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A FORMAÇÃO TERRITORIAL E O PROCESSSO DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE -AM

Omar Neto Pio de Almeida1 Jubrael Mesquita da Silva2

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi analisar a formação territorial da cidade de Pauini-Am, para uma compreensão da organização sócioespacial. Este trabalho apresenta grande importância para a geografia urbana da Amazônia por se tratar de uma pesquisa pioneira que relata a gênese desta cidade, através dos condicionantes espaço e tempo, visto que, não se tem estudos publicados que aborde esta temática. A metodologia baseou-se em levantamentos bibliográficos, entrevistas estruturadas com moradores da cidade de Pauini. As entrevistas foram baseadas por meio da história oral que direcionou uma avaliação argumentativa de como ocorreu a ocupação deste território. Pauini é um município brasileiro localizado na mesorregião sul do Estado do Amazonas, e na microrregião de Boca do . De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2010) a cidade está situada à margem esquerda do Rio Purus, com distância de 915 km em linha reta e 2.115 km por via fluvial da capital do estado (), a população é de proximadamente 19.265 habitantes. A formação territorial da cidade remonta de um período histórico de missões e evangelizações jesuíticas no alto Rio Purus, vinculados aos interesses econômicos do capital. Somente a partir destas explorações podemos ter informações sobre a gênese da cidade, as primeiras explorações ao longo do Rio Purus datam de meados do século XIX. Pauini surge como fruto destes períodos da história, e se constrói como um lugar monótono onde fenômeno urbano tem se intensificado de forma peculiar dos demais lugares. A cidade de Pauini assim como as demais cidades da Amazônia foi constituída por meio do processo de colonização e exploração de suas riquezas naturais. Pauini apesar de ser uma cidade de pequeno porte apresenta diversos problemas socioambientais que prejudica a qualidade de vida, e muitos problemas estão relacionados com o processo de ocupação. Todavia essa pesquisa torna-se primordial, pois contribuirá para reconhecimento cientifico sobre a origem da cidade, e também servirá como auxilio para que o poder público venha desenvolver políticas de planejamento urbano adequado para melhoria da qualidade de vida dos citadinos.

PALAVRAS- CHAVE: Território, cidade, Pauini.

INTRODUÇÃO As cidades atuais na Amazônia brasileira caracterizam-se por uma específica produção espacial, constituindo uma totalidade social engendrada no espaço e tempo, que particulariza o uso fragmentado do espaço, instituindo uma contradição, pois "são articuladas a relações

1 Graduando Licenciatura em Geografia pela universidade do Estado do Amazonas-UEA do Centro de Estudo Superiores de Tefé-CEST. 2 Professor Mestre Adjunto do quadro de Geografia da universidade do Estado do Amazonas-UEA- Centro de Estudos Superiores de Tefé-CEST.

2 pretéritas caracterizadas pela inércia e, ao mesmo tempo, articuladas a dinamicidades contemporâneas que as ligam ao mundo..." (OLIVEIRA, 2004. p.7). A partir disso, o objetivo deste trabalho foi analisar a formação territorial da cidade de Pauini-AM. Este trabalho apresenta grande importância para a cidade de Pauini por se tratar de uma pesquisa pioneira, pois relata a gênese de Pauini por meio dos condicionantes espaço e tempo, visto que, não se tem estudos publicados que discute sobre esta temática. A metodologia que baseou esta pesquisa foram levantamentos bibliográficos, entrevistas estruturadas com moradores de Pauini. Por meio da história oral houve uma avaliação argumentativa de como ocorreu à ocupação do território de Pauini. Para uma fundamentação mais aprofundada do assunto, utilizou-se como base teórica autores que retratasse a Amazônia para uma compreensão melhor do processo de ocupação da cidade de Pauini. Para compreendermos o território é necessário primeiro intitular uma noção de espaço. Santos & Silveira (2009, p.19.) argumenta que “a linguagem continuada frequentemente confunde território e espaço”. O espaço é formado por um conjunto de objetos e relações resultado da ação do homem sobre o próprio espaço, mediado pelas transformações oriundas das técnicas (SANTOS, 1988).

O espaço também pode ser definido como resultado das relações fragmentadas e articuladas ou de um reflexo do quadro social, um conjunto de elementos que transita o território em dimensões, materializada nas formas espaciais (CORRÊA, 1989). Na medida em que o espaço se individualiza, tornando-se um recorte elementar do próprio espaço, legitimado pelas ações humanas sobre domínio do capital cria uma forma de poder, formando, assim fragmentos da dimensão do espaço estabelecendo o território de apropriação desigual das relações existentes. O território também pode ser classificado como um domínio do Estado, implantado pela infraestrutura, mas, também pelo dinamismo das relações socioeconômicas, vinculadas ao meio de produção e movimento de populações, que dá arcabouço para legislação (civil, fiscal e financeira) que configura uma nova expressão do espaço geográfico ligado à forma social da cidadania (SANTOS & SILVEIRA, 2009).

