Conimbriga: Revista de Arqueologia vol. 55 (Revista Completa) Faculdade de Letras da Universidade de /Imprensa da Publicado por: Universidade de Coimbra URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/41880 DOI: DOI:https://doi.org/10.14195/1647-8657_55

Accessed : 11-Oct-2021 00:18:40

A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso.

impactum.uc.pt digitalis.uc.pt

Página deixada propositadamente em branco CONIMBRIGA CONIMBRIGA Revista de Arqueologia | Publicação anual Revista com arbitragem científica | Journal with peer review

DIRETORA Raquel Vilaça SECRETARIADO EDITORIAL José Luís

CONSELHO DE REDAÇÃO Domingos de Jesus da Cruz Helena Maria Gomes Catarino José D’Encarnação Pedro C. Carvalho Vasco Gil Mantas

CONSELHO CIENTÍFICO | SCIENTIFIC BOARD Alain Tranoy (Université de Poitiers) Ana Margarida Arruda (Universidade de Lisboa) Germán Delibes de Castro (Universidad de Valladolid) Javier Sánchez-Palencia (Centro de Ciencias Humanas y Sociales, CSIC - Madrid) Jorge de Alarcão (Universidade de Coimbra) Luís Raposo (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa) Manuel Martín-Bueno (Universidad de Zaragoza) Martín Almagro-Gorbea (Universidad Complutense de Madrid) Mário Barroca (Universidade do ) Primitiva Bueno Ramírez (Universidad de Alcalá de Henares) Tania Andrade Lima (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Trinidad Nogales Basarrate (Museo Nacional de Arte Romano)

DESIGN E EDIÇÃO DE IMAGEM José Luís Madeira SECRETARIADO ADMINISTRATIVO Eunice Dionísio PROPRIEDADE Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra | Instituto de Arqueologia EDIÇÃO Imprensa da Universidade de Coimbra IMPRESSÃO: Graficamares, Lda. ISSN: 0084-9189 | ISSN Digital: 1647-8657 DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8657_55 DEPÓSITO LEGAL: 93223/95 ANO 2017

Toda a correspondência (envio de originais e de publicações para recensão, pedidos de permuta, etc.) deve ser dirigida a:

CONIMBRIGA | INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA | PALÁCIO DE SUB-RIPAS Rua de Sub-Ripas 3000-395 COIMBRA | [email protected] Solicitamos permuta. On prie de bien vouloir établir l’echange. Sollecitiamo scambio. We would like exchange. Tauschverkerhr erwünscht. UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE LETRAS

CONIMBRIGA

VOLUME LV

Toda a correspondência (envio de originais e de publicações para recensão, pedidos de permuta, etc.) deve ser dirigida a: INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA CONIMBRIGA | INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA | PALÁCIO DE SUB-RIPAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, ESTUDOS EUROPEUS, ARQUEOLOGIA E ARTES Rua de Sub-Ripas 3000-395 COIMBRA | PORTUGAL [email protected] COIMBRA 2016 Solicitamos permuta. On prie de bien vouloir établir l’echange. Sollecitiamo scambio. We would like exchange. Tauschverkerhr erwünscht. Página deixada propositadamente em branco

Página deixada propositadamente em branco JOSÉ D’ENCARNAÇÃO, SEMPRE PRESENTE https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_1

José d’Encarnação, professor e investigador, epigrafista, é um ho- mem de muitas vidas, todas unas. Um dia, na sua vida, foi-lhe prestada uma jornada de tributo intitulada Epigrafia, Tempos e Memórias. Essa iniciativa, organizada a 28 de Outubro de 2015 pela Facul- dade de Letras da Universidade de Coimbra, com o Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património, em associação com o Instituto de Arqueologia e o Departamento de História, Estudos Euro- peus, Arqueologia e Artes, prolonga-se, de certa forma, neste volume da Conimbriga, que acolhe um conjunto de textos escritos especialmente para ele. Um muito obrigada aos autores! Dessa jornada e destes textos se deu e se dá conta dos seus méritos como docente e investigador, bem como da sua entrega permanente em múltiplos domínios, da sua amizade, também. Por isso se abraçou, com pleno entusiasmo, a proposta de a Conimbriga se associar igualmente a essa iniciativa. Um muito obrigada aos três colegas promotores da jornada por terem escolhido a revista do Instituto de Arqueologia, bem como pela especial colaboração prestada na organização deste volume. Quando chegou, em 1976, a Conimbriga levava já 17 anos de vida e o Professor Doutor José d’Encarnação não mais a largou. Agora, pas- sados 41 anos e quase sexagenária, a revista continua a encontrar nele um dedicado elemento, sempre disponível, sempre presente. Se assu- miu o cargo de Director apenas durante três curtos anos (2002, 2003 e 2004), foram muitos os anos e constante a sua presença como pilar fundamental, fosse como membro da Comissão de Redacção (1977- 1982), como Secretário da Redacção (1982-2001), ou como membro do Conselho de Redacção (2005-2016). Independentemente de todas estas situações, e das distintas responsabilidades inerentes a cada uma, só lhe conhecemos uma única postura: a dedicação de corpo e alma à Conimbriga. Um muito obrigada! O nome do Professor Doutor José d’Encarnação na revista reve- la-se também, evidentemente, como autor. Aí publicou ao longo dos últimos quarenta e dois anos diversos artigos e múltiplas recensões, a primeira das quais em 1975, precisamente no mesmo volume (XIV) em que também era recenseada a sua obra matricial Divindades indígenas sob o domínio romano em Portugal, 1975, recentemente revista, au- mentada e reeditada pelo Instituto de Arqueologia que a disponibiliza em linha. Para além dessas diversas publicações, José d’Encarnação soube sempre acrescentar às suas qualidades de investigador a veia jor- nalística, pelo que não admira que, também na Conimbriga tenha sido o responsável, a partir de 1982, pela selecção e síntese das notícias que integraram durante alguns anos a secção “Noticiário arqueológico”, al- gumas das quais, hoje relidas, continuam a ser notícia. Desta vez, o nome de José d’Encarnação brilha como homenagea- do neste volume, que a Conimbriga lhe dedica.

A Directora da Conimbriga EPIGRAFIA, TEMPOS E MEMÓRIAS: HOMENAGEM A JOSÉ D'ENCARNAÇÃO https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_2

Epigrafia, Tempos e Memórias foi o mote de uma singular jornada de homenagem ao Professor Doutor José d’Encarnação que, a 28 de outubro de 2015, aconteceu na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). O processo que gerou o evento dimanou da reunião de vontades dos signatários, mas integrou-se num corpo mais vasto correspondente à FLUC, nomeadamente à sua estrutura orgânica da área das ciências históricas – em particular, o Departamento de História, Estudos Eu- ropeus, Arqueologia e Artes (DHEEAA) e a secção de Arqueologia/ Instituto de Arqueologia – a par da unidade de investigação na qual se filia boa parte dos ativos humanos do âmbito da Arqueologia e das Artes desta Faculdade, o Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP). Esta instituição de I&D integra, entre os investigadores mais proeminentes que a compõem, o Profes- sor Doutor José d’Encarnação, que, apesar de aposentado desde 2007, com ela mantém, bem como genericamente com a FLUC, uma relação fecunda, por via do suporte a projectos e iniciativas a que continua a dedicar o seu saber. Tendo sido uma jornada de tributo à sua ação, ao seu legado, ao seu papel de professor e de investigador, a mesma recebe, agora, anun- ciado desenlace, pela publicação deste número da revista Conimbriga que é inteiramente dedicado ao homenageado, reunindo um conjunto de contributos que vão ao encontro do perfil do homem comprometido com o tempo em que vive e com a ciência. É consabido que a figura ímpar do Professor Doutor José d’Encar- nação vem marcando gerações de alunos na FLUC, granjeando notável posição entre os seus pares e filiando diversíssimos públicos. Conse- quentemente, três ordens de razões justificativas devem ser evocadas para esta ação de tributo que se vem levando a cabo: a primeira inscre- ve-se, naturalmente, numa dimensão institucional; a segunda, prende- -se com a dimensão pedagógica e científica do homenageado; a tercei- ra, centra-se na sua dimensão humana. O Professor Doutor José d’Encarnação chega à FLUC em 1976, como assistente, tornando-se professor auxiliar em 1984, na sequência do seu Doutoramento em História, com a reconhecidíssima tese Ins- crições Romanas do Conventus Pacensis. Dois anos depois, ascende a professor associado, tornando-se catedrático em 1991. Ao longo de três décadas, desempenha diversos cargos de gestão na vida interna da FLUC, como a presidência do Conselho Pedagógico ou da Comissão Científica do Grupo de História, ou a direcção do Insti- tuto de Arqueologia; mas são também de ressaltar as responsabilidades de coordenação do Programa SÓCRATES/ERASMUS, que exerceu no contexto do Grupo de História, e, ainda, de delegado do Conselho Directivo da Faculdade para a supervisão das diferentes áreas deste pro- grama. A expressão científica da sua carreira garantiu-lhe representação no associativismo científico internacional, destacando-se, por exemplo, a integração, por mais de uma vez, no comité da Association Internatio- nale d’Épigraphie Grecque et Latine, e a pertença aos órgãos de mais de uma vintena de revistas científicas nacionais e internacionais. Poder-se-á, ainda, invocar uma intensa actividade de cidadania exercida em contexto associativo e autárquico, nomeadamente ligada ao município de Cascais – onde reside – e freguesias afectas. Por isso mesmo, foi agraciado com a medalha de mérito municipal de Cascais (1994) e recebeu, do Rotary Club de Cascais-Estoril, o diploma de Mé- rito Profissional Rotário (2000). A sua dimensão pedagógica tende a cristalizar-se na imagem do professor de Epigrafia e História Antiga, cadeiras que assiduamente lec- cionou na FLUC, ainda que outras tivesse também tido a seu cargo, no- meadamente no âmbito da comunicação social e do património cultural ou, especificamente, arqueológico. Os dotes comunicacionais que se lhe reconhecem são marca indis- sociável da competência pedagógica que gerações de estudantes vêem atestando, mas também outros públicos, sejam eles nichos científicos ou assembleias mais indiferenciadas. E esta capacidade em muito be- neficiará da prática da actividade jornalística na rádio e em diferentes publicações locais, que, em continuidade, vem desenvolvendo. Em termos científicos, é de salientar uma produção bibliográfica que, entre artigos, capítulos de obras colectivas e livros, ultrapassa lar- gamente as oito centenas de títulos. De sua iniciativa é a criação do Ficheiro Epigráfico (1982), uma publicação de referência exclusivamente dedicada às novas descobertas no âmbito das inscrições romanas, concebida como suplemento à revis- ta Conimbriga e que continua com dinâmica assinalável. Esta é senha identitária da escola coimbrã de Epigrafia que o Professor Doutor José d’Encarnação bem soube potenciar e internacionalizar, constituindo-se numa mais-valia incontornável para a Universidade de Coimbra, que importa continuar estruturalmente a cuidar, para que não definhe enre- dada em lógicas conjunturais de política educativa ou de financiamento da Ciência. O reconhecimento internacional da sua ampla actividade científica desenvolvida, sobretudo, a partir de Coimbra, valeu-lhe tornar-se Aca- démico Correspondente da Reial Acadèmia de Bones Lletres de Barce- lona (1997) e da Real Academia de la Historia (1999), bem como a atri- buição do Doutoramento honoris causa pela Universidade de Poitiers (2001). Em Portugal, ascendeu a Académico de Mérito da Academia Portuguesa de História (2010) e, muito recentemente, a membro-cor- respondente da 4ª Secção (História e Geografia) da Academia das Ciên- cias de Lisboa (2016). A esta consagração nos planos nacional e internacional não são alheias as suas qualidades humanas, a sua simpática disposição, o seu humor subtil, a sua comunicação chã, que lhe têm granjeado uma enor- me plêiade de amigos espalhados pelas principais instituições universi- tárias europeias – com destaque para as de Espanha, França e Itália –, sul americanas – mormente do Brasil – e portuguesas. E é certo que, em regra, os interesses científicos acabam por ser cimentados por fraterno entendimento, como apraz registar sempre há o privilégio de coinci- dir com ele em qualquer reunião científica, dentro ou fora do país, ou evento cultural. Mas essa dimensão humana é também confirmada por amigos e colegas mais próximos, pelas gerações de alunos que marcou das mais diversas formas, pelo modo como se amoldou a este mundo cada vez mais globalizado e cibernético, procurando, também, no cibe- respaço, registar essa dimensão de humanismo. Reconhecidos pelo testemunho inspirador do Professor Doutor José d’Encarnação, primeiro enquanto discentes, depois como colegas e amigos, damos prosseguimento, juntamente com os autores que co- laboram neste volume, ao singelo tributo a esta personalidade singular que meritoriamente avulta nas áreas científicas a que se tem devotado, desejando que prossiga no acompanhamento inteligente, rigoroso e in- terventivo dessas e doutras matérias do seu interesse e em exercício de cidadania. O presente número da Conimbriga reúne um conjunto de catorze artigos, maioritariamente de índole epigráfica. Nuns focam-se aspectos teóricos e metodológicos da disciplina, noutros apresentam-se estudos, quer atinentes ao âmbito hispânico, quer ao extrapeninsular, acerca de inscrições concretas – inclusive inéditas –, sobre hábito e conjuntos epi- gráficos, prosopografia e onomástica. Arqueologia e ideologia conci- tam também reflexão. E, com propriedade, os caminhos da investigação percorridos pelo homenageado são outro dos assuntos que dão corpo às páginas sequentes, nas quais se esboça um périplo temático que une as províncias hispânicas com paragens além-pirenaicas, designadamente gálicas e itálicas, sob o signo de Roma.

Maria da Conceição Lopes Pedro C. Carvalho Armando Redentor Alain Tranoy Président honoraire de l’université de Poitiers [email protected]

NOTICES ÉPIGRAPHIQUES DE LA CIVITAS PICTONUM: D’UNE PICTONNE À UN LUSITANIEN “Conimbriga” LV (2016) p. 13-27 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_3

Résumé: La première inscription concerne la formulation de la dédicace funéraire de Claudia Varenilla, épouse du gouverneur de la pro- vince d’Aquitaine et le rôle de la cité des Pictons. La seconde, contestée par plusieurs épigraphistes, permet d’aborder les rela- tions entre la cité des Pictons et la Lusitanie. Mots-Clefs: civitas, consul, divinités, funus, université.

Resumo: A primeira inscrição trata da formulação da dedicacia fune- raria de Claudia Varenilla, esposa do governador da provincia da Aquitania e do papel de la civitas dos Pictons. A segunda, contestada por varios epigrafistes, permite abordar as relações entre a cidade dos Pictons e a . Palavras-chave: civitas, consul, divindades, funus, universidade.

Abstract: The first inscription concerns the formulation of the funerary de- dication of Claudia Varenilla, the governor’s wife of the province of Aquitaine, and the role of the city of Pictons. The second, disputed by several epigraphists, permits to address the relationship between the city of Pictons and Lusitania. Keywords: civitas, consul, deities, funus, university.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Página deixada propositadamente em branco NOTICES ÉPIGRAPHIQUES DE LA CIVITAS PICTONUM: D’UNE PICTONNE À UN LUSITANIEN

La collection des inscriptions de la civitas Pictonum (environ 150) est un bon exemple de la variété des types de monuments et de textes que l’on peut rencontrer dans le territoire d’une cité de l’Aquitaine au- gustéenne, depuis les bornes milliaires jusqu’aux dédicaces offertes aux divinités en passant par les inscriptions funéraires trouvées dans la ville ou dans les campagnes environnantes. Une bonne partie de ce corpus est conservée au musée Sainte-Croix de Poitiers. Deux inscrip- tions retiennent notre attention, la première, bien connue mais dont la gravure pose encore quelques problèmes; la seconde, inédite, qui révèle l’existence de contacts entre la cité des Pictons et la Lusitanie. P a r m i l e s p i e r r e s e x p o s é e s a u p u b l i c , u n e d é d i c a c e f u n é r a i r e (Fig. 1) est certainement l’une des plus importantes et des plus connues des inscriptions de la province d’Aquitaine:

CL(audiae) . VA R EN ILLA E . CL(audii) . VA R EN I . CO(n)S(ulis) . F(IL)IAE / CIVITAS PICTON(VM) . FVNVS LOCVM . S(TA)T(VA)M / MO(NI)M(ENT)(um) . PVB(LI)(CE) M(arcus) C(EN)SOR(ius) . P(AV ) (LL)VS LEG(atus ) . (AV )G(usti) PR(o) PR(aetore) (PR)O/V(IN)C(iae) . AQV(IT)AN(iae) . CO(n)S(ul) . DESIG(natus) (MA)(RI)TVS HONORE CO(NT)(ENT)VS S(VA) (PE)C(unia) PO(NE)(ND)(um) C(VR)(AV )IT

À C l a u d i a V a r e n i l l a , fi l l e d u c o n s u l C l a u d i u s V a r e n u s , l a c i t é des Pictons a donné, au nom de la collectivité, des funérailles, un em- placement, une statue et un tombeau. Marcus Censorius Paullus, son mari, légat impérial propréteur de la province d’Aquitaine, consul dé- signé, satisfait de l’honneur, a pris à sa charge toutes les dépenses effectuées.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 16 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum

L’épitaphe gravée en l’honneur de Claudia Varenilla1 a fait l’objet de nombreux travaux dont la thématique a été essentiellement tournée vers le rôle de cette inscription pour justifier ou non la place de Poitiers comme éventuelle capitale de la province d’Aquitaine, après Saintes et avant Bordeaux2. Laissons pour l’instant de côté ce débat qui n’est pas encore totalement clos. Notre intérêt se portera essentiellement sur le contenu funéraire du texte et sur sa présentation épigraphique. L’événement qui a fait l’objet de la dédicace de Claudia Varenilla est désormais parfaitement daté. Le décès de l’épouse du gouverneur de la province d’Aquitaine a eu lieu le second semestre 159 ou le premier semestre 160 après J.-C.3 En revanche, ce qui reste étonnant, ce sont les conditions dans lesquelles se sont déroulées ses funérailles. A l’origine, c’est la civitas qui décide de l’organisation de la cérémonie qui, de ce fait, se transforme en un acte public dont l’initiative revient directement aux notables pictons. On connaît, en Occident, une soixantaine d’ins- criptions attestant des honneurs funèbres rendus à une femme. Elles se repartissent essentiellement entre l’Italie, l’Espagne (surtout en Bé- tique), les Alpes maritimes, l’Afrique du nord et pour la Gaule surtout la province de Narbonnaise. Les femmes honorées dans ces inscrip- tions appartiennent en très grande majorité au milieu équestre ou décu- rional de la cité4. La dédicace de Poitiers est un exemple exceptionnel et unique d’un hommage funèbre rendu à la femme d’un gouverneur. Il n’en existe aucun autre exemple dans les provinces de Gaule. A l’ori- gine, la cité des Pictons avait même prévu d’assurer les frais de la cé- rémonie: «publice». En dehors d’être l’épouse du gouverneur et d’être la fille de Claudius Varenus (consul entre 130 et 150)5 et ainsi d’appar- tenir à l’aristocratie romaine, Claudia Varenilla n’avait bien sûr aucune fonction dans la cité ou dans la province, même pas religieuse puisqu’il n’est fait allusion à aucun titre. Cependant, la collectivité des Pictons va mettre en place le cortège funèbre dans le chef-lieu, Limonum et, si l’on adopte ce qui est conforme en général au déroulement d’un funus de ce type, les notables vont participer à la procession dans ce cortège qui

1 CIL,XIII,1129. 2 Sur ce point, voir en particulier Etienne 1962:117; Maurin 1978:138; Tassaux 2003:57-59; Le Roux 2011:649-660 3 Hiernard 2003:187-188; id.2014:310. 4 Hemelrijk 2015:552-570, tableaux. 5 Hiernard 2014:310.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum 17 accompagne le mari, en l’occurrence le gouverneur6. Le funus prend alors une allure très officielle puisqu’en toute probabilité les magistrats et les membres des différents collèges de la cité participent à la céré- monie. La civitas ne se contente pas d’organiser les funérailles mais va plus loin puisqu’elle offre un terrain où seront situés le mausolée également donné par la cité ainsi qu’une statue qui peut orner le monu- ment funéraire mais qui a pu aussi bien être placée dans un lieu public au sein même de la ville et avoir alors un caractère honorifique, ce qui pourrait être le cas à Poitiers étant donné le rang social de la personne7. D’autre part, c’est la civitas qui prend la décision de conserver la mémoire de cet événement dans une dédicace funéraire. Les dimen- sions du bloc complet en marbre (matériau inhabituel dans une collec- tion d’inscriptions essentiellement sur du calcaire), en assez bon état de conservation malgré quelques éclats en particulier dans la partie inférieure, sont de 58x232x39,5 cm ce qui suppose un monument de grande taille dont nous ignorons l’emplacement. Cette forte implication de la cité dans le déroulement des funérailles de l’épouse du gouverneur démontre qu’il existait des liens privilégiés entre la cité des Pictons et la défunte. La situation sociale de Claudia Varenilla est indiquée à la première ligne du texte où est mise en exergue la mention de sa filiation avec le consul Varenus. On aurait pu s’attendre à ce que l’indication de ses liens conjugaux avec le gouverneur suive cette filiation. En fait, ce n’est qu’à la dernière ligne qu’apparaît le terme de maritus gravé avec de nombreuses ligatures. Cette convergence d’éléments justifie à nos yeux l’argument qui fait de Claudia Varenilla une Pictonne ce qui avait déjà été émis comme hypothèse par plusieurs historiens8 mais que nous pensons être une certitude, et que c’est à ce titre qu’elle a droit à de telles funérailles. À travers elle, ce sont les familles importantes de no- tables pictons qui sont mises en valeur et en premier lieu celle des Clau- dii Vareni, famille qui put être promue au premier siècle sous Claude ou Néron9. C’est cet enracinement picton qui justifie les funérailles officielles. Si l’on prend en compte la carrière d’un autre sénateur pic-

6 Sur les rites funéraires, voir en particulier Goudineau 2009. 7 Hemelrijk 2015:323; Melchor 2008:453; Melchior 2010. 8 Burnand 2005:t.1 302; Raepsaet-Charlier 1987:229 n° 254; Hiernard 2007:254. 9 Hiernard 2014:311.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 18 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum ton, M. Sedatius Severianus10 et la présence à Lyon d’un autre notable picton, Lucius Lentulius Censorinus11, nous avons trois exemples du rang et de la fortune de famille de l’aristocratie pictonne au deuxième siècle. L’épigraphie pictonne ne nous a pas laissé d’autres inscriptions de ce type mais tout indique la place prise par ce groupe social dans la cité dont fait écho la décision d’offrir des funérailles publiques à une représentante de ces familles de notables. La carrière de ces trois personnes, qu’elle soit municipale ou sénatoriale est une illustration du développement de Limonum au IIe siècle. La seconde partie du texte fait intervenir Marcus Censorius Paul- lus. La présence à Poitiers de ce personnage de haut rang s’explique naturellement par ses fonctions judiciaires qui l’amènent à se déplacer sur le territoire de la province et à séjourner dans les chefs-lieux des cités. Il entretient bien sûr des relations avec les notables de la cité et exerce une tutelle sur la gestion et le gouvernement local. Dans cette mission, il peut paraître étrange qu’il soit accompagné de son épouse. En revanche, les liens tissés entre la famille du gouverneur et la cité elle-même peuvent mieux se comprendre s’il y a une certaine fré- quence de la présence du gouverneur, en particulier lors de la tenue de conventus. Ce serait encore mieux le cas si le siège du gouverneur pendant sa légation était la ville où se déroulent les funérailles de sa femme. Quoi qu’il en soit et sans revenir sur le problème de capitale provinciale, le gouverneur est sensible à cette décision de la part de la cité pictonne «honore contentus» mais il affirme aussi son autorité et ses liens conjugaux avec la défunte en couvrant les frais engendrés par ces funérailles. Ce type d’intervention est attesté en particulier dans la péninsule ibérique, surtout en Bétique, avec une autre formulation: impensam remisit12. Mais une autre question se pose pour la rédaction de ce texte et les circonstances de l’intervention du gouverneur dans la prise en charge des frais des funérailles. Pour tenter d’y répondre, il est nécessaire de reprendre une étude détaillée du travail du lapicide dans la réalisation de l’inscription. La première et la plus évidente remarque concerne la mise en

10 Hiernard 2007. 11 CIL XIII 1697. 12 Dardaine 1980.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum 19 page. Elle présente un réel contraste. Sur le côté gauche du texte où, après avoir mis en valeur la première ligne avec des lettres de bonne dimension (8,5 cm) et une marge de 10 cm, le graveur a correctement justifié les trois autres lignes décalées par rapport à la première avec une marge plus grande de 23 cm. En revanche il n’y a aucune marge sur le côté droit où les lettres apparaissent tassées avec des ligatures, sans éviter même une césure pour le mot «provincia» réparti entre la fin de la troisième ligne en débordant sur l’alignement et le commencement de la quatrième ligne. Cette ordinatio est donc curieusement déséquili- brée alors que le lapicide disposait d’assez de place pour mieux centrer son texte. Bien sûr, il n’y a pas d’explication logique à cette présentation en dehors d’une ordinatio mal préparée; d’autre part notre ignorance sur la forme réelle du mausolée empêche d’aller plus loin. On ne peut que constater ce choix. Le tassement du texte se retrouve d’ailleurs aus- si pour la dernière ligne qui ne dispose d’aucune marge pour la partie inférieure alors que la première ligne est à 9 cm du bord supérieur. Il est évident que le rédacteur du texte a eu des difficultés pour caser les deux dernières lignes où l’on peut constater l’existence du double de mots à graver par rapport aux deux premières, ce qui pourrait justifier la multiplication des ligatures et la diminution de la taille des lettres (l.3, 7 cm; l.4, 4 cm). Par ailleurs, l’utilisation de points séparatifs trian- gulaires est partielle. Si l’on examine maintenant plus en détail les lettres, réalisées en capitales carrées et assez lisibles malgré l’usure de la pierre probable- ment due à son réemploi dans la cathédrale de Poitiers, on peut consta- ter qu’en dehors de la quatrième ligne ces lettres sont bien gravées avec des hastes verticales en biseau profond (exemple des E, F, T…) et une incision plus fine pour les autres parties comme les hastes horizontales des E ou des F. Le tracé des O est élégant et une remarque similaire peut être faite pour les C gravés avec un arc de cercle bien dessiné, le creux de l’arc en biseau profond et une incision plus fine pour le reste de la courbe; le O de consul à l a p r e m i è r e l i g n e e s t d e p e t i t c o r p s (4 cm) et est en partie inclus dans le C; le O de pro/vincia à la fin de la quatrième ligne est lui aussi en petit corps et dépasse l’alignement du texte. Seul le premier A comporte un trait intérieur horizontal. D’une manière générale, les empattements, de forme triangulaire, sont bien marqués en particulier pour la première ligne et pour les C. Les V et les M présentent une profondeur différente des biseaux dans la gravure des hastes de droite et de gauche. Des lettres dépassent l’alignement: le

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 20 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum premier C de la première ligne (10,5 cm contre 8,5 cm pour les autres lettres) de façon à mieux mettre en valeur le nom de la défunte; sur cette même ligne le I de Vareni (10 cm); à la deuxième ligne, le premier I de civitas et le I de pictonum; le T de pictonum et de statuam (8,5 cm pour 7 cm). C’est bien sûr aussi le cas des ligatures comportant des I dans le prolongement de la haste verticale d’une autre lettre (IL, IA, NI, RI). D’autre part, plusieurs lettres, en dehors des ligatures, ont une gra- vure particulière: certains A et V ont leur haste de gauche qui est plus courte et qui empiète sur la lettre précédente: L et A de la ligne 1; F et V pour le premier V de funus; C et V pour le V de locum à la deuxième ligne; C et V pour le V de curavit à la dernière ligne. D’autre part, à la troisième ligne, le R de Censor(ius) et le S de Paullus sont gravés rétro- grades et à l’envers; de même pour le R de maritus à la dernière ligne. Déjà ces différences dans le traitement des lettres révèlent un certain maniérisme de la part du lapicide. L’usage des ligatures multiples et variées vient renforcer cette impression. En effet, la gravure de cette dédicace funéraire comporte tout un ensemble de ligatures des plus variées et ceci dès la fin de la première ligne (IL; IA de filiae). Trois ligatures sont utilisées pour la deuxième ligne (VM de pictonum; TA et VA pour statuam). Mais leur nombre augmente de manière sensible pour les deux dernières lignes: 9 pour la ligne 3 et 12 pour la dernière ligne; l.3 (NI; ENT avec le E rétrograde; LI; CE; EN avec le E rétrograde; AV; LL avec une très belle ligature à partir de la base de la haste verticale de L, en accolade et gravée sur 24 cm en dessous des lettres (Fig. 2); AV; PR avec P rétrograde); l.4 (IN; IT; MA; RI avec R rétrograde; NT; ENT avec E rétrograde; VA; PE avec P rétrograde; NE en dessous d’un petit O (Fig. 3); ND; VR; AV). Il n’y a pas d’autres exemples d’une telle accumulation de liga- tures dans les inscriptions pictonnes. L’étude détaillée de la rédaction et de la gravure de cette inscrip- tion nous incite à revenir sur les conditions de sa réalisation. En effet, si l’on ne considère que les trois premières lignes, le texte occupe un espace équilibré avec une marge de 9 cm pour le haut et de 10 cm pour le bas. En outre, un autre élément doit être pris en compte: l’espacement à la troisième ligne entre publice et M(arcus): 6 cm au lieu de 3 à 4 pour les autres lettres. Toutes ces remarques nous amènent à formuler une hypothèse, certes fragile, mais qui pourrait apporter un autre éclairage sur cette inscription. En réalité, il semble bien qu’il y ait eu deux étapes pour

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum 21 l’établissement définitif du texte. À l’origine, la dédicace funéraire était essentiellement réalisée par la civitas qui voulait à la fois mettre en évi- dence son rôle dans la cérémonie des funérailles et honorer en même temps une personne, certes de haut rang, mais qui devait aussi apparte- nir à une famille de notables pictons. C’est la cité qui a eu l’initiative de l’inscription et, selon toute probabilité, la troisième ligne devait com- porter la formulation et peut-être la justification liées à la dédicace à la suite de publice, ce qui correspond d’ailleurs à l’espace utilisable après publice s’il n’y avait pas eu d’autre texte. Dans ces conditions, le texte avait une présentation équilibrée sur la pierre. Mais ce ne fut pas le cas. En effet, c’est à ce niveau que dut intervenir le légat. A sa de- mande, le texte initialement prévu seulement pour la cité a dû être mo- difié et complété pour marquer la décision du gouverneur d’affirmer à la fois son rôle d’époux et aussi son rang en assumant les frais des funérailles et en se plaçant ainsi au-dessus de la cité pour laquelle il fait alors un acte d’évergétisme. Un complément, reprenant une formula- tion classique, fut donc ajouté à la suite du mot publice, avec un espace bien marqué. Le texte, qui donnait les titres officiels, très abrégés, de Marcus Censorius Paullus et qui, par la formule honore contentus, re- cadrait la dédicace voulue initialement par la civitas, ne disposait pas d’assez de place pour être gravé comme les autres lignes. Le lapicide, pour le faire loger sur la pierre, dut jouer à la fois sur la taille des lettres et surtout sur les ligatures. Le contenu n’est pas en soi étonnant, mais il est frappant de voir la mention du nom du gouverneur et surtout de sa fonction et de ses titres si peu mise en valeur en comparaison de la place de la cité dans la présentation de la dédicace. À l’origine conçue uniquement par la civitas, cette inscription de Claudia Varenilla nous permet ainsi de saisir un moment de la repré- sentation de la vie sociale de la cité des Pictons qui, d’une certaine façon, honore à travers la défunte les membres des grandes familles pictonnes. La place du gouverneur dans la démarche apparaît alors comme secondaire, malgré sa volonté de s’affirmer par son intervention financière et évergétique.

La seconde inscription présentée dans cet article est encore iné- dite. Elle se situe dans un tout autre contexte. Elle fut découverte en 2001 à l’occasion de l’effondrement d’un bâtiment d’une ferme au lieu- dit «La Bonde», à proximité du site antique de Sanxay, à 20 km à l’ouest de Poitiers. Entreposée en vrac avec d’autres blocs dans la cour de la

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 22 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum ferme, elle a malheureusement disparu (réemploi, collectionneurs in- délicats… ?)13. Nous avons pu cependant en faire un relevé sommaire sans toutefois pouvoir réaliser une photographie étant donné les cir- constances de sa localisation.

LARI CASCAIENSI ET DEAE MELVSINAE SACRVM PRO SALVTE T(iti) FLAVII IOSEPHI INCARNATIONIS VIRI DOCTISSIMI AC ERVDITISSIMI RHETORIS SPLENDIDISSIMAE VNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIVM DOCTORIS HONORIS CAVSA VNIVERSITATIS PICTONVM QVI SCIENTIAS EPIGRAPHICAS LATINAS ILLVMINAVIT QVI PLVRIMOS LIBROS OPTIMOS EDIDIT HVIC PROCVRATORI CODICIS EPIGRAPHICI RERVM LVSITANARVM ET HISPANARVM PATRONO COLLEGIORVM MVLTORVM OB MVNIFICENTIAM ERGA AMICOS ET COLLEGAS C IVLIVS TRANENSIS QVI ET TANCINVS RECTOR MAGNIFICVS HONORARIVS VNIVERSITATIS PICTONVM DOCTOR HONORIS CAVSA VNIVERSITATIS PORTVCALENSIS AMICO OPTIMO

Consacré au Lar Cascaiensis et à la déesse Mélusine pour la sau- vegarde de Titus Flavius Josephus Incarnatio, homme le plus savant et le plus érudit, professeur de la très splendide université des Conimbri- genses, docteur honoris causa de l’université des Pictons, qui donna de l’éclat aux sciences épigraphiques latines, qui publia de nombreux excellents livres, à ce responsable de recueil des inscriptions lusita- niennes et hispaniques, à ce patron de nombreux collèges, pour sa munificence envers ses amis et ses collègues, Caius Iulius Tranensis surnommé Tancinus, recteur magnifique honoraire de l’université des Pictons, docteur honoris causa de l’université de Porto à son excellent ami.

13 La disparition de cette pierre a amené plusieurs épigraphistes et historiens à mettre en doute l’authenticité de ce document. Nous souhaitons que cet article puisse apporter les éclaircissements indispensables.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum 23

Il s’agit d’un autel votif en calcaire local (205 cm x 65,5 cm x 30 cm) qui a en partie conservé les traces du décor supérieur avec les restes de deux volutes. Seule la face principale était bien visible avec un texte inscrit dans un champ épigraphique délimité par un cadre; en dessous de ce cadre, figuraient un sanglier et un rocher d’où coulait une source. Le texte était bien gravé, délimité par des lignes de guidage avec des lettres en capitale carrée de 15 à 10 cm. Cette inscription est d’un intérêt majeur pour l’étude des relations entre une cité de la province d’Aquitaine et une cité de la province de Lusitanie dans la péninsule Ibérique. L’autel est consacré à un couple de divinités indigènes, la première devant être certainement en lien avec un lieu précis. C’est en effet une divinité topique et son surnom indigène attaché à un dieu classique est à rapprocher du site de Cas- cais, en Lusitanie, à 30 km à l’ouest de Lisbonne au bord de l’Océan14. De nombreux témoignages archéologiques attestent l’occupation de ce site à l’époque romaine15. Il est possible que la figuration d’un sanglier soit en rapport avec cette divinité. En revanche, la déesse Mélusine est honorée dans le secteur de Sanxay dans la province d’Aquitaine, d’où provient cet autel. Cette divinité est connue par de nombreux autres témoignages. Elle est une image de la fécondité mais est aussi associée aux sources et aux rochers ce qui peut expliquer le décor de la roche et de la source sur cet autel. Elle est aussi connue pour être une déesse bâ- tisseuse. Elle aurait été à l’origine de la création de nombreux castella comme le castellum Lusignacum identifié à l’actuelle commune de Lu- signan, à quelques kilomètres de Sanxay. Le caractère ethnique de ces castella rappelle les groupements de population dans le nord-ouest de la péninsule ibérique. La dédicace pourrait alors être l’expression de la volonté de son auteur qui souhaitait associer un Lusitanien à un Picton. La suite du texte permet de mieux comprendre la démarche. La personne honorée par l’inscription est, selon le texte, un pro- fesseur éminent qui a enseigné à l’université de Conimbriga, site an- tique bien connu dans la Lusitanie centrale, ce qui permet de confirmer l’origine géographique du dieu Lar. Le texte met en évidence son rôle dans l’étude des inscriptions dont il est devenu le maître incontesté,

14 Sur les cultes indigènes voir un bilan dans Encarnação 2010. 15 Voir par exemple l’exposition organisée au MNA de Lisbonne en 2005: Car- doso et D’Encarnação 2005.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 24 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum comme le démontrent ses très nombreuses publications et son activité incessante, en particulier pour la rédaction du Ficheiro epigráfico, mais aussi la place essentielle de ses recherches sur l’histoire non seulement de cette province mais de l’ensemble de l’empire romain16. Un fragment de manuscrit, conservé dans la célèbre bibliothèque de Coimbra, nous apprend que ce professeur avait son domicile à Cascais; le lien est alors évident entre la divinité, le Lar Cascaiensis et notre personnage dont la célébrité avait largement dépassé les limites de la province de Lusitanie. Le titre de docteur de l’université pictonne, qui l’honore, est la preuve des relations entretenues avec une cité de la province d’Aquitaine. Le dédicant porte un nom qui n’est pas courant dans l’onomas- tique pictonne. Si le gentilice Iulius ne pose pas de problème, il n’en est pas de même pour le cognomen et pour le surnom. Le cognomen Tranensis est caractéristique du Nord de la Gaule, de la région habitée par les Morins et les Atrébates; le surnom Tancinus en revanche se ren- contre surtout dans l’ouest de la péninsule Ibérique17. Il y aurait donc un lien particulier entre le dédicant et ces régions; le surnom pourrait illustrer des relations privilégiées entretenues par Tranensis avec les provinces occidentales de la péninsule Ibérique, ce que précise d’ail- leurs sa distinction honorifique attribuée par l’université de Porto. En outre, le titre porté par ce personnage permet d’affirmer que le dédicant et la personne honorée par l’inscription appartenaient au même milieu universitaire; le qualificatif de «magnificus» peu utilisé en Aquitaine e s t e n r e v a n c h e f r é q u e n t e n L u s i t a n i e ; s o n u s a g e c h e z l e s P i c t o n s d a n s ce contexte serait alors un emprunt au vocabulaire lusitanien. La rela- tion entre les deux personnes citées dans l’inscription, confortée par les distinctions accordées à ces deux professeurs, est renforcée par des liens d’amitié qui ont certainement été la principale raison de cette dé- dicace.

BIBLIOGRAPHIE

Alföldy, Geza (1977 – Konsulat und Senatorenstand unter den Antoninen. Prosopo- graphische Untersuchungen zur senatorishen Führungsscicht, Bonn [Antiqui- tas, Reihe 1, Bd.27], p.174-175, 253, 274-275, 315-316.

16 Une publication essentielle Encarnação 1984. 17 Grupo Mérida 2003 313-316, 378-381.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Alain Tranoy Notices épigraphiques de la Civitas Pictonum 25

Burnand, Yves (2005) – Primores Galliarum, Sénateurs et chevaliers romains origi- naires de Gaule de la fin de la République au IIIe siècle, Bruxelles (collection Latomus, vol.290) Cardoso, Guilherme et Encarnação, José d’ (2005) – A presença romana em Cas- cais: um território da Lusitânia ocidental: [exposição], Museu Nacional de Arqueologia do Dr. Leite de Vasconcelos. Dardaine, Sylvie (1980) – L a f o r m u l e é p i g r a p h i q u e i m p e n s a m r e m i s i t e t l ’ é v e r - gétisme en Bétique, in Mélanges de la Casa de Velázquez, v o l u m e 1 6 , n ° 1 , p. 39-55. Hemelrijk, Emily A. (2015) – Hidden Lifes Public Personae, Women and Civic Life in the Roman West, Leyde Encarnação, José d’(1984) – Inscrições romanas do Convento Pacensis. Subsídios para o estudo da romanização, Coimbra. Encarnação, José d’(2010) – Divindades indígenas sob o domínio romano em Portu- gal, 35 anos depois, in Serta Palaeohispanica in honorem Javier de Hoz, (Pa- laeohispanica 10), p. 525-535. Étienne, Robert (1962) – Bordeaux antique, Bordeaux. Goudineau, Christian (2009) – Rites funéraires à Lugdunum. Goudineau, Chr (coord.), Lyon. Grupo Mérida (2003) – Atlas antroponímico de la Lusitania romana, Navarro Cabal- lero, Milagros et Ramírez Sabada, Jose Luis (coord.) Bordeaux. Hiernard, Jean (2003) – L’inscription de Claudia Varenilla (Musée Sainte-Croix, Poitiers), Revue Historique du Centre-Ouest, tome II, Ier semestre p. 187-188. Hiernard, Jean (avec la collaboration de Jacques Seigne) (2007) – L’inscription de Poitiers en l’honneur du sénateur Severianus, Revue Historique du Centre- Ouest, tome VI, 2e semestre, p. 231-264. Hiernard, Jean (2014) – L’épitaphe de Claudia Varenilla définitivement datée,Revue Historique du Centre-Ouest, tome XIII, 2e semestre, p. 305-314. Le Roux, Patrick (2011) – La toge et les armes. Rome entre Méditerranée et Océan, Rennes. Maurin, Louis (1978) – Saintes antique, Saintes. Melchor Gil, Enrique (2008) – Mujer y honores públicos en las ciudades de la Béti- ca, in C. Berrendonner, M. Cebeillac-Gervasoni, L. Lamoine (dir.), Le Quoti- dien municipal dans l’Occident romain, Clermont-Ferrand, p. 443-457. Melchor Gil, Enrique (2010) – Homenajes estatuarios e integración de la mujer en la vida pública municipal de las ciudades de la Bética, in Pluralidad e integración el mundo romano, E. J. Navarro (ed.), Pampelune, 2010, p. 221-245. Raepsaet-Charlier, Marie-Thérèse (1987) – Prosopographie des femmes de l’ordre sénatorial (Ier- IIe siècles), Louvain. Tassaux, Francis (2003) – Poitiers fut-elle réellement capitale de l’Aquitaine. In Bost, J. P, Roddaz, J. M. et Tassaux, F. (coord), Itinéraires de Saintes à Dougga Mé- langes offerts à Louis Maurin, Bordeaux, p. 57-59.

Conimbriga, 55 (2016) 13-27 Fig. 1 Fig. 2

Fig. 3 Página deixada propositadamente em branco Amílcar Guerra (UNIARQ e Centro de História, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa) [email protected]

JOSÉ D’ENCARNAÇÃO: BREVE PERSPECTIVA SOBRE UM NOTÁVEL PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO EM EPIGRAFIA

JOSÉ D’ENCARNAÇÃO: AN OVERVIEW OF A REMARKABLE CAREER IN EPIGRAPHICAL RESEARCH “Conimbriga” LV (2016) p. 29-49 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_4

Resumo: Integrando-se na justa homenagem a José d’Encarnação a que a revista Conimbriga se associa, este texto tem como objectivo principal fazer uma breve síntese do seu percurso científico no domínio da Epigrafia, o qual se confunde a cada momento com os próprios caminhos que a disciplina percorreu em Portugal nos últimos 50 anos. A sua explanação organiza-se em torno de sete tópicos. Por um lado, um conjunto respeita à própria definição de Epigrafia, aos seus métodos e objectivos, onde se destaca o domínio da edição de textos e às suas obras de natureza didác- tica e as dedicadas aos problemas do ensino da disciplina. Para além disso, apresenta-se uma série de temas que constituíram a sua preferência, nos quais assumem especial destaque a vertente das religiões e cultos e a análise da realidade social. Completam o quadro uma panorâmica da sua investigação no domínio da História da Epigrafia e no das relações com a Arqueologia.

Palavras-chave: José d’Encarnação, Epigrafia latina, Epigrafia em Portugal, Ensino da Epigrafia, Portugal romano.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Abstract: This paper is a contribution to the tribute to José d’Encarnação payed by his colleagues and the journal Conimbriga. It aims to present a brief overview of his scientific production in the field of Epigraphy, which overlaps with the paths of this discipline in Portugal in the last fifty years. The paper is organized around seven topics: a set of which concerns his research on the defini- tion of Epigraphy, its methods and objectives, his contribution to the task of editing epigraphical texts and his works of didactic nature, as well as those dedicated to the teaching issues of the discipline. Additionally, some of his preferred subjects are pre- sented, among which are particularly highlighted the aspects of the religions and cults and the analysis of social reality. A portrait of his research on the History of Epigraphy and on the relations between Epigraphy and Archaeology complete this overview of José d’Encarnação’s publications.

Keywords: José d’Encarnação, Latin Epigraphy, Epigraphy in Portugal, Teaching of Epigraphy, Roman Portugal. JOSÉ D’ENCARNAÇÃO: BREVE PERSPECTIVA SOBRE UM NOTÁVEL PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO EM EPIGRAFIA

Devo, previamente, um agradecimento à Universidade de Coim- bra (à Faculdade de Letras, ao Instituto de Arqueologia e ao Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciências do Património) por me incluir nas actividades desta Jornada de Tributo a um colega e a um amigo, o Prof. Doutor José d’Encarnação. Deliberadamente, sem fugir ao lugar comum, este convite é para mim verdadeiramente uma honra, mas ao mesmo tempo um enorme prazer, por poder exprimir publica- mente e na circunstância própria o apreço que tenho pelo homenagea- do, pela sua pessoa e pela grande obra que tem construído e continuará certamente a construir. Esta é a oportunidade para declarar a minha admiração pelo es- tudioso que se apresentava aos meus olhos como uma pessoa de outra geração, cuja investigação servia muitas vezes de referência aos que, como eu, incluíam a Epigrafia no âmbito dos seus interesses. Para além de usufruir dessa orientação, beneficiei também da sua amizade. Com o tempo a nossa relação foi-se aprofundando, na partilha do mesmo interesse científico e na frequência de alguns meios científicos onde nos unia a condição de portugueses, no âmbito de uma comunidade cien- tífica internacional que esperava novidades sobre o extremo Ocidente peninsular. O aprofundamento dessa ligação científica e pessoal deveu-se em boa parte ao seu carácter, à sua generosidade: José d’Encarnação apre- sentou-se aos meus olhos cada vez mais atencioso, mais paciente, mais sábio. Esta é uma das razões pelas quais me encontro aqui. Mas é tam- bém no espírito de reconhecimento de tudo quanto José d’Encarnação deu generosamente à comunidade científica, em especial no âmbito da Epigrafia, que redigi este texto, esperando estar à altura dos seus mé- ritos.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 32 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

Reconhecer o seu enorme contributo, em especial no domínio dos estudos epigráficos, constitui uma manifestação de clarividência, tor- nando-se, por isso, também um acto de justiça. Todos sabemos que, em relação às últimas quatro décadas, esta vertente do saber se encontra indelevelmente associada a ele: falar da Epigrafia em Portugal nesse período é falar de José d’Encarnação. Pode constituir, por isso, uma aventura algo temerária resumir em pouco tempo a dimensão excepcional da sua produção escrita, mesmo que limite a análise a duas das principais vertentes da sua extensa pro- dução. Confio, contudo, que, na sua gentileza, o nosso homenageado me perdoe as omissões de aspectos que pode eventualmente considerar essenciais. Invoco apenas, em minha defesa, a amplitude e riqueza da sua obra, o que torna falível qualquer tentativa de a reduzir a uma ex- posição tão breve como esta. Sendo impossível dedicar uma palavra especial a cada uma das suas principais publicações, entendi que seria mais útil delinear as grandes linhas de força da sua extensa produção científica, que agrupo em torno de sete tópicos, esperando ter apreendido, ao longo destes anos de convívio, algo da sua reconhecida capacidade de síntese.

1. Edição de textos epigráficos

Tendo em mente a sabedoria britânica da lapaliciana mas sugesti- va expressão “first things first», o primeiro tópico é dedicado aos tra- balhos de recolha sistemática e análise crítica da documentação epigrá- fica, vertente que mais tipicamente identifica o trabalho do epigrafista, uma vez que nestas operações radica, ao fim e ao cabo, a restante inves- tigação. Tratando-se de uma tarefa essencial, a edição e compilação dos textos epigráficos assumiu, na obra de José d’Encarnação, uma posição estruturante, fundamental. Esta importantíssima faceta do seu labor revestiu variadas formas. Em primeiro lugar, manifesta-se em compilações epigráficas re- gionais, de que a sua tese de doutoramento (Encarnação 1984a) cons- titui o mais expressivo exemplo. A edição, de acordo com rigorosos critérios, de todas as inscrições do conventus Pacensis (na realidade abarca todo o Sul de Portugal, ultrapassando pontualmente os limites dessa circunscrição jurídica), colocou esta obra entre as publicações de referência da disciplina em âmbito hispânico. A descrição precisa de

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 33 cada monumento, os comentários onomásticos e históricos, as sínteses, necessariamente breves, sobre os diferentes domínios abordados cons- tituem alguns dos aspectos que fazem dessa obra uma grande referên- cia no panorama epigráfico português. Nesse mesmo âmbito da edição de textos epigráficos ganhou igualmente um relevo extraordinário o Ficheiro Epigráfico, iniciativa editorial que permitiu reunir, desde 1982 até ao presente, mais de qui- nhentos textos inéditos. Constitui, por isso, outra das publicações fun- damentais da epigrafia hispânica, pelo elevado número de novidades (sem qualquer paralelo, diga-se) que regularmente traz ao conhecimen- to da comunidade científica. Num domínio em que as novas descober- tas são cada vez mais escassas, o Ficheiro Epigráfico pode apresentar- -se como uma publicação que sobressai também nesta vertente (sobre os objectivos e natureza da publicação v. Encarnação 1988). José d’Encarnação não desempenha apenas o papel do editor sem- pre diligente, rigoroso e eficaz, mas também o do autor cujos frequentes contributos revelam a sua permanente atenção às novidades. Para além disso, o Ficheiro Epigráfico cumpre, desde o primeiro momento, uma outra importantíssima missão: a de se constituir como uma publicação aberta a todos e acessível a quem se inicia na disciplina, revelando- -se como um estímulo e um desafio para as novas gerações. Muitos dos seus alunos encontraram aí o espaço para dar a conhecer os seus primeiros trabalhos no domínio da edição de textos epigráficos, abrin- do-se-lhes desta forma o caminho à investigação neste âmbito. Este espírito de abertura a todos os interessados no tema marcou sempre o suplemento da revista Conimbriga, razão pela qual também esta publi- cação se tornou uma referência. Para além disso, muitas outras publicações suas visaram a edição de novas inscrições ou a correcção de anteriores leituras. O seu número é demasiado extenso para se enunciar aqui, mas, havendo que destacar algum, merece uma menção particular a notícia da inscrição de Arron- ches, o mais notável monumento da História recente da Epigrafia em Portugal (Carneiro; Encarnação; Oliveira; Teixeira 2008; Encar- nação; Oliveira; Carneiro; Teixeira 2008; 2010).

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 34 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

2. As inscrições e o quadro religioso da Hispânia romana e pré-ro- mana

Mesmo quem não conhece em pormenor o percurso académico de José d’Encarnação, associa o seu nome à obra inaugural, Divindades Indígenas sob o domínio romano em Portugal, (Encarnação 1975), que corresponde à sua tese de licenciatura, datada de 1969 e defendi- da em 1970. O despretensioso subtítulo dessa obra, Subsídios para o seu estudo, remete especialmente para a fundamental tarefa de análise da documentação epigráfica, preocupação que acompanhou todo o seu percurso científico. A outra componente dessa obra corresponde à reco- lha da informação relativa a cada uma das entidades analisadas, o que constitui um bom complemento do estudo dos monumentos. Esta opção, no início do seu percurso, pelo tema da religiosidade vernácula documentada nas inscrições é sublinhada por um conjunto significativo de trabalhos seus dedicados a este tema durante esse pe- ríodo. No ano de 1970 estreia-se na Revista de Guimarães com um ar- tigo dedicado às divindades indígenas presentes na colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento (Encarnação 1970). No ano seguinte, aborda uma questão metodológica essencial: o conceito de divindade indígena – tema que levou ao II Congresso Nacional de Arqueologia, reunião científica pertencente a uma série que acabou tão prematura- mente. Essa particular preferência pelo estudo da vertente religiosa revela-se ainda, até ao ano de 1975, em estudos sobre as divindades presentes nas aras de Vila da Feira (Encarnação 1971b), os Lares (En- carnação 1972), Banda (Encarnação 1973) e Aracus (Encarnação 1974). Apesar de esta vertente da investigação se manter ao longo do seu percurso, foi-se tornando cada vez mais clara a diversificação temá- tica dos seus interesses científicos. Pode dizer-se que, no domínio das divindades romanas e pré-ro- manas do Ocidente peninsular, José d’Encarnação tocou todos os as- pectos, desde os conceitos fundamentais (Encarnação 1971a) até à discussão em torno do “sexo dos deuses” (2002a). Na sua comunicação apresentada, em Novembro de 1980, ao III Colóquio de Línguas e Culturas Paleohispânicas, J. Untermann (1985 343) sublinhava que o estudo da teonímia se deparava, nos anos 80, com o enorme problema da fiabilidade das leituras, o que só poderia resolver-se com a autópsia e a edição rigorosa dos monumentos, reco- nhecendo o extraordinário contributo que nesse domínio deu o trabalho

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 35 de José d’Encarnação (1975). De facto, ao longo do tempo, a tarefa de compilação de dados e análise crítica da documentação manteve- -se sempre como uma prioridade da sua obra, a qual, depois de uma revisão aos 35 anos (Encarnação 2010c), teve recentemente uma ex- pressão prática na 2.ª edição dessa obra primordial, na qual sintetiza os progressos realizados em quatro décadas na leitura do repositório que tinha sido então objecto da sua análise (Encarnação 2015). A sua permanente atenção às inscrições votivas marcou alguns dos seus contributos em reuniões científicas, sendo eu testemunha da importância que lhe reconhecem os seus colegas que regularmente par- ticipam nos Colóquios de Línguas e Culturas Paleohispânicas, onde as comunicações apresentadas se ligam com frequência com esta te- mática da sua predileção. No âmbito dessas reuniões científicas apre- sentou contributos dedicados ao tema, tratando especificamente os tó- picos da omissão de teónimos nas inscrições votivas (4.º colóquio, de Vitoria: Encarnação 1985-86); da interpretatio romana (5.º colóquio, de Colónia: Encarnação 1993d); da teonímia da Lusitânia romana e pré-romana (7.º colóquio, de Zaragoza: Encarnação 1999c e 1999d; 8.º colóquio, de Salamanca; Encarnação 2001; e 11.º, de Valencia: En- carnação 2013a). Neste mesmo âmbito religioso, dedicou algumas das suas publica- ções à análise do panorama religioso no quadro de algumas cidades do território português, em particular a Liberalitas Iulia Ebora (Encar- nação 1990) e Salacia (Encarnação 1992).

3. A Epigrafia enquanto plataforma de análise da História Social

A 3 de Fevereiro de 1979, José d’Encarnação proferiu no Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal uma conferência subordinada ao tema “Sociedade romana e Epigrafia”. Ainda que possa não ter sido esta a sua estreia nessa vertente, o livrinho que se apresenta como a sín- tese dessa palestra representa um contributo marcante na Epigrafia em Portugal. Nela se apresenta a disciplina enquanto meio para compreen- der as comunidades romanas e se enunciam brevemente os diferentes aspectos para os quais a Epigrafia dá um contributo decisivo. Toda a sua obra subsequente segue esse mesmo percurso: a fina- lidade da Epigrafia é compreensão global da sociedade romana, neste caso aplicando-se especialmente ao estudo do extremo Ocidente pe-

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 36 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... ninsular: a estrutura social deduzida da onomástica, as profissões, as relações de parentesco, as questões de demografia, a organização ad- ministrativa (Encarnação 1993b), a cidadania e participação na vida pública, (para além das atitudes e práticas religiosas), constituíram al- guns dos núcleos em torno dos quais a obra de José d’Encarnação se desenvolveu. Tirando partido da linha de investigação que António Tovar im- pulsionou na segunda metade do século XX sobre a identificação e aná- lise linguística dos vestígios da onomástica indígena e que deu lugar ao trabalho pioneiro de M. Palomar Lapesa (1957) e a uma exemplar investigação de M. de Lourdes Albertos, em particular com uma obra fundamental, correspondente à sua dissertação de doutoramento (Al- bertos 1966), José d’Encarnação explorou uma via de análise social em que o contributo da antroponímia se revelava fundamental, enquan- to elemento caracterizador da origem e do estatuto sócio-jurídico dos indivíduos. Embora esta componente esteja presente em muito mais publica- ções, assumindo-se de facto como uma realidade permanente, assu- me uma especial importância em algumas delas, sendo explicitamente sublinhada em trabalhos sobre a necrópole da Quinta de Marim (En- carnação 1991), o estudo da população romana da região de Leiria (Encarnação 1995a), a análise de uma inscrição de Serpa (Encar- nação 1999d), os aspectos da aculturação nas origens da província da Lusitânia (Encarnação 2010b), a sua relação com a teonímia lusitana (Encarnação 2003) ou com os monumentos e seu contexto (Encar- nação 2005b), e a análise da onomástica grega (Encarnação 2011b). O tratamento de temas relacionados com diversos elementos par- ticulares da estrutura social das comunidades da Lusitânia ou de al- guns dos seus núcleos constitui igualmente uma faceta marcante da sua produção científica na sua generalidade, que em alguns casos se sublinha de forma particular, como no estudo dedicado aos libertos da região da Egitânia (Encarnação 1996a), a uma escrava do território amaiense (Encarnação 2001-2002), aos indígenas presentes na epi- grafia romana da Beira Interior (Encarnação 2000c). Por outro lado, a sua atenção incidiu igualmente sobre outros as- pectos da realidade social, bastante diversificados, como a menção da tribo nas inscrições (Encarnação 2002-2003), as referências às profis- sões (Encarnação 1997b) ou a análise das relações familiares, em par- ticular entre mães e filhos (Encarnação 2005a). A vertente da análise

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 37 demográfica concitou igualmente a sua atenção, tendo dedicado estu- dos à idade da morte, explicitamente num artigo com o sugestivo título de “Morrer aos 40 anos na Lusitânia romana” (Encarnação 2000d), aos imigrantes presentes na Lusitânia (Encarnação 2006a) ou à pre- sença de Lusitanos na Itália (Encarnação 2006b). No âmbito dos seus interesses se inclui igualmente a actividade política e de participação na vida pública nas cidades romanas da His- pânia, tendo dedicado especificamente um estudo ao mecanismo deci- sório no âmbito municipal (Encarnação 1993b), mas tratou também as relações entre esta componente e a religiosidade dos indivíduos, tan- to no plano mais geral da província da Lusitânia (Encarnação 2004b), como especificamente na cidade romana de Salacia (Encarnação 1992). Enfim, José d’Encarnação orienta também a sua atenção para um campo em que se cruza a componente social com as transformações culturais que estas comunidades do mundo provincial sofrem, tratando especialmente os casos de Ebora (Encarnação 1986-1987) e Pax Iulia (Encarnação 2014b).

4. Pensar a Epigrafia e perspectivar o seu percurso

José d’Encarnação dedicou uma parte muito relevante da sua es- crita a reflectir sobre a disciplina, sobre os seus instrumentos e per- cursos. Esta preocupação está presente genericamente em boa parte dos seus escritos sobre Epigrafia, mas constitui o tema fundamental de alguns deles. Encontra-se presente desde a fase inicial da sua obra, consubstanciada em reflexões sobre a natureza e as peculiaridades da disciplina (Encarnação 1984b; 2014c) ou em considerações sobre as suas relações com outros domínios da investigação: a Etnografia (En- carnação 2000a; 2011c), a Arqueologia (Encarnação 1993a), a His- tória (Encarnação 1997d) e a Literatura (2005d). José d’Encarnação formou-se num ambiente em que se respira- va ainda o rasto de sabedoria deixado por Scarlat Lambrino (iniciou a licenciatura escassos meses depois da morte deste erudito romeno), herança que recebeu através do magistério de D. Fernando de Almeida. Mas progressivamente os seus contactos estenderam-se para lá dos ho- rizontes nacionais, tendo sido especialmente estreitas as relações com a “escola de Bordéus” e com Giancarlo Susini e os seus colaboradores.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 38 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

As escavações de Conimbriga serviram de base de um convívio científico que vai marcar o seu percurso, com o magistério de Robert Étienne e com a amizade de alguns dos seus discípulos, em particular de Alain Tranoy e Patrick Le Roux. Por outro lado, os ensinamentos colhidos na “escola de Bolonha”, em obras fundamentais para a ciência epigráfica – especialmente a partir do livrinho fundamental Il lapici- da romano, que modestamente se apresenta como uma introduzione all’epigrafia latina (Susini 1966) – abrem-lhe novas perspectivas e vão transparecendo progressivamente, emergindo a cada momento nas suas publicações. Para além dessa nova maneira de olhar para o monumento, vendo- -o como um produto de oficinas mais ou menos organizadas e como o resultado de um processo concreto em que intervêm diversos agentes, José d’Encarnação divulga no contexto português a terminologia espe- cífica que anda necessariamente associada a este olhar atento para to- dos os pormenores do trabalho do lapicida. A sua capacidade de obser- vação, a preocupação com o rigor e a sua habilidade descritiva reflec- tem-se na divulgação de uma terminologia técnica lapidária moderna que se capta na descrição dos monumentos – para referir algo paradig- mático, vejam-se em particular as descrições das molduras complexas com todos os seus particularismos, por exemplo, na sua tese de dou- toramento (Encarnação 1984a), as quais constituem uma referência, nesse domínio, no que concerne particularmente à língua portuguesa. Numa obra recente explanou algumas reflexões sobre a noção de Epigrafia, a natureza e os métodos da disciplina, seguindo-se uma aná- lise de alguns dos manuais que se apresentam ao investigador: para além dos do próprio autor (Encarnação 1979; 2010a), os de Corbier (2004, remetendo para a mais recente edição, a versão em castelhano) e Lassèrre (2005), o Vademecum (Iglesias; Santos 2008) e extensa obra colectiva intitulada Fundamentos de Epigrafia Latina (Andreu 2009). De entre as muitas temáticas particulares que em certa medida permitem definir a epigrafia e as suas vertentes, tendo sempre em aten- ção o território do Ocidente hispânico, destacamos alguns tópicos: os problemas da Epigrafia rupestre em Portugal (Encarnação 1995a); a difusão do fenómeno epigráfico (Encarnação 1995c); as técnicas de gravação e seus instrumentos, bem como da alguma terminologia usada para actividades relacionadas com a produção de monumentos (Encarnação; Leal 1996); as relações do fenómeno epigráfico com a componente espacial (Encarnação 1993c; 1997a).

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 39

A sua posição no nosso âmbito académico e no contexto da inves- tigação epigráfica levaram-no a apresentar, por diversas vezes, apre- ciações sobre o estado da arte em Portugal (Encarnação 1984c; 1988; 1997c), ou em algum território particular, como o trabalho que dedicou especificamente ao Noroeste peninsular (Encarnação 1980). Desta forma, os seus contributos permitiram também delinear os seus pro- gressos e as dificuldades que se colocavam à disciplina e perspectivar os seus futuros percursos, tema a que dedicou um dos seus trabalhos (Encarnação 1989a; 1996b).

5. História da Epigrafia

José d’Encarnação, na sua atenção à Epigrafia nos seus diferentes aspectos, dedicou também uma parte do seu trabalho ao percurso his- tórico da disciplina. O tratamento deste tópico manifesta-se especialmente nas suas reflexões recentes sobre o longo percurso da disciplina no que espe- cialmente diz respeito a Portugal, tratando a situação pré-hübneriana e aludindo às aventuras e desventuras do sábio alemão em terras oci- dentais, nomeadamente as difíceis relações com Jordão, para além da continuidade do projecto CIL (Encarnação 2011a). Mais frequentemente, a sua atenção centrou-se em figuras que marcaram a evolução dos estudos epigráficos, a começar, naturalmente, pela grande representante do saber humanista, o eborense André de Re- sende (Encarnação 2002b). Na análise do seu labor sublinhou em par- ticular os problemas de autenticidade de algumas inscrições cujo texto nos é transmitido por ele e que o incluíram na lista dos mais conhecidos falsários (Encarnação 1998; 2007-2008). Mereceu igualmente a sua atenção a obra de Frei Lourenço do Valle, um colaborador de Frei do Cenáculo, a quem o prelado tinha encarregado do museu pacense. Cons- tituem o objectivo deste artigo (Encarnação; Gaidão 2015) a análise dos principais contributos epigráficos, entre os quais se incluem infor- mações sobre alguns monumentos com a escrita do Sudoeste. As suas incursões no âmbito da história da disciplina ultrapassam por vezes as fronteiras hispânicas: a pretexto da recente edição de uma obra colectiva que lhe foi inteiramente dedicada (Petraccia 2006), José d’Encarnação teceu algumas considerações sobre o erudito oito- centista Camillo Ramelli (Encarnação 2009b).

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 40 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

Leite de Vasconcelos e a sua produção histórico-epigráfica consti- tuíram, inevitavelmente, um dos tópicos mais frequentemente tratados. A sua obra fundamental, As Religiões da Lusitânia, esteve na base de alguns dos seus trabalhos, seja sob a forma de uma apresentação geral da obra (2000b), seja como base para o tratamento do tema do nacio- nalismo leiteano (Encarnação 1993-1994). Uma cupa alentejana, cuja integração no espólio do Museu Ethnológico tinha sido anunciada, mas afinal descoberta no seu lugar de origem, abriu o caminho a algumas considerações sobre o empenho do sábio português na construção e enriquecimento dessa instituição (Encarnação 2008a). José d’Encarnação presta igualmente atenção a algumas figuras relevantes da Epigrafia portuguesa do século XX: numa ordenação cronológica, referimos em primeiro lugar, Francisco Manuel Alves, o Abade de Baçal, uma personagem proeminente da investigação his- tórico-arqueológica centrada no território bragançano (Encarnação 1999b). O substancial contributo de D. Domingos Pinho Brandão para o progresso da investigação epigráfica em Portugal, constitui outra das suas incursões neste domínio (Encarnação 1984d); a memória do seu mestre, D. Fernando de Almeida, responsável pela docência da disci- plina na Faculdade de Letras de Lisboa e orientador da sua tese de li- cenciatura foi também por ele evocada (Encarnação 2005c); também reveste o carácter de homenagem, o trabalho que dedica a Fernando Bandeira Ferreira, aos seus contributos, o seu rigor na análise das ins- crições (Encarnação 2004a). No plano internacional, evocou especialmente uma personalidade que constitui uma referência incontornável no domínio dos estudos his- tórico-epigráficos, Prof. Emilio Gabba (2014a).

6. Ensinar e Divulgar a Epigrafia

A componente didáctica faz naturalmente parte integrante da personalidade e da produção científica de José d’Encarnação. A sua postura de pedagogo transparece a cada momento, sem que para isso se esteja necessariamente em contexto de aula. Posso, por isso avaliar, mesmo sem ter sido formalmente seu aluno, a naturalidade com que deve enfrentar a sua missão de professor. A sua produção escrita materializou esta sua faceta e os seus re- flexos exprimem-se a diversos níveis. Em primeiro lugar através de um

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 41 manual introdutório, em que com extraordinária simplicidade apresen- ta os elementos essenciais de uma disciplina complexa. As 4 edições da sua Introdução ao Estudo da Epigrafia Latina (Encarnação 1979, 21987, 31997, 42013) atestam bem a popularidade e a adequação desta obra a uma missão específica: abrir as portas desta matéria de nome algo estranho a um público amplo, não apenas universitário, mas tam- bém de gente que cultiva interesses variados. As duas edições do seu Epigrafia: as pedras que falam confirmam a receptividade que este domínio científico encontra no universo da lín- gua portuguesa (não nos esqueçamos das suas estreitas relações com o mundo académico brasileiro) e a credibilidade que o seu nome transmi- te à produção científica sobre o tema. Este exercício de escrita responde bem ao interesse de um público diverso: leitores atentos, universitários e especialistas encontram aqui um repositório de informação acessível, mas rigorosa, ao mesmo tempo simples e profunda, tudo isto exposto numa linguagem cuidada e num estilo muito pessoal. Ao longo dos últimos anos tem igualmente alimentado uma longa série a que deu o título “A epígrafe latina como elemento didáctico”, cujo último número por mim visto corresponde ao XXXII contributo, dedicado ao simbolismo mágico de uma árula de Conimbriga (Encar- nação 2013b). Para além disso, o tema do ensino da disciplina constitui com al- guma frequência um tópico de reflexão, tendo-lhe dedicado especifica- mente algumas das suas publicações (Encarnação 1982; 1999a; 2007). A sua assumida condição de professor conjuga-se bem com as suas permanentes preocupações didácticas que marcam, deste modo, a maioria dos seus trabalhos, reflectindo-se na sua linguagem expressiva, que torna claro o que é complexo. A esta capacidade associa uma outra, não menos relevante: a facilidade com que recorre habitualmente uma estratégia que torna mais acessíveis os problemas, ao estabelecer um paralelismo entre o mundo antigo e realidade actual.

7. Arqueologia em diálogo com a Epigrafia

Ainda que a sua actividade científica se inscreva predominante- mente no âmbito da Epigrafia, José d’Encarnação dispersou os seus in- teresses científicos por muitos outros domínios, e muito especialmente pela Arqueologia, em cujo âmbito académico o estudo das inscrições se

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 42 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... insere habitualmente. As relações entre estes dois domínios próximos constituíram o objecto das suas reflexões (Encarnação 1993a). Como epigrafista, prestou permanente atenção aos contextos arqueológicos dos monumentos e aos contributos que a cultura material pode trazer à compreensão e integração dos textos epigráficos. Para além disso, a sua formação eclética e atenção para as causas do património cultural justificam uma especial dedicação os restos ma- teriais do passado, em particular aos que se situavam na sua terra de adopção, Cascais. Os seus trabalhos incluem balanços dessa actividade (Encarnação; Cardoso 1994) ou incursões no âmbito da História da Arqueologia (Encarnação 2008b). O tema da arqueologia cascalense constitui um capítulo parti- cularmente rico da sua produção científica e, dentro dela, a villa de Freiria assume uma posição proeminente. As sucessivas campanhas de escavações aí levadas a cabo, em colaboração com Guilherme Cardo- so, a importância dos vestígios postos a descoberto e a originalidade de alguns dos seus achados fizeram deste sítio um dos exemplos de implantação rural romana mais conhecidos da península de Lisboa e do território português. É significativo o número de publicações em que se dá conta das suas ocupações pré-histórica (Cardoso; Cardoso; Encarnação 2013) e proto-histórica (Encarnação; Cardoso 2000; Cardoso; Encarnação 2013), bem como da sua relevância para o es- tudo do mundo rural da Lusitânia (Cardoso; Encarnação 1991; En- carnação; Cardoso 1992-1993; 1999; 2000). As circunstâncias consagraram este sítio como um exemplo em que os vestígios arqueológicos e epigrafia se cruzaram, não apenas através dos mais comuns grafitos Cardoso;( Encarnação 2014), mas também pelo achado de uma placa (Encarnação 1989b) e sobretudo uma notável ara a Triborunnis, que identificaria como um dos proprie- tários da villa, Tito Curiácio Rufino (Encarnação 1985). Para além disso, um número considerável da sua produção epi- gráfica remete para sítios ou monumentos arqueológicos, sendo um dos casos mais sugestivos o que analisa os problemas colocados pela inscri- ção olisiponense que documenta a renovação tardo-romana das Termas dos Cássios (Encarnação 2009a).

Ainda que esta breve síntese não o possa demonstrar, quem per- corre o extenso elenco das suas publicações poderá concluir que não há tópico pertinente à Epigrafia do território português que José d’Encar-

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 43 nação não tenha tratado. Atento a tudo o que interessava a este domínio do saber, assumiu o papel do epigrafista português que tem a responsa- bilidade de dar a conhecer a toda a comunidade científica as principais novidades que respeitam a este território dos confins do império. Perspicaz na sua análise e rigoroso na forma, José d’Encarnação junta à sua escrita um cuidado com a forma de expressão, tendo criado um estilo que se tornou inconfundível, em particular pela sua sugestiva adjectivação, mas também pela sua recusa de modos de dizer que não mais respeitam a mais pura tradição da língua portuguesa. Esta é, de resto, mais uma das muitas causas que assume, não apenas como cien- tista, mas também como cidadão. Deste modo, José de Encarnação afirma-se como um guia em di- versos domínios: é o mestre da ciência epigráfica que orienta e serve de referência aos que se aventuram nesse domínio especializado; é o cidadão atento que luta pelas causas da preservação e divulgação do nosso património monumental, cultural e linguístico. Espero, deste modo, ter contribuído para o reconhecimento dos seus grandes méritos, aproveitando para lhe agradecer por tudo o que lhe devemos, mas também para lhe transmitir, com os votos de uma óptima recuperação, um estímulo para continuar nesse caminho.

REFERÊNCIAS

Albertos Firmat, Maria Lourdes (1966) - La onomástica personal primitiva de His- pania Tarraconense y Bética. Salamanca: CSIC. Andreu Pintado, Javier ed. (2009) - Fundamentos de Epigrafía Latina. Madrid: Liceus. Cardoso, João Luís; Cardoso, Guilherme; Encarnação, José d’ (2013) - O cam- paniforme de Freiria (Cascais), Estudos Arqueológicos de Oeiras 20 525-588 Cardoso, Guilherme; Encarnação, José d’ (1991) - Certezas e incertezas no estudo da villa romana de Freiria, Arquivo de Cascais, 10 15-26. Cardoso, Guilherme; Encarnação, José d’ (2013) - O povoamento pré-romano de Freiria - Cascais, Cira Arqueologia 2 133-180. Cardoso, Guilherme; Encarnação, José d’ (2014) - Grafito em imbrex, de Freiria (Conventus Scallabitanus), Ficheiro Epigráfico 117 n. 503. Carneiro, André; Encarnação, José d’; Oliveira, Jorge; Teixeira, Cláudia (2008) - Uma inscrição votiva em língua lusitana, Palaeohispanica 8 167-178. Corbier, Paul (2004) - Epigrafía Latina. Granada: Universidad [trad. de Mauricio Pastor Muñoz].

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 44 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

Encarnação, José d’ (1970) - Lápides a divindades indígenas no Museu de Guima- rães, Revista de Guimarães 80 207-238. Encarnação, José d’ (1971a) - O conceito de divindade indígena sob o domínio ro- mano na Península Ibérica, in: Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia, Coimbra, vol. 2 347-351. Encarnação, José d’ (1971b) - Duas importantes aras romanas de Vila da Feira, Avei- ro e o Seu Distrito 11 59-61. Encarnação, José d’ (1972) - Vestígios do culto dos Lares em território português, Revista de Guimarães 82 91-104. Encarnação, José d’ (1973) - Banda, uma importante divindade indígena, Conimbri- ga 12 199-214. Encarnação, José d’ (1974) - Aracus Aranius Niceus, uma divindade indígena vene- rada em Manique de Baixo (Alcabideche), in: Actas das II Jornadas Arqueoló- gicas, Lisboa, vol. 2 195-204. ENCARNAÇÃO, José d’ (1975) - Divindades Indígenas sob o Domínio Romano em Portugal (Subsídios para o Seu Estudo), Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Encarnação, José d’ (1979) - Introdução ao Estudo da Epigrafia Latina, Coimbra (21987, 31997; 42013). Encarnação, José d’ (1980) - O progresso da epigrafia romana do NW peninsular (1970-78), in: Actas do Seminário de Arqueologia do Noroeste Peninsular, Gui- marães, vol. 3 43-66. Encarnação, José d’ (1982) - O ensino da Epigrafia em Portugal, Munda 3 23-26. Encarnação, José d’ (1984a) - Inscrições Romanas do Conventus Pacensis - Subsí- dios para o Estudo da Romanização, Coimbra: Instituto de Arqueologia. Encarnação, José d’ (1984b) - Epigrafia, uma leitura diferente, Munda 7 31-35. Encarnação, José d’ (1984c) - L’épigraphie au Portugal, in: Épigraphie Hispanique - Problèmes de Méthode et d’Édition, Paris 353-354. Encarnação, José d’ (1984d) - Pinho Brandão, epigrafista, Lucerna n. s. 1 203-211. Encarnação, José d’ (1985) - Ara votiva a Triborunnis, Ficheiro Epigráfico 14 n. 59. Encarnação, José d’ (1985-1986) - Omissão dos teónimos em inscrições votivas, in: Studia Palaeohispanica. Actas del IV Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas (Vitoria 1985) = Veleia 2-3 305-310. Encarnação, José d’ (1986-1987) - Cultura na Évora dos Romanos, A Cidade de Évora 69-70 5-19. Encarnação, José d’ (1988) - Ficheiro Epigráfico: uma experiência em curso em Por- tugal. Trabalhos de Antropologia e Etnologia 27 245-247. Encarnação, José d’ (1989a) - Epigrafia em Portugal, ciência antiga, rumos novos, Arqueologia (Porto) 17 204-207. Encarnação, José d’ (1989b) - Fragmento de placa epigrafada de Freiria, Ficheiro Epigráfico 30 n.º 137. Encarnação, José d’ (1990) - Religião e cultura na epigrafia de Liberalitas Iulia (Sub- sídios para o estudo), in: Les Villes de Lusitanie Romaine, Paris 233-253.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 45

Encarnação, José d’ (1991) - A necrópole romana da Quinta de Marim (Olhão): a onomástica enquanto índice sociocultural, Anais do Município de Faro 21 229- 241. Encarnação, José d’ (1992) - Culto e sociedade na Salácia romana, in: Religio Deo- rum (Actas del Coloquio Internacional de Epigrafia Culto y Sociedad en Occi- dente - Tarragona, 1988), Sabadell 161-169. Encarnação, José d’ (1993a) - Arqueologia e Epigrafia: uma complementaridade a potenciar, Trabalhos de Antropologia e Etnologia 33(1-2) 313-327. Encarnação, José d’ (1993b) - Decreto decurionum – algumas notas sobre o meca- nismo decisório municipal na Hispânia romana, in: Ciudad y comunidad cívica en , siglos II y III d.C. Actes du colloque organisé par la Casa de Velá- zquez et par le Consejo Superior de Investigaciones Científicas. Madrid 25-27 janvier 1990, Madrid 59-64. Encarnação, José d’ (1993c) - L’épigraphie du village à l’extrême Occident d’Hispa- nia, in: A. Calbi; A. Donati; G. Poma (eds.), L’Epigrafia del Villaggio, (Actas do VII Colloquio Internazionale sul Tema L’Epigrafia del Villaggio, organizado em Forlì, 27-30.09.1990), Faenza 237-259. Encarnação, José d’ (1993d) - Interpretatio romana - q u e l q u e s q u e s t i o n s à p r o p o s de l’acculturation religieuse en Lusitanie,in: J. Untermann; F. Villar (eds.), Len- gua y Cultura la Hispania prerromana. Actas del V Coloquio sobre lenguas y culturas prerromanas de la Península Ibérica (Colonia 1989), Salamanca 281- 287. Encarnação, José d’ (1993-1994) - No centenário da publicação das Religiões da Lusitânia: nacionalismo em Leite de Vasconcelos, O Arqueólogo Português, série IV, 11/12 35-42. Encarnação, José d’ (1995a) - Panorâmica e problemática geral da epigrafia rupestre em Portugal, in: A. Rodríguez Colmenero - L. Gasperini (eds.), Saxa Scripta (inscripciones en roca). Actas del Simposio Internacional Ibero-Itálico sobre epigrafía rupestre. Santiago de Compostela y Norte de Portugal, 29 de junio a 4 de julio de 1992. Anejos de Larouco 2, Coruña 261-277. Encarnação, José d’ (1995b) - Pelo nome os conhecereis (Subsídios para o estudo da população romana da região de Leiria), in: II Colóquio sobre História de Leiria e Sua Região - Actas. Leiria 141-149. Encarnação, José d’ (1995c) - Roma e as primeiras culturas epigráficas da Lusitânia Ocidental, in: F. Beltrán Lloris (ed.), Roma y el nacimiento de la cultura epigrá- fica en Occidente. Actas del Coloquio Roma y las primeras culturas epigráficas del Occidente Mediterráneo. Zaragoza, 4 a 6 de noviembre de 1992, Zaragoza 255-269. Encarnação, José d’ (1996a) - Libertos no termo da Egitânia romana, Materiais, II série 0(2) 13-19. Encarnação, José d’ (1996b) - Epigrafia romana em Portugal - balanço e perspectivas da investigação, in: M. Fabbri (coord.), Portogallo e Italia: dialogo tra culture. Bologna 71-86.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 46 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

Encarnação, José d’ (1997a) - Epigrafia e território, Espacio, Tiempo y Forma, série II, 10 79-89. Encarnação, José d’ (1997b) - Sobre a menção de profissões em Epigrafia, Munda 33 19-23. Encarnação, José d’ (1997c) - La recherche sur l’épigraphie romaine au Portugal, in: Actes du Xe Congrès International d’Épigraphie Grecque et Latine (Nîmes, 4-9 Octobre 1992), Paris 461-472. Encarnação, José d’ (1997d) - Epigrafia e História de Roma, Máthesis 6 33-39. Encarnação, José d’ (1998) - Da invenção de inscrições pelo humanista André de Resende, Biblos 67 177-205. Encarnação, José d’ (1999a) - O ensino da Epigrafia,Arqueologia e História 51 197- 203. Encarnação, José d’ (1999b) - Abade de Baçal, epigrafista, in: Actas do Colóquio O Abade de Baçal, Bragança 17-23. Encarnação, José d’ (1999c) - Notas sobre teonímia pré-romana, in: Pueblos, Len- guas y Escrituras la Hispania Prerromana (Actas del VII Coloquio sobre Len- guas y Culturas Paleohispánicas), Salamanca 405-407. Encarnação, José d’ (1999d) - Onomástica lusitana e cultura latina num monumento funerário de Serpa, in; Pueblos, Lenguas y Escrituras la Hispania Prerromana (Actas del VII Coloquio sobre Lenguas y Culturas Paleohispánicas), Salamanca 409-411. Encarnação, José d’ (2000a) - Epigrafia e Etnologia - Acordes para Viegas Guerrei- ro, Stilus 3 91-96. Encarnação, José d’ (2000b) - Religiões da Lusitânia” de Leite de Vasconcelos, Boca do Inferno 5 136-146. Encarnação, José d’ (2000c) - Os indígenas na epigrafia da Beira Interior, in: Beira Interior - História e Património (Actas), Guarda 151-158. Encarnação, José d’ (2000d) - Morrer aos 40 anos na Lusitânia romana, in: J.-G. Gorges - T. Nogales (eds.), Sociedad y Cultura en Lusitania Romana, Mérida 241-247. Encarnação, José d’ (2001) - Teonímia da Lusitânia romana, in: F. Villar - M.ª P. Fer- nández Álvarez (eds.), Religión, Lengua y Cultura Prerromanas de Hispania, Salamanca 363-372. Encarnação, José d’ (2001-2002) - A história de uma escrava romana, Al’ulyã 8 23-33. Encarnação, José d’ (2002a) - O sexo dos deuses romanos, in: Scripta Antiqua, Valladolid 517-525. Encarnação, José d’ (2002b) - André de Resende, epigrafista, in: Cataldo & André de Resende - Congresso Internacional do Humanismo Português, Lisboa 305-310. Encarnação, José d’ (2002-2003) - A menção da tribo nas epígrafes - identificação e territorialidade, Anas 15-16 127-131. Encarnação, José d’ (2003) - Onomástica y religión, in Grupo Mérida, Atlas Antro- ponímico de la Lusitania Romana, Mérida-Bordéus 425-427.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 47

Encarnação, José d’ (2004a) - Bandeira Ferreira, um labor de epigrafista,Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, série 122ª, 1-12 111-120 Encarnação, José d’ (2004b) - Devoção e política em algumas cidades da Lusitânia, in: S. Armani - B. Hurlet-Martineau - A. U. Stylow (eds.), Epigrafía y sociedad en Hispania durante el Alto Imperio: estructuras y relaciones sociales (Acta Antiqua Complutensia 4), Alcalá de Henares - Madrid 203-207. Encarnação, José d’ (2005a) - Mães e filhos passeando por entre epígrafes, in: M.ª C. Sevillano et alii (eds.), El Conocimiento del Pasado. Una Hierramienta para la Igualdad, Salamanca 101-113. Encarnação, José d’ (2005b) - Onomástica, monumento e contexto, in: Actas del IX Colóquio sobre Lenguas y Culturas Paleohispánicas [Barcelona, 20-24 de Octubre de 2004] Palaeohispanica 5 767-774. Encarnação, José d’ (2005c) - D. Fernando de Almeida, o Mestre, o Epigrafista, Eburobriga 3 35-39. Encarnação, José d’ (2005d) - Epigrafia e literatura, literatura e epigrafia, [= A epí- grafe latina como elemento didáctico (XVIII)], Estudos Clássicos - Boletim, 44 99-103. Encarnação, José d’ (2006a) - La Lusitanie romaine, pôle d’immigration: témoins épigraphiques, in: M. G. A. Bertinelli e A. Donati (eds.), Le Vie della Storia (Migrazioni di popoli, viaggi di individui, circolazione di idee nel Mediterra- neo antico) [Atti del II Incontro Internazionale di Storia Antica (Génova 6-8 Ottobre 2004)], Roma 299-305. Encarnação, José d’ (2006b) - Lusitani nell’Italia romana, in: A. Sartori - A. Val- vo (eds.), Hiberia - Italia / Italia - Hiberia (Actas do Convegno internazionale di Epigrafia e Storia Antica - Gargnano-Brescia - 28-30 aprile 2005), Milano 47-52. Encarnação, José d’ (2007) - L’Épigraphie au Portugal - enseignement: la bataille et la guerre, in: M. Mayer - G. Baratta - A. Guzmán (eds.), in: Acta XII Congres- sus Internationalis Epigraphiae Graecae et Latinae, Barcelona 363-364. Encarnação, José d’ (2007-2008) - Uma inscrição romana de Évora forjada por An- dré de Resende, A Cidade de Évora, II série, 7 213-218. Encarnação, José d’ (2008a) - Leite de Vasconcelos e as inscrições romanas - fla- grantes de um quotidiano vivido, O Arqueólogo Português, série IV, 26 385-406 Encarnação, José d’ (2008b) - Octávio Veiga Ferreira - percursos em Cascais e pela Arqueologia Clássica, Estudos Arqueológicos de Oeiras 16 351-362. Encarnação, José d’ (2009a) - As termas dos Cássios em Lisboa: ficção ou realida- de?, in: J.-G. Gorges; J. d’Encarnação; T. Nogales Basarrate; A. Carvalho (eds.), Lusitânia Romana entre o Mito e a Realidade (Actas da VI Mesa-Redonda In- ternacional sobre a Lusitânia Romana), Cascais 481-493. Encarnação, José d’ (2009b) - Eruditos, manuscritos e correspondência, in: Espa- cios, usos y formas de la epigrafía hispana en épocas antiguas y tardoantigua. Homenaje al Dr. Armin U. Stylow (Anejos de Archivo Español de Arqueología XLVIII), Mérida 131-133.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 48 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável...

Encarnação, José d’ (22010a) - Epigrafia - As Pedras que Falam. Coimbra: Imprensa da Universidade, (12006). Encarnação, José d’ (2010b) - Aspectos da aculturação onomástica nos primórdios da Lusitânia, in: J.-G. Gorges; T. Nogales Basarrate (eds.), Naissance de la Lu- sitanie romaine (Ier av. - Ier ap. J.-C.). VIIe Table Ronde Internationale sur la Lusitanie romaine (Toulouse, 8-9 novembre 2007), Toulouse - Mérida 175-184. Encarnação, José d’ (2010c) - Divindades indígenas sob o domínio romano em Por- tugal, 35 anos depois, in: Serta Palaeohispanica in honorem Javier de Hoz: Palaeohispanica 10 525-535. Encarnação, José d’ (2011a) - A “Escola Alemã” e os estudos de epigrafia romana em Portugal, in: M.ª T. D. Mingocho - M.ª de F. Gil - M.ª E. Castendo (eds.), Misce- lânea de Estudos em Homenagem a Maria Manuela Gouveia Delille, Coimbra 869-884. Encarnação, José d’ (2011b) - Da onomástica grega na Lusitânia romana, in: A. B. Tacla et alii [orgs.], Uma Trajetória na Grécia Antiga, Homenagem à Neyde Theml, Rio de Janeiro 301-312. Encarnação, José d’ (2011c) - Etnografia e epigrafia em diálogo,Praça Velha 30 184- 192. Encarnação, José d’ (2013a) - Gentes e divindades na Lusitânia pré-ro- mana ocidental, in: Actas del XI Coloquio Internacional de Lenguas y Culturas Prerromanas de la Península Ibérica (Valencia) = Palaeohispanica 13, 2013, 209-217. Encarnação, José d’ (2013b) - O mágico simbolismo de uma árula conimbricense [A epígrafe latina como elemento didáctico (XXXII)], Boletim de Estudos Clássi- cos 58 147-151. Encarnação, José d’ (2014a) - Evocando o Prof. Emílio Gabba, Sylloge Epigraphica Barcinonensis 12 13-15. Encarnação, José d’ (2014b) - Sociedade e cultura em Pax Iulia, através da epigrafia, in: S. Gómez Martínez; S. Macías; V. Lopes (eds.), O Sudoeste Peninsular entre Roma e o Islão, Mértola 16-29. Encarnação, José d’ (2014c) - Da Epigrafia como ciência, Antrope 1 144-159. Encarnação, José d’ (22015) - Divindades Indígenas sob o Domínio Romano em Portugal (Subsídios para o Seu Estudo), segunda edição revista e aumentada, Coimbra. Encarnação, J. - Cardoso, Guilherme (1992-1993) - A villa romana de Freiria e o seu enquadramento rural, Studia Historica - Historia Antigua, 10-11 203-217 [Revisto e reeditado in: Revista de Arqueologia da Assembleia Distrital de Lis- boa 2 1995 51-62]. Encarnação, J. - Cardoso, Guilherme (1994) - Três anos de intervenções arqueoló- gicas em Cascais, in: V Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólo- gos Portugueses - Actas, vol. I, Lisboa 173-185. Encarnação, José d’; Cardoso, Guilherme (1999) - Economia agrícola da região de Olisipo: o exemplo do lagar de azeite da villa de Freiria, in: Économie et Terri- toire en Lusitanie Romaine, Madrid 391-401.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Amílcar Guerra José d’Encarnação: Breve perspectiva sobre um notável... 49

Encarnação, José d’; Cardoso, Guilherme (2000) - Notas sobre a ocupação proto- -histórica na villa romana de Freiria, Revista de Guimarães, volume especial 2 (Actas do Congresso de Proto-História Europeia), Guimarães 741-757. Encarnação, José d’; Cunha Leal, Catarina (1996) - Technique et métiers dans l’épigraphie romaine de l’Occident hispanique, in: M. Klanoussi; P. Ruggeri; C. Vismara (eds.), L’Africa Romana XI. Atti dell’XI convegno di studio. Cartagine, 15-18 dicembre 1994, Sassari 175-181. Encarnação, José d’; Gaidão, R. (2015) - As informações epigráficas de Frei Louren- ço do Valle, in: M. R. Mira (coord.), Homenagem a Justino Mendes de Almeida, Lisboa 27-41. Encarnação, José; Oliveira, Jorge; Carneiro, André; Teixeira, Cláudia (2008) - Inscrição votiva em língua lusitana (Arronches, Portalegre), Conimbriga 47 85-102. Encarnação, José; Oliveira, Jorge; Carneiro, André; Teixeira, Cláudia (2010) - Epígrafe votiva de Arronches - Notícia da sua identificação, in: F. Oliveira; J. de Oliveira; M. Patrocínio [coord.], Espaços e Paisagens - Antiguidade Clássica e Heranças Contemporâneas [VII Congresso Internacional da APEC (Associa- ção Portuguesa de Estudos Clássicos)], Coimbra 99-105. Iglésias Gil, José Manuel; Santos Yanguas, Juán (22008) ‒ Vademecum para la Epigrafia y Numismática Latinas. Santander. Lassère, Jean-Marie (2005) - Manuel d’Épigraphie Romaine. Paris: Picard. Palomar Lapesa, Manuel (1957) - La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania. Salamanca: CSIC. Petraccia, Maria Frederica ed. (2006) - Camillo Ramelli e la cultura antiquaria dell’Ottocento. Roma: L’Erma di Bretschneider. Susini, Giancarlo (1966) - II lapicida romano. Introduzione all’epigrafia latina. Bo- logna: Arti Grafiche Tamari. Untermann, Jürgen (1985) - Los teónimos de la región lusitano-gallega como fuente de las lenguas indígenas, in: J. de Hoz (ed.), Actas del III Coloquio sobre Len- guas y Culturas Paleohispanicas. Salamanca 343-363.

Conimbriga, 55 (2016) 29-49 Página deixada propositadamente em branco Angela Donati Università di Bologna [email protected]

MECENATE: LA “FORTUNA” DI UN NOME

MAECENAS: THE “MEMORY” OF A NAME “Conimbriga” LV (2016) p. 51-56 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_5

Riassunto: I diversi elementi che costituiscono il sistema onomastico di Me- cenate si incontrano utilizzati per altri personaggi, tutti di ori- gine libertina, e possono fornire indicazioni per ricostruire la familia dell’amico di Augusto.

Parole Chiave: Mecenate, onomastica.

Abstract: The components of the name-day system of Maecenas are used for other persons, all of libertine origin , and can provide ele- ments to reconstruct the familia of the famous friend of Augus- tus.

Keywords: Maecenas, name-day system.

Conimbriga, 55 (2016) 51-56 Página deixada propositadamente em branco MECENATE: LA “FORTUNA” DI UN NOME

Questa nota contiene alcune considerazioni di carattere onomasti- co e non fa in alcun modo riferimento al sostantivo derivato dal nome di Mecenate né al fenomeno del mecenatismo (André 1991: 105-159, con riferimento al capitolo Il mecenatismo: storia e leggenda) che ha costituito la “memoria” forse più persistente dell’aretino, almeno nell’immaginario colto, fino ai giorni nostri. L’agnomen Maecenatia- nus, derivato dall’onomastica di Mecenate, fu assunto precocemente, con l’intento preciso di evocare le azioni del più noto protettore delle arti, ma si perse ben presto: pochissime le attestazioni in questo senso, la più significativa delle quali appare in Marziale Epigr.( , 8,55) ove il nome di Mecenate è espresso al plurale, nel significato attuale di me- cenatismo (Sint Maecenates, non derunt Marones: se vi saranno dei mecenati, non mancheranno i poeti). Ma l’esempio più famoso è offerto dal vanaglorioso Trimalcione; nell’opera di Petronio, infatti, dopo avere descritto il fastoso monu- m e n t o f u n e r a r i o c h e d e s i d e r a g l i v e n g a i n n a l z a t o , r i v o l t o a d A b i n n a , il ricco Trimalcione dà anche lettura dell’iscrizione che vuole vi sia incisa e che si apre con il suo nome: C. Pompeius Trimalchio Maece- natianus (Petr., Satyricon, 71, 12), in una forma nella quale l’agno- men tiene dietro ai tria n o m i n a . E ’ b e n n o t a l a r i c c h e z z a n e l l ’ o p e r a d i Petronio di elementi onomastici (Priuli 1975) c h e r i c h i a m a n o m o - menti del passato greco e romano, soprattutto a sfondo mitico, espressi in forma ironica. Petronio/Trimalcione utilizza Maecenatianus come agnomen, ma la sua presenza nell’onomastica è nota anche in altri casi che possono forse collegarsi, anche se con motivazioni diverse, con il più illustre Mecenate (Solin 2001, che però non cita il caso di Mece- nate). Maecenas era utilizzato come cognomen da C. Cilnius e gli de- rivava, a quanto sembra, dalla famiglia paterna, della quale sono noti ad Arezzo alcuni componenti (Fatucchi 1995: 187-205; Buonocore

Conimbriga, 55 (2016) 51-56 54 Angela Donati Mecenate: La “Fortuna” di un nome

2009: 187-196)1; questo elemento onomastico è portato da poche altre persone sicuramente diverse dal nostro. Maecenas è noto come genti- lizio, soprattutto di liberti, e a Roma: sicuramente liberti di un C(aius) risultano essere C. Maecenas Elenchus (CIL VI, 7246, da un colom- bario), C. Maecenas Celer (CIL VI, 21773), C. Maecenas Eucarus e C. Maecenas Anteros (CIL VI, 21774), C. Maecenas Notus (CIL V I , 21776), C. Maecenas Capito (CIL VI, 35756), ai quali si aggiunge una donna, Maecenatia Hopora (CIL VI,21782); di altri appartenenti alla stessa gens non è esplicitata la posizione di liberti; fuori Roma vanno ricordati i casi di un aedilis menzionato in una iscrizione pubblica di Cartagine (AE 2011, 1703) e un secondo esempio da Igilgili (CIL VIII, 20213). Anche il cognomen Maecenas/Mecenas è portato da poche altre persone, sicuramente diverse dal nostro e comunque, per diversi mo- tivi, note; a queste si aggiunge il caso di una iscrizione proveniente da Roma (CIL VI, 23968): D. M. / C(aio) Pesidio Maxi/mo, v(ixit) a(nnis) IV. Fecit / L(ucius) Laelius Mece/nas filiaster. Il monumento non è con- servato e l’iscrizione è pertanto nota solo dalla tradizione; nella forma tràdita essa pone, senza dubbio, qualche problema di interpretazione nel definire il rapporto fra le due persone menzionate nel testo che va probabilmente invertito riferendo l’ultima parola a Caio Pesidio Massi- mo e correggendola quindi in filiastro. Va richiamata però l’attenzione sulla forma Maecenatianus/a, de- rivata da Maecenas, ed attestata in alcuni casi che possono suggerire un collegamento con l’aretino. Le testimonianze si riferiscono tutte a liberti imperiali e si raccolgono all’interno del sepolcreto dei servi e liberti di Livia, a Roma: 1: CIL VI, 4016: Cissus / Caesaris (servus) / Maecenat(ianus) // Parmeno / Liviae (servus) a purpur(a) / Maecenatian(o). 2: CIL VI, 4032: Agrypnus Caesar(is) / Aug(usti) (servus) Maece- natian(us) / a statuis. 3: CIL VI, 4095: Annia Liviae … / Maecenatiana. Da luoghi diversi di Roma provengono anche questi testi: 4: CIL VI, 19926 : C(aius) Iulius Aug(usti) l(ibertus) Delphus /

1 Il volume 25 della Rivista Storica dell’Antichità (1995) raccoglie gli Atti di un Convegno tenuto ad Arezzo nel 1993, nel bimillenario della morte di Mecenate, con saggi di Riccardo Avallone, Mario Attilio Levi, Marta Sordi, Gabriella Poma, Giovannella Cresci, Remo Martini e Alberto Fatucchi.

Conimbriga, 55 (2016) 51-56 Angela Donati Mecenate: La “Fortuna” di un nome 55

Maecenatianus, / Iulia C(ai) l(iberta) Chronia, / Iulia C(ai) l(i- berta) Secunda, / C(aius) Iulius Trophimus refecit sibi et suis / lib(ertis) libertabusque posterisque eor(um). 5: CIL VI, 22970: Buzyges / Augusti ser(vus) / Maecenat(ianus). 6: Notizie Scavi 1920, p. 36 (= AE 1921, 69): Apollonius / Neronis ser(vus) / Maecenatian[us].

Tutti questi servi e liberti imperiali si datano all’età di Augusto, compreso Apollonius, in quanto il Nerone del quale è servo è il figlio di Germanico e di Agrippina, non il futuro imperatore; alcuni hanno anche svolto funzioni non comuni, quale quelle dell’addetto a purpura o quello a statuis, mansioni che entrambe si collegano a persone di una certa cultura, particolarmente preparate ed affidabili nei rispettivi settori di competenza. Maecenatianus potrebbe non essere in questi casi un semplice agnomen, ma rivelare un collegamento con Mecenate, per analogia anche con l’aggettivo maecenatianus utilizzato da Plinio (Nat., 14,67), ma anche da altri autori che elencano i maecenatiana vina o i maecenatiani horti con preciso riferimento a quei vini che l’aretino produceva o a quei giardini che possedeva e che sono ben noti dalle fonti, anche per l’intensa attività culturale che ospitavano. Tutti i beni di Mecenate passarono alla sua morte in eredità ad Augusto e anche il personale servile entrò a far parte del patrimonio dell’imperatore (Weaver 2008: 212-213), compresa quella piccola corte di servi che aveva costituito la familia di Mecenate e che conservò nel nome il ricordo del precedente dominus.

BIBLIOGRAFIA

André Jean Marie (1991) – Mecenate. Un tentativo di biografia spirituale, Firenze (trad. it. dell’edizione Paris 1967). Ben Abdallah Zeineb Benzina (2011) – Ladjimi Sebai Leila, Catalogue des in- scriptions latine païennes inédites au Musée de Carthage, Rome, pp.83-84, n.114 (= AE 2011, 1703). Buonocore Marco (2009) – in Arezzo nell’Antichità, a cura di Giovanni Camporeale, Roma, pp. 187-196. Fatucchi Alberto (1995) – Le tracce della gens Cilnia nel territorio dell’Etruria, “Rivista Storica dell’Antichità”, 25, pp. 187-205. Priuli Stefano (1975) – Ascyltus. Note di onomastica petroniana, Bruxelle. Solin Heikki (2001) – Un aspetto dell’onomastica plebea e municipale: la ripresa

Conimbriga, 55 (2016) 51-56 56 Angela Donati Mecenate: La “Fortuna” di un nome

di nomi illustri da parte di comuni cittadini, in Varia Epigraphica, Atti del Colloquio Internazionale di Epigrafia. Bertinoro, 8-10 giugno 2000, Faenza, pp. 411-427. Weaver Paul R. C. (2008) – Familia Caesaris. A Study of the Emperor’s Freedmen and Slaves, Cambridge M.

Conimbriga, 55 (2016) 51-56 Armando Redentor Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património / Universidade de Coimbra (CEAACP/UC) [email protected]

SOBRE A EPIGRAFIA ROMANA DE AEMINIUM

ABOUT AEMINIUM’S ROMAN EPIGRAPHY “Conimbriga” LV (2016) p. 57-89 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_6

Resumo: Revisita-se o dossiê epigráfico da cidade romana de Aeminium, a actual Coimbra, integrando-o no seu urbanismo e na sua história. Realiza-se a análise revisória dos suportes epigráficos e dos con- teúdos iconográficos e escritos, nomeadamente da onomástica e relações familiares, acompanhada de inferências sobre o estatuto jurídico e perfil social dos indivíduos.

Palavras-chave: Sociedade, Cultura, Urbanismo, Lusitânia, An- tiguidade.

Abstract: The epigraphic dossier of the Roman city of Aeminium, the con- temporary Coimbra, is revisited and integrated in local urbanism and history. The revision analysis of the epigraphic supports and also of the iconographic and written contents, namely onomastics and family relations, is carried out along with inferences about legal status and social profile of individuals.

Keywords: Society, Culture, Urbanism, Lusitania, Antiquity.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Página deixada propositadamente em branco SOBRE A EPIGRAFIA ROMANA DE AEMINIUM

Tendo sido na vetusta Universidade de Coimbra que José d’Encar- nação exerceu o seu múnus de professor de Epigrafia e onde, com ele, ganhámos autonomia para este fascinante mundo das inscrições antigas, sem as quais não é possível verdadeiramente versar sobre a Antiguidade Clássica, vamo-nos centrar naquelas que respeitam à cidade romana do Ocidente lusitano à qual se sobrepôs a Coimbra hodierna. O panorama da paisagem epigráfica dessa urbe não é hoje subs- tancialmente diferente daquele que se reconhecia em finais da década de 70 do século transacto, quando José d’Encarnação realizou as suas Notas sobre a epigrafia romana de Coimbra (Encarnação 1979), a pre- texto das primeiras jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. De facto, de então até ao presente, às quinze lápides nesse momen- to arroladas pouco mais há a acrescentar que altere substancialmente o entendimento do hábito epigráfico associado a esta cidade lusitana. Apenas os trabalhos arqueológicos realizados na área do espaço forense da cidade romana, entre os anos 1992 e 1997, permitiram incrementar o número de inscrições, nomeadamente com uma peça escultórica esgra- fitada (Carvalho 1998)1. É factualmente aceite que a cidade romana que precedeu a Colim- bria medieval (Figueiredo 1884, 87-91; Mantas 1992, 513; Alarcão 2008, 27)2 teve por nome Aeminium. Esta designação toponímica cons-

1 Há também a referir um conjunto de 23 fragmentos de epígrafes em depósito no Museu Nacional Machado de Castro, dados a conhecer neste período (Carvalho 1993), apenas pelo facto de não ser descartável a hipótese de algum deles ter origem na própria cidade de Coimbra, ainda que seja mais provável a relação com Conimbriga ou, inclusive, com outros locais da região. Não obstante, como a sua origem não se encontra deslindada, não podem validar-se neste estudo. 2 Esta designação medieva deriva do topónimo relativo à vizinha cidade romana de Conimbriga, situada a sul do Mondego, sendo imputável à transferência do bispado

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 60 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium tava das fontes clássicas (Plin., NH, 4. 113 e 118; Ptol., 5.5 Itin. Anton., 421, 5). Concretamente, Plínio, que igualmente alude à situação do rio que ladeia a cidade, quer como Aeminium (NH, 4. 113), quer como Munda (NH, 4. 115), incluiu-a entre os oppida stipendiaria do Ocidente lusitano, mas, até finais do século XIX, a sua localização esteve sujeita a discussão, precisamente até ao aparecimento, em Abril de 1888, de um monumento epigráfico notável que põe termo à demanda (Figuei- redo 1888a). Este corresponde a inscrição descoberta ao fundo da Couraça dos Apóstolos (n.º 1) e que é uma dedicatória realizada a Constâncio Cloro pela ciuitas Aeminiensis3. O achado resolve definitivamente a questão da localização do oppidum citado por Plínio, mas permite abrir simultanea- mente duas frentes de investigação: uma referente ao seu significado ar- queológico perante a estrutura urbana da cidade romana, outra vinculada à discussão do estatuto desta em face da sua designação como ciuitas. No respeitante ao último aspecto, a questão que se tem colocado aos investigadores prende-se exactamente com a discussão do estatuto jurídico que assumiu a cidade: significa a designaçãociuitas Aeminien- sis atestada epigraficamente no dealbar do século IV que não terá sido privilegiada com o estatuto municipal?

daí para o assento que foi da Aeminum romana, por volta de 585, a qual acarreta que a designação eclesiástica paulatinamente ofusque os pergaminhos cívicos desta urbe, culminando, plausivelmente durante o domínio muçulmano, na alteração toponímica que sustenta o nome actual (Mantas 1992, 513; Alarcão 2008, 71-79). 3 Encarnação (1979, 173) precisou a datação do monumento dos anos 305- 306, com base em critérios de datação internos ao texto, nomeadamente associados à nomenclatura imperial, e argumentou razoavelmente no sentido de contrariar posições dubitativas quanto à sua autenticidade, a qual aceitamos sem reserva, mesmo tendo em conta a inusitada fórmula que abre o texto e a particularidade de fonética sintáctica que se lhe associa. Quanto a este último aspecto, encontra-se perfeitamente adquirida a existência do dobrete ad/at, aspecto que originalmente decorre do ensurdecimento da consoante final da preposição em face de consoante surda (Väänänen 19883, 125). Concomitantemente, também consideramos o texto completo, não carecendo da presunção de uma linha inicial em falta, e que só poderia ter existido na molduragem – para uma leitura [In honorem / e]t aucmentum, cf. Rodrigues (1959-1960, 114), tendo em vista Figueiredo (1888a) e CIL II 5239, ainda que essas propostas tenham sido aferidas (Figueiredo 1888c e p. 1031 do suplemento ao CIL II) –, ou, inclusive, de se considerar truncado o início da primeira linha - cf. Encarnação (1979, 173, n. 1), propondo [B(onum) e]t aucmentum.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 61

Apesar de comummente se considerar que Aeminium assu- miu um estatuto municipal (Le Roux e Fabre 1971, 121; Encarna- ção 1979, 175; Alarcão 1990, 26-27, 33; Gorges 1990, 96; Mantas 1992, 492-493; Carvalho 1998, 180-184; Le Roux 2 0 1 0 , 1 9 2 ) , a realidade é que não existem dados que inequívoca e explicitamente confirmem que o terá alcançado, pelo que a sua consideração é ob- jectivamente dubitativa (cf. Le Roux 1990, 41 e 46; Andreu 2004, 165-166). Mas tão-pouco a dedicatória a Constâncio Cloro pode ser esgrimida como prova em sentido contrário, assumindo que ao esta- tuto de ciuitas p e r e g r i n a d u m a p r i m e i r a f a s e , c o i n c i d e n t e c o m a s u a constituição no contexto de uma primígena organização administrati- va do território de matriz augustana4, apenas se somou o direito latino com a iniciativa de Vespasiano de o estender a toda a Hispânia pelos anos de 70/715. Realce-se que o uso epigráfico do termo ciuitas, cujo significado estrito remete para um conceito de comunidade autóno- ma que no período imperial corresponde ao nível básico da orgânica provincial (OCD, 321, s. v. civitas,), poderá não ser excludente de um estatuto municipal, aplicando-se por vezes a cidades cuja condição privilegiada está perfeitamente documentada, sendo, inclusive, reco- nhecido que essa designação granjeia sucesso no período baixo-impe- rial (cf. Bost e Fabre 1983, 29-35; Le Roux 1990, 43; Dondin-Payre 1997, 287; Hainzmann 1999). Neste sentido, o seu uso também esta- ria, decerto, sob influência de variações regionais da cultura epigrá- fica. O estatuto municipal é, deste modo, inseguro, mas crível como encaminhamento lógico da atribuição do ius Latii, enquanto medida que permite a reunião de condições para que tal possa acontecer, e até levando em conta o argumento comparativo (Le Roux e Fabre 1971, 121; Encarnação 1979, 175; Alarcão 1990, 26-27; Gorges 1990, 96)

4 O miliário de Calígula aparecido nas estruturas do antigo castelo de Coimbra ou próximo (CIL II 4639), que não incluímos neste dossiê pelo facto de a sua implantação original ser alheia à cidade – correspondendo, plausivelmente, à zona de Eiras, a norte da urbe (Alarcão 2008, 30-31) –, aponta neste sentido: a indicação de distância de quatro milhas só pode ser contada a partir de Aeminium enquanto caput ciuitatis (Mantas 1992, 492), do mesmo modo que a do miliário da Mealhada, igualmente datado de 39 d. C., que assinala a milha doze (CIL II 4640). 5 Não perfilhamos da concepção de que a extensão do ius Latii tenha significado um acesso automático à municipalidade. Com respeito a esta problemática e à datação da iniciativa de Vespasiano, veja-se síntese em Caballos Rufino (2001).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 62 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium de que a vizinha cidade de Conimbriga o terá atingido (cf. Andreu 2004, 166-167). Uma vez que não podemos abordar cabalmente este assunto com- plexo nestas linhas, passamos à lição que o monumento pode oferecer em termos de leitura urbana. A cronologia da dedicatória reforçada pela localização da sua des- coberta – em reaproveitamento numa casa que em parte integrava uma torre da muralha medieva (Vasconcelos 1896, 218) – tem seduzido os investigadores para a interpretar como associada ao amuralhamento baixo-imperial da cidade, num processo que poderia ter sido coetâneo com o realizado em Conimbriga (Étinenne et alii 1976, 118; Alarcão 1979, 25 e 37; 2008, 252-261; Mantas 1992, 510; De Man 2008, 14), levando mesmo a que se interpretasse a epígrafe como uma placa desti- nada a figurar encastrada na própria estrutura defensiva (Encarnação 1979, 176, n. 1; Alarcão 2008, 252). Na realidade, este suporte en- contra-se, no topo e de ambos os lados, incompleto e picado nas partes superior e inferior da face principal, indiciando ter sido aí aplanada a molduragem que se afiguraria como base e capitel ao jeito de pedestal6, ainda que uma integração no contexto da muralha concite aceitação (De Man 2008, 260; 2009, 745). O traçado da muralha romana de Aeminium e, concretamente, a sua leitura em função da fortificação medieval é matéria que continua sob discussão (De Man 2008, 260), mas há espaços da cidade relati- vamente bem definidos, pelo menos em termos de localização. Ese o conhecimento que hoje existe sobre a estrutura urbana não chega a ser detalhado, é, todavia, possível uma caracterização genérica refe- rente ao urbanismo e arquitectura. A origem da ocupação é pré-romana (Alarcão 1979, 25-26; Mantas 1992, 489-491; Alarcão 2008, 29; Carvalho et alii 2009, 70; Almeida et alii 2011; Almeida et alii 2015), mas a escolha do assentamento para caput ciuitatis terá ditado um pro- cesso de renovação, urbanística e arquitectónica, que desembocou na abertura dos principais arruamentos e na construção de equipamentos

6 A relação entre a altura e a largura, ainda que algo incompletas, é favorável a esta interpretação, devendo equacionar-se a possibilidade de o suporte ter sofrido seccionamento na sua espessura; no contexto do reaproveitamento da pedra na base duma cantareira em forma de armário cavado na parede, a face posterior é a que servia para assentar os potes de água, tendo estado a face gravada embebida e assente na parede de alvenaria (Vasconcelos 1896, 218).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 63

(Alarcão 1979, 23-28; Mantas 1992, 488-491; Alarcão 2008, 31). Entre estes contam-se um aqueduto, um teatro, quiçá um anfiteatro e um arco honorífico (Mantas 1992, 502-510; Alarcão 2008, 37-57), sendo, porém, o forum a jogar papel fulcral no urbanismo de Aeminium, intersectando-se aí os dois principais eixos da cidade. O espaço foren- se remonta à época de Augusto, mas é ampliado (para sul e poente) em meados do século I, plausivelmente sob Cláudio, estruturando-se num modelo arquitectónico de basilica cum aede, a qual limitava a sua parte setentrional; nos restantes lados, a praça era fechada por cintura porticada corrida que teria, a nascente, comunicação com o exterior e se abriria para poente, tirando partido quer da topografia, quer da ce- nografia proporcionada pelo vale fluvial (Carvalho 1998; Alarcão et alii 2009). No seu interior, uma aula albergaria os retratos imperiais conhecidos (de Lívia, Agripina Maior, Vespasiano e Trajano, e, quiçá, também de Augusto, Cláudio e Agripina Menor), possivelmente situada em posição oposta à basílica (Alarcão et alii 2009, 69-71), em corres- pondência com o desenvolvimento de um programa escultórico público associado ao culto imperial. As escavações realizadas no criptopórtico em meados da década de 50 do século transacto exumaram, para além do material escultó- rico acima indicado, um pequeno altar (n.º 2), incompleto, dedicado precisamente ao genius basilicae (Oleiro 1955-1956, 154-157). Esta categoria de genii associados a espaços arquitectónicos concretos não é claramente a mais representada quando comparada com a dos concer- nentes a indivíduos ou divindades, como desde cedo tem sido notado pelos historiadores da religião antiga (u. g. Toutain 1907, 462-464). Apontam, todavia, para o culto a um ente divino cujos contornos não se afiguram de simples apreensão, remetendo para a totalidade das ca- racterísticas reunidas num ser ou entidade criada (OCD, 608-609, s. u. genius), como seja, neste caso concreto, a existência intrínseca ao edifício público especialmente dedicado à administração da justiça e a funções comerciais, funcionando como seu duplicado com caracte- rísticas tutelares (Schilling 1979, 430). Cronologicamente, o altar é situável numa fase já madura da história do espaço forense, decerto não anterior aos finais do século II, mas a sua incompletude não permite conhecer a autoria da dedicatória, que bem poderia ter sido de algum notável engrenado na vida política da urbe, atendo à especificidade do estabelecimento basilical. A integração na ábside da basílica, onde se instalaria o tribunal, é hipótese fortemente atractiva.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 64 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

Escavações mais recentes realizadas no criptopórtico puseram ainda a descoberto uma pequena cabeça de calcário mitrítico, verosi- milmente representando Vénus e datável do século I, que se encontra esgrafitada (n.º 15). A testa e faces encontram-se cobertas com vários alinhamentos de texto cuja leitura nem sempre resulta evidente, até por- que alguns dos caracteres são quase imperceptíveis (Carvalho 1998, 166-174). A sequência mais clara, quer pela dimensão dos caracteres quer pela profundidade da sua incisão, insere-se a meio da testa e pare- ce corresponder a uma identificação individual de tipo peregrino:Capi - to Cinae. Se o primeiro elemento antroponímico é frequente nos meios provinciais peninsulares, quer como idiónimo, quer como cognome (Abascal 1994, 316-317; Grupo Mérida 2003, 133-134), o segun- do é claramente inusitado na Hispânia se o olharmos como grafia não geminada de Cinna (Abascal 1994, 328), cognome bem conhecido, nomeadamente associado aos L. Cornelii Cinnae, pai e filho, renoma- dos aristocratas ligados a episódios famosos da história republicana, nomeadamente o massacre dos apoiantes de Sula e o assassinato de César (Bennett 1923; Syme 1939). O facto de, do ponto de vista se- mântico, ambos os nomes apontarem para particularidades físicas de conotação depreciativa7 levou a que se interpretassem como manifes- tação pejorativa relacionada com as características da obra escultórica, incisa em época em que esta teria perdido a sua importância e signifi- cado originais, resultando em expressão iconoclasta que indiciaria o declínio dos cultos clássicos em Aeminium durante os séculos III e IV (Carvalho 1998, 174). Considerar a utilização desta cabeça enquanto suporte de gravação como indício de perda de funcionalidade da mesma pode ser interpretação admissível, mas não definitiva. Afigura-se ain- da mais difícil aceitar o carácter de mera expressão pejorativa, até do ponto de vista sintáctico, pelo que se torna mais simples a consideração de ambos os termos como antropónimos que compõem uma estrutura onomástica peregrina, quiçá fictícia. Esta percepção poderá sair refor- çada pelo facto de se equacionar o seu acompanhamento pelo adjectivo uatius, que remete para uma deformação dos membros inferiores, em concreto para o chamado joelho em tesoura. Estar-se-ia, assim, em face

7 Kajanto (1965, 106-107) associa o antropónimo Cinna ao nome latino primitivo cinna “careta, distorção facial”, rara variante de cinnus. Por seu turno, Capito é também enquadrável numa categoria de nomes que remetem para particularidades físicas, no caso aludindo à cabeça desenvolvida (ibidem, 235).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 65 de uma acção danosa anónima que resultou na depredação da escultura? A dimensão da cabeça sugere uma estátua relativamente pequena, com aproximadamente 1,30 m, que já se sugeriu poder ter estado associada a uma fonte integrada no complexo forense (Gonçalves 2007, 215), pelo que, num contexto de maior acessibilidade, a associação dos gra- fitos a pequenos actos de vandalismo não se nos afiguraria- interpre tação despropositada8. Pode aquela nomenclatura e a possibilidade de se encontrar o termo plebs em dativo a antecedê-la representar algum significado político? Evidentemente, os grafitos da peça implicam um mais aturado estudo que não podemos realizar neste contexto9, mas a ideia de vandalização da escultura afigura-se verosímil, não sendo certo que a sua descoberta no piso superior do criptopórtico corresponda a um enquadramento secundário decorrente de perda de funcionalidade por esse motivo, uma vez que os restantes elementos escultóricos que se conhecem associados ao forum foram igualmente exumados nesta construção que lhe serve de embasamento. A ampliação do forum implicou também uma reformulação da malha urbana estruturante da arquitectura da cidade, como se comprova na área a poente deste espaço, onde, em época augustana, terá existi- do edifício relacionado com o tratamento de tecidos (Silva 2011), mas continua a ser limitado o conhecimento do urbanismo, sendo certo que a ortogonalidade dos arruamentos não terá sido regra (Mantas 1992, 507-508; Alarcão 2008, 57-59). Noutros pontos da cidade romana, nomeadamente à frente da Sé Velha e no Pátio da Universidade, há registo da arquitectura doméstica da urbe (Correia 1946, 112-113; Ca- tarino e Filipe 2003; Filipe 2006, 345-350; Alarcão 2008, 63-64), mas todas as restantes inscrições por ora conhecidas se relacionam com pontos periféricos10.

8 Construído de encosto à fachada ocidental do forum claudiano, um fontanário público integrava uma praceta contígua e, a nascente, no exterior do quadrante nordeste do mesmo espaço forense, associado ao cardus que antecedia a entrada principal, terá existido um arranjo urbanístico para o qual já foi sugerido, caso aquele eixo principal não tenha corrido imediatamente paralelo à fachada monumental, que pudesse ter contemplado um ajardinamento beneficiado com edificações relacionadas com a água (Carvalho et alii 2009, 85-87). 9 As observações ora realizadas resultam exclusivamente da análise da documen- tação publicada, sendo fundamental realizar novo estudo autóptico. 10 Há, todavia, notícia do aparecimento de uma inscrição, supostamente romana,

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 66 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

As necrópoles associavam-se comummente aos eixos viários. É plausível ter existido uma necrópole ligada à via Olisipo-Bracara Au- gusta (Itin. Anton., 420, 8 a 422, 1) – que passava na área ribeirinha, não longe da zona portuária fluvial (Mantas 1992, 500) – a situar por altura do troço final da rua da Sofia (ibidem, 500) ou quiçá na praça Velha (Alarcão 2008, 36-37), mas não se conhece evidência arqueológica ou epigráfica que se lhe associe. As inscrições funerárias deAeminium sur- giram todas entre a área do antigo castelo e a porta da Traição/Genicoca (Correia 1946, 13-23; Mantas 1992, 501; Alarcão 2008, 31 e 253), pelo que se relacionam com uma necrópole ligada a outro importante eixo viário que se desenvolvia acompanhando o aqueduto e conectava a cidade e a ciuitas cuja capital se associa a Bobadela (Mantas 1992, 510; Alarcão 2008, 36). A necrópole situar-se-ia a ocidente da estru- tura hidráulica de abastecimento da cidade, na área do Colégio de São Bento e Jardim Botânico (Correia 1946, 17). Na ausência de registo arqueológico que elucide, no mínimo, so- bre distintas linhas de estudo (tipos de sepultura, rituais...), pouco ou nada se poderá adiantar sobre a organização interna e social deste espa- ço dedicado aos mortos. A sua localização excêntrica relativamente ao núcleo urbano é a única garantia, contando-se para a sua caracterização apenas com os suportes dos epitáfios conhecidos, cuja tipologia permite imaginar uma diversidade grande de soluções referentes aos espaços funerários e a uma provável hierarquização interna relacionável com níveis socioeconómicos e culturais diferenciados. Decerto haveria um parcelamento que conformaria recintos dedicados à finalidade funerária nos quais se acomodariam alguns dos sepultamentos, como se poderá inferir da epigrafia, que, com certeza, conviveriam com núcleos menos formalizados. Apenas desconhecemos o suporte de duas (n.os 6 e 11) das doze epígrafes funerárias associadas à necrópole. Entre os monumentos identificáveis, contam-se diversos tipos, com destaque para os cipos prismáticos de grandes dimensões (n. os 4, 5 e 12), cupas (n.os 3 e 9) e caixas cinerárias (n.os 8 e 10), havendo registos únicos que incluem espécimes diferentes: uma ara (n.º 13), uma placa (n.º 14) e um bloco arquitectónico (n.º 7).

a poente do forum, numa casa da rua das Fangas (actual rua de Fernandes Tomás), es- tando hoje perdida, sem que se conheça a sua natureza (Simões 1888, 19).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 67

Os grandes cipos prismáticos de Aeminium são todos integráveis no século II. O cipo de Allia Vagellia Auita (n.º 12), datável da segunda metade desta centúria, foi pensado por Le Roux e Fabre (1971, 127) com a função de pedestal que acolheria uma estátua, considerando que abre o epitáfio a expressãoin honorem, a qual surge também em suporte idêntico de Conimbriga (FC II 60), apontando para uma produção re- lacionável com uma mesma oficina lapidária. Esta opção interpretativa veio a ser considerada para os monumentos de Conimbriga deste tipo, no qual se incluem duas referências a suportes desaparecidos (FC II 57 e 71) e um pequeno fragmento (FC II 33), valorizando a existência de um dente de ferro11 no topo deste e de um entalhe no do primeiramente referido (Étienne et alii, 1976, 208-210). É certo que relativamente ao cipo de Allia Vagellia Auita não se conservam semelhantes indícios no topo (Fernandes 1998-1999, 145), mas a sua conformação prismática, a mesma dos cipos de Cadius Carianus (n.º 4) e de G. Iulius Maternus (n.º 5), apela ao entendimento destes suportes como elementos que se completariam por bases e coroamentos volantes, estruturando, assim, se não pedestais, altares não monolíticos (Bonneville, 1984, 135). A mesma cronologia parece ter o altar de Vagellia Rufina iunior (n.º 13), olhando à qualidade do trabalho de gravação e à similitude paleográ- fica, pelo que remeterá, possivelmente, para a integração num recinto funerário familiar, destacando-se a diferença de escala entre os dois monumentos que teriam, num mesmo espaço, destaques verosimilmen- te distintos, lembrando, como à frente se verá, mãe e filha. Dois outros monumentos salientam-se pela sua forma semicilín- drica e desenvolvimento horizontal. São claramente cupae solidae, isto é, líticas, que ostentam as inscrições funerárias no plano vertical duma das faces longas. Num dos casos, a inscrição que memoria um escravo de Allius Auitianus (n.º 9) parece ocupar a toda a largura a parte superior desse plano sem se inscrever em espaço especialmente reservado para esse efeito, enquanto que noutro, o epitáfio, referente a um Aurelius Rufinus (n.º 3), é acolhido em cartela rectangular rebai- xada e delimitada por moldura que no mesmo plano surge centrada, ainda que as abreviaturas da consagração aos deuses Manes se encon- trem deslocadas, nesse mesmo lado, para o topo arredondado. Este

11 A propósito deste fragmento não se deixa de equacionar que em alternativa a uma estátua pudesse suportar um coroamento independente (Étienne et alii, 1976, 61).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 68 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium particular tipo funerário marca a presença de uma sepultura que se desenvolve autonomamente sob o monólito (Bonneville 1981, 90), uma estruturação peculiar da moradia do defunto para a eternidade (Encarnação 2012, 438-440). A forma destas cupae, a lembrar cla- ramente miniaturizações de mausoléus de abóbada semicircular, como os que se reconhecem em múltiplas necrópoles, inclusive em Roma12, é a este propósito significativa. A caixa cinerária com repositório ovular de Iunia Peculiaris (n.º 8) é uma obra sóbria, apresentando, na face frontal, o epitáfio in- serto em tabula ansata que é flanqueada por rebordos com quatro pa- res de rosas unidas por tronco ondeante, resultando num produto de grande requinte que levou Virgílio Correia (1946, 21) a ver aí o brilho longínquo do trabalho da pedra que a região veio a demonstrar ao lon- go da história. Em oposição, não tem qualquer ornamento o cinerarium de Pub[li]c[iu]s Geni[alis] (n.º10), de receptáculo oblongo, ocupando a superfície vertical anterior apenas a inscrição. Faltam as tampas a ambos os monumentos, mas considerando, mesmo assim, que a sua di- mensão regularia pela das cupae antes referidas, não descartamos que pudessem dispor-se a céu aberto, eventualmente associados a recintos funerários fechados, pois os cineraria, mormente os de dimensão redu- zida, também poderiam utilizar-se integrados em edifícios funerários diversos (Di Stefano Manzella 1987, 88); tão-pouco que pudessem, inclusive, representar um tipo distinto de cupa funerária, que, à seme- lhança das olisiponenses (Campos 2012), fosse composto por duas par- tes, de que, neste caso, apenas teríamos a caixa paralelepipédica que se completaria com tampa de configuração semicilíndrica13. À semelhança do epitáfio deIunia Peculiaris, também o de Chry- sis (n.º 7) está gravado num campo em tabula ansata, aproximando-se, na organização decorativa, do primeiro, mas divergindo na temática vegetal, pois as rosas foram substituídas por folhas de hera. As carac- terísticas deste suporte, todavia, fazem pensar na sua integração numa construção arquitectónica funerária, que já se sugeriu aproximar-se de um jazigo torriforme exemplificado pelo hornillo de Santa Catalina da

12 Apenas a título meramente exemplificativo, podemos apontar a arquitectura da necrópole da uia Triumphalis (Liverani e Spinola 2006). 13 Refira-se que Fabre (1973, 124-125) considerou como cupa a peça com o epitáfio de Iunia Peculiaris (n.º 8) e, inclusive, o suporte que tem o de Chrysis (n.º 7), que corresponderá a um silhar.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 69 necrópole oriental de Baelo Claudia (Correia 1946, 17), sendo este maciço nos seus dois primeiros corpos e com nicho no terceiro corpo, que dispunha de cobertura piramidal (Prados Martínez 2015, 85-86). Outra construção funerária seria possível, como um túmulo em forma de altar ou uma torre, considerando a documentação destes tipos no Ocidente hispânico (cf. Santos e Carvalho 2008; Ribeiro 1982-1983, 333-340 e 446-449). Para esta necrópole de Aeminium, há ainda a referir uma placa (n.º 14) lembrando Modestus Modest[i f.], calcária tal como os restantes monumentos, que terá estado associada a algum tipo de construção fu- nerária mais desenvolvida. Considerando os suportes elencados, será aceitável pensar que a paisagem funerária da cidade não diferiria substancialmente da de outros ambientes urbanos do litoral centro-lusitano no respeitante aos tipos de monumentos, como se constará pelo paralelo olisiponense (Campos 2012, 465-467). E, também, que na mesma necrópole destas sepulturas de maior notoriedade, nas quais um epitáfio mantém viva a memória dos mais afortunados económica e socialmente, outras mais modestas e anónimas existiriam, sem mais que a terra amontoada. Mas as primeiras não se associam apenas a famílias que integraram o escol da urbe, juridicamente contrastadas pela posse da cidadania romana, já que igualmente aí se descortinam outros estatutos que abarcam não só a população livre, como também a servil ou com essa origem. As inscrições funerárias de Aeminium são a únicas fontes que te- mos à mão para o estudo da sociedade local e a sua análise permite a identificação de 28 indivíduos pela sua denominação, ainda que nem sempre disponhamos das respectivas estruturas onomásticas comple- tas14. Em termos de género, o número de homens supera o de mulheres na amostra, sendo exactamente o dobro (18 contra 9, havendo um caso em que não é possível a distinção). São os indivíduos com preeminência social, que, evidentemente, também decorre do seu estatuto jurídico, isto é, cidadãos romanos e seus libertos, os que maioritariamente surgem nas inscrições da necró-

14 Contabilizamos três indivíduos que apenas indirectamente se identificam por via das filiações, os quais distribuímos entre o grupo dos cidadãos romanos e o dos peregrini, respectivamente Allius Auitianus (n.º 9), [Al]buius (n.º 11) e Modest[us] (n.º 14). Excluímos a estrutura onomástica peregrina associada à escultura do criptopór- tico (n.º 15) pelas razões acima expostas.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 70 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium pole (71%). E nesta amostra, curiosamente, a percentagem de popu- lação servil (11%) não se distancia grandemente da representação da peregrina (18%), na qual também se considera a parcela correspondente a antigos escravos de peregrini. Na realidade, apenas consta um liberto associado à componente peregrina da população, Paratus Modest[i] Modesti fili lib. (n.º 14). Está referenciado como executor dos encargos referentes à sepultura do patrono, sendo mesmo possível que a sua libertação se tenha con- sumado com a morte deste e que os custos associados ao sepultamento tenham sido a compensação com ele acordada em vida (Le Roux e Fa- bre 1971, 123). Noutro epitáfio, é igualmente um liberto,Iulius Dexter, que se encarrega do memorial funerário do seu patrono (n.º 5), que lhe é destinado por duas filhas,Bouia Materna e Iulia Maxima. São estes os únicos casos em que se exprime declaradamente esse estatuto, pelo que as restantes identificações de liberti se sustentam na onomástica, con- siderando sobremodo a ocorrência de antroponímia de origem oriental, mas não só. O epitáfio de Iunia Peculiaris (n.º 8) é-lhe dedicado pelo filho, L. Iunius Rufus. Considerando a juventude da defunta, de apenas 22 anos, o facto de ambos partilharem o mesmo gentilício – evidencian- do, assim, que o dedicante será plausivelmente um filho natural – e a especificidade adjectival do seu cognome na sua acepção mais directa ou etimológica, conjectura-se uma origem servil para ela (Fabre 1973, 125). A restituição Pub[li]c[iu]s Geni[alis] referente ao nome do de- dicante (conjuntamente com Modes[tus], seu filho) de um dos monu- mentos funerários incompletos (n.º 10) é valorável como denunciadora de um plausível liberto público, considerando o gentilício em causa e, inclusive, o carácter adjectival e semântica do cognome, apesar de este constar largamente entre a população livre (Kajanto 1965, 260). Destacam-se, em epitáfios distintos (n.os 3 e 6, respectivamente), as nomenclaturas de Aurelius Musaeus e Albania Anchiale, pela inte- gração de cognomes de origem grega (Solin 2003, 420 e 1443), tratan- do-se em ambas as situações de dedicantes que homenageiam familia- res chegados: no primeiro caso, o filho, Aurelius Rufinus, a considerar cidadão romano de pleno direito e, no segundo, o marido, G. Kadius Melani[us] (?), cujo cognome restituído reflectirá a mesma origem lin- guística (ibidem, 750 e 1478). Esta última inscrição é particularmente interessante, uma vez que na homenagem intervirá, ao lado daquela mulher, o irmão do defunto, G. Kadius Saluianus, tendo, decerto, igual

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 71 estatuto libertino e vinculação a um mesmo patrono, como aponta a partilha do gentilício15. A importância comercial e portuária da cidade (Mantas 1992, 500; Blot 2003, 210-211; Alarcão 2008, 25-27) terá sido, decerto, responsável pela projecção do meio libertino local, nomeadamente com ligações extrapeninsulares, como poderá acontecer neste último caso (Lucas 1989, 175, 193 e 201). Um epitáfio incompleto gravado sobre umacupa (n.º 9) documen- ta indubitavelmente elementos da população servil: no caso, o escravo de um Allius Auitianus, representante de uma gens com outros teste- munhos na cidade, lembrado pela companheira, [A]moena, também ela seguramente de igual condição. A identificação apenas por um único nome, apesar de latino, aponta nesse sentido, sendo este mesmo critério que, da mesma forma, orienta para a interpretação de Chrysis (n.º 7) também como escrava, mas com o reforço de esta ostentar um antro- pónimo de origem grega (Solin 2003, 1226 e 1481). Este encontra-se singularmente gravado num bloco do monumento que para si mandou fazer, uma atitude peculiar que levou à concitação dos mais diversos pensamentos relativamente ao modo de vida desta mulher sonhada pelo apelo da semântica áurica do seu nome (Correia 1946, 17; Encarna- ção 1979, 179-180). Associados à população peregrina da cidade, apenas se contam dois epitáfios: um deles desaparecido e decerto bastante incompleto (n.º 11) identificaria, pelo menos, um indivíduo cujo idiónimo, con- trariamente ao seu patronímico, [Al]buius, de raiz indígena (Vallejo 2005, 123), não ousamos restituir; o outro, já o referimos anteriormente a propósito do liberto Paratus (n.º 14) e recordava um Modestus Mo- dest[i f.], seu patrono, cujo nome (Abascal 1994, 430-431) espelha bem os caminhos da adopção de onomástica latina por parte da po-

15 A possibilidade de o indivíduo que, conjuntamente com a viúva, participa nesta homenagem fúnebre ser o pai do defunto afigura-se-nos menos plausível, considerando a onomástica cognominal, quer do finado, quer da dedicante, denunciadora de provável estatuto libertino, já que tal apontaria no sentido de o marido falecido usufruir de um estatuto plenamente livre. A restituição do cognome do defunto com admissão da falta de letra no final parece-nos preferível – e justificável em face do número de caracteres das restantes linhas e do facto de o suporte estar incompleto acima dessa – à presunção de correspondência à forma Melas, atendendo à raridade deste nome na epigrafia (CIL X, 8148).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 72 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium pulação local, ainda que mais bem evidenciados entre a que alcançou estatuto privilegiado. A propósito da população servil ou com essa origem, já referimos algumas das gentes representadas na cidade, como a Allia, a Albania, a Aurelia e a Iunia. Mas outras, decerto até mais preeminentes na so- ciedade de Aeminium, de acordo com o investimento representado nos monumentos funerários que as denunciam, se notabilizam. Serão de destacar os Cadii, os Iulii e os Vagellii. A origem itálica dos Cadii e dos Vagellii tem sido posta em relevo (Lucas 1989; Fernandes 1998), bem como a sua aliança com famílias de extracção indígena. A gens Cadia representada num dos cipos que se destacam por especial requinte decorativo e técnico (n.º 4) manifesta aí o seu laço com o substrato local, considerando a nomenclatura da mãe de Ca- dius Carianus, falecido aos 21 anos, na qual sobressai um gentilício patronímico ou de origem patronímica, com clara raiz na onomástica autóctone (Vallejo 2005, 119-121), associado a um cognome latino de forte expressão em meios nativos da Lusitânia (Abascal 1994, 292- 295; Navarro et alii 2003, 410), apontando para Alleicea Auita uma ex- tracção indígena. Todavia, considerando que a inscrição que identifica dois Kadii de condição libertina (n.º 6) será cronologicamente anterior, interrogamo-nos se estes eventualmente não representarão o advento dessa gens à cidade. Independentemente da sua origem, autóctone ou alóctone com res- peito à urbe, a ligação dos Iulii16 de Aeminium com o substrato indígena acaba por se evidenciar, nomeadamente pela identificação de uma das filhas de G. Iulius Maternus que não apresenta o mesmo gentilício. O monumento que o memoria (n.º 5), também um notável cipo prismático com afinidades com o de Cadius Carianus, é mandado fazer por Bouia Materna e Iulia Maxima ao pai, mas apenas a segunda se afigura filha legítima, sendo provável que a primeira tenha nascido antes da concre- tização de uma união legal com a progenitora, recebendo um cognome decalcado do paterno e o gentilício desta, cuja homofonia relativamente à onomástica indígena (Vallejo 2005, 215) sugere vinculação à popu- lação local, algo que se afigura coerente com o que vislumbrámos com os Cadii e que também se manifesta com os Vagellii. Esta gens está documentada em dois epitáfios (n.os 12 e 13), tendo

16 Este é o gentilício mais difundido na Lusitânia (Grupo Mérida 2003, 407).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 73 eles relação estreita, pois ambos são fruto da intervenção dos mesmos dedicantes. As defuntas são mãe e filha, Allia Vagellia Auita e Vagellia Rufina iunior, tendo recebido cada uma seu monumento: um cipo pris- mático idêntico aos apontados anteriormente e uma ara, como acima se aludiu. Os dedicantes são, em ambos os casos, G. Allius Auitus, pai e avô, e Q. Siluanius Siluanus, marido e pai, respectivamente. O pri- meiro associa-se a família autóctone enraizada em ambas as margens do Mondego, pois também em Conimbriga se identificam Allii cuja pujança terá decorrido da posse de propriedade fundiária e da produção oleira (Étienne et alii 1976, 67; Encarnação 1979, 178; Fernandes 1998, 271-274). Mas também Q. Siluanius Siluanus terá extracção lo- cal, olhando à sua onomástica e, sobretudo, à constatação de que o seu gentilício é decalcado do cognome (Fernandes 1998, 263; Le Roux 2010, 198), um antropónimo que, para além de uma significativa re- presentação no Ocidente lusitano (Grupo Mérida 2003, 304-305), tem distintas ocorrências na vizinha Conimbriga (FC II 65 e 412). Todavia, o gentilício Vagellius, circunscrito, no contexto hispânico, a Aeminium, tem relação comprovada com a península itálica (Fernandes 1998, 274), sendo inclusive considerado como fóssil onomástico no quadro provincial (Navarro et alii 2003, 409). O relevo desta gens no con- texto local parece evidenciar-se de forma iniludível: desde logo pela circunstância de a nomenclatura de Allia Vagellia Auita incorporar ao lado do gentilício paterno essoutro que remete para a família da mãe, particularidade onomástica que é ainda reforçada pelo facto de à sua filha ter sido dado o nome de Vagellia Rufina iunior que, logicamente, parece evocar a avó. À primeira vista, este aspecto contrasta com a afirmação da paternidade por parte de Q. Siluanius Siluanus, pelo que já se entendeu que denotaria que Allia Vagellia Auita não se encontraria in manu do marido, mas sob a potestas do progenitor e que este, com a plausível morte da filha no contexto do parto, teria tomado a opção de dar à neta, supostamente falecida pouco depois, o nome da esposa, decisão que significaria, ainda, a assunção de um desnivelamento social importante com respeito ao genro (Le Roux e Fabre 1971, 127-129). O argumento jurídico vê-se, todavia, enfraquecido pelo facto de, mesmo no casamento sem manu, os filhos ficarem na potestas paterna (Evans- -Grubbs 2002, 21), pelo que será de privilegiar o entendimento de que o desnivelamento social, quiçá radicado numa naturalização recente do pai, eventualmente conseguida pela via do exercício das magistraturas locais no quadro do ius Latii, poderá ter ditado que, nesta manifesta-

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 74 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

ção epigráfica concreta – na qual se opta por um monumento também mais contido e a exigir alguma parcimónia quanto à mensagem, como revela a opção duonominal para os nomes do avô e do pai –, se tivesse preferido registar uma nomenclatura reduzida na qual se salientam os elementos onomásticos que remetem para os pergaminhos familiares associados à linhagem da avó, a gens Vagellia, plausivelmente de largo renome na cidade17. Será de realçar que uma das peculiaridades associadas à epigrafia funerária de Aeminium é a elegância da decoração quando esta surge como linguagem complementar aos epitáfios propriamente ditos, isto é, como parte integrante dos monumentos a permitir diversos níveis de leitura (Susini 1982, 54). Referimos a decoração de carácter vegetalista associada a cartelas em forma de tabula ansata em dois dos suportes (n.os 7 e 8), mas é nos cipos paralelepipédicos, que vimos associados às famílias dos Cadii, Iulii e Vagellii, que uma linguagem plástica muito própria se exibe e que não tem passado despercebida aos investigadores (Le Roux e Fa- bre 1971, 130; Encarnação 1979, 178-179; Fernandes 1998, 266). Para além da técnica atilada na execução dos tituli enquadrados em espaços delimitados por sóbria molduragem, estes suportes apre- sentam, lateralmente, representações singulares de objectos concretos cuja leitura releva para a linguagem que o leitor/transeunte que cruzava a necrópole era incitado a descodificar. Um traço comum a todos eles é a representação de instrumenta scriptoria, mas apenas no referente ao de Cadius Carianus (n.º 4) são exclusivos: de um lado, díptico a par de estojo com estiletes; do outro, volume aberto a par de estojo com cálamos. No suporte do epitáfio deG. Iulius Maternus (n.º 5) é-lhes re- servada apenas uma face, na qual pontuam, de cima para baixo, um vo- lume aberto, um estojo com estiletes e um díptico, enquanto que a outra recebe representações de objectos rituais não desusados nos monumen- tos funerários, que, de cima para baixo, são uma colher de cabo longo, uma pátera e um jarro. No cipo paralelepipédico de Allia Vagellia Auita (n.º 12), essa presença resume-se à representação de um díptico, que ocupa posição central numa das faces, entre a figuração de uma grinal-

17 Plausivelmente o nome completo remeterá para a mesma estratégia onomástica que de forma explícita ilustra o nome da mãe, com duplo cognome em que o primeiro corresponde a forma gentilícia que alarga a onomástica familiar.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 75 da e a de uma edícula com cátedra e banco no seu interior; na oposta, representam-se, de cima para baixo, um espelho, uma edícula contendo um cofre, um cesto e duas rocas, ladeada por dois fusos, e uma concha. Ainda que, em algumas situações, a figuração de utensílios possa ter uma ligação directa com a profissão dos defuntos, noutras ela não revestirá um significado tão estrito, mas, antes, actua como símbolo (Encarnação e Leal 1996, 176; Buonopane 2013). A reiterada repro- dução de instrumenta scriptoria nos monumentos de Aeminium18 tem decerto o valor simbólico de um ideal de cultura e instrução (Encar- nação 1979, 178) que pretendia significar a dignidade e superioridade social dos defuntos (Veyne 1989, 33). E esse registo metafórico sai reforçado quando essas representações se enlaçam com outras, quer de maior pendor funerário, como os objectos rituais (simpulum, patera e urceus), quer afins, como a cátedra, ou quer, ainda, com as que remetem para o recato feminino, como ocorre na gramática decorativa mais pro- fusa do último exemplo, do qual transpira uma leitura moral associada à sabedoria e cultura, à beleza sóbria e discreta, à pudicícia e à reserva da mulher que bem metaforiza a alusão ao lanificium como ideal matronal (Gourevitch e Raepsaet-Charlier 2005, 87)19. Representa esta iconografia, numa leitura estritamente ideológica, adesão manifesta aos ideais da cultura greco-romana por parte dos seus utilizadores, os grupos familiares que memoriam os seus entes queri- dos, neste caso representantes do escol urbano. A epigrafia da cidade romana de Aeminium que hoje temos pos- sibilidade de contemplar, apesar de não muito abundante, permite-nos, como fomos vendo, alicerçá-la no cenário histórico da urbe que, pela via da Arqueologia, se vai delineando, reforçando-o pelo esboço so- cioeconómico, cultural e ideológico que ajuda a traçar. Em suma, a leitura total dos diferentes suportes epigráficos e da sua inserção no espaço urbano a par da análise dos conteúdos escritos e da iconografia proporcionam mais algumas achegas para a história dessa Aeminium cuja localização sobranceira ao Munda é também hoje indiscutível por esta via.

18 Também em Conimbriga há registo de dois monumentos funerários idênticos e com este tipo de decoração (FC II 57 e 71). 19 A iconografia destes suportes, pela sua importância específica e também pelas limitações inerentes ao presente artigo, será objecto de análise mais desenvolvida em subsequente trabalho.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 76 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

APÊNDICE: inscrições romanas de Aeminium

[AAPÊNDICE: apresentação inscrições de cada umaromanas das epígrafes de Aeminium inclui:. nota referente ao achado; menção ao[A apresentaçãotipo de suporte, de cada às uma suas das dimensões epígrafes inclui: gerais nota e referentenatureza ao material; achado; menção proposta ao tipo de de datação; suporte, leituraàs suas dodimensões texto; egerais referências e natureza bibliográficas.] material; proposta de datação; leitura do texto; e referências bibliográficas.] APÊNDICE: inscrições romanas de Aeminium. [A1.1. apresentaçãoHomenagem de cadada ciuitasda uma ciuitas das Aeminiensis epígrafes Aeminiensis inclui: a notaConstâncio referente a Constâncio aoCloro achado;. menção Cloro. ao tipo de suporte, àCasaCs asasuas particular particulardimensões quegerais que integra e integravanaturezava a torremateria a dtorrel;e Ppropostare cdeón ioPrecónio de (demolição datação; (demoliçãoleitura em 1888)do texto. Pedestal;em e referências 1888). (?); bibliográficas.] PedestalAPÊNDICE:[130]x[47]x[13]; (?); inscrições [130]x[47]x[13]; calcário .romanas 305-306. de calcário. Aeminium 305-306.. [A apresentação de cada uma das epígrafes inclui: nota referente ao achado; menção ao tipo de suporte, 1.às Homenagemsuas dimensões dagerais ciuitas e natureza Aeminiensis material; aproposta Constâncio de datação; Cloro leitura. do texto; e referências AT AUGMENTUM / [R]EI : PUB(blicae) : NATO [DI]/LECTOQUE : PRIN/[C]IPI : Cbibliograsa particularáficas.] que integrava a torre de Precónio (demolição em 1888). Pedestal (?); D(omino) N(ostro) FLAUIO / UAL(erio) : CONSTANTIO / [PI]O FELICI [130]x[47]x[13]; calcário. 305-306. INUICTO : AU/[G]USTO : PONT(ifici) : MAX(imo) / [T]RIB(unicia) : POT(estate) 1. Homenagem da ciuitas Aeminiensis a Constâncio Cloro. : P(atri) : P(atriae) : PROCON(suli) / [CIU]ITAS AEMINIENS[IS] ACTasa AUGMENTU particular queM /integra [R]EI va: PUB(blicae) a torre de P re: cNATOónio (demolição [DI]/LECTOQUE em 1888) : PRI. PedestalN/[C]IPI (?) ;:

D(omino)[130]x[47]x[13]; N(ostro) calcário FLAUIO. 305-306. / UAL(erio) : CONSTANTIO / [PI]O FELICI Figueiredo 1888a e 1888c; CIL II 5239; Vasconcelos 1896; Castro 1930; MMCSAA, INUICTOFigueiredo : A 1888a[G]USTO e 1888c;: PONT(ifici) CIL II: MA 5239(imo) (e add.,/ [T] IB(unicia)1031); Vasconcelos : POT(estate) 9, n.º 14; CorreiaU/ 1946, 27-29; Rodrigues 1959X -1960, 113R-114, n.º 1; ILER 1218 e :1896;A P(atri)T AUGMENTU Castro : P(atriae) M1930; :/ PRO [R] ECOMMCSAAI : PUB(blicae)N(suli) /, [CI9, U] : n.ºNATOITAS 14; AEMINIENS[IS] [DCorreiaI]/LECTOQUE 1946, : PRI27-29;N/[C]IPI Ro -: D(omino)1236; Encarnação N(ostro) 1979, FLAUIO 173-176 ; /Henriques UAL(erio) 1993 : , 129CONSTANTIO-130, n.º 12. / [PI]O FELICI drigues 1959-1960, 113-114, n.º 1; ILER 1218 e 1236; Encarnação INUICTO : AU/[G]USTO : PONT(ifici) : MAX(imo) / [T]RIB(unicia) : POT(estate) Figueiredo 1888a e 1888c; CIL II 5239; Vasconcelos 1896; Castro 1930; MMCSAA, 1979,: P(atri) 173-176; : P(atriae) Henriques : PROCON(suli) 1993, / [CI 129-130,U]ITAS AEMINIENS[IS] n.º 12. 9,2. n.ºÁrula 14; dedicadaCorreia 1946, ao Génio 27-2 da9; Rodriguesbasílica. 1959-1960, 113-114, n.º 1; ILER 1218 e

1236Criptopórtico; Encarnação (obras 1979, de 1955 173--1761956); Henriques. Árula; [18,2]x11,2x?; 1993, 129-130, calcário. n.º 12. 175-250. Figueiredo 1888a e 1888c; CIL II 5239; Vasconcelos 1896; Castro 1930; MMCSAA,

9, n.º 14; Correia 1946, 27-29; Rodrigues 1959-1960, 113-114, n.º 1; ILER 1218 e 2.GIINIO Árula / BASELE/ dedicadaCAE ao (!) GénioS/[ACRUM da ?]basílica. / [--- 2.1236 Árula; Encarnação dedicada 1979, ao Génio 173- 176da basílica; Henriques 1993, 129-130, n.º 12. Criptopórtico (obras de 1955-1956).. Árula; [18,2]x11,2x?; calcário. Criptopórtico (obras de 1955-1956). Árula; [18,2]x11,2x?; calcário. 175-250. 175-250. Oleiro 1955-1956, 156; AE 1959, 112; HAE 1558; ILER 549; Le Roux e Fabre 1971, 118-121, n.º 2; AE 1972, 243; Encarnação 1979, 176; RAP 257; Henriques 1993, 123- GIINIO2. Árula / dedicadaBASELE/ aoAE Génio (!) /[ACRUM da basílica?] . / [--- 124, n.º 1. C S Criptopórtico (obras de 1955-1956). Árula; [18,2]x11,2x?; calcário. 175-250.

Oleiro 1955-1956, 156; AE 1959, 112; HAE 1558; ILER 549; Le Roux e Fabre 1971, GIINIO / BASELE/CAE (!) S/[ACRUM?] / [--- 11Oleiro3. 8Epitáfio-121, n.º1955-1956, de 2; AureliusAE 1972, 156;Rufinus 243; AEEncarnação. 1959, 112; 1979, HAE 176; RAP1558; 257; ILER Henriques 549; Le1993, Roux 123-

124,Alicerce n.º 1. do terreiro do castelo (demolição em 1773). Cupa; 54x75x31; calcário. 131- eOleiro Fabre 1955 1971,-1956, 118-121, 156; AE 1959, n.º 2; 112; AE HAE 1972, 155 8243;; ILER Encarnação 549; Le Roux e1979, Fabre 176;1971, 200. RAP118-121, 257; n.º Henriques2; AE 1972, 243; 1993, Encarnação 123-124, 1979, n.º 1761. ; RAP 257; Henriques 1993, 123-

124, n.º 1. 3.D(is) Epitáfio ∏ M(anibus) de Aurelius ∏ RufinusS(acrum). / AURELIO : RUFINO / ANN(orum) ∏ XUII /

AAURELIUSlicerce do terreiro: MUSAEUS do castelo / FILIO (demolição : PIISSI{:} MOem 1773) : F(aciendum). Cupa; 54x75x31; : C(urauit) calcário. 131- 200. 3. Epitáfio de Aurelius Rufinus. 3. Epitáfio de Aurelius Rufinus. AlicerceCIL II 368 do(e Sterreiroupl., 815); do Campos castelo 1874 (demolição-1875, 232, em n.º 31773). = 1877, Cupa; 6, n.º 3;54x75x31; Figueiredo D(is)Alicerce ∏ M(anibus)do terreiro do∏ casteloS(acrum) (demolição / AURELIO em 1773) : RUFINO. Cupa; / 54x75x31; ANN(orum calcário.) ∏ XUII 131 /- 1884, 81, n.º 3; Simões 1879, 14 = 1888, 17; MMCSAA, 5, n.º 8; Correia 1946, 15-16; AURELIUScalcário.200. 131-200. : MUSAEUS / FILIO : PIISSI{:}MO : F(aciendum) : C(urauit) Rodrigues 1959-1960, 117-118, n.º 7; ILER 4174; Encarnação 1979, 176; Henriques 1993, 124, n.º 2. CILD(is) II ∏368 M(anibus) (e Supl., 815);∏ S(acrum) Campos /1874 AURELIO-1875, 232, : RUFINO n.º 3 = 1877,/ ANN(orum 6, n.º 3; )Figueiredo ∏ XUII / AURELIUS : MUSAEUS / FILIO : PIISSI{:}MO : F(aciendum) : C(urauit) 1884, 81, n.º 3; Simões 1879, 14 = 1888, 17; MMCSAA, 5, n.º 8; Correia 1946, 15-16;

Rodrigues4. Epitáfio 1959 de Cad-1960ius, Caria117-118,nus . n.º 7; ILER 4174; Encarnação 1979, 176; Henriques CIL II 368 (e Supl., 815); Campos 1874-1875, 232, n.º 3 = 1877, 6, n.º 3; Figueiredo 1993,Lanço 124, de muralhan.º 2. junto ao Arco da Traição (demolição em 1878). Cipo prismático; CIL1884, II81, 368 n.º 3;(e Simões Suppl 1879,., 815); 14 = Campos 1888, 17; 1874-1875,MMCSAA, 5, n.º232, 8; Correia n.º 3 =1946, 1877, 15- 16;6, 106x46x33; calcário. 131-200. Rodrigues 1959-1960, 117-118, n.º 7; ILER 4174; Encarnação 1979, 176; Henriques

1993, 124, n.º 2. 4Conimbriga,D(is). Epitáfio ∏ M(anibus) de 55Cad (2016)ius ∏ Caria S(acrum) 57-89nus. / CADIO / CARIANO / ANN(orum) ∏ XXI / L anço de muralha junto ao Arco da Traição (demolição em 1878). Cipo prismático; ALLEICEA / AUITA MATER / FILIO : FAC(iendum) : C(urauit) : / DIC : ROGO 106x46x33; calcário. 131-200. QUI TRANSIS SIT : TIBI : / TERRA : LEUIS 4. Epitáfio de Cadius Carianus. D(is)L anço ∏ de M(anibus) muralha junto ∏ S(acrum) ao Arco da / TraiCADIOção (demolição/ CARIANO em / 1ANN(orum)878). Cipo prismático ∏ XXI /; A106x46x33;LLEICEA / calcário. AUITA 131MATER-200. / FILIO : FAC(iendum) : C(urauit) : / DIC : ROGO QUI TRANSIS SIT : TIBI : / TERRA : LEUIS D(is) ∏ M(anibus) ∏ S(acrum) / CADIO / CARIANO / ANN(orum) ∏ XXI / ALLEICEA / AUITA MATER / FILIO : FAC(iendum) : C(urauit) : / DIC : ROGO QUI TRANSIS SIT : TIBI : / TERRA : LEUIS

APÊNDICE: inscrições romanas de Aeminium. [A apresentação de cada uma das epígrafes inclui: nota referente ao achado; menção ao tipo de suporte, às suas dimensões gerais e natureza material; proposta de datação; leitura do texto; e referências bibliográficas.]

1. Homenagem da ciuitas Aeminiensis a Constâncio Cloro. Casa particular que integrava a torre de Precónio (demolição em 1888). Pedestal (?); [130]x[47]x[13]; calcário. 305-306.

AT AUGMENTUM / [R]EI : PUB(blicae) : NATO [DI]/LECTOQUE : PRIN/[C]IPI : D(omino) N(ostro) FLAUIO / UAL(erio) : CONSTANTIO / [PI]O FELICI INUICTO : AU/[G]USTO : PONT(ifici) : MAX(imo) / [T]RIB(unicia) : POT(estate) : P(atri) : P(atriae) : PROCON(suli) / [CIU]ITAS AEMINIENS[IS]

Figueiredo 1888a e 1888c; CIL II 5239; Vasconcelos 1896; Castro 1930; MMCSAA, 9, n.º 14; Correia 1946, 27-29; Rodrigues 1959-1960, 113-114, n.º 1; ILER 1218 e 1236; Encarnação 1979, 173-176; Henriques 1993, 129-130, n.º 12.

2. Árula dedicada ao Génio da basílica. Criptopórtico (obras de 1955-1956). Árula; [18,2]x11,2x?; calcário. 175-250.

GIINIO / BASELE/CAE (!) S/[ACRUM?] / [---

Oleiro 1955-1956, 156; AE 1959, 112; HAE 1558; ILER 549; Le Roux e Fabre 1971, 118-121, n.º 2; AE 1972, 243; Encarnação 1979, 176; RAP 257; Henriques 1993, 123- 124, n.º 1.

3. Epitáfio de Aurelius Rufinus. Alicerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Cupa; 54x75x31; calcário. 131- 200.

ArmandoD(is) ∏ M(anibus) Redentor ∏ S(acrum)Sobre a Epigrafia / AURELIO Romana : RUFINO de Aeminium / ANN(orum) ∏ XUII77 / AURELIUS : MUSAEUS / FILIO : PIISSI{:}MO : F(aciendum) : C(urauit) n.º 3; Figueiredo 1884, 81, n.º 3; Simões 1879, 14 = 1888, 17; MMC- CIL II 368 (e Supl., 815); Campos 1874-1875, 232, n.º 3 = 1877, 6, n.º 3; Figueiredo SAA1884,, 81,5, n.º 3;8; Simões Correia 1879, 1946, 14 = 1888, 15-16; 17; MMCSAARodrigues, 5, n.º 1959-1960, 8; Correia 1946, 117-118, 15-16; n.ºRodrigues 7; ILER 1959 4174;-1960 Encarnação, 117-118, n.º 7; 1979,ILER 4174; 176; EncarnaçãoHenriques 1979, 1993, 176 124,; Henriques n.º 2. 1993, 124, n.º 2.

4. Epitáfio de Cadius Carianus. 4. Epitáfio de Cadius Carianus. LançoLanço de de muralha muralha junto junto ao Arco ao Arco da Trai dação Traição (demolição (demolição em 1878 )em. Cipo 1878). prismático Cipo; prismático;106x46x33; calcário. 106x46x33; 131-200. calcário. 131-200.

D(is) ∏ M(anibus) ∏ S(acrum) / CADIO / CARIANO / ANN(orum) ∏ XXI / ALLEICEA / AUITA MATER / FILIO : FAC(iendum) : C(urauit) : / DIC : ROGO QUI TRANSIS SIT : TIBI : / TERRA : LEUIS

CIL II 5241; Campos 1880-1881, 198, n.º 16 = 1883, 5, n.º 16; Figueire- do 1884, 82, n.º 6; Simões 1879, 15 = 1888, 19; Figueiredo 1888d; MM- CILCSAA II 5241, 6, n.º; Campos 9; Correia 1880- 1881,1946, 198, 20-21; n.º 16 Rodrigues = 1883, 5, n.º 1959-1960, 16; Figueiredo 121, 1884, n.º 12;82, n.º 6; Simões 1879, 15 = 1888, 19; Figueiredo 1888d; MMCSAA, 6, n.º 9; Correia 1946,ILER 203793;-21; Rodrigues Encarnação 1959-1960 1979,, 121 178-179;, n.º 12; ILER Lucas 3793 1989,; Encarnação 175-178, 1979, n.º 17 2;8- 179Henriques; Lucas 1989, 1993, 175 124-125,-178, n.º 2; n.º Henriques 3; Encarnação 1993, 124- 125e Leal, n.º 3 1996,; Encarnação 178, n.º e Leal 4. 1996, 178, n.º 4.

5. Epitáfio de G. Iulius Maternus. 5. Epitáfio de G. Iulius Maternus. JJuntounto aoao castelo, nasnas ruínasruínas dada couraçacouraça de de LisboaLisboa (1 (1774).774). Cipo Cipo prismático prismá-; 117x49x36;tico; 117x49x36; calcário. calcário.101-200. 101-200.

D(is) ∏ M(anibus) ∏ S(acrum) / G(aii) : IULI / MATERNI / ANN(orum) : LXIIII / BOUIA : MA/TERNA : ET / IULIA : MA/XIMA : PATRI / PIISSIMO / F(aciendum) C(urauerunt) / CURANTE / IULIO DEX/TRO LIBER/TO OB MERI/TA : PATRONI

CIL II 378; Campos 1874-1875, 234-235, n.º 5 = 1877, 7-9, n.º 5; Figueiredo 1884, 81,CIL n.º II 4; 378 Figueiredo (e Suppl. 1886,, 815); 257-258 Campos; Simões 1874-1875, 1879, 14-15 = 234-235, 1888, 18-19; n.º MMCSAA 5 = 1877,, 5, n.º7-9, 6 ;n.º Correia 5; Figueiredo 1946, 19-20; 1884, Rodrigues 81, n.º 1959 4; -Figueiredo1960, 120-121, 1886, n.º 1 1257-258;; ILER 3949; Si- Encarnaçãomões 1879, 1979, 14-15 178 ; =Henriques 1888, 18-19; 1993, 12 MMCSAA5-126, n.º 4;, Encarnação5, n.º 6; Correia e Leal 199 61946,, 178, n.º 3. 19-20; Rodrigues 1959-1960, 120-121, n.º 11; ILER 3949; Encarna- ção 1979, 178; Henriques 1993, 125-126, n.º 4; Encarnação e Leal 61996,. Epitáfio 178, de n.º G. 3.Kadius Melanius (?). Muralha do castelo (século XVI?). Calcário (?). 75-150.

---] / G(aio) : K[A]DIO : ˹MI˺ILANI[O]?/ ANN(orum) : XXXUI / G(aius) : K6.[A Epitáfio]DIUS : S ALde G.UIANUS Kadius / F( Melaniusratri) : ET (?).: ALBANIA / ANCHIALE : MARITO / F(aciendum)Muralha do C(uraucasteloerun (séculot) : S(it) XVI?). : T(ibi) Calcário : T(erra) :(?). L(euis) 75-150.

CILConimbriga, II 380; ILER 55 4872(2016); Encarnação 57-89 1979, 178; Lucas 1989, 173-175, n.º 1; Henriques 1993, 126, n.º 5.

7. Epitáfio de Chrisys. Alicerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Bloco arquitectónico; 48x[81]x43; calcário. 75-150.

CHRISYS SIBI / POSUIT

CIL II 374 (e Supl., 815); Campos 1874-1875, 229, n.º 1 = 1877, 5, n.º 1; Figueiredo 1884, 80, n.º 1; Simões 1879, 14 = 1888, 17; MMCSAA, 2, n.º 9; Correia 1946, 13-15; Rodrigues 1959-1960, 121-122, n.º 13; ILER 3681; Encarnação 1979, 176 e 179-180; Henriques 1993, 126-127, n.º 6.

8. Epitáfio de Iunia Peculiaris. Lanço de muralha junto ao Arco da Traição (demolição em 1878). Caixa cinerária; 35x77x43; calcário. 75-150. CIL II 5241; Campos 1880-1881, 198, n.º 16 = 1883, 5, n.º 16; Figueiredo 1884, 82, n.º 6; Simões 1879, 15 = 1888, 19; Figueiredo 1888d; MMCSAA, 6, n.º 9; Correia 1946,CIL II 20 5241-21; CamposRodrigues 1880 1959-1881,-1960 198,, 121 n.º, n.º 16 12 = ;1883 ILER, 5,3793 n.º ;16 Encarnação; Figueiredo 1979, 1884, 17 82,8- 179n.º ;6; Lucas Simões 1989, 1879, 175 15-178, = 1888,n.º 2; 1Henriques9; Figueiredo 1993, 188 1248d;-125 MMCSAA, n.º 3; Encarnação, 6, n.º 9; Correia e Leal 1991946,6, 178,20-21 n.º; Rodrigues4. 1959-1960, 121, n.º 12; ILER 3793; Encarnação 1979, 178- 179; Lucas 1989, 175-178, n.º 2; Henriques 1993, 124-125, n.º 3; Encarnação e Leal 1996, 178, n.º 4. 5 . Epitáfio de G. Iulius Maternus. J unto ao castelo, nas ruínas da couraça de Lisboa (1774). Cipo prismático; 117x49x36;5. Epitáfio decalcário. G. Iulius 101 Maternus-200. . Junto ao castelo, nas ruínas da couraça de Lisboa (1774). Cipo prismático; D(is)117x49x36; ∏ M(anibus) calcário. ∏ 101 S(acrum)-200. / G(aii) : IULI / MATERNI / ANN(orum) : LXIIII / BOUIA : MA/TERNA : ET / IULIA : MA/XIMA : PATRI / PIISSIMO / FD(is)(aciendum) ∏ M(anibus) C(urau ∏erun S(acrum)t) / CURANT/ G(aii) : EIULI / IULIO/ MATERNI DEX/TRO / ANN(orum) LIBER/TO : L XOBIIII MERI/TA/ BOUIA : PATRONI: MA/TERNA : ET / IULIA : MA/XIMA : PATRI / PIISSIMO / F(aciendum) C(urauerunt) / CURANTE / IULIO DEX/TRO LIBER/TO OB CILMERI/TA II 378; : PATRONICampos 1874 -1875, 234-235, n.º 5 = 1877, 7-9, n.º 5; Figueiredo 1884, 81, n.º 4; Figueiredo 1886, 257-258; Simões 1879, 14-15 = 1888, 18-19; MMCSAA, 5, n.ºCIL 6 II; Correia378; Campos 1946, 187419-20;-1875, Rodrigues 234-235, 1959 n.º 5-1960 = 1877,, 120 7--121,9, n.º n.º 5; Figueiredo11; ILER 31884,949; Encarnação81, n.º 4; Figueiredo 1979, 178 1886,; Henriques 257-258 1993,; Simões 125 -1879,126, n 14.º 4-15; Encarnação = 1888, 18 -e19; Leal MMCSAA 1996, 178,, 5, n.ºn.º 36. ; Correia 1946, 19-20; Rodrigues 1959-1960, 120-121, n.º 11; ILER 3949; Encarnação 1979, 178; Henriques 1993, 125-126, n.º 4; Encarnação e Leal 1996, 178, n.º 3. 678 . Epitáfio de G. KadiusArmando Melani Redentorus (?). Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium M uralha do castelo (século XVI?). Calcário (?). 75-150. 6. Epitáfio de G. Kadius Melanius (?). ---Muralha] / G(ai do casteloo) : K (século[A]DIO XVI?): ˹MI.˺ CILANIalcário[O] (??/). 75ANN(orum)-150. : XXXUI / G(aius) : K [A]DIUS : SALUIANUS / F(ratri) : ET : ALBANIA / ANCHIALE : MARITO / F(aciendum)---] / G(aio )C(urau : K[Aerun]DIOt) : : S(it)˹MI˺ ILANI: T(ibi)[O] : ?T(erra)/ ANN(orum) : L(euis) : XXXUI / G(aius) : K[A]DIUS : SALUIANUS / F(ratri) : ET : ALBANIA / ANCHIALE : MARITO / CILF(aciendum) II 380; ILER C(urau 4872erun; Encarnaçãot) : S(it) 1979,: T(ibi) 178; : T(erra) Lucas :1989, L(euis) 173 -175, n.º 1; Henriques 1993,CIL II 126, 380; n.º ILER5. 4872; Encarnação 1979, 178; Lucas 1989, 173-175, n.ºCIL 1; II 3Henriques80; ILER 4872 1993,; Encarnação 126, n.º 1979, 5. 178; Lucas 1989, 173-175, n.º 1; Henriques 1993, 126, n.º 5. 7 . Epitáfio de Chrisys. A7. licerce Epitáfio do terreirode Chrisys. do castelo (demolição em 1773). Bloco arquitectónico; 7. Epitáfio de Chrisys. 48x[81]x43;Alicerce do calcário. terreiro 75 -do150. castelo (demolição em 1773). Bloco arquitectó- Alicerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Bloco arquitectónico; CHRISYSnico;48x[81]x43; 48x[81]x43; SIBI calcário. / POSUIT 75calcário.-150. 75-150.

CILCHRISYS II 374 SIBI(e S upl/ POSUIT., 815); Campos 1874-1875, 229, n.º 1 = 1877, 5, n.º 1; Figueiredo 1884, 80, n.º 1; Simões 1879, 14 = 1888, 17; MMCSAA, 2, n.º 9; Correia 1946, 13-15; CIL Supl RodriguesCIL IIII 374 374 1959 (e (e- 1960Suppl., 815), 121.,; -Campos815);122, n.º Campos 187413; ILER-1875, 1874-1875,3681 229,; Encarnação n.º 1 = 229,1877, 1979, n.º5, n.º 1176 1;= eFigueiredo1877, 179-180 5,; Henriques1884, 80, n.º1993, 1; Simões 126-12 71879,, n.º 614. = 1888, 17; MMCSAA, 2, n.º 9; Correia 1946, 13-15; n.ºRodrigues 1; Figueiredo 1959-1960 , 1884,121-122 80,, n.º n.º 13 ;1; ILER Simões 3681 ;1879, Encarnação 14 = 1979,1888, 176 17; e 17MMC9-180-; SAAHenriques, 2, n.º 1993, 9; 12Correia6-127, n. º1946, 6. 13-15; Rodrigues 1959-1960, 121-122, 8n.º . Epitáfio 13; ILER de Iunia 3681; Peculiaris Encarnação. 1979, 176 e 179-180; Henriques L1993, anço de126-127, muralha n.ºjunto 6. ao Arco da Traição (demolição em 1878). Caixa cinerária; 35x77x43;8. Epitáfio calcário de Iunia. 75 Peculiaris-150. . Lanço de muralha junto ao Arco da Traição (demolição em 1878). Caixa cinerária; 35x77x43; calcário. 75-150. 8. Epitáfio de Iunia Peculiaris. Lanço de muralha junto ao Arco da Traição (demolição em 1878). Cai- xa cinerária; 35x77x43; calcário. 75-150.

IUNIAE PECULIARI / ANN(orum) : XXII / L(ucius) : IUNIUS RUFUS / MATRI : F(aciendum) : C(urauit)

CILIUNIAE II 5242;5PECULIARI242 ( add.,Campos 1031)/ ANN( 1880-1881,; Camposorum) : XX1880 199,II -/1881, Ln.º(uc 17ius)199, = : 1883,IUNIUSn.º 17 6, =RUFUS n.º1883, 17; /6, FigueiMA n.ºTR 17I -;: redoFigueiredoF(aciendum) 1884, 1884, : 82-83,C(urauit) 82-83, n.º n.º 7; 7 ; SimõesSimões 1879, 15 15 = =1888, 1888, 19; 19;MMCSAA MMCSAA, 5, n.º, 52 ,; n.ºCorreia 2; Correia1946, 21-22; 1946, Rodrigues 21-22; 1959 Rodrigues-1960, 117, n.º1959-1960, 6; ILER 3995; 117, Encarnação n.º 6; ILER 1979, 178; Henriques 1993, 127, n.º 7. 3995;CIL II Encarnação5242 (add., 1031) 1979,; Campos 178; Henriques1880-1881, 199, 1993, n.º 127, 17 =n.º 1883, 7. 6, n.º 17; Figueiredo 1884, 82-83, n.º 7; Simões 1879, 15 = 1888, 19; MMCSAA, 5, n.º 2; Correia 1946, 21-22; Rodrigues 1959-1960, 117, n.º 6; ILER 3995; Encarnação 1979, 9178;. Epitáfio Henriques de um 1993, escra 127vo, nde.º 7.Allius Auitianus. 9.M uralhaEpitáfio, ao arco de da um Traição escravo (1941) de. Cupa; Allius 59x[56]x30; Auitianus calcário. . 101-200. Muralha, ao arco da Traição (1941). Cupa; 59x[56]x30; calcário. 101- [---]NI : ALLI : AUITIANI ∏ SER/[UO A]MOENA UXOR / [F(aciendum)] 200.9. Epitáfio de um escravo de Allius Auitianus. MC(urauit)uralha, ao arco da Traição (1941). Cupa; 59x[56]x30; calcário. 101-200.

MMCSAA[---]NI : , ALLI6, n.º :13; AUITIANI Rodrigues ∏1959 SER/[UO-1960, 124, A] Mn.ºOENA 18; ILER UXOR 5095; / Henriques[F(aciendum)] 1993, 127C(urauit)-128, n .º 8; Fernandes 1998-1999, 182, n. 212.

MMCSAA, 6, n.º 13; Rodrigues 1959-1960, 124, n.º 18; ILER 5095; Henriques 1993, Conimbriga,10127. Epitáfio-128, n.º 8d ;a55 Fernandes espo (2016)sa de 57-89 1998Publicius-1999, Genial 182, n.is .212 . A licerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Caixa cinerária; [41]x83x50; calcário. 101-200. 10. Epitáfio da esposa de Publicius Genialis. ---Alicerce] PUB [doLI] Cterreiro[IU]S GENI do castelo/[ALIS (demolição:] UXORI : EemT : 1773)MODES/[TUS. Caixa cinerária;] : F(ilius) [41]x83x50; : MATRI : F(aciendum)calcário. 101-200. : C(urau erunt) / S(it) : T(ibi) : T(erra) : L(euis)

CIL---] IIPUB 394[LI] (eC [IU]SuplS., GENI815 e/ [ALISadd., 1030:] UXORI); Campos : ET 1874: MODES/[TUS-1875, 230-] 231,: F(ilius) n.º 2 =: MAT1877,R I5 -: 6F(aciendum), n.º 2; Figueiredo : C(urau 1884,erun 81,t) n.º / S(it)2; Figueiredo : T(ibi) : T 188(erra)8b; :Simões L(euis) 1879, 14 = 1888, 17; MMCSAA , 2, n.º 14; Correia 1946, 15; Rodrigues 1959-1960, 122-123, n.º 15; HenriquesCIL II 394 1993,(e Supl 12.,8 8, 15n.º e9 .add. , 1030); Campos 1874-1875, 230-231, n.º 2 = 1877, 5- 6, n.º 2; Figueiredo 1884, 81, n.º 2; Figueiredo 1888b; Simões 1879, 14 = 1888, 17; MMCSAA, 2, n.º 14; Correia 1946, 15; Rodrigues 1959-1960, 122-123, n.º 15; 11Henriques. Epitáfio 1993, de defuntos 128, n.º 9desconhecidos. . A licerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Calcário (?). 1-100.

