Ficha De Inventário Do Património Cultural Imaterial

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Ficha De Inventário Do Património Cultural Imaterial Pedido de Inventariação dos Conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotânico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos (Lorvão, Figueira de Lorvão, Penacova) no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial ANEXO I I. IDENTIFICAÇÃO .......................................................................................................................................... 2 II. DOCUMENTAÇÃO .................................................................................................................................... 16 III. DIREITOS ASSOCIADOS ............................................................................................................................ 18 IV. PATRIMÓNIO ASSOCIADO ........................................................................................................................ 20 1 Município de Penacova – Pedido de Inventariação dos Palitos I. IDENTIFICAÇÃO 1. Domínio: Competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais (alínea e) do n.º 2 do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 139/2009, de 15 de junho). 2. Categoria: Atividades transformadoras. 3. Denominação: Conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotânico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos. 4. Outras denominações: Manufatura de Marquesinhos (Lorvão, Figueira de Lorvão, Penacova). 5. Contexto tipológico: A manufatura de palitos consiste numa atividade transformadora, de cariz pré-industrial, caraterizada pela sua simplicidade tecnológica. 6. Contexto de produção 6.1. Contexto social 6.1.1. Comunidade(s): Atualmente a manufatura dos palitos desenvolve-se em 3 das 8 freguesias do concelho de Penacova: Lorvão, Figueira de Lorvão e Penacova. Ainda se fazem palitos nas localidades de Caneiro, Chelo, Chelinho, Lorvão, Rebordosa e São Mamede, Paradela e Roxo na freguesia de Lorvão; na Ronqueira, freguesia de Penacova; e no Golpilhal e Granja, freguesia de Figueira de Lorvão. Não obstante continuar bem presente na sua memória coletiva, a manufatura dos palitos consiste numa prática entretanto descontinuada nas comunidades de Caneiro, Chelo, Chelinho, Lorvão, Rebordosa e São Mamede, Paradela, Roxo, Ronqueira, Golpilhal e Granja. 6.1.2. Grupo(s): ---------------------------------- 6.1.3. Indivíduo(s): 2 Município de Penacova – Pedido de Inventariação dos Palitos Na freguesia de Lorvão a manufatura dos palitos é realizada quer por homens, quer por mulheres, sendo realizada exclusivamente pelas mulheres nas freguesias de Penacova e Figueira de Lorvão Na freguesia de Lorvão, principalmente na localidade de Lorvão trata-se de uma manifestação cultural que mobiliza toda a comunidade e que abrange todos os grupos etários, pois consiste na mais importante atividade económica da freguesia. Com exceção de duas paliteiras da Ronqueira, organizadas em empresa e cuja única fonte de rendimento é a manufatura de palitos de flor e pestana, aliados a outros artefactos de choupo e salgueiro, a produção realiza-se de forma individual, não se identificando qualquer outra forma de organização do trabalho para além da produção em contexto familiar, quer a produção se destine a consumo doméstico, quer para venda direta, em pequena escala, quer, na maior parte dos casos, a produção se destine ainda a fornecer as indústrias locais, com destino final ao mercado nacional e mesmo internacional. 6.2. Contexto territorial 6.2.1. Local: As povoações onde ainda hoje se fazem palitos são: Caneiro, Chelo, Chelinho, Lorvão, Rebordosa e São Mamede, Paradela, Roxo, Ronqueira, Golpilhal e Granja. 6.2.2. Freguesia: As povoações onde ainda hoje se fazem palitos são Caneiro, Chelo, Chelinho, Lorvão, Rebordosa e São Mamede, Paradela e Roxo na freguesia de Lorvão; no Golpilhal e Granja na freguesia de Figueira de Lorvão; e na Ronqueira, pertencente à freguesia de Penacova. 6.2.3. Município: Penacova 6.2.4. Distrito: Coimbra 6.2.5. País: Portugal 6.2.6. Nuts II: Centro 6.2.7. Nuts III: Baixo Mondego 6.3. Contexto temporal 6.3.1. Periodicidade: Os conhecimentos de natureza etnobotânica associados à produção de palitos assumem particular expressão no período de inverno, em particular dezembro e janeiro, quando se procede à seleção e abate das árvores utilizadas na manufatura. O processo de manufatura dos palitos propriamente dito realiza-se ao longo de todo o ano, em cada comunidade. 3 Município de Penacova – Pedido de Inventariação dos Palitos Na freguesia de Lorvão e Figueira de Lorvão, de acordo com necessidades próprias e algumas comerciais, na Ronqueira só com objetivos comerciais. 