UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

Ciências Biológicas

Marília Merli Borges

Ontogenia condrocraniana de schneideri

Rio Claro 2011

Marília Merli Borges

Ontogenia condrocraniana de Rhinella schneideri

Orientador: Prof. Dr. Célio Fernando Baptista Haddad

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas.

Rio Claro 2011

597.6 Borges, Marília Merli B733o Ontogenia condrocraniana de Rhinella schneideri / Marília Merli Borges. - Rio Claro : [s.n.], 2011 56 f. : il., figs., tabs., fots.

Trabalho de conclusão de curso (licenciatura e bacharelado - Ciências Biológicas) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro Orientador: Célio Fernando Baptista Haddad

1. Anfíbio. 2. Heterocronia. 3. Bufonidae. I. Título.

Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP

Resumo

Os estudos sobre ontogenia e heterocronia geram dados importantes para análises filogenéticas, taxonômicas, ecológicas e evolutivas das espécies. Neste trabalho foi realizada a descrição da ontogenia condrocraniana de Rhinella schneideri, que pertence à grande e cosmopolita família Bufonidae (GAUDIN, 1978). Foram utilizados girinos já coletados e tombados na Coleção CFBH (Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, UNESP, Rio Claro, SP) em diferentes estágios de desenvolvimento, classificados pela tabela Gosner (1960). Esses indivíduos foram diafanizados seguindo a técnica de Taylor & Van Dyke (1985) modificada, analisados sob o uso de estereomicroscópios e quando necessário foram desarticulados, fotografados e desenhados. A descrição do condrocrânio do girino de R. schneideri foi feita em estágio 29 de desenvolvimento e foram realizadas comparações morfológicas deste semaforonte escolhido com os demais membros do gênero e da família, além de comparações mais generalizadas dentro de Anura. Foi descrita em detalhes a ontogenia das cartilagens e ossos cranianos indicando o estágio de aparecimento do osso, localização e formato dos centros de ossificação, além da direção de crescimento destes centros. Além disto, foram analisadas heterocronias da espécie R. schneideri através de comparações de desenvolvimento ontogenético entre indivíduos de outras espécies do gênero e família. Com estas descrições e análises além de se ampliar o conhecimento sobre a espécie R. schneideri, os dados e hipóteses gerados a partir deste estudo influenciarão determinantemente no status taxonômico e filogenético da espécie.

Ao meu pai, Claudio À minha mãe, Tânia (in memorian) Ao meu irmão, Orlando Aos meus avós, Irahi e José AGRADECIMENTOS

À Olívia, por toda ajuda, pelos ensinamentos, amizade, paciência, todas as madrugadas de trabalho, exigência e minuciosidade nas correções. Também agradeço por seu esforço como Co-orientadora, mesmo que não oficialmente, pelo incentivo e pela compreensão.

Ao Prof. Dr. Célio Fernando Baptista Haddad, por todo apoio e compreensão como orientador e pelas aulas de Vertebrados e Herpetologia, que com certeza influenciaram muito na minha escolha pelo caminho do mundo da Herpetologia.

Ao Laboratório de Herpetologia, Departamento de Zoologia, Unesp, Rio Claro, SP e à todos os colegas herpetólogos pelo apoio.

Ao Cnpq, pela bolsa concedida e à Fapesp pelo apoio ao laboratório.

À Clara, por toda a ajuda e apoio nestes 5 anos. Por ter sido minha companheira de trabalho desde o primeiro estágio e por toda a amizade, parceria e incentivo. Por ter ouvido meus desabafos, por me entender e por ter me dado muitos “empurrõezinhos” pra que eu não desanimasse.

Ao CBI 2007, por toda a amizade nestes cinco anos de curso, por todos os trabalhos e por todo aprendizado que tivemos juntos. Por todas as reuniões, amigos secretos, saídas de campo, noites de lual em Picinguaba, comemorações e pela nossa união.Vocês são uma turma inesquecível.

Especialmente aos amigos do CBI 2007: Ana Claudia (Matraca), Tainá (Ricota), Tatiana (Larva), Ana Carolina (Baurú), Rafael (Fii), Rafael (Mão), Roberta (Pedó) e Nayara (Bis) pelas conversas, desabafos, mesas de bar, baladas, sorrisos, trabalhos, momentos de stress... E amizade, acima de tudo!

À Bis e Pedó pela companhia e diversão nos Congressos de Herpetologia. À Thays (Miss), por me “agüentar” por quatro anos de convivência na república “Auê”, por toda a compreensão nos momentos de mau-humor e por toda amizade e companheirismo. Você foi uma irmã que ganhei na faculdade.

Ao Thiago (Reto ou Zé), Lídia (Brejela) e Maricota, pela época juntos na “Rep Auê”. Foi inesquecível e sempre me lembrarei da nossa “família” e de como era divertido tê-los em casa. “Família é nunca abandonar.”

Aos eternos amigos de Poços de Caldas: Doka, Bruna Santine, Dri, Mari, Bruninha, Aline, Pri, Paulinha e Burga. Obrigada por estarem sempre presentes mesmo que longe. Agradeço aos e-mails semanais que me garantem sempre um sorriso e aos nossos encontros, sempre tão especiais e divertidos. Com vocês como amigos sei que nunca estarei sozinha.

Ao meu namorado, Gabriel “Mió”, por todo companheirismo, amor, paciência e apoio desde o início do meu projeto de Iniciação Científica. Por ouvir meus desabafos, me ajudar com as caronas até o laboratório e por compreender as horas infinitas que passei em frente ao computador. Sou muito grata por tudo, foi muito mais leve passar por tudo isso com você por perto.

Agradeço à todos que de alguma forma contribuíram para minha formação, aos colegas, professores, amigos e funcionários da UNESP.

Principalmente agradeço à minha família. Ao meu pai, Claudio, meu irmão, Orlando, e meus avós, Irahi e José, que sempre me incentivaram e acreditaram em mim, desde a “terrível” época do vestibular. Por todo apoio emocional, carinho, paciência e por serem sempre meu porto seguro. Vocês são mais que especiais e sou muito grata por tudo, sempre.

“For long you live and high you fly And smiles you'll give and tears you'll cry And all you touch and all you see Is all your life will ever be.

Run, rabbit run. Dig that hole, forget the sun, And when at last the work is done Don't sit down it's time to dig another one.” (Pink Floyd - Breathe)

Sumário

1. Introdução ...... 8

2. Objetivos ...... 10

3. Materiais e Métodos ...... 10

4. Resultados ...... 12 4.1. Descrição do condrocrânio ...... 12 4.2. Desenvolvimento das cartilagens do condrocrânio ...... 17 4.3. Desenvolvimento dos ossos do crânio ...... 26

5. Discussão ...... 32 5.1. Morfologia condrocraniana ...... 32 5.2. Ontogenia das cartilagens do condrocrânio...... 38 5.3. Desenvolvimento dos ossos do crânio ...... 41 5.4. Sequência de aparecimento dos ossos ...... 45 5.5. Erros de técnica ...... 47 5.6. Considerações Finais ...... 48

6. Bibliografia ...... 49

7. Anexos ...... 54 7.1. Anexo I – Tabela pesos e medidas ...... 54

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1. Introdução

A família Bufonidae abrange 558 espécies e 48 gêneros (FROST, 2011). Dentro da família Bufonidae, o gênero Rhinella é o segundo mais diverso, contendo atualmente 86 espécies descritas (FROST, 2011). Rhinella schneideri se encaixa no grupo da Rhinella marina, que é formado atualmente pelas espécies: R. achavali, R. arenarum, R. icterica, R. jimi, R. marina, R. poeppigii, R. veredas, R. rubescens e R. schneideri (KWET, 2006). As famílias mais próximas filogeneticamente de Bufonidae são Hylodidae, Dendrobatidae e Leptodactylidae, como demonstrado na figura 1.1.

Figura 1.1.: Relações filogenéticas entre a família Bufonidae e as famílias mais próximas filogeneticamente. Adaptado de Grant et al. (2006).

A descrição morfológica e da ontogenia craniana das espécies pode contribuir para um melhor conhecimento e desenvolvimento de pesquisas, principalmente em termos de filogenia e taxonomia. O uso da análise da morfologia e anatomia interna complementa estudos filogenéticos anteriores (HAAS, 2003; FROST et al., 2006; GRANT et al., 2006; CHAPARRO, 2007), já que o crânio é uma das principais estruturas esqueléticas no estudo sistemático de anuros (TRUEB, 1973). As obras marcantes de De Beer (1931) e Gould (1977) sobre o desenvolvimento, ontogenia e filogenia do esqueleto de vertebrados influenciaram uma revisão das teorias tradicionais sobre genética moderna e a teoria da 9

