A Família Myrtaceae Na Ilha Do Mel, Paranaguá, Estado Do Paraná, Brasil
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Hoehnea 42(3): 497-519, 7 fig., 2015 http://dx.doi.org/10.1590/2236-8906-68/2014 A família Myrtaceae na Ilha do Mel, Paranaguá, Estado do Paraná, Brasil Duane Fernandes Lima1,3, Mayara Krasinski Caddah2 e Renato Goldenberg1 Recebido: 17.12.2014; aceito: 22.04.2015 ABSTRACT - (The family Myrtaceae at Ilha do Mel, Paranaguá, Paraná State, Brazil). Myrtaceae is one of the most important plant families in the majority of Brazilian vegetation types. In this paper we present the taxonomic treatment for the Myrtaceae species of Ilha do Mel, a natural reserve at the coast of Paraná State, covered with Atlantic Rainforest, restinga wood and mangrov pioneer vegetation. There are ten genera and 33 species of Myrtaceae in the area. Myrcia (13 spp.) is the richest genera, followed by Eugenia (eigh spp.), Calyptranthes (three spp.), Psidium, Syzygium (two spp. each), Blepharocalyx, Campomanesia, Marlierea, Neomitranthes and Siphoneugena (one sp. each). We present an identification key and taxonomic descriptions with comments for these species. Keywords: Atlantic Rainforest, Myrteae, restinga wood, taxonomy RESUMO - (A família Myrtaceae na Ilha do Mel, Paranaguá, Estado do Paraná, Brasil). Myrtaceae está entre as famílias mais importantes na maioria das formações vegetacionais do Brasil. O presente estudo teve por objetivo o tratamento taxonômico das espécies de Myrtaceae ocorrentes na Ilha do Mel, unidade de conservação do litoral do Estado do Paraná constituída por Floresta Ombrófila Densa, restinga e manguezal. Dez gêneros e 33 espécies estão presentes na Ilha do Mel, sendo Myrcia (13 spp.) o mais rico, seguido de Eugenia (oito spp.), Calyptranthes (três spp.), Psidium, Syzygium (duas spp. cada), e Blepharocalyx, Campomanesia, Marlierea, Neomitranthes e Siphoneugena (uma sp. cada). São apresentadas chave de identificação, juntamente com descrições taxonômicas e comentários das espécies ocorrentes na Ilha do Mel. Palavras-chave: Mata Atlântica, Myrteae, restinga, taxonomia Introdução 2007) também apontam Myrtaceae como a família de plantas lenhosas mais significativa em número de Myrtaceae é uma família pantropical (Wilson espécies. Em levantamento florístico realizado na Ilha et al. 2005) com aproximadamente 132 gêneros e do Mel, Menezes-Silva (1998) encontrou 31 espécies 5760 espécies (Govaerts et al. 2015). No Brasil, é de Myrtaceae e cita a família como sendo destaque constituída por 23 gêneros e 990 espécies (Sobral para as formações arbustivas e arbóreo-arbustivas, já et al. 2015). Myrteae é a tribo mais rica da família que representam até 40% do total de espécies lenhosas (Lucas et al. 2005), encontrada em regiões tropicais e amostradas. No Paraná estão catalogadas cerca de 230 subtropicais, e atualmente está classificada em grupos espécies de Myrtaceae (Sobral et al. 2015). Estudos informais ao redor dos gêneros Plinia L., Myrcia DC., abrangendo a família no Estado ainda são escassos, Myrceugenia O. Berg, Myrteola O. Berg, Pimenta sendo três em determinadas regiões geográficas Lindl. e Eugenia L. (Lucas et al. 2007). (Soares-Silva 2000, Romagnolo & Souza 2004, 2006), No Brasil, Myrtaceae está entre as famílias mais e outros dois tratando de gêneros específicos (Lima importantes na maioria das formações vegetacionais et al. 2011, Sobral 2011). A tribo Myrteae conta com (Oliveira-Filho & Fontes 2000), sendo frequentemente um guia ilustrado para a Ilha do Cardoso (Staggemeier a família dominante dentre as espécies arbustivas- et al. 2011), região próxima ao litoral paranaense e arbóreas na Floresta Ombrófila Densa (Reitz et al. com formações vegetacionais semelhantes. 1978, Mori et al. 1983, Assis et al. 2004). Estudos O litoral paranaense, com extensão de 107 km, florísticos realizados no Estadodo Paraná (Silva 1994, pode ser dividido em zona montanhosa litorânea e Dias et al. 1998, Blum 2006, Reginato & Goldenberg planície litorânea, a última com largura variando 1. Universidade Federal do Paraná, Departamento de Botânica, Caixa Postal 19031, 81531-970 Curitiba, PR, Brasil 2. Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Botânica, Caixa Postal 476, 88040-900 Florianópolis, SC, Brasil 3. Autor para correspondência: [email protected] 498 Hoehnea 42(3): 497-519, 2015 entre 10 e 50 km e altitude variando de zero a 20 m Paranaguá (figura 1). Está separada do continente acima do nível do mar (Maack 2012). A planície é por aproximadamente 2800 m, e apresenta perímetro profundamente recortada por baías, resultando na de 35 km e área total de aproximadamente 29 km2. formação de ilhas, como a Ilha do Mel (Bigarella Quase toda a ilha encontra-se ao nível do mar, sendo 2001). A vegetação constitui-se de Floresta Ombrófila o Morro Bento Alves, com 148 m, a região de maior Densa (FOD) e formações pioneiras como restingas elevação (Marques & Britez 2005). O clima da região, e manguezais, todos fazendo parte do bioma Mata segundo a classificação de Köppen, está incluído na Atlântica (Veloso et al. 1991). zona climática Af, numa região de transição entre a A Mata Atlântica é considerada o ecossistema região tropical e subtropical. A temperatura média mais ameaçado do Brasil, e é o litoral do Paraná anual é de 21,1 °C, sendo 17 °C a temperatura do mês que ainda preserva a maior área contínua desse mais frio, e 24,9 °C a temperatura do mês mais quente ecossistema (Marques & Britez 2005). Desta forma, (Maack 2012). A umidade relativa do ar é maior que estudos na região são de grande relevância para sua 80% (Marques & Britez 2005). conservação. Este trabalho tem por objetivo ampliar o A cobertura vegetal da Ilha do Mel é dividida, conhecimento sobre a flora de Myrtaceae ocorrente no segundo o sistema de classificação de Veloso et al. Estado do Paraná, através de levantamento florístico (1991), em áreas de Formações Pioneiras, com e tratamento taxonômico das espécies que ocorrem influência marinha (restingas), fluvial (brejos e na Ilha do Mel, incluindo chave de identificação, caxetais) ou fluvio-marinha (manguezais); Floresta descrições, imagens de exsicatas, e dados sobre a Ombrófila Densa de Terras Baixas e Submontana; e distribuição geográfica, floração e frutificação. Vegetação Secundária com influência antrópica, em diferentes estágios de regeneração. Além de áreas de Material e métodos preservação permanente (dunas, restingas e praias), possui também uma Estação Ecológica de 22,4 km2, O presente trabalho foi realizado através de 2 análise de exsicatas depositadas nos herbários FUEL, criada em 1982, e um Parque Estadual com 3,4 km , MBM, UEC e UPCB (acrônimos segundo Thiers criado em 2002, totalizando mais de 93% da sua área 2015). Coletas provenientes da Ilha do Mel foram sob proteção legal (Marques & Britez 2005). relacionadas como “material examinado”. Quando necessário, para complementação das descrições, Resultados e Discussão exsicatas de outros locais foram analisadas e listadas como “material adicional”. Dentre todo o Myrtaceae Juss., Gen. Pl. 322. 1789. material examinado, a exsicata em melhor estado de Árvores ou arbustos. Plantas glabras ou com conservação foi fotografada para representar cada tricomas simples ou dibraquiados. Folhas simples, uma das espécies. Saídas a campo foram realizadas opostas, com glândulas translúcidas evidentes, em 2010, no período do ano de maior floração e frutificação das espécies, junho a dezembro, percorrendo trilhas já existentes na Ilha do Mel. O material coletado foi depositado no herbário UPCB com duplicatas no herbário MBM. A nomenclatura adotada segue Radford et al. (1986) na descrição dos caracteres morfológicos vegetativos e reprodutivos, e Landrum & Kawasaki (1997) para descrição das inflorescências. Dados de floração, frutificação e distribuição das espécies foram descritos com base nas coleções analisadas e na literatura. Táxons infra-específicos não foram considerados neste trabalho por não mostrarem diferenças morfológicas consistentes. Para listagem de sinonímias, ver Sobral et al. (2015). Figura 1. Mapa da Ilha do Mel, PR, Brasil [adaptado de Giannini et al. (2004)]. Área de estudo - A Ilha do Mel pertence ao município Figure 1. Map of Ilha do Mel, Paraná State, Brazil [adapted from de Paranaguá e localiza-se na entrada da baía de Giannini et al. (2004)]. Lima et al.: Myrtaceae na Ilha do Mel, Paraná 499 normalmente com nervura marginal. Inflorescências Browne ex Gaertn. (duas spp.), Blepharocalyx O. panículas, racemos, dicásios, fascículos, glomérulos Berg (uma sp.), Campomanesia Ruiz & Pav. (uma ou reduzidas a uma única flor; axilares ou terminais. sp.), Marlierea Cambess. (uma sp.), Neomitranthes Flores bissexuais, actinomorfas, diclamídeas; cálice D. Legrand (uma sp.) e Siphoneugena O. Berg (uma 4-5-mero, ou com lobos completamente fusionados sp.). As espécies ocorrem em vegetação de Formações no botão floral, abrindo-se em caliptra ou em Pioneiras e Floresta Ombrófila Densa, com maior lobos irregulares; corola 4-5-mera, eventualmente representatividade nas florestas. Cinco espécies pétalas reduzidas ou abortadas; estames numerosos, também foram encontradas nas proximidades das anteras com deiscência longitudinal; ovário ínfero, vilas da Ilha do Mel, três delas sem registro em outros 2-7-locular, lóculos 1-multiovulados, placentação locais da ilha. Psidium guajava L. (goiaba), Syzygium axilar. Bagas 1-multisseminadas. cumini (L.) Skeels (jambolão) e S. jambos (L.) Alston A família está representada na Ilha do Mel por (jambo) são espécies introduzidas no Brasil. Segundo 33 espécies, distribuídas em dez gêneros: Myrcia a Lista das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas