BRASIL

E M F O C O

Humberto Dantas Análises & Comentários

Novembro 2012

Vitórias e derrotas – as eleições municipais no Brasil

1 - Introdução , , Geraldo Alck- min, Eduardo Paes, Sergio Cabral, ACM Ne- Findadas as eleições municipais brasileiras, to e José Serra, dentre outros, serão desta- que tiveram seu primeiro turno em 07 de cados. Vejamos o que aparece de interes- outubro e a segunda rodada em 28 de ou- sante nessa análise. tubro, resta compreender o recado transmi- tido pelas urnas. Escolhemos prefeitos e vi- Antes, porém, vale uma ressalva. Em artigo ce-prefeitos em 5.567 cidades. De acordo científico publicado na revista da Fundação com as regras vigentes, nas localidades com Liberdade e , do DEM, eu e o cien- mais de 200 mil eleitores – 83 ao todo – a tista política Sérgio Praça lembramos uma eleição poderia ter um segundo caso o pri- passagem em que um deputado federal a- meiro colocado na rodada inicial não tivesse firma que em municípios, sobretudo os pe- acumulado mais da metade dos votos váli- quenos, partidos políticos são como franqui- dos. O fenômeno ocorreu em 50 cidades, ou as: quem compra o nome explora a marca. seja, em 40% dos municípios com mais de Isso significa dizer que grupos locais costu- 200 mil eleitores a eleição foi definida em mam fazer uso das legendas de formas primeiro turno. Escolhemos também, dia 07 pouco alinhadas aos comportamentos na- de outubro, em turno único e sob o sistema cionais desses partidos. A despeito de tal proporcional, os mais de 57 mil membros distanciamento, essa lógica seria capaz de do Poder Legislativo de cada uma das cida- alimentar a sobrevivência dessas legendas, des brasileiras, num mínimo de nove e num e explicariam porque PT e DEM, adversários máximo de 55 vereadores por cidade – tal ferrenhos no plano federal, seriam capazes variação está associada à população dos de disputar centenas de prefeituras como locais. aliados de um mesmo candidato – seja ele do primeiro, do segundo ou de um terceiro Diante dos resultados colhidos é possível partido. atribuir aos principais agentes da política nacional – lideranças pessoais e partidos Para deixarmos clara tal questão, vale apre- políticos – o rótulo de vencedores e perde- sentar alguns números utilizando cinco dos dores. Na verdade, é possível verificar que seis partidos destacados acima, lembrando sob as mais distintas avaliações um mesmo que no Brasil 29 legendas participaram das personagem perdeu e ganhou. Nesse texto, eleições de 2012. Nesse exemplo o PSD se- investimos sobre alguns deles, olhando es- rá deixado de lado porque não disputou as pecificamente para seis partidos e seus eleições municipais de 2000 a 2008, tendo principais personagens: PSDB, PT, PSD, sido fundado em 2011. Nas células em cinza PSB, DEM e PMDB. Dilma Roussef, Lula, Aé- o total de cidades em que o partido dispu- cio Neves, Eduardo Campos, Cid Gomes, tou eleições para prefeito – seja com candi-

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BRASIL EM FOCO datura própria ou apoiando terceiros. Des- de disputas nacionais, mas sim um compor- NOVEMBRO 2012 taque para o fato de só o PFL-DEM ter enco- tamento pragmático que tende a tudo per- lhido, ainda assim de forma discreta ao lon- mitir em busca de cálculos que visam à vi- www.kas.de/brasil go do período. Impressiona a capilaridade tória. Nas cidades maiores é fato que há alcançada pelo PT e pelo PSB nos anos con- tendência para comportamentos mais orto- siderados, os trabalhadores hoje estão mais doxos por parte das legendas, mas a tabela presentes que o PSDB, sendo que o PMDB sugere grande interação entre as legendas, está próximo de atingir presença em todas com todos os cruzamentos apresentados as cidades brasileiras. superando mil cidades em 2012.

