UNIVERSIDADE ESTADUAL DE INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

ALLAN EDUARDO CANO

OS RIOS E A IMINÊNCIA DA PERDA: VULNERABILIDADE ÀS INUNDAÇÕES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE – SP.

CAMPINAS 2020

ALLAN EDUARDO CANO

OS RIOS E A IMINÊNCIA DA PERDA: VULNERABILIDADE ÀS INUNDAÇÕES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE-SP

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL.

Orientador: PROF. DR. RAUL REIS AMORIM

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO ALLAN EDUARDO CANO E ORIENTADO PELO PROF. DR. RAUL REIS AMORIM.

CAMPINAS 2020

Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Cano, Allan Eduardo, 1993- C165r CanOs rios e a iminência da perda : vulnerabilidade às inundações na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP / Allan Eduardo Cano. – Campinas, SP : [s.n.], 2020.

CanOrientador: Raul Reis Amorim. CanDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Can1. Vulnerabilidade ambiental. 2. Inundações. 3. Desastres ambientais. I. Amorim, Raul Reis, 1981-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Rivers and the imminence of loss : vulnerability flooding in the Ribeira de Iguape-SP river basin Palavras-chave em inglês: Environmental vulnerability Floods Environmental disasters Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestre em Geografia Banca examinadora: Raul Reis Amorim [Orientador] Eduardo José Marandola Junior Elzira Lúcia de Oliveira Ednice de Oliveira Fontes Baitz Data de defesa: 27-11-2020 Programa de Pós-Graduação: Geografia

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-4977-2100 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/1719976396105811

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

AUTOR: Allan Eduardo Cano

OS RIOS E A IMINÊNCIA DA PERDA: VULNERABILIDADE ÀS INUNDAÇÕES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE – SP.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Raul Reis Amorim

Aprovado em: 27 / 11 / 2020

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Raul Reis Amorim - Presidente

Prof. Dr. Eduardo José Marandola Junior

Profª. Drª. Ednice de Oliveira Fontes Baitz

Profª. Drª. Elzira Lúcia de Oliveira

A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora consta no processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 27 de novembro de 2020.

Dedico este trabalho a todos os filhos e filhas de famílias tradicionalmente pobres que se tornaram os primeiros de suas famílias a conseguir um título acadêmico por uma universidade pública, gratuita, de excelência e socialmente referenciada.

Dedico também a todas as pessoas que têm a vida e os sonhos interrompidos por um desastre.

AGRADECIMENTOS

Concluir um trabalho de pesquisa é uma árdua tarefa, ainda mais em um contexto de contínuo ataque e desprestígio à educação e à ciência, por governos déspotas, autoritários e fascistas, que incentivam uma massa explorada (e por isso alienada) a subjugar o valor do conhecimento. Sem ajuda e sem apoio isso se tornaria muito mais difícil. Dessa forma, os agradecimentos descritos aqui contemplam os mais sinceros e profundos sentimentos de gratidão. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de (FAPESP), processo nº 2018/09401-1. Agradeço a meu orientador Prof. Dr. Raul Reis Amorim pelo apoio e disponibilidade irrestritos durante toda a realização dos trabalhos de pesquisa. Os resultados e as discussões apresentadas nesse documento têm muito de seu empenho e dedicação. Obrigado por acreditar em mim. Agradeço aos professores da Universidade Federal Fluminense Profa. Dra. Elzira Lúcia de Oliveira e Prof. Dr. Gustavo Henrique Naves Givisiez, pelas contribuições inestimáveis acerca da metodologia. Agradeço ao Prof. Dr. Eduardo José Marandola Jr. pela disponibilização do Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGERR), da Faculdade de Ciências Aplicadas de Limeira (UNICAMP), para o prosseguimento do meu trabalho, e aos colegas desse laboratório que me receberam de forma tão afetuosa. Agradeço ao Me. Ulises Rodrigo Magdalena, doutorando do Programa de Pós- Graduação em Geografia do IG-UNICAMP, pelo grande auxílio nos procedimentos metodológicos de sistematização dos dados, e na confecção de material cartográfico utilizado neste texto. Agradeço aos professores do Departamento de Geografia do IG-UNICAMP que propiciaram vivências e reflexões importantes para a minha formação. Agradeço aos meus colegas do Laboratório de Estudos Climáticos e Bacias Hidrográficas da UNICAMP pela boa companhia e solidariedade de sempre.

Agradeço à Marcela Araújo e Mariana Olivatto pela tão gentil prestatividade em me ajudar com a escrita do Abstract. Agradeço à Dayane Soldan pela disponibilidade em me ajudar com a formatação deste trabalho. Agradeço ainda de forma especial a dois grupos de pessoas que me sustentaram e me deram forças durante o desenvolvimento dos meus trabalhos de pesquisa, minha família e meus amigos. À minha mãe Adeiza, pela mais pura e genuína doação, por me ensinar através do seu carinho a importância e o valor de um porto seguro. Ao meu pai Antonio, por ter lutado (e ainda lutar) incansavelmente para que eu e meus irmãos possamos nos tornar pessoas cada vez maiores e melhores. Aos meus irmãos Anderson e Juninho, que me ensinam tanto sobre o amor e dedicação. As vitórias deles são as minhas, assim como as minhas também lhe pertencem. À minha amiga Flávia que sempre está por perto, de uma forma que se não estivesse é difícil saber como tudo seria. À minha amiga Fernanda pela sempre certa prestatividade e paciência. Ao meu primo Breno que estava lá quando eu não sabia se haveria alguém. Agradeço também a todos os amigos, amigas e familiares que acompanharam o meu trabalho de forma direta ou mais distante, que me acolheram e estavam comigo quando eu só queria reclamar da vida. Os nomes de vocês não estão aqui por receio de esquecer alguém, mas todos foram e ainda são muito importantes para mim. Muito obrigado a todos vocês.

Para sempre é sempre por um triz Aí, diz quantos desastres tem na minha mão Diz se é perigoso a gente ser feliz. “Beatriz” Chico Buarque

RESUMO

O modo como a sociedade reproduz a sua sociabilidade por meio de relações econômicas, baseadas no consumo, que se sustenta sobre a contínua extração de recursos naturais do ambiente, e consequentemente alteram a cobertura da superfície do planeta resultam em variadas consequências ambientais nas mais diversas escalas, assim como as denominadas mudanças climáticas, dadas pelo aumento da temperatura da atmosfera da Terra, decorrente do acréscimo de gases do efeito estufa, emitido pelas atividades humanas. Nesse contexto, os perigos ambientais, tais como as inundações, podem passar a ocorrer de forma mais intensa, potencializados pelas mudanças climáticas, e ocasionando desastres que reverberam em perdas e danos cada vez maiores. Assim, o risco, um elemento constituinte da sociabilidade contemporânea, ganha vultuosidade, tornando-se cada vez mais presente no cotidiano pela probabilidade crescente da ocorrência de perigos ambientais com potencial maior de destruição. Dessa forma, a pesquisa em vulnerabilidade das populações a esses perigos se apresenta como uma ferramenta de enfrentamento a essa realidade. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo sistematizar um indicador sintético de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação que possa ser utilizado, sobretudo, para elaboração de políticas públicas de ordenamento territorial de áreas de planícies aluviais, que visem a mitigação das perdas provocadas por inundações. A área escolhida para aplicação do modelo proposto é a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape no estado de São Paulo, na qual são recorrentes as notificações de desastres deflagrados por inundação. O indicador proposto é constituído dos indicadores prévios de Suscetibilidade Ambiental e de Vulnerabilidade Social, também sistematizados nessa pesquisa, que expressam a exposição ao perigo e a capacidade de resposta da população, com seu consequente potencial para perdas. Os resultados foram capazes de apontar, nos lugares da área em estudo, os aspectos mais deficitários que demandam prioridade para diminuir a vulnerabilidade dos habitantes à inundação, além de retratar cenários de desigualdade social que aumentam a fragilidade desses agrupamentos populacionais. Além disso, indicaram que aproximadamente um terço da área da bacia se encontra com residentes sob alta vulnerabilidade à inundação.

Palavras chave: Vulnerabilidade; Inundação; Desastre.

ABSTRACT

The manner in which society reproduces its sociability throughout economic relations based on consumption has been sustained under the continuous extraction of natural resources. Consequently, altering the surface of the planet, resulting in several environmental impacts at different levels, such as the ones known as climate changes, which occur as a result of Earth’s atmosphere rising temperature due to the increase of greenhouse gases issued by human activities. Within this framework, environmental dangers such as floods can begin to occur more intensively, heightened by climate changes, causing disasters that reverberate in considerable losses and damages. Therefore, the constituent element of contemporary society that are risks gain ample proportions, becoming more present daily by the rising probability of environmental hazards with sizeable destruction potential. Thus, research on populations’ vulnerability to these hazards presents itself as a coping mechanism to this reality. In this sense, this work aims to systematize a Socio-Environmental Vulnerability to Flood’s synthetic indicator that could be used, mostly, to the development of land use planning public policies of floodplains areas that aim the mitigation of losses caused by floods. The chosen area to be used on the proposed model is the Ribeira River hydrographic basin of Iguape at the state of São Paulo, in which notifications of disasters caused by floods are frequent. The proposed indicator is constituted by previous Environment Susceptibility and Social Vulnerability indicators also systematized in this research. These indicators show the danger exposures and the population response capability and its consequentially potential to losses. The results were able to point out, in places in the area under study, the most deficient aspects which demand priority to reduce the vulnerability of inhabitants to flooding, beyond portraying social inequality scenarios that increase the fragility of these population groups. Furthermore, the results indicated that approximately one-third of the basin's area residents are currently highly vulnerable to flooding.

Keywords: Vulnerability; Flood; Disaster.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Diferença entre Enchente e Inundação...... 32 Figura 2 – Aspectos estruturantes da vulnerabilidade: População e Risco...... 51 Figura 3 – Síntese do modelo de lugar de perigo (Hazards of Place Model)...... 58 Figura 4 – Localização da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape (UGRH-11) e a situação dos municípios...... 70 Figura 5 – Relação entre objetivos específicos A, B, C, D e E, indicadores propostos e objetivo geral ...... 77 Figura 6 – Modelo de Vulnerabilidade empregado na delimitação da Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 80 Figura 7 – Elementos da vulnerabilidade à perigos ambientais e seu enquadramento no Índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação...... 81 Figura 8 – Estrutura do índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação...... 85 Figura 9 – a: Exemplo da relação direta entre as proporções de variáveis no setor censitário e sua classificação quanto à vulnerabilidade social...... 92 Figura 10 – Exemplo da relação indireta entre as proporções de variáveis no setor censitário e sua classificação quanto à vulnerabilidade social...... 92 Figura 11 – Síntese do cálculo da Vulnerabilidade Social...... 96 Figura 12 – Síntese da Suscetibilidade Ambiental...... 100 Figura 13 – Média Anual de Chuva (mm) entre 1977 a 2006 no território da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape...... 105 Figura 14 – Mapa dos Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 108 Figura 15 – Mapa Hipsométrico da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 109 Figura 16 – Mapa de Relevo da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 110 Figura 17 – Mapa Pedológico da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 112 Figura 18 – Abrangência das Unidades de Conservação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 124 Figura 19 – Mapa de Suscetibilidade à Inundação na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 143 Figura 20 – Mapa de Uso e Ocupação das terras da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP, cenário de 2018...... 146

Figura 21 – Tipo de ocupação urbana observada em trabalho de campo...... 147 Figura 22 – Ponte sobre rio São Lourencinho (afluente do rio Juquiá) em Miracatu-SP, com ocupação agrícola de um lado (plantação de bananas)...... 148 Figura 23 - Canais de pequeno porte que extravasam água pelas suas margens causando inundações (imagens A, B e C) ...... 151 Figura 24 – Dimensão Aspectos Populacionais – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP...... 157 Figura 25 – Componente Estrutura da Família e Tamanho dos Domicílios – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP...... 163 Figura 26 – Componente Renda e Educação da Dimensão Aspectos Populacionais – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP...... 166 Figura 27 – Dimensão Habitação e Entorno – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP...... 169 Figura 28 – Indicador Vulnerabilidade Social da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 174 Figura 29 – Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 179

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População, taxa de urbanização e área dos municípios que compõem a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos nº 11...... 71 Tabela 2 – População ocupada em 2018...... 72 Tabela 3 - Estoque de Empregos Formais segundo setor de Atividade Econômica em 2018 nos municípios da UGRH-11...... 74 Tabela 4 – Proporção de domicílios particulares com renda per capita de até ½ salário mínimo...... 75 Tabela 5 – Matriz utilizada na classificação em classes “baixa”, “média” ou “alta”, do componente Estrutura Familiar (EF)...... 95 Tabela 6 – Área dos Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP.107 Tabela 7 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental I...... 111 Tabela 8 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental III...... 116 Tabela 9 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental IV...... 117 Tabela 10 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental V...... 119 Tabela 11 – Grupos de Unidades de Conservação segundo a Lei nº 9.985/2000 e sua presença na UGRH-11...... 121 Tabela 12 – Proporção de área de Unidades de Conservação (UC) de caráter Integral no território dos municípios da UGRH-11...... 123 Tabela 13 – Quantidade de notificações de inundação por município entre 1998 e 2018 no SIMPAT...... 130 Tabela 14 – Quantidade de notificações de inundação por município entre 1998 e 2018 no S2iD...... 130 Tabela 15 – Perdas materiais, econômicas e danos humanos decorrentes dos desastres provocados por inundação entre 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape- SP, por município...... 139 Tabela 16 – Quantidade e percentual de área das classes de Suscetibilidade à Inundação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP ...... 142 Tabela 17 – Área e percentual de área ocupada pelas classes de uso e ocupação das terras na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape...... 149 Tabela 18 – Percentual de área sob as classes de Suscetibilidade Ambiental no meio rural e urbano, por município, na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape...... 153

Tabela 19 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo a Dimensão Aspectos Populacionais, nas áreas rural e urbana, por município...... 160 Tabela 20 – Percentual de habitantes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo o componente Estrutura Familiar, por município...... 164 Tabela 21 – Percentual de habitantes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo o componente Renda e Educação...... 167 Tabela 22 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo a Dimensão Habitação e Entorno, nas áreas rural e urbana, por município...... 172 Tabela 23 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Social, nas áreas rural e urbana, por município...... 176 Tabela 24 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Socioambiental, nas áreas rural e urbana, por município...... 181

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Notificações de inundação por ano entre 1998 e 2018 no SIMPAT...... 127 Gráfico 2 – Notificações de inundação por ano entre 1998 e 2018 no S2ID...... 127 Gráfico 3 – Mês de ocorrência das inundações dentre o total de notificações entre os anos de 1998 e 2018 no SIMPAT...... 128 Gráfico 4 – Mês de ocorrência das inundações dentre o total de notificações entre os anos de 1998 e 2018 no S2iD...... 128 Gráfico 5 – Número de municípios com notificação de inundação por ano pelos dados do SIMPAT ...... 132 Gráfico 6 – Número de municípios com notificação de inundação por ano pelos dados do S2iD ...... 133 Gráfico 7 – Quantidade de pessoas desalojadas e desabrigas devido as inundações entre os anos de 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape...... 135 Gráfico 8 – Perdas materiais e econômicas decorrentes das inundações entre os anos de 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 137 Gráfico 9 – Percentual de área das classes de Suscetibilidade Ambiental à Inundação na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 150 Gráfico 10 – Percentual de área das classes de Suscetibilidade Ambiental entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP.Gráfico 11 – Percentual de área das classes de Suscetibilidade Ambiental entre o somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP...... 151 Gráfico 12 – Percentual de área das classes da dimensão Aspectos Populacionais, na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 158 Gráfico 13 – Percentual de área das classes da dimensão Aspectos Populacionais, entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP...... 158 Gráfico 14 – Percentual de área das classes da dimensão Aspectos Populacionais, entre o somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP...... 158 Gráfico 15 – Percentual de área das classes segundo a Dimensão Habitação e Entorno, na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 170 Gráfico 16 – Percentual de área de para a Dimensão Habitação e Entorno, entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 170

Gráfico 17 – Percentual de área para a Dimensão Habitação e Entorno, entre o somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 170 Gráfico 18 – Percentual de área das classes de Vulnerabilidade Social na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 175 Gráfico 19 – Percentual de área de Vulnerabilidade Social entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 176 Gráfico 20 – Percentual de área de Vulnerabilidade Social entre o somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 176 Gráfico 21 – Percentual de área das classes de Vulnerabilidade Social na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 180 Gráfico 22 – Percentual de área de Vulnerabilidade Socioambiental entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 180 Gráfico 23 – Percentual de área de Vulnerabilidade Socioambiental entre o somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP...... 180

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificação de desastres quanto à intensidade...... 26 Quadro 2 –Tipos de inundação e suas características gerais...... 32 Quadro 3 – Definições de Bacia Hidrográfica...... 36 Quadro 4 – Abordagens da pesquisa em vulnerabilidade...... 44 Quadro 5 – Tipos de resiliência do modelo Disaster Resilience of Place...... 55 Quadro 6 – Fatores e Variáveis dominantes utilizadas na delimitação da Vulnerabilidade Social à Perigos Ambientais nos Estados Unidos...... 60 Quadro 7 – Critérios de Classificação de Indicadores Sociais...... 66 Quadro 8 – Propriedades desejáveis a Indicadores Sociais...... 67 Quadro 9 – Aspectos elementares para a concepção conceitual de lugar...... 82 Quadro 10 – Componentes e Variáveis que compõem a Dimensão Aspectos Populacionais no índice de Vulnerabilidade Social...... 87 Quadro 11 – Componentes e Variáveis que compõem a Dimensão Habitação e Entorno e Serviços no índice de Vulnerabilidade Social para os setores censitários Urbanos...... 88 Quadro 12 – Componentes e Variáveis que compõem a Dimensão Habitação e Entorno e Serviços no índice de Vulnerabilidade Social para os setores censitários Rurais...... 89 Quadro 13 – Condição das relações diretas ou indiretas das variáveis no setor censitário e a Vulnerabilidade Social...... 93 Quadro 14 – Agrupamento das classes de uso utilizado para a definição da Suscetibilidade Ambiental...... 100 Quadro 15 – Regimes de precipitação da América do Sul influentes sobre a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape...... 104 Quadro 16 – Unidades Morfoestruturais e Morfoesculturais e Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape...... 107 Quadro 17 – Tipos de uso permitidos nas unidades de conservação brasileiras por categoria.122 Quadro 18 – Classificação de desastres da Defesa Civil quanto a intensidade...... 141 Quadro 19 – Interpretação das classes de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação...... 178

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 20

PARTE 1 - ENTENDENDO OS CONCEITOS ...... 23

1. DESASTRES: DISSENSO E RESULTADO ...... 24 2. INUNDAÇÕES, ENCHENTES E EVENTOS EXTREMOS ...... 30 3. BACIA HIDROGRÁFICA: RECORTE ESPACIAL AMBIVALENTE ...... 36 3.1. Área da dinâmica fluvial e hidrológica ...... 36

3.2. Unidade espacial para planejamento ...... 41

4. VULNERABILIDADE: A AMPLITUDE DO CONCEITO E SEU USO NA ÁREA DE PERIGOS AMBIENTAIS (ENVIRONMENTAL HAZARDS)...... 43 4.1. Qualificando a Vulnerabilidade: sua relação com o risco, o perigo, a suscetibilidade, a resiliência e a fragilidade ...... 51

4.2. Vulnerabilidade dos Lugares: o Hazards of Place Model...... 56

5. INDICADORES SOCIAIS ...... 63

PARTE 2 - O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ...... 71

6. ÁREA DE ESTUDO ...... 69 7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...... 77 7.1. Inventário das inundações e desastres entre os anos de 1998 e 2018 ...... 78

7.2. O índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação ...... 80

PARTE 3 - O PERIGO DA INUNDAÇÃO E A VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL À INUNDAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE-SP ...... 102

8. OS COMPONENTES NATURAIS E ANTRÓPICOS DA ÁREA EM ESTUDO: O CONTEXTO EM QUE OCORREM AS INUNDAÇÕES ...... 103 8.1. Pluviosidade e Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape .. 103

8.2. Unidades de Conservação ...... 119

9. INUNDAÇÃO E DESASTRE NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE ...... 125 9.1. As notificações entre 1998 e 2018 ...... 125

9.2 Os danos e as perdas das inundações ...... 133

10. A SUSCETIBILIDADE AMBIENTAL À INUNDAÇÃO ...... 142 10.1. Suscetibilidade à inundação ...... 142

10.2. Uso e Ocupação das terras ...... 145

10.3. Suscetibilidade Ambiental à Inundação ...... 150

11. A VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO ...... 156 11.1. O Indicador sintético da dimensão Aspectos Populacionais ...... 156

11.2. O Indicador sintético da Dimensão Habitação e Entorno ...... 168

11.3. O Indicador sintético de Vulnerabilidade Social à inundação ...... 172

12. O INDICADOR SINTÉTICO: VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL À INUNDAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE-SP... 178

CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 184 REFERÊNCIAS ...... 187 APÊNDICE A – Resultados SIMPAT ...... 195 APÊNDICE B – Resultados S2iD ...... 201 APÊNDICE C – Notificações e danos inundações entre 1998 e 2018, BH - Ribeira de Iguape ...... 204

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INTRODUÇÃO

Na primeira década do século 21, os eventos hidrometeorológicos, categoria na qual está contida a inundação, foram responsáveis por entre 70% e 90% da ocorrência de desastres naturais no mundo, e por 63% do total das perdas econômicas por esse tipo de desastres no ano de 2010 (GUHA-SAPIR e HOYOIS, 2012). A nível global o Emergency Database EM-DAT, têm um banco de dados que fez registra desastres em dois grandes grupos: desastres de origem natural e desastres de origem tecnológica. As inundações estão incluídas no subgrupo dos desastres de origem hidrológica. Os dados são organizados por países de ocorrência. O EM-DAT só inclui em seus bancos de dados os episódios que atendam os seguintes critérios: 10 ou mais óbitos; 100 ou mais pessoas afetadas; declaração de estado de emergência e pedido de auxílio internacional. Entre 1960 e 2020 foram notificados 5276 episódios de inundações no mundo que atendem aos critérios estabelecidos. Além disso, somente no ano de 2019, no mundo todo, as inundações foram responsáveis por aproximadamente 5.110 mortes e 31 milhões de pessoas afetadas, e as perdas econômicas ultrapassaram 36,8 bilhões de dólares (CREED, 2020). O Brasil registrou 142 desastres por inundações no período de 1960 a 2019, com 7.571 mortes e mais de 20 milhões de pessoas afetadas, somados aqui a população desabrigada/desalojada (EM-DAT CRED, 2020). A partir de uma sintetização de dados do EM-DAT que cobrem o período entre os anos de 1900 e 2006, Marcelino (2008) apresenta que no Brasil, as inundações foram responsáveis por 59% dos desastres naturais ocorridos, e que mais de 60% desse tipo de desastre aconteceu nas regiões Sul e Sudeste do país. Por sua vez, o , como é popularmente conhecida a região da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, destaca-se no mapa de inundação do Estado de São Paulo, visto no Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, pelo alto número de ocorrências registradas (CEPED UFSC, 2013). Por essas razões, o objetivo geral dessa pesquisa é propor e sistematizar indicadores que possam identificar a situação de vulnerabilidade à inundação na área da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP. Através da pesquisa sobre vulnerabilidade, áreas vulneráveis podem ser apontadas através do dimensionamento do grau de exposição dos locais ao perigo e do reconhecimento

21 das deficiências dos agrupamentos populacionais que diminuem sua capacidade de resposta a essas ameaças. A partir de indicadores de vulnerabilidade é possível que se estabeleçam estratégias e ações de intervenção sobre áreas mais vulneráveis, exatamente sobre os aspectos mais deficientes, resultando em práticas que visem a mitigação dos danos observados em situações de desastres deflagrados por inundações. Essa prática, inclusive, é a recomendada pelo CREED e pela United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNISDR), ao sublinharem que as ações para reduzir as perdas em desastres são a chave para erradicar a pobreza, uma vez que modificam as condicionantes do risco, as quais estão envolvidas diretamente com as condições sociais e sanitárias de vida dos indivíduos (WALLEMACQ e HOUSE, 2018). Dessa forma, para atender ao objetivo geral, os objetivos específicos delimitados foram: a) Caracterizar os sistemas ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP para compreender o contexto em que ocorrem as inundações e os desastres deflagrados por elas; b) Inventariar as inundações e os desastres por elas provocados entre os anos de 1998 e 2018 para compreender a dinâmica desses eventos e a dimensão de suas perdas na área de estudo. c) Definir as áreas sujeitas a inundação na área de estudo; d) Identificar os usos da terra nessa área; e) Identificar, através da elaboração de produtos cartográficos resultantes da operacionalização dos indicadores, a variação da vulnerabilidade à inundação dentro da área de estudo. Os trabalhos de pesquisa basearam-se em revisão bibliográfica em literatura específica e periódicos especializados sobre os assuntos pertinentes, tais como inundação e desastre, vulnerabilidade a perigos ambientais, e indicadores sociais; e levantamento de dados para a base cartográfica, a qual é utilizada para representar os sistemas ambientais, as áreas sujeitas a inundações, os usos e coberturas observados e a variação da vulnerabilidade às inundações na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. O objetivo geral dessa pesquisa está inserido nas discussões acerca das mudanças ambientais globais em curso e suas consequências para os agrupamentos humanos na superfície terrestre.

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Isso pode ser visto, por exemplo, no relatório do IPCC de 2014 que alerta sobre as repercussões das mudanças climáticas. Nesse documento é chamada a atenção para a relevância dos conceitos de vulnerabilidade e de risco, como eles se relacionam e como eles podem ser conceitos chave para entender as situações de perigo para que se possa agir na atenuação dos prejuízos, sejam eles referentes a desastres provocados por perigos ambientais, ou por desastres de origem antrópica, como explosões químicas, rompimento de barragens e derramamento de substâncias tóxicas no ambiente (OPPENHEIMER et. al., 2014). Volumes cada vez maiores de estudos garantem o cenário de aquecimento da superfície do planeta, e diversos trabalhos alertam para os desdobramentos que isso pode causar. Segundo publicação do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC, 2014), diversas atividades econômicas seriam afetadas por essas mudanças, sendo a agropecuária o setor mais atingido, devido a mudança no uso da terra requerido pelas novas condições da dinâmica climática, causando, por exemplo, uma pressão maior para a expansão da fronteira agrícola sobre a Amazônia. Outra consequência das mudanças climáticas apontada pela publicação é a alteração dos índices de temperatura e precipitação, que aliados às práticas atuais de desmatamento e degradação dos biomas brasileiros, poderiam causar eventos extremos de estiagem e intensificar ondas de frio e calor, que por sua vez decorreriam em consequências na reprodução das atividades econômicas nos variados setores. Devido a essa possível alteração do clima, há a possibilidade de maior ocorrência, nas áreas urbanas, de inundações, deslizamentos de terra e a recrudescência de doenças veiculadas por insetos e pela falta de infraestrutura sanitária (PBMC, 2014). Portanto, espera-se que as informações contidas neste trabalho possam servir como subsídio para ações de intervenção, sobre os lugares da área em estudo, que visem a mitigação das perdas decorrentes de desastres provocados por inundações, e ainda como material consultivo para a formulação de políticas públicas e demais publicações e ações que contemplem objetivos semelhantes.

PARTE 1 - ENTENDENDO OS CONCEITOS

1. DESASTRES: Dissenso e resultado 24

2. INUNDAÇÕES, ENCHENTES E EVENTOS EXTREMOS 30

3. BACIA HIDROGRÁFICA: Recorte espacial ambivalente 36

4. VULNERABILIDADE: A amplitude do conceito e seu uso na área de perigos ambientais (environmental hazards) 43

5. INDICADORES SOCIAIS 63

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1. DESASTRES: DISSENSO E RESULTADO

Segundo Marchezini (2009), há uma falta de consenso entre cientistas e pesquisadores que estudam o assunto, sobre a definição de desastre. É apontado que uma vez que se produzem diversos materiais sobre o tema sem esse consenso conceitual, seria interessante então uma abordagem interpretativa no sentido de indagar ‘como é o desastre ou como ele foi’. Marchezini (2009) não estabelece também uma definição de desastre, porém, apresenta três paradigmas apontados por Gilbert (1998) sobre a delimitação para esse conceito em trabalhos sobre o assunto. O primeiro paradigma entende desastre como um fenômeno externo que ao acometer comunidades causa consequências, fazendo com que seja necessário combater as situações decorrentes do acontecimento desse agente externo. Por isso, essa perspectiva se aproxima de um viés de guerra, e os desastres que causam consequências são os desastres da natureza, sendo o “vento forte que mata e destelha casas” ou “a chuva responsável pelos desabrigados”. No segundo paradigma o desastre é tido como resultado da vulnerabilidade social. Essa abordagem situa o entendimento do desastre dentro da organização social com suas explicações causais ligadas aos problemas estruturantes da sociedade, colocando em segundo plano a noção de que desastre estaria relacionado aos eventos e fenômenos naturais, os quais seriam responsáveis por variadas consequências. O terceiro paradigma concebe desastre como resultante de uma lógica de incertezas constituída pelas instituições. Tais incertezas seriam geradas pela dissonância de conhecimentos científicos decorrentes da especialização das ciências, ocasionando arcabouços de informações discordantes sobre a teoria e prática envolvidas na redução de riscos. Além disso, equívocos ou ausência de comunicação e difusão desorganizada de conhecimentos seriam responsáveis pela profusão de incertezas que culminariam na desarticulação dos esforços políticos, administrativos e científicos envolvidos na organização de ações sobre o risco. Tominaga (2009), entretanto, apresenta a conceituação da United Nations International Strategy for Disaster Reduction (UN-ISDR), de 2009, que entende desastre como:

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Grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas, ou ambientais de grande extensão, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios recursos. (UN-ISDR, 2009, apud TOMINAGA, 2009, p. 13).

Nessa conceituação, nota-se a amplitude proposta para a definição de desastre na prática, carecendo, dessa forma, de critérios, tais como para a determinação do tipo de evento que causa grave perturbação, da quantidade de perdas que definem um desastre e da delimitação do quanto e de quais tipos de impactos (consequências) podem interferir na capacidade de comunidades em lidar com a situação experimentada pelo desastre. Segundo publicação do Center for the Reseach on the Epidemiology of Desasters (CREED, 2020) disponibilizada no sítio on-line do Emergency Disasters Data Base (EM- DAT), para ser considerado como desastre a situação ocorrida precisa atender aos seguintes critérios: i) 10 ou mais pessoas mortas; ii) 100 ou mais pessoas relatadas como afetadas; iii) declaração de estado de emergência; iv) chamado para assistência internacional. Sobre a origem, Tominaga (2009) usa o termo de “causa primária do agente causador”, possibilitando a interpretação de que, para ela, o fenômeno ou evento que provoca o desastre não configura em si o desastre. Essa reflexão é importante, pois dialoga com a definição de Oliveira (2009) que será vista adiante. Para Tominaga (2009) então, os desastres podem ser classificados em Desastres Naturais ou Desastres Humanos. Os primeiros são aqueles em que o agente deflagrador são fenômenos e eventos da natureza com ocorrência independente da ação humana, e geralmente de grande intensidade, assim como fortes chuvas, que provocam inundações e escorregamentos; furacões, erupções vulcânicas, tsunamis etc. Nesses casos a atividade humana pode ou não agravar essas situações. Os desastres humanos (ou antropogênicos) ocorrem a partir da, ou estão relacionados com a ação humana, sendo ela agente ou autora. Exemplos seriam incêndios urbanos, contaminação de rios, rompimento de barragens etc. No que diz respeito à intensidade, Kobiyama et. al. (2006) apresentam uma classificação de desastres, dividindo-as em quatro níveis de intensidade, assim como pode ser visto no Quadro 1.

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Quadro 1– Classificação de desastres quanto à intensidade. Nível Intensidade Situação Desastre de pequeno porte, também chamado de Facilmente superável com os recursos do I acidente, onde os impactos causados são pouco município. importantes e os prejuízos pouco vultuosos. (Prejuízo menor que 5% do PIB municipal) De média intensidade, onde os impactos são de Superável pelo município desde que envolva II alguma importância e os prejuízos são significativos, uma mobilização e administração especial. embora não sejam vultuosos. (Prejuízos entre 5% e 10% do PIB municipal) De grande intensidade, com danos importantes e A situação de normalidade pode ser III prejuízos vultuosos. (Prejuízos entre 10% e 30% do restabelecida com recursos locais, desde que PIB municipal) complementados com recursos estaduais e federais. (Situação de Emergência - SE) De muito grande intensidade, com impactos muito Não é superável pelo município, sem que IV significativos e prejuízos muito vultuosos. (Prejuízos receba ajuda externa. Eventualmente maiores que 30% do PIB municipal) necessita de ajuda internacional. (Estado de Calamidade Pública - ECP) Fonte: Kobiyama et. al. (2006, p. 8)

Oliveira (2009), por sua vez, pontua que a conceituação de desastre é feita comumente em relação às catástrofes naturais ocorridas de forma rápida e imprevisível, tais como inundações, terremotos e erupções vulcânicas, que produzem danos e prejuízos às pessoas, bens e meio ambiente. Porém, este mesmo autor cita a Política Nacional de Defesa Civil (2000) que define que desastres são os resultados de “eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais” (BRASIL; Ministério da Integração Nacional, 2000 apud OLIVEIRA, 2009, p. 9). Assim, para Oliveira (2009) é importante ressaltar que desastre é aquilo que se configura como o resultado de um evento ou fenômeno, e não esses últimos em si. Desse modo, precipitações intensas, explosões químicas e tremores de terra, por exemplo, configurariam um evento adverso e seriam as consequências deles que caracterizariam um desastre. O autor op. Cit. também diferencia dano e prejuízo. Dano é a intensidade de perdas humanas, materiais ou ambientais decorrentes de um evento adverso que deflagra um desastre. Prejuízo é a medição das perdas em valores econômicos sociais e patrimoniais de bens. É necessário sublinhar que Oliveira (2009) postula tais definições a partir da perspectiva pragmática sobre como lidar com desastres, visto que seu trabalho se enquadra

27 dentro da abordagem normativa da Defesa Civil, o qual se caracteriza também como um protocolo de procedimentos, definidos por legislação específica que direcionam ainda as regras para distribuição de recursos pelo Estado para seus entes federativos para lidar com desastres. Entendendo desastres como as consequências de eventos adversos, é possível classificar o desastre a partir da quantificação das suas consequências e assim dirigir ações para o enfrentamento da situação instaurada por eles. A operacionalização do conceito de desastres visto em Tominaga (2009) é semelhante a de Oliveira (2009) porque ambos discutem o assunto a partir de instituições estatais responsáveis por pesquisa para embasar ações de enfrentamento à essas situações, como o Instituto Geológico da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, e das ações de enfrentamento propriamente ditas, realizadas pela Defesa Civil. Cada órgão citado compreende a esfera de atuação dos autores, respectivamente. Assim, o posicionamento dessas definições em um dos três paradigmas de entendimento de desastres levantados por Marchezini (2009) pode implicar em limitações epistemológicas, visto a finalidade e a abordagem das análises. Enquanto Tominaga (2009) e Oliveira (2009) se atentam ao caráter pragmático do termo, para a definição de ações de respostas em situações de desastres, Marchezini (2009) postula concepções filosóficas e conceituais que não se propõe ao mesmo pragmatismo dos primeiros. Entretanto, em um esforço de aproximação, entendidas as diferenças de abordagens, é visto que, tanto nos paradigmas mencionados por Marchezini (2009), quanto nas definições de Tominaga (2009) e Oliveira (2009), a concepção comum de desastre se baseia na de resultado de alguma situação ou evento. Mesmo nessa concepção ampla de desastre (de resultado/consequência) observa- se que o mesmo ocorre em variados contextos e lugares, nos quais os aspectos estruturantes da sociedade ali residente podem predizer a sua intensidade e nas maneiras como essa comunidade vai lidar com essa situação, assim como trazido por Marandola Jr. e Hogan (2006) ao discutirem vulnerabilidade. Desse modo, o segundo paradigma levantado por Marchezini (2009) também é relevante, pois desastres também são consequências do modo de se organizar da sociedade contemporânea, baseado na desigualdade e na privatização de ganhos e benefícios, e socialização de riscos (BECK, 2011).

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Para Marandola Jr. e Hogan (2009, p. 166) o desastre acontece “quando o perigo supera a habilidade da população ou do lugar em responder ao evento”. Dessa forma, as capacidades dos grupos populacionais em lidar com esse tipo de situação é uma variante expressiva que interseciona toda a problemática acerca dos perigos ambientais, do entendimento de desastre à compreensão da vulnerabilidade e suas interfaces correlacionadas, tais como a resiliência e o risco. É preciso chamar a atenção de que, conforme é apontado no item sobre vulnerabilidade, é necessária a operacionalização desse conceito para compreendê-lo (ALEXANDER, 2011). Logo, é preciso apontar um caráter identificado na bibliografia e nos trabalhos sobre desastres, perigos ambientais e vulnerabilidade: parece haver um conflito permanente entre definição normativa e conceituação acadêmica (filosófica/epistemológica) nos resultados da operacionalização dos conceitos. Essa constatação, dessa forma, parece corroborar também com o terceiro paradigma apresentado por Marchezini (2009), de que desastres são, sobretudo, resultantes de uma lógica de incertezas geradas pela dissonância de conhecimentos. Visto isso, no Brasil, a Defesa Civil utiliza a Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE, 2012?) para classificar desastres. Essa classificação foi feita a partir do Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT), do Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CREED) e da Organização Mundial de Saúde (OMS/ONU), na intenção de aproximar e adequar as normas brasileiras às normas internacionais. (CEPED UFSC, 2012). No COBRADE os desastres estão compreendidos em duas categorias, Natural e Tecnológico, e sua estrutura é organizada da seguinte forma (CEPED UFSC, 2012).  Categoria; o Grupo; . Sub-Grupo;  Tipo;  Sub-Tipo. Nessa classificação, inundação aparece como:  Categoria: Naturais; o Grupo: Hidrológico; . Sub-grupo: Inundações.

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No grupo de desastres hidrológicos aparecem também as enxurradas e os alagamentos. Não há tipo ou sub-tipo nesse grupo. Na COBRADE (2012?), segundo documento disponibilizado pelo sítio on-line da Defesa Civil do Estado do Espírito Santo, a inundação é entendida como:

Submersão de áreas fora dos limites normais de um curso de água em zonas que normalmente não se encontram submersas. O transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por chuvas prolongadas em áreas de planície (ESPÍRITO SANTO, 2020).

O interessante, entretanto, é notar que na forma como está apresentado na COBRADE (2012?), os eventos que provocam desastres são apresentados como desastre em si, ou seja, inundação seria o desastre, e não suas consequências em danos e prejuízos. Esse tipo de incoerência, notado pela discussão apresentada anteriormente, pode alocar o entendimento de desastre dentro da lógica de dissonância de conhecimentos (MARCHEZINI, 2009). Portanto, de acordo com a discussão estabelecida nesse item, desastre pode ser entendido pragmaticamente como resultado de um evento ou situação adversa, na qual esses últimos geram danos e prejuízos à população. Porém, esse entendimento não exclui as concepções paradigmáticas de que a causa dos desastres estão no modo de organização social da sociedade contemporânea e na dissonância de conhecimentos gerados por essa sociedade, uma vez que cada concepção implica na variância da quantidade de danos e prejuízos contabilizados pelas populações.

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2. INUNDAÇÕES, ENCHENTES E EVENTOS EXTREMOS

Pelas suas baixas declividades, as planícies ao redor dos rios foram atraentes à ocupação humana durante seu desenvolvimento histórico, por constituírem-se de locais mais confortáveis para a sedentarização, pela desnecessária adequação topográfica para suas edificações e demais atividades de subsistência, como o cultivo de hortas e lavouras (TUCCI, 2003). Os rios representaram importante papel para a prosperidade de agrupamentos humanos e foram sistematicamente utilizados, com o passar do tempo, como meio de transporte, de obtenção de alimentos e água, e para geração de energia. O controle e o manejo dos rios variaram na história de acordo com o desenvolvimento tecnológico de cada civilização, mas o fato contundente é que o ser humano se desenvolveu a partir da ocupação das planícies aluviais e da utilização dos rios (ALMEIDA, 2010). O extravasamento das águas dos canais às planícies, que configura a inundação, é um processo conhecido e utilizado pela humanidade há milhares de anos por apontar terrenos férteis e propícios ao cultivo para produção de alimentos, principalmente em regiões menos úmidas, em que as áreas férteis se limitam às planícies dos cursos de água. Grandes civilizações antigas, como a egípcia, a mesopotâmica, a chinesa e a indiana, se desenvolveram concomitante às técnicas de controle das águas dos rios para irrigação (ALMEIDA, 2010). Contudo, inundações e enchentes são fenômenos presente na dinâmica natural dos cursos de água, definindo os processos de erosão e deposição que orientam o trabalho morfológico dos canais na esculturação do relevo (CHRISTOFOLETTI, 1980; STEVAUX e LATRUBESSE, 2017). Inundação, segundo Carvalho, Macedo e Ogura (2007), é definida pelo extravasamento das bordas do curso d’água para as áreas marginais ou planícies de inundação, e conforme Amaral e Ribeiro (2009) é um evento natural, e assim como as enchentes, respeita determinada periodicidade nos cursos d’água. Christofoletti (1980, p. 76) atesta também essa periodicidade ao afirmar que “a planície de inundação é a faixa do vale fluvial composta de sedimentos aluviais bordejando o curso de água e periodicamente inundada pelas águas do transbordamento provenientes do rio”.

