NR18Final-fechamento.indd 1 16/07/2019 16:06:12 EDITORIAL ÍNDICE SETORES ORGANIZADOS MOSTRAM RESULTADOS 04 CAPA Quando um grupo de pessoas com A força da banana capixaba objetivos em comum se une, o resul- tado costuma ser promissor e satis- fatório. E nos segmentos econômicos, como no agronegócio, não é diferente. Recentemente, a Feira da Avicultura 09 e da Suinocultura Capixaba (Favesu) ECONOMIA demonstrou exatamente isso. Mais de R$ 31 bilhões Realizada no mês de junho em Ven- destinados à Agricultura da Nova do Imigrante, na Região Serra- Familiar na do Espírito Santo, a 5ª edição da fei- ra foi um exemplo da organização dos setores avícola e suinícola do Estado. 10 Além de sucesso em público, exposi- ENTREVISTA tores também comemoram o fechamen- Leticia Toniato fala das ações to de negócios e o contato direto com os do Senar para o Espírito Santo clientes. O evento é o momento de ca- pacitação dos produtores e também ser- ve para que os segmentos mostrem sua força para a economia do Espírito Santo. Outra cultura agrícola importan- 27 te para a economia capixaba, e que é PESQUISA destaque com a matéria de capa des- Pesquisadores capixabas ta edição, é a produção de bananas. descobrem nova doença de O país produz, por ano, quase cinco cafezais milhões de toneladas de bananas. A fruta está presente em mais de 90% dos municípios capixabas, e é culti- vada em 17 mil propriedades rurais, ESPECIAL FAVESU A Revista Negócio Rural predominantemente familiares, e gera preparou uma cobertura cerca de 30 mil empregos diretos em especial da Feira da sua cadeia produtiva. Em 80% da área Avicultura e Suinocultura cultivada, a banana prata predomina. Capixaba Seja em momentos de “vacas magras” ou de “vacas gordas”, a união sempre será muito positiva para o desenvolvi- mento de qualquer setor econômico.

Julio Huber e Bruno Faustino

Foto de capa: Periodicidade: Impressão: Bruno Faustino Bimestral Grafi isana Maio, Junho, Julho Editores de jornalismo: Revisão: Com reportagens apuradas Circulação Bruno Faustino - JP - 1375/ES Evandro Albani até 30/06/2019 Nacional Julio Huber - JP - 2038/ES Colaboradores: Endereço e assinaturas: A Revista Negócio Rural é Reportagem: Anderson Percílios Avenida Presidente Vargas, uma publicação da empresa Bruno Faustino Juliano Rangel nº 590, Sala 305 B Nova Comunicação. É proi- Julio Huber Centro - bida a reprodução total ou Juliano Rangel ES - Cep: 29.260-000 parcial de textos, fotos e ilus- Diagramação: trações, por qualquer meio, (27) 3268-3389 Fotografi a: HM Propaganda sem a prévia autorização dos Bruno Faustino (27) 3361-4163 [email protected] editores. Julio Huber (27) 99276-9848 revistanegociorural Sidney Dalvi Paulo Gervais

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NR18Final-fechamento.indd 3 16/07/2019 16:06:33 COOPERATIVISMO | TEXTO E FOTOS: BRUNO FAUSTINO – , & (ES) Banana pra dar e vender! Espírito Santo se consolida entre os cinco maiores produtores de banana do Brasil. A fruta está presente em 90% dos municípios capixabas

