Jazz 1 de junho 2014 Ciclo “Isto é Jazz?” Comissário: Pedro Costa

Stefan Pasborg Free Moby Dick © Andre Loyning minha viagem musical em território comenta. Ou seja, não se trata de um é uma recapitulação do repertório desconhecido. Não são os standards regresso às fórmulas do jazz-rock… soul e funk da editora discográfica que identificam o jazz. Para mim, jazz Mais pacífico é entender que o facto Stax. A diferença é que, se essa é uma significa improvisação, nada mais. de tocar bateria explica muito do seu iniciativa de homenagem, o que implica Foram tantas as correntes e tendências interesse pelos ritmos do rock: «Sendo uma certa fidelidade relativamente aos do jazz nos últimos 30, 40 anos que nem eu baterista, riffs como os de Black Dog, originais, Free Moby Dick tem, como sei como é que o rótulo “jazz” sobrevi- dos Led Zeppelin, sempre me atraíram. afirma, «um âmbito mais artístico». veu a si mesmo. Estou focado na criação Participar nesses uníssonos é o mais O que quer dizer que os parâmetros de bandas, e cada uma com um som longe que nós bateristas podemos ir em são bastante livres: «Só utilizamos as próprio, uma ideia sólida por detrás. termos de “tocar notas” (risos). Nunca partes fortes dos temas e tocamo-las O que me conduz é a curiosidade. Foi me atraiu a ideia de ser um músico rock, como nos apetece no momento. Se o só por isso que nasceu o projeto Free mas faz todo o sentido para mim combi- propósito é desconstruir, fazemos pre- Dom 1 de junho Moby Dick.» nar riffs com outros materiais. Abre-me cisamente isso. Fixamo-nos num groove 21h30 · Pequeno Auditório Bem… Foi quase só por isso. O que as perspetivas.» e o que acontece parte daí. Procuro Duração: 1h · M3 acontece é que Pasborg não se inte- Além de garantir a propulsão percus- mostrar às pessoas que não estão fami- ressa apenas pelo jazz. «Adoro rock, siva, Pasborg intervém como arranjador liarizadas com a música improvisada Saxofone tenor e baritono Mikko Innanen e punk, pop, surf music, os sons de neste quarteto que formou com os como é que tudo funciona com algo que Saxofone tenor Liudas Mockunas África, os eruditos. Dispenso os limites saxofonistas Mikko Innanen e Liudas já conhecem. Seven Nation Army, dos Baixo elétrico Nicolai Munch-Hansen e as fronteiras que existem na música. Mockunas e com o baixista Nicolai White Stripes, pode então surgir com Bateria Stefan Pasborg Cresci tanto a ouvir Jimi Hendrix, Elvis Munch-Hansen, mas o que faz a esse uma batida afro de 6 por 8.» Presley e Stravinsky como Thelonious nível convoca em simultâneo as suas Free Moby Dick e o Stax Tribute não Monk, Miles Davis, Charles Mingus e facetas de compositor e improvisador. são propiamente incursões periféricas O 21st Century Schizoid Man Ornette Coleman. Descobri que pegar «Pois, o arranjo é, para os Free Moby no percurso jazzístico de Pasborg, ainda da Dinamarca nos riffs de, por exemplo, Paint it Black, Dick, recomposição e submissão do for- que, nas outras formações que dirige, o dos Rolling Stones, funciona muito bem mato canção ao improviso. Divirto-me jazz possa ser mais explícito. «Não estou Tal como os demais músicos de jazz, o num contexto abstrato. Os riffs mais imenso com esta celebração da música preso a uma noção conservadora do que dinamarquês Stefan Pasborg formou-se primários do rock oferecem algo de que ouvia quando tinha 14 anos de idade. é que o jazz tem de ser e sinto até difi- a tocar os standards do género. Aqueles especial à improvisação, pelo facto de Faço-o sem concessões, mas também culdade em encará-lo com um idioma temas que, na sua maior parte, nem serem muito fortes e de nos entrarem sem tentar fazer do rock uma coisa estra- específico. Há quem ache que o que são de jazz, mas da produção teatral da diretamente no sistema. Proporcionam nha e hermética. Segui a minha intuição faço