---11. ]Epitáfio / ALA[--- de ALdefuntos]/BUI F( desconhecidosili---) [---] / .I( c) (!) : S(iti) : S(unt) Alicerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Calcário (?). 1-100. Campos 1874-1875, 232-233, n. 2 = 1877, 6-7, n. 2; Figueiredo 1884, 81, n. 1; Simões---] / ALA 1879,[--- 14 AL = ]1888,/BUI F(17;ili ---CIL) [II--- 524] /4 I(; c)Henriques (!) : S(iti 1993,) : S(u 12nt)9 , n.º 11.

Campos 1874-1875, 232-233, n. 2 = 1877, 6-7, n. 2; Figueiredo 1884, 81, n. 1; 12Simões. Epitáf 1879,io de 14 Allia = 1888, Vagellia 17; CIL Auita II 524. 4; Henriques 1993, 129, n.º 11. M uralha, sob a actual Faculdade de Ciências (década de 60 do século XX). Cipo prismático ; 97,6x63,7x49,7; calcário. 151-200. 12. Epitáfio de Allia Vagellia Auita. [MD(uralhais) ∏, ] sobM(anibus) a actual ∏Faculdade S(acrum) de /Ciências [IN] HONOREM (década de / 60ME doMORIAE século XXALLI). AECipo / UprismáticoAGELLIAE; 97,6x63,7x49,7; AUITAE / ANN( calcário.orum) 151 ∏ -200XXUI. / G : ALLIUS : AUITUS / PATER : FILIAE / PIISSIMAE : ET : / Q(uintus) : SILUANIUS / SILUANUS : MARITUS / [D(is) ∏] M(anibus) ∏ S(acrum) / [IN] HONOREM / MEMORIAE ALLIAE / UAGELLIAE AUITAE / ANN(orum) ∏ XXUI / G : ALLIUS : AUITUS / PATER : FILIAE / PIISSIMAE : ET : / Q(uintus) : SILUANIUS / SILUANUS : MARITUS /

IUNIAE PECULIARI / ANN(orum) : XXII / L(ucius) : IUNIUS RUFUS / MATRI : F(aciendum) : C(urauit)

CIL II 5242 (add., 1031); Campos 1880-1881, 199, n.º 17 = 1883, 6, n.º 17; IUNIAEFigueiredo PECULIARI 1884, 82 -/83, ANN( n.º orum)7; Simões : XX 1879,II / L (15uc ius)= 1888, : IUNIUS 19; MMCSAA RUFUS /, MA5, n.ºTR I2 ;: CorreiaF(aciendum) 1946, 21: C(urauit)-22; Rodrigues 1959-1960, 117, n.º 6; ILER 3995; Encarnação 1979, 178; Henriques 1993, 127, n.º 7. CIL II 5242 (add., 1031); Campos 1880-1881, 199, n.º 17 = 1883, 6, n.º 17; IUNIAE PECULIARI / ANN(orum) : XXII / L(ucius) : IUNIUS RUFUS / MATRI : Figueiredo 1884, 82-83, n.º 7; Simões 1879, 15 = 1888, 19; MMCSAA, 5, n.º 2; F(aciendum) : C(urauit) 9Correia. Epitáfio 1946, de 21um-22; escra Rodriguesvo de Allius 1959 Auitianus-1960, 117,. n.º 6; ILER 3995; Encarnação 1979, 178; Henriques 1993, 127, n.º 7. MCILuralha II 5, 242ao arco (add., da Traição1031); (1Campos941). Cupa; 1880 59x[56]x30;-1881, 199, calcário n.º 17. 101= 1883,-200. 6, n.º 17;

ArmandoFigueiredo Redentor 1884, 82- 83, Sobre n.º 7 a; EpigrafiaSimões 1879, Romana 15 =de 1888,Aeminium 19; MMCSAA, 5, n.º 792; [---] I : ALLI : AUITIANI ∏ SER/[UO A] OENA UXOR / [F(aciendum)] CorreiaN 1946, 21-22; Rodrigues 1959-1960, 117,M n.º 6; ILER 3995; Encarnação 1979, 9C(urauit). Epitáfio de um escravo de Allius Auitianus. 178; Henriques 1993, 127, n.º 7. MMCSAAM uralha, ao ,arco 6, n.ºda Traição13; Rodrigues (1941). Cupa; 1959-1960, 59x[56]x30; calcário124, n.º. 101 18;-200. ILER 5095;

Henriques MMCSAA, 6, 1993,n.º 13; Rodrigues127-128, 1959 n.º 8;-1960 Fernandes, 124, n.º 18; 1998-1999, ILER 5095; Henriques182, n. 212. 1993, [127----]N128I ,: n.ALLIº 8; Fernandes : AUITIANI 1998 -∏1999, SER/[UO 182, n. 212A]M. OENA UXOR / [F(aciendum)] 9C(urauit). Epitáfio de um escravo de Allius Auitianus. M uralha, ao arco da Traição (1941). Cupa; 59x[56]x30; calcário. 101-200.

10. MMCSAA Epitáfio, 6, n.º da13; esposaRodrigues de Publicius1959-1960, 124,Genialis. n.º 18; ILER 5095; Henriques 1993, [10---. Epitáfio] I : ALLI da espo: AUITIANIsa de Publicius ∏ SER/[UO Genialis . A] OENA UXOR / [F(aciendum)] 127-N128, n.º 8; Fernandes 1998-1999, 182, n. 212M. AlicerceAC(urauit)licerce do do terreiro terreiro do castelodo castelo (demolição (demolição em 1773) em. Caixa 1773). cinerária; Caixa [41]x83x50;cinerária; calcário. 101-200. [41]x83x50; calcário. 101-200.

MMCSAA, 6, n.º 13; Rodrigues 1959-1960, 124, n.º 18; ILER 5095; Henriques 1993, 10---. ]Epitáfio [LI] d[IU]a esposa de/ [ALISPublicius :] XORIGenial : isE. : MODES/[TUS] : F(ilius) : MAT I : 127-128PUB, n.º C8; FernandesS GENI 1998-1999,U 182, n. 212T . R AF(aciendum)licerce do terreiro : C(urau doerun castelot) /(demolição S(it) : T(ibi) em : 1773)(erra). :Caixa L(euis) cinerária; [41]x83x50; T calcário. 101-200.

10CIL. Epitáfio II 394 (e d Saupl espo., 8s15a de e add.Publicius, 1030 Genial); Camposis. 1874-1875, 230-231, n.º 2 = 1877, 5- CIL---6, n.º] PUB II2; 394Figueiredo[LI]C [IU](e SSuppl GENI1884,.,/ [ALIS81,815, n.º :]1030); 2;U XORIFigueiredo Campos : ET :188 MODES/[TUS 8b1874-1875,; Simões ]1879, : F(230-231,ilius) 14 = : 1888,MAT n.º R1 I72 ;: AF(aciendum)licerce do terreiro : C(urau doerun castelot) /(demolição S(it) : T(ibi) em : T 1773)(erra). :Caixa L(euis) cinerária; [41]x83x50; =calcário.MMCSAA 1877, 101 5-6,, 2-,200. n.ºn.º 142;; FigueiredoCorreia 1946, 1884, 15; Rodrigues 81, n.º 2;1959 Figueiredo-1960, 122 -1888b;123, n.º Si15-; Henriques 1993, 128, n.º 9. mões CIL II 394 1879, (e S 14upl ., = 8 15 1888, e add. 17;, 1030 MMCSAA); Campos, 1874 2, n.º-1875, 14; 230 Correia-231, n.º 2 1946, = 1877, 15; 5- --- ] PUB[LI]C[IU]S GENI/[ALIS :] UXORI : ET : MODES/[TUS] : F(ilius) : MATRI : Rodrigues 6, n.º 2; Figueiredo 1959-1960, 1884, 81, 122-123, n.º 2; Figueiredo n.º 15; 188Henriques8b; Simões 1993, 1879, 14128, = 1888,n.º 9. 17; F(aciendum) : C(urauerunt) / S(it) : T(ibi) : T(erra) : L(euis) 11MMCSAA. Epitáfio, 2 de, n.º defuntos 14; Correia desconhecidos 1946, 15. ; Rodrigues 1959-1960, 122-123, n.º 15;

HenriquesAlicerce do 1993, terreiro 12 8do, n castelo.º 9. (demolição em 1773). Calcário (?). 1-100. CIL II 394 (e Supl., 815 e add., 1030); Campos 1874-1875, 230-231, n.º 2 = 1877, 5-

11.6, n.º Epitáfio 2; Figueiredo de 1884,defuntos 81, n.º desconhecidos. 2; Figueiredo 1888b; Simões 1879, 14 = 1888, 17; ---] / ALA[--- AL]/BUI F(ili---) [---] / I(c) (!) : S(iti) : S(unt) Alicerce11MMCSAA. Epitáfio, do2 de, n.º terreirodefuntos 14; Correia desconhecidos do castelo 1946, 15 (demolição. ; Rodrigues em1959 - 1773).1960, 1 22 Calcário-123, n.º (?).15; Henriques 1993, 128, n.º 9. 1-100.ACamposlicerce do1874 terreiro-1875, do 232 castelo-233, (demolição n. 2 = 1877, em 1773)6-7, n.. C alcário2; Figueiredo (?). 1-100. 1884, 81, n. 1;

Simões 1879, 14 = 1888, 17; CIL II 5244; Henriques 1993, 129, n.º 11. --- ] / ALA[--- AL]/BUI F(ili---) [---] / I(c) (!) : S(iti) : S(unt) 11 . Epitáfio de defuntos desconhecidos. A licerce do terreiro do castelo (demolição em 1773). Calcário (?). 1-100. Campos12. Epitáf 1874io de-1875, Allia Vagellia232-233, Auita n. 2 . = 1877, 6-7, n. 2; Figueiredo 1884, 81, n. 1; Campos Simões 1879, 1874-1875, 14 = 1888, 232-233,17; CIL II 524n. 24; =Henriques 1877, 6-7, 1993, n. 12 2;9 ,Figueiredo n.º 11. 1884, ---Muralha] / ALA, sob[--- a ALactual]/BUI Faculdade F(ili---) [ ---de ] Ciências/ I(c) (!) : (Sdécada(iti) : S( deun 60t) do século XX). Cipo 81,prismático n. 1; ; Simões97,6x63,7x49,7; 1879, 14calcário. = 1888, 151- 20017;. CIL II 5244; Henriques 1993, 129, n.º 11. Campos 1874-1875, 232-233, n. 2 = 1877, 6-7, n. 2; Figueiredo 1884, 81, n. 1; [12D(. is)Epitáf ∏] iMo de(anibus) Allia Vagellia ∏ S(acrum) Auita. / [IN] HONOREM / MEMORIAE ALLIAE / MSimõesuralha 1879,, sob 14a actual= 1888, Faculdade 17; CIL II de 524 Ciências4; Henriques (década 1993, de 12 609 , don.º 11século. XX). Cipo UAGELLIAE AUITAE / ANN(orum) ∏ XXUI / G : ALLIUS : AUITUS / PATER : prismáticoFILIAE / PIISSIMAE; 97,6x63,7x49,7; : ET : calcário./ Q(uintus) 151- 200: SILUANIUS. / SILUANUS : MARITUS / 12. Epitáfio de Allia Vagellia Auita. Muralha,[12D(. is)Epitáf ∏] i Mosob de(anibus) Alliaa actual Vagellia ∏ S(acrum)Faculdade Auita. / [IN]de CiênciasHONOREM (década / MEMORIAE de 60 do ALLI séculoAE / XX).UMAGELLIAEuralha Cipo, sob prismático; AUITAEa actual /Faculdade ANN( 97,6x63,7x49,7;orum) de Ciências∏ XXUI (calcário./década G : ALLIUS de 151-200.60 :do AUITUS século /XX PATER). Cipo : prismático; 97,6x63,7x49,7; calcário. 151-200. FILIAE / PIISSIMAE : ET : / Q(uintus) : SILUANIUS / SILUANUS : MARITUS /

[D(is) ∏] M(anibus) ∏ S(acrum) / [IN] HONOREM / MEMORIAE ALLIAE / UAGELLIAE AUITAE / ANN(orum) ∏ XXUI / G : ALLIUS : AUITUS / PATER : FILIAE / PIISSIMAE : ET : / Q(uintus) : SILUANIUS / SILUANUS : MARITUS / UXORI / [I]NDULGENTISSIMAE / [ET] MERITISSIMAE / F(aciendum) ∏ C(urauerunt)

Le Roux e Fabre 1971, 126-130, n.º 5; AE 1972, 241; Encarnação 1979, 178; LeHenriques Roux 1993,e Fabre 130, 1971,n.º 13; 126-130,Encarnação n.ºe Leal 5; AE199 61972,, 178, n.º241; 5; EncarnaçãoFernandes 1998, 262-266, n.º 1; HEp 9, 740; Fernandes 1998-1999, 143, n. 107. Conimbriga, 55 (2016) 57-89

13. Epitáfio de Vagellia Rufina iunior. Muralha, sob o actual Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências (década de 60 do século XX). Ara; 57x24x20,5; calcário. 151-200.

D(is) ∏ M(anibus) ∏ S(acrum) / UAGELLIAE / RUFINAE / IUNIORI : ALLIUS / AUITUS : AU(u)S : / ET : SILUANIUS / SILUANUS / PATER / F(aciendum) : C(urauerunt)

Le Roux e Fabre 1971, 124-126, n.º 4; AE 1972, 240; Encarnação 1979, 178; Henriques 1993, 130-131, n.º 14; Fernandes 1998, 266-268, n.º 2; HEp 9, 741; Fernandes 1998-1999, 182, n. 209.

14. Epitáfio de Modestus Modesti f. Muralha, sob o actual Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências (década de 60 do século XX). Placa; 46,1x 108,5x24,5; calcário. 75-150.

MODESTO MODEST[I F(ilio)] / PARATUS MODEST[I] / MODESTI · FILI · LIB(ertus) / EX : TESTAMENTO : F(aciendum) : C(urauit)

Le Roux e Fabre 1971, 121-124, n.º 3; AE 1972, 242; Henriques 1993, 131, n.º 15.

15. Cabeça de Vénus esgrafitada. Criptopórtico (1996/1997). Escultura; 19x17x23; calcário. 1-100.

PLIIBI / CAPITO CINAE / UATIUS? // A / + // [---] / FLIIUI ASA+ / PAR·BISIL? [---] TA / TIS+ TSI?LIB ++ / [---]

Carvalho 1998, 166-174; HEp 8, 599; Gonçalves 2007, 213-215, n.º 81.

80 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

1979,UXORI 178; / [I] HenriquesNDULGENTISSIMAE 1993, 130,/ [ET] n.º 13;MERITISSIMA EncarnaçãoE / F (eaciendum) Leal 1996, ∏ 178,C(urau n.ºerun 5; t)Fernandes 1998, 262-266, n.º 1; HEp 9, 740; Fernandes

1998-1999,Le Roux e Fabre 143, 1971,n. 107. 126-130, n.º 5; AE 1972, 241; Encarnação 1979, 178; UXORIHenriques / 1993,[I]NDUL 130,GE nNT.º 13;ISSIMAE Encarnação / [ET] e LealMERITISSIMA 1996, 178, En.º / 5;F Fernandes(aciendum) 1998, ∏ 262C(urau-266,erun n.º t)1; HEp 9, 740; Fernandes 1998-1999, 143, n. 107.

13. Epitáfio de Vagellia Rufina iunior. UXORILe Roux / e [I]FabreNDUL 1971,GENT 126ISSIMAE-130, n.º/ [ET]5; AE M 1972,ERITISSIMA 241; EncarnaçãoE / F(aciendum) 1979, 178; ∏ Muralha, sob o actual Departamento de Matemática da Faculdade de 1CHenriques3(urau. Epitáferun io1993, t)de Vagellia 130, n. ºRufina 13; Encarnação iunior. e Leal 1996, 178, n.º 5; Fernandes 1998, CiênciasM 262uralha,-266, nsob .(décadaº 1; o HEpactual 9,de Departamento 740; 60 Fernandesdo século de 1998 MatemáticaXX).-1999, Ara; 143 da 57x24x20,5; , Faculdaden. 107. de Ciênciascalcário. (década 151- 200.de Le 60Roux do século e Fabre XX) 1971,. Ara; 57x24x20,5;126-130, n.º calcário. 5; AE 1972,151-20 241;0. Encarnação 1979, 178; Henriques 1993, 130, n.º 13; Encarnação e Leal 1996, 178, n.º 5; Fernandes 1998, 1D(2623.is) Epitáf-266, ∏ M ni.(anibus)oº 1;de HEp Vagellia 9,∏ 740;S(acrum) Rufina Fernandes i unior/ UAGELLIAE 1998. -1999, / 143 RUFIN, n. 107AE . / IUNIORI : ALLIUS / MAUITUSuralha, :sob AU(u)S o actual : /Departamento ET : SILUANIUS de Matemática / SILUANUS da Faculdade / PATER de / Ciências F(aciendum) (década : de C(urauerunt) 60 do século XX). Ara; 57x24x20,5; calcário. 151-200. 13. Epitáfio de Vagellia Rufina iunior. D(is) ∏ M(anibus) ∏ S(acrum) / UAGELLIAE / RUFINAE / IUNIORI : ALLIUS / MLeuralha, Roux sobe Fabreo actual 1971, Departamento 124-126, den.º Matemática 4; AE 1972, da Faculdade240; Encarnação de Ciências 1979, (década 178; AUITUS : AU(u)S : / ET : SILUANIUS / SILUANUS / PATER / F(aciendum) : LedeHenriques 60 Roux do século 1993,e Fabre XX) 130. A -1971,131ra; ,57x24x20,5; n .º124-126, 14; Fernandes calcário. n.º 4; 1998, 151 AE-20 1972,260.6 -26 8240;, n.º Encarnação2; HEp 9, 741; C(urauerunt) 1979, Fernandes 178; 1998 Henriques-1999, 182, n.1993, 209. 130-131, n.º 14; Fernandes 1998, 266- D( is) ∏ M(anibus) ∏ S(acrum) / UAGELLIAE / RUFINAE / IUNIORI : ALLIUS / 268, n.º 2; HEp 9, 741; Fernandes 1998-1999, 182, n. 209. AUITUSLe Roux : eAU(u)S Fabre :1971, / ET 12: SILUANIUS4-126, n.º 4 ;/ AESILUANUS 1972, 24 / 0PATE; EncarnaçãoR / F(aciendum) 1979, 178; : C(urauerunt)Henriques14. Epitáf io1993, de Modestus 130-131 Modesti, n.º 14 ;f. Fernandes 1998, 266-268, n.º 2; HEp 9, 741; MFernandesuralha, sob 1998 o actual-1999, Departamento 182, n. 209. de Matemática da Faculdade de Ciências (década 14.Lede 60 RouxEpitáfio do século e Fabre XX)de Modestus1971,. Placa; 12 46,1x4- 1Modesti26 108,5x24,5;, n.º 4 ;f. AE calcário 1972, . 24750-150.; Encarnação 1979, 178; Muralha,Henriques 1993,sob o130 actual-131, Departamenton.º 14; Fernandes de 1998, Matemática 266-268, nda.º 2Faculdade; HEp 9, 74 de1; 14. Epitáfio de Modestus Modesti f. CiênciasMODESTOFernandes 1998(década MO-1999,DES deT 1[I 82, 60F( n.ilio)]do 209 século . / PARATUS XX). Placa; MODES 46,1xT[I] /108,5x24,5; MODESTI · calcáFILI -· MLIB(uralha,ertus) sob / EXo actual : TESTAMENTO Departamento : F( deaciendum) Matemática : da(urau Faculdadeit) de Ciências (década rio. 75-150. C de 60 do século XX). Placa; 46,1x 108,5x24,5; calcário. 75-150. 14 Le. RouxEpitáf e iFabreo de Modestus 1971, 12 1Modesti-124, n.º f. 3 ; AE 1972, 242; Henriques 1993, 131, n.º 15. MODESTOM uralha, sob MOo actualDES TDepartamento[I F(ilio)] / dePARATUS Matemática M ODESda FaculdadeT[I] / MODESTIde Ciências ·(década FILI · LIB(de 60ertus) do século / EX XX): TESTAMENTO. Placa; 46,1x 108,5x24,5;: F(aciendum) calcário : C(urau. 75-i150.t) 15. Cabeça de Vénus esgrafitada. LeMODESTO Roux e Fabre MO 1971,DEST [12I 1F(-1ilio)]24, n.º / 3PARATUS; AE 1972, 24M2ODES; HenriquesT[I] / 1993,MODESTI 131, n .º· 1FILI5. · LeCriptopórtico Roux e Fabre (1996/1997 1971,). E 121-124,scultura; 19x17x23 n.º 3; AE; calcário 1972,. 1242;-100. Henriques 1993, LIB(ertus) / EX : TESTAMENTO : F(aciendum) : C(urauit)

131,PL IIBI n.º / CAPITO 15. CINAE / UATIUS? // A / + // [---] / FLIIUI ASA+ / PAR·BISIL? 15[Le---. RouxCabeça] TA /e TFabre deIS+ Vénus T 1971,SI?L Iesgrafitada B12 ++1- /1 24[---, n.º] . 3; AE 1972, 242; Henriques 1993, 131, n.º 15. C riptopórtico (1996/1997). Escultura; 19x17x23; calcário. 1-100.

15.Carvalho Cabeça 1998 ,de 166 Vénus-174; HEp esgrafitada. 8, 599; Gonçalves 2007, 213-215, n.º 81. PL15.II CabeçaBI / CAPITO de Vénus CIN AEesgrafitada / UATIU. S? // A / + // [---] / FLIIUI ASA+ / PAR·BISIL? Criptopórtico (1996/1997). Escultura; 19x17x23; calcário. 1-100. [ C---riptopórtico] TA / TIS (+1996/1997 TSI?LIB ++). E/ scultura[---] ; 19x17x23; calcário. 1-100.

PLCarvalhoIIBI / CAPITO 1998, 166 CIN-174AE; HEp / UA 8,T IU599S?; Gonçalves// A / + // 2007, [--- ]213 / FLIIU-215,I n.ºASA 81+. / PAR·BISIL? [ ---] TA / TIS+ TSI?LIB ++ / [---]

Carvalho 1998, 166-174; HEp 8, 599; Gonçalves 2007, 213-215, n.º 81. Carvalho 1998, 166-174; HEp 8, 599; Gonçalves 2007, 213-215, n.º 81.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 81

BIBLIOGRAFIA

Abascal Palazón, J. M. (1994), Los nombres personales en las inscripciones latinas de Hispania, Murcia-[Madrid]: Universidad, Secretariado de Publicaciones-Uni- versidad Complutense. Alarcão, J. (1979), As origens de Coimbra, in Actas das I Jornadas do Grupo de Arte e Arqueologia do Centro, Coimbra: Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, 23- 40. Alarcão, J. (1990), Identificação das cidades da Lusitânia portuguesa e dos seus terri- tórios, in Les Villes de Lusitanie romaine: hiérarchies et territoires (Table ronde internationale du CNRS – Talence, 8-9 décembre 1988), Paris: Éd. du Centre Nacional de la Recherche Scientifique (Collection de la Maison des pays ibéri- ques; 42), 21-34. Alarcão, J. (2008), Coimbra: a montagem do cenário urbano, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. Alarcão, J., André, P., Barrelas, P., Carvalho, P. C., Santos, F. P., Silva, R. (2009), O forum de Aeminium: a busca do desenho original, Coimbra: Museu Machado de Castro-Edifer. Almeida, S. O., Nóbrega, J. R., Vilaça, R., Silva, R. C. (2011), Cerâmica da II Idade do Ferro de Aeminium – R. Fernandes Tomás 72/74 (Coimbra, Portugal), Conim- briga, 50, 33-57. Almeida, S. O., Silva, R. C., Vilaça, R. (2015), Testemunhos da ocupação pré-romana no forum de Aeminium (Coimbra, Portugal), Antrope, 3, 39-63. Andreu Pintado, J. (2004), Edictum, Municipium y Lex: Hispania en época Flavia (69-96 d. C.), Oxford: Archaeopress. Année Épigraphique, L’, Paris: CNRS; Université de Paris I (= AE ). Bennett, H. (1923), Cinna and His Times: a Critical and Interpretive Study of Roman History During the Period 87–84 BC, Menasha, WI: The Collegiate Press. Bejarano, V. (1987), Fontes Hispaniae Antiquae VII: Hispania Antigua, según Pom- ponio Mela, Plinio el Viejo y Claudio Ptolomeu, Barcelona: Instituto de Arqueo- logía y Prehistoria. Blot, M. L. P. (2003), Os portos na origem dos centros urbanos: contributo para a arqueologia das cidades marítimas e flúvio-marítimas em Portugal, Lisboa: Ins- tituto Português de Arqueologia. Bonnelille, J.-N. (1981), Les cupae de Barcelone: les origines du type monumental, Mélanges de la Casa de Velázquez, 17, 5-38. Bonnelille, J.-N. (1984), Le support monumental des inscriptions: terminologie et analyse, in Épigraphie hispanique: problèmes de méthode et d’édition (Actes de la Table Ronde Internacional du C. N. R. S. organisée à l’Université de Bordeaux III les 8-9-10 décembre 1981), Paris: De Boccard, 117-152. Bost, J.-P., Fabre, G. (1983), Quelques problèmes d’histoire dans deux cités de l’Aqui- taine méridionale à l’époque gallo-romaine, Aquitania, 1, 25-36. Buonopane, A. (2013), Le raffigurazione di utensili nelle iscrizione funerarie: da

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 82 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

immagini parlanti a simbolo, Sylloge Epigraphica Barcinonensis, 11, 73-82. Caballos Rufino, A. (2001), Latinidad y municipalización de Hispania bajo los Fla- vios: estatuto y normativa, Mainake, 23, 101-119. Campos, J. C. A. (1874-1875), Secção de Archeologia: catalogo dos objectos existentes na collecção de Archeologia do Instituto de Coimbra, O Instituto, 20, 229-240. Campos, J. C. A. (1877), Catálogo dos objectos existentes no Museu de Arqueologia do Instituto de Coimbra: 1873-1877, Coimbra: Impensa Litteraria. Campos, J. C. A. (1880-1881), Secção de Archeologia: catalogo dos objectos existentes no Museu de Archeologia do Instituto de Coimbra: supplemento comprehenden- do os objectos offerecidos e depositados desde abril de 1877, O Instituto, 28, 192-200. Campos, J. C. A. (1883), Catalogo dos objectos existentes no Museu de Archeologia do Instituto de Coimbra a cargo da Secção de Archeologia do mesmo Instituto: supplemento 1º: 1877-1883. Coimbra: Imprensa da Universidade. Campos, R. (2012), As cupae de Olisipo e do ager Olisiponensis, in Andreu Pintado, J. (ed.), Las cupae hispanas: origen, difusión, uso, tipología, Tudela: UNED-Fun- dación Uncastillo, 449-474. Carvalho, P. C. (1993), Fragmentos de inscrições romanas do Museu Nacional Ma- chado de Castro, Coimbra: Museu Machado de Castro. Carvalho, P. C. (1998), O forum de Aeminium, Coimbra: Instituto Português de Mu- seus. Carvalho, P. C., Matias, D., Almeida, A., Ribeiro, C., Santos, F., Silva, R. (2009), Caminhando em redor do forum de Aeminium (Coimbra, Portugal), in Nogales Basarrate, T. (ed.), Ciudad y foro en Lusitania Romana, Mérida: MNAR, 69-88. Castro, A. M. S. (1930), Aeminium, Arte e Arqueologia, 1:2, 65-67. Catarino, H., Filipe, S. (2003), A História tal qual se faz no Pátio da Universidade de Coimbra: apresentação sumária dos vestígios de época romana, in Encarnação, J. d’ (coord.), A História tal qual se faz, Lisboa: Colibri-Faculdade de Letras da Universidae de Coimbra, 49-63. Correia, V. (1946), Obras, I: Coimbra, Coimbra: Universidade. Cuntz, O. (ed.) (1990), Itineraria Antonini Augusti et Burdigalense, Stuttgart: G. B. Teubner. De Man, A. (2008), Defesas urbanas tardias da Lusitânia, Porto: FLUP (Tese de Dou- toramento policopiada). De Man, A. (2009), Late Urban Defences of the Lower Mondego: the cases of Ae- minium and Conimbriga, in Morillo Cerdán, Á., Hanel, N., Martín Hernández, E. (eds.), Limes XX: estudios sobre la frontera romana (Roman frontier studies), Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas-Polifemo, 741-748. Di Stefano Manzella, I. (1987), Mestiere di epigrafista: guida alla schedatura del materiale epigrafico lapideo, Roma: Quasar. Dondin-Payre, M. (1997), Réexamen des magistratures municipales des Gaules d’après l’épigraphie, Cahiers du Centre Gustave Glotz, 8, 285-300. Encarnação, J. d’ (1979), Notas sobre a epigrafia romana de Coimbra, in Actas das

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 83

I Jornadas do Grupo de Arte e Arqueologia do Centro, Coimbra: Grupo de Ar- queologia e Arte do Centro, 171-180. Encarnação, J. d’ (2012), A propósito das cupae do conuentus Pacensis, in Andreu Pintado, J. (ed.), Las cupae hispanas: origen, difusión, uso, tipología, Tudela: UNED-Fundación Uncastillo, 437-450. Encarnação, J. d’, Leal, C. C. (1996), Technique et métiers dans l’épigraphie romai- ne de l’occident hispanique, in Khanoussi, M., Ruggeri, P., Vismara, C. (eds.), L’Africa Romana XI: atti dell’XI convegno di studio (Cartagine, 15-18 dicembre 1994), Ozieri: Il Torchietto, 175-181. Étienne, R., Fabre, G., Lévêque, P. e M. (1976), Épigraphie et sculpture, Paris: De Boccard, 1976 (Fouilles de Conimbriga; 2) (= FC II). Evans-Grubbs, J. (2002), Women and Law in the Roman Empire: a Sourcebook on Marriage, Divorce and Widowhood, London-New York: Routledge. Fabre, G. (1973), Un affranchi impérial à Conimbriga: P. Aelius Ianuarius (A. E., 1954, n° 86), Revue des Études Anciennes, 75, 111-125. Fernandes, L. S. (1998), Os Vagellii de Aeminium, Máthesis, 7, 261-290. Fernandes, L. S. (1998-1999), A presença da mulher na epigrafia romana doconuentus Scallabitanus, Portugalia, nova série, 19-20, 129-228. Figueiredo, A. C. B. (1884), Oppida restituta, as cidades mortas de Portugal: Eminio, Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 5ª série, 2, 67-92. Figueiredo, A. C. B. (1886), Coimbra Antiga e Moderna, Lisboa: Livraria Ferreira. Figueiredo, A. C. B. (1888a), Um monumento de Aeminium, Revista Archeologica e Historica, 2, 66-68. Figueiredo, A. C. B. (1888b), Miscellanea: I - Inscripção de Aeminium, Revista Ar- cheologica e Historica, 2, 109-110. Figueiredo, A. C. B. (1888c), Um monumento de Aeminium (rectificação), Revista Archeologica e Historica, 2, 125. Figueiredo, A. C. B. (1888d), Miscellanea: I - Inscripção de Aeminium, Revista Ar- cheologica e Historica, 2, 126. Filipe, S. (2006), Arqueologia urbana em Coimbra: um testemunho na Reitoria, Co- nimbriga, 45, 337-357. Garcia, J. M. (1991), Religiões antigas de Portugal: aditamentos e observações às Religiões da Lusitânia de J. Leite de Vasconcelos: fontes epigráficas, [Lisboa]: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (= RAP). Gonçalves, L. J. R. (2007), Escultura romana em Portugal: uma arte do quotidiano, Mérida: MNAR. Gorges, J.-G. (1990), Villes et villas de Lusitanie: interactions, échanges, autonomies, in Les Villes de Lusitanie romaine: hiérarchies et territoires, Paris: Centre Nacio- nal de la Recherche Scientifique, 91-121. Gourevitch, D., Raepsaet-Charlier, M.-Th. (2005), A vida quotidiana da mulher na Roma Antiga, Lisboa: Livros do Brasil. Grupo Mérida (2003), Atlas antroponímico de la Lusitania romana, Mérida-Bor- deaux: Fundación de Estudios Romanos-Ausonius Éditions.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 84 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium

Heinzmann, M. (1999), Civitas vel/sive Municipium?: zum inschrftenformular noris- cher munizipalmagistarte, in González, J. (ed.), Ciudades privilegiadas en el Occidente Romano, Sevilla: Universidad, Secretariado de Publicaciones [etc.], 425-436. Henriques, L. (1993), As inscrições romanas de Coimbra: recolha bibliográfica, Mun- da, 25, 122-132. Hispania Antiqua Epigraphica: suplemento anual de Archivo Español de Arqueologia, Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas (=HAE ). Hispania Epigraphica, Madrid: Archivo Epigráfico de Hispania, Universidad Complu- tense (= HEp). Hornblower, S., Spawforth, A., Eidinow, E. (2012), The Oxford Classical Dictio- nary, Fourth edition, Oxford-New York: Oxford University Press (= OCD). Hübner, E. (1869), Inscriptiones Hispaniae Latinae, Berolini: apud Georgium Rei- merum (Corpus Inscriptionum Latinarum; 2) (= CIL II). Hübner, E. (1892), Inscriptiones Hispaniae Latinae: Supplementum, Berolini: apud Georgium Reimerum (Corpus Inscriptionum Latinarum; 2) (= CIL II). Kajanto, I. (1965), The Latin Cognomina, Helsinki: Keskuskirjapaino. Le Roux, P. (1990), Les villes de statut municipal en Lusitanie romaine, in Les Villes de Lusitanie romaine: hiérarchies et territoires, Paris: Centre Nacional de la Re- cherche Scientifique, 35-49. Le Roux, P. (1996), Droit latin et municipalisation en Lusitanie sous l’Empire, in Ortiz de Urbina, E., Santos, J. (eds.), Teoria y practica del ordenamiento municipal en Hispania: actas del Symposium de Vitoria-Gasteiz (22 a 24 de Noviembre de 1993), Vitoria: Servicio Editorial, Universidad del Pais Vasco, 239-253. Le Roux, P. (2010), La péninsule ibérique aux époques romaines: fin du IIIe s. av. n. è. – début du VIe s. de n. è., Paris: Armand Colin. Le Roux, P., Fabre, G. (1971), Inscriptions latines du Musée de Coimbra, Conimbriga, 10, 117-130. Liverani, P., Spinola, G. (2006), La necropoli vaticana lungo la via Trionfale, Roma: De Luca Editori d’Arte. Lucas, M. M. (1989), A gens Cadia em Aeminium, Conimbriga, 28, 169-203. Mantas, V. G. (1992), Notas sobre a estrutura urbana de Aeminium, Biblos, 68, 487- 513. Mommsen, Th. (1883), Inscriptiones Bruttiorum, Lucaniae, Campaniae, Siciliae, Sar- diniae Latinae, Berolini: apud Georgium Reimerum (Corpus Inscriptionum La- tinarum; 10) (= CIL X) Museu Machado de Castro (1941), Secções de Arte e Arqueologia: catálogo-guia, Coimbra: Coimbra Editora (= MMCSAA). Navarro Caballero, M., Oria Segura, M., Ramírez Sádaba, J. L. (2003), La ono- mástica greco-latina: eje 3, in Grupo Mérida, Atlas antroponímico de la Lusitania romana, Mérida-Bordeaux: Fundación de Estudios Romanos-Ausonius Éditions, 408-412. Oleiro, B. (1955-1956), O criptopórtico de Aeminium, Humanitas, 4-5, 151-160.

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Armando Redentor Sobre a Epigrafia Romana de Aeminium 85

Prados Martínez, F. (2015), La necrópolis oriental de Baelo Claudia: paisaje y arqui- tectura funerarios, in Prados Martínez, F., Jiménez Vialás, H. (eds.), La muerte en Baelo Claudia: necrópolis y ritual en el confín del Imperio romano, Cádiz: Universidad, Servicio de Publicaciones, 81-96. Ribeiro, J. C. (1982-1983), Estudos histórico-epigráficos em torno da figura de L. Iu- lius Maelo Caudicus, Sintria, 1-2:1, 151-476. Rodrigues, M. L. (1959-1960), Inscrições romanas do Museu Machado de Castro, Humanitas, 11-12, 112-132. Santos, F., Carvalho, P. C. (2008), Aspectos do mundo funerário romano na Beira In- terior: as estruturas funerárias monumentais da Quinta da Fórnea II (Belmonte): uma primeira abordagem, Conimbriga, 47, 127-143. Schilling, R. (1979), Rites, cultes, dieux de Rome, Paris: Klincksieck. Syme, R. (1939), The Roman Revolution, Oxford: The Clarendon Press. Silva, R. C. (2011), O quarteirão urbano a poente do forum de Aeminium (Coimbra, Portugal): a sua configuração ao longo do séc. I d. C.,Conimbriga , 50, 79-99. Simões, A. F. (1879), Alguns passos num labyrintho: se Coimbra foi povoação romana e que nome teve, Portugal pittoresco, 1, 12-16, 29-32, 43-48, 60-64. Simões, A. F. (1888), Alguns passos num labyrintho: se Coimbra foi povoação romana e que nome teve, in Escriptos diversos de Augusto Filippe Simões, Coimbra: Imprensa da Universidade, 15-33. Solin, H. (2003), Die griechischen Personennamen in Rom: ein Namenbuch. 2., völlig neu bearbeitete Auflage. Berlin-New York: De Gruyter. Susini, G. (1982), Epigrafia romana, Roma: Jouvence. Toutain, J. (1907), Les cultes païens dans l’Empire romain, première partie: les pro- vinces latines, t. 1: les cultes officiels, les cultes romains et gréco-romains, Paris: Ernest Leroux. Väänänen, H. (1988), Introducción al latín vulgar, 3.ª edición, Madrid: Gredos. Vallejo Ruiz, J. M. (2005), Antroponimia indígena de la Lusitania romana, Vitoria- -Gasteiz: Servicio editorial, Universidad del País Vasco. Vasconcelos, A. (1896), Aeminium (Coimbra), O Instituto, 43, 215-221. Veyne, P. (1989), O Império Romano, in Ariès, Ph., Duby, G. (dir.), História da vida privada, 1, Lisboa: Círculo de Leitores, 19-224. Vives, J. (1971-1972), Inscripciones latinas de la España romana: antología de 6.800 textos, Barcelona: Universidad [etc.] (= ILER).

Conimbriga, 55 (2016) 57-89 Fig. 1 – Homenagem da ciuitas Aeminiensis a Constâncio Cloro (apud Encarnação 1979, 174, fig. 1). Fig. 2 – Árula ao génio da basílica (apud Alarcão et alii 2009, 66, fig. 43). Fig. 3 – Cipo prismático de Allia Vagellia Auita (© autor). Fig. 4 – Zonamento dos achados das inscrições romanas de Aeminium: I, torre de Precónio (n.º 1) ; II, criptopórtico (n.os 2 e 15); III, área entre o antigo castelo e a porta da Traição (n.os 3 a 14). Base cartográfica apud Alarcão 2008, 65, fig. 35 – Arruamentos da cidade de Aeminium (1. forum; 2. anfiteatro; 3. teatro; 4. aqueduto; 5. templo de culto imperial; 6. alcáçova; 7. igreja de S. Pedro). Página deixada propositadamente em branco Isabel Rodà Catedràtica d'Arqueologia de la UAB. Investigadora adscrita del ICAC [email protected]

LA EPIGRAFÍA, MENSAJE EN DIRECTO DE LA ANTIGÜEDAD “Conimbriga” LV (2016) p. 91-129 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_7

Resumen: El artículo recoge la intervención leída el 28 de octubre de 2015, en la sesión de homenaje al Prof. José d’Encarnação. El tema central giró en torno a los textos epigráficos que hacen llegar su voz a través de los siglos sin intermediario alguno y nos abren vías para enriquecer todas las demás ciencias de la Antigüedad. Consciente de las dificultades que hoy día presenta la docencia de la epigrafía, se proponen algunas estrategias conectando aspectos de la Antigüedad con la actualidad. Dentro de la epigrafía latina se examinan algunos ejemplos de inscripciones de la zona del territorio de Cataluña, profundizando especialmente en la red viaria, los límites territoriales y en la sociedad de la ciudad de Barcino (Barcelona).

Palabras clave: epigrafía latina, sociedad romana, vías romanas, Barcino.

Sumary: This paper includes the conference given on the 28th October 2015 in the session of tribute to Prof. José d’Encarnação. The top- ic chosen referred to the epigraphy texts that transmit their voice through the ages without intermediation and open new grounds to enrich all the rest of antiquity sciences. Being aware of the diffi- culties facing the actual tuition of epigraphy, a series of strategies are put forward connecting aspects of antiquity to present days. Within the Latin epigraphy few example of inscriptions from the

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 territory of Catalonia are examined, focusing mainly in the road network, territorial boundaries and society of the city of Barcino (Barcelona).

Keywords: Latin epigraphy, Roman society, Roman roads, Bar- cino. LA EPIGRAFÍA, MENSAJE EN DIRECTO DE LA ANTIGÜEDAD

Con gran emoción, participé el día 28 de octubre de 2015 en la jor- nada de homenaje al querido y admirado profesor, José d�Encarnação; me sentí conmovida y muy honrada al haber sido propuesta para la intervención que presenté con este título y contenido similar al que se recoge en estas páginas. Mi intención era, y continúa siendo, evocar al colega y amigo, in- tentando seguir un camino que él ha desbrozado como nadie: su habili- dad para entretejer ciencia y lenguaje periodístico para poner al alcance de todos unos conocimientos que resultan, por lo general, difícilmente asequibles para una gran mayoría de la población. Se suma a estas cua- lidades la versatilidad de José para enlazar pasado, presente y, a veces, incluso futuro; todo ello partiendo, además, de una materia dura como es la epigrafía, con textos grabados sobre soportes pétreos, metálicos, cerámicos en una lengua que, por desgracia, ha quedado injustamente apartada de la enseñanza y de la educación preuniversitaria: el latín, a pesar de que en muchos de nuestros países hablamos un latín evo- lucionado, todavía nos regimos en gran parte por el derecho romano y aprovechamos las grandes infraestructuras que nos legó su Imperio. A pesar de los pesares, José ha dedicado su vida profesional a la epigrafía, concediéndole una nueva dimensión, según los horizontes que en su día abriera el siempre añorado profesor Giancarlo Susini que nos descubrió facetas hasta entonces inéditas, como el paisaje epigráfi- co, con conceptos y términos que ahora usamos con toda normalidad. José d�Encarnação dialoga con los textos y los hace hablar, convir- tiéndose en un intérprete profundo, pero a la vez claro y ameno, de sus contenidos, con títulos siempre atractivos. Su producción bibliográfica es densa y muy rica en esta vertiente y va desde notas y comentarios en su bien cuidado y mantenido blog que difunde publicaciones no siem- pre accesibles para los foráneos, como “As palabras mágicas!” (Renas-

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 94 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad cimento 664, 15-6-2015, p. 14), a pequeños libritos, casi en forma de un programa de mano, como el tan jugoso “Cecília Marina”, Ossonoben- se) dentro de la serie Ofiusa, 7 (páginas de historia portuguesa), edita- das por el municipio de S. Brás de Alportel (abril 2006). Naturalmente, en medios académicos es encomiable la constancia de los artículos del Prof. Encarnação; misión imposible recogerlos todos!!!, por ello, valga un botón de muestra: la serie, con múltiples entregas, “A epígrafe latina como elemento didáctico”, publicada en el Boletim de Estudos Clássi- cos. Llegamos, con ello, a los libros; su clásico manual Introdução ao Estudo da Epigrafia Latina cuya manejabilidad y utilidad quedan bien patentes en las tres ediciones (1979, 1987, 1997), que finalmente dio paso a un volumen más denso, Epigrafia. As Pedras que Falam, con ediciones en 2005 y 2010. En este siglo nuestro en que los mensajes van y vienen y todos, en un grado u otro, enviamos y recibimos informaciones, e-mails, sms, whatsapps...por doquier, es oportuno retomar aquellos mensajes escri- tos en tiempos pretéritos para que no se pierda su voz que nos llega además en directo, sin intermediarios ni copistas que, de manera in- tencionada o involuntaria, hayan podido distorsionar el contenido que atesoran las inscripciones. Esta es sin duda una de las grandezas de la Epigrafía, que nos abre las puertas para enriquecer un universo de cien- cias que beben de ella: historia, religión, economía, política, sociedad, arte, vida cotidiana, onomástica, derecho...y tantas otras. A un nivel general, no es consciente nuestro mundo de la potente raíz greco-romana de la que ha surgido. Por ejemplo, este año 2016 ha sido año olímpico y me pregunto: ¿cuánta gente al ver un primer plano de las medallas merecidamente ganadas por los atletas, se ha percatado de que la imagen central corresponde a la Victoria o Niké de Peionios de Mende, cuya estatua se conserva en el santuario de Olimpia? Segura- mente suena más la marca comercial Nike, pronunciada al modo inglés, pero, ¿cuántos saben que se llama así porque el logo se ha inspirado en el perfil de las alas de la celebérrima Niké de Samotracia, conservada en el Museo del Louvre?. No es que siempre y por norma, tengamos que ir saltando de la antigüedad a la actualidad, pero sí que es conveniente hacer conscientes a nuestros contemporáneos de los orígenes comunes, cuestión que sin duda contribuiría a paliar la tan temida, y desgraciadamente real, pérdi- da de valores y referentes. Las monedas contienen jugosos textos e imágenes en los que nada

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 95 se ha dejado al azar, ni ayer ni hoy: la supeditación a la propaganda, a la idea que se quiere transmitir a los usuarios es evidente. La moneda tiene, naturalmente, un valor marcadamente económico, pero no sólo: hay que saber leer las inscripciones y la iconografía, e incluso en nues- tros días sigue teniendo, como en el mundo antiguo, un marcado valor religioso. Veamos. Es normal que en Grecia las monedas de euro reivindiquen su pa- sado clásico: la de 2 euros evoca el mito de Europa en una clara alusión a los orígenes culturales de nuestro continente, y la de 1 euro es la tras- posición de la dracma ateniense (Fig. 1). En lo referente al valor religioso, las monedas de los diversos paí- ses que reproducen el rostro de su majestad británica incluyen la leyen- da: Elizabeth II, D(ei) G(ratia) Regina, es decir: Isabel II, reina por la gracia de Dios. ¿se puede pedir un mayor valor religioso? En España, también en un pasado no demasiado lejano, nos ocur- rió algo parecido. Cuando circulaban las pesetas, teníamos el perfil de Franco mirando a la derecha y rodeado de la leyenda: Francisco Franco, caudillo de España por la g(racia) de Dios. Cuando en 1975 llegó la monarquía, la aleación y el módulo de las pesetas continuaron siendo los mismos, pero el cambio de mensaje de la nueva etapa histórica se manifestaba claramente: el perfil de rey miraba hacia el otro lado y la leyenda decía simplemente: Juan Carlos I, rey de España. Por lo tanto, también a través de ejemplos actuales, más familia- res, puede hacerse comprender la manera de ver y entender toda la ri- queza ideológica que contiene una moneda, desde el momento de su invención hasta la actualidad. Vayamos ahora a las inscripciones sobre materiales lapídeos, cen- trándonos en ejemplos de Cataluña y empezando por las musivas. En una parte de los mosaicos aparecen textos muy variados, más allá de los rótulos alusivos a las imágenes, de la indicación de los comitentes o de los talleres (Gómez Pallarès 1997). Ejemplifiquemos con un caso en el que, el análisis de la iconografía ha permitido una interpretación dife- rente de la tradicional y más acorde con el contenido de la inscripción; se trata del mosaico de la villa dels Ametllers en Tossa de Mar (IRC III, 11; Rodà 1994; Gómez Pallarès 1997, GI 6, pp. 99-101, Vivó 2010). Presenta una potente imagen con un marco arquitectónico estructura- do mediante tres arcuaciones sostenidas por columnas; la central, de mayor anchura y altura, está presidida por una figura humana. Encima, leemos claramente: salvo Vitale, felix Turissa, si Vitalis goza de salud,

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 96 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad

Turissa es feliz. Debajo, la indicación del taller: ex officina Felices, del taller de Félix. El propietario del fundus es claramente Vitalis, nombre que se ha perpetuado en la onomástica catalana bajo la forma Vidal; la atracción de este nombre llevó a identificar la representación humana precisamente con Vitalis, pero si nos fijamos en su indumentaria y sobre todo en el velo que cubre su cabeza y la corona sobre la frente, hemos de decantarnos forzosamente por una interpretación de la imagen como la alegórica de la villa de la que en esta ocasión conocemos de manera no habitual el nombre: Turissa, de la que deriva el nombre de la pobla- ción actual: Tossa en la provincia de Girona (Rodà 1994; Vivó 2010) (Fig. 2). Es siempre importante, por lo tanto, volver a plantearse la inter- pretación de las piezas, por muy conocidas que éstas sean e intentar comprenderlas en su totalidad, sin dejar de lado ninguno de sus com- ponentes que, lógicamente, están interrelacionados entre sí y por fuerza texto e imagen no son compartimentos estancos. Resulta también imprescindible conocer el entorno geográfico en el que se enmarcan las inscripciones, o al menos estar familiarizado con él. En ocasiones, la conclusión resulta tan evidente que parece mentira que no se hubiera formulado con anterioridad. Es el caso de la salida al mar del conventus Caesaraugustanus a través de Oiasso, actual Irún que una tesis puso claramente ante nuestros ojos (Ozcáriz 2006). La topografía de las ciudades ayuda también en gran manera a la correcta interpretación de las inscripciones. Pongamos por caso el de las dos únicas coloniae de la actual Cataluña: Tarraco, actual Tarrago- na, y Barcino, hoy Barcelona. Tarraco es la capital provincial y con- ventual, de orígenes republicanos, ubicada en una elevación que supera los 80 metros de altura, lo que obligó a una estructuración en terrazas. Barcino, en cambio, es una ciudad pequeña, parvum oppidum según Mela, de nueva planta, fundada por Augusto en el llano. Un problema siempre candente es el de la delimitación de los te- rritorios de las ciudades vecinas. Topografía, toponimia y epigrafía son las bazas más seguras con las que contamos, aunque no siempre las te- nemos a nuestra disposición. Examinemos cuál era el límite de los agri de Tarraco y Barcino, ciudades que estaban unidas por el trazado de la vía Augusta. Las fuentes itinerarias nos indican el topónimo ad Fines que se ha venido ubicando junto al río Llobregat (antiguo Rubricatum) en el término municipal de Martorell; para cruzar el río en este punto, el más angosto (“congost”), los romanos construyeron un puente, el único

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 97 que se conserva hoy en Cataluña aunque muy reformado en varias épo- cas. En uno de sus extremos (correspondiente al término municipal de Castellbisbal) se alza un arco que creemos que debe considerarse como territorial; es decir, sería el que marcaría los fines, los límites entre los territorios de Tarraco y Barcino (Fig. 3). En lo que a cronología se refiere, parece que la tenemos bien ce- rrada: correspondería al momento posterior de la finalización de la se- gunda campaña de las guerras cántabras (19 a.C.), cuando se reorganiza el tercio norte peninsular, se fundan las ciudades de Caesar Augusta (Zaragoza) y Barcino (Barcelona) y se estructura el trazado de la vía Augusta que constituye una auténtica red de carreteras, y no sólo el itinerario de Gades (Cádiz) a Roma según los vasos de Vicarello. Pre- cisamente la constitución de esta red viaria romana está en la base del futuro camino de Santiago. El mismo puente romano sobre el río Llobregat nos da la clave para fijar su fecha. En primer lugar, la tipología del arco corresponde a época augustea, con un paralelo cercano en el arco de Berà del que hablaremos a continuación. La prueba más sólida nos la proporcionan las inscripciones, ya que en los dos estribos del puente se conservan las marcas de las legiones que lo construyeron: la IV Macedonica, la VI Victrix y la X Gemina, las mismas que tuvieron a su cargo la cons- trucción de la colonia de Caesar Augusta (IRC I, 1; IRC V, pp.15-16; Gurt-Rodà 2005) (Fig. 4). Otro arco sobre el trazado de la vía Augusta es el de Berà en el punto donde la actual carretera N-340 coincide con el de la calzada de la vía Augusta. La inscripción que se conserva hace referencia a Lucio Licinio Sura, por lo cual se tuvo siempre como correspondiente a la época trajanea. Mérito indiscutible de Xavier Dupré fue el de demos- trar, sin sombra de duda, que tanto el arco como la inscripción corres- ponden a los tiempos de Augusto y que el Licinio Sura mencionado es un antepasado directo, abuelo o bisabuelo, del prestigioso colaborador del emperador Trajano (Dupré 1994; RIT 930=CIL II2/14 2332; Go- rostidi 2010, 6; Rodà 2014) (Fig. 5). Continuando con el trazado de las vías, es bien sabida la importan- cia de ubicar con precisión los miliarios que en muchas ocasiones han sido objeto de desplazamientos y reutilizaciones. Muy destacables por su antigüedad (finales del siglo II a.C.) son los tres miliarios del pro- cónsul Manio Sergio que marca un trazado de una vía seguramente de carácter militar estructurada con posterioridad a la toma de Numancia

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 98 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad

(133 a.C.) que atraviesa las actuales comarcas de Osona y del Vallès, con el problema de no haber identificado por el momento elcaput viae, a pesar de que tenemos el testimonio de la primera milla en Santa Eu- làlia de Riuprimer (IRC I 175, 176, 181). Aunque hay miliarios que jalonan vías secundarias, como la que comunicaba Auso (actual Vic) con Barcino a través del cauce del río Congost de la que se conserva un interesante agrupamiento de miliarios (IRC I 169-173), la mayoría de los miliarios de la zona catalana corresponden al trazado de la vía Au- gusta, uno de los cuales, muy maltrecho, puede datarse en los años 9-8 a.C. (Fig. 6), con lo cual sería contemporáneo de la fase fundacional de Barcino y de la remodelación del trazado costero de la vía Augusta, al cual corresponde también el miliario de Vilassar de Mar (Fig. 7). Menos habituales en nuestra zona son los termini augustales, fun- damentales para la delimitación de territorios. Si bien en el norte can- tábrico, los límites de los prata legionarios son conocidos gracias a un número considerable de epígrafes y en otras regiones del Imperio sucede otro tanto (Cortés 2013), en la zona catalana contamos sólo con un ejemplar y aun así tenemos dudas sobre los territorios que delimi- tan. Nos referimos al terminus de Montornés del Vallès (IRC I 200 en IRC V, pp. 37-38), la lectura de cuya cara frontal no presenta proble- mas, pero en cambio en una de las laterales leemos: [- - -]++/NESIVM (Fig. 8). El grabador de la inscripción olvidó sin duda la N entre la E y la S, pero con todo, ¿a los habitantes de qué núcleo haría referencia el final NENSIVM: Barcinonensium, Baetulonensium, Ausonensium…?, si tenemos en cuenta los territorios de las ciudades más próximas. Nos inclinamos a considerar más bien la primera posibilidad y que en el otro lateral posiblemente se indicaría Baetulonensium, con lo que ten- dríamos el término que marcaría los límites entre la colonia de Barcino y el municipio de Baetulo. Con ello, y gracias a la epigrafía, parece que tenemos bien precisado el territorio o ager barcinonense, entre el río Llobregat (el arco del puente de Martorell-Castellbisbal) y Baetulo, topónimo que corresponde tanto a la ciudad que es la actual Badalona como al río, hoy día el Besós. Pasemos ahora a otra vía que nos permite vislumbrar la epigrafía: la sociedad. Sin los mensajes que nos transmiten las inscripciones, ¡qué poco sabríamos de quienes se ha dado en llamar los romanos invisibles o los olvidados de Roma! (Knapp 2011), ni tampoco se hubieran po- dido escribir las jugosas síntesis sobre las elites y los aspectos sociales que han proliferado en los últimos años con un altísimo nivel (Rodrí-

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 99 guez Neila-Navarro 1999; Navarro-Demougin 2001; Panzram 2002; Rodríguez Neila-Melchor 2006; Pérez Zurita 2011; Caballos 2012; Alföldy 2012). Rastreemos algunas inscripciones de la colonia de Barcino. Según hemos comentado más arriba, Barcino era una ciudad de reducidas dimensiones (unas 11 hectáreas), pero posee, en proporción, un corpus epigráfico muy nutrido, gracias sobre todo a la recuperación de las inscripciones reutilizadas en la construcción de la muralla de finales del siglo III d.C. IRC( IV; Rodà 2013; Ravotto 2014 y 2017). Gracias a los hallazgos, conocemos el nombre de un buen número de los magistrados municipales y sus actividades. Un caso excepcional lo constituye la inscripción de Caius Coleius, el duunviro quinquenal que tuvo a su cargo la construcción del circuito amurallado con sus torres y puertas (Fig. 9). En el momento actual hay acuerdo sobre su cronología: la época augustea; en efecto, los datos paleográficos lo in- dican claramente, con lo que las murallas aludidas serían las del primer momento de la ciudad que se estaba alzando ex novo en el llano. Más difícil es dilucidar el exacto lugar del hallazgo, que se ha de reubicar en el casco histórico de Barcelona y no en la montaña de Montjuïc (IRC IV, nota 186; Ravotto 2017). En este bloque tenemos, pues, la que podríamos considerar como piedra fundacional de la ciudad, en la línea de la política evergética promocionada por el emperador Augusto, y nos parece probable que Cayo Celio tuviera a su cargo la elaboración de un primer censo de la población, en función de su cargo como duunviro quinquenal. ¿Quiénes fueron los primeros habitantes de Barcino? Los epígra- fes, y también los monumentos escultóricos nos lo evidencian: la pri- mera masa poblacional de Barcino la constituyeron colonos itálicos, cuya presencia se deja notar en otras ciudades costeras como Tarraco, Baetulo o Emporiae (Rodà 1993, 2011). Traigamos a colación una de las inscripciones barcinonenses de mediados del siglo I d.C., que nos da cuenta de tres generaciones; el personaje que aquí nos interesa es el de la abuela, una ingenua por nombre Numitoria, de evidente raigambre itálica de la zona del Lacio y que debió formar parte del primer contin- gente de habitantes de la ciudad (IRC IV 58) (Fig. 10). De todas maneras, surge una duda: ¿estos itálicos procederían di- rectamente de las regiones del centro de Italia o bien llegarían a través de la ciudad de Narbo Martius (Narbona) en la que hay asimismo una presencia notable de personajes de esta procedencia? Los contactos en-

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 100 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad tre la capital de la Narbonense y el nordeste de Hispania citerior son patentes y por ello, creemos que ambas vías no son excluyentes sino complementarias (Rodà 2000). Como decíamos, también la escultura, reutilizada en su mayor parte en las murallas del siglo III d.C., nos apunta a un horizonte itáli- co. Es patente en los cuerpos tallados en la piedra local de las canteras de Montjuïc que seguramente estaban destinados a soportar un retrato de material más noble, el mármol de Luni-Carrara. A modo de ejemplo, reproducimos el montaje fotográfico de un retrato masculino sobre un cuerpo de piedra arenisca, destinada a ser ennoblecida mediante un es- tucado final que se nos ha perdido; insistimos que se trata de un montaje ilustrativo y que no responde a una realidad arqueológica (Fig. 11). Un hecho evidente en Barcino desde el momento mismo de su fundación es la presencia de la activa clase social de los libertos, que no fueron ajenos a las actividades económicas y a las transacciones del activo puerto de la ciudad en el que desembocaba el río Llobregat (Rubricatum) cuyo cauce permitía una penetración hacia las tierras de interior. La epigrafía anfórica viene a reforzar este importante aspecto (Carreras-Guitart 2009; Carreras-López-Guitart 2013). Barcino se nos presenta así con una sociedad abierta (Alföldy 1984), con gran capacidad de promoción personal, facilitada por el di- namismo del culto imperial al que seguramente estaría dedicado el tem- plo ubicado en la calle del Paradís, de época fundacional y todavía en la línea del estilo triunviral, bien evidente en las oquedades triangulares de las hojas de acanto de los capiteles (Fig. 12). Quizás el caso más rápido, no exento de una carga de emotivi- dad, sea el de la inscripción IRC IV 66, un gran bloque destinado a ser inserto en un monumento funerario de una cierta entidad. Por el texto sabemos que un padre, nacido esclavo, tuvo dos hijos: el primero cuan- d o t o d a v í a n o e r a l i b r e y p o r e l l o , l i b e r t o c o m o é l , p o r l o q u e a m b o s n o pudieron sino aspirar a ejercer el sevirato augustal (IRC IV 11, 109) (Fig. 13). Pero este padre, llamado Cayo Publicio Meliso, cuando había conseguido ya su manumisión tuvo un segundo hijo, al que quiso llamar con otro nomen con el fin de darle otra entidad, bien fuera tomado de su madre o de uno de los epítetos honoríficos de la colonia de Barcino. El orgullo de un padre, nacido esclavo, se refleja en el hecho de que su hijo pertenecía ya a la clase de los ciudadanos, aunque incluido en la tribu Palatina, reservada por lo general a los hijos de los libertos. El hijo de nuestro Publicio tuvo por nombre: Caius Iulius Cai filius Palatina Sil-

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 101 vanus; el hijo de un esclavo, promocionado a ciudadano, y no sólo eso sino que a la temprana edad de 18 años ejercía ya como edil municipal, iniciando una prometedora carrera en la ciudad. La desgracia quiso, no obstante, que a los 18 años y cuatro meses Cayo Julio Silvano muriera, con lo que es fácil comprender el dolor del padre por la pérdida de este hijo en quien habría depositado las esperanzas de una fulgurante pro- moción familiar que quedó estancada en una fase tan incipiente. Otro ejemplo de promoción personal del que tenemos constancia epigráfica es el de Lucio Pedanio Epicteto, liberto de una saga muy par- ticular de Barcino, que parece derivar de un personaje entroncado con la clase senatorial del que sólo conocemos su nombre por un pedestal barcinonense: Lucius Pedanius Secundus Iulius Persicus (IRC IV 37) (Fig. 24). Desde finales del siglo XIX conocíamos la existencia de un pedes- tal dedicado a Lucio Pedanio Epicteto, seviro augustal, por parte de su esposa, Acilia Aretusa (IRC IV 106); a esta misma mujer le dedican otro pedestal su hijo, Pedanio Clemente, y su nieto, Clemente Miniciano (IRC IV 123). El hallazgo reciente de un signaculum de plomo en la vi- lla romana de Veral de Vallmora (Teià) en la costa del Maresme, al norte de Barcino, ha permitido completar la biografía de este personaje (Ro- dà-Martin-Velasco 2005; Martin-Rodà-Velasco 2007). En las dos líneas de este signaculum, leemos: Epicteti L(uci) P(edani)/Clementis, es decir, Epicteto, esclavo de Lucio Pedanio Clemente (Fig. 14). Cuan- do nuestro personaje era esclavo tenía a su cuidado la explotación viti- vinícola de su amo; al haber ejercido eficazmente sus funciones, obtuvo su libertad y ejerció el sevirato augustal en la vecina Barcino. Podemos imaginar que la relación afectiva con su antiguo patrono continuó viva, ya que su hijo se llamó Pedanio Clemente y su nieto Clemente Minicia- no, como sabemos por el pedestal dedicado a su esposa al que hemos aludido (IRC IV 123). De esta manera, vemos que los textos epigráficos van más allá de los aspectos puramente formularios, y nos permiten sumergirnos en el perfil humano de los personajes de los que nos dan noticia, consiguiendo lo que los romanos perseguían: que con el recuerdo de su nombre con- tinuaran en cierta manera vivos, en un anhelo de pretendida eternidad. A esta clase de los libertos, perteneció el personaje privado más homenajeado de todo el Imperio: Lucio Licinio Secundo que lo fue del poderoso Lucio Licinio Sura, estrecho colaborador de Trajano. El foro de Barcino en el corto lapso de tiempo transcurrido entre el tercer con-

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 102 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad sulado de Sura (107 d.C.) y su muerte, acaecida hacia el 108, se llenó de pedestales, coronados por las correspondientes estatuas, para home- najear a Licinio Secundo ya que tenemos atestiguados 24 monumentos epigráficos en su honor, por el hecho que era clave para establecer un contacto con su influyente patrono, más allá de la fortuna personal que este liberto hubiera podido amasar (Fig. 15). Algunos se han perdido, otros están en un estado de conservación deficiente, y los demás se cus- todian en el Museu Arqueològic de Catalunya o en el Museu d�Història de Barcelona (IRC IV 83-104). Un grafito recientemente descubierto en la casa más lujosa de la Barcino de comienzos del siglo II d.C. ubicada en la calle Avinyó, permite la lectura [- - -]+icini (uacat) s[- - -], con lo que es tentador relacionar esta casa con Licinio Secundo (Rodà 2014, p. 31). Aunque no es demasiado conocido por los barceloneses actuales, todavía el recuerdo de Licinio Secundo está presente en la moderna decoración pictórica del consistorio barcelonés (Fig. 16) que de esta manera perpetúa la memoria de su ilustre hijo, nacido esclavo y después liberto, de comienzos del siglo II d.C. El valor histórico de los textos grabados en los diversos monu- mentos se mantiene a pesar de que el original se haya perdido, siempre y cuando el copista del momento fuera fiable y respetuoso con lo que está intentando transcribir. En este aspecto, el estudio de los manus- critos epigráficos no sólo mantiene hoy en día todo su vigor sino que constituye una línea de investigación muy activa. Pongamos un ejemplo barcelonés (IRC IV 112). Por un manuscri- to de la Biblioteca de Catalunya (742, fol. 152 rº) conocíamos la exis- tencia de un pedestal dedicado al liberto y seviro augustal Cayo Trócina Synecdemo, perteneciente a una gens muy enraizada en Barcino a tra- vés de los libertos. En 1989 el pedestal original se redescubrió empo- trado en un muro del presbiterio de la rectoría de Castelldefels donde el manuscrito indicaba que estaba conservado. Comprobando manuscrito y original, vemos la bondad del copista que tan sólo dejó de registrar los ápices de las líneas 3 y 5 (Fig. 17). Los pedestales son una forma de monumento que proliferó a par- tir de la época Flavia (Alföldy 1979) y sirvió para homenajear tanto a divinidades, como a emperadores, senadores, caballeros, ciudadanos o libertos, con una enorme versatilidad para contener los textos más diversos. Al tener un gran número de ejemplares en Barcino, podemos tener una visión suficientemente amplia del gobierno municipal y de los

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 103 diversos magistrados, comprobando que entre finales del siglo I d.C. y mediados del II d.C. los cargos estaban en manos de unas mismas fa- milias, constituyendo lobbies que ejercían el poder que podía pasar de padres a hijos (Rodà 2010). Un caso que ha podido ser comprobado recientemente es el de la gens Calpurnia. Conocíamos al magistrado Quinto Calpurnio Flavo, hijo de Quinto, edil y duunviro a los 29 años, al que el senado bar- cinonense concedió post mortem los honores flaminales (IRC I V 5 5 ) (Fig. 18); en 2007, reutilizado en la iglesia de Santa Maria del Pi, se rescató otro pedestal, esta vez dedicado a un homónimo Quinto Cal- purnio Flavo, pero esta vez hijo de Lucio y habiendo ejercido todos los cargos de la carrera municipal de Barcino (Rodà 2011-2012); este nuevo pedestal, por la presentación del texto, corresponde a finales del siglo I d.C. y nos atestigua cómo el primer Calpurnio Flavio, hijo de Lucio, fue el padre y pasó el testigo a su hijo que se declara hijo de Quinto (Fig. 19). Saltando a los pedestales de la clase senatorial, conservamos dos de Lucio Minicio Natal junior (IRC IV32-33), uno de los cuales con- tiene su testamento, legado en primera persona, con lo cual el mensaje es directo en modo absoluto; reza así: colonis Barcinonensibus ex His- pania Citeriore apud quos natus sum… (IRC IV 33); son las propias palabras de Minicio Natal hijo que declara abiertamente su nacimiento en Barcino. Junto con su padre, llamado también Lucio Minicio Natal, son los dos únicos senadores conocidos originarios de Barcino. Ambos culminaron su carrera con el proconsulado de África y el hijo fue gana- dor (aunque seguramente no el auriga) de una carrera de carros durante la 227 Olimpiada (129 d.C.). Ya que Barcelona fue sede de los juegos Olímpicos en el año 1992 y que 2016 ha vuelto a ser año olímpico, queremos recordar este hecho que se conmemora en una inscripción en cuatro bloques, tres de los cuales se conservan junto al muro de la palestra de Olimpia y de los que se han hecho dos calcos que se ex- hiben públicamente en Barcelona, uno en la sede del Museu i Centre d’Estudis de l’Esport Dr. Melcior Colet, ubicado en la Casa Company de Puig i Cadafalch, y otro en la anilla olímpica de la montaña de Mon- tjuïc, frente al edificio del INEFC. El texto de la inscripción nos hace saber que venció sin haber sufrido ningún accidente y que ofreció su propio carro como vencedor al santuario de Zeus (SIG 287; Dittenber- ger-Purgold 1896, 236; Rodà 1988; Verrié 1989) (Figs. 20 y 21). Dejando el ámbito de los monumentos epigráficos en forma de

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 104 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad pedestales monolíticos o tripartitos, si entramos en el mundo funerario, se nos abre un abanico tipológico mucho más amplio, pero sujeto por regla general a las posibilidades que ofrecían los talleres en las diversas ciudades sobre todo para los clientes con unas posibilidades económi- cas más limitadas. Sabemos que también en nuestros días salirse de lo standard tiene un considerable coste añadido. En Barcino tuvo un éxito especial un tipo de monumento funera- rio, bien conocido en otras áreas del Imperio (Andreu 2012), pero cabe destacar la gran cantidad de ejemplares recuperados en Barcelona, hasta constituir un 10% de la totalidad de los hallazgos epigráficos en la ciu- dad; nos referimos a las cupae. Desde la época fundacional se conocen cupae structiles en la necrópolis de la plaza de la Vila de Madrid, siendo posteriores las monolíticas (AA.VV. 2007; Beltrán-Rodà 2012). Los destinatarios de estos monumentos funerarios son en su inmensa ma- yoría esclavos y libertos; en un caso incluso en el texto encontramos el específico nombre de cupa, que se menciona en el epitafio de Valerio Melipo (IRC IV 219) (Fig. 22). Los mensajes en directo que nos transmiten las inscripciones se nos hacen más cercanos cuando podemos detectar errores humanos. En talleres de medio pelo es fácil imaginar la poca cualificación de los artesanos, que podían estar incluso no demasiado familiarizados con la cultura escrita. Es lo mismo que podemos encontrar algunas veces en la prensa cotidiana o en reclamos publicitarios donde no es un hecho insó- lito observar el auténtico embrollo que alguien puede hacerse al intentar escribir, por ejemplo, la palabra curriculum (Fig. 23). También, la cuestión de las siglas y las abreviaturas Hasta hace no muchos años, generalmente todo el mundo ante la lápida de un cemen- terio, desarrollaba la fórmula R.I.P como requiescat in pace. Ahora, el nivel ha descendido y como mucho RIP se relaciona con alguien que ya no está en este mundo. El latín ya es, desgraciadamente, un mundo lejano que no forma parte del bagaje cultural de la enseñanza media y, por otra parte, los formularios evolucionan y cambian y ahora se graba con mayor frecuencia E.P.D. o D.E.P., en paz descanse o descanse en paz (Rodà 2012, p. 207). Estas reflexiones sobre materiales de nuestra época, nos puede ha- cer comprender mejor cómo se produjeron en el mundo romano errores de grabado. En algunos casos, se trata de olvidos que se corrigieron sobre la marcha y que la pintura final ayudaría a disimular hasta hacer- los prácticamente invisibles. Es el caso del pedestal barcelonés (IRC IV

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 105

37) en el que se grabó precipitadamente la D del cognomen Secundus, saltándose la N, con una corrección de grabado evidente (Fig. 24). Casos como el que acabamos de comentar son frecuentes y los ejemplos abundantes. Otros en cambio no resultan tan evidentes y cues- ta más dar con una explicación certera; un primer paso para conseguir- lo es intentar reproducir el modelo de la minuta y comprender en qué punto se ha podido producir una defectuosa interpretación de la letra cursiva en su paso al grabado en capitales cuadradas. Este sería el proceso de la placa funeraria de Heuresis y Melodia, conservada en el Museo Episcopal de Vic (IRC I 28) (Fig. 25). Además de los problemas onomásticos y de la relación entre los dos nombres femeninos que contiene el texto, la cuarta línea resulta incomprensible tal y como está nítidamente grabada en un estado impecable de conser- vación; no se trata, pues, de dificultades de lectura de los caracteres, sino de comprender su significado. El cambio de P por B en la última palabra, no tiene mayor problema, pero las letras ED no pueden inter- pretarse como un cambio de D por T en una conjunción ET que aquí no tiene ningún sentido. La clave interpretativa viene dada por la minuta en cursiva: el lapicida, no muy ducho en el oficio, interpretó mal un lib en cursiva pensando que li con un poco ostensible trazo horizontal sería una E cursiva de dos trazos paralelos (II=E). Por otra parte, no hay demasiada diferencia entre una B y una D cursivas, con lo que el buen artesano grabó este incomprensible ED cuando en realidad habría tenido que escribir la abreviación LIB, desarrollable como LIB(ertae) o LIB(ertis), según se piense en dos mujeres, en una liberta de la otra, o bien en una sola liberta con dos cognomina. En mi experiencia docente de la asignatura de Epigrafía, he venido comprobando que entrar en estos detalles del grabado de las inscripcio- nes, ayuda a comprender el proceso de elaboración de unos materiales por parte de unos hombres que se encontraban con unas dificultades no demasiado diferentes a las que podríamos experimentar nosotros mis- mos. El alumno se siente más próximo a la inscripción al entrever el factor humano que hay detrás de ella. Al intentar completar el texto de una inscripción fragmentaria y hacer ver que no se trata una invención fantasiosa, causa también un gran efecto mostrar imágenes parciales de iconos actuales muy recono- cibles a pesar de que sólo se tenga una pequeña parte del todo. Mostrar de esta manera el método tiene su utilidad en un alumnado que en su mayoría no ha seguido ni un solo curso de latín. De esta manera no le

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 106 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad cuesta identificar la siguiente fotografía a pesar de su carácter fragmen- tario (Fig. 26). De todas maneras, en ocasiones, los escritos lapidarios al preten- der una concisión y brevedad máximas inducen a error, como es el caso de la inauguración de la villa romana de Quintanilla de la Cueza (Palen- cia) ni más ni menos que en el año 1986, en lugar de hacer constar que lo que se inauguraba en realidad era la presentación museográfica de la misma (Rodà 2012, p. 206). Es necesario recurrir a estrategias que conecten con el mundo ac- tual para que la Epigrafía y su metodología no se conviertan en algo absolutamente esotérico revestido de una corteza imposible de romper. El hecho de insistir en el carácter de mensaje en directo de la Antigüe- dad, tiene su gancho y resulta un punto de vista atractivo, además de ser 100% real. Con este final, y tras examinar algunos ejemplos singulares de epí- grafes que nos abren las puertas a un mayor conocimiento del mundo romano en nuestra zona, hemos intentado algunas piruetas, quizás no demasiado logradas, con la intención de presentar posibilidades que seduzcan a los alumnos que en primera instancia sienten la Epigrafía como algo totalmente inaccesible. Soy consciente de que en este as- pecto, José d�Encarnação es un maestro absoluto y sabe como nadie que las piedras hablan y consigue incluso que un público amplio dia- logue con ellas y comprenda su mensaje. Gracias José por todo lo que hemos aprendido contigo y gracias a ti, sabes conectar e incluso hacer que tu portugués, bien vocalizado y con sabias pausas, se convierta en un idioma comprensible para aquellos que nunca lo han estudiado; un fenómeno inverso al que se produjo en la torre de Babel y semejante en cambio al de Pentecostés. La primera vez que viniste a la UAB a impar- tir una conferencia, con el auditorio a rebosar al día siguiente de un sig- nificativo partido de fútbol Benfica-Barça, te metiste a todo el público en el bolsillo y el personal salió encantado con tu explicación amena y variada, en la que sacaste incluso a pasear el cocodrilo de Lacoste. Los alumnos que habían entrado, temiendo que no entenderían nada al ser un tema epigráfico y en portugués, se quedaron entusiasmados y con la idea de que ni la Epigrafía ni el Portugués eran incomprensibles. Es un don que tienes, José, los demás intentamos estar a la altura, pero a pesar de los esfuerzos, siempre nos quedamos cortos. A modo de captatio benevolentiae toma los que hay en estas páginas como lo que son: un sincero homenaje a tu buen hacer.

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 107

Querido amigo José, son muchos los recuerdos que me vienen a la memoria desde que nos conocimos hace casi 40 años en aquel lejano Congreso Internacional de Epigrafía de Constanza del año 1977 cuando Rumanía estaba en plena dictadura de Ceausescu y habían pasado sólo unos pocos meses del terremoto que afectó a Bucarest; son muchos los lugares del Imperio en los que hemos ido coincidiendo y ahora con el e-mail nos enriquecemos continuamente con la gran cantidad de in- formaciones de actualidad que tú nos envías con una generosidad tan grande. Continuamos practicando los mensajes en directo que nos man- tienen siempre en contacto para recordar, no solamente eventos epigrá- ficos sino también familiares en los que los ramos de flores virtuales de tu jardín no faltan nunca. Quisiera cerrar estas páginas con dos fotografías. La primera reco- ge tu imagen, protegiéndote de un cierto frío en las termas de la ciudad romana de Los Bañales; al cubrirte la cabeza con tu bufanda, me vino a la mente la escultura emeritense del padre de Eneas, Anquises (Figs. 27 y 28). Como se trata de una estatua de la capital de tu Lusitania na- tal, tan querida y estudiada por ti, la he incluido como colofón de estas páginas de reflexiones epigráficas que han sido escritas pensando en José d�Encarnação.

BIBLIOGRAFÍA

AA.VV. La necròpolis de la Plaça Vila de Madrid, QUARHIS 3 2007 12-123. Alföldy, Géza. Bildprogramme in den römischen Städten des Conventus Tarraconen- sis, das Zeugnis der Statuenpostamente, Revista de la Universidad Complutense XVIII 118 1979 (=Homenaje a A. García y Bellido IV) 177-275. Alföldy, Géza. Drei städtische Eliten im römischen Hispanien, Gerión 2 1984 193- 238 (= Die römische Gesellschaft, HABES 1, Stuttgart 1986, 239-284). Alföldy, Géza. Nueva historia social de Roma, (versión española de la 4ª ed. alema- na), Sevilla 2012. Andreu, Javier ed. Las cupae hispanas. Origen, difusión, uso, tipología, Zaragoza 2012. Beltrán, Julia-Rodà, Isabel. Las cupae de la Hispania Citerior, reflexiones sobre su origen y sobre el caso de Barcino, Andreu, Javier ed. Las cupae hispanas. Ori- gen, difusión, uso, tipología, Zaragoza 2012, 77-110. Caballos, Antonio. Del municipio a la corte. La renovación de las elites romanas, Sevilla 2012. Carreras, Cèsar-Guitart, Josep. Barcino I. Marques de terrisseries d’àmfores al pla de Barcelona, Barcelona 2009.

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 108 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad

Carreras, Cèsar-López Mullor, Albert-Guitart, Josep. Barcino II. Marques i terris- series d’àmfores al Baix Llobregat, Barcelona 2013. CIL II2/14=Corpus Inscriptionum Latinarum. Editio altera, voluminis secundi pars XIV, Alföldy, Géza ed., Berlin. Cortés, Carolina. Epigrafía en los confines de las ciudades romanas. Los Termini Pu- blici en Hispania, Mauretania y Numidia, Roma 2013. Dittenberger, Wilhelm-Purgold, Karl edd. Die Inschriften von Olympia, Berlín 1896. Dupré, Xavier. L’arc romà de Berà (Hispania Citerior), Barcelona 1994. Gómez Pallarès, Joan. Edición y comentario de las inscripciones sobre mosaico de Hispania. Inscripciones no cristianas, Roma 1997. Gorostidi, Diana. Ager Tarraconensis 3. Les inscripcions romanes, Documenta 16, ICAC, Tarragona 2010. Gurt, Josep M.-Rodà, Isabel. El pont del Diable. El monumento romano dentro de la política augustea, Archivo Español de Arqueología 191-192 2005 147-165. IRC I= Fabre, Georges-Mayer, Marc-Rodà, Isabel. Inscriptions romaines de Catalog- ne I. Barcelone (sauf Barcino), París 1984. IRC III=Fabre, Georges-Mayer, Marc-Rodà, Isabel. Inscriptions romaines de Cata- logne III. Gérone, París 1991. IRC IV=Fabre, Georges-Mayer, Marc-Rodà, Isabel. Inscriptions romaines de Cata- logne IV. Barcino, París 1997. IRC V=Fabre, Georges-Mayer, Marc-Rodà, Isabel. Inscriptions romaines de Cata- logne V. Suppléments aux volumes I-IV et instrumentum inscriptum, París 2002. Knapp, Robert. Invisible Romans, Londres 2011 (traducción española con el título Los olvidados de Roma, Barcelona 2011). Martin, Antoni-Rodà, Isabel-Velasco, Carles. Cella vinaria de Vallmora (Teià, Bar- celona), un modelo de explotación vitivinícola intensiva en la Layetania, Hispa- nia Citerior (s. I a.C.-s- V d.C.), Histria Antiqua 15 2007 185-212. Navarro, Milagros-Demougin, Ségolène edd. Élites hispaniques, Burdeos, Ausonius 2001. Ozcáriz, Pablo. Los conventus de la Hispania Citerior, Madrid 2006. Panzram, Sabine. Stadtbild und Elite: Tarraco, Corduba und Augusta Emerita zwis- chen Republik und Spätantike, Stuttgart 2002. Pérez Zurita, Antonio David. La edilidad y las élites locales en la Hispania romana. La proyección de una magistratura de Roma a la administración municipal, Cór- doba-Sevilla 2011. Ravotto, Alessandro. La muralla romana de Barcelona. Una empresa de finals del segle III, QUARHIS 10 2014 140-162. Ravotto, Alessandro. La muralla de Barcino, tesis doctoral, UAB 2017. RIT=Alföldy, Géza, Die römischen Inschriften von Tarraco, Berlín 1975. Rodà, Isabel. Luci Minici Natal Quadroni Ver i la societat barcelonina del seu temps. Revista de Catalunya 22 1988, 37-51.

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Isabel Rodà La Epigrafia, mensaje en directo de la Antigüedad 109

Rodà, Isabel. La Barcelona de l’època romana, III Congrés d’Història de Barcelona (Barcelona 1993), vol. 1, Barcelona 1993, 11-24. Rodà, Isabel. Iconografía y epigrafía en dos mosaicos hispanos: las villae de Tossa y de Dueñas, VI Coloquio Internacional del Mosaico Antiguo (Palencia-Mérida 1990), Guadalajara 1994, 35-42. Rodà, Isabel. La escultura del sur de la Narbonense y del norte de Hispania Cite- rior: paralelos y contactos. Actas de la III Reunión sobre escultura romana en Hispania (Córdoba 1997), León, Pilar-Nogales, Trinidad edd., Madrid 2000, 173-196. Rodà, Isabel. La promoción de las elites en las ciudades del conventus Tarraconensis, Pluralidad e integración en el mundo romano, Navarro, Francisco Javier, ed., Pamplona 2010, 177-188. Rodà, Isabel. Imago mortis: el componente itálico en el mundo funerario de Tarraco y Barcino. Mors omnibus instat, aspectos arqueológicos, epigráficos y rituales de la muerte en el occidente romano, Andreu, Javier-Espinosa, David-Pastor, Simone coord., Madrid 2011, 233-254. Rodà, Isabel. La gens Calpurnia de Barcino, CuPAUA M (Homenaje al profesor Ma- nuel Bendala Galán v. II) 37-38 2011-2012 571-577. Rodà, Isabel. Epigraphy and the Media. Epigraphy and the Historical Sciences, Davies, John-Wilkes John edd., Proceedings of the British Academy 177, Oxford 2012, pp.185- 219. Rodà, Isabel. Lucio Licinio Sura, Hispanus, Trajan und seine Städte (Cluj-Napoca 2013), Piso Ioan-Varga, Rada edd., Cluj-Napoca 2014, 21-35. Rodà, Isabel. Darreres troballes epigràfiques en pedra de Barcino. QUARHIS 9 2013 156-163 Rodà, Isabel-Martin, Antoni-Velasco, Carles. Personatges de Barcino i el vi laietà. Localització d’un fundus dels Pedanii Clementes a Teià (El Maresme) a partir de la troballa d’un signaculum de plom amb inscripció (s.II dC), QUARHIS 1 2005, 46-57. Rodríguez Neila, Juan Francisco-Melchor, Enrique, Poder central y autonomía mu- nicipal: la proyección pública de las élites romanas en Occidente, Córdoba 2006. Rodríguez Neila, Juan Francisco-Navarro, Francisco Javier edd. Elites y promoción social en la Hispania romana, Pamplona 1999. SIG= Sylloge Inscriptionum Graecarum, Dittenberger, Wilhelm ed., fasc. posterior, Leipzig 1883. Verrié, Frederic-Pau. La inscripción olímpica del barcinonense Lucius Minicius Nata- lis Quadronius Verus, Espacio, Tiempo y Forma, serie I/2 Prehistoria 1989 303- 312. Villalba, Pere. Olímpia. Jocs i esperit, Barcelona 1992. Vivó, David. Els mosaics. Felix Turissa. La vil.la romana dels Ametllers I el seu fun- dus (Tossa de Mar, La Selva), Palahí, Lluís-Nolla, Josep M., ICAC, Tarragona 2010, 211-227.

Conimbriga, 55 (2016) 91-129 Fig. 1 – Dracma ateniense y euro griego. Fig. 2 – Mosaico de la villa dels Ametllers. Museo de Tossa de Mar. Fig. 3 – El puente sobre el río Llobregat, en primer término el arco territorial.

Fig. 4 – Marcas de las legiones IIII, VI y X en el estribo occidental del puente de Martorell-Castellbisbal. Fig. 5 – Arco de Berà y detalle de la inscripción con el texto ex testamento. L(uci).Licini.L(uci).F(ilii).Serg(ia tribu).Surae. consa[cratum]. Fig. 6 – Miliario de la vía Augusta de Barcino, IRC I 184. Fig. 7 – Miliario de la vía Augusta de Vilassar de Mar. Museu de la Marina, IRC I 183. Fig. 8 – Terminus augustalis de Montornés del Vallès. Fig. 9 – Inscripción de Cayo Celio, constructor de las primeras murallas de Barcino. IRC IV 57.

Fig. 10 – Inscripción dedicada a su hermano, a sus padres y a su abuela por parte del magistrado L. Cornelio Secundo. IRC IV 58. Fig. 11 – Montaje fotográfico de un retrato masculino (nº inv. 8280) en mármol y el cuerpo en piedra local. MUHBA, plaza de la Vila de Madrid. Fig. 12 – Templo de la calle del Paradís. Fig. 13 – Inscripción de la familia de Caius Publicius Melissus. IRC IV 66. Fig. 14 – Signaculum de Epicteto (Teià) y pedestal barcinonense como seviro augustal (IRC IV 106). Fig. 15 – Pedestal dedicado a Lucio Licinio Secundo por decreto de los decuriones barcinonenses. IRC IV 85. Fig. 16 – Imagen de un lapicida grabando un pedestal de Licinio Secundo en una pintura mural de las dependencias del Ayuntamiento de Barcelona.