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A formação territorial da cidade de Pauini - AM remonta fragmentos de um período de ocupação jesuítica nos rios da Amazônia. Desta forma, busca-se uma compreensão da organização territorial concebida pelos condicionantes espaciais para uma argumentação mais apropriada da formação territorial da cidade.

UMA BREVE ABORDAGEM DA CIDADE DE PAUINI-AM Pauini-AM é um município brasileiro localizado na mesorregião sul do Estado do Amazonas, e na microrregião de . De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2010) a cidade está situada à margem esquerda do Rio Purus, com distância de 915 km em linha reta e 2.115 km por via fluvial da capital do estado (Manaus), conforme a figura 1. A população é de proximadamente 19.265 habitantes. O município depende basicamente da agricultura familiar e de repasses do governo federal e estadual, não possui renda própria, no entanto, apresenta uma relativa produção bovina que abastece o mercado local (IBGE, 2010). Figura 1. Localização da cidade de Pauini-Amazonas

Fonte: IBGE, 2015. Org.: ALVES, 2015.

Pauini é uma pequena cidade localizada à margem esquerda do Rio Purus, constituindo assim, o rol das cidades ribeirinhas em meio à densa floresta amazônica, o

4 principal meio de ligação de Pauini com as demais cidades são pelos rios, que expressa uma dificuldade para se chegar até a referida cidade. Atualmente o espaço urbano de Pauini é composto por dez bairros que expressa os requisitos da segregação espacial resultado de um processo de integração relativizada (QUEIROZ, 2016). Apesar do desenvolvimento em Pauini se construir de forma lenta, a paisagem natural tem se transformado numa paisagem artificial, e tem dispersado para longe a exuberância da natureza junto com o cantar dos pássaros. O centro urbano de Pauini apresenta uma elevada incidência de problemas socioambientais. Os ruídos sonoros oriundos de diversas fontes que se propagam na cidade, tem tornando o espaço habitado, um espaço caótico para a população, sem políticas públicas adequadas que resulta na precarização de saneamento básico. O planejamento urbano em Pauini é inadequado, a cidade se configura de forma desordenada segregando os lugares sobre a condição monetária de cada sujeito, no entanto, é dever da esfera municipal desenvolver funções sociais que assegure o bem - estar dos citadinos, conforme previsto na lei orgânica do município no Art.2883. Pauini além de se configurar como um lugar caótico apresenta um grande índice de analfabetismo, pois muitos dos moradores nunca tiveram acesso ao ensino escolar (IBGE, 1991). A cidade emergida no período de colonização e exploração de produtos extrativistas, expressa em seu dia-a-dia enquanto cidade requisitos de uma integração relativizada. Segundo Queiroz (2016 p. 197):

[...] a integração relativizada se configura como uma integração territorial sob condicionantes de uma modernização incompleta e uma globalização relativizada. Presume-se que os agentes deste processo de integração a promovem tanto ao curso da globalização quanto ao meio geográfico contemporâneo, o meio técnico- científico-informacional.

É importante destacar que não basta somente integrar ao fluxo da globalização, é necessário investimentos nas condições básicas para que os objetos e ações tenham condições

3 Art. 288. A política urbana a ser formulada no âmbito do processo de planejamento municipal terá por objetivo o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e do bem - estar dos seus habitantes, em consonância com as políticas sociais e economia do município. (Lei Orgânica do município de Pauini-Am revisada em 2013).

5 no mínimo de percorrer seus cursos de integração. Dando adereço para uma globalização completa produzindo uma integração dos espaços. Entretanto, Pauini apresenta característica de uma produção territorial na qual se insere uma grotesca urbanização, constituindo assim, um intenso processo de integração relativizada do espaço. Que implica diretamente na qualidade de vida dos citadinos que coabitam o território.

PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO ÀS MARGENS DO RIO PURUS A produção do espaço urbano na Amazônia iniciou durante o processo de colonização, incumbida ao modo de vida sedentária dos colonizadores. Essa forma de ocupação significou “uma forma peculiar de colonização que longe de acrescentar novos contingentes humanos à área, sangrava-os ininterruptamente em suas populações indígenas” (OLIVEIRA, 2000 p. 192). Essa ocupação visava os interesses econômicos das metrópoles, que influenciou diretamente na construção dos espaços - tendo em vista que a organização espacial tem suas raízes vinculadas ao modo de vida dos colonizadores. Na metade do século XVII, os habitantes nativos da Amazônia se depararam com a chegada dos primeiros colonizadores. Foi a partir deste momento que iniciou o processo de produção dos espaços urbanos na Amazônia, que posteriormente resultou na urbanização desigual dos espaços. Para compreendermos a produção do espaço urbano amazônico, é importante compreendermos, sobretudo, as relações que determinam a organização espacial e a formação territorial dos municípios amazônicos, sobre o paradoxo que sustenta a análise do espaço. Nas concepções de Santos (2009, p. 39). “O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”. Desse modo, entende-se que a produção do espaço se dá por meio de uma gama de relações envolvendo um conjunto contraditório de sistemas de objetos e sistemas ações, na qual a história se reproduz como um conjunto inseparável entre o homem e o meio, norteada pela a técnica de produção dos espaços (SANTOS, 2009).

