superintendência de estudos econômicos e sociais da Bahia (SEI). Bahia 2000. Salvador: 2000, p.136-141.

BARRETO, I.L. Pastejo contínuo. In: PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C. FARIA, V.P. Pastagens: fundamentos da exploração racional. 2a ed. Piracicaba S. P. Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz FEALQ. 1994 p.429-453.

BLASER, R.E. Manejo do complexo pastagem-animal para avaliação de plantas e desenvolvimento de sistema de produção de forragens. Tradução: NOVAES, L. P. In: PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C.; FARIA, V.P. (Org.). Pastagens: fundamentos da exploração racional. 2a ed. Piracicaba S.P. Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz FEALQ. 1994 p.279-335.

COSTA, J.L. Avaliação de indicadores técnicos de eficiência e renda da propriedade leiteira. In: Tecnologias para o desenvolvimento da pecuária de leite familiar do norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, p. 39-51, 2007.

FERREIRA, H.F. Pecuária leiteira na região de Itapetinga, BA: Aspectos socioeconômicos e ambientais, 2002. 60f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Brasília, Brasília, 2002.

FERREIRA, H.F.; PIRES, A.J.V.; MOTA, J.A. Produção leiteira na microrregião de Itapetinga, Bahia: Aspectos socioeconômicos. Revista Eletrônica de Veterinária. v.6, n.7, 14p. 2005.

GOMES, H. de S.; DETONI, C.E. Avaliação de solos e vegetação na Região Pastoril de Itapetinga. Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A. EBDA, Itambé, Bahia: 1998.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia Estatística Censo agropecuário 1995/1996 Disponivel:

NELSON, J.H. An overview of good manufacturing pratice-1. Bulletin of the International Dairy Federation, Brussels, v.276, p.10-11, 1992.

OLIVEIRA, J.T.C.; BRANDESPIM, D.F. Caracterização da higienização da ordenha de vacas leiteiras, utilizada pelos produtores no município das Correntes - PE. 2009. 114

Disponível em: http://www.eventosufrpe.com.br/ jepex2009/cd/resumos/R0862-2.pdf. Acesso em 25 de setembro de 2010.

SOUZA, G.N.; BRITO, J.R.F.; MOREIRA, M.A.V.P. et al. Fatores de risco associados a alta contagem de células somáticas do leite do tanque em rebanhos leiteiros da Zona da Mata de Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.57, supl. 2, p.251-260, 2005.

QUINN P.J.; CARTER M.E.; MARKEY B.K. et al. 1994. Mastitis, ed.Clinical Veterinary Microbiology. Wolfe Publishing, London. p.327-344.

115

- ANEXO -

QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO

1. Dados da unidade produtiva: Localização:

 Município (distrito, Km): ______ Propriedade: ______ Proprietário: ______ Tamanho(ha): ______ Área destinada à Bovinocultura de leite:______2. Do Produtor:

Onde o proprietário mora? Fazenda ( ) Cidade ( ) Ambos ( ) Grau de instrução: EF I( ) EF II( ) EM incompleto( ) EM completo( ) C.Superior( )

Possui equipamentos em conjunto com vizinhos ou outros produtores? Sim( ) Não( ) É associado a alguma Cooperativa ou Associação? Sim( ) Não( ) Filhos na atividade: Sim ( ) Não ( )

Dedicação ao negócio: Total ( ) Parcial ( ) Como obtém informações: Livros( ) Palestras( ) Internet( ) Conversas com outros( )

Quem administra a fazenda? Produtor( ) Filho( ) Gerente( ) Vaqueiro( ) Técnico( ) Qual a profissão e ou atividade do proprietário? ______

3. Questões gerais relativas à atividade: Como iniciou a atividade? ______Quando? ______Qual a raça dos bovinos? ______

Qual o objetivo da produção: Leite( ) Matrizes/reprodutores( ) Cria e recria( ) Corte ( ) Recebeu algum incentivo para o início? ______

O que o produtor considera como problema? ( ) Crédito ( ) Assistência técnica ( ) Infraestrutura (estrada, energia elétrica)

Considera a atividade sedimentada, ou falta muito a fazer? ______Que tipo de tecnologia acha necessária para melhorar a produtividade do rebanho?