Fig. 17 – Manuscrito y pedestal originario dedicado a Cayo Trócina Synecdemo. IRC IV 112. Fig. 18 – Pedestal de Quinto Calpurnio Flavo, hijo de Quinto. IRC IV 55.

Fig. 19 – Pedestal de Quinto Calpurnio Flavo, hijo de Lucio y padre del anterior. Fig. 20 – Bloques de la inscripción de Lucio Minicio Natal iunior en el santuario de Olimpia, junto al muro de la palestra.

Fig. 21 – Dibujo reconstructivo de la cuadriga y la inscripción de Lucio Minicio Natal iunior en el santuario de Olimpia, según Villalba 1992, p. 176. Fig. 22 – Monumento funerario de Valerio Melipo en el que se especifica claramente que se trata de una cupa (IRC IV 219).

Fig. 23 – Anuncio en un comercio. Fig. 24 – Pedestal de Pedanio Secundo Julio Pérsico (IRC IV 37), con el detalle de la corrección de N sobre una errónea D. Fig. 25 – Placa funeraria IRC I 28; B y D cursivas.

Fig. 26 – Imagen y nombre fragmentarios de la cantante Skakira. Fig. 27 – El profesor José d’Encarnação en la ciudad romana de Los Bañales.

Fig. 28 – Escultura representado a Anquises, del grupo de Eneas y Ascanio, Mérida. MNAR. Página deixada propositadamente em branco Joaquín L. Gómez-Pantoja Universidad de Alcalá [email protected]

SPOLIA EPIGRAPHICA “Conimbriga” LV (2016) p. 131-143 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_8

Resumo: Este artículo describe y cataloga tres inscripciones antiguas pro- cedentes de Cabeza del Buey (Badajoz), Tarragona y Córdoba que fueron difundidas en redes sociales sin lectura ni comentarios.

Palavras-chave: Hispania, Epigrafía latina, Epitafios, Alfareria.

Abstract: This note describes and lists three latin inscription (respective- ly found in Cabeza del Buey, Badajoz province; Tarragona and Córdoba, ), which were posted on social networks without readings or commenting.

Keywords: Roman Spain, Latin Epigraphy, Tombstones, Kiln.

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 Página deixada propositadamente em branco SPOLIA EPIGRAPHICA

Nullius rei vilis scientia est (Veg. Mulomed., praef. 9).

No sé si el Prof. Encarnação tenía en mente este precepto de Ve- gecio cuando ideó el Ficheiro Epigráfico, la fantástica newsletter eru- dita creada por él en 1982 como un apéndice de la revista Conimbriga, pero lo que escribió veinte años después, cuando su empeño estaba ya consolidado, me hace pensar que así era: en sus propias palabras, la iniciativa había tenido el doble propósito de “rapidamente se darem a conhecer os inúmeros textos epigráficos inéditos que se encontravam ao longo do ano, tanto em Portugal como em Espanha” y que “consti- tui, por outro lado, a oportunidade de descobertas feitas por estudan- tes não ficarem perdidas para o mundo científico, só porque se pensa que um estudo epigráfico carece de vir eruditamente apresentado e com uma integração histórica concludente e exaustiva” (Encarnação 2003). La fecha en que nació el Ficheiro era auspiciosa, pues tras muchos intentos frustrados de renovar la obra de E. Hübner, el proyecto de una nueva edición del volumen hispano del Corpus Inscriptionum Latina- rum se había puesto en marcha y se contaba con los medios precisos para la tarea: el apoyo institucional y económico del DAI y el com- promiso de un grupo de investigadores, fundamentalmente españoles y portugueses, dispuestos a realizarla. Aparte de unos cuantos seniores, la mayor parte de quienes participábamos en ese proyecto estábamos en pleno proceso de iniciación epigráfica –leéase, doctorado– y, con la suerte del principiante, redescubriamos el rico e inexplorado patrimo- nio epigráfico de España y Portugal. Hemos sido muchos los que nos hemos beneficiado de la gentil acogida con la que el Prof. Encarnação recibía las modestas noticias de los epígrafes que nos íbamos encon- trando. En mi caso, la colaboración empezó en 1995, con unas notas sobre

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 134 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica tres pequeños fragmentos de Tiermes; desde entonces le he enviado con irregularidad noticia de un par de decenas de epígrafes, fundamental- mente procedentes de los conventus Cluniensis, Caesaraugustanus y Emeritensis. En muchas ocasiones, esas notas iban firmadas con mis colaboradores, cumpliendo así con el propósito del Prof. Encarnação de convertir el Ficheiro en un instrumento docente. Además, en 2003, aprovechando un proyecto de digitalización epigráfica financiado por la UE, recopilamos en un solo volumen las primeras 300 inscripciones publicadas en la revista, cuyos fascículos más antiguos estaban ya ago- tados y eran muchos los colegas que deseaban hacerse con la colección completa (Gómez-Pantoja, Madruga Flores & Rodríguez Ceba- llos, 2003). Cuando esto escribo, la serie ha publicado ya 570 inscrip- ciones y su frecuencia anual se ha hecho mayor gracias a la prudente decisión de difundirse exclusivamente por vía digital. Precisamente esta circunstancia me lleva a ocuparme de tres epí- grafes que ni he descubierto examinando las paredes de viejos edifi- cios ni proceden –que yo sepa– de excavaciones arqueológicas. Por el contrario, sé de ellos porque otras personas a las que les llamaron la atención los difundieron en las redes sociales y tras el oportuno peri- taje, comprobé que eran inéditos e interesantes; además, en un caso al menos, he podido constatar como la noticia y los datos desaparecieron a las pocas semanas, pasando la inscripción a estar en “paradero des- conocido”. Hago notar un caveat: en ninguno de los tres casos he tenido opor- tunidad de examinar de visu las piedras, lo que es irrelevante en una de ellas porque, por su posición, la autopsia es imposible sin medios extraordinarios. Las dos piezas restantes difícilmente hubiera podido verlas por proceder del comercio anticuario, pero las fotografías son buenas y los epígrafes no presentan especiales problemas de lectura. Mi intención, pues, es documentar unos hallazgos que corren el peligro de extraviarse o no ser tenidos en cuenta; haciéndolo, espero que otros puedan corregir los potenciales errores y omisiones que contengan las siguientes noticias. Al redactarlas, me atengo al deseo de Encarnação de “um esquema simples, de «ficha», em que os elementos epigráficos propriamente di- tos ocupem o lugar proeminente: indicação precisa do que se sabe acer- ca do local de achado e do seu contexto arqueológico, paradeiro actual, descrição minuciosa, leitura comentada e, se possível, algum comenta- rio histórico. A inclusão de uma boa fotografia ou, na sua ausência, de

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica 135 um desenho elucidativo também se reputou essencial” (Encarnação, 2003).

Fragmento de epitafio de Cabeza de Buey, Badajoz

Sirve de sillar esquinero en la fachada principal de la torre de la iglesia de esa localidad pacense, bajo la torre. En su situación actual está a una altura inaccesible, en posición tumbada pero con la cara ins- crita a la vista y se trata de un de cipo de granito, cuya forma actual es el resultado del ajuste a su función arquitectónica, lo que impide deter- minar si originalmente tuvo la cabecera redondeada que presentan las dos inscripciones locales conocidas. A consecuencia de su empleo, está rota por los cuatro costados, pero la mutilación es crítica por arriba y en el lado derecho, puesto que solo se conservan – y de modo parcial – las tres líneas finales del epitafio; por la derecha, es posible que el texto esté completo, pues la junta de mortero puede ocultar lo que falta de la pri- mera letra; en el lado opuesto, son parcialmente invisibles las últimas letras y se ha perdido completamente al menos una más; y de la primera línea sólo quedan los rasgos inferiores de 6-7 letras, que no resultan fáciles de identificar. Fuera de ello, hay además unas pocas abrasiones que desfiguran alguna letra, pero considerando que se trata de granito, es sorprendente la buena conservación del epígrafe, lo que refuerza la idea de que ha permanecido protegido hasta hace poco. No la he visto y la describo a partir de la noticia de Francisco Pérez Solis, de Trujillo, Cáceres, quien la publicó en una red social y a mis preguntas, compartió gentilmente sus obsevaciones y la foto adjunta. Dado que por su posición es un epígrafe muy visible, he buscado referencias a él en la bibliografía de los pasados venticinco años, sin fortuna, quizá porque el enfoscado de la fachada de la iglesia se ha re- novado no hace mucho y posiblemente se aprovechó esa circunstancia para dejar al descubierto los sillares cantoneros (Fig. 1). Con las prevenciones debidas a las condiciones en que se realiza, la lectura del letrero es

- - - - - [- - -] V + + +ỊḶỊṢ[- - -] [- - -] ạnn(orum) Ḷ[- - -] [- - -] ḥ(ic) · s(itus/a) · e(st) · s(alve?) · s(it) · t(ibi) [t(erra) l(evis)]

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 136 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica

En la l. 1 sólo se identifica con certeza la primera letra visible, por el claro vértice inferior; de las restantes, los rasgos de la antepenúl- tima y última sugieren, sin total seguridad, que puedan ser L y S res- pectivamente, lo que justifica adecuadamente que los trazos verticales inmediatos se interpreten como sendas I, lo que por otra parte, es una conjetura adecuada. En l. 2, la inclinación del primer rasgo, seguido de doble N, identi- fica con seguridad de qué letra se trata, mientras que el mínimo indicio de brazo inferior del último glifo sugiere una L. En el renglón final, no hay problema con las siglas, pero sí con su sentido, dado que lo escrito se aparta de lo habitual. Solo he encontrado otros tres ejemplos de la secuencia S·S·T·T·L·, todos ellos hispanos y procedentes de la misma comarca: el primero es un fragmento de epita- fio gaditano, cuyo primer editor (Vera y Chilier, 1897, p. 56) resolvió como s(alve) s(it) [t(erra) l(evis)], lo que Hübner (EE 9, 240) consideró plausible; casi un siglo después González (1982, cat. n. 340) sugirió en cambio s(it) s(ibi) [t(erra) l(evis). Ambas posibilidades apenas resultan satisfactorias por falta de paralelos, por lo que cuando la secuencia apa- reció en un epígrafe de Baelo (Tarifa, Cádiz) en el que también se había escrito Vbalerius, sus editores pensaron que lo más prudente era expur- gar la S redundante por juzgarla un involuntario metaplasmo de la T (Bonneville, Dardaine & Le Roux, 1988, cat. n. 29; HEpOl 6035). Pero el hallazgo en el mismo sitio de una tercera inscripción con esas siglas (Le Roux, 2009; HEpOl 26423), ha llevado a uno de los editores anteriores a rechazar la hipótesis del error y retomar la sugerencia de Vera y Chillier. La fortuna de que la interpunción se usase regularmente en esos tres epígrafes y que los de Baelo conserven completa la fórmula, afecta a la edición del fragmento de Cabeza del Buey, porque se puede descar- tar que la S reduplicada fuera parte de la fórmula h(ic) s(itus/a) es, es d e c i r , c o n e l v e r b o e n s e g u n d a p e r s o n a s i n g u l a r , c o m o o c a s i o n a l m e n t e aparece en otros epitafios, aunque siempre acompañando a positus/ deposita y nunca con situs/a. Por otra parte, los editores de la inscrip- ción de Cádiz entendieron que la S suprimía un elemento de la clási- ca fórmula S T T L; pero como sucede también en el caso de Cabeza del Buey, ese fragmento está mutilado por la derecha, por lo que no hay inconveniente en resolver en ambos casos s(- - -) s(it) t(ibi) [t(erra) l(evis)], a ejemplo de lo atestiguado en Baelo. El significado de la nueva sigla es incierto, pero s(alve) continua siendo la más plau-

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica 137 sible solución, porque ese saludo figura en muchos epígrafes hispanos, en ocasiones abreviado y casi siempre sustituyendo a las fórmulas se- pulcrales habituales. Nótese, sin embargo, que una inscripcion de Lu- ceria (AE 2004, 439) termina con la secuencia hic sita est salve y que en otra temprana de Carthago Nova (Abascal Palazón & Ramallo Asensio, 1997, cat. n. 122); HEpOl 1106) la misma fórmula incluye la sigla s(alve). De Cabeza del Buey se conocen otros tres epígrafes funerarios, de los cuales uno está grabado sobre una lastra de pizarra, muy estropeada (CIL II-27, 951; HEpOl 4524). Los dos restantes son cipos de granito con cabecera semicircular encontrados en una necrópolis de la finca “Castillo de Belén” y que están ahora depositados en el Museo Arqueo- lógico de Badajoz (CIL II-27, 949-950: HEpOl 4522-4523); ambos con- servan el epitafio completo y ello permite aventurar que el nombre del difunto iba en la parte perdida del monumento.

Fragmento procedente de Tarraco?

El siguiente epígrafe apareció ofertado a mediados de marzo de 2016 en la página W3 de un famoso foro de coleccionismo, desa- pareciendo pocos días después, posiblemente comprado por alguien. Aparte de las medidas del soporte, el otro único dato que se ofrecía era su procedencia tarraconense, pero todo ello iba acompañado de media docena de fotos que permiten precisar la condición del fragmento y su contenido. Se trata de a pequeña esquirla de una placa de caliza local, cuya cara inscrita fue pulida mientras la parte trasera apenas estaba desbastada; sus medidas son (17) x (12,5) cm y el grosor (que no se precisaba) puede estimarse entre 3 y 4 cm. El fragmento muestra al- gunas erosiones superficiales en la cara inscrita, siendo las mayores las que afectan al borde mismo la pieza y a la esquina superior izquierda; los otros tres lados son resultado de la rotura de la pieza original, que parece haberse fracturado aprovechando los rasgos tallados de las letras (Fig. 2). Se conservan los finales de cuatro líneas y tres letras incompletas de la quinta y última; las letras son capitales con gracias destacadas y rasgos curvos, miden 1,5-1,6 y fueron talladas con cuidado y pre- cisión.

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 138 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica

Lo que se lee es ------[- - -]+ius [- - -]us · Aes- [- - -]unensis [- - -ann(orum) - -]XVIIII [- - -] + s · + ------

El pequeño tamaño y la fragmentación de la pieza impide propo- ner una lectura coherente del texto. Resuelvo línea a línea las ambigüe- dades de lectura, al tiempo que ofrezco mi interpretación:

1: la cruz corresponde a parte del brazo derecho de una letra que, por su inclinación pudo ser una A, M o R; la N queda descartada a la vista de los otros casos presentes en este epígrafe. Hay unos cuantos gentilicios en –aius, pero todos ellos son infrecuentes o de muy limitada difusión, como sucede con el hispánico Aius, bien representado en el interior de la Penínsular pero que aquí no se considera a la vista de la posible origo del difunto (vid. infra). En cambio, los nomina en (Artemius, Decimius, Maxi- mius, Mummius, Primius, etc) o en (Laberius, Ligurius, Ma- rius, Numerius, Sertorius, Varius, etc) fueron tan corrientes y extendidos que es vano empeño proponer una reconstrucción, especialmente cuando dos de ellos, Septimius y Valerius, fueron especialmente populares en la Citerior en general y en Tarraco en particular. 2: la primera letra es una V, porque su trazo es aún visible a pesar de la herida; es quizá parte de un patronímico, en el que filius o libertus se expresó sin abreviar. Sigue el comienzo de un nom- bre como Aes[tivus], Aes[chines], Aes[opus] u otros menos co- rrientes con la misma secuencia inicial. 3: de la primera letra sólo queda el vértice inferior, que pue- de corresponder a una V cuyo brazo derecho coincide con la l í n e a d e f r a c t u r a d e l a l á p i d a . E s t o p e r m i t e s u p o n e r q u e l a origo expresada fuera probabblemente [L]unensis o [ L u g u - djunensis]. 4: indudablemente la edad, que resulta imposible de precisar; nó- tese la anómala forma aditiva del numeral.

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica 139

5: la primera cruz, plausiblemente una I, mientra que la segunda puede ser I o L y menos probablemente, E o H. Por lo tanto, el epitafio de un varón de posible origen Lugdunenis o Lunensis que se suma a los muchos alieni atestiguados en la capital de la Hispania Citerior.

Otro ladrillo estampillado de Sollemnis

En el mismo foro de Internet en el que se difundió la anterior lápi- da, se ponía también a la venta un fragmento de ladrillo en cuyos lados mayores hay sendos letreros estampillados en alto relieve. No se ofecen datos sobre su procedencia y dimensiones, pero se dice que pesa 6,5 kg y se adjuntan cuatro fotos. Por el domicilio del vendedor y lo que se dice a continuación, puede suponerse que el ladrillo procede de Corduba (Fig. 3). Obviamente no he examinado la pieza y la describo a partir de la información disponible. Lo que se lee en cada una de las caras es

Sollem[nis] || [S]ọllem[nis]

Se trata de uno más de los lateres pedales salidos del horno de un conocido ladrillero, cuyas producciones se identifican por llevar su nombre en el canto, escrito a veces de forma retrograda. El sello sue- le aparecer como aquí en lados opuestos o bien repartido por un lado largo y el adyacente, es decir, Sollem||nis. Hay una pieza en la que el nombre va sorprendentemente en acusativo y otras en que le acompaña la expresión NICARE, cuyo significado se ignora. Todos los ladrillos proceden de la mitad más occidental de la Baetica, entre ellos la propia Corduba, donde aparecieron cinco durante la construcción de la nueva estación de ferrocarril; pero antes de esas obras, a comienzos del s. XX, ya había otros cinco ejemplares en la colección Romero de Torres (CIL II-27, 699; HEpOl 4298). Hay también testimonios en Jaén (CIL II-25, 56c; HEpOl 1978), Ipsca (CIL II-25, 391b; HEpOl 2485), Ategua (CIL II-25, 484), Italica (CIL II 4967, 22; HEpOl 1978), y Montilla (CIL II- 25, 556 y 560 a-e; HepOl 2489-2497), de donde quizá fuera también el del vaciado en yeso en poder de la Real Academia de la Historia (Abas- cal Palazón, Gimeno Pascual & Velázquez, 2 0 0 0 , c a t . n . 5 0 0 ) ; HepOl 29603) y otros cuatro más sin noticia de su origen conservados en el Museo Arqueológico Nacional de Madrid (CIL II-25, 560 f-j): tal

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 140 Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica acumulación de hallazgos es lo que lleva pensar que el alfar estuviese en los alrededores de Montilla. La cronología de estos ladrillos es imprecisa, pero se tienden a datar en los s. VI-VII.

BIBLIOGRAFÍA

Abascal Palazón, José M., Gimeno Pascual Helena e Velázquez Isabel (2000). Epi- grafía Hispánica. Madrid. Abascal Palazón, José M. & Ramallo Asensio, Sebastián (1997). La ciudad de Car- thago Nova, III: La documentación epigráfica. Murcia. Bonneville, Jean-Nöel, Sabine Dardaine & Patrick Le Roux (1988). Belo V: L’epi- graphie. Les inscriptions romaine de Baelo Claudia. Madrid. Encarnação, José (2003). Prólogo, en Gómez-Pantoja, Madruga Flores & Rodrí- guez Ceballos (2003), s.p. Gómez-Pantoja, Joaquín L., Madruga Flores, José-V. & Rodríguez Ceballos, Mariano (2003). José d’Encarnação (ed.), Ficheiro epigráfico. Suplemento de Conimbriga [Compact Disk]. Alcalá de Henares/Coimbra. González Fernández, Julián (1982). Inscripciones romanas de la provincia de Cádiz. Cádiz. Le Roux, Patrick (2009). Inscriptions romaines de Belo 1988-2008. Melánges de la Casa de Velázquez 39(1) 163-174. Vera y Chilier, Francisco de A. (1897). Nuevas inscripciones de Cádiz. Boletín de la Real Academia de la Historia 31 53-57.

Conimbriga, 55 (2016) 131-143 Fig. 1 – Epitafio de Cabeza del Buey, Badajoz. (Fotografía de Francisco Pérez Solis). Fig. 2 – Epitafio de Tarragona?. Fotografía de todocolección.com. (Dibujo de Joaquín L. Gómez-Pantoja). Fig. 3 – Ladrillo con sello, Córdoba. (Dibujo de Joaquín L. Gómez-Pantoja). Página deixada propositadamente em branco Jorge de Alarcão Professor Catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra jorge.alarcao@gmail. com

A PROPÓSITO DA PÁTERA DE BANDIS ARAVGELENSIS

ON THE ROMAN PATERA TO BANDIS ARAVGELENSIS “Conimbriga” LV (2016) p. 145-155 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_9

Resumo: Na pátera do Museo Nacional de Arte Romano (Mérida) consa- grada a Bandis Araugelensis, a figura feminina representada tem sido considerada como a do próprio deus indígena. Isto suscita um problema, visto que, pelos epítetos, Bandis era uma divinda- de masculina. Sugere-se que a figura não é a do deus, mas a da localidade de Araocelum, representada alegoricamente por figura feminina com coroa turriforme, oferecendo um sacrifício a Ban- dis.

Palavras-chave: Bandis, pátera romana.

Abstract: On the silver patera of the Museo Nacional de Arte Romano (Mérida) dedicated to Bandis Araugelensis, the female figure with a towered crown has been considered as the representation of that native god. However, by his surnames, Bandis is a god, not a goddess. It is here suggested that the female figure of the patera corresponds not to the god, but to the locality of Araocelum, alle- gorically represented as a female figure sacrificing to the god.

Keywords: Bandis, Roman patera.

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 Página deixada propositadamente em branco A PROPÓSITO DA PÁTERA DE BANDIS ARAVGELENSIS

António Blanco Freijeiro deu a conhecer, em 1959, na Revista de Guimarães, uma pátera de prata que então fazia parte da colecção de Fernando Calzadilla Maestre, de Badajoz. Os herdeiros deste último venderam-na, em 1984, ao Museo Nacional de Arte Romano (Mérida), onde desde então se encontra (Fig. 1). Na peça vê-se, ao centro, uma figura feminina com uma coroa tur- riforme, uma cornucópia na mão esquerda e uma pátera na mão direita. Estende esta mão na direcção de três aras. Em duas destas arde fogo sagrado. Na terceira não arde fogo, mas não é claramente perceptível o que é que se pretendeu representar: alguns frutos? Grãos de incenso? Mais acima, arde também fogo sagrado numa quarta ara. Do lado esquerdo (para o observador) vê-se o que aparenta serem penhascos; e do lado direito, um tronco de árvore, retorcido. Blanco Freijeiro observou ainda ténues linhas douradas, muito desvanecidas, que representariam folhas desprendidas da árvore. Considerou o autor que os penhascos e a árvore representariam, esquematicamente, um santuário rupestre. Nisto podemos estar de acor- do com Blanco Freijeiro. O que nos suscita dúvidas é a interpretação da figura feminina como a divindade galaico-lusitanaBandis . As letras BAND ARAVGEL são claramente visíveis na borda da pátera. Blanco Freijeiro restituiu Band(uae) Araugel(ensi). Em aras epigrafadas encontramos as mais diversas formas do dati- vo: Bande, Bandei, Bandi, Bandiae, Bandu, Banduae, Bandue, Bandui (Prósper, 2002: 257-281). Esta diversidade torna muito difícil a resti- tuição do nominativo: Bandis? Bandus? Não querendo envolver-nos numa discussão que deixa hesitantes eminentes linguistas (Pedrero, 1999a), e porque o objectivo deste nos- so artigo não é o da restituição, em nominativo, do teónimo, adoptare- mos, apenas por conveniência, Bandis – mas sem excluirmos a possibi-

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 148 Jorge de Alarcão A propósito da Pátera de Bandis Aravgelensis lidade de Bandus. Do mesmo modo, renunciaremos à discussão sobre a restituição do epíteto: Araugel(ensi) ou Araugel(aico)? O que nos importa é a questão: a figura representa mesmo a divin- dade? São numerosas as aras em que Bandis surge com epítetos. Sem- pre este são, gramaticalmente, do género masculino. Parece-nos, pois, irrecusável considerar que Bandis era divindade masculina. Como pode aparecer na pátera representado por uma figura feminina? Uma explicação dada, mas que se nos não afigura inteiramente convincente, passa pela admissão de que houve um fenómeno de in- terpretatio: a divindade lusitano-galaica Bandis teria sido considerada equivalente a Fortuna ou Tutela. A. Blanco Freijeiro (1959: 454 e 456) aproximou a figura da pá- tera da divindade romana Fortuna, embora anotando que esta é fre- quentemente acompanhada pela representação de um leme, que não se encontra na pátera. Outros autores têm sustentado a mesma opinião. Assim, por exem- plo, Marco Simón (2001: 215) considerou que a figura tem os atributos da Fortuna (esta mesma derivada da Tyché helenística) – embora admi- tindo que o tipo iconográfico possa corresponder também ao dogenius . Por outro lado, Virgínia Muñoz (2005) viu na figura uma Tutela e não uma Fortuna (mas admitiu igualmente a possibilidade de Bandis ter sido representado na pátera como um genius). Não parece ter sido até agora considerada a hipótese de a figura representar, não a divindade Bandis a quem a pátera foi oferecida, mas a própria localidade de Araocelum, alegoricamente figurada. A figura parece-nos de oficiante. Falam nesse sentido a pátera na mão direita e o gesto dirigido aos altares. A figura seria a de quem faz um sacrifício a uma divindade e não a de uma divindade a quem é ofe- recido um sacrifício. Não podemos, porém, considerar que se trata de uma sacerdotisa num acto ritual oferecido a Bandis: uma sacerdotisa não seria repre- sentada com coroa turriforme e cornucópia. Estes atributos são, porém, admissíveis numa representação alegórica de localidade. Numa moeda de Adriano, a província da Bitínia é representada como figura feminina, com coroa turriforme, pátera na mão direita e leme na esquerda, perante o imperador; entre as duas figuras, um altar onde arde fogo sagrado (Fig. 2A). Em moeda de Antonino Pio, a figura de Salus, com pátera na

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 Jorge de Alarcão A propósito da Pátera de Bandis Aravgelensis 149 mão direita, oficia diante de um altar no qual se enrosca uma serpente (Fig. 2B). Noutra moeda, de Faustina, a deusa Vesta, com archote comprido na mão esquerda, assume posição semelhante à de Salus na moeda an- terior (Fig. 2C). Servem estes exemplos (recolhidos em Etienne e Rachet, 1984, nos 3331, 3648 e 3928) para mostrar: primeiro, que o tipo iconográfico é comum nas épocas de Adriano e Antonino Pio; segundo, que a figura feminina com pátera oficiando perante um altar pode ser deusa (Vesta) ou alegoria (Salus, Bitínia). No caso da moeda de Faustina, podemos perguntar-nos se se trata realmente de Vesta ou de uma sacerdotisa de Vesta. Parece-nos que estes exemplos, sobretudo o da província da Bi- tínia com coroa turriforme, confortam a hipótese de termos, na pátera do Museo Nacional de Arte Romano, uma representação alegórica da localidade de Araocelum. Poderíamos citar também o exemplo da Mau- ritânia em moedas de Adriano (Kasdi, 2015). A. Blanco Freijeiro voltou a referir-se à pátera no seu discurso de recepção na Academia Real de la Historia (Madrid) (1977) e, nessa oca- sião, relacionou-a com uma ara de S. Cosmado (Mangualde, Portugal), onde se lê: C(aius) Caielianus Modestus castellanis Araocelensibus d(ono) d(edit) (Vaz, 1997: 283-285). A existência de um povoado Araocelum nas cercanias de Man- gualde é inequívoca. Poderia ficar no monte da Senhora do Castelo, onde se localiza um castro com vestígios de romanização (Vaz, 1997: 51-52). Não é difícil admitir que Araugel(ensi) possa estar por Araocel (ensi). Também se não deve afastar, para o topónimo, a hipótese de uma variante Arauocelum. Sendo desconhecido o lugar exacto de achado da pátera, é admis- sível que ela tenha sido encontrada na área de Mangualde. Como é que foi, porém, parar à colecção Calzadilla de Badajoz? Por outro lado, não é impossível que na área de Badajoz ou de Cáceres tenha havido outra povoação com o mesmo nome de Araocelum. Floro, 2, 33, 50, fala de Aracelium oppidum no âmbito das guerras cantábricas. É possível que Aracelium e Araocelum sejam formas diver- gentes do mesmo topónimo. Plínio, III, 4, 24, menciona os Aracelitani entre os estipendiários do conventus Caesaraugustanus. Não podemos, porém, considerar a Aracelium cantábrica nem a cesaraugustana como

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 150 Jorge de Alarcão A propósito da Pátera de Bandis Aravgelensis locais possíveis do achado da pátera, porque o culto de Bandis não está atestado nem na Cantábria nem na área de Caesaraugusta. O nome Bandis foi por alguns, durante algum tempo, considerado não um teónimo, mas um nome comum que significaria deus (Hoz, 1986: 39). Assim, uma ara consagrada, por exemplo, Bandue Aetobrigo deveria entender-se como dedicada ao “deus Aetobrigus”. A opinião deve considerar-se ultrapassada. Bandis foi mesmo o nome de uma divindade do panteão lusitano-galaico. Os epítetos que apresenta correspondem, algumas vezes, a topónimos, como em Ban- dis Longobricus (neste caso, de Longobriga, hoje Longroiva, Meda). Noutros casos, como em Bandis Vorteaeceus, o epíteto traduzirá uma “qualidade” do deus. Também a Júpiter se podiam aplicar os qualificativos de Conser- vator, Curans, Repulsor, Tonans ou outros, para além do mais comum Optimus Maximus. Bandis podia ser adorado com epítetos que traduzi- riam dons, faculdades ou qualidades. Problema não resolvido é o da esfera de acção de Bandis. A tese de que se trata de uma divindade guerreira (Fernández-Albalat, 1990; Olivares Pedreño, 1997) não parece convincente. A opinião maioritária é a de que o nome Bandis tem uma raiz in- do-europeia *bhend, com o significado de “atar”, “vincular”, “manter unido” (Pedrero, 1999a: 541). Bandis seria o deus que garantiria a unidade de uma comunidade, povoação ou família. Rosa Pedrero (1999b) sugeriu também uma outra possível etimo- logia: ban + *dia. Bann, em bretão, significa “eminência” ou “altura”, e benn, em antigo irlandês, “cimo” ou “cume” de um monte. Dia (de *deiwos) significaria “deus”. A interpretação de Bandis como deus das alturas poderá levar-nos a fazer da divindade o equivalente indígena de Júpiter. Não parece facilmente aceitável a explicação etimológica propos- ta por Blanca María Prósper (2002: 272-274). O facto de Bandis nos surgir, por vezes, com epítetos toponímicos não nos parece suficiente argumento para fazermos dele uma divindade meramente protectora de lugares. Diremos, em conclusão, que a hipótese de a figura da pátera do Museo Nacional de Arte Romano representar alegoricamente a loca- lidade e não a divindade põe em causa a função meramente tutelar de Bandis e resolve a incómoda questão de termos uma divindade mascu- lina representada por uma figura feminina.

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 Jorge de Alarcão A propósito da Pátera de Bandis Aravgelensis 151

REFERÊNCIAS

Alarcão, Jorge de (2009) – “A religião de Lusitanos e Galaicos”. Conimbriga, 48, Coimbra, pp. 81-121. Blanco Freijeiro, Antonio (1959) – “Pátera argêntea com representação de uma di- vindade lusitana”. Revista de Guimarães, 69, Guimarães, pp. 453-457. Blanco Freijeiro, Antonio (1977) – El puente de Alcántara en su contexto histórico. Madrid: Real Academia de la Historia. Burgaleta Mezo, F. Javier (2006-2007) – “Bandua, diosa o dios, y los ritos del toro de San Marcos”. Espacio, Tiempo y Forma, série II, 19-20, Madrid, pp. 381-397 Etienne, Robert e Rachet, Marguerite (1984) – Le trésor de Garonne. Essai sur la circulation monétaire en Aquitaine à la fin du règne d´Antonin le Pieux. Bordéus: Fédération Historique du Sud-Ouest. Fernández-Albalat, Blanca García (1990) – Guerra y religión en la y la Lusitania antiguas. Corunha: Ediciós do Castro. Griño Frontera, Beatriz de (2016) – “Pátera de prata com dedicação e representação de Band. Araugel.” In Lusitânia romana. Origem de dois povos. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, p. 264. Hoz, Javier de (1986) – “La religión de los pueblos prerromanos de Lusitania”. In Primeras Jornadas sobre manifestaciones religiosas en la Lusitania. Cáceres: Universidad de Extremadura, pp. 31-49. Kasdi, Zheira (2015) – “Quand l’Amazone fait le Maure: la représentation de la Maurétanie dans le monnayage d’Hadrien”. Antiquités Africaines, 5 1 , P a r i s , pp. 65-90. Marco Simón, Francisco (2001) – “Imagen divina y transformación de las ideas reli- giosas en el âmbito hispano-galo”. In Francisco Villar e Ma Pilar Fernández- -Álvarez (eds.), Religión, lengua y cultura prerromanas de Hispania. Salaman- ca: Ediciones Universidad, pp. 541-560. Muñoz, Virgínia (2005) – “La interpretatio romana del dios prerromano Bandue”. Ve- leia, 22, Vitória/Gasteiz, pp. 145-152. Olivares Pedreño, Juan Carlos (1997) – “El dios indígena Bandua y el rito del toro de San Marcos”. Complutum, 8, Madrid, pp. 205-221. Pedrero, Rosa (1999a) – “Aproximación linguística al teónimo lusitano-gallego Ban- due/Bandi”. In Francisco Villar e Francisco Beltrán (eds.), Pueblos, lenguas y escrituras en la Hispania prerromana. Actas del VII Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas. Salamanca: Ediciones Universidad, pp. 541-560. Pedrero Sancho, Rosa (1999b) – “Sobre la etimología de los teónimos: el caso del dios galaico-lusitano Bandi/Bandue”. In Miscelánea léxica en memoria de Conchita Serrano. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, pp. 417-426. Pedrero, Rosa (2001) – “Los epítetos del teónimo ocidental Bandue/i”. In Francisco Villar e Ma Pilar Fernández-Álvarez (eds.), Religión, lengua y cultura prerro- manas de Hispania. Salamanca: Ediciones Universidad, pp. 541-560.

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 152 Jorge de Alarcão A propósito da Pátera de Bandis Aravgelensis

Prósper, Blanca María (2002) – Lenguas y religiones prerromanas de la Península Ibérica. Salamanca: Ediciones Universidad. Vaz, João L. Inês (1997) – A civitas de Viseu: espaço e sociedade. Coimbra: Comissão de Coordenação da Região Centro.

Conimbriga, 55 (2016) 145-155 GRIÑO FRONTERA (2016) GRIÑO FRONTERA

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 Página deixada propositadamente em branco José Cardim Ribeiro Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas [email protected]

EM TORNO DA REVISÃO DE CIL II 265

CONCERNING THE REVISION OF CIL II 265 “Conimbriga” LV (2016) p. 157-191 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_10

Resumo: Nos meados do séc. XVIII um lavrador descobriu acidentalmen- te entre Armês e Lameiras, Sintra – “Zona Oeste” do Município Olisiponense – uma lápide romana com duplo epitáfio gravado em duas colunas paralelas. Deste achado, entretanto novamente perdi- do, possuímos apenas uma transcrição manuscrita conservada na Biblioteca Nacional de Lisboa (COD. 425 fl. 94), exarada por um anónimo antiquarista que chegou a analisar o monumento in loco. Porém não se apercebeu estar perante uma epígrafe distribuída em duas colunas, copiando pois as letras ao corrido, sem respeitar nem separação de colunas nem, mesmo, de linhas, resultando assim um texto caótico e a priori incompreensível. Hübner (in CIL II 265) tentou reconstituir o original, mas pressupondo que a primeira pa- lavra, que considerou abreviada, era comum aos dois epitáfios, en- veredou por um caminho complexo e equívoco que admitia dois antropónimos supostamente paleohispânicos de todo desconheci- dos – *Alteciniris (gen.) e *Licassi (gen.) –, bem como o desem- penho da augustalidade por escravos. Devido à autoridade do autor de CIL II estas anomalias foram aceites por outros investigadores, alguns de incontestável prestígio, embora também tenham surgido vozes discordantes e mesmo cépticas. Reexaminando o manuscrito setecentista, procurámos nele indícios que nos permitissem, sem preconceitos prévios, elaborar uma renovada restituição da epígra- fe original. O resultado conseguido aponta para um texto normal e desprovido de estranhezas ou irregularidades: trata-se tão-só,

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 afinal, dos paralelos epitáfios de dois escravos, Augustinus G(aii) Licini(i) Bassi ser(vus) e Euticus L(ucii) Cassi(i) Alteris ser(vus) – que aliás não apresentam quaisquer cargos mas, apenas, os res- pectivos elementos onomásticos identificadores. Mais tarde veio a surgir, no mesmo sítio arqueológico, uma nova lápide cujo teor confirma, de algum modo, a nossa anterior reconstituição: trata-se da estela funerária de [-] Licinius Bassus. Palavras-chave: Augustais; antroponímia paleohispânica; recons- tituição epigráfica.

Abstract: In the mid-18th century a farmer accidentally discovered, between Armês and Lameiras, Sintra – “Western zone” of the municipium of Olisipo – a roman stone with a double epitaph engraved in two text columns side by side. Of this finding, meanwhile lost again, we have only a transcription kept in the Biblioteca Nacional de Lis- boa (COD. 425 fl. 94), hand-written by an anonymous antiquarian who observed the monument in loco. He didn’t, however, realize the epigraph was distributed in two columns, and he transcribed the full lines from left to right not minding the separation between columns or even between lines. As a result, he left a chaotic and, at first sight, incomprehensible text. Hübner (inCIL II 265) attempted to reconstitute the original text but, having assumed that the first word, which he deemed an abbreviation, was common to both epi- taphs, he took a complicated and equivocal course of reasoning that relied on the proposition of two pretensely palaeohispanic anthro- ponyms completely unknown: *Alteciniris (gen.) e *Licassi (gen.); and also on an augustal status held by slaves. Due to the authority of the author of CIL II these anomalies were accepted by other investigators, some of high prestige, although others showed some dissent and skepticism. Returning to the original manuscript, we looked in it for clues that might allow, without preconceptions, to elaborate a new reconstitution of the original epigraph. The result is a normal text, devoid of irregularities or inconsistencies: nothing more than the parallel epitaphs of two slaves, Augustinus G(aii) Licini(i) Bassi ser(vus) and Euticus L(ucii) Cassi(i) Alteris ser(vus) – without any religious role but, solely, their identifying onomastic elements. Later, at the same archaeological site, a further inscrip- tion appeared that somehow helps to confirm our reconstitution: the funerary stele of [-] Licinius Bassus. Keywords: Augustales; palaeohispanic anthroponymy; epigraphic reconstitution. EM TORNO DA REVISÃO DE CIL II 265

Josepho ab Incarnatione optimo amico ac praeclarissimo viro d. d. d.

1. O indecifrado duplo epitáfio de Augustinus G(aii) Licini(i) Bassi ser(vus) e de Euticus L(ucii) Cassi(i) Alteris ser(vus)

1.1. Os dados da questão

Hübner, in CIL II 265, publica, com exclusiva base numa transcri- ção patente em antigo manuscrito anónimo conservado na Biblioteca Nacional de Lisboa, uma epígrafe funerária – entendida como assaz complexa – oriunda de Armês/Lameiras, termo de Sintra (agri oci- dentais do Município Olisiponense), descoberta por meados do século XVIII e ulteriormente desaparecida. Visto que todas as diligências efectuadas no intuito de redescobrir o monumento têm, até hoje, resultado vãs, restam-nos pois a reconsti- tuição de Hübner e o registo em que este autor se fundamentou, como únicos testemunhos conducentes à análise, ainda que indirecta, da ins- crição em causa.

1.2. O manuscrito e a respectiva transcrição epigráfica

O manuscrito onde vem copiado este duplo epitáfio está incluído numa miscelânea formada por «documentos sobre moedas e inscrições

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 160 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 epigráficas sobretudo romanas1», organizada em volume conservado na referida biblioteca, COD. 425. Trata-se de um conjunto de papéis sobre antiguidades de Portugal, papéis esses que pertenceram nomeadamente uns a Jerónimo Contador de Argote, outros a Caetano de Bem, quer autógrafos destes eruditos quer cartas e apontamentos a eles enviados por terceiros, na sua maioria anónimos (cf. Vieira da Silva 1944: 291)2. A scheda que nos interessa corresponde hoje ao fólio 94 do códice (Fig. 1). Inicialmente, porém, constituía um desgarrado apontamento lançado no recto do primeiro de dois fólios entre si ligados, o último em branco (fl. 95 no códice), bifólio que – através dos vincos paralelos e perpendiculares, dois verticais e três horizontais, subsistentes sobre a sua superfície – se vê ter sido dobrado de forma regular até formar um pequeno quadrado facilmente guardável e remissível. Hübner (co- mentário a CIL II 265) refere-o como «Argote ms. (…) qui ab amicis accepit», decerto porque o documento se encontra numa parte do vo- lume onde existem elementos atribuídos a este académico ou com ele relacionados. Do mesmo modo reporta a Argote as epígrafes olisipo- nenses CIL II 222a e 222b, patentes logo atrás, respectivamente nos fls. 92 e 93; dedução conjuntural que todavia não convence Vieira da Silva (1944: 250 e 291-292), investigador que, atendendo à comum presença no volume de «papéis do P.e D. T. Caetano de Bem, de Contador de Argote, e de outras pessoas», não encontra razões para decidir a priori se as inscrições exaradas em caligrafias alheias se relacionam com um ou com outro, não deixando no entanto de acrescentar que o facto de muitos dos textos lisboetas ali patentes terem sido explicitamente re- colhidos por Caetano de Bem o leva a considerar mais provável que os restantes de idêntica proveniência possuam afinal a mesma origem. No particular da epígrafe em estudo e do anónimo comentário que a acompanha, em letra cujo autor não logramos identificar – mas que diverge claramente quer da de Argote quer da de Bem –, pouco nos importa saber a qual desses académicos tal documento foi remetido, ou a outro qualquer menos conhecido antiquarista de Setecentos. Inte- ressa, sim, datar o registo – com probabilidade, conforme já dissemos, de meados do séc. XVIII, atendendo ao exame paleográfico – e, acima

1 Assim vem descrito na respectiva ficha de inventário da Biblioteca Nacional. 2 Quanto a Dom Jerónimo Contador de Argote (1676-1749), vd. Bem 1794: 200- -231; e, quanto a Dom Thomaz Caetano de Bem (1718-1797), vd. Stockler 1826: 1-25.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 161 de tudo, analisá-lo de forma a procurar recuperar um texto epigráfico omisso noutras fontes e aqui aparentemente subvertido. O apontamento inicia-se por uma breve nota onde são referidas (a) a localização da lápide, «no caminho que vai do Casal do Vale para o Penedo das Lameiras, termo da Vila de Sintra»; (b) as condi- ções de descoberta, «achada pelo lavrador do dito casal (…) andando lavrando» (c) a ocasião, «o ano passado» [infelizmente ignoramos o referente]; por fim, (d) a descrição, «é lavrada e ovada». Segue-se a transcrição epigráfica. Reproduzamos estes dados, conforme constam do manuscrito: «A pedra que está no caminho que vay do Cazal do Valle p(ar)a o penedo do Lugar / das Lameyras termo da V(ill)a de Cintra, foi achada pello lavrador do d(i)to Cazal / o anno paçado andando lavrando o qual ár(r)encou, e deitou no caminho, he lavra-/da, e ovada.»

♥ ♥ ♥ AVGVSΓ. EVIİCV S L I NVS ♥ ♥ ♥ G L I CASSI A LΓECINI

BASS I RİS ♥ SER♥ H ♥ S♥ ESER H ♥ S ♥ E

A relativa mas inesperada dificuldade do original – redigido, como veremos, em duas colunas paralelas –, provocou assim uma defi- ciente transcrição por parte do anónimo autor setecentista, o qual, não tendo percebido estar perante um duplo epitáfio, copiou as letras ao corrido, amalgamando num todo indiferenciado as palavras de ambas as inscrições. Não tendo sequer respeitado a real separação das linhas, apresenta-nos um texto caótico e dividido de forma em absoluto arbi- trária. Certos pormenores do registo deixam-nos na dúvida se o autor tentou ainda assim conscientemente indicar caracteres truncados e cer- tos pormenores paleográficos, ou se afinal não apreendeu o significado de vários signos e assim se limitou a desenhá-los mais ou menos à vista. É o caso do Ṭ incompleto com que finaliza a primeira palavra – aliás seguido de um pequeno ponto na sua base, bem diferente dos separa- dores triangulares ou pequenas hederae distinguentes que a seguir re- produz com evidente fidelidade do original, o que nos leva a crer haver decidido indicar daquele modo um vocábulo por ele entendido como abreviado; o mesmo Γ por Ṭ surge-nos ainda no derradeiro conjunto literal da linha 2; curiosamente coloca pontos superiores em dois II, nas

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 162 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 linhas 1 e 3, revelando assim ter compreendido o seu valor literal; mas, por outro lado, omite-os em seis outros casos e, na linha 1, representa como se fôra um destoutros II o T de EVTICVS. Somos pois forçados a constatar que o perplexo transcritor pro- curou suprir a sua manifesta incompreensão do texto através de um inusitado rigor quanto ao desenho das letras e traços que logrou ver. Salientemos, a título de exemplo, os CC muito abertos, nos quais se sente o original ductus a dois tempos; os EE ostentando barras curtas e iguais entre si; o N inclinado sobre a direita, na linha 1; os sinuosos SS; os característicos TT, de barra curta e avançada sobre a direita. Fica-se pois com a noção de terem sido registados, com especial detalhe, todos os símbolos patentes no monumento epigráfico que se tentava decifrar, ainda que se haja inconscientemente falhado a sua ver- dadeira sequência textual, frustrada pelo registo acrítico de uma apa- rente sequência linear. Assim, torna-se legítimo supor que a anónima cópia contenha, potencialmente, todos os dados necessários à correcta interpretação do texto original, porventura evidenciável após criteriosa análise hermenêutica. Nesta óptica e atendendo ao final conservado – SER.H.S.ESER/ H.S.E –, podem desde logo tirar-se, como já o fez Hübner, três ilações positivas quanto à constituição da presente epígrafe: (a) conteúdo de cariz funerário; (b) dois epitáfios, respectivamente redigidos em duas colunas, aliás rematados do mesmo modo, SER H.S.E; (c) condição servil de ambos os defuntos. Assim, as linhas superiores deverão fun- damentalmente conter vários antropónimos, designando quer estes es- cravos, quer os seus proprietários.

1.3. A interpretação de Hübner e respectivas consequências

Com base nas anteriores premissas, propôs o autor do CIL II a seguinte reconstituição:

AVGVST EVTICVS L I N V S G • LICASSI ALΓECINI BASSI RIS SER•H•S•E SER• H• S• E

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 163

E, em comentário, esclarece: «Id est: August(ales) sive August(alium)? Eutic[h]us ...... Bassi ser(vus) h.s.e., Linus...... ser(vus) h.s.e».

Aceitando-se esta versão, passaríamos a dispor dos subsequentes elementos de análise: (a) Dois escravos, ambos ostentando antropónimos de origem grega, Eutic(h)us e Linus (cf., v.g., Solin 1982: 801-806 e 499). Para qualquer deles conhecia Hübner paralelos peninsu- lares [Eutic(h)us: CIL II 182, 3593, 4292, 5263, 5268 e 497521; Linus: 4970265]3. (b) Dois indivíduos, proprietários de Eutic(h)us e de Linus, res- pectivamente designados por G. *Licassi Bassi (gen.) e por *Alteciniris (gen.). Se Bassus seria um cognomen de provável origem osca mas muito vulgarizado no Império (cf., v.g., TLL II col. 1778; Ernout/Meillet 19852: 67 col. 2; Lörincz/Redö 1994: 275-277), inclusive na Hispania (CIL II 198, 774, 775, 1506, 1710, 1973, 2040, 2222, 2399, 4559, 5091, 5208, 5792, 6091, 497083/84/200 e 49747)4, já *Licassi (gen.) e *Alteciniris (gen.) constituíam casos de hápax, quer a nível peninsular, quer mesmo a nível geral. (c) A presença de mais dois augustales, aumentando a série de casos olisiponenses já então registados [CIL II 175 (2 ex.), 181, 182 (2 ex.), 183/196]. Desta vez, porém, contra todos os conhecimentos práticos e teóricos, não se tratava de libertos, como é vulgar, mas de simples escravos.

As pretensas singularidades onomásticas e jurídicas do monumen- to de Armês/Lameiras tiveram, naturalmente, eco em vários autores, provocando algumas vezes atitudes de aceitação, outras de repúdio, ou ainda de mera dúvida. Concretizemos, embora sem preocupações de total exaustividade:

3 Vd., hoje em dia, Abascal 1994: 355 col. 2 (Eutichus, Euticus), 356 col. 1 (Eutychus) e 400-401 (Linus); Lozano 1998: 95-96, 217, 243, 263 (Eutic(h)us) e 126 (Linus); e, designadamente quanto à Provincia Lusitania, AALR: 167-168 e mapa 118 bis (Eutic(h)us). 4 Vd., hoje em dia, Abascal 1994: 299; e, designadamente quanto à Provincia Lusitania, AALR: 114 e mapa 56.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 164 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265

1.4. Os antropónimos desconhecidos

*Alteciniris (gen.): Este hipotético antropónimo foi, desde a primeira hora, rejeitado praticamente por todos os autores. Assim, o próprio Hübner omite-o nos índices do CIL II, quer nos nomina quer nos cognomina. Ainda que se pudesse, talvez, supor estar perante uma formação de tipo indígena – porventura de radical idêntico a Alticus, in CIL II 802, de Coria –, a verdade é que não consta no corpus de Holder (1961-19622) nem, mais tarde, nos de Palomar (1957) ou de Albertos (1964-1965; 1966; 1972). A primeira excepção surge-nos com Julio Mangas (1971: 164 e 201) que, como proprietário de Linus ser(vus), indica expressamente Alfeciniris [sic – transformando em F o T de barra avançada sobre a direita, pormenor paleográfico que Hübner reteve da versão manuscri- ta]5. Também Abascal (1994: 267 col. 1) assinala Alfeciniris entre os cognomina, embora acompanhado de interrogação. Por sua vez Valle- jo (2005: 127) reconstitui, a partir da leitura de Hübner, uma forma genitiva Altecini (Linus Altecini), que sem hesitar adiciona aos antro- pónimos lusitanos de base altic- – como, precisamente, Alticus/-a e, ainda, Alticon. Este nome, em qualquer das suas versões, vem porém a ser recusado no AALR, onde não aparece.

*Licassi (gen.): Hübner (in CIL II p. 1066 col. 1) indexa, de forma algo inesperada entre os gentilícios6 – ainda que assinalado por um asterisco expressan- do dúvida –, *G. Licassius [...] Bassus. Holder não recolhe este pretenso antropónimo, mas Palomar (1957: 77 e 120) retoma-o, seriando o genitivo Licassi e confrontan- do-o com os nomes Licira/Lecira e Licirni (gen.); menciona ainda, a

5 Curiosamente não encontramos, quanto a esta admissão por parte de Mangas, a previsível reacção negativa de Étienne (1976) na acerba crítica que faz à obra deste autor. 6 Admitindo que *Licassi pudesse representar um antropónimo paleohispânico, o conjunto G. *Licassi Bassi haveria de ter sido preferencialmente entendido como uma formação onomástica peregrina em processo de romanização, constituída por praeno- men, nome individual e patronímico: «Euticus, escravo de G(aius) *Licassus (filho) de Bassus».

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 165 propósito, a relativa abundância de formações onomásticas “célticas” apresentando um radical Lic-, e utiliza o caso em análise como exemplo hispânico de geminação em sufixos com -(a)s-. De igual modo Alber- tos (1966: 132), depois de recordar a elevada frequência peninsular do referido radical, evidencia Licassi, «gen. de Lameiras, Lisboa, en Lusitania», relacionando-o com *licca, ‘pedra’. Repare-se que esta au- tora não recusa nem revê a sua posição no rigoroso estudo em que ul- teriormente corrige ou exclui nomes pessoais entretanto considerados dubitativos, ou mesmo inexistentes (Albertos: 1977). Também Julio Mangas (1971: loc. cit.) aceita Licassi. E nós pró- prios o admitimos, há largos anos, não obstante certas hesitações (Car- dim-Ribeiro 1974/77: 312). Solin/Salomies (1988: 104), com base exclusiva em CIL II 265, inserem interrogativamente esta forma entre os gentilícios, Licassius (?). O mesmo faz Abascal (1994: 168 col. 2), que porém escreve LICASIVS. José María Vallejo (2005: 328), se não deixa de assinalar o pre- sente nome juntamente com os antropónimos lusitanos de base lec-/lic-, evidencia porém que «la forma Licassi presenta una lectura algo dudo- sa y, a pesar de que la raíz es abundante, las formaciones en -as- son muy escasas». Quanto ao AALR, não só o exclui mas – pela primeira vez – nele entrevê uma deturpação do vulgaríssimo gentilício Licinius, embora considere estar perante um registo abreviado e hesite na recons- tituição contextual: G. Lic(ini) Bassi (114); Eutichus G. Lic. Bassi ser. (168); C. Lic(ini) {Cass} Bassi (213).

1.5. O antropónimos sobrante: Linus

Fora os controversos *Alteciniris e *Licassi, três antropónimos ‘normais’ parecem constar também na epígrafe de Armês/Lameiras, segundo a reconstituição in CIL II 265: os cognomina Bassus, Euticus e Linus. Mas, atendendo à aparente inconsistência da proposta hübne- riana, poderemos legitimamente questionar se, de facto, todos eles se verificariam, ou não, no texto original. Já atrás nos referimos à banalidade dos antropónimos Bassus e Euticus, quer pelo Império, quer nas províncias hispânicas, quer ainda em concreto na Lusitânia. Também em Olisipo ambos são co- nhecidos através de registos seguros: M. Petronius M. f. Gal. Bas- sus (CIL II 198); e C. Iulius Eutichus (CIL II 182) – a que devere-

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 166 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 mos, creio, acrescentar hoje outro [E]VTICṾ[S] (Diogo/Trindade, 1995)7. Contrariamente, o nome pessoal Linus, de origem grega, conquan- to documentado em Roma 8 ou 9 vezes (Solin 1982: 499 col. 1) e nas províncias 9 (Lörincz 2000: 28 col. 2, mas incluindo CIL II 265), na Hispânia romana reduz-se a uma única evidência, bética, se retirarmos o incerto exemplo de Armês/Lameiras (Abascal 1994: 401 col. 1; Lo- zano 1998: 126, C. Marcius Linus de Ecija)8. Não sendo pois impossí- vel, a priori, a sua presença em CIL II 265, de acordo com a versão de Hübner, dever-se-á no entanto ter cautela em aceitá-la como comprova- da. Aliás, conforme constataremos adiante, tal precaução justificar-se-á inteiramente.

1.6. Augustalis (...) servus

A hipótese de atribuir a condição de augustales a dois escravos, que parece não ter chocado Hübner (cf. ainda CIL II: 1169 col. 1), foi adoptada, embora com várias ressalvas, por outros investigadores seus contemporâneos. O primeiro, Ciccotti (1891: 70), limita-se a reproduzir, sem co- mentar, a interpretação de Hübner: «Augustales sive Augustalium (?)». Segue-se Premerstein (19612: 841), que esclarece, antes de transcrever a epígrafe segundo a reconstituição do CIL: «Più singolare ancora appa- re la circostanza, che in due casi dei tutto speciali s’incontrano persino degli schiavi come Augustales, laddove dobbiamo considerarli esclusi

7 Nesta truncada inscrição, descoberta durante os anos de 1960 no âmbito das primeiras escavações arqueológicas realizadas no teatro romano de Lisboa, os autores reconstituem do seguinte modo aquilo que resta da 2.ª linha conservada: […] VTIC(en- sis) Ṿ […], interpretação recolhida por Alves Dias (1988: 467 n.º 275) e pela HEp 6 n.º 1058, onde porém se afirma que «dado el mal estado de conservación del epígrafe cualquier interpretación resulta aventurada». Supomos, atendendo à frequência de an- tropónimos grecizantes em Olisipo – inclusive no teatro romano (cf. CIL II 196) –, contrastando com a relativa raridade na Península Ibérica da menção de origo africana uticensis (CIL II 17, de Mértola; HEp 1: n.º 691, de Vila Real; HEp 7: n.º 1154, de Serpa), e ainda à sequência CṾ constante na pedra, ser todavia assaz seguro considerar aqui uma leitura [E]VTICṾ[S], bem trivial e, assim, muitíssimo mais provável. 8 Porém, quer nestas obras quer no AALR (214 col. 1) admite-se o caso olisipo- nense em análise.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 167 del sevirato augustale: Olisipo (Lusitania) CIL II 265 (certo d’età molto antica)» – [o outro texto evocado é CIL II 2327, de Peñaflor, Baetica, cuja crítica hoje unanimemente entende reportar-se a dois libertos (cf., v.g., Étienne 19742: 253 e n. 4; Serrano 1988: 100-101; CILA II 166)]. Na mesma direcção aponta Neumann (1896: col. 2354) ao es- crever, a propósito da condição sócio-jurídica dos augustais: «es sind überwiegend Libertin (...) und ganz vereinzelt Sclaven, nämlich in Oli- sipo in Lusitanien II 265 (...)». Por sua vez, Leite de Vasconcellos (1913: 325 e n. 6) exempli- fica, com o monumento das Lameiras, a existência de inscrições fune- rárias de augustais no territorium de Olisipo, não tecendo a propósito qualquer tipo de ressalvas. Mais tarde deparamos como nova aquies- cência, desta vez por parte de Julio Mangas (1971: loc. cit.), autor que expressamente aponta o cargo de augustales para os escravos olisipo- nenses Euticus e Linus; porém, no capítulo acerca das profissões e ofí- cios dos servi (vd. 78-93), não referencia a epígrafe em causa. Na verdade, já antes Étienne (19742 : 252 n. 6) opinara de modo bastante diverso: «Contrairement au classement de Ciccotti et Premers- tein, CIL II, 265, n’offre pas certainement deux Augustales. La trans- cription est peu sûre; il s’agit d’une inscription funéraire mentionnant deux esclaves et dont la première ligne AVGVST a été développé en August(ales) ou August(alium). Augustales est à rejeter: des esclaves ne sauraient être augustales (...). Augustalium s’appliquerait au contraire aux patrons dont l’inscription fournit les noms. Mais la construction de l’inscription semblerait alors tourmentée». E, então, Étienne formula a seguinte pergunta: «Pourquoi ne pas voir dans AVGVST une dédicace à l’empereur vivant?» – hipótese que, todavia, não retoma mais à frente (290-292), ao tratar do culto municipal ao imperador vivo. Atendendo aos ponderosos argumentos deste autor e apesar das afirmativas suposições anteriores, não deixámos de evidenciar já, tam- bém neste aspecto, o carácter controverso do texto de Armês/Lamei- ras (Cardim-Ribeiro 1974/77: 328 n. 196). Mas, a breve trecho, no- vas recusas irão surgindo, algumas tão só implícitas outras plenamente formais. Por exemplo, Duthoy (1978), que significativamente exclui esta questão do seu actualizado e rigoroso estudo sobre os Augustais; Garcia (1991: 167), omitindo os dois indivíduos patentes na inscrição em análise ao longo de uma listagem de augustales relativa a Lisboa e arredores; ou nós próprios, actuando de modo similar (Cardim-Ribeiro 1982-83: 228 e fig. 29). Por fim, José Miguel Serrano (1988: 101)

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 168 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 declara, de forma peremptória e a propósito da dificultosa interpretação de CIL II 265: «hay que rechazar claramente la supuesta aparición de esclavos entre los Augustales».

1.7. Nova interpretação da epígrafe e análise do seu conteúdo

Mas, perguntamos, ¿teria Hübner total razão ao reconstituir da- quela forma o perdido monumento de Armês/Lameiras? ¿Não haveria afinal outra hipótese, desprovida de especiais obstáculos interpretati- vos, para recuperar a mensagem epigráfica original, obscurecida atra- vés da imperfeita versão manuscrita que dela nos chegou? Se a primeira das questões convida a uma resposta negativa, já o mesmo não acontece com a restante. A solução que em seguida in- dicaremos representa, pois, o repensar do texto exarado no códice da Biblioteca Nacional de Lisboa, condicionado embora pela prévia acei- tação das três fundamentais premissas deduzidas já pelo autor de CIL II, essas sim absolutamente incontroversas e que ora nos cumpre recordar: (A) conteúdo de cariz funerário; (B) epitáfio duplo, redigido em duas colunas paralelas rematadas do mesmo modo; (C) condição servil de ambos os defuntos. Porém, antes de apresentarmos na globalidade a nossa versão, convirá ainda expor, com algum detalhe, quais os raciocínios parcelares que a ela nos conduziram:

(a) Nada, no manuscrito, autoriza a supor uma primeira linha co- mum aos dois epitáfios, devendo pois AVGVST iniciar apenas uma das colunas (a da esquerda, para o observador); (b) Os escravos, identificados cada qual por um único antropóni- mo, deverão apresentá-lo em nominativo, atendendo à inexis- tência de fórmulas dedicatórias; (c) Sendo provável que os textos de ambas as colunas comecem pela indicação desses nomes, consideramos AVGVST- como fazendo parte de um deles (o da coluna esquerda) e buscamos, na primeira regra manuscrita, possíveis formações onomásti- cas em -us; (d) Assim, encontramos a meio o antropónimo EVTICVS e, no fi- nal, -INVS, decerto a terminação do nominativo que ainda nos falta; se o grupo literal AVGVST- pertencer, como supomos,

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 169

à designação de um dos escravos, torna-se legítimo identificar o outro com EVTICVS e considerar -INVS como sufixo do nome do primeiro: AVGVST-INVS; (e) A linha 1 da coluna sinistra apresentar-se-ia, pois, integralmen- te ocupada por AVGVST, principiando a linha 2 por INVS; por sua vez, EVTICVS iniciaria a linha 1 da coluna dextra, com- plementando-a um L ladeado por pontos; (f) Este L poderia constituir a sigla do praenomen do dominus de Euticus, visto que aos nomes dos dois escravos se deveriam suceder os antropónimos dos respectivos proprietários, em ge- nitivo e, muito provavelmente, em formação trianominal; (g) Dentro desta ordem de ideias, haveria pois que procurar uma outra sigla de praenomen, além de dois gentilícios e de dois cognomina em genitivo; o G pontuado, no princípio da segun- da regra manuscrita, indicaria assim o praenomen do dominus de Augustinus, cujo gentilício começaria por LI, grupo literal que de imediato se sucede; (h) Vem depois CASSI, interpretável como nomen do proprietário de Euticus: L. Cassi(i); (i) E, no termo da segunda regra manuscrita, vemos CINI, atendí- vel complemento de LI; o gentilício do proprietário de Augus- tinus seria, pois, Licini(i), supondo distribuir-se este pelo final da linha 2 e princípio da linha 3 da coluna esquerda; (j) Deste modo, CASSI ocuparia o começo da linha 2 da colu- na direita, a qual terminaria por ALTE – no manuscrito entre CASSI• e CINI• –, provável elemento inicial de cognomen; (l) Procuraremos, pois, os cognomina que nos faltam: logo no começo da terceira regra manuscrita encontramos BASSI; se Alte-, sucedendo-se a Cassi(i), aponta o princípio do respecti- vo cognomen, já Bassi se deverá relacionar com G. Licini(i) e rematar a linha 3 da coluna esquerda; (m) Na terceira regra manuscrita resta-nos assim isolado, antes da primeira indicação ser(vus), o grupo literal RIS, adequado complemento de ALTE: o cognomen de L. Cassi(i) surge indu- bitavelmente como Alteris; (n) O início da linha 3 da coluna direita conteria, pois, as letras RIS; suceder-se-ia, após um ponto, SER. H. S., terminando assim o epitáfio dextro; (o) A quarta e última linha do epitáfio sinistro apresentar-se-ia in-

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 170 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265

tegralmente constituída por SER H.S.E, concluindo-se assim a transcrição analítica dos elementos patentes no texto manus- crito; (p) Refira-se ainda que a pontuação indicada no monumento se coaduna bastante bem com a nossa versão (contrariamente ao que sucede com a de Hübner): verificam-se pontos entre todos os elementos textuais, dentro de cada linha, excluindo entre SER e H.S.E na derradeira do epitáfio sinistro; e, também, ponto no final da primeira linha da coluna direita, depois da sigla do praenomen L(ucii)9.

Resta explicar porque adoptámos uma distribuição assimétrica en- tre as colunas, considerando a da esquerda formada por quatro linhas e a da direita apenas por três. De facto, poderíamos ter suposto uma solução equilibrada e em princípio mais normal, com duas linhas finais idênticas entre si, e uma penúltima linha dextra apenas ocupada pelas letras RIS, em posição centrada. No entanto, a atenta observação do manuscrito inviabiliza uma resolução deste tipo, conduzindo-nos ine- quivocamente para a primeira hipótese sugerida. Explicitemos: O anónimo autor do manuscrito revela, como já evidenciámos e apesar da sua manifesta incompreensão do conjunto, grande atenção na cópia individual dos vários elementos constitutivos da epígrafe. Isto verifica-se não só a nível paleográfico, mas ainda quanto aos espaça- mentos registados, reflexos mais ou menos inconscientes da realidade patente no monumento romano. Reparemos, assim, que entre AVGVST e EVTICVS, por um lado, e LI e CASSI, por outro, abrem-se distân- cias correspondentes ao suposto intervalo medial intercolunar. Porém, o mesmo não acontece entre BASSI e RIS, situados a meio da regra que precisamente considerámos a mais densa da epígrafe: 9+9=18 letras10. Aqui o intervalo medial devia apresentar-se menor11 e terá, assim, es- capado à observação do anónimo transcritor – o que de modo algum

9 Hübner, para conferir algum sentido à sua proposta, viu-se forçado a abandonar quase todas as indicações de pontuação contidas no manuscrito, excepto a seguir à sigla do praenomen G(aii), antes das fórmulas finais e no interior destas últimas. 10 Confronte-se com a linha 1: 6+8=14 letras; e com a linha 2: 7+9=16 letras. 11 É provável, concretamente, que o -SI de BASSI avançasse sobre o espaço me- dial, já que a linha em que se inclui, na coluna sinistra, atinge 9 letras (+ 2 que a anterior e + 3 que a primeira e a quarta).

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 171 sucederia, muito pelo contrário, se a linha da coluna direita contivesse apenas RIS. Assim se explicará, também, o ponto existente entre RIS e SER12. Virá a propósito referir que a assimetria verificada entre as duas colunas textuais da inscrição – aliada à elevada densidade literal da terceira regra – terá, segundo cremos, contribuído em grande medida para induzir à errónea leitura corrida e sequencial patente no manus- crito.

Expressas as bases e condicionantes em que nos apoiámos, passe- mos a apresentar na sua integralidade a reconstituição da epígrafe que consideramos mais próxima da realidade:

AV G V S T EVTICVS • L • INVS•G•LI CASSI • ALTE CINI•BASSI RIS•SER• H•S•E SER H•S•E

Coluna sinistra: August/inus.G(aii).Li/cini(i) Bassi / ser(vus) h(ic). s(itus).e(st) // Coluna dextra: Euticus.L(ucii). / Cassi(i).Alte/ris.ser(vus).h(ic). s(itus).e(st) //

«Augustinus, escravo de Gaius Licinius Bassus, está aqui sepulta- do. Euticus, escravo de Lucius Cassius Alter, está aqui sepultado».

1.8. Os antropónimos realmente patentes na epígrafe

Segundo a nossa opção interpretativa, os antropónimos realmente patentes nesta epígrafe são pois os cognomina Alter, Augustinus, Bas- sus e Euticus; e os gentilícios Cassius e Licinius – além dos praenomina G(aius) e L(ucius).

12 Note-se, porém, que quer tenhamos razão quanto à formação trilinear da coluna dextra, quer não – ignorando-se neste caso as especificidades do manuscrito e optando- -se em alternativa por uma mais vulgar partição em quatro regras de ambas as colunas, assim concluídas do mesmo modo –, o teor da nossa restituição textual, que na verdade é aqui o mais importante, em nada se altera.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 172 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265

Entre todos, apenas Bassus e Euticus são comuns à presente resti- tuição e à de Hübner. Destes nomes já falámos suficientemente. Apenas gostaríamos ainda, quanto a Euticus, de salientar a frequência com que surge em âmbito servil ou de origem servil, conforme se pode consta- tar, por exemplo, quer da ampla listagem de escravos assim designados presentes na cidade de Roma, elaborada por Solin (1996: 434-435), quer na qualificação de incerti que este mesmo autor atribui à maior parte dos restantes casos de Eutic(h)us de idêntica proveniência (Solin 1982: 801-806) – o que, evidentemente, denuncia o estatuto de libertos para muitos deles. Quanto a Augustinus, que na inscrição de Armês/Lameiras desi- gna o outro homem de extracção servil, no registo de Kajanto (19822: 316) encontramo-lo atribuído a 53 indivíduos13, dos quais tão-só dois indicam a respectiva condição de escravos ou libertos. Na Península Ibérica, em geral, este antropónimo consta 13 vezes (Abascal 1994: 292 col. 2), e na Provincia Lusitania especificamente sete (AALR: 106- 107 e mapa 49) – isto sem contar com o exemplo em análise. Porém destacaremos que, agora, entre todos estes derradeiros testemunhos, avultam de forma muito marcada aqueles que se reportam explicita ou implicitamente a escravos14 e libertos15. Alter, na sua simplicidade, coloca vários problemas. Em primeiro lugar, cumpre-nos notar ser esta a segunda vez que tal cognomen surge registado; a outra reporta-se a um caso de Roma patente em duas inscri- ções da época de Tibério-Nero, tratando-se aí de um escravo (CIL V 2, 6254 e 6255; Kajanto 19822: 294; Solin 1996: 149 col. 1). O seu significado é evidentemente derivado do adjectivo alter com o sentido de “outro relativamente a um primeiro”, ou seja, “se- gundo” (Ernout/Meillet 19854: 22 col. 1). A raridade do cognomen Alter justifica-se, assim, pela esmagadora frequência do seu equivalente Secundus16.

13 Consideramos apenas os casos não cristãos. 14 ILER 236; consideramos aqui implícitos os casos em que o indivíduo é designado apenas por um único nome, Augustinus/-a: ILER 3010, 4285; HAEp 2438; González 1982: n.º 385. 15 Pereira Menaut 1979: n.º 59; HAEp 2470; consideramos aqui implícitos os casos em que o indivíduo é designado por formação onomástica trianominal mas sem filiação e tribo, tratando-se de inscrições funerárias:CIL II 1704, 2931, 4407. 16 Note-se o registo, aliás também na Hispânia Romana (CIL II 3027 e CIL II2/14,

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 173

A forma genitiva Alteris, constante no texto em estudo, revela-nos que, no entanto, não se trata de uma mera e directa adopção antroponí- mica do referido adjectivo. Alteris, que se inscreve na 3ª declinação dos nomes substantivos, reporta-se pois a uma substantivação do adjectivo alter, o qual apenas depois dessa sua transformação morfológica sofre a presente antroponimização. Não se trata assim simplesmente de um qualquer “outro”, mas sim de “o outro”, “o segundo”, indivíduo concre- to numa seriação concreta – neste caso reportando-se à ordem do nasci- mento, se de facto estivermos perante um cidadão; ou da ordem de aqui- sição, se L. Cassius Alter, ora dominus de Euticus, for afinal um liberto. Cassius e Licinius representam gentilícios frequentes em muitas partes do Império (Lörincz 1999: 41; id. 2000: 26-27), e ainda na Península Ibérica (Abascal 1994: 108-109 e 168-173) e na Lusitânia (AALR: 135-136 e mapa 80; 212-213 e mapa 167) – embora bem mais o segundo que o primeiro. No âmbito da Provincia Lusitania e no total de 26 diversos gentilícios com bastante ou relativo significado quantita- tivo, Cassius ocupa o 19.º lugar, mas Licinius o 6.º (AALR: 407). A importância da gens Cassia no Ager olisiponensis – território onde surge com mais abundância entre os de todas as ciuitates hispâni- cas – é um dado histórico consabido e já várias vezes estudado (cf., v.g., Loysance 1986: 276-279 e fig. 49). Hoje podemos indexar aqui mais de duas dezenas de casos: CIL II 177, 179, 191, 204, 207, 208, 4998 e 5099, no oppidum; CIL II 265, 267, 282, 283, 5012, 5013, ILER 877, Ferreira 1977: 206, Pereira 1938 e mais cinco inéditas,17 nas zonas rurais – destas, a terça parte concentra-se ao longo do eixo São Miguel de Odrinhas – Faião – Armês18; além dos olisiponenses C. Cassius Atius (HEp 3: 192), M. Cassius Sempronianus (CILA II 281) e de sua contu- bernalis Cassia Zoe (CILA II 282).

288), de um outro raríssimo cognomen – também apenas dois casos – que, até certo ponto, se pode colocar a par de Alter; referimo-nos a Initialis (Lörincz 1999: 194 col. 2), forma substantiva de origem adjectival que Kajanto (19822: 294) supõe significar, como antropónimo, «first-born» – ou seja, corresponder afinal ao vulgaríssimo nome Primus e seus derivados. 17 MASMO, n.os inv. F/LR/74/1 (Faião), MTL/LR/87/1 (Montelavar), ALMA/ LR/60/1 (São Miguel de Odrinhas/Almarjão) e GSC/LR/90/1 e GSC/LR/90/2 (Granja do Casal de Santa Cruz). 18 No que respeita à importância epigráfica desta estreita faixa territorial durante o Alto-Império, cf. Cardim-Ribeiro 2013: 358-362.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 174 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265

Os Licinii assumem também especial expressão em Olisipo, em- bora possamos encontrar outros núcleos igualmente representativos noutras ciuitates hispânicas (cf., v.g., Dyson 1980-1981, 280-283). O seu actual número, no Ager olisiponensis, ultrapassa mesmo o dos Cas- sii, avultando agora nas zonas rurais: CIL II 173, 178, 230=231 e ILER 6308, no oppidum; CIL II 265, 304, 305, 306, 307, 308, 323, 5021, ILER 2418, 2521, 3327, 3339, 4130, 5178, 6185, HAEp 1218, 1224, 1617, 1618, 2132, 2645 e duas outras inéditas, nos agri19 – destas, um pouco mais de metade concentram-se ao longo do eixo São Miguel de Odrinhas – Faião – Armês.

1.9. Tipologia do monumento

Conforme constatámos, o anónimo autor que, no século XVIII, transcreveu a epígrafe de Armês/Lameiras declara que esta constava numa pedra «lavrada e ovada». Por “lavrada” devemos entender aqui, não coberta com quaisquer especiais ornamentos, mas sim – simples- mente – feita, trabalhada, afeiçoada, distinguindo-se pois de um monó- lito bruto20; e, por “ovada”, arredondada21. Na posse destas genéricas indicações, cruzando-as com o que sa- bemos acerca das tipologias de monumentos funerários vulgares no território olisiponense, poderemos deduzir que, com certa probabilida- de – se não estivermos diante de um inesperado suporte formalmente inusitado –, se tratará ou de um cipo de secção arciforme, ou de uma estela de topo arredondado. Todavia, quanto ao cipo de secção arciforme, ou cupa, tão comum nos campos olisiponenses (cf. Campos 2012), apesar da sua sobressa- liente calote costuma, pela predominante horizontalidade, assinalável porte e genérica feição, dar antes azo a designações vulgares do tipo

19 MASMO, n.os inv. F/LR/56/8 (Faião) e FAC/LR/15/1 (Fação). 20 Cf., v.g., Moraes Silva 1789: 11 col. 1: «Lavrar, (…) fazer qualquer obra de mãos, v.g. (…) “lavrar estatuas”». 21 Quanto a “ovada”, diz-nos Raphael Bluteau (1720: 138 col. 2): «Ovado, ou figura ovada, assim chamada da semelhãça, que tem com o ovo. Não dista como o circulo igualmẽte por todas as partes do centro, porque a linha de que consta é curva, & imperfeytamente redonda». De onde poderemos deduzir que a lápide de Armês/ Lameiras se distinguiria por possuir uma zona arredondada.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 175

“a modo de tumba” (André de Resende in An. Neap.: fl. 45v.), “caixão” (v.g. Capeans 1943: 310), “arca” (Cardozo 1956: 23) ou “baú” (v.g. Leite de Vasconcellos: 2013: 401) – entre outras similares que lhe salientam a referida postura e o amplo volume (cf. Cardim-Ribeiro 1974-1977: 307-308). Se fora uma cupa, atendivelmente a lápide por- tadora de CIL II 265 haveria sido designada de um modo similar pelo seu observador. Uma terceira hipótese remeterá para as estreitas tábulas de topo arredondado do tipo de algumas das que surgiram na necrópole romana da Praça da Figueira, em Lisboa (vd. Almeida/Ferreira 1965: 101- -105 n.os V e VI; Moita 1968: 67-68 n.º 43, 69 n.º 51, est. IX). Estas tábulas poderiam de facto destinar-se, como escreveram alguns autores (Almeida/Ferreira 1965: loc. cit.), a ser encravadas num dos topos de cupae structiles, das quais se conhecem vários exemplares na referida necrópole (v.g., Campos 2002: 471-472), embora até agora nunca se tenha comprovado materialmente a inequívoca associação entre estas coberturas tumulares e tais lápides. Não é pois impossível que hajam antes fechado loculi de columbários, sepulcros colectivos porventura também aí existentes (vd. Moita 1968: 51 col. 1). Mas, no âmbito do Município Olisiponense, as cupae structiles parecem ser específicas da urbs – aliás contrariamente às monolíti- cas de calcário, que até ao momento se documentam apenas nos agri (Campos 2012: 471). Por outro lado, nenhuma das poucas tábulas pequenas e não molduradas até agora identificadas nas zonas rurais possui as características daquelas da Praça da Figueira, revelando-se de simples perfil rectangular, desprovidas pois de qualquer curvatura (cf., v.g., Silva 1944: n.os 114 e 144H; Leite de Vasconcellos 1914). Acresce que as expressões utilizadas ao ser descrita a descoberta ocor- rida em Armês/Lameiras, explicitando que o achador ao lavrar «arran- cou» a lápide e a «deitou no caminho», sugerem que se tratava de um monólito pesado. Em suma, supomos como mais provável – embora sem certezas – que o duplo epitáfio em análise constasse numa estela de topo arre- dondado, eventualmente reduzida ao troço superior epigrafado no mo- mento em que o arado ou a enxada a trouxe à superfície. Neste ponto da nossa análise coloca-se a seguinte questão: ¿tra- tar-se-ia de uma estela geminada, como aquelas que, noutras regiões portuguesas, exibem colunas textuais paralelas? (cf., v.g. , L e i t e d e Vasconcellos 1913: fig. 169; RLLS: n . º 3 0 8 ) ; ¿ o u d e u m a e s t e l a

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 176 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 singela, embora com a inscrição em duas colunas, de que também há exemplos na Lusitânia? (cf., v.g., Leite de Vasconcellos 1913: figs. 168 e 170). Acontece que não possuímos qualquer paralelo para esta situação em todo o território do Município Olisiponense, onde os epitáfios du- plos – ou mesmo múltiplos – se distribuem, no campo epigráfico, uns debaixo dos outros22, e nunca em colunas paralelas. Note-se ainda que a gramática decorativa comum nas estelas geminadas, ou mesmo nas simples de outras regiões, é excepção no território em análise, onde a quase totalidade das lápides inventariadas se cingem aos seus geométri- cos contornos. Aliás, se no monólito em análise estivesse patente algum ornamento, por certo que o seu descritor não deixaria de no-lo indicar e descrever. No Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas conserva-se, no entanto, uma lápide regional inédita proveniente da Granja dos Ser- rões (n.º inv. GS/LR/60/7) que, embora inferiormente truncada e – pelo menos na actualidade – anepígrafa, pode ser descrita, a priori, como estela geminada (vd. Fig. 2). O estado de perfeito acabamento das suas superfícies impede-nos, ou pelo menos dificulta-nos, de encarar esta peça como representando um trabalho incompleto, eventualmente fal- tando ainda fender a meio e na vertical o monólito e transformá-lo, as- sim, em duas diferentes estelas simples. A ausência de vestígios literais poderia no entanto apontar para um produto ainda imperfeito, mas na verdade ignoramos se o tempo não terá afinal apagado todos os traços porventura aí outrora gravados, ou mesmo tão só pintados. ¿Seria a lápide de Armês/Lameiras formalmente idêntica a esta da Granja dos Serrões? É uma possibilidade. Todavia, talvez então a sua descrição houvesse sido um pouco mais complexa, e não apenas circunscrita ao adjectivo “ovada”.

1.10. Proposta cronológica

Alguns pormenores do desenho da epígrafe, que conforme cons- tatámos seguirão de perto as suas mais evidentes e reais características

22 Em cupae, estelas de topo arredondado, cipos prismáticos, tábulas molduradas ou blocos de torres funerárias.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 177 paleográficas, poderão orientar-nos na tentativa de atribuir uma crono- logia ao monumento em análise. Assim, os TT com a barra extremamente curta e os NN – pelo me- nos um – inclinados sobre a direita do observador encontram evidentes paralelos noutras inscrições dos agri olisiponenses, entre as quais des- tacaremos a ara consagrada Araco Arantoniceo (CIL II 4991, Manique de Baixo, Cascais, cf. Encarnação 20012: 19-23 n.º 1), a estela de topo arredondado de Aleba Arconis f(ilia) (CIL II 5223, Mafra; cf. Matias 2005: 90-91 n.º V; RLLS: n.º 289) e a lápide de Potio Arconi (HAEp 1623, Sintra; cf. Cardozo 1958: 21 n.º 11)23. Todos estes monumentos são considerados bastante antigos no âmbito da prática epigráfica documentada no Município Olisiponense. Não será temerário atribui-los à época de Augusto, concretamente aos anos de transição a.C./d.C. Talvez o duplo epitáfio de Augustinus e de Euticus possa remontar a este mesmo período, ou a uma fase algo pos- terior mas ainda precoce.

2. A inédita estela funerária de [G(aius)] Licinius Bassus

Embora a redacção do presente artigo seja actual, a análise que fizemos do manuscrito da BNL remonta já a 1993, situando-se ainda nessa época a reconstituição que concebemos da epígrafe e a reunião de muitos dos elementos de estudo ora utilizados. Assim, pese estar- mos desde logo convictos, atendendo à adequabilidade dos resultados conseguidos, quanto à bondade da proposta interpretativa formulada, durante algum tempo tentámos reencontrar a lápide de Armês/Lameiras sobretudo a fim de poder confirmar com plena segurança a exactidão do respectivo texto – procurando pois, por assim dizer, a prova abso- lutamente cabal das deduções que efectuáramos. Conforme referimos já, tal busca nunca foi afinal coroada de êxito. Porém, em 1995 ocorreu em Armês, no decurso da recuperação de uma das mais antigas casas do centro da povoação24, a descoberta de nova lápide romana – a trun-

23 Mal lida, até agora, como [P]lotio Arc(io ?). 24 Ainda hoje provida de uma porta secundária para o exterior delimitada por cantarias tardo-góticas.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 178 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 cada metade superior de uma estela de topo arredondado25 – exibindo uma inscrição sem dúvida relacionada com o duplo epitáfio perdido, de acordo com a restituição que dele lográmos estabelecer; e que, assim, constituía em si mesma uma contraprova, embora indirecta e parcial, dessa mesma restituição. Tratava-se, afinal, da epígrafe funerária de um [-] Licinius Bassus o qual, atendendo a várias circunstâncias – compati- bilidade cronológica, efectiva proximidade de local do achado (vd. Fig. 3) e invulgaridade da relação antroponímica presente26 –, consideramos ser, com segurança praticamente absoluta, o dominus de Augustinus servus.

2.1. A lápide (Figs. 4 e 5, em cima)

Grande fragmento superior de estela de topo arredondado, escul- pida em calcário microcristalino com laivos rosados – vulgo “encar- nadão” – característico das pedreiras de Lameiras. Muito erodido do lado direito (para o observador); e, em muito menor escala, do lado esquerdo. Faces frontal e laterais alisadas; face posterior deixada em rude. Dimensões: alt. actual 134 cm; larg. na parte mais ampla conser- vada 46,5 cm; espess. média 31 cm. Originalmente deveria atingir uma altura de aprox. 220 cm.

2.2. O epitáfio (Figs. 4 e 5, em baixo)

A 44,5 cm do topo inicia-se um epitáfio distribuído por três linhas. Campo epigráfico de 23 cm de altura por c. 44 cm de largura máxima original, assaz erodido do lado esquerdo (para o observador) e muito deteriorado do lado direito. Ampla zona central em bom estado de con- servação. Atendendo à implantação das letras que restam das duas pri- meiras linhas e à inerente reconstituição contextual, e observando ainda a terceira regra que se encontra completa, verifica-se que o ordinator

25 Então recolhida no MASMO, foi-lhe atribuído o n.º inv. AR/LR/95/1. 26 Recordemos a raridade do cognomen Bassus no Ager Olisiponensis: apenas três exemplos, dois dos quais precisamente em Armês: este e o de CIL II 265.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 179 desenhou a epígrafe em função de um eixo vertical central, embora sem estrito rigor. Altura das letras de módulo normal: entre 5,5 e 6 cm; espaços interlineares: 2 cm; prof. dos traços: 2,5 mm. Pequeno A de CẠ L(eria): alt. 2,9 cm; larg. na base 2,5 cm.

[˗ •]ḶICINIVṢ[˗ •F]

CẠ L•B A S S[VS] H • S •E

[-] Licinius Bassus [- f(ilius)] / Cạ l(eria) Bassu[s] / h(ic) s(itus) e(st) // «[-] Licinius Bassus, [filho de -] (e inscrito na tribo) Caleria, está aqui sepultado».

Por uma questão de escrúpulos, resistimos em reconstituir, na lei- tura e na tradução, o praenomen de Licinius, já que na própria lápide não subsistem quaisquer vestígios do mesmo. Mas, por confronto com CIL II 265, decerto seria [G(aius)].

2.3. Análise paleográfica e proposta cronológica

Assinalemos: (a) o A (linha 2) e o V (linha 1) plenamente simétri- cos e entre si equivalentes na proporção, o traço 3 do A (barra) oblíquo, subindo da esquerda para a direita; (b) o B (linha 2) com o traço 4 (curva superior) e o traço 5 (curva inferior) desiguais, o primeiro como se fora de um P aberto, o segundo conferindo volume à letra – ambos entre si bem proporcionados e equilibrados; (c) os CC bastante largos e abertos; (d) o E (linha 3) com os traços 2, 3 e 4 (barras) iguais entre si, de comprimento equivalente a metade da altura do traço 1 (haste), o medial bem centrado; (e) L (linha 2) equivalente ao E antes descrito; (f) o H (linha 3) e o N (linha 1) bastante estreitos, entrando neste aspecto em dissonância com as restantes letras; o traço 3 (barra) do H um pouco subida, o N plenamente vertical; (g) os SS (linhas 2 e 3) todos a rigor similares e desenhados a três tempos, com o traço 1 (oblíquo) apresen- tando uma inclinação algo mais acentuada que a das oblíquas do A, do V e do N (estas idênticas entre si); traços 2 e 3 quase rectos, curvando apenas no ponto de união com o traço 1.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 180 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265

Quanto às características textuais do epitáfio, verificamos o clás- sico modelo circunscrito à identificação trianominal e de cidadania – filiação e tribo – do defunto, seguida da fórmula funerária mais antiga, singela e estandardizada: h(ic) s(itus) e(st). O desenho das letras, a sua harmoniosa ordenação e ainda o cariz lacónico do texto, levam-nos pois a atribuir o presente monumento, de uma forma lata, à primeira metade do séc. I d.C., embora a uma época já posterior a Augusto. Assim, entre a morte de Augustinus, advinda talvez nos alvores da Era, ou pouco depois, e a de [G(aius)] Licinius Bassus, terão porventura decorrido entre duas a três décadas. Isto se confiarmos nos indícios paleográficos subsistentes na anónima transcrição de CIL II 265 e no seu aparente significado cronológico. Infelizmente, nem o epitáfio do dominus nem o do servus nos revelam a idade com que faleceram, dado que poderia ajudar a melhor compreender a relação etária e temporal entre ambos existente. Mas tal lacuna deve-se afinal, sobretudo, ao próprio cariz arcaico dos textos em análise, singelamente limitados – como vimos – aos essenciais dados identificadores dos res- pectivos defuntos: onomástica pessoal e definição social. Aliás, neste aspecto estamos perante composições paralelas, obedecendo aos mes- mos critérios conceptuais e culturais, característicos – lato sensu – de um mesmo período: o Júlio-Claudiano.

