São Paulo é uma cidade incrível

40ª feira internacional do livro de buenos aires 1 26 O espírito das letras e das cidades

Albino Castro

ma das capitais do todos os povos e, em São Paulo, todos é considerada a tela brasileira mais Novo Mundo, síntese os povos se miscigenaram, formando valorizada. do Brasil, São Paulo, um novo universalismo do Novo Mun- Ababoru significa, na língua tu- com a sua esplêndida do. Uma cidade fascinante que vive in- pi-guarani, homem que come gente, diversidade, é a maior tensamente todos os tempos a um só referência à antropofagia modernista Umetrópole de língua portuguesa do tempo. Uma capital com sólida voca- que se propunha a deglutir a cultura planeta – idioma falado em quatro ção ao desenvolvimento e ao pluralis- estrangeira e adaptá-la ao Brasil. A continentes. Fundada pelos portu- mo. Inclusive nas letras e numa poesia, obra, um óleo sobre tela, foi pintada gueses, em 1554, recebeu e integrou arrojada e destemida, que, como um por Tarsila para presentear o marido à todos os povos e, justamente com os destape social, floresce e cresce nas época Oswald. A antropofagia dos An- seus mais antigos habitantes, formou suas periferias, subúrbios habitados drade, principalmente, mudaria para um centro urbano, cuja cultura, pro- por muitos migrantes e descendentes sempre os rumos da cultura brasileira. duto de tantas e variadas influências, provenientes de todo o Brasil, mas, Dos anos 1930 a 1970 prevaleceu a for- a transformou numa capital de alma sobretudo, da região Nordeste, bem te influência, sobretudo, dos milhões planetária, muitas vezes comparada como por várias comunidades de afro- de imigrantes italianos. O sotaque a uma Babel com signo invertido. A -brasileiros, que marcam a diversidade paulistano, isto é, da cidade São Pau- São Paulo contemporânea, brasilei- e a pluralidade de uma verdadeira Ba- lo, passou a ter a forte influência da ríssima, é múltipla, pujante e plena de bel que deu certo. pronúncia italiana, que ainda persiste vibração. Foi uma das cidades funda- Uma verdadeira Paulicéia Desvai- em alguns bairros tradicionais – como das fora da Europa pelos lusitanos no rada – definiu, assim, a Babel inverti- o Bixiga, Mooca, Vila Prudente, Lapa século 16, apogeu da navegação por- da o pai da moderna poesia brasileira, e mesmo em áreas de predomínio de tuguesa, como Nagasaki, no Japão, Mário de Andrade (1893 – 1945), como famílias de origem portuguesa, como em 1570, e a africana Luanda, em 1575, título da própria obra, publicada em Vila Maria, Vila Guilherme, Pari e capital de Angola. 1922, ano da célebre Semana de Arte Penha. Muitos lunfardos portenhos, São Paulo, capital do estado bra- Moderna, que mudaria os rumos da vindos com as letras de tangos, foram sileiro que possui o mesmo nome, se literatura e das artes plásticas no País. sendo incorporados ao linguajar de constrói, ontem como hoje, a partir Mário de Andrade, autor de outro São Paulo e mesmo de todo o Brasil. das muitas origens que tiveram como clássico modernista brasileiro, Macu- Várias expressões de dialetos italia- desejo e destino a metrópole brasilei- naíma, lançado em 1928, foi um dos nos trazidos para Buenos Aires, com o ra. Como a exuberante Buenos Aires. protagonistas da histórica Semana linguajar dos genoveses, os xeneizes, e Tantas faces moldam a sua pulsante de Arte Moderna. Ele fazia parte do napolitanos, também chegaram com fisionomia. Dos sons e culturas aos so- Grupo dos Cinco. Juntamente com os los tanos a São Paulo, mas difundidos, nhos e realizações. São Paulo misturou escritores Oswald de Andrade (1890 na maioria das vezes, pelas letras tan- – 1954), que, apesar do mesmo sobre- gueras. Até hoje, por exemplo, em São nome, não era parente de Mário de Paulo, como em Buenos Aires, bacana Andrade, e Menotti Del Picchia (1892 é refinado, bronca é raiva, burro é ig- – 1988), e as artistas plásticas Tarsila norante, campana é ajudante de ladrão do Amaral (1886 – 1973) e Anita Mal- que vigia, cana é prisão, gozar é zom- São Paulo misturou todos os fatti (1889 – 1964). Uma das obras de bar, grana, bem como mango, é dinhei- Tarsila do Amaral mais apreciadas ro, grupo é mentir e patota é turma. povos e nela todos os povos em todo o mundo, Abaporu, de 1928, Lunfardos também desembarca- se miscigenaram, formando está exposta no Museu de Arte Latino- riam em São Paulo nas memoráveis le- -Américana de Buenos Aires (MAL- tras de tangos escritas pelo poeta pau- um novo universalismo BA), depois de ter sido comprada por listano Alfredo Le Pera, nascido em 24 do Novo Mundo US$ 1,5 milhão pelo colecionador ar- de junho de 1900, no italianís­simo gentino Eduardo Costantini. Abaporu bairro do Bixiga, no coração da cida-

40ª feira internacional do livro de buenos aires 3 de, grande amigo de Carlos Gardel, com quem morreria, tragicamente, num acidente de avião, em Medellín, Sastre, Da Guia e as letras de Le Pera na Colômbia, após um espetáculo em eram, aos olhos e ouvidos de São Paulo, Bogotá, quando voavam para Cali. Os pais de Le Pera eram imigrantes vin- um retrato de uma metrópole tão dos da Itália e se transfeririam em 1903 para Montevidéu – fixando-se, depois, próxima da cidade paulista como, nas em Buenos Aires. Mas o encontro de letras, foi Jorge Luis Borges Le Pera e Gardel só aconteceria em 1932, em Paris, onde já estava radicado o poeta nascido no Brasil, trabalhan- do para a Paramount Pictures como tradutor de textos para filmes mudos. Le Pera escreveu em 1933 o roteiro do quecível dos anos 1935 a filme estrelado por Carlos Gardel, Me- 1937. Sastre, Da Guia e as letras de Le lodia de Arrabal, depois Cuesta Abajo e Pera eram, aos olhos e ouvidos de São El Tango Broadway, ambos em 1934, e El Paulo, um retrato de uma metrópole Dia em que me Quieras e Tango Bar, os tão próxima da cidade paulista como, dois em 1935. Eram de Le Pera muitas nas letras, foi Jorge Luis Borges (1899 letras de tangos imortalizados por El – 1986), a partir da publicação, em Zorzal Criollo Carlos Gardel, como, 1949, de Aleph, seu capo lavoro, obra- entre outras, Melodia de Arrabal, Vol- -prima – ele que tanto se orgulhava ver, Cuesta Abajo, Silencio, Sus Ojos se de possuir um sobrenome de origem Cerraron , Soledad e Volvió uma Noche. portuguesa. São Paulo leu e aprendeu Tangos que marcaram época em todo muito também com Julio Cortazar o planeta e muito aproximaram São (1914 – 1984), autor de Rayuela, que Paulo e Buenos Aires. teve no Brasil a tradução para Jogo Aproximaram muito mais, natu- da Amarelinha, Bioy Casares (1914 – ralmente, do que o cinema, o teatro 1999), Ernesto Sabato (1911 – 2011) e e a própria literatura portenha, que até mesmo com o bonaerense de es- muitos paulistanos aprenderam a ler pírito secessionista vienense, Roberto e a admirar desde as épocas do tango Arlt (1900 – 1942), que chegou a viver querido e dos grandes mestres que em 1930 no . atuaram no futebol argentino, dos Um novo século e novos escri- anos 1930 e 1940 – dois dos quais fize- tores em dois dos mais exuberantes ram história em São Paulo, o virtuoso países da América Latina. Quarenta e Antonio Sastre (1911 – 1987), nascido oito autores argentinos estiveram pre- em Lomas de Zamora, na Grande sentes no Salon du Livre de Paris, de 21 Buenos Aires, ídolo do mítico Inde- a 24 de março último, e, agora, entre 24 pendiente, brilhou no São Paulo, e, no de abril e 12 de maio, a poesia das pe- Corinthians, o brasileiro Domingos riferias de São Paulo desembarcará na da Guia (1912 – 2000), um carioca que Feria del Libro de Buenos Aires. Dois conquistou, nas canchas portenhas, prestigiosos eventos que marcam 2014 o título de El Divino Maestro no ines- nas letras do continente. ◊

4 são paulo é uma cidade incrível ilustrações Daniel Kondo entrevista com héctor babenco Com o coração em dois países

Nunzio Briguglio

éctor Babenco, 68 anos, é um caso raro de um personagem capaz de marcar sua presença tanto em HSão Paulo, de resto em todo o Brasil, como em Buenos Aires e, por que não, em toda a Argentina. Reveren- ciado como cineasta e como diretor de teatro, este brasileiro nascido na Argentina, como gosta de se definir, foi o primeiro diretor de cinema lati- no-americano nominado para rece- ber o Oscar, em 1984. Uma produção brasileira sobre o romance O Beijo da Mulher Aranha, escrito pelo argentino Manuel Puig. Nesta entrevista, Baben- Cena do filme co relembra momentos marcantes de nha mãe tinha uma irmã que morava um pouco em teatro juvenil. Gostava Iron Weed, de 1987 sua vida, a chegada a São Paulo, nos em São Paulo e eu disse que vinha para muito de cinema e desde os 14 anos anos 1960, busca pontos de confluên- visitá-la. Uma tia que eu nunca visitei, trabalhava na mais importante livra- cia entre as culturas dos dois países e nem conheci. ria de Mar del Plata, chamada Martin fala do amor pela cidade que adotou Fierro, que pertencia ao chefe do par- como sua. E qual foi a sua primeira impressão? tido comunista local. A minha primei- Eu me assustei. Quando cheguei em ra doutrinação política foi a ideologia Como convivem em você o espírito ar- São Paulo não tinha luz de mercúrio marxista, onde o código principal era gentino e o brasileiro? e isso era muito bonito. A luz das a esperança na revolução. Nós todos Eu sou um brasileiro que nasceu na lâmpadas eram amarelas. Eu nunca somos iguais, temos os mesmos direi- Argentina. Com 17 anos eu sai do país tinha visto um negro na minha vida. tos, as mesmas obrigações. Um dia eu onde nasci por motivos pessoais, indi- Quando vi um no banheiro da Rodo- perguntei para o dono da livraria: mas viduais, não políticos, ou de outra or- viária, fiquei com medo. Na minha quando será a revolução? Como ele dem. Na época estava cheio de sonhos cidade não tinha um preto e, obvia- não me deu uma data, eu fui embora. e de esperanças. Eu sai de lá, mas sairia mente, eu não tinha ideia de que iria de qualquer lugar. Teria ido à primeira me fascinar pela cultura negra, muito E o que aconteceu com seus amigos? rodoviária e pegado o primeiro ônibus mais cativante do que a cultura melan- Toda a minha geração que se enga- para qualquer lugar que fosse. cólica argentina. jou na revolução que não tinha data, morreu ou desapareceu. Eu me salvei E por que São Paulo? O que você trouxe na sua bagagem? por motivos existenciais. Vivia numa Eu tive que mentir para meus pais. Mi- Eu cheguei em 1963. Tinha trabalhado pensão na esquina das ruas Bela Cin-

foto Tri-Star/ The Kobal Collection 40ª feira internacional do livro de buenos aires 5 tra e Mathias Ayres. Virei vendedor de rua e gastava meu tempo nos sebos da avenida São João e frequentava muito os cinemas do centro.

Como foi o choque com a brasilidade? Tremendo. Eu vi a primeira versão do Glauber Rocha para Deus e o Diabo na Terra do Sol. Depois vi Macunaíma do Joaquim Pedro de Andrade. Aí eu enlouqueci. Estava morando em um lugar onde havia uma cultura tão in- ventiva, tão sem parâmetros como a autofagia de Mário de Andrade e ao mesmo tempo uma linguagem poéti- ca do voo utópico – que na época nem entendia direito – e aquela beleza do Antônio das Mortes, daquela gente correndo pelo sertão em busca de co- mida. Estes filmes foram fundamen- 1 tais para eu encontrar o Brasil. de, a liberdade sexual. As meninas que que alguns colegas de cinema, quan- E o Brasil do dia a dia? me levavam de Aero Wyllis para passar do eu contava a minha dor, reagiam Foi um outro Brasil que eu encontrei o final de semana no Guarujá. Era uma com certa satisfação por você também depois que comprei uma máquina coisa de entrega física. Muito diferente entrar no rol das vítimas. No final, o Polaroid e passei a ser fotógrafo de da Argentina, onde a repressão se mani- filme foi liberado. Tive que dizer que restaurantes. Vendedor e fotógrafo de festava sobretudo na repressão à sexua- os policiais envolvidos na execução do Abaixo, cena de O Beijo da Mulher restaurantes me permitia ter um tempo lidade ditada por uma Igreja que ainda Lúcio Flávio haviam sido expulsos da Aranha, de 1984. Acima, cena de livre para mim. Vivia no Teatro Oficina, tinha laços com a Inquisição. corporação, o que é uma mentira. Pixote, a lei do mais no Teatro de Arena. Eu percebi que São fraco, de 1980 Paulo era uma cidade que reunia mui- A sua primeira experiência no cinema, E foi um grande sucesso. O seu primeiro. Na página ao lado, tas tribos. Havia muitos italianos, espa- O Rei da Noite, já é uma declaração de Nada menos que seis milhões de pes- cena de Carandiru, de 2003 nhóis, africanos. Descobri a sexualida- amor a São Paulo. Você estava apaixo- soas viram o filme. Formavam-se filas nado pela cidade? nos cinemas. Foi lançado com 60 có- Totalmente. É fruto da minha expe- pias e ficou em cartaz acho que por 14 riência na noite fazendo fotografias semanas. com a minha Polaroid. Eu estava sem- pre na região onde havia as boates e a Nada contra seus três primeiros filmes, prostituição era visível nas ruas e no mas curiosamente o que vai te dar pro- interior. O Rei da Noite surgiu de um jeção internacional é o seu encontro vendedor de bilhetes de loteria que com um compatriota, argentino, Ma- eu encontrava na rua Major Sertório nuel Puig, e a decisão de filmar O Beijo toda noite. Um senhor elegante, que da Mulher Aranha. sempre se vestia de linho branco. Eu É verdade. Eu tinha lido Boquitas Pinta- fui conversar com ele e recebi o convi- das. Um dia encontrei O Beijo da Mulher te para tomar um “Rabo de Galo”. Um Aranha. Comprei o livro e li. Fiquei bas- coquetel típico de São Paulo, pinga tante perturbado com a história de um com cinzano em um copo pequeno. homossexual que animava um guerri- E ele me contou a história da vida lheiro, ambos presos, com lembranças dele. Que tinha nascido em uma casa de filmes. Aquela história me encantou enorme, linda, que fora criado por e me levou para o território do cinema uma babá que falava alemão e inglês. mexicano. O melodrama e a mulher le- Aí pensei, vou contar a história deste vada a sua condição mais alta, de deu- moço. Não a biografia, mas a sua his- sa. A malvada que chora. O espanhol tória amorosa. Acabou saindo um fil- Luis Buñuel fez grandes filmes assim me com um lado grotesco, na linha da no México. Também descobri outro italiana Lina Wertmüller. tipo de cinema que eu nem sabia que existia: filmes de propaganda nazista, No seu segundo filme, Lúcio Flávio produzidos durante a guerra. Eram você esbarrou no regime militar brasi- campanhas publicitárias gigantescas. leiro, como foi isso? Havia sempre uma cantora que canta- É preciso resgatar uma figura mefisto- va para as tropas, como Lili Marleen. félica, um asno, o censor do Departa- Todo mundo chorava no cinema e nas mento de Censura da Polícia Federal. trincheiras e enquanto isso matavam O relatório de Lúcio Flávio tinha 17 judeus, russos, ciganos e um monte 2 cortes. Eu fiquei desesperado e eu vi de gente que não pensava como eles.

6 são paulo é uma cidade incrível fotos 1 PHOTO12.COM - COLLECTION CINEMA 2 ARCHIVES DU 7EME ART/ PHOTO12 Fiquei cinco anos passando o chapéu O cinema argentino conseguiu ar para para conseguir fazer um filme que foi respirar, graças a uma lei realmente nominado para quatro Oscars. eficiente. Eles te dão recursos para você desenvolver um projeto, depois Incluindo o de diretor e o de ator, ven- para a pré-produção. E aí conferem o cido pelo William Hurt. teu orçamento e te dão o dinheiro para É verdade. E um filme oriundo da realizar o filme. Não é o que acontece minha cultura argentina. Nada abso- no Brasil, aqui ninguém revisa o seu lutamente a ver com Pixote, que é um orçamento e as produções são pelo retrato da periferia de São Paulo, fruto menos três vezes mais caras. Os filmes direto da cultura brasileira. E eu fiz O brasileiros são orçados em padrões eu- Beijo em inglês, ingenuamente, porque ropeus, americanos. Na Argentina, o achei que desta forma iria percorrer o processo é simples: para cada ingresso mundo. Hoje eu jamais faria um filme que você venda, eles te dão outro para em inglês sobre uma história latino- você investir no próximo filme. Sem 3 -americana, eu respeitaria a essência. burocracia. É toma-lá-da-cá. Meu amigo Héctor Discute-se tanto o Mercosul, a integra- E hoje como você vê as duas cidades São ção latino-americana, mas quando se Paulo e Buenos Aires? Conheci Héctor Babenco trata de integrar as ações culturais, Buenos Aires nasceu com os dois pés naquela fase em que ele se ficamos sempre muito próximo de zero. na Europa. São Paulo é a divagação dividia entre o vendedor de rua Eu só tive uma experiência com produ- poética de uma aldeia que se indus- e o fotógrafo de restaurantes ções binacionais, argentino-brasileiras, trializou e cresceu. É bem verdade em São Paulo. Seis anos justamente meu último filme, Passado. que a cidade europeia do passado mais novo que ele (eu tinha Foi alguma coisa para esquecer. Tive- se transformou numa capital latino- apenas 14 anos), dividimos mos todo tipo de dificuldade, desde -americana no presente. Coisa que os a inquietação e a ansiedade liberação alfandegária de negativos até argentinos rechaçam. Mas a verdade pelo futuro. Nem ele nunca pagamento de cachê e de produção, que é que por lá ainda se pode caminhar imaginou que seria um cineasta não podiam ser cruzados, pois cada país pelas ruas. Eu não conheço uma gra- reconhecido em todo o mundo, tem uma legislação diferente na área de em um parque ou em um edifício nem eu poderia imaginar de câmbio, na tributação de impostos. residencial em Buenos Aires. Aqui as que seria um jornalista. Uma loucura! E isso não é um proble- residências estão cercadas por cercas Éramos apenas dois jovens que ma de governo: acredito que os gover- eletrificadas. Talvez seja apenas uma disputávamos o dia a dia. nos tanto do Brasil como da Argentina questão de tempo. Não sei e espero E cada dia era um novo dia. adorariam integrar as duas produções que não. Mas tenho certeza que os E cada aventura era uma nova culturais. Nem mesmo dos produtores argentinos e os latino-americanos em aventura. Assisti a cada um dos dois países, ou dos profissionais. O geral ficarão positivamente impressio- de seus filmes com uma ponta problema é a burocracia, as amarras do nados ao conhecer a arte da periferia de orgulho e identifiquei nos poder pequeno que se encontram nas de São Paulo. Trepidante e inquietan- seus personagens a lembrança estruturas dos dois países. te, aliás, como é esta cidade. do amigo que trilhara novos caminhos. Dois Oscars e uma produção de quali- * Nunzio Briguglio, 62 anos, é jornalista Nunzio Briguglio dade, você diria que o cinema argenti- e professor. Atualmente é o secretário de no renasceu? Comunicação da Prefeitura de São Paulo.

Filmografia de Hector Babenco

1975 O Rei da Noite

1977 Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia

1980 Pixote, A Lei do Mais Fraco

1984 O Beijo da Mulher Aranha

1987 Ironweed

1990 Brincando Nos Campos do Senhor

1998 Coração Iluminado

2003 Carandiru

2007 O Passado

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fotos 3 Heloisa BALLARINI 4 Globo Films/ The Kobal Collection/ Bergamo, Marlene 40ª feira internacional do livro de buenos aires 7 escescriritoto coconnttrraa oo coconnccrretoeto

Cláudia Melo

uem mora em São Paulo passa, anda, corre. Mais corre do que anda, atravessando pai- sagens de concreto cheias de mensagens. As pichações nos muros da cidade de São QPaulo dizem algo? Enchem a cidade de sig- nificados? Ou são só rabiscos? No trajeto para o trabalho, para a escola, para o ci- nema, de repente, nota-se, aquela frase que havia mexido com alguém dia antes não está mais lá. Frases pichadas nos muros de São Paulo são poemas efêmeros. “Eu pixo, você pinta, vamos ver quem tem mais tinta?”, alguém escreveu na Cidade Dutra, zona sul da cidade, referindo-se à guerra entre quem dá seu recado e quem apaga. As próximas páginas imprimem uma coleção desses poemas e frases, coletados nas regiões norte, sul, centro, leste e oeste. São mais de 80 sentenças em prédios, portas, postes e no chão da cidade. Com pitadas de humor, às vezes de drama, passa-se a mensagem: há quem cobre mais amor, há quem peça consciência coletiva e soluções políticas para o caos da cidade. “Imagina o lixo da Copa”, “Sua liberdade vale seu sa- lário?” e “Aqui tinha uma floresta” são alguns exemplos do que foi coletado. Para ilustrar a matéria, estas frases foram distribuídas a quatro artistas brasileiros. Os músicos Nando Reis e Pe- dro Luís, o humorista Gregorio Duvivier, as cantoras Lulina, Ana Cañas e Anelis Assumpção e o escritor Marcelino Frei- re, a partir da coleção, criaram poemas inéditos. Uma releitura de vozes múltiplas, boa leitura. ◊

8 são paulo é uma cidade incrível [Nando Reis]

Atrevo-me assim A dizer que – sim! Que sei que nunca soube mais do que ninguém Porém não sei se todos sabem que – sim! Que ninguém é mais escravo Do que o coração embalado a vácuo Sem respirar

Porém agora saibam ninguém é mais escravo ! Quem não sabia Agora sabe Quem nunca soube O que dizia O sábio ditado? [Gregorio Duvivier] Que não há bem Que sempre dure Melhor dizer melhor tudo Nem mal que nunca acabe aquilo que já se diz de cor Sobre a mocidade linda e salteado de um novo verbo Cidade limpa melhor: eu melho, tu melhas, Que água lavou ele melha, tomara que o mundo O tempo esgotou melhe para melhor: tomara Pro velho time do verbo tomarar: eu tomaro medíocre o início tu tomaras ele tomara: tomara Chegou o fim que o mundo tomare a cada livre do vício dia melhor porque por enquanto Do antigo indício a gente só pia pra pior: por A placa um português melhor – tomare. Onde é proibido libdo Já mudou, foi retirada Hoje vamos pra [Marcelino Freire]

Atrevo-se sim HOSPÍCIO CULTURAL A dizer que achamos o remédio ao homem que é assim doido de pedra Pro coração embalado a vácuo: no meio da fumaça aérea ao chão – vai amor aí? poesia quando bater aquela fissura [Lulina] cair de cabeça toda a humilde estrutura poesia Que se quebrem as grades das prisões para a legião de sombras perdidas Só peixe morto vai a favor da correnteza por dentro da escuridão sem sol na solidão Repetir até acreditar poesia Repetir até acreditar para quem vive nas crateras do centro Repetir até acreditar no hospício a céu aberto no mundo da rua

fotos léo ramos 40ª feira internacional do livro de buenos aires 9 hoje um dos mais importantes pontos de convivência na re- gião central da cidade, foi estimulada pelas atividades de um pequeno grupo de teatro, por exemplo. Os Satyros abriram ali sua sede no ano 2000, enfrentando “um ambiente escuro, Em ocupado por traficantes e outros tipos de bandidos”, como conta Ivam Cabral, um dos diretores da companhia. Em 2006, a trupe de palhaços Parlapatões resolveu abrir sua casa a poucos metros dali. Os dois pequenos tea- tros, conjugados cada um a um bar, atraíram gente e tam- bém a atenção do poder público. O governo do Estado, em 2007, convidou a companhia a elaborar o projeto de uma TODOS escola de teatro que ocupasse um edifício no endereço. Após funcionar provisoriamente em uma casa no Brás, A SP Escola de Teatro foi inaugurada na praça Roosevelt em 2010. Festas independentes e projetos culturais Para Guto Requena, arquiteto autor de uma coluna sobre que ocupam espaços ociosos de São Paulo problemas urbanos no jornal Folha de S.Paulo, “essa ocupa- ção de espaços públicos com eventos cívicos e festas é fun- criam novo movimento urbano, valorizando damental”. Ele não está falando apenas sobre São Paulo. OS a convivência nas ruas da cidade “Londres, Berlim e Nova York começaram a investir nesse tipo de projeto nos anos 1980”, explica. O arquiteto e urba- nista cita como modelo de proposta de ocupação a série de projetos artísticos realizados autonomamente sobre o Mi- nhocão, avenida elevada que corta parte da região central da cidade (leia ao lado). As transformações provocadas por projetos indepen- cantos dente também resultam em atritos, até hoje resolvidos pacificamente. A Voodoohop, por exemplo, foi lacrada Cláudia Melo e Gustavo Fioratti em 2010 pela prefeitura por falta de alvará. Meses depois, já readequada a cartilha de funcionamento, reabriu no mesmo endereço. Há três anos, o núcleo é convidado em próximo ao cruzamento das avenidas Ipi- pela própria prefeitura a fazer edições especiais da fes- ranga e São João, naquele mesmo pedaço que ta na famosa Virada Cultural, projeto realizado desde o músico baiano Caetano Veloso uma vez ho- 2005 que, uma vez por ano, ocupa o centro com eventos menageou na canção Sampa, um edifício de ligados à música, ao teatro, à literatura e às artes visuais. mais de vinte andares permaneceu quase uma A febre pegou. No início deste ano, um grupo de 30 jovens Bdécada com as luzes apagadas, inteiramente vazio. Até que, abriu mais uma possibilidade de ocupação. Na madrugada Abaixo, festa no em 2009, uma expedição de jovens liderados pelo DJ alemão do dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, aproveitou Buraco da Minhoca, debaixo residente em São Paulo Thomas Haferlach, 33, decidiu que que a prefeitura fecha o trânsito de um viaduto no centro do Minhocão aquele seria o lugar ideal para a realização de uma festa. em horários específicos. Com uma caixa de som portá- Na página ao lado: O projeto da Voodoohop nasceu assim, com um pé na clan- til, sob o comando do DJ Chico Tchello, iniciou ali dentro acima, piscina instalada no destinidade e outro na legitimação de uma ideia que qual- uma festa. Quem passava do lado de fora, na boca do túnel, Minhocão; abaixo, quer urbanista sabe de cor: espaços vazios são vilões dos via gente dançando sob a luz branca que ilumina o local. habitantes se reúnem no Largo centros urbanos e podem ganhar vida se reocupados por O grupo foi atraindo mais gente e, pela manhã, ha- da Batata e o projetos que estimulem a convivência e o encontro. viam cerca de cem pessoas se divertindo ao som de MPB grupo Esparrama apresenta seu São Paulo renasceu na última década com projetos que, e versões eletrônicas. A festa voltou a acontecer sete espetáculo ao ar similares à Voodoohop, não tomam o espaço público apenas livre também no vezes, e o espaço ganhou o apelido de Buraco da Mi- Minhocão como lugar de passagem. A remodelação da praça Roosevelt, nhoca. “O trocadilho remete ao Minhocão e também faz referência à teoria de buracos no tempo e no es- paço que levam a várias dimensões”, teoriza Tchello. Mas nem todo mundo gostou da proposta, no entanto. Por causa do barulho, moradores do bairro pediram à prefeitura que a festa fosse proibida. Embora simpática à ocupação, a subprefeitura da Sé, que cuida da região, ouviu os morado- res. Na última semana de março, informou aos organiza- dores da festa que o evento só poderia ser realizado de dia, aos domingos, e se houvesse uma ambulância à disposição dos frequentadores. Outra exigência: o número máximo de pessoas por evento também não poderia ultrapassar 250. “Estamos desconstruindo tudo. Pegamos um túnel que esta- va fechado para o trânsito e transformamos ele num espaço de reflexão. Esse é o nosso legado”, diz Tchello. “A ideia é ressignificar a cidade. Dar utilidade a ela, sem esperar ini- ciativa do poder público. Os grupos vão e fazem, aí é só o governo entender a reflexão e procurar ajudar”, conclui. 1 O subprefeito da Sé, Alcides Amazonas, afirma ser a

10 são paulo é uma cidade incrível foto 1 divulgação 2 favor das ocupações urbanas e também diz que juntado, acabou desvalorizando toda a região tamento. Aí percebemos que havia um real po- a gestão do prefeito Fernando Haddad estimula da avenida São João e da rua Amaral Gurgel. tencial cênico para algo apresentado na janela”, a ideia de que áreas degradadas sejam “ocupadas Apelidado pejorativamente com o nome Minho- conta Rangel. A peça, com bonecos, passou a ser de diversas formas, não só com atividades anuais, cão, passou desde suas origens a receber grande exibida aos domingos, e o grupo chegou a fazer mas permanentes”. “Nós vamos facilitar para que fluxo de automóveis. sessão para mais de 350 pessoas. isso ocorra, mas sempre dentro das normas. Quem Mas essa sua vocação agora está sendo re- Em março, uma das ocupações mais curiosas organiza esses eventos precisa arcar com as regras, pensada. Fechado para carros entre 21h30 e 6h do Minhocão aconteceu com o apoio da prefeitu- porque o poder público também tem suas limita- e também aos domingos, o elevado tem sido ra. Uma piscina de 50 metros de extensão e 30 cen- ções”, diz ele. usado como um parque. Recebe pedestres, ci- tímetros de profundidade foi instalada no eleva- Mais recentemente, as ocupações de espa- clistas, skatistas e também virou palco de festas. do para uso de quem quisesse aproveitar a tarde. ços públicos também passaram a ter representa- “Cinco minutos depois de fechar para o trânsito, A proposta e a realização foram da arquite- ções fora da região central. No Largo da Batata, ele já está lotado de gente praticando esporte, ta Luana Geiger. “A rua é lugar de encontro”, que passou por uma reforma por conta da che- conversando, convivendo. Foi uma ocupação diz ela, “não tem porta pra selecionar quem tá gada de uma estação de metrô há três anos na natural”, conta o ator Iarlei Rangel, do grupo dentro e quem tá fora”. A arquiteta conta que região oeste, toda sexta é dia de festa. O coleti- teatral Esparrama, que promove ali, desde no- sua ideia foi inspirada por outras expressões vo A Batata Precisa de Você ocupa o local com vembro, o espetáculo Esparrama Pela Janela. artísticas realizadas nos últimos anos no local. mobiliários e atividades culturais de lazer. Um Iarlei é vizinho do “monstro de concreto” há dez Quem passa pelo Minhocão hoje, por cima ou bate-papo sobre o próprio largo e propostas de anos. Como muitos apartamentos na região, o por baixo dele, vai encontrar assim um lugar bem melhorias também fazem parte da programação. seu tem janela colada à construção. “Estávamos mais colorido. Desenhos na parede, fotografias Laura Sobral, fundadora do grupo, acredita ensaiando a peça e, no intervalo, notávamos uma coladas ao concreto e outras pinceladas do gêne- que incentivar o vínculo afetivo entre habi- reação de curiosidade das pessoas que passavam ro fazem desta construção estranha de São Paulo tante e a cidade gera uma cidade mais viva. pelo Minhocão e olhavam para dentro do apar- um convite à visitação. ◊ “Há muitos espaços públicos na cidade sem infraestrutura para serem considerados es- paços de convivência. Imagino que, se essa ideia de ocupação dos espaços públicos se es- palhar, teremos uma cidade mais humana.” vale tudo no minhocão O elevado Costa e Silva não é exatamente um cartão-postal de São Paulo. Construído nos anos 1970 à revelia da opinião de urbanistas, a via suspensa mais esquisita da cidade cruza parte do centro ligando a porta de entrada da região leste à região oeste. Feio, bruto e descon- 3 4

fotos 2 DANIEL TEIXEIRA/ ESTADãO CONTEúDO 3 e 4 divulgação 40ª feira internacional do livro de buenos aires 11 entrevista com raquel rolnik Transformação o tempo todo em ritmo intenso

Mariluce Moura

om seus 11,8 milhões de habitantes – e 20,8 milhões em sua região me- tropolitana –, São Paulo é a maior cidade da América Latina e uma das metrópoles globais do mun- Cdo, o que a inclui entre aquelas que articulam e distribuem os fluxos internacionais do capital, de gestão e de negócios. Simultaneamente, no olhar autorizado da arquiteta e urbanista Ra- quel Rolnik, 57 anos, sendo muitas, São Paulo é única em sua pulsação vibrante e ritmo veloz, a despeito das semelhanças que guarda com outras grandes cidades cosmopolitas, inclusive Buenos Aires. E Raquel pode afirmá-lo com base em sua vasta experiência como relatora internacional do direito à moradia adequada do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o que vem lhe per- mitindo comparar desde 2008 dezenas de cida- des do mundo todo. Ou com o conhecimento acumulado em muitos anos como consultora de cidades brasileiras e latino-americanas em polí- guém que entra no carro, deixa-o numa garagem um circuito cultural e de música absolutamente tica urbana e habitacional. Professora da respei- ou estacionamento, e fica fechado. Ali inclusive fervilhante que se renova e explode cotidiana- tada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da estão começando a surgir os complexos multiu- mente. É o lugar do encontro de uma nova classe Universidade de São Paulo (FAU-USP), Raquel so, com torres de escritórios, hotéis e shoppings, média mais jovem que se muda para lá, mora, foi também diretora de planejamento da cidade tudo junto para se nascer ali, nunca sair dessa vive ali, e pensa numa vida com transporte coleti- de São Paulo e secretária nacional de programas área e nunca ter contato com a cidade. vo de massa, porque ali tem metrô. Reflexo disso urbanos do Ministério das Cidades no período também, mas uma outra cidade, vê-se na aveni- 2003-2007, durante a gestão do presidente Luiz São ilhas? da Paulista: uma espécie de encontro dessas duas Inácio Lula da Silva. Foi na FAU, no começo de Sim, são ilhas corporativas isoladas. A não-cida- cidades, porque de um lado há a presença da ci- abril, que ela concedeu a entrevista cujos princi- de, no sentido da dimensão pública que constitui dade corporativa, de alta renda, mas também a pais trechos publicamos a seguir. historicamente a cidade. Mas há muitas outras forte apropriação por parte de jovens de todas cidades simultaneamente. Se vamos ao centro as partes da cidade. E se seguimos caminhando Que cidade é São Paulo? histórico de São Paulo, ao distrito Sé-República pela cidade, temos hoje as periferias, pois já não São múltiplas cidades simultaneamente, em com- e aos bairros no entorno, Santa Cecília, Vila Buar- é mais a periferia. plementação e em conflito. Na medida em que que, vê-se uma cidade onde de um lado estão tomamos São Paulo como metrópole corporativa, os excluídos, a ponta extrema da desigualdade Elas são qualitativamente diferentes umas das capital do capital financeiro da América Latina, social que ali se faz presente – os viciados em outras? ela tem uma dimensão, uma espacialidade, uma crack, os sem-teto, os moradores de rua –, mas Sim, em primeiro lugar, porque estão em distin- forma de organização que é muito clara e tem, in- em que ao mesmo tempo há uma dinâmica de tos graus de consolidação. O processo histórico clusive, uma simbologia urbanística muito clara uso. E esta compreende o abandono por parte da construção das periferias foi de autoconstru- através das margens da avenida Marginal do rio do poder público ao mesmo tempo que o uso e ção e autopromoção da casa e da cidade pelos Pinheiros, na expansão em direção à zona sul. O a ocupação dessa área. Ela é absolutamente viva próprios trabalhadores. O urbanismo e a cidade modelo de ocupação dessa área é absolutamente e agitada, desde os movimentos de moradia que chegaram depois. Dependendo do momento em antiurbano. As calçadas da Berrini não medem ocupam prédios vazios até os coletivos de artistas que essa ocupação se deu, da força política e da nem 90 centímetros, não estão pensadas para que que ocupam os espaços públicos e uma nova vida capacidade de organização das pessoas que es- as pessoas andem por ali. É um modelo para al- noturna que emerge com bares e restaurantes, tavam lá, hoje se encontram em distintos graus

12 são paulo é uma cidade incrível fotos léo ramos de consolidação. Há periferias consolidadas que parcela significativa da classe média defendendo dialoga com essas grandes cidades. E no Brasil, atravessam um processo de transformação radi- a mudança do modelo de cidade e dizendo que claro que há algumas questões que se vê também cal e outras absolutamente precárias. Há áreas quer uma cidade estruturada não para o automó- no Rio de Janeiro, em Porto Alegre ou em Belo que misturam as duas coisas. vel, mas para o transporte coletivo de massa. E Horizonte, porque são elementos comuns do mo- que quer uma cidade em que os espaços públicos delo de exclusão territorial, mas é um sítio urba- Em seu blog, recentemente você abordou a verti- de qualidade sejam nosso maior patrimônio. no bastante particular, no alto do planalto, cheio calização e a revivência dos blocos de rua no Car- de colinas; a topografia marca a especificidade da naval. Pode comentar isso? Aí entramos na questão da ocupação do espaço cidade, concede-lhe um caráter único. Nosso debate sobre a verticalização foi histori- pelas manifestações das pessoas. camente muito capturado pela forma com que o Isso está acontecendo na cidade de São Paulo Ainda que São Paulo seja muitas cidades, há algo abordou a legislação urbanística. Desde que exis- em todas as escalas. O movimento de ocupação que marcaria a alma de toda a cidade? te uma lei de zoneamento que a aborda (1956), pode ser detectado pelo aumento do número de Sim, creio que a pulsão da cidade, aquela ideia ela se concretiza através do coeficiente de apro- bares que ficam nas calçadas – ficar nas calçadas de que são Paulo não pode parar, que todo mun- veitamento. Chegou-se a definir que na maior é expor-se ao espaço público, à cidade. Há um do tem pressa, que tudo se faz rápido. Talvez seja parte da cidade poderia se verticalizar para uso aumento sensível no uso de praças onde elas exis- exatamente por isso que a paralisação da mobi- residencial, desde que o empreendimento se des- tem e são bem cuidadas. E aí se veem uma ocu- lidade seja tão angustiante, porque incide sobre se em terrenos grandes, não ocupasse a totalida- pação muito grande e coisas que não se viam há um pedaço da alma da cidade. Outro elemento de do terreno, deixasse uma parte vazia. E assim cinco anos, como, por exemplo, pessoas fazendo que tem a ver com o ritmo: são impressionantes surgiu esse modelo, antiurbano, privatista e iso- festa para seus filhos no meio da praça, fazendo a transformação e a capacidade de mudança. Se lado, que é o edifício no centro do lote exclusiva- piquenique e convidando crianças que estão ali você vai nos bairros e volta lá seis meses depois, mente residencial, cercado de tranqueiras usadas a participar. Há movimentos mais ou menos or- já há negócios novos, loja que fechou, coisa que pelos próprios prédios, com o conceito de que a ganizados por coletivos como Baixo Centro, Co- está diferente. É uma cidade em transformação, área de lazer deve estar dentro do lote, e não no perifa, saraus, no centro e na periferia, em escalas o tempo todo, num ritmo intenso. limite, nem no espaço público. diferentes. E se pode ir dessa escala até as ma- nifestações de junho de 2013, onde uma grande Você trabalhou com a noção de cidades nódulos da Mas qual poderia ser uma visão diferente de ver- ocupação do espaço público da cidade ressoou globalização. Como as vê hoje? ticalização? uma vontade também, entre outras pautas, de São Paulo é uma das cidades globais. Medir o Temos que discutir: qual verticalização? Para transformação dessa dimensão pública, de uma grau de “globalidade” da cidade é ver quanto quem? Como? E também a própria forma da melhor mobilidade, etc. estão presentes ou nela aportam fluxos interna- verticalização, porque se pode ter modelos em cionais globais, de gestão, de negócios, do capital que o espaço público é qualificado através da in- E onde está a raiz desse movimento? estrangeiro. São Paulo sempre foi também uma tervenção que se faz no espaço privado. Não é só No mal estar decorrente da exacerbação do mo- cidade cosmopolita, com uma presença grande uma questão de altura, mas também da relação delo de privatização e do modelo excludente de de estrangeiros a partir do começo do século 20. do edifício com a rua, do fato de serem mistos cidade que nos guiou até hoje e que mostrou seus Houve também e há uma presença muito gran- ou não, da localização das áreas públicas do limites. Um dos sinais mais evidentes desse esgo- de de migrantes nacionais. São Paulo é a mais edifício, se para fora ou para dentro. Tudo isso é tamento é a imobilidade, o congestionamento. O importante “capital” do Nordeste brasileiro, um debate urgente, que São Paulo precisa fazer transporte coletivo de massa nesta cidade nunca tem marcas extremamente importantes de sua agora com a revisão do Plano Diretor e da Lei de foi prioridade. Quando isso se torna um proble- cultura. A multiculturalidade é seu elemento Zoneamento. ma? Quando se amplia o poder de consumo dos forte, várias culturas transitam e estão presentes setores de menor renda e eles passam a comprar ao mesmo tempo e, num estilo muito brasilei- Você crê que São Paulo encontrará novas formas carros e motos e começam a disputar o espaço ro, com antropofagia. Não sem tensão, não sem de trabalhar essa interação? dos carros – e, disputando-o, também disputam conflito. Mas é uma cidade de migrantes e imi- Sim, porque na verdade a cidade é tão múltipla, o espaço do ônibus –, e então bloqueia-se tudo. grantes, é uma cidade de fronteira aberta. E nisso complexa e diversa em termos dos segmentos Aí queremos outro modelo, inclusive a classe mé- é muito parecida com Nova York. que a compõem, que teoricamente esses novos dia quer transporte coletivo de qualidade. produtos que possamos fabricar na cidade terão Você vê alguma semelhança entre São Paulo e Bue- sempre compradores. Ainda mais se tivermos em Com que outra cidade São Paulo parece, dentro do nos Aires? nossa legislação – o que é fundamental – instru- Brasil e fora do país? Sim, há semelhanças. Quando elaborei o relató- mentos de política fundiária para que essas áreas São Paulo é muito única: parece e não parece com rio do Direito à Moradia Adequada na Argentina possam ser acionadas não apenas por setores de Mumbai, na Índia – no sentido do caos na mobili- e penetrei nas periferias e nas favelas de Buenos renda média e alta, mas também por setores de dade, das ilhas privativas, na contraposição entre Aires, senti muitas semelhanças. Mas Buenos menor renda. Hoje temos instrumentos financei- a cidade formal e a cidade informal que está pre- Aires tem duas coisas que fazem com que ela ros, como os subsídios, que permitem fazer isso, sente lá e cá, mas é totalmente diferente. Parece e seja radicalmente diferente. Primeiro, o centro então temos que repensar do ponto de vista urba- não parece com Nova York, porque é uma cida- de Buenos Aires nunca saiu do centro, nunca no. Qual é a política fundiária que vamos fazer? de múltipla, vibrante, e ambas têm uma pulsão migrou, enquanto a centralidade de São Paulo e um ritmo de produção cultural e tecnológica, migrou em direção ao centro-sudoeste e ao sul, Ou seja, estamos exatamente nesse momento- intelectual, ambas giram rapidíssimo; mas Nova e a cidade experimentou um processo de aban- -chave. York está estruturada sobre o transporte coletivo dono do centro histórico por parte das elites. Estamos. E São Paulo tem a faca e o queijo na de massa e conta com uma enorme estruturação Segundo, a estrutura de mobilidade pública de mão para começar a implementar uma reforma do espaço público, coisa que São Paulo não tem. Buenos Aires é infinitamente mais desenvolvida, urbana no sentido de uma cidade mais demo- Parece e não parece com a Cidade do México, em com o metrô e tudo isso, e mesmo o urbanismo crática, mais justa, mais equilibrada do ponto de termos de dimensões. Lá também tem periferias nas áreas mais centrais da cidade é mais consoli- vista ambiental e social. Também estamos viven- autoconstruídas e o centro e arredores têm ele- dado e muito mais generoso, com calçadas feitas do um momento muito especial, porque nunca mentos muito semelhantes aos de São Paulo e para andar, para os pedestres; é uma qualidade antes – na história desta cidade – tivemos uma também elementos muito diferentes. São Paulo de urbanismo muito melhor. ◊

40ª feira internacional do livro de buenos aires 13 PROGRAMAção POR DiA filmes, encOntros, saraUs e Apresentações*