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Neste cenário de produção e reprodução do espaço, se insere a historicidade de cada cidade, enquanto processo civilizatório do homem em determinado território. Mediante essa lógica, podemos classificar urbano a partir de seus aparelhos que constitui uma cidade, permitindo levar em consideração os aspectos que caracteriza as relações que intercruzam os territórios direcionados ao conceito de espaço urbano. Neste sentido Corrêa (1989, p. 7) afirma que:

O espaço urbano da cidade é símultaneamente fragmentado e articulado: cada uma de suas partes mantém relações espaciais com os demais, ainda que de intensidade muito variável. Estas relações manifestam-se empiricamente através de fluxos de veículos e de pessoas associadas às operações de cargas e descargas de mercadoria, aos deslocamentos quotidianos entre as áreas residências e os diversos locais de trabalho.

As relações existentes no espaço urbano simultaneamente podem ocorrer de forma fragmentada e articulada, essas relações se manifestam através dos relacionamentos cotidianos dos indivíduos de uma cidade que mantêm relações espaciais (sociais, econômicas ou políticas) na medida em que cada fenômeno discorre sobre seus espaços. Essas relações interligam os indivíduos que coabitam em diferentes espaços. A modificação do espaço urbano tem influenciado diretamente na transformação da paisagem. Desta forma, a reprodução do espaço se configura em um grande crescimento urbanístico, estas conjunturas do desenvolvimento urbano contribuem para que a cidade se apresente em diferentes modelos paisagísticos (CARLOS, 2009). A Amazônia por sua difícil penetração torna-se um dos últimos territórios explorado pelos diversos povos do período colonial. Durante o processo de colonização milhares de índios tiveram seus modos de vida e cultura totalmente ignoradas. Para Martins (1938, p. 35), “a Amazônia foi e ainda é um mundo à parte, tanto pela vastidão como pela floresta densa e impenetrável que a cobre. Seu povoamento se deu lentamente e continua ainda hoje.” Pelo fato da Amazônia se caracterizar como uma floresta densa e difícil, sua ocupação se deu de forma lenta que reflete até os dias atuais. A singularidade da região amazônica faz com que a produção de seus espaços ocorra diferente das demais regiões país. A Amazônia apresenta diversas características que promove uma heterogeneidade, suas peculiaridades são tantas que os espaços urbanos foram e continuam sendo construindo com diferentes padrões (OLIVEIRA, 2008).

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A relação homem-natureza se dá de forma intensa, neste contexto é uma complexidade considerar o caboclo amazônico separado da natureza, pois este tem um vínculo maior com os recursos naturais para manter o sustento de suas famílias. Entender a historicidade que nos remete a formação territorial da Amazônia é relevante considerar as contribuições advindas do período colonial da borracha, tal processo de produção da borracha, conduziram centenas de imigrantes aos altos rios Madeira, Juruá e Purus (NOGUEIRA, 2000). É a partir deste momento da história em meados do século XIX que se iniciam as primeiras expedições ao longo Rio Purus, e consequentemente ocorre a primeira manifestação de produção do espaço urbano às margens deste rio. Paradoxalmente e deste período que surgem os primeiros relatos sobre o processo de produção do espaço às margens do Rio Purus, que constituíram os primeiros povoados que recebeu o nome de seringal. Os seringais expressaram a mais intensa manifestação de imigrante vindo de vários lugares para exploração das seringueiras (produção da borracha) principalmente, imigrantes nordestinos (BENCHIMOL, 2009). Os imigrantes influenciados pelo sonho de fazer riqueza na Amazônia foram os principais responsáveis pelo povoamento da região e também contribuíram com o surgimento das primeiras cidades ribeirinhas no interior do Amazonas. As missões jesuíticas também foram responsáveis pelos primeiros núcleos urbanos, pois acompanham de perto o processo de produção da borracha, catequizando os nativos selvagens da região nos núcleos urbanos formados pelos imigrantes. Com as missões jesuíticas surgem no interior os primeiros equipamentos sociais de características urbanos pertencentes à cidade, como: as igrejas, escolas, hospitais, entre outros. Os seringais após vários anos de trabalhos escravos, com o declínio da produção da borracha esses espaços vão sendo abandonados pelos coronéis de barranco4. Com este abandono também é deixado para trás uma quantidade relativa de imigrantes, que vieram para a Amazônia em busca de uma melhor qualidade vida.