evolução. Estudos sobre heterocronia podem definir algumas mudanças evolutivas, como variações no crescimento e tempo de desenvolvimento; através destes estudos é possível analisar as mudanças de localização ou o aparecimento de estruturas em uma espécie em relação a outras do mesmo gênero, confirmando a importância da ontogenia em estudos sobre evolução (KLINGENBERG,1998). O estudo da heterocronia pode ser aplicado a processos micro-evolutivos, atuando diretamente na variação intra-populacional, através da diversidade ontogenética sob pressões seletivas, influenciadas principalmente pela ecologia. Também possui aplicação macro-evolutiva, pois pode não ser apenas um processo de desenvolvimento baseado no controle regulatório de genes, mas um processo de transformações filogenéticas, paralelismo evolutivo e origem de novos desenhos morfológicos (ALBERCH; BLANCO, 1996). Alguns estudos explicam como a evolução do tamanho e da forma pode estar associada ao desenvolvimento populacional e fenômenos ambientais e como isto se integra a estudos sobre heterocronia (ALBERCH et al., 1979; EMERSON, 1986; EMERSON; HASTTINGS, 1998). No desenvolvimento ontogenético dos anuros é observada uma variação marcada no modo de desenvolvimento, uma das principais causas provavelmente está relacionada com a fonte de recursos energéticos empregadas durante o desenvolvimento (ALTIG; JHONSTON, 1989). Os estudos sobre a heterocronia podem ajudar a elucidar os motivos da ocorrência de algumas diferenças no desenvolvimento entre espécies dentro de um gênero e família (JEFERRY, 2002). Gaudin (1978) foi um dos que iniciaram os estudos detalhados sobre a osteogênese dentro da família Bufonidae. Em seu estudo foram feitas comparações sobre o desenvolvimento esquelético de anuros com outras espécies já estudadas e também em indivíduos criados em laboratório e entre espécies coletadas de populações alopátricas. Larson et al. (2003), realizaram estudos sobre a morfologia condrocranial, hiobranquial e oral interna em larvas do gênero Melanophryniscus, da família Bufonidae. Larson (2004) estudou a morfologia condrocraniana e a alometria ontogenética em larvas de Anaxyrus americanus, descrevendo detalhadamente a anatomia larval do condrocrânio da espécie e comparando esta descrição com a de outras espécies de bufonídeos. Também são conhecidos alguns outros estudos condrocranianos com espécies da família Bufonidae, como: Bufo bufo (PARKER, 1876; RIDEWOOD, 1898), Anaxyrus 10

americanus, Amietophrynus mauritanicus, Anaxyrus terrestris, Duttaphrynus melanostictus, Epidalea calamita, Rhinella arunco, R. marina, R. ornata, R. cf. spinulosa (PARKER, 1881), Amietophrynus regularis (SEDRA; MICHAEL, 1958), Pseudepidalea viridis (SOKOL, 1975), Anaxyrus terrestris (SOKOL, 1981), e R. schneideri (FABREZI; VERA, 1997). Fabrezi e Vera (1997) descrevem o condrocrânio de Rhinella schneideri, porém, o estudo consiste em uma visão mais generalizada do condrocrânio, não contendo muitos detalhes.

2. Objetivos

Os objetivos do presente trabalho são:

1- Descrever o condrocrânio do girino de Rhinella schneideri em estágio 29 de Gosner, 1960 e realizar comparações morfológicas deste semaforonte escolhido com membros do gênero e da família. 2- Descrever a ontogenia das cartilagens e ossos cranianos indicando o estágio de aparecimento dos ossos, indicando a localização e formato dos centros de ossificação, além da direção de crescimento destes centros. 3- Inferir possíveis heterocronias da espécie Rhinella schneideri através de comparações de desenvolvimento ontogenético entre indivíduos de outras espécies do gênero e família.

3. Materiais e Métodos:

As análises foram feitas através de exemplares de Rhinella schneideri em estágios de desenvolvimento larval, classificados segundo a tabela de Gosner (1960) e tombados na Coleção CFBH, do Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, UNESP, Rio Claro, SP. Os números dos lotes dos exemplares são CFBH14465 e CFBH14492.

O semaforonte escolhido para as comparações com as demais espécies do gênero e família será o exemplar em estágio mais maduro e com as principais estruturas já condrificadas, porém ainda sem pontos de ossificação evidentes, presente na Coleção CFBH. 11

Os exemplares obtidos foram fotografados, pesados em balança semi-analítica e medidos com auxílio de estereomicroscópio (Anexo I), sendo que as medidas utilizadas foram: tamanho do corpo (BL), tamanho da cauda (TAL), distância internasal (IND), distância interorbital (IOD), altura da cauda muscular (TMH), altura máxima da cauda (MTH), largura da cauda muscular (TMW) e tamanho total (TL) (Altig; Mc Diarmid, 1999).

Após estas etapas foi diafanizado um exemplar de cada estágio, mantendo-se a temperatura constante de 25ºC, segundo a técnica de remoção da pele e evisceração. x Desidratação: Tratamento com uma série alcoólica (etanol) crescente (70%, 90% e 95%) permanecendo em torno de 24 horas em cada solução. x Coloração das cartilagens: Imersão dos espécimes em solução de 40% de ácido acético glacial em álcool puro (60%) + 0,3-0,4 g/l de azul de alcian, por 3 a 5 horas. x Neutralização: Imersão dos espécimes em solução saturada, i.e., adicionar água até saturar a solução de bórax [(tetra)borato de sódio] por dois dias no mínimo, trocando a solução a cada dia. Outra possibilidade seria de imersão em solução de KOH (0,5-1%) pelo mesmo período. x Diafanização: Solução composta de 30% de solução aquosa saturada de bórax + 70% de água destilada + tripsina (+ 1 g/l), até que os músculos se tornem transparentes. x Coloração dos ossos: Imersão dos espécimes em solução composta por uma pitada de vermelho de alizarina, em solução aquosa de KOH (0,5-1%). Até que os ossos assumam a cor vermelho escuro. Estocagem e preservação: Série de glicerina 40, 70 e 95%, em de KOH (0,5-1%). Permanecendo pelo menos um dia em cada série. Adicionando-se cristais de timol na última solução.

Os indivíduos diafanizados foram analisados com o auxílio de estereomicroscópio acoplado a câmera fotográfica NIKON SMZ 1500 e desenhados em câmara clara. 12

Os nomes científicos foram atualizados de acordo com a nomenclatura atual de Frost (2011). A nomenclatura utilizada segue Cannatella (1999) para as cartilagens do condrocrânio, Ridewood (1898) para o esqueleto hiobranquial e Trueb (1973) para os ossos. Se em algum caso o termo não seguir estes autores, a primeira vez que o termo for utilizado estará seguido do autor entre parênteses. Alguns termos foram traduzidos para o Português.

O termo “centro de ossificação” foi utilizado para as primeiras aparições de ossificação de cada osso, evidenciadas pelo corante alizarina.

4. Resultados

4.1.Descrição do condrocrânio

Figura 4.1.1.: Esquema de condrocrânio de Rhinella schneideri, estágio 29 em vista dorsal.

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A descrição do condrocrânio (Figura 4.1.1) e do esqueleto hiobranquial (Figura 4.1.2) foi realizada baseada no espécime do lote CFBH14465 em estágio 29 de desenvolvimento.

O condrocrânio é alto e ligeiramente estreito, possuindo formato retangular, com eixo transversal equivalente a 85% do comprimento do eixo longitudinal do condrocrânio. A região anterior é curta, sendo que a medida da placa etmoidal até os suprarostrais representa 30% de comprimento total do condrocrânio. Em relação ao comprimento total do condrocrânio, representado pela distância da base da porção posterior das cápsulas óticas até a porção anterior das cartilagens suprarostrais, obtivemos as seguintes proporções: o palatoquadrado é bastante alongado, representando cerca de 60%; a fenestra basicraniana possui tamanho médio, com cerca de 40%; e as cápsulas óticas são pequenas, representando cerca de 30%. A barra subocular forma um ângulo agudo de aproximadamente 50° em relação ao eixo transversal e o processo ascendente forma um ângulo de aproximadamente 110° em relação à cartilagem trabecular.

Cartilagens suprarostrais

As cartilagens suprarostrais possuem dois elementos: o central corpus e a lateral ala. Estas cartilagens são fundidas, representadas por um único corpo. O central corpus possui formato de arco e a lateral ala é retangular, com base ligeiramente convexa e com um discreto processus dorsalis posterior. A largura da lateral ala é aproximadamente o triplo da largura do central corpus. As cartilagens suprarostrais possuem orientação horizontal em relação ao eixo transversal do condrocrânio.

Cartilagens de Meckel e infrarostrais

As cartilagens de Meckel são duas estruturas cartilaginosas sigmóides localizadas nas duas laterais da parte anterior do condrocrânio. Estas duas estruturas estão unidas com as cartilagens infrarostrais, que têm formato retangular e estão localizadas na posição medial do condrocrânio. As infrarostrais não se tocam neste estágio.

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Região etmoidal

As cornua trabecularum estão localizadas acima das cartilagens suprarostrais e infrarostrais quando analisados em posição dorsal. Estas cartilagens são formadas anteriormente a partir da placa etmoidal e são longas, de largura média e aproximadamente uniforme por todo seu comprimento. A divergência entre as cornua trabecularum amplia-se anteriormente, resultando em uma separação em forma de V. Lateramente à base de cada cornu, em posição distal o processo trabecular lateral está bem delineado. A lamina orbitonasalis se apresenta neste estágio como duas pequenas projeções triangulares que apontam em direção à comissura quadratocranial anterior em ambos os lados da placa etmoidal. O septo nasal ainda não se apresenta diferenciado da placa etmoidal, sendo possível apenas a visualização de uma linha bastante tênue com orientação vertical em relação ao eixo transversal do condrocrânio e direção anterior.

Caixa Craniana

Anteriormente, a caixa craniana é fechada pelo tectum anteriorius e lateralmente, nas paredes da caixa craniana estão presentes as cartilagens orbitais. As cartilagens orbitais ainda estão em início de formação e possuem apenas uma faixa de cartilagem em formato de arco que sai exatamente da altura da inserção do processo ascendente do palatoquadrado, passa por cima da região dos forames óptico e oculomotor e se insere ao lado do forame óptico. Logo acima deste arco de cartilagem existem algumas pequenas células condrificadas bastante esparsas e no espaço onde se localizariam estes dois forames existem alguns filamentos de tecido conjuntivo. A fenestra basicraniana ainda está bastante ampla no estágio 29, portanto ainda não é possível visualizar o forame craniopalatino e o forame primário da carótida. A fenestra basicraniana é delimitada lateralmente pelas trabéculas cranianas. O teto da caixa craniana ainda não possui a taenia tecti transversalis e a taenia tecti medialis. O tectum synoticum apresenta-se apenas como um ponto de condrificação, localizado bem ao centro entre as duas cápsulas óticas. 15

A porção posterior da caixa craniana é fechada pelas cápsulas óticas, em posição postero-lateral.

