Doi: 10.5212/Emancipacao.v.15i2.0007

Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle1

Occupy Vanderbilt: an experience between the social activism and the control society

Pedro Torreão Sá de Almeida*

Resumo: O artigo em questão tem como objetivo analisar a ocupação criada na Universidade de Vanderbilt, em Nashville, no Tennessee, na esteira dos movimentos de ocupação ocorridos no ano de 2012, tal qual o . O estudo é feito a partir das análises sobre a questão da sociedade de controle, de Gilles Deleuze; da estruturação dos espaços através do pensamento de Marc Augé; e do pensamento sobre os movimentos sociais, de Alain Touraine. Uma análise sobre os movimentos de ocupação de praças públicas no século XXI estabelece o ponto inicial do artigo, desenvolvendo a partir daí os desdobramentos da ocupação na Universidade de Vanderbilt. Partindo desse pressuposto foi feita uma etnografia sobre o Occupy Vanderbilt, relacionando o surgimento dessa nova proposta de ativismo social e sua relação com a sociedade de controle cotidianamente presente no mundo contemporâneo.

Palavras-chave: Movimentos de ocupação. Sociedade de controle. Resistência.

Abstract: The article in question aims to analyze the created at Vanderbilt University in Nashville, Tennessee, in the wake of the occupation movements in 2012, just as the Occupy Wall Street. The study is made from the analysis on the issue of control society, by Gilles Deleuze; the structuring of space through thought of Marc Augé; and the thinking of social movements, by Alain Touraine. An analysis of the occupation movements in public squares in the twenty-first century establishes the starting point of the article, developing from there the consequences of the occupation at Vanderbilt University. Based on this assumption was made an ethnography about the Occupy Vanderbilt, relating the emergence of this new proposal for social activism and its relation to the daily control of our society in the contemporary world.

Keywords: occupation movements. Control society. Resistance. Recebido em: 30/06/2015. Aceito em: 20/04/2016.

1 Estudo financiado pelo convênio CAPES/FIPSE “Making One Nation Out of Many: Multiculturalism in the United States and Brazil.” * Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernam- buco (UFPE). E-mail: [email protected].

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Introdução movimento, usando a força policial e sua violência de maneira indiscriminada. Os anos de 2011 e 2012 foram muito pro- Tais configurações foram sentidas também dutivos quando tentamos estabelecer ressignifi- nos Estados Unidos da América, através de seus cações do que pensamos em torno dos movimen- Occupies que se alastraram por estados, cida- tos sociais e novas formas de reivindicação de des e universidades de todo o país, tendo como demandas coletivas ao redor do mundo. Desde centro catalisador o Occupy Wall Street e, do a periferia – como o Egito e a Síria – até o cen- mesmo jeito que no Brasil e restante do mundo, tro das decisões sociais – como nos Estados na violência policial indiscriminada, causando Unidos da América e a Espanha – houve novas diversas prisões, por exemplo. formações sociais que se estabeleceram como O centro de nossa análise está no Occupy modelos imperativos através de suas ocupações Vanderbilt, movimento estudantil que uniu os e relações com as redes sociais, por exemplo. O estudantes a partir de três causas principais: o paradigma da “revolução televisionada” mudou fim do investimento da universidade em empre- para uma revolução de conteúdo socialmente sas que estavam relacionadas as tomadas de produzido, colocando o sujeito como centro da terras (land grabs) na África, especialmente em produção do que deve ser reverberado dentro Moçambique; uma maior voz e participação dos das redes sociais atuais, mesmo aprendendo alunos nas tomadas de decisões; e por último, posteriormente que diversos pontos de vista ge- uma luta por melhoria salarial e estabilidade dos ram diferentes críticas e análises sob um mesmo funcionários responsáveis pela alimentação na aspecto. universidade. A organização de um movimento Os movimentos iniciados em primaveras, desse porte em uma universidade de elite nos indignados e ocupantes trouxeram um novo sen- EUA não é fácil, procurei analisar, assim, as re- tido aos movimentos sociais do século XXI, que lações entre um microcosmo de sociedade de se distanciam tanto das polarizações de classe controle presente no ambiente universitário e quanto de movimentos fechados em aspectos sua tentativa de subversão por parte do alunado. culturais próprios, há uma identificação nos dias O artigo se divide assim em três partes atuais por demandas sociais coletivas feitas por principais: primeiramente a análise dos movi- grupos distintos entre si e que unem forças por um mentos de ocupação do século XXI; uma breve bem comum, desestabilizando formas clássicas etnografia doOccupy Vanderbilt; e a análise do de quebra de legitimidade através da organização movimento em relação a uma teoria da sociedade de identidades coletivas múltiplas. Esse movi- de controle. mento chegou com peso no Brasil em meados de 2013, através de Estelitas2 e Parques Augusta3 Primavera global: formação dos novos e com toda a força da catalisação de um movi- movimentos sociais mento a favor do passe livre (Movimento Passe Livre - MPL) o qual cresceu exatamente a partir É interessante perceber que a crise ins- dessa dificuldade do Estado em deslegitimar o taurada no ano de 2008 nos EUA, tendo como motivos principais a bolha imobiliária, a crise e falência de bancos de investimentos tidos como 2 O Movimento Ocupe Estelita (MOE) nasceu na cidade do Recife tradicionais globalmente, sendo o exemplo central no ano de 2012 tendo como objetivo principal a crítica da espe- o Lehman Brothers, e de seguradoras como a culação imobiliária na cidade, tendo como símbolo o Cais José Estelita, área central da cidade que foi leiloada e adquirida pelo American International Group (AIG) reverberou consórcio Novo Recife com o intuito de construir torres residen- por todo o globo até voltar para o centro inicial, ciais e empresariais no local. O movimento continua ativo mesmo Wall Street, reduto financeiro de Nova Iorque. após ocupações e reintegrações de posse no ano de 2014 (RO- CHA, 2015). Os efeitos da crise financeira, que teve como epicentro os EUA, ressoaram em outros pa- 3 O Organismo Parque Augusta (OPA), ocorrido na cidade de íses como em um efeito dominó. A ideologia TINA4 São Paulo, tinha como objetivo principal barrar a construções de prédios na área do parque, que se localiza na região central da cidade. Tal movimento fez parte de uma grande luta jurídica pela preservação de uma rara área verde na região. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013) 4 There Is No Alternative, ou em português, Não Há Alternativa.

280 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle em relação ao mercado e ao neoliberalismo, em ordem mundial” discursada pelo presidente dos sua face econômica, e na globalização, na sua EUA, George Bush. esfera política, trouxe aos países subdesenvol- vidos, como no norte do continente africano ou Norte da África e Revoluções Democráticas na américa latina, e aos países desenvolvidos, como a Espanha, um traço de necessidade de Entender a força dos movimentos gerados 6 adequação ao movimento neoliberal, acarretan- no Cairo, na Praça Tahrir , talvez seja difícil por do uma forte desigualdade social e econômica serem tão recentes e inéditos. Tendo como obje- dentro desses países, em especial os que eram tivo central a derrubada do governo ditatorial de liderados por ditaduras, como o Egito e Líbia. Hosni Mubarak, os protestos tiveram como causa Nos países do norte da África, especifica- uma forte inflação e nível elevado de desempre- mente, a queda na negociação de commodities, go, causados pela crise financeira que atingiu o necessárias para o funcionamento econômico do mundo em 2008. Dentro desse contexto outros país, aliado a aumento de impostos para serviços debates foram criados, como a necessidade de básicos, como energia elétrica, e um descon- democracia no país. tentamento político generalizado trouxe à tona Esse movimento em solo egípcio que, no o debate sobre a necessidade da superação de seu auge, em 31 de janeiro de 2011, trouxe às obstáculos e a construção de uma nova dinâmica ruas algo em torno de 2 milhões de pessoas econômica e política para a região. Em países (SOUEIF, 2011), teve forte influência dos pro- europeus as fortes taxas de desemprego, prin- testos na Tunísia, ocorridos no mês anterior. O cipalmente entre os jovens, e o questionamento processo da Revolução de Jasmim, como é co- sobre a função do poder político e a forma de nhecida a revolução da Tunísia, levou à queda democracia adotada, fez com que novas formas do presidente Zine el-Abidine Ben Ali, no cargo de movimentos sociais eclodissem e a busca desde 1987. de uma nova agenda social fosse criada como Movimentos parecidos aconteceram em forma de barrar a polarização do poder, países boa parte do mundo árabe entre os anos de 2010 como Espanha, Portugal e Grécia foram centros e 2011, trazendo assim diversas questões à tona, de debate nesse sentido. A América do Sul tam- como a liberdade de expressão e reunião e o uso bém participou do movimento através da crise de mídias alternativas para a criação e difusão neoliberal ocorrida no Chile, no qual estudantes dos protestos nos países envolvidos. Ferramentas foram às ruas exigindo o acesso à educação como o Facebook e o Twitter são utilizados de pública de qualidade. forma diferente e engajados na superação dessa A crise econômica de dimensões globais realidade perturbadora. trouxe como efeito algo inesperado inicialmente: As movimentações da Primavera Árabe são mais do que a formação de movimentos sociais, criadas a partir da crítica de um modelo regional, houve um debate global em torno de termos baseado em ditaduras e governos centralizado- como democracia e capitalismo financeiro, te- res que tolhiam as necessidades básicas dos mas entendidos como fora de debate desde a cidadãos. A crítica a um modelo neoliberal está superação do bloco soviético e fim das utopias, inclusa no debate devido ao alto grau de empo- ou como diria o economista político americano brecimento das populações e da desigualdade Francis Fukuyama, o “fim da história”5. Talvez, social construída ao longo dos anos. Entender pela primeira vez, houve uma ação prática em esse fenômeno como algo ligado globalmente é torno do objetivo real da superação da “nova necessário, uma vez que a crítica democrática é dada em diversos níveis e em diversas locali- dades ao longo desse período.

