UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA CURSO DE HISTÓRIA

ANA PAULA BATISTA PROTACIO

ENTRE A ENXADA E O PAPEL: impactos socioambientais de atividades de produção de eucaliptos nas comunidades de pequenos produtores no município de Urbano Santos.

São Luís 2016

ANA PAULA BATISTA PROTACIO

ENTRE A ENXADA E O PAPEL: impactos socioambientais de atividades de produção de eucaliptos nas comunidades de pequenos produtores no município de Urbano Santos.

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, como parte dos requisitos básicos para obtenção do Grau de Licenciatura Plena em História.

Orientador: Prof. Dr. Alan Kardec Gomes Pachêco Filho.

São Luís 2016

Protacio, Ana Paula Batista Entre o papel e a enxada: impactos socioambientais de atividades de produção de eucaliptos nas comunidades de pequenos produtores no município de Urbano Santos / Ana Paula Batista Protacio. – São Luís, 2016.

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Monografia (Graduação) – Curso de História, Universidade Estadual do Maranhão, 2016. Orientador: Prof. Alan Kardec Gomes Pachêco Filho

1. Meio ambiente 2. Impactos Socioambientais. 3. Eucaliptos. 4. Suzano Papel e Celulose. 5. Urbano Santos I.Título CDU: 504.3(812.1)

ANA PAULA BATISTA PROTACIO

ENTRE O PAPEL E A ENXADA: impactos socioambientais de atividades de produção de eucaliptos nas comunidades de pequenos produtores no município de Urbano Santos.

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, como parte dos requisitos básicos para obtenção do Grau de Licenciatura Plena em História.

Orientador: Prof. Dr. Alan Kardec Gomes Pachêco Filho. Aprovada em 22/07/2016

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Prof. Dr. Alan Kardec Gomes Pachêco Filho

(Orientador)

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Prof. Dr. José Sampaio de Mattos Junior

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Prof. Dr. Helidacy Maria Muniz Corrêa

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos a minha família: Anita, Raimundo, Henry, Milagre e Carol, pelo apoio incondicional para que pudesse continuar estudando. Com grande amor, a minha mãe Anita Batista, pelo consolo, pela luta do dia a dia, e pela oportunidade de concretizar e encerrar mais uma caminhada da minha vida. E pela preocupação para que estivesse sempre andando pelo caminho correto. Agradeço também a Ana Lúcia, de fundamental importância na conclusão deste trabalho. Obrigada por estarem ao meu lado sempre! A Universidade Estadual do Maranhão, seu corpo docente, administração e direção do curso de História pela realização profissional aqui alcançada. A esta instituição agradeço o fomento e auxilio dos anos de bolsista PIBEX – UEMA pela realização desta pesquisa. A meu professor orientador, Dr. Alan Kardec Gomes Pacheco Filho, pelo apoio incondicional, suporte acadêmico, e incentivo não só deste trabalho, mas todo meu percurso pela universidade. Agradeço a confiança por ceder a bolsa de extensão e a disposição de trabalharmos juntos por um ideal. Quero expressar o meu reconhecimento e admiração pela sua competência profissional, principalmente no que se refere aos estudos sobre Maranhão Republicano, e minha gratidão pela sua amizade. As minhas amigas sinceras, do dia a dia, Flávia, Samara, Layla e Alana pelo companheirismo na Universidade e pela lealdade ao longo destes anos, e que muitas vezes compartilhei momentos de tristezas, alegrias, angústias e ansiedade, a vocês meu muito obrigada! Aos meus amigos de vida, Jacinta, Mário, Aline e Carliane, pelos longos anos de amizade antes da Universidade e pela permanência de todos vocês em minha vida. Obrigada pela lealdade. Aos meus amigos de motivação, Jeane (Jel), Noeme, Raissa, Camila Lima, Débora, Juliana Nogueira, Juliana Sousa, Danilo Moraes, Rafael Silva, Flávio e Alex Costa. Independente da pouca vivência pessoal, me deram apoio e acreditaram em mim. Muito obrigada! Aos professores do curso de História da UEMA, pela dedicação com os alunos, e pelo cuidado com o prédio conquistado. Agradeço em especial Júlia Constança, que acreditou no meu trabalho no início da vida acadêmica.

As bibliotecárias mais amigas que conheço, Lauisa Sousa Barros e Reyjane Mendes, que dispuseram de seus tempos para no ajudar com aquele livro mais difícil de ser encontrado. Que fizeram papeis de psicólogas entre um intervalo e outro e que conhecem cada aluno que entra na nossa querida biblioteca. A vocês meninas, meu muito obrigada! Aos funcionários que estão ou que passaram pelo curso de História. D30, por acolher os alunos com tanta simpatia. A Mara, que nos privilegiou com sua dedicação. A Luciana, que mesmo não sendo funcionária, dedicou seu tempo para conosco. As turmas, 2011.2 que indiretamente me ajudou no meu crescimento acadêmico. E 2012.1 pelo acolhimento e participação dos últimos anos de academia. As escolas Haydée Chaves e Liceu Maranhense pelo acolhimento nos estágios supervisionados. A Escola Santa Maria Bertilla, que me proporcionou a prática de ensino, me ajudo diretamente para a conclusão deste trabalho, aos funcionários desta escola meu muito obrigada pela confiança, em especial a Anita, Élida Caldas, Daniele Moraes, Telma, Doriana e Fabrícia. E aos alunos e alunas do ensino fundamental e médio que permitiram que eu pudesse auxilia-los no ensino de História. Agradeço imensamente ao Fórum Carajás, em nome de Mayron Régis, e ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Urbano Santos, em nome de José Antônio Basto, pela disposição em me ajudar, cedendo artigos, e informações úteis para a conclusão deste trabalho, permitindo as visitas nas comunidades da região. E a Júlia Almeida que compartilhou comigo esses momentos de militância. A José Bernardino pela confiança e oportunidade das boas conversas e auxilio na pesquisa. Agradeço a todos os moradores das comunidades que nos receberam em suas casas e nos ofereceram acolhida. Agradeço à alguns nomes importantes de luta que idealizaram uma Urbano Santos livre de domínios empresariais, Wilson Souza, Zé Martins e Vale (eterno Padre Vale). Meus sinceros agradecimentos a todos que, mesmo não estando mencionados aqui, tanto contribuíram para a conclusão desta fase e para a Ana Paula Batista que sou hoje.

A minha mãe Anita,

Tia Suly (in memorian) e a todos os trabalhadores e trabalhadoras rurais de Urbano Santos.

“São essas chapadas onde plantei meu chão de vida, donde nasci, criei amizades e sobrevivi obstáculos na luta pela vida”.

José Antônio Bastos

RESUMO

A partir da década de oitenta do século passado, os moradores dos povoados do município de Urbano Santos foram obrigados a deixar suas terras, onde produziam sua subsistência alimentar. O Executivo municipal concordou e a Companhia Suzano de Celulose implantou uma “floresta de eucalipto”. Este trabalho objetiva refletir sobre o direito à terra comunitária, individual e industrial a partir das experiências vividas por esta comunidade. O êxodo rural e o quase desaparecimento do rio Mocambo, provocado pela monocultura promovendo o inchaço urbano e a consequente mudança de hábitos sociais e econômicos na região.

Palavras Chave: Urbano Santos. Meio Ambiente. Suzano.

ABSTRACT

From the eighties of last century, the residents of the villages in the municipality of Urbano Santos were forced to leave their land, where they grew their food subsistence. The Municipal Executive agreed and Suzano Pulp Company implemented a "eucalyptus forest." This paper aims to reflect on the right to communal land, individual and industrial from the experiences of this community. The rural exodus and the virtual disappearance of Mocambo river, caused by Suzano promoted urban swelling and the consequent change of social and economic habits in the region.

Keywords: Urbano Santos. Environment. Suzano.

LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

Gráfico1 – Comparação entre a produtividade, do eucalipto no Brasil, na Austrália e nos EUA ...... 24 Tabela 1 – Florestas plantadas nos Estados mais produtores de eucaliptos 2012 26 Tabela 2 – Consumo de água necessária durante um ano (ou ciclo) da cultura ... 30 Tabela 3 – Celulose da empresa Suzano pelo mundo ...... 40 Tabela 4 – Caracterização das Bacias Hidrográficas ...... 46 Tabela 5 – Famílias residentes em domicílios particulares e número de componentes das famílias-Zona Rural ...... 53 Tabela 6 – Processo de Urbanização ...... 54

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Área e distribuição de plantios florestais com Eucalipto em 2012. ... 27 Mapa 2 – Mapa de localização da Suzano ...... 38 Mapa 3 – Localização da Mesorregião Leste Maranhense...... 44 Mapa 4 – Localização do Baixo Parnaíba, Maranhão ...... 45 Mapa 5 – Localização do município de Urbano Santos – MA ...... 50

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Semente de eucalipto ...... 20 Figura 2 – Muda de eucalipto ...... 21 Figura 3 – Bacuri ...... 35 Figura 4 – Monocultura de eucalipto ...... 36 Figura 5 – Monocultura de soja ...... 36 Figura 6 – Fábrica Suzano – MA ...... 39 Figura 7 – Produto celulose ...... 39 Figura 8 – Produção da celulose e papel ...... 41 Figura 9 – Contra o agronegócio, região do Tocantins ...... 48 Figura 10 – Projeto Manejo de Bacurizeiros ...... 54 Figura 11 – Movimento Mundial pelas Florestas ...... 60 Figura 12 – Peça "Lamento do Rio Preguiças” ...... 61

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 15 1 A história ambiental: um diálogo necessário ...... 18 1.1 O eucalipto ...... 20 1.2 O eucalipto no Brasil ...... 21 1.3 Principais argumentos favoráveis ao cultivo do eucalipto ...... 24 1.4 Os recursos hídricos ...... 28 1.5 Os problemas trabalhistas ...... 30 2 O desenvolvimento capitalista da agricultura brasileira, em especial o Estado do Maranhão ...... 32 2.1 A Empresa Suzano Papel e Celulose e a ocupação da Região do Baixo Parnaíba ...... 37 2.2 As plantações de eucalipto no Baixo Parnaíba, Maranhão ...... 41 2.3 Conflitos entre as comunidades e a Empresa Suzano ...... 47 3 Luta pela posse de terras e questões socioambientais em Urbano Santos ...... 48 3.1 Os relisentes trabalhadores rurais de Urbano Santos ...... 52 3.2 A riqueza do cerrado destruída: o caso do bacuri ...... 54 3.3 Lei de Terras de 1969 e suas consequências para as comunidades tradicionais ...... 55 3.4 Direito de posse: quem é o proprietário? ...... 56 3.5 O eucalipto transgênico em Urbano Santos ...... 57 3.6 “Jamais abriremos mão das nossas terras para as grandes empresas” ...... 61 4 CONCLUSÃO ...... 63 REFERÊNCIAS ...... 65 ANEXOS ...... 73 15

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um estudo sobre o município de Urbano Santos e tem origem em um projeto de Extensão que o Prof. Alan Kardec Gomes Pachêco Filho propôs e foi aprovado em 2014 pela Universidade Estadual do Maranhão com o título: O Meio Ambiente e a Evolução Histórica de Urbano Santos. Mais precisamente sobre os impactos socioambientais causados pela monocultura de eucaliptos nas comunidades tradicionais de agricultura de subsistência. O agronegócio vem se tornando uma prática cada vez mais presente no cenário econômico maranhense, sendo as comunidades rurais da região do Baixo Parnaíba, no leste do Estado, profundamente afetada com a implementação de grandes empresas voltadas para a indústria florestal e agricultura de exportação. A Cia Suzano Papel e Celulose, se instalou no município de Urbano Santos – MA, na década de 1970 onde se encontra até os dias de hoje. Atuando com significativa participação na região, está também presente em três estados brasileiros. Piauí, Bahia e São Paulo. O que mais preocupa nessas regiões, em especial no leste do Maranhão, é o aumento sem controle do desmatamento causado em boa parte por estas empresas como MARGUSA1 GERDAU2, e MARFLORA3. A partir do eucalipto produzido na região estuda se obtém a celulose de fibras curtas, utilizada na fabricação de guardanapos, papel higiênico, papéis para imprimir e escrever, entre outros produtos. Além de uma gama de outros derivados da celulose sendo aplicado, sobretudo, na indústria de madeira para móveis, e também para a produção do carvão vegetal para alimentar as metalúrgicas instaladas em Açailândia. As tais “florestas verdes” plantadas em nossa região continuam a despertar acalorados debates quanto aos benefícios causados às comunidades diretamente atingidas, mas principalmente quanto aos impactos extremamente danosos causados ao meio ambiente. A monocultura do eucalipto tem sido alvo de seminários in locu, onde os trabalhadores rurais são convidados a externarem seus pontos de vista, pelo fato dessas grandes áreas plantadas, praticamente não utilizarem mão de obra, ou usam um contingente

1 A empresa na década de 1980 cedeu terras plantadas com eucaliptos para a então empresa “Agroflorestal Agrícola Paineiras”. 2 Comprou empresa Margusa em 2003. 3 A MARFLORA ENERGETICA LTDA é um (a) Sociedade Empresaria Limitada de Urbano Santos - MA fundada em 21/02/2011. Sua atividade principal é Extração De Madeira Em Florestas Plantadas. 16

pequeníssimo, não empregando significativo número de trabalhadores, que foram expulsos das terras nas quais viviam e trabalhavam. O arrendamento ou venda dessas terras para a Suzano de Papéis ou para empresas por ela terceirizadas, causou danos irreparáveis a essas comunidades rurais. Tornou os homens sem terras, sem trabalho, geralmente vivendo às margens das estradas em acampamentos improvisados, agravando sobre maneira seu modo de vida e de seus familiares o que causou o acirramento desses conflitos de interesses, notadamente o capital versus trabalho. E ainda o agravante problema do alto consumo de água pela plantação contribuindo para a diminuição do fluxo dos rios e córregos. O avanço indiscriminado do capital sobre o campo tem exposto a face da miséria do campesinato maranhense. Este campo de observação nos permitiu fazer uma análise do modo de vida desses trabalhadores, que após uma vida inteira de trabalho chegam à terceira idade, doentes, abandonados pelo Estado e às vezes também pelos familiares e muitos migram para as cidades onde sobrevivem praticamente da caridade, pois na maioria dos casos não conseguiram aposentar-se pela Previdência Social. Nesta perspectiva, analiso as pequenas comunidades pertencentes ao município de Urbano Santos e como estão sendo impactadas com a monocultura de eucalipto desde o início da década de 1970 até seus dias atuais. Analiso a presença da empresa Companhia Suzano Papel e Celulose que permaneceu neste município com intuito de crescimento de seu capital. A região do Baixo Parnaíba sofre com a grande demanda de plantações e com a pouca procura de empregos prometidos pela mesma empresa. No primeiro capítulo, abordo a História Ambiental incorporando-a aos estudos sobre a sociedade humana, explorando o significado da história ambiental no tempo que move a sociedade humana na construção social. Busco através de historiadores ambientais como Pádua, Sendrez, Worster, entre outros, reunir os estudos relacionados aos aspectos entre espaço, território e natureza e às dimensões socioambientais e os desafios da sustentabilidade, além dos movimentos sociais e as ameaças naturais do mundo contemporâneo, são temáticas que exigem estudos no campo da História. Portanto, para melhor compreendermos esse contexto, busco explicar como a natureza está envolvida com o homem e como um necessita do outro. Segundo Sendrez (2012, p.2), “[...] há momentos chaves no século XX que mudam a percepção das relações entre sociedades e natureza, mas, principalmente, da capacidade das sociedades humanas de transformar drasticamente a natureza.” 17

Vale ressaltar que esse campo novo na História ainda caminha a passos graduais, mas não deixa de ter sua importância social, ainda mais quando se relaciona com outras áreas como geografia, ciências sócias, antropologia e Direito Jurídico. Mais profundos serão os estudos que cercam a história ambiental. O segundo capítulo realizou-se por meio de observação direta, a partir de uma pesquisa de campo na zona rural do município de Urbano Santos, tendo em vista o tempo e os recursos necessários, os dados obtidos são bastante expressivos, pois permite um estudo de como pessoas e grupos dispõe de experiências para o crescimento da história social. A pesquisa utilizou de documentos teóricos da História Social, História Agrária, História do Tempo Presente e História Ambiental. Neste contexto procuro envolver questões que tratam das políticas públicas e programas sociais no campo, bem como a função que cumpre o Estado. Abordo questões diretas de conflitos entre trabalhadores rurais e empresa e como se comporta o Estado perante tal situação. Analiso também como a comunidade vem resistindo ao agronegócio e seus métodos para se manter afastadas. O terceiro capítulo foi desenvolvido com o auxílio de professoras voluntárias, militantes sociais, que junto as comunidades travam essa luta, entidades não governamentais, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, CEB local, além de seminários nas comunidades e contato direto com os agricultores e seus dilemas enfrentados. O direito de posse é uma temática bastante explorada neste capítulo, já que envolve conflitos violentos entre a empresa Suzano e os pequenos produtores rurais que emergem com a chegada do progresso, através de propostas de empregos, desenvolvendo um cenário até então rural e passando pelo processo de urbanização do município de Urbano Santos. Esse processo de modernização, decorre da mudança no modelo tecnológico, altera a presença do trabalhador rural no campo como produtor, colabora para o advento de novas ocupações e empregos não agrícolas no campo, resultando assim na queda em melhorias na qualidade de vida. Com a chegada do agronegócio, estamos perdendo nossas riquezas do bioma Cerrado, sendo substituídas pelas monoculturas em larga escala e que também poderão ser substituídas, como o pequi e o bacuri, pelo eucalipto transgênico que vem incomodas as comunidades e que pode radicalizar a natureza ainda existente neste espaço. Nosso trabalho, está direcionado a uma busca por direito de terras usurpado pela empresa Suzano que vem por longos anos modificando a vida de muitas pessoas que necessitam da terra para a sobrevivência, que não buscam riquezas materiais e degradação ambiental. Estes homens e mulheres buscam o direito a vida.

