Tancredo Neves: A agonia e a morte do presidente pelas ondas da rádio Itatiaia

Nair Prata∗

Índice levantar a cobertura feita pela Rádio Itatiaia da doença e morte do presidente. 1 Tancredo Neves: Mito e mineiridade 2 2 Tancredo Neves e as ondas da rádio Itatiaia 6 Introdução 3 A rádio Itatiaia na cobertura da doença Como dizia Guimarães Rosa contar é muito e morte de Tancredo Neves 8 dificultoso, não pelos anos que já se passa- 4 Considerações finais 18 ram, mas pela astúcia que têm certas coisas 5 Referências bibliográficas 18 passadas. Assim, a saga de Tancredo Ne- ves tem a criatividade e o sabor dos velhos Resumo casos mineiros, apesar de ter acontecido de verdade, e não somente na imaginação. Pois A morte do presidente Tancredo Neves está parece imaginação a vida de um político que completando 20 anos. A população brasi- fundou uma nova era no país, chamada Nova leira esperava uma grande festa pela posse do República, foi eleito o primeiro presidente fundador da Nova República e primeiro pre- civil do Brasil depois de longos anos de di- sidente civil depois da ditadura militar, mas tadura militar e, na véspera da tão sonhada foi surpreendida pela sua doença e morte. posse, frustrou milhões de pessoas ao ser in- Em , terra natal de Tancredo, a ternado às pressas com fortes dores abdomi- Rádio Itatiaia cumpriu seu papel de levar to- nais. A agonia de Tancredo durou 38 dias, das as informações ao ouvinte, desde as pri- acompanhada de perto pela população e por meiras notícias da internação, em Brasília, todos os veículos de comunicação do país. até o sepultamento em São João Del-Rei. O Em Minas Gerais, terra natal do presi- objetivo deste artigo é sistematizar argumen- dente, a Rádio Itatiaia se preparou para fa- tos acerca da história de Tancredo Neves e zer uma grande cobertura da festa da posse. ∗Jornalista, Mestre em Comunicação (Universi- Mas ao invés disso, seus repórteres tiveram dade São Marcos-SP), Doutoranda em Lingüística que se desdobrar para levar ao ouvinte ávido (UFMG, coordenadora do curso de especialização as notícias diárias de cirurgias sucessivas – “Criação e Produção em Mídia Eletrônica: Rádio e TV” e professora do curso de Jornalismo do Uni-BH sete ao todo – e depois o drama da morte, (Centro Universitário de ) o velório em Brasília e Belo Horizonte e o 2 Nair Prata enterro em São João Del-Rei. Pelas ondas I. Quem foi Tancredo Neves da Rádio Itatiaia, o público mineiro acompa- Tancredo de Almeida Neves nasceu no dia nhou todos os lances desse episódio, parti- quatro de março de 1910 em São João Del- cipando da programação, rezando junto com Rei, Minas Gerais. Era formado em Direito a emissora e sugerindo inclusive alternativas pela Universidade de Minas Gerais e iniciou médicas para o drama. sua carreira política em 1933, quando filiou- Alain Besançon apud Arruda (1990) diz se ao Partido Progressista. Tancredo ocupou que a história é feita tanto de razão quanto vários cargos públicos. Começou como ve- de paixão (p.258). Nos fatos envolvendo a reador e foi deputado estadual, deputado fe- doença e morte de Tancredo Neves, a razão deral, ministro da Justiça (no segundo go- se mistura à paixão de forma inseparável, di- verno de Getúlio Vargas), primeiro-ministro ficultando o trabalho do pesquisador na ten- durante o governo parlamentarista e senador. tativa de olhar cientificamente temas tão im- Com a decretação do Estado Novo getu- bricados quanto sonho, mito, mineiridade, lista, em 1937, interrompeu sua carreira, vol- doença, povo, política e morte. tando à política em 1945, com a queda do Neste texto, o objetivo é levantar histori- Estado Novo. Foi eleito deputado federal em camente a trajetória de Tancredo, passando 1950 e em 1953, com o apoio de Juscelino pela questão da mineiridade e o mito. A par- Kubitschek, foi ministro da Justiça. Exerceu tir daí, chega-se ao momento em que o pre- também os cargos de Primeiro-Ministro no sidente é internado e a posterior agonia de governo de Jânio Quadros e de governador 38 dias. No dia 21 de abril de 1985 morre do Estado de Minas Gerais em 1982. Tancredo Neves, coincidindo com o feriado Tancredo aceitou o desafio de se candida- nacional que cultua a morte de , tar à Presidência da República e, com o apoio o grande herói brasileiro. A cobertura feita de Ulysses Guimarães venceu as eleições no pela Rádio Itatiaia foi o olhar da mídia le- Colégio Eleitoral, recebendo 480 votos con- vado a todo o povo mineiro. tra 180 de seu adversário . No dia 15 de janeiro de 1985 foi eleito o pri- 1 Tancredo Neves: Mito e meiro presidente civil em mais de 20 anos. A mineiridade posse estava prevista para o dia 15 de março. Depois do fracasso da campanha intitulada “Cada governo tem a oposição que merece. Diretas Já, que pedia a volta das eleições di- A um governo duro, intransigente e retas para a presidência da República, Tan- intolerante corresponde sempre uma credo Neves representava o sonho do retorno oposição apaixonada, veemente e de um civil ao poder. Até uma expressão destrutiva”. foi cunhada para essa era que estava come- çando: Nova República. Mas ele não chegou Tancredo Neves: então deputado, em 1977, a assumir. Na véspera, foi internado no Hos- logo após o fechamento do Congresso pital de Base, em Brasília, com fortes dores Nacional pelo presidente da República, abdominais e o vice José Sarney tomou seu lugar interinamente.

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Depois de sete cirurgias e 38 dias de uma Como também Tancredo Neves morreu num dolorosa agonia acompanhada de perto pela dia 21 de abril, a data passou a ter um signi- população e pela mídia, Tancredo morreu ficado ainda mais amplo, como explica Car- no 21 de abril de 1985, aos 75 anos de rato (1987): idade, vítima de infecção generalizada. A Até 1985, o 21 de abril era comemorado, reação da sociedade foi semelhante no con- em todo o país e, em especial em Mi- texto nacional ao suicídio de Vargas, quando nas Gerais, como sendo a data da morte as pessoas saíram às ruas para chorar o pre- de Tiradentes, o mártir da Inconfidência. sidente morto. No caso de Tancredo, os veí- Dessa época para cá, esse dia, já tão cheio culos de comunicação acompanharam todos de significado, revestiu-se de importância os passos do presidente eleito desde o Colé- maior ainda; nele morreu o ex-presidente gio Eleitoral, os preparativos para a posse, Tancredo Neves, considerado por amplas a primeira internação, as sete cirurgias, os parcelas da população brasileira como boletins médicos, os diversos diagnósticos, não só um estadista, mas também uma a comoção popular e, por fim, o anúncio da espécie de mártir da luta pela viabili- morte e o sepultamento. Em Minas Gerais, a zação da democracia no Brasil. Exata- Rádio Itatiaia levou aos ouvintes a informa- mente por isso, o 21 de abril, desde en- ção diária desde a interenação até o enterro tão, transformou-se no início efetivo da em São João Del-Rei. Nova República, já que no período com- preendido entre o que seria a posse de II. A imbricação entre as histórias Tancredo Neves e a sua morte, o país li- de Tancredo Neves e Tiradentes teralmente parou. (p.03) “Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 O próprio discurso de Tancredo Neves anos Tiradentes, aquele herói enlouquecido como presidente eleito pelo colégio eleitoral de esperança, poderemos fazer deste país busca inspiração na Inconfidência Mineira: uma grande nação. Vamos fazê-la”. “A História da Pátria, que se iluminou atra- vés dos séculos com o martírio da Inconfi- Tancredo Neves: discurso perante o dência Mineira, que registra com orgulho a Congresso Nacional, logo após sua vitória força do sentimento da unidade nacional so- no Colégio Eleitoral sobre o deputado Paulo bre as insurreições libertárias durante o Im- Maluf, 15 de janeiro de 1985 pério”. Segundo Arruda (1990), a unção de O dia 21 de abril é uma data muito es- Tiradentes para exercer o papel de artífice pecial para os mineiros e para todo o povo da liberdade e da nação brasileira possui brasileiro. Feriado nacional, é o dia em que dimensões de um intróito místico. Parale- se celebra a morte de Tiradentes, o herói lamente, os fatos acontecidos durante a do- mais popular do Brasil que participou da In- ença de Tancredo Neves assemelham-se aos confidência Mineira, primeiro movimento no passos do calvário e, não casualmente, a fi- qual a questão da liberdade se coloca efe- gura de Tiradentes (p. 226). A autora ex- tivamente. Estão ligadas a Tiradentes pala- plica que a Inconfidência Mineira tem um ca- vras de peso como mártir, ideal e liberdade. ráter de rito. E lembra: www.bocc.ubi.pt 4 Nair Prata

