B elas rtes A rtes da Academia HOJE

HOJE

HOJE Belas Artes da Academia | Hoje 2 Ministério da Cultura

HOJE

Museu do Dinheiro 20 de Março a 28 de Abril de 2019 Lisboa Exposição organizada pela | Exhibition organised by ACADEMIA NACIONAL DE BELAS ARTES | NATIONAL ACADEMY OF FINE ARTS

Local | Location MUSEU DO DINHEIRO | MONEY MUSEUM

Coordenação Geral | General Coordination Natália Correia Guedes Presidente da Academia Nacional de Belas Artes | President of the National Academy of Fine Arts

Comissariado Científico | Scientific Board Académico [Academician] António Jacinto Vidigal Académico [Academician] Joaquim Lima Carvalho

Projecto Museográfico e Coordenação Executiva | Museum Project and Executive Coordination Académico [Academician] Vitor Manaças

Design Académico [Academician] José Brandão Alexandra Viola [ B2 Atelier de Design ]

Apoio à Produção | Production Assistance Museu do Dinheiro | Money Museum

ANBA: Teresa Catarina Figueiredo, Pedro Gaurim Fernandes, Andreia Cunha da Silva

Montagem e Iluminação | Installation and Lighting Museu do Dinheiro | Money Museum

Segurança | Security Museu do Dinheiro | Money Museum

Impressão do Catálogo | Catalogue Printing Banco de

Tiragem | Print Run 250

ISBN 978-989-678-644-1 Depósito Legal n.º | Legal Deposit 452615/19 Índice

Abertura...... 07 Carlos da Silva Costa Governador do Banco de Portugal

Apresentação...... 09 Natália Correia Guedes Presidente da Academia Nacional de Belas Artes

Introdução...... 11 Cristina Azevedo Tavares Membro da Academia Nacional de Belas Artes

[1] Álvaro Siza Vieira...... 16 [15] Joaquim Lima Carvalho...... 44 [2] António Marques Miguel...... 18 [16] João Duarte...... 46 [3] António Pedro Ferreira Marques.... 20 [17] José Brandão...... 48 [4] António Quadros Ferreira...... 22 [18] José de Guimarães...... 50 [5] António Vidigal...... 24 [19] José João de Brito...... 52 [6] Armando Alves...... 26 [20] José Laranjeira Santos...... 54 [7] Clara Menéres...... 28 [21] José Quaresma...... 56

[8] Cristina Castel-Branco...... 30 [22] Luís Filipe de Abreu...... 58

[9] Emília Nadal...... 32 [23] Luísa Ferreira...... 60

[10] Gil Teixeira Lopes...... 34 [24] Manuel Cargaleiro...... 62

[11] Graça Morais...... 36 [25] Mário Varela Gomes...... 64

[12] Guilherme Parente...... 38 [26] Matilde Marçal...... 66

[13] Hugo Ferrão...... 40 [27] Sofia Padez...... 68

[14] Isabel Sabino...... 42

Text in English...... 70 Belas Artes da Academia | Hoje 6 Abertura

Carlos da Silva Costa Governador do Banco de Portugal

O Banco de Portugal recebe com honra e satisfação a exposição “Belas Artes da Academia: Hoje”, iniciativa que se insere no programa das “Comemo- rações do 180.º Aniversário da Fundação da Academia de Belas Artes”. A exposição reúne no Museu do Dinheiro um conjunto de obras de desenho, pintura, escultura e fotografia de 27 Artistas Académicos contemporâneos, no qual estão representados artistas nacionais de renome que contribuíram com as suas obras para valorizar o acervo desta instituição. É assinalável a relação que une as duas instituições, o Banco de Por- tugal e a Academia Nacional de Belas Artes, ambas fundadas na primeira metade do século XIX por decreto da Rainha D. Maria II. A parceria com a Academia reflete o entendimento estratégico do Banco de Portugal de apoiar a cultura e as instituições que partilham esta vocação, a vontade de estreitar laços com a comunidade mais próxima, e confirma, por outro lado, os resultados do compromisso estabelecido pelo Banco, em 2006, em prol da revitalização da Baixa Pombalina. A expressão artística continua a ser uma linguagem universal e agluti- nadora, capaz de interpelar públicos à partida muito diferentes, despertando- -os para problemáticas comuns, e possibilitando, ao mesmo tempo, leituras e vivências diversificadas que estimulam a reflexão, o diálogo e o enriqueci- mento coletivo. Esta é também a nossa aposta quando promovemos iniciati-

7 vas de cariz cultural ou manifestações criativas que interpelam os públicos e convocam o debate sobre questões prementes da sociedade e da cidadania, que estimulam a participação na cultura, nosso território comum. Termino deixando uma palavra de apreço aos Artistas Académicos que cederam obras recentes e emblemáticas das suas carreiras, à Academia Na- cional de Belas-Artes e à sua Presidente, a Professora Natália Correia Gue- des, que se empenhou e com sabedoria e dedicação reuniu todos os recursos que permitiram a concretização desta exposição. Finalmente, um agradeci- mento à equipa do Museu do Dinheiro, pela organização do projeto e pelo esforço que dedica diariamente, em nome do Banco de Portugal, ao serviço da comunidade.

Belas Artes da Academia | Hoje 8 Apresentação

Natália Correia Guedes Presidente da Academia Nacional de Belas Artes

Esta Exposição enquadra-se num programa iniciado em 2016, por ocasião das “Comemorações do 180.º Aniversário da Fundação da Academia de Be- las Artes” e que teve como acções de maior visibilidade a edição do Catálo- go da Biblioteca Histórica, a organização das Exposições “Belas Artes da Academia. Uma Colecção Desconhecida” (Palácio Nacional da Ajuda, 2016 e Fundação D. Luis I, Cascais, 2018) e “Sousa Lopes. Um artista na Grande Guerra” (Academia da Marinha, 2018), assim como a realização de três ciclos de Conferências anuais. Foram pequenos passos, mas bem firmes, que reuniram consensos e determinação suficientes para sensibilizar as tutelas e a comunidade em geral, para a necessidade de preservação de um valioso património que se pretende partilhar e enriquecer. Proposta por dois Académicos (Professores Escultor António Vidi- gal e Pintor Joaquim Lima Carvalho), a iniciativa obteve a adesão incon- dicional de 27 Artistas Académicos, em plena actividade criativa. O termo “Hoje” aplica-se à nossa geração e por tal o consideramos expressivo para substituir o sub-título da primeira Exposição. Um dos principais objectivos é dar prova da evidente vitalidade da Academia - é colectiva, na verdadei- ra acepção da palavra e é a primeira, com abrangência de modernidade, realizada nos séculos XX-XXI. É representativa de Artistas de renome que contribuíram com as suas esculturas e pinturas para valorizar Museus, edifícios e espaços públicos de cidades, no pais e no estrangeiro; alguns destes Autores, num gesto de grande mecenato, decidiram manifestar, em

9 vida, a gratidão e ligação afectiva às suas origens familiares, oferecendo va- liosos espólios justificativos da construção de edifícios, Museus ou Centros Culturais, tornando-se factores de desenvolvimento de actividades com- plementares, como assistimos em Bragança, Guimarães e Castelo Branco. Com os constrangimentos de recursos humanos e financeiros da Aca- demia, esta iniciativa teria sido inviável se não tivéssemos reunido a genero- sidade de excepção de várias instituições: do Banco de Portugal e da equipa do Museu do Dinheiro que a acolheu (no lindíssimo espaço, exemplarmente reutilizado, da Igreja de S. Julião) e proporcionou o apoio técnico e de divul- gação; dos Professores e Académicos Victor Manaças que projectou e coor- denou a museografia, José Brandão autor do projecto gráfico do catálogo e demais textos e Cristina Azevedo Tavares que se disponibilizou a analisar obras, textos e imagens e a redigir a Introdução. Estamos afinal perante uma Obra conjunta e simbólica que muito hon- ra a Academia e que se integra, com toda a evidência, no espirito do Decreto fundacional que determina: “Promover a civilização geral dos portugueses, difundindo por todas as classes o gosto do Bello e desenvolver o génio daqueles que se aplicam a tão interessantes estudos.” No ano em que festejamos o bicentenário do nascimento da Rainha Fun- dadora D. Maria II, dedicamos à sua memória “Belas Artes da Academia. Hoje.”

Belas Artes da Academia | Hoje 10 Introdução

Cristina Azevedo Tavares Professora Associada da Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa Académica Correspondente da Academia Nacional de Belas Artes

O Museu do Dinheiro habita a antiga Igreja de S. Julião que foi reconstruída após o terramoto de 1755. A reconstrução só foi concluída em 1802, mas tendo sofrido novo incêndio em 1816 foi sujeita novamente a obras, sobre- tudo ao nível do recheio, ficando pronta em 1852. Em 1933 foi comprada pelo Banco de Portugal e esteve aberta ao culto até meados de 1934. É neste espaço arquitetónico outrora sagrado, proveniente do traço de sabor clássico do arquiteto Reinaldo Manuel dos Santos que trabalhou na reconstrução de Lisboa ao serviço do Marquês de Pombal, que se realiza a exposição coletiva Belas-Artes da Academia: Hoje. Esta exposição resulta de uma iniciativa da Academia Nacional de Be- las-Artes ao solicitar aos Académicos obras de arte para a realização de uma mostra coletiva dando continuidade à iniciativa primeira da exposição que teve lugar no Palácio da Ajuda Belas-Artes da Academia: uma Coleção Desconhecida. A exposição agora patente no Museu do Dinheiro que gentilmente ce- deu as suas instalações para a sua realização congrega um conjunto na sua maioria recente de obras assinadas por vinte e sete artistas plásticos, arquitetos e um designer: uma obra por autor. Estão presentes a pintura, a escultura, o desenho, a gravura, a fotografia, sendo que em muitos casos são utilizadas técnicas mistas, por vezes com recurso aos processos digitais. De salientar ainda o facto de os arquitetos estarem presentes com desenho, esquiços de projetos, fotografia, em particular a arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco

11 com o seu projeto para a Quinta Patino, mantendo-se assim a tríade básica da academia, que nos dias de hoje, se completa com a presença de outras áreas: o desenho, a fotografia e a cerâmica. A exposição não obedeceu por isso a um fio condutor, a uma ideia a ser ilustrada ou levada à ponta de espada, mas protagoniza-se na ligação com a comunidade da Academia Nacional de Belas-Artes que simultaneamente, e em parte, se cruza e sobrepõe com a Faculdade de Belas-Artes, já que a primeira fundada em 1836 foi o berço da segunda. Neste particular a maioria dos artistas, arquitetos e designers, são ou foram docentes da antiga Escola Superior de Belas Artes e da Faculdade, ou são-no noutras instituições, e quase todos estudaram nas Belas-Artes no Convento de S. Francisco que desde sempre coabitam. Mas a exposição é mais que uma soma de presenças, pois é o resultado, embora casuístico, de um conjunto interessante de obras, sendo que algumas já foram expostas anteriormente, enquanto outras não estariam planeadas para ser mostradas ao público tão cedo, não fosse esta oportunidade ter surgido. Na realidade umas foram projetos não cumpridos (António Marques Miguel, fachada para a Fundação da UL), outras ainda não foram expostas de tão recentes que são, e outras saíram dos ateliers como estudos para obras futuras. Esta exposição é também curiosa já que a escolha da obra a apresentar foi decidida por cada autor, passando uma intencionalidade intima nesse ato, que por diversas vezes vem espelhada no texto que os autores escreveram ou selecionaram relativo à obra que os representa. Porquê esta obra, e não outra? A primeira referência vai para a escultora Clara Menéres (1943-2018), que escolheu uma gravura sobre metal, constituindo esta obra, um dos vários estudos em expressões diferentes para a imagem da Capela do Anjo da Paz do Santuário de Fátima, uma escultura em bronze de vulto, que se encontra co- locada desde 2016 sobre a porta da entrada da Capela. A figura segura na mão direita uma pomba, com o braço caído ao longo do corpo, e na mão esquerda um ramo de oliveira, e apresenta o rosto inclinado ligeiramente para quem entra. A relação entre as duas peças, faz-se sentir ao nível da candura e lirismo do rosto, e da leveza, quer pelo ritmo das formas que, como asas, circundam o

Belas Artes da Academia | Hoje 12 rosto e as mãos, quer pelo branco da figura na Capela, surgindo como aparição. Clara Menéres revelou-se ao longo do seu percurso artístico uma escultora de enormes recursos e defensora de causas fundamentais, cuja relação com o simbólico se veio acentuar progressivamente. Articulando-se também com a esfera do religioso temos ainda as obras dos escultores António Vidigal (es- tereometria em ) e Laranjeira Santos (uso de resinas) reposicionando a iconografia da Pietá e da Anunciação. Outras esculturas a estas se juntam, a de António Pedro evocando o lugar do livro no presente através de formas depuradas; o recorte e a dobragem em chapa vermelha da figura da violinista Guilhermina Suggia por José João Brito, e a representação feminina em bronze acentuando os atributos da fertilidade na obra Espera de João Duarte. Encontramos, quer na escultura, quer na pintura, obras que claramen- te respondem a uma continuidade do percurso a que os autores nos vêm habituando e pelo qual são conhecidos: Armando Alves, Gil Teixeira Lopes com uma tela evocando Pedro e Inês em paisagens desde o corpo à natureza. Graça Morais está presente com uma técnica mista da série Metamorfoses que evoca as mulheres transmontanas nas suas lidas, em que o rosto e corpo se confundem com a natureza; o lirismo cromático identifica o imaginário de Guilherme Parente, além da figura feminina de Lima Carvalho. José de Guimarães apresenta uma pintura de 2017 em papel marouflé colado sobre tela com elementos plásticos que reenviam para as suas obras iniciais. José Quaresma tomando como base o seu retrato e sobre ele intervin- do, visa questionar a prática representativa e o seu alcance. Outras questões da representação se colocam nas obras de Luís Filipe de Abreu, de Mário Varela Gomes e de Matilde Marçal. Se de algum modo, a pintura de Isabel Sabino se tem ocupado de explorar o confronto e a permeabilidade entre a imagem fo- tográfica, a evocação do cinema e a pintura, questionando os limites da repre- sentação, Hugo Ferrão através dos seus desenhos próximos de uma atitude neoconstrutivista questiona os limites e o poder da imagem repensando o lugar do individuo. Ainda na perspetiva de uma pureza do elemento abstrato temos a pintura de António Quadros, a preto e branco, jogando com a proporção do micro e do macrocosmos.

13 Noutro registo, abordando a figuração, outros desenhos se perfilam, além de Emília Nadal, o designer José Brandão com uma figura burlesca finamente recortada e de Sofia Padez a lápis de cor evidenciando a relação (platónica?) entre o modelo e a representação proporcional. Um desenho dos anos 60 do arquiteto Siza Vieira a tinta da china tecendo graficamente e gestualmente padrões, remete-nos para as experiências feitas nos anos cinquenta por Fernando Lemos, ou depois por Escada, René Bértolo, João Vieira ao assumirem o ritmo de uma escrita inventada, num acerto geracional. De salientar ainda a presença da fotografia com Luísa Ferreira, seriando o interior das casas como naturezas mortas, e a cerâmica com Cargaleiro. Este apresenta um estudo recente que serviu de base para um painel a ser colocado no Metro de Paris, na estação Champs Elisés – Cle- menceau este ano. Recorrendo às suas cores eleitas, os azuis e verdes, sobre um fundo amarelo emoldurado, Cargaleiro estiliza as formas da natureza com ritmo e vivacidade. Em suma esta exposição Belas-Artes da Academia: Hoje visa proporcio- nar o diálogo entre artistas e diferentes expressões numa atualização das questões fundamentais da contemporaneidade.

Belas Artes da Academia | Hoje 14 Catálogo

15 1. desenho

1956 Traço com pena nankin sobre papel 21 x 29,7 cm

Em 1956 havia concluído os primeiros anos do de pintura e escultura (que funcionavam igual- curso de Arquitectura e havia já construído um mente na Escola de Belas Artes, partilhando al- grupo de 4 habitações em Matosinhos (1954 a gumas das disciplinas curriculares). minha primeira obra). É por isso um desenho feito numa época Continuava contudo a praticar o desenho e de fortes influências directas e indirectas. a modelação, agora em contacto com estudantes Porto, 14 de Novembro de 2018

Belas Artes da Academia | Hoje 16 ÁLVARO SIZA VIEIRA Matosinhos [1933]

Estudou Arquitectura na Escola Superior de Be- Institute of Architects; membro da Académie las Artes do Porto entre 1949 e 1955, sendo a sua d’Architecture de France; da Royal Swedish primeira obra construída em 1954. Academy of Fine Arts; da IAA/International Foi professor na Faculdade de Arquitectu- Academy of Architecture; da National Geogra- ra da Universidade do Porto, cidade onde exerce phic Portugal; Sócio e Membro Honorário da a sua profissão. Ordem dos Arquitectos Portugueses; membro É membro da American Academy of Arts da American Academy of Arts and Letters; Pro- and Sciences; é “Honorary Fellow” da RIBA/ fessor Honorário da Southeast University China Royal Institute of British Architects; membro da e China Academy of Art e Sócio Honorário da BDA/Bund Deutscher Architekten; “Honorary Academia de Escolas de Arquitectura e Urbanis- Fellow” e “Honorary FAIA” da AIA/American mo de Língua Portuguesa.

17 2. parede ocidental

Numa “PAREDE OCIDENTAL” dese- 2018 Aglomerado de alta densidade e placas acrílicas nha-se, geometriza-se, le trait, sobre a área dis- encaixilhadas ponível, recorta-se e gravam-se, entre outras 138 x 66 x 2 cm construções, três diferentes espirais - Bernoulli/ logarítmica, de Arquimedes e de Fibonacci - que, essencialmente, fazemos corresponder cada a uma das três culturas abraâmicas do Livro. Foi pensada para a Sede da Fundação da Univer- Culturas que impregnaram a nossa oci- sidade de Lisboa (2000), não construída. dental+idade. Trata-se agora da realização de uma ma- São elas a muçulmana, a judaica e a cristã, queta à escala de um para cinco, executada em recorrendo, por ênfase, às respectivas cores dis- aglomerado de alta densidade e placas acrílicas, tintivas ou seja: verde, azul e dourado. gravadas e foscadas, sobrepostas, a suspender em São ainda suporte os Elementos de Eucli- plano vertical. des, o Teorema de Pitágoras, assim como a mate- Então seria uma parede de alvenaria reves- rialização da proporção áurea real e encanto das tida a cantarias gravadas e coloridas, incluindo proporções. sulco dourado, cobertas por vidros temperados com gravações e foscagens. Novembro de 2018

Belas Artes da Academia | Hoje 18 ANTÓNIO MARQUES MIGUEL Lisboa [1941]

Licenciatura em Arquitectura 1973 (ESBAL), Pin- tura 1964 (ESBAL) depois da frequência da Es- cola de Artes Decorativas António Arroio (1958). Académico Efectivo da Academia Nacio- nal de Belas-Artes. Docente no ISCTE (1995/1998) e na UAL, como Professor convidado (1998/ 2017). Entre dezenas de projectos destaca: Habi- tação a custos controlados em Almada e na Ilha da Madeira, Mercado Rosa Agulha/Alcântara, Residência oficial do Governo Regional da Ma- deira/Quinta Vigia, Edifício Avenida e Janelas do alçado sul da Casa dos Bicos, Lisboa 1983. Menções Honrosas: Valmor (1983) com o Arquitecto Manuel Graça Dias, Assembleia da República, Centro Regional de Segurança Social de Santarém, Recreios da Amadora e Complexo Turístico Cais do Carvão/. Primeiros pré- mios: novas instalações da R.D.P. Madeira (1981) e Parque Residencial do Covelo, Famalicão, com o Arq. Vicente Bravo Ferreira. Jurado de concursos públicos, nomeado pela Associação e/ou Ordem dos Arquitectos Portu- gueses, Direcção Regional da Segurança Social da Madeira e Academia Nacional de Belas-Artes. Entre outras, participou nas exposições: XIX Trienal de Milão (1996), II Trienal de Ar- quitectura, Sintra 93, Desenho de Arquitectos (S.P.A.) e Europália 91, em Bruxelas.

19 3. livro gama

2018 Metal com revestimento de conversão 35 x 25 x 25 cm

Atril, latril, leitoril são palavras derivadas do mes- entre a memória que preserva do passado e as in- mo étimo latino, leere, que está na origem do verbo certezas do futuro, partindo das determinações ler. O conceito de leitura preside, assim, à realiza- do presente que tão bem conhece. ção da peça exposta, que sugere o suporte reclina- No que respeita às características mate- do de um livro aberto, no momento em que assis- riais, o “Livro Gama”, é este o título da obra, timos ao virar de uma página. Simbolicamente o é uma forma que evolui no espaço, através livro é representado por sucessivas “linhas gerais” de superfícies planas recortadas em chapa de e por uma letra do alfabeto grego, a letra Gama, cobre e zinco, com um revestimento de con- vazada no canto superior da página suspensa. versão. O negro para a estrutura de base e o Na “filosofia primeira” de Aristóteles, a le- cinzento prateado para o módulo destacável tra Gama assinala o livro que estuda o ser enquan- resultam da necessidade de acentuação do to ser e reflete sobre os conceitos de verdadeiro e contraste. A massa é eliminada devido às con- de falso. Mutatis mutandis, torna-se premente uma tingências técnicas e à orientação construtivis- reflexão crítica sobre o estado atual da arte, numa ta que a simplificação geométrica reflete. Em perspetiva ontológica, que contribua para a refor- síntese, a peça procura estabelecer a passagem mulação dos conceitos de arte e de não-arte. de uma significação usual para o domínio da Neste âmbito, pode a ANBA desempe- linguagem plástica, com a intencionalidade nhar um papel importante, através de uma ação poética e as implicações simbólico-culturais mais interventiva, junto das escolas de arte e da que estão na sua origem. sociedade em geral. A Academia dispõe de con- dições privilegiadas para estabelecer a mediação Novembro de 2018

Belas Artes da Academia | Hoje 20 ANTÓNIO PEDRO FERREIRA MARQUES Lisboa [1953]

3. livro gama Formação inicial em Artes Plásticas – Escultu- ra, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Inicia a carreira docente em Belas-Artes, em 1981. Título de Professor Agregado da Esco- la Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1991. Coordenador de Programas Europeus de Mobi- lidade e Cooperação Interuniversitária, de 1989 a 1993. É atualmente Professor Associado com Agregação, da Faculdade de Belas-Artes da Uni- versidade de Lisboa, Coordenador do Curso de Licenciatura em Desenho e Membro Efetivo da Academia Nacional de Belas-Artes. Foi Diretor de Área e Coordenador do Curso de Mestrado em Desenho. Participou, por eleição, em todos os órgãos de gestão da Escola e da Faculdade de Belas-Artes. Foi membro da Assembleia da Uni- versidade, do Senado e da Comissão Científica do Senado da Universidade de Lisboa. Coorde- nou e participou em diversos projetos de investi- gação. Conferências, publicações e orientação de trabalhos académicos sobre teoria e didática do desenho. Desde 1978, tem vindo a participar re- gularmente em exposições coletivas e individuais de Artes Plásticas, Desenho e Escultura.

