FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

Jerry Roberto Campos David

AGRICULTURA ORGÂNICA E O MERCADO VERDE NO BRASIL: UM MAPEAMENTO DOS DETERMINANTES DA VANTAGEM COMPETITIVA NACIONAL

Fortaleza 2006

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

Jerry Roberto Campos David

AGRICULTURA ORGÂNICA E O MERCADO VERDE NO BRASIL: MAPEAMENTO DOS DETERMINANTES DA VANTAGEM COMPETITIVA NACIONAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da Universidade de Fortaleza como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Raimundo Eduardo Silveira Fontenele

Fortaleza 2006

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Jerry Roberto Campos David

AGRICULTURA ORGÂNICA E O MERCADO VERDE NO BRASIL: MAPEAMENTO DOS DETERMINANTES DA VANTAGEM COMPETITIVA NACIONAL

Data de Aprovação: ______/______/______

Banca Examinadora

Prof. Dr. Raimundo Eduardo Silveira Fontenele (Orientador – UNIFOR)

Prof. Dra. Lídia Valeska Bomfim Pimentel Rodrigues (Membro – FFB)

Prof. Dr. Sérgio Henrique Arruda Cavalcante Forte (Membro – UNIFOR)

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Tudo o que o homem planta, Um dia irá colher. Grupo de Interesse Ambiental (GIA)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe, Josefa Campos David, minha fortaleza. Ela que renunciou a todos os seus sonhos em prol de seus filhos. Este título é seu, minha co-autora.

Agradeço a Sandra Regina, por me ter dado uma filha maravilhosa, Talita David, que é a estrela guia de minha vida.

Agradeço aos meus irmãos: Jany, Jony, Jaimy, eternos companheiros.

Agradeço ao Dr. João Osmiro, pela sua força e amizade ao longo desses anos.

Agradeço também, em especial às seguintes pessoas: Claudia Bezerra, pelo seu exemplo de garra, amizade e lealdade, meu braço direito na conclusão deste trabalho.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Raimundo Eduardo Silveira Fontenele, por suas valiosas contribuições, e ao coordenador do Mestrado em Administração da UNIFOR, Prof. Dr. Sérgio Henrique Arruda Cavalcante Forte, por sua substancial contribuição na adequação desta dissertação para a linha de pesquisa estratégia empresarial.

Á minha banca examinadora, por ter aceitado o convite.

A Regina Célia, minha grande amiga, meu amuleto de sorte.

Agradeço também a todos os colegas do GIA que tanto me ajudaram nesta caminhada.

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RESUMO

A presente dissertação tem por objetivo efetuar uma análise da agricultura orgânica e do mercado verde no Brasil sob a ótica do Modelo Diamante de Competitividade Nacional de Porter (1993). A pesquisa classifica-se como: exploratória, qualitativa e bibliográfica, tendo como método de análise a comparação entre os dados secundários e as variáveis do modelo de forma a identificar oportunidades e ameaças na inserção da agricultura orgânica no mercado internacional. A pesquisa verificou que o acaso e os fatores de condições atuam negativamente em algumas dimensões, tais como: custo de transporte e capacidade de armazenamento, no processo de inclusão do setor no mercado internacional, enquanto as condições de demanda configuram-se como um fator positivo na competitividade do setor. Identificou também que a ação das certificadoras, indústrias de apoio ou correlatas, tem sido benéfica para a indústria e que os supermercados tem se constituído numa rede de distribuição favorável. O setor, propriamente dito, ou seja, a estrutura, estratégia e rivalidade das empresas, ainda tem muito a ser desenvolvido, principalmente por meio do apoio a pequenos agricultores com a formação de associações e treinamento. As ações do governo necessitam ser intensificadas quanto ao desenvolvimento de novas tecnologias. O trabalho classificou a indústria como: dirigida por fatores: basicamente de produção, tais como: recursos naturais ou mão-de-obra barata, que poderão se tornar um fator competitivo na formação do preço.

Palavras-chave: Agricultura Orgânica. Vantagem Competitiva. Modelo Diamante de Porter. Mercado Verde. Proteção Ambiental.

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ABSTRACT

To present dissertation he/she has for objective to make an analysis of the organic agriculture and of the green market in under the optics of the Modelo Diamante of National Competitiveness of Porter (1993). The research is classified as: exploratory, qualitative and bibliographical, tends as analysis method the comparison between the secondary data and the variables of the form model to identify opportunities and threats in the insert of the organic agriculture in the international market. The research verified that the chance and the factors of conditions act negatively in some dimensions, such as: I cost of transport and storage capacity, in the process of inclusion of the section in the international market, while the demand conditions are configured as a positive factor in the competitiveness of the section. He/she also identified that the action of the certificadoras, support industries or you correlate, it has been beneficial for the industry and that the supermarkets have if constituted in a net of favorable distribution. The section, in other words, the structure, strategy and rivalry of the companies, still has a lot to be developed, mainly through the support to small farmers with the formation of associations and training. The government's actions need to be intensified as for the development of new technologies. The work classified the industry as: driven by factors: basically of production, such as: natural resources or cheap labor, that can become a competitive factor in the formation of the price.

Word-key: Organic agriculture. Competitive advantage. Model Diamond of Porter. Green market. Environmental protection.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADROS

1. Economia convencional versus economia ecológica------28 2. Globalização da ecologia ------34 3. Barreiras de exportações nos Estados Unidos------56 4. Barreiras de exportação na União Européia------56 5. Barreiras de exportações no Japão------56 6. Variáveis da pesquisa (Modelo Diamante da Vantagem Competitiva Nacional de Porter adaptado por Graith et al.)------65 7. Ocorrências relacionadas à ação do acaso ------69 8. Fatores de condições da indústria orgânica------71 9. As condições da demanda do mercado orgânico ------75 10. As indústrias de apoio e correlatas da agricultura orgânica------84 11. Estrutura, estratégia, e rivalidade das empresas da agricultura orgânica ------100 12. As vantagens do sistema gestão ambiental numa empresa------105 13. Produtos certificados pelo IBD no Brasil e sua localização, em 1999 ------111 14. Ações realizadas pelo governo para o setor da agricultura orgânica.------114

FIGURAS

1. Relação entre vários processos administrativos e os processos competitivos------43 2. As cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade da indústria------44 3. O ambiente agroindustrial ------45 4. Modelo Diamante de Porter mostrando as variáveis interdependentes que determinam a competitividade de uma indústria. ------48 5. Nível percentual médio de escolaridade dos consumidores de prod. orgânicos no Paraná -79 6. Nível percentual médio para a renda individual dos consumidores de produtos orgânicos no Paraná------79 7. Local de compra dos consumidores de produtos orgânicos no Paraná------80 8. Selos de produtos orgânicos------87

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9. Selos verdes (rotulagem ambiental) ------90 10. A distribuição mundial das áreas em agricultura orgânica, segundo os diferentes continentes------108

TABELAS

1. Balança comercial do agronegócio brasileiro ------73 2. Exportações brasileiras aos países desenvolvidos ------80 3. Estimativa dos custos de certificação ------97 4. Número de produtores orgânicos certificados no Brasil. ------101 5. Área, número de produtores e percentual da área agrícola sob manejo orgânico da América Latina. ------102 6. Números de propriedades, porcentagem do número total de propriedades, área cultivada e porcentagem da área agrícola total com agricultura orgânica de alguns países na Europa, em 2001------107

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO------12 1. CONCEITOS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTÁVEL ------17 2. A ECONOMIA E O MEIO AMBIENTE: TEORIAS, PRÁTICAS E DIVERGÊNCIAS--23 2.1 Evolução das relações entre a economia e o meio ambiente ------23 2.2 Situação atual: diferentes escolas e suas divergências teóricas e práticas. ------25 2.2.1 Os ecodesenvolvimentistas ------25 2.2.2 Os pigouvianos ------26 2.2.3 Os neoclássicos------26 2.2.4 Os economistas ecológicos ------27 2.3 Economia convencional versus economia ecológica ------27 2.4 Economia ecológica no Brasil------30 3. A GLOBALIZAÇÃO E A NOVA VERTENTE DE COMPETITIVIDADE ------32 3.1 Conceito de globalização ------32 3.2 Globalização da ecologia ------33 3.2.1 O meio ambiente e a competitividade internacional ------36 3.3 Inserção do Brasil na globalização e o meio ambiente------37 3.4 Competitividade e vantagem competitiva ------40 3.5 Determinantes da vantagem competitiva nacional ------47 4. As exportações brasileiras e o meio ambiente ------52 4.1 Visão histórica ------52 4.2 Participação dos recursos ambientais na composição das exportações ------57 4.3 Alca e a sua influência no meio ambiente ------58 4.4 Mercado verde nas exportações brasileiras------60 5. METODOLOGIA DA PESQUISA ------63 5.1 Tipo de pesquisa ------63 5.2 Variáveis da pesquisa ------65 5.3 Fontes de dados da pesquisa------66 5.4 Método de análise dos dados da pesquisa ------67 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS------68 6.1 Análise da agricultura orgânica e do mercado verde no Brasil sob a ótica do modelo diamante da vantagem competitiva nacional de Porter.------68 6.1.1 O acaso ------69

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6.1.2 Fatores de condição ------71 6.1.3 As condições da demanda------73 6.1.3.1 O perfil dos consumidores verdes no mercado de produtos orgânicos ------76 6.1.3.2 Vantagens no consumo de produtos orgânicos. ------81 6.1.4 Indústrias de apoio ou correlatas ------82 6.1.4.1 O papel da certificação ambiental e os produtos certificados nas exportações brasileiras------85 6.1.4.2 Certificação ambiental ------87 6.1.4.3 Tipo de certificação ------90 6.1.4.4 Certificação dos produtos orgânicos ------91 6.1.4.5.Processo de certificação do ponto de vista internacional------98 6.1.5 Estrutura, estratégia e rivalidade das empresas.------99 6.1.5.1 O desenvolvimento do mercado verde e as exportações brasileiras ------105 6.1.5.2 A evolução da agricultura orgânica no contexto brasileiro ------109 6.1.5.3 As potencialidades do mercado verde no Brasil e no mundo ------110 6.1.6 Governo ------113 6.1.6.1 A regulamentação do mercado verde------115 CONCLUSÃO ------117 REFERÊNCIAS ------128 GLOSSÁRIO------134

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INTRODUÇÃO

O meio ambiente é considerado gerador de discussões relevantes nas últimas décadas do final do Séc. XX, pois a humanidade considerava o recurso natural abundante e classificava-o como um bem livre, para o qual não havia necessidade de trabalho para obtê-lo. Essas concepções equivocadas dificultaram e dificultam o controle sobre sua utilização, além de ajudarem a impulsionar a degradação ambiental, afetando a população de maneira geral.

No final dos anos 60 e no início dos anos 70, surgem os primeiros movimentos ambientalistas. Um grupo de cientistas, reunidos no Clube de Roma, em 1968, alertou para as conseqüências do modelo de desenvolvimento econômico marcado pelo consumo exacerbado e pela produção crescente desenfreada, provocando assim a escassez e a contaminação dos recursos naturais, criando e perpetuando, a partir daí, desigualdades graves entre várias nações.

Já nas décadas de 80 e 90, houve uma mudança de comportamento socioeconômico e ambiental no Planeta Terra, acompanhado pelo processo da globalização econômica, ecológica e propostas de um desenvolvimento sustentável, Agenda 21, gerando novas regras ambientais na sociedade econômica mundial, alterando o mercado e a conquista da competitividade de setores da economia, nos quais o desenvolvimento deve estar aliado ao meio ambiente.

Partindo dessa nova concepção, algumas empresas vêem-se forçadas a melhorar cada vez mais o nível de qualidade de seus produtos atendendo a nova filosofia do consumidor. Dessa forma, a imagem do produto é mudada. Isto em função das preocupações mundiais, no que se refere à saúde de produtores/consumidores, na perspectiva de proteger o meio ambiente, que trouxeram muitas transformações, exigindo novos métodos e técnicas.

Surgem novos produtos, os chamados “verdes” ou ecologicamente corretos. Sua cadeia de produção propõe-se a produzir alimentos mais saudáveis, despontando assim a agricultura orgânica , forte aliada para resolver os sérios problemas de impactos ambientais.

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A agricultura orgânica passa a constituir e interferir no mercado, sendo imposta por uma disputa acirrada de uma sociedade culturalmente tradicional com relação aos produtos verdes ou orgânicos, com o intuito de atender o novo tipo de consumidor, sobretudo, na busca da sustentabilidade do meio ambiente. Nesse contexto elabora-se o problema de pesquisa que se traduz em responder a questão: Qual a importância e competitividade da agricultura orgânica brasileira no mercado verde internacional?

Para responder ao problema de pesquisa buscou-se como objetivo geral mapear a importância da agricultura orgânica e sua competitividade no mercado verde, sob a ótica do Modelo Diamante de Competitividade de Porter (1993), enfocando o cenário internacional, apresentando ameaças e oportunidades no Brasil, gerando um novo comportamento alimentar em favor da saúde humana e do meio ambiente. O modelo escolhido foi o modelo estendido de Porter, Ghraith, Cathacowan e Aidandaly, utilizado para analisar o mercado orgânico para produtos de leite na Irlanda. Os autores utilizaram um estudo de caso em comparação com os mercados dinamarquês e austríaco, em pesquisa realizada em 2006. O Modelo Diamante de Porter tem sido utilizado como um instrumento de análise de mercados por ser abrangente e focado em estratégia. De acordo com Porter (1993), a idéia de vantagem competitiva é que, se todas as nações tiverem a mesma tecnologia, elas vão diferir em fatores de produção, tais como: terra, capital, trabalho e recursos naturais. Esta foi a razão para a escolha desse modelo.

Em relação aos objetivos específicos, por ser esta uma pesquisa exploratória, tem-se como proposta elaborar um trabalho documental e bibliográfico nos seguintes tópicos:

1. Comparar os resultados da pesquisa em dados secundários com os indicadores das variáveis do Modelo Diamante de Competitividade de Porter.

2. Apresentar as várias definições de desenvolvimento econômico e sustentável na tentativa de conduzir o entendimento lógico e prático na sociedade.

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3. Mostrar o processo da globalização no contexto ambiental e econômico mundial e brasileiro, com suas implicações e alterações no comportamento do consumidor e na sociedade.

4. Apresentar a importância das exportações brasileiras na participação do mercado verde, com sua competitividade e implicações no cenário internacional.

5. Mostrar e conhecer a evolução do mercado verde, os tipos, as vantagens dos produtos orgânicos, o tipo de consumidor e a importância do papel da certificação ambiental no Brasil e no mundo, estimulando o novo comportamento da sociedade e do mercado.

6. Compreender a importância da agricultura orgânica, suas fases e a viabilidade no mercado verde, por meio do conhecimento dos produtos orgânicos certificados, apresentando as ameaças e oportunidades no cenário nacional e internacional tendo como base o Modelo Diamante de Competitividade de Porter (1993).

O tema assume uma relevância, considerando que a agricultura orgânica tem papel preponderante na construção alimentar saudável para a sobrevivência do homem e do meio ambiente. Este modelo de atividade acena na promessa de mudança de comportamento da sociedade, sem destruir e, sim, preservar / conservar, em que a economia será sustentável, capaz de crescer à medida que já se tem conhecimento de que os recursos naturais são limitados.

Esta dissertação está organizada em seis capítulos. O primeiro capítulo aborda temas sobre o desenvolvimento econômico e sustentável, a partir de vários questionamentos como: O que é desenvolvimento sustentável e como atingi-lo?. Que interpretação seria privilegiada: a visão do Estado, a do empresariado, a acadêmica e/ou da sociedade civil organizada? Outros questionamentos são levantados, sem chegar a uma conclusão acerca do assunto, pois alguns autores tratam-no mediante uma visão ora econômica, ora social, ora ambiental, ora política. Ainda neste capítulo, faz-se o levantamento histórico do advento ecopolítico, que provocou, suscitou e questionou a postura do homem perante o meio ambiente e suas limitações naturais.

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O segundo capítulo relaciona a economia com o meio ambiente. Uma discussão acadêmica e prática de vários economistas, administradores e outros profissionais acerca da nova vertente ambiental: a economia ecológica faz um paralelo entre a economia convencional. Enfoca, assim, o valor da natureza, a contribuição relativa desse valor à economia; sua relevância para as políticas de desenvolvimento no país e no mundo; e a projeção futura no atual sistema econômico global.

O terceiro capítulo apresenta o papel da mudança geopolítica e econômica do mundo, a globalização, mostra as várias conseqüências de ordem social, econômica e ambiental gerando, assim, uma nova competitividade internacional, dando margem ao surgimento de um sistema mundial de comércio e de novas regulamentações, normas ambientais e sociais. A posição do Brasil neste contexto global será explicitada, já que é considerado um país em desenvolvimento e com potencial de recursos naturais alvo permanente de interesses e de especulações de ordem política e financeira.

O quarto capítulo explana sobre o meio ambiente no Brasil e as exportações, com levantamento histórico, os tipos de barreiras (agropecuárias), o envolvimento dos recursos naturais nas exportações brasileiras e sua competitividade no cenário internacional. Apresenta conceitos sobre competitividade, incluindo o das cinco forças de Porter, e descreve o Modelo Diamante de Competitividade de Porter (1993), construto teórico pelo qual foram realizadas a pesquisa e a análise dos dados.

O quinto capítulo apresenta a metodologia. Esse capítulo descreve o tipo de pesquisa, o instrumental que foi utilizado para obter os dados da pesquisa, as formas de tabulação e tratamento dos dados e uma análise comparativa da prática com a teoria baseada no Modelo Diamante de Competitividade de Porter (1993).

O sexto capítulo retrata a análise dos resultados da pesquisa, por meio de quadros e figuras, com comparações e conclusões a partir dos dados apresentados com a importância dos produtos orgânicos no meio ambiente e na saúde humana, os benefícios, a projeção na escala nacional e internacional. O comportamento das empresas brasileiras que perceberam a importância ambiental, procurando desenvolver programas e projetos de gerenciamento com o

16 objetivo de garantir aos mercados produtos de qualidade, além da redução dos custos, mediante reciclagem e reutilização da matéria-prima, que resultem em benefícios competitivos.

A análise dos resultados mostra também a agricultura orgânica como uma das soluções para resolver as agressões sobre os recursos naturais, com o compromisso de proteger o meio ambiente; mostra as diversas fases, a evolução da agricultura orgânica no mundo e no país, pela ascensão do mercado verde no cenário internacional.

Como parte integrante da análise dos dados encontra-se o processo de comparação das informações obtidas na pesquisa, nos dados secundários, com as variáveis do Modelo Diamante de Competitividade de Porter (1993) e a determinação do estágio de competitividade do setor, segundo Porter (HODGETS, 1993).

Por fim, as considerações finais, que incluem o desdobramento da análise anterior em ameaças e oportunidades da agricultura orgânica e do mercado verde em relação à sua competitividade e inserção no mercado internacional. Seguem-se as recomendações e limitações acerca do tema com a certeza de que uma nova mentalidade sobre o meio ambiente e uma nova postura, chamada responsabilidade ambiental e social, far-se-á presente sobre a permanência no Planeta Terra.

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1. CONCEITOS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTÁVEL

O termo desenvolvimento econômico é bastante complexo e a ausência de uma conceituação universal é sentida mediante a constatação de inúmeras definições na literatura, tais como:

O desenvolvimento é o conjunto de processos que tende tanto para a difusão harmoniosa dos efeitos do crescimento (auto-sustentado) em toda a sociedade, quanto para a aquisição de uma autonomia de crescimento econômico; assim, o desenvolvimento implica nas transformações qualitativas e modificações das estruturas sociais e econômicas (GEORGE, 1995, p. 20).

Os efeitos perversos do desenvolvimento econômico freqüentemente são difíceis de identificar devido à multiplicidade de fontes, trajetórias obscuras e ambíguas, pois os custos da transação entre a fonte e os receptores tornam inatingíveis as soluções do mercado, as quais, em teoria, poderiam reverter às externalidades (COASE, 1960, p.144).

Observando a conceituação de desenvolvimento econômico, verifica-se que algumas práticas são inversas às teorias dos autores, pois o concreto é que o desenvolvimento econômico desencadeia a destruição dos recursos naturais renováveis e não-renováveis, tais como: a crescente queima de combustíveis fósseis e biomassa, contribuindo assim para a poluição do ar, poluição dos recursos hídricos, a formação de resíduos sólidos, o desmatamento, exacerbando a erosão do solo, extinção da fauna e flora, ameaçando a sobrevivência das gerações humanas atuais e futuras.

Já o termo “desenvolvimento sustentável” surge pela primeira vez em 1980, na União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que apresentou o documento Estratégia de Conservação Mundial, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável.

Esse documento foi bastante criticado, conforme citação abaixo:

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A estratégia restrita aos recursos vivos focados na necessidade de manter a diversidade genética, os habitats e os processo ecológico é incapaz de tratar das questões controversas relacionadas com a ordem internacional política e econômica, as guerras, os problemas de armamentos, população e urbanização (KHOLSA, 1987, p.24).

Para SUNKEL (1985), a estratégia era essencialmente voltada para o lado da oferta, assumindo que a estrutura e o nível da demanda eram variáveis autônomas e independentes, ignorando o fato de que se um estilo de desenvolvimento sustentável deve ser perseguido, então os níveis e, particularmente, a estrutura da demanda devem ser fundamentalmente mudados.

Embora criticado, recebeu apoio do Programa das Nações Unidas e Meio Ambiente (PNUMA) que tenta popularizar o conceito ao apresentar seus princípios e conteúdos como sendo:

• “Ajuda para os muitos pobres, porque eles não têm opção a não ser destruir o meio ambiente.” • “A idéia do desenvolvimento auto-sustentado, dentro dos limites dos recursos naturais”. • “A idéia de desenvolvimento com custo real, usando critérios econômicos não tradicionais”. • “A noção de necessidades de iniciativas centradas nas pessoas”.

No final de 1986, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMED) da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou o seguinte conceito: “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das futuras gerações de satisfazerem suas necessidades”.

Entretanto, surgiram vários conceitos de desenvolvimento sustentável, sendo visto por cientistas (biólogos e humanistas) técnicos do governo e políticos, que mostram a diversidade de opiniões e diagnósticos sobre o binômio desenvolvimento e meio ambiente. A falta de consenso em relação ao próprio conceito anima a discussão sobre o tema.

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O desenvolvimento sustentável quando aplicado ao Terceiro Mundo diz respeito diretamente à melhoria do nível de vida dos pobres, o qual pode ser medida quantitativamente em termos de aumento de alimentação, renda real, serviços educacionais e de saúde, saneamento e abastecimento de água e outros. E não diz respeito somente ao crescimento econômico no nível de agregação nacional. Em termos gerais, o objetivo primeiro é reduzir a pobreza absoluta do mundo pobre através de providenciar meios de vida seguros e permanentes que minimizem a exaustão de recursos, a degradação ambiental, a ruptura da cultura e da instabilidade (BARBIER; 1990, p. 107).

Conforme Léle (1991), o desenvolvimento sustentável é aqui definido como um padrão de transformações estruturais e sociais que otimizam os benefícios societários e econômicos, disponíveis no presente, sem destruir, contudo, o potencial de benefícios similares no futuro. O objetivo primeiro do desenvolvimento sustentável é alcançar um nível de bem-estar econômico razoável e eqüitativamente distribuído que pode ser perpetuamente continuado por muitas gerações. Desenvolvimento sustentável implica usar os recursos naturais de maneira a não degradá-los ou eliminá-los, ou diminuir sua utilidade para as gerações futuras. Implica em usar os recursos minerais não-renováveis de tal maneira que não necessariamente se destrua o acesso a eles às gerações futuras.

Baroni (1992) questiona a proposta de Brundtland, quanto à essência do desenvolvimento sustentável, passa, em primeiro lugar, como ela diz, pela eliminação da pobreza, e, em segundo lugar, pela crença em que, sozinha, a conservação e a elevação da base de recursos garantam que a eliminação da pobreza seja permanente. Esta parece ser a grande e polêmica questão a respeito do desenvolvimento sustentável, gerando vários questionamentos como: que garante que a pobreza seja eliminada com abundância de recursos? Por que não se eliminou a pobreza quando havia muito mais abundância de recursos? Que mudou?

Diante das exposições teóricas e divergentes, fica claro que não existe um roteiro definido para o desenvolvimento sustentável, mas existem algumas ações estratégicas que norteiam as tomadas de decisões que levam para o novo horizonte da preservação/conservação do planeta.

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Estas discussões acerca dos termos desenvolvimento econômico ou sustentável, vieram das chamadas ambientais realizadas mediante conferências, congressos, convenções, comissões, fóruns, seminários e outros que sugeriram o comportamento de um novo homem em relação ao Planeta.

Preste (2000) relata que a cooperação internacional em matéria de meio ambiente não é nova. As primeiras organizações internacionais, como a de Reno de 1815 ou as comissões de pesca do começo do Séc. XX, registraram uma certa cooperação neste domínio. No entanto, o objeto e a natureza destes cooperação mudaram profundamente durante os três últimos decênios, tais como:

Fase I: dos primeiros ensaios a uma nova conscientização (1902-1967);

Fase II: a emergência da ecopolítica (1968-1986); Fase III: a mundialização e a institucionalização da proteção do meio ambiente (1987- 1997).

O advento ecopolítico do Séc. XX consiste em:

• 1948 – Fundação da União Internacional para a Conservação da Natureza (UINC) em Paris.

• 1968 – Conferência Intergovernamental de peritos sobre os fundamentos científicos da utilização racional e da conservação dos recursos da biosfera, organizado pela Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), em Paris.

• 1972 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, “com a necessidade de estabelecer uma visão global e princípios comuns que serviam de inspiração e orientação à humanidade para a conservação e melhoria do ambiente humano”, na qual foram feitas várias recomendações e, dentre elas, programas nacionais sobre educação ambiental para assegurar o meio ambiente no Planeta.

• 1973 – A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, em Washington, e a criação, nos Estados Unidos, do Registro Mundial de Programas de Educação Ambiental, com 660 programas implementados por setenta países.

• 1976 – Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat Humano, em Vancouver.

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• 1977 – Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em Tibilisi, Geórgia (ex-URSS), que ficou consagrada e decisiva por suas recomendações para os rumos da educação ambiental no mundo e a Conferência das Nações Unidas sobre a desertificação em Nairóbi.

• 1981 – Conferência das Nações Unidas sobre as fontes de energias novas e renováveis, em Nairóbi.

• 1987 – A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMED) que recomendou: “a criação de uma nova carta ou declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável”. Também foi publicado o relatório Nosso futuro comum, chamado Relatório de Brundtland.

• 1990 – A Organização das Nações Unidas declarou o ano Internacional do Meio Ambiente.

• 1992 – II Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), /Brasil, foi a maior conferência global da ONU, em toda sua história. Essa Conferência legou dois importantes documentos: A Agenda 21 e o Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, produzidos pelas ONGs reunidas em fórum paralelo.

• 1997 – Sessão extraordinária da Assembléia da ONU sobre a implementação da Agenda 21, conhecida como Rio+5. O Protocolo de Kioto, no Japão, e a comissão da Carta da Terra.

• 2000 – A Carta da Terra, equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos, no que concerne à sustentabilidade, à eqüidade e à Justiça.

• 2002 – A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a conhecida Rio+10, em Joanesburgo, na África do Sul veio confirmar que os problemas ambientais se agravam cada vez mais e também ratificaram o Protocolo de Kioto, o que foi péssimo, pois apenas 77 países assinaram o documento, gerando um retrocesso ambiental, o que atrasou os esforços para o controle do clima. E o mais lamentável foi que os Estados Unidos, uns dos maiores poluidores atmosféricos, não assumiram esse compromisso.

As chamadas ambientais, citadas acima, consistem em um referencial para a sociedade de consumo, que vem enfocando a questão ambiental em relação ao tipo de desenvolvimento

22 econômico, gerando conseqüências prejudiciais ao homem e ao Planeta em função de suas ações. Essas chamadas também possibilitam o conhecimento de que os recursos naturais são finitos e a vida humana depende da conservação da capacidade de suporte do Planeta. A Terra é uma unidade, as linhas fronteiriças que separam os países existem apenas nos mapas e, desse modo, nenhum habitante do Planeta pode se considerar protegido enquanto o meio ambiente estiver sendo agredido em proporções globais.