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Segundo Stevaux e Latrubesse (2017) as planícies de inundação são as superfícies ao redor dos cursos de água que são inundados pelas suas cheias, possuindo inter-relações hidrológicas, sedimentológicas e ecológicas com a ação fluvial. Tucci (2003) denomina inundação como inundação ribeirinha, adicionando à variável precipitação ao conceituar tal evento. Para o autor op. cit., uma vez que a precipitação ocorre em grande intensidade e ou duração, e o solo saturado perde a capacidade de infiltração, a água passa a escoar superficialmente para o sistema de drenagem local, que ao exceder sua capacidade de escoamento natural na calha de seu curso, extravasa, inundando a área ao redor, acompanhando a sua topografia. Elorza (2008) suscita a definição de Smith e Ward (1998) de que inundação ocorre quando um grande fluxo excede o canal do curso de água. Amaral e Ribeiro (2009) entendem enchentes ou cheias como o aumento do nível de água no canal de drenagem, ocorrido pelo aumento da vazão, sem o extravasamento de água pelas bordas. Na figura 1 é possível observar, na prática, a diferença entre inundação e enchente, tal qual essa última compreensão. É possível que a inundação ocorra, de forma geral, em todo o curso do rio. Quando ela acontece a montante, as áreas a jusante serão também afetadas, de certa forma, assim como o contrário. Com exceção dos eventos extremos que modificam até mesmo o canal ou o vale, as consequências desse fenômeno são passageiras, e pequenas em relação à dinâmica erosiva e deposicional do canal. Durante as inundações predominam o processo de erosão devido a grande velocidade e energia do fluxo de água (ELORZA, 2008).

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Figura 1 – Diferença entre Enchente e Inundação.

Fonte: Goerl e Kobyiama (2005 apud Minas Gerais, 2013, p. 10).

Elorza (2008) apresenta uma classificação de inundações, observadas no quadro 2, e aponta que as inundações se apresentam como um dos riscos naturais mais destrutivos para as sociedades, sendo passíveis de atingirem tantos países industrializados quanto países em desenvolvimento, e que podem ser intensificadas pela atividade humana na alteração da cobertura do solo.

Quadro 2–Tipos de inundação e suas características gerais. Tipos de inundação Características Fluvial Nas áreas de vales com planícies de inundação quando ocorre o transbordamento das margens do canal ou de diques artificiais. De nível do lençol freático Em condições úmidas o nível freático se torna superficial, a elevação do nível de água superficial, como resposta a esse aumento, é rápido. Súbitas (flash floods) Em condições secas a capacidade de infiltração é mínima e a resposta às precipitações é rápida, originando inundações súbitas. Em manto (sheet floodig) Em zonas áridas, quando não estão claramente definidos os canais, se produzem esse tipo de inundação. Ocorrer nas áreas urbanas quando grandes chuvas fazem transbordar os canais que estão canalizados. Litorâneas Acontecem em áreas costeiras, incluindo estuários e deltas, através da penetração da água do mar nessas áreas pela ação de ondas devido a grandes ressacas ou tsunamis, ou pelo rompimento de diques artificiais. Fonte: Elorza (2008, p. 327).

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Os condicionantes dos processos de inundação e enchentes são listados por Amaral e Ribeiro (2009), os quais chamam a atenção de que há uma combinação entre condicionantes naturais e antrópicos. Os condicionantes naturais são: formas de relevo; característica da drenagem da bacia hidrográfica; intensidade, quantidade, distribuição e frequência das chuvas, características do solo e o teor de umidade; e presença ou ausência da cobertura vegetal. Entretanto, um fator preponderante para o acontecimento de inundações e enchentes é a precipitação, sua quantidade e distribuição no tempo (AMARAL e RIBEIRO, 2009). Os condicionantes antrópicos são: uso e ocupação irregular nas planícies e margens de cursos d’água; disposição irregular de lixo nas proximidades dos cursos d’água; alterações nas características da bacia hidrográfica e dos cursos d’água, como da vazão, retificação e canalização de canais, impermeabilização do solo; e intenso processo de erosão dos solos e de assoreamento de cursos d’água (AMARAL e RIBEIRO, 2009). Press et al. (2006) apontam a relevância da vazão do curso d’água no contexto de inundações. A vazão, conforme explicam, é o volume de água que passa por uma seção transversal do rio em um dado tempo, sendo medida em metros cúbicos por segundo. A seção transversal é dada pela largura multiplicada pela profundidade do canal. A vazão, portanto, pode ser medida pela seção transversal multiplicada pela velocidade da água ao passar por ela. Desse modo, a inundação ocorre quando há um aumento contínuo da vazão fazendo com que a água transborde pelas margens do canal. A maior parte de eventos de inundação ocorre devido a eventos meteorológicos, como a precipitação de chuvas intensas e por grandes períodos, responsáveis pelo aumento da vazão dos cursos d’água. Sobre os tipos de precipitação e sua relação com inundações, Elorza (2008) apresenta que as tempestades convectivas, quando demasiadas e localizadas, geram inundações em bacias de drenagem menores. Já as chuvas de origem ciclônicas, de precipitação com baixa intensidade, podem ocasionar inundações em grandes bacias de drenagem. As tempestades ciclônicas de origem tropical são deflagradores de vultosos episódios de inundação pelo mundo. O clima, através da temperatura e precipitação, e a cobertura vegetal são grandes agentes controladores da maioria das inundações, sendo que, de forma geral, as características das inundações podem variar de acordo com as condições climáticas da área em que a bacia de drenagem está situada (ELORZA, 2008).

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A magnitude da inundação pode ser definida pela cota altimétrica que a água alcança na planície de inundação. A variação entre a descarga de água que passa em uma seção de seu canal em um determinado tempo permite constituir um hidrograma, no qual é possível acompanhar a evolução do fluxo de água em um período de tempo. Os fatores que influenciam o comportamento dos dados do hidrograma são a distribuição espacial e temporal das chuvas e as características físicas da bacia hidrográfica. Através da análise de hidrogramas de um canal é possível observar o tempo em que a água demora a atingir o pico de sua vazão, e a quantidade de água necessária para tal (ELORZA, 2008). A observação dos dados mencionados acima é relevante para poder traçar o desenho da estrutura hidráulica de uma área, com o propósito de se entender a magnitude possível e o período de retorno de grandes inundações, o qual é dado em anos. Comumente, o período de retorno de uma inundação catastrófica é bastante grande, ou seja, em distância temporal de vários anos. Período de retorno é dado a partir de cálculos que levam em consideração a quantidade de registros desse evento e o intervalo de recorrência de inundações, gerando uma probabilidade de um fluxo ser superior ao máximo já observado (ELORZA, 2008). Press et al (2006) nomeiam o período de retorno como intervalo de recorrência e suscitam que grandes inundações acontecem em intervalos maiores, de décadas; e inundações pequenas ocorrem com uma variação de 2 ou 3 anos. Os autores op. cit. salientam ainda que três fatores são importantes para a definição desse intervalo: o clima da região, a largura da planície de inundação e o tamanho do canal. Uma vez que Elorza (2008) e Amaral e Ribeiro (2009) concordam que a precipitação e a variação climática, com acontecimentos de eventos climáticos extremos, são agentes controladores das inundações, e, conforme visto que isso aparece também na definição da COBRADE (2012?), entende-se ser importante compreender o que são esses eventos. Segundo Dias (2014) a compreensão dos eventos climáticos extremos é concebida através da consideração da dinâmica climática global do planeta, posto que um evento extremo não acontece de forma isolada em um único lugar, mas geralmente tem conexões com outras localidades por estar incluído nessa perspectiva planetária. A autora op. cit. menciona que na contemporaneidade ainda não existem respostas sobre as causas de padrões climáticos extremos, mas pesquisas têm indicado relações entre eles, e que os padrões mais conhecidos causadores desses tipos de eventos são os Fenômenos El Niño e La Niña.

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O El Niño acontece quando ocorre aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico tropical e a decorrência mais próxima ao local desse fenômeno é a elevação da quantidade de chuva em regiões da costa oeste da América do Sul, compreendendo o sul do Brasil, o Uruguai e a Argentina. Áreas mais distantes também são afetadas, tais como a região equatorial leste da África, onde também são observados aumento de chuvas (DIAS, 2014). Já a La Niña ocorre quando há um acentuado resfriamento das águas do Oceano Pacífico tropical. As situações associadas são a diminuição de chuvas e de temperatura da costa oeste equatorial da América do Sul, tempo mais chuvoso na Indonésia e tempo seco e quente no sudeste norte-americano. No Brasil, em épocas de La Niña, a Região Sudeste apresenta ondas de frio mais intensas, e ao norte das Regiões Norte e Nordeste é visto elevada quantidade de chuvas (DIAS, 2014). Assim como apresentado por Dias (2014), a ocorrência dos fenômenos de El Niño e La Niña refletem em alterações de temperatura e precipitação em várias regiões do globo. Marengo (2009) explica que eventos climáticos extremos podem ocorrer em diferentes escalas de tempo, variando de dias até milênios, sendo que os mais relevantes para as atividades humanas seriam aqueles de curto e médio prazo, relacionados à meteorologia e ao clima, respectivamente, dadas as consequências em danos e prejuízos que podem acarretar. Dias (2014) salienta que extremos climáticos propiciam, entre outras situações, a formação de tempestades severas, assim como pode ser observado em anos de El Niño, no sul do Brasil, quando esses tipos de eventos causam quedas de granizo, ventanias, tornados e inundações. Marengo (2009) chama a atenção de que nos casos de precipitações extremas é complexa a análise de tendências por causa da incipiente relação comprovada entre eventos desse tipo. Por isso, estudos e análises confiáveis podem ser obtidos somente para regiões que possuem ampla rede de dados e medições de dados climáticos.

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3. BACIA HIDROGRÁFICA: RECORTE ESPACIAL AMBIVALENTE

3.1. Área da dinâmica fluvial e hidrológica

Existem definições bastante semelhantes para o conceito de bacia hidrográfica. Machado e Torres (2012) expõem algumas delas para exemplificar tal concordância, chamando a atenção ao fato de que o desacordo entre a bibliografia reside na definição das subdivisões dessa unidade espacial. O quadro 3 apresenta as definições suscitadas pelos autores op. cit.

Quadro 3 – Definições de Bacia Hidrográfica. Referência Definição de bacia hidrográfica Uma área da superfície terrestre que drena água, sedimentos e materiais Coelho Netto (2007) dissolvidos para uma saída comum, num determinado ponto de um canal fluvial. Um sistema que compreende um volume de materiais, predominantemente sólidos e líquidos, próximo à superfície terrestre, delimitado interna e Rodrigues e Adami (2005) externamente por todos os processos que, a partir do fornecimento de água pela atmosfera, interferem no fluxo de matéria e de energia de um rio ou de uma rede de canais fluviais. Bacia hidrográfica compõe-se basicamente de um conjunto de superfícies Silveira (1993) vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos d'água que confluem até resultar um leito único no exutório. A noção de bacia hidrográfica obriga naturalmente a existência de Guerra (1980) cabeceiras ou nascentes, divisores de água, cursos d'água principais, afluentes, subafluentes etc. Área delimitada por um divisor de águas que drena as águas de chuvas por ravinas, canais e tributários para um curso principal, com vazão efluente, Rocha e Kurtz (2001) convergindo para uma única saída e desaguando diretamente no mar ou em um grande lago. Fonte: Machado e Torres (2012, p. 40-41).

Observa-se, a partir da leitura do quadro, a presença de elementos comuns nessas definições, assim como a consideração do escoamento da água na superfície terrestre, a existência de um ponto comum para onde todo o fluxo de água drena e, a delimitação por divisores de água. Outras definições suscitam elementos semelhantes, o que corrobora com Machado e Torres (2012) quando exprimem a concordância sobre a conceituação desse termo. Pires, Santos e Del Prette (2002), apresentam a operacionalidade do termo bacia hidrográfica para os estudos hidrológicos, uma vez que para sua conceituação são envolvidas as terras drenadas por um curso de água principal e seus afluentes, possibilitando estudos

37 qualitativos e quantitativos da água como recurso e dos fluxos de sedimentos e nutrientes associados à sua dinâmica. Um entendimento sintético interessante por compreender aquilo que a delimita espacialmente e seu processo de direcionamento da água, é dado por Granell-Perez (2004, p. 84-85), para a qual a bacia hidrográfica:

[...] é constituída pelo conjunto de superfícies que, através de canais e tributários, drenam água de chuva, sedimentos e substâncias dissolvidas para um canal principal cuja vazão ou deflúvio converge numa saída única (foz do canal principal num outro rio, lago ou mar). As bacias hidrográficas são delimitadas pelos divisores de água e seus tamanhos podem variar desde dezenas de metros quadrados até milhões de quilômetros quadrados.

Christofoletti (1980) entende bacia hidrográfica em uma perspectiva aproximada da geomorfologia. Assim, para o autor, os cursos de água estão inseridos em processos de esculturação do relevo através da ação fluvial, a qual drena, além da água, sedimentos, e os deposita nas planícies aluviais através da dinâmica natural de cheia desses canais. Portanto, a rede de cursos de água é entendida por ele como bacia de drenagem, a qual se compõe por um agrupamento de canais inter-relacionados, os quais drenam uma área, consolidando um sistema fluvial. Stevaux e Latrubesse (2017) expõem que bacia de drenagem corresponde ao conjunto de áreas que captam a precipitação e a escoa por fluxo superficial através de canais acanalados ou não acanalados, e por fluxo subterrâneo (água freática), e que constitui a principal unidade nos estudos de geomorfologia fluvial. Dessa forma, de acordo com as conceituações expostas, entende-se que bacia hidrográfica é a área da superfície terrestre limitada pelos divisores de água, que capta água da precipitação e a drena por escoamento superficial em um sistema de vertentes e uma rede de drenagem de cursos de água, confluindo até um ponto comum, seu exutório, podendo ser em outro rio ou no oceano. O tamanho das bacias hidrográficas é variável, podendo variar de bacias de um canal de primeira ordem que abrangem algumas centenas de metros quadrados, até bacias de canais de ordens maiores, como por exemplo, a Bacia Amazônica, com milhões de quilômetros quadrados. O tamanho da bacia é dado de acordo com a escolha do exutório. A delimitação da bacia e de sua respectiva área varia, dessa forma, com o objetivo do trabalho proposto (MACHADO e TORRES, 2012).

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Por isso, análises e estudos utilizam por vezes subdivisões de bacias maiores, adotando terminologias como sub-bacia, microbacia, minibacia e bacia de cabeceira. Para essas denominações de porções menores da bacia não há um consenso conceitual sobre os parâmetros que as definem. Desse modo, a subdivisão pode ser feita a partir de uma hierarquização, sendo uma bacia a área de drenagem do rio principal; sub-bacia a área de drenagem de um tributário do rio principal, e microbacia como a área de drenagem de um tributário do tributário do rio principal (MACHADO E TORRES, 2012). Conceber o tamanho da bacia hidrográfica é relevante, pois através disso é possível obter a potencialidade hídrica da bacia. O valor da área multiplicado pela lâmina d’água precipitada prediz o volume de água recebido pela bacia (SILVEIRA, 2000). Uma vez que inundação é um fenômeno natural da dinâmica hidrológica dos cursos de água assim como suscitam Machado e Torres (2012), essa unidade espacial é bastante adequada nas investigações hidrológicas. Os rios atuam como canais de escoamento e se constituem como integrantes do ciclo hidrológico, se alimentando das águas superficiais e subterrâneas. Os eventos e processos que ocorrem na bacia de drenagem refletem em consequências diretas ou indiretas nos rios (CHRISTOFOLETTI, 1980). Stevaux e Latrubesse (2017) expõem que o rio realiza trabalho pela transformação da energia potencial em energia cinética. Isso acontece devido ao desnível existente entre os divisores de água e o exutório, caminho o qual o rio percorre pela força da gravidade. Desse modo, ainda suscitam os autores op. cit, que todas as ações envolvidas no trabalho do rio acontecem devido a essa energia. Tais ações são: erosão, o transporte de água e sedimento, deposição sedimentar e, construção e modificação da estrutura (de canais e planícies de deposição). Dado que o rio trabalha a partir da força da gravidade, ele tende sempre a correr em direção as cotas altimétricas inferiores. A limitação para o trabalho exercido pelo rio é, dessa forma, seu nível de base, o qual Guerra (2008, p. 447) define como ponto onde a erosão realizada pelo rio não é mais exercida, sendo o ponto mais baixo a que ele pode chegar. O autor expõe também que o nível de base de todos os rios é o nível do mar (nível de base geral), e que qualquer alteração nos níveis de base, seja na escala local, regional ou global, pode reconfigurar o ritmo de erosão exercido pelo rio.

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Christofoletti (1980) concorda com o exposto por Stevaux e Latrubesse (2017) sobre o trabalho dos rios, chamando a atenção de que é necessário diferenciar o transporte, a erosão e a deposição. O rio transporta sedimentos de três formas: por solução, suspensão e saltação. O material em solução se constitui dos minerais dissolvidos das rochas, no processo de intemperismo, e segue transportado rio abaixo na mesma velocidade com que a água flui no canal, e sua quantidade depende, em maior medida, do aporte de água subterrânea e do escoamento superficial. Os sedimentos de granulometrias pequenas, assim como silte e argila, são transportados em suspensão no fluxo de água, também na mesma velocidade em que ele corre, e enquanto tal fluxo mantem a turbulência necessária para transporta-los. Quando isso não é mais possível, essas partículas se depositam no fundo do canal ou em trechos de águas bastante calmas. Os sedimentos com maior granulometria, assim como areia e cascalhos, são transportados por rolamento, deslizamento ou saltamento no decorrer do leito do rio, constituindo a carga do leito, a qual se movimenta em velocidade menor que o fluxo de água (CHRISTOFOLETTI, 1980). Dessa forma, a

[...] maior quantidade de detritos de determinado tamanho que um rio pode deslocar como carga do leito corresponde à sua capacidade. O maior diâmetro encontrado entre os detritos transportados como carga do leito assinala a competência do rio (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 73).

Dentro de uma bacia hidrográfica, existem regiões onde predominam alguns dos processos citados. Nas porções com maiores altitudes, próximos aos divisores de água, também conhecidas como alto curso do rio principal, tendem a ocorrer em maior intensidade processos denudacionais, ou seja, escoamento superficial e erosão que transportam água e sedimentos sentido morro abaixo. Nesses locais encontram-se formas mais acidentadas, com declividades maiores. Próximo à desembocadura do rio principal em seu nível de base (em outro rio, em um lago ou lagoa, ou no oceano) predominam processos deposicionais, onde o curso d’água já cadente de energia não tem mais capacidade de transportar cargas maiores de sedimentos. Associam-se a essas áreas, também conhecidas como baixo curso do rio, porções rebaixadas, de relevo mais suavizados com declividades menores e pantanosas, onde se alocam a água e os sedimentos trazidos pelos cursos d’água de morro acima.

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Entre o alto curso e o baixo curso se encontra o médio curso do rio principal da bacia hidrográfica, onde ocorre denudação de material da superfície que também será carregada morro abaixo, até o baixo curso, e a deposição de sedimentos trazidos do alto curso conforme o rio perde sua competência para a realização desse transporte. Os processos de erosão envolvem a remoção e o transporte de materiais da superfície terrestre e podem ser chamados de denudação, de forma genérica. A erosão e a sedimentação ocorrem concomitantemente. A deposição (ou sedimentação) de material acontece quando há perda da capacidade ou da competência do rio. Esse processo ocorre devido a variados fatores, tais quais: redução da declividade e redução do volume ou aumento do aporte de carga detrítica. (CHRISTOFOLETTI, 1980). Os sedimentos podem voltar a ser erodidos após a sua deposição e assim voltar ao transporte realizado pelo canal. A deposição ocorre gradualmente e seletivamente, de acordo com o tamanho das partículas e a velocidade do fluxo de água no canal. Assim, os sedimentos maiores vão sendo depositados primeiros, conforme a capacidade e a competência do rio vão diminuindo (STEVAUX e LATRUBESSE, 2017). Todos esses processos, de transporte de sedimentos, erosão e sedimentação ocorrem de forma integrada à dinâmica hidrológica da bacia hidrográfica, a qual pode, dessa forma, ser entendido também como um sistema. Nessa concepção, a entrada (input) seria a precipitação sobre a área da bacia, e a saída (output) a água escoada pelo exutório (SILVEIRA, 2000). O papel hidrológico da bacia, a partir de seu entendimento como sistema, é transformar a entrada de água, que acontece em um período concentrado no tempo (precipitação), em uma saída de água pelo exutório de forma mais diluída temporalmente (SILVEIRA, 2000). É possível compreender, em uma perspectiva ampla, a entrada e saída de água em uma bacia através da observação do ciclo hidrológico. A movimentação da água no planeta Terra, em seus estados sólido, líquido e gasoso configura esse ciclo. A alteração da água entre seus estados físicos, e sua movimentação pela superfície, sub-superfície e atmosfera da Terra transita pelas etapas elementares desse ciclo, tais quais: a evaporação, precipitação e escoamento superficial (MACHADO e TORRES, 2012).

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3.2. Unidade espacial para planejamento

Além de sua funcionalidade para estudos hidrológicos apontados por Pires, Santos e Del Prette (2002) e Silveira (2000), o recorte espacial bacia hidrográfica se constitui também como unidade para estudo e pesquisa, planejamento, gestão, intervenção, gerenciamento e manejo de áreas. Uma dificuldade encontrada nesse sentido é a não concordância de seus limites, observados nas porções elevadas do relevo (divisores de água), com as delimitações territoriais políticas, sejam elas municipais, estaduais ou nacionais. Este aspecto dificulta a administração dessa unidade espacial, pois dados e informações são normalmente recolhidos em outras escalas, como por exemplo, para o município e para os estados. Outro revés nesse contexto é o difícil reconhecimento dos limites de bacias em áreas urbanas, visto a transformação do solo e canalização de cursos de água realizados (MACHADO e TORRES, 2012). A concepção de gerenciamento e planejamento ambiental adotando a escala da bacia hidrográfica ocorreu, primeiramente, a fim de buscar soluções para problemas que envolvem o recurso água. Nesse sentido, controle de inundações, irrigação, navegação e abastecimento público e industrial foram priorizados inicialmente. A demanda crescente por recursos hídricos com o passar do tempo fez contemplar no planejamento ambiental que adota essa escala, os diversos usos e usuários da água uma vez que na disputa pelo uso desse recurso estão envolvidos variados conflitos, de ordens naturais, sociais, econômicos ou políticos (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002). A bacia hidrográfica pode ser concebida como unidade de análise, mas também como unidade de gerenciamento. O primeiro tipo se caracteriza em primazia como técnico- científico, já a segunda como político-administrativa. A unidade de análise não precisa, necessariamente, se limitar pela unidade de gerenciamento, uma vez que o recorte espacial bacia hidrográfica pode ser utilizada para gerenciamento de recursos naturais, assim como da água (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002). Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são ferramentas interessantes para a gestão de bacias hidrográficas, pois através deles é possível espacializar e sobrepor informações da área, permitindo a confecção de um banco de dados passível de ser utilizado para a compreensão da paisagem e dos processos envolvidos na dinâmica de sua constituição, sejam eles de caráter natural ou antrópico, constituindo assim, um arcabouço de modelos e conhecimento sobre a área, capaz de ser utilizado por tomadores de decisão para direcionar as

42 ações de uso da terra em uma bacia, e as discussões nos comitês de bacia hidrográfica (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002). O comitê de bacia hidrografia é um órgão colegiado no qual participam das deliberações sobre o uso da água representantes de variados setores que a utilizam, incluindo a sociedade civil organizada. Ele o faz de forma compartilhada com o poder público. É o comitê, em suas reuniões e fóruns, que decide as regras a serem seguidas para o uso da água na bacia. Os gestores de recursos hídricos do poder público têm por atribuição fazer com que essas regras sejam seguidas através de seu poder de regulação (BRASIL, 2011). Desde a década de 1970 havia a preocupação, por questões sanitárias, em criar organismos que pudessem deliberar ou gerenciar ações sobre água e o meio ambiente em bacias hidrográficas. Houveram experiências em alguns estados da federação na criação de órgãos consultivos, como no Rio Grande do Sul, na década de 1980, com a criação do Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia do Rio Guaíba; e em São Paulo em 1991, com a criação do Conselho de Recursos Hídricos, que além de consultivo era também deliberativo. A Lei nº 9.433, promulgada em 1997 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, a qual previa a criação dos comitês de bacias hidrográficas, e delimitava a bacia como base territorial de planejamento e gestão da água (BRASIL, 2011). A aprovação do Plano de Recursos Hídricos é a principal atribuição do comitê de bacia. Esse documento se caracteriza como plano diretor que orienta o uso da água e define metas para um uso racionalizado para que haja uma manutenção da quantidade disponível do recurso água para seus diversos usuários. Além disso, devem constar nesse plano: as prioridades de direito de outorga da água, as disposições sobre a operação de reservatórios, as regras para a concessão de outorgas e os critérios para cobrança pelo uso do recurso hídrico (BRASIL, 2011). No mesmo contexto de criação da Política Nacional de Recursos Hídricos, foi criada em 2000, através da Lei nº 9.984, a Agência Nacional de Águas, a qual é responsável pela efetuação do Plano Nacional de Recursos Hídricos, e pela gestão e regulação do uso da água (outorgar e fiscalizar) as ações sobre corpos de água de domínio da união (BRASIL, 2011).

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4. VULNERABILIDADE: A AMPLITUDE DO CONCEITO E SEU USO NA ÁREA DE PERIGOS AMBIENTAIS (ENVIRONMENTAL HAZARDS)

O conceito de vulnerabilidade possui diversos significados, portanto sua compreensão e uso variam de acordo com a área do conhecimento em que é empregado. Porto (2011) demonstra, por exemplo, a aplicabilidade desse termo para as áreas da ecologia e saúde. Para a primeira, vulnerabilidade diz respeito a uma característica de um ecossistema quando confrontado por perturbações externas que causam consequências. Neste sentido, vulnerabilidade está associada a riscos e seu antônimo pode ser entendido como resiliência ou saúde desses ecossistemas, e a vulnerabilidade estaria relacionada com a perda da resiliência. Na área da saúde esse vocábulo é entendido pela existência de grupos ou indivíduos “suscetíveis com predisposição especial para contraírem enfermidades diante de situações de risco, como por exemplo, poluição atmosférica ou ondas de calor/frio” (PORTO, 2011, p. 42). Neste contexto, a vulnerabilidade incorpora aspectos sociais, econômicos e culturais para analisar o processo de saúde-doença. Adger (2006) salienta que disciplinas como a antropologia, economia, engenharia e psicologia também têm utilizado o termo vulnerabilidade para o desenvolvimento de seus estudos, e que em muitas formulações é comum considerar que os parâmetros chave para o entendimento de vulnerabilidade são: o estresse o qual o sistema é exposto, sua sensibilidade, e sua capacidade de adaptação. A exposição estaria relacionada às características e à intensidade do estresse ambiental ou sócio-político no qual um sistema é submetido, e pode ser compreendida pela sua magnitude, frequência, duração e escala espacial de ocorrência. A sensibilidade é associada ao quanto um sistema é alterado ou afetado pelo estresse externo. A capacidade de adaptação diz respeito à habilidade de evolução de um sistema tendo em vista a acomodação de perigos ambientais ou de monitorar mudanças e, ampliar a magnitude do estresse que esse sistema consegue lidar (ADGER, 2006). A pesquisa sobre vulnerabilidade desenvolveu-se, segundo Adger (2006), a partir de abordagens relacionadas à fome e insegurança alimentar, perigos ambientais (hazards), que inclui a concepção de pressão e liberação; e ecologia humana. Para este autor, as pesquisas sobre o tema tendem a evoluir no sentido de tratar de assuntos como vulnerabilidade em relação às mudanças e variabilidades climáticas, vulnerabilidade à pobreza e vulnerabilidade

44 de sistemas ecológico-sociais. O quadro 4 expõe as tendências das pesquisas observadas por Adger (2006) e sua possível evolução.

Quadro 4 – Abordagens da pesquisa em vulnerabilidade. Abordagem de vulnerabilidade Objetivos Antecedentes Vulnerabilidade à fome e insegurança alimentar Desenvolveu explicação para vulnerabilidade à fome na ausência de escassez de comida ou falha na produção. Descreveu vulnerabilidade como uma falha do direito e escassez de capacidades. Vulnerabilidade para perigos (hazards) Identificação e predição de grupos vulneráveis, regiões críticas através da probabilidade e consequência de perigo (hazard). Aplicações sobre os impactos das mudanças climáticas. Ecologia humana Análise estrutural de causas subjacentes de vulnerabilidade em relação aos perigos naturais. Pressão e liberação Desenvolveu ainda mais o modelo ecológico humano para associar riscos discretos à economia política de recursos e à gestão e intervenção normativas de desastres. Sucessores Vulnerabilidade para mudança climática e Explicar a vulnerabilidade atual do sistema social, variabilidade físico ou ecológico a (principalmente) riscos futuros, usando uma ampla gama de métodos e tradições de pesquisa. Meios de subsistência sustentáveis e vulnerabilidade Explica porque as populações se tornam ou à pobreza permanecem pobres com base na análise de fatores econômicos e relações sociais. Vulnerabilidade de sistemas ecológico-sociais Explicando a vulnerabilidade do ambiente humano acoplado. Fonte: Adaptado de Adger (2006, p. 275).

Adger (2006), ao pontuar a abordagem sobre a vulnerabilidade à fome e à insegurança alimentar, nas pesquisas sobre o assunto, evidencia a relação desse termo com a pobreza, posto que contextos de fome denunciam explicitamente essa realidade (MARSON, 2018). Cardona (2001) também salienta que pesquisadores das ciências sociais têm denominado de vulneráveis grupos com desvantagens sociais. Dessa forma, a operacionalização do termo vulnerabilidade ocorre também em estudos nesse sentido, tal qual é visto na definição do índice de vulnerabilidade social para os municípios paulistas (IPVS), definido pela Fundação SEADE, com ano de referência 2010 (SÃO PAULO; ALESP, 2010). Nesse último trabalho, a vulnerabilidade social é obtida através do cruzamento de informações demográficas e socioeconômicas, sendo a renda média dos domicílios um

45 indicador bastante relevante para o estudo, que contempla ainda a questão de gênero e proporção de crianças na população. Observa-se ainda, a partir da leitura do quadro 4, o relacionamento constante da vulnerabilidade à elementos que ameaçam grupos populacionais. Isso também é visto na concepção suscitada por Porto (2011). Assim, pode-se começar a estabelecer o entendimento de que a vulnerabilidade é compreendida em uma lógica de existência de elementos que caracterizam ameaças e perigos para populações. Partindo da menção de diversos perigos possíveis de acometerem as sociedades, tais como desastres naturais, violência urbana e conflitos dados pela oscilação econômica e da garantia de direitos das populações, Marandola Jr. e Hogan (2006) suscitam o fato de a vulnerabilidade ter ascendido como protagonista no direcionamento de discussões para a proposição de análises e ações referentes à realidade contemporânea, na qual é observada uma ruptura de elementos estruturantes da dinâmica social e de contextos geográficos, que levaram a uma mudança nas relações risco/proteção e segurança/insegurança. Essa mudança colocou o risco em uma posição de mecanismo da reprodução social, o qual se apresenta como onipresente e distribuído em larga escala de forma indiscriminada, não sendo, entretanto, homogeneizador de localidades e agrupamentos populacionais (MARANDOLA JR. e HOGAN, 2006). Ou seja, riscos e perigos existem e acometem diversas sociedades, porém, eles não são os mesmos e, quando o são, não implicam necessariamente nas mesmas respostas para diferentes grupos. Os contextos diferentes dos variados lugares contêm aspectos que podem amortizar ou potencializar esses perigos possíveis, caracterizando diferentes capacidades de resposta, sendo essa última um importante componente da vulnerabilidade (MARANDOLA JR. e HOGAN, 2006). Desse modo, é possível depreender que as condições específicas de cada localidade, com seus aspectos sociais, políticos, econômicos e ambientais, orientam o grau de vulnerabilidade do conjunto indissociável formado pela população que ali reside e pelo espaço que ocupa. Já Cardona (2001) expõe que as discussões iniciais acerca de vulnerabilidade definiam esse termo de forma confusa, mas seu entendimento já se baseava sobre a conceituação de que seria a capacidade reduzida de agrupamentos sociais em se adaptar a determinadas circunstâncias, e que o desenvolvimento de seu entendimento contribuiu para a

46 compreensão de risco e desastre. Dessa forma, o autor op. cit. avança na discussão dos conceitos de vulnerabilidade e risco a partir da relação entre eles. Risco seria o quanto de perdas econômicas ou sociais é possível de ocorrer a um sujeito ou a um sistema exposto. Esse termo corresponderia a uma convolução entre ameaça e vulnerabilidade. A ameaça corresponderia ao perigo latente no qual um sujeito ou sistema está exposto, sendo ela um fator de risco externo. Já a vulnerabilidade se equivaleria a um fator de risco interno, caracterizado pela possibilidade real do sujeito ou sistema ser afetado (CARDONA, 2001). Uma vez entendido que convolução envolve necessariamente um condicionamento mútuo, não é possível estar vulnerável se não há ameaça. Portanto, não existiria ameaça e vulnerabilidade de formas independentes. As ciências sociais têm utilizado o termo vulnerabilidade para designar grupos em condições de desvantagem, tais como crianças, idosos ou mulheres, entretanto, quando se trata de vulnerabilidade seria necessário se perguntar “vulnerável ao que?” (CARDONA, 2001). Alexander (2011) entende vulnerabilidade enquanto componente para compreender e analisar o risco, entendimento que vai de encontro à interpretação de Cardona (2001). Alexander (2011) ainda postula essa relação através da seguinte equação: perigo × vulnerabilidade [× exposição] = risco à desastre. Ou seja, para Alexander (2011), o grau de vulnerabilidade é diretamente proporcional à exposição ao perigo, uma vez que eles se multiplicam de forma linear. Nota-se, dessa forma, certa concordância sobre a relação entre vulnerabilidade e risco. Segundo Marandola Jr. e Hogan (2006), a teoria da Sociedade do Risco rompeu com o entendimento do termo risco. Anterior a ela, a concepção na literatura de perigos e desastres ambientais era de que existiria um estado de normalidade, uma “vida normal”, na qual esse estado era descontinuado pela ocorrência de eventos extremos, ocasionando uma surpresa e causando danos potenciais e desordem, uma vez que as populações não estavam preparadas e esperando eventos desse tipo. A partir dessa teoria, compreende-se a constante presença do risco na reprodução do modo de vida na sociedade contemporânea. Logo, diversas variáveis compõe a lógica do risco, até aquelas constituintes do estado de “vida normal”, tais como o próprio estilo de vida, os valores culturais e familiares, os quais compõem objetivamente não só a dimensão do risco, mas da própria vulnerabilidade. Alexander (2011) suscita que risco e vulnerabilidade são conceitos hipotéticos, porém, paradoxalmente, não deixam de ser reais. Para compreendê-los seria necessário então

47 estabelecer um conjunto de condições para qualificá-los, tais como a definição de um período temporal, uma atividade econômica específica ou infecção por determinada doença. É possível entender, a partir disso, que a compreensão desses conceitos passa por sua operacionalização, através de definições de seus aspectos para a possibilidade da realização de análises de seu comportamento. Além do fato de que, conforme visto, para Alexander (2001) a operacionalização do termo vulnerabilidade somente pode ser possível pela consideração da ameaça (ou perigo). Segundo Marandola Jr. e Hogan (2006), no âmbito dos desastres e perigos ambientais, os geógrafos têm definido aspectos para operacionalizar esses termos através da concepção de vulnerabilidade do lugar, que sintetiza delimitações espaciais, temporais e critérios para o estabelecimento dos perigos, além de considerar os aspectos sociais e ambientais que compõe a realidade geográfica do lugar. Marandola Jr. e Hogan (2005) apresentam a evolução do entendimento da vulnerabilidade na área dos natural hazards, desenvolvida por geógrafos que se atentavam às situações de perigo e de potenciais danos a que populações estavam submetidas devido a sua exposição à fenômenos naturais como enchentes, terremotos, furacões, nevascas, erupções vulcânicas e semelhantes. É visto que tais análises, iniciadas nas décadas de 1970 e 1980, se circunscreviam em um contexto de planejamento, fazendo do entendimento desses fenômenos, seu comportamento (probabilidade de ocorrência e frequência) e suas possíveis consequências, importantes elementos desses estudos. Assim, esses prognósticos se constituíram como avaliação de risco, se caracterizando, então, como metodologia direcionada a estudos desse tipo, com procedimentos específicos que contemplavam fatores ambientais e sociais, sendo esse último, baseado nas respostas individuais e coletivas dos agrupamentos populacionais sob o risco. Desse modo, de forma não explícita e não como um conceito, a vulnerabilidade surge nesse contexto como capacidade de resposta, que pode ser a curto, médio ou longo prazo. No primeiro tipo se enquadrariam a evacuação de áreas, ações de emergência e socorro às pessoas afetadas. As respostas de médio e longo prazo seriam aquelas orientadas por planejamentos, que possuiriam como base as adaptações e os ajustamentos da população ao perigo que está exposta (MARANDOLA JR. e HOGAN, 2005). No fim da década de 1980 e na década de 1990 uma maior atenção é dada à vulnerabilidade uma vez que passam a serem considerados na pesquisa os perigos de ordem social e tecnológicos, e os até então perigos naturais, passam a ser considerados ambientais.

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Essa transformação na abordagem levou a uma compreensão de que os perigos podem ser entendidos e investigados somente quando os elementos naturais são considerados concomitantemente à forma como a sociedade se apropria do meio físico, da natureza. Assim, problemáticas socioeconômicas são acrescentadas na análise e discussão da vulnerabilidade. Dessa forma, ela se apresenta em três fácies de análise: vulnerabilidade tecnológica, vulnerabilidade ambiental e vulnerabilidade social. (MARANDOLA JR. e HOGAN, 2005). Já Cardona (2001) exprime que a abordagem da vulnerabilidade acontecia, inicialmente, sobre um viés mais tecnocrático, voltado à ameaça, portanto, sobre os aspectos físicos do meio. Isso configura uma abordagem mais próxima do que ele chama de vulnerabilidade física. Essa abordagem era feita em detrimento do debate sobre o contexto no qual se instaura a verdadeira crise, que caracteriza, segundo ele, a realidade de uma vulnerabilidade global, um conceito mais amplo que abarcaria a vulnerabilidade física. Nesse momento, Cardona (2001) cita o termo vulnerabilidade social, afirmando que nos países em desenvolvimento ela seria a responsável, na maioria dos casos, pela vulnerabilidade física. Desse modo, compreende-se que o autor op. cit. entende a vulnerabilidade como uma associação não só ao risco (e ameaça), mas também aos fatores de ordens físicas e sociais, em conjunto. Entende-se que uma abordagem que se aproxima da vulnerabilidade física exposta por Cardona (2001), é a vista em Figueirêdo et al. (2010), na qual discutem a vulnerabilidade ambiental a partir de levantamento bibliográfico que associam a vulnerabilidade à análise sistêmica. O entendimento de sistemas, nessa abordagem, é dado sobre os aspectos físicos do meio. Logo, a vulnerabilidade estaria relacionada à exposição dos sistemas naturais a perturbações resultantes das atividades humanas, tais como contaminação, desencadeamento de processos erosivos e mudanças climáticas. Assim, a vulnerabilidade ambiental seria passível de ser analisada quando se define o sistema a ser considerado como exposto a alguma perturbação externa. Porém, nessa abordagem, a vulnerabilidade não é um estado ou condição de agrupamento populacional, mas sim de um conjunto de aspectos físicos do meio. Especificamente no âmbito dos perigos ambientais, e a partir do estudo sobre desastres e suas implicações, Blaikie et al. (2014, p. 11, tradução nossa) entendem vulnerabilidade como “as características de uma pessoa ou grupo sua correspondente situação que influenciam sua capacidade de antecipar, lidar, resistir e se recuperar do impacto de um perigo natural (um evento natural extremo ou processo)”. Os autores discutem variados aspectos da vulnerabilidade, e suas condicionantes, e suscitam pontos relevantes para a

49 delimitação conceitual desse termo. Sua abordagem sobre a vulnerabilidade coloca em posição secundária os eventos naturais como deflagradores de desastres, assim como a corrente do segundo paradigma de entendimento de desastres mencionado por Marchezini (2009) no item 1. Portanto, para Blaikie et al. (2014), o contexto socioeconômico é mais relevante para análise da vulnerabilidade de um grupo ou indivíduo. Desse modo, a pobreza e a falta de acesso aos serviços sociais aumentam a vulnerabilidade. Porém, eles alertam que a vulnerabilidade não está diretamente associada à pobreza, uma vez que tanto ricos quanto pobres estão passíveis de serem atingidos por desastres naturais. Moser (1998) também alerta sobre o equívoco dessa associação direta. Para a autora, essa associação é frágil, pois a medição da pobreza geralmente é feita de maneira fixa no tempo, ou seja, a pobreza é um conceito estático, enquanto a vulnerabilidade é um conceito dinâmico e pode capturar os processos de mudança, como a saída de pessoas da pobreza. A vulnerabilidade é definida pela autora como “a insegurança e sensibilidade no bem estar de indivíduos, famílias e comunidades em face das mudanças ambientais e, implícito nisso, sua resposta e resiliência para riscos aos quais encaram durante mudanças negativas” (MOSER, 1998, p. 3, tradução nossa). Outro ponto interessante mencionado por Blaikie et al. (2014), que dialoga com a concepção de que vulnerabilidade é um conceito dinâmico, é o fato de que ela contempla uma concepção temporal, pois também pode ser medida pelos danos aos meios de subsistência futuros, ou seja, aqueles que encontram dificuldades em reestabelecer seus meios de subsistência após um desastre estarão mais vulneráveis a eventos futuros. É levado em consideração para a definição de vulnerabilidade, tanto para Blaikie et al. (2014) quanto para Moser (1998), a capacidade das populações passíveis de serem atingidas por desastres de se recuperarem e apresentar respostas frente ao evento, de reconstituição de seus bens e resistência a eventos futuros. Isso implica, portanto, na capacidade dessas pessoas de lidar com a realidade de desastres, como por exemplo, as consequências de inundações, que incluem danos e prejuízos. Braga, Oliveira e Givisiez (2006) apresentam dois entendimentos de vulnerabilidade, o de O’Riordan (2002) e o de Cardona (2004). Para o primeiro é visto que a vulnerabilidade é entendida através da falta de capacidade de pessoas ou grupos de evitar o perigo deflagrador de desastres ou da imposição à eles de realidades de convivência com o

50 perigo, senda essa última resultante da combinação de processos econômicos, ambientais, políticos e sociais. Para o segundo, a vulnerabilidade possui três componentes estruturantes: a fragilidade ou exposição, suscetibilidade e falta de resiliência, sendo a fragilidade o aspecto físico e ambiental da vulnerabilidade, no qual diz respeito ao quanto uma população é suscetível ao perigo decorrente da sua localização e aproximação do mesmo; a suscetibilidade refere-se ao caráter socioeconômico e demográfico da população que prediz o quanto ela poderá sofrer de danos; e a resiliência corresponderia ao fator comportamental comunitário e político do agrupamento, relacionado à capacidade desse grupo de absorver, se adaptar e voltar a sua vivência pré-desastre em situação positiva. A partir da discussão apresentada, sobre a amplitude na definição do termo vulnerabilidade e sua compreensão na área de perigos ambientais (environmental hazards), nota-se três relações-chave. A primeira é de que as linhas de pesquisa de vulnerabilidade consideram a operacionalização do termo em uma lógica de existência de ameaças (perigos) às populações, que por sua vez, evidencia a relação intrínseca entre vulnerabilidade e população. Tais perigos podem remeter a eventos naturais ou a contextos sociais como a pobreza ou falta de acesso à recursos. Outra relação-chave é a associação entre vulnerabilidade e risco, relação na qual está contida o entendimento sobre o evento que representa o perigo, tal como sua frequência, sua intensidade e os aspectos físicos do meio que o condicionam. Essa relação coloca em evidência o lugar, no sentido de localização, quanto à proximidade do perigo; e quanto às suas características, sejam físicas ou humanas/sociais que condicionam o fator risco. Ou seja, a relação entre vulnerabilidade e risco evidencia a relação entre vulnerabilidade e lugar. O modo como a população lida com os perigos e seus consequentes desastres, a sua capacidade de resposta à eles, é outra relação-chave observada na pesquisa em vulnerabilidade, assim como mencionado por Marandola Jr. e Hogan (2005), e visto em Blaikie et. al. (2014). Essa relação também coloca o lugar em posição relevante na análise e operacionalização da vulnerabilidade, uma vez que é no lugar que se concretizam as relações sociais humanas responsáveis pela potencialização ou amortização do risco ao desastre, além da significação dada ao lugar, pela população, o que também é um aspecto estruturante das possibilidades de como essas pessoas lidarão com o desastre e responderão à ele. Essas relações-chave descritas foram organizadas de modo visual na figura 2.