De um lado, a comemoração da morte mesmo, frente à exteriorização do ima- de Tiradentes está formalizada na pre- ginário mítico de Minas, a referência ao sença do feriado nacional e nas celebra- futuro nascido do presente e não do pas- ções que a acompanham. De outro, por- sado (p.227). que a sua revivescência no discurso po- lítico dos mineiros assume a dimensão No prefácio do livro Tancredo Vivo – Ca- de um rito. Estamos, assim, diante de sos e Acaso1, o historiador Francisco Iglesias um rito que busca legitimar de forma in- também faz esta relação entre Tancredo Ne- contestável o lugar dos mineiros no Bra- ves e Tiradentes: sil, principalmente nos momentos cruci- ais, nas fases de transição entre o fim de Verifica-se então a tragédia no dia da uma época e a abertura de outra (p.100). posse, o vitorioso está impossibilitado pela doença e começa o seu calvário. Arruda (1990) explica também que a Tem de ser operado, e o será várias ve- morte de Tancredo Neves mostrou grande zes, na mutilação de seu corpo que lem- simbologia, acentuada pelo fato de o próprio bra a do conterrâneo mais admirado, o mito repousar sobre o sacrifício de Tiraden- alferes Joaquim José da Silva Xavier, o tes (p. 233). Segundo a autora, o tom reden- Tiradentes. O vice toma posse. E Tan- tor do discurso de Tancredo Neves no Colé- credo morre nas últimas horas do dia 21 gio Eleitoral recupera a sacralidade da ima- de abril, em estranha coincidência com gem do Inconfidente, que passou para a his- o seu admirado herói, que parece de en- tória brasileira como o homem que morreu comenda para compor sua biografia. A pela liberdade.Vida e morte emergem inde- Nova República já começara sem as luzes levelmente conectadas, permitindo a Minas e a ação de seu chefe natural (COUTO, continuar fiel a si mesma e ao seu destino 1995: 10). (p.233). Sobre a coincidência das datas de morte, a autora diz: Desde o anúncio da morte do presidente Tancredo Neves no dia 21 de abril sur- O desenlace daqueles dias de aflição deu- giu uma especulação na sociedade brasileira: se no mesmo dia da morte do Inconfi- Esta coincidência foi forçada? O anúncio da dente, conferindo forte carga simbólica morte de Tancredo foi adiado para o dia 21 ao evento e realimentando o imaginário de abril para coincidir com o dia da morte tecido em torno da figura de um reden- de Tiradentes? Tancredo já estava morto há tor. A morte de Tancredo Neves, toda- muito tempo? Este sentimento da população via, não se encontra isenta de outros sig- foi sempre rebatido pela família e por políti- nificados capazes de simbolizar, conco- cos e médicos envolvidos no episódio. Ro- mitantemente, a ultrapassagem da ima- naldo Costa Couto, amigo pessoal de Tan- gem mítica de Tiradentes. Apesar do credo e futuro ministro da Nova República, Inconfidente flutuar no discurso de Tan- escreveu num livro em que conta casos do credo Neves, como arquiteto da nacio- 1 COUTO, Ronaldo Costa. Tancredo Vivo – Casos nalidade, aparece, pela primeira vez, no e Acaso. : Record, 1995.