21 finita, respirando em intervalos preto/branco (que nao o sao efetivamente em sua essencia cromatica) e geram ritmos de absorço visual que, quase de imediato, se elaboram e distendem para alem... Eis, as imagens da pintura que poderei considerar como “consecutivas”. A noço de tempo, enquanto du- raço e persistencia esta implicita e e transposta na lisibilidade das formas que se repetem, numa respi- raço incessante e ordenada. Remete para a preva- lencia – quase hermetica – do numero, na tradiço pitagorica e investigada por autores que conciliam abordagens procedendo de campos de conheci- mento diferenciados. (...) As cosmogonias transitam. Estabele- 4. cosmogonies p1_15 cem-se e irradiam, alastrando atraves de palavras, imagens e acçes que do colectivo se fundam nas 2012 entranhas do singular. Sao ordens “numericas”, Tinta acrílica sobre tela de linho organizaçes desejadas cuja racionalizaço pro- 100 x 100 cm gride para plataformas compositas de saber. As forcas consignadas nesta base cosmo- “(...) Cruzando as consideraçes focadas numa pin- gonica simples (poder-se-iam evocar outras) sao tura que toma inicio e fim em si mesma (como en- o sedentarismo de um pensamento que dialogou tidade e territorio interno) - por correspondencia a com deuses e cientistas nas mutaçes epistemo- um ato que concretiza obra e atribui lisibilidade vi- logicas da humanidade. Explicitam-se em cor- sual em estado de jogo conceitual – subjacente nas porações picturais que desencadeiam um pulsar determinaçes de Ver, Numero e Cosmogonico, selectivo e revelam a intencionalidade do autor, atinge-se um patamar de conhecimentos que cum- neste caso, de AQF. Plasmam-se mediante excer- prem os propositos estipulados pelo pintor. A pele tos e detalhes, promovendo uma noção (que e desta pintura, que expande as concreçes abstrato- amago) onde o Todo e razao composicional em -geometricas, e uma celebraço dos valores primor- si, para a qual contribuem/convergem as unida- diais em estado de pensamento visual acrescido des apreendidas e seleccionadas – ou seja, excer- pela axiologia tecnologica. As propostas picturais tos e detalhes. (...)”. de AQF (António Quadros Ferreira), insinuadas numa montagem em continuum, desenham – em Maria de Fátima Lambert termos de receço estetica – uma linha quase in- Janeiro de 2013

Belas Artes da Academia | Hoje 22 ANTÓNIO QUADROS FERREIRA Aveiro [1950]

Professor Emérito da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto | Académico Corres- pondente da Academia Nacional de Belas Artes | Presidente da CAE, Comissão de Avaliação Ex- terna de Belas Artes/Artes Visuais da A3ES

Coordenador dos Projectos BCIP, Conceptual Bases of Research in Painting, e ARTplus, Art, Research and Teaching into the Future | Membro do programa de doutoramento La realidad asediada: posicionamientos creativos, Universidade de Barcelona | Membro do i2ADS, CIEBA, e SCUCP | Doutor da Universidade de Nice Sophia-Antipolis, França

Últimas exposições » Alfabeto Modulable, Casa da Galeria (Santo Tirso), 2011. » Cosmogonies, Lugar do Desenho/Fundação Júlio Resende (Gondomar), 2013.

Últimas publicações » Água:Porto/Aigua:Barcelona (com Domènec Corbella Llobet), i2ADS/FBAUP e FBAUB, 2013. » Pensar o Fazer da Pintura, co-edição i2ADS/ FBAUP e Edições Afrontamento, Porto, 2017. (coordenação) » Jaime Isidoro, A Arte Sou Eu, Edições Afronta- mento, Porto, 2017.

23 5. pietà rias décadas e que já permitiram a criação de peças bem emblemáticas, como o Ícaro. 2019 Em termos iconográficos a obra permite re- Escultura em madeira meter para o corpo de Cristo magnificamente lan- çado da tábua do renascentista do florentino San- A representação da Pietà é um dos alvos fulcrais dro Botticelli - Lamentação sobre o corpo morto de Cristo de toda a História da Arte, e está no centro de com Santos; a mãe que envolve, que aperta e prende toda a iconografia cristã, existindo obras que tra- o corpo esvaído do Filho morto, quase como uma tam este tema de forma absolutamente emblemá- mão/tenaz permite a referência da Lamentação de tica, às quais dificilmente se pode fugir, não dei- Giotto. Ao analisar esta peça vêm à memória as xando nunca, mesmo que não se refira, de ser feita palavras de Margit Rowell que afirma que «Quan- a comparação. Tal, aumenta o nível do desafio, da do o escultor moderno voltou as costas a todas as ousadia de retomar um tema tão tratado e tentar práticas convencionais, à sua iconografia, às suas instaurar, tentar Criar. É exatamente isso o que faz técnicas e aos seus materiais, foi-lhe necessário en- António Vidigal. Através de uma escultura monu- contrar um outro quadro de referências para criar mental, representa a maior das tragédias humanas, formas significantes». Não se concorda e conside- a Mãe que assiste à morte do próprio Filho, não ra-se que, ao contrário do expresso, o verdadeiro de uma forma naturalista, mas explorando os li- escultor da contemporaneidade não tem que voltar mites da depuração, num material, a madeira, que, as costas a tudo. Efectivamente, para criar não tem sobretudo pela forma como é tratada, acrescenta que se libertar do «movimento linear da história» e algumas dificuldades, optando pela estereotomia, pode aspirar a modelações de uma pureza absoluta, através da fragmentação e posterior reestrutura- onde não se vislumbra qualquer elemento supér- ção da madeira por camadas, depois sobrepostas, fluo, mas apenas o essencial e o essencial é a Forma. retomando pesquisas que o autor produz há já vá- Paulo J. Morais-Alexandre

Belas Artes da Academia | Hoje 24 ANTÓNIO VIDIGAL Safara [1936]

Diplomou-se em Escultura em 1972 pela ESBAL onde entrou como Assistente em Janeiro de 1973. É Professor Catedrático da FBAUL e Académico Efectivo da ANBA. Esteve na origem da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e foi Pre- sidente da primeira Comissão Instaladora dessa Escola. Propôs e esteve na organização das Bie- nais de Escultura e Desenho e dos Simpósios Internacionais de Escultura em Pedra das Cal- das da Rainha. Está representado no Museu de Alençon (França), Museu Luis de Camões (Macau), Museu Teixeira Lopes (Mirandela) e Museu José Malhoa (Caldas da Rainha) e em colecções particulares em Portugal, Alemanha, USA, Espanha, França, etc. e em diversas colecções institucionais. Tem Monumentos e esculturas públicas em diversas localidades de Portugal, Angola e Macau. Expôs individualmente: 1991 Gal. ARA (Lisboa),1993 Gal. Municipal (Caldas da Rai- nha), 1994 Gal. Pousão (Porto), 1995 Gal. Mu- nicipal (Bragança), C. Cultural (Nazaré) e B. Flat (Matosinhos), 1999 Gal. ARA (Lisboa), 2000 inaugura a Gal. Municipal de Moura, 2001 Gal. EDIA (Beja), 2002 Gal. Verney (Oeiras), 2012 Exp. Antológica, CCC (Caldas da Rainha).

25 6. Sem título

2012 Acrílico sobre tela 60 x 60 cm

A paisagem habita desde sempre o imaginário dade inexpugnável, aparecem deste modo na sua plástico de Armando Alves. Desde o momento pintura. Cadenciadas por necessidades de ritmo, em que, jovem artista ainda recém-formado pe- de acentuar uma impressão, de regressar enfim a las Belas Artes do Porto, a reinventava em tons uma consciência do espaço que só através dessa grisados e verdes, até hoje. sua arte ganha corpo e presença material. Por isso as suas paisagens, que antes e depois Inabitadas e serenas, as paisagens de Ar- de o serem são massas de tintas ou zonas subtis de mando Alves, puros prazeres de um pintor, espaço aberto, elegem uma parte do mundo que comunicam-nos o haver um mundo intocado e se assemelha em muito a paisagens que realmente formidável que apenas o vento sabe visitar, uma existem. E onde o pintor revela em sucessivas va- certa densidade magmática das pedras sob o riações sempre mais aprofundadas, o seu imenso calor do sol ardente, os regimes coloridos que amor pela terra alentejana, seu país natal. o céu toma em certas inclinações da tarde ou, Uma linha ténue, que é horizonte, uma mais simplesmente, o simples acontecer de algu- cascata vermelha que pode ser queda de água ou mas cores por influência caprichosa da luz em terra incendiada pelo braseiro do sol, uma con- registos de azul, de verde ou de amarelo. Só isso vulsão magmática de formas ou de linhas que se deveras nos interessa. entrelaçam, umas quantas formas, quase de relevo escultórico, que são talvez pedras de uma densi- Bernardo Pinto de Almeida

Belas Artes da Academia | Hoje 26 ARMANDO ALVES Estremoz [1935]

Estudou na Escola de Artes Decorativas Antó- nio Arroio, em Lisboa, e na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Aqui conclui o curso de Pintura com vinte valores, o que originou, em 1968, a formação do grupo “Os Quatro Vintes” 6. Sem título com Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Jorge Pi- nheiro, com o qual se apresenta em exposições no final da década de 60, no Porto, em Lisboa e em Paris. Entre 1963 e 1973 foi professor assistente na escola portuense, tendo aí introduzido o estu- do das Artes Gráficas. A sua saída da Escola implicou, aliás, a de- dicação às artes gráficas como responsável por essa área na Editorial Inova, fundada no Porto em 1968. É agraciado com a medalha de Mérito Ouro da Câmara Municipal do Porto em 1988. E condecorado, no dia 10 de Junho de 2006, pelo Presidente da República com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito. Em Outubro desse mesmo ano, é homenageado pelo Município de Estremoz com a Medalha de Mérito Municipal – Ouro. Em 2009, recebe o “Prémio de Artes Casino da Póvoa”.

27 7. anjo da paz

2016 Gravura sobre metal 120 x 80 cm

Em 2016 comemorou-se o centenário das apari- Entre os vários estudos que realizei para ções do Anjo da Paz, também dito Anjo de Por- esta encomenda, desenvolvi outras expressões tugal, em Fátima. representativas do mesmo tema, sendo esta gra- Entretanto, foi-me encomendada pelo vura uma das obras produzidas nesse contexto. Santuário de Fátima uma imagem para a Capela do Anjo da Paz, a qual foi executada e inaugura- Clara Menéres da no local no referido ano. 2017

Belas Artes da Academia | Hoje 28 CLARA MENÉRES Braga [1943] – Lisboa [2018]

Diplomada em Escultura pela ESBA do Porto e Doutorada em Etnologia pela Universidade de Paris VII, foi Research Fellow do Center for Ad- vanced Visual Studies, MIT (1989-1991) como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian de 1978 a 1981, e, de 1988 a 1990, juntamente com a Fundação Luso Americana, Presidente do CD da FBA-UL, onde ensinou entre 1971 e 1996, e Direc- tora do Curso de Artes Visuais da Universidade de Évora, como Prof.ª Associada e Catedrática Emé- rita. Investigadora em arte e artista de vanguarda, desenvolveu diversas correntes nas áreas da escul- tura, desenho, instalação, medalhística e fotografia, através de múltiplos materiais e expressões, quer na arte feminista e de intervenção (a.60 e 70), como na arte associada a novas tecnologias (a.80 e 90) ou na Obra pública (excerto): Lisboa (“Coin- arte religiosa (2000-18). Fez parte do grupo ACRE cidentia oppositorum”, Jardim F. Gulbenkian, (Porto 74-75) e participou em numerosas exposi- 1983); Porto (monumento a Willy Brandt, 1993); ções no país e estrangeiro. Útimas exposições in- Almada (Monumento ao Poder Local, Pragal, dividuais: M.N. Trajo (2007); Sé do Porto (2015), 2001); Santuário do Sameiro (4 Anjos,2004-05); MAEDSetúbal (2016). Colectivas (históricas): 73, Santuário de Fátima (“Beata Jacinta”, Basílica SNBA (“Jaz Morto e Arrefece”); Alternativa Zero, do Santuário, 2000; “Presépio”, Igreja da Ssma. GNAM, Belém, 1977 (“Mulher-Terra-Vida”); XIV Trindade, 2010; “O Anjo da Paz”, 2016); CAM- Bienal S.Paulo, 1977; Anos 60, Anos de Rutura, P. -F.Gulbenkian (busto de Azeredo Perdigão, Galveias, Lisboa, 1994; “Pós-Pop: Fora do lugar- 2016). Membro Correspondente da Academia -comum”, F. Gulbenkian, 2018. Nacional de Belas Artes, publicou artigos e parti- Prémios de Escultura: Bienal Vila Nova de cipou na edição de ‘A Igreja e a Cultura Contem- Cerveira, 1984; Monumento a Camões, Paris,1987. porânea em Portugal – 1950 | 2000’, UCP, 2001. Representação: M.Gulbenkian, M.Serralves, M.Amadeo Souza-Cardoso, Amarante; CGD, SEC, Emília Nadal M.M. Ílhavo, MIT Cambridge, USA; M.Portimão. Janeiro de 2019

29 8. jardim quinta patino: lote 80 | estoril

2005 Esquiços e fotografias 3 painéis com 42 x 68 cm

Em forma de um anfiteatro virado a poente, ocu- Os materiais deste projeto seguiram uma pa 5.000m2 livres de construção. Design assistant: palette de texturas e cores que acentuam o am- Miguel Coelho de Sousa | Raquel Carvalho. biente e a luz coada pelas copas irregulares dos Foi aceite como desafio e novidade, a intro- pinheiros e reflectida pelas clareiras relvadas: são dução de peças de Land Art: a parede de painéis, a os ocres-ferrugem do aço cortén, o castanho- vedação de corten e o espelho de água refletor de -terracota do xisto e da ardósia e o beije claro do luz para a pala. Um percurso ao longo do qual se mármore. Uma pintura de Sonia Delaunay serviu instalam peças escultóricas de artistas de renome de guião à escolha da vegetação e dos materiais. como: Antony Gormley, Dan Graham, Thomas O muro de suporte ondulado que divide o Shütte, Claes Oldenburg & Coosje Van Bruggen pinhal do relvado é revestido a pedra de xisto irre- O potencial do terreno como cenário natural gular. O pavimento que rodeia o espelho de água é constituiu um estímulo para implantação de peças feito de pedra lisa de ardósia e o seu rebordo é de escultóricas que animassem um percurso serpen- pedra mármore clara. As colunas da pala e o muro teando dentro do lote, conjugando-se em três socal- do mirante são superfícies revestidas a aço cortén. cos quase naturais, revestidos com o pinhal existente Todos estes materiais são re-utilizados numa Propôs-se a criação de uma zona de estadia peça escultórica que cria uma cortina ao longo da constituída por um espelho de água e por um pa- extrema superior do lote: painéis de mármore trans- vilhão escavado no declive do terreno, que recebe lúcido ligam a uma longa peça ondulada de aço cor- a luz do sol poente fazendo brilhar no solstício de tén, desdobrando-se em 3 dimensões, como que em Verão a parede de lousa com incrustações metálicas. movimento, e desintegra-se em painéis de ardósia.

Belas Artes da Academia | Hoje 30 CRISTINA CASTEL-BRANCO Lisboa [1958]

Professora Associada com Agregação do Insti- Expo’98, projetou o Jardim Garcia de Orta no tuto Superior de Agronomia. recinto da Expo’98 em coautoria com João Go- Licenciou-se em Arquitectura Paisagista mes da Silva. pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA). É sócia fundadora do atelier ACB – Ar- Com uma bolsa Fullbright – ITT completou o quitectura Paisagista, (1991) e Membro do ICO- Master in Landscape Architecture na Universidade MOS (UNESCO) desde 2004, é conselheira do de Massachusetts, tendo-lhe sido atribuído o Comité de Paisagens Culturais para as missões “Student Honor Award of American Society of Archi- de Património Mundial. Em 2013 foi nomeada tects” em 1989. Efetuou estudos complementares Presidente do Conselho Científico do Institut Eu- na Universidade de Harvard, doutorou-se (1993) ropéen des Jardins et Paysages. Fundou a Associação e fez a Agregação (2006) em História de Arte de dos Amigos do Jardim Botânico (2001) e a Asso- Jardins na Universidade Técnica de Lisboa (ISA). ciação Portuguesa dos Jardins e Sítios Históricos É docente do Instituto Superior de Agro- (2004). Membro correspondente da Academia nomia (desde 1989) e dirigiu o restauro do Jar- Nacional de Belas Artes, da Academia Brasileira dim Botânico da Ajuda, tendo sido Directora de Arte do Rio de Janeiro (2017), foi condecora- deste jardim entre 1997 e 2002. De 1993 a 1998 da por França com a “Ordre d’Officier des Arts et des foi assessora chefe de Arquitectura Paisagista da Lettres” em 2013.

31 9. sonata “ao nascer do dia”

2015 Pintura 70 x 85 cm

Integra-se numa extensa série de pinturas, ini- soluções de grande delicadeza ou de alguma ciadas no ano 2000, relacionadas com evoca- violência, podem representar modelos de um ções de obras musicais de Schubert, Brahms e mesmo tempo e lugar ou fazer abertura para Gustav Mahler. outras dimensões espaciais e temporais. Estes “…Luz e música fluem na pincelada in- efeitos produzem ilusões de desdobramento e comparável de Emília Nadal, simples e clara de penetração, de descoberta e sobreposição, como a dos mestres do Oriente. Entre esmeral- de arrastamento e passagem. Porém, insinua-se das verdes e laranjas das árvores do paraíso, per- sempre nesta visualidade uma textualidade poé- passam folhas que são já vestígios de uma alegria tica onde o lirismo nos define um lugar atópico breve. Breve e mágica, puríssima como a vida, (sem lugar) e atemporal – num trabalho onde o como a vida destas imagens.” espaço parece dominante, é a ideia de suspen- são do tempo (proposta pelas paisagens para- Maria João Fernandes disíacas) ou o entendimento da sua passagem In Catálogo da Exposição “Canção da Terra”. Palácio como tempo interior (proporcionado pelo que dos Capitães Generais, Angra do Heroísmo, 2005. podemos adivinhar ser uma musicalidade de fundo) que domina e nos conduz às suas obras mais recentes…” “…Nas diferentes soluções experimentadas pela artista encontramos como determinantes João Pinharanda os eixos do tempo e do espaço. As rupturas po- In Catálogo da Exposição “Tudo o que acontece”. Cen- dem assumir a imagem de alvéolos ou rasgões, tro Cultural de Cascais, Fundação D.Luis I, 2011.

Belas Artes da Academia | Hoje 32 EMÍLIA NADAL Lisboa [1938]

Licenciou-se em Pintura. ESBAL 1960. Bolsei- ra da Fundação C. Gulbenkian para os projectos “Slogan´s“,“SKOP” e “Embalagens para Produtos Imaginários”. Projectou cenários e figurinos para o Ballet Gulbenkian, Teatro D.Maria II e ACARTE, e o novo altar da Sé de Faro. Realizou murais em be- tão na Biblioteca João Paulo II-UCP, e exposições de pintura, desenho, gravura e objectualismo, no país e no estrangeiro. Distinções na 1ª e 2ª Exposições Nacionais de Gravura, Lisboa, e no XVI Prémio In- ternacional de Desenho Joan Miró, Barcelona. Exposições individuais recentes: 2011 – Centro Cultural de Cascais; 2013 – M. de Artes De- corativas, Viana do Castelo; 2015 – M. de Arqueo- logia de Setúbal e Galeria de São Mamede, Lisboa. Exposições colectivas recentes: 2012 – “RISO”, M. da Electricidade-Fundação EDP; 2013 – “Ama- deo” Exposição 25 Anos do CAM. F. Gulbenkian; 2015 –“Os Pintores e o Teatro”, M. da Presidência da República, Cidadela, Cascais. Representada no M.Gulbenkian-C.Moderna; M.A.M, de Serralves; M.A.M.C. Berardo; M.N. do Teatro; M. de Tomar- -doação J-A.França e Fundação D. Luis I. Biblio- grafia: “Emília Nadal” M. Rio de Carvalho, IN/ CM, 1986. Emília Nadal, Pintura de Memórias, v. autores. Ed. Cão Menor, 2011. “Guerre et Paix”, Fondation C. Gulbenkian-Délégation en France, 2017. Presidiu à Direcção e AG da SNBA. Grande Oficial do Mérito Civil. Membro Correspondente da Academia Nacional de Belas Artes.

33 masculinas ou femininas –, o entrelaçamento que se vê no topo, como se, de facto, uma das coxas se continuasse na outra, permite-nos identificar com relativa facilidade a segunda constante da obra de Gil Teixeira Lopes. Para isso concorre, aliás, o fac- to de remeter para uma conhecida história, cujo tratamento literário encontra em Garcia de Re- sende e, principalmente, em Camões, momentos altos. Tanto as linhas, que remetem para a escrita, como o título da obra ou, mais importante ain- da, a frase grafada no quadro – rasurada, no en- tanto, tornando talvez indecidível a possibilidade do amor trágico –, concorrem para colocar este quadro em diálogo tanto com a tradição pictórica, onde as representações do corpo e as figurações do desejo se multiplicam, como com a tradição 10. a pedro e inês literária, como se ambas encontrassem, tanto no desejo como na tragédia, terreno fértil. No entanto, a isto teríamos de acrescen- 2004 Pintura a óleo sobre tela tar a apresentação do(s) corpo(s), que podem 170 x 144 cm certamente remeter para este erotismo como, ao mesmo tempo, para o tratamento pictórico que deles fez Francis Bacon, ou, caso não se Na obra de Gil Teixeira Lopes encontramos duas queira sair da referência literária, para o mo- grandes constantes, que, de certa forma, são re- mento em que Inês, já morta, é coroada rai- tomadas neste quadro: a presença do corpo, em nha. Deste ponto de vista, o erotismo, seguin- especial o corpo feminino, e, o tratamento que a do George Bataille, encontra o seu segredo na este é dado, uma referência mais ou menos evi- morte e é o corpo morto de Inês que, doravan- dente ao erotismo. Sendo certo que o corpo, ou os te, assombra a paisagem bucólica que surge na corpos, que nele figuram dificilmente podem ser parte de baixo do quadro. atribuídos a um qualquer género – são apenas visí- veis coxas, sem nada que nos permita dizer se são João Oliveira Duarte

Belas Artes da Academia | Hoje 34 GIL TEIXEIRA LOPES Mirandela [1936]

Professor Catedrático jubilado da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Membro Honorário da Academia Nacional de Belas-Artes. Comenda- dor da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Comendador da Ordem do Infante D. Henri- que. Desenvolveu trabalhos de investigação no Centro Nacional de Calcografia e Gravura do Instituto de Alta Cultura. Foi conselheiro inter- nacional para as representações portuguesas nas bienais de gravura europeia em Baden-Baden. Foi membro do júri das bienais internacionais da Noruega em 1980 e da Trienal Internacional de Berlim em 1984. Foi bolseiro da Academia Nacional de Belas Artes, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura. Desde 1955 participou em mais de 100 exposi- ções individuais e 800 coletivas. Recebeu cerca na II Bienal do México, 1980; Prémio Cordeiro de 40 prémios e distinções no país e no estran- Ramos da Academia Nacional de Belas-Artes, geiro. Prémio Nacional de Pintura, 1969; 2º Pré- 1981; Medalha de Ouro na VII Bienal Interna- mio Internacional “Copérnico” em Cracóvia, cional da Noruega,1984; Grande Prémio da IV Polónia, 1971; Medalha de Ouro, II Bienal Inter- Bienal Internacional da Irlanda, 1985; Grande nacional de Florença, 1972; Grande Prémio da Prémio da “VIII Bienal Internacional da Norue- II Bienal Internacional de Seoul, 1972; Prémio ga, 1986; Prémio de Gravura na III Exposição de Aquisição na XII Bienal de São Paulo, 1973; da Fundação Calouste Gulbenkian, 1986. Foi Prémio na V Trienal Intergrafik Berlim, 1976; homenageado na IX Trienal Internacional da Prémio Nacional de Gravura, 1977; 3º Premio Noruega, 1987.