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Figura 2 – Aspectos estruturantes da vulnerabilidade: População e Risco.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.1. Qualificando a Vulnerabilidade: sua relação com o risco, o perigo, a suscetibilidade, a resiliência e a fragilidade

Visto que o conceito de vulnerabilidade é polissêmico e guarda relação com outros conceitos, mesmo no âmbito dos perigos ambientais, é necessário esclarecer esses vínculos para delimitar seu uso. Para o entendimento do conceito de vulnerabilidade no âmbito dos perigos ambientais é preciso resgatar outros conceitos, tais como perigo, risco e resiliência. Almeida (2010) realiza uma discussão sobre os conceitos de risco, perigo e vulnerabilidade, e chama a atenção de que a concepção de risco se confunde em muitas vezes com a do próprio evento causador da ameaça ou perigo. Ele esclarece que perigo é associado à possibilidade de ocorrência do evento que causa prejuízo, colocando em posição de sinônimo de ameaça, concordando com Cardona (2001), que delimita o termo perigo como aquilo que estaria associado à ameaça, ao que as populações estão expostas. Assim como Alexander (2011), Almeida (2010) também apresenta que a vulnerabilidade pode estar diretamente associada ao entendimento do conceito de risco, como seu componente, no qual o risco é obtido pela multiplicação entre o perigo (ameaça) e

52 vulnerabilidade, em expressão que ele define como: f(R) = P x V, em que R é risco, P é perigo e V, a vulnerabilidade. Ao discutir sobre a diferenciação entre risco, perigo e desastre, Almeida (2010) suscita que o risco é produto de uma construção social, pois está associado à percepção humana, sendo diferenciado em função da capacidade do indivíduo ou grupo em lidar com o perigo. Já o perigo é um dado fixo. Portanto, conforme o exposto até aqui, compreende-se perigo como o evento que, ao atingir a população, decorre em consequências para ela. Pode ser entendido também como ameaça. No caso deste trabalho, o perigo seria a inundação. Avançando sobre a compreensão dos termos, Almeida (2010) complementa sobre o risco que além de ser uma construção social, é comum associa-lo “às noções de incerteza e exposição ao perigo, perda e prejuízos materiais e humanos, atrelados não só a processos naturais, mas também a processos oriundos das atividades humanas.” (ALMEIDA, 2010, p. 92). Dessa forma, o termo risco aparece muitas vezes acompanhado de um adjetivo, qualificando sua aplicação aos variados contextos da vida cotidiana, tal como risco ambiental, risco tecnológico, risco social, risco biológico, risco econômico etc. Cardona (2004) sublinha a complexidade envolvida na compreensão do risco, de que ele representa uma coisa irreal e uma possibilidade aleatória, não existindo no presente, mas sim no futuro, tendo em sua concepção três características: a eventualidade, a consequência e o contexto. Essas três características podem corresponder àquilo que se deseja dimensionar quando trata-se de risco. Uma delas seria mais necessária em relação às outras, nas análises do risco: o contexto, visto que ele determina os limites, as razões, o objetivo e as relações necessárias para sua determinação. Soriano e Valencio (2009) expõem que risco se relaciona com a probabilidade de ocorrência de um evento e, como seu uso representa um esforço de dimensionar e calcular algo que é difícil de mensurar, esse termo é revestido de um caráter questionador quanto à expertise e racionalidade de cálculos empregadas à isso. A partir dessas considerações sobre risco, entende-se que o mesmo, assim como para Cutter (1996), tem dois domínios. O primeiro seria a probabilidade de ocorrência do evento, e o segundo varia de acordo com a capacidade de resposta da população, o que por sua vez é dado pelo contexto específico de cada lugar e guarda relação direta com a vulnerabilidade em decorrência do potencial para perdas que a população de um lugar possui.

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Além das considerações citadas, Almeida (2010, p. 101), menciona ainda que outros conceitos estão associados à vulnerabilidade, tais como: “resiliência, adaptação, insegurança, ajustamento, exposição e susceptibilidade”. A suscetibilidade, estaria relacionada ao perigo e à componente do risco que trata sobre exposição. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), por exemplo, em trabalho sobre a confecção de cartas de suscetibilidade à movimentos gravitacionais de massa e inundações, explica suscetibilidade como: “a predisposição de terrenos ao desenvolvimento de um fenômeno ou processo do meio físico”, ou “a propensão ao desenvolvimento de um fenômeno ou processo em uma dada área” (BITAR et al, 2014, p. 3-4). Percebe-se então, que a suscetibilidade está relacionada às especificidades de uma localização associadas à ocorrência do perigo, fazendo com que ela esteja dentro do aspecto ambiental e não social da vulnerabilidade. Sobre esse último ponto, é chamada a atenção por Bitar et al (2014) que, mesmo em uma área que sofreu alterações em sua cobertura original e uso no decorrer do tempo, os seus aspectos físicos ainda podem exercer influência na dinâmica dos processos naturais, ainda que as alterações feitas e os usos direcionados possam favorecer ou desfavorecer a ocorrência desses processos. Amorim, Reis e Ferreira (2017, p. 94) apontam que as atividades humanas sobre a superfície terrestre de expansão das áreas urbanas, dos cultivos agrícolas, das práticas pastoris, e de implantação de sistemas de engenharia para extração de recursos minerais, além de representarem uma alteração na dinâmica dos geossistemas, através da alteração dos ritmos dos processos naturais, ora acelerando, ora retardando, não são acompanhadas, muitas vezes, em sua efetivação, por conhecimentos e procedimentos técnicos e de planejamento para garantir “a sustentabilidade da natureza”. O processo de consolidação de um sítio urbano, por exemplo, reverbera em consequências hidrológicas, tais como a redução da transpiração dos elementos vegetais da superfície, rebaixamento ou elevação do lençol freático, erosão acelerada do solo, redução da infiltração da água, poluição de rios e poços, e salinização do solo (AMORIM, REIS e FERREIRA. 2017). Essas consequências ocorrem devido a remoção da vegetação, perfuração e abandono de poços, construção de fossas sépticas, desvios de rios próximos para fornecimento de água, descarte de esgoto sanitário não tratado sobre os rios, e construção maciça de casas e edifícios (AMORIM, REIS e FERREIRA, 2017).

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Todas essas consequências, ao reverberarem na dinâmica natural dos geossistemas, implicam em mudanças na hidrodinâmica fluvial, modificando as linhas de água atingidas nas inundações (MOMO et. al., 2016). Moser (1998) menciona o termo resiliência, relacionando-o à capacidade de resposta da população à desastres. Alexander (2011) pontua que resiliência não vem da ecologia, da capacidade de sobrevivência das espécies, mas sim de estudos sobre resistência de materiais, uma vez que um material resiliente combina ótima rigidez e flexibilidade, resistência à força aplicada, e absorção da força a que não conseguir resistir. Assim, para o autor op. cit. uma sociedade resiliente seria aquela que possui capacidade de resistir às forças causadoras de desastres, conseguindo também as absorver, ou seja, se adaptar a elas. Desse modo, é possível destacar algumas palavras chave, previamente, quando se pensa em resiliência, tais como resposta, resistência e adaptação. Marandola Jr. e Hogan (2009) entendem resiliência como a capacidade acumulada do agrupamento populacional, que sofreu com um desastre, de recompor a situação normal observada antes do desastre. A palavra acumulada utilizada pelos autores parece prover o sentido de que a resiliência é constituída através do tempo, ou seja, o desenvolvimento histórico daquele agrupamento populacional é relevante para a configuração de sua resiliência. Já Cardona (2004) ao mencionar resiliência, a define também como capacidade de recuperação ou absorção do impacto. Conforme apresentado por Cutter et. al. (2014), em três grandes trabalhos, dos Estados Unidos, do Reino Unido e das Nações Unidas, há uma visão consensual de que a resiliência a desastres diz respeito à capacidade de comunidades de se preparar, planejar, absorver, se recuperar e se adaptar a eventos adversos causadores de desastres, de maneira eficiente, de modo com que se reestruturem e aprimorem suas estruturas básicas. Ou seja, nessa perspectiva, a resiliência é entendida não só como resposta, resistência e adaptação, mas também à capacidade de se aprimorar frente a realidades de desastres. Assim, outra palavra- chave pode ser obtida: aprimoramento. Para uma operacionalização da resiliência, portanto, parece ser importante a questão temporal, caráter suscitado por Marandola Jr. e Hogan (2009), posto que tanto a adaptação quanto o aprimoramento requerem tempo de experiência e aprendizado de convivência com o perigo.

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Em seu trabalho Cutter et. al. (2014) confrontam um modelo de operacionalização de resiliência com o modelo de lugar de perigo (hazards of place model), aquele utilizado para definir a vulnerabilidade a desastres. No modelo de resiliência proposto pelos autores op. cit. (DROP – Disaster Resilience of Place), é pressuposto que sistemas humanos, ambientais e o ambiente construído interagem configurando condições antecedentes que contém vulnerabilidade e resiliência inerentes, as quais já estariam presentes na realidade dessas comunidades (e desses lugares) anterior à ocorrência dos eventos causadores de desastres. Nesse modelo, Cutter et. al. (2014) propõem a operacionalização da resiliência a partir de seis tipos de indicadores: social, econômica, comunitária, institucional, de habitação/infraestrutura e ambiental. O quadro 5 expõe esses tipos e suas respectivas características, e evidencia a abrangência de aspectos necessários para entender a resiliência.

Quadro 5 – Tipos de resiliência do modelo Disaster Resilience of Place. Tipo de resiliência Característica Social Os indicadores desse tipo visam capturar qualidades demográficas da população de uma comunidade que tendem a se associar ao bem-estar físico e mental, o que conduz a maior compreensão, comunicação e mobilidade. Econômica Os indicadores visam representar a vitalidade econômica da comunidade, diversidade e igualdade na remuneração. O interesse é como o perfil econômico geral e o caráter de uma comunidade podem ser benéficos em um contexto de desastre. Assim, a vitalidade econômica geral está relacionada às taxas de emprego e de propriedade da casa. A diversidade também é importante para a resiliência econômica de longo prazo, o que significa que a economia local não depende excessivamente do sucesso contínuo em apenas um setor. Comunitária O capital comunitário pode estar relacionado a qualidades demográficas, mas é separado da resiliência social a fim de estimar a propensão dos cidadãos de uma comunidade a ajudar seus vizinhos em situações de emergências. Institucional Os indicadores institucionais têm como objetivo capturar aspectos relacionados a programas, políticas e governança da resiliência a desastres. Comunidades geralmente se beneficiam por estar localizadas nas proximidades de sedes de poder político e econômico. Essas situações apresentam oportunidades para se beneficiar do acesso a tomadores de decisão e recursos normalmente encontrados em grandes áreas urbanas ou capitais dos estados. Habitação/Infraestrutura Esses indicadores estimam a qualidade da construção de moradias e uma miríade de capacidades físicas dentro de um município para abrigar os deslocados, fornecer atendimento médico de emergência, facilitar evacuações e manter as atividades escolares, entre outras capacidades infraestruturais relevantes para desastres. Ambiental Indicadores relacionados ao entendimento do perigo. Além disso, outros indicadores podem ser utilizados para estimar a eficiência com que uma comunidade utiliza recursos naturais. Esse último é importante para desastres de longo prazo e de início mais lento, enquanto o primeiro é importante para desastres de curto prazo. Fonte: Cutter (2014, p. 68 - 70)

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Percebe-se, a partir da leitura do quadro 5, a semelhança entre os tipos de indicadores utilizados para operacionalizar vulnerabilidade e resiliência. Esse aspecto acontece justamente pela questão da capacidade de resposta ao perigo se relacionar aos dois conceitos, se diferenciando pelo fato de que a resiliência busca capturar essencialmente a qualidade da resposta comunitária, enquanto a vulnerabilidade estaria mais relacionada a como essa capacidade de resposta estaria relacionada à possibilidade de perdas e danos. Cutter et. al. (2014) mencionam que há falta de consenso sobre os aspectos definidores da resiliência a desastres, suas respectivas estruturas analíticas utilizadas para mensurá-las, e a escala utilizada para tal, se a nível de indivíduo, família ou agrupamentos como comunidades ou municípios. Nessa perspectiva, os autores op. cit. sublinham sobre as diferentes abordagens nos estudos sobre resiliência: sendo ela como componente da vulnerabilidade; resiliência e vulnerabilidade como extremos opostos de um espectro, ou ainda, esses dois conceitos como descritivos mas não com nível específico de sobreposição.

4.2. Vulnerabilidade dos Lugares: o Hazards of Place Model

O posicionamento do lugar como categoria central para a discussão da vulnerabilidade na área de perigos ambientais é uma proposição de Cutter (1996). A relação que a vulnerabilidade guarda com o fator risco e com o fator população podem justificar essa prerrogativa. Na motivação descrita em seu trabalho, Cutter (2003) salienta a ausência da consideração sobre as vulnerabilidades criadas socialmente e as perdas sociais envolvidas em desastres devido, em ambos os casos, pela dificuldade em quantificá-las e delimitá-las. É chamado a atenção de que a vulnerabilidade social é, entre outros fatores, resultado de desigualdades sociais que interferem diretamente sobre a capacidade de grupos populacionais a lidar com os desastres. Mais do que isso, as desigualdades espaciais (apresentadas como “locais”, de lugares) interferem nessa problemática. Como exemplo disso, Cutter et. al. (2003) cita as características das comunidades, tais como o nível de urbanização e a vitalidade econômica. É questionado também pela pesquisadora sobre a existência de indicadores que permitam a comparação entre lugares a partir de suas vulnerabilidades. Desse modo, a partir de seu entendimento de vulnerabilidade, o uso de seu modelo proposto e da seleção de variáveis que possam capturam o estado de vulnerabilidade,

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Cutter et. al. (2003) desenvolve resultados que permitem justamente uma análise comparativa entre lugares a partir do recorte municipal. Antes de chegar ao seu entendimento de vulnerabilidade e a proposição de considerar o lugar como categoria de análise para pesquisas geográficas sobre o assunto, culminando em seu modelo, o hazards of place model, Cutter (1996) sublinha o desenvolvimento de sua pesquisa, na qual foram constatadas diversas compreensões e abordagens de vulnerabilidade, mesmo na área dos perigos ambientais. A concepção de perdas e danos para a vulnerabilidade ganha relevância para Susan Cutter, sendo utilizada pela pesquisadora para explicar e justificar seu modelo, no qual é visto também que vulnerabilidade à perigos ambientais é estabelecida a partir da sobreposição entre vulnerabilidade social e vulnerabilidade biofísica (CUTTER, 1996). Essa ótica de potencial para perdas se associa mais diretamente ao aspecto social da vulnerabilidade. Essas perdas e danos seriam decorrentes da qualidade das variáveis demográficas e socioeconômicas observadas nos lugares, e das variáveis envolvidas no risco de ocorrência dos eventos. Desse modo, percebe-se que há uma concordância com Blaikie et. al. (2014) sobre a relevância dos aspectos sociais para a configuração da vulnerabilidade. Entretanto, diferente desses últimos autores, Cutter (1996) coloca em posição semelhante de importância para a delimitação da vulnerabilidade, os aspectos sociais e as condições físicas do meio que dizem respeito ao perigo. Dessa forma, Cutter (1996) define um modelo analítico para vulnerabilidade chamado de “hazards of place model” (modelo de lugar de perigo em tradução nossa). Nesse modelo, ela congrega variados elementos para analisar e tentar medir a vulnerabilidade de lugares. Entre estes elementos estão o risco, a mitigação, o tecido social da sociedade e o contexto geográfico, o qual inclui a localização e as características biofísicas do lugar que explicam sua exposição ao perigo. A síntese desse modelo pode ser conferida na figura 3. O Hazards of Place Model é utilizado pela autora em trabalhos posteriores como o de Cutter; Mitchell e Scott (2000) e Cutter et al. (2003) para estabelecer, em relação a perigos ambientais, a vulnerabilidade social de lugares com tamanhos diferentes, a nível regional e nacional, respectivamente.

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Figura 3 – Síntese do modelo de lugar de perigo (Hazards of Place Model).

Fonte: Cutter et. al. (2003)

Cutter et al. (2003) consolida um índice de vulnerabilidade social aos perigos ambientais nos Estados Unidos, baseado em seu modelo, o qual foi utilizado posteriormente até mesmo para outros países, como Canadá (OULAHEN et al., 2015), China (ZHANG e YOU, 2014) e Brasil (HUMMELL; CUTTER e EMRICH, 2016). Cutter (1996) aponta também três abordagens que os estudos de vulnerabilidade tomavam anterior e contemporaneamente à suas análises: i) vulnerabilidade como risco e exposição ao perigo; ii) vulnerabilidade como resposta social; iii) vulnerabilidade dos lugares. A primeira abordagem privilegiava o entendimento dos eventos que deflagrariam o desastre, buscando compreender sua dinâmica: magnitude, duração, impacto e frequência; e o grau de perdas que esse evento ocasionaria para as populações situadas nos locais atingidos. A segunda centrava-se no estudo das respostas das populações e nos meios que elas possuíam para lidar com situações de desastres, entendendo essas capacidades como resultado de um constructo de condições históricas, sociais, econômicas e culturais. A terceira abordagem seria uma combinação das duas anteriores, atentando-se ao fato de que ela seria mais geográfica uma vez que consideraria tanto os eventos e o consequente risco, quanto as respostas das pessoas dentro de uma realidade espacial, uma área definida, um domínio geográfico, por exemplo.

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Cutter (1996) parte dessa terceira abordagem para explicar seu modelo, o hazards of place model, através da relação entre vulnerabilidade e risco. Ela entende que o tecido social de um dado lugar contém elementos que podem atenuar o risco desse lugar a sofrer consequências de eventos como inundações, e que as condições do sítio dessa mesma área podem também atenuar ou potencializar o risco das consequências de um evento. Já foi visto em Cardona (2001) a estreita relação entre vulnerabilidade e risco, de que esse último na verdade é composto pela convolução entre ameaça e vulnerabilidade. Cardona (2004) explica, a partir disso, que ao interferir tanto sobre a ameaça quanto sobre a vulnerabilidade, a interferência na verdade, é sobre o próprio risco. Logo, se for o consenso de que a vulnerabilidade é também resultado de condicionantes sociais e, se para diminui-la altera-se o estado dessas condicionantes, o resultado será então a alteração no próprio estado do risco. No trabalho de Cutter (1996) é apresentado ainda que o risco possui dois domínios. Um deles refere-se à sua fonte, se é relacionado aos aspectos industriais, tecnológicos e de atividade econômica, ou ao meio físico; e o outro se refere a estimativa probabilística para que o evento ocorra. Esses dois domínios podem dialogar com a lógica de Cardona (2004) sobre as características do risco: a eventualidade, a consequência e o contexto. O contexto pode ser associado ao primeiro domínio, à fonte do evento que deflagraria o desastre. A eventualidade pode se associar ao que Cutter (1996) chama de estimativa probabilística. As consequências podem ser estimadas, sobretudo, a partir do contexto. Esforços de mitigação, para Cutter (1996) combinam-se aos riscos, pois através da interferência sobre o tecido social ou de ações de engenharia, o potencial de risco diminui, ocasionando uma alteração no estado de vulnerabilidade do lugar. Logo, nesta perspectiva, a vulnerabilidade do lugar pode ser compreendida a partir do potencial de risco para a ocorrência de desastre, que implica no potencial para perdas envolvidos naquele contexto. Ou seja, a vulnerabilidade somente pode ser operacionalizada em seu modelo juntamente com o entendimento dos domínios do risco e das perdas associadas, ou seja, do contexto. Assim, para Cutter (1996), os elementos do tecido social circunscrevem uma lógica de vulnerabilidade social, e aqueles referentes ao meio físico, como proximidade dos locais afetados pelo evento ou as condições naturais envolvidas em sua ocorrência, constituiriam uma vulnerabilidade biofísica. Dessa forma, percebe-se que o risco interseciona os aspectos social e biofísico da vulnerabilidade.

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Para a delimitação da Vulnerabilidade Social à perigos ambientais nos Estados Unidos, Cutter et. al. (2003) utilizou dados do Censo Demográfico do ano de 1990, do qual foram extraídas 42 variáveis distribuídas em 11 fatores. Originalmente foram selecionadas mais de 250 variáveis, as quais foram testadas por procedimentos de multicolinearidade e depois normalizadas em porcentagens e funções de densidade, estabelecendo as variáveis com a variação mais significativa para a determinação da vulnerabilidade social, por fator. As variáveis do quadro 6 são resultados desses procedimentos.

Quadro 6 – Fatores e Variáveis dominantes utilizadas na delimitação da Vulnerabilidade Social à Perigos Ambientais nos Estados Unidos. Fatores Variáveis dominantes Personal wealth Renda per capita (Riqueza pessoal) Age (idade) Média de idade Density of the built environment Número de estabelecimentos comerciais/mi² (Densidade de ambiente construído) Single sector economic dependence % de empregados na indústria extrativista (Dependência econômica de um único setor) Housing stock and tenancy % de unidades habitacionais que são casas (Habitação e locação/aluguel) móveis Race – African american % de afro-americanos (Raça – afro-americanos) Ethnicity - Hispanic % de hispânicos (Etnia – hispânicos) Ethnicity – Native american % de indígenas (Etnia – indígenas nativo americanos – América do Norte) Race – Asian % de asiáticos (Raça – asiáticos) Occupation % de empregados em ocupações de serviços (Ocupação) Infrastructure depence % de empregados em transportes, comunicação e (Dependência de infraestrutura) serviços públicos Fonte: Cutter et. al. (2003)

Segundo Cutter et. al. (2003) a riqueza pode significar duas coisas: melhores condições materiais para pessoas lidarem e se recuperarem das perdas, e maior quantidade de bens em risco em situações de desastre. Entretanto, é chamada a atenção sobre o consenso de que baixos níveis de renda podem aumentar o estado de vulnerabilidade social devido à baixa

61 quantidade de recursos disponíveis para lidar e se recuperar de situações de desastre. O fator idade é justificado pela pesquisadora op. cit. pelo fato de crianças e idosos serem os mais afetados por situações de desastre. O desenvolvimento do ambiente construído, ou seja, a quantidade de unidades habitacionais e comerciais, pode remeter ao quanto de perdas estruturais é possível acontecer em uma área se ela for atingida por um evento perigoso. As condições de habitação, da residência e a situação da propriedade, se própria ou alugada (principalmente na área urbana), são também características envolvidas na capacidade de lidar e resistir a esses eventos. A mudança e deslocamento em virtude de desastres são maiores nas áreas urbanas, fazendo esse fator ser mais relevante nessas áreas (CUTTER, et. al. 2003). A dependência econômica de um único setor pode criar fragilidade econômica para um grupo populacional pela possibilidade de períodos de recessão e desvalorização desse setor, além da alta dependência de condicionantes externos, assim como a agricultura é depende do clima (CUTTER, et. al. 2003). A falta de acesso a recursos, diferenças culturais, fatores sociais e marginalização política são justificativas utilizadas por Cutter et. al. (2003) para a consideração desse fator na determinação da vulnerabilidade social à perigos ambientais de populações de afro- americanos. É colocada em evidência também a relação desse fator com variáveis pertinentes a gênero, como famílias chefiadas por mulheres. Algumas dessas questões perpassam também outros grupos populacionais como asiáticos, hispânicos e indígenas norte-americanos. A ocupação é um fator relevante pois pode predizer a quantidade de renda e, quando relacionada ao primeiro fator, apontar locais com salários mais baixos. O último fator relaciona endividamento e proporção de pessoas empregadas em serviços públicos e condições de infraestrutura, assim como em transportes, a fim de capturar a vitalidade econômica de um município para analisar suas capacidades para lidar com situações de desastre (CUTTER et. al., 2003). Os resultados de Cutter et. al. (2003) baseiam-se na delimitação de vulnerabilidade social à perigos ambientais para os municípios, com cobertura nacional para os Estados Unidos. Para chegar a esse resultado utilizou-se da soma dos 11 fatores para cada município, tendo cada um dos fatores igual importância na definição da vulnerabilidade. A autora relacionou dessa forma as variáveis sob a justificativa da ausência de um bom método para delimitação de pesos para as mesmas.

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O valor de cada fator foi definido a partir da sua implicação no estado de vulnerabilidade, sendo que os valores positivos indicaram maiores níveis de vulnerabilidade e valores negativos, menores. Dessa forma, variou-se entre -9,6 (baixa vulnerabilidade) e 49,51 (alta vulnerabilidade). Para os municípios que expressaram resultados fora da curva normal foi utilizado o desvio padrão, dividido em cinco categorias, variando de -1 até 11. Os valores dessas categorias eram relacionados aos resultados anteriormente apontados a fim de classificar municípios com maiores e menores vulnerabilidades (CUTTER et. al., 2003). A aplicação do hazards of place model é interessante por operacionalizar termos como risco, vulnerabilidade e perigo em uma análise coesa, relacionando esses termos de forma coerente. Isso é um ganho visto a dissonância sobre a essência e aplicação dos mesmos na pesquisa em desastres e perigos ambientais. É observado ainda que tal modelo possibilita resultados quantitativos para a diferenciação de vulnerabilidade entre lugares. Sobre esse último ponto um aspecto chama a atenção no trabalho de Cutter et. al. (2003), a delimitação do lugar, fazendo-o coincidir com a escala do município. Através da leitura de Cutter et. al. (2003) é possível presumir que a delimitação da área pertinente ao lugar refere-se à menor unidade espacial em que há dados disponíveis ou à menor unidade espacial possível de trabalhar estatisticamente a quantidade de dados em relação à escala de cobertura de seu trabalho (nacional), de forma com que os resultados sejam coesos e o indicador possa representar o conceito de forma satisfatória sem a necessidade de volumosos procedimentos matemáticos estatísticos e possíveis perdas de relações com a realidade, decorrentes disso (COSTA, 1975; JANUZZI, 2001). Possivelmente, pela cobertura de sua análise ser o país, a pesquisadora equivaleu a escala espacial do lugar ao município.

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5. INDICADORES SOCIAIS

Sobre a definição do que seria os Indicadores Sociais, Costa (1975) apresenta duas formulações: Indicador social é – uma medida de fenômenos sociais que são transeconômicos. O indicador Social é normativo e integrado em um sistema de informação descritivo consistente. [...] Indicador social pode ser entendido como uma definição operacional ou parte de uma definição operacional de qualquer um dos conceitos centrais à geração de um sistema de informação descritivo de um sistema social (COSTA, 1975, p. 172).

Para a autora op. cit. cada definição possui uma orientação. A primeira estaria direcionada a estabelecer quantitativamente “as finalidades e prioridades e carências da sociedade face a determinados objetivos” (COSTA, 1975, p. 172). A segunda estaria interessada em compreender e descrever o sistema social e como ele se organiza. Portanto, Indicadores Sociais deveriam se referir a sistemas sociais, visto que os critérios envolvidos na ordem quantitativa são menos importantes que o entendimento das estruturas sociais, visto que essas últimas é que seriam responsáveis pelo sucesso ou insucesso de programas ou ordens de investimentos orientados por indicadores sociais (COSTA, 1975). Orientações semelhantes na definição de Indicadores Sociais são vistas em Jannuzi (2001), a qual parece haver uma síntese do exposto anteriormente por Costa (1975): Um indicador social é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para formulação de políticas). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se processando na mesma (JANNUZI, 2001, p. 15)

Nessas definições aspectos em comum chamam a atenção, como o caráter quantitativo dos indicadores sociais; a operacionalização de um conceito; o aspecto descritivo de uma realidade ou situação e, a orientação normativa que podem assumir. Costa (1975), em sua reflexão sobre o conceito de indicador, coloca em evidência duas questões importantes sobre isso: a) a relação entre o indicador e o conceito, e como essa mensuração é fracionada; e b) a retradução dos dados, o uso de unidades formais versus unidades reais, e medidas agregadas versus medidas globais. Sobre a primeira questão, Costa (1975) salienta que o indicador permite o estudo do conceito e, que o indicador é mensurável. A ilustração do conceito, pelo indicador, muitas

64 vezes pode ser difícil através do uso de um indicador apenas, fazendo ser necessário o uso de vários deles sintetizados em um outro que abranja as diversas dimensões que o conceito compreende. Logo, para autora op. cit., por causa disso, foi tendência na sua época, se utilizar de combinações de indicadores para a construção de um único índice. Porém, é alertado o fato de que nesse processo podem acontecer a perda de informações e especificidades desses indicadores sintetizados em um índice apenas. Assim, citando trabalhos da UNRISD, Costa (1975) menciona que a relação entre os indicadores de um determinado índice é fundamental, pois através dela que o conceito se delineia. O aspecto quantitativo do conceito é importante pela relação entre mensuração e desenvolvimento de teoria. Uma vez que a teoria utilizada possibilite deduções a partir dos números e transformá-los para as análises, sem que eles percam suas propriedades numéricas após esse trabalho, as operações algébricas e matriciais podem ser utilizadas. Porém, é importante conceber que Indicadores Sociais não devem se associar, em uma concepção estritamente quantitativa, somente às coisas que podem ser mensuradas, mas sim, àquilo que é relevante. Portanto, a reflexão que se apresenta é sobre a opção de se utilizar medidas mais complexas de conceitos mais básicos ou abrangentes ou, a utilização de um dado bruto para um conceito que seja mais relevante; ou ainda, tornar mensurável aquilo que seja relevante (COSTA, 1975). Acerca da retradução dos dados, Costa (1975) aponta o cuidado sobre a utilização dos mesmos que não foram originalmente levantados para o objetivo do pesquisador, mas sim, de instituições, como por exemplo, registros de nascimentos, de casamentos ou dados educacionais. O trabalho de retradução, ou seja, de adequação desses dados ao objetivo do pesquisador é necessário, uma vez que, segundo a autora op. cit., “não há sentido nos fatos sem teoria” (COSTA, 1975, p. 171). Além disso, é mencionado sobre a atenção devida às unidades a que os dados se referem, sejam elas administrativas ou geográficas, e em como trabalhar com essas unidades de forma com que elas sejam relevantes para os objetivos do pesquisador, o que implica na metodologia dos agrupamentos feitos desses dados, considerando suas unidades. Sobre o processo e o material utilizado na construção de indicadores sociais, Jannuzi (2001) lembra que indicadores sociais não são a mesma coisa que estatísticas públicas. Essas últimas referem-se ao dado social bruto coletado através de pesquisas amostrais ou censos demográficos pelos entes públicos, seja o município, o estado ou a

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União. Os dados das estatísticas públicas não estão incorporados à uma teoria social ou em uma função programática, eles descrevem a realidade de uma situação em números. Já o indicador social pode se referir à toda sociedade ou algum grupo específico e diz respeito a um contexto particular orientado por um objetivo de análise, e são descritos através de proporções, médias, índices, distribuição por classes ou por valores absolutos. Estatísticas públicas são a matéria prima utilizada na constituição de indicadores sociais (JANNUZI, 2001). Costa (1975), ao finalizar sua discussão sobre o conceito de indicadores sociais, salienta uma crítica aos indicadores obtidos através da concepção de que eles remetem a dados que possam descrever o estado de bem-estar, uma vez que para isso é necessário a definição de um sistema de valores que defina o que é bem estar social. Nessa lógica, para a autora op. cit., é importante ressaltar que, tanto na concepção de indicadores sociais como sinônimo de medidas de bem-estar, ou de outras concepções, o trabalho do pesquisador ou cientista social é orientado por escolha de ideologias e sistemas de valores, implicando em adoção e rejeição de perguntas e direcionamentos metodológicos. Assim, pressupondo o caráter normativo de indicadores sociais é perceptível que as informações levantadas para a compreensão do sistema social estarão de acordo com os pressupostos teóricos e metodológicos do pesquisador ou cientista social que o estabelece, e no contexto de disputa ideológicas entre os grupos sociais. Portanto, a ausência de informações sobre os sistemas sociais também está relacionada à escolhas ideológicas e metodológicas de cientistas sociais e pesquisadores que utilizam e sintetizam indicadores sociais (COSTA, 1975). Jannuzi (2001) expõe que Indicadores Sociais podem ser classificados de diversas formas, estando essa classificação relacionada ao seu objetivo e a sua estrutura e organização (quadro 7).

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Quadro 7 – Critérios de Classificação de Indicadores Sociais. Critério de Características Classificação Remetem a uma área específica da realidade social, como por exemplo saúde, Área temática educação, trabalho e emprego. Ou também quantitativos/qualitativos. Os indicadores objetivos (quantitativos) referem-se a situações mensuradas a partir de estatísticas públicas disponíveis, como por exemplo o percentual de domicílios com acesso à rede de água; taxa Objetivos / Subjetivos de desemprego, taxa de evasão escolar. Os indicadores subjetivos (qualitativos) se constituem a partir de avaliação de indivíduos ou especialistas em relação a um aspecto da realidade, levantados a partir de pesquisas de opinião. Os descritivos descrevem a situação de uma certa realidade em que não é preciso definição de um sistema de valores, como a taxa de mortalidade e taxa de evasão escolar. A situação pode ser medida pela ocorrência ou não de um Descritivos / Normativos fenômeno. Os indicadores normativos possuem um sistema de valores metodológicos pré-concebidos para sua determinação, como a proporção de pobres, em que é preciso estabelecer antes o entendimento de pobreza e seus critérios. Indicadores simples são estabelecidos a partir de uma estatística social específica sobre uma determinada dimensão social. Indicadores compostos (ou Simples / Compostos sintéticos) são construídos a partir da aglutinação de dois ou mais indicadores simples, relacionados a uma ou mais dimensões da sociedade, tal como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Indicadores insumo: associados a disponibilidade de recursos, como quantidade de leitos hospitalares por mil habitantes; gasto monetário per capita em uma área social. Indicadores produto: relacionados à variáveis resultantes de processos sociais, como por exemplo, a esperança de vida ao nascer. São Insumo / Produto / entendidos também como indicadores de resultados. Indicadores processo: Processo denotam o esforço operacional de recursos, sendo exemplos homens-hora dedicados a um programa social ou merendas escolares distribuída diariamente por aluno. Os indicadores de insumo e de processo podem ser chamados também de indicadores de esforço. Indicador absoluto diz respeito a ocorrência numérica real de uma situação, como por exemplo o total de pessoas classificadas como pobres; já o indicador Absoluto / Relativo relativo refere-se à proporção de pobres em relação ao total da população. Esses indicadores são associados à natureza da medida. Fonte: Adaptado de Jannuzi (2001) .

Jannuzi (2001) cita ainda a possibilidade de classificação de indicadores sociais em: de estoque, de performance e de fluxo; e de eficiência, eficácia e efetividade. Essas duas classificações estão mais relacionadas à implementação e avaliação de políticas públicas, sendo que a primeira, diz respeito à temporalidade do processo da política em questão, e o segundo associado à avaliação de fato de uma ação de intervenção através de uma política pública. Além dos critérios utilizados em sua classificação, Jannuzi (2001) também apresenta propriedades desejáveis aos indicadores sociais (quadro 8).

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Quadro 8 – Propriedades desejáveis a Indicadores Sociais. Propriedade Característica A pertinência do indicador e seu uso é historicamente determinada e é Relevância Social resultante da agenda de discussão política e social de cada sociedade. Associada a confiabilidade de construção do indicador, a validade corresponde ao grau de proximidade entre o conceito e a medida, ou seja, Validade o quanto o indicador está próximo de representar o conceito abstrato que ele se propõe. Associada à qualidade dos dados utilizados na concepção do indicador, desde o seu levantamento. A qualidade da coleta e processamento das Confiabilidade informações assegura a observação das mudanças do indicador no decorrer do tempo. É recomendável empregar sempre indicadores de boa cobertura espacial ou populacional, que sejam representativos da realidade empírica em Grau de cobertura adequado análise e, que possam ser desagregáveis em termos geográficos, sócio demográficos e socioeconômicos. Refere-se a capacidade em refletir mudanças significativas se as condições Sensibilidade que afetam a dimensão social referida se alteram. Diz respeito ao grau de associação existente entre as estatísticas sociais usadas em sua construção. É importante para os indicadores compostos. Se Especificidade os indicadores constitutivos têm baixa associação entre si, o indicador composto pode não ser especifico o suficiente para mostrar variações na direção esperada, comprometendo sua validade. Relacionado à transparência da metodologia de construção de um Inteligibilidade indicador. Além disso, o indicador precisa ser facilmente “comunicável”, compreensível aos demais. Refere-se a possibilidade de atualização e a factibilidade do indicador. É importante que as estatísticas e dados constituintes do indicador estejam Periodicidade disponíveis de forma periódica regularmente para que se acompanhe temporalmente a dinâmica do mesmo. Disponibilidade de séries históricas de dados que possam ser utilizados Historicidade para comparar a situação do indicador em diferentes períodos. Fonte: Adaptado de Jannuzi (2001)

Reconhecendo a exigência necessária para a excelência do uso e operacionalização de um indicador, Jannuzzi (2001) deixa claro que, dadas as condições de disponibilidade de dados e de estatísticas e as limitações metodológicas para a representação de um conceito as vezes complexo em um indicador, é difícil que exista um indicador social totalmente perfeito, que cumpra todas as propriedades apontadas no quadro 8.

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PARTE 2 - O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

6 ÁREA DE ESTUDO 69

7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 77

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6. ÁREA DE ESTUDO

A bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, localizada no sudoeste do estado de São Paulo e porções do norte do Estado do Paraná, está dentro do perímetro da região hidrográfica do Atlântico Sudeste conforme dispõe a resolução do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH), nº 32, de 15 de outubro de 2003 (BRASIL, 2003). Para fins de gestão de recursos hídricos na esfera estadual paulista, essa bacia está contida na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRH), nº 11 do Estado de São Paulo (Ribeira do Iguape/Litoral Sul), tal como aponta o Relatório de Situação dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente da UGRH-11 (AMAVALES e CBH-RB, 2013). A figura 4 (pág. 100) ilustra a localização da área de estudo no território nacional e a situação dos municípios que a compõem. Conforme AMAVALES e CBH-RB (2013) apresentam, o rio Ribeira de Iguape nasce na vertente leste da Serra de Paranapiacaba, no estado do Paraná. Sua bacia de drenagem possui em terras paranaenses área de 8.613 km² e, no estado de São Paulo, 17.078,30 km², somando ao todo 25.691,30 km². Este trabalho adota como recorte espacial para a coleta de dados, análises e discussões, somente a porção dessa bacia hidrográfica no estado de São Paulo, o que compreende aos mesmos limites da UGRH-11. Os municípios com sede nessa unidade e Ibiúna estão listados na tabela 1. Ibiúna é exceção devido a sua sede estar na UGRH-10 (Tietê/). Entretanto, é participante oficial do Comitê da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul (CBH-RB), e foi considerado nesse trabalho devido à grande proporção de sua área na UGRH-11, 45,34% (AMAVALES e CBH-RB, 2013). Ocorre também que alguns municípios mantêm a sede na UGRH-11, porém não possuem integralmente seu território nessa bacia hidrográfica: Apiaí, com 53,21% de sua área dentro da bacia; Itariri, com 77,1%; Juquitiba, com 98,31%; São Lourenço da Serra com 82,37% e Tapiraí, com 87,6%. Além disso, os municípios de Itapecerica da Serra, Peruíbe, Piedade e São Miguel Arcanjo possuem pequenas porções de seu território na UGRH-11 e suas sedes em outras UGRH (AMAVALES e CBH-RB, 2013).