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1. A história ambiental: um diálogo necessário

A American Society for Environmental History foi criada oficialmente em 1977, embora, a rigor, os estudos sobre meio ambiente, por parte de historiadores norte americanos, tenham sido inaugurado por Frederick Jackson Turner (1861-1932), com o artigo The significance of the frontier in American History. A síntese do artigo de Turner era estudar a história americana a partir da relação dos homens com a natureza do território que ocupavam. A ideia foi bem aceita, pois desde o século XIX, havia uma preocupação em preservar as wildernes4. A Environmental History possibilitou que a ideia de “ecologia” saísse das academias e passasse a influenciar o mundo inteiro. Comportamentos sociais, meios de comunicação de massa, a educação e as artes, a política local e a global, ao ponto da ONU ter criado em 1972, o dia mundial do Meio Ambiente que é comemorado em cinco de junho. Nesta data em 1972, teve início a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, na cidade de Estocolmo. Desde então o tema tem sido debatido de forma transdisciplinar envolvendo praticamente todas as ciências. O primeiro curso universitário de maior repercussão com o título de História Ambiental foi ministrado nos idos de 1972, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, pelo historiador cultural Roderick Nash5, que em 1967 havia publicado o livro Wilderness and the American Mind, hoje, um clássico “[...] sobre a presença da imagem de vida selvagem na construção das ideias sobre identidade nacional norte-americana” (PÁDUA, 2012, p. 17). A história ambiental, como bem afirmou Donald Worster6 (1988), deve “[...] ser vista não como uma redução, mas sim como uma ampliação da análise histórica”. A emergência de um "ambientalismo complexo e multissetorial" a partir da década de 1970, dotado de alto perfil na cena pública global, representou um dos fenômenos sociológicos mais significativos da história contemporânea. Ele pode ser considerado como um movimento histórico, mais do que um movimento social, que repercutiu nos diferentes campos do saber. (VIOLA, 1991)

4 Numa tradução literal; a natureza em sua forma selvagem. Para um maior aprofundamento sobre o tema, conferir: PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. In: FRANCO, José L. de Andrade et al. História ambiental: fronteiras, recursos naturais e conservação da natureza. Rio de Janeiro: Gramond, 2012. 5 Roderick Nash Frazier é professor emérito de história e estudos ambientais na Universidade da Califórnia em Santa Barbara. 6 Professor emérito do Departamento de História da Universidade do Kansas nos Estados Unidos e um dos diretores do Centro para História Ecológica da Universidade Remin da China, em Beijing, tem se dedicado a pesquisas no campo da História Ambiental, especialmente os temas que abordam ciência, tecnoloia e agricultura. 19

No Brasil, História Ambiental começa a dar seus primeiros passos. Diante de tantos problemas ambientais que vão desde os crescentes desmatamentos em todas as regiões brasileiras, às hidrelétricas construídas com os Relatórios de Impactos Ambientais, feitos às pressas, diante da “pressão” exercida pelas construtoras e pelo governo Federal. A falta na grande maioria das cidades brasileiras de local adequado para depositar os resíduos sólidos e por último o grande desastre acontecido no rio Doce, nos estados de Minas Gerais e Espirito Santo, provocado pela mineradora Samarco, são exemplos de como temos “cuidado” do meio ambiente no Brasil. Peter Burke (2009), afirma que as grandes crises econômicas e sociais estimularam estudos específicos sobre o tema. Assim foi com a crise de 1929, que provocou segundo ele, um rigoroso estudo sobre a história monetária, algo semelhante aconteceu com o estudo da demografia, que foi motivado pelo baby boom pós Segunda Guerra Mundial. No Brasil, o estudo do Meio Ambiente sem dúvida tem sido provocado pelos motivos citados anteriormente. O Brasil, já possui um significativo número de historiadores voltados para as causas ambientais como: José Augusto Pádua, Paulo Henrique Martinez, Regina Horta Duarte, Lise Sedrez, Haruf Espindola, Leila Mourão e Eunice Nodari. Assim, percebemos que a História Ambiental vem se tornando centro das preocupações de cientistas sociais em nosso país, não somente nas universidades, mas no meio da sociedade civil. A ideia de estudar a ação humana no meio natural, a visão de natureza como ação histórica, impulsionaram a construção da discussão ambiental na cultura contemporânea. Segundo Eunice Nodari (2014), as violências socioambientais mais preocupantes são as silenciosas, aquelas que ocorrem cotidianamente e que não são resolvidas. Por exemplo, a falta de saneamento básico para quase 100% da população. Não podemos atribuir à falta de legislação o descontrole na degradação, pois a própria Constituição de 1988 inclui os direitos relacionados ao meio ambiente. A preocupação da historiadora está diretamente ligada às ações do homem. As problemáticas ambientais brasileira afetam a qualidade de vida de sua população e, ao mesmo tempo, compõe as conjunturas para o que deveria ser a concepção crítica da sociedade. Neste trabalho, proponho uma reflexão sobre a degradação ambiental e social que a grande plantação de árvores exóticas ao Baixo Parnaíba, vem causando ao meio natural e social. Essas plantações, aparentemente inofensivas, prejudicam enormemente o meio ambiente e a sobrevivência de comunidades inteiras que dependem da terra livre do eucalipto para continuarem cultivando suas roças de arroz, milho, feijão, mandioca, como sempre fizeram, ou seja, a agricultura de subsistência. O caso do eucalipto – ênfase desta pesquisa – 20

tem sido debatido por Sindicatos de Trabalhadores Rurais, a Pastoral da Terra e outros organismos da sociedade civil organizada, trazendo a lume o eterno conflito Capital X Trabalho.

1.1 O eucalipto

O nome eucalipto deriva do grego, eu (bem) e kalipto (cobrir), referindo-se à estrutura globular arredondada de seu fruto (Figura 1), caracterizando o opérculo que protege bem as suas sementes (BERTOLLA, 2016, p.5). O eucalipto é uma planta originária principalmente da Oceania, embora algumas raras espécies sejam de ilhas como Nova Guiné e Timor, Ilhas Moluscas (ANDRADE; VECCHI, 1918, p.3). Já no século XIX, começou a ser plantado em países como Espanha, Índia, Brasil, Argentina e Portugal (GUIA, 2008).

Figura 1: Semente de eucalipto

Foto: Guia (2008)

À proporção que o homem foi desmatando as florestas nativas, o eucalipto foi se constituindo uma alternativa na substituição de madeiras de lei e, sobretudo, como combustível; lenha e carvão, o gênero Eucalyptus (Figura 2) se apresenta como uma das mais importantes, não apenas por sua produtividade, mas principalmente pela sua fácil adaptação a diferentes climas, e também, graças às inúmeras espécies, que consegue atender as necessidades dos mais diversos setores industriais se tornando altamente lucrativa a produção destas “florestas”.

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Figura 2: Muda de eucalipto

Fonte: http://verdeforte.com/site/?page_id=15

Existe mais de 600 espécies de eucalipto pelo mundo, com diversas finalidades, a mais comum é sua utilização para produção de celulose, entretanto o eucalipto é ainda usado como postes, como energia, para chapas e lâminas de compensados, carvão vegetal e móveis. Possui rápido crescimento, alta produtividade, ampla diversidade de espécies, grande capacidade de adaptação e é aplicado em diferentes processos. A empresa Aracruz7 uma das maiores produtoras de eucalipto do Brasil, sua principal atividade industrial é a transformação do eucalipto em celulose, tem aprimorado tecnologia especiais para a produção de diversos eucaliptos que foram “batizados” com os seguintes nomes: Grandis, Urophylla, Saligna, Globulus e Dunnii. No Brasil, onde o eucalipto se adaptou muito bem, é utilizado em vários seguimentos principalmente no setor industrial de base florestal.

1.2 O eucalipto no Brasil

7 Maior empresa brasileira, localizada no Estado do Mato Grosso do Sul, fez parceria com a Fibria e as duas juntas lideram o mercado de celulose no país. 22

Introduzido no Brasil em 1904, pelo engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, responsável por trazer as primeiras sementes de várias espécies, sua principal intenção era utilizar o eucalipto como dormentes e também empregar a madeira nas locomotivas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Contudo, o eucalipto só despertou interesse dos investidores por volta de 1965, através de incentivos fiscais ao reflorestamento, a lei criada especialmente com essa finalidade, fez a área de plantio saltar de 500 mil para 3 milhões de hectares. A partir do eucalipto de fibras curtas se produz a celulose usada na fabricação de guardanapos, papel higiênico, papéis para imprimir e escrever, entre outros itens. Tais plantações têm estado no meio de grandes controvérsias e continuam a despertar acalorados debates quanto a seus impactos no meio ambiente. Essa “floresta” atípica na região do Baixo Parnaíba continua provocando uma série de tensões sociopolíticas, econômicas e como não poderia deixar de ser, ambientais. Tal silvicultura8, assim como outras atividades podem causar impactos ambientais, tanto positivos, quanto negativos, a defesa ou não do eucalipto é feita pelas pessoas que estão envolvidas no conflito social e ambiental. De um lado os agricultores que precisam de terras para as lavouras de subsistência, de outro, a Cia. Suzano e seus defensores, senão vejamos a fala de Bertola9 (2016, p. 66): “Comparações entre espécies de eucalipto com outras essências florestais mostram que os plantios de eucalipto no Brasil consomem a mesma quantidade de água que as florestas nativas.” Tal afirmação é possível vindo dos grandes capitalistas defensores do eucalipto, que tem como discurso o fim da derrubada da mata nativa, que será substituída paulatinamente pelas “florestas plantadas”, argumentos estes que procuram introjetar nas pessoas os benefícios desta silvicultura. O setor empresarial defende como ambientalmente correto e com inúmeros pontos positivos para a economia mundial e até mesmo para o bem ambiental, já que o lucro das florestas está causando maior rentabilidade para seus produtores do que mesmo outras atividades do campo que por muito tempo predominaram na economia nacional. O homem do campo, “leigo” quanto o verdadeiro consumo de água do eucalipto, e a sistemática defesa da plantação das chamadas “florestas verdes”, o deixa em situação bastante complicada, pois o campesino não sabe de que lado está a “verdade”. A seguir, mostraremos a opinião de Vânia Tedine (2003, p. 1) que defende um ponto de vista totalmente oposto ao anterior, vejamos: “A cultura do eucalipto representa uma fonte de energia 87% mais barata

8 Ciência cuja finalidade é o estudo e a exploração de florestas, cultura de árvores florestais. (DICIONÁRIO, 2009, p. 260). 9 Alexandre Bertola, Engenheiro Florestal (Ms) - Setor de Inventário Florestal – V&M Florestal Ltda. 23

que a de combustíveis fósseis, por outro lado, é devastadora: reduz à biodiversidade, afeta os lençóis freáticos, altera a qualidade do solo e destrói a capacidade futura de produção de alimentos”. O plantio do eucalipto ampliou-se indistintamente no Brasil, obviamente que os produtores plantam nos locais onde é mais fácil para fazer a correção do solo. A silvicultura adaptou-se facilmente ao clima brasileiro, aliada as técnicas de correção de solo e o melhoramento genético do eucalipto, fez o Brasil ser o maior produtor de eucalipto do mundo. A demanda da plantação cresce em larga escala e sua produção também pode ser feita através de clonagem de mudas de eucalipto. Essa técnica permite as empresas de produção de mudas florestais a rentarem com mais facilidade e rapidez, assim, o cultivo pelo princípio de clonagem com obtenção total de plantas superiores, é elevar ao máximo os investimentos em sistemas de alta produtividade em uma menor quantidade de área plantada. Aplicado, sobretudo na produção de celulose, mas também como já falei anteriormente na indústria moveleira e para alimentação da metalurgia de ferro gusa no Maranhão, na forma de carvão vegetal e lenha em algumas regiões do Brasil. A utilização dessas “florestas plantadas” com fins industriais e a monocultura em larga escala, é uma prática altamente lucrativa. Este tema tem sido alvo de grandes discussões e disputas, entre os trabalhadores e o capital, representado pelas indústrias de celulose, no caso do Baixo Parnaíba e Leste maranhense, diga-se: Cia. Suzano de Papel e Celulose. Os trabalhadores rurais sofrem duplamente, primeiro, ficaram sem terras para o cultivo dos produtos naturais da região (feijão, arroz, milho, mandioca etc.). Segundo, devido ao fato do manejo do eucalipto utilizar um pequeno contingente de mão de obra. Além de uma terceira categoria prejudicada, que são os proprietários das terras arrendadas para a plantação de eucalipto que também são pressionados por uma ampla massa de trabalhadores rurais sem-terra. Desde sua chegada ao Brasil, o plantio do eucalipto tem ganhado espaço na indústria de madeiras, substituindo grande parte da mata nativa. Sabemos que este “deserto verde” 10, vem prejudicando não só a natureza, mas principalmente o meio social que tem sido prejudicado pela produtividade do eucalipto em nosso país. A seguir mostrarei um quadro comparativo entre a produção de eucalipto no Brasil e nos dois países que mais competem conosco na silvicultura.

10 Termo utilizado por ambientalista para designar a floresta de plantas exóticas onde não abrigam diversidade de espécie de plantas e animais, sendo assim o uso de agrotóxicos. 24

Gráfico1: Comparação entre a produtividade, do eucalipto no Brasil,na Austrália e nos EUA.