35 11. série metamorfoses iii

2004 Pastel e carvão sobre tela 160 x 120 cm

As mulheres não se apaixonam. Vivem em es- doente, tendo porém brilhantes os olhos que de tado de unidade com o universo, e isso pode vez em quando abriam, acesos de curiosidade. ocasionar que se revelem na multiplicidade da A metamorfose é o único espaço da natu- criação que elas transportam em si. (...) era nas reza e da tradição humana que não é colonizado mulheres que as metamorfoses se manifestavam pela reflexão. Representa um acto impossível, o mais. No campo, quando dobradas arrancavam que abre perspectivas e alimenta a esperança. (...) as ervas más, pareciam saltamontes de pernas A metamorfose desloca o medo para caminhos negras de terra. Outras vezes, esperando à porta onde passa a esperança. de casa, nesse descanso que mais parece um na- morar a morte, esperando o carteiro ou o com- Agustina Bessa-Luís | Graça Morais prador de vinho, elas tomavam o ar duma ave As Metamorfoses, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2005

Belas Artes da Academia | Hoje 36 GRAÇA MORAIS Vieiro, Trás-os-Montes [1948]

Concluiu o Curso Superior de Pintura na ESBAP em 1971. É membro da Academia Nacional de Belas Artes e de diversas associações, confrarias e fundações culturais. Foi agraciada com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Hen- rique, pelo Presidente Dr. . Desde 1974 até 2018 realiza e participa em mais de uma centena de exposições individuais e colectivas, dentro e fora do País, destacando a representação de Portugal na 17ª Bienal de São Paulo em 1983 e em 2017 a exposição La Violence et la Grâce, na Fondation Calouste Gulbenkian, em Paris, onde também decorreu o colóquio in- ternacional O Mito e a Metamorfose que reuniu uma vintena de especialistas da obra da pintora. Ilustrou e colaborou com poetas e escri- tores, como: José Saramago; Sophia de Mello Breyner Andresen; Agustina Bessa-Luís; Miguel Torga; Pedro Tamen; António Alçada Baptista; Manuel António Pina; Nuno Júdice; Clara Pinto Correia; José Fernandes Fafe; António Osório; Ana Marques Gastão; José Carlos de Vasconce- los, Valter Hugo Mãe, entre outros. Em 2008 foi inaugurado o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança.

37 12. a árvore das patacas A designação popular reside numa particu- laridade dessa árvore. As sépalas da sua flor, são 2018 grossas e fortes e fecham-se para a formação do Técnica mista sobre tela fruto. Assim, um objeto que aí se coloque, durante 150 x 206 cm a fase de formação do fruto, ficará no seu interior. Conta-se que o Imperador D. Pedro, escon- “Arvore das Patacas” é uma expressão portugue- dia moedas (patacas) nas flores da “Dillenia Indica” sa, que significa obtenção de dinheiro fácil, “o quando estas se fechavam para formação do fruto. dinheiro cresce nas árvores”. Depois dos frutos formados, colocava-os numa cai- Na realidade, a “Arvore das Patacas” ou xa que enviava para Portugal, com uma inscrição que “Dillenia Indica” existe. É uma arvore bonita, dizia: “Nesta terra até o dinheiro nasce nas árvores”. originária da Índia, que foi levada para o Brasil, A “Arvore das Patacas” faz parte das histó- no reinado de D. João VI. rias de sonho da minha infância.

Belas Artes da Academia | Hoje 38 GUILHERME PARENTE Lisboa [1940]

Iniciou os estudos de pintura no início dos anos 60, na Sociedade Nacional de Belas Artes com o mestre Roberto Araújo. De 1968 a 70 estudou na Slade School em Londres, como bolseiro da Fundação Gulbenkian. Prémio Malhoa em 1975 e Prémio da SNBA de pintura em 1989. Fez varias exposições individuais em Por- tugal e no estrangeiro (Londres, Paris, Berlim, Frankfurt, Roma, Madrid, Bruxelas, Atlanta (EUA), Goa, Macau, Tóquio)

Algumas das últimas exposições individuais: » 2013 “Viagem ao império do meio” - Macau - Fundação Oriente; » 2014 “Fragmentos de uma viagem imaginada” - Lisboa – Fundação Champalimaud; » 2015 “Pelos 4 Cantos do Mundo”; Doca Da Caldeira - Terreiro do Paço – Lisboa » 2016 Lançamento do Livro “Guilherme Pa- rente. Conversa. Vida e Obra”, Ana Matos - editora INCM - Galeria São Mamede - Lisboa » 2018 “Cidades Invisíveis”, Instituto Camões, Berlim – Alemanha

Está representado em vários museus e instituições. É ampla a sua bibliografia.

39 13. vacuu 1 vacuu 2 vacuu 3

2018 em spray que tomam determinados quadrantes Técnica mista (grafite, perfuração, velatura em pvc) do campo visível. As perfurações operadas, na 70 x 50 cm Vacuu 2 e 3 são pormenores da obra camada intermédia, laceram e evocam a constan- te agressão a que o corpo está exposto numa cul- tura de sacrifício e culpa. Por último, no primeiro Os desenhos que se apresentam fazem parte da plano, existe uma velatura em pvc, na qual foram série designada por «Vacuu», sendo tecnicamente realizadas aberturas que nos permitem, por bre- compostos por três camadas autónomas ves instantes, percepcionar as outras camadas. que, justapostas, geram o corpo da obra. A Esta série pretende espelhar a dessimbo- ritualização encontrada para a sua concretização, lização que caracteriza a presente «formatação visa instaurar processos que implicam o artística» incapaz de operar qualquer distinção reconhecimento soft dos instrumentos actuantes, qualitativa, gerando na sua circularidade proces- matérias, materiais e suportes tradicionais (tintas sual o fetichismo da vacuidade simbólica da arte spray, grafite, estiletes, punção, papel, cartolina e (Anselm Jappe), globalizando a indústria do en- velatura em pvc) e simultaneamente contribuam tretenimento como forma de neutralização e mu- para acentuar diferentes planos onde se inscre- mificação imagética (Mário Perniola), num tempo vem múltiplas presenças plásticas. A aparente em que é urgente retornar ao pensamento, à es- racionalização intensificada pela ortogonalidade crita, ao desenho, à pintura, à escultura, às artes, criada pela presença de formas geométricas, é como forma de preservar a própria humanidade, acentuada pelo cromatismo impessoal das tintas negando uma cultura de massa individual.

Belas Artes da Academia | Hoje 40 HUGO FERRÃO Lourenço Marques [1954]

Doutor em Belas-Artes, especialidade de Pin- tura – FBA/Univ. Lisboa (2007). Equiparação a Doutoramento - Agregação ao 5º Grupo – ESBAL (1996). Mestre em Comunicação Edu- cacional Multimédia – Univ. Aberta (1995). Pós-Graduação em Sociologia do Sagrado e do Pensamento Religioso – Univ. Nova de Lisboa (1992). Licenciado em Artes Plásticas-Pintura - ESBAL (1985). Prof. Associado em Pintura na FBAUL, onde cria as disciplinas de Ciberarte e Realidade Virtual, fundador do Centro de Investigação em Ciberarte, e do CIEBA – Centro de Investiga- ção e Estudos em Belas-Artes (Director; Invest. Principal da Ciberarte; Presid. do C. Científico (2006-2012); Presid. Coord. do Doutoramento da Fac. de Belas-Artes. Membro do Conselho Geral da Univ. de Lisboa (2011-2017). Membro do Conselho Geral da Esc. Artística António Ar- roio (2011 -2018). Investiga e publica nos domí- nios da pintura, simbolismo, tapeçaria, ciberarte, cibercultura, hipertexto, realidade virtual e seu impacto na formalização do discurso artístico- -pintura. Tem desenvolvido um projecto artísti- co no âmbito da nova figuração, participando em várias exposições colectivas (desenho, pintura, tapeçaria e fotografia). Realizou 10 exposições individuais (Pintura e desenho) e foram-lhe atri- buídos dois prémios em Pintura.

41 A tela que apresento nesta exposição é a ter- ceira de um conjunto de doze organizadas em 4 gru- pos (4 estações), cada um com 3 pinturas. Para cada estação, há imagens fundamentais - uma fotografia de minha autoria e um filme escolhido entre outros pertinentes para o tema: logo, 4 fotografias e 4 filmes. Como um cliché da estação do ano, cada imagem fotográfica dá origem a 3 versões por manipulação digital, em metades assimétricas, reflexo e fantasma. Depois, o processo da pin- tura cria ocorrências específicas livres para uma síntese final: uma árvore como metonímia da ideia que temos da paisagem na estação do ano representada, em positivo e negativo. Finalmente, figuras e ações provenientes de um filme para cada grupo de 3 pinturas vêm ex- pandir ou canalizar do ponto de vista narrativo e 14. four seasons, please! ficcional a relação direta com a ideia de paisagem. # 3 (spring) Neste caso, a árvore primaveril florida per- de a cor intensa e fresca das anteriores, surgindo empalidecida e como que queimada pelo sol pre- 2017 Acrílicas s/tela maturo, em ocres e dourados. E entre a folhagem 150 x130 cm há uma figura oriunda do filme Le Joli Mai, de Chris Marker (1963), filme a preto e branco que é Four Seasons, Please!, nome da série de pinturas, um retrato associado ao cinema vérité e uma elegia ironiza um desejo paradoxal no interior das quatro de uma cidade (Paris) que parece despertar depois paredes cegas do meu estúdio onde, por baixo da de décadas sem paz. Dele retenho inúmeras ima- clarabóia, não se vê o céu. Ali, como numa estufa, gens e passagens, como a conversa entre arquite- o ar não corre, mal se dando pelas quatros estações. tos em que um afirma ser necessário começar por Assim se instaura um lugar metafórico possível plantar árvores, ou o momento em que o narra- para as perturbações climáticas que constituem cada dor diz, quando o écran nos mostra uma escultura vez mais um desafio de sobrevivência da nossa espé- num jardim: “Os homens inventaram a naftalina cie. E este não seria um estúdio de pintura se, ali, a da beleza. Isso chama-se arte.” realidade não se confundisse com a ilusão e, com esta, Interessa-me o enigma dessa ideia, que a não fosse o desejo e, mais ainda, a necessidade, prin- pintura um tanto nostálgica possivelmente carre- cipais motivadores das pinturas. Fugir, só com elas. ga: afinal, o que entendemos por beleza?

Belas Artes da Academia | Hoje 42 ISABEL SABINO Lisboa [1955]

Lic. em Artes Plásticas-Pintura (ESBAL, 1978); estágio docente do MEC (1979); agreg./equip. Dout. (ESBAL 1992); agreg. Univ. (U. Lisboa 1999). Docente no Ensino Secundário (1976- 1982), no Ensino Universitário em Belas Artes (ESBAL/FBAUL, desde 1982); atualmente pro- fessora catedrática (FBAUL). Diretora artísti- ca das exposições na Amascultura/Teatro da Malaposta (1993-1995). Docente convidada na ESTC (Cinema) em 2002 e 2003. Membro dos: Centro de investigação Cieba (FBAUL); Centro de investigação i2ads (FBAUP); ANBA (Acade- mia Nacional de Belas Artes). Textos publicados, mais de 60, entre os quais: A Pintura Depois da Pintura (FBAUL, 2000); As flores na nossa mesa (a propósito da política na arte) (Trajectos, ISCTE, 2011); Surfing, sob um céu cor de tinta. Algumas notas sobre a melancolia na pintura Lugar do Desenho/Fundação Júlio Resende); A contemporânea (U. Nova, 2011); Com ou sem tintas: menina (não) fica em casa (2016, Museu Militar, Lis- composição, ainda? (Coord. Cieba, 2013); Como a boa); Na volta da maré (2016, Galeria Municipal do poeira no ar e no rastro de uma nuvem: Mapeando a pin- Montijo). Colectivas – Diálogos Iberos (2016, Ga- tura contemporânea. (Intermeios, Brasil, 2015); And leria da UFES, Vitória, Brasil); ArteMadrid (com Painting? A pintura contemporânea em questão. (Coord. G. Arte Periférica, Madrid, 2017 e 2018); 34:111 Cieba, 2014); She sells sea shells: notas para uma poéti- (34 Imagens para 111 Anos), pintura site-specific ca (e uma política) em pintura (RevistaVisuais, Brasil, (2017, Nova Medical School, Lisboa); A possible 2015); Fiction and drift. On the Painting of Jorge Mar- breeze. Portuguese Modern Art (2017. Minsheng Mu- tins. (Tap Seat Gallery, Macau, China, 2017). seum of Contemporary Art, Beijing, China); Belas Seleção de trabalho artístico: Exposi- Artes da Academia. Uma coleção desconhecida (2018, ções individuais – Talvez bombons (2014, G. Arte Centro Cultural de Cascais); We Are Europe (2018, Periférica, Lisboa); E os rios nascem no mar (2015, Lodz Academy of Fine Arts, Poland).

43 15. foi assim que a vi

2015 Pintura sobre tela 200 x120 cm

Começo por esclarecer, não a pintura que fiz, mas os propósitos que assumi e os objetivos que procu- rei atingir. Não queria pintar temas que aparecem em tantas pinturas e por tantos artistas. São temas ao gosto dos crentes das artes, aproveitando, daí, logo, simpatia e compreensão: é o Poeta Fernando Pessoa, com chapéu e óculos…é o Amadeu Sousa Cardoso, com um violão e ar de conquistador…é o Cais das Colunas com gaivotas, etc. São clichés, hoje fáceis e banais, são figuras de mulheres despidas que escorrem de paisagens, dando a ilusão de ima- ginação, mas mais que vistas e decalcadas por todo o lado, ou então, figuras de mulheres em posições menos eróticas, rodeadas por pinceladas “artísti- cas”, por vezes, sem justificação alguma. Não queria uma pintura de grandes gestos, académicas, mas evitando também as proporções de cores e tonalidades claras, como os exemplos “elegantes”, com truques fáceis, na redução das ca- das pinturas que decoram os hotéis de 3 estrelas, beças, pequeninas em relação ao corpo. ou vistosas flores enormes pintadas por respei- As figuras que pinto, como esta que apre- tadas senhoras de meia-idade, que se dedicam sento, são raparigas, mulheres, que vejo no meu tardiamente à pintura. quotidiano, não são figuras da literatura, são pes- Estas recusas e outras mais que o espaço soas que andam nas ruas. Procuro rigor nas for- não me permite, enquadram-me em objetivos li- mas, com síntese, fugindo ao “artístico” tão apre- mitados, que tento resolver e expressar. Procuro, ciado. Procuro fazer uma pintura sem excessos, então, uma pintura calma, sem tiques “artísticos”, sem nervos, sem retratos pessoais de ninguém, fúteis e viciados; procuro uma pintura equilibrada, mas um retrato do meu tempo. Não sei se consi- bem estruturada nas formas simples e sem porme- go, o tempo o dirá ou não, mas esta pintura está nores, como também nas cores e tonalidades, ten- enquadrada nestas preocupações aqui referidas. tando evitar o inacabado, fazendo figuras humanas, Mulher-Homem, em proporções especiais, não Novembro 2018

Belas Artes da Academia | Hoje 44 JOAQUIM LIMA CARVALHO Porto [1940]

Licenciou-se na Escola Superior de Belas-Artes intervenções estéticas em espaços públicos: na do Porto. Foi docente na Escola Superior de Be- Torre dos Clérigos, na Rua do Carmo, em Lisboa, las-Artes de Lisboa, coordenador da licenciatura na criação de uma “repartição pública”, no Porto de Pintura, Presidente do Conselho Pedagógico e e em Lisboa, numa Praça, nas Caldas da Rainha, Presidente do Conselho Directivo da Escola e Fa- etc. Participou no painel colectivo de pintura – culdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. com quarenta e oito artistas – que se realizou a 10 Terminou a sua carreira académica como Profes- de Junho de 1974, em Belém, da responsabilidade sor Catedrático. É actualmente Membro Efectivo do Movimento Democrático de Artistas Plásticos. da Academia Nacional de Belas-Artes. Na década Participou em dezenas de exposições colectivas e de 60, foi um dos dez fundadores da cooperativa realizou várias exposições individuais, em galerias artística “Árvore”, no Porto. Em 1974, formou e em Instituições públicas, nomeadamente, na com dois colegas o Grupo Acre, que desenvolveu Gulbenkian e na Árvore.

45 16. espera

2017 Escultura em bronze 110 x 60 x 50 cm

Esta vénus infere um culto à fertilidade pela re- As“gordas” são assim representações tridimen- presentação exacerbada das zonas reprodutivas sionais de momentos quotidianos das pessoas, em relação às extremidades (cabeça, mãos e pés) sendo a mulher a protagonista de todas as cenas. desproporcionais ao resto do corpo extremamente Conto uma história, um ritual, um momento ro- voluptuoso. Formalmente, as minhas figuras femi- tineiro de todos nós. Prefiro a verticalidade pela ninas são simplificações do corpo feminino resul- horizontalidade de corpos maciços e pouco di- tantes da junção de formas e volumes insistente- nâmicos, conferindo-lhes leveza e monumenta- mente redondos e polidos, com grande contraste e lidade através de posições que simulam suspen- desproporção entre as várias partes do corpo. são e movimentos de esforço ou libertando-a A minha abordagem plástica, não incide do chão, através da colocação de outros objetos unicamente no corpo feminino, mas também nas na composição, nunca descorando o equilíbrio expressões intuitivas e espontâneas da Mulher. e harmonia da forma. Também utilizo a ironia Os rostos remetem-nos para uma profunda con- nas minhas peças para transmitir mensagens de templação, e alguns gestos e posturas são univer- momentos caricatos do dia-a-dia ou dos estereó- salmente intuídos pela personalidade feminina. tipos da sociedade.

Belas Artes da Academia | Hoje 46 JOÃO DUARTE Lisboa [1952]

Licenciatura em Artes Plásticas – Escultura, no ano de 1978, pela Escola Superior de Belas-Ar- tes de Lisboa. Professor Associado com Agre- gação, Aposentado da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Académico Efetivo da Academia Nacional de Belas Artes. Membro Efetivo da Federação Internacional de Medalhís- tica (FIDEM) desde 1990. Membro Fundador do Centro de Inves- tigação e de Estudos Volte Face-Medalha Con- temporânea e do Grupo Anverso Reverso – Me- dalha Contemporânea. Membro da Associação de Artistas Plásticos do Concelho de Vila Franca de Xira. Exposições Individuais e Coletivas de Escultura, Medalhística e Numismática a nível Nacional e Internacional. Representado em vários Monumentos Pú- blicos em Portugal e Museus Nacionais e Inter- nacionais.

47 17. serafim tão do desenho da cara, o corpo e os braços não têm explicação. Trata-se de um exercício visual 2017 sobre um personagem disforme que remete para Técnica mista sobre papel 75 x 85 cm um espanto perante o inesperado da natureza e alguma crueldade da mesma. Do ponto de vista técnico trata-se de um O meu trabalho embora figurativo não tem, sal- último trabalho em que usei o aerografo, técnica vo em situações de encomenda, nenhuma justifi- que não voltarei a utilizar por incapacidade mi- cação em si mesma. O nome foi dado por suges- nha e desfalecimento do instrumento...

Belas Artes da Academia | Hoje 48 JOSÉ BRANDÃO Nova Iorque, EUA [1944]

foto homem cardoso Licenciado em Design Gráfico (Londres,1970), como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1982, funda com sua mulher Salette Brandão, o B2, Atelier de Design onde ainda exerce a sua atividade em múltiplos projetos para um número considerável de clientes. Professor de Design, em Londres 1970-71, e entre 1977-2011, em Lisboa, nas Faculdades de Belas Artes e de Arquitetura. Em 2017 foi-lhe atribuído o grau de Professor Emérito pela Universidade de Lisboa. Membro Correspondente da Academia Nacional de Belas Artes | Sócio fundador da As- sociação Portuguesa de Designers | Membro da Direção da Sociedade Nacional de Belas Artes.

» 1995 Prémio Melhor exposição APOM “Sebas- tião Rodrigues, Designer”, Fundação Gulbenkian. » 2000 Prémio Nacional de Design | Carreira. » 2003 CTT reproduzem um cartaz da sua auto- ria num selo. » 2006 Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Jorge Sampaio. » 2009 Prémio Carreira pelo Instituto Politécni- co de Tomar. » 2010 “Grand Prix de l’Art Philatélique Euro- péen”, Presidência da República Francesa. Em 2014 a Fundação Calouste Gulbenkian » 2011 Prémio Distinção por Mérito, Universi- publicou um livro sobre a sua obra intitulado dade Técnica de Lisboa. “José Brandão, Designer” e, em 2016, o jornal » 2017 Prémio “Personalidade do Ano” APOM. Público lançou o livro “José Brandão”.