4 Os seringalistas proprietários de seringais passaram a ser coronéis de barranco, em respeito ao seu poder e riqueza. (Benchimol, 2009)

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Com completa desvalorização da borracha os Arigós5, começaram a procura os maiores povoados que tinham igrejas, escolas para seus filhos (BENCHIMOL, 2009) e passaram a formar os primeiros núcleos urbanos às margens do rio Purus. Foram sobre essas condições desumanas que se manifestaram a produção urbana no alto Rio Purus, cuja finalidade era apenas de exploração e exportação da borracha, essas marcas de um passado turbulento encontram-se entranhadas na historicidade das cidades ribeirinhas. Essas contradições e conflitos por terra imperam até os dias atuais. Desta forma, Carlos (2009, p. 68) ressalta que:

A cidade enquanto produto histórico e social tem relações com a sociedade em seu conjunto, com os elementos constitutivos, e com sua história. Portanto, ela vai se transformando à medida que a sociedade como um todo se modifica.

Mediante as concepções da autora a cidade expressa em sua aparência marcas de produto histórico e social, entrelaçados nos elementos constitutivos da cidade se modifica na medida em que a sociedade se transforma. As cidades contemporâneas expressam a mais intensa manifestação da produção do espaço, o que pode ser caracterizado pelas transfigurações que alteram totalmente as dinâmicas e processos sociais que particulariza cada espaço. Neste contexto, faz-se necessário compreender o espaço para uma elaboração das cidades, discorrendo sobre o período de ocupação histórica. Nessa perspectiva Oliveira (2000, p, 191) esclarece que:

As cidades da Amazônia não são apenas fenômenos localizados num espaço geográfico, mas determinações de espaço e tempo enquanto produtos históricos que ultrapassam a noção de localização e de duração para vincular-se à dimensão da história e da produção e reprodução não apenas de objetos, mas principalmente da vida.

Dessa forma, a cidade expressa formas de aplicação fenomênica das relações sociais, objeto da forma de representação do domínio das classes (CARLOS, 2009). A historicidade particular das cidades da Amazônia nos conduz a uma concepção de espaços heterogêneos, que cada cidade expressão da reprodução urbana.

5 De calça frouxa de mescla, chapéu de palha virado, blusa larga de algodão, mochila às costas, alpercata de rabicho, barba grande. Andava aos bandos à procura de emprego. Por isso, o povo local da Amazônia, no seu provincianismo, apelidou os arrivistas de arigós. (Benchimol, 2009).

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As cidades da Amazônia, não são apenas pontos localizados na densa floresta amazônica ou às margens dos imensos rios, entretanto, elas se caracterizam como ponto de partida das relações contraditórias emergida do intenso processo de produção capitalista.

FORMAÇÃO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE PAUINI Sobre a égide da colonização e dos interesses econômicos do capital pela Amazônia, inteiramente ligado ao movimento da Igreja Católica, cria-se o município de Pauini (ex- povoado Terruã). O surgimento dos municípios no interior do Estado do Amazonas, sobretudo, às margens dos altos rios Purus, Juruá e Madeira, remonta um período histórico de evangelizações jesuíticas na Amazônia (TORRES, 2007). O município de Pauini, fruto do período de missões jesuítas, enquanto, distrito do município de Lábrea - AM era denominado de Terruã6. Com a lei estadual nº 96, de 1955, Terruã foi desmembrado do Município de Lábrea- AM, e passou a se denominado de município recebendo a nomenclatura de Pauini (IBGE, 2010). Conforme a figura 2 a transformação da Paisagem em período de tempo.

Figura 2. 1949 primeiro registro fotográfico do povoado. E atual lugar em 2015.

Fonte. PAROQUIA DE SANTOS AGOSTINHO

6 Terruã: nome que deriva da língua indígena Apurinã que significa lugar onde habita um monstro.

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De acordo com os relatos dos entrevistados o município recebe essa nomenclatura de “Pauini” pela sua proximidade com o rio Pauini, é o principal afluente do Purus, e no período da borracha exerceu uma influência na produção, devido à quantidade de massa migratória que recebeu para trabalhar nos seringais7. Alguns seringais como Sacado do Humaitá, e Vila Calmon foram grandes produtores de borracha às margens do rio Pauini. No território de Terruã habitavam populações indígenas dispersas em meio à densa floresta e nas margens dos rios. Mas, com a ocupação de seus territórios, os povos indígenas adentraram no interior da floresta se dispersando (BATISTA, 2007). É importante salientara as datações das expedições exploratórias sobre os leitos do rio Purus é necessário para compreendermos a formação territorial da cidade de Pauini - AM, por meio dos relatos sobre o modo de vida dos habitantes da região. Em de meados do século XIX, impulsionado pelos interesses econômicos da Amazônia, João da Cunha Corrêa (João Cametá) viajou muitos dias acima da jusante desse rio coletando especiarias encontradas somente na Amazônia (MIGUEIS, 2011). Essas expedições abriram caminho para uma desenfreada corrida por conquista de novos territórios, em seu conceito o território expressado por recorte do espaço, apresenta-se como uma forma de apropriação e poder. Costa apud Costa (2010 p, 166) argumenta que: “O território pode ser concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das relações econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estreitamente cultural”. Essa conquista desencadeou várias expedições em busca de novos territórios em função do poder e amplamente em busca de riquezas ainda não exploradas. Com esse pressuposto em 1852 o governo do estado com o interesse de explorar a região do alto Rio Purus condicionado ao processo de expansão da Amazônia, Tenreiro Aranha (presidente da província do Amazonas) envia de Manaus uma expedição para explorar a região, visando encontrar ligação com o rio Madeira através dos leitos do rio Purus. Em 1854 outra expedição transcorre os leitos do rio Purus liderado por ordem jesuítica denominada missão de São Luís Gonzaga. Essa expedição funda o primeiro núcleo populacional às margens do rio Purus. Nessa ocasião, frei Pedro Coriana reúne índios de

