DOSSIÊ

Banditismo e práticas culturais: a construção de uma justiça popular

A presença recorrente César Barreira* O lugar do “bandi- na historiografia de persona- Resumo do social”, definido por Eric gens que ocupam um lugar de O artigo aborda a presença recorrente na his- Hobsbawm, é realçado por bandido e de herói nos levou toriografia portuguesa de um personagem (Zé qualidades de valentia, ousa- do Telhado) que ocupa um lugar simultâneo de a refletir sobre a construção e bandido e herói. Trata da construção e reprodu- dia, força e aventureirismo. Na reprodução de uma memória, ção de uma memória, entremeada de ficção e condição de detentor destas entre um misto de ficção e realidade, caracterizada pela mistura de valores que dizem respeito, não só à maneira como os qualidades é colocado como realidade, desses atores so- bandidos são postos na função de heróis, mas herói o que sempre vence. São ciais. Existe uma mistura de também, na condição de “fora da lei”. O autor eles justiceiros, repartidores analisa as representações atribuídas a atores so- valores que diz respeito, não públicos, cangaceiros, bando- só à maneira como os bandi- ciais que têm suas vidas construídas no “mundo das contravenções”, passando a serem vistos leiros ou mesmo matadores de dos são colocados na função como “heróis populares” ou protagonistas de aluguel. Nesta mistura de valo- de heróis, mas também, na uma “justiça paralela”. res e de códigos os contornos função de “fora da lei”, tal Palavras-chave: bandido-herói, justiça popular, qual é veiculado pelas insti- patrimônio cultural, historiografia portuguesa. de uma determinada forma de justiça, uma “justiça paralela”, tuições judiciárias. Procuro Abstract compreender, neste artigo, This article approaches the recurring presence são traçados. Os valores morais as representações realizadas within Portuguese Historiography of a character são pautados, tendo, de um – Zé do Telhado – who simultaneously occupies lado, a generosidade, a lealdade, sobre esses atores que constro- the roles of thief and hero. He analyzes the em suas vidas no “mundo das construction and reproduction of a memory in- a coragem, a independência e contravenções” e passam a ser tertwined with fiction and reality, which consists of o desprendimento e, do outro an ensemble of values related to the way thieves vistos como “heróis populares”. are turned into heroes, however remaining in the lado, a ganância, a falsidade, a Fundamentalmente, procuro condition of an “outlaw”. The author discusses the subserviência e a avareza. compreender a constituição representations of social actors whose lives are set O bandido pode ser o cri- up within a “world of contraventions”, and thus ou a representação realizada seen as “popular folk heroes” or leading figures minoso, como também o pro- sobre esses personagens, como of a “parallel justice”. tetor, o justiceiro, o repartidor também os sujeitos constituti- Keywords: hero-bandit, popular justice, cultural público, o herói1. Não existe vos de uma “justiça paralela”. heritage, Portuguese historiography. nestas circunstâncias um cul- A representação do * Sociólogo, professor Titular do Departamento pado a ser punido, mas sim, um “bandido-herói” acompanha, de Ciências Sociais da Universidade Federal do meio social adverso, injusto, que Ceará. Endereço: [email protected]. Av. geralmente, três momentos. propicia o surgimento desses O primeiro momento é o da Universidade, 2995, 1º andar. 60020-181 Fortaleza-Ce. bandidos-heróis. rompimento com os laços de Poderíamos dizer que a dominação de um sistema opressor e injusto, repre- construção do bandido-herói significaria algo próxi- sentado, geralmente, por um grande proprietário de terra onipotente e cruel, reforçado por um sistema mo de uma “resistência popular” às formas conven- jurídico frágil, ausente ou parcial, que protege os cionais de mando político ou de uma estrutura injusta poderosos. O segundo momento é demarcado pe- e excludente? E, pelo mesmo raciocínio, seria correto las práticas ou atos delituosos, dos crimes, da vida afirmar que a constituição de uma “justiça paralela” nômade e aventureira do bandido-herói. E, por responde à fragilidade das instituições judiciárias? último, configura-se o momento em que o bandido- Este estudo tem como campo analítico e empíri- -herói é transvertido de protetor, justiceiro ou co um personagem da historiografia portuguesa, José repartidor público. Teixeira da Silva, conhecido por José do Telhado, que