49 mácula, com o colonialismo. O tempo quase imóvel de culturas profundamente estratificadas teve de adaptar-se à entrada do tempo linear e brutal da exploração dos recursos e das gentes. Quase nada dessa imensa tragédia – onde, no entanto, a criatividade nunca deixou de habitar – passa para a poética de Guimarães. A atractividade da arte europeia será sempre central no seu trabalho, de modo que esta funda- dora viagem serviu-lhe – como acontecera na pré- -história de si mesmo com as decorações castrejas expostas na Sociedade Martins Sarmento – para se ir construindo: artista pop com rara complexidade que absorvera marcas do cubismo, do dadaísmo e, 18. série oceanos não estranhamente, do conceptualismo. Uma das suas grandes manifestações, encerrado que foi o 2017 Acrílico sobre papel artesanal “marouflé” sobre tela ciclo africano (e a colonização portuguesa de An- 206 x 209 cm gola) serão os cartazes do 25 de Abril onde outro traço de si deliciosamente se afirmaria: o gosto do “Não cabe na economia deste texto analisar obras humor ao serviço da provocação estética, e por concretas nem sucessivos faseamentos. Aliás, isso evidentemente política. Grande destruidor o impacto de África e as sequências do Alfabeto de imagens feitas e de discursos de circunstância, africano não fecharam outras linhas de pesquisa JG entrava, no país refundado, pela porta gran- e de experimentação. Homem livre e sedento, de. Continuou a questionar velhos e novos mitos, das viagens, JG trouxe sugestões, experiências e usando para isso verves cinéfilas ainda de memória obras que serão sempre reinstaladas, conceptual pop e, logo depois, a revisitação dos clássicos: Ru- e plasticamente, no seu lugar de pertença: a bens sob (ou sobre) o corpo esfusiante do Picasso aventura da arte contemporânea que não conhece pós-cubista…” nem senhor nem mestre, a não ser em momentos estritos e logo questionados. As formas, os gestos, Raquel Henriques da Silva os ideogramas e a vitalidade das expressões “Sobre as viagens de José de Guimarães” , in “Arte e plásticas africanas pertenciam a um mundo em Viagem (pós)-colonial na obra de José de Guimarães”, profunda crise que se instalou como ferida e (coordenação de Maria João Castro)

Belas Artes da Academia | Hoje 50 JOSÉ DE GUIMARÃES Guimarães [1939]

Desde 1995 que reparte a sua vida entre Lis- boa e Paris. Uma estadia em Angola entre a década de 60 e 70 do século XX tornar-se-ia um vector deter- minante na definição do seu vocabulário artístico, assim como o contacto com especialistas em etno- logia africana que o conduzem à compreensão de uma simbologia existente em muitas peças de arte negra e sugerem-lhe um projecto artístico movido por uma tentativa de osmose entre duas formas de expressão plástica, europeia e africana. Mas se a primeira década de produção artística se baseia em África, nos mais de cinquenta anos de trabalho, encontram-se séries completas dedicadas às cultu- ras chinesa e japonesa, à arte de Rubens, à literatura de Camões ou à concepção particular da morte no México. Nos últimos anos, verifica-se que o seu percurso reflecte uma vocação de formas e figuras tendencialmente cosmopolita. Assim, a sua expressão plástica tem vindo luminosos de NÉON e LED, pintura, colagens e a acentuar a convivência de todos os factores objectos desviados do sentido que lhes é confe- dominantes num longo percurso artístico e tem rido pela sua função tradicional. privilegiado a luz de NÉON e a luz de LED, so- Realizou numerosas exposições em vários bretudo em caixas de madeira, que propõem um países: em Portugal, em Espanha, na Alema- exterior de austeridade contrastante com a ence- nha, na Suíça, no Brasil, em Angola, no Japão nação do seu espaço interior, tratado com traços e na China.

51 19. guilhermina

2017 Escultura figurativa de carácter geometrizante, Escultura em ferro concebida em chapa de ferro zincado e lacado. 48 x 72 x 39 cm Criada numa época em que a máquina e a tecnologia são denominador comum, o desenho no plano foi recortado a laser e a tridimensio- nalidade é conseguida com economia de meios através de quinagem. Procurou-se obter deste modo um conjunto visual expressivo, acentuado no modo como a figura está implantada. O vermelho põe em evidência a fibra e o poder interpretativo de Guilhermina Suggia.

Belas Artes da Academia | Hoje 52 JOSÉ JOÃO DE BRITO Coimbra [1941]

Curso Complementar de Escultura da Escola Su- perior de Belas Artes do Porto. Bolseiro da Fun- dação Calouste Gulbenkian em 1966. Prémio de Escultura Teixeira Lopes em 1967. Membro da Direcção da Sociedade Nacional de Belas Artes e sócio correspondente da Academia Nacional de Belas Artes. Realizou diversas exposições individuais, nomeadamente na Cooperativa ARVORE, Por- to, na galeria Altamira, Lisboa, na galeria Nasoni, Porto, no Espaço Poligrupo-Renascença, Lisboa, Galeria Verney, Oeiras, Instituto Português do Oriente, Macau. Participou em exposições colec- tivas das quais destaca “Um Rosto Para Fernando Pessoa”, CAM Fundação Calouste Gulbenkian, “Impossível-Possível Retrato de Fernando Pes- numento aos 200 anos do Colégio Militar em soa,” Museu Soares dos Reis e Galeria Almada Oeiras, as figuras do relógio carrilhão do Edifício Negreiros, Lisboa, a V Bienal de Gravura Euro- Palladium, Porto, o monumento ao Emigrante peia, Heidelberg, L’Univers Pessoa, Europália, na Murtosa, o monumento aos 25 anos do Poder Bruxelas, CumpliCIDADES, Galeria Vicente do Autárquico, Loures, a homenagem ao Dr. Perei- Rego Monteiro, Recife, XXV FIDEM, Neuchâtel, ra Figueiredo, Mação, as esculturas na CGD de e Fundação Franz Meyer, México. Oliveira de Azeméis e Tondela e a homenagem a Tem peças de arte pública no país e no es- Manoel de Oliveira, Aldoar, Porto. trangeiro, destacando o monumento a Fernando Está representado em colecções nacionais Pessoa nos Olivais, o cais da estação do Metro- e estrangeiras destacando o Museu Amadeo de politano do Martim Moniz, a “Tragédia no Mar” Souza-Cardoso (Amarante), Centro Cultural da em Matosinhos, o monumento a D. Manoel Lôbo Caloura (S. Miguel, Açores), O Lugar do Dese- na Colónia Del Sacramento, Uruguai, o busto de nho - Fundação Júlio Resende (Valbom, Gondo- Domingos Bomtempo em Joanesburgo, o mo- mar) e o British Museum (Londres).

53 20. anunciação

2019 Materiais resinosos. Técnica mista. 120 x 200 x 100 cm

A peça com que me faço representar nesta ex- posição no Museu do Dinheiro, exposição que agrega artistas da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa, é uma homenagem aos pintores do fecundo e fabuloso período artístico da épo- ca renascentista em Itália. Tantos e tantos ma- ravilhosos artistas... Da Vinci, Giotto, Cimabue, Duccio, Cinni di Pepo que, em tela ou em pare- sagens da época, colocando diante dos nossos des e tectos, representaram cenas baseadas nos olhos o enorme abismo entre a nobreza distinta relatos bíblicos, agora determinantes e pertença e educada, e o povo inculto, mas vinculado ao do património artístico mundial. Cenas múlti- amor pela arte. plas e variadas, que desenhando o transcendente, Este par escultórico, fruto da minha cria- imortalizaram cenários do além, repondo com tividade, e forjado com técnicas da actualidade, as mais variadas tonalidades, passagens como a é também uma anunciação, e pretende ser uma Anunciação – mosaico divino-humano que retrata desmitificação do mesmo mistério. Maria – uma o enviado de deus, o arcanjo Gabriel, o escolhi- figura humana, mortal, mas de ambiência an- do para anunciar a uma simples mulher que iria gélica – e o arcanjo – uma figura angélica, não ser mãe, uma mãe a quem todos chamariam bem humana e imortal, mas de aparência humana – aventurada: a mãe do Salvador do Mundo, a mãe agregam técnicas e materiais que à época renas- de Jesus, de nome Maria. centista não eram conhecidos como o poliureta- Quase na sua totalidade, essas representa- no e os acrílicos, que também convivem com o ções religiosas revelam-nos com assertividade a ferro e materiais naturais como ramos de árvo- sociedade e a natureza circundantes. O desenho res. É um assumido jogo de contraste de gera- de fino rigor e um perfeito sentido estético, o ções, sem desrespeito: mas na irreverência... que bom gosto e o saber na aplicação das cores, téc- sabemos doar um certo sabor à vida. nicas apuradíssimas de textura e de linguagem plástica retratam sobremaneira a opulência dos Laranjeira Santos, ambientes, as inúmeras indumentárias e as pai- ao Pensar em Pintores Florentinos 1450-2018

Belas Artes da Academia | Hoje 54 JOSÉ LARANJEIRA SANTOS Lisboa [1930]

Licencia-se em Escultura pela Faculdade de Be- las Artes de Lisboa. Em 1960/1962, a Fundação Calouste Gulbenkian atribui-lhe uma bolsa de estudo para Roma, Itália onde adquire uma ou- tra licenciatura em Escultura, pela Accademia di Belle Arti di Roma.

Prémios » 1955 Prémio Nacional de Escultura, ANBA, XVIIII, Missão Estética, Figueira da Foz » 1955 Prémio da Câmara Municipal da Figueira da Foz » 1963 Prémio Mestre Manuel Pereira, Salão dos Novíssimos, SNI Prémio Concurso Público, Bairro da En- carnação, Câmara Municipal de Lisboa » 1966 Medalha de Prata, Salão de Arte Moder- » 1996 Menção Honrosa, Prémio de Escultura na, Estoril Edinfor » 1970 1º Prémio Concurso Público, Monu- » 1998 Menção Honrosa, Prémio de Escultura mento Comemorativo da Primeira Tra- Edinfor vessia Aérea do Atlântico Sul, Câmara » 2002 Prémio de Aquisição, Academia Nacio- Municipal de Lisboa nal de Belas Artes » 1984 1º Prémio Concurso Público, Monu- » 2009/2017/2018 Foi homenageado pelas Câ- mento da Reconquista Cristã da Cidade maras Municipais da Amadora, da Fi- de Silves, Câmara Municipal de Silves gueira da Foz e de Lisboa » 1996 1º Prémio do Simposium Internacional de Escultura em Ferro para o Ar Livre, Câmara Municipal de Abrantes

55 21. o espelho negro e o mercador [alusão a hans holbein]

2018 Tinta Acrílica sobre tela. Pano negro com gesso acrílico 160 x 120 cm

Obra desenvolvida à luz de um princípio de mercadores do séc. XVI. Sendo assim, por in- anacronismo sobre a tendência humana para a termédio da adopção de um dispositivo pictural avareza e o narcisismo, na qual vislumbramos que traz anti-representação, o designado Miroir detalhes de um Mercador transfigurado contra de Claude Lorrain, pretendeu-se intensificar a um espelho negro — objecto de uma determi- alusão ambivalente a detalhes verosímeis e ao nada tradição da pintura —, entrelaçados com desvanecimento especular dos mesmos, quais fragmentos de obras de Hans Holbein que re- vestígios moribundos de uma pintura em perma- presentam a pulsão narcísica e a vã glória de nente transformação.

Belas Artes da Academia | Hoje 56 JOSÉ QUARESMA Santarém [1965]

Licenciado em Pintura pela ESBAL. Mestrado e Doutoramento em Estética e Filosofia de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Expõe pintura, desenho e gravura des- de 1982. Prof. Auxiliar na FBAUL de disciplinas práticas e teóricas. Tem coordenado publicações nos domínios da Investigação em Artes; Esfera Digital; Arte Pública; Reprodutibilidade e Tec- nologia; Chiado e Património. Tem organizado regularmente Ciclos de Conferências nacionais e internacionais sobre as áreas acima indicadas. Organiza com frequência exposições de Arte Pública, Instalação, Gravura, outras. Desenvol- ve na actualidade o projecto de investigação de- signado A Pintura Contemporânea no Barco de Teseu, 2015-2020, com o qual pretende explorar as transformações e o entrecruzamento da Pin- tura com outras expressões artísticas sem perda da respectiva identidade, projecto do qual já se publicaram três volumes

57 22. sem título e técnica pouco habituais naquela finalidade. 2018 A isso me levava frequentemente o gosto por Óleo sobre tela 100 x 100 cm gestos amplos e grandes dimensões em tra- balhos de ilustração. Deslocado do objectivo Alguém, cuja opinião crítica muito respeito, imediato na intensão original, sem a identifi- apontou para o estudo em fase não acabada, por cação particular do personagem, o que restou achar que me correspondia e representava. como registo expressivo de um gesto de soli- Trata-se de um estudo para um selo dariedade, caridade, apoio humano. Pretexto que esbocei sobre uma tela, com dimensões para uma figuração.

Belas Artes da Academia | Hoje 58 LUÍS FILIPE DE ABREU Torres Novas [1935]

Professor Catedrático da Faculdade de Belas-Ar- tes da Universidade de Lisboa. Membro efectivo da Academia Nacional de Belas-Artes. Medalha de Mérito Artístico da C. M. de Torres Novas. Medalha de Mérito Municipal da C. M. de Oei- ras. Prémio ANBA 2003. Prémio Carreira BIG 2017 da C.M.Guimarães. Actividade artística em campos muito di- versificados: Pintura de cavalete e mural, a fresco e tempera: Hotéis, Ritz, Fénix, Mundial, paquete Infante D. Henrique, Banco Fonsecas & Bur- nay em Lisboa e Fundão e Telecomunicações no Funchal; Vitral: Fundação Medeiros e Almeida, Hospital de Portalegre, Academia Militar e Hotel Eden; Cerâmica: Metropolitano de Lisboa (Salda- nha), Hospital de Portalegre e mural em Torres Colaborando com empresas especializadas Novas; Tapeçaria: Hotéis Altis, Alvor-Praia, Del- estrangeiras, adquiriu conhecimento em técnicas fim, Edifício Telecomunicações, Lisboa; Banco de gráficas de alta precisão e segurança para a pro- Portugal, Lisboa; Ilustração, desenho de Selos, de dução de notas de banco. Medalhas, de Notas do Banco de Portugal e de Representado em coleções particulares Moedas para a Casa da Moeda; Design Gráfico de nacionais e estrangeiras e em numerosos edifí- logotipos, livros e revistas; Cenografia e Figurinos cios públicos. para Teatro, Ópera e Bailado.

59 23. intimidade porâneas. Discuti esta série de fotografias pela primeira vez com Carlos Vaz Marques para o ensaio fotográfico da Granta 3 (2014). Carlos 2013 Fotografia juntou-lhe dois versos de Ruy Belo, como epí- 100 x 70 cm grafe: “Só as casas explicam que exista /uma palavra como intimidade”. Sempre gostei de casas, de ver a organização Quando a exposição foi para Portel, Capela das dos outros e organizar as minhas, temporá- de Santo António em 2015, percebi que poderia ser rias ou não. A série intimidade ter-se-á afirmado uma exposição itinerante e percorrer o país a des- nas várias visitas à Tapada da Tojeira. Vêm-me cobrir novos interiores, em cada novo lugar, novos à memória muitas casas, tradicionais e contem- espaços, novas casas. Sempre a casa a encantar-me.

Belas Artes da Academia | Hoje 60 LUÍSA FERREIRA Lisboa [1961]

Iniciou-se em Geografia, trocou o curso pela fotografia. Começou a fotografar profissional- mente em meados dos anos 1980. Em 1989 in- tegrou a equipa de fotojornalistas fundadores do jornal Público. Interrompeu a actividade diária de foto- jornalista em 1998, após trabalhar sete anos no jornal diário Público e dois anos na agência de notícias norte americana Associated Press. Con- tinua a colaborar com a imprensa. Integrou a exposição Au Féminin. Women Photographing Women 1849-2009, curadoria de Jorge Calado, no Centro Cultural Calouste Gul- benkian, Paris, 2009. Expôs nos Encontros de Imagem de Bra- Calouste Gulbenkian com uma selecção de lojas ga nos anos 1994, 1995 e 1996 e nos Encontros com aproximadamente 100 anos. de Fotografia de Coimbra em 1994. Participou em várias exposições indivi- Foi Primeira Escolha nos Recorridos Fo- duais e colectivas em Portugal, Espanha, França, tográficos da ARCO 98 (Madrid) com Éter. Inglaterra, Escócia, Bélgica e Alemanha. Em 1994 iniciou Há quanto tempo trabalha Publicou, entre outros, o livro “Azul” aqui?, fotografias de médio formato sobre as lo- (2002) sobre os não-lugares, com texto de jas antigas de Lisboa e as pessoas que as habitam, Agustina Bessa-Luís. exposto no Arquivo Fotográfico Municipal de Fotógrafa independente, vive e trabalha Lisboa em 2005; em 2010 integrou a exposição em Lisboa. Res Publica 1910 e 2010 face a face, na Fundação

61 24. les signes Estilização baseada em elementos vegetalistas simultées que, não sendo geométricos, tendem para tal. Esta composição integra-se numa série que Paris, 2013 atingirá a expressão mais recente num painel de Pintura sobre tela. azulejos com cerca de 3 x 3 metros, a inaugurar 81 x 65 cm em Março de 2019 na Estação do Metro “Champs Elisés – Clemenceau”, em Paris.

Belas Artes da Academia | Hoje 62 MANUEL CARGALEIRO Vila Velha de Ródão [1927]

foto prof. josé bernardo viriato, académico correspondente nacional da anba Em 1945, Manuel Cargaleiro inicia as primeiras ex- periências de modelação de barro, na olaria de José Trindade, no Monte da Caparica. Realizou os seus estudos em Lisboa onde frequentou a Escola Supe- rior de Belas Artes para se dedicar às Artes Plásticas. Em 1949, expôs pela primeira vez na “Pri- meira Exposição Anual de Cerâmica”, na Sala de Exposições do “Secretariado Nacional da Informa- ção. Cultura Popular e Turismo” (SNI), no Palácio Foz, em Lisboa. Em 1953 expõe pintura pela pri- meira vez no “Salão da Jovem Pintura”, na “Galeria de Março” em Lisboa, onde em Fevereiro de 1954 apresenta a exposição individual “Cerâmicas de Ma- nuel Cargaleiro”, com texto de Diogo de Macedo, representando um marco importante para o reco- nhecimento do seu trabalho no mundo das artes. que se influenciam mutuamente. Não posso es- Nas décadas seguintes participa em inúme- quecer todos os meus conhecimentos sobre a ras exposições individuais e colectivas, em diver- história da faiança ou sobre a decoração mural sos países, designadamente Portugal, França, Bra- quando pinto, assim como não esqueço a minha sil, Japão, Alemanha, Itália, Angola, Moçambique, cultura pictórica quando crio em cerâmica. Está Espanha, Venezuela, Suíça e Bélgica. Em Março tudo muito ligado, e é isso que constitui a minha de 2017 inaugura, no Museu Cargaleiro em Caste- especificidade. Eu não copio os meus quadros lo Branco, a exposição comemorativa do seu 90.º nos azulejos: pinto directamente sobre a faiança, aniversário, intitulada “Cargaleiro e Amigos”. sem desenho prévio, como numa tela.”

“Comecei a minha vida de artista como Manuel Cargaleiro ceramista e sou ceramista mesmo quando faço In LASCAUT, Gilbert (2003). Manuel Cargaleiro: pintura a óleo. Não consigo imaginar uma coi- Lisbonne-Paris, 1950-2000: peintures/pinturas. Paris: sa sem a outra. As minhas duas práticas, claro Éditions Palantines.

63 25. my sweet unpainted aphrodite Como qualquer obra de arte, a interpretação de 2017 Impressão fotográfica sobre tela e tinta agrílica My Sweet Unpainted Aphrodite tem de ser “aber- 210 x 140 cm ta” ou polissémica, pelo que se deixa aquela ao critério do espectador. Trata-se de fotografia manipulada, obtida em praia, impressa sobre tela e intervencionada através de pintura com tintas acrílicas.

Belas Artes da Academia | Hoje 64 MÁRIO VARELA GOMES Lisboa [1949]

Curso de gravura em metal e de litografia, da Coop. dos Gravadores Portugueses (1967), Licen- ciatura em Arquitectura, pela ESBAL (1976), es- tudos de arte pré-histórica, com bolsas do Minis- tério da Cultura e Fundação Calouste Gulbenkian (1974-1977), em Itália, Alemanha, Inglaterra e Escandinávia. Doutorado em História, esp. de Arqueologia pela UNL (2010), onde é professor, desde 1997. É autor de uma dezena de livros e de cerca de três centenas de artigos, versando temas de História, Arqueologia, Etnografia e Arte. Participou nas seguintes mostras colectivas: IV Salão Nacional de Arte, Lisboa e Porto (1969); Experiências Plásticas dos Novos, Gal. Dinastia (1969); IV Salão de Arte Moderna de Luanda COM 2, Malpartida, Cáceres (1979); 24 Artistas (1970); Retrospectiva das Galerias, SNBA (1971); Portugueses de Hoje, Museu de Arte Contem- Bienal de Ibiza (1970); Museu de Navarra, Pam- porânea de São Paulo (1981); Exposição de Arte plona (1971); Hospital de la Santa Cruz, Barce- Moderna, SNBA (1982); Depois do Modernismo, lona (1972); Ibizagraphic, Ibiza (1972); VII Salão SNBA (1983); O Livro de Artista, Gal. Diferença de Arte Moderna de Luanda (1973); Exposição (1983); Celebração, Gal. Diferença (1985); Pers- 73, SNBA (1973); II Exp. Colectiva Quadran- pectiva: Alternativa Zero, Museu de Serralves, te, Évora e Estremoz (1973); Abstracção Hoje, Porto (1997); Portugueses en el MVM y Qué Acce SNBA (1975); Pintura Portuguesa, Gal. Nikka, Usted Ahora?, Museo Vostell Malpartida (2001); Tóquio (1976); Alternativa Zero (1977); Image Um olhar para a memória: novas fotografias do and Words, CAYC, Buenos Aires (1977); 11 Ar- 25 de Abril de 1974, Museu Arqueológico do tisti Portughesi d’Oggi, Gal. Laboratório, Milão Carmo (2004); A Revolução está na Rua, Câmara (1978); 18x18 – Nova Fotografia, Grafil Lisboa Municipal de Lisboa (2014). e Museu Soares dos Reis, Porto (1978); Outras Realizou exposições individuais, em Lis- Formas, Outra Comunicação, SNBA (1978); SA- boa e Porto, entre 1970 e 1978.