Palatoquadrado

O palatoquadrado é formado por um conjunto de estruturas: o processo articular, o processo muscular, o processo ascendente e barra subocular. O processo articular e o processo muscular formam a porção anterior do palatoquadrado, bem como a barra subocular e o processo ascendente formam a porção posterior. Logo abaixo das cartilagens de Meckel localiza-se o processo articular, que articula a mandíbula (formada pelas cartilagens de Meckel e pelos infrarostrais) ao palatoquadrado. Neste processo está presente o processus quadratoethmoidalis, que se localiza na margem interna do processo articular e sustenta um ligamento que vai até o processo lateral trabecular. O processo muscular estende-se dorsalmente da margem lateral do palatoquadrado e possuiu duas estruturas na ligação deste com a base da caixa craniana, chamadas comissura quadratocranialis anterior e comissura quadratoorbital. O processo ascendente do palatoquadrado é bem mais fino que a barra subocular, que é mais grossa e mais achatada com lado externo arredondado. Esta se estende posteriormente à região anterior da cápsula ótica, e lateralmente além da margem lateral da cápsula ótica. O processo ascendente liga a barra subocular à parede da caixa craniana na região acima do forame oculomotor.

Região Occipital

As cápsulas óticas possuem formato ovóide e em posição medial anterior estão presentes o forame endolinfático e o forame acústico, sendo este último bem maior em relação ao primeiro. Na porção medial posterior da cápsula ótica estão localizados o forame jugular e o forame perilinfático, que desembocam na fossa condilóidea (sensu SOKOL, 1981). Ventrolateralmente é possível visualizar que a fenestra ovalis apresenta-se bastante reduzida neste estágio, pois está em processo de formação. Posteriormente às cápsulas óticas está o arco occipital. 16

Esqueleto Hiobranquial (Figura 4.1.2.)

Figura 4.1.2.: Esquema do esqueleto hiobranquial de Rhinella schneideri, estágio 29 em vista dorsal.

O hiobranquial apresenta-se bem desenvolvido. O basihial está ausente e os ceratohiais são robustos. O ceratohial possui formato triangular e três processos bem desenvolvidos, sendo o processus anterior hyalis bastante pontiagudo e alto, o processus anterolateralis hyalis também pontiagudo, porém mais baixo que o processus anterior hyalis. Estes dois processos são separadas por uma concavidade acentuada. O processus posterior hyalis está localizado na porção posterior dos ceratohiais, e esta é uma projeção ligeiramente arredondada. O pars reuniens é uma 17

estrutura em formato cônico com uma concavidade em sua porção anterior, localizada entre os dois ceratohiais. O pars reuniens une os dois ceratohiais, sendo que o pars reuniens apresenta-se ligado ao basibranquial, estrutura que sustenta as duas placas hipobranquiais. As placas hipobranquiais são bem desenvolvidas e possuem um prolongamento contínuo ao ceratobranquial I. As duas placas hipobranquiais são independentes, apresentando um pequeno espaço entre si. Os ceratobranquiais II, III e IV são ligados à borda da placa hipobranquial e entre os ceratohiais II e III existe uma pequena abertura. Em cada conexão dos ceratohiais existe uma espícula, totalizando três espículas de cada lado. A porção posterior do ceratobranquial IV apresenta uma projeção pontiaguda. O ceratobranquial I é mais robusto que os demais e possui projeções reticulares. Os ceratobranquiais II, III e IV possuem projeções curtas e mais robustas.

4.2. Desenvolvimento das cartilagens do condrocrânio

Cartilagens suprarostrais (Figura 4.2.1.)

As cartilagens suprarostrais formam um arco no estágio 29 de desenvolvimento, e não sofrem alterações até aproximadamente o estágio 40, onde esta sofre um ligeiro achatamento e passa a ter orientação horizontal e uma dobra em cada uma de suas extremidades. A partir do estágio 42 estas cartilagens não estão mais presentes.

Cartilagens infrarostrais e cartilagens de Meckel (Figura 4.2.1.)

As cartilagens de Meckel possuem formato sigmóide e orientação horizontal em relação ao eixo longitudinal no estágio 29, mantendo-se com este formato e orientação até o estágio 41. No estágio 42 estas deixam de ter formato sigmóide e passam a ter formato ligeiramente convexo e com largura média. As cartilagens infrarostrais em estágios iniciais apresentam-se em posição central na porção anterior do condrocrânio; possuem um pequeno espaço que as separa e orientação ligeiramente inclinada. A partir do estágio 40, estas passam a ter uma faixa de cartilagem que as une e no estágio 41 estas cartilagens possuem 18

orientação horizontal em relação ao eixo longitudinal do condrocrânio, deixando de ser inclinadas. No estágio 42 estas estruturas apresentam-se completamente unidas, formando um único corpo estreito e de orientação horizontal com duas pequenas dobras em cada extremidade, que praticamente ficam unidas com as cartilagens de Meckel. No estágio 43, as cartilagens infrarostrais apresentam-se completamente fundidas com as cartilagens de Meckel.

Figura 4.2.1. Cartilagens suprarostrais, infrarostrais e cartilagens de Meckel, sendo A: Estágio 29; B: Estágio 40; C: Estágio 41; D: Estágio 42; E: Estágio 43.

Região etmoidal

As cornua trabecularum mantém o mesmo padrão morfológico até o estágio 41, sofrendo apenas uma progressiva diminuição na largura das trabéculas. A partir do estágio 42 não é possível visualizar as cornua trabecularum. As laminas orbitonasalis (Figura 4.2.2.) são duas pequenas projeções triangulares que ocorrem a partir dos dois lados da porção anterior da fenestra basicraniana no estágio 29. Estas estruturas desenvolvem-se até o estágio 40, onde formam uma estrutura cartilaginosa estreita e direcionada à comissura 19

quadratocranial anterior, esta estrutura é fixa à caixa craniana. No estágio 42 as laminas orbitonasalis estão bem desenvolvidas e direcionadas às cartilagens de Meckel; no estágio 43 estas estruturas encontram-se com orientação horizontal em relação ao eixo transversal.

Septo Nasal

O septo nasal (Figura 4.2.2.) ainda não está presente até o estágio 35. No estágio 36 ocorre uma projeção triangular a partir da porção anterior da fenestra frontoparietal, o processo pré-nasal. O vértice do processo pré-nasal apresenta-se bem desenvolvido e a partir do estágio 40 estão presentes dois prolongamentos que vão da porção anterior da caixa craniana, na altura do tectum anteriorius em direção às cornua trabecularum. Estes prolongamentos apresentam-se bem corados pelo azul de alcian no estágio 41. No estágio 42 os prolongamentos presentes no estágio anterior formam uma única estrutura de cartilagem grossa, o septo nasal. A partir da porção anterior do septo nasal, formam-se dois arcos, que são as cartilagens oblíquas. Nos vértices destes arcos as pré-maxilas e os processos alares da pré-maxila começam a se formar. No estágio 43, em posição dorsal, o septo nasal está bem definido, sendo uma cartilagem estreita e perpendicular ao eixo transversal. As cartilagens oblíquas são dois arcos na extremidade anterior do condrocrânio, que se formam a partir da extremidade anterior do septo nasal. Logo abaixo do vértice destes arcos encontram-se as pré-maxilas e os processos alares da pré-maxila. Próximos ao ponto médio do arco das cartilagens estão presentes as cartilagens alares, duas estruturas pequenas com formato de meia-lua. 20

Figura 4.2.2. Desenvolvimento do septo nasal e da lamina orbitonasalis, sendo A: Estágio 29; B: Estágio 36; C: Estágio 40; D: Estágio 41; E: Estágio 42; F: Estágio 43.

Fenestra basicraniana (Figura 4.2.3.)

A fenestra basicraniana apresenta-se muito ampla no estágio 29 e portanto não estão presentes vários forames e estruturas. No estágio 30 começa a ocorrer a oclusão da fenestra.Neste estágio já é possível visualizar o forame primário da carótida bem definido e o forame craniopalatino está presente, porém esse último não tão bem definido como o primeiro. No estágio 31 a oclusão está mais desenvolvida e o forame craniopalatino agora apresenta-se melhor definido, com suas margens bem condrificadas. A oclusão total da fenestra basicraniana ocorre no estágio 36, formando o basii cranii.

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Figura 4.2.3. Desenvolvimento da fenestra basicraniana, da crista parótica e do processo ótico larval, sendo A: Estágio 30; B: Estágio 31; C: Estágio 32; D: Estágio 36; E: Estágio 38; Fcp: Forame primário da carótida; Fc: Forame craniopalatino.

Cartilagens orbitais

No estágio 29 as cartilagens orbitais, que formam a parede da caixa craniana, estão em início de desenvolvimento, apresentando-se como um arco de cartilagem que vai da inserção do processo ascendente do palatoquadrado, passa por cima do forame óptico e oculomotor e chega até a lateral do forame óptico. Acima deste arco existem algumas células condrificadas esparsas. No estágio 30 esta cartilagem apresenta-se bastante reduzida e com formato triangular e os forames ópticos e oculomotores já estão aparentes. No estágio 31 a parede apresenta-se um pouco mais desenvolvida, porém ainda não está completamente formada. No estágio 32, além dos forames ópticos e oculomotores, também é possível visualizar o forame troclear. A parede desenvolve-se progressivamente nos estágios 35 e 36, sendo que no estágio 38 a cartilagem orbital está bastante evidente. 22

No estágio 40, a cartilagem orbital apresenta-se parcialmente reabsorvida. Os forames óticos e oculomotores estão envolvidos por cartilagem, porém a condrificação da cartilagem orbital é apenas posterior, sendo que além da cartilagem entorno dos forames, a pila antótica também é visível. No estágio 41 a condrificação continua mais posteriormente, sendo visível a pila antótica e o forame oculomotor. Nos estágios seguintes não foi possível visualizar esta cartilagem.