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viveu na primeira metade do século XIX, na região gente como cidadãos honrados”; “eles são admirados, do distrito do . O surgimento desse personagem ajudados e mantidos pelos seus povos”; “morrem in- é explicado ou justificado, nos romances que tratam variavelmente, apenas por traição; “são – pelo menos dessa figura dramática, pela miséria econômica em teoria - invisíveis e invulneráveis”; e, por último, reinante, principalmente nas áreas rurais de Portu- “não são inimigos do rei ou imperador, fontes da gal, bem como, pela existência de outros bandos de Justiça, mas apenas da nobreza local, do clero, e de salteadores, o desencadear das guerras civis, o clima outros opressores”. de forte injustiça social e a ausência de uma justiça, Thompson, analisando os motins ou as ações por parte do Estado ou de uma “justiça imparcial”. populares, do século XVIII na Inglaterra, detecta Este quadro o impeliu para uma vida fora da lei, uma noção legitimadora existente nessas práticas. tornado-se um bandido ou um “herói abortado”, pelas Por noção de legitimação, o autor, entende: condições sociais e políticas da época. A máxima é que ele tinha consciência das injustiças sociais e apre- (...) que os homens e as mulheres da multidão goava então proteger os humildes, distribuindo com estavam imbuídos da crença de que estavam eles os produtos dos seus assaltos, bem como, perse- defendendo direitos ou costumes tradicio- guia uma moral, uma honra, tendo como corolário ou nais; e de que, em geral, tinham o apoio do contraponto a construção de uma “justiça popular”. consenso mais amplo da comunidade. De A análise que desenvolvo para compreender vez em quando, esse consenso popular era os valores e as práticas sociais deste personagem endossado por alguma autorização concedida se enquadra nas perspectivas analíticas de Eric pelas autoridades (2005: 152). Hobsbawm e Edward Thompson. Ressalto, neste sen- tido, que tanto a ordem como a desordem, o legal e Existia no interior do processo de dominação o ilegal, bem como as classificações sobre as práticas uma “solidariedade simbólica” entre a autoridade (go- conflituosas, os comportamentos desviantes têm que verno) e os pobres, classificada como uma “economia ser analisados como produção social. Estes citados moral”. O governo não reprimia determinadas ações, autores trabalharam na perspectiva de compreender de quebra da ordem, pelo fato de serem ligadas dire- as rebeliões populares, principalmente dos séculos tamente ou decorrentes da luta pela sobrevivência, da XVIII e XIX. Para Hobsbawm, busca pelo bem-estar comum. Essas noções estavam ancoradas na tradição paternalista das autoridades 2 O banditismo social, fenômeno universal e inglesas . praticamente imutável, pouco mais é do que Na montagem deste estudo utilizo, funda- um endêmico protesto camponês contra a mentalmente, a literatura existente sobre este opressão e a pobreza; um grito de vingança “bandido-herói”. Busco analisar e compreender qual contra os ricos e os opressores, um vago sonho a representação feita pelos autores, principalmente de conseguir impor-lhes alguma forma de romancistas, sobre esse personagem, privilegiando controle, uma reparação de injustiças indi- a construção de sua trajetória como “homem hon- viduais (1987: 15). rado” e “salteador”, tendo como suporte os valores de honra, coragem e justiça. Segui a orientação de Hobsbawm (1976) com a preocupação de Hobsbawm que diz que este tipo de estudo não pode construir e analisar os rebeldes primitivos, enquanto se limitar somente aos documentos existentes, e que bandidos sociais, aponta nove características que os é importante um contato com as pessoas e lugares definiriam: iniciam suas carreiras de marginalidade dos bandidos. Nesta perspectiva, realizei algumas “não pelo crime, mas como vítimas de injustiça”; entrevistas, na região do distrito do Porto, área em “corrigem os erros”; “tiram dos ricos e dão aos po- que ele morou, como também praticou seus “grandes bres”; “nunca matam, a não ser em legítima defesa assaltos”. Tais entrevistas foram feitas com pessoas ou vingança justa”; “se sobrevivem, retornam a sua mais idosas e com estudiosos do tema, privilegiando

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o entendimento de um universo imaginário sobre esse desprezado retalho do mundo; mas tem dado “bandido-herói”. Realizei uma pesquisa em jornais, do salteadores de renome. Toda aquela Itália, tão século XIX, nas cidades de Porto, Lisboa e Penafiel. rica, tão fértil de pintores, escultores, maes- Os jornais funcionaram como um contraponto, ou tros, cantores, bailarinas, até em produzir mesmo, como uma busca de maior veracidade de quadrilhas de ladrões a bafejou o seu bom gê- algumas informações oferecidas nos livros. Li e assisti nio! Aí corre um livro intitulado: Salteadores algumas peças de teatro, bem como, entrevistei os célebres de Itália. É ver como debaixo daquele seus diretores. Assisti, também, dois filmes, da