65 O tempo tem sido um dos temas amplamente 26. passagens do tempo versado dentro da tradição pictórica ocidental: de forma mais ou menos alegórica, até ao século 2010 XX, ou através de experimentações ao nível das Pintura a óleo sobre tela possibilidades representativas da pintura, dentro 114 x 146 cm das vanguardas, são diversas as formas como a pintura o integrou dentro de um medium que lhe cos, o que se torna visível nos outros dois qua- parece avesso. Inscreve-se numa tradição alegóri- dros são folhas soltas, detritos, restos que, para ca de inscrição do tempo na pintura, sem esque- citar o filósofo alemão Walter Benjamin, perfa- cer um momento auto-reflexivo, particularmente zem uma “paisagem primordial petrificada”. É evidente neste quadro. De facto, ao inscrever di- nesta medida que o tempo entra nesta pintura: versas paisagens dentro de paisagens, esta obra não como um elemento ao lado dos outros ou remete para uma pesquisa a nível pictórico bas- simbolicamente figurado, mas como o ponto de tante conhecida, que tem como momento alto vista a partir do qual é a própria pintura que tem a pintura holandesa de setecentos. No entanto, de ser equacionada. Ou seja, encarado enquanto esta tradição da pintura sobre a pintura encontra passagem, o tempo só pode produzir, não corpos nesta obra diversos elementos perturbadores que nem coisas, mas uma devastação perpétua de podem ser todos reconduzidos ao título: a pas- onde se salvam apenas restos, detritos de que a sagem do tempo. À excepção da paisagem mais pintura, na sua reflexão, dá conta. pequena, que funciona como linha de fuga do quadro e que é um dos seus momentos dialécti- João Oliveira Duarte

Belas Artes da Academia | Hoje 66 MATILDE MARÇAL Abrantes [1946]

Professora Associada aposentada da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. In- vestigadora no Centro Nacional de Calcografia e Gravura do Instituto de Alta Cultura de 1972 a 1974. Membro da Comissão Técnica da Coo- perativa de Gravadores Portugueses em 1977. Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura em 1978. Em 1998, foi eleita membro da Academia Nacional de Belas-Artes. Em mais de 50 anos de activida- de artistica participou em múltiplas exposições individuais e colectivas no País e no Estrangeiro. A sua obra encontra-se presente em di- versas colecções, tais como: Fundação Calous- te Gulbenkian; Secretaria de Estado da Cultura; Museu Nacional de Sófia, Bulgária; Museu de Internacional de Arte, Ibiza, Espanha, 1973; Arte Moderna de Ibiza, Espanha; Museu de Arte Prémio de Edição na I e II Exposição Nacio- Gráfica Moderna “Herman Hebler’”, Fredris- nal de Gravura; 1977/79; Prémio da Bienal In- tad, Noruega; Museu de Arte Moderna do Rio tegrafika de Berlim, 1984; Prémio de Aquisição de Janeiro; Banco de Fomento & Exterior; Caixa na European Large Format Print Making, Du- Geral de Depósitos; Fundação Dr. Mário Soares; blin, Irlanda, 1991. Prémio Nacional “Cordeiro Fundação Cidade de Lisboa; Banco de Portugal Ramos” da Academia Nacional de Belas-Artes, e em numerosas colecções particulares nacionais 1992. Prémio Internazional Biella Per L’Incisio- e estrangeiras. Prémio “ex-aequo’’ na V Bienal ne, Itália, 1993.

67 LA DIVINA PROPORCIÓN 27.BODEGON E QUADRADO Y EL ARTE DE CRISTINA BRANCO* El filósofo, ensayista y político inglés Francis Bacon, 2016 autor de Novum organum (1620), que quería instaurar Desenho sobre papel 63 x 48 cm un nuevo sistema de conocimiento basado en un método inductivo y experimental, a propósito de Cristina Branco. Al igual que lo hizo en el siglo XX la belleza humana, afirmó que “no hay belleza, por la vanguardista pintora gallega Maruja Mallo, hoy excelente que sea, que no tenga alguna singularidad Cristina Branco realiza una obra plástica en la que lo en la proporción”. Para ello citaba a Apeles, que pin- figurativo y la abstracción geométrica son los índices taba los personajes con proporciones geométricas, y y metas a lograr. El resultado es una obra enraizada a Alberto Durero, que tomando las medidas de los en la más pura y decantada búsqueda de la belleza diversos tipos humanos componía uno más exce- clásica desde una posición moderna. lente. La literatura artística del Renacimiento hasta el neoclasicísmo nos ha legado todo un debate his- Antonio Bonet Correa tórico que conoce a fondo la escultora portuguesa *Sofia Padez é o nome artístico de Cristina Branco

Belas Artes da Academia | Hoje 68 SOFIA PADEZ Moçâmedes, Angola [1960]

Actividade Profissional: Professora Auxiliar de Escultura, FBAUL. Académica Correspon- dente da ANBA, 2006. Formação Académica: Doutora em escul- tura; Mestre em Teorias de Arte-Escultura; Li- cenciada em Escultura, Design de Equipamento e Bacharel em Design de Moda. Experiência Profissional: Design de Moda, Cinema, Fotografia, Escultura e Dese- nho. Bolseira internacional da FCT, 2006-10. Foi membro integrado, no CIEBA, secção Anato- mia e desenho científico, 2011-17 e no CFCUL, no projecto Ciência e Arte, 2006-12. Em Espa- nha no Medialab_Prado participou em inúmeros laboratórios de cultura digital, 2008-17; na RA- BASF, sob orientação tutorial, fez cursos teó- rico-práticos, conferências, colóquios, recolha documental e bibliográfica, 2007-18. Exposições: Individuais: Método Sophia: do arquivo à base de dados, FBAUL, 2014. Colectivas: Belas Artes da Academia: uma tivos de alumnos, El Estudio, Madrid, 2016. Repre- colecção desconhecida, Centro Cultural de Cascais, sentada nas Bibliotecas: Real Monasterio San Lo- 2018, Palácio Nacional da Ajuda, 2016; Comemo- renzo del Escorial; Real Academia de Bellas Artes ração 180 anos das Belas Artes, Guerra das Imagens, San Fernando; Biblioteca Museo Nacional Centro FBAUL, 2016; 38ª Exposición Primeros trabajos crea- de Arte Reina Sofia; BN Lisboa.

69 Text in English Opening atic artworks, to the National Acad- bition, in the true meaning of the emy of Fine Arts and its President, term, and is the first of the 20th Carlos da Silva Costa Natália Correia Guedes, who has and 21st centuries, and thus of Governor of the Bank of Portugal been completely devoted, and with modern times. The exhibition fea- wisdom and dedication has united tures renowned Artists who graced It is with great honour and pleasure all the resources to enable this exhi- Museums, buildings and public that Banco de Portugal hosts the bition to become a reality. Finally, a spaces of cities with their sculp- “Fine Arts of the Academy. Today” word of thanks to the Money Muse- tures and paintings, in Portugal and exhibition, an event that is an integral um’s team, for organising the project abroad; some of these auteurs, in part of the programme celebrating the and for the work it does on a daily great gestures of patronage, decid- 180th Anniversary of the foundation basis, in the name of Banco de Por- ed to show, in their lifetimes, their of the Academia Nacional de Belas tugal, in serving the community. gratitude and emotional ties to Artes. The exhibition brings togeth- their family origins, gifting valuable er, at the Money Museum, artworks works and studios that alone justify comprising drawing, painting, sculp- Presentation the construction of buildings, Mu- ture and photography by 27 contem- seums or Cultural Centres, becom- ing stepping stones for developing porary Academicians, all of whom Natália Correia Guedes are renowned Portuguese artists who President of the National Academy of complementary activities, as seen have contributed with their works to Fine Arts in Bragança, Guimarães and Caste- enhance this institution’s collection. lo Branco. The relationship that unites both This Exhibition is part of a pro- The Academy’s financial con- institutions is notable, Banco de gramme that began in 2016, when straints and lack of human re- Portugal and the National Acade- the Academy of Fine Arts cele- sources would have made this initi- my of Fine Arts, both founded in brated 180 years since its founding ative unfeasible were it not for the the first half of the 19th century by with some high-profile events such exceptional generosity of various decree of Queen Maria II. as the publishing of the Historical partners: Banco de Portugal and The partnership with the Acad- Library Catalogue, the Exhibitions the Money Museum team hosting emy reflects Banco de Portugal’s Fine arts of the Academy. An un- it (in the beautiful former Church strategic understanding of sup- known collection (at Ajuda Na- of São Julião, excellently repur- porting culture and the institutions tional Palace in 2016 and Fundação posed) and providing technical and that share this vocation, the desire D. Luis I, Cascais, in 2018) and advertising support; Professors to strengthen ties with the commu- Sousa Lopes. An artist in WWI and Academicians Victor Manaças, nity and it confirms the results of (at Academia da Marinha, 2018), who designed and coordinated the the commitment made by Banco as well as three annual conference museum project, José Brandão, au- de Portugal in 2006 to revitalise the cycles. thor of the graphic design of the Pombaline Baixa. These were small but bold steps catalogue and other texts, and Cris- Artistic expression continues to that forged enough consensus and tina Azevedo Tavares, who offered be a universal and unifying lan- determination to raise awareness to analyse works, texts and images guage, capable of challenging very in the government and in the com- and to write its Introduction. different audiences, alerting them munity to the need to preserve a Ultimately this joint and sym- to shared problems, while at the valuable heritage that should be bolic Work brings great honours same time allowing different read- shared and enhanced. to the Academy and undoubtedly ings and experiences that stimulate Having been proposed by two embodies the spirit of the found- collective reflection, dialogue and Academicians (Professors Antó- ing Decree: enrichment. This is also our com- nio Vidigal, Sculptor, and Joaquim To aid in the general civilisation mitment when we promote initia- Lima Carvalho, Painter), this ini- of the Portuguese people, cultivat- tives of a cultural nature, or crea- tiative had the unconditional col- ing in all classes a taste for beauty tive events that address the public laboration of 27 Academicians at and to develop the gifts of those and invite discussion on pressing the height of their creativity. The who apply themselves to such in- questions for society and citizen- word ‘Today’ applies to our gener- teresting studies. ship, which stimulate cultural par- ation and is therefore an expressive This year we celebrate the bicen- ticipation, our common ground. substitution of the subtitle of the tenary of the birth of the Founder Let me finish with a word of ap- first Exhibition. One of the key Queen Maria II and dedicate Fine preciation for the Academicians who objectives is to show how alive the arts of the Academy. Today to her have submitted recent and emblem- Academy is – it is a Group exhi- memory.

Belas Artes da Academia | Hoje 70 Introduction Therefore the exhibition did not of the figure on the Chapel wall, as follow a thread, an idea to be illus- an apparition. Clara Menéres, in her Cristina Azevedo Tavares trated or driven at sword’s point, it in- time as an artist, showed herself to Associate Professor at Faculty of Fine stead showcases the connection with be a very resourceful sculptor, stand- Arts, University of Lisbon the National Academy of Fine Arts ing for fundamental causes, having a Correspondent Member of the National community, which, simultaneously progressively increasing relationship Academy of Fine Arts and in part crosses and overlaps with with symbolic imagery. In connection the School of Fine Arts, since the with the religious motif, we find the The Money Museum is housed in former, founded in 1836, gave birth works by sculptors António Vidigal the former Church of S. Julião. to the latter. The majority of the art- (stereometry in wood) and Laranjei- Following the 1755 earthquake, ists, architects and designers teach ra Santos (resinous materials) who rebuilding work lasted until 1802, or have taught at the School of Fine reposition the iconography of the although after a fire in 1816, it was Arts, or teach at other institutions, Pietà and the Annunciation. Other once again closed for reconstruc- and they almost all studied Fine Arts sculptures come to join them, Antó- tion, particularly inside, opening its at the School in the Convent of St. nio Pedro’s conjuring of the place of doors again in 1852. In 1933 it was Francis, where the Arts have always the Book today using pure forms; the purchased by Banco de Portugal lived side by side. But the exhibition cut and bent red iron sheeting for vio- and remained a place of worship is more than a sum of attendances, lin player Guilhermina Suggia by José until mid-1934. Drawn by the clas- for it is the result, albeit by chance, João Brito, and the representation of sical hand of architect Reinaldo of an interesting grouping of works, the female body in bronze emphasis- Manuel dos Santos, who worked to some of them previously exhibited, ing the attributes of fertility in João rebuild Lisbon under the Marquess others not meant for the public eye Duarte’s Espera (Wait). of Pombal, Portugal’s prime min- so soon, were it not for this oppor- Be it in sculpture or painting, we ister at the time of the earthquake, tunity. Actually, some are unrealised find works that clearly respond this once sacred architectural space projects (António Marques Miguel, to a continuity of the journey the hosts the group exhibition Fine wall for Fundação da Universidade artists have accustomed us to and Arts of the Academy: Today. de Lisboa), other works are so recent which they are renowned for: Ar- This exhibition is the result of an that they have never been shown, mando Alves, Gil Teixeira Lopes initiative by the National Academy and others came out of artists’ studi- with a canvas evoking Pedro and of Fine Arts, which called upon its os as sketches for future works. Inês in landscapes from the body Academicians for works of art for This exhibition is also unusual to nature. Graça Morais is present a group exhibition giving continu- since the works to be shown were with a mixed technique from her ity to the first exhibition at Palace chosen by each artist, lending an Metamorphoses series that evokes of Ajuda titled Fine arts of the Acad- intimate intention to the act, which the women of Trás-os-Montes per- emy. An unknown collection. is many times mirrored by the text forming their daily tasks, in which The exhibition now on, thanks to written or selected by the auteurs re- face and body blur with nature; the hospitality of the Money Mu- garding the work representing them. chromatic lyricism identifies the seum, brings together an ensemble Why this work and not another? imaginary of Guilherme Parente, of mostly recent works by twen- I first reference the sculptor Clara as well as the female figure of Lima ty-seven artists, architects and one Menéres (1943-2018), who chose a Carvalho. José de Guimarães pre- designer: one piece per auteur. Paint- metal engraving that was one of the sents a painting from 2017 on ma- ing, sculpture, drawing, engraving, many studies in different mediums rouflé paper glued on canvas with photography, are all in present. In she made for the Chapel of the Angel visual features that recall his ear- many cases, mixed techniques are of Peace at Fatima Shrine, an impor- liest works. José Quaresma taking used, some even resorting to digi- tant bronze sculpture, standing above his portrait as a starting point and tal processes. Significant is the fact the Chapel’s entrance since 2016. The intervening on it, aims to question that architects are present thanks figure holds a dove in its right hand, the representative practice and its to drawings, project sketches and its arm down by its side, with an ol- scope, as well as the works of Luís photography. Landscape architect ive branch in its left hand, the face Filipe de Abreu, of Mário Varela Cristina Castel-Branco is particu- leaning ever so slightly towards those Gomes and of Matilde Marçal. If larly noteworthy with her project entering the chapel. The relationship in any way, the painting by Isabel for Quinta Patino, thus keeping the between the two works is felt in the Sabino has explored confrontation basic triad of the academy, which is candour and lyricism of the face and and permeability between the pho- completed nowadays with the pres- in its lightness, in the rhythm of the tographic image, evocation of cin- ence of other fields: drawing, pho- forms that encircle the face and hands ema and painting, questioning the tography and ceramics. as wings would, and in the whiteness limits of representation, Hugo Fer-

71 rão through his drawings close to a and Sofia Padez with a coloured still lifes, and Cargaleiro submits a neoconstructivist attitude questions pencil emphasising the (platonic?) recent study that served as the basis the limits and power of the image, relationship between the model and for a panel for the Champs Elysées rethinking the role of the individu- proportional representation of it. – Clemenceau on the Paris Metro al. Also from the perspective of the A drawing from the 1960s by the this year. Using his favourite col- purity of the abstract element, we architect Siza Vieira in indian ink, ours, blues and greens on a framed have the painting by António Quad- teasing out patterns graphically and yellow background, Cargaleiro ros, in black and white, playing with in gestures, takes us to the experi- stylises the shapes of nature with the proportions of the micro- and ments done in the 1950s by Fer- rhythm and life. macrocosm. nando Lemos, or later by Escada, To sum up, the exhibition Fine In another register, looking at René Bértolo, João Vieira on taking Arts of the Academy: Today aims figuration, other drawings reveal up the rhythm of an invented form to provide the dialogue between themselves. As well as Emília Na- of writing, in a generational correc- artists and different expressions dal, the designer José Brandão with tion. Luísa Ferreira’s photography in an update of the fundamental a burlesque figure finely cut out, serialises the interior of houses as questions of contemporaneity.

ÁLVARO SIZA VIEIRA 1. Drawing Madeira; Rosa Agulha Market, Matosinhos [1933] By 1956 I had finished the first years Alcântara; official residence of Studied Architecture at Escola Su- of Architecture school and had already Madeira Regional Government, perior de Belas Artes do Porto (ES- built a group of four houses in Mato- Quinta Vigia, Madeira; Edifício BAP) from 1949 to 1955 and his first sinhos (my first built work, in 1954). Avenida and windows of the built work was completed in 1954. However, I still practised draw- southern elevation of Casa dos Taught at Faculdade de Arquitectu- ing and modelling, at the time in Bicos, Lisbon 1983. ra da Universidade do Porto (FAUP), contact with students of painting Special Mentions: Valmor Prize the city where he has his studio. and sculpture (who were taught (1983) with Manuel Graça Dias, Is a member of the American at School of Fine Arts, but shared Portuguese Parliament, Santarém Academy of Arts and Sciences; some classes). Regional Social Security Cen- Honorary Fellow of Royal Insti- It is therefore a drawing done at tre, Recreations of Amadora and tute of British Architects (RIBA); a time of strong direct and indirect Cais do Carvão Tourist Complex, member of Bund Deutscher Ar- influences. Funchal. First prizes: new RDP chitekten (BDA); Honorary Fellow Porto, 14 November 2018 premises, Madeira (1981) and Cov- of American Institute of Architects 1956 | Quill and nankin ink line elo Residential Estate, Famalicão, (AIA); member of the Académie drawing on paper with Vicente Bravo Ferreira. d’Architecture de France; member Juror for public tenders, nomi- of the Royal Swedish Academy of ANTÓNIO MARQUES nated by the Association of Portu- Fine Arts; member of the Inter- MIGUEL Lisboa [1941] guese Architects, Madeira Region- national Academy of Architecture Graduated in Architecture in 1973 al Social Security Directorate and (IAA); of National Geographic (Escola Superior de Belas-Artes de ANBA. Portugal; Honorary Associate and Lisboa (ESBAL)), Painting 1964 Participated in, among others: Honorary Member of the Por- (ESBAL), having frequented Es- Milan Triennial XIX (1996), II tuguese Architects Association; cola Secundária Artística António Architecture Triennial – Sintra93, member of the American Acade- Arroio (1958). Desenho de Arquitectos (S.P.A.) my of Arts and Letters; Honorary Full Member of the Academia and Europalia 91 in Brussels. Professor of the Southeast Uni- Nacional de Belas Artes (ANBA). Lisbon, November 2018 versity China and of the China Lecturer at ISCTE (1995-1998) and 2. PAREDE OCIDENTAL Academy of Art and Honorary UAL, as guest lecturer (1998-2017). (WESTERN WALL) Member of the Academy of the Amongst dozens of projects/ Conceived for the headquarters of Portuguese-speaking Schools of works, the following stand out: Fundação da Universidade de Lis- Architecture and Urbanism. low-cost housing in Almada and boa (2000), not built.

Belas Artes da Academia | Hoje 72 This is now a mock-up at 1:5 de Belas-Artes (ANBA). Has been In regard to its material character- scale, made in hardboard and acrylic Area Director and Coordinator of istics, ‘GAMMA BOOK’, the title of sheets, engraved and frosted, over- the Master’s programme in Draw- the piece, is a form evolving in space, laid, suspended on a vertical plane. ing. Has been a member of all the through flat planes cut from copper It was to be a masonry wall clad management bodies of ESBAL and and zinc sheeting, with a conver- with engraved and coloured stone- FBAUL by election. Was a member sion coating. The black on the base work, including gold grooves, cov- of the University Assembly, the Sen- structure and the silver-grey on the ered by tempered, engraved and ate and the Senate Scientific Board featured component result from frosted glass. of the Universidade de Lisboa. Co- the need to contrast the two. Mass On a ‘WESTERN WALL’, there ordinated and participated in various is eliminated due to the technical are drawings, geometric forms, le research projects, conferences, pub- contingencies and the construction- trait, on the available area, cut-outs lications and guidance on academic ist orientation that the geometric and engravings, among other con- works on design theory and teach- simplification reflects. In short, the structions, three different spirals ing. Since 1978, has regularly taken piece aims to capture the passing – Bernoulli/logarithmic, Archime- part in group and solo Visual Art, from normal meaning to the domain dean and Fibonacci – which essen- Drawing and Sculpture exhibitions. of visual language, with the poetic tially correspond to the three Abra- 3. LIVRO GAMA intent and symbolic and cultural im- hamic cultures of the Book. (GAMMA BOOK) plications that are at its origin. Cultures that impregnate our The Portuguese words “atril”, “la- November 2018 western+ness. tril”, “leitoril” all derive from the 2018 | Metal with conversion They are Islamic, Jewish and Latin word “legere”, to read. The coating | 35 x 25 x 25 cm Christian, using, for emphasis, their concept of reading is thus the inspi- respective distinct colours, that is: ration for this work, which suggests António Quadros green, blue and gold. a reclined support for an open book, Ferreira Aveiro [1950] Supporting are also Euclid’s Ele- at the moment in which we see a Emeritus Professor, Faculdade de ments, the Pythagoraean Theorem, page turning. A book is symbolised Belas-Artes da Universidade do as well as the materialisation of the in the work by a series of ruled lines Porto (FBAUP). real golden ratio and charm of the and a letter from the Greek alphabet, Correspondent Member of Ac- proportions. gamma, escaping to the top corner ademia Nacional de Belas Artes November 2018 of the hanging page. (ANBA). 2018 | Hardboard and mounted In Aristotle’s “first philosophy”, Chair of the Fine Art/Visual acrylic sheets | 138 x 66 x 2 cm gamma is the name given to the Art External Assessment Team book that studies “being qua be- of A3ES (Portuguese Agency for ANTÓNIO PEDRO ing” and reflects on the concepts Assessment and Accreditation of FERREIRA MARQUES of truth and falsehood. In a similar Higher Education) Lisbon [1953] way, this work calls for a critical re- Coordinator of the projects: Initial training in Visual Arts – Sculp- flection on the current state of art, BCIP, Conceptual Bases of Re- ture, Escola Superior de Belas-Artes from an ontological perspective, search in Painting, and ARTplus, de Lisboa (ESBAL). Began teaching helping to reformulate the con- Art, Research and Teaching into career at ESBAL in 1981. Was ap- cepts of art and non-art. the Future; Member of the doctor- pointed Senior Lecturer at ESBAL In this regard, ANBA can play al studies programme La Realidad in 1991. Coordinator of European an important role, through great- Asediada: Posicionamientos Cre- Interuniversity Mobility and Coop- er intervention in art schools and ativos, Universitat de Barcelona; eration Programmes from 1989 to society in general. ANBA holds a Member of i2ADS, CIEBA and 1993. Is currently Associate Profes- privileged position to promote the SCUCP; PhD from Université Nice sor at Faculdade de Belas-Artes da middle ground between the mem- Sophia Antipolis, France Universidade de Lisboa (FBAUL), ory it preserves of the past and the Latest exhibitions: Alfabeto Modula- Coordinator of Bachelor of Arts uncertainties of the future, starting ble, Casa da Galeria, Santo Tirso, from programme in Design and Full from the determinations of the 17 September to 5 November 2011; Member of Academia Nacional present it knows so well. Cosmogonies, Lugar do Desenho, Júlio