5 O cientista político Francis Fukuyama escreveu uma tese fun- dada na ideia de que com a derrocada da União Soviética e a emergência de movimentos reformistas do leste europeu existiria o processo de fim da história, no sentido hegeliano, pelo proces- so de estabelecimento de uma potência única, no caso a norte- 6 Tahrir em árabe significa libertação, tendo a praça sido rebatiza- -americana. da após a revolução republicana do Egito em 1952.

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Mediterrâneo Europeu: Espanha, Grécia e movimentos tiveram como centro de protesto o Portugal parlamento grego e a Praça Syntagma. É im- portante lembrar as diversas greves, inclusive Os movimentos árabes iniciados no ano de gerais, que tiveram lugar desde o ano de 2010 2010 e durante o ano de 2011 exerceram forte contra as decisões do governo grego. influência no mediterrâneo europeu, tendo sido É importante perceber que no caso europeu particularmente importante na Espanha com o há uma forte influência de um bloco econômico Movimento dos Indignados, também conhecido e fortemente monetário na construção da crise pelo nome de 15-M. Este movimento teve influ- e consequentemente dos protestos realizados. ência direta nas movimentações ocorridas nos Medidas monetárias nacionais não são possí- EUA e nas suas futuras ocupações. veis devido a moeda única do bloco europeu, Os protestos espanhóis, iniciados em 15 de fragilizando assim economias mais vulneráveis, maio de 2011, tiveram como influência os levantes como as dos três países anteriormente citados. acontecidos em Portugal em março do mesmo Nota-se, nesses três exemplos, uma junção de 7 ano, conhecidos como Geração à Rasca , que dois fatores principais na construção da insa- foi criado sem a participação de partidos políti- tisfação popular: o primeiro deles é uma maior cos ou sindicatos e organizados via Facebook; participação democrática, na construção de deci- a crise econômica e as medidas de austeridade sões nacionais, ou seja, uma crise da legitimação levaram os jovens portugueses às ruas. Foi a política; e em segundo lugar, uma insatisfação maior movimentação social em Portugal desde com os caminhos econômicos traçados. a Revolução dos Cravos, em 1974, a qual rees- O conceito de crise democrática é de impor- tabeleceu a democracia no país. tante comparação: enquanto a Primavera Árabe é O movimento espanhol teve como um de pensada a partir de conceitos como liberdade de seus pontos centrais a questão da crítica ao expressão e reunião, na Europa a mesma crise modelo democrático estabelecido, sendo uma é problematizada dentro de sua característica desaprovação à tomada de decisões centraliza- de representatividade social, ou seja, em ambos da nos políticos e seus respectivos partidos. O os casos o conceito de democracia extrapola o lema estabelecido durante os protestos foi o de senso comum que o relaciona a questão eleito- 8 “¡Democracia Real YA!” , estabelecendo assim ral, existindo uma problematização do conceito uma crise de legitimidade do sistema político e a necessidade de adequação do mesmo às espanhol e tendo como demanda uma demo- demandas populares. cracia baseada em preceitos populares, na qual os cidadãos tenham voz nas decisões políticas A Revolta Estudantil no Chile e Debate na para além do voto. América Latina Os atos públicos, em especial na Praça Puerto del Sol, em Madrid, levou em torno de Em maio de 2011 estudantes chilenos, uni- 50.000 espanhóis as ruas (ALCAIDE, 2011). A versitários e secundaristas, foram as ruas para ocupação de espaços públicos como forma de protestar contra o sistema educacional do país, protesto se estabelece como pedra de toque das altamente privatizado desde a ditadura militar, novas manifestações sociais no início da década. liderada por Augusto Pinochet (1973-1990). A Influenciados pelos protestos na Espanha, ausência do Estado na educação básica e a falta um movimento parecido aconteceu na Grécia dez de investimento público nas universidades foram dias depois. Enquanto medidas de austeridade os fatores centrais das revoltas ocorridas. fiscal foram sendo tomadas pelo governo grego, Dois elementos determinaram forte influ- diversos manifestantes foram às ruas protes- ência no movimento chileno, em primeiro lugar a tar contra as mesmas e a favor de uma maior conhecida Revolução dos Pinguins, movimento participação popular nas decisões políticas. Os social criado por estudantes secundaristas no país no ano de 2006; e em segundo lugar os movimentos na Espanha (15-M) e da primavera 7 Geração Precária, em português brasileiro. árabe. Os protestos no Chile foram acompanha-

8 Em português, Democracia Real JÁ! dos por grande repressão do Estado e foram

282 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle prolongados até outubro de 2011. Além de pas- forçada do Zucotti Park pela polícia da cidade seatas, greves estudantis foram utilizadas como de Nova Iorque. tática do movimento. O Occupy Wall Street criou diversas no- Podemos dizer que os movimentos sociais vas formas de protesto e ocupação de espaços, que foram criados entre os anos de 2010 e 2011 tendo sido fruto de diversas tentativas por parte no mundo não foram de grandes proporções na da administração da cidade de tentar minar a América Latina, tendo sido o movimento chileno ocupação. Inicialmente, os membros da ocupa- algo singular na região. Movimentos de ocupa- ção foram proibidos de armarem barracas para ção ocorreram também na cidade de São Paulo, dormir, sendo somente permitido o uso de sacos especificamente na Universidade de São Paulo de dormir e cobertores. Outro ponto de discórdia (USP), devido a repressão policial e entrada da entre os membros do protesto e a administração Polícia Militar no campus, em outubro de 2011. da cidade foi o uso de autofalantes. Essa proi- Movimentos como Ocupa Sampa, localizado no bição fez com que se estabelecesse o chama- Viaduto do Chá, no centro da cidade, também do Microfone Humano, técnica necessária na foram organizados em consonância com o mo- construção e realização de assembleias gerais. vimento americano Occupy Wall Street, que tra- O Microfone Humano é uma técnica em que o taremos a seguir. que uma pessoa fala é repetido por todos os membros para que seja ouvido por todas, neces- Occupy Wall Street e o retorno ao lar sidade essa pelo número alto de participantes no acampamento (conhecido no Brasil também A consequência crítica da crise iniciada pelo nome de Jogral). em 2008 no centro financeiro norte-americano O movimento de ocupação nos EUA não tem início em setembro de 2011 sob o nome de ficou somente centralizado na cidade de Nova Occupy Wall Street. Esse movimento tem como Iorque, mas foi rapidamente expandido por todo característica central a ocupação de espaços o país, tendo ocorrido em cidades de grande públicos na cidade de Nova Iorque e a pluralida- porte, como Chicago e Boston, de médio porte de de membros e bandeiras. Desde estudantes como Nashville e de pequeno porte, como no universitários até veteranos de guerra se uniram Occupy Bethel, cidade de pouco mais de seis mil em protesto contra o domínio do setor financeiro habitantes na tundra do Alaska, em que apenas nos EUA em detrimento de políticas de inclusão uma mulher fez um acampamento. social. Autointitulados os 99%, em alusão e com- Para frisar a dimensão do movimento de paração aos 1% da elite americana que detêm ocupação nos EUA é importante demonstrar que 25% do produto interno bruto (PIB), travaram uma os protestos não ficaram somente voltados para a batalha contra a má distribuição de renda no país área urbana e críticas gerais sobre a situação do e marginalização de grande parte da população mercado financeiro norte-americano. Ocupações norte-americana. locais tinham suas próprias demandas, se dis- A pluralidade não se resume aos membros, tinguindo umas das outras. mas também na união de movimentos sociais O exemplo central para o debate desse em um único ato de ocupar espaços públicos. artigo é a formação de ocupações universitá- Movimentos feministas, contra a guerra, negro, rias no país. Questões ligadas a formações e estudantil, entre outros, se uniram, porém, sen- reestruturação de um movimento estudantil e do majoritariamente independentes de qualquer fortalecimento da posição dos estudantes pe- filiação partidária. rante a situação do país e da própria crítica à O movimento se inicia no dia 17 de se- realidade universitária local. Diversos movimentos tembro de 2011, ocupando o Zucotti Park, em universitários de ocupação ocorreram nos EUA Manhattan, Nova Iorque, tendo seu ápice durante entre o segundo semestre de 2011 e o primei- uma passeata sobre a Ponte do Brooklyn no ro semestre de 2012. Não houve, porém, uma dia 01 de outubro do mesmo ano, ocasionando uniformidade das universidades, nem quanto em torno de 700 prisões (BAKER; MOYNIHAN; a sua caracterização como pública ou privada, NIR, 2011). Em novembro do mesmo ano, es- nem em relação as demandas específicas, como pecificamente no dia 15, ocorre a desocupação houve no Chile, com um conteúdo programático

Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em 283 Pedro Torreão Sá de Almeida geral. Universidades tradicionais privadas, como Pontos em comum entre os diversos a Universidade de Duke, Harvard e Vanderbilt movimentos aderiram ao movimento, como as públicas, tendo como forte exemplo a Universidade da Califórnia Entre os anos de 2011 e 2012 pudemos (Berkeley, Davis e San Diego). perceber uma formação global de movimentos A formação do movimento de ocupação que a despeito de seus diferentes objetivos cen- nas universidades norte-americanas tem como trais comungam de diversos aspectos e formas perspectiva central uma oposição à tradicional de agir perante seus problemas regionais, que forma de lidar com a política universitária que mesmo em um mundo globalizado os diferen- reflete os moldes da política nacional, centrada ciam. Vemos que o início do movimento surgido em dois partidos principais. Em suma, a política no norte da África tinha como grande objetivo estudantil tradicional nos EUA é dividida interna- a emancipação democrática baseada em liber- mente nas universidades entre os Democratas dade de expressão e fim de regimes ditatoriais, e Republicanos, tendo também em certa escala enquanto na Espanha a luta centralizou-se na a presença de libertários (denominação ligada a democracia de uma forma direta através da crítica uma postura conservadora de estado mínimo). de uma representatividade política. Os EUA e a A ocupação de universidades traz consigo uma Grécia se diferenciam de uma maneira bastante negação do espaço político tradicional e institu- sutil no seu cerne, mesmo tendo formas de agir cionalmente formado. Por mais que os estudantes diferentes, enquanto a primeira age através da não clamem por uma liberdade de opinião, como crítica ao mercado financeiro baseada no mer- foi a pedra de toque da Primavera Árabe, eles cado, a segunda se opôs diretamente a escolha lutam por uma voz mais diversificada dentro do econômicas estabelecidas pelo centro político ambiente universitário, onde questões levantadas nacional, subjugada a política da União Europeia. por grupos políticos minoritários sejam levados Os movimentos latino-americanos se voltaram em conta, e não somente aqueles sancionados a uma crítica do Estado em relação a políticas através de espaços políticos tradicionais. Os mo- públicas voltadas a educação. vimentos de ocupação não negam em momento Entretanto, podemos ver diversos pon- algum a participação e apoio desses espaços tos de convergência entre esses movimentos institucionais tradicionais, mas há um sentimento específicos. Inicialmente podemos perceber a de que eles não são suficientes e, em certos formação de uma tríade, estabelecida pelo his- momentos, representativos do corpo de alunos. toriador Henrique Soares Carneiro, na forma de Várias formas de protesto foram utilizadas agir desses movimentos: de forma mais especifica nos movimentos de Em todos os países houve uma mesma forma ocupação universitária. Uma das mais popu- de ação: (1) ocupações de praças, (2) uso de lares são os chamados Teach-in. Essa técnica redes de comunicação alternativas e (3) ar- foi criada pelo antropólogo Marshall Sahlins du- ticulações políticas que recusavam o espaço rante os protestos contra a Guerra do Vietnã, e institucional tradicional. (HARVEY et al., 2012, consiste em uma aula expositiva em um espaço p. 8). público ou que tenha algum valor simbólico para Podemos, de toda forma, perceber que a discussão. A exposição do tema e debate do cada movimento devido a seu caráter próprio mesmo gera um maior conhecimento sobre o deu mais ênfase a um elemento ou outro, con- tema e demonstra a posição política dos parti- tudo, não abdicou de usar os três ao mesmo cipantes no local. Outras formas de expressão tempo. A ocupação de praças e espaços públi- mais gerais aos movimentos de ocupação como cos teve sua maior expressão nos movimentos os Sit-in, em que os integrantes se sentam ao norte-americanos, nos quais houve a sua con- chão em um local de movimento para protestar, cretização em tempo integral. O uso de redes ou as passeatas e assembleias gerais que foram alternativas de comunicação, como o Facebook também utilizadas nos centros universitários. ou Twitter, teve importância central em todos os movimentos, porém, foi simbolicamente impor- tante na Primavera Árabe devido às restrições

284 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle de liberdade de expressão em meios conven- ao quão recente o movimento é iniciado no se- cionais nos países envolvidos. As articulações gundo semestre de 2011. políticas inovadoras tiveram espaço privilegiado no movimento espanhol, com a formação dos Occupy e pluralidade Indignados (15-M) e sua ideologia alicerçada na “Democracia Real Já!”, estabelecendo assim A fragmentação de movimentos sociais uma crítica à representatividade política local9. através da ótica cultural foi a pedra de toque. O Dentro da perspectiva de crise da represen- movimento Occupy une esta característica ao tatividade política, o psicanalista e crítico social processo de globalização desses movimentos esloveno Slavoj Žižek tece uma relação entre a dentro de uma perspectiva diferente: de crítica construção da vida cotidiana e compara com as a sociedade capitalista geral, baseada em pre- novas formas de manifestação. O fim da utopia, ceitos mercadológicos e de crítica a democracia para o pensador, não foi determinada pelo de- tradicional. sabe da URSS, porém, com a crise de 2008 e o A quebra do Estado-nação como entendido fim da credibilidade completa no livre mercado: de maneira clássica é o grande campo de batalha desse movimento. A sociedade da informação e Após a terceirização do trabalho e da tortura, o crescimento de redes sociais possibilitam essa após as agências matrimoniais começarem a manifestação coletiva e baseada dentro de um terceirizar até os nossos encontros, os mani- preceito multicultural: festantes perceberam que por um longo tempo permitiram que seus compromissos políticos Neste cenário, os conflitos e as lutas deslo- também fossem terceirizados – e querem-nos cam-se de problemas internos dos Estados- de volta. (HARVEY et al., 2012, p. 18). nação para as estratégias transnacionais das redes financeiras. Surgem os movimentos O debate da sobre a construção da plura- anti e alterglobalização, que lutam contra a lidade nesses movimentos é o tema central da direção da economia na sociedade, economia próxima seção, estabelecendo ponto de discus- esta que gera desemprego e caos urbano tan- são entre a fragmentação ou não dos movimen- to nos países em desenvolvimento como nos tos dentro da ocupação mais geral. A análise e desenvolvidos, em virtude dos novos conflitos também a visão da estrutura de classes e seu dos imigrantes em face das novas políticas potencial enfrentamento durante esses casos. sociais. (GOHN, 2010, p. 117). O sociólogo Giovanni Alves descreve esses mo- A pluralidade do movimento Occupy, que vimentos como uma “contingente crítica radical abrange desde os movimentos estudantis até os do capitalismo como modo de produção da vida movimentos de classe, baseados em sindicatos social” (HARVEY et al., 2012, p. 36), mas não e despossuídos, passando por movimentos de de forma estrutural dentro da crítica capitalista. imigrantes e feministas criam uma nova estrutura, Como encaixar o Occupy na Teoria dos ou como mencionei anteriormente, um retorno. Movimentos Sociais? Essa pluralidade é essencial para o entendimen- Inserir o movimento Occupy dentro da teoria to do Occupy como um movimento de crítica a de movimentos sociais não é um trabalho fácil orientações gerais da sociedade, descritos por devido a três fatores fundamentais: o primeiro Touraine como movimentos societais. deles é a sua grande pluralidade interna, é um A característica de pluralidade e de crítica movimento composto por diversas frentes que ao sistema geral como um todo está no âmago se uniram em um determinado momento; o se- do movimento em questão, o próprio slogan alta- gundo fator é a sua extensa pulverização, como mente difundido – “we are the 99%”10 – expressa pensar um movimento que ressoou, dentro de essa necessidade. A opressão não é percebida estimativas, em 951 cidades em 82 países (THE como algo particular a um grupo cultural ou a GUARDIAN, 2011)? A terceira questão é relativa suas práticas, mas generalizado em torno da concepção de exploração financeira, baseada

9 Movimento esse que culminou com a criação do Partido Pode- mos, na Espanha, buscando uma nova forma de representativida- de e disputando eleições majoritárias. 10 Em português: Nós somos os 99%.

Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em 285 Pedro Torreão Sá de Almeida no mercado, e na atuação do estado como man- É fundamental expor, porém, que no século tenedor da ordem necessária para tal. Dessa XX muitas associações civis nos EUA foram per- forma, a união dos movimentos denota uma nova seguidas, como sindicatos e partidos políticos. característica da atuação do grupo em relação Porém, existe uma grande cultura de movimentos tanto aos movimentos clássicos ou contemporâ- chamados de grassroots, movimentos de base, neos de análise. As diferenças são colocadas em focados em políticas de uma comunidade. Esses prática de maneira sincrônica e não de maneira movimentos acabam por abastecer, de certa ma- a serem competitivas entre si. neira, movimentos maiores, como o Occupy. Seria leviano afirmar que tais junções entre A formação da democracia norte-americana movimentos não tivessem acontecido no passado. é facilitadora de um grande movimento plural Durante a luta pelos direitos civis, na década de baseado na construção coletiva. 1960 nos EUA, os estudantes, majoritariamente brancos e do Norte, se uniram as causas raciais Ocupação e a tomada da cidade do Sul em diversos momentos, como os conheci- dos Freedom Riders11 ou o Freedom Summer12, Nesse ponto discutiremos o que há de novo porém o movimento específico de superação do na questão da ocupação de ambientes púbicos capitalismo, tendo uma ampla participação de di- dentro do movimento. O que de fato ele traz de versos setores, é de certa forma inédito nos EUA. novo como tática e forma de construção e crítica da sociedade capitalista atual, através de catego- A pluralidade e herança democrática norte- rias como território e urbanidade no século XXI. americana A formação de ocupações não é novidade dentro dos movimentos sociais contemporâneos, Tocqueville (2005) argumenta que a de- muito ao contrário, existem grupos, em especial mocracia norte-americana é construída em três em países subdesenvolvidos, que utilizam esse pilares centrais: o primeiro são as comunas, ob- método de protesto de obtenção de direitos há servadas por ele na Nova Inglaterra, que são muito mais tempo e de maneira muito mais sis- poderes locais organizados com leis próprias em temática, e se assim podemos dizer, de maneira relação ao estado e a federação; a segunda são mais bem-sucedida. as associações cívicas, nas quais os cidadãos O Movimento dos Trabalhadores Rurais se associam para fins diversos, sendo eles eco- Sem Terra (MST), no Brasil, e o Exército Zapatista nômicos, políticos, sociais e etc.; a terceira é o de Libertação Nacional (EZLN), no sul do México, espírito da religião como fundador moral e social, utilizam a ocupação como forma de luta por di- uma experiência contemporânea são as igrejas reitos agrários desde meados da década de como fomentadoras na luta e organização dos 1980, sendo o primeiro de ideologia marxista e movimentos de direitos civis na década de 1960, o segundo dentro de uma lógica organizacional Dr. Martin Luther King Jr. é um exemplo prático anarcossindicalista. A forma de pensamento dos como Pastor evangélico na luta. dois grupos também não é apenas voltada para a No caso específico doOccupy o segundo aquisição de direitos sociais e articulação numa fator é o mais decisivo para sua pluralidade. Uma mudança social de nível mais geral. Porém, a cultura política baseada em comunas e religião organização social que ambos os grupos tra- são facilitadoras também, porém, as associações zem consigo reflete um aspecto de divisão da civis mostram a capacidade de organização. sociedade baseada entre cidade/campo, típico de pensamentos de esquerda do século XX. Contudo, outros movimentos também uti- 11 Movimento contra a segregação racial em ônibus, restaurantes lizam as ocupações de forma sistemática, po- e salas de espera de terminais rodoviários em que estudantes se dirigiam do norte ao sul dos EUA utilizando assentos e espaços rém no ambiente urbano. Movimentos como o proibidos a sua cor. O movimento gerou ataques em cidades do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), sul como Anniston, Birmingham e Montgomery. no Brasil, ocupam espaços urbanos como forma 12 Movimentos estudantis a favor dos direitos ao voto dos negros de reinvindicação, logo, o que os distinguiria das em estados do sul dos EUA. Estudantes de universidades do nor- mesmas formas de atuação do Occupy? Em te foram ao sul em campanha pelo cadastramento de negros para a votação. primeiro lugar, vemos uma diferença entre os

286 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle movimentos através da sua pluralidade, o as- revolucionário, o movimento de ocupação vê no pecto de crítica geral do Occupy o coloca em precarizado setor um novo vetor de busca por um espaço singular; outro aspecto importante direitos e por uma nova organização urbana. é a ocupação de espaços públicos por excelên- Em segundo lugar, a urbanização é autopro- cia, e não espaços privados ou sob concessão duzida. Milhares de trabalhadores estão en- do estado. Esse exemplo se aplica da mesma volvidos em sua produção, e seu trabalho é forma aos movimentos de ocupação de reitorias, produtor de valor e de mais-valia. Por que ocorridos no Brasil desde a década de 1960, e não concentrar-se, portanto, sobre a cidade que teve protagonismo no movimento estudan- em vez de a fábrica como o local principal da til dos anos 2000. Ao ocupar praças públicas, produção de mais-valia? A Comuna de Paris literalmente, o movimento demonstra a vulnera- pode, então, reconceptualizar como uma luta bilidade do estado e das classes dominantes e do proletariado, que produziu a cidade para subsequentemente do sistema financeiro, objetos reclamar de volta o direito de ter e controlar da crítica geral, como afirma o geógrafo britânico o que haviam produzido. (HARVEY, 2012, p. 129).14 David Harvey:

É de fato nas cidades que as classes ricas Vemos, portanto, na ocupação da cidade são mais vulneráveis, não necessariamente além de um questionamento de uma ordem geral como pessoas, mas em termos de valor dos baseada na não violência, a ascensão de um ativos que eles controlam. É por esta razão movimento urbano que utiliza o espaço público que o estado capitalista está se preparando como forma de centralização de uma unidade, para as lutas urbanas militarizadas como a li- utilizando os trabalhadores precarizados do setor nha de frente da luta de classes nos próximos de serviços, fugindo ao paradigma clássico de 13 anos. (HARVEY, 2012, p. 131). campo/fábrica, como base de um movimento A questão da repressão em espaços ur- geral contra o sistema financeiro global. A ocu- banos pôde ser sentida durante a ocupação e pação urbana torna-se vetor de uma luta geral, expulsão do Occupy Wall Street no Zucotti Park, e não somente específica ou cultural. ao sul de Manhattan, Nova Iorque. Fora as diver- sas proibições durante a ocupação, como man- Occupy e a ressignificação de um não lugar ter barracas e o uso de megafones, a expulsão A pós-modernidade, ou supermodernidade contou com a proibição da entrada de veículos como prefere utilizar o antropólogo francês Marc de imprensa, tendo sido negada até a passagem Augé, tem em sua característica a transforma- de um helicóptero que transmitia imagens do ção de espaços públicos em não lugares. Essa acontecido no espaço aéreo do local. Casos como categoria define uma característica de impesso- esses também aconteceram em universidades, alidade e transitoriedade em espaços, ou seja, como a Universidade da California em Davis (UC- a interação social é colocada de lado, as men- Davis), onde sprays de pimenta foram usados de sagens são transmitidas através de sinalizações maneira de forma excessiva contra estudantes escritas ou, quando vocalizadas, de maneira sentados (CEASER, 2012). generalizada. Temos como exemplos clássicos Outro ponto central aos movimentos ur- de não lugares os metrôs, aeroportos, rodovias, banos de ocupação é a indexação do terceiro salas de espera e etc. setor, predominantemente urbano e ligado aos serviços, como agente de mudança na sociedade. Ao contrário dos movimentos clássicos, em que o proletário de fábrica é colocado como centro

14 Tradução minha: “Secondly, urbanization is itself produced. Thousands of workers are engaged in its production, and their 13 Tradução minha: “It is in fact in the cities that the wealthy class- work is productive of value and of surplus value. Why not focus, es are most vulnerable, not necessarily as persons but in terms therefore on the city rather than the factory as the prime site of the value of the assets they control. It is for this reason that the of surplus value production? The Paris Commune can then be capitalist state is gearing up for militarized urban struggles as the reconceptualized as a struggle of that proletariat which produced front line of class struggle in years to come.” (HARVEY, 2012, p. the city to claim back the right to have and control which they had 131) produced.” (HARVEY, 2012, p. 129)