O próximo capítulo discorre sobre a economia e o meio ambiente, destacando teorias, práticas e divergências.

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2. A ECONOMIA E O MEIO AMBIENTE: TEORIAS, PRÁTICAS E DIVERGÊNCIAS

A abordagem da economia ecológica possui um corpo de diversas idéias que associam conceitos de economia como sendo uma ciência social. Ciência que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas e ecológicas, considerando que pode responder mais adequadamente a questões de conflitos de acesso-uso.

2.1 Evolução das relações entre a economia e o meio ambiente

Vários estudiosos, principalmente os economistas, mencionam que é difícil proteger o meio ambiente sem o uso de instrumentos econômicos.

Conforme Comune (1994), o homem, desde o seu aparecimento na face da terra, vem provocando diferentes interferências no meio em que vive. Na verdade, os problemas ambientais atingiram hoje proporções que representam um verdadeiro desafio à sobrevivência da humanidade, pois, no passado, a economia condicionou a utilização do meio ambiente sem se preocupar com a degradação e a exaustão de seus recursos. Atualmente, parece que o meio ambiente deve se condicionar à economia.

A história relata que:

A economia ambiental surgiu na década de 50 ou 60 como um ramo da ciência econômica. Nos Estados Unidos a teoria econômica para economia do desenvolvimento e o meio ambiente foram desenvolvidas nos últimos 20 anos por vários economistas... Como Baumol e Oates, [...] que atualizaram as contribuições históricas que foram realizadas desde o início do século, como o conceito de economias externas, por Marshall. O conceito de poluição como externalidades desenvolvido por Arthur Pigou, na década de 20; os estudiosos analíticos sobre a depreciação das reservas de carvão e metal como recursos exauríveis, [...] e também a análise acerca dos limites do crescimento e a consciência de que o crescimento econômico não traz somente bem-estar, mas que a industrialização afetou a qualidade de vida das pessoas (BORGER, 1998, p. 103).

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Os primeiros autores clássicos da economia, notadamente Adam Smith e David Ricardo, não estabeleciam relações entre a ciência econômica e os campos do meio ambiente e o social.

Segundo May (1995), algumas correntes de economistas têm procurado desenvolver conceitos, métodos e técnicas que objetivam calcular o valor econômico detido pelo meio ambiente. Destacam-se: a economia do meio ambiente e dos recursos naturais, que repousa nos fundamentos da teoria neoclássica, a economia ecológica, que se apóia nas leis termodinâmicas e procura valorar os recursos ecológicos, com base nos fluxos de energia líquida dos ecossistemas e, finalmente, a economia institucionalista, que procura abordar a questão em termos dos custos de transação incorridos pelos elementos (instituições, comunidades, agências, públicos em geral) do ecossistema na busca de uma determinada qualidade ambiental.

Um dos maiores desafios que o mundo hoje enfrenta é fazer com que as forças de mercado projetem e melhorem a qualidade do meio ambiente, com a ajuda de padrões baseados no desempenho e uso criterioso de instrumentos econômicos. Segundo Lustosa (1999), as questões ambientais estão inseridas nas diversas áreas da economia, uma vez que o meio ambiente é a fonte de matéria-prima e energia, local de despejos dos rejeitos, das atividades produtivas e contribui de maneira significativa para o bem-estar da população.

A abundância dos recursos naturais pode ser uma das razões pelas quais os economistas do passado não prestaram atenção às questões ambientais em épocas anteriores. Afinal, a economia é, por muitos, definida como a ciência que pode alocar recursos naturais escassos para diversos fins.

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2.2 Situação atual: diferentes escolas e suas divergências teóricas e práticas

Nos dias atuais, a ótica da questão ambiental está inserido no enfoque econômico, tão bem constatado nas principais correntes econômicas, que incluem diversas escolas, tais como:

2.2.1 Os ecodesenvolvimentistas

Em 1972, a escola ecodesenvolvimentista tinha como base o tripé: justiça social, eficiência econômica e prudência ecológica, uma vez que a qualidade social é medida pela melhoria do bem-estar das populações despossuídas e da qualidade ecológica, como também pela solidariedade com as futuras gerações.

Os partidários dessa escola consideram que a poluição é uma conseqüência do estilo de desenvolvimento econômico que tem sido o paradigma da nossa sociedade, principalmente pelas empresas multinacionais, e que há necessidade de que se estabeleça uma relação harmônica e interativa entre desenvolvimento econômico e meio ambiente, sob pena de comprometermos os recursos não-renováveis do Planeta.

Portanto, as soluções propostas pelos ecodesenvolvimentistas para tratar da temática ambiental inserem-se na correção do direcionamento ao desenvolvimento atual. Elas chamam atenção para a redefinição dos objetivos de desenvolvimento econômico e social em consonância com os recursos disponíveis.

O ajustamento ao desenvolvimento ecossustentável não pode estar dissociado de um ajustamento estrutural que deve ser realizado pelos países interessados em adaptar suas economias às condições de mercado e ao aumento da competição entre as organizações. Desse modo, as políticas industriais devem estar direcionadas ao desenvolvimento sustentável, com

26 diversos padrões ambientais existentes nos países, sendo um importante fator para a relocação da capacidade produtiva, especialmente para indústrias com alto índice de poluição.

Verifica-se que as soluções propostas pelos ecodesenvolvimentistas, em relação ao meio ambiente, dizem respeito à necessidade de correção do estilo de desenvolvimento que requer soluções específicas em cada região, à luz dos dados culturais e ecológicos, bem como das necessidades a curto e longo prazo.

2.2.2 Os pigouvianos

Na opinião de Donaire (1999), os pigouvianos tratam a questão da poluição ambiental como originária de uma falha do sistema de preços, que não reflete de forma correta os danos causados a terceiros e ao meio ambiente, quando da implantação de uma indústria ou do aumento da quantidade produzida, que deveria ser resolvida pela introdução de um mecanismo que possibilitasse a internalização monetária dessa externalidade.

2.2.3 Os neoclássicos

Os neoclássicos propõem a privatização do meio ambiente, isto é, sugerem formas para determinar os direitos em mercados privados, de modo que sua utilização implique em custo, que, como qualquer outro, deve ser incorporado ao custo de produção.

Para Maimom (1995), o meio ambiente integra três aspectos:

• O meio ambiente é a fonte de matérias-primas utilizadas como insumos nos processos de produção. Estes insumos podem ser renováveis e não-renováveis.

• O meio ambiente absorve todos os dejetos e efluentes da produção e do consumo de bens e serviços.

• O meio ambiente desempenha outras funções como a de suporte à vida animal e vegetal, lazer e estética.

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O estudo do meio ambiente está associado à incorporação das externalidades, que aparecem porque certos tipos de recursos, como é o caso do meio ambiente, têm propriedade indefinida permanecendo fora do mercado de fatores e não tendo preços definidos. Isto provoca sua não-consideração como recurso escasso e sua superutilização pelos usuários.

2.2.4 Os economistas ecológicos

A economia ecológica é dinâmica, sistêmica e evolucionista. Seu foco principal é a relação do homem com a natureza e a compatibilidade entre o crescimento demográfico e disponibilidade de recursos.

A economia ecológica procura uma abordagem preventiva contra as catástrofes ambientais iminentes, pregando a conservação dos recursos naturais através de uma ótica que adequadamente considere as necessidades potenciais das gerações futuras. Essa abordagem pressupõe que os limites ao crescimento fundamentados na escassez dos recursos naturais e sua capacidade de suporte são reais e não necessariamente superáveis através do progresso tecnológico. Isso significa que ao lado dos mecanismos tradicionais de alocação e distribuição geralmente aceitos na análise econômica, a economia ecológica acrescentaria o conceito de escala, no que se refere ao volume físico de matéria e energia que é convertido e absorvido nos processos entrópicos da expansão econômica (DALY, 1992, p. 25).

Portanto, cada escola citada acima tem seu ponto de vista, porém o foco central é em relação ao desenvolvimento econômico e ao meio ambiente. Como utilizar os recursos naturais levando em conta os custos / benefícios e como punir as instituições ou empresas que agredirem o meio ambiente.

2.3 Economia convencional versus economia ecológica

A economia ecológica fundamenta-se no princípio de que o funcionamento do sistema econômico, considerado nas escalas temporal e espacial mais ampla, deve ser compreendido tendo-se em vista as condições do mundo biofísico sobre o qual este se realiza, uma vez que é deste que derivam a energia e matérias-primas para o próprio funcionamento da economia. Uma vez que o processo econômico é um processo também físico e as relações físicas não podem deixar de fazer parte da análise do sistema econômico, o que a tornaria incompleta.

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Com isso, a natureza do problema envolve elementos, tanto econômicos, como biofísicos. Por sinal, o descaso ou a pouca relevância atribuída aos atributos biofísicos da economia nos modelos da economia convencional vem sendo o principal ponto de crítica e motivação da economia ecológica.

Distinguindo-se tanto da “economia convencional” quanto da “ecologia convencional”, a economia ecológica define-se em um campo transdisciplinar, que busca a integração entre as disciplinas da economia e ecologia e demais disciplinas correlacionadas, para uma análise integrada dos dois sistemas. Neste sentido, a economia ecológica não rejeita os conceitos e instrumentos da “economia convencional” e da “ecologia convencional”. Deles fará uso sempre que se fizer necessário, sendo que ao mesmo tempo reconhece a insuficiência destes para o propósito de uma análise integrada, apontando para a necessidade do desenvolvimento de novos conceitos e instrumentos.

Assim, como afirma Amazonas (2002), por ser um campo pluralista transdisciplinar, na economia ecológica encontram-se diversas (e mesmo divergentes) abordagens, ora se aproximando mais da economia, ora mais da ecologia. Diversas são as formas propostas de incorporação dos princípios biofísicos, assim como também são diversas as formas que fazem com que a economia ecológica se apresente como um campo heterogêneo dentro de seu propósito comum.

O Quadro 1 apresenta a diferença entre economia ecológica e economia convencional, para explicitar a diversidade de enfoques que se encontram atualmente tanto na ecologia como na economia.

Especificação Economia Convencional Economia Ecológica − Mecanicista, estática, atomística. − Dinâmica, sistemática, − Gostos e preferências individuais evolucionária. tomados conforme expressos e − Preferências humanas, considerados como a força compreendendo que a tecnologia dominante. e a organização co-evoluem para Visão básica do mundo − A base de recursos considerada refletir amplas oportunidades e como sendo essencialmente limitações ecológicas. ilimitada devido ao progresso − Seres humanos são responsáveis técnico e á sustentabilidade infinita. por compreenderem seu papel dentro do sistema maior e por gerenciarem para a

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sustentabilidade. Curto − Escala Quadro temporal − 50 anos no máximo, 1-4 anos em − Dias a eras, síntese em escala geral múltipla. − Local e internacional − Local. − Estrutura invariante em escala Quadro espacial espacial crescente, unidades básicas − Hierarquia das escalas. mudam de indivíduos para firmas e para países. − Apenas humana Todo o ecossistema, os seres humanos, inclusive. Quadro de espécies − Plantas e animais apenas raramente consideradas incluídos para o seu valor de − Considera a interconexões entre contribuição os humanos e o resto da natureza. − Max. Lucros (firmas). − Precisa ser ajustado para refletir − Max. Utilidade (indivíduos). os objetivos do sistema. − Todos os agentes seguindo micro − Organização social e instituições objetivo levam à realização do culturais em nível mais elevados Objetivo micro principal macro objetivo. da hierarquia espaço-tempo. − Custos e benefícios externos são superficialmente reconhecidos, mas não são geralmente levados em conta. Pressupostos sobre o progresso − Muito otimistas − Transdisciplinar. técnico − Disciplinar − Pluralístico enfoque em Postura acadêmica − Monástica, enfatiza ferramentas problemas. matemáticas. Quadro 1 - Economia convencional versus economia ecológica Fonte: Daly (1992).

Na visão básica de mundo em relação à economia, os consumidores individuais são as figuras centrais. Seus gostos e preferências são aceitos conforme expressos, constituindo-se em força dominante e determinante. A base de recurso é considerada como essencialmente ilimitada devido ao progresso técnico e à infinita sustentabilidade.

A economia convencional enfatiza o crescimento, em vez da sustentabilidade, em nível macro, no qual todo comportamento macro é a simples agregação de comportamento micro. Enfim, a economia convencional é muito otimista em relação à capacidade para afastar, no final, todas as limitações, em termos de recursos, de crescimento econômico contínuo.

A economia ecológica adota um enfoque mais holístico, sendo o ser humano um dos componentes (embora muito importante) dentro do sistema total. As preferências, o

30 entendimento, a tecnologia e a organização cultural humana, tudo isto co-evolui para refletir as mais amplas oportunidades e limitações ecológicas. Essa economia usa uma definição ampliada do termo “evolução” para englobar tanto mudanças biológicas como culturais. O preço que as culturas humanas pagam por sua capacidade de adaptar-se rapidamente traz o perigo de estarem se tornando dependentes de recompensas a curto prazo e, por conseguinte, geralmente ignoram recompensa em longo prazo no que diz respeito à questão de sustentabilidade .

2.4 Economia ecológica no Brasil

Anterior ao surgimento das crises ambientais, o processo decisório relativo ao desenvolvimento no Brasil foi extremamente centralizado, com raras oportunidades de se ouvirem as comunidades afetadas.

Ao mesmo tempo, os ecologistas, que vinham se tornando cada vez mais frustrados por apresentar suas causas sob um ponto de vista puramente científico, começaram a encarar a valoração dos bens e serviços ambientais como um meio adicional para justificar os esforços de conservação. Passaram também a buscar ativamente a colaboração de economistas no sentido de advogarem pela luta de uma economia ecológica para o desenvolvimento eqüitativo no Brasil.

Nesse sentido, de acordo com May (1995, p.14), deve existir o ponto estratégico de entrada para a economia ecológica que envolve três instâncias:

1ª - o reconhecimento da falta de informações ambientais acessíveis que possam servir de base para o processo decisório relativo ao desenvolvimento no Brasil. Provisão de indicadores comparativos, funções de dose-resposta e parâmetros de modelos referentes às conseqüências ecológicas de decisões semelhantes tomadas em outros lugares do mundo que podem gerar informações onde hoje só existem impressões. Tais “indicadores de sustentabilidade” não iriam transcender a falta generalizada de se fazer uso de análises científicas nos processos políticos concernentes ao desenvolvimento no Brasil, mas

31 asseguraria a disponibilidade de informação útil para aqueles que tenham disposição para utilizá-la;

2º - a coerência da junção dos objetivos eqüitativos, ambientais e desenvolvimentistas precisa ser demonstrada na prática. As preocupações ambientais têm sido tratadas como secundárias à retomada do crescimento econômico, em que as políticas distributivas devem combater o empobrecimento dessa população, como, por exemplo, a segurança alimentar, que não possui corolário coerente nas políticas ambientais; e

E o 3º - devido ao número limitado e disperso de profissionais treinados disponíveis, é importante reconhecer e estimular os esforços ainda incipientes, em nível local e nacional, ao mesmo tempo em que os resultados são canalizados para satisfazer as demandas concretas para a formulação de políticas. Grupos de trabalho existentes, preocupados em encorajar a valoração de recursos ambientais na contabilidade nacional e na análise custo/benefício, poderiam então formar um núcleo evolutivo para difundir os princípios e métodos da economia ecológica.

Enfim, a economia ecológica é um campo disciplinar ainda relativamente novo, que vem encontrando um desenvolvimento acelerado e intenso, abrindo vários caminhos de investigação e buscando amadurecer para consolidar sua estrutura analítica teórica e seus instrumentos e ferramentas. No entanto, este é um esforço que demanda ainda muito trabalho e cooperação de todos: Instituições gestoras de políticas, organizações não-governamentais; o empresariado local, regional, nacional, internacional, e a cooperação da comunidade acadêmica. É de suma importância que todos busquem uma equação de sustentabilidade no desenvolvimento econômico com o meio ambiente.

Essa nova vertente na economia tem uma relação direta com o meio ambiente, com o processo de globalização, destacando-se como uma forte aliada na competitividade de mercado interno e externo, conforme se verifica no próximo capítulo.

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3. A GLOBALIZAÇÃO E A NOVA VERTENTE DE COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL

3.1 Conceito de globalização

O mundo está interligado em todos os seus aspectos. Não existe mais o confronto ideológico (capitalismo versus socialismo real) e, sim, o mundo capitalista e globalizado que passou para a disputa econômica entre países e blocos de países como a existência de três pólos centralizados, liderados pelos Estados Unidos, Alemanha e o Japão.

Nas últimas décadas do Séc. XX, foram criados blocos comerciais de múltiplos países, por exemplo: Mercado Comum do Sul (Mercosul), Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), União Européia (EU), Cooperação Econômica Ásia Pacifico (APEC), Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e outros, que reduziram significativamente as tarifas e outras barreiras ao comércio transnacional entre os países participantes. O atual contexto político mundial parece estar transferindo lentamente a eliminação progressiva das políticas protecionistas e abrindo ao comércio internacional.

A globalização, no início, possuía duas forças matrizes, a procura de novos mercados e os esforços para a redução de custos, por exemplo: Se a Sony vendesse seus produtos apenas em seu país de origem, o Japão, o potencial de vendas seria limitado. Ao tornar-se global, a Sony pode comercializar seus produtos para bilhões de pessoas, portanto, a globalização pode ser assim resumida: internacionalização da produção e das finanças, alteração na divisão internacional do trabalho dentro das próprias empresas transnacionais, o grande movimento migratório do Hemisfério Sul para o Norte e a questão ambiental entrando no contexto das discussões internacionais.

No entanto, as fronteiras nacionais estão se tornando cada vez mais insignificantes na definição das fronteiras de negócios. Os avanços na tecnologia da comunicação e nas reduções às barreiras comerciais entre as nações contribuíram para a criação de uma aldeia verdadeiramente global. A integração regional é um instrumento fundamental para que um

33 número cada vez maior de países possa melhorar a sua inserção num mundo globalizado, já que eleva o seu nível de competitividade, aumenta as trocas comerciais, permite o aumento da produtividade, cria condições para um maior crescimento econômico e favorece o aprofundamento dos processos democráticos. Desse modo, a integração regional e a globalização surgem como processos complementares e vantajosos.

O fenômeno da globalização no âmbito econômico tem sido marcado principalmente pela intensificação das trocas comerciais e dos fluxos financeiros, pela multiplicação dos esforços de liberalização comercial e de integração econômica, pela mundialização dos mercados e pela segmentação e internacionalização da produção. A transformação dos métodos de produção, da concepção dos mercados e das relações econômicas internacionais, fruto da globalização, criou assim oportunidades únicas para o desenvolvimento e o bem-estar dos nossos povos, que têm vindo a ser utilizadas para atingir maiores níveis de crescimento (FIORI, 1993, p. 77).

Enfim, hoje, a concorrência é cruel no mundo da economia globalizada. É preciso estar de olho no concorrente, oferecendo produtos melhores e adequando os preços para o mercado vizinho. Nenhum setor está livre da concorrência, nem mesmo as empresas estatais, que são mantidas pelo dinheiro do contribuinte e empregam milhares de pessoas, independentemente de produzir lucro ou prejuízo.

3.2 Globalização da ecologia

A globalização da ecologia dá-se num contexto de globalização das relações econômicas e se intensifica a partir da década de 80.

De acordo com Maimom (1995), a globalização da ecologia pode ser explicada por diferentes fatores: em primeiro lugar, constata-se que os fenômenos de poluição começam a transcender as fronteiras nacionais , afetando regiões ou mesmo o planeta como um todo, tais como: as chuvas ácidas, a gestão de bacias hidrográficas e dos mares. Assim sendo, as preocupações com os riscos globais, como a contaminação da água, ar, solo, o efeito estufa, explosão demográfica e o empobrecimento da biodiversidade em particular, com a devastação de áreas tropicais, são inquietações prementes sob a ótica vigilante de uma opinião pública

34 internacional. Em segundo lugar, a opinião pública é cada vez mais sensível às questões ambientais.

Com o fim da Guerra Fria, o assunto meio ambiente manifesta-se de diversas formas. As pressões políticas dos governos, das ONGs (Organizações Não-Governamentais), dos sindicatos, das associações científicas e da própria mídia funcionam como um poderoso aliado, ao denunciarem os grandes desastres ambientais causados pelas empresas, que só objetivam lucro a qualquer custo. O Quadro 2 mostra a síntese da globalização da ecologia.

• Poluição transcende as fronteiras, afetando regiões ou mesmo o planeta como um todo. • Mídia acelera a conscientização ambiental. • Pacote tecnológico das empresas multinacionais. • Conceito de desenvolvimento sustentável • Pressões, bancos multilaterais e das ONGs.

Quadro 2 - Globalização da Ecologia Fonte: Elaborado por Maimom, (1995).

Em relação às barreiras ecológicas, os últimos 50 anos foram marcados por um processo sem precedentes de liberação do comércio internacional. Dessa forma,, com a queda das barreiras tarifárias, o comércio internacional acabou desenvolvendo novas formas de protecionismo que se manifestam pela escolha de parceiros preferenciais com a consolidação e ou criação de blocos comerciais, tais como: União Européia, Nafta e Mercosul, e pela intensificação das barreiras técnicas e de certificações, cuja adesão é voluntária.

A globalização foi criada muito antes de a humanidade surgir na Terra, pois a natureza sempre foi globalizada, e hoje, a economia e o meio ambiente tornaram-se intrinsecamente ligados, através principalmente da utilização de recursos naturais como o petróleo, os metais e a própria água, ou até mesmo pela produção de alimentos. Esta pode ser atingida duramente por mudanças climáticas, pragas oriundas do desequilíbrio da cadeia alimentar e até mesmo pelo mau uso do solo, que causa erosão, lixiviação entre outros problemas. Quando emitimos gases tóxicos em nossa cidade, ou quando acontece um vazamento radioativo do outro lado do mundo, as conseqüências são sentidas em todo o mundo, sejam elas ambientais ou econômicas. Os problemas sociais, econômicos e ambientais nunca serão resolvidos se forem tratados de forma isolada. Por esses motivos, é necessário começarmos a enxergar nosso mundo de forma holística, onde todas as formas de vida dependem uma das

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outras e onde tenhamos consciência de que nossas atitudes podem ser as diferenças entre a sobrevivência ou não (ARAÚJO JR., 1999, p.25).

A globalização dos mercados tem conseqüências importantes sobre o meio ambiente. O comércio internacional causa necessariamente efeitos nefastos para o meio ambiente como a super exploração dos recursos naturais renováveis e não renováveis, o aumento de todo tipo de resíduos, a perda da biodiversidade e o aumento do consumo energético dado o sistema de transporte a longas distâncias levando bens e mercadorias.

Estes efeitos sobre o meio ambiente serão acentuados com as iniciativas visando liberar ainda mais o comércio internacional. Por outro lado, o quadro atual no que diz respeito ao comércio e aos investimentos internacionais não inclui os custos ambientais na regulamentação do comércio internacional. São custos ignorados (não incluídos nos custos de produção) por ação das empresas e dos estados, que consideram o fato como uma vantagem competitiva. Isso resulta numa corrida dos estados para desregulamentar tudo o que se refere ao meio ambiente, caracterizando uma maior tolerância, até mesma indiferença, quanto à aplicação das normas e dos mecanismos de controle ambiental.

Como conseqüência da desregulamentação dos mercados e do compromisso entre os governos de atrair a qualquer preço o investimento estrangeiro, vê-se atualmente uma super exploração dos recursos naturais, provocando a deteriorização do patrimônio natural que ameaça diretamente à saúde e à subsistência das gerações humanas atuais e futuras.

Uma regulamentação mais aprimorada do comércio e dos investimentos internacionais tem a possibilidade de atenuar e de compensar alguns dos efeitos inevitáveis sobre o meio ambiente, evitar outros e até mesmo ter efeitos positivos. No entanto, nenhum resultado substancial será obtido se a proteção ao meio ambiente não se tornar uma questão primordial nos acordos internacionais sobre o comércio e os investimentos, o que implicaria em:

• Incorporação de mecanismos de proteção ao meio ambiente diretamente nos acordos de comércio e de investimento, e não só nos acordos paralelos.

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• Adoção de normas ambientais mínimas, em nível internacional, que determinem também os procedimentos e os métodos de produção, e não só os produtos.

Ademais, países com regulamentações, normas e práticas inferiores beneficiam-se ou geram vantagem comparativa no sistema mundial do comércio que não existiria, caso os custos fossem internalizados. E quanto à exteriorização dos custos ambientais, muitas vezes chamadas “dumping ambiental” na realidade, constitui-se num subsídio disfarçado à produção e, dessa maneira, pode representar um fracasso tanto sob o ponto de vista do livre comércio internacional, como de desenvolvimento durável.

O dumping ambiental “é um sistema de economia protecionista que, para incentivar artificialmente a exportação, lança no mercado internacional produto pelo preço de custo, elevando-os excessivamente no mercado interno, de forma que compense o prejuízo e favoreça aos trustes e cartéis a colocação dos excedentes” (FERREIRA, 1998, p.230).

O dumping ambiental significa, então, que os países obtêm uma competitividade espúria provocando uma degradação ambiental.

3.2.1 O meio ambiente e a competitividade internacional

A necessidade de proteger o meio ambiente por meio de leis teve uma aceitação ampla, mas um tanto relutante. Ampla, porque todos querem um planeta habitável. Relutante, por causa de crença arraigada de que as leis ambientais corroem a competitividade (CHAGAS, 1999, p. 97).

De um lado, estão os benefícios sociais que provêm de padrões ambientais rígidos e, de outro, estão os custos privados das indústrias para a prevenção de despoluição - custos e danos que levam a preços altos e reduzem a competitividade.

Segundo Ferraz et al. (1995), a competitividade trata como fenômeno o que está ligado às características de desempenho ou de eficiência técnica e alocativa, apresentada por empresas e produtos que considera a competitividade das nações como a agregação desses resultados.

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Dessa forma, a demanda de mercado é quem determina que tipo de produto será adquirido e qual será a posição competitiva das empresas no mercado internacional.

O meio ambiente e a competitividade internacional envolvem um processo de causa mútua.

A hegemonia da agenda da competitividade nas políticas nacionais pode se tornar um problema particularmente importante, principalmente, nos países em desenvolvimento, caracterizado por significativa vulnerabilidade externa e fragilidade institucional, como é o caso do Brasil.

3.3 Inserção do Brasil na globalização e o meio ambiente

A globalização no Brasil nas questões ambientais trouxe também transformações econômicas e sociais e a exigência de um ambiente saudável, que transcendeu as fronteiras nacionais e constitui hoje requisito de peso ao comércio internacional.

As organizações empresariais brasileiras enfrentam novas exigências do mercado internacional: a discriminação de produtos e serviços impõe barreiras ambientais, seja em relação à observância de padrões técnicos exigidos, ou por adesão voluntária à norma estabelecida no âmbito das certificações ambientais.

Inserido nessa nova ordem econômica, o Brasil fez a abertura para o exterior, tem aplicado a política de privatizações e empenha-se em desregulamentar sua economia, oferecendo vantagens às empresas transnacionais para que aqui se instalem. Em alguns segmentos da economia, como o das indústrias farmacêuticas, da borracha, do fumo e da automobilística, existe um domínio absoluto das transnacionais. Cerca de 44% do total das exportações de manufaturados brasileiros são de transnacionais.

O Brasil, para não ficar à deriva, ou em posição defensiva, precisa adiantar- se ao processo, e existe a imperiosa necessidade de colocar o comércio, agricultura e o meio ambiente dentro de uma visão de conjunto. O tratamento verbal-marginal da questão social ou a falta da aplicação de medidas

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forçando a uma melhor e justa distribuição de renda impedirão atitudes consertadas por parte do Brasil na proteção do acesso de seus produtos ao mercado estrangeiro. A provável criação de um selo ecológico nacional tem de vir acompanhado, além de sua produção feita dentro de critérios ecológicos assegurados e sadios, também respaldada por garantias sociais, vale dizer, salários justos e suficientes condições de dignidade para que não se descaracterize o produto nacional (BARBOSA FILHO, 1998, p. 177).

No Brasil, o processo de globalização é intenso e não podia ser diferente. Em 26/3/91 houve um tratado em Assunção, assinado entre o Brasil e a Argentina, com adesão do Uruguai e Paraguai, prevendo a formação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), a partir de janeiro de 1995. Seus anexos especificaram prazos para a livre circulação de bens e serviços entre os países, estabelecendo uma política comercial comum em relação aos terceiros países, além de resguardar, em listas de exceções dos produtos que não teriam imediatamente suas tarifas reduzidas, a pedido dos próprios países participantes. Foi determinada, assim, a adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC), além de criação de normas para a operacionalização aduaneira desses instrumentos.

Em 25/5/92 é assinado o acordo de cooperação inter-institucional entre as comunidades européias e o Mercosul que instituem entre eles a cooperação mais estreita possível, com o intercâmbio de informações, formação de pessoal, assistência técnica e apoio institucional.

As raras discussões de hegemonia dos Estados Unidos em termos de país, pois o controle mundial passa direta ou indiretamente pelos norte-americanos, como também a hegemonia das armas com o fim da Guerra Fria e com a imposição dos americanos em usar tropas internacionais para intervir em conflitos generalizados.

Com relação ao meio ambiente o assunto no Brasil remete-nos aos anos 70, época em que entidades ambientalistas começaram a desenvolver um trabalho pioneiro em defesa das reservas naturais. Na década de 80, a consciência ecológica despertou com o fenômeno acontecido na cidade de Cubatão e alcançou os meios de comunicação de massa, ampliando a discussão.

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No início da década de 90, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, sediada no Rio de Janeiro, aconteceu uma maior veiculação sobre o assunto, aumentando a consciência e a preocupação da sociedade brasileira.

Tais posturas chamaram a atenção do meio empresarial, que não tardou em despertar para a necessidade de preservar a natureza. Essas posturas reduziram os efeitos negativos das diversas atividades econômicas, com iniciativas ambientais, como a criação de uma Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, na qual participaram diversas empresas: Vale do Rio Doce, Caemi, Varig, Shell, Suzano, Aracruz, Papel Simão, Acesita, dentre outras.

Assim sendo, o processo de globalização muito tem contribuído para os problemas ambientais, fazendo com que os empresários adotem novas posturas, pois as empresas brasileiras com performance ambiental são aquelas que têm maior inserção no mercado internacional.

De acordo com Chagas (1999), a nossa sociedade organizou-se muito mais na insensatez do que na sabedoria, pois o modo de vida atual que é globalizado está ligado constantemente à destruição de ecossistemas, à ameaça nuclear e à miséria absoluta de milhões de pessoas, infelizmente, com estimativas otimistas estabelecidas com data-limite somente até o ano de 2030.

A partir daí, segundo Araújo (1999), a sustentabilidade do sistema-terra não estará mais garantida, devido aos seguintes fatores: 1) a grande dificuldade da exaustão dos recursos naturais não-renováveis; 2) quanto de agressão ainda a terra pode suportar; 3) a injustiça social mundial.

Uma das críticas feitas ao processo de globalização é que ele acentuaria a divisão internacional do trabalho entre países centrais e periféricos. A produção de bens e serviços intensivos sem tecnologia e, portanto, onde mão- de-obra barata e abundância de recursos naturais são fatores pouco importantes para a competitividade internacional, é cada vez mais concentrada nos países desenvolvidos. Por outro lado, aos países em desenvolvimento resta disputar os mercados de produtos menos dinâmicos, onde a expansão do market share acaba sendo obtida por formas “espúrias”,

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tais como subsídios à exportação, baixos custo dos salários e consumo acelerado da base de recursos naturais (YOUNG, 2000, p. 121).

Portanto, a globalização dos mercados deve passar tanto por uma justificativa ambiental e social, como por uma justificativa econômica. Para isso, é preciso, entre outras coisas, que se estabeleça uma forma de consulta direta e democrática aos cidadãos e aos organismos da sociedade civil, para os quais seriam apresentadas estas justificativas no sentido de avaliá-las e analisá-las.

3.4 Competitividade e vantagem competitiva

A globalização, ao definir uma ordem nova para a administração dos negócios, impõe ao agronegócio uma revisão de seus conceitos e de suas práticas. Na visão de Pinto (2004), o entendimento de modelo de fornecedor de matéria-prima deve ser substituído pela aquisição de uma visão sistêmica do processo produtivo, da busca da eficácia na relação custo-benefício e principalmente em se manter competitivo. Esta nova abordagem vem enfatizar a questão da necessidade de adaptação do modelo agroindustrial para responder, de modo eficaz, às mudanças ambientais trazidas pela competição mundial. Conseqüentemente, Neves (1999) distingue mudanças no padrão de competitividade mundial ao definir o que nomeou de a nova competição, baseada na inovação e criação de vínculos de cooperação, em oposição com a antiga competição, que se voltava para a produção em massa e redução de custos.

Outro fator recorrente da globalização de hábitos e padrões, segundo Neves e Zylberstajn (2000), está alterando o comportamento do consumidor. Este passa a ser mais preocupado com a qualidade de vida, com aspectos relacionados à sua saúde, o que implica na valorização de atributos, que conduzam à preocupação, quanto à origem dos produtos, quanto à presença de agrotóxicos, de patogênicos, e conservação ambiental. Esse novo comportamento favorece o consumo de produtos orgânicos com selos, assim como a existência de outros fatores de diferenciação.

Neste contexto, é inserida uma análise sobre o conceito de competitividade por ser tópico de fundamental importância para o desenvolvimento deste trabalho. Uma das maneiras

41 de ver a competitividade é considerá-la como a capacidade que uma organização tem em conseguir rentabilidade em valores acima da média do seu setor. È vista também como a capacidade de reinvestir continuamente no seu negócio, garantindo o seu desenvolvimento e manter, de maneira sustentada, a sua participação no mercado, no âmbito interno e externo.

O conceito de competitividade pode ser visto como desempenho ou como eficiência de uma empresa ou produto, segundo Ferraz (1995, apud BATALHA, 1999). No primeiro caso, resultados das análises são traduzidos na determinação da competitividade revelada, cujo principal indicador estaria ligado à participação num determinado mercado (market share).

No segundo aspecto, trata-se de medir o potencial de competitividade para um setor ou empresa. A medida é obtida pela identificação e estudo das opções estratégicas adotadas pelos agentes econômicos em face de suas restrições, financeiras, gerenciais, organizacionais e tecnológicas. O autor define competitividade como a capacidade de a empresa formular e implementar estratégias que lhe possibilitem aumentar ou manter, de forma sustentável, uma posição duradoura. Esta definição foca no processo que determina um grau de competitividade.

Dessa forma, a definição de competitividade tem conseqüências diretas para a escolha dos indicadores de desempenho. Como indicador de resultados que condensa múltiplos fatores de desempenho, tem-se a evolução da participação no mercado. A inovação tanto em processos, como em produtos, pode ser considerada como um dos determinantes para a manutenção da participação do mercado. Por outro lado, produtividade e custos são indicadores de eficiência.

Farina (2001) entende competitividade como: a capacidade que as empresas apresentam de alterar a estrutura do mercado e os padrões de concorrência, que são características do ambiente competitivo, individualmente ou em conjunto, a seu favor.

BILIBIO (2005), num estudo de caso, baseando-se na teoria das Cinco Forças Competitivas de Porter (1986), identificou os fatores que determinam a competitividade de um

42 empreendimento agrícola e sua relação com o desempenho da empresa estudada. Observou que entre as forças que afetam a competitividade do empreendimento agrícola estudado destacam-se as ligadas ao poder de negociação com fornecedores e compradores, e os fatores internos de produção. De forma a minimizar esses impactos, entende que os empreendimentos agrícolas, no momento da compra, devem observar a qualidade dos insumos adquiridos e a margem de lucro, no momento da venda. Quanto aos fatores internos de produção, o considerado como determinante da competitividade é o controle de custos, seguido do planejamento estratégico. O primeiro destes, segundo a autora, aliado à inovação tecnológica, influencia no desempenho da empresa.

Na visão de Momaya, (2003) o significado de competitividade modifica-se com o tempo e com o contexto em que é aplicado. Por essa razão teorias e modelos devem ser flexíveis o suficiente para integrar a mudança dos processos estratégicos-chave se sua utilidade deva ser sustentada na prática.

Competitividade é um conceito multidimensional e, portanto, pode ser analisada em três níveis diferentes: país, indústria e empresa (firma). De sua raiz latina, competitividade quer dizer envolvimento num negócio para concorrer por mercados. No nível firma, D`Cruz (1992, apud MOMAYA 2003) considera competitividade a habilidade de projetar, produzir, ou comercializar produtos superiores aos oferecidos pelos concorrentes considerando preço e as outras características, fora o preço.

Processos competitivos são os que ajudam na identificação da importância e desempenho dos processos de missão crítica, os vitais, tais como: processos estratégicos, processos de gestão das operações e de gestão da tecnologia. O processo competitivo pode ser visto como um processo de balanceamento que complementa os processos funcionais tradicionais para competir mais eficientemente. Os constructos-chave da competitividade, as fontes, os bens e os processos dentro de uma organização, que provem vantagens competitivas, são mostrados na Figura 1.

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Processo Competitivo como um

Competitividade - avaliação

Bens Melhoria do Competitividade Desempenho - realização Competitivo

Competitividade - iniciativa

*Processo Funcional Tais como: - Admin. das Operações - Admin. de Recursos Humanos - Admin. Estratégica

Figura 1: Relação entre vários processos administrativos e os processos competitivos (cp) Fonte: Adaptado de MOMAYA (2003).

O nível de competitividade da firma é muito importante porque, países e indústria só se tornam competitivos se as empresas o forem. Porter (1991, p.1) afirma que “tanto a atratividade da indústria quanto a posição competitiva podem ser modeladas por uma empresa”. Desta forma é crucial entender a dinâmica da competitividade no nível das empresas.

As pesquisas, neste tema, têm focado alguns aspectos chaves para avaliar a competitividade, entre eles, a perspectiva dos processos e a fraqueza no entendimento da competitividade, especificamente com sua integração com a estratégia. É necessário, afirma Momaya, (2003), uma harmonia entre competitividade e termos correlatos para que confusões sejam minimizadas. Enquanto as Cinco Forças Competitivas e o Modelo Diamante de Porter e suas variantes provêm resultados úteis, seu uso é limitado nas avaliações, a dimensões específicas da competitividade.

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Entrantes Potenciais

Ameaça de novos entrantes

Poder de negociação dos compradores

Concorrentes na Industria Fornecedores Compradores

Poder de negociação dos fornecedores Rivalidade entre Empresas Existentes

Ameaça de Serviços e Produtos substitutos

Substitutos

Figura 2. As Cinco Forças Competitivas que Determinam a Rentabilidade da Indústria Fonte: Porter, (1991, p. 4).

Segundo Porter (1991) o determinante fundamental da rentabilidade de uma empresa é a atratividade da indústria e, nas indústrias, as regras de concorrências estão englobadas em cinco forças competitivas: (1) ameaça de novas empresas; (2) ameaça de novos produtos ou serviços; (3) o poder de barganha dos fornecedores; (4) o poder de barganha dos compradores e (5) a rivalidade entre competidores existentes, conforme diagramado na Figura 2.

Porter (1993) defende que a unidade básica para se compreender a competição é a indústria. Segundo o autor, a rentabilidade da indústria, mais do que estar ligada à aparência do produto, é uma resultante da estrutura industrial; que influencia os preços, os custos, assim como o investimento das empresas componentes. As ações dos líderes podem, entretanto, causar grande impacto sobre a estrutura, devido ao porte e influência sobre compradores e fornecedores e outros concorrentes, exemplificando a complexidade das relações entre as cinco forças competitivas, a indústria e as empresas que a constituem. As inter-relações entre unidades empresariais podem, na visão de Porter (1991), exercer uma influência poderosa sobre a vantagem competitiva. Toda modificação estrutural significativa em uma indústria

45 proporciona oportunidades para novas empresas. Em suma, a maneira de o ambiente de um país pressionar suas empresas para perceber ou reagir às mudanças estruturais é de importância vital para a compreensão dos padrões de sucesso internacional (PORTER, 1993).

Figura 3: O ambiente agroindustrial Fonte: ZYLBERSZTAJN, (2000, p.22)

O posicionamento da firma dentro da indústria define sua abordagem para competir e o que o autor define por vantagem competitiva, caracterizada pelo menor custo e diferenciação. Porter (1993) afirma que as fontes da vantagem competitiva para empresas da mesma indústria são, com freqüência, muito diferenciadas, principalmente pelo fato de que as indústrias se aplicam em segmentos diferentes.

De modo geral, a vantagem competitiva é oriunda da maneira como as empresas se organizam e, portanto, realizam suas atividades, denominada pelo autor de cadeia de valor. No ambiente agroindustrial, apresentado na Figura 3, as abordagens teóricas de Porter têm a função de ajudar no desenvolvimento das empresas inseridas neste ambiente, com técnicas e estratégias que trazem ganhos em escala financeira e econômica, considera Bilibio (2005). Essas técnicas são utilizadas para analisar a indústria ou setor como um todo, compreender a concorrência e a posição da empresa, com a finalidade de traduzir essa análise em estratégia competitiva.

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Porter (1993), em sua abordagem vantagem competitiva, evidencia a importância do conhecimento da cadeia de valor na elaboração das estratégias por parte do produtor. Esse conhecimento leva ao fato de que a melhor estratégia deve refletir as particularidades de cada empresa. Quando as empresas concebem novas maneiras de realizar suas atividades, utilizando novos procedimentos e novas tecnologias ou insumos diferentes, conseguem vantagens competitivas.

A inovação é então definida como estas melhorias: nos métodos, na tecnologia ou nos processos industriais. Nos mercados internacionais, as inovações proporcionam antecipação das necessidades dos consumidores tanto internos, como do exterior. As causas típicas da inovação, segundo Porter (1993), são: novas tecnologias; necessidades novas ou renovadas do consumidor; surgimento de novo segmento da indústria e custos ou disponibilidade oscilante de insumos. Com certa freqüência os inovadores são de fora da indústria existente. È muito importante o apoio do ambiente nacional para a chegada “dos novos de dentro”, de forma a impedir perdas de posição para empresas de outros países, influenciando assim a prosperidade nacional.

Um aspecto importante a ser também considerado é a manutenção da vantagem competitiva. Porter (1993) identifica três condições para que isso aconteça: a fonte particular da vantagem; o número de fontes distintas de vantagem possuídas pela empresa e a melhoria e aprimoramento constantes. Esta última determina a característica fundamental da manutenção da vantagem competitiva: a exigência de mudanças, ou seja, a empresa deve destruir as vantagens antigas para criar novas de ordem superior.

Quanto à globalização, esta ocorre quando necessidades do comprador, infra-estrutura do país e as políticas governamentais criam diferenças muito importantes na posição competitiva das empresas entre países diferentes, tornando mais significativas as vantagens de uma estratégia global, afirma Porter (1993). O custo de fatores agem cedo e as alianças estratégicas são instrumentos destacados na realização das estratégias globais; assim como melhoria nas fontes destacando-se a tecnologia, conhecimentos e processos mais sofisticados e investimentos constantes. Os países, conseqüentemente, obtêm êxito nas indústrias quando

47 são criadas pressões que superam a inércia e provocam a mudança. No entanto buscar compreender a vantagem nacional deve partir de diversas premissas.

Para responder à pergunta por que um país obtém êxito internacional numa determinada indústria, Porter (1993) formulou o Modelo Diamante de Determinantes da vantagem competitiva nacional que identifica quatro atributos amplos que, ao modelarem o ambiente, promovem ou impedem a criação de vantagens competitivas.

3.5 Determinantes da vantagem competitiva nacional

O Modelo Diamante de Porter (1993) consiste de seis elementos mostrados na Figura 4 e representa de forma conceitual a maneira que uma nação pode obter sucesso e vantagem competitiva numa indústria particular. Embora os elementos trabalhem independentemente, uma vantagem em um elemento pode produzir, ou melhorar, uma vantagem em outro, entretanto, uma vantagem em todos os elementos não cria necessariamente sucesso para a indústria (GHRAITH et al., 2006). Porter (1993:88) afirma que os “paises têm mais probabilidade de obter êxito em indústrias ou segmentos de indústria onde o diamante, é o mais favorável”. Esse trabalho utilizou o Diamante da Vantagem Competitiva Nacional para proceder à análise da competitividade da agricultura orgânica e do mercado verde no cenário internacional.

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Estratégia, estrutura Acaso e rivalidade das empresas

Condições Condições da de fatores Demanda

Indústrias de suporte Governo e correlatas ,

Figura 4. Modelo diamante de Porter mostrando as variáveis interdependentes que determinam a competitividade de uma indústria. Fonte: Adaptado de GHRAITH, CATHACOWAN e AIDANDALY (2006, p. 1).

Individualmente, e como um sistema, os determinantes criam o contexto no qual as firmas de uma nação são criadas e competem entre si e com o mercado internacional. Nesse contexto delineia-se: a disponibilidade de recursos, a competência, as informações, as metas e as pressões exercidas sobre as empresas (PORTER, 1993).

Condições de fatores são os fatores de produção, tais como: trabalho, terra cultivável, mão-de-obra, capital ou infra-estrutura, que são necessários para competir em uma indústria. Os fatores podem ser agrupados em categorias simples: a) recursos humanos, incluindo a quantidade, capacidade e custos do pessoal; b) recursos físicos, representados pela quantidade, abundância, acessibilidade, abundância e custo de recursos físicos do país (água, fontes de energia, condições climáticas, localização, facilidade de intercâmbio); c) recursos de conhecimento científicos, técnicos e de mercado, relativos a serviços e bens; d) recursos de capital disponível para financiamento da indústria e, e) infra-estrutura, incluindo o sistema de transporte, o de comunicações, a logística de entrega de encomendas postais, assistência médica e transferências de fundos.

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Os fatores podem ser básicos, avançados, genéricos ou especializados, naturais ou artificiais e auxiliam ou impedem potencialmente a competitividade da firma. Os fatores de produção são fortemente influenciados pela concorrência doméstica e estimulam o desenvolvimento das habilidades dos recursos humanos, conhecimento específico do mercado, tecnologias correlatas e infra-estrutura especializada. Segundo visão de Ghraith (2006), os concorrentes buscam desenvolver os fatores apropriados para ganhar vantagem competitiva. Quando os fatores são avançados e especializados nesses mercados, é possível ganhar vantagem competitiva sustentável.

As condições da demanda representam a demanda interna do produto ou do serviço da indústria. Nesse fator, três características, segundo Porter (1993), são significativas na obtenção da vantagem competitiva: a composição das necessidades do comprador, a estrutura e o tamanho do crescimento da demanda e o mecanismo pelo qual a preferência interna é transferida para o exterior. Significa, portanto, o tipo de mercado da indústria e é nele que a vantagem competitiva é criada e mantida e para o qual as estratégias são desenvolvidas e implementadas. Quando existe um grande mercado ou os segmentos do mercado estão em crescimento para os produtos / serviços em questão, resulta em uma condição favorável para a indústria. A estrutura da demanda, que é a distribuição da demanda de variedades determinadas, é normalmente segmentada. As empresas de pequeno porte podem encontrar vantagem competitiva em nichos que não interessam às grandes. Consumidores sofisticados e compradores compulsivos pressionam as firmas da indústria a produzir produtos específicos. O tamanho do mercado interno é mais significativo, em termos de vantagem competitiva, em segmentos com forte exigência em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, altos níveis de incerteza ou economia de escala. No entanto, a grande demanda interna só é vantagem se são segmentos também procurados por outros países.

A existência ou não existência de indústrias de apoio e correlatas pode ajudar ou impedir o desenvolvimento da indústria. Nesse item estão incluídos os fornecedores com custo competitivo, setores públicos de apoio à P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), canais de distribuição para suportar a logística de distribuição dos produtos. É importante que as indústrias de abastecimento ou de suporte sejam internacionalmente competitivas. Segundo Porter (1993, p.119), “a vantagem competitiva de indústrias fornecedoras conferem vantagem competitiva às empresas do país, em muitas indústrias, porque produzem insumos amplamente

50 usados e importantes para a inovação ou internacionalização”. Os fornecedores ajudam as empresas com novos métodos e oportunidade de aplicar novas tecnologias com a inovação.

Já as indústrias correlatas são aquelas com as quais a empresa pode, ao competir, compartilhar atividades na cadeia de valores, ou as que possuem produtos complementares. Essa participação pode-se dar no desenvolvimento de tecnologia, distribuição, aquisição de suprimentos ou assistência, além de oferecer oportunidades de informação e intercâmbio técnico.

O quarto determinante amplo da vantagem competitiva é a rivalidade, estrutura e estratégia das empresas, denominando a natureza da rivalidade interna. Nesse contexto em que as empresas atuam, são significativas as estratégias, as metas, os métodos de gestão organizacional, as atitudes individuais e a intensidade da rivalidade da indústria. Embora as empresas trabalhem de forma diferenciada, o contexto nacional, segundo Porter (1993), cria tendências que são bastante fortes e percebidas. Terão mais chance de obter êxito nas vantagens competitivas os países nos quais as práticas de gestão e de organização com preferência nacional, além das metas e motivações de seus empregados, forem alinhadas às fontes de vantagens competitivas da indústria.

Embora existam opiniões contraditórias sobre a associação entre uma vigorosa rivalidade interna e vantagem competitiva, pesquisas realizadas por Porter (1993) demonstraram que, na competição global, as empresas bem-sucedidas competem vigorosamente no seu país e são pressionadas mutuamente para melhorar e inovar. A concentração das empresas rivais também reflete e amplia as vantagens competitivas.

Acaso são as ocorrências fortuitas que pouco tem a ver com a situação e circunstâncias do País e estão fora do alcance das empresas. Dentre esses eventos pode-se citar: atos de pura invenção, importantes descontinuidades tecnológicas, modificações significativas nos mercados financeiros ou nas taxas de câmbio, guerras, grandes modificações na demanda do mercado, nacional ou estrangeiro, decisões políticas de governos estrangeiros. O acaso, na concepção de Porter (1993), pode criar descontinuidades que alteram a competição. Explorar o acaso pode, por outro lado, transformar a situação e vantagem, por isso se torna parte

51 importante na manutenção da vantagem competitiva, pois cria possibilidades de mudanças na posição competitiva. As guerras, por exemplo, podem aumentar a necessidade de investimentos científicos locais e interromper as relações com clientes.

Finalmente, o governo, por meio de suas políticas influencia criticamente o sucesso de uma indústria. Subsídios e outros esquemas de suporte, isenção ou redução de impostos, afetam os fatores de produção. As condições de demanda também são afetadas por regulamentações do produto impostas pelo governo, restrições de propaganda ou imposição de taxas em produtos comercializados no mercado internacional. As influências do governo podem, no entanto, ser positivas e beneficiar a indústria.

A globalização trouxe vantagens competitivas de mercado, isto é, aproximou os países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, no que diz respeito ao processo das exportações, como é o caso do Brasil. Desse modo, a exportação brasileira e o meio ambiente são assuntos discutidos no próximo capítulo.

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4. AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS E O MEIO AMBIENTE

4.1 Visão histórica

Após a 2ª Guerra Mundial, vários países decidiram regular as relações econômicas internacionais, não só com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos, mas também por entenderem que os problemas econômicos influíam seriamente nas relações entre os governos. Com a finalidade de regular os aspectos financeiros e monetários, foram criados o Banco Mundial (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e , em âmbito comercial, foi discutida a criação da Organização Internacional do Comércio (OIC), que funcionaria como uma agência especializada das Nações Unidas.

Em 1946, visando impulsionar a liberalização comercial e combater as práticas protecionistas, que foram adotadas desde a década de 30, 23 países, posteriormente denominados fundadores, iniciaram negociações tarifárias. Essa primeira rodada de negociações resultou em 45.000 concessões e o conjunto de normas e concessões tarifárias estabelecidas, que passou a ser denominado Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT (SECEX, 2003).

Assim sendo, o GATT, acordo criado para regular provisoriamente as relações comerciais internacionais, regulamentou por mais de quatro décadas as relações comerciais entre os países. No ano de 1986, iniciou-se na Cidade de Punta del Leste a rodada do Uruguai, com o maior número de participantes, que incluiu discussões sobre serviços e direitos autorais. Mais importante foi a substituição do GATT por uma nova entidade denominada World Trade Organization (WTO) ou Organização Mundial do Comércio (OMC)) (SECEX, 2003).

Na década de 80, dos 127 acordos multilaterais assinados no GATT, somente 17 tinham dispositivos ambientais. Apesar de pouca ênfase à questão ambiental, neste período intensificaram-se as notificações relativas ao desempenho ambiental: 211 notificações técnicas ambientais, conta 168 que somaram as relativas à saúde e segurança pública (ALMEIDA; MELLO; CAVALCANTI, 2000, p. 137).

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A OMC passou a ter mais força para fazer com que as partes de um acordo comercial internacional cumpram as normas estabelecidas. Segue-se o princípio de que as políticas comerciais devem ser usadas com fim estritamente comercial e de que o livre comércio, a não- discriminação e a reciprocidade trazem benefícios para todos.

Em dezembro de 1994, o governo brasileiro, devidamente autorizado pelo Senado e Câmara dos Deputados, aprovou o ingresso do Brasil na OMC, tornando assim um dos sociofundadores.

No início, o Brasil teve problemas com as exportações, por exemplo: há pouco mais de dez anos, os exportadores de calçados brasileiros foram obrigados a pagar direitos compensatórios determinados pelo governo norte-americano sob a alegação de que as exportações brasileiras eram subsidiadas e causavam danos à indústria americana. Assim sendo, o Brasil apelou ao GATT e, depois de muitos anos, o GATT decidiu que as exportações brasileiras não eram subsidiadas e que o valor pago tinha que ser devolvido ao Brasil. Desde então, os exportadores brasileiros não receberam nenhum reembolso. Desse modo, com a criação da OMC, isso não voltará a ocorrer, porque as restrições dependerão de consenso.

Nas relações das questões ambientais, a OMC tenta restringir as práticas comerciais associadas a imposições de normas ambientais, da mesma maneira que procede com as restrições econômicas e sociais. As referências à conduta ambiental foram debatidas na Rodada de Uruguai e aparecem no Artigo I (Princípio da Nação Mais Favorecida); Artigo III (Definição de Produtos Nacionais); Artigo XX que trata das exceções das políticas públicas e nos códigos de barreiras Técnicas, Antidumping e Anti-subsídio (MAIMOM, 1995, p. 148).

O Brasil, com seu potencial de recursos naturais, seu elevado peso específico de produção intensiva em recursos naturais, sua energia nas exportações e o seu histórico de degradação ambiental dificultou a crescente inserção no sistema mundial de comércio e a perda de competitividade internacional. Existe um conjunto amplo de determinantes, destacando-se os fatores estruturais (falta de investimentos e avanço tecnológico), de decisões políticas (política cambial) e de opções estratégicas (liberalização comercial).

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Os problemas ambientais brasileiros agravaram-se no contexto da industrialização e da urbanização, pela falta de conscientização ambiental da maioria das empresas , como também pelo pouco interesse de informações sobre as regulamentações ambientais.

A título de exemplo, o Brasil exportou fumo em folhas cerca de US$ 1 bilhão, em 1999, porém o Brasil foi o 11º mais importante na pauta das exportações do País (1,9% da receita total de exportações) (SECEX, 2001), mas se estabeleceu uma situação constrangedora perante a comunidade internacional, dada a evidência de que o produto dessa commodity usava inseticida, cuja venda é proibida no Brasil desde 1994. Apesar da existência de uma legislação específica sobre o uso de agrotóxicos, essa prática continua trazendo efeitos noviços sobre o trabalhador rural, os consumidores e o meio ambiente.