www.bocc.ubi.pt A agonia e a morte do presidente pelas ondas da rádio Itatiaia 5 presidente: Muita gente acha de coração III.Mineiridade que o presidente Tancredo Neves foi assas- Mineiros: o primeiro compromisso de sinado. Homicídio doloso. Isso é um fato. É Minas é com a Liberdade. Liberdade é o direito das pessoas pensarem assim. Ter cer- outro nome de Minas. teza, dúvida ou suspeita. O contrário tam- bém é verdadeiro (COUTO, 1995: 277-278). Tancredo Neves: discurso de posse no Em entrevista ao jornal Estado de Minas2, governo de MG em 15 de março de 1983. o governador mineiro Aécio Neves diz que essas suspeitas são uma grande bobagem e Não se pode falar de pessoas como Tan- explica: credo Neves sem se buscar a questão da mi- neiridade. Um texto muito difundido em Mi- Para nós da família, naquela época, já não nas Gerais, de autor desconhecido, explica era nem mais relevante o presidente as- de forma bem humorada o que é ser mineiro: sumir. Era importante que o avô sobrevi- Ser mineiro é não dizer o que faz, nem vesse, que o pai sobrevivesse. Ninguém o que vai fazer. É fingir que não sabe seria maluco de adiar um anúncio desse, aquilo que sabe, é falar pouco e escu- algo absolutamente irreal. Isso entra no tar muito, é passar por bobo e ser inteli- campo das suposições, talvez pela pró- gente, é vender queijos e possuir bancos. pria coincidência histórica de ter ocorrido Um bom mineiro não laça boi com em- no dia da morte de Tiradentes. Tancredo bira, não dá rasteira no vento, não pisa resistiu até o dia 21 de abril e sua morte no escuro, não anda no molhado, não es- foi anunciada a partir do momento em tica conversa com estranhos, só acredita que os médicos constataram o óbvio.A em fumaça quando vê o fogo, só arrisca partir daí foi o que o Brasil inteiro já quando tem certeza, não troca um pás- sabe. Isso entra no campo das especu- saro na mão por dois voando. Ser mi- lações. neiro é dizer “uai”, é ser diferente, é ter marca registrada, é ter história. Ser mi- O governador conta também que até hoje neiro é ter simplicidade e pureza, humil- anda pelo Brasil e ainda ouve pessoas que- dade e modéstia, coragem e bravura, fi- rendo saber se Tancredo Neves foi assassi- dalguia e elegância. Ser mineiro é ver o nado. Aécio diz que se essa história da vida nascer do sol e o brilhar da lua, é ouvir o pública de Tancredo fosse um livro iria ven- cantar dos pássaros e o mugir do gado, é der muito pouco, já que ninguém iria acredi- sentir o despertar do tempo e o amanhe- tar que isso pudesse acontecer. cer da vida. Ser mineiro é ser religioso e conservador, cultivar as letras e as artes, é ser poeta e literato, é gostar de política e amar a liberdade, é viver nas montanhas, é ter vida interior. 2 Jornal Estado de Minas, 14 de janeiro de 2005,p. 06. Num livro em que discute o mito da mi- neiridade, Arruda (1990) explica que surge www.bocc.ubi.pt 6 Nair Prata muitas vezes o reconhecimento de que a sub- no finalzinho do dial. Hoje, 54 anos de- cultura de Minas, freqüentemente denomi- pois das primeiras transmissões experimen- nada “mineiridade”, conteria os princípios tais, a emissora opera com 100 KW, com do “entendimento nacional”. Reconhecem- cobertura num raio de 200 quilômetros. A se nos mineiros qualidades essenciais de programação da emissora é também transmi- bom senso, de moderação e equilíbrio, virtu- tida em tempo real pela Internet, pelo site: des estas consideradas essenciais à urdidura http://www.itatiaia.com.br. do acordo (p.14). A partir de 1952, quando a Itatiaia conse- A autora explica, ainda, que entre os mi- guiu autorização para operar em Belo Hori- neiros, uma manifestação de cunho ritualís- zonte, disputavam o mercado da capital três tico é expressada no gosto de falar sobre Mi- grandes estações: Inconfidência (de proprie- nas e que o regionalismo mineiro se afirma dade do governo de Minas Gerais), Guarani na integração. E completa: a mineiridade e Mineira (ambas pertencentes aos Diários e preserva três dimensões essenciais: mítica, Emissoras Associados). As três trabalhavam ideológica e imaginária (p.257) da mesma forma com elenco de atores, gran- des orquestras, programas de auditório. So- 2 Tancredo Neves e as ondas da bre a Itatiaia, a população de Belo Horizonte comentava: “É uma emissora que fala para rádio Itatiaia o centro e cochicha para os bairros” fazendo A Rádio Itatiaia3 nasceu em Nova Lima, ci- uma crítica à má qualidade do som e à falta dade a 30 quilômetros de Belo Horizonte. O de potência das transmissões. fundador foi Januário Carneiro, um repórter Januário Carneiro pretendia implantar na esportivo do jornal impresso O Diário e cor- Itatiaia um esquema diferente do que se co- respondente em Minas da Rádio Continental nhecida até então a respeito de programação do Rio, que arquitetava o sonho de ter uma de rádio. A Rádio Continental do Rio já emissora própria, fugindo dos padrões tradi- trilhava este novo caminho de identificação cionais de programação. com o esporte e a Itatiaia tentava repetir a A oportunidade surgiu quando uma pe- mesma fórmula, atraindo principalmente os quena emissora foi colocada à venda e Ja- apaixonados pelo futebol. nuário reuniu seus poucos recursos com os Em setembro de 52, um fato marcou a his- de alguns amigos e efetuou a compra. Em tória da radiofonia em Belo Horizonte. Fo- 1951, no Hotel Ouro, a estação nasceu com ram realizados na capital os Jogos Olímpi- 100 watts, a menor potência permitida por cos Universitários e as três principais emis- lei, mas muito baixa para quem quisesse soras de rádio de Belo Horizonte manifesta- conquistar algum ouvinte. Além disso, a ram pouco interesse pela cobertura das com- freqüência era a pior possível: 1580 khz, petições. A Itatiaia cobriu todos os jogos, contando com uma equipe sem experiência, 3Cf.: PRATA, Nair. História do rádio em Minas sem carros, sem linhas de som e com ape- Gerais. In: HAUSSEN, Doris Fagundes e CUNHA, nas um telefone. Foi uma demonstração de Magda. Rádio brasileiro – episódios e personagens. : EDIPUCRS, 2003. força de um novo modelo de rádio que sur- gia, contrariando todos os princípios básicos

www.bocc.ubi.pt A agonia e a morte do presidente pelas ondas da rádio Itatiaia 7 que norteavam as transmissões radiofônicas cia, almoçavam juntos e Tancredo visitava a até então. emissora nos momentos importantes da vida Junto com as coberturas esportivas, a Rá- política do país e de Minas Gerais. O diretor dio Itatiaia investiu no jornalismo. A pri- de Jornalismo da rádio, Márcio Doti, revela meira grande reportagem foi o acompanha- que foi Januário a primeira pessoa a falar de mento de todos os lances envolvendo o cha- Tancredo como o nome para a presidência da mado Crime do Parque Municipal, que atraiu República. Isso foi no início do governo de as atenções e as curiosidades da sociedade Tancredo em Minas. Doti conta4 como foi: belorizontina do início da década de 50. As três grandes emissoras da cidade não muda- O Januário fez uma festa na casa dele em ram as suas programações por causa do noti- Mariana. Antes da festa, houve uma ho- ciário envolvendo o crime e o julgamento do menagem para ele e também para o Tan- principal acusado. Mas, como era grande o credo, em Itabirito Então nós saímos da- interesse popular pelo assunto, a Itatiaia ins- qui, eu, o Tancredo, vários políticos, vá- talou um posto de transmissão no auditório rios amigos da rádio, Januário, etc. A do Fórum Lafayette, onde aconteceu a sessão programação era: uma parada em Itabi- para julgamento do assassino. A transmissão rito para uma solenidade e depois o al- foi feita ininterruptamente durante 42 horas, moço em Mariana. Durante a homena- com a dublagem, ao vivo, de todos os deba- gem, Januário fez um discurso de impro- tes do júri. Tudo que acontecia no tribunal viso e lançou Tancredo Neves como o ho- era retransmitido pela rádio. Esta cobertura, mem para ser o primeiro presidente civil em 1954, marcou a história da Itatiaia e o do Brasil depois dos militares. momento em que as outras emissoras come- çaram a prestar atenção na concorrente que Um dos episódios mais comentados envol- surgia. vendo Tancredo Neves e a Rádio Itatiaia é Até o início da década de 60, a Itatiaia ba- relatado por Doti: seou sua programação sobre dois pilares: es- porte e jornalismo, a partir de grandes co- Quando Tancredo ganhou o governo de berturas locais e internacionais. No final de Minas a primeira coisa que ele fez foi 1960, a emissora decidiu ampliar sua progra- convidar o Januário para um almoço no mação, com a criação de quadros musicais Palácio da Liberdade. O almoço foi a voltados para o ouvinte que não tinha tanto três: Tancredo, Januário e D. Risoleta. interesse pelo noticiário e pelo futebol. Na Nesse almoço, Tancredo disse para o Ja- década de 70, a Rádio Itatiaia já estava con- nuário:Você sabe que a Rádio Itatiaia solidada como emissora importante no cená- teve um papel importantíssimo para eu rio radiofônico mineiro, mas só no final da estar aqui hoje.O Januário perguntou: - década de 80 conseguiu chegar ao primeiro Mas, como? lugar de audiência. 4 Depoimento concedido à autora em 10/02/2005, Januário Carneiro sempre manteve bons especialmente para este trabalho. laços com os políticos mineiros. Com Tan- credo Neves não foi diferente. Com freqüên- www.bocc.ubi.pt 8 Nair Prata