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Espaços urbanos tem se tornado cada vez uma crítica a um lado descrito como opressor: o mais não lugares, o papel de transeunte nas ci- da globalização financeira. Através desse pensa- dades tem um aspecto de protagonismo. Oposto mento é dada a construção de uma nova forma à característica de lar, residência, os não lugares de democracia baseada na participação em de- são baseados na não personalização. Ou seja, trimento da clássica deliberação. são espaços construídos com base no uso geral, Ao contrário dos movimentos clássicos ba- na passagem e não na personalização como seados na divisão estrutural da sociedades, seja algo central. na dicotomia proletariado/burguesia, de Marx, ou Os movimentos de ocupação tomaram es- na de equilíbrio/desequilíbrio, parsoniana, e dos ses espaços públicos como forma de reinvindica- movimentos criados a partir da década de 1960, ção, como forma de centralização de um debate estabelecidos como movimentos culturais por específico, podendo assim reunir um número Alain Touraine (GOHN, 2010), pela sua fragmen- de pessoas em acampamentos. É interessante tação em lutas próprias, o movimento Occupy é perceber que o acampamento de desabrigados um vetor de unificação dessas lutas polarizadas é visto pelo autor como um não lugar, um espa- na forma de crítica sistêmica do capitalismo e do ço transitório em busca de um lar personaliza- mercado financeiro, como causas reais das desi- do. Então o que distinguiria o acampamento do gualdades, vistas de maneira clara por eles após Occupy como um lugar? a crise dos bancos de 2008. Por ter uma posição Os campos de ocupação se inserem na crítica em relação ao formato da sociedade, pode categoria de Lugar Antropológico utilizado pelo ser julgado como um movimento societal. autor, nela coexistem três características centrais: Através de movimentos de base, grassroot a identidade, a relacional e a histórica (AUGÉ, movements, típicos da construção social da de- 2010). A historicidade pode ser colocada em xe- mocracia americana, e das táticas de ocupação que devido a sua característica recente, porém, de espaços púbicos é criada uma ressignificação ela pode ser validada, especialmente em espaços de não lugares, trazendo para esses espaços urbanos, como forma de oposição a construção uma característica identitária, relacional e histó- e utilização histórica do local. A história nasce rica, baseada na contraposição a construção e da contraposição com a utilização anterior do utilização social daqueles espaços. espaço público. O propósito da ocupação não Movimento amplamente urbano, traz à é temporário, mas modificador, nela são cons- tona também o terceiro setor como formador truídas identidades e críticas a sociedade atual. e articulador de uma nova construção social e política. O espaço da fábrica, clássico nas lutas Reservamos o termo ‘lugar antropológico’ anticapitalistas, dá lugar à praça pública, carac- àquela construção concreta e simbólica do espaço que não poderia dar conta, somente terizada por sua pluralidade de pensamentos por ela, das vicissitudes e contradições da e locada no meio da cidade, no caso de Nova vida pessoal, mas a qual se referem todos Iorque, onde o movimento teve início, no centro aqueles a quem ela designa um lugar, por financeiro mundial. mais humilde e modesto que seja. É porque toda antropologia é antropologia da antropolo- Occupy Vanderbilt como resistência gia dos outros, além disso, que o lugar, o lugar antropológico é simultaneamente princípio de Fundada em 1857, a Universidade de sentido para aqueles que o habitam e princí- Vanderbilt é localizada na cidade de Nashville, no pio de inteligibilidade para quem o observa estado do Tennessee. Conhecida mundialmente O lugar antropológico tem escala variável. por sua tradição e excelência, sendo classificada (AUGÉ, 2010, p. 51). como 15ª melhor universidade nos EUA e 74ª na Academic Ranking of World Universities. É Afinal, o que é umOccupy ? a maior empregadora na cidade de Nashville, devido também a seu grande centro médico. O Occupy é um movimento transnacional Dona de um respeitável fundo financeiro, que utiliza das ferramentas globalizantes, como no valor de 4 bilhões de dólares, a Universidade um maior acesso às mídias sociais, para tecer de Vanderbilt tem investimentos por todo o globo.

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Ironicamente, um desses investimentos foi a pe- Assembleias gerais eram feitas semanalmente dra de toque do início da campanha de ocupa- como forma de deliberação do movimento e reu- ção da universidade. Juntamente com outras niões diárias no acampamento como forma de universidades, como a Universidade de Harvard, organizá-lo. Filmes eram transmitidos em um Vanderbilt tem investido, como se mostrou numa telão e o acampamento acabou tornando-se reportagem do jornal inglês The Guardian (2011), um espaço para diversos professores trazerem em empresas que promovem a desapropriação suas aulas e discutir o movimento e questões ilegal de terrenos na África, especialmente em relacionadas ao mesmo. Mais do que qualquer Moçambique, forçando a expulsão de fazendeiros coisa aquele ambiente virou um espaço livre de locais. A ausência de um guia oficial de diretrizes debate e articulação política fora do paradigma éticas para investimentos da universidade somou- tradicional, negando categorias como liderança, -se a mais dois fatores e viraram as principais partidos políticos e representatividade tradicio- metas do Occupy Vanderbilt, sendo os três: (1) nal, tentando suas deliberações através de uma um uso responsável do fundo de investimentos democracia direta. da universidade, somado a um guia de diretrizes O Occupy Vanderbilt se encerrou no dia 3 éticas para o mesmo; (2) mais voz para os mem- de maio com a chegada das férias de verão e bros da comunidade nas decisões que os afetam; esvaziamento da universidade, mas trouxe um e (3) melhores condições para os trabalhadores maior diálogo entre partes que pouco se comu- da universidade, que beiram a linha de pobreza nicavam politicamente na universidade, alunos estipulada pelo governo federal americano. e trabalhadores. A causa mais próxima e palpável utilizada pelo Occupy Vanderbilt foi a questão dos traba- lhadores, iniciada ainda em 2011 com a Living Wage Campaign15, e a consequente precariza- ção das suas condições. Em números de 2008, a diferença de salário entre o maior e o menor dentro da universidade foi contabilizado em uma taxa de 315 para 1. Fora isto, existe uma flexi- bilização do trabalho a partir de contratos que estabelecem a dispensa de grande parte dos funcionários durante o período de férias de ve- rão, colocando os mesmos em uma situação de vulnerabilidade social. Havia no movimento desde o início uma clareza que eles não podiam se colocar como os 99%, devido à alta renda dos estudantes que A ressignificação do não-lugar na pagam em torno de 50 mil dólares anuais para Vanderbilt estudarem, mas sim um senso de responsabi- lidade e fraternidade com a comunidade fora O Occupy Vanderbilt, movimento ao qual da universidade. O Occupy Vanderbilt começou acompanhei de perto, é um típico caso de não no dia 19 de março de 2012 em um rally com lugar ressignificado. A localização do acampa- aproximadamente 150 pessoas, entre elas re- mento foi escolhida na frente do Kirkland Hall, presentantes dos trabalhadores da universidade, prédio administrativo e sede do Chancellor Office, professores e membros do Occupy Nashville. escritório da reitoria. Em frente a esse espaço O movimento foi seguido por alguns teach-in, havia somente um retorno em formato de “U” para realizados desde antes da ocupação e protestos carros e um pequeno gramado ao centro: este dentro da universidade, como forma de pressio- gramado virou o acampamento. Ora, a função nar a reitoria para as demandas do movimento. deste gramado era meramente o preenchimento com algo para o retorno dos carros, intercalado ao meio com um pequeno corredor de pedras 15 Em português, Campanha pelo Salário Mínimo. para os transeuntes. Era um simples espaço

Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em 289 Pedro Torreão Sá de Almeida de passagem, nada mais. A partir do início do da Vanderbilt é bem oposto ao que acontece no acampamento, houve uma utilização social do nosso país, há uma estabilização de modelos espaço, a criação de significado integral para o políticos dentro da universidade, mas sem a ga- mesmo, criando identidades que se relacionavam rantia de uma combatividade baseada em uma a partir de uma construção histórica. Ali pessoas horizontalidade. acordavam, faziam refeições, discutiam, assistiam Outro grande processo mediador entre a filmes, se reuniam e dormiam. Uma construção minha relação e a minha combatividade era meu coletiva que ia além das barracas, mas algo ligado status dentro do movimento, como um estran- diretamente a um movimento global e identitário. geiro, abertamente etnógrafo e ativista político. Aulas ocorriam no espaço e membros de fora da Esses três status nem sempre se relacionam universidade começaram a frequentar o local. A entre si de maneira orgânica, uma vez que eu necessidade de autorização para estar naque- tinha um curto espaço de tempo não apenas le espaço através da carteira de identificação para entender o processo político dentro de uma da universidade, símbolo da impessoalidade da universidade a qual eu tinha acabado de chegar, supermodernidade descrita por Augé (2010) e como me fazer entender através de um inglês inicialmente exigida pelo controle da instituição, que por melhor que fosse não facilitava que mi- nunca foi pedida. A transformação em um lugar foi nhas mensagens fossem passadas facilmente. construída através do debate plural entre alunos, A etnografia também traz um contraste com o funcionários, professores e cidadãos externos ao papel de ativista político: até onde é o limite de ambiente do Occupy Vanderbilt. colocar suas opiniões sem que interfiram em excesso, ou pior, causem uma perda da con- Entre Homeros plurais: uma breve fiança do grupo em sua relação. Eu não tive o digressão etnográfica tempo de me socializar na universidade como um todo para entender os processos e ter como A etnografia pode ser entendida na relação traduzi-los no ambiente político. Ao contrário de entre a construção do exótico no familiar e o Geertz (2008), que correu com a maioria para familiar em exótico, comparado por Roberto da fugir de uma batida policial numa rinha de galos Matta, o primeiro como uma viagem homérica e o na sociedade balinesa e acabou por ser inserido segundo como uma viagem xamanística, devido a de maneira aberta, como ainda não havia acon- sua característica de verticalidade e interioridade tecido, eu “corri” com a minoria, um grupo entre (NUNES, 1978). Acredito que minha experiência trinta e cinquenta pessoas, num universo de doze na Vanderbilt teve muito de uma viagem homérica, mil, como forma de integração. Numa sociedade baseada em uma necessidade de familiarização como a norte-americana, altamente difundida de um processo exótico, uma vez que as relações globalmente e que nos passa a percepção de de construção políticas norte-americanas, e em pasteurizada, às vezes, a busca por um grupo especial a sua relação com ambiente universitá- específico e minoritário nos dá a percepção da rio, me soaram bastante caras a princípio. diferença. O movimento nasce junto com minha Meu envolvimento político dentro da percepção de ser diferente naquela sociedade, Universidade de Vanderbilt se construiu desde fato que viria a se consolidar mais dia após dia. o princípio, meio que sem querer, mas de manei- Após um teach in sobre as tomadas de terra ra bastante participativa. Estive presente desde patrocinadas pelos investimentos da Vanderbilt e a formação do movimento social, organizando algumas reuniões sobre a forma de ocupação e a montagem de suas primeiras barracas e de acampamento, lá fomos nós para o rally inicial, um suas primeiras assembleias deliberativas. Minha evento que contou com a participação de mais de participação foi de alguma maneira tutoreada por cem pessoas, incluindo estudantes, profissionais minhas experiências passadas dentro da vida da universidade, professores e membros de fora universitária no Brasil, dentro de um movimento da comunidade Vanderbilt. Esse contato externo que vem historicamente perdendo a sua repre- tem um peso muito grande para todos. A univer- sentatividade social como modelo único, como sidade é citada pelo próprio corpo administrativo, no exemplo da UNE ou dos partidos políticos através de e-mails, como a VandyBubble, ou inseridos dentro da universidade. O movimento Bolha-Vandy, por ser um universo a parte cravado