Não há dúvida de que o Brasil deverá enfrentar problemas crescentes no comércio internacional no que concerne às questões ambientais e, principalmente, a certeza de que é interesse da sociedade brasileira a introdução da regulamentação internacional que ajuda a restringir o dumping ambiental praticado. Os países em desenvolvimento devem adotar padrões ambientais mais elevados não objetivando atender apenas exigências dos países desenvolvidos, mas suas próprias necessidades.

O comércio internacional trouxe conseqüências danosas para o meio ambiente, como a poluição resultante do transporte de mercadorias. No caso das exportações brasileiras, que complementam a oferta de bens de outros países, estudos empíricos indicam que o setor exportador apresenta um alto potencial poluidor. Assim, os rejeitos industriais e possíveis danos ao meio ambiente ficam no Brasil, sem a contrapartida do consumo dos bens produzidos, que será realizado pelos importadores (LUSTOSA, 1999, p. 59).

Quando se fala na necessidade de aumentar as exportações para gerar divisas e suprir a necessidade de financiamento do setor externo, isto significa aumentar a produção de commodities intensiva em recursos naturais e energia, a qual o Brasil possui vantagens competitivas.

Dessa forma, espera-se o aumento da poluição e da exploração dos recursos naturais. Surgem duas questões importantes: a primeira, se os recursos naturais são explorados de

55 forma não-sustentável, eles tendem à exaustão e o País pode perder sua vantagem competitiva. A segunda é que o preço do commodities é cotado no mercado internacional, fazendo com que os produtores sejam tomadores de preços. Se os custos ambientais forem internalizados – seguindo o princípio constitucional do poluidor-pagador – certamente terão sua renda líquida diminuída.

São crescentes e bem fundamentadas as preocupações da sociedade com as questões ambientais. Há os dois lados: aqueles que percebem e sofrem as conseqüências da degradação do meio ambiente e demandam soluções para esses problemas e outros que vêem a questão ambiental como mais um modismo da sociedade, que estaria camuflando outros interesses.

A evidência de que a questão ambiental é crucial está no fato de estar sendo paulatinamente internalizada pelos diversos agentes econômicos, que passam a incluir a variável ambiental em suas análises e decisões.

As diversas áreas do conhecimento científico também estão internalizando essas questões, apesar dos setores e áreas mais conservadoras apresentarem grande resistência. Assim sendo, é preciso melhorar os modelos ambientais, padronizados mundialmente. Torna- se, imprescindível, ainda, que a forma pela qual se persiga esse objetivo considere as diferenças entre os países. É provável que os países em desenvolvimento tenham de reduzir suas emissões utilizando tecnologia adquirida nos países desenvolvidos.

Num passado recente, muitas indústrias brasileiras procuravam expandir suas exportações, não porque tivessem o hábito de disputar espaços no exterior, mas apenas para tentar compensar dificuldades enfrentadas no mercado interno.

O uso racional dos recursos naturais ambientais torna-se necessário diante do momento atual representado por avanços tecnológicos rápidos e de globalização.

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Produto Barreira Observações

Carne Bovina Falta de acordo Não há equivalência de processos de verificação sanitária. sanitário Não há reconhecimento de áreas livres ou de baixa intensidade de enfermidades. Frutas e Vegetais Morosidade na O órgão oficial americano (USDA) opera de maneira vagarosa e aplicação de burocrática na realização de exames e provas para efetivo controle medidas sanitárias e de doenças e pragas, bem como as análises de risco. Exemplo: fitossanitárias mamão- papaia brasileiro teve processo de aprovação iniciado em 1993 e concluído apenas em 1998. Quadro 3 - Barreiras de exportações nos Estados Unidos Fonte: (SECEX, 2001).

Produto Barreira Observações Carne Bovina Medidas sanitárias e

fitossanitárias; Tarifas altas; Quotas tarifárias; Subsídios; • Restrições à importação de carne bovina Ajuda interna OCM* brasileira em decorrência da incidência de febre aftosa no Rio Grande do Sul. • Quota específica de 5.000t para carne bovina com 20% de imposto de importação. • Subsídio às exportações consolidado na OCM. Quadro 4 - Barreiras de exportação na União Européia Fonte: SECEX (2001) - Tarifa Européia - Lista Consolidada OMC/EU *OCM - Organizações Comuns de Mercado - políticas setoriais específicas financiadas pelo Fundo Europeu de Orientação e de Garantia Agrícola, mesmo fundo que financia a PAC - Política Agrícola Comum.

PRODUTO BARREIRA OBSERVAÇÕES Frutas Tropicais Medidas sanitárias e Proibição de importação sob alegação de incidência de fitossanitárias mosca da fruta mediterrânea, mariposa Codling e outras pragas.

Vegetais Medidas sanitárias e Exigência de inspeção fitossanitária in loco. fitossanitárias Falta de transparência no que se refere às exigências em matéria de fumigação.

Quadro 5 - Barreiras de exportações no Japão Fontes: SECEX (2001)

O setor de exportação brasileira, por exemplo, enfrenta hoje uma nova modalidade de barreira comercial no que tange suas atividades e produtos - a chamada "barreira verde" do comércio internacional. Os Quadros 3, 4 e 5 mostram os tipos de barreiras, apesar da consolidação e/ou da criação de blocos comerciais, tais como: EU, Nafta, Mercosul, ALCA e outros.

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Segundo Lima e Marques (2000), as exportações brasileiras têm custos ambientais, custos de reprodução ou de manejo sustentável dos recursos não-renováveis exportados, custos atualizados da não-disponibilidade futura dos recursos exauridos e custos de reparação dos danos locais produzidos pelas atividades exportadoras.

4.2 Participação dos recursos ambientais na composição das exportações

Nos dias atuais, a transformação e a influência ecológica nos negócios penetram de maneira crescente e com efeitos econômicos cada vez mais fortes.

Nesse sentido, nem só da taxa de câmbio dependem as exportações brasileiras. Ainda que essa taxa seja uma variável-chave nos destinos do comércio exterior brasileiro, não deveria ser a única preocupação quando se fala desse assunto. Nem os questionamentos sobre o comércio deveriam limitar-se ao "custo Brasil", como pretendem os economistas do governo. Mesmo que venha a ocorrer uma recuperação e atualização tecnológica na infra-estrutura de portos, rodovias, energia e telecomunicações, cujo estado precário hoje afeta negativamente as exportações brasileiras, ainda assim a agenda não estará esgotada. Há também uma agenda "verde" no comércio brasileiro que não poderá ser negligenciada (CANUTO, 1997, p. 163).

Um aspecto importante tem sido o fato de que, em se tratando dos ramos de processamento dos recursos naturais em que ainda há uma concorrência entre economias avançadas e economias como o Brasil, não há hoje diferenças suficientemente significativas para justificar denúncias generalizadas de dumping ecológico. A resposta temporária aos reclames ambientais, dadas por produtores industriais concorrentes nos países avançados, tem sido razoavelmente copiada pelos exportadores brasileiros e por seus parceiros do Mercosul.

Além da poluição resultante das atividades produtivas – a poluição da riqueza – existe a poluição da pobreza. A falta de saneamento básico e os lixões a céu aberto são exemplos desse último tipo de poluição. São problemas cujas soluções são bastante conhecidas – e demandam mão-de-obra abundante no país – e que não são implementadas por falta de recursos financeiros, característica elementar da pobreza, ou por falta de vontade política, característica da pobreza política?

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É importante lembrar que o custo da despoluição é muito alto, como se pode constatar pelos diversos programas de despoluição, como o da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e o do Rio Tietê, em São Paulo, que já consumiram milhões de dólares e ainda não estão perto de uma solução definitiva.

Tais recursos – os gastos adicionais com saúde e despoluição – poderiam ser alocados para outros fins, caso a poluição fosse evitada. A irreversibilidade dos danos causados aos recursos ambientais – seja renovável ou não – deve também ser levada em consideração, uma vez que seja reconhecida a responsabilidade da geração atual de garantir recursos ambientais de qualidade para as gerações futuras.

Em suma, segundo Young (2000), o histórico recente das exportações industriais brasileiras indica uma perigosa tendência de concentração relativa em atividades sujas. Essa concentração não é apenas prejudicial do ponto de vista social (dada a perda de bem-estar causada pela degradação ambiental), ela também traz o risco econômico.

4.3 ALCA e a sua influência no meio-ambiente

Atualmente, existe uma nova aliança entre o mercado da América. A ALCA é uma proposta de livre mercado continental envolvendo 34 países, exceto Cuba, desde 1999.

A grave crise ambiental que hoje devasta todo o Planeta tem gerado intensa preocupação entre os setores comprometidos com o futuro da humanidade. O debate sobre a implantação da Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelos EUA, tem tornado evidente que ela terá profundos impactos também sobre o meio ambiente. Em projeção, quais seriam esses efeitos? Ainda são escassos os estudos sobre esse complexo assunto, mas os existentes já demonstram que há vários riscos futuros.

Young e Barbosa Filho (1998) destacam que a produção de bens e serviços intensivos em tecnologia e, portanto, a mão-de-obra barata e a abundância de recursos naturais são

59 fatores pouco importantes para a competitividade internacional, cada vez mais concentrada nos países desenvolvidos. Por outro lado, aos países em desenvolvimento resta disputar os mercados de produtos menos dinâmicos, onde a expansão do market shore acaba sendo obtida por formas ‘espúrias’, tais como: subsídios à exportação, baixos custos dos salários e consumo acelerado da base de recursos naturais.

Os históricos recentes das exportações industriais brasileiras confirmam essa tendência de concentração em atividades sujas. Na década de 90, em especial, esta distorção gerou graves prejuízos. Young e Lustosa (2000) advertem que a ALCA pode deteriorar ainda mais esse quadro e lista alguns dos prejuízos implícitos nessa proposta: econômicos, porque nossos produtos terão seus preços continuamente depreciados em relação aos produtos de elevado conteúdo tecnológico (cujas importações seremos cada vez mais dependentes); sociais, porque nossa mão-de-obra ficará condenada perpetuamente a baixos salários como forma de garantir “eficiência” na produção; e ambientais, porque políticas mais efetivas de controle da poluição e cobrança pelo uso de recursos naturais serão descartadas para não perdermos competitividade.

A possibilidade que essa tendência aumente, como conseqüência do processo de integração comercial advindo da ALCA, deve ser encarada com grande seriedade, na medida em que iniciativas de controle ambiental são menos efetivas nos países da América Latina do que nos EUA e Canadá.

Seguindo estritamente a linha de pensamento da economia neoclássica (pilar ideológico dos que defendem os processos de liberalização sem controles), a “migração” de indústrias sujas dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento levaria a um aumento do bem-estar mundial, pois os primeiros aceitariam perdas econômicas para obter um meio ambiente mais saudável (seguindo a idéia de que qualidade ambiental é um bem “de luxo”, e não uma necessidade básica das populações carentes), enquanto que os países em desenvolvimento teriam um aumento líquido de bem-estar (“utilidade”), pois dariam maior importância ao crescimento econômico do que às perdas causadas pela poluição crescente originada dessas atividades.

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Conclui-se que existem várias controvérsias a respeito das vantagens e desvantagens da ALCA e sua relação com seu meio ambiente, uma vez que o cronograma da formação da Área de Livre Comércio das Américas, à proporção em que se vem materializando, começa a revelar as ambigüidades do parceiro maior dessa desafiadora proposta de integração comercial.

Entretanto, a preocupação em preservar o meio ambiente é uma realidade. O mercado verde surge como uma conseqüência de mudança do consumidor que deseja contribuir com o desenvolvimento sustentável. O Brasil, apesar de incipiente na sua produção e consumo, insere nas exportações, com grande possibilidade de crescimento, por meio do mercado verde.

4.4 Mercado verde nas exportações brasileiras

A situação do meio ambiente desafia a preservar os recursos naturais e, ao mesmo tempo, possibilitar um desenvolvimento social justo permitindo que as sociedades humanas atinjam uma melhor qualidade de vida em todos os aspectos. A necessidade de consolidar novos modelos de desenvolvimento sustentável no País exige a construção de alternativas de utilização dos recursos, orientada por uma racionalidade ambiental e uma ética da solidariedade.

Hoje, o meio ambiente tornou-se um bom negócio e, em poucos anos, valores ambientais evoluíram de um interesse marginal para o topo das preocupações, principalmente os consumidores no mundo ocidental mais desenvolvido.

Ressalte-se que os mercados de maior potencial desde o fim do Séc. XX são os produtos ecológicos voltados ao consumidor final. Sem deixar nada a desejar aos outros dois nichos do século, a informática e a biotecnologia, esse ainda é um mercado ainda pouco ou quase nada explorado no Brasil e América do Sul, embora já seja uma realidade plena na Europa (principalmente na Alemanha) e na Oceania (Austrália e Nova Zelândia).

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O produto ecológico, por si só, é capaz de despertar a consciência eco-social da comunidade e de educar ambientalmente quem o produz e quem o consome. Além disso, o Brasil, por ser o país mais rico do mundo em matérias-primas naturais renováveis e com o lixo mais abundante e disponível do planeta (245 mil toneladas/dia), tem total condição de ser um verdadeiro celeiro de produtos ecológicos e reciclados, gerando emprego e levando cidadania a milhões de pessoas, tornando-se um modelo de sustentabilidade para outras nações (ARAÚJO, 1999, p. 98).

Merece destaque a proposta do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA) ao mercado brasileiro: o desenvolvimento e a fabricação de produtos ecológicos em larga escala voltado ao consumidor final, como forma de colocar em prática o desenvolvimento sustentável e reverter o quadro de devastação ambiental e de esgotamento dos recursos naturais, que ocorrem para atender à demanda das sociedades urbanas.

Embora os critérios para classificar um produto como ecológico sejam amplamente conhecidos nos países desenvolvidos, no Brasil, o tema ainda é desconhecido pelas razões:

1- O País não conta com legislação específica para o setor. A ausência de normalização e ou legislação prejudica a divulgação desse fantástico mercado, uma vez que permite que a desconfiança se instale entre os consumidores, os quais não têm qualquer referência de confiabilidade. A normalização do mercado seria fundamental também contra eventuais enganadores, que poderiam querer rotular de ecológicos os produtos que estão aptos a essa rotulação. A ausência de regras para o setor também inibe investidores em potencial, muita das quais poderiam ser empresas interessadas em "migrar" de um produto convencional para um mais ecológico. Outra conseqüência é a falta de competitividade desses produtos, com preços elevados em relação aos similares não-ecológicos.

2- Não existe nada semelhante a um selo verde válido para produtos de aplicações diferentes. Há apenas dois segmentos que contam com certificação no Brasil: um é o da agricultura orgânica, cuja instituição mais renomada é o Instituto Biodinâmico (IBD), que certifica produtos orgânicos nas áreas agrícola e pecuária, o outro é o madeireiro, por meio do Conselho de Manejo Florestal (FSC – Forest Stewardship Council), que certifica florestas plantadas com plano de

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manejo sustentável. No entanto, um certificado do FSC para a madeira não atesta que um móvel criado com esse material seja ecológico.

3- Considerar empresas certificadas pelas normas ISO 14001 como sendo fabricantes de produtos ecológicos ou como sendo elas mesmas "ecológicas" é um grande equívoco e que vem gerando confusão, inclusive por parte da mídia. Na verdade, as normas ambientais vigentes não garantem que uma empresa não seja poluidora, mas, sim, que a mesma busque soluções para seus resíduos.

4- Para a maior parte das pessoas, o produto ecológico é o resultado de um trabalho artesanal e de custo elevado, sendo seu uso restrito a poucas ocasiões, pois às vezes seu design é meramente conceitual ou exótico e sua produção impraticável em larga escala.

O Brasil está na fase inicial nesse sentido e a implantação desses procedimentos estaria ao alcance de poucas empresas. A solução proposta pelo IDHEA é classificar e certificar os produtos em categorias que podem ser as seguintes: produto 100% ecológico; produto parcialmente ecológico; produto reciclado e produto de baixo impacto ambiental. Cada produto teria seu coeficiente de ecologicamente correto elevado à medida que todos seus componentes e processos empregados para obtenção fossem sustentáveis ou próximos de um indicador considerado como excelente.

A adoção de produtos ecológicos é uma prova de que as necessidades do homem moderno podem ser conciliadas com o uso dos recursos naturais e que a ecologia, mais do que um conceito ou peça de marketing, também é um fator de cidadania.

63

5 METODOLOGIA DA PESQUISA

Uma das preocupações básicas dos pesquisadores , com relação às questões metodológicas de suas pesquisas, é a explicação sobre as características específicas dos procedimentos adequados e utilizados para a realização da pesquisa proposta. A metodologia da pesquisa consiste, portanto, na explicação detalhada, rigorosa, minuciosa e exata de todas as ações desenvolvidas no método (caminho) do trabalho de pesquisa.

A metodologia de uma pesquisa representa o planejamento necessário para que se possa atingir os objetivos propostos, de acordo com o referencial teórico e com base na identificação do problema da pesquisa. Segundo Cooper e Schindler (2004, pág. 128), “o planejamento da pesquisa é o plano e a estrutura de investigação concebida de forma a obter respostas para as questões da pesquisa”.

Este capítulo descreve o tipo de pesquisa, o instrumental utilizado para obter os dados da pesquisa, as formas de tabulação e tratamento dos dados, seguindo orientações metodológicas de Forte (2006) para seu conteúdo.

5.1 Tipo de pesquisa

Pesquisar tem o mesmo significado de buscar ou procurar, portanto, é buscar ou procurar resposta para alguma coisa. Em se tratando de dissertação, a pesquisa é a busca da solução para um problema.

Segundo Demo (2000), pode-se distinguir, pelo menos, quatro gêneros de pesquisa, mas tendo em conta que nenhum tipo de pesquisa é auto-suficiente, pois "na prática, mesclamos todos acentuando mais este ou aquele tipo de pesquisa" (2000, p. 22).

A pesquisa social é a que procura respostas de um grupo social. A pesquisa teórica é toda pesquisa que analisa uma determinada teoria. Trata-se da pesquisa que é "dedicada a

64 reconstruir teoria, conceitos, idéias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos" (Demo, 2000, p. 20). Esse tipo de pesquisa, segundo o autor, é orientado para re-construir teorias, condições explicativas da realidade, quadros de referência, polêmicas e discussões pertinentes. A pesquisa teórica não implica imediata intervenção na realidade, mas nem por isso deixa de ser importante, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a intervenção. "O conhecimento teórico adequado acarreta rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada, capacidade explicativa" (DEMO, 2000, p. 38).

Gil (2001) apresenta uma classificação das pesquisas que adota como referencial a classificação com base nos objetivos – nos quais se encontram três grandes grupos: pesquisas exploratórias, pesquisas descritivas e pesquisas explicativas;

A pesquisa exploratória é toda pesquisa que busca constatar algo num organismo ou fenômeno. Os estudos exploratórios, na visão de Cooper e Schindler (2004), tendem a gerar estruturas com o objetivo de desenvolver hipóteses ou questões para pesquisa adicional. É útil quando a área de investigação é nova e necessita-se explorá-la para conhecer algo sobre o problema enfrentado pelo pesquisador. O primeiro passo num estudo exploratório é a busca de literatura secundária. Forte (2006) corrobora com os autores quando diz que a pesquisa exploratória busca uma nova compreensão do tema estudado, com vistas a ampliar os conhecimentos ou simplesmente esclarecer conceitos e definições e “suas conclusões geram hipóteses para pesquisas futuras.”

Com base nos procedimentos técnicos adotados, Gil (2001) classifica a pesquisa como: bibliográfica, documental, experimental, ex-pós-facto, levantamento, estudo de caso e pesquisa-ação.

O referido trabalho retrata o entendimento da questão ambiental no setor econômico da agricultura orgânica, que tem sido um dos temas de grande destaque na sociedade moderna e que inspira sempre uma preocupação, em razão de uma sociedade ameaçada pela escassez dos recursos naturais, tendo como base de análise o Diamante da Vantagem Competitiva Nacional de Porter. Por essa razão, essa pesquisa, que abrange a análise de todo um setor, buscando

65 uma nova compreensão do tema estudado, reconstruindo condições explicativas da realidade, classifica-se como exploratória e bibliográfica.

A pesquisa utiliza variáveis qualitativas e foi realizada em dois períodos. O primeiro de quinze meses, iniciando em agosto de 2002 e concluindo em novembro de 200,3 e o segundo cerca de um mês, começando em 12 de outubro de 2006 e terminando em 15 de novembro de 2006.

5.2 Variáveis da pesquisa

O Diamante da Vantagem Competitiva Nacional é formado por seis elementos que constituem as variáveis da pesquisa. O Quadro 6 resume os itens analisados.

Variáveis Indicadores Ocorrências fortuitas que estão fora do alcance das empresas: atos de pura invenção; descontinuidades tecnológicas, modificações nos mercados financeiros ou nas taxas de Acaso câmbio, guerras, grandes modificações na demanda do mercado e decisões políticas de governos estrangeiros. Recursos humanos, recursos físicos (água, fontes de energia, condições climáticas, localização, facilidade de intercâmbio), recursos de conhecimento bens, quantidade e custos Fatores de dos recursos de capital financeiro disponível para financiamento da indústria, o tipo, a Condição qualidade e o custo para os usuários da infra-estrutura (transporte, comunicações, logística, assistência médica e transferências de fundos). A composição das necessidades do comprador, a estrutura e o tamanho do crescimento da Condições da demanda e o mecanismo pelo qual a preferência interna é internacionalizada e empurra a Demanda demanda do produto no exterior. Apoio público à P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), canais de distribuição para suportar a Indústrias de logística de distribuição dos produtos, parceiros para compartilhar atividades na cadeia de Apoio ou valores, ou as que possuem produtos complementares, presença de fornecedores Correlatas internacionalmente competitivos. Estrutura, As metas, a motivação de seus empregados e gestores, os métodos de gestão organizacional, Estratégia e a intensidade da rivalidade da indústria, as estratégias, a intensidade da concorrência e a Rivalidade das criação e a persistência da vantagem competitiva na indústria. Empresas. Políticas. Subsídios e outros esquemas de suporte, isenção ou redução de impostos, Governo regulamentações do produto, restrições de propaganda ou imposição, ações no mercado de capital, estabelecimento de padrões para produtos locais e compras de bens . Quadro 6: Variáveis da pesquisa (modelo diamante da vantagem competitiva nacional de Porter) Fonte: Adaptado pelo autor, Porter (1993) e Hodgets(1993).

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As variáveis da pesquisa: acaso, fatores de condição, condições da demanda, indústrias de apoio ou correlatas, estrutura, estratégia e rivalidade das empresas e governo foram pesquisadas em dados secundários e identificadas por meio dos indicadores descritos no Quadro 6, adaptados de literatura especializada.

5.3 Fontes de dados da pesquisa

Segundo Cooper e Schindler (2004, pág. 132), “o primeiro passo em um estudo exploratório é a busca da literatura secundária. Relatórios de estudo de pesquisas anteriores normalmente revelam uma grande quantidade de dados históricos.”

Uma revisão bibliográfica em publicações, artigos acadêmicos de nível multidisciplinar, foi realizada, na qual se destacam artigos, livros desenvolvidos por: Porter (1993), Costanza e Daly (1992), Comune (1994), Maimom (1995), May (1995), Viglio (1996), Canuto (1997), Borger (1998), Chagas (1999), Donaire (1999), Lustosa (1999), Capozoli (2000), Singer (2000), Young (2000), Borges (2002), Araújo (2003), Darolt, (2003), Forte (2006), Demo (2000) e outros que abordam o tema em foco.

Foram também pesquisados artigos pertencentes a bancos de dados como o Proquest, o EBSCO e o Google Acadêmico, revistas de Preços Agrícolas, dissertações na área, Cadernos de Ciência & Tecnologia, encontros internacionais como o da International Society for New Institutional Economics (ISNIE), revistas de administração como The Irish Journal of.Management, e revistas informativas como a Revista Informativa FAESP-SENAR SP. Outras fontes de pesquisa também foram utilizadas, tais como: boletins de análises, instituições, associações ambientais, revistas especializadas, jornais e consultas na Internet.

A revisão bibliográfica foi direcionada ao atendimento dos objetivos propostos, no sentido de levantar dados sobre:

a) as variáveis adaptadas ao setor do Modelo Diamante da Vantagem Competitiva Nacional de Porter;

b) economia convencional;

67

c) economia ecológica;

d) globalização;

e) exportações de produtos orgânicos;

f) gestão ambiental;

g) legislação ambiental;

Tais informações possibilitaram a criação de subsídios indispensáveis para entender como se processou a inserção dos produtos orgânicos na indústria e também a comparação com o modelo utilizado como base de estudo.

5.4 Método de análise dos dados dap

A análise foi realizada comparando qualitativamente os dados obtidos na pesquisa bibliográfica com dados secundários, com as variáveis do Modelo Diamante da Vantagem Competitiva Nacional, estabelecido por Porter. O trabalho desenvolvido apresenta uma análise comparativa do que existe na teoria e do que está ocorrendo na prática, partindo da contextualização da sociedade econômica, política e ambiental em busca da competitividade no novo mercado globalizado.

Após a análise comparativa, a identificação das ameaças e oportunidades no âmbito de cada variável, utilizando os indicadores, foi realizada de modo a identificar o estágio da agricultura orgânica e do mercado verde no Brasil, relativo à época estudada.

68

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1 Análise da agricultura orgânica e do mercado verde no Brasil sob a ótica do modelo diamante da vantagem competitiva nacional de Porter

O Modelo Diamante da Vantagem Competitiva Nacional de Porter, constituído por seis elementos: acaso, governo, estratégias, estrutura e rivalidade da indústria, fatores de condição (ou de produção), condições da demanda e indústrias de suporte e correlatas, serviu de base para a análise dos dados obtidos com a pesquisa.

Ao aplicar o Modelo Diamante da Vantagem Competitiva Nacional de Porter na análise de mercados, deve-se, na opinião de Hodgets 1993, levar em consideração alguns fatores. Em primeiro lugar, a grande importância do papel do governo que pode influenciar as vantagens competitivas da indústria, ao utilizar tarifas como barreiras para entrada de produtos estrangeiros, assim como empregar subsídios como veículo indireto para penalizar firmas internacionais. Essas ações de protecionismo, entretanto, podem criar uma indústria sem condições de competir no mercado internacional.

Em segundo lugar, Hodgets (1993) acrescenta que embora o acaso tenha uma influência crítica nas estratégias de um negócio internacional é extremamente difícil prevê-lo e estabelecer estratégias para se proteger. De maneira similar, as mudanças na tecnologia, que resultam em alterações profundas na indústria, também dificilmente são previstas pelas indústrias a tempo. Em terceiro lugar, atesta o autor, o modelo deve ser aplicado em termos de considerações específicas da indústria e não de vantagens nacionais, pois são as empresas que competem e não as nações. Em quarto lugar, o Modelo de Porter, foi construído baseado em estatísticas de dados agregados de dez países: Dinamarca, Itália, Singapura, Coréia do Sul, Suécia, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha Ocidental em indústrias específicas, o que dificulta sua generalização sem as alterações necessárias ao contexto estudado.

Em seu trabalho, Porter define quatro estágios de desenvolvimento da competitividade nacional: a) dirigido por fatores: basicamente fatores de produção, tais como: recursos naturais ou mão-de-obra barata, e compete principalmente em preço; b) dirigido por investimentos:

69 principalmente em tecnologia moderna e eficiente; c) dirigido por inovação: onde as firmas da indústria não apenas adquirem novas tecnologias, como também trabalham para criá-las; e, d) dirigido pela riqueza onde as empresas começam a perder suas vantagens competitivas e há um declínio na motivação para investir.

6.1.1 O Acaso

Certos eventos ocorrem fora do controle da indústria e das firmas que os compõem. A criação de organizações internacionais que regulamentam o comércio e as ações de negócio entre os países está incluída nesse tópico, assim como as barreiras de exportação.