7 Povoado onde trabalhava e moravam os trabalhadores da fase áurea da borracha.

11 várias etnias, como: Muras, Cauinicis, Mamurus, Jamamadis, Purupurus entre outros para catequiza-los e, consequentemente construir a primeira paróquia no Rio Purus. A primeira missão estabeleceu-se na foz do rio Ituxi, sendo nomeada de Nossa Senhora de Nazaré do Rio Ituxi e tendo como superior o Capuchinho frei Pedro de Coriana (MIGUEIS 2011). Em 1869 influenciado pela produção da borracha chega à região os primeiros nordestinos junto ao pioneiro comendador João Gabriel de Carvalho e Melo. Em 1871 a migração chefiada pelo coronel Antonio Rodrigues Pereira Labre, se estabelece no lugar onde é hoje o atual território da cidade de Lábrea-AM visando a retirada do látex da seringueira para a produção da borracha. No ano de 1878, João Gabriel de Carvalho e Melo aprofunda sua acuidade no rio Purus com intuito de explorar as riquezas naturais existentes na Amazônia, que na visão dos colonizadores, a região da bacia do rio Purus era uma terra despovoada. Após a descida ao rio Purus João Gabriel de Carvalho e Melo desembarca com vários companheiros, na confluência entre os Rios Acre e Purus, visando o aumento exploratório do arsenal de produção da borracha, com quantidade relativa de imigrantes nordestinos para trabalhar nos seringais. Os ciclos de expedições que perpassaram os leitos do rio Purus, exerceram um papel importante, pois, descrevem os primeiros acontecimentos às margens do exuberante rio, permitindo assim, compreender como ocorreu o fenômeno de expansão e ocupação da fronteira sul do amazonas, oriundas de coleta de especiarias despertando sucessivas ambições na conquista de novos territórios de poder. Neste cenário Almeida & Soares (2009 p, 74) afirmam que:

O território não se entende apenas como entorno físico onde se desenrola a vida humana, animal e vegetal e onde são contidos os recursos materiais, mas compreende também a atividade do homem que modifica esse espaço. É o chão mais popular, ou seja, uma identidade, o fato de pertencer aquilo que nos pertence.

Atual território de Pauini foi tendo posse pelos primeiros proprietários por meio de ações ilícitas do Estado que provocaram uma desordem no território, levando a conflitos pelo poder da posse de terras. Em 1889, os filhos de Manoel Ricardo da Silva adquiriram por “Título Definitivo” 5.998.538 km² das terras em Terruã. Em 1923, Virgílio de Souza Pinheiro e sua esposa Julieta da Silva Pinheiro, herdeiros de Manoel Ricardo da Silva, venderam a parte que lhes cabia ao

12 português José Corrêa Rodrigues, a senhora Maria Glória Gomes herdeira de José Corrêa após o falecimento do esposo. Em março de 1949, dona Maria Glória Gomes vendeu parte de suas ao Prelado de Lábrea. Em 1949 é construída pelos Padres da Ordem Monásticas dos Recoletos de Santo Agostinho uma capela no local denominado Nova Hipona Terruã, como ilustra a figura 3. Essa é a primeira Igreja construída em Terruã, tendo como primeiro pároco e fundador frei Luís Montes de São José. Terruã8 foi escolhido por ser um ponto alto e pitoresco com a existência de várias nascentes de água cristalina, coisa bem rara nestas terras de aluvião do Amazonas, e por último, nos arredores da igreja vai se intensificando a quantidade de residências de Terruã (SALVADOR, 2013. Não Publicado).

Figura 3. Inauguração da Paróquia de Santo Agostinho em 1949.

Fonte: PARÓQUIA DE SANTO AGOSTINHO, 2015 Com a instalação da Paróquia os moradores e o clero desejavam ansiosamente que fosse criado um novo Município amazonense. Com a chagada do D. Fr. José Alvarez Mácua,

8 A Lei emanada da Câmara Municipal de Lábrea em 1883 cita Terruã no Artigo Primeiro, sendo talvez este o primeiro registro do lugar sobre escritura. Art. 1º8 “Ficam criadas três escolas do sexo masculino neste Município, uma na Foz Cainahã, no lugar denominado Carmo, outra no lugar Quicihã de propriedade José Antonio da Cunha Barreiro e outra no lugar Terruã de propriedade de Manoel Ricardo da Silva”.