Yes, nós temos bananas / Bana- nos. A expansão do Islã levou a ba- Chaves, e Iconha nas pra dar e vender / Banana nana para a África, de onde veio para são os municípios que mais produ- "menina tem vitamina / Banana o Brasil, trazida pelos portugueses. zem banana. engorda e faz crescer". Assim, de Graças a isso, nós nos transforma- "A banana tem uma importância forma descontraída e bem humo- mos num dos maiores produtores e social e econômica muito grande rada, a talentosa Carmem Miranda exportadores mundiais de banana. para os capixabas. São 26 mil hec- eternizou, com bom humor, as quali- O país produz, por ano, quase tares plantados e uma produção dades da banana na famosa marchi- cinco milhões de toneladas de ba- média de 14 toneladas por hectare. nha de carnaval composta por Carlos nanas (4.857.439,150 toneladas), É muita coisa", ressalta Alciro La- Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, segundo o Censo Agropecuário mão Lazzarini, coordenador Regio- em 1938. A letra retratava um país 2017, realizado pelo Instituto Bra- nal Litoral Sul/Incaper. agrícola, que produzia, além das sileiro de Geografia e Estatística Presente em mais de 90% dos bananas, algodão, café, mate. Mas o (IBGE). A fruta é a mais consumi- municípios capixabas, a fruta é fa- que ficou na memória de todo mun- da pelos brasileiros. Os cinco ti- cilmente adaptável. A bananeira é do foi mesmo o sucesso das bananas. pos mais consumidos são: nanica, cultivada em 17 mil propriedades Apesar de tropical, a banana não é maçã, prata, ouro e da terra. São rurais, predominantemente fami- genuinamente brasileira. A fruta veio Paulo, Minas Gerais, Bahia, San- liares, e gera cerca de 30 mil em- da Ásia, onde é cultivada há mais de ta Catarina e Espírito Santo são os pregos diretos em sua cadeia pro- quatro mil anos. Chegou à Europa no maiores produtores nacionais. Em dutiva. Em 80% da área cultivada, a século 1 a.C., pelas mãos dos roma- terras capixabas, , Alfredo banana prata predomina.

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NR18Final-fechamento.indd 4 16/07/2019 16:06:36 "É um bom negócio. O melhor é que entra dinheiro toda semana. A gente tem sempre um 'dinheirinho' no bolso"

Sidinei Bonadiman, Produtor

A Revista Negócio Rural percor- é que entra dinheiro toda semana. A tóxicos de lado e nos certifi camos reu o Espírito Santo para mostrar a gente tem sempre um 'dinheirinho' como orgânicos", diz Sidinei. importância da banana na geração de no bolso", conta o produtor. A produção é comanda por ele, renda na agricultura familiar. A pri- Ele produz banana prata orgâni- pela esposa e pelos fi lhos. Quando meira parada foi na comunidade de ca há 35 anos. Mas nem sempre a a família começou a produzir ali- Monte Belo, em Iconha, Sul do Espí- produção foi sem veneno. "Quan- mentos orgânicos, a procura era pe- rito Santo. O produtor Sidinei Bona- do a gente começou a plantar ba- quena, mas, hoje, a banana orgânica diman, 52 anos, possui quase 30 mil nana aqui na região, não se usava cultivada na propriedade ganhou o bananeiras e colhe 250 caixas por se- veneno. Depois, começamos a usar Brasil. "Nossa banana já é conhecida mana. "É um bom negócio. O melhor e, há 19 anos, deixamos os agro- fora do Estado", comenta o produtor. Cooperativismo dá visibilidade à produção capixaba

O município de Iconha pro- Paganini Dadalto, presidente da frescos em feiras livres e super- duz, aproximadamente, 15 mil cooperativa. mercados. Os alimentos também toneladas de bananas por ano Toda a produção dos coopera- são destinados à merenda escolar (14.725,916 toneladas). E a ma- dos atende a diversos mercados: por meio do Programa de Aquisi- neira encontrada pelos produto- Espírito Santo, Rio de Janeiro e ção de Alimentos (PAA). res para escoar tudo o que é pro- São Paulo. Isso só foi possível "A nossa maior conquista foi duzido na região foi por meio da graças ao trabalho desenvolvido a abertura de mercado. Come- Cooperativa dos Agricultores Fa- pela cooperativa. "Além de visi- çamos carregando na beira da miliares Sul Litorânea do Estado bilidade, a logística empregada estrada e hoje temos uma estru- do Espírito Santo (Cafsul). pela cooperativa e o contato com tura logística, um centro de dis- Criada em 2011, a Cafsul pos- novos mercados possibilitou le- tribuição, temos frota própria, sui, atualmente, 200 coopera- var as nossas bananas para outros estrutura administrativa, loja, dos e a banana é o carro-chefe Estados", ressalta do produtor Si- departamento financeiro e vá- da organização. "É a maior fonte dinei Bonadiman, um dos coope- rios parceiros. Desta forma, con- de renda da cooperativa, além de rados da Cafsul. seguimos unir os cooperados e ser a base da agricultura familiar Além do comércio atacadista aumentar a produtividade. Nada da região. A banana representa de frutas, a cooperativa também disso seria possível sem a força a maior receita e atende vários comercializa verduras, raízes, tu- do cooperativismo", ressalta o mercados no país", expõe Gustavo bérculos, hortaliças e legumes Gustavo Paganini Dadalto.

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NR18Final-fechamento.indd 5 16/07/2019 16:06:41 Como plantar banana?