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Figura 4 – Localização da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape (UGRH-11) e a situação dos municípios.

Fonte: Elaboração do autor a partir de dados do SIG-RB.

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Conforme pode ser visto na tabela 1, na área de estudo deste trabalho residem aproximadamente 459 mil pessoas, segundo projeção do IBGE para 2019. Mesmo essa projeção apresentando um total maior que em 2010, evidenciando um crescimento populacional no tempo, em 8 municípios é observada uma diminuição da quantidade de habitantes entre 2010 e 2019, o que denuncia determinado caráter emigratório dessa região.

Tabela 1 - População, taxa de urbanização e área dos municípios que compõem a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos nº 11. Projeção População População Área Município população urbana 2010 (Km²) 2019 2010 Apiaí 25.191 24.374 72,3% 974,322 Barra do Chapéu 5.244 5.724 29,4% 405,681 Barra do Turvo 7.729 7659 41,1% 1.007,684 Cajati 28.372 28.549 73,0% 454,436 Cananeia 12.226 12.540 85,4% 1.237,354 Eldorado 14.641 15.494 49,2% 1.654,256 Ibiúna 71.217 78.878 35,0% 1.058,082 Iguape 28.841 30.857 85,6% 1.978,795 9.025 11.166 100,0% 196,567 Iporanga 4.299 4.218 55,9% 1.152,059 Itaóca 3.228 3.328 54,5% 183,015 Itapirapuã Paulista 3.880 4.241 48,8% 406,478 Itariri 15.471 17.436 63,9% 273,667 Jacupiranga 17.208 17.866 54,4% 704,189 Juquiá 19.246 18.812 63,1% 812,799 Juquitiba 28.737 31.444 77,4% 522,169 Miracatu 20.592 19.779 51,4% 1.001,484 Pariquera-Açu 18.446 19.648 68,6% 359,414 Pedro de Toledo 10.204 11.331 68,9% 670,440 Registro 54.261 56.322 88,8% 722,201 Ribeira 3.358 3.340 36,8% 335,759 S. Lourenço da Serra 13.973 15.825 91,0% 186,456 Sete Barras 13.005 12.832 55,3% 1.062,699 Tapiraí 8.012 7.807 71,5% 755,100 Total 436.406 459.470 - 18.115,11 Fonte: IBGE Cidades. Adaptado pelo autor.

Dos 24 municípios, 6 possuíam em 2010 taxa de urbanização inferior a 50%: Barra do Chapeú, Barra do Turvo, Ibiúna, Ribeira, Eldorado e Itapirapuã Paulista. A taxa brasileira no mesmo ano era de 84,36%. Cinco municípios possuem taxa maior que a brasileira: Cananeia, Iguape, Ilha Comprida, na área costeira; e Registro e São Lourenço da Serra, mais ao interior. Chama a atenção as menores proporções de urbanização: Barra do Chapéu (29,4%) e Ribeira (36,8%).

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Observa-se na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape municípios bastante extensos em área, tais como Iguape, com quase 2.000 km² e Eldorado com pouco mais de 1.600 km². Os municípios mais populosos são Ibiúna e Registro, com cerca de 78 mil e 56 mil habitantes cada, respectivamente. A baixa quantidade de população e as grandes extensões territoriais dos municípios conferem a eles baixas densidades demográficas, sendo a maior delas encontrada no município de Registro, de 75,11 hab/km². Para efeito de comparação, no município de Campinas-SP, a densidade demográfica em 2010 era de 1.359,60 hab/km². A tabela 2 apresenta a população ocupada, ou seja, proporção de população ocupando postos de trabalhos formais. Esse indicador é obtido sobre a população economicamente ativa, àquela que corresponde à população em idade de trabalhar que se encontra no mercado do trabalho, seja na condição de ocupado ou desempregado (DEDECCA e FERREIRA, 1989).

Tabela 2 – População ocupada em 2018. Município População ocupada Apiaí 18,6 % Barra do Chapéu 16,0 % Barra do Turvo 9,1 % Cajati 21,0 % Cananeia 12,8 % Eldorado 10,8 % Ibiúna 16,6 % Iguape 9,8 % Ilha Comprida 18,4 % Iporanga 12,4 % Itaóca 11,7 % Itapirapuã Paulista 14,1 % Itariri 8,5 % Jacupiranga 17,4 % Juquiá 11,5 % Juquitiba 18,5 % Miracatu 14,1 % Pariquera-Açu 20,7 % Pedro de Toledo 8,2 % Registro 25,2 % Ribeira 16,1 % S. Lourenço da Serra 45,2 % Sete Barras 9,6 % Tapiraí 15,0 % Fonte: IBGE Cidades. Adaptado pelo autor.

Nota-se a discrepante diferença entre São Lourenço da Serra, com 45,2% de população ocupada, e os demais municípios, onde observa-se taxas bastante inferiores, sendo

73 a segunda maior vista em Registro, de 25,2%, e a menor de todas em Pedro de Toledo, 8,2%. Em 20 dos 24 municípios a população ocupada é inferior à 20%, com exceção dos já mencionados São Lourenço da Serra e Registro; e em outros dois: Cajati (21%) e Pariquera- Açu (20,7%). Os dois municípios com a maior taxa de população ocupada também apresentam maiores taxas de urbanização, possibilitando uma interpretação prévia de que a maior parte dos empregos estão na área urbana. Porém, essa coincidência de dados não é uma tendência para Ilha Comprida, Cananeia e Iguape que possuem grandes proporções de populações urbanas, configurando as maiores da área de estudo, mas possuem baixas taxas de população ocupada, em relação a São Lourenço da Serra e Registro. Para entender em quais setores econômicos estão distribuídos os empregos (formais) organizou-se a tabela 3. Fica evidente, após a leitura de seus dados, que os setores de administração pública, comércio, serviços e agropecuária (e extração vegetal e pesca) são importantes para a disponibilidade de empregos formais, em detrimento da indústria e da extração mineral, sendo isso uma exceção para os municípios de Cajati, Ibiúna e Juquitiba, onde o setor da indústria tem consideráveis quantidades de empregos formais disponibilizados. Dos 5 municípios com as menores taxas de urbanização, em 3 deles a maior quantidade de empregos formais é no setor da agropecuária, extração vegetal e pesca. Ou seja, nos municípios mais rurais, o setor da agropecuária e de extração empregam mais. Os setores de administração pública e comércio são os seguintes em importância nesse quesito para esses municípios, reafirmando a relevância desses últimos setores para a disponibilização de postos de trabalho.

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Tabela 3 - Estoque de Empregos Formais segundo setor de Atividade Econômica em 2018 nos municípios da UGRH-11.

Serviços Agropecuária, Extrativa Industria de Industriais Construção Administração extração Município Comércio Serviços Total mineral transformação Utilidade Civil Publica vegetal e Pública pesca Apiaí 0 602 53 142 979 764 683 1150 4373

Barra do Chapéu 2 0 2 4 45 18 268 372 711 Barra do Turvo 0 9 6 16 104 64 386 46 631 Cajati 28 1325 52 804 882 1612 890 777 6370 Cananeia 0 64 10 4 280 401 581 210 1550 Eldorado 26 123 15 17 299 196 642 927 2245 Ibiuna 5 2411 191 276 3713 2378 2213 2991 14178 Iguape 15 132 59 11 862 495 1053 189 2816 Ilha Comprida 0 15 7 18 562 232 901 2 1737 Iporanga 0 0 6 0 55 55 326 42 484 Itaóca 3 0 1 67 53 6 196 12 338 Itapirapuã Paulista 0 0 0 0 75 25 200 212 512 Itariri 5 54 32 23 342 319 436 297 1508 Jacupiranga 49 377 11 22 712 924 567 930 3592 Juquiá 35 233 36 14 419 407 752 553 2449

Juquitiba 25 1025 39 43 1218 1894 998 39 5281 Miracatu 48 126 76 29 565 893 628 584 2949 Pariquera-Açu 0 127 28 102 721 959 1693 796 4426 Pedro de Toledo 10 0 12 5 276 78 419 112 912 Registro 162 638 221 373 3764 5493 1821 1141 13613 Ribeira 15 12 1 0 39 27 198 216 508 S. Lourenço da Serra 0 167 55 171 442 5876 639 80 7430 Sete Barras 18 159 5 19 245 120 418 934 1918 Tapiraí 37 103 149 70 184 146 311 186 1186

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (BRASIL, 2018).

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Os 5 municípios com as menores taxas de população ocupada possuem taxas inferiores a 10%, e em todos a urbanização é inferior à média brasileira. Em 4 dos 5, o setor que mais possui postos de trabalho formais é a administração pública, sendo em Sete Barras diferente, onde a maioria dos empregos concentra-se na agropecuária, extração vegetal e pesca. De acordo com os dados expostos nas tabelas 1, 2 e 3 percebe-se a elevada desproporcionalidade entre quantidade de habitantes, população ocupada e número de empregos formais. Isso pode demonstrar, além da evidente baixa disponibilidade de postos de trabalhos formais, a grande dependência da população de empregos informais para o acesso à renda. Essa realidade coloca a população da área em situações de maior fragilidade socioeconômica (CARDONA, 2004) pela instabilidade e não seguridade de direitos que o emprego informal acarreta, resultando em possíveis índices maiores de vulnerabilidade à perigos ambientais, uma vez que a renda desse tipo de emprego tende a não ser garantida e ainda ser possivelmente menor. A tabela 4 apresenta a proporção de domicílios particulares que possuem renda per capita de até meio salário mínimo, para cada município. Marson (2018) expõe que esse critério já foi utilizado no Brasil para definir uma linha de pobreza.

Tabela 4 – Proporção de domicílios particulares com renda per capita de até ½ salário mínimo. Domicílios Domicílios particulares com particulares com Município Município renda per capita até ½ renda per capita até ½ salário mínimo salário mínimo Apiaí 44,46 % Jacupiranga 33,6 % Barra do Chapéu 56,02 % Juquiá 40,86 % Barra do Turvo 46,85 % Juquitiba 41,78 % Cajati 38,86 % Miracatu 45,06 % Cananeia 35,34 % Pariquera -Açu 31,81 % Eldorado 45,66 % Pedro de Toledo 37,21 % Ibiúna 30,31 % Registro 30,21 % Iguape 38,67 % Ribeira 43,02 % Ilha Comprida 31,17 % S. Lourenço da Serra 29,79 % Iporanga 49,27 % Sete Barras 45,46 % Itaóca 48,44 % Tapiraí 37,19 % Itapirapuã Paulista 56,33 % Jacupiranga 33,6 % Itariri 44,69 % Juquiá 40,86 % Fonte: Fundação SEADE (2010). Adaptado pelo autor.

Sabe-se que a definição da pobreza pode ser feita a partir de diversas perspectivas. Duas delas seriam a pobreza absoluta e a pobreza relativa. A primeira é relacionada às

76 condições materiais mínimas necessárias para manter a vida de um ser humano. A fome, por exemplo, seria uma questão pertinente à pobreza absoluta. Já a pobreza relativa se circunscreve na extremidade inferior de uma medida em determinada unidade (que pode ser renda) definida em certa sociedade. Dessa forma, a pobreza pode variar conforme variam os parâmetros que a definem. Nessa perspectiva, a pobreza também varia de acordo com as diferenças existentes entre as sociedades. O mesmo parâmetro que define pobreza em um país pode significar uma realidade de não pobreza em outro (MARSON, 2018). Considerando que o tipo de dado apresentado na tabela 4 já definiu uma linha de pobreza (relativa) no Brasil (MARSON, 2018), chama a atenção o fato de que em 20 dos 24 municípios da área de estudo, mais de um terço dos domicílios possuem renda de até meio salário mínimo per capita. Ou seja, em 20 municípios, mais de um terço dos domicílios estariam próximos dessa linha de pobreza. Dos 5 municípios que possuem a maior proporção de domicílios com esse baixo rendimento, todos possuem urbanização inferior ou próximo de 50%, taxa de população ocupada menor que 20% e a maior dependência dos setores de administração pública e agropecuária para a disponibilidade de empregos formais. A partir dos dados observados nas tabelas 1, 2, 3 e 4, compreende-se que a área de estudo é pouco populosa, pelas baixas densidades demográficas; com maior parte da população sendo urbana, porém com dependência considerável do meio rural para disponibilização de empregos. A população da área de estudo vive, em sua maior proporção, com baixos rendimentos, sendo altamente dependente de postos de trabalho informais. Os setores de administração pública, comércio e serviços são os responsáveis pela maior participação nos empregos, porém, o setor da agropecuária também é relevante, assim como já salientado.

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7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os objetivos específicos deste trabalho se relacionam com a sistematização dos indicadores propostos, para o cumprimento do objetivo geral, conforme dispõe a figura 5.

Figura 5 – Relação entre objetivos específicos A, B, C, D e E, indicadores propostos e objetivo geral

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para atender a esses objetivos, a primeira etapa foi a realização de uma revisão bibliográfica sobre os diferentes conceitos e categorias discutidas neste trabalho. Tal levantamento de dados ocorreu a partir de consultas em literatura especializada, periódicos, relatórios técnicos e teses e dissertações disponíveis nas bibliotecas online do país e exterior.

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Outra etapa foi a definição das escalas taxonômicas a serem adotadas. Foi necessária a construção de um banco de dados cartográfico para caracterização da área em estudo. Os mapas temáticos foram obtidos no Sistema de Informações do Comitê de bacias hidrográficas do rio Ribeira do Iguape e Litoral Sul (SIG-RB). A base de dados apresenta mapas em formato vetorial para as variáveis físicas e socioeconômicas. Foram inventariados os seguintes produtos cartográficos:  Base Cartográfica (Cartas Topográficas) - IGC, mapas IBGE digitalizados 1: 50.000;  Aspectos Litológicos - Projeto Integração e Detalhe Geológico no Vale do Ribeira (CPRM) escala – 1:100.000 (1981);  Aspectos Geomorfológicos - RELATÓRIO DE SITUAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRA DE IGUAPE E LITORAL SUL -UGRHI 11 – 1:250.000 (1999);  Aspectos Pedológicos - MAPA PEDOLÓGICO DO ESTADO DE SÃO PAULO: REVISADO E AMPLIADO (2017) – Instituto Florestal;  Aspectos climáticos - Estações Pluviométricas (ANA, 2019) Boletim Técnico – INPE. Além desses procedimentos de gabinete foi realizado um trabalho de campo em janeiro de 2019 para averiguar a situação da área em relação às planícies de inundação dos cursos de água, observando a ocupação presente em suas margens e as condições de infraestrutura desses locais. Para a definição final dos pontos de visitação foi consultado ainda material cartográfico da Defesa Civil sobre a temática (inundação), disponibilizado no banco de dados do Comitê de Bacia (SIG-RB). Assim, os pontos visitados foram os logradouros citados nos AVADAN‟s ou FIDE‟s ou pontos acusados de ocorrência de inundações nos mapas da Defesa Civil.

7.1. Inventário das inundações e desastres entre os anos de 1998 e 2018

Foram realizadas buscas em bases de dados de instituições que monitoram ou estudam a ocorrências de desastres, sendo elas:  SIMPAT – Sistema Integrado de Monitoramento, Previsão e alerta de Tempestades para as Regiões Sul-Sudeste do Brasil, vinculado ao Centro de Meteorologia – IPMet, da

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Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Bauru. Está disponível na internet no endereço: https://www.ipmet.unesp.br/2desastres.php, sendo de acesso livre.  S2iD – Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), do Ministério da Integração Nacional (MI). Disponível no endereço: https://s2id.mi.gov.br/paginas/index.xhtml, também de acesso livre, sem a necessidade de cadastro ou login. A partir do acusamento em mapas da Defesa Civil, disponibilizados no SIG-RB, sobre uma grande inundação ocorrida no ano de 1997, buscou-se inventariar no SIMPAT e no S2iD notificações de inundações a partir de 1990, a fim de observar nesse inventário a frequência desses episódios anterior ao grande evento de 1997 e depois, como esse fenômeno tem se comportado. Entretanto, ao apontar o início das buscas a partir da data de 01/01/1990, os dois bancos de dados apresentaram como resultados mais antigos registros de 1998. Dessa forma, visto a inexistência de dados nos anteriores nos sistemas consultados, definiu-se o período de inventário como sendo entre 1998 e 2018. O SIMPAT permite realizar pesquisas sobre a ocorrência de desastres naturais nos estados de São Paulo e Paraná. Após os procedimentos de organização dos dados e conferência, os registros encontrados no SIMPAT foram organizados em uma tabela. Os resultados obtidos no S2iD constituíram-se de listas nas quais apareciam, ao final da linha de cada registro, a opção para fazer download dos documentos disponíveis no arquivo digital desse sistema. Dessa forma, as notificações encontradas no S2iD baseiam-se em documentos adquiridos nesse sistema. Tais documentos são: Avaliação de Danos (AVADAN), Formulário de Informações de Desastres (FIDE); Notificação Preliminar de Desastre (NOPRED); Notificação de Ocorrência; Relato i Preliminar; Relatório da Defesa Civil; e Notícias. Assim, como resultado do inventário de episódios de inundações há duas tabelas. A primeira concentra os registros encontrados no SIMPAT, e a segunda os episódios descritos nos documentos disponibilizados pelo S2iD. Inicialmente, cogitou-se sintetizar as informações das duas tabelas em uma terceira, porém notou-se discordância de registros entre os bancos de dados. Devido ao fato de que as duas tabelas são extensas, elas estão organizadas ao final do trabalho, nos apêndices (A e B), estando disponível para consulta. No corpo do texto, na seção de resultados, encontram- se tabelas e gráficos que sintetizam o seu conteúdo.

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7.2. O índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação 7.2.1. O modelo de vulnerabilidade, os recortes espaciais de captação de dados e a estrutura do índice

O modelo de vulnerabilidade operacionalizado neste trabalho tem como base àquele desenvolvido por Cutter (1996), o hazards of place model. Tendo isso em mente, foi confeccionada uma outra proposta de organização visual na qual buscou-se ilustrar a intersecção entre vulnerabilidade e risco, e a posição agregadora do lugar como espaço de concretização da situação de vulnerabilidade (figura 10). A leitura da operacionalização desse modelo por Susan Cutter (CUTTER et al., 2003) sugere que ele considera variáveis que abarcam três âmbitos: i) a capacidade de resposta da população ao perigo; ii) o potencial para perdas (danos e prejuízos); e iii) o grau de exposição ao perigo. Assim, as variáveis precisariam compreender elementos sobre cada um deles (figura 6) e se relacionar estatisticamente de forma a gerar um dado capaz de ser utilizado para diferenciar a vulnerabilidade de lugares, representando assim o conceito (JANUZZI, 2001; COSTA, 1975).

Figura 6 – Modelo de Vulnerabilidade empregado na delimitação da Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 7 – Elementos da vulnerabilidade à perigos ambientais e seu enquadramento no Índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Cutter et. al. (2003), ao dimensionar a Vulnerabilidade Social a perigos ambientais, utiliza parâmetros quantitativos, tais como densidade demográfica, número de domicílios e número de estabelecimentos comerciais e industriais para estimar o potencial para perdas em vidas e de bens, fazendo disso um elemento constituinte de seu indicador. Contudo, compreende-se que ao definir a proporção de ocorrência de variáveis que ilustram as capacidades de resposta da população, as perdas já estariam associadas à essas realidades, ou seja, às próprias capacidades de resposta, as quais se forem mais elevadas significam menor potencial para perdas, e se forem deficitárias, preconizam maior potencial para perdas. Desse modo, a concepção de perdas delineada neste trabalho não se trata especificamente do quanto pode-se perder, mas à relevância dessas perdas potenciais para a população. Uma vez que a situação de desastre está consumada, as perdas são um fato, cabendo à discussão o seu significado no contexto em que ela ocorre, e não somente a sua quantidade. Para a Suscetibilidade Ambiental, pertinente ao perigo e à exposição à ele, as variáveis descrevem a possibilidade de ocorrência do perigo a partir das características

82 topográficas do terreno e dos usos da superfície, que por sua vez podem aumentar a probabilidade de ocorrer inundações. Para operacionalizar esse modelo de vulnerabilidade dois recortes espaciais foram utilizados para a obtenção das variáveis e suas correlações: o setor censitário e a bacia hidrográfica. Posto que o perigo investigado é a inundação, que por sua vez está circunscrita na dinâmica hidrológica observada em uma bacia hidrográfica, é esse o recorte espacial utilizado para a para a esfera ambiental do índice, a Suscetibilidade Ambiental, que compreende o entendimento do perigo e da exposição a ele. Entendendo que existem duas abordagens sobressalentes para a discussão e utilização do recorte espacial lugar (Geografia Humanista e Geografia Crítica), buscou-se, dessa forma, uma tentativa de conciliação dessas abordagens a partir da ideia de Bartoly (2011), de estabelecimento de núcleo comum do conceito, a fim de justificar o recorte espacial setor censitário, o qual é utilizado para agregar os resultados da suscetibilidade e de vulnerabilidade. O quadro 9 apresenta a síntese dessa conciliação.

Quadro 9 – Aspectos elementares para a concepção conceitual de lugar. Aspecto Características Identidade Caráter individual e coletivo. Reconhecimento de si e de seu grupo a partir da familiaridade com o espaço vivido e do compartilhamento dele e de um desenvolvimento histórico permeado de simbolismos, que podem incluir a apropriação e o desenvolvimento das técnicas na dinâmica social contemporânea e as funcionalidades dos indivíduos e do grupo dentro dessa dinâmica, nas relações entre si e entre si e outros grupos. Efeito de vizinhança A proximidade física que leva os indivíduos ao compartilhamento do mesmo espaço, de experiências e simbolismos comuns, que por sua vez incluem a realidade técnica e de infraestrutura, e características demográficas e socioculturais semelhantes. A partilha disso tudo resulta em uma espécie de solidariedade agregadora. Aspecto coletivo. Vivência cotidiana Relação direta com o espaço a qual implica em contiguidade territorial pelo acesso que o indivíduo precisa ter em seu trânsito e na sua ação cotidiana. Pode- se também discutir, na experiencia do dia-a-dia, a superposição vista na contemporaneidade, do local e global a partir da realidade técnica e de infraestrutura dos espaços (espaços em rede x espaço banal). O cotidiano implica em experiencias individuais e coletivas. Fonte: Elaborado pelo do autor, a partir de Bartoly (2011), Holzer (2019), Santos (2017), Santos (1994), Marandola Jr. (2008) e Marandola Jr. e Hogan (2009).

Partindo da abordagem da Geografia Humanista, utilizando-se da fenomenologia, Marandola Jr. (2008) posiciona a discussão do lugar primeiramente a partir do corpo do indivíduo e de suas interações sobre o espaço.

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A leitura do quadro 9 evidencia que os aspectos basilares encontrados para a discussão conceitual do lugar têm como ponto de partida o indivíduo. Porém, isso não significa necessariamente um recorte escalar (individual, local), posto que esse corpo (individuo) está em constante relação com outros corpos e com espaços e realidades diversas em diferentes escalas. O quadro 9 expõe ainda que mesmo partindo do indivíduo, as premissas acerca do lugar podem também ser operacionalizadas na perspectiva da Geografia Crítica. Entendendo então que o conceito de lugar parte dessa premissa dialética entre individualidades, coletividades e escalas, e, a subjetividade e o caráter simbólico que podem ser legados ao lugar possibilitam lugares diferentes para indivíduos diferentes, é percebida uma tensão entre indivíduo e coletivo, e entre as escalas local x regional (global) no que tange à captação de dados e suas consequentes análises. Dessa forma, se apresenta a necessidade de angariar dados na “menor porção de área em que o território nacional é fragmentado para fins de coleta estatística do IBGE (IBGE, 2019, p. 68)”, o setor censitário. Portanto, para a delimitação da Vulnerabilidade Social à inundação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape os dados das variáveis referem-se aos setores censitários do IBGE, levando, dessa forma, à utilização dos dados do Censo Demográfico de 2010, confeccionado e divulgado pela instituição. Outras justificativas para adoção desse banco de dados são: o tamanho da área de estudo, milhares de quilômetros quadrados distribuídos em 24 municípios; e o benefício decorrente, da possibilidade de aplicação dessa metodologia não somente para a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, mas também para outras áreas do Brasil. O setor censitário é classificado em urbano ou rural a partir da sua situação e do perímetro urbano legalmente definido. Os setores urbanos são delimitados preferencialmente pelas quadras e os rurais por elementos físicos da área que permitem uma referência, tais como estradas, rios, pontes e linhas de cumeada. O tamanho dos setores é referente à quantidade de unidades de coleta (domicílios e estabelecimentos agropecuários) e varia em sua extensão territorial. Para a sua demarcação são seguidos os limites administrativos (municipais, estaduais e federais), e características de outras naturezas, tais como geomorfológicas, socioeconômicas e culturais a fim de que sejam representadas, na apuração dos dados e nos seus resultados, as estruturas territoriais atuantes (IBGE, 2019).

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Dentre as variáveis do índice proposto nesse trabalho, há algumas que são específicas para as áreas urbanas, posto que, são locais com complexidade maior de ocupação. Para isso seguiu-se a classificação dos setores censitários em rurais e urbanos observados no Censo de 2010. O IBGE considera áreas urbanas aquelas que são definidas pelos municípios a partir de leis municipais que possuem, por sua vez, fins tributários e de planejamento urbano. As áreas rurais se constituem daquelas que não são urbanas, apresentando característica predominante de domicílios dispersos e presença de estabelecimentos agropecuários. Áreas rurais que possuem aglomerações de domicílios são compreendidas como Aglomerados Rurais (IBGE, 2019). Desse modo, obtém-se que no indicador sintético de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação estão relacionados 2 indicadores (Vulnerabilidade Social e Suscetibilidade Ambiental), os quais são compostos, ao todo, por 3 dimensões, 6 componentes e 28 variáveis. A figura 8 ilustra a estrutura do índice. As variáveis dos indicadores prévios são descritas nos itens posteriores.

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Figura 8 – Estrutura do índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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7.2.2. Definindo a Vulnerabilidade Social

A escolha das variáveis foi pautada em trabalhos publicados sobre a delimitação da vulnerabilidade na perspectiva dos natural hazards, ou que discutiam tal assunto, assim como os de Cutter (2003), Blaikie et al. (2014) e Barros, Carvalho e Franco (2003) e Braga et. al. (2006). A escolha foi feita considerando os aspectos que teriam implicação direta com o contexto de áreas suscetíveis à inundação, com a resposta dos habitantes desses locais. Após a determinação das variáveis o passo seguinte foi relacioná-las para a classificar os setores censitários quanto a sua situação de Vulnerabilidade Social à inundação. A incorporação de variáveis demográficas é indicada por Braga et. al. (2006) por elas terem a capacidade de diferenciar agrupamentos populacionais que detenham características socioeconômicas semelhantes, mas que à nível domiciliar pode apresentar diferenças fundamentais quanto a capacidades de respostas no que se refere aos componentes etários e de gênero. O indicador de Vulnerabilidade Social a inundações proposto é constituído por duas dimensões, uma denominada “Aspectos Populacionais”, e outra “Habitação e Entorno”. Cada dimensão possui 2 componentes, sendo que na primeira cada componente possui dois subcomponentes. Esse indicador proposto possui 24 variáveis, 4 componentes, 4 subcomponentes e 2 dimensões. O quadro 10 ilustra como as variáveis foram agrupadas para cada componente e subcomponente e como a dimensão “Aspectos Populacionais” está sistematizada. Todas as variáveis dessa dimensão foram utilizadas para os setores urbanos e rurais.

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Quadro 10 – Componentes e Variáveis que compõem a Dimensão Aspectos Populacionais no índice de Vulnerabilidade Social. Dimensão: Aspectos Populacionais Componente: Sub- Variável componente Estrutura Estrutura etária EF 1 - Proporção de Criança 0 – 12 anos Familiar (EF) EF 2 - Proporção de Idosos 60 anos e mais Gênero e EF 3 - Proporção de Idosos Responsáveis tamanho dos EF 4 - Proporção de mulheres responsáveis domicílios EF 5 - Proporção Responsáveis idade ativa responsáveis EF 6 - Proporção de domicílios com + 4 moradores Renda e Renda RE1 – Proporção de Pessoas responsáveis com rendimento nominal Educação (RE) mensal até 1 salário mínimo RE2 - Proporção de Pessoas responsáveis do sexo feminino sem rendimento nominal mensal RE3 – Proporção de Domicílios sem renda RE4 – Proporção de Domicílios particulares com rendimento nominal mensal domiciliar per capita de até 1/4 salário mínimo Educação RE5 – Proporção de Crianças e adolescentes alfabetizados (alfabetização) RE6 - Proporção de Alfabetizados em idade ativa RE7 - Proporção de Mulheres alfabetizadas responsáveis Fonte: Elaborado pelo autor.

O tamanho do domicílio é utilizado por Cutter et. al. (2003) e é relacionado à estrutura de dependentes da renda domiciliar. No mesmo trabalho a autora op. Cit. descreve que mulheres tem maior dificuldade que os homens em se recuperar de desastres devido a salários mais baixos e responsabilidades de cuidados familiares. Barros, Carvalho e Franco (2003) justificam que a presença de crianças e idosos aumenta a vulnerabilidade das famílias, uma vez que são maiores os custos necessários na manutenção das necessidades básicas, condições de segurança, alimentação adequadas e atendimento médico a esses indivíduos. Blaikie et al. (2014) suscitam que apesar de a vulnerabilidade não poder ser associada diretamente a pobreza, os pobres sofrem mais consequências que os ricos em uma situação de desastre devido ao seu acesso a renda, que muitas vezes ocorre por baixos salários, e pelo seu patrimônio reduzido, geralmente concentrado em sua moradia. Dessa forma, investigar a quantidade de renda da população é importante, pois ela revela a capacidade em aspectos financeiros de resistir e responder às situações de desastres e perigos naturais, demonstrando a relevância desse indicador no nível de vulnerabilidade de um grupo. Cutter et. al. (2003), ao considerar indicadores sobre educação, explicita que maiores níveis de escolaridade podem resultar em maiores ganhos ao longo da vida e que

88 baixos níveis podem acarretar dificuldades na assimilação de sistemas de alerta e acesso a informações sobre isso e de recuperação. No banco de dados do Censo a informação pertinente à educação baseia-se somente sobre a alfabetização. Logo, essa foi a variável utilizada para cobrir esse aspecto. A dimensão “Habitação e Entorno”, diz respeito às condições da moradia e à realidade a sua volta, em relação, por exemplo, ao abastecimento de água, coleta de esgoto e energia elétrica. Essa dimensão está organizada em dois componentes e sua organização pode ser observada nos quadros 11 e 12. Nesse item são utilizadas variáveis especificas para os setores censitários urbanos, estando elas descritas no referido quadro.

Quadro 11 – Componentes e Variáveis que compõem a Dimensão Habitação e Entorno e Serviços no índice de Vulnerabilidade Social para os setores censitários Urbanos. Dimensão: Habitação e Entorno Componente Variável Condições HE1 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com habitacionais e abastecimento de água da rede geral ou pluvial Infraestrutura dos HE2 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com banheiro domicílios de uso exclusivo dos moradores permanentes ou sanitário e esgotamento sanitário que tem rede geral de esgoto ou pluvial HE3 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com energia elétrica HE4 - Proporção de moradores em domicílios não próprios HE5 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes não adequadas Infraestrutura do HE6 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes – Existe entorno dos iluminação pública domicílios HE7 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes – Existe pavimentação HE8 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes – Existe bueiro/boca-de-lobo HE9 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes – Existe arborização HE10 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes – Existe rampa para cadeirante HE11 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com lixo coletado Fonte: Elaborado pelo autor.

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Quadro 12 – Componentes e Variáveis que compõem a Dimensão Habitação e Entorno e Serviços no índice de Vulnerabilidade Social para os setores censitários Rurais. Dimensão: Habitação e Entorno Componente Variável Condições HE1 – Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com habitacionais e abastecimento de água da rede geral ou pluvial Infraestrutura dos HE2 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com banheiro domicílios de uso exclusivo dos moradores permanentes ou sanitário e esgotamento sanitário que não tem rede geral de esgoto ou pluvial HE3 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com energia elétrica HE4 - Proporção de moradores em domicílios não próprios HE5 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes não adequadas Infraestrutura do HE9 – Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes – Existe entorno dos arborização domicílios HE11 - Proporção de moradores em domicílios particulares permanentes com lixo coletado Fonte: Elaborado pelo autor.

Barros, Carvalho e Franco (2003, p. 12) alegam que “as condições habitacionais representam uma das principais dimensões das condições de vida de uma família, devido a sua íntima relação com as condições de saúde”. A situação precária de infraestrutura em locais de moradia não adequada, assim como nas favelas, pode desencadear riscos ambientais como contaminações do meio físico e até mesmo serem potencializadoras para deslizamentos de terra e inundações, assim como trazido por Davis (2006). Por esse motivo, indicadores sobre a presença ou não de infraestrutura, como o abastecimento de água e esgotamento sanitário, foram adotados. A existência de infraestrutura como pavimentação, bocas de lobo, iluminação pública e energia elétrica, garantem à população subsídios para resistir aos perigos ambientais, e foram consideradas somente para os setores censitários urbanos, posto sua influência maior em localidades com esse tipo de ocupação, devido aos núcleos urbanos se constituírem praticamente de localidades pontuais na escala trabalhada (1: 50.000) na área de estudo. A presença de arborização e a coleta do lixo, além de possuírem desdobramentos na dinâmica social e de saúde pública, estão associadas também às condicionantes ambientais de Suscetibilidade a inundação, pois a presença de arborização pode significar a existência de áreas verdes, logo, zonas permeáveis, que por sua vez, minimizam o escoamento superficial da água, retardando sua chegada aos canais de drenagem e sua consequente cheia. A coleta de lixo diz respeito à destinação dele, que uma vez descartado diretamente no ambiente, sem um sistema de coleta adequado, pode contribuir para a

90 potencialização das inundações e contaminação do solo e água, prejudicando o bem estar da população na área em que isso acontece, assim como mencionado por Davis (2006) ao discutir sobre os riscos naturais observados nas favelas. A situação desse tipo de variáveis relaciona-se, portanto, não somente à probabilidade de ocorrência do perigo (suscetibilidade), mas sobretudo à realidade social e de infraestrutura e as possibilidades que elas oferecem à população para lidar com um contexto de desastre. Desse modo, as variáveis da Dimensão Habitação e Entorno e Serviços associam- se também ao potencial para perdas. Essas características de infraestrutura dos domicílios e seu entorno podem ser entendidas em paralelo à interpretação de Blaikie et al. (2014) quando eles discutem a relevância das condições de infraestrutura para as consequências dos desastres. Segundo os autores op. cit., melhores condições de infraestrutura que dispõem pessoas mais ricas fazem com que elas sofram menos com as consequências de desastres do que pessoas residentes em locais onde não ela não existe ou existe com precariedade. A sistematização e relacionamento dos dados de todas as variáveis descritas foi realizada utilizando o software Arc GS v.10.6., disponível nos laboratórios do Instituto de Geociências da universidade. Nesse software foram importados os arquivos vetoriais e raster, nos quais foram projetados os dados dos limites territoriais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape e dos municípios com os respectivos setores censitários contemplados. Os arquivos no formato vetorial, com os limites da área de estudo, foram adquiridos no banco de dados do Sistema de Informação Geográfica do Rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul (SIG-RB)1. O SIG-RB é mantido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica em questão. Os arquivos dos limites dos municípios e setores censitários foram extraídos da base do portal eletrônico do IBGE2. Após a seleção das variáveis nas tabelas dos dados do Censo Demográfico do IBGE, calculou-se a proporção de cada variável no setor censitário. Por exemplo, para a variável EF-1 (Proporção de crianças de 0 a 12 anos), obteve-se o total de moradores de cada setor e então dividiu-se a quantidade de crianças de 0 a 12 anos pelo total de moradores. Esse procedimento faz com que todas as variáveis sejam consideradas na mesma razão, que varia, dessa forma, entre 0 e 1. Isso foi feito, pois não é possível correlacionar

1 Banco de Dados SIG-RB. Disponível em: http://www.sigrb.com.br/. 2 Base de dados IBGE. Disponível em: https://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/bases- cartograficas/malhas-digitais.html.

91 dados absolutos que expressam coisas diferentes, tais como quantidade de crianças e quantidade de renda. Depois de normalizar os dados de todas as variáveis, esses valores foram classificados nas classes “baixa” (1), “média” (2) e “alta” (3), de acordo com a sua influência na vulnerabilidade do setor censitário a que ela diz respeito. Para essa classificação utilizou-se do cálculo dos quartis, obtidos a partir da observação dos maiores e menores valores de proporção encontrados para cada variável. Segundo Rogerson (2012) “o intervalo interquartil é a diferença entre os 25º e 75º percentis” (ROGERSON, 2012, p. 31). Dessa forma, o 25º percentil se constitui através da expressão matemática (n + 1)/4, em que n se equivale à quantidade de valores observados. Já o 75º percentil corresponde à expressão 3(n +1)/4. Os resultados equivalem-se à posição, na série de dados, organizados de forma crescente, que representa o 25º e o 75º percentis, respectivamente. A identificação desses percentis é feita caso se deseja organizar os valores da série em um histograma onde eles são organizados por classes. Os resultados dessas expressões possivelmente não serão um número inteiro, fazendo ser necessária uma interpolação que consiste em considerar o quanto, em proporção, ele avança na distância entre o a posição que ele sugere e o número seguinte (ROGERSON, 2012). Estabelecidos o 25º e o 75º percentis, obtém-se o intervalo interquartil de dados, nos quais, o intervalo entre o menor valor e o 25º percentil representa a classe “baixa” ou “alta” (dependendo da sua relação na constituição da vulnerabilidade), os valores entre o 25º percentil e o 75º sendo a classe “média”, e os valores acima do 75º percentil se constituem como classe “alta” ou “baixa”. A definição de alta ou baixa para cada extremo é feita de acordo com a relação direta ou inversamente proporcional da variável com o que ela representa em termos de vulnerabilidade social à inundação, assim como exemplificado anteriormente para a variável EF 1 (mais crianças aumenta a vulnerabilidade, e menos crianças diminui). Esse método permite classificar os dados de acordo com sua ocorrência real, e não hipotéticos, visto que pertencem todos ao universo analisado. As figuras 9 e 10 apresentam os exemplos das variáveis EF 1 e EF 5, sobre a relação entre suas proporções e a devida classificação para a vulnerabilidade social, assim como o quadro 13 evidencia isso para todas as variáveis.

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Figura 9 – a: Exemplo da relação direta entre as proporções de variáveis no setor censitário e sua classificação quanto à vulnerabilidade social.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 10 – Exemplo da relação indireta entre as proporções de variáveis no setor censitário e sua classificação quanto à vulnerabilidade social.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Quadro 13 – Condição das relações diretas ou indiretas das variáveis no setor censitário e a Vulnerabilidade Social. Maior a proporção no setor censitário, maior a Maior a proporção no setor censitário, menor a Vulnerabilidade Social. Vulnerabilidade Social. (Diretamente proporcional) (Inversamente proporcional) E ProporçãoE Responsáveis idade ativa Proporção de Criança 0 – 12 anos EF 1 EF 5 responsáveis E ProporçãoF de Crianças e adolescentes Proporção de Idosos 60 anos e mais EF 2 RE 5 alfabetizados E R Proporção de Idosos Responsáveis Proporção de Alfabetizados em idade ativa EF 3 RE 6 E ProporçãoR de Mulheres alfabetizadas Proporção de mulheres responsáveis EF 4 RE 7 responsáveis Proporção de moradores em domicílios E H Proporção de domicílios com + 4 moradores particulares permanentes com abastecimento EF 6 HE 1 de água da rede geral ou pluvial Proporção de moradores em domicílios Proporção de Pessoas responsáveis com particulares permanentes com banheiro de R H rendimento nominal mensal até 1 salário uso exclusivo dos moradores permanentes ou RE 1 HE 2 mínimo sanitário e esgotamento sanitário que tem rede geral de esgoto ou pluvial Proporção de moradores em domicílios ProporçãoR de Pessoas responsáveis do sexo H particulares permanentes com energia RE 2 feminino sem rendimento nominal mensal HE 3 elétrica Proporção de moradores em domicílios R H Proporção de Domicílios sem renda particulares permanentes – Existe iluminação RE 3 HE 6 pública Proporção de Domicílios particulares com Proporção de moradores em domicílios R H rendimento nominal mensal domiciliar per particulares permanentes – Existe RE 4 HE 7 capita de até 1/4 salário mínimo pavimentação Proporção de moradores em domicílios ProporçãoH de moradores em domicílios não H particulares permanentes – Existe HE 4 próprios HE 8 bueiro/boca-de-lobo Proporção de moradores em domicílios ProporçãoH de moradores em domicílios H particulares permanentes – Existe HE 5 particulares permanentes não adequadas HE 9 arborização Proporção de moradores em domicílios H particulares permanentes – Existe rampa para HE 10 cadeirante ProporçãoH de moradores em domicílios

HE 11 particulares permanentes com lixo coletado Fonte: Elaborado pelo autor.