pri- céu está abalizada em alto ponto a graduação meira metade do século XX, sobre o José do Telhado. das vocações. Tudo grande, tudo magnífico, As peças de teatro e os filmes entram, também, como tudo fadado a viver com os vindouros, e a patrimônio cultural deste personagem. prelibar os deleites de sua imortalidade. Schil- Diante de uma temática bastante complexa ler, , , se fada má e com um volume muito grande de informações e lhes malfadasse o berço em , teriam muito rico sociologicamente, surge uma primeira de inventar bandoleiros ilustres, a não quere- preocupação: como abordar esta temática ou como rem ir descrevê-los ao natural nos pináculos construí-la sociologicamente? Não tenho intuito de da República Apenas um salteador noviço desfazer equívocos ou refutar afirmações; persigo a vinga destramente os primeiros ensaios numa memória ou poderíamos dizer a “memória cultua- escalada, sai a campo o administrador com da” sobre este personagem, bem como as diferentes os cabos, o alferes com o destacamento, o jor- representações construídas sobre Zé do Telhado. nalismo com as suas lamúrias em defesa da Tento compreender como se configura a construção propriedade, e a vocação do salteador gora-se simbólica deste personagem e, mais especificamente, nas mãos da justiça. A civilização é a rasa da a construção do seu capital simbólico. igualdade: desadora as distinções; é forçoso que os bandoleiros tenham todos os mesmos Uma construção, uma trajetória tamanhos, e roubem civilizadamente, urba- namente. Ladrão de encruzilhada, que traz no peito à bala e o bacamarte apontado ao José do Telhado ou José Teixeira da Silva ou, inimigo, esse há-de ser o bode expiatório dos simplesmente, Zé do Telhado é natural de Telhado, seus confrades, mais alumiados e aquecidos Freguesia de Castelões de Recesinhos, Junta de Pena- do sol benéfico da civilização. Roubar in- fiel. Zé do Telhado era filho de um conhecido assal- dustriosamente é engenho; saquear a ferro e tante Português: Joaquim do Telhado. Nasceu no dia fogo é roubo. Os daquela escola tropeçam nas 22 de Junho de 1818 e faleceu em 1875, em Angola, honras, nos títulos, nos joelhos dos servis, que na região de Malange. É classificado pela imprensa e lhes rojam em venal humilhação; os outros, por alguns romancistas que se dedicaram a esse tema quando escorregam, acham-se encravados como o maior salteador/bandido do século XIX, de nos artigos 343, 349, 87, 433, 351, e mais Portugal, tendo sido degredado, para a África, no cento e setenta artigos do Código Penal. início da década de 1860. É cantado e decantado por poetas, escritores, cineastas, teatrólogos e cordelistas. Diz, algum tanto, como exemplo, desta lasti- mável anomalia a história de José Teixeira da Este nosso Portugal é um país em que nem Silva do Telhado, o mais afamado salteador pode ser-se salteador de fama, de estrondo, deste século (CASTELO BRANCO, 2004: de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: 310-312). nem os ladrões chegam à craveira dos ladrões dos outros países! Todas as vocações morrem Com estas palavras Camilo Castelo Branco, o de garrote, quando se manifestam e apontam grande romancista português, notabilizou José do extraordinários destinos. A Calábria é um Telhado. O escritor o conheceu na Cadeia da Relação

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do Porto, entre 1860 e 1861, e no livro Memórias do tadas como “velhacas”: mau patrão, mau esposo e Cárcere, através de um longo relato, faz, praticamente, homens ricos e avarentos, incluindo, nesta classifica- uma biografia desse salteador português. Tal biogra- ção, clérigos da Igreja Católica. Em alguns romances, fia, prenhe de valoração social, é carregada de admi- são relatadas situações em que o personagem Zé do ração, e, sobretudo, de cumplicidade com práticas Telhado anunciava os assaltados, como também ense- delituosas. Camilo germina um salteador ilustre, de java uma solução, em um misto de acordo e ameaça. renome e célebre, dando asas à imaginação popular Para os ricos, algumas vezes, dava o salvo con- duto, o que lhes possibilitava circular seguramente, na construção de um lendário bandido romântico. como também os mantinham enquadrados em A obra do Camilo Castelo Branco, Memórias determinadas normas comportamentais esperadas. do Cárcere, especificamente o capítulo 26, é prenhe Na trajetória deste personagem mesclam-se, de simbolismo para se trabalhar a constituição da sempre, as figuras de um homem honrado e de um memória sobre José do Telhado. Podemos dizer quadrilheiro, tendo como forte ingrediente, como é que é o ponto impulsionador desse quadro. Esse comum na vida de “bandidos-heróis”, uma grande capítulo foi e é importante para cultuar a memória paixão. No seu caso a paixão