Fonte: ABRAF (2006) apud Guia (2008)

Conforme nos mostra o gráfico 1, percebemos as áreas plantadas nos países que mais produzem eucaliptos. A crescente produção de eucalipto no Brasil, razão porque nos tornamos o maior produtor mundial é facilmente explicada pelo presidente da Duratex, Sr. Antonio Joaquim de Oliveira11. Segundo o mesmo, nossa produção é baseada no seguinte tripé: quantidade de terras disponível maior do que em qualquer outro lugar do mundo; tecnologia genética imbatível e mecanização das operações. No Brasil, o Código Florestal diz que todas as empresas, cujas atividades provoquem expressivas interferências ao meio ambiente, são obrigadas por lei a obterem o licenciamento ambiental junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis, desde as fases iniciais do projeto até a sua efetiva intervenção. Os projetos devem ser estudados e analisados, para que os impactos de domínio social e ambiental sejam minimizados:

Art. 2º. As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem. (BRASIL, 2012).

11 Presidente da Duratex em entrevista concedida ao jornalista Sergio Weib, da Band News. Disponível em: < http://mais.uol.com.br/view/cphaa0gl2x8r/antonio-joaquim--presidente-da-duratex- 04024D9B386EC0C95326?types=A& > Acesso em: 2 jul. 2016. 25

Entretanto, não é isso que se ver na prática. A indústria florestal brasileira através de pressão sobre o governo federal conseguiu migrar para o Ministério da Agricultura, alegando que o Ibama, não passa de um órgão que cuida dos marcos regulatórios do setor, e uma indústria que a cada hectare plantado transferi R$ 7,4 mil ao PIB, que desenvolve a mais alta biotecnologia aplicada ao campo, não pode ficar sendo “freada” por marcos regulatórios que pouco ou quase nada acrescentam à economia nacional.

1.3 Principais argumentos favoráveis ao cultivo do eucalipto

Em tempos de discussão sobre a exploração de cultivos florestais, é notório que o novo tema está diretamente ligado à finalidade econômica faz parte de uma estratégia das grandes corporações empresariais. O país tem seu potencial voltado a disposição de áreas, possibilitando justificar o cultivo conforme segue abaixo:

a) Atende plenamente às demandas de consumo de madeira contribuindo para a preservação das florestas;

b) Contribui significativamente para diminuir a pressão para a derrubada das florestas nativas; c) Um hectare plantado de eucalipto produz a mesma quantidade de madeira correspondente a 30 hectares de florestas tropicais nativas; d) Gera empregos diretos e indiretos, recolhimento de impostos, e altos investimentos em infraestrutura; e) Consumo de bens da produção local onde as “florestas” foram plantadas; f) Fomento de diversos tipos de novos negócios

Práticas adequadas de cultivo são indispensáveis para o sucesso em qualquer produção. Antes de iniciar as plantações, é preciso escolher a espécie de eucalipto que melhor se adapte para o tipo de solo e qual a destinação final daquele eucalipto a ser plantado. Produção de celulose, carvão, indústria moveleira etc. Ao longo desta pesquisa relativa ao Meio Ambiente e suas variáveis aqui abordados, tenho percebido que a questão central é bastante diferente do discurso que as pessoas defensoras das empresas que compõem o seguimento da Indústria Florestal. Como afirma o jornal da Aracruz umas das maiores empresas nesse seguimento “[...] as indústrias brasileiras 26

que usam o eucalipto como matéria prima para a produção de papel, celulose e demais derivados representam 4% do Produto Interno Bruto, 8% exportações e geram aproximadamente 150 mil empregos.” (ANDRADE; PAIVA, 2006, p. 1). O reflorestamento como uma atividade destinada a gerar empregos é uma falácia, está destinada a gerar lucros como qualquer empresa capitalista, apenas isso. A implantação da floresta depende, não apenas da promessa de reflorestamento sustentável, mas sim da exploração da mata nativa, da pouca geração de empregos, da diminuição de água, e de desapropriação de terras de pequenos agricultores rurais e outros inúmeros impactos aqui estudados, diferentemente do discurso proferido. Desde que o eucalipto chegou ao Brasil despertou muito interesse comercial. Nos anos 60 a indústria florestal conseguiu incentivos fiscais e se “espalhou” pelo nosso país. Muitas são as empresas atuam nesse seguimento de celulose no Brasil, dentre elas a Aracruz, que adquirida pela Fibria, atualmente lideram o mercado nacional de celulose. Temos ainda a Eldorado, a Cenibra, que atuam, basicamente no Estado de Minas Gerias e ainda a Cia Suzano Papel e celulose, uma das líderes do setor e nosso principal objeto de estudo neste trabalho. A Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA) é a entidade que representa os interesses da indústria brasileira de celulose e papel (Tabela 1). As empresas associadas à Bracelpa respondem por 80% da produção nacional de papel, estão presentes em 540 municípios de 18 Estados brasileiros, e empregam aproximadamente 703 mil trabalhadores diretos e indiretos. (BRACELPA, 2016)

Tabela 1: florestas plantadas nos Estados mais produtores de eucaliptos 2012

REGIÃO ÁREA RAZÃO SOCIAL

Mato Grosso do Sul 587 mil hectares Fibria e Eldorado

Maranhão 173 mil hectares Suzano de Papel e Celulose

Piauí 27 mil hectares Suzano Papel e Celulose

Bahia 605 mil hectares Suzano Papel e Celulose

Espirito Santo 250 mil hectares Suzano Papel e Celulose

Minas Gerais 1,4 milhão de hectares Cenibra; Suzano Papel e Celulose.

São Paulo 1,04 milhão de hectares Suzano Papel e Celulose

Tocantins 109 mil hectares Braxcel

Fonte: ASSOCIAÇÃO (2013) 27

Mapa 1: Área e distribuição de plantios florestais com Eucalipto em 2012

Fonte: ABRAF (2013)

A presença da indústria florestal representada acima (Mapa 1), é bastante significativa e está presente na maioria dos estados brasileiros. As grandes empresas da indústria florestal ocupam estes estados e de certa forma dominam a economia local, principalmente nas pequenas localidades do interior do Brasil. Nas regiões Sudeste, Centro Oeste e Sul, quase todos os Estados tem “florestas de eucaliptos” e fábricas instaladas, por possuírem solo e clima favoráveis ao eucalipto. A Aracruz, tem seus eucaliptos cultivados para a produção de celulose com um ciclo rápido, de até sete anos. Após a preparação e fertilização do solo, que inclui vários nutrientes, a muda do eucalipto pode ser plantada. A ação desse ciclo faz com que a Aracruz consiga produzir no Brasil cerca de 3 milhões de toneladas de celulose branqueada de eucalipto por ano. (SEMENTES, 2016) A Suzano Papel e Celulose, nosso foco de pesquisa, está concentrada na região Sudeste e Nordeste, vem crescendo consideravelmente no setor de celulose. No Maranhão, na cidade de Imperatriz a empresa acaba de investir mais R$ 500 milhões de reais, com a implementação de sua maior fábrica no país. A implantação da fábrica nos arredores de 28

Imperatriz já começou a causar problema com os ambientalistas locais, pelo lançamento dos dejetos da fábrica em um córrego afluente do rio Tocantins. Em nível nacional e internacional a Suzano enfrenta uma campanha global contra árvores transgênicas, que ela foi autorizada a plantar. Outro fator de preocupação dos ambientalistas e estudiosos do tema se refere a grande quantidade água explorada pelas plantações que não necessitam de muitos nutrientes; precisa de água e sol para se desenvolver. Tempo médio para corte, dependendo da espécie, de 4 a 11 anos, atingindo em média 25 metros de altura. Cada árvore consome cerca de 360 litros de água por dia (TENDINE, 2003). A biodiversidade é de direito de todos e deve ser tratada por nós brasileiros como causa de garantia nacional. Não devemos permitir que as indústrias pensem por nós.

1.4. Os recursos hídricos

O Brasil, no que se refere à disponibilidade de recursos hídricos, dispõe de uma posição privilegiada em relação aos outros países do mundo. Correspondendo a 13% da disponibilidade hídrica mundial (AGÊNCIA, 2013). Uma das maiores preocupações atuais da sociedade diz respeito ao ambiente e dos recursos naturais, devido à aceleração da degradação do mundo. Sendo uma das causas à implantação da floresta de eucaliptos que sofre influência diretamente dos recursos hídricos subterrâneos. Estas árvores consomem muita água e contribuem para a diminuição do fluxo de rios e córregos. Sobre “eucaliptização”12 pesquisas apontam que a raiz de sua planta é superficial, consequentemente sua absorção de água também, ocasionando a redução do escoamento subterrâneo. Sabemos que as condições da água são decorrentes da natureza, e por isso sofre interceptação da chuva permitindo sua evaporação. Quando a própria natureza permite os efeitos responsáveis para a formação das florestas naturais, pode ser compreendido perfeitamente. O que não é aceitável é que esses efeitos sejam modificados pelo homem rompendo o ciclo natural de cada elemento da natureza, no caso, a água. Tal desequilíbrio vem afetando o meio natural, infelizmente nem todos ainda percebem o tamanho do impacto causado com a crise hídrica, afetando até mesmo outros ecossistemas. O que surpreende mais é o fato do ambiente suportar ainda hoje tamanha

12 Processo de substituição de outras espécies vegetais pelo eucalipto. 29

degradação. Mas sabemos que isso não perdurará por muito tempo. O meio ambiente pede socorro, e nossas fontes de vida também. Sabemos que determinadas culturas agrícolas como o eucalipto são as maiores responsáveis pela contaminação dos recursos hídricos superficiais, causando perda da biodiversidade nos locais onde são plantados. A intervenção humana, principalmente com a intensa utilização de venenos, vem agravando a infiltração da água no solo, consequentemente causando efeitos não apenas ao meio ambiente, mas também prejuízos sociais e econômicos. Como é sabido por todos nós, há muito o capitalismo invadiu o campo brasileiro. Orgulhamo-nos de ser o maior plantador e exportador de soja do mundo. O agronegócio conseguiu chegar ao Congresso Nacional, conta com uma relativa bancada de deputados e senadores. Indicou o ministro da agricultura do governo Lula, Roberto Rodrigues13 e no governo Dilma Rousseff, a ministra da Agricultura foi a senadora Kátia Abreu, uma empresária pecuarista. E no atual governo de Temer, Blairo Borges Maggi, conhecido como o "rei da soja", é ministro da agricultura. A instalação das chamadas empresas florestais no campo brasileiro, é o mais significativo exemplo do lema de Caminha: “Em se plantando tudo dá”. A principal preocupação dos empresários do setor é expandir a silvicultura do eucalipto, notamos que as preocupações com o meio ambiente são poucas, e que sua preocupação em conquistar novos mercado está sempre em primeiro lugar. Além de depositar seus resíduos nos rios da região onde o eucalipto foi plantado. Não conseguimos reparar a “olho nu”, mas a exportação de soja e celulose em pasta ou em papel é exportação de água, que a maioria dos países não possui em abundância. Daí essa corrida para o campo brasileiro, as suspeitas existem, mas a indústria florestal insiste em dizer que não ficou nada comprovado cientificamente, mas os ambientalistas são uníssonos em afirmar que a plantação de eucalipto é danosa para todo o eco sistema em sua volta. Havendo uma constante preocupação em relação a utilização da água por esta silvicultura de eucaliptos, principalmente em áreas com déficit de recursos hídricos. As empresas madeireiras utilizam do discurso de comparação da monocultura com as demais agriculturas como café, soja, cana de açúcar que também se utilizam água em grande escala e que podem prejudicar solo. Mesmo em países de poucos recursos hídricos, é possível ver extensas plantações de eucaliptos, alertando para o pouco benefício da água. Vale lembrar

13 Quando indicado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, para ser o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, exercia o cargo de presidente da Associação Brasileira de Agribusiness. 30

que tal silvicultura varia muito da região, sendo esta espécie de fácil adaptação ao solo, mesmo ele sendo degradado e de pouca fertilidade.

Tabela 2: Consumo de água necessária durante um ano (ou ciclo) da cultura

CULTURA CONSUMO DE ÁGUA (MM)14

Cana de açúcar 100 – 2.000

Café 800 – 1.200

Eucalipto 800 – 1.200 Citrus 600 - 1.200

Milho 400 – 800

Feijão 300 - 600

Fonte: Calder; Hall; Adlard (1992)

A tabela 2 mostra que o eucalipto consome a mesma quantidade de água que um plantio de café, e consome uma quantidade menor de água se comparado à cultura de cana de açúcar. Esse argumento é muito utilizado por aqueles que defendem a silvicultura do eucalipto o que tem favorecido o aumento das áreas plantadas, sempre com a mesma argumentação, de menor perda de solo e aumento de fertilidade.

1.5 Os problemas trabalhistas

A expansão agroindustrial de árvores exóticas à nossa região, da monocultura em larga escala vem recebendo enormes críticas por parte de historiadores ambientalistas, trabalhadores sem-terra, instituições não governamentais, pequenos produtores rurais, sociedade civil organizada, dentre outros, contrariando o discurso ambientalista e sustentável da agroindústria. O agronegócio vem preocupando cada vez mais a classe dos trabalhadores do campo que dependem necessariamente de suas terras para sua sobrevivência, além da preocupação com os impactos ambientais causados em suas terras. Nas grandes áreas de plantios, os casos de degradação além de serem provocados “naturalmente” pelo plantio do eucalipto, é ainda mais agravado principalmente pelas

14 Cada milímetro corresponde a um litro por metro quadrado. 31

terceirizadas, que em realidade é a grande maioria das empresas que atuam nessa área no campo. A relação dessas empresas com os seus trabalhadores rurais é a pior possível. Foi à agricultura a atividade que congregou homens e mulheres, sendo a principal fonte de vida e de trabalho. A agricultura, segundo Michel Augé Laribé (1955), designa acima de tudo as técnicas, o trabalho agrícola recompensado pelas colheitas e os agricultores com suas maneiras próprias de viver, o que o distingue da vida urbana industrial. A agricultura engloba três fatores: a terra, por meio natural, os homens por peso da demografia e as técnicas que são as forças produtivas. Qualquer fator da produção agrícola produzirá efeitos, seja ele de maior ou de menor importância. A presença do agronegócio e da indústria florestal se tornou forte no cerrado, hoje constituído por uma forte presença de trabalhadores em assentamentos rurais, fruto de alguma de reforma agrária localizada e que praticam a agricultura tradicional e que tecnicamente e do ponto de vista capitalista posicionam-se muito distante do agronegócio. Este segmento é constituído pelos assentados de reforma agrária e grupos de agricultores tradicionais. O Estado brasileiro por outro lado, através de suas agências de fomento (Banco do Brasil, Banco do Nordeste, BNDES, Banco da Amazônia), se mostra adepto ao agronegócio, ao financiar as grandes lavouras em detrimento dos pequenos agricultores que vivem uma situação desigual frente ao Estado, pois disfrutam de pouca assistência técnica agrícola e quase nenhum crédito. Nosso estudo na região do Baixo Parnaíba, no Estado do Maranhão, um dos maiores produtores de celulose, constata que os descasos das políticas públicas voltadas aos camponeses, alimentam interesses privados incitados pelo acúmulo de oportunidades e por medidas de apoio ao agronegócio, ali representadas pelo progresso da soja e eucalipto. Nessa região, a questão agrária é marcada pelo conflito da posse de terra. Isto se percebe em inúmeros povoados, aglomerado de posseiros em disputas de território com as forças econômicas situadas na região e também pelas políticas das prefeituras locais. A modernização alterou a estrutura produtiva da agricultura introduzindo equipamentos modernos e substituindo os trabalhadores, assim concentrando a terra e a renda na mão de poucos e deteriorando as condições de vida da maioria da população. Essa conjuntura está relacionada à modernização do capitalista industrial, provocando transformações no mundo do trabalho por meio do aumento da terceirização, redução de trabalhadores com carteira assinada e ampliação das precárias condições de trabalho. Essas mudanças no mundo do trabalho não se restringem apenas a zona urbana, mas principalmente a zona rural. 32

O agronegócio é uma variante moderna do capitalismo no campo, com grandes extensões de terras e pouca mão-de-obra. Para o Estado esse é o padrão que fez progredir o campo brasileiro, porque colabora com o PIB (Produto Interno Bruto), responsável pelo aumento da economia, empregos e cultivo de alimentos. A realidade do interior do país nos mostra uma situação bastante diferente desse discurso. A região do Baixo Parnaíba, em especial, vem sofrendo com esses problemas trabalhistas, o pouco incentivo governamental afasta os pequenos agricultores do campo e os leva a uma situação de miséria no mundo urbano, que nada vos dá, a não ser a consolidação da pobreza. No segundo capítulo veremos como esse desenvolvimento empresarial no campo reflete diretamente nas comunidades rurais do leste maranhense.