2.4. O surpreendente pequeno A de CẠ L(eria) (Fig. 6)

Deixámos para o fim a análise do A em módulo menor e menos profundamente gravado – mas sem dúvida antigo – que se conjuga, como nexo, com o incompletíssimo C ̣ de CẠ L(eria). Nada, porém, o distingue na aparência do A de módulo normal que antes descrevemos, inclusive na ligeira obliquidade do traço 3 (barra), senão o facto de ora estarmos perante uma letra miniaturizada. O que, aliás, também por si mesmo não constitui qualquer motivo de admiração, pois a presença de letras em módulo menor na ordinatio epigráfica é um fenómeno mui- tíssimo vulgar por todo o Império e, com maior ou menor intensidade, em todas as épocas – sem excepção do território olisiponense, em que surgem com frequência desde Tibério até, pelo menos, aos Flávios. O que é único neste pequeno A não é pois o seu módulo, a sua função ou o seu ductus, mas sim o seu concreto posicionamento: não no centro do C com o qual forma nexo, mas sim sobreposto ao traço

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 181 inferior desse mesmo C. Situação para a qual, confessamos, não conhe- cemos qualquer paralelo. ¿Que teria provocado, pois, tão anómala decisão? Dentro do C ha- via espaço mais do que suficiente para aí gravar o pequeno A, de acordo com o vulgar procedimento em casos similares. Nestes – e recorrendo apenas a exemplos regionais, da “Zona Ocidental” do Município Oli- siponense –, não só encontramos AA27, DD28 ou II29 de módulo menor centrados no interior de CC ou de GG, mas também, em alguns casos, o duplo conjunto literal AL30. Mesmo se houvera um esquecimento ao gravar-se o texto e assim se efectuasse agora a consequente correcção – como de facto poderá pensar-se, até atendendo à gravação mais ténue da letra em análise –, esta poderia ter sido facilmente acrescentada segundo os moldes habi- tuais. Apenas conseguimos entrever, pois, uma razão para que, afinal, se tenha abandonado a norma e se haja optado por tão estranha colocação: a presença, já à época, do pequeno defeito do suporte pétreo patente no interior do C.̣ Mas – convenhamos – nada nos possibilita saber se tal dano remontará de facto à época da feitura da epígrafe. E, mesmo que na verdade uma deterioração pontual aí então existisse, deveremos porém questionar-nos se não teria sido viável – aliás com presumível facilidade – corrigir tão ténue irregularidade, rebaixando impercepti- velmente a superfície pétrea neste ponto preciso e alisando-a. Afinal de contas, há que assumir em pleno a nossa efectiva ignorância quanto ao que se terá passado. Apenas nos cumpre, assim, registar e eviden- ciar este raro pormenor paleográfico, aguardando que eventuais futuros paralelos, nesta ou noutra região, possam lançar alguma luz sobre o porquê desta inesperada evidência, que transforma uma lápide vulgar num caso até certo ponto especial. No fim de contas, como de tantos modos e em tantas ocasiões nos ensinou e demonstrou José d’Encarnação, não existem inscrições, sin- gelas que sejam, que de uma forma ou de outra não levantem problemas de análise e que, assim, não nos ofereçam sempre renovados motivos

27 CIL II 265; Capeans 1943: 297-299; Cardim-Ribeiro 1982-1983: 231 (fig. 31) e 333-346 n.º 5 (figs. 69, 70, 74 e 75); Cardozo 1956: 69 n.º XXII; Matias 2005: 107-109 n.º XI; e uma inédita (MASMO, n.º inv. AR/LR/91/1). 28 Cardim-Ribeiro 1982-1983: 166-175 (figs. 4, 6, 7, 8, 9 e 10). 29 Matias 2005: 107-109 n.º XI. 30 CIL II 267; e uma inédita (MASMO, n.º inv. AM/LR/93/1).

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 182 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 de interesse – embora por vezes simples detalhes – para melhor procu- rarmos reconstituir certos episódios ou circunstâncias do quotidiano em Romanidade e seu reflexo nas práticas epigráficas coetâneas.

BIBLIOGRAFIA

AALR: vd. Navarro, Milagros; Ramírez, José Luis (2003). Abascal, Juan Manuel (1994) – Los Nombres Personales en las Inscripciones Latinas de Hispania, Murcia: Universidad. Albertos, María Lourdes (1964-1965) – Nuevos antropónimos hispânicos, Emerita 32-33, Madrid, p. 209-252 e 109-143. Albertos, María Lourdes (1966) – La Onomástica Personal Primitiva de Hispania. Tarraconense y Bética, Salamanca: CSIC. Albertos, María Lourdes (1972) – Nuevos antropónimos hispánicos (2.ª serie), Emeri- ta 40, Madrid, p. 1-29 e 287-318. Albertos, María Lourdes (1977) – Correcciones a los trabajos sobre onomástica perso- nal indígena…, Emerita 45, Madrid, p. 33-54. Almeida, Justino Mendes de; Ferreira, Fernando Bandeira (1965) – Varia Epigraphi- ca, Revista de Guimarães LXXV, Guimarães, p. 82-109. An. Neap.: vd. Anonymus Neapolitanus. Anonymus Neapolitanus, Biblioteca Nacional de Nápoles, Códice V, E, 18. Bem, Thomaz Caetano de (1794) – Memorias Historicas Chronologicas da Sagrada Religião dos Clerigos Regulares em Portugal, e suas Conquistas na India Orien- tal, II, Lisboa: na Regia Officina Typografica. Bluteau, Raphael (1720) – Vocabulario Portuguez & Latino, VI, Lisboa: na Officina de Pascoal da Sylva. Campos, Ricardo (2012) – As cupae do ager Olisiponensis». In J. Andreu (ed.), Las Cupae Hispanas: Origen, Difusión, Uso, Tipología, Tudela: UNED-Fundación Uncastillo, p. 451-476. Capeans, Rosa (1943) – Antiguidades de Faião, Silva e Cabrela (Sintra). In Associa- ção Portuguesa para o Progresso das Ciências. Quarto Congresso, VIII: Secção Ciências Históricas e Filológicas, Porto: Imprensa Portuguesa, p. 288-303. Cardim-Ribeiro, José (1974-1977) – Três novos monumentos epigráficos da época romana pertencentes à zona Oeste do Município Olisiponense, O Arqueólogo Português s. III 7-9, Lisboa, p. 277-329. Cardim-Ribeiro, José (1982-1983) – Estudos histórico-epigráficos em torno da figura de L. Iulius Maelo Caudicus, Sintria I-II, Sintra, p. 151-476. Cardim-Ribeiro, José, coord. (2002) – Religiões da Lusitânia. Loquuntur Saxa, Lis- boa: Museu Nacional de Arqueologia. Cardim-Ribeiro, José (2013) – Ptolomeu, Geogr. II, 5, 6: ΧΡΗΤΙΝΑ ou *ΑΡΗΤΙΝΑ?. In M. C. Pimentel e P. F. Alberto (eds.), Vir Bonus Peritissimus Aeque. Estudos

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 183

de Homenagem a Arnaldo Espírito Santo, Lisboa: Centro de Estudos Clássicos, p. 343-379. Cardozo, Mário (1956) – Catálogo das Inscrições Lapidares do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas, Sintra: Câmara Municipal. Cardozo, Mário (1958) – Novas inscrições romanas do Museu Arqueológico de Odri- nhas (Sintra), Revista de Guimarães LXVIII, Guimarães, p. 355-376. Ciccotti, Ettore (1891) – I sacerdozi municipali e provinciali della Spagna e gli Au- gustali nell’epoca imperiale romana, Rivista di Filologia e d’Istruzione Classica 19, Torino, p.1-84. CIL II: vd. Hübner, Emil (1869). CIL VI. 2: vd. Henzen, Wilhelm; Rossi, Giovanni Battista de (1882). CILA II: vd. González, Julián (1991-1996). Dias, Maria Manuela Alves (1998): Para um repertório das inscrições romanas do terri- tório português (1995), Euphrosyne n.s. 26, Lisboa, p. 465-469. Diogo, António Manuel Dias; Trindade, Laura (1995) – Inscrição dedicada a um pos- sível natural de Útica, proveniente de Lisboa, Ficheiro Epigráfico 49, Coimbra, n.º 223. [Documentos sobre moedas e inscrições epigráficas sobretudo romanas], volume-mis- celânea conservado na Biblioteca Nacional de Lisboa, cota COD. 425 (antiga cota B, 2, 34). Duthoy, Robert (1978) – Les Augustales. In Aufstieg und Niedergang der Römischen Welt, II 16.2, Berlin-New York: Walter de Gruyter, p. 1255-1309. Dyson, Stephen L. (1980-1981) – The distribution of Roman Republican family names in the Iberian Peninsula, Ancient Society 11-12, Leuven, p. 257-299. Encarnação, José d’ (20012) – Roteiro Epigráfico Romano de Cascais, Cascais: Câ- mara Municipal. Ernout, Alfred; Meillet, Antoine (19854) – Dictionnaire Étymologique de la Langue Latine, Paris: Éditions Klincksieck. Étienne, Robert (19742) – Le Culte Impérial dans la Péninsule Ibérique d’Auguste à Dioclétien, Paris: E. de Boccard. Étienne, Robert (1976) – Julio Mangas Manjarres, “Esclavos y Libertos en la España Romana”, Archivo Español de Arqueología 49, Madrid, p. 211-224. Ferreira, Octávio da Veiga (1977) – Notícia de algumas estações pré e proto-históricas e objectos inéditos ou pouco conhecidos (3.ª parte), Boletim Cultural da Assem- bleia Distrital de Lisboa 83, Lisboa, p. 203-218. Garcia, José Manuel (1991) – Religiões Antigas de Portugal, Lisboa: INCM. González, Julián (1982) – Inscripciones Romanas de la Provincia de Cádiz, Cádiz: Diputación. González, Julián (1991-1996) – Corpus de Inscripciones Latinas de Andalucía, II: Sevilla, Madrid: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía. Henzen, Wilhelm; Rossi, Giovanni Battista de (1882) – Inscriptiones Urbis Romae Latinae, 2 (Corpus Inscriptionum Latinarum, VI.2), Berlin: apud Georgium Rei- merum.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 184 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265

Holder, Alfred (1961-19622) – Alt-Celtischer Sprachschatz, Graz: Akademische Druck- u. Verlagsanstalt. HAEp: vd. Hispania Antiqua Epigraphica. Hispania Antiqua Epigraphica 6-7 (1955-1956), 8-11 (1957-1960) e 17-20 (1966- -1969), Madrid: CSIC. HEp: vd. Hispania Epigraphica. Hispania Epigraphica 1 (1989), 3 (1993), 6 (1996) e 7 (1997), Madrid: Ministerio da Cultura e Universidad Complutense. Hübner, Emil (1869) – Inscriptiones Hispaniae Latinae (Corpus Inscriptionum Lati- narum, II), Berlin: apud Georgium Reimerum. ILER: vd. Vives (1971-1972). Kajanto, Iiro (19822) – The Latin Cognomina, Roma: Giorgio Bretschneider Editore. Lörincz, Barnabas (1999) – Onomasticon Provinciarum Europae Latinarum, II, Wien: Forschungsgesellschaft. Wiener Stadtarchäologie. Lörincz, Barnabas (2000) – Onomasticon Provinciarum Europae Latinarum, III, Wien: Forschungsgesellschaft. Wiener Stadtarchäologie. Lörincz, Barnabas; Redö, Franciscus (1994) – Onomasticon Provinciarum Europae Latinarum, I, Budapest: Archaeolingua Alapítvány. Lozano, Arminda (1998) – Die griechischen Personennamen auf der iberischen Hal- binsel, Heidelberg: Universitätsverlag C. Winter. Loysance, Marie-France (1986) – A propos de Marcus Cassius Sempronianus Olisi- ponensis, diffusor olearius, Revue des Études Anciennes 88, Bordeaux, p. 273- 284. Mangas, Julio (1971) – Esclavos y Libertos en la España Romana, Salamanca: Uni- versidad. Martín, Julián de Francisco (1989) – Conquista y Romanización de Lusitania, Sala- manca: Ediciones Universidad. Matias, Carla (2005) – Epigrafia romana de Mafra, Boletim Cultural 2004, Mafra: Câmara Municipal. Moita, Irisalva (1968) – Achados da época romana no subsolo de Lisboa, Revista Mu- nicipal XXIX 116-117, Lisboa, p. 33-71. Navarro, Milagros; Ramírez, José Luis, coords. (2003) – Atlas Antroponímico de la Lusitania Romana, Mérida-Burdeos: Ausonios. Institut de Recherche sur l’Anti- quité et le Moyen Age. Neumann, Karl Johannes (1896) – Augustales. In Wissowa, G. (ed.), Paulys Real-En- cyclopädie der classischen Altertumswissenschaft, II.2, Stuttgart: J. B. Metzler, col. 2349-2361. Palomar, Manuel (1957) – La Onomástica Personal Pre-Latina de la Antigua Lusita- nia, Salamanca: CSIC. Pereira, Félix Alves (1938) – Antiqvitvs XXIX, O Archeologo Português XXX, Lis- boa, p. 149-153. Pereira Menaut, Gerardo (1979) – Inscripciones Romanas de Valentia, València: Mu- seu de Prehistòria de València.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265 185

Premerstein, Anton von (19612) – Augustales. In Ruggiero, E. de (ed.), Dizionario Epigrafico di Antichità Romane, I, Roma: L’Erma di Bretschneider, p. 824-877. RLLS: vd. Cardim-Ribeiro, José, coord. (2002). Serrano, José Miguel (1988) – Status y Promoción Social de los Libertos en Hispania Romana, Sevilla: Servicio de Publicaciones de la Universidad. Silva, Antonio de Moraes (1789) – Diccionario da Lingua Portugueza, II, Lisboa: na Officina de Simão Thaddeo Ferreira. Silva, Augusto Vieira da (1944) – Epigrafia de Olisipo, Lisboa: Publicações da Câmara Municipal. Solin, Heikki (1982) – Die Griechischen Personennamen in Rom, Berlin-New York: Walter de Gruyter. Solin, Heikki (1996) – Die Stadtrömischen Sklavennamen. Ein Namenbuch, Stuttgart: Franz Steiner Verlag. Solin, Heikki; Salomies, Olli (1988) – Repertorium Nominum Gentilium et Cognomi- num Latinorum, Hildesheim-Zürich-New York: Olms-Weidmann. Stockler, Francisco de Borja Garção (1826) – Obras II, Lisboa: na Typographia Sil- viana. TLL: vd. Thesaurus Linguae Latinae. Thesaurus Linguae Latinae, vol. II, 1900-1906, Leipzig: E. Lommatzsch. Vallejo, José María (2005) – Antroponimia Indígena de la Lusitania Romana, (Anexos Veleia, Series Minor 23), Vitoria/Gasteiz: Servicio Editorial de la Universidad del País Vasco. Vasconcellos, José Leite de (1913) – Religiões da Lusitânia, III, Lisboa: Imprensa Nacional. Vasconcellos, José Leite de (1914) – Inscrição romana de Sintra, O Archeologo Por- tuguês XIX, Lisboa, p. 84. Vives, José (1971-1972) – Inscripciones Latinas de la España Romana, Barcelona: CSIC.

Conimbriga, 55 (2016) 157-191 Fig. 1 – O fl. 94 do COD. 425 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Fig. 2 – A estela geminada (actualmente) anepígrafa da Granja dos Serrões, Sintra (MASMO n.º inv. GS/LR/60/7). Fig. 3 – A aldeia e o sítio arqueológico de Armês, Sintra: A - área onde foi achado CIL II 265; B - fonte romana coberta pela lápide com a inscrição CIL II 260; C - terrenos de lavoura, férteis em materiais arqueológicos; D - estela funerária de [-] Licinius Bassus. Fig. 4 – A estela e o epitáfio de[ -] Licinius Bassus, Armês, Sintra. (Desenho de Ana Neves, MASMO). Fig. 5 – A estela e o epitáfio de[ -] Licinius Bassus, Armês, Sintra. Fig. 6 – Linha 2 da inscrição de [-] Licinius Bassus: o pequeno A tenuemente gravado sobre o desgastado traço inferior do C ̣ de CẠ L(eria). Página deixada propositadamente em branco Juan Manuel Abascal Palazón Universidad de Alicante [email protected]

HÁBITO EPIGRÁFICO ROMANO EN EL CONVENTUS LUCENSIS

THE EPIGRAPHIC ROMAN HABIT AT THE CONVENTUS LUCENSIS “Conimbriga” LV (2016) p. 193-219 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_11

Resumen: Las inscripciones del conventus Lucensis muestran un reparto geográfico muy desigual, con una importante concentración en la ciudad de Lucus Augusti y vacíos muy importantes en las comar- cas nororientales y septentrionales; llama la atención también la escasez de testimonios en el espacio comprendido entre los ríos Eo y Navia. La mayor parte de las inscripciones están elaboradas en granito y el tipo más corriente es el altar votivo. No tenemos constancia de la existencia de officinae epigráficas pero los monu- mentos respetan estilos y modas conocidos en otras regiones. Esa ausencia de officinae probablemente fue causa de un alto grado de creatividad epigráfica, especialmente en lo relativo a las represen- taciones figuradas.

Palabras clave: Inscripciones romanas, Gallaecia, Hispania, Lucus Augusti.

Sumary: The inscriptions of the conventus Lucensis show a very irregular geographic distribution, with an important concentration in the city of Lucus Augusti and very significant gaps in the northeast- earn and northern regions; the lack of testimonies in the space be- tween the rivers Eo and Navia is also noteworthy. The biggest part of the inscriptions are made of granite and the most common type

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 is the votive altar. We don’t have any record of the existence of epigraphic officinae but the monuments respect styles and trends known in other regions. This absence of officinae was probably the cause of a high degree of epigraphic creativity, especially re- garding the figurative representations

Keywords: Roman Inscriptions, Gallaecia, Hispania, Lucus Au- gusti. HÁBITO EPIGRÁFICO ROMANO EN EL CONVENTUS LUCENSIS

En la edición de 1869 del volumen II del Corpus Inscriptionum Latinarum (CIL II), Hübner ya percibió las dificultades para definir te- rritorialmente el conventus Lucensis y para precisar las cuestiones re- lativas a su topografía. A los problemas derivados de la insuficiente cartografía existente en el siglo XIX, hubo de añadir la escasez de datos geográficos en las fuentes antiguas y las dificultades para entender la organización administrativa de un territorio en el que, por debajo del concello y de la parroquia, existían otras muchas entidades menores de población cuya ubicación exacta desconocía1. Eso explica la prolonga- da disertación hübneriana al comienzo del capítulo dedicado al conven- tus Lucensis, cuando comparó la situación con la que ya había encontra- do en el conventus Bracaraugustanus e in totius Lusitaniae eius partis, quae a Tago et Ana fluviis septentrionem versus sita est (CIL II p. 351). Como consecuencia de esas dificultades, Hübner optó por presen- tar el conjunto de inscripciones –obviamente sin incluir los miliarios– agrupado en seis unidades que fueron las siguientes:

I Oppida vallis Minii fluvii (n.º 2526-2538) II Iria Flavia (n.º 2539-2550) III Castrum S. Christophori (nº 2551-2557) IV La Coruña (n.º 2558-2569) V Lucus Augusti (n.º 2570-2596) VI Loci Gallaeciae incerti (n.º 2597-2605)

En el supplementum de 1892 se mantendría esta misma estructura

1 Este trabajo se ha realizado en el marco del proyecto de investigación HAR2015- 65168-P (MINECO/FEDER) de la Secretaría de Estado de Investigación, Desarrollo e Innovación del Gobierno de España.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 196 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis y se añadirían los n.º 5625-5648. Entre esos seis grupos se contaba el castrum Sancti Christophori, que ahora sabemos que fue la denomi- nación con que se identificaron los textos procedentes de la localidad leonesa de Villalís y que, en consecuencia, no pueden vincularse al con- ventus Lucensis. Entre las piezas incluidas en los loci Gallaeciae incerti se encontraban inscripciones de Santa María de Zaparín (Cortegada, OR. CIL II 2597), Pobra de Trives (OR. CIL II 2601-2602, 2604-2605), Rosinos de Vidriales (ZA. CIL II 2600) y de procedencia desconocida (CIL II 2598-2599, 2603), todas ajenas al conventus. A eso hay que añadir que bajo la denominación de oppida Vallis Minii fluvii se incluyeron las inscripciones de la ciudad de Orense, de Santa Comba de Bande y de otras localidades que hoy consideramos como parte del conventus Bracarum. Esta inclusión no era sino con- secuencia de la falta de evidencias documentales para optar por otro criterio, pero supuso una definición territorial para el conventus Lu- censis algo más extensa que la que hoy parece más probable en el más optimista de los supuestos. Ni la Naturalis historia de Plinio ni el resto de las fuentes antiguas2 definen con precisión los límites del conventus Lucensis. Sabemos que el río Navia separaba este conventus del Asturum (Plin., Nh. 4, 34, 111) pero el límite meridional es menos preciso. En la descripción de norte a sur de la costa gallega, Plinio hace terminar el conventus Lucensis con los y añade que, después de éstos, comienza el conventus Braca- rum con los Heleni, los Grovi, el castellum Tyde (Tui, Pontevedra), las insulae Siccae, el oppidum de Abobrica y el río Minius (Miño) (Plin., Nh. 4, 34, 112)3. El texto pliniano parece descartar que el río Miño fuera un límite conventual, pese a que su importante caudal y su anchura en algunos tramos así lo haga suponer. Hay que recordar que tampoco el río Ebro o el Guadalquivir –salvo cerca de su desembocadura– fueron límites de conventos jurídicos (Abascal 2015a, 134). La ubicación de este límite meridional ha dado pie a numerosas

2 Las fuentes antiguas sobre los territorios de Gallaecia están recogidas en Romero – Pose 1988. Véase también Suárez Piñeiro 2002, 9-26. El estudio detenido de la toponimia de Gallaecia en época romana y el establecimiento del catálogo de topónimos es obra de Curchin 2008, 109-136. 3 El análisis de todos los topónimos puede verse con detalle en Curchin 2008, passim.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 197 conjeturas desde el siglo XVIII, algunas de ellas sin base documen- tal alguna. Un trabajo de D. Estefanía Álvarez publicado en 1958 ya puso de manifiesto que el estudio de los miliarios podía ser una base de estudio bastante sólida, pues el cómputo de las millas parecía hacer- se con respecto a diversas ciudades dentro de un mismo recorrido. Al aplicar esta medotología al límite entre los conventus Lucensis y Bra- carum, Estefanía observó que, en una zona cercana a Pontevedra, al- gunos miliarios de la vía de Bracara Augusta a Asturica4 por Turoqua, comúnmente identificada como vía XIX5, expresaban el cómputo desde Bracara Augusta y otros desde Lucus Augusti, por lo que llegó a la con- clusión de que el límite territorial debía encontrarse entre Redondela y Almuiña (Estefanía 1958, 54-55), es decir, en algún lugar cercano al fondo de la ría de Vigo. Su propuesta, aunque modificada ligeramente después, constituye la base de los puntos de vista más recientes (Ro- dríguez Colmenero 1972, 135-163; Tranoy 1981, 160-162), que han ido precisando ese dato a partir de la información proporcionada por los miliarios y de la fijación rigurosa de su lugar de hallazgo. En último término, un análisis meticuloso de los testimonios epigráficos de Vila- boa y Arcade (Pontevedra), así como la revisión de la topografía de los hallazgos y de los límites episcopales altomedievales, ha permitido a R. Álvarez Asorey proponer que, en la zona próxima a la costa, el límite conventual discurriera por el río Verdugo (Álvarez Asorey 2001, 175; Rodríguez Colmenero et alii 2004, 225-226). Evidentemente, de esto no se puede colegir que este río tuviera una especial significación en la topografía de época romana, sino que ahí o en sus proximidades se encontraba el límite entre los Cileni del conventus Lucensis y los Heleni del conventus Bracarum6, de forma que la administración romana de época augustea aprovechó un antiguo límite étnico para delimitar estas dos circunscripciones conventuales7.

4 Sobre este trazado, véase en detalle Rodríguez Colmenero et alii 2004, 211- 352, con un minucioso análisis del recorrido, de las evidencias epigráficas y de la bi- bliografía anterior. A esa bibliografía, añádanse Franco 2001, 217-248 y Sáez Taboa- da 2002, 389-408. 5 It. Ant. 429, 5 - 431, 3. 6 Según J. de Alarcão (1998, 53 y mapa; Id. 2003, 122 Fig. 1), los Heleni plinianos deberían encontrarse en la zona de Vigo y Tyde (Tui) sería el castellum de los Grovii. 7 Los criterios étnicos fueron sólo algunos de los que pudo emplear Roma para adscribir los territorios a uno u otro conventus. Un examen detallado de la

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 198 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis

Esta solución, que es la que hemos aceptado para la edición re- visada del fascículo correspondiente al conventus Lucensis del Cor- pus Inscriptionum Latinarum, deja dentro de esta demarcación toda la península de Morrazo y el santuario del Lar Berobreus. Al oriente del río Verdugo, el límite conventual iría a encontrar el río Bubal8 y se- guiría este cauce hasta su desembocadura en el Miño. A partir de allí, continuaría aguas arriba el curso del Sil hasta la desembocadura del Lor (Fig. 1). Desde aquí, el límite del conventus Lucensis giraría ha- cia el norte para seguir el curso del río hasta su nacimiento y buscar las fuentes del Navia (Rodríguez Colmenero et alii 2004, 372), que señala en todo su trazado la línea divisoria entre los conventus Lucensis y Asturum (Plin., Nh. 4, 34, 111), hasta su desembocadura en el Cantá- brico. Entre 1869 (CIL II) y 1899 (Ephemeris Epigraphica V I I I ) , e l número de inscripciones no miliarias descritas por Hübner en este terri- torio fue de 68. Hoy en día, si excluimos los miliarios y los grafitos ce- rámicos sin trascendencia onomástica, el ámbito territorial definido en la Fig. 1 incluye 545 epígrafes, contabilizando entre ellos los fragmen- tos decorados que no conservan texto pero que prueban la existencia de un monumento epigráfico antiguo. Como puede verse, el volumen epigráfico de la región ha crecido de forma significativa en poco más de un siglo. Un alto porcentaje de ese total, aproximadamente un 24%, procede de la ciudad de Lucus Augusti y casi un 23% está constituido por los altares del santuario del Monte do Facho de Donón (O Hío, Pontevedra)9.

Granito Otros / desconocido Total n.º 412 133 545 % 75,60 24,40 100,00 Tabla 1. Proporción de los soportes de granito en el conventus Lucensis.

cuestión puede verse en Ozcáriz 2013, 63-65, con la discusión del tema y la bibliografía anterior. 8 Idea que agradezco a A. Rodríguez Colmenero. 9 Fariña – Suárez 2002, 25-52; Koch 2005, 135-183; Schattner – Suárez – Koch 2004, 23-71; Eid. 2005, 135-183; Eid. 2006a, 169-192 (= 2006b, 183-223); Eid. 2014, 249-268.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 199

En terminos generales, la producción epigráfica delconventus Lu- censis está protagonizada por los soportes de granito, que constituyen el 75,6% de los testimonios conocidos (Tabla 1). Si se tiene en cuenta que las cifras que presentamos excluyen los miliarios, y que el apartado de “otros” incluye las inscripciones hoy perdidas y que pudieron ser de granito, debe entenderse que este tipo de roca fue empleado de forma dominante para la elaboración de inscripciones en este ámbito geográ- fico durante los primeros siglos del Principado.

Votivas Funerarias Grafitos Otros / desconocido Total n.º 286 143 42 74 545 % 52,48 26,24 7,71 13,58 100,00 Tabla 2 – Tipos de inscripciones en el conventus Lucensis.

Votivas Funerarias Grafitos Otros / desconocido Total n.º 158 143 42 74 417 % 37,89 34,29 10,07 17,75 100,00 Tabla 3 – Tipos de inscripciones en el conventus Lucensis, excluidos los testimonios del Facho de Donón.

Un segundo dato relevante es el referido a los textos de los mo- numentos. Más de la mitad de los identificados, un 52,48%, son textos votivos (Tabla 2), mientras que el número de inscripciones funerarias se reduce casi a la cuarta parte del total (26,24%). Estas cifras no guar- dan ninguna relación con las proporciones medias del Imperio Romano, en donde los textos funerarios son claramente mayoritarios (Abascal 2003, 265). De hecho, en 1982, G. C. Susini estimó en unas 300.000 las inscripciones romanas existentes en el mundo, sin contar los cientos de miles o millones de objetos que habría que incluir en la categoría del instrumentum domesticum10; de ellas, aproximadamente el 75 % eran textos fu­nerarios (Saller – Shaw 1984, 124-156). Las proporciones inversas que se registran en el conventus Lu- censis traducen la existencia de un hábito epigráfico11 m a y o r i t a r i a -

10 Susini 1982, 25; Saller – Shaw 1984, 124-156 hablan de algo más de 250.000. 11 Sobre el concepto de hábito epigráfico, esto es, el ritmo de producción de

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 200 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis mente desarrollado al servicio de la religión. Incluso si retiramos de la Tabla 2 los datos relativos al santuario del Lar Berobreus del Facho de Donón (Tabla 3), las inscripciones votivas seguirían representando un 37,89% del total frente a un 34,29% de las funerarias.

Altares Estelas Placas Otros /desconocido Total n.º 300 87 13 145 545 % 55,05 15,96 2,39 26,61 100,00 Tabla 4 - Tipología de los soportes epigráficos en elconventus Lucensis.

Altares Estelas Placas Otros /desconocido Total n.º 172 87 13 145 417 % 41,25 20,86 3,12 34,77 100,00 Tabla 4 - Tipología de los soportes epigráficos en elconventus Lucensis, excluidos los testimonios del Facho de Donón.

Un tercer dato a tener en cuenta es el de la tipología de los monu- mentos (Tabla 4). Más de la mitad de los identificados, un 55,05%, son altares. Incluso sin tomar en consideración los procedentes del Facho de Donón, la cifra sigue alcanzando el 41,25%. La mayor parte de ellos son votivos, pero no faltan los funerarios. De todo lo anterior puede deducirse que, en términos estadísticos, el tipo más corriente de inscripción romana en el conventus Lucensis es el altar votivo de granito. La mayor parte de ese conjunto epigráfico delconventus Lucensis debe fecharse entre los siglos I y II, tal y como en otras regiones de Hispania y del Imperio Romano (Alföldy 1998, 289-301); hace ya varias décadas que esta datación global tiene confirmación estadística (Mrozek 1973, 113-118 y 1988, 61-64) y el noroeste peninsular no es una excepción. La distribución geográfica de esas inscripciones (Fig. 1) presenta dos ámbitos claros de concentración de testimonios en Lucus Augusti epígrafes en relación con el grado de latinización y las necesidades generadas por el entor­no cultural, vide MacMullen 1982, 233-246 y Meyer 1990, 74-96. Cf. Mrozek 1973, 113-118 y 1988, 61-64.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 201 y en el emplazamiento del Facho de Donón, unos de los dos santuarios de la Península Ibérica que presentan un número tan elevado de testi- monios epigráficos12; no obstante, hay que tener en cuenta que aquí un buen número de ellos son fragmentos de altares en los que no se con- serva el texto, mientras que en el santuario de Endovellicus de Terena el número de monumentos con inscripción se acerca al centenar. En térmi- nos de reparto geográfico, la mayor concentración de inscripción roma- nas del conventus Lucensis –fuera de los dos casos citados– se encuen- tra en la mitad occidental del territorio, especialmente en el cuadrante suroccidental. Un rápido cálculo sobre los 3.696 Km² de la provincia de Pontevedra muestra que el conjunto provincial supera la ratio de 3 inscripciones por cada 100 Km², lo que constituye un valor medio para el conjunto de Hispania13. Esas cifras casi duplican las de Lugo y casi triplican las de A Coruña. Una gran parte de estos testimonios proceden de zonas litorales, pero hay concentraciones importantes en los ámbi- tos de Padrón (Coruña), alrededores de Lalín (Pontevedra), A Estrada, Caldas de Reis y Cuntis (las tres en Pontevedra), etc. En el cuadrante noroccidental del territorio se observa una importante concentración de hallazgos en el área de Santa Comba (A Coruña) y, especialmente, en el espacio delimitado por Santiago de Compostela al oeste, el extremo de la península del Barbanza al oeste y la mencionada zona de Santa Comba al noroeste. En este espacio conocemos inscripciones romanas en casi una treintena de localidades, con varios testimonios en algunas de ellas.

12 El otro santuario de estas características es el de Endovellicus de São Miguel de Mota (Terena, conc. Alandroal, distrito de Évora). De este lugar procede casi un centenar de textos, incluyendo fragmentos funerarios, algún altar anepígrafo y, sobre todo, la importante colección de invocaciones a esta divinidad prerromana. Sobre este emplazamiento y sus hallazgos epigráficos,vide Lambrino 1951, 93-146; Encarnação 1975, 181-185; Id. 1984, n.º 482-565; Alves e Coelho 1995-1997, 233-265; Guerra, Schattner, Fabião, Almeida 2003, 415-479; Eid. 2005, 184-234; Ribeiro 2005, 721- 766; Encarnação 2011, 149-163. 13 La media de Hispania (602.008 Km²) está ligeramente por encima de las 3 inscripciones por cada 100 Km²; la mayor presencia de inscripciones en relación con la superficie se encuentra al norte de la Tarraconense costera (Tarragona y Barcelona), en el centro-sur de Andalucía (Jaén, Córdoba, Sevilla, Cádiz), norte de Extremadura y de la Meseta (Cáceres y Burgos), sur del País Vasco y norte de Portugal; en todos los casos citados las cifras están por encima de 5 inscripciones por cada 100 Km² (Abascal 2002, 271).

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 202 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis

En el centro - norte de la región existen dos importantes ámbitos de concentración epigráfica. El primero de ellos tiene como extremo septentrional el núcleo de Brigantium (A Coruña) y el perímetro de la zona de hallazgos vendría delimitado por los concellos de Cerceda, Abegondo, Coirós, Betanzos y Oleiros, localidades todas de la misma provincia. El segundo ámbito, más oriental, gravita en torno a Guiti- riz (Lugo) y los hallazgos se concentran en una zona situada al sur de Villalba (Lugo), limitada por Guitiriz y Miraz al oeste y sur y por Buriz al norte; este espacio incluye toda la tierra de Parga (Lugo), que parece tener una entidad epigráfica propia. En las regiones centrales del conventus Lucensis, en la comarca del Alto Tambre, se estableció el campamento de la cohors I Celtibero- rum de Sobrado dos Monxes (A Coruña)14. La presencia de esta insta- lación militar está bien documentada por los diversos hallazgos reali- zados durante las numerosas campañas de excavación llevadas a cabo en este enclave y por el importante conjunto de tégulas que presentan marcas con el nombre de la unidad15. El número de inscripciones en pie- dra localizadas en el área campamental o sus inmediaciones no alcanza la decena16, una importancia poco mayor tienen los grafitos cerámicos

14 Entre la numerosa bibliografía sobre este lugar, véase especialmente Caamaño 1987, 71-78; Id. 1991, 19-22; Caamaño e Fernández 2000, 199-207. 15 Las marcas de tégulas de la unidad han sido objeto de dos estudios específicos: Caamaño 1989, 209-228; Caamaño e Carlsson-Brandt 2015, 107-120. Gracias a la amabilidad de sus excavadores, pudimos revisar y fotografiar todo este conjunto el 24 de febrero de 2016. 16 Caamaño 1983, 61-71; Pereira 1991, n.º 31-37. Agradezco al Director del Museo Arqueolóxico de A Coruña, D. José María Bello, y a D.ª Ana Martínez Arenaz, todas las facilidades dadas para el estudio de las inscripciones romanas conservadas en ese centro y su apoyo para la labor de revisión epigráfica. Estoy en deuda también con los responsables de las excavaciones en el campamento de Cidadela, D. José Manuel Caamaño Gesto y D. Erik Carlsson-Brandt Fontán, por su autorización para revisar estos materiales y hago extensiva esa gratitud a D. Ramón Izquierdo, Director del Museo de la catedral de Santiago, por la autorización y la ayuda para realizar la revisión y las fotografías de las inscripciones conservadas en ese fondo, trabajo que llevamos a cabo en sendas visitas del año 2015. Una de los textos de Cidadela se conserva en el Museo do Povo Galego en Santiago de Compostela, en donde quiero agradecer a D.ª Belén Sáenz-Chas Díaz su apoyo permanente para el estudio de esta y de las demás inscripciones romanas que alberga esa institución.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 203 recuperados en este lugar17, y en los alrededores sólo conocemos activi- dad epigráfica en las localidades coruñesas de San Vicente de Présares (conc. Vilasantar)18 y Toques19. Es difícil explicar este vacío epigráfico si no es porque una gran parte del territorio circundante al campamento quedara bajo la jurisdicción del ejército. La observación de la Fig. 1 permite distinguir varias zonas del conventus en las que la actividad epigráfica es mínima o nula. Eso su- cede en toda la costa coruñesa comprendida entre Laxe20 al norte y Fis- terra21 al sur, incluyendo las tierras interiores hasta Tines y Brandomil (A Coruña). El vacío epigráfico se repite en gran parte del norte de las provincias de A Coruña y Lugo; en la primera no hay hallazgos al

17 López Pérez 2004, n.º 456, 678, 680, 682, 685, 688, 691 y 698 (HEp 13, 2003/2004, 323-330). Otros fragmentos inéditos se conservan en el Museo Arqueolóxico de A Coruña. 18 Se trata de una dedicación a las Ninfas realizada por Reburrius Tertius. Cf. Pereira 1991, n.º 38, con la bibliografía anterior. La revisión de la inscripción se llevó a cabo en el Museo de A Coruña el 25 de junio de 2015 con la ayuda del Dr. Juan Carlos Olivares. 19 El epígrafe procedente de la villa romana de Melide (Toques, A Coruña) es un pequeño altar dedicado a Mercurio, elaborado en una piedra local conocida con el nombre de “Piedra de Tobelo” o “Piedra de Murcia”. Cf. Rabanal et alii 1996, 68-69 nota 231 (HEp 7, 1997, 317); Rodríguez e Acuña 1999, 326. Agradezco a D. José Manuel Broz, Director del Museo da Terra de Melide, su información sobre el tipo de piedra del soporte así como las facilidades que nos dio para estudiar y fotografiar el monumento el día 7 de febrero de 2016. 20 El epígrafe que permite establecer este “límite” septentrional es un altar a Cosus que se encuentra empotrado en el contrafuerte del muro meridional de la iglesia parroquial de Serantes, al sur del concello de Laxe (Castillo e D’Ors 1959, 152 n.º 9; Eid. 1960, 12 n.º 9 [= HAE 1704; Vives ILER 790]; Pereira 1991, 183 n.º 70, que la da por perdida). El estado de conservación es aceptable, como pudimos comprobar en la revisión llevada a cabo el 24 de abril de 2016. 21 De Sardiñeiro, en el concello de Fisterra, procede un altar de granito cuya lectura presenta plantea algunas dudas. En la edición original (Castillo e D’Ors 1959, 150 n.º 6; Eid. 1960, 10 n.º 6 [= HAE 1701r; Vives ILER 980]) se leyó Mard-/umus / et Val(eria ?) e(x) / voto. Sin embargo, la autopsia llevada a cabo antes de 1991 por G. Pereira llevó a este autor a sugerir que hubiera que leer Matri De-/um s(acrum) +(- - -) / et Val(- - -) e(x) / voto (Pereira 1991, 185 n.º 71 [= HEp 4, 1994, 331]), con lo que se trataría de una dedicación a Cibeles. La cuestión no puede resolverse debido a la pérdida del monumento y a la ausencia de fotografías. Sobre el culto a Cibeles en Gallaecia vide Tranoy 1981, 334.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 204 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis norte de As Pontes de García Rodríguez22 y en la segunda, por encima de Miñotos23, sólo hay un hallazgo aislado en Cervo24; en el nordeste de esta última provincia, el hábito epigráfico está representado sólo por algunos hallazgos aislados en la zona de Mondoñedo. Un vacío más inexplicable aún es el de las regiones nororientales del conventus Lucensis, es decir, de las tierras de Asturias situadas al occidente del río Navia. En la margen derecha del río Eo contamos sólo con la estela de La Corredoira, cerca de Vegadeo; en la margen iz- quierda del Navia se encuentran los hallazgos de Coaña y el importante conjunto epigráfico de Grandas de Salime. Pese a que en el caso de Ve-

22 De aquí procede el conocido epígrafe con el testimonio del oráculo de Apolo de Claros; cf. Montero 1989, 357-364 (AE 1990, 545) e Id., 2003, 123-130); Pereira 1991, 163-164 n.º 60. El altar se encuentra en el pórtico de la casa do concello de As Pontes de García Rodríguez, donde pudimos verlo y estudiarlo el día 11 de octubre de 2015 en compañía de D. Juan Carlos Olivares (Univ. de Alicante) y D. Antonio Castro, concejal de este ayuntamiento, a quien quiero agradecer su ayuda y compañía en las dos visitas que hemos realizado a esta localidad. De este concello procede un segundo altar, esta vez dedicado a los Lares Viales (AE 2005, 845; HEp 14, 2005, 168), que se encuentra en la iglesia de San Mamede, en Somede, al nordeste de As Pontes; allí pudimos verlo y fotografiarlo el 3 de febrero de 2016 en compañía de Antonio Castro y Sonia Sueiro (concello de As Pontes) y de Pilar González-Conde (Univ. de Alicante). 23 La parroquia de Miñotos (conc. de Ourol) ha proporcionado hasta el momento la parte superior de un altar dedicado a los Lares Viales (Rodríguez Colmenero et alii 2004, 723 n.º 664; HEp 13, 2003/2004, 437) que se conserva en el Seminario de Estudios “Terras de Viveiro” en Viveiro. Allí pudimos verla y fotografiarla el 5 de febrero de 2016. Agradezco a los responsables de esta institución, especialmente a D. Carlos Nuevo, sus atenciones y las facilidades para documentar la pieza. 24 Sobre el monumento, vide Rodríguez Colmenero et alii 2004, 724 n.º 665 (HEp 13, 2003/2004, 425). Este altar a los Lares Viales se conserva en el Museo de Lugo, donde pudimos verlo y fotografiarlo el 23 de junio de 2015. El trabajo de revisión de las inscripciones lucenses para la redacción del correspondiente fascículo del Corpus Inscriptionum Latinarum (CIL II²/9) ha sido posible gracias al permanente apoyo de los responsables institucionales, de los técnicos de los Museos y del Ayuntamiento de Lugo, de los expertos en la epigrafía de la región, así como de los autores de las excavaciones. Quiero expresar mi gratitud por ello a D. Antonio Rodríguez Colmenero (Universidad de Santiago de Compostela. Campus de Lugo), D.ª Aurelia Balseiro García (Directora del Museo de Lugo), D.ª Covadonga Carreño Gascón y D. Enrique González Fernández (Servicio de Arqueología del Ayuntamiento de Lugo), D. Enrique J. Alcorta Irastorza y D.ª Ofelia Carnero Vázquez (Museo de Lugo), D. César Carnero y D.ª Carolina Casal (Museo Diocesano de Lugo) y a D. Francisco Herves (arqueólogo).

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 205 gadeo estamos ante la estela de un princeps Albionum25 y que de Gran- das de Salime procede la conocida placa de pizarra con un rico registro onomástico26, ambas piezas y las de Coaña27 no justifican por sí solas el hábito epigráfico de una región tan densamente poblada desde el punto de vista de la ocupación castreña. A todas luces, habría que aceptar que, al menos en los dos siglos primeros de la Era, en esta zona hubo una tímida implantación de la lengua latina y de todo lo que ella acarreaba28. La fundación y desarrollo de la ciudad de Lucus Augusti dio lugar a una intensa actividad epigráfica que se pone de manifiesto en el hal- lazgo en el ámbito urbano de casi un centenar de inscripciones; a ellas hay que añadir un importante conjunto de objetos amparados bajo la categoría de los instrumenta domestica y un buen número de grafitos cerámicos de cierta entidad. Hübner ya había reconocido en esta ciudad un total de 25 inscripciones en agosto de 1861 (Abascal 2015b, 89-94); desde entonces el número de hallazgos no ha cesado de incrementarse debido a los descubrimientos casuales y, ya en época más reciente, a las excavaciones arqueológicas. Al importante valor de la serie hay que unir el concienzudo trabajo de recuperación y custodia de las inscrip- ciones llevado a cabo en el último siglo en esta ciudad, lo que hace que sus colecciones sean hoy modélicas29. La localidad alberga algunos conjuntos epigráficos del máximo interés entre los que se cuenta el nin- feo del balneario situado junto al río Miño, en donde hay que esperar aún nuevos descubrimientos si algún día se reanudan las excavacio-

25 Diego 1985, 71-73 n.º 14; Monteagudo 1999, 78; Villa 2013, 181 y 183. Pudimos describir y fotografiar esta pieza el 26 de febrero de 2016 gracias a la amabilidad y a la ayuda de D. Ángel Villa Valdés (Museo de Asturias), a quien queremos expresar nuestra gratitud por ello. 26 Villa, Francisco e Alföldy 2005, 271-274 (HEp 14, 2005, 21); Francisco, Alföldy e Villa 2009, 246-247 (HEp 18, 2009, 21); Villa 2009b, 20-21 Fig. 16. La autopsia de la pieza se realizó el 26 de febrero de 2016 en el Museo de Asturias en compañía de A. Villa Valdés y M.ª P. González-Conde (Univ. de Alicante). 27 Diego 1985, 211-212 n.º 66; Villa Valdés 2007, 413-418; Id. 2013, 139-187. 28 Sobre este tema, vide especialmente Díaz y Díaz 1983, 283-293; sobre la latinización de Hispania en general, cf. Carnoy 1906/1971; García y Bellido 1967, 3-29; Mayer 1994, 363-382. 29 Una visión general de la historia de la ciudad, con comentarios e imágenes de los hallazgos arqueológicos más significativos, puede verse en la síntesis deRodríguez Colmenero 2011.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 206 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis nes30, o el mitreo situado junto a la catedral, de donde procede uno de los epígrafes más importantes de (Fig. 2a)31. Entre las piezas singulares procedentes de esta ciudad hay que citar también cinco alta- res dedicados a Júpiter, los dedicados a numerosas divinidades indíge- nas (Lahus Paraliomegus, Reus Paramaecus, etc.) o el altar funerario de la ornatrix Philtates (Fig. 2b)32. En los altares lucenses destaca por su singularidad el dedicado a Verora por Rufus (Fig. 3a)33. Se trata de un monumento de granito, de 80 cm de altura, cuyo focus circular está protegido por una hornacina excavada dentro de un frontón triangular. La solución es idónea para la exposición a la intemperie, ya que la hornacina protegía la combustión del viento o de la lluvia e impedía, al mismo tiempo, la dispersión de cenizas. La solución adoptada en Lugo se repite en un altar dedicado a Venus Victrix en Aquae Flaviae (Chaves) (Fig. 3b)34, lo que debe enten- derse en el ámbito de los contactos regionales entre los talleres lapida- rios de las grandes ciudades del noroeste o en el ámbito de las modas extendidas por artesanos itinerantes. Lo más llamativo es que ambos altares guardan una cierta relación estética con algunos de los monu- mentos recuperados en el santuario del deus Lar Berobreus del Facho de Donón (O Hío, Pontevedra) y, especialmente, con uno de grandes dimensiones (164 cm) en cuya parte superior figura también un frontón triangular excavado (Fig. 3c)35; evidentemente, se trata de una pieza ne-

30 Debe tenerse en cuenta que la zona excavada es sólo una parte de la estructura original. Las inscripciones están publicadas en Herves e Mejide 2000, 187-196. Una valoración general del lugar se encuentra en González Soutelo 2012, 167-182. 31 Rodríguez Colmenero e Rodríguez Cao 2007, 219-221; Alvar et alii 2006, 267-277. Agradezco a D. Celso Rodríguez Cao las facilidades para documentar esta inscripción en junio de 2015. 32 EE VIII 311; Degrassi 1963/1978, 51-56 y 298-303; Arias, Le Roux e Tranoy 1979, 58-59 n.º 32; Alföldy 2001, 233-238, con el resto de la bibliografía (de ahí, AE 2001, 1213 y HEp 11, 2001, 320). 33 CIL II 2576; Vázquez Saco e Vázquez Seijas 1954, 33 n.º 13 (Vives ILER 953); Arias, Le Roux e Tranoy 1979, 39 n.º 12; Ares 2014, 28-29. 34 Vasconcelos 1927-1929, 142-144 (AE 1933, 23). Fernández Fuster 1950, 282-283 (HAE 34); Russell 1957, 101-102 n.º 4; Vives ILER 415; Rodríguez Colmenero 1987 n.º 67; Ares 2014, 29. 35 Baños 1994, 27 n.º 1 (AE 1994, 942); Baños e Pereira 1998, 22 n.º 1 (HEp 6, 1996, 712); Rodríguez Colmenero 1997, 390-391 (HEp 7, 1997, 569); Schattner, Suárez e Koch 2004, 35 lám 5c. Pudimos describir y fotografiar la pieza el 21 de

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 207 tamente posterior a las de Lucus Augusti y Aquae Flaviae, que no deben rebasar los años centrales del siglo II. El altar pontevedrés parece imitar de manera tosca esos prototipos más antiguos que eran ya conocidos en la región y, en su posición original clavado en el suelo, permitiría lo que Susini llamó el “golpe de vista” epigráfico (Susini 1982, 23), es decir, la percepción global de lo imprescindible para asegurar la comprensión del tipo de epígrafe y de su contenido. Si hablamos de altares votivos del conventus Lucensis, no pode- mos dejar de citar por su envergadura el dedicado a Neptuno en Pa- drón (A Coruña)36, hoy conservado bajo el altar mayor de la iglesia de Santiago y conocido popularmente como “El Pedrón”, el cipo al que habría atado el barco el apóstol Santiago con ocasión de su venida a Galicia (Fig. 4). El monumento alcanza los 172 cm de altura (!) y su primera línea está casi borrada para sustituirla por una cruz. Pese a ello, la lectura del teónimo Nept/[u]no no ofrece dificultades. Las letras de la parte inferior presentan restos de pintura aplicada en época moderna y su lectura no ha estado exenta de polémica por la hipotética presencia ahí de un gentilicio referido al topónimo de Iria Flavia mencionado en Ptolomeo (2, 6, 33). En el ámbito de las estelas, el grupo más interesante del conventus es el que muestra representaciones antropomorfas y entre todas ellas destaca el soberbio ejemplar de San Pedro de Mera que conserva el Museo de Lugo (Fig. 5a)37. Sus 281 cm de altura hacen de ella una de las estelas más grandes del Imperio Romano y el grupo escultórico de agosto de 2015 en el Museo de Pontevedra. Quiero expresar nuestra gratitud a D. Carlos Valle y a D. Antonio de la Peña por su acogida y por todas las facilidades que nos dieron para documentar la colección epigráfica del Museo. 36 Murguía 1966, vol. 2, 22; CIL II 5626 (= II 2540); Castillo e D’Ors 1959, 147-148 n.º 2; Eid. 1960, 7-8 n.º 2 (Vives ILER 155); Pereira 1991, 49-50 n.º 12; Rodríguez Colmenero et alii 2004, 598 n.º 522. Pudimos ver el monumento el 26 de abril de 2016 gracias a la amabilidad de D. Roberto, párroco de la iglesia de Santiago. 37 Rodríguez Colmenero e Carreño 1996, 283-288 (AE 1997, 863; HEp 7, 1997, 397); Rodríguez Colmenero 1997-1998, 79-90; Alcorta 2007, lám. XXI. Pudimos estudiar y fotografiar la pieza el día 24 de junio de 2016 gracias a la hospitalidad y ayuda del equipo humano del Museo. La discusión bibliográfica sobre el valor de la C invertida en este texto carece ya de sentido, toda vez que el debate quedó resuelto hace mucho tiempo; cf. Pereira 1982, 249-267; Le Roux e Tranoy 1983, 109-212; la cuestión está resumida en Brañas 2004, 155-205, que presenta un apéndice epigráfico con todos los testimonios deC invertida.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 208 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis su cabecera destaca claramente por su realismo en la serie de repre- sentaciones funerarias que conocemos en Gallaecia y, específicamente, en el conventus Lucensis. El resto de los ejemplares (Fig. 5b-g) ofrece imágenes muy toscas, con representaciones frontales de estilo casi naïf (Fig. 6b-c, e-g) de las que sólo se exceptúa la estela que muestra al di- funto acompañado de su caballo y del que se dice que murió en el valle del Miño (Fig. 6d)38. A este grupo habría que unir aquellas estelas que, específicamente, se asemejan a representaciones antropomorfas, como ocurre por ejemplo con las de Tines (A Coruña) o Paradela (Ponteve- dra)39. En términos generales, y pese a los vacíos epigráficos de deter- minadas zonas y al desigual reparto geográfico, la producción epigrá- fica del conventus Lucensis muestra una gran riqueza formal y, sobre todo, una extraordinaria diversidad en los contenidos si se compara con otras regiones peninsulares. Como ha demostrado la tradición cientí- fica de los últimos ciento cincuenta años – y como siguen mostrando los nuevos hallazgos – nuestro mayor campo de ensayo epigráfico en este ámbito sigue siendo el de los textos votivos, donde el panteón de Gallaecia se muestra con plena vitalidad pese a que la muestra que ha llegado a nosotros debe rebasar en muchos casos el siglo II. Ese empleo del latín epigráfico en la práctica religiosa relacionada con el panteón indígena y, sobre todo, el abultado número de grafitos cerámicos que van apareciendo en los últimos años, evidencian que la escritura fue en el conventus Lucensis una práctica generalizada, muy extendida y no restringida a determinados grupos sociales40. Además, la presencia de inscripciones en objetos de uso cotidiano no cerámicos, muestra una estrecha cercanía entre la población y la actividad epigráfica. El uso

38 Balil 1983, 179-184, con la bibliografía anterior; Pereira 1 9 9 1 , 9 9 - 1 0 0 n.º 34. Se conserva en el Museo de la catedral de Santiago de Compostela, donde pudi- mos verla y fotogrfiarla el 18 de agosto de 2015 por cortesía de su Director, D. Ramón Izquierdo. 39 Sobre este tipo de monumentos debe consultarse el trabajo de síntesis de Ro- dríguez Álvarez 1981, 73-82. 40 Ya no parece viable la impresión recogida hace más de dos décadas en Arias 1991, 26: “semella estar claro que o uso de pedras con epígrafe en latín corresponde, maiormente e con tódalas excepcións que se queiran aducir, ós grupos sociais ou á casta social más romanizada, ben de orixe foránea, ben do que se deu en chamar comunidade indíxena ‘colaboracionista’, en gran medida ademáis, presuntamente indíxena-falante”.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 209 mayoritario del granito permitió en esta región tener acceso a un ma- terial que se encontraba en cualquier lugar, barato y fácil de trabajar incluso para manos no expertas, lo que permitió desarrollar el hábito epigráfico incluso fuera de los talleres yofficinae que estamos acostum- brados a ver en otros ámbitos geográficos. Si exceptuamos la ciudad de Lucus Augusti, cuyo comportamiento epigráfico está más estandarizado en relación con el de otros centros urbanos de Hispania y del Imperio Romano, la epigrafía del conventus Lucensis sólo tímidamente recoge modas y estilos desarrollados en otras regiones, lo que hace de este repertorio un catálogo de la creatividad local al servicio de las necesi- dades cotidianas.

BIBLIOGRAFÍA

Abascal, J. M. (2002): “Fasti consulares, fasti locales y horologia en la epigrafía de Hispania”, AEspA 75, 269-286. Abascal, J. M. (2003): “La recepción de la cultura epigráfica romana en Hispania”, en De Iberia in Hispaniam. La adaptación de las sociedades ibéricas a los modelos romanos, Alicante, 241-286. Abascal, J. M. (2015a): “Una perspectiva administrativa de la Hispania de Augusto”, en J. López Vilar (Ed.), Actes 2on Congrés Internacional d’Arqueologia i món antic. August y les províncies occidentals. 2000 aniversari de la mort d’August. Tarragona, 26-29 de novembre de 2014, Tarragona, vol. 1, 129-140. Abascal, J. M. (2015b): Estudios sobre la tradición manuscrita de la epigrafía hispa- no-romana, Madrid. Alarcão, J. de (1998): “Ainda sobre a localização dos populi do conventus Bracarau- gustanus”, Anales de Arqueología Cordobesa 9, 51-57. – (2003): “As estátuas de guerreiros galaicos como representações de príncipes no contexto da organização político-administrativa do noroeste pré-flaviano”, MDAI(M) 44, 116-126. Alcorta, E. et alii (2007): Guía gráfica do Museo Provincial de Lugo, A Coruña. Alföldy, G. (1998): “La cultura epigráfica de la Hispania romana: inscripciones, au- to-representación y orden social”, en Hispania, el legado de Roma, Zaragoza, 289-301. Alföldy, G. (2001/2002): “Eine clarissima femina in Lucus Augusti”, ZPE 136, 2001, 233-238 (Traducido como capítulo 3 en el volumen de G. Alföldy, Provincia Hispania superior, A Coruña 2002, 81-91). Alvar, J., Gordon, R. e Rodríguez Cao, C. (2006), “The Mithraeum at Lugo (Lucus Augusti) and its connection with legio VII Gemina”, Journal of Roman Archaeo- logy 19, 267-277.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 210 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis

Álvarez Asorey, R. (2001): “El límite oceánico de separación entre el conventus Lu- censis y el Bracarensis a partir del estudio de los miliarios de la vía XIX del Itinerario de Antonino”, Larouco 3, (= Homenaxe póstumo a Victoriano Reinoso. Actas do Simposio Internacional sobre a Rede Viaria Romana, Porto Quintela. Bande, septiembre de 2001), 169-176. Alves Dias, M. M. e Coelho, L., 1995-1997, “Endovélico: caracterização social da ro- manidade dos cultuantes e do seu santuário (São Miguel de Mota, Terena, Alan- droal)”, AP série 4, vol. 13-15, 233-265. Ares Vázquez, N. (2014): “Ara dedicada a Venus Victoriosa en Chaves”, CROA [Cas- tro de Viladonga] 24, 28-29. Arias Vilas, F. (1991): “Xacementos arqueolóxicos e achados epigráficos en Galicia”, Cuadernos de Estudios Gallegos 39 n.º 104, 23-33. Arias, F., Le Roux, P. e Tranoy, A. (1979): Inscriptions romaines de la province de Lugo, Paris. Baños, G. (1994): Corpus de inscricións romanas de Galicia I. Provincia de Ponteve- dra, Santiago de Compostela. Baños, G. – Pereira, G. (1998): “Deus Larius Brus Sanctus. Las inscripciones votivas del Facho de Donón (Pontevedra)”, en Homenaje a José M.ª Blázquez V (ARYS nº 2), Madrid, 21-44. Brañas Abad, R. (2004): “A sociedade castrexa a través da epigrafía”, Cuadernos de Estudios Gallegos 51, fasc. 117, 155-205. Caamaño Gesto, J. M. (1983): “Aportaciones al estudio de la cohors I Celtiberorum: una inscripción militar hallada en el campamento romano de Cidadela (Sobrado dos Monxes-Coruña)”, Brigantium 4, 61-71. Caamaño Gesto, J. M. (1987): “La cohors I Celtiberorum y su campamento de Ci- dadela (Sobrado dos Monxes - Coruña)”, Cuadernos de Estudios Gallegos 35, 71-78. Caamaño Gesto, J. M. (1989): “Estampillas de la cohors I Celtiberorum halladas en el campamento romano de Cidadela”, Gallaecia 11, 209-228. Caamaño Gesto, J. M. (1991): “El ejército bajo imperial romano en Hispania: el cam- pamento de la cohors I Celtiberorum”, en Ciudad y torre. Roma y la Ilustración en La Coruña, La Coruña, 19-22. Caamaño Gesto, J. M. e Carlsson-Brandt Fontán, E. (2015): “Marcas de la cohors I Celtiberorum halladas en el campamento romano de Cidadela (Sobrado dos Monxes, A Coruña)”, Portugalia, nova série, vol. 36, 107-120. Caamaño Gesto, J. M. e Fernández Rodríguez, C. (2000): “Excavaciones en el cam- pamento romano de Cidadela (A Coruña)”, Brigantium 12, 199-207. Carnoy, A. (1971): Le latin d’Espagne d’après les inscriptions, Bruxelles 1906 (1971²). Castillo, A. del e D’Ors, A. (1959/1960): Inscripciones romanas de Galicia. Suple- mento al fascículo I. Provincia de La Coruña, Santiago de Compostela 1960 (previamente publicado en Cuadernos de Estudios Gallegos 14, 1959, 145-164). Curchin, L. A. (2008): “Los topónimos de la Galicia romana: nuevo estudio”, Cuader- nos de Estudios Gallegos 55 n.º 121, 109-136.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 211

Degrassi, A. (1963/1978): “Un torinese relegato a Lucus Augusti delle Spagna”, en Atti del I Congresso Internazionale di Archeologia dell’Italia settentrionale. Torino 1961, Torino 1963, 51-56 (Traducido en “Un turinés relegado a Lucus Augusti (España)”, Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y Artís- ticos de Lugo 9, n.º 85-86, 1978, 298-303). Díaz y Díaz, M. C. (1983): “Sobre la implantación del latín en la sociedad galaico-ro- mana”, en Estudos de Cultura Castrexa e de Historia Antiga de Galicia, Santiago de Compostela, 283-293. Diego Santos, F. (1985): Epigrafía romana de Asturias, Oviedo. Encarnação, J. de (1975): Divinidades indígenas sob o dominio romano em Portugal. Subsídios p0ara o seu estudo, Lisboa 1975 (2.ª ed. Coimbra 2015). Encarnação, J. de (1984): Inscrições romanas do conventus Pacensis, Coimbra. Encarnação, J. de (2011): “Endovélico – 400 anos depois”, en J. Cardim Ribeiro (coord.), Diis - Deabusque. Actas do II Colóquio Internacional de Epigrafia «Culto e Sociedade». Sintra, 16-18.03.1995 (Sintria III-IV, 1995-2007), São Mi- guel de Odrinhas, 149-163. Estefanía Álvarez, M. del D. N. (1958): “Notas para la delimitación de los conventos jurídicos en España”, Zephyrus 9, 51-57. Fariña Busto, F. e Suárez Otero, J. (2002): “El santuario galaico-romano de O Facho (O Hío, Pontevedra), Boletín Auriense 32, 25-52. Fernández Fuster, L. (1950): “La fórmula ex-visu en la epigrafía hispánica”, AEspA 23, n.º 80, 279-291. Francisco Martín, J., Alföldy, G. e Villa Valdés, Á. (2009): «58. Inscripción cen- sal», en Villa Valdés 2009a, 246-247. Franco Maside, R. M. (2001): “La via per loca maritima, un estudio sobre vías roma- nas en la mitad noroccidental de Galicia”, Gallaecia 20, 217-248. García y Bellido, A. (1967): “La latinización de Hispania”, AEspA 40, 3-29 (= Die Latinisierung Hispanien, ANRW I. 1, 1972, 462-500). González Soutelo, S. (2012): “El balneario romano de Lugo: una nueva interpreta- ción arquitectónica y funcional”, Saguntum 44, 167-182. Guerra, A., Schattner, Th. G., Fabião, C. e Almeida, R. (2003): “Novas investiga- ções no santuário de Endovélico (S. Miguel de Mota, Alandroal): a campanha de 2002”, Revista Portuguesa de Arqueologia 6.2, 415-479. Guerra, A., Schattner, Th. G., Fabião, C. e Almeida, R. (2005): “São Miguel da Mota (Alandroal, Portugal), 2002. Bericht über die Ausgrabungen im Heiligtum des Endovellicus”, MDAI(M) 46, 2005, 184-234. Herves Raigoso, F. – Mejide Cameselle, G. (2000), O culto das Ninfas nas termas de Lugo, Gallaecia 19, 187-196. Koch, M. (2005): “El santuario dedicado a Berobreo en el Monte do Facho (Cangas, Galicia)”, en Acta Palaeohispanica IX. Actas del IX Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas (Palaeohispanica 5, 2005), Zaragoza, 823- 836. Lambrino, S. (1951): “Le dieu lusitanien Endovellicus”, Bulletin des Études Portugai- ses et de l’Institut Français au Portugal 15, 93-146.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 212 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis

Le Roux, P. e Tranoy, A. (1983): “C, le mot et la chose. Contribution au débat histo- riographique”, AEspA 56, 109-212. López Pérez, M. C. (2004): El comercio de terra sigillata en la provincia de A Coruña (Brigantium 16), A Coruña. MacMullen, R. (1982): “The Epigraphic Habit in the Roman Empire”, AJPh 103, 233-246. Mayer, M. (1994): “El latín de Hispania”, Actas del VIII Congreso Español de Estudios Clásicos, Madrid 1991, Madrid, vol. 1, 363-382. Meyer, E. A. (1990): “Explaining the Epigraphic Habite in the Roman Empire”, JRS 80, 74-96. Monteagudo García, L. (1999): “Populi y castella en el edicto de Bembibre”, Bierzo - León, Anuario Brigantino 22, 71-82. Montero Herrero, S. (1989): “Un oráculo del Apolo de Claros en Galicia”, en Estu- dios sobre la Antigüedad en Homenaje al profesor Santiago Montero Díaz (Ane- jos de Gerión 2), Madrid, 357-364 (= Id., “Un oráculo del Apolo de Claros en As Pontes”, en V. Alonso Troncoso (ed.), Patrimomio histórico de As Pontes de García Rodríguez, La Coruña 2003, 123-130). Mrozek, S. (1973/1988): “A propos de la répartition chronologique des inscriptions latines dans le Haut Empire”, Epigraphica 35, 1973, 113-118 y Epigraphica 50, 1988, 61-64. Murguía, M. (1866): Historia de Galicia, Lugo. Ozcáriz Gil, P. (2013): La administración de la provincia Hispania citerior durante el Alto Imperio romano (Instrumenta, 44). Barcelona. Pereira, G. (1982): “Los castella y las comunidades de Galicia”, Zephyrus 34-35, 249-267. Pereira Menaut, G. (1991): Corpus de inscricións romanas de Galicia I. Provincia de A Coruña, Santiago de Compostela. Rabanal, M. A., García Martínez, S. M.ª e Hernández Guerra, L. (1996): “La religión y la religiosidad indígeno-romana en el Conventus Lucensis”, Estudios Humanísticos 18, 39-82. Ribeiro, J. Cardim. (2005): “O Deus Sanctus Endovellicus durante a romanidade, ¿uma interpretatio local de Faunus Silvanus?”, en Acta Palaeohispanica IX. Ac- tas del IX Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas (Palaeohispanica 5, 2005), Zaragoza, 721-766 Rodríguez Álvarez, M.ª P. (1981): “Sincretismo de la religión indígena y la religión romana visto a través de las estelas antropomorfas”, Brigantium 2, 73-82. Rodríguez Colmenero, A. (1972): “Aspectos geográfico-históricos en torno al con- vento jurídico Bracaraugustano”, HAnt 2, 135-163. Rodríguez Colmenero, A. (1987): Aquae Flaviae I: Fontes epigráficas, Chaves. Rodríguez Colmenero, A. (1997): “Mougás y Donón: dos santuarios rurales galai- cos-romanos del litoral atlántico”, El Museo de Pontevedra 51 (Homenaxe a Xosé Filgueira Valverde), 381-411. Rodríguez Colmenero, A. (1997-1998): “Sobre dos nuevas estelas monumentales de

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis 213

Lucus Augusti”, Boletín del Museo Provincial de Lugo 8, 79-90 (también publi- cado en F. Villar – F. Beltrán (eds.), Pueblos, lenguas y escrituras en la Hispania prerromana. Actas del VII Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas. Zaragoza, 12 a 15 de marzo de 1997, Salamanca 1999, 605-617). Rodríguez Colmenero, A. (2011): Lucus Augusti, la ciudad romano-germánica del Finisterre ibérico. Génesis y evolución histórica (14 a.C. - 711 d. C.), Lugo. Rodríguez Colmenero, A. e Carreño, M.ª C. (1996): “Estela romana, monumental, de Crecente (Lugo)”, Larouco 2, 283-288 (AE 1997, 863; HEp 7, 1997, 397). Rodríguez Colmenero, A., Ferrer Sierra, S. e Álvarez Asorey, R. D. (2004): Mi- liarios e outras inscricións viarias romanas do noroeste hispánico (conventos Bracarense, Lucense e Asturicense), Santiago de Compostela. Rodríguez Colmenero, A. e Rodríguez Cao, C., 2007, “Un mithraeum en Lucus Augusti”, Larouco 4, 219-221. Rodríguez García, P. e Acuña Castroviejo, F. (1999): “Culto e imagen a Mercurio en Gallaecia”, en M. J. Barroca (coord.), Carlos Alberto Ferreira de Almeida in memoriam, vol. II, Porto, 325-331. Romero Masia, A. M.ª e Pose Mesura, X. M. (1988): Galicia nos textos clásicos (Mo- nografías urxentes do Museu n.º 3), A Coruña. Russell Cortez, F. (1957): “Lápides romanas do Museu de Chaves”, Viriatis 1.2, 99- 113. Sáez Taboada, B. (2002): “Aportaciones al trazado de la vía 19 del Itinerario de Anto- nino a su paso por Galicia”, Spal 11, 389-408. Saller, R. e Shaw, B. (1984): “Tombstones and Roman Family Relations in the Prin- cipate: Civilians, Soldiers and Slaves”, JRS 74, 124-156. Schattner, Th. G., Suárez Otero, J. e Koch, M. (2004): “Monte do Facho, Donón (O Hío / Prov. de Pontevedra) 2004. Informe sobre las excavaciones en el santua- rio de Berobreo”, AEspA 77 n.º 189-190, 23-71. Schattner, Th. G., Suárez Otero, J. e Koch, M. (2005): “Monte do Facho 2003. Bri- cht über die Ausgrabungen im Heiligtum des Berobreus”, MDAI(M) 46, 135-183. Schattner, Th. G., Suárez Otero, J. e Koch, M. (2006a): “Monte do Facho (O Hío / Prov. de Pontevedra) 2004. Bericht über die Ausgrabungen im Heiligtum des Berobreus”, MDAI(M) 47, 169-192. Schattner, Th. G., Suárez Otero, J. e Koch, M. (2006b): “Monte do Facho (O Hío / Prov. Pontevedra) 2004. Informe sobre las excavaciones en el santuario de Be- robreus”, Palaeohispanica 6, 183-223. Schattner, Th. G., Suárez Otero, J. e Koch, M. (2014): “Weihaltäre im Heilig- tum des deus lar Berobreus auf dem Monte do Facho (O Hío, Galicien)”, en A. W. Busch – A. Schäfer (eds.), Römische Weihealtäre im Kontext. Internationale Tagung in Köln vom 3. bis zum 5. Dezember 2009 ‘Weihealtäre in Tempeln und Heiligtümern’, Friedbger, 249-268. Suárez Piñeiro, A. (2002): “Galicia, ¿en la Ora maritima de R. F. Avieno?”, Cuader- nos de Estudios Gallegos 49 n.º 115, 9-26. Susini, G. C. (1982): Epigrafia romana, Roma.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 214 Juan M. A. Palazón Hábito epigráfico romano en el conventus Lucensis

Tranoy, A. (1981): La Galice romaine. Recherches sur le nord-ouest de la péninsule ibérique dans l’Antiquité, Paris. Vasconcelos, J. Leite de (1927-1929): “Ara de Venus”, AP 28, 1928-1929, 142-144. Vázquez Saco, F. e Vázquez Seijas, M. (1954): Inscripciones romanas de Galicia II. Provincia de Lugo, Santiago de Compostela. Villa Valdés, A. (2007): “Reseña del inventario arqueológico del concejo de Coaña y algunos apuntes relativos a su poblamiento prehistórico”, en Excavaciones ar- queológicas en Asturias 1999-2002, Oviedo, 413-418. Villa Valdés, A. (2009a): Museo Castro de Chao Samartín, Grandas de Salime, As- turias. Catálogo, Oviedo. Villa Valdés, A. (2009b): “¿De aldea fortificada a caput civitatis? Tradición y ruptura en una comunidad castreña del siglo I d.C.: el poblado de Chao Samartín (Gran- das de Salime, Asturias)”, CuPAUAM 35, 7-26. Villa Valdés, A. (2013): “El castro de Coaña. Un poblado fortificado en los albores de la historia de Asturias”, en M. A. de Blas (Ed.), De neandertales a : cuatro lugares esenciales en la Prehistoria de Asturias, Oviedo, 139-187. Villa Valdés, A., Francisco Martín, J. e Alföldy, G., (2005): “Noticia del hallazgo de un epígrafe altoimperial en el lugar de Pelou, Grandas de Salime (Asturias)”, AEspA 78, 271-274.

Conimbriga, 55 (2016) 193-219 Fig. 1 – Límites probables del conventus Lucensis (zona sombreada en color gris), superpuestos sobre los límites administrativos actuales (líneas discontinuas). Los puntos señalan los lugares en que se han producido hallazgos epigráficos romanos de cualquier tipo, incluyendo tanto miliarios como grafitos cerámicos (© J. M.Abascal). Fig. 2 – a) Altar de Lucus Augusti dedicado a Mithra; b) altar funerario de Philtates (Fotos: J. M. Abascal). Fig. 3 – a) Altar con la invocación Verore, de Lucus Augusti, conservado en el Museo de Lugo (Foto: J. M. Abascal); b) altar de Venus Victrix de Chaves (según Rodríguez Colmenero 1987); c) altar dedicado al Deus Lar Berobreus en el Facho de Donón (Hío, Pontevedra), conservado en el Museo de Pontevedra (Foto: J. M. Abascal). La relación de tamaño entre unas y otras piezas respeta las dimensiones reales. Fig. 4 – Altar dedicado a Neptuno en la iglesia de Santiago de Padrón (A Coruña). En el ángulo superior izquierdo puede verse la escala que acompaña a la imagen. (Foto: J. M. Abascal). En elángulosuperiorizquierdo puedeverselaescalaqueacompañaaimagen.(Foto:J.M. Abascal). Fig. 4– Altar dedicadoaNeptunoenlaiglesiadeSantiagoPadrón(A Coruña).

Fig. 5. Estelas del conventus Lucensis con representaciones antropomorfas. a) Crecente (Lugo), 281 cm; b) Araño (A Coruña), 249 cm; c) Antes (A Coruña), 229 cm; d) Cidadela (Sobrado dos Monxes, A Coruña), 200 cm; e) Bueu (Pontevedra), 199 cm; f) Mazarelas (A Coruña), 161 cm pero rota en la parte inferior; g) Cando (A Coruña), 116 cm. La relación de tamaño entre unas y otras piezas respeta las dimensiones reales. (Foto: J. M. Abascal). Página deixada propositadamente em branco Manuel Salinas de Frías Universidad de Salamanca (Proyecto HAR2014-55631P) [email protected]

Juana Rodríguez Cortés Universidad de Salamanca (Proyecto HAR2014-55631P) [email protected]

PROSOPOGRAFÍA DE LUSITANIA ROMANA. FLAMINICAE ET FEMINAE NOTABILES LUSITANIAE “Conimbriga” LV (2016) p. 221-250 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_12

Resumen: Prosopografía de las flaminicae locales y provinciales de Lusita- nia romana, a las que se añaden las mujeres notables de la pro- vincia, bien por ser familiares de magistrados o por realizar actos importantes de evergetismo.

Palabras Clave: Prosopografía, epigrafía, Lusitania romana, cul- to imperial, evergetismo.

Abstract: Prosopography of local and provincial flaminicae of Roman Lu- sitania, which the remarkable women of the province are added, either because they are relatives of magistrates or making impor- tant acts of evergetism.

Keywords: Prosopography, Epigraphy, Roman Lusitania, Impe- rial Cult, Evergetism.

Resumo: Prosopografia das flaminicae locais e provinciais de Lusitânia romana, a que se juntam as mulheres notáveis da província, ou

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 porque são parentes de magistrados ou por realizarem importan- tes actos de evergetismo.

Palavras-chave: prosopografia, epigrafia, Lusitânia romana, cul- to imperial, evergetismo. PROSOPOGRAFÍA DE LUSITANIA ROMANA. FLAMINICAE ET FEMINAE NOTABILES LUSITANIAE.

La Prosopografía de Lusitania romana (PROLUR) es un proyec- to de investigación emprendido por el Grupo de Investigación Reco- nocido (GIR) Hesperia de la Universidad de Salamanca. El proyecto pretende, como su nombre indica, elaborar una prosopografía de los personajes notables de la provincia romana de Lusitania que sirva de material de consulta a todos aquellos estudiosos interesados en obtener una información rápida y precisa sobre un determinado sujeto de la éli- te hispanorromana de la provincia. Dicho de una manera coloquial, se trata de realizar el who is who? de Lusitania romana. Para el caso de los individuos varones la prosopografía, una dis- ciplina con larga tradición académica, no ofrece problemas. Quedan incluidos en ella, ipso facto, todos aquellos sujetos que han desem- peñado magistraturas locales o provinciales. Estudios como los de J. A. Delgado Delgado (Delgado 1999 y 2000) sobre los flamines del culto imperial, Marta González Herrero sobre los equites provinciales (Gon- zález Herrero 2006) o Leonard Curchin (Curchin 1990 y 2015) so- bre los magistrados locales proporcionan respectivamente un estado de la cuestión sobre sus objetivos. Pero para lo que respecta a las personas de sexo femenino la si- tuación es más complicada. No existen dudas en la actualidad sobre la importancia de los estudios de género y de la historia de la mujer para la comprensión de la Historia en general. En el caso del mundo romano, sin embargo, la elaboración de una prosopografía tropieza con el obs- táculo de que la mujer fue siempre un ciudadano de segunda categoría que no tuvo nunca plenitud de derechos civiles. Como tal, la mujer esta- ba excluida del ejercicio de las magistraturas y, en general, del espacio público social. Para hacerse visible en este ámbito la mujer sólo dis- ponía de dos medios: por una parte el desempeño de determinados sa- cerdocios vinculados a algunos cultos tradicionales (Mater Matuta por

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 224 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana ejemplo) o al culto imperial (flaminicae municipales o provinciales); por otra parte, su asociación con un varón, normalmente de su propia familia (padre, esposo o hijo), en epígrafes conmemorativos o funera- rios que eran objeto de exposición pública en el foro, vias públicas o cementerios. Este último procedimiento, generado en Roma e Italia, rápidamente fue imitado en las provincias (Mirón 1996; Navarro Ca- ballero 2001 y 2003; Immongault 2006). En la confección de esta Prosopografía femenina hemos tenido en cuenta, en primer lugar, obviamente, a las mujeres que han desempeña- do el sacerdocio del culto imperial (flaminicae), local o provincial, por su condición de cuasi magistratura. En segundo lugar a aquellas muje- res que expresan un vínculo familiar con un varón que ha desempeñado alguna magistratura correspondiente a alguno de los ordines de la so- ciedad romana, en el entendido de que el estatuto jurídico político de un varón se transmitía a sus familiares directos, incluyendo los femeninos, como indican las leyes municipales que regulan el otorgamiento de la ciudadanía (lex mun. Salpensani rub. 20 y 21, CIL II 1963 = ILS 6088). En tercer y último lugar hemos incluido también a aquellas mujeres que realizan determinadas liberalidades como la donación de estatuas, la redención de impuestos, la financiación de banquetes públicos, etc., que por su cuantía evidencian la situación socialmente preeminente de estas personas (Melchor Gil 2009) que, de haber sido varones, hubieran podido jugar un papel político más destacado que las leyes romanas le han negado. Conmemorando a sus hijos o maridos, apoyándolos, con- tribuyendo a sus gastos, estas mujeres han jugado también un papel político, no sólo social, en su momento. Por el contrario, no hemos incluido a aquellas mujeres que su- fragan gastos, normalmente de índole funeraria, con la expresión de suo, o haciendo constar su condición de heres, ya que estas expresiones no quieren decir necesariamente que sean mujeres influyentes desde el punto de vista social. El hecho de que a menudo aparezcan asociadas a otras personas en estos gastos parece indicar una condición económica- mente modesta, lo que las excluye de una prosopografía. En la elaboración del elenco siguiente, por razones de brevedad y claridad expositiva, se citan solamente los principales repertorios epigráficos de acuerdo con sus abreviaturas habituales, que aparecen recogidas al final del artículo. La bibliografía menor (artículos de re- vista, capítulos de libro, etc.) solamente se cita cuando aporta alguna modificación importante a la lectura de las inscripciones desde el punto

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 225 de vista prosopográfico. En todo caso, toda esta bibliografía menor se cita en la Bibliografía final, lo mismo que las citas puntuales que se realizan en el estudio de cada personaje particular. De la misma manera, no se dan todas las referencias a la edición on line de la base de datos de Hispania Epigraphica (HEpOl), salvo cuando proporciona alguna corrección o precisión importante para la prosopografía.

I. Flaminicae Lusitaniae

1. CAELIA VEGETA Lisboa, Olisipo: CIL II 197 = 5218; AE 1953, 255; ILER 4453; De Francisco 1989, 129; Curchin 1990, 369; Gallego Franco 1991, 225; Delgado 2000, 138, nº 16; Rodríguez y Salinas 2 0 0 0 , 2 5 2 nº 9; HEpOl 20924 con foto, propone leer C(aiae) Aeliae Vegetae con tria nomina. [Cae]liae [… f(iliae?)]/ Vegeta[e]/ flaminic[ae]/ M(arcus) Gel- lius/ Rutilianu[s]/ maritus. Basa de estatua en piedra calcárea. Lisboa, Museo Nacional de Arqueología. La inscripción debe datarse, por criterios prosopográfi- cos, en época de Adriano, ya que M. Gellius Rutilianus fue IIvir de Olisipo en los años 121-122 (CIL II 186, 4992). El nomen de la fla- minica presenta problemas: Hübner restituía Caeliae, que es lo que seguimos nosotros, y Vasconcelos 1927-29 nº 26, Caeliae o Aeliae. El antropónimo Caelius/a está abundantemente atestiguado en Hispania y en Lusitania en particular (Abascal 1994a, p. 102; AALR p. 124-125, s.v.). Lambrino 1951, restituye [Gel]liae, que aceptan De Francisco 1996 y Delgado 2000; sin embargo, nos parece poco probable que su nomen sea el mismo que el de su marido, ya que las gentes romanas son exógamas.

2. DOMITIA PROCULINA Talavera de la Reina, Caesarobriga:. CIL II 895; BRAH 2, 1882, p. 258; ILS 6895; ILER 1661; Del Hoyo 1987 115-116; De Francisco 1989, 136; Gallego Franco 1991, p. 226; Abascal 1994b, 385; Del- gado 1999, 453, nº 13; Delgado 2000, 136-137, nº 13; Rodríguez y Salinas 2000, 252, nº 3; HEpOl 282; Abascal y Alföldy 2015, nº 124. Domitia L(uci) f(ilia)/ Proculina/ [f]laminica Provin[c(iae)]/ Lu- sitan(iae) et flamini(ca)/ [m]unicipi sui prim[a]/ et perpetua.../ [...].

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 226 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

Pedestal que conserva huellas de los anclajes de las imágenes. Madrid, Museo Arqueológico Nacional. FITA, en BRAH 2, 1882, aña- de un renglón: [COL(onia)/ EMERITENSIS D.D.] que no se conserva. Etienne 1958, 239, la data en época de Vespasiano: 70-79. Si como creen Hübner (CIL II, p. 112) y Wiegels, p. 74, esta flaminica estaba emparentada con Domitia Attia, esposa de L. Annius Placidus, duovir ter también en Caesarobriga, perteneciente a la tribu Quirina (CIL II 896), no puede ser anterior, efectivamente, a la época Flavia. La posi- ción relevante de Proculina se observa en su condición de flaminica prima et perpetua, pudiendo ser el primero de los atributos un indicio de fecha relativamente temprana tras la conversión municipal de Cae- sarobriga. Del Hoyo opina que el adjetivo perpetua parece honorario, sin dar razones de ello. Creemos más probable que refleje una situación real.

3. FLAVIA RUFINA Alcácer do Sal, Salacia: CIL II 32; ILS 6893; ILER 49; IRCP 183; Del Hoyo 1987 116-118; RAP 267; De Francisco 1989, 125; Gallego Franco 1991, 226; Saquete 1997, 173 nº 18; Delgado 1999, 454, nº 14; Delgado 2000, 137, nº 14; Rodríguez y Salinas 2000, 252, nº 4. Iovi O(ptimo) M(aximo)/ Flavia L(uci) f(ilia) Rufina/ Emeritensis fla/minica Provinc(iae)/ Lusitaniae item Col(oniae)/ Emeritensis/ per- pet(ua)/ et municipi Salacien(sis)/ d(ecreto) d(ecurionum). Ara de mármol. Évora, Museo Regional. En una cara hay un águi- la en relieve y en la otra un árbol (¿un roble, en relación con Júpiter?). Basándose en el nomen, Etienne 1958, pp. 167, 238, la data en época Flavia, suponiendo que la familia habría recibido la ciudadanía de Ves- pasiano. Del Hoyo supone que pudo llegar a Salacia por matrimonio. Había estrechas relaciones entre Salacia y Mérida, donde se registra la presencia de salacienses (CIL II 518). Delgado 1999, 455, estima poco conclusivas las razones de Etienne y cree que, en todo caso, no es anterior a Vespasiano.

4. HELVIA Mérida, Emerita: Velázquez en Anas 1, 1988, 125-130; AE 1989, 396; HEp 2, 1990, n. 40; Saquete 1997, 173 nº 21; Delgado 1999, 455, nº 15; Rodríguez y Salinas 2000, 252, nº 6; HEpOl 18930. Helvia M[...f(iliae?)]/ flamin(ica)/ Provinc(iae)/ [Lusitaniae]/ h(ic)[s(ita) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)].

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 227

Placa de mármol blanco. Mérida, MNAR. Época flavia o antonina según A. Velázquez, Anas 1, 1988, quien fue su descubridor. Del- gado 1999 cree que no hay criterios para una datación mínimamente precisa. Los Helvii están muy bien atestiguados en Lusitania, donde debieron ser una familia de implantación antigua, particularmente en Mérida (Abascal 1994, 148-149; AALR p. 190-191, s.v.).