Tancredo explicou que logo depois das Estados Unidos. Em Washington, Tan- eleições para o governo de Minas, os veí- credo se reuniu com o presidente Reagan. culos de mídia montaram seus esquemas de apuração paralela. Só que os resultados da 3 A rádio Itatiaia na cobertura Itatiaia eram completamente diferentes de todos os outros, inclusive os da TV Globo da doença e morte de Tancredo e também dos números oficiais do TRE: to- Neves dos informavam que o candidato Eliseu Re- sende estava na frente, apenas a Itatiaia dava 3.1 A internação Tancredo Neves na cabeça. A certa altura “Então, como foi? O Sarney tomou posse? da apuração, houve até um momento de Correu tudo bem?” grande tensão entre os funcionários da Ita- tiaia, que questionavam a cientificidade do Tancredo Neves: dia 15 de março de 1985, método de levantamento dos votos empre- ao sair da anestesia da primeira cirurgia. gado pela emissora. Mas a Itatiaia ficou firme na posição de apontar Tancredo como A Rádio Itatiaia estava com todo o es- vencedor. E o governador lembrou-se disso quema montado para a grande cobertura da logo após a posse, homenageando Januário posse do presidente Tancredo Neves. Em Carneiro com um almoço. Belo Horizonte, a equipe de repórteres ha- Outro episódio que mostra os fortes laços via preparado matérias especiais para dar entre Tancredo Neves e a Rádio Itatiaia foi a suporte ao palco central – Brasília – onde cobertura que a emissora fez da viagem do se desenrolariam os principais acontecimen- presidente que acabara de ser eleito no Colé- tos. Na Capital Federal, estavam os três re- gio Eleitoral. O repórter Acir Antão acom- pórteres escalados pela rádio para a cober- panhou Tancredo na viagem e conta5 como tura: Acir Antão, Alexandre França Campos foi esse trabalho: e Maurílio Grillo. A equipe chegou de carro no dia 13 de A Rádio Itatiaia foi a única emissora março e se instalou num apartamento em- de Minas e talvez do Brasil que acom- prestado. Lá montou a central de transmis- panhou Tancredo nessa viagem. Era são. O planejamento, elaborado cuidado- uma comitiva pequena. Nós viajamos no samente pelo diretor de Jornalismo, Márcio mesmo avião. No primeiro trecho, daqui Doti, previa a cobertura da missa no dia 14 para a Europa, Tancredo foi na primeira e, logo depois, transmissão ininterrupta até classe; depois foi com os jornalistas na o dia seguinte, 15 de março, data da posse. classe econômica. A viagem começou Nesse dia, haveria uma alvorada festiva para por Roma, onde Tancredo teve uma reu- o presidente com a tradicional banda mineira nião com o papa e o primeiro-ministro Charanga do Bororó, às seis horas da manhã. italiano. Depois ele foi à França, Espa- Depois da transmissão da posse, alguns bo- nha, Portugal. Da Europa fomos para os letins sobre as festas que iriam acontecer e, 5 Depoimento concedido à autora em 10/02/2005, mais um ou dois dias em Brasília, a equipe especialmente para este trabalho. voltaria a Belo Horizonte. Mas não foi isto

www.bocc.ubi.pt A agonia e a morte do presidente pelas ondas da rádio Itatiaia 9 o que aconteceu. Segundo Doti, uma cober- calizar os médicos que estavam acompa- tura planejada para durar dois ou três dias, nhando o Tancredo. Eles estavam em re- acabou se arrastando por mais de um mês. cepções festivas, foi mais de uma hora A equipe da Itatiaia em Brasília fez a co- para localizá-los. O que demonstra que bertura da missa na Catedral Dom Bosco, eles estavam muito tranqüilos em rela- com flashs ao vivo na programação. Ao sair ção ao estado de saúde do Tancredo. da igreja, o repórter Maurílio Grillo foi à (SOUTO, 2005:06) procura do então governador de Minas Ge- rais, Hélio Garcia, para gravar com ele uma O general Rubens Bayma Denys, homem matéria repercutindo a posse de Tancredo, forte do futuro governo Tancredo Neves, que aconteceria no dia seguinte. O repór- conta que ficou sabendo da doença do pre- ter encontrou Hélio Garcia saindo correndo sidente no dia da missa. Ele diz que mandou de casa, aflito, sem informar a causa de tal o chefe da segurança pessoal do presidente pressa. O repórter foi atrás e descobriu o que ir à igreja e disse a ele: “Olha, vai lá, ob- estava acontecendo: Tancredo Neves sentira- serva bem o presidente. Veja se nota algum se mal, tinha dores abdominais e fora inter- sinal que possa refletir seu estado de saúde. nado no Hospital de Base. Rapidamente, Perceba algum sinal”. Na volta, o segurança a notícia foi dada pela emissora dentro da informou ao general que Tancredo estava su- jornada esportiva, para espanto do povo mi- ando muito e parecia muito cansado. O ge- neiro, que já se reunia em festas celebrando neral Bayma Denys telefonou então para o a posse do filho ilustre. médico do Senado, Dr. Renault de Matos e Segundo o governador Aécio Neves, Tan- narrou as observações do chefe da segurança. credo fez a campanha com saúde plena, co- Mais tarde, foi informado da internação do meçando a sentir algumas dores talvez uns presidente. O general fala das suas conclu- 15 dias antes da posse. Em Souto (2005), sões desse episódio da história brasileira: Aécio explica que seu avô foi medicado e a evolução do seu estado de saúde estava Presume-se que Tancredo não quis se tra- sendo acompanhada. O governador explica tar porque o quadro era de incerteza para que nunca houve uma imposição dos médi- eles, os políticos dos partidos que tinham cos dizendo que a situação era grave, inclu- ganhado a eleição. O Dr. Tancredo sive para a família. Aécio diz: era um político muito experiente e po- deria ter pensado que, se ele adoecesse, Na verdade, os médicos não estavam fizesse a operação, retardasse a posse, acompanhando de forma adequada a evo- poderia ter problemas para assumir pos- lução do estado de saúde do Tancredo. teriormente (CASTRO e D’ARAÚJO, Acho que houve sim, negligência. Até 2001,79-80) porque, no momento em que o Tancredo passou mal no momento em que saímos Na revista Veja do dia 20 de março de da Catedral Dom Bosco, em Brasília, por 1985, na seção Carta ao Leitor, há um re- volta das 19 horas, na véspera da posse, lato de como a publicação ficou sabendo da eu tive uma dificuldade enorme em lo- doença do presidente. A repórter da revista, www.bocc.ubi.pt 10 Nair Prata