Tectum synoticum

No estágio 29 o tectum synoticum, apresenta-se apenas como um pequeno ponto de condrificação entre as cápsulas óticas. No estágio 30 este ponto aparece mais desenvolvido, com formato retangular, porém ainda não interliga as duas cápsulas óticas. No estágio 31 este apresenta-se inteiramente condrificado, interligando as cápsulas óticas e em estágio 32 a cartilagem é mais robusta e possui uma pequena projeção pontiaguda na região central. O tectum synoticum representa porção posterior da fenestra frontoparietal.

Cápsulas óticas (Figura 4.2.3.)

A crista parótica está ausente na cápsula ótica no estágio 29. A partir do estágio 36 a crista parótica está presente e possui um processo ótico larval bastante discreto na porção anterior da margem distal da cápsula ótica. No estágio 38 o processo ótico larval apresenta-se mais proeminente. Esta estrutura está ausente nos estágios seguintes. O forame endolinfático, forame acústico, forame jugular e forame perilinfático estão presentes em todos os estágios analisados. A fenestra ovalis desenvolve-se progressivamente e no estágio 40 apresenta-se com a oclusão mais aberta em relação ao estágio 29.

Palatoquadrado (Figura 4.2.4.)

Estas estruturas mantêm-se com o mesmo padrão morfológico e com proporções semelhantes até o estágio 40, quando começam a sofrer uma regressão contínua; no estágio 41 a comissura quadratocranialis anterior se solta e o 23

processus quadratoethmoidalis está um pouco maior. No estágio 42 a porção posterior do palatoquadrado começa a ser reabsorvida, o que leva o palatoquadrado a apresentar localização cara vez mais posterior. Neste estágio, o processo articular passa a ter formato triangular e o processus quadratoethmoidalis forma uma estrutura alongada, estreita e ligeiramente convexa. No estágio 43, o palatoquadrado apresenta-se bastante reduzido e localizado na porção posterior do condrocrânio.

Figura 4.2.4. Regressão do palatoquadrado, sendo A: Estágio 40; B: Estágio 41; C: Estágio 42; D: Estágio 43.

Esqueleto hiobranquial (Figura 4.2.5.)

O esqueleto hiobranquial mantem o mesmo padrão morfológico desde o estágio 29 até o estágio 40. No estágio 40 a região do pars reuniens e a união do processo basibranquial com as placas hipobranquiais estão mais condrificados. No estágio 41 apresenta uma outra linha mais condrificada entre as placas hipobranquiais e o processus anterolateralis hyalis apresenta-se bastante reduzido. Neste estágio a porção posterior das placas hipobranquiais começam a formar uma 24

projeção pontiaguda. No estágio 42 as cartilagens ceratobranquiais começam a ser reabsorvidas. No estágio 43 os ceratobranquiais foram ainda mais reabsorvidos e as comissuras terminais começam a se romper. As placas hipobranquiais estão unidas logo abaixo do processo basibranquial e ocorre um espessamento de duas pontas anteriores, sendo que a porção latero-medial apresenta-se parcialmente digerida. As projeções pontiagudas na região posterior das placas hipobranquiais estão mais proeminentes.

Figura 4.2.5. Desenvolvimento do esqueleto hiobranquial, sendo A: Estágio 30; B: Estágio 40; C: Estágio 41; D: Estágio 42; E: Estágio 43.

Como ilustrado na figura 4.2.6, podemos notar que, ao longo do desenvolvimento, ocorrem mudanças de proporções e formatos do condrocrânio. Na porção anterior os suprarostrais e cornua trabecularum sofrem digestão, assim como a porção posterior do palatoquadrado. Nos estágios finais, a partir do estágio 42 já fica mais evidente a formação de novas estruturas, principalmente na porção anterior do condrocrânio.

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Figura 4.2.6. Sequência de desenvolvimento do condrocrânio, sendo A: Estágio 29; B: Estágio 30; C: Estágio 31; D: Estágio 32; E: Estágio 35; F: Estágio 36; G: Estágio 38; H: Estágio 40; I: Estágio 41; J: Estágio 42; K: Estágio 43.

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4.3. Desenvolvimento dos ossos do crânio

Os ossos do crânio de Rhinella schneideri serão descritos de acordo com sua ordem de surgimento e ossificação (Tabela 4.3.1).

Sequência de aparecimento dos ossos

Tabela 4.3.1. Sequência de aparecimento de ossos em Rhinella schneideri. Os colchetes indicam ossos que tem seu primeiro indício de ossificação no mesmo estágio.

Exoccipitais (Figura 4.3.1.)

São ossos de origem endocondral. O exoccipital delimita a entrada da fossa condilóidea (sensu Sokol, 1981) e é o primeiro osso a se desenvolver em Rhinella schneideri. Esta estrutura apresenta o primeiro centro de ossificação já no estágio 32, sendo este um pequeno ponto corado pelo azul de alcian na porção mediana do arco occipital. No estágio 35 este ponto apresenta mais azulado em relação ao estágio anterior e no estágio 36 apresenta-se inteiramente corado pelo azul de alcian, sem nenhum indício de alizarina. No estágio 38, os exoccipitais apresentam- se com um indício de ossificação retangular localizado na parte medial do arco, corado pela alizarina; esta ossificação cresce das margens do arco em direção ao centro. No estágio 40 é possível visualizar as margens deste retângulo bastante ossificadas, coradas pela alizarina. No estágio 41, o centro de ossificação cresce em 27

direção aos lados e o arco inicialmente azul apresenta-se inteiramente ossificado; o número de células ossificadas aumenta progressivamente até o estágio 43, onde a estrutura apresenta-se bem avermelhada, devido à alizarina.

Frontoparietais (Figura 4.3.1.)

São ossos de origem dérmica. Os primeiros centros de ossificação aparecem no estágio 36, localizados nas margens laterais da fenestra frontoparietal em posição antero-medial. Este centro de ossificação possui formato triangular com a base expandida; e neste estágio ainda é bastante discreto. No estágio 38 a base deste centro de ossificação triangular cresce principalmente contornando as margens laterais da fenestra frontoparietal; expandindo a base deste triângulo inicial. O corpo deste triângulo se apresenta um pouco mais encorpado. No estágio 40 o formato do centro de ossificação é teniforme, localizado nas margens laterais da fenestra frontoparietal e este é um pouco mais desenvolvido na porção antero-medial. O crescimento deste centro ocorre da margem em direção ao centro da fenestra frontoparietal. No estágio 41 este centro de ossificação possui mais células ossificadas e sua porção antero-medial está um pouco mais expandida nas margens laterais da fenestra frontoparietal. No estágio 42 é possível notar um ligeiro desenvolvimento destas ossificações na porção posterior da fenestra frontoparietal, além da ossificação apresentar um maior número de células coradas pela alizarina em relação ao estágio anterior. No estágio 43 a porção posterior do frontoparietal apresenta-se ainda mais desenvolvida e a ossificação com um número ainda maior de células ossificadas. Até o estágio 43 os centros de ossificação não se tocam; portanto, a ossificação não cobre a parte central da fenestra frontoparietal. 28

Figura 4.3.1. Desenvolvimento dos ossos: Exoccipital, frontoparietal e proótico, sendo A: Estágio 32; B: Estágio 35; C: Estágio 36; D: Estágio 38; E: Estágio 41; F: Estágio 42; G: Estágio 43.

Parasfenóide (Figura 4.3.2.)

O parasfenóide é um osso de origem dérmica, localizado na região ventro- medial da caixa craniana. O parasfenóide aparece pela primeira vez no estágio 38 corado pelo azul de alcian, porém neste estágio ele ainda não apresenta alas e seu processo cultriforme ainda está em início de desenvolvimento. Este osso localiza-se em posição ventro-medial, na altura da porção medial anterior das cápsulas óticas. No estágio 40 esta estrutura apresenta-se ainda como uma cartilagem bastante clara, apenas com a base e o início do processo cultriforme formados. No estágio 41 esta estrutura apresenta as alas formadas e com centro de ossificação de formato elíptico que cobre a base, as alas e o início do processo cultriforme. Este centro de ossificação cresce da base em direção ao piso das cápsulas óticas, onde ficam as alas e em direção à porção anterior, onde localiza-se o processo cultriforme. No estágio 42 são visíveis mais células ossificadas em relação ao estágio anterior. No 29

estágio 43 a base e as alas do parasfenóide apresentam maior concentração de células ossificadas em relação ao processo cultriforme.

Figura 4.3.2. Desenvolvimento dos ossos: Parasfenóide e Esquamosal, sendo A: Estágio 38; B: Estágio 41; C: Estágio 42; D: Estágio 43.

Pré-maxila

São ossos de origem dérmica. A pré-maxila e o processo alar da pré-maxila começam a se formar a partir do estágio 41. Estas estruturas ficam mais aparentes no estágio 42, com o processo alar da pré-maxila e a concavidade da pré-maxila bastante corada. No estágio 43 estas estruturas estão bastante visíveis e a concavidade da pré-maxila apresenta-se mais alongada em ambos os lados.

Nasal

É um osso de origem dérmica. A partir do estagio 41 é possível visualizar alguns centros de ossificação localizados acima da placa etmoidal, em ambos os lados do septo nasal. Estes centros são formados por várias células ossificadas, 30

seguindo orientação linear. Esta ossificação fica mais aparente nos estágios 42 e 43, formando duas linhas de ossificação bem definidas.

Proóticos (Figura 4.3.1.)

São ossos de origem endocondral. Os primeiros indícios de ossificação do proótico ocorrem no estágio 42 e são como duas pequenas manchas. Uma localizada na região antero-medial e outra na região postero-medial da cápsula ótica, próximo aos exoccipitais. Estas manchas possuem formato circular e crescem do centro e irradiando-se para todos os lados deste círculo. No estágio 43 os primeiros indícios de ossificação apresentam-se com maior número de células ossificadas, formando duas manchas de ossificação bastante coradas na posição antero-medial e postero-medial da cápsula ótica.

