Vila Nova Casa Verde: existência a partir dos assentamentos

Mediante o surgimento de outros assentamentos, invocaremos alguns estudos importantes, para se entender o surgimento e construção da Vila Nova Casa Verde, compreendendo que a vila deve seu surgimento devido ao assentamento Casa Verde, e levando em consideração que os mecanismos para o surgimento de assentamentos são parecidos. Iniciamos com Paulo Martinez, que afirma que a primeira posição favorável à reforma agrária a merecer atenção é a do governo federal, que desde 1985 empalmou a bandeira dentro de determinados limites e que para enfrentar esse problema, o governo se dispõe de uma ampla estrutura, na qual se destacam o Ministério da Reforma Agrária e do Desenvolvimento (MIRAD) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), estes dois órgãos operam conforme as diretrizes do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). “A reforma agrária propriamente dita tem limites bastante modestos no programa do governo e consiste no “assentamento” de 1 400 000 famílias ao longo de quatro anos.” (Martinez, 1991, p. 28) sendo assim, a ação do governo brasileiro não objetivava mudanças profundas e extensas na estrutura agrária. Pelo contrário, no Plano de Metas divulgado em julho de 1986 e nas medidas complementares ficou claro que a nova Política Agrícola adotaria outras prioridades. Diferente do Assentamento Taquaral na região de Corumbá onde Menegat realizou sua pesquisa; no assentamento Casa Verde, pelo que se parece, não se teve a intenção de se formar as Agrovilas. O Assentamento Casa Verde foi realizado através da desapropriação da Fazenda Santa Virgínia, com uma extensão 29.859,9889 alqueires. Sendo dividido em três Glebas para melhor localização das famílias, chamadas Peroba, Angico e Ipê, a sede do assentamento se concentrava na Gleba Angico. Nesse sentido o presente trabalho busca analisar se teriam alguma intenção em formar um povoado nessa localidade ou essa intenção foi anulada visto que o acesso a ela ficava difícil devido a sua distância de 7 Km da rodovia MS 134, em estrada não asfaltada, buscando assim um local de fácil acesso, no caso, à margem das Rodovias MS 134 e BR 267, tendo em vista que quando estas duas se encontram dariam acesso aos estado de São

Paulo e Paraná. Conceito verificado por Menegat no surgimento do assentamento Taquaral.

No ano de 1989, quando as famílias ainda estavam acampadas em área comunitária à espera da desapropriação e divisão da área, nos primeiros contatos que tivemos, percebemos que não desejavam viver em agrovilas. Por isso sentimos a necessidade, em um primeiro momento de nosso trabalho, de investigar o que moveu essas famílias a assentarem-se no lote de produção e não no lote de moradia na agrovila. (Menegat, 2009, p. 19)

A formação da vila Nova Casa Verde se deu no núcleo Ipê, encontros entre as duas rodovias, nessa localidade, nos anos 80 existiam, somente, um terminal da Viação Motta Ltda e o posto de combustível denominado “casa verde” do grupo Di Benedetos, estes se estabeleceram na região a mais de 40 anos. Sobre o conceito de representação e identidade Bourdieu (2003) salienta que “depende do conhecimento e reconhecimento. Dar a conhecer e fazer reconhecer produz a existência daquilo que enuncia .” Ou seja, que a vila somente irá adquirir uma identidade própria a partir do reconhecimento da sociedade a qual a cerca e partindo também do sentimento de “pertença”, do “eu” pertencer, pertencer àquela localidade, pelos seus moradores. Refletindo sobre a formação da vila Nova Casa Verde e se utilizando dos conceitos de identidade de Bourdieu, a proposta deste projeto também é verificar como esta se formou, então, pretende se alcançar êxito nesta pesquisa nas seguintes indagações: Quem eram os maiores interessados na construção desse povoado nesta localidade? Quem foram os idealizadores desse projeto? Analisar o processo pela qual ela se constituiu, chegando ao nível de desenvolvimento dos dias atuais? Qual era a opinião do poder público local inicialmente? Quais as ideias da população local e do poder público em relação á ideia de municipalização da vila? Levando em consideração que: Os critérios objetivos que definem uma identidade “regional” ou “étnica”, (território, língua, sotaque etc...) são representações mentais, ou seja, atos do conhecimento e reconhecimento em que os autores investem seus interesses pressupostos e representações. (Bourdieu, 2003, p. 107-132).