5. IULIA MODESTA a) Bobadela (Oliveira do Hospital, Coimbra): CIL II 396; ILER 463; Del Hoyo 1987, 191-193; De Francisco 1989, 132; RAP 421; Gallego Franco 1991, 199, 214, 226; Delgado 1999, 447, nº 3; HE- pOL 18955. Pietati sacrum/Iulia Modesta ex patrimonio suo in honorem gen- tis/ Sex(ti) Aponi Scaevi Flacci mariti sui flaminis Provinc(iae)/ Lusi- t(aniae) et in honorem gentis Iuliorum parentum suorum. Coimbra, Museu Machado de Castro. Pedestal de estatua, dedica- da a Pietas. La estatua debía ser un monumento lo suficientemente im- portante como para constituir un objeto de emulación con el sacerdocio provincial desempeñado por el cónyuge y de exaltación, a la vez, de la propia gens de la dedicante. La elección de Pietas en relación con la conmemoración de los padres era algo especialmente acertado y signi- ficativo (Rodríguez Cortés 2003). b) Bobadela (Oliveira do Hospital, Coimbra): CIL II 397, p 817; ILER 6080; Del Hoyo 1987, 189-193; De Francisco 1989, 132; RAP 548; Rodríguez y Salinas 2000, 252, nº 10; HEp 13, 2003/2004, 976; HEpOl 18956. […] has portas et porticus refecit et donavit / splendidissimae ci- vitati Iulia Modesta / flaminica Provinc(iae) Lusit(aniae) ex patrimonio suo. El epígrafe ha desaparecido, por lo que la reconstrucción del texto es hipotética. Andreu 2004 pp. 87, 88, 244 nº 75 supone que se trataría de una restauración de las puertas del foro. Es posible que esta inscrip- ción sea posterior en el tiempo a la primera, ya que en aquella no se menciona el flaminado provincial.

6. LABERIA GALLA Leiria, Collippo: CIL II 339; ILER 1774; Brandão 1972, 61-66 nº 4; IRCP 443; Del Hoyo 1987, 118-120; De Francisco 1989, 131; RAP 547; Delgado 1999, 455, nº 16; Delgado 2000, 140, nº 22; Ro-

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 228 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana dríguez y Salinas 2000, 252 nº 5; Canto 2004, 281 nº 7; Andreu 2004, 245 nº 76; HepOl 21392; D’Encarnação 2014. Laberiae L(uci) f(iliae) Gallae/ flaminicae Ebore(n)si/ flaminicae Prov(inciae) Lusi/ taniae impensam fune/ris locum sepulturae/ et sta- tuam d(ecreto) d(ecurionum) Colli/ ponensium datam L(ucius)/ Sulpi- cius Claudianus/ [...]. Perdida. Es posible que L. Sulpicius Claudianus fuera su marido y natural de Collippo, donde se conoce un IIvir con el mismo nomen, C. Sulpicius Silonianus (CIL II 5232), estando ambos posiblemente re- lacionados con dos Sulpicii militares de esta área (CIL II 403, 5238). Teniendo en cuenta estos hechos, es probable que Laberia Galla fuese natural, no de Collippo, como se ha supuesto, sino de Ebora, donde alcanzó el flaminado local, recibiendo honores fúnebres en lacivitas de su esposo probablemente como consecuencia de la influencia social del mismo (vide infra III E). Recientemente, J. D’Encarnação 2014 ha argumentado vigorosamente contra la autenticidad del epígrafe, que se- ría una falsificación de Resende, por lo que habría que excluir a Laberia Galla de la lista de flaminicae lusitanas.

7. SERVILIA L. f. ALBINI Lisboa, Olisipo: CIL II 195; ILER 1660; Del Hoyo 1987, 120- 123; De Francisco 1989, 130; Gallego Franco 1991, 229; RAP 538; Lefebvre 2001; Delgado 1999, 456, nº 17; Rodríguez y Salinas 2000, 252 nº 1; AE 2001, 1132; AE 2005, 730; HEp 14, 2005, 445; Stylow y Ventura 2005, 36-46; González Herrero 2005; eadem 2006, 55-61, nº 9; HEpOl 21284; Álvarez Melero 2008, 85-89. Flaminicae/ Provinciae/ Lusitaniae/ Serviliae L(uci) f(iliae)/ Albi- ni d(ecreto) d(ecurionum)// Lucceiae/ Q(uinti) f(iliae) Albinae/ Teren- tiani/ d(ecreto) d(ecurionum). Pedestal, perdido actualmente. Etienne 1958, 166, recogiendo una propuesta de Marchetti, propuso relacionarla con el flamen provin- cial Albinus Albui f. (CIL II 473; Álvarez en MMAP 4, 1943, 45), que el sabio francés databa bajo Claudio. En el caso de éste, la ausencia de praenomen probaría su condición de peregrino antes de desempeñar el sacerdocio, lo cual le habría otorgado la ciudadanía; ello explicaría que Servilia L. f. fuera hija de L. Albinus, ya con tria nomina, y la fecha- ría también en época de Claudio. Del Hoyo, 1987 p. 122, cree que el genitivo Albini debe entenderse como referido al marido de Servilia. Lefèvre 2001, propuso reconocer en él a un hipotético Q. Lucceius

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 229

Albinus, flamen provinciae Lusitaniae, que sería en realidad el esposo de Servilia, constituyendo ambos una pareja de magistrados religiosos provinciales y siendo Lucceia Albina hija de ambos. Contra esta pro- puesta obra el hecho, demostrado por Delgado 1999, de que no pare- cen existir flaminicae provinciae Lusitaniae antes de Vespasiano. Gon- zález Herrero 2005, por su parte, identifica a Q. Lucceius Albinus con un abogado mencionado en cartas de Plinio el Joven, en época de Trajano, al que supone natural de Olisipo, aunque no existen pruebas de ello. Gallego Franco reconstruye el nombre como Servilia [Albina] (vide infra nº 24).

8. VALERIA VINICIANA Mérida, Emerita: CIL II 494; ILER 5312; ERAE 113; Del Hoyo 1987, 195-197; De Francisco 1989, 135; Saquete 1996, 173 nº 17; Delgado 2000, 142-143, nº 30; Rodríguez y Salinas 2000, 252 nº 7; HEp 11, 2001, 64; Edmondson 2001, 170-172, nº 24. H(ic) s(itus) e(st). D(is) M(anibus) s(acrum). s(it) v(obis) t(er- ra) l(evis)/ G(aius) Valerius Hymineus emeritensis c(ivis) R(omanus)/ Val(eriae) Vini[c]ianae flam(inicae) perp(etuae) libertus/ sibi et uxori se vivo fecit et dedicavit/ Cam(ila?) Chrysampelis ann(orum) LV Vi- ni[c]iana ann(orum) XXXV H(ymineus) a(nnorum) LX. Monumento funerario en forma de aedicula con tres bustos de los difuntos. En la actualidad perdido. Edmondson corrige la lectura de Moreno de Vargas, que es quien da a conecer la inscripción en el s. XVII, de la siguiente manera: lin. 1: hic siti sunt; lin. 5: Cam(eria [sive Cam(ilia)]. No incluimos en nuestra relación a FL(AVIA) TYCHE: Lisboa, Olisipo: CIL II 179; ILS 4099; ILER 376; RAP 460; Delgado 2 0 0 0 , p. 137, nº 15. Es cernophor(a) del culto a Cibeles. Puede tratarse de una liberta y de un culto privado que no implica, por sí mismo, una posición social alta.

II. Feminae notabiles

9. ALLIA MAXUMA Alburquerque: CIL II 724; EE IX 119; IMBA 2; Rodríguez y Sa- linas 2000, 254; Andreu 2004, 199-200 nº 1; Curchin Supplementum 53 nº 393:

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 230 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

G(aio) Allio/ Quadrato / quaestori / VIIIvir(o) / G(aius) Allius Syria/cus pater et Al/lia Serani f(ilia) / Maxuma ma/ter f(aciendum) c(uraverunt). Badajoz, Museo Provincial. Madre de G. Allius Quadratus, cues- tor, octovir. Stylow 1993, 43-44, plantea la posibilidad de que el oc- tovirado fuera un colegio semejante al decemvirado, un modelo de ma- gistratura traído por los inmigrantes itálicos, que se organizaron de esta forma en algunas comunidades peregrinas, tal vez una praefectura de- pendiente de Emerita o de Ammaia, distante sólo 40 kms al oeste. Hipo- tetiza además sobre la posibilidad de una lectura quaestor octovir(alis). El hecho de que este tipo de magistraturas tendieran a desaparecer con la regularización que supuso la municipalización Flavia, aboga por una fecha anterior al año 75.

10. ARTULLIA SEVERA S. Bartolomeu de Messines, Ossonoba: CIL II 8*, ILER 30; IRCP 60; Gallego Franco 197. I(ovi) O(ptimo) M(aximo)/ in memoriam/ L(uci) Atili Maximi/ Se- veriani fil(ii)/ pientissimi/ L(ucius) Atil(ius) Atilianus/ et Artullia/ G(aii) f(ilia) Severa ex/ [ar]genti lib(ris)/ […] posuerunt. Museu de Évora. Madre de M. Atilius Maximus Severianus y es- posa de L. Atilius Atilianus, dedica junto con éste una estatua de plata a Júpiter en memoria de su hijo. Finales s. II- s.III. ILER lee en líneas 8-9: ex gentilib(us) posuerunt.

11. ATTIA PATERNA Cáparra, Capera: CIL II 832; CMPC 280; ILER 4062; CPILC 2; Cerrillo 2006, 22-23; CRC 2; HEPoL 21771; CILC III 1008. Attiae/ Paternae/ M(arcus) Attius/ Silvanus/ pater/ Caeria Se/vera mater/ f(aciendum) c(uraverunt). Pedestal que forma parte de la puerta del “olivar del Duque”, en Abadía, aunque procedente de Cáparra. Hija de Caeria Severa, CILC III p. 96, la supone emparentada, dado que llevan el mismo cognomen, con Cocceia Severa (cf. nº 12, 16). Siglo II.

12. AVITA MODERATI Cáparra, Capera: CIL II 813; EJER 152; ILER 6427; CPILC 186; Rodríguez 2005, 411 nº 29; Cerrillo 2006, 19; HEpOL 19015; CRC 72; CILC III 1005.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 231

Avitae Modera/ti f(iliae) aviae/ ob honorem quot/ civis recepta est/ Caperae Cocceia/ Celsi fil(ia) Severa/ Norbensis/ cura et impensa/ Avi- tae Modera/ti aviae suae/ posuit. Madrid, Museo Arqueológico Nacional. Pedestal. Procede de las ruinas de Cáparra. Pertenece al conjunto de dedicatorias realizadas por Cocceia Severa a mujeres de su familia, que deben datarse a inicios del siglo II (Cerrillo 2006, cf. nº 16 a).

13. CAERIA SEVERA Cáparra, Capera: CIL II 832; ILER 4062; CMPC 280; CPILC 2; HEPoL 21771; CRC 2; CILC III 1008. Attiae/ Paternae/ M Attius/ Silvanus/ pater/ Caeria Se/vera mater/ f(aciendum) c(uraverunt). Vide nº 11. Caerius en masculino aparece también en Idanha-a- -Nova (ILER 4433). La forma Caerus, que podría ser indígena y el o r i g e n d e l g e n t i l i c i o , s e d o c u m e n t a u n p o c o m á s a l n o r t e , e n H i n o - josa de Duero y Yecla de Yeltes, en la provincia de Salamanca: AALR p. 126.

14. CALPURNIA SABINA Évora, Ebora: CIL II 112; AE 1967, 130; ILER 6421; IRCP 382; Díaz de Cerio 2012, 334.

D(is) M(anibus) s(acrum)/ Q(uinto) Iul(io) Maximo c(larísimo) v(iro)/ quaestori prov(inciae) Sici/liae trib(uno) plebe(i) leg(ato)/ pro- v(inciae) Narbonens(is)/ Galliae praet(ori) des(ignato)/ ann(orum) XLVI/ Calpurnia Sabi/na marito optimo// Q(uinto) Iul(io) Claro c(la- rissimo) i(uveni) IIII viro/ viarum curandarum/ ann(orum) XXI/ Q(uin- to) Iul(io) Nepotiano c(larissimo) i(uveni)/ IIII viro viarum curan/ da- rum ann(orum) XX/ Calpurnia Sabina filiis. Calpurnia Sabina era esposa de Quinto Julio Máximo. Etienne 1965, tuvo ocasión de examinar la carrera de este senador. El hecho de que a los 46 años, fecha de su muerte, sólo hubiera alcanzado la designación para la pretura muestra una carrera modesta dentro del cla- risimado, tal vez por ser un novus senator, impresión que se refuerza por el hecho de que sus hijos habían comenzado por el escalón más bajo del vigintivirado.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 232 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

15. CANIDIA ALBINA Évora, Ebora: CIL II 111, IRCP 381; Gallego Franco 213; Díaz de Cerio 2012, 325. D(is) M(anibus)/ Canidiae Albinae/ c(larissimae) m(emoriae) f(eminae) matri Catin(ii)/ Canidiani c(larissimae) m(emoriae) v(iro)/ consobrini sui/ Catinia M(arci) fil(ia)/ Aciliana c(larissima) f(emina)/ s(ua) p(ecunia) f(ecit). Ara funeraria. Museo de Évora. IRCP 454-455 plantea la exis- tencia en Évora de dos familias senatoriales de origen seguramente lusitano, las gentes Canidia y Catinia. De la gens Canidia se conoce otro testimonio en la misma Évora: ILER 5962. Con la gens Catinia se acostumbra a relacionar el consul suffectus del año 203, y ordinario del 204, L. Fabius Cilo Septiminus Catinius Acilianus Lepidus Fulcianus. Fecha: s. III (cf. nº 16).

16. CATINIA ACILIANA Évora, Ebora: CIL II 111, IRCP 381; Gallego Franco 213; Díaz de Cerio 2012, 335. Vide nº 15.

17. COCCEIA SEVERA a) Cáparra, Capera: CIL II 813; EJER 152; ILER 6427; CPILC 186; Rodríguez 2005, 411, nº 29; Cerrillo 2006, 19; HEpOL 19015; CRC 72; CILC III 1005. Avitae Modera/ti filiae aviae/ ob honorem quot/ civis recepta est/ Caperae Cocceia/ Celsi fil(ia) Severa/ Norbensis/ cura et impensa/ Avi- tae Modera/ti aviae suae/ posuit. Pedestal. Actualmente en el Museo Arqueológico Nacional, Ma- drid. Ver comentario al nº 12: Avita Moderati f. b) Cáparra, Capera: CIL II 814; ILER 1534; CPILC 371; Rodrí- guez 2005, 411, nº 30; Cerrillo 2006, 20-21; HEpOl 19016; CRC 71; CILC III 1007. Trebiae/ Proculae/ matri/ Cocceia Cel/si filia/ Severa/ Norben- sis. Pedestal. Actualmente desaparecido. Inscripción dedicada por Cocceia Severa en honor de su madre, Trebia Procula (nº 30). Nada autoriza a pensar, como hace CILC III, p. 95, que ésta hubiera fallecido en el momento de hacerse la inscripción. c) Cáparra, Capera: CIL II 852; CMPC 279; ILER 4781; CPILC

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 233

1; HEpOL 5306; Haba 1986, 24-27 nº 2; Cerrillo 2006, 21-22; CRC 1; CILC III 1006. Trebiae/ Vegetae/ materterae/ Cocceia/ Severa/ Norbensis. Pedestal de mármol blanco. Forma parte del arco de entrada del “olivar del Duque”, en Abadía. Primera mitad o mediados del siglo II. Cf.: González Conde 2000. Como hemos dicho antes, Cocceia Severa fue una mujer que de- sarrolló una gran actividad epigráfica conmemorando a otras mujeres de su familia: a su abuela materna Avita, a su madre Trebia Procula y a su tía Trebia Vegeta. Llama la atención la ausencia de varones. El hecho de que su abuela Avita carezca de nomen podría hacer suponer que era peregrina y que adquirió la ciudadanía de manera retroactiva al alcanzar alguno de los varones (tal vez su yerno, el marido de Trebia Procula) la civitas per honorem de acuerdo con lo dispuesto en el edicto de Vespa- siano (lex mun. Salpensani rub. 20 y 21, CIL II 1963 = ILS 6088). Coc- ceia se estableció en Capera (menciona su origo norbense) y atrajo a su abuela y, probablemente, a su tía. Se conoce un Victorinus, servus de C(occeia?) Severa, que dedica un exvoto a Ataecina en Malpartida de Cáceres (CIL II 5298), y un liberto, Cocceius Modestianus, documen- tado también en el mismo lugar, que tal vez lo sea de nuestra Cocceia (CIL II 5299). Este conjunto de epígrafes, realizados en mármol y no sobre granito como los ejecutados inmediatamente a la promoción mu- nicipal de la ciudad, marcan una segunda etapa en el embellecimiento y monumentalización de la misma, debiendo fecharse en la primera mitad del siglo II (Cerrillo 2006). d) Los Santos de Maimona: Gómez-Pantoja y Madruga 2014, 247-265. […/…]/ Severa Norb(ensis)/ ann(orum) LXXX/ flaminica pro/ vinc(iae) Baeticae et/ Norbensium/ h(ic) s(ita) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis). Los editores del epígrafe proponen identificar a la difunta, que desempeñó un inusual flaminado provincial de la Bética además del flaminado en la colonia de Norba, con la dedicante de las inscripcio- nes de Cáparra. La mayor dificultad para esta identificación está en la diferencia cronológica, ya que las otras dedicatorias, con buenas letras, parecen encajar en la primera mitad del siglo II, mientras que la factura mucho más irregular de este epígrafe les lleva a proponer una datación a comienzos del siglo III. La elevada edad de la difunta sin embargo permitiría quizás tender un puente entre las cronologías

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 234 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana tan separadas. El flaminado probablemente lo alcanzaría a edad muy avanzada. De ser cierta la identificación, habría que colocar a Cocceia Severa entre las flaminicae lusitanas registradas en la primera parte de este artículo.

18. DOMITIA ATTIA a) Talavera de la Reina, Caesarobriga: CIL II 896; FITA en BRAH 2, 1882, 259-260, nº 6; Fuidio 1934 127, 145, nº 4 y 88; ILER 5271; Wiegels 74; Alföldy 1987 59; Curchin 1990 322; Rodríguez y Sa- linas 2000 254; Abascal y Alföldy 2015 122. D(iis) M(anibus) s(acrum)/ L(ucio) Annio Placi/do Quir(ina) Cae- sa/robrig(ensi) an(norum) XL/ aedil(i) quaesto/ri IIviro ter/ Domitia Attia/ marito optimo /fecit. Talavera, en la fuente del jardín de las reales fábricas. b) CIL II 897; FITA en BRAH 2, 1882, 260-263 nº 7; Fuidio 1934 127, 145, nos. 5, 6 y 9; Iler 5272; Gamer 1989, 283; Abascal 1994b 385; Abascal y Alföldy 2015, 129. D(is) M(anibus) s(acrum) / Domitia Attia/ Caesarobrig(ensis)/ annor(um) XXVII / h(ic) s(ita) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)/ Annii Ta- gana / et Paulinus fili(i) f(aciendum) c(uraverunt). Valencia, colección particular. Esposa de L. Annius Placidus, IIvir. Finales del siglo II o comienzos del III. Sobre la existencia de una im- portante gens Domitia en Caesarobriga, cf. comentario al nº 2.

19. HEIA […] Lisboa, Olisipo: CIL II 183; Iler 2062. Neroni Claudio divi Claudi filio Ger[manici Caes(aris) nep(oti) Ti(berio) C]aesaris [pron(epoti) divi] Aug[usti abnepoti C]aesar[i] Aug(usto) Germanico pont(ifici) max(imo) trib(unicia) pot(estate) III imp(eratori) III co(n)s(uli) II designato III proscenium et orchestram cum ornamentis augustalis perpetuus C(aius) Heius Primus Cato/ Heia […]. Inscripción de finales del año 57, en que coinciden los títulos im- periales con la designación del tercer consulado de Nerón. La mujer es de condición liberta y comparte nomen con su esposo, lo que indica que pertenecieron al mismo propietario. La cuantiosa donación que efec- túan muestra su elevado nivel económico (Melchor Gil 2009, 143). Los Heii se atestiguan en otra inscripción de Lisboa (CIL II 196) y en Archena, Murcia (CIL II 3541).

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 235

20. IULIA IUSTA Bucelas, Loures, Lisboa, Olisipo: CIL II 313; Fernandes 2003 pp. 28-33, nº 1, fotos 1-2; HEp 13, 2003/2004, 998. Curchin, Supple- mentum 1099. D(iis) M(anibus) / L(ucii) Iuli(i) L(ucii) f(ilii) Galer(ia tribu) / Iusti aedilis / an(norum) XXVIII / L(ucius) Iulius Reburrus pate[r] / et Iulia Iusta mater / filio piissimo. Madre de L. Iulius Iustus, edil. Finales del siglo I o siglo II d.C. El cognomen del marido, Reburrus, es de tradición indígena (AALR, p. 279-289 s.v.)

21. IULIA LUPERCA Cáparra, Capera: CIL II 834, 835; ILER 3717, 6136; AE 1967, 117; CPILC 377; S. Haba 1986, 128-129 nº 65; Curchin 1990 323; Rodrí- guez y Salinas 2000, 254; González Herrero 2002; Andreu 2004, 201 nº 4; Rodríguez 2005, 412, nº 33; Cerrillo 2006, 25 (foto); HE- pOl 21774; CRC 63; CILC III, 1004, Álvarez Melero 2008, 75-79 nº 2. Iuliae Luperci f(iliae)/ Lupercae M(arcus) Fidius/ Macer uxori p(onendum) i(ussit). El epígrafe, dado por desaparecido durante mucho tiempo, ha sido vuelto a hallar por J. Esteban y A. Pajuelo, según noticia dada por el diario Hoy de Extremadura el 22 de mayo de 2016, adjuntando foto del epígrafe y los descubridores. Posiblemente formó parte del arco de Cáparra, haciendo pareja con la inscripción del lado derecho, dedicada también por M. Fidius Macer a Bolosea Pelli f(ilius) (CIL II 834). La fecha debe ser posterior al 74-75 d.C. si tenemos en cuenta que su ma- rido fue mag(istratus) III y IIvir bis en Capera (Blázquez 1965, p. 59; González Herrero 2002); es decir, que vivió a caballo del momento de la transformación de la ciudad en municipium, desempeñando ma- gistraturas antes y después de la promoción municipal.

22. IULIA MARCELA Lisboa, Olisipo: CIL II 261; ILER 5550; Gallego Franco 214; Curchin 1990 376; Mantas 2005, 35; Curchin Supplementum 5 2 nº 376. Dis Manibus/ Q(uinti) Caecili Q(uinti) f(ilii) Gal(eria) Caecili/ ani aedilis an(norum) XXXX/ M(arci) Caecili Q(uinti) f(ilii) Gal(eria) Aviti an(norum) XVIII/ Iulia M(arci) f(ilia) Marcella marito/ optumo filio piissimo de suo fecit.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 236 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

Inscripción funeraria a su marido Q. Caecilius Caecilianus, edil, y a su hijo M. Caecilius Avitus, de suo.

23. IULIA PERSICA Mérida, Emerita: AE 1952, 117; ERAE 145; MMAP 7, 1946, p. 39; Curchin 1990 350; Trillmich et al. 1993, 298; Nogales 1997, 88-90; Rodríguez y Salinas 2000, 254; Delgado 2000, nº 4; Edmondson 2001, 120-123, nº 2; Curchin Supplementum 50 nº 350. D(is) M(anibus) s(acrum)/ L(ucio) Antestio Persico Papirie Eme- riten(si)/ ann(orum) XXXVII IIvirali pont(ifici) perpetuo/ Iulia Persica et Antestius Avitianu(s)/ patri piissimo fecerunt h(ic) s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis). Mérida, MNAR. Madre de L. Antestius Persicus, IIvir, pontífice perpetuo de la colonia Augusta Emerita.

24. IULIA QUINTILLA a) Cáceres, Norba Caesarina: CIL II 695, 5187; ILER 4869; CPI- LC 119; Curchin 1990, 363; CILC I 145; Curchin Supplementum 51 nº 363. Q(uinto) Norb(ano) Q(uinti) f(ilio)/ Capitoni aed(ili) IIv[iro]/ Sul- picia Fausta so[ror]/ et Iulia Quintilla / [u(xor)] /[… …]. Cáceres. Fachada del palacio del Vizconde de Roda. Esposa de Q. Norbanus Capito, IIvir de Norba. b) Beja, Pax Iulia: CIL II 5187; IRCP 295; Curchin 1990, 383: Iulia Q(uinti) f(ilia) Quin/tilla Eborensis/ annorum XXXXII h(ic) s(ita) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)/ Q(uintus) P(etronius?) Mater(nus?) matri. Beja, Museu Regional. Curchin cree que el dedicante de la ins- cripción funeraria, Q. P. Mater(nus), puede ser el Q. Petronius Mater- nus que aparece en dos inscripciones de Pax Iulia (CIL II 47 y 48 = IRCP 291 y 232), en sendas dedicatorias a Lucio Vero y a Cómodo. A pesar de la homonimia con Iulia Quintilla, esposa de Q . N o r b a n u s Capito, de Norba Caesarina, n o s p a r e c e p o c o p r o b a b l e q u e s e a l a misma persona, dada la distancia geográfica. La semejanza del nomen es poco significativa, debido a la amplísima distribución y frecuencia del nomen Iulius en Lusitania (AALR, pp. 197-204, s.v.), y tampoco hay medios de establecer o rechazar una proximidad cronológica entre los epígrafes.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 237

25. LUCCEIA ALBINA Lisboa, Olisipo: CIL II 195; ILER 1660; Gallego Franco 1991, p. 229; RAP 538; De Francisco 1989, p. 130; Lefèvre 2001; Delga- do 1999, p. 456, nº 17; Rodríguez y Salinas 2000, p. 252 nº 1; HEp 14, 2005, 445; AE 2001, 1132; AE 2005, 730; Stylow y Ventura en Chiron 35, 2005, pp. 36-46; González Herrero 2005; eadem 2006, pp. 55-61, nº 9; HEpOl 21284. Flaminicae/ Provinciae/ Lusitaniae/ Serviliae L(uci) f(iliae)/ Albi- ni d(ecreto) d(ecurionum)// Lucceiae/ Q(uinti) f(iliae) Albinae/ Teren- tiani/ d(ecreto) d(ecurionum). Pedestal. Perdido actualmente. Es desconocida la relación con la flaminica provincial Servilia L. f., (nº 7) que justificaría la conmemo- ración conjunta de ambas mujeres. La inscripción de Lucceia estaba grabada en una cara lateral del pedestal, como si se hubiera añadido en un segundo momento.

26. MANLIA FAUSTINA Tavira, Balsa: CIL II 4990, 5162; ILER 5264, IRCP 79; Curchin 1990, 319; Gallego Franco 200, 211; Rodríguez y Salinas 2000, 254. T(ito) Manlio/ T(iti) f(ilio) Quir(ina) Fau/stino Bals(ensis)/ Man- lia T(iti) f(ilia)/ Faustina/ soror fra/tri piissimo/ IIvir bis/ d(ecreto) d(e- curionum)/ epulo dato. Pedestal. Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia. Hermana de T. Manlius Faustinus, IIvir bis de Balsa. Finales del s. II.

27. MARIA PROCULA Lisboa, Olisipo: CIL II 193; ILER 5547, Curchin 1990, 377; Gallego Franco 211; Rodríguez y Salinas 2000, p. 254; Mantas 2005, 37; Curchin Supplementum 52 nº 377. D(is)[M(anibus) s(acrum)]/ L(ucio) Cantio L(uci) f(ilio)/ Gal(e- ria) Marino/ aedili/ Vibia Maxima/ avia et/ Maria Procul[a]/ mater honor[e]/ contentae/ d(e) s(uo) p(osuerunt). Madre de L. Cantius Marinus, edil, redime los gastos de los hono- res que el ordo da a su hijo junto con la abuela, Vibia Severa. Los Cantii parece ser una familia específicamente lusitana, cuyonomen gentilicium se ha desarrollado sobre una raíz indígena (cf. AALR, p. 132). Aparecen documentados en Idanha-a-Velha (civitas Igaeditanorum) donde un no- table local, C. Cantius Modestinus construye un templo a Marte (Man- tas 1993, 233-234) y otro a Venus (Mantas 1993, 232), además de otro

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 238 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana en Bobadela al Genius Municipii (CIL II 401) y en Midôes, a la Victoria (CIL II 402). Se documentan también en Mérida (CIL II/ 7, 966; HEp 4, 1994, 156). Cf. Andreu 2004, 71-77. Vide infra nº 38.

28. PACCIA FLACILLA Mérida, Emerita: CIL II 5261; ERAE 31; ILER 179; HEp 2 1990, 36; AE 1987, 484. [Iovi Aug(usto)/ sacrum]/ in honorem M(arci) Arriii Reburri/ Lan- c(iensis) Transc(udani)/ filii optimi/ M(arcus) Arrius Laurus et/ Paccia Flaccilla/ posuerunt. Se trata de un pedestal votivo, reutilizado posteriormente para taller en él un capitel corintio. Solo con dudas incluimos a esta mujer, ya que la reutilización de la pieza impide conocer las circunstancias concretas de la dedicación. La sola muestra de piedad hacia el hijo no basta en nuestra opinión para considerarla una mujer notable.

29. PROPINIA SEVERA S. Salvador de Aramenha, Marvão, Ammaia: CIL II 160; ILER 5518; IRCP 617; RAP 536; Rodríguez y Salinas 2000, 254; AE 2004, 709; HEp 13, 2003-4, 1004. G(aio) Iul(io) Veget[o]/ flamine P[ro]/vinciae L[usita]/niae Pro- pi[nia]/ Severa m[ari]to opti[mo]. Placa de mármol. Museu de Ammaia. Esposa de C. Iulius Vegetus, flamen provincial.ILER 5518 lee: Propinia Stafra. Corregimos ahora la lectura que dimos en Rodríguez y Salinas 2000.

30. SULPICIA FAUSTA Cáceres, Norba Caesarina: CIL II 695, 5187; ILER 4869; CPILC 119; Curchin 1990, 363; CILC I 145. Q(uinto) Norb(ano) Q(uinti) f(ilio)/ Capitoni aed(ili) IIv(iro)/ Sul- picia Fausta so(ror)/ et Iulia Quintilla/ u(xor). Cáceres. Fachada del palacio del Vizconde de Roda. Hermana de Q. Norbanus Capito, IIvir en Norba. Cf. comentario al nº 24a. La gens Sulpicia parece haber tenido importancia en Lusitania y está bien ates- tiguada en Conimbriga y en Collippo (AALR 307-308, s.v.).

31. TOLIA MAXIMA Leiria, Collippo: CIL II 349, ILER 4411; Curchin 1990, 331; Su- pplementum 49 nº 331.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 239

D(is) M(anibus)/ Toliae/ Maximae/ ann(orum) XXXX/ Claudius/ Tib[e]rianus/ ucsori/ pientissimae. Tal vez hermana de Tolius Maximus, IIvir en Eburobrittium, según CURCHIN 1990 y Supplementum, aunque no hay pruebas de ello.

32. TREBIA PROCULA Cáparra, Capera: CIL II 814; CPILC 371; Rodríguez 2 0 0 5 , 411, nº 30; HEpOl 19016; Cerrillo 2006, 20-21; CRC 71; CILC III 1007. Trebiae/ Proculae/ matri/ Cocceia Cel/si filia/ Severa/ Norbensis. Pedestal. Actualmente desaparecido. Vide nº 17.

33. TREBIA VEGETA Cáparra, Capera: CIL II 852; CMPC 279; ILER 4781; CPILC 1; HEpOL 5306; CRC 1; Haba 1986, 24-27 nº 2; Cerrillo 2006, 21-22; CILC III 1006. Trebiae/ Vegetae/ materterae/ Cocceia/ Severa/ Norbensis. Pedestal. Vide nº 17.

34. TURRANIA CILLEA Portalegre, Ammaia: HEp 18, 2009, 583; Stylow 2009, 35–55; Curchin, Supplementum 1059. M(arco) Iunio/ Quir(ina tribu) Gallo / IIvir(o) Turrania / Cilea genero. Museu de Ammaia. Suegra de M. Iunius Gallus, IIvir de Ammaia. Época Flavia o comienzos del siglo II.

35. TURRANIA RUFINA Conimbriga: AE 1971, 162; Etienne, Fabre, Lévêque 1976, II, 70; Curchin 1990, 330; Gallego Franco 220; Curchin Supplemen- tum 48, 330. C(aio) Turranio/ Quir(ina) Rufo/ Turrania Rufiina/ soror/ curan- tib(us)/ M(arco) Val(erio) Pauliano/ cognato et/ L(ucio) Iul(io) Verna- cio/ socero/ ex testamen(to). Hermana de C. Turranius Rufus. Curchin 1 9 9 0 s e ñ a l a b a q u e los Turranii son una de las familias más prominentes de Conimbriga y que Turranius Rufus podía haber recibido la ciudadanía después de desempeñar una magistratura municipal, pero no hay ninguna prueba de ello.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 240 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

36. VALERIA ALLAGE Mérida, Emerita: Saquete y Márquez 1993, 63-64, nº 7; AE 1993, 909; HEp 5, 1995, 94; Saquete 1997, 175 nº 35; Curchin, Supplemen- tum 1096. Valeria/ Allage ann(orum) LX h(ic) s(ita) e(st) s(it)/ t(ibi) t(er- ra) l(evis)/ C(aius) Sulpicius C(aii) f(ilius) Gal(eria tribu) Superstes/ ann(orum) XXXVIII IIvir ter Metellinensim/ huic col(onia) Emeritensis et col(onia) Metelli(nensis)/ d(ecreto) d(ecurionum) locum sepulturae et funeris ìnpen(sam)/ decreverunt. h(ic) s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis). Lápida. Mérida, MNAR. Esposa de C. Sulpicius Superstes, IIvir ter en Metellinum. Su marido debía ser originario de Metellinum, como indica la adscripción a la tribu Sergia, mientras que la Papiria era la tribu de Mérida. Es probable que Valeria, en cambio, fuera de origen emeritense, lo que explicaría que ambos fueran sepultados en la colo- nia. Finales del siglo I o siglo II.

37. VETTILLA PACULI Mérida, Emerita: CIL II 468; Iler 237; Mélida 1925, 125 nº 703; ERAE 2; Léon 1970, 194; Andreu 2004, 209 nº 17. Marti sacrum/ Vettilla Paculi. Inscripción monumental sobre la puerta del “Hornito de Santa Eu- lalia”. Cornisa de mármol blanco. Fecha: ca. 184 d.C. Léon propuso identificarla con la esposa de L. Roscius Paculus, individuo de orden senatorial al que el concilium provinciae dedica una inscripción en Mé- rida (EE VIII 302; ERAE 97; HEp 15, 2006, 59) por razones descono- cidas, que dicha autora suponía que fue el gobierno provincial. Este gobierno ha sido puesto en duda por Caballos 1990, 290 y Saquete 1996, 95 y 97-98, quienes plantean un posible origen lusitano del sena- dor para explicar el homenaje.

38. VIBIA MAXIMA Lisboa, Olisipo: CIL II 193; ILER 5547, Curchin 1990, 377; Gallego Franco 211, 212. D(is) [M(anibus) s(acrum)]/ L(ucio) Cantio L(uci) f(ilio)/ Gal(e- ria) Marino/ aedili/ Vibia Maxima/ avia et/ Maria Procul[a]/ mater honor[e]/ contentae/ d(e) s(uo) p(osuerunt). Abuela de L. Cantius Marinus, edil, redime los gastos de los hono- res dados a él junto con su madre, Maria Procula (cf. nº 27).

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 241

Excluimos de esta lista a Lebisinia Auge, recogida por Álvarez Melero 2008 79-80. Su suposición de que “nous aurions affaire à un cas d’union entre un haut fonctionnaire et une femme d’extraction loca- le, au mépris de la loi” nos parece absolutamente conjetural. El hecho de que, como él mismo acepta, el nombre sea un hápax, y de que exista una discordancia entre los nomina del padre y del hijo, es un factor también de duda sobre este epígrafe.

III. Inscripciones falsae vel suspectae

A. T[ITA?] AEMILIA MACRINA , Aritium Vetus?: Beira Alta 12, 1953, 186; Curchin 1990, 316; Rodríguez y Salinas 2000, 254; Silva 1981, 18-20; Cur- chin Supplementum 47 nº 316, 109 nº 63*. Inscripción falsa. Cf. HEp 4, 1080.

B. ANÓNIMA Beja, Pax Iulia: IRCP p. 300; Del Hoyo 1987, 198-199. [...... ]/ [a]nn(orum) LV flam[inicae]/ perpetuae civitatis Miri/eta- norum pudicissime ac re/[li]giosissimae temporis sui feminae/ [mat] ri et aviae piissimae fi[lii?] [e]t nepotes. H(ic) s(ita) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis). IRCP, p. 300, la rechaza sobre la base de la inexistencia de una desconocida civitas Mirietanorum.

C. CALCHISIA Évora, Ebora: CIL II 122=5189; IRCP p. 443-445 C; Etienne 1958, 166, 167; Almeida y Ferreira 1969, 259, fig. 2; AE 1969/70, 214; Del Hoyo 1987, 124-125; RAP 568; Gallego Franco 1991, 229; Delgado 1999, 457, nº 18; Rodríguez y Salinas 2000, 252, nº 2. D(is) M(anibus) s(acrum)/ memoriae c(larissimae) f(eminae) Cal- chisiae flam(inicae)/ Prov(inciae) Lusit(aniae) II fil(iae) piisim(ae) et Mar(iae) L(uci) f(iliae)/ Sidoniae nept(i) dulc(i)s(simae) et Apon(io) Lu/piano mar(ito) merent(i) fabric(am) qua(m) miser(a) ma/ter Iun(ia) Leonica karis suis et sibi. Placa de mármol reutilizada en la Edad Media. Montemor-o-No- vo, en una pared frontera a la Câmara Municipal. La autenticidad de este epígrafe es muy debatida. IRCP 443-445, notando la rareza de los

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 242 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana nombres Calchisia, Sidonia y Leonica, y el cultismo fabrica, cree que es una falsificación renacentista. Etienne 1958, 221 sin embargo la acepta. Delgado 1999, 458, hace notar que la filiación de los persona- jes tampoco está exenta de problemas, ya los nombres de las hijas no guardan ninguna relación con los de sus progenitores. A pesar de ello, Delgado cree, con dudas, auténtico el texto.

D. IUNIA VERECUNDA Évora, Ebora: CIL II 115; ILER 5673; IRCP p. 443, B; Del Hoyo 1987, 193-194; Gallego Franco 1991, 227; Rodríguez y Salinas 2000, 252 nº 8. C(aio) Antonio C(ai) f(ilio) Fla/vino VIviro iun(iori)/ hasta(to) le- g(ionis) II aug(usta) torq(em)/ aur(eum) et an(nonas) dupl(as) ob vir- t(utem)/ donato Iun(ia) Verecun/da flam(inica) perp(etua) mun(icipii) Ebor(ensis)/ mater f(aciendum) c(uravit). Évora, en la fuente de la plaza. CIL II p. 805 la rechaza, argumen- tando que Resende habría forjado el texto a partir de CIL V 4365. IRCP p. 443 la rechaza también, aunque observa que, desde el punto de vista paleográfico, es impecable; peroEtienne 1958, 239 la admite.

E. LABERIA GALLA Évora, Ebora: CIL II 114 (p. XXXVIII, 805); IRCP p. 442 A; Del Hoyo 1987, 118-120; De Francisco 1989, 131; Gallego Franco 1991, 227; Rodríguez y Salinas 2000, 252, nº 5bis; RAP p. 567; HEp 14, 2005, 441; Canto, 2004, 281 nº 8 y 332. Laberiae L(uci) f(iliae)/ Gallae fla/minicae munic(ipii)/ Eborensis fla/minicae Provin/ ciae Lusitaniae/ L(ucius) Laberius Artemas/ L(u- cius) Laberius Callaecus/ L(ucius) Laberius Abascantus/ L(ucius) La- berius Paris/ L(ucius) Laberius Lausus/ liberti. Desaparecida, la división en líneas es decisión de Hübner, quien la creía falsa, derivada de CIL II 339 (Collippo). IRCP la cree inven- tada por Resende, como el homenaje a Sertorio por sus libertos (IRCP nº 30*); pero Etienne 1958 (con error en las referencias a IRCP) p. 223 nota 26, cree insuficientes los argumentos dados por CIL. Del Hoyo, que no distingue entre los dos epígrafes que mencionan al personaje, acepta implícitamente su autenticidad. También Canto 2004 es parti- daria de su autenticidad.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 243

F. MARTIA C. F. Cáparra, Capera: CIL II 815; CPILC 184; CRC 65; Curchin 1990, 324; CILC III, 1009. D(is) M(anibus)/ P(ublio) Aufidio P(ublii) f(ilio) omn(ibus) in rep(ublica)/ hon(oribus) func(to) Martia C(aii) f(ilia) con(iux) b(ene) m(erenti). Esposa de P. Aufidius, IIvir. CIL la recoge con dudas. Su autentici- dad ha sido refutada por Gimeno 1997, 40 y González Germán 2012. CILC III, 97, la recoge sin pronunciarse sobre ello.

G. VALERIA TAGANA Talavera la Vieja, Augustobriga: CIL II 938, 5343; CPILC 482; Gallego Franco 220; HEp. 10, 2000, 141; HEpOl 6463. L(ucio) Vibio Quiri(na)/ Reburro/ Valeria Tagana/ Duelonis filia/ testamento poni iussit. Madrid, Real Academia de la Historia. Inscripción honorífica a L. Vibius Reburrus, pontifex, cumpliendo la voluntad ex testamento. De acuerdo con la lectura de Vidal Madruga en HEpOl, no existe la men- ción de pontifex.

CONCLUSIONES

Se conocen en la actualidad un total de ocho mujeres que desem- peñaron el flaminado del culto imperial. De ellas, dos fueron exclusiva- mente flaminicae locales (nos. 1: Caelia Vegeta, y 8: Valeria Viniciana); tres fueron flaminicae provinciales (nos. 4: Helvia, 5: Iulia Modesta, y 7: Servilia Albini f.); y tres desempeñaron tanto el flaminado local como el provincial (nº 2: Domitia Proculina, 3: Flavia Rufina, y 6: Laberia Galla). Un caso excepcional lo constituye el nº 17: Cocceia Severa, si se la identifica con una flaminica provinciae Baeticae et Norbensium mencionada en una inscripción de los Santos de Maimona. En todos los casos anteriores, el flaminado provincial aparece descrito como flami- nica provinciae Lusitaniae, de acuerdo con una fórmula estandarizada que se desarrolla a partir de la reestructuración del culto imperial por Vespasiano; por tanto, hay que datar la existencia de estas sacerdotisas a partir del último cuarto del siglo I y a lo largo del siglo II. En el caso de las flaminicae locales que no desempeñaron el sacerdocio provincial (nos. 1 y 8: Caelia Vegeta y Valeria Viniciana), la primera de ellas se

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 244 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana puede datar con seguridad, por su marido, en época de Adriano. En cuanto a la segunda, la pérdida del monumento impide mayor preci- sión, pero es probable que se date también en el siglo II. Por supuesto, todas proceden de ciudades que son municipios (nos. 1 y 7: Olisipo; 2: Caesarobriga; 3: Salacia; 5: Bobadela-Conimbriga?; 6: Collippo) o colonias (4 y 8: Emerita), constatándose una mayor presencia en los municipios que en las colonias, como ya observara Étienne (Etienne 1990; Salinas y Rodríguez 2007). Estas mujeres ejercieron un auténtico poder social en sus respec- tivas ciudades que probablemente se extendió, más allá de las mismas, a zonas mayores o menores de la provincia. Iulia Modesta (nº 5) costeó ex patrimonio suo la construcción de las puertas y el pórtico, probable- mente, del foro de su pequeña ciudad, en un alarde de orgullo propio mediante una inversión que debió ser ciertamente costosa. Probable- mente antes de ese momento, ya había buscado notoriedad social aso- ciándose a la figura de su marido,Sextus Aponius Scaevus Flaccus, fla- men provincial, costeando una estatua a Pietas en honor del mismo, así como de la gens de sus padres, y por tanto suya propia, la gens Iulia. La estatua, probablemente de bronce, debía ser lo suficientemente notable como para no desmerecer la ambición de la dedicatoria. En la medida en que Pietas era la divinización de los deberes para con los dioses y los parentes (Rodríguez Cortés 2003), la elección de esta divinidad para una dedicatoria que, en definitiva, conmemoraba el orgullo de su estirpe era algo acertadísimo. Domitia Proculina (nº 2), en Caesarobri- ga, estaba probablemente emparentada con Domitia Attia, esposa de L. Annius Placidus que fue tres veces duovir de la ciudad, en la cual debía haber una gens Domitia acomodada. Flavia Rufina (nº 3) fue flaminica en Salacia, de donde era natural, pero también en Mérida, además de desempeñar el flaminado provincial. El evergetismo público constituyó un medio eficaz para estas mu- jeres de obtener notoriedad a la vez que de expresar su influencia. He- mos visto a Iulia Modesta (nº 5) costeando las obras públicas de su ciu- dad. Otras mujeres ornan con sus estatuas los foros locales ex decreto decurionum (nos. 3 y 7) o reciben un monumento póstumo de la misma manera (nº 6). Este comportamiento se observa también en otras mu- jeres que, aunque no consta que desempeñaran el flaminado, sin duda tenían un nivel de influencia social dado que sus maridos eran magis- trados de sus ciudades respectivas. Es el caso de Iulia Luperca (nº 21), esposa de M. Fidius Macer. Este individuo debía ser uno de los sujetos

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 245 más importantes de Capera, a juzgar por el hecho de que desempeñó tres veces la magistratura local antes de la conversión municipal de la ciudad y, posteriormente, fue dos veces duovir de la misma. La potencia política y económica de los Fidii caparenses quedó explicitada median- te la construcción del tetrapilo que daba acceso al foro, adornado con los retratos ecuestres de Fidius Macer y sus antepasados. Pero en otro de los paramentos el magistrado hizo representar también a su esposa con la correspondiente dedicatoria. Un caso notable, en este sentido, es el del conjunto de dedicatorias con las que Cocceia Severa, natural de Norba Caesarina pero afincada en Capera, conmemoró a su abuela Avita, a su madre Trebia Procula y a su tía materna Trebia Vegeta (nos. 12, 32 y 33). Dichas dedicatorias se conservan en pedestales de mármol sobre los cuales iban las esta- tuas de las aludidas que ornaban el pórtico del foro de la ciudad. Es notable que en ninguna de las inscripciones se aluda a los varones de la familia, salvo por la preceptiva mención de la filiación, y no sabemos si este rasgo se debe relacionar o no con relaciones familiares de tipo indígena. El hecho de que la abuela, Avita, sólo mencione el cognomen hace pensar que era inicialmente de estatuto peregrino y que obtuvo retroactivamente la ciudadanía. Las relaciones sociales y económicas de Cocceia Severa con su ciudad de origen, Norba, se conservaron sin embargo, ya que se documenta la presencia de un esclavo y de un li- berto que son verosímilmente suyos en Malpartida de Cáceres, en el territorium de la colonia. La identificación, anteriormente mencionada, con una flaminicae provinciae Baeticae et Norbensium mostraría que llegó a desempeñar el flaminado de su ciudad de origen. En los casos de mujeres que no han desempeñado el flaminado pero que se asocian a las figuras de parientes para alcanzar visibilidad social observamos que la relación uxor/maritus es la más frecuente (11 veces), junto con la relación mater/filius, -a (10 veces). Otras relaciones como las de soror/frater (3 veces) pater/filia (2 veces) avia/neptis (2 veces), etc., son mucho menos frecuentes. A veces, estas mujeres hacen constar que erigen la inscripción de suo (nos. 15, 38), o que añaden una dádiva, por ejemplo: epulo dato (nº 26). Dada la parquedad de datos con que contamos, es prácticamente imposible establecer una evolución. No obstante, y a riesgo de equivo- carnos en nuestras conclusiones, si tenemos en cuenta que alguna de ellas dice ser flaminica prima et perpetua (nº 2: Caesarobriga) o flami- nica perpetua (nos. 3 y 8: Salacia y Emerita), estas expresiones dan a

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 246 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana entender que el elenco de flaminicae fue restringido, ya que el cargo no se renovaba anualmente, sino que en ocasiones era necesario esperar al fallecimiento de una para proceder a la elección de otra nueva sacerdo- tisa. Si tenemos en cuenta que no podemos datar con seguridad en el siglo III ninguna de las inscripciones que aluden a ellas, alcanzamos la sensación de que el flaminado femenino, local y provincial, se desarrol- ló a partir de la reforma del culto realizada por Vespasiano, incentivado seguramente por la conversión de ciudades peregrinas en municipios Flavios y el deseo de las élites locales de mostrar su adhesión al poder imperial y ostentar un modo de vida romano. Pero pasadas tres o cuatro generaciones, hacia finales del siglo II o comienzos del siglo III, parece que este fervor decayó, debido en gran medida también a las dificulta- des económicas que comenzaron a afectar a los municipios.

Corrigenda: en una visita reciente al Museo del Teatro Romano de Lisboa hemos podido comprobar, gracias a la amabilidad de su directora, la Dr.ª Lídia Fernandes, que la inscripción referente al nº 19, Heia, en realidad no menciona a la supuesta esposa de C. Heius Primus, como la Bibliografía ha ido repitiendo, sino que tras el nombre de éste debe suplirse [dedit]. Heia, por tanto, debe eliminarse del catálogo.

ABREVIATURAS

AALR = Atlas antroponímico de Lusitania romana Grupo Mérida (Navarro Caballero, Milagros y Ramírez Sádaba José Luís, coords.) (2003) Mérida-Burdeos. AE = L’ Année Epigraphique BRAH = Boletín de la Real Academia de la Historia CIL II = Hübner, Emil Corpus Inscriptionum Latinarum II: Inscriptiones Hispaniae latinae Berlin 1869; supplementum Berlin 1892. CILC = Esteban Ortega, Julio (2007-2013) Corpus de inscripciones latinas de Cáce- res vols. I-III Cáceres. CMPC = Mélida, José Ramón (1924) Catálogo monumental de España. Provincia de Cáceres Madrid. CPILC = Hurtado de San Antonio, Ricardo (1977) Corpus provincial de inscripcio- nes latinas de Cáceres Cáceres. CRC = Río-Miranda, Jaime, (2010) La ciudad romana de Cáparra. Municipium Fla- vium Caparensis Plasencia. EJER = D’ors, Álvaro (1953) Epigrafía jurídica de la España Romana Madrid. EE = Ephemeris Epigraphica Berlin. ERAE = García Iglesias, Luís (1973) Epigrafía romana de Augusta Emerita tesis doc- toral inédita Madrid. HAEp = Hispania Antiqua Epigraphica.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 247

HEp = Hispania Epigraphica HEpOl = Hispania Epigraphica on line ILER = Vives, Jaime (1971-1972) Inscripciones latinas de la España romana Barce- lona. ILS = Dessau, H. Inscriptiones latinae selectae Berlin 1892 – 1916. IMBA = Salas, José, Esteban, Julio y Redondo, José Antonio (1997) Inscripciones romanas y cristianas del museo arqueológico provincial de Badajoz Badajoz. IRCP = Encarnação, José d’, (1984) Inscriçôes romanas do conventus Pacensis Coimbra. MMAP = Memorias de los Museos Arqueológicos provinciales RAP = Garcia, José Manuel (1991) Religiôes antigas de Portugal. Fontes epigrâficas Lisboa.

BIBLIOGRAFÍA

Abascal Palazón, Juan Manuel (1994a) Los nombres personales en las inscripciones latinas de Hispania Murcia. Abascal Palazón, Juan Manuel (1994b) “Inscripciones romanas y celtibéricas en los manuscritos de Fidel Fita en la Real Academia de la Historia” Archivo de Prehis- toria Levantina 21 367-390. Abascal Palazón, Juan Manuel y Alföldy, Géza (2015) Inscripciones romanas de la provincia de Toledo (siglos I-III) Madrid. Alföldy, Géza (1969) Fasti Hispanienses Wiesbaden. Alföldy, Géza (1987) Römisches Städtewesen auf der neukastilichen Hochebene Hei- delberg,. Almeida, Justino Mendes de y Ferreira, Francisco Bandeira (1969) “Varia Epigraphi- ca” Rev. de Guimarães 79, 257-262. Álvarez Melero, A. (2009) “Matronae equestres ex provincia Lusitania ortae” RBPh 86 69-95. Álvarez Saenz de Buruaga, José (1943) “Museo Arqueológico de Mérida (Bada- joz)”, MMAP 4 44-52. Andreu Pintado, Javier (2004) Munificencia pública en la provincia Lusitania (siglos I-IV d.C.) Zaragoza. Blázquez Martínez, José María (1965) Cáparra I Madrid. Brandão, Domingos de Pinho (1972) “Epigrafia romana coliponense”Conimbriga 11 41-192. Caballos Rufino, Antonio (1990) Los senadores hispanorromanos y la romanización de Hispania (s. I-III) I: Prosopografía Écija. Idem (1998) “Los equites y la dinámica municipal de la Lusitania. I.: catálogo proso- pográfico”, en L. Hernández Guerra y L. Sagredo San Eustaquio (eds.), El proceso de municipalización en la Hispania romana. Contribuciones para su estudio Valladolid 205-233.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 248 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

Canto, Alicia Mª. (2004) “Los viajes del caballero inglés John Breval a España y Por- tugal: Novedades arqueológicas y epigráficas de 1726.” Revista Portuguesa de Arqueologia 7/2 265-364. Cerrillo, Enrique (2006) “La monumentalización del foro de Cáparra a través de la epigrafía”, en D. Vaquerizo y F. J. Murillo (eds.), El concepto de lo provincial en el mundo antiguo. Homenaje a la profesora Pilar León Alonso Córdoba 13-30. Curchin, Leonard (1990) The local magistrales of Roman Spain Toronto. Curchin, Leonard (2015) A supplement to the local magistrates of Roman Spain libro digital Waterloo. De Francisco Martín, Julián (1989) Conquista y romanización de Lusitania Sala- manca. Delgado Delgado, José A. (1999) “Flamines provinciae Lusitaniae” Gerión 17 433- 461. Delgado Delgado, José A. (2000) “Los sacerdotes de rango local de la provincia romana de Lusitania” Conimbriga 39 107-15. Del Hoyo Calleja, Javier (1987) La importancia de la mujer hispanorromana en la Tarraconense y Lusitania a la luz de los documentos epigráficos. Aspectos reli- giosos y socioeconómicos Tesis doctoral Madrid. D’Encarnação, J. (2014) “A inscriçâo e o seu duplo: o caso da flaminica Laberia Galla”, en A. Donati (ed.) L’iscrizione e il suo doppio. Atti del Convegno Bor- ghesi 2013 Faenza 411-428. Díaz de Cerio, M (2012) “Los senadores originarios de Lusitania (1982-2012) / The Lusitanian senators (1982-2012)”, Espacio, Tiempo y Forma, Serie II: Historia Antigua, 25 327-354. Edmondson, Johnatan, Nogales Trinidad y Trillmich, Walter, (2001) Imagen y Me- moria. Monumentos funerarios con retratos en la Colonia Augusta Emerita Ma- drid. Etienne, Robert (1958) Le culte imperial dans la Péninsule Ibérique Paris. Etienne, Robert (1990) “Le culte imperial, vecteur de la hiérarchisation urbaine” Les villes de Lusitanie romaine Paris 215-231. Etienne, R., Fabre, G., Lévêque, M., Lévêque, P. (1976) Fouilles de Conimbriga, II: épigraphie et sculpture Paris. Fernandes, Luís da Silva (2003) “Inscrições romanas do termo de Loures” Máthesis 12 28-33 nº 1 fotos 1-2. Fita Colomé, Fidel (1882) “Inscripciones romanas de la ciudad y partido de Talavera (Provincia de Toledo)”, BRAH 2 259-260. Fuidio Rodríguez, Fidel (1934) Carpetania romana Madrid. Gallego Franco, Henar (1991) Femina dignísima. Mujer y sociedad en Hispania antigua Valladolid. Gamer, Gustav (1989) Formen römischer Altäre auf der Hispanischen Halbinsel, Ma- drider Beiträge 12 Mainz. Gimeno, Helena (1997) Historia de la investigación epigráfica en España en los ss. XVI y XVII, a la luz del recuperado manuscrito de Guimerá Zaragoza.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana 249

Gómez-Pantoja, J. y Madruga, J.-V. (2014) “Flaminica provinciae Baeticae et Norbensium”, en A. Caballos Rufino y E. Melchor Gil De Roma a las provincias: las elites como elemento de proyección de Roma Córdoba-Sevilla 247-272. González Conde, María Pilar (2000) “Cocceia Severa y los Cocceii hispanos” HA 24 165-173. González Germán, Julián (2012) “Una inscripción (falsa) más de Cáparra” ZPE 183 297-305. González Herrero, Marta (2002) “M. Fidius Fidi f. Quir(ina) Macer, benefactor en Capera” Gerión 20 417-433. González Herrero, Marta (2005) “El abogado olisiponense Lucceius Albinus y fami- lia.” Revista Portuguesa de Arqueología 8/1 243–55. González Herrero, Marta (2006) Los caballeros procedentes de la Lusitania romana Madrid. Haba Quirós, S. (1986) Catálogo epigráfico del partido judicial de Plasencia memoria de Licenciatura inédita Cáceres. Immongault Nomewa, Roselyne (2006) La femme romaine dans l’épigraphie latine de la période augustéenne au deuxième siècle après Jésus-Christ: une approche régionale (Rome et l’Italie) Paris. Lambrino, Scarlat (1951) “Inscriptions latines du Musée Leite de Vasconcelos” O Ar- cheologo Portugues (n.s.) 1 37-61. Lefèbvre, Sabine (2001) “¿Q. (Lucceius Albinus), Flamen Provinciae Lusitaniae? L’origine sociale des flamines provinciaux de Lusitanie.” Élites Hispaniques M. Navarro y S. Demougin (eds.) Burdeos 217–39. León Alonso, Pilar (1970) “Los relieves del templo de Marte en Mérida” Habis 1 181-197. Mantas, Vasco Gil (1993) “Evergetismo e culto oficial: o constructor de templos C. Cantius Modestinus” Religio deorum (M. Mayer ed.) Sabadell 227-250. Mantas, Vasco Gil (2005) “Os magistrados olisiponenses do periodo romano” Turres Veteras 7 23-56. Melchor Gil, E. (2009) “Mujeres y evergetismo en la Hispania romana”, en J. F. Rodríguez Neila (ed.), Hispania y la epigrafía romana. Cuatro perspectivas, Faenza 133-178. Mirón Pérez, Dolores (1996) Mujeres, religión y poder: el culto imperial en el occi- dente mediterráneo Granada. navarro caballero, M. (2001) “Les femmes de l’élite hispano-romaine, entre la famille et la vie publique”, en M. Navarro Caballero y S. Demougin ( e d s . ) con la colaboración de F. des Boscs-Plateaux, Elites hispaniques, B u r d e o s 191-201. Idem (2003) “Mujer de notable: representación y poder en las ciudades de la Hispania imperial”, en S. Armani, B. Hurlet-Martineau y A. U. Stylow (eds.), Epi- grafía y sociedad en Hispania durante el Alto Imperio: estructuras y relaciones sociales. Actas de la Mesa Redonda organizada por la Casa de Velázquez, el

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 250 Manuel S. Frias e Juana R. Cortés Prosopografía de Lusitania Romana

Centro CIL II de la Universidad de Alcalá y L’Année Épigraphique, Madrid-Al- calá de Henares, 10-11 de Abril de 2000 Madrid-Alcalá de Henares 119-127. Nogales Basarrate, Trinidad (1997) El retrato privado en Augusta Emerita, vols. I-II Badajoz. Nogales Basarrate, Trinidad (1998) “Catálogo de piezas. 273. Estela funeraria de L. Antestius Persicus” Hispania. El legado de Roma. En el año de Trajano (La Lonja - Zaragoza. Septiembre - noviembre de 1998) Zaragoza - Madrid. Raepsaet-Charlier, M.-Th. (1987) Prosopographie des femmes de l’ordre sénatorial (Ier-IIe siècle) Lovaina. Rodríguez Plaza, Miguel Ángel (2005) “Epigrafía latina de Oliva de Plasencia” REE 61 nº 2 385-422. Rodríguez Cortés, Juana (2003) “Pietas erga deos. La piedad hacia los dioses en la Bética romana” Actas del III Congreso de Historia de Andalucía Córdoba 431-442. Rodríguez Cortés, Juana y Salinas de Frías, Manuel (2000) “Las élites femeninas en la provincia romana de Lusitania” SHHA 18 243-255. Salinas de Frías, Manuel y Rodríguez Cortés, Juana (2007) “El culto imperial en el contexto político y religioso del conventus Emeritensis” Culto imperial: política y poder Roma 159-178. Saquete Chamizo, José Carlos (1996) Las élites sociales de Augusta Emerita Mérida. Saquete Chamizo, José Carlos y Márquez Pérez, Joaquín. (1993) “Nuevas inscrip- ciones romanas de Augusta Emerita: la necrópolis del Disco” Anas 6 51-74. Silva, Joaquim Canderas da (1981) “Epigrafia romana de Abrantes: quatro textos em questâo” Trebaruna 1 9-24. Stylow, Armin U. (1993) “Decemviri. Ein Beitrag zur Verwaltung peregriner Gemein- den in der Hispania Ulterior” Ciudad y comunidad cívica en Hispania (siglos II y III d. C.) Madrid 37-46. Idem (2009) “O estatuto jurídico de Ammaia, a propósito de uma inscrição copiada em 1810” Ibn Maruán 16 no. Marvão e Ammaia ao tempo das guerras peninsulares 35–55. Stylow, Armin U., y Ventura, A. (2005) “Doppelstatuenpostamte und virtuelle Sta- tuen. Neues zu Lukans vorfahren Mütterlicherseits und zu CIL II 195 aus Olisi- po.” Chiron 35 36-46. Trillmich, Walter; Hauschild, Theodor; Blech, Michael; Niemeyer, Hans G.; Nún- nerich-Asmus, Annette (1993) Hispania Antiqua. Dekmäler der Römerzeit Mainz del Rin. Vasconcelos, José Leite de (1913) Religiões da Lusitânia vol. III Lisboa. Vasconcelos, José Leite de (1927-29) “Epigrafia do Museo Etnologico (Belem). Ins- crições romanas” O Archeologo Português 28 209-227. Velázquez Jiménez, Agustin (1988) “Una Helvia, flaminica en Augusta Emerita” Anas 1 125-132. Wiegels = Wiegels, Rainer (1985) Die Tribusinschriften des römischen Hispanien. Ein Katalog Berlín.

Conimbriga, 55 (2016) 221-250 Marc Mayer i Olivé Institut d’Estudis Catalans / Universitat de Barcelona [email protected]

¿LUCIUS CORNELIUS BOCCHUS, UN LUSITANO MIEMBRO DEL ORDO EQUESTER Y ESCRITOR? UNA FELIZ INTUICIÓN DE EMIL HÜBNER REFORZADA Y DIFUNDIDA POR THEODOR MOMMSEN DE NUEVO A EXAMEN.

WAS LUCIUS CORNELIUS BOCCHUS A LUSITANIAN MEMBER OF THE ORDO EQUESTER AND WRITTER? A NEW APPROACH TO AN EMIL HÜBNER’S BRILLIANT INTUITION, REINFORCED AND SPREAD BY THEODOR MOMMSEN. “Conimbriga” LV (2016) p. 251-267 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_13

Abstract: Hübner’s proposal to identify the Bocchi, present as a literary source in Pliny and Solinus, with one of the Cornelii Bocchi do- cumented by the Lusitanian inscriptions has had great fortune and acceptation. The aim of this paper is to notice up to what point this fact is a conjectural supposition and a question that must remain opened despite the considerable progress adrieved.

Keywords: Roman History, Epigraphy, Lusitania, Cornelii Boc- chi, Pliny the Elder, Solinus.

Resumen: La propuesta de Hübner de identificar a los Bocchi, presentes como fuente en Plinio y en Solino, con uno de los Cornelii Bocchi documentados por las inscripciones de Lusitania, ha tenido una gran fortuna y aceptación. La intención de este trabajo es notar hasta qué punto se trata de una cuestión de carácter conjetural que debe quedar abierta, a pesar de los grandes progresos realizados.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Palabras clave: Historia romana, Epigrafía, Lusitania, Cornelii Bocchi, Plinio el Viejo, Solino. ¿LUCIUS CORNELIUS BOCCHUS, UN LUSITANO MIEMBRO DEL ORDO EQUESTER Y ESCRITOR? UNA FELIZ INTUICIÓN DE EMIL HÜBNER REFORZADA Y DIFUNDIDA POR THEODOR MOMMSEN DE NUEVO A EXAMEN*.

Será necesario detenerse antes de entrar, aunque sea brevemente, en analizar el expediente epigráfico de Lucius Cornelius Bocchus1, do- cumentado en diversas ciudades de Lusitania y que tanto ha llamado la atención de los estudiosos en tiempo reciente2. Convendrá para ello fijarnos primeramente en lo que ha sido el eje de los últimos estudios, que se centra en la identificación de este personaje con el Bocchus o, quizás mejor, los Bocchi citados por Plinio el Viejo y Solino. Cabe destacar al respecto en este caso además que fue precisamen- te la autoridad del gran epigrafista e historiador Theodor Mommsen, quien aceptaba una propuesta de su colega el erudito latinista y epigra- fista Emil Hübner, la que dió pie a esta identificación. Un hecho que en el momento actual parece ser considerado indiscutible por parte de los estudiosos, aunque evidentemente en términos filológicos no pueda ser considerado más que como una feliz conjetura que presenta, sin duda, muchos visos de realidad y que proporcionaría, de ser cierta, un notable

* El presente trabajo se ha realizado en el marco del proyecto FFI2015-68571-P, en el seno del Grup consolidat LITTERA 2014SGR63 de la UB y del programa Corpus Inscriptionum Latinarum del IEC. 1 Cf. IRCP ve una mención a los Bocchi en los núms. 185, 188, 189, 205, 207 y 351. El reciente Atlas 2003: 115-116, s.v. Bocchus, señala ya siete inscripciones refe- ridas a los mismos, añadiendo Ficheiro Epigrafico 275: L. Cornelio Boccho L. f. Gal. Salaciensi, hallada en Lisboa. Ahora Encarnação 2011: 189- 201 y Alarcão 2011: 329-336. 2 Cardoso y Almagro 2011. Resulta fundamental por su completa documenta- ción Almagro 2011:25-56, con una bibliografía anterior punto menos que exhaustiva.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 254 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... elemento al no muy extenso elenco de escritores documentados direc- tamente por la epigrafía. El entrecruzamiento entre los Bocchi epigráficos, documentados en la Lusitania, y los citados por los autores latinos, Solino y Plinio el Viejo, si fueran en realidad más de uno, se volvió casi insoslayable cuando Th. Mommsen se inclinó a creer que un Cornelius Bocchus lu- sitano era el escritor citado por Solino3, siguiendo la sugerencia de E. Hübner4.

3 Th. Mommsen, C. Iulii Solini collectanea rerum memorabilium, Berlin 1864, dice en su prefacio a la edición, p. XVII: “Bocchus autem hic Solinianus haud scio an sit Cornelius Bocchus is, quem inter auctores Latinos recenset Plinius in indicibus l. 16. 33. 34. 37 quemque citat cum propter gemmas quasdam Hispanicas omnes (37, 24. 97. 127) tum ad originem Sagunti declarandam conditi secundum Bocchum a Zacyn- thiis anno CC ante excidium Troiae (16, 216). Haec adnotatio licet mire conveniat cum Solinianis, tamen Bocchi apud Plinium relata cum omnia pertineant ad Hispania neque omnia locum habere potuerint in opere chronographico, magis putarim Plinium eius- dem viri libro diverso fortasse de admirandis Hispaniae usus esse”. La segunda edición a cargo del mismo Mommsen aparece al año siguiente con un cambio de editor, C. Iulii Solini collectanea rerum memorabilium, iterum recensuit Th .Mommsen, Berlin 1895, intercala a continuación del excidium Troiae, p. XIV: “quemque probabile est ipsum esse cui dedicati sunt tituli duo in Lusitania inventi (cf. Huebner in Hermae vol. 1 p. 397) C.I.L. II, 35: L. Cornelio C. f. Boccho flam(ini) provin(ciae), tr(ibuno) mil(itum) colonia Scalabitana ob merita in colonia[m] et II, 5184: [L. C]ornelio L. (vel C.) f. [B] occho [flamin]i provinc(iae) [tr(ibuno)]mil(itum) leg(ionis) III Aug(ustae). Bocchiana apud Plinium relata licet in quibusdam mire conveniant cum Solinianis, tamen cum omnia pertineant ad Hispaniam neque omnia locum habere potuerint in opere chro- nographico, magis putarim Plinium non eo usum esse, sed eiusdem viri libro diverso fortasse de admirandis Hispaniae”, p. 25, 9. 34, 11, 36, 2. EE I, p. 182: Referendus est titulus summa cum probabilitate ad Cornelium Bocchum historicum, cuius chronica Solinus excerpsit, postquam eius de admirandis fortasse Hispaniae libro librisve iam Plinius usus est frequenter. PLIN. Nat. 37, 24; 37 97 y 37, 127 y en los índices de los libos 16, 33, 34, 37. 4 Hübner 1866: 397, donde dedica media página al comentario de la noticia sobre Bocchus escritor de la p. XVII de la 1ª ed. de Solino de Mommsen, donde se muestra convencido de la identidad del Bocchus citado por Solino y el presente en Plinio el Viejo para acabar concluyendo después de mencionar los tituli de Salacia: “An der Identität dieses Bocchus mit den Schrifteller wird nicht zu zweifeln sein, den die Zeit der Inschrift (sie gehört ihrer ganzen Fassung nach und weil beim Tribunentitel die Angabe der Legion fehlt in die Augusteische Zeit) und der Fundort (vielleicht war Bocchus von Geburt ein Lusitaner; der Name ist in jenen Gegenden häufig) stimmen durchaus”. Una afirmación taxativa que conviene revisar quizás frente a los datos de la epigrafía.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 255

Los artículos correspondientes de la RE han seguido, implícita o explícitamente, la posición de Mommsen y de Hübner5. Pero, si queremos remontarnos al origen mismo de la cuestión, re- cordemos que Th. Mommsen precisa y repite en ambas y sucesivas edi- ciones que: “Bocchus autem hic Solinianus haud scio an sit Cornelius Bocchus is, quem inter auctores Latinos recenset Plinius in indicibus l. 16. 33. 34. 37 quemque citat cum propter gemmas quasdam Hispanicas omnes (37, 24. 97. 127) tum ad originem Sagunti declarandam conditi secundum Bocchum a Zacynthiis anno CC ante excidium Troiae (16, 216)”. Vemos por consiguiente como Mommsen pone de manifiesto sus reservas sobre la probable identidad entre los dos Bocchi , el de Solino y el de Plinio, ya que no está seguro de que ambos autores hayan tenido en la mano la misma obra de Bocchus, lo que le permite supo- ner que quizás Plinio tuvo en su manos unos “admiranda Hispaniae”, que serían distintos del tratado geográfico que manejaría Solino y que ambas obras podrían incluso depender de dos distintos Bocchi. Resulta claro, sin embargo, que cree que es altamente probable que se trate del personaje mencionado en las dos inscripciones lusitanas que aquí comentaremos. Si nos atenemos ahora al expediente epigráfico, veremos que tam- poco está exento de problemas ya que los personajes que llevarían el nombre de Lucius Cornelius Bocchus serían dos: uno de ellos Luci filius y el otro Caii filius, aunque los epigrafistas a partir de Emil Hübner han tendido, siguiendo la opinión de éste, a reducirlos a un mismo personaje suponiendo un posible error de transmisión. Veamos el origen y la evolución de esta espinosa cuestión. E. Hübner, en sus Additamenta al CIL II6 refiriéndose a una inscripción de Caetobriga, hallada en Troya en 1871, “in situ parietinarum”, cerca de Setúbal, nota que complementaba la noticia epigráfica de Alcácer do Sal, Salacia, en la que un personaje homónimo, pero con distinta filiación, es honrado por lacolonia Scallabitana, Santarém7. A partir de

5 RE 5, s.v. “Bochus 3” (Henze), Stuttgart 1897col. 579, acepta la propuesta de Mommsen sobre el contenido hispánico de su obra recogida por Solino que corresponde a un resumen de otra obra que habría visto también Plinio, y la identificación de Hübner; cf. además RE 7, s. v. “Cornelius 77 L. Cornelius Bocchus” (A. Stein), Stuttgart 1900, col. 1273, que remite al artículo anterior limitándose a consideraciones prosopográficas. 6 Hübner 1872:182-183, núm. 291. 7 CIL II 35.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 256 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... estos datos E. Hübner sospechó que se trataba del mismo personaje y que pudo haber habido un error de copia por parte de Cornide y Clusius, de quienes depende la lectura de este último epígrafe. En la edición de estos mismos fragmentos en CIL II 5184, aunque repite el texto de los additamenta, incluyó una nueva frase en la que manifestaba que se tra- taba efectivamente del mismo personaje y que, en consecuencia, había que tener más en cuenta la posibilidad de error por parte de sus fuentes8: “Itaque Caetobriga, quod erat oppidum vetustum ad mare situm ab Oli- sipone meridiem versus, aut oriundus esse aut praedia ibi habuisse pu- tandus erit Bocchus rerum scriptor ibique etiam statuis honoratus esse a variis oppidis Lusitanis”9. Resulta muy significativo el comentario de Robert Étienne a las inscripciones de los Bocchi al tratar de los flamines provinciales10. Se desprende de dicho comentario que considera la existencia de dos fla- mines distintos: L. Cornelius C. f. Bocchus (CIL II 35 = ILS 2920) y L. Cornelius L. f. Bocchus (CIL II 5184 = ILS 2921), siguiendo para la filiación de este último la lectura sobre fotografía de J. Leite de Vas- concellos11 y descartando así la corrección onomástica como C. f. propuesta por H. Dessau en ILS12 y Henze en RE III, 1897, col. 579, y seguida por PIR2 C 1333, p. 312. R. Étienne se extiende sobre quién podría ser de estos dos personajes la fuente de Plinio el Viejo, condi- ción que generalmente se atribuía al primero (CIL II 35), mientras que él se inclina a creer, de acuerdo con lo expuesto en M. Schanz, y C. Hosius13, que quizás éste no fuera, como quería Mommsen, la fuente de

8 CIL II p. 803, “Puto hominem indicari in utroque titulo eundem, cum dignitates prorsus conveniant”. 9 Hübner 1872: 183. 10 Étienne 1974: 122-124. 11 Vasconcellos 1895: 71. 12 H. Dessau en ILS I, p. 569 propone al comentar CIL II 35 = ILS 2920 y CIL II 5184 = ILS 2921: “Videtur esse Cornelius Bocchus, ex cuius libro aliquo Plinius complura hausit de Hispania (h. n. 16, 246) et potissimum de Lusitania (h. n. 37, 24. 97. 127). Bocchus citatus a Solino (cf. Mommsen praef. Ad Solinum p. XVII) num idem sit incertum”, lo cual viene a demostrarnos de nuevo las vacilaciones que desde un primer momento despertó la conjetura de Mommsen. 13 Schanz, Hosius, Krueger 1935: 646-647 § 440, 4, Duda que los Bocchi de Plinio y Solino sean el mismo autor y en el caso del Cornelius Bocchus fuente de Plinio acoge la hipótesis de la identificación con el personaje de Salacia propuesta anteriormente. Precedentemente Schanz 1901: 256 § 440,4, aceptaba lo propuesto por

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 257

Solino, ya que la obra de este autor vió la luz en el 49 d.C. bajo Clau- dio; hecho que según R. Étienne permitiría suponer al segundo (CIL II 5184 = ILS 2921) como fuente únicamente de Plinio, en época de Nerón o Vespasiano; deja en cambio la posibilidad de que L. Cornelius L. f. Bocchus (CIL II 5184 = ILS 2921) pudiera ser además hijo del primero en una clara imprecisión. Plantea además Étienne la dificultad de iden- tificar a uno de los dos personajes con el mencionado en CIL II 5617, que dependería para aproximarlo a uno u a otro de la identificación de los Caesares cuya praefectura se menciona en la inscripción: Augusto y Tiberio o Vespasiano y Tito. Desde un punto de vista prosopográfico H. Devijver mantuvo con prudencia la distinción de ambos personajes mencionados en las inscripciones14 y no insiste en la propuesta hecha por R. Etienne de considerar un parentesco entre ambos personajes como padre e hijo15. Devijver anota además: “Valde incertum an hic Bocchus (C 228) an alter Bocchus (C 229) idem sit ac “auctor Bocchus” quem Plinius (n.h. 16, 216; 37, 24, 97,127) et Solinus (1, 92; 2, 11; 2, 18) memorant”16, una prudente toma de distancia respecto a un problema de difícil solución. En la misma línea de H. Devijver se había mantenido, creemos que con razón, Y. Le Bohec en su trabajo17. La aportación más substancial a esta cuestión ha sido la de J. D’Encarnação, que con una documentación exhaustiva, replanteó la situación añadiendo una nueva inscripción a la serie y aproximan-

Th. Mommsen y H. Peter. Véase además Peter 1906: CXXIII-CXXV y 94-95 para los fragmentos, donde de nuevo pone de relieve, p. CCXXIII, la autoridad de Mommsen y la contribución de E. Hübner al respecto. 14 Cf. Dvijver 1976: 292, C. 228, para CIL II 2479= 5617; y 292-293 C. 229, para AE 1967, 195 ad CIL II 5184 = ILS 2921 y CIL II 35 = ILS 2920, donde se pregunta si el personaje de la primera inscripción no será el hijo del de la segunda. 15 Étienne 1974:123-124. 16 Devijver 1993: 2080. 17 Le Bohec 1989: 136 , donde lo sitúa en torno a la época de Claudio e indica: “Ce Bocchus a parfois été identifié avec le géographe utilisé par Pline L’Ancien (H.N. XVI, XXXIII.XXXIV et XXXVIII) et par Solin”. Además Devijver 1993: 2078-2080, data L. Cornelius C. f. Bocchus (IRCP núm. 185= AE 1967, 195 = CIL II 35 = ILS 2920) en la época de Tiberio o Claudio (cf. sobre el flaminato de este Bocchus Fish- wick 2002:152, núm. 4) y a L. Cornelius L. f. Bocchus al final del reinado de Nerón o a inicios del de Vespasiano.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 258 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... do otra muy probable18. Recordemos que anteriormente el mismo E. Hübner había corregido la falsa localización y lectura de CIL II 2479 (= 5617) devolviéndola de Valdereis a Alcácer do Sal19 y restituyendo en la misma el nombre L. Cornelius L. f. Boc]chus, siguiendo en ello a J. Leite de Vasconcellos20; la misma ubicación acepta y comenta acertadamente J. D’Encarnação, que prefiere restituir, no obstante, la filiaciónC(ai) f(ilius)21. Este autor, que se ocupa en su corpus asimismo de CIL II 35 y de CIL II 518422, llega a conclusiones que no pueden ser más prudentes: por una parte duda sobre el grado de parentesco que media entre los Bocchi documentados por la epigrafía lusitana y por otro considera una cuestión abierta la hipótesis de que se pueda tratar, en el caso de L. Cornelius C. f. Bocchus, del historiador mencionado por Plinio como sugirió E. Hübner. Sin embargo, la restitución o, si se quiere, corrección que hace a CIL II 5184, entendiendo C(ai) f(ilio) en lugar de L(uci) f(ilio) implicaría en principio la posibilidad de que pue- dan identificarse la mayor parte de los documentos como referidos a un mismo personaje, hecho que del texto del autor no se desprende, ya que comenta que la homonimia no puede ser considerada como un criterio irrefutable y que la hipótesis de E. Hübner no deja de ser seductora, aunque sin ir más allá en su comentario. Hay que señalar también que ya con anterioridad F. Bandeira de Almeida, había documentado CIL II 5184 en la Quinta do Solar da Sempre Noiva cerca de Evora, y había propuesto la identidad con la de Alcácer do Sal, discutiendo en cambio que pudiera atribuirse al histo- riador Cornelius Bocchus23. E. Hübner parece haber preferido suponer la forma L(uci) f(ilio), a pesar de las dudas de Augusto Soromenho, que le mandó la copia del texto, respecto a la filiación, proponiendo en cambio, que el error pudiera radicar quizás en una mala copia por parte

18 IRCP 188, p. 262 (= AE 1985, 499, cf. Lázaro Faria 1984: 14-15) y núm. 205, p. 205, respectivamente. 19 Hübner 1899: 356, núm. 4. 20 Vasconcellos 1895: 69-76 y Vasconcellos 1914: 306-307. 21 IRCP 189, pp. 262-264 (= CIL II 2479 y 5617) 22 IRCP 185 (= CIL II 35, ILS 2920), pp. 257-258; y 207 (= CIL II 5184, AE 1967, 195 e ILS 2921), pp. 276-277. 23 Bandeira Ferreira 1956: 87-105; cf. IRCP, 277, núm.185, para esta cuestión y la atribución errónea de la pieza por Espanca 1966: 369 al templo de Santana de Campos en Arraiolos.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 259 de Cornide de CIL II 35, donde leyó C(ai) filio24. La normalización en la edición de estos textos por parte de E. Hübner acepta la posibilidad también de una adecuación de todos los personajes a la filiación L(uci) f(ilius), prueba de ello es la integración última que hace de CIL II 2479 (= 5617), donde prefiere tambiénL(uci) f(ilius) e insiste de nuevo en la posibilidad de que se trate del historiador citado por Plinio y Solino y en que los Caesares Augusto y Tiberio serían aquellos de los cuales Boc- chus fue praefectus25. Respecto a la prefectura de los emperadores son importantes G. Mennella26 y S. Demougin que opina que L. Cornelius Bocchus fue prefecto de Nerón y Druso Césares, los príncipes caídos en desgracia en 31 d.C. por parte de Tiberio27. Devijver, como ya hemos señalado, discrepó de la posición que consideró implícita en el corpus de J. D’Encarnação28. La posición unitaria entre ambos Bocchi, sin embargo, fue seguida por L. A. Cur- chin que, aceptando la filiaciónC(ai) f(ilius), mantiene como muy pro- bable la identificación del personaje con el historiador romano citado en las obras de Plinio y De Solino, que permitirían, en su opinión, una datación en el reinado de Claudio29. A. Stein asume también que se trate de un mismo personaje y que el L. f. de CIL II 5184, sea un error, y no ve problema en que se esté ante la fuente de Plinio para temas hispáni- cos y sobre todo de Lusitania y, como ya notó Th. Mommsen, considera menos probable que sea la fuente utilizada por Solino30. Un análisis prosopográfico más reciente abre de nuevo la posibili-

24 Hübner 1872: 182-183. 25 Hübner 1899: 356. 26 Mennella 1989: 379 y 388, donde señala que se trata del único eques conoci- do en Hispania que ejerció el cargo de praefectus Caesarum. Cf. además Didu,1983- 1984:63-64, donde parece pensar en un solo personaje y que se tratase de un cargo de Scallabis, recordada como Praesidium Iulium por Plinio (nat. 4, 22,117); los Césares serían en su opinión Gayo y Lucio. 27 Demougin 1992: 424-425. 28 Devijver 1993:2080, dice literalmente: “nobis duo tribuni diversi videntur” refiriéndose aCIL II 5184 y al hecho de que J. d’Encarnacão en IRCP abriera la posibi- lidad, fortasse, de una identidad entre ambos. 29 Curchin 1990: 177, núm 389, que considera también relacionable con el mis- mo personaje, como había ya propuesto IRCP, su núm. 390 (= IRCP, 188); significati- vamente Curchin precisa: “Some confusión has arisen from the filiation “L. f.” in CIL II 5184”, lo cual justificaría su opción por leerC. f. 30 PIR2 núm. C 1333, p. 312, (A. Stein).

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 260 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... dad de ver tres generaciones de Cornelii Bocchi31: un primer personaje sería Gaius Cornelius Bocchus, CIL II 2479 = 5617 = EE VIII 4 = IRCP 189, documentado en Aquae Flaviae, praefectus Caesarum por dos veces y praefectus fabrum cinco veces, que viviría en el reinado de Tiberio y que es mencionado como flamen perpetuus de la colonia de Scallabis. El segundo sería un Lucius Cornelius Gai filius Bocchus, CIL II 35 = ILS 2920 = IRCP 185, atestiguado en Scallabis, que fue tribuno militar en el reinado de Claudio. El tercero sería Lucius Cornelius Luci filius Bocchus, que habría sido tribuno militar de la legio III Augusta en el reinado de Nerón o en el de Vespasiano, al cual documenta una ins- cripción, CIL II 5184 = ILS 2921 = IRCP 207, de Caetobriga, Setúbal32. S. Demougin había propuesto, como ya hemos recogido, aceptar la identidad de los dos primeros Cornelii Bocchi citados con el tam- bién documentado en Salacia, IRCP 18833, y aceptaba la distinción de R. Étienne, siguiendo a J. Leite de Vasconcellos, entre los dos L. Cornelii Bocchi en función de su distinta filiación. Lo que implicaría un largo cursus municipal antes de llegar al ordo equester como ha notado F. Des Boscs-Plateaux, la cual ve dificultades en la atribución al mismo personaje de IRCP 188, que podría convenir también al más reciente de los Cornelii Bocchi en función de la falta de filiación y de la mención del IIviratus. Esta estudiosa termina su argumentación dicien- do que uno de los dos personajes, si se acepta la reducción a dos, sería el Bocchus citado por Plinio y recuerda que también Solino se refiere como fuente a un Bocchus en su obra publicada en el año 49 d.C.34 Sir Ronald Syme no dejó de hacer también su contribución al ex- pediente de los Bocchi lusitanos al tratar de las fuentes de Plinio y cree evidente que la fuente pliniana fue L. Cornelius C. f. Bocchus y mantie- ne, a pesar de la lectura de R. Étienne y J. Leite de Vasconcellos, que el personaje honrado en Salacia por la colonia Scallabitana ( CIL II 35 = ILS 29200 = IRCP 185) y el presente en la inscripción de Caetobriga

31 Des Boscs-Plateaux 2005:629-630, núm. 160. 32 Des Boscs-Plateaux 2005: 630 y 643, núm. 178. 33 Demougin, 1992: 423-426, núms. 512-513, donde considera possible que uno de los dos Bocchi pueda ser el citado por Plinio y por Solino. Además Demougin 1988: 837, núms. 512-513. 34 Des Boscs-Plateaux 2005: 630-631, donde hay un cambio en la numeración de los testimonios que puede inducir a error.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 261

(CIL II 514 = ILS 2921 = IRCP 207) son el mismo individuo35. H. G. Pflaum con su habitual perspicacia se limita a hacer constataciones prosopográficas sobre la dificultad de la secuencia de cargos, pero cree que sea un solo personaje el que citan la inscripción de Salacia y la de Caetobriga a las cuales nos acabamos de referir36 Una reciente contribución de J. D’Encarnação propone identifi- car con altísima probabilidad cuatro distintos Cornelii Bocchi documen- tados37. Con singular agudeza J. de Alarcão propone tres stemmata distintos para establecer las relaciones familiares de los Cornelii Bocchi y señala la dificultad de deducir quién pudo ser el escritor entre los mismos38. Los estudios sucesivos de J.C. Saquete y de M. González Herrero sobre una nueva inscripción emeritense, de dificil integración, y bien publicada por A. U. Stylow y A. Ventura y c o m e n t a d a p o r D. Fishwick ha ampliado considerablemente el horizonte de la cues- tión39. Los Cornelii Bocchi en su condición de caballeros lusitanos han sido objeto también de contribuciones recientes específicas más allá de su presencia en los repertorios generales40. La comprensión de su importancia económica en la Lusitania ha avanzado también enorme- mente a la luz de los hallazgos arqueológicos41. Las hipótesis sobre este tema se encabalgan, como podemos ver, y cobran fuerza a partir de datos conjeturales tomados como premisas. La cuestión de los Bocchi citados por Plinio y por Solino es de por sí espinosa y puede no responder a la existencia no sólo de un único autor sino a la de dos42. El hecho de considerar que uno de ellos, el citado por

35 Syme 1979: 759-760, esp. p. 760 nota 3. 36 Pflaum 1965: 93. 37 Encarnação 2011: 196 38 Alarcão 2011: 329-336 y esp. 335. 39 Stylow y Ventura 2009: 486-489, núm. 11 y p. 521; Saquete 2011: 163- 172; González Herrero 2013: 403-415. Para el flaminato provincial de los Bocchi Delgado Delgado 1999: 447-449, con una buena bibliografía, y Delgado Delgado 2011: 240. Además Fishwick 2011: 252-254. 40 González Herrero 2002:33-57; González Herrero 2004: 368-370; González Herrero 2006: 33-45; González Herrero 2011:245-258; Caballos Rufino 1998: 214-216, núm.5, y Caballos Rufino 1999: 491, núm.L 5, identificándolo también con la fuente de Plinio el Viejo y Solino. 41 Morais 2007: 133-136; Morais y Bernardes 2011: 123-131. 42 Un estado de la cuestión sobre la presencia de Cornelius Bocchus en Plinio el

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 262 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus...

