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O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da Tabanca de Achada de Santo António (): projeto de salvaguarda de património cultural e de desenvolvimento comunitário

Denise Cristina Gonçalves de Barros

Trabalho de Projecto

Mestrado em Práticas Culturais para Municípios

Volume I

Outubro 2013

1

Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Práticas Culturais para Municípios realizado sob a orientação científica do Professor António Camões Gouveia e da Professora Maria da Graça da Silveira Filipe.

Aos meus pais,

pelo esforço, dedicação e compreensão

ao longo desta e outras etapas da minha vida.

E a quem devo tudo.

Ao meu irmão,

pela amizade e companheirismo.

À comunidade da Tabanca de Achada Santo António,

pela inspiração e contributo dado.

Agradecimentos

Seguramente não conseguirei, aqui, agradecer a todos que me apoiaram ao longo destes anos, razão pela qual deixo o meu apreço a todos que contribuíram directa ou indirectamente para que este trabalho fosse realizado e para que mais uma etapa de vida fosse concluída.

As palavras aqui expressadas não esgotam o reconhecimento que cada um de vós merece, mas tenta demonstrar a gratidão sentida para com os que me acompanharam e acompanharão neste e noutros caminhos por mim escolhidos.

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus orientadores Professor António Camões Gouveia e Professora Maria da Graça da Silveira Filipe, sem os quais este trabalho não seria concretizado.

Ao Professor António Camões Gouveia, pela disponibilidade em acompanhar a realização deste trabalho e pelo apoio prestado nas sessões de orientação.

À Professora Graça Filipe pela disponibilidade em orientar os meus últimos trabalhos, pela forma acessível com que prontamente se manifestou em ajudar e apoiar na estruturação e correcção do texto; pelas sugestões bibliográficas; pelos convites às visitas de estudos que me proporcionaram momentos de aprendizagem e que foram bastante enriquecedoras; pelo incentivo, estímulo e voto de confiança; pela forma serena e compreensível demonstrada em momentos de desânimo e dificuldades; pela amizade e simpatia demonstrada neste e em outros momentos deste percurso académico.

Aos membros da Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, em especial ao Alfredo Lopes (Fefe), Domingas Lopes (Dominguinhas), Hamilton Jair Fernandes e Daniel Oliveira que prontamente de disponibilizaram em colaborar nas entrevistas, partilhando um pouco dos seus conhecimentos e que serviram de mediadores junto a outros membros como: Joana Silva (Joaninha), Maria Conceição Tavares (Mizi), Luís Araújo (Torresma), Maria Conceição Duarte, Francisco Gonçalves Fortes e Adilson Gomes.

Neste âmbito o meu agradecimento dirige-se aos que colaboraram nos questionários tanto na cidade da Praia, como em Chã de Tanque e .

À Maria Tavares Varela, técnica do Museu da Tabanca, que disponibilizou o seu tempo para partilhar conhecimentos, informações sobre o museu, a Tabanca e o território local e municipal. Pela simpatia com que me recebeu durante todas as minhas visitas ao museu e pela ajuda dada junto a alguns residentes da localidade.

Ao Senhor Sidney Martins, técnico responsável pelo Património Cultural da Câmara Municipal de Santa Catarina, e ao Senhor Luís Gomes, presidente da Associação Nacional da Tabanca, pelas informações concedidas.

Ao José Rui de Pina, co-fundador da «Nos di Tchada i Amigus» pelo tempo concedido para a realização da entrevista online (via rede social).

Às minhas colegas Larissa Mascarenhas, Filomena Viegas, Sofia Tomás, Domicilia Rodrigues, Ana Cláudia Dâmaso, Marida Pita e Ana Aresta pelas trocas de impressões e pela amizade.

Aos meus amigos Nilce Tavares, Carla Lopes, Carmen Amado e José Landim, pelas palavras de incentivo, conforto, força e valorização que sempre me deram.

Mais uma vez agradeço à minha família que acompanhou esta jornada depositando muita confiança, esforço e tolerância. Pelo amor incondicional, pelas experiências e sabedorias que me transmitiram. Por ao meu lado enfrentarem todos os desafios e partilharem as alegrias que neste e outros momentos a vida nos têm proporcionado.

O meu agradecimento é extensivo há todas as pessoas com quem tive o privilégio de travar conhecimento, que contribuíram para o meu enriquecimento intelectual, e com quem criei laços de amizade ao longo destes anos de formação académica.

Um muito obrigada a todos!

Trabalho de Projecto

O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projeto de salvaguarda de património cultural e de desenvolvimento comunitário.

Denise Cristina Gonçalves de Barros

Palavras-chave: Cabo Verde, Achada Santo António, Museu da Tabanca, património cultural, desenvolvimento comunitário.

O presente trabalho desenvolve-se a partir do contexto patrimonial da Tabanca e toma como referência a comunidade da Tabanca de Achada Santo António, nosso objecto de estudo no terreno. Tem como principal objectivo a apropriação consciente do património cultural e um processo participativo da comunidade na tomada de decisões quanto à salvaguarda do património e no desenvolvimento comunitário.

As propostas foram delineadas de acordo com a realidade apresentada pelo conjunto estudado: Tabanca, Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, Museu da Tabanca e Associação Nacional da Tabanca; de modo que procuram dar resposta às necessidades e às fragilidades constatadas.

Nota-se a possibilidade de se criar uma rede de recursos locais e de estruturas de apoio (os parceiros), necessários para a implementação das nossas propostas.

Como base de enquadramento conceptual e metodológico, em torno do património cultural (material e imaterial) e da realidade de Cabo Verde, abordamos questões que envolvem a identidade, a memória colectiva e o museu enquanto instrumento de acção para o desenvolvimento comunitário.

Abstract

Keywords: Tabanca, Achada Santo António, Tabanca Museum, cultural heritage, community development.

The current paper is developed from Tabanca’s heritage context and takes as reference the Tabanca’s community of Achada Santo António, our field-research study.

Its main purpose is to highlight a conscious appropriation of the cultural heritage and a participatory community decisions-making regarding the safeguarding of heritage and community development. .

In order to address the needs and surpass the weaknesses found, the proposals were made according to the reality presented by the group studied: Tabanca, Tabanca’s community of Achada Santo António, Tabanca Museum, and National Association of Tabanca,

There is a possibility to create an interactive network of local resources and partnership, required for the implementation of our proposals

As basis for conceptual and methodological framework, focused on the cultural heritage (tangible and intangible) and the reality of , we stressed issues involving identity, collective memory and the museum as an instrument of action for community development.

Lista de abreviaturas e acrónimos

ANT – Associação Nacional da Tabanca

CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

CMP – Câmara Municipal da Praia

CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

CV – Cabo Verde

EUA – Estados Unidos da América

ICOM - International Council of Museums /Conselho Internacional de Museus

IIPC – Instituto da Investigação do Património Culturais

INECV – Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde

MECC - Ministério da Economia Crescimento e Competitividade

MRE – Ministério das Relações Externas

MT – Museu da Tabanca

NUCV - Nações Unidas Cabo Verde

ONG – Organização Não Governamental

PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PDM-Praia – Plano Director Municipal da Cidade da Praia

PDM-SCS - Plano Director Municipal de Santa Catarina de Santiago

PEA – Perspectivas Económicas na África

PECV – Política Energética de Cabo Verde

QANURCV- Quadro de Assistência das Nações Unidas para o Desenvolvimento da república de Cabo Verde

TASA – Tabanca de Achada Santo António

UE – União Europeia

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization/ Organização Das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Índice Geral

1. INTRODUÇÃO ...... 1

1.1 OBJECTIVOS ...... 1 1.2 ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ...... 2 1.3 ESTRUTURA ...... 8

2. CABO VERDE: DAS CARACTERÍSTICAS DO PAÍS ÀS QUESTÕES PATRIMONIAIS ...... 12

2.1 CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS E SOCIOECONÓMICAS ...... 12 2.2 ASPECTOS CULTURAIS ...... 13 2.3 PANORAMA MUSEOLÓGICO ...... 16

3. COMUNIDADE DA TABANCA DE ACHADA SANTO ANTÓNIO, MUSEU DA TABANCA E ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA TABANCA...... 23

3.1 CONTRIBUTOS PARA O CONHECIMENTO DA TABANCA, PATRIMÓNIO CULTURAL DE CABO VERDE E DE SUAS REPRESENTAÇÕES ...... 23 3.2 A COMUNIDADE DA TABANCA DE ACHADA SANTO ANTÓNIO, O TERRITÓRIO E A SUA ENVOLVENTE ...... 26 3.3MUSEU DA TABANCA, ANÁLISE AO EQUIPAMENTO CULTURAL ...... 31 3.4 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA TABANCA ...... 35 3.5 BREVES REFLEXÕES SOBRE O ESTUDO REALIZADO ...... 38

4. PROJECTO DE SALVAGUARDA DE PATRIMÓNIO CULTURAL E DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO ...... 43

4.1 CONCEITO ...... 43 4.2 FUNDAMENTAÇÃO ...... 43 4.3 MISSÃO E OBJECTIVOS ...... 46 4.4 PROPOSTAS E LINHAS DE ACÇÃO ...... 47 4.5 ESTRATÉGIAS E PARCERIAS ...... 56

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...... 62

APÊNDICES VOL.II

ANEXOS VOL.II

Índice Apêndices|Anexos

APÊNDICES ...... A1

APÊNDICE 1 – LÍNGUA CABO-VERDIANA ...... A2

APÊNDICE 2 – INICIATIVAS DE SALVAGUARDA DO SÍTIO HISTÓRICO DA ...... A3

APÊNDICE 3 - ALGUMAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS REFERENCIADAS NO

PROJECTO ...... A5

APÊNDICE 4 - ÁREAS PROTEGIDAS E CLASSIFICADAS COMO PATRIMÓNIO NACIONAL COM BASE

NO DECRETO-LEI Nº 3/2003, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2003...... A6

APÊNDICE 5 – PEQUENO ESBOÇO DA CRIAÇÃO DOS MUSEUS EM CABO VERDE ...... A7

APÊNDICE 6 - CABO VERDE NA UNESCO ...... A9

APÊNDICE 7 – BREVE DESCRIÇÃO DAS ACÇÕES DE RESTRIÇÃO DA TABANCA ...... A10

APÊNDICE 8– BREVE APONTAMENTO SOBRE AS BIBLIOGRAFIAS DE REFERÊNCIA PARA O ESTUDO

DA TABANCA ...... A13

APÊNDICE 9 – ENTREVISTAS & QUESTIONÁRIOS: GUIÕES|TRANSCRIÇÕES|AUTORIZAÇÕES ... A18 Não Membros Cidade da Praia ...... A18 Guião ...... A18 Trancrições ...... A20 I. Antropóloga ...... A21 II. Bancária ...... A24 III. Assistente de Bordo ...... A27 IV. Estudante...... A30 V. Gestor ...... A32 VI. Doméstica ...... A35 VII. Serralheiro ...... A38 VIII. Professora Aposentada ...... A40 IX. Verificador de Alfândega ...... A43 Membros da Tabanca de Achada Santo António ...... A46 Guião I ...... A46 I. Adilson Tavares Gomes ...... A48 II. Hamilton Fernandes ...... A51 III. Francisco Fortes ...... A55 IV. Maria de Pina Duarte ...... A58 Autorizações ...... A62 Guião II ...... A65 I. Luís Araújo ...... A66 Autorização ...... A72 Conversas:...... A73 I. Alfredo Lopes ...... A73 II. Domingas Lopes|Joana Silva|Maria Tavares ...... A74 Não membros em Santa Catarina ...... A82

Guião ...... A82 I. Assistente Quiosque ...... A85 II. Comerciante ...... A87 III. Electricista ...... A90 IV. Empregada Doméstica ...... A93 V. Estudante ...... A95 VI. Professor ...... A98 VII. Professor de EBI ...... A101 VIII. Professor de História ...... A103 XI. Professor sub-director ...... A106 X. Psicóloga ...... A109 XI. Recepcionista de Hotel ...... A111 Câmara Municipal de Santa Catarina ...... A116 Guião ...... A116 I. Sidney Martins (SM) ...... A117 Autorização ...... A129 Associação «Nos di Tchada i Amigos» ...... A130 Guião ...... A130 II. José Rui de Pina ...... A131 Presidente Associação Nacional da Tabanca ...... A134 Guião I ...... A134 I. Luís Gomes (LG) ...... A136 Autorização ...... A147 Instituto da Investigação e do Património Culturais ...... A148 Guião I ...... A148 I. Ana Samira Silva (AS) ...... A149 Autorização ...... A151 Guião II ...... A152 II. Maria Varela Tavares (MVT) ...... A154 Autorização ...... A159

APÊNDICE 10 – DESCRIÇÃO DAS FESTIVIDADES/DESFILE TABANCA ACHADA SANTO ANTÓNIO

2012 ...... A160

APÊNDICE 11 – MUSEU DA TABANCA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A LOCALIZAÇÃO ...... A166

APÊNDICE 12 – QUADRO RESUMO DAS PROPOSTAS DO PROJECTO «O MUSEU DA TABANCA (CHÃ

DE TANQUE, SANTA CATARINA) E A COMUNIDADE DA TABANCA DE ACHADA DE SANTO ANTÓNIO (PRAIA):

PROJECTO DE SALVAGUARDA DE PATRIMÓNIO CULTURAL E DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO ..... A171

APÊNDICES IMAGENS|QUADROS

Imagem 1– Beijo da Vara /Tabanca Achada Santo António ...... A165

Imagem 2– Desfile da Tabanca (Bandeiras) Imagem 3– Desfile da Tabanca (Ladrões) ... A165

Imagem 4- Barco Alegórico /Museu da Tabanca - Sala de Exposição1 ...... A170

Imagem 5 - Objectos tambores, cornetas e búzio/Museu da Tabanca – Sala de Exposição1...... A170

Quadro 1- Proposta: Inventário participativo ...... A171

Quadro 2 - Proposta: Acções Educativas ...... A173

Quadro 3- Proposta: Articulação de Projectos sócio-culturais ...... A174

Quadro 4– Propostas: Serviço Educativo Móvel ...... A176

ANEXOS ...... A177

ANEXOS IMAGENS|QUADROS

Imagem 6 – Arquipelágo de Cabo Verde ...... A178

Imagem 7 – Principais eixos da política cultural traçada pelo actual Governo de Cabo Verde ...... A179

Imagem 8 – Folheto Museu da Tabanca ...... A180

Quadro 5 - Dados estatísticos sobre a população do município da Praia e do bairro de Achada Santo António ...... A181

1. Introdução

1.1 Objectivos O projecto que ora se apresenta, intitulado «O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projecto de salvaguarda de património cultural e de desenvolvimento comunitário nasce de uma reflexão a partir de um diagnóstico e estudo realizados sobre um património cultural (a Tabanca), identificando-se os recursos e as acções que promovam um maior conhecimento, valorização e divulgação desse património

Tem-se trabalhado a questão do desenvolvimento comunitário numa perspectiva de interligação de vários sectores sociais onde a realidade territorial é tomada como referencial nas estratégias e linhas de acção a serem desenvolvidas. A intervenção de diferentes agentes e a conjunção de diversos mecanismos demonstram-se eficazes na concretização de projectos que buscam enquadrar as comunidades não só como públicos-alvo mas também como promotoras do próprio desenvolvimento, daí se exigir uma maior participação destas. O nosso projecto desenvolve-se segundo esta perspectiva e consiste num conjunto de propostas e sugestões de carácter patrimonial e social que visam a salvaguarda da Tabanca e o desenvolvimento da comunidade da tabanca de Achada Santo António (doravante TASA) e do seu território.

A filosofia adoptada para o projecto baseia-se na conjugação de recursos disponíveis no território cuja interligação se deverá realizar através de parcerias entre a comunidade da TASA, as entidades e instituições do Estado, as organizações não- governamentais (doravante ONG’s), os organismos de cooperação, as associações comunitárias de base local, bem como outros agentes que promovem a acção cultural e o desenvolvimento.

A comunidade da TASA tem a sua sede no bairro de Achada Santo António, um dos bairros populares da cidade da Praia (cidade capital de Cabo Verde). Além da Tabanca, existem outras práticas culturais, tradicionais ou não, que são promovidas e dinamizadas por associações, grupos recreativos e artistas locais. O bairro apresenta características que espelham a realidade social do país. Como tal, enfrenta desafios no campo da educação, da saúde, do ambiente, da segurança, da desigualdade social, a exclusão social (sobretudo no que toca aos imigrantes repatriados dos Estados Unidos da América), do desemprego, do urbanismo e do ordenamento do território

1

(consequência do êxodo rural e da migração inter-ilhas), problemas que se agravam com o facto de ser um dos bairros com maior densidade populacional do município. Encontrando-se inserida1 no mesmo bairro, a comunidade da TASA reflecte essa realidade e enfrenta problemas que comprometem a realização anual das comemorações festivas, bem como outras práticas culturais e sociais ligadas à Tabanca.

O nosso projecto, tomando-a como objecto de estudo, procurou conciliar as necessidades sentidas pela comunidade e os recursos que os potenciais parceiros poderão disponibilizar para ultrapassar tais obstáculos.

Ao desenvolver um conceito de salvaguarda e de desenvolvimento comunitário, o projecto pretende a apropriação consciente do património, a sensibilização por via da partilha do saber, a capacitação como forma de potencializar a criatividade dos membros da comunidade, a promoção da convivência social, e que a Tabanca seja vista e compreendida além das actividades festivas.

1.2 Enquadramento conceptual O nosso estudo encontra-se conceptualmente fundamentado por questões que emergem do contexto patrimonial escolhido (a Tabanca) e da rede de interacções que o mesmo pode criar quando perspectivado segundo os princípios da salvaguarda de património e do desenvolvimento comunitário.

Tomámos como referência as abordagens teóricas de autores como Carvalho (2011),Crooke (2006), Grunberg (2007), LeGoff (1990), Peruzzo (2002), Santos (2000, 2001), Silva (1963 e 1964), Varine (2004 2005 e 2012). E orientámo-nos por documentos normativos da Unesco e do Icom, e por estudos de Semedo e Turano (1997) entre outros autores. Foram abordados conceitos como: património, memória, identidade, comunidade, desenvolvimento comunitário, museu, educação popular e educação patrimonial.

Enquanto estratégia de acção patrimonial a salvaguarda consiste num «conjunto de medidas que visam assegurar a viabilidade do património cultural imaterial». Para tal, define-se como linhas de acção a «identificação, documentação, investigação, preservação, protecção, promoção, valorização, transmissão – essencialmente pela educação formal e não formal e revitalização dos diversos aspectos desse património» (Unesco 2003). Atribui-se a responsabilidade dessas acções às entidades competentes, à

1 De salientar que nem todos os membros da comunidade residem no mesmo bairro. 2

sociedade civil, e às comunidades detentoras desse património. É um processo cujo planeamento exige uma política de inclusão e articulação de mecanismos e recursos, bem como a criação de estruturas e infra-estruturas de apoio com vista a garantir um desenvolvimento sustentável do património e uma participação directa e activa na sua gestão. (art.2º, 1e 3; art. 13º e 15º da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial).

Por seu turno, o desenvolvimento comunitário2 são acções, de cariz interventivo que visam a melhoria das condições de vida de uma comunidade, «buscando com o máximo respeito pelos seus valores próprios e procurando tirar partido da sua riqueza histórica» (Santos 2002:1). Para Silva e Arns, é «o processo através do qual a comunidade amadurece em relação a si mesma e a seus potenciais, rompe seus casulos e se transforma em novas formas de ser.» (Silva e Arns s/d p:3)

Tanto o desenvolvimento comunitário como a salvaguarda, são estratégias que adoptam como ferramentas programas educativos que visam a sensibilização, a instrumentalização e capacitação das comunidades, de modo a desenvolverem acções transformadoras no meio onde se encontram. Intercalares a estas acções, ambos visam uma participação activa e permanente das comunidades e das estruturas de apoio ao desenvolvimento (entidades competentes e as suas estruturas e organismos, organismos de cooperação, agentes de desenvolvimento - associações de base comunitária, ong’s; escolas, equipamentos cultura).