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Bispo titular da Prelazia de Lábrea-AM apenas aumentou o desejos de emancipar o núcleo urbano do território Lábrea (SALVADO, 2013. Não publicado). Porém, somente no ano de 1955 com a Lei nº 96, que foi sancionada pelo Governador Plínio Ramos Coelho, a criação do Município de Pauini- AM (MIGUEIS, 2011). Entretanto, sua instalação se deu somente em 19 de março de 1956, com uma solenidade especial, realizada em Praça Pública, tomando posse como primeiro Prefeito do município, nomeado pelo governador o Senhor Francisco das Chagas Evangelista. As datações que sucederam a criação do município de Pauini são primordiais para compressão da formação territorial. A cidade de Pauini emergida das missões jesuíticas e de interesses econômicos pela Amazônia brasileira, que acrescenta uma forma desordenada de crescimento, com um grande crescimento demográfico sem de planejamento adequado, que ocasiona problemas atuais, impactando direto ou indiretamente a qualidade de vida da população. Desta forma, Sposito (1997, p. 65) afirma que:

O rápido crescimento populacional gerava uma procura por espaço, e por outro lado o crescimento territorial das cidades no século XVIII e primeira metade do século XIX estava restrito a um determinado nível, além do que ficava impossível percorrer a pé as distâncias entre os locais de moradia e trabalho. Ou seja, o crescimento populacional não podia ser acompanhado em seu ritmo pelo crescimento territorial.

É possível perceber que mesmo com o crescimento lento que conduz a cidade, Pauini apresenta problemas socioambientais urbanos. A cidade de Pauini mostra os eventuais problemas ambientais característicos das grandes cidades, gerando desta forma, a segregação dos espaços habitados, tornando visíveis na infraestrutura dos bairros. A cidade de Pauini com uma população formada por mestiços de indígenas, nordestinos e europeus, formam as populações caboclas do Amazonas localizadas às margens dos rios, onde nestas cidades o tempo parece não tem muito significado, e a sobrevivência em meio à natureza é determinada pelo compasso dos rios. Pois, o rio na Amazônia para as populações ribeirinhas é o principal meio de circulação dos fluxos. Com base nessas análises Becker (2015 p.276) salienta que:

A integração de grandes porções do espaço amazônico à ordem espacial imposta pelo Estado submete-as à ordem de um espaço lógico, mas em que a lógica do conjunto homogêneo desmentida pela fragmentação do detalhe. Produto específico da clivagem público-privada, de duas práticas – a global, logística, e a local, de

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interesses particulares o espaço global é homogêneo/fragmentado pela apropriação seletiva do território por grupos sociais com poder diverso.

Todavia, a cidade de Pauini se configura como um elemento localizado no espaço em meio à densa floresta e as expedições que transfiguram a formação territorial da cidade direcionou contingente para sua formação atual. A cidade de Pauini expressa atualmente uma paisagem diversificada, mas, é importante destacar que Pauini apesar de ser uma cidade de pequeno porte apresenta diversos problemas socioambientais bem como: pavimentação das ruas, coleta de lixo, esgoto a céu aberto entre outros, que precisam ser resolvidos urgentemente pelos órgãos governamentais. Entretanto, a cidade de Pauini é uma das cidades amazonense que expressa os mesmos dinamismos que Oliveira (2000) sustenta em sua análise de compreensão das cidades ribeirinhas às margens dos rios. É importante salientar, que a formação territorial da cidade de Pauini teve como principal contribuição às migrações de populações nordestinas, as evangelizações jesuíticas, bem como os indígenas que foram povos pioneiros que habitavam a região do rio Purus contribuindo com a fundação crítico jurídico do município.

PAUINI: CIDADE SOB AS FRONTEIRAS DO ISOLAMENTO

Pauini-AM é um município brasileiro localizado sob a fronteira sul do Estado do Amazonas, tendo como base de formação territorial ocupações por meio do ciclo da borracha. Esse processo contribuiu para as formações étnicas da população amazonense, formado por uma miscigenação de indígenas, nordestinos e europeus na desenfreada busca pela a produção econômica da borracha no amazonas (NOGUEIRA, 2000). As cidades Amazônicas expressam em sua aparência uma conotação de um período de urbanização advinda do processo de ocupação, sobretudo, ligado à fronteira de expansão do capital. A primeira impressão que fica é de uma cidade pequena localizada em meio à densa floresta mediada pelo descer e subir das águas nas suas duas únicas estações. Essas cidades ribeirinhas estão ligadas entre si pelos rios, uma das formas principais de se chegar a essas cidades são através de hidrovias.

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A nova dimensão da fronteira amazônica atrelada ao capital que postulado a um novo significado que não pode ser entendida como um processo de ocupação demográfica, nem tão pouco a expansão dos lugares que concerne na produção urbana do espaço. As fronteiras projetadas pela nova ordem capitalista têm atenuado as cidades ribeirinhas. Nestas concepções Oliveira, (2000 p. 183) sustenta que:

Na Amazônia, a fronteira não pode ser compreendida apenas como um processo de ocupação demográfica, já que quase sempre as áreas em que ocorre seu avanço já estão ocupadas, sendo, por isso, uma ação de distribuição das estruturas existentes. O novo que é uma das dimensões da fronteira na Amazônia significa a produção do espaço “novo” para o capital, mas não significa necessariamente a ocupação. Na Amazônia a fronteira é lugar de distribuição e de construção, de conflitos, de perdas e de ganhos, enfim, da produção contraditória do espaço e da vida.