Importante notar também que todos os cru- Tabela 1 – Total de cidades onde PFL- zamentos ocorrem em ritmo crescente – DEM, PMDB, PSDB, PSB e PT disputa- exceção feita a PFL-DEM e PMDB entre 2008 ram eleições municipais para prefeito e 2012 -, mostrando que no Brasil, em ter- entre 2000 e 2012 e total de locais on- mos locais, não parece haver consolidação de estiveram juntos (1)

PFL / DEM PMDB PSDB PSB PT PFL / DEM 2000 = 4.224 2004 = 4.395 2008 = 4.185 2012 = 4.110 PMDB 2000 = 2000 = 1.405 4.336 2004 = 2004 = 1.491 4.746 2008 = 2008 = 1.643 4.822 2012 = 2012 = 1.622 5.275 PSDB 2000 = 2000 = 2000 = 1.605 1.432 3.954 2004 = 2004 = 2004 = 1.812 1.535 4.351 2008 = 2008 = 2008 = 1.897 1.668 4.423 2012 = 2012 = 2012 = 1.973 1.767 4.783 PSB 2000 = 480 2000 = 565 2000 = 574 2000 = 2004 = 743 2004 = 852 2004 = 791 1.792 2008 = 2008 = 2008 = 2004 = 1.068 1.329 1.097 2.518 2012 = 2012 = 2012 = 2008 = 1.290 1.552 1.455 3.405 2012 = 4.134 PT 2000 = 191 2000 = 704 2000 = 451 2000 = 592 2000 = 2004 = 672 2004 = 2004 = 901 2004 = 1.954 2008 = 932 1.542 2008 = 1.001 2004 = 2012 = 2008 = 1.065 2008 = 3.902 1.041 1.790 2012 = 1.487 2008 = 2012 = 1.112 2012 = 4.326 2.040 1.693 2012 = 5.067 Fonte: Tribunal Superior Eleitoral com tabu- sofrer alterações, e as informações de 2012 lações especiais de software criado pelas foram colhidas em julho, o que não capta empresas X Map, iG e H Dantas & Dantas. alterações promovidas pelos partidos ao (1) Os bancos de dados do TSE costumam longo do processo eleitoral.

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BRASIL EM FOCO Observações iniciais feitas a esse aparente nhuma novidade: manteve o , o Sergi- NOVEMBRO 2012 descontrole institucional, que academica- pe e a , e retomou o Rio Grande do mente merece um tratamento expressiva- Sul e o Distrito Federal, que passavam por www.kas.de/brasil mente mais cuidadoso, parece possível rea- crises em seus governos. Em 2012, o parti- lizarmos as análises propostas. Em linhas do declarou que desejava conquistar mais gerais, com olhar sobre o plano nacional, de mil prefeituras, demonstrando a capilari- quem teria vencido as eleições municipais dade esperada daqueles que detêm o gran- de 2012? Quem teria perdido? de cofre público federal, que alimenta pro- gramas e políticas públicas, sobretudo em 2 – A análise a partir dos Partidos Polí- cidades que não têm sustentabilidade eco- ticos nômica alguma. O resultado (635) está dis- tante do planejado, mas a conquista de São No Brasil assistimos 29 partidos políticos Paulo é expressivamente relevante e adicio- pedindo votos esse ano. Desde os 2.254 na à legenda o maior volume de eleitores candidatos a prefeito pelo PMDB aos cinco sob governos petistas e o quinto maior or- do PCO. Como dito anteriormente, seis le- çamento público do Brasil. gendas merecem atenção especial no que diz respeito aos resultados colhidos nas ur- Esse movimento de aumentar prefeituras nas. Antes disso, vale lembrar que na imen- por parte da legenda que comanda o país já sa maioria das 15.089 candidaturas aos e- havia sido verificado no caso do PSDB. Em xecutivos municipais brasileiros as coliga- 1992, os tucanos fizeram menos de 300 ções continuam em alta, sendo utilizadas prefeitos pelo Brasil. Em 1996, sob a Presi- frequentemente e superando 80% do total dência com FHC, saltaram para mais de 900 de chapas apresentadas ao eleitorado. Nas cidades, superando mil no pleito de 2000. O 26 capitais de estados, por exemplo, apenas PT partiu de menos de 200 prefeitos em Alcides Bernal, do Partido Progressista, ven- 2000 para mais de 400 em 2004 sob Lula, ceu sem o apoio de qualquer outra legenda mais de 500 em 2008 e agora mais de 600 em Campo Grande, do Sul. A- agora. Seu ritmo está aquém daquele regis- lém disso, ainda olhando as capitais, apenas trado pelo PSDB, mas o quadro de capilari- o PTC de Edivaldo Holanda Júnior, em São dade partidária nacional também é mais Luís-MA, e o PSOL de Clécio Luís, em Maca- complexo atualmente. Ademais, o otimismo pá-AP, são exemplos de partidos pequenos de alguns líderes com a vitória em São Pau- que venceram. A despeito de tais aspectos, lo deixa de considerar algumas derrotas re- seis legendas merecem atenção. levantes pelo país. O PT soube ler muito bem o quadro paulistano. As pesquisas a- 2.1 – PT – Partido dos Trabalhadores pontavam rejeição ao atual mandatário, Gil- berto Kassab, e desejo de mudança em Analistas afoitos têm falado que os resulta- mais de 80% dos eleitores – lembrando que dos do Partido dos Trabalhadores no Brasil Kassab flertou com a campanha de Haddad. se assemelham aos colhidos pelo PRI – Par- O partido então deixou a quase natural can- tido Revolucionário Institucional no México. didatura de para embarcar no A legenda norte-americana governou seu nome apresentado por Lula. Fernando Had- país de forma hegemônica entre 1929 e dad debutou em eleições e venceu, apesar 2000, controlando parte expressiva dos es- de um processo equilibrado, de ameaças de tados. O PT tem essa força? Nunca teve, ficar fora até mesmo do segundo turno – apesar de manter o governo federal e cen- algo que nunca ocorreu com o partido na tralizar cada vez mais a lógica “federativa” cidade – e do controverso apoio de Paulo brasileira, que enfraquece cotidianamente o Maluf (PP-SP), que rendeu minutos impor- poder econômico dos estados e municípios, tantes no horário eleitoral de rádio e TV, e o que representa também perda de força tirou espaço do oponente (PSDB) que já ha- política. Nas eleições estaduais de 2010 ne- via anunciado acerto com o PP. Além de São