Maxila

É um osso de origem dérmica, localizado em posição ventral. O desenvolvimento da maxila inicia-se no estágio 42. Neste estágio ela apresenta-se como uma estrutura translúcida localizada lateralmente às pré-maxilas e formando um bastão que tem sua porção final na altura da lamina orbitonasalis. No estágio 43 esta estrutura está um pouco maior em relação ao estágio anterior, porém ainda não está corada.

Septo-maxila

É um osso de origem dérmica. A septo maxila começa a se desenvolver no estágio 42. Este osso apresenta-se como uma pequena meia-lua com as pontas voltadas anteriormente, localizada lateralmente na porção anterior do condrocrânio, na altura das cartilagens oblíquas. Este osso fica mais aparente no estágio 43.

Ângulo esplenial médio

É um osso de origem dérmica. O ângulo esplenial médio se apresenta formado a partir do estágio 42, quando pode ser observado como um acúmulo de 31

fibras ósseas em posição postero-medial da cartilagem de Meckel. No estágio 43 este osso apresenta-se ainda em início de formação.

Dentário

É um osso de origem dérmica. O dentário se apresenta desenvolvido a partir do estágio 42 como uma linha de ossificação bastante estreita em posição medial em relação ao infrarostral. Este osso ainda está em início de desenvolvimento no estágio 43, apresentando-se como uma linha ligeiramente mais espessa em relação ao estágio anterior.

Esquamosal

É um osso de origem dérmica. O osso esquamosal é visível a partir do estágio 42 em posição anterior, pois se encontra anexo ao palatoquadrado. No estágio 43 o esquamosal apresenta-se um pouco mais corado em relação ao estágio anterior e encontra-se em posição posterior, devido ao movimento do palatoquadrado.

Ângulo esplenial lateral

É um osso de origem dérmica. O ângulo esplenial lateral se apresenta em início de formação apenas no estágio 43. Este apresenta-se como uma linha de ossificação bastante delgada, em formato de linha localizada em posição latero- distal das cartilagens de Meckel.

Pterigóide

É um osso de origem dérmica. O pterigóide apresenta-se em princípio de formação no estágio 43, na face medial anterior do palatoquadrado.

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5. DISCUSSÃO

5.1. Morfologia condrocraniana

Comparando o formato do condrocrânio observado em Rhinella schneideri com espécies congenéricas como R. arenarum e R. spinulosa (CANDIOTI, 2007), observamos maior similaridade, pois estes são mais altos e mais estreitos em relação à espécies de outros gêneros da família Bufonidae, como Anaxyrus americanus, que possui o formato do condrocrânio mais largo e mais achatado (LARSON, 2004). Também dentro da família Bufonidae, temos um formato de condrocrânio mais próximo ao de R. schneideri nas espécies Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis, pois estas espécies também possuem o condrocrânio mais estreito e alto que o de outras espécies da família (LARSON et al., 2003).

Apesar de pertencer à família Dendrobatidae, que é próxima à família Bufonidae, a espécie Dentrobates tinctorius possui o condrocrânio bastante diferenciado de R. schneideri, pois este é bem mais alargado transversalmente e achatado longitudinalmente, tendo seu palatoquadrado bastante alongado (HAAS, 2005).

A espécie Rana temporaria, pertencente à família Ranidae, apesar de ser filogeneticamente distante de Bufonidae, é bastante utilizada em comparações por ser um gênero com características mais generalizadas dentro dos neobatráquios. O formato do condrocrânio de R. temporaria é mais achatado longitudinalmente e mais alargado no plano horizontal, apresentando formado ovalado (DE JONGH, 1968).

Cartilagens suprarostrais

Na maioria dos anuros as cartilagens suprarostrais são orientadas dorso- ventralmente, ou seja, perpendicularmente ao eixo longitudinal do condrocrânio (PUGENER et al., 2003). Dentro do gênero Rhinella, as cartilagens suprarostrais de R. schneideri concordam com as descritas para R. spinulosa e para de R. arenarum, que possuem formato de U e são fusionadas dorsalmente com as alae (FABREZI;VERA, 1997; CANDIOTI, 2007). Apesar de o formato ser parecido entre estas espécies, em R. arenarum as alae possuem aproximadamente a mesma 33

grossura em relação ao central corpus, sendo a proporção das alae em relação ao central corpus de R. spinulosa mais parecida com a de R. schneideri, pois a alae é aproximadamente duas vezes mais grossa que o central corpus (CANDIOTI, 2007). Dentro da mesma família, em Anaxyrus americanus estas estruturas possuem dois corpos com formato de V (LARSON, 2004). Também dentro da família Bufonidas temos que em Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis estas cartilagens são um pouco mais achatadas e também são formadas por dois corpos fundidos dorsalmente (LARSON et al., 2003). Comparando com Dendrobatidae, que é uma família mais próxima filogeneticamente de Bufonidae e com Ranidae, que é mais distante, temos que os suprarostrais de Dendrobates tinctorius e de Rana temporaria diferem bastante de R. schneideri. Em D. tinctorius as cartilagens suprarostrais são formadas por dois elementos não fusionados (HAAS, 1995) e em R. temporaria o suprarostral é uma fina placa que também não se apresenta unida, com formato curvado, convexa anteriormente e côncava posteriormente (DE JONGH, 1968).

Cartilagens infrarostrais e cartilagem de Meckel

O padrão morfológico das cartilagens infrarostrais e das cartilagens de Meckel concorda com a morfologia destas estruturas descritas para as espécies congenéricas Rhinella arenarum e R. spinulosa (CANDIOTI, 2007) e dentro da mesma família, também concorda com Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON et al., 2003). A morfologia dos infrarostrais e cartilagens de Meckel também concorda com a descrita para Dendrobates tinctorius, da família Dendrobatidae, próxima à Bufonidae (HAAS, 1995). Na espécie Rana temporaria, da família Ranidae, mais distante filogeneticamente, as cartilagens de Meckel são ligeiramente mais delgadas (DE JONGH, 1968).

Região etmoidal

As cornua trabecularum de Rhinella schneideri são estreitas, com largura uniforme, alongadas e com formato de V, assim como as descritas para Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. 34

montevidensis (LARSON et al., 2003), espécies pertencentes à família Bufonidae. Dentro do gênero Rhinella, em R. arenarum estas são longas e estreitas (FABREZI; VERA, 1997; CANDIOTI, 2007) e em R. spinulosa as cornua trabecularum também são relativamente estreitas (CANDIOTI, 2007). Dentro da família Ranidae, em Rana temporaria as cornua trabecularum são dorsalmente achatadas e ligeiramente inclinadas ventrolateralmente, com margens mediais espessas e arredondadas e margens laterais mais agudas (DE JONGH, 1968) e na família Dendrobatidae, mais próxima filogeneticamente de Bufonidae, em Dentrobates tinctorius, também são arredondadas ventralmente (HAAS, 1995). O processo lateral trabecular presente nas margens laterais das cornua trabecularum em Rhinella schneideri também é descrito para outras espécies da família Bufonidae, como em Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON et al., 2003). Dentro do gênero Rhinella, em R. arenarum e R. spinulosa este processo é suavemente delineado (CANDIOTI, 2007) e em Anaxyrus americanus, também da família Bufonidae, este é mais distinto (LARSON, 2004). Na família Dendrobatidae, próxima à Bufonidae, o processo lateral trabecular também está presente em Dendrobates tinctorius e apresenta-se como uma protuberância na margem lateral proximal das cornua trabecularum (HAAS, 1995). A lamina orbitonasalis de Rhinella schneideri aparece diferenciada da placa etmoidal, assim como em Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON et al., 2003), todas espécies da família Bufonidae. Em Rhinella arenarum e R. spinulosa estas estruturas não estão diferenciadas (CANDIOTI, 2007).

Caixa craniana

A fenestra basicraniana de Rhinella schneideri ainda é muito ampla no estágio 29 e não possui o forame primário da carótida e o forame craniopalatino formados, diferindo das espécies congenéricas R. arenarum e R. spinulosa (CANDIOTI, 2007) e das espécies da família Bufonidae Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON et al., 2003). Difere também das espécies de outras famílias, como Dendrobates tinctorius da família Dentrobatidae (HAAS, 1995) e Rana temporaria, da família Ranidae (DE 35

JONGH, 1968), pois estas descrições tratam-se de estágios mais maduros em relação ao descrito para R. schneideri. A fenestra frontoparietal de Rhinella schneideri também difere das descritas para as congenéricas R. arenarum, R. spinulosa (CANDIOTI, 2007); das espécies da mesma família Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini, M. montevidensis (LARSON et al., 2003) e da espécie Dendrobates tinctorius, da família Dendrobatidae (HAAS, 1995), pois em R. schneideri está em início de formação e nas outras espécies descritas as margens da fenestra frontoparietal, formada pela cartilagem orbital e pelos forames troclear, óptico e oculomotor, já encontra-se completamente formada. Esta diferença ocorre possivelmente porque os estágios analisados nos demais trabalhos são mais tardios em relação ao descrito para R. schneideri no presente estudo.