24/4 28/4 1/5 22h00, no Malba 20h30 15h00, no estande 10h00, no Presídio de Filme 2 Coelhos, direção de Abertura da Mostra de Cinema Mesa com o escritor Ilan Brenman Devoto Afonso Poyart com o filme Entre nós, no Espaço 16h00, no Galpón Cultural O historiador e educador 24h00, no Malba INCAA Gaumont Piedrabuenarte Allan da Rosa fala das edições Filme O Bandido da Luz Vermelha, Saraus independentes de Rogério Sganzerla 25/4 16h30, no estande 15h00, no estande 20h00, no CCBA Mesa com o músico, jornalista e Mesa da editora Índigo, sobre 3/5 Mesa sobre o campo intelectual escritor Cadão Volpato livros infantis Das 13h30 às 14h30, no Brasil e na Argentina, 18h00, no estande 16h30, no estande no estande com Maria Arminda do Encontro: Cooperifa e outros Mesa sobre poesia com Fabrício Sarau Nascimento Arruda, Sergio Miceli, coletivos Corsaletti, Cristian di Nápoli e 15h00, no estande Carlos Altamirano e Alejandro Alberto Martins Oficina de encadernação Blanco, e a curadoria da professora 29/4 17h00, no Malba 17h30, no estande Maria Arminda Nascimento 15h00, no estande Filme Alma Corsária, direção de Mesa com o escritor Marçal Arruda Mesa com a escritora Heloisa Carlos Reichenbach Aquino Prieto, autora de Monstros e 17h30, no estande 18h00, no Malba 26/4 Mundos Misteriosos Mesa sobre o escritor Rodolfo Filme Sábado, direção de Hugo 16h00, no estande 16h30, no estande Walsh, com o tradutor Sergio Giorgetti Mesa com o sociólogo Sergio Mesa com o escritor Fernando Molina e o escritor Ricardo Lisias 20h30, no Pavilhão Miceli, autor de Intelectuais à Bonassi, autor de Prova Contrária 18h30, no estande Show de Arnaldo Antunes Brasileira Das 18h00 às 22h00, no Mesa sobre tradução com Fabrício 22h00, no Malba 19h00, no estande estande Corsaletti, Alberto Martins, Sergio Filme Durval Discos, de Anna Mesa com as escritoras Paula Grande sarau coletivo e Molina e Ricardo Lisias Muylaert Fábrio e Gabriela Cabezón Cámara apresentação da antologia Saraus. 21h00, no Malba 24h, no Malba 20h30, no pavilhão Movimiento/ Literatura/ Periferia, Filme Antônia: O Filme, direção de Filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, Show da cantora Tulipa Ruiz São Paulo (editora Tinta Limón) Tata Amaral direção de Héctor Babenco 22h00, no Malba de Lucía Tennina 20h00, no estande Filme Entre Nós, de Paulo Morelli e Apresentação de sarau 4/5 Pedro Morelli, no Malba 30/4 23h00, no Malba 15h00, no estande 10h00, no Presídio de Filme Quanto dura o Amor?, Oficina de encadernação 2 7/4 Devoto direção de Roberto Moreira 17h30, no estande 14h30, no estande Sarau Mesa sobre cartunistas com Apresentação do livro Narrar San 15h00, no estande 2/5 Kioskerman, Gervasio Troche, Pablo, com os editores Helena Mesa com a autora de livros Das 15h00 às 17h00, no Bruno Maron e Alexandra Moraes, Bonito Pereira (Brasil) e Carlos juvenis Shirley Souza estande com a mediação de Cecilia Gezera (Argentina) 16h30, no estande Oficina de encadernação para Arbolave e João Varella 16h30, no estande Mesa com a narradora de crianças com professores da Aber 18h00, no Malba Mesa sobre filosofia e literatura histórias Regina Machado e com 17h00, no estande Filme Os 12 Trabalhos, com a escritora e tradutora Maria o escritor e ilustrador Ricardo Sarau de Ricardo Elias Cecilia Gomes dos Reis Azevedo 18h00, no Malba 19h00, no estande 18h30, no estande Das 18h00 às 19h30, no Filme O Bandido da Luz Vermelha, Apresentação de El Livro de los Sarau Cooperifa estande direção de Rogério Sganzerla mandarines, de Ricardo Lísias 20h00, no Malba Sarau 19h00, no estande 20h00, no Malba Filme Antônia: O Filme, direção de 20h00, no estande Mesa com os escritores Emílio Filme Linha de Passe, de Walter Tata Amaral Mesa sobre samba e cultura Fraia e Oliverio Coelho Salles e Daniela Thomas 22h00, no Malba popular com o escritor e ilustrador 20h00, no Malba 20h30, no estande Filme A casa de Alice, direção de Ricardo Azevedo Filme O Invasor, direção de Mesa com os escritores Ivana Chico Teixeira 20h30, no La Casona Beto Brant Arruda e Joca Terron Sarau 20h30, no estande 22h00, no Malba 21h00, no Pavilhão Apresentação do livro de Arnaldo Filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, Show da banda de percussão Antunes de Héctor Babenco Barbatuques

14* Esta são programaçãopaulo é uma cidade está incrívelsujeita a alterações 5/5 8/5 11/5 A Via Láctea, 2007, de Lina 15h00, no estande 10h00, no Presídio 17h00, no estande Chamie. Elenco: Alice Braga, Mesa sobre imigrantes em de Devoto Mesa com o arquiteto Gilles Eduar Fernando Alves Pinto e Marco São Paulo, com Clara Politi e a Sarau 17h00, no Malba Ricca. Sinopse: O professor de socióloga Oriana Maculet 15h00, no estande Filme São Paulo – Sinfonia & Literatura e escritor Heitor e a atriz Das 16h00 às 17h00, Mesa com o escritor Carlito Lima Cacofonia, de Jean Claude- Júlia namoram já faz algum tempo. no Galpón Piedrabuenaarte 17h00, no estande Bernardet Entardece na cidade de São Paulo Sarau Mesa com o poeta Marcos Siscar 18h00, no Malba e o casal discute violentamente Das 17h00 às 18h00, 17h00, no Malba Filme A Via Láctea, direção de por telefone. Angustiado, Heitor no estande Filme Fogo e Paixão, direção de Isay Lina Chamie pega o carro e vai para a casa da Debate sobre o desafio das Weinfeld e Marcio Kogan 18h30, no estande namorada. No trajeto pelas ruas de pequenas editoras, com Eduardo 18h30, no estande Mesa com a escritora Andréa São Paulo, o trânsito, os pedestres, Lacerda (editora Patuá), Allan da Apresentação: sarau del Fuego tudo interage com suas divagações. Rosa, Mariana Warth (Libre), João 21h00, no Malba 20h00, no Malba Varella (Lote 42) e Ioni Scheines e Filme As Melhores Coisas do Mundo, Filme São Paulo, S.A., de Luis Alma Corsária, 1993, de Carlos Matías Duarte (Ediciones Galería) direção de Laís Bodanzky Sérgio Person Reichenbach. Elenco: Abrahao Das 18h30 às 19h30, 23h00, no Malba 20h00, no estande Farc, Bertrand Duarte e Carolina no estande Filme Bróder, de Jeferson De Mesa com o escritor Marcelo Ferraz. Sinopse: Rivaldo Torres Mesa sobre o mercado editorial Mirisola e Teodoro Xavier, dois amigos latino-americano, do ponto de 9/5 22h00, no Malba de infância, apresentam o vista dos autores contemporâneos, 15h00, no estande Filme O Signo da Cidade, direção livro Sentimento Ocidental. Os com Joca Terron, Florência Mesa com a arquiteta e desenhista de Carlos Alberto Riccelli poetas invitam todo tipo de gente Garramuño, Cristian de Nápoli e Carla Caffé para o evento, inclusive a um Marcelo Barbão 16h30, no estande suicida potencial, a quem Torres Das 20h00 às 21h00, Sarau PROGRAMAÇÃO DE já salvou no Viaduto do Chá. no estande 18h00, no Malba FILMES NO MALBA Enquanto a festa avança, o filme Mesa sobre o mercado editorial Filme O Ano em que meus Pais retrocede para o final da década de latino-americano e as barreiras Saíram de Férias, direção de Cao As Melhores Coisas do Mundo, 1950 e surge a gênese da amizade alfandegárias, com a embaixadora Hamburger 2010, de Laís Bodanski. dos dois protagonistas, o que leva Magdalena Faillace e José Castilho 19h30, no estande Elenco: Caio Blat e Denise a um final de surpresas. 19h00, na Biblioteca Apresentação do livro Nuestros Fraga. Sinopse: Inspirado Nacional huesos, de Marcelino Freire na série de livros Mano, de Antônia, 2006, de Tata Amaral. Show para crianças: grupo Palavra 20h00, no Malba Gilberto Dimenstein e Heloisa Elenco: Cindy Mendes, Nathalye Cantada Filme Bróder, de Jeferson De Prieto, o filme narra o período Cris, Negra Li e Sandra de Sá. 21h00, no Niceto 20h30, no estande de um mês na vida do jovem Sinopse: A história se baseia na Show do grupo de rap Racionais Mesa sobre literatura marginal, Hermano e seus amigos, aventuras musicais de quatro Mcs com os escritores Marcelino Freire que estudam num colégio garotas que sonham em virar e Ferréz de classe média da capital cantoras e moram na periferia de 6/5 22h00, no Malba paulista e enfrentam os dilemas São Paulo. Produzida como série 15h00, no estande Filme O Invasor, de Beto Brant característicos da adolescência. de televisão, virou depois filme. Mesa com os jornalistas Vagner de 24h00, no Malba Alencar e Bruna Belazi Filme Encarnação do Demônio, de 2 Coelhos, 2012, de Afonso Poyart. Bróder, 2011, de Jeferson De. Das 16h30 às 19h30, no José Mojica Marins Elenco: Alessandra Negrini, Elenco: Ailton Graça, Caio estande Caco Ciocler e Fernando Alves Blat, Cássia Kiss e Zezé Motta Sarau 10/5 Pinto. Sinopse: Edgard é um cara Sinopse: A história ocorre em 20h00, no estande 15h00, no estande cansado da desgraça social e da 24 horas, e traça o reencontro de Performance Mokumokuren com Mesa com o escritor Gustavo corrupção. Resolve agir por conta três amigos que compartilharam o Coletivo de Cabeceira Piqueira e fazer justiça com as próprias a infância em Capão Redondo: 21h00, no Niceto 16h30, no estande mãos. E elabora um plano em Jaiminho, um jogador de futebol Show do rapper e cantor Emicida Sarau que os bandidos se enfrentarão com projeção; Pibe, um sacrificado 17h00, no Malba com os políticos. corretor imobiliário; e Macu, o 7/5 Filme São Paulo – Sinfonia & jovem protagonista que continua Das 15h00 às 16h30, no Cacofonia, de Jean Claude- A Casa de Alice, 2007, de Chico no bairro, flertando com a estande Bernardet Teixeira. Elenco: Berta Zemel, criminalidade. Sarau 18h00, no Malba Ricardo Vilaça, Vinicius Zinn 17h00, no estande Filme Estamos juntos, e Zé Carlos Machado. Durval Discos, 2002, de Ana Mesa com a jornalista e escritora de Toni Venturi Sinopse: Alice é uma manicure Muylaert. Elenco: André Lucrecia Zappi 20h30, no Pavilhão de uns 40 anos que mora na Abujamra, Ary França, Etty Fraser, 18h30, no estande Show do cantor Criolo periferia da cidade de São Paulo. Fábio Sleiman, Isabela Guasco, Mesa com a escritora e roteirista 22h00, no Malba Seu casamento está em conflito, Kadu Torres, Ken Kaneko e Letícia Juliana Frank e com o escritor Filme Trabalhar Cansa, direção de mas ela faz “vista grossa” e Sabatella. Sinopse: Durval é Reinaldo Moraes Marco Dutra e Juliana Rojas também tem suas aventuras. o dono de uma loja de discos 20h00, no La Casona 24h00, no Malba Nilson, seu namorado da de vinil em Pinheiros, na zona Sarau Filme Encarnação do Demônio, de adolescência, surge como um oeste de São Paulo. Apesar de ter José Mojica Marins candidato a realizar seus sonhos chegado aos 40, mora com a mãe, românticos. numa casa contígua à loja. Sem