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BRASIL EM FOCO Paulo, nas capitais o PT manteve o governo também perdeu a disputa, não alcançando NOVEMBRO 2012 em Rio Branco-AC e em Goiânia-GO, além sequer o segundo turno. A derrota mais a- de conquistar o poder em João Pessoa-PB. guda, no entanto, ocorreu em Salvador, on- www.kas.de/brasil Entre as 83 cidades com mais de 200 mil de o partido investiu forte no objetivo cen- eleitores no Brasil – marco importante por tral de derrotar o DEM, que venceu com An- conta da possibilidade legal de disputa de tonio Carlos Magalhães Neto e mostrou que segundo turno – o partido ficou com 16 pre- pode se regenerar. feituras e tornou-se o maior vencedor nesse espaço. Em 2008, no entanto, havia ficado Em relação aos seus aliados, o PT apostou com 20 dessas localidades. Destaque para a forte nas eleições de Manaus, com o objeti- manutenção de Guarulhos-SP, Osasco-SP e vo de apoiar (PC do B), São Bernardo do Campo-SP, e da volta ao que tinha um vice petista, contra um dos poder em Santo André-SP e São José dos mais ferrenhos líderes da oposição ao go- Campos-SP, nesse último caso após quatro verno Lula, o então senador tucano Arthur governos do PSDB. Virgílio Neto, derrotado em 2010 em sua tentativa de recondução ao Senado. A elei- A despeito de tais conquistas, o PT deixou ção foi para o segundo turno, e Neto venceu escapar o poder em Diadema-SP, primeira com dois terços dos votos válidos. cidade conquistada pela legenda em 1982 e governada por seus aliados desde então, Diante dos fatos, o PT sai fortalecido das onde Lula fez discurso contra a novidade, urnas pela vitória em São Paulo, mas enfra- lembrando Fernando Collor e mudando radi- quecido por algumas derrotas onde mostrou calmente seu pensamento em relação à re- falta de coordenação entre os desejos de novação que pregou na capital paulista. O suas lideranças nacionais e os fatos locais. PT também perdeu eleições nas capitais de Dilma desejava participar menos das elei- três estados que governa, sendo nesse caso ções, mas fez discursos e liberou ministros a derrota de Porto Alegre a mais acentuada para palanques pelo Brasil. Em suas falas – lembrando que o Distrito Federal não tem disse que o governo não fazia distinção de eleição municipal. partidos na hora de liberar recursos para cidades, mas que sabia distinguir bem seus Em Recife, buscando atender pedidos do amigos. A questão é saber o quanto tal dis- aliado PSB, mas atrapalhando-se em seus curso pode se transformar em retaliação a trâmites internos, impediu o atual prefeito cidades onde seu partido foi vencido. da sigla de se reeleger, perdeu um quadro relevante – o deputado federal Mauricio 2.2 – PSDB – Partido da Social Demo- Rands foi embora do partido e abdicou do cracia Brasileira mandato de deputado federal – e lançou , ex-ministro da saúde de Desde que perdeu o governo nacional em Lula e senador eleito em 2010. Costa come- 2002 o PSDB reduz seu total de prefeituras çou a campanha na liderança e terminou em a números próximos de uma centena por terceiro lugar, atrás do vencedor indicado pleito local. Foi assim em 2004, quando pelo governador Eduardo Campos (PSB) e deixou as mil prefeituras de 2000 e atingiu de um candidato tucano. Em Fortaleza, o PT quase 900 cidades, conquistando cerca de também perdeu para o PSB, parceiro do go- 800 em 2008 e menos de 700 em 2012. A verno estadual, após oito anos no poder. O despeito de tal questão, ainda é o segundo mesmo ocorreu em Belo Horizonte, onde partido em número de prefeituras no país. , comemorado ministro de No grupo de cidades com mais de 200 mil Lula e ex-prefeito da cidade foi derrotado eleitores a legenda saltou de 13 para 15, por Marcio Lacerda, amplamente apoiado mas perdeu posições importantes como São pelo senador Aécio Neves (PSDB). Em Vitó- José dos Campos-SP e São Luis-MA. Algu- ria-ES, outra ministra de Dilma, Iriny Lopes, mas derrotas, no entanto, podem ser vistas