Na Amazônia a fronteira esteve longe de acrescentar condicionante a área que redefinisse a construção dos espaços; com as fronteiras direcionadas para expansão econômica, espalhou-se a contradição e os conflitos acrescidos de perdas dos lugares, cultura e costume, reproduzindo espaços desiguais de contradições que expressa o caos dos espaços produzido. Os novos rumos que tende tomar a Amazônia voltada aos mistérios que circunscreve a região desde inicio da ocupação até os dias atuais, como “metáforas, descrevendo a Amazônia como monumentalíssimo, tais como: El Dorado, Segundo Éden, Pulmão da Terra e por fim, A Última Fronteira” (BROWDER, GDFREY, 2006). A região predominante habitada por povos tradicionais da floresta e outros posseiros tem permitido a exploração à natureza e ordem da vida ligada ao presente e ao arcaico. Essa dualidade de compreensão, sobretudo, do Estado do Amazonas tem redefinido a fronteira neste território, a predominância da urbanização tem se feito mais frequente na vida dos habitantes. A nova ordem de suposições de entendimento sobre o moderno e o arcaico tem direcionado novos conflitos no território amazonense (OLIVEIRA, 2000). A produção do espaço vincula-se a uma dimensão da fronteira de expansão do capital, que teve início nos governos militares sobre o lema de integrar para não entregar, puseram a Amazônia como um lugar de desenvolvimento da fronteira a ser integrada e disponibilizaram

16 partes de suas terras ao capital com sentido de apropriação econômica. Neste contexto Becker (1990, p. 11) afirma que:

Fronteira hoje, portanto, não é sinônimo de terras devolutas, cuja apropriação econômica é franqueada a pioneiros ou camponeses. É um espaço também social e político, que pode ser definido como um espaço não plenamente estruturado, potencialmente gerador de realidades novas.

A fronteira amazônica adquire novo significado em meio ao processo de produção capitalista, que transfigura a produção dos espaços e apropriação da terra, em outras definições não mais de apropriação de terras devolutas capazes de produzir novas realidades, potencialmente vinculadas a novo sentido da vida. Paradoxalmente a fronteira de expansão que recria os sistemas de produção do espaço, consiste em acelerar o crescimento da cidade de forma desordenada, provocando diversos problemas que se intensifica há medida em que a cidade se desenvolve. Os problemas sociais que afeta os moradores tem se intensificado com crescimento de Pauini, pois, na cidade de Pauini, o saneamento básico é precário, em muitos bairros é frequente a presença de esgotos a céu aberto, que implica diretamente na qualidade de vida da população. O poder público precisa se posicionar de maneira mais frequente em ralação ao planejamento urbano adequado, que assegure uma melhor qualidade de vida e o bem-estar da população, no diz respeito, a moradia adequada, saúde pública, educação de qualidade, saneamento básico, entre outros. Os órgãos governamentais pouco tem se preocupado com os anseios da população, a cidade tem se apresentado hoje como um lugar caótico sem planejamento urbano e assistência básica para a segurança da população. Os problemas que assolam a sociedade Pauiniense são bastante diversificados, no entanto, um dos principais problemas relatados pelos moradores e o completo abandono de políticas públicas no que diz respeito à infraestrutura da cidade, as ruas descende de condições precárias, Com pavimentação quase inexistente Pauini por localiza-se na fronteira sul do Amazonas, torna-se difícil o acesso a essa cidade, as formas de acesso a essa cidade se dá somente pela via fluvial e aérea. Pelo fato da cidade de Pauini está longe geograficamente da sede do estado, estabelece uma ligação mais estritamente com a capital do estado do Acre, (Rio Branco). Conforme demostra no REGIC

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(2007). Na figura 4 destaca-se a distância da cidade de Pauini em relação a alguns grandes centros urbanos, bem como: Rio Branco-AC, Porto Velho-RO e sua capital Manaus-AM.

Figura 4. Ilustra dependência de Pauini-AM com estado do ACRE.

Fonte: IBGE, 2007 Org: ALMEIDA, 2016.

Pauini tem um vínculo economicamente ligado mias com Rio Branco-AC e Porto Velho-RO do que com Manaus- AM. Esta perspectiva fronteiriça que aproxima as cidades acaba por direcionar os moradores de cidade de Pauini há um sentimento de pertencimento ao estado do Acre. Pauini está localizado na mesorregião Sul do Amazonas, onde a quantidade de terras firmes é propicia para criação de rodovias, tal como afirmou Bulhões (1985 p. 137) que as mesorregiões são compostas por:

Mesorregião do Sul Amazonense: compostas pelas microrregiões de Boca do Acre, Purus e Madeira. Identifica-se com o vasto território drenado pelo rio Madeira e pela bacia do rio Purus, com a existência de cerrado e campos naturais, além do predomínio da floresta de terra firme, que proporciona o desenvolvimento da atividade extrativa. Apresenta um clima quente e úmido com frequentes chuvas torrenciais. Poucos são os centros urbanos que ai se instala, é a região bem mais assistida quanto ao transporte rodoviário.