73 Resende Foundation, Gondomar, who reconcile approaches proceed- and Design)” and “Simpósios In- from 19 January to 13 April 2013. ing from differentiated fields of ternacionais de Escultura em Pedra Latest publications: Água:Porto/ knowledge. (International Symposiums in Stone Aigua:Barcelona (Water:Porto/Wa- (...) The cosmogonies transit. They Sculpture)” in Caldas da Rainha. ter:Barcelona), (with Domènec Cor- establish themselves and radiate, Is exhibited in the Alençon Mu- bella Llobet), i2ADS/FBAUP and spreading through words, images seum (France), Luís de Camões FBAUB, 2013; Pensar o Fazer da Pin- and actions that forge in the entrails Museum (Macau), Teixeira Lopes tura (Thinking the Doing of Paint- of the singular. They are “numeric” Museum (Mirandela) and José Mal- ing), i2ADS/FBAUP and Edições orders, desired organisations whose hoa Museum (Caldas da Rainha). Afrontamento co-publication, Por- rationalisation progresses to com- Has monuments and public to, 2017. (coordination); Jaime Isidi- posite platforms of knowing. sculptures in various locations in ro, A Arte Sou Eu (I am Art), Edições The forces consigned in this sim- Portugal, Angola and Macao. Afrontamento, Porto, 2017. ple cosmogonical base (others could Features in private collections in 4. Cosmogonies P1_15 be evoked) are the sedentarism of a Portugal, Germany, the US, Spain, “(...) Crossing the assumptions fo- thought that conversed with gods France etc. and in various institu- cused on a painting that begins and and scientists in the epistemological tional collections. ends with itself (as entity and inter- mutations of humanity. They are Solo exhibitions: 1991, ARA nal territory) – through correspond- made explicit in pictorial incarna- Gallery (Lisbon), 1993, Municipal ing to an act that materialises the tions that release a selective pulsating Gallery (Caldas da Rainha), 1994, work and provides visual clarity in and reveal the intention of the artist, Pousão Gallery (Porto), 1995, Mu- the form of conceptual game – under- in this case, António Pedro Quadros. nicipal Gallery (Bragança), Cultural lying the determinations of Seeing, They are reflected through excerpts Centre (Nazaré) and B. Flat (Ma- Number and Cosmogonical, a level and details, promoting a notion (that tosinhos), 1999, ARA Gallery (Lis- of knowledge is reached that meets is central) where the Whole is the bon), 2000, inaugural exhibition of the aims stipulated by the painter. reason for the composition in itself, Municipal Gallery of Moura, 2001, The skin of this painting, which to which the units taken and selected EDIA Gallery (Beja), 2002, Verney expands abstract-geometric concre- contribute/converge – that is, ex- Gallery (Oeiras), 2012, Anthology, tions, is a celebration of primordial cerpts and details. (…).” Cultural Centre (Caldas da Rainha). values in the state of visual thought Maria de Fátima Lambert, 5. Pietà combined with technological ax- January 2013 Representing the Pietà is a prerequisite iology. The pictorial proposals of 2012 | Acrylic paint on linen throughout all History of Art, and is António Pedro Quadros, insinuated canvas | 100 x 100 cm at the heart of all Christian iconogra- in an in continuum assembly, draw phy. Several works take this theme in – in terms of aesthetic reception ANTÓNIO VIDIGAL an absolutely iconic way, from which – an almost infinite line, breathing Safara [1936] it is difficult to escape, with compar- in black/white intervals (which are Took a Diploma in Sculpture in 1972 isons inevitable, even in the absence not so in their chromatic essence) at Escola Superior de Belas-Artes de of explicit reference. This increases and generate rhythms of visual ab- Lisboa (ESBAL), becoming an assis- the challenge, to dare to take on a sub- sorption that almost immediately tant there in January 1973. ject so well represented and to man- are created and distend into the Is currently a Professor at Facul- age, to Create. This is exactly what distance... Lo, the images of the dade de Belas-Artes da Universi- António Vidigal has done. Through a painting I may consider as “con- dade de Lisboa (FBAUL). monumental sculpture, he represents secutive”. The notion of time, as Is a Full Member at Academia the greatest of human tragedies, the duration and persistence is implicit Nacional de Belas Artes (ANBA). Mother attending the death of her and transposed in the clarity of the Was a founder of ESAD, Caldas da own Son, not in a naturalistic way, but repeated shapes, in an incessant and Rainha, and chaired the first Found- exploring the limits of cleansing, in a orderly breathing. It remits to the ing Committee for this school. material, wood, which, above all due – almost hermetic – prevalence of Proposed and took part in the or- to the way in which it is treated, adds the number, in the Pythagorean tra- ganisation of “Bienais de Escultura certain difficulties. Opting for stere- dition and investigated by authors e Desenho (Biennals in Sculpture otomy, through fragmentation and

Belas Artes da Academia | Hoje 74 subsequent restructuring of wood in His departure from ESBAP actu- formidable world that only the wind layers, then overlapping, the author ally meant his becoming dedicated visits, a certain magmatic density of returns to questions he has raised for to the graphic arts as head of that the stones under the heat of a fiery several decades and which have al- area at the publisher Editorial Ino- sun, the colourful regimes that the ready led to iconic pieces such as Ícaro. va, founded in Porto in 1968. sky takes on in certain moods of In iconographic terms, the work re- On 16 June 1988 he was awarded the afternoon or, more simply, the calls the body of Christ magnificently the Gold Medal of Merit by Porto simple happening of some colours rendered on panel by the Florentine City Council. On 10 June 2006 he thanks to the capricious influence Renaissance painter, Sandro Botticel- was decorated Grand Officer of the of the light in tones of blue, green or li, in Lamentation over the Dead Christ; by the President of yellow. Perhaps only this interests us. the mother enveloping, clutching the Republic. In October of the same Bernardo Pinto de Almeida and holding the limp body of the year, he was honoured by Estremoz 2012 | Acrylic on canvas | 60 x 60 cm dead Son, almost grasping, offering City Council with the Gold Municipal a reference to Giotto’s Lamentation. Medal of Merit. In 2009, he received CLARA MENÉRES Analysing this piece brings to mind the “Casino da Póvoa Arts Prize”. Braga [1943] – Lisbon [2018] the words of Margit Rowell: “When 6. Untitled Degree in Sculpture from Escola Supe- the modern sculptor turned his back Landscapes have always dwelled rior de Belas-Artes do Porto (ESBAP) on all conventional practice, iconog- in Armando Alves’ artistic imag- and PhD in Ethnology from Paris Di- raphy, techniques and materials, he ination. From the moment when derot University. Research Fellow at had to find another frame of refer- the young artist, recently qualified the Center for Advanced Visual Stud- ence to create meaningful forms.” from Porto School of Fine Arts, ies, MIT (1989-1991), with a schol- On the contrary, the true contempo- reinvented them in tones of grey arship from the Fundação Calouste rary sculptor does not have to turn his and green until today. Gulbenkian, from 1978 to 1981, and back on everything. Actually, to cre- Thus his landscape - which be- from 1988 to 1990, together with the ate, one does not have to free oneself fore and after being so are masses Fundação Luso Americana. Chair of from the “linear movement of histo- of paint or subtle zones of empty the Management Board of Faculdade ry” and one can aspire to modelling space - choose a part of the world de Belas-Artes da Universidade de Lis- an absolute purity, devoid of super- that is very similar to landscapes boa (FBAUL), Director of the Visual fluity, but only presenting the essence, that really exist and where the Arts Course at Universidade de Évora, and the essence is the Form. painter reveals in successive, deep- as Associate and Emeritus Professor. Paulo J. Morais-Alexandre er variations his intense love for Art researcher and avant-garde artist, 2019 | Sculpture in wood the Alentejo, his homeland. she shaped several trends in the fields A tenuous line that is the horizon, a of sculpture, drawing, installation, ARMANDO ALVES red cascade that could be a waterfall medals and photography, through Estremoz [1935] or land burnt by the sun’s brazier, a multiple materials and expressions, Studied at Escola Secundária Artísti- magmatic convulsion of intertwined be it feminist and protest art (‘60s and ca António Arroio in Lisbon and shapes or lines, a number of shapes, ‘70s), art associated to new technol- at Escola Superior de Belas-Artes almost in sculptural relief, which are ogies (‘80s and ‘90s) or religious art do Porto (ESBAP). Concluded his perhaps stones of impregnable den- (2000-18). Part of the group ACRE degree in Painting with first-class sity, appear in this way in his paint- (Porto74-76), she took part in many honours (20/20), which led to the ing. All of them are Given cadence solo and group exhibitions in Portugal creation in 1968 of the group “Os by needs of rhythm, of accentuating and abroad. Recent solo exhibitions: Quatro Vintes” (“The Four Twen- an impression, of finally returning to Museu Nacional do Traje (2007); ties”) with Ângelo de Sousa, José a consciousness of space that only Sé do Porto (2015), MAEDSetúbal Rodrigues and Jorge Pinheiro, with through his art does it gain body and (2016). Group (historical) exhibitions: whom he exhibited his work in the material presence. 73, SNBA Jaz Morto e Arrefece (Dead late 1960s in Porto, Lisbon and Paris. Uninhabited and serene, the land- and getting cold); Alternativa Zero, From 1963 to 1973 he was assistant scapes of Armando Alves, pure GNAM, Belém, 1977 Mulher-Terra-Vi- professor at the Porto school, intro- pleasures of a painter, communicate da (Woman-Earth-Life); XIV Bienal ducing the study of Graphic Arts. the existence of an untouched and S.Paulo, 1977; Anos 60, Anos de Rutu-

75 ra (The 60s, Years of Disruption), P. CRISTINA tuguese Association of Historical Galveias, Lisbon, 1994; Pós-Pop: Fora CASTEL-BRANCO Gardens and Sites) in 2004, Corre- do lugar-comum (Post-Pop: Outside the Lisbon [1958] spondent Member of the Academia commonplace), F. Gulbenkian, 2018. Associate Professor at Instituto Nacional de Belas Artes (ANBA), of Sculpture Prizes: Biennial Vila nova Superior de Agronomia (ISA). the Academia Brasileira de Arte do de Cerveira, 1984; Monument to Landscape Architect, founding Rio de Janeiro (Brazilian Academy Camões, Paris,1987. In the collections partner of the studio ACB-Lda. of Art of Rio de Janeiro) in 2017, of: Gulbenkian Museum, Serralves Cristina Castel-Branco complet- and was made an Officer of the Or- Museum, Amadeo Souza-Cardoso ed her degree in Landscape Archi- dre des Arts et des Lettres (Order of Museum, Amarante; CGD, SEC; Íl- tecture at ISA. She completed a Arts and Letters) by France in 2013. havo Maritime Museum; MIT Cam- Master’s degree in Landscape Ar- 8. Garden at Quinta bridge, USA; Portimão Museum. chitecture at the University of Mas- Patino: Plot 80 Some public works: Lisbon (Coinciden- sachusetts thanks to a Fulbright-ITT Design assistants: Miguel Coelho tia oppositorum, Gulbenkian Gardens, scholarship, and was awarded an de Sousa | Raquel Carvalho; Area: 1983); Porto (Monument to Willy American Institute of Architecture 0.5 ha; Status:Built in 2006 Brandt, 1993); Almada (Monument Students Honor Award in 1989. She In 2005 a landscaping project to Democracy, Pragal, 2001); Sanctu- undertook complementary studies was planned for a plot in Quinta ary of Sameiro (4 Angels, 2004-05); at Harvard University, completed Patino, in the form of a west-fac- Santuário de Fátima (Beata Jacinta (Be- her PhD (1993) and was admitted to ing amphitheatre, occupying some atified Jacinta) Basilica of the Sanctu- the position of Associate Professor 5,000 m2 free of construction. ary, 2000; Presépio (Nativity) Igreja da (2006) through her work on History It was accepted as a challenge and Santíssima Trindade, 2010; O Anjo da of Art of Gardens at Lisbon’s Insti- novelty, the introduction of pieces Paz (Angel of the Peace) 2016); Mod- tuto Superior de Agronomia. of Land Art: the panel wall, COR- ern Collection of Calouste Gulbenki- She has been a lecturer at ISA TEN steel fencing and water mir- an Foundation (bust of Azeredo Per- since 1989 and oversaw the res- ror reflecting light to the canopy. digão, 2016). Correspondent Member toration of Ajuda Botanical Gar- A walkway along which there are of the Academia Nacional de Belas dens, being Director of this garden sculptures by renowned artists such Artes, published articles and wrote an between 1997 and 2002. From as: Antony Gormley, Dan Graham, essay for the book ‘A Igreja e a Cultura 1993 to 1998 she was head advis- Thomas Shütte, Claes Oldenburg Contemporânea em Portugal – 1950 er on Landscape Architecture for and Coosje Van Bruggen. | 2000’, UCP, 2001, titled “Visual arts Expo’98, designed the Garcia de The potential of the landscape with a religious motif”. Orta Garden at Expo’98 jointly as a natural scenery is a stimulus 7. Anjo da Paz with João Gomes da Silva. to implant sculptured pieces that (Angel of the Peace) She is a founding partner of the animate the path, snaking its way The year 2016 marked 100 years studio ACB – Arquitectura Paisag- through the plot, joining in three since the apparitions of the Angel ista (1991), and International Mem- almost natural terraces, clad with of the Peace, also called the Angel ber of ICOMOS (UNESCO) since the existing pine woodland. of Portugal, in Fátima. 2004, is advisor to the International The creation of a rest area formed The Sanctuary of Fátima commis- Committee on Cultural Landscapes of a water mirror and a pavilion dug sioned an image from me for the for World Heritage missions. In out of the slope in the landscape, Chapel of the Angel of the Peace, 2013 she was nominated Chair of which catches the setting sun, shin- which was carried out and inaugurat- the Scientific Committee of the In- ing in the summer solstice against a ed there that year. stitut Européen des Jardins et Pay- slate wall with encrusted metal. I undertook various studies for sages (European Institute for Gar- The materials of the project have this commission, resulting in sever- dens and Landscapes). Founded the followed a texture and colour al representative expressions of the Associação dos Amigos do Jardim palette that accentuate the envi- same subject matter, with this en- Botânico (Association of the Friends ronment and light diffused by the graving one of the works produced. of the Lisbon Botanic Garden) in irregular treetops of the pines and 2016 | Engraving on metal | 120 x 2001 and the Associação Portuguesa reflected by the grass clearings: the 80 cm dos Jardins e Sítios Históricos (Por- rusty ochre of the COR-TEN steel,

Belas Artes da Academia | Hoje 76 terracotta brown of the schist and Recent solo exhibitions: 2011, dant leaves form mere vestiges of a slate and the light beige of the mar- Cascais Cultural Centre; 2013, Mu- fleeting joy. Fleeting and magical, pure ble. A painting by Sonia Delaunay seum of Decorative Arts, Viana as life, like the life of these images.” was the inspiration for choosing the do Castelo; 2015, Museu de Ar- Maria João Fernandes | Catalogue vegetation and materials. queologia e Etnografia de Setúbal for the Exhibition “Song of the Earth”. The wavy supporting wall that di- and São Mamede Gallery, Lisbon. Palácio dos Capitães Generais, Angra do vides the pine wood from the lawn is Recent group exhibitions: 2012, Heroísmo, 2005. dressed in irregular schist slabs. The RISO, Electricity Museum – EDP “…Among the different solutions paving surrounding the water mirror Foundation; 2013, Amadeo, 25 offered by the artist, the axes of time is made of smooth slate and is edged Years of CAM. Gulbenkian Foun- and space seem critical. The ruptures with light marble. The canopy’s col- dation; 2015, Painters and the Theatre, may take the form of bubbles or umns and wall of the observation Museu da Presidência da Repúbli- lacerations, solutions of great deli- deck are dressed in COR-TEN steel. ca, Cidadela, Cascais. Represented cateness or some violence, and may All these materials are re-used in in Gulbenkian Museum – Modern represent models of a time and place a sculptural piece that creates a cur- Collection; Serralves Museum; Mu- or may open into other dimensions tain along the top end of the plot: seu Coleção Berardo; National The- of space and time. These effects pro- translucent marble panels connect atre and Dance Museum; Municipal duce illusions of unfolding and pen- to a long wavy piece of COR-TEN Museum – Centre of Contempo- etration, discovery and superimposi- steel, unfolding into three dimen- rary Art of Tomar, donation J-A. tion, drift and movement. However, sions, as though in movement, França and D. Luís I Foundation. this imagery always suggests a poetic and shattering into slate panels. “Emília Nadal” M. Rio de Car- textuality where lyricism defines a The connection to the gate is once valho, IN/CM, 1986. placeless and timeless location. In again in convex COR-TEN steel, “Emília Nadal, Pintura de Memóri- a work in which space seems dom- behind which the gate, hewn from as” (“Emília Nadal, Painting of inant, there is an idea of suspended the same material, slides on a rail. Memories”), various authors, Cão time (proposed by heavenly land- 2005 | Sketches and photographs Menor, 2011. scapes) or the understanding of its | Three panels of 42 x 68 cm “Guerre et Paix” (“War and passing as interior time (provided by Peace”), Calouste Gulbenkian Foun- what one might guess is a musicality EMÍLIA NADAL dation Delegation in France, 2017. at heart) which dominates and brings Lisboa [1938] Chair of management and general us to her most recent works...” Born in Lisbon, has a degree in assembly of Sociedade Nacional de João Pinharanda | Catalogue for Painting. Attended Escola Superi- Belas Artes. the Exhibition Tudo o que acontece (All or de Belas-Artes de Lisboa (ES- Grand Officer of the Order of that happens). Cultural Centre of Cas- BAL), 1960. Received a grant from Merit. cais, D. Luis I Foundation, 2011. Calouste Gulbenkian Foundation Correspondent Member of the 2015 | Painting |70 x 85 cm for the projects Slogans, SKOP and Academia Nacional de Belas Artes Embalagens para Produtos Imaginários (ANBA). GIL TEIXEIRA LOPES (Packaging for Imaginary Products). 9. Sonata “Ao nascer do Mirandela [1936] Designed sets and figurines for Bal- dia” (Sonata “At dawn”) Emeritus Professor, Faculdade de let Gulbenkian, D. Maria II Theatre This work forms part of a large Belas-Artes da Universidade de and ACARTE, and the new altar of series of paintings, which began in Lisboa (FBAUL). Honorary Mem- Faro Cathedral. Carried out concrete 2000, related to evocations of mu- ber of the Academia Nacional de murals in the João Paulo II Library sical works by Schubert, Brahms Belas Artes (ANBA). Commander of Universidade Católica Portugue- and Gustav Mahler. of the Military Order of Saint James sa, and painting, design, engraving “…Light and music flow through of the Sword. Commander of the and objectualism exhibitions in Por- the incomparable brushstrokes of Order of Prince Henry. Undertook tugal and abroad. Distinctions at the Emília Nadal, as simple and clear investigation work at the Centro 1st and 2nd National Engraving Exhi- as those of the masters of the East. Nacional de Calcografia e Gravura bitions, Lisbon, and at the 16th Inter- Among the emerald greens and or- (National Centre for Chalcography national Joan Miró Prize, Barcelona. anges of the trees of paradise, abun- and Engraving) of the Instituto de

77 Alta Cultura (Institute for Higher see are thighs, without anything that dations. Was made Grand Officer Culture). International adviser to allows us to say whether they are male of the Order of Prince Henry the the Portuguese delegations to the or female – the intertwining we see at Navigator, by the President of the European Engraving Biennials in the top, as if in fact one of the thighs Republic of Portugal, Jorge Sampaio. Baden-Baden. Jury member in the continued from the other, allows us From 1974 to 2018, took part in International Biennial in Norway to identify the second constant in Gil over 100 solo and group exhibi- in 1980 and the Berlin International Teixeira Lopes’s work with relative tions, within Portugal and abroad, Triennial in 1984. Received grants ease. For this it is worth mentioning including representing Portugal at from the National Academy of Fine the fact that it refers to a well-known the 17th São Paulo Art Biennial in Arts, Calouste Gulbenkian Foun- episode from history, whose literary 1983 and the exhibition La Violence dation, and Secretariat of State for treatment finds high points in Garcia et la Grâce in 2017, at the Calouste Culture. Since 1955 has participat- de Resende and especially Camões. Gulbenkian Foundation Delegation ed in over 100 solo and 800 group The lines, which remit to the writ- in France where the international exhibitions. Has received approxi- ten word, and the title of the work symposium O Mito e a Metamorfose mately 40 prizes and distinctions at or more important still, the phrase also took place, bringing together home and abroad. National Paint- written on the work – scratched out around 20 experts on her work. ing Prize, 1969; 2nd International meanwhile, perhaps making the pos- Collaborated with and illustrated Copernicus Prize, Kraków, Poland, sibility of tragic love undecidable – works for poets and writers, in- 1971; Gold Medal, II Florence In- compete to place this painting in dia- cluding: José Saramago; Sophia de ternational Biennale, 1972; Grand logue with both the pictorial tradition, Mello Breyner Andresen; Agustina Prix of the II Seoul International where the representations of the body Bessa-Luís; Miguel Torga; Pedro Biennale, 1972; Acquisition Prize at and of desire multiply, and the literary Tamen; António Alçada Baptista; the 12th São Paulo Biennale, 1973; tradition, as though both were to find Manuel António Pina; Nuno Júdice; Prize at 5th Intergrafik Berlin Tri- fertile ground as much in desire as in Clara Pinto Correia; José Fernandes ennale, 1976; National Engraving tragedy. Fafe; António Osório; Ana Marques Prize, 1977; 3rd Prize at 2nd Mexico However, to this we would have to Gastão; José Carlos de Vasconcelos; Biennale, 1980; Cordeiro Ramos add the presentation of the body(ies), Valter Hugo Mãe – among others. Prize of the National Academy of which may certainly remit to this In 2008, the Graça Morais Cen- Fine Arts, 1981; Gold Medal at the eroticism as, simultaneously, to how tre for Contemporary Art was un- 7th Norwegian International Bienni- Francis Bacon portrayed them or, in veiled in Bragança. al, 1984; Grand Prize at EVA 85, 4th case one does not wish to leave the 11. Série Metamorfoses III Irish International Biennial of Con- literary reference value, to the mo- (Metamorphoses temporary Art, 1985; Grand Prix at ment in which Inês, already dead, is Series III) the 8th Norwegian International Bi- crowned queen. From this point of Women do not fall in love. They ennial, 1986; Engraving Prize at the view, eroticism, following George live in a state of unity with the uni- III Exhibition of Plastic Arts of the Bataille, finds its secret in death and verse, and this can result in them Calouste Gulbenkian Foundation, it is Inês’s dead body that hereafter being seen through the multiplicity 1986; honoured at the 9th Norwe- haunts the bucolic landscape that ap- of the creation they carry within gian International Triennial, 1987. pears at the bottom of the painting. them. (...) it was in women that the 10. A Pedro e Inês (To Pedro 2004 | Oil painting on canvas | metamorphoses were most evident. and Inês) 170 x 144 cm When they tilled the fields, doubled We can find two great constants in Gil over, they looked like grasshoppers, Teixeira Lopes’s work, which are, in a GRAÇA MORAIS their legs blackened by soil. At oth- way, resumed in this painting: the pres- Vieiro, Trás-os-Montes [1948] er times, waiting at the front door, ence of the body, especially the female Completed the Higher Painting in that repose that looks more like body, and the way in which the body Course at Escola Superior de Belas someone kissing death, waiting for is treated, a more or less obvious erot- Artes do Porto (ESBAP) in 1971. Is the postman or the wine buyer, they ic reference. It is certain that the body, a member of Academia Nacional de had the air of a sickly bird, yet with or bodies that figure in it are difficult Belas Artes (ANBA) and various as- bright eyes that opened from time to attribute to any gender – all we can sociations, guilds and cultural foun- to time, fired with curiosity.