Ocorrências relacionadas ao acaso na agricultura orgânica e mercado verde Ocorrências 1) 1986 – Substituição do GATT pela WTO (World Trade Organization) ou OMC (Organização Mundial do Comércio) ACASO 2) Restrição às práticas comerciais associadas a imposições de normas ambientais 3) Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e Forest Stewardship Council (FSC). Conceito (PORTER, 1993) 4) Barreiras de exportação - Barreira Verde São as ocorrências fortuitas que a. Nos EUA: pouco têm a ver com a situação i. Falta de acordo sanitário, e circunstâncias do País e estão ii. Morosidade na aplicação de medidas sanitárias e fito- fora do alcance das empresas. sanitárias. Dentre estes eventos pode-se iii. Exigência de pagamento de direitos compensatórios- citar: atos de pura invenção b. No Japão: (novas invenções), importantes i. Medidas sanitárias e fito-sanitárias. descontinuidades tecnológicas, 5) Criação da ALCA modificações significativas nos 6) Certificações (que discriminam exportações brasileiras): mercados financeiros ou nas a. Ecolabel da União Européia taxas de câmbio, guerras, b. O alemão Okotex-100 para o setor têxtil, grandes modificações na c. Certificado de Origem para madeira ou lenha demanda do mercado, nacional d. BS 7550 ou estrangeiro, decisões e. ISO 14000 políticas de governos f. Stewardship Council (FSC). estrangeiros (PORTER, 1993).

Quadro 7: Ocorrências relacionadas à ação do acaso Fonte: Dados da Pesquisa

As ações referentes ao acaso, no mercado analisado, encontram-se resumidas no Quadro 7. Pode-se destacar, dentre outras, a substituição do GATT pela OMC – Organização Mundial do Comércio, que passou a exigir das partes, num acordo internacional, o cumprimento das normas estabelecidas e a criação da ALCA – Área de Livre Comércio das Américas. Estão contempladas também as ações de governos estrangeiros que levaram a

70 restrições para o comércio, assim como as principais certificações que discriminam as exportações brasileiras, como a: Ecolabel da União Européia, o alemão Okotex-100 para o setor têxtil, certificado de origem para madeira ou lenha e, mais recentemente, BS 7550 e a ISO 14000.

As exportações brasileiras de papel e celulose há muito vêm sofrendo quanto à responsabilidade ambiental, pois esse setor foi surpreendido, em 1994, pelo debate das normas de produção de celulose do Ecolabel da União Européia. Naquele momento havia uma intransigência, com relação à utilização plena de madeira, e a exigência de incorporação de papel reciclado na celulose.

No caso do Brasil esta exigência implicaria a importação de aparas de papel para atender à exigência, porque o volume de papel reciclado necessário ultrapassa as coletas seletivas, sobretudo, pelo fato de a indústria estar localizada na maioria das vezes, longe dos centros urbanos, o que dificulta a implementação de programas de coleta seletiva. Naquele momento, estava prevista uma queda de 30% das exportações para Europa (MAIMOM, 1995, p. 110).

Conforme Mota (1997), as questões ambientais são referidas ao atual momento histórico, caracterizado pela intensificação da internacionalização econômica e ampliação dos fatores de competitividade na realização dos interesses econômicos, apropriação dos bens e serviços naturais. As relações comerciais internacionais apresentam-se submetidas aos imperativos das exportações fundados em padrões ambientais, cujo diferencial está em que os países desenvolvidos apresentam maior capacidade competitiva do que os menos desenvolvidos.

Chama atenção nos itens reguladores o caráter de influência sobre assuntos dos países que ultrapassam os estritos interesses comerciais, interferindo sobre questões ambientais e de cumprimento da legislação trabalhista. É provável que atinja principalmente o manejo das florestas tropicais, embora se estime que 80% dos negócios internacionais são feitos com madeira de florestas temperadas ou boreais do Canadá, Estados Unidos e Escandinávia. No caso do Brasil, a aplicação da norma dirige-se principalmente à madeira da Amazônia, aos reflorestamentos de eucalipto e araucária, que sofrem as maiores demandas. Esses imperativos ecológicos surgiram quando o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e empresas inglesas

71 decidiram que só utilizariam madeira de florestas bem manejadas e certificadas pelo Forest Stewardship Council (FSC).

6.1.2 Fatores de condição

Os fatores de condição ou de produção são os referentes a recursos como terra, mão- de-obra ou infra-estrutura necessária para o desenvolvimento da indústria, conforme definidos por Porter (1993) e visualizados no Quadro 8.

Fatores de Condição (Fatores de Produção) Fatores da Agricultura Orgânica 1. Grande potencial de recursos naturais; Fatores de 2. Falta de Investimentos e avanço Condição tecnológico; 3. Baixos investimentos em infra- estrutura de transporte e logística; Elementos que formam os fatores de condição 4. Custos de reprodução ou manejo a) Recursos humanos, incluindo a quantidade, capacidade e custos sustentável dos recursos não do pessoal; renováveis exportados; b) recursos físicos, representados pela quantidade, abundância, 5. Custo logístico brasileiro é calculado acessibilidade, abundância e custo de recursos físicos do país em 16% do PIB, enquanto que (água, fontes de energia, condições climáticas, localização, internacionalmente o nível é de 10%; facilidade de intercâmbio); 6. Brasil em 2004 apresentou um déficit c) recursos de conhecimentos científicos, técnicos e de mercado, dinâmico de 15,4 milhões de relativos a serviços e bens; toneladas em infra-estrutura de d) quantidade e custos dos recursos de capital financeiro disponível armazenagem; para financiamento da indústria; 7. Produção de comodities intensiva em e) tipo, qualidade e custo para os usuários da infra-estrutura, recursos naturais e em energia; incluindo o sistema de transporte, o de comunicações, a logística 8. Falta de conscientização ambiental da de entrega de encomendas postais, assistência médica e maioria das empresas, e transferências de fundos (PORTER, 1993, HODGETS, 1993). 9. Gastos com despoluição.

Quadro 8: Fatores de condições da indústria orgânica Fonte: Dados da Pesquisa

Segundo Meirelles (2005), o agronegócio tem ajudado na distribuição de renda, equilíbrio da balança de pagamentos do País, desenvolvimento socioeconômico, contenção da inflação e geração de divisas, mas o setor possui um dos principais gargalos existentes no Brasil: os baixos investimentos em infra-estrutura de transporte e logística, que atravancam a manutenção da sua competitividade e expansão. Infra-estrutura, afirma Meirelles, é área estratégica para um País que precisa crescer, como o Brasil. Embora existam dificuldades financeiras e administrativas é preciso investir pesadamente nessa área tanto para garantir o

72 transporte de insumos ou o escoamento da produção aos centros de consumo interno e externo, como para impedir a estagnação do setor.

Somente para o transporte de soja foram transportados no sistema ferroviário 33 milhões de toneladas em 2004, consistindo num crescimento de 57% entre os anos de 2000 e 2004. Em contrapartida, os investimentos nessa área são muito baixos, da ordem de R$ 500 milhões pela União, enquanto as concessionárias investiram cerca de R$ 6 bilhões.

Meirelles (2005) ressalta que o custo logístico brasileiro é calculado em 16% do PIB enquanto os níveis internacionais são da ordem de 10%, segundo a ANUT – Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga.

O Brasil possui grande potencial de recursos naturais, embora se verifique falta de investimentos e de avanço tecnológico. Apresenta custos de reprodução ou manejo sustentável de recursos não-renováveis exportados e possui uma produção de comodities intensiva em recursos naturais e em energia, mas falta conscientização ambiental da maioria das empresas e tem gastado com despoluição.

Meirelles (2005) faz também referência às deficiências relativas à infra-estrutura de armazenagem e afirma que o Brasil, em 2004, ao exportar 56 milhões de toneladas, apresentou um déficit dinâmico de 15,4 milhões de toneladas ou 2,2 milhões de déficit estático, pois possui capacidade estática em seus portos de 5,8 milhões de toneladas. Considerando sete tombos por anos, a capacidade dinâmica é de 40,6 milhões de toneladas.

“Os portos brasileiros apresentam sinais de esgotamento e operam precariamente”, escreveu o diretor-geral da filial da CMA CGM, a terceira maior transportadora marítima do mundo, Nelson Carlini. “Sem investimentos mínimos em logística portuária, o país poderá sofrer um colapso em seu comércio exterior já em 2008 (MACHADO, 2006).”

73

6.1.3 As condições da demanda

Segundo Nakazone (2003, in Nava, 2004), não há estatísticas oficiais sobre o mercado de alimentos orgânicos, dificultando determinar o tamanho do setor, no entanto dados divulgados em 2002 pelo Centro Internacional de Comércio (ITC), ligado à Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento e à Organização Mundial do Comércio (OMC), indicam que o comércio mundial de alimentos orgânicos (considerando 16 países europeus, EUA e Japão) movimentou US$ 17,5 bilhões, em 2000, e cerca de US$ 21 bilhões, em 2001. Em pesquisa mais recente na SOEL: Fundação de Agricultura da Alemanha, Salomão (2004) afirma que o mercado mundial de orgânicos movimenta US$ 25 bilhões sendo que, em 2003, o mercado brasileiro movimentou US$ 200 milhões, o que aponta o Brasil como mercado potencial. Na Europa, segundo NAVA (2004), as vendas de produtos orgânicos na Europa atingiram valores entre US$ 10 bilhões e US$ 11 bilhões, em 2003, com aumento de 22,2% em relação ao ano de 2001. Já nos Estados Unidos, as vendas de orgânicos aumentaram em torno de 42%, em 2003; relativo a 2001, atingindo o índice de US$ 13 bilhões.

Tabela 1: Balança comercial do agronegócio brasileiro

Fonte: Revista Informativo FAESP-SENAR SP, Nº 17 de dezembro de 2005

De acordo com dados divulgados por estudo realizado pelo CNA, em 2005, as exportações do agronegócio brasileiro deverão alcançar a cifra dos US$ 42 bilhões, cerca de 8% acima dos US$ 39 bilhões de 2004, conforme demonstrado na Tabela 1 extraída da Revista Informativo FAESP-SENAR SP, Nº 17, de dezembro de 2005. As exportações em 2006 serão influenciadas pela continuidade dos preços baixos para seu item principal da pauta

74 que é a soja. A safra mundial do grão deverá alcançar 221 milhões de toneladas, afirma o editor da FAESP-SENAR SP.

Para Silva e Rocha (2003, in Nava, 2004), o segmento de alimentos orgânicos ainda é um nicho de mercado, porque suas vendas representam apenas 4% do total dos alimentos vendidos com 85% da produção de alimentos orgânicos nacionais destinados à exportação. Segundo Salomão (2004), a procura por produtos orgânicos nacionalmente vinha aumentando em 10% a partir de 1999, passou para 40% em 2003 em relação a 2002, enquanto o mercado mundial aumentou 30% no mesmo período. As estatísticas denotam um grande potencial de crescimento da produção orgânica no Brasil com respectivo aumento na demanda interna, pois há um número crescente de consumidores que têm procurado “produtos limpos”. Almeida (2004) citada em Nava (2004) ,em pesquisa efetuada pelo Instituto Akatu, em 2000, obteve como resultado que 35% das pessoas achavam que as empresas tinham obrigação de ajudar a construir uma sociedade melhor para todos. Em 2004, segundo a autora, esse número subiu para 44% e 72% dessas pessoas são consumidoras de alimentos orgânicos.

Salomão (2004, p.58) afirma que “os orgânicos vêm sendo bem recebidos pelos supermercados porque garantem margens maiores, que podem chegar a 70%, dependendo do produto”. Os produtos orgânicos geralmente recebem um adicional de preço, que busca remunerar as dificuldades enfrentadas e as possíveis reduções na produção. O diferencial de preço, no entanto, varia muito conforme o produto. Cabe ressaltar que o ágio obtido por produtos orgânicos está diretamente relacionado à sua oferta no mercado.

As informações foram pesquisadas em 2002/2003 e, num segundo período, no final de 2006. Os dados devem então ser considerados evolutivos no espaço dos quatro anos, durante os quais a pesquisa se estendeu.

O Quadro 9 apresenta as condições da demanda, segundo os dados da pesquisa, que são discutidos no decorrer do tópico.

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Condições da Demanda Condições 1. Nicho de mercado (4% do total dos alimentos vendidos) Condições 2. Evolução de 40% em 2003 (relativo a 2002), com grande potencial de da Demanda expansão 3. Os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo são os maiores mercados produtores e consumidores brasileiros e Elementos constituintes da correspondem a 70% da produção nacional de orgânicos Condição de Demanda 4. Em 2002, em média, 53% dos consumidores dos estados de Santa A composição das necessidades do Catarina, do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e comprador, a estrutura e o tamanho Minas Gerais possuem o hábito de consumir produtos orgânicos do crescimento da demanda e o 5. Em cidades, como Curitiba, Londrina, , Porto Alegre, mecanismo pelo qual a preferência Rio de Janeiro e São Paulo, as feiras orgânicas chegam a movimentar interna é internacionalizada e cerca de R$ 1 000 000,00 de reais por ano. empurra a demanda do produto no 6. Consciência de que as empresas têm a obrigação de ajudar a construir exterior. (PORTER, 1993, uma sociedade melhor para todos (72% são consumidoras de HODGETS, 1993). alimentos orgânicos) 7. Os orgânicos vêm sendo bem recebidos pelos supermercados porque garantem margens maiores, que podem chegar a 70%, e os consumidores (68%) aceitam pagar mais pelos produtos 8. Mercado de produtos “ecologicamente corretos” movimentou, no Brasil, em 2001, mais de US$ 6 bilhões em serviços e equipamentos antipoluentes 9. Existe um grande desconhecimento do consumidor em relação ao produto orgânico e hidropônico. Além disso, há uma grande confusão gerada pela “onda” de produtos considerados naturais, dietéticos, lights, integrais etc. 10. Escolaridade alta: em torno de 52% com curso superior e pós- graduação 11. Médio poder aquisitivo (46% com 6 a 15 salários-mínimos) 12. 75% fazem compras em mercados e supermercados 13. Motivação de compra: saúde e meio ambiente. Quadro 9: As condições da demanda do mercado orgânico Fonte: Dados da pesquisa

Para Dulley (1997) as folhosas e demais hortaliças, por exemplo, que não têm problemas sérios para sua produção e apresentam oferta regular, costumam ter diferencial de preço que pode variar entre 20% e 30% acima dos produtos similares produzidos de modo convencional. Produtos com maiores problemas técnicos na produção podem alcançar 100% de ágio no preço pago ao produtor, como no caso do algodão orgânico naturalmente colorido.

O mais alto diferencial de preço em relação aos similares convencionais, no entanto, é observado em produtos mais difíceis de serem produzidos com métodos orgânicos, como morango, tomate e batata, sobretudo quando a oferta já reduzida coincide com fatores desfavoráveis para a sua produção, como problemas climáticos. Nesses casos, o ágio pode alcançar 200%, 300% ou ainda 400% (DULLEY, 1997, p. 131).

76

Apesar da conscientização ambiental se apresentar em níveis crescentes no mundo, no Brasil, ainda não é expressivo o número de consumidores verdes no contexto total. Isto pode conduzir a um estímulo negativo à sujeição empresarial ao imperativo ecológico.

Sabe-se, então, que o mercado de produtos “ecologicamente corretos” movimentou em 2000 mais de US$ 20 bilhões em todo o mundo e, no Brasil, em 2001, mais de US$ 6 bilhões em serviços e equipamentos antipoluentes, segundo a CNI (Confederação Nacional das Indústrias).

Portanto, os consumidores fazem sua exigência e sua cobrança se faz necessária. É oportuno também porque as empresas que enxergarem as leis de proteção ao meio ambiente podem ter oportunidades financeiras. O desenvolvimento ecológico pode ser a certeza de lucro garantido, como a criação de riquezas por meio dos resíduos sólidos. A partir de uma mudança de comportamento por parte das empresas, assumirão então o pódio do comércio nacional e internacional e isto é possível quando as organizações reduzem custos com a eliminação de desperdícios, desenvolvem tecnologias limpas e baratas, reciclam insumos. Essa tomada de atitudes representa a condição ideal para o desenvolvimento sustentável.

6.1.3.1 O perfil dos consumidores verdes no mercado de produtos orgânicos

Nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo encontram-se os maiores mercados produtores e consumidores brasileiros. Esses estados correspondem a 70% da produção nacional de orgânicos e, de acordo com pesquisas realizadas em 2002 pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Empresa do Paraná, em média, 53% dos consumidores dos estados de Santa Catarina, do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais possuem o hábito de consumir produtos orgânicos. Em cidades como Curitiba, Londrina, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, as feiras orgânicas chegam a movimentar cerca de R$ 1 000 000,00 de reais por ano, Bentley (2003, in Nava, 2004) afirma que os consumidores têm o poder de modificar as condições do mercado, ao demandar alterações na maneira que os produtos são feitos ou ao preferir produtos “verdes”. Para o autor, consumir diferente pode ser a chave para minimizar os efeitos ambientais do

77 consumo e o governo, por meio de políticas públicas, pode impactar na infra-estrutura que facilite as escolhas verdes do consumidor.

Segundo Darolt (2002), é cada vez maior o número de pessoas que estão buscando uma alimentação mais saudável, na tentativa de resgatar um tempo que ainda era possível ter à mesa alimentos frescos, de boa qualidade biológica e livre de agrotóxicos. Atualmente, os alimentos recebem tantos produtos tóxicos e passam por uma série de processos de transformação até chegar ao consumidor que acabam provocando uma mudança de hábitos alimentares e um distanciamento entre o agricultor e o consumidor.

As atuais mudanças que vêm ocorrendo no sistema agroalimentar e que são ditadas pelos consumidores, com sua exigência por alimentos com características de qualidade e segurança, causam uma grande dúvida no setor quanto à estratégia adotada.

Spers (1995) questiona:

Quanto irá custar ou quem (o governo, o setor privado ou o consumidor) irá pagar por essas exigências? E quanto ao monitoramento e à adaptação dos vários pontos críticos do sistema? Será que o consumidor está preparado para arcar com os custos de um alimento seguro? Quais são as soluções e as ações no nível de todo o sistema agroalimentar?

No Brasil, a principal motivação para a compra de alimentos orgânicos também parece estar ligada à saúde e ao meio ambiente. Nas redes de supermercados existe um grande desconhecimento do consumidor em relação ao produto orgânico. Além disso, há uma grande confusão gerada pela “onda” de produtos considerados naturais, dietéticos, lights, integrais etc. Particularmente, entre as hortaliças orgânicas, continua havendo grande confusão, sobretudo, entre produtos orgânicos e hidropônicos que, estrategicamente, são colocados, lado a lado, e embalados de forma similar.

Alguns produtos convencionais processados e embalados em atmosfera modificada constituem outra tendência para disputar este espaço. Com os alimentos cortados, lavados e prontos para o consumo, as embalagens trazem os dizeres “natural, sem conservantes e

78 aditivos”, porém isso se refere à forma como o produto foi embalado e não como foi produzido. Esse processo tem confundido o consumidor que compra em supermercados, o qual acaba desconfiando dos alimentos orgânicos, daí a importância da conscientização.

Dados publicados pelo Instituto Biodinâmico, em 2000, indicam que o consumidor brasileiro está disposto a pagar mais caro por um produto que não polui o meio ambiente, pois uma faixa de 68% do universo pesquisado fez essa afirmativa, enquanto outra de 24% se mostrou contrária à idéia. Essa tendência pode ser verificada mesmo na população com baixa renda familiar.

Nos países desenvolvidos, o consumidor já é o principal elemento articulador de mudanças. No Brasil, esse trabalho está apenas se iniciando e ainda não é possível ter uma idéia clara do número de consumidores que alimentam o mercado de produtos orgânicos.

Existem basicamente dois tipos de consumidores orgânicos: os primeiros tipos são os consumidores mais antigos, que estão motivados, bem informados e são exigentes em termos de qualidade biológica do produto. Estes consumidores são os freqüentadores das feiras verdes de produtos orgânicos. o segundo tipo mais recente, ainda pouco estudado, é o consumidor das grandes redes de supermercados.

Pesquisas realizadas em 2002 pelo SEBRAE/PR indicam um percentual médio de 52% de consumidores de alimentos orgânicos no Estado do Paraná, segundo produtor de alimentos orgânicos no Brasil. A título de exemplo, foi realizada uma pesquisa baseada em dados internacionais e, sobretudo, na experiência dos consumidores da região metropolitana de Curitiba (RMC).

A Figura 5 mostra que é elevada a instrução de seus consumidores. Com relação à escolaridade, observa-se que 51,6% dos consumidores já possuem nível superior ou pós- graduação, sendo que 41% dos consumidores respondentes estão cursando nível superior. Dos 29,5% com nível de pós-graduação, 85% têm especialização, 13%, mestrado e 2% possuem doutorado.

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Figura 5 – Nível percentual médio de escolaridade dos consumidores de produtos orgânicos no Paraná Fonte: NAVA (2004)

Analisando a Figura 6, verifica-se que 34% dos respondentes da pesquisa realizada no Paraná por Nava (2004) encontram-se com nível de renda familiar de, no máximo, seis salários-mínimos, ou seja, de baixo poder aquisitivo. Constata-se que os percentuais de consumidores respondentes, com nível de renda mensal entre 6 e 9 e, entre 9 e 15 salários- mínimos de referência, são muito próximos, sendo 21% e 25%, respectivamente. Observa-se, portanto, que 46% dos consumidores respondentes possuem nível de renda entre 6 e 15 salários-mínimos de referência, correspondendo ao poder aquisitivo de padrão médio.

Figura 6 – Nível percentual médio para a renda individual dos consumidores de produtos orgânicos da no Paraná Fonte: NAVA (2004)

A maioria dos consumidores respondentes, 75% , faz compras em mercados e supermercados, sendo 29% em mercados e 46% em supermercados. Os consumidores que compram em supermercados (46%) e feiras (19%) não são os mesmos que compram em mercados (29%), conforme Figura 7.

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Figura 7 – Local de compra dos consumidores de produtos orgânicos no Paraná Fonte: NAVA (2004)

A venda em supermercados tem crescido substancialmente. Atualmente, podem ser facilmente achados produtos orgânicos em supermercados no Uruguai, Costa Rica, Honduras, Peru, Brasil e Argentina. Os produtos processados ainda são encontrados em menor escala, sendo um mercado promissor para a América Latina. A Argentina é o país com a maior produção de alimentos orgânicos industrializados (sucos concentrados, óleos, vinhos, chás, frutas secas, condimentos etc).

Os desafios da produção orgânica estão na ampliação do que ainda é considerado “nicho”, não passando de 1% a 2% do mercado de alimentos. Os recentes estudos de Lernoud (2003) concluem que o crescimento de produtos ocorre principalmente em países industrializados. Nesse sentido, o desafio é desenvolver mercados locais, principalmente, em países considerados “em desenvolvimento”.

Com relação às exportações brasileiras, que se destinam aos países desenvolvidos (Tabela 2), observa-se um crescimento em função do interesse pelo mercado verde, no qual a sensibilização ambiental dos consumidores e as exigências ambientais dos órgãos reguladores são mais intensas.

Tabela 2 - Exportações brasileiras aos países desenvolvidos

Ano EUA UE ÁSIA OCEÂNIA Total 1980 17,3 18,9 4,7 - 43,7

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1990 27,6 24,1 7,0 0,8 62,4 2000 37,0 46,0 16,0 1,0 100,0 Fonte: Maimom (1995) e OMI (2002)

Segundo dados de Organic Monitor, Instituto de Pesquisas Inglesas, um lucro de US$ 26 bilhões no setor de exportação representou um crescimento de 23% em relação a 2000, ressaltando ainda que o ano de ano de 2002 revelasse um crescimento de 10% nas vendas mundiais de alimentos e bebidas orgânicos. Apesar do crescimento, o ano de 2003 foi marcado por oportunidades e desafios, principalmente às exportações brasileiras, porém o mesmo instituto estimou que a exportação do mercado verde movimentasse US$ 80 bilhões até 2008, com aumento de 18% ao ano.

6.1.3.2 Vantagens no consumo de produtos orgânicos

Desde os anos 90 muitas polêmicas surgiram e estão relacionadas à questão agroambiental: os alimentos transgênicos, o mal da “vaca louca,” os agrotóxicos, dentre outros. Tais questões são temas constantes na mídia impressa e falada, mas, apesar de crescente, este espaço ainda é insuficiente para sensibilizar o consumidor sobre os problemas relacionados aos agrotóxicos e aos benefícios da alimentação orgânica. A questão do agrotóxico, por exemplo, é de alto risco para a saúde pública e, dada a falta de informação, acaba não sendo objeto de preocupação popular, pois não há uma educação ambiental.

O desafio é conscientizar o consumidor sobre o problema da agricultura convencional para a saúde e meio ambiente. Além disso, é preciso mostrar que sua capacidade transformadora tem reflexos em todos os outros segmentos da economia. Por isso, o importante é que a própria sociedade tome a iniciativa de se organizar. Sabe-se que os produtos orgânicos evitam problemas de saúde causados pela ingestão de substâncias químicas e tóxicas. Pesquisas e estudos têm demonstrado que os agrotóxicos são prejudiciais ao nosso organismo e os resíduos que permanecem nos alimentos podem provocar reações alérgicas, respiratórias, distúrbios hormonais, problemas neurológicos e até câncer.

82

O produto orgânico é certificado. A qualidade do produto orgânico é assegurada por um selo de certificação. Este selo é fornecido pelas associações de agricultura orgânica ou por órgãos certificadores independentes, que verificam e fiscalizam a produção de alimentos orgânicos desde a sua produção até a comercialização. O selo de certificação é a garantia do consumidor de estar adquirindo produtos mais saudáveis e isentos de qualquer resíduo tóxico.

Segundo o IBD (2003), no Brasil, existem 45 produtores com o selo orgânico fornecido pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD). No Rio de Janeiro, o Sítio do Moinho possui o selo Projeto No RJ 004, desde 01 de janeiro de 1998.

Nos Estados Unidos, os consumidores verdes representam 37% da população, enquanto nos países europeus, como a Suíça, Alemanha e Inglaterra, já são 50%. Na Inglaterra, dois, em cada cinco cidadãos, vão ao supermercado com uma lista de produtos verdes à mão e, no futuro, todos os produtos serão explícitos ou implicitamente verdes.

De conformidade com Dulley (1997), ao comprar produtos orgânicos, os consumidores, apesar de não sentirem ou terem consciência da sua ação benéfica para o meio ambiente, estão na verdade adquirindo um conjunto de dois produtos: os alimentos em si e um produto ambiental (a proteção/regeneração do meio ambiente).

Sabendo que é um processo em longo prazo adquirir hábitos de consumir os orgânicos, os resultados são satisfatórios, pois os métodos orgânicos de produção possibilitam o equilíbrio do meio ambiente e convergem com o tempo, ritmo, ciclos e limites da natureza, que reduzem substancialmente os custos. Dessa feita, há a possibilidade de competir com o agro-químico, em termos de produtividade e com resultados econômicos diferentes dos convencionais.

6.1.4 Indústrias de apoio ou correlatas

No item: indústrias de apoio ou correlatas estão incluídos, segundo Porter (1993) e Hodgets (1993), fornecedores, baixo custo, setores públicos de apoio à P&D, canais de

83 distribuição dos produtos e aquelas empresas que se tornam parceiras, com as quais a empresa pode, ao competir, compartilhar atividades na cadeia de valores, ou as que possuem produtos complementares.

Para a utilização do Modelo Diamante da Competitividade Nacional de Porter, aplicado à agricultura orgânica e mercado verde, considerou-se que as empresas certificadoras fazem parte desse grupo como setores de apoio ao desenvolvimento dos produtos, embora sejam, em sua maioria, organizações não-governamentais.

Em 1981 surgiu a primeira iniciativa importante para sistematização das idéias e experiências ligadas a movimentos alternativos no Brasil. Nesse ano, aconteceu em Curitiba – PR, o I Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa (EBAA). Ainda naquela década, realizaram-se outros três encontros na mesma linha, que podem ser considerados como marco de referência da história recente dos movimentos alternativos, que contribuíram para penetração da agricultura orgânica no Brasil.