Palatoquadrado

As cartilagens do palatoquadrado em Rhinella schneideri são longas e grossas, assim como as descritas para Anaxyrus americanus, espécie da família Bufonidae (LARSON, 2004). Em outras espécies tanto do mesmo gênero (como R. arenarum e R. spinulosa) quanto da mesma família (Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini, M. montevidensis) estas cartilagens são ligeiramente mais estreitas, sendo aproximadamente de 10 a 15% mais finas que nas outras espécies (CANDIOTI, 2007; LARSON et al., 2003). O processo articular do palatoquadrado é largo e longo em Rhinella schneideri, porém em outras espécies do mesmo gênero, como R. spinulosa e R. arenarum ele é mais estreito (CANDIOTI, 2007) e em Anaxyrus americanus, da mesma família, o processo articular é longo e possui margem lateral lisa (LARSON, 2004). Também dentro da família Bufonidae temos que em Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis o processo articular é mais alto longitudinalmente (LARSON et al., 2003). O processo articular liga-se a caixa craniana pela comissura quadratoorbital em R. schneideri, estrutura que está presente em espécies congenéricas como R. spinulosa e R. arenarum (CANDIOTI, 2007) e dentro da família em A. americanus (LARSON, 2004), porém é ausente em M. orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON, 2003). A ausência da comissura quadratoorbital dentro da 36

família Bufonidae parece ocorrer apenas no gênero Melanophyniscus (LARSON, 2003). Na espécie Dendrobates tinctorius, da família Dendrobatidae, a comissura quadratoorbital também é ausente (HAAS, 1995). O processo muscular de R. schneideri concorda com os descritos por Fabrezi & Vera (1997) e Candioti (2007) para R. arenarum e R. spinulosa, por Larson (2004) e Larson et al. (2003) para A. americanus, Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis. O mesmo padrão descrito para a barra subocular de Rhinella schneideri também é encontrado em outras espécies dentro da família Bufonidae em R. arenarum, R. spinulosa (CANDIOTI, 2007), Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON et al., 2003). O processo ascendente de R. schneideri concorda com os descritos para outras espécies dentro da mesma família, como A. americanus, M. orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis, porém difere dos descritos para espécies congenérias como R. arenarum e R. spinulosa, pois estes são mais estreitos em relação à barra subocular, que nestes casos apresenta o triplo da grossura do processo ascendente (CANDIOTI, 2007). Assim como em R. schneideri, o processo ascendente liga-se à caixa craniana acima do forame oculomotor em Melanophyniscus orejasmirandai, M. sanmartini, M. montevidensis (LARSON et al., 2003), Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), R. arenarum, R. spinulosa (CANDIOTI, 2007), Dendrobates tinctorius (HAAS, 1995) e Rana temporaria (DE JONGH, 1968), concordando com espécies dentro da família Bufonidae e também com famílias próximas e distantes filogeneticamente, como Dendrobatidae e Ranidae, respectivamente. Segundo Sokol (1981) esta condição de inserção do processo ascendente corresponde ao padrão de inserção baixa.

Região Occipital

As cápsulas óticas em Rhinella schneideri são ovóides e sua proporção em relação ao comprimento total do condrocrânio é de aproximadamente 30%, assim como as descritas para R. arenarum (FABREZI; VERA, 1997; CANDIOTI, 2007), R. spinulosa (CANDIOTI, 2007), Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, Dendrobates tinctorius (HAAS, 1995) e Rana 37

temporaria (DE JONGH, 1968), concordando com o formato e proporção para espécies dentro da mesma família e também de outras famílias como Dendrobatidae e Ranidae. Em Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis as cápsulas óticas também possuem formato ovóide, porém a proporção da cápsula ótica em relação ao comprimento total do condrocrânio é de aproximadamente 37%, uma diferença marcante dentro da família Bufonidae (LARSON et al., 2003). O arco occipital de Rhinella schneideri concorda com os descritos para as espécies congenéricas R. arenarum (FABREZI; VERA, 1997; CANDIOTI, 2007) e R. spinulosa (CANDIOTI, 2007), e para outras espécies dentro da mesma família, como Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON, 2003). Também concorda com descrição do arco occipital da espécie Dendrobates tinctorius da família Dendrobatidae, próxima à Bufonidae (HAAS, 1995). Os forames perilinfático e jugular desembocam na fossa condilóidea, na porção medial posterior da cápsula ótica e são encontrados em Rhinella schneideri, Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis (LARSON et al., 2003); porém, em R. schneideri também estão presentes os forames endolinfático e acústico. É provável que os forames endolinfático e acústico também estejam presentes nos outros gêneros da família Bufonidae, porém muitas vezes os estudos carecem de detalhes e acabam não descrevendo estes forames. Em Dendrobates tinctorius estão presentes o forame acústico, forame endolinfático, forame perilinfático e forame jugular (HAAS, 1995). A localização da fenestra ovalis em Rhinella schneideri concorda com a de R. arenarum e R. spinulosa (CANDIOTI, 2007), Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini, M. montevidensis (LARSON et al., 2003) e Rana temporaria (DE JONGH, 1968), porém a fenestra ovalis de R. schneideri no estágio descrito apresenta-se reduzida em relação à descrita para estas outras espécies.

Esqueleto hiobranquial

O esqueleto hiobranquial de Rhinella schneideri difere consideravelmente de espécies da mesma família e de famílias próximas, como das espécies R. spinulosa 38

(CANDIOTI, 2007), Anaxyrus americanus (LARSON, 2004), Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini, M. montevidensis (LARSON et al., 2003) e Dendrobates tinctorius (HAAS, 1995), tendo mais semelhanças com a espécie congenérica R. arenarum, devido ao formato plano e triangular dos ceratohiais e à localização e formato do processus anterior hyalis, processus anterolateralis hyalis e processus anterior hyalis (CANDIOTI, 2007). A divisão dos ceratobranquiais é parecida com as de Rana temporaria (DE JONGH, 1968), que muitas vezes é utilizada como modelo de estudo em Neobatrachia.

5.2. Ontogenia das cartilagens do condrocrânio

Como não temos muitos estudos completos sobre ontogenia dentro da família Bufonidae, foram utilizadas espécies mais distantes filogeneticamente na comparação sobre ontogenia de cartilagens e ossos.

A ontogenia das cartilagens suprarostrais em Rhinella schneideri concorda com a descrita para Pseudis platensis (FABREZI; GOLDBERG, 2009), pertencente à família Hylidae. Embora a família Hylidae seja consideravelmente distante de Bufonidae, esta estrutura apresenta poucas variações de formato e é reabsorvida no estágio 41; porém, em R. schneideri a reabsorção destas cartilagens ocorre no estágio 42. Em Xenopus laevis e Pipa arrabali, espécies da família Pipidae, que é uma das primeiras famílias a divergirem na árvore filogenética de Anura, o desenvolvimento das cartilagens suprarostrais também mantém seu padrão morfológico até desaparecer nos estágios finais (TRUEB; HANKEN, 1992; ARAÚJO, 2010). Em Eupsophus calcaratus, da família Cycloramphidae, filogeneticamente distante de Bufonidae, entre os estágios 37 e 41, as alae das cartilagens suprarostrais desaparecem até que entre os estágios 43 e 45 os suprarostrais não estão mais presentes (CANDIOTI et al., 2005). Segundo Fabrezi e Goldberg (2009), em Pseudis platensis, após a eclosão dos membros anteriores ocorrem transformações no condrocrânio que são evidentes principalmente na diferenciação das cápsulas olfativas e na erosão de partes da cartilagem suprarostral, o que aparentemente também ocorre em R. schneideri.

A partir do estágio 40, as cartilagens de Meckel em Pseudis platensis estão unidas e alargadas (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em Xenopus laevisas 39

cartilagens de Meckel formam a mandíbula em estágios mais tardios de desenvolvimento, assim como ocorre em Rhinella schneideri (TRUEB; HANKEN, 1992). Em Eupsophus calcaratus, da família Cycloramphidae, também do grupo dos Neobatrachia, entre os estágios 31 e 36 as cartilagens de Meckel são retorcidas e entre os estágios 37 e 41 os infrarostrais e as cartilagens de Meckel estão em posição transversal e a angulação das cartilagens de Meckel fica um pouco menos acentuada; entre os estágios 43 e 45 estas duas estruturas estão fusionadas (CANDIOTI, 2005).

A lamina orbitonasalis forma duas pequenas estruturas triangulares com projeção lateral em estágios iniciais, que se desenvolvem até o estágio 40 em Rhinella schneideri. Dentro da família Bufonidae, em Anaxyrus americanus a lamina orbitonasalis pode começar a se desenvolver nos estágios 27 e 28 em alguns casos; porém, geralmente esta se forma no estágio 29 ou em outros estágios mais maduros (LARSON, 2004); em Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis esta estrutura começa a se desenvolver entre os estágios 34 e 35, também com formato triangular (LARSON et al., 2003).

Em Rhinella schneideri, a partir do estágio 36 o processo pré-nasal está formado e a partir do estágio 42 o septo nasal está bem definido. Em Eupsophus calcaratus, da família Cycloramphidae o septo nasal já está formado no estágio 39 e no estágio 44 este forma o tectum nasi (CANDIOTI, 2005). No hilídeo Pseudis platensis, as cartilagens da cápsula nasal começam a se diferenciar a partir do estágio 41, após a eclosão dos membros anteriores (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Dentro da família Bufonidae, em Anaxyrus americanus, o septo nasal desenvolve-se cedo, por volta do estágio 28 (LARSON, 2004), e em Melanophryniscus orejasmirandai o septo nasal está desenvolvido no estágio 34 e o tectum nasi no estágio 38. Já em M. sanmartini o septo nasal e o tectum nasi estão desenvolvidos no estágio 38 e em M. montevidensis estas duas estruturas estão formadas no estágio 37 (LARSON et al., 2003).

Em Rhinella schneideri os forames craniopalatinos e os forames primários da carótida começam a se formar no estágio 30. Em Rhinella arenarum, até o estágio 36, ainda não é possível visualizar os forames craniopalatinos e os forames primários da carótida, pois a fenestra apresenta uma fina condrificação em sua 40

abertura e em R. spinulosa, até o estágio 36, o forame primário da carótida é visível, porém não é possível identificar o forame craniopalatino (Candioti, 2007). Ainda dentro da família Bufonidae, em Anaxyrus americanus a oclusão da fenestra começa no estágio 28, com uma ligeira condrificação nas margens do forame primário da carótida; no estágio 31 o forame primário da carótida e o forame craniopalatino já estão bem definidos e a oclusão da fenestra completa-se no estágio 36 (Larson, 2004). Também em Bufonidae, em Melanophryniscus sanmartini a oclusão da fenestra inicia-se no estágio 37, no estágio 38 em M. montevidensis e no estágio 36 em M. orejasmirandai (LARSON et al., 2003). Em Eupsophus calcaratus, da família Cycloramphidae, os forames da fenestra basicraniana ainda não estão bem definidos entre estágios 31 e 36; entre os estágios 37 e 41 o forame craniopalatino já está bem definido, porém não é possível visualizar o forame primário da carótida (CANDIOTI, 2005).

