O Ideário De Contentor E O Espectro Da Performance. Vídeo, Fotografia
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João Miguel Onofre Presunto João Miguel Onofre João Miguel Onofre Presunto na obra de João Onofre O ideário de contentor e o espectro da performance. Vídeo, fotografia, desenho, objectos e instalação Vídeo, fotografia, desenho, objectos e instalação objectos e instalação desenho, fotografia, Vídeo, O ideário de contentor e o espectro da performance. da performance. O ideário de contentor e o espectro na obra de João Onofre Tese de Doutoramento em Arte Contemporânea apresentada ao Colégio das Artes da Universidade de Coimbra Março 2018 João Miguel Onofre Presunto O ideário de contentor e o espectro da performance. Vídeo, fotografia, desenho, objectos e instalação na obra de João Onofre Tese de Doutoramento em Arte Contemporânea apresentada ao Colégio das Artes da Universidade de Coimbra Março 2018 Índice Resumo V Abstract VII Preâmbulo 1 — 15 Desenho 16 — 83 Fotografia 84 — 117 Vídeo 118 — 269 Objectos e Instalação 270 — 345 Posfácio 346 — 349 Índice remissivo 351 Referências 353 — 355 Curriculum vitae 356 — 365 Bibliografia passiva 366 — 375 Resumo Apresentada no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, ao abrigo do regime especial (Art.º 31.º, alínea 2-b, do Decreto-Lei n.º 230/2009, de 14 de Setembro), a presente tese reúne o meu corpo de trabalho dos úl- timos vinte anos, propondo a sua leitura a partir de dois eixos conceptuais: o ideário de contentor e a perfor- mance como espectro. A tese está dividida em quatro capítulos, cada um deles correspondendo a um medium: 1. Desenho, 2. Fotografia, 3. Vídeo, 4. Objectos e Instalação. Estes capítulos são precedidos por um Preâmbulo, simulta- neamente enunciado das obras a apresentar e apre- sentação dos conceitos fundamentais que as informam: acção, aleatoriedade, apropriação, auto-reflexividade, delegação, duração, event score, fracasso, guião conceptual, linguagem, performance, repetição e tautologia. O objectivo é problematizar as obras — em cada medium apresentadas por ordem cronológica de modo a ga- rantir uma neutralidade não-hierárquica — no quadro produtivo em que se inscreve cada uma delas, ao mesmo tempo revelando o(s) processo(s) criativo(s) que põem em contacto os diferentes media, nesse contacto re- sidindo o seu fundo conceptual e operativo. Assente numa estrutura rizomática de referências autorais e de conceitos remissivos apresentados nas suas margens laterais, o documento exponencia as possibilidades de leitura das obras, quer individualmente, quer no âm- V bito do medium em que elas se inserem, quer ainda no contexto geral do corpo de trabalho. É no com- promisso desses três níveis de aproximação que cabe ao leitor estabelecer os contágios que indicam pistas de leitura, sabendo que — e essa é a função maior do Posfácio — os eixos conceptuais que as orientam se prolongam nas obras que excedem o período temporal aqui analisado. Palavras-chave: apropriação, contentor, guião concep- tual, performance, vídeo. Abstract Presented to the Colégio das Artes da Universidade de Coimbra under the special regime (Article 31, 2-b, of Decree-Law 230/2009 of September 14th), this thesis gathers my work from the last twenty years around a conceptual framework based on two core notions: o ideário do contentor e a performance como espectro. This thesis is divided into four chapters, each one corresponding to a medium: 1. Drawing, 2. Photography, 3. Video, 4. Objects and Installation. These chapters are preceded by a Preamble which simultaneously introduces the artworks and the key concepts to understand them: action, indeterminacy, appropriation, self-reflexivity, delegation, duration, event score, failure, conceptual script, language, performance, repetition and tautology. The aim is to confront the artworks — presented in chronological order in order to assure a non- hierarchal neutrality — within the creative frame that inscribes each one, and furthermore to reveal the creative process(es) linking the different media, there residing its operative and conceptual basis. Built on a rhizomatic structure of authors and concepts, displayed at the border of the pages, this document expands the possibilities of comprehension of the artworks not only individually, but in the context of their medium and in the general context of the work. Negotiating between these three levels of VII understanding, the reader must establish the links that function as reading cues, while being aware that the conceptual axis which guide them go beyond the time span of this study. Keywords: appropriation, container, conceptual script, performance, video. Preâmbulo As tradições artísticas tendem a resistir ao sur- gimento de novos media – e às tecnologias que lhes estão associadas – usando como argumento a passividade do registo que eles garantem, por sua vez atribuída a uma neutralidade incapaz de modificar ou expandir a realidade. Como se constata, este argumento veio a revelar-se infundado quer para a fotografia, quer para o cinema, quer, por extensão, para o vídeo, ele próprio ontologicamente híbrido. Mas, sobre- tudo esse