40ª feria internacional del libro de buenos aires 15 sucumbir aos CDs, o proprietário Linha de Passe, 2008, de Walter O Signo da Cidade, 2007, de Carlos Augusto, Renato Consorte e acaba restringindo seu público a Salles e Daniela Thomas. Alberto Riccelli Elenco: Bruna Tom Zé. Sinopse: uma equipe de poucos clientes, que quase nunca Elenco: Kaique de Jesus Lombardi, Graziella Moretto, Juca publicitários transforma o saguão compram nada. Santos e Vinícius de Oliveira. de Oliveira Luis Miranda, Rogério de um velho prédio no centro Sinopse: Quatro irmãos moram Brito, Sidney Santiago e Thiago de São Paulo num ambiente de Encarnação do Demônio, 2008, na periferia de São Paulo. Por Pinheiro. Sinopse: Gil é casado, luxo, com a intenção de gravar de José Mojica Marins. Elenco: causa da ausência do pai, eles mas está sozinho. Lydia flerta com um comercial. Numa sucessão de Adriano Stuart, André Frateschi, precisam lutar pelos seus sonhos. o perigo. Josialdo nasceu para incidentes engraçados, a diretora Andrey Marins, Cleo de Paris, Reginaldo, o mais novo, procura ser mulher. Mônica só quer se artística do anúncio fica trancada Cristina Aché, Débora Muniz, obstinadamente seu pai, a quem dar bem. No programa noturno no elevador, junto com o cadáver Docinho e Eduardo Chagas. nunca conheceu. Dario, que está de rádio que atende ouvintes de um velho morador e dois Sinopse: Após 30 anos preso, por fazer 18 anos, sonha em ser anônimos, a astróloga Teca se vê empregados do Instituto Médico Zé do Caixão sai finalmente jogador de futebol profissional. entre os anseios dos outros e os Legal que foram buscar o corpo. em liberdade. Novamente em Dinho, que trabalha num posto próprios problemas. Desesperada, ela pede ajuda e seu contato com as ruas, o sádico de gasolina, busca na religião o ajudante reúne os vizinhos para coveiro está decidido a cumprir a consolo por um passado obscuro. Os 12 Trabalhos, 2006, de Ricardo tentar consertar o elevador. mesma meta que o levou à cadeia: Dênis, o mais velho, tem um filho e Elias. Elenco: Cynthia Falabella, encontrar à mulher que lhe faça ganha sua vida como motoboy. Flavio Bauraqui, Francisca Queiroz, São Paulo – Sinfonia & Cacofonia, um filho perfeito. Na caminhada Lucinha Lins, Luiz Baccelli e Paulo 1984, de Jean-Claude Bernardet. pela cidade de São Paulo, deixa um O Ano em que Meus Pais Saíram de Américo. Sinopse: Após sair da Sinopse: O filme é uma ode de rastro de horror ao se enfrentar às Férias, 2006, de Cao Hamburger. Febem, Heracles tenta superar amor e ódio à cidade de São Paulo, crendices populares. Elenco: Caio Blat, Daniela seu passado em busca de um com imagens e barulhos que Piepszyk, Michel Joelsas, Paulo trabalho honesto como motoboy. expressam o prazer angustiante de Entre Nós, 2012, de Paulo Morelli Autran e Simone Spoladore. Para conseguir o emprego, o viver nesta cidade. Elenco: Carolina Dieckmann, Sinopse: Em 1970, a maior adolescente precisará realizar Maria Ribeiro, Caio Blat e Martha preocupação na vida de Mauro doze tarefas atravessando todos os São Paulo S.A., 1965, de Luis Sergio Nowill Sinopse: Isolados numa (Michel Joelsas), 12 anos, pouco bairros paulistanos. Person. Elenco: Altamiro Martins, casa de campo em 1992, jovens tem a ver com a ditadura militar: Nadyr Fernandes, Sílvio Rocha e amigos decidem escrever e enterrar seu maior sonho é ver o Brasil Pixote – a Lei do Mais Fraco, 1981, Walmor Chagas. Sinopse: Carlos é cartas destinadas a eles próprios, tricampeão mundial de futebol. de Héctor Babenco. Elenco: um jovem de classe média que se para abri-las dez anos depois. De repente, é separado dos pais Beatriz Segall, Edilson Lino, Elke une a um rico empresário do setor Porém, depois de uma tragédia sem saber por que e é obrigado Maravilha, Jardel Filho, João José automotivo de São Paulo. Casado, que acontece naquele mesmo a se adaptar a uma estranha e Pompeu, Jorge Julião, Marília Pêra, tem um bom trabalho e uma dia, os amigos permanecem dez divertida vizinhança no Bom Rubens de Falco e Tony Tornado. boa vida social, mas nunca está anos sem se ver, e o reencontro Retiro, bairro de judeus e italianos. Sinopse: Pixote, um contraventor realmente satisfeito e pretende dar traz à tona antigas paixões, novas de 11 anos, vai para a Febem, uma guinada na sua vida. frustrações e um segredo. O Bandido da Luz Vermelha, 1968, onde faz amizades e presencia a de Rogério Sganzerla. Elenco: violência, o tráfico e a corrupção. Trabalhar Cansa, 2011, de Estamos Juntos, 2010, de Toni Carlos Reichembach, Ezequiel Aproveitando a visita de um juiz Marco Dutra e Juliana Rojas. Venturi. Elenco: Cauã Reymond, Neves, Maria Carolina Whitaker, de menores, o garoto foge da Elenco: Gilda Nomacce, Helena Débora Dubboc, Leandra Leal Maurice Capovila, Miriam Mehler instituição com o travesti Lilica e Albergaria, Marat Descartes e e Nazareno Casero. Sinopse: A e Neville de Almeida. Sinopse: Um seu amante Dito. Mariana Flores. Sinopse: A jovem médica Carmem enfrenta a notícia assaltante misterioso usa técnicas dona de casa Helena resolve de uma doença grave que a instiga extravagantes para roubar casas Quanto Dura o Amor?, 2009, realizar um antigo desejo e abrir a viver intensamente. Uma das de luxo em São Paulo. A imprensa de Roberto Moreira. Elenco: seu primeiro empreendimento: primeiras mudanças é a relação o apelida “O Bandido da Luz Danni Carlos, Fábio Herford, um mini mercado. Contrata a simultânea com um homem Vermelha”, pois sempre anda com Maria Clara Spinelli, Paula Pretta, faxineira Paula para que cuide misterioso e o com o músico Juan. uma lanterna vermelha em suas Paulo Vilhena e Silvia Lourenço. da casa e de Vanessa, sua filha. Porém o novo comportamento de andanças e conversa longamente Sinopse: Três personagens, em Quando o marido Otávio perde Carmem entra em conflito severo com suas vítimas. busca de alguém a quem amar, o emprego de gerente numa com a vida que ela levava antes, o dividem a moradia no conturbado corporação, as relações pessoais e que pode resultar em destruição. O Invasor, 2002, de Beto Brant. coração de São Paulo. Ao chegar de trabalho entre os personagens Elenco: Paulo Miklos, Marco do interior, a aspirante a atriz passam por uma inversão. Fogo e Paixão, 1988, de Isay Ricca, Alexandre Borges. Marina mergulha na sedutora Weinfeld e Márcio Kogan. Elenco: Sinopse: Estevão, Ivan e Gilberto noite da cidade, sem calcular Mira Haar, Cristina Mutarelli, são colegas desde tempos da riscos. A advogada Suzana vive Carlos Moreno, Fernando Amaral, faculdade. Além disso, são sócios uma paixão promissora, mas Iara Jamra, Riva Nimitz, Ken numa construtora bem-sucedida guarda um segredo que pode Kaneko, Yvonne Buckingham, há mais de 15 anos. A relação mudar tudo. O romântico Jay, um Ed Stanton, Julio Levy e Cassiano entre eles sempre foi muito boa, escritor esquecido, tenta achar Ricardo. Sinopse: Um grupo de até que um desentendimento na uma brecha num coração de pessoas passeia por uma grande condução dos negócios faz com acesso difícil. cidade. No retorno a casa, o que choquem com Estevão, o japonês Kankeo, um dos turistas, sócio majoritário. Acuados, Ivan e Sábado, 1994, de Ugo Georgetti. mostra o vídeo do passeio para um Gilberto decidem contratar Anísio, Elenco: Elias Andreato, Giulia grupo de amigos. um matador de aluguel. Gam, Marilha Padilha, Otávio

16 são paulo es una ciudad increíble DEZ DICAS PARA FICAR MAIS ÍNTIMO DE SÃO PAULO

Em sentido horário, o compositor Criolo, a cineasta Laís Bodanski e a dramaturga Lucas Nóbile Michelle Ferreira

ão existe um guia turístico ca- 1. pagode da 27, por criolo, rapper cas. “Boa parte da boemia paulistana se con- paz de contemplar a quanti- Todos os domingos, parte da antiga rua 27, no centra ali, atores, diretores, cineastas, cantores, dade de programas culturais bairro Grajaú, zona sul da cidade, é coberta por bailarinos, artistas plásticos, jornalistas. Quase que pontuam o mapa de uma uma lona, que dá teto a uma roda de samba todos, uma hora ou outra, dão uma passadinha cidade com o tamanho de São com mais de dez instrumentistas. Comandado no bar dos Parlapatões”, diz o ator, referindo-se NPaulo. Esta cidade é infinita. pelo sambista Nenê Partideiro, o Pagode da 27 à casa mantida por um famoso grupo teatral Os roteiros publicados por jornais e os mapas apresenta desde 2005 sambas inéditos e suces- formado por palhaços. “Se gosta de cultura e distribuídos pelos órgãos de promoção do turismo sos da música brasileira. “Transporta para uma lazer, a praça Roosevelt é o lugar.” dão conta do circuito tradicional. Mas a metrópole realidade muito particular da cidade”, diz Crio- onde Praça Roosevelt, Centro; quando todos que abraça 20 milhões de pessoas e por onde pas- lo, que cresceu na região. Com 25 anos de car- os dias; quanto grátis sam 13 milhões de turistas anualmente esconde reira, o cantor ganhou projeção nacional após muito mais em seus becos e ruas de bairro. o disco Nó na Orelha, de 2011, e já se apresen- 3. beco do batman, por laís bodansky, Na seleção abaixo, indicamos dez opções tou com Chico Buarque de Hollanda, Caetano cineasta que passam por um crivo pouco ortodoxo, o do Veloso, Milton Nascimento, Mulatu Astatke e A cineasta Laís Bodansky rodou todos os seus afeto. Artistas que moram e trabalham na cidade outras feras. filmes em São Paulo, entre eles o premiado Bicho sugerem, aqui, cantinhos que os inspiram. onde Rua Manuel Guilherme dos Reis, 500, de Sete Cabeças. Para ela, um dos lugares mais O roteiro passa por rodas de samba, saraus Parque Grajaú; tel. (11) 98360-8827; quando interessantes da cidade é a rua Gonçalo Afonso, na periferia, cinemas antigos. Também inclui dom., das 16h às 20h; quanto 1 quilo de localizada na Vila Madalena, bairro tradicional uma praça no centro da cidade conhecida por alimento não perecível da boemia paulistana. Conhecida como Beco do ser ponto de encontro de gente ligada ao teatro: Batman, desde a década de 1980 a viela funciona a Roosevelt, que com esse nome de presidente 2. praça roosevelt, por gero camilo, como uma galeria de arte a céu aberto por ter americano tornou-se também palco de manifes- ator suas paredes cobertas por grafites de diferentes tações políticas. Gero Camilo é uma figura conhecida por sua artistas. “Todos os meus filmes foram rodados Há, na lista, opções que não custam nem um atuação em peças, filmes e minisséries brasi- em São Paulo, tenho intimidade com a cidade. real. Quem passeia pelas ruas da Vila Madalena, leiras. O diretor e autor de espetáculos teatrais Aquele beco é uma obra de arte ao ar livre, é uma um dos bairros mais boêmios da cidade, pode, frequenta a praça Roosevelt, reduto de peque- experiência e mostra como o grafite está invadin- por exemplo, visitar o famoso Beco do Batman, nos teatros e bares. Cheia de jovens skatistas do a cidade de uma forma bacana.” estreito e todo colorido pelos grafites. São dicas durante toda a semana, a praça acabou se tor- onde Rua Gonçalo Afonso, Vila Madalena; para quem quer conhecer a cidade intimamente. nando também palco de manifestações políti- quando todos os dias; quanto grátis

fotos léo ramos 40ª feira internacional do livro de buenos aires 17 4. parque trianon, por andréa del fuego, escritora Vencedora do prêmio José Saramago por seu livro Malaquias (2010), a escritora Andréa Del Fuego gosta de fazer pequenos retiros em um parque situado no coração da via mais simbóli- ca da cidade, a avenida Paulista. O parque conta Ao lado, o ator Gero Camilo; abaixo a com variedade de espécies da Mata Atlântica e cantora Tulipa Ruiz guarda, por exemplo, exemplares da árvore que deu nome ao país, o pau-brasil. “É um lugar onde podemos esquecer a poluição sonora. É um in- tervalo no meio do maior fluxo da cidade, um ótimo exemplar da fauna paulistana com bancos sob sombras”, diz a autora, que teve um conto seu incluído na antologia 30 Mulheres Que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira (2005). onde Avenida Paulista, 1.700; tel. (11) 3253- 4973; quando das 6h às 18h; quanto grátis

5. sarau da cooperifa, por emicida, rapper Um dos nomes mais respeitados da atual geração da música brasileira, Leandro Roque Ferreira, co- nhecido como Emicida, tem sido requisitado para festivais internacionais, como o americano South 7. rua augusta, por tulipa ruiz, can- 3815-7200; quando segunda a sábado, das by Southwest (SXSW). O compositor é presença tora 8h à 1h; dom., das 8h às 18h; quanto grátis garantida no bar do Zé Batidão, onde acontece Autora do álbum Efêmera (2010) e integrante o Sarau da Cooperifa, tradicional encontro de de uma geração de jovens compositores e intér- 9. cine marabá, por kiko dinucci poetas da periferia paulistana. O local, que re- pretes, Tulipa Ruiz indica um lugar conhecido Compositor de sambas, Kiko Dinucci e os par- cebe não apenas moradores do Jardim São Luís, por roqueiros e boêmios, a rua Augusta. Com ceiros Romulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo mas também muitos visitantes de outros bairros suas lojas, bares e casas noturnas, essa via foi Campos têm a cidade como inspiração para o vizinhos, promove inclusive sessões de curtas às marcante para revelar nomes da cena musical disco Passo Elétrico. Muito ligado também a ci- quintas, no já tradicional Cinema na Laje. “É um independente brasileira nos anos 2000. “Na nema e artes visuais, o compositor elege o Cine lugar fascinante, no coração da zona sul, onde de- Augusta fica um dos primeiros onde cantei. Marabá, no centro de São Paulo, como um local zenas de pessoas se reúnem para celebrar.” Também é o endereço da Neto Discos, primeira importante em sua vida. “Além da arquitetura onde Bar do Zé Batidão, rua Bartolomeu loja de CDs que topou comprar meu álbum e maravilhosa no interior, essa sala apresentava em dos Santos, 797, Jardim São Luís; tel. (11) dava a maior força colocando ele para tocar o sua fachada um painel pintado à mão. É a única 5891-7403; quando quartas, das 21h às 23h; dia todo. É lugar de concentração e trajeto para sala comercial de cinema do centro de São Paulo quanto grátis o bloco de Carnaval Acadêmicos do Baixo Au- que, embora descaracterizada, não virou estacio- gusta, do qual tenho a honra de ser madrinha. namento ou igreja neopentecostal.” 6. minhocão, por michelle ferreira, Numa ponta da Augusta, está a praça Roosevelt. onde Avenida Ipiranga, 757, Centro; tel. (11) dramaturga Se você desce para o outro lado, chega no Museu 5053-6881; quando das 13h às 22h; quanto A cena teatral de São Paulo tem sido reinventada da Imagem e do Som.” de R$ 5 a R$ 20 por artistas na casa dos 30 anos. Entre eles, está onde Rua Augusta, Centro; quando todo dia; a dramaturga Michelle Ferreira, autora de Existe quanto grátis 10. trânsito, por antonio prata, es- Alguém Que Nos Odeia. Michele conta que busca critor inspiração na esquisitice do elevado Presidente 8. mercearia são pedro, por caeto Escritor e roteirista, autor de livros como Meio In- Costa e Silva, estrutura criticada por urbanistas, melo, quadrinista telectual, Meio de Esquerda e Nu, de Botas, Antonio batizada com o nome de um general que foi presi- Autor do livro Memória de Elefante, Caeto Melo Prata tem no trânsito de São Paulo, considerado dente durante o regime militar brasileiro. Apelida- cita, em sua obra, um clássico da noite bicho um dos piores do mundo, momentos de inspira- do carinhosamente com o nome Minhocão, hoje o grilo paulistana, o bar Mercearia São Pedro, na ção para seus textos. “Para mim, como escritor, o elevado tem sido ocupado aos fins de semana por Vila Madalena. Informal, a casa recebe gente de lugar mais inspirador na cidade de São Paulo é o projetos culturais. Moradores e turistas também bermuda ou mesmo de chinelos. Além de vender trânsito. Ah, quantos momentos infinitos de ócio aproveitam para pedalar, correr e passear sobre DVDs e livros, tem cardápio com sanduíches e forçado! Estamos sós. Em silêncio. Não podemos ele aos domingos, dia em que fica fechado para a porções de carnes. Destaque para os pastéis ser- sequer falar ao celular, afinal, estamos dirigindo. passagem de carros. “É errado, brutal, tipo aberra- vidos por volta das 20h e que acabam rapidinho. Quem precisa de um chalé nas montanhas? Di- ção. Uma obra-cicatriz de mais de três quilômetros Sempre lotado, o Mercearia, como é chamado, zem que Baudelaire passeava por Paris com uma que fica no meio da cara já bem torta de São Paulo. tinha como um dos seus frequentadores mais tartaruga na coleira, no que seria o apogeu da Numa paisagem perfeita, sempre me sinto desloca- assíduos o “Doutor” Sócrates, ídolo do time de flanerie. Pois no trânsito de São Paulo nós pas- da. No Minhocão, não. O Minhocão é o apocalipse. futebol Corinthians, jogador da seleção brasilei- seamos dentro da tartaruga, estamos presos ao E o mundo nem acabou ainda.” ra, que morreu em 2011. “Quando morava em São seu casco com Jonas à baleia. Se o trânsito conti- onde Elevado Presidente Costa e Silva (passa Paulo, ia sempre no Mercearia São Pedro, na Vila nuar piorando neste ritmo, podemos esperar, em sobre a rua Amaral Gurgel, no Centro); Madalena, bairro onde passei boa parte da mi- breve, obras tão longas e densas que farão com quando aos domingos tem o trânsito nha vida. Lá conheci alguns escritores e sempre que Guerra e Paz pareça um haikai.” fechado para carros e liberado para ciclistas encontrava algum quadrinista para trocar ideia.” onde em todo lugar; quando imprevisível; e pedestres; quanto grátis onde Rua Rodésia, 34, Vila Madalena; tel. (11) quanto grátis