290 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle no meio da cidade de Nashville, com estudantes chamadas de GA (General Assembly16), tiveram que vem de diversas partes do país e do mundo, papel central na minha crise como etnógrafo sendo quase que auto-suficiente, ao contrário da e ativista político. Dentro do movimento, meus cidade de Nashville, tradicionalmente uma cidade posicionamentos foram se tornando, no final das conservadora e localizada no meio do Cinturão contas, medidos, meu medo de influenciar de da Bíblia, área dos EUA extremamente religiosa. maneira negativa a dinâmica presente e compro- Para a minha sorte, tudo que ocorria no meter minha etnografia teve seu ápice nesses campo era bem noticiado e divulgado, o que fez espaços. com que a cronologia dos fatos oficiais pudesse Como me posicionar em espaços delibera- ser feita de maneira mais facilitada ao pobre tivos? Desde o início do movimento eu tive esse projeto de antropólogo em questão. Blogs, ví- debate comigo de maneira frequente. O tradicio- deos, fotos, páginas no Facebook, Twitter e um nal movimento estudantil norte-americano é bas- inconveniente chat por mensagem de texto no tante institucionalizado, e como toda instituição celular me deixavam a par de tudo que acontecia acaba fechado a debates que são criados fora no acampamento em tempo real. A minha pre- do ambiente universitário e que fujam à política sença também era constante, costumava fazer as tradicional. refeições possíveis no local e conviver o máximo Na primeira Assembleia Geral do movi- de tempo possível. mento eu tive duas surpresas: a primeira foi O nosso acampamento se distinguia em imediata, com a participação de uma represen- quase tudo da normalidade quase que paca- tante do sindicato de trabalhadores de indústrias ta da Universidade de Vanderbilt. Assim como automotivas. Achei a participação algo bastante William Foote Whyte descreveu na introdução interessante para a formação do movimento e de “A Sociedade de Esquina” que o morador inserção do mesmo fora dos muros da univer- de High Street, uma rua elegante de Boston, ao sidade. Ajudei a representante, tentando fazer entrar em Connerville cruzaria a fronteira entre essa inserção e até repassando a ela um docu- o familiar e o desconhecido, o mesmo acontecia mentário do Eduardo Coutinho, Peões, sobre os com o estudante normal da universidade, ao metalúrgicos brasileiros. Porém veio logo após cruzar aquele acampamento: ele entrava em a segunda surpresa: os integrantes preferiram um terreno pouco conhecido, algo que não fazia não manter contato oficial com o sindicato, ou parte do cotidiano daquela instituição. qualquer representante, tendo como justificativa Aos poucos, aquele local de protesto, es- evitar que os alunos se assustassem com esse tranho para os próprios membros inicialmente, envolvimento. Mesmo sabendo que o papel dos foi se tornando algo extremamente familiar. Eram sindicatos nos EUA não é bem aceito por parte encontrados no espaço bolas de futebol, mesa de da sociedade, eu fiquei um pouco em choque: piquenique, certos ornamentos foram colocados como um movimento que está englobado numa para customizar o local, como luzes de natal. questão mundial poderia evitar um contato com Fora o sino da torre do Kirkland Hall que tocava a sociedade como este? Pela primeira vez eu me de hora em hora e não poderia ser parado, todo senti um ativista social estrangeiro, um outsider o resto foi adaptado para uma melhor forma de naquele momento. Fazer parte daquele movi- socialização de todos. mento não era apenas um momento histórico Algo que me impressionava no movimento global, mas também uma conjunção da história era a capacidade de informação que os membros dos movimentos sociais norte-americanos e mi- tinham do que acontecia ao redor do mundo. nha própria cultura. Resolvi, correndo todos os MST, revoltas estudantis no Chile, Zapatismo, riscos me posicionar num debate que nasceu a Indignados, revoltas na Grécia, nada estava fora partir desse momento: qual o papel dos movi- do radar daquelas pessoas. Esses protestos ser- mentos estudantis? Ter uma agenda específica viam como inspiração para o movimento - pen- da sua posição na sociedade ou interagir com sar novas formas de articulação estudantil fazia outros movimentos e colocar a sociedade em parte da agenda - tanto em conversas informais como em reuniões deliberativas. Essas reuniões, 16 Em português: Assembleias Gerais.

Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em 291 Pedro Torreão Sá de Almeida perspectiva dentro da universidade? Coloquei Sociedade de controle e Occupy Vanderbilt aos companheiros de movimento minha posição clara, que o movimento estudantil não existe A passagem das sociedades disciplinares sem a sociedade que envolve a universidade. para as sociedades de controle é o tema central Mesmo sabendo que eles entendiam o que eu desta seção. Tentaremos pensar como os mo- falava continuaram relutantes a ideia. vimentos de ocupação são tomados por valores Outros momentos de choque cultural acon- da sociedade de controle e como ao mesmo teceram durante minha passagem pelo movimen- tempo tentam se sobrepor aos tais, pensando to, sendo a maioria em relação à radicalização com mais especificidade oOccupy Vanderbilt, que do movimento. Dois momentos foram claros teve como bandeira uma luta contra a inserção para mim: o primeiro momento foi ao assistir um mercadológica transnacional da Universidade vídeo de protesto - muito bem organizado por de Vanderbilt. sinal, com direito a interrupção de uma recepção Pensar as caracterizações de controle so- de executivos de alimentação de universidades cial, tanto vindo da universidade, como do próprio de todo o país (VANDERBILT, 2012) - no qual movimento através de formações tecnológicas eles liam um texto, muito bem escrito, sobre as e pulverização do poder, em comparação com condições dos trabalhadores da universidade que sistemas disciplinares e altamente hierárquicos. recebiam abaixo da linha de pobreza dos EUA. Refletir sobre os espaços de ocupação tem como O protesto foi bem-sucedido nos seus planos, objetivo a inserção de tecnologias de controle mas o que me estranhou foi a excessiva educa- social, quanto a cartões e formas de identificação ção deles ao agradecer os executivos por terem e entrada ou proibição da mesma, dentro de uma escutado. O segundo choque foi quando surgiu perspectiva negativa, e ao mesmo tempo pen- a ideia de fazer um jornal com notícias falsas, sar o uso de recursos tecnológicos como forma imitando o original da universidade, ideia que de libertação e voltada para uma característica me trazia uma perspectiva de radicalização do central das sociedades de controle, o marketing, movimento, durante uma assembleia foi pensado pensado através e uma ótica revolucionária. formas de arrecadar o dinheiro necessário para Pensaremos essa sociedade de controle os custos, logo eu dei a ideia de consegui-lo ao dentro do universo da Vanderbilt através de três mesmo tempo da distribuição, sendo qualquer conceitos principais: primeiro a mediação social doação aceita, caso alguém quisesse contribuir. através da tecnologia e não mais do sujeito; se- A ideia foi totalmente rejeitada, pois era proibida gundo, o controle como algo interno e não mais a arrecadação de fundos por entidades não filia- totalmente externo; e terceiro através do posicio- das oficialmente a universidade e porque poderia namento mercadológico da universidade dentro causar uma má impressão ao corpo discente. de uma perspectiva transnacional e indireta, e Nesse exato momento houve a reviravolta na não mais baseada em fatores nacionais e diretos. minha etnografia, eu percebi que as regras, e por consequência o controle, estavam enraizadas Da sociedade disciplinar à sociedade de não somente na administração da universidade, controle mas neles próprios. A sociedade disciplinar é um conceito tra- Percebi que meus papéis de es- balhado por Foucault que tem como ponto central trangeiro e ativista social ali me levaram a o controle social estabelecido através do contato uma questão tanto de familiaridade como de direto entre os indivíduos. O exemplo central des- exotismo: eu consegui entender seus pon- sa sociedade são as construções panópticas, que tos de vista muito claramente e ao mesmo são pensadas através do encarceramento como tempo repensar os meus e resignificar toda forma de disciplina, ao saber que está sendo vi- aquela minha experiência com o Occupy. giado 24 horas por dia, no caso de prisões. Esse conceito traduz, por consequência, a necessidade de um sujeito como forma de efetivar a discipli- na, posta em prática em diversos níveis, como prisões, escolas ou hospitais. Modelo típico de