PLANTIO: o ano todo em regiões com boa irrigação e, no início da estação das chuvas, em locais de clima seco; SOLO: fértil, bem drenado, rico em matéria orgânica, livres de encharcamento; TEMPERATURA IDEAL: de 22 a 31 graus; COLHEITA: cerca de um ano após o plantio, mas a seca e o frio podem aumentar o ciclo; ÁREA MÍNIMA: uma planta ocupa cinco metros.

Ciência e tecnologia: o futuro da banana capixaba

A Organização para Coopera- OCDE e pela FAO se deve, basica- (Mycosphaerella fi jiensis), a Sigatoka ção e Desenvolvimento Econômi- mente, a melhorias no rendimento amarela (Mycosphaerella musicola) co (OCDE) e a Organização das da produção. É difícil pensar nisso e o Mal do Panamá (Fusarium oxys- Nações Unidas para Agricultura e sem falar de ciência e tecnologia. A porum f.sp. cubense). Alimentação (FAO) preveem um cada dia, mais estas duas palavras "Vimos que este era um nicho de aumento de 17% na produção agrí- estão presentes no dia a dia do ho- mercado e decidimos apostar", diz Re- cola e pesqueira na América Latina mem do campo. E não precisamos ir nato Abreu, 56, pesquisador e enge- e no Caribe até 2027. O relatório longe para comprovar. nheiro agrônomo. O trabalho começou Perspectivas Agrícolas 2018-2027, Em visita às montanhas capixabas, há oito anos. Renato é mestre em Me- divulgado pelas entidades, aponta a Revista Negócio Rural conheceu um tabolismo e Nutrição pela Universida- que mais da metade desse cresci- laboratório especializado em clones de Federal de Viçosa, em Minas Gerais, mento (53%) pode ser atribuído a de mudas de banana, a Clontec. Isso e já desenvolvia um trabalho de repro- um aumento na produção agrícola, mesmo! Pesquisadores estão clonan- dução 'in vitro' com orquídeas. Como cerca de 39% ao setor pecuário, e do mudas mais resistentes de banana o mercado necessitava de mudas de os 8% restantes como resultado da para garantir melhor produtividade e banana, ele apostou na ideia e já pro- expansão da produção pesqueira. evitar perdas com o aparecimento de duziu mais de 15 mil mudas de banana Este crescimento levantado pela doenças, entre elas, a Sigatoka negra clonadas resistentes a doenças. Principais doenças da bananeira

Sigatoka Negra Mal do Panamá (Mycosphaerella fi jiensis) Sigatoka Amarela (Fusarium oxysporum f.sp. cubense A Sigatoka Negra é considerada a O Mal-do-Panamá é uma doença (Mycosphaerella musicola) doença mais destrutiva da cultura causada pelo fungo Fusarium da bananeira, tendo como agente O Mal-de-Sigatoka é uma doença de controle difícil. O fungo provoca oxysporum f. sp. Cubense, que está causal o fungo Mycosphaerella disseminado em todas as regiões fi jiensís Var. difformis. As a morte precoce das folhas e o enfraquecimento da planta, produtoras de banana do mundo. condições necessárias para o pleno Os sintomas típicos da doença são desenvolvimento da doença são resultando em diminuição da produção e, às vezes, quando a amarelecimento, murcha, rachadura índices elevados de temperatura do feixe de bainhas e quebra do e umidade, porém, a doença tem incidência é alta, pode provocar perda total da lavoura. pecíolo (segmento da folha que a ocorrido em regiões de clima atípico prende ao ramo ou tronco). e provocado perdas signifi cativas.

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NR18Final-fechamento.indd 6 16/07/2019 16:06:44 "A principal vantagem da repro- fase do processo. Tudo para que no genótipos mais resistentes a pra- dução de mudas in vitro é a não pro- fi nal tenhamos uma planta idêntica gas e doenças. O trabalho desen- pagação de pragas. A bananicultura a que clonamos", ressalta Renato. volvido pela Clontec é sério. São é ameaçada, constantemente, por O laboratório é capaz de clo- mudas sadias, padronizadas e com fungos e eles podem acabar com a nar seis variedades de banana. As vigor. A ciência e a tecnologia são produção do agricultor", explica o mais procuradas são a prata e a da importantes para o desenvolvi- pesquisador. terra. O pesquisador possui uma mento da produção agrícola atual. Para quem pensa que a tecno- parceria com o Instituto Capixaba Graças à ciência conseguimos pro- logia não cabe no bolso, o pesqui- de Pesquisa Assistência Técnica e duzir bananas ‘genuinamente’ ca- sador garante que o preço é aces- Extensão Rural (Incaper), respon- pixabas. Os exemplos estão aí: a sível. O processo de clonagem das sável pela indicação da muda mais Japira e a Vitória são conquistas mudas dura de oito meses a um adequada para a realidade de cada das pesquisas do Incaper. De nada ano e requer alguns cuidados. "O produtor. adianta o recurso econômico sem a procedimento é realizado dentro "O Incaper tem um trabalho con- ciência", lembra Alciro Lamão Laz- de uma sala esterilizada para não solidado na cultura da banana. Há zarini, coordenador Regional Lito- haver contaminação em nenhuma mais de 30 anos vem trabalhando ral Sul/Incaper.