18 são paulo é uma cidade incrível fotos léo ramos Um menino joga bola no bairro da Boca Sobre revoluções, futebol e churrasco

Silvio Lancelotti

s torcedores da Argentina que viajarem ao tornos dos séculos XV e XVI. Então, em 1494, única vizinha Brasil, para a Copa do Mundo de 2014, po- de Portugal na Europa, a Espanha, sua mais feroz compe- dem carregar nas suas bagagens uma certe- tidora pelo domínio do mar, assinou um documento, na za absoluta: serão recebidos com o máximo cidade castelhana de Tordesilhas, que garantia a divisão de respeito, atenção e carinho. do continente em dois segmentos cortados por uma linha OCom cerca de 60 mil bilhetes (média de oito por pes- imaginária localizada 370 léguas a oeste do arquipélago de soa) comprados até os começos de maio, os torcedores da Cabo Verde, no Atlântico. Acreditava piamente que o teor Argentina só ficam atrás daqueles dos Estados Unidos (o do documento lhe daria várias vantagens. absurdo inesperado de 160 mil interessados em um elen- De fato, em favor da coroa ibérica o explorador geno- co sem chances) e da surpreendente Colômbia (68 mil). vês Cristóvão Colombo (1451-1506) já havia descoberto as À frente, no entanto, da potente Alemanha (58 mil), três plagas do Caribe, Hemisfério Norte. Pedro Álvares Cabral vezes campeã, da infelizmente sem chances Austrália (48 (1467 ou 1468-1520) apenas acharia o futuro Brasil em 1500. mil). Um sinal de que os torcedores da Argentina sabem De todo modo, dentro da parcela que coube aos lusitanos, que todo o Brasil aguarda o seu desembarque com os braços no hemisfério oposto, existiam oito mil quilômetros de orla escancarados. junto ao oceano. Trata-se de um desfecho positivíssimo para uma his- À Espanha sobrou o interior inóspito. Uma área muito tória de inúmeros atritos e de complexas contradições. A maior em tamanho, mas apenas acessível através do desbra- história de uma rixa veneranda, que se transformou em vamento de vastos matagais ou após um perigoso trajeto de rivalidade nos tempos da colonização do Novo Mundo, en- contorno na extremidade sul do Novo Mundo.

40ª feira internacional do livro de buenos aires 19 Desavenças perduraram em sécu- Paralelamente se propagou, em los subsequentes. Emancipada desde sentido bem inverso, a disseminação a sua Revolução de Maio de 1810, entre da cultura do churrasco. O paulistano 1825 e 1828 a Argentina se aliou ao Uru- saboreia a picanha grelhada desde a guai na Guerra Cisplatina. Independen- década de 1950, quando o milionário te desde 1822, o Brasil havia anexado as e playboy Baby Pignatari (1917-1977), terras que seguiam do rio Grande ao rio frequentador assíduo do Restaurante da Prata. Uma ameaça expansionista Bambu, percebeu que o responsável que a Argentina não podia tolerar. Mas, pelas brasas, um portenho, manuseava daí, décadas após, na Guerra do Para- uma peça de carne que, mesmo em suas guai, a principal contenda bélica da andanças através do planeta, ainda não história da América do Sul, a Argentina conhecia. Perguntou-lhe em que parte e Brasil foram aliados quase afetuosos. do traseiro do boi se situava a tal peça. Ostentavam as suas diferenças, objeti- O profissional, entre abusado e bem- vos não necessariamente comuns. De -humorado, espetou um dedo numa das dezembro de 1864 até março de 1870, nádegas do playboy e observou: “Onde porém, na parceria do Uruguai, com a se pica la anca”. Pignatari entendeu “pi- chamada Tríplice Aliança, preservaram canha”. E “picanha” ficou. a mesma meta: destruir as ambições de Desde aquela época o Brasil bus- independência econômica do Paraguai. 1 ca, da Argentina, mestres nas grelhas Conseguiram. Cessaram os seus e cortes fantásticos de carne de boi. atritos militares e/ou diplomáticos. So- ala Menotti (60, Santos e Juventus); o Paulatinamente proliferaram, por todo breviveria, basicamente, a rude rivalida- avante Sanfilippo (60, Bangu e Bahia); o país, os lugares especializados no de no futebol. o zagueiro Ramos Delgado (60/70, San- churrasco ao estilo platino. Só na cida- O primeiro duelo entre as duas tos); o artilheiro Luisito Artime (60/70, de de São Paulo os endereços, excelen- seleções, um prélio amistoso, também Palmeiras e Fluminense); o atacante tes, ultrapassam as duas dezenas. E em o primeiro desafio internacional do Doval (60/70, Flamengo e Fluminense); quase todos, durante a Copa, se farão Brasil, aconteceu em Buenos Aires, no os arqueiros Andrada (70, Vasco) e Ce- promoções para que os visitantes com estádio do Gimnasia y Esgrima, em 20 jas (70, Santos e Grêmio); o central Per- saudades da pátria possam aproveitar Acima, Heleno de Freitas, que de setembro de 1914. Diante de 18 mil fumo (70, Cruzeiro); o volante Madur- o ritual clássico diante dos telões em jogou no Boca espectadores, a equipe hospedeira arra- ga (70, Palmeiras); o goleiro Fillol (80, que se exibirão as partidas do timaço Juniors na década de 1940; abaixo, sou o time visitante, 3 x 0. Consolo: logo Flamengo); o goleiro Goycochea (90, do treinador Alejandro Sabella. Carlitos Tevez depois, em 27 de setembro, no mesmo Internacional); o lateral Sorín (anos Ah, acolhimento mais gostoso, em foto de 2005, quando jogava no endereço, em cotejo oficial pela Copa 2000, Cruzeiro); o artilheiro Carlitos convenhamos, impossível... ◊ Corinthians Roca (homenagem a Júlio Roca, 1843- Tevez (2000, Corinthians); o volante 1914, ex-presidente platino), o time do Mascherano (2000, Corinthians). Brasil arrebatou o seu primeiro troféu, Além de ocupar um volume bas- numa vitória de 1 x 0. tante menor, a exportação de astros Reais, nos números, as estatísticas do Brasil, para os clubes da Argentina, da rivalidade atestam que, no global, as essencialmente predominou até os ar- duas seleções disputaram 95 porfias – redores dos meados do século passado 35 sucessos do Brasil, 36 da Argentina – e no Boca Juniors. Sempre em ordem e 24 empates. Os auriverdes anotaram cronológica, o zagueiro Bianco (déca- 145 tentos; os alviazuis, 151. Houve seis da de 10, Atlético Porteño); o ala Ismael jogos em eliminatórias da Copa, com Alvariza (20, Boca); o central Domingos três vitórias do Brasil (onze tentos), Da Guia (30, Boca); o volante Martim duas da Argentina (oito) e um placar Silveira (30, Boca); o atacante Walde- de 0 x 0. No Mundial propriamente mar de Brito (aliás, o descobridor de dito houve quatro confrontos – duas um certo Pelé, 30, San Lorenzo) e o seu vitórias do Brasil (cinco tentos), um irmão ala Petronilho (30, San Lorenzo); triunfo da Argentina (três) e um outro o avante Heleno de Freitas (40, Boca); 0 x 0. Em nenhum desses eventos, fique o artilheiro Yeso Amalfi (40, Boca); o claro, se sucederam imbróglios dentro ponteiro Maurinho (50, Boca); o za- do gramado. gueiro Orlando Peçanha (60, Boca); o Detalhe charmoso: o Brasil im- volante (60, Boca); o arma- portou, para seus clubes, mais craques dor Moacir (60, River Plate); os meias do que a Argentina para os dela. Em de ligação Almir Pernambuquinho (60, ordem cronológica, no Brasil luziram Boca) e Silva (60, Racing); os goleado- astros como o virtuoso Antonio Sastre res Delém (60, River) e (década de 40, São Paulo); o armador (60, Boca); o ala Roberto Frojuello (60, Villadoniga (40, Palmeiras); o goleiro River); o lateral Rodrigues Neto (70/80, Eusébio Chamorro (50, Flamengo); os Boca e Ferrocarril Oeste); o armador arqueiros José Poy e Bonelli (50, São Silas (90, San Lorenzo); o artilheiro Paulo); o médio Luís Villa (50, Palmei- Charles (90, Boca); o lateral Baiano ras); o meia Negri (50, São Paulo e San- (2000, Boca); o centroavante Iarley tos); o avante Albella (50, São Paulo); o (2000, Boca). 2

20 são paulo é uma cidade incrível fotos 1 wikimedia commons 2 PAULO PINTO/ ESTADãO CONTEúDO Olhar periférico

Ações públicas e privadas dão mais corpo à programações culturais em regiões afastadas do centro de São Paulo

Lucas Nóbile

specialmente se aplicada à arte, a palavra “atem- poral” pode cair como um belo elogio. Contra- ditoriamente, não é nada bom saber que Mágico de Oz, música do disco Sobrevivendo no Inferno (dois milhões de cópias vendidas desde 1997), Edo cultuado grupo paulistano de rap Racionais Mcs, trata de um assunto tão atual. O rap composto por Edi Rock, Mano Brown, Ice Blue e KL Jay – “os quatro pretos mais perigosos do Brasil”, como eles se autodenominam – narra: “Moleque novo, que não passa dos doze/ Já viu, viveu mais que muito homem de hoje/ Vira a esquina e para em frente a uma vitrine/ Se vê, se imagina na vida do crime/ Dizem que quem quer segue o caminho certo/ Ele se espelha em quem tá mais perto”. Nos últimos vinte anos, a partir da percepção de que a arte também pode servir como espelho, abriu-se espaço na periferia de São Paulo para vitrines culturais de vários portes. rua Bartolomeu dos Santos, no Jardim São Luís, e ainda é Jovens dançam street dance no O poder público investiu nos Centros Educacionais preciso caminhar quatrocentos metros para, enfim, pisar- Centro Cultural Unificados (conhecidos em São Paulo pelo apelido CEUs), mos o Bar do Zé Batidão. da Juventude, na zona norte nas Fábricas de Cultura e em outros equipamentos que, O escondidinho de carne seca e a cerveja gelada já se- de São Paulo como estes, intercalam atividades artísticas e educativas. riam motivos suficientes para encarar a viagem. Mas, além Mas a vizinhança, especialmente, não ficou de braços cru- do menu trivial, o local ganhou importância ao escrever zados: muita gente, nesse curto período que avança o in- passagens fundamentais na história cultural da cidade. É tervalo de uma década, colocou a mão na massa para criar lá que todas as quartas Vaz reúne cerca de 500 pessoas por centros de funcionamento autônomo. noite para compartilhar poesia. Os saraus da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Pe- As referências conceituais do poeta passam por “sím- riferia), que acontecem há 13 anos, são um modelo para bolos sagrados” da história de São Paulo, como a Semana similares de gestão independente. “Quando eu era peque- de Arte Moderna de 1922, marco do modernismo brasileiro. no, achava que o planeta Terra tinha esse nome porque não “Eles [os artistas] canibalizavam a Europa para regurgitar existia asfalto, apenas ruas de terra. A minha realidade era a arte à maneira brasileira. Agora, nós comemos a cultura a de terra arrasada. Hoje, mudou muita coisa, a história está do Centro para regurgitar do jeito da periferia. A gente não sendo contada pela caça, não pelo caçador”, diz o poeta Sér- pode ser apenas consumidor, a gente também é artista e gio Vaz, criador do sarau. quer produzir. E o grande barato de tudo isso é a cidadania. Chegar à “toca” onde essa “caça” tem riscado sua ver- Antes, a gente queria mudar da periferia, hoje a gente quer são da história pode ser uma aventura para quem visita a mudar a periferia”, pontua Vaz, sobre a concepção do que cidade, e até mesmo para quem mora nela. Mas vale a pena. denominou “antropofagia periférica”. Um trajeto possível começa na praça da Sé, marco zero Para a antropóloga Érica Peçanha do Nascimento, pós- da cidade, de onde parte um ônibus da linha 5318-10, Chá- -doutoranda da Universidade de São Paulo que desenvolve cara Santana. Demora cerca de 1h30 até o número 797 da pesquisas voltadas para a produção cultural dos bairros de

foto léo ramos 40ª feira internacional do livro de buenos aires 21 À esquerda, street dance no Centro Cultural da Juventude; abaixo, aula de cavaquinho no Centro Cultural Arte em Construção; na página ao lado, encontros e debates sobre literatura marginal na livraria Suburbano Convicto

periferia, os saraus literários (hoje há é a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, A história do desenvolvimento mais de cinquenta espalhados pela cida- administrada pelo Instituto Bacarel- destes circuitos periféricos se entrela- de) cumprem papéis que transcendem li, que atua em comunidade da zona ça com a trajetória de artistas que ga- os limites do entretenimento. “Vão mui- sul da cidade desde 1996. O instituto nharam projeção também no campo to além do recital poético. São também fornece formação musical a cerca de comercial. O escritor Reginaldo Ferrei- encontros comunitários para troca de 1.200 crianças. Os alunos que se desta- ra da Silva, o Ferréz, que estreou em ideias, para a discussão da experiência cam no curso acabam ingressando na 2000 com “Capão Pecado”, romance dos moradores da periferia, elaboração orquestra, que já se apresentou em lo- sobre o bairro do Capão Redondo, há de novas perspectivas educacionais e cais como a Sala São Paulo e o Theatro quase duas décadas é um dos maiores profissionais, além da possibilidade de Municipal de São Paulo. representantes dentre os agitadores fruição cultural”, explica. “Esses meninos são oriundos de culturais da periferia. “A força que es- As iniciativas não se limitam um ambiente até então totalmente ses movimentos vêm alcançando com apenas à literatura e à música. Proje- refratário à música de concerto. Hoje, o passar dos anos mostra uma neces- tos que envolvem outros campos de não há mais nenhuma barreira que os sidade que as pessoas têm de buscar expressão artístico, como o teatro e separe desse universo”, diz o maestro cultura. No começo foi difícil, mas as artes visuais, também fazem parte Isaac Karabtchevsky, diretor artístico e hoje tudo anda forte, vários pontos das transformações sociais dos bairros regente titular da orquestra. de leitura estão sendo criados, e isso mais afastados do centro. Projetos criados pelos morado- impulsiona a periferia para um avanço Um exemplo é o Instituto Pom- res de regiões periféricas acabaram cultural”, diz. bas Urbanas. O grupo começou seu chamando a atenção de instituições “Não é fácil ter que trabalhar em percurso como uma companhia de privadas, que começam a se interes- outro serviço para gastar dinheiro com teatro e há dez anos atua em ativida- sar em quebrar barreiras geográficas nossos eventos, é muito sofrido, mas es- des que investigam possibilidades de e sociais para estabelecer diálogos. O tamos indo em frente, somos tipo um democratização da cultura, no bairro grupo Itaú Cultural, vinculado a um trator, para parar é complicado. Se um Cidade Tiradentes, extremo leste de banco, por exemplo, passou a apoiar dia vier recurso, será bom para aumen- São Paulo. Anualmente, no Centro Vaz na realização dos Encontros Poé- tar o trabalho.” Se não vier, prossegue o Cultural Arte em Construção, um ticos, que têm escritores da periferia artista, seus vizinhos de profissão conti- galpão que passou anos abandonado, como convidados. A Petrobras, em- nuarão preparando o terreno. ◊ o grupo estima receber mais de 20 mil presa petroleira nacional, também pessoas. publicou recentemente um livro sobre “Há quem diga que ali poderia a história da Cooperifa na coleção Tra- haver um shopping ou um outro gran- mas Urbanas. de empreendimento. A cultura não “É de alta importância estabele- está a serviço dos interesses econômi- cer um diálogo de troca e ampliação cos, e isso gera profundo incômodo de fronteiras entre as produções das aos que visam o lucro e não o desen- diversas periferias e de fora delas. Nes- volvimento, comenta Adriano Mauriz, se conjunto, todos podemos construir coordenador do Pombas Urbanas. “Os pontes para que a cena literária possa, espaços e movimentos culturais surgi- de fato, integrar os vários rumos que dos na periferia representam um con- segue a cultura realizada nas perife- traponto à ‘invisibilidade’ imposta aos rias. Muito rica, ela nem sempre en- interesses da população”, completa. contra condições adequadas para sair Dentre as iniciativas ligadas à do seu círculo”, diz Eduardo Saron, música erudita, a de maior projeção diretor do Itaú Cultural.