O conceito educacional é abordado como uma forma de estimular e fomentar o desenvolvimento de uma consciência responsável, valorizativa e participativa. A este respeito, Barbara Freitag afirma que a educação é «um processo para todos ao longo da vida que deve ser realizada sob os princípios democráticos e de respeito aos direitos humanos, a partir de quatro pilares: aprender a aprender, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a viver» (Freitag citado por Studart 2002:35). Nesta sequência, Santos afirma que educação «significa reflexão constante, pensamento crítico, criativo e ação

2 Resultado dos movimentos associativos que aconteceram no início do século XX, o desenvolvimento comunitário é o resultado das reformas sociais ocorridas neste século. Acabou por ser uma ferramenta utilizada pelos Estados como uma estratégia de descentralização e delegações de poderes aos líderes e agentes sociais locais. Neste âmbito surgiram novas formas de ajuda e entreajuda social, da qual se destaca o voluntariado. Este último é tido como uma forma de «poupar o sector público e de providenciar projectos de desenvolvimento comunitário de grande relevância (importância/impacto) e sustentabilidade» (Crooke 2006:180). 3

transformadora do sujeito e do mundo; actividade social e cultural, historico- socialmente condicionada.» (Santos, 2001:2).

Neste contexto, temos a educação popular e a educação patrimonial. Ambas se incluem no conceito da educação não-bancária3, e têm por princípio o aproveitamento dos recursos locais4 em prol do desenvolvimento.

A primeira define-se como um «processo teórico-metodológico de educação não-formal, que um grupo social ou uma comunidade cria e recria para estudar, conhecer, analisar e transformar a realidade sócio-económica política e cultural que os caracteriza a um dado momento e em um espaço determinado.» (Varine 2012:190). Tem por finalidade «criar ou reforçar a comunidade e o seu controlo sobre o respectivo território, fornecendo-lhe os necessários instrumentos para a concepção, expressão e formulação de projectos, assim como para a sua concretização e para a cooperação interna e externa» (Varine 2004:37).

A segunda consiste no «processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que tem como ponto de partida e centro o Patrimônio Cultural com todas as suas manifestações.» (Grunberg 2007:2). Esta prática é dirigida «a uma população e ao seu território» e tem como propósito a sensibilização e a introdução ao conhecimento do património, (Varine, 2012:91).

Ao assumir a totalidade do património, a sua aplicação requer uma metodologia pedagógica e específica: observação, registo, apropriação, e exploração; adequada ao

3 Opondo-se ao termo instituído por Paulo Freire «educação bancária» que consiste na “acumulação forçada de conhecimentos segundo um esquema; conteúdos e métodos definidos de cima para baixo (pelo Ministério da Educação por exemplo) [...]” (Varine 2004:37), cujo sistema de ensino não tem sido eficaz na formação de indivíduos sensibilizados e capacitados para uma prática mais activa no seio do seu meio. Ou seja a aquisição de conhecimentos por via dos programas educativos das instituições de ensino não têm conseguido fornecer elementos capazes de garantir a participação e contribuição dos indivíduos na construção do seu futuro e dos seus. Assim, associando a esta situação as pessoas que não tiveram acesso a essa educação ou que por diversos motivos não se integraram ou a continuaram, achou-se que como alternativa se promovesse outras formas de educação - «educação não-bancária» - que tivessem por fim «libertar as suas capacidades de análise, criatividade, iniciativa e autonomia, que lhes permitam inserir-se, de forma progressiva e eficaz nos processos de desenvolvimento [...] (Idem). Portanto, este tipo educação tem por papel consciencializar o individuo a desempenhar um papel mais activo no desenvolvimento da sua comunidade e do seu território 4 . Os recursos locais, são recursos cujo uso é uma mais-valia para qualquer sector de desenvolvimento. Assim, o património, «enquanto recurso, deve servir concretamente a todos e ao conjunto das dimensões do desenvolvimento, isto é, não apenas à cultura e ao turismo, mas também à sociedade em seu todo, á economia, á educação, á identidade e á imagem, ao emprego ou á inserção social, etc.» (Varine 2012:83). Estabelecendo desta forma a ponte entre os vários sectores de desenvolvimento uma vez que permite traçar o perfil – a identidade – da comunidade em questão. Para assegurar a sua continuidade e sustentabilidade é indispensável que além de (re) conhece-lo, a comunidade tenha a capacidade de a partir dele se desenvolver. 4

bem cultural, à faixa etária e ao nível de instrução dos envolvidos. A isto, Grunberg acrescenta que pode ser feita em qualquer espaço social (Grunberg s/d:6), ou seja não existe um espaço definido para a sua implementação.

É neste âmbito que surgem as estruturas de apoio viradas para as acções educativas: escolas, os equipamentos culturais, as associações locais entre outras, que a adoptam como metodologia prática cultural.

Os museus5, enquanto equipamentos culturais destinados à gestão do património cultural, surgem potencialmente como um dos principais delineadores de estratégias, políticas, iniciativas e acções para a salvaguarda de património (Carvalho 2011:101).

Segundo os princípios da Nova Museologia6 o museu é um instrumento capaz de fomentar o desenvolvimento local. (Varine 2012:171).

O compromisso assumido neste âmbito incentivou a aproximação do museu à comunidade7 local, como estratégia8 de desenvolvimento sustentável9 do território. A

5 O ICOM (International Council of Museums/Conselho Internacional de Museus) sendo o organismo internacional que regulamentariza o sector museológico traça através do seu documento normativo – o Código Deontológico para os Museus - os principais conceitos, procedimentos, instrumentos e práticas orientadores dos museus. Este organismo define museu como «uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de estudo, de educação e de deleite» (ICOM 2007) 6 A nova museologia é uma nova corrente de pensamento museológica, cuja trajectória se inicia nos finais dos anos 50 do século XX. (Santos 2000:2) e se conceptualiza nos anos 80 com a criação do MINOM (Movimento Internacional para a Nova Museologia) (Varine 2012:181). Resulta de um conjunto de encontros e reflexões: Seminário Regional da Unesco (1958), da Conferência Geral – Unesco (1958), IX Conferência Geral do ICOM (1971), Mesa Redonda de Santiago de Chile (1972); XVI Conferência Geral do ICOM (1992), das quais se gerou um conjunto de directrizes para uma nova forma de se pensar e se exercer a museologia. De forma resumida, os documentos produzidos a partir destes encontros fizeram surgir um conceito de museu assente numa filosofia social, comunitária e pedagógica, que procura através da sua programação museológica encontrar soluções para os problemas sociais, apropriando-se do património na sua plenitude, isto é não se restringe a um bem patrimonial, mas sim assume-o em todas as suas formas (material, imaterial, natural e cultural) contribuindo de forma sustentável para o desenvolvimento da comunidade e do seu território 7 Numa perspectiva museológica, Santos define comunidade como sendo «um grupo de indivíduos que apoiado em um património, realiza ações museológicas, com objectivos e metas definidas a partir das suas necessidades, dos seus anseios, definido, em conjunto, os problemas e as soluções para os mesmos, situando-os no contexto mais amplo da sociedade.» (Santos 2000:4) 8 O museu procura de uma forma dinâmica e interactiva se relacionar com a sua comunidade integrando-a nas suas actividades museológicas.Esta aproximação gera um ambiente favorável de trabalho e cooperação entre ambas as partes. Colaborar com a comunidade tem sido um meio para encontrar (atrair) novos públicos, gerar confiança e restabelecer (reenquadrar) o papel e a importância do museu nas sociedades contemporâneas. (Crooke 2006:183) 9 Segundo Varine somente uma identificação (por parte da comunidade) aos projectos delineados pelo museu possibilitará a sustentabilidade e a durabilidade dos mesmos. Ou seja, a comunidade envolvida deverá reconhecer-se no museu, só assim se mostrará disponível para nele se integrar e com ele trabalhar e desenvolver o seu território. (Varine 2012: 38). 5

comunidade10 tornou-se no tema central das políticas museológicas incentivando ideias de desenvolvimento comunitário 11. Neste tipo de relacionamento, onde a participação é activa e constante, é exigida uma estrutura bottom-up (de baixo para cima) onde a gestão do museu é partilhada com a comunidade. Aqui, a comunidade deverá ser assumida desde o princípio nas diversas decisões e planos do museu - este sistema de integração e cooperação gerará «um clima de confiança» (Nyangila 2006:5). Os museus que trabalham junto à comunidade assumem ainda um compromisso com as pessoas que não se encontram ou não se identificam com a comunidade, os não membros. Pois o museu deve primar sempre pelo envolvimento da comunidade e do seu território, estimulando a união e coesão social. (Crooke 2006: 183)

Outro conceito basilar no qual o nosso projecto se apoia, o património cultural imaterial, é definido pela Unesco como «práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural» é transmitido geracionalmente, sendo recriado constantemente pelos seus detentores mediante as influências do meio humano e natural com a qual entram em contacto ao longo dos tempos. É o que confere identidade, cria laços e sentimentos de pertença, assegura a continuidade, o respeito pela diversidade cultural e a criatividade humana» (alíneas 1 e 2 do art.2º da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (Paris, 17 de Outubro de 2003).

O projecto tem como pano de fundo a Tabanca, que se enquadra no âmbito patrimonial acima referido, como uma manifestação cultural associada a práticas culturais e religiosas enraizadas no seio de uma comunidade específica. (Semedo e Turano 1997).

A comunidade é aqui compreendida segundo as análises de Peruzzo12, e as considerações de Arns e Silva. Em ambos os casos a ideia de comunidade implica

10 Assim, a comunidade será assumida como fonte primária do museu e o património é apenas o meio utilizado para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento. 11 A ideia de comunidade e desenvolvimento comunitário é desenvolvida pelo museu através dos projectos que fomentam a identidade local e que incentivam o desenvolvimento social (Crooke 2006:183) 12 Partindo de autores clássicos e relacionando as diferentes definições dadas por cada um, Peruzzo atribuí uma definição mais ampla e actual ao conceito de comunidade, onde a presume como «uma relação social que implica uma participação directa e activa dos seus membros, a partir das quais se desenvolve um sentimento de pertença que por sua vez contribui para a coesão interna. Considera, que é preciso haver carácter cooperativo e de compromisso, confiança, aceitação de princípios e regras comuns e senso de 6

«organização, senso de identidade, partilha de um passado e de objectivos/interesses em comum, onde o território nem sempre é tomado como parte integrante ou factor essencial para a existência da comunidade» (Peruzzo 2002:11).

As comunidades da Tabanca, definidas como «associação laica de socorros mútuos, com actividades cultuais e festivas em determinados períodos do ano» (Semedo e Turano 1997: 77), enquanto partes integrantes – criadoras e detentoras – são as verdadeiras actoras desta manifestação cultural. Partilham entre si uma memória colectiva que lhes permite construir uma identidade própria. Essa identidade subsistirá graças à necessidade de mantê-la como algo que valoriza, atribui significância ao grupo e o diferencia dos outros, contribuindo deste modo para a diversidade cultural.

Entenda-se por memória os «processos sociais e históricos, de expressões, de narrativas de acontecimentos marcantes, de coisas vividas, que legitimam, reforçam e reproduzem a identidade do grupo». A memória é também entendida como o «passado vivido constituído pela sucessão de acontecimentos/ momentos marcantes na vida do grupo, da nação, do país, e que possibilita a construção de uma narrativa sobre o passado.» (Cruz citado por Rodrigues s/d p.5)

O património é a materialização de uma identidade construída ao longo dos tempos, que se traduz em ideias, acções e objectos aos quais a comunidade atribui significado, valor simbólico e os toma como referencial identitário e ideológico. (Ramos 2003, pp.11-16).

Tratando-se de práticas e costumes tradicionais, existe um jogo entre a resistência às mudanças e transformações sociais que acontecem dentro e fora da comunidade, e as inovações que cada geração imputa ao património, contribuindo assim para a sua renovação. É importante ter isto em conta no momento em que se delineia estratégias para salvaguarda do património. É preciso manter a integridade comunitária tal como ela se apresenta no presente (assumindo às suas raízes históricas e contextualizando-a na actualidade), sem que por via das acções de desenvolvimento comunitário - que gera responsabilidade pelo conjunto, e que se reconheçam como parte integrante deste conjunto. É preciso que se crie uma identidade comum a todos. Que os membros tenham alguns objectivos e interesses em comum, na medida em que constata que nas sociedades contemporâneas nem sempre todos os membros partilham dos mesmos objectivos e que, portanto, o que os une são os objectivos que dão fundamento a comunidade. Afirma que algumas se encontram viradas para o bem-estar social e ampliação da cidadania. Que é preciso que se estabeleça um ambiente intensivo de comunicação e troca entre os membros. Observa que nem sempre o território é o factor determinante para que se considere ou não uma comunidade, na medida que o que confere sentido à comunidade são os “fortes laços, de reciprocidades, de sentido colectivo dos relacionamento” e uma linguagem em comum. Peruzzo2002). 7

uma dinâmica intersectorial dos sectores de desenvolvimento - se provoque uma descaracterização e a perda de autenticidade das comunidades.

1.3 Estrutura A elaboração deste trabalho de projecto13 desenvolveu-se segundo uma metodologia de investigação científica, baseada em análise bibliográfica e em trabalho de campo. As nossas propostas fundamentam-se sobretudo no resultado e conclusões retiradas a partir do trabalho de campo.

Realizado em Cabo Verde, ilha de Santiago, na cidade da Praia e Assomada, e que compreendeu um período de quatro meses, de Maio a Agosto de 2012.

Numa primeira fase do trabalho, ocupámo-nos da análise de estudos de casos que tomaríamos como referência para o nosso projecto. Através da pesquisa bibliográfica relacionadas com a Tabanca e a cultura cabo-verdiana, pudemos consultar obras, artigos e documentos oficiais que se encontram na Biblioteca Nacional de Cabo Verde e no Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde. Neste âmbito ainda realizamos várias pesquisas nos arquivos digitais da imprensa nacional.

No sentido de melhor conhecer o equipamento cultural, entrámos em contacto com a responsável pela Direcção de Ciências Humanas e Sociais do Instituto da Investigação e do Património Culturais de Cabo Verde, Ana Samira Carvalho Semedo Silva, a quem expusemos, resumidamente, os objectivos do nosso projecto e manifestámos a intenção de colaborar, por um breve período, como voluntários no museu, que seria aceite mediante apresentação de uma carta do voluntariado. Importa ainda referir que nos foi facultado, pela responsável, um documento interno, isto é, um plano estratégico para o sector museológico nacional - «Estratégia de Intervenção e Plano de Actividades».

13 Surge na sequência do trabalho académico desenvolvido no âmbito do seminário Património e Museus do Mestrado em Práticas Culturais para Municípios no ano lectivo 2011-2012, intitulado «Museu da : Serviço Educativo: Móvel». Este por sua vez serviu de referência para a primeira proposta de trabalho de projecto a ser desenvolvido no âmbito da componente não lectiva. Servindo como ponto de partida, o projecto seria aprofundado a nível teórico e complementado com dados obtidos com o trabalho de campo. O trabalho seria então desenvolvido numa perspectiva museológica, a partir do Museu da Tabanca, em que a proposta consistia na implantação de um Serviço de Educação Patrimonial cuja acção/actividade não se limitava ao espaço físico do museu. Isto é, um serviço educativo móvel integrado na programação do museu, que acima de tudo visava uma maior interacção entre o museu e as comunidades da Tabanca que se encontram dispersas, portanto, distantes da localização física do museu, e teria como público-alvo as três tabancas da cidade da Praia: tabanca da Várzea, tabanca de e tabanca da Achada Santo António. 8

Nesta sequência avançámos com várias visitas ao museu da Tabanca em Chã de Tanque, cidade de Assomada, com o intuito de conhecer o seu acervo, a sua programação e o seu impacto no território local e envolvente. Aqui fomos recebidos pela técnica responsável pelo museu, Maria Varela Tavares, da qual obtemos informações tanto a nível do funcionamento do museu como da realidade territorial e da comunidade local.

Aproveitando a estadia de uma semana em Assomada, entrámos em contacto com o presidente da Associação Nacional da Tabanca, Luís Francisco Gomes, e com o responsável pelo sector do Património Cultural da Câmara Municipal de Santa Catarina, Sidney Martins.

É importante referir que estes encontros foram de carácter informal, servindo apenas para recolha de informações, ficando acordado que posteriormente iríamos realizar formalmente as entrevistas, bem como recolher informações complementares.

Relativamente às comunidades, pretendíamos analisar, compreender e distinguir o modo como as três vivenciam a Tabanca, qual a relação destas com o território, como se comunicam e relacionam entre elas, e qual a ligação e o impacto do museu nestas comunidades. Aqui, delineámos como estratégia de recolha de informações a troca de impressões junto aos membros da comunidade e a participação nas actividades festivas de cada um.

Iniciámos o nosso acompanhamento pela comunidade da tabanca de Achada Santo António, por ser a primeira das três a iniciar as suas actividades festivas. Não conseguimos acompanhar todas as etapas das comemorações, mas presenciámos alguns rituais, onde pudemos estabelecer contacto com alguns membros da comunidade, que partilharam connosco alguns conhecimentos e se comprometeram a colaborar com mais informações.

A respeito desta fase de realização do trabalho de campo, é importante dizer que não nos foi possível cumprir o plano traçado, na medida que o diagnóstico da realidade territorial contrastava com as propostas e os objectivos previamente delineados. Assim, com a análise dos dados obtidos chegámos à conclusão de que não poderíamos avançar com o tema proposto a priori. E, como forma de aproveitar e valorizar o levantamento feito até então, reformulamos os nossos objectivos e o nosso público-alvo, de modo a termos como produto final o presente trabalho de projecto.

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Do estudo já realizado mantivemos como objecto de estudo o Museu da Tabanca e a comunidade da tabanca da Achada de Santo António e definimos como território o bairro de Achada Santo António e o município da Praia.

Uma avaliação feita às informações recolhidas e a uma leitura do território direccionou-nos para a elaboração de um projecto que, por um lado, permite a salvaguarda da Tabanca e, por outro, contribui para o desenvolvimento comunitário e local.

Nesta segunda fase do trabalho de campo, avançámos com as entrevistas e os questionários, ambos obedecendo a um guião pré-definido. Infelizmente, tivemos algumas dificuldades em conseguir um número significativo de respostas, pelo que o nosso estudo se baseia nas informações obtidas a partir dessa amostra.

Colaboraram para o nosso estudo membros da tabanca de Achada de Santo António, moradores do bairro de Santo António; munícipes do concelho de Santa Catarina, presidente da Associação Nacional da Tabanca, o responsável pelo sector patrimonial da Câmara Municipal de Santa Catarina, a técnica responsável pelo Museu da Tabanca, e a técnica do Instituto da Investigação e do Património Cultural, Ana Samira Silva.

Relativamente a outros contactos que considerávamos importantes para o trabalho, deve-se dizer que apesar de inúmeras insistências não obtivemos qualquer resposta. Adicionalmente às informações obtidas no âmbito destas colaborações, consultámos relatórios e estudos de carácter estatístico e descritivo da realidade socioeconómica do país, bem como relativos ao campo cultural. Importante, é ainda dizer que o trabalho é também resultante do nosso conhecimento vivenciado do território.

No que toca à estrutura, o nosso trabalho é constituído, para além da introdução, por três capítulos, seguidos das considerações finais. O capítulo de introdução, segundo uma lógica metodológica e conceptual, tem por finalidade a apresentação sequencial das etapas que conduziram a elaboração do trabalho, os parâmetros teóricos que o definem, bem como os intentos que queremos alcançar com a sua elaboração. O segundo capítulo contextualiza o país, Cabo Verde. Esboçamos o panorama museológico cabo-verdiano e considerando que se enquadra no âmbito de iniciativas culturais procedemos a análise de alguns projectos culturais e medidas de intervenção por parte do poder político e de

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organismos não-governamentais. Paralelamente, a isto, elaboramos uma pequena síntese da realidade cultural e patrimonial do país. Na medida que o projecto também se desenvolve numa perspectiva de desenvolvimento comunitário procedemos a análise da realidade económico-social do país. Ainda dentro do contexto em que o projecto é desenvolvido, apresentamos aqui uma breve contextualização histórico-geográfica do arquipélago. O capítulo, seguinte corresponde ao estudo realizado. Começamos com uma breve análise às principais referências bibliográficas sobre a Tabanca e alguns estudos publicados no âmbito de investigações que a tomaram como objecto de estudo. Conjugamos as informações recolhidas no terreno com as retiradas das bibliografias e paralelamente a apresentação do património em estudo, efectuamos uma abordagem analítica e descritiva da comunidade da Tabanca de Achada Santo António, enfatizando as questões patrimoniais e sociais que a caracterizam. De seguida, procedemos à análise do Museu da Tabanca onde procuramos compreender o seu funcionamento, identificar as debilidades, potencialidades e o seu impacto no seio da sua comunidade de referência e do território onde se encontra localizado. Sendo a Associação Nacional da Tabanca um organismo fundado pelas comunidades da Tabanca, que tem como representante alguém da sociedade civil, e que procura através de parcerias garantir a continuidade das tabancas activas e a revitalização de comunidades inactivas entendemos por bem analisar os seus feitos, as suas aspirações e tentar perceber de que forma tem contribuído para a salvaguarda deste património. Concluímos este capítulo com uma reflexão sobre o estudo realizado. Estes pontos permitiram detectar as necessidades e as potencialidades da comunidade, das entidades e do território. Aqui lançamos as premissas a serem consideradas na construção das linhas de acção que orientam as propostas do projecto.