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BRASIL EM FOCO como estratégicas, como a ocorrida em Re- dança em segmentos do partido, fortale- NOVEMBRO 2012 cife, onde o partido ficou à frente do candi- cendo a candidatura de Aécio Neves à pre- dato do PT, Humberto Costa, com um políti- sidência em 2014. O senador mineiro é vis- www.kas.de/brasil co sem expressão nacional – o jovem e to como vencedor nos pleitos municipais promissor deputado estadual Daniel Coelho, desse ano, tendo apoiado fortemente a que obteve 28% dos votos válidos em elei- candidatura de Marcio Lacerda (PSB) à ree- ção definida no primeiro turno em favor de leição e viajado o Brasil desembarcando em Geraldo Julio (PSB). Nesse caso, o PT tam- palanques tucanos e de partidos aliados, bém colheu derrota estrategicamente rele- com destaque para ACM Neto (DEM) em vante nas eleições de Campinas, onde foi Salvador. Serra, no entanto, além da derro- cassado pela Câmara Municipal com o vice- ta foi alvo de matéria do jornal O Estado de prefeito Demétrio Vilagra e conseguiu colo- S. Paulo onde é acusado de telefonar para car o ex-presidente do IPEA, e professor da aliados pedindo que freassem os ímpetos Unicamp, Marcio Pochmann no segundo dos discursos de renovação associado ao turno, terminando a eleição com mais de caráter pessoal. Fernando Henrique Cardo- 40% contra o candidato Jonas Donizete so, que havia dado entrevista afirmando (PSB), apoiado pelos tucanos, que indica- que figuras do partido sofriam de desgaste ram o vice na chapa. de imagem junto ao público atenuou a posi- ção em declarações seguintes, dizendo que A despeito das derrotas, o PSDB venceu de o desafio maior é renovar o discurso e não forma inédita o pleito de Santos-SP e ficou necessariamente as lideranças. com quatro capitais: Belém-PA, Maceió-AL, Teresina-PI e Manaus-AM. Tais conquistas Diante dos fatos, o PSDB perde espaço em nos estados do Norte e Nordeste podem ser São Paulo, busca renovar suas lideranças, emblemáticas para um partido que tem difi- ou ao menos seu discurso, e assiste con- culdades de penetrar nessas regiões em e- quistas importantes em regiões onde não leições presidenciais desde 2002. A despeito teve êxito em eleições nacionais. de tal questão, nos oito estados que co- manda o PSDB foi derrotado nas capitais de 2.3 – PSB – Partido Socialista Brasilei- São Paulo, , Goiás e Paraná, nesse ro último apoiou o candidato do PSB e sequer foi ao segundo turno; e no penúltimo seu Trata-se da segunda eleição seguida no governador agoniza sob as investigações da Brasil que o partido sai apontado como um CPI do Cachoeira e a cassação do senador dos grandes vencedores. Em 2010, nos plei- Demóstenes Torres (expulso do DEM), que tos estaduais e na eleição federal, aumen- liderava as pesquisas locais no início do a- tou sua bancada no Congresso Nacional, no. Em Belo Horizonte a dobradinha com os apoiou à presidência e con- socialistas se repetiu, mas sagrou-se ven- quistou seis estados, sendo quatro deles na cedora. Em Boa Vista-RR o apoio foi à can- região Nordeste. A manutenção do e didatura do PMDB, com Teresa Surita, ex- de foi vital, e esse ano os go- esposa do senador Romero Jucá. e vernadores da legenda – Cid Gomes e Edu- Belém verão, a partir de janeiro, alinha- ardo Campos – apoiaram candidatos sem mento entre governador e prefeito da capi- expressão nas suas capitais e conquistaram tal tucano. Tal cenário faz o partido se re- relevantes vitórias. Em Recife-PE a conquis- pensar em termos geográficos. Em seis elei- ta foi contundente: Geraldo Júlio saiu de ções presidenciais seus candidatos sempre índices pífios nas pesquisas para vitória em foram políticos paulistas – Mario Covas primeiro turno. Mas o PSB foi além: é o par- (1989), Fernando Henrique Cardoso (1994 e tido que mais governará capitais (cinco); 1998), José Serra (2002 e 2010) e Geraldo aumentou em 34% seu total de prefeituras, Alckmin (2006). A derrota na capital paulis- atingindo 426 cidades; foi o partido que te- ta, com José Serra, trouxe discurso de mu- ve, entre as grandes legendas, o maior índi-