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2. O desenvolvimento capitalista da agricultura brasileira, em especial o Estado do Maranhão.

Foi por volta do século XVIII que a sociedade ocidental foi apresentada ao capitalismo industrial. Foi ele que introduziu as técnicas fabris para a produção de alimentos e através dessas técnicas conseguiu o aumento da produtividade na agricultura. Desde então o capitalismo vem se reinventando crise, após crise e chegamos ao capitalismo do século XXI que para muitos é o capitalismo marcado pelo protagonismo exercido pela especulação financeira e pela bolsa de valores, que passou a ser uma espécie de “termômetro” sobre a economia de um país. A expansão e consolidação do agronegócio por todo o mundo têm implantado sistemas industriais abusivos ao meio ambiente. O que ocorre com as grandes indústrias na agricultura são os elevados lucros destinados a uma agricultura capitalista que facilmente degrada o meio social e ambiental. As transformações ocorridas no campo estão relacionadas com o processo capitalista da agricultura, quando se diz que a economia do país está ligada diretamente ao setor agrícola, é meia verdade. Em nenhum momento são levadas em consideração nem são vistas as necessidades das comunidades de camponeses cuja sobrevivência material depende exclusivamente do campo. No Estado do Maranhão, a dinâmica dessa expansão inclui a substituição da policultura de alimentos básicos, como arroz e mandioca, milho, feijão, entre outros, pela monocultura de grãos, pela silvicultura de eucalipto, soja e pela pecuária. De modo geral, tem funcionado a serviço dos segmentos empresariais voltados para a produção de commodities e que se vinculam ao mercado externo e à acumulação do capital em escala mundial. O agronegócio foi dominando a pequena produção agrícola, em todo mundo, impulsionando mudanças na forma de produzir na exploração do trabalho. A modernização agrícola não suprimiu os pequenos produtores, porém na maioria das áreas de extensão do capital no campo, a agricultura camponesa se reduziu, havendo uma grande migração para a cidade em busca de melhores condições de vida. O termo modernização da agricultura é utilizado para designar a transformação na base técnica da produção agropecuária no pós-guerra, as modificações intensas da produção no campo e das relações capital x trabalho (GRAZIANO, 1981 apud MATOS; PÊSSOA, 2011). O eucalipto tornou-se um problema no Brasil, a partir dos anos 1960. Antes ele era produzido nos estados do sul do 34

país em pequenas e médias propriedades. Depois houve um procedimento de melhoramento genético que permitiu que o eucalipto pudesse ser produzido em larga escala, no cerrado. Atualmente, os plantios suprem também o abastecimento da indústria de produção de pellets15 de madeira anunciada pela Suzano Papel e Celulose. O presente trabalho faz abordagem sobre as motivações da indústria na agricultura e o quanto gerou lucros para os grandes empresários do agronegócio, em especial a produção de celulose no Brasil desenvolvida pela empresa Suzano Papel e Celulose no âmbito nacional, destacando sua visibilidade para o Estado do Maranhão. Sendo assim, o agronegócio reflete a inserção do capitalismo no campo, a partir de uso de tecnologias agrícolas, bem como grandes extensões de terras, o uso de pouca mão-de-obra e a monocultura em larga escala. Tal modelo de produção, para o Estado, amplia sua economia, desenvolve técnicas no campo e gera produção e poucos empregos. Monoculturas como a soja e o eucalipto - aqui estudado com maior ênfase – podem ser também produtos cultivados até mesmo por pequenos agricultores. O grande incômodo causado por essa monocultura se refere às grandes áreas utilizadas para essas plantações que expulsa muitos agricultores de suas regiões de origem. Os inimigos dos pequenos agricultores brasileiros são as empresas transnacionais que produzem em larga escala para continuar acumulando o capital. A maior parte do cerrado brasileiro ocupa as extensas áreas de chapada, de uso comum para todos, proporcionando alimentos como as frutas do bacurizeiro e do pequizeiro, muito utilizadas pelas comunidades

15 O nome Pellets vem do seu formato que se pode encontrar em outros produtos no mercado como rações para animais, fertilizantes etc. Para todos os efeitos os Pellets produzidos a partir de madeira são lenha. Os Pellets são uma fonte de energia renovável pertencente à classe das Biomassa. Os Pellets são um combustível sólido de granulado de resíduos de madeira prensado, proveniente de desperdícios de madeira. Tal como a lenha, os Pellets são produzidos com resíduos de madeira natural com o formato de pequenos cilindros de madeira. A sua produção é feita a partir de madeira limpa resultante da limpeza das florestas e de desperdícios da indústria madeireira (biomassas) que depois de recolhidos triturados e secos, se transformam num produto "serrim" que é comprimido a alta pressão e temperatura de modo a eliminar o máximo de resinas e humidade, para obter o formato final. O resultado é uma matéria 100% natural, com um elevado poder calorífico, estima-se que 3 vezes mais que a lenha normal. Não são usados restos de madeira com resíduos de colas tintas ou vernizes etc. (Estes sim. São usados no fabrico de Brikets). O CO e CO2 libertado pelos Pellets são queimados são bastante reduzidos, sendo semelhante àquela que as árvores que lhe deram origem, absorveram durante o seu crescimento, ou libertam quando ficam em decomposição no meio ambiente. Mas além da vantagem resultante da sua combustão, os Pellets têm origem nas florestas que ocupam grande parte do território nacional, sendo assim um imenso recurso em termos económicos e energéticos que deve ser explorado e protegido. Atualmente, pellets de madeira são importados principalmente dos EUA, Canadá e Rússia. São países exportadores emergentes de pellets de madeira a Austrália, África do Sul e alguns países da América do Sul.

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locais. Estas frutas, que são típicas do Estado do Maranhão começam a ficar escassas e com a real possibilidade de seu desaparecimento completo.

Figura 3: Bacuri

Fonte: http://territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com.br

Lamentavelmente, frutas como bacuri (Figura 3) e pequi que há décadas faziam parte da dieta do homem do interior maranhense, estão sendo simplesmente dizimadas para que o agronegócio possa ampliar suas áreas plantadas para atender ao mercado externo, como o eucalipto e a soja. Essas duas commodities16 ganharam a atenção de todos os investimentos, dificultando e até mesmo impossibilitando, a compra ou arrendamento de terras para os pequenos produtores rurais. O aumento das áreas plantadas pela monocultura ameaça o desaparecimento da figura do posseiro no interior do Maranhão, tão comum até o final do século XX. Para os pequenos produtores que se encontram na categoria de posseiro ou arrendatário, a dificuldade de acesso à terra se tornou uma realidade cruel, ao ponto de impossibilitar a agricultura familiar, causada inequivocamente pelo avanço do agronegócio, consolidando o aumento da desigualdade social e ao mesmo tempo em que aumenta o latifúndio aumenta a pobreza no campo.

Na agricultura do Maranhão, um número reduzido de lavouras/produtos agrícolas, dita o ritmo do setor, tanto no presente como no passado. Na área de alimentos básicos, o arroz continua sendo o mais representativo; como no setor de matéria prima era a cana de açúcar (até 80), e, mais recentemente, cabe à soja deter este papel. Mas outros produtos comerciais também são importantes, a exemplo do eucalipto, milho e pecuária empresarial. (MESQUITA, 2011).

16Produto primário, especialmente um de grande participação no mercado internacional, como a soja. (FERREIRA, 2001, p. 167) 36

Figura 4: Monocultura de eucalipto Figura 5: Monocultura de soja

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/ Fonte: Autora

As principais culturas básicas no Maranhão estão perdendo sistematicamente sua área plantada para a monocultura (Figuras 4 e 5). Os grandes produtores utilizando das novas tecnologias empregadas nesse “novo” modelo agrícola: sementes melhoradas geneticamente, bactericidas, adubos sintéticos, máquinas, financiamentos por agências de fomento, etc. Os pequenos agricultores maranhenses, ainda se utilizam da forma tradicional de plantação e não podem competir, com o modelo acima descrito. Esse cenário formado pelo agronegócio com o apoio do Estado com características “modernizadoras”, em que o capital ganha intensidade, modificando os espaços, o uso dos territórios. Os incentivos do Estado vêm sendo direcionados as culturas exportáveis, deixando de lado a produção para consumo próprio e visibilizando apenas o consumo lucrativo.

Transformações profundas ocorreram na indústria maranhense, principalmente depois do declínio do óleo de babaçu. A minero metalurgia e a siderurgia surgem como os ramos mais proeminentes dos instalados no estado a partir do Projeto Grande Carajás, dos anos 80 do século passado, além de outros que vão surgindo na esteira do fortalecimento do agronegócio. (DOURADO; BOCLIN, 2008, p. 15).

São elas, as commodites, responsáveis por parte significativa da exportação de grãos maranhense. A pesquisa verificou in loco a fragilidade dos camponeses diante do capital empresarial e a falta de políticas governamentais efetivamente voltada para os homens do campo. O avanço do eucalipto e da soja no leste maranhense e uma clara evidência do que estou afirmando. As comunidades tradicionais resistem há anos e mantem a disputas pela posse da terra, num processo que já está viciado por todos, principalmente pelos agentes do poder 37

público. As relações de trabalho na estrutura agrária e econômica no Maranhão estão próximas do trabalho escravo quando não o são de verdade, contudo os camponeses desenvolvem estratégias para barrar o avanço da monocultura e lutam para não serem subjugados ao modelo de agricultura empresarial conforme afirma Carneiro (2013, p. 25):

A importante presença do trabalho agrícola, que representou 34% do total de ocupações no Estado do Maranhão, em 2009, não considera, necessariamente, os empregos gerados em outros setores e que podem ser associados às diferentes cadeias produtivas [...] verificamos que nada menos que 83% dos ocupados nas atividades agrícolas são agricultores familiares.

Como já afirmei anteriormente, as famílias que constituem as comunidades rurais do Baixo Parnaíba, eram em sua grande maioria compostas de posseiros. Ali chegaram, lavraram a terra e viviam há gerações nas mesmas terras, com o mesmo estilo de vida simples dos camponeses maranhenses. Criaram identidade com os locais onde nasceram, trabalham e vivem, mesmo sem conseguir os financiamentos bancários para o aumento de sua produção. De repente se veem ameaçadas de perderem tudo.

2.1 A Empresa Suzano Papel e Celulose e a Ocupação da Região do Baixo Parnaíba.

O Grupo Suzano é uma das mais tradicionais organizações privadas brasileiras, fundada por Leon Feffer há 92 anos, iniciou suas atividades vendendo papéis importados e nacionais. Em 1939, seu fundador invertia literalmente os papéis, inaugurava sua primeira fábrica de papel e de importador, passava a exportador. Hoje atuando em vários setores da economia nacional tais como: corretagem de seguros e resseguros, gerenciamento de riscos, desenvolvimento imobiliário, indústria gráfica e comunicação multicanal. Tem sua principal atuação pautada no seguimento da indústria de papel e celulose. A Suzano é uma empresa de capital aberto, e atua também no seguimento de e biotecnologia. Atuamos também no setor de biotecnologia, por meio da FuturaGene, a primeira empresa do mundo a conseguir aprovação para o uso comercial do eucalipto geneticamente modificado, que trabalha no desenvolvimento genético de culturas florestais e biocombustíveis, com laboratórios de pesquisa em Israel e na China. (SUZANO, 2016) O domínio dessa tecnologia por parte da FuturaGene, uma empresa do Grupo Suzano, não só lhe deu o pioneirismo no mundo na área do eucalipto transgênico, como também 38

lhe permitiu diminuir em dois anos o período de corte do eucalipto, ou seja: o eucalipto da Suzano está pronto para ser utilizado em qualquer das atividades que lhe for destinada com cinco anos de plantado. A empresa é que a consolidação em todos os sentidos do que entendemos por capitalismo industrial. Suas áreas de florestas plantadas somam hoje 1,06 milhão de hectares, dos quais 519 mil estão concentrados nos estados da Bahia, no Espírito Santo, em São Paulo, em Minas Gerais, no Maranhão, cuja área plantada em nosso Estado elevará sua disponibilidade de celulose no mercado para cerca de 3,4 milhões de toneladas (SUZANO, 2014, p. 12). Possui ainda “florestas plantadas” nos estados de Tocantins, Piauí e no Pará conforme mapa a seguir.

Mapa 2: Mapa de localização da Suzano

Fonte: Suzano (2014)

O mapa 2 nos mostra a atuação da empresa em boa parte do país. Mesmo não sendo a maior indústria de celulose, ela está presente em Estados muito ricos como São Paulo e Minas Gerais, contrastando com Estados menos favorecidos economicamente como Maranhão e Piauí. O único Estado da federação brasileira onde a empresa Suzano além de uma vasta área plantada com eucalipto, fábrica, porto e estrada de ferro, é o Maranhão.

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Figura 6: Fábrica Suzano Imperatriz – MA

Fonte: Suzano (2014)

No Brasil, a Suzano possui seis unidades industriais: Assim distribuídas: uma no Estado da Bahia, quatro unidades no Estado de São Paulo e uma unidade fabril no Estado do Maranhão, no município de Imperatriz (Figura 6). Vende celulose para mais de 30 países e produtos por ela fabricados para mais de 60 países. A Revista Época, em matéria veiculada alerta para a importância do mercado mundial, com sua mais nova unidade em Imperatriz, e por sinal a mais moderna da empresa e a sexta do mundo em produtividade. (COM NOVA, 2014)

Figura 7: Produto celulose

Fonte: Autora

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Tabela 3: Celulose da empresa Suzano pelo mundo

PAÍSES % DE CELULOSE TOTAL DE TONELADAS REFERENTE AO ANO DE 2013

Europa 31%

Ásia 36% América Latina17 1% 1,895 milhão América do Norte 10% Brasil 22% Fonte: Suzano (2016)

A celulose (Figura 7) é produzida a partir de 100% de florestas de eucalipto. São as chamadas florestas renováveis, ou seja, elas vivem ciclos de 6 a 7 anos e são utilizadas como matéria-prima. Os principais produtos comercializados no mercado doméstico e internacional pela Suzano são: celulose de eucalipto, papéis para imprimir e escrever (revestidos e não revestidos) e papel cartão. A Suzano é líder no mercado de papel cartão na América Latina (Tabela 3). Está entre os 10 maiores produtores de celulose de mercado e é a segunda maior produtora de celulose de eucalipto do mundo. Além disso, a empresa busca oferecer produtos de base florestal renovável, celulose e papel, destacando-se pelo desenvolvimento de soluções inovadoras e contínua busca da excelência em suas operações. A figura 8 exemplifica como funciona a política de produção e venda da empresa de celulose:

17 Excluindo o Brasil

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Figura 8: Produção da celulose e papel

Fonte: Suzano (2016)

A Suzano tem como base primordial de seu discurso a sustentabilidade. Alega a aptidão de aceitar que os ciclos decrescimento se revigorem, o que implica estabelecer as bases para um desenvolvimento que integre operações competitivas, responsabilidade socioambiental e relacionamentos de qualidade. Seu discurso implica na teoria de conservação da fauna e da flora para a sustentabilidade da biodiversidade e preservação dos espaços naturais inseridas pelas áreas de Reserva Legal e de preservação permanente, como afirma: Walter Schalka, presidente da Suzano em fala pronunciada em:

No âmbito socioambiental, reforçamos o compromisso de conduzir nossos processos sempre de forma eficiente e com respeito às pessoas e ao meio ambiente. Nossa aliança com o tema está refletida diretamente no negócio e em outras ações que envolvem o diálogo permanente e transparente com as partes interessadas; a implantação de programas socioambientais com parceiros regionais visando à geração de trabalho e renda; o estímulo à educação e ao desenvolvimento territorial [...]. (SUZANO, 2014, p.7)

A Suzano no Brasil caracteriza-se por ser uma das maiores empresas da indústria florestal, com forte concentração fundiária e elevada concentração econômica. Esses pressupostos lhe garantem significativos avanços tecnológicos, capaz de impactar diretamente 42

as comunidades que residem em áreas ao seu entorno. É mundialmente competitiva e detém alto poder de interferência no meio ambiente. As pesquisas por ela desenvolvidas são de altíssimo valor financeiro e de excelência, como por exemplo o melhoramento genético por meio de seleção de espécies. Outro motivo que trouxe a Suzano, a se instalar no Nordeste, foi e continua sendo o atrativo preço da terra na região. Moradores das comunidades rurais no Baixo Parnaíba maranhense, falam em preços de terras pagos pela Suzano em 2000 em torno de R$ 80 por hectare. Hoje mesmo com o preço sendo estimado no valor de 500 reais, ainda é muito baixo em comparação ao preço médio pago pela terra em outras regiões do Brasil (OVERBEEK; SOUZA, 2013).