por uma prima, conhe- do Zé do Telhado para os letrados e também para os cida por Aninhas. Tal paixão configura um homem não-letrados, na medida em que ele foi publicado em com sólidos princípios morais, leal e galante, sendo livros populares e vendido, como literatura de cordel cobiçado por várias mulheres, mas mantendo sempre nas principais feiras da região3. a fidelidade a sua escolhida. Depois de não obter per- Este personagem da história portuguesa, conhe- missão para casar com a prima (decorrente do fato de cido como Zé do Telhado, tem como distintivo o fato não possuir uma boa condição econômica) faz uma de “roubar dos ricos para distribuir com os pobres”, “jura de amor” e parte para outros lugares, quase um exílio, em busca de riqueza e, fundamentalmente, de assumindo, neste sentido, o lugar de “repartidor respeito. Reproduz, no fato de partir, de migrar, as público”. As representações presentes nos romances trajetórias de outros heróis populares. Ele segue para sobre Zé do Telhado são geralmente bastante elogio- Lisboa, para assentar praça no quartel. sas. Augusto Pinto escreve: Os relatos existentes sobre a sua vida destacam atributos qualificativos, como por exemplo: senti- José do Telhado, uma relevante figura do do de liderança, fortes princípios morais, coragem século dezenove, foi um homem de persona- e valentia. Zé do Telhado teve uma vida militar, lidade forte, que reagiu com toda a sua força vinculando-se intensamente ao exército do General às injustiças que lhe bateram à porta (...). José Sá da Bandeira, sendo inclusive condecorado com do Telhado não perdoou, e como na guerra a medalha “Torre e Espada”, por sua bravura, mas já tinha optado por defender os mais fracos, principalmente pela lealdade ao seu comandante. assim prosseguiu, e sem se ter na conta de José do Telhado depois de uma vida conturbada, ladrão profissional, antes se intitulava um entre assaltos e participação na guerra civil portugue- “repartidor público”, roubando aos ricos para sa de meados do século XIX, é preso e condenado seu sustento e dos seus, e entregava uma parte ao degredo na África. Ele viveu em Xissa, Angola, desses mesmos roubos aos mais necessitados região de Malange, até os últimos dias de sua vida, (2005: 5-6). e era considerado “um branco bom”. Augusto Pinto relata que “os negros mais pobres (de Angola) du- Zé do Telhado comandou uma quadrilha de rante muitos anos iam chorar, ajoelhados aos pés da salteadores que tinha como aspectos importantes o sua campa, evocando ali muitas vezes o nome do pai fato de evitar “o uso da violência física”, mas, princi- dos pobres” (2005: 342). Consta que na África desa- palmente, a máxima de fazer uma classificação moral pareceu o salteador e reapareceu o herói, com fortes das suas possíveis vítimas. Consta que os seus roubos valores morais, de generosidade, lealdade, coragem eram cometidos somente contra pessoas represen- e desprendimento.

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Memória, patrimônio e valores sociais em situações delicadas, com algumas mulheres que exigiam cenas de amor. Na tentativa de compreender, um pouco mais, Os valores, ressaltados anteriormente, de bon- como um personagem, cuja representação social dade, generosidade e desprendimento são atributos oscila entre um enaltecimento e uma negação, entre constantes nas representações sobre este personagem. fatos que marcam a vida de um bandido e de um As máximas são repetitivas em diversos livros que herói, consegue notoriedade perpetuada por mais de tratam deste autor: “a inata bondade de José do Te- um século, busquei alguns traços de sua trajetória. lhado aconselhava-o a poupar a quem o rodeava, aos Interessei-me em analisar como a biografia do Zé do próximos”; “Ele era generoso, de uma generosidade Telhado é contada, quais os aspectos que são desta- particular, os humildes e necessitados viam nele um cados e outros negados, ou não ditos, não revelados. desvelado protetor que a providencia divina lhes Um dado importante é a construção de um enviou”. O lado de generosidade e desprendimento o “patrimônio cultural”, sedimentado desse persona- colocava como salteador altruísta, sem apego aos bens gem, que possibilita o surgimento de uma “memória materiais ou aos lucros dos assaltos. Nas narrações material”. obtidas sobre José do Telhado, na região de Malange Uma “memória louvada” passa a ser construída – Angola, é definido como um “branco bom, protetor pelos escritores, teatrólogos, cineastas e narradores, dos negros”. negando, em princípio, um possível lado violento, Do mesmo modo, outro conjunto de valores agressivo e cruel. Os textos escritos sobre este per- como coragem, valentia e firmeza punha Zé do Te- sonagem, nesse estudo, ganham duas dimensões: lhado em uma posição de superioridade e destaque aparecem como fonte de dados e como patrimônio diante dos outros, como que evocando o desempenho cultural construído e amparado na figura de José do de papel messiânico de protetor, líder e condutor. Telhado. São narrados diversos acontecimentos nos quais Um dado bastante recorrente, em sua memória, ele era chamado ou evocado na condição de líder. É é o lado romântico e galanteador, negando ou des- importante ressaltar que esses atributos configuram construindo aspectos de rudeza e violência. Aspectos também um “bandido-herói”. estes constituintes, respectivamente, dos homens das Outro aspecto bastante destacado em sua traje- aldeias e dos bandidos. O romance com Aninhas é tória, na literatura, é o senso de justiça, construindo, cantado e decantado, carregado de juras de amor e fi- em princípio, uma possível “justiça popular”. José do delidade. A partir da negativa de obter “a mão de Ani- Telhado ministrava justiça a seu modo: “Eu só vou nhas”, passando pela vida de salteador, até a partida tirar aos que têm mais para dar aos que têm menos... para o degredo, o casal é sempre apresentado dentro que proibia que alguma vez se tirasse aos pobres e aos de um contexto de paixão e romantismo. No período que viviam honradamente do seu trabalho e que as em que morou no Brasil, segundo os romancistas, não mulheres seriam sempre respeitadas” (Suplemento suportou a saudade de Aninhas e teve que retornar do jornal A Capital, 8/8/1981). para Portugal. Nos textos aparece, constantemente, Em uma construção simbólica, este personagem o enfrentamento do perigo para visitar sua esposa, aparece como fruto do período histórico português, criando-se uma relação de superação do medo pela mas, fundamentalmente, do “destino”, retirando saudade. O lado galanteador para com as mulheres lhe qualquer possibilidade de culpá-lo pelos seus atos. rendeu amores platônicos, mas principalmente cum- A justificativa do “destino” entrecruzada com uma plicidade que facilitava suas espetaculares fugas após herança, que vinha do pai e de um tio-avô, os quais já os assaltos. Constituía-se uma figura que mesclava fomentavam o terror na região surge constantemente: os atributos de protetor das mulheres e de um “Dom “Eu pertencer a uma quadrilha de ladrões? Será que Juan”. No final dos assaltos ele sempre saía beijando tenho razões suficientes para dizer que não sou eu o as mãos das damas e fazendo elogios à beleza femi- culpado? Ou isto faz parte do destino de cada um? nina. Mantinha uma postura de cavalheiro, mesmo Então José do Telhado levou os seus pensamentos até

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a sua mais tenra idade, lembrando-se da saída de casa o que tirarmos aos outros não será só para do pai aos catorze anos, da ‘profissão’ de que ouvia nós. Uma parte é para os pobres (CASTRO falar tanto em relação a este como até ao seu avô, e PINTO, 2007: 68-69). mais recentemente o seu irmão Joaquim, os quais eram todos conhecidos como salteadores” (Pinto, A suposta obediência a tais regras, por um grupo 2005, 71). sob o comando de Zé do Telhado, diferencia-o de Existe uma frase, que é colocada como sendo outros grupos de salteadores, mas fundamentalmente, do Zé do Telhado e que aparece em diversos livros, contribui para configurar, mesmo nas práticas delitu- que diz: “É sina! A fatalidade obriga-me a receber a osas, a figura ambígua de bandido-herói, transvertido herança do meu pai, que eu queria repudiar, meu de “repartidor público”. Nesta perspectiva ganha con- irmão não resistiu à voz do sangue, a desgraça cretude uma frase recorrente nos textos e narrações: atira-me para o mesmo charco. Cumpra-se o destino”. “era um ladrão, mas era um ladrão bom”. Corroborando com essa idéia de “destino”, que Em 1849, participa do 1º assalto realizado contra como diz um ditado popular, “com destino nem Deus o solar do Sr. Maciel da Costa, na freguesia de Ma- pode”, surge constantemente, na biografia do Zé do cieira Porto. Em 1852, ocorre o assalto ao Solar de Telhado, referência a “tentações” que ele teve que Carrapatelo, considerado, pelos seus analistas, o mais enfrentar. Tentações com forte teor cristão, no sen- importante e com maior divulgação. A partir deste tido de ser testado. As tentações das mulheres, para assalto foi feito um grande cerco para a prisão de Zé trair Aninhas e as convocações (tentações) por parte do Telhado. A imprensa do Porto e uma boa parte da de salteadores (“maus elementos”) para entrar na população começaram a exigir um maior empenho quadrilha, no grupo de malfeitores. As tentações ou das autoridades. Esse assalto maculou bastante a tra- convocações eram carregadas de dimensões simbó- jetória (considerada correta) do Zé do Telhado nos