Quanto á formação de identidade, sua construção depende do sentimento de pertencer a uma determinada sociedade e ser visto ou aceito, como pertencente àquele determinado grupo, seja no modo de se comportar, vestir, falar, agir ou em sua ideologia, pois: Refletir sobre a construção da identidade dos homens e das mulheres hoje assentados no Taquaral, donos de uma longa história de migração e de busca por terra, é admitir que essa construção represente um processo complexo e que envolve os elementos indicados por Oliveira (1976) e Franco (1992), a saber: a memória das lutas passadas de cada um, as experiências vividas em grupo e as tradições históricas e culturais. (Menegat, 2009, p. 28)

Assim vemos que, tanto no assentamento Taquaral quanto assentamento Casa Verde, as histórias de migração são idênticas, pois ambos buscavam os mesmos objetivos, que era conquistar um pedaço de terra, nessa luta juntam-se pessoas completamente desconhecidas, com diferentes hábitos e culturas que passaram a viver no mesmo espaço, trocando experiências e costumes ao longo dos acampamentos, iniciando assim a construção de uma nova identidade, identidade que está em constante construção, ganhando novos elementos, visto que a partir do assentamento Casa Verde, temos o início de uma vila, neste viés:

A história trata efetivamente de reconstruir “todo o fazer humano no tempo”, resgatando todo vestígio humano possível, todo sinal deixado pelo homem em qualquer dos distintos âmbitos da sociedade e da natureza ao longo das épocas. (Rojas, 2000, p. 80-81)

É pertinente ressaltar ao nosso estudo o processo migratório das famílias, visto que parte das famílias que ali chegaram também realizam a migração, e acabam não se fixando e nem criando vínculos, a vila se torna apenas em um abrigo temporário para as famílias, não só as que chegam de outras localidades, mas também aquelas que muitas vezes deixam o sítio para ir morar na vila, o que podemos averiguar em estudos que a vida social está em primeiro plano e que, as famílias migradas deixam a parte econômica para o segundo plano, como por exemplo, a roça, o plantio a colheita, a criação de animais domésticos, ou sendo a criação para subsistência.

Para definir um bairro rural, o aspecto econômico, passa para o segundo plano, deixando no primeiro plano o tipo específico de relações sociais e de relações de trabalho. Bairro rural é aquele cujos membros à frente de empreendimentos rurais de guardam responsabilidade (...) desenvolvem entre si relações de trabalho expressas na ajuda mútua, e conservam relações de vizinhança que se concretizam na participação, em nível social igualitário, das atividades quotidianas e festivas do grupo de localidade (Queiroz, 1972, p. 49).

Outro aspecto relevante a se destacar aqui também é a distância desse povoado em relação às cidades maiores e com mais recursos sociais, sejam eles na área da saúde, educação etc, haja vista, que da Vila Nova Casa Verde à cidade de a distância é 125 Km; e da Vila Nova Casa Verde à cidade de o percurso é de 55, 6 Km; já em direção ao Estado de São Paulo e Paraná a distância a se r percorrida até a próxima cidade denominada é de 95,6 Km. É percebível o grau de importância desse povoado, pois ele esta localizado em um ponto estratégico, sendo a porta de entrada e saída do nosso estado (MS). Nesse contexto, Queiroz , em seu estudo sobre Bairros Rurais Paulista , descreve que “o bairro rural é ao mesmo tempo um tipo de povoamento e um tipo de grupo social antigo e persistente, que atravessou séculos mantendo-se semelhante a si mesmo” (Queiroz, 1972, p. 50), é perceptível aos olhos de qualquer observador as transformações ocorridas na vila Nova Casa Verde, dentro de um período histórico relativamente pequeno para sua existência. Observando os estudos de Maria Isaura Pereira de Queiroz, quanto aos estudos da região chamada de Bacia do Ribeirão das Antas, no município de Taubaté quando ela afirma o seguinte: “Um outro aspecto relevante a se destacar aqui também é a distância desse povoado em relação às cidades maiores e com mais recursos sociais, sejam eles na área da saúde, educação etc” (Queiroz, 1972), haja vista, as distâncias já citadas neste projeto. Porém, percebemos que as adaptações das famílias, nem sempre se tornam um processo natural, ou a nova vila é agradável às famílias, muitas famílias se mudam para conquistar uma vida melhor, mas acabam resolvendo voltar para seus antigos lugares, ou procuram outras localidades, seguindo à diante como mostra os estudos realizados