O uso dos quantis é utilizado na confecção de mapas mais harmônicos na sua forma coroplética, equilibrando a distribuição espacial por polígonos. Mapas que utilizam recortes espaciais por polígonos têm sido também muito aplicados para transmitirem informações socioeconômicas, dado a sua fácil compreensão e leitura, utilizando da relação perceptual entre morfologia e dimensão dos polígonos (FERREIRA, 2014). Entendendo os setores censitários como os polígonos nos quais as informações sintetizadas nos produtos cartográficos desse trabalho estão organizadas, julga-se esse método adequado.

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Com a classificação de todas as variáveis em “baixa” (1), “média” (2) ou “alta” (3), a próxima etapa é somar os valores obtidos na classificação das variáveis, estabelecida em 1, 2 ou 3, agrupando por componente. Posteriormente, essas somas são consideradas para a elaboração de matrizes, onde em um eixo são dispostos a diferença entre a soma mínima e máxima de um subcomponente, e no outro eixo, a mesma coisa para outro subcomponente. A soma mínima acontece se todas as variáveis do subcomponente forem classificadas como 1. A soma máxima se todas as variáveis forem classificadas como 3. Por exemplo, na dimensão “Pessoas”, no componente “Estrutura Familiar” (EF) há dois subcomponentes, “Estrutura etária” e “Gênero, cor da pele e tamanho dos domicílios”. Entendendo que, para o subcomponente “Estrutura etária”, é possível que as duas variáveis sejam classificadas como 1 (baixa) no mesmo setor, a somatória mínima para esse subcomponente será 2, e a máxima será 6 se as duas variáveis forem classificadas como 3. Desse modo, o intervalo entre a soma mínima e a soma máxima varia entre 2 e 6. Para o subcomponente “Gênero e tamanho dos domicílios” há 4 variáveis. Portanto a somatória mínima seria 4, se as quatro variáveis forem classificadas como 1; e a somatória máxima 12, se as quatro variáveis forem classificadas como 3. Logo, o intervalo entre a somatória mínima e máxima corresponde à variação entre 4 e 12. Esses intervalos de variação para cada componente são organizados então em uma matriz em que os valores das linhas e colunas se somam quando se cruzam, conforme pode ser observado na tabela 5.

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Tabela 5 – Matriz utilizada na classificação em classes “baixa”, “média” ou “alta”, do componente Estrutura Familiar (EF). Estrutura etária

2 3 4 5 6 4 6 7 8 9 10 5 7 8 9 10 11

6 8 9 10 11 12 7 9 10 11 12 13 8 10 11 12 13 14 9 11 12 13 14 15 domicílios 10 12 13 14 15 16 11 13 14 15 16 17 Gênero e tamanho dos etamanho Gênero 12 14 15 16 17 18 Fonte: Elaborado pelo autor.

Cada componente é classificado em 1, 2 ou 3 de acordo com o resultado da soma simples das variáveis que ele possui e de onde o valor dessa soma aparece na matriz, se no espectro da vulnerabilidade baixa, média ou alta. Por exemplo, se a soma simples das variáveis de um componente tiver como resultado 7, e esse valor aparecer na matriz no espectro da vulnerabilidade baixa, então esse componente é classificado em 1. Uma vez que cada componente foi classificado, é repetido esse processo de somas entre os componentes para chegar à classificação da dimensão. Feita a classificação de cada dimensão em 1, 2 ou 3, repete-se o processo descrito para chegar à classificação do setor quanto à vulnerabilidade social à inundação. De modo geral, a organização da somatória em matriz propicia a classificação do agrupamento de variáveis para que seja feita a classificação do nível seguinte, seja de um subcomponente para um componente, ou de um componente para a dimensão, e desta para a classificação final. Esse processo é feito por setor censitário, fazendo com que cada setor tenha uma classificação quanto a vulnerabilidade social à inundação. A figura 11 sintetiza em um esquema as etapas necessárias para a classificação do setor censitário, da normalização dos dados até a sua classificação final.

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Figura 11 – Síntese do cálculo da Vulnerabilidade Social.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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7.2.3. Definindo a Suscetibilidade Ambiental

A ocorrência dos fenômenos de inundações é o resultado de vários fatores que interferem no escoamento e infiltração das águas de precipitação ao longo da bacia hidrográfica. O mapeamento das áreas suscetíveis a inundação, no método proposto, apoia-se nos fatores permanentes, ou seja, nas características topográficas e morfológicas das bacias que tendem a favorecer o transbordamento do nível d’água por ocasião de chuvas intensas. Buscou-se compreender a dinâmica hidrológico-geomorfológica de forma padronizada e prática, baseado na metodologia utilizada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) na elaboração das cartas cartográficas de suscetibilidade à inundação, em atenção a diretrizes da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) estabelecida pela Lei Federal 12.608/2012. (BITAR et al, 2014). A linha de cheia definida no modelo HAND, que delimita as áreas suscetíveis, consideram a altimetria do relevo e uma condição hidrodinâmica hidrostática, assim como nos modelos hidrodinâmicos unidimensionais. Desse modo, a distribuição lateral da água é obtida uniformemente (MOMO et. al., 2016). Portanto, em regiões que não sofrem com alterações hidrodinâmicas, onde não são alteradas as linhas de água e de cheia por interferências antrópicas como por construção de barragens, ou por intensos processos erosivos naturais ou induzidos, o desempenho do modelo HAND é maior (MOMO et. al., 2016). O primeiro passo está na elaboração de um modelo digital de terreno construído para representar as áreas topograficamente suscetíveis às inundações. Para a construção deste modelo, foi necessário primeiramente confeccionar um Modelo Digital de Terreno (MDT) a partir da interpolação das curvas de nível, pontos cotados, rede de drenagem e corpos líquidos das cartas topográficas elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na escala 1:50.000. O interpolador utilizado foi o Topo to Raster, disponível no software Arc GIS. A escolha do interpolador foi essa devido ao modelo ser hidrologicamente correto. Para estudos de inundações este parâmetro é fundamental. De posse de MDE, pode-se a partir do software Model Hand, desenvolvido pelo INPE, criar o Modelo HAND (Height Above Nearest Drainage – Altura Acima da Drenagem mais próxima) que mede a diferença altimétrica entre qualquer ponto da grade do MDE e o

98 ponto de escoamento na drenagem mais próxima. O resultado representa a normalização do MDE em relação à drenagem e indica a área onde uma cheia pode se desenvolver (PIRES e BORMA, 2013). Foram gerados mapas de proximidades topográficas ou desníveis relativos a cursos d’água. Estes desníveis relativos são boa indicação da suscetibilidade as inundações de cada ponto na paisagem nos períodos em que ocorre entrada de água em excesso. O modelo HAND foi classificado com objetivo de representar por gradação de cores os intervalos que indicam o potencial de inundação de cada ponto nas proximidades dos canais fluviais. O raster do modelo HAND foi exportado em formato tif, para o software Arc onde foi reclassificado, pelo comando Reclass (reclassificação) da ferramenta Spatial Analyst Tools (Análise Espacial), identificando as áreas de Alta, Média e Baixa suscetibilidade a inundações. O modelo de suscetibilidade às inundações foi convertido para o formato vetor para cumprir as etapas seguintes:  Sobreposição espacial das classes de suscetibilidade às inundações à malha digital dos setores censitários do Censo 2010 do IBGE;  Cálculo da proporção das áreas suscetíveis às inundações por setor censitário;  Classificação, a qual foi obtida em uma variável categórica com quatro classes: Suscetibilidade baixa, Suscetibilidade média, Suscetibilidade alta e não Suscetível. Para definir as classes de suscetibilidade e calibrar o mapa com as áreas suscetíveis utilizou-se de informações coletadas em campo, tais como pontos em que foram observados os níveis da água em inundações pretéritas, e dos mapas da Defesa Civil utilizados que apontam as cotas atingidas pela água na inundação de 1997, a maior registrada desde então, na qual a água chegou a subiu até 15 metros de altura em variadas localidades da bacia. Dessa forma, a cota máxima de 15 metros foi estabelecida para determinar o limite da inundação. Assim, as classes foram definidas a partir da divisão equacionada de 5 em 5 metros:  Até 5,0 m – Suscetibilidade alta;  De 5,0 m a 10,0 m – Suscetibilidade média;  De 10,0 m a 15,0 m – Suscetibilidade baixa;  Acima de 15,0 m – Não suscetível. Para determinação de um indicador sintético de Suscetibilidade Ambiental, outras variáveis foram incorporadas tendo como origem o mapeamento do uso e ocupação das terras da área em estudo.

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O mapeamento do uso e ocupação das terras foi realizado a partir de imagens do satélite Landsat para o ano de 2018, realizado pelo Laboratório de Estudos Climáticos e Bacias Hidrográficas da UNICAMP, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, processos nº. 2018/09401-1 e 2018/15007-4. De posse do mapa de uso e ocupação das terras, as classes foram agrupadas para considerando os tipos de uso e ocupação das terras que potencializam o efeito das inundações e que atenuam o efeito das inundações. a) Potencializam o efeito das inundações: para as áreas urbanas as áreas impermeabilizadas; e para as áreas rurais as áreas de pastagem. Estes tipos de uso alteram a circulação da água no sistema, alterando os processos de infiltração e escoamento superficial b) Atenuam o efeito das inundações: para as áreas urbanas a presença de áreas verdes; e para as áreas rurais a presença de cobertura vegetal e de cultivos agrícolas permitem maior efetividade dos processos de infiltração e escoamento superficial. As classes de uso e ocupação das terras foram agrupadas em classes de uso para a Suscetibilidade Ambiental, para fazer a sobreposição espacial à malha digital dos setores censitários do Censo 2010 do IBGE (quadro 14). Após agrupar as classes de uso e cobertura das terras foi feito o cálculo da proporção de cada uma das classes de uso para a Suscetibilidade Ambiental por setor censitário.

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Quadro 14 – Agrupamento das classes de uso utilizado para a definição da Suscetibilidade Ambiental. Tipo de Setor Classes de uso para Suscetibilidade Classe de Uso Censitário Ambiental Mata Áreas Verdes Setores Urbanos Área Urbana Áreas Impermeabilizadas Mata Mangue Cobertura Vegetal Restinga Setores Rurais Silvicultura Pastagem Pastagem Cultivos Agrícolas Cultivos Agrícolas Fonte: IBGE (2011). Organizado pelo autor.

Posteriormente os dados foram categorizados por quantil, e classificados em três classes (baixo, médio e alto) assim como para o cálculo da Vulnerabilidade Social. Para o cálculo do indicador final de Suscetibilidade Ambiental, também se utilizou o método da matriz, que correlacionou duas dimensões: a suscetibilidade às inundações e o uso e cobertura das terras (figura 12).

Figura 12 – Síntese da Suscetibilidade Ambiental.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Desse modo, as classes de “baixa” e “não suscetível” do mapa de suscetibilidade à inundação (modelo HAND) implicam em diminuir a Suscetibilidade Ambiental, resultando no acréscimo das porções sob a classe de baixa suscetibilidade desse último.

7.2.4. A interpretação dos resultados e as características gerais do índice

Os resultados obtidos nos dois indicadores prévios são relacionados através de soma em matriz para resultar no índice final de Vulnerabilidade Socioambiental, seguindo os

101 mesmos procedimentos adotados de soma e classificação para a definição do indicador prévio de Vulnerabilidade Social. Portanto, o índice final representa áreas, a partir dos polígonos dos setores censitários, nas quais residem habitantes sob as classes alta, média ou baixa de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação. Uma vez que para os dois indicadores prévios são geradas informações a nível de setor censitário, os resultados de cada um desses indicadores podem ser organizados por município. Assim, a apresentação dos resultados será feita dessa maneira, até mesmo pela dimensão da área em estudo, que compreende a escala de mais de uma dezena de milhar de quilômetros quadrados, contendo 776 setores censitários. Desse modo, é necessário sublinhar que os resultados apresentados apontam situações e tendências a nível municipal, mas que podem ser investigadas em escalas de detalhe, de setor censitário, visto a existência de dados para isso que a metodologia implica. A partir da observação dos procedimentos tomados para a constituição desse índice, e das classificações apresentadas por Jannuzi (2001), entende-se que ele se caracteriza como objetivo, normativo, composto e relativo. Objetivo porque em sua elaboração são utilizadas estatísticas públicas, sendo no caso, dados do Censo Demográfico do IBGE e de medições da superfície através de técnicas de geoprocessamento, não fazendo parte de sua concepção avaliações subjetivas tomadas por questionários ou relatos de qualquer espécie. Normativo porque precede a ele uma compreensão sobre outros conceitos com seus respectivos critérios de definição. Esses conceitos prévios são utilizados para classificar a situação das variáveis em uma dada área, assim como é feito, por exemplo, para vulnerabilidade e suscetibilidade. O índice de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação é composto porque é uma associação entre dois indicadores prévios, que exprimem, cada um, um aspecto da área sobre a ocorrência do fenômeno estabelecido, a inundação. Esse índice é relativo por utilizar proporções de ocorrência das variáveis e não os seus números absolutos.

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PARTE 3 - O PERIGO DA INUNDAÇÃO E A VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL À INUNDAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE-SP

8. OS COMPONENTES NATURAIS E ANTRÓPICOS DA ÁREA EM ESTUDO: o contexto em que ocorrem as inundações 103

9. INUNDAÇÃO E DESASTRE NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE 125

10. A SUSCETIBILIDADE AMBIENTAL À INUNDAÇÃO 142

11. A VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO 156

12. O INDICADOR SINTÉTICO: vulnerabilidade socioambiental à inundação na bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape-SP 178

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8. OS COMPONENTES NATURAIS E ANTRÓPICOS DA ÁREA EM ESTUDO: O CONTEXTO EM QUE OCORREM AS INUNDAÇÕES

8.1. Pluviosidade e Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape

Entende-se que os condicionantes naturais das inundações apresentados por Amaral e Ribeiro (2009) se relacionam à configuração dos Sistemas Ambientais. Em trabalho sobre a caracterização da pluviosidade no estado de São Paulo, Monteiro (1973) relata que a variação de chuvas no estado ocorre entre valores de 1.100 mm e 4.500 mm anuais, com algumas localidades no interior onde há índices menores, mas que não são inferiores a 950 mm. Os maiores índices mencionados acontecem nas regiões serranas do litoral paulista, sendo as áreas nas quais são observados os maiores volumes acumulados de precipitação anual do país. A origem dessas precipitações se encontra no choque entre os sistemas atuantes na porção atlântica da América do Sul. Desse modo, a Frente Polar Atlântica é a maior responsável por isso em todas as estações do ano, devido a sua trajetória que envolve o percurso entre o Rio da Prata e áreas próximas ao Equador. Monteiro (1973) também menciona as variações do volume das precipitações anuais, resultando em anos mais ou menos chuvosos. O autor op. cit. explica isso pela atividade variante das massas polares. Em anos em que elas estão mais atuantes, resultando em maior quantidade e intensidade de frio para o continente, esses sistemas deslocam sua posição mais para o norte, se aproximando do Equador, propiciando mais episódios frontais e consequente aumento da pluviosidade sobre o território paulista. Em anos em que essas massas não se deslocam tanto para o norte, os sistemas intertropicais, entre os quais a Massa Tropical Atlântica, se deslocam mais afundo pelo continente sul-americano, favorecendo cenários mais secos. O autor op. Cit destaca que mesmo atestando a variação de quantidade de precipitação de um ano para outro, a gênese das chuvas não se altera. Ou seja, a importância da dinâmica da Frente Polar Atlântica para a precipitação no estado de São Paulo se mantém o ano inteiro, tanto no verão (período mais úmido), quanto no inverno (período menos úmido). Porém, em trabalho sobre a revisão acerca da precipitação na América do Sul, Reboita et. at. (2010) delimitam oito regimes (regiões) de precipitação que ocorrem nessa porção da América, e os respectivos sistemas atmosféricos atuantes na baixa e alta troposfera.

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Uma vez que o estado de São Paulo se localiza em uma área de transição climática, no limite sul da região 5, e norte da região 4 (Sul do Brasil, Sul do Paraguai e Uruguai) (REBOITA et. al. ,2010), pode-se entender que os sistemas atmosféricos atuantes nessas duas regiões são influentes para a precipitação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, por estar ao sul do estado de São Paulo (quadro 15).

Quadro 15 – Regimes de precipitação da América do Sul influentes sobre a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. Característica do ciclo anual de Sistemas atmosféricos Região Precipitação atuantes3 Sul do Brasil, Sul A precipitação é praticamente homogênea ao Frentes; ciclones; VCANs subtropicais; do Paraguai e longo do ano. O total anual é elevado (1050- LI pré-frontais; nuvens vírgula; CCMs Uruguai 1750 mm/ano) sendo ainda maior no oeste do subtropicais, bloqueios atmosféricos; sul do Brasil na fronteira com o Paraguai ZCAS; ASAS; JBN a leste dos Andes; (1750-2100 mm/ano). circulação de brisa. Noroeste a Máximos de precipitação no verão e mínimos Ventos alísios; JBN a leste dos Andes; Sudeste do Brasil no inverno. O total anual varia ao longo da ASAS; convecção por aquecimento incluindo ainda o R5: no setor norte é superior a ~2450 mm, já radiativo da superfície; AB; ZCIT; Equador e Norte no centrooeste e sudeste é de ~1500 mm. circulação de brisa; LI tropicais e pré- do Peru frontais; CCMs tropicais; frentes; VCANs subtropicais; ciclones. Fonte: Adaptado de Reboita et. al. (2010).

A partir da leitura do quadro 19 compreende-se que a ocorrência de precipitação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, apesar de ter forte influência da Frente Polar Atlântica, assim como sublinhou Monteiro (1973), depende também de vários outros condicionantes, sobretudo pelo estado de São Paulo estar em uma área de transição climática. Contudo, Monteiro (1973) ainda mostra que na porção sul do estado (incluindo o litoral) foi observada uma variação de pluviosidade dentro dessa área devido ao distanciamento da Serra de Paranapiacaba com a costa e a consequente irregularidade do relevo que isso ocasionou: a variação entre os vales do rio Ribeira de Iguape e as porções mais elevadas, tais como Itatins e Ilha do Cardoso. Dessa forma, os locais mais próximos da costa vivenciam episódios de frio no inverno mais acentuados, posto a maior participação da frente polar atlântica, que também ocasiona maiores quantidades de precipitações frontais, não só no inverno, mas também e, principalmente, no verão.

3 VCAN: sub vórtices ciclônicos de altos níveis subtropicais, VCAN: trop vórtices ciclônicos de altos níveis tropicais. LI: linha de instabilidade tropical, LIP: linha de instabilidade pré-frontal; CCM: complexo convectivo de mesoescala; ZCAS: zona de convergência do Atlântico Sul; ASAS: anticiclone subtropical do Atlântico Sul; JBN: jato de baixos níveis a leste dos Andes; AB: alta da Bolívia; ZCIT: zona de convergência intertropical.

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Assim, a umidade bastante presente nas áreas costeiras diminui sentido a montante no decorrer do curso do Ribeira de Iguape, aumentando novamente quando se aproxima das encostas da Serra de Paranapiacaba. A figura 13, organizada a partir do banco de dados do comitê da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul (SIG-RB) ilustra esse último apontamento de Monteiro (1973).

Figura 13 – Média Anual de Chuva (mm) entre 1977 a 2006 no território da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape.

Fonte: SIG-RB (2020). Organizado por: Ulises Rodrigo Magdalena4.

Segundo o mapa geomorfológico do Estado de São Paulo (ROSS E MOROZ, 1996), que apresenta o relevo sob a ótica da compartimentação em morfoestrutura e morfoescultura, a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape está situada sobre duas unidades morfoestruturais: Cinturão Orogênico do Atlântico e Bacias Sedimentares Cenozóicas, nas quais estão contidas as morfoesculturas Planalto Atlântico, na primeira; e Depressão do Baixo Ribeira, na segunda.

4 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia do IG-UNICAMP.

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Partindo de aspectos geomorfológicos, Ross (2002) descreve as características físicas e de ocupação dessa bacia hidrográfica a partir de 5 unidades de sistemas ambientais definidos na escala de 1: 250.000. O mapeamento geomorfológico que isso requereu culminou na delimitação de sete unidades de relevo, as quais se organizam sob duas morfoestruturas, assim como pode ser visto no quadro 16 (próxima página), que apresenta ainda o entendimento do relevo da bacia segundo o mapa geomorfológico do Estado de São Paulo, também elaborado por Jurandyr Ross, mas em parceria com Isabel Cristina Moroz (ROSS e MOROZ, 1996). Para chegar à compartimentação dos Sistemas Ambientais, Ross (2002) observou, além das características geomorfológicas, o uso e cobertura das terras da área, o posicionamento das Unidades de Conservação e a situação socioeconômica. O banco de dados SIG-RB disponibiliza arquivos de um mapeamento obtido através dos trabalhos de Jurandyr Ross. Esse mapa apresenta as Unidades Morfoesculturais observadas pelo pesquisador. Dessa forma, o mapa do SIG-RB foi adaptado para ilustrar os Sistemas Ambientais tais como apresentados por Ross (2002), cujo resultado é a figura 14. A aglutinação das morfoesculturas “Planaltos do Alto Ribeira do Turvo” e de “Guapiara” na unidade V (Sistemas de Morros e Superfícies de Cimeira dos Planaltos do Alto Ribeira), pode ser entendida pela homogeneidade do relevo e das altitudes, conforme se observa nas figuras 15 e 16, mapas Hipsométrico e de Relevo, respectivamente. O mesmo ocorre para as morfoesculturas “Planalto e Serra de Paranapiacaba” e “Serra do Mar e Morros Litorâneos”, com o adendo, no caso dessas últimas, de haver áreas de unidades de conservação em ambas. A tabela 6 exprime as áreas obtidas para cada Sistema Ambiental a partir da adaptação do mapa extraído do SIG-RB e dos apontamentos de Ross (2002). Observa-se que os sistemas ambientais I e IV, nos quais estão presentes as Unidades de Conservação, recobrem juntos quase 60% da área de estudo.

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Quadro 16 – Unidades Morfoestruturais e Morfoesculturais e Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape.

Ross e Moroz (1996) Ross (2002) (1 : 500.000) (1 : 250.000)

Unidade Unidade Unidade Unidade Sistemas Ambientais Morofoestrutural Morfoescultural Morfoestrutural Morfoescultural Cinturão Planalto Faixa de Planalto e Serra de IV - Sistemas de Orogênico do Atlântico Dobramentos do Paranapiacaba Morros e Escarpas das Atlântico Atlântico Serras do Mar e Serra do Mar e Paranapiacaba (Zonas Morros Litorâneos de Unidades de Conservação) Planalto de V – Sistemas de Guapiara Morros e Superfícies de Cimeira dos Planaltos Planalto do Alto do Alto Ribeira Ribeira-Turvo Bacias Depressão do Depressão Depressão III - Sistemas de Sedimentares Baixo Ribeira Tectônica do Tectônica do Colinas e Morrotes da Cenozóicas Baixo Ribeira Baixo Ribeira Depressão Tectônica do Baixo Ribeira Planícies e II – Sistemas de terraços fluviais Planície e Terraços do Baixo Ribeira Fluviais do Ribeira Planície Costeira I – Sistema da Planície Iguape-Cananeia Costeira Cananéia- Iguape (Zonas de Unidade de Conservação) Fonte: Ross e Moroz (1996) e Ross (2002). Adaptado pelo autor.

Tabela 6 – Área dos Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP. Sistema Ambiental Área (km²) Percentual I – Sistema da Planície Costeira Cananéia-Iguape (Zonas de Unidade de 1.574,154 9,33 Conservação) II – Sistemas de Planície e Terraços Fluviais do Ribeira 1.274,842 7,56

III - Sistemas de Colinas e Morrotes da Depressão Tectônica do Baixo Ribeira 2.522,177 14,95

IV - Sistemas de Morros e Escarpas das Serras do Mar e Paranapiacaba 8.409,386 49,86 (Zonas de Unidades de Conservação) V – Sistemas de Morros e Superfícies de Cimeira dos Planaltos do Alto Ribeira 3.085,162 18,29

Fonte: Organizado por Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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Figura 14 – Mapa dos Sistemas Ambientais da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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Figura 15 – Mapa Hipsométrico da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Dados do SIG-RB. Organizado por Ulises Rodrigo Magdalena.

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Figura 16 – Mapa de Relevo da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Dados do SIG-RB. Organizado por Ulises Rodrigo Magdalena.

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8.1.1. Sistema Ambiental I: Planície Costeira Cananeia-Iguape

Nesse sistema se encontra a foz do rio Ribeira de Iguape, e imperam as baixas declividades. O relevo é bastante associado à dinâmica costeira e à processos deposicionais (tabela 7). A influência marinha é marcante para a definição das formas observadas.

Tabela 7 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental I. Formas de relevo predominante Área (km²) Percentual Mangues 398,80 25,33 Planícies Costeiras 691,86 43,95 Terraços marinhos 470,67 29,90 Planícies aluviais e terraços fluviais 12,83 0,81 Fonte: Organizado por Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

As classes de solos mais encontradas nesse sistema ambiental são os Espodossolos e os Organossolos (Figura 17). Os Espodossolos correspondem a 33,88% da área e têm por característica, a textura predominantemente arenosa, sendo constituído de material areno-quartzoso misturado à certa quantidade de material orgânico, e com desenvolvimento relacionado à ambiente de umidade elevada, em relevos plano, suave, ondulado, ou em depressões. Quando formados em áreas costeiras, ocorrem associados à vegetação de Restinga. A sua drenagem varia de acordo com a profundidade, grau de desenvolvimento e cimentação do horizonte B (SANTOS, 2018). Já os Organossolos recobrem a cerca de 30% da área, e tem como característica principal a presença abundante de material orgânico em sua composição, tal como pelo acúmulo de folhas e vegetais, arbustos. São solos pouco evoluídos, formados muitas vezes em condições de hidromorfia, com ocorrência em áreas de várzeas ou deprimidas que contam com vegetação hidrófila ou higrófila, seja florestal ou campestre (SANTOS, 2018). Nas várzeas encontramos pequenas extensões de Gleissolos e nas planícies aluviais, manchas de Neossolos Quartzarênicos.

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Figura 17 – Mapa Pedológico da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Rossi (2017, p. 81). Organizado por Ulises Rodrigo Magdalena.

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Toda a bacia hidrográfica do rio Ribeira do Iguape apresenta médias anuais de precipitação típicas do Clima Litorâneo Úmido. A posição geográfica vai determinar pequenas variações no padrão das chuvas na área em estudo. Alguns fatores são determinantes, tais como: 1) a área sofre influência de sistemas atmosféricos diversos ao longo do ano: frentes frias, formação de cavados, Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAs), Zonas de Convergência de Umidade (ZCOUs), além da influência da Alta Pressão do Atlântico Sul (ASAS) que quando ocorrem no litoral transportam a umidade do oceano para a faixa marginal do continente; 2) A presença de extensas áraes florestadas preservadas, o que faz com que os volumes de vapor de água decorrentes da evapotranspiração contribuam para a gênese das chuvas; e 3) o fator orográfico da Serra do Mar, que ocasiona a formação de chuvas típicas da influência do relevo que fazem com que ocorra a ascensão de ar, possibilitando a formação de nuvens saturadas em umidade. A precipitação na área do Sistema Ambiental I é elevada, variando entre 1700 mm a 2800 mm, sendo que conforme as médias de chuvas anuais, na área predominam volumes de chuvas situados entre 1900 a 2000 mm anuais, chegando a cerca de 66% das médias de volumes totais. Os demais volumes de chuvas situam-se nas zonas limítrofes desse sistema. Além do fato de ser a região de foz do rio principal da bacia, na qual o nível do lençol freático está mais próximo da superfície, esse alto teor de pluviosidade durante o ano pode ajudar a entender a condição de hidromorfia em que os Espodossolos e Organossolos dessa área são formados. Quanto à cobertura vegetal, as maiores proporções observadas são de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa) presente nas várzeas e planícies costeiras; e a Restinga (tabela 7). O IBGE (2012), por meio do seu Manual Técnico da Vegetação Brasileira, define Floresta Ombrófila Densa como a vegetação caracterizada por fanerófitos - subformas de vida macro e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o distinguem das outras classes de formações. Porém, sua característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos que apontam bem a “região florística florestal”. A principal característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa é a sua estreita ligação com fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25º C) e de alta precipitação, bem- distribuídas ao longo do ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situação de perenidade.

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Já a Restinga, também definida pelo IBGE (2012) como o conjunto da cobertura vegetal que recebe influência marinha, tipicamente localizadas nas áreas de praia e das zonas de dunas. A extensão de cobertura vegetal florestal e de restinga situadas na área em estudo, podem ser compreendidas pela criação de Unidades de Conservação presentes na área, assim como apontado por Ross (2002). Na área em estudo, a Floresta Ombrófila Densa apresenta fisionomias diferentes, por conta da sua adaptação a questão térmica. Predomina na área, a Floresta Ombrófila de Terras Baixas, que é uma formação que em geral ocupa as planícies costeiras, com área de 1062, 43 km², o que corresponde a 67,49% da área desse sistema ambiental. A restinga corresponde a cerca de 16% da área em estudo, seguida dos mangues com 4,81%. Nas zonas limítrofes desse sistema ambiental ocorrem outras fitofisionomias com percentuais abaixo de 1%. Entre os usos humanos, a agricultura é o mais proeminente, sendo quase três vezes maior que a influência urbana, bastante incipiente, de apenas 0,6%.

8.1.2. Sistema Ambiental II: Planície e Terraços Fluviais do Ribeira

As inundações são um aspecto relevante para Ross (2002) ao descrever o sistema ambiental II, no qual as formas de relevo em toda sua extensão são de planícies aluviais e terraços fluviais do Ribeira. Ross (2002) subdivide esse sistema em duas partes para tratar sobre isso: áreas à montante e áreas à jusante. Nas primeiras, o tempo de permanência da água em episódios de inundações é menor, sendo maior nas segundas, devido aos processos de gênese envolvidos em sua constituição. As planícies à jusante, com origem em vales que foram soterrados pela sedimentação marinha, são mais extensas e planas, com o nível do lençol freático mais próximo à superfície, possuindo, por isso, maior dificuldade de escoar a água em períodos de inundação, o que é diferente dos locais à montante, nos quais as planícies de inundação e os terraços são mais estreitos, com o canal dos cursos de água mais entalhados. É salientado ainda por Ross (2002) sobre o posicionamento dos sítios urbanos de Sete Barras, Eldorado e Registro, locados integralmente ou quase integralmente nas áreas dessas planícies à montante, que mesmo com prejuízos menores em relação as áreas à jusante, possuem significativos prejuízos nas áreas urbanas e rurais, onde as perdas resultantes das inundações incluem infraestrutura e produção agrícola.

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Com relação às classes de solo encontradas, há uma proporcionalidade maior de solos de diferentes tipos. Além dos Organossolos que recobrem a área com 35,52%, estão presentes de forma mais abundante os Argissolos com cerca de 22%, os Cambissolos que chegam a quase 14% e os Gleissolos com 15,24% da área de estudo (figura 9). Um fator que caracteriza os Argissolos é a variação entre textura arenosa nos horizontes superficiais para argilosa no horizonte B. Eles também possuem profundidades variáveis, podendo ser fortemente ou pouco drenáveis, ou seja, com diferentes capacidades de infiltração de água (SANTOS, 2018). Devido à grande heterogeneidade de material de origem e da variação da declividade em que são formados, os Cambissolos apresentam características bem variadas entre diferentes locais, sendo bem drenados ou ruins, rasos ou profundos. O incipiente horizonte B possui textura francoarenosa, variando para texturas mais argilosas (SANTOS, 2018). Os Gleissolos são solos hidromórficos, ou seja, associados à ambientes onde há constante presença de água, estando, portanto, de forma periódica ou permanentemente saturados. A textura arenosa em Gleissolos pode ocorrer nos horizontes superficiais, os quais são seguidos por horizontes glei de textura arenosa, porém mais fina. Esses últimos são vistos até 150 cm a partir da superfície (SANTOS, 2018). Por conta já do efeito do distanciamento do litoral, nesse Sistema Ambiental as médias de chuvas situam-se entre 1500 e 2500 mm. Cerca de 80% da área desse Sistema Ambiental os volumes médios de chuva variam entre 1700 a 1900 mm anuais, tendo nas zonas limítrofes, em direção ao litoral maiores volumes e nas porções mais interioranas menores volumes de precipitação. A cobertura vegetal é predominantemente de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa), variando na ocorrência entre as terras baixas e mais elevadas (submontanas). A Floresta Ombrófila Densa Submontana, conforme IBGE (2012) sofrem a influência do relevo, pois situam-se em feições de relevo dissecadas, com declividades do relevo montanhoso e dos planaltos com solos medianamente profundos. Esta fitofisionomia é ocupada por uma formação florestal que apresenta um porte aproximadamente uniforme. Podem apresentar árvores de alto porte, algumas ultrapassando 30 m. Esta formação é caracterizada por espécies que variam de acordo com a latitude, ressaltando-se também a importância do fator tempo nesta variação ambiental. Assim, o tempo que as plantas tropicais levaram para ocupar as atuais posições no centro-sul foi suficiente para o estabelecimento das adaptações homólogas,

116 em ambientes semelhantes. Cerca de 25% da área desse sistema ambiental é recoberto pela Floresta Ombrófila Densa Submontana. Predomina na área a presença da Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, que corresponde a área de 497,92 km², chegando a 39,06% da área em estudo. O uso humano é significativamente maior nesse sistema em relação ao anterior, chegando a pouco mais de 32%, somando-se a agricultura (24%), agropecuária associada a vegetação secundária (6,77%) e influência urbana (1,17%). Somente a agricultura recobre quase ¼ da área. As perdas mencionadas por Ross (2002) dizem respeito à essa presença maior da cobertura de uso antrópico.

8.1.3. Sistema Ambiental III: Colinas e Morrotes da Depressão Tectônica do baixo Ribeira

Nesse Sistema Ambiental as declividades passam a ficar maiores, o que é evidenciado pela predominância em mais de 90% da área, em forma de relevo de Morros e morrotes (tabela 8).

Tabela 8 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental III. Formas de relevo predominante Área (km²) Percentual Planícies aluviais e terraços fluviais 10,26 0,41 Colinas pequenas isoladas 192,79 7,65 Morros e morrotes 2317,52 91,94 Fonte: Organizado por Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

As classes de solo que mais ocorrem são os Argissolos, com cerca de 60% da área, seguida dos Cambissolos com 15,55%. Os Organossolos e os Gleissolos vistos estão associados às várzeas dos cursos de água presentes nessa região. Ambas as classes de solo chegam a cobrir a área de estudo com cerca de 7%. Os Latossolos aparecem em maior proporção, diferente dos Sistemas Ambientais anteriores, chegando a 6,44% da área em estudo. Cerca de 88% da área desse Sistema Ambiental apresentam médias de precipitação anual situadas entre 1600 a 1900 mm. Esse comportamento das precipitações está principalmente por conta da menor influência da topografia para a gênese de chuvas, ou seja, é uma área de transição entre a Planície Costeira e a Zona Serrana, áreas em que os volumes de precipitação superiores a 2000 mm atingem percentual mais elevados que os demais sistemas ambientais em análise.

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Assim como no Sistema Ambiental anterior, a cobertura vegetal é predominantemente florestal de Mata Atlântica, variando em áreas de várzea (terras baixas) e locais com desníveis maiores (submontana). Diferente do sistema ambiental II, que as fitofisionomias de terras baixas predominavam, neste sistema ambiental a Floresta Ombrófila Densa Submontana chega a cobrir cerca de 67% da área de estudo, seguida pela Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, que correspondem a 10,67% da área em estudo. Em relação à ocupação humana, a influência urbana não chega a 1%, e o que se destaca é a agropecuária, assim como destacado por Ross (2002) para essa área, o que soma aproximadamente 18% desse sistema.

8.1.4. Sistema Ambiental IV: Morros e Escarpas da Serra do Mar e Paranapiacaba

Esse é o maior Sistema Ambiental em área, chegando a ser 6,5 vezes maior que Sistema I, o menor. Nessa área o relevo apresenta desníveis maiores devido a presença de serras e escarpas em 56,63% dessa região (tabela 9). As poucas planícies estão associadas aos cursos de água.

Tabela 9 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental IV. Formas de relevo predominante Área (km²) Percentual Planícies aluviais e terraços fluviais 145,96 1,74 Morros e morrotes 3500,87 41,63 Serras e escarpas 4762,56 56,63 Fonte: Organizado por Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

Devido a presença das escarpas aparecem nessas áreas, há afloramentos rochosos, o que não acontecia nos Sistemas Ambientais anteriores. As classes de solos mais encontradas são os Cambissolos em pouco mais da metade da região (51,10%), seguido dos Argissolos com cerca de 18% da área em estudo, os Latossolos com 16,72%. Cabe ressaltar a extensão de Neossolos Litólicos associados a afloramentos rochosos que chegam a 8,3% da área em estudo. Os Latossolos são solos que já se encontram em estágios de intemperização bastante avançados, constituindo um material bem diferente daquele que constituiu sua origem. São solos geralmente profundos, com horizonte A contendo mais de 150 cm em alguns casos, e que possuem elevada capacidade de drenagem. O teor de argila aumenta

118 conforme a profundidade, podendo também permanecer constantes no perfil. É uma classe de solo característica de regiões equatoriais e tropicais (SANTOS, 2018). Os Neossolos são solos constituídos por material mineral ou material orgânico pouco espesso (menos de 30 cm de espessura), sem apresentar qualquer tipo de horizonte B diagnóstico, e os Neossolos Litólicos desenvolvem-se em formas de relevo com declive bastante acentuado de morrarias e serras (IBGE, 2015). Diferente dos outros Sistemas Ambientais, a distribuição da precipitação é mais heterogênea. A extensão desse sistema no sentido leste-oeste e os níveis altimétricos mais elevados. Cerca de 80% dos volumes de chuva situam-se entre 1600 e 1900 mm. Neste Sistema Ambiental, a cobertura vegetal predominante é de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa), sobretudo em áreas serranas e elevadas (submontana e montana). A Floresta Ombrófila Densa Montana, conforme Brasil (2010) é caracterizada por sua localização: o alto dos planaltos e das serras situados entre 400 e 1000 m de altitude, podendo ser identificada na paisagem ao longo das escarpas chegando a atingir ao cume dos relevos dissecados. Apresentam solos rasos, predominantemente os Cambissolos e Neossolos Litólicos. A estrutura florestal de dossel uniforme (em torno de 20 m) é representada por ecótipos relativamente finos com casca grossa e rugosa, folhas miúdas e de consistência coriácea. Na área em estudo, a fitofisionomia montana ocupa 50,25%, seguida da fitofisionomia submontana com 41,78% de área. Ross (2002) pontua a baixa ocupação humana, a qual ele aponta ser nas áreas ao redor de estradas e dos rios, onde ele também observou áreas desmatadas em recuperação e que antes serviram, provavelmente, para agricultura e pecuária de subsistência. A área de influência urbana é a menor entre todos os Sistemas Ambientais.

8.1.5. Sistema Ambiental V: Morros e Superfícies de Cimeira dos Planaltos do Alto Ribeira

As grandes altitudes dessas áreas e o elevado percentual de ocorrência de morros e morrotes (tabela 10) corroboram com o entendimento de essa região se tratar, em primazia, dos topos, dos interflúvios da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape no estado de São Paulo.

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Tabela 10 – Formas de relevo predominantes no Sistema Ambiental V. Formas de relevo predominante Área (km²) Percentual Planícies aluviais e terraços fluviais 60,93 1,98 Morros e morrotes 2315,00 75,04 Serras e escarpas 709,23 22,99 Fonte: Organizado por Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

As classes de solo mais abundantes são os Argissolos, Cambissolos e Latossolos, nessa ordem: 30,66%, 30,65% e 24,78% de área. Não aparecem de maneira significativa solos relacionados às condições de hidromorfismo, tais como Gleissolos ou Espodossolos, por conta das feições de relevo associadas a este sistema ambiental. Comparativamente com os demais Sistemas Ambientais, aqui os volumes médios de precipitação variam predominantemente entre 1400mm e 1700mm anuais, chegando a cerca de 90% do volume precipitado. Isso se dá, principalmente por conta do efeito da continentalidade. A cobertura vegetal com maior percentual de ocorrência é Floresta Ombrófila Densa Montana, com área de 1653,94 km² (53,61%). Cabe destacar que outra fitofisionomia importante está localizada no sopé das encostas, a Floresta Ombrófila Densa Submontana, chegando a ocupar cerca de 12% da área em estudo. A ocupação antrópica na área é bastante presente, pois cerca de 14% da área é ocupada por lavouras permanentes, predominantemente as bananeiras. O Sistema Ambiental V chamou a atenção de Ross (2002) pela alta ocupação humana no que se refere a atividades agropecuárias, incluindo pecuária extensiva e silvicultura, e locais de mineração para a extração de calcário.