O tectum synoticum em Rhinella schneideri apresenta-se formado em estágios anteriores em relação a outras espécies da mesma família, sendo apenas mais precoce em Anaxyrus americanus, pertencente à mesma família, onde esta estrutura apresenta-se desenvolvida entre os estágios 27 e 28 (LARSON, 2004). Em esta estrutura aparece completamente formada entre os estágios 34 e 36 (CANDIOTI, 2007) e nos bufonídeos Melanophryniscus orejasmirandai, M. sanmartini e M. montevidensis esta estrutura está presente entre os estágios 34 e 38 (LARSON et al., 2003). Em Eupsophus calcaratus, da família Cycloramphidae o tectum synoticum apresenta-se condrificado mais tardiamente, entre estágios 37 e 41 (CANDIOTI, 2005).

A regressão das cartilagens do palatoquadrado em Rhinella schneideri inicia- se a partir do estágio 40, devido às mudanças causadas pelo início da metamorfose. No pipídeo Xenopus laevis a redução das cartilagens do palatoquadrado também se inicia a partir do início da metamorfose, em estágios finais de desenvolvimento (TRUEB; HANKEN, 1992). A porção posterior do palatoquadrado vai sendo reabsorvida e a porção anterior desloca-se para uma posição cada vez mais posterior, localizando-se por fim próxima às cápsulas óticas; esta transformação envolve a reabsorção do processo muscular e da comissura quadratocranialis anterior, e seus restos formam uma robusta barra subocular (TRUEB; HANKEN, 41

1992). Em Eupsophus calcaratus, da família Cycloramphidae, a porção posterior da barra subocular encontra-se degenerada entre os estágios 43 e 45 e as outras estruturas do palatoquadrado não são reconhecíveis nestes estágios (CANDIOTI, 2005). No hilídeo Pseudis platensis o palatoquadrado sofre digestão na altura do processo muscular após o estágio 40 (FABREZI; GOLDBERG, 2009).

Segundo Cannatella (1999), durante a metamorfose, a barra subocular, o processo ascendente, o processo hioquadrado e o processo muscular são reabsorvidos, como se o palatoquadrado fosse rotacionado posteriormente; a comissura quadratocranialis é parcialmente destruída, mas a parte restante, o processus quadratoetmoidalis e o processus maxillaris posterior da lamina orbitonasalis formam o processo pterigóide nos adultos. Este processo descrito para as espécies no parágrafo anterior concorda com as transformações que ocorrem com o palatoquadrado de R. schneideri, pois este também sofre reabsorção da sua porção anterior, até assumir uma posição mais posterior no condrocrânio, próximo às cápsulas óticas.

Assim como em Rhinella schneideri, as primeiras mudanças no esqueleto hiobranquial de Eupsophus calcaratus ocorrem entre os estágios 37 e 41, quando as comissuras terminais começam a desaparecer, e entre os estágios 43 e 45 as placas hipobranquiais possuem um prolongamento posterior e os ceratohiais apresentam uma ligeira regressão (CANDIOTI, 2005). Em Pseudis platensis os ceratobranquiais também começam a regredir a partir do estágio 41 e as placas hipobranquiais começam a apresentar alguns prolongamentos (FABREZI; GOLDBERG, 2009).

5.3. Desenvolvimento dos ossos do crânio

Exoccipitais

Assim como em Rhinella schneideri, os exoccipitais são os primeiros ossos a se desenvolverem em Anaxyrus boreas (GAUDIN, 1978). Em Pipa arrabali os exoccipitais são o sétimo osso a se desenvolver (ARAÚJO, 2010). Em Pseudis platensis o exoccipital aparece no estágio 40 e neste mesmo estágio aparecem o parasfenóide, frontoparietal e proóticos (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em 42

Xenopus laevis os exoccipitais começam a se ossificar no segundo evento de ossificação, junto com o parasfenóide e os proóticos (TRUEB; HANKEN, 1992). Em Bombina orientalis o primeiro evento de ossificação ocorre no estágio 31 e envolve os exoccipitais, o parasfenóide e o frontoparietal (HANKEN; HALL, 1988). O mesmo ocorre em Pseudophilautus silus (KERNEY et al., 2007).

Assim como em Rhinella schneideri, Anaxyrus boreas apresentam inicialmente apenas um centro de ossificação em cada exoccipital (GAUDIN, 1968). Em Bombina orientalis, da família Bombinatoridae, os exoccipitais inicialmente aparecem como duas finas condrificações lineares nos arcos occipitais, uma de cada lado da notocorda (HANKEN; HALL, 1988). Em Pseudophilautus silus as ossificações iniciais dos exoccipitais aparecem como duas lascas de ossificação, na altura da porção posteromedial das cápsulas óticas (KERNEY et al., 2007). Dentro da família Pipidae, em Xenopus laevis os exoccipitais começam a se ossificar em associação com os proóticos, na parede medial da cápsula ótica e em Pipa arrabali apresenta-se como um centro de ossificação trirradiado na altura da fossa condilóidea (ARAÚJO, 2010).

Frontoparietal

Os frontoparietais são formados no segundo evento de ossificação em Rhinella schneideri e em Anaxyrus boreas, pertencentes à mesma família; porém, em A. boreas também se desenvolvem o parasfenóide e os proóticos no mesmo evento de ossificação (GAUDIN, 1978). Dentro da família Pipidae, em Pipa arrabali o frontoparietal também é o segundo osso a aparecer no desenvolvimento do condrocrânio (ARAÚJO, 2010); porém, em Xenopus laevis, este aparece no primeiro evento de ossificação (TRUEB; HANKEN, 1992). Em Pseudis platensis, Bombina orientalis e Pseudophilautus silus os frontoparietais aparecem no primeiro evento de ossificação (FABREZI; GOLDBERG, 2009; HANKEN; HALL, 1988; KERNEY et al., 2007).

Dentro da família Bufonidae, o padrão de ossificação do frontoparietal em Anaxyrus boreas é formado a partir de um único centro de ossificação, o que difere do padrão de Rhinella schneideri (GAUDIN, 1978). Em Pipa arrabali ocorrem três centros de ossificação, sendo dois antero-mediais (posicionados lado a lado) e um 43

postero-medial (ARAÚJO, 2010). Em Pseudis platensis, Xenopus laevis e Pseudophilautus silus ocorrem dois centros de ossificação teniformes, um em cada margem da fenestra frontoparietal (FABREZI; GOLDBERG, 2009; TRUEB; HANKEN, 1992. KERNEY et al., 2007). Bombina orientalis apresenta um padrão de ossificação diferenciado em relação às outras espécies comparadas, onde ocorre apenas um centro de ossificação em um dos lados da fenestra frontoparietal (HANKEN; HALL, 1988).

Segundo Rocek (1988), a extensão da fusão dos centros de ossificação constituintes do frontoparietal é diferente em várias linhagens, sendo que em anuros primitivos e em alguns modernos como os hilídeos, ranídeos e bufonídeos estes centros de ossificação mantêm sua condição de separação. Em Rhinella schneideri o padrão de ossificação inicial é separado, porém não foram feitas análises em adultos e, portanto não podemos inferir o padrão de fusão dos centros de ossificação.

Parasfenóide

Em Anaxyrus boreas, ao contrário de Rhinella scnheideri, o parasfenóide aparece em estágios mais tardios e no mesmo evento de ossificação dos frontoparietais e proóticos (GAUDIN, 1978). Em Pipa arrabali este é o primeiro osso a aparecer, com um centro de ossificação teniforme e localizado na porção ventro- central anterior do piso condrocraniano, sendo o processo cultriforme o primeiro a ossificar (ARAÚJO, 2010). Em R. schneideri primeiro são ossificados o corpo e as alas do parasfenóide, e por último o processo cultriforme. Em Pseudis platensis o parasfenóide aparece no primeiro evento de ossificação, junto com os frontoparietais, e o processo cultriforme é bífido e é a primeira parte do parasfenóide a se ossificar (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em Xenopus laevis e Pseudophilautus silus o parasfenóide aparece no segundo evento de ossificação também com o processo cultriforme ossificado, que nestas espécies é uma estrutura única (TRUEB; HANKEN, 1992; KERNEY et al., 2007).

44

Pré-maxila

As pré-maxilas e o processo alar da pré-maxila começam a se formar no estágio 41 em Rhinella schneideri e aparecem inteiramente corados de azul. Já em Anaxyrus boreas esta começa a se formar no estágio 42 (GAUDIN, 1978). Em Pseudis platensis as pré-maxilas e os processos alares da pré-maxila aparecem a partir do estágio 41 (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em Pseudophilautus silus as pré-maxilas aparecem no segundo evento de ossificação (KERNEY et al., 2007).

Nasal

Em Rhinella schneideri o nasal apresenta-se ossificado no mesmo evento das pré-maxilas. Em Anaxyrus boreas esta estrutura aparece ossificada no terceiro evento de ossificação, por volta do estágio 43 (GAUDIN, 1978). Em Pseudis platensis o nasal apresenta-se ossificado após o estágio 41 (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em Pseudophilautus silus o nasal é um dos últimos ossos a aparecer (KERNEY et al., 2007).

Proóticos

Os proóticos em Anaxyrus americanus formam-se mais cedo em relação à Rhinella schneideri, pois em A. americanus estes se formam no segundo evento de ossificação (GAUDIN, 1978) e em R. schneideri apenas no quinto. Em Pseudis platensis este também aparece mais cedo, logo no primeiro evento de ossificação (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em Pseudophilautus silus os proóticos também aparecem em estágios mais tardios (KERNEY et al., 2007).