O quarto capítulo reflecte e justifica todo o estudo realizado, correspondendo às propostas e às linhas de acção que sugerimos com vista à salvaguarda e ao desenvolvimento da comunidade da Tabanca de Achada Santo António. Estas propostas assentam em quatro pilares: interacção, integração, educação e desenvolvimento comunitário. Para tal, entendemos que no território existem mecanismos e entidades capazes de promover e tornar concretizáveis as nossas propostas.

Terminamos com as considerações finais que sumarizam as reflexões sobre o trabalho efectuado.

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2. Cabo Verde: das características do país às questões patrimoniais

2.1 Características geográficas e socioeconómicas Localizado no oceano Atlântico à 500km do continente africano, junto à faixa do Sahel, o arquipélago de Cabo Verde (cf. imagem 6 A178) apresenta-se como um país soberano, unitário e democrático, onde residem 505.848 mil habitantes. (INECV 2012 pp.9). Sob uma forte influência do clima e da biodiversidade regional, as ilhas apresentam contrastes entre si, permitindo-nos descrever a paisagem natural caboverdiana como sendo montanhosamente esculpida, oscilando entre lugares de características desérticas e lugares verdejantes. Num quadro irregular das chuvas, a escassez de recursos naturais é óbvia e determinante nos aspectos e elementos que caracterizam o Caboverdiano. Independente há 38 anos, o país vem-se construindo com o esforço dos residentes, da diáspora14 e da ajuda internacional. Num processo contínuo de crescimento económico e social, as estratégias delineadas pelo governo passam pela sua integração em blocos e organismos de desenvolvimento15; e nas relações multilaterais através das quais tem estabelecido protocolos de cooperação a nível das áreas sociais – como é o caso da cultura e do património, da educação, da saúde, dos direitos civis e laborais, da agricultura, da pesca, da tecnologia e dos recursos energéticos. O país vem apostando na educação como forma de superar e colmatar a escassez de recursos, através da capacitação da população e da formação de quadros técnicos, em instituições nacionais ou no estrangeiro. Reconhece-se a necessidade de um maior investimento na qualidade do ensino a nível interno, assim como no incentivo ao não abandono escolar e prosseguimento dos estudos. De salientar, que as organizações não- governamentais desempenham um papel importante no que toca a capacitação da população contribuindo assim para que haja um recurso humano qualificado e

14 Estimando-se que a diáspora cabo-verdiana ultrapassa em dobro os residentes, estes contribuem significativamente para a dinamização do sector económico Cabo-verdiano, com as transferências monetárias. 15 Neste domínio, por exemplo o país é membro e parceiro dos PALOP; da CPLP; da Comunidade da Macaronésia. Integra a CEDEAO e recebe apoio de ONG’s de apoio ao desenvolvimento humano como é o caso das Nações Unidas e de alguns organismos que a compõem; da Cruz Vermelha; da BorneFonden. Em termos cooperativos mantém ainda relações com diversos países da U.E; os EUA; Canada; China e Cuba são apenas alguns entre os muitos países que apoiam CV nos diversos domínios do sector político, económico, social e cultural. 12

empreendedora. (Borges e Morais 2012:24, MRE e NUCV 2012:19–21 e 30-31 e Plataforma das ONGs de Cabo Verde 2008: 7). A descontinuidade territorial é um entrave ao desenvolvimento do país, uma vez que não se tem conseguido trabalhar de igual forma em todas as ilhas do arquipélago. O êxodo rural e a migração inter-ilhas têm acelerado o crescimento demográfico, a desigualdade económico-social entre as ilhas, as regiões as áreas urbanas e rurais. Neste quadro de mobilidade activa e de desigualdade económico-social é quase impossível travar os problemas sociais que dali derivam. Temos o surgimento de bairros periféricos, onde ocorrem desvios comportamentais, como é o caso da toxicodependência, prostituição, violência e criminalidade. É assim que têm surgido nos centros urbanos, liderado pela cidade da Praia (capital do país)16 inúmeros casos de violência e criminalidade, instalando o clima de insegurança social, atribuídas aos grupos thugs17 E assim se pode descrever Cabo Verde nos dias de hoje, um país condicionado pelo seu ser insular e pelas vicissitudes causadas pelo seu crescente desenvolvimento.

2.2 Aspectos culturais A cultura cabo-verdiana resulta da fusão étnico-cultural entre africanos e europeus durante colonização das ilhas. Defende-se que apesar de apresentar semelhanças e parecenças, em alguns elementos, com ambas as matrizes que lhe dão origem, é única e exclusiva do país.18

Tendo em conta o faseamento do povoamento, a diversidade étnica associada à dispersão territorial, temos uma diversidade cultural19, cujas práticas e expressões se

16 De acordo com o estudo encomendado pela Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania (CNDHC), efectuada pela empresa de consultadoria Afrosondagem, no âmbito da criminalidade na cidade da Praia, em 2011 «oito em cada dez residentes na Cidade da Praia foram vítimas de criminalidade». ( 2011) 17 Segundo Redy Wilson Lima, o fenómeno thug surge «[...] como um movimento associativo juvenil relacionado a actos delinquentes, enquadrado num contexto social desigual, visa buscar estratégias de afirmação pessoal e social [...]. Pode-se considerar estes grupos como sendo associações juvenis comunitárias não reconhecidas oficialmente, isto porque, constituem redes de indivíduos surgidos nos bairros desafiliados, com a particularidade de utilizarem a violência como forma de chamar a atenção e de buscar reconhecimento dos poderes públicos ou dos organismos não-governamentais» (Lima 2010 pp.1 e 15). 18Atribui-se essa autenticidade a capacidade de assimilação e transformação dos modelos culturais aos quais se esteve sujeito, criando-se um novo, do qual se tem atribuído uma singularidade e genuinidade própria (Andrade 1997: 17, Gonçalves 2006:12e 15 e Spínola 2004:16). 19Por diversidade cultural entenda-se uma «multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressão, e que são transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades» (Unesco (2005). Diversidade Cultural art. 4º da Convenção sobre a Protecção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (UNESCO, 2005). 13

manifestam de forma diferente de ilha para ilha e de região para região dentro da mesma ilha. Não obstante, é de consensual entendimento que as especificidades das ilhas formam no seu conjunto a identidade cultural do povo cabo-verdiano (Almada 1997:28).

É unânime a ideia de que a língua surgida desse cruzamento, o crioulo cabo- verdiano embora assuma diferentes variações consoante as ilhas e as regiões, é a expressão cultural de maior relevância para e na construção da identidade nacional. (cf. ap.1 A2),

Um olhar sobre esta sociedade, diz-nos que as tradições populares: religião, gastronomia, as tradições orais, a música e a dança - se encontram bastante enraizadas e presentes no seu dia-a-dia. No entanto, não podemos descurar do facto de que a cultura é um campo de interacções sujeito a influências e transformações, por isso modelos e referências culturais estrangeiras também fazem parte do panorama cultural do país.

Iniciativas e projectos culturais em torno destas manifestações culturais surgem tanto por mãos de entidades públicas como privadas, e em parceria umas com as outras.

Ao abrigo das cooperações internacionais têm surgido inúmeros projectos e apoios para o sector cultural. Estas têm ajudado tanto financeiramente como tecnicamente no planeamento e execução de projectos.

Na área patrimonial temos por exemplo os projectos: «Salvaguarda do Património Histórico e Arquitectónico de Cidade Velha» (cf. ap.2 A3-4) «Inventário do Património Imaterial» «Inventário do Património Arquitectónico de Cabo Verde», o «Plano de Gestão da Cidade Velha», o «Inventário da Cimboa como Património Imaterial»20, em que além das entidades competentes locais (CM e Governo), conta-se com o apoio da Unesco, da cooperação com portuguesa, espanhola, britânica, luxemburguesa entre outros.

Destacamos o projecto «Cultura Móvel» um projecto desenvolvido entre duas ONG’s a SINBOA e a O'DAM (cf. ap.3 A5). É um projecto que junta as tecnologias de informação e comunicação (TIC) a questões sociais e culturais, onde procura através destas incentivar e promover a criação audiovisual bem como a produção e criação de bens e serviços culturais. É um projecto com grande impacto nos jovens e que consegue

20 Cimboa é um instrumento musical típico de Cabo Verde, utilizado no batuque. 14

levar as suas actividades e programação a diferentes bairros, através das associações locais. Como exemplo a exibição de filmes em alguns bairros da capital.

Gostaríamos ainda de referir a existência de alguns equipamentos culturais que se encontram sob a tutela das respectivas embaixadas: Centro Cultural Brasil, o Centro Cultural Português /Instituto Camões e o Instituto Francês, que estabelecem a ponte entre a cultura do seu país de origem e a cabo-verdiana, através da promoção da língua (português e francês) e de actividades ligadas às diferentes áreas sociais e culturais.

No que toca às iniciativas públicas, estas cabem ao Governo e às Câmaras Municipais (doravante CM). Ambas as entidades têm trabalhado em parceria de forma a garantir melhores condições de vida à população. No plano cultural, esta colaboração têm-se verificado a nível do planeamento, gestão e execução de projectos e equipamentos culturais.

As autarquias enquanto órgãos de gestão e administração de territórios estão incumbidas de desenvolver estratégias e políticas de desenvolvimento capazes de dinamizar as diversas estruturas sociais locais. Além da parceria acima referida, as CM através das geminações nacionais e internacionais têm-se divulgado e promovido sobretudo as tipicidades de cada município. 21

Ainda no domínio das iniciativas públicas, compete ao Governo de Cabo Verde a formulação e implementação de políticas e estratégias que vão de encontro a realidade social, económica e histórico-cultural do país.

Por força das alíneas do nº 3 do art. 78º da constituição de nacional, deve criar condições para que o património cultural do país seja preservado e salvaguardado. Que os cidadãos tenham acesso, possam desenvolver e criar bens culturais bem como usufruir e/ou tirar partido dos mesmos. No entanto, a realidade económica do país não tem permitido grandes investimentos nesta área. As debilidades desde sector fazem-se sentir a vários níveis, desde a pequena parcela do orçamento22 atribuído ao Ministério da Cultura (doravante MC), a escassez de técnicos e profissionais da área, a uma política cultural pouco disseminada e partilhada com as partes interessadas (agentes

21 No entanto, verifica-se que as intervenções do poder local têm-se concentrado nas actividades de entretenimento, nomeadamente os festivais, os eventos desportivos e feiras de artesanato. 22 A parcela do Orçamento de Estado (doravante OE) concedida ao Ministério da Cultura, é das mais reduzidas dos sectores de desenvolvimento. Em 2011 foram disponibilizados 52 mil contos para a área dos investimentos. Em 2012, são disponibilizados apenas 35 mil contos e em 2013 recebe um aumento de 55% (44 mil contos). Fonte: A Entrevista, com Mário Lúcio, Ministro da Cultura. Parte 1 e Parte2. 15

culturais e sociedade civil), e a fragilidade das normativas nacionais que regularizam o sector.

Com base na análise efectuada a algumas entrevistas feitas ao actual ministro da Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, que assumiu a pasta deste ministério nos finais Março de 2011, percebe-se que a actual política cultural traçada assume a cultura como um eixo estratégico para o desenvolvimento (cf. imagem7 A179), ou seja como geradora de riquezas. Segundo as palavras daquele ministro a política cultural traçada é uma «política de incentivo á criação que têm como base: o financiamento da cultura, as políticas sociais, a formação (nomeadamente a criação de uma Escola Nacional de Artes), a promoção cultural e a exportação da cultura.» (Sousa 2011). Alguns projectos e medidas já foram implementados, nomeadamente: a elaboração do Plano Estratégico Intersectorial da Cultura23, estudo do Impacto da Cultura no Crescimento do PIB (Economia da Cultura) 24a fundação do Banco da Cultura25 e bolsas de criação; a criação de Casas de Cultura em vários bairros do país, Rede Nacional de Salas de Espectáculos, parcerias com os agentes turísticos, reforço das parcerias com as CM, projecto de inventário e classificação do património arquitectónico de Cabo Verde, feiras do livro. Têm-se pautado por acções e iniciativas ligadas a oficialização e padronização da língua materna, na integração da cultura no sistema de ensino, na construção de infra-estruturas e equipamentos culturais que permitem a construção, fruição e divulgação da cultura.

2.3 Panorama museológico No contexto de iniciativas de salvaguarda do património cultural, o sector museológico em Cabo Verde só começa a ser delineado a partir da década de 1990. (Rodrigues 1991:23). Contudo, acções no âmbito da recolha e do levantamento do património imaterial (nomeadamente das tradições orais), e do património edificado, (restauro e projectos de reconversão de edifícios históricos) e a existência de vários

23 Este traça os objectivos que o actual Governo delineou para o sector cultural. Focando-se nas potencialidades dos recursos culturais nacionais, visa a articulação entre as diferentes áreas de desenvolvimento e de diversos actores sociais e culturais bem como a regulamentação deste sector. 24 Preve-se que os dados relativos a este estudo estarão disponíveis até finais do corrente ano (Sousa 2013). 25 Inaugurado em 2011 «é uma nova designação do Fundo Autónomo de Apoio à Cultura que visa não só facilitar o acesso ao financiamento de forma mais democrático e transparente por parte dos artistas, mas também criar espírito empreendedor no trabalhador criativo». Tendo por finalidade o financiamento de projectos culturais, conta com um fundo de garantia proveniente do OE e dos seus parceiros, sendo alguns destes o Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território e o ECOBANK - Banco do investimento e desenvolvimento da CEDEAO. 16

projectos no sentido de se criar equipamentos museológicos já eram uma realidade nos finais dos anos 1980 (Veiga 1989 pp.122e123).

Grande parte do século XX fica marcada pela ausência de acções no domínio cultural que poderiam resultar na implementação de museus. Estas só seriam retomadas após a independência do país (1975).

Num primeiro momento desta nova era, as atenções do país estiveram voltadas para questões de cariz político e económico, como forma de garantir a estabilidade do povo, não sendo então dada prioridade às questões culturais.

Investimentos no campo cultural só viriam a sentir-se a partir de 1978, onde «as questões de índole patrimonial e museológica passariam a ser objecto de maior atenção governamental.

«A elaboração de medidas legislativas, a formulação de projectos, a criação de estruturas e mesmo a expressão de um pensamento orientador passariam então a marcar presença no panorama local». (Gouveia 2013:10). Destas medidas, criou-se a comissão nacional26 para promover a defesa e o restauro dos monumentos nacionais; em sequência dessa iniciativa os trabalhos seriam então desenvolvidos pela Comissão Nacional em colaboração como o Instituto Português de Património Arquitectónico (IIPAR), no âmbito da cooperação com . (Carvalho citado por Mendes 2010:90).

Em 1980, após a visita ao país, a Unesco elabora um relatório onde tece várias considerações sobre o sector patrimonial e museológico27. Ao longo desta década, registaram-se várias iniciativas, destacando-se a criação de uma nova entidade administrativa cuja competência incidia sobre a gestão do património cultural do país, a Direcção Geral do Património Cultural de Cabo Verde.

As últimas décadas, 1990 e 2000, foram anos de concretizações. Instituído pela constituição, compete ao Estado criar condições que permitam a salvaguarda do património cultural do país. Assim, visando a instituição de uma política cultural que instigasse o desenvolvimento deste sector e que a regulamentasse, surge o Decreto-lei nº

26 Comissão Nacional para a salvaguarda do monumento cabo-verdiano, o Decreto-lei nº 51, de 23 de Dezembro de 1978. 27Dirigidas à comissão recém-criada, as observações feitas foram no sentido de se criar “legislação específica”, de “utilização” como sustentáculo da conservação, de “revitalização dos centros históricos”, de “preservação dos bens móveis” e de salvaguarda da “memória escrita” (Azevedo citado por Gouveia 2013 pp. 10 e11) 17

52, de 29/12/1990, que vem promover o levantamento etnográfico a nível nacional que resultaria posteriormente no Museu Etnográfico28 (Gouveia 2013:14-15; Mendes 2010:91 e Rodrigues 1991:63). Assiste-se à criação de uma nova estrutura, o Instituto Nacional da Cultura (INAC), substituindo assim a Direcção Geral do Património Cultural.

A década de 1990 fica ainda marcada pelo delinear de estratégias resultantes do diagnóstico efectuado à situação patrimonial e museológica do país. Assim, chegou-se à conclusão que, dadas a insularidade e as particularidades de cada região e ilha, a melhor opção seria a criação de núcleos museológicos locais e regionais que espelhassem a realidade do respectivo território, que funcionariam em consonância com um projecto maior, que seria o Museu Nacional. (Rodrigues 1994:23). Assistiu-se à delegação de tarefas onde as autarquias passaram a ser, além de parceiras, as entidades capacitadas para promover e desenvolver projectos neste âmbito29.

A descentralização que se fez sentir também teve espaço dentro do próprio organismo estatal, passando outras estruturas a gerirem o património cultural, tanto no âmbito do património natural como arquitectónico.30 Neste contexto, ainda se envolveu a sociedade civil, o que viria a originar projectos museológicos de iniciativa privada.

Como resultado desta época e da anterior, realizaram-se várias intervenções em edifícios históricos, que resultaram na instalação de alguns equipamentos culturais de cariz museológicos: Arquivo Histórico Nacional (1988), o Museu de Documentos Especiais (1991); o Museu das Telecomunicações (1994)31; o Museu Etnográfico (1997) e o Museu da Tabanca (1999). Outras realidades desta época são a classificação do Sítio Histórico da Cidade Velha como património nacional, e os acervos constituídos no âmbito da história e arqueologia deste sítio, e acervos antropológicos relativos ao projecto museológico do Museu Nacional.

28 De salientar, que a par deste museu, já existia em 1977 o Centro Nacional do Artesanato na ilha de São Vicente; que além de actividades ligadas ao artesanato: levantamento e registo de técnicas de fabrico tradicionais, a recolha e preservação de pecas etnográficas. (Gouveia 2013:19 e Veiga 1989:123). Hoje este espaço alberga o Museu de Arte Tradicional 29 Nota-se que esta parceria já se tinha iniciado da década de 80, onde já se desenvolviam pelas autarquias alguns museus (Veiga 1989:123). 30Por exemplo no caso do património edificado, a sua gestão além de ser da competência do Ministério da Cultura é também do Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território; e Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde no caso dos parques naturais. 31De natureza empresarial, este museu, localizado nas instalações dos CTT em São Vicente. Visava a preservação da “memória das telecomunicações” através da divulgação da história tecnológica e sociocultural por meio de peças que remontam o século XIX. (Filho 2006) 18

Não passando despercebidos os acontecimentos internacionais nesta área, o novo milénio veio contribuir para novas tomadas de posição em relação ao património cultural e ao sector museológico, que já não se limitava aos bens materiais e aos aspectos históricos, mas se expandia pelas vastas áreas do meio social e ambiental. A primeira década de 2000 corresponde a um período de abertura e expansão que pode resumir-se como sendo a época em que os projectos se materializaram e onde novas questões patrimoniais foram abordadas.

Regista-se, uma maior envolvência com a população, que até então só era notória a nível da recolha de informações e objectos que constituíram os acervos. Este período fica ainda marcado pelas medidas tomadas em virtude da preservação do património natural do país, que culminaram nas primeiras iniciativas legislativas tal como a criação do Decreto-Lei nº 3/2003, de 24 de Fevereiro32; que estabelece o regime jurídico das áreas protegidas e que a par da Lei n.º 102/III/90, de 29 de Dezembro, são os instrumentos legais que regulam o património cultural e natural de Cabo Verde; bem como a criação de uma nova estrutura, o Instituto da Investigação e do Património Culturais (2004)33 (doravante IIPC) que veio substituir o Instituto Nacional da Cultura (INAC).

A valorização do património natural e do legado histórico arquitectónico, assim como os aspectos sócio-culturais que caracterizam o povo cabo-verdiano estão cada vez mais presentes nas medidas tomadas pelas entidades políticas. O impacto dessas medidas impulsionou a elaboração de projectos não só no sentido da salvaguardar mas também da divulgação da cultura cabo-verdiana para o exterior.