Christiane Samaro, estava presente no jantar isentando-o de culpa na eventualidade de al- oferecido na noite de quinta-feira pelo em- gum desdobramento mais grave. Mas o Dr. baixador de Portugal em Brasília e teve sua Renault ponderou: “O que é que eu vou fa- atenção voltada para um recado telefônico zer com um papel deste? Explicar à Nação?” vindo da Granja do Riacho Fundo. A mulher A determinação final foi do sobrinho Fran- de Tancredo, D. Risoleta, avisava que o casal cisco Dornelles, futuro ministro da Fazenda não poderia comparecer à recepção e deixava do novo governo: “Operem de qualquer ma- a entender que havia alguma coisa errada. A neira. A saúde dele é mais importante do que repórter achou um telefone na cozinha da re- a posse”. sidência do embaixador e ligou para a sucur- O presidente entrou no bloco cirúrgico do sal da revista em Brasília, informando o que Hospital de Base às 23h45. O que aconteceu estava acontecendo. Poucos minutos depois, lá dentro beira o surrealismo. Segundo a re- a repórter ouviu um comentário de um fun- vista Istoé, edição de 20de março de 1985, cionário da embaixada de Portugal que di- p. 03, quatro dúzias de médicos estavam zia: “A coisa está preta no Riacho Fundo. O no bloco. A revista Veja de 20 de março, doutor Tancredo está com apendicite aguda”. p. 41, informava que havia 20 pessoas no Em pouco tempo, a notícia de que Tancredo bloco cirúrgico, a maioria médicos. Ronaldo Neves estava internado no Hospital de Base Costa Couto também fala sobre a presença chegou à sala de jantar. de várias pessoas acompanhando a cirurgia. A revista Istoé do dia 20 de março de 1985 O texto reproduz um diálogo entre Couto e reproduz na página 29 o delicado diálogo do Aécio Neves: presidente Tancredo Neves com o governa- – Aécio: Aquela cirurgia com a sala dor Hélio Garcia. Garcia tentava convencer cheia de gente foi uma loucura... Uma Tancredo de que a cirurgia era necessária: irresponsabilidade! – Dr.Tancredo, os médicos dizem que o – Couto: Você assistiu à cirurgia? senhor precisa ser operado. – Aécio: Não. Nós estávamos numa sala – Podemos deixar isto pra depois. lá fora, esperando notícias.Volta e meia – Os médicos são nossos amigos, eles saía algum paramentado lá de dentro para acham que o melhor para o senhor é ope- dizer como estava indo a operação. Teve rar. um médico, ex-parlamentar, que buscou – Mas amanhã teremos posse. um banquinho lá fora e levou para dentro – A República é importante, Dr. Tan- da sala, para assistir sentado ao restante credo, mas o senhor também é. da operação. (COUTO, 1995:295) A revista Afinal, datada de 19 de março Depois da abertura do abdômen do presi- de 1985, relata na página 16 que Tancredo dente, o médico Pinheiro da Rocha concluiu tentou por todos os meios adiar a cirurgia. rapidamente que não se tratava de apendi- Ele disse ao médico Renault de Matos: “Pri- cite. O médico exclamou: “É diverticulite meiro deixem que eu tome posse. Depois fa- de Meckel”. Segundo a revista Istoé, a pla- çam o que quiserem comigo”. Tancredo che- téia, dentro do bloco cirúrgico, aplaudiu en- gou até a prometer ao médico um documento tusiasticamente. Já a revista Veja fala que os

www.bocc.ubi.pt A agonia e a morte do presidente pelas ondas da rádio Itatiaia 11 cirurgiões ergueram os polegares na direção a uma padaria comprar um lanche e lá já dos curiosos que estavam na sala ao lado, ha- encontrou a primeira piada sobre Sarney, vendo, neste momento, um instante de festa contada por um vendedor: “Esse Sarney é no centro cirúrgico. igual Modess, tampa buraco e evita derra- A população mineira acompanhou pela mamento de sangue”. Itatiaia toda a movimentação daquela noite, Três dias depois, Acir Antão voltou para sem imaginar como é planejar uma cobertura Belo Horizonte e ficaram de plantão em Bra- de porte de última hora. O repórter Maurílio sília Maurílio Grillo e França Campos, na Grillo ficou de plantão na porta do Hospital cobertura diária dos boletins médicos e do de Base e, de lá, participava da programa- estado de saúde do presidente. ção da emissora com flashs ao vivo. França Campos foi para o Congresso Nacional re- 3.2 A agonia percutir as notícias, já que ninguém sabia, àquela altura, se o vice José Sarney tomaria “Eu não merecia isso”. posse e como ficaria a vida do país. O repór- Tancredo Neves: ao neto Aécio, indo para a ter fez uma parceria com Marcelo Moreno, sexta operação, no dia 9 de abril de 1985. do jornal O Globo, e passaram a entrevis- tar todas as personalidades que entravam e Durante os quase 40 dias da agonia de saíam do Congresso naquela noite. Acir An- Tancredo Neves, a Rádio Itatiaia manteve vi- tão ficou no apartamento onde fora montada gília constante dos seus repórteres. Primeiro a central de jornalismo, de onde comandava em Brasília, depois em São Paulo. Era feito toda a cobertura. Acir conta como foi aquela um sistema de plantão, assim havia sempre noite: alguém pronto para informar à população mineira os últimos acontecimentos. Foi uma noite de angústia. Ficou aquele A imprensa brasileira trabalhou com esse negócio: toma posse, não toma, toma sistema de plantão permanente e foram mui- posse, não toma. O apartamento onde tos os problemas enfrentados pelos repórte- estávamos ficou cheio de gente o tempo res. A jornalista Ana Baum, que trabalhava todo. Os políticos mineiros chegavam em para a Rádio Jornal do Brasil AM do Rio busca de mais informações sobre o presi- de Janeiro, ficou de plantão em São Paulo dente. Havia aqueles que chegavam e, ao e, pouco depois, foi enviada a São João Del- se darem conta das notícias, exclamavam Rei para organizar a cobertura do enterro do espantados: - O quê? A TV ficou ligada e presidente. De lá, transmitia as informações. eu tirava algumas informações dali, com Ana Baum conta6 como foi: transmissão o tempo todo, até de manhã. Na época não havia celular e eu não es- Pela manhã, os três repórteres da emis- tava com o carro da emissora. Muitas ve- sora, que não haviam dormido durante a zes tive que entrar ao vivo de telefone- noite, foram fazer a cobertura da posse de orelhão ou apelar para comerciantes e José Sarney na presidência. Acir Antão 6 Depoimento concedido à autora, em 06/03/2005, conta que, logo depois da cerimônia, foi especialmente para este trabalho. www.bocc.ubi.pt 12 Nair Prata

moradores de São João Del-Rei para con- sora enviou um operador de áudio e pe- seguir enviar minhas reportagens para a diu uma linha direta para a Embratel e fi- rádio. Lembro-me de uma procissão nos camos ao vivo direto da janelinha. arredores da cidade, em que corri na frente, liguei para a emissora pelo ore- O presidente Tancredo Neves passou por lhão e esperei a procissão se aproximar. todo o processo da doença e das cirurgias Depois entrei ao vivo com o coro da pro- como qualquer paciente num caso assim: de cissão ao fundo. Ficou uma matéria bo- início de cabeça erguida e com coragem; ao nita. Eu e muitos outros jornalistas fica- final, desanimado e cansado. Talvez Tan- mos em vigília na cidade natal de Tan- credo pudesse dizer como Manuel Bandeira credo quase um mês e éramos chamados no poema Consoada: de urubus, numa referência aos bichos que ficam rondando a espera da carniça. Quando a Indesejada das gentes chegar Foi muito desagradável. Os jornalistas (Não sei se dura ou caroável), chegaram a solicitar uma missa pelo res- Talvez eu tenha medo. tabelecimento do então presidente para Talvez sorria, ou diga: provar que estávamos ali por ossos do - Alô, iniludível! ofício e que, no fundo, gostaríamos que ele melhorasse. Mas no jornalismo é as- O neto Aécio Neves explica: O Tancredo sim: se uma personalidade é internada resistiu muito. Ele sofreu sete cirurgias e é em algum hospital, os repórteres já co- óbvio que, com toda a coragem que ele en- meçam a preparar a cobertura do enterro frentou as sete cirurgias, a partir de um certo e a fazer a pesquisa sobre a vida pública momento ele foi se abatendo, o que é natu- desta personalidade. ral. Mas ele tinha muita confiança que assu- miria. (SOUTO, 2005, p.6). A jornalista explica que usava o telefone O amigo Ronaldo Costa Couto relem- para transmitir suas matérias e que, no dia do bra um diálogo que teve com o presidente, enterro, chegou a alugar uma janela de uma quando certa vez ele lhe falou do medo que casa para realizar seu trabalho: tinha de perder a saúde:

Eu usava o telefone. Quando não era da – E o senhor, doutor Tancredo, é sempre casa de moradores ou do hotel onde es- corajoso? tava hospedada, nem do “orelhão”, era de – Que nada, meu filho. Só quando é pre- uma única e pequena emissora de rádio ciso. que havia na cidade e o estúdio ainda era – Mas tem alguma coisa que lhe mete revestido com caixas de ovos para ter me- medo? lhor acústica. No dia do enterro, aluguei – Só duas. Perder pessoas queridas ou uma janela de uma casa simples que fi- minha saúde. Quem perde a saúde perde cava bem acima do cemitério e me dava tudo. Disso morro de medo. (COUTO, uma visão privilegiada para transmitir a 1995:121) cerimônia fúnebre. Nesse dia a emis-

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A agonia de Tancredo provocou forte co- balho: França Campos ficaria de plantão du- moção popular, poucas vezes vista no país. rante o dia e Acir durante a noite, 12 horas Nos veículos de comunicação, os boletins cada um. França Campos iniciou então um médicos eram completados com explicações forte processo de stress e teve que ser subs- de especialistas com dados sobre as compli- tituído. Romeu Araújo foi designado para o cações que apareciam a cada dia. Nas ruas, seu lugar. nas famílias, nas empresas, nas repartições Durante a agonia de Tancredo, a Rádio Ita- públicas o assunto era um só: a doença do tiaia conclamava a população a rezar pela presidente. Um ano após a morte de Tan- saúde do presidente. O jornalista Márcio credo o Instituto DataFolha fez uma pesquisa Doti explica como foi: com a seguinte pergunta: “Na sua opinião, A partir do momento em que o Tancredo a morte de Tancredo Neves foi conseqüên- piorava, que não havia mais esperança, aí cia de complicações cirúrgicas normais, de partimos para o processo místico. Esse incompetência médica oi foi premeditada?”. processo teve a participação de uma pes- As respostas foram: foi premeditada (36% soa, a jornalista Hedonè Motta. Ela era dos entrevistados), conseqüência de compli- evangélica e escrevia orações para se- cações normais (27%), incompetência mé- rem lidas pelos locutores. Os textos pe- dica (26%). diam a Deus pela saúde do presidente, Com a transferência de Tancredo Neves criando uma corrente de oração em Mi- para o Instituto do Coração, em São Paulo, nas. Aquilo transformou o Brasil inteiro no dia 26 de março, a Rádio Itatiaia plane- numa corrente de fé. Essas orações eram jou uma nova cobertura. Tancredo foi embar- repetidas várias vezes durante o dia e nos cado no Boeing presidencial, às 6h30. Dei- momentos mais difíceis. tado na maca, o presidente foi coberto por um lençol, para escapar da mira dos fotógra- No domingo, dia 21 de abril, a participa- fos e cinegrafistas. O primeiro boletim mé- ção dos repórteres, tanto em Belo Horizonte dico em São Paulo informava que Tancredo quanto em São Paulo, ficou mais freqüente carregava uma infecção hospitalar contraída na programação da Itatiaia. As informações em Brasília. Na véspera da transferência, davam conta que Tancredo não passaria da- Tancredo posara para fotografias junto com quela noite. a equipe médica. Estava vestindo pijama e robe, calçando chinelos e tinha uma echarpe 3.3 A morte colorida enrolada no pescoço. Foram as últi- mas fotos do presidente, feitas pelo fotógrafo “Para descansar, temos a eternidade”. da Presidência da República, Gervásio Bap- Tancredo Neves: muitas vezes, a amigos, tista. políticos e colaboradores A Itatiaia escalou para essa nova cobertura o repórter França Campos. Mas o trabalho A última crise de Tancredo começou na era muito pesado, com informações à toda tarde do dia 21 de abril de 1985. O princi- hora do dia e da noite e a emissora mandou pal sintoma foi uma brusca queda da pres- Acir Antão ajudá-lo. Dividiram assim o tra- são arterial. Os problemas cardiovasculares www.bocc.ubi.pt 14 Nair Prata eram decorrência do processo infeccioso ab- para o Palácio do Planalto e, de lá, à 0h35, dominal, nunca debelado, que motivou seis falou para o país em rede nacional de rádio cirurgias, e do edema intersticial pulmonar e TV. Durante seis minutos, Sarney prome- constatado após a quarta operação. (Jornal teu um governo de concórdia, trabalho e aus- Folha de S. Paulo, 22/03/1985). teridade e disse ao povo brasileiro: “Nosso Mas o presidente estava inconsciente ha- programa é o de Tancredo Neves”. Decretou via dez dias. Desde a sétima cirurgia, Tan- luto oficial de três dias e informou que o dia credo fora mantido em coma induzido atra- seguinte, 22 de abril, seria feriado nacional. vés de medicamentos. Na noite do dia 21 O presidente do Congresso Nacional, sena- de abril o jornalista Antônio Brito saiu do dor José Fragelli, convocou sessão extraor- Instituto do Coração, atravessou a rua e foi dinária para o dia 22, às 10h, para declarar a ter com os jornalistas no Centro de Conven- vacância do cargo de presidente e confirmar ções, como já o fizera tantas vezes. Pela úl- José Sarney na Presidência da República. tima vez, exatamente às 22h29, ele leu para (Jornal Folha de S. Paulo, 22/03/1985). a Nação: “Lamento informar que o excelen- O corpo de Tancredo foi embalsamado e, tíssimo senhor presidente da República, Tan- às sete da manhã do dia 22 de abril, cele- credo de Almeida Neves, faleceu esta noite brada uma missa no Instituto do Coração. no Instituto do Coração, às 22 horas e 23 mi- Às 9h o cortejo fúnebre seguiu no caminhão nutos”. do Corpo de Bombeiros até o aeroporto de O repórter Romeu Araújo estava de plan- Congonhas. Em Brasília, durante dois dias, tão na noite do dia 21. Ao perceber que a si- foi realizado um velório solene e o corpo do tuação estava se complicando, telefonou para presidente exposto à visitação pública. A po- Acir Antão, avisando que o anúncio da morte pulação acompanhou consternada a lenta su- era questão de horas. Acir conta como tudo bida de Tancredo Neves pela rampa do Pa- aconteceu: lácio do Planalto: não sorridente e acenando para o país como todos sonharam, mas den- Eu cheguei no apartamento depois de um tro de um caixão. dia inteiro de trabalho, a fim de tomar No velório em Brasília a cobertura da Ita- um banho e descansar. Mas o Romeu tiaia foi feita com dois repórteres: Maurílio me ligou e disse que era para eu voltar Grillo, no Palácio do Planalto e Acir Antão, para o Instituto do Coração. Eu voltei na central montada pela emissora num apar- para o hospital e, passados poucos minu- tamento. Para facilitar os trabalhos, Acir li- tos, o Antônio Brito chegou anunciando gou a TV e, à medida que as cenas iam se a morte. Aí passamos a noite toda no ar, desenrolando, ia falando no rádio. Só que com as informações sobre as providên- o improvável aconteceu: de tanto cansaço, cias que seriam tomadas e entrevistando acabou dormindo falando no ar. Ele explica: as autoridades que foram para lá. José Sarney, eleito para ser o vice, mas Eu fui falando, falando e, esgotado, que assumiria no lugar de Tancredo, ficou sa- dormi durante a transmissão. Mas bendo da morte às 22h25 e chorou com a no- mesmo dormindo continuei falando, nem tícia no Palácio do Jaburu. Em seguida, foi sei bem o quê. Na rádio estava todo