sobre a Bacia do Ribeirão das Antas: “Note-se que essa população não é totalmente fixa; há constante migração mineira para a zona, mas de cada seis famílias que chegam apenas uma permanece no local, seguindo as outras para adiante” (Queiroz, 1972, p. 22). O presente trabalho irá trazer significativas contribuições para os estudantes e interessados na área do estudo proposto, pois, buscaremos reconstruir e resgatar o “fazer humano no tempo”, segundo palavras de Rojas, neste caso, nosso resgate se iniciará com a vinda das várias famílias para o tão sonhado pedaço de chão, após longos anos em acampamentos embaixo de barracos de lona preta. Outro aspecto relevante da presente proposta, será verificar o porquê de várias famílias após alguns anos morando nos lotes, resolveram se mudar para a vila Nova Casa Verde, outros venderam seus lotes e foram definitivamente embora para outra localidade. Para melhor salientar nossa proposta de pesquisa utilizaremos amostragens de entrevistas de moradores da Vila em estudo o que se torna objeto de pesquisa enquadrando com as teorias mencionadas. Djalma morador da vila nos afirma o seguinte em relação à algumas famílias que saíram do sítio para morar na vila Nova Casa Verde: Ela existe, (a mudança) não muito, mas muita gente veio pra casa verde, veio se instala por aqui, mais fácil acesso pra comodidade da educação dos filhos....o colégio aqui era ...era não, é mais prático....seria a facilidade pra educação ... essas coisas (DJALMA. 46 anos. Entrevista realizada em Agosto de 2013).

Percebe-se que as mudanças estão relacionadas com a preocupação para com os filhos, como uma boa educação, escolaridade na idade certa, a praticidade em termos de transporte, entre outras coisas que pesam, na analise dos futuros moradores da Vila em questão, como as necessidades básicas para a vida humana como a água encanada de qualidade para o preparo dos alimentos e consumo em geral, a energia elétrica indispensável para a produção de leite, além dos funcionamentos dos eletrodomésticos, sabendo que todo o tipo de produção é para a subsistência das famílias e dos moradores.

Sendo estes os motivos de muitas famílias de vir morar na Vila Nova Casa Verde: Não tem muitas...eu acredito que hoje, sitiante do assentamento casa verde não tem dez por cento morando (...) Quais os motivos de irem morar na vila?...é teve um...a princípio aqui foi a água (...)e ai quando saiu o loteamento aqui, a energia saiu primeiro aqui e ai trouxe várias pessoas nê...varias famílias pra cá (JOSÉ. 63 anos. Entrevista realizada em Agosto de 2013).