Em 1984, outra iniciativa importante foi a criação do Instituto Biodinâmico (IBD), no município de Botucatu - que fiscaliza e certifica produtos orgânicos no Brasil de acordo com normas internacionais. Este selo só é conferido após rigorosos exames de controle de qualidade de solo, água, reciclagem de matéria orgânica, dentre outros. No Brasil, existem 45 produtores com o selo orgânico fornecido pelo IBD.

O Instituto Biodinâmico (IBD), até o ano de 2000, certificou cerca de 2000 produtores em 60.000 hectares de área produtiva. Calcula-se que mais 2.500 unidades de produção tenham sido certificadas pela Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo, por entidades como a Associação de Agricultura Natural de Campinas, a ASSESOAR, Fundação Mokiti Okada, a COLMEIA, do Rio Grande do Sul, e a Associação de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro.

O Quadro 10 apresenta as indústrias de apoio e correlatas, que dão apoio ao desenvolvimento de produtos orgânicos e também auxiliam na internacionalização dos produtos.

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Indústrias de Apoio ou Correlatas Indústrias de Apoio ou Correlatas da Agricultura Orgânica Indústrias 1. IBD – Instituto Biodinâmico. de Apoio ou 2. Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural (IVV) Correlatas 3. ONG´s: a. Associação dos Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO) b. Cooperativa de Consumidores e Produtores (COOLMÉIA) de Porto Elementos constituintes do Alegre item c. Associação de Agricultura Ecológica (AAGE) de Brasília, Apoio público à P&D d. Associação de Agricultura Natural de Campinas (ACN) (Pesquisa e e. Associação Gurucaia de Londrina Desenvolvimento), canais f. Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA). de distribuição para suportar 4. Empresas que emitem selos e auxiliam P&D a logística de distribuição 5. Selo da Associação de Agricultura Orgânica: (AAO) Selo da Associação de dos produtos. Parceiros para Agricultura Biológica (ABIO): compartilhar atividades na 6. Selo da Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC): cadeia de valores, ou as que 7. Selo da Cooperativa Colméia possuem produtos 8. Selo do Instituto Biodinâmico (Ibd): complementares. Esta a. International Federation Of Organic Agriculture Movements participação pode se dar no (IFOAM) desenvolvimento de b. Alemanha (DAP), tecnologia, distribuição, 9. Selo da Fundação Mokiti Okada aquisição de suprimentos ou 10. Rótulos ambientais ou selos verdes assistência. Presença de a. Angel Bleu, garantido pelo Ministério do Meio Ambiente alemão fornecedores b. Ecologic Choice – Canadense, internacionalmente c. Eco-Mark – pela Associação Japonesa do Meio Ambiente; competitivos que criam d. Green Cross e Green Seal - Estados Unidos para as embalagens, a vantagens para as empresas biodegradabilidade, a eficiência energética e o uso de recursos do downstream por meio de sustentáveis. acesso rápido a entradas de 11. Consultoria: ABD (Associação de Agricultura Biodinâmica). baixo custo (in PORTER, 12. Certificados europeus (necessários para internacionalização dos produtos 1993, HODGETS, 1993). orgânicos) a. França, o certificado pela Agriculture Biologique (AB). b. Grã-Bretanha, o United Kingdom Register of Organic Food Standards (Ufrofs). c. Produtos de origem animal: Designated Inspection Authority (DIA) (específico em cada país. • O custo da certificação • Escassez de pesquisa científica em agricultura orgânica • As instituições públicas têm atuado pouco no desenvolvimento e/ou validação de tecnologias de produção orgânica

Quadro 10: As indústrias de apoio e correlatas da agricultura orgânica Fonte: Dados da Pesquisa

Até o final da década de 1980 foram criados ainda a Associação Mokiti Okada, o Centro de Pesquisa em Agricultura Natural e a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), todos no Estado de São Paulo.

85

No Paraná, o Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural (IVV), seguindo as idéias do IBD, também contribuiu para impulsionar o sistema. Paralelamente, aparece uma série de ONGs, associações de produtores e consumidores engajados com a agricultura orgânica. Pode-se destacar a Associação dos Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO), a Cooperativa de Consumidores e Produtores (COOLMÉIA), de Porto Alegre, a Associação de Agricultura Ecológica (AAGE), de Brasília, a Associação de Agricultura Natural de Campinas (ACN), a Associação Gurucaia, de Londrina, e a Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA).

6.1.4.1 O papel da certificação ambiental e os produtos certificados nas exportações brasileiras

A exigência de certificação ambiental tem se revelado um excelente instrumento de mudança de comportamento das empresas brasileiras. As empresas exportadoras de recursos naturais ou de seus derivados são as mais exigidas em certificados de qualidade ambiental.

No Brasil, as principais associações emitentes de selos de certificação, que garantem ao consumidor a certeza de estar levando para casa produtos orgânicos, estão descritas a seguir, de acordo com Lima e Marques (2000):

SELO DA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA: Em 1989 foi criada a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), com sede em SP. Além de se responsabilizar pela organização de uma feira semanal de produtos, a associação criou um selo próprio, o qual possibilitou que a venda dos produtos orgânicos por ela certificados atingisse atualmente seis cadeias de supermercados de São Paulo.

SELO DA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA BIOLÓGICA (ABIO): A ABIO foi criada em 1885, a partir da primeira feira de produtos orgânicos do Brasil, a de Nova Friburgo. Hoje, é responsável pela certificação de 120 unidades produtivas, além de empresas comercializadoras e processadoras de alimentos orgânicos.

SELO DA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA NATURAL DE CAMPINAS E REGIÃO (ANC): Atua desde agosto de 1991, certificando produtos agro-ecológicos a partir

86 de 1992. Participa de vários fóruns, entre eles, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Realiza pesquisas e cursos técnicos, como também gerencia feiras semanais.

SELO DA COOPERATIVA COLMÉIA: Certifica e fornece um selo próprio aos agricultores do Sul do Brasil. Também presta assessoria em agricultura ecológica por meio de cursos, palestras e projetos para propriedades rurais ecológicas.

SELO DO INSTITUTO BIODINÂMICO (IBD): Fundado em 1982, promove a disseminação dos princípios e práticas das agriculturas orgânicas e biodinâmicas por meio das seguintes atividades: inspeção e certificação da produção agropecuária, do processamento, de produtos extrativistas e de insumos para a agricultura orgânica, realização de cursos para inspetores e fornecimento de informações. Para as atividades referentes à consultoria, foi criada a ABD (Associação de Agricultura Biodinâmica).

O IBD possui dois credenciamentos internacionais, um da International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) e outro da Alemanha (DAP), o que permite que seu certificado seja aceito nos três principais blocos econômicos: Europa, Estados Unidos e Japão.

SELO DA FUNDAÇÃO MOKITI OKADA: Esta fundação vem desenvolvendo a Agricultura Natural no Brasil desde 1979, divulgando a tecnologia da produção de alimentos saudáveis ao ser humano e ao meio ambiente, capacitando a agricultora de todo o Brasil, como também em outros países da América Latina, Europa e África.

Por meio da ação de ONGs, paralelamente às instituições governamentais e de iniciativa privada, foram criados tipos de certificação que, além de garantir a preservação do meio ambiente, têm por objetivo levar os consumidores a adquirir produtos "ecologicamente corretos" ou “rótulo verde”. No Figura 8, encontram-se os principais selos de certificação, que levam ao consumidor a certeza de estar levando para casa produtos orgânicos.

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AAOCERT ABIO ACS ANC APAN BCS CHÃO VIVO CMO COOLMÉIA

ECOCERT FVO IBD IMO MINAS OIA SAPUCAÍ SKAL TECPAR

Figura 8: Selos de produtos orgânicos Fonte: Portal Planeta Orgânico. Disponível em : www.planetaorganico.com.br/qcertif.htm. Acesso em 02/11/2006

6.1.4.2 Certificação ambiental

Certificação é o processo pelo qual as unidades produtoras (propriedades ou áreas), bem como empresas comercializadoras ou associações de produtores, têm sua produção ou estabelecimentos avaliados segundo normas. Desta avaliação resulta um parecer que atesta se aquela unidade é orgânica e, portanto, pode comercializar sua produção como tal ou inseri-la em um processo de conversão até que reúna as condições para receber o certificado.

Os produtores certificados conquistam o direito de usar um selo de certificação, agregando valor aos seus produtos e diferenciando-se no mercado. O selo de certificação de um alimento orgânico fornece ao consumidor muito além da certeza de estar levando para casa um produto isento de contaminação química. O selo garante também que esse produto é o resultado de uma agricultura capaz de assegurar qualidade de ambiente natural, qualidade nutricional e biológica de alimentos e qualidade de vida para quem vive no campo e nas cidades. Desse modo, o selo de “orgânico” é o símbolo não apenas de produtos isolados, mas também de processos mais ecológicos de se plantar, cultivar e colher alimentos.

A certificação é muito importante para o mercado de orgânicos, pois além de permitir ao agricultor orgânico diferenciar e obter uma melhor remuneração dos seus produtos protege os consumidores de possíveis fraudes. Existem também outras vantagens expressivas como, por exemplo, o fato de que a certificação tornar a produção orgânica tecnicamente mais eficiente à medida

88

que exige planejamento e documentação criteriosa por parte do produtor. Outra vantagem é a promoção e a divulgação dos principais norteadores da agricultura orgânica na sociedade, colaborando, assim, para o crescimento do interesse pelo consumo de alimentos orgânicos (MAIMOM, 1995, p. 117).

A Certificação Ambiental ou Ecológica, que trata de regulamentações, normas, práticas e mecanismos orientados para a proteção ou melhoria das condições do meio ambiente visa buscar a homogenia de conceitos, ordenar atividades e criar padrões e procedimentos do setor produtivo. As regulamentações e normas podem ser derivadas de decisões na esfera nacional e, portanto, incorporadas nas legislações de cada país ou, então, podem existir como parte de acordos multilaterais, sendo incluídas em tratados ou convenções internacionais.

Por exemplo: A Convenção de Viena sobre a Proteção da Camada de Ozônio, de 1985, e o Protocolo de Montreal envolvem acordos internacionais quanto ao uso dos clorofluorcarbonos, que são produtos industriais usados como solventes e na refrigeração.

Os mecanismos podem ser voluntários ou compulsórios e são orientados para propósitos ambientais. Eles são definidos unilateralmente ou negociados plurilateralmente. Dentre esses mecanismos, pode-se destacar o processo de certificação de processos, a etiquetagem de produtos “selo verde” e as regulamentações sobre embalagens.

A certificação ambiental aplica-se em dois casos: 1º- certificação do produto, o qual, mediante a verificação de normas de qualidade ambiental, será atestado por selos verdes e rótulos ecológicos. Essa certificação diferencia o produto de outros produtos comparáveis e disponíveis no mercado; 2º - certificação de processos, em que se verifica a conformidade do processo de produção com as recomendações de determinadas normas de gestão ambiental, como, por exemplo, a BS-7750 ou a série ISO 14000.

Por outro lado, as séries de normas selos e rótulos ambientais objetivam proteger o produtor que respeita as leis e princípios da conservação ambiental contra aqueles que

89 conseguem produzir mais barato, por não investir na produção limpa, externalizando alguns dos seus custos ambientais, o que lhe permite ser mais competitivo.

Os chamados rótulos ambientais ou selos verdes caracterizam os países onde os consumidores têm maior sensibilidade ambiental. Os tipos de selos verdes são:

• Angel Bleu, garantido pelo Ministério do Meio Ambiente alemão e já beneficiou 3.600 produtos

• Ecologic Choice – Canadense, concedeu selos para 14 produtos e é considerada bastante rigosa

• Eco-Mark – pela Associação Japonesa do Meio Ambiente, já concedeu 2.500 selos

• Green Cross e Green Seal - Estados Unidos, endossados por duas organizações privadas e os critérios utilizados na análise dos produtos são: as embalagens, a biodegradabilidade, a eficiências energéticas e o uso de recursos sustentáveis.

Em tese, de adesão voluntária, as certificações mencionadas, normas, tornam-se compulsórias para aqueles que desejem manter sua parcela de mercado. As certificações ambientais são consideradas barreiras de comércio e satisfazem as seguintes condições:

• os critérios e normas não possuem comprovação científica ou não consideram adequadamente os processos produtivos utilizados nos outros países;

• os procedimentos de testes e verificações são injustificadamente rigorosos, restringindo a obtenção de selo por produtores estrangeiros;

• o sistema é orientado para produtos de importação e a concessão da certificação é monopólio dos países importadores.

A Certificação Ambiental converteu-se em um dos fatores de maior influência nos anos 90. As empresas começam a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento

90 sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade de seus negócios, uma vez que a gestão ambiental não é um tema só para ambientalistas, mas, sim, uma atividade que pode propiciar ganhos financeiros sem agredir o meio ambiente. Desse modo, o sistema de gestão ambiental é estável e sustentável e tornou-se um importante instrumento gerencial para capacitação e criação de condições de competitividade para as organizações, qualquer que seja o seu segmento econômico.

As normas para a concessão do selo verde também constam do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) - ISO 14000, que prevê a questão da rotulagem ambiental na série de normas ISO 14020. De acordo com a norma, existem dois conceitos básicos de selo verde: o tipo I é uma declaração feita por uma terceira entidade (ABNT Qualidade Ambiental (Brasil), Eco-Mark (Japão), European Ecolabelling (União Européia), Green Seal (EUA), dentre outras) que o produto de uma determinada empresa é ambientalmente correto. O tipo II é uma autodeclaração da empresa dizendo no seu rótulo, por exemplo, que é um produto ético, relacionado à causa, natural, não poluente, socialmente responsável, não tóxico, com embalagem reciclada, reciclável após o uso, etc. (NAVA, 2004).

Figura 9- Selos verdes (rotulagem ambiental) Fonte: ABNT – Rotulagem Ambiental no Brasil (Selo Verde), (2006).

6.1.4.3 Tipo de certificação

A norma de certificação International Organization for Standardization - ISO, é uma organização não-governamental, sediada em Genebra, Suíça. Desde 1974, é responsável pela criação de normas técnicas e padronização de medidas e particularidades de produtos, de

91 modo que adquiram uniformidade em suas características, independente de sua origem, congregando mais de 100 países, representando praticamente 95% da produção industrial do mundo.

Comitês técnicos, subcomitês e grupos de pesquisa no mundo inteiro trabalham para a ISO, garantindo uma conformidade na determinação de seus padrões. As normas mais importantes criadas e conhecidas pela ISO referem-se às normas e padrões de qualidade dentro da empresa, série ISO 9000, e à questão ambiental, série ISO 14000.

A crescente preocupação ambiental, independente das exigências do mercado, sobretudo internacional, vem pressionando as empresas a requerem a certificação ISO 14001. Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade - INMETRO, atualmente, o Brasil conta com cerca de 300 empresas certificadas. A tendência é que esse número se eleve, rapidamente.

Desde setembro de 1994, o Brasil, por meio do Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (Gana), da Associação Brasileira de Normas Técnicas, vem acompanhando os trabalhos e representando o Brasil nas discussões do TC 207, seus subcomitês e grupos de trabalho. Atualmente, por decisão da ABNT, a Gana foi transformado no Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental. CB-38, que passou a representar o País no ISO-TC-207. Diversas empresas e entidades de apoio têm participado das atividades do CB-38, como órgãos públicos, associações empresariais e universidades.

6.1.4.4 Certificação dos produtos orgânicos

A certificação de produtos orgânicos no Brasil teve início em meados dos anos 80. Entretanto, somente em 1984, foi fundada uma entidade de produtores, a Associação de Agricultores Biológicos (ABIO) do Rio de Janeiro, que criou, no ano de 1986, as primeiras normas para credenciamento de propriedades.

92

Em 1992, a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) de São Paulo, fundada em 1989, começou a cadastrar produtores para a feira de produtos orgânicos que organiza semanalmente no Parque da Água Branca. A Associação de Agricultura Orgânica é uma organização não - governamental, sem fins lucrativos, criada em maio de 1989 por um grupo de produtores, jornalistas, pesquisadores e engenheiros agrônomos, que já praticavam a agricultura orgânica e acreditavam na sua viabilidade socioeconômica e ambiental. Tem como objetivo, além de difundir práticas e técnicas, defender o direito do cidadão a uma alimentação sadia e equilibrada para preservar o homem e o meio ambiente.

Com apenas um ano de atividade, a AAO estabelecia sua sede no Parque da Água Branca (zona oeste de São Paulo) e, em 1991, inaugurava a primeira Feira do Produtor Orgânico, contando com o apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, órgão administrador do Parque. Em 1996, a entidade lançou no mercado seu selo de garantia, atestando a produção orgânica de seus certificados. O selo da AAOCert é amplamente reconhecido no mercado interno e a entidade trabalha para seu reconhecimento no âmbito do mercado externo de produtos orgânicos. Há mais de uma década, a AAO vem defendendo e lutando para que cada vez mais a agricultura orgânica torne-se conhecida e praticada.

Sua área de atuação compreende:

a) Publicar e divulgar suas normas técnicas de produção orgânica.

b) Manter um plantão técnico em apoio aos seus associados.

c) Difundir e divulgar a agricultura orgânica por meio de cursos, eventos e publicações

d) Elaborar e executar projetos sócio.conômicos em cooperação com outras instituições, públicas e privadas;

e) Associar pessoas físicas e jurídicas interessadas em conhecer mais sobre a agricultura orgânica e contribuir para seu crescimento e difusão.

A certificação é o procedimento pelo qual uma terceira parte, independente, assegura, por escrito, que um produto, processo ou serviço obedece a determinados requisitos, mediante emissão de um certificado. No caso de produtos orgânicos, a certificação é um instrumento,

93 geralmente apresentado sob a forma de um selo afixado ou impresso no rótulo ou na embalagem do produto, garantindo que os produtos orgânicos rotulados foram produzidos de acordo com as normas e práticas da agricultura orgânica.

As agências certificadoras precisam ser credenciadas por um órgão autorizado que reconheça formalmente que uma pessoa ou organização tem competência para desenvolver determinados procedimentos técnicos de fiscalização da produção. No caso de produtos orgânicos, o órgão que credencia internacionalmente as certificadoras é a International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), que é a Federação Internacional que congrega os diversos movimentos relacionados com a agricultura orgânica.

A iniciativa de adesão à certificação orgânica é voluntária, quando não houver legislação que regulamente o assunto. Os casos com suspeita de fraude, quando detectados, são passíveis de avaliação por uma comissão de certificação e outra de ética. Conforme a avaliação dessas comissões, a agência certificadora pode aplicar punições que podem chegar à exclusão do agricultor ou comerciante oportunista, impedindo o uso do selo orgânico.

Quando existe legislação específica para isso, seja federal, estadual ou municipal, a rotulagem orgânica passa a ser obrigatória para esses produtos. Os infratores ficam sujeitos às penalidades previstas em lei. A regulamentação dos processos e tecnologias de produção é necessária para manter os padrões éticos do movimento orgânico e para fortalecer a confiança do consumidor no produto. Ela serve para orientar os produtores orgânicos e promover o comércio desses produtos entre fronteiras, uma vez que a qualidade orgânica é garantida pela presença do selo.

O estabelecimento de normas para regular a produção, o processamento, a certificação e a comercialização de produtos orgânicos surgiu da necessidade de os consumidores terem segurança quanto à qualidade dos produtos que adquirem, pelo “filão” de mercado que surgiu em vários países, impulsionado pelo crescimento da demanda por produtos cultivados com métodos da agricultura orgânica (VIGLIO, 1996, p. 68).

94

A diferenciação de produtos orgânicos ocorre com base em suas qualidades físicas, decorrentes principalmente da ausência de agrotóxicos e adubos químicos, por exemplo, que estão mais diretamente relacionados à forma como esses produtos foram produzidos. Estas características embutidas nos produtos orgânicos não podem ser observadas com facilidade no momento da compra. A distância entre consumidores e produtores e a incapacidade de se ter certeza quanto à forma pela qual os produtos orgânicos foram produzidos justificam a necessidade de monitoramento da produção por uma terceira parte, independente.

Segundo Donaire (1999), a certificação é, portanto, uma garantia de que produtos rotulados como orgânicos tenham de fato sido produzido dentro dos padrões da agricultura orgânica. A emissão do selo ou do certificado ajuda a eliminar, ou pelo menos reduzir, a incerteza com relação à qualidade presente nos produtos, oferecendo aos consumidores informações objetivas, que são importantes no momento da compra.

A certificação orgânica começa a ser exigida para alguns produtos destinados à exportação, como soja, café, mel, hortaliças, óleos essenciais, óleo de dendê, caju, açúcar, mate, citrus, banana e guaraná. Nesses casos, a organização certificadora precisa, na maioria das vezes, ser credenciada pela IFOAM ou pelas normas ISO-65 para emitir um certificado que tenha reconhecimento internacional.

Na opinião de Maimom (1995) o desenvolvimento do mercado de produtos orgânicos depende fundamentalmente da confiança dos consumidores na sua autenticidade, que, por sua vez, só pode ser assegurada por legislação e ou programas de certificação eficientes. O novo ramo de atividade que surge com a regulamentação da agricultura orgânica pode ser desempenhado em diferentes níveis de seriedade, compromisso ético, transparência e competência.

Quando os consumidores decidem pela compra de produtos orgânicos e pelo pagamento de um prêmio por efeitos positivos à saúde e redução de impacto ambiental, dentre outros atributos, eles esperam obter em troca um produto de origem orgânica garantida. Dessa forma, como os produtores orgânicos arcam com custos de produção mais elevados, os consumidores desejam estar protegidos contra os falsos produtos orgânicos.

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A certificação orgânica pode ser feita por agências locais, internacionais ou por parcerias entre elas. Ela pode também ser realizada por grupos de pequenos produtores, desde que existam mecanismos internos de controle que sigam os padrões da agricultura orgânica. Nesses casos, é comum a comercialização da produção em feiras realizadas por produtores e não há preocupação com exportação.

Para que uma agência certificadora de produtos orgânicos venha a funcionar legalmente, precisa credenciar-se em órgão oficial competente, caso haja legislação, bem como estabelecer suas próprias normas, padrões e procedimentos de certificação, mas que devem, necessariamente, estar subordinados tanto à legislação vigente em cada país quanto à organização credenciadora.

As normas geralmente se referem à forma como os produtos de origem orgânica são produzidos. A prática mais comum é a definição de diretrizes gerais e a descrição de práticas culturais, tecnologias e/ou insumos permitidos, proibidos ou de uso restrito nesse modo de produção. A reputação das agências certificadoras constitui um aspecto fundamental, pois denota persistência de seriedade na produção e de qualidade dos produtos (DULLEY, 1997, p. 104).

A IFOAM foi à organização pioneira na criação de uma estrutura mundial de certificação orgânica, que contava, em 1999, com 14 agências credenciadas para emitir certificados de reconhecimento internacional. Seus padrões forneceram parâmetros para a legislação sobre produtos orgânicos de diversos países. Existem, ainda, certificadores independentes que tendem a atuar com base local. Até o momento, ainda não há um sistema que seja plenamente reconhecido no mundo todo e que possa fornecer a garantia da qualidade orgânica dos produtos.

Uma vez que o produtor decide produzir utilizando métodos da agricultura orgânica, é recomendável que se associe a uma agência certificadora, na qual obterá informações sobre as normas técnicas de produção. A certificadora poderá também indicar consultores para assistência técnica, que dão orientação quanto à produção e comercialização dentro de seus padrões técnicos para certificação.

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Em linhas gerais, o processo de certificação, segundo Mota (1997), deve ser feito por meio de visitas periódicas de inspeção, na unidade de produção agrícola, quando o produto é comercializado ‘in natura’, e também nas unidades de processamento, quando o produto for processado, e de comercialização, no caso de entrepostos. As inspeções devem ser tanto programadas (com o conhecimento do produtor) quanto aleatórias (sem o seu conhecimento prévio).

O produtor deve apresentar um plano de produção para a certificadora e manter registros atualizados de uma série de informações, como a origem dos insumos adquiridos, a sua aplicação e o volume produzido. Essas informações têm caráter sigiloso e, assim como as instalações do estabelecimento, devem estar sempre disponíveis para vistoria e avaliação do inspetor, caso seja solicitado.

Após a visita, o inspetor elabora um relatório no qual são indicadas as práticas culturais e de criação observadas, o que permite detectar possíveis irregularidades com relação às normas de produção estabelecidas. Estes relatórios são encaminhados ao Departamento Técnico ou ao Conselho de Certificação da certificadora, que delibera sobre a concessão do certificado que habilita o produtor, processador ou distribuidor a utilizar o selo. A certificação pode ser solicitada para algumas áreas ou para toda a propriedade.

Os padrões de certificação orgânica são geralmente estabelecidos pelo departamento técnico das agências certificadoras, que promove reuniões periódicas com agrônomos, veterinários e produtores orgânicos para determinar a viabilidade técnica das práticas propostas. Os padrões devem sempre estar em consonância com as diretrizes básicas estabelecidas pela IFOAM. Aqueles que porventura ainda não estiverem em conformidade com essas diretrizes deverão adaptar-se dentro do prazo estipulado pela certificadora.

De acordo com Mota (1997), as normas estabelecidas devem ser amplamente divulgadas entre os associados e prestadores de assistência técnica e cumpridas rigorosamente pelo agricultor, processador ou comerciante que desejem obter e manter a certificação. Os padrões são revisados periodicamente para permitir a adaptação a eventuais atualizações técnicas.

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Tabela 3 - Estimativa dos custos de certificação

TIPO DE DESPESA VALOR* (R$)

Taxa de Inscrição/Filiação 0,00 - 5.000,00 Diária de Técnico/Inspetor 120,00 - 500,00 Despesas Preliminares à Inspeção 90,00 - 1.800,00 Elaboração de Relatório 132,50 -1.000,00 % sobre o Faturamento 0,00% - 2,00% Taxa de Inspeção Periódica 20,00 - 650,00 Análises Químicas de Pesticidas 305,00 - 855,00 Outras Análises Químicas 225,00 - 465,00

Fonte: Certificadoras (AAO, ANC, Ecocert, FVO, IBD, MOA). Elaboração: BNDES. * Valor em 2000 / 01.

Desse modo, os comerciantes reúnem informações sobre os custos do processo de certificação das principais agências certificadoras, que variam de acordo com os critérios, considerando os seguintes itens: taxa de inflação, tamanho da área a ser certificada, despesas com inspeção (transporte, alimentação e hospedagem), elaboração de relatórios, análise laboratorial do solo e da água, visitas de inspeção e acompanhamento e emissão do certificado, visualizados na Tabela 3.

Conforme Donaire (1999), o tempo necessário para a conclusão do processo de certificação depende de vários fatores e varia conforme o ciclo produtivo das atividades e da agência certificadora. Se o estabelecimento agrícola está passando por um processo de conversão para a agricultura orgânica, pode levar até três anos para que seja considerado certificado, se for, por exemplo, o caso de culturas perenes, como frutas.

Esse período é necessário para garantir um tempo que permita a dissipação de resíduos de agrotóxicos no solo, que contaminariam a produção. No caso da produção de hortaliças, cujo ciclo é mais curto, esse período é mais reduzido. Enquanto não se cumprirem os períodos exigidos para a adaptação, o estabelecimento e as atividades agrícolas são considerados como “em transição”.

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6.1.4.5 Processo de certificação do ponto de vista internacional

Segundo a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), o sistema orgânico já é praticado em mais de uma centena de países ao redor do mundo, sendo observada uma rápida expansão, sobretudo na Europa, EUA, Japão, Austrália e América do Sul. Esta expansão está associada, em grande parte, ao aumento de custos da agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência dos consumidores por produtos “limpos”, livres de substâncias químicas e/ou geneticamente modificadas.

O aspecto positivo em relação aos produtos orgânicos é a criação de selos de certificação de qualidade por parte de Organizações Não-Governamentais (ONGs), permitindo, dessa forma, que o consumidor consiga diferenciar o produto orgânico de seus concorrentes convencionais, o que garante ao produtor a agregação de valor (IBD, 1996). Assim, tanto consumidores quanto produtores passaram a ter critérios. Os consumidores têm garantias de qualidade e os produtores têm a cobertura dos custos adicionais em que incorrem e o acesso ao novo nicho de mercado (VIGLIO, 1996, p. 179).