O potencial de terras firmes na mesorregião sul do amazonas propicia condições a construção de rodovias, já havendo alguns existentes tem direcionado uma dependência maior com estado do Acre.

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A um planejamento inadequado tem afetado diretamente os moradores da cidade de Pauini, nos anos atuais devidos as grandes secas ao rio Purus, em alguns trechos torna-se inavegáveis provocando até racionamento de energia elétrica devido às balsas que transportam óleo diesel não conseguir navegar tranquilamente. Nessa perspectiva o município de Pauini é visto como um lugar de isolamento. A única forma de se transportar para outros lugares com as grandes seca do rio Purus, se estabelece por vias áreas, que opera em um aeroporto clandestino bem como mostra a figura 5, onde cada passagem de avião custa no mínimo 300 reais no trajeto Pauini – Boca do Acre- AM que é a cidade mais próxima. A cidade de Boca do Acre está situada na BR 317 que liga a cidade à Rio Branco, capital do estado do Acre. E é por meio desse trajeto que a população de Pauini tem acesso a capital do Acre na maioria das vezes.

Figura 5. Aeroporto municipal de Pauini-AM

Fonte: ALMEIDA, 2015.

Por outro lado é sobre estes caminhos tortuosos que se constrói o espaço urbano na cidade de Pauini, como lugar não apenas do caos e do estresse, mas sumariamente como lugar da construção de vida dos seres que coabitam o território, isolados à medida que o frequente às conduz a sentirem que o tempo em Pauini percorre lentamente transfigurando um passado de ocupações e explorações das riquezas do território.

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A rugosidade que reconstrói os espaços de vivências dos citadinos está atrelada ao poder público e ascende condicionante minoritário, que constrói a periferia do capital. E nas cidades que se reproduz o saber da alienação do ser ao discurso da velha política de semeadura entre o pão e circo da antiga Roma. Pauini viveu a fase negra da borracha, onde longe de um decréscimo à qualidade das cidades, prevaleceu o sentindo de expropriação do ser tradicional, dando espaço para um urbano muitas vezes ausente, arruinando o arranjo daquilo que o Estado de poder no mínimo tende a oferecer. É no vínculo entre contradição capitalista e segregação espacial que se insere a cidade, continuamente em expressão vitalizada dos contingentes que produz o espaço. Neste contexto, hegemonicamente pelos gestores públicos e pelos micros capitalistas, ou seja, a classe dominante da cidade, advertindo que maior parte da população é semianalfabeta apenas com ensino fundamental incompleto, segundo o instituto brasileiro de geografia e estatísticas (IBGE) a população de Pauini apresentou maior índice de analfabetos do estado do Amazonas.

Para compreendemos o discurso que se insere a formação territorial de Pauini, é preciso fazer um elo entre a modernidade e o arcaico, somente com esta dualidade distinta na qual percorre a expansão e formação da cidade de Pauini, proporcionará uma reflexão e compreensão da produção do território.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, a formação da cidade de Pauini remonta de um período histórico de missões jesuíticas no alto Rio Purus, vinculados aos interesses econômicos do capital. A cidade de Pauini-AM, surge como fruto destes períodos da história, e se constrói como um lugar monótono onde fenômeno urbano tem se intensificado de forma peculiar dos demais lugares. A cidade de Pauini assim como as demais cidades da Amazônia foi constituída por meio do processo de colonização e exploração de suas riquezas naturais. A cidade de Pauini apesar de ser uma cidade de pequeno porte apresenta diversos problemas socioambientais que prejudica a qualidade de vida, e muitos problemas estão relacionados com o processo de ocupação.

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Em uma estrutura lenta no caminho do desenvolvimento as pequenas cidades ribeirinhas vão perdendo o suas características ecológicas, ou seja, a paisagem natural vai perdendo seu espaço para a paisagem construída. A falta de planejamento adequado na infraestrutura da cidade acarreta problemas que afeta o bem-estar da população. As formas concretadas tornam-se predominante nas cidades, o ruído urbano como sinônimo de som indesejável configura território habitado tornando o espaço produzido (espaço geográfico) caótico e desordenado. Entretanto este trabalho é de suma importância para o município de Pauini por se tratar de uma pesquisa pioneira a qual relata a gênese da cidade, por meio dos condicionantes espaço e tempo, visto que, não se tem estudos publicados que discute sobre esta temática. Todavia, essa pesquisa torna-se primordial, pois servirá como auxilio para que o poder público desenvolva políticas de planejamento urbano adequado para melhoria da qualidade de vida dos citadinos. Também servirá como referências para trabalhos posteriores, a que venha discutir sobre esta temática.

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