licas: de ausência de um líder ou de uma pessoa com assaltos, em decorrência de dois aspectos. O primeiro sentimentos nobres. Nesta perspectiva, as tentações, é que ele ocorreu no mesmo dia e poucas horas depois surgem com novos apelos: “Não serás um ladrão e sim do funeral do dono da casa. O segundo é que um 4 um repartidor público” (Pinto, 2005, 72). trabalhador da casa foi assassinado barbaramente . Depois de “cair em tentação” ou “seguindo o Como dito em partes anteriores, este perso- seu destino”, Zé do Telhado entra no grupo, conhe- nagem se inscreve em um momento da história cido como a Quadrilha do Marco, como referencia portuguesa com graves crises política, econômica ao Concelho do Marco de Canaveses, já ocupando e social. Esse período, em meados do século XIX, a posição de líder, estabelecendo diversas regras de é marcado pela existência de guerrilhas no campo, comportamento: guerras civis, existência de diversas facções políticas, revoltas populares (as principais foram a revolta da De hoje em diante, a malta aqui reunida não Maria da Fonte e a Guerra da Patuléia), e a escassez será um bando de ladrões. Governamo-nos, de alimentos, principalmente, nas áreas rurais, havia mas eu só vou tirar aos que têm mais, para uma crise de subsistência. Essa época é classificada, dar aos que têm menos. Proíbo, ouvi bem: pelos estudiosos, como um período agitado e tur- proíbo!, que alguma vez se tire aos pobres bulento das lutas civis, predominando desmandos e e a todos aqueles que vivem honradamente arbitrariedades das autoridades, o que possibilitava do seu trabalho. Nesta nossa comunidade, ou impulsionava as organizações populares. Tais também não consinto que se matem pessoas; organizações terminaram sendo o celeiro onde eram e só usaremos a força quando resistirem e arregimentados os futuros combatentes nas guerras nos obrigarem a isso. Também não admito de facções políticas. que ninguém se aproveite da ocasião para Como diz Augusto Pinto: abusar das mulheres. (...) De hoje em diante, eu só estou como Repartidor Público. Tudo (...) uma estúpida guerra civil, em que pra-

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ticamente os envolvidos nem sabem por que público, fazendo justiça, em um posto outorgado lutam. Uma guerra civil é a pior escola que pelo povo: qualquer pessoa pode freqüentar, pois tudo se pode fazer sem temer qualquer lei; fica (...) Os políticos têm sido a desgraça dos sempre a ganhar aquele que mais matar e pobres. Prometem tudo, mas só prometem mais roubar, pois são estas façanhas que dão o que eles muito bem querem. Aos pobres baixas ao inimigo e certo prestígio a quem as passam a vida a mentir-lhes. De hoje em pratica (2005: 15). diante serei repartidor público. Podes dizê- -lo a toda a gente. O povo há-de sabê-lo. E É importante reter que, nos textos escritos e nas também quero que as autoridades o saibam. narrações dos entrevistados, aparece claramente esse Porque este encargo foi-me dado pelo povo contexto político como responsável pelo surgimento (CASTRO PINTO, 2007: 70). do salteador Zé do Telhado. A situação política apa- rece constantemente nas explicações: “é a política, Os rompantes de uma construção de justiça desde que os Cabrais venceram não houve sossego aparecem nos diálogos a ele atribuídos. Um diálogo para o Zé do Telhado. Alguns mudaram de lugar para sugestivo dessas ações é sempre reproduzido nos sobreviver”. A perseguição ao Zé do Telhado decorre romances, sobre este personagem: do fato de ele ter sido sargento patuléia e combatido contra os Cabrais. Consta, nos textos, que uma pro- Em uma certa noite assaltou um lavrador priedade dele foi extorquida e os empréstimos, que abastado que namorava uma moça e ia ele foi obrigado a fazer, para sobreviver, foram sempre visitá-la quase todas as noites. O rapaz teve com juros muito elevados. Em determinado momento que entregar o relógio, uma pulseira e algu- de sua vida, José do Telhado diz: “Eu nunca me meti mas moedas para o Zé do Telhado. em política, os senhores oficiais é que me meteram - E disse: uma hora dessas você deveria estar nela” (Castro, 1980, 11). em casa dormindo e não assaltando. Nas narrações e nos livros é citado o fato de - E o Zé do Telhado teria dito e você tam- Zé do Telhado ter solicitado um lugar de Guarda do bém. Eu aproveito as trevas da noite para Controle no Porto e este lhe haver sido negado, com assaltar quem passa e você para ir ter com a claras demonstrações políticas. rapariga. Tudo é roubar. Eu roubo dinheiro e você a honra de uma mulher. Qual de nós Atos heróicos e uma justiça popular é mais ladrão? Meses depois a moça aparece grávida e tinha Na trajetória deste “bandido-herói” é importan- sido abandonada pelo rapaz. te reter também, para uma análise mais aprofundada, - O Zé do Telhado se encontra com o rapaz e o sentimento de justiça e de honra, configurando uma diz: Há poucos meses encontramo-nos os dois possível “justiça paralela” ou a construção de uma de noite, ambos a roubar. Eu arrependi-me, “justiça popular”. Esta prática vai sendo constituída e venho devolver o relógio, a corrente e o di- em diversas situações. Zé do Telhado dizia sempre nheiro que lhe roubei. Na certeza de que, se ao seu bando, “os ricos e os políticos é que hão de dentro de um mês você não tiver restituído à pagar para os pobres”, fazendo uma crítica ao sistema rapariga o que lhe roubou, casando com ela, social e político injusto e, ao mesmo tempo, justificava é um homem morto. os seus atos delituosos. Para alguns escritores, estas Dias depois o lavrador casou (CASTRO palavras, decorriam do fato de ser um salteador inte- PINTO, 2007: 98). ligente, culto, de boas maneiras e com conhecimentos de estratégias militar. As ações em defesa dos pobres, dos humildes e Nesta dimensão colocava-se como repartidor das mulheres são recorrentes. Uma vez obrigou um

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padre a realizar um batizado, de graça, de uma criança Neste tom épico, Eduardo Noronha (s/d), ro- pobre, cuja mãe não tinha dinheiro para custear as mancista e autor de várias obras sobre este persona- despesas. Em outra situação, roubou uma “junta de gem, diz que “José do Telhado foi ungido a sacerdote bois” para dar a um pobre lavrador que não dispunha para dar a extrema-unção a uma moça que estava de dinheiro suficiente para a compra e o vendedor não agonizando”. aceitou a proposta do trabalhador; tendo, inclusive, Zé do Telhado serviu em Lisboa no 2º Regi- humilhado o lavrador. Depois do ato consumado, Zé mento de Lanceiros, tendo participado da Revolta do Telhado diz: “isto é para aprender a não humilhar dos Marechais (1837), integrando a comitiva do os humildes e deixar de ser tão avarento”. Marechal Saldanha, mostrando suas qualidades de: Ganha destaque nas narrações e nos textos a for- corajoso, destemido e valente. O lado heróico começa ma ousada e destemida como enfrenta as autoridades a ser configurado. e os poderosos, em defesa dos pobres e dos oprimidos. Em 1837 participa também da Revolução Po- Essas ações são realçadas nas peças de teatro e nos pular, servindo a Junta como ordenança de Sá da filmes existentes sobre este personagem, ganhando Bandeira. Salva a vida deste, recebendo a Medalha importância o lado austero e não-subserviente. da Torre e Espada. É importante destacar as representações que O capital militar do Zé do Telhado, obtido surgem, nesta perspectiva, de um Robin dos Bos- quando este serviu nos Lanceiros da Rainha e, prin- ques “que tirava dos abastados e ricos sovinas para cipalmente, sua participação nas guerras civil foram distribuir pelos necessitados honestos e labutado- bastante úteis nas suas práticas como salteador. res”. São construídas as classificações, como dito Campos Monteiro, que escreveu um livro sobre anteriormente, que só roubava dos ricos sovinas e Zé do Telhado em 1930, baseado em depoimentos maus patrões, para distribuir com os necessitados e de pessoas idosas, que conheceram o salteador, bem honestos trabalhadores. como, no relato do processo judicial, deste perso- As proezas ou atos heróicos são recorrentes nagem, afirma que a quadrilha foi organizada de nas representações sobre este personagem. Prova- forma o mais militarmente possível. Ele era o Chefe velmente, o primeiro ato de heroísmo praticado em e tinha um ajudante. Os salteadores eram divididos sua região ocorreu na defesa de um amigo que estava quase sendo morto, em uma briga, na Feira de Pena- em três categorias: chefes de divisão, divisionários e fiel. Os aspectos importantes dessa briga decorrem auxiliares. Existiam quatro divisões cada uma com do seu amigo está sendo acusado, injustamente, de cinco homens. Os auxiliares eram os informantes, os um ato não cometido, bem como, haver um total quais não participavam dos assaltos, mas recebiam as desequilíbrio de litigantes, bastante desfavorável para suas cotas do “lucro”. o Zé do Telhado e para o seu amigo. O saldo dessa Campos Monteiro (2001) diz que a compo- disputa é que o nosso herói saiu muito ferido, quase sição da quadrilha era bastante eclética tendo dois à beira da morte. indivíduos com autênticos títulos de nobreza, um Quando era Lanceiro da Rainha salvou um jo- padre, lavradores pobres e prostitutas, que serviam, vem, em uma procissão em Lisboa. Este jovem estava fundamentalmente, como informantes. sendo arrastado por um cavalo, em alta velocidade, Depois do assalto a Carrapatelo, uma grande e foi socorrido, heroicamente, por José do Telhado. parte da quadrilha é presa e condenada. Nessa mesma procissão ele dominou um touro fu- É importante destacar que dentro de um clima rioso, que tinha fugido do seu estábulo e que atacava de aceitação, negação e medo quase toda a popula- a multidão. ção sabia quem eram os quadrilheiros, como viviam Contam, também, proezas de Zé do Telhado em e onde moravam. O ato de não denunciar decorre sua viagem de degredo, salvando uma mulher que de insegurança e medo, mas fundamentalmente, se encontrava no interior de um navio em chamas e de uma aceitação social. Tal aceitação resulta da ninguém se habilitava para resgatá-la. não-classificação das práticas dos bandidos sociais