Os principais certificados na Europa são: Na França, o certificado pela Agriculture Biologique (AB). Este país foi o primeiro na Europa a introduzir um certificado oficial para a agricultura biológica. A denominação é atribuída a produtos agrícolas transformados ou não, fabricados sem produtos químicos e que seguem modos particulares de produção. Cerca de 90 mil hectares, ou 0,2% das terras agricultáveis na França são cultivados com princípios da agricultura biológica.

A Grã-Bretanha sucedeu a França na certificação oficial orgânica, que se denomina United Kingdom Register of Organic Food Standards (Ufrofs). A Alemanha é um dos principais países do mundo em número de produtores orgânicos, com mais de 5% da área agrícola manejada organicamente em alguns de seus estados. É também um dos mais importantes mercados para produtos orgânicos, incluindo importações.

Na União Européia, há a regulamentação de produtos orgânicos no que concerne ao mercado comum, mas produtos de origem animal não estão incluídos.Cada país europeu instituiu o Designated Inspection Authority (DIA), que irá implementar padrão de produção, individualmente ou em conjunto, com os organismos certificadores nacionais.

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6.1.5 Estrutura, estratégia e rivalidade das empresas

Neste item são investigados e destacados os objetivos que as companhias procuram atingir, assim como a motivação de seus empregados e gestores, os métodos de gestão organizacional, as atitudes individuais e a intensidade da rivalidade da indústria, a maneira que escolhem para competir (estratégias), a intensidade da concorrência, a criação e a persistência da vantagem competitiva na indústria.

As empresas verdes, ou ecológicas, são sinônimos de bons negócios e futuramente poderão apresentar-se como a única forma de empreender negócios duradouros e lucrativos. Em outras palavras, quanto mais rápido as grandes, médias e pequenas organizações perceberem a importância do meio ambiente como a principal oportunidade competitiva, maior será a chance de que sobrevivam.

Talvez poucas são as organizações empresariais que mudaram de comportamento com relação ao meio ambiente. Desse modo, as que têm visão, começam a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade de seus negócios.

O Quadro 11 apresenta os elementos considerados neste estudo para analisar o mercado produtor de acordo com os parâmetros estabelecidos por Porter (1993).

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Estrutura, Estratégia, e Rivalidade das Empresas Estrutura, Estratégia, e Rivalidade das Empresas da Agricultura Orgânica Estrutura, 1. As empresas que perceberam a importância ambiental Estratégia e utilizaram como estratégia: a certificação ambiental, o Rivalidade das SGA, o Protocolo Verde e o Imposto de Circulação Empresas Mercadoria e Serviços (ICMS) ecológicos, para possibilitar a sua inserção e oportunidade no mercado internacional. Elementos constituintes do item 2. Implantação do SGA – Sistema de Gestão Ambiental 3. Metas /desafios: desenvolver mercados locais, As metas que as companhias procuram atingir, sobretudo em países considerados “em assim como a motivação de seus empregados e desenvolvimento”. gestores, os métodos de gestão organizacional, as 4. Mão-de-obra (produtores): 4500 (2000) e 14866 atitudes individuais e a intensidade da rivalidade da (2003), 13100 (2004) cm certificação. indústria, a maneira que escolhem para competir 5. Esses produtores se concentram principalmente nas (estratégias), a intensidade da concorrência e a regiões Sul e Sudeste. criação e a persistência da vantagem competitiva na 6. Área cultivada: 275 576 hectares (Dados de 2003) indústria ( PORTER, 1993, HODGETS, 1993). 7. O Brasil ocupa o 10º lugar entre os países produtores

de alimentos orgânicos. 8. 34º país no ranking de exportadores de produtos orgânicos.

Quadro 11: Estrutura, estratégia, e rivalidade das empresas da agricultura orgânica. Fonte: Dados da pesquisa

No cenário brasileiro, segundo trabalho publicado por Campanhola e Valarini (2001), a agricultura orgânica tem-se tornado uma alternativa de renda para os pequenos agricultores, devido à verificação de que as commodities agrícolas tradicionais exigem produção de escala para equilibrar a queda de preços, com os custos crescentes de produção, que levam à conseqüente redução das margens de lucro.

A Tabela 4 apresenta, por estado da federação, o número de produtores certificados no Brasil, com dados referentes ao ano 2000. Do total de 4500 produtores certificados, verifica-se que o Estado do Paraná se destaca dos demais com 2400 produtores certificados e mais 750 em fase de certificação. Em relação aos outros estados, a quantidade de produtores é bem menor, variando de cerca de 800 nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, para menos de 150 nos demais estados.

Em 2003, o Instituto Biodinâmico (IBD) certificou cerca de 2000 produtores em 60.000 hectares. Estima-se que outras 2.500 unidades de produção foram certificadas por entidades como a Cooperativa COOLMEIA, do Rio Grande do Sul, Associação de

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Agricultura Orgânica (AAO); a Associação de Agricultura Natural de Campinas (ANC) e a Fundação Mokiti Okada (MOA), do Estado de São Paulo; a Associação de Agricultores Biológicos (ABIO), do Rio; a ASSESOAR e a Associação de Agricultura Orgânica (AOPA) no Paraná, o que perfaz um montante de, aproximadamente, 4.500 produtores certificados no Brasil na safra 1999/2002 (Tabela 4), ocupando uma área aproximada de 100.000 hectares.

Tabela 4 - Número de produtores orgânicos certificados no Brasil ESTADOS DA FEDERAÇÃO NÚMERO DE PRODUTORES CERTIFICADOS Paraná 2.400* Rio Grande do Sul 800 São Paulo 800 Rio de Janeiro 120 Espírito Santo 100 Santa Catarina 100 Distrito Federal 50 Outros 130 TOTAL 4.500* FONTE: DAROLT (2002) * Cerca de 750 produtores encontram-se "em processo de certificação". NOTA: Elaborado a partir de dados de HAMERSCHIMIDT/EMATER-PR (Informação Pessoal, 2000); e outras entidades como IBD; COOLMEIA; AAO ; ANC; ABIO e MOA.

Atualmente, cerca de 80 mil produtores cultivam aproximadamente 4,7 milhões de hectares sob manejo orgânico na América Latina.

Os países com as maiores percentagens da área total com agricultura orgânica são: Argentina, Uruguai, Costa Rica e Chile, mas em quantidade de hectares cultivados com produtos orgânicos o Brasil aparece em segundo lugar depois da Argentina. Em termos de número de produtores orgânicos, destacam-se Peru, Brasil, Bolívia e Colômbia, evidenciando a importância das pequenas propriedades familiares. Bentley (2004, apud Nava, 2004), em pesquisas do IAPAR, registrou 13100 produtores certificados no Brasil, apresentando uma diferença de 15% referente às informações da Tabela 5.

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Tabela 5 - Área, número de produtores e percentual da área agrícola sob manejo orgânico da América Latina

PAÍS ÁREA CULTIVADA NÚMERO DE % (HECTARES) PRODUTOR ÁREA TOTAL Argentina 3.192,00 1.900 1,89 Bolívia 19.634 5.240 0,06 Brasil 275.576 14.866 0,08 Chile 3.300 300 1,50 Colômbia 30.000 4.000 0,24 Costa Rica 8.974 3.569 2,0 Equador 10.000 2.500 - El Salvador 4.900 1.000 0,31 Guatemala 14.746 2.830 0,33 Nicarágua 7.000 2.000 0,09 Paraguai 61.566 2.542 0,26 Peru 84.908 19.685 0,27 R.Dominicana 14.963 1.000 0,40 Uruguai 678.481 334 4,00 Outros 78.065 5.535 - Fonte: Adaptado de YUSSEFI & WILLER (2003); LERNOUD (2003) e DAROLT (2002).

Segundo Tachizawa (2001), em pesquisa realizada pela Confederação Nacional das Industriais (CNI), o SEBRAE e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) revelaram que metade das empresas adota práticas de gestão ambiental, ou possuem investimentos ambientais, não apenas em função da legislação, mas, principalmente, por questões que se pode associar à gestão ambiental: aumentar a qualidade dos produtos e a competitividade das exportações, atender o consumidor com preocupações ambientais, atender as reivindicações da comunidade; atender à pressão de organização não-governamental ambientalista–ONG, estar em conformidade com a política social da empresa, além de melhorar a imagem perante a sociedade.

As empresas que perceberam a importância ambiental implantaram a certificação ambiental, SGA, Protocolo Verde e Imposto de Circulação Mercadoria e Serviços (ICMS) ecológicos, tendo assim uma nova estratégia, o que possibilitou a sua inserção e oportunidade no mercado internacional. É uma maneira rápida para algumas organizações que tomaram decisões de integrar à questão ambiental e que se identificaram com oportunidades de melhorias, pois reduzem os impactos das atividades da empresa sobre o meio ambiente, de forma integrada à situação de conquista de mercado. Certamente, conseguirão significativas

103 vantagens competitivas, quando não, redução de custos e incremento nos lucros, a médio e longo prazo.

Segundo Tachizawa (2001), têm-se como exemplo as seguintes organizações:

• A empresa 3 M, somando as 270 mil toneladas de poluentes na atmosfera e 30 mil toneladas de efluentes nos rios que deixou de despejar no meio ambiente, desde 1975, consegue economizar mais de US$ 810 milhões combatendo a poluição nos 60 países onde atua. • A Scania Caminhões contabiliza economia em torno de R$ 1 milhão com o programa de Gestão Ambiental que reduziu 8,6% no consumo de energia, 13,4% no de água e de 10% no volume de resíduos produzidos, apenas no ano de 1999. • Algumas empresas< que têm êxito na adoção de medidas de gestão ambiental para crescer suas vendas e/ ou realizam exportações ou medidas preventivas na qualidade ambiental, são: Cosipa, Usiminas, Alunorte, Hospital Itacolomy, Seeger Reno (ramo de autopeças), Tramontina,Tok e Stock,Cickel, enfim, as empresas siderúrgicas, montadoras automobilísticas, papel e celulose, química , petroquímica e outras sabem que é sinônimo de sustentabilidade.

Conforme Lustosa (1999), as ações de gestão ambiental estão referidas como as questões ambientais específicas subordinadas aos seus determinantes e condicionantes de ordem particular e estes aos de ordem geral histórico-social. Na realização dos interesses econômicos internacionais, sob a ordem política da estratégia neoliberal, é imposto aos países considerar as questões ambientais como variáveis ecológicas, sobretudo, na economia de mercado.

Sendo assim, não se esgota a compreensão dos fatos ambientais na aparência dos fatos específicos, ampliando-se a visão do processo de gestão com a discussão das origens dos problemas e da natureza.

É com essa ótica que o gestor se torna capaz de entender o trânsito da realização dos interesses econômicos entre os instrumentos reguladores, ou o tipo de comando e controle,

104 além dos instrumentos econômicos ou de mercado; a transição do conceito de externalidade para o de internalização dos efeitos do modo de produção; entender o caráter político que tem adquirido as manifestações sociais, as suas derivações das ampliações e intensificações dos impactos sociais causados pelos processos produtivos, serviços e consumos.

Assim sendo, o gestor ambiental pode entender o caráter das políticas e atividades empresariais e dos organismos governamentais diante dos conflitos de interesses e competição econômica pelos recursos escassos, em que o poder público é o principal agente regulador.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 - ECO 92, as discussões sobre desenvolvimento sustentável foram decisivas para a criação de normas e padrões de controle de qualidade que garantissem a preservação ambiental. Desde então, regras e normas foram desenvolvidas para que as empresas de diversos setores da economia atingissem um padrão de gestão ambiental que reduzisse desperdícios e minimizasse os impactos sobre o meio ambiente.

As empresas passariam a produzir mais e com melhor qualidade, utilizando menos recursos naturais (ambientais). A implantação do Sistema de Gestão Ambiental nas empresas constitui estratégia para que o empresário, em processo contínuo, identifique oportunidades de melhorias que reduzam os impactos das atividades de sua empresa sobre o meio ambiente, de forma integrada à situação de conquista de mercado e de lucratividade.

A conformidade conquistada pela adoção do SGA é estável e sustentável, pois está calculada no comprometimento da empresa e de seus empregados, em planos, programas e procedimentos específicos.

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Quadro 12 - As vantagens do sistema de gestão ambiental numa empresa DIFERENCIAL COMPETITIVO MINIMIZAÇÃO DE CUSTOS Melhoria da imagem Eliminação dos desperdícios Aumento da produtividade Conquista da conformidade a menor custo Conquista de novos mercados Racionalização da alocação dos recursos humanos físicos e financeiros.

MELHORIA ORGANIZACIONAL MINIMIZAÇÃO DOS RISCOS Gestão ambiental sistematizada Segurança legal Integração da qualidade ambiental á gestão dos Segurança das informações negócios da empresa Minimização dos acidentes e passivos ambientais Conscientização ambiental dos funcionários Minimização dos riscos dos produtos Relacionamento da parceria com a comunidade. Identificação das vulnerabilidades.

Fonte: Almeida, Mello e Cavalcanti, (2000).

O SGA – Sistema de Gestão Ambiental, é aplicado a qualquer atividade econômica, fabril ou prestadora de serviços e, especialmente, àquelas cujo funcionamento apresenta riscos potenciais ou gere impactos ambientais.

Conforme Donaire (1999), não existe ainda um significado de gestão ambiental, ou seja, diretrizes práticas feitas pelos representantes de comunidades ambientais e organizações internacionais. As empresas reconhecem a gerência ambiental como prioridade corporativa para assegurar que essas atividades não tenham impacto negativo na saúde humana e no ambiente.

6.1.5.1 O desenvolvimento do mercado verde e as exportações brasileiras

Segundo dados do Instituto Biodinâmico – IBD, referente ao ano de 2003, o Brasil ocupa o 34° lugar no ranking dos países exportadores de produtos orgânicos, vendendo principalmente para a União Européia, Estados Unidos e Japão. O mercado orgânico brasileiro era 10% ao ano, no inicio da década de 90, mas atingiu os 55% nos últimos quatro anos. Estima-se que já estão sendo cultivados perto de 100 mil hectares em cerca de 4.500 unidades de produção orgânica. Aproximadamente 70% da produção brasileira encontra-se nos estados do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo.

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Os principais produtos orgânicos exportados pelo Brasil são:

• Café: Minas Gerais • Cacau: Bahia • Soja: Paraná • Açúcar Mascavo: Paraná • Erva-mate: Paraná • Suco de laranja: São Paulo • Óleo de dendê: São Paulo • Frutas secas: São Paulo • Castanha de caju: Nordeste • Guaraná: Amazônia.

Os dados do IBD mostram, ainda, que existe um grande potencial de expansão da produção orgânica no Brasil. Alguns setores, ainda pouco explorados, como a fruticultura, cereais, derivados de leite e carne, devem ser incrementados nos próximos anos. Apesar da maioria da produção orgânica ainda ser destinada ao mercado externo, deve haver um aumento da demanda interna, impulsionada pelo crescente número de consumidores que têm procurado "produtos limpos".

O Brasil ocupa o 10º lugar entre os países produtores de alimentos orgânicos e exporta 70% do que produz ao mercado Comum Europeu – soja, café, cacau, caju, óleo, açúcar, sucos. O maior crescimento na produção nos últimos anos foi registrado nos Estados Unidos e nos países da Comunidade Econômica Européia: mais de 500% (EVOLUÇÃO, 2003).

No Brasil, o crescimento dessa lavoura é de 50% ao ano. Os produtos orgânicos representam apenas 3% do mercado e alguns desses produtos custam três vezes mais do que os convencionais.

As estatísticas mundiais sobre o setor de alimentos orgânicos ainda são insuficientes, o que dificulta a obtenção de números mais precisos sobre o tamanho desse mercado. As estimativas do International Trade Center (ITC), instituição ligada à Organização Mundial do

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Comércio (OMC), mostram que o comércio mundial de alimentos orgânicos (considerando 16 países europeus, América do Norte e Japão) movimentou, aproximadamente, US$ 17,5 bilhões, em 2000, e cerca de US$ 21 bilhões, em 2001 (KORTBECH-OLESEN, 2003).

Segundo o mesmo autor, baseado em estimativas recentes, as vendas mundiais de orgânicos devem ficar entre US$ 23 e 25 bilhões, em 200,3 e provavelmente atinjam 29 a 31 bilhões, em 2005.

A Tabela 6 apresenta os números de propriedades, porcentagem do número total de propriedades, área cultivada e porcentagem da área agrícola total com agricultura orgânica de alguns países na Europa.

Tabela 6 - Números de propriedades, porcentagem do número total de propriedades, área cultivada e porcentagem da área agrícola total com agricultura orgânica de alguns países na Europa, em 2001 País Número de % Áreas % propriedades do número total de cultivadas da área agrícola propriedades (1000 hectares) Total Itália 56.440 2,44 1.230 7,9 Áustria 18.292 9,30 285,5 11,3 Espanha 15.607 1,29 485 1,6 Alemanha 14.703 3,28 632,1 3,7 França 10.364 1,55 419,7 1,7 Suíça 6.169 10,2 102,9 9,7 Filândia 4.983 6,4 147,9 6,6 UK(Reino Unido) 3.981 1,71 679,6 3,9 Dinamarca 3.525 5,58 174,6 6,5 Noruega 2.099 3,09 26,6 2,6 Polônia 1.787 0,07 218,1 0,3 Portugal 917 0,22 70,8 1,8 República Tcheca 654 2,3 44,8 5,0 Fonte: Adaptado de YUSSEFI & WILLER (2003); DAROLT (2002)

De acordo com Yussefi (2003), no mundo, cerca de 23 milhões de hectares são manejados organicamente em, aproximadamente, 400.000 propriedades orgânicas, o que representa pouco menos de 1% do total das terras agrícolas do mundo. A maior parte destas áreas está localizada na Austrália (10,5 milhões de hectares), Argentina (3,2 milhões de hectares) e Itália (cerca de 1,2 milhão de hectares).

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Conforme mostra a Figura 10, a Oceania tem, aproximadamente, 46% da terra orgânica do mundo, seguida pela Europa (23%) e América Latina (21%). É importante destacar que os países que têm o maior percentual de área sob manejo orgânico, em relação à área total destinada à agricultura, computam a área de pastagem. Dessa forma, por exemplo, em países como a Austrália e Argentina mais de 90% da área de produção orgânica correspondem a áreas de pastagem. O mesmo acontece nos países da Europa: na Áustria 80% da área orgânica refere-se à pastagem; na Holanda, 56%; na Itália, 47%, e no Reino Unido 79%.

Figura 10 - A distribuição mundial das áreas em agricultura orgânica, segundo os diferentes continentes. FONTE: Adaptado de YUSSEFI (2003)

No Brasil, atualmente, existem 250 projetos certificados pelo IBD dos quais participam 2.000 produtores, totalizando 60.000 hectares de produção agroecológica e estima- se que outras 2.500 unidades de produção foram certificadas por outras entidades. O Brasil possui, atualmente, cerca de 4.500 produtores orgânicos com algum tipo de certificação, cultivando uma área de, aproximadamente, 100 mil hectares. Esses produtores se concentram principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

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6.1.5.2 A evolução da agricultura orgânica no contexto brasileiro

Afirma Mota (1997) que os princípios da agricultura orgânica foram introduzidos no Brasil, no início da década de 1970, quando se começava a repensar o modelo convencional de produção agropecuária. Nos anos de 1972 e 1973, duas experiências de cunho prático surgem quase que simultaneamente e marcam o lançamento da semente orgânica no País. Uma delas foi a fundação da Estância Demétria, em Botucatu, no Interior de São Paulo, que segue os princípios da agricultura biodinâmica, e a outra foi a instalação de uma granja orgânica pelo engenheiro agrônomo, formado no Japão, dr. Yoshio Tsuzuki, no município de Cotia-SP.

De 1973 a 1995, o desenvolvimento da agricultura orgânica ocorreu de forma muito lenta em todo o país, passando por diferentes etapas ligadas a contextos socioeconômicos e movimentos de idéias contrárias à agricultura convencional.

De conformidade com Lima (2000), muito pouco de prático se fez no sentido de mostrar os propósitos, métodos e técnicas, e as possibilidades do sistema de agricultura orgânica para o País. Além disso, o comércio de alimentos orgânicos ainda não está organizado. A afirmação é pertinente, na medida em que o avanço do sistema orgânico propriamente dito ocorreu de forma mais significativa a partir do ano de 1992.

Em 1993, a participação do IBD como associado da Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica – IFOAM, foi possível impulsionar as exportações e, conseqüentemente, aumentar o interesse pela agricultura orgânica. No ano de 1994, começaram a surgir as primeiras pressões internacionais, destacadamente da Comunidade Econômica Européia, pelo estabelecimento de normas nacionais para o processo de produção e comercialização de produtos orgânicos no País. O resultado dessas pressões foi a criação do Comitê Nacional de Produtos Orgânicos, formado pelas principais entidades com atuação concreta na produção orgânica.

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Depois de alguns anos de discussão e opiniões conflitantes, sobretudo em relação às formas de certificação, o País conseguiu avançar num ponto crucial para regulamentação da agricultura orgânica. Reporta-se à publicação da Instrução Normativa nº. 007, de 17 de maio de 1999, que dispõe sobre normas para produção de produtos orgânicos vegetais e animais. Este documento é referência nacional para disciplinar a produção, tipificação, processamento, distribuição, identificação e certificação da qualidade de produtos orgânicos, sejam de origem animal ou vegetal. O lento desenvolvimento da agricultura orgânica no País, na última década, dificultou a sistematização de dados sobre o estado e características do sistema.

Para Donaire (1999) os dados mais recentes sobre o estado da arte da agricultura orgânica no Brasil foram informados pelas principais certificadoras e associações de agricultura orgânica de cada estado. Estimativas indicam que, no Brasil, o crescimento do mercado orgânico - que vinha aumentando no início da década de 1990 cerca de 10% ao ano - chegou próximo a 50% ao ano nos últimos três anos, ou seja, de 1997 a 1999.

6.1.5.3 As potencialidades do mercado verde no Brasil e no mundo

O Brasil vem se preparando para suprir o abastecimento interno e concorrer no mercado internacional. A produção de orgânicos teve um grande impulso nos últimos dois anos (2000-2001), atraídos pelo preço dos produtos no mercado, em média, 30% mais elevados do que o produto convencional, por uma possível diminuição nos custos de produção ou por uma maior possibilidade de conservação dos recursos da propriedade rural. O certo é que esse número vem aumentando dia-a-dia.

O demanda no Brasil cresce cerca de 10% ao ano, podendo ter este ritmo acelerado, pelo efeito da divulgação dos próprios produtos nos pontos de venda, ou seja, pessoas que não conheciam o produto orgânico, podem passar a interessar-se à medida que ele se torne disponível. Segundo uma pesquisa do Instituto Gallup, 7 em cada 10 brasileiros consumiriam produtos orgânicos se houvesse mais ofertas nos supermercados (VIGLIO, 1996, 122).

Segundo Lima (2000), as exportações absorvem 70% do volume total certificado, gerando, segundo dados de 1999, uma receita de 10 milhões, em 10 mil toneladas de soja,

111 café, castanha, óleo de dendê, suco de laranja, cacau, erva-mate, banana, guaraná, etc. O maior estímulo às exportações são os preços que se obtêm pelo produto diferenciado, podendo atingir ágios de 30 a 60%, de acordo com o produto.

O mercado interno se abastece principalmente de produtos frescos, hortaliças, legumes e frutas, mas pouco a pouco, amplia-se a variedade de produtos que vêm sendo oferecida nos pontos de venda, incluindo os alimentos processados. O Quadro 13 mostra os produtos certificados pelo IBD, até junho de 1999, em diferentes estados do Brasil.

LOCALIDADE PRODUTO Bahia Acerola, cravo da índia, guaraná em pó Acre Urucum São Paulo Ervas medicinais, suco de laranja, olerícolas Paraná Soja, feijão, fécula de mandioca, milho, açúcar mascavo, trigo Rio Grande do Sul Soja, mate, banana Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rondônia Café Pará Óleo de dendê Ceará Castanha de caju Maranhão Óleo de babaçu Santa Catarina Olerícolas

Quadro 13 - Produtos certificados pelo IBD no Brasil e sua localização. Fonte: Adaptado do IXX Seminário Internacional Pensa de Agribusiness, (1999)

Os principais pontos de venda do produto no País são as grandes redes de supermercados, que viram no produto orgânico uma oportunidade de diferenciação no seu mix de produto e da valorização da imagem da empresa diante do consumidor. Supermercados como Paes Mendonça, Carrefour, Pão de Açúcar, principalmente nos grandes centros urbanos, foram os primeiros a oferecer os produtos em suas gôndolas, estimulando um grande número de produtores.

O número de produtores envolvidos com a agricultura orgânica no Brasil mais que dobrou nos últimos dois anos, passando de 700 para cerca de 1500, organizados em cooperativas ou trabalhando individualmente. O IBD (Instituto Biodinâmico) já autorizou mais de 80 projetos no país, cada um podendo incluir dezenas de produtores e outros 40 estão em processo de certificação (CAPOZOLI, 2000, p. 87).

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No Brasil, há vários exemplos de sucesso com as exportações de orgânicos. São empresas ou propriedades que captaram essa tendência do mercado internacional e se lançaram quando ainda pouco se falava em produto orgânico no País.

Por exemplo: a Terra Preservada, empresa do Paraná, certificada pelo IBD, que agrega cerca de 500 produtores associados, e comercializa a produção vendendo para mercados fechados como Europa e Japão, obtendo preços cerca 50% maiores pelo seu principal produto, a soja orgânica; A Fazenda Piratininga de Monte Azul Paulista, também certificada pelo IBD, exporta suco de laranja orgânico, obtendo preços 30 a 40% mais elevados no mercado internacional (CAPOZOLI 2000, p. 102).

A Empresa Agropalma planta 3000 hectares de palmeiras orgânicas em uma propriedade de 12.000 hectares, em Tailândia, no Pará, para produção de óleo de palma, matéria-prima de inúmeros produtos alimentícios. A produção é toda certificada e obtém preços 30 a 40% mais elevados no mercado internacional.

As frutas brasileiras in natura e orgânicas já estão sendo solicitadas por importadores. O açúcar orgânico também é um produto de alto valor no mercado nacional e internacional, sendo bastante procurado nos países da Europa e dos Estados Unidos.

No Estado de São Paulo, duas usinas aderiram a essa nova tendência de mercado e no ano 2000 devem fabricar cerca de 25 mil toneladas, ou o dobro desse ano. Mais de 90% (noventa) destinam-se à exportação, com preços até três vezes maiores do que o produto convencional. Os principais clientes são as indústrias de alimentos. A produção é toda certificada pelo IBD (CARMO, 1996, p. 91).

Para Capozoli (2000), os preços dos orgânicos são, em média, 40% mais altos que os convencionais. O trigo chega a custar 200% acima do mercado, enquanto o açúcar 170% a mais. A agricultura orgânica movimenta no mundo cerca de U$ 40 bilhões ao ano. O mercado cresce atualmente numa taxa que oscila entre 5% e 50%, em alguns países. "No caso do Brasil, o índice de crescimento tem girado em torno de 50%. A área plantada é de 100 mil hectares e a receita alcança US$ 150 milhões".

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Ainda, de acordo com o autor acima citado, desse montante, cerca de US$ 20 milhões provêm do mercado interno e US$ 130 milhões das exportações para países como Alemanha, França e Japão. O Brasil ocupa a 34ª posição no ranking na produção mundial de orgânicos com 0,20%, atrás da Argentina, com uma participação de 0,22%. Naquele país, a área plantada soma 380 mil hectares e o volume de produtos exportados gira em torno de US$ 20 milhões.

6.1.6 Governo

Na análise da agricultura orgânica sob a ótica do Modelo Diamante de Porter, deve-se levar em consideração o governo.

As ações do governo são as referentes a políticas. Subsídios e outros esquemas de suporte, isenção ou redução de impostos, afetam os fatores de produção, regulamentações do produto, restrições de propaganda ou imposição, ações no mercado de capital, estabelecimento de padrões para produtos locais, compras de bens e serviços e regulamentação antitruste, conforme Porter(1993).