22 são paulo é uma cidade incrível São Mateus; tel. (11) 98769-5679; quando das 9h às 20h

8. cine favela Associação cultural sem fins lucrativos, o Cine Favela atua em Heliópolis desde 2003. Cerca de 200 jovens são beneficiados por ano com atividades culturais e esportivas, como oficinas de cinema e teatro. Também é responsável pelo Festival Cine Favela de Cinema, que em oito edições já exibiu mais de 300 filmes. onde Rua do Pacificador, 288, Heliópolis; tel. (11) 2914-2275; quando das 10h às 20h

9. centro de arte e promoção social (caps) Com mais de duas décadas de atuação, o Centro de Arte e Promoção Social (Caps), localizado no Grajaú, é coordenado pela educadora Maria Vilani, que é mãe do compositor e cantor Criolo. A iniciativa promove desde 1991 rodas de poesia, cafés filosóficos, recreação infantil,entre outras atividades. 1. cooperifa Paulo, mudou-se para o bairro do Bexiga em onde Rua Professor Oscar Barreto Filho, 50, Criada em 2001 pelo poeta Sérgio Vaz, a 2010 e tem mais de 1.500 livros disponíveis. Grajaú, tel. (11) 5924-9135; quando das 9h Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa) No local também são realizados encontros às 22h organiza um dos saraus de maior destaque e debates sobre literatura marginal e sobre na cidade. Os eventos, que acontecem todas atividades culturais na periferia. 10. espaço comunidade as quartas no Bar do Zé Batidão, no Jardim onde Rua 13 de Maio, 70, 2º andar, Bixiga; tel. Nascida do Projeto Comunidade Samba do Guarujá, Capão Redondo, chegam a receber (11) 2569-9151; quando das 10h às 19h Monte, o Espaço Comunidade ganhou sede até 500 pessoas. em 2012. O espaço cultural independente onde Bar do Zé Batidão, na rua Bartolomeu 5. instituto pombas urbanas do Monte Azul promove saraus, exposições, dos Santos, 797, Jardim São Luís, tel. (11) O instituto, que surgiu com uma companhia shows e aulas de instrumentos musicais 5891-7403; quando quarta, das 21h às 23h de teatro fundada em 1989, atua há dez aos jovens, além de oficinas de artesanato, anos no galpão Centro Cultural Arte em atividades infantis e sessões de filmes. 2. centro cultural da juventude (ccj) Construção, que recebe cerca de 20 mil onde Rua Domingos Marques, 104, Jardim Outra inciativa da Prefeitura de São Paulo, pessoas por ano na Cidade Tiradentes, Monte Azul; tel. (11) 5851-4825; quando das o Centro Cultural da Juventude (CCJ) fica zona leste. Com o objetivo de democratizar 9h às 20h localizado no bairro Vila Nova Cachoeirinha, a cultura e arte na periferia, promove na zona norte da cidade, e foi inaugurado atividades de capacitação profissional para 11. bar/sede da vila fundão em 2006. O local tem biblioteca, aulas de jovens, gestão cultural, além de espetáculos Inaugurada em 2009, a sede foi construída idioma, estúdio de gravação, ilhas de edição de teatro. pelos moradores. Na casa, onde funciona de vídeo e áudio, área de convivência e onde Avenida dos Metalúrgicos, 2.100, um bar, os jovens têm acesso a oficinas internet grátis, além de um espaço para Cidade Tiradentes; tel. (11) 2285-5699; de grafite, teatro, música e cinema. A Vila shows que já recebeu apresentações de quando consultar programação no site Fundão, que é citada em várias letras dos importantes nomes da cena musical www.pombasurbanas.org.br Racionais MCs, também recebe shows e paulistana. organiza um sarau todas as quintas, às 20h. onde Avenida Deputado Emílio Carlos, 3.641, 6. comunidade cultural quilombaque Aos sábados, a roda de samba com feijoada tel. (11) 3984-2466; quando ter. a sáb., das Surgida em 2005, a organização sem fins reúne mais de mil pessoas. 10h às 22h, dom. e fer., das 10h às 18h lucrativos promove diversas atividades onde Rua Gerson Marques da Silva, 22, culturais, como shows, peças de teatro, Capão Redondo; quando das 10h às 22h 3. casa de cultura do grajaú – palha- sessões de cinema, além de oficinas de ço carequinha grafite e de hip hop. 12. sacolão das artes Importante centro cultural do Grajaú, desde onde Travessa Cambaratiba, 5, Perus; tel. (11) Localizado no Jardim São Luís, em M’Boi 2008 oferece oficinas de desenho, música e 3917-3012; quando das 9h às 20h Mirim, o espaço tem parcerias com coletivos teatro, além de edições de festivais musicais como a Brava Companhia de Teatro e o e pequenas sessões de filmes seguidas de 7. espaço são mateus em movimento Núcleo de Comunicação Alternativa. debates. Criado em 2008 para combater a violência O local, que funciona desde 2007, recebe onde Rua Professor Oscar Barreto Filho, 50, envolvendo crianças e jovens da shows, peças e ensaios de grupos, além de Grajaú, tel. (11) 5924-9135; quando das 9h às 22h comunidade Vila Flávia, em São Mateus, oferecer diversos cursos para crianças e na zona leste, o espaço tem biblioteca e adolescentes. 4. livraria suburbano convicto oficinas de grafite, capoeira, artesanato, onde Avenida Cândido José Xavier, 577, O espaço criado pelo escritor Alessandro dança de salão, entre outras atividades. Jardim São Luís, tel. (11) 5819-2564; quando Buzo no Itaim Paulista, na zona leste de São onde Rua Cônego José Maria Fernandes, 128, das 10h às 20h

foto léo ramos 40ª feira internacional do livro de buenos aires 23 Experiência ÍNTIMA relato PESSOAL

Relatos autobiográficos, narrativas eróticas e exorcismo de traumas revelam novos traços de geração jovem de escritores de São Paulo

Fernando Masini

ois episódios recentes jogaram luz Os temas e o estilo de escrita, no entanto, fui percebendo a vulnerabilidade dele diante de sobre a nova geração de escritores estão longe de manter uma unidade homogênea. algumas questões e tentei fazer narradores dife- brasileiros: em 2012, uma edição Para o curador da Festa Literária Internacional de rentes para observar como eles reagem diante de especial da influente revista bri- Paraty (Flip) deste ano, Paulo Werneck, as dis- desafios distintos.” tânica Granta foi dedicada aos tinções entre os autores chamam mais a atenção. Em O Inventário das Coisas Ausentes (2014), Djovens autores do país (com menos de 40 anos); “A geração que escreveu sob a ditadura ti- novo romance de Carola Saavedra, a escritora e em outubro do ano passado, a Feira do Livro de nha um assunto quase obrigatório. Tudo era po- usa como epígrafe uma frase do pintor alemão Frankfurt homenageou o Brasil e recebeu quase lítica, fosse em Raduan Nassar, Sérgio Sant›Anna, Lucian Freud (1922-2011) que toca justamente na 70 escritores nacionais na cidade alemã. Rubem Fonseca ou Ivan Angelo, quatro autores questão da ficção criada a partir de experiências Assim, a literatura brasileira virou assunto muito diferentes que, nos anos 1970, acabavam fa- pessoais. Diz a sentença: “Tudo é autobiográfico, de discussão fora do circuito acadêmico, contor- lando da ditadura. Hoje há espaço para tudo, há mesmo que seja apenas uma cadeira”. O livro in- nando questões relativas a uma possível identida- leitor para todas as sensibilidades”, diz Werneck. tercala duas histórias, a do filho que reencontra de particular. Existiria de fato uma nova geração Na prosa de Ricardo Lísias, 38, eventos bio- o pai após mais de duas décadas afastado, e a de de escritores no país produzindo em sintonia? gráficos servem de inspiração para a criação lite- um professor obcecado por uma mulher. Haveria uma unidade nos trabalhos produzidos rária, com exposição corajosa de algo íntimo. Em Saavedra, 41, que admite fazer parte dessa nas últimas décadas? Como debater a literatura seu romance mais recente, Divórcio (2013), Lísias nova geração de escritores brasileiros, explica seu brasileira hoje para além das questões relativas à aborda o término de seu casamento, após os qua- processo de criação: “Posso dar a um personagem paisagem que o país empresta aos personagens tro meses de vida conjugal serem abortados com características e pensamentos meus, sem que por aqui criados? a descoberta de um diário escrito pela esposa no cauda disso ele tenha o meu nome ou carregue a A seleção da revista Granta, que reuniu no- qual ela ataca o marido. minha história de vida; ao mesmo tempo, o fato mes como o gaúcho Daniel Galera, os cariocas Ricardo esclarece que a opção de expor sua de criar um protagonista com meu nome e bio- João Paulo Cuenca e Laura Erber, a chilena radi- vida pessoal passa por uma espécie de exercício grafia não o torna menos fictício. De certa forma, cada no Brasil Carola Saavedra e os paulistanos de questionamento do narrador, uma tentati- todo personagem é confessional”. Ricardo Lísias e Emilio Fraia, pode ter sugerido va de deixá-lo vulnerável, e não uma simples Uma das mais jovens a figurar entre as mu- uma primeira resposta. São comuns entre os confissão. “O que se chamou de autoficção, no lheres (ao lado de Luisa Geisler, Tatiana Salem contos e trechos de romances escolhidos os que caso do meu trabalho, tem ligação maior com a Levy, Paloma Vidal, Laura Erber, Juliana Frank, evidenciam opção pela narração em primeira pesquisa sobre a figura do narrador que eu fazia Ana Paula Maia e Vanessa Barbara) é Juliana pessoa, a predominância do ambiente urbano e anteriormente”, diz Lísias. “O narrador é uma Frank, 29. “Vivemos um ótimo momento. Existe confrontos em relações familiares. das espinhas dorsais da literatura. Aos poucos, lugar para nós entre leitores e editores. E pode-

24 são paulo é uma cidade incrível e escrachado tanto de escrever quanto Além do prestígio entre críticos de falar. Autor de 15 livros, ele sacudiu e especialistas da área, algumas obras o cenário literário ao lançar em 2002 o dessa geração conquistaram espaço iconoclasta O Azul do Filho Morto, pelo no mercado editorial, ingressando na qual foi apontado como um dos escri- lista de “best-seller”. Um dos roman- tores mais promissores de seu tempo. ces mais bem-sucedidos é Nu, de Botas Ele não se enquadra na mais nova (2013), escrito pelo paulistano Antonio geração, mas é inegável que seja um Prata, 36, que vendeu 13 mil exempla- dos precursores. Mirisola se autoin- res até hoje. Com seu olhar bem-hu- titula como o “Pedro Álvares Cabral morado sobre os costumes do jovem da autoficcção no Brasil” e, sempre cosmopolita, Prata tornou-se um dos crítico, reclama que a maioria de seus principais cronistas de sua geração. pares é formada por “bundões profis- “Meu trabalho é olhar em volta e sionais”. O escritor acha que muitos contar o que vejo. Quando faço isso, escritores atuantes não se arriscam na vejo mais gente da minha idade, pois literatura: “A negligência, o autismo, são as pessoas com quem eu ando, en- a alienação são mais do que estilo de tre 30 e 40 anos. E também tento olhar vida, trata-se de opção deliberada, es- pra mim, para o que estou sentindo tratégia de sobrevivência”. e pensando. Se eu for bem-sucedido em falar sobre mim, descreverei bem política x alienada todos aqueles do meu estrato socioe- A despolitização seria um sinal dos conômico-cultural e etário”, diz. tempos entre os jovens escritores bra- Outro nome que desponta nessa sileiros, portanto? Não é o que pensa a geração é Daniel Galera, que com Bar- escritora Carola Saavedra. “O que seria ba Ensopada de Sangue (2012), um dos uma literatura alienada? Um texto que finalistas do prêmio Jabuti do ano pas- não fale diretamente sobre problemas sado e vencedor do Prêmio São Paulo sociais e políticos? A boa literatura de Literatura, conseguiu vender até nunca é alienada, ela fala da vida, de agora 25 mil exemplares de seu livro. questões que dizem respeito a todo ser A obra também foi lançada em mais humano, ela nos torna pessoas mais de dez países, inclusive a China. conscientes”, diz. Segundo a professora de literatu- Ricardo Lísias vai na mesma di- ra da UFRJ Beatriz Resende, em crítica reção: “Acredito que incontornavel- publicada no jornal O Globo, Galera mente toda criação artística envolve, consegue com seu quarto romance de um jeito ou de outro, uma inter- “dar um pulo adiante, absolutamente mos criar uma narrativa que não im- venção política. Eu procuro apenas ser surpreendente, salto que recusa qual- ponha cisão de gênero”, diz a autora consciente disso”. quer acomodação e o lança nas perigo- de Quenga de Plástico (2011), romance Os temas mais cosmopolitas e as sas águas do horror”. sobre uma ex-atriz pornô que narra passagens pelo cenário urbano, que A trama de Barba Ensopada de sem pudor suas relações sexuais. prevalecem nas obras da nova gera- Sangue leva um professor de educação Em outro trabalho, Meu Coração ção, podem dar a falsa impressão de física de Porto Alegre a Garopaba, no de Pedra-Pomes (2013), ela desenvolve que a identidade nacional criada por litoral catarinense, onde ele investiga a história da garota Lawanda, que tra- gerações anteriores para expressar a morte do avô. balha como faxineira em um hospital, também olhares sobre as questões so- Galera é um dos autores nacio- mas paga as contas prestando serviços ciais (a miséria no Sertão, a opressão nais mais jovens a conseguir projeção extras a pacientes. A obra de Frank, exercida por figuras e estruturas polí- fora do país. Como ele, o carioca Ber- marcada pela escrita despretensiosa, ticas, os temas regionalistas do passa- nardo Carvalho, apontado por críti- pornográfica e bem-humorada, é com do), foram esquecidas pelos escritores. cos como um dos melhores escritores frequência cotejada com a prosa de O posicionamento político, porém, ao brasileiros em atividade, tem edições Reinaldo Moraes, autor de Pornopopeia contrário do que era ser visto na litera- de Nove Noites (2002), vencedor do (2009). Ao criar personagens precários tura produzida até os anos 1980 ao me- Prêmio Portugal Telecom, de Mongó- que atravessam escrita essencialmente nos, surge num discurso menos direto. lia (2003), ganhador do Jabuti, e de Re- coloquial, a autora busca dessacralizar Juliana Frank diz a respeito de produção (2013) circulando em países a literatura. “Não pensar, para mim, seus personagens: “Se você coloca o como França e Portugal. é a melhor maneira de escrever”, diz personagem em uma situação social, Ainda assim, o Brasil ainda care- Frank, cuja autora de cabeceira é a num contexto histórico, está fazendo ce de políticas de incentivo à publica- inglesa Charlotte Roche, que frequen- política. Não precisamos, ao escrever, ção no exterior. Werneck, o curador da temente também investiga possibili- expor os dramas de forma escancara- Flip, afirma que “hoje em dia qualquer dades autobiográficas com focos em da. Todas as minhas personagens estão país que não seja de língua inglesa e questões sexuais e íntimas da mulher. em conflitos com o mundo. A quenga que queira promover sua literatura Como um combatente veterano é uma atriz pornô, por exemplo. A precisa financiar as traduções, ao me- na trincheira cavada pelos jovens, o Lawanda é faxineira, a Lavie é uma nos em parte”. escritor paulistano Marcelo Mirisola, menina de 16 anos completamente Neste ponto, o Brasil ainda testa 47, notabilizou-se pelo estilo agressivo abandonada pela família”, argumenta. seus limites. ◊