Motivos estes com ligação e responsabilidade ao aspecto social, numa tentativa de busca de realizar seus sonhos e conquistar seus objetivos no campo, de sair da dificuldade de uma luta para a conquista do tão sonhado lote e de levar também sua família para o trabalho rural, mostrando aos mais novos que a terra é importante, e que este tipo de trabalho é digno para a sociedade em geral. Este nosso trabalho entrelaça os estudos dos autores já citados com as entrevistas dos moradores numa tentativa de análise profunda sobre os reais motivos dos moradores migrantes a saírem dos assentamentos e irem se residir nas Vilas, em particular, focaremos o assentamento Casa Verde e a Vila Nova Casa Verde, sendo estes o principal objeto de pesquisa. Pois, entendendo que o “fenômeno social possível se inclui dentro de seus vastos e amplos domínios” (ROJAS, 2000, p.81), é de suma importância, nesta pesquisa, entender os fenômenos que atraíram inúmeras famílias, sejam elas vindo de outros Municípios ou mesmo saindo dos sítios para se fixarem na vila Nova Casa Verde , entretanto: “O que implica, então, que a história não é outra coisa senão a ciência do avanço “diverso do social – humano no tempo”, a fundamental e de uma certa forma única ciência do social.” (Rojas, 2000, p. 81) Esta ideia de ter como objeto de pesquisa a formação da vila Nova Casa Verde percebemos, por meio da teoria, que não tem como fazer isso sem também trabalhar com a formação do assentamento Casa Verde, pois um depende do outro para existir. Então, refletiremos sobre a formação de identidade, a sociabilidade, a vida cotidiana das pessoas que compunham a formação da vila, as constantes mudanças dos moradores dos

sítios do assentamento para a vila, bem como, às outras famílias que se incorporaram à vila, vindas de outras localidades do Município. Esta ideia nasceu, também, por conta da necessidade de um estudo sobre o Assentamento Casa Verde e da Vila Nova Casa Verde para sanar as constantes dúvidas de estudantes de História, professores, alunos de escolas de ensino básico, principalmente da E. E. Luis Carlos Sampaio e E. M. Luis Cláudio Josué pertencente à Vila em questão, entre outros, verificando que o único estudo sobre este tema foi um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado “A organização e o desenvolvimento das relações sociais dos assentados no Projeto de Assentamento Casa Verde - MS 1989- 2009”, elaborado por Jordana Cristina Barbosa Alves, para obtenção do título de Graduação pela Universidade Federal de (UFMS), Campus de Nova Andradina – MS, ao qual constata que a vila Nova Casa Verde teve seu início propriamente entre os anos de 1997 a 1998 e no ano de 2000 torna se Distrito pela Lei Municipal Nº. 241 de 31/10/2000. Cabem a nós, pesquisadores de História dar seguimento a este. A presente proposta de pesquisa tem como objetivo principal analisar o processo de construção da vila Nova Casa Verde, por volta dos anos de 1997 e 1998 no entroncamento às margens da Rodovia MS 134 e BR 267, tendo em vista que o projeto inicial não era nesta localidade. Para que possamos realizar esta de pesquisa, utilizaremos depoimentos dos moradores atuais e os moradores pioneiros da vila Nova Casa Verde, pois através desses depoimentos e tendo uma boa base teórica alcançaremos grande êxito na realização desta pesquisa. Observamos que este é um projeto inicial e esta em processo de andamento, juntamente com o Programa de Pós-Graduação – PPGH, da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD.

Fontes utilizadas

Depoimento

José Fragas Garcia, 63 anos – Entrevista realizada em agosto de 2013.

Djalma Ribeiro, 46 anos – Entrevista realizada em agosto de 2013.

Bibliografia

BOURDIEU, Pierre. O poder Simbólico . Trad. Fernando Tomaz. Lisboa: Difel, 1989.

CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietudes . Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.

MARTINEZ, Paulo. Reforma agrária: questão de terra ou de gente? São Paulo: Moderna, 1987. (Coleção polêmica).

MENEGAT, Alzira Salete. No coração do Pantanal: Assentamentos na lama e na areia. As contradições entre os projetos do Estado e dos Assentados no Assentamento Taquaral – MS . Tese de Doutorado, UNESP/Araraquara, 2003.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Bairros rurais paulistas . São Paulo: Revistas dos Tribunais S.A, 1972.

ROJAS, Carlos Antonio Aguirre. Os Annales e a historiografia francesa: tradições críticas de Marc Bloch a Michel Foucault . Maringá: Eduem, 2000.