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BRASIL EM FOCO ce de reeleição de seus prefeitos (40,6%) e; O grande problema, no entanto, é conter os NOVEMBRO 2012 elevou de quatro para onze o número de ímpetos de suas próprias lideranças. Eduar- municípios com mais de 200 mil eleitores do Campos é apontado, por muitos, como www.kas.de/brasil que serão governados por ele. Em estados potencial candidato a presidente do Brasil, que governa fez as duas capitais destaca- restando saber em que ano isso deverá o- das, mas perdeu de forma contundente em correr. Para a família Gomes, que governa o Teresina-PI, ficou fora do segundo turno em Ceará, 2014 é cedo. Ciro Gomes foi candi- João Pessoa-PB e Macapá-AP, e apoiou a dato derrotado pelo PPS em 2002, e sempre candidata derrotada do PT em Vitória-ES. O se apresenta como alternativa ao pleito. Em resultado negativo, nesse caso, é realçado 2010 foi convencido a deixar a disputa e se pelo desempenho em Curitiba-PR, onde o disse traído numa tentativa do PT leva-lo atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), sequer para São Paulo e apoiá-lo para o governo do foi ao segundo turno. As demais capitais Estado. Se a opção for apoiar PT ou PSDB conquistadas foram: Belo Horizonte, onde em 2014, tal posição deverá ser extrema- Marcio Lacerda se reelegeu; Cuiabá-MT, mente negociada. Eduardo Campos afirma, com e; Porto Velho-RO, com como presidente nacional da legenda, que Dr. Nazif. Destaque ainda para a relevante no plano federal seu apoio vai para Dilma vitória em Campinas-SP. Rousseff (PT), mas é com Aécio Neves (PSDB) que começa um movimento nacional Todo o espaço conquistado pelo PSB em em prol de um novo pacto federativo que 2010 e 2012 faz do partido agente central aumente o poder de arrecadação e a auto- nas eleições de 2014. Primeiro porque a le- nomia dos municípios. genda tem dois nomes de forte expressão nacional – Eduardo Campos e Ciro Gomes. Diante dos fatos, o PSB torna-se partido es- Segundo porque tem expressão no Nordes- tratégico para as eleições de 2014, sai do te, onde o PSDB tem dificuldades em anga- segundo pleito seguido como um dos gran- riar votos em eleições nacionais e o PT é des vencedores, mas precisa alinhar seu gigante em termos nacionais. Terceiro por- discurso internamente. O ministério que que Aécio Neves (PSDB) já se mostrou pró- controla – Integração Nacional – tem um ximo de tais lideranças nacionais. Quarto político acusado de corrupção e indicado por porque é reconhecido pelo PT como parceiro Eduardo Campos e tal posição gera ciúmes estratégico, lembrando que na faxina ética na família Gomes, que tem espaço reduzido dos ministérios de Dilma Rousseff, ocorrida no governo Dilma e gostaria de ter conquis- principalmente ao longo de 2011, o PSB foi tado o Ministério da Saúde para Ciro Go- o único partido relevante que não perdeu mes. espaço – PMDB, PT, PC do B, PDT, PR e PP tiveram baixas nominais. E quinto porque, 2.4 - PSD – Partido Social Democrático tendo em vista essa posição estratégica, o PSB passou a se associar tanto a tucanos A legenda fundada em 2011 debutou em como a petistas. Em Curitiba-PR, Campinas- eleições com quase 500 prefeituras conquis- SP e Belo Horizonte-MG, por exemplo, dis- tadas, sendo a imensa maioria delas em ci- putou eleições com o apoio dos tucanos. dades de menor porte, o que mostra uma Enquanto em São Paulo-SP, Salvador-BA e capilaridade incomum a legendas novas. no -RJ esteve ao lado do PT, Nas capitais, vitória apenas em Florianópo- nesse último caso em torno do reeleito Edu- lis-SC, com um candidato apoiado pelo go- ardo Paes (PMDB). As estratégias do PSB, vernador estadual Raimundo Colombo. No nesse caso, parecem servir para apimentar grupo de cidades com mais de 200 mil elei- as eleições de 2014. Fotos ao lado de Dil- tores, êxito em quatro locais. Importante ma, Lula e Aécio não são incomuns, geran- salientar que o partido não guarda qualquer do ainda mais questionamentos sobre o fu- relação com o PSD do período 1946 a 1964, turo da legenda nas eleições vindouras. a despeito de tentar atrelar-se à figura de