não é jazz e quem me defina como Broadway, como Bye Bye Blackbird, um um contraste e o certo é que a minha quando decidi avançar. Designadamente, jazz. O que todas as minhas bandas têm must para várias gerações de prati- música tem tudo a ver com contrastes.» ser fiel à primeira ideia que nos vem à de comum é a improvisação e apenas cantes. Pois não é por extensão desse Inútil será, pois, averiguar se Free mente quando ouvimos, por exemplo, isso me interessa, seja em combinação princípio que ouvimos o seu grupo Free Moby Dick tem raízes na fusão de uns Iron Man dos Black Sabbath e responder com composições ou integralmente, Moby Dick a mergulhar – com dedica- Weather Report ou de uns Soft Machine da melhor maneira a questões como como acontece quando atuo apenas com ção exclusiva, note-se – nos clássicos da ou na colagem de estilos operada por manter a intensidade quando não há o meu set. Os Ibrahim Electric estão história do rock. A motivação é outra. Frank Zappa e John Zorn. «Hmmm… distorções de guitarra envolvidas.» orientados para o groove. O meu duo Diz o baterista, compositor e arran- É possível que me tenham ficado refe- Saliente-se que não é a primeira vez com Dawda Jobarteh, um tocador de jador: «Fartei-me dessas canções das rências dessas audições, mas a forma que Stefan Pasborg investe neste tipo de kora da Gâmbia, tanto recorre a melo- décadas de 1940 e 50. Em determi- como interpreto, ou melhor, reconverto, situações. Entre os seus grupos está o dias tradicionais como a partituras de nada altura achei melhor continuar a os temas do rock parece-me ser única», Stax Tribute que, como o nome indica, Ornette e Mingus», observa.

2 3 Nem um caso como Free Moby Dick prepara para nos deixar confundidos Stefan Pasborg foi galardoado com dois prémios. Foi é bizarro na cena jazz da Dinamarca (ou com a maneira como entende um hino considerado Novo Nome de Jazz no da Finlândia e da Lituânia, países de rock como 21st Century Schizoid Man, Nasceu em 1974, em Copenhaga, Ano e o seu álbum Toxikum foi votado origem de outros membros do grupo), dos King Crimson… na Dinamarca. Stefan Pasborg é um a Descoberta de Jazz do Ano. O seu de que por cá sabemos pouco, em con- baterista cheio de energia oriundo primeiro lançamento enquanto líder tradição com o que nos chega de outras Rui Eduardo Paes do melting pot de Copenhaga, já três – TriplePoint (ILK 2007) – foi sele- nações escandinavas como a Suécia e (crítico de música, ensaísta, vezes vencedor de prémios de música cionado no TOP 5 mundial como o a Noruega. Pasborg: «A presente cena editor da revista “online” jazz.pt) dinamarqueses. Melhor Álbum de Estreia de 2007 pela dinamarquesa é muito, muito forte. Aos 3 anos, arranjou um tambor de revista All About Jazz, de Nova Iorque. Entre os anos 1960 e 90 o jazz que se Riff – Padrão rítmico repetido, habitual- guerra, um zimbalão e um chapéu alto O último CD que lançou como líder, criava não tinha grande personalidade. mente presente no rock. do famoso baterista de jazz . Pasborgs Odessa – Xtra Large, recebeu Seguia-se demasiado cegamente o Veio a tornar-se num músico muito um Danish Music Award em 2011. É um modelo norte-americano, até porque Groove – Termo aplicado à música que particular da cena do jazz europeu. dos membros fundadores da editora e Dexter Gordon e Ben Webster viveram tenha um balanço rítmico pronunciado, Nos últimos anos a crítica tem clas- coletivo ILK Music. em Copenhaga durante algum tempo mas que não coincide com os forma- sificado o seu trabalho com expressões Stefan Pasborg foi escolhido para e deixaram marcas. Isso começou a tos mais fechados do swing no jazz. como “… um dos melhores jovens Artista Residente na Copenhagen mudar quando, desde há uns 15, 20 anos, Presente em algum jazz contemporâ- bateristas na Europa… Para todos os Jazzhouse durante o