Várias parcerias foram estabelecidas neste âmbito, onde se tem reforçado a colaboração com as autarquias locais e a cooperação com entidades estrangeiras, iniciativas que se demonstraram fundamentais na concretização dos projectos.

Uma apreciação ao estado actual do panorama museológico de Cabo Verde, (cf. ap.5 A7-8) faz-nos crer que existe uma conjuntura favorável ao desenvolvimento deste sector; porém existem lacunas de várias ordens que dificultam e têm estagnado alguns projectos.

32Com base neste documento um pouco por todo o país foram classificados espaços e sítios como património nacional (cf. ap.4 A6) 33Criado pelo Decreto-Regulamentar nº 2/2004, de 17 de Maio; as acções do instituto estão orientadas para a investigação científica em vários domínios; preservação do património móvel e imóvel, arquitectónico, subaquático; criação e gestão de museus; gestão de sítios históricos. 19

Um dos constrangimentos que o sector enfrenta é de ordem jurídica, isto é, não há legislação que regularize a criação e estipule as normas internas destas instituições, estando por isso afectas às acções desenvolvidas pelo IIPC. A criação da lei-quadro dos museus vem sendo anunciada há algum tempo, contudo ainda não faz parte da realidade museológica cabo-verdiana.

A isto deve-se acrescentar que os únicos instrumentos reguladores pelos quais os museus se têm orientado são, no plano nacional, a lei de base patrimonial (Lei n.º 102/III/90, de 29 de Dezembro) em consonância com a lei-base do sector urbanístico (Decreto-Lei n.º 2/2011 de 3 de Janeiro), a que regulamenta o sector ambiental (Decreto-Lei n.º 3/2003, de 24 de Fevereiro) e os planos directores municipais. Os museus orientam-se ainda, no campo museológico, pelo Código Deontológico dos Museus e por outros por documentos do ICOM; e no campo do sector patrimonial pelas cartas e convenções da Unesco (cf. ap.6 A9).

A sustentabilidade destas instituições é outro problema com que se deparam os museus nacionais, tanto a nível financeiro como de recursos humanos. Em termos financeiros, a gestão dos museus tem sido feita com base no orçamento atribuído ao Ministério da Cultura, que, como já referimos, é um dos ministérios que recebe menor percentagem do OE.; pois não conseguem gerar receitas, uma vez que a fruição dos espaços não é suficiente para tal

O défice de recursos humanos também pesa neste ponto, uma vez que a formação de quadros na área da museologia e gestão do património, em particular, e nas mais variadas áreas do campo cultural - história, antropologia, arqueologia, conservação e restauro, entre outras áreas de investigação científica - no geral é ainda recente e os que existem não conseguem ser absorvidos pelos equipamentos museológicos ou pelas entidades que trabalham com estas questões, o que torna difícil constituir equipas interdisciplinares capazes de dinamizar esses espaços.

Embora os museus assentem sobre a realidade sociocultural do país, a verdade que estes não têm conseguido atrair o público cabo-verdiano. Por um lado, isto justifica- se com o facto da não familiaridade34 das pessoas com os espaços museológicos, daí a

34Esta realidade nos é apresentada ainda na década de 90 por Nélida Rodrigues na sua descrição da população cabo-verdiana afirma que a esta não se encontra familiarizada com os museus, não consegue perceber a sua utilidade; a sua importância nem o seu significado, acrescentando que a mudança dessa mentalidade estaria nas mãos dos profissionais de museologia bem como da elite cultural. (Rodrigues 1991: 62) 20

fruição por públicos nacionais ser quase inexistente. Por outro lado, as pessoas que contribuíram com objectos e/ou informações para a constituição do acervo e dos inventários não são envolvidas nas programações nem nas políticas dos museus, o que acaba por não favorecer a aproximação das comunidades aos museus.

A mudança de mentalidade neste aspecto vem sendo feita com campanhas de sensibilização junto às comunidades de referência e com o desenvolvimento de actividades lúdico-pedagógicas integradas no serviço educativo junto da comunidade académica. A este respeito Ana Samira Carvalho afirma que “temos que trabalhar com as escolas para que esta nova geração não seja como a anterior, ou seja, para que, desde o início da vida escolar, tenha contacto com esta entidade e que possa ver no museu uma referência para o seu conhecimento escolar”35.

As exposições permanentes resultam de recolhas feitas na década passada, não havendo estudos e investigações actuais que as actualizem e permitam a construção de novas narrativas. Consta-se ainda que se limitam à descrição dos objectos/conteúdos não explorando nem desenvolvendo informações inerentes a eles.

Com a descentralização do poder e na sequência de se criar museus que espelhassem a realidade territorial de cada região, as autarquias vêm mobilizando esforços no sentido de dotarem os seus municípios de equipamentos culturais como forma de desenvolvimento cultural da sua população. Esta aspiração tem resultado em museus municipais, como é o caso do Museu Municipal de São Filipe na ilha do Fogo (2008) e em projectos semelhantes noutros municípios. É neste âmbito que a Câmara Municipal de Santa Catarina vem propor a criação do Museu da Cidade que será integrada num outro projecto que é a Rede Museológica Municipal de Santa Catarina, apresentada na XIV Conferência Internacional – 28 e 29 de Outubro de 2011, organizada pelo Minom na cidade de Assomada.

No âmbito deste projecto, notamos que algumas propostas que se assemelham a outras já existentes, como é o caso do museu do Mar e o da Imigração, que já se encontram projectadas para outras ilhas. Parece-nos que alguns projectos se desenvolvem de forma aleatória, não se estabelecendo uma ponte entre as necessidades,

35Fonte: Binókulu (18 de Maio de 2013). Museus de Cabo Verde vêm registando aumento de visitas. Acedido a 29 de Maio de 2013 em http://www.binokulu.com/2013/05/18/museus-de-cabo-verde-vem- registando-aumento-de-visitas/ 21

a realidade e as aspirações do poder político. A solução deverá passar pela efectivação do projecto da Rede Nacional de Museus

Os museus passam despercebidos no seio da população nacional tendo maior expressão no seio do sector turístico. No ano passado, os museus nacionais receberam 2.741 turistas36. O que observamos é que este é um dos principais públicos-alvo dos museus, no entanto, não existe uma consonância entre o sector cultural e o turístico. Nem no facto de se apetrechar as ilhas de maior atracção turística - ilha do Sal e da Boavista - com estruturas museológicas, uma vez que a ilha de Santiago é a que apresenta o maior número de museus. Nem no sentido destas duas áreas trabalharem em sintonia, com vista a desenvolver projectos de carácter sustentável com impactos significativos a nível da população e da sua envolvente.

O (re)pensar da museologia no caso cabo-verdiano, no tempo presente, deve resultar de uma reflexão dos projectos já delineados e que buscam ser implementados no sentido de os adaptar à realidade actual, uma vez que a sociedade encontra-se em constante mudança e portanto as exigências podem evoluir. Sendo que os museus são de carácter temático, ligados aos aspectos sócio-culturais, e dado o facto de se constatar uma ausência da população nacional no que toca a sua fruição, dever-se-á fazer uma reavaliação dos fundamentos que lhes dão origem. Neste âmbito, deve-se delinear uma política cultural virada para a promoção e divulgação do património a nível nacional, a fim de criar a consciencialização sobre a sua importância para o desenvolvimento integrado. Portanto, defendemos que sejam intensificadas as campanhas de sensibilização junto às escolas, mas também que as diversas entidades do plano social se articulem com vista a se poder chegar ao público não académico.

Em suma, pode-se dizer que a situação museológica de Cabo Verde parece acompanhar, embora de forma lenta e gradual, a movimentação internacional em torno das questões patrimoniais da actualidade. A participação nos encontros organizados pelo Icom37, ao longo destes anos, a orientação por documentos e instrumentos

36 Dados avançados pela técnica responsável pela museologia nacional, Ana Samira Carvalho. Fonte: (Idem) 37 Este organismo tem promovido desde finais da década de 80 vários encontros entre os museus dos países da comunidade de língua oficial português. Neste âmbito, o primeiro teve lugar no Rio de Janeiro em 1987, o segundo encontro aconteceu em Mafra-Portugal no ano de 1989, o terceiro na Guiné-Bissau em 1991, o quarto teve lugar no Macau em 1994; o quinto em Maputo no ano 2000 e o último aconteceu em Lisboa em 2011. Cabo Verde tem sido presença constante desde 1989 onde se fez representar por Manuel Veiga na qualidade de Director Geral do Património Cultural de Cabo Verde, entre 1991 e 1994. Em 2000 por Nélida Rodrigues como Chefe de Divisão de Museus do Instituto Nacional de Cultura de 22

internacionais, as campanhas de sensibilização e o crescente número de projectos desenvolvidos neste âmbito expressam as intenções do país em se afirmar a nível cultural.

3. Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, Museu da Tabanca e Associação Nacional da Tabanca.

3.1 Contributos para o conhecimento da Tabanca, património cultural de Cabo Verde e de suas representações Dependendo do que estivermos a referir, o termo «tabanca» poderá assumir os seguintes significados: associação (comunidade), festividade (prática cultural), género de música e dança tradicional cabo-verdiana.

Funciona como uma irmandade e apresenta duas características fundamentais: por um lado, as festividades em comemoração ao santo padroeiro - (3 de Maio); Santo António (13 de Junho) São João Baptista (24 de Junho) e São Pedro (29 de Junho) – que envolvem rituais religiosos e lúdicos. Por outro lado, assenta numa filosofia solidária, de partilha, cooperação voluntária e mútua em situações de crise, morte, doença, casamento, baptismo e nas fainas laborais da agricultura, pesca ou construção civil. Razão pela qual encontra-se definida como uma «associação laica de socorros mútuos, com actividades cultuais e festivas em determinados períodos do ano» (Semedo e Turano 1997:77) ao qual chamamos de «tabanca» ou «comunidade da Tabanca». Encontra-se fixada em zonas, bairros e localidades rurais e/ou urbanas da ilha de Santiago e do Maio.

O seu surgimento e percurso histórico são bastante conturbados. Historicamente os documentos oficiais existentes a enquadra no século XVIII. A sua componente africana valeu-lhe a opressão por parte do poder político durante o período colonial, situação que veria a reverter com o alcançar da independência, onde passa a ser reconhecida como manifestação cultural do país. (cf. ap.7 A10-12). Estudos referentes à Tabanca têm inicio nos finais do século XX, tendo maior incidência nos últimos anos da década de 90 (cf. ap.8 A13-17),

Cabo Verde. E em 2011 por Humberto Elísio da Cruz Lima e Ana Samira Carvalho Semedo Silva na qualidade de presidente e responsável pela Direcção das Ciências Sociais e Humanas do Instituto Investigação e dos Patrimónios Culturais. 23

Existem actualmente dezanove comunidades38 activas, sendo três no município da Praia; uma no município de Santa Cruz; São Lourenço dos Órgãos; Ribeira Grande de Santiago e município do Tarrafal e na ilha do Maio e onze no concelho de Santa Catarina. E ainda podemos acrescentar a tabanquinha de Chã de Tanque, que é composta somente por crianças.

Cada tabanca é composta por residentes da própria localidade. Tal como afirma Almada, «é uma associação de base territorial» e território que por sua vez «constitui a base fundamental de recrutamento dos associados da Tabanca»39 (Almada 1997:86). Contudo, esta não é uma regra que se aplique na integridade.

Do ponto de vista comunitário, as tabancas demonstram ser organizações capazes de providenciar soluções para problemas sociais, pelo menos as mais prementes. Em tempos, coube a estas associações um papel de grande importância para a estabilidade e bem-estar das populações (Silva 1997: 90), chegando mesmo a desempenhar funções de autoridade com poderes, conferidos pelo Governo, para manter e estabelecer a ordem em casos de distúrbios e desacatos sociais (Spínola1997:96)40. Para garantir as festividades anuais, resolver problemas de subsistência, bem como a providência de auxílio em caso de necessidade individual ou colectiva, são pagas quotas periódicas41.

Prática atribuída à «camada mais baixa da população» (Semedo e Turano 1997:63,100 e 106), que corresponderia, no meio rural, aos camponeses e trabalhadores braçais ligados aos grandes proprietários e, na cidade, aos trabalhadores braçais com um nível de instrução «muito baixo»42 (Almada 1997: 87), tem como protagonistas pessoas de idade avançada, jovens, mulheres e crianças; envolviam-se com elas senhores proprietários e padres católicos. Actualmente, «na cidade da Praia, as tabancas atraem

38Praia: Tabanca de Achada Santo António; Tabanca da Várzea; Tabanca de Achada Grande Frente. Ribeira Grande de Santiago, Cidade Velha: Tabanca de Salineiro. Santa Catarina: Tabanca de Ribeirão Engrácia e Tabanca Cutelo Tavares (Chã de Tanque); Tabanca Boca Mato e Tabanca Lém Cabral (), Tabanca Achada Grande, Tabanca Mato Sanches, Tabanca Ribeira em Cima, Tabanca , Tabanca , Tabanca Mato Baixo e Tabanca Tomba Touro. São Lourenço dos Órgãos: Tabanca São Jorge. Tarrafal: . Santa Cruz: Tabanca Ilha do Maio: Tabanca Calheta 39 Pois, como pudemos verificar durante o trabalho de campo, em alguns casos existem membros que residem em outras localidades; assim como nem todos os residentes de uma localidade fazem parte da tabanca. 40 Esta é uma versão que demonstra que nem sempre a relação entre as autoridades coloniais e as tabancas foram conflituosas. 41 Hoje, devido a realidade económica, cada membro contribui com o que pode e quando pode. 42 Tal como observou Trajano Filho, também nós pudemos constatar durante o trabalho de campo, que hoje os membros das tabancas possuem diferentes níveis de instrução (indo desde analfabetos aos com formação superior) e ocupam cargos e estatutos sociais de responsabilidade. 24

pequenos empresários, funcionários públicos de médio escalão, empregados qualificados do sector de serviços e lideranças políticas que, em geral, ocupam posições de destaque nos bairros populares». No interior, «camponeses afluentes, proprietários de hortas irrigadas em que se plantam cana-de-açúcar, frutas e legumes, gente que passou anos “embarcada” na Europa e nos Estados Unidos, agora vivendo das pensões que recebem mensalmente do exterior, e até mesmo jovens com educação secundária, filhos e netos desses camponeses, têm posições de destaque em muitas tabancas do interior». (Filho 2006: 7).

Os rituais podem ser de carácter festivo ou fúnebre43. Realizadas, anualmente em louvor ao santo padroeiro as festividades tem inicio três dias antes da festa do Santo. Há todo um convívio comunitário que integra «comes e bebes» acompanhado de música e dança onde, tradicionalmente, se faz presente o batuque. Por ordem sequencial, o dia do santo, começa com o hastear da bandeira, a missa e o roubo do “santo” na capela da Tabanca (que é a sede da Tabanca, e onde se encontra erguido o altar). Tradicionalmente, a recuperação do “santo” deve acontecer sete dias depois do roubo do santo44. É neste dia que se realiza o desfile/cortejo, percorrendo várias localidades/bairros/zonas até chegar a casa da rainha de agasalho, onde se encontra o santo vendido pelos ladrões.

Os costumes e os rituais entre as tabancas são idênticos entre as comunidades, a diferença entre elas se estabelece no santo padroeiro a que cada um é devoto, a indumentária utilizada nos desfiles45; na adopção de um ou outro instrumento rítmico.

A este respeito, deve-se dizer que «cada tabanca tem um ritmo característico de tambor que o individualiza e personaliza [...] o búzio e os apitos completam a parte de

43 Realizado aquando do falecimento de um membro, este compreende os seguintes actos rituais: primeiramente há as salvas de tristeza - «toques fúnebres, espaçados e alternados, de tambores e búzios»; de seguida os pêsames - visita à família enlutada, onde se levam ajuda monetária e géneros alimentício. Chegado a casa do defunto, deve-se «beijar, nas mãos do rei, as duas varas [...] alguns pessoas deixam-se ficar durante o período de esteira (8 dias)». Os membros dirigem-se, ao cemitério, cantando em coro «um cantochão lúgubre» uma vez no cemitério «as filhas-de-santo, empunhando bandeiras brancas com pequenas cruzes vermelhas, prestam homenagem ao defunto, cruzando-as ao alto, duas a duas, uma de cada lado da cova. De joelhos, todos os presentes rezam enquanto o mestre das cerimónias religiosas, com as varas em cruz, preside o ritual», a tristeza parece ser passageira, ou como explica Monteiro os santos «detestam a tristeza», por isso manda a norma que se rufe os tambores e se sopre as cornetas. Assim, que ao saírem do cemitério já se encontram os tamboreiros e os corneteiros a espera, (Monteiro 1948:17) 44 Na realidade o santo roubado não é a imagem, mas sim uma bandeira branca decorada com uma cruz no meio, que simboliza o santo, juntamente com duas varas de marmeleiro, com uma fita vermelha atada numa das pontas. (Semedo e Turano 1997:80). 45 Note-se que cada um traja conforme as suas posses. Segundo o presidente da Associação Nacional da Tabanca e a técnica do Museu da Tabanca as tabancas rurais são mais modestas e os desfiles não são tão coloridos e ornamentados como aos da cidade da Praia. 25

percussão [...]. Cada uma [...] a sua cantiga, e pelo menos em cada ano surge um tema novo.» (Gonçalves 2006:29). Segundo informações obtidas, outrora as comunidades tratavam-se por «reinos», daí se estruturem à semelhança do modelo monárquico, com reis e rainhas46. A este respeito, Trajano Filho afirma que elas representam uma mini- sociedade com «chefes, agentes da ordem, contraventores, personagens com prestígio diferenciado, valores e símbolos próprios» (Filho 2006:7).

3.2 A Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, o território e a sua envolvente

A Tabanca de Achada Santo António encontra-se fixada no bairro de Achada Santo António – cidade da Praia – onde tem a sua sede (capela da corte). A capela é onde se encontra erguido o altar em homenagem ao Santo António e onde se realizam os rituais comemorativos em devoção ao seu padroeiro. 47 É também onde, por ausência de espaço, se tem guardado todos os materiais e instrumentos utilizados nos rituais. A este propósito, deve-se dizer que devido à pequenez do espaço as actividades festivas se estendem à rua, que é conhecida por todos, como «a rua da tabanca». Encontra-se sempre aberta sobretudo nos dias das actividades, onde somente os «ladrões» são proibidos de entrar. Nos restantes dias, a visitar à capela é feita somente mediante solicitação a um dos membros.

Por meio das entrevistas, não conseguimos obter informações concretas acerca da história da TASA. Contudo pudemos através da entrevista dada pelo ex-governador da TASA, Djudja, que já esteve inactiva por um período de 23 retomando as suas actividades na década de 70. Quanto a devoção ao Santo António, o mesmo explica numa entrevista concedida a José Rui de Pina «Zerui DePina»48, que tanto o bairro

46 Basendo-se no modelo monárquico a tabanca tem vários reis e rainhas, além destes fazem também parte figuras cómicas como: falcão, burro, besta, carrasco, ladrão; figuras que representam estratos sociais: padre; juiz; enfermeira; freiras entre outras e por fim os bazados ou cativos (Almada 1997:87) 47 Na parede central - do seu interior - encontra-se embutida uma cruz de Cristo pintada de branco; decorada com imagens de Virgem Maria; Jesus Cristo, São João Baptista e Santo António. O tecto e as outras paredes estão decorados com vários acessórios festivos: balões e serpentinas de aniversário; imagens de santos católicos. Do altar fazem parte, duas figuras do Santo António, uma delas (a mais pequena) apresenta-se sem a cabeça; uma da Nossa Senhora; búzios de diversos tamanhos - Os búzios são chamados de cornetas e cada um tem a sua função específica. As maiores são chamadas de «bombona» (que produz mais som e volume), as de médio porte meia bomba (utilizada como reforço da bombona e as «cornetinhas»; velas; vasos com flores artificiais; as quatro varas de marmeleiro e as bandeiras (que simbolizam o santo no acto do «roubo»). No seu interior também se encontram vários instrumentos e matérias utilizados nos rituais. 48 Musico cabo-verdiano radicado nos Estados Unidos, co-fundador da organização não-governamental «Nos di Tchada i Amigos|Nós da Achada e Amigos» (cf. ap.3 A5). Também autor e administrador da radiotelevisão amadora «PilanKatuta», de criação virtual, onde o mesmo publica vídeos e fotografias 26

como a tabanca são devotos ao mesmo santo, por isso, e na nossa compreensão a ligação entre a tabanca e o nascimento do bairro encontram-se intimamente ligados.