Plinio, o ambos puedan identificarse con uno de los Cornelii Bocchi lusitanos es una propuesta interesante, pero hay que considerar que este hecho no tendría otra posibilidad de prueba más allá de la condición de hispana propuesta para la fuente, o fuentes, a partir de los textos espe- cialmente de Plinio y de Solino, que fueron atribuidos a la autoría de un Bocchus lusitano por primera vez por E. Hübner, que fue seguido por Th. Mommsen43. A partir de esta hipótesis de origen hispano de la fuente o fuentes, pesó en ambos estudiosos evidentemente la homoni- mia de la posible fuente, citada por el cognomen en Solino y por nomen y cognomen en el caso de Plinio el Viejo, con los miembros, dos o tres, conocidos de la familia de Salacia, sin que se pudiera suponer cuál de ellos en ausencia de otros datos. Nos movemos por consiguiente en un terreno conjetural, donde se encabalgan hipótesis plausibles en sí mis- mas pero que no pueden tomarse como certezas. El nomen Cornelius es de una gran frecuencia y el cognomen Bocchus es en verdad relativa- mente poco común y con una dispersión geográfica limitada a la Lusita- nia en las provincias occidentales europeas del imperio romano, aunque no cabe duda de que en la Lusitania, donde parece tener una mayor incidencia, está vinculada principalmente a una sola familia, pero te- nemos documentado también Boccus44. Por esta razón la dispersión en Lusitania de los Cornelii Bocchi ha sido también objeto de un reciente trabajo45. A pesar de ello, en términos comparativos, el resultado no per- mite situar en aquella zona de forma exclusiva, y mucho menos segura, a los Bocchi, basta solo recordar a los sucesivos reyes de Mauritania de este nombre por no dar más que un ejemplo sobradamente conocido, sobre el que no vale la pena insistir46.

Viejo en Guerra 2011: 293-305; para la presencia de un Bocchus como fuente de Solino, Fernández Nieto 2011: 307-318, y también Alvar Ezquerra 2011: 259-274, para la figura literaria, que aceptan todos ellos la identidad delBocchus escritor con uno de los Bocchi lusitanos. 43 Así es aceptado por la mayoría de los estudiosos sobre el tema cf. Da Silva Fernandes 2002: 155-171; Almagro Gorbea 2010: 407ss; Almagro 2011: 25-56. Recordemos a título de curiosidad el famoso arículo de Leite de Vascellos 1923-1925, 25, donde recuerda la figura deCornelius Bocchus y se remite a su publicación de 1895. Véase además la nota anterior. 44 CIL II 769, de Coria, cf. Atlas:, 116; y CIL II 410, de Viseu, como ejemplo cercano. 45 D’Encarnação 2011:189-201, con un excelente estado de la cuestión. 46 Para la dispersión europea occidental de los Bocchi cf. Lőrinz, Redő 1994:05.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 263

En suma, han pasado más de 30 años y debemos mantenernos to- davía, a pesar de los muchos esfuerzos y conjeturas bien fundamentadas pero no probadas, en la prudente conclusión de José d’Encarnação: “Enquanto outros dados não surgirem, essa questão deberá mantener-se em aberto (refiriéndose al Bocchus citado por Plinio), não sendo tam- bém fácil aseverar qual o parentesco existente entre este (IRPC 185) e os Bocchi dos nos 189 e 207”47. No cabe duda que sobre todo la identificación entre sí de los Boc- chi, fuentes respectivas de Plinio y Solino, debe de restar abierta, inclu- so coincidiendo en valorar el conocimiento hispánico de ambas fuentes y la probable naturaleza lusitana de al menos el autor de una de ellas. Más movedizo es todavía el terreno de la identificación de ambos auto- res o de uno de ellos con uno de los Bocchi lusitanos, que es una posibi- lidad que no puede descartarse de plano, pero que dista mucho de tener elementos de prueba fehacientes. Recordaremos por último que Plinio en su Historia natural, 37, 7, 97, dice: Bocchus et in Olisiponensi erui scripsit, magno labore ob argillam soli adusti, refiriéndose a la explo- tación de los carbunculi; o bien en 37, 2, 24: Cornelius Bocchus et in Lusitania perquam mirandi ponderis in Ammaeensibus iugis, depressis ad libramentum aquae puteis, tratando en este caso del crystallum. Am- bas referencias han conducido, sin duda incluso razonablemente, a la situación actual, pero no establecen por una parte la ligazón necesaria con el Bocchus citado en Solino, ni tampoco con los Cornelii Bocchi lusitanos que conocemos, por mucho que podamos pensar que la fuen- te de Plinio debió de ser muy cercana a los mismos en función de su conocimiento de la Lusitania e incluso de la zona donde éstos parecen haber desenvuelto su actividad. En el estado actual de las cosas sólo una nueva profundización prosopográfica de carácter más general permitirá quizás obtener nuevas precisiones48, pero deberemos convenir que por el momento falta todavía el eslabón de unión que pueda asegurar más sólidamente la cadena.

Cf. ahora López Castro 2011: 113-122, para el posible origen fenicio del cognomen Bocchus. 47 IRCP: 258. 48 Muy probablemente, mutatis mutandis, en la línea iniciada por Syme 1979: 742-773.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 264 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus...

No podemos dudar en afirmar, para concluir, que si no alcanzamos siquiera, en el estado de nuestros conocimientos, a identificar entre ellos a los dos Bocchi citados por las fuentes literarias, mucho menos todavía resulta posible intentar relacionar al menos uno de ellos con uno de los Bocchi documentados epigráficamente en Lusitania, que presentan además a su vez problemas por ahora irresueltos, tanto de individuación como de relación entre ellos a la vista de los documentos inscritos. No cabe duda de la validez de los estudios recientes sobre el tema que han aportado nuevos puntos de vista en apoyo de la intuición de Hübner recogida por Mommsen. Nuestra aportación no pretende ser más que una llamada de atención crítica ante el peso, que creemos excesivo, del criterio de autoridad en esta doble cuestión, literaria y epigráfica, donde hay un confín muy sutil entre el verum y el aptum.

BIBLIOGRAFÍA

Alarcão, J. de (2011), “Os Cornelii Bocchi, Tróia e Salacia”, en Cardoso y Almagro 2011: 323-347. Almagro Gorbea, M. (2010), “Lucio Cornelio Boco, Turdetano de Salacia y autor de la Edad de Plata de la Literatura Latina”, Estudos Arqueológicos de Oeiras, 18: 287-332. Almagro Gorbea, M. (2011), “L. Cornelius Bocchus, político y literato recuperado del olvido”, en Cardoso y Almagro 2011: 25-56. Alvar Ezquerra, A. (2011), “Más notas de asedio a Lucio Cornelio Boccho” en Car- doso y Almagro 2011: 259-274. Atlas (2003)= Grupo Mérida, Atlas antroponímico de la Lusitania romana, Mérida, Burdeos. Caballos Rufino, A. (1998), “Los equites y la dinámica municipal de la Lusitania. I. Catálogo prosopográfico”, en L. Hernández Guerra y L. Sagredo San Eustaquio eds., El proceso de municipalización en la Hispania romana. Contribuciones para su estudio, Valladolid: 205-233. Caballos Rufino, A. (1999), “Los caballeros romanos originarios de las provincias de Hispania. Un avance”, en L’ordre équestre. Histoire d’une aristocratie (IIe siècle a. J.-C. – IIIe siècle ap. J.-C.). Actes du Colloque international organisé par Ségolène Demougin, Hubert Devijver (†) et Marie-Thérèse Raepsaet Charlier (CEFR, 257), Roma: 464-512. Cardoso, J.L. y Almagro-Gorbea, M. eds. (2011), Lucius Cornelius Bocchus escritor lusitano da Idade da prata da Literatura Latina. Actas do Coloquio Internacio- nal celebrado em Troia (Outubro de 2010), (Bibliotheca Archaeologica Hispana, 36), Lisboa-Madrid.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 265

Curchin, L.A. ( 1990), The Local Magistrates of Roman Spain (Phoenix, Suppl. Vol. XXVIII) Toronto, Buffalo, London. Delgado Delgado, J.A. (1999), “Flamines provinciae Lusitaniae”, Gerión, 17: 433- 461. Delgado Delgado, J.A. (2011), “El flaminado local y provincial en Lusitania. Con- tribución a la historia política, social y religiosa de una provincia hispana”, en Cardoso y Almagro 2011: 231-244. Demougin, S. (1988), L’ordre équestre sous les julio-claudiens (CEFR 108), Roma. Demougin, S (1992), Prosopographie des chevaliers romains julio-claudiens (CEFR, 153), Roma. Des Boscs-Plateaux, F. (2005), Un parti hispanique à Rome? Ascension des élites hispaniques et pouvoir d’Auguste à Hadrien (27 av. J.-C. – 138 ap. J.C.), (Biblio- thèque de la Casa de Velázquez, 32), Madrid. Devijver, H. (1976), Prosopographia militiarum equestrium quae fuerunt ab Augusto ad Gallienum. Pars prima. Litterae A – I (Symbolae Facultatis Litterarum et Philosophiae Lovaniensis, series A, vol. 3), Leuven. Devijver, H. (1993), Prosopographia militiarum equestrium quae fuerunt ab Augusto ad Gallienum. Pars quinta. Supplementum II (Symbolae Facultatis Litterarum et Philosophiae Lovaniensis, series A, vol. 3), Leuven. Didu, I. (1983-1984),“I praefecti come sostituti di imperatori, cesari et altri notabili eletti alle più alte magistrature municipali”, Annali della Facoltà di Lettere e Filosofia dell’Università di Cagliari, N.S. 5: 53-91. Encarnação, J. d’ (2011), “Cornelii Bocchi de Olisipo, Scallabis e Salacia”, en Car- doso y Almagro 2011: 189-201. Espanca, T. (1966), Inventario artístico de Portugal, vol. VII, Concelho de Évora, Lisboa. Étienne, R. (1974), Le culte impérial dans la Péninsule Ibérique d’Auguste à Diocle- tien, Paris (segunda edición,la primera es de 1958), (BEFAR, 191), Paris. Faria, J.C. Lázaro (1984), Ficheiro Epigráfico, 9: 14-15. Fernandes, L. da Silva (2002), “Cornelius Bocchus, auctor Lusitanus e notável de Salacia”, en A.A. do Nascimento ed., De Augusto a Adriano. Actas do Colóquio de Literatura Latina (Lisboa 2002), Lisboa: 155-171. Fernández Nieto, F.J. (2011), “Boco y Solino. L. Cornelius Bocchus en la Collectanea de Iulius Solinus”, en Cardoso y Almagro 2011: 307-322. Ferreira, F. Bandeira (1956), “A inscrição lusitano-romana da Quinta da Sempre- Noi- va (Arraiolos) e o problema dos Cornelii Bocchi”, O Arqueologo Português, n.s. III: 87-105. Fishwick, D. (2002), The Imperial Cult in the Latin West, 3,2, Provincial Cult: The Provincial Priesthood, (RGMR, 146), Leiden. Fischwick, D. (2011), “L. Cornelius L. f. Bocchus and the Office of [curator templi Divi] Augusti”, ZPE, 178: 252-254. González Herrero, M. (2002), “Contribución al estudio prosopográfico de los equi-

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 266 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus...

tes lusitanorromanos: el cursus honorum protagonizado por el tribuno Lucius Cornelius Luci filius Galeria Bocchus”, Aquila legionis, 2:33-57. González Herrero, M. (2004), “Prosopografía de los praefecti fabrum originarios de Lusitania”, RPortA, 7: 368-370; González Herrero, M. (2006), Los caballeros procedentes de la Lusitania romana. Estudio prosopográfico, Madrid. González Herrero, M. (2011), “La figura de L. Cornelius L. f. Gal. Bocchus entre los praefecti fabrum originarios de Lusitania”, en Cardoso y Almagro 2011: 245-258. González Herrero, M. (2013), “L. Cornelius L. f. Gal. Bocchus y L. Fulcinius Trio: nuevas reflexiones”,REA, 115: 403-415. Guerra, A. (2011), Cornélio Boco. Literato lusitano e Plinio-o-Velho”, en Cardoso y Almagro 2011: 293-306. Hübner, E. (1866), “Cornelius Bocchus”, Hermes, 1: 397. Hübner, E. (1872), “Additamenta ad Corporis volumen II”, Ephemeris Epigraphica, I, Berlin:182-186. Hübner, E. (1899)“Additamenta nova ad Corporis volumen II”, Ephemeris Epigraphi- ca, VIII, Berlin: 351-620. ILS = H. Dessau, Inscriptiones Latinae Selectae, vol. I, Berlin 1954 ( editio secunda). IRCP = J. d’Encarnação, Inscrições romanas do conventus Pacensis. Subsídios para o estudo da romanização, Coimbra 1984. Le Bohec, Y. (1989), La troisième Légion Auguste (Études d’Antiquités Africaines), Paris. López Castro, J.L. (2011), “Bocchus y la antroponimia fenicio-púnica”, en Cardoso y Almagro 2011: 113-122. Lőrinz, B. Redő, F. (1994), Onomasticon provinciarum Europae Latinarum. Vol. I: Aba – Bysanus, Budapest (Archaeolingua, 3). Mennella, G. (1989),“I prefetti municipali degli imperatori e dei cesari nella Spagna Romana”, en C. Castillo ed. (con la col. de J.M. Bañales, R. Martínez y R. Serra- no), Actas del Coloquio Internacional A.I.E.G.L. sobre Novedades de Epigrafía Jurídica Romana en el último decenio, Pamplona: 377-389. Morais, R. (2007), “Contributo para o estudo da economia na Lusitânia romana”, Sa- guntum, 39: 133-140. Morais, R. Bernardes, J.P. (2011), “L. Cornelius L. f. Bocchus e a economia da Lusi- tânia”, en Cardoso y Almagro 2011: 123-131. Peter, H (1906), Historicorum Romanorum reliquiae, vol. II, Leipzig (nos hemos ser- vido de la reimpresión de Stuttgart 1967). Pflaum, H.-G. (1965), “La part prise par les chevaliers romains originaires d’Espagne à l’administration imperiale”, en Les empereurs romains d’Espagne. Madrid - Ita- lica 31 mars – 6 avril 1964, Paris (Colloques internationaux du Centre National de la Recherche Scientifique. Sciences humaines). Saquete, J.C. (2011), “L. Fulcinius Trio, L. Cornelius Bocchus y el templo del divus Augustus en Mérida”, Habis, 42: 163-172.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Marc Mayer i Olivé Lucius Cornelius Bocchus... 267

Schanz, M. (1901), Geschichte der römischen Literatur bis zum Gestzgebungswerk des Kaisers Justinian (Handbuch der Klassischen Altertumswissenschaf, VIII, 2), München. Schanz, M. Hosius, C. Krueger, G. (1935), Geschichte der römischen Literatur bis zum Gestzgebungswerk des Kaisers Justinian (Handbuch der Klassischen Alter- tumswissenschaf, VIII, 2), München. Stylow, A.U., Ventura Villanueva, Á. (2010), “Los hallazgos epigráficos”, en R. Ayerbe Vélez, T. Barrientos Vera, F. Palma Garcias eds., El foro de Augusta Eme- rita. Génesis y evolución de sus recintos monumentales (Anejos de Archivo Es- pañol de Arqueología, LIII), Madrid: 453-523 Syme, R. (1979), “Pliny the Procurator”, en R. Syme, Roman Papers II ( ed. por E. Badian), Oxford: 742-773 (= Harvard Studies in Classical Philology, LXXIII, 1969: 201-236). Leite de Vasconcellos, J. (1895), “Excursão arqueológica a Alcacer-do-Sal”, O Ar- queólogo Português, I: 65-92. Leite de Vasconcellos, J. (1914), “Excursão arqueológica à Estremadura Transtaga- na”, O Arqueólogo Português, XIX: 300-323. Leite de Vasconcellos, J. (1923-1925), “História da língua portuguesa. Origem e vida externa”, Revista Lusitana, XXV, pp. 5-28.

Conimbriga, 55 (2016) 251-267 Página deixada propositadamente em branco Marta González Herrero Universidad de Oviedo [email protected]

EPITAFIOS-DENUNCIA DEL HOMICIDIO DE DOS MUJERES ROMANAS

EPITAPH AS INSTRUMENT OF ACCUSATION AGAINST THE KILLER OF TWO ROMAN WOMEN “Conimbriga” LV (2016) p. 269-287 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_14

Resumen: Se estudian dos epitafios que presentan una interesante particula- ridad: en ellos se acusa a quien ha dado muerte a la persona falle- cida violenta y voluntariamente. En ambos casos, los dedicantes fueron los parientes masculinos de dos mujeres, Iulia Maiana y Prima Florentia, quienes perdieron la vida a manos de sus mari- dos en Lugdunum y Roma respectivamente.

Palabras Clave: epigrafía latina, venganza, violencia de género, Iulia Maiana, Prima Florentia.

Abstract: The aim of this paper is to study two unusual epitaphs that contain an accusation against the person who killed the deceased. The dedicators were male relatives of the female victims, Iulia Maia- na and Prima Florentia who were murdered by their husbands in Lugdunum and Rome.

Keywords: Latin Epigraphy, Gender Violence, Revenge, Iulia Maiana, Prima Florentia.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Página deixada propositadamente em branco EPITAFIOS-DENUNCIA DEL HOMICIDIO DE DOS MUJERES ROMANAS1

Introducción

Con todo epitafio se trata de perpetuar el recuerdo de la persona fallecida para que no muera del todo al seguir viva en la memoria de los demás. En la Antigüedad, la función comunicativa propia de la epi- grafía condiciona la forma de transmitir este mensaje (Donati y Susini 1986 65-78), al estar el monumento funerario concebido para ser ex- puesto en un espacio público ante los ojos de todo aquel que se detiene a contemplarlo. Consecuentemente la grabación de una inscripción funeraria es una oportunidad inmejorable para presentar una imagen ideal del difun- to en un lugar representativo para él, pero también para exponer la de los familiares que cumplen con su deber hacia el ser querido. Se estudian aquí dos epitafios excepcionales en el conjunto de la epigrafía latina recogida en el territorio del Imperio romano. Ambos presentan la interesante particularidad de que conmemoran a la per- sona fallecida, pero a la vez se acusa a quien le dio muerte voluntaria y violentamente. En ellos se aprecian ciertas similitudes que les ha- cen merecedores de un estudio particular: se denuncian crímenes en el seno de la familia y los dedicantes son los parientes masculinos de las víctimas.

1 El presente trabajo se enmarca dentro del proyecto de I+D, “Marginación política, jurídica y religiosa de la mujer durante el Alto Imperio Romano (siglos I-III)”, financiado por el Ministerio de Economía y Competitividad dentro del programa estatal de fomento de la investigación científica y técnica de excelencia (HAR2014-52725-P).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 272 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio....

El epitafio de Iulia Maiana (Fig. 1)

El monumento funerario que recuerda la muerte de Iulia Maiana fue hallado en Lugdunum, capital de la Galia Lugdunense (CIL XIII, 2182; Pavón Torrejón 2011 253-262). Se trata de un precioso cipo de piedra caliza descubierto en 1856 en el Jardín des dames de Saint-Mi- chel (Saint-Irénée, Lyon). Hoy está depositado en el Musée gallo-ro- main de Lyon-Fourvière (sala 15, nº 326). El tipo de letra, el uso de un superlativo no habitual (crudelissi- mus) y la dedicación bajo ascia 2 – fueron grabadas dos afrontadas entre las siglas D(is) M(anibus) – permiten datar el monumento entre mediados del siglo II y las primeras décadas del siglo III. d(is) m(anibus) / et qvieti aeternae / ivliae maianae femi/nae sanctissimae manv / 5 mariti crvdelissim(i) inter/fect(ae) qvae ante obiit qvam fatvm / dedit cvm qvo vix(it) ann(os) xxviii ex / qvo liber(os) procreav(it) dvos pvervm / ann(orum) xviiii pvellam annor(um) xviii / 10 o fides o pietas ivl(ius) maior fra/ter sorori dvlciss(imae) et [ing]envinivs / ianvarivs fil(ius) eivs p(onendum) [c(urauerunt) et sv]b a(scia) d(edicauerunt)

Consagrado a los dioses Manes y al reposo eterno de Iulia Maia- na, mujer muy virtuosa muerta antes del momento señalado por el des- tino asesinada por la mano de un muy cruel marido. Vivió con él vein- tiocho años y tuvo de él dos hijos, un chico de dieciocho y una chica de diecinueve años. ¡Oh, Fidelidad sagrada! ¡Oh, Piedad! Iulius Maior para su muy querida hermana y el hijo de ésta Ingenuinius Ianuarius se preocuparon de poner(lo) y (lo) dedicaron bajo ascia.

La única dificultad interpretativa que la inscripción plantea es de-

2 El significado que la representación del ascia tiene en los monumentos sepulcrales ha suscitado un debate historiográfico comentado pormenorizadamente por Encarnação (2008 399-403). La aportación del epigrafista portugués ha sido fundamental por haber llamado la atención sobre la palabra francesa asse (en flamenco essette), con la que se identifica un instrumento empleado por el barrilero para preparar los cajones de madera, muy similar al ascia que aparece en los túmulos romanos. Objeto de uso corriente, el ascia se fue convirtiendo en un símbolo protector del difunto, cuyo cuerpo o espíritu descansa bajo la madera moldeada.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 273 terminar cuál es la función sintáctica del término crudelissim. Hay va- rias posibilidades: a) se trata del adverbio de modo crudelissim(e) que expresa la crueldad con la que el marido de Iulia Maiana la mató (muy cruelmente). b) es un adjetivo en grado superlativo que acompaña al sustantivo manus (por la crudelísima mano). c) es un superlativo que califica amaritus (por la mano de un muy cruel marido). Nótese cómo hay una intención clara de llamar la atención sobre la figura del marido cuando se elabora la imagen de la difunta: estuvo siempre junto a él (cum quo) y de él (ex quo) tuvo dos hijos. Por ello, se ha optado por que crudelissimus también se refiera a la persona para contraponer la crueldad del esposo (maritus crudelissimus) al virtuosis- mo de la difunta (femina sanctissima). Se logra un equilibrio epigráfico con el que también se potencia el rechazo hacia el homicida. Iulia Maiana fue recordada como madre y abnegada esposa, una mujer que estuvo casada veintiocho años y dio dos hijos a un marido que acabó matándola. La difunta cumplió con el papel que la sociedad romana esperaba de una mujer por el hecho de serlo: que compartiera su vida con un único hombre (uniuira) y que procreara hijos legítimos, es decir, habidos dentro del matrimonio.3 Era lo deseable para toda femina santissima, como bien ilustran las palabras que Marcial dirige a la bretona Claudia Rufina (Epigramas XI, 53): “Gracias a los dioses que, fecunda, dio hijos a su virtuoso marido, y que, siendo aún joven, espera tener yernos y nueras. Quieran los dioses que se agrade con un solo marido ¡y goce siempre de la presencia de sus tres hijos!”.

3 Reproduciendo así honorables ciudadanos, a quienes sus madres debían transmitir el mos maiorum, Cenerini (2002 26-28). Es esta una forma completamente diferente de ejercer la ciudadanía a la de los hombres, Martínez López (1999 143-162; Cid López (2002 11-50; 2009 125-152). Igual que ellos engrandecen su dignitas participando en la gestión de la ciuitas, la mujer romana conquista su dignidad cuando atiende la llamada masculina para ser madre, momento en que se percibe que la personalidad femenina se encuentra en un estado cuasi divino, Castresana (1993 15). Sobre el matrimonio romano la bibliografía es muy prolífica. Especialmente recomendable es el trabajo de Treggiari (1991) por la riqueza de fuentes jurídicas, literarias y epigráficas y el de Astolfi (2002) por las nuevas perspectivas que ofrece a la hora de abordar el estudio de esta institución.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 274 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio....

El ara fue dedicada por dos personas: Iulius Maior, hermano de la difunta, y el hijo de ésta Ingenuinius Ianuarius. En el estudio que Pilar Pavón Torrejón (2011 254-255 nota 4) dedica a este documento, llama la atención sobre una inscripción votiva hallada en la Galia Bél- gica (CIL XIII, 8789) en la que figura un homónimo del hijo de Iulia Maiana. Lo poco común de su nombre gentilicio lleva a la autora a no descartar que pueda tratarse de la misma persona, pero los indicios no son concluyentes. Este Ingenuinius Ianuarius dedicó un altar pro salute de sus hijos en uno de los templos consagrados a la diosa Nehalennia en el mar del Norte, cerca de Domburg a algo más de seiscientos Kilómetros de Lugdunum. Atendiendo a la onomástica todo apunta a que el dedicante era originario de esta región, ya que es precisamente en la Galia Bélgica donde se concentran los escasos testimonios de su gentilicio, un nomen de tipo germánico formado a partir del patronímico Ingenuus.4 La condición de hijo y que su madre fuese enterrada en Lugdunum apuntan a que la familia de Iulia Maiana estaba establecida en esta ciu- dad, donde sin embargo no contamos con más testimonios de miembros de la gens Ingenuinia. Sí hay uno a trescientos Kilómetros de distancia, concretamente en Autessiodurum (Auxerre), donde Ingenuinia Aurelia y sus dos hijos dieron sepultura al cabeza de familia, un notable llama- do Aurelius Demetrius (CIL XIII, 2924, p. 35; CAG 10 142). Estos dos epígrafes recogidos en la Galia Lugdunense revelan que miembros de la gens Ingenuinia emigraron a esta provincia desde la no muy lejana Galia Bélgica. Podríamos pensar que el hijo de Iulia Maiana visitó el templo lo- calizado en la tierra de origen de su familia paterna. Tal vez fueron razones de índole económica las que justifican su presencia en esta re- gión puesto que Nehalennia es una divinidad marina protectora de los viajeros y de sus intereses (Green 1995 69), a la que se rindió culto en una zona de tránsito comercial entre Bretaña y las ciudades germanas. En contra de esta posibilidad está la constatación de que los cultores de la diosa que acudieron a sus templos eran originarios de ciudades próxi- mas y en su onomástica hay un buen número de gentilicios de idéntica

4 Mócsy y Lórincz (1999-2002 193). Los autores recogen cinco más: tres en la Galia Bélgica (CIL XIII, 7981, CIL XIII, 8424 y CIL XIII, 8789), uno en Italia (CIL V, 6839) y otro en la Lugdunense referenciado a continuación (CIL XIII, 2924).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 275 formación que Ingenuinius (Raepsaet-Charlier 2003 292 nota 6): Te- rinius, Victorinius, Vitalinius, Iucundinius, Amminius, Auerinius, Cari- nius, Catullinius, Iustinius, Maximinius, Ottinius y Similinius La datación del ara poco clarifica ya que fue grabada durante la primera mitad del siglo II (Réville 1873-75 18-20) y los templos con- sagrados a Nehalennia en la costa del mar del Norte estuvieron activos entre 150-250 (Stuart y Bogaers 2001), precisamente cuando el hijo de Iulia Maiana dedicó el epitafio.

El epitafio de Prima Florentia (Fig. 2)

Las letras legibles en el epitafio de Prima Florentia fueron basta- mente ejecutadas sobre una placa de mármol blanco adosada a la pared de una tumba cuyo contexto arqueológico permite datarla en el siglo II, sin más precisión (Thylander 1952 nr. A 210 pl. LX: 2; Solin 1987 124 nr. 12; Helttula 2007 nr. 321). Hoy se encuentra depositado en el almacén de la necrópolis de Ostia, en el área de Isola Sacra a dos decenas de kilómetros al oeste de Roma. restvtvs piscinesis / et prima restvta primae / florentiae filiae carissimae / fecervnt qvi ab orfev maritv in /5 tiberi decepta est december cognatv//s 5 / posvit q(uae) vix(it) ann(os) XVI

Restutus Picinesis y Prima Restuta (lo) hicieron para su muy que- rida hija Prima Florentia, quien fue arrojada al Tíber por su marido Or- feus. December, un pariente de sangre, (lo) puso. Vivió dieciséis años.

La familia presenta una curiosa onomástica. Heikki Solin (Solin 1987 124 nr. 12) plantea la posibilidad de que Picinesis sea la origo o el oficio de Restutus, lo que significaría que el padre de la joven usaba un nombre personal único. Este era el caso tanto del marido de Prima Florentia como de December. En cuanto a Prima –que comparten ma- dre e hija– el investigador finlandés considera que puede tratarse de un cognomen que funciona como nombre gentilicio. Sea como fuere, nos encontramos ante una familia residente en Roma en algún momento del

5 La letra V fue grabada al final de la línea siguiente.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 276 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... siglo II, entre cuyos miembros había personas que no disfrutaban de la ciudadanía romana. Además de cómo murió llama la atención la juventud de Prima Florentia, arrojada al Tíber por Orfeus cuando contaba tan solo die- ciséis años de edad. La infancia era muy breve para las niñas roma- nas, quienes se prometían en torno a los siete años y a partir de los diez, aproximadamente, eran considerabas preparadas para afrontar la vida conyugal. 6 D e h e c h o , l a l e y e s t i p u l a b a q u e l a m e n o r d e d o c e a ñ o s que convivía en casa del marido se hacía su mujer legítima cuando alcanzaba dicha edad, pasando entonces a estar en poder del esposo (Dig. 23. 2. 4, Pomp. 3 Sab.). La convivencia desde la niñez y una boda a edad temprana podían ayudar a salvaguardar el preciado bien de la virginidad, una inversión de futuro para la conversión de la virgen en madre.7

El castigo para los homicidas

Desconocemos si fueron emprendidas acciones legales para per- seguir a los hombres señalados en estos epitafios como culpables de los homicidios. De ser así, el proceso fue instruido por altos magistrados distintos puesto que los crímenes tuvieron dos escenarios muy diferen- tes: Vrbs Roma y la capital de una provincia del Imperio.

6 Cantarella (1991 15). El problema que plantea cualquier estudio sobre la edad de matrimonio en la antigua Roma es, ante todo, metodológico. Son de referencia obligada los trabajos de Saller (1987 21-34) y Shaw (1987 30-46). Se centran en época imperial y, sin renunciar a las fuentes literarias, utilizan fundamentalmente los epitafios dedicados por los cónyuges de los difuntos como indicadores de la edad de matrimonio, que defienden hay que retrasar. El estudio más reciente sobre esta cuestión es el de Lelis, Percy y Verstraete (2004 14), quienes critican la metodología estadística y privilegian las fuentes literarias de época republicana y del principado de Augusto. Los autores sostienen que los matrimonios más tempranos se producían en la prepubertad de las niñas, entre los doce y los dieciséis años, y entre los diecisiete a los veinte en el caso de los maridos. 7 Incluso los ciclos vitales de las mujeres romanas estaban determinados por su aptitud física para parir. Durante la etapa de la virginidad debían prepararse para la maternidad, reservando todas sus fuerzas para cuando entraran en el de la fecundidad legalizada por el matrimonio, al que seguía el de la infertilidad, Martínez López (1994 169-184).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 277

Durante el siglo II Prima Florentia fue arrojada al Tíber por su marido, quien debió ser acusado ante un jurado, tal como estaba previs- to para todo crimen configurado por las leges iudiciorum publicorum.8 Si el crimen aconteció en un momento avanzado de dicha centuria, el praefectus Urbi fue el encargado de instruir el proceso, promovido ante la quaestio de sicarii et ueneficiis. Entre finales del siglo II y principios del III, el Prefecto de la Vrbs acabó teniendo competencia judicial en todo delito cometido en Roma y en el radio de cien millas de la ciudad (Dig. 1. 12. 1, Ulp., de off. praef. urb.). La jurisdicción del crimen de Iulia Maiana, cometido entre me- diados del siglo II y las primeras décadas del III, correspondió al go- bernador de la Galia Lugdunense. Durante el Principado, las prerroga- tivas judiciales de los gobernadores fueron aumentando hasta que asu- mieron la persecución y juicio de todo tipo de delitos.9 El fundamen- to jurídico de esta ampliación de competencias fue el procedimiento extra ordinem que otorgaba al magistrado o promagistrado un poder discrecional, en virtud del cual podía tomar la iniciativa de arrestar al criminal y decidir la pena. Esta jurisdicción integral era indisociable de su exclusivo imperium merum, del cual emanaba, según Ulpiano, el ius gladii (Fournier 2014 182, 195). Así, a comienzos del siglo III los gobernadores provinciales ya habían recibido la jurisdicción capital y la potestad de condenar a los ciudadanos romanos a trabajos forzosos en las minas (Dig. 1.12.1, de off. praef. urb.; Dig. 1.18.13, Ulp. 7 de off. proc.). El castigo para el crimen cometido por los esposos de estas muje- res estaba determinado por dos leyes promulgadas en época tardo-repu- blicana, todavía vigentes cuando ellas murieron. Entre los años 50 y 55 a.C. matar a un pariente fue tipificado como delito de parricidium en virtud de la lex Pompeia de parrici- dis (Dig. 48. 9.1, Marc. Inst. lib.). Con ella el parricidio acabó exten- d i é n d o s e p r o g r e s i v a m e n t e a u n n ú m e r o c a d a v e z m a y o r d e p a r i e n t e s y

8 Las cuestiones de procedimiento judicial son tangenciales aquí. La información sobre ellas desgranada en estas páginas se ha tomado de las dos obras de referencia sobre derecho penal romano: el magnífico trabajo de Mommsen (1999 I 197-228) y el muy clarificador deSantalucia (1990 70-121). 9 Sobre el papel del gobernador en materia judicial, Fournier (2014 171-208), Hurlet (2010 231-253) y Bérenger (2014).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 278 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... adfines,10 en línea directa o colateral hasta el sexto grado de paren- tesco. La pena era la que la lex Cornelia de sicariis y ueneficis (año 81 a.C.) preveía para el homicidio simple.11 La opinión mayoritaria sostie- ne que se trataba de la interdictio aquae et ignis, en realidad una alter- nativa a la muerte para el homicida, a quien se daba la posibilidad de salvar la vida con un exilio voluntario. Consistía en la prohibición bajo pena de muerte de establecer el domicilio en el territorio de la ciudada- nía romana o dentro de un determinado radio a partir de las fronteras italianas fijado por ley Revière( 2008 47-113). La interdictio fue progresivamente sustituida por la deportación, que imponía un domicilio coactivo perpetuo, normalmente en una isla o en un oasis (López Huguet 2008 26, 45-48 nota 128). Así acontecía en tiempos de Marciano, quien escribe que entonces la ley Cornelia se aplicaba a quien mataba a la esposa (Dig. 48. 9. 1, Marc. 14 inst.)12 y el homicida era deportado a una isla, con privación de todos sus bienes (Dig. 48.8.3.5, Marc. Inst. lib. 14). Sin embargo, a partir del último tercio del siglo II ciertas circuns- tancias podían modificar el castigo: la condición social del homicida y el adulterio de la víctima.13 El propio Marciano precisa que la depor-

10 García Garrido (1990, p. 23, s.v. adfines): personas ligadas por el parentes- co de afinidad que se da entre los parientes del marido y de la mujer (suegro, suegra, yerno, nuera, madrastra, padrastro, hijastros e hijastras). La causa de contraer afinidad es el matrimonio. 11 Con excepción del atentado contra la vida del propio padre que era castigado con la poena cullei. Se consideraba un acto de naturaleza distinta al homicidio, un crimen que debía ser perseguido por la ciudad puesto que alteraba los fundamentos esenciales del orden jurídico romano (Thomas 1981 679-695). Sobre la poena cullei véase Cantarella (1996 245-265), quien la define como una procuratio prodigi destinada a eliminar a un monstruo más que a castigar a un reo y Núñez Paz (2010 89-103), quien trata sobre el fundamento religioso del castigo impuesto al parricida y la supuesta supresión y posterior recuperación en la lex Pompeia. 12 En un fragmento de las Institutiones de Marciano la esposa aparece mencionada entre los adfines. Algunos autores defienden que su integración en la sententia legis es una interpolación de época tardía. Véase el debate historiográfico sobre esta cuestión en Thomas (1981 648-659). 13 No hay duda de que Iulia Maiana y Prima Florentia no murieron por haber cometido adulterio. De haber sido así nunca sus parientes habrían denunciado pública- mente los crímenes ni se habrían puesto de su lado, Pavón Torrejón (2011 261).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 279 tación estaba reservada a los honestiores mientras que los humilliores debían morir por exposición a las fieras (Dig. 48. 8. 3. 5,Marc. 14 inst.; Dig. 48. 8. 16, Mod. 3 de poen.) o crucifixión (Pauli Sententiae, 5.23.1). Bajo Antonino Pío, se consideraba como atenuante para castigar a quien no negaba haber matado a su mujer si la había sorprendido come- tiendo adulterio. Como resultaba difícil contener el justo arrebato y se debía castigar por el exceso más que por el deseo de venganza, los ho- nestiores eran condenados al exilio temporal mientras que los humillio- res debían exiliarse a perpetuidad (Dig. 48. 5. 39 .8, Pap. 36 quaest.). Por su parte, Marco Aurelio y Cómodo dieron un rescripto en el que se contemplaba que si el marido mataba a su mujer sorprendida en adulterio, no sufriera la pena que la lex Cornelia establecía para los casos de homicidio (Dig. 48. 5. 39 .8, Pap. 36 quaest.). A tenor de lo expuesto, no podemos determinar cuál fue el castigo para el esposo de Prima Florentia puesto que su epitafio fue grabado durante el siglo II, sin que se pueda precisar más. Por lo que respecta al marido de Iulia Maiana, si fue declarado culpable tuvo que haber sido condenado con la deportatio.

El proceso judicial como instrumento de la venganza

Haciendo gala de una gran erudición, Eva Cantarella reúne una serie de textos literarios, jurídicos y filosóficos que muestran cómo en la antigua Roma existió una cultura y práctica de la venganza cuyas raí- ces históricas son difíciles de rastrear. 14 La venganza siempre fue vista

14 Un amplio sector de la doctrina sostiene que se remonta a la Roma de los reyes, al interpretar la conocida ley que Festo atribuye a Numa (Festo s.v. parrici. 247. 22-24 L) como una autorización dada a los familiares de la víctima de un homicidio voluntario para vengar su muerte. Véanse las distintas tesis en Mommsen (1999 III 285-290), Cantarella (1996 299-300) y Núñez Paz (2010 90-93), quien plantea que paricidas puede derivar de patria facere (“sanción equivalente”) y que la pena sería la que procede de la aplicación de la ley del Talión. Por su parte, Bernardo Santalucia va más allá al defender que la ley de Numa no sólo permitía sino que imponía a los parientes el deber de acabar con la vida del culpable (Santalucia 1990 31-32), opinión que comparte Botta (2013 8-12). En contra, Yan Thomas (Thomas 1981 643-715; 1995 167-187), para quien el término paricidas remite al de parricidium o atentado contra la vida de un pater, no sabemos si del genitor o del paterfamilias.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 280 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... como un gesto de nobleza y representaba uno de los instrumentos más poderosos de reglamentación de las relaciones sociales.15 Los familiares de la víctima de un homicidio tenían la obligación moral de vengar su muerte, deber que progresivamente fue siendo con- trolado judicialmente por el Estado. Resulta ilustrativo traer a colación el Primer Edicto de Cirene (Visscher 1940 89-103) con el que Augusto introdujo los tribunales criminales autónomos y permanentes en una provincia. Dicho comportamiento social llega a tener reconocimiento jurídico puesto que el edicto preveía que la población helena también emprendería acciones legales presentando acusación ante una quaestio perpetua porque “por regla general los parientes de las víctimas no de- ben dejar las muertes sin venganza”. La venganza no se ejecutaba con la obtención de la pena sino con la pretensión a la misma, es decir, promoviendo el proceso judicial (Kunkel 1962 121-123; Cantarella 1996 289). Hacerlo correspondía a los parientes de la víctima porque el homicidio consideraba de un pa- riente próximo se un asunto privado, incluso con posterioridad a la pro- mulgación de la lex Pompeia. Era la solidaridad entre los allegados la que les llevaba a emprender acciones legales como gesto de venganza, de manera que la acusación criminal pública difícilmente servía como elemento de pacificación para resolver tensiones y conflictos (Humbert 1994 79). Estudiando los contados procesos judiciales que las fuentes litera- rias nos dan a conocer, el jurista Yan Thomas comprobó que la perse- cución judicial del homicidio, excepción hecha del parricidio, efectiva- mente movilizaba a la parentela próxima de la persona fallecida y, de no haberla, a sus amigos o huéspedes. Cuando se trataba de crímenes de sangre - como los denunciados en estos epitafios - era norma que fueran los parientes masculinos de la víctima quienes presentaran la acusación (1981 696-699). Llama poderosamente la atención que también hayan sido los pa- rientes masculinos de Iulia Maiana y de Prima Florentia los dedicantes de estos particulares epitafios, es decir, quienes acusaron públicamente a los maridos del homicidio de ambas mujeres.

15 Sobre la venganza en el mundo romano, véanse entre otros: Cantarella (1996 287-291), Thomas (1984 65-100) y Botta (2013 1-23). Más concretamente sobre la terminología relacionada con ella, Milani (1997 12-14) y Thomas (1984 63, 92, nota 38).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 281

No parece que esta coincidencia sea una mera casualidad por las siguientes razones: 1 - Los epitafios analizados son monumentos funerarios - excep cionales en el conjunto de la epigrafía latina y ambos contie- nen la denuncia de un crimen cometido precisamente en el seno de una familia. 2 - Los dedicantes son parientes de sangre de las difuntas, lo que cobra especial importancia teniendo en cuenta que también eran los hombres emparentados con la víctima quienes acu- dían a la justicia para promover la acusación del homicida. Nótese cómo en ambos epitafios los dedicantes no son los que esperaríamos. Sabemos que Iulia Maiana dejó dos hijos, un chico de dieciocho años y una chica de diecinueve. Lo normal es que ambos conmemoren conjuntamente a su madre y, sin embargo, el ara fue puesta y dedicada por el hijo – pero no por su hermana – y por su tío materno, es decir, por otro hombre también unido por lazos de sangre a la difunta. Del mismo modo, resulta llamativa la intervención de December en el epitafio dePrima Florentia. Tratándose de una persona tan joven, lo lógico es que fueran sus padres quienes dedicaran el epitafio. Así lo hicieron (fecerunt) pero a continuación se señaló que un pariente de la difunta, precisamente un pariente de sangre (cognatus),16 encargó y costeó la sepultura (posuit). Las muertes de estas mujeres a manos de sus esposos fueron con- sideradas actos de violencia privada, una afrenta al afecto, al honor y al interés familiar. Solo así se explica que, al igual que ocurría en el ámbi- to judicial, se dejara en manos de los hombres unidos por una relación de consanguinidad con las difuntas acusar públicamente a la persona que les había despojado del ser querido. Los parientes masculinos no sólo se sienten y están legitimados para emprender acciones legales, sino también para señalar públicamente a los culpables ante sus con- ciudadanos. Estos monumentos funerarios fueron grabados entre los siglos II y comienzos del III y están reflejando la mentalidad de dos familias no

16 García Garrido (1990 32, 69, s.v. agnatus / agnati y cognatio / cognati): la cognatio es el parentesco natural que supone la filiación a los vínculos de sangre, en oposición a la adgnatio o parentesco civil cuyo fundamento es la autoridad del paterfamilias.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 282 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... pertenecientes a la élite de la capital imperial.17 Todavía entonces el ho- micidio de un pariente próximo se entendía como un asunto de familia y se actuaba en consecuencia. Paradójicamente, aunque funcionaba un código ético que imponía la obligación de vengar la muerte de un pariente, ese mismo código pro- hibía acusar a otro familiar si era culpable de haberla ocasionado. Los conceptos morales de pietas y fides18 determinaban comportamientos judiciales contradictorios. Desde una perspectiva sociológica, ambos generaban actitudes diametralmente opuestas: la imposibilidad de acu- dir a la justicia para acusar a un allegado y la obligación de vengarse por vía judicial, especialmente cuando había un deber hereditario de hacerlo.19 La cohesión familiar y los deberes de respeto son escrupulosamen- te en los crímenes de familia porque hay reticencia a debatir y cumpli- dos exponer las disensiones internas, lo que puede conducir a inhibirse de acudir a la justicia. Como públicamente incluso Yan Thomas (1981 698, 703), las normas éticas se anulan para paralizar, o al menos para convertir en difícil, toda persecución por vía judicial.

17 Las fuentes literarias ofrecen una visión polarizada en la Vrbs y en el medio aristocrático. Únicamente nos informan sobre dos procesos judiciales en los que los homicidas fueron hombres –ambos altos magistrados- que mataron a sus esposas. Fue- ron promovidos por los padres de las interfectas, quienes recurrieron al procedimiento extraordinario de justicia criminal (cognitio extra ordinem), según el cual todo asunto era confiado al princeps o a un delegado suyo, Santalucia (1990 104-107). Tiberio, una vez encontró indicios de culpabilidad, avocó al Senado el conocimiento del crimen cometido por Plaucio Silvano (Tac. Ann. 4. 22), quedando así al margen la quaestio de sicarii et ueneficiis que atendía los casos de homicidio. La denuncia contra el tribuno de la plebe Octavio Sagita (Tac. Ann. 4. 22) fue presentada por su suegro directamente ante el Senado, órgano de represión criminal presidido por los cónsules. Estos episodios no reflejan la realidad del común de los mortales ante circunstancias similares. 18 Nótese cómo los parientes de Iulia Maiana los imprecaron expresamente. De acuerdo con Saller (1988 393-410), la pietas permite comprender mejor la estructura familiar romana que el concepto jurídico de potestas. En tanto que representa la devoción a la domus y a su paterfamilias, se presenta como centro primario de identidad y de responsabilidad social. 19 Por parte de los descendientes del difunto que, si no pueden hacerlo, trasladan la obligación a sus agnados y libertos. La renuncia al proceso se aprecia tanto en el ámbito civil como criminal. Se trata de una moral que las fuentes literarias, por ejemplo Cicerón, documentan en el medio aristocrático pero que sin duda existía en el resto de la sociedad Humbert (1994 77, 80).

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 283

Resulta sugerente plantear como hipótesis que este puede haber sido el motivo que explica la grabación de estos poco comunes epi- tafios. Las familias agraviadas pudieron buscar una venganza que no iban a obtener ante los órganos de justicia, al estar el homicida también emparentado con las víctimas. Independientemente de que así fuera, el epitafio-denuncia sirve a la parentela para ejecutar una venganza alter- nativa o complementaria del proceso judicial: la reprobación social del culpable.

BIBLIOGRAFÍA

Astolfi, Ricardo (2002): Il matrimonio nel diritto romano classico, Padua. Bérenger, Agnès (2014): Le métier de gouverneur dans l´empire romain, París. Botta, Fabio (2013): “El deber de venganza en la Roma antigua” Revista General de Derecho Romano 21 1-23. Cag, 10 = Denajar, Lauren (2005): Carte archéologique de la Gaule. 10: L´Aube, París. Cantarella, Eva (1991): La mujer romana, Santiago de Compostela. Cantarella, Eva (1996): Los suplicios capitales en Grecia y Roma. Orígenes y fun- ciones de la pena de muerte en la Antigüedad clásica (trad. I supplizi capitali in Grecia e Roma, Milano, 1989), Madrid. Castresana, Amelia (1993): Catálogo de virtudes femeninas, Madrid. Cenerini, Francesca (2002): La donna romana: Modelli e realtà, Bolonia. Chioffi, Laura (2015): “Death and Burial”, en Jonathan Edmondson y Christer Bruun (eds.), The Oxford Handbook of Roman Epigraphy, Oxford, 627-648. Cid López, Rosa Mª (2002): “La maternidad y la figura de la madre en la Roma anti- gua”, en Ana Isabel Blanco García (coord.), Nuevas visiones de la maternidad, León, 11-50. Cid López, Rosa Mª (2009): “Madres para Roma: Las castas matronas y la res publi- ca”, en Rosa Mª Cid López (coord.), Madres y maternidades: Construcciones culturales en la civilización clásica, Oviedo, 155-182. Donati, Angela y Susini, Giancarlo (1986): “La scrittura esposta: i modi della scrittura romana”, en Gabriel Cardona (ed.), Sulle tracce della scrittura: Oggeti, testi, superfici dai musei dell´Emilia-Romagna, Bolonia, 65-78. Encarnação, José d’ (2008): “Leite de Vasconcelos e as inscrições romanas – flagran- tes de um quotidiano vivido” AP série IV 26 385-406. Fournier, Lauren (2014): “L´administration de la justice dans le monde romain. Ier siècle av. J.-C.-Ier siècle ap. J.-C.”, en Nicolas Mathieu (dir.), Le monde romain de 70 av. J.-C. à 73 apr. J.-C. Voir, dire, lire l´empire, París, 171-208. García Garrido, Manuel Jesús (1990): Diccionario de jurisprudencia romana, Ma- drid.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 284 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio....

Green, Miranda (1995): Mitos celtas, Madrid. Helttula, Anne (dir.) (2007): Le iscrizioni sepolcrali latine nell’Isola Sacra, Roma. Humbert, Michel (1994): “Le procès romain: Approche sociologique” Archives de Phi- losophie du Droit 39 73-86. Hurlet, Fréderic (2010): “Tra giurisdizione cittadina e giurisdizione imperiale: La sfe- ra di competenza del proconsule” Studi classici e orientali 56 231-253. Kunkel, Wolfgang (1962): Untersuchungen zur Entwicklung des römischen Kriminal- verfahrens in vorsullanischer Zeit, Munich. Lelis, Arnold A., Percy, William A. y Verstraete, Beert C. (2004): The Age of Ma- rriage in , Lewiston-Queenston-Lampeter. López Huguet, Mª Luisa (2008): “Un análisis de los efectos jurídicos del exilium y la interdictio aquae et ignis desde sus orígenes hasta la época imperial con especial referencia a su incidencia sobre la libertad domiciliaria” Revista General de De- recho Romano 10 1-49. Martínez López, Cándida (1994): “La virginidad de las jóvenes en la antigua Roma” Arenal 1(2) 169-184. Martínez López, Cándida (1999): “Y parirás hijos para gloria de Roma. Las mujeres y la ciudadanía en la Roma antigua”, en Margarita Ortega, Cristina Sánchez y Celia Valiente (eds.), Género y ciudadanía: Revisiones desde el ámbito privado: XII Jornadas de Investigación Interdisciplinaria, Madrid, 143-162. Milani, Celestina (1997): “Il lessico de la vendetta del perdono nel mondo classico”, en Marta Sordi (ed.), Amnistia, perdono e vendetta nel mondo antico, Milán, 3-18. Mócsy, András y Lórincz, Barnabas (eds.) (1999-2002): Onomasticon prouinciarum Europae latinarum (OPEL), Viena. Mommsen, Theodor (1999): El derecho penal romano (reimp. facsímil: Mommsen, Theodor; Dorado Montero, Pedro (trad.), Derecho penal romano, Madrid, 1905, 2 vols), Pamplona. Núñez Paz, Mª Isabel (2010): “La no aplicación efectiva de la pena de muerte al parricida por razones religiosas. Una reflexión histórica sobre la larga perviven- cia del parricidio en el derecho penal como delito autónomo” Revista Penal 25 89-103. Pavón Torrejón, Pilar (2011): “El uxoricidio de Iulia Maiana, manu mariti interfecta (CIL XIII, 2182)” Habis 42 253-262. Raepsaet-Charlier, Marie-Thérese (2003): “Nouveaux cultores de Nehalennia” AC 72 291-302. Réville, Albert (1873-75): “Un autel de Nehalennia trouvé près de Domburg (Zélan- de)” Revue Celtique 2 18-20. Rivière, Yann (2008): “L’ interdictio aqua et igni et la deportatio sous le Haut-Empire romain (Étude juridique et lexicale)”, en Philippe Blaudeau (éd.), Exil et reléga- tion. Les tribulations du sage et du saint durant l’Antiquité romaine et chrétienne (Ier-VIe s. ap. J.-C.), París, 47-113. Saller, Richard P. (1987): “Men’s Age at Marriage and its Consequences in the Ro- man Family” CP 82 21-34.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio.... 285

Saller, Richard P. (1988): “Pietas, Obligation and Authority in the Roman Family”, en Peter Kneissl y Volker Losemann (eds.), Alte Geschichte und Wissenschaftsges- chichte: Festschrift für Karl Christ zum 65. Geburtstag 1 393-410. Santalucia, Bernardo (1990): Derecho penal romano (trad. Diritto e processo penale nell’ antica Roma, Milano, 1989), Madrid. Shaw, Brent D. (1987): “The Age of Roman at Marriage: Some reconsiderations” JRS 77 30-46. Solin, Heikki (1987): “Analecta Epigraphica, XVIII: Zu Ostiensischen Inschriften” Arctos. Acta Philo. Fennica 21 119-126. Stuart, Petrus J. y Bogaer, Julianus E. (2001): Nehalennia. Römische Steindenkmäler aus der Oosterschelde bei Colijnsplaat, 2 vols., Leiden. Thomas, Yan (1981): “Parricidium. I: Le père, la famille et la cité (la lex Pompeia et le systeme des poursuites publiques)” Mélanges de l´École française de Rome. Antiquité 93 (2) 643-715. Thomas, Yan (1984): “Se venger au forum: Solidarités traditionnelles et système pénal à Rome”, en Raymond Verdier y Jean-Pierre Poly, (eds.), Vengeance, pouvoirs et idéologies dans quelques civilisations de l’Antiquité, París, 65-100. Thylander, Hilding (1952): Inscriptions du port d’Ostie. Vol. I: Texte; Vol. II: Plan- ches, Lund. Treggiari, Susan (1991): Roman Marriage: Iusti coniuges from the time of Ciceron to the time of Ulpian, Oxford. Visscher, Fernand de (1940): Les Édits d’August découverts à Cyrène, Louvain- -la-Neuve.

Conimbriga, 55 (2016) 269-287 Fig. 1 Fig. 2 Página deixada propositadamente em branco Patrick Le Roux Université de Paris 13 Professeur émérite [email protected]

QUAESTIONES EPIGRAPHICAE “Conimbriga” LV (2016) p. 289-303 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_15

Résumé: L’article centré sur la discipline épigraphique apporte un éclairage inédit sur la formule s.t.t.l. et s’interroge sur la place que devraient tenir les falsifications dans les réflexions des épigraphistes.

Mots clés: datation épitaphe falsification manuscrit sciences.

Summary: Mainly dedicated to epigraphy, the article sheds a new light on the s.t.t.l. formula and focuses on what advantages epigraphers should take from reflections on forgeries and fakes.

Keywords: dating epitaph falsification manuscript sciences.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Página deixada propositadamente em branco QUAESTIONES EPIGRAPHICAE

J. d’Encarnação nous a enseigné par son oeuvre inlassable et conti- nue de recherche épigraphique que la fréquentation quotidienne des documents, surtout quand il s’agit d’inscriptions latines funéraires ou votives, était une condition indispensable pour bien comprendre tout ce que recèlent ces documents dits humbles ou ordinaires et qui ne le sont jamais vraiment. Chaque inscription est unique même si elle se rattache à des séries ou à des formulaires familiers. Souvent la chronologie en est lâche et ne peut être établie qu’approximativement et en décennies, voire en siècles. De même, l’onomastique des personnes mentionnées retient avant tout l’attention et s’enrichit par la découverte de noms mal connus ou inédits dont on essaie de pénétrer les arcanes linguistiques et culturelles sans jamais être sûr d’avoir visé juste1. En outre, un nombre non négligeable de documents s’éloigne des canevas habituels et pose inévitablement des problèmes de fausseté qu’il s’agisse de trucage ou de contrefaçon.

1 Les noms des personnes sont devenus un objet d’étude à part entière au cours du demi-siècle et J. d’Encarnação a joué un rôle important en ce domaine pour les études hispaniques et particulièrement lusitaniennes, ne serait-ce qu’à la faveur des publications régulières des fascicules du Ficheiro. Il a participé à l’élaboration d’une recherche qui en est un aboutissement : M. Navarro Caballero et J. L. Ramírez Sá- daba (Coord.), Atlas antroponímico de la Lusitania Romana, Mérida, Fundación de Estudios Romanos, Bordeaux, Ausonius, 2003. L’un des clivages en la matière a long- temps été celui de la couleur ethnique et culturelle des noms dans le contexte de la «romanisation». Plus importante encore est la question des noms uniques distingués des cognomina. Il serait trop long dans ce cadre de reprendre ces thèmes, d’autant que le re- cours à la «romanisation» elle-même demande aujourd’hui au moins des guillemets et des qualificatifs appropiés.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 292 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae

1. La formule S. T. T. L.

Lorsque J. d’Encarnação commençait ses recherches, la question de la formule s.t.t.l. accompagnée ou non de h.s.e. était au centre de réflexions méthodologiques liées à l’intérêt croissant porté aux inscrip- tions funéraires provinciales. La question principale concernait le cri- tère chronologique en fonction de son apparition épigraphique et de son association ou non avec h.s.e. Paradoxalement, le contenu religieux ou autre de la formule ne suscitait aucun écho, pas plus que dans les ma- nuels d’épigraphie. Pourtant, un commentaire de Pline l’Ancien à propos de la terre aurait dû attirer l’attention des épigraphistes depuis longtemps : «Vient ensuite la terre. Seule, entre toutes les choses de la nature, elle a mérité par ses bienfaits éminents qu’on lui donnât le nom sacré de mère. Elle appartient aux hommes comme le ciel à Dieu ; naissants, elle nous reçoit ; nés, elle nous nourrit ; une fois venus à la lumière du jour, elle nous sert de support ; enfin elle nous embrasse dans son sein lorsque nous sommes rejetés par le reste de la nature, nous couvrant alors sur- tout comme une mère ; aucun de ses bienfaits ne la rend plus sacrée que celui qui nous rend nous-mêmes sacrés ; portant nos tombeaux et nos inscriptions, faisant durer notre nom, et étendant notre souvenir au-de- là du court intervalle de cette vie. Divinité suprême, nous la souhaitons, dans notre colère, pesante à ceux qui ne sont plus, comme si nous igno- rions que seule elle ne s’irrite jamais contre l’homme2.» Le propos de l’érudit, rarement commenté à ma connaissance, paraît de prime abord quelque peu déroutant, il est vrai pour l’épigra- phiste. Il prend à rebours la formule funéraire banale en substituant gravis à levis et en insistant sur l’ira source d’imprécations qui peut accompagner une mise en terre, aussitôt dénoncées toutefois comme contraires à la bienveillance naturelle de la terre. Le texte invite donc à

2 Pline l’A., NH, 63, 154 (trad. d’apr. H. Zehnacker) : Sequitur terra, cui uni rerum naturae partium eximia propter merita cognomen indimus maternae veneratio- nis. Sic hominum illa, ut caelum dei, quae nos nascentes excipit, natos alit semelque editos et sustinet semper, novissime complexa gremio iam a reliqua natura abdicato, tum maxime ut mater operiens; nullo magis sacra merito quam quo nos quoque sacros facit. Etiam monimenta ac titulos gerens nomenque prorogans nostrum et memoriam extendens contra brevitatem aevi ; cuius numen ultimum iam nullis precamur irati grave, tamquam nesciamus hanc esse solam quae numquam irascatur homini.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae 293 s’interroger à divers niveaux sur le sens même du souhait contenu dans la formule s.t.t.l. Ce ne sont pas les Romains qui l’ont inventée. Dans l’Alceste d’Euripide, elle est présente pour célébrer l’épouse qui a accepté d’aller chercher Admète aux enfers : «tu n’as pas craint de donner ta vie, pour racheter ton époux des enfers : que la terre te soit légère!»3. La poésie romaine comporte des formulations semblables ou voisines. En sui- vant la chronologie, on citera Properce évoquant les derniers honneurs qu’aurait pu lui rendre Cynthia dont il est séparé : «elle eût demandé aux dieux que la terre ne fût pour moi d’aucun poids»4. Ovide, rendant hommage à Tibulle, n’est pas en reste : «Puissent tes os [ceux de Ti- bulle] reposer tranquilles dans l’urne qui les renferme! Puisse la terre n’être point pesante à ta cendre!»5. Dans les Troyennes de Sénèque, An- dromaque consent : «à ne pas obtenir un tombeau dans a patrie, à ne pas désirer que la terre presse plus légèrement le corps d’Hector s’il n’est pas vrai que mon fils [Astyanax] est privé de la lumière, qu’il erre parmi les morts et qu’il a déjà reçu les honneurs du tombeau»6. Auteur du Ier siècle ap. J.-C., Perse écrit dans sa Satire I, 37 : «Heureuse [l’objet de son désir] ? La pierre ne pèse-t-elle pas désormais plus légère à tes os?»7. Martial enfin apporte un éclairage particulier à ce formulaire à diverses reprises. Tout d’abord dans le poème en hommage à Erotion, décédée prématurément à l’âge de six ans moins six jours : «Qu’un rude gazon ne couvre pas ses tendres os, et toi, terre, ne lui sois pas pesante; elle a si peu pesé sur toi.»8. Quand un adolescent, Eutychus, est emporté par la vague près de Baïes, le poète de Bilbilis trouve les

3 Euripide, Alceste, vers 463-464. 4 Properce, Élégies, I, 17, 24 : ut mihi non ullo pondere terra foret. On peut noter que s.t.t.l. s’intègre aisément à la métrique poétique surtout latine : voir déjà S. Mariner Bigorra, Inscripciones hispanas en verso, CSIC, Barcelone-Madrid, 1952, p. 191-193. 5 Ovide, Amours, III, élégie IX, vers 67-68 : ossa quieta, precor, tuta requiescite in urna, et sit humus cineri non onerosa tuo! 6 Sénèque, Troades, Acte III, scène I : ac meo condant solo / Et patria tellus Hectorem leviter premat / Vt luce caret, ut inter extinctos iacet / datusque tumulo debita exanimis tulit. 7 Perse, Satura, I, 37 : Felix ? non leviter cippus nunc imprimit ossa ? 8 Martial, Epigr., V, 34, 9-10 : Mollia non rigidus caespes tegat ossa nec illi, / terra gravis fueris : non fuit illa tibi. Il s’agit d’un distique élégiaque adapté à un éloge funèbre.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 294 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae mêmes accents qu’il décline par une variante : «fasse le ciel que la terre et l’eau te soient également douces»9. La dernière occurrence est marquée par une ironie grinçante : «Que la terre te soit légère et que le sable qui te couvre soit mou – afin qu’il ne soit pas impossible aux chiens de déterrer tes os.»10. Certaines formulations permettent de comprendre pourquoi Pline s’exprime comme il le fait. Le sit tibi terra levis est devenu une norme mais en présence de défunts jugés détestables certains prennent la terre à témoin pour qu’elle contribue au châtiment du mort en pesant de tout son poids, lui interdisant une vie dans la tombe paisible et sans souci. Pline récuse une attitude qui veut ignorer que la terre est une divinité différente qui ne tire jamais vengeance. Le sit tibi terra levis signifie donc que le défunt a mérité durant sa vie une vie au tombeau digne et à la mesure de sa bonté, du respect de sa parole et de son sens de l’hu- main et de l’amitié. Les textes de Martial en sont un indice très clair : la mort d’une jeune enfant qui n’a pas eu le temps de nuire à qui que ce soit, et encore moins à la terre, ne saurait endurer une terre pesante ; en revanche, Philaenis, n’appelle pas même un moindre châtiment que serait une terre pesante : la légèreté de la terre contribue ici à faire en sorte que ses restes ne reposent pas en paix. Le poids de la terre et son contraire, la légèreté, parlent de la mémoire et de l’oubli. La formule indique donc la volonté de maintenir le souvenir du défunt dans le cœur de ceux qui l’ont aimé et apprécié. La terre est donc une divinité. La Terra Mater était en effet véné- rée comme déesse, ce que confirment les inscriptions romaines11. Le culte de la terre est lié dès l’origine à la mort et, contrairement aux autres divinités, la Terre Mère ne ne connaitrait pas la vengeance selon

9 Martial, Epigr., VI, 68, 12 : Sit, precor, et tellus mitis et unda tibi. 10 Martial, Epigr., IX, 29, 11-12 : Sit tibi terra levis mollique tegaris harena / Ne tua non possint eruere ossa canes. Martial s’en prend à Philaenis dont la langue était aussi active que néfaste. Sit tibi terra levis est utilisé à la façon des épitaphes mais par antiphrase. 11 Voir l’article « Tellus » (J. A. Hild) dans le Dictionnaire des Antiquités grecques et romaines, Ch. Daremberg & Ed. Saglio, V, s. d., p. 73-83. La terre comme divinité est déjà présente chez Homère (cf. Plutarque, Symposium, V, 10, 3). G. Dumézil, La religion romaine archaïque, Payot, Paris, 2e édition, 1974, ne mentionne que Tellus et jamais Terra. Dans les documents romains Tellus Mater est rare et les inscriptions impériales proposent plutôt Terra Mater : voir par exemple ILS, 3950-3960 et p. 553.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae 295

Pline, en tout cas dans son rôle de protectrice du mort. Il faut peut-être voir là l’indice d’une évolution de la sensibilité religieuse car à l’ori- gine la terre était invoquée en particulier pour le châtiment de ceux qui ne respectent pas les lois de la nature ni leur serment12. La Terre Mère est cependant aussi celle qui favorise les récoltes et la nourriture des hu- mains et sa bienveillance ne fait pas de doute. Le lien avec le culte des Mânes, les esprits apaisés des morts, est en outre bien attesté à Rome13. Tellus et Terra peuvent être synonymes ou interchangeables dans les dédicaces religieuses14. Cependant Tellus paraît se référer davantage à la terre géologique alors que terra implique le sol sur lequel on marche et que l’on travaille pour produire de la nourriture et des richesses15. Elle est vraiment la Mère. Le texte de Pline évoque donc la colère mais non la malédiction. Il faut se garder de comprendre qu’il ferait allusion à la magie et aux defixiones. Les documents relatifs au sort que l’on voudrait jeter sur tel ou tel voleur, parjure ou adultère, à titre person- nel ou collectivement, sont liés au monde souterrain et pouvaient être introduits, le plus souvent sous la forme de lamelles de plomb roulées ou pliées, dans une tombe pour obtenir vengeance et réparation. Ils ne se limitaient pas au monde funéraire et les eaux y jouent un rôle plus important que la terre16. Qu’il s’agisse d’imprécations, de supplications ou de défixions, ni Tellus ni Terra ne sont appelées au secours. Ce sont des démons ou d’autres divinités que l’on invoque. Un dernier registre nous ramène au point de départ. La formule s.t.t.l. est un élément de ce que l’on nomme depuis R. Mac Mullen l’«epigraphic habit» bien que les manuels d’épigraphie se contentent à son sujet de quelques mots sans rapport précis avec cette habitude17.

12 Dictionnaire des Antiquités grecques et romaines..., art. cit. n. 2, p. 76. 13 Ibid., p. 79. 14 Par exemple en Afrique : CIL, VIII, 17726 (Cuicul); CIL, VIII, 5305 (Calama) ; faut-il parler pour ces provinces en ce cas d’«epigraphic habit»? Terra mater à Rome : CIL, VI, 84 et 3731 parmi d’autres. 15 Dictionnaire des Antiquités grecques et romaines..., art. cit. n . 2 , p . 7 3 - 8 3 (J. A. Hild). 16 Certains sanctuaires de divinités associées aux morts, par exemple Isis, pro- duisaient également ces tabellae (voir par exemple Belo V, p. 21, n° 1= AE, 1 9 8 8 , 727). 17 R. Mac Mullen, «The Epigraphic Habit in the Roman Empire», AJPh, 1 0 3 , p. 233-246 à compléter par F. Beltrán Lloris, «The “Epigraphic Habit” in the Roman

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 296 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae

Il y a un demi-siècle, il était ordinaire de faire comme si h.s.e.s.t.t.l. formaient un tout. Il fallait donc s’étonner lorsque ce n’était pas le cas. Une fréquentation plus longue et plus attentive des inscriptions funé- raires montre sans difficulté qu’il n’en est rien. H.s.e. et s.t.t.l. peuvent figurer séparément dans une même épitaphe, en particulier quandh.s.e. est placé immédiatement après la nomenclature et l’âge du dédicataire. Le recours seul à l’une ou l’autre formule n’est pas rare non plus. Il semble donc que les pratiques observées soient régionales et que la Bé- tique, de manière générale et sans relation à un statut civique précis, et la Lusitanie méridionale entre autres aient privilégié l’association des deux formules plus que les populations d’Italie ou d’autres provinces latinophones où la iunctura se retrouve cependant mais rarement18. Il faut sans doute conclure, dans les provinces Ibériques de Rome, que les colonies romaines montrent une propension plus grande à l’utilisation du formulaire complet. Ce constat va de pair avec l’usage de s.v.t.l. ca- ractéristique de l’Hispania méridionale19. Il est donc logique de poser aujourd’hui la question du formulaire moins en termes de chronolo- gie, indémontrable et trop large, qu’en termes de pratiques municipales au sens générique et de pratiques épigraphiques qui exprimaient des

World», dans The Oxford Handbook of Roman Epigraphy, C. Bruun et J. Edmondson éd., Oxford Unversity Press, 2015, p. 131-148. 18 On peut noter que l’épitaphe de Trimalcion (Satiricon, 71) ne comporte pas la mention de la terre légère et que Martial, quand il y recourt, est sans doute influencé par les usages de sa cité provinciale. Un sondage en Gaule Aquitaine (Bordeaux, Saintes, Périgueux), en Gaule Narbonnaise (Aix, Nîmes), montre que le formulaire est très peu diffusé voire absent dans les cités nommées (à Bordeaux l’emploi de defunctus est plus répandu qu’ailleurs). Parallèlement, sub ascia caractéristique de Lyon n’est guère présent dans les épitaphes des provinces ibériques (voir les indices du CIL, II, où sub ascia ne figure pas). ILER, 2642-3280 regroupe en revanche le couple hse stttl sous 568 numéros d’inscriptions successifs mais la liste n’est pas exhaustive et d’autres documents, nombreux, sont décelables dans le recueil ailleurs. Il convient donc en matière d’épigraphie latine funéraire de privilégier l’idée de pratiques locales et régionales elles-mêmes évolutives avec le temps. Quoi qu’il en ait été, hse du fait de sa gravure indique un enterrement effectif mais son absence pose à chaque fois (si un contrôle archéologique est impossible) la question d’une tombe ou d’un monument seulement pour la mémoire, un cénotaphe, sachant que bien d’autres indications sont utilisées dans les épitaphes et ne laissent pas de doute sur un enterrement (ainsi vivus fecit). 19 Voir pour quelques exemples CIL, II, indices, p. 1178. Aussi, à Mérida: AE, 1994, 838-862.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae 297 croyances sur la vie et la mort présentes dans les cultes funéraires des populations concernées.

2. De falsis inscriptionibus

Dans un article d’il y a vingt-cinq ans, issu d’une leçon d’Agré- gation, J. d’Encarnação a abordé de manière directe la question des documents épigraphiques qu’il appelle «inventés», ce qui est une ma- nière, sans doute parmi les mieux formulées, de définir ce que leCorpus Inscriptionum Latinarum rangeait parmi les «inscriptiones falsae vel alienae»20. Ce travail n’a pas empêché une tentative de réhabilitation d’un des textes jugés suspects par le CIL et par J. d’Encarnação, à sa- voir l’hommage à C. Antonius Flavinus, sévir iunior, gravé à Évora, il est vrai dans un bloc de marbre en forme d’autel ou de piédestal21. Un document existant, gravé dans du marbre, paraît à beaucoup impos- sible à fabriquer et son existence même est jugée comme une preuve d’authenticité, ce qui arrive avec d’autres inscriptions notamment sur bronze pourtant plus faciles à falsifier. Toutefois, l’érudition dite scien- tifique a imposé peu à peu l’idée que l’on peut tenir pour fausse une inscription suspecte attribuable à un faussaire reconnu ou bien identifié, ici A. Resende. Mais qu’est-ce qu’une inscription fausse et peut-on la définir? Le jeu incessant des condamnations et des réhabilitations montre que la manière dont est rapporté le document quand il a disparu ou quand il n’est plus disponible peut contribuer à tromper. Conservé, il peut arri- ver que l’évaluation de la lacune, quand la pierre ou le support est tron-

20 J. d’Encarnação, «Da invenção de inscrições romanas pelo humanista André de Resende», dans Biblos, 67, 1991, p. 193-221. Certaines sont cependant «réinventées» sur la base de données existantes. 21 Farland H. Stanley Jr, «CIL II, 115: Observations on the only Sevir Iunior in Roman Spain», ZPE, 102, 1994, p. 226-236. J. d’Encarnação, « Les armes, l’histoire et le pouvoir» dans Visions de l’Occident romain. Hommages à Yann Le Bohec, textes réunis par Bernadette Cabouret, Agnès Gros-Lambert, Catherine Wolff, CEROR 40, 1, Lyon, 2012, p. 450-451 a réaffirmé à juste titre sa conviction qu’il s’agit d’une fabrication par Resende que ses connaissances propres et ses sources autorisaient à inventer. Il semble, ce qui est étonnant, que A. Resende ait fait sculpter lui-même le support en marbre sans utiliser un support existant.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 298 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae qué à droite, crée une restitution erronée et suspecte soit trop brève soit trop longue dans le cas d’un texte non répétitif ou peu représenté dans les séries22. S’agissant d’une copie manuscrite ancienne, la question est plus difficile, car le fait de copier est une source permanente d’erreur en fonction de la personne même du copiste et de ses connaissances en épigraphie et en archéologie. Il n’est pas possible pour autant d’igno- rer que toute tentative de reconstitution d’une inscription incomplète et très fragmentaire sur la base de modèles entraîne presque toujours la création de fait d’inscriptions, au moins partiellement inventées, qui ne peuvent donc pas contribuer efficacement à l’enrichissement de l’épigraphie23. Comme le montre l’exemple du Marquis de Monsalud, pourtant renommé et académicien, il existe des cas d’inscriptions qui reproduisent des textes conservés ailleurs mais qui ne peuvent pas être repérés facilement24. Il y a donc des falsifications accidentelles et des falsifications involontaires25.

22 Un exemple remarquable est celui de la VIIe légion Augusta dans la carrière (FE, 275) de Bocchus à Olisipo (Lisbonne) considérée à tort comme une erreur, puisque l’on sait désormais qu’il s’agit bien de la VIIIe. Aujourd’hui, il est rare que les spécialistes ne prennent pas en compte cette donnée facilement repérable ne serait-ce que par un calcul des dimensions envisageables et du nombre des lettres par ligne. 23 Une règle essentielle et souvent oubliée est qu’un document au formulaire bien connu lui-même (parmi d’autres, hommages sénatoriaux ou équestres, inscriptions mi- litaires, diplômes militaires) réserve toujours des surprises: l’histoire comme recherche documentaire et son intelligibilité résident dans les détails non dans des lois générales. 24 J. Mallon y T. Marín, Las inscripciones publicadas por el marqués de Monsalud (1897-1908). Estudio crítico (Scripturae Monumenta et Studia II. Consejo superior de Investigaciones científicas, Instituto «Antonio de Nebrija» de filología), Madrid, 1951; G. Fabre, «À propos de trois faux du musée d’Igualda», Faventia, 2/1, 1980, p. 139-152. 25 Le tarif sacrificiel de Marecos, Penafiel (voir AE, 1994, 935) mal lu au départ (voir P. Le Roux et A. Tranoy, « Contribution à l’étude des régions rurales du N.O. hispanique au Haut-Empire : deux inscriptions de Penafiel », dans Actas do III Congres- so Nacional de Arqueologia Porto – 5 a 8 de Novembro de 1973, Porto, Ministério da Educação Nacional, 1974, p. 249-258), en raison des particularités nombreuses de l’inscription, avait créé un document publié dont le texte n’existait pas et atteste que, hors d’Italie, ces cas de figures et d’autres sont également nombreux pour des textes qui ne semblent pas relever de la grande histoire.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae 299

Un exemple parmi d’autres est illustré par un fragment de Rome déjà connu (CIL, VI, 1574) découvert près de la porte Pia sur le côté sud de la voie Nomentane26:

[P ? Cornelio P. ? f. ... Ta]cito Ca[---, cos, / XVviro sacris fa- ciundis, X]viro stiltib[us iudicandis, trib. / mil. leg. quaesto]ri Aug., tribun[o plebis, praetori], / ------

L’identification à Tacite est proposée en raison et de l’importance du monument, sans doute un mausolée à cause des dimensions de la plaque et de la taille des lettres, et de l’absence de surnoms en – citus autres chez les sénateurs romains de la période connus par Tacite, Pline le Jeune et d’autres sources jugées relativement abondantes27. Il y au- rait un deuxième gentilice (Ca[ecilius] ou Ca[lpurnius] mais d’autres solutions existent) suivi d’un deuxième surnom que Tacite lui-même ni Pline le Jeune n’ont jamais mentionnés, ce qui signifierait que Tacite était un adopté et non pas un fils de chevalier procurateur de la Belgique appelé comme lui Cornelius Tacitus et mentionné par Pline l’Ancien28. Ces hypothèses, qui ne sont que des hypothèses, créent des doutes autant que des certitudes et n’apportent donc pas de nouveautés sur l’historien des Annales que l’on soit tenu de suivre. En outre, les restitutions jouent tantôt sur l’absence d’abréviations tantôt sur leur existence: on ne voit pas pourquoi le tribunat de légion serait l’objet d’abréviations mais non celui de la plèbe. Certes, il ne s’agit pas de falsification ni de volonté de tromper mais on comprend aussi que la question des fasifications parle également et peut-être surtout de la discipline épigraphique29.

26 AE, 1995, 92 d’après la relecture de G. Alföldy, «Bricht der Schweigsame sein Schweigen? Eine Grabinschrift in Rom», MDAIRom, 102, 1995, p. 251-268. Fragment de plaque de marbre: 61 x 84 x 6,5 cm. Lettres: 9,5 à 13 cm. 27 L’argument peut être retourné: sans l’exemple de Tacite lui-même le surnom ne serait pas tenu pour «sénatorial». D’autres noms en -citus sont évidemment possibles et ne sauraient être exclus (voir Solin-Salomies, Repertorium, p. 472). 28 Pour le chevalier: NH, VII, 76. Le modèle nominal retenu semble avoir été influencé par CIL, II2, 14, 124 d’Edeta en Hispania Citerior: M. Cornelius M. f. Gal. Nigrinus Curiatius Maternus. L’argument de l’adoption se heurte à des débats propres à la prosopographie sénatoriale qui ne permet pas toujours de trancher entre adoption et famille maternelle associée : les arguments épigraphiques convaincants en l’occurrence vont rarement du côté de la sophistication. 29 Il serait à mon avis naïf de faire croire que seule la période d’enfance de l’épi-

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 300 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae

On sera donc étonné, voire préoccupé, de constater que les ma- nuels épigraphiques d’actualité ignorent les falsifications ou tendent à les reléguer dans le passé30. J’ai pourtant pu montrer sans être contredit qu’une inscription du secteur des mines d’or de la Valduerna avait don- né lieu à une contrefaçon naïve et d’autres données actuelles relatives à la péninsule Ibérique ou aux diplômes militaires vont aussi dans ce sens31. On le sait bien, le phénomène est constant dans le domaine de la numismatique et les causes à l’origine des «faux» de toute sorte se sont multipliées et combinées avec le temps. Il est vrai que dès l’Anti- quité des pratiques de falsification ont existé, ce que traduisait le verbe corrumpere signifiant changer en supprimant ou en remplaçant des élé- ments d’un texte ou en ajoutant des interpolations32. À titre d’exemple pour l’Antiquité, il suffit de citer l’inscription conservée à Iliturgi de Bétique en l’honneur de Ti. Sempronius Gracchus le père au IIe siècle après J.-C.33. Elle montre que les revendications illustres et à l’honneur d’une communauté en sont le moteur et continuent à l’être. Les faux attirent l’attention sur la gloire passée d’un lieu et d’une population, remède contre un oubli présent jugé injuste. Aujourd’hui plus qu’hier graphie a connu les tentations des falsifications aisées à faire passer. LeCIL montre que les faux ont continué et il faut conclure à des falsifications à toutes les époques : voir récemment les soixante-dix codices de plomb chrétiens en araméen trouvés prétendu- ment dans une grotte de Jordanie qui ne sont qu’une supercherie. 30 Les plus récents ne leur consacrent pas un chapitre ou un paragraphe, à la différence du manuel de René Cagnat : J.-M. Lassère, Manuel d’Épigraphie romaine, 2 volumes, Picard, Paris, 2005 ; J. Andreu Pintado coord., Fundamentos de Epigrafía latina, Liceus, Servicios de Gestión y Comunicaciόn, 2009. C. Bruun et J. Edmondson éd., The Oxfiord Handbook of Roman Epigraphy, Oxford University Press, New York, 2015 propose une réflexion sur «Forgeries and fakes», p. 42-65 mais limitée volontairement à l’Italie et avec l’idée sous-jacente qu’il s’agirait de pratiques anciennes dont on pourrait penser que les progrès actuels de la discipline nous prémunissent aujourd’hui. 31 P. Le Roux, «Autour de la notion d’inscription fausse», dans Épigraphie his- panique. Problèmes de méthode et d’édition, R. Étienne éd., Paris, 1984, p. 175-180. 32 Les interpolations sont souvent un piège tendu involontairement par les maus- crits de voyageurs qui ne différencient pas toujours ce qu’ils ont vu et ce qu’ils ont restitué de façon à le rendre visible et intelligible sans parler de reconstitutions erronées par la force des choses et de ce fait trompeuses. 33 CIL, II2, 7, 32 de Mengibar, Jaén, interprété comme une commémoration abusive à juste titre par R. Wiegels, «Iliturgi und der “deductor” Ti. Sempronius Gracchus», MDAIM, 23, 1982, p. 152-221.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae 301 un paramètre nouveau a été introduit concernant la mise en circulation de faux (ici épigraphiques) : le développement des recherches et des études sur les inscriptions, achetées parfois à prix d’or par les musées, constituent pour certains une source possible de revenus, ce qui rejoint la tradition ancienne des collectionneurs prêts à acquérir n’importe quel objet supposé antique. Ces remarques posent un certain nombre de questions aujourd’hui sur le sujet qui concerne l’épigraphie de la Lusitanie et des provinces latinophones. R. Cagnat dans son excellent manuel reflétant les acquis scientifiques du XIXe siècle et l’ambition d’une science exacte de l’épi- graphie proposait d’établir des règles, voire des lois concernant les do- cuments faux. En premirer lieu, il soulignait l’importance du critère de la «fides» e n v e r s l a p e r s o n n e q u i a v a i t d o n n é à c o n n a î t r e l e d o c u m e n t : un épigraphiste réputé excellent pourra être suivi jusque dans l’accep- tation des incongruités ou raretés contenues dans le document. Un per- sonnage de mauvaise foi ou connu comme malhonnête ou méritant le soupçon implique que l’on redouble de vigilance, car tout en suivant les règles il est susceptible d’introduire des inventions ou d’altérer le document dans un sens qui lui conviendrait. Il vaut mieux ignorer l’ins- cription et pour de nombreux épigraphistes aujourd’hui une copie trans- mise par un faussaire notoire doit être tenue pour un faux ! Si l’auteur de l’étude ou de la fiche est un ignorant ou n’est pas toujours irrépro- chable, il ne faut jamais tenir le document pour faux et ne tenir compte que des erreurs dues à l’incompétence. Enfin R. Cagnat insitait sur la méfiance à observer envers les textes à caractère historique traitant de grands événements ou de personnages célèbres car ils apparaissent souvent pour servir une thèse. Quand la pierre est conservée ou existe matériellement, la qualité de l’écriture et sa conformité aux façons an- tiques est le critère le plus sûr34. R. Cagnat dépendait d’une épigraphie pensée comme un texte au service des grands textes et leur faisant écho. L’épigraphie a bien chan- gé depuis35. Elle ne saurait être malgré des progrès non négligeables

34 Quoi qu’il en soit, l’épigraphie imitée ou fausse ne se limite plus à l’épigraphie noble et les inscriptions funéraires et votives peuvent aussi donner lieu à des «travestis- sements» ou à des «inventions». 35 Elle s’est en quelque sorte étoffée et n’ignore plus l’archéologie des localisa- tions, du support étudié comme un monument, l’environnement culturel et les contextes sans oublier la langue, l’écriture et les mises en série systématiques.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 302 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae une science dure ou exacte. C’est une des raisons pour lesquelles les inscriptions fausses ne peuvent pas donner lieu à une définition simple et acceptable par tous. Elles ne sont ni stables, ni permanentes, ni aisé- ment reconnaissables. Il n’est même pas sûr d’ailleurs que l’on doive considérer comme un critère ou comme une distinction pertinente le fait qu’existent des faux sur un support durable et des faux manuscrits. Le projet de la falsification est assurément le même dans l’intention. La «stratégie» ou la méthode diffèrent pour des raisons qui peuvent paraître évidentes mais qui ne le sont pas. Bien sûr, l’existence «réelle» d’une inscription induit une confiance plus grande qu’une copie manus- crite, virtuelle par définition36. Le problème du faux réside en partie sur ce qui n’est qu’un dogme: comme on l’a vu, un document existant ne peut être tenu pour faux tant que la démonstration incontestable de sa fabrication dolosive n’a pas été effectuée avec succès. L’étude épigraphique a été transformée dans des proportions plus importantes encore que ne le suggèrent ces quelques pages. J. d’Encar- nação lui-même a cultivé la notion de message pour mieux conférer sens et portée à un document épigraphique quel qu’il soit. La discipline est devenue un outil à partir duquel on peut écrire l’histoire et poser au passé des questions originales que n’autorisent pas d’autres démarches. Ce que j’ai pu mettre en évidence ici n’est rien d’autre que le fait que nous continuons à apprendre et à découvrir en partant des textes et des documents les plus connus en apparence. Ce ne sont pas les inscrip- tions inédites qui recèlent obligatoirement le plus de nouveautés. On peut même dire que c’est plus souvent l’inverse dans la mesure où un nouveau document devrait, en bonne doctrine, être ramené aux mo- dèles et aux séries connues. Jamais à ma connaissance s.t.t.l. n’avait été confronté à Pline l’Ancien. La question des faux ne doit pas être vue comme quelque chose de négatif, comme une faiblesse dont on devrait se détourner. Il faut au contraire la regarder avec franchise, sans préju- gés. La falsification appartient pleinement à nos réflexions sur la disci- pline documentaire dont elle exprime et reflète les acquis, les difficultés et les méthodologies aussi variées que modifiables.