argumento torna-se insustentável se cada medium prescindir da nitidez do seu ob- jectivo e da sua materialidade para operar na zona de periferia que, nos termos de Rancière, dele fazem uma superfície de conversão: O medium não é um fim ou um material em si próprio. É uma superfície de conversão: uma superfície de comparação entre as várias formas de fazer diferentes artes, um espaço ideal de articulação entre estas formas de fazer e as for- mas de visibilidade e inteligibilidade que deter- minam a maneira como elas podem ser vistas e pensadas. (Rancière, 2007, pp. 75-76) A possibilidade de trabalhar a recodificação de signos culturais através de determinado me- dium pressupõe, como veremos, não só a com- PB 1 preensão e a exploração da sua especificidade material, como a necessidade de expandir os seus limites. Considero então que, no domínio das artes visuais, o vídeo se define como um medium documental expandido e que, passado meio século desde o seu aparecimento, esse é um ponto-chave para definir e compreender o uso da imagem em movimento por artistas visuais como Vito Acconci, Chris Burden, Bruce Nauman, entre outros, enquanto pioneiros da performance: O Portapack pareceu ter sido inventado especifica- * Cf. mente para os artistas. No momento em que o for- Untitled (we will Leap into the never be boring) street (boombox malismo seguia o seu curso; no momento em que se (1997), p. 154 travelling) (2004), tornava politicamente embaraçoso produzir objectos, p. 218 Untitled (1998), e ridículo não fazer nada; no momento em que p. 158 Untitled (masked muitos artistas faziam performance, mas não tinham tap dancer) (2005), Untitled (1999), p. 222 onde fazê-la, ou sentiam necessidade de registar o p. 166 seu trabalho; no momento em que começava a ser Untitled (I See a Nothing will go Darkness) (2007), disparatado colocar sempre a mesma questão berkleyana, wrong (2000), p. 230 p. 178 «se fizeres uma escultura no deserto onde ninguém Untitled (leveling a pode ver, será que ela existe?»; no momento em Seeing things a spirit level in free clearer (2000), fall feat. Dorit que se tornava claro que a televisão transmitia mais p. 182 Chrysler’s BBGV informação para mais pessoas do que grandes paredes; dub) (2009), p. 234 Imus in girum no momento em que compreendíamos que para de- et nunquam igne Untitled (original finir o espaço era necessário abranger o tempo; no consumemur orchestrated ersatz (2000), p. 186 light version) momento em que muitas ideias estabelecidas noutras (2010-2011), p. 242 disciplinas começavam a ser questionadas e novos Casting (2000), p. 190 Untitled (N’en Finit modelos eram propostos — só nesse momento Plus) (2010-2011), Instrumental p. 246 apareceu o Portapack. (Rush, 2007, p. 13) version (2001), p. 194 Untitled (мій голос) (2010-2011), p. 250 Entendo o meu corpo de trabalho inserido neste Pas d’action (2002), legado, sabendo que uma das suas matrizes é a p. 198 GHOST (2009-2012), p. 254 performance orientada* — ou de tarefa orien- Believe (levitation in the studio) Untitled (2012), tada — para a câmara, isto é, a performance (2002), p. 202 p. 258 mediada pelo aparato do vídeo com as suas Untitled (vulture in Tacet (2014), p. 262 the studio) (2002), especificidades enquanto medium. Assim, con- p. 206 VOX (2015), p. 266 sidero a performance um elemento estrutural Catriona Shaw sings Baldessari do vídeo no campo das artes visuais, conside- Sings LeWitt re- edit Like a Virgin ração que o meu corpo de trabalho reflecte. extended version Com o surgimento dos media de gravação (2003), p. 210 Making of (2004), e transmissão — ou media reprodutivos —, p. 214 a prática de artistas como Nauman, Acconci ou Lawrence Weiner, abre caminho a um novo modo performativo em que a performance única, ao vivo, mediada pela câmara, se torna «estruturalmente sujeita à inscrição, iteração e repetição» (Kotz, 2007, p. 212). Interessa, pois, explorar a dimensão documental da per- formance, a fim de tornar mais perceptível o entendimento do vídeo como medium documental 2 expandido. Neste sentido, Philip Auslander es- tabelece uma distinção entre os dois modos da performance — documental e teatralizado — que, apesar de poderem ser, ambos produzidos para a câmara, são ideologicamente distintos. A prática performativa de, por exemplo, Burden ou Nauman, nas décadas de 1960 e 1970, pertence à primeira categoria (performance documen- tal), uma vez que, de um evento que ocorre, a documentação constitui simultaneamente um registo através do qual o evento pode ser re- * Cf. Running dry series Catriona Shaw construído, e uma prova da sua ocorrência. (2005-2007), p. 32 sings Baldessari Sings LeWitt re- Desse modo, a documentação está ontologi- Degradation series edit Like a Virgin (2007), p. 46 extended version camente ligada ao (mundo) real, de tal forma (2003), p. 210 que se pode substituir a ele. Na segunda ca- Untitled (furor poeticus) (2007), Making of (2004), tegoria — performance teatralizada — a per- p. 56 p. 214 formance não constitui um evento autónomo Your closed hand Leap into the street makes the size of (boombox travelling) antes do seu registo, ou seja, existe somente your heart and (2004), p.