A TASA é chefiada por Luís Araújo mais conhecido por «Torresma» que ocupa o cargo de rei e governador da tabanca há 12 anos. Ao governador atribuída a função de coordenar e programar todas as actividades relacionadas com os festejos e outras actividades aos quais a tabanca esteja ligada ou para que seja solicitada; manter a ordem e a união da comunidade; promover o bom relacionamento com as outras comunidades e com a sociedade em si. Também trata das burocracias junto das entidades, para, através dos seus conhecimentos e contactos, tentar angariar fundos e ajudas para a sua comunidade. Portanto, no fundo o chefe é além de responsável pela comunidade, um mediador entre esta o poder político e a sociedade civil. (cf. ap.9 A66-72).

Para as festividades anuais, a comunidade conta com o fundo proveniente das quotas (300$00 escudos cabo-verdianos (2.73€)); dos pedidos e das ajudas provenientes da Câmara Municipal da Praia; do Ministério da Cultura através do Instituto da Investigação e do Património Culturais; bem como outras entidades públicas e privadas, amigos e simpatizantes. O peditório e a procura do patrocínio é uma tarefa que não cabe somente ao chefe da tabanca, outros membros também se mobilizam para que as festas sejam realizadas49.

A TASA é composta actualmente por mais de 600 pessoas, segundo o chefe constam da lista dos associados 400 membros, e afirma que nas comemorações de 2012 o número aumentou para 600. Entretanto outros entrevistados afirmam que antigamente o número de associados era bem maior, mas que alguns já faleceram, outros devido a idade ou problemas de saúde já não participam das festividades ou já delegaram as suas funções e outros emigraram; razão pela qual alguns dos costumes se tem perdido e nem todos os rituais estão sendo realizados.

Relativamente a perda de alguns costumes, o chefe da TASA afirma que durante os tempos em que esta a frente da TASA alguns costumes foram retomados, algumas personagens e figuras foram reintroduzidas no desfile e que para assegurar a tradição e a

tiradas e produzidas pelo próprio de eventos culturais; acções de beneficência realizadas pela dita ONG, e por ele mesmo. 49 A par disto, o chefe da tabanca partilhou connosco que em 2012, o poder autárquico contribuiu com o montante de 50 mil escudos (por estarem em campanha eleitoral, o montante este ano foi um pouco reduzido), que o Ministério da Cultura tinha disponibilizado 15 mil escudos cabo-verdianos, mas que até a data não tinha sido liberado pelas finanças. 27

continuidade da comunidade, os mais jovens têm recebido formação, sobretudo a nível dos instrumentos musicais.

A este respeito, constatamos que durante as festividades de 2012, (cf. ap.10 A160-165) o batuque, que outrora era praticado pelas mulheres da própria comunidade, coube às batucadeiras de Monte Agarro, que foram convidadas a animar as noites de convívio. Aqui Alfredo Lopes diz que este ritual se está perdendo e que as mais jovens já não querem saber das tradições (cf. ap.9 A73-74). Mas outros entrevistados afirmam que para que a festa fique mais animada têm convidado grupos e pessoas que não fazem parte da tabanca. (cf. ap.9 A75).

Ainda relativamente às tradições verificamos que nem todos os membros têm conhecimento das regras, existindo uma espécie de «segredo» e um conhecimento que é transmitido geracionalmente ao qual nem todos os membros estão a par, mas que no entanto as principais regras são transmitidas aos membros de forma a realizarem os rituais. (cf. ap.9 A44 e 55).

Constatamos, ainda, que as funções são atribuídas; embora saibamos que alguns cargos são herdados entre familiares. Alguns aderiram por interesse e gosto próprio, aprendendo as funções com os membros mais antigos ou que ocupam cargos de hierarquia, outros no seio familiar. Em alguns, nota-se a ambição de um dia desempenhar uma outra função, nomeadamente a de ser governador da tabanca.

O seio familiar é um dos principais meios onde se pode formar e recrutar novos membros. Pois é o ambiente mais propício para a transmissão do saber fazer. A este respeito, alguns membros entrevistados expuseram a sua preocupação em relação a continuidade da comunidade, uma vez que hoje nem todos os familiares, sobretudo os mais jovens, querem assumir alguma responsabilidade ou querem fazer parte da tabanca. Razão pela qual é cada vez mais importante incentivar as crianças e procurar atrair pessoas que a priori não têm ligação a tabanca; como vizinhos, conhecidos ou pessoas que demonstram simpatia e que aderem a comunidade no momento das festividades praticando ou ajudando nas actividades.

A relação entre os membros é descrita por uma relação de respeito sobretudo para com os mais velhos, de harmonia e entreajuda em situação de morte e doença caso o membro não tenha condições de suportar os custos.

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A Achada de Santo António é um dos bairros populares da cidade da Praia e é a sede desta tabanca. Localiza-se na zona sul do município, uma das áreas com maior densidade populacional. Situa-se geograficamente num planalto de frente para o mar, e abrange uma área de 887,142 m² (PDM-Praia 2011 Cap.I:13) por onde estão distribuídos 12.965 mil habitantes50. Territorialmente, o bairro encontra-se dividido em várias zonas: Achada Riba; Brasil; Meio da Achada; Di Nôs, Quelém.

Ali se encontram instalados vários organismos políticos e sociais. A nível social dispõe de infra-estruturas que asseguram o bem-estar da população local e dos bairros vizinhos tais como: estabelecimentos comerciais; escolas e institutos de ensino público e privado51; centro de saúde; equipamentos desportivos e culturais52. Podemos considerar que a realidade social do bairro, embora esteja dotado de infra-estruturas de peso que garantem a estabilidade e bem-estar da população local e municipal, é um reflexo da sociedade cabo-verdiana, sobretudo do meio urbano e como tal apresenta inúmeros problemas sociais53. É um pouco contraditório a realidade dos moradores deste bairro, por um lado podemos encontrar famílias bem abastadas apresentando um nível médio ou elevado de vida, e por outro podemos notar famílias bastantes carenciadas com dificuldades em suprir algumas necessidades.

Nesta base, podemos traçar os seguintes perfis dos moradores locais, em relação a tabanca local. Por um lado temos os que apoiam e participam das festividades e das actividades, são por vezes familiares dos membros que não se encontram oficialmente registados na tabanca; ou ainda moradores da mesma zona do bairro ou de diferentes bairros da capital que por gosto participam e se envolvem nas actividades, sobretudo nos momentos de festa. Note-se que o desfile e os festejos estão abertos ao público, onde membros e não membros se relacionam num ambiente de convívio. Os que apenas observam os festejos e são simpatizantes, mantêm uma relação de vizinhança com os membros que moram na mesma rua; ou que são conhecidos. E os que não apreciam de todo a Tabanca, neste âmbito, apenas um dos entrevistados partilha desta opinião,

50 Dados do Censo 2010 Fonte INE.CV. (cf. quadro5 A171) 51 Note-se aqui, que o nível destes estabelecimentos vai desde do infantário ao superior. Onde além de duas escolas secundarias temos o Instituto Universitário de Educação. 52Importa aqui dizer que a este respeito além do auditório da Assembleia Nacional que é utilizado para eventos culturais, a embaixada de Portugal que dispõe e gere o centro cultural português/ instituto Camões) e o Centro Cultural Humaitá. Ainda neste âmbito, o bairro faz-se representar por mais de 10 associações comunitárias de cariz social e cultural das quais destacamos a Associação Desportiva Recreativa Achadense; Associação Bibinha Cabral; Grupo Kriolo Roots; Grupo Kobom; Associação Juvenil Boa Esperança; Grupo Musical Sumara; Escola de Percussão Kwame Gamal. 53 A este respeito o bairro ostenta a fama de uma das mais inseguras da capital. 29

contudo, o nosso conhecimento do território nos permite fazer esta afirmação. (cf. ap.9 18-45).

Quanto à relação com as outras comunidades, Luís Araújo garante que é de amizade e respeito. Observa-se uma relação mais próxima entre as comunidades da cidade da Praia do que com as do interior. Com a da tabanca da Várzea existe uma parceria no que toca a confecção e reparo dos tambores – a este respeito os entrevistados afirmaram que alguns membros estão a ter formação junto ao confeccionador da tabanca da Várzea para que não dependam sempre da dita tabanca e para depois transmitirem o ensinamento a própria comunidade. Pode-se observar em relação mais estreita em a Tabanca de Achada Grande, onde normalmente é vendido o «santo» e com a qual tem participado em alguns eventos culturais. A respeito destas relações deve-se dizer que nas festividades de cada tabanca é normal que membros de diferentes tabancas estejam presentes e até mesmo ajudem nos preparativos e nas comemorações, mantendo assim uma relação de amizade e entreajuda.

Caracterizam-se como uma tabanca jovem e que se diferencia das restantes tabancas não só pelo santo e pelo ritmo dos seus tambores e cornetas, mas também por estarem melhor apetrechados e por terem um maior número de membros jovens. A par disto, alguns dos entrevistados destacaram a participação e adesão de jovens e crianças como um dos principais trunfos desta tabanca.

As principais necessidades da TASA, actualmente são: necessidades de ordem financeira para realizarem as festas anuais. A nível organizacional e estrutural onde reivindicam uma capela, um espaço maior para realizarem os seus rituais festivos, para se reunirem e para guardarem os instrumentos e trajes utilizados nas festas. À data das entrevistas realizadas, apontou-se a necessidade de um espaço maior para a capela. Segundo os mesmos, a capela é um anexo da casa de um dos ex-chefes da TASA João Lopes mais conhecido por «Djonsa Donana» a quem me disseram ser o fundador daquela tabanca. (cf. ap.9 A36,59,76). Tal necessidade já foi comunicada às entidades competentes, Câmara Municipal da Praia e Ministério da Cultura, para que autorizasse que a família construísse um andar de cima e assim ceder o rés-do-chão, de modo que a actual capela seria ampliada ocupando todo o espaço. (cf. ap.9 A56,67,78).

Quanto aos problemas de carácter social, os membros demonstraram estar particularmente preocupados com a violência urbana fomentada pelo desemprego e abandono escolar dos jovens e dos adultos. A propósito destas questões, notamos que 30

apesar de nesta tabanca existirem membros com cargos, qualificações académicas e profissionais, boa parte não completaram o ensino primário ou secundário sendo alguns analfabetos. A par destas observações, alguns dos nossos entrevistados manifestaram o desejo de ter acesso ao ensino caso houvesse possibilidade.

Importa ainda salientar que a Tabanca é uma manifestação de carácter pontual, cujos praticantes levam uma vida normal e se inter-relacionam; assim muitos possuem gostos e hábitos culturais como a prática do futebol, e praticam actividades como a costura e o bordado, a culinária ou a carpintaria, entre outros.

O que constatamos aqui é que apesar de ser uma manifestação de cariz tradicional e serem descritos como sendo uma comunidade conservadora, notamos uma certa abertura no que diz respeito a alguns costumes. Isto é, em termos musicais a Tabanca está associada ao «batuco», que é um género de música e dança tradicional e típica da ilha, contudo notamos que o batuco embora ainda continue, já não é praticada pelas mulheres da comunidade, tendo sido convidadas batucadeiras do Monte Agarro para animarem as festas. A este respeito Alfredo Lopes (Fefé) tece o seguinte comentário «esta prática está-se a perder, as mulheres sobretudo as mais jovens já não querem saber das tradições». Ainda neste âmbito, notamos que além das músicas tradicionais fazem parte do repertório musical, que animam as festas, diferentes géneros musicais da actualidade54. Esta situação é fruto das mudanças sociais e da própria adaptação aos tempos e deve-se às novas gerações que vêm ocupando cargos dentro da comunidade.

Para que se pudessem realizar as festividades, a comunidade teve de pedir que grupos rivais de «thugs» de Achada Riba e Brasil fizessem as pazes e assim se pudessem comemorar num ambiente em paz e harmonia. Paralelamente a este pedido, foi solicitada a presença dos polícias, a pedido da comunidade, para que garantissem a segurança durante o desfile pela cidade.

3.3 Museu da Tabanca, análise ao equipamento cultural Enquadrado nas iniciativas patrimoniais e museológicas, o projecto Museu da Tabanca nasce como medida de salvaguarda da Tabanca enquanto património cultural cabo-verdiano. Foi concebido com base no material recolhido pelas entidades de gestão

54 Música electrónica; hip hop; kizomba, semba são alguns dos géneros musicais que se ouviram nesses dias. 31

cultural e patrimonial do Estado, junto das várias comunidades da Tabanca existentes na ilha de Santiago.55

É tutelado pelo Ministério da Cultura encontrando-se sob a responsabilidade do Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC). De frisar que a gestão do mesmo é partilhada com o poder autárquico de Santa Catarina (Câmara Municipal de Santa Catarina), resultado do protocolo assinado em 2011 entre ambas as instituições.

Inaugurado em Fevereiro de 2000, a história do museu divide-se em dois momentos: o momento Assomada - que recebeu o museu desde a sua fase embrionária até alcançar alguma maturidade - e o momento Chã de Tanque – onde se localiza desde 2010 - duas localidades do município de Santa Catarina. (cf. ap. 11 A166-170).

O museu funciona diariamente com uma única técnica, a quem compete desenvolver várias tarefas. Contudo, existe uma estratégia de rotatividade dos técnicos do instituto de forma a colmatar a carência de recursos humanos.

Relativamente à acessibilidade física, pode-se considerar que a localidade de Chã de Tanque é beneficiada por uma boa estrada municipal 56. Porém, verifica-se a ausência de sinalização nos trajectos «Praia – Assomada», ou «Assomada – Chã de Tanque»; no centro histórico da cidade de Assomada e mesmo nas imediações do próprio edifício, essa situação dificulta a ida de visitantes ao museu.

Encontra-se aberto ao público de terça a sábado das 9h00 às 12h00 e das 14h00 às 18h00. Em termos de sustentabilidade do espaço, o museu dispõe de um orçamento reduzido e não gera receitas. A este propósito deve-se salientar que as visitas têm um custo de 100$00 escudos cabo-verdianos, sendo que a população local e os estudantes estão isentos.

As actividades desenvolvidas pelo museu resumem-se sobretudo às visitas guiadas, à promoção de actividades culturais: música e dança; palestras e serviços educativos destinados sobretudo ao público estudantil57. No âmbito, da recente parceria com as universidades e instituições de ensino superior nacional, o museu tem recebido

55 As primeiras datam de 1993/1994 e foram recolhidas pelo então Instituto Nacional da Cultura (INAC) sendo que as restantes foram feitas pelo Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC) entre 2006, 2007 e 2008. (informação obtida do folheto do museu). (cf. imagem 8 A180) 56 Recentemente asfaltada e que fez parte do programa de ajuda internacional Norte América (EUA) o programa Millenium Challenge Account para Cabo Verde. 57 A programação deste serviço é feita segundo o nível escolar e o tema a ser abordado. Neste âmbito, surgiu o projecto “Aprender Brincado”, um projecto de educação patrimonial, que consistiu no deslocamento às escolas do ensino básico do município com peças do museu. (cf. ap.9 A156) 32

alguns estagiários. Também é público do museu os turistas sobretudo de nacionalidade holandesa; francesa; inglesa e alemã. Estas visitas são solicitadas e organizadas pela agência turística Aventura, com a qual tem parceria, e estes têm sido os principais públicos do museu. (cf. ap. 9 A152-159).

O museu é composto por 3 salas de exposições; um gabinete administrativo, casa de banho; reserva; recepção/loja de recordações e um auditório. Anexo ao edifício existe um outro edifício - que se separa do museu por meio de um pátio – onde vivem algumas famílias. A parte de frente do museu é uma grande varanda onde as pessoas costumam sentar-se à sombra colocando a conversa em dia, é também um lugar de passagem que dá acesso a algumas residências Possui alguns equipamentos técnicos como televisão, computador e DVD.

Constituiu-se, com base na colecção a exposição permanente do museu. A sua montagem obedece a descrição das festividades da Tabanca e compreende instrumentos musicais; objectos sagrados; trajes; utensílios e alguns registos fotográficos. Está organizada ao longo de três salas sendo que na primeira sala podemos encontrar uma mistura de várias peças representativas diferentes fases do desfile. A segunda sala é representativa da capela/corte, ali encontra-se erguida um altar em homenagem ao «Santíssimo Cruz». Montada com os utensílios utilizados na confecção e na degustação dos alimentos e decorada com fotografias temos a terceira sala expositiva que é dedicada a comensalidade e ao batuque. (cf. imagens 4 e 5 A170)

O museu apresenta inúmeras debilidades, que vão desde o campo conceptual a sua envolvência social. Isto é, em termos museológicos constatamos que não dispõe de uma programação cultural pré-estabelecida, ou seja as actividades são desenvolvidas de acordo com a solicitação do público visitante, sendo que no caso do público académico esta depende do nível de escolaridade e do tema a ser abordado, e no caso de visitas de nacionais ou de estrangeiros se resumem a visita-guiada.

Relativamente à exposição, deve-se dizer que até à data não se tinha desenvolvido nenhuma exposição temporária. De salientar que embora a exposição permanente seja construída com base nos objectos e peças recolhidas nas diferentes comunidades da tabanca da ilha, o que de certa forma demonstra que as comunidades estão representadas no museu, achamos que a sua narrativa é bastante generalista, não fazendo jus à história e à realidade que envolve a Tabanca. Pois, se tivermos em conta o percurso histórico, a representatividade (símbolo da resistência colonial) e a própria 33

definição oficial da tabanca58 (que a define também como organismo de carácter social com capacidade para providenciar assistência social), podemos afirmar que a exposição permanente fica aquém das expectativas, na medida em dá maior ênfase aos aspectos festivos. Aqui não queremos desmerecer o trabalho efectuado, o que queremos dizer é que na nossa opinião não se explorou, a transversalidade desta manifestação cultural.

A respeito dos suportes de comunicação estes se resumem a tabelas, placas, folhetos e fotografias. Os objectos e as peças59 estão identificados pelas tabelas que contêm informações a respeito da sua procedência (de que tabanca provém); a sua denominação, a sua função; a data de recolha; o autor da recolha; e seu estado de utilidade aquando da recolha (se estava em utilização ou se já não tinha utilidade). Cada objecto/peça tem a sua tabela, excepto as que estão integradas em conjunto. O que pudemos observar neste ponto, é que nem todas as tabelas estão visíveis, existindo casos em que os objectos não têm qualquer descrição.

Além da placa de inauguração, que se encontra à entrada do museu, podemos, no seu interior e ao longo do percurso expositivo, encontrar várias placas com conteúdos informativos e descritivos. Nas paredes do hall de entrada deparamos com duas placas, uma de conteúdo institucional e outra relativa ao edifício. À excepção da primeira, pode-se encontrar, pelas salas de exposição, vários exemplares cuja disposição e conteúdos obedecem e correspondem a cada etapa da Tabanca retratada pela exposição. A estes se juntam as fotografias segundo a mesma organização.

Relativamente a estes pontos tecemos ainda os seguintes comentários. Especificamente falando da sala representativa da corte, onde se encontra erguido o altar, notamos que entre os objectos expostos, no chão, se encontra uma tela com várias fotografias e uma tabela com informações específicas sobre esta fase da Tabanca. Tal localização afecta em vários níveis a compreensão desta parte ritual, uma vez que, por um lado, os objectos estão a obstruir a sua visualização, podendo passar despercebidos entre os objectos; por outro lado, pode ser desconfortável a sua leitura pois algumas pessoas terão de se agachar. Ainda para sua leitura o visitante terá de se aproximar, o que pode acidentalmente provocar o contacto entre este e as peças que se encontram à frente e causar danos ao objecto.

58 «Associação laica de socorros mútuos, com actividades cultuais e festivas em determinados períodos do ano». Semedo e Turano1997:77 59 Note-se que há peças no museu com mais de 100 anos. 34

Em todos estes dispositivos os textos estão escritos em português, não existindo nenhuma versão em língua estrangeira, e tendo em conta que os turistas são um dos principais visitantes do equipamento, sendo em raros casos de nacionalidade portuguesa, a inexistência de uma outra versão linguística dificulta a compreensão por parte destes.60 Ainda neste contexto, nota-se que o conteúdo dos textos não se distância das bibliografias de referência, o que a nosso ver uma visita ao museu não acrescenta muito ao conhecimento já adquirido, sobretudo aos estudantes e investigadores que conseguem ter acesso as informações por outras vias.