292 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle uma sociedade moderna, trabalhada a partir de passagem entre as duas formas de sociedade. modelos hierárquicos verticalizados e tipicamente Por ser uma universidade extremamente tradi- binários, estabelecidos entre quem domina e cional no país, e também de cunho elitista, são quem é dominado. usadas diversas formas de controle e disciplina Segundo alguns teóricos, com a ascen- dentro dela para adequação de seus estudantes. são das sociedades pós-modernas e ainda mais Tentarei enumerar algumas delas a seguir. com a entrada da globalização e derrocada dos Ao ser aceito na Universidade de Vanderbilt, Estados-nação como centros financeiros em detri- o aluno no primeiro ano obrigatoriamente vive mento dos blocos atuais, a perspectiva disciplinar no Commons, residência estudantil na qual é perde espaço para a Sociedade de Controle, dividida por casas em que residem alunos e um caracterizada por uma horizontalização, ou pul- professor mentor, que tem como responsabilidade verização dos centros de poder. A sociedade de guiar esses alunos dentro do meio-ambiente da controle não necessita mais das formas clássicas universidade. Vemos a partir desse caso uma atribuídas ao disciplinamento hierárquico, mas forma de controle a partir da disciplina, onde estabelece um tipo de autodisciplina, utilizando- esses alunos estão sujeitados, a sanções po- -se e de formas de controle que dispensam a sitivas ou negativas, em relação ao professor necessidade de um sujeito como observador ou que tem o cargo de fazê-los se adaptarem ao dotado de poderes punitivos. O uso de tecnolo- ambiente da universidade. Esse processo de gias como as máquinas, câmeras de vigilância socialização é colocado como importante para ou cartões tem como objetivo central trazer ao que os alunos adquiram responsabilidades na sujeito a questão do autocontrole, ou seja, uma passagem entre morar em casa e morar “sozi- vigilância permanente e dotada de poder sobre o nhos” na universidade. sujeito, papéis são adquiridos e desempenhados A partir do segundo ano em diante eles sem a necessidade da punição ou ameaça seja moram em outros dormitórios dentro da universi- diretamente atribuída a um sujeito. dade. A relação de sociedade de controle é mais Dentro de uma perspectiva mais macrosso- clara a partir deste ponto quando o processo de cial, podemos ver a derrocada do Estado-nação confinamento observado não é mais a pedra de no papel financeiro tradicional e a entrada da toque da socialização, a adaptação já está feita, transnacionalidade como perspectiva do mer- viver na órbita da universidade é o próximo passo cado. Os centros de poder não produzem mais, desses sujeitos. O controle através da disciplina entretanto importam seus materiais ou fazem não é mais necessário, como diria Deleuze: montagens com produção apenas de peças es- Passamos de um animal a outro, da toupeira pecíficas. A centralidade do mercado dessas à serpente, no regime em que vivemos, mas sociedades pós-modernas não está mais na ma- também na nossa maneira de viver e nas nos- terialidade, mas na imaterialidade, através do sas relações com outrem. O homem da disci- marketing e da venda de serviços e produção plina era um produtor descontínuo de energia, tecnológica ao redor do mundo. O triunfo dessa mas o homem do controle é antes ondulatório, forma de mercado faz com que as barreiras na- funcionando em órbita, num feixe contínuo. cionais percam suas fronteiras a partir de uma Por toda parte o surf já substituiu os antigos terceirização dos negócios a partir de fundo de esportes. (DELEUZE, 2012, p. 4). investimento, por exemplo. O primeiro exemplo A formação desses estudantes é dada atra- que podemos dar, entre a sociedade de controle vés dessa bifurcação entre a disciplina inicial e o Occupy Vanderbilt, nasce exatamente da e o controle que acontece logo após. Aliado a crítica dessa terceirização das responsabilidades essa política localizada no ambiente da univer- de investimento. sidade, as forças macrossociais determinam a necessidade do estudante de se estabelecer Universidade de Vanderbilt entre a como membros em potencial de um mercado de disciplina e o controle trabalho. O primeiro passo para essa adaptação A Universidade de Vanderbilt, e sua orga- é o entendimento do ambiente universitário como nização interna, podem ser pensadas como uma algo individualizado e com o objetivo central de

Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em 293 Pedro Torreão Sá de Almeida fortalecimento e aprimoramento técnico. O es- através de empresas que recebem o investimento paço crítico é colocado de lado. da universidade. A entrada do estudante em movimentos so- A crítica do movimento se centralizava den- ciais e organizações políticas fora do eixo oficial, tro da ausência de uma política de ética clara em mais partidarizado e credenciado oficialmente na relação a investimentos financeiros, ou seja, a universidade, são vistos como um desvio dentro partir da responsabilização não somente de quem desse espectro inicial de socialização. Contudo, atua como fim de uma cadeia nociva globalmente, formas de punição claras não podem ser feitas mas também por aqueles que mesmo sem toma- contra os mesmos. Porém, formas latentes como da de decisão final acabam por financiar essas o descrédito dos mesmos perante o corpo dis- atitudes, mesmo que sendo de forma indireta. Ao cente é um fato claro. O controle é estabelecido colocar em xeque esse posicionamento oficial da pela necessidade de estar envolto dentro dessa universidade, esse grupo de estudantes está se órbita universitária, ou certas sanções extraofi- sobrepondo a uma política do mercado de ter- ciais, como a depreciação do movimento, pode ceirização de responsabilidades e globalização ser colocada em ação. feroz, ao mesmo tempo em que se diferenciam Contudo, o Occupy Vanderbilt conseguiu do corpo discente, focado especialmente em se estabelecer no meio do caminho desse con- suas funções técnicas e tecnológicas ordinárias trole social. Uma vez que a sua superação é dentro do ambiente universitário. Através desse algo extremamente difícil – vale ressaltar que os gatilho a crítica a uma sociedade baseada em próprios membros do movimento se perguntavam uma organização econômica transnacional entra sobre os limites da sua participação – e penosa na agenda política do grupo. socialmente. Porém novas formas de organização Quanto ao mercado, é conquistado ora por social tem surgido no ambiente universitário. É especialização, ora por colonização, ora por importante frisar a sua necessidade dentro de redução dos custos de produção. Mas atual- uma sociedade de controle. mente o capitalismo não é mais dirigido para Uma das questões mais importantes diria a produção, relegada com frequência à perife- respeito à inaptidão dos sindicatos: ligados, ria do Terceiro Mundo, mesmo sob as formas por toda sua história, à luta contra disciplinas complexas do têxtil, da metalurgia ou do pe- ou nos meios de confinamento, conseguirão tróleo. É um capitalismo de sobre-produção. adaptar-se ou cederão o lugar a novas formas Não compra mais matéria-prima e já não ven- de resistência contra as sociedades de con- de produtos acabados: compra produtos aca- trole? (DELEUZE, 2012, p.6). bados, ou monta peças destacadas. O que ele quer vender são serviços, e o que quer A superação da condição da sociedade comprar são ações. (DELEUZE, 2012, p. 4). de controle claramente não é papel do Occupy A expansão dessa crítica pôde ser sentida Vanderbilt, pelo seu tamanho e vínculo universi- através de movimentações não somente contra tário, mas a sua inserção em movimentos sociais a universidade, mas campanhas contra grandes que visam à superação dos modelos clássicos de redes de supermercados que ressoaram no mo- organização social os posiciona no caminho des- vimento de ocupação na Vanderbilt. As ações se controle, tendo eles dimensão disso ou não. não são focadas apenas nas relações formais, tradicionais e diretas de trabalho – mesmo essas Occupy Vanderbilt e a crítica ao mercado. sendo alvo do grupo também, por exemplo, a Um dos principais pontos da agenda de campanha pelo piso salarial dos trabalhadores de ações do Occupy Vanderbilt foi a questão da refeitório da Vanderbilt -, mas também nas esco- ética dentro da política de investimentos da uni- lhas mercadológicas mais fluidas, como formas versidade. O jornal inglês The Guardian (2011), de investimento e conglomerados econômicos. como pôde ser visto anteriormente, denunciou Vemos nesse ponto uma oposição clara casos de tomadas de terra na África, especi- às formas de controle que atingem não somente ficamente nesse caso em Moçambique, feitas individualmente, mas também de forma coletiva