Belas Artes da Academia | Hoje 78 Metamorphosis is the only space 12. A Árvore das Patacas the Cyberart Research Centre, and in nature and human tradition that (The Money Tree) the Fine Art Research and Study is not colonised by reflection. It “Árvore das Patacas” is a Portu- Centre (CIEBA) (Director; Sen- represents an impossible act, which guese expression that means get- ior Cyberart Researcher; Chair of opens perspectives and nourishes ting money easily: “money grows Scientific Board (2006-2012); Co- hope. (...) Metamorphosis displaces on trees”. ordinator President of Doctorates, fear to roads travelled by hope. In fact, the “Árvore das Patacas” FBAUL). Member of the General Agustina Bessa-Luís | “As Met- or Dillenia indica actually exists. Council of Universidade de Lis- amorfoses” Lisbon: Publicações Dom It is a beautiful tree, native to In- boa (2011-2017). Member of the Quixote, 2007 dia, which was introduced to Brazil General Council of Escola Artísti- 2004 | Pastels and charcoal on during the reign of John VI. ca António Arroio (2011-2018). canvas | 160 x 120 cm The common name is because Researches and is published in the of an idiosyncrasy of the tree. The fields of painting, symbolism, tap- GUILHERME PARENTE sepals of its flower are thick and estry, cyberart, cyberculture, hy- Lisbon [1940] strong and close to form the fruit. pertext and virtual reality, and their Began to study painting in the early Therefore any object one might impact on formalisation of artistic/ 1960s at the Sociedade Nacional de put in the flower, during the fruit’s painting discourse. Has authored Belas Artes (SNBA) with Master formation, stays inside it. an artistic project on the new form, Roberto Araújo. It is said that the Emperor Pedro taking part in several group exhibi- From 1968 to 70 he studied at hid coins (patacas) in the flowers tions (drawing, painting, tapestry the Slade School in London with a of Dillenia indica when they closed and photography) and 10 solo exhi- Gulbenkian Foundation grant. to form the fruit. Once the fruit bitions (painting and drawing) and He won the Malhoa Prize in 1975 was formed, he would put them in has won two painting prizes. and the SNBA Painting Prize in 1989. a crate to send to Portugal with an 13. Vacuu He held various solo exhibitions in inscription that read: “Even money The drawings presented are part of Portugal and abroad (London, Par- grows on trees here.” the series called “Vacuu”, technically is, Berlin, Frankfurt, Rome, Madrid, The “Árvore das Patacas” is part comprising three independent layers Brussels, Atlanta (USA), Goa, Ma- of the fairy tales of my childhood. that juxtaposed create the body of cao, Tokyo). 2018 | Mixed technique on canvas the work. The process behind as- Some of his latest solo exhibitions: | 150 x 206 cm sembling it is designed to involve soft 2013 Viagem ao império do meio (Voy- recognition of the active instruments, age to the middle kingdom) – Ma- HUGO FERRÃO substances, materials and traditional cao – Fundação Oriente; 2014 Lourenço Marques [1954] media (spray paint, graphite, styluses, Fragmentos de uma viagem imaginada Has a degree in Fine Art, specialis- punches, paper, card and PVC mem- (Fragments of an imagined journey) ing in Painting – Faculdade de Be- brane) and at the same time accen- – Lisbon – Champalimaud Foun- las-Artes da Universidade de Lisboa tuate different planes inscribed with dation; 2015 Pelos 4 Cantos do Mun- (FBAUL) (2007). Doctorate equiva- multiple moulded features. The ap- do (Through the 4 Corners of the lence – 5th Group Associate Profes- parent rationalisation, intensified by World); Doca Da Caldeira – Ter- sor – Escola Superior de Belas-Artes orthogonality created by the presence reiro do Paço – Lisbon; 2016 Book de Lisboa (ESBAL) (1996). Master’s of geometric forms, is accentuated by launch Guilherme Parente. Conversa. in Educational Multimedia Com- the impersonal chromatics of sprayed Vida e Obra (Guilherme Parente. munication – Universidade Aberta inks occupying certain regions of the Conversation. Life and Work), Ana (1995). Post-graduate in Sociology of field of view. The perforations made Matos – Editora INCM – São Ma- the Sacred and Religious Thought – in the middle layer tear and evoke mede Gallery – Lisbon; 2018 Ci- Universidade Nova de Lisboa (1992). the constant aggression to which the dades Invisíveis (Invisible Cities), In- Has a degree in Visual Arts (Painting body is exposed in a culture of sac- stituto Camões, Berlin – Germany – ESBAL (1985). rifice and blame. Finally, in the fore- He is represented in various mu- Associate Professor of Paint- ground, there is a PVC membrane, seums and institutions. ing at FBAUL, teaching Cyberart with openings cut into it offering His biography is broad. and Virtual Reality, founder of glimpses of the other layers.

79 This series is collectively called ISCTE, 2011; Surfing, sob um céu cor de 14. Four Seasons, Please! # 3 “Vacuu”, and mirrors the de-sym- tinta. Algumas notas sobre a melancolia na (Spring) bolisation characterising this “artistic pintura contemporânea (Surfing, under Four Seasons, Please! is the name of formatting”, incapable of any quali- an ink-coloured sky. Notes on mel- this series of paintings, ironically ex- tative distinction, creating in its pro- ancholia in contemporary painting), pressing a paradoxical desire within cessual circularity the fetishism of Universidade Nova, 2011; Com ou the four blind walls of my studio the symbolic vacuity of art (Anselm sem tintas: composição, ainda? (With or where, under the skylight, you can- Jappe), globalising the entertainment without paint: composition, still?), not see the sky. As in a greenhouse industry as a form of image neutral- Coordination: CIEBA, 2013); Como the air does not flow, so one barely isation and mummification (Mário a poeira no ar e no rastro de uma nuvem: notices the four seasons. Perniola), at a time in which it is ur- Mapeando a pintura contemporânea (Like And thus is established a possible gent to return to thought, to writing, dust in the air and the trail of a cloud: metaphorical place for the climat- to drawing, to painting, to sculpture, Mapping contemporary painting), ic disturbances that are ever more to the arts, as a way to conserve hu- Intermeios, Brazil, 2015; And Paint- a challenge for the survival of our manity itself, denying an individual ing? A pintura contemporânea em questão species. And this would not be a mass culture. (And painting? Questioning contem- painting studio if reality did not mix 2018 | mixed (graphite, perfora- porary painting), Coordination: CIE- with illusion, and with this, if desire tion, PVC membrane) | 70x50 cm BA, 2014; She sells sea shells: notas para were not and, even more so, need, Vacuu 2 and 3 : The images supplied uma poética (e uma política) em pintura the main motivating factors of the are a fragment of the work (She sells sea shells: notes for poetry paintings. Escape only with them. (and politics) in painting), RevistaVis- The canvas I submit at this ex- ISABEL SABINO uais, Brazil, 2015; Fiction and drift. On hibition is the third of a set of 12, Lisbon [1955] the Painting of Jorge Martins, Tap Seat organised into four groups (four Degree in Plastic Arts - Painting Gallery, Macao, China, 2017. seasons), each with three paintings. (Escola Superior de Belas-Artes de Selection of artworks: Solo – Each season has fundamental im- Lisboa (ESBAL), 1978); teaching in- Talvez bombons (Perhaps bonbons), ages – a photograph of my own ternship at Ministry of Education and 2014, Galeria de Arte Periférica, and a film chosen from others con- Science (1979); Aggregation/PhD Lisbon; E os rios nascem no mar (And sidered pertinent for the theme: (ESBAL, 1992), Senior Lecturer (Uni- the rivers are born in the sea), 2015, thus four photographs, four films. versidade de Lisboa 1999). Secondary Lugar do Desenho/ Júlio Resende Like a cliché of a season of the School teacher (1976-82), Associate Foundation; A menina (não) fica em casa year, each photographic image is Professor in fine arts (ESBAL, Facul- (The girl does (not) stay at home), the origin of three digitally ma- dade de Belas-Artes da Universidade 2016, Museu Militar, Lisbon); Na volta nipulated versions, in asymmetric de Lisboa (FBAUL), since 1982); cur- da maré (On the turning tide), 2016, halves, reflection and ghost. Then rently Professor (FBAUL). Artistic di- Montijo Municipal Gallery. Group the process of painting creates rector of exhibitions at Amascultura/ – Diálogos Iberos (Iberian Dialogues), specific free events for a final syn- Malaposta Theatre (1993-95). Guest 2016, UFES Gallery, Vitória, Bra- thesis: a tree as metonymy of the lecturer in Cinema at Lisbon Theatre zil; ArteMadrid, with Galeria de Arte idea that we have of the landscape and Film School (ESTC) in 2002 and Periférica, Madrid, 2017 and 2018; during the season of the year rep- 2003. Member of the: CIEBA Centre 34:111 (34 Images for 111 Years), resented, in positive and negative. for Investigation (FBAUL); i2ADS – site-specific painting, 2017, Nova Finally, figures and actions from Research Institute of Art, Design and Medical School, Lisbon; A possible a film for each group of three Society (FBAUP); Academia Nacion- breeze. Portuguese Modern Art, 2017, paintings expand or guide the di- al de Belas Artes (ANBA). Minsheng Museum of Contempo- rect relationship with the notion Published texts, over 60 amongst rary Art, Beijing, China; Belas Artes da of landscape from a narrative and which: A Pintura Depois da Pintura Academia. Uma coleção desconhecida (Fine fictional point of view. (Painting After Painting), FBAUL, arts of the Academy. An unknown In this case, the flowery tree in 2000; As flores na nossa mesa (a propósito collection), 2018, Centro Cultural de spring loses the fresh, intense colour da política na arte) (The flowers on our Cascais; We Are Europe, 2018, Łódz´ of the previous ones, appearing pale table (on politics in art)), Trajectos, Academy of Fine Arts, Poland. as if burnt by the premature sun, in

Belas Artes da Academia | Hoje 80 ochres and golds. And between the tive painting panel – with 48 artists – and in its colours and tones, avoid- foliage is a figure from the film Le on 10 June 1974 in Belém, organised ing the unfinished, creating human Joli Mai, by Chris Marker (1963), a by “Movimento Democrático de Ar- figures, women-men, in special, black-and-white film that is a por- tistas Plásticos”. Took part in many unacademic proportions, but also trait associated with the cinéma vérité group exhibitions and several solo avoiding “elegant” proportions, movement and an elegy to a city exhibitions, in galleries and public in- with easy tricks, such as shrunken (Paris) that appears to awaken after stitutions, namely at the Gulbenkian heads in comparison to the bodies. decades without peace. I remember and Árvore. The figures I paint, like the one fea- countless images and passages from 15. Foi assim que a vi (That tured, are girls, women, that I see in the film, like the conversation be- was how I saw her) my day-to-day life, not figures from tween architects when one says they I was asked to write a brief account literature. They are people passing need to start by planting trees, or the of the painting featured in this ex- in the street. I look for rigour in the moment in which the narrator says, hibition, with its photograph in forms, with succinctness, sidestep- when the screen shows the sculpture this catalogue. ping the “artistic” look that is so of a park: “Men invented the moth- I would like to start by describing appreciated. I aim to create a paint- balls of beauty. It is called art.” not the painting I did, but the pur- ing without excess, without nerves, The enigma of that idea interests pose I had and the goals I aimed to without being a personal portrait of me, which painting, that is slightly achieve with this painting. I did not anyone, but a portrait of my time. I nostalgic, possibly touches on: after want to paint subjects that appear in do not know if I have managed, time all, what do we understand is beauty? so many paintings by so many artists. will say or not, but this painting is 2017 | Acrylic on canvas | They are subjects that are pleasing framed by these concerns. 150x130 cm to many aficionados of art, thereby November 2018 eliciting sympathy and recognition 2015 | Paint on canvas | JOAQUIM LIMA from the outset: the poet Fernando 200 x 120 cm DE CARVALHO Pessoa, with hat and glasses... Am- Porto [1940] adeu Sousa Cardoso, with a guitar, JOÃO DUARTE Has a degree from Escola Superior like a conquering hero... the Cais das Lisbon [1952] de Belas-Artes do Porto (ESBAP). Colunas with seagulls, etc. They are Degree in Visual Arts – Sculpture, Taught at Escola Superior de Be- clichés, easy and banal today, un- Escola Superior de Belas-Artes de las-Artes de Lisboa (ESBAL), coor- clothed female forms draped against Lisboa (ESBAL), 1978. Associate dinated the Bachelor’s programme landscapes, giving the illusion of Professor (retired) at Faculdade in Painting, chaired the Tuition imagination, but so overdone every- de Belas-Artes da Universidade de Board and the Management Board where, or sometimes, female figures Lisboa (FBAUL). Full member of of ESBAL and Faculdade de Be- in less erotic poses, surrounded by the Academia Nacional de Belas las-Artes da Universidade de Lisboa artistic paintstrokes, occasionally, for Artes (ANBA). Full Member of (FBAUL). Ended his academic ca- no apparent reason. the International Art Medal Feder- reer as Emeritus Professor. Is now I did not want a painting of grand ation (FIDEM) since 1990. Full Member of Academia Nacional gestures, and bright colours, like the Founder Member of the Volte Face de Belas Artes (National Academy specimens hanging in three-star ho- Centre for Investigation and Study of Fine Arts - ANBA). In the 1960s tels, or huge showy flowers painted – Contemporary Medal. Founder was one of the 10 founders of the ar- by ladies of a certain age, who have Member of the Obverse Reverse tistic cooperative “Árvore”, in Porto. taken up painting in their dotage. – Contemporary Medal Group. In 1974, formed “Grupo Acre” with These examples and others not Member of the Association of Visual two colleagues, creating aesthetic in- provided, for reasons of space, hold Artists of Vila Franca de Xira City terventions in public spaces: at the me to limited goals to try to achieve Council. Solo and Group Exhibitions Torre dos Clérigos in Porto, in Rua and express. Thus I am aiming for a of Sculpture, Medals and Coins at na- do Carmo in Lisbon, in the creation calm painting, without futile artistic tional and international level. of a public ‘partition’, in Porto and ticks, born of habit; I am aiming for Various public monuments in in Lisbon, in a square, in Caldas da a balanced painting, well-structured Portugal, represented in various na- Rainha, etc. Took part in the collec- in its simple forms, without detail, tional and international museums.

81 16. Espera (Wait) in 1982, where he still works on formless entity, seemingly frightened This Venus infers a cult of fertility by various projects for a considerable by the unexpectedness of nature and the exaggerated representation of the number of clients. a certain cruelty it heralds. reproductive zones in comparison to Professor of Design in London From the technical point of view, the extremities (head, hands and feet) from 1970 to 1971, and at Facul- it is one of the last works in which that are disproportionate to the rest dade de Belas-Artes da Univer- I used a spray gun, a technique that of the extremely voluptuous body. sidade de Lisboa (FBAUL) and I will not use again due to my own Formally, my feminine figures are Faculdade de Arquitetura da Uni- inability and the failure of the gun... simplifications of the female body, versidade de Lisboa (FAULisboa) 2017 | Mixed technique on paper resulting from the joining of forms between 1977-2011. | 75 x 85 cm and volumes that are insistently In 2017, he was made Emeritus rounded and polished, with great Professor of Universidade de Lisboa. JOSÉ DE GUIMARÃES contrast and disproportionality be- He is Correspondent Member of Guimarães [1939] tween the various parts of the body. Academia Nacional de Belas Artes Has divided his home between Lis- My artistic approach is not exclusive (ANBA) / Founder member of As- bon and Paris since 1995. to the female body, and also focuses sociação Portuguesa de Designers A stay in Angola in the 1960s and on the intuitive and spontaneous ex- (APD) / Member of the Manage- ’70s became a determining factor in pressions of Woman. The faces di- ment Body of Sociedade Nacional the definition of his artistic vocabu- rect us to a profound contemplation, de Belas Artes (SNBA). lary, as did contact with specialists in and some gestures and postures are 1995 Best Exhibition, Sebastião African ethnology who lead him to universally perceived as being of the Rodrigues, Designer, Associação understanding a symbology existing in female personality. The “fat women” Portuguesa de Museologia (APOM), many pieces of black art, suggesting an are therefore three-dimensional rep- Gulbenkian Foundation; 2000 artistic project moved by an attempt at resentations of people’s day-to-day National Design Prize | Lifetime osmosis between two forms of artistic situations, with the woman being the Achievement; 2003 CTT reproduc- expression: European and African. protagonist of every scene. I tell a tion of a poster by him on a stamp; But if the first decade of artistic pro- story, a ritual, a routine moment of us 2006 Grand Officer of the Order of duction is based in Africa, in a career all. I prefer the verticality to the hori- Prince Henry the Navigator, awarded spanning over fifty years’ work, there zontality of solid, undynamic bodies, by the President of the Republic of are complete series dedicated to Chi- conferring lightness and monumen- Portugal, Jorge Sampaio; 2009 Life- nese and Japanese culture, the art of tality through positions that simulate time achievement prize from Institu- Rubens, the literature of Camões or suspension and movements needing to Politécnico de Tomar; 2010 Grand the particular conception of death in effort or releasing them from the Prix de l’Art Philatélique Européen, Mexico. In recent years, his journey re- floor, by placing other objects in the Presidency of the French Republic; flects a vocation for forms and figures composition, never ignoring the bal- 2011 Distinction with Merit, Univer- that is tendentially cosmopolitan. ance and harmony of the form. I also sidade Técnica de Lisboa; 2017 Per- Thus, his artistic expression has use irony in my pieces to transmit sonality of the Year, APOM. come to accentuate the cohabitation messages about the silliness of mo- In 2014, the Calouste Gulbenkian of all the dominant factors in a long ments in our day-to-day or society’s Foundation published a book on artistic journey that has given privi- stereotypes. his work called “José Brandão, lege to neon light and LED light, es- 2017 | Sculpture in bronze | 110 Designer” and in 2016 the newspa- pecially in wooden boxes that suggest x 60 x 50 cm per “Público” published the book an austere exterior in contrast to the “José Brandão” . scenery of their interior space, dec- JOSÉ BRANDÃO 17. Serafim (Seraphim) orated with neon and LED lighting, New York, USA [1944] My work, while figurative, does not painting, collages and objects diverted Has a degree in Graphic Design have justification in and of itself, ex- from their traditional functions. (London, 1970), with a grant from cept for commissioned pieces. The He has held numerous exhibi- the Calouste Gulbenkian Founda- name comes from the drawing of the tions in various countries: Portu- tion. Founded B2, Atelier de De- face. The body and arms have no ex- gal, Spain, Germany, Switzerland, sign with his wife Salette Brandão planation. It is a visual exercise on a Brazil, Angola, Japan and China.