“A principal vantagem da reprodução de mudas in vitro é a não propagação de pragas. A bananicultura é ameaçada, constantemente, por fungos e eles podem acabar com a produção do agricultor”

Renato Abreu, Pesquisador e engenheiro agrônomo

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NR18Final-fechamento.indd 7 16/07/2019 16:06:45 “A gente via muita banana desperdiçada. Elas não estavam ruins não, mas, muitas vezes, estavam fora do padrão. Foi aí que decidimos fazer banana passa para vender”

Vera Lúcia Monteiro Barcelos, Associação de Mulheres Rurais das Comunidades de Cachoeirinha e Sabão

Agroindústria agrega valor à banana do Espírito Santo

Apesar de pertencer à Região ano, elas chegam a produzir 2,5 to- a parceria? "É muito bom ter a coo- Metropolitana da Grande Vitória, o neladas de bananas passa. O traba- perativa ao nosso lado. A gente sabe município de Cariacica possui 54% lho acontece às segundas, quartas e produzir, mas não sabe comercializar. do seu território em zona rural. E foi sextas-feiras. Mas por que três dias? E esse trabalho a Agrocoop sabe fazer lá que encontramos um grupo de "Porque a banana demora 36 horas muito bem. Sem a cooperativa seria mulheres que descobriu uma alter- para desidratar. Por isso, o trabalho muito difícil", lembra a cooperada. nativa para aproveitar parte da pro- na agroindústria acontece apenas três A Agrocoop foi criada em 2015 com dução do município de quase seis vezes por semana", explica Vera. a ideia de levar os produtos capixabas mil toneladas de banana por ano. Além da banana passa, a agroin- dos 167 cooperados a novos mercados. "A gente via muita banana des- dústria também produz banana E deu certo. Dentre os itens comer- perdiçada. Elas não estavam ruins chips, bombom de banana e farinha cializados estão: suco de uva integral, não, mas, muitas vezes, estavam de banana. E aqui também o coo- tomate seco, geleia, café, frutas in na- fora do padrão. Foi aí que decidimos perativismo estendeu a mão para tura, gengibre e, é claro, banana passa. fazer banana passa para vender", alavancar o negócio. "A Cooperati- "A cooperativa agregou ainda mais conta Vera Lúcia Monteiro Barcelos, va Agroindustrial do Espírito San- valor ao trabalho desenvolvido pela uma das idealizadoras do Grupo to (Agrocoop) nos achou no site da Associação de Mulheres Rurais das 7M, criado a partir da Associação de Prefeitura de Cariacica porque ne- Comunidades de Cachoeirinha e Sa- Mulheres Rurais das Comunidades cessitava de alguém que produzisse bão. Elas já produziam um produto de Cachoeirinha e Sabão. banana passa para confeccionar um bom. Todo mundo que compra gosta O trabalho começou em 2006. Elas bombom de banana. Fizemos uma e nós só demos um 'tapa' no visual receberam capacitação e montaram reunião e nos cooperamos a eles. das embalagens e montamos o pla- uma agroindústria. No início, as mu- Agora a cooperativa leva os nossos no logístico para levar o produto até lheres de Cachoeirinha produziam produtos até para fora do país. Tem o consumidor. Esperamos aumentar mariola e, logo depois, ganharam banana passa daqui de Cariacica que o volume de vendas e, consequente- uma estufa para fazer a banana pas- já foi para os Estados Unidos e até mente, o volume de produção tam- sa. Atualmente, são seis mulheres que para Dubai, chique, né?", brinca Vera. bém", diz Wellington Luiz Pomper- produzem 100 quilos por semana. Por E será que elas estão satisfeitas com mayer, presidente da Agrocoop.

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