2.2 As Plantações de Eucalipto no Baixo Parnaíba, Maranhão

A exposição que fiz até agora nos oferece uma visão ampla dos processos sociais, econômicos e ambientais que estão transformando o Maranhão desde a década de 1970, quando aqui aportaram os Grandes Projetos, todos inicialmente vinculados ao minério de ferro que há pouco haviam sido descobertos no sudoeste do Estado do Pará, mais precisamente na Serra dos Carajás. A estrada de ferro São Luís/ Carajás, os melhoramentos feitos no porto do Itaqui e a grande quantidade de terras baratas, trouxeram para o Maranhão a indústria florestal, e desde então a desorganização da economia dos pequenos produtores e as intensas disputas territoriais entre camponeses e grupos empresariais. O capitalismo invadiu o campo maranhense nas décadas de 1970/1980, no bojo da Lei nº 2979 de 1969 ou como ficou mais conhecida, a Lei de Terras Sarney. A lei permitiu a ação deliberada dos grileiros e a expulsão e morte dos posseiros. A letra fria da lei, dizia que apenas empresas com sociedade anônima podiam adquirir terras devolutas do Estado. Grandes empresas nacionais como a Varig, Maguari, Sudenvest para citar apenas algumas, através de incentivos fiscais, melhor dizendo: com financiamentos da SUDENE18 e da SUDAM19, compraram grandes quantidades de terras a preços irrisórios e foram estimulados a converter “suas” áreas de babaçuais agora compradas do Estado em pastagens, assim dando espaço também para a silvicultura.

18Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. 19Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. 43

Isso ocasionou a expulsão de boa parte do campesino maranhense. Bairros como a Cidade Olímpica (considerada a maior invasão da América Latina), Mauro Fecury I e II em São Luís, são em boa parte constituída por ex-posseiros. No início foi a lei nº 2979, depois a mecanização da lavoura e por último a silvicultura que além de promover poucos empregos, apenas os de alto risco e exigir cada vez mais mão de obra especializada. Para Botelho, Almeida e Ferreira (2012, p. 83) estudiosos dessa temática, há um acordo de que as modificações no local de imóvel e no número de habitantes são reflexos das transformações socioeconômicas ocorridas no país a partir de 1970. Onde as modificações nas relações de trabalho no campo e na cidade, o processo de êxodo rural contribuiu para o esvaziamento de pequenas cidades e ao direcionamento de fluxos migratórios para os grandes centros urbanos como São Luís. Apesar dos recentes investimentos, essas empresas trouxeram para o Estado seu maior problema socioambiental. Winfridus Overbeek20 ressalta que na década de 1980, a Maranhão Gusa S/A (MARGUSA)21 chegou à região com um projeto de produção de carvão vegetal, motivada pela descoberta de ferro de Carajás, no vizinho estado do Pará. A mina de Carajás levou à criação de dezenas de siderúrgicas de ferro gusa, aumentando a demanda por carvão vegetal como fonte energética. A Suzano também chegou à região nos anos 1980, com o “pseudônimo” de: Comercial e Agrícola Paineiras S/A, adquirindo áreas de eucalipto da MARGUSA depois que esta entrou em crise financeira. Os maranhenses estão sofrendo com a grande demanda de produtividade do deserto verde. O que seria um investimento sustentável passou a ser um pesadelo de muitos agricultores rurais. O grande dilema vivido nesses 40 anos é a devastação causada pela monocultura de eucalipto trazido pela Suzano Papel e Celulose e/ou suas terceirizadas. No Baixo Parnaíba, as terras devolutas habitualmente usadas por comunidades locais que delas sobrevivem, praticando uma agricultura de pequeno porte e diversificada de alimentos como o arroz, feijão, milho e mandioca, entre outros, e criando pequenos animais que utilizavam no consumo de proteínas. O espaço da região Leste maranhense (Mapa 3) apresenta um processo de ocupação caracterizado pelo latifúndio. Resultando em um ambiente agrário desigual, com centralização

20Membro do Conselho WRM desde 2003 e um colaborador muito próximo da organização. Também participa da ONG Cepedes e atua na Rede Deserto Verde prestando apoio a comunidades afetadas pelas grandes plantações de árvores em larga escala e outros projetos industriais de grande extensão. 21A Empresa utiliza como matérias primas principais o minério de ferro proveniente da Serra de Carajás e Carvão Vegetal produzido através da Marflora Energética, suprindo as necessidades da Usina com recursos oriundos de suas florestas plantadas. 44

de terras e com a presença do agronegócio. A entrada do modo de produção industrial e de inovações tecnológicas no campo causou diversas modificações no pequeno agricultor maranhense.

Mapa 3: Localização da Mesorregião Leste Maranhense

Fonte: BOTELHO; ALMEIDA, 2012.

A mesorregião Leste Maranhense, tal como classificada pelo IBGE, é constituída por seis microrregiões – , Coelho Neto, Baixo Parnaíba Maranhense, Chapadas do Itapecuru, Codó, Caxias (ANDRADE, 2011, p. 4). No Estado do Maranhão, a região mais afetada com o agronegócio está situada no Baixo Parnaíba (Mapa 4), a saber: Santa Quitéria do Maranhão, São Bernardo, Magalhães de Almeida, , , Chapadinha, São Benedito do Rio Preto, Urbano Santos e Belágua totalizando 13 municípios. O Território Baixo Parnaíba é formado por microrregiões que apresentam uma densidade demográfica de 17,63 hab/Km² e população média por município de cerca de 21.529 habitantes, portanto dentro dos parâmetros adotados pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT e concentração de agricultores familiares, um dos critérios de priorização de atuação do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. (BRASIL, 2005) 45

Mapa 4: Localização do Baixo Parnaíba, Maranhão

Fonte: Brasil (2005)

O manejo das florestas, inclui o preparo da terra, precisa ser feito com bom tratamento, corte, retirada. A forma inadequada gera assoreamento e contaminação dos rios, extinção dos animas e o fim da biodiversidade da região. Como recursos hídricos o território é banhado pelas Bacias do Parnaíba, Munim e rio Preguiças, rios e riachos que favorecem as comunidades. Rios que foram navegáveis até o século XX e sofreram diretamente com as atuais degradações ambientais. Os empresários do setor de silvicultura asseguram que: “dizer que o eucalipto consome muita água e destrói rios são mitos”. Porém, estudos científicos indicam que a monocultura em larga escala e mal manejada de eucaliptos pode gerar grandes impactos hidrológicos. O rápido crescimento da planta necessita de grande uso de recursos hídricos, o que ocorre é que as grandes empresas como a Suzano dependem desses recursos para bom desempenho da sua produção, e consequentemente falseiam a verdade. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) indicou 10 bacias hidrográficas no Maranhão. O Baixo Parnaíba detém quatro bacias conforme tabela abaixo:

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Tabela 4: Caracterização das Bacias Hidrográficas

Bacia Área Área Total no Total de Hidrográfica (Km²) Maranhão (%) Municípios que a bacia abrange Rio Parnaíba 66.449,09 20,02 39 Rio Preguiças 6.707,91 2,02 10 Rio Periá 5.395,37 1,62 06 Rio Munim 15.918,04 4,79 27 Fonte: INSTITUTO (2014)

A Bacia do Rio Munim abrange os municípios em estudo. É perceptível a grande área ocupada no mesmo Estado por várias Bacias, isso demonstra um dos fatores principais para a escolha do Estado do Maranhão ser alvo das grandes empresas de madeira e celulose. Uma visão macro e clara que a água é a principal fonte natural buscada por estas empresas. A plantação utiliza reservas de água do solo, prejudicando o crescimento de outras espécies. As plantações de eucalipto ganham proporções assustadoras em terras maranhenses. Com um governo estadual absolutamente subserviente a esse tipo de negócio, com discurso de investimento sustentável, o agronegócio se implanta no Estado e destrói vidas. No Baixo Paranaíba Maranhense é notório os dramáticos impactos sociais do monocultivo em larga escala do eucalipto. O Leste Maranhense é caracterizado pelo seu potencial agrícola, devido sua disponibilidade de recursos como água, solo, clima e mão-de-obra barata no campo. Na região vivem comunidades rurais que se dedicam basicamente à agricultura de subsistência e à criação de animais em terras de uso coletivo. Essas atividades vêm sendo prejudicadas com a entrada da Suzano Papel e Celulose. No Estado, a Suzano já dispõe de aproximadamente 154 mil hectares de eucalipto para abastecer a fábrica que será erguida em Imperatriz. Desse total, segundo a companhia, ao menos 70% são de terras próprias. Apenas no nordeste do Estado, na região chamada de “Baixo Parnaíba”, banhada pela bacia hidrográfica do rio que marca a divisa com o Piauí, a Suzano obteve licença para implementar 45 mil hectares espalhados por nove municípios.22 (DESERTO, 2011, p. 17)

22 Cartilha elaborada pelo programa com base em pesquisa do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, outro projeto da ONG Repórter Brasil, traz uma análise dos impactos socioambientais gerados pela monocultura do eucalipto e do pinus (culturas conhecidas como silvicultura) nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. A publicação foi impressa com o apoio do Instituto Rosa Luxemburgo Stiftung. O material é destinado para professores e professoras, comunidades e entidades socioambientais. A cartilha apresenta dados sobre a extensão das plantações, o volume de produção e investimentos do setor no país. 47

A expansão do monocultivo de eucalipto no Maranhão vem sendo proporcional ao aumento das denúncias que ferem a legislação trabalhista e ambiental. Denúncias feitas por entidades da sociedade civil à procuradoria do Ministério Público Federal no Maranhão, motivando uma série de Ações Civis Públicas que admitem está sob suspeita, a viabilidade socioambiental do projeto do Grupo Suzano. Também há denúncias a legitimidade das áreas em que a empresa implantou o eucalipto. Para os líderes das comunidades rurais, é possível que muitas destas áreas sejam públicas, acreditando que o domínio da Suzano tenha sido pelo processo de grilagem23. Acredita-se que o Instituto de Colonização e Terras do Maranhão, ITERMA24 - órgão atualmente vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes) – foi um dos órgãos responsáveis por beneficiar a Suzano com o direito de posse. Com isso, as grandes áreas de matas nativas e chapadas tornaram-se um imenso domínio da Suzano que introduziu a floresta de eucaliptos.

No que diz respeito às Ameaças foi evidenciada a compra de terras e regularização por grandes empresários que chegam ao Território movidos pelo agronegócio do eucalipto, como no caso da PAINEIRAS25, e da soja, ocasionando tanto um impacto ambiental quanto social, pois por se tratar de monoculturas, em que são exploradas grandes extensões de terras torna-se inevitável o desmatamento indiscriminado [...] (BRASIL, 2005, p. 39).

No entanto, os latifundiários nem sempre conseguiram romper esses laços existentes entre comunidades e seus territórios. O que a maioria da sociedade nem pensa, que as empresas têm domínio de boa parte de terras sim, mas tem sérios problemas com a resistência (permanência na terra, trabalhando com precárias condições de trabalho) de muitas comunidades, que ainda lutam pelo seu espaço, pela sua cultura e principalmente pela sobrevivência. A Suzano tenta disfarçar sua atuação com discurso que “[...] a maioria das terras onde plantações são implementadas é terra agrícola degradada. ” (OVERBEEK, 2015, p. 1)

2.3. Conflitos entre as comunidades e a Empresa Suzano

23 Para Márcia Motta (2005), é o sistema ou organização ou procedimento dos grileiros, estes últimos que procuram apossar-se de terras alheias mediante falsas escrituras de propriedades. 24O ITERMA, criado pela Lei 6.272 de 06/02/1995, reorganizado pelo Decreto 17.171 de 15/02/2000, é uma entidade pública de natureza autárquica, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Familiar – SAF, cuja principal missão é a execução da política agrária do Estado do Maranhão. 25 Atualmente Suzano Papel e Celulose. 48

Desde o período colonial, no Brasil, a agricultura estava voltada para atender ao mercado externo, as pequenas propriedades rurais produziam produtos de subsistência pouco valorizados. De 1500 a 1822, todas as terras brasileiras pertenciam à Coroa portuguesa, que as doava ou cedia seu direito de uso a pessoas de sua confiança ou conveniência, visando à ocupação do território e à exploração agrícola. Em 1850 foi criada a Lei de Terras26 que assegurou o fornecimento de mão-de-obra barata aos latifúndios, impedindo o acesso dos imigrantes à propriedade, pois com essa lei todas as terras devolutas pertenciam ao Estado (SANTOS; VILAR, 2015, p. 9). A conjuntura fundiária do Brasil, sempre sofreu com a desigualdade imposta pelo Estado, vale ressaltar que esse processo interferiu em muitos estados brasileiros e em suas produções agrícolas, inclusive no Maranhão (Figura 9). A história da centralização da terra no Brasil tem sido marcada pela expulsão de indígenas, quilombolas e camponeses dos seus territórios por latifundiários, incluindo as empresas. Essa ação de desterritorialização fez com que o país tenha uma população urbana da ordem de 85%, e resulta em uma das repartições de terras mais desiguais do mundo.

Figura 9 : Contra o agronegócio, região do Tocantins

Fonte: http://bastopoetaemilitante.blogspot.com.br/

26 José Luiz Cavalcante ressalta que a Lei de Terra é mais um processo de discussão dos vários grupos políticos que davam sustentação ao Império, e seu resultado, em momento algum, teve o objetivo de interferir nos interesses dessa elite política e econômica, constituída em grande parte por fazendeiros. A terra continuou a ser adquirida sem o controle do Estado, sob a proteção de documentos forjados. Apenas após a Proclamação da República é que a Lei de Terra foi revista. (CAVALCANTE, 2005) 49

A renúncia às lavouras de subsistência e o avanço da centralização fundiária representa uma das principais características da agricultura contemporânea, tendo como consequência a exclusão de uma parcela dos agricultores, ocorrendo à alteração social e econômica da agricultura familiar. Apresenta além de valor comercial, uma afetividade com a terra, que no seu valor vem sendo fundamental para a permanência dessas famílias que lutam pelo seu estabelecimento rural. Nossas comunidades estão vivendo momentos de tensão em defesa do seu território, terras estas onde produzem suas roças as margens do eucalipto, devido a pouca quantidade de terras existente. A ilegalidade da ação da Suzano de pretensão territorial das comunidades envolve métodos de práticas ilegais para obtenção de terras.