36 Malgré ce que pensent des épigraphistes, il n’y a pas de différence de nature entre des inscriptions transmises par des manuscrits et des inscriptions copiées et faxées ou scannées.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae 303

BIBLIOGRAPHIE

Alföldy, G., «Bricht der Schweigsame sein Schweigen? Eine Grabinschrift in Rom», MDAIRom, 102, 1995, p. 251-268. Andreu Pintado, J. coord., Fundamentos de Epigrafía latina, Liceus, Servicios de Gestión y Comunicaciόn, 2009. Beltrán Lloris, F., «The “Epigraphic Habit” in the Roman World», dans The Oxford Handbook of Roman Epigraphy, C. Bruun et J. Edmondson éd., Oxford Unver- sity Press, 2015. Bruun C. et J. Edmondson éd., The Oxford Handbook of Roman Epigraphy, Oxford Unversity Press, 2015. Encarnação, J. d’, «Da invenção de inscrições romanas pelo humanista André de Re- sende», dans Biblos, 67, 1991, p. 193-221. Encarnação, J. d’, «Les armes, l’histoire et le pouvoir» dans Visions de l’Occident ro- main. Hommages à Yann Le Bohec, textes réunis par Bernadette Cabouret, Agnès Gros-Lambert, Catherine Wolff, CEROR 40, 1, Lyon, 2012, p. 449-453. Dictionnaire des Antiquités grecques et romaines, Ch. Daremberg & Ed. Saglio, V, Hachette, Paris, s. d. Dumézil, G., La religion romaine archaïque, Payot, Paris, 2e édition, 1974. Fabre, G., «À propos de trois faux du musée d’Igualda», Faventia, 2/1, 1980, p. 139- 152. Lassère, J.-M., Manuel d’Épigraphie romaine, 2 volumes, Picard, Paris, 2005. Le Roux, P. et A. Tranoy, «Contribution à l’étude des régions rurales du N.O. hispani- que au Haut-Empire: deux inscriptions de Penafiel», dansActas do III Congresso Nacional de Arqueologia Porto – 5 a 8 de Novembro de 1973, Porto, Ministério da Educação Nacional, 1974, p. 249-258. Le Roux, P., «Autour de la notion d’inscription fausse», dans Épigraphie hispanique. Problèmes de méthode et d’édition, R. Étienne éd., Paris, 1984, p. 175-180. Mac Mullen, R., «The Epigraphic Habit in the Roman Empire», AJPh, 103, p. 233- 246. Mallon, J. y T. Marín, Las inscripciones publicadas por el marqués de Monsalud (1897-1908). Estudio crítico (Scripturae Monumenta et Studia II. Consejo supe- rior de Investigaciones científicas, Instituto «Antonio de Nebrija» de filología), Madrid, 1951. Mariner Bigorra, S., Inscripciones hispanas en verso, CSIC, Barcelone-Madrid, 1952. Navarro Caballero, M. et J. L. Ramírez Sádaba (Coord.), Atlas antroponímico de la Lusitania Romana, Mérida, Fundación de Estudios Romanos, Bordeaux, Auso- nius, 2003. Stanley Jr, Farland H., «CIL II, 115: Observations on the only Sevir Iunior in Roman Spain», ZPE, 102, 1994, p. 226-236. Wiegels, R., «Iliturgi und der “deductor” Ti. Sempronius Gracchus», MDAIM, 23, 1982, p. 152-221.

Conimbriga, 55 (2016) 289-303 Página deixada propositadamente em branco Vasco Gil Mantas Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra [email protected]

ARQUEOLOGIA E IDEOLOGIA. REFLEXÕES SOBRE UM TEMA INCÓMODO

ARCHAEOLOGY AND IDEOLOGY. REFLECTIONS ON AN UNCONFORTABLE TOPIC “Conimbriga” LV (2016) p. 305-348 https://doi.org/10.14195/1647-8657_55_16

Resumo: A permeabilidade das ciências humanas às pressões e condicio- nalismos característicos de determinadas épocas ou regiões tem motivado acesas discussões, nem sempre conduzidas com a im- parcialidade e o rigor exigíveis. Trata-se de um fenómeno identi- ficável em todos os regimes, por razões políticas ou outras, com notável desenvolvimento sempre que se verifica a necessidade de reforçar ou criar identidades nacionais ou étnicas. Um dos efei- to da utilização ideológica da arqueologia, envolve a destruição sistemática de património arqueológico, sobretudo quando consi- derado simbólico, situação que repete outras anteriores, com um agravamento de consequências ainda imprevisíveis.

Palavras-chave: Arqueologia, Ideologia, Conflitos.

Abstract: The perviousness of the social sciences op the pressures and cons- traints of a given time or region motivates heated debates, which are not always conducted with the proper impartiality and thorou- ghness. This is a phenomena that can be identified in all regimes, for political or other reasons, com notable development whenever it is necessary to reinforce or create national or ethnical identities.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 One of the consequences of using archeology in ideology includes the systematic destruction of archaeological sites, most notably when held as symbolic, something that happens repeatedly, with still unpredictable consequences.

Keywords: Archaeology, Ideology, Conflicts. ARQUEOLOGIA E IDEOLOGIA. REFLEXÕES SOBRE UM TEMA INCÓMODO

Uma das personagens de Noite e Dia, conhecido romance de Virgínia Woolf, distraindo-se no Museu Britânico na observação dos mármores Elgin deixa-se elevar a sentimentos de prazer estético, de beleza pura, que acabam, qual corrente da consciência, por conduzi-la a reflectir sobre o amor e a pessoa amada (Woolf 2012 73-74). Pode parecer deslocada esta introdução, não tanto pela alusão aos discutidís- simos monumentos levados para Londres por Lorde Elgin (Boardman 1964 9-14,130-133), mas por invocar uma relação aparentemente ab- surda entre emoções amorosas e arte antiga, ou, se quisermos ser mais abrangentes, arqueologia. Na verdade, não é assim, pois definindo a arqueologia como the exercice of controled imagination, de acordo com a afirmação de Bradford (Bradford 1957 viii), estamos perante uma realidade que, pela sua natureza, não se pode circunscrever rigidamente ao campo científico com exclusão de outros, tal como sucede com as ciências humanas em geral, em grande parte ciências da Memória. Sem desejarmos retirar à arqueologia a condição de ciência por direito próprio (Mantas 2007 33), não podemos ignorar esta questão essencial. Por isso, da mesma forma que a observação dos mármores Elgin permitiu a Mary Datchet destacar-se da realidade objectiva para mergulhar em devaneios românticos, que nunca são totalmente alheios à realidade, também a arqueologia se presta a diversões mais ou menos à margem do que se pensa científico. Será esta circunstância exclusiva das ciências humanas, por vezes assumida como um pecado original, motivador de uma situação de menoridade inultrapassável? Ora, na ver- dade, não faltam exemplos na área das ciências exactas de evidentes derrapagens, cujas causas são, com frequência, as mesmas que prejudi- cam a história e a arqueologia quando confrontadas com pressões so- ciais incontornáveis. E não sejamos ingénuos, pois uma e outra, sofrem de igual prejuízo, apesar da prática arqueológica aparentar maior apro-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 308 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia ximação a exigências técnicas consideradas científicas. Mas o problema não se prende, nem assim poderia ser, com uma simples divergência de metodologias, pois a questão central reside na interpretação das fontes, sejam elas arqueológicas ou escritas, e neste caso a arqueologia ainda se revela mais vulnerável. Passemos, pois, ao que mais directamente nos interessa, recordan- do um passo de Ernst Jünger que nos parece esclarecer o que dissemos, tanto mais que não se trata de um arqueólogo e o que escreveu tem valor universal, embora certamente pensado para um contexto muito marcado, o da Alemanha nacional-socialista: Como todo o teórico gros- seiro, alimentava-se também daquilo que a ciência oferecia de menos intemporal, praticando em especial a arqueologia. Não era suficiente- mente perspicaz para suspeitar de que a nossa pá põe infalivelmente a descoberto aquelas coisas que nos vivem na mente, pelo que, como já muitos outros antes dele, julgava ter descoberto a sede primitiva do género humano (Jünger 1995 145-146). Ora, este passo do escritor alemão sublinha claramente o pro- blema, central na prática arqueológica, da interpretação. Naturalmente, se nos limitarmos a descrever um objecto, evitando a tentação da sua explicação em termos sociais, acto simplificado que para alguns corres- ponde à função primordial da arqueologia, excluímos as dificuldades interpretativas, mas renunciamos ao discurso histórico, adoptando uma inaceitável atitude redutora. Devemos dizer desde já que, em determina- das sociedades não foi e não é possível concretizar a actividade arqueo- lógica sem que ela funcione como suporte dito ou considerado cientí- fico de interpretações ao serviço de atitudes ideológicas. A arqueologia é particularmente vulnerável a este tipo de manipulação por correspon- der a uma actividade científica cujos resultados permitem, manuseados, sustentar ideias falsas ou deturpadas, assegurando-lhes credibilidade. Nestas situações, os resultados do acto interpretativo, através de um processo mais ou menos elaborado de representação, termina por con- duzir à sua finalidade como generalização simbólica, maioritariamente pertencente ao campo do imaginário ou do mítico. Mesmo em condições normais, ou seja, quando a pressão sobre os arqueólogos resulta apenas das condições materiais da investigação ou dos lugares comuns vigentes numa determinada sociedade, a expli- cação do objecto em causa resulta frequentemente difícil sempre que pretenda, como deve, ultrapassar a simples descrição (Alarcão 1997 11-32; Alarcão 2000). Consideremos outro exemplo literário, neste

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 309 caso através de Somerset Maugham, o do achado algures na China, na periferia do Tibete, de um troço de estátua grega, eventualmente representando Alexandre. A classificação do fragmento como de ori- gem grega não levantou dúvidas, mas a forma como foi sentida pelo seu autor abre-nos caminho para questões mais sérias: Falava-me uma linguagem que me era familiar. Repousava-me o coração. Até aqui, identificação, sentimento de pertença, ou seja, aquilo que nos diferencia dos outros, enquanto comunidade cultural. E este sentimento vai pre- dominar sobre a explicação histórica, passando rapidamente ao campo das leituras simbólicas, facilmente transmissível a públicos numerosos, mesmo educados, ou talvez por isso: Que magnificência não evoca- va aquele devastado fragmento de mármore, e que aventuras! Quanto tempo terá durado o reino e que tragédia assinalaria a sua queda? Ah! Eu não podia olhar as bandeiras tibetanas, nem as taças verdes; pois eu via o Parthenon, na sua beleza, e, mais além, o azul tranquilo do mar Egeu (Maugham s/d 211-214). A utilização do monumento mais prestigioso da Grécia antiga como símbolo, não poucas vezes ambíguo, de identificações, continui- dades ou heranças, é redundante e por vezes perturbadora pelo contexto em que ocorre, embora perfeitamente compreensível. Recordamos que num folheto relacionado com uma reunião científica na ilha dinamar- quesa de Bornholm, foi aquele templo ateniense escolhido para tutelar a informação disponibilizada, embora não faltem em Bornholm testemu- nhos pré-históricos e medievais significativos. É evidente que, no início do século XXI, recorrer ao Parthenon como logótipo de uma reunião na Dinamarca reflecte claramente a identificação ideológica com valores fundacionais, em que à Grécia, pátria da democracia, era atribuído um lugar essencial (Rocha Pereira 2008 11-24), pelo menos antes de se tornar alvo de críticas generalizadas surgidas na sequência de uma crise económica de que os gregos não são certamente os únicos culpados, tornados agora símbolos de sinal contrário. Como é evidente, a leitura dos símbolos só tem sentido no seu contexto próprio, o que, mesmo assim, nem sempre é fácil. Lembra- mos, a este propósito, o discutido e recorrente tema da chamada decora- ção astral, com frequência considerada característica do mundo céltico, esquecendo ou ignorando a sua forte ocorrência em lugares como Israel ou Marrocos, assim como os complexos processos difusionistas que co- nheceu, nomeadamente no mundo romano (Marco / Abásolo Álvarez 1995 327-359). Na interpretação dos símbolos, e o mesmo sucede com

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 310 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia a interpretação tendenciosa de determinados fenómenos históricos, o princípio repetitivo desempenha uma função primordial, sobretudo se uma opinião contrário for marginalizada ou considerada, por alguma razão, imprópria. Basta recordar as polémicas que têm envolvido ul- timamente a Turquia a propósito do problema arménio e grego e das estranhas afirmações sobre a descoberta da América convictamente proferidas pelo presidente deste país. Socorremo-nos de outro exemplo literário para ilustrar esta ques- tão, neste caso a leitura da perturbante obra de Pierre Boule, O Planeta dos Macacos, cujas adaptações cinematográficas a não dispensam, na qual encontramos o exemplar episódio do jovem investigador que des- cobre provas arqueológicas inquestionáveis de que os humanos foram, no passado, falantes e civilizados, opinião imediatamente condenada e sancionada pela academia dominada pelos defensores das verdades oficiais (Boule s/d 165-175). Ficção científica ou reflexo de realidades sempre presentes quando a ideologia se intromete com a investigação, como tão frequentemente sucede e, por vezes, quando e onde menos se espera? Não duvidamos em optar pela última hipótese, pois o problema é o do estabelecimento de uma verdade oficial ou oficializada. A distorção dos dados arqueológicos, tal como a de outras fontes históricas, pode ser involuntária, não abrangendo neste caso os especia- listas da matéria, o que já não sucede quando é voluntária, quase sempre motivada por razões políticas, religiosas ou económicas, não raramen- te associadas. Neste contexto podem ser atribuídos valores opostos ao mesmo monumento, positivos ou negativos consoante a interpretação partilhada por quem o avalia. Se é verdade que muitos monumentos arqueológicos foram, e são, vítimas de destruição por razões políticas ou religiosas, o mesmo acontece por razões económicas. Poderíamos recordar apenas as irreversíveis perdas causadas pela construção de grandes barragens1, mas não podemos esquecer os estragos no patrimó- nio arqueológico provocados injustificadamente em nome de interesses económicos, dos quais todos conhecemos um ou outro caso, a coberto de um progresso de objectivos pouco claros, dificilmente contestável em termos sociais.

1 Como sucedeu em Portugal com a construção da barragem de Alqueva, apesar das acções de emergência efectuadas no sentido de limitar os estragos. A perda do Cas- telo da Lousa, só por si, é lamentável. E estará a barragem, cuja construção se politizou a partir de determinado momento, a cumprir os seus objectivos económicos?

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 311

Não faltariam exemplos destas situações, algumas dificilmente admissíveis, se aqui as desejássemos indicar, o que nos afastaria do tema central desta reflexão, ainda que a economia se revista de aspectos ideológicos muito pertinentes, em que a eficiência e a rentabilidade são normalmente os factores mais valorizados. Basta recordar a voga da eufemisticamente chamada requalificação de monumentos antigos, des- caracterizando-os ou transformando-os em simples pastichos, de que o acontecido no teatro romano de Sagunto, em Espanha é um excelen- te exemplo (Mantas 2008 179-180), tudo em nome de uma pretensa recuperação das ruínas para novas funções, quando não apenas para satisfazer o gosto do turismo de massa por cenários vagamente antigos, não hesitando em sacrificar com bárbara indiferença o que é verdadeiro, embora arruinado, demolindo-o, ocultando-o ou descaracterizando-o. Não rareiam, também entre nós, exemplos desta moda perversa, com a infelicidade de frequentemente deixar de parte os arqueólogos, transferindo o nível de decisão para os que se deveriam limitar a aspec- tos técnicos e estéticos. Perante o que se vai vendo parecem-nos exage- radas as constantes críticas aos trabalhos desenvolvidos pela desapare- cida DGEMN, a integrar no Zeitgeist da época, preocupado com uma maneira de fazer portuguesa. Deixemos por ora esta questão, a merecer uma análise cuidada, pois envolve com frequência aspectos ambíguos, onde a economia e a política se conjugam, por vezes harmoniosamen- te. É o caso da Muralha da China, ou melhor, de uma das muralhas, a da Dinastia Ming, estrutura defensiva complexa (Schwartz / Zhewen 2001), deixada longamente ao abandono e muito destruída por não se lhe reconhecer interesse simbólico nem valor material, situação que se alterou nos últimos anos por evidentes razões económicas relacionadas com os fluxos turísticos e, simultaneamente, pelo facto da Grande Mu- ralha simbolizar agora o esforço colectivo dos Chineses e não o resulta- do do despotismo desta ou daquela dinastia. Não esqueçamos que, na actualidade, grande parte da ideologia se baseia em simples pressupostos economicistas, segundo os quais o cor- recto e o incorrecto se identificam com o factor rentabilidade, pelo que não nos devemos admirar quando até museus de renome colocam peças à venda em leilões, abrindo novo campo à já de si complicada polémica do direito à devolução de obras obtidas de forma vagamente legal nos países que agora as reclamam, alguns dos quais de formação recen- te. É claro que, no século XIX e durante grande parte do século XX, muitas destas aquisições nem eram resultantes de guerras ou de saques

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 312 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia mais ou menos organizados, como agora vai sucedendo diariamente, mas assentavam numa prática comum nas escavações oficiais, como nos explicou Agatha Christie numa obra que todos os arqueólogos de- viam ler: O momento escaldante da “divisão” aproxima-se. No final da temporada o director dos Services des Antiquités vem ou manda um representante, para dividir todos os achados dessa temporada. No Iraque isso costumava ser feito objecto a objecto, e geralmente levava vários dias. Na Síria, porém, o sistema é muito mais simples. Cabe a Max dividir em duas partes tudo aquilo que foi encontrado, da maneira que lhe apetecer. Depois o representante sírio vem, examina as duas séries de objectos e escolhe aquela que quiser que fique para a Síria. Em seguida a outra é embalada e despachada para o Museu Britânico (Christie 2010 235-236). Cremos ser altura de nos ocuparmos de alguns casos de interferên- cia, directa ou velada, de opções ideológicas nas actividades arqueoló- gicas ou na divulgação dos seus resultados reais ou imaginários, sem esquecer aquelas situações em que o património arqueológico, assu- mido simbolicamente, é exaltado por uns e destruído por outros. Desta forma não nos é difícil compreender que Saddam Hussein tivesse o seu nome inscrito em tijolos da “reconstruída” Babilónia (Fig. 1), cir- cunstância que tem o seu oposto ideológico, se a tanto o promovermos, no vendaval de destruição protagonizado pelo movimento jihadista no Iraque e na Síria. Da indiferença pelo monumento passou-se, facilmen- te, ao ódio pelo mesmo enquanto símbolo. Poderíamos recuar alguns séculos mas entendemos concentrar as nossas observações na época contemporânea com particular enfâse no século XX e nestes anos con- turbados e premonitórios do século XXI, que tão nocivos se vêm reve- lando para patrimónios dos quais nos continuamos a proclamar cada vez mais timoratos herdeiros. A referida interferência não é, todavia, uma invenção do mundo contemporâneo, embora o fortalecimento dos estados nacionais tenha contribuído para o processo, tanto mais que muitos deles são falsos estados, fundamentando em bases políticas a parceria ideológico-cien- tífica de que falamos, nem sempre, é certo, com os mesmos objectivos, mas assente numa teia centrada no recurso à investigação para confir- mar ou infirmar uma realidade ou o que assim se considera à luz de uma qualquer autoridade. Os eruditos que, já em pleno Iluminismo, nos deixaram copiosas páginas sobre a fundação desta ou daquela povoação por figuras bíblicas ou da tradição clássica não o faziam irreflectida-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 313 mente e acreditavam no que escreviam, agindo de acordo com o am- biente sócio-cultural da sua época e quadro civilizacional. Não deixa de ser interessante verificar que a busca de confirmação através da prática de escavações, preludiando uma atitude científica, ocorre cedo em Portugal, ainda que no campo da hagiografia e de forma tendenciosa, como foi o caso da escavação de uma necrópole romana perto do santuário dos Santos Mártires, nos arredores de Tomar, em 1659, relacionando-a, como se pretendia, com os mártires de Concor- dia, oportunamente situada na Beselga (Mantas 2012 309), fazendo, desta forma, a conclusão anteceder a prova: testemunhos arqueológicos correctos comprovando, através de uma metodologia ao inverso, uma tese claramente fantasista. Seja como for estamos perante um caso claro de arqueologia condicionada ideologicamente, engagé, diriam os nos- sos amigos francófonos. Nem sempre é fácil, num contexto de uso consciente da arqueo- logia como suporte ideológico, separar as intenções políticas de ou- tras ditadas por aspectos culturais, no sentido mais alargado do termo. Aliás, são estes aspectos que facilitam ou determinam as situações que vamos referir em seguida, infelizmente vividas na actualidade com uma violência incomum, embora não inédita, e que obriga a repensar de for- ma pragmática os lugares comuns do discurso político contemporâneo, incapaz de sustentar o confronto com as realidades que tornam o fim da história um mito infantil e perigoso. O tema aqui esboçado levar- -nos-ia longe, exigindo páginas de que não dispomos. Passamos, pois, a desenvolver rapidamente algumas referências a situações envolvendo cumplicidade e conflitualidade entre arqueologia e política, entendidas senso lato e na base do binómio identificação / rejeição. Um dos aspectos a considerar é o da influência maior ou menor da valorização deste ou daquele período histórico sobre a arqueolo- gia, em particular a nível nacional envolvendo questões de identidade (Rowlands 1994 129-143), atitude da qual resultou, ou resulta ainda, a atribuição privilegiada de meios para desenvolver programas de inves- tigação. Esta situação, que acompanhou o apogeu do ensino público das Humanidades nos séculos XIX e XX, conhece hoje alterações significa- tivas ditadas não menos do que antes por razões de estratégia política, como acontece na União Europeia quando se busca uma plataforma histórico-cultural suficientemente ampla para nela inserir países ou re- giões com características específicas, elegendo a Idade do Bronze, o Celtismo ou a Antiguidade Tardia como referências unificadoras (Gra-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 314 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia ves-Brown / Jones / Gamble 1996; Jones 1997 1-14), mais amplas ou mais vagas que o modelo imperial romano (Ward-Perkins 2003 9-22, 225-244), ainda que este seja largamente apontado como exemplo teó- rico a observar pela União Europeia (Mantas 2012a 47-73), confron- tada com problemas de aculturação e de imigração que se vão tornando dramaticamente impossíveis de gerir e cujos reflexos se encontram em inesperados contextos visionários, nem por isso menos merecedores de profunda reflexão (Houellebecq 2015 138-141, 254-255) A valorização da pesquisa arqueológica vocacionada para deter- minado período pode relacionar-se facilmente com as correntes nacio- nalistas e que se foram desenvolvendo e em certos casos, renovando, desde que a arqueologia ganhou estatuto de autêntica ciência. O papel central da Europa neste processo deve ser considerado sem comple- xos, tanto mais que a lógica que o condicionou se estendeu a outras regiões do globo culturalmente afins e por isso mesmo interessadas nas mesmas temáticas. Estão neste caso a chamada Arqueologia Bíblica e a Arqueologia Clássica, praticadas dos dois lados do Atlântico desde muito cedo, por razões religiosas e de educação humanística. Como é natural, o desenvolvimento dos impérios coloniais estimulou a investi- gação de outras realidades culturais, surgindo estudos de grande mérito sobre arqueologia islâmica ou indiana, por exemplo, ainda que muitas vezes marcados por um forte eurocentrismo reflectindo a pertença a um lugar considerado privilegiado, característico das políticas identitárias (Rose 1995 87-105). Recordamos, a propósito, a afirmação atribuída a Platão: O que nós, Gregos, tomamos dos estrangeiros, transformamo-lo em algo mais belo (Pseudo-Platão Epin. 987). Casos particularmente interessantes são os da Egiptologia e da Assiriologia (Sauneron 1968 5-29; Garelli 1972 5-41), especialida- des cujo início antecede o domínio europeu sobre o Crescente Fértil e que, abstraindo dos aspectos bíblicos, dificilmente se podem inserir na ideia de identidade cultivada na Europa do século XIX. Todavia, se considerarmos o enorme esforço de projecção científica internacional empreendido na época pelos principais estados europeus, no cenário de afirmação nacionalista próprio do período, facilmente se compreende o sucedido. De outra forma não existiriam as grandes colecções dos museus de Londres, Paris ou Berlim, hoje tão discutidas à margem do fundamental papel de salvaguarda de patrimónios inestimáveis que têm desempenhado. Não vale a pena ser maniqueísta, pois sem a interven- ção ocidental é evidente que não só testemunhos essenciais das antigas

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 315 civilizações asiáticas e africanas se teriam perdido, como a sua histo- riografia conheceria um ritmo de desenvolvimento muito mais lento. Lembramos o que Sabatino Moscati escreveu sobre os resultados da investigação levada a efeito no Próximo Oriente no período entre as duas guerras mundiais para que se reconheça o alcance científico de tais investigações (Moscati 1963 3-8), em certos casos iniciadas ainda an- tes de 1914 no âmbito da diplomacia ou da espionagem, em particular nos territórios otomanos (Richter 2008 212-240). Também em Portugal, apesar da modéstia da arqueologia nacio- nal e da circunstância dos territórios ultramarinos não se prestarem a revivalismos como os que marcaram a ideologia imperial britânica, francesa e italiana, encontramos, nos séculos XIX e XX, uma preo- cupação identitária acolhida pelas elites e através delas popularizada, sobretudo pela via do ensino primário e secundário. Herdeiros de uma prestigiosa história marítima, da qual o período medieval de afirmação da Nacionalidade era considerado o prólogo, os ideólogos portugueses desenvolveram, naturalmente, uma leitura da história centrada nos va- lores cristãos e civilizadores, não se deixando tentar por identificações com a Antiguidade Clássica, como evidencia tanto a literatura como a ubíqua arquitectura neomanuelina (Anacleto 1994). Todavia, desde o século XIX que se debate a questão da origem do povo português, o que tem alguma coisa a ver com o desenvolvimento precoce da arqueologia pré-histórica nacional, quando comparada com a de outros períodos. Num Estado-Nação como Portugal não era difícil defender a tese da continuidade entre os Portugueses actuais e os Lusitanos, como o fez Leite de Vasconcelos, claramente contrário à visão medievalista de Oli- veira Martins (Matos 1994 11-33), tese que ganhou ainda maior desen- volvimento com Mendes Corrêa ao afirmar para a população portuguesa uma origem autóctone ainda mais antiga (Corrêa 1924). Desta forma, todos os povos que contribuíram para a formação cultural e étnica dos Portugueses ao longo de milénios eram considerados como invasores, elementos exóticos em oposição mais ou menos aberta aos indígenas. É claro que esta interpretação da história antiga do território português, valorizando a ascendência lusitana (Encarnação 1993-1994 35-42), não foi caso único nem pode ser considerada típica dos regimes autori- tários que se desenvolveram na Europa no século XX, tanto mais que os encontramos em data anterior e em países como a França, onde a escola pública ensinava serem os Gauleses os antepassados dos jovens france- ses (Bruno 1877 133). Como é evidente, esta interpretação unitária das

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 316 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia origens conheceu em Portugal dificuldades a partir de meados do século passado, tornando-se politicamente inadequada, tal como o seu símbolo máximo, Viriato (Guerra / Fabião 1992 9-23). Um excelente exemplo do que dizemos, ainda que a maioria dos visitantes não se apercebam do discurso histórico produzido, é o con- teúdo formal do Portugal dos Pequenitos (Oliveira 2004 40-56), belo parque temático conimbricense delineado por um reconhecido opositor ao regime, Cassiano Branco, cuja construção se iniciou, por iniciativa de Bissaya Barreto, em 1938. Ora, as referências ao período anterior à Nacionalidade reproduzem linearmente a doutrina oficial quanto às ori- gens portuguesas, notando-se a influência das teses de Mendes Corrêa na curiosa anta que coroa no Portugal dos Pequenitos a mina do Cabo Mondego. Não se encontra nenhuma alusão à presença romana, à qual o programa de história do Ensino Primário apenas reconhecia a origem da língua, a construção de monumentos, o municipalismo e, sobretudo, a introdução do Cristianismo (Barros s/d 4-8). Quanto ao período is- lâmico, agora em voga2, o único apontamento visível no Portugal dos Pequenitos consiste nos combatentes mouros tombados sob o cavalo do Rei-Fundador, o que dispensa qualquer comentário, tão imediata é a interpretação do monumento. Na mesma linha nacionalista se situaram as escavações conduzidas pelo coronel Afonso do Paço no campo de batalha de Aljubarrota, em 1956 e 1957, aliás com resultados um tanto contrários à versão oficial do prélio (Paço 1965). Em conclusão, pode- mos considerar que os esforços dos humanistas portugueses para valo- rizar a herança latina, e basta lembrar André de Resende e Francisco de Holanda (Resende 2009; Holanda 1984), não tiveram eco político assinalável em tempos posteriores, precisamente por não se apresenta- rem ideologicamente operacionais (Fabião 1996 90-107). Na vizinha Espanha, onde os regionalismos e as especificidades culturais se fazem sentir com muito maior acuidade, a arqueologia foi envolvida no debate entre o Celtismo e o Iberismo em oposição a outros contributos étnico-culturais, valorizando-se ciclicamente as opiniões que valorizavam uma interpretação unitária (Ruiz Zapatero 1996 179-195). Mais abertos à influência romana, embora não descu- rando a presença germânica, patente na base da teoria da ,

2 O que talvez explique a proliferação de publicações com títulos árabes, entre outros exotismos.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 317 os arqueólogos do país vizinho dedicaram-se largamente à prática da arqueologia clássica, ao que também não foi alheio um forte contribu- to de investigadores estrangeiros, em particular alemães e franceses. Como é compreensível, durante o regime franquista, nacionalista e unitário, a Antiguidade foi interpretada de forma a favorecer aspectos unificadores do passado espanhol (Polo 2014 571-578), sem esquecer a resistência oposta à conquista romana, de que as ruínas de Numância representavam um símbolo ideal, por se tratar de um grande povoado celtibérico cuja queda após uma resistência desesperada representou, poucos anos depois da morte de Viriato, o golpe decisivo na resistência peninsular aos Romanos. Devemos sublinhar que a valorização do episódio não foi exclu- siva do imaginário franquista, remontando à tragédia de Cervantes La Numantia, redigida cerca de 1582 (Vivar 2000 7-30); no século XIX, uma fragata foi baptizada como Numancia3, o mesmo sucedendo com uma unidade da actual Armada espanhola (F 83). Como é evidente, as questões nacionalistas ultrapassam facilmente os regimes. Seja como for, e apesar do período romano ser particularmente valorizado pela introdução do Cristianismo, chegou a desenvolver-se, sobretudo por in- fluência de António Almagro, a tese da hispanização de Roma (Polo 2009 3-10), uma espécie de romanização à l’envers na qual o aspecto religioso constituía elemento relevante, tese que não deve ser confundi- da com idêntica designação atribuída mais recentemente ao ascendente atingido durante os Antoninos pelas elites hispânicas no governo e po- líticas do Império. Sem que houvesse uma identificação com a roma- nidade, à qual se reconhecia o legado da Lei e da Unidade, não deixou de se cultivar uma certa estética romanesca, classicista, talvez induzida por via italiana, patente, por exemplo, no Arco da Vitória (Fig. 2), em Madrid (Atard 1971), cujos esboços iniciais remontam a 1942, embora a construção se tenha iniciado mais tarde4, arrastando-se até 1956. As escavações lentamente desenvolvidas em sítios de prestígio internacio- nal (Diaz-Andreu / Ramírez-Sánchez 2007 109-130), como Mérida,

3 A Numancia, construída em França, foi o primeiro navio couraçado a circum- -navegar o globo, entre 1865 e 1867. Teve uma vida muita activa, naufragando em Sesimbra, em 1916, quando seguia a reboque para demolição em Bilbau. 4 Presentemente esboça-se um movimento de opinião, inspirado na Lei da Memó- ria, exigindo a demolição do monumento, o que consideramos um erro político e cultu- ral. Com ou sem pedras, a história existe e o ambiente actual não aconselha tais atitudes.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 318 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia e o relativo respeito demonstrado por alguns monumentos romanos du- rante a construção da barragem de Alcântara, por exemplo, demonstram a abertura do regime à herança romana como um valor da civilização ocidental. O estabelecimento do protectorado em Marrocos, onde se efectuaram escavações importantes em Lixus e em Tamuda aproveitou em parte a ideia da reconstituição da Mauritania Gaditana do Baixo- -Império romano (Villaverde Vega 2001 60-63, 71-73). O uso da Antiguidade europeia no discurso ideológico imperial foi muito mais forte nos países que dominaram territórios onde os vestígios do mundo romano eram mais evidentes e imponentes. Todavia, nem sempre podemos relacionar esta atitude com o passado desses países ou com a sua real ou pretendida continuidade racial, em parte defensável para a Itália e para a França, implausível quanto ao Reino Unido, onde o fenómeno teve particular importância, apesar de só muito tardiamen- te terem assumido o controlo de espaços outrora pertença do mundo romano. No caso britânico deparamos com a adopção intelectual de uma atitude equiparando os dois impérios e as suas missões civiliza- doras, destinando-se o Império Britânico a ultrapassar em grandeza o seu modelo ideológico, o Império Romano, como a inscrição no belo e fantasista monumento comemorando a rainha rebelde Boudica (Sealey 1997), em Londres, proclama: Regions Caesar never knew / Thy poste- rity shall sway (Cowper 1818 32). A importância da educação humanista das elites britânicas, de al- guma forma considerada preparatória do exercício do poder e formado- ra de valores morais e políticos nos quais se enquadrava perfeitamente o serviço imperial (Jones 2008 26-49), teve um papel decisivo na for- ma como o legado romano foi incorporado na cultura do Reino Unido, inclusive através de narrativas destinadas aos mais jovens, como as de Rudyard Kipling (Kipling 1906). Desta forma, não é de estranhar o in- teresse que os arqueólogos britânicos demonstraram pelas antiguidades romanas, sem esquecer, naturalmente, os períodos anteriores e posterio- res ao domínio romano, menos convenientes, pelo menos de forma di- recta, ao discurso imperial. Devemos sublinhar, contudo, o enorme tra- balho desenvolvido fora da Europa, em regiões de velhas civilizações como o Próximo Oriente, a Índia e o Paquistão, bem representado por arqueólogos como Mortimer Wheeler (Piggott 1977 623-642; Guha 2003 4-10), polifacetada figura da arqueologia do século XX. O estudo do grupo social em que se situavam maioritariamente os arqueólogos britânicos durante grande parte do século passado, permi-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 319 te compreender facilmente as suas relações com a ideologia imperial (Taylor 1995 499-509), antes de agora encontramos parte deles com- prometidos com um discurso regionalista, por vezes radical, e com a crítica das visões coloniais do passado, por vezes não menos ideológica do que a daqueles que censuram (Mattingly 1997; Moffat 2005 226). A arqueologia, por outro lado, e não apenas no caso britânico, teve com frequência aspectos ambíguos, prestando-se a cobrir actividades me- nos científicas, sobretudo nos finais do século XIX e primeiras décadas do XX (Satia 2008 3-19), particularmente quando tais actividades se desenvolviam no estrangeiro. Recordamos a extraordinária acção da inglesa Gertrude Bell (Fig. 3), que viria a criar o Museu de Bagdade (Winstone 2004), figura muito próxima do famoso T. E. Lawrence5, as- sistente de Leonard Woolley na escavação do sítio hitita de Karkemish, no Eufrates, empreendida entre 1911 e 1914 pelo Museu Britânico, e simultaneamente agente secreto ocupado no estudo do caminho-de-fer- ro otomano Istambul-Bagdade, construído pelos alemães. Lawrence era um excelente conhecedor da região, incluindo o deserto de Negueve, o que se revelou decisivo na condução da Revolta Árabe contra o domí- nio turco (Mack 1998 68-165). Outro aspecto a ter em conta na sociedade britânica, sobretudo no período anterior à Grande Guerra, é o da interacção da arqueologia com certas correntes, artísticas ou religiosas, quando não mesmo esotéricas, como no caso da ligação de monumentos megalíticos, com particular destaque para Stonehenge, ao druidismo e às suas versões revivalistas. Uma popular figura da sociedade vitoriana, o general Charles Gordon, morto na defesa de Cartum em 1885, homem de fortes convicções, de- dicou-se também a estudos de arqueologia bíblica, tentando identificar a localização do Paraíso e da colina do Calvário, em Jerusalém (Wilkin- son 1978 146-147, 198-200). Embora muitas destas figuras não possam situar-se no círculo dos arqueólogos profissionais, se podemos utilizar o conceito para a época, não deixa de se verificar o significativo impacte, sobre as classes cultas, dos estudos arqueológicos então desenvolvidos, passando através destas a camadas sociais mais amplas. Uma imagem mais ou menos romântica da Antiguidade, cuja uti-

5 Sobre a actividade de Gertrude Bell, largamente inspiradora da criação do Es- tado iraquiano, foi lançada recentemente (2015) uma película pouco conseguida, prota- gonizada por Nicole Kidman.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 320 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia lização ideológica foi por vezes evidente, encontra-se difundida atra- vés da produção de diversos artistas, merecendo sublinhar neste caso a obra do pintor Lawrence Alma-Tadema, que abrange assuntos que vão da História Bíblica à Antiguidade Tardia, ainda que se distingam os trabalhos relativos ao mundo romano, tratados com grande pormenor (Fig. 4), não isentos pontualmente de algum espírito crítico (Swanson 1977; Mantas 2008a: 71-78), afastando esta interpretação do sonho romano vitoriano quer dos lugares comuns eróticos6, quer das inumerá- veis ruínas nascidas do pincel dos pompiers (Breton 2010), inspirados nas escavações de Pompeios. As representações da Antiguidade, por se tratar de representações, ou seja, de tentativas de identificação, não po- dem, como a própria Arqueologia, escapar às ideias preponderantes em determinada época e na classe social dominante, expressa na ideologia política, seja qual for a sua orientação. A mesma cultura neoclássica estendeu-se às margens ocidentais do Atlântico, onde os Estados Unidos da América iniciavam a marcha para a sucessão ao poder global britânico, que levaria, inevitavelmen- te, a comparações com o Império Romano (Murphy 2007; Pearson 2008). Esta relação com a Antiguidade revelou-se tanto na simbologia nacional como na grande arquitetura neoclássica, talvez mais fácil de desenvolver na América, por razões históricas e pragmáticas, quando se tratou de encontrar modelos inspirados pela arquitectura romana para grandes edifícios emblemáticos do progresso técnico, ideia concorde com o espírito norte-americano, como sucedeu com a famosa Pennsyl- vania Station, em Nova Iorque (Fig. 5), inspirada nas Termas de Caraca- la, em Roma. Construída nos primeiros anos do século XX foi demolida em 1963, apesar da contestação que o facto suscitou, verberado num editorial do New York Times da seguinte forma: No one was convinced that Penn Station really would be demolished or that New York would permit this monumental act of vandalismo against one of the largest and finest landmarks of its age of Roman elegance( Huxtable 1963). Talvez menos subjectiva que a britânica foi a atitude francesa en- volvendo as relações entre arqueologia e ideologia ao longo dos séculos XIX e XX. Dois factores evidentes explicam, pelo menos em parte, as

6 Recordamos o belo quadro In the Tepidarium, pertencente agora à Lady Lever Art Gallery, em Wirral (Liverpool), no Reino Unido, presentemente em exposição no Japão. Obra de 1881destinada à publicidade dos sabonetes Pears, foi então considerada demasiado ousada para o efeito.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 321 linhas gerais desse relacionamento: a oposição latinidade-germanismo e o domínio de vastos territórios ultramarinos com relevante patrimó- nio romano, desde logo a Argélia (Fig. 6), cuja ocupação se iniciou em 1830. Desenvolveu-se assim um paradoxo identitário, não obstan- te o imaginário político-cultural afirmar permanentemente a latinidade francesa, que representaria a cultura latina por excelência, em oposição à realidade germânica, considerada de raiz bárbara e potencialmente perigosa. Quando se afirmava que os gauleses eram os antepassados dos Franceses modernos, remetia-se para segundo plano os Francos, inquestionavelmente germânicos. Esta atitude dúbia em relação às ori- gens, redundante na história francesa, reflecte-se ainda a nível da cultu- ra popular, como a famosa série de banda desenhada Astérix comprova, reflectindo a corrente celtizante de um discurso anti-histórico. O imperador Napoleão III, sem desprezar a temática arqueológi- ca gaulesa, dispensou grande atenção à época romana, envolvendo-se directamente em projectos de investigação, destacando-se o estudo do simbólico sítio de Alesia (Mont-Auxois) e apoiando escavações em Pa- ris, facilitadas pelos grandes trabalhos de urbanismo desenvolvidos na cidade (Le Gall 1963 38-75; Eydoux 1965 7-55). O desfecho infeliz da guerra franco-prussiana em 1870 reforçou a atitude filo-romana da arqueologia francesa, representante de uma cultura defensora de valo- res opostos ao belicismo germânico ou assim considerada (Gracefa 2008 83-104). Mas as ambiguidades vão persistir até aos nossos dias, com o regime de Vichy valorizando o passado galo-franco, servido em dado momento (1941-1942) por um ministro da educação especialista do mundo romano, Jérôme Carcopino7, ao qual se ficou a dever a orga- nização administrativa da arqueologia francesa (Corcy-Debray 2001), enquanto na V República o presidente Mitterrand num discurso pronun- ciado em Bibracte (Mont Beuvray) considerou ter decorrido naquele local o primeiro acto da história de França (Fig. 7), unindo-a inquestio- navelmente ao passado gaulês (Fleury-Iletti 1996 196-197, 203-206). Os aspectos coloniais da arqueologia francesa, sobretudo no Ma- grebe, merecem especial atenção, quer pela amplitude dos trabalhos desenvolvidos em Marrocos, na Argélia e na Tunísia, quer pelo facto

7 Foi por iniciativa de Carcopino que o governo francês devolveu a Espanha a célebre Dama de Elche, comprada pelo Museu do Louvre através de uma intervenção de Pierre Paris. Solidariedade de regimes, mesmo na arqueologia, e neste caso muito favorável a Espanha.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 322 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia de a França se ter considerado naqueles territórios como uma sucessora e continuadora directa da acção romana, o que não poucos investiga- dores magrebinos contemporâneos consideram uma atitude simples- mente colonialista, opinião pouco favorável à conservação conveniente do património arqueológico em questão (En-Nachioni 1995 161-170; Zaïd 2002 62-66). Fosse assim ou não, a verdade é que o investimento na investigação do passado norte africano teve resultados muito posi- tivos, prejudicando mesmo o estudo do período romano na Metrópole ao desviar homens e meios para terras africanas Vejamos o que sobre estes trabalhos escreveu Ferreira de Castro: Pesquisas sobre pesquisas, congressos a seguir a congressos, chegaram arqueólogos de todas as partes do Mundo. Mas, em breve, eles sentiam bruxulear o seu entu- siasmo, porque estas cidades das colónias romanas em África se pare- ciam umas com as outras, tanto, tanto, que, vista uma, dir-se-ia ter-se visto todas (Castro s/d 39). Sentimento parecido, agora suscitado pelas características pragmáticas da civilização romana foi expresso por Al- bert Camus, um desalentado pied noir (Camus 1950 39). Mas o que nos interessa, mesmo excluindo actos semelhantes ao beau geste do coronel Carbuccia, oficial da Legião Estrangeira e ar- queólogo quando se lhe deparava a ocasião, prestando honras militares ao mausoléu de um comandante romano (Comor 1992 101-103), é o claro sentimento do direito francês à sucessão africana do Império Ro- mano (Fig. 8), não apenas como herdeiros, mas como continuadores da mesma gesta latina (Greenhalgh 2014 32-37). Esta atitude esteve pre- sente em muitas das obras publicados por arqueólogos franceses até aos finais da década de 50 do século passado, o que em nada lhes limitou o mérito científico, como se depreende daquilo que, numa grande síntese contrariando a opinião pessimista que referimos acima, nos ofereceu Gilbert Charles-Picard, da qual destacamos uma passagem plena de ac- tualidade, embora referida aos homens da África romana: qui ont su tirer le meilleur parti d’une nature ingrate, et résoudre heureusement, pendant plusieurs siècles, les problèmes posés par l’antagonisme des races, des religions et des conditions sociales (Charles-Picard 1959 iv-v). Sob a égide de Roma, naturalmente. O recurso à arqueologia como suporte de ideias políticas é quase natural na Itália, mergulhada na nostalgia da grandeza perdida, como Dante evocava na Divina Comédia (Dante 2.6.111), vigorosamente re- flectida no jogo de contrastes presente na obra de Piranesi, nas véspe- ras de turbulências que marcariam o fim do Ancien Régime, tal como

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 323

Bonaparte, discursando em Verona, apontava o célebre anfiteatro como exemplo dos tempos a construir, ao serviço de uma República que se ins- pirava romanticamente na Roma antiga (Koch 1946 21; Ferreira 1988 203-234). Foi sobretudo com o Fascismo que a arqueologia teve uma participação directa na luta política, através da qual se pretendia renovar a vida italiana e restaurar o Império, naturalmente numa óptica sobretu- do colonial. Não havia, no caso italiano, qualquer contradição histórica e o apelo a um passado glorioso fazia sentido e tinha eco popular. A cidade de Roma foi alvo de grandes trabalhos urbanísticos (Fig. 9), que não deixaram de causar alguns estragos ao património, mesmo de época romana, mas que permitiram conhecer e valorizar vas- tas zonas da cidade eterna, nomeadamente na área dos Foruns impe- riais e do Mausoléu de Augusto (Manacorda / Tamassia 1985; Moatti 1989 45-52, 130-142), incluindo a construção de um museu para alber- gar a Ara Pacis nele reconstituída (Rossini 2006 108-125), por altura da comemoração do bimilenário do nascimento do imperador, em 1937. Nesse ano teve lugar uma grande exposição, a Mostra Augustea della Romanità, enquanto na preparação para a exposição internacional de 1942, impedida pela guerra, se efectuaram importantes escavações em Óstia, ainda que a sua metodologia fosse bastante descurada. O regime fez o possível para recuperar a simbologia romana, elegendo o fáscio dos litores romanos como emblema, sem esquecer a águia imperial, e o título Duce, do Latim Dux, para designar Mussolini, título imitado na Roménia pelo Conducator Antonescu e pelo Rais Nasser, no Egipto. Como é evidente em tal contexto os arqueólogos foram levados a colaborar com a ideologia oficial. Foi notável a intervenção na Líbia, onde se desenvolveu uma mística do retorno de Roma cuidadosamente planeada e que foi acompanhada por numerosas escavações e restauros de monumentos romanos (Fig. 10), como em Leptis Magna e Sabratha (Munzi 2001; Zaffiri 2008). A grande estrada litoral então construída foi, a exemplo das vias romanas, denominada Via Balbia, do nome do governador Italo Balbo, na qual foi construído em 1937 um enorme arco, na fronteira entre a Tripolitânia e a Cirenaica, o Arco dei Fileni, destruído por ordem de Khadafi em 1973, em mais um dos muitos ac- tos de apagamento da história contemporânea que se vão multiplicando pelo mundo. A inscrição que encimava o arco, extraída do Carmen Sae- culare de Horácio, ilustrava, por si só, o programa ideológico do regime fascista e sua declarada inspiração no passado: Alme sol possis / nihil urbe Roma / visere maius (Horácio C.S. 9-12).

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 324 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia

A fugaz conquista da Etiópia teve algum eco no revivalismo im- perial fascista, cujos sonhos coloniais encontraram limitada margem de manobra, apesar da proclamação do Nuovo Impero Romano, como mostra a transferência para Roma, em 1937, de uma das grandes estelas de Axum, à imagem dos obeliscos egípcios transportados para a capi- tal imperial, estela há pouco devolvida à origem pelo governo italiano. Que a história é feita também com vinganças, abrangendo com frequên- cia a arqueologia, é uma verdade de todos os tempos, como prova, se tal fosse necessário, o triste final de uma das mais mediáticas acções da arqueologia italiana, a recuperação dos navios do Lago Nemi, uma complexa operação de arqueologia terminada em 1932. Esta magnífica realização, largamente propagandeada pelo regime, terminou tragica- mente em 1944, quando os navios foram incendiados e destruídos no museu que os abrigava junto ao lago (Moretti / Caprino 1957; Mei- rat 1964 154-159), tudo sugerindo tratar-se de um acto de vandalismo político contra um dos símbolos culturais do regime, concretizado ape- sar da indiscutível importância dos vestígios. Analisar o problema da prática da arqueologia em regimes auto- ritários ou totalitários leva-nos, como é lógico, a verificar que só existe arqueologia alinhada com o pensamento oficial, dispensando medidas concretas de retaliação contra os que não concordarem com ele, so- bretudo numa época em que a esmagadora maioria dos arqueólogos se encontrava vinculada a instituições estatais, antes do desenvolvimento da arqueologia empresarial, novidade que nem sempre os torna imu- nes à observação da vulgata oficial, quando existe, e a outro tipo de pressões. Parece-nos interessante, neste contexto sombrio, recordar al- gumas situações diferentes no âmbito do mesmo sistema político. Na desaparecida União Soviética e de uma maneira geral nos países do bloco de Leste, a doutrina oficial cultivou o princípio da existência do comunismo primitivo e a ideia estalinista de que o Império Romano caíra devido à revolta dos escravos, levando os arqueólogos a trabalhar longamente com esses dois fantasmas, o que não deixou de produzir interessantes resultados (Diakov/ Kovalev s/d 7-18; Kovalev s/d 31- 41, 459; Renfrew / Bahn 2000 471-472, 489-490), particularmente no campo do estudo da cultura material (Klejn 1993), afinal o campo por excelência da Arqueologia. Foi manipulando dados desse tipo, propos- tos pelo arqueólogo polaco K. Jadzewski, que se afirmou a antiguidade da presença eslava numa zona que a ocidente se estendia quase até ao Elba, aproximando-se da fronteira da RDA, e a leste coincidia pratica-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 325 mente com o limite meridional do território russo de Kalininegrad (Kö- nigsberg), significativamente deixado de fora, circunstância que não permite dúvidas quanto a uma intenção política, destinada a justificar o mapa da região após 1945 (Jones 1997 6-7). A ideia da exploração dos oprimidos prevaleceu em toda a parte, mas é significativo verificar que, na Roménia de Ceaucescu, ilha de la- tinidade num mar de eslavos e magiares, a preocupação em comprovar uma identidade filiada na romanidade, de nítida expressão nacionalista, não só contribuiu para que a arqueologia do período romano tivesse re- levo especial e os meios necessários numa sociedade parca de recursos, como levou os investigadores a desvios doutrinários, reconhecendo o carácter positivo do domínio romano na Dácia: Se poate spune cǎ cei 165 ani de prezenţǎ efectivǎ a Romei în Dacia alcǎtuiesc o periodǎ historicǎ dominatǎ de febra construcţiilor. Din acest punt de vedere, oficialitatea romanǎ continuase, la scarǎ largǎ şi nivel superiior, politi- ca de construcţii inauguratǎ de regii daci. Datoritǎ acestei continuitǎţi, dar mai ales datoritǎ imensului efort constructiv, caracterul spoliator al dominaţiei romane în Dacia este esenţialmente atenuat. În acelaşi sens pledeazǎ şi destinatia prin excelenţǎ publicǎ, edilitarǎ, culturalǎ şi politicǎ, de interes strict intern a majoritǎţii construcţiilor din oraşe- le daco-romane (Branga 1980 79). Na arqueologia “política” tudo é possível, mesmo, por vezes, reconhecer a verdade. Um caso particularmente importante das relações entre a ar- queologia e a ideologia é o da Alemanha nacional-socialista (Arnold 1990 464-478; Mantas 2006 181-217; Chapoutot 2008). Embora o II Reich, criado em 1871, não tivesse problemas étnicos de maior impor- tância foi dada especial atenção ao germanismo, em especial a ocidente do Reno e nos territórios limítrofes a populações eslavas. Naturalmen- te, o estudo da arqueologia clássica não teve uma participação signifi- cativa nesta questão, embora no quadro da educação literária as Huma- nidades tivessem uma presença relevante e o estudo da Antiguidade, nomeadamente através de trabalhos arqueológicos de vulto no Próximo Oriente, na Itália e na Grécia, alguns deles, como a escavação do san- tuário romano de Baalbek, no Líbano, apoiados pelo próprio Kaiser Guilherme II, tivesse particular importância. No ensino universitário a Pré-História tinha pouco prestígio, pois só em 1928 foi criada a primei- ra cátedra universitária da disciplina, mas começou a ganhar importân- cia política logo em 1919, quando o difusionista Gustav Kossinna pro- curou demonstrar, através de dados arqueológicos, o direito alemão aos

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 326 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia t e r r i t ó r i o s c e d i d o s à P o l ó n i a . C o m o t r i u n f o d o N a c i o n a l - S o c i a l i s m o em 1933 a situação mudou radicalmente. Entre 1933 e 1935 foram criadas oito cátedras universitárias de Pré-História (Urgeschichte) e, em 1933 e 1934, entre as personalidades distinguidas com o notável galardão que era o Adlerschild encontram-se um historiador e dois ar- queólogos: Eduard Schwartz, Wilhelm Dörpfeld e Theodor Wiegand (Fig. 11). Este reconhecimento, à escala nacional, do trabalho efectuado na área da Antiguidade pelos referidos investigadores, implicava não apenas uma consagração da história e da arqueologia alemãs, cuja ex- celência será frequentemente invocada em publicações de propagan- da, nomeadamente naquelas destinadas ao estrangeiro (Herbertmann 1941 39), como implicava um convite tácito a que colaborassem activa- mente com o regime, como veio a acontecer. No âmbito da Kulturkampf desenvolvida pelo NSDAP, centrada em três princípios, Erde, Raum e Geist, o papel a que a arqueologia era chamada, não de uma forma subalterna, como tantas vezes sucede, mas de forma activa e estrutu- rada, era essencial na definição de um espaço germânico cujas fron- teiras, sempre indecisas ao longo da história (Stürmer 2003 13-14; Dirlmeier 2014 11-18), deviam ser compreendidas como uma frente de colonização dinâmica. Se a tudo isto acrescentarmos a questão do arianismo compreenderemos facilmente a que pressões a arqueologia alemã esteve sujeita. Para atingir os objectivos a que se propunham os responsáveis na- cionais-socialistas reorganizaram a arqueologia, que ficou tutelada por duas entidades, entre as quais não faltaram atritos, a Amt Rosenberg, chefiada pelo ideólogo Alfred Rosenberg, e a Ahnenerbe, ligada à SS, sob controlo de Heinrich Himmler. Ambas as organizações dispunham de uma máquina editorial muito eficiente, destacando-se as suas pu- blicações periódicas Germanenerbe e Die Kunde, para além de uma multidão de monografias, opúsculos e panfletos. A divulgação do pas- sado germânico foi levada a todas as camadas da população, natural- mente de acordo com a versão politizada, estimulando-se a actividade de grupos de arqueólogos amadores, mais ou menos bem enquadrados, e as visitas de estudo. Entre os muitos nomes que contribuíram para este esforço devemos distinguir o de Hans Reinerth, figura principal da Amt Rosenberg até 1945, arqueólogo experimentado e que publicou no final da guerra uma obra fundamental para compreender os objec- tivos e métodos da organização (Reinerth 1945). Não nos referimos

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 327

à vertente esotérica ou simplesmente fantasista sobrevalorizando um passado germânico irreal, como o que se procurou nas escavações de Externsteine (Fig. 12), ou recorrendo a textos apócrifos, como a Cróni- ca de Ura-Linda, por exemplo, passado vigorosamente defendido pelos chamados Germanomen (germanomaníacos), cujos excessos levaram a críticas por parte de altos dirigentes do NSDAP e do próprio Hitler (Speer 1970 94-95). Sublinhamos, porém, que se efectuaram excelentes escavações durante os anos da ditadura nacional-socialista, como as de Haithabu, Köln-Lidenthal ou Biskupin, rigorosas na metodologia, embora utiliza- das como esteio de conclusões ideológicas, um método particularmen- te perigoso e eficiente, como se verifica na influência científica então exercida em muitos países (Clara / Ninhos 2014). Não olvidemos, pois aqui deparamos com alguma contradição essencial, a oposição que por vezes se fez sentir entre os arqueólogos pré-historiadores e os ar- queólogos clássicos, oposição que não se tornou mais viva devido à evi- dente admiração de Adolf Hitler pela civilização greco-latina e à sua vi- são alargada do germanismo, como conceito fundacional (Hitler 1976 309), inspirada em Kossinna (Kossinna 1912). Esta admiração reflectia a preocupação de conseguir a fusão do germanismo com o classicismo, consagrada em muitas das expressões simbólicas do regime, particu- larmente na arquitectura e nas artes figurativas (Fig. 13), sem esquecer a cinematografia olímpica de Leni Riefenstahl (Graham 2001). Esta- mos, no conjunto, perante uma enorme reinterpretação da história e dos mitos, ao serviço de um novo ideário político, nascido das condições especiais da história alemã e das tragédias pessoais e colectivas resul- tantes da derrota de 1918. A arqueologia teve, como sempre aconte- ce em países evoluídos, uma função a desempenhar, e desempenhou-a com eficiência alemã, nomeadamente fora do Reich, onde arqueólogos germânicos desenvolveram importantes projectos de investigação com apoio oficial, como aconteceu em Portugal com o casal Leisner entre 1943 e 1945 (Boaventura / Langley 2007 169-171). Não podemos terminar, embora o fundamental já esteja demons- trado, sem referir algumas situações mais recentes de envolvimento da arqueologia em processos políticos, marcadamente nacionalistas, como vem acontecendo na China desde meados do século passado, com ten- dência para se intensificar no quadro de afirmação global desta potên- cia, não faltando agora debates apaixonados sobre a identidade chinesa (Lewis 2016). Devemos sublinhar que a gravidade de algumas situa-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 328 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia

ções que se verificam presentemente é de tal ordem que justifica uma análise específica que procuraremos fazer oportunamente. Referimo- -nos, naturalmente, à catástrofe que se abateu sobre os sítios arqueoló- gicos do Iraque e da Síria, alvos preferenciais, pelo que de simbólico representam no imaginário ocidental e pelo valor que lhes é atribuído pelos governos locais, por razões históricas ou económicas. Para além de todas as razões que possam ser avançadas devemos entender que, para quem os destrói, os monumentos não têm qualquer interesse pa- trimonial, situação que o historiador Ibn Khaldun caracterizou no sécu- lo XIV, quando aludiu às consequências negativas das invasões árabes (Ibn Khaldun 1967 4.24-25). Devemos, todavia, distinguir, embora nem sempre seja possível fazê-lo, entre danos colaterais e a destruição voluntária de património arqueológico, por razões vagamente ideológi- cas, como vai sucedendo todos os dias no Iraque, na Síria e na Líbia, e já sucedeu no Líbano, no Afeganistão e no Mali. O cenário geral não é de molde a suscitar optimismos. São estas situações que nos levam a considerar de forma muito renitente a política de devolução de objectos arqueológicos presente- mente conservados em museus ocidentais. Mesmo em países nos quais, apesar de tudo, a desordem ainda não se estabeleceu, como o Egipto, onde Zahi Awass, excelente representante do star system que invadiu a arqueologia, desenvolveu uma truculenta campanha a favor da devo- lução de peças expostas em museus europeus, os sítios arqueológicos são potenciais locais de atentados ou de agressões. Basta recordar a desordem que vitimou o secular Institut d’Égypte (Fig. 14), incendiado em 2011 (Downs 2012 5-6), ano em que não faltaram assaltos a diver- sos museus, permitindo todos os receios em relação ao futuro8. Natu- ralmente que a arqueologia surge em tais contextos como vítima, não como cúmplice, não só por se tornar impossível a investigação no terre- no, como por se assistir à destruição de monumentos e de equipamen-

8 As situações de instabilidade facilitam incidentes e acidentes, como o sucedido no Museu do Cairo (em Outubro de 2014?) com a máscara funerária do faraó Tutanka- mon, cuja barba cerimonial, solta por motivo desconhecido, foi “restaurada” de forma expedita, com evidente prejuízo para a peça. Os assaltos a museus, como o de Malawi, em al-Minya, ocorrido em Agosto de 2013, terão como motivo principal o roubo, a que se junta a destruição gratuita. Na Síria e no Iraque as escavações clandestinas tornaram- -se regra, e os assaltos a museus, como o de Alepo, normais e nem sempre da iniciativa dos jihadistas.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 329 to fundamentais, como museus, bibliotecas e laboratórios. A destrui- ç ã o d e m o n u m e n t o s p o r r a z õ e s p r e t e n s a m e n t e r e l i g i o s a s o c o r r e a g o r a com grande frequência, não tendo o conhecido caso dos Budas de Ba- miyan, demolidos pelos talibã afegãos em 2001, sido suficiente para acautelar as situações dramáticas que se vão repetindo no Iraque e na Síria, só passíveis de solução manu militari, concretizada noutras cir- cunstâncias. Infelizmente, a incapacidade revelada para preservar sítios ar- queológicos que se situam entre os mais importantes da história da civi- lização, particularmente numerosos na região, parece revelar cruamente a impotência de organizações como a Unesco em gerir situações que conduziram ao massacre das ruínas de Mari, Hatra, Doura-Europos, Apameia e a muito simbólica Palmira (Tadmor), entre tantas outras, sem falar aqui, por exemplo, da importante biblioteca de Mossul, no Iraque, incendiada. Não faltaram denúncias ignoradas, na altura pró- pria, como a do intelectual libanês Hassan Hamadé (Hamadé 2015). Na verdade, é mais fácil multiplicar a classificação de sítios, onde muitas vezes a motivação económica parece dominante, que obter os acordos políticos necessários para implementar intervenções no terreno, única forma de travar as acções terroristas que tomam o património arqueo- lógico, mais uma vez considerado símbolo de um passado a obliterar, como objectivo primordial, pois é rentável tanto em termos de impacte moral como através do espólio de antiguidades destinadas ao mercado clandestino, que às vezes não o é tanto como se pensa. A intervenção da ONU nesta tragédia parece-nos particularmente frouxa, permitindo dúvidas fundadas quanto à sua eficiência, tal como existe, face aos problemas do século XXI, tão longe daquilo que mui- tos sonhadores distraídos idealizaram. Para complicar mais a questão parece haver um esforço em centrar as atenções em Palmira, e mesmo aqui sobretudo no arco de triunfo, desviando-as de outros sítios também maltratados, com a agravante de se pretender divulgar a ideia de que as destruições perpetradas na cidade não foram tão graves como se temia, o que, no mínimo, nos parece inaceitável (Fig. 15). Seja como for, a uti- lização ideológica do sucedido ganhou já expressão no Ocidente, com a construção de uma réplica do arco de triunfo, exposta em Londres e posteriormente em Nova Iorque, o que sugere interesses económicos sob a necessidade dos trabalhos de recuperação dos sítios atingidos. A rapidez com que se aparenta actuar depois da recuperação da cidade pelas forças governamentais contrasta claramente com a ineficácia e os

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 330 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia silêncios ambíguos que se verificaram em 2015, quando tudo indicava o que iria suceder9. Quanto à Europa e ao que aqui sucedeu durante a Segunda Guerra Mundial nem vale a pena sequer considerá-lo neste momento, desde que reconheçamos que as culpas cabem aos dois lados, continuando as demolições programadas ainda muitos anos depois do final do conflito, inclusive na Alemanha, com o evidente intuito de apagar a memória (Krier 1983 33-38). Nas hostilidades que abalaram a ex-Jugoslávia não faltaram destruições quase sempre voluntárias de monumentos, entre os quais se devem recordar numerosas mesquitas e igrejas antigas. Muito conhecido é o caso da bela ponte bósnia de Mostar (Dodds 1998 2-9), monumento otomano que deu o nome à cidade de que é o símbolo por excelência, circunstância que levou à sua destruição10. Razões menos bélicas, políticas ou económicas, mas igualmente destrutivas, também não faltam, como no caso do arrasamento do forte otomano de al-Ajyad em Meca, substituído por um complexo comercial e habitacional ava- liado em 533 milhões de dólares. Um caso interessante é o de Israel, onde a investigação arqueoló- gica remonta ao século XIX, inicialmente efectuada no quadro interna- cional da Arqueologia Bíblica e mais tarde por iniciativa de sociedades judaicas. Com a formação do Estado de Israel, em 1948, desenvolveu- -se intensa actividade arqueológica, que depois da guerra de 1967, se alargou ao Sinai e a outras áreas passadas ao controlo israelita. É ine- gável que a busca de vestígios da Antiguidade judaica, ditada pela ne- cessidade de afirmar a sua presença no território que para muitos era, há séculos, a Palestina, teve consequências muito positivas do ponto de vista do conhecimento da região e valorizou significativamente o seu património arqueológico. É evidente que a arqueologia teve fortes con- dicionalismos ideológicos e tem gozado de apoios que noutras circuns- tâncias dificilmente seriam possíveis, envolvendo-se de vez em quando em problemas de difícil solução, caso, por exemplo, das escavações em

9 É, no mínimo, curiosa a atitude de apoio ao regime sírio expressa um pouco por todo o lado, apenas depois da reconquista de Palmira. Grande parte deste apoio teria sido muito mais útil em Maio de 2015, quando não faltaram críticas abertas à actuação da directora-geral da UNESCO, Irina Bukova. Havia que optar entre ficções políticas e a realidade no terreno, como tantas vezes acontece, o que exige grandes líderes. 10 A ponte foi entretanto reconstruída, com uma inauguração de pompa e circuns- tância em 2004.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 331 torno da plataforma do Templo construído por Herodes, sobre a qual se encontra o Haram al-Sharif. Um sítio cuja escavação teve uma forte carga simbólica, emocio- nal e política é o do palácio-fortaleza de Massada (Yadin 1966), perto do Mar Morto, impressionante construção de Herodes onde decorreu um dos dramas finais da Grande Revolta judaica do século I, em 73-74, de acordo com o relato de Flávio Josefo segundo o qual os defensores preferiram suicidar-se em massa a entregar-se às forças romanas. Desta forma, Massada ocupa um lugar especial no imaginário israelita, como sítio de peregrinação e de exemplo (Fig. 16), apesar de algumas das conclusões de Yigael Yadin presentemente suscitarem justificada dis- cussão (Ben-Yehuda 2002). Em Massada desenvolveram-se importan- tes escavações, com projecçção internacional, mas os campos romanos da circunvalação não foram ainda alvo da investigação que merecem. Outro sítio também ligado à revolta, Gamla, nos Montes Golan, foi es- cavado em condições muito difíceis (Gutman 1981 30-34), confirman- do o indiscutível interesse israelita pela arqueologia, ainda que, como nos casos referidos, envolva intuitos que frequentemente ultrapassam o campo meramente científico. A ideologia, no mundo globalizado, tem ganho outro tipo de mo- tivações, embora nos pareça que haja algum exagero nesta ideia muito difundida, destacando-se as de tipo económico e político, normalmente comprometidas. Há, pois, situações envolvendo atentados patrimoniais que não podem ser imputados a razões ideológicas, como tem suce- dido em Istambul, por exemplo, ou com a construção de numerosas barragens em zonas de grande interesse arqueológico (Kennedy 1998 20-27; Rondot 2014 26-29), sem intervenções semelhantes às que se efectuaram no Egipto por altura da construção da grande barragem de Assuão, ainda assim desastrosa para o património arqueológico (Sau- neron 1968 30-40). Caso muito interessante, e sobre ele já se disse tudo, ou talvez não, é o do projecto de construção da barragem do Côa, que claramente se politizou por acção dos arqueólogos, num momento conveniente, levando à sua suspensão (Jorge 1995 313-866), circuns- tância invulgar e que parece confirmar que, em Portugal, a comunidade dos pré-historiadores mantém uma situação dominante quando compa- rada com a dos restantes arqueólogos, talvez por estes se encontrarem mais condicionados pela história. A imagem do mundo entregue aos efeitos perversos da globaliza- ção e a um péssimo entendimento do multiculturalismo, tão frequente-

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 332 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia mente ideológico e alheio ao que é verdadeiramente comum à humani- dade, não nos deixa tranquilos quanto ao futuro. Os arqueólogos devem estar preparados, e se possível unidos, para compreenderem e enfrenta- rem desafios complicados, afastando-se desde já das ilusões que tantas vezes têm acarinhado, sobretudo quando procuram uma função social para a arqueologia (Witlhey 1986 200-214). Continuaremos a assistir à destruição de sítios e de equipamentos científicos por diversas razões, em muitos casos sem qualquer tentativa de cosmética economicista ou ideológica, por simples estupidez11, assim como haverá sempre profis- sionais, académicos ou não, dispostos, por esta ou por aquela razão, a sustentar ou a facilitar práticas marginais. O século XXI, herdeiro de conflitos antigos e criador de outros novos, continuará a envolver os arqueólogos em situações difíceis, por- que não podem isolar-se da sociedade em que vivem e trabalham. Os arqueólogos, ou pelo menos a esmagadora maioria, não são saudosistas, políticos ou promotores turísticos, são cientistas e como tal devem assu- mir essa condição, reconhecendo todas as dificuldades que ela implica, condição em tudo alheia ao tipo Indiana Jones, embora nestas aventuras cinematográficas haja muita política. Que a arqueologia vai continuar na linha da frente da construção ou reconstrução de identidades num mundo de fronteiras indecisas e de escolhas permanentes, deduz-se, se tal fosse necessário, da afirmação do subsecretário dos negócios estran- geiros italiano durante a inauguração, em 2009, da exposição comemo- rativa da devolução da estela de Axum à Etiópia: É através de símbolos e da reconstituição de símbolos que a identidade de uma nação pode ser construída (Mantica 2009). Grande verdade, onde desde sempre os mitos se afirmam (Calame 2015 349-355), mas diremos que a des- truição de símbolos tem uma função não menos importante, hoje como ontem, pois a Civilização muda, mas o Homem não12, o que se torna evidente nesta época em que se concretizam os receios de Huxley e de Orwel, longe dos sonhos de Volney quando, nas vésperas da Revolução Francesa reflectiu sobre o destino das sociedades humanas, no cenário fantástico das ruínas da inesquecível Palmira (Volney 1960 21-27).

11 Recordamos a destruição em Paris, em Maio de 1968, da grande maqueta de Roma, da autoria de Paul Bigot, que existia na Sorbonne, lamentável facto comprovativo de que a estultícia é uma realidade universal. 12 Agradecemos cordialmente ao Dr. Luís Madeira a preparação das figuras deste artigo.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 333

BIBLIOGRAFIA

Alarcão, J. de (1997), “A arqueologia contextualista”, Mathésis 6 11-32. Alarcão, J. de (2000), A escrita do tempo e a sua verdade (ensaios de epistemologia da arqueologia), Coimbra. Anacleto, R. (coord.), (1994), O neomanuelino ou a invenção da arquitectura dos Descobrimentos, Lisboa. Arnold, B. (1990), “The Past as Propaganda: totalitarian archaeology in Nazi Ger- many”, Antiquity 64 464-478. Atard, V. P. (1971), El arco de triunfo en la Ciudad Universitaria, Madrid. Barros, T. de (s/d), História de Portugal. Ensino Primário [28ª ed.], Porto. Ben-Yehuda, N. (2002), Sacrificing Truth. Archaeology and the Mith of Masada, Amherst (NY). Boardman, J. (1964), Greek Art, Londres. Boaventura, R. / Langley, M. (2007), “Georg Leisner (1870-1957): Determinação na busca do Megalitismo ibérico”, O Arqueólogo Português (4ª série) 25 167- 176. Boule, P. (s/d), O planeta dos macacos, Lisboa. Bradford, J. (1957), Ancient Landscapes. Studies in Field Archaeology, Londres. Branga, N. (1980), Urbanismul Daciei romane, Timisoara. Breton, J.-J. (2010), Anthologie des peintres pompiers, Bordéus. Bruno, G. [Augustine Fouillée] (1877), Le tour de France par deux enfants, Paris. Calame, C. (2015), Quʼest que la mythologie grecque?, Paris. Camus, A. (1950), Noces, Paris. Castro, F. de (s/d), A volta ao mundo, 1, Lisboa. Chapoutot, V. (2008), Le national-socialisme et l’Antiquité, Paris. Christie, A. (2010), Na Síria. Conta-me lá como vives, Lisboa. Clara, F. / Ninhos, C. (eds), (2014), A Angústia da Influência. Política, Cultura e Ciência nas Relações da Alemanha com a Europa do Sul, 1933-1945, Frankfurt am Main. Comor, A. (1992), La Légion Étrangère, Paris. Corcy-Debrai, S. (2001), Jérôme Carcopino. Un historien à Vichy, Paris. Côrrea, M. (1924), Os povos primitivos da Lusitânia, Porto. Cowper, W. (1818), The minor Poems of William Cowper of the Inner Temple, Londres. Dante Aliguieri (2011), A Divina Comédia (trad. V. G. Moura), Lisboa. Diakov, V. / Kovalev, S. (s/d), História da Antiguidade Oriental, Lisboa. Diakov, V. (s/d), História de Roma, Lisboa. Diaz-Andreu, M. / Ramírez-Sánchez, M. (2007), “Archaeological resource manage- ment under Franco’s Spain: The Comisaria General de Excavaciones Arqueoló- gicas”, in Archaeology under Dictatorship, Nova Iorque. Dirlmeier, U. et alii (2014), História Alemã, Lisboa. Dodds J. (1998), “Hearts and stones”, Aramco World 49 (5) 2-9. Downs, J. (2012), “Calamity in Cairo”, History Today 62 5-6.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 334 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia

Encarnação, J. dʼ (1993-1994), “No centenário da publicação das Religiões da Lu- sitânia: nacionalismo em Leite de Vasconcelos”, O Arqueólogo Português (4ª série) 11-12 35-42. En-Nachioni, E. (1995), “Las primeras excavacionees en Volubilis (Marruecos) ar- queología, historia o simple colonización?”, Pyrenae 26 161-170. Eydoux, H.-P. (1965), Promenades dans la France antique, Paris. Fabião, C. (1996), “Archaeology and Nationalism: the Portuguese Case”, in Nationa- lism and Archaeology in Europe, Londres 90-107. Ferreira, J. R. (1988), “Grécia e Roma na Revolução Francesa”, Revista de História das Ideias 10 203-234. Fleury-Iletti, B. (1996), “The identity of France: archetypes in Iron Age studies”, in Cultural Identity and Archaeology. The Contruction of European Communities, Londres 196-208. Garelli, P. (1971), L’Assyriologie, Paris. Gracefa, A. (2008), “Antiquité barbare, lʼautre Antiquité: lʼimpossible réception des historiens français (1800-1950)”, Anabases. Traditions et Réceptions de lʼAnti- quité 8 83-104. Graham, C. (2001), Leni Riefenstahl and Olympia, Lanham. Graves-Brown, P. / Jones, S. (eds), (1996), Cultural Identity and Archaeology. The Construction of European Communities, Londres. Greenhalgh, M. (2014), The Militar and Colonial Destruction of the Roman Lands- cape of North Africa, Leida. Guha, S.(2003), “Imposing the Habit of Science: Sir Mortimer Wheeler and Indian Archaeology”, Bulletin of the History of Archaeology 13 (1) 4-10. Guerra A. / Fabião, C. (1992), “Viriato. Genealogia de um mito”, Penélope 8 9-23. Gutmann, S. (1981), “The Synagogue at Gamla”, in Ancient Synagogues Revealed, Jerusalém. Hamadé, H. (2015), “Madame Bokova, Palmyre, Sanaʼa et Ninive exigent votre démis- sion”, www.voltairenet.org/article187926.html [consultado a 20.6.2015]. Herbertmann, M. (1941), Cartilha da Grande Alemanha, Berlim. Hitler, A. (1976), Mein Kampf. A minha luta, Lisboa. Holanda, F. de (1984), Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (ed. J. F. Alves), Lisboa. Horácio (1917), Horatius Carmina (ed. Fr. Vollmer), Lípsia. Houellebecq, M. (2015), Submissão, Lisboa. Huxtable, A. L. (1963), “Farewell to Penn Station”, The New York Times, 30.10.63. IBN Khaldun(1967), An Introduction to History. The Muqqadimah (trad. F. Rosen- thal), Londres. Jones, F. H. (2008), Tirocinium Imperii: Public School Education in Victorian Era, the Classical Curriculum and the British Imperial Ethos, M i d d l e t o n (Conn.). Jones, S. (1997), The Archaeology of Ethnicity. Constructing Identities in the Past and Present, Londres.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 335

Jorge, V. O. (ed.) (1995), “Actas do 1º Congresso de Arqueologia Peninsular”, Traba- lhos de Antropologia e Etnologia 35 (4) 311-896. Jünger, E. (1995), Sobre as falésias de mármore, Lisboa. Kennedy, D. (1998), “Drowned cities of the Upper Euphrates”, Aramco World 49 (5) 20-27. Kipling, R. (1906), Puck of Pook’s Hill, Toronto. Klejn, Leo (1993), La arqueología soviética. Historia y teoría de una escuela desco- nocida, Barcelona. Koch, H. (1946), Arte romano, Barcelona. Kossina, G. (1912), Die Deutsche Vorgeschichte: eine Hervorragend Nationale Wis- senschaft, Lípsia. Krier, L. (1983), “Krier on Speer”, Architectural Review 173 33-38. Le Gall, J. (1963), Alésia. Archéologie et histoire, Paris. Lewis, R. (2016), “Does Chinese Civilization come from Ancient Egypt?”, www.fo- reignpolicy.com/2016/09/02 [consultado a 10.9.16] Mack, J. (1998), A Prince of our Disorder. The Life of T. E. Lawrence, Cambridge (MA). Manacorda, D. / Tamassia, R. (1985), Il picone del regime, Roma. Mantas, V. G. (2006), “Arqueologia e ideologia. O caso germânico”, Revista Portu- guesa de História 38 181-217. Mantas, V. G. (2007), “Arqueologia, Ciência e Cultura”, Rua Larga 15 33. Mantas, V. G. (2008), “O valor da ruína”, Biblos (nova série) 6 147-192. Mantas, V. G. (2008a), “A exposição napolitana Alma Tadema e la nostalgia dell’An- tico”, Boletim de Estudos Clássicos 50 71-78. Mantas, V. G. (2012), As vias romanas da Lusitânia, Mérida. Mantas, V. G. (2012a), “O legado histórico romano e a crise do Ocidente contemporâ- neo”, Biblos (nova série) 10 47-73. Mantica, A. (2009), whc.unesco.org/en/news/567 [consultado em 20.1.2014]. Marco, F. / Abásolo Álvarez, J. A. (1995), Tipología y iconografía en las estelas de la mitad septentrional de la Península Ibérica, in Nacimiento de la Cultura Epigrá- fica en Occidente, Saragoça 327-359. Matos, S. (1993-1994), “Leite de Vasconcelos no debate acerca da formação de Por- tugal: um confronto com Oliveira Martins”, O Arqueólogo Português (4ª série) 11-12 11-33. Mattingly, D. J. (ed.), (1997), Dialogues in Roman Imperialism. Power, discourse and discrepant experiences in the Roman Empire, Portsmouth (RI). Maugham, S. (s/d), Biombo chinês. Contos, Lisboa. Meirat, J. (1964), Marines antiques de la Mediterranée, Paris. Moatti, C. (1989), À la recherche de la Rome antique, Paris. Moffat, A. (2005), Before Scotland: the Story of Scotland Before History, Londres. Moreti, G. / Caprino, C. (1957), Il Museo delle navi romane di Nemi, Roma. Moscati, S. (1963), L’Orient avant les Grecs, Paris. Munzi, M. (2001), L’epica del ritorno: arqueologia e politica nelle Tripolitania ita- liana, Roma.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 336 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia

Murphy, C. (2007), Are we Rome? The Fall of an Empire and the Fatte of America, Boston-Nova Iorque. Oliveira, A. (2004), “O pensamento do imaginário lusitano nas obras dos arquitectos portugueses do século XX”, A Obra Nasce. Revista de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Fernando Pessoa, 0 40-56. Paço, A. do (1965), Escavações de carácter histórico realizadas no campo de batalha de Aljubarrota, . Pearson, M. L. (2008), Perils of Empire: The Roman Republic and the American Re- public, Nova Iorque. Picard, G.-C. (1959), La civilisation de l’Afrique romaine, Paris. Piggott, S. (1977), “Robert Eric Mortimer Wheeler”, Biographical Memoirs of Fellows of the Royal Society 23 623-642. Polo, F. (2009), “El estudio de la Historia Antigua en España bajo el Franquismo”, Anales de Historia Antigua, Medieval y Moderna 41 3-10. Polo, F. (2014), “Héroes suicidas: la Iberiké de Apiano y la creación de mitos del na- cionalismo español”, in Miscelânea de Estudios en Homenaje a Guillermo Fatás Cabeza, Saragoça 571-578. Pseudo-Platão (1970), Épinomis (trad. L. Robin), Paris. Reinhert, H. (1945), Vorgeschichte der deutschen Stämme: Germanische tat und Kul- tur auf deutschem Boden, I-III, Berlim. Renfrew, C. / Bahn, P. (2000), Archaeology: Theories, Methods and Practice, Nova Iorque. Resende, A. de (2006), As antiguidades da Lusitânia (ed. Rosado Fernandes), Coimbra. Richter, T. (2008), “Espionage and Near Easter Archaeology: a historiographical sur- vey”, Public Archaeology 7 (4) 212-240. Pereira, M. H. Rocha, (2008), Raízes clássicas da União Europeia, Boletim da Facul- dade de Direito 4 11-24. Rondot, V. (2014), “Lʼarchéologie de sauvetage avant la mise en eau de grands barra- ges: lʼexemple de la Nubie Sudanaise”, Rayonnement du CNRS 64 26-29. Rose, G. (1995), “Place and Identity: a sense of place”, in A Place in the World? Places, Cultures and Globalization, Oxford 88-132. Rossini, O. (2006), Ara Pacis, Roma. Rowlands, M. (1994), “The politics of identity in archaeology”, in Social Construc- tion of the Past. Representation as Power, Londres 129-143. Ruiz Zapatero, G. R. (1996), “ and . Ideological manipulation in Spanish archaeology”, in Cultural Identity and Archaeology. The Construction of Euro- pean Communities, Londres 179-195. Satia, P. (2008), Spies in Arabia. The Great War and the Cultural Foundations of Bri- tainʼs covert Empire in the Middle East, Oxford. Sauneron, S. (1968), L’Égyptologie, Paris. Schwartz, D. / Zhewen, L. (2000), The Great Wall of China, Londres. Sealey, P. R. (1997), The Boudican Revolt Against Rome, Princes Risborough. Speer, A. (1970), Inside the Third Reich, Nova Iorque.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia 337

Stürmer, M. (2003), O Império Alemão, Lisboa. Swanson, V. (1977), Alma-Tadema: The Painter of the Victorian Vision of the Ancient World, Londres. Taylor, B. (1995), “Amateurs, professionals and the knowledge of archaeology”, The British Journal of Sociology 46 (3) 499-509. Villaverde Vega, N. (2001), La Mauritania Tingitana en la Antigüedad Tardía (siglos III-VII), Madrid. Vivar, F. (2000), “El ideal ʻPro Patria Moriʼ en La Numancia de Cervantes”, Cervantes 20 (2) 7-30. Volney, C. de [Constantin de Chasseboeuf] (1960), As ruínas de Palmira. Meditação acerca da destruição dos impérios (trad. F. Quintal), Lisboa. Ward-Perkins, B. (2003), A queda de Roma e o fim da civilização, Lisboa. Whittley, A. (1986), “Archaeological and Social Sciences: why they should not be integrated”, Archaeological Review 5 206-214. Wilkinson, J. (1978), Jerusalem as Jesus knew it. Archaeology as Evidence, Londres. Winstone, H. F. (2004), Gertrude Bell: A Biography, Londres. Woolf, V. (2012), Noite e dia, Lisboa. Yadin, Y. (1966), Masada. La dernière citadelle d’Irsräel, Paris. Zaffiri, G. (2008), L’impero que Mussolini sognava per l’Italia, Nápoles. Zaïd, N. (2002), “Un nouvelle élan pour l’Algèrie romaine”, Archéologia 387 62-66.

Conimbriga, 55 (2016) 305-348 Fig. 1 – Tijolo com inscrição comemorando a reconstrução de Babilónia por Saddam Hussein. (Foto: Osama Amin).

Fig. 2 – O Arco de la Victoria e o Templete a los Caídos, actualmente edifício administrativo, em Madrid. Fig. 3 – Gertrude Bell em 1916, em Bassorá, com o rei Ibn Saud e o general britânico Percy Cox. (Newcastle University Library). Fig. 4 – Lawrence Alma-Tadema, The Colosseum, pintura de 1896 (colecção privada). Fig. 5 – O átrio principal da Pennsylvania Station de Nova Iorque, em 1911 (Library of Congress).

Fig. 6 – As ruínas de Timgad (Thamugadi), na Argélia, em 1900 (Foto: Mieusement). Fig. 7 – Placa no Mont Beuvray recordando o discurso de François Mitterrand. (Foto: V. Mantas).

Fig. 8 – Selo de correio da Argélia francesa recordando Santo Agostinho, bispo de Hipona (Annaba). Fig. 7 – Placa no Mont Beuvray recordando o discurso de François Mitterrand. (Foto: V. Mantas).

Fig. 9 – Cartaz de propaganda mostrando Mussolini iniciando trabalhos de demolição em Roma. Fig. 8 – Selo de correio da Argélia francesa recordando Santo Agostinho, Ao fundo vê-se a nova Via dei Fori Imperiale. (La Domenica del Corriere: 3.3.1935). bispo de Hipona (Annaba). Fig. 10 – Herman Göring e Italo Balbo, governador da Líbia, com outras personalidades em visita ao teatro de Sabratha, restaurado em 1936. (Colecção do autor). Fig. 11 – Reverso da medalha Adlerschild concedida em 1934 ao arqueólogo Theodor Wiegand. (Apud www.axistory.com)

Fig. 10 – Herman Göring e Italo Balbo, governador da Líbia, com outras personalidades Fig. 12 – O polémico sítio alemão de Externsteine, no distrito de Lippe, em visita ao teatro de Sabratha, restaurado em 1936. (Colecção do autor). possível local de culto germânico cristianizado. Fig. 13 – Selo alemão comemorativo do Dia dos Heróis de 1942, unindo o Stalhelm a um busto de estética clássica representando o guerreiro morto.

Fig. 14 – O Institut d’Égypte, no Cairo, depois do incêndio que o destruiu em 2012 (Foto: Mohamed Ouda). Fig. 13 – Selo alemão comemorativo do Dia dos Heróis de 1942, unindo o Stalhelm a um busto de estética clássica representando o guerreiro morto.

Fig. 15 – Imagens de satélite das ruínas do templo de Bel, em Palmira, antes e depois da destruição em Agosto de 2015. (Imagem UNITAR). Fig. 16 – Medalha oficial israelita comemorativa das escavações no palácio-fortaleza herodiano de Massada. (Apud Ygael Yadin). ÍNDICE GERAL

Raquel Vilaça José d’Encarnação, sempre presente...... 5

Maria da Conceição Lopes, Pedro C. Carvalho, Armando Redentor Epigrafia, Tempos e Memórias: homenagem a José d’Encarnação...... 9

Alain Tranoy Notices Épigraphiques de la Civitas Pictonum: D'une Pictonne à un Lusitanien...... 13

Amílcar Guerra José d'Encarnação: breve perspectiva sobre um notável percurso de investigação em epigrafia...... 29

Angela Donati Mecenate: La "Fortuna" di un nome...... 51

Armando Redentor Sobre a epigrafia romana de Aeminium...... 57

Isabel Rodà La epigrafía, mensaje en directo de la antigüedad...... 91

Joaquín L. Gómez-Pantoja Spolia Epigraphica...... 131

Jorge de Alarcão A propósito da Pátera de Bandis Aravgelensis...... 145 José Cardim Ribeiro Em torno da revisão de CIL II 265...... 157

Juan Manuel Abascal Palazón Hábito epigráfico romano en elConventus Lucensis...... 193

Manuel Salinas de Frías e Juana Rodríguez Cortés Prosopografía de Lusitania Romana. Flaminicae et Feminae Notabiles Lusitaniae...... 221

Marc Mayer i Olivé ¿Lucius Cornelius Bocchus, un lusitano miembro del ordo equester y escritor? Una feliz intuición de Emil Hübner reforzada y difundida por Theodor Mommsen de nuevo a examen...... 251

Marta González Herrero Epitafios-denuncia del homicidio de dos mujeres romanas...... 269

Patrick Le Roux Quaestiones Epigraphicae...... 289

Vasco Gil Mantas Arqueologia e Ideologia. Reflexões sobre um tema incómodo...... 305