3.4 Associação Nacional da Tabanca Fundada61 a 8 de Fevereiro de 2009, a Associação Nacional da Tabanca 62 (ANT), é uma organização não-governamental destinada à salvaguarda da Tabanca. Tem por objectivo: a) defender e preservar a Tabanca enquanto uma manifestação cultural; b) promover e dinamizar a divulgação da tabanca no seio dos jovens visando a sua continuidade; c) promover, anualmente uma festa da Tabanca; d) ajudar os diversos grupos de Tabanca a organizarem de forma a melhor enfrentar os desafios que se lhes colocam; e) desenvolver projectos e procurar parcerias que garantam financiamento às actividades da Tabanca; f) prestar assistência técnica; financeira e material aos grupos da Tabanca e) apoiar os associados em caso de necessidade ou dificuldade.

A associação nasce por iniciativa das comunidades da tabanca, com o intuito de se unirem e mutuamente se ajudarem na providência de soluções para problemas comuns.

É coordenada por Luís Francisco Gomes mais conhecido por «Luís Leite» - que é o presidente – e os chefes das tabancas activas63. Aqui, é de se salientar que o presidente da associação não é integrante de nenhuma tabanca. Este é apenas um defensor das causas da Tabanca. Segundo o próprio existe uma relação de muita

60 Apesar desta observação não descuramos do facto de que no caso do turismo cultural o perfil do visitante tende a caracteriza-lo como um indivíduo que já possui uma breve noção da cultura do país que irá visitar. O que normalmente procura é o contacto com situações, pessoas e sítios diferentes da realidade que conhecem, e em certos casos já possuem uma certa bagagem de conhecimento sobre certas particularidades e características do local. Resumidamente, é o deslumbramento com algo de exótico e típico que fazem essas viagens valer a pena. No caso do museu, achamos que é esse encantamento, que de certo modo, vem colmatar esta lacuna. Principalmente, por nalgumas actividades destinadas a este público, são realizadas com a participação presentes alguns representantes da tabanca local, que costumam fazer uma pequena demonstração do seu ritual. 61 Registada a 25 de Março de 2009 e publicado em 2009 no B.O. nº 12 de 3 de Abril de 2009 62 Embora esteja registada oficialmente sob o nome Associação de Tabanca e abreviatura (AT), segundo o presidente Luís Gomes Leite a associação assume-se como Associação Nacional da Tabanca (ANT) 63 Note-se que a data das entrevistas encontravam-se activas 17 tabancas. 35

amizade entre ele e as comunidades, salientando que existe uma relação muito próxima com uma das tabancas de Santa Catarina, concelho onde reside. O seu interesse por esta manifestação cultural surge ainda em criança, quando assistia aos desfiles das tabancas.

A respeito das dificuldades que as comunidades enfrentam o presidente afirma que estas são de várias ordens, sendo que as mais gritantes são as de nível financeiro e material. Isto é, segundo o presidente neste momento o estado das tabancas é de «miséria total», pois carecem de instrumentos; vestuário; e da capela. O mesmo ainda alerta para as questões de foro social que vêm afectando inúmeros membros das comunidades, afirmando que muitos se encontram no desemprego, o que contribui para a situação precária das famílias, e o que tem dificultado a realização das festividades anuais, que por sua vez é uma das causas para a desactivação de tabanca.

É detectando estas necessidades que a associação trabalha, tentando prover meios e desenvolver projectos em parceria com as câmaras municipais, o MC e algumas entidades privadas ou públicas com interesse na mesma causa.

Na lista dos feitos da associação constam: a revitalização da Tabanca de Salineiro (2009) que se mantinha inactiva «há 40 anos»; a realização do Festival da Tabanca que vem sendo realizado desde 2010 na cidade de Santa Cruz em parceria com o poder local64, também vem promovendo a partição das tabancas em eventos culturais de outros concelhos, como exemplo temos o festival da Santa Cruz realizado na Ribeira Grande de Santiago|Cidade Velha em 2009 onde se reuniram duas tabancas que têm o dia 3 de Maio como data comemorativa; a participação da Tabanca da Salina (Santa Cruz) na Feira Internacional de Agropecuária de Assomada em 2012 em parceria com a Câmara Municipal de Santa Catarina; a abertura de contas bancárias para cada tabanca (pois ainda subiste a tradição de guardar dinheiro em casa, e para que não haja perdas em caso de incidentes como roubo ou incêndio)

Quanto às comunidades, o presidente reconhece que estas são as principais dinamizadoras da manifestação e que graças a elas hoje temos Tabanca, e afirma que a «cada domingo se encontra com uma comunidade».

64 A entidade edil do concelho e a Associação Nacional da Tabanca, demonstraram o interesse e a ambição em transformar a Tabanca num produto turístico, numa expressa estratégia de exploração e potencialização dos recursos endógenos da ilha de Santiago, bem como de revitalizar os restantes grupos da Tabanca. Fonte: RTC (28/3/2011). Santa Cruz acolhe, pela 3ª vez o festival da Tabanka de Santiago. Acedido a 14 de Janeiro de 2012, em www..cv/index.php?paginas=13&id_cod=9403 36

Relativamente ao Museu da Tabanca, confessa que embora tenha colaborado na sua organização - até a data da sua inauguração - e tenha oferecido algumas peças para a sua colecção, não mantém, actualmente, qualquer relação com o museu. Diz reconhecer o seu papel, sobretudo por contribuir para a divulgação junto das pessoas que não fazem parte da tabanca e dos turistas - uma vez que as festividades são eventos pontuais - mas que ainda falta muito por fazer e que estruturalmente o museu ainda carece de alguns ajustes.

Nas palavras do presidente a ANT «é uma voz, a voz das tabancas» e por isso um intermediário entre estas e os potencias parceiros. Afirma que um dos principais objectivos «é recuperar as comunidades da Tabanca (inactivas) e que uma activa nunca se extinga.

Com as nossas pesquisas verificamos que a associação é bastante activa. Fazendo uma apreciação das conquistas da associação, desde a sua criação até então e tomando em consideração as várias fontes de informação consultadas, nomeadamente as notícias, nota-se que em termos práticos esta é a que tem contribuído para uma maior divulgação e preservação da Tabanca, através de projectos como a realização dos encontros das tabancas em festivais municipais, criados especificamente para a promoção e divulgação da Tabanca, e em outros eventos culturais; na incessante procura de apoios financeiros; na colaboração com investigadores, e acima de tudo no levantamento das necessidades e dificuldades das tabancas o que permite um maior conhecimento da realidade das comunidades. No entanto, não nos esquecemos que os projectos desenvolvidos pela associação só se efectivam com o apoio do poder político, nomeadamente as câmaras municipais dos quatro municípios onde existem comunidades da tabanca – Praia; Ribeira Grande de Santiago, Santa Catarina e Santa Cruz – e o Ministério da Cultura; bem como um ou outro parceiro da sociedade civil.

É notório o protagonismo do presidente, que surge à frente da direcção e que tem aparecido, em nome da associação, em várias notícias relativas as actividades das tabancas, sobretudo as do interior. Infelizmente não nos foi possível confirmar junto às comunidades a relação que mantêm com este; excepto no caso da comunidade da tabanca de Achada Santo António, onde alguns membros afirmaram desconhecer qualquer apoio proveniente desta. Segundo o chefe desta tabanca, a comunidade encontra-se representada na associação, porém afirma que não mantém qualquer relação com o presidente, que nunca receberam qualquer ajuda deste, e que este mantém uma

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relação de maior aproximação com as comunidades do interior. Afirma ainda que na última reunião tida em conjunto com outros chefes das tabancas, que também contou com a presença do Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa, chegou-se à conclusão que Maria Crisálida Correia65 deveria ficar à frente da associação, portanto que o actual presidente deveria ser destituído.

Percebemos aqui que existe alguma instabilidade no que toca a direcção deste organismo, e alguma contrariedade no que toca as informações fornecidas na entrevista concedida pelo representante da associação. No entanto, valorizamos e apreciamos a colaboração do presidente. Não consideramos que as suas acções sejam de todo questionáveis, segundo o que pudemos avaliar através das notícias da imprensa nacional. A forma como surgiu demonstra que a união entre as comunidades continua a ser uma das forças internas e uma das características fundamentais para a existência e continuidade desta manifestação. Nota-se que a associação trabalha mais no sentido de assegurar a continuidade das comunidades, promovendo apoios que garantem as festividades, portanto dá maior ênfase as questões culturais do que as questões sociais. A este respeito, queríamos ainda acrescentar que o facto de esta integrar um «não membro» prova que a par das parcerias com o poder político, a população ou outras entidades que se demonstram interessadas, podem reflectir de forma positiva nas práticas das comunidades e que se tirar proveito dessas colaborações se pode contribuir para o desenvolvimento das comunidades criando-se e executando-se projectos sociais.

3.5 Breves reflexões sobre o estudo realizado Marginalizada pelas autoridades e pela comunidade civil, manifestação cultural da Tabanca sobreviveu graças ao pego às tradições por parte das suas comunidades e chegam aos nossos dias um pouco desvirtualizadas do seu conceito/contexto original.

A este respeito, afirma-se que hoje presenciamos a uma «lenta agonia» da Tabanca, e que tal situação deriva das medidas coercivas tomadas pelo poder político e religioso na época colonial; pelas mudanças sociais fomentadas pelas adversidades do clima que obrigam muitos a emigrarem para fora do país e/ou a abandonarem as suas localidades rumo as cidades a procura de melhores condições de vida; vivendo num mundo cada vez mais homogéneo e globalizado onde os valores culturais tradicionais

65 Segundo informações obtidas, Maria Crisálida Correia fez parte da equipa técnica do Museu da Tabanca, quando este se localizava na cidade de Assomada; porém aquando da reconversão do espaço, hoje é uma das técnicas do Centro Cultural Norberto 38

têm-se subjugado aos valores dos tempos modernos numa assimilação cultural dos países mais desenvolvidos, fizeram desaparecer e enfraquecer grande parte das comunidades da Tabanca.

As que hoje remanescem, segundo Silva, vivem à sombra daquilo que foram (Silva 1997:93). Na opinião deste autor, para que as tabancas sobrevivam é preciso que se adaptem ao tempo e a sociedade. Concordando com as observações do autor, acrescentamos que as tabancas devem se «mergulhar» na própria história procurando reflectir qual é o seu papel e que contributos têm a oferecer à actual sociedade, sobretudo no território onde se encontram localizadas.

No que diz respeito ao Museu da Tabanca, este encontra-se sujeito às vicissitudes da realidade do sector em que se insere. Isto é, como já vimos, o sector museológico em Cabo Verde ainda não se encontra regularizado, portanto, não existindo uma lei-quadro que oriente a criação e o funcionamento destas instituições, estas continuarão a trabalhar mediante condições deficitárias. São questões estruturais que limitam a capacidade destes equipamentos em se tornarem referenciais culturais e de serem reconhecidos como instrumentos capazes de provocar transformações sociais e consequentemente contribuir para o desenvolvimento das comunidades e dos territórios onde se encontram inseridos.

O Museu da Tabanca não conseguiu até agora absorver do contexto local as potencialidades da localidade, Chã de Tanque, e do município, Santa Catarina. Também se sente um certo distanciamento entre esta instituição, o território e as várias comunidades que compõem a comunidade de referência (as tabancas). Neste último caso, entende-se que a geográfia e a deslocalização territorial; os hábitos de consumo cultural impedem com a população local perceba a utilidade da instituição. Aqui é importante que a comunidade perceba o que é, qual a importância, o papel e a utilidade do museu. Que serviços o museu desenvolve e pode desenvolver. Que benefícios pode obter dessa interacção. E principalmente, perceber que ambos têm objectivos comuns. E a própria divulgação do espaço junto à comunidade são factores determinantes para a não aproximação da comunidade ao museu.

O museu tem contornado esta questão direccionando as suas actividades ao público escolar e turístico, onde busca sensibilizar e divulgar o património cultural a

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que se propõe salvaguardar. No entanto, depara-se com debilidades internas que dificultam a diversificação da sua programação66.

Ao enfrentar constrangimentos internos, a sua projecção e impacto junto ao seu público é inexistente ou deficitário o que torna questionável a sua continuidade, uma vez que se demonstra incapaz de cumprir os seus propósitos.

A carência de estudos periódicos que possam servir de complemento e actualização dos levantamentos já efectuados no campo do património cultural do país é outro constrangimento que se enfrenta nesta área. É sabido que os museus nacionais são de carácter temático, ligados a etnografia local/regional, por conseguinte, era e é preciso que as investigações sejam sistemáticas e de forma contínua dado que a cultura e a sociedade se encontram em constante mutações. Pois, é importante considerar que no domínio das fontes de informação, neste caso as tabancas deve-se ter em conta que elas fazendo parte da sociedade acompanham as suas transformações. Assim, faz-se necessário reforçar os estudos já efectuados com contextualizações actuais dando maior ênfase à história local.

Esta é uma situação passível de ser contornada, mas que necessita de estratégias e linhas de acção junto aos públicos-alvo do museu67, nomeadamente da comunidade académica (ensino superior) com qual tem trabalhado a nível de estágios no museu68.

O Estado tem sido o principal responsável pela gestão do património cultural; traçando medidas em prol da protecção e salvaguarda do mesmo. No entanto, constata- se que gradualmente as autarquias se vêm envolvendo neste processo, desenvolvendo projectos culturais em torno do património local, o que tem dado maior visibilidade aos seus municípios. Em contrapartida, a população é pouco participativa, o que demonstra que ainda não há uma consciência, por parte desta, do seu papel neste processo. 69

66 Como já dissemos, são questões estruturais que desencadeiam situações constrangedoras e um acumular de fragilidades que acabam por restringir as suas acções museológicas. 67 Aqui tomando o museu como promotor, pois existem outras intuições/entidades que podem desenvolver como a ANT, o ministério da cultura e do ensino; ou outros agentes. 68 Neste âmbito, pode-se propor que os estagiários desenvolvam trabalhos de investigação sobre temas relacionados com as tradições e costumes locais bem como retardar aspectos sociais que as caracterizam. Esta mesma estratégia pode ser aplicada ao público escolar a nível do ensino primário e secundário onde aquando das visitas destes ao museu ou das actividades apresentadas pelo museu nas escolas (como programa/actividade extracurricular 69 A responsabilidade da população para com a cultura é determinada pela alínea 1 do art.78º da Constituição Cabo-verdiana. No entanto, a falta de interesse desta para com questões patrimoniais pode ser justificada com o facto das medidas tomadas pelas entidades competentes serem pouco abrangentes. Pois tem-se focado mais na preservação e conservação de objectos/peças; construções e sítios históricos 40

No domínio da gestão cultural, o IIPC enquanto entidade competente tem trabalhado em parceria com entidades nacionais e por via das cooperações com instituições internacionais no sentido de reforçar os mecanismos que lhes permitem desenvolver projectos e estratégias de preservação ao do património cultural do país.

Apesar deste sector se encontrar desprovido de legislação, tem-se guiado pelos principais documentos normativos da UNESCO e do ICOM, embora não tendo ratificado boa parte deles. Esta não é uma situação sustentável uma vez que nos demonstra que as exigências do sector não são superáveis sem regulamentos institucionais.

Relativamente à tabanca de Achada Santo António, o nosso estudo, permitiu-nos olhar para comunidade não só como uma entidade cultural mas também como uma unidade social. Isto é, o facto de a Tabanca ser uma manifestação que abrange um vasto campo da vida social, permitiu-nos abordar várias questões que em conjugação poderão contribuir para desenvolvimento da própria comunidade.

A relação do território com a comunidade estabelece-se a diferentes níveis, seja de carácter geográfico, demográfico, económico ou político. A comunidade em estudo localiza-se num bairro popular, cujo próprio nome coincide com o santo em devoção, Santo António. Devido à sua proximidade ao mar, a profissão de alguns membros encontra-se ligada a actividades do mar e alguns objectos etnográficos têm por matéria- prima produtos extraídos do mar. Observa-se que a realidade social influenciada pela situação económica tem contribuído para inúmeros problemas de ordem social no bairro.

O Estado e as autarquias, enquanto gestores dos territórios estão encarregues de tomar medidas que contribuem para o desenvolvimento e o bem-estar da população. Integrando essas iniciativas temos os apoios financeiros na época festiva, as infra- estruturas, equipamentos culturais e projectos de cariz cultural e sociais desenvolvidos no bairro e no município, que beneficiam de igual modo a comunidade da tabanca de Achada Santo António70.

do que na sensibilização. Isto é, a sensibilização quando feita não é sistemática e interdisciplinar, o que acaba por contribuir para a não interiorização dos conceitos e o desenvolvimento de uma consciência participativa e responsável. 70 Aqui salientamos, a criação do Museu da Tabanca, como medida de salvaguarda do património que tem por comunidade de referência. 41

A relação que a comunidade da tabanca de Achada Santo António mantém com a população local pode ser descrita como pacífica e por vezes dinâmica. A priori estabelece-se uma relação de vizinhança, que deriva da coabitação num mesmo espaço e território. Esta proximidade permite que interajam a vários níveis. No campo cultural permite que alguns moradores se associem à comunidade, assimilando aspectos que a caracterizam, participem, façam propaganda e assumam a Tabanca como uma identidade cultural do bairro. De igual forma se desenvolve uma relação de entreajuda, que é tanto uma característica da Tabanca, como uma característica da sociedade cabo- verdiana. Paralelamente, criam-se associações de moradores, grupos recreativos, cooperativas e organizações socioprofissionais locais, que se fundamentam nos problemas sociais que afectam o bairro, na promoção de recursos e na junção de esforços e habilidades, com vista a melhoria das condições de vida dos moradores.

A par do associativismo da população local, também os organismos que por via da cooperação internacional se estabeleceram no país tem ajudado a nível de projectos em várias áreas sectoriais de desenvolvimento local.

Nesta linha de desenvolvimento, a comunidade não se consegue demarcar do seu território, é o reflexo do território onde se encontra fixada, razão pela qual é preciso compreender toda a sua envolvência.

O que se pode concluir do nosso estudo é que, tanto no processo de salvaguarda, como de desenvolvimento local, há um subaproveitamento dos recursos disponíveis, na medida em que entre as entidades envolvidas/responsáveis não existe articulação entre os mecanismos que cada um possui e as acções que desenvolvem. Entendemos que como protagonistas devem trabalhar em colaboração, ou mesmo criando redes de interactividade dado que os objectivos são comuns.

Existe um ambiente favorável no que concerne à implementação de medidas de salvaguarda/desenvolvimento comunitário, uma vez que em ambas as áreas já se desenvolvem (no país) projectos/acções de sensibilização que promovem e incitam a população a contribuir para o próprio desenvolvimento e para a preservação do património cultural do país. Portanto, desta realidade o importante é perceber que alternativas se podem apresentar e que irão servir de complemento às medidas já implementadas em ambas as áreas. Do diagnóstico feito, cremos que a resposta se encontra na conjugação das potencialidades das várias partes envolvidas.

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Assim, traçamos o nosso projecto procurando encontrar respostas às seguintes questões: face à realidade observada, o que se pode construir? De que forma pode a comunidade contribuir para o seu desenvolvimento e do seu território, a nível cultural e social? Que papéis desempenharão os agentes locais neste processo?

4. Projecto de Salvaguarda de Património Cultural e de Desenvolvimento Comunitário

4.1 Conceito Quer a salvaguarda do património cultural, quer o desenvolvimento comunitário se desenvolvem numa perspectiva de sustentabilidade, o que implica entre várias coisas a participação activa das comunidades. (Carmo 2001:6; Unesco 2003: art.15º da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da e Carvalho 2011:55; Varine 2012 pp.16-21,)

O perfil de cada comunidade é traçado a partir da sua identidade cultural, que se constrói com base num referencial patrimonial e pela sua envolvente. (Unesco 2003 nº1 do art.2º e Varine 2012:19, 45-46)

Entendemos que tratando-se de desenvolvimento comunitário/local o património em questão não seria o único vector de desenvolvimento, o que nos fez considerar outros recursos existentes no território.

Deste modo, o nosso projecto define como eixo estratégico o cruzamento de medidas (acções patrimoniais e de desenvolvimento) e recorre a parcerias, de modo a contribuir para que ambos os processos se realizem/desenvolvam em simultâneo.

4.2 Fundamentação Afirmámos desde o início que construiríamos as nossas propostas com base na realidade apresentada pelo estudo realizado. Ao reflectir sobre este, lançamos questões às quais iremos agora responder.