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3. Luta Pela Posse de Terras e Questões Socioambientais em Urbano Santos

O município de Urbano Santos se estende por uma área territorial de 1.708,294 Km2 e possui uma população estimada segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE (2014), de 31.840 habitantes. Limita-se com os municípios de Belágua e São Benedito do Rio Preto, Urbano Santos está situado a 59 km ao Norte-Oeste de Chapadinha, a maior cidade maranhense do Baixo Parnaíba.

Mapa 5: Localização do município de Urbano Santos – MA

. Fonte: IBGE (2015)

As terras do atual município estão localizadas à margem direita do rio Mocambo, nome que lhe foi atribuído pela grande quantidade de negros insurretos quando ocorreu a Balaiada,27 ali terem se amocambado. O lugarejo se desenvolveu e a denominação do rio foi

 Optamos por reduzir os subtítulos no 3º capítulo deste trabalho, por entender que minhas pesquisas me levaram quase sempre para o mesmo lugar, ou seja: A luta do capital versus trabalho. 27 Para Claudete Maria Miranda Dias (2003, p. 1) “[...] a Balaiada foi um movimento social ocorrido no Piauí, Maranhão e Ceará, do final de 1838 a fins de 1841. De um lado, grandes proprietários de terras, autoridades provinciais e comerciantes; de outro, vaqueiros, artesãos, lavradores, escravos e pequenos fazendeiros sem direito à cidadania e acesso à propriedade da terra, dominados e explorados por governos clientelistas e autoritários formados pelas oligarquias locais que ascenderam ao poder político com a ‘proclamação da independência’ do país”. 51

emprestada ao mesmo, inicialmente chamado de Mocambinho. O comerciante Paulo Fortes tentando minimizar as dificuldades enfrentadas pelos moradores mandou construir, em frente ao seu estabelecimento comercial, uma ponte de madeira. Essa “generosidade” fez crescer o movimento do comércio e naturalmente o de Mocambinho. O incremento comercial e o aumento demográfico de Mocambinho fez o governo estadual providenciar a construção de outra ponte, maior e mais segura, que os populares passaram a chamar de Ponte Nova. Surgia a Vila de Ponte Nova. Em 1929, em homenagem ao Vice-Presidente da República, maranhense natural de Guimarães, Urbano Santos da Costa Araújo, a Vila recebeu o nome do vice presidente e em 1938, Urbano Santos foi elevada à categoria de Cidade.28 Banhado pelos rios Mocambo e Boa-Hora, o município já foi um grande produtor de farinha e arroz, hoje seus habitantes sobrevivem do comércio, de empregos públicos. Seus trabalhadores menos qualificados emprestam sua força de trabalho à Gerdau na produção de carvão, extraído das florestas de eucalipto, plantadas em grande quantidade em solo urbano- santense. Na década de 1980 teve início a transformação socioambiental que continua em processo, em nosso município. Os primeiros experimentos de eucalipto foram feitos pelos trabalhadores trazidos pela empresa Agro Florestal Paulista. Foram eles que iniciaram a compra das terras e trouxeram as primeiras mudas da monocultura, aos poucos foi se integrando à comunidade local. Algum tempo depois, por razões de segurança que minhas entrevistas com os trabalhadores pioneiros, não consegui fazer-lhes confessar, a empresa Agro Florestal Paulista, passou a ter nova denominação: Comercial e Agrícola Paineiras, nome que foi mantido por mais de dez anos. Só depois e ainda sem explicações confessáveis, foi assumida a identidade real da empresa, ou seja: Companhia Suzano Papel e Celulose. Essa empresa, como já foi exposta nos capítulos anteriores, trouxe plantas altas, agressivas, “exóticas” à região e usando produtos tóxicos em larga escala, afastou os animais,

28 Distrito criado com a denominação de Ponte Nova, pela Lei Provincial nº 1235, de 30-04-1881, subordinado ao município de . Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o distrito figura no município de Brejo. Elevado à categoria de vila com a denominação de Urbano Santos, pela lei estadual nº 1324, de 09-03-1929, desmembrado de Brejo. Sede no atual distrito de Urbano Santos ex-Ponte Nova. Constituído do distrito sede. Pelo decreto estadual nº 75, de 22-04-1931, é extinto o município de Urbano Santos, sendo seu território anexado ao município de Brejo. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, Urbano Santos, figura com o distrito no município de Brejo. Elevado novamente à categoria de município com a denominação Urbano Santos, pelo Decreto nº 919, de 30-09-1935, desmembrado de Brejo. Constituído do distrito sede. Instalado em 28-10-1935. Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005. (IBGE, 2015)

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usados como proteína na dieta dos trabalhadores rurais. Esse pretenso “desenvolvimento” no entorno das roças de mandioca, feijão, arroz, milho etc. inviabilizou a produção. Este “deserto verde” é o grande responsável pela violência socioambiental e retrocesso fundiário em nossa região, e principal culpado pelas secas de nossos rios, lagoas e riachos, a erosão do solo e a extinção de várias espécies da fauna e flora e ainda da péssima qualidade de vida dos trabalhadores rurais. Como afirma Carvalho (2011, p. 1)29.

Nossa floresta tem hoje 2.200 hectares, localizada nos Municípios de Urbano Santos e Santa Quitéria do Maranhão. Em seu plantio foram utilizadas todas as técnicas modernas, desenvolvidas pelo Centro de Pesquisa da Companhia Suzano, que ali está desde o início da década de 1980, aprimorando o material genético das mudas bem como técnicas adequadas de manejo e aplicação de insumos.

É evidente que essa fala sobre as “técnicas modernas” não se aplica as condições das plantações do nosso homem do campo. Nós sabemos que a passagem dos “gaúchos”30 pelo leste maranhense, em especial Urbano Santos, trouxe consigo a plantação de eucalipto que sempre foi uma ameaça para a agricultura familiar e, Para Overbeek (2013, p. 4), essas comunidades fazem uso do bioma dominante na região, o Cerrado, que ocupa as extensas áreas de chapada, uma terra plana de uso comum e aberto para todos, oferecendo alimentos como as frutas do bacurizeiro e do pequizeiro, muito apreciadas pelos moradores. O autor justifica o modo de vida, bem como a valorização do uso coletivo de grande parte do território, além da convivência harmoniosa com o ecossistema local, faz com que as comunidades da região, possam ser definidas como comunidades tradicionais. O bem comum e o bem coletivo são essenciais para que essas comunidades vivam em acordo entre si. E para exemplificar, exponho o número de famílias residentes na zona rural, conforme tabela:

29 http://www.eucaliptomaranhao.com.br/ 30 Primeiros plantadores de monoculturas vindos do Rio Grande do Sul para o Baixo Parnaíba na década de 1980. Portanto, a partir de então todos os trabalhadores vindos das regiões Sul e Sudeste passaram a ser chamados de “gaúchos”. 53

Tabela 5: Famílias residentes em domicílios particulares e número de componentes das famílias-Zona Rural

2 pessoas 341 famílias

3 pessoas 295 famílias

4 pessoas 364 famílias 5 pessoas 147 famílias

Mais de 5 pessoas 459 famílias

Total 1.606 famílias Fonte: IBGE (2010)

Os dados (Tabela 5) nos informam, pelos elementos de 2010, o quanto diminuiu os números de famílias da zona rural, isso se deve a urbanização crescente no município. Conforme o censo, ainda persistem muitas famílias que prezam a agricultura familiar e sua habitação rural, o que nos leva a pensar como esta área é de suma importâncias para estas famílias de agricultores.

3.1 Os relisentes trabalhadores rurais de Urbano Santos

Como já foi explicitado, a partir das décadas de 1970/1980, que o município iniciou seu processo de transformações que ainda hoje refletem no seu desenvolvimento atual. Fica claro que até meados do século XX, a sede do município tinha muitas comunidades agrícolas em seu entorno que residiam e produziam em terras devolutas ou cedidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA. A zona urbana sempre foi o local de suprir algumas necessidades emergenciais, como remédio, tecidos, querosene, café, de modo geral, produtos industrializados. O mais comum era as famílias possuírem suas roças e de lá tirarem seu sustento, e consequentemente êxodo rural. Para melhor demonstrar, observe a tabela a abaixo:

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Tabela 6: Processo de urbanização de Urbano Santos -MA

Município Situação 1970 1980 1991 2000 2010

Urbano Urbana 1604 2902 6900 10906 17374 Santos

Rural 14779 16968 6488 6697 7199

Fonte: IMESC, 2014

Os dados (Tabela 6) nos mostram como flutuou a população do município entre as zonas rural e urbana e como em poucos anos notamos um crescimento demográfico exagerado da zona urbana. Isso se deveu à inserção do capital no campo urbano-santense. A demanda pela oferta de empregos foi essencial para a transição dos pequenos produtores. Esse modelo de modernização implantou grandes estruturas. Nos anos 1980, a MARGUSA – Maranhão Gusa S/A, MARFLORA – Maranhão Reflorestadora Ltda. e a Suzano Papel e Celulose S/A instalaram-se com a finalidade de atender a demanda de carvão-aço e celulose no Estado. É relevante destacar que esse processo de modernização, decorre da mudança no modelo tecnológico, altera a diminuição do trabalhador rural no campo a produtor, colabora para o advento de novas ocupações e empregos não agrícolas no campo, resultando assim a queda em melhorias na qualidade de vida. Percebemos então, que o território é um dos fatores decisivos para a construção desse desenvolvimento urbano. O que acontece no nosso município foi a grande quantidade de terras disponíveis possibilitou às empresas ali se instalarem. Geraram relativa quantidade de emprego para a população da época, isso “cegou” a população rural que não conseguiu prever qual seria sua realidade dez, vinte anos depois.

3.2 A riqueza do cerrado destruída: o caso do bacuri

Nas várias pesquisas feitas com as comunidades rurais do Baixo Parnaíba, foi perceptível que um dos principais meios de aumento da renda dos lavradores, é a comercialização da fruta do bacuri (Platonia insignis Mart.). Uma espécie típica da região, da qual tudo se aproveita. A poupa da fruta é utilizada para suco e para venda, assim gerando renda para o agricultor. Sua casca ou semente pode se transformar em saboroso doce ou geleia. As 55

sementes também são usadas na fabricação de óleo para tratamento de dermatoses. A fruta também pode ser aproveitada para uso medicinal, por exemplo, como anti-inflamatório (OVERBEEK, 2013, p. 14).

Figura 10: Projeto Manejo de Bacurizeiros

Fonte: Overbeek (2013, p. 22)

Na comunidade São Raimundo, no município em estudo, em convênio com o Fórum Carajás, mantém uma área reservada com a fruta nativa (Figura 10). A iniciativa valoriza a planta e impede sua derrubada. Com o avanço da monocultura de eucalipto, aumentaram a destruição dos bacurizeiros, chegando quase ao ponto de extingui-los completamente. A reserva extrativista permite que as populações tradicionais possam continuar morando e preservando a espécie conforme nos disse BASTO (2015, p.1):

Esse fruto importante das chapadas do Baixo Parnaíba Maranhense – riqueza incontestável de comunidades tradicionais como o São Raimundo - há mais de 50 quilômetros de Urbano Santos. A colheita do bacuri que vai de janeiro a abril, muito ajuda na economia familiar dos moradores desses povoados, são práticas e manejos que se perpetuam de pais para filhos.

Vale ressaltar que apesar desta área não ser tão grande como se esperava, entendemos esta iniciativa de proteção tanto para comunidade local, como para admiradores, como essencial para impulsionar sua valorização. O problema maior para a discussão acerca do tema é a forma como esta empresa de celulose invade as culturas destes pequenos trabalhadores, sem ao menos identificar o valor de cada uma delas para esta população. Portanto, o bacuri 56

deve dá lugar ao agronegócio que se baseia em monoculturas de acelerado crescimento como a soja e o eucalipto. O que nos resta são solos esgotados e uma população rural que luta diariamente por seus de sobrevivência e seus direitos a terra. A presidente da Associação dos Moradores de São Raimundo elaborou um abaixo assinado e denúncias junto aos órgãos competentes com o intuito de barrar tanto a extração do fruto verde quanto a devastação da chapada pelo motor-serra de muitos oportunistas que entram ilegalmente na área demarcada, pois o estrago do bacuri verde é uma grande perda para a própria população, os moradores devem conscientizar-se que a colheita serve para todos e nunca com o sentimento de ganancia individual (BASTO, 2015). São estas atitudes que acabam incomodando diretamente as empresas e que para a comunidade são de suma importância.

3.3 Lei de Terras de 1969 e suas consequências para as comunidades tradicionais.

Em capítulo anterior, falamos rapidamente do procedimento histórico de construção de um comércio de terras promulgada no Maranhão, a chamada Lei de Terras nº 2.979, de 17 de julho de 1969, criada por ação do então Governador do Estado, José Sarney, que ocasionou uma série de conflitos entre grandes proprietários de terras e comunidades de posseiros – conflitos sobre posse e acesso a terras, que levaram, até mesmo, à saída forçada de muitas famílias e comunidades.

Os dados referentes à violência no campo indicam que a ação oficial do Estado do Maranhão, ao abrir suas fronteiras agrícolas (Lei de Terra 2.979 de julho de 1969) através da espoliação de milhões de hectares de terras pertencentes aos camponeses, ribeirinhos, índios, quilombolas e posseiros, foram responsáveis pela passagem da matança ao genocídio contra centenas de comunidades. (RESENDE, 2012, p. 1)

Em Urbano Santos, foram poucos os trabalhadores rurais que conseguiram legitimar suas terras pós-lei. No caso do município, muitas foram às pressões por grandes proprietários de terras, para que esses posseiros saíssem de suas terras e passassem a serem arrendatários. Tais implicações estão diretamente ligadas ao processo de modernização da agricultura. Os grupos tradicionais de Urbano Santos encontram-se limitados aos seus pequenos territórios e dominados pela empresa Suzano em posições econômicas. Dessa forma, a lei de terras concretizou de forma mais rápida e legal os processos de expropriação de terras consideradas devolutas e oficializava a grilagem nas terras do interior maranhense. Não houve 57

nada de modernização da agricultura, apenas assegurou a posse da terra aos grandes latifundiários. Sobre esses problemas latifundiários, o que nosso trabalho expõe não é a necessidade do agricultor tradicional deter grandes propriedades, mas o que implica nas nossas questões são as necessidades básicas dessas pessoas obterem um local, que seja pequeno, que possa produzir produtos básicos para sua subsistência. A demanda pelo capital atrapalhou diretamente essas comunidades que só buscam até hoje, uma forma de sobreviver. Nossa demanda não é para atender o crescimento do capital, mas aumentar a riqueza do cerrado e o que ele pode nos oferecer.