8.2. Unidades de Conservação

Durante o século XX o estado de São Paulo passa a adquirir terras a fim de preservação após intenso debate deflagrado pela expansão da agricultura para o oeste que ocasionou grande e contínuo desmatamento da região, sobretudo pelo avanço da economia cafeeira (COSTA NETO, 2018). Quando a transferência das terras devolutas5 passaram a ser de responsabilidade dos estados, conforme dispunha a constituição de 1891, São Paulo passou, a partir de 1895, a

5 Terras devolutas: aquelas que foram distribuídas pela Coroa portuguesa e não foram utilizadas dentro das normas legais e aquelas que ainda não tinham sido distribuídas pela Coroa. As terras brasileiras eram distribuídas

120 redigir leis e decretos orientando procedimentos e responsabilidades para a concretização de ações discriminatórias afim de arrecadar terras devolutas que fossem destinadas à políticas públicas de colonização e conservação da natureza. Assim, foi associada a essas ações a política de aquisição para a conservação de florestas produtoras de água e preservação da flora, culminando na criação de reservas florestais, desde as primeiras décadas do século XX, tais como as Reservas Biológicas de Paranapiacaba e Mogi Guaçu. A partir da década de 1960, outras áreas originadas da aquisição de terras pelo estado e destinação de terras devolutas a partir das ações possíveis com o aparato normativo criado desde 1895, foram sendo destinadas à unidades de conservação, possibilitando, por exemplo, a criação do Parque Estadual da Serra do Mar e a consolidação da Estação Ecológica Juréia-Itatins (COSTA NETO, 2018). Esse processo de transferência das terras devolutas para domínio público previa um levantamento afim de discriminar as terras devolutas das terras particulares. Tais levantamentos são denominados como ações discriminatórias. Muitas dessas ações foram interrompidas, em seu processo, na década de 1940, ocasionando no não cancelamento de documentos irregulares de posse particular de áreas que deveriam estar sendo destinadas à unidades de conservação, o que causa, por sua vez, uma série de conflitos fundiários nesses locais em virtude da incongruência nas documentações. Áreas dos parques estaduais da Serra do Mar, de Jacupiranga, do Alto Ribeira e do Jurupará, por exemplo, ainda demandam ações para sanar esse tipo de conflito (COSTA NETO, 2018). Uma vez delimitadas como unidades de conservação, essas áreas passam a ter sua ocupação regulada por aparato normativo, de forma que os usos das terras nas UC sejam orientados pelo plano de manejo, o qual prevê um zoneamento de suas áreas para a implantação das atividades permitidas quanto à sua classificação. As Unidades de Conservação (UC) no Brasil são conceituadas e reguladas quanto ao uso da terra pela Lei nº 9.985/2000, a qual estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que se constitui como um conjunto de unidades de conservação federais, estaduais e municipais (GURGEL et al. 2009). A lei que institui o SNUC (BRASIL, 2000) divide as unidades de conservação em dois grandes grupos: as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável. Para as primeiras o uso e ocupação das terras é mais restrito, baseando-se a fins educacionais e de pela Coroa portuguesa sem a devida descrição dos limites e localização, o que gerou, posteriormente, conflitos entre a documentação expedida pela Coroa e o apossamento de terras aquém da legislação brasileira (COSTA NETO, 2018).

121 pesquisa e de usos indiretos dos recursos naturais, uma vez que o seu objetivo é a conservação da natureza. Para o segundo grupo, o uso e ocupação são mais flexíveis, sendo permitido o desenvolvimento de atividades econômicas e uso de recursos naturais de formas sustentáveis. Os dois grupos e seus tipos presentes na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape podem ser observados na tabela 11, a qual apresenta a existência de 41 unidades de conservação na região, sendo 17 de proteção integral e 24 de uso sustentável. Em relação ao uso, as unidades de conservação do SNUC podem ser classificadas de acordo com os objetivos e categorias de manejo observadas no quadro 17.

Tabela 11 – Grupos de Unidades de Conservação segundo a Lei nº 9.985/2000 e sua presença na UGRH-11. Unidades de Proteção Integral Quantidade na bacia hidrográfica do rio Tipos Ribeira de Iguape I – Estação Ecológica 4 II – Reserva Ecológica 0 III – Parque Nacional (ou Estadual e Municipal) 13 IV – Monumento Natural 0 V – Refúgio de Vida Silvestre 0 Unidades de Uso Sustentável I – Área de Proteção Ambiental 10 II – Área de Relevante Interesse Ecológico 2 III – Floresta Nacional 0 IV – Reserva Extrativista 3 V – Reserva de Fauna 0 VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável 5 VII – Reserva Particular do Patrimônio Natural 4 Fonte: Brasil (2000) e SIG-RB. Adaptado pelo autor.

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Quadro 17 – Tipos de uso permitidos nas unidades de conservação brasileiras por categoria. Principais tipos de uso, Classe contemplados na lei nº Categoria de manejo 9.985/2000 1 - Pesquisa científica e educação Desenvolvimento de pesquisa Reserva biológica; Estação ambiental científica e de educação ambiental ecológica 2 - Pesquisa científica, educação Turismo em contato com a Parques nacionais e estaduais; ambiental e visitação natureza Reserva particular do patrimônio natural 3 - Produção florestal, pesquisa Produção florestal Florestas nacionais e estaduais científica e visitação 4 - Extrativismo, pesquisa Extrativismo por populações Reservas extrativistas científica e visitação tradicionais 5 - Agricultura de baixo impacto, Áreas públicas e privadas onde a Reserva de desenvolvimento pesquisa científica, visitação, produção agrícola e pecuária é sustentável; Refúgio de vida produção florestal e extrativismo compatibilizada com os objetivos silvestre; Monumento natural da UC 6 - Agropecuária, atividade Terras públicas e particulares com Área de proteção ambiental; Área industrial, núcleo populacional possibilidade de usos variados de relevante interesse ecológico urbano e rural visando a um ordenamento territorial sustentável Fonte: Gurgel et. al. (2009).

Uma vez que na área de estudo está presente grande proporção de área preservada da Mata Atlântica não só do estado de São Paulo, como também do país (DIEGUES, 2007), pela administração das unidades de conservação, procurou-se localiza-las e delimitar a proporção de suas áreas no território dos municípios, posto que são porções territoriais em que podem estar presentes conflitos fundiários para a implementação de áreas protegidas e regularização dessas terras (COSTA NETO, 2018) e de interesses econômicos pelo uso controlado pelos planos de manejo. Essas realidades podem influenciar qualitativamente os dados de vulnerabilidade por aumentar a fragilidade de populações residentes, principalmente se for de forma irregular, e quantitativamente por se tratar de áreas pouco povoadas e até mesmo isoladas, e consequentemente representar setores censitários sensíveis quanto à captação de dados pelo Censo. A proporção de área que as UC Integrais que ocupam dos municípios na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape podem ser vistas na tabela 12 (página seguinte). Observa-se na tabela 12 a grande proporção de área que as unidades de conservação de proteção integral ocupam em alguns municípios, assim como em Barra do Turvo, Cananeia, Iguape, Iporanga e Pedro de Toledo, sendo este último um município que tem 70% de seu território sob área de proteção integral, ou seja, com uso e ocupação de caráter mais restritivo.

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A figura 18 ilustra a distribuição das unidades de conservação sobre a área de estudo. Nota-se a sua distribuição de acordo com os apontamentos de Ross (2002), de que essas áreas se encontram em maior proporção sobre os sistemas ambientais I e IV, nas áreas costeiras e da Serra do Mar e de Paranapiacaba, respectivamente. Tabela 12 – Proporção de área de Unidades de Conservação (UC) de caráter Integral no território dos municípios da UGRH-11. Proporção em % de UC Integral no Município UC Integral território do município P.E. Turístico Alto do Ribeira 11,6% Apiaí P.M. Morro do Ouro 0,4% P.E. Caverna do Diabo 11,0% Barra do Turvo P.E. Rio Turvo 50,9% P.E. Caverna do Diabo 7,3% Cajati P.E. Rio Turvo 26,8% P.E. Ilha do Cardoso 10,6% Cananeia P.E. Lagamar de Cananeia 32,4% P.E. Caverna do Diabo 9,7% Eldorado P.E. Intervales 9,3% Ibiúna P.E. Jurupará 23,4% Est. Eco. Chaúas 1,3% Iguape Est. Eco. Juréia-Itatins 40,3% P.E. Caverna do Diabo 8,5% Iporanga P.E. Intervales 19,6% P.E. Turístico Alto do Ribeira 21,2% Itariri Est. Eco. Juréia-Itatins 8,3% P.E. Lagamar de Cananeia 0,5% Jacupiranga P.E. Rio Turvo 14,2% Juquitiba P.E. Serra do Mar 5,5% Est. Eco. Juréia-Itatins 5,0% Miracatu P.E. Serra do Mar 0,9% Pariquera-Açu P.E. Campina do Encantado 9,1% Pedro de Toledo P.E. Serra do Mar 70,0% Piedade P.E. Jurupará 2,0% P.E. Carlos Botelho 23,5% Sete Barras P.E. Intervales 2,1% Tapirai P.E. Carlos Botelho 1,7% Fonte: SIG-RB. Adaptado pelo autor.

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Figura 18 – Abrangência das Unidades de Conservação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: SIG-RB. Organizado por Ulises Rodrigo Magdalena.

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9. INUNDAÇÃO E DESASTRE NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE

9.1. As notificações entre 1998 e 2018 A busca por notificações de episódios de inundações e de desastres deflagrados por elas entre os anos de 1998 e 2018, nos bancos de dados do SIMPAT e S2iD obtiveram como resultados 162 notificações do primeiro, e 90 do segundo. A primeira consideração a ser feita sobre esses dados, é que o SIMPAT apresenta notificações do fenômeno inundação e não somente de desastres, sobretudo, na perspectiva de como foi delineado no capítulo 1 deste trabalho, o entendimento de desastre como consequências em danos e prejuízos decorrentes dos eventos (ameaças/perigos). Através da compreensão de desastre por essa via, entende-se que a ocorrência de um evento de inundação não é sinônimo de desastre. Assim como visto nos itens 2 e 3, a inundação é um fenômeno natural presente na dinâmica dos cursos de água de uma bacia hidrográfica, com ocorrência periódica de acordo com a variabilidade dos seus fatores condicionantes. Porém, assim como discutido no capítulo 1, a dissonância na compreensão sobre o que é desastre implica em uma certa ambiguidade aos resultados do SIMPAT, conferindo pouca acurácia dessas informações no que diz respeito a desastres. Os dados do S2iD, por outro lado, possuem base documental, com danos e prejuízos registrados. Dessa forma, os resultados desse último sistema delineiam melhor ao que é compreendido como desastre neste trabalho. Porém, sublinha-se a relevância dos registros do SIMPAT, feitas essas considerações, por manter um banco de dados para pesquisas sobre a ocorrência desse fenômeno. Outro apontamento importante é sobre a fonte das informações citadas nos dois sistemas. Nos resultados do SIMPAT elas são descritas como “Defesa Civil” na maioria das notificações. Contudo, dada essa referência, questiona-se a metodologia de captação e sistematização desses dados. Isso é feito a partir de algum tipo de documento ou informativo oficial emitidos pelo órgão citado? Notou-se, em algumas notificações dos dois bancos de dados a citação da fonte como sendo material de imprensa, tal como notícia veiculada por algum veículo de comunicação impresso ou virtual. Quando isso foi visto no SIMPAT a única referência era o nome do veículo que noticiou a ocorrência. Já no S2iD, foi possível acessar a notícia referida, uma vez que os resultados desse banco de dados baseiam-se em documentação no formato pdf para download.

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Mesmo sublinhando essas diferenças de concepção de desastre e no caráter das fontes, é possível estabelecer paralelos entre os resultados dos dois sistemas. Organizando os dados resultantes por ano e por mês de ocorrência, para o total de notificações de cada base, observa-se tendências semelhantes, assim como pode ser visto pelos gráficos 1, 2, 3 e 4 (páginas seguintes). Uma vez que 82 das 90 notificações do S2iD são documentos da Defesa Civil sobre a ocorrência de desastres, ou seja, de situações em que danos e prejuízos foram causados devido a ocorrência de um evento, pode-se conceber que os gráficos 2 e 4 exprimem a frequência de desastres decorrentes de inundações na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, entre os anos de 1998 e 2018, e sua tendência no decorrer do ano. Segundo o gráfico 2, os dois anos de pico de notificações, 2010 e 2003, são acompanhados de uma quantidade elevada de registros nos anos anteriores e posteriores. Através disso pode se levantar a hipótese de que os fatores condicionantes das inundações convergem nesse comportamento temporal observado, aumentando sua convolução em uma crescente de notificações até um pico, causando maior quantidade de notificações, e então diminuindo, desenvolvendo isso em um intervalo aproximado de 6 anos. Para atestar ou refutar esse raciocínio seria coerente um estudo que delimitasse o período de retorno (ou intervalo de recorrência) das inundações de maiores magnitudes na área. O gráfico 1 também corrobora com essa hipótese levantada, por apresentar comportamento semelhante de dados, porém através de 4 picos, um maior em 2010 e outros menores em 2016, 2004 e 1998. Assim como mencionado no capítulo 7, sabe-se que ocorreram grandes inundações na área de estudo em 1997. O pico de 1998 no gráfico 1 pode representar o momento posterior em que os condicionantes desse processo esmoreceram em sua convergência, atenuando as ocorrências até o surgimento de uma nova ascensão e outro pico, que aconteceria entre 2003 e 2004. Esse mesmo gráfico possibilita a interpretação de que inundações mais intensas aconteceriam em um intervalo de tempo aproximado àquele entre 1997 e 2010, ou seja, de 13 anos. Mas isso seria delineado com maior rigor através de um estudo de período de retorno, assim como já mencionado.

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Gráfico 1 – Notificações de inundação por ano entre 1998 e 2018 no SIMPAT.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do SIMPAT (2019).

Gráfico 2 – Notificações de inundação por ano entre 1998 e 2018 no S2ID.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do SIMPAT (2019).

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Gráfico 3 – Mês de ocorrência das inundações dentre o total de notificações entre os anos de 1998 e 2018 no SIMPAT.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do S2iD (2019).

Gráfico 4 – Mês de ocorrência das inundações dentre o total de notificações entre os anos de 1998 e 2018 no S2iD.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do S2iD (2019).

Os gráficos 3 e 4 apresentam o comportamento das inundações durante o ano, sendo possível associar, dessa forma, à variação sazonal das estações. Os dois gráficos salientam uma dinâmica semelhante sobre o pico de notificações de janeiro e fevereiro, e

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picos menores, mas significantes pelo registro de desastres, entre junho e agosto, e o aumento da tendência em dezembro. Posto que um grande fator condicionante para inundação é a pluviosidade, os gráficos 3 e 4 apontam que possivelmente os períodos mais chuvosos do ano são entre dezembro e março, e entre junho e agosto, sendo estes últimos um período provavelmente menos úmido que o primeiro. Quanto à organização dos dados por município (tabelas 13 e 14 – próxima página) observa-se algumas semelhanças e diferenças entre os resultados dos dois bancos de dados. Em semelhança, nota-se nas duas bases que Registro é o município com maior número de notificações; Iguape e Jacupiranga configuram entre os cinco municípios com maior número de casos notificados, além de Registro. Já entre os cinco municípios com a menor quantidade de notificações, há Ibiúna, Itaóca e São Lourenço da Serra. Com relação às diferenças, enquanto no SIMPAT há pelo menos uma notificação para todos os municípios, no S2iD não há registros de desastres para dois deles, Apiaí e Ibiúna. De acordo com isso, constata-se a ocorrência de desastre por inundação em todos os outros municípios da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. O maior número de desastres é visto nos municípios de Registro, Iguape, Jacupiranga e Sete Barras (tabela 14), justamente municípios em que rios cortam áreas urbanas, que por sua vez estão situadas nas planícies de inundação desses canais. Sabe-se que a ocupação nessas planícies, sejam urbanas ou rurais, aumentam o risco de desastre e a vulnerabilidade da população residente desses locais. Os municípios de Registro e Iguape se localizam em porções mais a jusante na bacia, próximo a seu exutório (do seu nível de base), área em que os cursos de água perdem a energia e a consequente capacidade de transporte. Nesse ponto predominam os processos deposicionais, nos quais as inundações são importantes para essa dinâmica (CHRISTOFOLETTI, 1980). Por já terem recebido o volume de água das porções mais elevadas do relevo, os rios dessas áreas possuem canais com seções transversais maiores e com planícies mais extensas.

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Tabela 13 – Quantidade de notificações de inundação por município entre Tabela 14 – Quantidade de notificações de inundação por município entre 1998 e 2018 no SIMPAT. 1998 e 2018 no S2iD. Município Notificações Município Notificações Registro 22 Registro 9 Eldorado 19 Iguape 8 Miracatu 13 Jacupiranga 8 Iguape 12 Sete Barras 8 Jacupiranga 11 Barra do Turvo 7 Juquiá 9 Eldorado 6 Barra do Turvo 8 Juquiá 5 Cajati 8 Cajati 4 Pariquera-Açu 8 Itariri 4 Sete Barras 7 Juquitiba 4 Pedro de Toledo 6 Miracatu 4 Cananeia 5 Pariquera-Açu 4 Iporanga 5 Pedro de Toledo 4 Juquitiba 5 Cananeia 3 Ribeira 5 Iporanga 3 Tapiraí 3 Itapirapuã Paulista 2 Apiaí 4 Ribeira 2 Itariri 4 Barra do Chapéu 1 Barra do Chapéu 2 Ilha Comprida 1 Itapirapuã Paulista 2 Itaóca 1 Ibiúna 1 S. Lourenço da Serra 1 Ilha Comprida 1 Tapiraí 1 Itaóca 1 Apiaí 0 S. Lourenço da Serra 1 Ibiúna 0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do SIMPAT (2019). Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do S2iD (2019).

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Stevaux e Latrubesse (2017) apresentam que, ao relacionar a vazão média anual com a largura das planícies aluviais, rios maiores (grande seção transversal) contêm planícies aluviais maiores, ao passo que rios meandrantes aparecem em seguida, possuindo também grandes planícies devido a migração lateral que seus canais realizam; e posteriormente, rios com baixa vazão possuem planícies de inundação menores, ou, nas palavras dos autores op. cit. (p. 221) “mais estreitas”. Logo, a largura do canal está diretamente associada à sua vazão e à largura de sua planície. Apiaí e Ibiúna são municípios localizados próximos aos interflúvios da bacia, ou seja, em altitudes maiores, no alto curso do Ribeira de Iguape no estado de São Paulo. Em áreas com essas características, assim como discutido no capítulo 3, predominam processos denudacionais, e a diferença altimétrica entre o talvegue e o topo da vertente é maior, caracterizando vales mais encaixados com menor seção transversal do curso de água e planícies de inundação mais estreitas. A energia potencial presente nesse cenário atua no escoamento morro abaixo da água e da carga de sedimentos provenientes da erosão. Apesar das ocupações em áreas com esse contexto serem comum nos pequenos vales associados aos cursos de água presentes, o tempo de permanência da água é curto em situações de extravasamento das margens dos canais provocadas por precipitação intensa. Por isso, pode-se inferir que desastres não sejam comuns nessas áreas. Ross (2002) chamou a atenção para esse processo ao descrever o Sistema Ambiental de Planícies e Terraços Fluviais do Ribeira, em porções a montante desse sistema, o qual está localizado, em uma região da bacia hidrográfica em que há desníveis altimétricos menores do que em Apiaí e Ibiúna. As únicas notificações de São Lourenço da Serra e Itaóca, na tabela 14 também podem ser compreendidas nessa perspectiva, posto que são municípios também situados em região de interflúvio. O número de notificações de desastre aproximado aos de Registro e Iguape (tabela 18) para o município de Barra do Turvo vai contra esse raciocínio descrito há pouco, uma vez que as altitudes e tipo de relevo se assemelham à realidade vista em Apiaí e Ibiúna, conforme visto nos mapas hipsométrico e de relevo, no capítulo 8. Essa informação promove a necessidade de investigação específica da Suscetibilidade à Inundação e Ambiental desse município.

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No que se refere à amplitude espacial da ocorrência de inundação na UGRH-11, nota-se pelas tabelas 13 e 14 e pelos gráficos 7 e 8 que esse fenômeno ocorre por toda a área da bacia, em todos os municípios, com frequências maiores ou menores em cada um. Ressalta-se o comportamento semelhante dos dados dos gráficos 5 e 6, de número de municípios atingidos por inundações em cada ano, com os gráficos 1 e 2, de quantidade de notificações por ano. Esse fato pode estabelecer uma relação diretamente proporcional entre amplitude espacial do perigo num dado intervalo de tempo e a quantidade de desastres ocorridos, o que remete à convolução dos condicionantes ambientais do perigo que culminam nos períodos com maiores ou menores quantidades de desastres notificados. O gráfico 6 mostra, por exemplo, que em 2010, pico de notificações de desastres, eles foram registrados em 15 dos 24 municípios da bacia, mostrando que nos anos em que há maior quantidade de registros, mais municípios são afetados por esse fenômeno.

Gráfico 5 – Número de municípios com notificação de inundação por ano pelos dados do SIMPAT

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do SIMPAT (2019).

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Gráfico 6 – Número de municípios com notificação de inundação por ano pelos dados do S2iD

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do S2iD (2019).

A ocorrência de inundação por toda a bacia pode ser explicada também pelo processo de inundação de afluentes por escoamento de refluxo, que acontecem pela enchente dos canais principais.

9.2 Os danos e as perdas das inundações

Os danos e as perdas dos desastres provocados por inundações foram extraídos dos formulários AVADAN (Avaliação de Danos), NOPREDE (Notificação Preliminar de Desastre) e FIDE (Formulário de Informações do Desastre), do banco de dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Esses formulários compõem um conjunto de documentos necessários para a decretação de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública por parte dos chefes do executivo das prefeituras municipais, dos governos estaduais ou da União. Esses tipos de decretos garantem o estabelecimento de uma situação jurídica especial para que os entes federativos possam agir para atender as necessidades instauradas pela realidade dos desastres, tais como obras de reconstrução e reparos. Essa situação jurídica especial ampara as medidas de repasse de recursos entre esses entes, garantindo a execução das ações necessárias (CEPED UFSC, 2014).

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Os formulários AVADAN e NOPREDE foram extintos com a Lei n. 12.608/12, sendo substituídos pelo FIDE (CEPED UFSC, 2014). É por essa razão que a partir de 2013 as notificações passam a ser todas documentadas em FIDE, conforme observou-se nos resultados do S2iD sobre os danos das inundações, os quais foram sintetizados em uma tabela (apêndice C). A Lei n. 12.608/12 instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) e dispôs sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil (CONPDEC) (CEPED UFSC, 2014). Assim como no FIDE, no AVADAN eram descritas as características do desastre, tais como dos eventos que o provocaram e a amplitude de suas consequências, os danos humanos e a estimativa das perdas materiais e econômicas. O NOPREDE, por ser uma notificação preliminar, não registrava a situação real total estimada, mas sim os primeiros danos observados, e de forma vaga. O primeiro aspecto notado na leitura destes documentos é a falta de padronização em seu preenchimento. Nos AVADAN’s, no item sobre danos humanos, observou-se a diferente concepção para o número de pessoas “afetadas”. Em alguns formulários esse campo estava preenchido com um número aparentemente sem relação com as outras classificações, enquanto em outros aparecia como a soma das classificações anteriores, de desalojadas ou desabrigadas, por exemplo. Por essa razão o número de pessoas afetadas não foi considerado para a confecção do gráfico 7 dos danos humanos, no qual foi considerado apenas o número de pessoas desalojadas e desabrigadas.

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Gráfico 7 – Quantidade de pessoas desalojadas e desabrigas devido as inundações entre os anos de 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape.

Fonte: Elaboração do autor a partir de dados do S2iD.

Na contabilização dos dados, as poucas vezes em que a classificação “deslocadas” apareceu, ela foi contabilizada na coluna das pessoas “afetadas”. Nos FIDE’s, as pessoas afetadas referem-se ao somatório das outras classificações (mortos, feridos, enfermos, desabrigados, desalojados, desaparecidos e outros afetados). Desse modo, para as notificações que contavam com o FIDE como registro, a coluna do número de afetados na tabela do apêndice C foi preenchida com a soma da classificação de “outros afetados”, “enfermos” e “deslocados” vista nesse formulário, uma vez que mortos, feridos, desalojados e desabrigados já eram contemplados nas colunas designadas. Nos itens de danos materiais e prejuízos econômicos, a estrutura do formulário AVADAN foi feita para que os valores sejam multiplicados por mil reais, uma vez que na primeira e segunda linha da coluna para a inserção dos valores havia as inscrições “Total” e logo abaixo “Mil R$”. Assim, entende-se que se o dano fosse, por exemplo, de R$ 5.000,00 (cinco mil) reais, o esperado era de que fosse preenchido apenas com o número 5. O problema foi que em muitos AVADAN’s os danos e prejuízos informados foram preenchidos com o valor final nessa coluna, em mil reais ou em milhões de reais. Isso foi notado pelo paralelo com a descrição do dano e suas quantidades, se relativo a edificações ou perdas de produção agrícola, industrial, do comércio ou de serviços.

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Desse modo, um processo muito recorrente na sistematização dos dados da tabela do apêndice C foi justamente contrapor dois ou mais formulários de notificações diferentes (de datas e municípios diferentes), para interpretar o dano e as perdas da forma mais coerente. Outro ponto importante de se destacar é que em alguns AVADAN’s consta que as perdas materiais e econômicas estão descritas em um relatório anexo não disponibilizado no banco de dados do S2iD, fazendo com que os valores descritos na tabela do apêndice C não compreendam a totalidade das perdas dos desastres provocados por inundações na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. Além disso, muitos dos valores desses formulários se baseiam em estimativas, ou seja, não são exatos. Para a confecção da tabela do apêndice C compreendeu-se como perdas materiais àquelas em edificações e em infraestruturas, tais como em redes de drenagem urbana ou rural, estradas, pontes, vias, redes de água, de esgoto, de energia elétrica e de comunicação. As perdas econômicas são aquelas decorrentes das perdas dos setores econômicos, assim como da produção agropecuária, industrial, comercial e das demais atividades. Dessa forma, entre os anos de 1998 e 2018, as perdas materiais chegaram à cifra de R$ 289.325.844,54 e as perdas econômicas de R$ 417.527.205,28, somando mais de 700 milhões de reais em perdas nos 21 anos de dados consultados. O gráfico 8 expõe as perdas organizadas por ano.

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Gráfico 8 – Perdas materiais e econômicas decorrentes das inundações entre os anos de 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do S2iD.

Observa-se que os anos de 2010, 2011 e 2009 foram os de maiores perdas. As perdas em 2010 ultrapassaram os 218 milhões de reais, sendo 120 milhões de reais somente em perdas econômicas. Os anos sem perdas informadas são aqueles em que não constam notificações no S2iD. Observa-se que os picos de maiores perdas do gráfico 23 coincide com os picos de quantidade de notificações dos gráficos 1 e 2 do item 9.1, sublinhando a relação direta entre quantidade de desastres e quantidade de perdas. Apesar de as perdas materiais em alguns anos serem menores que as econômicas é necessário ressaltar que o financiamento das intervenções para reconstrução ou reparo em infraestruturas é majoritariamente estatal. Ou seja, é utilizado dinheiro público para isso. É por esse sentido também que os desastres assumem relevância social e política, uma vez que o reestabelecimento da situação anterior à sua ocorrência requer procedimentos jurídicos e negociações políticas e financeiras entre os entes federativos e entre eles e grupos da sociedade civil para atendimento das diversas necessidades requeridas com a ruptura a que o desastre representa. No contexto das perdas dos indivíduos estão os danos humanos, que são as perdas referentes a vidas, pessoas desalojadas temporariamente ou desabrigadas, feridos, desaparecidos e afetados de outras formas. Além de implicarem em fatalidades pelas mortes, essas perdas são acompanhadas de inúmeros desdobramentos sociais e políticos, assim como

138 para a questão da moradia e acesso a infraestruturas básicas (água, esgoto, energia e comunicação), que fica comprometido. No período analisado houve o total de 21 mortes, 7 pessoas feridas e 15 pessoas desaparecidas devido aos desastres provocados por inundações. O gráfico 22 sintetiza os danos humanos em pessoas desalojadas e desabrigadas por ano. Ainda que 2014 não represente o ano com as maiores perdas materiais e econômicas, foi o ano com as maiores perdas humanas dado pelo alto número de mortes (12), feridos (5) e desaparecidos (15). Esses números se concentraram no episódio ocorrido em Itaóca, em janeiro. Além das inundações, o município foi assolado por diversos pontos de deslizamento de encostas, situação provocada pela alta quantidade de chuvas que acometeu a área na época. No gráfico 8 nota-se que, exceto em 2005, em todos os anos em que há registros de desalojados e desabrigados, o número do primeiro é sempre maior que o segundo. Porém, o custo social do segundo é maior, por implicar em perda total da moradia para uma família. As pessoas desalojadas ficam impossibilitadas de voltar a sua residência por um período, mas não tem o prejuízo de perdê-la integralmente. Com relação ao tipo de uso e ocupação das áreas em que houve notificação de desastre por inundações (S2iD), das 82 notificações, 68 (82,93%) ocorreram tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais, o que demonstra a abrangência desse fenômeno no território dos municípios da área de estudo. Em 6 notificações (7,5%) o desastre ocorreu somente em áreas rurais, e em 8 (9,76%) somente em áreas urbanas. A tabela 15 sintetiza por município as perdas e os danos humanos decorrentes dos desastres provocados por inundações entre os anos de 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. A partir desses dados constata-se que os municípios com o maior número de mortes são Itaóca, Jacupiranga e Pedro de Toledo; os municípios com as maiores perdas materiais nesse período são Eldorado, Juquiá e Registro; com as maiores perdas econômicas são Registro, Sete Barras e Jacupiranga; com o maior número de desabrigados são Registro, Eldorado e Jacupiranga, e com o maior número de desalojados são Eldorado, Sete Barras e Pariquera-Açu.

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Tabela 15 – Perdas materiais, econômicas e danos humanos decorrentes dos desastres provocados por inundação entre 1998 e 2018 na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP, por município. Município População Perdas materiais Perdas Desalojado Desabrigados Mortes 2019 Econômicas s Barra do 5.724 R$ R$ 5 15 0 Chapéu 330.000,00 3.980,00 Barra do 7.659 R$ R$ 184 262 0 Turvo 16.747.400,00 557.350,00 Cajati 28.549 R$ R$ 6865 375 0 11.640.000,00 7.220.700,00 Cananeia 12.540 R$ R$ 120 0 1 3.480.900,00 32.953.500,00 Eldorado 15.494 R$ R$ 8585 2872 1 46.485.650,00 53.075.000,00 Iguape 30.857 R$ R$ 5008 739 1 17.912.550,00 18.553.500,00 Ilha 11.166 R$ R$ 0 0 0 Comprida 1.217.400,00 200.000,00 Iporanga 4.218 R$ R$ 1170 159 0 5.650.000,00 - Itaóca 3.328 R$ R$ 332 20 12 10.960.000,00 9.000.000,00 Itapirapuã 4.241 R$ R$ 493 22 1 Paulista 124.338,54 - Itariri 17.436 R$ R$ 1853 85 0 8.051.800,00 11.750.000,00 Jacupiranga 17.866 R$ R$ 1951 990 5 18.128.800,00 59.273.900,00 Juquiá 18.812 R$ R$ 938 917 0 36.422.300,00 24.677.400,00 Juquitiba 31.444 R$ R$ 108 491 0 16.242.030,00 1.605.000,00 Miracatu 19.779 R$ R$ 1222 210 0 25.567.378,00 24.761.000,00 Pariquera- 19.648 R$ R$ 7450 82 0 Açu 4.333.000,00 6.861.000,00 Pedro de 11.331 R$ R$ 288 10 2 Toledo 14.112.450,00 7.815.000,00 Registro 56.322 R$ R$ 3712 2912 0 30.118.660,00 77.749.170,00 Ribeira 3.340 R$ R$ 460 17 0 1.000.000,00 133.310,00 S. Lourenço 15.825 R$ R$ 29 0 0 da Serra 4.303.000,00 51.000,00 Sete Barras 12.832 R$ R$ 8096 488 0 14.809.188,00 65.641.395,28 Tapiraí 7.807 R$ R$ 97 16 0 1.276.000,00 14.300.000,00 total 356.218 R$ R$ 48.966 10.682 23 288.912.844,54 416.182.205,28 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos documentos disponibilizados no S2iD (2019).

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Dessa forma, entende-se que os municípios de Registro, Eldorado e Jacupiranga foram os mais atingidos pelas perdas e danos decorrentes desses desastres, por constarem entre os 3 mais atingidos em 3 das 5 categorias de perdas e danos estabelecidas na tabela 15. O município de Registro, o mais populoso, é o único em que a soma das perdas materiais e econômicas ultrapassaram os 100 milhões de reais nesse período, e compõe, junto a Eldorado, Sete Barras, Jacupiranga, Juquiá e Miracatu, o grupo de municípios em que essas perdas ultrapassaram 50 milhões de reais ao todo, entre 1998 e 2018. Barra do Chapéu e Itapirapuã Paulista são os únicos dois municípios com a soma das perdas materiais e econômicas inferiores à 1 milhão de reais no período. Porém, no segundo foi registrado uma morte, enquanto no primeiro, não. Estes dois municípios também configuram entre aqueles com a menor quantidade de habitantes. A partir dessas considerações pode-se pensar sobre a intensidade dos desastres descritos e sua possível classificação quanto a esse quesito. Para a Defesa Civil os desastres podem ser classificados em nível I, de média intensidade; e nível II, de grande intensidade. Esses níveis são definidos de acordo com a necessidade e quantidade de recursos necessários para a reparação dos danos (CEPED UFSC, 2014). De nível I são os desastres com danos em que os governos locais podem suportar e superar com recursos próprios ou com complementação de recursos estaduais ou federais. Já de nível II são aqueles desastres em que a superação implica necessariamente no suporte coordenado dos três níveis do SINPDEC ou até mesmo, em alguns casos, de ajuda internacional. Para os desastres de nível I é factual a decretação de Situação de Emergência, enquanto para os de nível II, de Estado de Calamidade Pública (CEPED UFSC, 2014). O quadro 26 apresenta as especificidades para cada nível de desastre. Essa classificação dialoga com a classificação vista no capítulo 2, apresentada por Tominaga (2009), por considerar elementos semelhantes, como a capacidade da estrutura local de reparar os danos e a necessária relação de outras esferas governamentais para lidar com a situação. Se por pessoas “afetadas” entender-se como a soma da quantidade de pessoas vistas nas classificações de danos humanos no formulário FIDE; e considerando as duas primeiras especificidades do quadro 18, dentre as 82 notificações obtidas com registros de perdas na base do S2iD, 70 (85,36%), se classificam quanto a desastres de nível II. Se forem consideradas as três primeiras especificidades, esse número é de 46,34% (38 notificações).

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Quadro 18 – Classificação de desastres da Defesa Civil quanto a intensidade. INTENSIDADE ESPECIFICIDADES Nível I Nível II Pelo menos dois dentre Humanos, Pelo menos dois dentre Humanos, Tipo de danos ocorridos Materiais ou Ambientais. Materiais ou Ambientais. De 1 a 9 mortos ou até 99 afetados. Acima de 10 mortos ou acima de 100 Humanos afetados. De 1 a 9 instalações públicas, unidades Acima de 10 instalações públicas, habitacionais de baixa renda, obras de unidades habitacionais de baixa Materiais infraestruturas, danificadas ou renda, obras de infraestrutura, destruídas. danificadas ou destruídas. Contaminação recuperável em curto Contaminação recuperável em médio prazo prejudicando de 10 a 20% da e longo prazo prejudicando mais de população (até 10 mil hab.) e de 5 a 20% da população (até 10mil hab) e Ambientais 10% (mais de 10 mil hab.), destruição mais de 10% (mais de 10mil hab), até 40% áreas Parques e Áreas de destruição mais de 40% Parques e Preservação Permanente. Áreas de Preservação Permanente. Que ultrapassem 2,77% da receita Que ultrapassem 8,33% da receita Prejuízos corrente líquida anual do Município ou corrente líquida anual do Município Econômicos Estado atingido, relacionados com o ou Estado atingido, relacionados com Públicos colapso de serviços essenciais. o colapso de serviços essenciais. Fonte: Adaptado de CEPED UFSC (2014).

Através dessas associações, percebe-se que os desastres provocados por inundações na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape possuem proporções significativas. Em se tratando de danos em infraestruturas essenciais, em 35 notificações (42,68%) houve danos na rede de água ou em canais que comprometeram o abastecimento de água para uma parcela da população; em 20 (24,39%) constatou-se danos na rede esgoto; em 23 (28,05%) na rede de energia; e em 13 (15,85%) na rede de comunicação. Ademais, algumas notificações chamam a atenção pelo grande volume das perdas materiais ou econômicas, assim como no caso do episódio ocorrido em Miracatu dia 24/02/2009, com perdas materiais de quase 17 milhões de reais, e econômicas de quase 18 milhões; em Cananeia dia 22/01/2010, com perdas econômicas de mais de 30 milhões de reais; em Juquiá, no mesmo dia e ano, em que as perdas materiais e econômicas somaram mais de 35,5 milhões de reais; e em Eldorado e Sete Barras, em agosto de 2011, que sofreram com perdas materiais e econômicas somadas em mais de 63 milhões de reais no primeiro, e quase 45 milhões de reais no segundo.

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10. A SUSCETIBILIDADE AMBIENTAL À INUNDAÇÃO

A Suscetibilidade Ambiental é o resultado da sobreposição entre a Suscetibilidade à Inundação e dos aspectos de Uso e Ocupação das Terras. Sendo assim, ela é apresentada ao final, no último item deste capítulo.

10.1. Suscetibilidade à inundação

O mapa de Suscetibilidade à Inundação (figura 19) é o resultado da aplicação do modelo HAND. Observa-se que as áreas suscetíveis se encontram associadas à hidrografia. Somadas as três classes de Suscetibilidade à Inundação, as áreas suscetíveis na bacia recobrem 3.480,45 km², sendo que desse montante, a classe de alta suscetibilidade obtém a maior proporção, 46,74%, seguida da classe de média e então pela de baixa suscetibilidade (tabela 16).

Tabela 16 – Quantidade e percentual de área das classes de Suscetibilidade à Inundação na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP Classe Área (km²) Percentual (%) Alta 1.626,846 46,74 Média 1.025,444 29,46 Baixa 828,157 23,79 Total 3.480,448 100,00 Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

O total de área suscetível à inundação na bacia, definida com a cota de 15m, representa 20,38% das terras da área em estudo. Na escala de 1:50.000 as áreas suscetíveis são mais evidentes para os canais com seção transversal maiores, os quais possuem planícies aluviais mais extensas. Porém, os canais menores, também contam com áreas suscetíveis à inundação associadas, com visualização no mapa prejudicada devido a escala.

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Figura 19 – Mapa de Suscetibilidade à Inundação na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Organizado por Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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As áreas suscetíveis aparecem com maior veemência nas porções dos Sistemas Ambientais I, II e III, situados sobre a Unidade Morfoescultural da Depressão Tectônica do Baixo Ribeira, na qual estão contidos sistemas de planícies fluviais e costeiras, e de colinas. Ou seja, são áreas em que o relevo apresenta declividades menores, onde atuam em primazia processos de acúmulo de água e sedimentos, nos quais a inundação é um importante fenômeno dentro dessa dinâmica, por transpô-los às planícies, onde eles são depositados. Dentre os três últimos Sistemas Ambientais citados, o maior volume de precipitação ocorre no sistema I, e o menor no III, no qual mesmo sendo o menor, apresenta locais que chegam a acumular 2.300mm de precipitação anuais. A cobertura vegetal predominante nos Sistemas Ambientais I, II e III é de Floresta Ombrófila Densa de Terras baixas, e de Restinga particularmente no sistema I. Dessa forma, é possível compreender que as áreas suscetíveis nesses sistemas são vistas sobretudo sobre esses tipos de cobertura, com a amplitude do fenômeno associada às condições de relevo e pelo volume de precipitação. Os municípios com maiores quantidades de território sobre esses sistemas são Sete Barras, Juquiá, Miracatu, Registro, Pariquera-Açu, Cananeia, Iguape e Ilha Comprida. Os demais municípios da UGRH-11 distribuem suas terras sobre os Sistemas Ambientais IV e V, nos quais o relevo, situado sobre a Unidade Morfoestrutural de Faixa de Dobramentos do Atlântico, apresenta declividades maiores, com morros e serras como as formas predominantes. Nessas regiões as áreas suscetíveis vistas na figura 19 são bem menos evidentes, devido ao contexto de áreas de interflúvio, no qual as planícies aluviais são mais estreitas por se alocarem nos restritos vales desse relevo acidentado. O volume de precipitação acumulado durante o ano nesses sistemas chega a 2800mm, e a ocupação predominante da superfície é de Floresta Ombrófila Densa Montana. Os cursos de água tanto nas áreas rurais quanto nas áreas urbanas da área em estudo estão suscetíveis ao processo de inundação de afluente por escoamento de refluxo. Esse processo é importante porque ele regula o alcance das áreas que são inundadas na bacia, sendo isso mais bem observado para inundações de magnitudes menores, de cotas com até cerca de 12m. Quanto maior for a cota definida para inundação, o tempo da onda de cheia será maior, fazendo com que a água atinja toda a área estabelecida como suscetível (MOMO et. al., 2016).

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Devido a cota de 15m observada em trabalho de campo e definida para a geração da suscetibilidade à inundação na UGRH-11, entende-se que a magnitude das inundações nessa bacia não é pequena.

10.2. Uso e Ocupação das terras

Como resultado preliminar para a constituição do indicador de Suscetibilidade Ambiental, o mapa de Uso e Ocupação das Terras – Cenário de 2018 da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape (figura 20), é um produto que apresenta de forma visual a situação da ocupação humana e dos tipos de cobertura observadas na superfície na bacia. Pela figura 20 observa-se, que as áreas urbanas aparecem de forma quase pontual, e, tanto esse tipo de cobertura quanto os cultivos agrícolas e pastagens ocorrem associados aos cursos de água, tendo as pastagens manchas mais abrangentes que os cultivos. A figura 21 apresenta um tipo de ocupação urbana ao redor dos cursos de água visualizada com frequência em trabalho de campo: edificações de população mais pobre com aparente condições deficitárias de infraestrutura. E a figura 22 ilustra uma ocupação agrícola bastante recorrente, a plantação de bananas. A silvicultura também é vista em quantidades consideráveis, mas não necessariamente associada aos cursos de água, e ocorrem nas regiões de interflúvio na porção mais a oeste, em Barra do Chapéu, Itapirapuã Paulista e Ribeira, e em locais mais a leste, próximos a Ibiúna.