( ) I.A. ( ) Tanque de expansão ( ) Nutrição ( ) Melhoramento Animal

( ) Monta controlada ( ) outras______116

Quais as perspectivas futuras da bovinocultura na região? ______Recebeu algum crédito? Sim ( ) Não ( ) Quitado Sim ( ) Não ( )

Se tivesse linha de financiamento, aumentaria o rebanho? Sim ( ) Não ( ) Produção em litros? Inverno______Verão ______

Média de produção de leite/vaca/dia______

4. Mão-de-obra na bovinocultura: produtor( ) empregado( ) filho( ) outro( )

Nº de pessoas:______Tempo de trabalho (diário): ______Grau de instrução do ordenhador:

1º Grau( )completo ( )incompleto 2º Grau( )completo ( )incompleto ( )não sabe informar Remunera especialmente o ordenhador? Sim ( ) Não ( )

Assina carteira dos empregados: Sim ( ) Não ( ) Não opinou ( ) Assistência técnica na bovinocultura: Sim ( ) Não ( )

Por quê? ______5 Infraestrutura da fazenda:

Item Sim Não Quantos

Galpão

Curral

Estábulo

Energia

Trator

Forrageira

Tração Animal

Tanque de expansão

Computador

Internet

Outros

117

6. Uso da terra

Item Área Quantos

Pastagem

Capineira

Reserva (mata)

Área para gado leite

Outros usos

7. Manejo do sistema de produção forrageiro:

Pastos cultivados: Sim ( ) Não ( ) Quantas (ha) ______Utiliza capineira: Sim ( ) Não ( ) Quantas (ha)______

Análise do solo: Sim ( ) Não ( ) Período: ______Adubação: Sim ( ) Não ( ) Que tipo? ( ) orgânica ( ) mineral______

Calagem: Sim ( ) Não ( ) Rotação: Sim ( ) Não ( )

Nativos: Sim ( ) Não ( ) Roçagem: Manual ( ) Mecânica ( )

Ocorrência de fogo na pastagem: Sim ( ) Não( ) Freqüência______8. Inventário animal (em nº de cabeças):

Categorias Bubalinos Bovinos Equinos Outros

Leite Corte

Reprodutores

Matrizes

Novilhos

Novilhas

Bezerros (as)

Total

118

Identificação dos animais: Numeração ( ) Ferro ( ) Brinco ( ) Utiliza outra área para suporte: Sim ( ) Não ( ) ______

Controle de plantas daninhas: roçagem ( ) herbicidas( ) Qual produto: ______

9. Suplementação:

Suplemento Sim Não Quantidade Frenquência

Feno

Silagem

Subproduto

Cana

Concentrado

Outros

Mineralização

10. O manejo dos animais:

Faz anotações zootécnicas: Sim ( ) Não ( ) Pode ceder para estudos técnicos: Sim ( ) Não ( )

Bezerros (as): Sistema de aleitamento: ( ) natural ( ) artificial

Como e quando é feito o desmame: por idade( ) por peso( )

Descorna: Sim ( ) Não ( )

Castração: Sim ( ) Não ( ) 11. Ordenha: Ordenha manual ( ) mecânica ( )

Tanque de expansão: Sim( ) Não( ) Caso Sim: Coletivo ( ) Individual ( ) Quantas ordenhas ? Uma( ) Duas ( )

119

Higiene de ordenha e/ou teste de diagnóstico de mastite:

( ) Lavagem de tetas ( ) pré-dipping (H2O clorada) ( ) caneca de fundo preto ( ) CMT ( ) pós-dipping (lodo) ( ) Nenhum (a)

12. Práticas Sanitárias:

Vacinas Sim Não Frequência

Brucelose

Aftosa

Raiva

Outras

Clostidiose

Teste de Brucelose

Endoparasitas Recomendado Frequência Produto

Sim Não

Bezerros

Adultos

Ectoparasitas Recomendado Frequência Produto

Sim Não

Bezerros

Adultos

13. Qual(is) o(s) problema(s) de comercialização do leite?______

______