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BRASIL EM FOCO Juscelino Kubitscheck em sua fundação, e nascimento. Contrariando análises técnicas NOVEMBRO 2012 tampouco com o pequeno partido incorpo- mais criteriosas o partido garantiu tais es- rado ao PTB em 2003. paços, se fortalecendo para eleições futu- www.kas.de/brasil ras. Como nasceu em uma quase associa- A exemplo do PSB, o partido fundado pelo ção ao PSB de Eduardo Campos, faltou pou- prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, deu co para o PSD elevar suas chances de fun- mostras de que pode estar em diferentes dir-se aos socialistas. Nesse caso, importan- frentes pelo país. Apoiou José Serra (PSDB) te salientar que nos bastidores cogita-se a na capital paulista e recebeu o apoio tucano participação da presidente Dilma Rousseff em Florianópolis-SC, mas esteve com o PT na consolidação do PSD, utilizado como ob- em Salvador e Campinas, por exemplo. A jetivo de enfraquecer a oposição e minimi- partir do próximo ano é esperado que a le- zar o peso político do PMDB em seu gover- genda tenha espaço no rol de ministros de no. Dilma, uma vez que seus mais de 50 depu- tados federais têm apoiado as ações gover- Diante dos fatos, o PSD é esperado como namentais. Dilma, inclusive, costuma fazer novo membro do governo federal em Brasí- elogios públicos a Kassab, que se fortaleceu lia, mas como se trata de uma legenda que como figura capaz de articular bem nos bas- nasceu sob a insatisfação regional de uma tidores da política – fundou um partido em série de políticos, suas lideranças nacionais poucos meses. Como gestor, no entanto, terão que lidar com certos gestos de rebel- desagradou os paulistanos após sua reelei- dia. Em São Paulo, por exemplo, flertar com ção, deixando de cumprir importantes me- o PT e aliar-se ao PSDB gerou desconfortos. tas estabelecidas para o período de quatro Em Belo Horizonte o mesmo movimento ge- anos e sendo acusado de ter se preocupado rou dissidência, e o apoio ao candidato Mar- de forma mais expressiva com a criação da cio Lacerda (PSB) só foi garantido após in- nova legenda. O partido, inclusive, nasceu tervenções contrárias ao acordo que Kassab como o resultado de insatisfações espalha- havia fechado com o PT e que resultou na das pelo país. Reflexo disso é a dificuldade dissidência de Roberto Brant. A rusga mi- de se posicionar ideologicamente. Kassab neira espirrou em Tocantins, onde a lideran- afirmou que nem à esquerda, nem à direita ça de Kátia Abreu também entrou em rota e tampouco ao centro. A justiça eleitoral de colisão com Kassab por conta do que a considerou que a criação de um novo parti- senadora chamou de autoritarismo. do permite que lideranças eleitas por outras legendas se filiem a ele sem que tal gesto 2.5 - DEM – Democratas configure infidelidade partidária, algo proi- bido no Brasil. Assim, o PSD passou a ter Analistas apontam que a crise do partido semblante de um agrupamento de insatis- começou com a mudança de nome em feitos pelo Brasil, a despeito de ideologias. 2007, mas é possível verificar que legendas Em sua composição, se sobressaem políti- grandes de direita – DEM, PR, PP e PTB – cos de oposição ao governo federal que não passam por dificuldades e com exceção ao tinham força em seus estados. Nessa onda, último todos mudaram e buscaram reali- quem mais perdeu representantes foi o nhamentos recentes. Tendo em vista o mo- DEM, de onde partiu Kassab, por exemplo. vimento dissidente liderado por Gilberto A nova legenda, no entanto, corria o risco Kassab, sua principal liderança em termos de desidratar-se, uma vez que até meados de espaço governado, o DEM foi apontado de 2012 não havia recebido da justiça elei- como um partido prestes a se tornar pe- toral resposta à pergunta sobre o direito de queno, ou até mesmo se fundir a outras le- acessar tempo de televisão e rádio destina- gendas. Cogitaram-se o PMDB ou o PSDB, do aos partidos e recursos públicos do fundo importantes parceiros em centenas de mu- partidário em proporção semelhante àquela nicípios. Mas o DEM, que encolheu timida- associada à bancada que formou em seu mente em termos de participações munici-