40ª feira internacional do livro de buenos aires 25 TÚNEL Do

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TEMPO 1907 O primeiro cinema da 1949 cidade, o Bijou Theatre, A construção dos A evolução da vida cultural da cidade abre as portas. Iniciativa estúdios da Vera Cruz de São Paulo em 22 tópicos dos empresários Francisco foi uma tentativa de Serrador e Antonio erguer uma indústria Gadotti, a sala de exibição cinematográfica aos Fernando Masini tinha capacidade para moldes de Hollywood no 400 espectadores e ficava Brasil. A iniciativa ficou localizada na avenida a cargo do empresário a virada do século 19 para o século 20, com São João, no centro. Francisco Matarazzo a chegada das primeiras levas de imigran- Os filmes mudos eram Sobrinho e do produtor tes, São Paulo pega carona no processo de projetados com o italiano Franco Zampari. industrialização do país e infla seus recur- acompanhamento musical Nos imensos galpões, sos para a cultura, tornando-se aos pou- de um sexteto. Funcionou foram rodados filmes Ncos uma potência das artes na América Latina. Esta linha até 1914. como O Cangaceiro (1952) do tempo faz um apanhado dos eventos mais importantes e Sinhá Moça (1953). para a cidade desde 1895, quando é inaugurado o Museu 1911 do Ipiranga, marco arquitetônico da cidade, construído no Em 12 de setembro, o mesmo lugar onde o príncipe D. Pedro I, em 1822, declarou Theatro Municipal foi o Brasil independente de Portugal, às margens do rio Ipi- inaugurado. Projetada ranga. São 22 tópicos essenciais para quem quer conhecer pelos arquitetos Ramos de mais a fundo as raízes de um cenário que, ainda hoje, não Azevedo, Claudio Rossi para de expandir suas fronteiras. ◊ e Domiziano Rossi, a casa foi inspirada na Ópera de Paris. Na noite de abertura, cerca de 20 mil pessoas compareceram ao local. A ópera Hamlet, 4 adaptação de Shakespeare pelo francês Ambroise Thomas, foi encenada 1951 naquele dia. Um dos cartões-postais da cidade, o edifício Copan é 1895 1922 a obra mais importante No dia 7 de setembro, Em contraste com do arquiteto Oscar é inaugurado o Museu o conservadorismo Niemeyer em São Paulo. Paulista, que ficou que vigorava na arte O prédio sinuoso, popularmente conhecido brasileira, a Semana de localizado na avenida como Museu do Ipiranga. Arte Moderna reuniu, no Ipiranga, foi idealizado A instituição tinha Theatro Municipal, cerca como uma combinação como objetivo celebrar a de cem obras, números de hotel, com mais de independência do musicais e palestras. mil apartamentos, e áreas Brasil e reunir objetos Participaram artistas comerciais. Hoje abriga

1 e documentos históricos. como Di Cavalvanti, Victor também restaurantes e O acervo atual é composto Brecheret, Anita Malfatti e galerias de arte. de 125 mil peças, entre Mário de Andrade. elas a pintura O evento, que ocorreu 1952 Independência ou Morte 2 de 13 a 18 de fevereiro, Em 9 de dezembro, o MAM (1888), de Pedro Américo inaugurou o modernismo (Museu de Arte Moderna de Figueiredo e Melo. no país. de São Paulo) abrigou

26 são paulo é uma cidade incrível fotos 1,4 e 5 léo ramos 2 e 6 wikimedia commons 3 reprodução 7 luis fernando gallo/ wikimedia commons 8 divulgação a exposição Ruptura, Brasileira, na TV Excelsior. marco-zero do cinema idealizada pelo grupo de Até os anos 1980, esse marginal, ou, como mesmo nome. A mostra evento ajudou a promover preferia Jairo Ferreira, o com obras, em sua maioria, a música de compositores cinema de invenção. A de artistas estrangeiros que que se tornaram ídolos partir do fim dos anos moravam na cidade, como nacionais, como Chico 1960, São Paulo tornou-se o austríaco Lothar Charoux Buarque. No primeiro a casa do movimento que e o polonês Anatol programa, realizado em esculhambava com tudo, Wladyslaw, foi o marco da abril, a canção Arrastão, inclusive com o cinema arte concreta no país. interpretada por Elis novo, e usava o mínimo de 7 Regina, foi premiada. recursos para filmar. 1954 – O 1º Festival Internacional de Cinema 1965 1968 do Brasil foi uma tentativa O filme São Paulo S.A., de Depois de funcionar desde de trazer para São Paulo Luiz Sergio Person, tem 1947 no centro da cidade, filmes estrangeiros ainda pré-estreia em outubro o Masp (Museu de Arte 1996 capacidade para 1.500 inéditos e, principalmente, no Cine Olido, no centro. de São Paulo) ganha nova Primeira edição do pessoas. Na noite de estrelas de Hollywood. O Com Walmor Chagas sede na avenida Paulista. O evento de moda inauguração, a Osesp festival foi realizado de 12 como protagonista, o projeto arquitetônico, com Morumbi Fashion, que executou a sinfonia a 27 de fevereiro no extinto longa mostra a vida e o quatro colunas vermelhas e seria rebatizado, em A Ressurreição, Cine Marrocos, no centro. trabalho de um jovem um vão-livre, foi projetado 2001, como São Paulo de Gustav Mahler. Desembarcaram na cidade de classe média em por Lina Bo Bardi. Na Fashion Week. Cerca de atores como Errol Flynn e meio ao processo de inauguração, a rainha 30 marcas apresentaram 2005 Joan Fontaine. industrialização da cidade. Elizabeth 2ª, da Inglaterra, suas coleções no parque Em novembro de 2005, A obra bebeu na fonte estava entre os convidados. Ibirapuera. Estilistas como foi realizada a primeira 1958 do cinema novo, mais Reinaldo Lourenço, Lino edição da Virada Cultural, O Teatro Oficina, hoje concentrado no Rio e na Villaventura e Glória uma maratona de shows, cultuado em todo o país, Bahia. Coelho estavam entre os peças e sessões de cinema nasce como grupo amador participantes. que ocupou mais de do centro acadêmico 1967 cem pontos da cidade. da Faculdade de Direito A Tropicália, movimento 1997 Cantores como Elza Soares da USP. À frente da cultural que deu um ar Com o tema “Somos e Adriana Calcanhotto companhia estava o de novidade ao cenário muitos, estamos em apresentaram-se com encenador José Celso musical dominado pela todas as profissões”, a entrada gratuita. Houve Martinez Corrêa, ainda bossa nova, foi introduzida primeira Parada Gay temporal durante a noite, hoje na ativa. Sempre na cidade durante da cidade reuniu cerca o que prejudicou alguns na vanguarda, o grupo apresentação de Caetano de duas mil pessoas na espetáculos ao ar livre. montou nos primeiros Veloso, Gilberto Gil e os 6 avenida Paulista. Os anos peças como Um Mutantes no 3º Festival participantes fizeram 2006 Bonde Chamado Desejo, de de MPB da TV Record. um trajeto até a praça O Museu da Língua Tennessee Williams. Em As canções Alegria, Alegria 1970 Roosevelt e protestaram Portuguesa, localizado 1967, encenaram um marco e Domingo no Parque A 1ª Bienal Internacional contra o preconceito e a na Estação da Luz, da dramaturgia brasileira, ficaram entre as finalistas do Livro é realizada entre discriminação. começa a funcionar em O Rei da Vela, de Oswald naquela noite. 15 e 30 de agosto no mesmo 21 de março. A exposição de Andrade. prédio onde acontecia a 1999 inaugural foi dedicada Bienal de Arte, no parque Em 9 de julho, a Sala São aos 50 anos do romance 1962 Ibirapuera. Mais de cem Paulo, sede da Orquestra Grande Sertão: Veredas, É criada a Fundação Bienal editoras nacionais e Sinfônica do Estado de de Guimarães Rosa. Com de São Paulo por iniciativa estrangeiras expuseram São Paulo (Osesp), abre materiais como tijolos, do empresário Francisco seus livros. suas portas. Instalada na areia e madeira, foi Matarazzo Sobrinho Estação Júlio Prestes, que construído o caminho com o objetivo de difundir 1977 se torna um complexo percorrido pelos a arte contemporânea Realizada de 21 a 31 cultural, a casa tem personagens do livro. tanto nacional quanto de outubro no Masp, estrangeira. O principal a 1ª Mostra Internacional evento da fundação, de Cinema foi organizada a Bienal, teve sua primeira pelo crítico e jornalista edição em 1951. Leon Cakoff, que dirigia

Na segunda edição, 5 o departamento a obra “Guernica”, de de cinema do museu. Picasso, é exibida. O público elegeu o filme 1967 Lúcio Flávio, o Passageiro 1965 O diretor Ozualdo da Agonia, de Hector Primeira edição do Candeias lança o filme Babenco, como o ganhador Festival da Música Popular A Margem, que foi o dessa primeira edição. 8

40ª feira internacional do livro de buenos aires 27 A rede e suas tramas

Como a busca por audiência redefiniu a linguagem utilizada por autores que migraram para a internet

Amanda Queirós

inguagem simples, textos opinativos e Outro blogueiro que move discussões Neurônio. O conteúdo neofeminista foi levado títulos com chamadas fortes. Se hou- apaixonadas na internet é Reinaldo Azevedo, para seus dois blogs, um independente e outro vesse uma cartilha orientando a pro- 52, adepto da ferramenta desde 2006 após uma sobre celebridades no portal Yahoo. Em seus dução do texto ideal para competir consolidada carreira na imprensa escrita. Seus textos, relações amorosas e dilemas de mulheres por audiência na internet, esses três 90 mil seguidores no Facebook e 85 mil no Twit- jovens ou perto da maturidade são abordados de Ldogmas estariam no topo da lista, dizem alguns ter acompanham suas opiniões – a maior parte forma bem-humorada e feminista (mas sem cara dos colunistas mais lidos nas telas de computa- sobre o noticiário político – no portal da Veja, de panfleto). dores do Brasil. revista de maior circulação do país. No caso de Xico, que também é escritor, seu Segundo o jornalista e cientista político Identificados como conservadores, os textos blog surgiu como continuação de seu site de crô- Leonardo Sakamoto, 37, um novo norte editorial do “Tio Rei”, como ele também é chamado, fazem nicas O Carapuceiro. “Com o blog, tudo isso ficou foi descoberto na relação direta com o leitor. O marcação cerrada com a presidente Dilma Rous- mais personalizado, mais autoral e mais literário uso da linguagem o mais coloquial possível, bem seff e o Partido dos Trabalhadores. do que propriamente jornalístico”, diz ele, cujo como toques de ironia e sarcasmo, podem tornar De orientação mais leve, André Barcinski, séquito de leitores é composto, na maior parte, o texto “popular, mas não popularesco”, diz. 46, fez fama ao abordar a cultura pop alternativa, por mulheres na faixa dos 30 aos 50 interessadas Para ele, “sempre houve opinião no jornalis- também na internet. Seus comentários sobre ci- em seus comentários sobre o amor. “O tema é ba- mo mesmo em matérias narrativas”. “O blog aju- nema, música e até culinária são curtidos por um tido desde Balzac, mas sempre desperta paixões. da a diminuir a ideia hipócrita de que uma coisa público bem informado que muitas vezes pauta Isso nunca vai mudar na crônica de costumes”, é diferente da outra. O mais importante não é a o próprio autor do blog abrigado no portal R7. conclui. ◊ imparcialidade nem a neutralidade. Acredito que “Com a Internet, obter informação se tor- a importância maior hoje é ter transparência.” nou muito fácil. Mas opinião é diferente. Tento Boa parte de seus 150 mil seguidores no ser bastante opinativo no blog, acho que as pes- Endereço dos Blogs: Facebook e dos 33 mil no Twitter é formada por soas gostam disso, e abro sempre a discussão leonardo sakamoto > blogdosakamoto. jovens entre 16 e 25 anos. “O blog tem uma atua- com os leitores. Frequentemente escrevo mais blogosfera.uol.com.br ção forte de formação de opinião entre quem está linhas nas respostas aos comentários do que no reinaldo azevedo > veja.abril.com.br/blog/ entrando no debate político”, avalia ele. Na últi- próprio texto”, diz. reinaldo ma semana de março, a página teve 1,8 milhão Há ainda blogueiros que ganharam espaço andré barcinski > entretenimento.r7.com/ de visualizações a partir do Facebook. “As redes com opiniões sobre costumes e comportamento, blogs/andre-barcinski/ sociais são fundamentais para atingir o público. como os jornalistas Nina Lemos, 43, e Xico Sá, 51. nina lemos > www.ninalemos.com.br A capacidade de replicação é incrível.” Nina começou na internet em 2000 com o site 02 xico sá > xicosa.blogfolha.uol.com.br

28 são paulo é uma cidade incrível ilustração Daniel Kondo