ano de 2011 surgiram novos músicos com outras neo, no rock mais ligado às raízes dos que apreciam bateria e percussão no e, em 2012, a Televisão Nacional ambições. O problema é que continua- blues e da música afro-americana, no seu melhor, oiçam atentos o trabalho Dinamarquesa passou cinco programas mos a não saber como promover o nosso funk, na soul e nas músicas eletrónicas de Stefan e deliciem-se… Enérgico e sobre ele. trabalho fora de portas.» de dança. extremamente competente, Stefan A Dinamarca encontrou finalmente Pasborg é um baterista fenomenal! Liudas Mockunas uma vitalidade que não existia, bem Estamos perante uma estrela emer- como a sua própria voz, e se Stefan gente… Se a cena de jazz dinamarquesa Nasceu em 1976, em Vilnius, na Pasborg é apenas a ponta do icebergue, continuar a criar talentos como, entre Lituânia. Representante do free jazz de o certo é que as mudanças que ocorre- outros, Pasborg, parece que estamos a vanguarda, moderno e criativo, a sua ram devem-lhe esforços como o de ter entrar numa nova ‘Era Dourada’ do jazz música elimina as fronteiras entre o jazz fundado a ILK Music, etiqueta que tem dinamarquês.” e a música académica. Explorando a estado a fazer rodar pelo mundo, ou Stefan já tocou e gravou com músicos natureza do som e o potencial dos sons pelo menos a tentar, o jazz que hoje por como , Marc Ducret, Ellery harmónicos, Liudas desenvolveu o seu lá se congemina. Um dos mais recentes Eskelin, Tomasz Stanko, Ray Anderson, próprio estilo de tocar saturado com lançamentos da ILK é – surpresa – um , Palle Danielsson, Anders técnicas multifónicas. De acordo com a solo de piano de Jacob Anderskov com Jormin, , Michael crítica, “este instrumentista de sopros, o título Impressions of Radiohead. Exato: Formanek, , Jesper faz misturas nada ortodoxas, com sons a inspiração do disco foi fornecida pela Zeuthen, Alex Riel, Mikko Innanen, que vão de expressivos esgotamentos banda de pop-rock de Thom York e Liudas Mockunas, Kjetil Møster, Lotte instrumentais sobre horror fílmico a Jonny Greenwood. Anker e Peter Friis Nielsen, entre hinos apocalípticos e a sinos transcen- «Espero que esta visita a Portugal outros… Já fez digressões por quase dentes. A sua música pode ser imprevi- permita que vocês descubram um pouco toda a Europa, EUA, Canadá, África e sível, uma enérgica mistura de free jazz, do que temos para oferecer», remata um Ásia – como líder e como sideman. lirismo e expressionismo da Europa sorridente Stefan Pasborg, enquanto se Nos Danish Music Awards 2004 Central.”

4 5 Mikko Innanen bolsa de um ano do Finnish State’s Arts Próximo espetáculo Council em 2003, o prémio de Melhor Nasceu em 1978, em Lapinjärvi, na Solista na Competição Internacional de © Marine Fromanger Finlândia. Innanen formou-se em 2003 Grupos de Jazz em Getxo, Espanha, em no Departamento de Jazz da Academia 2000, e o 1.º Prémio da primeira edição Le Capital Sibelius, a única universidade com do concurso de saxofone Jukka Perko O Capital de Karl Marx nível musical académico na Finlândia. em 2001. Em 2004 os jornalistas de jazz Innanen passou um ano dos seus finlandeses votaram em Innanen como Encenação de Sylvain Creuzevault estudos em Copenhaga, Dinamarca, no o segundo melhor saxofonista (alto, Rhythmic Music Conservatory. soprano e barítono) dos anos 2003 e Integrado no Alkantara Festival Nos últimos anos tem tocado com 2004. numerosos grupos, incluindo várias Teatro Sex 6, sáb 7, dom 8 de junho bandas com outros músicos de jazz Nicolai Munch-Hansen Palco do Gr. Aud. · 21h30 · Dur. 2h30 · M12 finlandeses tais como Nuijamiehet, Em francês, com legendas em português Gourmet, Mr Fonebone e Mikko Nasceu em 1977 na Dinamarca. Baixista Innanen & Innkvisitio, ou ainda e compositor, Nicolai Munch-Hansen Delirium (com Danes Kasper Tranberg, alcançou uma merecida posição