Perante a primeira questão - face à realidade observada o que se pode construir? - , percebemos que as necessidades, os obstáculos, as potencialidades e os recursos disponíveis pelo conjunto estudado: o património cultural (a Tabanca), a comunidade da TASA, o Museu da Tabanca, a ANT, o território (englobando a população, as entidades e instituições e os recursos locais); conduziam-nos a que por um lado definíssemos objectivos que promovessem a salvaguarda do património em

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questão (dado que estamos a falar de um património imaterial) e que por outro lado contribuíssem para o desenvolvimento comunitário e local. 71

Uma síntese dos objectivos pretendidos, diz-nos que o objectivo final do projecto é transformar a comunidade da TASA em actora e promotora do/no processo de salvaguarda e do desenvolvimento. Daí surgiu-nos uma segunda questão - de que forma pode a comunidade contribuir para o seu desenvolvimento e do seu território a nível cultural e social? Antes de mais, é preciso referir que ela só estará propensa a contribuir a partir do momento em que estiver consciente do seu papel e dos recursos que dispõe para tal.

Também irá contribuir se estiver alerta que as suas acções têm impacto sobre o património e o meio que a envolve. É através desta apropriação consciente e valorizativa que irá descobrir diferentes formas de contribuir para o desenvolvimento do seu território. (Varine 2012:37-41 e 232; Santos 2002: Silva e Arns s/d:2).

Contudo, para que tal aconteça é preciso que se tracem linhas e estratégias de acção que busquem uma participação activa e criativa da comunidade, tanto na sua concepção como na sua execução, (Varine 2004:36 e 232), sendo sempre necessário ter em consideração a sua realidade social e cultural; pois isto permitirá a sustentabilidade dessas acções (Kashimoro e Russeff 2002: 39 e 41; Varine 2012:38, 113, 229-231).

A par disto, é igualmente importante que esteja alerta que a tomada de decisões e o desenvolvimento de iniciativas não é tarefa apenas das entidades locais e Estatais, mas que também pode e deve partir da própria, uma vez que a salvaguarda e o desenvolvimento exige a colaboração e a acção de todos. (art.78º da Constituição de Cabo Verde; art.15º da Convenção para a salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Unesco; Varine 2012:51 125, 126 e 229; Silva 1964:1).

É nesta perspectiva que lançamos a terceira e última questão - que papéis desempenharão os agentes locais neste processo? Como acabamos de dizer o desenvolvimento é uma questão que diz respeito a todos e é uma acção de todos. Normalmente, o Estado e as suas instituições/organismos, as autarquias juntamente com outras entidades nacionais e internacionais, trabalham no sentido de garantir apoio às comunidades. No entanto, há casos em que os recursos são limitados o que dificulta

71 Devido a proximidade metodológica e objectiva destas duas vias de acção decidimos combinar os recursos de forma a conseguir respostas eficazes. 44

uma maior abrangência e continuidade das acções implementadas, e acaba por comprometer o desenvolvimento das comunidades e consequentemente do seu território.

Nestes casos, a melhor opção é o trabalho em conjunto, a partilha de conhecimentos, técnicas e recursos de forma a se poder trabalhar em prol de um ou mais objectivos em comum.

Uma vez que se irá trabalhar em função das necessidades e dos anseios da comunidade, a sua envolvência e participação directa é imprescindível para se conseguir um melhor resultado. Esta colaboração permitirá por um lado diagnosticar vários problemas que não se restringirão apenas a um sector da vida social da comunidade; priorizar as suas principais necessidades; organizar e articular os diferentes mecanismos existentes no território; e por outro permitirá a comunidade reflectir sobre o seu papel e contributo para o desenvolvimento do seu território.

A linha condutora do projecto assenta sobre questões patrimoniais e sociais que resultam da Tabanca enquanto prática cultural mas também enquanto associação capaz de providenciar assistência social e assim manter a coesão social. Também se orienta pelas questões sociais que influenciam e tem impacto sobre os membros da comunidade da Achada Santo António enquanto integrantes de um meio social.

A viabilidade do projecto passa pelo seu enquadramento numa realidade onde a questão patrimonial é abordada pelas entidades oficiais, tendo em vista a preservação da identidade cultural do país, e o desenvolvimento social da população é tido como prioritário para a progresso e transformação daquele. Ambos os campos são pensados segundo uma perspectiva de afirmação e autonomia, em que para a concretização destes objectivos se recorrem a parceiras entre instituições nacionais e locais e organismos internacionais.

Neste contexto, abraçamos a ideia de conjugar estes dois sectores, cultural e social. Pois, não faz sentido restringir apenas aos aspectos culturais sabendo que é uma manifestação cultural pontual e que os problemas do dia-a-dia reflectem e têm repercussões imediatas sobre as práticas culturais, e que neste caso põe em causa a continuidade da própria comunidade.

A envolvente territorial é o espaço de confluência de onde o património é resultante e onde este é recriado tomando expressões de diversos aspectos que a

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caracterizam, que derivam de um processo de transformação e actualização do passado adaptado pelas sucessivas gerações ao longo do tempo. Por isso tomamos em consideração como território de acção o bairro de Achada Santo António e o município da Praia. Ora, estamos perante uma comunidade tradicional, detentora de uma herança cultural, mas também temos de ter em conta que esta se encontra inserida numa área urbana e que é portanto, produto e reflexo desse meio.

Sabendo ainda que tanto a salvaguarda do património cultural como o desenvolvimento comunitário se regem por uma filosofia educativa de valorização, integração, interacção e auto-conhecimento desenvolvidos numa perspectiva do território e dos seus recursos; e que envolvem acções que abrangem vários campos da vida social achamos que o cruzamento entre esses pontos em comum se encaixam na realidade estudada e que reverteriam de forma favorável aos propósitos deste projecto e que teriam a potencialidade de abranger um maior número pessoas.

Portanto este projecto justifica-se pela busca de soluções em prol do desenvolvimento cultural e social integrado da comunidade da tabanca da Achada de Santo António.

4.3 Missão e objectivos Movidos pelo interesse de melhor contextualizar as questões que envolvem a Tabanca, idealizamos este projecto segundo uma perspectiva integrante, que conjuga acções centradas na educação patrimonial que por sua vez busca a apropriação consciente do próprio património; a sensibilização por via da partilha do saber e das práticas a ela associadas; a capacitação como forma de potencializar a criatividade dos membros desta comunidade; a promoção de novos conhecimentos sobre o património em questão e que daí resultem várias possibilidades para o desenvolvimento da comunidade e do seu território; que a participação da comunidade na preservação da Tabanca não se cinja a sua mera existência (as comunidades) e as actividades festivas por ela realizadas, mas que seja promotora de outras iniciativas; e que em colaboração com entidades e agentes de desenvolvimento contribua para a valorização e divulgação da Tabanca.

O projecto busca a participação de vários agentes de desenvolvimento: o poder político através das suas estruturas de gestão cultural e social; escolas; associações locais e organizações não-governamentais, através da inclusão em projectos já

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desenvolvidos por estas instituições. Pretendemos com isto, que se estabeleça um diálogo entre eles e que se articulem mecanismos e se disponibilizem recursos, tendo em conta que partilham objectivos comuns.

Deste modo, o projecto almeja constituir uma ferramenta de apoio a essas entidades na medida, que através de um diagnóstico local e territorial busca a articulação de mecanismos já existentes, desenvolvidos ou por implementar, e que se integram nos parâmetros do desenvolvimento comunitário e da salvaguarda do património.

4.4 Propostas e linhas de acção As propostas e linhas de acção que se seguem fundamentam-se na análise ás necessidades e potencialidades apresentadas pelo conjunto estudado. Iremos delineá-las tentando conciliar as duas coisas e tendo em atenção os recursos existentes e as parcerias necessárias para a sua implementação. (cf. ap.12 p:171-176).

Primeramente gostariamos de iniciar com uma proposta que surge em resposta às nossas primeiras constatações em relação ao estudo realizado.

Após a visita do Museu da Tabanca, a leitura de algumas bibliografias e as entrevistas realizadas notamos uma ausência da história das comunidades. Isto é, não há um estudo, pelo menos que tivéssemos acesso, que nos permitesse caracterizar uma comunidade desde as suas raízes: Quem foram os seus fundadores? Quando e porque surgiu naquela localidade/bairro?A mesma comunidade é oriunda de outro território ou se fundiu no mesmo local de hoje? Quais são os elementos culturais e sociais que a caracterizam e a diferencia, por menor que seja a diferença, das outras comunidades? Quais são os momentos mais marcantes da comunidade? Ainda utilizam as mesmas técnicas, ou que técnicas desapareceram e/ou foram resgatadas?.

As respostas a estas perguntas requerem uma investigação mais aprofundada, onde a observação; o convívio e a partilha de informações/conhecimentos dos membros da comunidade são as únicas formas de obtê-las, visto que não existem registos escritos que nos possam ilucidar sobre estes assuntos.

Ainda neste âmbito notamos junto a comunidade da TASA que a transmissão geracional das tradições e dos valores é feita informalmente entre os membros, portanto não há qualquer registo escrito dos saberes e de outras informações que fazem parte da história da comunidade.

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Percebemos também que nem todos os membros estão na posse das mesmas informações, e que os idosos e os membros mais antigos são os que possuem esses conhecimentos. Aqui, entendemos que correndo o risco de esquecimento ou de desaparecimento - caso algum destes membros venha a falecer, ou que por motivos de saúde venha a desenvolver alguma doença que os impossibilite de se lembrar ou partilhar esses conhecimentos, ou ainda que pelo curso normal das coisas venham a esquecer de alguns acontecimentos - consideramos que é necessário que se proceda a «identificação e documentação», através da recolha de informações junto aos membros da comunidade.

Resumidamente, seria um resgate da memória colectiva histórica e social de forma a se recolher informações capazes de permitir uma (re)construção histórica da comunidade. Este poderá ser feito recorrendo ao método das entrevistas utilizando vários suportes de registo: audiovisual, escrito ou artístico (desenhos ou pinturas). A recolha de objectos, fotografias também deverá fazer parte desta (re)construção que permitirá tanto o resgate de uma história nunca contada, como o autoconhecimento da própria comunidade.

O envolvimento de todos os membros é crucial para sua realização. Aqui, queremos que a comunidade seja o sujeito principal, activo e dinâmico na descoberta do seu passado histórico. No entanto, tendo em conta que é uma manifestação que também envolve os não-membros e que a comunidade partilha o território com o resto da população, achamos que é igualmente importante a recolha desses testemunhos.

Portanto, a primeira proposta seria a constituição de um «inventário participativo», onde contariamos como principal colaborador a própria comunidade - destacariamos, dentro destes, os que poderiam servir de mediadores entre nós e o resto da comunidade e os que poderiam connosco trabalhar como voluntários «pessoas- recurso» (Varine 2004:38) (a participação dos jovens nesta acção traria benefícios uma vez que permitindo a partilha de informações seria uma forma de transmissão geracional de conhecimentos ao mesmo tempo que poderia satisfazer uma das necessidades da comunidade, que seria a envolvência da nova geração (familiares dos membros) na tabanca; pois este pode ser uma forma de incentivo aos jovens). Trabalhariamos em parceria com entidades/organismos que devido a experiência e conhecimento dos seus técnicos seriam de extrema importância para a realização desta acção.

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Ao permitir que a comunidade faça uma retrospectiva sobre o próprio percurso histórico, o «inventário» estará contribuindo para novas descobertas; para o reviver/retoma das tradições e dos costumes já esquecidos ou em vias de esquecimento e consequentemente provocar um novo olhar sobre o passado. O seu caráter participativo contribui para o fortalecimento dos laços e das relações entre as várias gerações e da identidade comunitária.

O mesmo impacto terá caso a população local participe nesta iniciativa, dado que cohabitam no mesmo território. Ao reconhecerem que partilham características comuns, irá despertar em ambos: a consciência da existência de vários elos de ligação; que a TASA não é uma comunidade isolada e que o património em questão é parte da identidade local, portanto, de todos os habitantes. Esperamos, que com isso se possa (re)construir parte da história local do bairro.

Esta iniciativa pode servir como reforço às medidas de salvaguarda,em curso, desenvolvidas por entidades/instituições encarregues da gestão do património nacional sendo um contributo ao Projecto de Inventário do Património Cultural Imaterial que teve inicio em 2011.

A ideia é que, aqui também se desenvolva um conjunto de acções voltadas para a capacitação e desenvolvimento de iniciativas criativas, a formação de uma consciência valorizativa, cooperativa e de responsabilidade que tenham por fim o desenvolvimento comunitário/local, em concordância com a realidade patrimonial e territorial. Para tal, apostamos numa abordagem educativa como forma de sensibilizar a comunidade para questões que exigem uma maior envolvência dos mesmos, assegurar através de práticas lúdico-pedagógicas, um conhecimento que os possibilite identificar e transformar as suas potencialidades em acções geradoras de novas oportunidades e capazes de provocar mudanças no seio da comunidade e do seu território.

Assim, constatando que a comunidade é composta por letrados (com um nível de instrução diferenciado) e não letrados propomos que com o intuito de despertar na comunidade da TASA o interesse para as questões que envolvem a salvaguarda da Tabanca e dessa forma contribuir para que desenvolvam a consciência de que a sua partificipação neste processo é determinante para assegurar a preservação do património, bem como capacita-los com conhecimentos capazes de potencializar as suas capacidades, e de as identificarem em função das suas necessidades e assim assumirem um papel de maior protagonismo no desenvolvimento da sua comunidade e território; se 49

inicie um programa/projecto de educação focada no património (educação patrimonial) e cujo formato se ajusta às necessidades e aspirações da comunidade, desenrolando-se em função do próprio desenvolvimento (educação não-bancária: educação informal, educação de adultos, educação popular, educação permanente».).

A este propósito, Varine afirma que “apenas através do domínio da sua própria cultura que uma população pode pretender tornar-se parceiro activo e responsavél do seu presente e do seu futuro”, daí a nossa aposta na sensibilização a partir do património uma vez que havendo uma identificação «cultural» com as propostas aumentará as chances de haver um maior envolvimento e empenho por parte da comunidade, dado que se quer abranger o maior número possível dos membros. (Varine 2004:37 , 39 40).

O conceito em que se fundamenta a educação não-bancária e patrimonial tende a criar uma rede de acção territorial em que busca nos recursos locais: “estruturas, pessoas, saberes, bens materiais e virtuais” os instrumentos necessários para alcançar o desenvolvimento desejado. (Varine 2004 :37 e 38 Varine 2012:137). Procura demarcar- se do sistema de ensino da educação bancária, mas no entanto não descarta todos os potenciais parceiros visto que considera as escolas - as principais formadoras e promotoras deste sistema de ensino - uma das entidades a ter em conta neste processo, onde procura através de programas e actividades curriculares e extracurriculares formar gerações responsáveis com o património e as questões que envolvem o meio onde se encontram.

Neste âmbito, consideramos como parceiros as instituições cujo papel consiste na formação e disponibilização de meios técnicos e intelectuais como as escolas, os equipamentos culturais, as entidades gestoras e promotoras de acções culturais . A filosofia desta educação se assenta na valorização dos saberes72 da comunidade, razão pela qual, esta continua sendo a nossa principal parceira, onde os membros (colaboradores) assumirão um duplo papel: educador e educando.

Ainda, cientes que a nível nacional as ONG’s e as associações comunitárias são as principais promotoras da educação para o desenvolvimento (Plataforma das ONG de

72 Neste caso as práticas e os saberes ligados a Tabanca não são os únicos conhecimentos da comunidade da TASA. É sabido que no bairro de Achada Santo António, pela sua proximidade com o mar, algum dos seus habitantes tem por profissão actividades ligadas a pesca e ao porto e outras ligadas a outras actividades do sector primário. Através das entrevistas constatamos que alguns membros apresentam habilidades ligadas as práticas artesanais tradicionais bem como ao desporto, à música e culinária. É nesta base que a nossa proposta visa o aproveitamento desses conhecimentos como forma de potencializar as capacidades da comunidade. 50

Cabo Verde 2008 pp.7 e 13) apostamos na parceria com estes agentes que actuam através de projectos de carácter comunitário e sustentável. Neste âmbito, deve-se tirar proveito da cooperação cultural e para o desenvolvimento com os países que apoiam Cabo Verde dos quais destacamos Portugal, Brasil, Espanha, Dinamarca, Bélgica e Estados Unidos. Isto é, tirando partido das acções desenvolvidas no âmbito destas cooperações deve-se, neste caso, enquadrar as necessidades da comunidade em projectos desenvolvidos por estas organizações.

Resumidamente, a nossa segunda proposta procura dar respostas às necessidades educativas dos membros da comunidade da TASA, onde aos analfabetos deve-se garantir o acesso ao sistema de ensino para que possam adquirir os conhecimentos básicos (ler e escrever). Aqui, atendendo ao facto de que a comunidade é constituída por adultos e idosos o mais apropriado seria inicialmente integra-los nos programas de educação para adultos. A partir daqui se poderá integrá-los em outros programas educativos que os possam facultar ferramentas e mecanismos para que possam ter autonomia em desempenhar acções criativas e geradoras oportunidades beneficiantes para a comunidade e o seu território.

Às crianças e jovens que abandonaram, perderam o direito ou que por condições financeiras não puderam continuar os estudos deve-se apresentar-lhes formas alternativas de aprendizagem (formação profissional) e ocupação de tempos livres. Neste âmbito poderia ser desenvolvido workshops não só pelos agentes de desenvolvimento aqui destacados, mas também pelos próprios membros da comunidade, que com as suas competências, habilidades e técnicas (quer a nível profissional, quer pessoal) poderão promover várias actividades de carácter pedagógico, o que fortalece os laços comunitários. Aqui, entram em acção os equipamentos culturais quer a nível local quer municipal, que são de uma forma geral instrumentos ao serviço do desenvolvimento).

Para os que se encontram inseridos no sistema de ensino, há a necessidade de se desenvolver actividades extracurriculares uma vez que o plano curricular nacional apresenta lacunas em termos de interligação entre as várias disciplinas (interdisciplinaridade) e as abordagens às questões culturais e sociais. Normalmente os que apresentam um nível de instrução técnico e cientifico são mais exigentes daí que se deverá traçar estratégias de mobilização e cativação deste publico conforme as suas exigências. Através da parceria existente entre o Ministério da Cultura e o Ministério da

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Educação e do Desporto pode-se assegurar que esta proposta seja posta em prática, principalmente pelo facto de existirem no bairro instituições de ensino privado e público (sendo que no domínio publico se encontram disponíveis escolas e instituições desde a pré-primária a formação profissional).

Embora tenhamos análisado separadamente os diferentes públicos existentes dentro da comunidade, é necessário que a fim de se atingir um objectivo comum (que é o desenvolvimento comunitário), a comunidade seja percebida como uma unidade homógenea, razão pela qual o processo educativo a se desenvolver neste contexto, deverá sem dúvida passar pelas questões culturais e apoiar-se no património comum a comunidade (a Tabanca). Isto é, deverá desenvolver-se paralelamente inter e pluridisciplinarmente abordando questões sociais que afligem a comunidade e o seu território.

No âmbito das políticas culturais do actual governo, foram traçadas estratégias e desenvolvidos projectos que podem ser aqui tomadas como modelos. Um diagnóstico territorial e comunitário permite-nos estruturar as seguintes propostas com vista ao enquadramento dos nossos objectivos aos mecanismos já disponíveis.

Portanto, à luz de projectos desenvolvidos pelo Ministério da Cultura, tomamos como referência o projecto Rede Nacional de Salas73 e o projecto as Casas de cultura/Bairros criativos74 que são projectos desenvolvidos pelo Ministério da Cultura em parceria com as Câmaras Municipais.

O bairro de Achada de Santo António destaca-se a nível municipal, como uma zona que enfrenta vários problemas sociais, onde a delinquência juvenil têm ganhado proporções até certo ponto incontrolável, passando a imagem de um bairro inseguro e degradante, contribuindo assim para a marginalização de algumas áreas dentro daquele território. A implementação destes projectos constituirá uma forma de socialização na medida que procura a inserção de grupos marginalizados.