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mundo cansado e ninguém percebeu que ver o presidente. De repente, as grades que eu falava coisas desconexas. Então o cercavam o palácio começaram a ceder com dono da rádio, Emanuel Carneiro desceu o peso das pessoas e houve grande tumulto. para a central técnica e gritou para o ope- A esposa do presidente morto, Risoleta Ne- rador: _ “Corta o Acir rápido que ele tá ves, saiu de perto do caixão e subiu ao púl- falando bobagem. Ele ta dormindo, so- pito do palácio, pedindo à multidão que se nhando e falando no rádio”. acalmasse. Mas o resultado deste tumulto foi que várias pessoas ficaram espremidas sob as No dia 23 de abril, às 15h, o corpo do grades e os feridos rapidamente encaminha- presidente aterrissou em Minas Gerais, sua dos aos hospitais da região. O saldo do tu- terra natal. A população mineira se prepa- multo foi trágico: sete pessoas mortas (qua- rou para receber o corpo do ilustre presidente tro na hora) e 271 casos de ferimentos não- morto. Na manhã daquele dia 23, as pes- superficiais, alguns graves. Morreram sob a soas começaram a chegar cedo à praça da pressão das grades ou pisoteados: Dalva Go- Liberdade, um lugar majestoso onde fica a mes Amora, 61 anos; Consuelita Evangelista sede do governo de Minas, o Palácio da Li- Pereira, 46 anos; Luzia Gonçalves Rios, 62 berdade. Tancredo já falava que “liberdade é anos; Alexandre Marins Monteiro, 20 anos; o outro nome de Minas”. O corpo iria che- José Januário Ribeiro Bastos, 71 anos; Ro- gar à tarde e, desde o início da manhã, po- sângela Araújo dos Anjos, 23 anos e Guio- pulares começaram a se espremer nas gra- mar Torres de Melo, 54 anos. des que cercavam o palácio, na esperança de A família de uma das vítimas – Guiomar ver, nem que fosse rapidamente, o presidente Torres de Melo – lembra com tristeza o epi- morto. Segundo Ronaldo Costa Couto, pre- sódio. Guiomar era professora pública e, sente naquele dia, o sentimento do povo era apesar de ter 54 anos, era casada há pouco de grande tristeza: tempo e não tinha filhos. Naquela manhã Era um povo comovido, triste, desampa- do dia 23 de abril, Guiomar acordou cedo, rado, órfão. Havia enorme angústia ali. arrumou-se e convidou alguns parentes que Mas muitos rezavam. Quase todos chora- moravam perto dela, no bairro Saudade, para vam, fazendo da emoção lágrimas de dor. irem velar o presidente morto. Ela tinha uma Não parava de chegar gente. Mais gente. dívida de gratidão com Tancredo. Seis me- Não cabia mais ninguém. Não havia ses antes, a mãe de Guiomar, Amélia Tor- mais espaço. Todos queriam despedir-se res, fora internada no hospital Prontocor, em do presidente morto. Esforçavam-se pra Belo Horizonte. Num corredor, encontrou-se chegar ao portão do palácio. Forçavam as com Tancredo Neves, que fazia alguns exa- pessoas à frente. (COUTO, 1995:214) mes. Tancredo conversou com D. Amélia que, já bem idosa, ficou grata pela atenção. Com o decorrer das horas, a praça foi-se Passados uns dois dias, Tancredo voltou ao enchendo cada vez mais e era grande a aglo- hospital para buscar os resultados dos seus meração de pessoas em frente ao palácio. exames e foi ao quarto de D.Amélia para sa- Calcula-se que 30 mil pessoas se acotovela- ber da saúde dela. ram na praça da Liberdade, na tentativa de A partir desse dia, a família Torres ficou www.bocc.ubi.pt 16 Nair Prata agradecida a Tancredo e, no dia da morte cebeu que era a tia pelas mãos dela e avisou do presidente, Guiomar foi ao velório repre- a família. Carlos Magno diz: sentando os 11 irmãos e as dezenas de netos Eu vi um tumulto desses, com tanta gente de D. Amélia. Mas como ela chegou muito assim na rua, só quando o papa veio a Belo cedo à praça da Liberdade, postou-se perto Horizonte. Numa mais vi tanta aglomeração. da grade do palácio e, quando esta cedeu, Mas a reação da nossa família foi tranqüila, Guiomar foi prensada pela força da multi- pois a tia Guiomar, antes de sair de casa, dão. Não resistiu aos ferimentos e morreu falou que queria prestar uma homenagem a no dia seguinte. Tancredo Neves. E foi o que ela fez. Um dos sobrinhos de Guiomar, o admi- O marido de Guiomar, Marcílio de Melo nistrador de empresas Carlos Magno Torres Neto, recebe até hoje uma pensão do governo conta7 que foi convidado pela tia para ir ao do Estado, que foi responsabilizado pelo aci- velório de Tancredo, mas que, como ainda dente. No dia 8 de abril de 1986, o juiz Fran- era um garoto, não deu importância à grati- cisco Reis de Brito, da 4a Vara Criminal, de- dão da família Torres pelo presidente. terminou o arquivamento do inquérito poli- cial que apurou a morte das sete pessoas no A tia Guiomar acabou indo sozinha, já tumulto da praça da Liberdade. A promoto- que ninguém quis ir com ela. Mas al- ria não encontrou no caso qualquer responsa- guém da família alertou: “Já que você vai bilidade do governo estadual, apesar da polí- mesmo, vá cedo porque aquilo vai virar cia civil ter concluído em seu relatório ter ha- um tumulto. Você chega cedo e fica num vido participação dolosa de pessoas postadas lugar melhor.” Durante o dia, a nossa fa- na grade do palácio, que cedeu e provocou as mília ouviu pelo rádio a confusão que es- mortes. (Jornal Diário da Tarde, 09/04/1986, tava na praça da Liberdade, mas era im- p. 15). possível qualquer notícia concreta. Às Calcula-se que mais de dois milhões de dez da noite, como ela ainda não apare- pessoas - entre São Paulo, Brasília e Belo cera em casa, começamos a procurar por Horizonte- viram passar o esquife do presi- ela nos hospitais onde estavam os feridos. dente. Certamente foi um dos maiores fu- Um primo nosso, chamado Tarcísio, tra- nerais da história nacional. Em Belo Hori- balhava no Hospital de Pronto Socorro e zonte, as pessoas seguiam a pé atrás do carro passou várias vezes perto dela, mas não do presidente, que ia a vagarosos 40 quilô- reconheceu a tia. O rosto dela estava metros por hora. Em São João Del-Rei, o desfigurado porque ela foi prensada e a povo nas ruas gritava o nome de Tancredo e grade fez com que os óculos dela entras- jogava flores no caixão. Cenas de lágrimas e sem dentro da carne. dor foram registradas em todo o país. Uma canção marcou a memória nacional Guiomar passou a noite toda na maca durante os funerais de Tancredo Neves. A sem ser reconhecida, até quando, já amanhe- música Coração de Estudante, de Milton cendo o dia, o sobrinho Tarcísio Torres per- Nascimento, foi cantada e repetida incontá- 7 Depoimento concedido à autora em 08/03/2005, veis vezes. A canção diz assim: especialmente para este trabalho.