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como delituosas, bem como do fato de a população deste personagem), um edifício Zé do Telhado, uma pobre necessitar de protetores e defensores. receita de bacalhau Zé do Telhado e uma empada Zé do Telhado dominou, assaltando nas estradas Zé do Telhado. Existe uma disputa sobre qual seria e nas quintas das pessoas mais abastadas da região, realmente a casa de José do Telhado: uma casa em durante quase uma década em uma vasta área do Nor- ruína, que consta em diversos folhetos; uma casa em te do país. Apareceu tanto na zona Amarante como no que, provavelmente, ele residiu após o casamento com Douro e no Minho, freqüentando a serra do Marão e Aninhas, atualmente bastante transfigurada, e uma as estradas de Barcelos e Braga, assim como as feiras casa tombada como patrimônio cultural, que deve ter de Penafiel, Vila Meã, Vila Verde e Pico. sido construída no início do século XX. Um historiador, autodidata, residente em Vila O dado importante, desse patrimônio cultural Meã, e grande conhecedor da vida de José do Telhado, do José do Telhado é que ele realimenta e sedimenta faz uma boa síntese das representações construídas uma memória e as representações sociais sobre um sobre este personagem: personagem que configura com todas as letras um “herói popular”. A história do Zé do Telhado é uma história popular. Toda a gente conhece o Zé do Te- (Recebido para publicação em julho de 2010. lhado. E toda a gente fala do Zé do Telhado Aceito em outubro de 2010) com simpatia. Era o Robin dos Bosques cá do sítio... ele era especial... naturalmente que Notas na época, as vítimas não sentiram as coisas assim. Ele foi ferozmente perseguido, mas 1 , no livro Os heróis, que trata dos ele era um estrategista, de maneira que foi grandes homens, refere-se a seis tipos de heróis: herói muito difícil apanhá-lo, mas acabou por ser como divindade; herói como protetor – Maomé; herói apanhado, e a história acabou. Ele acabou como poeta – Dante; herói como sacerdote – Lutero; por ir para Angola. Teve uma fase em que herói como homem de letras – Rousseau; herói como os pretos o consideravam quase um Deus, rei – Napoleão. embora tivesse depois morrido na miséria, mas fez sucesso em Angola, lá entre os pretos, 2 É importante ressaltar que essa prática, classificada foi uma figura simpática para eles, ele conti- como uma “economia moral”, vai ser encontrada nos nuou como uma personalidade especial até períodos de estiagem nos sertões do nordeste do Brasil, ao fim (entrevista realizada com José Mário diante das ações dos trabalhadores definidas como “saques”. Carvalho, em fevereiro de 2008). 3 Encontrei várias versões deste texto de Camilo Castelo Branco, em edições populares. Quase todas as publica- Finalizando, é importante ressaltar que existe ções, se não todas, têm como grande fonte o trabalho atualmente uma disputa simbólica em relação aos deste romancista. Reproduzindo as virtudes e os de- bens culturais do Zé do Telhado. O próprio perso- feitos, como datas e fatos não-verdadeiros. Podemos nagem Zé do Telhado passa a ser disputado como colocar como exceções um livro de literatura de cordel, capital cultural da região. Esta disputa configura-se publicado em 1898, de autor desconhecido, e o livro de de diversas maneiras: pelo lugar que ele nasceu, pelas Campos Monteiro que se baseou nos processos judi- casas que lhe pertenceram ou nas quais ele morou, ciais e em sobreviventes do tempo de Zé do Telhado. bem como os principais lugares que ele assaltava, ou 4 Alguns entrevistados acham que deve ter havido um distribuía o resultado dos assaltos. Nesta perspectiva, contato anterior de Zé do Telhado com o dono a casa, é sedimentado um vasto patrimônio cultural, como e que este, provavelmente, não cumpriu o acordo ou não cedeu qualquer quantia. por exemplo: uma Rua Zé do Telhado, um largo Zé do Telhado, um Hotel José do Telhado, um vinho Zé do Telhado (constando no rótulo uma pequena história

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Referências bibliográficas

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