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Figura 20 – Mapa de Uso e Ocupação das terras da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP, cenário de 2018.

Fonte: Laboratório de Estudos Climáticos e Bacias Hidrográficas (LECLIG) – UNICAMP. Elaboração: Cassiano Gustavo Messias. Projeto FAPESP nº. 2018/09401-1.

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Figura 21 – Tipo de ocupação urbana observada em trabalho de campo6.

Fonte: Acervo pessoal do autor

6 A - Margem do rio Jacupiranguinha, em Cajati-SP. B - Margem do rio Juquiá em Juquiá-SP.

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Figura 22 – Ponte sobre rio São Lourencinho (afluente do rio Juquiá) em Miracatu-SP, com ocupação agrícola de um lado (plantação de bananas).

Fonte: Acervo pessoal do autor.

A tabela 17 apresenta os percentuais de área de cada classe de uso e ocupação, na qual constata-se a presença predominante de cobertura vegetal (mata, mangue e restinga), recobrindo 84,73% da bacia. Assim como visto no capítulo 9, estão presentes na UGRH-11 Unidades de Conservação, as quais são as responsáveis pela preservação da cobertura vegetal.

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Tabela 17 – Área e percentual de área ocupada pelas classes de uso e ocupação das terras na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. Classe Área (km²) Área (%) Cultivos agrícolas (CA) 295,71 1,75 Mata (MA) 13390,38 79,16 Água (AG) 151,61 0,90 Silvicultura (SI) 473,36 2,80 Solo exposto (SE) 366,37 2,17 Área urbana (AU) 76,04 0,45 Pastagem (PA) 1218,78 7,20 Mangue (MG) 831,33 4,91 Restinga (RE) 112,48 0,66 Total 16916,04 100,00 Fonte: Organizado pelo autor.

Os usos humanos, representados pelos cultivos agrícolas, pastagem, silvicultura e áreas urbanas somam 12,2% da área da bacia. Somente as pastagens ocupam 7,20%. Dessa forma, no que tange à alteração da superfície, a figura 20 mostra a diminuta ação humana sobre a área em relação à abundante cobertura vegetal. Nesse contexto de uso e ocupação, tendo em vista ainda a situação dos aspectos demográficos e socioeconômicos apresentados no capítulo 6, de baixa quantidade de população, eventualidade de processos emigratórios, baixa disponibilidade de empregos formais e boa parte da população vivendo com baixos rendimentos, uma discussão que pode se impor sobre a UGRH-11 concerne ao seu desenvolvimento econômico e social e como isso pode reverberar na alteração da cobertura da superfície na área da bacia. Esse debate nessa região se coloca de forma singular devido a conjuntura, que envolve os elementos sociais mencionados há pouco, os recorrentes desastres provocados por inundações e a existência das Unidades de Conservação, que requerem um plano de manejo para uso e ocupação de suas terras.

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10.3. Suscetibilidade Ambiental à Inundação

Os resultados desse indicador evidenciam como as condições atuais da superfície da área em estudo7, podem contribuir potencializando ou atenuando as inundações. Os gráficos 9, 10 e 11 apresentam os percentuais de área das classes de Suscetibilidade Ambiental da UGRH-11, para o total da bacia, e para os somatórios das áreas urbanas e rurais, respectivamente. É visto que 56,83% da área da bacia se encontra sob a classe de média suscetibilidade (gráfico 11), e que a bacia contém menos de 10% de área altamente suscetível. Esse baixo valor acontece devido as áreas suscetíveis à inundação estarem associadas às porções imediatamente próximas aos cursos de água (figura 19).

Gráfico 9 – Percentual de área das classes de Suscetibilidade Ambiental à Inundação na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor.

7 O mapa de uso foi confeccionado a partir de imagens de satélite do ano de 2018.

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Gráfico 10 – Percentual de área das classes de Gráfico 11 – Percentual de área das classes de Suscetibilidade Ambiental entre o somatório Suscetibilidade Ambiental entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP. Ribeira de Iguape-SP.

Fonte: Elaborados pelo autor.

A partir disso e da constatação da quantidade de perdas que as inundações causam, vista no capítulo 9, pode-se entender que a ocupação humana na bacia se concentra, em grande parte, nesses locais mais propensos a sofrer inundações, ou seja, de alta suscetibilidade. Assim como visto em campo, em vários pontos visitados onde outrora foi acusado um episódio de inundação, o canal mais próximo responsável possuía pequenas dimensões. Desse modo, o volume de perdas descritos no capítulo 9 também se relaciona com o que é chamado por Momo et. al. (2016) de inundação de afluente por escoamento de refluxo, o qual é capturado pelo modelo HAND. Esse fenômeno pode ocorrer devido a diminuição da capacidade de absorção de água do afluente a que o rio principal sofre pelo aumento de sua vazão, visto que a situação de enchente já está acontecendo pelo acúmulo de água do seu próprio curso, por já ter recebido volume de canais a montante da intersecção desse afluente. Dessa forma, o rio principal passa a atuar momentaneamente como uma espécie de barragem, fazendo o afluente que está desaguando nele acumular volume de água a montante de si mesmo. Segundo Momo et. al. (2016) a inundação por escoamento de refluxo regula a linha de inundação por toda a bacia hidrográfica. A figura 23 ilustra os locais em que isso foi diagnosticado em campo.

Figura 23 - Canais de pequeno porte que extravasam água pelas suas margens causando inundações (imagens A, B e C)8

8 A – Pequeno canal em área próxima à sua desembocadura no rio São Lourencinho em Miracatu – SP. B e C – Pequeno canal que desagua no Ribeirão da Canha, afluente do rio Guaraú, em Jacupiranga – SP.

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Fonte: Acervo pessoal do autor

Nota-se pelos gráficos 25 e 26 que o meio urbano apresenta Suscetibilidade Ambiental maior que o meio rural. Isso acontece principalmente por dois motivos, pela posição dos sítios urbanos em planícies de inundações e pela impermeabilização do solo característica dessas áreas. O meio rural possui maior quantidade de áreas verdes, que são permeáveis e amortizam os efeitos das inundações. Porém, o elevado percentual da classe de média suscetibilidade no gráfico 26 indica que mesmo nessa zona, há coberturas que podem intensificar as inundações, assim como a pastagem e cultivos agrícolas com manejo inadequado. A tabela 18 apresenta os percentuais de área sob cada classe de Suscetibilidade Ambiental no meio rural e urbano para os municípios da UGRH-11. Os maiores percentuais pertencem à classe de média suscetibilidade, assim como evidenciam os 100% para a área urbana de Juquiá e os 100% para a área rural de São Lourenço da Serra.

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Tabela 18 – Percentual de área sob as classes de Suscetibilidade Ambiental no meio rural e urbano, por município, na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape.

Rural Urbano sem sem Municípios Alta Média Baixa dados Alta Média Baixa dados Apiaí 0,00 51,45 32,67 15,88 5,20 80,15 14,65 0,00 Barra do Chapéu 1,66 49,81 48,53 0,00 0,00 59,05 40,95 0,00 Barra do Turvo 29,04 14,64 44,57 11,75 0,00 61,81 38,19 0,00 Cajati 0,00 85,44 14,48 0,08 0,00 78,27 21,73 0,00 Cananeia 20,09 47,61 15,53 16,77 0,00 51,34 0,84 47,82 Eldorado 10,70 50,60 29,31 9,39 0,00 72,77 27,23 0,00 Ibiúna 0,00 68,70 26,95 4,35 0,00 0,00 0,00 0,00 Iguape 26,31 52,36 20,77 0,56 58,75 30,02 0,54 10,69 Ilha Comprida 0,00 0,00 0,00 0,00 48,16 14,12 4,77 32,95 Iporanga 0,47 54,14 22,32 23,06 0,00 86,19 13,81 0,00 Itaóca 0,00 59,92 40,08 0,00 0,00 60,37 39,63 0,00 Itapirapuã Paulista 19,04 80,96 0,00 0,00 28,94 71,06 0,00 0,00 Itariri 0,00 64,20 15,21 20,58 0,00 92,97 4,38 2,65 Jacupiranga 0,00 42,98 41,42 15,59 0,00 70,37 29,63 0,00 Juquiá 4,17 69,34 26,50 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 Juquitiba 4,31 46,57 41,43 7,70 2,53 84,44 13,02 0,01 Miracatu 3,20 80,45 16,03 0,33 22,06 56,92 21,02 0,00 Pariquera-Açu 0,00 45,36 45,62 9,02 0,00 83,90 16,10 0,00 Pedro de Toledo 0,00 87,86 12,14 0,00 0,00 97,72 2,28 0,00 Registro 0,00 56,82 43,18 0,00 0,00 94,28 5,72 0,00 Ribeira 0,00 58,93 41,07 0,00 0,00 47,07 52,93 0,00 São Lourenço da Serra 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 94,21 5,79 0,00 Sete Barras 0,00 64,40 10,30 25,29 0,00 90,16 9,84 0,00 Tapiraí 0,00 60,68 37,49 1,83 0,00 54,20 45,80 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

Nota-se que dos 24 municípios, somente 6 apresentam percentuais de alta Suscetibilidade Ambiental no meio urbano, o que à primeira vista soa dissonante do consenso estabelecido pelo gráfico 25. Isso acontece devido a agregação dos resultados serem por setores censitários. Em muitos setores urbanos os núcleos urbanizados estão concentrados em uma parte do setor, tendo no resto da área coberturas que amortizam as inundações, como áreas verdes ou matas. Dessa forma, como a classificação da Suscetibilidade Ambiental do setor é feita levando em conta também a cobertura, essa última atenua a suscetibilidade por conter maior proporção de área menos impactante para inundação, mesmo a suscetibilidade à inundação (modelo HAND) tendo classificado aquele setor como altamente suscetível.

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O mesmo acontece com os setores censitários rurais, em que dos 24 municípios somente 10 possuem percentual de área com alta Suscetibilidade Ambiental, justamente pela cobertura da superfície atenuar os locais que anteriormente foram classificados como altamente suscetíveis a inundação pelo modelo HAND. Nesse contexto, os municípios com a maior Suscetibilidade Ambientais no meio rural são Barra do Turvo (29,04%), Iguape (26,31%) e Cananeia (20,09%). Percebe-se que esses valores não chegam a 30%, ou seja, menos de 1/3 da área rural desses municípios estão sob áreas com possibilidades maiores de inundação. Mesmo assim, as perdas econômicas, nas quais incluem-se a do setor de agropecuária, podem chegar à cifra de milhões de reais em um único evento, assim como exposto no capítulo anterior e visto no apêndice C. Desse modo, é possível inferir que, as perdas nessas menores porções sob alta suscetibilidade são elevadas; e as perdas podem também acometer de forma significativa as áreas das outras classes de Suscetibilidade Ambiental, justificando o seu grande montante em um único evento. A elevada proporção da área rural de Barra do Turvo sob alta Suscetibilidade Ambiental pode ajudar a explicar o fato do município, mesmo estando sobre área em que a Suscetibilidade a Inundação é menos veemente, registra quantidades maiores de notificações de desastre, ou seja, de perdas. Os municípios com o maior percentual de área urbana sob alta Suscetibilidade Ambiental são Iguape (58,75%), Ilha Comprida (48,16%) e Itapirapuã Paulista (28,94%). Iguape tem seu sítio urbano em região de exutório, com relevo mais planificado, onde predominam processos deposicionais, de acúmulo de água e carga sedimentar. O município de Ilha Comprida, que não tem área rural, também tem seu território em região de planície (costeira) e de exutório, com quase metade de sua área sob alta Suscetibilidade Ambiental à Inundação. Itapirapuã Paulista possui uma proporção maior de área urbana sob alta suscetibilidade que a rural e não apresenta área rural sob baixa Suscetibilidade Ambiental, indicando que essas terras estão em sua maioria ocupada por coberturas que potencializam inundações, tais como pastagens. Os municípios com os maiores percentuais de baixa Suscetibilidade Ambiental na área rural são Barra do Chapéu (48,53%), Pariquera-Açu (45,62%) e Barra do Turvo (44,57%). O primeiro e o terceiro se situam em regiões com altitudes mais elevadas e com

155 desníveis maiores. Barra do Chapéu possui também o terceiro maior percentual de área urbana sob baixa Suscetibilidade Ambiental (40,95%). Nessas áreas de interflúvio os vales são mais encaixados e o tempo de permanência da água é curto, devido a energia potencial de escoamento. Suas áreas rurais com cobertura vegetal abundante também contribuem para esse contexto de baixa Suscetibilidade Ambiental. Já Pariquera-Açu se encontra em uma região menos acidentada, mais próximo do baixo curso do Ribeira de Iguape, porém, com abundante cobertura vegetal. Os outros dois municípios com os maiores percentuais de área urbana sob baixa Suscetibilidade Ambiental são Ribeira (52,93%) e Tapiraí (45,80%), que assim como Barra do Chapéu, situam-se em regiões de interflúvio. Mesmo o uso humano sendo proporcionalmente mais presente em Ribeira, o sítio urbano é diminuto e a ocupação maior é de silvicultura, ou seja, de cobertura vegetal. Já Tapiraí conta com cobertura vegetal de Mata Atlântica significante.

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11. A VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO

O processo de produção e sistematização de resultados para o indicador de Vulnerabilidade Social à Inundação permitiu geração de dados sobre a constituição desse aspecto da vulnerabilidade para as duas dimensões desse indicador, Aspectos Populacionais e Infraestrutura. Dessa forma, esses dados preliminares sobre cada dimensão serão apresentados primeiro, por possibilitarem uma interpretação mais acurada do indicador de Vulnerabilidade Social, que será apresentado no último item desse capítulo.

11.1. O Indicador sintético da dimensão Aspectos Populacionais

A dimensão Aspectos Populacionais contempla variáveis demográficas e socioeconômicas que tem por objetivo apontar nos setores censitários as capacidades de seus habitantes, de lidar e de responder à desastres, no que tange aos condicionantes sociais. Desse modo, se este indicador apresenta classe “Alta”, isso pode levar o indicador sintético de Vulnerabilidade Social a ser alto, pois o indicador proposto por essa dimensão significa elevada fragilidade das pessoas nas questões etárias, ou de gênero, ou de acesso a emprego e renda ou à educação básica, ou ainda, à tudo isso. Portanto, os resultados dessa dimensão apontam os lugares em que essas variáveis são mais relevantes para o contexto de perdas no qual uma situação de desastre implica. O mapa que ilustra os resultados para essa dimensão (figura 24) demonstra que o indicador para as três classes ocorre em toda a bacia, sem uma concentração de determinada classe em uma área específica. Isso indica que as condições das variáveis dessa dimensão apresentam particularidades de aspectos positivos e negativos por toda a bacia, variando em uma escala mais local. Assim, a análise dos resultados para cada um dos dois componentes dessa dimensão pode especificar comportamentos mais específicos das variáveis de cada componente, em diferentes municípios.

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Figura 24 – Dimensão Aspectos Populacionais – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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Os gráficos 12, 13 e 14 expressam os percentuais de área para cada classe de desta dimensão para toda a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, e para o seu somatório de áreas urbanas e rurais, respectivamente.

Gráfico 12 – Percentual de área das classes da dimensão Aspectos Populacionais, na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 13 – Percentual de área das classes da Gráfico 14 – Percentual de área das classes da dimensão Aspectos Populacionais, entre o dimensão Aspectos Populacionais, entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP. hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP.

Fonte: Elaborados pelo autor.

Mesmo não havendo diferenças entre as variáveis utilizadas entre áreas urbanas e rurais, assim como para a Dimensão Habitação e Entorno, os resultados foram gerados para cada condição dessa, a fim de oferecer maior subsídio para as análises dos componentes e para a própria Dimensão Habitação e Entorno. Observa-se que praticamente metade da área da bacia se encontra sob o indicador médio nessa dimensão (gráfico 12), situação que é mantida quando separadas para análise as condições urbana e rural (gráficos 13 e 14).

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Quanto à classe de alta do indicador sintético de Aspectos Populacionais, dentre as porções com dados disponíveis, ela é a menos representativa no espectro geral (gráfico 12), indicando um bom resultado, de que os condicionantes referentes à aspectos sociais garantem a poucos lugares a o indicador alto, se comparado às outras classes. Ou seja, na escala da bacia, os aspectos demográficos e socioeconômicos seriam uma prioridade para 17,23% da área total para ações que visem melhorar a situação deste indicador que será considerado para o cálculo da Vulnerabilidade Social à Inundação. Porém, a classe de média dessa dimensão tem significativa proporção, apontando que é necessária uma vigilância sobre esse tipo de variáveis porque elas podem ter uma tendência a evoluir de modo a fazer com que num futuro próximo, por aumento das desigualdades sociais, uma parcela de áreas situadas na classe média, para esta dimensão, passem para a classe de alta. As porções sob a classe de alta nessa dimensão são maiores nas áreas urbanas, segundo os gráficos 13 e 14. Isso indica piores condições das variáveis demográficas e socioeconômicas nessas áreas, e melhores no meio rural, apontando que as intervenções para melhorar os indicadores dos parâmetros responsáveis por definir de forma sintética o indicador da dimensão Aspectos Populacionais deve ser prioritário no meio urbano. A tabela 19 (página seguinte) detalha a proporção em percentual, para cada município, de habitantes que vivem sob cada classe para essa dimensão, no meio rural e no meio urbano. Os maiores valores percentuais observados estão na classe “média”, assim como se destacam os 100% para a área rural de Itaóca e 100% para área urbana de Barra do Chapéu. Para Ibiúna não há dados sobre o meio urbano porque esse tipo de área desse município se encontra fora dos limites da UGRH-11. Em Ilha Comprida não há área rural segundo o IBGE. Os municípios que possuem maior percentual de população sob a classe alta nas áreas rurais são Cananeia (51,84%), Registro (48,23%) e Eldorado (46,68%). Esse dado é interessante, porque mesmo constatando que de modo geral as variáveis demográficas e socioeconômicas implicam em desdobramento mais negativo para o meio urbano, cerca de metade da população rural de cada um desses três municípios vive sob “classe alta” conforme o indicador desta dimensão, enquanto no meio urbano, as proporções de “classe alta” são menores para os três.

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Tabela 19 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo a Dimensão Aspectos Populacionais, nas áreas rural e urbana, por município. Rural Urbano sem sem Municípios Alta Média Baixa dados Alta Média Baixa dados Apiaí 13,37 71,28 15,25 0,11 25,95 31,94 42,11 0,00 Barra do Chapéu 11,76 70,00 18,24 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 Barra do Turvo 31,02 40,37 28,61 0,00 37,65 0,00 32,03 0,00 Cajati 30,84 32,19 36,97 0,00 26,23 63,88 9,89 0,00 Cananeia 51,84 0,00 40,61 7,54 21,19 43,11 35,67 0,03 Eldorado 46,68 29,01 24,31 0,00 18,53 46,87 34,60 0,00 Ibiúna 49,71 16,05 34,24 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Iguape 13,67 60,52 25,20 0,60 30,63 34,33 34,94 0,09 Ilha Comprida 0,00 0,00 0,00 0,00 31,41 45,17 22,18 1,23 Iporanga 10,06 77,34 11,38 1,21 44,31 8,87 46,81 0,00 Itaóca 0,00 100,00 0,00 0,00 33,92 13,92 52,16 0,00 Itapirapuã Paulista 20,47 34,51 45,02 0,00 28,44 31,77 39,80 0,00 Itariri 17,31 44,00 35,88 2,81 18,90 46,15 34,91 0,05 Jacupiranga 17,15 41,33 38,63 2,90 22,83 47,95 29,22 0,00 Juquiá 25,45 66,09 8,46 0,00 32,28 31,51 36,21 0,00 Juquitiba 18,33 51,38 30,20 0,09 24,51 44,57 30,90 0,02 Miracatu 27,08 30,26 42,14 0,51 37,61 30,06 32,34 0,00 Pariquera-Açu 7,05 54,68 38,27 0,00 17,96 69,07 12,97 0,00 Pedro de Toledo 40,49 4,64 54,87 0,00 17,35 64,01 18,64 0,00 Registro 48,23 8,85 42,93 0,00 34,64 33,44 31,92 0,00 Ribeira 0,00 56,27 43,73 0,00 35,84 64,16 0,00 0,00 São Lourenço da Serra 19,06 24,16 56,78 0,00 15,35 55,19 29,45 0,00 Sete Barras 46,51 18,21 35,19 0,09 27,17 41,73 31,09 0,00 Tapiraí 11,50 71,16 17,34 0,00 0,00 60,47 39,53 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

Tal contexto é mais relevante para o município de Eldorado porque assim como visto no capítulo 6, quase metade de toda a sua população era rural em 2010, diferente de Cananeia e Registro, que possuem nesse mesmo ano, 85,4% e 88,8% de população urbana, respectivamente. Com relação ao meio urbano, são os municípios de Iporanga (44,31%), Barra do Turvo (37,65%) e Miracatu (37,61%) que apresentam maior percentual de população na classe alta desta dimensão. Nos três, esses percentuais são maiores que aqueles de classe alta no meio rural e as taxas de urbanização eram próximas de 50% em 2010. Ou seja, a sua elevada população rural possui aspectos demográficos e socioeconômicos que amortizam a este indicador nesta dimensão, o que concorda com o exposto pelos gráficos 13 e 14.

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Os maiores percentuais de população sob a classe baixa no meio rural pertencem aos municípios de São Lourenço da Serra (56,78%), Pedro de Toledo (54,87%) e Itapirapuã Paulista (45,02%). Dentre os três, esse último possuía, em 2010, a menor taxa de urbanização (48,8%), ou seja, com a maior parte da população sendo rural. Logo, depreende-se que as variáveis demográficas e socioeconômicas da maioria da população de Itapirapuã Paulista demonstram resultado positivo para este indicador, elevando a capacidade de resposta dessa população e diminuindo seu potencial para perdas a desastres provocados por inundações. Em todos esses três últimos municípios o percentual de população sob a classe baixa nesta dimensão na área rural é maior que na área urbana. Isto significa que as variáveis demográficas e socioeconômicas garantem a população rural capacidade maior de responder à desastre que essas mesmas variáveis da população urbana. É em Itaóca (52,16%), Iporanga (46,81%) e Apiaí (42,11%) que se encontram os maiores percentuais de população urbana sob a classe baixa Vulnerabilidade Social para esta dimensão. Esse percentual é maior do que aqueles da área rural para os três municípios. Ou seja, comparando à população rural, a população urbana possui aspectos demográficos e socioeconômicos que dá a ela maior capacidade de responder a um desastre provocado por inundação. Dentre esses três municípios, Apiaí possuía em 2010 a maior taxa de urbanização (72,3%), e Itaóca a menor, 54,5%. Iporanga tem uma realidade singular no meio urbano: proporções parecidas e elevadas entre as classes de alta e baixa vulnerabilidade, que pode significar uma grande desigualdade social dentro do meio urbano.

11.1.1. Componente Estrutura da Família e Tamanho dos Domicílios

O componente Estrutura Familiar representa mais especificamente os aspectos etário, de gênero, e de tamanho dos domicílios, em relação àquilo que pode comprometer a capacidade de resposta da população do setor censitário a um desastre, e consequentemente aumentar o potencial para perdas. Os resultados de classe alta para esse componente apontam lugares em que há elevada presença de crianças ou idosos, ou de mulheres e menores de idade como chefes de família, ou de domicílios compostos por mais de 4 pessoas, ou ainda de tudo isso.

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Assim como no mapa da dimensão, o mapa que ilustra os resultados do indicador para esse componente (figura 25) também não indica uma concentração de determinada classe em uma área especifica da bacia. Em termos de percentual de habitantes sob cada classe, os maiores se concentram na classe média, os quais são vistos em Pariquera-Açu (89,11%) e Itariri (79,20%), conforme mostram os dados da tabela 20. Já em relação às classes de alta e baixa, os maiores valores não chegam a atingir 40%, o que em tese é bom para a primeira, mas não tão positivo para a segunda, uma vez que isso implica que é pequena a proporção de população em que essas variáveis elevem a capacidade de resposta a um desastre. A partir disso, os maiores percentuais de habitantes sob a classe alta estão em Ibiúna (37,78%), Eldorado (26,99%) e Barra do Chapéu (23,95%). Nos três o percentual de habitantes em classe alta na dimensão Aspectos Populacionais é maior no meio rural do que no meio urbano. Isto significa que a população rural desses municípios apresenta indicador na componente Estrutura Familiar e Tamanho dos Domicílios que influenciou o indicador sintético da dimensão. Por outro lado, os municípios com os maiores percentuais de população sob a classe baixa são Itapirapuã Paulista (38,87%), Ibiúna (34,24%) e Tapiraí (33,78%).

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Figura 25 – Componente Estrutura da Família e Tamanho dos Domicílios – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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Sobre o primeiro, já foi visto no item anterior que as variáveis demográficas e socioeconômicas elevam a capacidade de resposta para a maior parte da população, que é a rural. Ibiúna não tem população urbana dentro da área de estudo, demonstrando que a população rural desse município apresenta resultados positivos para as variáveis do componente Estrutura Familiar, comparado às demais populações aferidas. Tapiraí apresenta na área urbana percentual maior de classe baixa na Dimensão Aspectos Populacionais, e sua urbanização era de 71,5% em 2010. Assim, as variáveis desse componente têm boa influência para a maior parte de sua população, ao fazer aumentar sua capacidade de resposta a um desastre e diminuir o seu potencial para perdas.

Tabela 20 – Percentual de habitantes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo o componente Estrutura Familiar, por município. sem Municípios Alta Média Baixa dados Apiaí 20,99 63,56 15,42 0,03 Barra do Chapéu 23,95 48,76 27,29 0,00 Barra do Turvo 13,31 77,55 9,13 0,00 Cajati 20,97 65,93 13,10 0,00 Cananeia 15,62 58,69 24,56 1,13 Eldorado 26,99 60,31 12,70 0,00 Ibiúna 37,78 27,98 34,24 0,00 Iguape 20,96 67,37 11,51 0,17 Ilha Comprida 18,75 66,86 13,16 1,23 Iporanga 19,33 51,99 28,15 0,54 Itaóca 15,30 56,26 28,44 0,00 Itapirapuã Paulista 20,36 40,77 38,87 0,00 Itariri 12,48 79,20 7,71 0,62 Jacupiranga 8,68 65,46 24,54 1,32 Juquiá 17,40 61,31 21,30 0,00 Juquitiba 16,42 65,86 17,67 0,04 Miracatu 14,84 67,75 17,16 0,25 Pariquera-Açu 2,39 89,11 8,50 0,00 Pedro de Toledo 15,19 63,90 20,91 0,00 Registro 20,28 57,43 22,29 0,00 Ribeira 13,19 62,75 24,06 0,00 São Lourenço da Serra 17,95 64,08 17,97 0,00 Sete Barras 14,56 71,40 14,00 0,04 Tapiraí 2,98 63,24 33,78 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

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11.1.2. Componente Renda e Educação

A renda representa um dos aspectos fundamentais sobre a capacidade de resposta e o potencial para perdas da população a um desastre, por relacionar essas duas coisas. Neste componente, a classe alta significa menor renda, menor capacidade de resposta em termos financeiros e por isso maior potencial para perdas. Desse modo, a palavra “potencial” poderia até ser substituída por outros termos, como impacto, relevância ou significado. As variáveis selecionadas sobre renda podem apontar lugares, a partir da alta vulnerabilidade, em que os empregos desses indivíduos são piores, podendo ser informais, sem vínculos empregatícios e sem direitos trabalhistas assegurados, e consequentemente com salários menores. Devido ao dado disponível para Educação no Censo ser somente sobre a alfabetização, as variáveis relativas a isso representam os acessos mínimos a esse quesito que possam garantir o alcance a educação mínima para alcançar emprego e renda, e à sistemas informativos e técnicos de orientação e suporte em situações de desastre. Logo, a classe alta para esse componente pode também indicar lugares em que há grande proporção de crianças e adolescentes analfabetos, trabalhadores analfabetos, e mulheres chefes de família analfabetas. Conforme expõe a figura 26, as áreas com classe baixa são menos numerosas para esse componente que em relação a Estrutura Familiar e Tamanho dos Domicílios, denunciando que Renda e Educação são aspectos que elevam a Vulnerabilidade Social na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. Dessa forma, conforme expõe a tabela 21, os três municípios que apresentam maiores valores percentuais de população sob classe alta nesse componente são Barra do Turvo (31,19%), Iporanga (29,19%) e Sete Barras (26,50%).

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Figura 26 – Componente Renda e Educação da Dimensão Aspectos Populacionais – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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Dentre esses três últimos municípios citados, somente em Iporanga o percentual para a classe de baixa é maior que a classe de alta. Uma vez que na Dimensão Aspectos Populacionais o percentual de população sob classe alta é maior no meio urbano, a maioria desses habitantes com deficiências nas variáveis do componente Renda e Educação estão no meio urbano. O mesmo ocorre em Barra do Turvo. Já em Sete Barras, o maior percentual de habitantes sob a classe alta na Dimensão Aspectos Populacionais se dá no meio rural. Porém, a proporção de pessoas sob a classe alta no componente Renda e Educação é maior no meio urbano, indicando que é nessa área que há mais pessoas com deficiências nas variáveis desse componente.

Tabela 21 – Percentual de habitantes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo o componente Renda e Educação. sem Municípios Alta Média Baixa dados Apiaí 8,87 65,31 25,79 0,03 Barra do Chapéu 14,42 69,93 15,66 0,00 Barra do Turvo 31,19 38,98 29,82 0,00 Cajati 21,60 57,59 20,81 0,00 Cananeia 19,14 54,53 25,20 1,13 Eldorado 16,42 55,65 27,93 0,00 Ibiúna 22,16 77,84 0,00 0,00 Iguape 18,21 49,82 31,81 0,17 Ilha Comprida 18,88 61,50 18,39 1,23 Iporanga 29,19 39,10 31,17 0,54 Itaóca 3,19 81,01 15,80 0,00 Itapirapuã Paulista 23,09 34,43 42,47 0,00 Itariri 7,63 62,99 28,76 0,62 Jacupiranga 20,24 50,01 28,43 1,32 Juquiá 19,09 62,11 18,80 0,00 Juquitiba 12,27 61,32 26,37 0,04 Miracatu 26,00 42,05 31,71 0,25 Pariquera-Açu 15,78 68,70 15,53 0,00 Pedro de Toledo 21,52 61,46 17,02 0,00 Registro 21,95 52,64 25,41 0,00 Ribeira 9,77 76,89 13,34 0,00 São Lourenço da Serra 9,57 58,72 31,71 0,00 Sete Barras 26,50 53,01 20,45 0,04 Tapiraí 2,98 68,76 28,26 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

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Os maiores percentuais de população sob a classe baixa nesse componente são vistos em Itapirapuã Paulista (42,47%), Iguape (31,81%) e Miracatu (31,71%). Sobre o primeiro as discussões anteriores respaldam essa situação e salientam que a população rural possui resultados mais positivos que a população urbana para as variáveis demográficas e socioeconômicas. Em Iguape, na Dimensão Aspectos Populacionais, o percentual de habitantes sob a classe baixa é maior no meio urbano, sendo essa área que as variáveis do componente Renda e Educação se expressam de modo mais positivo, elevando a capacidade da população e diminuindo seu potencial para perdas. No município de Miracatu, na Dimensão Aspectos Populacionais, o percentual de moradores sob a classe baixa é maior na zona rural. Isto significa que nessa área as variáveis de Renda e Educação implicam em diminuição da vulnerabilidade, sendo a área urbana como detentora das maiores deficiências pertinentes a elas.

11.2. O Indicador sintético da Dimensão Habitação e Entorno

Através de variáveis sobre as condições dos domicílios e de seu entorno, a Dimensão Habitação e Entorno tem por objetivo indicar nos setores censitários qual a capacidade de resposta e o potencial para perdas de seus habitantes pertinentes a essas questões. Dessa forma, a classe alta para essa dimensão aponta lugares em que as condições das moradias e de seu acesso a serviços públicos de infraestrutura são deficitárias, sendo o oposto para a classe de baixa vulnerabilidade. Conforme visto na figura 27, essa dimensão implica em um aumento da vulnerabilidade por haver menos áreas da classe baixa em relação a figura 24, que ilustra os resultados para a Dimensão Aspectos Populacionais.

169

Figura 27 – Dimensão Habitação e Entorno – Bacia Hidrográfica do rio Ribeira do Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

170

Os gráficos 15, 16 e 17 apresentam os resultados para essa dimensão em termos de área total, para o meio urbano e para o meio rural, respectivamente. Para essa dimensão, além das variáveis utilizadas para as áreas rurais, foram adotadas variáveis especificas para as áreas urbanas, visto as suas singularidades de ocupação e proporção de ocorrência na área de estudo, conforme esclarecido no capítulo 7.

Gráfico 15 – Percentual de área das classes segundo a Dimensão Habitação e Entorno, na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 16 – Percentual de área de para a Gráfico 17 – Percentual de área para a Dimensão Habitação e Entorno, entre o Dimensão Habitação e Entorno, entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP. hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborados pelo autor.

Observa-se no gráfico 15, que assim como para a Dimensão Aspectos Populacionais, o percentual de área sob a classe média é elevado, 56,03%. Assim, em pouco mais da metade da área de estudo as variáveis dessa dimensão se encontram em uma situação de necessária vigilância, pois com o tempo, se houver precarização das condições de infraestrutura, essas áreas podem evoluir para um contexto de classe alta para esta dimensão.

171

O maior percentual de área sob classe alta em relação à classe de baixa indica a prioridade de ações sobre infraestrutura para melhorar a situação do indicador à Inundação em quase ¼ da área de estudo (23,8%). Os gráficos 16 e 17 deixam claro que as maiores deficiências em infraestrutura se localizam nas áreas rurais. Desse modo, observa-se que enquanto em termos demográficos e socioeconômicos essas áreas possuem características que amortizam o indicador, as condições de sua infraestrutura potencializam esse indicador negativamente. A tabela 22 apresenta resultados dessa dimensão por município e para as áreas urbanas e rurais. É visto que os maiores percentuais de população sob classe alta no meio rural estão nos municípios de Itariri (31,04%), Juquiá (29,10%) e Cananeia (28,16%). Esses municípios possuíam em 2010 taxa de urbanização de 63,9%, 63,1% e 85,4%, respectivamente; fazendo dessas proporções de classe alta no meio rural mais significante para Itariri e Juquiá, por serem municípios com maior população nessas áreas. Já no meio urbano, os municípios que apresentam maiores percentuais de população sob classe alta são Barra do Turvo (37,65%), Barra do Chapéu (29,34%) e Juquitiba (24,51%). São valores expressivos uma vez que em 17 dos 24 municípios não há habitantes sob classe alta nessa dimensão no meio urbano (tabela 22). Esses valores percentuais são mais importantes para Juquitiba por esse município apresentar maior proporção de população urbana, 77,4% em 2010, em relação aos outros dois, que possuíam no mesmo ano, 41,1% e 29,4%, respectivamente. Em relação aos maiores percentuais situados na classe baixa no meio rural eles pertencem aos municípios de Itapirapuã Paulista (52,02%), Iporanga (49,26%) e Cananeia (49,11%). Os três apresentam maiores valores percentuais de classe baixa no meio rural que em relação ao meio urbano, indicando que mesmo que em termos gerais, na escala de toda a bacia, as condições de infraestrutura são piores na área rural, essa não é uma realidade para esses municípios. No meio urbano, os municípios que apresentam os maiores valores percentuais de população sob classe baixa são: São Lourenço da Serra (52,60%), Juquiá (47,69%) e Itariri (47,17%). Uma vez que no primeiro a taxa de urbanização era em 2010 de 91%, obter mais da metade dessa população urbana sob classe baixa nessa dimensão é um aspecto bastante positivo, o que aponta boa disponibilidade de infraestrutura para seus habitantes no meio urbano.

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Tabela 22 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Social segundo a Dimensão Habitação e Entorno, nas áreas rural e urbana, por município. Rural Urbano sem sem Municípios Alta Média Baixa dados Alta Média Baixa dados Apiaí 21,24 40,27 38,38 0,11 0,00 65,84 34,16 0,00 Barra do Chapéu 18,05 53,76 28,19 0,00 29,34 48,96 21,70 0,00 Barra do Turvo 12,71 61,51 25,77 0,00 37,65 0,00 32,03 0,00 Cajati 5,21 83,49 11,29 0,00 0,00 73,54 26,46 0,00 Cananeia 28,16 15,20 49,11 7,54 9,94 62,09 27,94 0,03 Eldorado 13,52 78,93 7,56 0,00 0,00 74,89 25,11 0,00 Ibiúna 18,00 50,14 31,86 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Iguape 9,27 83,34 6,79 0,60 4,08 63,81 32,02 0,09 Ilha Comprida 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 54,59 44,18 1,23 Iporanga 9,69 39,83 49,26 1,21 0,00 81,55 18,45 0,00 Itaóca 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 94,15 5,85 0,00 Itapirapuã Paulista 10,21 37,73 52,06 0,00 0,00 60,20 39,80 0,00 Itariri 31,04 66,15 0,00 2,81 0,00 52,78 47,17 0,05 Jacupiranga 17,15 41,33 38,63 2,90 22,83 47,95 29,22 0,00 Juquiá 29,10 42,80 28,10 0,00 0,00 52,31 47,69 0,00 Juquitiba 18,33 51,38 30,20 0,09 24,51 44,57 30,90 0,02 Miracatu 25,85 45,28 28,35 0,51 0,00 66,47 33,53 0,00 Pariquera-Açu 14,07 57,44 28,49 0,00 0,00 67,96 32,04 0,00 Pedro de Toledo 28,07 42,67 29,27 0,00 0,00 53,36 46,64 0,00 Registro 15,46 74,31 10,23 0,00 0,00 74,44 25,56 0,00 Ribeira 5,94 94,06 0,00 0,00 0,00 64,16 35,84 0,00 São Lourenço da Serra 15,07 49,12 35,81 0,00 7,80 39,60 52,60 0,00 Sete Barras 2,12 72,39 25,40 0,09 0,00 82,56 17,44 0,00 Tapiraí 17,34 61,82 20,84 0,00 0,00 79,59 20,41 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

Os outros dois municípios possuíam em 2010 taxa de urbanização quase semelhantes, de 63,1% em Juquiá e de 63,9% em Itariri e não contavam com população sob a classe alta no meio urbano. Mesmo apresentando bons indicadores, como há pouco mencionado, São Lourenço da Serra possui, entretanto, 7,8% de população urbana sob a classe alta.

11.3. O Indicador sintético de Vulnerabilidade Social à inundação

A Vulnerabilidade Social é um indicador que sintetiza a relação entre a capacidade de resposta da população ao perigo e o seu potencial para perdas, sendo

173 constituído de variáveis demográficas, socioeconômicas e das condições de infraestrutura dos domicílios e de seu entorno. Dessa forma, o posicionamento de uma parcela da população sob a classe de alta vulnerabilidade significa que a situação das variáveis naquele setor censitário converge para uma deficiente capacidade de resposta ao perigo e ao desastre que ele pode ocasionar, elevando o potencial para perdas dessa população. Ou seja, de que se houver perdas, elas são mais significativas para essa população sob alta vulnerabilidade. Assim como visto nos itens anteriores deste capítulo, cada dimensão desse indicador pode apontar lugares diferentes quanto ao tipo de ações que devem ser prioritárias para amortizar a Vulnerabilidade Social, se referente à aspectos socioeconômicos ou de infraestrutura. Portanto, a metodologia desse trabalho proporciona que, uma vez definidos os setores censitários sob alta Vulnerabilidade Social, a etapa posterior pode ser a análise das dimensões para verificar quais tipos de variáveis devem ser prioritárias para ações que visem o atenuamento da Vulnerabilidade Social à Inundação, e ainda se na área rural ou na urbana, posto que assim como visto no capítulo 9, desastres provocados por inundações ocorrem em ambos.

174

Figura 28 – Indicador Vulnerabilidade Social da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

175

Os gráficos 18, 19 e 20 apresentam em termos de área, os percentuais para cada classe de Vulnerabilidade Social, para toda a bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, para o meio urbano e para o meio rural, respectivamente. Assim como observa-se pela figura 28 e constata-se pelo gráfico 18, a classe de alta Vulnerabilidade Social é a que ocupa maior área da bacia, 37,46%, seguida da classe de média com 31,20% e então pela de baixa, com 22,43%. Nota-se nesses três gráficos que as proporções se mantêm aproximadas, exceto pela pouca diferença do percentual de alta vulnerabilidade entre o meio urbano (35,10%) e o meio rural (37,66%), e pela quantidade de áreas sem dados ser maior no meio urbano.

Gráfico 18 – Percentual de área das classes de Vulnerabilidade Social na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor.

176

Gráfico 19 – Percentual de área de Gráfico 20 – Percentual de área de Vulnerabilidade Social entre o somatório de Vulnerabilidade Social entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia hidrográfica do rio áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP. Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborados pelo autor.

A tabela 23 apresenta os percentuais de população sob as classes de Vulnerabilidade Social das áreas urbanas e rurais, de cada município. Ibiúna, Registro e Eldorado detém os maiores percentuais de alta vulnerabilidade no meio rural, com 55,84%, 55,29% e 42,42%, respectivamente. Desses, somente Registro apresentava em 2010 taxa de urbanização maior que 50%, ou seja, para os outros dois, esse alto percentual de habitantes sob alta vulnerabilidade no meio rural é um dado importante.