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Amigo é coisa pra se guardar debaixo de um morto com a sua incômoda eterni- sete chaves dentro do coração dade/ um morto com a sua nudez de ter- Assim falava a canção que na América gal/ um morto com a sua alma traves- ouvi tida/como corpo de outra alma da famí- Mas quem chorou ao ver seu amigo partir lia?/ Como acordar o morto nesta hora/ se Mas quem ficou,no pensamento voou ninguém tira a roupa da noite/ pra espiar com seu canto que o outro lembrou a luz dormindo?/ E se um milhão de mor- E quem voou, no pensamento ficou com tos ressuscitam?porque a lua geme em a lembrança que o outro cantou seu silêncio nos distúrbios?/ uma parte do Amigo é coisa pra se guardar no lado es- morto é seu silêncio/ outra a palavra/ mas querdo do peito um morto mora na morte de outro morto/ mesmo que o tempo e a distância digam e sobrevive/ um morto dorme em sua pró- não pria sombra/ e perde a hora/ E a noite do mesmo esquecendo a canção o que im- morto?/ faz de um dia outra memória?/ porta é ouvir a voz do coração. Seja o que vier, venha o que vier Jornalistas de todo o país foram para São Qualquer dia amigo, eu volto a te encon- João Del-Rei cobrir o velório e as cerimônias trar de sepultamento. A repórter da Rádio JB do Qualquer dia, amigo, a gente vai se en- Rio, Ana Baum, conta como foi o trabalho contrar da emissora no enterro do presidente:

O corpo do presidente chegou a São João Era eu e mais dois repórteres que che- Del-Rei no dia 24 de abril, às 10h05. Foi le- garam do Rio no dia do enterro. Um vado pelas ruas num carro blindado do Exér- ficou dentro do cemitério entrevistando cito, seguido por uma caravana de motoci- as personalidades, o outro ficou do lado cletas. Depois, Tancredo foi velado durante de fora, entrevistando a população e eu todo o dia por seus conterrâneos até a hora fiquei da janela fazendo a transmissão. do sepultamento, às 22h, no cemitério da Or- Foi difícil, pois a cerimônia foi muito dem Terceira, na igreja de São Francisco de longa, o coveiro muito lento e estávamos Assis. Às 23h30 Tancredo estava sepultado. ao vivo. Eu toda hora chamava os co- Certa vez, numa roda de conversa no Senado, legas, pois não tinha como manter o in- Tancredo previu um epitáfio para sua lápide: teresse dos ouvintes e acabava me repe- “Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de tindo. Senti falta de mais produção de Almeida Neves”. A inscrição não chegou a material “frio” sobre a vida de Tancredo ser feita. Neves para colocar no ar de forma a tor- Os episódios envolvendo os funerais de nar a transmissão mais dinâmica, interes- Tancredo remetem ao poema O morto semió- sante, rica em informação e menos mo- tico, que Antônio Barreto dedicou a Carlos nótona. A cena foi a mesma por muitas Drummond de Andrade: horas: várias pessoas apertadas, tristes, Mas como portar um morto nesta sala?/ em silêncio, em volta da sepultura e do Um morto com a sua morte indigesta/ coveiro com aquela pá que ficou famosa. www.bocc.ubi.pt 18 Nair Prata

A Itatiaia escalou para a cobertura do en- blica. Tancredo passou a ocupar o lado es- terro os repórteres Maurílio Grillo, Tânia querdo do peito dos mineiros, como diriam Moreira e França Campos. Em Brasília e juntos e Drummond. Belo Horizonte também havia repórteres a Arruda (1990) diz que entre os elementos postos. O jornalista Márcio Doti relembra formadores da constelação mítica de Minas um dos muitos episódios vividos naquele dia encontra-se a idéia de que os mineiros são do sepultamento: portadores da missão de promover a unidade nacional (p.215). Tancredo seria o exemplo No dia do enterro eu estava aqui na cen- prototípico dessa unidade, mas uma história tral técnica e mandamos instalar várias fascinante, que agora completa 20 anos, mu- linhas para a cobertura. Para que tudo dou o rumo dos acontecimentos. desse certo, em dado momento fui che- car a posição de cada um dos repórte- 5 Referências bibliográficas res escalados. E aí fui chamando um a um, pelos locais onde estavam postados. ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. Quando eu perguntei: - E quem está no Mitologia da Mineiridade. São Paulo: túmulo? Eu queria saber, evidentemente, Brasiliense, 1990. quem estava a postos para cobrir o ins- tante do sepultamento, mas a voz caver- CARRATO, Ângela. Nova República, dois nosa do repórter Maurílio Grillo respon- anos depois... Jornal De Casa, 19 de deu: -Tancredo de Almeida Neves. abril de 1987, p. 03. CASTRO, Celso e D’ARAÚJO, Maria Ce- Durante todo o dia 24 a equipe da rádio lina. Militares e política na Nova Repú- se desdobrou em informações, entrevistas, blica. Rio de Janeiro: FGV, 2001. repercussões. A programação da emissora foi inteiramente modificada pela participa- COUTO, Ronaldo Costa. Tancredo Vivo – ção dos repórteres e o povo mineiro acompa- Casos e Acaso. Rio de Janeiro: Record, nhou, pelas ondas da Itatiaia, o sepultamento 1995. de um de seus filhos mais ilustres. FAUSTO NETO, Antônio. O corpo falado. Belo Horizonte: FUMARC/ PUC-MG, 4 Considerações finais 1988. O poeta mineiro Carlos Drummond de An- NEVES, Tancredo. O regime parlamentar e drade tem um verso que diz: Do lado es- a realidade brasileira. Belo Horizonte: querdo carrego meus mortos, por isso ca- Editora Bernardo Álvares, 1962. minho um pouco de banda. A morte de Tancredo Neves, sem conseguir assumir o SILVA, Vera Alice Cardoso e DELGADO, cargo de presidente, elevou-o à condição de Lucília de Almeida Neves. Tancredo mito, equiparando-o a Tiradentes: se Tira- Neves: a trajetória de um liberal. dentes foi o mártir da Inconfidência, certa- Petrópolis: Vozes; Belo Horizonte: mente Tancredo foi o mártir da Nova Repú- UFMG, 1985.

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SOUTO, Isabella. Houve, sim negligência. Jornal Estado de Minas, 14 de janeiro de 2005, p. 06.

Referências electrônicas . Data de acesso: 14/02/2005.

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Jornais e Revistas Jornal Diário da Tarde, 09 de abril de 1986.

Jornal Estado de Minas, 14 de janeiro de 2005.

Jornal Folha de S. Paulo, 22 de abril de 1985.

Revista Afinal, 19 de março de 1985.

Revista Istoé, 19 de março de 1985.

Revista Veja, 20 de março de 1985.

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