294 Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em Occupy Vanderbilt: uma experiência entre o ativismo social e a sociedade de controle e sua repercussão através do planeta, e não difundidos na internet como forma de busca da somente local. participação estudantil naqueles espaços. Existe uma dupla caracterização dessa Occupy Vanderbilt e o uso da tecnologia vigilância constante nos ambientes de ocupa- para controle e libertação ção. A primeira tem um lado negativo, que é um maior controle através dos meios de comunicação O uso da tecnologia, segundo Deleuze dos atos estudantis. Isso não é algo somente (2012), é um dos pontos de distinção mais claros sentido nos EUA, as organizações de protestos entre as sociedades disciplinar e de controle. Na no Brasil através de redes sociais são constan- segunda, o uso de tecnologia é essencial como temente monitoradas por órgãos repressores. forma de vigiar os indivíduos e fazer com que A segunda, e positiva, é uma dinamização dos eles se autocontrolem. Ao contrário da sociedade movimentos sociais em rede. Seria impossível disciplinar, onde o controle remetia ao confina- a criação dos movimentos globais de ocupação mento, na segunda não existe uma relação com sem as redes sociais, e consequentemente elas o posicionamento espacial do sujeito, mas um conseguem criar vínculos entre os movimentos tracking de mensagens, pensando a comunicação estabelecendo agendas comuns. Um exemplo como algo cotidianamente perigoso e sujeito a dessa rede relacionado ao Occupy Vanderbilt vigilância, digamos assim. foi na sua formação, onde as barracas utilizadas Há aqui uma modificação no sentido de vigi- foram enviadas pelo . lância, que passa da sociedade disciplinar à Um ponto intrigante, contudo, é o moni- sociedade de controle. Na primeira, a ideia toramento dentro do próprio grupo através da de vigilância remetia ao confinamento e, por- tecnologia. Pontos positivos e negativos podem tanto, à situação física que caracterizava as ser misturados quando falamos dentro dessa preocupações dessa sociedade. O problema perspectiva. Pensar que o membro está envolto era o movimento físico dos indivíduos, seu em informações sobre tudo que acontece, sen- deslocamento espacial. Vigiar era, basica- do as mesmas mediadas por grupos de SMS mente, regular os passos das pessoas, era em tempo real nos telefones, Facebook, Twitter olhar. Com a explosão das comunicações, uma nova figura ganha força: a vigilância das e diversas outras ferramentas, faz com que o mensagens, do trânsito de comunicações. contato fique fechado a um grupo específico de (COSTA, 2004, p. 164). interessados. A informação chega bastante di- recionada, perdendo assim o embate presencial Dentro do Occupy Vanderbilt nós podemos de ideias com pessoas contrárias às difundidas. distinguir esse tipo de vigilância tecnológica Um simples apertar de botão estabelece se você em dois momentos distintos: o primeiro sendo quer ou não se informar sobre aquilo, perde-se a partir de uma vigilância individual, quando a assim a surpresa do cotidiano. universidade cobra dos participantes um tipo Porém, muita da ingenuidade nas redes de identificação digital, em um cartão, para sociais foi perdida, havendo a necessidade de participar do movimento, tendo a característica protestos que precisam ser organizados secreta- de identificação clássica e também como mente, e geralmente são postas em prática com forma de permissão para entrar em prédios da sucesso, o Occupy Vanderbilt, por exemplo, in- universidade (e outras funções também, como vadiu uma reunião de executivos de alimentação de dinheiro eletrônico dentro da universidade), de universidades norte-americanas. Também, por exemplo, necessário para aqueles que através das redes, é possível rastrear a agenda ocupam o acampamento para ir ao banheiro e dos executivos da universidade e saber quando situações semelhantes; e em segundo lugar, a é interessante marcar presença. vigilância digital, a partir de redes sociais, onde são organizados os atos dos eventos. Através Conclusões dessas redes a universidade era capaz de saber antecipadamente os atos dos ocupantes, Os acontecimentos nos EUA definitivamen- como assembleias gerais e protestos, altamente te não começaram em 2011, como a data cro- nológica dos futuros livros de história mostrará,

Emancipação, Ponta Grossa, 15 (2): 279-297, 2015. Disponível em 295 Pedro Torreão Sá de Almeida mas teve início em 2008. Sequer tiveram como socializados, mas acima de tudo, indo contra uma “maternidade” a cidade de Nova Iorque, ele teve política de mercado, se inserindo dentro de uma início em cada revolução acontecida pós 2008, crítica contemporânea a sociedade que vivem. desde as revoltas democráticas no Norte da África Fazer isso não é fácil e com a proximidade dos até a organização estudantil chilena. O povo fatos, ainda é muito pouco palpável. norte-americano cedeu o palco para o que o Concluo, assim, que os movimentos de mundo queria demonstrar fazia muito tempo. O ocupação tiveram como ponto central uma crítica descontentamento com uma economia de mer- ao mercado e ao sistema democrático vigen- cado que tem como estratégia a exclusão dos te, fugindo assim dos modelos de movimentos indivíduos do processo produtivo e uma demo- sociais que funcionavam a partir de agendas cracia participativa que terceiriza a tomada de próprias e segmentadas. O espaço da cidade decisões. Os movimentos de ocupação, e sua pôde unir essas diferentes agendas e concentrá- reverberação global, trouxeram consigo a utiliza- -las. A utilização de redes sociais, globalizando ção das armas do inimigo, como a globalização o discurso, teve papel fundamental na expansão desenfreada, para um fim de justiça social. As desses movimentos por todos os continentes em redes sociais ajudaram nesse processo, que busca de um objetivo: justiça social17. antes de qualquer coisa é um grito democrático de uma porção de excluídos. Referências Encaixar essa nova forma de participação nas teorias clássicas e contemporâneas não é ALCAIDE, Soledad. Movimiento 15-M: los ciudadanos exigen reconstruir la democracia. 2011. Disponível fácil, pois suas técnicas e formas de ação já são em: . Acesso em: pluralidade é algo muito novo. O movimento de 17 maio 2011. ocupação une os movimentos sociais setoriza- dos desde a década de 1970 em torno de um AUGÉ, Marc. Não lugares: introdução a uma conteúdo principal, sem jamais haver uma perda antropologia da supermodernidade. 9. ed. Campinas: de suas demandas. A cidade é palco dessas Papirus, 2010. 111 p. transformações e da tomada do espaço público BAKER, Al; MOYNIHAN, Colin; NIR, Sarah Maslin. como reivindicação e como direito do cidadão. O Police Arrest More Than 700 Protesters on Brooklyn uso do sociólogo Alain Touraine é importante para Bridge. 2011. Disponível em: . Acesso em: 01 out. 2011. A etnografia teve papel fundamental no BRYM, Robert et al. Sociologia: sua bússola para trabalho como forma de pensar esse movimen- um novo mundo. São Paulo: Thomson, 2006. 585 p. to à luz do que estava acontecendo. Menos de 6 meses depois do primeiro acampamento no CEASER, Stephen. UC to pay nearly $1 million in UC Zucotti Park, em Nova Iorque, eu estava dentro de Davis pepper-spray settlement. 2012. Disponível em: uma barraca, tentando entender um movimento . Acesso em: 26 set. 2012. global que acontecia. O seu entendimento não foi fácil, ainda mais por estar em um país diferen- COSTA, Rogério da. Sociedade de Controle. São te, mas enriqueceu minha visão como cientista Paulo Em Perspectiva, São Paulo, v. 1, n. 18, p.161- social tanto como forma de aprimoramento em 167, 2004. um método, como na capacidade de poder ligar o pensamento a teoria. Escutar o anthropological blues (NUNES, 1978) é algo singular. Á luz dos fatos da etnografia, pude traçar 17 No início de 2013 foi revelado pelo The Oakland Institute, que um perfil do Occupy Vanderbilt como um movi- trata de questões relacionadas a sociedade, meio ambiente e economia, que a Universidade Vanderbilt, pela primeira vez na mento que tentou parar as forças de uma socieda- história retirou um investimento por pressão estudantil, o docu- de de controle, ora usando as táticas do inimigo, mento cita que nem investimentos da universidade em empresas que apoiavam o apartheid tinha sido retiradas, anteriormente, em outros momentos esquecendo a interioriza- um marco histórico para o movimento estudantil da universidade ção disciplinadora ao qual os integrantes foram (MITTAL, 2013).

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