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BRASIL EM FOCO pais entre 2004 e 2008, e entre 2008 e Aquele que nasceu para ser oposição ao re- NOVEMBRO 2012 2012, conquistou cinco cidades com mais de gime militar, teve hegemonia ao longo de 200 mil eleitores, mesmo número registrado meados da década de 80: controlou a Presi- www.kas.de/brasil em 2008 e duas capitais, Aracajú-SE e, dência da República, elegeu prefeitos em 19 principalmente, Salvador-BA. Em número capitais de estado nos pleitos de 85; com- total de prefeituras, no entanto, o partido pôs folgada maioria no Congresso para ad- sofreu novo baque expressivo: depois das ministrar o processo constituinte de 87-88 mais de mil cidades obtidas em 2000, e; venceu as eleições estaduais de 1986 em quando tinha o vice-presidente da República 22 dos 23 estados da época – a exceção foi de FHC e governava sete estados obtidos . Esse gigante chamado PMDB, no nas eleições de 1998, a legenda caiu para entanto, parece levar a sério a lógica da te- menos de 280 cidades – em 2004 havia ido oria política que afirma que em nações fe- a pouco menos de 800 e em 2008 a menos derativas os partidos tendem a ter caráter de 500. É nítido que tal movimento foi se descentralizado. Suas lideranças têm difi- acentuando com a chegada do PT de Lula ao culdade em consolidar um discurso único. O poder, com a ida do PFL para a oposição e PMDB vive, assim, da soma de seus políti- com a perda dos estados que controlava, cos locais. Atualmente, em termos de visibi- sendo o golpe mais recente a formação do lidade, os mais expressivos estão no Rio de PSD. Em 2006, por exemplo, ganhou ape- Janeiro. Sérgio Cabral é forte liderança no nas no Distrito Federal, o território sem governo estadual e na capital Eduardo Paes municípios, cassado depois do escândalo foi reeleito no primeiro turno com folga, conhecido como Mensalão do DEM, que re- contando com leque expressivo de legendas sultou na queda de Roberto Arruda em ao seu lado. Além disso, faz anos que o 2010, após ser cotado como candidato a PMDB é o partido que tem maior capilarida- vice-presidente na chapa de José Serra de nacional. Assim, desde a imposição do (PSDB). Nas eleições de 2010, entretanto, bipartidarismo artificial das décadas de 70 e breve alento com a vitória de Raimundo Co- 80, quando atendia pelo nome de MDB, faz lombo em e Rosalba Ciarlini mais de mil prefeituras pelo Brasil, número no , além do vice- novamente superado em 2012. A despeito governo de São Paulo com Guilherme Afif – de tal espaço, o partido parece desidratar a despeito das dificuldades para apontar um em capitais e estados. Em 1998, 2002 e vice na chapa de Serra. O surgimento do 2010, por exemplo, conquistou apenas cin- PSD, no entanto, desidratou o partido, que co estados. Seus governadores não elege- perdeu Colombo, Afif e diversos outros polí- ram prefeitos, exceção feita ao Rio de Janei- ticos, sendo que Rosalba faz um governo ro, foco de fortaleza da legenda. Além dis- mal avaliado e incapaz de ir além de um so, em São Paulo o vice-presidente da Re- apoio ao quarto lugar nas eleições da capital pública, o paulista , lançou o Natal. deputado federal Gabriel Chalita à prefeitura com o objetivo de mostrar força. Seu pupilo Diante dos fatos, o DEM oscila momentos de atingiu 13,5% dos votos válidos e ficou em consolidar-se como um partido médio – não quarto lugar, transformando-se no cabo e- pode ser chamado de pequeno – e fundir-se leitoral mais fiel de (PT) a grandezas como o PMDB ou o PSDB. A no segundo turno. O movimento teve duplo questão é compreender como acomodar dis- objetivo: Chalita e José Serra não se supor- tintas lideranças em caso de incorporação. tam, e o PMDB objetivou reforçar os laços Em alguns estados, e sobretudo em muitas com o governo federal. Isso porque, após cidades, não parece simples esse tipo de as eleições, o núcleo do Rio de Janeiro de- movimento. fendeu que na chapa de reeleição da presi- dente Dilma, o partido deveria substituir 2.6 – PMDB – Partido do Movimento Temer por Cabral, que termina seus oito Democrático Brasileiro anos de poder e terá que indicar um suces-