6.3.2. Data(s): --------------------------------------- 7. Caracterização 7.1. Caracterização síntese: A manufatura dos palitos consiste numa atividade transformadora, de caráter pré-industrial, característica de diversas comunidades do município de Penacova. Com íntima associação à indústria transformadora local e importância expressiva na economia local, o processo tradicional de produção de palitos consiste num processo tecnicamente simples em que convergem e constituem fatores fundamentais dois tipos de saberes tradicionais locais. Em primeiro lugar conhecimentos de cariz etnobotânico, expressos no conhecimento dos cobertos e espécies vegetais endógenas, assim como nos procedimentos de seleção, abate e preparação das madeiras de salgueiro e choupo, incluindo o seu descasque e secagem, ao sol e no forno, destinadas à confeção de palitos. Em segundo lugar, os conhecimentos e as aptidões técnicas expressas no procedimento de laminação daquelas madeiras, com recurso a utensílios simples, em que a destreza do artesão, aprendida e desenvolvida em contexto familiar desde a infância, constitui o fator fundamental. 7.2. Caracterização desenvolvida: A manufatura de palitos consiste numa atividade transformadora, de cariz pré-industrial, que, em diversas freguesias do município de Penacova (Figueira de Lorvão, Lorvão e Penacova), recorre a espécies provenientes dos cobertos vegetais endógenos, característicos das margens do Rio Mondego, em particular o salgueiro e o choupo, e desde há muito se reveste de uma dimensão emblemática, a nível regional e mesmo nacional, quer dada a importância que este tipo de produção assume na atividade económica das respetivas comunidades locais, quer dada a profundidade histórica deste tipo de produção, com relevância económica atestada desde o século XVIII, mas com origens, associadas ao próprio Mosteiro do Lorvão, que a memória local faz remontar ao século XVII. Segundo a tradição, a manufatura dos palitos teve a sua origem no Mosteiro de Lorvão estendendo- se depois às povoações vizinhas, algumas já nos concelhos de Vila Nova de Poiares e Coimbra, em virtude do êxodo de pessoas vindas de Lorvão, quer por casamento, quer por motivos económicos, ou outros. Para além da influência do mosteiro na divulgação dos palitos, outro fator foi preponderante. Esta zona é propícia à existência de madeira de salgueiro-branco e choupo. Como no início do séc. XX o “salgueiro produzido no distrito de Coimbra e ribas do Mondego escassamente chegava para dois meses de produção de Lorvão e do concelho de Penacova” [VASCONCELLOS, 1975]. No início do séc. XX começou-se a adquirir a madeira daquelas espécies nos campos da 4 Município de Penacova – Pedido de Inventariação dos Palitos Golegã, do Cartaxo, e em todo o Ribatejo. Mais tarde passou a utilizar-se o choupo que é mais fácil de ser trabalhado e é mais rentável e também existe em abundância na região. Sendo uma região de matas de pinho, eucalipto ou castanheiro, e lugar de fracos recursos agrícolas onde os homens viviam do trabalho da enxada, andando na lavoura alheia, a área de Lorvão propiciava o estabelecimento de uma indústria caseira como o fabrico dos palitos. Assim se preenchiam disponibilidades de tempo e se contribuía para o sustento diário, colaborando crianças, mulheres, velhos e mesmo homens adultos. Apesar dos lucros obtidos com a manufatura dos palitos e com a sua embalagem serem baixos, acabam por constituir um complemento importante para o orçamento familiar dos habitantes da região. Havendo a possibilidade de serem dedicados a esta ocupação períodos diários variáveis, permitindo assim harmonizá-los, sem grandes dificuldades com outras atividades de uma população com um ritmo irregular de trabalho ao longo do ano. A manufatura dos palitos propriamente dita, isto é, a laminação da madeira, é usualmente realizada no espaço doméstico, por vezes os vizinhos reúnem-se à porta de casa, sempre que as condições atmosféricas o permitem, para realização deste trabalho minucioso com recurso à luz natural, e passa por diversas fases: Seleção, abate e corte do salgueiro ou do choupo e preparação na serração: Os troncos são abatidos nos meses de dezembro e janeiro, serrados, rachados, limpos e descascados pelos madeireiros. Outrora a seleção da madeira para abate era feita pelos madeireiros. Hoje essa seleção é feita, muitas vezes pelas pessoas que fazem os palitos. Depois são rachados com a ajuda de dois homens. Cada um segura o seu utensílio e apoia o machado na parte superior do tronco, dando-lhe uma pancada com uma maceta (utensílio de madeira usado pelos madeireiros, juntamente com um machado), que separa o tronco em duas metades. Seguidamente a madeira é descascada e limpa com uma foice. Depois de retirada a casca, tira-se o veio central e as partes nodosas. Posteriormente as “metades” da madeira são novamente rachadas e atiradas para o chão. No ato da compra do pau, o artesão escolhe-o e ata-o em “molhadas” (conjunto de paus ou varas, limpos, descascados e amarrados, com um arame),
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