Belas Artes da Academia | Hoje 82 18. Série Oceanos country through the front door. He Pessoa, Europália, Brussels, Cumpl- (Oceans Series) continued to question old and new iCIDADES, Vicente do Rego Mon- “The limits of this text are not myths, using cinephile verves from teiro Gallery, Recife, XXV FIDEM, enough to analyse specific works nor pop’s memory and, immediately af- Neuchâtel, and Franz Meyer Foun- successive phases. In fact, the impact terwards, revisited the classics: Rubens dation, Mexico. of Africa and sequences of Alfabeto under (or on) the effusive body of a Has public artworks in Portugal africano (African Alphabet) have not post-cubist Picasso...” and abroad, including the Fernando closed other lines of research or ex- Excerpt: Raquel Henriques da Pessoa monument in Olivais, Mar- perimentation. A free and ambitious Silva | “Sobre as viagens de José de Gui- tim Moniz Metro station platform, man, from his journeys, José de Gui- marães (On the journeys of José de “Tragédia no Mar” in Matosinhos, marães brought suggestions, experi- Guimarães)”, in Arte e Viagem (pós)- the D. Manoel Lôbo monument in ences and works that will always be -colonial na obra de José de Guimarães Colónia Del Sacramento, Uruguay, reinstalled, conceptually and visually ((Post-)Colonial art and travel in the the bust of Domingos Bomtempo where they belong: the adventure of work of José de Guimarães), coor- in Johannesburg, the monument to contemporary art that knows no lord dination by Maria João Castro. 200 years of Colégio Militar in Oe- or master, except in specific and im- 2017 | Acrylic on hand-made ‘marou- iras, figures on the striking clock in mediately questioned moments. The flé’ paper on canvas | 206 x 209 cm the Palladium Building, Porto, the forms, the gestures, the ideograms Emigrant monument in Murtosa, and the vitality of the African visual JOSÉ JOÃO DE BRITO the monument to “25 anos do Poder expressions belonged to a world Coimbra [1941] Autárquico”, Loures, the homage to in deep crisis that was installed as a Has a degree in the Complemen- Dr. Pereira Figueiredo, Mação, the wound and macule with colonialism. tary Sculpture Course from Escola sculptures in Caixa Geral de Depósi- The almost immovable passage of Superior de Belas Artes do Porto tos of Oliveira de Azeméis e Ton- time of profoundly stratified cultures (ESBAP). Received a grant from dela and the homage to Manoel de had to adapt to the entry of the linear Calouste Gulbenkian Foundation Oliveira, Aldoar, Porto. and brutal time of the exploitation in 1966. Teixeira Lopes Sculpture Is represented in collections in of resources and peoples. Almost Prize in 1967. Member of the man- Portugal and abroad, including Am- nothing of this immense tragedy – agement body of Sociedade Na- adeo de Souza-Cardoso Museum, where, however, creativity never left, cional de Belas Artes (SNBA) and Amarante, Centro Cultural da Cal- is transposed to Guimarães’ poetry. correspondent partner of Academia oura, São Miguel, Azores, O Lugar The attractiveness of European art Nacional de Belas Artes (National do Desenho, Estremoz and the will always be central to his work, inas- Academy of Fine Arts - ANBA) British Museum, London. much as this founding journey served Held various solo exhibitions, in- 19. Guilhermina him – as happened in his own prehis- cluding in Cooperativa ARVORE, Geometric, figurative sculpture, tory with the Castro decorations ex- Porto, the Altamira Gallery, Lisbon, designed in galvanised and lac- hibited at Sociedade Martins Sarmen- Nasoni Gallery, Porto, Espaço Pol- quered iron. to – to go on constructing: pop-artist igrupo-Renascença, Lisbon, Verney Created when machine and tech- with rare complexity who absorbed Gallery, Oeiras, Instituto Português nology are a common denomina- marks of Cubism, Dadaism and, not do Oriente, Macau. Took part in tor, the design was laser-cut flat surprisingly, Conceptualism. One of group exhibitions, including “Um and the whole was made three-di- his greatest manifestations, once the Rosto Para Fernando Pessoa (A Face mensional through economical African cycle (and Portuguese colo- for Fernando Pessoa)”, Calouste bending methods. The goal was to nisation of Angola) ended, are the 25 Gulbenkian Museum, Modern Col- obtain thereby an expressive visual de Abril posters where another trait of lection, “Impossível-Possível Re- series, accentuated in the way in the artist deliciously affirms itself: the trato de Fernando Pessoa (Impos- which the figure is executed. taste for humour in the service of aes- sible-Possible Portrait of Fernando The red highlights the fibre and thetic provocation, and thus evidently Pessoa),” Soares dos Reis Museum interpretative power of Guilhermi- political. Great destroyer of precon- and Almada Negreiros Gallery, na Suggia. ceived images and small-talk, José de Lisbon, V Biennial of European 2017 | Sculpture in iron | 48 x 72 Guimarães entered a re-established Engraving, Heidelberg, L’Univers x 39 cm

83 JOSÉ LARANJEIRA resented scenes based on biblical re- 2019 | Resinous materials | Mixed SANTOS ports, now determinant and property Technique| 120 x 200 x 100 cm Lisbon [1930] of the global artistic heritage. Multiple Degree in Sculpture from Faculdade and varied scenes, which drawing the JOSÉ QUARESMA de Belas-Artes da Universidade de transcendent, immortalised scenari- Santarém [1965] Lisboa (FBAUL). In 1960-62, the os from beyond, replaying with the Has a degree in Painting from Esco- Calouste Gulbenkian Foundation most varied tones passages like the la Superior de Belas-Artes de Lisboa awarded him a study grant and he Annunciation – a divine-human (ESBAL). Has a Master’s Degree and went to Rome, Italy and obtained mosaic that portrays the envoy of god, Doctorate in Aesthetics and Philoso- another degree in Sculpture, from the archangel Gabriel, the one chosen phy of Art from Faculdade de Letras the Accademia di Belle Arti di Roma. to announce to an ordinary woman da Universidade de Lisboa (FLUL). Prizes: 1955 National Sculpture Prize, that she was to be a mother, a mother Has exhibited painting, drawing and Academia Nacional de Belas Artes whom we would all refer to as blessed: engraving since 1982. Assistant Pro- (National Academy of Fine Arts – mother of the saviour of the world, fessor at Faculdade de Belas-Artes da ANBA), XVIII Missão Estética, mother of Jesus, by the name of Mary. Universidade de Lisboa (FBAUL) for Figueira da Foz; 1955 Figueira da Foz Almost as a whole, these religious practical and theoretical disciplines. Municipal Prize; 1963 Manuel Pereira representations reveal the surround- Coordinated publications in the fields Prize, Salão dos Novíssimos, SNI; ing society and nature assertively. of research in art; digital environ- Public Tender Award, Bairro da En- The design of meticulous rigour memt; public art; Reproducibility and carnação, Lisbon City Council; 1966 shows a perfect sense of aesthetic, Technology; Chiado and Heritage. Silver Medal, Modern Art Salon, Es- good taste and knowledge when Regularly organises series of confer- toril; 1970 1st Prize Public Tender, applying colours. Extremely refined ences in Portugal and abroad on the Monument Commemorating the techniques of texture and visual lan- above areas. Frequently organises First Aerial Crossing of the South At- guage deeply reflect the opulence exhibitions of public art, installation, lantic, Lisbon City Council; 1984 1st of the environments, the umpteen engraving and others. Is currently Prize Public Tender, Monument to garments and landscapes of the era, carrying out a research project called the Christian Reconquest of the City putting in front of us an enormous A Pintura Contemporânea no Bar- of Silves, Silves City Council; 1996 1st abyss between the distinguished and co de Teseu, 2015-2020, (Contem- Prize of the International Symposium educated nobility and the ignorant porary Painting in Teseu’s Vessel, of Iron Sculpture for the Open Air, populace, but bound to a love for art. 2015-2020) through which he intends Abrantes City Council; Honourable This sculptural pair, fruit of my cre- to explore the transformations and Mention, Edinfor Sculpture Prize; ativity and forged with current tech- interlinking of painting with other 1998 Honourable Mention, Edinfor niques, is also an annunciation, and artistic expressions without them Sculpture Prize; 2002 Purchase Prize, aims to demystify the same mystery. losing their identities, on which three Academia Nacional de Belas Artes; Mary – a human figure, mortal but volumes have already been published. 2009/2017/2018 Honoured by Am- of angelic appearance – and the arch- 21. O Espelho Negro adora, Figueira da Foz and Lisbon angel – an angelic figure, not human e o Mercador (The City Councils and immortal, but of human appear- Black Mirror and the 20. A Anunciação ance – bring together techniques and Merchant) (allusion (The Annunciation) materials that were unknown during to Hans Holbein) The piece i have chosen to represent the Renaissance like polyurethane and The work follows the principle of me at this exhibition at the Money acrylics, which also cohabit with iron anachronism over the human ten- Museum, an exhibition that brings and natural materials like tree branch- dency for greed and narcissism, in together artists from the National es. It is an assumed game of contrast which we see details of a merchant Academy of Fine Arts, is a tribute between generations, without disre- transformed against a black mirror to the painters of the fertile and fab- spect: but in the irreverence... that we – subject of a certain painting tradi- ulous Italian renaissance. So many know gives a certain taste to life. tion – interlaced with fragments of marvellous artists... Da Vinci, Giotto, Laranjeira Santos, Ao Pensar em Pin- works by Hans Holbein, represent- Cimabue, Duccio, Cinni di Pepo who, tores Florentinos 1450-2018 (On Thinking ing the narcissistic urge and vainglo- on canvas or walls and ceilings rep- of Florentine Painters 1450-2018) ry of the 16th century merchants. As

Belas Artes da Academia | Hoje 84 such, through the adoption of a de- Represented in private national here?) in 1994: medium-format vice that creates anti-representation, and foreign collections and in nu- photographs of Lisbon’s old shops the so-called black mirror of Claude merous public buildings. and the people inhabiting them, Lorrain, the aim was to intensify the 22. Untitled exhibited at Lisbon’s Municipal ambivalent allusion to realistic de- Someone, whose critical opinion Photographic Archive in 2005; in tails and their reflected degradation, I respect greatly, pointed to the 2010 featured in the exhibition Res as moribund vestiges of a painting in unfinished study, thinking it corre- Publica 1910 e 2010 face a face (Res permanent transformation. sponded to me and represented me. Publica 1910 and 2010 face to face) 2018 | Acrylic paint on canvas | It is a study for a stamp I sketched at the Calouste Gulbenkian Foun- Black cloth with acrylic plaster | on a canvas, with a size and technique dation with a selection of 100-year- 160 x 120 cm that are uncommon for such a pur- old shops. pose. My taste for large gestures and Took part in various solo and LUÍS FILIPE DE ABREU great dimensions in illustration works group exhibitions in Portugal, Torres Novas [1935] frequently led me to this. Displaced Spain, France, England, Scotland, Professor at Faculdade de Belas-Artes from the immediate objective of the Belgium and Germany. da Universidade de Lisboa (FBAUL). original intension, without the par- Published several books, including Full member of the Academia Na- ticular identification of the personality, “Azul” (“Blue”) (2002) on non-plac- cional de Belas Artes (ANBA). Ar- what was left as an expressive register es, with text by Agustina Bessa-Luís. tistic Medal of Merit from Torres of a gesture of solidarity, charity, hu- Independent photographer, lives Novas City Council. Municipal Medal man support. Pretext for a figuration. and works in Lisbon. of Merit from Oeiras City Council. 2018 | Oil on canvas | 100 x 23. Intimidade (Intimacy) ANBA Prize 2003. BIG Career Prize 100cm I have always liked houses, seeing 2017 from Guimarães City Council. how others organise theirs and organ- Artistic activity in very diverse LUÍSA FERREIRA ising my own, whether temporary or fields: Painting on easel and mural, Lisbon [1961] not. “Intimacy” is a series expressing fresco and tempera: Ritz, Fénix and Began studying geography, then various visits to Tapada da Tojeira. Mundial hotels; Infante D. Henri- changed to photography. Turned Several houses come to mind, tra- que ocean liner; Banco Fonsecas & professional in the mid-1980s. In ditional and contemporary. I first Burnay in Lisbon and Fundão; Tele- 1989 joined the team of founding discussed this series of photos with communications building in Funchal; photojournalists at the newspaper Carlos Vaz Marques for the Granta Stained glass: Medeiros e Almeida “Público”. 3 photographic essay (2014). Carlos Foundation; Portalegre Hospital; Broke off her day-to-day photo- added two lines from Ruy Belo as an Military Academy; Hotel Eden; Ce- journalism work in 1998 after sev- epigraph. “Só as casas explicam que ramics: Metropolitano de Lisboa en years at “Público” and two years exista / uma palavra como intimi- (Saldanha), Portalegre Hospital and at the US news agency Associated dade”. (“Only houses explain why a mural in Torres Novas; Tapestry: Press. Continued working with the word such as intimacy exists.”) Altis, Alvor-Praia and Delfim hotels; press. When the exhibition moved to the Telecommunications Building, Lis- Participated in the exhibition Au Santo António Chapel, Portel, in bon; Banco de Portugal, Lisbon; Il- Féminin. Women Photograph- 2015, I understood that it could form lustration, design of Stamps, Medals, ing Women 1849-2009, curated an itinerant exhibition and could cross Banknotes for Banco de Portugal and by Jorge Calado, Centre Culturel the country to discover new interiors Coins for Casa da Moeda; Graphic Calouste Gulbenkian, Paris, 2009. in each new place, new spaces, new Design of logos, books and maga- Exhibited at Encontros de Imagem, houses. Houses always enchant me. zines; scenography and costumes for Braga, 1994-1996, and at Encontros 2013 | Photography | 100 x 70 cm the Theatre, Opera and Ballet. de Fotografia, Coimbra, 1994. Collaborating with specialised for- Was First Choice at Recorridos MANUEL CARGALEIRO eign companies, acquired knowledge Fotográficos, ARCO98, Madrid, Vila Velha de Ródão [1927] of high-precision and security graph- with Éter. Starts first clay modelling experi- ic techniques for the production of Began Há quanto tempo trabalha ence in 1945, at the José Trindade banknotes. aqui? (How long have you worked pottery, Monte da Caparica. Un-

85 dertook research in Lisbon where This composition forms part of a d’Oggi, Laboratório Gallery, Milan he attended Escola Superior de series that will find its latest expres- (1978); 18x18 – Nova Fotografia, Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) sion in a three-by-three-metre tile Grafil Lisboa e Museu Soares dos specialising in Visual Arts. panel, to be inaugurated in March Reis, Porto (1978); Outras Formas, In 1949 he was exhibited for the 2019 in the “Champs Elysées – Outra Comunicação, SNBA (1978); first time at Primeira Exposição An- Clemenceau” Metro station, in Paris. SACOM 2, Malpartida, Cáceres ual de Cerâmica in the Exhibition Paris, 2013 | Paint on canvas | 81 (1979); 24 Contemporary Portu- Hall, Palácio Foz, Lisbon. In 1953 he x 65 cm guese Artists, Modern Art Museum, exhibited painting for the first time São Paulo (1981); Exposição de Arte in Salão da Jovem Pintura, in Março MÁRIO VARELA GOMES Moderna, SNBA (1982); Depois Gallery, Lisbon, and in February Lisbon [1949] do Modernismo, SNBA (1983); O 1954 had a solo exhibition Cerâmi- Took an engraving course in metal Livro de Artista, Diferença Gallery cas de Manuel Cargaleiro, with text and lithography at Gravura – Socie- (1983); Celebração, Diferença Gal- by Diogo de Macedo, representing dade Cooperativa de Gravadores lery (1985); Perspectiva: Alternati- a milestone for recognition of his Portugueses (1967), has a degree in va Zero, Serralves Museum, Porto work in the art world. Architecture from Escola Superior (1997); Portugueses en el MVM y In the following decades, he took de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) Qué Acce Usted Ahora?, Vostell part in many solo and group exhibi- (1976), prehistoric art studies, with Malpartida Museum (2001); Um ol- tions, in various countries, including grants from the Ministry of Culture har para a memória: novas fotogra- Portugal, France, Brazil, Japan, Ger- and the Calouste Gulbenkian Foun- fias do 25 de Abril de 1974, Carmo many, Italy, Angola, Mozambique, dation (1974-1977) in Italy, Germa- Archaeological Museum (2004); A Spain, Venezuela, Switzerland and ny, England and Scandinavia. Has Revolução está na Rua, Lisbon City Belgium. In March 2017, he inau- a Doctorate in History, specialising Hall (2014). gurated the exhibition celebrating in Archaeology, from Universidade Held solo exhibitions in Lisbon his 90th birthday in the Cargaleiro Nova de Lisboa (2010) where he and Porto between 1970 and 1978. Museum, Castelo Branco, named has taught since 1997. He has writ- 25. My Sweet Unpainted Cargaleiro e Amigos. ten dozens of books and about 300 Aphrodite Photographer: Professor José Bernardo Viriato, National Correspondent Member for Academia Nacional de Belas articles, on topics of history, archae- As with any work of art, the inter- Artes (ANBA) ology, ethnography and art. pretation of My Sweet Unpainted “I began my artistic life as a cerami- He has taken part in the following Aphrodite must be “open” or pol- cist and I am a ceramicist even when I group exhibitions: IV Salão Nacion- ysemic, such that it is left up to the paint oils. I cannot imagine one thing al de Arte, Lisbon and Porto (1969); eye of the beholder. It uses manip- without the other. My two media Experiências Plásticas dos Novos, ulated photography, taken by the clearly influence each other. I cannot Dinastia Gallery (1969); IV Salão sea, printed on canvas and thereaf- forget all my knowledge of the histo- de Arte Moderna, Luanda (1970); ter painted with acrylic paints. ry of stoneware or mural decoration Galleries’ Retrospective, Sociedade 2017 | Photographic print on canvas when I paint, just as I do not forget Nacional de Belas Artes (SNBA) with acrylic paint | 210 x 140 cm my painting culture when I create ce- (1971); Biennial, Ibiza (1970); ramics. It is all closely linked, and this Navarra Museum, Pamplona (1971); MATILDE MARÇAL is what lies behind my originality. I Hospital de la Santa Cruz, Barcelona Abrantes [1946] do not copy my paintings onto tiles: I (1972); Ibizagraphic, Ibiza (1972); Retired as Associate Professor at paint directly onto porcelain, without VII Salão de Arte Moderna, Luanda Faculdade de Belas-Artes da Uni- sketches, like on canvas.” (1973); Exposição 73, SNBA (1973); versidade de Lisboa (FBAUL). Manuel Cargaleiro | In LAS- II Exposição Colectiva Quadrante, Researcher at the Centro Nacional CAUT, Gilbert (2003). Manuel Carga- Évora and Estremoz (1973); Ab- de Calcografia e Gravura (National leiro: Lisbonne-Paris, 1950-2000: peintu- stracção Hoje, SNBA (1975); Portu- Centre for Chalcography and En- res/pinturas. Paris: Éditions Palantines. guese Painting, Nikka Gallery, To- graving) of the Instituto de Alta Cul- 24. Les signes simultées kyo (1976); Alternativa Zero (1977); tura (Institute for Higher Culture) Stylisation based on vegetal elements, Image and Words, CAYC, Buenos from 1972 to 1974. Member of the which tend towards geometricity. Aires (1977); 11 Artisti Portughesi Technical Board of the Cooperativa

Belas Artes da Academia | Hoje 86 de Gravadores Portugueses (Por- self-reflexive moment, particularly tuguese funding agency for science, tuguese Engravings Cooperative) evident in this painting. In fact, by research and technology), 2006-10. in 1977. Received a grant from the inserting landscapes within land- Member of the Fine Arts Research Calouste Gulbenkian Foundation scapes, this work makes reference to and Study Centre (CIEBA), in the and from the Secretariat of State a well-known trait in painting, which Anatomy and Scientific Drawing for Culture, in 1978. Elected Mem- reached its height in 17th-century section, 2011-17, and of the Centre ber of Academia Nacional de Belas Dutch painting. However this tra- for Philosophy of Sciences of Uni- Artes (ANBA) in 1998. Took part dition of painting on painting finds versidade de Lisboa (CFCUL), in the in many solo and group exhibitions several disturbing elements in this Science and Art project, 2006-12. Par- in Portugal and abroad, in over 50 work by Matilde Marçal that can all ticipated in several digital culture labs years of artistic activity. be brought back to the title: the pas- in Spain at Medialab_Prado, 2008-17; Her work can be found in various sage of time. Except for the smaller at Real Academia de Bellas Artes de collections, such as: Calouste Gul- landscape, which works as a vanish- San Fernando, under tutor guidance, benkian Foundation; Secretariat of ing line for the painting and is one of undertook theoretical and practical State for Culture; Sofia National Mu- its dialectic moments, what becomes training, conferences, seminars, doc- seum, Bulgaria; Museum of Modern visible in the other two paintings are ument and literary research, 2007-18. Art in Ibiza, Spain; Herman Hebler fallen leaves, debris, remains that, to Solo exhibitions: Método Sophia: Museum of Modern Graphic Art, quote the German philosopher Wal- do arquivo à base de dados (Sophia Fredrikstad, Norway; Museum of ter Benjamin, compose a “petrified, method: from archive to database), Modern Art of Rio de Janeiro; Banco primordial landscape”. Thus time FBAUL, 2014. de Fomento & Exterior; Caixa Geral enters the painting: not as an ele- Group exhibitions: Belas Artes da de Depósitos; Fundação Dr. Mário ment standing side by side with the Academia: uma colecção desconhecida Soares; Fundação Cidade de Lisboa; others or symbolically represented, (Fine arts of the Academy. An un- Banco de Portugal and in numerous but as a point of view from which known collection), Centro Cultural private collections in Portugal and the painting itself must be contem- de Cascais, 2018, Ajuda National abroad. Prize (jointly held) at 5th In- plated. Meaning that, when seen as Palace, 2016; Celebration of the ternational Art Biennale, Ibiza, Spain, a passage, time can produce neither 180th anniversary of the Academy 1973; Edition Award at 1st and 2nd bodies nor things other than a per- of Fine Arts, Guerra das Imagens (War Portuguese Exhibition of Engrav- petual devastation, of which only of Images), FBAUL, 2016; 38th ing, 1977/79; Prize at Integrafika remnants, debris reflected by the Exposición Primeros trabajos creativos Biennale of Berlin, 1984; Purchase painting, escape. de alumnos (exhibition of students’ Prize at the European Large Format João Oliveira Duarte first art works), El Estudio, Madrid, Print Making, Dublin, Ireland, 1991. 2010 | Oil painting on canvas | 2016. Present in the Libraries of: “Cordeiro Ramos” National Prize, 114 x 146 cm Real Monasterio San Lorenzo del ANBA, 1992. International Prize Escorial; Real Academia de Bellas Biella Per L’Incisione, Italy, 1993. SOFIA PADEZ Artes San Fernando; Biblioteca Mu- 26. Passagens do Tempo Moçâmedes, Angola [1960] seo Nacional Centro de Arte Reina (Passages of Time) Adjunct Professor of Sculpture at Sofia; Biblioteca Nacional, Lisboa. Time is one of the subjects most of- Faculdade de Belas-Artes da Uni- 27. Bodegon e Quadrado ten portrayed in the Western painting versidade de Lisboa (FBAUL). (Still Life with Square) tradition: more or less allegorically Correspondent Member of the Divine proportion and the art until the 20th century, or by experi- Academia Nacional de Belas Artes of Cristina Branco* menting with painting’s representa- (ANBA) in 2006. Francis Bacon, the English philos- tive possibilities, in the avant-garde PhD in Sculpture; MA in Art opher, essayist and statesman, writ- movements, painting found many Theories - Sculpture; Honours De- er of Novum organum (1620), who ways to integrate it in a medium gree in Sculpture, Product Design advocated a new scientific method that one would consider averse to it. and BA in Fashion Design. based on inductive and empirical With this work, Matilde Marçal joins Fashion Design, Film, Photography, reasoning, wrote of human beauty the allegorical tradition of inserting Sculpture and Drawing. Received an that “there is no excellent beauty time into paintings, allowing also a international grant from FCT (Por- that hath not some strangeness in

87 the proportion”. To that end he re- us such a historical debate that The end result is a work rooted in called Apelles, who ‘would make a bears a deep meaning for the Por- the pure and unadulterated search personage by geometrical propor- tuguese sculptor Cristina Branco. for classical beauty from a modern tions’, and Albert Durer, who ‘by In a similar way to the avant-gar- perspective. taking the best parts out of divers de painter from Galicia, Maruja Antonio Bonet Correa faces, made one excellent’ to para- Mallo, in the 20th century, figura- *Sofia Padez is the artistic name of phrase Bacon. tive imagery and geometrical ab- Cristina Branco Artistic literature from the Re- straction steer Cristina Branco’s art 2016 | Drawing on paper | 63 x naissance to neoclassicism has left work today. 48 cm

“Promover a civilização geral dos portugueses, difundindo por todas as classes o gosto do Bello e desenvolver o génio daqueles que se aplicam a tão interessantes estudos.”

[ D. M ARIA II, 1836 ]