Em dezembro de 1994, o governo brasileiro, devidamente autorizado pelo Senado e Câmara dos Deputados, aprovou o ingresso do Brasil na OMC, tornando assim um dos sócio- fundadores.

Na esfera do Estado, o Governo Federal instituiu em 1995 o Comitê Nacional de Produtos Orgânicos (CNPO), para elaborar e aprimorar normas para a agricultura orgânica em nível nacional, com composição partidária entre governo e ONGs que atuam com agricultura ecológica. Fazem parte do CNPO representantes de ONGs das cinco regiões do País, do Ministério da Agricultura, da EMBRAPA, do Ministério do Meio Ambiente e de Universidades. Em outubro de 1998, foi publicada no Diário Oficial e da União a Portaria 505/98, do Ministério da Agricultura, com uma proposta de normatização de produtos orgânicos.

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O Quadro 14 apresenta o resumo dessas ações, segundo os dados da pesquisa.

Governo Ações realizadas pelo governo em relação à agricultura orgânica 1. 1994 – Aprovação pelo Senado e Câmara dos Deputados do Governo ingresso do Brasil na OMC. 2. 1995 - Comitê Nacional de Produtos Orgânicos (CNPO) 3. 1998, foi publicada no Diário Oficial e da União a portaria 505/98, do Ministério da Agricultura, com uma proposta de Elementos constituintes do item normatização de produtos orgânicos. Políticas. Subsídios e outros esquemas de 4. Fundos do Ministério da Agricultura para projetos de suporte, isenção ou redução de impostos, desenvolvimento da agricultura orgânica e proteção do meio afetam os fatores de produção, ambiente (2005) regulamentações do produto, restrições de 5. Banco do Brasil instituiu um plano de financiamento para a propaganda ou imposição, ações no mercado agricultura orgânica, valendo-se para isso de recursos do de capital, estabelecimento de padrões para Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar produtos locais, compras de bens e serviços – Pronaf – e do Programa de Geração de Emprego e Renda – e regulamentação antitruste (in PORTER, Proger. 1993, HODGETS, 1993). 6. O Banco do Nordeste possui o FNE – Verde, um programa de financiamento à conservação e controle do meio ambiente que, entre outras atividades, financia a produção de alimentos naturais (agricultura orgânica), com tratamento diferenciado quanto aos encargos financeiros.. 7. Legislação a. Instrução Normativa nº. 7, de 17/05/1999 b. Portaria nº. 42 c. Projeto de Lei nº. 659-A d. A Lei no. 10.831 foi sancionada em 23/12/2003 e. Portaria 505/98 do Ministério da Agricultura

Quadro 14: Ações realizadas pelo governo para o setor da agricultura orgânica Fonte: Dados da pesquisa

Linhas de financiamento são disponibilizadas, mas, para obter crédito, o produtor agrícola deve possuir a certificação de seus produtos. Segundo dados divulgados por CAMPANHOLA e VALARINI (2001, pág.81), “desde 1999, o Banco do Brasil instituiu um plano de financiamento para a agricultura orgânica, valendo-se para isso de recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf – e do Programa de Geração de Emprego e Renda – Proger”.

Silva (et al.2004) também atesta que o Banco do Brasil oferece crédito específico para agricultores que sejam certificados e que adotaram práticas orgânicas de cultivo e criação. O crédito destina-se a custeio, investimento e comercialização da safra. Para a liberação dos

115 recursos, uma das exigências feita pelo BB, dentre outras, é que o agricultor já esteja inserido no contexto da produção orgânica.

O Banco do Nordeste possui o FNE – Verde, que é um programa de financiamento à conservação e controle do meio ambiente, que, dentre outras atividades, financia a produção de alimentos naturais (agricultura orgânica), com tratamento diferenciado quanto aos encargos financeiros.

O governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura, tem criado verbas para projetos científicos que desenvolvam a agricultura familiar, no setor da agricultura orgânica, e projetos ambientais para a região da Amazônia.

6.1.6.1 A regulamentação do mercado verde

Campanhola e Valarini (2001) citam a Instrução Normativa nº. 7, de 17/05/1999, do então Ministro da Agricultura e do Abastecimento, que estabelece as normas para a produção, identificação,envase, distribuição, tipificação, processamento, e certificação da qualidade de produtos orgânicos de origem animal ou vegetal. Essa Instrução também dispõe, sobre a estrutura de fiscalização e controle da qualidade orgânica, que deve ser seguida por instituições certificadoras, que deverão ser credenciadas nacionalmente pelo Órgão Colegiado Nacional, e, nos estados, pelos respectivos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal.. Os seguintes pontos são destacados na norma:

• Exclusão do emprego de organismos geneticamente modificados (OGMs) da produção orgânica. • Detalhamento das etapas de conversão e transição dos produtos convencionais para orgânicos. • Criação de um órgão colegiado nacional e dos respectivos órgãos estaduais responsáveis pela implementação da Instrução Normativa e fiscalização das entidades certificadoras. • Exigência de que a certificação seja feita por entidades nacionais e sem fins lucrativos.

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Os autores destacam ainda a Portaria nº. 42, que foi assinada em 27/11/2000, pelo secretário da Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que designou os membros que compõem o Órgão Colegiado Nacional de Produtos Orgânicos Vegetais e Animais, além do Projeto de Lei nº. 659-A, que tem por objetivo ordenar e promover a expansão do sistema orgânico de produção agropecuária nacional.

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CONCLUSÃO

O assunto a respeito da agricultura orgânica não é uma atividade recente, ao contrário, é antiga e tradicional, teve origem na Índia e foi trazida por acadêmicos franceses e ingleses. É baseada na compostagem de matéria orgânica com a utilização de microorganismos eficientes para processamentos mais rápidos do composto, na adubação exclusivamente orgânica, com reciclagem de nutrientes no solo e na rotação de culturas. Os animais não são utilizados na produção, a não ser, como produtores e recicladores de esterco.

No Brasil, os produtos orgânicos representam em torno de 4% do mercado, alguns custam três vezes mais do que os convencionais e a certificação de produtos orgânicos brasileiros são feitos por organizações não-governamentais fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura, mas falta muito para que a agricultura orgânica torne-se uma alternativa de abastecimento da população.

A quantidade de produtos orgânicos certificados ou em processo de certificação no País é de 14 800 com, aproximadamente, 6.936 ocupando-se da produção agropecuária; e uma área cultivada de 269.718 ha (2002), ou seja, 116.982 ha utilizados para a pastagem de gado de corte e de leite manejado, segundo normas da agricultura orgânica, e os restantes 152.736 ha destinados ao cultivo dos mais diversos produtos agrícolas orgânicos.

No que se refere aos produtos orgânicos, as frutas (açaí, acerola, banana, caju, coco, goiaba, laranja, limão, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, morango, pêssego e uva), cana-de-açúcar e palmito aparecem como destaques.

Desse modo, o comportamento do brasileiro começa a mudar. A partir do momento em que o debate em torno dos transgênicos ocupou importantes espaços na mídia, os produtos orgânicos ganharam enorme repercussão e passaram a ser vistos pelo “agrobusiness” como oportunidade de expansão de negócios e, por um número crescente de consumidores, como uma saída para o acesso a uma alimentação saudável.

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O perfil do consumidor de produtos orgânicos brasileiros revela que, em sua maioria, são profissionais liberais de zona urbana, de nível superior, do sexo feminino, com idade variando de 31 e 50 anos, participam de ONGs e apresentam nível de instrução elevada.

Quanto aos produtos orgânicos certificados, estes se concentram na região Sul do País. Isto porque o nível cultural e de consciência ambiental é diferente do das outras regiões do País, caracterizadas pela pouca divulgação e informação, como as regiões: Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que não conhecem as vantagens de produzir e consumir os produtos orgânicos. O meio ambiente, além de ser um assunto relativamente recente, é um tema polêmico e desafiador, tendo em vista as discrepâncias em termos de formação cultural, social e econômica das pessoas, instituições, empresas e diferentes nações.

O processo de globalização, que se acelerou no final do Séc. XX, deu início às regulamentações, barreiras e normas apropriadas, tornando-se alvo da corrida no campo da competitividade, tanto para o cenário internacional, como para o interno, portanto, uma nova vertente social, econômica e ambiental surge com o chamado mercado “verde”, mercados “bios” ou mercados de produtos orgânicos.

Esses produtos orgânicos começam a ser essenciais à vida humana e ambiental, pois geram vários benefícios, tais como:

• Equilíbrio alimentar no que diz respeito à saúde, evitando doenças degenerativas.

• O uso racional do solo gerando novas perspectivas econômicas, um diferencial em relação à agricultura convencional.

• Redução no consumo de energia, recursos hídricos, materiais utilizados, custos de manuseio, descartes de resíduos e risco de desastres ambientais.

Hoje, verifica-se a importância da agricultura orgânica, fruto de um movimento de conscientização sócio-ambiental, com a tendência de consumo para os produtos de boa qualidade, obtidos sem o uso de agrotóxicos, pois o aumento desse mercado tem gerado nos

119 representantes governamentais uma preocupação em regulamentar seus mercados para a comercialização desses produtos.

A inserção dos produtos orgânicos no cenário internacional apresenta oportunidades e ameaças. Nas negociações internacionais, prevalecem as questões relativas aos possíveis obstáculos ao livre comércio, pois as legislações ambientais são diferenciadas para cada país.

Em relação à variável acaso, do Diamante de Competitividade de Porter, observa-se que as ameaças estão representadas por barreiras à exportação, sejam por meio de práticas de protecionismo, adoção de padrões de certificação, que discriminam as exportações brasileiras, as chamadas barreiras verdes; além das barreiras técnicas e restrição às práticas comerciais associadas a imposições de normas ambientais. As novas regras do agrobusiness internacional: adoção de padrões de certificação, rotulagem de transgênicos, e rastreabilidade, para garantir ao consumidor a oportunidade de escolha do que lhe for mais conveniente, tornam as ações de ameaças ao mercado verde brasileiro na sua inserção no mercado internacional, ao mesmo tempo em que conduzem a melhorias do produto orgânico. A substituição do GATT pela Organização Mundial de Comércio é considerada uma oportunidade porque passou a exigir que as partes, num acordo internacional, cumpram as normas estabelecidas, regulamentando o negócio.

Em relação aos fatores de condição, que influenciam na competitividade do setor por se tratar dos recursos necessários à sustentabilidade da indústria, como oportunidades, destacam-se o grande potencial de recursos naturais, os alimentos in natura: fruta, a produção de comodities intensiva em recursos naturais e em energia, como também a existência de matérias para a agroindústria, tipo óleo de palma, cacau e tabaco.

Embora o Brasil apresente condições de recursos naturais sob esta variável do Modelo de Competitividade de Porter, as ameaças sobrepujam as oportunidades, principalmente as relacionadas com o custo logístico 60% mais alto do que os padrões internacionais. O déficit de 15,4 milhões de toneladas em infra-estrutura de armazenagem tende a aumentar em função do sucateamento dos portos e dos baixos investimentos em infra-estrutura de transporte e logística. Destaque-se que o setor vem sofrendo também com a falta de investimentos para

120 avanços tecnológicos e ainda apresenta custos de reprodução ou manejo sustentável dos recursos não-renováveis exportados. Acrescente-se a falta de conscientização ambiental da maioria das empresas para verificar que,neste ponto, as ameaças são mais consistentes que as oportunidades e que muito investimento deve ser feito para modificar a situação.

Em relação ao terceiro item analisado condições da demanda, pesquisa na SOEL: Fundação de Agricultura da Alemanha, Salomão (2004) afirma que o mercado mundial de orgânicos movimenta US$ 25 bilhões sendo que, em 2003, o mercado brasileiro mobilizou US$ 200 milhões, o que aponta o Brasil como mercado potencial.

Contrariamente aos resultados dos dois itens anteriores, as oportunidades superam as ameaças no que diz respeito às condições da demanda. O mercado verde é um mercado que, embora considerado um nicho de mercado, pois representa apenas 4% do total de alimentos vendidos, tem apresentado competitividade no mercado externo e uma evolução de 40% a 50% ao ano, com grande potencial de expansão. Pesquisas constatam o elevado percentual (53%) de consumidores que possuem o hábito de consumir produtos orgânicos.

Com crescimento elevado mundialmente, o setor no Brasil, em 2001, movimentou mais de US$6 bilhões em serviços e equipamentos antipoluentes, além de as feiras orgânicas chegarem a movimentar R$1 milhão por ano. Acrescente-se ainda o fato dos mercados não explorados, o Mercado Justo (Fair Trade): uma modalidade de comercialização que já existe antes do mercado orgânico, que privilegia a transparência nas negociações, aproximação entre o consumidor e o produtor, a competitividade no mercado externo, a valorização dos atributos de saúde do produto, a preocupação ambiental, agricultura orgânica ser socialmente benéfica: bem vista aos olhos dos consumidores. Os consumidores que possuem escolaridade alta e poder aquisitivo mediano estão motivados por razões de saúde ou meio ambiente e também estão dispostos a pagar mais pelos produtos orgânicos, que chegam a custar 70% a 100% a mais que os produtos normais.

As ameaças sobre as condições da demanda destacam-se na exigência do mercado e na necessidade de transpor barreiras tarifárias e se adequar aos padrões internacionais. Diante

121 desses resultados a condição da demanda é, portanto, um fator a ser positivamente considerado na análise da competitividade da indústria.

Relativo ao item: indústrias de apoio ou correlatas que, segundo trabalho apresentado por Porter (1993) e Hodgets (1993), inclui a análise dos fornecedores de baixo custo, setores públicos de apoio à P&D, canais de distribuição dos produtos e aquelas empresas que se tornam parceiras, a pesquisa verificou que o setor ainda não se encontra desenvolvido.

A certificação de produtos orgânicos é feita por organizações não-governamentais fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura. Como em todos os demais países da América do Sul, a exportação é a principal atividade da indústria orgânica no Brasil.

Então, é preciso que se tomem iniciativas que promovam as vantagens de um crescimento do mercado interno para produtos orgânicos. A partir destas medidas, benefícios significativos podem ser alcançados:

• Aumento do impacto positivo da agricultura orgânica no meio ambiente

• Capacitação de produtores sem acesso aos mercados internacionais de exportação, ainda sem habilitação para entrar no mercado orgânico.

• Oportunidades adicionais de marketing para a indústria orgânica exportadora.

• Aumento da oferta de alimentos orgânicos para a população brasileira.

Além dos supermercados que se situam como distribuidores, a pesquisa identificou as empresas certificadoras como indústrias de apoio por contribuírem com as indústrias do setor ao atestarem a qualidade dos produtos orgânicos por meio de seus selos e ONGs, que foram consideradas como oportunidades. O Brasil possui atualmente cerca de 4.500 produtores orgânicos com algum tipo de certificação, que receberam certificados europeus, o que os habilita a concorrer no mercado internacional. O custo da certificação exigido pelas certificadoras pode ser uma barreira, principalmente num cenário futuro de redução do ágio

122 sobre o produto convencional. Constitui ameaças o fato de que há escassez de pesquisa científica em agricultura orgânica, assim como as instituições públicas têm atuado pouco no desenvolvimento ou validação de tecnologias da produção agrícola.

Em relação à estrutura, estratégia e rivalidade das empresas, não há dados oficiais sobre a área manejada organicamente no Brasil e a estimativa atual, de cerca de 280 mil hectares de área cultivada e 672 mil hectares de pastagens certificadas, está baseada em informações coletadas em 2003 nas certificadoras. A pesquisa encontrou informações diferentes sobre este aspecto. É possível que, com a regulamentação do setor orgânico, a cadeia produtiva possa ser finalmente mapeada para que os pontos de estrangulamento possam ser priorizados nas ações de pesquisa e de fomento.

Campanhola e Valarini (2001) são partidários de que, no Brasil, a agricultura orgânica é uma opção viável para a inserção dos pequenos agricultores no mercado.

Os autores destacam cinco razões para que a agricultura orgânica seja apropriada aos pequenos agricultores: 1) a constatação de que o commoditie agrícola tradicional requer escala de produção e os pequenos agricultores mostram um desempenho econômico melhor, por obterem maiores relações benefício-custo; 2) os produtos orgânicos apresentam características de nichos de mercado, o que favorece os pequenos agricultores; 3) Para a inserção nas redes nacionais é necessário estar organizado em associações e cooperativas, características dos pequenos agricultores; 4) oferta de produtos especializados que não despertam interesse dos grandes empreendedores agropecuários, e 5) a diversificações da produção orgânica e a diminuição da dependência de insumos externos ao estabelecimento, condições que se constituem em barreiras para os grandes produtores orgânicos.

Por essa razão, embora a maioria dos dados encontrados seja apresentada como oportunidades, o setor não se caracteriza como fortemente competitivo diante do mercado internacional. Constata-se positivamente a instalação de agroindústrias para o processamento de alimentos e as empresas começam a utilizar o Sistema de Gestão Ambiental e que o Brasil ocupa o 10º lugar entre os países produtores de alimentos orgânicos e o 34º no ranking dos exportadores, mas conta com poucos produtores, cerca de 15000.

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Finalmente, a última variável do Modelo Diamante de Competitividade de Porter faz referência às ações realizadas pelo governo, dentre elas, destacam-se como oportunidades: a aprovação pelo Senado e Câmara do ingresso do Brasil na OMC, a criação do Comitê Nacional de Produtos Orgânicos e, em 1998 - foi publicada no Diário Oficial e da União a Portaria 505/98, do Ministério da Agricultura, com uma proposta de normatização de produtos orgânicos.

Dentre as ações de financiamento que oportunizam o mercado orgânico, encontram-se as do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste do Brasil.

Quanto à legislação destacam-se como positivas a Instrução Normativa nº. 7, de 17/05/1999, a Portaria nº. 42, o Projeto de Lei nº. 659-A, a Lei Nº 10.831, que foi sancionada em 23/12/2003, e a Portaria 505/98 do Ministério da Agricultura. O Grupo de Agricultura Orgânica (GAO), no ENA - Encontro Nacional de Agricologia (Rio de Janeiro, julho de 2002) questionou a Instrução Normativa nº. 6/2002, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, relacionada com o credenciamento de certificadoras de produtos orgânicos, por considerar as normas excludentes relativas aos processos de certificação participativa.

Em relação à análise conforme o Modelo Diamante de Competitividade de Porter, a pesquisa verificou que o acaso e os fatores de condições atuam negativamente, em algumas variáveis, tais como: custo de transporte, capacidade de armazenamento no processo de inclusão do setor no mercado internacional, enquanto a condição da demanda se configura como um fator positivo na competitividade do setor. A pesquisa verificou também que a ação das certificadoras, indústrias de apoio ou correlatas, tem sido benéfica para a indústria e que os supermercados têm se constituído numa rede de distribuição favorável. O setor propriamente dito, ou seja, a estrutura, estratégia e rivalidade das empresas, ainda tem muito a ser desenvolvido, principalmente por meio de apoio a pequenos agricultores com a formação de associações e treinamento. As ações do governo necessitam serem intensificadas no apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias.

O setor no Brasil com os dados da pesquisa enquadra-se, dessa forma, no primeiro estágio definido por Porter como: dirigido por fatores: basicamente fatores de produção, tais

124 como; recursos naturais ou mão-de-obra barata, e poderá se tornar um fator competitivo na formação do preço.

As barreiras não-tarifárias no mercado globalizado começam a cair. Uma delas é a barreira ambiental, ou seja, logo surgirão restrições aos produtos agrícolas que advenham de sistemas que agridam o ambiente e o homem e o commoditie quer facilitar a comercialização das frutas, hortaliças e os grãos como o café, o arroz e o trigo. Já existem estruturas de despacho e transporte.

A nova visão do comportamento da sociedade, a relação do desenvolvimento e meio ambiente, a reflexão sobre o crescimento da demanda dos orgânicos no Brasil buscam suprir o abastecimento interno e a competitividade no mercado internacional.

Além disso, o Brasil é considerado um dos países mais ricos do mundo em matérias- primas naturais renováveis, além de ter o lixo mais abundante e disponível do Planeta. Desse modo, nosso País tem total condição de ser verdadeiro celeiro de produtos ecológicos e reciclados, gerando emprego e levando cidadania a milhões de pessoas, tornando-se, desse modo, um modelo de sustentabilidade para as outras nações.

Entretanto, o modelo de desenvolvimento econômico vigente aponta para um conflito de idéias, desenvolvendo uma tese do eco-desenvolvimento, segundo a qual o desenvolvimento econômico atual e a preservação ambiental não são compatíveis, pois as questões ambientais caracterizam-se por intensificação da internacionalização econômica, ampliação, realização dos interesses econômicos e apropriação de bens e serviços naturais.

Levando-se em conta, que a população mundial é de mais de seis bilhões de habitantes, o número de pessoas consumidoras de produtos ecologicamente corretos é considerado inexpressivo, mas fica óbvio que a agricultura orgânica vai se consolidando, pois existe uma tendência de equilíbrio entre as diferentes dimensões da sustentabilidade.

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Faz-se necessário, portanto, fomentar uma política nacional e internacional voltada para divulgar a importância de produzir, comercializar e consumir produtos orgânicos para efetivar os preceitos da Agenda 21 e do desenvolvimento sustentável, haja vista tratar-se de um mercado com grande possibilidade econômico e sócioambiental, pois está interligado entre regiões, estados e países.

A pesquisa limitou-se ao estudo informativo acerca do assunto, deixando claro que a participação maior dos produtores/consumidores voltados aos produtos orgânicos, em países desenvolvidos, é devido à mudança de comportamento, a nova postura com o meio ambiente e o desejo de obter realmente uma qualidade de vida, com visão e consciência ambiental. Tal consciência é bastante diferenciada nos países em desenvolvimento, como o Brasil, pois a prática da agricultura orgânica é aplicada mais plenamente na região Sul, ocupando assim o 10º lugar entre os países produtores.

Apesar da pequena participação sobre os produtos orgânicos, percebe-se que os produtores/consumidores brasileiros e do Sul do País sabem da importância da agricultura orgânica, considerada como uma alternativa para o meio ambiente, um ponto favorável e a possibilidade de melhoria da qualidade de vida no que se refere á saúde. Esse mercado tende a crescer, sobretudo com a redução ao uso de agrotóxicos. Não resta dúvida de que os alimentos orgânicos se constituem numa promissora opção.

Assim sendo, é necessário estimular os pequenos agricultores a desenvolver agricultura orgânica em vez da convencional; aplicar uma política de educação ambiental nos diversos setores da sociedade, no intuito de mencionar as vantagens de produzir e consumir produtos ecologicamente corretos. Infelizmente, grande parte dos brasileiros ainda não se posicionou por uma alimentação saudável, decorrente de uma política de esclarecimentos acerca dos produtos orgânicos, já que se configura como um assunto recente.

O conhecimento e a conscientização são vitais para o meio ambiente. É imprescindível que todos os agricultores, pesquisadores, professores, gestores municipais/estaduais/federais, distribuidores, consumidores, enfim, toda a sociedade desenvolva uma cultura de sustentabilidade em prol da permanência do homem.

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Tendo em vista ter sido esta uma pesquisa exploratória, há uma limitação decorrente da impossibilidade de se fazerem inferências estatísticas (generalizações). Neste trabalho, o estudo empírico ateve-se aos dados obtidos de literatura especializada. A partir dos resultados obtidos, podem surgir idéias de pesquisas sobre quais seriam as perspectivas para a agricultura orgânica em relação à competitividade internacional. Poder-se-ia conduzir estudos quantitativos que tragam subsídios para analisar se a agricultura orgânica traria algum benefício em outros setores da economia.

O trabalho possibilitou a geração das seguintes hipóteses:

1. As ameaças representadas por barreiras de exportação, as barreiras verdes, como protecionismo e adoção de padrões de certificação, conduzem à melhoria do produto orgânico.

2. O Brasil apresenta condições de recursos naturais, mas as ameaças sobrepujam as oportunidades, principalmente as relacionadas com o custo logístico e déficit em infra-estrutura de armazenagem e transporte. 3. A demanda por produtos orgânicos é crescente no Brasil, fazendo com que o mercado seja atrativo para parceiros externos. 4. Em relação à estrutura, estratégia e rivalidade das empresas é possível que, com a regulamentação do setor orgânico, a cadeia produtiva possa ser finalmente mapeada para que os pontos de estrangulamento possam ser priorizados nas ações de pesquisa e de fomento.

Além disso, este estudo permite que, em pesquisas posteriores, façam-se algumas indagações envolvendo as implicações do desenvolvimento do mercado verde como, por exemplo:

a) Sendo o Brasil um país altamente competitivo nos fatores de produção, terras e força de trabalho e, de um modo geral, as chuvas são bem distribuídas nas regiões Sul e SSdeste; esta situação garante que companhias situadas nestas regiões tenham mais vantagens competitivas em relação a outros países?

b) Num cenário onde o Brasil apresenta uma demanda atrativa e crescente por produtos orgânicos haveria interesse de parcerias para empresas multinacionais,

127 principalmente por meio de alianças estratégicas com empresas locais, de maneira a competir com sustentabilidade num mercado altamente competitivo?

c) A mudança nos hábitos do consumidor de comprar em grandes lojas nas quais podem encontrar tudo o que desejam com conveniência, segurança e conforto constitui uma vantagem para hipermercados na comercialização de produtos orgânicos?

Das respostas a estas perguntas poderiam sugerir hipóteses para futuras pesquisas e se constituiriam em contribuições deste trabalho.

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REFERÊNCIAS

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GLOSSÁRIO

AAO – Associação de Agricultura Orgânica. AAGE – Associação de Agricultura Ecológica. AB – Agriculture Biologique. ABD – Associação de Agricultura Biodinâmico. ABIO – Associação de Agricultura Biológica. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ALCA – Associação de Livre Coméercio das Américas. ANC – Associação da Agricultura Natural de Campinas e Região. AOPA – Associação de Agricultura do Paraná. APEC – Cooperação econômica da Ásia Pacífica. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Social. BIRD – Banco Interamericano de Desenvolvimento. BS – Britsh Standards. CAN – Conservation Agriculture Network. CB – Comitê Brasileiro. CMED – Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. CNI – Confederação Nacional das Indústrias. CNPO – Comitê Nacional de Produtos Orgânicos. CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente. COOLMÉIA – Cooperativa de Consumidores Produtores. DIA – Designatid Inspection Authority. EBAA – Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa. EFTA – European Fair Trade Association. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. EU – União Européia. FLO – Fairton Labelling Organization Internaional. FMI – Fundo Monetário Internacional.

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FNE – Financiamento à Conservação e Controle do Meio Ambiente. FSC – Forest Stewardship Council. GANA – Grupo de Apoio à Normatização Ambiental. GATT – Acordo Geral Sobre Tarifa e Comércio. GIA – Grupo de Interesse Ambiental. IBD – Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural. ICMS – Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços. IDHEA – Instituto de Desenvolvimento da Habitação Ecológica. IFAT – International Federation of Alternative Trade. IFOAM – International Federation of Organic Agriculture Movements. INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade. ISO – International Organization For Standartization. IVV – Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural. MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. MERCOSUL – Mercado Comum do Sul. MOA – Fundação Mokiti Okada. COM – Organizações Comuns de Mercado. OIC – Organização Internacional de Comércio. OMC – Organização Mundial de Comércio. ONG`S – Organização Não-Governamental. ONU – Organização das Nações Unidas. PAC – Política Agrícola Comum. PNUMA – Programa das Nações Unidas e do Meio Ambiente. RMC – Região Metropolitana de Curitiba. SEBRAE – Serviço de Apoio Brasileiro a Médias e Pequenas Empresas. SECEX – Secretaria de Comércio Exterior. TC – Comitê Técnico. TEC – Tarifa Externa Comum. UFROFS – United Kingdom Register of Organic Food Standards.

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UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza. UNCED – Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. UNIFOR – Universidade de Fortaleza WTO – Word Trade Organization. WWF – Fundo Mundial para a Natureza.

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