3.4 Direito de posse: quem é o proprietário?

Propriedade vem do latim proprius e significa meu. A propriedade quase sempre existiu. Nas Cruzadas, cristãos e muçulmanos tomaram terras uns dos outros, no período dos descobrimentos os reis europeus se declaram proprietários das terras encontradas no Novo Mundo, a questão da posse, da propriedade quase sempre foi resolvida com guerra. Adam Smith já dizia que a propriedade só existe quando tem dono, confirmado no cartório. Contudo a história da propriedade é a história do capitalismo. (GRYNSZPAN, 2005, p. 376). Como disse antes, a chegada do ‘progresso’ agora travestido de empregos no campo e o pleno desenvolvimento foram fatores convincentes de que a vinda da empresa de eucaliptos mudaria a vida daquela comunidade para melhor. A grande quantidade de terras devolutas existentes no Maranhão sempre proporcionou certa tranquilidade ao posseiro, aqui entendido por Márcia Motta (2005), como “[...] aquele que se encontra na posse, que ocupa um trecho da terra, sem, no entanto, ser se dono efetivo”. Sempre alegando que as avarias contidas na terra, seu solo pouco fértil e a grande quantidade de erosões foi o discurso usado pelos representantes da Florestal para convencer os posseiros a cederem suas terras para o plantio de eucalipto, alegando, contudo, que os direitos das mesmas continuariam com a comunidade. O que os agricultores não esperavam, era que com o processo de implantação do eucalipto, trocariam sua mata nativa, por uma “floresta de eucaliptos”. Conforme nos relatou um ex-morador: “O representante vistoriava a terra, fazia a medição por conta própria e pagava 58

por hectare R$ 53,00, onde o valor real seria R$300,00. Aquele agricultor não orientado se convencia de que sua terra não produziria mais, então vendia a preço minguado”.31 O Instituto de Colonização e Terras do Maranhão - ITERMA32 - órgão atualmente vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes) – foi o órgão responsável por beneficiar a Suzano com o direito de posse. Com isso, as grandes aréas de matas nativas e chapadas tornaram-se um imenso dominio da Suzano que introduziu a floresta de eucaliptos. A partir dessa monocultura começou a modificação do meio ambiente da região do Baixo Parnaíba e também as técnicas fundiárias das comunidades tradicionais. A alteração do meio ambiente foi apenas um dos problemas trazidos pela Suzano, a substituição das tradicionais culturas pela floresta de eucalipto, deixou claro a não preocupação dessa empresa com o social. O modelo de manejo do eucalipto invisbilizou a agricultura tradicional e até mesmo a criação de animais para a subssistencia dessa sociedade. Alguns depoimentos coletados para pesquisa, nos trouxe uma revelação importante de um ex funcionário mineiro que trabalhou para o grupo Agro Florestal Paulista na décado de 1980, sobre a ideia inicial de reflorestamento na cidade, nos relator um ex funcionário da Suzano que não quis ter o seu nome divulgado. “O planejamento inicial teria sido muito bom para Urbano Santos. Ninguém sabia que daria errado o plantio de eucalipto. O cultivo não se adaptou bem a terra”.33 O reflorestamento seria bom para a cidade, porém parao campo foi prejudicial.todo o problema foi o manejo do cultivo, causando assim diversos problemas. Vale ressaltar, que passadas quatro décadas muitos são os conflitos registrados na zona rural de Urbano Santos envolvendo as Associações e a Suzano. Os agricultores precisam da terra para produzirem e a terra havia sido destinada para fins de Reforma Agrária, os ex posseiros ainda hoje aguardam pelo titulo da terra que a rigor, na prática não lhes pertecem mais.

31 Ex-morador do povoado Prata, próximo à cidade de Urbano Santos. 32 O ITERMA, criado pela Lei 6.272 de 06/02/1995, reorganizado pelo Decreto 17.171 de 15/02/2000, é uma entidade pública de natureza autárquica, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Familiar – SAF, cuja principal missão é a execução da política agrária do Estado do Maranhão. Suas ações estão totalmente voltadas para a organização da estrutura fundiária estadual e diminuição da pobreza extrema. Para o cumprimento dessa missão foi delegado ao Instituto poderes parta promover a discriminação administrativa das terras estaduais, de conformidade com a legislação federal específica; reconhecer posses legítimas, bem como incorporar ao patrimônio do Estado as terras devolutas ilegitimamente ocupadas e as que se encontram vagas, destinando-as na forma da legislação em vigor. (MARANHÃO, 2016, p.1) 33 Não citamos os nomes dos entrevistados para melhor resguardá-los, já que a empresa ainda mantém conflitos na região. 59

3.5 O eucalipto transgênico em Urbano Santos

“Muitas coisas mudaram por aqui, tudo está diferente... há algum tempo atrás nós vivíamos em paz, em comunhão com a natureza, aqui não tinha conflitos de terra, nem eucalipto, nessas chapadas se encontrava tudo, bacuri, pequi, mangaba [...] existia muitas matas para fazer nossas roças e para caçar, água era com fartura, hoje tudo está morrendo e nós indo junto.” (BASTO, 2016, p. 1)34

Como nos mostra o depoimento de um morador da região, percebemos o quão vulnerável se encontra as comunidades pós o deserto verde. Precisamos estar mais atentos a mais nova técnica de produção de eucaliptos que pode prejudicar ainda mais as comunidades rurais de todo o Brasil. Atualmente, a empresa não tem projetos de novas fábricas, já que está em processo de redução de custos. Seu desafio maior hoje é encontra mercado para fazer funcionar 100% a mais nova unidade fabril instalada em Imperatriz – MA, na qual foi gasto U$ 3 bilhões. A multinacional Suzano enfrenta agora uma campanha global contra o eucalipto transgênico35. Recentemente a Suzano obteve aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança- CTNBio36 para continuar desenvolvendo um projeto que poderá aumentar sua produtividade em até 20%, com a mesma área plantada. Para tanto sua controlada Futura Gene Brasil, desenvolve o eucalipto transgênico, com isso a Suzano será a primeira empresa global a usar uma variedade de eucalipto geneticamente modificado em escala comercial. Segundo Flávia Camargo (2005), integrante do Instituto Socioambiental- ISA37, a liberação de árvores transgênicas requer maior precaução tendo em vista que as árvores têm ciclos bem mais longos de vida e a sua interação com o meio ambiente é bem mais complexa do que a interação de plantas com ciclos anuais de vida, como a soja e o milho.

34 Palavras de um camponês do Baixo Parnaíba maranhense, analisando o antes e o agora, quando falava numa certa conversa a respeito dos problemas causados pelo agronegócio em nossa região. 35Variedade transgênica chamada de H421, geneticamente modificada, foi criada para aumentar em 20% a produtividade das plantações florestais. 36A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é uma instância colegiada multidisciplinar, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia com a finalidade de prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa aos OGMs, bem como no estabelecimento de normas técnicas segurança e pareceres técnicos conclusivos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM e derivados. 37 O Instituto Socioambiental (ISA) é uma organização da sociedade civil brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1994, para propor soluções de forma integrada a questões sociais e ambientais com foco central na defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. 60

A outra preocupação com a liberação do eucalipto transgênico vem dos apicultores brasileiros, uma vez que considerável quantidade da produção de mel no Brasil é oriunda do pólen dos eucaliptos. Contudo, as empresas integrantes da indústria florestal brasileira não levam esses apelos em consideração, objetivam tão somente fornecer matéria-prima no menor espaço de tempo possível, cada vez de melhor qualidade para a indústria de celulose. O eucalipto transgênico é uma real ameaça ao meio ambiente, muito mais grave e devastador do que a floresta de eucalipto superior a 15 mil hectares plantados no município de Urbano Santo, alvo de nossa pesquisa. Em contrapartida, o Fórum Carajás38, a Associação Comunitária do Povoado São Raimundo e o STTR de Urbano Santos, Movimento Mundial pelas Florestas, debateram juntos sobre o que essa nova técnica de transgenia pode causar. A iniciativa permitiu que essas entidades pudessem conscientizar os moradores a estarem em alerta. O eucalipto transgênico é uma ampla ameaça ao meio ambiente, muito mais perigoso e devastador do que estes que existem plantados em mais de 50 mil hectares no município de Urbano Santos. O seminário teve como palestrantes Winnie Overbeeck, holandês, integrante do Movimento Mundial pelas Florestas39, que falou sobre “A monocultura do eucalipto e outras monoculturas pelo Brasil e pelo mundo”, chamando atenção para o discurso da empresa Suzano: “Eles sabem exatamente onde se instalar, eles querem fazer lucro e para isso precisam de terras boas. Vocês nunca vão ver eucalipto em terra ruim, como eles geralmente alegam que estão em terras degradadas.”40 A norte-americana Anne Peterman41– (Campanha Global sobre as árvores transgênicas) chamou atenção para adiscussão direta sobre transgenia, levando para os pequenos produtores o entendimento mais compreensivo sobre a nova técnica aprovada: “A árvore transgênica vai crescer mais rápido que eu eucalipto atual. Vai degradas ainda mais o solo, consumindo mais água e nutrientes que o eucalipto já consome hoje.”42 Isso tudo para suprir uma demanda maior de madeira, assim enfatizando “[...] apenas dois países no mundo

38 Fórum Carajás - Centro dos Direitos das Populações da Região de Carajás. O surgimento do Fórum Carajás, a partir de 1992, fora impulsionado pelas implicações ambientais, sociais e econômicas que as implantações dos grandes projetos trazem ás populações da região. Busca encontrar soluções para os problemas socioambientais. 39 O Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM, na sigla em inglês) é uma iniciativa criada em 1986 por um grupo de ativistas de diferentes países para facilitar, apoiar e reforçar a luta contra o desmatamento e a concentração de terras em países com florestas e comunidades que dependem delas. 40 Nota fornecida durante o Seminário sobre Eucalipto Transgênico no Baixo Parnaíba Maranhense em Urbanos Santos em 2016. 41 Directora Executivo da Global Justice Ecology Project e Coordenador da campanha para acabar com a GE Trees. Ela se envolveu em questões ambientais, enquanto na faculdade, onde estudou biologia da vida selvagem e arte. 42 Nota fornecida durante o Seminário sobre Eucalipto Transgênico no Baixo Parnaíba Maranhense em Urbanos Santos em 2016.

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tem eucalipto transgênico: a China e o Brasil”. E para concluir os debates de cunho internacional, houve também a fala da holandesa Merel Van De Mark – também do (Movimento Mundial pelas Florestas), que apresentou um assunto importante sobre “Indústria de celulose - Rede pelo papel Sustentável”43 alertando para os financiadores destas grandes empresas onde ela cita os grandes bancos da Europa: “Nos países europeus e no Estados Unidos, os bancos são sensíveis a imagem pública, temem serem associados como financiadores de empresas devastadoras. Isso no Brasil não funciona”. Como foi outorgada a plantação do eucalipto transgênico, poderão até 2050 serem tomadas por esse plano violento e assustador de nossas vidas no Baixo Parnaíba. O seminário foi relevante para as comunidades beneficiadas que neste momento estão em alerta com os perigos que podem surgir. No próximo capítulo discutiremos mais fundo sobre transgenia.

Figura 11: Movimento mundial pelas florestas

Fonte: Basto (2016)

43 Com informação do blog José Antônio Basto- Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida. 62

Figura 12: Peça "Lamento do Rio Preguiças"44

Fonte: Basto (2016)

As figuras 11 e 12 apresentam a realização da conscientização dos danos causados ao meio ambiente com o transgênico. A transgenia de arvores foi proibida em nível mundial através de ações dos movimentos em defesa dos direitos humanos e da vida após a Segunda Guerra Mundial, na época, a Organização das Nações Unidas (ONU) foi a entidade que debateu o caso em suas discussões, chegado num processo de votação, onde daí foi aprovado a proibição da transgenia de arvores no mundo (BASTO, 2016b). Diferente do que ocorreu no Brasil e que se espera chegar o mais rápido possível pela empresa. Os alertas foram dados e esperamos a resistências dessa população prejudicada que lute por suas chapadas, animais, rios, terras e de políticas públicas voltadas a esta questão.

3.6 “Jamais abriremos mão das nossas terras para as grandes empresas”

O grupo Suzano Papel e Celulose foi o responsável pelos aumentos da fome e da miséria na região do Baixo Parnaíba. Muitos municípios apresentaram suas terras ocupadas pela monocultura do eucalipto e milhares de famílias foram expulsas de suas terras. Muitas são as denúncias que o grupo Suzano Papel Celulose obtém por tomadas de terras devolutas do Estado, cedidas pelo ITERMA.

Até o final da década de 2010, o volume de terra desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária para fins de reforma agrária no Estado do

44 Comunidade São Raimundo 63

Maranhão alcançava a marca de 4,5 milhões de hectares. Estas áreas, tomadas individualmente, podem significar, dependendo da situação: a regularização fundiária de uma área de posse camponesa sob disputa com empresa. (CARNEIRO, 2013 p. 63)

O maior dilema para os defensores da agricultura, é o descaso do governo frente as necessidades das comunidades. O poder Executivo sempre se dispôs como aliado ao grupo Suzano e demais empresas, sempre favorecendo os seus interesses capitalistas. Ao mesmo tempo, esse mesmo governo marginaliza trabalhadores e trabalhadoras rurais, deixando-os em situações precárias de sobrevivência. Para o governo municipal, por exemplo, compreende as iniciativas de facilidades para que muitas empresas se instalem no município. No caso particular de Urbano Santos, o município, através do governo, auxilia sua população como ofertas de empregos públicos temporários para suprir a demanda da pobreza. O que ocorre, que é inviável qualquer município conseguir arcar com tamanha demanda, sem ao menos houver necessidade de funções. A entrada de empresas, auxilia a prefeitura na geração de empregos, e resulta numa relação amigável entre as duas partes. Nas décadas de 1970 a 1980 era caracterizado pelo apoio a grandes projetos relevando a necessidade do progresso e aumento econômico, principalmente no Nordeste. Nosso bioma, o cerrado, naquele momento foi definido como uma grande precariedade da população. Desde então a região está sendo ocupada e maltratada pelo deserto verde e suas “técnicas modernas”. O agronegócio é um dos responsáveis pela agressão e modificação dos costumes no campo. A alteração na sociedade, na paisagem nos remete a uma questão que diz respeito ao descaso dos direitos humanos, pouco visto nesse conflito. Para Régis (2012, p. 1): “A Suzano contabiliza mais de cem mil hectares de terra no Baixo Parnaíba, como no caso da Chapada de Todos os Santos, em Urbano Santos”. A Suzano Papel e Celulose é sabedora desses fatos, tanto que nunca contestou as acusações feitas pelas comunidades do povoado Coceira. Apenas algumas comunidades foram citadas na pesquisa, entretanto são muitas as atingidas e que ainda permanecem na luta, como os moradores do povoado São Raimundo, que dia após dia luta pelas suas terras. Destaco também a comunidade de Bracinho, que muito lutou e hoje tem suas terras garantidas junto a lei e nos mostra que é possível vencer o capital. A associação brigou com o grupo Suzano, com pessoas da própria comunidade: “Oito mulheres de Bracinho seguraram sozinhas os funcionários e os tratores da Suzano só com a força das suas vozes.” (REGIS, 2012, p.1) Essa política de plantação de eucaliptos nunca beneficiou nossa gente, o que seria uma boa iniciativa de capital, tornou um pesadelo tanto para os povoados como para a própria 64

empresa. O grupo hoje, mantém a sede física no município, que após 30 anos de exploração, começa a sair lentamente, com muitas demissões de empregados, poucos benefícios para a cidade, nenhum desenvolvimento observado, além do desgaste que as terras sofreram e que neste momento não tem utilidades para os agricultores. Esperamos por reparações que talvez não cheguem, mas para um povo que lutou, a esperar é só o que lhes resta.