Tabela 23 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Social, nas áreas rural e urbana, por município. Rural Urbano sem sem Municípios Alta Média Baixa dados Alta Média Baixa dados Apiaí 30,49 15,77 53,63 0,11 16,45 28,22 55,33 0,00 Barra do Chapéu 18,05 53,76 28,19 0,00 29,34 48,96 21,70 0,00 Barra do Turvo 18,44 54,07 27,49 0,00 37,65 0,00 32,03 0,00 Cajati 28,71 35,30 35,99 0,00 15,85 58,17 25,98 0,00 Cananeia 16,82 51,90 23,74 7,54 21,19 34,62 44,16 0,03 Eldorado 42,42 41,31 16,27 0,00 18,53 37,77 43,71 0,00 Ibiúna 55,84 12,30 31,86 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Iguape 11,34 62,13 25,93 0,60 29,21 25,67 45,02 0,09 Ilha Comprida 0,00 0,00 0,00 0,00 11,14 45,34 42,29 1,23 Iporanga 30,35 27,50 40,94 1,21 34,74 0,00 65,26 0,00 Itaóca 0,00 100,00 0,00 0,00 28,07 19,77 52,16 0,00 Itapirapuã Paulista 30,68 0,00 69,32 0,00 28,44 31,77 39,80 0,00 Itariri 31,04 66,15 0,00 2,81 0,00 52,78 47,17 0,05 Jacupiranga 17,15 39,66 40,30 2,90 26,71 34,54 38,76 0,00

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Juquiá 29,90 53,12 16,98 0,00 13,88 38,74 47,38 0,00 Juquitiba 13,87 51,72 34,32 0,09 6,19 44,89 48,89 0,02 Miracatu 18,56 44,02 36,91 0,51 34,45 26,74 38,81 0,00 Pariquera-Açu 17,27 43,13 39,60 0,00 17,96 43,10 38,94 0,00 Pedro de Toledo 30,09 25,83 44,09 0,00 0,00 61,88 38,12 0,00 Registro 55,29 4,76 39,95 0,00 27,74 36,69 35,57 0,00 Ribeira 5,94 50,33 43,73 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 São Lourenço da Serra 19,06 24,16 56,78 0,00 12,21 32,71 55,08 0,00 Sete Barras 34,67 30,05 35,19 0,09 22,85 46,06 31,09 0,00 Tapiraí 11,50 67,66 20,84 0,00 0,00 40,06 59,94 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

No meio urbano, os maiores percentuais de habitantes sob alta vulnerabilidade pertencem aos municípios de Barra do Turvo (37,65%), Iporanga (34,74%) e Miracatu (34,45%). Para Iporanga esse dado é mais significativo visto a sua taxa de urbanização ser maior em relação aos outros dois. Porém, esse município também possui o maior percentual de população sob baixa vulnerabilidade na área urbana, o que corrobora com o apontado anteriormente sobre uma elevada desigualdade social nesse município, em que quase 2/3 da população tem capacidades de resposta ao perigo elevada e outro 1/3 deficitária, com a classe de média vulnerabilidade sendo inexistente no meio urbano. Com relação às maiores proporções de habitantes sob baixa vulnerabilidade no meio urbano, Iporanga, como já visto, apresenta o maior percentual (65,26%), sendo seguido de Tapiraí (59,94%) e Apiaí (55,33%). Na área rural, as proporções mais altas de habitantes sob baixa Vulnerabilidade Social estão nos municípios de Itapirapuã Paulista (69,32%), São Lourenço da Serra (56,78%) e Apiaí (53,63%). Dos três, o primeiro é o mais rural de todos, com taxa de urbanização de 48,8% em 2010.

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12. O INDICADOR SINTÉTICO: VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL À INUNDAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE-SP

A interpretação sobre as classes de vulnerabilidade resultantes desse indicador sintético está descrita no quadro 19.

Quadro 19 – Interpretação das classes de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação. Classes de Vulnerabilidade Interpretação Socioambiental à Inundação Agrupamento populacional com capacidades de resposta deficitárias ao perigo, implicando em potenciais para perdas maiores. As variáveis do lugar de residência dessas pessoas aumentam a suscetibilidade ao perigo e a intensidade dele, de modo Alta que ele possa ocasionar perdas e danos maiores, seja por maior exposição a ele (Suscetibilidade Ambiental) ou maior Vulnerabilidade Social, ou ainda pelas duas coisas.

Agrupamento populacional residente em lugares em que as características desse conjunto podem, ao longo do tempo, e se não haver a manutenção dessa realidade, Média fazer a resposta dessas pessoas ser deficitária ao perigo, fazendo com que danos e prejuízos sejam cada vez maiores, a cada ocorrência de desastre. Essa situação implica ou em alta Vulnerabilidade Social ou em alta Suscetibilidade Ambiental.

Agrupamento populacional com menor exposição ao perigo (baixa ou média Suscetibilidade Ambiental) e baixa Vulnerabilidade Social, que por sua vez decorre Baixa em um aumento da capacidade de resposta da população às inundações, fazendo com que as perdas e danos não sejam elevados (menor potencial para perdas).

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se na figura 29 que não há uma concentração de determinada classe de vulnerabilidade em alguma porção da UGRH-11. Ou seja, não há um comportamento específico do conjunto de variáveis para qualquer região da bacia, o que indica que elas variam de acordo com as especificidades de cada setor censitário. A UGRH-11 possui quase 1/3 de sua área (32,09%) sob alta Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação, e aproximadamente outro 1/3 (31,82%) sob baixa. O restante conta com 27,18% de áreas medianamente vulneráveis e 8,91% de lugares onde não existem dados suficientes para determinar a sua situação (gráfico 21).

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Figura 29 – Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor e pelo Prof. Dr. Raul Reis Amorim a partir de dados do SIG-RB.

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Gráfico 21 – Percentual de área das classes de Vulnerabilidade Social na Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O meio urbano contém maior proporção de áreas mais vulneráveis que o meio rural (gráficos 22 e 23), devido as condições de ocupação, mesmo levando em conta a relação delas com a Suscetibilidade a Inundação resultantes da aplicação do modelo HAND, já discutidas no capítulo 10. Porém, a quantidade de área rural é significativamente maior que a área urbana.

Gráfico 22 – Percentual de área de Gráfico 23 – Percentual de área de Vulnerabilidade Socioambiental entre o Vulnerabilidade Socioambiental entre o somatório de áreas Urbanas da Bacia somatório de áreas Rurais da Bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP. hidrográfica do rio Ribeira de Iguape – SP.

Fonte: Elaborados pelo autor.

De acordo com os dados da tabela 24, os municípios com maior percentual de habitantes sob alta Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação no meio urbano são Itapirapuã Paulista (60,20%), Barra do Turvo (37,65%) e Miracatu (33,13%).

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Tabela 24 – Percentual de habitantes residentes sob as classes de Vulnerabilidade Socioambiental, nas áreas rural e urbana, por município.

Rural Urbano sem sem Municípios Alta Média Baixa dados Alta Média Baixa dados Apiaí 13,99 26,67 59,24 0,11 17,81 12,96 69,23 0,00 Barra do Chapéu 13,14 27,51 59,35 0,00 29,34 0,00 70,66 0,00 Barra do Turvo 13,39 16,27 70,34 0,00 37,65 0,00 32,03 0,00 Cajati 28,71 25,24 46,05 0,00 11,12 45,32 43,55 0,00 Cananeia 16,82 16,87 58,77 7,54 21,19 13,28 65,50 0,03 Eldorado 26,20 24,84 48,96 0,00 18,53 5,25 76,22 0,00 Ibiúna 13,26 54,88 31,86 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Iguape 7,61 34,95 56,84 0,60 24,96 18,18 56,77 0,09 Ilha Comprida 0,00 0,00 0,00 0,00 25,84 21,95 50,98 1,23 Iporanga 18,28 35,09 45,42 1,21 25,86 8,87 65,26 0,00 Itaóca 0,00 50,75 49,25 0,00 28,07 19,77 52,16 0,00 Itapirapuã Paulista 30,68 0,00 69,32 0,00 60,20 0,00 39,80 0,00 Itariri 19,04 62,69 15,46 2,81 12,57 10,04 77,34 0,05 Jacupiranga 17,15 14,98 64,98 2,90 19,09 23,20 57,70 0,00 Juquiá 15,56 48,09 36,34 0,00 13,88 38,74 47,38 0,00 Juquitiba 13,87 17,87 68,17 0,09 6,19 25,07 68,71 0,02 Miracatu 10,69 40,30 48,50 0,51 33,13 12,46 54,41 0,00 Pariquera-Açu 1,59 27,99 70,42 0,00 15,21 39,82 44,96 0,00 Pedro de Toledo 30,09 10,79 59,13 0,00 0,00 48,09 51,91 0,00 Registro 40,04 20,01 39,95 0,00 17,73 27,54 54,73 0,00 Ribeira 5,94 0,00 94,06 0,00 0,00 73,46 26,54 0,00 São Lourenço da Serra 19,06 24,16 56,78 0,00 4,41 23,06 72,53 0,00 Sete Barras 22,45 37,43 40,04 0,09 22,85 17,06 60,09 0,00 Tapiraí 11,50 24,46 64,04 0,00 0,00 15,67 84,33 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor.

Assim como visto no capítulo 10, a população urbana de Itapirapuã Paulista é mais vulnerável que a rural segundo o indicador da Dimensão Aspectos Populacionais referente à Vulnerabilidade Social. Isso contribuiu para a elevação de sua Vulnerabilidade Socioambiental. Desse modo, as ações para diminuir a Vulnerabilidade Socioambiental à inundação dos habitantes desse município podem se concentrar no meio urbano. O mesmo acontece para os municípios de Barra do Turvo e Miracatu. Já os municípios com os maiores percentuais de habitantes sob alta Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação no meio rural (tabela 24) são Registro (40,04%), Itapirapuã Paulista (30,68%) e Pedro de Toledo (30,09%).

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Observa-se, desse modo, que a boa situação das variáveis da Dimensão Aspectos Populacionais em Itapirapuã Paulista não atenua de modo significativo a Vulnerabilidade Socioambiental. A Suscetibilidade Ambiental se sobressaiu nesse município. Assim, ações de planejamento para repensar e reorganizar as condições de uso e cobertura da superfície são recomendadas, pois podem surtir efeito maior para diminuir sua vulnerabilidade à inundação. No meio rural, em Registro e em Pedro de Toledo os percentuais de população sob alta vulnerabilidade são maiores, tendo o segundo nenhum habitante nessa situação no meio urbano. Logo, os esforços para diminuir a vulnerabilidade da população à inundação podem se concentrar no meio rural. Em Pedro de Toledo a taxa de urbanização em 2010 era de 68,9%, significando que a maior parte da população reside nessas áreas. Porém, é no meio rural que o percentual de população sob alta Vulnerabilidade Social é maior, reverberando em uma situação semelhante para a Vulnerabilidade Socioambiental. Portanto, entende-se que para a transformação desse cenário nesse município as ações sejam tomadas no sentido de desenvolver a esfera social da população rural, como por exemplo aumentando o acesso a empregos formais que garantam renda. Entretanto, esse é o município com a maior proporção de seu território sob Unidade de Conservação de caráter integral, na qual o uso das terras é mais restritivo, controlado por planos de manejo. Logo, se as intervenções contemplarem a mudança da cobertura da superfície, tais como por desenvolvimento de atividades agropecuárias, elas precisam considerar esse fator. Entende-se que a investigação sobre a vulnerabilidade à perigos ambientais possibilita uma leitura crítica sobre os territórios e suas complexidades, que abrange a realidade da ocupação da superfície e dos aspectos sociais que se materializam nas áreas estudadas. Nesse sentido, compreende-se que as intervenções para transformar as realidades negativas de vulnerabilidade precisam envolver as especificidades de cada lugar, assim como as da UGRH-11, na qual estão presentes as Unidades de Conservação, que não se caracterizam como fatores limitantes ao desenvolvimento, pelo contrário, representam um espectro de possibilidades para produção de novos conhecimentos, técnicas e tecnologias sustentáveis.

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Foi visto no capítulo 9 que os municípios que mais sofreram perdas com desastres provocados por inundações foram Registro, Eldorado e Jacupiranga. As suas taxas de urbanização em 2010 eram de 88,8%, 49,2% e 54,4%, respectivamente. Desse modo, entende-se que o olhar sobre a Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação seja prioritário ao meio rural para Eldorado, e para o meio urbano em Registro e Iporanga. Em Jacupiranga os resultados de Vulnerabilidade Socioambiental apontam que a prioridade para prevenir a população das perdas se concentrem no meio urbano, que detém um maior percentual de habitantes sob alta e média vulnerabilidade, além de serem as áreas urbanas mais suscetíveis, segundo o indicador de Suscetibilidade Ambiental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo para determinação da vulnerabilidade à perigos ambientais e aos desastres que eles provocam é complexo e extenso devido ao caráter amplo do conceito de vulnerabilidade, o qual reivindica a consideração e relacionamento de múltiplas variáveis. Uma vez entendido que a vulnerabilidade diz respeito à situação de um grupo populacional em relação à uma determinada ameaça, e que toda a complexidade do lugar onde essa população reside e o aporte técnico e social de seu tempo condicionam essa situação, fica claro que os procedimentos metodológicos necessários para definir a vulnerabilidade serão complexos, e que é por essa razão que há tanto vem se discutindo nas últimas décadas, entre as ciências sociais, metodologias e constructos conceituais que deem conta de operacionalizar esse conceito e definir de forma pragmática por que e como alguns grupos populacionais são mais ou menos vulneráveis a perigos ambientais que outros. Levando em consideração os apontamentos de Jannuzzi (2001), é possível depreender que o indicador sintético de Vulnerabilidade Socioambiental à Inundação propostos neste trabalho apresentou as seguintes propriedades:

a) Relevância Social: O indicador proposto se enquadra no contexto da urgência da operacionalização do conhecimento científico em virtude da agenda ambiental global devido a iminência das consequências das mudanças climáticas; b) Validade: O indicador proposto concilia os conceitos pertinentes à vulnerabilidade de forma capaz de apresentar não só resultados que indiquem o quanto as populações são vulneráveis, mas também resultados parciais que indicam quais são as prioridades para reverter quadros de alta vulnerabilidade. c) Confiabilidade: Ao utilizar tecnologias de SIG e informações do Censo Demográfico, o indicador proposto goza de determinado caráter imparcial, e de uma fonte consolidada entre a comunidade científica; d) Grau de cobertura adequado: Uma vez que sintetiza os resultados por setor censitário, o indicador proposto apresenta resultados passíveis a agregação ou desagregação dos dados pelas unidades espaciais administrativas, o que favorece a sua utilização como embasamento para políticas públicas; e) Sensibilidade: Ao capturar cenários de desigualdade social e consequentemente de capacidades de resposta à desastres, o indicador proposto

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pode ser replicado em diferentes momentos históricos para acompanhar as mudanças da situação de vulnerabilidade dos agrupamentos populacionais; f) Especificidade: Os resultados dos indicadores de Vulnerabilidade Social e Suscetibilidade Ambiental expressam a situação acerca da capacidade de resposta dos agrupamentos populacionais e da exposição ao perigo. Porém, uma vez que essas informações são ponderadas no âmbito das discussões sobre desastres, cada uma é automaticamente requisitada para elucubrar a outra, elevando a importância, pelo pragmatismo da análise, da associação dos dois indicadores em um só, de Vulnerabilidade Socioambiental. g) Periodicidade: Uma vez sistematizada a estrutura do indicador e definidos os parâmetros de associação das variáveis, ele pode ser reproduzido para outras regiões e em outros tempos. A utilização do banco de dados do Censo Demográfico torna factível essa possibilidade.

A produção de dados utilizados na sistematização e aplicação do indicador sintético contemplou os objetivos específicos definidos no início dos trabalhos de pesquisa. O levantamento de informações cartográficas para a caracterização dos Sistemas Ambientais possibilitou a construção da base de dados que seria utilizada para representar a variação espacial da vulnerabilidade à inundação. Além disso, a análise desses Sistemas Ambientais foi capaz de evidenciar, para a ocorrência de inundação, a relação intrínseca entre a pluviosidade elevada presente no Vale do Ribeira e o condicionante do relevo, o qual possibilita áreas de escoamento ou de acúmulo de água. O inventário dos episódios de inundação e de desastre atestaram isso, ao mostrar que os municípios mais atingidos pelas consequências das inundações estão situados sobre a unidade morfoestrutural Depressão Tectônica do Baixo Ribeira, na qual estão contidos os sistemas ambientais I, II e III. O trabalho de campo, os resultados do inventário de desastres e dos indicadores de Suscetibilidade Ambiental mostraram a relevância do fenômeno de inundação por escoamento de refluxo (MOMO et. al., 2016) para o Vale do Ribeira. Essa constatação mostrou que a probabilidade de perdas decorrentes de inundações está presente quando se ocupa até mesmo as margens de estreitos cursos de água. Na bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape-SP observou-se que o indicador da Dimensão Habitação e Entorno foi mais significativo para definir capacidades de respostas

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deficitárias, ou seja, por aumentar o potencial para perdas dos habitantes, fazendo aumentar a sua situação de vulnerabilidade à inundação. Isso foi mais evidente no meio rural mas também foi representativo no meio urbano. Os setores censitários rurais são bem maiores que os urbanos e em muitos municípios a taxa de urbanização é próxima de 50%, evidenciando a questão da infraestrutura no meio rural como um fator preponderante para intervenção para melhora no quadro de vulnerabilidade às inundações na área analisada. A partir dos indicadores de Vulnerabilidade Social foi possível diagnosticar, além das deficiências de cada município nessa esfera e o tipo de área em que elas se encontram, se rural ou urbano, o contexto de elevada desigualdade social, assim como para o município de Iporanga no meio urbano, em que as classes de alta e baixa vulnerabilidade possuem valores percentuais de população elevados, sendo bem menores para a classe de média vulnerabilidade. Devido aos procedimentos metodológicos utilizarem dos intervalos interquartis, e as classes de alta e baixa serem apontadas pela proporção de 25% dos dados inferiores e superiores, entende-se que o diagnóstico da desigualdade social é possível justamente pelos resultados dessas classes apresentarem esses extremos. Logo, elevados percentuais de alta e baixa Vulnerabilidade Social podem indicar que a realidade social acontece em situações de extremos, apontando, consequentemente, a desigualdade no que tange as variáveis sociais envolvidas na capacidade de resposta à inundação. Isso pode servir para indicar a desigualdade social de forma mais ampla, e ainda justificar outros estudos que investiguem essa problemática em detalhe. Portanto, constata-se que a utilização do modelo de vulnerabilidade e a metodologia para operacionaliza-lo, empregados neste trabalho, corroboram com os apontamentos do CREED e do UNISDR (WALLEMACQ E HOUSE, 2018), de que os esforços tomados para identificar a vulnerabilidade das populações à perigos ambientais e desastres podem se constituir como ferramentas para erradicar a pobreza, por servir de subsidio para intervenções que busquem transformar os condicionantes do risco, e que visem um aumento da qualidade de vida da população.

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APÊNDICE A – Resultados SIMPAT

Resultados SIMPAT Ano Data Município 10/03/1998 Pariquera-Açu 10/03/1998 Tapiraí 10/03/1998 Itapirapuã Paulista 10/03/1998 Miracatu 10/03/1998 Iguape 10/03/1998 Sete Barras 10/03/1998 Iporanga 1998 10/03/1998 Juquiá 10/03/1988 Jacupiranga 10/03/1988 Registro 10/03/1998 Eldorado 10/03/1998 Ribeira 10/03/1998 Barra do Chapéu 10/03/1998 Cajati 1999 31/03/1999 Iguape 2000 0 0 21/01/2001 Pariquera-Açu 2001 21/01/2001 Registro 21/01/2001 Jacupiranga 15/01/2002 Jacupiranga 15/01/2002 Pariquera-Açu 2002 15/01/2002 Eldorado 15/01/2002 Registro 24/03/2002 Eldorado 21/02/2003 Pariquera-Açu 21/02/2003 Jacupiranga 2003 21/02/2003 Registro 21/02/2003 Cananeia

196

21/02/2003 Cajati 21/02/2003 Pedro de Toledo 22/01/2004 Registro 11/04/2004 Cananeia 11/04/2004 Sete Barras 11/04/2004 Jacupiranga 11/12/2004 Miracatu 11/12/2004 Pedro de Toledo 2004 05/02/2004 Juquiá 19/02/2004 Apiaí 22/01/2004 Juquiá 24/01/2004 Sete Barras 24/01/2004 Iguape 24/01/2004 Eldorado 21/01/2005 Tapiraí 24/01/2005 Miracatu 25/01/2005 Iporanga 25/01/2005 Iguape 2005 22/03/2005 Jacupiranga 21/04/2005 Tapiraí 16/01/2005 Juquiá 04/01/2005 Jacupiranga 09/02/2006 Registro 18/02/2006 Juquiá 2006 27/11/2006 Apiaí 27/12/2006 Ibiúna 2007 0 0 12/01/2008 Eldorado 12/01/2008 Miracatu 2008 12/01/2008 Iguape 12/01/2008 Pariquera-Açu 12/01/2008 Cajati

197

12/01/2008 Jacupiranga 12/01/2008 Itariri 14/01/2008 Jacupiranga 24/02/2009 Itariri 24/02/2009 Ilha Comprida 24/02/2009 Miracatu 24/02/2009 Cananeia 25/02/2009 Pedro de Toledo 25/02/2009 Registro 25/02/2009 Cajati 25/02/2009 Iguape 25/02/2009 Jacupiranga 09/03/2009 Iporanga 18/03/2009 Pariquera-Açu 28/07/2009 Registro 2009 29/07/2009 Eldorado 29/07/2009 Barra do Turvo 29/07/2009 Registro 31/07/2009 Registro 01/08/2009 Iguape 24/02/2009 Juquia 18/03/2009 Juquia 29/07/2009 Sete Barras 24/07/2009 Eldorado 29/07/2009 Iguape 31/07/2009 Iguape 24/07/2009 Eldorado 07/01/2010 Miracatu 08/01/2010 Cananeia 2010 09/01/2010 Registro 16/01/2010 Registro 22/01/2010 Juquia

198

23/01/2010 Registro 27/01/2010 Barra do Turvo 27/01/2010 Sete Barras 27/01/2010 Miracatu 27/01/2010 Eldorado 01/08/2010 Iguape 01/08/2010 Barra do Turvo 01/08/2010 Eldorado 01/08/2010 Registro 12/12/2010 Registro 07/01/2010 S. Lourenço da Serra 07/01/2010 Cajati 07/01/2010 Itariri 26/01/2010 Iguape 04/02/2010 Iguape 01/08/2010 Sete Barras 03/04/2010 Miracatu 03/04/2010 Eldorado 03/04/2010 Juquia 03/04/2010 Registro 13/01/2011 Cananeia 23/01/2011 Barra do Turvo 01/08/2011 Barra do Turvo 2011 01/08/2011 Ribeira 02/02/2011 Juquitiba 30/07/2011 Eldorado 01/08/2011 Iporanga 04/06/2012 Barra do Turvo 04/06/2012 Ribeira 2012 04/06/2012 Eldorado 04/06/2012 Iporanga 05/06/2012 Barra do Turvo

199

07/06/2012 Registro 20/06/2012 Juquitiba 25/06/2013 Eldorado 2013 25/06/2013 Registro 12/01/2014 Itaóca 12/02/2014 Miracatu 12/02/2014 Pedro de Toledo 2014 12/02/2014 Itariri 16/02/2014 Cajati 10/06/2014 Registro 22/01/2015 Juquitiba 06/03/2015 Pariquera-Açu 19/12/2015 Jacupiranga 2015 07/01/2015 Sete Barras 07/01/2015 Registro 27/12/2015 Itapirapuã Paulista 27/12/2015 Apiaí 01/01/2016 Eldorado 11/01/2016 Eldorado 12/01/2016 Miracatu 13/01/2016 Barra do Chapéu 13/01/2016 Registro 2016 14/01/2016 Juquitiba 05/02/2016 Barra do Turvo 10/03/2016 Miracatu 21/08/2016 Eldorado 21/08/2016 Ribeira 21/02/2016 Cajati 01/03/2017 Pariquera-Açu 07/03/2017 Pedro de Toledo 2017 05/06/2017 Apiaí 30/12/2017 Miracatu

200

30/12/2017 Eldorado 31/10/2017 Eldorado 30/10/2017 Ribeira 29/12/2017 Cajati 07/01/2018 Miracatu 02/03/2018 Pedro de Toledo 2018 15/04/2018 Juquitiba 01/01/2018 Registro

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APÊNDICE B – Resultados S2iD

Resultados S2iD Município Data Tipo documento Apiaí - - Barra do Chapeú 05/01/2005 AVADAN 29/01/2001 AVADAN 27/01/2003 AVADAN 25/01/2004 AVADAN Barra do Turvo 13/01/2008 Noticia - Folha On Line 25/02/2009 AVADAN 31/01/2010 AVADAN 07/06/2012 Noticia - Portal Vale do Ribeira 27/01/2003 AVADAN 12/01/2008 AVADAN Cajati 25/02/2009 AVADAN 28/01/2010 AVADAN 21/01/2001 Notificação de Ocorrências Cananeia 22/01/2010 AVADAN 11/01/2011 NOPRED 02/10/2001 AVADAN 27/01/2003 AVADAN 25/01/2004 AVADAN Eldorado 30/01/2010 AVADAN 02/08/2011 AVADAN 05/06/2012 AVADAN 31/01/2003 AVADAN 29/01/2004 AVADAN 21/01/2005 AVADAN Iguape 12/01/2008 AVADAN 25/02/2009 AVADAN 29/07/2009 AVADAN

202

26/01/2010 AVADAN 07/06/2012 Noticia - Portal Vale do Ribeira Ilha Comprida 24/02/2009 AVADAN 27/01/2003 AVADAN Iporanga 31/01/2010 AVADAN 01/08/2011 Relato Preliminar Itaóca 12/01/2014 FIDE 15/12/2001 AVADAN Itapirapuã Paulista 27/1/2016 FIDE 21/02/2003 AVADAN 12/01/2008 AVADAN Itariri 11/02/2010 AVADAN 14/02/2014 FIDE 21/01/2001 AVADAN 22/01/2003 AVADAN 21/02/2003 AVADAN 25/01/2004 AVADAN Jacupiranga 07/01/2007 AVADAN 12/01/2008 AVADAN 23/02/2009 AVADAN 31/01/2010 AVADAN 27/01/2004 AVADAN 17/01/2005 AVADAN Juquiá 18/03/2009 AVADAN 22/01/2010 AVADAN 15/02/2014 FIDE 19/01/2010 AVADAN 02/02/2011 AVADAN Juquitiba 21/06/2012 AVADAN 15/01/2016 FIDE 12/01/2008 AVADAN Miracatu 24/02/2009 AVADAN

203

26/01/2010 AVADAN 15/02/2014 FIDE 21/01/2001 AVADAN 22/02/2003 AVADAN Pariquera-Açu 13/01/2008 AVADAN 26/02/2009 AVADAN 21/02/2003 AVADAN 25/02/2009 AVADAN Pedro de Toledo 28/01/2010 AVADAN 16/02/2014 FIDE 02/03/1998 Noticia - 30/01/2003 AVADAN 28/01/2004 AVADAN 26/01/2005 AVADAN Registro fev/2009 Relatorio Defesa Civil 01/02/2010 AVADAN 08/01/2011 NOPRED 04/08/2011 AVADAN 07/06/2012 Noticia - G1 01/08/2011 AVADAN Ribeira 07/06/2012 Noticia - Portal Vale do Ribeira S. Lourenço da Serra 07/01/2010 AVADAN 08/10/2001 AVADAN 27/01/2003 AVADAN 27/01/2004 AVADAN 17/01/2005 AVADAN Sete Barras 27/10/2005 AVADAN 01/02/2010 AVADAN 03/08/2011 AVADAN 07/06/2012 Noticia - Portal Vale do Ribeira Tapiraí 24/12/2005 AVADAN

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APÊNDICE C – Notificações e danos inundações entre 1998 e 2018, BH - Ribeira de Iguape

Danos Humanos Perdas materiais Perdas econômicas Danos em infraestruturas essenciais Zona de Rede de Rede de Energia Comunic Data Município Ocorrência Afetados Desalojados Desabrigados DesaparecidosFeridos Mortes estimadas (R$) estimadas (R$) água esgoto elétrica ação Doc Observações 21/01/2001 Jacupiranga Urbana e rural 12 40 52 0 0 0 R$ 3.440.000,00 R$ 1.320.000,00 - - - - AVADAN 21/01/2001 Pariquera-Açu Urbana e rural 0 210 2 0 0 0 R$ 500.000,00 R$ - - - - - AVADAN Notificação de prejuizos não 21/01/2001 Cananeia Urbana e rural 0 0 0 0 0 1 R$ - R$ - 1 - - - ocorrência constam 31/01/2001 Barra do Turvo Rural 1250 0 0 0 0 0 R$ 1.600.000,00 não consta - - - - AVADAN 02/10/2001 Eldorado Urbana e rural 0 383 488 0 0 0 R$ 979.600,00 R$ 4.320.000,00 - - - - AVADAN 08/10/2001 Sete Barras Urbana e rural 633 1483 48 0 0 0 R$ 1.160.000,00 R$ 4.320.000,00 1 1 - 1 AVADAN tem os danos descritos em um relatorio anexo que não apareceu no 15/12/2001 Itapirapuã Paulista Urbana e rural 0 364 0 0 0 0 R$ 5.000,00 R$ - - - - - AVADAN sistema do S2iD tem os danos descritos em um relatorio anexo que não apareceu no 22/01/2003 Jacupiranga Urbana e rural 0 52 0 0 0 0 R$ - R$ 2.500.000,00 - - - - AVADAN sistema do S2iD 27/01/2003 Barra do Turvo Urbana e rural 5000 70 230 0 0 0 R$ 1.615.000,00 R$ 200.000,00 - 1 - - AVADAN 27/01/2003 Cajati Urbana e rural 430 360 36 0 0 0 R$ 151.000,00 não consta - - - - AVADAN 27/01/2003 Eldorado Urbana e rural 0 342 407 0 0 1 R$ 178.000,00 R$ 4.365.000,00 - - - - AVADAN 27/01/2003 Iporanga Urbana 0 70 9 0 0 0 R$ 290.000,00 R$ - - - - - AVADAN 27/01/2003 Sete Barras Urbana e rural 0 1603 97 0 0 0 R$ 116.488,00 R$ 1.792.995,28 - - - - AVADAN 30/01/2003 Registro Urbana 0 250 422 0 0 0 R$ 205.000,00 R$ 650.000,00 - 1 - - AVADAN 31/01/2003 Iguape Urbana e rural 0 50 0 0 0 0 R$ 40.000,00 R$ 155.000,00 - - - - AVADAN 21/02/2003 Itariri Urbana e rural 0 344 8 0 0 0 R$ 1.074.000,00 R$ 3.140.000,00 1 - 1 - AVADAN 21/02/2003 Jacupiranga Urbana e rural 5000 1500 11 0 0 3 R$ 1.525.000,00 R$ 5.515.000,00 - - - - AVADAN 21/02/2003 Pedro de Toledo Rural 0 0 0 0 0 0 R$ 412.350,00 R$ 210.000,00 - - - - AVADAN 22/02/2003 Pariquera-Açu Urbana e rural 4300 2800 0 0 0 0 R$ 638.000,00 R$ 174.000,00 - - 1 - AVADAN 25/01/2004 Barra do Turvo Urbana e rural 0 48 12 0 0 0 R$ 1.693.000,00 R$ 125.000,00 - 1 - - AVADAN 25/01/2004 Eldorado Urbana e rural 0 100 322 0 0 0 R$ 720.000,00 R$ 3.200.000,00 - - - - AVADAN 25/01/2004 Jacupiranga Urbana e rural 14 39 52 0 0 0 R$ 690.000,00 R$ 8.500.000,00 - - - - AVADAN 27/01/2004 Juquiá Urbana e rural 0 106 12 0 0 0 R$ 890.000,00 R$ 214.000,00 - - - - AVADAN

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27/01/2004 Sete Barras Urbana e rural 0 1700 150 0 0 0 R$ 121.000,00 R$ 2.105.000,00 - - - - AVADAN 28/01/2004 Registro Urbana e rural 0 234 776 0 0 0 R$ 4.614.000,00 R$ 10.338.000,00 - - - - AVADAN 29/01/2004 Iguape Urbana e rural 0 78 416 0 0 0 R$ 1.491.000,00 R$ 11.065.000,00 - - - - AVADAN 05/01/2005 Barra do Chapéu Urbana e rural 0 5 15 0 0 0 R$ 330.000,00 R$ 3.980,00 - - - - AVADAN 17/01/2005 Juquiá Urbana e rural 8000 0 810 0 0 0 R$ 1.821.000,00 R$ 7.855.000,00 1 - - 1 AVADAN 17/01/2005 Sete Barras Urbana e rural 0 0 0 0 0 0 R$ 147.000,00 R$ - - 1 - - AVADAN 21/01/2005 Iguape Urbana e rural 509 498 273 0 0 0 R$ 3.188.000,00 R$ 4.910.000,00 - 1 - - AVADAN 26/01/2005 Registro Urbana e rural 46 280 551 0 0 0 R$ 5.445.500,00 R$ 13.720.000,00 1 1 1 - AVADAN 27/10/2005 Sete Barras Rural 170 0 0 0 0 0 R$ 119.000,00 R$ 490.000,00 - - - - AVADAN 24/12/2005 Tapiraí Urbana e rural 0 97 16 0 0 0 R$ 1.276.000,00 R$ 14.300.000,00 - - - - AVADAN 07/01/2007 Jacupiranga Urbana e rural 800 36 146 0 0 0 R$ 460.000,00 R$ 15.045.000,00 - - - - AVADAN 12/01/2008 Cajati Urbana e rural 16800 6005 225 0 0 0 R$ 8.156.000,00 R$ 2.848.200,00 1 - 1 - AVADAN 12/01/2008 Iguape Urbana e rural 1215 0 0 0 0 0 R$ 2.950.000,00 R$ 74.000,00 - - - - AVADAN 12/01/2008 Itariri Urbana 0 1500 5 0 0 0 R$ 1.692.400,00 R$ - 1 - 1 1 AVADAN 12/01/2008 Jacupiranga Urbana e rural 2775 31 591 0 0 2 R$ 6.417.000,00 R$ 8.073.000,00 1 1 - - AVADAN 12/01/2008 Miracatu Urbana e rural 11800 97 25 0 0 0 R$ 310.000,00 R$ 516.000,00 - - - - AVADAN 13/01/2008 Pariquera-Açu Urbana e rural 0 2840 54 0 0 0 R$ 3.095.000,00 R$ 6.650.000,00 1 - 1 - AVADAN 23/02/2009 Jacupiranga Urbana e rural 75 206 43 0 0 0 R$ 1.738.000,00 R$ 8.067.900,00 1 1 - - AVADAN 24/02/2009 Ilha Comprida Urbana 415 0 0 0 0 0 R$ 1.217.400,00 R$ 200.000,00 - - - - AVADAN 24/02/2009 Miracatu Urbana e rural 22796 479 83 0 0 0 R$ 16.875.378,00 R$ 17.595.000,00 1 - - - AVADAN 25/02/2009 Barra do Turvo Urbana e rural 190 34 10 0 0 0 R$ 2.807.000,00 R$ 181.450,00 - - 1 1 AVADAN 25/02/2009 Cajati Urbana e rural 59 500 58 0 0 0 R$ 132.000,00 R$ - - - - - AVADAN 25/02/2009 Iguape Urbana e rural 11120 3492 0 0 0 1 R$ 4.626.000,00 R$ 43.000,00 1 - - - AVADAN 25/02/2009 Pedro de Toledo Urbana e rural 7753 178 10 0 0 0 R$ 3.559.000,00 R$ 470.000,00 1 1 1 1 AVADAN 26/02/2009 Pariquera-Açu Urbana e rural 394 1600 26 0 0 0 R$ 100.000,00 R$ 37.000,00 - - - - AVADAN 18/03/2009 Juquiá Urbana e rural 1300 248 45 0 1 0 R$ 10.696.550,00 R$ 393.000,00 1 1 1 - AVADAN 29/07/2009 Iguape Urbana e rural 7985 650 0 0 0 0 R$ 3.310.000,00 R$ 292.000,00 1 - - - AVADAN 07/01/2010 S. Lourenço da Serra Urbana e rural 150 29 0 0 0 0 R$ 4.303.000,00 R$ 51.000,00 - - - - AVADAN 19/01/2010 Juquitiba Urbana e rural 10000 31 264 0 0 0 R$ 5.686.015,00 R$ 543.000,00 1 - 1 - AVADAN 22/01/2010 Caneneia Urbana e rural 2000 100 0 0 0 0 R$ 3.480.900,00 R$ 32.953.500,00 - - - - AVADAN 22/01/2010 Juquiá Urbana e rural 10000 119 35 0 0 0 R$ 20.594.750,00 R$ 15.305.400,00 1 - 1 1 AVADAN

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26/01/2010 Iguape Urbana e rural 2040 240 50 0 0 0 R$ 2.307.550,00 R$ 2.014.500,00 1 - - - AVADAN 26/01/2010 Micaratu Urbana e rural 7558 18 102 0 0 0 R$ 413.000,00 R$ 1.345.000,00 1 - 1 - AVADAN 28/01/2010 Cajati Urbana e rural 14500 0 56 0 0 0 R$ 3.201.000,00 R$ 4.372.500,00 - - - 1 AVADAN 28/01/2010 Pedro de Toledo Urbana e rural 7708 40 0 0 0 2 R$ 6.656.100,00 R$ 2.635.000,00 1 1 1 1 AVADAN 30/01/2010 Eldorado Urbana e rural 4000 60 15 0 0 0 R$ 9.351.260,00 R$ 4.250.000,00 1 1 - - AVADAN 31/01/2010 Barra do Turvo Urbana e rural 1277 32 10 0 0 0 R$ 9.032.400,00 R$ 50.900,00 1 - 1 1 AVADAN 31/01/2010 Iporanga Rural 2000 0 0 0 0 0 R$ 5.360.000,00 R$ - - - - - AVADAN 31/01/2010 Jacupiranga Urbana e rural 4000 47 95 0 0 0 R$ 3.858.800,00 R$ 10.253.000,00 1 - - - AVADAN 01/02/2010 Registro Urbana e rural 8826 1616 460 0 0 0 R$ 7.845.930,00 R$ 35.846.170,00 1 1 - - AVADAN 01/02/2010 Sete Barras Urbana e rural 11700 292 11 0 0 0 R$ 8.618.700,00 R$ 16.521.200,00 1 - 1 - AVADAN 11/02/2010 Itariri Urbana e rural 0 0 72 0 0 0 R$ 1.310.000,00 R$ 360.000,00 - - - - AVADAN 08/01/2011 Registro Urbana 29 0 0 0 0 0 R$ - R$ - - - - - NOPRED 11/01/2011 Cananeia Urbana 0 20 0 0 0 0 R$ - R$ - - - - 1 NOPRED 02/02/2011 Juquitiba Urbana e rural 8040 26 181 0 0 0 R$ 4.646.015,00 R$ 531.000,00 1 - 1 - AVADAN 01/08/2011 Ribeira Urbana e rural 3378 460 17 0 6 0 R$ 1.000.000,00 R$ 133.310,00 1 - - - AVADAN Relato 01/08/2011 Iporanga Urbana 0 1100 150 0 0 0 R$ - R$ - 1 - - - Preliminar 02/08/2011 Eldorado Urbana e rural 14600 7000 1500 0 0 0 R$ 26.750.000,00 R$ 36.730.000,00 1 - 1 - AVADAN 03/08/2011 Sete Barras Rural 0 3018 182 0 0 0 R$ 4.527.000,00 R$ 40.412.200,00 1 - 1 - AVADAN 04/08/2011 Registro Urbana e rural 4600 1332 703 0 0 0 R$ 12.008.230,00 R$ 17.195.000,00 1 1 - - AVADAN 05/06/2012 Eldorado Rural 5000 700 140 0 0 0 R$ 8.506.790,00 R$ 210.000,00 - - - - AVADAN 21/06/2012 Juquitiba Urbana e rural 7000 15 22 0 0 0 R$ 3.565.000,00 R$ 531.000,00 1 - 1 1 AVADAN 12/01/2014 Itaóca Urbana e rural 3228 332 20 15 4 12 R$ 10.960.000,00 R$ 9.000.000,00 1 1 1 - FIDE 14/02/2014 Itariri Urbana e rural 3636 9 0 0 1 0 R$ 3.975.400,00 R$ 8.250.000,00 - - 1 - FIDE 15/02/2014 Juquiá Urbana e rural 9373 465 15 0 0 0 R$ 2.420.000,00 R$ 910.000,00 - - 1 1 FIDE 15/02/2014 MIracatu Urbana e rural 0 646 102 0 0 0 R$ 8.382.000,00 R$ 6.650.000,00 1 1 1 1 FIDE 16/02/2014 Pedro de Toledo Urbana e rural 800 70 0 0 0 0 R$ 3.485.000,00 R$ 4.500.000,00 1 1 - - FIDE 15/01/2016 Juquitiba Urbana e rural 4981 36 24 0 0 0 R$ 2.345.000,00 - 1 - - FIDE 27/01/2016 Itapirapuã Paulista Urbana 0 129 22 0 1 1 R$ 119.338,54 R$ - - 1 - - FIDE 261265 48984 10784 15 13 23 R$ 289.325.844,54 R$ 417.527.205,28 35 20 23 13