Maxila, septo-maxila, ângulo esplenial médio, dentário, ângulo esplenial lateral e esquamosal

Em Rhinella schneideri estas estruturas aparecem no mesmo evento de ossificação e a maioria está bem no início de formação. Em Anaxyrus boreas, a septo maxila aparece antes dos outros ossos; porém, a maxila, o dentário, o ângulo esplenial médio e o ângulo esplenial lateral fazem parte do mesmo evento de 45

ossificação (GAUDIN, 1978). Em Pseudis platensis as pré-maxilas, maxilas, septo- maxilas e esquamosal aparecem no mesmo evento de ossificação, logo após a metamorfose (FABREZI; GOLDBERG, 2009). Em Pseudophilautus silus as maxilas, o ângulo esplenial médio, o ângulo esplenial lateral, o dentário e o esquamosal aparecem um estágio antes das septo-maxilas (KERNEY et al., 2007).

Pterigóide

O pterigóide aparece bem no final do desenvolvimento do condrocrânio em Pseudis platensis (FABREZI; GOLDBERG, 2009) e também em Anaxyrus boreas, pois nesta espécie o pterigóide desenvolve-se a partir do estágio 42 (GAUDIN, 1978), um estágio antes do surgimento deste osso em Rhinella schneideri. Em Pseudophilautus silus o pterigóide aparece ossificado apenas no último estágio de desenvolvimento (KERNEY et al., 2007).

5. 4. Sequência de aparecimento dos ossos

A sequência de ossificação em Rhinella schneideri difere da maioria das espécies discutidas neste trabalho (Tabela 5.4.1.); porém, podemos observar que na maioria das espécies, os primeiros ossos a aparecer são geralmente o parasfenóide, o frontoparietal e o exoccipital, o que concorda com o estudo de Hanken e Hall (1988), que afirmam que geralmente as primeiras ossificações do condrocrânio envolvem estes três ossos. Este mesmo padrão pode ser observado em R. schneideri, ressaltando a importância destes ossos que fecham a caixa craniana, conferindo maior proteção à região encefálica. Este grupo de ossos, mesmo quando não aparecem nos primeiros eventos de ossificação, geralmente aparecem juntos ou em estágios próximos, como, por exemplo, em Eupsophus calcaratus, onde estes ossos são os últimos a aparecerem, porém, aparecem juntos no final do desenvolvimento larval da espécie (CANDIOTI, 2005). Pipa arrabali é uma exceção neste caso, pois o parasfenóide e o exoccipital aparecem no primeiro evento de ossificação, porém, os exoccipitais aparecem apenas no sétimo (ARAÚJO, 2010).

46

Podemos considerar, a partir destas análises, que ocorre heterocronia em relação ao aparecimento destes ossos em Rhinella schneideri, principalmente em relação às espécies Pipa arrabali e Eupsophus calcaratus.

Os proóticos aparecem em algumas espécies eventualmente junto, ou em eventos de ossificação próximos, ao surgimento do parasfenóide, exoccipital e frontoparietal; porém, esta característica também é variável entre as espécies. Em Rhinella schneideri, os proóticos aparecem no quinto evento de ossificação, em Pipa arrabali no oitavo evento de ossificação (ARAÚJO, 2010) e em Pseudophilautus silus no quinto evento, sendo neste caso o penúltimo osso a se formar (KERNEY et al., 2007). Em Anaxyrus boreas e Xenopus laevis os proóticos aparecem logo depois do parasfenóide, exoccipital e frontoparietal (GAUDIN, 1978; TRUEB; HANKEN, 1992) ou entre o frontoparietal e exoccipital, no caso de Pseudis platensis (FABREZI; GOLDBERG, 2009).

O grupo de ossos formado pela pré-maxila, septo-maxila, maxila, ângulo esplenial médio, ângulo esplenial lateral, dentário e nasal geralmente desenvolvem- se no mesmo evento de ossificação ou em eventos próximos, como é o caso de todas as espécies comparadas na tabela 5.4.1. O esquamosal geralmente também aparece junto destas estruturas ou em eventos de ossificação próximos, com exceção das espécies Pipa arrabali, e Xenopus laevis, da família Pipidae, onde o esquamosal é o último osso a aparecer (ARAÚJO, 2010; TRUEB; HANKEN, 1992). Portanto, a partir destas comparações é possível que ocorra heterocronia em Rhinella schneideri em relação às espécies da família Pipidae, neste estudo comparadas, em relação ao aparecimento do osso esquamosal.

Através da tabela 5.4.1. também é possível visualizar que nas espécies Rhinella schneideri, Anaxyrus boreas e Pseudophilautus silus, o pterigóide é o último osso a se formar (GAUDIN, 1978; KERNEY, et al., 2007), o que difere das espécies Pipa arrabali e Xenopus laevis da família Pipidae, onde o pterigóide forma-se antes do esquamosal, sendo o penúltimo osso a se formar (ARAÚJO, 2010; TRUEB; HANKEN, 1992). Esta diferença também pode ser considerada uma heterocronia de R. schneideri em relação à família Pipidae, que é uma das famílias que primeiro se diferenciou na árvore filogenética de Anura (FROST et al., 2006). 47

Tabela 5.4.1. Comparação das sequências de aparecimento dos ossos cranianos em algumas espécies de anuros. Os colchetes indicam quando os ossos apareceram no mesmo evento de ossificação.

5.5. Erros de técnica

Alguns ossos dérmicos aparecem em estágios anteriores aos descritos neste trabalho; porém, geralmente corados de azul, o que indica que podem ocorrer artefatos de técnica devidos provavelmente à concentração do formol usado na fixação dos indivíduos, o que pode ter danificado as células calcificadas.

48

5.6. Considerações Finais

- A morfologia do condrocrânio de Rhinella schneideri concorda com as morfologias de outras espécies dentro do mesmo gênero e da mesma família, comparadas neste trabalho.

- Existem diferenças na ontogenia e no estágio de desenvolvimento de algumas estruturas.

- O esqueleto hiobranquial coincide com o descrito para Rhinella arenarum; porém, não concorda com as demais espécies dentro da família Bufonidae, comparadas neste trabalho, tendo apenas alguma semelhança com Rana temporaria na divisão dos ceratobranquiais.

- A eclosão do membro anterior e o início da metamorfose marcam as principais mudanças e a reorganização de estruturas do condrocrânio.

- Os primeiros ossos craniais a aparecerem são: o exoccipital, o frontoparietal e o parasfenóide.

- Existem heterocronias entre a espécie analisada neste trabalho e as espécies comparadas, principalmente em relação à ordem de ossificação dos ossos do crânio.

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54

7. Anexo

7.1. Anexo I – Medidas dos girinos de Rhinella schneideri em milímetros (mm) e peso em gramas (g). Estágio Indivíduo BL IND IOD MTH TAL TL TMH TMW Peso

29 1 7,47 0,73 1,22 2,00 7,80 10,30 1,10 2,40 0,08g

29 2 7,30 1,02 1,65 3,12 8,74 15,77 0,82 0,48 0,08g

30 1 7,74 0,78 1,46 2,65 9,03 16,77 0,90 1,02 0,08g

30 2 7,98 1,13 1,36 3,63 8,74 16,29 0,83 1,63 0,14g

30 3 8,71 0,76 1,33 2,85 10,32 19,03 1,14 0,66 0,09g

31 1 9,21 0,66 1,33 3,70 9,69 18,9 1,42 0,66 0,19g

31 2 9,31 0,76 1,61 3,61 9,78 18,15 1,71 1,40 0,17g

31 3 8,74 0,76 1,14 3,42 9,50 18,24 1,14 0,66 0,14g

31 4 9,21 0,66 1,33 3,70 9,69 18,9 1,42 0,66 0,16g

32 1 9,35 1,14 1,90 2,75 10,48 19,8 1,61 1,14 0,19g

32 2 9,5 0,85 1,80 4,18 9,88 19,38 1,61 0,57 0,17g

32 3 10,6 1,04 1,71 3,70 11,03 21,7 1,33 0,85 0,23g

32 4 8,74 0,95 1,71 3,23 10,26 19,0 1,23 0,76 0,17g

35 1 8,26 0,95 1,42 3,8 9,31 17,57 1,33 0,76 0,21g

35 2 10,78 1,04 2,18 3,89 12,8 23,6 1,71 0,85 0,25g

35 3 12,13 1,04 2,37 3,51 12,42 24,1 1,14 1,71 0,32g

35 4 10,8 1,04 1,99 5,22 12,25 23,06 1,71 0,95 0,23g

36 1 8,21 1,14 2,28 3,51 13,8 24,5 1,80 1,14 0,30g

36 2 12,58 1,04 1,61 6,29 13,38 26,16 1,93 1,23 0,35g

36 3 12,7 1,23 2,28 3,99 15,8 28,5 1,80 1,33 0,34g

36 4 12,25 0,85 2,28 5,48 15,48 27,73 1,77 1,23 0,36g

36 5 10,8 0,85 1,71 4,51 10,96 21,06 1,77 1,61 0,20g

38 1 10,16 0,95 1,80 4,19 11,45 21,61 1,29 1,14 0,20g

38 2 11,12 1,14 2,18 5,13 13,2 24,34 1,90 1,33 0,39g

40 1 12,58 0,85 1,80 4,67 14,03 26,61 1,93 1,71 0,25g

41 1 11,12 0,8 1,45 3,06 15,0 26,12 1,77 1,61 0,22g

41 2 12,74 0,76 1,71 3,42 15,8 26,61 1,99 1,71 0,25g 55

42 1 10,64 0,85 1,71 4,19 14,51 25,15 1,93 1,52 0,20g

42 2 10,14 1,14 1,04 3,23 13,71 23,85 1,52 1,90 0,18g

43 1 10,18 0,95 1,61 3,04 9,03 19,8 1,71 1,33 0,18g