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4. CONCLUSÃO

Portanto, a crescente ação de industrialização tem colaborado com a degradação ambiental e a redução da qualidade de vida da população em toda a parte do mundo. Os agentes dessas dificuldades são consequências do uso indevido da natureza e dos recursos naturais pela corrida de lucros cada vez maiores. Ao longo do tempo, o homem atentou modificações no meio ambiente de forma desrespeitosa como, na contaminação dos solos poluição do ar, recursos hídricos, diminuição dos recursos naturais e avanço da produção de resíduos sólidos. O crescimento da urbanização pela qual o mundo vem sofrendo, trouxe implicações ambientais intensas, principalmente nos países mais pobres, como o Brasil, ocorrendo com maior rapidez. Nosso Estado Maranhão, um dos Estados mais pobres do país foi visto pelo agronegócio como um bom provedor de recursos naturais e isso ocasionou transformações drásticas não só para o meio ambiente como para as comunidades locais. De acordo com nossos estudos, percebemos que a monocultura extensiva agride o solo e o ecossistema, causando um desequilíbrio no ambiente, o que gera mudanças climáticas e na composição do solo. Sabemos que plantações de soja e eucalipto pode ser viável sim, até pelo pequeno agricultor. O que nos incomoda é como está sendo feito o manejo das plantas. Desta forma seria interessante trabalharmos assuntos que façam parte da realidade da sociedade. A concepção de um problema ambiental expressivo faz com que essa sociedade seja formadora de opiniões que possam agir pelo interesse comum em soluções para a circunstância do dia a dia. Assim, através do projeto de extensão PIBEX-UEMA, pude desenvolver um projeto com orientação do Prof. Alan Kardec Gomes Pacheco Filho, no qual promovemos um Seminário com alunos de escolas públicas e privadas de Urbano Santos – MA, com o intuito de conscientizar os problemas socioambientais ocasionados a nível mundial e local também. Esse projeto houve contribuição da Universidade, professoras multiplicadoras do município e dos alunos. Uma outra medida pode ser baseada nos estudos de Ernest Götsch45 é possível a formação de um ecossistema bio diverso ideal para o cultivo em qualquer solo brasileiro, até mesmo os mais áridos. Sua técnica, conhecida como Agroflorestação, parte do princípio de utilizar a característica de cada planta, desde grandes árvores até trepadeiras e hortaliças, para

45Quando chegou ao Brasil, em meados da década de 1980, o agricultor comprou uma fazenda no sul da Bahia com aproximadamente 500 hectares de terras consideradas improdutivas. Aos poucos, aplicando as técnicas de agrofloresta, Götsch conseguiu regenerar a flora da Mata Atlântica, atrair animais típicos da região e fazer ressurgir cerca de 15 nascentes. Götsch vem ministrando cursos para agricultores, estudantes e interessados. 66

a criação de um ecossistema completo, aumentando muito a produtividade de cada metro cúbico de terra. A técnica também leva em conta a região da plantação, adotando plantas nativas ou de fácil adaptação. (ANDRADE, 2016) As técnicas desenvolvidas por Götsch são inspiradas na observação dos processos da natureza e na colaboração entre as espécies. O método ensina como plantar vários tipos de alimentos em uma área de mata sem desmatá-la, utilizando também do plantio de mata nativa. Fortalecendo as plantas que estão em desenvolvimento, também responsável por proporcionar matéria orgânica para o desenvolvimento do solo e proteger a terra do clima. Uma outra alternativa desenvolvida, partiu direto das comunidades afetadas junto ao Sindicato dos trabalhadores rurais de Urbano Santos. Estamos em negociações para lançar uma proposta de Projeto de Lei de iniciativa popular para diminuir a expansão das monoculturas. O STRR está articulando com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos uma assessoria jurídica para propor o corpo da lei. Lembrando que o município não é a primeira cidade a se manifestar quanto a lei. Os municípios de e Belágua já detém da lei com proibição total de plantação de monoculturas. Esperamos junto a sociedade levar o projeto a Câmara Municipal e articular a melhor forma possível de afastar as plantações da silvicultura. Sabemos que a proposta não será aceita como proibição total do plantio, mas será um bom início caso não se estenda as monoculturas.

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ANEXOS

ANEXO A - LEI Nº

PREFEITURA MUNICIPAL DE URBANO SANTOS ESTADO DO MARANHÃO Lei n.______Dispõe sobre a proibição do desmatamento da vegetação nativa para o plantio de monoculturas agressiva ao meio ambiente e o uso de transgenia no município de Urbano Santos e dá outras providências.

A Prefeita Municipal de Urbano Santos, Estado do Maranhão. Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte lei.

Considerando que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios a proteção ao meio ambiente e preservar as florestas, fauna e a flora; Considerando que cabe ao município legislar, concorrentemente, sobre proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, artístico e paisagístico, bem como sobre responsabilidade por danos ao meio ambiente; Considerando o que dispõe o artigo 30, II e VIII da Constituição Federal; Considerando que, conforme dispõe o artigo 170, VI, a ordem econômica tem por finalidade assegurar uma vida digna às pessoas, conforme os princípios da justiça social, observado o princípio da defesa do meio ambiente; Art. 1 – Fica proibido em todo o território do município de Urbano Santos o desmatamento da vegetação nativa para o plantio de eucalipto, soja e a produção de carvão vegetal em escala industrial. Parágrafo Único: As áreas ocupadas pelas monoculturas do eucalipto e soja à medida que tiverem seu ciclo de vida completado, não deve ser renovado seu plantio e as respectivas áreas devem ser utilizadas para a produção de alimentos. Art. 2 – Também fica proibido qualquer plantio e/ou expansão de monoculturas estranhas e agressivas ao meio ambiente, causando danos ao ecossistema da região e às populações e comunidades tradicionais que dependam da integralidade do território para reprodução física, econômica, social e cultural. Parágrafo Único: São exemplos de monoculturas agressivas ao meio ambiente, dentre outras: I – eucalipto; II – soja; III – cana-de-açucar; IV – mamona;

V – dendê VI – bambu e etc. Art. 3 – As proibições as quais se referem esta lei encontram respaldo no artigo 225 da Constituição Federal e nos artigos 239, 240, 241 e ss. da Constituição do Estado do Maranhão. Art. 4 – Os critérios e métodos de recuperação da vegetação nativa devastada e do meio ambiente degradado, assim como as penalidades desta lei, serão definidos em Decreto a ser expedido pelo Poder Executivo Municipal, no prazo de 90 (noventa) dias após a publicação desta Lei. Parágrafo Único – As multas decorrentes do descumprimento dessa Lei, depois de recolhidos aos cofres municipais, deverão ser revertidas em políticas públicas efetivas para as populações e comunidades diretamente afetadas. Art. 5 – Fica terminantemente proibido o uso do método de transgenia nas atividades agrícolas em todo território do município de Urbano Santos. Art. 6 – Para combater a implantação e/ou expansão de projetos de monoculturas agressivas ao meio ambiente local, o Poder Público deverá estimular e fortalecer a agricultura familiar nas comunidades do território do município. Art. 7 – A presente Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art 8 – Revogam-se as disposições em contrário. Gabinete da Prefeita Municipal de Urbano Santos-MA, em____de ______de 2016.

ANEXO B - PROJETO DE LEI DE INICIATIVA POPULAR

ANEXO C - SEMINÁRIOS MUNICIPAIS SOBRE EUCALIPTO TRANSGÊNICO46

Realização:

Fórum Carajás

Coordenador: Edmilson Pinheiro

Jornalista: Mayron Régis

Locais de Realização:

25 de abril Urbano Santos- MA – Povoado de São Raimundo 26 de abril Chapadinha- MA- Povoado de Baturité 27 de abril Buriti- MA- Povoado de Carrancas 28 de abril Santa Quitéria- MA- Povoado de Coceira 29 de abril São Bernardo- MA- Povoado de Alto Bonito

Convidados:

Winnie Overbeck - Monocultura de eucalipto e outras monoculturas pelo Brasil e pelo mundo (Movimento Mundial pelas Florestas) Anne Peterman - Eucalipto Transgênico (Campanha Global Contra Transgênicos) Merel Van de Mark - Industria da Celulose (Rede pelo Papel Sustentável) Zuza - Conflitos agrários e ambientais sul da Bahia

Apoio:

Lush, Casa e ASW

Parceiros: Associação São Raimundo, STTR Urbano Santos, STTR Chapadinha, Associação de Baturité, Comunidades de Buriti, Associação do Povoado Coceira, CEDEPROC, Associação do Povoado Alto Bonito.

46 Relatório disponibilizado pelo Fórum Carajás.

ANEXO D: CAMPANHA DE COMBATE ÀS MONOCULTURAS

CAMPANHA DE COMBATE ÀS MONOCULTURAS E À TRANSGENIA NO MUNICÍPIO DE URBANO SANTOS, NO ESTADO DO MARANHÃO

ABRIL/MAIO/JUNHO/2016 URBANO SANTO/MARANHÃO

IDENTIFICAÇÃO

CAMPANHA DE COMBATE ÀS MONOCULTURAS E À TRANSGENIA NO MUNICÍPIO DE URBANO SANTOS MARANHÃO

EXECUÇÃO: Comissão Organizadora Independente

APOIO: Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Urbano Santos e Fórum Carajás

COMISSÃO ORGANIZDORA INDEPENDENTE Ana Paula Batista Protácio –estudante de História da UEMA Deusanilde Valentim Lima – membro do STTR Francisca Maria dos Santos Araújo – líder comunitária do Povoado São Raimundo Izaias Rodrigues da Silva – membro do STTR José Antonio Basto – assessor do STTR Maria Julia Alves de Almeida – Assistente Social

1 - APRESENTAÇÃO Trata o presente documento do detalhamento da CAMPANHA DE COMBATE ÀS MONOCULTURAS AGRESSIVAS AO MEIO AMBIENTE E À TRANSGENIA NO MUNICÍPIO DE URBANO SANTOS/MARANHÃO que deverá ser executado nos meses de maio e junho de 2016, no município de Urbano Santos/Ma, por uma Comissão Independente, com apoio do Sindicato dos Trabalhadoras Rurais e do Fórum Carajás. Do mesmo consta a justificativa e os objetivos a que se propõe, sua abrangência, prazo e a estratégia de ação, além o norteamento dos recursos necessário para levar a bom termo o evento.

2 - JUSTIFICATIVA Em virtude do alto grau de desmatamento da vegetação nativa e da expansão das monoculturas no município de Urbano Santos, especialmente a monocultura de eucalipto que vem atingindo diretamente as comunidades rurais, no que diz respeito à ameaça de suas práticas tradicionais na agricultura familiar e no extrativismo, além de uma ameaça de possível uso de métodos de transgenia para aceleração do crescimento deste tipo de árvores, pessoas interessadas nestas questões passaram a questionar o alto grau de malefícios que ambas as práticas vem incorrendo e/ou podem vir a incorrer com grandes prejuízos ao meio ambiente, bem como às populações residentes em áreas de influência de tais prática. Assim vieram debater saídas plausíveis para descontinuidade da plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente, tais como eucalipto e soja já instaladas no território urbanosantense, até chegar a sua total estagnação e evitar que novas monoculturas se instalem, como cana-de-açúcar, mamona, dendê, bambu, entre outras. Preventivamente optou-se por uma posição fechada contra o uso de processos de cultivo usando métodos de transgenia, o que viria provocar calamidade ainda maior para o meio ambiente e para as pessoas residentes neste lugar. Diante desta situação foi proposta a deflagração de uma campanha para coibir o que vem acontecendo nestes últimos trinta anos no

município de Urbano Santos, já marcado por pelos enormes prejuízos em virtude da substituição da mata nativa por árvores exóticas, descaracterizando a biodiversidade do lugar. Propõe-se um Projeto de Lei de Iniciativa Popular que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos.

3 – OBJETIVO 3.1 - GERAL Combater as monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas prática agrícolas no município de Urbano Santos.

3.2 – OBJETVOS ESPECÍFICOS

 Mobilizar a comunidade de Urbano Santos, na zona rural e na zona urbana, para refletir sobre a expansão do plantio de eucalipto no município, e sobre a probabilidade de ser introduzido nas práticas agrícolas o método da transgenia;  Aprovar lei municipal que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos;

4 – PERÍODO O Projeto terá a duração de 02 (dois) meses, com início no dia 1° de maio de 2016, com término previsto para a última semana de junho do mesmo ano.

5 – ABRANGÊNCIA – A execução do presente projeto será realizada no território do Município de Urbano Santos.

6 - PÚBLICO ALVO Todos os habitantes do Município de Urbano Santos, especialmente aqueles que vivem nas imediações das plantações de eucalipto.

7 - ESTRATÉGIA DE AÇÃO  Formação de uma Comissão Executora  Pesquisa das leis que orientam a participação popular para os casos em que precisar legislar;  Coleta de assinaturas de eleitores que subscreverão uma proposta de Projeto de Lei de Iniciativa Popular que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos;  Ampliação de apoiadores para a causa do combate às monoculturas agressivas ao meio ambiente e à transgenia no município  Realização de audiências públicas para debater a situação que envolve os prejuízos da monocultura de eucalipto, suas graves consequências e a necessidade de por um fim a prática no município;  Visita aos vereadores em busca de apoio para a causa do combate às monoculturas agressivas ao meio ambiente e à transgenia no município;

 Visita à Gestora do Poder Executivo em busca da sensibilização para sancionar a Lei que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos;  Entrega das assinaturas de eleitores com a proposta do Projeto de Lei de Iniciativa Popular que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos  Tramitação do Projeto de Lei na Câmara de Vereadores.  Defesa do Projeto de Lei na Câmara de Vereadores  Votação na Câmara de Vereadores para aprovação

8 - RECURSOS MATERIAIS – Constituição Federal, papel, pranchetas, pastas, canetas.

HUMANOS – Os componentes da Comissão Executora Independente, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) na efetivação das audiências públicas e 50 (cinquenta) voluntários para colher as assinaturas de eleitores proponentes.

FINANCEIROS – Os recursos financeiros que serão aplicados neste projeto serão aqueles oriundos das doações de pessoas em caráter voluntário.

9 – CRONOGRAMA

ANO DE 2016 ATIVIDADES ABRIL MAIO JUNHO . 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª QUINZE QUINZEN QUINZENA QUINZE QUINZE NA A N NA Formação de uma Comissão Executora. 28/04 Pesquisa das leis que orientam a participação popular para criação de leis. 28/04 Inicio da coleta de assinaturas de eleitores que subscreverão uma proposta de 1º/05 Projeto de Lei de Iniciativa Popular que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos. Reunião para ampliação de apoiadores para a causa do combate às monoculturas 12/05 agressivas ao meio ambiente e à transgenia no município Visita aos vereadores em busca de apoio para a causa do combate às monoculturas 17, 18, agressivas ao meio ambiente e à transgenia no município. 12/05 19/05 Realização de audiências públicas para debater a situação que envolve os prejuízos 19/05 09/06 da monocultura de eucalipto, suas graves consequências e a necessidade de pôr um fim a prática no município. Visita à Gestora do Poder Executivo em busca da sensibilização para sancionar a 24/05 Lei que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município de Urbano Santos. Entrega das assinaturas de eleitores com a proposta do Projeto de Lei de Iniciativa 25/05 Popular que proíbe a plantação de monoculturas agressivas ao meio ambiente e o uso de transgenia nas práticas agrícolas no Município. Inicio da tramitação do Projeto de Lei na Câmara de Vereadores. 26/05 Defesa do Projeto de Lei na Câmara de Vereadores 17/06 Votação na Câmara de Vereadores para aprovação 24/06

Urbano Santos, 28 de abril de 2016.

ANEXO E- FOTOS DO SEMINÁRIO SOBRE EUCALIPTO TRANSGÊNICO

Figura 13: Bacurizeiro solitário floresce e resiste a imensidão do desmatamento p/ plantio da soja. Buriti de Inácia Vaz (MA), região do Baixo Parnaíba.

Foto: Edmilson Pinheiro

Figura 14: Seminário sobre eucalipto transgênico em Buriti de Inácia Vaz – MA

Foto: Júlia Almeida

Figura 15: Seminário sobre eucalipto transgênico no povoado São Raimundo, Urbano Santos – MA

Foto: Júlia Almeida, 2016.

Figura 16: Projeto Manejo de Bacurizeiros, Povoado São Raimundo

Foto: Júlia Almeida

ANEXO F – SEDE DAS EMPRESAS EM URBANO SANTOS

Figura 17: Empresa Suzano em Urbano Santos-MA

Foto: Iran Avelar

Figura 18: Empresa Margusa em Urbano Santos no ano de 2011

Foto: Iran Avelar

ANEXO G – PROJETO PIBEX- UEMA

Figura 19: Projeto PIBEX-UEMA “O Meio Ambiente e a evolução histórica de Urbano Santos”

Foto: Layla Adriana

Figura 20: Projeto PIBEX-UEMA “O Meio Ambiente e a evolução histórica de Urbano Santos”

Foto: Layla Adriana