73 É no fundo uma rota para a divulgação, em todo o país, de variados bens culturais cabo-verdianos, como a música, a dança, o teatro, o artesanato, as artes plásticas e a literatura. Fonte http://www.iipc.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=105:cultura-em-rede-nasce-em- cabo-verde&catid=34:noticias&Itemid=92 74 Deveram ser implementadas em todas as zonas. O projecto «Casas da Cultura «consiste na abertura de espaços destinados a promoção e divulgação das manifestações culturais típicas de cada localidade. Por sua vez o projecto Bairro Criativo é desenvolvido com intuito de contribuir para a dinamização da cultura, a redução da pobreza, da violência urbana, do desemprego e da desigualdade social através do acesso a bens culturais. Fonte: http://www.expressodasilhas.sapo.cv/cultura/item/34877-ministro-da-cultura- projecto-%E2%80%9Cbairro-criativo%E2%80%9D-%C3%A9-v%C3%A1lido-para-todo-cabo-verde 52

A intervenção da comunidade da TASA pode ser uma mais-valia tendo em conta que a Tabanca é uma manifestação cultural cujo percurso histórico se encontra associada à repressão e marginalização cultural e social; e as práticas sociais se fundamentam em princípios de solidariedade e nas tradições, portanto podem ser uma referência no sentido em que através destas características se podem desenvolver várias acções de sensibilização junto a esta camada da população.

Neste âmbito, pode-se ainda fazer o cruzamento do projecto «Cultura Móvel» com o «Bairro Criativo» e a «Casa da Cultura» que tendo pontos em comum se poderão complementar em termos objectivos, captação e mobilização de recursos.

Segundo os dados conseguidos junto a Câmara Municipal da Praia, Achada Santo António possui em todo o seu território dez associações de desenvolvimento comunitário que desenvolvem actividades em várias áreas do domínio económico-social e cultural. Assim propomos que o projecto «Casa de Cultura» seja implementado neste bairro com vista a promoção e divulgação da Tabanca enquanto manifestação cultural local. Que os membros encontrem neste, um espaço onde possam partilhar técnicas e conhecimentos, mas que também possam desenvolver e demonstrar as suas habilidades em outras áreas artísticas, como se pode constatar nas entrevistas alguns membros têm interesse por outras áreas artísticas. Que seja ainda um lugar onde se possam desenvolver oficinas de demonstração e aprendizagem de técnicas relacionadas aos instrumentos e peças que fazem parte do repertório da Tabanca, bem como servir como espaço de intercâmbio com os diferentes grupos e associações recreativas locais.

Dado que a nível de infra-estruturas o bairro carece de equipamentos culturais, o projecto Casa de Cultura, seria uma mais-valia, caso fosse ali implementado e sendo a Tabanca parte do repertório cultural local (identidade local) seria mais uma iniciativa incorporada nas medidas de salvaguarda deste património.

Numa perspectiva de desenvolvimento sustentável e ecológico, surge a ideia da recolha de matérias que possam servir de matérias-primas para a confecção de objectos e peças a serem utilizados durante o desfile. A recolha de materiais recicláveis poderá ser uma forma de combater o problema do lixo nos bairros da cidade da Praia bem como uma forma de se fortalecer a relação da comunidade com o seu território. Aqui podemos contar com a parceria das escolas locais que poderão incentivar os alunos a recolherem os matérias junto às suas famílias e na população local, a confeccionarem colocando em prática os conhecimentos adquiridos nas aulas de educação artística que fazem parte do 53

programa curricular das escolas. Também destacamos as associações comunitárias e a autarquia local, que promovem acções no âmbito das questões ambientais.

Na análise dos questionários realizados a alguns residentes locais, aos quais designamos de outsiders verificou-se que a maioria demonstra interessada em conhecer e saber mais sobre as práticas ligadas a este património cultural. Portanto, sendo este um ambiente oportuno e favorável, deve-se promover o diálogo entre a comunidade da TASA e a população residente onde as questões de ordem social e em torno da Tabanca podem ser discutidas em palestras, encontros e actividades de lazer. Desta cumplicidade poderá nascer projectos culturais e desenvolver-se práticas voltadas para o desenvolvimento local.

Quaisquer das propostas acima apresentadas podem culminar em acções culturais que poderão ser adaptadas as actividades e serviços dos equipamentos culturais. Neste contexto, a nossa próxima proposta parte do estudo realizado ao Museu da Tabanca. Nessa análise, vimos que por questões estruturais e escassez de recursos humanos; meios financeiros e o fraco aproveitamento das potencialidades dos seus parceiros o museu não têm conseguido dar respostas as exigências e necessidades do seu público. Entendemos que a par de outros constrangimentos o distanciamento das comunidades da Tabanca para com este equipamento pesa como um ponto negativo neste projecto de salvaguarda.

Assim, que no intuito de aproximar as comunidades ao museu, de fortalecer os laços comunitários propomos que seja implementado um serviço de educação patrimonial cuja acção/actividade não se limite ao espaço físico do museu da Tabanca (dado a distância territorial e ao conceito da nova museologia), e que vá de encontro às tabancas. Isto é, propomos um «serviço educativo móvel», integrado nas actividades museológicas. A sua mobilidade pressupõe uma maior interacção entre o MT e as comunidades, uma vez que procura integrá-los nas suas actividades tomando-as como parceiras e colaboradoras. Também pressupõe acções itinerantes que deverão assumir outros equipamentos como instrumentos de apoio: bibliotecas, arquivos, escolas, centros culturais, auditórios, salas de exposição, oficinas e galerias.

Atentos à anterior proposta educacional (educação não-bancária e patrimonial desenvolvida em função do desenvolvimento) esta poderá ser integrada adaptando os objectivos e apoiando estrutural e tecnicamente a anterior proposta educativa. Portanto, o MT colaborará em diversas ocasiões com a comunidade da TASA. 54

Esta proposta que se quer abrangente não se deve cingir às comunidades da Tabanca, visto que o museu deve contribuir para o desenvolvimento local do território onde se encontra inserido e dado que a Tabanca faz parte do panorama cultural cabo- verdiano. Por isso, esta proposta também tem a finalidade de suscitar na população local e os diferentes públicos o interesse pelo conhecimento e pela valorização deste bem cultural.

Fundamentado nas questões de identidade das comunidade da Tabanca e tendo em consideração as queixas dos membros entrevistados, a proposta que se segue busca a formalização de um projecto da comunidade, que consiste na concessão de um espaço para a instalação da capela, isto é, a actual capela não reúne as condições necessárias para a realização das cerimónias religiosas, festivas nem possui espaço suficiente para a albergar os objectos e as peças utilizadas na Tabanca, e nem para os próprios membros. Portanto, sendo esta uma estrutura chave para qualquer comunidade da Tabanca, é fundamental que a TASA encontre um espaço onde possa realizar as suas actividades, possa guardar conservar e preservar os seus objectos, e dado ao que representa este espaço75 é importante mantê-lo. Aqui, devido às burocracias que exigem a CMP é a entidade a quem compete este projecto. Podemos estabelecer parcerias com outras entidades que podem apoiar financeiramente na sua realização.

Estando normalmente aberta ao público, a capela pode também ser incluída como uma referência cultural e a par da proposta da «Casa da Cultura» pode ser uma mais-valia para o reforço da identidade local.

Neste âmbito também poderá se estabelecer uma ligação com o sector turístico (turismo cultural, turismo religioso), estando isto sujeito a uma planificação concertada em função da identidade e autenticidade das práticas culturais ligadas a esta manifestação e a prática de um turismo sustentável.

75 Actualmente, a comunidade dispõe de uma pequeno comportamento (anexo) a casa do fundador João Lopes mais conhecido por Djonsa Donana (já falecido) que tem funcionado como sede/capela da comunidade. Têm-se negociado com a Câmara Municipal da Praia a concessão ou o arrendamento de um outro espaço, mas o que a comunidade realmente quer é que seja autorizado a construção do andar de cima da casa, para que a actual capela seja alargada, ocupando todo o rés-do-chão e assim prosseguirem com um espaço próprio dotado de simbolismo e significado para todos os membros.

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De uma forma sucinta as nossas propostas buscam incutir um espiríto de responsabilidade para com o património cultural e para que a partir daí se esteja apto a desenvolver acções que levam a sua salvaguarda e ao desenvolvimento local.

4.5 Estratégias e parcerias Partimos do princípio de que o envolvimento das comunidades no processo de salvaguarda patrimonial pode ser duplamente vantajoso, uma vez que a participação destas contribuirão para o enriquecimento individual e colectivo ao mesmo tempo que permitirá assegurar a sua autenticidade.

Ao estabelecermos como ponto de partida o diagnóstico feito ao território, o nosso projecto se aproximou da realidade comunitária/local o que permite e garante a viabilidade das nossas propostas.

Para a implementação do projecto necessitamos de estabelecer parcerias através das quais se irá disponibilizar os meios e recursos humanos; financeiros e técnicos e com quem deveremos discutir o plano de acção a seguir.

O projecto desafia a comunidade e os agentes de desenvolvimento a participarem activamente e a desenvolverem o compromisso de mutuamente contribuírem para e na salvaguarda do património e o desenvolvimento do território. A população local é sempre chamada a intervir como forma de também interagirem, acompanharem e beneficiarem destas acções e contribuir para o desenvolvimento integral do território.

Não privilegiamos as acções patrimoniais em função das sociais, mas sim defendemos que quer uma, quer outra devem ser concertadas uma em função da outra, estabelecendo uma ponte de ligação entre as várias questões que as envolvem. Propusemos que estas acções se fundamentassem em métodos e pedagogias educativas tendo em atenção que em ambos os casos, os processos devem se desenvolver de forma contínua e sistemática.

Optamos pelo cruzamento e a articulação de mecanismos e recursos através da inclusão em projectos e potencialidades dos nossos parceiros e submete-los aos objectivos do nosso projecto.

Para o «inventário participativo» apostamos no recrutamento de membros (pessoas-recursos) da comunidade da TASA, em que a priori os jovens seriam os

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principais alvos. Também extensivo a população local, a proposta busca envolvê-los de forma a contribuir para uma maior interacção entre ambos. Tendo como perspectiva o aproveitamento dos recursos disponíveis no território os organismos de comunicação social instalados no bairro seriam além dos técnicos do IIPC um parceiro ideal para a sua execução.

O plano de acção para esta proposta deverá obedecer 6 fases distintas: Fase I - captação dos recursos humanos: identificação e contacto com os possíveis parceiros; recrutamento de colaboradores na comunidade e no território. Fase II - reconstituição do diagnóstico da comunidade: identificar e consultar as bibliografias existentes; observação e recolha de informações junto aos membros e a população local. Fase III - apresentação do projecto e avaliação da reacção da comunidade. Fase IV - discussão das estratégias e métodos a utilizar na execução do projecto. Fase V- implementação do projecto: constituir o inventário, desenvolver actividades e acções a serem utilizadas. E avaliação dos resultados: analisar e confirmar as diferentes versões apresentadas.

Deve-se analisar este processo avaliando: que grau de compromisso os parceiros e as pessoas-recurso assumiram em comprometer-se com o projecto? Em que medida a comunidade se demonstrou disponível a se envolver no projecto, e qual foi a reacção da comunidade perante a apresentação do projecto? A estratégia de recrutar na comunidade trouxe maior envolvimento da comunidade no projecto? As metodologias utilizadas estão sendo eficazes? O que se deve considerar dentro das diferentes versões apresentadas?

No segundo caso «acções educativas» tivemos em conta os diferentes níveis de instrução dos membros da comunidade e delineamos uma proposta que se orienta pelas necessidades apresentadas pela comunidade a nível da educação. Encaixamo-las em diferentes formas de educação, e aproveitando os conhecimentos (saberes, técnicas e práticas) da comunidade apostamos numa educação ancorada no património enquanto fonte primária de conhecimento e de enriquecimento individual e colectivo (Horta e Grunberg citado por Varine 2012:138). Assumimos como estruturas de apoio as instituições de ensino, as ONG’s e as associações comunitárias (como sendo uns dos principais actores de desenvolvimento social). De igual modo são chamados a participar entidades como o IIPC e a Câmara Municipal da Praia enquanto organismos de gestão do património cultural.

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Para esta proposta entendemos que a sua duração dependerá do que se conseguiu alcançar num primeiro instante. Que seria fruto das acções educativas em virtude de uma educação elementar para os analfabetos76. A partir daqui a estratégia é proporcionar a toda comunidade uma educação que têm como ponto de partida o seu património e trabalhar todas as potencialidades - cultural, económica; turística, educacional que advêm dos mesmos; do património e do território, e desenvolve-las em função do desenvolvimento; daí que propusemos uma programação interdisciplinar para as escolas, e uma educação popular (não bancária) para todos. Neste âmbito, deve-se ter em atenção o tipo de linguagem a ser adoptado e as metodologias a serem utilizadas para cada uma. Neste caso, é importante entender que, o crioulo cabo-verdiano, sendo a língua materna facilita na compreensão do conteúdo a ser ensinado.

A educação patrimonial aqui proposta irá servir de ponte para uma outra proposta que é o serviço educativo móvel. Esta busca a interacção entre o Museu da Tabanca e as comunidades da Tabanca. Assumimos a par do museu, a Associação Nacional da Tabanca como principal parceira desta acção, uma vez que ela é composta pelos chefes das tabancas, o que nos irá facilitar na mediação e contacto com os restantes membros das comunidades. O seu carácter móvel vem desfazer vários constrangimentos a nível de envolvimento das tabancas com o museu; procura criar uma rede entre os equipamentos culturais e os agentes que promovem a acção cultural e social existente nos diferentes municípios (daí a parceria com o poder local de cada município).

A seguinte proposta assenta-se na teoria da mobilização de mecanismos e recursos já existentes, e por isso apostamos no enquadramento dos nossos objectivos em projectos já desenvolvidos a nível nacional, que buscam na cultura uma forma de combater vários problemas sociais, incentivando: a inserção social, a promoção artística; o empoderamento dos jovens através da projectos e actividades criativas. Embora tenhamos referido três projectos, existem vários outros, desenvolvidos por entidades e organismos diferentes, e que aqui se enquadram e podem ser uma mais-valia para os nossos objectivos.

76 Pois, achamos que garantindo os conhecimentos mínimos (ler e escrever) estarão asseguradas as condições mínimas param um aprendizado mais aprofundado. Portanto, sendo considerando a aprendizagem da escrita e da leitura a função básica deste tipo de edução, a duração seria um ano lectivo.

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Nesta mesma linha, o da mobilização, e no intuito de encontrar soluções que promovessem, mais uma vez, a interacção entre a população, propusemos que se desenvolvessem acções ecológicas com vista a melhorar o meio ambiente do bairro e de outros77. Trabalharemos em sintonia com as associações locais que procuram sensibilizar a população para questões ambientais. Com este público podemos avaliar semestralmente os efeitos da educação patrimonial nos alunos através da avaliação das atitudes e iniciativas desenvolvidas por eles. Ao propormos que estes realizem trabalhos manuais (artesanais) em aproveitamento de matérias recicláveis e que estes fossem oferecidos à comunidade a fim de serem utilizadas como adornos nos desfiles, estamos a incentivar para a libertação da capacidade criativa. Esta iniciativa pode ser avaliada anualmente aquando das comemorações da Tabanca.

5. Considerações finais

Ao reflectir sobre o papel que os museus vêem assumindo no seio da sociedade, e a sua capacidade em fomentar o desenvolvimento local, propusemos, inicialmente, desenvolver o nosso projecto em função de uma realidade em que o Museu da Tabanca assumiria o papel de promotor de todas as acções patrimoniais e de desenvolvimento comunitário dirigidas à sua comunidade de referência (as tabancas), porém a sua estrutura não nos permitiu partir nem delinear as nossas propostas a partir dos seus serviços.

O conhecimento do território e das suas necessidades, e um prévio diagnóstico do trabalho de campo, fez-nos considerar, em alternativa a primeira opção, as potencialidades existentes a nível do património estudado (a Tabanca), e chegamos a conclusão de que as comunidades; neste caso o da Achada de Santo António enquanto autora e principal dinamizadora desta manifestação apresentava potencialidades para que fosse o público-alvo do projecto.

Entender a comunidade tanto sob o ponto de vista cultural como social, foi essencial para que os objectivos do projecto fossem delineados em sintonia e em virtude de um desenvolvimento que se quer sustentável e participativo.

A partir desta análise o museu já não tem o protagonismo dado no título do trabalho «O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da

77 Uma vez que tomamos as escolas (e tendo em conta que os alunos que são provenientes de várias zonas da cidade) e as famílias como colaboradoras desta acção.

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Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projecto de salvaguarda de património cultural e de desenvolvimento comunitário», e é a esta comunidade que se dirigem todas as propostas. Assumimos o museu, a par de outras instituições e organismos como uma estrutura de apoio para a concretização dos nossos objectivos.

Conceptualmente fundamentamos o projecto em três conceitos – chave: o património imaterial remetendo-nos para as questões de identidade, memória colectiva, e acções de preservação; o museu: as novas práticas museológicas e o seu impacto no território onde se encontra localizado; e o desenvolvimento comunitário.

A dinâmica que se quer gerar, e as sinergias que se querem construir com o projecto, não esgotam todas as possibilidades de acção, de modo que continuará a ser oportuno a interactividade entre os diferentes sectores de desenvolvimento e dos seus agentes. Por isso, foi-nos de suma importância entender que o vector de desenvolvimento não seria apenas o património, mas sim todos os aspectos que o envolvem (comunidade, território, medidas e estratégias para a sua salvaguarda).

Este é um projecto de objectivos que se devem cumprir a curto, médio e longo prazo, e cujo resultado se poderá avaliar a fim de um determinado período, que deverá ser estipulado no plano de acção a ser seguido aquando da implementação de cada proposta.

Acreditamos que por ter como objectivo a interacção geracional e por abranger diferentes gerações, o real impacto das acções aqui delineadas só poderão ser verdadeiramente sentidas dez anos após a sua implementação. Isto tendo em conta que este é o tempo que cada geração leva a se formar.

No entanto, o facto de serem desenvolvidas segundo uma perspectiva educacional, e desta se presumir contínua e sistemática, que visa o desenvolvimento de uma consciência cidadã (portanto responsável e activa) para com as questões que envolvem o património e o meio envolvente, tende-se a entender que seja de carácter permanente, alterando-se apenas em função das metas alcançadas.

Todas as propostas aqui apresentadas buscaram integrar e interagir com a população local. Identificamo-la como uma potencial colaboradora no inventário; as acções educativas uma vez que envolvem as escolas (os programas curriculares e extra- curriculares) e que pretende o desenvolvimento do território (promovendo acções empreendedoras) beneficiam automaticamente o resto da população. Tirar proveito dos

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projectos desenvolvidos pelos agentes de desenvolvimento e que foram inicialmente delineados para promover a socialização; a inserção dos marginalizados e a identidade local, revertem a favor dos nossos objectivos, e onde podemos tomar a Tabanca como uma referência uma vez que defendem o respeito mútuo, a valorização dos costumes e das tradições e do espírito de solidariedade, portanto a comunidade da Tabanca poderá intervir assumindo um papel de promotor, dinamizador e colaborar no desenvolvimento de iniciativas deste género. Propusemos que seja implementado equipamentos culturais (Casa da Cultura) no bairro da Achada Santo António de modo a colmatar a carência de infra-estruturas neste sector.

As directrizes de ambas as medidas – salvaguarda e desenvolvimento comunitário – defendem o diálogo e o cruzamento de recursos e meios. No diagnóstico do estudo realizado, notamos que no caso da Tabanca, nem sempre a premissa acima referida se efectivou, por isso buscamos uma maior interacção entre os agentes de desenvolvimento e os responsáveis estatais e o poder autárquico.

O papel que cada parceiro assumirá na execução das iniciativas deverá ser amplamente debatido e definido no momento da planificação das acções a serem seguidas; devendo por altura da avaliação (que deverá ser permanente) perguntar se os parceiros escolhidos estão sendo capazes que criar estruturas sustentáveis para que as propostas tenham impacto e causem os efeitos desejados? Se é preciso manter, excluir, ou incluir novos parceiros ou metodologias»

Cientes de que para os objectivos que se querem alcançar, a salvaguarda da Tabanca e o desenvolvimento da comunidade da TASA, as nossas propostas não esgotam todas as possibilidades e nem conseguem desenvolver todas as iniciativas que se podem criar a partir destas medidas.

A nossa intenção foi sempre proporcionar à comunidade um conjunto de condições que pudessem dotá-las de ferramentas e mecanismos com as quais poderá transformar-se num sujeito activo procurando, desenvolvendo, e avaliando as soluções necessárias para os seus problemas. Assim, que por diversas vezes ela assumiu um duplo papel: interveniente, (parceira/colaboradora) e público-alvo.

Acreditamos que a implementação do projecto poderá reflectir-se positivamente no desenvolvimento da comunidade em estudo, trazer novos contributos para a investigação e uma nova visão sobre esta manifestação cultural.

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