como Um espetáculo sobre as estruturas secretas do modo de produção capitalista, Stefan Pasborg e Jonas Westergaard), um dos mais requisitados baixistas da tendo por intermediário o mui shakespeariano Karl Marx. Será Inferno, será Triot (com Pasborg e Nicolai Munch- Dinamarca. Integrado numa geração Paraíso? Garantiram-nos que será uma Difícil Comédia. Hansen), como convidado do Trio fran- de jovens músicos criativos, move-se cês Triade (Cedric Piromalli, Sebastian livremente entre os géneros do jazz e Boisseau e Nicolas Larmignat), The do rock, tocando tanto o baixo elétrico Próximo espetáculo de música European Jazz Youth Orchestra, bate- como o contrabaixo, dominando quer rista Teppo Mäkynen’s Teddy Rok 7, a improvisação quer o groove. Munch- Itchy (Jakob Dinesen, Jeppe Skovbakke, ‑Hansen tem feito digressões e grava- Rune Kielsgaard), Ulf Krokors – Iro ções com regularidade com músicos Lencastre, Haarla Loco Motife, Ibrahim Electric, dinamarqueses e artistas de outras Espoo Big Band and the UMO Jazz nacionalidades como Rokia Traore Prochazka, Cabaud Orchestra. (Mali), Kira Skov e Jakob Bro, entre Toucou ainda com Han Bennink, muitos outros. Nicolai Munch-Hansen Ciclo “Jazz +351” Jaak Sooäär, John Tchicai, Ingrid lançou três álbuns a solo, muito bem Jensen, Anders Bergcrantz, Marc acolhidos pela crítica: Wanna Do Right Comissário: Pedro Costa Ducret, Tim Hagans, Chris Speed, But Not Right Now (2007), Chronicles Jazz Seg 23 de junho Barry Guy, Juhani Aaltonen, Liudas (2010) e Æter (Ether) (2013). Pequeno Auditório · 21h30 · Dur. 1h · M3 Mockunas, Hiroshi Minami, Lelo Nika, Billy Cobham, Andre Sumelius, Marcus Shelby e Dayna Stephens, entre muitos Este trio dedica-se a uma improvisação livre em todo o tipo de cores e texturas. outros, incluindo praticamente todos os É o campo inteiro do jazz que está nas suas mãos, sem preconceitos nem limites. músicos da atual cena do jazz finlan- dês e um crescente número de artistas internacionais. Innanen ganhou uma Mais informações em www.culturgest.pt

6 Conselho de Administração Comunicação Técnico Auxiliar Presidente Filipe Folhadela Moreira Vasco Branco Álvaro do Nascimento Estagiárias: Frente de Casa Administradores Mariana Cunha Rute Sousa Miguel Lobo Antunes Publicações Margarida Ferraz Bilheteira Marta Cardoso Manuela Fialho Assessores Rosário Sousa Machado Edgar Andrade Dança Atividades Comerciais Clara Troni Gil Mendo Catarina Carmona Teatro Receção Patrícia Blazquez Francisco Frazão Sofia Fernandes Arte Contemporânea Serviços Administrativos e Financeiros Ana Luísa Jacinto Miguel Wandschneider Cristina Ribeiro Auxiliar Administrativo Paulo Silva Serviço Educativo Nuno Cunha Teresa Figueiredo Raquel dos Santos Arada Coleção da Caixa Geral de Depósitos Pietra Fraga Direção Técnica Isabel Corte-Real Alice Neiva Paulo Prata Ramos Inês Costa Dias Estagiária: Direção de Cena e Luzes Maria Manuel Conceição Teresa Vaz Horácio Fernandes Direção de Produção Assistente de Direção Cenotécnica Margarida Mota José Manuel Rodrigues Produção e Secretariado Audiovisuais Patrícia Blázquez Américo Firmino Mariana Cardoso (coordenador) de Lemos Paulo Abrantes Jorge Epifânio Ricardo Guerreiro Exposições Suse Fernandes Coordenação de Produção Iluminação de Cena Mário Valente Fernando Ricardo (chefe) Produção Vítor Pinto António Sequeira Lopes Paula Tavares dos Santos Maquinaria de Cena Edifício Sede da CGD Fernando Teixeira Nuno Alves (chefe) Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboa, Piso 1 Culturgest Porto Artur Brandão Tel: 21 790 51 55 · Fax: 21 848 39 03 Susana Sameiro [email protected] · www.culturgest.pt

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As emissões de gases com efeito de estufa associadas à produção desta publicação foram compensadas no âmbito da estratégia da CGD para as alterações climáticas.