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BRASIL EM FOCO sor. Muitos, nesse caso, afirmam que seu resultados e do momento de tais julgamen- NOVEMBRO 2012 vice, Pezão, será o escolhido, enquanto tos, é possível esperar o surgimento de no- poucos apostam em Paes. O problema, nes- vidades na já tradicional polarização eleito- www.kas.de/brasil se segundo caso, é que o PMDB perderia o ral PT x PSDB no campo nacional? Não é controle de uma cidade que está em franco possível fazer previsões dessa ordem. processo de transformação com a organiza- ção da Copa do Mundo de 2014 e as Olim- píadas de 2016, ambas contidas nesse novo mandato do prefeito reeleito.

Diante dos fatos é possível afirmar que o PMDB continua sendo uma legenda de es- paço imenso em termos locais no Brasil, so- bretudo em prefeituras. Isso é o que ali- menta, de acordo com estudos da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, uma rede de deputados federais que dão força expressi- va ao partido e poder de negociação signifi- AUTOR: cativo em governos federais – o PMDB é

governista e está no poder faz anos. Humberto Dantas Doutor em ciência política pela 3. Conclusão Universidade de São Paulo, professor universitário e par- A análise apresentada aqui é apenas um ceiro da KAS em ações de edu- combinado de fatores baseados nas eleições cação política e análises con- de 2012, com vistas a compreender possibi- junturais desde 2004. lidades para a corrida presidencial de 2014. A figura central aqui foram seis partidos e seus principais agentes, mesmo em um país que tem dificuldade de legitimar suas le- gendas, sobretudo aos olhos do eleitorado. Certamente muitos aspectos podem mudar ao longo dos próximos anos e apontar para novos rumos em nossa política. A despeito de tal questão, é bastante possível afirmar que os seis partidos tratados aqui serão centrais na cena política nacional. Outra questão importante está associada à lógica do julgamento do Mensalão, que alguns a- postavam que seria central nos pleitos mu- nicipais e passou longe de trazer desconfor- to aos partidos julgados. Parece, nesse ca- so, que a reforçou-se, sim, a descrença dos cidadãos na política. Diante da condenação de lideranças importantes, o PT parece ter conseguido apresentar lideranças novas em praças onde estaria mais desgastado, sendo o caso de São Paulo o mais emblemático. Resta saber o que o julgamento de casos semelhantes associados ao PSDB de será capaz de fazer. A depender dos